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 Organização  Autores Fátima Tavares Simoni Lahud Guedes Carlos Caroso Carlos Caroso Christina Rubim Cíntia Beatriz Muller Fátima Tavares Isabel Gobbi José Maria Trajano Ondina Fachel Leal Rogério Rosa e Flá via Reith Silv ana Nascimento Simoni Lahud Guedes E x periênci a s de ensino e pr á tic a em  a ntropologi a no Br a sil  Associação Br asileira de Antropol ogia

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Organização

 Autores

Fátima TavaresSimoni Lahud Guedes

Carlos Caroso

Carlos CarosoChristina Rubim

Cíntia Beatriz Muller 

Fátima TavaresIsabel GobbiJosé Maria TrajanoOndina Fachel Leal

Rogério Rosa e Flávia ReithSilvana Nascimento

Simoni Lahud Guedes

E x p e r i ê n c i a s d e

e n s i n oe p r á t i c a e m

 a n t r o p o l o g i a  n o B r a s i l

 Associação Brasileira de Antropologia

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de grande importância que ajudará ao

leitor a entender melhor as novas

dinâmicas que permeiam esse campo

disciplinar, sugerindo que o ensino e a

pesquisa não podem ficar apenas

circunscritos às academias, mas,

também, indo além de seus muros. Esse

transbordamento, quem sabe, não seja

o principal desafio dos antropólogos

nos próximos anos e, por conseguinte, a

prova maior de vitalidade da

antropologia.

 Antonio Motta

O campo da antropologia, nesses

últimos anos, conheceu uma expansão

nunca vista. Certamente, isto se deve a

criação de novos programas de pós-

gradução e de cursos de bacharelado

em antropologia, assim como a

crescente demanda de antropólogos

em diferentes áreas de atuação

profissional (ONGs, INCRA,

ministérios, empresas, faculdades

particulares, instituições privadas e

públicas diversas). Diante dessa nova

realidade, a Associação Brasileira de

 Antropologia (ABA) tem se esforçado

para promover debates e reflexõessobre o ensino e a profissionalização

dos antropólogos. Todavia, tal

incumbência se encontra a cargo da

Comissão de Ensino e Ofício do

  Antropólogo que agora disponibiliza

ao leitor este interessante livro em

  versão eletrônica. A capacidade de

percepção e modos de olhar dos

autores, assim como a diversidade e

m a t i z e s d e s u a s a n á l i s e s e

interpretações, permitiram-lhes

perscrutar um campo multifacetado de

interesses temáticos sobre experiências

de ensino e atividade profissional.

 Trata-se realmente de um documento

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no Brasil

Experiências de

ensinoe prática em

 antropologia 

Organização

Fátima TavaresSimoni Lahud Guedes

Carlos Caroso

 Autores

Carlos CarosoChristina Rubim

Cíntia Beatriz Muller Fátima Tavares

 Isabel Gobbi 

 José Maria TrajanoOndina Fachel Leal Rogério Rosa e Flávia Reith

Silvana NascimentoSimoni Lahud Guedes

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 Tavares, Fátima.Fátima Tavares, Simoni Lahud Guedes, Carlos Caroso. Experiências de Ensino ePrática em Antropologia no Brasil; Brasília- DF; Ícone Gráfca e Editora, 2010.

104p. ; 21cm

ISBN 978-85-87942-03-6

1. Antropologia. 2. Ciências Sociais. 3.Educação. I. Título.

CDU 572+30

 ABA - AssociAção BrAsileirA de AntropologiA

Universidade de Brasília - Departamento de AntropologiaCampus Universitário Darcy RibeiroICC Centro, Sobreloja - B1-349/65

 Teleone/ax: (55) (61) 3307-3754 www.abant.org.br

projeto gráfico e editorAção eletrônicA

Denny Guimarães de Souza SalgadoPaulo de Tarso Soares Silva

criAção e editorAção eletrônicA dA c ApA

 Willy de Almeida Rodrigues Salgado

revisão e normAlizAção

Carlos CarosoChristina RubimCíntia Beatriz MullerFátima Tavares

Isabel Gobbi José Maria TrajanoOndina Fachel LealRogério Rosa e Flávia ReithSilvana NascimentoSimoni Lahud Guedes

impressão e AcABAmento

Ícone Gráfca e Editora www.iconecv.com.br(61) 3563-5048

 Todos os direitos reservados - É proibida a reprodução total ou parcial dessa obra, de qualquerorma ou por qualquer meio, sem a expressa autorização do autor. A violação dos direitos doautor (Lei nº 9.610/98) é crime estabelecido pelo artigo 184 do Código Penal.

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“...se para a losoa a questão é ‘undamentar racio-nalmente uma ética universal’ (Apel), para o antropólogo

ou cientista social a questão será a de como agir eticamente .”Roberto Cardoso de Oliveira

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Sumário

 Apresentação e Comentários

Carlos Caroso ......................................................................................7 

1ª ParteExperiências de ensino na graduação: depoimentos

1. Os cursos de graduação em CiênciasSociais no Brasil (2000, 2005 e 2010)

Christina Rubim ..............................................................................13

2. Bacharelado em antropologia emBenjamin Constant, Amazonas

 José Maria Trajano ...........................................................................21

3. Bacharelado em antropologia emRio Tinto, Paraíba 

Silvana Nascimento ..........................................................................31

4. Bacharelado em antropologia na Universidade Federal de Pelotas:um curso na fronteira 

Rogério Rosa e Flávia Reith..............................................................41

Intermezzo

5. De que antropologia(s) precisamos?Profissionalização e perspectivas do ensino

Fátima Tavares ................................................................................51

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6. A prática da antropologia e suas

 aplicações práticas: notas sobre ensino e pesquisa 

Simoni Lahud Guedes .......................................................................63

2ª Parte Atuação dos antropólogos no Brasil

7. A Funai como campo de atuação dos antropólogos

  Isabel Gobbi .....................................................................................76

8. Por uma antropologia não sitiada: o campode atuação do antropólogo no mundo

Ondina Fachel Leal ..........................................................................80 

9. A prática Antropológica: o desafio de trabalhar em Organizações Não-Governamentais

Cíntia Beatriz Muller ......................................................................89

10. Atuação profissional no âmbito da  assistência social

Carlos Caroso e Fátima Tavares ........................................................ 97 

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Não constitui novidade a discussão sobre duas questões degrande relevância e pertinência para a denição do campo de atuaçãodo antropólogo no Brasil, sendo estas a ormação, particularmenteno nível de graduação (bacharelado), e a prossionalização, repre-

sentada pela regulamentação da atuação prossional. No segundocaso, é importante risar que a ABA requentemente se depara comsolicitações de associados e não-associados para que lhes municiemcom inormações sobre o exercício prossional, já que lhes é exigidoregistro do qual não dispõem por não ser a prossão de antropó-logo regulamentada, causando, assim, requentes questionamentosquando se trata de estabelecer responsabilidade técnica que exige um

registro num órgão prossional.Entre outras tareas que nos oram repassadas pelas diretorias

anteriores para dar continuidade, por representarem o nosso maisalto interesse como antropólogos atuantes em vários campos e naspolíticas acadêmicas e prossionais, recebemos da gestão 2006-2008a incumbência de prosseguir com estas discussões e intensicá-las,uma vez que os acontecimentos naquele momento já se encontravam

mais adiantados do que nossas discussões a respeito destes, particu-larmente no tocante à ormação de antropólogos no nível de gradu-ação como bacharéis, implantadas, em implantação ou em discussãoatravés de propostas estimuladas pelo REUNI, que veio a ampliar

 Apresentação eComentários

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cursos e vagas em Instituições Federais de Ensino, com ganhos pal-páveis e bastante positivos para a ampliação da ormação cientíca eprossional no Brasil.

Seguindo as sugestões que nos oram encaminhadas pelosparticipantes do G Oício do Antropólogo(a)1, que discutia a pro-ssionalização, uma da primeiras providência que tomamos oi deunicar esta discussão; ormação e prossionalização, no âmbito daComissão de Ensino2, que passou a ser denominada Comissão deEnsino e Oício do Antropólogo e teve como coordenadora e vice,respectivamente, Simoni Lahud Guedes e Léa Freitas Peres. Estaúltima que deixou de ser coordenar a Comissão por vontade própria,

em vista de projetos acadêmicos que lhe ariam ausentar-se do paíspelo período de um ano.

Objetivando dar continuidade àquelas discussões tão relevantespara a ormação e prossionalização de antropólogos e sua atuação,oram realizados dois óruns em que se discutiu estas questões. Oprimeiro no âmbito da II Reunião Equatorial de Antropologia, queocorreu em Natal, RN, em agosto de 2009 e o segundo por ocasião da

27ª Reunião Brasileira de Antropologia, que ocorreu em Belém, PA,em agosto de 2010.

Do segundo oram recuperados depoimentos que compreen-dem a primeira parte desta coletânea, que resultam do esorço da Co-missão de Ensino e Oício do Antropólogo, que organizou durante a27ª RBA, dois Fóruns Especiais. Nestas duas sessões plenas de con-

 versa e debate oram abordados alguns dos dilemas atuais envolvidos

no campo da antropologia brasileira, como as recém-criadas gradua-ções em antropologia e questões reerentes ao trabalho do prossio-nal junto a instituições variadas, como a FUNAI, Ministério Público,ONGs, dentre outras.

1. Compuseram o G, sob a coordenação de Henyo rindade Barretto Filho (IEB),Everardo Rocha (PUC-RJ), Marco Paulo Fróes Schetinno (MPF), Mírian ReginiNuti (EPE), Roberto Alves de Almeida (INCRA). O relatório encaminhado à

Diretoria da ABA biênio 2008-2010.2. Da mesma orma, a Comissão de Ensino que oi coordenada pela Proessora LéaPerez no período 2006-2008 encaminhou extenso relatório com suas realizações,que oram muito importantes para o encaminhamento das discussões no período dagestão 2008-2010.

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A partir dos anos 90, a questão do ensino da antropologia noBrasil atravessou dierentes momentos que se superpuseram. Inicial-mente as iniciativas da ABA trataram dos desaos da expansão do en-sino de antropologia no nível da graduação e pós-graduação. A ques-tão da graduação em antropologia oi abordada, embora não tenhaadquirido maior relevância. Um segundo momento das discussões oimarcado pela problematização da pós-graduação como identicadorprossional. Como melhor preparar esse estudante? Concentrando aormação no nível da pós-graduação ou investir os esorços numa re-avaliação do lugar da ormação antropológica no âmbito das ciênciassociais, partindo para a criação de graduações em antropologia?

Se em momentos anteriores a questão da graduação em antro-pologia carecia de mobilização e discussões sistemáticas, o momentoatual exige novas redenições, à medida que alguns cursos de gradua-ção em antropologia em IFES já estão em uncionamento no país, umdestes devendo ter seu primeiro grupo de egressos em 2010. Emboraas outras questões não tenham se esgotado, os desaos em torno doperl de prossional que emerge da graduação em antropologia é uma

questão premente.Considerando que a graduação em antropologia é uma reali-

dade no país, o objetivo do primeiro Fórum Especial oi o de estimu-lar uma discussão sobre essa ormação, considerando a diversidadegeográca e de áreas de especialização do corpo docente na antro-pologia brasileira. Esse Fórum intitulou-se “Graduação em Antro-pologia no Brasil: experiências e perspectivas”3 e contou com a par-

ticipação de antropólogos de dierentes universidade brasileiras, queapresentaram relatos sobre o processo de implementação dos cursosde graduação em antropologia atualmente em curso. José Maria

 rajano, com a experiência da Universidade Federal do Amazonas(Campus Benjamim Constant), Silvana Nascimento, alando sobrea Universidade Federal da Paraíba (Campus Rio into), RogérioRosa, sobre a Universidade Federal de Pelotas e Eduardo Viana Var-

3. Agradecemos especialmente ao estudante José S. Lima Newton (graduando emCiências Sociais – UFPA) que produziu um relatório sobre os Fóruns organizadospela Comissão de Ensino e Oício naquela RBA. Sua contribuição oi undamentalpara a recuperação da memória desses eventos.

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gas, com a Universidade Federal de Minas Gerais. ambém oramabordadas questões sobre os cursos de graduação em ciências sociaisno depoimento de Christina Rubim (UNESP) e análises comparati-

 vas sobre o perl dos projetos de graduação em antropologia, objetoda apresentação de Fátima avares (UFBA), que veio a aproundar adiscussão no texto incluído na coletânea.

Nesse primeiro dia, assistiram ao Fórum cerca de 55 pessoas.Durante o debate, nas perguntas dos discentes pudemos constatar oorte interesse pelo ensino da graduação em antropologia: os desaosda criação de cursos de antropologia e seus processos burocráticos, ospers que emergem dos projetos pedagógicos e as novas demandas de

estudo da antropologia.O segundo Fórum intitulou-se “O campo de atuação dos an-

tropólogos no Brasil” e oi ainda mais concorrido que o primeiro, con-tando com a presença de 85 participantes. O objetivo da Comissão deEnsino e Oício do Antropólogo neste Fórum oi de discutir o campode atuação dos antropólogos no Brasil, considerando os dierentes ní-

 veis de ormação e suas distintas inserções prossionais. A antropo-

logia brasileira vem, há décadas, posicionando-se signicativamentena cena política brasileira. Pretendíamos, assim, discutir os desaosdestas dierentes inserções (ONGs, instituições governamentais, em-presas etc) e suas relações com o trabalho acadêmico, além de refetirsobre o ensino de antropologia para não-antropólogos. Finalmente,buscávamos, ainda, abordar a oportunidade e a conveniência da regu-lamentação da prossão, considerando, inclusive, o impacto da recente

criação de cursos de graduação em antropologia no Brasil.Como debatedores, a mesa oi composta por um leque de an-

tropólogos com inserções bastante diversas no campo prossional. Ini-cialmente alaram os antropólogos do INCRA José Flávio de Souza,Roberto de Almeida e Guilherme Mansur. Nesses relatos oram abor-dadas questões como o trabalho de atuação do INCRA no contextoantropológico sobre os quilombolas; a atuação dos antropólogos no

INCRA e o estudo para a intervenção undiária; o papel do INCRAna mediação de confitos e resolução de problemas no âmbito da terra;o objetivo de análise da construção territorial pelo antropólogo. Espe-cial destaque teve a questão do relatório antropológico ou “laudo”: o

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diálogo interdisciplinar e intersetorial; as lutas pela “invalidação” juntoa segmentos interessados; a desmisticação da carência de antropólo-gos e a questão do tempo de pesquisa necessário a sua realização.

Seguindo a exposição, Izabel Gobbi, da FUNAI, abordou ques-tões sobre a identidade do antropólogo no âmbito da instituição, aatuação da FUNAI no ensino da antropologia em turmas do magisté-rio. Já Henyo Barreto, antropólogo atuando em uma ONG, destacou otrabalho de desenvolvimento em temas antropológicos com povos in-dígenas; o quadro de trabalho do antropólogo diante de uma políticadominante e sua intererência no trabalho antropológico nos órgãospúblicos. A última debatedora oi Fernanda Paranhos, antropóloga do

Ministério Público Federal, que enatizou a importância do diálogoentre a questão antropológica a jurisprudência do Estado brasileiro.

Além de algumas contribuições dos Fóruns aqui reunidas, te-mos ainda outros trabalhos que oram solicitados a Ondina FachelLeal, uma das participantes programadas para apresentação que tevede se ausentar e posteriormente enviou seu texto. A refexão de CintiaBeatriz Miller que não participou das discussões no Fórum veio enri-

quecer a discussão sobre a participação de antropólogos em organiza-ções não-governamentais, que, no momento é um dos lócus de grandeimportância para a atuação prossional de antropólogos. Em ambosos casos, a experiência prossional relatada se dá em áreas cuja de-manda atual por antropólogos qualicados constitui um desao paraa ormação

O registro destes documentos em um livro eletrônico e acessível

a associados e não associados da ABA tem como objetivo incrementaro debate em torno das questões que nos parecem de grande relevâncianeste momento, ou seja, a ormação em graduação, a continuidadenos cursos de pós-graduação e o mundo do trabalho do prossionalem Antropologia. Antes de pretenderem ser textos acabados, estes sãotextos para discussão e chamada de atenção para a importância domomento em que se iniciam os cursos de graduação em Antropologia

no país, visando a omentar a ormação de um prossional melhorhabilitado a lidar com questões antropológica, outrora imersas e pou-co compreendidas em vista de uma ormação teórica e metodológicaexcessivamente infuenciada pelo pensamento sociológico no âmbito

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dos cursos de Ciências Sociais, em muitos dos existentes, sequer dis-pondo de habilitações ou concentrações que contemplem a ormaçãomais cuidadosa de antropólogos.

Ao tempo em que esta coletânea era organizada, a ABA oichamada a participar de Encontros de rabalhadores da AssistênciaSocial em que veio discutir o papel e participação dos antropólogosno Sistema Unicado de Assistência Social do Ministério do De-senvolvimento Social e Combate a Fome. Pensamos ser útil incluir otexto que resultou da participação e relatos de Lia Zanota Machado,Cintia Beatriz Muller e Carlos Caroso, em quatro reuniões prepa-ratórias para o Encontro Nacional dos rabalhadores da Assistência

Social, que deverá ocorrer em Brasília nos dias 30 e 31 de março doano de 2011.

Carlos Caroso

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Neste texto apresento uma refexão sobre minha experiênciacomo membro da Comissão de Avaliação in loco das Condições deEnsino (ACE) do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Edu-cacionais Anísio eixeira1 (INEP), que é um órgão do Ministério

da Educação (MEC), que eu participo desde 1999. A experiência daavaliação na pós-graduação que começou em 1977 hoje está consoli-dada.” Questionam-se os critérios, mas ninguém questiona a avaliaçãoem si e nós no Brasil temos uma cultura de que quando se ala emavaliação todo mundo treme, pois a avaliação é entendida na maioriadas vezes, como um momento de mérito ou demérito, de hierarqui-zação. Na graduação, a tentativa inicial é de 1983 com o Programa de

Avaliação da Reorma Universitária (PARU) e dez anos depois surgeo Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras(Paiub, 1993)1.

No nal dos anos noventa, a primeira avaliação que eu participoé uma avaliação com a Glaucia Villas Boas, do Rio de Janeiro. Nósomos avaliar um curso de ciências sociais, eu lembro que não tinha

1 Consultar Rubim, Christina de Rezende. Considerações sobre a avaliação doscursos de graduação em Ciências Sociais pelo MEC-Inep In: GROSSI, MiriamPillar, ASSINARI, Antonela e RIAL, Carmem (Org.). Ensino de Antropologiano Brasil: ormação, práticas disciplinares e além-ronteiras. Blumenau: Nova Letra,2006.

Os cursos de graduaçãoem Ciências Sociais no

Brasil (2000, 2005 e 2010)Christina Rubim

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nada, a gente só ganhava passagem de avião e diárias da instituição aser avaliada, gerando muitos constrangimentos. Não existiam orien-tações e o relatório a ser entregue era de total responsabilidade nossa.De lá para cá, são onze anos, mudou muito. Com o governo FernandoHenrique já havia se instituído o “provão” (Exame Nacional de Cur-sos), com o Lula entrou o ENADE, (Exame Nacional de Avaliaçãodo Estudante), e se está tentando azer uma avaliação levando-se emconta cinco dimensões. Uma delas é a prova de conhecimentos es-pecícos e gerais, o ENADE, e a avaliação do aluno sobre a prova.Então o ENADE equivale a 20% da nota para o credenciamento ourecredenciamento. A auto-avaliação que a instituição az sobre o seu

curso de graduação equivale a mais 20% dessa nota. A avaliação ins-titucional, que é eita por outra comissão, vale outros 20%. O censouniversitário az parte também de 20% dessa nota. E os últimos 20% édado por essa avaliação in loco, quando participam dois proessores daárea especíca. Nós cávamos quatro dias na instituição, conversan-do com alunos, proessores, uncionários e gestores, preenchendo umormulário on line , muitas vezes se comunicando em tempo real com

o Inep resolvendo pendências, pois este mesmo ormulário chegava jápreenchido e undamentado pelos seus respectivos coordenadores decurso. A idéia era azer essa avaliação todos os anos, para que pudessehaver um acompanhamento constante dos cursos de graduação, poiseram muitas as instituições privadas que contratam doutores, creden-ciavam-se e depois, simplesmente despediam estes docentes. Mas, poralta de dinheiro, resolveu-se azer esta avaliação de três em três anos,

com o ENADE sendo aplicado no primeiro e último ano do curso.Assim, conseguiríamos uma série histórica e um bom acompanha-mento dos cursos, captando o que a universidade agrega de conhe-cimento ao aluno, já que as provas aplicadas são iguais para calourose concluintes. Penso que acabei conhecendo cerca de 80% dos cursosde ciências sociais no Brasil porque eu azia parte dessa comissão deavaliação in loco e coordenava também a comissão que era assessora

do ENADE.A partir dessa experiência resolvi azer uma pesquisa quantita-

tiva sobre os cursos de ciências sociais no ano de 2000, 2005 e agoraem 2010. É esta pesquisa comparativa que vou mostrar para vocês.

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Quero também deixar claro que no último um ano e meio estive noexterior azendo pós-doutorado, então, estou chegando agora e aas-tada do que está acontecendo.

 ABELA I:Distribuição dos cursos de Ciências Sociais por estado e região (2000):

Região/Estado Nº %Sudeste 40 45,45São Paulo 16 40,00Rio de Janeiro 10 25,00

Minas Gerais 11 27,50Espírito Santo 3 7,50

Sul 18 20,45Rio Grande do Sul 8 44,44Santa Catarina 5 27,78Paraná 5 27,78

Centro-oeste 5 5,68%

Mato Grosso do Sul 1 20,00Mato Grosso 1 20,00Goiás 2 40,00Distrito Federal 1 20,00

Nordeste 17 19,32Bahia 2 11,76Piauí 1 5,88Paraíba 2 11,76

Pernambuco 3 17,65Ceará 5 29,41Sergipe 1 5,88Alagoas 1 5,88Maranhão 1 5,88Rio Grande do Norte 1 5,88

Norte 7 7,95Pará 1 14,28

Amazonas 2 28,57Amapá 2 28,57Roraima 1 14,28Acre 1 14,28

Fonte: MEC/SESu/Inep.

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Em 2000 eu pensava que a maioria dos cursos estava em univer-sidades públicas. omei um susto quando vi que 50% dos cursos de ci-ências sociais estavam nas instituições privadas. Então eu pensei assim:nossa vai ser um horror avaliar esses cursos. Felizmente esta não era aregra. inha curso que não tinha condições de uncionar mesmo, mas amaioria, por esorços individuais dos cientistas sociais envolvidos, tinhadignidade. Muitas vezes eram dois ou três docentes brigando contra ainstituição... Eles tinham um orgulho de ser de ciências sociais. inhamum compromisso com o popular, com a sociedade, com o entorno so-cial, político e cultural da instituição. Eu lembro que me marcou muitoum curso no interior de Minas Gerais e que possuía uma inserção na

sociedade, no coletivo que era impressionante. Até o preeito da cidade,que era médico, tinha eito também ciências sociais. Eles tinham umacasa com uma equipe interdisciplinar, que atendia a população pobredo município. Outro, no interior da Bahia, uma instituição privada, nãotinham nada, nem mesmo espaço, mas eles tinham um compromissocom o seu entorno que era interessantíssimo, uma criatividade... Fize-ram convênio com uma ONG estrangeira e trabalhavam com as artesãs

locais, ajudando-as também a vender seus produtos. Os alunos pobres,às vezes não tinham nem o que comer, mas estavam ali brigando pelapopulação local, pela compra de livros para a biblioteca, pelos computa-dores.... Então é assim: eu me assustei com essa situação e quei muitoeliz com o que vi. O que gostaria de enatizar é que pode ter curso bomnas universidades privadas e ter curso ruim nas universidades públicas.

 ABELA II:Distribuição dos cursos de Ciências Sociais por estado e região (2005):

Região/Estado Nº %Sudeste 35 40,70São Paulo 12** 34,28Rio de Janeiro 9 25,71Minas Gerais 11 31,43

Espírito Santo 2 5,71

Sul 17 19,77Rio Grande do Sul 9 52,94

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17

Santa Catarina 4 23,53Paraná 4 23,53

Centro-oeste 7 8,14

Mato Grosso do Sul 1 14,28Mato Grosso 3 42,86Goiás 2 28,57Distrito Federal 1 14,28

Nordeste 17 19,77Bahia 1 05,88Piauí 1 05,88Paraíba 2 11,76

Pernambuco 3 17,65Ceará 5 29,41Sergipe 1 05,55Alagoas 1 05,88Maranhão 1 05,88Rio Grande do Norte 2 11,76

Norte 10 11,63Pará 2* 20,00

Amazonas 2 20,00Amapá 2 20,00Roraima 1 10,00Rondônia 1 10,00Acre 2 20,00

 OAL 86 100,00Fonte: MEC/SESu/INEP;

*A Universidade Federal do Pará (UFPA) possui cursos de graduação em Ciências

Sociais nas seguintes cidades com o mesmo corpo docente: Belém, Rondom do Pará,

Marabá, Santarém, Altamira, Bragança, Abaetetuba, Castanhal e Soure.

** A Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP) possui dois

cursos nas cidades de Araraquara e Marília com seus respectivos corpos docentes

dierenciados e, por isso, oi computada duas vezes.

Em 2005, o número de cursos de graduação em ciências sociaisaumentou um pouco em avor das universidades privadas. Em 2010,parece que se multiplicam, e os cursos de ciências sociais estão em sua

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maioria nas instituições privadas, multiplicando-se também as suasdenominações. Hoje, por exemplo, tem curso de ciência da religiãoque não é curso de teologia, que tem antropólogos, sociólogos e outroscientistas sociais. O novo na situação de hoje são os cursos à distância.Para vocês terem uma idéia, há quatro anos conheci o primeiro cursode ciências sociais à distância de uma instituição privada no Sul dopaís. Era um curso que tinha muito mais conteúdo do que algunspresenciais que conhecia. Aquele preconceito que estava ormado emminha cabeça – à distância era ruim e o presencial era bom – começoua ser questionado. A realidade me mostrou que um curso à distânciatinha ormação, compromisso social com o entorno da instituição, e

um compromisso social com os alunos.

ABELA III:Distribuição dos cursos de Ciências Sociais, Relações Internacionais,

Antropologia, Sociologia, Ciência Política, Arqueologia, Ciênciasda Religião e Outros por estado e região (2010):

CS RI Sociol Antrop Polit Arqu C Rel Outros otal

P D - P D - - - P D -

SP 17 5 29 3 - - - - 1 1 1 57RJ 10 3 12 1 - - 2 - 1 - 1 30MG 11 6 6 2 - 1 - - 2 - 5 33ES 1 4 1 1 - - 1 - - - - 8Sudeste 39 18 48 7 - 1 3 - 4 1 7 128

RGS 7 2 10 - - 1 3 2 - - 3 28SC 4 2 5 - - - 1 - 3 - 2 17PR 4 4 8 1 1 - 1 - 1 - - 20Sul 15 8 23 1 1 1 5 2 4 - 5 65

BA 3 4 3 1 - - - - - - 1 12SE 1 1 1 - - - - 1 - - 1 5AL 1 2 - - - - - - - - - 3PE 2 3 3 - - - 1 1 - - 1 11

PB 2 2 1 - - 1 - - - - - 6CE 5 3 1 - - - 1 - - - - 10RGN 2 2 1 - - - - - 1 - - 6PI 1 3 - - - - - 2 - - - 6MA 2 4 - 1 - - - - 1 - - 8

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Nordeste 19 24 10 2 - 1 2 4 2 - 3 67

PA 4 4 - - 1 - - - - 1 1 11AM 2 1 2 1 1 1 - 1 - - - 9

AC 2 1 - - - - - - - - - 3RR 2 4 - - - - - 1 - 1 - 8RN - - - - - - - - - - - -AP 2 1 - - - - - - - - - 3Norte 12 11 2 1 2 1 - 2 - 2 1 34

M 2 3 - - 1 - - - - - - 6MS 3 2 1 - 1 - - - - - - 7GO 1 3 1 - - 1 1 1 - - 1 8DF 1 4 8 - - - - - 1 - 16C-oeste 7 12 10 - 2 1 1 1 - 1 1 37

 OAL 92 73 93 11 5 4 11 9 10 4 17 331

P D P D P D

CS RI Sociol Antrop Polit Arqu C Rel Outros otal

Atualmente são 73 cursos à distância em ciências sociais. Poderiaaté mesmo citar quais são as três principais universidades que oerecemessa modalidade à distância. Portanto eles estão concentrados em três ouquatro instituições com unidades presenciais espalhadas do sul ao norte.Deixa-me mostrar o comparativo de 2000, 2005 e 2010 para vocês:

 ABELA IV:Comparação dos cursos de Ciências Sociais

por estado e região (2000, 2005 e 2010).

2000 2005 2010N % N % N %

Sudeste 40 45,45 35 40,70 57 34,55SP 16 18,18 12 13,95 22 13,33RJ 10 11,36 9 10,47 13 07,88MG 11 12,50 11 12,79 17 10,30ES 3 03,41 2 02,33 5 03,03

Fonte: E-MEC.

Outros: Principalmente Museologia e Humanidades.

P: presencial, D: distância.

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Sul 18 20,45 17 19,77 23 13,94RGS 8 09,09 9 10,47 9 05,45SC 5 05,68 4 04,65 6 03,64PR 5 05,68 4 04,65 8 04,85

Nordeste 17 19,32 17 19,77 43 26,06BA 2 02.27 1 01,16 7 04,24SE 1 01,14 1 01,16 2 01,21AL 1 01,14 1 01,16 3 01,82PE 3 03,41 3 03,49 5 03,03PB 2 02,27 2 02,33 4 02,42CE 5 05,68 5 05,81 8 04,85RGN 1 01,14 2 02,33 4 02,42PI 1 01,14 1 01,16 4 02,42

MA 1 01,14 1 01,16 6 03,64Norte 8 09,09 10 11,63 23 13,94AM 2 02,27 2 02,33 3 01,82PA 1 01,14 2 02,33 8 04,85AC 1 01,14 2 02,33 3 01,82RN - - 1 01,16 - -AP 2 02,27 2 02,33 3 01,82RR 1 01,14 1 01,16 6 03,64

Centro-oeste 5 05,68 7 08,14 19 11,52M 1 01,14 3 03,49 5 03,03MS 1 01,14 1 01,16 5 03,03GO 2 02,27 2 02,33 4 02,42DF 1 01,14 1 01,16 5 03,03

 OAL 88 86 165 (92 presenc.)

2000 2005 2010

Em 1996 existiam dois cursos de Relações Internacionais. Atu-almente existem 92 e nenhum à distância.

Outra questão importante é a da evasão. A média de evasão erade 60% até 1994 quando começa a cair lentamente até cerca de 20%a 30%. alvez por coincidência este é o ano em que Fernando Henri-que entra no governo. A relação candidato/vaga no vestibular começa

também a crescer, e hoje oscila muito de ano para ano, chegando mes-mo a alcançar 18% em algumas instituições.

Enm, o meu tempo acabou! Muito obrigado.

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Primeiramente gostaria de agradecer ao convite da ABA paraparticipar como palestrante/debatedor neste Fórum Especial sobreGraduação em antropologia no Brasil: experiências e perspectivas. Neste breve relato apresentarei uma versão, baseada em minha experi-

ência pessoal de ensino de graduação como proessor de antropologia,sobre a implantação e uncionamento do Bacharelado em Antropo-logia no Instituto Natureza e Cultura, da Universidade Federal doAmazonas, Campus Benjamin Constant, instituição na qual estoucomo proessor desde maio de 2008, ou seja, há pouco mais de doisanos. Então eu vou alar um pouco sobre esse processo.

Para quem não sabe, Benjamim Constant ca no Alto Soli-

mões, na ronteira do Brasil com a Colômbia e o Peru. Esse é umlocal bastante estratégico para se azer antropologia. Ali, nesta regiãodo Estado do Amazonas, temos uma grande diversidade étnica, tantono Vale do Javari quanto no Alto Solimões. ambém temos uma di-

 versidade cultural devido a essa situação de ronteira entre esses trêsEstados nacionais.

A história do Curso de Graduação de Bacharelado em Antropo-

logia do Instituto Natureza e Cultura está diretamente relacionada aoDepartamento de Filosoa da UFAM em Manaus, onde em 1978, oicriado o “Projeto de Estudos e Pesquisas Antropológicas”, e o Curso deExtensão em Antropologia Amazônica. O reerido curso de extensão

Bacharelado em antropologia em

Benjamin Constant, Amazonas

 José Maria Trajano Vieira1

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teve como um de seus objetivos o de estruturar um currículo para cur-sos a serem oerecidos pela Universidade, especialmente de um uturocurso de Graduação em Antropologia. Entre os proessores desse cursode extensão gurava Carmem Junqueira, a qual desenvolveu o tema:“Estruturação do Curso de Graduação em Antropologia e a Impor-tância para a realidade regional”. Esse curso de antropologia vem sendoimplantado eetivamente em Benjamin Constant a partir do segundosemestre de 2006, quando a primeira turma de 50 alunos, selecionadapor meio de vestibular, inicia o curso, portanto, esse curso em Benja-mim Constant é o primeiro curso de graduação em Antropologia emuncionamento numa Instituição Federal de Ensino no Brasil. Hoje já

estamos na quinta turma. Já tem o pessoal que está para se ormar esseano de 2010, a primeira turma já está elaborando monograa. Entãoeu vou alar um pouco sobre o corpo docente e sobre o corpo discente.

À medida que o tempo possibilite, arei um breve relato sobrea história da antropologia na Amazônia porque a Amazônia, princi-palmente a região do Alto Solimões, sempre oi vista como um campode pesquisa no qual os antropólogos não pensavam tanto em se xar.

 anto é que para a área de antropologia em Benjamim Constant ainstituição tem promovido concursos para provimento eetivo, sendopequena a disputa por esses cargos. Quando prestei o concurso em2008 dos três candidatos aprovados apenas eu assumi, até porque eu

 já lecionava no curso como proessor substituto, os outros dois desisti-ram de ocupar a vaga. Enm, a UFAM tem enrentado esse problemada pouca atração de docentes capacitados que queira xar residência

em Benjamim Constant, um município bastante extenso, mas comuma população de aproximadamente 30 mil habitantes, quase a meta-de dessa população vivendo em comunidades ribeirinhas e indígenas.Essa cidade oerece pouca inra-estrutura urbana, especialmente paraquem chega de certas regiões do centro-sul do Brasil, mais urbani-zadas, é fagrante o contraste e a adaptação nem sempre é ácil, semalar nas dierenças culturais entre a população local e os que chegam

dessas regiões. Em 2009, oi realizado mais um concurso para proes-sor com o objetivo de preencher as vagas remanescentes e as novas

 vagas que oram abertas. Nesse concurso oram aprovados e tomouposse, cinco proessores para a área de antropologia e um para a de

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sociologia. Já neste ano de 2010, oi aprovada em concurso mais umaproessora, com mestrado em antropologia, para o curso.

Um dos problemas iniciais do curso oi justamente o de não terum número suciente de docentes para poder ministrar as disciplinasda grade curricular do curso e estar ormando essas primeiras turmas.Para suprir parte dessa demanda alguns proessores do departamentode antropologia e do de losoa da UFAM de Manaus ministraramcursos intensivos de érias, em Benjamin. ais como os proessoresPaulo Monte, Raimundo Nonato, Basini Rodrigues e Raquel  Wig-gers. Desde o início são 50 alunos que entram no curso anualmente,assim se não houvesse evasão teríamos agora 250 alunos, mas nesse

caminho aconteceu que mais da metade das primeiras duas turmas oidesistindo e a evasão ainda continua nas turmas mais recentes. O pra-zo mínimo para a conclusão do curso é de nove semestres, equivalentea quatro anos e meio e o máximo é de 14 semestres, equivalente a seteanos. O horário de uncionamento do curso é diurno.

Como dissemos, a Amazônia tem colaborado na construção doconhecimento antropológico, sobretudo como lócus de estudos desen-

 volvidos por pessoas e instituições (brasileiras e estrangeiras). Até hojehá muitos antropólogos que vêm do exterior, da Europa, dos EstadosUnidos, ou mesmo do centro-sul e do nordeste do Brasil e vão pes-quisar nessa região por um tempo e logo retornam para seus locaisde origem. Agora com a presença da Universidade Federal do Ama-zonas na área o desao é também ormar a nível superior o pessoalda própria região, preparando-os para participação nos debates que

lhes aetam, para azerem suas próprias pesquisas e para ormularemnovas questões a serem abordadas pelas pesquisas antropológicas. Nãoesquecendo, é claro, da articulação da região do Alto Solimões com oresto do Brasil e do mundo. Só que devido até a certa diculdade naormação desses alunos, e aí eu cito o Luiz de Castro Faria quandoele escreve em “A Antropologia no Brasil...” sobre a necessidade dodistanciamento, para ele: “a observação é que era participante, questão de 

método; agora a pesquisa é que é participante, questão de ideologia assumidae militância política.” (FARIA, 1993:102).

Sobre essa questão da militância, como os alunos são da própriaregião, alguns têm simpatia por algum grupo local, já vêm dos mo-

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 vimentos sociais ou da experiência pessoal ou amiliar cotidiana emalgum segmento, e acabam colocando essa militância, essa ideologia,certa sociologização e politização da antropologia, acima do próprioconhecimento antropológico. Então, a meu ver, é “querer colocar ocarro na rente dos bois” e querer azer militância sem ter undamen-tação antropológica sólida que dê sustentação as suas reivindicaçõese, muitas das vezes, boas intenções. Isso que estou alando aparecenos próprios projetos de monograa, participamos de uma rodada deapresentação dos projetos da primeira turma do curso, onde pudemosnotar que grande parte dos trabalhos deles são bastante voltados paraa ormulação de políticas públicas.

Se por um lado a região carece dessas políticas, por outro acre-dito que da maneira imediatista como alguns alunos de antropolo-gia pensam em resolver os problemas sociais históricos da região, aprópria antropologia acaba perdendo com isso, pois alguns projetosde antropologia caberiam melhor num curso de serviço social ou deoutra área que não a antropologia. Por exemplo, alguns alunos alam“precisamos ajudar os índios do Vale do Javari que estão morrendo

de malária e hepatite”. É evidente que como cidadãos e membros daacademia temos o direito de nos indignar com essa situação vividapelos índios e por outros segmentos da sociedade também, mas, paramim, esse interesse não pode desviar o aluno da necessidade de teruma ormação sólida em antropologia, antes de tudo. É preciso des-pertar o interesse dos nossos alunos para a importância da teoria an-tropológica, ainda que os textos mais teóricos pareçam, para alguns,

pouco atraentes e desmotivadores. Eu mesmo, por exemplo, duranteminha vida prossional, antes de me tornar docente já dei pareceres eelaborei laudos e conheço as exigências das agências que bancam essasconsultorias e da base antropológica que você tem que ter para realizaresse tipo de trabalho.

Para que a ormação geral seja consistente, será undamentalque o aluno seja instruído no sentido de assumir uma posição crítica;

tenha condições de alcançar uma apropriação adequada de instrumen-tal teórico ordenador da sua refexão e condutor das suas práticas an-tropológicas. Entretanto, é preciso estar sempre alerta para o que certa

 vez disse o mesmo Castro Faria: “proessores de antropologia com grau

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de Mestre... tentam reproduzir no ensino de graduação as mesmas práticasa que estiveram submetidos nos seus cursos de pós-graduação. Impõem-se as mesmas exigências de leitura, com arta indicação de monograas e de artigos dispersos e de diícil alcance longe de uma biblioteca especializada,e assim por diante. Nada de aulas expositivas – só seminários, discussões de textos” (idem).

No início o curso esteve bastante vocacionado para a etnologiaindígena, até porque os primeiros proessores concursados... está aquio proessor Juan Carlos, o proessor Benedito Maciel e o proessorRodrigo Reis (atual coordenador do colegiado do curso de antropo-logia de Benjamin Constant), que não estão presentes, tinham uma

tendência, inclusive eu que ui o quarto proessor a assumir tambémcomo docente do curso, vieram da área da etnologia indígena, ou di-recionavam seus projetos preerencialmente para essa área. anto éassim que dois dos três primeiros docentes que tomaram posse orampara a cadeira de antropologia Indígena e um para a de sociologia. En-tão, uma das críticas dos alunos era quanto a essa tendência do cursode antropologia de car muito limitado à etnologia indígena, muitos

dos nossos alunos reclamam disso. E aí acontece que também nessaregião há uma orte aversão e preconceito contra os índios, porquehouve muitos confitos entre madeireiros e indígenas e muitas pes-soas interessadas na exploração de recursos dessa região, e muitos dosnossos alunos são dessas amílias tradicionais da região que tem outiveram confitos com os índios. Então, eles já trabalham criando essaaversão por essa questão da antropologia estar voltada para a etnologia

indígena e para a questão do índio.O curso de graduação está estruturado para ormar antropólogos

e não especialistas em etnologia indígena. Se os três primeiros proes-sores concursados tinham parte da sua ormação na própria UFAM,atualmente o corpo docente que leciona no curso é constituído porproessores originários de dierentes instituições de ensino brasileiras.Então, o proessor Michel Justamand que está aqui tem doutorado na

PUC de São Paulo. Veio outra lá do Rio Grande do Sul. Então, eu z uma lista dos proessores do curso, que poderemos visualizar ao naldesta ala. Ao total hoje temos 11 proessores da área lecionando nocurso de antropologia, sendo que dois deles são de sociologia, os ou-

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tros nove são da área de antropologia. A maioria deles com mestrado edoutorado, senão na área de antropologia, na área de ciências sociais eum com uma ormação mais sólida na área de história também. Então,o corpo docente nesse sentido já se encontra bastante capacitado parapoder desempenhar um bom trabalho. Ainda alta lá muita estrutura,por exemplo, quanto à biblioteca, tem os programas das disciplinas,para a elaboração do projeto pedagógico do curso, o Melatti parti-cipou como consultor. Então, tem uma bibliograa muito bonita eimensa em cada programa só que de diícil acesso para nós, não tinhaesses livros e textos na biblioteca do Instituto. A constituição de umapequena bibliograa para uso dos alunos era muito diícil, e impunha

sérias limitações, dada a carência de obras especializadas para cadadisciplina na biblioteca local e as diculdades operacionais por partedas reprograas e nanceiras da parte dos alunos, entre outras. Entãonão basta apresentar um rol de disciplinas, mesmo que venham elasacompanhadas de ementas. É indispensável que os programas sejamacompanhados da bibliograa que será usada.

Quanto ao aspecto ísico, o Instituto mais parecia uma escola

pública de baixa qualidade, sem condições de os proessores e alunostrabalharem: sem laboratório de computação com internet banda lar-ga, sala adequada para atendimento de alunos, preparação de aulas eavaliação de trabalhos, moradia estudantil, restaurante universitário,nada disso que você vê nas grandes universidades públicas. Assim, seconseguimos compensar com a ormação de um corpo docente qua-licado, altava uma estrutura ísica, mas as coisas estão melhorando

aos poucos né.O Instituto, por meio do colegiado de Antropologia, está se

constituindo num centro de reerência para os indígenas que recorremem busca de apoio para assessorar seus trabalhos relativos à saúde,educação, delimitação de terras, mas também para palestrar e apresen-tar seus rituais e para outros grupos também, e de reerência para an-tropólogos, brasileiros e estrangeiros que por lá passam a caminho das

sociedades indígenas ou não-indígenas que pretendem estudar. aiscomo os antropólogos Jean-Pierre Chaumeil, Bárbara Arisi e JavierRuedas. ambém por causa da diversidade étnica da região, de iní-cio destacamos um interesse generalizado pela problemática do índio.

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Esse quadro vem mudando. Hoje temos uma diversidade temática queenvolve questões de gênero, saúde, antropologia da arte, direito, reli-giosidade etc. Com a abertura de novas vagas para concurso e a vindade novos proessores criaram-se amplas possibilidades, e novas opçõestornaram-se possíveis, em termos de orientações aos alunos, progra-mas e bibliograas. As condições estruturais do Instituto não oram,entretanto, substancialmente melhoradas, o que refete diretamentena ormação dos uturos antropólogos. Agora estamos ansiosos pelainauguração de um novo prédio, pois a obra já está atrasada a mais deanos. Como já temos o número considerável de proessores, algunsdesses proessores, inclusive eu e outro colega, o Adaílton da Silva já

puderam se aastar temporariamente para concluir o doutorado, parapodermos ter uma qualicação melhor.

Agora, um desao que os alunos pensam, e eles colocam para aABA também, é essa questão da prossionalização, estão preocupadoscom o uturo deles, quer dizer, vemos que na ABA há um reconheci-mento dos prossionais que têm mestrado, doutorado, eles pensam: “enós que somos do bacharelado em antropologia, graduação, qual vai

ser a aceitação por parte dos nossos pares? como vai ser essa concor-rência, será que vamos ter condições de competir com os outros pro-ssionais que tem grau de ormação maior? vai haver campo de traba-lho e pesquisa para tantos antropólogos que estão sendo ormados?”.A prossão de Antropologia encontra-se amparada nos Estatutos daABA para prossionais pós-graduados em nível de mestrado ou Dou-torado em Antropologia. Fará parte da estratégia política do Curso,

azer gestão junto à ABA para que os Bacharéis em Antropologiaormados pela UFAM sejam reconhecidos como antropólogos pelaentidade. Assim também como pode ser articulado, junto aos órgãoscompetentes a regulamentação da prossão de Antropólogo.

Mas há também por parte da nossa clientela lá uma dieren-ça em relação, por exemplo, a SP, eu estudei no interior do estado deSão Paulo, na UNESP, z graduação em ciências sociais, via-se que os

alunos, bem eles tinham condições sócio-econômicas e apoio da Uni- versidade melhores lá em São Paulo, quase todos eles eram solteiros,aqui não, no Alto Solimões... Além de vocês saberem dessa omissãopor parte do Estado, o Estado é pouco presente na região, temos que

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muitos jovens se casam cedo, então grande parte dos nossos alunos,como eles mesmos alam, são mães, pais de amília, a maioria delestrabalha. Então a antropologia não aparece como uma prioridade na

 vida deles, mas a questão da amília, da sobrevivência e outras mais... Émuito diícil você azer que o aluno acompanhe o curso sem, em algu-mas aulas, sair para cuidar do lho (a), ter de trabalhar durante a aula, ocurso é diurno né. O aluno às vezes está na aula e tem de sair para azerum “bico” ou ir a algum lugar que ele tem de estar presente. Então, temessa questão do aluno que trabalha, do aluno que é mãe e pai de amíliaainda jovem, esses são alguns dos muitos obstáculos que enrentamos.Mas temos a perspectiva de que as coisas podem melhorar.

O Projeto Pedagógico do curso prevê a habilitação e instrumen-talização do aluno de Antropologia para o exercício do trabalho pro-ssional, oerecendo-lhe uma ormação acadêmica que lhe possibiliteestimular o diálogo de saberes com as culturas tradicionais indígenase não indígenas ortalecendo o desenvolvimento de saberes cientí-cos e não-cientícos para a sustentabilidade cultural e ambiental daregião. A criação do Curso de Graduação em Antropologia em nível

de bacharelado deve compreender e interagir com o espaço geográcoconsiderando os países vizinhos: Colômbia e Peru. Agora lá temosmais relações com a Colômbia, de vez em quando, proessores e alunos

 vão para Bogotá, e principalmente para Letícia que ca logo depois daronteira onde tem um campus da Universidade Nacional da Colôm-bia, onde já tem um programa de mestrado em Estudos Amazônicos.Então, tem essa relação maior com a Colômbia, em menor grau com o

Peru, do que mesmo com o resto do Brasil porque é muito mais ácil iraté Bogotá do que até Manaus porque o custo é mais alto do que paraBogotá, sem alar nos centros aqui do Brasil no Sul e no Sudeste, nemse ale. Há esse diálogo, essa abertura maior com os países vizinhos doque com esses centros de excelência do nosso país.

Ao refetir sobre a questão da identidade da antropologia per-cebemos que a mesma torna-se fexível e o seu espaço se abre à contri-

buição de outros saberes de acordo com o contexto local onde o cursoestá inserido. Desse modo da mesma orma que alamos em identida-des múltiplas podemos alar, para o caso da antropologia no Brasil, deuma antropologia plural. Valeu!

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 ANEXO

1. CORPO DOCENE E ÉCNICO1.1 – Corpo Docente:•Número de Proessores Previstos: 15 (quinze).•Quadro atual de Proessores do Curso de Bacharelado em Antropologia

Nº. Nome - itulação - Área de Concurso

1. Benedito do Espírito Santo Pena Maciel – Graduado em His-

tória - UFAM (2000); Mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia- UFAM (2003) - Área de Conhecimento: Antropologia Indígena;

2. Juan Carlos Pena Márquez - Doutor em Ciências Sociais – Uni-camp (2008); Mestre em Educação - UFAM (2003); Graduado emSociologia - Universidad Nacional de Colombia (1997) - Área de Co-nhecimento: Antropologia Indígena;

3. Rodrigo de Oliveira Braga Reis - Graduado em Ciências Sociais– UFAM (2004); Especialização em Movimentos Sociais, Organiza-ções - UFMG (2006). - Área de Conhecimento: Sociologia Geral/Sociologia da Educação;

4. José Maria rajano Vieira – Graduado em Ciências Sociais –UNESP (1998); Mestre em Antropologia Social – UFPR (2005);

doutorando em Antropologia Social – Unicamp (2006) – Área deConhecimento: Antropologia Social;

5. Gilse Elisa Rodrigues – Graduada em Ciências Sociais (bachare-lado) - PUC/RS (1992); Graduada em Ciências Sociais (licenciatura)– UFRGS (1998); Mestre em Antropologia Social - UFRGS (2002).Área de Conhecimento: Antropologia/eoria Antropológica;

6. Adailton da Silva - Graduação em Ciências Sociais – UFRJ(2003); mestre em Antropologia Social – UnB (2006); Doutorandoem Estudos Étnicos e Aricanos - UFBA (2008). Área de Conheci-mento: Antropologia/eoria Antropológica;

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7. Michel Justamand – Graduado em História - PUC/SP (1999);Graduado em Pedagogia - Universidade Nove de Julho (2003); mes-tre em Comunicação e Semiótica – PUC/SP (2002); doutorado emAntropologia - PUC/SP (2007). Área de Conhecimento: Antropolo-gia/Etnologia Indígena;

8. Raael Pessôa São Paio - Graduado em Escultura – UFRJ (1999);Mestre em Ciências da Arte - UFF (2003); Doutorado interrompidoem 2007 em Antropologia Social – UFRJ - Área de Conhecimento:Antropologia/Etnologia Indígena;

9. Cristian Farias Martins - Doutor em ciências sociais - CEPPAC(2010); Mestre em Ciências Sociais – CEPPAC (2006); Graduadoem Ciências Sociais – UnB (2003); Área de Conhecimento: Antro-pologia/Antropologia Urbana;

10. Tarcísio Santiago Cruz - Graduação em Ciências Sociais.UFAM (2002); Especialização em Ética – UFAM (2002); Mestra-do em andamento em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na

Amazônia – UFAM (2006). Área de Conhecimento: Sociologia/Fun-damentos de Sociologia;

11. Flávia Melo da Cunha – Graduada em Ciências Sociais – UFAM(2002); Mestre em Antropologia Social – Unicamp (2008) Área deconhecimento: Antropologia/eoria Antropológica.

Além desses temos proessores de outros cursos, que ministramaulas no Curso de Antropologia, nas seguintes disciplinas: PortuguêsInstrumental, Língua Espanhola, Introdução à Lingüística, Inormá-tica Básica, Introdução à Filosoa, Matemática e Estatística, Meto-dologia do Ensino e da Pesquisa, Psicologia Geral e Administração- Gestão Organizacional.

1.2 – Corpo écnico-Administrativo:

1. Fabiula Lima - écnico de Laboratório de Antropologia.

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Eu1 vou apresentar, brevemente, a organização e a composiçãodo bacharelado em Antropologia da Universidade Federal da Paraíba(UFPB), curso localizado no campus IV, na região do Litoral Nortedo estado, na cidade de Rio into, há 60 quilômetros da capital João

Pessoa. Esse campus encontra-se na ronteira com uma das áreas indí-genas Potiguara, que estão localizadas dentro da cidade de Rio into,e também de uma vasta área de proteção ambiental chamada Valedo Mamanguape. Além disso, a sede da universidade ca dentro dasinstalações de uma antiga ábrica de tecidos, a Companhia de ecidosPaulista, de propriedade da tradicional amília Lundgren, que tambémera proprietária da vila operária de Paulista, em Pernambuco.

Dierentemente de outros cursos de ciências sociais, a gradua-ção em Antropologia da UFPB não oi uma iniciativa dos antropó-logos dessa instituição2, mas surgiu a partir de uma demanda de pro-

1 Silvana de Souza Nascimento é Proa. Adjunta do departamento de CiênciasSociais do Centro de Ciências Aplicadas e Educação (CCAE) da UniversidadeFederal da Paraíba (campus IV), localizado na cidade de Rio into. Foi coordenadorado curso de graduação em antropologia deste campus de maio de 2008 a maio 2010.

É líder do Guetu (Grupo de Pesquisa Etnograas Urbanas), da UFPB, e pesquisadoraassociada do NAU (Núcleo de Antropologia Urbana da USP).

2 O campus I, em João Pessoa, tem um curso de Ciências Sociais que tem dezesseisanos, criado em 1994, e conta com a participação de sete antropólogas, além dediversos sociólogos e cientistas políticos.

Bacharelado em antropologia em Rio

Tinto, Paraíba Silvana de Souza Nascimento1

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essores, estudantes e técnicos de dierentes áreas, principalmente dedireitos humanos, sociologia, geograa, serviço social e comunicação,que atuavam especialmente com os potiguaras, e também a partir deuma reivindicação de lideranças indígenas com o objetivo de ortale-cer e ampliar as alianças políticas com a universidade3.

Assim, em 2007, oi criado o curso de Antropologia e CulturasIndígenas, com duas habilitações: antropologia social e antropologia

 visual. A proposta inicial era ormar antropólogos para atender as de-mandas relativas à identicação e demarcação das terras potiguaras. Aidéia era produzir materiais audiovisuais que pudessem documentar e

 valorizar as “culturas indígenas” e também ormar prossionais para

atuarem na construção de perícias e mediações culturais.Posteriormente, oi realizada a contratação do corpo docente,

hoje composto por sete proessores da área de antropologia, cinco desociologia, um de comunicação, dois de losoa e um de economia.Em 2009, esse corpo docente iniciou a reormulação do projeto peda-gógico inicial adequando o seu conteúdo à perspectiva propriamenteetnográca e antropológica pois o projeto, apesar de inovador, apre-

sentava uma preocupação mais voltada para ação social e propunha-sea uma antropologia, digamos, mais aplicada.

Desse modo, o projeto e o fuxograma oram reormulados eatualmente oram aprovados nos conselhos superiores da UFPB. Ali-ás, houve uma alteração no título do curso que teve a supressão de“culturas indígenas” e passa agora a ser chamado de curso de gradu-ação em “antropologia”. Por parte dos alunos, o antigo título causava

uma dúvida quanto ao conteúdo do curso pois parecia estar voltadosomente para as culturas indígenas ou ainda para “a antropologia cul-tural indígena”.

O atual projeto pedagógico do curso pretende oerecer umaormação intelectual e ética que prepare uturos antropólogos para, deum lado, ingressarem em programas de pós-graduação e sigam umacarreira acadêmica, de outro, atuarem como assessores e consultores

3 Grande parte desses proessores, técnicos e estudantes estava reunida no Serviço deAssessoria e Estudos a Movimentos Populares (SEAMPO) e no NUDOC (Núcleode Documentação), ambos da UFPB, que tem produzido diversos documentários arespeito de populações indígenas no Nordeste.

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 junto a instituições públicas com populações indígenas, remanescen-tes de quilombos e camponeses que, nas últimas décadas, têm reivin-dicado demandas como valorização e documentação de suas históriase culturas, identicação e demarcação de suas terras e o ortalecimentode sua identidade étnica. Pretende também realizar uma ormação emantropologia de maneira ampliada, tanto nas suas grandes áreas clás-sicas como Etnologia Indígena, Antropologia Urbana, AntropologiaRural, quanto em temas mais contemporâneos como AntropologiaVisual, Patrimônio Cultural, Estudos de Gênero e Geração, LaudosAntropológicos, etc., adequando o perl do egresso às novas congu-rações do campo de atuação da antropologia especialmente no Brasil.

Nesse sentido, o bacharelado em Antropologia apresenta três áreasespecícas de ensino e pesquisa: etnologia indígena e relações interé-tnicas, antropologia urbana e marcadores da dierença e antropologia

 visual, da arte e da imagem.A composição curricular do curso está organizada da seguinte

orma: nos dois primeiros anos são oertadas disciplinas básicas daárea das ciências sociais e humanas, de metodologia de pesquisa e ela-

boração de etnograas, além de disciplinas introdutórias da área deantropologia visual. A partir do quinto período, o curso tem umaormação quase que exclusivamente em antropologia. Em relação àpesquisa etnográca – uma das ênases do curso –, há três estágios depesquisa (chamados de “estágios supervisionados”) que são coorde-nados por proessores tutores, onde os alunos devem se preparar paraa elaboração do trabalho de conclusão de curso. Nesse momento, o

estudante deve optar também pela habilitação em antropologia socialou visual. As habilitações em antropologia social e visual apresentam--se mais como um direcionamento para aproundar conhecimentos eáreas de interesse dos alunos do que propriamente uma especialidadedentro do curso. Os alunos devem optar por quatro disciplinas distin-tas: écnicas e Estéticas do Audiovisual I e II e Antropologia VisualI e II (para antropologia visual) e Estudos Rurais; Gênero, Corpo

e Geração, Antropologia Política e Organização Social e Parentes-co (para antropologia social). Na habilitação em antropologia visual,além de um texto antropológico escrito, há também uma produção au-diovisual, na área de otograa, lme, vídeo, sítios, etc. Em relação às

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optativas, que devem totalizar cinco disciplinas conorme Regimentoda UFPB, propusemos o diálogo da antropologia com outras áreas doconhecimento como letras e literatura, losoa, arte, comunicação emeio ambiente. Para incentivar a leitura em língua estrangeira, tam-bém oi oerecido o inglês instrumental como disciplina eletiva.

Hoje, um dos desaos do corpo docente está em garantir umaormação qualicada no nível de graduação para um perl de alunos,grande parte (705), proveniente de escolas públicas que apresentamdiculdades, especialmente nos primeiros anos, na compreensão detextos acadêmicos e estão pouco acostumados ao hábito da leitura eda escrita. Justamente devido a esta diculdade, a disciplina Leitura

e Produção extual oi incluída no projeto original. Os estudantes,que hoje totalizam 160 pessoas, estão na aixa etária entre 18 e 25anos, 70% possuem renda amiliar até três salários mínimos e 60 %trabalham. Metade dos alunos mora na capital, em João Pessoa, a ou-tra metade habita pequenos municípios da região do Litoral Norte,que compõe o chamado Vale do Mamanguape. Há 14 alunos que seidenticam como índios, que inclusive habitam nas aldeias potiguara

da região. Apesar de muitos demonstrarem curiosidades em relação aocurso, poucos são aqueles que conhecem, ao ingressar no primeiro anoda graduação, o que az o antropólogo e o que dene a antropologia.Assim, nos primeiros semestres, é preciso, de orma criativa, azer um“convite à antropologia” que perpasse a leitura, a pesquisa bibliográcapara além da acilidade da cópia na internet, a pesquisa de campo e aescrita etnográca.

Se, de um lado, é preciso realizar um esorço de “convenci-mento” da importância cientíca e política da antropologia para osestudantes pouco acostumados com os problemas antropológicos, deoutro, os desaos também se estendem a buscar legitimidade dentroda comunidade acadêmica, a ganhar o reconhecimento junto ao Mi-nistério da Educação e também o apoio da Associação Brasileira deAntropologia.

Apesar de não haver um consenso na comunidade acadêmicabrasileira sobre a institucionalização dos cursos de antropologia nonível de graduação, o curso aqui rapidamente apresentado acompanhaum debate contemporâneo a respeito da importância de aproundar

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teorias e pesquisas antropológicas que, nos cursos de ciências sociais,precisam negociar espaços políticos com a sociologia, a ciência políticae outras áreas das ciências humanas, e, ao mesmo tempo, oerecer aormação de prossionais em antropologia que atuem em processos

políticos, sociais e culturais por meio de atividades de assessoria e con-sultoria. Contudo, o projeto atual do bacharelado em Antropologia daUFPB se propõe a investir na centralidade da pesquisa e da produçãode etnograas para a construção do conhecimento antropológico e,somente a partir daí, mediar e promover o diálogo com outros campos,sujeitos e instituições.

Composição curricular do Bacharelado em Antropologia da UFPB

1. Conteúdos Básicos Profssionais

1.1 Conteúdos Básicos do Núcleo Comum

Disciplinas Créditos

Carga

Horária Pré-requisitos1. Fundamentos do PensamentoAntropológico 04 60 _

2. Fundamentos do PensamentoSociológico 04 60 _

3. Fundamentos do PensamentoPolítico 04 60 _

4. eoria Antropológica Clássica 04 60Fundamentos

do PensamentoAntropológico

5. eoria Sociológica Clássica 04 60Fundamentos

do PensamentoSociológico

6. eoria do Estado 04 60

Fundamentos

do PensamentoPolítico

7. Introdução à Etnodocumentação 04 60 _

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8. eoria Antropológica I 04 60  eoria Antropo-lógica Clássica

9. eoria Sociológica Contemporânea 04 60  eoria Socioló-gica Clássica

10. Introdução àAntropologia Visual 04 60 _

11. eoria Antropológica II 04 60 eoria

Antropológica I

12. Antropologia Brasileira 04 60 _

13. Métodos de Mensuração eAnálise de Dados

04 60 _

14. Memória, narrativa e oralidade 04 60 _

15. Estudos Etnográcos 04 60 _

16. Antropologia Urbana 04 60 _

17. Identidade e Relações Interétnicas 04 60 _

18. Estudos Arobrasileiros 04 60 _

19. Patrimônio Material e Imaterial 04 60 Memória, Narra-tiva e Oralidade

20. Etnologia Indígena 04 60Identidade e

RelaçõesInterétnicas

21. Laudos Antropológicos 04 60 Identidade e rela-ções interétnicas

 otal 84 1260

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1.2 Estágio Curricular

Disciplinas Créditos CargaHorária Pré-requisitos

1. Estágio Supervisionado I 06 90 _

2. Estágio Supervisionado II 06 90 EstágioSupervisionado I

3. Estágio Supervisionado III 06 90 EstágioSupervisionado II

 otal 18 270

2.0 Conteúdos complementares

2.1 Conteúdos Complementares Obrigatórios do Núcleo Comum

Disciplinas Créditos CargaHorária Pré-requisitos

1. Metodologia do rabalhoCientíco 04 60 _

2. Filosoa das Ciências 04 60 _

3. Seminários de Pesquisa emAntropologia 04 60 _

4. Formação Econômica e Políti-ca do Brasil 04 60 _

5. Leitura e Produção extual 04 60 _

6. rabalho de Conclusão de Curso 09 135 _

 otal 29 435

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2.1.1 Conteúdos Complementares Obrigatórios - Habilitação em Antropologia Social (a partir do 5º período)

Disciplinas Créditos CargaHorária Pré-requisitos

1. Estudos Rurais 04 60 _

2. Gênero, Corpo e Geração 04 60 _

3. Antropologia Política 04 60 _

4. Organização Social eParentesco 04 60 EtnologiaIndígena

 otal 16 240

2.1.2 Conteúdos Complementares Obrigatórios - Habilitação em An-

tropologia Visual (a partir do 5º período)

Disciplinas Créditos CargaHorária Pré- requisitos

1. écnicas e Estéticas doAudiovisual I 04 60 _

2. écnicas e Estéticas doAudiovisual II 04 60

 écnicase Estéticas do

Audiovisual I

3. Antropologia Visual I 04 60 _

4. Antropologia Visual II 04 60Antropologia

Visual I

 otal 16 240

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2.2 Conteúdos Complementares Optativos (Mínimo de 20 créditos)

Disciplinas Créditos CargaHorária Pré-requisitos

Processos Rituais 04 60 _

Antropologia Econômica e da ecnologia

04 60 _

Antropologia da Arte 04 60 _

Antropologia e Direitos Humanos 04 60 _

Lazer e Sociabilidade Urbana 04 60 _

Antropologia e História 04 60 _

Antropologia Filosóca 04 60 _

Antropologia e Comunicação 04 60 _

Iniciação à Fotograa 04 60 _

Antropologia e Literatura 04 60 _

 erritório e Meio Ambiente 04 60 _

Inglês instrumental 04 60 _

Sociologia Brasileira 04 60 _

Movimentos Sociais e eorias doReconhecimento 04 60 _

LIBRAS – Língua Brasileira de

Sinais 04 60 _

 otal 20 300

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2.3 Conteúdos Complementares Flexíveis (mínimo de 8 créditos)

Disciplinas Créditos CargaHorária Pré-requisitos

  ópicos Especiais em Antropologia I 04 60 _

 ópicos Especiais em Antropologia II 04 60 _

 otal 08 120

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Nos parágraos a seguir, nós apresentaremos o curso de Bacha-relado em Antropologia, vinculado ao Instituto de Ciências Humanasda Universidade Federal de Pelotas (UFPEL).

A criação do Bacharelado em Antropologia — com duas Li-

nhas de Formação, Antropologia Social e Cultural; e, Arqueologia —tornou-se possível devido o empenho de proessores e alunos, o incen-tivo da Universidade Federal de Pelotas e a realização do Programade Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das UniversidadesFederais (Reuni) pelo Ministério da Educação (MEC).

Além da UFPEL, cursos de graduação em antropologia são oe-recidos na Universidade Federal do Amazonas, na Universidade Federal

da Paraíba, na Universidade Federal da Bahia, na Universidade Federalde Minas Gerais (UFMG), na Universidade Federal de Santa Catarinae, em ormatação, na Universidade Federal Fluminense. Cabe ressaltarque, a Associação Brasileira de Antropologia vem apoiando essa idéia,haja visto os debates delineados em congressos de caráter internacional— II Reunião Equatorial de Antropologia (Natal, 19 a 22 de agosto de2009), VIII Reunion de Antropología del Mercosur (Buenos Aires, 29

de setembro a 02 de outubro de 2009) — e nacional — 27ª ReuniãoBrasileira de Antropologia (Belém, 01 a 04 de agosto de 2010).

Quanto à concepção do Bacharelado em Antropologia naUFPEL, a articulação entre antropologia e arqueologia está ancora-

Bacharelado em Antropologia na 

Universidade Federalde Pelotas: um curso na fronteira 

Rogério Reus Gonçalves da RosaFlavia Maria Silva Rieth

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da nas tradições norte-americana, européia e latino-americana. Istoé, na maioria dos países de língua espanhola (México, Peru, Bolívia,Argentina, Uruguai) cursos de antropologia que atuam antropólogose arqueólogos é a tradição acadêmica. Já no Brasil, tanto na UFPELcomo na UFMG, o curso de antropologia está estruturado a partirdessas duas áreas de ormação.

 ratando-se do histórico institucional da UFPEL, o processode constituição do Bacharelado em Antropologia se reporta ao naldos anos 1970 e início dos 1980, período em que as disciplinas dessaárea se orientavam pelos ramos losóco, cultural e da antropologiaísica. Naquela época, os precursores do ensino da disciplina tinham

ormação em losoa e letras anglo-germânicas, em ciências jurídicase sociais ou em psicologia.

Na década seguinte, um marco importante desse processo oi aseparação do Departamento de Filosoa e História, em 1992, eventoesse que constituiu o Departamento de Filosoa e o Departamento deHistória e Antropologia (DHA). Além da conormação institucionaldas áreas de losoa e história como campos cientícos independen-

tes, os argumentos para vincular a antropologia à história basearam-sena premissa que a primeira ciência seria indispensável para a capaci-tação do aluno da segunda, tanto no debate epistemológico como nocampo de trabalho.

Isto é, a partir daquele momento, a área de antropologia se cons-tituiu junto à área de história, tendo em vista a undação do DHA,bem como em razão dos colegas historiadores proporcionarem uma

ormação “entre áreas” aos discentes. rata-se do caso da proessoraMaria Letícia Mazzucchi Ferreira, que ingressou na universidade em1989, e, em particular, do proessor Fabio Vergara Cerqueira, a partirde 1991.

Em 1993, oi realizado o primeiro concurso para proessor as-sistente com o objetivo de contemplar um prossional com ormaçãoem antropologia. Nessa oportunidade ingressou a proessora Flavia

Maria Silva Rieth, que assumiu as disciplinas de antropologia nos cur-sos de Bacharelado em Ciências Sociais, Licenciatura em História,Licenciatura em Geograa, Licenciatura em Filosoa e Enermagem.Em 1996, oi criado o curso de Licenciatura em Ciências Sociais, des-

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se modo ampliando a demanda de disciplinas de antropologia. Depoisdisso, em 2000, oi instalado o curso de Bacharelado em urismo, essecom duas disciplinas dessa área na grade curricular.

Em agosto de 2001, oi instituído o Laboratório de Ensinoe Pesquisa em Antropologia e Arqueologia (LEPAARQ), centroesse que possibilitou as duas áreas trabalharem em interação. Diga--se de passagem, o LEPAARQ se constituiu enquanto um espaçode ormação e pesquisa especialmente voltado para alunos vincu-lados à arqueologia, projeto esse que se desdobrou na constituiçãode um acervo arqueológico, na produção de trabalhos na área dearqueologia de contrato, no envio de pesquisadores para a realiza-

ção de pós-graduação em universidades brasileiras de ponta. Poroutro lado, a crescente demanda de disciplinas de antropologia emoutros cursos orientou a estratégia institucional de ampliação dessaárea na UFPEL.

Vinculada ao LEPAARQ, desenrolou-se também a experiênciado Inventário Nacional de Reerências Culturais (INRC), projeto esseque acultou uma série de estudos acadêmicos sobre “a produção dos

doces tradicionais de Pelotas”, particularmente, aos alunos ligados àantropologia. Nessa trajetória, a centralidade da discussão de patri-mônio material e imaterial delineou o cruzamento entre antropologia,arqueologia e história, tanto nas discussões teóricas e metodológicascomo na gestão do patrimônio coletivo. Por outras palavras, o contex-to de Pelotas, recebendo verbas públicas para a preservação do patri-mônio arquitetônico e o pedido de registro dos doces de Pelotas como

um patrimônio imaterial brasileiro, potencializou a articulação dessescampos de saber.

Por sua vez, em 2002, ingressou o antropólogo Edgar Barbo-sa Neto no Departamento de Administração e urismo da UFPEL.Esse proessor passou a colaborar com o DHA, atuando no ensino, napesquisa e na extensão. Em 2003, oi criado o curso de Pós-Graduação(Especialização) em Memória, Identidade Social e Patrimônio.

Em 2004, os cursos de Bacharelado e Licenciatura em Ciên-cias Sociais, vinculados ao Instituto de Sociologia e Política (ISP),oram reormulados, aumentando de duas para seis disciplinas deantropologia — ato esse que não redundou na entrada de novos

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proessores dessa área na UFPEL. Por sua vez, a Faculdade de Di-reito criou a disciplina de Antropologia Jurídica, contando com acolaboração do DHA.

Para suprir parte do aumento da carga horária dos proessoresque atuavam na antropologia, chegou, em 2005, o proessor RogérioReus Gonçalves da Rosa. Esse docente prestou o segundo concursodirecionado à antropologia, o mesmo direcionado para os temas deteoria antropológica e relações interétnicas.

Ainda nesse ano, constituiu-se o Mestrado em Ciências Sociais, junto ao ISP. De início, a Linha Patrimônio e Cultura oi conguradapelos proessores Fábio Vergara Cerqueira, Flavia Maria Silva Rieth

e Rogério Reus Gonçalves da Rosa, através de um elenco de cincodisciplinas optativas que reunia as áreas de arqueologia, antropologiaurbana, etnologia ameríndia e aro-americana.

 Já em 2006, ingressou a proessora Claudia urra Magni. Des-se modo, expandiram-se as disciplinas de antropologia na UFPEL,perazendo oito cursos de graduação — História, Ciências Sociais,Filosoa, Nutrição, Enermagem, urismo, Direito e Museologia —

somando-se ainda as disciplinas ministradas na especialização Me-mória, Identidade Social e Patrimônio e no Mestrado em CiênciasSociais. (ratando-se ainda desse mestrado, em 2008, ingressaram asproessoras Claudia urra Magni e Renata Menasche, assim poten-cializando a área de antropologia através da atuação conjunta dos seusproessores no ensino, na pesquisa e na extensão.)

Esse primeiro coletivo docente — representado pelos proesso-

res Fábio Vergara Cerqueira, Flavia Maria Silva Rieth, Rogério ReusGonçalves da Rosa e Claudia urra Magni, havendo ainda a presti-giosa colaboração do proessor Edgar Barbosa Neto — propôs o Ba-charelado em Antropologia à Reitoria e à Pró-Reitoria de Graduação.Na primeira versão do Projeto Político Pedagógico (PPP), o termohabilitação (em Antropologia Social e Cultural e em Arqueologia)gurava, sendo o mesmo renomeado para linha de ormação, em 2010,

através do processo de cadastramento do curso junto ao MEC.Com a criação do curso de Bacharelado em Antropologia, no

primeiro semestre de 2008, ingressaram como proessores Lucio Me-nezes Ferreira (arqueólogo) e Renata Menasche, bem como, consti-

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tuiu-se o Laboratório de Ensino, Pesquisa e Produção em Antropolo-gia da Imagem e do Som (LEPPAIS). Por sua vez, em 2009, entraramos proessores Cláudio Baptista Carle (arqueólogo), Adriane Rodol-pho, Francisco Luiz Pereira da Silva Neto, Rosane Aparecida Ruberte Lori Altamnn. Da mesma orma, em 2010, ingressaram LoredanaRibeiro e Raael Milheira Guedes, ambos arqueólogos. Com o acessode cada um desses prossionais, ampliou-se o repertório teórico e me-todológico das áreas, incrementando o cruzamento dos três núcleos dedisciplinas que ormam a Linha de Formação em Antropologia Sociale Cultural — teórico e metodológico; temático; e, etnológico, rural,tradicional — com os quatro que conguram a Linha de Formação

em Arqueologia — teórico; abordagem diacrônica; interdisciplinar deinstrumentalização teórico-prático; e, patrimonial.

Nesse momento, considerando o corpo docente lotado no Ba-charelado em Antropologia, há oito antropólogos e quatro arqueólo-gos ministrando aulas, desenvolvendo projetos de pesquisas, atividadesde extensão, enm, trabalhando na ormação pessoal e prossional decento e trinta alunos do curso, idem, dos quinhentos discentes vincu-

lados a outras graduações da UFPEL. Diga-se de passagem, a maioriadesses docentes também participa ou do Mestrado em Ciências So-ciais ou do Mestrado em Memória Social e Patrimônio Cultural.

Como é perceptível, o principal objetivo do Bacharelado emAntropologia é a conexão entre antropologia e arqueologia na cons-trução do conhecimento moral, intelectual, cognitivo dos alunos. Istoé, o esorço realizado em conjunto é tornar esse uturo prossional

apto a gerar um conhecimento original, aberto à multidisciplinarida-de, sensível à realidade das pessoas, desse modo contribuindo para oavanço das ciências.

Por outro lado, a UFPEL está situada no Bioma Pampa, emuma região de ronteiras nacionais — ou seja, bastante ligada ao Uru-guai e à Argentina — e territórios étnicos. Desse modo, os vínculosdos proessores desse bacharelado com a Universidad de la República

(UDELAR), a Universidad de Buenos Aires (UBA), a UniversidadNacional de San Martín (UNSAM), entre outras, já se traduzem naparticipação de prossionais dessas instituições em salas de aula, tra-balhos de campo, eventos, co-autoria de livros, artigos — trabalhos

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que oportunizam novos paradigmas para a sociedade brasileira queinveste nesses projetos.

Quanto ao ingresso dos alunos ao Bacharelado em Antropo-logia, o mesmo ocorre via processo seletivo (vestibular de inverno),sendo oerecidas cinqüenta vagas anuais. Além disso, o curso prevêo ingresso de alunos através de reopção, reingresso, transerência deoutros cursos de graduação e portador de diploma.

 ratando-se ainda do vestibular, a relação candidato/curso tem

apresentado uma média de dois pretendentes por vaga. Por sua vez, onível de evasão diminuiu da primeira turma (2008) para a segunda.Na primeira, ocorreu um abandono de trinta por cento; na segunda, amédia cou entre quinze e vinte por cento. A meta do Colegiado é acontinuidade da queda dos índices de evasão do curso.

Quanto ao desenho do curso, a Linha de Formação em An-tropologia Social e Cultural compreende 2.916 horas de atividades

discentes; por sua vez, a Linha de Formação em Arqueologia compre-ende 3.120 horas (ver cronograma no nal do texto). Cada uma dessaslinhas corresponde a uma carga horária especíca, dividida em (1)disciplinas especícas, (2) especícas optativas e/ou complementarese (3) ormação livre, distribuída desse modo:

 Antropologia social e cultural Horas Percentual

Disciplinas Especícas 1.836 61,5%

Disciplinas Especícas Optativas e/ouComplementares

748 25%

Formação Livre 400 13,5%

 OAL 2.984 100%

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 Arqueologia Horas Percentual

Disciplinas Especícas 2.312 74%

Disciplinas Especícas Optativas e/ouComplementares

408 13%

Formação Livre 400 13%

 OAL 3.120 100%

O núcleo de disciplinas especícas abrange um conjunto dematérias obrigatórias a serem cursadas pelos alunos do Bachareladoem Antropologia. O mesmo enoca os campos de saber da antropo-logia e da arqueologia (entre outras disciplinas, eoria AntropológicaI, Metodologia da Pesquisa Qualitativa, Pré-História Geral I, eoria

Arqueológica I, Etnologia Ameríndia I, Etnologia Aro-Americana I,Patrimônio Cultural, Antropologia Política).

 Já o núcleo de disciplinas especícas optativas abrange um con- junto de saberes oriundo das duas linhas de ormação; ele possibilitaao discente o aproundamento de temas especícos (Família e Paren-tesco I, Antropologia Rural, Relatórios écnicos, Pareceres, Perícias I,Arqueologia Pública, Prática de Laboratório I, Zooarqueologia).

Por sua vez, o núcleo complementar proporciona ao aluno oconhecimento de conceitos e métodos proveniente de disciplinas vin-culadas a outros cursos do Instituto de Ciências Humanas, a outroscentros da UFPEL e, talvez, a outras universidades brasileiras e es-trangeiras. A própria UFPEL congura, a cada semestre, um bancode disciplinas que é disponibilizado aos alunos de acordo com seustemas de pesquisa.

Por m, a ormação livre é destinada a atividades de extensão(seminários, congressos, jornadas, ocinas, grupos de estudos), proje-tos de pesquisa, bem como estágio não-obrigatório (esse último, nolimite, compreendendo 200 horas).

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Conorme previsto no PPP, os três primeiros semestres do cur-so apresentam disciplinas comuns para ambas as linhas de ormação.A matrícula do quarto semestre está condicionada à opção do alunopela Linha de Formação em Antropologia Social e Cultural ou pelaLinha de Formação em Arqueologia, momento esse que as gradescurriculares passam a se dierenciar. Nesse sentido, nos três primeirossemestres, o aluno obterá undamentos teóricos e metodológicos deambos os campos de conhecimento, de maneira a proceder à opção deuma linha de ormação.

 ratando-se do perl dos alunos do curso, de modo geral, trata--se de pessoas de classe média baixa ou classe baixa. A maioria dos

discentes trabalha durante o dia e estuda à noite. Quanto as suas pro-ssões, muitos trabalham como marceneiro, vendedor de loja, babá decreche, cozinheira de restaurante, axineira de escritório, dona de casa,aposentado.

Em termos geracionais, as turmas do Bacharelado em Antro-pologia são ecléticas. Em uma mesma disciplina há alunos de 17, 22,37, 50, 62 anos de idade. Na olha de chamada do proessor há tanto

alunos que passaram no primeiro vestibular como outros que retorna-ram à universidade 20 anos após o término do seu curso de graduação.

Com relação ao mercado de trabalho, observa-se que, a par-tir dos nos 1990, ambas as áreas apresentaram uma expansão tantona pampa como em outras regiões do Brasil. O incremento ocorreudevido à diversicação do mercado de trabalho em instituições de en-sino superior, em projetos realizados pelo Estado, museus, organiza-

ções não-governamentais, setor privado — por exemplo, a emissão derelatórios técnicos para grupos étnicos (ameríndios, aro-americanos,pescadores artesanais), o levantamento do patrimônio material e ima-terial, a musealização, a turisticação.

Para nalizar esse texto, nós ressaltamos que o aceite do desaodo curso de Bacharelado em Antropologia pelos proessores, alunos,UFPEL, Reuni e sociedade brasileira introduziu um novo marco na

história da antropologia e da arqueologia no mundo local e globaliza-do que vivemos nesse início do século XXI. Nesse sentido, a criação doMestrado em Antropologia e Arqueologia será o próximo passo que aUFPEL buscará implementar nos próximos meses.

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 ANEXOS

    B   A   C

   H   A   R   E   L   A   D   O

   E   M

    A   N   T   R   O   P   O   L   O   G   I   A ,

   L   I   N   H   A   D   E   F   O   R   M   A   Ç    Ã   O

   E   M

    A   N   T   R   O

   P   O   L   O   G   I   A   S   O   C   I   A   L   E   C   U   L   T   U   R   A   L

 

   1   º

   S  e  m .

   2   º   S  e  m .

   3   º   S  e  m .

   4   º   S  e  m .

   5   º   S  e  m .

   6   º   S  e  m .

   7   º   S  e  m .

   8   º   S  e  m .

 

   I  n   t

  r  o   d  u  ç   ã  o   à

   A  n

   t  r  o  p  o   l  o  g   i  a

   F  u  n

   d  a  m  e  n   t  o  s

   d  a

   H   i  s   t   ó  r   i  a

    S  o

  c   i  o   l  o  g   i  a   I

    I  n   t  r  o   d  u  ç   ã  o   à

   A  r  q  u  e  o   l  o  g   i  a  

   P  r   é

  -   H   i  s   t   ó  r   i  a

   G

  e  r  a   l   I

   T  e  o  r   i  a

   A  n   t  r  o  p  o   l   ó  g   i  c  a

   I     T  e  o  r   i  a

   A  n   t  r  o  p  o   l   ó  g   i  c  a   I   I

 

   I  n   t  r  o   d  u  ç   ã  o   à

   L   i  n  g   ü   í  s   t   i  c  a

 

   E   t  n  o   l  o  g   i  a

   A  m  e  r   í  n   d   i  a   I  

   P  r   é  -   H   i  s   t   ó  r   i  a

   B  r  a  s   i   l  e   i  r  a   I

 

   T  e  o  r   i  a

   A  n   t  r  o  p  o   l   ó  g   i  c  a

   I   I   I  

   T  e  o  r   i  a

   A  n   t  r  o  p  o   l   ó  g   i  c  a

   I   V 

   M  e   t  o   d  o   l  o  g   i  a   d  e

   P  e  s  q  u   i  s  a

   Q  u  a   l   i   t  a   t   i  v  a

     E   t  n  o   l  o  g   i  a

   A   f  r  o  -  a  m  e  r   i  c  a  n  a

   I     T  e  o  r   i  a

   A  r  q  u  e  o   l   ó  g   i  c  a   I

 

   P  a   t  r   i  m   ô  n   i  o

   C  u   l   t  u  r  a   l

     F  a  m   í   l   i  a  e

   P  a  r  e  n   t  e  s  c  o

 

   C   i   ê  n  c   i  a   P  o   l   í   t   i  c  a

   I  

   M   i   t  o   l  o  g   i  a  e

   R   i   t  u  a   l  

   A  n   t  r  o  p  o   l  o  g   i  a

   R  u  r  a   l 

   A  n   t  r  o  p  o   l  o  g   i  a   d  a

   S  a   ú   d  e

   P  e  s  q  u   i  s  a

   E   t  n  o  g  r   á   f   i  c  a

   I

     A  n   t  r  o  p  o   l  o  g   i  a

   P  o   l   í   t   i  c  a

 

   R  e   l  a   t   ó  r   i  o  s

   T   é  c  n   i  c  o  s ,

   P  a  r  e  c  e  r  e  s ,

   P  e  r   í  c   i  a  s   i 

   T   C   C

  e  m 

   A  n   t  r  o  p  o   l  o  g

   i  a

   S  o  c   i  a   l  e

   C  u   l   t  u  r  a   l  

   P  r   á   t   i  c  a   d  e

   C  a  m  p  o   I

   (   t  u  r  n  o   t  a  r   d  e   )

 

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    B   A   C   H

   A   R   E   L   A   D   O

   E   M    A   N   T   R   O   P   O   L   O   G   I   A ,   L   I   N   H   A   D   E   F   O   R   M   A   Ç    Ã   O

   E   M    A   R   Q   U   E   O

   L   O   G   I   A

 

   1   º

   S  e  m .

   2   º   S  e  m .

   3   º   S  e  m .

   4   º   S  e  m .

   5   º   S  e  m .

   6   º   S  e  m .

   7   º   S  e  m .

   8   º   S  e  m .

 

   P  r   á   t   i  c  a   d  e

   C  a  m  p  o   I

   (   t  u  r  n  o   t  a  r   d  e   )

 

   P  r   á   t   i  c  a   d  e

   C  a  m  p  o   I   I

   (   t  u  r  n  o   t  a  r   d  e   )

 

   I  n   t  r

  o   d  u  ç   ã  o   à

   A  n   t

  r  o  p  o   l  o  g   i  a

   F  u  n   d  a  m  e  n   t  o  s

   d  a

   H   i  s   t   ó  r   i  a

     S  o  c

   i  o   l  o  g   i  a   I

    I  n   t  r  o   d  u  ç   ã  o   à

   A  r  q

  u  e  o   l  o  g   i  a  

   P  r   é  -   H   i  s   t   ó  r   i  a

   G

  e  r  a   l   I  

   T  e  o  r   i  a

   A  n   t  r  o  p  o   l   ó  g   i  c  a

   I     T  e  o  r   i  a

   A  n   t  r  o  p  o   l   ó  g   i  c  a   I   I

 

   I  n   t  r  o   d  u  ç   ã  o   à

   L   i  n  g   ü   í  s   t   i  c  a

 

   E   t  n  o   l  o  g   i  a

   A  m  e  r   í  n   d   i  a   I

    P  r   é  -   H   i  s   t   ó  r   i  a

   B  r  a  s   i   l  e   i  r  a   I

 

   T  e  o  r   i  a

   A  n   t  r  o  p  o   l   ó  g   i  c  a

   I   I   I  

   T  e  o  r   i  a

   A  n   t  r  o  p  o   l   ó  g   i  c

  a   I   V  

   M  e   t  o   d  o   l  o  g   i  a

   d  e   P  e  s  q  u   i  s  a

   Q  u  a   l   i   t  a   t   i  v  a

     E   t  n  o   l  o  g   i  a

   A   f  r  o  -

   A  m  e  r   i  c  a  n  a   I

    T  e  o  r   i  a

   A  r  q  u  e  o   l   ó  g   i  c  a

   I  

   P  a   t  r   i  m   ô  n   i  o

   C  u   l   t  u  r  a   l

     C  a  r   t  o  g  r  a   f   i  a  e

   G  e  o  p  r  o  c  e  s  -

  s  a  m  e  n   t  o

 

   T  e  o  r   i  a

   A  r  q  u  e  o   l   ó  g   i  c  a

   I   I  

   M   i   t  o   l  o  g   i  a  e

   R   i   t  u  a   l  

   P  r   é  -   H   i  s   t   ó  r   i  a

   B  r  a  s   i   l  e   i  r  a   I   I

 

   A  r  q  u  e  o   l  o  g   i  a

   P  u   b   l   i  c  a  

   G  e  o   l  o  g   i  a

     A  n   t  r  o  p  o   l  o  g   i  a

   P  o   l   í   t   i  c  a  

   P  r   á   t   i  c  a   d  e

   L  a   b  o  r  a   t   ó  r   i  o   I

    A  r  q  u  e  o   l  o  g   i  a

   H   i  s   t   ó  r   i  c  a   I

 

   E   d  u  c  a  ç   ã  o

   P  a   t  r   i  m  o  n   i  a   l

     Z  o  o  a  r  q  u  e  o  -

   l  o  g   i  a  

   M  u  s  e  a   l   i  z  a  ç   ã  o

   A  r  q  u  e  o   l  o  g   i  a  e

   A  n   t  r  o  p  o   l  o  g   i  a  

   P  r   á   t   i  c  a   d  e

   L  a   b  o  r  a   t   ó  r   i  o   I   I

    A  r  q  u  e  o   l  o  g   i  a

   H   i  s   t   ó  r   i  c  a   I   I

 

   T   C   C

  e  m 

   A  r  q  u  e  o   l  o  g   i  a

 

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De que antropologia(s)precisamos?

Profissionalização eperspectivas do ensino1

Fátima Tavares

1A antropologia enquanto disciplina acadêmica vem atravessan-do, no país, um momento de grande discussão em torno do alcance doseu reconhecimento, dos limites e potencialidades tanto da produçãoteórico-conceitual quanto das “erramentas” metodológicas utilizadas.

Houve um momento em que se dizia que ela estava na moda. Outrasdisciplinas da grande área das ciências humanas (“tradicionalmente”próximas como a sociologia e a história, mas também o serviço social ea psicologia, por ex.) vêm crescentemente azendo uso do seu métodode trabalho de campo. Embora nem todos concordem com as razõesdo “sucesso” da antropologia, admitem, mesmo assim, que a sua blin-dagem a críticas é invejável.

Uma opinião corrente é a de que o método de trabalho, a et-nograa, é o grande responsável pela sua capacidade de se introduzirem novos territórios, o que proporcionou um deslizamento suave einadvertido até nós, modernos. Pois não seria outra a razão dos su-cessivos deslocamentos observados no seu campo de atuação ao longodo século passado. Nos seus primórdios, começou alargando as ron-teiras da humanidade até então conhecida e oi se aproximando. Mas

a aproximação acabou ocorrendo por vias distintas: por um lado, essa

1 Versões anteriores deste trabalho oram apresentadas na II Reunião Equatorial deAntropologia, Natal, 2009 e na 27ª Reunião da ABA, Belém, 2010.

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procura pelo “outro” veio dar nos nossos beirais, com índios, quilom-bolas e nativos redesenhando as perierias da nossa mundaneidade;por outro, o “atrevimento” de investigar os contornos do que somosnós, do nosso coletivo como diria Latour, para suspeitar dos grandesdivisores entre nós e eles.

No Brasil, se até a década de 90 assistimos a consolidação e in-ternacionalização da produção antropológica através, principalmente,da rede de programas de pós-graduação instalados no país, atualmentenovos desaos complexicam as discussões em torno da competênciaprossional do antropólogo.

Atualmente, não se trata apenas de ocarmos as nossas preocu-

pações em torno da excelência dos programas de pós-graduação, masde estender para novos domínios a qualicação prossional. Assim,desde meados dos anos 90 os debates vêm ganhando crescente impor-tância em torno da complementaridade de duas questões: a expansãodo ensino da antropologia em nível de graduação, por um lado; e operl a ser exigido para enrentar os desaos da atuação prossional,por outro.

Certamente essas duas questões são aces de um mesmo pro-blema e que tem a ver com o que se espera do antropólogo atualmente.Como a sociedade compreende o exercício prossional da antropolo-gia? O trabalho de campo e a produção de etnograa sobre os maisdierentes segmentos sociais produzem desdobramentos de que tipo?Cabe ao antropólogo apenas “conhecer” os “seus” nativos objetivandouma tarea estritamente acadêmica ou também estaria autorizado a ser

o seu “porta-voz” para a deesa de direitos e garantias constitucionais?O que essas perguntas nos levam a considerar poderia ser tra-

duzido numa discussão sobre os “direitos” e “deveres” do antropólogo.Mais precisamente, quais perguntas o antropólogo está autorizado aresponder? Poderá transpor os limites do que chamamos de pergun-tas propriamente cientícas para adentrar na interlocução com outrossegmentos da sociedade?

Essas são questões que vêm atravessando o exercício prossionalda disciplina, em seus vários novos campos de atuação. Obviamente,elas também trazem conseqüências para a ormação desse prossional,embora essa seja uma questão ainda pouco discutida. Para explorar

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com mais detalhes essas controvérsias, vamos tomar como reerência oproblema da perícia e elaboração de laudos antropológicos. Com isso,pretendemos explorar os desdobramentos dessa discussão para refetirsobre o que se espera da ormação em antropologia atualmente.

Conhecimentos híbridos e ormação profssional

A produção de perícias e laudos antropológicos parece enren-tar justamente os desaos de um conhecimento híbrido. Encontra-sena confuência entre a produção de conhecimento antropológico “ge-nuíno”, já que se undamenta nos mesmos critérios cientícos e éticos

da produção de etnograa, por um lado; e enrenta a interpelação doEstado através dos seus operadores jurídicos e administrativos, quedelineiam o “problema” a ser enrentado pelo antropólogo, por outro.

Essa conguração híbrida tem sido apontada em diversos tra-balhos, mesmo entre aqueles que deendem a legitimidade desse tipode conhecimento como estreitamente antropológico.

Até bem pouco tempo parecia que o destino prossional do

antropólogo se resumia à manutenção de sua “espécie”, reproduzindonovos quadros através dos cursos de ciências sociais nas universidades,comprometidos, portanto, com o conjunto das questões propriamenteantropológicas de que ala Viveiros de Castro. Mas se o “conorto” deuma situação controlada é cada vez mais improvável, o que azer comessa interpelação “externa”: Ministério Público, movimentos sociais,ONGs etc?

Os desdobramentos dessa preocupação podem ser encontradosno âmbito da literatura antropológica. O que azer com as etnograasproduzidas quando elas se transormam em manancial para interessesem confito? As relações moventes entre trabalho de campo, produçãodo texto etnográco e os desdobramentos de sua recepção tem sidoobjeto de muita discussão da chamada antropologia pós-moderna.Não cabe aqui inventariar argumentos dessa discussão: sabemos que a

problematização da autoridade etnográca jogou uma “pá de cal” nastentativas de construção do discurso autorizado sobre o “outro”.

Mas o problema aqui é um pouco mais delicado do que este:  já que não se pode alar “no lugar” dos outros, como produzir uma

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interlocução junto aos dierentes “outros” em disputa? Uma questãobastante delicada nessa nova regulação das relações entre antropólo-gos e sociedade reere-se aos limites tênues entre o papel de interlocu-tor e o de perito das comunidades que ele estuda. Esse novo lugar doantropólogo tem gerado inúmeros desconortos, como no desabao deRicardo Cid Fernandes:

Parece que o lugar dessa prossionalização não é o mestra-

do, não é a atividade acadêmica. O lugar parece ser alguma

coisa à deriva da ABA, um apêndice à ela. Sinto alta de

uma regulamentação da prossão, sinto muitas vezes meu

trabalho ragilizado, exposto ao ridículo, pela ausência deregulamentação. (2008: 167).

Na coletânea “Laudos periciais antropológicos em debate”, or-ganizada por Ilka Boaventura Leite, os autores que refetem sobre osdesaos na produção de laudos demonstram grande preocupação coma questão da ormação do antropólogo. Observam-se opiniões die-

renciadas quanto à necessidade de uma prossionalização mais dire-cionada, indicando ao potencial das controvérsias em torno de umaormação antropológica adequada aos desaos atuais. BoaventuraLeite apresenta o problema da seguinte orma:

O debate sobre as novas modalidades de atividade vem subsi-

diar práticas ainda pouco discutidas nos conteúdos da ormação

atual em ambos os campos [antropologia e direito]. A gradecurricular de ormação na área de Antropologia não contempla

qualquer disciplina da área do Direito. É no cenário das práticas

e em conormidade com os desaos encontrados que a ativi-

dade de perícia vai paulatinamente encontrando seu lugar e é

acolhida no campo jurídico, relacionando-se com novas atribui-

ções, muitas vezes até contrárias aos preceitos teóricos e éticos

consagrados nos conteúdos antropológicos tradicionais. (p. 27)

Da mesma orma, Eliane O’Dwyer argumenta sobre o descom-passo entre a compreensão do oício do antropólogo a sua ormação:

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Há um pressuposto comum, neste caso, sobre o papel do an-

tropólogo e da antropóloga enquanto “disciplina consagrada

à exploração das dierenças entre populações” (idem). Bem

menos consensual e fuida tem sido, porém, a denição sobre

a ormação do prossional em antropologia no Brasil. (p. 216)

Dentre os autores, Eliane Carreira é a que apresenta uma po-sição mais explícita em relação aos desaos da ormação. Armandoque para se azer laudo deve-se ser um antropólogo bem ormado,constitui uma preocupação da autora os cursos prossionalizantes deAntropologia reconhecidos pelo MEC. eme-se, assim, pela consti-

tuição de um perl de antropólogo dissociado do pesquisador:

No nosso entender, se você sabe azer uma boa etnograa,

 você com certeza saberá azer bons laudos. Sendo assim, não

precisa de um curso prossionalizante para ensinar a azer

laudos, basta a existência de bons cursos regulares que ensi-

nem a azer etnograa (...) (p. 247)

Ensino de antropologia e ormação profssional

A questão do ensino da antropologia no Brasil atravessou, apartir dos anos 90, dierentes momentos que se superpuseram no quese reere aos temas de debate. Nas menções às iniciativas da ABAnos anos de 1994 e 1995, os trabalhos de Peter Fry (2006) e Yvonne

Maggie (2006) recordam os temas em pauta daquele momento, quetratavam dos desaos da expansão do ensino de antropologia no nívelda graduação e pós-graduação. Já naquele momento, como salientaMariza Peirano (2006) oi abordada a questão da graduação em an-tropologia, mas ela não adquiriu relevância.

Um segundo momento das discussões oi marcado pela pro-blematização da pós-graduação como identicador prossional: as

exigências de diminuição do tempo de titulação do mestrado reco-locavam a necessidade de se reavaliar a antropologia da graduação(ASSINARI et al, 2006); por outro lado, os desaos do ensino,decorrentes das novas exigências prossionais da carreira de an-

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tropólogo. Como melhor preparar esse estudante? Concentrando aormação no nível da pós-graduação, através de mestrados prossio-nais, especializações em subáreas emergentes (como laudos e perí-cias, gestão patrimonial, mediação cultural, dentre outras)? Ou seriamelhor investir os esorços numa reavaliação do lugar da ormaçãoantropológica no âmbito das ciências sociais, partindo para a criaçãode graduações em antropologia?

Os parâmetros da discussão podem ser observados nas posi-ções de Gláucia Silva (2008) e Guita Debert (2008). Para a primeira,a atuação “extramuros” da antropologia não é mais episódica, haven-do, atualmente, um novo mercado de trabalho para o seu exercício,

o que implica em iniciativas de prossionalização, com a criação decursos prossionalizantes na conecção de laudos e gestão do patri-mônio cultural.

  Já para Debert (2008) a questão da ética e da ormação doantropólogo, embora não sejam novas, encontram-se atualmente re-colocadas em novos termos, dado a diversidade das áreas de atuação.Quanto ao papel da universidade, ela tem que garantir a ormação

geral e não se dispersar em especializações. Essa discussão se refetenos mestrados prossionalizantes e no próprio perl da graduaçãoem antropologia.

Se em momentos anteriores a questão da graduação em antro-pologia carecia de mobilização e discussões sistemáticas, o momentoatual exige novas redenições, à medida que alguns cursos de antropo-logia já estão em uncionamento no país. Embora as outras questões

não tenham se esgotado, os desaos em torno do perl de prossionalque emerge da graduação em antropologia é um desao que devemosencarar. Não se trata mais apenas de refetir sobre quais seriam asmelhores possibilidades de ormar esse prossional, mas de estimularuma discussão sobre parâmetros mínimos dessa ormação, conside-rando a diversidade geográca e de áreas de especialização do corpodocente na antropologia brasileira.

A partir da sua experiência na Comissão de Especialistas deEnsino do MEC, Yvonne Maggie (2006) apresenta uma interessanterefexão sobre a tradição brasileira, que reconhece e legitima o lugardo ensino da antropologia no âmbito das ciências sociais, tradição

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essa que compreende essa relação de continuidade como “natural” jáque anada à tradição humanística na qual a antropologia se insere.Apresentando um relato agradável e bem humorado, Maggie instigaa discussão através da pergunta que leva o nome do artigo: “Por quegostamos tanto do curso de ciências sociais?” para, como isso, apre-sentar, não sem perplexidade, uma certa “obsessão” pelo “desenho” docurrículo mínimo do curso de ciências sociais. Mas como ela mesmasalienta, é preciso observar como “opções aparentemente práticas ae-tam o rumo da disciplina em termos teóricos” (2006: 272). Com isso,Maggie aponta possíveis limites na opção pelo modelo tradicional docurso de ciências sociais:

A nossa escolha por um curso de cunho enciclopédico, dig-

no de aulas magnas, sem orientação acadêmica e com uma

grade curricular xa e por essa relação e conversa limitadas à

sociologia e à ciência política, tem conseqüências. A escolha

ez com que nos distanciássemos na graduação da lingüística,

da arqueologia e da antropologia biológica. Além disso, uma

ormação mais geral e humanística na graduação pode cer-tamente estar em um bom curso centrado na antropologia.

(2006: 273)

Além disso, acrescenta a autora, treinamento na disciplina de-pende da interace com outras áreas de conhecimento que transcen-dem os limites do desenho das ciências sociais. Limitando as possibi-

lidades de ormação na graduação, a pós-graduação não teria ôlegopara reparar as deciências de ormação.

As propostas de bacharelado em antropologia atualmente emdiscussão no país parecem combinar em porções dierenciadas duasorientações de undo, enatizando determinados pers e exigências quecompreendem a ormação deste prossional na contemporaneidade.

A primeira orientação de undo compreende o bacharelado

como uma oportunidade de aprendizagem precoce e sistemática datradição teórico-metodológica da disciplina. O objetivo da graduaçãoseria o de ornecer densidade e aproundamento, no intuito de or-mar antropólogos academicamente mais qualicados. No núcleo da

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ormação obrigatória teríamos, nesse perl, uma exigência prossio-nal concentrada na aprendizagem de campos teóricos tradicionais daantropologia como religião e magia, parentesco, ritual e simbolismoetc. Com isso, as novas áreas de ormação demandadas pelo mercadocomo a competência na realização de laudos e perícias ou a gestão depatrimônio cam a critério da ormação complementar, permitindoao graduando escolher as áreas em que deseja habilitar-se.

A segunda orientação busca um alargamento das habilidadesque tradicionalmente caracterizam o antropólogo. Assim, teríamosaqui uma ênase na ampliação das competências, não se restringindoapenas ao perl acadêmico. A ormação do estudante compreenderia

o contato, ainda que inicial, com a diversidade crescente da habilitaçãoprossional: mediador cultural, gestor de patrimônio, perito de lau-dos antropológicos etc. Caberia ao estudante a escolha pelo posterioraproundamento em uma dessas novas áreas de atuação.

Por outro lado, ambos as orientações se aastam da ênaseno desenho tradicional do bacharelado em antropologia vigente emoutros países. Particularmente nos Estados Unidos, onde a orma-

ção de bacharéis em Antropologia consiste no estudo dos quatrocampos, a saber: antropologia sócio-cultural, arqueologia, antropo-logia biológica e lingüística antropológica. As propostas de bacha-relado, por sua vez, têm procurado contornar essa dierença propon-do, na ormação obrigatória, disciplinas introdutórias à arqueologiae lingüística antropológica.

Outra característica a ser acentuada em alguns projetos de

bacharelado é a estruturação num tronco comum disciplinar se-guido de 2 habilitações: antropologia social e arqueologia (UFBA,UFMG,UFPel e no caso da UFPB/Rio into, antropologia social e

 visual (os que compreendem uma única habilitação são UNB, UFAMe UFRR). Com isso, as possibilidades de escolha do aluno no que sereerem às “áreas de concentração” podem transitar entre uma orma-ção propriamente acadêmica (investindo em disciplinas temáticas e

teóricas) até uma especialização nas novas áreas de gestão patrimonial,produção de laudos etc.

Na ormulação das propostas de bacharelado, a composição en-tre essas duas orientações vem ocorrendo em três eixos.

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Eixo 1: estrutura curricularObservam-se variações na grade de disciplinas oerecidas, po-

dendo haver maior ênase nas disciplinas “teóricas” ou nas disciplinasde “produção de novas competências”. Essa dierença irá se refetirno grau de inovação das disciplinas que compõem a grade curricular:mais teóricas ou mais temáticas.

Eixo 2: Flexibilidade e interdisciplinaridade da grade curricularOutra questão que impacta o perl da grade curricular é o peso

que ocupam as disciplinas obrigatórias, eletivas e as atividades com-plementares. Nos projetos de bacharelado observar-se grande variação

na porcentagem dos tipos de disciplinas e atividades.

Eixo 3: Atividades extra-classe ambém observamos importante variação no que se reere à

importância e grau de inovação da ormação complementar. Em al-guns projetos é oerecido um amplo leque de atividades para a orma-ção complementar, propostas de estágio supervisionado (UFRR), prá-

tica em pesquisa e diversicação no perl do trabalho nal de curso.

Uma questão importante a observar é a de combinar com dosa-gens adequadas as orientações disponíveis, azendo do egresso em an-tropologia prossional que tenha habilidades nas novas competências,mas, cujo desempenho não se restrinja à eciência técnica, realizando--se de orma crítica e criativa.

Ao mesmo tempo em que é necessária uma expansão dessashabilidades, devemos maximizar as potencialidades e vocação das uni-

  versidades onde os cursos são oerecidos. Com isso, não parece serdesejável um “engessamento” curricular, promovendo uma homoge-neização das competências nos quatro cantos deste país. Muito pelocontrário, o contexto local deve se transormar num laboratório a serexplorado, considerando-se seus problemas e história: é dele que deve

emergir a “vocação” pretendida pelo curso, onde colaboram docentese discentes.

Diante dessas alternativas de compreensão da competência an-tropológica, deparamo-nos com a escolha de orientações e critérios

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para adotar na elaboração da grade de disciplinas do bacharelado emAntropologia, que refita as características e potenciais encontráveisna antropologia que se realiza na Bahia e, particularmente, no Depar-tamento de Antropologia da UFBA.

Um caminho que se mostra promissor é articular da melhormaneira possível as potencialidades de cada um dos “desenhos” apre-sentados acima, considerando, por um lado, as especicidades datradição antropológica brasileira; e, por outro, os novos desaos con-temporâneos da nossa sociedade que exigem dos antropólogos maiorparticipação na identicação e busca de soluções adequadas para osgrandes problemas contemporâneos que exigem ormação apropriada

dos prossionais que devem lidar com estes.A grade curricular, qualquer que seja o seu “desenho”, deve ter

como reerência a ormação em três grandes eixos. O primeiro delesseria um conjunto de disciplinas que comporiam um “núcleo central”de disciplinas de ormação teórica e metodológica obrigatória, quegarantirão, assim, uma ormação mínima e habilitando o estudantepara as diversas competências atualmente exigidas.

O segundo eixo seria composto por um conjunto de discipli-nas que garantem a habilitação especíca do aluno, com conteúdoscurriculares de aproundamento do “núcleo central”, bem como pordisciplinas com temáticas particulares. eríamos como terceiro eixoa ormação complementar, que compreende as disciplinas optativas“livres”, ou seja, livremente cursadas em qualquer departamento, ga-rantindo a fexibilidade da ormação (por exemplo: para uma espe-

cialização em laudos, o estudante poderá cursar disciplinas em di-reito, geociências, ecologia, economia, saúde coletiva etc; já se optarpor gestão de patrimônio, poderá azer optativas de história, arte,arquitetura, urbanismo, administração, museologia etc.). Além dis-so, devemos estimular a participação em atividades extracurriculares

 variadas, atendendo, assim, de maneira mais apropriada, à própriadiversidade de exigências e tendências presentes nas demandas por

ormação especializada.Por m, talvez seja o momento de pensarmos em algo seme-

lhante ao ocorrido com a ocina de laudos periciais, num esorço con- junto entre o NUER (UFSC) e a ABA. O documento de trabalho in-

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titulado “Carta de Ponta das Canas” oi oriundo da dessa ocina, cujointuito, como salienta Boaventura Leite, oi o de servir de “parâmetroinicial para nortear as discussões e a relação dos prossionais com oscampos jurídico e administrativo.” (2005, p. 22). Poderíamos sugerir,numa iniciativa promovida pela ABA, uma orientação que tambémsubsidiasse essas discussões para os cursos de graduação em antropo-logia que estão se implantando.

Reerências

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 A prática da antropologia e suas aplicações práticas:

notas sobre ensino epesquisa 1

Simoni Lahud Guedes (UFF)

1A perspectiva na qual oi construído este texto provém de mi-nha atuação como proessora e pesquisadora em uma universidadeederal, há alguns anos, orma principal pela qual tenho exercido ooício de antropóloga. Devo destacar também como importante, para

o que pretendo aqui argumentar, minha participação institucionalcomo membro da Comissão de Ensino da ABA. Reconheço que éuma posição relativamente conortável diante dos dilemas éticos en-

 volvidos na prática da antropologia “extramuros” (c. Silva, 2008) maspenso que esta perspectiva permitirá trazer uma ou duas questões parao debate sobre o oício de antropólogo, dialogando com alguns an-tropólogos brasileiros. São algumas questões que tenho eito a mim

mesma no exercício da antropologia. Assim, gostaria de acentuar aorma como os objetivos de aplicação prática dos saberes antropoló-gicos repercutem em minhas experiências de ensino da antropologia,nas condições especícas que a disciplina encontra no Brasil, tema quese desdobra, de um lado, sobre a própria ormação de antropólogos e,de outro, sobre o ensino de antropologia como contribuição para umaoutra ormação. rata-se, assim, de uma contribuição bastante modes-

ta, considerando que tenho exercido o oício de antropóloga predomi-1 exto originalmente apresentado na Mesa Redonda “Oício do Antropólogo”,coordenada por Léa Freitas Perez (UFMG) na VII RAM (Reunião de Antropologiado Mercosul), realizada em Porto Alegre em 2007.

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nantemente nas lides acadêmicas, portanto sem me conrontar pesso-almente com os dilemas éticos nos quais se envolvem os antropólogosque trabalham ora das universidades e centros de pesquisa.

Para a construção do meu argumento, o ponto de partida neces-sário é a ampla diusão que a antropologia – ou a chamada “perspec-tiva antropológica” – teve nos meios letrados brasileiros nas últimasdécadas. Vamos a ele.

A sedução da antropologia no Brasil e o reencantamento domundo

Embora a produção do conhecimento antropológico pressupo-nha, do ponto de vista metodológico, um descentramento do sujei-

to do conhecimento que, em tese, suspenderia quaisquer tomadas deposição prévias, não é diícil encontrar na história da antropologia,como sabemos, exemplos provenientes de diversos contextos nacio-nais e acadêmicos em que a produção de pesquisas antropológicas oisugerida ou está inerentemente ligada à sua utilização, de ormas di-erentes, por segmentos sociais diversos. Além disso, mesmo indireta-mente, a produção de conhecimento sempre visa, de uma orma ou de

outra, intererir nos processos sociais. Nada a estranhar, portanto, sobeste aspecto.

Contudo, no caso da antropologia brasileira, envolvida desde osseus primórdios com questões relativas, em especial, à sobrevivênciaísica e cultural das populações indígenas, mas não só a estas, vale apena atentar para a intensicação e extensão signicativas deste pro-cesso nas duas últimas décadas, intensicação associada, em algumas

de suas grandes e mais evidentes linhas, à promulgação da Constitui-ção Federal de 19882. Este marco legal, sem dúvida, transormou osantropólogos em intérpretes autorizados do que se entende, na socie-dade brasileira, como recuperação de direitos para grandes parcelas dapopulação expropriadas durante o processo colonizador, abrindo umcampo de atuação imenso, que exige investimentos acadêmicos muitoespecícos, que, inclusive, têm sido objeto de refexão permanente em

nossa associação através de uma comissão, criada há alguns anos. Sua

2 Há vários registros da importância deste marco legal na geração de novas demandaspara a antropologia brasileira. Indico, por exemplo, Lima e Barretto Filho(2005).

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importância para o tema está mais do que estabelecida mas, além doato de que não sou competente para discutí-lo, o que gostaria de tra-zer aqui, são outras dimensões menos perceptíveis deste processo poisesta é apenas a ponta mais visível e brilhante do iceberg.

Meu argumento baseia-se em uma interpretação da mudançado lugar da antropologia nas ciências sociais brasileiras e na conco-mitante – mas não consequente – diusão dos saberes antropólogicos.Nas duas últimas décadas, no Brasil, a antropologia migrou de umaposição classicada como “alienada” no campo das ciências sociais3 para uma posição muito mais central e legitimada. Por uma espéciede reencantamento do mundo, “a cultura” – assim mesmo, reicada

– transormou-se em argumento de autoridade, azendo com que aexpertise dos antropológos osse continuamente chamada a responderàs mais dierentes exigências eitas por diversos setores sociais, in-clusive diversos setores estatais. Congura-se, nesta perspectiva, umaalteração na posição da antropologia no campo das ciências sociais eum deslocamento de sua interpretação no campo do poder (Bourdieu,1982, 1989). Assim, além das áreas tradicionais da etnologia indígena,

das relações e do preconceito racial, a demanda para a interpretaçãocom o selo da antropologia hoje, no Brasil, envolve praticamente todasas dimensões possíveis do comportamento humano, gerando, inclusi-

 ve, reações sobre a orma como a mídia, especialmente, nos classicacomo “especialistas” nisso ou naquilo4. Há pouco tempo, por exemplo,o recente desdobramento temático da antropologia econômica em“antropologia do consumo” oi tema principal de um caderno do jor-

nal O Globo, com o signicativo título “Antropólogos no consumo” eo sub-titulo “Empresas contratam prossionais para azer pesquisas eaprimorar seus serviços” (O Globo, 6 de maio de 2007, Caderno Boa

3 Quando me iniciei na antropologia, ainda no curso de Ciências Sociais daUFF, entre 1968 e 1971, durante a ditadura militar, portanto, os estudantes que se“inclinavam” para a antropologia, eram classicados pelos outros, mais militantes,como “alienados”. Em outros momentos de inserção prossional em equipes

multidisciplinares, vivenciei o mesmo tipo de classicação.4 Não é casual que estejam se tornando proverbiais nossos encontros e desencontroscom a mídia. Enquanto alguns de nós lidam, sem problemas, com o recente interessepor nossas interpretações, outros têm apontado as diculdades deste diálogo, emgeral, pautado previamente, evitando estas relações.

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Chance)5. Evidentemente, como o próprio exemplo acima pode com-provar acilmente, uma maior diusão não signica, de ato, a com-preensão e incorporação da produção antropológica como geradorade ação social e nem mesmo pode ser considerado como o elementoundamental na ampliação do campo acadêmico da antropologia noBrasil, mais dependente da dinâmica institucional própria à academiae às agências de nanciamento (c. rajano Filho e Ribeiro, 2004).Mas é, sem dúvida, ator muito relevante na organização deste campono Brasil, conrontando-nos, muitas vezes, com questões que se origi-nam em outros espaços sociais.

Do meu ponto de vista, um dos mais adequados registros des-

ta mudança de posição da antropologia no Brasil é encontrado emconerência proerida por Otávio Velho (1995) na comemoração dos25 anos do Instituto de Ciências Humanas e Filosoa, da UFF, em1993, posteriormente publicada na nossa revista Antropolítica. Seuponto de partida é a armação de que “há de ato um sucesso da an-tropologia no país, que é inclusive invulgar em termos mundiais. Achoque são poucos os lugares do mundo onde esta disciplina tem tanta

  visibilidade pública como no caso do Brasil” (Velho, 1995, p. 103).Indaga-se, nesta conerência, sobre as razões deste sucesso e aponta al-guns problemas daí decorrentes, acentuando o que denomina a “cargaromântica” da antropologia (p. 106), tornando-a mais “maleável, maisartística, do que seriam, em nosso campo, as ciências mais positivas”.Voltarei a este ponto adiante.

Situo na mesmo registro as agudas observações de meu colega

Roberto Kant de Lima, que, em mensagem pessoal sobre o tema emtela, acentou de modo sucinto mas muito preciso duas coisas: “a pri-meira, o ato de que a posição sui generis da antropologia como disci-plina das ciências sociais - entre a teoria dura e a prática fexível - estána sua vertente comparativa/contrastiva, que emite sinais de tolerân-cia aonde costuma haver normatividade e intransigência por parte deoutras disciplinas das ciências sociais; a segunda, que esta antropologia

5 O texto continha interpretações bem complicadas do trabalho dos antropólogos,em especial no trecho reerido a um “escritório rancês de antropologia”, denominado“oile”que aria pesquisas “antropológicas” dirigidas à melhoria da qualidade dosprodutos de empresas.

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é dura, mesmo, só nos países centrais coloniais/imperiais, onde é asociologia e a ciência política que estão encarregadas de pensar a suasociedade, enquanto que a antropologia pensa a sociedade dos outrose as políticas públicas endereçadas a ela. Daí essa ambiguidade estru-turante do saber antropológico em nossas sociedades colonizadas, querequer, também de nossa parte, fexibilidade para pensar as caracte-rísticas especícas da ormação de nossos antropólogos e o papel daantropologia na ormação local de não antropólogos”.

O deslocamento operado por uma antropologia periérica paraeleger temas de pesquisa na própria sociedade que produziu os pes-quisadores, exigiu, como acentua Mariza Peirano (2006), redenições

da alteridade, partindo do argumento de que a dierença é um “aspectoundante” na disciplina (Peirano, 2006, p. 53). No caso brasileiro, estadierença seria encontrada no interior da própria sociedade.

Estas características e esta opção da antropologia brasileira, a-zem com que os antropólogos possam ser também compreendidos, nacena social brasileira, como “denidores da realidade” (Berger e Luck-mann, 1973, p. 157), atores sociais com potencial de intererência, de

modo mais indireto ou mais direto, nos enômenos sociais. Enocartemas de pesquisa denidos por uma “alteridade próxima” (Peirano,2006), por exemplo, pode aumentar o potencial de intererência, exi-gindo que os achados teóricos sejam colocados em perspectiva políti-ca6. Mesmo temas aparentemente menos sensíveis, como por exemplo,a análise de projetos sociais esportivos, que venho empreendendo atu-almente, nos coloca nesta cena, o que se, evidentemente, não interere

(ou não deveria intererir) na produção de conhecimento, exige que aenunciação dos resultados considere os possíveis eeitos, muitos nãoprevisíveis ou desejáveis dos resultados da pesquisa. Nesta pesquisa,por exemplo, o próprio trabalho de campo é interpretado pelos queadministram os projetos sociais como uma adesão implícita a seus ob-

 jetivos, azendo com que me convidem, algumas vezes, a apresentaro trabalho em óruns ou encontros que, na verdade, interessariam à

pesquisa como campo empírico. Do mesmo modo, um dos resultados

6 Compreendo assim a armação de Peirano de que “no Brasil, teoria não é apenasabordagem mas armação política também” (2006, p. 62)

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mais evidentes que temos encontrado é a óbvia dissonância entre osobjetivos dos que empreendem o projeto e os jovens e suas amílias,que os usam de modo que denomino “instrumental”, ou seja, comoexpresssa Novaes (2003), apropriando-se da linguagem esperada pelosempreendedores para expressar publicamente sua adesão mas man-tendo seus objetivos próprios e especícos.

Em resumo, pode-se dizer que há, assim, um movimento “bem--sucedido”, digamos, da antropologia brasileira em estabelecer-secomo uma espécie de ator político, partícipe das denições de realida-de na sociedade brasileira. Em contrapartida, devemos administrar oseeitos possíveis de nossas pesquisas e responder às demandas muito

dierenciadas que esta sociedade apresenta.Assim, compartilhando da perspectiva proposta pelos proesso-

res Otávio Velho e Roberto Kant de Lima, interessa-me acentuar queeste “sucesso” e esta posição singular da antropologia no Brasil, comonão poderia deixar de ser, também chegou às salas-de-aula, tanto degraduação quanto de pós-graduação, embora dierentemente nos doiscasos, impondo questões e, até, agendas, que provêm desta demanda

mais ampla gerada por diversos setores da sociedade brasileira. Pode--se considerar haver um consenso de que, nas últimas décadas, noBrasil, a antropologia encontrou um espaço signicativo e especíco,concomitante ao interesse e à valorização de nossas dierenças inter-nas e, principalmente, ao interessse pela “especicidade” brasileira. Domesmo modo, alguns temas mais “duros” das ciências sociais – como asegurança pública, por exemplo – que se constituiram como “proble-

mas sociais” (Lenoir, 1996), também oram submetidos ao escrutínioantropológico e geraram demandas de ensino.

Formar antropólogos e contribuir para outras ormaçõesNo Brasil, como sabemos, a prossão de antropólogo não é re-

gulamentada e a ormação de antropólogos, até muito recentemente7,

7 A Universidade Católica de Goiás conseguiu iniciar sua primeira turma de

graduação em antropologia em 2007, após tentativa rustrada no ano anterior, poralta de candidatos, segundo inormações do proessor Roque de Barros Laraia. Em2008, surgem os primeiros cursos de graduação em Antropologia (UniversidadeFederal de Pelotas e Universidade Federal da Paraíba). Outros cursos iniciaram-se em2009, havendo ainda outros projetados para começar em 2010 e 2011,

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estava restrita à pós-graduação. Como acentua Ruben Oliven (2004),apesar da desvantagem da ausência de proteção legal aos mestres edoutores, “uma das vantagens da prossão de antropólogo não ser re-gulamentada é permitir que os antropólogos brasileiros sejam oriun-dos dos mais diversos cursos de graduação, optando pela antropologiaapenas na pós-graduação, quando já são um pouco mais experientes etêm mais vivência acadêmica” (Oliven, 2004: 213).

Embora a própria regulamentação da prossão seja um excelentetema de debate – que, a meu ver, não poderá ser evitado por muito tempomais pela ABA – o que eu gostaria de acentuar aqui, sob este ponto de

 vista, é que a incorporação de estudantes com ormação diversicada é

bastante expressiva nas pós-graduações de antropologia, apesar da maio-ria (56% em 2001, c. Debert. 2004: p. 149) ser oriunda da graduação emciências sociais ou de áreas mais próximas. Mas não são absolutamenteincomuns a inclusão de prossionais graduados em medicina, enerma-gem, arquitetura, educação ísica, direito, turismo, marketing etc

A demanda crescente destes prossionais pelo ensino de an-tropologia, por um lado, é apenas uma ace do sistema universitário

nacional, que se apresenta de modo bastante fexível para as estratégiasde remanejamento nas trajetórias disciplinares, e, por outro lado, domeu ponto de vista, é mais um indicativo do “sucesso” reerido acima,das interpretações antropológicas dos mais diversos aspectos da socie-dade brasileira. Na mesma direção pode ser interpretada a crescentedemanda de disciplinas de antropologia em cursos de graduação di-

 versos que, no caso das universidades públicas, como a UFF, coloca-

 vam uma série de dilemas para os departamentos de antropologia que,como a grande maioria, tiveram uma drástica diminuição de docentesna última década, em decorrência direta das alterações da política na-cional de distribuição de vagas docentes, política que, no caso da an-tropologia ao menos, estava em fagrante contraste com o crescimentoda demanda pela disciplina. Este quadro, elizmente, alterou-se nosúltimos anos com o REUNI (Programa de Apoio à Reestruturação

e Expansão das Universidades Federais) que possibilitou a ampliaçãodos quadros docentes dos departamentos.

Na pós-graduação em antropologia que, pela não-regulamenta-ção da prossão transormou-se, no caso brasileiro, como já acentuado

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acima, no caminho para o reconhecimento prossional, estratégia pelaqual optou, até aqui, nossa associação, a incorporação de prossio-nais oriundos de outras prossões nos tem conrontado, diretamente,com o dilema da “conversão” versus a “instrumentalização”. rata-sede uma segunda “socialização secundária” (Berger e Luckmann, 1973),portanto duplamente dicultada, que propõe enormes desaos aosdocentes e programas de pós-graduação, trazendo questões que nãose apresentavam antariormente em sua pauta. Ao lado de uma talvez até excessiva uniormidade nas disciplinas obrigatórias dos currículosde nossas pós-graduações (c. Debert, 2004), as disciplinas optativase as temáticas desenvolvidas nas teses e dissertações têm delineado

um campo muito mais vasto e maleável, certamente, em muitos ca-sos, respondendo aos interesses trazidos para dentro da academia porprossionais oriundos de outras áreas. Não é absolutamente incomumque o candidato expresse, em sua carta de intenções, por exemplo, sobormas diversas, que deseja aprender antropologia para melhorar seudesempenho em sua prossão ou em sua área de atuação. Se a renova-ção temática na antropologia muito deve a esta demanda, sem dúvida,

enriquecedora, é orçoso reconhecer que, na pós-graduação, responsa-bilizados que estamos pela orma tácita que criamos para denir quemé antropólogo, atuamos vigorosamente, em todos os níveis institucio-nais, para operar a “conversão” deste prossional em um antropólogo,insistindo ortemente na incorporação de alguns princípios teóricose metodológicos, representados, muitas vezes, por alguns textos ca-nônicos. Rejeitamos, desta orma, o que seria apenas uma utilização

instrumental da antropologia e driblamos os descaminhos da inter outransdisciplinaridade, outro tema com o qual lidamos com extremadiculdade. Entretanto, creio eu, não podemos ainda avaliar o quantoa antropologia que azemos hoje no Brasil está infetida, em seu cerne,pelas demandas que chegam desse modo à universidade em sua pós--graduação e, por esta via, o quanto a antropologia tem contribuídopara as mais diversas intervenções sociais. Creio que obteríamos ín-

dices reveladores se, por exemplo, correlaciossemos as trajetórias pre-gressas e posteriores dos mestres e doutores e os temas e áreas em queproduziram suas teses e dissertações, sinalizando para uma especi-cidade muito maior de nossa “antropologia at home” (Peirano, 2006).

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Se na ormação de antropólogos, o objetivo da “conversão” é con-sensual, apesar de bastante problemático, temos registrado outros de-saos quando somos chamados a contribuir para outras ormações, emnível de graduação ou especialização, situação cada vez mais comum eque é, muitas vezes, demandada senão como uma “antropologia aplica-da”, como uma “antropologia aplicável”. Ou seja, muitas vezes trata-sede uma demanda bastante especíca que, tacita ou explicitamente, nosindaga “pra que serve isso para a minha prossão?”.8 Não se trata aquide ormar antropólogos mas de dizer a que viemos, caso a caso, inclu-sive exigindo um esorço e um investimento especíco do docente nacompreensão mínima daquela área especíca.. Posso oerecer o exemplo

próprio mas não incomum, reerente à nossa experiência coletiva, naUFF, pelo período de quase cinco anos, com o curso de Justiça Criminale Segurança Pública que tinha como parte do público, ociais superioresda Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro e delegados da PolíciaCivil, entre outros alunos. Por um lado, estávamos sempre conrontados,direta ou indiretamente, com a questão da “aplicação” do que ensináva-mos, preocupação absolutamente compreensível pois são prossionais

da intervenção direta. Acrescento que a questão que era sempre res-pondida evocando os claros limites de nossa contribuição, incapaz degerar diretamente normas de intervenção social. Por outro lado, nãotenho dúvidas acerca do quanto meu próprio trabalho oi infetido pelaexperiência e pela interlocução com atores sociais tão especícos. emsala-de-aula e, principalmente, na orientação de monograas.

Sob um ponto de vista um pouco mais amplo, eu apontaria aqui

duas questões principais com as quais nos derontamos ao contribuirpara outras ormações: uma concernente ao relativismo cultural, outramais concernente à nossa orma de produzir dados. Apontam ambas,a meu ver, para as diculdades e limites deste tipo de contribuição.

A conjugação dos dois princípios instituintes da antropologiamoderna – a unidade humana e a diversidade cultural – implicou em

8 ivemos um exemplo inusitado e recente, desta demanda excessivamente dirigida,em nosso Departamento de Antropologia, quando o colegiado do recém-criadocurso de graduação em Filosoa solicitou, como disciplina obrigatória, AntropologiaEstrutural. Quando argumentamos que seria necessário, antes, pelo menos umadisciplina de Introdução à antropologia, nossa proposta oi rejeitada.

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uma argumentação tácita pela tolerância com as dierenças. Sem dú- vida, parte da sedução da antropologia para outras ormações se deveà deesa do relativismo cultural, que deriva destes princípios, permi-tindo subverter interpretações, ver o mundo pelo avesso e, principal-mente, reconhecer e legitimar dierenças. O problema é, como ar-ma Débora Diniz (2001, p. 60), a passagem do “relativismo culturalcomo uma perspectiva metodológica”para o “relativismo como umaideologia que justica as dierenças em termos culturais”. Sem pre-tender discutir aqui a problematização eita pela autora da noção dedireitos humanos9, gostaria de acentuar que o deslizamento apon-tado por ela é, sem dúvida, uma das diculdades que encontramos

no ensino da antropologia para outras ormações. Geralmente comocoadjuvantes destas outras ormações, atuando em disciplinas comcargas horárias extremamente reduzidas, precisamos ter cuidado re-dobrado para matizar esta passagem evitando esvaziar, desta orma,o princípio metodológico do relativismo cultural, transormando-onum aorismo moralizante.

A sedução exercida pela antropologia também se exerce no

modo pelo qual produzimos nossos dados e também aqui precisamoster cuidado redobrado. Podemos voltar agora às observações de Otá-

 vio Velho, que nos chamava a atenção para o que denomina “um cer-to ethos do cultivo da espontaneidade do azer antropológico que émuito romântico” (Velho, 1995, p. 106). Seu oco é a problematizaçãoda disciplina e da ormação de antropólogos e, embora, da década de1990 para cá, tanto nas graduações em ciências sociais quanto nas

pós-graduações tenhamos legitimado as disciplinas de “métodos e téc-nicas” que, na ocasião, eram mais incomuns, como destaca o autor re-erido, suas observações permanecem válidas na atualidade, sugerindoque a necessária criatividade e inventidade de estratégias de pesquisa,sem dúvida um dos nossos maiores trunos, não pode prescindir dorigor metodológico e da refexão sobre o azer antropológico. Se não

9 Identicando a questão como um “lapso disciplinar” da antropologia (Diniz, 2001,60) e problematizando as noções de direitos humanos e direitos culturais, a partir doexemplo da mutilação genital eminina, a autora advoga a preeminência necessáriada noção de “direitos undamentais”, claramente explicitada como estratégia de lutapolítica processual

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há dúvida da necessidade destes cuidados na ormação de antropólo-gos, a questão é: qual é o papel, as possibilidades e limites da refexãoe do treinamento metodológico no ensino para não-antropólogos?Não estaríamos, muitas vezes, buscando uma “antropologização” deoutras abordagens, baseada na enganadora acilidade de aplicação dastécnicas de pesquisa antropológica, que prescindem de ormalizaçõesmais estritas e esvaziando, de ato, os diálogos possíveis com outrasperspecttivas? alvez, em decorrência destas práticas, eu venha encon-trando, com certa reqüência, textos que se classicam como baseadosem dados produzidos “na linha da antropologia”, embora não se saibabem o que isso quer dizer.

Se, evidentemente, este é mais um índice de como omos bemsucedidos, no Brasil, demonstrando a importância atribuída à investi-gação artesanal e minuciosa de idéias, sentidos e signicados, precisa-mos também estar atentos, quando ensinamos antropologia, evitandoestimular a produção de versões muito espontâneas do trabalho an-tropológico para que, ao impor a qualidade de nossa perspectiva, nãoneguemos a validade de outras perspectivas, deixando, muitas vezes,

nossos alunos a meio caminho, sem dispor de instrumentos metodo-lógicos adequados de antropologia para desenvolver seu trabalho.

Ressalto, por m, que não tenho dúvida de que nossa contri-buição para a compreensão dos mais diversos enômenos sociais podeser valiosa, como não tenho dúvida de que devemos ser permeáveisàs demandas e sugestões que nos chegam nas demandas de ensino epesquisa. A questão é de como encontrar um equilíbrio entre o que

podemos oertar e o que nos é solicitado, mantendo uma relação reno- vada mas adequada no diálogo entre teoria e dado.

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 A Funai como campode atuação dos

 antropólogos1

 Izabel Gobbi (FUNAI)

1Primeiramente, agradeço ao proessor Carlos Caroso pelo convi-te para participar deste Fórum, onde vou alar sobre a Funai como campode atuação dos antropólogos. E em “tempos de PAC2”, de grandes em-preendimentos que impactam erras Indígenas e suas populações, este

se torna um tema um tanto quanto “espinhoso” e é undamental trazê-lopara os espaços de debate. Hoje, não dá parta alar da Funai sem alar doenvolvimento de antropólogos em processos de licenciamento ambientalde obras do PAC. Mas antes de entrar neste assunto apresentarei algunsdados e exemplos da minha própria experiência na Instituição.

Faço parte do quadro de servidores eetivos e entrei na Funaipor meio do último concurso público especíco para antropólogo, que

aconteceu em 2004 e oram oerecidas dezessete vagas, todas sedeadasem Brasília. O pré-requisito para ocupar o cargo era ter graduaçãoem Ciências Sociais, e entraram graduados, mestres e alguns poucosdoutores (ou doutorandos, à época).

Não disponho de números precisos, mas suponho que a Funaiconte com não mais que vinte e cinco antropólogos entre os servidoreseetivos, a maioria lotada em coordenações da Sede e alguns poucos

1 ranscrição da ala no Fórum Especial O Campo de Atuação dos Antropólogosno Brasil, durante a 27ª Reunião Brasileira de Antropologia, de 1 a 4 de agosto de2010, em Belém – PA.

2 Programa de Aceleração do Crescimento do Governo Federal.

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em Unidades Regionais. ambém ingressaram, recentemente, antro-pólogos no concurso para servidores temporários, ocorrido em 2009,e temos, ainda, antropólogos detentores de cargos comissionados (ou“cargos de conança”). No total, podemos deduzir que atuam hoje, naFunai, cerca de quarenta antropólogos (sem contar aqueles que atu-am como consultores ou colaboradores, especialmente em estudos deIdenticação de erra Indígena).

É importante destacar que as atribuições de um antropólogo naFunai variam muito de acordo com a sua lotação, ou seja, da coordena-ção onde atua. E também não se trata de uma categoria minimamen-te coesa: nós não nos reunimos para, por exemplo, discutir e refetir

sobre a nossa prática ou sobre as implicações dos direcionamentospolíticos adotados pelo órgão, dentre outras questões. Na maioria das

 vezes, sequer sabemos o que os nossos colegas azem dentro de suas“caixinhas”. E é ato que atuamos muito como em um “balcão de aten-dimentos” ou “apagando incêndios”, quer dizer, onde demandas sãoapresentadas e temos que atendê-las em “regime de urgência”.

Há pouco mais de um ano trabalho na Coordenação Geral de

Educação – CGE e a minha atuação costuma ser demandada em di- versos assuntos que aetam crianças e jovens indígenas, sobre os quaisrespondo por meio de pareceres, notas técnicas, assessorias para as-suntos legislativos, participação em encontros e ocinas de jovensindígenas, além de apoio e participação em projetos comunitários.Por exemplo, na semana passada, eu estava em uma aldeia, no Alto

 apajós, dando aula de Antropologia para proessores da turma de

Magistério do Curso de Ensino Médio Integrado Munduruku – Pro- jeto Ibaorebu (aliás, uma experiência de educação escolar que, de ato,podemos chamar de dierenciada e que é coordenada pela Funai).

Outro exemplo de atuação minha, enquanto antropóloga da Co-ordenação Geral de Educação, oi no caso do Projeto de Lei 1057/07,aquele que trata da criminalização do que chamam de “inanticídio indí-gena” e que é de autoria de um Deputado da bancada evangélica do Con-

gresso Nacional. Neste caso, na ausência de uma maniestação ocial daPresidência da Funai, eu e mais dois colegas da CGE, um antropólogo euma socióloga, elaboramos uma nota técnica contrária ao Projeto de Leie encaminhamos, via Procuradoria Jurídica, para a relatora na Câmara.

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O problema é que a nossa nota poderia ser acilmente contestada pelosdeensores do Projeto, sob a alegação de que não se tratava de uma posi-ção institucional, mas da maniestação isolada de três técnicos. Foi, então,que entrei em contato com o Presidente da ABA, proessor Carlos Ca-roso, e pedi o seu apoio. Pedido que ele atendeu prontamente, enviandouma nota da ABA em apoio à nossa nota técnica.

Relatei dois exemplos pontuais de atuações possíveis de umaantropóloga dentro da Funai. Passarei, agora, ao tema “espinhoso”. Épossível armar que existem hoje, na Funai, antropólogos que estão,literalmente, a serviço do PAC e que atuam no acompanhamento di-reto de processos de licenciamento ambiental de grandes obras que

aetam erras Indígenas, tal qual as Usinas Hidrelétricas de BeloMonte, do Rio Madeira, a pavimentação da BR-319 e da ransama-zônica, dentre outras tantas.

É importante ressaltar, ainda, que a Funai pós-Decreto de Re-estruturação, publicado em dezembro de 2009, está muito mais ade-quada ao Programa do Governo Federal que tem como “carros-chee”o PAC e as chamadas políticas sociais, tais como os Programas Luz 

Para odos, Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida, dentre ou-tros que estão sendo levados para as áreas indígenas sem a devidaatenção às especicidades culturais ou mesmo sem atentar para a realnecessidade de sua implantação.

No caso do acompanhamento de obras do PAC, mesmo antesdo Decreto, a Funai já contava com um “time” de detentores de car-gos comissionados (cargos estes cedidos pela Casa Civil), sendo que

muitos deles são antropólogos e grande parte está lotada na atual Co-ordenação de Licenciamento Ambiental. A ordem vigente, já explici-tada em discursos do Presidente da República, é de que a Funai – eos índios – não pode mais ser um “empecilho” para as obras do PACe aqueles prossionais estão lá exatamente para ajudar nos processos.

Vamos ao caso de Belo Monte, sem dúvida, um dos mais em-blemáticos. Quem acompanha o processo deve saber que a Funai emi-

tiu um Parecer avorável ao empreendimento3, elaborado por antro-

3 Parecer écnico nº. 21/CMAM/CGPIMA-FUNAI, de 30 de setembro de 2009,encaminhado por meio do Oício nº. 302/2009/PRES-FUNAI, de 14 de outubrode 2009.

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pólogos e prossionais da área ambiental, onde arma-se que este “é viável, observadas as seguintes condicionantes”.

Sabemos que a Usina de Belo Monte não é um empreendimen-to viável, em nenhum aspecto, e que as condicionantes jamais serãoobservadas. Diante disso, qualquer servidor da Funai teria todas asprerrogativas para se recusar a assinar o Parecer, em nome da própriamissão institucional do órgão de proteger os Direitos dos Povos Indí-genas e em nome de motivações éticas. Mesmo com tais prerrogativas,o Parecer oi assinado e encaminhado ao Ibama.

Sinto-me extremamente incomodada com as posições políti-cas que a Funai é obrigada a adotar nestes processos e, ainda mais

incomodada, com o ato de terem antropólogos diretamente envol- vidos. Mas é óbvio que não ignoro o ato de que a Funai, enquantoum órgão de Estado, deve se enquadrar no projeto de Nação que estápor trás do PAC. E o preço desse projeto, sabemos, é extremamentealto para os índios.

Para nalizar quero dizer que, apesar disso tudo, os antropó-logos e servidores da Funai tem trabalhos técnicos que devem ser

resguardados e que independem das decisões políticas nais tomadaspelos dirigentes do órgão. E nós temos as nossas próprias estratégiasde atuação e posicionamento político, que se dão por meio da articu-lação e o diálogo com o movimento indígena organizado, com a ABA,com as universidades e, acima de tudo, com as comunidades indígenas,além do atendimento respeitoso às lideranças e representantes indíge-nas que nos procuram.

Só para lembrar um último dado: o atual Presidente da Funai,assim como o seu antecessor, são antropólogos (mais uma atuaçãopossível!).

Assim encerro.

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Por uma antropologia não sitiada: o campo de

 atuação do antropólogono mundo

Ondina Fachel Leal 

Começo esta narrativa azendo uma pequena observação aotítulo aqui proposto: O Campo da Atuação dos Antropólogos no Brasil –pois gostaria de alar de uma experiência de atuação como antropólo-ga brasileira, no Brasil, mas também ora dele, tendo como campo de

atuação agencias multilaterais e internacionais. De uma orma ou deoutra estaremos nos reerindo a atuação do antropólogo para alem dosmuros das universidades, muito alem do trabalho de ensino e pesquisa.

Em minha trajetória como antropóloga, ainda que desde deseu início vinculada ao espaço de ormação acadêmica, à universidade,tenho tido outras oportunidades de atuação prossional como antro-póloga: O trabalho junto a uma agência internacional, a Fundação

Ford; e o trabalho junto a agências multilaterais do sistema das Na-ções Unidas. É sobre estas possibilidades de atuação do antropólogo ecarregando comigo um repertório de experiências que me proponho arefetir aqui. Ao mesmo tempo, gostaria de indicar caminhos e mape-ar um pouco as demandas e possibilidades de mercado que se impõemna atualidade ao antropólogo no mundo globalizado.

Como ponto de partida é bom lembrar que quanto mais globa-

lizado estiver o mundo, maior necessidade haverá de se acessar aquiloque vai se tornando desconhecido, como aces de uma mesma moeda,que é o “local”, isto é, a especicidade de um determinado contextocultural. Dito de outra orma, a agenda do mundo globalizado pelo

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mercado, legislação, tecnologia de inormação, processos culturais --que se estabelece à revelia dos estados nações, borrando ronteiras, nãoprescinde -- ao contrário – requer e depende muito mais do conhe-cimento do especialista em localismos, em cultura local. E quem seriaeste especialista senão o antropólogo? O oício do antropólogo é o deconhecer em proundidade um dado contexto. Nossas competênciaspara abordar a realidade incluem primeiro, entender o que outros an-tropólogos escreveram sobre outros locais ou outras tribos; segundo, odomínio de técnicas que nos permitam avaliar realidade, identicarproblemas e ormular boas questões de pesquisa; terceiro, pesquisare buscar respostas; quarto, ormular soluções possíveis; quinto, capa-

cidade de avaliar e monitorar propostas que tenham a ver com estenosso know-how; sexto (mas não se encerra aqui nosso oício) intervirna realidade naquilo que estiver dentro de nossas possibilidades deatuação, quer como mediadores e tradutores de culturas quer porqueacreditemos, como antropólogos e como pessoas, que transormaçãosocial seja possível, necessária ou inevitável.

Ao nomear acima pelo menos seis competências que o oício da

antropologia nos instrui e outorga ocorreu-me que estava azendo um“job description” ou a descrição de um perl de alta empregabilidade naatualidade, seja no Brasil, seja no mundo. É importante notar que qual-quer uma das “expertises” acima descritas por si só teria mercado. odas

 juntas e o domínio de idiomas e liturgias hegemônicas nos qualicaria,sem dúvida, para uma excelente colocação internacional. É preciso dar--se conta que temas consolidados na área de antropologia, tais como di-

reitos humanos, gênero, diversidade, etnia, identidade, sustentabilidade,amília e reprodução social, doença e cura, entre outros, são caros e, deato, undamentais, na reconguração da nova ordem mundial.

O trabalho em uma Agencia Internacional

Minha experiência de sete anos como coordenadora de um

Programa em uma organização internacional, no caso, o Programade Sexualidade e Saúde Reprodutiva na Fundação Ford, Escritóriodo Brasil envolvia desenhar o Programa, denir prioridades de atua-ção dentro do tema especíco, escolher, administrar e monitorar um

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conjunto de entidades e pessoas que receberiam nanciamentos de-senvolvendo atividades dentro das prioridades denidas pelo próprioPrograma. As atividades desenvolvidas, em geral, estão relacionadas,por um lado, a diversas ormas de organização, mobilização e inter-

 venção social e por outro, a pesquisa e investigação social e suportea programas universitários de ormação e desenvolvimento de umadeterminada competência ou discussão de um tema que o Programae/ou a organização como um todo, em suas diversas instancias denacomo prioritário. A primeira tarea de um Program Ofcer  (PO) é,portanto produzir um Programa. Não muito diverso do trabalho aca-dêmico trata-se de produzir uma “tese”, um estudo que, no meu caso

especíco, avaliava a situação de questões relacionadas à saúde repro-dutiva tais como direitos sexuais e reprodutivos, condições de saúde,direito de acesso à saúde no país. Este documento, denominado POM(Program Ofcer Memorandum), apresentando indicadores empíricos,constrói argumentos sobre prioridades e estratégias para investimentode recursos. Ou seja, trata-se de um estudo, seguindo as regras do tra-balho cientíco e que está diretamente relacionado com a experiência

acumulada e a capacidade analítica da pessoa que oi escolhida paraesta unção de Program Ofcier , coordenador de um programa. Certa-mente que o antropólogo, sobretudo o antropólogo sênior, com muitaexperiência de pesquisa e capacidade analítica está em uma situaçãoprivilegiada para assumir a envergadura que este oício exige. Emminha experiência em meu período de trabalho na Fundação Ford (de2000 a 2007), houve períodos que dos cinco Programas existentes en-

tão, três posições de Program Ofcer eram ocupadas por antropólogos.No momento que me aastei do trabalho na universidade para

assumir esta posição junto à Fundação Ford em seu escritório no Riode Janeiro, a Fundação Ford completava 40 anos de sua atuação noBrasil e eu ui a primeira prossional brasileira a ser contratada paraesta posição de Program Ofcer no Brasil, em qualquer uma das áreasde atuação. Ainda que de orma tardia, a isto se seguiu uma “naciona-

lização” dos ociais de programa e hoje a coordenação das quatro áreasde atuação da Fundação e a coordenação geral (posição de represen-tante ) são todas ocupadas por brasileiros(as). Inclusive, é preciso serdito, de orma transparente e de divulgação ampla, no momento há

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posições para Program Ofcer abertas tanto para o escritório do Brasilcomo outros escritórios no mundo.

Só para dar um exemplo do tipo de demanda existente, leia--se no anúncio da Fundação para atuar junto ao escritório do Brasil,aberto no momento para a posição de Direitos Humanos, as tareassão as seguintes:

Gerenciar e avaliar um conjunto de doações e atividades relacio-

nadas a isto, direcionadas a questões de direitos humanos e discri-

minação racial e étnica. Especicamente este setor busca reduzir 

sérias violação de direitos humanos inclusive violência letal; atuar 

contra discriminação institucional, consolidar o uso de legislação

de direitos humanos no sistema jurídico; estabelecer um sistema

de justiça transparente e “accountable” e dar orça a voz de grupos

da sociedade civil, nacionalmente e internacionalmente. (http://

 www.ordoundation.org/employment/jobs/297 acessado em

07/11/2010)

Retomando a minha experiência de trabalho na Fundação Ford,o primeiro passo ao assumir uma unção como a de coordenação deum Programa é azer a avaliação do contexto que se vai atuar, no caso,pensar o panorama de saúde reprodutiva no Brasil e denir linhas deatuação, metas e construir indicadores que serão discutidos em váriasinstancias dentro da instituição e em consultorias chaves com a socie-dade civil. Uma vez aprovadas as prioridades de atuação, é esperado do

prossional que é responsável por uma determinada área ( portolio) epor um determinado orçamento, que tome decisões sobre onde alocarrecursos e que assuma o monitoramento destes recursos e atividades. Aquantidade de recursos é variável nos dierentes anos scais e dependetambém capacidade do PO de acessar recursos extras dentro da própriaorganização. Como uma média anual, o orçamento para doações doescritório do Brasil no período que lá estive se manteve em cerca de 15

milhões de dólares. Em geral, as médias históricas mostram que maisda metade destes recursos destinam-se para projetos desenvolvidos poruniversidades e o restante para sociedade civil, incluindo-se aqui orga-nizações como a própria ABA (Associação Brasileira de Antropologia)

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e ANPOCS (Associação Nacional de Pós Graduação em Ciências So-ciais). Eventualmente há ações junto a órgãos governamentais comouma parceria estratégica como, por exemplo, CAPES ou o ProgramaNacional de AIDS do Ministério da Saúde.1 

No meu caso, na coordenação do Programa de Sexualidade eSaúde Reprodutiva, deni duas prioridades. A primeira delas oi a deapoiar a pesquisa em ciências sociais no tema de sexualidade e saúdereprodutiva, incluindo o desenvolvimento de pesquisa para ormulaçãode políticas públicas. A segundo linha de atuação teve como objetivosuperar disparidades e barreiras na questão de acesso à saúde reprodu-tiva, promovendo iniciativas que reorçassem a capacidade da socie-

dade civil acompanhar e avaliar políticas e programas voltados para amelhoria de condições sociais e dos direitos reprodutivos. O oco, nes-te caso, voltava-se para iniciativas comunitárias participativas, para aodesenvolvimento de modelos de saúde reprodutiva viáveis e o ortaleci-mento de organizações comunitárias que atuassem junto aos conselhosmunicipais de saúde, sobretudo nas regiões norte e nordeste do país.

Em suma, para o tipo de trabalho em uma agencia interna-

cional que tentei aqui descrever, não há dúvida que nossa ormaçãocomo antropólogo nos qualica plenamente. Outras características eexperiências pessoais certamente comporão este perl: conhecimentoaproundado da área especíca de atuação, domínio de outros idiomas,sobretudo inglês e espanhol, capacidade administrativa, capacidade dediálogo, e ter um ritmo de trabalho, suportar pressão e de tomar de-cisões bastante dierenciadas do nosso quotidiano em ambiente aca-

dêmico. Quando se está “do outro lado do balcão” de demandas derecursos, é bom lembrar que para cada, digamos, 50 solicitações rece-bidas talvez seja possível e interessante atender a uma. Neste cálculo,é plausível avaliar que para cada vínculo que se construa estejamosproduzindo 49 dissensões e que o custo pessoal do exercício de un-ções como esta pode ser bastante alto. Outra experiência que gostariade compartilhar é que em geral há uma alta de bons projetos que re-

1 Para um detalhado estudo da atuação da Fundação Ford no Brasil e dados sobreos recursos despendidos e prioridades programáticas ver Brooke, N.; e Witoshynsky,M.(org): Os 40 Anos da Fundação Ford no Brasil: Uma parceria para MudançaSocial. São Paulo: EDUSP, 2002.

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almente apresentem idéias inovadoras e não um excesso de propostas viáveis como se poderia supor, dentro das prioridades já denidas.

O rabalho em Agencias Multilaterais

No momento em que me convidaram para participar neste Fó-rum sobre o campo da atuação dos antropólogos na Reunião Anualda Associação Brasileira de Antropologia eu estava participando emuma reunião em Genebra de uma das assim chamadas agencias multi-laterais. Por agencias multilaterais entende-se aqueles organismos vin-culadas ao sistema das Nações Unidas, como a Organização Mundial

da Saúde (OMS), a Organização Mundial do Comércio (OMC), oFundo Global e outras de estrutura semelhante, como o Banco Mun-dial e o Fundo Monetário Internacional. rata-se dos organismos querepresentam vários países, em tese um coletivo de países, e denemcompromissos e políticas globais.

Como dizia, a reunião a que me reeria acontecia nos arredoresde Genebra em um pequeno e idílico vilarejo às margens do lago. Eu

estava nesta reunião, como em muitas outras semelhantes nas quaistenho participado de orma regular, no papel de antropóloga, com-pondo um comitê onde cada uma das pessoas presentes – inclusiveeu – carregava consigo um mandato – uma constituency, como se diriana linguagem das agencias. Estava naquele lugar e naquele momentocompondo um conselho de especialistas por aquilo que minha orma-ção em antropologia me autorizava. No computador aberto e conec-

tado na internet durante a reunião recebo o convite da ABA sobre oFórum e imediatamente começo a me perguntar qual é mesmo o meupapel como antropóloga ali naquele encontro. O trabalho duraria pelomenos mais duas semanas e ocorreu-me que descrever, transerir parao papel, uma pouco da dinâmica daquele conclave – isto é – trazeralgum dado etnográco daquela situação – seria uma orma de trans-mitir para uma platéia de antropólogos em ormação aquilo que me

solicitavam: uma pouco de minha experiência como antropóloga jun-to aos organismos internacionais.

 ratava-se de uma reunião de avaliação de projetos propostos porpaíses (não por indivíduos) na área de saúde que envolve grande quanti-

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dade de recursos, o que está em jogo são orçamentos por vezes maioresdo que orçamentos de ministérios da saúde dos respectivos países queapresentam demandas. O regime da reunião é intensivo e de enclau-suramento total; como ocorre geralmente nestas situações, a discussãoé absorvente, exige muita atenção e há uma obrigatoriedade de convi-

 vência de todos os membros do grupo até a deliberação nal. Vigilânciaconstante para potenciais confitos de interesses e riscos de vazamentode inormações sobre deliberações passa a ser parte do quotidiano dosmuitos dias juntos em reunião. Em alguns dias pode ter eito muitocalor, podia-se ver pela janela envidraçada da sala de reunião um solbrilhante sobre o lago e na paisagem deslumbrante e imóvel que passava

a ser apenas um papel de parede. Impassíveis cerca de 60 pessoas per-maneciam encerradas em uma enorme sala instaladas em uma mesa queconormava um imenso “u”. Era, sem dúvida, uma tribo única.

No mundo das agencias multilaterais – isto é, não sem pátria– mas acima de estados nações, é prezada a conjunção entre multina-cionalidades, diversidade técnica (multidiciplinaridade), diversidadeétnica, lingüística e de gênero. Nesta tribo colorida e exótica de espe-

cialistas e quase-tecnocratas onde a diversidade (ou a ilusão desta) etodos os seus signos devem se instaurar como principio, constituíamosum conselho de anciões (seniors diriam com condescendência alguns)que celebrava a dierença com turbantes, saris, kipás, gravatas ou je-ans. Cada um carrega consigo, na sua expertise, no seu sotaque, nasua dieta, na sua indumentária ou na sua corporalidade emblemática,uma identidade nacional para no somatório das dierenças comporem

o intricado jogo de poder do mundo multilateral onde ronteiras sim-bolicamente se suspendem.

O que autorizava minha presença ali, nesta, e em várias outrassituações similares, onde se az parte de um conselho que delibera emuma dimensão global, pelo menos no meu caso, era minha ormaçãoe experiência de pesquisa como antropóloga na área aplicada à saúde,o domínio da área de sexualidade e gênero, e minha expertise – para

usar o jargão das agencias internacionais – naquilo que a antropologiame qualicou: desenhar ou avaliar ações culturalmente adequadas. Emsuma, eu estava lá e tenho tido participação constante em Comitês

 écnicos como antropóloga, compondo com outras especialidades e

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áreas técnicas, a diversidade necessária de um processo de avaliaçãode projetos de grandes dimensões, cujos proponentes são países, nãoindivíduos. São projetos na área de saúde que envolve ormulação depolíticas de saúde.

Faz parte de nosso ocio de antropólogo o domínio de er-ramentas para avaliar se projetos apresentados respeitam realidadessócio-culturais especícas. Não cabe aqui no escopo desta ala, apro-undadas análises sociológicas, mas claro está que os colonialismosdo mundo globalizado atual tomaram outros ormatos. As Naçõesdo Norte não tem como car indierentes ao Sul em um mundo derecursos energéticos escassos, se quiserem manter o mesmo ritmo de

consumo. Fronteiras nacionais desvanecem-se com o ir e vir da orçade trabalho e as epidemias locais tornam-se globais, em um piscar deolhos, se não contidas. Os problemas de saúde pública de Zanzibar ouHaiti deixam de ser apenas de Zanzibar e do Haiti, pois desembar-cam em Manhattan ou Paris. E como enrentar uma endemia ou umaepidemia sem o perito em cultura. Chame o antropólogo! Chame oantropólogo! Não há “value or money” -- para usar um termo êmico

do contexto multilateral -- em investir massivamente, por exemplo,em alguma medicação, se não houver aderência a esta medicação. Aorganização mundial da mitigação de todos os males engendrou ummodo de produção de “soluções culturalmente relevantes” e um prós-pero mercado de “BCCs”, “IECs” e “ACSMs”. Estes produtos sãosempre conhecidos apenas por seus acrónimos, como marcas registra-das, respectivamente reerem a “Behavior Change Communication”,

“Inormation, Education and Communication material”, e Advocacy,Communication and Social Mobilization”. Certamente, a produçãodestas mercadorias ou a avaliação da qualidade e ecácia destas abor-dagens estão dentro da competência dos antropólogos. Anal, hámuito que a antropologia sabe que a gestão de uma doença ou da curanão se encerra na solução biomédica.

As possibilidades de atuação do antropólogo para alem do

trabalho de ormação de novos cientistas sociais e antropólogos sãomuitas e mesmo o tradicional azer acadêmico de produção de novosantropólogos tem que -- cada vez mais -- ter claro quais são as de-mandas para alem dos muros de nossas universidades.

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No entanto, em geral, ormamos mal nossos antropólogos paraas demandas do mercado que descrevi acima. Bem o sabemos, a an-tropologia nasceu aplicada, no entanto, o sistema colonial que gestoua própria Antropologia como disciplina oi tão explícito que esta vio-lência nos marcou proundamente. Foi-se a ingenuidade com estepecado original do próprio saber antropológico e camos imobiliza-dos mergulhados em nossa própria culpa e em nosso desencanto – oque por vezes pode nos imobilizar também politicamente. Em outrotexto2 apontava um certo paradoxo que envolve a Antropologia naatualidade: talvez nenhuma outra área do conhecimento esteja tãoinstrumentalizada a azer intervenções sociais de todos os tipos e, no

entanto, é igualmente verdadeiro que nenhuma outro campo do saberrefete tanto sobre o limite de seu oício e se sente tão desconortávele critico com suas próprias práticas -- interventoras ou não -- quantoa antropologia.

Não há dúvida sobre as possibilidades e ecácia do conheci-mento antropológico em áreas como saúde e medicina, políticas pú-blicas, avaliação de programas e projetos, saúde e segurança ocupacio-

nal, justiça, bioética, movimentos sociais, organizações da sociedadecivil. Cabe a nós aceitar ou não estes desaos, pensar na nossa res-ponsabilidade e papel como antropólogos rente a um conjunto dequestões sociais. A minha posição pessoal é que queremos, sabemoscomo e podemos mudar realidade social. alvez caiba a cada um denós se perguntar se gostaria, se se sente apto e se acredita que tenhaesta responsabilidade. Sugiro aqui, como já z em outras ocasiões, que

o aprendizado da antropologia nos instrumentaliza exatamente paraisto, para sermos mediadores de transormações sociais. E que, se emalgum momento, a dimensão critica dos cânones de nossa própria dis-ciplina nos conduziu a uma conortável e arrogante imobilidade, estase esvanece rente a complexidade e urgência que uma epidemia, umacatástroe ou uma guerra nos coloca.

2 Leal, O. F. .e Dos Anjos, J.C. “Cidadania de Quem? Possibilidades e Limites daAntropologia”. Horizontes Antropológicos , Porto Alegre, Ano 5, n.10 1999

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 A prática Antropológica:o desafio de trabalhar 

em Organizações Não-GovernamentaisCíntia Beatriz Müller 1

1No Brasil o rótulo ONG – expressão pronunciada com as le-tras separadas ou como uma palavra apenas “ongue” – tem servidopara denominar entidades da sociedade civil que operam em espaçospúblicos especícos. Em suma, no Brasil, o rótulo ONG é estendido

a undações, institutos, associações e entidades civis organizadas deorma geral transmitindo a alsa idéia de homogeneidade em um cam-po que é tenso, que reúne entidades bastante díspares entre si e pos-sui escassos recursos para manutenção de pessoal, desenvolvimentode ações e a própria administração da organização. ais organizaçõescompõem o erceiro Setor, que tem alcançado repercussão no cenáriopolítico nacional rente ao surgimento de novos atores sociais e ao

ortalecimento e visibilidade de outros, mais antigos. Basicamente, sãosociedades civis, sem ns lucrativos, cuja atuação não se conunde comassistencialismo e lantropia.

Muitas vezes, ao dizer que trabalhamos em ONG, na compre-ensão do senso comum, parece que realizamos trabalho voluntário, queas pessoas não precisam de salário, que a organização não tem aluguel,

1 A proposta da organização deste livro oi o de escrever sobre a prática antropológicano contexto de organizações não governamentais (ONG) e que, a partir de minhaexperiência, produzisse um texto mais livre, quanto ao seu ormato e linguagem, parauma coletânea organizada no âmbito da Associação Brasileira de Antropologia.

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conta teleônica, técnicos contábeis, advogados e secretárias/os paraserem pagos, apenas para nos reerir a questões de cunho administra-tivo. São escassos os nanciamentos, aliás, que prevêem o pagamentoda denominada “taxa de administração”, taxa esta que permite quese desenvolvam as ações em um local especíco, com inra-estruturaadequada, que não a da sala ou escritório da residência daquele quese empenha na atividade principal do projeto. O rótulo ONG surgeestrategicamente, para setores conservadores, como denidor de ummundo “encantado” onde um grupo, sempre de “hippies” (classicaçãoutilizada para minimizar o alcance do trabalho realizado por partedos prossionais do terceiro setor), se reúne para “trabalhar em deesa

dos excluídos”. Pelo contrário, a ação das organizações civis tem suaatuação potencializada pela orma como novos espaços públicos têmse congurado na sociedade brasileira e pela habilidade de seu pessoalem transitar por tais espaços.

Esta obliteração coloca sob o manto acinzentado do rótulo é es-tratégica para achincalhar e tornar invisível o trabalho de pessoas quedesenvolvem suas atividades seriamente e com competência. Dentre

tais prossionais se encontra o antropólogo. Como me disse umaantropóloga certa vez em uma palestra: a unção do antropólogo “nãoé pegar bandeira e ir para o asalto”. Esta pesquisadora ainda crê que ocientista é neutro. Bem, convicções à parte, explico que ONG não ésinônimo de “movimento social ”, outra conusão estrategicamente pos-ta no cenário brasileiro. Recorro a minha experiência.

Fui pesquisadora no Centro pelo Direito à Moradia contra

Despejos, Centre on Housing Rights and Evictions (COHRE, emsua sigla inglesa), cujo escritório para a América latina se localizavaem Porto Alegre/RS. Este centro de pesquisas não atuava e jamaisatuou COMO movimento social e, sim, COM movimentos sociaisque pleiteiam o direito à moradia digna em nosso país e no mundo.Ao atuar COM os movimentos sempre tivemos presente que o pro-tagonismo no campo de ação é DOS atores integrantes dos movi-

mentos sociais, que vivem no dia-a-dia as condições de vida que bus-cam modicar. Atuávamos em ações de advocacia e na produção deconhecimento sobre questões relacionadas ao direito à moradia. Ouseja, produzíamos, na maior parte das vezes, cursos e publicações que

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traduziam para parte das pessoas envolvidas nos movimentos sociais agama de direitos que lhes são garantidos em legislações internacionale nacional. Concordamos todos que a linguagem jurídica, no Brasil,como na maior parte do mundo, está longe de ser “popular”. Assim, nametáora “sacudir a bandeira no asalto”, preocupávamos a consistênciae compreensão acerca do signicado da “bandeira” e em torná-la umtanto mais visível no cenário nacional.

Em ONG´s, geralmente, os prossionais, o que inclui os an-tropólogos, tem consciência de que trabalham “ por projeto”: sua per-manência na organização e a continuidade de seu trabalho/pesquisadepende, na maior parte das vezes, do nanciamento captado. Muitas

doações são eitas, para organizações da sociedade civil, também, deorma voluntária e algumas vezes anônima. Assim, são escassos os -nanciamentos para as organizações em si, eles são pensados para alinha de ação da ONG. Isto az com que as ações das organizaçõessejam, muitas vezes, descontínuos e ragmentados. Lidei, inúmeras

 veszes, com a angústia de saber o que deveria ser eito, para que partedo Brasil deveria me deslocar para levantar dados ou disseminá-los,

mas não existia orçamento previsto para tanto. A rigidez na cons-trução de orçamentos e os critérios denidos pelas organizações quenanciam atividades azem com que algumas instituições transmitama alsa idéia de que atuam exclusivamente em uma área geográca ouprivilegiem determinado grupo em detrimento de outro. No erceiroSetor não existe correlação entre assegurar o beneício do público alvoe manutenção do nanciamento que potencialize a manutenção da

organização. Há sempre que se buscar atender a expectativa de ambos,público-alvo e nanciadores, mesmo rente às discrepâncias existentesentre os dois universos (Heckert e Silva 2008).

Certa vez em uma discussão sobre nanciamento da linha deação junto aos quilombos no Brasil, linha em grande parte sob minharesponsabilidade onde trabalhei, tive a inormação de que a agênciaque pagaria meu salário estava avaliando a pertinência de investir no

Brasil ou no Sudão! De orma alguma cogito que a realidade brasileirapossa ser comparada com a do Sudão. Ao mesmo tempo compartilha-

 va da idéia de que o sorimento humano existia em ambos os contextose que ações poderiam ser desenvolvidas no Brasil visando assegurar a

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dignidade humana do povo quilombola. O dilema também tem umaoutra dimensão perversa: aqui, ou no Sudão, pesquisadores ou ativistasda área de direitos humanos não azem otossíntese. Ainda precisa-mos interagir num mundo onde o salário é que nos possibilita pagar ascontas no nal do mês, sustentar uma casa e uma amília. Em grandeparte este dilema me levou a escolher azer um concurso público noBrasil, continuar produzindo conhecimento qualicado sobre os di-reitos coletivos no país. (Minha contribuição silenciosa para o Sudão.)

O antropólogo “ongueiro” por oposição aoantropólogo da academia

Muitas vezes já vi colegas antropólogos, proessores de univer-sidades públicas, armando que este ou aquele colega é “de ongue”,estabelecendo uma espécie de hierarquia entre aqueles que produzemna academia e em organizações, notadamente privadas. Esta hierar-quia é calcada numa alsa idéia de autonomia que grande parte dosproessores universitários possuiria, conto-lhes que antropólogo de

“ONG” não precisa se preocupar com Lattes e seu aumento de salárionão decorre de decurso de prazo e pontuação (a conhecida “progressãouncional”). As ações do antropólogo de “ONG” pode ser conhecida apartir do histórico ou da missão da instituição na qual ele trabalha, aopasso que quem dene a linha de ação das pesquisas acadêmicas sãoórgãos estatais como o CNPq e as Fundações de Amparo a Pesquisaestaduais, onde uncionam. Atire a primeira pedra quem jamais se

questionou sobre a alta de nanciamento para pesquisas sobre de-terminados assuntos, que proliera no país? Quem jamais “readequou”seu projeto de pesquisa acadêmica para se enquadrar neste ou naqueleEdital? Se hoje pesquiso com comunidades quilombolas, deverei pes-quisar logo, logo com a mulher ou a criança quilombola...

De ato, a autonomia e estabilidade do antropólogo no setoracadêmico público é maior se comparada com o antropólogo de ou-

tros setores e incluiria, aqui, as universidades privadas. Conheci umaexcelente doutora em antropologia social que oi contratada por umauniversidade privada e, em seu primeiro semestre de trabalho, oi su-pervisionar a disciplina “rabalho de Conclusão”, para o curso de Ci-

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ências Contábeis, na qual deveria vericar, basicamente, a aplicação deregras da ABN pelos estudantes. Em meu primeiro semestre, apósaprovação em concurso público em uma Universidade, tive que daraula de “Filosoa da Educação” e “Ciências e Ética”, ou seja, lecionarem matérias que “ninguém queria dar aulas” e para as quais eu nãome sentia com ormação. Perversões e desinormações à parte, mes-quinhez humana existe tanto no setor acadêmico, público ou privado,quanto no campo das organizações não governamentais. Neste aspec-to, um doutorado não az muita dierença.

Um dos maiores desaos que é posto ao antropólogo atuanteno erceiro Setor é o de assegurar a responsabilidade social no de-

sempenho das atividades rente ao ritmo de exigências e ao quadrode “metas” a serem alcançadas nas ONGs. O trabalho do antropólo-go não é uma unção exótica, é antes assustadoramente desconheci-da. Desconhecida, inclusive para muitos antropólogos, a alta de ummarco regulatório de nossa prossão ragiliza, em boa parte, a pos-sibilidade de pleito por melhores condições de trabalho/pesquisa ereconhecimento de nosso campo de atuação por outros especialistas.

Seguidamente nos vemos em disputa com outros prossionais em re-lação a uma divisão social do trabalho coerente que refita mais trocaentre parceiros do que disputas pelo reconhecimento de autonomiarente a distintos campos.

Mas, voltando ao tema, existem dois outros pontos que queroressaltar na atuação do antropólogo no erceiro Setor: o ator ritmode trabalho/pesquisa e o caráter do antropólogo como solucionar de

problemas ao invés de pensador/questionador qualicado. Nossoscursos de pós-graduação nos preparam para sermos antropólogos comuma ênase bastante grande na realização da pesquisa. São premissasda pesquisa antropológica, ao menos em minha tribo, buscar conhe-cer ao máximo o contexto que encontraremos em campo. Porém, semantecipar resultados rente ao conjunto de possibilidades apresentadasquando chegamos lá pela primeira vez, tanto que realizamos a entrada

em campo e uma pesquisa exploratória após a qual selecionamos e/ou corrigimos nossas estratégias metodológicas de coleta e/ou análisede dados. Em se tratando de ONG, na ranca maior parte das vezes,o antropólogo para ter seu trabalho nanciado deve, além de denir a

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área geográca2 de realização de seu “trabalho”, denir o resultado domesmo e, pasmem, traduzi-lo em números para ter um indicador maispreciso de aerição de impacto de suas ações.

Antropologia não é uturologia ou engenharia social. Ve-  jam que estou pensando em antropólogos que integram quadros deONG´s após a realização de uma pós-graduação, mas esta situação émais complicada quando pensamos na ormação de nossos acadêmi-cos de graduação em Ciências Sociais, muitos cursos, aliás, sem ênaseem antropologia. Na graduação são poucas as oportunidades de pes-quisa oerecidas. Há um enorme desconhecimento sobre o que trata aantropologia. De orma geral, contudo, parece existir um consenso es-

tereotipado de que ela ormaria especialistas na “diversidade”3, leia-se“aro-brasileiros, mulheres, LGB, indígenas, inância e adolescên-cia”, em suma apenas não trataríamos do “homens, brancos, maioresde 18 anos”, óbvio, caso não estejam “em confito com a lei” ou sejammoradores de “avela, perieria, vilas, guetos, dependentes químicos,grateiros, surstas, esqueitistas, produzam rap ou hip-hip e etc”. Oantropólogo na ONG torna-se uma espécie de especialista na “di-

 versidade” que deve dela entender, por conta de sua ormação, e quedeve ter solução para problemas que incidam sobre cada um destessegmentos.

Atuar no campo das soluções rápidas e, muitas vezes, estereoti-padas não é papel do antropólogo, aliás ele é ormado exatamente paraquestionar isto. Em ritmo de ONG devemos produzir textos, apre-sentar projetos (objetivos e, de preerência, com respostas traduzidas

em dados quanticados) e ormular “produtos nais” sobre os quaispoucas vezes temos tempo para pensar criticamente. É o ritmo detrabalho do “apagador de incêndios”. Isto assusta, e muito, aos antro-pólogos que se vêem envolvidos neste campo do mercado de trabalho,não pensem que isto não é causa de angústia. rata-se de brigar diária,no âmbito das organizações, para a realização de uma antropologia daação, atenta aos pressupostos teóricos da disciplina, em um cenário

em que o prossional é impulsionado para uma antropologia mais

2 Sobre a qual, via de regra, deve-se inormar valores e indicadores estatísticos.

3 enho que usar este termo entre aspas, pois não sei mais do que se trata.

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próxima da aplicada. Isto é um emprego que paga aluguel e, se vc ti- ver muita sorte, terá carteira de trabalho assinada e um plano médico.Vejam que não mencionei érias ou 13º salário.

Além destas condições ou da alta delas, ritmo de trabalho rápi-do, pouca compreensão acerca do que, realmente, az um antropólogoestamos na maior parte das vezes sozinhos. Somos “avis raras” nestasorganizações e, oxalá, não sejamos mera peça de decoração na estru-tura social da mesma. Anal o ato de “termos um antropólogo naequipe de trabalho”, pode ser uma razão atraente para se conseguir umnanciamento. ais prossionais ainda terão sorte se ainda pudermostrocar idéias com grupos de pesquisas em universidades ou esporadi-

camente com pares que os levem a sério em congressos ou reuniõesde antropologia!

E existe o campo, anal “estar lá” é constitutivo de grande partede nosso “mana” cientíco: ui otograada quando andava pela calçadana rua do Sol, em São Luís/MA, por dois homens que ugiram emum carro quando parei na calçada para tentar entender o que aziam;tentem pegar sozinha a lancha dos uzileiros navais, com os uzileiros,

e descer em uma base de adestramento para encontrar uma liderançaquilombola que não está lhe esperando na ponte de desembarque queca numa ilha; vá a uma audiência onde o militar que está sentado emsua rente deixa estrategicamente a vista a lista das pessoas que estãona sala e as instituições – inclusive universidades – as quais estão lia-das; receba a inormação que para certos setores de estado você é con-siderada “espiã internacional”. Não acredito nesta última inormação,

quanto às outras estava acompanhada, portanto não digam se tratar de“mania de perseguição”! Como disse minha mãe após o episódio deSão Luís/MA: “nossa lha está chada no DOPS!”.

Alguém diga que estou mentindo. Curiosamente, a única ame-aça, velada, claro, que recebi – “de levar um tiro” – oi durante a rea-lização de um relatório antropológico no interior do Rio Grande doSul quando realizava pesquisa no âmbito de um projeto da UFRGS.

 ambém quando já era proessora no interior do Mato Grosso doSul ui tachada de “terrorista” por ruralistas em um site. Assim, echoeste artigo, no qual espero não espantar os colegas ou aqueles que umdia optem por aproundar sua ormação no campo da antropologia

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com duas colocações: as condições de trabalho para antropólogos emONG´s não são das melhores, conseqüência, também, de problemasestruturais que atingem às próprias organizações e seus trabalhadores;e, na minha avaliação, o mais grave, a sociedade desconhece o queazem os antropólogos, sejam de ONGs, sejam da academia, enquan-to isto perdurar continuaremos sendo especialistas na “diversidade”e, enquanto ormadores de uturos antropólogos, realimentando umcircuito de ilusão que pode representar a séria incompreensão de umaatividade que se quer arte, mas se comporta como uma prossão.

Reerências

HECKER. C. R. e SILVA, M. ..Qualidade de serviços nas orga-nizações do terceiro setor. Produção, v. 18, n. 2, maio/ago. 2008, p.319 – 330.

MADEIRA, F. R. e BIANCARDI, M. R. O desao das estatísticasdo terceiro setor. São Paulo em Perspectiva, 17(3-4): 177-184, 2003.

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 Atuação profissionalno âmbito da assistência 

socialCarlos Caroso & Fátima Tavares

Em agosto de 2010 a ABA oi convidada pelo Conselho Nacio-nal de Assistência Social, com prazo muito exíguo, para enviar represen-tante para participar da Reunião de rabalho dos Articuladores Estadu-ais/Regionais do Sistema Unicado de Assistência Social-SUAS, que

ocorreria em Brasília. Na ocasião oi representada por sua a vice-presi-dente Lia Zanotta Machado e a tesoureira Cristina Patriota de Moura.

Àquela altura já haviam ocorrido várias das Articulações Esta-duais com vistas a levar propostas para os Encontros Regionais, sendoainda possível ter representação na articulação da Bahia, quando oi re-presentada pela vice-coordenadora do G de Quilombos, Cintia Bea-triz Miller, e no Encontro Regional do Nordeste em Fortaleza, quando

oi representada por seu presidente Carlos Caroso, que também veio aparticipar da Reunião Ampliada e Descentralizada do Conselho Nacio-nal de Assistência Social, ocorrida também na mesma cidade.

Os relatos encaminhados pelas representantes nas duas outrasreuniões e o convite para participação de Carlos Caroso como de-batedor em uma mesa redonda em que oram analisados os recursoshumanos no âmbito do SUAS, levou-nos a elaborar e discutir o texto-

-proposta que busca delinear o potencial de participação dos antropó-logos com sua expertise e experiência prossional na assistência social.

Em todas as ocasiões que tivemos oportunidade de nos pronun-ciar sobre a participação dos antropólogos, insistimos na necessidade

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de reconhecer e denir papéis e atribuições prossionais para que seja  viável a prática da cooperação entre os conhecimentos disciplinarese atuações prossionais de maneira especíca e complementar. Nes-sas ocasiões nos reerimos particularmente à necessidade de traçar aslinhas divisoras entre os conhecimentos e ormas de atuação dos an-tropólogos e sociólogos: estes últimos tem 45 participantes com em-prego no SUAS, enquanto os antropólogos são apenas 6. No texto quesegue nos dedicamos a ormular esta participação, partindo da própriatomada de consciência dos antropólogos sobre sua atuação como pro-ssionais ora de empregos acadêmicos particularmente a partir dens da ultima década do Século XX, para tentar identicar algumas

das ormas como os antropólogos já atuam, podem e devem atuar nomundo do trabalho representado pela inserção não acadêmica.

Partimos, assim, do reconhecimento de que até as ultimas dé-cadas do reerido século os antropólogos se colocavam, propositada-mente, na “inormalidade prossional”, tendo na academia seu prin-cipal lócus de atuação ormal. Isto, contudo, não quer dizer que osantropólogos não tenham atuado, de maneira direta ou indireta, em

 vários âmbitos, incluídos a assistência social, tanto disponibilizandoos conhecimentos resultantes de suas pesquisas com populações de-sassistidas pelo Estado, quanto através de sua participação direta ementidades e órgãos que prestam vários tipos de assistência àqueles seg-mentos populacionais aos quais se preere seu conhecimento, particu-larmente na ormulação de políticas públicas sensíveis à diversidadede culturas identidades étnicas, culturais e sociais.

Esta atuação que sempre ez parte do azer antropológico nun-ca oi denida adequadamente, até como conseqüência do reconheci-mento estreito ou limitado que se tinha da assistência social até bemrecentemente quando a implantação do SUAS em 2006, seguindoorientação da Lei Orgânica da Assistência Social-LOAS (Lei 8742,de 07 de dezembro de 1993), que instituiu o Conselho Nacional deAssistência Social – CNAS, veio a exigir a participação de prossio-

nais de diversas áreas, de orma a estes contribuírem em suas espe-cialidades com sua ormulação, planicação e gestão. Outrossim, daorma que esta questão oi historicamente tratada no Brasil, a títulode comparação, equivaleria a reduzir a operação do SUS, que é um sis-

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tema equivalente ao SUAS, às atividades dos médicos e enermeiros,quando sabemos, em ambos os sistemas unicados, serem estas ne-cessidades muito mais amplas e complexas, exigindo a participação deprossionais e abordagens multidisciplinares que se complementem,com vista a assegurar boa qualidade na atenção. Assim, enquanto re-presentante da Associação Brasileira de Antropologia, deendemos apresença necessária dos antropólogos nas várias dimensões que cons-tituem o SUAS, com base nos argumentos que abaixo desenvolvemos.

A antropologia, enquanto disciplina acadêmica, atravessa ummomento de grande discussão em torno do alcance do seu reconheci-mento, dos limites e potencialidades tanto da produção teórico-concei-

tual quanto das “erramentas” metodológicas que são utilizadas para aprodução do conhecimento estritamente antropológico. Um argumentocorrente é que seu principal método de trabalho, a etnograa, é o granderesponsável pela sua capacidade de se introduzir em novos territóriosrurais e urbanos: povos indígenas originários, grupos quilombolas, po-

 vos de terreiro, camponeses, comunidades de undo de pasto, geraiszei-ros, axinalenses e outros agricultores tradicionais etnicamente dieren-

ciados, extrativistas, ribeirinhos, seringueiros, açaizeiros, quebradeirasde coco babaçu, pescadores artesanais, caiçaras, ciganos, migrantes eimigrantes, habitantes de perierias urbanas, trabalhadores autônomose inormais, enm, estes entre outros segmentos ditos tradicionais que

 vem redesenhando a modernidade no país e, que encontram na legis-lação amparo para seus pleitos por direitos e tratamento dierenciados;sem desconsiderar a modernidade e estudo de estilos e modos de vida

de populações urbanas: padrões de consumo, usuários de drogas, por-tadores de deciências e doenças transmissíveis, pessoas situadas emgrupos de risco, juventude, envelhecimento etc.

Atualmente novos desaos tornam mais complexas as discussõesem torno da competência prossional do antropólogo. Assim, desdemeados dos anos 90 os debates vêm ganhando crescente importânciaem torno da complementaridade de duas questões: a expansão do ensi-

no da antropologia em nível de graduação, por um lado; e o perl exigi-do para enrentar os desaos da atuação prossional, por outro.

Certamente essas duas questões são aces de uma mesma pro-blemática, que se encontra relacionada ao que atualmente se espe-

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ra da atuação do antropólogo no campo prossional, que podem sersintetizadas nestas perguntas que nos azemos e que nos são eitas:Como a sociedade compreende o exercício prossional da antropo-logia? O trabalho de campo e a produção de etnograa sobre os maisdierentes segmentos sociais produzem desdobramentos de que tipo?Cabe ao antropólogo apenas “conhecer” os “seus” “nativos” objetivandouma tarea estritamente acadêmica ou também estaria autorizado aser seu “porta-voz” para a deesa de direitos e garantias constitucio-nais? Como se inserir adequadamente nas redes de compromisso esolidariedade que o trabalho de campo necessariamente desencadeia?

A produção de perícias e laudos antropológicos de reconhe-

cimento identitário e territorial das populações tradicionais enrenta justamente os desaos de um conhecimento híbrido. Encontra-se naconfuência entre a produção de conhecimento antropológico “genuí-no”, já que se undamenta nos mesmos critérios cientícos e éticos daprodução de etnograa, por um lado; e, por outro, enrenta a interpe-lação do Estado através dos seus operadores jurídicos e administra-tivos, que delineiam o “problema” a ser enrentado pelo antropólogo.

Seguindo a mesma direção, os recentes bacharelados em antropologiano país enatizam determinados pers e exigências prossionalizantesque são esperadas na ormação dos antropólogos, para estes possamatuar adequadamente na compreensão e busca de soluções apropria-das para questões situadas em sua esera de competências. Encontra-mos, assim, uma preocupação com o alargamento das habilidades quetradicionalmente caracterizam o antropólogo. A ormação do estu-

dante compreenderia o contato, ainda que inicial, com a diversidadecrescente da habilitação prossional que lhes possibilita desempenharrelevantes atividades no campo da advocacia sócio-cultural, exercendounções de mediador cultural, curador e gestor de patrimônio cultural,perito na elaboração de laudos antropológicos, participante na elabo-ração, aplicação e mediação legal de políticas públicas voltadas parasegmentos dierenciados, entre outras unções que pode exercer na

assistência social às populações.Vê-se, assim, que o campo de atuação prossional dos antropó-

logos no Brasil encontra-se em intensa discussão e ampliação de seushorizontes, de orma que a discussão empreendida nos Encontros de

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 rabalhadores da Assistência Social omentada pelo Conselho Nacio-nal de Assistência Social é de grande interesse para Associação Brasi-leira de Antropologia e para antropólogos acadêmicos e prossionaisno Brasil, que se azem representar e contribuir para as discussões emseu campo de atuação.

Os antropólogos brasileiros têm muito a contribuir enquantocategoria prossional no âmbito do Sistema Único de AssistênciaSocial (SUAS). As competências e atuação do antropólogo rente àAssistência Social podem ser detalhadas da seguinte orma:

1. Como contribuição mais ampla, vale ressaltar a vocação

antropológica para incrementar novas possibilidades detradução entre mundos possíveis, contribuindo para odinamismo cultural contemporâneo, marcado por identidadese direitos plurais. Estes são desaos cada vez mais presentesno trabalho antropológico, que podem ser mobilizado,como acentua Latour, através da imagem do “antropólogodiplomata”, em contraste com a postura tradicional do

“antropólogo savant ”. Dierenciando-se da gura do expert ,competente em mundos estanques, que apreende, compara,compila, conduz experimentos, convoca e compete com seuspares por explicações/interpretações plausíveis, o “antropólogodiplomata” não dispõe de certezas pré-estabelecidas, já queestá envolvido nos novos deslocamentos que sempre reazemas arenas da política, demandando trabalho no sentido da

mediação cultural, buscando reconhecer as necessidadessentidas coletivamente e individualmente, para com base nistoormular suas explicações e propor as ações undamentadasem seu conhecimento.

2. O treinamento recebido pelos antropólogos os habilita a azeruso de métodos etnográcos na abordagem e reconhecimentodas peculiaridades sócio-culturais de populações, grupos

sociais dierenciados e das pessoas que azem parte destes,contribuindo, assim, para a ormação de quadros habilitadospara atuar na atenção às demandas sociais mais variadas. Integrao treinamento destes prossionais o desenvolvimento da

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sensibilidade etnográca aos atores culturais que, muitas vezes,quando não reconhecidos, constituem entraves na assistênciasocial adequada às populações, tornando, assim, sua participaçãoindispensável para a ormulação de políticas de assistência social,sua execução e avaliação continua de seus resultados.

3. Através de sua atuação, os antropólogos buscam promoveruma redenição do caráter assistencial tradicionalmenteassociado às políticas públicas em geral. Assim,contrariamente à idéia do denominado “público-alvo” (quetem sua origem nos “construtores” das políticas ou state-makers, que reqüentemente têm interesses dierentes dos

usuários do sistema) reconhecemos que o “público-alvo” aquem se destinam as políticas públicas interere tanto quantotodos os “prossionais” para a concretização e continuidadedos empreendimentos do Estado. Na visão do antropólogo,o “usuário” não é uma entidade passiva, um objeto a que sedestinam as políticas públicas, já que o sistema apresentacaracterísticas não lineares, mas circulares e refexivas ─ as

condutas e atitudes do usuário, então, como as de qualqueroutro mediador, encontram-se no meio do processo, dofuxo e por isso mesmo produzem intererências no cursodos acontecimentos, requerendo que sejam consideradas naormulação de políticas publicas e dispositivos destinados aprestar-lhes assistência social.

4. Mais especicamente, pode ser destacada a importância

estratégica da participação de prossionais com sólidaormação especica em antropologia em seis dimensões daelaboração e execução das políticas públicas:1.1. ormulação de estratégias de assistência social

culturalmente sensíveis, com a incorporação noplanejamento e devida consideração para pluralismocultural em seus componentes étnicos, raciais, gênero,

etários, lingüísticos, territoriais, espaciais, temporais,religiosos, mágicos, míticos etc., que diversicam aspopulações a serem assistidas pelo SUAS ou outrossistemas únicos de assistência (e.g. SUS);

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1.2. ormulação de políticas públicas de assistência sociale de estratégias de execução e gestão destas políticasque dimensionem adequadamente a importância dadiversidade sócio-cultural, com vistas a assegurar aeetividade da assistência social;

1.3. elaboração de projetos de intervenção comunitária quecontemplem o pluralismo sócio-cultural das populaçõesatendidas e respeito à diversidade e individualidades;

1.4. planicação e gestão das relações sócio-culturaiscomunitárias, tendo em perspectiva a compreensão dadiversidade étnica, cultural e social;

1.5. elaboração de instrumentos de avaliação que permitamtomar em conta a diversidade sócio-cultural em suas váriasdimensões e composições, com repercussões positivaspara a maior eetividade dos sistemas de assistência;

1.6. gestão da sistemas assistenciais com base na observânciado aprendizado obtido através do trabalho etnográco eaprendizado no campo.

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 ABA - AssociAção BrAsileirA de AntropologiAUniversidade de Brasília - Departamento de Antropologia -

Campus Universitário Darcy Ribeiro - ICC Centro, Sobreloja - B1-349/65 eleone/ax: (55) (61) 3307-3754

 www.abant.org.br

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Considerando que a graduação em antropologia é uma realidade no

país, o objetivo deste livro foi o de estimular uma discussão sobre essa

formação, considerando a diversidade geográfica e de áreas de

especialização do corpo docente na antropologia brasileira

Os depoimentos que compreendem a primeira parte deste livro são

oriundos do esforço da Comissão de Ensino e Ofício do antropólogo da ABA,

que organizou durante a 27ª RBA, em Belém de 2010, dois Fóruns Especiais.

O primeiro Fórum intitulou-se “Graduação em Antropologia no

Brasil: experiências e perspectivas” e contou com a participação deantropólogos de diferentes universidade brasileiras, que apresentaram

relatos sobre o processo de implementação dos cursos de graduação em

antropologia atualmente em curso. No segundo Fórum intitulado “O

campo de atuação dos antropólogos no Brasil”, se discutiu os desafios das

diferentes inserções (ONGs, instituições governamentais, empresas etc) esuas relações com o trabalho acadêmico, além de refletir sobre o ensino de

antropologia para não-antropólogos.

 Além de algumas contribuições dos Fóruns aqui reunidas, temos ainda

outros trabalhos. As demais reflexões foram posteriormente solicitadas a

antropólogos que já tiveram experiências profissionais em áreas cuja demandaatual por profissionais qualificados constitui um desafio para a profissão

ISBN 978-85-87942-03-6