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3ª e 6ª DEFENSORIA PÚBLICA JUNTO AO NÚCLEO DE DEFESA DO CONSUMIDOR 1 EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA VARA DE FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DA CAPITAL A DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, através do seu Núcleo de Defesa do Consumidor, pelos Defensores Públicos ao final subscritos, vem, respeitosamente perante Vossa Excelência, com fulcro nas Leis 7.347/85 e 8.078/90, ajuizar a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA com pedido de tutela de urgência em face do ESTADO DO RIO DE JANEIRO, pessoa jurídica de direito público interno, CNPJ n. 42.498.600/0001-71, representado pelo Procurador-Geral do Estado do Rio de Janeiro, com endereço na Rua do Carmo, n. 27, Centro, Rio de Janeiro RJ, CEP 10011-020, pelas razões que passa a expor:

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3ª e 6 ª DE FE NSOR IA P ÚB L ICA J UNTO AO NÚC LE O DE DE FE SA DO CO NSUMIDOR

1

EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA VARA DE FAZENDA PÚBLICA DA

COMARCA DA CAPITAL

A DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO,

através do seu Núcleo de Defesa do Consumidor, pelos Defensores Públicos ao

final subscritos, vem, respeitosamente perante Vossa Excelência, com fulcro nas

Leis 7.347/85 e 8.078/90, ajuizar a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA

com pedido de tutela de urgência

em face do ESTADO DO RIO DE JANEIRO, pessoa jurídica de direito público

interno, CNPJ n. 42.498.600/0001-71, representado pelo Procurador-Geral do

Estado do Rio de Janeiro, com endereço na Rua do Carmo, n. 27, Centro, Rio

de Janeiro – RJ, CEP 10011-020, pelas razões que passa a expor:

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I – DA LEGITIMIDADE

A Defensoria Pública, através de seu Núcleo de Defesa do

Consumidor está incluído no rol de legitimados do art. 82, III, da Lei nº 8.078/90,

tratando-se de órgão da administração pública direta, criado para a defesa dos

interesses e direitos protegidos pelo Código de Defesa do Consumidor, conforme

a Resolução nº 204/2002 da DPGE.

Inclusive, ante a nova redação dada pela Emenda

Constitucional n. 80 de 4 de junho de 2014, a Defensoria Pública possui

legitimidade constitucional para a defesa dos direitos coletivos, conforme se

verifica da nova redação do art. 134 da Constituição Federal (grifos nossos):

Art. 134. A Defensoria Pública é instituição permanente,

essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe,

como expressão e instrumento do regime democrático,

fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos

direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e

extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma

integral e gratuita, aos necessitados, na forma do inciso LXXIV

do art. 5º desta Constituição Federal.

O papel de proteção do consumidor pela Defensoria Pública

também está previsto na legislação específica de sua organização, sendo uma

de suas funções institucionais “a defesa dos direitos coletivos”, como previsto

nos arts. 1°; 4º, VII, VIII, X, XI; 106-A da Lei Complementar nº 80/94, com

redação dada pela Lei Complementar n. 132/2009.

Na legislação estadual há disposições no mesmo sentido. A

Constituição do Estado do Rio de Janeiro prevê, entre suas funções institucionais

o patrocínio “os direitos e interesses do consumidor lesado, na forma da lei” (art.

179, § 2º, V, alínea f). No mesmo sentido o disposto no art. 22, § 3º, da Lei

Complementar Estadual nº 6/77: “aos Defensores Públicos incumbe também a

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defesa dos direitos dos consumidores que se sentirem lesados na aquisição de

bens e serviços”.

Ressalta-se que o Supremo Tribunal Federal decidiu em Ação

Direta de Inconstitucionalidade que a Defensoria Pública possui legitimidade

sem limitações para o ajuizamento de ações coletivas: (grifos nossos)

ADI 3943 - AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE

Decisão: Preliminarmente, o Tribunal, por maioria, reconheceu a

legitimidade ativa da requerente, vencido o Ministro Marco Aurélio.

Por maioria, o Tribunal rejeitou a preliminar de prejudicialidade da

ação, vencido o Ministro Teori Zavascki. No mérito, o Tribunal, por

unanimidade e nos termos do voto da Relatora, julgou improcedente

o pedido formulado na ação. Ausentes o Ministro Dias Toffoli,

participando, na qualidade de Presidente do Tribunal Superior

Eleitoral, de palestra e compromissos na República Italiana e do

Programa de Visitantes Internacionais, por ocasião das Eleições para a

Câmara dos Comuns do Reino Unido, e, justificadamente, o Ministro

Luiz Fux. Presidiu o julgamento o Ministro Ricardo Lewandowski.

Plenário, 07.05.2015.

Por unanimidade, o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), em

sessão nesta quinta-feira (7), julgou improcedente a Ação Direta de

Inconstitucionalidade (ADI) 3943 e considerou constitucional a

atribuição da Defensoria Pública em propor ação civil pública. Essa

atribuição foi questionada pela Associação Nacional dos Membros do

Ministério Público (Conamp) sob a alegação de que, tendo sido criada

para atender, gratuitamente, cidadãos sem condições de se defender

judicialmente, seria impossível para a Defensoria Pública atuar na

defesa de interesses coletivos, por meio de ação civil pública.

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Seguindo o voto da relatora, ministra Cármen Lúcia, os ministros

entenderam que o aumento de atribuições da instituição amplia o

acesso à Justiça e é perfeitamente compatível com a Lei Complementar

132/2009 e com as alterações à Constituição Federal promovidas pela

Emenda Constitucional 80/2014, que estenderam as atribuições da

Defensoria Pública e incluíram a de propor ação civil pública.

A relatora argumentou que não há qualquer vedação constitucional

para a proposição desse tipo de ação pela Defensoria, nem norma que

atribua ao Ministério Público prerrogativa exclusiva para ajuizar ações

de proteção de direitos coletivos. Segundo a ministra, a ausência de

conflitos de ordem subjetiva decorrente da atuação das instituições,

igualmente essenciais à Justiça, demonstra inexistir prejuízo

institucional para o Ministério Público.

“Inexiste nos autos comprovação de afetar essa legitimação,

concorrente e autônoma da Defensoria Pública, às atribuições do

Ministério Público, ao qual cabe promover, privativamente, ação penal

pública, na forma da lei, mas não se tem esse ditame no que diz

respeito à ação civil pública”, afirmou.

A ministra salientou que, além de constitucional, a inclusão taxativa

da defesa dos direitos coletivos no rol de atribuições da Defensoria

Pública é coerente com as novas tendências e crescentes demandas

sociais de se garantir e ampliar os instrumentos de acesso à Justiça.

Em seu entendimento, não é interesse da sociedade limitar a tutela

dos hipossuficientes. Ela lembrou, ainda, que o STF tem atuado para

garantir à Defensoria papel de relevância como instituição

permanente essencial à função jurisdicional do Estado.

“A ninguém comprometido com a construção e densificação das

normas que compõem o sistema constitucional do estado democrático

de direito interessa alijar aqueles que, às vezes, têm no Judiciário sua

última esperança, pela impossibilidade de ter acesso por meio dessas

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ações coletivas”, afirmou a relatora, ao evidenciar a possibilidade de,

por meio de uma ação coletiva, evitar-se centenas de ações

individuais.

A ministra ressaltou, por fim, a importância da ampliação dos

legitimados aptos a propor ação para defender a coletividade.

Segundo ela, em um país marcado por inegáveis diferenças e por

concentração de renda, uma das grandes barreiras para a

implementação da democracia e da cidadania ainda é o acesso à

Justiça. “O dever estatal de promover políticas públicas tendentes a

reduzir ou suprimir essas enormes diferenças passa pela

operacionalização dos instrumentos que atendam com eficiência a

necessidade de seus cidadãos”, argumentou a ministra Cármen Lúcia.

O entendimento da relatora foi seguido por unanimidade no

Plenário.1

Por fim, o Superior Tribunal de Justiça sedimentou o

entendimento do STF no julgamento dos Embargos de Divergência no RESP n.

1.192.577:

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RESP Nº 1.192.577 - RS

(2014/0246972-3)

RELATORA : MINISTRA LAURITA VAZ

EMBARGANTE : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO

SUL

ADVOGADOS : RAFAEL RAPHAELLI DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO

DO RIO GRANDE DO SUL EMBARGADO : SOCIEDADE DR

BARTHOLOMEU TACCHINI - PLANO DE SAÚDE TACCHIMED

1 http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=291085, acesso em 2 de julho de 15

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ADVOGADOS : TIAGO B TURRA E OUTRO(S) EDUARDO HEITOR PORTO

E OUTRO(S)

EMENTA

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA NO RECURSO ESPECIAL NOS EMBARGOS

INFRINGENTES. PROCESSUAL CIVIL. LEGITIMIDADE DA DEFENSORIA

PÚBLICA PARA A PROPOSITURA DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA EM FAVOR

DE IDOSOS. PLANO DE SAÚDE. REAJUSTE EM RAZÃO DA IDADE TIDO

POR ABUSIVO. TUTELA DE INTERESSES INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS.

DEFESA DE NECESSITADOS, NÃO SÓ OS CARENTES DE RECURSOS

ECONÔMICOS, MAS TAMBÉM OS HIPOSSUFICIENTES JURÍDICOS.

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA ACOLHIDOS.

1. Controvérsia acerca da legitimidade da Defensoria Pública para

propor ação civil pública em defesa de direitos individuais homogêneos

de consumidores idosos, que tiveram seu plano de saúde reajustado,

com arguida abusividade, em razão da faixa etária.

2. A atuação primordial da Defensoria Pública, sem dúvida, é a

assistência jurídica e a defesa dos necessitados econômicos,

entretanto, também exerce suas atividades em auxílio a necessitados

jurídicos, não necessariamente carentes de recursos econômicos, como

é o caso, por exemplo, quando exerce a função do curador especial,

previsto no art. 9.º, inciso II, do Código de Processo Civil, e do defensor

dativo no processo penal, conforme consta no art. 265 do Código de

Processo Penal.

3. No caso, o direito fundamental tutelado está entre os mais

importantes, qual seja, o direito à saúde. Ademais, o grupo de

consumidores potencialmente lesado é formado por idosos, cuja

condição de vulnerabilidade já é reconhecida na própria Constituição

Federal, que dispõe no seu art. 230, sob o Capítulo VII do Título VIII ("Da

Família, da Criança, do Adolescente, do Jovem e do Idoso"): "A família,

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a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas,

assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua

dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida."

4. "A expressão 'necessitados' (art. 134, caput, da Constituição), que

qualifica, orienta e enobrece a atuação da Defensoria Pública, deve ser

entendida, no campo da Ação Civil Pública, em sentido amplo, de

modo a incluir, ao lado dos estritamente carentes de recursos

financeiros – os miseráveis e pobres –, os hipervulneráveis (isto é, os

socialmente estigmatizados ou excluídos, as crianças, os idosos, as

gerações futuras), Documento: 1430834 - Inteiro Teor do Acórdão - Site

certificado - DJe: 13/11/2015 Página 1 de 35 Superior Tribunal de

Justiça enfim todos aqueles que, como indivíduo ou classe, por conta

de sua real debilidade perante abusos ou arbítrio dos detentores de

poder econômico ou político, 'necessitem' da mão benevolente e

solidarista do Estado para sua proteção, mesmo que contra o próprio

Estado. Vê-se, então, que a partir da ideia tradicional da instituição

forma-se, no “Welfare State”, um novo e mais abrangente círculo de

sujeitos salvaguardados processualmente, isto é, adota-se uma

compreensão de minus habentes impregnada de significado social,

organizacional e de dignificação da pessoa humana " (REsp

1.264.116/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA,

julgado em 18/10/2011, DJe 13/04/2012).

5. O Supremo Tribunal Federal, a propósito, recentemente, ao julgar a

ADI 3943/DF, em acórdão ainda pendente de publicação, concluiu que

a Defensoria Pública tem legitimidade para propor ação civil pública,

na defesa de interesses difusos, coletivos ou individuais homogêneos,

julgando improcedente o pedido de declaração de

inconstitucionalidade formulado contra o art. 5.º, inciso II, da Lei n.º

7.347/1985, alterada pela Lei n.º 11.448/2007 ("Art. 5.º - Têm

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legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar: ... II - a

Defensoria Pública ").

6. Embargos de divergência acolhidos para, reformando o acórdão

embargado, restabelecer o julgamento dos embargos infringentes

prolatado pelo Terceiro Grupo Cível do Tribunal de Justiça do Estado

do Rio Grande do Sul, que reconhecera a legitimidade da Defensoria

Pública para ajuizar a ação civil pública em questão.

Assim é que a atuação da Defensoria Pública não se trata de

uma faculdade. Ao contrário, reveste-se a atuação de um poder-dever do

Defensor Público que, tendo a sua disposição o ordenamento jurídico, deverá

utilizá-lo de todas as formas para alcançar o escopo constitucional delineado.

Por todo o exposto, restou cabalmente demonstrada a

legitimidade extraordinária da Defensoria Pública, através de seu Núcleo de

Defesa do Consumidor, para a propositura da presente demanda coletiva,

objetivando tutelar os interesses dos beneficiários do Bilhete Único

intermunicipal, lesados pela conduta ilícita adiante relatada.

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II – DOS FATOS (DO REAJUSTE DO BILHETE ÚNICO PARA 2017)

Em novembro de 2016, o Poder Executivo previu, por meio do

Decreto Nº 45.808, o reajuste o valor do Bilhete Único de R$ 6,50 (seis reais e

cinquenta centavos) para R$ 7,50 (sete reais e cinquenta centavos).

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Contudo, em 30 de dezembro de 2016, por meio de emenda ao

PL Nº 2248/2016, foi realizada a opção política por se revogar/suspender o

Decreto acima, através da edição da Lei Estadual 7506 que reajustou e fixou

o valor do Bilhete Único Intermunicipal para R$ 8,00 (oito reais), a partir de

janeiro de 2017:

LEI ESTADUAL Nº 7.506 DE 29 DE DEZEMBRO DE 2016

Art. 7º - Fica reajustado o valor pecuniário do Bilhete Único

Intermunicipal para R$ 8,00 (oito reais), com vigência a partir de 1º

de janeiro de 2017.

Por fim, em janeiro do presente ano, foi editado o Decreto do

Poder Executivo que reajustou para o ano de 2017, pela 2ª (segunda) vez o

valor do Bilhete Único Intermunicipal para o valor de R$ 8,55 (oito reais e

cinquenta e cinco centavos), em razão do reajuste da tarifa de transporte

intermunicipal ocorrida em janeiro de 2017:

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Inconformado, este legitimado coletivo, ante à flagrante

ilegalidade do Decreto, que afronta e extrapola seu poder regulamentar, expediu

Nota Técnica ao Legislativo, com o fim de se sustar (por Decreto Legislativo) o

segundo reajuste concedido equivocadamente pelo Executivo ao Bilhete Único

para o ano de 2017 (doc. Anexo).

Tendo em vista o recesso legislativo até fevereiro deste ano,

tendo em vista a urgência da suspensão da medida ilegal que entra em vigor em

13 de fevereiro de 2017, afetando, aproximadamente, 4 (quatro) milhões de

pessoas, usuários do transporte público; não restou alternativa senão o

ajuizamento da presente ação coletiva.

III - DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

III.1 - DA SUPERIORIDADE HIERÁRQUICA DA LEI EM RELAÇÃO AO

DECRETO – VALOR (HOJE) FIXADO EM LEI

Até novembro de 2016, o valor do Bilhete Único era fixado e,

portanto, podia ser reajustado por meio de Decreto, conforme demonstra o

exemplo acima.2

Ocorre que, com a edição da Lei Estadual n. 7506/2016, o

valor do Bilhete Único passou a ser fixado por lei em sentido estrito.

Em consequência da fixação do valor do Bilhete Único por meio

de Lei, ante o conceito clássico da hierarquia das normas, da estrutura piramidal

de Kelsen, somente por meio de outra Lei (ou outro ato normativo superior, como

a Constituição) é que pode haver sua revogação/alteração.

2 Decreto Nº 45.808 de 2016 – que reajustou o valor do Bilhete Único para R$ 8,00 para 2017

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Assim, tendo em vista que decreto é ato normativo de

hierarquia inferior a lei, por questão formal, não pode o decreto alterar a lei.

Desse forma, o valor fixado em lei por esta Casa Legislativa não pode ser revisto

por Decreto, como pretendeu fazer o Poder Executivo por meio do Decreto n.

45.888/2017 que não tem o condão de revogar o artigo 7º da Lei Estadual n.

7506/2016.

Logo, forçoso concluir que o Decreto n. 45.888/2017, no

tocante ao reajuste do valor do Bilhete Único, é ilegal e excedeu os limites do

poder regulamentar do Executivo. Por este motivo, o Poder Executivo usurpou

atribuição exclusiva do Poder Legislativo, ao violar o princípio da Reserva de Lei.

Ressalta-se que Constituição pode ser alterada por Emenda

Constitucional; Lei pode ser alterada/revogada por Lei; e Decreto pode ser

alterado/revogado por Decreto, nunca o contrário. Ou seja, Lei não pode alterar

a Constituição, nem Decreto pode alterar/revogar a Lei.

Lei é um ato normativo primário, o Decreto (regulamentar)

é ato normativo secundário, abaixo da Lei, e deve observá-la.

Destarte, impõe-se seja realizado o controle externo do ato

ilegal pelo Judiciário, com a devida declaração de ilegalidade do Decreto n.

45.888/2017, de modo a permanecer íntegro o equilíbrio entre os Poderes e o

princípio da legalidade estrita.

Trata-se de conceitos claros e simples, que há muito são

indiscutíveis na doutrina e na jurisprudência. Vejamos a decisão vinculante em

sede de ADI e a antiga jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (grifos

nossos):

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ADI 531 AgR / DF - DISTRITO FEDERAL

AG.REG.NA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE

Relator(a): Min. CELSO DE MELLO

Julgamento: 11/12/1991 Órgão Julgador: Tribunal Pleno

Publicação

DJ 03-04-1992 PP-04288 EMENT VOL-01656-01 PP-00095

RTJ VOL-00139-01 PP-00067

Parte(s)

AGTE.: PARTIDO DOS TRABALHADORES

ADVDOS.: JONAS DUARTE JOSÉ DA SILVA E OUTROS

AGDO.: DIRETOR DO DEPARTAMENTO DA RECEITA FEDERAL

Ementa

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - INSTRUÇÃO

NORMATIVA Nº 62, DO DEPARTAMENTO DA RECEITA FEDERAL -

SUA NATUREZA REGULAMENTAR - IMPOSSIBILIDADE DE

CONTROLE CONCENTRADO DE CONSTITUCIONALIDADE -

SEGUIMENTO NEGADO POR DECISÃO SINGULAR -

COMPETÊNCIA DO RELATOR (RISTF, ART. 21, § 1º; LEI 8.038, ART.

38) - PRINCÍPIO DA RESERVA DE PLENÁRIO PRESERVADO (CF,

ART. 97) - AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO.

- E inquestionável que assiste à Suprema Corte, em sua composição

plenária, a competência exclusiva para julgar o processo de controle

concentrado de constitucionalidade e, pelo voto da maioria absoluta

dos seus membros, declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato

normativo do Poder Público (CF, art. 97; RISTF, art. 5º, VII e art. 173).

Essa regra de competência, no entanto, muito embora de observância

indeclinável por qualquer órgão judiciário colegiado, não subtrai ao

Relator da causa o poder de efetuar - enquanto responsável pela

ordenação e direção do processo (RISTF, art. 21, I) - o controle prévio

dos requisitos formais da fiscalização normativa abstrata, o que inclui,

dentre outras atribuições, o exame dos pressupostos processuais e

das condições da própria ação direta. A possibilidade de controle

recursal, "a posteriori", dos atos decisórios que o Relator pratica, no

desempenho de sua competência monocrática, dá concreção, no

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âmbito do Supremo Tribunal Federal, ao princípio da reserva de

Plenário, inscrito no art. 97 da Lei Fundamental da Republica. - As

Instruções Normativas, editadas por Órgão competente da

Administração Tributária, constituem espécies jurídicas de caráter

secundário, cuja validade e eficácia resultam, imediatamente, de

sua estrita observância dos limites impostos pelas leis, tratados,

convenções internacionais, ou decretos presidenciais, de que

devem constituir normas complementares. Não se revelam, por isso

mesmo, aptas a sofrerem o controle concentrado de

constitucionalidade, que pressupõe o confronto direto do ato

impugnado com a Lei Fundamental.

Decisão

Por votação unânime, o Tribunal negou provimento ao agravo

regimental. Votou o Presidente. Plenário, 11.12.91.

ADI 533 MC / DF – DISTRITO FEDERAL

MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO DIRETA DE

INCONSTITUCIONALIDADE

Relator(a): Min. CARLOS VELLOSO

Julgamento: 07/08/1991 Órgão Julgador: Tribunal Pleno

Publicação

DJ 27-09-1991 PP-13325 EMENT VOL-01635-01 PP-00006

RTJ VOL-00139-02 PP-00473

Ementa

- CONSTITUCIONAL. ATOS NORMATIVOS PRIMARIOS.

IMPOSSIBILIDADE DE SUA REVOGAÇÃO POR ATOS

NORMATIVOS SECUNDARIOS.

I. Decreto com força de lei, assim ato normativo primário.

Impossibilidade de sua revogação mediante decreto comum, ato

normativo secundário.

II. Ocorrência dos pressupostos da cautelar. Deferimento.

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RE 17679 / DF – DISTRITO FEDERAL

RECURSO EXTRAORDINÁRIO

Relator(a): Min. JOSÉ LINHARES

Julgamento: 30/10/1950 Órgão Julgador: Primeira Turma

Publicação

DJ 23-11-1950 PP-10599 EMENT VOL-00021-01 PP-00378

ADJ 01-08-1951 PP-02117

Parte(s)

RECORRENTE: INSTITUTO DE APOSENTADORIA E PENSÕES

DOS EMPREGADOS DE TRANSPORTES E CARGAS.

RECORRIDO: MESBLA S.A.

Ementa

ABONOS PROVISORIOS. NÃO ESTA O EMPREGADOR OBRIGADO

A RECOLHER CONTRIBUIÇÃO PARA INSTITUTO DE

APOSENTADORIA E PENSÕES SOBRE OS ABONOS

PROVISORIOS RECEBIDOS PELOS EMPREGADOS. APLICAÇÃO E

INTELIGENCIA DO ART. 76, DO DECRETO 22.637, DE 1946, E DEC-

LEI N. 3.813, DE 1941, PRORROGADO PELO DE N. 4.356, DE 1942.

A LEI SE REVOGA POR OUTRA. QUANDO OCORRE A

REVOGAÇÃO TACITA. NÃO CABIMENTO DE RECURSO.

Decisão

Não tomaram conhecimento, unanimemente.

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Citamos, por fim, a jurisprudência pacífica também do Superior

Tribunal de Justiça, no mesmo sentido (grifos nossos):

RMS 21942 / MS

RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA

2006/0108611-0

Ministro LUIZ FUX (1122)

T1 - PRIMEIRA TURMA

15/02/2011

DJe 13/04/2011

RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. CONSTITUCIONAL E

TRIBUTÁRIO. IPVA. ISENÇÃO. ARTIGO 1º, DO DECRETO ESTADUAL 9.918/2000.

RESTRIÇÃO AOS VEÍCULOS ADQUIRIDOS DE REVENDEDORES LOCALIZADOS NO

ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL. EXORBITÂNCIA DOS LIMITES IMPOSTOS PELA LEI

ESTADUAL 1.810/97. PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA LEGALIDADE ESTRITA.

INOBSERVÂNCIA. AFASTAMENTO DE ATO NORMATIVO SECUNDÁRIO POR ÓRGÃO

FRACIONÁRIO DO TRIBUNAL. POSSIBILIDADE. SÚMULA VINCULANTE 10/STF.

OBSERVÂNCIA.

1. A isenção do Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), concedida pelo

Decreto Estadual 9.918/2000, revela-se ilegal e inconstitucional, porquanto introduzida, no

ordenamento jurídico, por ato normativo secundário, que extrapolou os limites do texto legal

regulamentado (qual seja, a Lei Estadual 1.810/97), bem como ante a inobservância do princípio

constitucional da legalidade estrita, encartado no artigo 150, § 6º, da Constituição da República

Federativa do Brasil de 1988.

2. Com efeito, a Lei Estadual 1.810/97, ao dispor sobre os tributos de competência do Estado do

Mato Grosso do Sul, preceituou que: "Art. 314 - Fica o Poder Executivo autorizado a regulamentar

esta Lei, podendo o Regulamento dispor que, mediante Resolução baixada pelo Secretário de

Estado de Finanças, Orçamento e Planejamento, sejam expedidas normas complementares aos

seus dispositivos. (...) § 2º - Fica a Secretaria de Estado de Finanças, Orçamento e Planejamento

autorizada a promover campanhas de incentivos à arrecadação estadual, por meio de formas

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julgadas técnica e economicamente viáveis, inclusive com a premiação de consumidores

estimulados à exigência de notas fiscais."

3. O Governador do Estado do Mato Grosso do Sul, no exercício de seu poder normativo e com

base no artigo 314, da Lei Estadual 1.810/97, expediu o Decreto Estadual 9.918/2000, verbis:

"Considerando que, pelo sistema tributário vigente, o ICMS incidente nas operações de saídas

diretamente ao consumidor final pertence ao Estado onde se encontra o estabelecimento que

promove a saída, ainda que o consumidor adquirente esteja localizado em outra unidade da

Federação; Considerando que, em decorrência de fatores de mercado, a procura por veículos

novos em outra unidade da Federação, diretamente pelo consumidor, vem aumentando

significativamente, em prejuízo do mercado local e, consequentemente, da arrecadação do

ICMS; Considerando que a exoneração do IPVA ou a redução do seu valor, condicionadas à

aquisição dos respectivos veículos neste Estado, são medidas capazes de estimular essa

aquisição em estabelecimentos revendedores localizados neste Estado, com vantagem para o

comércio local e, conseqüentemente, para a arrecadação deste Estado; onsiderando que,

quantitativamente, a receita proveniente do ICMS, por veículo, é maior que a do IPVA, fato que

justifica a renúncia de uma para garantir a outra, por resultar em maior vantagem para o Estado.

DECRETA

Art. 1º As pessoas, físicas ou jurídicas, que adquirirem veículos automotores novos, classificados

nos códigos da NBM/SH relacionados na Seção A do Subanexo V (na redação do Decreto nº

9.889, de 2 de maio de 2000) ao Anexo I ao Regulamento do ICMS, de revendedores localizados

no Estado de Mato Grosso do Sul, credenciados pelo Sindicato de Concessionárias de Veículos

Automotores do Estado de Mato Grosso do Sul, no período de 1º de junho a 30 de novembro de

2000, ficam isentas do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) incidente

sobre a propriedade dos respectivos veículos, relativamente à primeira tributação."

4. Como de sabença, a validade dos atos normativos secundários (entre os quais figura o

decreto regulamentador) pressupõe a estrita observância dos limites impostos pelos atos

normativos primários a que se subordinam (leis, tratados, convenções internacionais,

etc.), sendo certo que, se vierem a positivar em seu texto uma exegese que possa irromper

a hierarquia normativa sobrejacente, viciar-se-ão de ilegalidade e não de

inconstitucionalidade (Precedentes do Supremo Tribunal Federal: ADI 531 AgR, Rel. Ministro

Celso de Mello, Tribunal Pleno, julgado em 11.12.1991, DJ 03.04.1992; e ADI 365 AgR, Rel.

Ministro Celso de Mello, Tribunal Pleno, julgado em 07.11.1990, DJ 15.03.1991).

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5. Conseqüentemente, sobressai a "ilegalidade" do decreto regulamentador que extrapolou os

limites impostos pela Lei Estadual 1.810/97, ao instituir hipótese isentiva não prevista no texto

normativo primário.

6. Ainda que assim não fosse, o aludido diploma normativo encontra-se eivado de

inconstitucionalidade formal, uma vez que o princípio constitucional da legalidade estrita, além

de proscrever a exigência ou aumento de tributo sem lei que o estabeleça, condiciona a

concessão de isenção à edição de lei específica, consoante se infere da leitura do artigo 150,

inciso I, e § 6º, da Carta Magna: "Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao

contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça; (...) § 6.º Qualquer subsídio ou isenção,

redução de base de cálculo, concessão de crédito presumido, anistia ou remissão, relativos a

impostos, taxas ou contribuições, só poderá ser concedido mediante lei específica, federal,

estadual ou municipal, que regule exclusivamente as matérias acima enumeradas ou o

correspondente tributo ou contribuição, sem prejuízo do disposto no art. 155, § 2.º, XII, g." 7. Ne

se segmento, abalizada doutrina assinala que:

"O princípio da legalidade é limite objetivo que se presta, ao mesmo tempo, para oferecer

segurança jurídica aos cidadãos, na certeza de que não serão compelidos a praticar ações

diversas daquelas prescritas por representantes legislativos, e para assegurar a observância ao

princípio constitucional da tripartição dos poderes. O princípio da legalidade compele o intérprete,

como é o caso dos julgadores, a procurar frases prescritivas, única e exclusivamente, entre as

introduzidas no ordenamento positivo por via de lei ou de diploma que tenha o mesmo status. Se

do conseqüente da regra advier obrigação de dar, fazer ou não fazer alguma coisa, sua

construção reivindicará a seleção de enunciados colhidos apenas e tão-somente no plano legal."

(Paulo de Barros Carvalho, in "Direito Tributário: Linguagem e Método", 2ª ed., 2008, Ed. Noeses,

São Paulo, págs. 282/283) 8. Ademais, o Código Tributário Nacional, em seu artigo 97, determina

que somente a lei pode estabelecer as hipóteses de exclusão, suspensão e extinção de créditos

tributários, ou de dispensa ou redução de penalidades (inciso VI).

9. Deveras, o princípio da legalidade tributária, corolário do valor Segurança Jurídica, não se

resume à simples exigência de comando abstrato, geral e impessoal (reserva de lei material),

mas, também, à necessidade de sua formulação pelo órgão titular da função legislativa (reserva

de lei formal) (Luciano Amaro, in "Direito Tributário Brasileiro", 10ª ed., 2004, Ed. Saraiva, São

Paulo, pág. 116).

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10. Destarte, a instituição de isenção tributária mediante decreto oriundo do Poder Executivo,

além de extrapolar o exercício do poder regulamentar (em flagrante oposição ao princípio

da hierarquia das leis), caracteriza violação ao princípio da legalidade tributária estrita, razão

pela qual manifesta a ilegalidade/inconstitucionalidade do Decreto Estadual 9.918/2000.

11. Assim, revela-se prejudicada a análise da insurgência sob a ótica da alegada inobservância

aos princípios constitucionais da isonomia (artigo 150, II, da CRFB/88) e da não-discriminação

tributária em razão da origem ou do destino dos bens e serviços (artigo 152, da CRFB/88), o que

poderia, em tese, resultar na extensão da isenção de IPVA aos contribuintes, residentes no

Estado do Mato Grosso do Sul, que adquiriram veículos automotores novos de revendedores

localizados em outros Estados Membros.

12. A Súmula Vinculante 10/STF cristalizou o entendimento de que: "Viola a cláusula de reserva

de plenário (CF, artigo 97) a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não declare

expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder público, afasta sua

incidência, no todo ou em parte."

13. Entrementes, é certo que a exigência de observância à cláusula de reserva de plenário não

abrange os atos normativos secundários do Poder Público, uma vez não estabelecido confronto

direto com a Constituição, razão pela qual inaplicável a Súmula Vinculante 10/STF à espécie.

14. Recurso ordinário desprovido.

Isto posto, demonstra-se que o Decreto em tela é ILEGAL,

devendo ser removido (existência/validade/eficácia retirada) do nosso

ordenamento jurídico.

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III.2 – DA AUSÊNCIA DE RAZOABILIDADE, DO BIS IN IDEM / DUPLICIDADE

DO REAJUSTE PARA 2017

Conforme demonstramos acima, os Poderes Legislativo e

Executivo REAJUSTARAM o valor do Bilhete Único através da aprovação e

sanção da Lei Estadual n. 7.506 de 30 de dezembro de 2016 para o ano de 2017

no índice de 23% (vinte e três por cento).

Contudo, tendo em vista o reajuste das tarifas de ônibus

intermunicipais para o ano de 2017 no percentual de 6,99% (seis vincula

noventa e nove por cento), o Poder Executivo aplicou o mesmo valor de

REAJUSTE PARA O VALOR JÁ REAJUSTADO do Bilhete Único, sob o

fundamento que a Lei Estadual n. 5.628/2009 prevê o reajuste de ambos na

mesma data e proporção.3

Esquece-se, porém, que o reajuste do Bilhete Único para o

ano de 2017 já ocorrera pela Lei Estadual n. 7.506 de 30 de dezembro de

2016...

Ocorreu uma duplicidade de reajuste do valor do Bilhete

Único para o ano de 2017.

Primeiro o valor do Bilhete Único, de R$ 6,50 sofreu o reajuste

de 23% (R$ 8,00) para o ano de 2017 pela Lei Estadual n. 7.506/2016 (alterou

parcialmente a Lei Estadual n. 5.628/2009).

Segundo, o Decreto n. 45.888 de 12 de janeiro de 2017 reajustou

em mais 6,99% o valor do Bilhete Único (já reajustado), passando de R$ 8,00

para R$ 8,55 (todos em 2017)...

O bis in idem ocorrido é irrazoável e é um fenômeno que

consiste na repetição de uma “sanção” (reajuste) sobre mesmo fato (valor

do Bilhete Único para o ano de 2017).

3 Decreto n. 45.888 de 12 de janeiro de 2017

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REsp 1478439 / RS

RECURSO ESPECIAL

2014/0151778-2

Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES (1141)

S1 - PRIMEIRA SEÇÃO

25/03/2015

DJe 27/03/2015

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL

REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC E RESOLUÇÃO

STJ 08/2008. SERVIDOR PÚBLICO FEDERAL. AUDITORES FISCAIS DA RECEITA

FEDERAL. EMBARGOS À EXECUÇÃO INDIVIDUAL CONTRA A FAZENDA PÚBLICA.

REAJUSTE DE 28,86%. INCIDÊNCIA SOBRE A GRATIFICAÇÃO DE ESTÍMULO À

FISCALIZAÇÃO E ARRECADAÇÃO - GEFA, APÓS A EDIÇÃO DA MEDIDA

PROVISÓRIA 831/1995 E ATÉ A EDIÇÃO DA MEDIDA PROVISÓRIA 1.915/1999.

POSSIBILIDADE. APLICABILIDADE DO MESMO ENTENDIMENTO FIRMADO NO

JULGAMENTO DO RECURSO ESPECIAL REPETITIVO 1.318.315/AL. RECURSO

ESPECIAL PARCIALMENTE PROVIDO.

1. Cinge-se a controvérsia posta em exame à análise acerca da incidência ou não

do reajuste de 28,86% sobre a Gratificação de Estímulo à Fiscalização e Arrecadação

- GEFA, no período entre a data da edição da Medida Provisória 831, de 18 de janeiro

de 1995, e da Medida Provisória 1.915-1, de 29 de julho de 1999.

2. A Gratificação de Estímulo à Fiscalização e Arrecadação – GEFA foi criada pelo

Decreto-Lei 2.357/1987, hipótese em que tal gratificação era atribuída em forma de

pontos por servidor em função do desempenho global da Administração Tributária,

consistindo cada ponto em 0,095% do vencimento básico do respectivo padrão do

servidor.

3. A Lei 7.787/1989 dispôs que GEFA atenderia os mesmos princípios estabelecidos

pela Lei 7.711/1988, que criou a Retribuição Adicional Variável - RAV, também

devida aos Auditores-Fiscais e Técnicos-Fiscais do Tesouro Nacional.

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4. A Lei 8.477/1992 assegurou que a Retribuição Adicional Variável - RAV, instituída

pela Lei 7.711/1988, e a GEFA, quando devida aos Fiscais de Contribuições

Previdenciárias (art. 11 da Lei 7.787/1989), observariam o limite previsto no art.

12 da Lei 8.460/1992, isto é, limitou o valor da RAV e da GEFA ao equivalente ao

soldo de Almirante-de-Esquadra, de General-de-Exército ou Tenente-Brigadeiro.

5. Ocorre que o soldo de Almirante-de-Esquadra foi reajustado pela Lei

8.627/1993 no percentual de 28,86%, o que afastaria a incidência do reajuste sobre

a GEFA nesse período, sob pena de incorrer em bis in idem.

6. Contudo, em 18 de janeiro de 1995 foi editada a Medida Provisória 831, convertida

na Lei 9.624, de 02/04/1998, onde modificou-se a forma de cálculo da RAV e da

GEFA, as quais passaram a serem pagas em valor fixo, correspondente ao oito

vezes o maior vencimento básico do servidor situado no grau mais elevado da

respectiva carreira.

7. Consoante entendimento sedimentado pelo Pretório Excelso, o reajuste de

28,86%, de que tratam as Leis 8.622 e 8.627, ambas de 1993, por ser tratar de reajuste

geral de vencimentos, incide sobre a remuneração do servidor, incluídas as parcelas

vencimentais que possuam como base de cálculo o vencimento básico do servidor,

bem como as gratificações, adicionais e parcelas de natureza permanente, atreladas

ou não ao vencimento básico, que devem observar pela sobredita reposição salarial,

sendo vedado, contudo, que as parcelas vinculadas ao vencimento básico sejam objeto

de dupla incidência do aludido reajuste, o que caracterizaria bis in idem. Nesse

sentido: REsp 990.284/RS, Rel. Ministra Maria Thereza de Assis Moura, Terceira

Seção do STJ, julgado em 26/11/2008, DJe 13/4/2009.

8. In casu, desde a edição da Medida Provisória 831, de 1995, a GEFA não tinha por

base de cálculo o vencimento básico do respectivo servidor, nem o soldo de

Almirante-de-Esquadra, mas sim o maior vencimento básico da respectiva categoria,

correspondendo a oito vezes o maior vencimento básico da tabela referente aos

Auditores Fiscais, que pode ou não corresponder com a referência ocupada pelo

respectivo servidor.

9. Impõe-se aferir se o maior vencimento básico da tabela (padrão A-III) sofreu algum

reajuste em decorrência da edição das Leis 8.622 e 8.627, ambas de 1993, a fim

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de concluir-se por eventual compensação, na forma do que enuncia a Súmula

672/STF.

10. Nesses termos, relativamente a um determinado Auditor Fiscal reposicionado do

padrão B-VI para o A-III, há uma coincidência no fato de o padrão A-III surgir duas

vezes no cálculo do reajuste de 28,86%: (i) está no vencimento básico deste Auditor

Fiscal (aí sim, o reajuste de 28,86% sofrerá compensação pelo reposicionamento); e

(ii) está na base de cálculo da GEFA (que é de oito vezes o valor do mais alto

vencimento básico da respectiva tabela, que é o padrão A-III), e esta verba recebe o

reajuste de 28,86% sem desconto por não ter como base de cálculo o vencimento deste

específico servidor, não tendo relevância, no ponto, o reposicionamento determinado

pela Lei 8.627/1993.

11. É de se ressaltar que o padrão A-III já se encontrava previsto pela Lei 8.460/1992

(Anexo II) como o vencimento básico mais alto e o aumento de valor promovido pelos

arts. 1º e 2º da Lei 8.622/1992 não é compensável no pagamento do reajuste de

28,86% sobre a GEFA porque trata-se de reajuste de natureza diversa daquela

constatada pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do RMS 22.307/DF.

Assim, não há que confundir o pagamento do reajuste de 28,86% sobre o vencimento

básico do Auditor Fiscal (o que é compensável pelo reposicionamento) com o

pagamento do mesmo reajuste sobre a GEFA, cuja base de cálculo é o padrão A-III

multiplicado por oito, cujo reajuste pelas Leis 8.622/1993 e 8.627/1993 não justifica

compensação, à luz do entendimento do STF no RMS 22.307/DF e da

Súmula 672/STF.

12. Portanto, conclui-se que incide o reajuste de 28,86% sobre a Gratificação de

Estímulo à Fiscalização e Arrecadação - GEFA, após a edição da Medida Provisória

831/1995 e até a edição da Medida Provisória 1.915-1/1999, mais precisamente no

período de janeiro de 1995 a julho de 1999, quando teria a sua base de cálculo

desvinculada do soldo de Almirante-de-Esquadra e vinculada ao maior vencimento

básico da respectiva tabela.

13. Aplica-se à GEFA o mesmo entendimento adotado pela 1ª Seção do STJ no

julgamento do REsp 1.318.315/AL, sob a sistemática do art. 543-C do CPC,

porquanto, não obstante referir-se a verba distinta (RAV), produz reflexos também no

que se refere à incidência do mesmo índice sobre a GEFA, especialmente diante das

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disposições do art. 8° da Medida Provisória 831/1995 e do art. 11 da Lei 9.624/1998,

que tratam dessas duas verbas de forma conjunta, conferindo-lhes tratamento

idêntico e a mesma base de cálculo. Precedente: AgRg no REsp 1.162.264/RS, Rel.

Ministro Rogério Schietti Cruz, Sexta Turma do STJ, julgado em 5/6/2014, DJe 8/8/2014.

14. A Medida Provisória 1.915-1, de 29/7/1999, além de promover uma reestruturação

da Carreira Auditoria do Tesouro Nacional, alterando a nomenclatura para "Carreira

Auditoria da Receita Federal", reajustou a remuneração e concedeu aumento de um

padrão para cada classe dos servidores em questão, dispondo ainda, em seu art. 14,

que "os integrantes da Carreira da Auditoria-Fiscal da Previdência Social e da Carreira

Fiscalização do Trabalho não fazem jus à percepção da Gratificação de Estímulo à

Fiscalização e Arrecadação - GEFA, criada pelo Decreto-Lei nº 2.371, de 18 de

novembro de 1987", sendo este o termo final da incidência do reajuste de 28,86% sobre

a GEFA.

15. Sucumbência recíproca mantida.

16. Recurso especial parcialmente provido. Acórdão submetido ao

regime do art. 543-C do CPC e da Resolução STJ 08/2008.

Ademais, ressaltamos que não se pode confundir reajuste da

tarifa de ônibus, que é apta a recompor o equilíbrio econômico-financeiro da

concessão em tela (6,99%) com reajuste do valor do Bilhete Único, que é uma

política pública de subsídio (tarifa social) destinada à população hipossuficiente

fluminense.

Ressaltamos que o reajuste exacerbado/irrazoável do valor

do Bilhete Único implica em extinguir a política pública da tarifa social de

transporte à população carente. É dizer: só se valerá da tarifa social quem

gastar mais de R$ 8,55 (oito reais e cinquenta e cinco centavos) para se

deslocar, casos que são exceção e não regra.

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Impor mais um reajuste ao valor do Bilhete Único é

desconsiderar o reajuste legal já aplicado anteriormente por meio de Lei, é

prejudicar somente os mais pobres (que terão de arcar com todo o valor da

passagem que até dezembro de 2016 era de R$ 6,50).

Vejamos o valor do transporte arcado pelo passageiro (grande

parte carente), em seus diversos modais de integração, por amostragem, a título

de exemplificação:

MODAL VALOR

Trem R$ 4,20 ( a partir de

02/02/17)4

Barcas R$ 4,105

Metrô R$ 4,106

Ônibus Municipal R$ 3,807

BRT R$ 3,808

Se somarmos o valor da utilização de 2 (dois) transportes,

observaremos que pouquíssimos superarão o valor de R$ 8,00 (oito reais).

No caso do aumento do valor do Bilhete Único para R$ 8,55 (oito

reais e cinquenta e cinco centavos), praticamente ninguém usufruirá desse

benefício social.

Em outras palavras, por via indireta, o Decreto n. 45.888 de 12

de janeiro de 2017 acaba por, na prática, EXTINGUIR O BILHETE ÚNICO.

4 http://www.supervia.com.br/pt-br/estacoes-e-tarifas/formas-de-pagamento 5 http://www.grupoccr.com.br/barcas/mobile 6 https://www.metrorio.com.br/como-pagar/meios-e-tarifas 7 https://onibusrio.wordpress.com/tarifas/ 8 https://onibusrio.wordpress.com/tarifas/

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Ressaltamos mais uma vez:

1 – O valor do Bilhete Único era de R$ 6,50 até dezembro

de 2016;

2 – Lei Estadual reajustando e fixando o valor do Bilhete

Único no valor de R$ 8,00, a partir de 2017;9

4 – agora, o Executivo editou unilateralmente um novo

reajuste do valor do Bilhete Único para a cifra de R$ 8,55,

para o ano de 2017.10

Em dezembro de 2016 o valor do Bilhete Único era R$ 6,50 (seis

reais e cinquenta centavos).

Reajustar o valor para R$ 8,55 (oito reais e cinquenta e cinco

centavos) representa um aumento de 31,6% (trinta e um vírgula seis por

cento) no valor do Bilhete Único para o ano de 2017.

Trata-se de um valor irrazoável, não encontrando previsão em

nenhum índice oficial de reajuste de preço (ressaltando que o reajuste da tarifa

intermunicipal de 2016 para 2017 foi de 6,99%, bem abaixo de 31,6%).

Com base nos dados informados pelo RioCard ao Tribunal de

Contas do Estado, existem, aproximadamente, 4 milhões de usuários

cadastrados no Bilhete Único, o que significa 8 milhões de transações diárias

(ida e volta da viagem).11

9 Lei Estadual n. n. 7.506/2016 para o ano de 2017 (alterando a Lei Estadual n. 5.628/2009) 10 Decreto n. 45.888 de 12 de janeiro de 2017 11 Processo TCE n. 4.337-2/2015

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Assim sendo, ressaltamos que tal medida tem potencial de

impactar no aumento de R$ 1,10 (um real e dez centavos) diariamente no

orçamento de, aproximadamente, quatro milhões de passageiros,

representando, contando ida e volta, aumento do valor diário do transporte

para a população de, aproximadamente, R$ 8.800.000,00 (oito milhões e

oitocentos mil reais).

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IV - DO RESSARCIMENTO DOS DANOS MORAIS E MATERIAIS

Em situações como tais, o ordenamento jurídico admite de forma

expressa a reparação do dano moral coletivo, como forma de tutela dos direitos

transindividuais violados, o que deflui do art. 6o, inciso VI, do Código de Defesa

do Consumidor e art. 1o, inciso IV, da Lei n˚. 7.347/85:

CDC

Art. 6o. São direitos básicos do consumidor: (...)

VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e

morais, individuais, coletivos e difusos.

Lei 7.347/85

Art. 1˚. Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da

ação popular, as ações de responsabilidade por danos morais e

patrimoniais causados:

(...)

IV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivo.

De acordo com Schreiber:

“O tecido normativo brasileiro não parece deixar qualquer dúvida

no tocante ao reconhecimento de tutela a interesses

transindividuais, que, uma vez lesados, resultam em danos

coletivos ou difusos, que podem assumir conotação patrimonial

ou moral. Tais danos podem, como também reconhece

expressamente a nossa ordem jurídica, ser objeto de ações de

reparação.

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Chamemos a isso dano moral coletivo, reformulando nosso

conceito de dano moral para adequá-lo aos dispositivos legais,

ou tratemos dessas situações sob outra denominação qualquer

(danos extrapatrimoniais coletivos e difusos), pouco importa. O

importante é que superemos uma polêmica artificial, que tem

obstado a aplicação do instrumento compensatório em defesa

de interesses supraindividuais que o ordenamento jurídico

brasileiro expressamente reconhece, sem qualquer ressalva,

como merecedoras de tutela”12.

A tese tem sido reiteradamente acolhida no âmbito das Cortes

Superiores do país, a exemplo dos precedente a seguir:

REsp 1509923 / SP

Relator(a) Ministro HUMBERTO MARTINS

Órgão Julgador SEGUNDA TURMA

Data do Julgamento: 06/10/2015

Data da Publicação/Fonte: DJe 22/10/2015

Ementa: PROCESSO COLETIVO E CONSUMIDOR. AÇÃO

CIVIL PÚBLICA. JOGOS DE AZAR. BINGOS, CAÇA-NÍQUEIS

E AFINS. SÚMULA VINCULANTE 2/STF. VEDAÇÃO PELA LEI

9.981/2000. INEXISTÊNCIA, POR ORA, DE LEGISLAÇÃO QUE

AUTORIZE A ATIVIDADE. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL

COLETIVO. CABIMENTO.

1. Na origem, o Ministério Público Federal e a União

promoveram ação civil pública contra casas de bingos, caça-

níqueis e demais jogos de azar, pleiteando a condenação em

obrigações de fazer e não fazer atinentes à interdição da

atividade, além de indenização por dano moral coletivo a ser

revertida para o Fundo de Defesa dos Direitos Difusos.

12 SCHREIBER, Anderson. Direitos da personalidade, 2a edição, São Paulo: Atlas, 2003, p. 102.

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2. A sentença de primeiro grau julgou procedente o pedido

relativa às interdições, bem como apontou os efeitos dos jogos

ilegais não só para o consumidor como também para a família,

a coletividade, a economia e a saúde pública, também condenou

as rés à indenização por dano moral coletivo, a ser apurada na

fase de liquidação, sob o parâmetro de 20% da média

arrecadada a partir da expiração das autorizações a elas

concedidas até a efetiva interdição das atividades. O Tribunal de

origem, em agravo regimental, reformou a sentença de primeiro

grau para afastar a condenação das rés ao pagamento de dano

moral coletivo.

3. É competência privativa da União legislar sobre sistemas de

consórcios e sorteios. Nesse sentido, a Súmula Vinculante 2

considera "inconstitucional a lei ou ato normativo Estadual ou

Distrital que disponha sobre sistemas de consórcios e sorteios,

inclusive bingos e loterias" (STF, DJe 31, de 6/6/2007).

4. A exploração de casas de bingo chegou a ser permitida pela

Lei 9.615/1998 (arts. 59 a 81), mas tais dispositivos legais foram

revogados pela Lei 9.981/2000, a partir de 31/12/2001,

"respeitando-se as autorizações que estiverem em vigor até a

data da sua expiração" (art. 2º). A União detém a exploração

direta de loterias federais ("jogos autorizados") e o Decreto

50.954/1961 incumbe a administração das loterias federais à

Caixa Econômica Federal. Portanto, enquanto não sobrevier

legislação que a autorize, a exploração comercial de jogos de

bingo e de demais jogos de azar não encontra amparo no

ordenamento jurídico pátrio vigente.

5. Quando os interesses e direitos individuais coletivamente

considerados trazem repercussão social apta a transpor as

pretensões particulares, autoriza-se sua tutela pela via

coletiva (arts. 81 e 82 do CDC).

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6. O art. 6º do CDC traz como direitos básicos do consumidor:

"(...) I - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais

e morais, individuais, coletivos e difusos; (...) VII - o acesso

aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção

ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais,

coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica,

administrativa e técnica aos necessitados".

7. A responsabilidade civil é objetiva, respondendo os réus,

"independentemente da existência de culpa, pela reparação

dos danos causados aos consumidores" (art. 12, caput, do

CDC).

8. O dano moral coletivo prescinde da comprovação de dor,

de sofrimento e de abalo psicológico, pois tal comprovação,

embora possível na esfera individual, torna-se inaplicável

quando se cuida de interesses difusos e coletivos. Nesse

sentido: REsp 1.410.698/MG, Rel. Ministro HUMBERTO

MARTINS, SEGUNDA TURMA, DJe 30/06/2015; REsp

1.057.274/RS, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA

TURMA, DJe 26/02/2010. Recurso especial interposto pelo

Parquet foi conhecido e provido para restabelecer a condenação

das rés ao pagamento de indenização por dano moral coletivo,

na forma fixada pela sentença de primeiro grau.

Da mesma forma, o TJRJ, em recente julgado, decidiu

favoravelmente à Defensoria Pública, em acórdão assim ementado:

TRIBUNAL DE JUSTIÇA

6ª CÂMARA CÍVEL

Apelação nº. 0230547-80.2013.8.19.0001

APELANTE: DEFENSORIA PUBLICA DO ESTADO DO RIO DE

JANEIRO

APELADO: ESTADO DO RIO DE JANEIRO

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RELATORA: DES. CLAUDIA PIRES DOS SANTOS FERREIRA

APELAÇÃO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA, AJUIZADA PELA

DEFENSORIA PÚBLICA. DIREITO FUNDAMENTAL À SAÚDE

E À DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. CUMPRIMENTO DE

MEDIDA DE SEGURANÇA NO HOSPITAL PENITENCIÁRIO

ESTADUAL HEITOR CARRILHO. PORTADORES DE DOENÇA

MENTAL EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE. OMISSÃO

ESPECÍFICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO NA

IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS QUE

ASSEGUREM A DESINTERNAÇÃO. GRAVE VIOLAÇÃO DOS

DIREITOS HUMANOS. DANO MORAL INDIVIDUAL E

COLETIVO, CONFIGURADOS. HONORÁRIOS. APLICAÇÃO

DA SÚMULA 421 DO STJ. PROVIMENTO DO RECURSO

PARA CONFIRMAR A LIMINAR CAUTELAR, DEFERIDA,

PROIBINDO O INGRESSO DE NOVOS INTERNADOS NO

REFERIDO NOSOCÔMIO, BEM COMO, REFORMAR A

SENTENÇA PARA JULGAR PARCIALMENTE PROCEDENTE

OS PEDIDOS DA DEFENSORIA PÚBLICA.

Tal imposição legal se deve, in casu, à essencialidade do serviço

público de transporte coletivo, do qual dependem diariamente milhares de

cidadãos.

Os danos decorrentes da ILEGALIDADE e

DESPROPORCIONALIDADE da prática abusiva imposta, são inerentes às

próprias condutas do réu, consistente em impor, de forma unilateral e sem a

devida forma que o Direito exige (alteração de Lei por meio de Lei), a majoração

do valor do subsídio do Bilhete Único em 6,99% (seis vírgula noventa e nove por

cento) a, aproximadamente, 4.000.000 (quatro milhões) de usuários diários.

Impondo que milhões de pessoas arquem ilegalmente com um

valor, diariamente, que somados, representam milhões de reais todo os dias...

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Desta forma, o descaso da ré com a coletividade de usuários do

serviço, titulares do direito fundamental à sua regular e adequada prestação nos

termos legais, é de elevada significância e ultrapassa os limites da tolerabilidade,

sendo grave o suficiente para produzir verdadeiro transtorno à coletividade de

usuários dependentes do serviço público essencial em comento. A prática

impugnada gera intranquilidade social e alterações relevantes na ordem

extrapatrimonial coletiva, a ensejar sua condenação na obrigação de reparar o

dano moral coletivo causado.

Neste sentido é a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça,

que reconhece o cabimento do dano moral coletivo em casos semelhantes ao

dos autos, senão vejamos:

ADMINISTRATIVO - TRANSPORTE - PASSE LIVRE -

IDOSOS - DANO MORAL COLETIVO -

DESNECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO DA DOR E DE

SOFRIMENTO – APLICAÇÃO EXCLUSIVA AO DANO

MORAL INDIVIDUAL - CADASTRAMENTO DE IDOSOS

PARA USUFRUTO DE DIREITO - ILEGALIDADE DA

EXIGÊNCIA PELA EMPRESA DE TRANSPORTE - ART.

39, § 1º DO ESTATUTO DO IDOSO - LEI 10741/2003

VIAÇÃO NÃO PREQUESTIONADO.

1. O dano moral coletivo, assim entendido o que é

transindividual e atinge uma classe específica ou não

de pessoas, é passível de comprovação pela presença

de prejuízo à imagem e à moral coletiva dos indivíduos

enquanto síntese das individualidades percebidas

como segmento, derivado de uma mesma relação

jurídica-base .

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2. O dano extrapatrimonial coletivo prescinde da

comprovação de dor, de sofrimento e de abalo

psicológico, suscetíveis de apreciação na esfera do

indivíduo, mas inaplicável aos interesses difusos e

coletivos .

3. Na espécie, o dano coletivo apontado foi a submissão

dos idosos a procedimento de cadastramento para o gozo

do benefício do passe livre, cujo deslocamento foi custeado

pelos interessados, quando o Estatuto do Idoso, art. 39, §

1º exige apenas a apresentação de documento de

identidade.

4. Conduta da empresa de viação injurídica se considerado

o sistema normativo.

5. Afastada a sanção pecuniária pelo Tribunal que

considerou as circunstancias fáticas e probatória e

restando sem prequestionamento o Estatuto do Idoso,

mantém-se a decisão.

5. Recurso especial parcialmente provido.

(REsp 1057274, SEGUNDA TURMA, Rel. Ministra ELIANA

CALMON, Dje 26.2.2010). – grifou-se –

A indenização por dano moral coletivo também tem importante

função pedagógica, a fim de evitar novas lesões aos passageiros de transporte

público sem o devido respeito à Lei. No caso dos autos, conforme acima já

demonstrado, a violação ao direito público essencial de transporte público sem

nenhuma formalidade exigida pelo ordenamento jurídico (Decreto revogando

Lei), aumentando um valor de uma tarifa social de transporte que está fixada em

lei – utilizado diariamente por milhões de usuários – resta claro que a ausência

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de fixação de sanção ou a imposição desta em valor reduzido seria verdadeiro

desestímulo à adequação da conduta irregular e ao cumprimento de eventual

decisão favorável do Juízo.

A fixação do valor da sanção deve se dar de modo a fazer a

conduta irregular deixar de ser vantajosa para quem a pratica, o que só pode ser

alcançado quando se leva em consideração a saúde econômica daquele que

opta por se manter na irregularidade.

Assim, imperiosa que a condenação da reparação dos danos

morais coletivos causados aos usuários de transporte público acompanhe a

condenação de obrigação de não-fazer abaixo lançada, sendo esta a única

medida adequada a fazer cessar a prática irregular (ilegal) até aqui verificada.

V - DOS REQUISITOS PARA O DEFERIMENTO DA TUTELA DE URGÊNCIA:

A existência da Lei Estadual n. 7.506 de 29 de dezembro de

2016 e as considerações feitas no decorrer da exordial, em especial a expedição

de Decreto Regulamentador revogando/alterando a Lei, em prejuízo da

população evidenciam a presença de prova inequívoca e da verossimilhança

das alegações ora expostas no que concerne a violação do princípio da

Legalidade Estrita, da Separação dos Poderes, da Razoabilidade, bis in idem,

das normas do Código de Defesa do Consumidor, e da Constituição da

República de 1988.

A probabilidade do direito restou demonstrada diante das

considerações acerca da violação à Lei (ato normativo primário) por um Decreto

Regulamentar (ato normativo secundário) já trazidos à colação na exordial.

Está presente o perigo de dano e risco ao resultado útil do

processo, uma vez que o acolhimento da demanda sem a antecipação de tutela

poderá importar no prejuízo diário a 4.000.000 (quatro milhões) de usuários do

Bilhete Único, representando, diariamente, com o trajeto ida e volta (o dobro),

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aproximadamente um valor de R$ 8.800.000,00 (oito milhões e oitocentos mil

reais), repito, diariamente...

Ademais, é inequívoco o risco que representa o implemento de

um reajuste ilegal, que será realizada a partir da data de 13 de fevereiro de

2017, diante da demora na solução do processo e a urgência exigida pelo caso

na adoção das medidas pleiteadas.

Assim, demonstrado se encontra o requisito autorizador da

concessão da tutela de urgência previsto no art. 300, do Código de Processo

Civil e 84, parágrafo 3°, do Código de Defesa do Consumidor.

VI – DOS PEDIDOS:

Isto posto, requer a Defensoria Pública do Estado do Rio de

Janeiro, ante a necessidade de se sustar e, ao final, invalidar o ILEGAL e

REPETIDO reajuste do valor do Bilhete Único para o ano de 2017, previsto no

art. 1º do Decreto n. 45.888/2017, que desconsidera e extrapola o reajuste dado

pela Lei Estadual n. 7.506 de 29 de dezembro de 2016 (art. 7°), violando-se o

princípio da Separação dos Poderes, a Legalidade Estrita, o bis in idem e a

razoabilidade do impacto financeiro na população carente trabalhadora do

Estado do Rio de Janeiro:

a) A CONCESSÃO DA TUTELA DE URGÊNCIA, inaudita

altera parte, para que:

a.1 - seja suspenso o art. 1º do Decreto n. 45.888/2017, intimando-

se o Réu e, pessoalmente, o Governador, sob pena de multa diária a

ser aplicada por V. Exa, sugerida em valor não inferior a R$

100.000,00 (cem mil reais) e/ou outras medidas eficazes a serem

determinadas por V. Exa.;

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a.2 – Determine que não se altere o valor do Bilhete Único fixado na

Lei Estadual n. 7.506 de 29 de dezembro de 2016 (art. 7°), ou em Lei

que o substitua, sem a devida alteração legislativa, sob pena de multa

diária a ser aplicada por V. Exa, sugerida em valor não inferior a R$

100.000,00 (cem mil reais) e/ou outras medidas eficazes a serem

determinadas por V. Exa.

b) Seja concedida a dispensa do pagamento de custas,

emolumentos e outros encargos, desde logo, a vista do que

dispõem o artigo 18 da Lei n. 7.347/85 e artigo 87 da Lei n.

8.078/90;

c) A designação de audiência de conciliação a ser realizada no

prazo de trinta dias, bem como a citação do Réu, com a

antecedência mínima de vinte dias, para, querendo comparecer

viabilizando a conciliação ou responder aos termos da presente,

nos moldes dos artigos 334 e 335, do CPC;

d) A intimação eletrônica da 3ª e da 6ª DP do Núcleo de Defesa

do Consumidor da Defensoria Pública do Estado do Rio de

Janeiro, de todos os atos processuais.

e) Seja publicado o edital a que se refere o artigo 94 do Código de

Defesa do Consumidor;

f) A intervenção do Ministério Público para acompanhar o

presente feito, na condição de custos legis ou, querendo, na

condição de litisconsorte ativo;

g) A PROCEDÊNCIA do pedido para, confirmar os efeitos da

tutela de urgência, e emitir preceito definitivo, determinando a:

g.1- DECLARAÇÃO DE ILEGALIDADE do art. 1º do Decreto n.

45.888/2017;

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g.2 – CONDENAÇÃO do réu a indenizar, da forma mais ampla e

completa possível, os danos materiais e morais de que tenham

padecido os consumidores, individualmente considerados, em virtude

dos fatos narrados, a ser apurado em liquidação;

g.3 – CONDENAÇÃO do réu a indenizar os danos materiais e morais

causados aos usuários do bilhete único de transporte público,

considerados em sentido coletivo, no valor mínimo de R$

8.800.000,00 (oito milhões e oitocentos mil reais), a ser revertido ao

Fundo de Reconstituição de Bens Lesados, mencionado no art. 13,

da Lei 7.347/85;

h) que seja condenado o demandante ao pagamento dos ônus da

sucumbência, incluindo os honorários.

Finalmente, protestam, nos termos do artigo 332, do Código de

Processo Civil, pela produção de todas as provas em direito admissíveis,

notadamente a documental, sem prejuízo da inversão do ônus da prova previsto

no art. 6o, VIII, do Código de Defesa do Consumidor.

Dá-se à causa, por força do disposto no artigo 258, do Código de

Processo Civil, o valor de R$ 8.800.000,00 (oito milhões e oitocentos mil reais).

Rio de Janeiro, 16 de janeiro de 2017.

Patrícia Cardoso Maciel Tavares

Defensora Pública

3º D.P. do Núcleo de Defesa do

Consumidor

Mat. 817.908-7

Eduardo Chow De Martino Tostes

Defensor Público

6ª D.P. do Núcleo de Defesa do

Consumidor

Mat. 969.598-2