96
1944 - 1986 RAYMUNDO COLARES RONIE MESQUITA GALERIA

Exposição Raymundo Colares SP Arte

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Catálogo da exposição do artista plástico Raymundo Colares na SP Arte, São Paulo, abril de 2016

Citation preview

Page 1: Exposição Raymundo Colares SP Arte

1944 - 1986

RAYMUNDO

COLARES

RONIE MESQUITA GALERIA

Page 2: Exposição Raymundo Colares SP Arte
Page 3: Exposição Raymundo Colares SP Arte

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

3

2Existem pessoas raras, difíceis de se encontrar.Elas são lindas por fora, mas principalmente por dentro.São feitas de carinho e recheio de verdade.Costumam chegar de mansinho e te conquistam dia a dia.Conquistam com verdades e muito amor.Elas não têm medo de competição.Valorizam qualidades e não defeitos.Querem te ver crescer. Querem te ver feliz. Querem te ver sorrir.Estão sempre por perto, não te deixam só, mesmo quando você não percebe, estão cuidando de você.Se você teve a sorte, como eu tive, de encontrar uma dessas pessoas, não se esqueça de dizer: obrigado por você existir!

CELY T. D. MESQUITA

1959 | 2015

Page 4: Exposição Raymundo Colares SP Arte

DETALhE AO LADO:SEM TÍTULO, 1966

DO SEU qUinTaL pODia-SE OUvir a MúSica E OS DiáLOgOS

DOS fILMES (...) COLARES AMOU A ARTE DO CINEMA E COM

ELa cOnvivEU ESTrEiTaMEnTE. Fazia áLbUnS DE cinEMa E

cOLEciOnava FOTOS DE arTiSTaS. aDOrava LEr hiSTóriaS

EM qUaDrinhOS, OS gibiS, cOLEciOnava-OS. Era UM

MEninO inTrOSpEcTivO, aLgUMaS vEzES brincaLhãO.

Lia ExagEraDaMEnTE, MUiTO cEDO SE TOrnOU cULTO.

Tinha UMa bOa rELaçãO cOM OS irMãOS E, pELa MãE,

aDOraçãO. aDMirava-a na SUa FOrça E DOçUra.

SEparaDa DO MariDO rEgia a prOLE SOzinha.

FELiciDaDE paTrOcÍniO

Page 5: Exposição Raymundo Colares SP Arte

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

5

4

Page 6: Exposição Raymundo Colares SP Arte

DETALhE:igUaiS MaS DiFErEnTES, 1966

EnTrE 1966 E 1970, anO EM qUE ganhOU O

prêMiO DE viagEM DO SaLãO DE arTE MODErna,

SUa Obra TEvE UM DESEnvOLviMEnTO ESpETacULar.

DO MOVIMENTO VIRTUAL DAS pINTURAS DOS

ônibUS, paSSanDO pELaS TrajETóriaS EM METaL...

O qUE SE pErcEbE na pOéTica DE cOLarES é

UMa cOErência pLáSTica nOTávEL. (...) O LancE

TrágicO viria EM SEgUiDa. DEpOiS DE UMa LOnga

rELaçãO pOéTica-viSUaL cOM OS ônibUS, acabOU

ATROpELADO pOR UM DELES...

LUIz CAMILLO OSORIO

crÍTicO DE arTE

Page 7: Exposição Raymundo Colares SP Arte

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

7

6

Page 8: Exposição Raymundo Colares SP Arte

O ARTISTA RAYMUNDO COLARES

Page 9: Exposição Raymundo Colares SP Arte

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

9

8

RAYMUNDO COLARES: UMA VIDA DIVIDIDA

DENISE MATTAR

MaS é O iMpaSSE.

fAzENDO O

QUE EU QUERO E AO MESMO

TEMpO TRANQUILIDADE.

TranqUiLiDaDE é UM SacO para SE agUEnTar.

é iSTO, a DúviDa

A VIDA DIVIDIDA

DIVIDIDA

TrEnTO 30 jULhO 73

Em dezembro de 1972, chegando a Trento, Itália, Raymundo Colares escrevia

em carta a Antonio Manuel: “Pra que saber aonde ir? Vou pra minha casa. Depois de

8 anos de grandes cidades volto para uma pequena. Estou fugindo pra mim mesmo?”¹ Seis

meses depois sua dúvida só aumentara, como pode ser constatado no poema inédito

apresentado na epígrafe acima. O texto faz parte do Diário que o artista manteve

em Trento, um documento até agora desconhecido e recentemente garimpado

pela Galeria Ronie Mesquita. A esse Diário, a galeria juntou um conjunto de obras

também inéditas, compondo uma exposição de raridade indiscutível. Reunindo

trabalhos das décadas de 1960, 1970 e 1980, a mostra traça uma visão de conjunto da

obra de Raymundo Colares, e, principalmente, ajuda a desvendar o processo de criação

de um de nossos mais originais artistas.

No documentário sobre Colares, realizado pela Rio Arte em 1987, com direção

de Sergio Wladimir Bernardes, impressiona o depoimento de Cildo Meireles, que via

o amigo como “alguém a quem tivessem arrancado a pele, e colocado sob uma tempestade.”

Frágil e impetuoso, Raymundo Colares vivia intensa e vertiginosamente, alternando

períodos de profunda calmaria e produção frenética, numa “dualidade complementar”

de anima e animus.² Suas ambivalências e conflitos resultavam em movimento,

dinamismo e metamorfose, e desembocavam em repouso e solidão. Morreu cedo, e de

forma trágica, à maneira de seu ídolo James Dean.² Referência a Gastón Bachelard.

¹Carta reproduzida no catálogo

da exposição Raymundo Colares,

realizada no Museu de Arte

Moderna de São Paulo, de 18

de novembro a 19 de dezembro

de 2010, com curadoria de Luiz

Camillo Osorio.

Page 10: Exposição Raymundo Colares SP Arte

DiáriO cOLarES, páginaS nãO nUMEraDaS, MOnTES cLarOS, Mg, 1974

Page 11: Exposição Raymundo Colares SP Arte

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

11

10

A leitura do Diário reitera essa visão de uma pessoa intensamente

dividida. Seu processo criativo pode ser acompanhado em quase uma centena

de esboços e seu pensamento se revela em textos e anotações esparsas, muitas

vezes expelidas em jatos. O Diário foi realizado em dois locais distintos:

Trento, Itália, de 9 de dezembro de 1972 a 30 de julho de 1973, e Montes

Claros, Minas Gerais, de 5 de março a agosto de 1974. Sete anos depois,

numa noite insone, de 30 a 31 de janeiro de 1980, Colares retomou seu Diário,

fazendo nele interferências, comentários e desenhos.

Ao longo de todo o documento, cada página, com pouquíssimas

exceções, é datada e assinada, num processo quase obsessivo. É um Diário

de artista, majoritariamente composto de esboços desenhados a lápis, alguns

com numerações que parecem marcar uma futura distribuição de cores. Há

também colagens de recortes de gibis e revistas, rótulos, tickets de trem,

recibos, folhas de calendário etc. Mas o que impressiona mesmo são os textos,

nos quais se evidencia o seu desassossego, dividido entre a vontade de ser livre

e viver no mundo, e um pertencimento a Montes Claros do qual ele quer se

livrar, mas não consegue:

Mundo, mundoVasto mundoEu me chamo RaymundoSou uma rimanão sou um poetae Montes Claros não é um retrato na parede

Hoje é aniversário do Jorge, deve estar na fazenda trabalhando junto a papai, ou estará

em Montes Claros com o pessoal? CANABRAVA. E eu que sempre pensei que ele tinha

sido levado a essa vida medíocre na fazenda. Não tinha nunca pensado que talvez ele

tivesse escolhido a fazenda e que aquela vida não era medíocre, mas significava um

objetivo para ele. De qualquer modo vejo, nesta evolução de um ponto de vista meu, uma

evolução minha, porque Eu no fundo nunca saí de lá.

TrENTO Itália 73 ³

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

11

10

³ A poesia e o texto foram escritos

no dia 23 de fevereiro de 1973 e, a

partir de então, Colares utilizará

muitas vezes essa forma TrENTO,

com o r minúsculo, num jogo com

a palavra TENTO.

Page 12: Exposição Raymundo Colares SP Arte

página aO LaDO:DiáriO cOLarES, página nãO NUMERADA, TExTO pARA ANTONIO ManUEL EM TrEnTO, iTáLia, 1973

DiáriO cOLarES, aUTOrrETraTO, página nãO nUMEraDa, TrEnTO, iTáLia, 1973

Page 13: Exposição Raymundo Colares SP Arte

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

13

12

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

13

12

Page 14: Exposição Raymundo Colares SP Arte

página aO LaDO:DiáriO cOLarES, página 8, ESbOçO, TrEnTO, iTáLia, 1972

DiáriO cOLarES, página nãO nUMEraDa, paSSagEM DE TrEM, TrEnTO, iTáLia, 1972

Page 15: Exposição Raymundo Colares SP Arte

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

15

14

Page 16: Exposição Raymundo Colares SP Arte
Page 17: Exposição Raymundo Colares SP Arte

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

17

16

Raymundo Colares nasceu no dia 25 de abril de 1944, em Grão

Mogol, Minas Gerais, mas foi criado em Montes Claros, na época uma

cidade pequena. Ele morava ao lado do Cine Fátima, como conta a

conterrânea Felicidade Patrocínio: “Do seu quintal podia-se ouvir a música

e os diálogos dos filmes (...). Colares amou a arte do cinema e com ela conviveu

estreitamente. Fazia álbuns de cinema e colecionava fotos de artistas. Adorava ler

histórias em quadrinhos, os gibis, colecionava-os. Era um menino introspectivo,

algumas vezes brincalhão. Lia exageradamente, muito cedo se tornou culto. Tinha

uma boa relação com os irmãos e, pela mãe, adoração. Admirava-a na sua força e

doçura. Separada do marido regia a prole sozinha.”4

Apesar de gostar de desenhar desde criança, Colares pretendia ser

engenheiro, e recebeu uma bolsa de estudos que o levou a Salvador. Lá

descobriu Mondrian, uma referência para sempre, e compreendeu que era um

artista. Abandonou a bolsa e mudou-se para o Rio de Janeiro, onde ficou por

um breve período, logo retornando à sua cidade.

Em 1966, Raymundo Colares voltou novamente para o Rio e foi

morar numa pensão em Santa Tereza, onde, um pouco mais tarde, veio a

residir Cildo Meireles, de quem se tornou amigo. Iniciou um curso na Escola

Nacional de Belas Artes, que logo abandonou, e juntou-se à turma que

circulava no Museu de Arte Moderna reunindo Lygia Pape, Antonio Manuel,

Ascânio, Barrio, entre outros.

Encontrou um momento de efervescência e de mobilização poucas

vezes repetido na arte brasileira. A vanguarda experimental neoconcretista

propunha-se a estender ao máximo os limites da arte; ao mesmo tempo um

grupo mais jovem multiplicava as pesquisas com a Nova Figuração, e tudo era

permeado por uma urgência de posição política que tinha nos CPCs (Centros

Populares de Cultura) seus maiores representantes.

As exposições eram, na época, um espaço privilegiado para

formulações teóricas. Artistas e críticos participavam visceralmente de

discussões realizadas no calor da criação das obras e de sua apresentação. A

primeira dessas mostras emblemáticas havia sido Opinião 65, organizada por

Jean Boghici e Ceres Franco, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

RAYMUNDO COLARES COM SUA MãE, jOana naTaLina cOLarES, CIRCA 1970

RAYMUNDO COLARES AINDA NA aDOLEScência EM MOnTES cLarOS, Mg, circa 1959

AO LADO:rayMUnDO cOLarES nO aTELiê EM TErESópOLiS, rj, 1981

4 Felicidade Patrocínio, Montes

Claros no Cenário das Artes

Plásticas Brasileiras. Revista do

Instituto Histórico e Geográfico de

Montes Claros, vol.5.

Page 18: Exposição Raymundo Colares SP Arte

Em 1967, foi realizada, no mesmo local, a exposição Nova Objetividade

Brasileira. Antonio Dias, um dos organizadores, convidou Raymundo Colares a

participar da mostra, e assim o jovem artista, praticamente recém-chegado de

Minas Gerais, foi catapultado para o epicentro da produção artística nacional.

E não passou despercebido. O ônibus já era o seu tema, que ele explicava de

maneira poética: “[O ônibus] é como um homem que tem uma trajetória a cumprir e

o fará de qualquer maneira, apesar de encontrar em sentidos contrários outras forças. E

tentará vencer, forçando trajetórias contrárias e barreiras, já que fazem parte da vida

essas ultrapassagens.”5

Festejado pela crítica, Colares foi imediatamente integrado ao circuito

de arte. Em 1968, participou de alguns salões e recebeu vários prêmios. No

Salão Nacional de Arte Moderna, mesmo sendo tão jovem, recebeu o prêmio

Isenção do Júri pelos trabalhos tridimensionais que havia apresentado.

Pintadas em chapas de alumínio, essas obras se projetavam para fora da

parede, como as carrocerias de ônibus em ultrapassagens.

Aos 25 anos, realizou sua primeira exposição individual na galeria

do Copacabana Palace, em 1969. Em matéria para o Correio da Manhã,

assinada por Jayme Maurício, o artista falava sobre seu trabalho, rejeitando a

influência pop que a crítica de arte lhe atribuía: “Acusam-me de sofrer influência

norte-americana. Como, se jamais fui além do Rio de Janeiro? Reconheço, isso sim, a

influência do cinema nos meus quadros. A influência dos cortes, da dinâmica. E, nesse

caso, reconheço, também, a influência do cinema americano, que era o que existia para

se ver em toda a minha infância e adolescência. E também a influência das histórias em

quadrinhos, invenção americana e leitura dos meus tempos de criança. Mas os ônibus

que retrato, garanto, são inteiramente cariocas e urbanos. Eu os vejo assim: bacanas,

coloridos, metálicos. Nunca transferi para as telas ônibus interestaduais. São todos na

base do Castelo-Ilha do Governador, São Salvador-Leblon.”6

A exposição da Galeria Ronie Mesquita na SP Arte reúne 12 trabalhos

dessa vertente, datados de 1966. Realizados em guache e lápis, alguns com

dedicatória a amigos, os trabalhos revelam imediatamente o motivo do

avassalador sucesso de Colares quando de sua aparição no circuito de arte

carioca. De suas obras emana a urgência da cidade, do trânsito frenético, que

impressionava o menino do interior. Colares descobre as carrocerias dos ônibus,

pôSTEr Da ExpOSiçãO na gaLEria DO cOpacabana paLacE, 1969, riO DE janEirO, rj

FELiciDaDE paTrOcÍniO EScrEvE SObrE a TrajETória DE rayMUnDO cOLarES, MOnTES cLarOS, Mg

Page 19: Exposição Raymundo Colares SP Arte

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

19

18

DESEnhO SObrE carTãO, rayMUnDO cOLarES, DécaDa DE 1960

com suas pinturas de cores fortes e bregas, e as faz passar velozmente deixando

fragmentos de traços entre vestígios de cor. Faz uma síntese entre a pop art e o

concretismo, de forma inusitada e potente.

Em 1970, Colares recebeu o prêmio de Viagem ao Exterior do Salão

Nacional de Arte Moderna e o Prêmio IBEU, que era uma passagem para

os Estados Unidos. Decidiu então que iria ficar seis meses em Nova York

e um ano e meio na Itália. Nos Estados Unidos, trabalhou com filmes

experimentais e fez alguns estudos com o canudo ótico, reproduzindo imagens

caleidoscópicas. De Nova York foi para Milão e de lá para Trento, mas a

viagem, que deveria lhe abrir novas possibilidades, interrompeu sua carreira.

Seus problemas com álcool e drogas se acentuaram. A dificuldade de montar

um ateliê e as demandas práticas o afastavam da pintura.

6 Raymundo Colares em entrevista

a Jayme Maurício, Correio da

Manhã, 1969, reproduzida no

catálogo da mesma exposição.

5 Raymundo Colares em entrevista

a Jayme Maurício, Correio da

Manhã, 1969, reproduzida no

catálogo da exposição Raymundo

Colares, Trajetórias, realizada no

Centro Cultural da Light, em 1997,

com curadoria de Ligia Canongia.

Page 20: Exposição Raymundo Colares SP Arte
Page 21: Exposição Raymundo Colares SP Arte

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

21

20

Nesse período, em parte pela falta de um espaço para pintar, Colares

escreveu muitas poesias, como O Bolero de Brooklyn e Viver uma só vez, mas

a maior parte delas foi perdida. Escrevia muitas cartas para os amigos do

Brasil, especialmente Antonio Manuel. Cuidadosamente datilografados em

blocos vermelhos e pretos, os textos dessas cartas formavam composições.

Algumas vezes adotava o formato de história em quadrinhos, ou mandava

desenhos e xerox. Pedia a opinião dos amigos, reclamava da falta de

respostas e chorava ao som de Roberto Carlos. A experiência da solidão não

foi bem assimilada pelo artista.

É desse período o Diário apresentado na exposição, no qual se evidencia

essa luta do artista entre a ordem e o caos, entre o frenesi e a tranquilidade,

entre a vida e a morte.

A mudança de Colares para a pequena cidade italiana de Trento foi

mais uma tentativa de se adaptar. Em anotação do dia 15 de dezembro de

1972, escreve ele: “Finalmente tenho minha casa, e meu lugar para trabalhar.”

Composto por um caderno quadriculado, o Diário foi cuidadosamente

numerado em sequência nas páginas da direita. Os desenhos a lápis, esboços

de trabalhos, se sucedem, alguns com anotações de processo, como a série que

chama de Desdobrando.

Pouco se sabe da produção do artista nesse período, de quanto ele

transformou seus belos esboços em telas. Sobre isso há apenas um comentário

em 15 de maio de 1973: “Estou contente! Fiz o 1º quadro da série de linhas

intercalantes. Em laranja e azul. É o que esperava. Tudo bem. Pra que teorizar?”

Um exemplo raro desse processo pode ser visto na mostra da SP Arte,

abril de 2016, São Paulo. A tela intitulada Coligações, assinada e datada de 1973,

tem seu esboço na página 55 do Diário, do dia 8 de janeiro do mesmo ano.

Também estão presentes na exposição duas obras da década de 1970, realizadas

em papéis coloridos colados em madeira, que parecem remeter-se ao esboço O

Colecionista, uma dobradura colada no diário no dia 31 de janeiro de 1973.

AO LADO:DiáriO cOLarES, página 3, ESbOçO, SériE DESDObranDO, TrEnTO, iTáLia, 1972

capa DO caTáLOgO Da ExpOSiçãO DEpOiMEnTO DE UMa gEraçãO, 1969-1970, riO DE janEirO, rj, 1986

pinTUra SObrE MaDEira, Da SériE MOnDriana

DiáriO cOLarES, páginaS 4 E 5, ESbOçOS, SériE DESDObranDO, TrEnTO, iTáLia, 1972

páginaS SEgUinTES:

Page 22: Exposição Raymundo Colares SP Arte
Page 23: Exposição Raymundo Colares SP Arte

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

23

22

Page 24: Exposição Raymundo Colares SP Arte
Page 25: Exposição Raymundo Colares SP Arte

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

25

24

Page 26: Exposição Raymundo Colares SP Arte

AO LADO:

páginaS anTEriOrES:

DiáriO cOLarES, páginaS 6 E 7, ESbOçOS, SériE DESDObranDO, TrEnTO, iTáLia, 1972

DiáriO cOLarES, páginaS 9 E 10, ESbOçOS, SériE DESDObranDO, TrEnTO, iTáLia, 1972

Page 27: Exposição Raymundo Colares SP Arte

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

27

26

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

27

26

Page 28: Exposição Raymundo Colares SP Arte

anTOniO ManUEL, arTUr barriO, RAYMUNDO COLARES E CILDO MEIRELES, EM EncOnTrO na gaLEria paULO kLabin, riO DE janEirO, rj, 1983

pOSTaL EnDErEçaDO a aracy aMaraL COMENTANDO O INTERESSE DE cOLarES SObrE a ExpOprOjEçãO 73, TrEnTO, iTáLia, 1973

Page 29: Exposição Raymundo Colares SP Arte

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

29

28

Com sua natural inquietude, Colares viajava com alguma frequência a

Milão e, em seu Diário, anotações poéticas e tristes começaram a se multiplicar:

Da adversidade vivemos Hélio O.

cúmplice idade

capaz idade

infeliz idade

intranquila idade

sincera idade

igual idade

adversa idade

solidária idade

29 anos incompletos

De diversas idades vivemos R.C.

Milano 14/1/73 4h da manhã.

Em 31 de maio de 1973, daquela cidade, escreve carta a Antonio Manuel

relatando que havia mandado para Aracy Amaral seus filmes Margiano e América

Latina, Doce América Latina para serem apresentados na Expoprojeção 73, em São

Paulo, exposição pioneira reunindo filmes de artistas. Fala ainda sobre a visita de

sua irmã Tereza e descreve entusiasmado o projeto de um novo filme Tem gente que

gosta quente, cuja descrição também está presente no Diário.

Apesar do otimismo esporádico, o mal-estar parece sempre voltar, e o

artista cola no seu caderno recortes de gibis que expressam o sentimento de

inadaptação, que vê espelhado no seu herói preferido, o Homem-Aranha. No

quadrinho recortado, o personagem se despe de costas enquanto pensa: “Por

que as coisas nunca dão certo para mim? Por que sempre magoo as pessoas embora sem

intenção? É esse o preço que devo pagar por ser o Homem-Aranha?”

Page 30: Exposição Raymundo Colares SP Arte

Em 30 de julho de 1973, na última das anotações de Trento, o tom é mais grave ainda:

Não posso fazer planos. O sonhoda casa como queroaonde. nas montanhasà beira-mar,na cidade!Sim, eu poderia dizerNão vale a pena nada.Nada

Finda a bolsa que o levou para os Estados Unidos e Itália, Colares voltou para casa, para

Montes Claros, para a sua “cidade pequena”, em um autoexílio que durou oito anos. Lá, retomou seu

Diário em 5 de março de 1974, mantendo os esboços e as páginas numeradas, realizando cerca de

dez desenhos, sendo os dois últimos, datados de agosto de 1974, sombreados e coloridos. Quase não

fez anotações, exceto por algumas páginas dedicadas ao projeto de um filme chamado Salomé, que

parece tratar-se de um filme homoerótico.

Nos seis anos que se seguem, Colares permanece afastado do circuito de arte, enviando

esporadicamente alguns trabalhos para exposições coletivas. Sua luta contra a dependência de

drogas é constante. Dava aulas no Conservatório de Música Lorenzo Fernandez, onde lecionou várias

disciplinas: Desenho, Pintura, História da Arte e Composição Artística. “Apesar da simplicidade, tinha

personalidade forte e marcante, e os alunos, que o adoravam, nos momentos difíceis de crise, o protegiam.”7

7 Felicidade Patrocínio, Montes

Claros no Cenário das Artes

Plásticas Brasileiras. Revista do

Instituto Histórico e Geográfico de

Montes Claros, vol.5.

ESTUDO DE COLARES, DécaDa DE 1970

Page 31: Exposição Raymundo Colares SP Arte

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

31

30

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

31

30

No dia 30 de dezembro de 1980, Colares pega o Diário abandonado e

aparentemente vara a noite escrevendo nele. Escreve no lado esquerdo das páginas, até

então livres. Usa duas canetas, uma azul e outra vermelha, e sua letra às vezes é quase

ilegível. Parece estar revendo fatos: faz desenhos, escreve poesias, letras de músicas

infantis e anotações. Algumas remetem às páginas já escritas, mas a grande maioria não:

Cântico O Juquinha

Quem quiser aprender a dançar

Vai à casa do Juquinha,

Ele pula, ele dança

Ele faz requebradinha

De abóbora faz melão

De melão faz melancia

Faz doce, sinhá, faz doce, sinhá

Faz doce e cocadinha

Cascalho e lágrimas

Coração inquieto

Caminho ardente

árido

pés descalços no cascalho

Mas, sempre ir em frente

É preciso

a estrada

longa

o sol queimando

quando secam

as lágrimas

fica o sorriso no rosto

um sorriso triste

é claro

mas sempre um sorriso - Montes Claros 30/1/80

Esta lágrima

Que luta para não descer

Pelo meu rosto

Não é uma lágrima de tristeza

Nem de angústia

É raiva mesmo

R Colares - 31/1/80

Page 32: Exposição Raymundo Colares SP Arte

O amor não correspondido é outra questão que permeia o

diário nessa longa noite. Nas quatro últimas páginas, sobre uma

profusão de desenhos e num arrazoado caótico, declara a alguém

seu amor e sua vontade de viver:

(...) minha contribuição

é gratuita. e verdadeira

é minha vida que

eu ofereço.

Como um

Santo. a vida

vivida pensada divida

pesada divida

mas vida di vida

dividida – meu

amor eu não aguento mais

me toma me beija faz de

mim o que quiser

porque eu só sei isto

VIVER

VI VER

Page 33: Exposição Raymundo Colares SP Arte

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

33

32

E de fato viveu! Em 1981, resolveu voltar para o

Rio de Janeiro, e o fez triunfalmente. Em 1983, as Galerias

Saramenha e Paulo Klabin realizaram juntas o que chamaram

de “exposição-resumo” da sua obra, com trabalhos antigos

e recentes. Mais uma vez o artista surpreendeu. Frederico

Morais, em artigo para o jornal O Globo, escreveu: “Visual e

psicologicamente, ele sempre esteve em trânsito, a caminho, está sempre

saindo, sempre chegando. Um bólido no espaço. (...) Vistos agora,

na Galeria Saramenha, quase quinze anos depois, seus quadros

provocam o mesmo impacto de quando foram lançados, naqueles anos

difíceis (68/70), o tempo não retirou deles a carga emocional que

os motivou.(...) Liberto, compra o ticket de volta, acha que o sonho

não acabou e busca novos caminhos, como indica numa bela obra

denominada ‘Orgia em quatro partes’. Viva Colares!”8

MaTéria DE FrEDEricO MOraiS, 1968

FOLDEr Da ExpOSiçãO DE cOLarES naS gaLEriaS paULO kLabin E SaraMEnha, 1983

8 Frederico Morais, O Globo, 1983, reproduzido no catálogo da exposição

Raymundo Colares, Trajetórias, realizado no Centro Cultural da Light, em 1997,

com curadoria de Ligia Canongia.

Page 34: Exposição Raymundo Colares SP Arte

RAYMUNDO COLARES, EM NOVA YORk, 1972

Um exemplo desse novo caminho que Frederico Morais aponta pode

ser visto na exposição da mostra SP Arte em abril de 2016, na obra sem título,

datada de 1981. Realizada em Montes Claros, é uma poderosa demonstração

da “ambiguidade ótica” que ele buscava. Completando a mostra, há o vibrante

e excepcional painel desenvolvido, mas não realizado, por Colares para o

projeto Arte nos Muros, que na década de 1980 ocupou as empenas dos

prédios no Rio de Janeiro com obras de artistas.

Infelizmente a euforia de sua volta foi interrompida no início de 1986.

Por uma ironia do destino, ele foi atropelado por um ônibus. “Eu tinha saído

do Cine Ópera em Botafogo e fui para um bar, quando fui atravessar a rua vinha um

vulto azul metálico” - disse no hospital para o amigo Cildo Meireles. Colares

capa DO LivrO Da ExpOSiçãO RETROSpECTIVA, MUSEU DE ARTE MODErna DE SãO paULO, 2010

Page 35: Exposição Raymundo Colares SP Arte

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

35

34

entrou em depressão e resolveu voltar para Montes Claros, onde se internou

no hospital Prontomente. No dia 28 de março, em mais um episódio trágico,

o artista morreu das extensas queimaduras que sofreu quando seu leito se

incendiou por causa de um cigarro aceso.

Em 1987, a RioArte produziu um vídeo sobre sua obra com direção de

Sergio Wladimir Bernardes. O documentário reúne depoimentos de alguns

amigos, como Antonio Manuel e Cildo Meireles, e faz uma analogia entre a

morte de Colares e o incêndio do MAM do Rio de Janeiro, ocorrido em 1978.

Sua primeira retrospectiva póstuma teve a curadoria de Ligia

Canongia. Apresentada em 1997 pelo Centro Cultural Light, a exposição e

seu catálogo tornaram-se referências para o estudo de Colares. Nele a crítica

de arte reuniu um significativo conjunto de obras, cartas e poemas do artista,

e textos críticos sobre ele. Na visão de Canongia: “Colares sabia também que a

problemática que enfrentava no exercício prático da sua arte era ainda a mesma que atingia

a sua dimensão como sujeito. (...) Deixou-se angustiar pela fragmentação, pela velocidade

e pela dispersão da vida urbana como se fosse um ‘moderno’, recém-familiarizado com as

linguagens mecânicas, a alienação e a solitude. Acabou por fazer uma obra e viver uma vida

extremamente ‘velozes’.”9

Em 2010, o crítico Luiz Camillo Osorio realizou nova exposição

retrospectiva no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Na sua visão: “Em

Colares, a apropriação de uma geometria concreta do espaço pictórico dar-se-ia através

de um olho atravessado pela estrutura visual das histórias em quadrinhos e pela

confusão sedutora da desordem urbana, metaforizada pela fragmentação dos ônibus

cortando o campo perceptivo. De início eles se compunham numa narrativa visual

que não se desdobra no tempo, mas se fragmenta no espaço, multiplicando os dados

perceptivos na vertigem de um corpo, atravessado pela confusão da cidade. Baudelaire,

cubismo e nova figuração.”10

Em 2011, a convite de Anderson Eleotério, realizei para a Caixa

Cultural do Rio de Janeiro a curadoria da exposição retrospectiva Raymundo

Colares Poética Pop. Foi um contato profundo com a obra do artista, sobre o

qual escrevi: “Os títulos de suas obras: ultrapassagem, trajetória, ponto de mudança,

ocorrência, apontam que ele estava em busca do ‘tempo do movimento’, expressão muito

usada por Mary Vieira, artista concretista brasileira, com a qual a obra de Colares

CApA DO LIVRO RAYMUNDO COLARES TrajETória, cEnTrO cULTUraL LighT, riO DE janEirO, rj, 1997

capa DO LivrO Da ExpOSiçãO rayMUnDO cOLarES pOéTica pOp, caixa cULTUraL, riO DE janEirO, rj, 2001

10 Luiz Camillo Osorio, texto do

catálogo da exposição Raymundo

Colares, realizada no Museu de Arte

Moderna de São Paulo, de 18 de

novembro a 19 de dezembro de 2010.

9 Ligia Canongia, texto do catálogo

da mesma exposição.

Page 36: Exposição Raymundo Colares SP Arte

MaTéria DE FrEDEricO MOraiS SObrE a MOrTE DO arTiSTa, jOrnaL O gLObO, riO DE janEirO, rj, 1986

Page 37: Exposição Raymundo Colares SP Arte

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

37

36

Page 38: Exposição Raymundo Colares SP Arte

se identifica em muitos aspectos, especialmente na forma lúdica de abordar o rigor

concreto. Colares não era conceitualmente um artista pop, mas incorporou algumas das

referências visuais identificadas com aquele movimento artístico. Essa improvável síntese

entre o concretismo e a pop art, realizada de maneira intuitiva, quase ingênua, visto

que Colares não era um teórico como Oiticica; reveste sua obra de um frescor e de uma

originalidade raramente encontrados. Cinético e lírico, rigoroso e lúdico, alegre e trágico,

Raymundo Colares fez conviver contrastes de forma única, legando para a arte brasileira

e internacional uma obra de excepcional qualidade.”

MaTéria DE FrEDEricO MOraiS, jOrnaL DiáriO DE nOTÍciaS, riO DE janEirO, rj, 1969

Page 39: Exposição Raymundo Colares SP Arte

A exposição agora realizada na SP Arte é a primeira a acontecer em uma

galeria desde 1983. Sua excepcionalidade reside em trazer o Projeto da Edição

dos "Gibis", o Diário e obras inéditas de um artista cujo trabalho continua a

causar impacto. Parafraseando Frederico Morais, no texto já citado realizado

para a Galeria Saramenha, podemos dizer que o tempo não retirou deles a carga

emocional que os motivou. Viva Colares!

DESEnhO SObrE papEL TiTULaDO “aT bOOM STagE”, DécaDa DE 1970

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

39

38

Page 40: Exposição Raymundo Colares SP Arte

OS “gibiS” E O prOcESSO criaTivO DE cOLarES

Em 1970, Raymundo Colares surpreendeu a crítica com a apresentação dos “Gibis”. Eles são cadernos compostos por

folhas de papel de diferentes cores com cortes sucessivos que se superpõem. Ao virar as folhas, o espectador torna-se coautor da

obra, em composições que se multiplicam a cada página virada.

Frederico Morais os considerava um dos momentos mais fascinantes da arte brasileira contemporânea. E Roberto

Pontual escrevia: “Os planos de papel em cor, emergindo e se sucedendo corte após corte na espaciotemporalidade, constituem

toda a mínima/múltipla linguagem desses livros (gibis) de Raymundo Colares, nos quais estão mantidos aqueles mesmos

ritmos visuais característicos de sua pintura de captação de iconografia urbana.”

Raymundo Colares queria que todos tivessem acesso às suas obras. Ele considerava, assim como outros concretistas,

que a questão dos direitos autorais era algo irrelevante. O espírito que move os “Gibis” é, portanto, o de sua possibilidade

de multiplicação. No “Projeto da edição dos ‘Gibis’”, agora apresentado na SP Arte, o artista está tentando encontrar um

parceiro para viabilizar uma edição desses trabalhos. Escrevendo à mão, ele descreve a concepção dos “Gibis”, fala sobre o

desenvolvimento de alguns deles, como as homenagens a Albers e Mondrian, e detalha o processo de elaboração e edição.

Assim, é possível acompanhar tanto o processo criativo do artista quanto sua preocupação com a qualidade dos resultados.

Uma obra-documento de valor inestimável.

Page 41: Exposição Raymundo Colares SP Arte

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

41

40

Page 42: Exposição Raymundo Colares SP Arte

capa Da aprESEnTaçãO DO prOjETO Da EDiçãO DOS “gibiS” DE cOLarES

ESTUDO DE CORES EM papEL ingrES

prOjETO Da EDiçãO DOS “gibiS”

Page 43: Exposição Raymundo Colares SP Arte

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

43

42

Page 44: Exposição Raymundo Colares SP Arte
Page 45: Exposição Raymundo Colares SP Arte

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

45

44

ESTUDOS DE cOrTES para criaçãO DOS “gibiS”

Page 46: Exposição Raymundo Colares SP Arte
Page 47: Exposição Raymundo Colares SP Arte

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

47

46

acUSaM-ME DE SOFrEr inFLUência nOrTE-aMEricana. cOMO,

SE jaMaiS FUi aLéM DO riO DE janEirO? rEcOnhEçO, iSSO SiM, a

inFLUência DO cinEMa nOS MEUS qUaDrOS. a inFLUência DOS

cOrTES, Da DinâMica. E, nESSE caSO, rEcOnhEçO, TaMbéM, a

inFLUência DO cinEMa aMEricanO, qUE Era O qUE ExiSTia para

SE vEr EM TODa a Minha inFância E aDOLEScência. E TaMbéM a

inFLUência DaS hiSTóriaS EM qUaDrinhOS, invEnçãO aMEricana E

LEiTUra DOS MEUS TEMpOS DE criança. MaS OS ônibUS qUE rETraTO,

garanTO, SãO inTEiraMEnTE cariOcaS E UrbanOS. EU OS vEjO

aSSiM: bacanaS, cOLOriDOS, METáLicOS. nUnca TranSFEri para aS

TELaS ônibUS inTErESTaDUaiS. SãO TODOS na baSE DO caSTELO-iLha

DO gOvErnaDOr, SãO SaLvaDOr-LEbLOn.

RAYMUNDO COLARES

ObraS EM ExpOSiçãO

DETALhE:SEM TÍTULO, 1966

Page 48: Exposição Raymundo Colares SP Arte

SUa Obra TEM UM LUgar

ESpEciaL na hiSTória Da

arTE braSiLEira, cOMO UM

ELO SingULar DE LigaçãO

ENTRE A pINTURA MODERNA,

VONTADE CONSTRUTIVA, A

TEnDência ExpEriMEnTaL E O

AMOR AO MUNDO.

LUIz CAMILLO OSORIO

Page 49: Exposição Raymundo Colares SP Arte

SEM TÍTULO, 1981óLEO SObrE MaDEira

72 x 72 CM

ASSINADO, DATADO E LOCALIzADO NO VERSO (MOC-1981)

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

49

48

Page 50: Exposição Raymundo Colares SP Arte
Page 51: Exposição Raymundo Colares SP Arte

cOLigaçÕES, 1973óLEO SObrE TELa

67 x 67 CM

ASSINADO, DATADO E LOCALIzADO NO

vErSO (TrEnTO iTáLia)

página aO LaDO:

ESbOçO Da Obra rEprODUziDO na página 55 DO DiáriO

cOLarES, TrEnTO, iTáLia, 1973

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

51

50

Page 52: Exposição Raymundo Colares SP Arte

ESSA TELA DE RAYMUNDO COLARES fOI INSpIRADA EM UMa Obra DE yOkO OnO: 'O MESMO raiO nãO cai DUaS vEzES nO MESMO LUgar', na ExpOSiçãO rEaLizaDa EM nOva yOrk, na DécaDa DE 1970.COLARES ESTAVA EM NOVA YORk, hOSpEDADO NA rESiDência DO SEU aMigO héLiO OiTicica. OS TExTOS E cOrrESpOnDênciaS DESSE pErÍODO, inTiTULaDOS 'nEwyOrkaiSES', já TraDUzEM a aDMiraçãO DE aMbOS pOr Mick jaggEr, rOLLing STOnES, jiMy hEnDrix, janiS jOpLin, yOkO OnO E jOhn cagE.a Obra EM qUESTãO ESTEvE ExpOSTa na gaLEria paULO kLabin, nO ShOpping cEnTEr Da gávEa, riO DE janEirO, EM 1983. pinTaDa SObrE MaDEira cOM TINTA AUTOMOTIVA, fOI COLOCADA EM DESTAQUE na EnTraDa principaL Da gaLEria, SEnDO UTiLizaDa COMO pERfORMANCE CONVIDANDO OS ESpECTADORES a parTiciparEM DE UMa Obra cOLETiva. cOLarES aciOnOU OS ELEMEnTOS: prEgOS E MarTELOS, para qUE a TELa FOSSE pErFUraDa, abrinDO caMinhO para UMa Obra rE-criaTiva, qUE nãO é MaiS para a pUra cOnTEMpLaçãO, MaS SUa UniDaDE ESTrUTUraL é bUScaDa nESSa açãO, pELa parTicipaçãO DinâMica DO ESpECTADOR.

vanDa kLabin

CURADORA E hISTORIADORA DE ARTE

Page 53: Exposição Raymundo Colares SP Arte

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

53

52

“UM raiO pODE cair DUaS vEzES nO MESMO LUgar, cOnviDE aLgUéM para prEgar UM prEgO anD rEMEMbEr jOhn anD yOkO”, circa 1983TinTa ESMaLTE SObrE MaDEira

80 x 80 CM

SEM ASSINATURA

Exp.: MOSTra inDiviDUaL DO arTiSTa naS gaLEriaS paULO kLabin E SaraMEnha, riO DE janEirO, rj, 1983

Page 54: Exposição Raymundo Colares SP Arte

SEM TÍTULO, circa 1970cOLagEM SObrE MaDEira

30 x 30 CM

SEM ASSINATURA

Page 55: Exposição Raymundo Colares SP Arte

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

55

54

SEM TÍTULO, circa 1970cOLagEM SObrE MaDEira

30 x 30 CM

SEM ASSINATURA

Page 56: Exposição Raymundo Colares SP Arte

ARTE NOS MUROS, CIRCA 1983gUachE SObrE carTãO

56 x 82 CM

SEM ASSINATURA

ARTE NOS MUROS fOI UMA

INICIATIVA DA SECRETARIA DO

gOvErnO ESTaDUaL DO riO DE

janEirO DUranTE a gESTãO

DE Darcy ribEirO. naqUELa

OpORTUNIDADE EU COORDENEI

O prOjETO qUE prOpUnha a

rEaLizaçãO DE pinTUraS MUraiS

naS EMpEnaS DE aLgUnS préDiOS

Da ciDaDE DO riO DE janEirO.

RAYMUNDO COLARES fOI DOS

ARTISTAS ESCOLhIDOS pARA

rEaLizar UMa pinTUra DE granDES

DiMEnSÕES nUMa EMpEna DE

UM préDiO nO bairrO Da TijUca.

ANIMADO COM A IDEIA, COLARES

LOgO ME EnviOU UM ESTUDO

pRELIMINAR.

“ADRIANO DE AQUINO

arTiSTa pLáSTicO

Page 57: Exposição Raymundo Colares SP Arte

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

57

56

Page 58: Exposição Raymundo Colares SP Arte

[O ônibUS] é cOMO UM hOMEM qUE

TEM UMa TrajETória a cUMprir E O

Fará DE qUaLqUEr ManEira, apESar DE

EncOnTrar EM SEnTiDOS cOnTráriOS

OUTraS FOrçaS. E TEnTará vEncEr,

FOrçanDO TrajETóriaS cOnTráriaS E

barrEiraS, já qUE FazEM parTE Da viDa

ESSaS ULTrapaSSagEnS.

RAYMUNDO COLARES

Page 59: Exposição Raymundo Colares SP Arte

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

59

58

fELIz, 1966gUachE E graFiTE SObrE carTãO

28 x 35 CM

ASSINADO, DATADO E TITULADO NO CANTO INfERIOR DIREITO (fELIz 26/07/66)

Page 60: Exposição Raymundo Colares SP Arte

SEM TÍTULO, 1966gUachE E graFiTE SObrE carTãO

28 x 35 CM

ASSINADO E DATADO NO CANTO INfERIOR DIREITO

DETaLhE Da Obra na página 3

Page 61: Exposição Raymundo Colares SP Arte

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

61

60

SEM TÍTULO, 1966gUachE E graFiTE SObrE carTãO

28 x 35 CM

ASSINADO E DATADO NO CANTO INfERIOR DIREITO

Page 62: Exposição Raymundo Colares SP Arte

SEM TÍTULO, 1966gUachE E graFiTE SObrE carTãO

28 x 35 CM

aSSinaDO, DaTaDO E DEDicaDO nO canTO inFEriOr DirEiTO (“para O EDgar, cOM MUiTa paz”)

Page 63: Exposição Raymundo Colares SP Arte

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

63

62

SEM TÍTULO, 1966gUachE E graFiTE SObrE carTãO

28 x 35 CM

ASSINADO E DATADO NO CANTO INfERIOR DIREITO

Page 64: Exposição Raymundo Colares SP Arte

SEM TÍTULO, 1966gUachE E graFiTE SObrE carTãO

28 x 35 CM

ASSINADO, DATADO E DEDICADO NO CANTO INfERIOR DIREITO

(“para wanDa E EDgar, cOM carinhO”)

Page 65: Exposição Raymundo Colares SP Arte

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

65

64

SEM TÍTULO, 1966gUachE E graFiTE SObrE carTãO

28 x 35 CM

ASSINADO E DATADO NO CANTO INfERIOR DIREITO

Page 66: Exposição Raymundo Colares SP Arte

SEM TÍTULO, 1966gUachE E graFiTE SObrE carTãO

28 x 26 CM

ASSINADO, DATADO E LOCALIzADO NO CANTO INfERIOR DIREITO (RIO)

Page 67: Exposição Raymundo Colares SP Arte

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

67

66

"igUaiS MaS DiFErEnTES", 1966gUachE E graFiTE SObrE carTãO

28 x 26 CM

ASSINADO, DATADO, TITULADO E LOCALIzADO NO CANTO INfERIOR DIREITO (RIO)

DETaLhE Da Obra na página 5

Page 68: Exposição Raymundo Colares SP Arte

SEM TÍTULO, 1966gUachE E graFiTE SObrE carTãO

28 x 26 CM

ASSINADO, DATADO, LOCALIzADO E DEDICADO NO CANTO INfERIOR

DirEiTO (riO “para wanDa cOM aMizaDE”)

Page 69: Exposição Raymundo Colares SP Arte

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

69

68

SEM TÍTULO, 1966gUachE E graFiTE SObrE carTãO

28 x 26 CM

ASSINADO E DATADO NO CANTO INfERIOR DIREITO

Page 70: Exposição Raymundo Colares SP Arte

OS TrabaLhOS DE cOLarES

EraM a ExprESSãO DE UMa

SEnSibiLiDaDE arTÍSTica DO

MaiS aLTO graU, E a SÍnTESE

pOR ELE OpERADA ENTRE

ELEMEnTOS OrigináriOS

DE váriaS MaTrizES FOi DaS

MaiS inTELigEnTES EnTrE OS

arTiSTaS braSiLEirOS.

Ligia canOngia

Page 71: Exposição Raymundo Colares SP Arte

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

71

70

SEM TÍTULO, 1966gUachE SObrE carTãO

24 x 22 CM

ASSINADO E DATADO NO CANTO INfERIOR DIREITO (4-66)

Page 72: Exposição Raymundo Colares SP Arte

SEM TÍTULO, circa 1965gUachE SObrE papEL

18 x 18 CM

SEM ASSINATURA

Page 73: Exposição Raymundo Colares SP Arte

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

73

72

SEM TÍTULO, circa 1965gUachE SObrE papEL

18 x 18 CM

SEM ASSINATURA

Page 74: Exposição Raymundo Colares SP Arte
Page 75: Exposição Raymundo Colares SP Arte

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

75

74

"gibi", 1971cOrTE E rEcOrTE EM papEL ingrES

26 x 44 cM (abErTO)

aSSinaDO, DaTaDO E LOcaLizaDO (riO DE janEirO, agOSTO DE 1971)

Page 76: Exposição Raymundo Colares SP Arte

"gibi", 1970cOrTE E rEcOrTE EM papEL ingrES

16 x 32 cM (abErTO)

aSSinaDO, DaTaDO, DEDicaDO E LOcaLizaDO (“para paULO cOM a Minha aMizaDE ray" riO DE janEirO)

Page 77: Exposição Raymundo Colares SP Arte

"gibi", 1970cOrTE E rEcOrTE EM papEL ingrES

16 x 32 cM (abErTO)

ASSINADO E DATADO

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

77

76

Page 78: Exposição Raymundo Colares SP Arte

"gibi", 1979cOrTE E rEcOrTE EM papEL ingrES

16 x 32 cM (abErTO)

ASSINADO E DATADO

Page 79: Exposição Raymundo Colares SP Arte

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

79

78

"gibi", circa 1971cOrTE E rEcOrTE EM papEL ingrES

44 x 44 cM (abErTO)

SEM ASSINATURA

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

79

78

Page 80: Exposição Raymundo Colares SP Arte

"gibi", DEzEMbrO DE 1971cOrTE E rEcOrTE EM papEL ingrES

34 x 34 cM (abErTO)

aSSinaDO, DaTaDO E LOcaLizaDO (riO DE janEirO, braSiL)

Page 81: Exposição Raymundo Colares SP Arte

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

81

80

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

81

80

"gibi", 1970cOrTE E rEcOrTE EM papEL ingrES

44 x 44 cM (abErTO)

aSSinaDO, DaTaDO E LOcaLizaDO (riO DE janEirO, braSiL)

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

81

80

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

81

80

Page 82: Exposição Raymundo Colares SP Arte

OS pLANOS DE pApEL EM COR,

EMErginDO E SE SUcEDEnDO cOrTE

apóS cOrTE na ESpaciOTEMpOraLiDaDE,

cOnSTiTUEM TODa a MÍniMa / MúLTipLa

LingUagEM DESSES LivrOS (gibiS) DE

rayMUnDO cOLarES, nOS qUaiS ESTãO

MANTIDOS AQUELES MESMOS RITMOS

viSUaiS caracTErÍSTicOS DE SUa pinTUra

DE capTaçãO DE icOnOgraFia Urbana.

rObErTO pOnTUaL

Page 83: Exposição Raymundo Colares SP Arte

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

83

82

prOjETO Da EDiçãO DOS "gibiS", circa 198332 x 32 cM (abErTO)

cOrTE E rEcOrTE EM papEL ingrES

SEM ASSINATURA

pErTEncEU à cOLEçãO SErgiO wLaDiMir bErnarDES, riO DE janEirO, rj

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

83

82

Page 84: Exposição Raymundo Colares SP Arte

ESTA TELA DE RAYMUNDO COLARES,

FOLhaS E gEOMETria, cOnFirMa SEM

DúviDa UMa TranSiçãO. aS FOLhaS -

AQUI UM VASO DE pLANTAS - VIERAM DE

MinaS gEraiS, pOréM a gEOMETria

é bEM cariOca; FOi cOnSTrUÍDa nO

riO DE janEirO EM cOnTaTO cOM

OUTrOS arTiSTaS DE SUa gEraçãO.

é a SUa priMEira TELa cOLOcaDa na

DiagOnaL - FOrMaTO DE baLãO - DE

QUE EU TENhA CONhECIMENTO. A

DiviSãO DE ESpaçOS cOnSTrUÍDOS

pELaS FOLhaS rEMETE aOS ESpaçOS qUE

ELE USaria nO MOviMEnTO iLUSóriO

DOS ônibUS ESTáTicOS, EM SEUS

DESEnhOS, TELaS E aLUMÍniO DObraDO.

aO FEchar a iMagEM aqUi rETraTaDa,

nUMa gEOMETria qUE TranSFOrMa

E rEDUz O ESpaçO Da TELa, cOLarES

DEMOnSTra a TranSFOrMaçãO qUE

SEU TrabaLhO iria SOFrEr.

LUIz ALphONSUS

Page 85: Exposição Raymundo Colares SP Arte

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

85

84

“FOLhaS”, 1965acrÍLica SObrE TELa

63 x 63 CM

ASSINADO E DATADO NO CANTO INfERIOR DIREITO

Page 86: Exposição Raymundo Colares SP Arte

hOMEM SOLiTáriO, apESar DE rEcOnhEciDO, cOLarES LigOU-SE a MUiTO

pOUca gEnTE E FrEqUEnTEMEnTE paSSava pOr LOngOS pErÍODOS DE

DEprESSãO. UM DESSES pOUcOS aMigOS, O arTiSTa pLáSTicO anTOniO

ManUEL, EnFaTiza a iMpOrTância DE cOLarES para a DécaDa DE 70.

'ELE nãO TEvE UMa prODUçãO MUiTO granDE', Diz anTOniO. 'ainDa aSSiM,

SUa Obra é FUnDaMEnTaL pOrqUE aprEEnDEU a rEaLiDaDE Urbana DE UMa

FOrMa aLTaMEnTE pOéTica, DEnTrO DE UMa LingUagEM raDicaL E qUE nãO

ENVELhECEU. E fOI UM DOS pOUCOS QUE ENfRENTOU A pINTURA NOS ANOS 70,

qUanDO ESTavaM TODOS FazEnDO ObjETOS. Era UM aMigO DE vinTE anOS,

TaLvEz O MaiS próxiMO qUE TivE, jUnTaMEnTE cOM héLiO OiTicica'

rEynaLDO rOELS jr., jOrnaL DO braSiL, 1986

Page 87: Exposição Raymundo Colares SP Arte

SEM TÍTULO, 1966nanqUiM E gUachE SObrE papEL

39 x 32 CM

ASSINADO, DATADO E LOCALIzADO NO CANTO INfERIOR DIREITO (RIO 1966)

vErSO: ETiqUETa Da gaLEria LUiz bUarqUE DE hOLLanDa E paULO biTTEncOUrT, riO DE janEirO, rj

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

87

86

Page 88: Exposição Raymundo Colares SP Arte

wanDa piMEnTELhOMEnagEM a rayMUnDO cOLarES, 1986

gUachE E nanqUiM SObrE papEL

41 x 42 CM

aSSinaDO, DaTaDO E TiTULaDO nO canTO inFEriOr DirEiTO (jUnhO DE 1986)

rEcEbi a TriSTE nOTÍcia DO FaLEciMEnTO DE cOLarES

E, TOMaDa pELa EMOçãO, rEaLizEi a Obra TiTULaDa

'hOMEnagEM a rayMUnDO cOLarES', a parTir

DE UMa pinTUra qUE Faz parTE Da cOLEçãO DE

giLbErTO chaTEaUbrianD.

hOMEnagEM a rayMUnDO cOLarES

DEpOiMEnTO Da arTiSTa pLáSTica wanDa piMEnTEL,

riO DE janEirO, rj, 2015

Page 89: Exposição Raymundo Colares SP Arte

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

89

88

Page 90: Exposição Raymundo Colares SP Arte

FaTOS rELEvanTES Da TrajETória DE RAYMUNDO COLARES

Raymundo Colares foi um dos mais importantes artistas brasileiros das décadas de

1960 e 1970. Era o quinto entre os nove filhos do casal Felicíssimo Colares e Joana Natalina

Colares. Nascido em Grão Mogol, mudou-se com a família em 1951 para a cidade de Montes

Claros, também em Minas Gerais. A casa onde passou a infância era no centro da cidade,

vizinha do Cine Fátima, e do seu quintal podia-se ouvir a música e os diálogos dos filmes,

que viriam a influenciar suas obras futuramente.

Já com sua formação educacional encaminhada, descobriu-se como artista plástico

no período que morou em Salvador. Influenciado por Paul Klee e Mondrian, fez suas

primeiras pinturas. Dispensou a bolsa de estudos que havia ganhado e partiu em busca de

novos horizontes.

Escolheu como destino o Rio de Janeiro e desembarcou na cidade aos 21 anos,

em 1965. Para se manter, trabalhou como desenhista de joias na empresa H.Stern. A

experiência se estendeu por pouco tempo: em julho do mesmo ano Colares retornou para

Montes Claros. No entanto, no ano seguinte, voltou ao Rio de Janeiro e ingressou na Escola

Nacional de Belas Artes, que logo abandonou. Integrou-se ao grupo de jovens artistas da

época, dentre eles Roberto Magalhães, Antonio Dias, Waltercio Caldas, Antonio Manuel

e Hélio Oiticica. Apresentou dois dos seus trabalhos no Salão Nacional de Arte Moderna,

mas ambos foram recusados.

Passou a frequentar em 1967 os cursos livres ministrados por Ivan Serpa, no

Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Naquele ano, participou da V Exposição de

Arte Brasileira, na Escola Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro, e do Salão de Arte

Contemporânea de Campinas, SP.

No ano seguinte foi premiado com o 2° Prêmio de Pintura no Salão Esso do

Artista Jovem no Museu de Arte Moderna de São Paulo, a Medalha de Prata no Salão

Paulista de Arte Moderna, em São Paulo, e o Prêmio de Aquisição no Salão da Prefeitura,

em Belo Horizonte. E foi em 1968 que o artista iniciou o projeto de pesquisa para produzir

seus livros-objetos, os chamados “Gibis”. Em 1969, começou a lecionar no Museu de Arte

Moderna do Rio de Janeiro.

Colares morou em Nova York por dois anos, 1971 e 1972, e desenvolveu trabalhos

na área de filme experimental. Na cidade participou da Latin American Fair of Opinion, com

organização de Augusto Boal. Entre 1972 e 1973, apresentou seus trabalhos na mostra

coletiva Protótipos e Múltiplos na Petite Galerie, no Rio de Janeiro. A convite de Aracy Amaral,

participou com filmes da exposição coletiva Expoprojeção 73, em São Paulo.

anTOniO Maia, cOLarES E O EMbaixaDOr charLES ELbrik - riO DE janEirO, rj, 1972

cOLarES nO aTELiê DE TErESópOLiS, rj, 1981

Page 91: Exposição Raymundo Colares SP Arte

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

91

90

No período entre 1977 e 1980, Colares afastou-se do circuito de arte, tendo, no

entanto, participado de algumas exposições. No Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro,

em 1977, com a mostra Arte Agora 1, recebeu o Prêmio de Aquisição. No ano seguinte, no

Palácio das Artes, em Belo Horizonte, participou da exposição Arte Brasileira na Coleção Gilberto

Chateaubriand. Já em 1980, ganhou outro Prêmio de Aquisição: no Arteboi - Salão de Arte de

Montes Claros, em Minas Gerais.

Retornou ao Rio de Janeiro em 1981 e optou por residir na cidade serrana de

Teresópolis. Voltou, também, a lecionar no Ateliê do Museu de Arte Moderna do Rio de

Janeiro. Naquele ano, suas obras foram expostas na coletiva Do Moderno ao Contemporâneo:

Coleção Gilberto Chateaubriand, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Em 1982, viajou

para Lisboa, onde a mesma exposição foi realizada na Fundação Calouste Gulbenkian. No

mesmo ano realizou um projeto especial: a “Escultura-caixa com poema” para a exposição A

Contemporaneidade - Homenagem a Mário Pedrosa, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

Colares, que teve como tema marcante em suas obras as laterais dos ônibus do Rio

de Janeiro, em 1985 foi atropelado por um deles no bairro de Botafogo. No ano seguinte,

internou-se em um hospital em Montes Claros. Lá veio a falecer em 1986. Raymundo Colares

não resistiu às queimaduras sofridas por um incêndio causado por conta de um cigarro aceso

que caiu em seu colchão no quarto do hospital.

hOMEnagEnS prESTaDaS apóS SUa MOrTE

No ano de sua morte, três importantes galerias do Rio de Janeiro prestaram

homenagem ao artista com exposições simultâneas: Galeria IBEU, Galeria do Centro

Empresarial Rio e Galeria de Arte BANERJ.

A RioArte, com o apoio da Prefeitura de Montes Claros e da Secretaria Estadual

de Cultura de Minas Gerais, produziu em 1987 um vídeo sobre a obra do artista. Intitulado

“Colares”, a direção esteve a cargo de Sergio Wladimir Bernardes.

O marchand e poeta Franco Terranova escreveu o livro Lúcida Lâmina, em 1991, em

homenagem a Raymundo Colares.

Em abril de 2016, a Galeria Ronie Mesquita presta também sua homenagem ao

artista com a exposição Raymundo Colares: Uma vida dividida, na SP Arte, por sua contribuição

inestimável para a arte brasileira.

Page 92: Exposição Raymundo Colares SP Arte

1967 - 1° Prêmio na V Mostra do Ciclo Retrospectivo da Arte Brasileira da Escola Nacional de

Belas Artes, Rio de Janeiro, RJ.

1969 - Seleção prévia da representação brasileira à Bienal de Paris, Museu de Arte Moderna,

Rio de Janeiro, RJ.

1° Prêmio de Pintura no Salão de Transporte, patrocinado pelo Ministério de Viação e Obras

Públicas, Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro, RJ.

Prêmio Aquisição no Salão da Prefeitura de Belo Horizonte, MG.

1977 - Prêmio Aquisição na Exposição Arte Agora 1, promovida pelo Jornal do Brasil e Museu

de Arte Moderna, Rio de Janeiro, RJ.

1980 - Prêmio Aquisição no Arte Boi - Salão de Artes Plásticas, Montes Claros, MG.

OUTrOS prêMiOS cOnqUiSTaDOS

Page 93: Exposição Raymundo Colares SP Arte

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

93

92

Em especial à família Colares:

Casimiro Colares Sobrinho

Fernando Antonio Colares

Geraldo Colares

Jorge Eustáquio Colares

Maria do Rosário Colares Pereira

Maria Aparecida Colares Borges

Thiago Colares

agraDEciMEnTOS

Adriano de Aquino

Alberto Vicente

Anderson Eleotério

Antonia Bergamin

Antonio Manuel

Aracy Amaral

Denise Mattar

Everaldo Molduras

Felicidade Patrocínio

Frederico Morais

Ingrid Beck

Jaime Acioli

Lais Zogbi e Telmo Porto

Ligia Canongia

Ludwig Danielian

Luiz Alphonsus

Luiz Camillo Osorio

Marcio Gobbi

Marcos Henrique Folgoet

Neide Masini e Liecil Oliveira

Patricia Vasconcellos e Waltercio Caldas

Paula e Jones Bergamin

Raquel Silva

Regina e Delcir Dacosta

Reynaldo Roels Jr. (in memoriam)

Romero Pimenta

Ronaldo Pereira Gomes

Sergio Wladimir Bernardes (in memoriam)

Vanda Mangia Klabin

Wadson Nunes

Walney de Almeida

Wanda Pimentel

Page 94: Exposição Raymundo Colares SP Arte

EXPOSIÇÃO

REALIZAÇÃORonie Mesquita Galeria

DIREÇÃO EXECUTIVARonie Mesquita

CURADORIAConrado Mesquita

GRUPO EXECUTIVODIREÇÃO E INSPIRAÇÃOCely MesquitaASSISTENTESCezar Maia Marcelo Faria

DESIGN DA EXPOSIÇÃOWalney de AlmeidaConrado Mesquita

COMUNICAÇÃO VISUAL Walney de Almeida

MOLDURASEveraldo Molduras, Rio de Janeiro, RJ

CATÁLOGO

DIREÇÃO EXECUTIVARonie MesquitaConrado Mesquita

PLANEJAMENTO EDITORIALConrado Mesquita Walney de Almeida

TEXTO DE APRESENTAÇÃODenise Mattar

PADRONIZAÇÃO E REVISÃO DE TEXTOSAna Letícia Canegal de AlmeidaDuda Costa

DESIGN E PLANEJAMENTO GRÁFICOWalney de Almeida

ASSISTENTE DE DESIGNVictor Teixeira

TRATAMENTO DE IMAGENS E FECHAMENTO DE ARQUIVOS PARA PRÉ-IMPRESSÃOVictor Teixeira

IMPRESSÃO, ACABAMENTO E PRÉ-IMPRESSÃOGráfica Santa Marta, João Pessoa, PB

FOTOGRAFIAS

DAS OBRAS:Jaime Acioli, Rio de Janeiro, RJ - páginas 47, 49, 51, 52, 53, 55, 57, 58, 59, 60, 61, 62, 63, 64, 65, 66, 67, 68, 69, 70, 71, 82, 85 e 87

DA CRONOLOGIA DO ARTISTA: Arquivo de Denise Mattar, São Paulo, SP - páginas 15, 26, 32, 38 e 39Jaime Acioli, Rio de Janeiro, RJ - páginas 16 (foto acima), 19 (foto acima) e 36Cesar Carneiro, Rio de Janeiro, RJ - página 6Ludwig Danielian, Rio de Janeiro, RJ - páginas 17, 28 e 37

DE MATÉRIAS DE JORNAIS: Ludwig Danielian, Rio de Janeiro, RJ - páginas 31, 35 e 36As matérias de jornais foram cedidas gentilmente pelo crítico de arte Frederico Morais

DOS "GIBIS" DO ARTISTA: Jaime Acioli, Rio de Janeiro, RJ - páginas 40, 41, 42, 43, 73, 74, 75, 76, 77 e 81Ludwig Danielian, Rio de Janeiro, RJ - páginas 38 e 39Isaac Boy, Belo Horizonte, MG - páginas 78 e 79

DA PÁGINA 1:Renato Rocha, Rio de Janeiro, RJ

CAPA:Detalhe da obra Arte nos muros, circa 1983

créDiTOS

DIREITOS RESERVADOSTodos os esforços foram feitos no sentido de contatar todos os representantes legais das imagens e textos aqui reproduzidos. Para informações adicionais, contate: [email protected] ouwww.roniemesquita.com

Este livro foi produzido em equipe por Ronie Mesquita Galeria no Rio de Janeiro, em setembro e outubro de 2015.Impresso na Gráfica Santa Marta, João Pessoa, PB. Sobre a impressão: miolo em papel couché fosco 170 gramas da Suzano, impresso em 4/4 cores. Capa modelo brochura com duas orelhas em papel da linha Markatto Stile 320 gramas da Arjo Wiggins, impresso em 4/0 cores.Sobre o acabamento: capa brochura com duas orelhas, laminação fosca total, aplicação de verniz "High Gloss" localizado e relevo seco. Miolo no formato fechado de 25 x 20,5 cm costurado com 92 páginas, lombada interna do miolo com aplique de papel couché fosco 170 gramas sem impressão. Posteriormente o miolo com corte trilateral, colado na terceira capa.

Page 95: Exposição Raymundo Colares SP Arte

RAYM

UN

DO C

OLA

RES

UM

A VI

DA D

IVID

IDA

95

94

Page 96: Exposição Raymundo Colares SP Arte

ExpOSiçãO aprESEnTaDa na Sp arTE, SãO paULO, abriL DE 2016

rUa TEixEira DE MELO 21 | SObrELOja

22410-010 | ipanEMa | riO DE janEirO | rj | braSiL

www.rOniEMESqUiTa.cOM

[email protected]

RONIE MESQUITA GALERIA