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ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 1982 EXPERIÊNCIAS PEDAGÓGICAS E MEIO AMBIENTE Leonardo José Agostinho [email protected] Graduação em Geografia com ênfase em Educação Ambiental UNINCOR, especialização em Docência do Ensino Superior FIJ e Filosofia - UFOP “Reciclando Ideias”, “Em tempos de crise econômica : a sustentabilidade financeira, social e ambiental” e “RURBANO: O semeador, a semeadura e as sementes” são projetos ambientais pedagógicos que foram desenvolvidos a partir da realidade e experiências vivenciadas no cotidiano do ensino rural; bem como no contexto do meio ambiente onde essa realidade se configura. Os projetos configuram-se de forma teórico-prática acerca das mudanças reais que podemos concretizar de fato no ambiente que estamos inseridos. O desafio é grande quando lidamos com a mudança no nosso micro espaço que reflete o macro espaço. E necessário “projetar”; lançar à frente, lançar a realidade desejada para fazer real o mundo que almejamos e estamos inseridos. Passar de teóricos expectadores a atores de agentes de mudança, principalmente no que tange a Educação Ambiental. Palavras-chaves: Projetos; Experiência Pedagógica e Meio Ambiente. Palavras-chaves: Projects, Pedagogical Experience and Environment. EIXO 15- A Geografia na educação básica: metodologia, tecnologia e formação docente INTRODUÇÃO Ao ser transferido de uma escola urbana para uma escola rural me surpreendi com o perfil dos alunos e os bons recursos pedagógicos encontrados, o que me fez reavaliar meus preconceitos sobre o ensino rural. A realidade inesperada me fez repensar a prática pedagógica , especialmente pela possibilidade oferecida número reduzido de alunos possibilitando a realização de um trabalho mais próximo e personalizado.

EXPERIÊNCIAS PEDAGÓGICAS E MEIO AMBIENTE · 2018-10-25 · Na leitura de “Boniteza de um sonho” há convite a pensar sobre ser professor na sociedade contemporânea e a urgência

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ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014

1982

EXPERIÊNCIAS PEDAGÓGICAS E MEIO AMBIENTE

Leonardo José Agostinho

[email protected]

Graduação em Geografia com ênfase em Educação Ambiental – UNINCOR, especialização em

Docência do Ensino Superior – FIJ e Filosofia - UFOP

“Reciclando Ideias”, “Em tempos de crise econômica : a sustentabilidade financeira,

social e ambiental” e “RURBANO: O semeador, a semeadura e as sementes” são

projetos ambientais pedagógicos que foram desenvolvidos a partir da realidade e

experiências vivenciadas no cotidiano do ensino rural; bem como no contexto do meio

ambiente onde essa realidade se configura. Os projetos configuram-se de forma

teórico-prática acerca das mudanças reais que podemos concretizar de fato no

ambiente que estamos inseridos. O desafio é grande quando lidamos com a mudança

no nosso micro espaço que reflete o macro espaço. E necessário “projetar”; lançar à

frente, lançar a realidade desejada para fazer real o mundo que almejamos e estamos

inseridos. Passar de teóricos expectadores a atores de agentes de mudança,

principalmente no que tange a Educação Ambiental.

• Palavras-chaves: Projetos; Experiência Pedagógica e Meio Ambiente.

• Palavras-chaves: Projects, Pedagogical Experience and Environment.

EIXO 15- A Geografia na educação básica: metodologia, tecnologia e formação docente

INTRODUÇÃO

Ao ser transferido de uma escola urbana para uma escola rural me surpreendi

com o perfil dos alunos e os bons recursos pedagógicos encontrados, o que me fez

reavaliar meus preconceitos sobre o ensino rural. A realidade inesperada me fez

repensar a prática pedagógica , especialmente pela possibilidade oferecida – número

reduzido de alunos possibilitando a realização de um trabalho mais próximo e

personalizado.

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1983

Neste período, tive contato com a Revista de Educação Ambiental -

SEMEANDO – enviadas para todas as escolas de Minas. Além das excelentes

propostas de trabalho oferecidas pela Revista, participei por três anos consecutivos de

Projetos de Experiências Pedagógicas propostas pelas mesmas; sendo premiados por

dois anos consecutivos entre os dez melhores projetos de experiência pedagógica de

Minas e no último ano tendo uma aluna envolvida no projeto vencedora entre as dez

melhores Redações.

Como professor, percebo que frente aos vários problemas ambientais dos

últimos tempos, a educação ambiental tem sido foco de debates e discussões em

todas as esferas da sociedade. O investimento nas instituições de ensino, como forma

de preparar as futuras gerações que poderão amenizar tais problemas, merecem

destaque. Durante o ano letivo, várias são as atividades destinadas à temática

ambiental, seja através de mostras científicas, palestras, Dia Mundial do Meio

Ambiente, concurso de redações, desenhos, entre outros; porém poucas vezes se

observa no Projeto Político-Pedagógico das escolas uma continuidade e solidez nesta

temática. O que se observa é um fazer por demanda e modismos para cumprimento

curricular.

Diante dessa realidade, Infelizmente, muitas vezes, a Educação Ambiental

acaba por ser estudada apenas nos seus aspectos físicos e os fatores sociais e

econômicos ficam à deriva sendo descontextualizado da sua real dimensão,

restringindo ou empobrecendo o trabalho do tema nas escolas.

OBJETIVOS

Por se tratar de três projetos, os objetivos foram delineados a partir de cada

tema. Os temas nasceram a partir do estudo da temática da Revista Semeando

(explicitado melhor na Metodologia). Segue abaixo os objetivos pela ordem da

execução dos mesmos:

Reciclando Ideias

- Promover estudo de campo da escola e arredores na comunidade rural a fim de

verificar a situação e destino dos resíduos sólidos; observando quais áreas

apresentam maior acúmulo.

-Instalar na escola a coleta seletiva de lixo, a fim de conscientizar sobre os problemas

gerados pelo acúmulo de resíduos sólidos na escola e comunidade onde vivem.

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1984

-Colocar os alunos da escola em contato com a Filosofia, para esclarecer melhor

conceitos que foram abordados durante todo o projeto – como a ética no meio

ambiente - visto que essa disciplina não existe no curriculum escolar do ensino

fundamental.

-Encaminhar para Associação de Catadores de Lixo de Elói Mendes – “Associação

Deusanara” o lixo reciclável coletado na comunidade e escola rural.

Em tempos de crise econômica – a Sustentabilidade Financeira, Social e Ambiental:

- Estabelecer parceria com a nutricionista, assistente social, economista, artesão,

comerciantes e empresas que trabalhem com a ideia de sustentabilidade a fim de

mapear a realidade dos alunos nos quesitos econômicos e sociais e auxiliar com

alternativas para melhorar realidades principalmente daqueles que se encontram em

risco.

-Conceber os resíduos sólidos como fonte de renda.

-Diminuir o desperdício de alimentos gerados pelos próprios alunos e funcionários.

-Propor ao comércio a divulgação dos trabalhos realizados pela escola, bem como

atender ambientalmente as necessidades dos mesmos por propostas elaboradas

pelos alunos, promovendo os princípios da Sustentabilidade Social (parceria),

Financeira (redução de gastos para o comércio) e Ambiental (comércio dentro dos

padrões ambientais).

-Capacitar alunos e professores para a prática do artesanato em cabaças (parte da

realidade local) e do fuxico, como alternativas de obtenção de renda e consequente

redução de resíduos sólidos não-recicláveis.

-Verificar e providenciar atitudes sustentáveis em relação aos alunos que encontram-

se abaixo do peso, com apoio da Secretaria de Assistência Social, vinculada ao

Programa Bolsa Família; e mudança no cardápio escolar para ajudar na alimentação

dos mesmos.

-Mapear para cadastrar/recadastrar os familiares dos alunos no Programa “Bolsa

Família”, uma vez que o mesmo não atinge a todos da comunidade rural, visando a

prática da Sustentabilidade Social.

-Esclarecer sobre o funcionamento do Programa Municipal “PSF – Programa de

Saúde da Família”, a fim de agilizar o processo de divulgação e cadastramento dos

mesmos.

O semeador, a semeadura e as sementes:

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1985

- Realizar pesquisa para traçar perfil do semeador (professor) da semeadura (pratica

do professor) e das sementes (alunos) do município para traçar estratégias adequadas

da realidade municipal e estadual de Elói Mendes.

- Capacitar professores para trabalhar temas presentes no cotidiano da escola, como:

acolhimento cultural, diversidade sexual, religiosa, étnica entre outros, a fim de

desenvolver cidadãos plurais e com elevado nível de aceitação das diferenças e

respeito pelo próximo.

- Envolver alunos e professores em atividades realizadas em escolas diferentes das

suas, para integrar, tomar conhecimento, diminuir barreiras culturais, desmistificar

preconceitos entre as realidades, além de ampliar vivências entre alunos e professores

da zona rural e urbana do município.

-Estabelecer parcerias entre Secretaria de Educação, comércio local, profissionais de

áreas que possam respaldar diagnósticos, bem como conscientizar sobre a

importância da participação da comunidade na vida escolar.

- Trabalhar os preconceitos existentes entre professores e alunos da zona rural em

relação à zona urbana, e da zona urbana em relação à zona rural, bem como outros

aspectos que se somam a este objetivo, como o respeito cultural linguístico.

- Melhorar a troca de experiências entre os colegas de trabalho e promover melhor

integração entre os mesmos a fim de sanar possíveis dificuldades de relacionamento.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Nas experiências e observações pessoais somadas ao longo dos anos na

docência, pude concluir fatos antes teorizados no ensino superior e notei a urgência

em contribuir através da minha prática pedagógica na transformação de situações

problemas na realidade escolar. Os problemas escolares comungam de uma série de

vertentes e acabam pela dimensão – se não bem direcionado de análise – por

camuflar-se em discursos pouco práticos que mais confundem do que solucionam.

Diante da crise instaurada que assola hoje o ensino como um todo, penso ser

importantes identificar as várias raízes e tomarmos consciência da parte que nos cabe

trazendo a reflexão de como podemos ajudar nessa pequena parte sendo

administradores do nosso micro espaço direto.

Na leitura de “Boniteza de um sonho” há convite a pensar sobre ser professor

na sociedade contemporânea e a urgência em pensar sobre os novos paradigmas da

educação e agir frente aos desafios. Gadotti afirma: “Sair do plano ideal para a prática,

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não é abandonar o sonho para agir, mas de agir em função dele, agir em função de

um projeto de vida e de escola, mundo possível, de planeta... um projeto de

esperança.” (Gadotti,M.,2003,p.49)

Diante da necessidade e vontade de agir; escolhi como via de trabalho os

projetos, por permitirem autonomia, autoria e criatividade como ponte para o desejado

e a temática da Educação Ambiental por ser a área de identificação.

As leituras pautaram-se em bibliografias de cunho pedagógico ambiental e

leituras complementares; norteados pelo enfoque pedagógico das propostas de temas

da Revista de Educação Ambiental Semeando – também idealizadora do concurso de

experiências pedagógicas.

Baseando se no Art. 1º da lei 9.795 sobre Educação Ambiental “Entendem-se

por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade

constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências

voltadas para a conservação do meio ambiente, bem como de uso comum do povo,

essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade”; pensei o meio ambiente e

a coletividade do meu micro espaço; visto que muitas vezes a temática foca em

debates, ou realidades distantes o que facilita a fuga em não praticar e mudar a

realidade do meio ambiente mais próximos de onde estamos inseridos.

Definido a área de atuação e o espaço de abrangência, o enfoque das revistas

ajudaram a estruturar os projetos.

Em 2008, a Revista trouxe o tema “Ética, Cidadania e Meio Ambiente” onde

desenvolvi o projeto “Reciclando Ideias”. O projeto trata da importância em trabalhar a

ética e outras temáticas filosófica para despertar a consciência ambiental. Através da

capacitação realizada com alunos pela filósofa Ana Augusta Carneiro – UNICAMP- o

projeto seguiu com o problema do destino do lixo na comunidade rural. Reciclando

Ideias é um convite a rever nossos conceitos e consequentemente mudar nossas

praticas.

Parafraseando Tristão (2004) A ética implica no principio da responsabilidade

e ajuda na reflexão de entender nossa postura e respeitar o outro na convivência

humana, social e da natureza numa responsabilidade com o futuro.

Toda ação transformável parte de um código de ética e só através do alcance

do desenvolvimento desta teremos resultados efetivos na sociedade em geral.

Em 2009, com “Sustentabilidade e Meio Ambiente” onde o tema da experiência

foi “Em tempos de crise econômica: a sustentabilidade financeira, social e ambiental” .

Nesta temática o desafio foi maior pelo fato da ideia de sustentabilidade ser

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1987

amplamente divulgada pelas mídias e ter seu caráter amplo o que envolve inúmeras

abrangências.

Na segunda metade do século XX, surgiu a teoria do desenvolvimento

sustentável, defendendo a ideia de que é possível conciliar desenvolvimento

econômico, conservação dos recursos naturais e qualidade de vida das sociedades.

As empresas no cenário capitalista focam na parte econômica, as ONGs no caráter

social e os problemas físicos do meio no caráter ambiental. Poucas vezes se observa

a interconexão entre as partes; visto que são indissociáveis.

Sobre o caráter da Sustentabilidade, afirma Gadotti: “Sustentabilidade não tem

haver apenas com biologia, a economia e a ecologia. Sustentabilidade tem a ver com

a relação que mantemos conosco mesmos, com os outros e com a natureza.”

(Gadotti,M.,2003,p.39)

O autor também afirma que a sustentabilidade além de ter se tornado um tema

importante para pensar a Terra tornou-se um tema especial para pensar a educação

com objetivo de trazer esperança num futuro mais digno para todos.

Diante da abrangência do tema e por trabalhar a Sustentabilidade no seu real

dimensionamento, projeto foi delimitado no primeiro momento a partir dos tipos de

sustentabilidade de forma isolada para depois ser feita as conexões entre as partes.

No contexto ao qual leciono percebi a necessidade em partir das partes para o todo

para consolidar no final o global.

Já em 2010, “Integração Campo- Cidade” participando com o projeto

“RURBANO – O semeador, a semeadura e as sementes”. O tema do último projeto

além de relacionar-se com o nome da Revista procurou engendrar as múltiplas teias

culturais do homem do campo e da cidade, o meio ambiente urbano e rural e

desdobrou-se em um leque variado de temáticas de inclusão em consonância com o

meio ambiente.

Milton Santos (1995) diz que o que chamamos de “agravos ao meio ambiente”

são na verdade “agravos ao meio de vida do homem” ou seja o meio deve ser visto em

sua integração.

A partir dessa abordagem e diante do panorama mundial hoje vigente, notamos

os fenômenos da guerras étnicas, guerras santas, guerras econômicas e isso faz

refletir sobre o homem e as consequências que o mesmo causa, através dos conflitos,

na degradação do meio físico e humano.

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1988

A educação neste cenário necessita ser plural e trazer a sua ótica a

multiplicidade humana nas suas mais variadas vertentes preparando o homem para o

convívio múltiplo visto o cenário de intolerância que presenciamos pelas manchetes

midiáticas todos os dias.

Tristão (2004) diz que a educação deve ter seu sistema aberto as

subjetividades das diferenças para enriquecer ou mudar a história herdada.

Já Gadotti (2003) sobre está questão faz analogia com um pequeno jardim –

que a ser ver é o microcosmo do grande cosmo – e nele temos o modelo de

organização ao qual a sociedade deve se pautar. Conexão, escolha, responsabilidade,

decisão, iniciativa, igualdade, biodiversidade, cores, classes, etnicidade e gênero são

alguns dos ideais democráticos apontados pelo autor para exemplificar o modelo de

sociedade possível.

Diante dessas influências e leituras estruturei temáticas que ajudassem a

mapear realidades diversas para sanar problemas ocorridos nas escolas;

apresentando no final tendências e sugestões relacionadas ao professor (semeador),

semeadura (suas praticas) e as sementes (alunos). Neste projeto, senti a necessidade

de trabalhar temáticas mais próximas dos aspectos humanos para depois conectar ao

físico.

A reflexão parte de agentes internos que mobilizam agentes externos. O aluno

mais sensível a diferença, respeito por si e próximo, responsável pelo espaço onde

vive refletem e agem mais facilmente no meio.

1- Pesquisa realizada com alunos do Ensino Fundamental da escola rural

“E.M. da Fazenda Santa Cruz”.

Outros tipos de discriminação descritas pelos alunos: apelido, condição física...

2- Pesquisa realizada com alunos do Ensino Fundamental da escola urbana

“E.E. São Luiz Gonzaga”

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Outros tipos de discriminação descritas pelos alunos: apelido, condição física...

METODOLOGIA

Além de embasamento teórico, o foco principal da metodologia dos projetos se

deu por trabalho de campo. A partir das observações e amostragens foram traçados o

desenvolvimento.

No projeto “Reciclando Ideias” os alunos coletaram resíduos sólidos na escola

a cem metros ao redor da mesma; além de quatro visitas domiciliares onde foi possível

identificar o destino dos mesmos, bem como identificar em quais partes haviam mais

acúmulo. A partir daí, foram feitos relatórios e desenvolvimento do trabalho.

“Em tempos de crise econômica”, durante todo o projeto, as auxiliares de

serviços gerais pesaram dia a dia quantidade de comida deixada nos pratos dos

alunos; foi montado tabela mostrando a comunidade escolar o resultado mês a mês.

A nutricionista averiguou o IMC de todos os alunos e encaminhou para Assistência

Social de Elói Mendes os resultados para dinamizar o processo junto aos cadastrados

no Bolsa Família.

“O semeador, a semeadura e as sementes” troca de alunos de escolas e

professores por um dia. Alunos e professores que não conheciam a realidade da

escola de zona rural foram passar um dia em sala de aula da cidade. E vice versa. A

partir da experiência foram delineados propostas e desenvolvimento do projeto.

O número de participantes diretos em cada projeto foi de oitenta pessoas entre

alunos, equipe pedagógica, auxiliares de serviços gerais e voluntários.

RESULTADOS

Os resultados alcançados foram:

- Redução do acúmulo de lixo em volta da escola, uma vez que foi verificado pelos

alunos do 6º ano, durante o passeio ecológico, que era em volta da escola que havia

maior quantidade de lixo. Essa verificação levou-os a conscientização de que a

comunidade escolar - principalmente o corpo discente - precisava de redefinições nos

seus hábitos ambientais.

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1990

-Implantação da coleta seletiva na escola, onde todo o material separado é trazido

para cidade e encaminhado à associação de catadores de lixo de Elói Mendes:

“Associação Deusanara”; evitando que o lixo seja queimado nas suas comunidades e

reduza os impactos ambientais.

-Parceria entre a escola e a comunidade através das visitas realizadas nos domicílios

pelos alunos do 9º ano; sendo convidados por uma das visitantes a realizar outros

trabalhos de conscientização.

-Resignificado, reconhecimento e importância da Filosofia como disciplina essencial

para formação consciente e reflexiva acerca das temáticas ambientais.

-Início da superação de alguns alunos quanto a bloqueios e medos de se expor em

público, trabalhado a partir das visitas feitas na comunidade.

-Detecção de cinco alunos abaixo do peso sendo que todos eles ou não tinham

cadastro, ou estavam desatualizados com o Bolsa Família.

-Cadastramento e Recadastramento de todos os alunos no Programa Fome Zero

(Bolsa Família) onde conhecemos melhor o perfil socioeconômico dos nossos alunos.

Ajudou nas dúvidas sobre rendimento escolar e comportamento dos mesmos em sala.

O processo foi feito em parceria com a Secretaria de Assistência Social do município.

-Redução considerável do desperdício de comida deixado nos pratos, pelos alunos e

funcionários da escola, levando a uma maior conscientização sobre a sustentabilidade

ambiental e econômica.

-Realização da primeira reunião de funcionárias de serviços gerais da escola com

capacitação e debate sobre soluções para problemas ambientais da escola, o que

gerou maior envolvimento das mesmas com os outros setores escolares. Houve

mudança de hábitos ao servir a merenda para evitar o desperdício. Assim como houve

maior valorização do trabalho das funcionárias pelos corpo docente e discente.

- Mudança nutricional do cardápio escolar devido à análise feita pela nutricionista

Dalila da Silva Mendes e foi apresentado problemas referentes à distribuição de

comida pela Prefeitura, fazendo com que a mesma tomasse as providências cabíveis,

sendo possível a variação nutricional.

- Esclarecimento sobre Programas Sociais de âmbito municipal (PSF – rural) / nacional

(BF) o que serviu para maior procura pelas famílias carentes dos alunos que não

sabiam onde procurar apoio pelo fato de morarem longe da zona urbana, ficando

isolados quanto à informação de tais programas.

-Redução considerável da conta de energia elétrica dos professores e auxiliares de

serviços gerais; devido ao Primeiro Concurso Interno de Funcionários; levando os

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mesmos a executarem tarefas e passarem pelo processo de economia para melhor

capacitarem os alunos.

-Economia considerável de gastos por parte dos alunos, motivado através de cofrinho

confeccionado para incentivar a prática econômica e desenvolver os princípios do

consumo saudável versus consumismo.

-Maior envolvimento do comércio e empresas no projeto da escola. Durante a

execução do projeto, pude observar que uma outra loja expôs trabalhos de um outro

colégio em sua vitrine, baseando-se no exemplo da loja que estabeleceu parceria com

o projeto da “E.M. da Fazenda Santa Cruz”.

-Análise da Direção e Coordenação do envolvimento da equipe, sendo possível

identificar os pontos a serem trabalhados, devido aos deveres propostos aos mesmos,

dentro do Concurso Interno de Funcionários. Muitos não entregaram a tempo, criaram

resistência para participar. Outros foram além do proposto. Essa dinâmica mobilizou a

equipe pedagógica e fez repensar suas práticas pessoais.

- Pesquisa do perfil dos professores e dos alunos de algumas escolas das redes

municipal e estadual de Elói Mendes, relacionando aspectos sociais, educacionais e

culturais sendo apresentado às escolas e Secretária de Educação como sugestão de

avaliação da realidade pedagógica e cultural dos alunos e professores do município,

ajudando na elaboração de propostas e escolhas de capacitações oferecidos pela

rede.

-Realizado a “troca de escolas” através do contato entre professores e alunos que

nunca haviam lecionado ou estudado e não conheciam a realidade das escolas de

zona rural (e vice-versa). Alguns professores e alunos passaram um dia na escola

oposta à sua realidade para integrar e conhecer as diferenças das mesmas; além de

desmistificar preconceitos e praticar o acolhimento cultural.

- Valorização e aceitação da cultura rural na inserção da realidade urbana e vice-

versa. A receptividade da troca de escolas pelos alunos superou as expectativas e

levou o número maior de alunos esperados a participar da vivência.

TABELA DE REGISTRO DE SOBRAS DE ALIMENTOS DA MERENDA ESCOLAR DA

“E.M. DA FAZENDA SANTA CRUZ” - 2009 -

MÊS SOBRAS DE ALIMENTOS - KG

JAN/ FEV (FÉRIAS E PLANEJAMENTO PROJET) -

MARÇO 31 KG

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ABRIL 12,3 KG

MAIO 10,2 KG

JUNHO 10 KG

JULHO (FÉRIAS) -

AGOSTO 9 KG

SETEMBRO 11 kG

OUTUBRO 10 KG

NOV/DEZ (FECHAMENTO, ENVIO E FÉRIAS) -

CONCLUSÕES

Diante do exposto, conclui-se que:

a) Durante o tempo de realização do projeto, pude presenciar situações-problemas,

confirmar hipóteses, redimensionar minha prática pedagógica e conheci melhor meus

alunos nas mais diversas situações, dentro e fora do ambiente escolar. Explorando

potencialidades dos mesmos que não tomaria ciência apenas em sala de aula.

b)Trabalhar Educação Ambiental a partir da realidade direta do ambiente onde

estamos inseridos requer cautela por trabalhar com problemas que podem tocar em

estruturas cristalizadas de alguns sistemas (particular, municipal, estadual...) onde as

novas propostas devem ser claras e comunicadas, elaboradas em conjunto a todos os

segmentos antes da execução para evitar problemas de comunicação e políticos.

c)O trabalho teórico em sala com Educação Ambiental sem a parte prática não surte

efeitos positivos relevantes, visto que é a partir da prática que o agente de

transformação experimenta de fato os novos hábitos que farão parte do seu cotidiano.

d)Quanto aos meus colegas de trabalho e equipe pedagógica averiguei que muitos

sabiam da relevância do tema e tinham embasamento relevante; porém não tinham o

hábito da prática em suas casas e comunidade. Muitos não separavam o lixo úmido do

seco em casa ou não sabiam distinguir materiais e tipos de lixeiras. Comprovando a

discrepância entre discurso e prática.

e)A educação não é exclusiva apenas nas escolas. Assim como seria extremamente

contraditório afirmar que o hospital é o responsável pela saúde; o mesmo exemplo

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pode ser aplicado à educação. Cabe à comunidade, família, equipe escolar e outros

serviços públicos especializados, o desafio da educação.

No projeto, verifiquei a dificuldade em estabelecer parcerias com o setor comercial do

município. Senti alguns comerciantes resistentes às ideias e muitos relataram não ter

participado de projetos escolares ambientais. Apenas uma comerciante já tinha na sua

rotina anual patrocinar escolas nos projetos e exposição de trabalhos realizados. Este

fato aponta para a necessidade em conectar escola e comunidade, visto que, ambos

fazem parte do mesmo espaço geográfico e interagem constantemente.

f)Os alunos passam anos na escola, porém; infelizmente as pesquisas acerca da

realidade cultural e socioeconômica dos mesmos é escassa. Falta interesse em

promover tais levantamentos para redirecionar o trabalho. Muito se fala em inclusão de

alunos com necessidades especiais; mas pouco se fala em revisão de paradigmas e

preconceitos pessoais por parte da equipe pedagógica.

g)Auxiliares de serviços gerais são “extremamente” importantes no trabalho com

Educação Ambiental em escolas. Estes profissionais têm de ser esclarecidos e

capacitados tanto quanto os alunos. Eles serão a base de análise da realidade da

escola nesse quesito. Alunos e auxiliares de serviços gerais devem estabelecer

diálogo contínuo para análise de funcionamento prático do projeto ambiental.

h) Projeto sem fomentação vira trabalho. O projeto deve ser contínuo, revisado e

revisitado sempre que as amostragens apontarem para novas realidades.

i) Bullying, inclusão escolar, trabalho em equipe, respeito à diversidade entre outras

temáticas só acontecem ou são sanadas; quando o próprio ser se conhece bem e

reavalia seus preconceitos individuais. A Educação Ambiental é um grande estratégia

para promover a análise do primeiro meio ambiente existente “corpo/mente”. As

“poluições” que acontecem nestes são exteriorizados no ambiente físico.

j)Quanto à realidade rural e urbana é nítido o preconceito entre os alunos da zona

urbana quanto ao jeito de falar dos alunos da zona rural; fato que pôde ser observado

na vivência de troca de escolas. É necessário maior contato entre as realidades. Essa

análise fez pensar sobre a importância da reenturmação de alunos ano a ano como

proposta de maior convivência nas diferenças. O que se observa hoje na maior parte

das vezes, são turmas que começam o primário e terminam o ensino médio sem

serem reenturmadas favorecendo a falta de relacionamento heterogêneo que se

desdobra em bullyings e outras formas de discriminação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GADOTTI, Moacir. Boniteza de um sonho. São Paulo: Grubhas, 2003.

Page 13: EXPERIÊNCIAS PEDAGÓGICAS E MEIO AMBIENTE · 2018-10-25 · Na leitura de “Boniteza de um sonho” há convite a pensar sobre ser professor na sociedade contemporânea e a urgência

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