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Expressão poética de Valdelice Pinheiro

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Page 1: Expressão poética de Valdelice Pinheiro
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Este livro foi reimpresso em edição econômica, com oprincipal objetivo de se prestar homenagem póstuma àescritora Valdelice Pinheiro, durante o XII Seminário

Nacional e III Internacional da Mulher e da Literatura, eestender o alcance de sua distribuição a um público maior.

Page 3: Expressão poética de Valdelice Pinheiro

Maria de LourMaria de LourMaria de LourMaria de LourMaria de Lourdes Netto Simõesdes Netto Simõesdes Netto Simõesdes Netto Simõesdes Netto Simões

Estagiários de Iniciação Científica: Marley Conceição Santana,Marivalda Guimarães Sousa, Marcos Aurélio dos Santos Souza, Manoel

Barreto Júnior, Chirley Aragão Fonseca.

Ilhéus - BA2007

2ª edição

Page 4: Expressão poética de Valdelice Pinheiro

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

GOVERNO DO ESTADO DA BAHIAJAQUES WAGNER - GOVERNADOR

SECRETARIA DE EDUCAÇÃOADEUM HILÁRIO SAUER - SECRETÁRIO

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZANTONIO JOAQUIM BASTOS DA SILVA - REITOR

LOURICE HAGE SALUME LESSA - VICE-REITORA

DIRETORA DA EDITUS:MARIA LUIZA NORA

PROJETO GRÁFICO:GEORGE PELLEGRINI

CRISTIANO MAIA

CAPA:GEORGE PELLEGRINI

CRISTIANO MAIA

© 2007 by MARIA DE LOURDES NETTO SIMÕES

1ª edição 20022ª edição 2007

Direitos desta edição reservados àEDITUS - EDITORA DA UESC

Universidade Estadual de Santa CruzRodovia Ilhéus/Itabuna, km 16 - 45650-000 Ilhéus, Bahia, Brasil

Tel.: (073) 3680-5028 - Fax (073) 3689-1126http://www.uesc.br e-mail: [email protected]

CONSELHO EDITORIAL:

ACÁCIA GOMES PINHO

ALTENIDES CALDEIRA MOREAU

DORIVAL DE FREITAS

FRANCOLINO NETO

HENRIQUE CAMPOS SIMÕES

LURDES BERTOL ROCHA

MARIA DE LOURDES NETTO SIMÕES

MARIA LAURA OLIVEIRA GOMES

NORMA LÚCIA VÍDERO VIEIRA SANTOS

REINALDO DA SILVA GRAMACHO

PAULO DOS SANTOS TERRA

SAMUEL MACÊDO GUIMARÃES

SEBASTIÃO CARLOS FAJARDO

APOIO:

PIBIC

S593 Simões, Maria de Lourdes Netto.Expressão poética de Valdelice Pinheiro / Maria de

Lourdes Netto Simões. - 2. ed. - Ilhéus : Editus, 2007.150p. : il.

ISBN: 978-85-7455-127-2Bibliografia : p. 145-150.

1. Poesia brasileira - Coletânea. 2. Pinheiro,Valdelice Soares, 1929-1993 - Biografia. I.Título.

CDD - 869.9108

EQUIPE EDITUS

DIREÇÃO DE POLÍTICA EDITORAL: Jorge Moreno;REVISÃO: Maria Luiza Nora;

COORD. DE DIAGRAMAÇÃO: Adriano Lemos;DESIGNER GRÁFICO: Alencar Júnior.

Ficha catalográfica: Elisabete Passos dos Santos CRB5/533

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Eu queria ficar na tua memória/ __________ 5

VVVVVAL, UMA INSPIRAL, UMA INSPIRAL, UMA INSPIRAL, UMA INSPIRAL, UMA INSPIRAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃO ___________________________________________________________________________________________________________________11

PROCESSO DE UM RESGPROCESSO DE UM RESGPROCESSO DE UM RESGPROCESSO DE UM RESGPROCESSO DE UM RESGAAAAATETETETETE

Ninguém me mande deixar nada,/ ___________ 15

Introdução ________________________________ 17

O Projeto _________________________________ 17

Uma interpretação________________________ 30

MOSAICO - UMA AMOSAICO - UMA AMOSAICO - UMA AMOSAICO - UMA AMOSAICO - UMA AUTOBIOGRUTOBIOGRUTOBIOGRUTOBIOGRUTOBIOGRAFIAAFIAAFIAAFIAAFIA

A história é um contínuo/ ____________________ 41

Da família_________________________________ 43

Da visão de mundo ______________________ 45

Das vivências ____________________________ 47

Da vida profissional ______________________ 51

Itabuna ___________________________________ 53

POEMAS E RPOEMAS E RPOEMAS E RPOEMAS E RPOEMAS E RABISCOSABISCOSABISCOSABISCOSABISCOS

Quero apenas vagar em busca do homem/ ____ 55

Um borrão de cinza/ _____________________ 57

Minha canção de infância ________________ 58

Cyro-ciranda,/ ____________________________ 59

O olho mágico/ __________________________ 60

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Canção de Paz para ninar os homens_____ 61

Descansa, meu amor./ __________________ 62

Era uma lua/ _____________________________ 63

Essas mãos/ _____________________________ 64

Eu vim/___________________________________ 65

e o canto que ouvi cantar/ ______________ 66

Meu corpo/ _______________________________ 67

Férias _____________________________________ 68

Amanheço espelho/ _____________________ 69

E há de ficar em mim/ ___________________ 70

Como Alfonsina __________________________ 71

Poema da criação ________________________ 72

Íntima voz/ _______________________________ 73

Poema do adeus _________________________ 74

O sol,/ ____________________________________ 75

Angola ____________________________________ 76

Entre a inocência/ _______________________ 77

Modelo ___________________________________ 78

Eu invento/_______________________________ 79

Viagem ___________________________________ 80

Nessas lentas madrugadas/ _____________ 81

Eu queria que/ ___________________________ 82

Como se fosse Ho Chin Min _____________ 83

Reportagem ______________________________ 84

Manoel ____________________________________ 86

Page 9: Expressão poética de Valdelice Pinheiro

Carnaval __________________________________ 87

...buscar-me/ _____________________________ 88

Canção para o Camponês _______________ 89

Rememória _______________________________ 90

QUINTAL TROPICAL______________________ 91

Soltei meus pés/ _________________________ 93

Máxima I __________________________________ 94

Sentencio-me/ ___________________________ 95

Dão-me cicuta/___________________________ 96

meus fósforos perdidos,/ ________________ 97

Os vagalumes dessa noite/______________ 98

Poema de amor para um antigo amado __ 99

Um dia,/ _______________________________ 100

Suicídio ________________________________ 101

Ninho___________________________________ 103

Poema para quem será ou é nascido ___ 104

Dentro do ovo/ ________________________ 105

Chico Passarinho ______________________ 107

Vigília ___________________________________ 108

Eu esvaí,/ ______________________________ 109

Testemunho ___________________________ 110

Meu delírio/ ____________________________ 111

Ausência _______________________________ 112

A árvore e eu __________________________ 113

Na curva desse caminho,/____________ 114

Page 10: Expressão poética de Valdelice Pinheiro

A alma da cigarra/ ____________________ 115

Eu/ _____________________________________ 116

Para um menino suicida ______________ 117

Firmino _________________________________ 118

Lixo Reciclado _________________________ 119

Pitangas ________________________________ 120

Espantalho _____________________________ 121

Ser ______________________________________ 123

Poema 77 ______________________________ 124

Epitáfio _________________________________ 125

RETOMEMOSRETOMEMOSRETOMEMOSRETOMEMOSRETOMEMOS

Retomemos _____________________________127

Retomada _______________________________136

REFERÊNCIASREFERÊNCIASREFERÊNCIASREFERÊNCIASREFERÊNCIAS

Material produzido para divulgação do Projeto145

Resultados parciais publicados _________146

Referências bibliográficas _______________149

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Convivi com Valdelice Pinheiro desde ostempos da Faculdade de Filosofia de Itabuna.Lia os seus escritos nos mais diversosmomentos; com freqüência, nos corredores daantiga FESPI, entre uma aula e outra.Costumava escrever à mão e nos papéis, osmais diversos. Com o seu sorriso meigo, vez poroutra mostrava os novos poemas aos amigos.Depois, nem sempre os guardava. Os seustextos espalhavam-se entre nós como sementesde idéias, olhares especialmente sensíveis etransversais da vida. Quando ela morreu,Helena dos Anjos, sua amiga de tantos anos etambém professora de Filosofia da UESC, teveo cuidado de reunir a papelada desorganizadae levar para o Centro de Estudos Filosóficos-CEFI. Eram tantos poemas que sequersabíamos quantos. Além de textos poéticoshavia também escritos filosóficos, crônicas,texto para teatro, discursos, correspondências,comentários gerais. Com o conhecimento e aconcordância da família, o espólio ficou, assim,sob a guarda do CEF da Universidade Estadualde Santa Cruz, sob a tutela de Helena que,

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juntamente com o pessoal do seuDepartamento, particularmente NiltonLavigne, Consuelo Oliveira e Norma Vídero,desenvolveram o projeto A Obra de ValdelicePinheiro, ordenando o material localizado eorganizando-o em pastas com a ajuda dosestagiários Adailson Miranda e MárcioGledson Ramos.

Uns poucos anos passaram até que propus aoDepartamento de Letras e Artes o projeto queresgataria a parte poética dos escritos deValdelice. Precisava garantir que aquela VOZnão se calasse. Foi assim a idéia desta ediçãoque, desde o início, contou com o totalrespaldo de Helena; a autorização e oentusiasmo dos familiares de Valdelice(especialmente Heloísa, Davi, Gabi eNevolanda); e o apoio institucional, asseguradopela sensibilidade de Margarida Fahel (vice-reitora) e Renée Nogueira (reitora).

Com o apoio da UESC e do CNPq, iniciei oprojeto, em agosto de 1996, com trêsestagiários de Iniciação Científica do PIBIC(Marcos Aurélio dos Santos Souza, ManoelBarreto Júnior e Marley Conceição Santana),que trabalharam na fase de recolha e deidentificação dos materiais inéditos, e na dotrato e estabelecimento dos manuscritos(cerca de 1450). Manoel e Marcos Aurélioconcluíram o curso e se engajaram na pós-

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graduação. Sucederam-lhes Chirley AragãoFonseca (IC-UESC) e Marivalda GuimarãesSouza (PIBIC/CNPq). Seguiram-se as fasesdo estudo crítico e de seleção do corpus.Depois a da preparação da edição. A partir de1998 até a sua conclusão, em agosto de 2000,o Projeto apenas contou com Marley eMarivalda (Mari), incansáveis e entusiastascolaboradoras que, embora com atribuiçõesespecíficas, participaram de todos osmomentos e decisões, desde a definição docorpus, até a da estrutura desta edição.

A esses estagiários, o meu agradecimento peloempenho e pela crença no Projeto; sem vocês,certamente, o livro não seria este. À Helena,guardiã do tesouro, o muito obrigada pelodesprendimento e confiança. E a todosaqueles que, de uma ou outra forma,contribuíram. Mas é para Val, este trabalho,realizado com muito carinho, na esperança dasua aprovação. A força da sua poesiajustificou o Projeto. O compromisso daUniversidade Estadual de Santa Cruz com apesquisa e com a memória da cultura regionalgarantiu esta publicação.

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INTRODUÇÃOINTRODUÇÃOINTRODUÇÃOINTRODUÇÃOINTRODUÇÃO

Poetisa e filósofa, itabunense, Valdelice SoaresPinheiro, falecida em 1993, foi uma das fundadorasda Universidade Estadual de Santa Cruz, instituiçãocuja editora publica este livro.

fora textos esparsos em jornais e revistas, elapublicou em vida dois pequenos livros de poesias:

De Dentro de Mim (1961) e Pacto (1977); e doisensaios: Ser e Evolução (1973) e Retomada (in:Revista FESPI: 1984), atualmente esgotados. Noentanto, o material que deixou inédito (a maior partedo que escreveu) exigia tratamento e publicação.Antes de dar início ao Projeto, obtive da família,através do Sr. Gabriel Soares Pinheiro, irmão einventariante da poetisa, a autorização formal para oacesso ao espólio e o trabalho com o acervo.

O PROJETOO PROJETOO PROJETOO PROJETOO PROJETO

Desenvolvido no Departamento de Letras e Artes daUESC (1996 – 2000), o Projeto do qual resulta estaedição objetivou resgatar os inéditos poéticos deValdelice Pinheiro, visando a contribuir para amemória cultural da Região Sul da Bahia. A propostaintersubjetiva foi orientada no entendimento daliteratura como expressão artística e comunicadora,espaço de inter-relações de saberes, por isso mesmoinfluenciada e influenciadora da História (Simões:1999).

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A profusão e a riqueza dos materiais encontradosexigiram, não somente no processo da pesquisa,

mas para a definição e apresentação do corpus destaedição, a reflexão sobre as relações da literatura esobre as suas funções contemporaneamente. Noprimeiro caso, foi considerada sua tendênciadialética e a interrelação de linguagens, nacompreensão de que “a criatividade repousa naresposta mais do que nas premissas iniciais e nosmateriais brutos” (Jameson: 1994, p. 9-15). Nosegundo, tivemos em conta as funções da literaturano que concerne à possibilidade de seu deslocamentopara novos eixos de associação e funcionalização(Gumbrecht: 1998, p. 317-319) e no que se refere aoseu processo comunicacional (Calvino: 1988).

Tendo em conta essas orientações, a proposta doresgate poético compreendeu, além das questõesliterárias, a observação de comportamentos éticos,filosóficos e políticos, traduzidos em estratégiasdiscursivas reveladoras do imaginário da poetisaitabunense. Foi tomada a seqüência: vivência/experiência/ação (Gumbretch: 1977) para o escopodo processo metodológico devido à mesma seqüênciafuncionar como suporte para o que o teórico alemãoconsidera as funções intencionadas pelo autor(vivência), que são desencadeadoras dosprocedimentos de produção textual (experiência),por sua vez provocadoras de procedimentos decompreensão textual (ação) (1977, 196). Assim, osprocedimentos da produção autoral dos quaisresultaram os esquemas de ação (estratégias

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discursivas do texto) foram reconhecidos comosinalizadores para o estabelecimento dosmanuscritos e, depois, para a seleção do corpus destaedição.

A metodologia do trabalho foi concebida emapropriação desses princípios pelo seu carátercomunicacional e em atenção ao que o materialinédito suscitava. Ao utilizar a referida seqüência noprocesso metodológico, consideramos que asvivências e as experiências ocorreram no caminharda vida produtiva da poetisa (relacionando-se aomaterial poético que produziu). Quanto à ação,tivemos em conta não somente o interesse suscitadopela obra (a sua recepção crítica) mas, inclusive, aauto-reflexão autoral. Os procedimentos decompreensão textual, ao procurarem identificar, nosinéditos, os esquemas de ação (estratégias textuais),buscaram evidenciar a sua capacidade comunicativa.Nesse mister, portanto, os referidos esquemasfuncionaram como orientadores da interpretação,sinalizando o texto e sugerindo pontes para asconstituições de sentido possíveis, inclusivenorteadores para o tratamento dos textos inéditosmanuscritos ou datiloscritos .

ara a execução do Projeto, de forma sucessiva,contei com a colaboração de cinco estagiários de

Iniciação Científica. Três do PIBIC/CNPq, nas duasprimeiras fases. Três na terceira fase, sendo dois doPIBIC e um da UESC. Duas na última fase: uma doPIBIC e, outra, voluntária.

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PPPPPrimeira fase do prrimeira fase do prrimeira fase do prrimeira fase do prrimeira fase do projeto: rojeto: rojeto: rojeto: rojeto: recolha do materialecolha do materialecolha do materialecolha do materialecolha do material

a primeira fase, a pesquisa foi definida em duasdireções: recolha e identificação dos textos

publicados e dos textos inéditos. Simultaneamente ecom o propósito de complementaridade,levantamento dos dados bio-bibliográficos da poetisa.

A busca dos textos éditos deveu-se à necessidade deconhecimento de toda a produção publicada a fim deque pudéssemos identificar os inéditos e delimitar oacervo a ser pesquisado, pois o espólio (onde haviaoriginais manuscritos e datiloscritos) não referia taldistinção.

A fim de identificar os textos publicados, foramrealizadas pesquisas em bibliotecas, particulares epúblicas, de Itabuna, Ilhéus e cidades circunvizinhas,espaços da vivência da poetisa. Simultaneamente aisso, realizávamos entrevistas, levantando dadossobre a biografia de V.P. e recolhendo junto aparentes e amigos alguns preciosos inéditos, originaisdedicados ou especialmente escritos. O fato de setratar de uma escritora contemporânea,recentemente falecida, facilitou o conhecimento dosdados biográficos e oportunizou entrevistas compessoas da convivência da poetisa. Afora os járeferidos livros, foram identificados oitenta e oitopoemas publicados em antologias, jornais e revistas.Visando à sensibilização da comunidade, durante arecolha dos inéditos, concedemos entrevistas atravésda mídia (rádio, TV e jornais locais); produzimos

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material de divulgação do Projeto (folders ecartazes), que disponibilizamos na homepage daUniversidade, distribuímos por escolas, centros decultura e outros pontos estratégicos da cidade comobancos e correios. Através da campanha “Faça ahistória acontecer”, recebemos algum material(poemas, crônicas, fotografias, desenhos). Mas osubstancial mesmo estava sob a guarda do Centro deEstudos Filosóficos da UESC e responsabilidade daProfa. Helena dos Anjos Souza.

s materiais recolhidos estavam cuidadosamentereunidos em pastas numeradas, devidamente

inventariados, mas aguardavam um tratamentoespecializado.

O levantamento desse acervo principal (do CEFI) foirealizado, selecionando-se os inéditos consideradospoéticos (sentido largo) ou a eles relacionados, dentreos manuscritos e os datiloscritos. Havia poemas,crônicas, entrevistas, desenhos e reflexões sobre aescrita. Feito isso, concentramo-nos nos textospoéticos (poemas, prosa poética, meta-poética).Simultânea e gradativamente, recebíamos peçasprovenientes de outras fontes, que tambémcuidadosamente catalogávamos e arquivávamos,inclusive indicando a sua procedência.Todo esse material foi codificado quanto à suaprocedência e especificidade. Feito isso, delimitamoso nosso corpus primário em cerca de 1450 peças(escritos, desenhos e fotos); desses, 1196 textos,dentre datiloscritos e manuscritos (esses últimos, a

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maior parte). Para garantir a preservação dosoriginais (que devolvemos à guarda do CEF),fotocopiamos o material a fim de procedermos aotrabalho de estabelecimento do texto.

diversidade do material recolhido já sinalizavaque o nosso olhar teria que se estender para além

dos poemas. A expressão poética de Valdelice se faz,também, através de desenhos e fotos. Devido a essasua diversidade de linguagens, a pesquisa foiorientada para se ocupar da expressão poética deV.P. , sua interação e comunicabilidade.

Segunda fase do projeto: estabelecimento do textoSegunda fase do projeto: estabelecimento do textoSegunda fase do projeto: estabelecimento do textoSegunda fase do projeto: estabelecimento do textoSegunda fase do projeto: estabelecimento do textoinédito manuscritoinédito manuscritoinédito manuscritoinédito manuscritoinédito manuscrito

Procedemos ao estudo e estabelecimento dosmanuscritos, considerando, na sua gênese, asvivências da autora e o momento da escritura dotexto, portanto, o seu processo de enunciação. Nestafase do trato dos manuscritos, entendemos cadavariante como um momento único (Duarte: 1995).Catalogamos os manuscritos em ordem alfabética, eos poemas de acordo com o primeiro verso, emvirtude de a maior parte não ser titulada.Os cuidados no trato dos manuscritos foram desde areferida catalogação do material ao estabelecimentode cada texto, tendo em conta questões de caligrafia,ortografia; atentando, ainda, para marginálias,desenhos, notas, esboços e rasuras ou qualquer outrotraço que indicasse uma intenção autoral. Alémdessas, as sinalizações de estilo (associações,

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figurações, temáticas) e características poemáticas(títulos, versos, ritmos, rimas, aspectos semânticos emorfossintáticos), que contribuíssem para dirimirdúvidas sobre o estabelecimento do texto.

suporte (papel) utilizado por V.P. é de todaordem, na sua maioria folhas de caderno (uns

pautados, outros, não). O estado de conservação érazoável. Valdelice escrevia principalmente comcaneta. A sua letra, embora miúda, é razoavelmentelegível. No entanto, o hábito de escrever tanto nosentido horizontal como em marginálias, às vezesriscando e reescrevendo sobre o rasurado, oferecedificuldades ao seu leitor. São poucos os datiloscritosassinados. Há desenhos em quase todos os inéditos,seja como moldura, seja indicando fluxo deraciocínio, seja em relação temática com poemas.Relacionado ao processo criador, há um significativomaterial sobre reflexão crítica (do qual constatamosuma parte publicada).A configuração física dos poemas em poucas estrofesde versos curtos, logo se revelou prevalecente.Muitos deles (poemas) estão relacionados aosdesenhos (Valdelice prefere chamar de rabiscos),indicando uma intenção temática; outros aparentamum mero fluxo do pensamento (como aliás a própriapoetisa afirma nos textos de reflexão sobre o seuprocesso criador). A quase totalidade dos materiaisnão está datada.Estabelecidos os poemas e os textos de auto-reflexãopoética, procedemos à recatalogação dos mesmos erevimos a catalogação dos desenhos e das fotos,incluindo os materiais recebidos de outras fontes.

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TTTTTerererererceira fase do prceira fase do prceira fase do prceira fase do prceira fase do projeto: estudo crítico dos textosojeto: estudo crítico dos textosojeto: estudo crítico dos textosojeto: estudo crítico dos textosojeto: estudo crítico dos textosinéditos (manuscritos e datiloscritos)inéditos (manuscritos e datiloscritos)inéditos (manuscritos e datiloscritos)inéditos (manuscritos e datiloscritos)inéditos (manuscritos e datiloscritos)

s modificações que um segundo texto coloca sobreum primeiro são indicativas de um processo

criador dialético. O estudo das várias versões queum mesmo texto apresenta considerou ascircunstâncias de escritura, possíveis intenções, vozesde V.P. O fato de, na sua maioria, os textos nãoserem datados, dificultou-nos identificar a últimaintenção autoral. Assim, para o estudo textual,tomamos como base as matrizes de um poema emsuas versões (manuscritas ou datiloscritas),sinalizadas por rasuras, marginálias, traços que, àsvezes, expressavam uma preferência.

Nesse entendimento, conferimos autonomia a cadaesboço de um manuscrito, na compreensão de quecada versão de um mesmo texto é um momentoúnico, é uma vontade expressa. Realizamos ainterpretação crítica, reconhecendo etapas deelaboração que compuseram o texto final, o percursoda reescrita e o entendimento do porquê dasalterações e re-elaborações. Isto é, a interpretaçãodas várias versões que compõem a geração do textodefinitivo.

Para tal, sempre que o texto sinalizava, tal comofizemos no estabelecimento do manuscrito, foirespeitada a vontade última da autora, dentre asvontades por ela expressadas nas várias versões deum mesmo poema (Duarte: 1995). Nos casos (poucos)

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de não identificação por falta de indicativos desinalização direta (datações, rasuras, marginálias),fizemos valer a compreensão leitora (Gumbrecht:1977), considerando o traço estilístico da poetisa.

a exaustiva leitura e releitura dos inéditos(manuscritos e datiloscritos), foram identificados

641 poemas e 555 textos poéticos (prosa poética,meta-textos, textos de auto-reflexão). Dos poemas(uns titulados, outros não), alguns deles (121)apresentaram de duas a, até, onze versões (351versões no total). Outros 290 não apresentaramversões. Identificamos sete poemas escritos emespanhol e outros nove de autoria duvidosa, queforam excluídos do nosso corpus. Embora a pesquisanão tivesse caráter quantitativo, essas referências sãonecessárias para evidenciar o montante do materialinédito.

ara o processo de estabelecimento da versãodefinitiva e suas variantes, convencionamos

menções (3,2,1), que conferimos a cada poemaestudado. O procedimento referido foi realizado emobservação dos aspectos fônicos, semânticos,morfossintáticos, pragmáticos e temáticos (Todorov:1980). Para efeito da seleção desse corpus primárioda pesquisa, nos textos com várias versões, onde nãofoi possível a identificação da vontade expressa doautor por uma delas (seja por datas, marginálias, ououtras marcas significativas), foi assumido o mesmoprocedimento do estudo das várias versões, isto é, de

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considerar a função intencionada do leitor(Gumbrecht: 1977); além disso, foi dado privilégio àcomunicabilidade da linguagem, seja através dapalavra, seja através do desenho (Calvino: 1988).

Imprescindível à pré-seleção do corpus desta edição deinéditos, esta etapa de crítica textual cumpriu umobjetivo próprio. Cabe aqui esclarecer que os estudosdesenvolvidos até esta fase (que inclui textosdefinitivos e suas versões) integrarão uma posterioredição crítica. Desta edição que aqui apresentamos,somente constam os textos considerados definitivos.

Quarta faseQuarta faseQuarta faseQuarta faseQuarta fase do projeto do projeto do projeto do projeto do projeto: : : : : aaaaa edição, sua estrutura. edição, sua estrutura. edição, sua estrutura. edição, sua estrutura. edição, sua estrutura.Seleção final do Seleção final do Seleção final do Seleção final do Seleção final do corpuscorpuscorpuscorpuscorpus

Se os novos tempos exigem um olhar alargado quecontemple a perspectiva da interdisciplinaridade, omesmo se pode dizer em relação às expectativas doleitor desses tempos de comunicação midiática(Sarlo: 1997).Atentos a isso, relemos os mais de trezentos poemaspré-selecionados, procurando identificar aqueles que,no conjunto (inclusive, agora, considerando osrabiscos), atendessem, por suas especificidades, aoscritérios de comunicabilidade. Paralelo a esteprocedimento foram lidos, também, os textos auto-referenciais e auto-biográficos. O propósito era terum material que correspondesse à exigência de umaedição que tivesse como fundamento as propostas davisibilidade, leveza, exatidão, rapidez (Calvino:1988) e consistência (Simões: 1999). Uma edição que

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primasse pelo aspecto comunicativo e contemplasseas várias linguagens de V.P.

A estrutura foi definida em três partes, quecompreenderiam a seqüência teórica inicialmenteproposta: vivência - dados biográficos; experiência -corpus poético; ação: recepção crítica. Apesar dosmateriais que possuíamos (depoimentos, entrevistas,textos críticos), a riqueza da VOZ de Valdelice fez-nosentender ser mais pertinente deixá-la falar sozinha.

uscando captar a mais próxima interação entrepoemas e rabiscos, fotos e textos, enquanto

linguagens que confluem para significação ecomunicabilidade, procedemos a uma cuidadosaanálise, em observação da temática e de traços, tendoem conta as suas referidas especificidades. Aslinguagens expressariam a VOZ. No que toca àrelação entre poemas e rabiscos, tal procedimento,em alguns casos, já havia sido identificado comointenção autoral. Outros foram relacionados pornós, depois de cuidadoso estudo temático inter-linguagens (textos e desenhos; ou textos e fotos),então tomando a função leitora como decisória. Aintenção da pesquisa é evidenciar a expressãopoética que se realiza pelo diálogo dessas linguagens.

efinida a estrutura e vencida a idéia de que, naedição, somente figuraria a Voz de Valdelice

Pinheiro, o corpus ampliou-se, constituindo-se nãosomente dos poemas e dos rabiscos (corpusprincipal), mas também dos textos auto-biográficos,

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dos textos auto-referenciais, das epígrafes, dosdesenhos que compõem as folhas de guarda (corpuscomplementar). Atendíamos, dessa forma, àseqüência teórica proposta com a Voz que falava davivência (em textos e fotos); a Voz que produziu aexperiência, através de estratégias discursivassingulares (poemas e rabiscos); a Voz que, fazendo-seleitora de si mesma, deixou a ação do texto agir emdiscurso auto-interpretativo. O caráter decomunicabilidade do texto ficava assegurado, assim,através das várias linguagens. Redimensionamos,dessa forma, a estrutura da edição em: Mosaicoautobiográfico, Poemas e rabiscos, Retomemos (textoauto-reflexivo) e, ainda, com as folhas-de-guardatemáticas de aves e peixes.Como ficou dito, esta edição é composta commateriais inéditos. Os poemas e textos digitalizadosforam cuidadosamente revistos à luz dos originais.Optamos por apresentar alguns materiais na suaforma manuscrita: uns, por ser impossível separar aslinguagens, tão imbricadas são; outros, porressaltarem o processo da gestação autoral (videdobradura). Os rabiscos e manuscritos foramdigitalizados rigorosamente atentando aos formatos,mas limpos dos traços estranhos à peça em foco.Excepcionalmente, integra a parte final deste livro otexto “Retomada”, publicado na Revista FESPI(1984). Complementar de Retomemos, a suareedição se justifica, num trabalho que se afirma deinéditos, devido à Revista onde foi publicado estaresgotada, extinta e ter sido de pequena circulação.Além do mais, tal inclusão fica coerente com a última

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proposição da seqüência teórica: ação, já que setrata de uma auto-reflexão sobre a obra (por serrealizada pela própria autora, ao nosso ver, maisvaliosa).

ntegra esta edição, ainda, a relação dosmateriais de divulgação produzidos e resultados

parciais publicados e apresentados em congressos aolongo da execução do projeto.

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UMA INTERPRETUMA INTERPRETUMA INTERPRETUMA INTERPRETUMA INTERPRETAÇÃO: A UNIVERSAÇÃO: A UNIVERSAÇÃO: A UNIVERSAÇÃO: A UNIVERSAÇÃO: A UNIVERSALIDALIDALIDALIDALIDADE DADE DADE DADE DADE DAAAAAEXPRESEXPRESEXPRESEXPRESEXPRESSÃO POÉTICA DE VSÃO POÉTICA DE VSÃO POÉTICA DE VSÃO POÉTICA DE VSÃO POÉTICA DE VALDELICE PINHEIROALDELICE PINHEIROALDELICE PINHEIROALDELICE PINHEIROALDELICE PINHEIRO

Não há tempo parao poema e o poeta dura

e um dia morre no corpo de sua carne, para ser apenas o instante, maior que o tempo, no corpo de seu verso.

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rofessora e filósofa, Valdelice Pinheiro posiciona-se no mundo, antes de tudo, como poeta e como

artista. Em texto ainda inédito, considera artista“este ser que não precisa se comprometer com nadaporque ele próprio, por si, já é o olho mágico,descobre o presente, que recria o objeto e o fato parao ângulo maior da história.” Afirma, ainda, nãoquerer simplesmente fazer poesia, mas ser poeta nogesto diário de viver. Inadaptada com a vida, chega amencionar estar cansada de quase tudo,principalmente da sua própria incapacidade deadaptação.

A presença de Deus na sua obra não se faz por crençareligiosa, mas por postura filosófica e de fé. Dialogacom filósofos de todas as épocas, preferindo osantigos, particularmente Platão e Sócrates, por suaintuição psicológica e poética, lendo-os com um olharcontemporâneo. Segundo Helena dos Anjos, amiga deValdelice (também filósofa), ela não se identificavacom os filósofos racionalistas, embora se apropriassede algumas das suas idéias. Nesse sentido, porexemplo, toma de Descartes o conceito racionalistadas idéias inatas para, espiritualizando-o, afirmar a

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sua certeza do Absoluto. Sua visão de Deus éfilosoficamente trabalhada.

s vivências de Valdelice substanciam a suaexperiência poética. Tendo vivido muito ligada ao

campo e às roças de cacau, a sua poesia é perpassadapor essas vivências. O repertório, que utiliza, denunciaa sua objeção ao mando, às desigualdades sociaispróprias do contexto grapiúna, da conquista dasterras do cacau, do desbravar das matas, do mandodos coronéis, do poder do mais forte. Tais focos,filtrados pela palavra poética, são universalizadosatravés de uma temática reflexiva, recorrente àsquestões relacionadas à valorização da natureza, àdesigualdade social, à liberdade, à simplicidade doexistir, ao amor universal, à necessidade de igualdadeentre os homens. A sua concepção filosófica de Deusestá na base da sua postura poética.

A angústia que, muitas vezes, a sufoca é a forma deestar e sentir o mundo. Lida com a realidade por umfoco de sensibilidade e olhar crítico, próprios dequem vivenciou e, agora, redimensiona o vividoatravés da experiência poética. Sua formaçãofilosófica (professora de Estética e Ontologia)alicerça, portanto, a obra poética de posturareflexiva sobre o mundo, sobre a vida. A sua visão demundo, a sua relação artística com o mundo não selimita a um olhar do imediato e objetivo, “mas o aíem relação ao aqui, ao cá dentro, sujeito modificadordo mundo”.

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sua poesia é também expressão de suaesquizofrenia assumida. Admite isso,

entendendo-a como uma viagem. Nos processos deelaboração mental, considera, ainda, as respostas docorpo aos reclamos da mente como somatização:“Tomar no corpo as porradas da mente...[...] Ohomem é um animal que se inventa e, inventando, sedesconhece”. O aspecto comunicacional, dentreoutros aspectos, reside na simplicidade de suaexpressão. A própria poetisa diz sobre sua poesia: “ésimples, toda nascida de uma linguagem cotidiana,sem rebuscos. Por isso o povo gosta dela, embora àsvezes o sentido de alguns poemas seja até metafísico.Acho que se se entende a palavra, sente-se o conteúdodo poema”. Para ela, artistas são aqueles que vêem “aexplosão de uma semente e ouvem uma flor se abrir”;“o poeta, como o filósofo, é esse micróbio que conheceas entranhas”. “Só pode haver criação sobre umaexistência anterior”, diz Valdelice.

Auto-reflexões sobre o processo criador denunciam afilósofa que existe em Valdelice Pinheiro. Emverdade, ela ocupa-se desses textossimultaneamente ao seu fazer poético, em retro-reflexão, parece. Esses escritos de auto-interpretação são explicativos do seu processopoético e podem ser tomados como uma proposta deteoria da poesia. Para V.P., escrever é libertar-se. Otexto nasce do silêncio, diz a poetisa, de uma vozinterior impulsionadora. Essa Voz (com maiúscula),diz ela, não “a simples voz, um som emitido pelacompetência do aparelho fonador, mas a Voz, a VOZ,

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aquilo que sem dúvida não me antecipa mas écertamente o que me diz. A Voz... Esse silêncio quechega aflito, precisando do grito, tem que inventar osom...” (in: Retomada). O processo de surgimento dopoema passa pela fase do que chama de “mundo dasidéias”, fase essa expressada através de desenhos.São retas, curvas, espirais que dão surgimento ainesperadas formas e em seguida ao poema. Nesseinstante, “a voz tira a lógica, o juízo, desregula ocomportamento do vocabulário” (id). Assim nasce opoema: Se a carambola/ tivesse dedos/ tocariaMozart,/ certamente (id.). O processo criador(termo que prefere a produtor) muito tem dearrebatador e inexplicável. É fruto da VOZ que “nopoema ou no gesto, cria o ‘milagre’ humano... Apalavra é apenas via, instrumento, acidente...” (id) ,quando o deslizar do lápis sobre o papel faz odesenho ser poema concreto.

ssim, poesias e desenhos (rabiscos) expressam asua forma de comunicar. Compondo um processo

artístico que ultrapassa a palavra para umacomunicabilidade visual, a sua poesia brota dosrabiscos. É a própria Valdelice quem o afirma. Àsvezes, são associados aos poemas; outras, são fases degestação da palavra escrita. Processo de elaboraçãoda idéia, os rabiscos apresentam-se com traçosgeométricos ou com figuras, no mais das vezes rostosmeigos e límpidos, de traços leves e finos. Assim, artepictórica e arte poética somam-se numa expressãoque fala por várias linguagens. Poesia de versoscurtos, tituladas ou não; rabiscos tracejados ou

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definidos, sempre em grafite, fazem o texto leve,visual, rápido, múltiplo.

processo criador de V. P. passa pelo exercício dareescrita. Nesse mister, há poemas que

apresentam até onze versões. Esse processo dareescrita, que apresenta questões sintáticas, rítmicas,morfológicas e de estruturação do poema, é indicativoda busca da melhor palavra, do melhor som, do melhorsentido. Evidencia a procura do poema limpo e perfeitoe sinaliza o exercício de produção da poetisa, emboraValdelice, por vezes, afirme ter “preguiça de limpar opoema, tirar-lhe as placas de sangue, perfumá-los comsantos óleos”.

Em relação aos textos manuscritos, em alguns casos,marginálias acompanham o poema, constituindo-separatextos integradores. Em outros, tais anotaçõesmarginais são indicadoras do processo de enunciação,inclusive sinalizadoras da condição contextual (espaciale histórica) da poetisa.

A questão do ser e da existência é temática da suaobra de base filosófica. Embora os seus escritos sejam,todos eles, perpassados por esse olhar voltado para oexistencial, esse foco é nuanceado em blocostemáticos. A idéia de liberdade, presente nos poemaspublicados, constitui-se bloco temático nos textosinéditos. Dos inéditos, poemas filosóficos tratam deamor, desigualdade social, inadaptação à vida, suarelação com a natureza e sua existência metafísica;poemas auto-referenciais abordam o fazer poético,

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revelando o seu entendimento sobre a poesia .

Os campos semânticos são povoados por um repertóriodenunciador de uma vivência ligada ao simples, aocampo, a uma época: candeeiro/ luz, pão/ alimento,ninho/ passarinho, útero/ mãe... Esses termos têmuma carga semântica que ultrapassa o seu sentidoprimeiro para alcançar outras dimensões significativase, também por isso, ultrapassam de uma perspectivaregional, para uma proposição universal.

ermos fortes e duros não fazem parte do seurepertório pois “é preciso vencer o pudor da

palavra, o pudor da verdade como poesia exata”(universal). Aliás, neste sentido, Valdelice diz ter olirismo covarde dos burgueses: “revolucionária sentada,fumando tranquilamente [...] cigarro multinacional,comendo um frango defumado também multinacional[...] quer a linguagem desejando a Paz, a Justiça, aigualdade dos homens, mas [...] tremendo de medodaquele que virá com fuzil na mão, buscar [...] aprestação de contas, marginal ou patriota!”

Eminentemente filosófica desde o seu processo deenunciação até a concretude da sua formulação,muitas vezes antecede o processo de produção umareflexão filosófica. Nesse sentido, textos filosóficos sãoverdadeiras matrizes de poemas ou de prosas poéticas,como é fácil de ser observado no exemplo a seguir.

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exto filosófico:

No começo não era o caos, o nada, mas aUnidade, a Perfeição, a ordem absoluta noTodo, no Em si (primordial), eterno.A Perfeição absoluta explode. E a explosão édo espírito, da consciência, para criar-se asi mesma.Deus, portanto, essa Existência Anterior,não criou do nada, mas CRIA de si mesmo,explodido. Criar é explodir-se no Ser.

Texto poético:

Poema da Criação

Nada existia.Uno e só,o Em Sipulsa, pulsa...Como um infinitoÓvulo maduro.O Em Sinão se basta.E no milagrede seu próprioencontroalgo estremece e abalaa Eternidade:o Em Si fecunda-se.E por se fecundar,

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explode-se.E cria.Nasce a Existência,o átomo que se anima.E na Existênciao tempo.E no tempoo homem.O Em Sise expressa.E a Existênciao cria.

u prosa poética:

História da Criação

O Em-Si era um solitário dorminhoco,prisioneiro do infinito, da Eternidade.Chamava-se Ser. “ Um dia”, em-si-triste,em-si-zangado, em-si-prenhe eamadurecido em seu próprio ovo e em seupróprio ventre, explode-se, rompe-se, pare.E cria! E em criando-se, cria-se! Revela-seentão amor e liberdade. Liberta-se.Liberta-se nas asas do finito, na animaçãovital do tempo-espaço. E só então chama-seDeus.

s vivências do dia a dia do mundo circundante,presentes na sua obra, traduzidas pelo olhar

crítico e sensível, são motivadoras de reflexões ou

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depoimentos, matrizes também de poesia. O poemaComo se fosse Ho Chin Min, publicado nesta edição(vide), parece ser fruto de vivência:Um dia eu estava vendo pela televisão um noticiáriosobre o Vietnã, com filme de uma batalha em umcampo de arroz. Eram milhares de tiros ao mesmotempo, bombas explodindo e homens e mulheres quecorriam e se escondiam como podiam. Jamais pudeentender uma guerra em um campo de arroz, e essedocumentário em particular me emperrou mais oentendimento. Porque enquanto filmava, não sei secom a avidez de testemunhar a história ou vender umfilme sensacional, toda aquela extrema agonia demedo e morte, passou pela frente da câmara umaborboleta. De repente toda a cena, embora tenha sidorápida a borboleta, tomou outra dimensão: em umcampo de arroz, enquanto se filmava uma guerra,pousou uma borboleta. Fiquei tão fascinada que mesurpreendi orando, rezando de dentro, por todos oscampos de arroz do mundo, por todas as borboletasde arroz, de trigo, de mandioca ou de feijão,mensageiras de uma paz invencível.

Pode-se ver, assim, como o fazer filosófico caminhapari passu com o fazer poético, numa interaçãotextual completiva e, por esse aspecto (sinalizadortambém do sentido), traduz o seu processoenunciativo.

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P or tudo quanto foi observado, podemos concluirque se, por um lado, a leveza e a visibilidade da

poesia de Valdelice Soares Pinheiro fazem-nacomunicativa e bela, por outro, a sua consistência,plurissignificação e revisitação filosófica sobre temasque transcendem fronteiras, fazem-na profunda,crítica e questionadora. Universal.

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No cemitério,no chão puro,no ar,no tempo que passou,em tudo,aqui,vive tudo de mim;meu pai e minha mãesob uma legenda e flores,os meus primeiros sons,a primeira imagemde meus pés andando por si sóse todos os meus olhosse estirandopelo verde dos cacaus abertos na matacomo um mar que desse frutos de ouroe frutos de fome.Aqui cresceram as minhas mãoscom ânsias de infinito e cheias de agonia.Aqui nasceram e morreramas minhas dores mais reaise mais as ilusões de minhas alegrias.Aqui eu aprendi o sentido da Paz,a extensão do amor,o quanto vale o homeme de que tipode suor,de força,de coragem,de doces e tristes coisasé feita a vida.Eu sou plantada neste chão.Eu sou raiz deste chão.Este chão sou eu.

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Um borrão de cinzasobre a folha em brancodesenhou-se garçalevantando vôo.De repente, então,a estática liberdade da cinzacriou vidano movimento da ave.E logo fez-me em mimo tempo e a Eternidade.

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Minha canção de infânciaMinha canção de infânciaMinha canção de infânciaMinha canção de infânciaMinha canção de infância

Cantoo canto dos meninosda roda do pirulito,nas procissões do palhaçoque bate-batenesse tambor mambembesem limite,na rua da Bananeira.

Cantoa voz coloridadas lavadeirasde meu rio,nas procissões de São José-Ave, ave, ave, Maria...

Cantoessas estradas de fériasque me levavam pra casa,encantadas estradascujo barro tinha luz,onde as árvores sorriame as pedras não doíam.

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Cyro-ciranda,canto-menino,semente e corpodeste chãode sol e sal eonde nossas infânciassorriram e choraramencantos e desencantos......o sapo que era príncipea caipora engraçadaque enganavanossos passos...Cyro-ciranda,roda de sonhoe verdade revelada,o grito dessa Vozque não se cala.

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O olho mágicoda porta da frente,entre meu medoe o sol,me deu a luzde teu rosto.E esta salasem fé,abandonada em mimcomo um falso trastesem proveito,ficou de novoviva,felize verdadeira.

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Haverá peixe e melnesse jantar dos homens,nesse abraço dos homens,nessa Paz dos homens.

Naus e navesse encontrarão nas estrelase aportarão nas mãos dos homens,floridas e desarmadas,cheias de luz.E na hora de dormirsoará o canto Umda vida,doce e sem mistério,limpo como o Mundo,para ninaro coração dos homens.

Canção de PCanção de PCanção de PCanção de PCanção de Paz para ninar os homensaz para ninar os homensaz para ninar os homensaz para ninar os homensaz para ninar os homens

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Descansa, meu amor.Que seja meuo gesto de teu braçoe deixa a força de teus péssob o meu rastro.Vem,descansa aqui em mim,sobre o meu corpo.Eu te levo.O meu amorte faz imponderável,não há degrause eu tenho asas.

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Era uma luade leitenesse céu faminto.

Era um solcomo um ovo fritonesse chão faminto.

Era um louro cabelocomo o trigonesse corpo faminto.

Era um esperdíciode leite,ovoe trigonessa palavraimpotentedo poeta faminto.

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Eu vimde noites úmidas,quando as sementesfecundavamo corpo virgemda mata.Eu vimda branca paisagemde pequenas floresgerminando ourono ventredos cacauais.E acordei na manhãdos deuses,no mundodo chocolate.

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e o canto que ouvi cantarna passagem da esperançadoía, doía tanto,que eu me esqueci de esperar.

e rodei rodas no mundosem destino, sem querersó pensando, certo, que o ponto,era, está claro, morrer.

e morri mortes tão grandese sofri dores tão fortesque meus pés, meus olhos, meus sonhos,se quebraram por aí.

e morri mortes tão grandes,e sofri dores tão fortesque meus pés, meus olhos, meus sonhos,se quebraram por aí,na dobrada do caminho.

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Meu corposomado ao somcompôs a dança.Meu corpolevado à mãocompôs a letra.Meu corpomarcado em corcompôs a tela.Meu corpoformado em pedracompôs a estátua.Mas que corpocompôseste poderde compor,em meu jeitode compor?

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FériasFériasFériasFériasFérias

Voltei- ou fui, não sei -e vi,nessa luzde gás de antigamente,as mãosde minha mãerezando por mim.

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Amanheço espelhona superfície da águae no fundo do poçoencontro a minha imagem.

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E há de ficar em mim,colado em corpo e sal,o sal de teus cabelosbalançando adeus.E há de ficar em mim,cantado em boca e mel,o mel de teu sorrisome trazendo a volta.

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Como AlfonsinaComo AlfonsinaComo AlfonsinaComo AlfonsinaComo Alfonsina

Como Alfonsina,mar-a-dentro,eu queria morrerbuscando algase cavalos marinhos,catando na árvore vermelhade cada coralos meus perdidos versose devolvendo à superfícieo som sem jeitoe brancode meu amore minha solidão.

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PPPPPoema da criaçãooema da criaçãooema da criaçãooema da criaçãooema da criação

Nada existia.Uno e só,o Em Sipulsa, pulsa ...Como um infinitoóvulo maduro.O Em sinão se basta.E no milagrede seu próprioencontroalgo estremece e abalaa Eternidade:

o Em si fecunda-se.E por se fecundar,explode-se.E cria.Nasce a Existência,o átomo que se anima.E na Existênciao tempo.E no tempoo homem.O Em sise expressa.E a Existênciao cria.

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Íntima vozchamando em mimo infinito,lembrando em mimo macro-cosmo meuplantado aquinesse meu ser.

Íntima vozcantando em mimo encontrode todos os mistérios,de todos os milagres.

Íntima vozque apaga em mima dore me consolae me conduz.

Íntima vozvivendo em mim,fragmento de Deusfalando em mim.

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PPPPPoema do adeusoema do adeusoema do adeusoema do adeusoema do adeus

Deixo em teus braçosa colina de meus sonhos,em teus cabeloso cheiro de meu corpoe sobre teus ombroso peso de meu pranto.Fica em tua bocao gosto de meu sanguee em tuas mãosa magia elétrica de meusdedos.

Guardo em teus pésos passos que eu pareie em teus ouvidoso longo canto de amorque agora digo.Fico em ti:sonhos,sangue,pranto,canto,eu.E partirei,o corpo exausto e oco.

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O sol,maior,cozinhouo branco da luae seusge midos,se ouviam,nesses lássem fim.Morreu a lua.E isto foisem dúvidatristezae limiteDó.Maior.

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AngolaAngolaAngolaAngolaAngola

é preciso mediro ferroe a forjano corpo luminosodesse negroe saberdo grito livredessa África

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Entre a inocênciados dedos do meninoe o revólverna mão do assassino,há sempre um espaçode nada,um trágico destino.Nem escola,nem casa,nem terra,nem pão.Quando a inocênciados dedos do meninose quebrana mão engatilhadado assassino,perde-se a paz,porque um homem escapoude seu menino.

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Eu inventocristaisà flor da terrae crioo inexistente.Meu universonem aparece.Por issoé maior,eterno,indestrutível.

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ViagemViagemViagemViagemViagem

Parto.Navego esses maresonde descubro a terradesses sons que me iniciamo passo em cada porto.Em cada portome busco.E em cada retornodissolvo a distânciado que me leva e traz.

Reencontro-mena raize no pássaroe sei do que soue em que me faço.Sei que sou maisque água– sou luze asae canto com as sereiasa Vozcom que me digo e acho.Na miragem do açodeixo a superfície de Narciso.Livro os braços de Sísifoe liberto afinalo seu sorriso.

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Nessas lentas madrugadaspor onde o tempo escorre lentocomo vento ausente,na calmaria de um silênciosem asas,sem velas,na direção de porto nenhum,eu fico como quemjá disse adeus.

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Eu queria quea minha palavrafosse como cristal:dura para ferirmas tão límpidaque mostrasseo outro lado.

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Como se fosse Ho Chin MinComo se fosse Ho Chin MinComo se fosse Ho Chin MinComo se fosse Ho Chin MinComo se fosse Ho Chin Minpara o herói vietkong que queria a Paz

Era uma guerraem um campode arroz.Eu não entendoguerraem campo de arroz,mas era uma guerraem um campode arroz.Homens e mulheres,crianças, cães e avesse escondiam,nessa agoniade medo e morte.Mas de repente,nesse fogo,entre uma balae uma bombapassou uma borboleta.

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ReportagemReportagemReportagemReportagemReportagem

Parti.E vi de tudono caminho:ossadas,luzes,restos de criançano armário,instantâneos sorrisostransitóriose essa angústiade nadana face dos homens.Tantas mortespresencieique me esquecida vida.

Andei por um mundovazioonde os homens passavam,indo,sem saberem que vão,só indo,com a precisãoda máquina que vaie, se prepara a massa,fabrica um triste pãocom sabor artificial

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Page 85: Expressão poética de Valdelice Pinheiro

O brotoespontâneo da vidasecou no plano.As crianças sumiram!As crianças sumiram!

Em minha boca,aos berros,fiz essa manchetesem luz,sem cor,sem som,perdida manchetepara ouvidos e olhosdesmanchadosno milagre esquisitodo robô,

no sem sentidodessas pernas,desses braços,dessas mãos,dessas bocascaladas,sangradasna fúria brancade seus próprios dentes.

Volto.E para completara triste reportagem,fotografo o últimopássaro que passae vai,bêbado de medo,cair na armadilha.

Poemas e rabiscos

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Page 86: Expressão poética de Valdelice Pinheiro

ManoelManoelManoelManoelManoel

Bêbedo, Manoel,bêbedo?!E eu não possote condenar.Sei láque sonhos,que dramas,que duro açocobrem a florde teus cabelos?Sei láque soluçosinterrompem a tua palavra,que doresvergam a forma frágilde teu corpo?Sei láque ânsias doidas,que aflitas vontadesquebram a forçade teus dedos?Sei lá, Manoel,sei lá!...

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Page 87: Expressão poética de Valdelice Pinheiro

CarnavalCarnavalCarnavalCarnavalCarnaval

Libero as mãos.Confiro aos braçosritmos de vôo.Esqueço sonhos vãos,desvisto fantasias,retiro a máscaradessa outra farraque me decompõee amarrae na grande sala azuldo povo – a praça e a rua –onde o riso lúcidose escancara,me encho de graçae me acho de novo,purificada e nua.

Poemas e rabiscos

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Page 88: Expressão poética de Valdelice Pinheiro

... buscar-menas entranhas do pássaro,no sinoda pedra sonora,nas patas perfeitasda suçuarana...encontrar-meno vôo,no som,no saltoe compor meu silêncio.

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Page 89: Expressão poética de Valdelice Pinheiro

Canção para o CamponêsCanção para o CamponêsCanção para o CamponêsCanção para o CamponêsCanção para o Camponês

Eu canto esse péque pisa a terrae vai,na altura da mão,fecundar o chão.Eu benzo essa mãoque reza a flore colhe o fruto,e faz o pãoe pode sergritoou espada,fogo,ou facão,na horade dizer simou dizer não.

Eu canto esse péque pisa a terrae vai,na altura da mão,fecundar o chão.

Poemas e rabiscos

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Page 90: Expressão poética de Valdelice Pinheiro

RememóriaRememóriaRememóriaRememóriaRememória

Éramos o sumo quente e verdedo infinito,entre a semente e o fruto,a flor e a terra.Germinamos o tempoem pólen de saudadee busca,num beijo de eternidade,amor e pranto.Chegamos outra vez.E as nossas vidas entãosão flor sem vento,rememória do amorna dor do desencontro.

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Page 91: Expressão poética de Valdelice Pinheiro

Quintal TQuintal TQuintal TQuintal TQuintal Tropicalropicalropicalropicalropical

Page 92: Expressão poética de Valdelice Pinheiro
Page 93: Expressão poética de Valdelice Pinheiro

Soltei meus pésno branco desse espaço.Sou de penase asas,como um pássaro.Mas passoa linha do horizontee vou.Viajo sem fimao fundo azulde meu lugare além de meu lugar,sem limite,sem pouso,infinitamente além.E infinitamente só.

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Page 94: Expressão poética de Valdelice Pinheiro

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Page 95: Expressão poética de Valdelice Pinheiro

Sentencio-me.O corpo verga e caisob o poderdo que não aparece.Espanto-me.E me descubro de repenteum animalque não se conhece.

Poemas e rabiscos

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Page 96: Expressão poética de Valdelice Pinheiro

Dão-me cicutatodos os dias.E eu a bebo.E não morro.Porque só morrequem não fica.

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Page 97: Expressão poética de Valdelice Pinheiro

meus fósforos perdidos,minhas células gastase apenas restosde proteína em meus cabelos.Eu nasço, sim, todos os dias,nessa sensaçãode estar saindo,nessa dor no corpoe nessa alegria da luzpara outras paisagens.

Poemas e rabiscos

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Page 98: Expressão poética de Valdelice Pinheiro

Os vagalumes desta noiteiluminam minha noitee me emprestamsua luz e suas asas.Então, feliz,a estrada clareada,eu vou te ver.

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Page 99: Expressão poética de Valdelice Pinheiro

PPPPPoema de amor para um antigo amadooema de amor para um antigo amadooema de amor para um antigo amadooema de amor para um antigo amadooema de amor para um antigo amado

Atravessoo morno espaçode teu corpo,cumproa distância ligeirade teus passose me componhoe me achoe me refaçoe chegona doçura infinitade teus braços.

Poemas e rabiscos

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Page 100: Expressão poética de Valdelice Pinheiro

Um dia,de tão desamparadoe dolorido,um homeminventou a Alegria.Surdo,achou todos os sons,ouviu todas as vozes.E na fragilidadede uma pauta,por lhe restaremmãos e luz,crioua Nona Sinfonia.

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Page 101: Expressão poética de Valdelice Pinheiro

SuicídioSuicídioSuicídioSuicídioSuicídio

Riscar,riscar,riscar...Riscar o espaço,o chão,a luz...Riscar meu traço,meu passo,meu som...Riscar quem sou.

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Page 102: Expressão poética de Valdelice Pinheiro

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Page 103: Expressão poética de Valdelice Pinheiro

NinhoNinhoNinhoNinhoNinho

Buscar meus fiapos por aí,catar o canto pelo chão,caminho de nervo e prantopor onde os homens passam.Depois, aquecer-meentre a prema da mãoe o peito exatoe ali, no sereno silênciode mim ovo,com sangue e água,clara e gema,germinar o desejado poema.

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Page 104: Expressão poética de Valdelice Pinheiro

Explodido o ovo,partido o morno úteroque te abriga,estarás solto e só.Do sistema perfeitoem que erasuniverso e estrela,indivíduo e todo,vais ter que te acharem teu próprio bojo,medido em teu tamanho,à cata de infinito.Se láfoste perfeito e todo,aqui serás parte desligada,imperfeito e só,como era só o ovo,antes da explosão.

Em tuas mãos,na planta de teus pés,o teu destino.Mas terás que percorrerum caminho parecido.Só que dessa vez,fora do corpo,desmanchado em éter,serás definitivo.

PPPPPoema para oema para oema para oema para oema para quem seráquem seráquem seráquem seráquem seráou é nascidoou é nascidoou é nascidoou é nascidoou é nascido

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Page 105: Expressão poética de Valdelice Pinheiro

Dentro do ovoo vôo.

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Page 107: Expressão poética de Valdelice Pinheiro

Chico PChico PChico PChico PChico Passarinhoassarinhoassarinhoassarinhoassarinho

Como um passarinho,ele voou do altare pousou em minha mão.Depois,com voz de Menino Jesus,me ensinou a alegriae me ensinou a cruz.Tirou a minha roupa,anulou esses ouroscom que enganamosa beleza do corpo,e me ensinou a pobreza,e me ensinou a paz.Cantou para mimo Evangelhoe me ensinoua revolução do amor.

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Page 108: Expressão poética de Valdelice Pinheiro

VigíliaVigíliaVigíliaVigíliaVigília

Acordo a madrugadaentre meus dedos,abro o sol de minhas mãosà luze desenho o contorno dos montes

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Page 109: Expressão poética de Valdelice Pinheiro

Eu esvaí,do ventre de minha mãe,a luz absoluta,para trazerao mundoa claridade do amor.Meu destino, pois,é modelar espigase, no pão brancodo jantar dos homens,criar a primeira comunhão.

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Page 110: Expressão poética de Valdelice Pinheiro

TTTTTestemunhoestemunhoestemunhoestemunhoestemunho

Não,eu não ouçovozes.Eu sintomãos,eu vejogestos e gritosnessas filas cotidianasde remédio,fomee solidão.

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Page 111: Expressão poética de Valdelice Pinheiro

Meu delírioé de paz.A mim não me faltamesses sonhos,essas manias,essas doidices,esses beijosque se dãosobre todos os corpos,todas as mãos,todas as bocas amadasdessas amadas pessoasque eu acaricio,na certezaou na ilusãode minha humanidade.

Em mimnão há de faltar,mesmo no claro dorsode meus prantos,ou no leve somde meu sorriso,um só que seja,essa pazde também sernos olhosde todos os homens.

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Page 112: Expressão poética de Valdelice Pinheiro

AusênciaAusênciaAusênciaAusênciaAusência

Serei a marcade um tempo convulso, sem sentido,moído de negações?!Trago lembranças de sanguee sons estranhos,de morte,quebrando meus ouvidos.Todos os espasmosde dormeus olhos guardam,pelas cruzesde fomeabertas no caminho.Tenho espaçosde amorentre meus dedos,mas minhas mãos são secasde presenças,e são eternas,vazias e eternascomo o tempo,onde tudo cabee nada existe.

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Page 113: Expressão poética de Valdelice Pinheiro

A árvore e euA árvore e euA árvore e euA árvore e euA árvore e eu

Que posso euna vontade poderosadessa árvore?Sou menordo que elae meu destino é vago.Suas raízes se afundame buscam o suco da vidanesse amor da terra- meus pés são superficiais.Seus galhosse abraçame são braços melhoresde que meu pobre braçoque ameaça,não dá sombrae, se abençoa,é na perspectiva factualde minhas simpatias.Eu tenho olhos,penso que sou clara,mas suas folhasvêem o âmago do chãoe fazem a síntese da luz.

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Page 114: Expressão poética de Valdelice Pinheiro

Na curva desse caminho,entre o prazer e o sustoeu me aninho.Apalpo as pedras,me enrolo de vento e luae de repente,como se fosse fruta,me descubro nua.

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Page 115: Expressão poética de Valdelice Pinheiro

A alma da cigarratransparentepousou naRosa e fecundouo verso.

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Page 117: Expressão poética de Valdelice Pinheiro

PPPPPara um menino suicidaara um menino suicidaara um menino suicidaara um menino suicidaara um menino suicidaum poema antropofágico

auto-antropofágico

Tingem-se de sangueos dentes brancosdo menino.Ele comeu-se.Abriu o peitocomo quem rasgauma velha latae comeusuas próprias vísceras.Tinha fomede dentroe de dentrosó achou a si mesmo.Comeu-se.

Poemas e rabiscos

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Page 118: Expressão poética de Valdelice Pinheiro

FirminoFirminoFirminoFirminoFirmino

Sob um céude boninahavia um rioimpossível.Era um riode margens brancascom menininhas azuiscantando cirandasimpossíveis.Do cantoimpossíveldas menininhas azuisnasceu um poetaimpossível.O poetaimpossívelinventou um bar,uma paz,uma cor,um rio,inventou um amore morreuimpossível.

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Page 119: Expressão poética de Valdelice Pinheiro

Lixo RecicladoLixo RecicladoLixo RecicladoLixo RecicladoLixo Reciclado

Ali, no monturo próximo,pela luz do sol,na força da vida,faço-me revaler feito sementese renasço árvorese faço-me papele sou tecido e cor,cartão e monumento.Abraço de novoo fruto,volto ao mar,adubo a terra,retorno à mesa.Recrio o verde,reúno de novoos homens.Não, nunca saí!Eu me consumoe me crionesta Unidadeporque soufonte e voz,mão e terra,pão e sentimento.

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Page 120: Expressão poética de Valdelice Pinheiro

PitangasPitangasPitangasPitangasPitangas

Um orvalho na folha,uma abelha,um todo de florescomo se fossem estrelas,como se fossem luz...Um sonho próximo,próximas pitangas.E em minhas mãos,do parto brancodesta Primavera,como quem rezae canta,esse som vermelhoe doceque se tocae come.

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Page 121: Expressão poética de Valdelice Pinheiro

EspantalhoEspantalhoEspantalhoEspantalhoEspantalho

Espantalho eu seique sou.Mas os meus braços,abertos em cruze mesmo que de palha eventose sustentem,não querem o espanto,a distância do pássaro.Meus braços buscam,na última agoniade um amor sem jeito,imaginar-se planta,conceber-se galho,desejar-se fruto.

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Page 122: Expressão poética de Valdelice Pinheiro

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Page 123: Expressão poética de Valdelice Pinheiro

SerSerSerSerSer

Não quero me verna fotografia.Não quero contar-mena história.Quero ser.Ser momentono momento de ser.Sem lembrança.

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Page 124: Expressão poética de Valdelice Pinheiro

PPPPPoema 77oema 77oema 77oema 77oema 77

À bocaque se calouno instante da palavra,à mãoque se perdeuno momento do gesto,ao péque se partiuna hora do caminho,eu deixomeu verso,esse instrumento.Que o verbose faça— e então se crieo gesto —e no inteiropassose desenheum destino.

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Page 125: Expressão poética de Valdelice Pinheiro

EpitáfioEpitáfioEpitáfioEpitáfioEpitáfio

Levo da vidamuita coisa:olhos cansados,pés retroativos,uma doida ânsiade sinceridade,desilusões,paixões que não se fizeram,muita busca,desencontros,verdades falsassobre séculos que não sou eu,ficções de alegria,dores fixas,um velho corpo atropelado,tantas mentirase a expressão de meus sonhosperdida em verso.

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Page 126: Expressão poética de Valdelice Pinheiro
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Page 129: Expressão poética de Valdelice Pinheiro

ego qualquer papel, o que estava mais à mão,porque hoje eu só quero, ou só desejo, porque é

mais verdadeiro, retomar, retomar tudo que me temtomado o fôlego, o gosto do chute, o gozo da vida e demim. Preciso mesmo me perdoar... perdoar minhaspalavras engolidas, meus silêncios... perdoar essasdistantes paisagens, esses abismos, meus valesdepredados, minhas águas poluídas pelas moraislegais que me foram impostas por todo esteamontoado de sucata e brunguçosos que chamam deprogresso e civilização ou, pior ainda, de sociedadeorganizada. Meu Deus, quem me dera ter continuadoselvagem, sem sarampo, sem gripe, sem úlcera deestômago e sei mais lá o que!...... retomar meus desejos, meus sonhos, minhassaudades de mim, minha inocência, minha dor naprópria topada, esquecida, depois, na dança do meucorpo virgem com as árvores, os rios, os pássaros...... retomar minhas mãos descobrindo a pedra, minhaboca desabrindo a água, meus pés na vereda doalimento, como quem busca a alegria, a própriaalegria de viver...... retomar meu primeiro medo e escapando paracima, ou por cima, e não pelos lados, voando e nãocorrendo... sair do meio sem o perigo dasextremidades, onde se encontram os abismos e aí asquedas irremediáveis...

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Retom

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Page 130: Expressão poética de Valdelice Pinheiro

etomar...... ah, eu acabo de chegar de terras tão

longínquas!... e tive que vencer labirintos e abismospara encontrar o retorno. E aqui estou. A experiênciadoeu muito, comeu meu corpo, fez de meus olhosbarcos à deriva, quase naufragados, afundados no saldesses mares mortos, densos, por onde as sereias nãopassam e algas não vivem, mas valeu... De algumaforma valeu. Pelo sabor, pelo gozo de, na volta,reencontrar o verde, o doce da água que eu bebocomo se estivesse renascendo, a luz que desenhaaquele passarinho que passou ali, voando, para ircomer uma pitanga ou entrar no ninho...Retomar...... retomar o passo, esse laço com o chão onde assementes nascem para me dar em sombra e frutos,pão e chá e tantos caminhos para eu andar, buscaruma flor ou um amigo, uma palavra... ousimplesmente o silêncio onde fecundo meus sonhos.Retomar......retomar os meus próprios dedos, minhas mãosrabiscando o que parece não ter sentido, mas revelaminhas ausências, minhas culpas, minhas falhas,meus espelhos, minhas saudades... meus dedoscortados, às vezes tão pobres, trêmulos, feios, velhos,mas tão fortes que trazem de volta a minha infânciae a minha inocência...

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Page 131: Expressão poética de Valdelice Pinheiro

Retomemos...... acordar, escolher de novo viver com as sensaçõesimediatas e, no trânsito do dia, conviver com ohábito, a rotina... a chatice da vida...compulsivamente, por acréscimo moral, buscar otrabalho, isso que o homem transformou emindecência... sujar as mãos, cansar os pés, fazer lamasobre o mundo, acrescentar o inútil, o dispensável, osupérfluo... e no fim do dia, estupidamente orgulhosode sua própria estupidez, achar que ganhou a vida...... duvidosa vida, quebra-cabeça de cabeça pra baixo,uma viagem sempre para fora, como o nariz de ummíssil furando o espaço para espatifar-seespatifando... ah, os patifes do progresso!... patifes davida!...... depois, quando se dorme, o sono e o sonho sãotambém duvidosos, disfarçados, indiretos,complicados, como se fosse proibido ver o dentro, averdade, o saber, a inocência...... quem me dera entrar por mim a dentro e lá, nalongínqua distância de meu sol, achar minhainocência, meu ser que sabe!...

etomemos...... essa tristeza, essa mágoa indefinida, essa dor

que a gente não sabe de onde vem...

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Retom

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Page 132: Expressão poética de Valdelice Pinheiro

Retomemos.... acho que estou atrasada em alguma coisa – algumpasso, algum ritmo, algum sorriso. De repente pareceque há um buraco, um vazio, que houve ummomento em que não vivi... ou que me perdi naestrada e andei por vales despovoados e secos, sem aperspectiva de um planalto.... coisas se passam pela minha cabeça... não, não écomo se fossem sonhos ou desejos – passam assimrápidas como um relâmpago e explodem pela mãonestas coisas que digo, às vezes tão sem nexo... e eunão sei se estou me achando ou me perdendo cadavez mais, deixando mais distante ainda, na esticadada corda, o nó que ainda me prende. Bobagem. Nãopenso em loucura, pois há muito tempo tenhoconsciência de minha esquizofrenia - consinto-a parasobreviver... peguei-a como um vício ou uma navesempre à disposição. Só sei que viajo. Só sei que voue que encontro mundos muito diversos, mas que sãotodos mundos deste mundo, mundos de mim... poisse não há outros mesmo!...... não, não há qualquer choque entre a poesia e a

ilosofia... é... acho que uma compõe, compreendea outra. E não se dispensam. Os gregos talvez

tenham sido tão brilhantes porque sabiam disto e amaioria deles, principalmente os mais importantes e“sábios” – os pré-socráticos e os socráticos –desenvolviam seus temas, suas “teorias”, através deuma linguagem muito próxima da “poieses” (deHomero).

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Retomemos...... sinto-me à margem do pranto – não choro mais,perdi a liquidez da dor que me tem trazidoverdadeira nesses passos trôpegos, nessa voz já tãosem cor... não sei mais de que me faço ou para quevim, nem se desejo ir ou ficar. Perdi o próprio desejo.

omente o velho corpo anda, mexe-se com esseresto de pés e pernas insistentes, colados na

teimosia de viver. Estou em branco. Volto ao silêncioe nada encontro... meu silêncio ficou estéril.... a Voz... ah, meu Deus, eu matei a Voz! Nessescaminhos trambiqueiros da moral, talvez para salvarum nome – esta besteira – eu preguei a Voz no fundodo poço. A Voz, meu único sentido, minhauniversalidade, o que me criava una... Agora que acrucifiquei, estou em pedaços, dividida no absurdodesequilíbrio que gera os loucos e os assassinos.... é ... e não tenho mais força para descer, tirar oscravos, libertar a Voz e de novo aparecer como umpouco de luz revelando o mundo.

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Page 134: Expressão poética de Valdelice Pinheiro

Retomemos...... de repente viajo, vou, escapo do instituído ouinstitucionalizado.... faço-me rebelde e não me nego pela dúvida, masme afirmo e afirmo pela intuição (“into”-ição) esseiçar-me dentro, direto ao que sou em o que é.... confesso estranhas sensações, descubro termos,expressões sem compromisso lógico... caço oimpossível...... descubro a falta, a falha, a fenda, o encobrimentodo real... real do que me faço e faço realidade,quando me cato e me acho nele e ele em mim...

ou sujeito do mesmo objeto... eu, sujeito, souobjeto ejecto buscando voltar.S

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Page 135: Expressão poética de Valdelice Pinheiro

etomemos...... ecoa dentro de mim o grito de mim... o grito

de mim... princípio e fim... o choro de mim...saudade da plenitude original, transplantada para oútero onde eu, semente de unidade, germinei...nenhuma distância, nenhum conhecimento... só amorna unidade, essa ontogenia de ser-todo emminha mãe... nenhuma ausência... depois, esse eco...angústia de retorno, desejo de re-chegar, enquantome debato nessas paredes de pedra... pedra queentão medra como se fosse o ponto de rebate para avolta... ricochete de dor... dor de sair e dor de estar...estar, agora, não em, mas entre... entre que me entraem todas as ausências... falha, buraco... todos osdestinos... porque não me desato... e se me afeto,atada, sem fiapos que me levem além, onde possa re-fazer-me onto-ontem-de-mim, sou nada...... o nó da partida é o nó que se desata... e só entãoexisto... depois me canso e quero reatar-me. É o quebusco... ser......ser em busca de mim porque, livre, me perdi.

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Retom

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Page 136: Expressão poética de Valdelice Pinheiro

RETOMADA1

ste trabalho é uma experiência poética comoexercício de espontaneidade criadora profunda,

para dar-se à luz de psicanalistas, estudiosos dofenômeno literário e da linguagem e teóricos daEstética. Há, nele, um esforço de expressão meiolacaniana como método para deixar aparecer o maisverdadeiramente possível a espontaneidade, o brotolivre que vem bem lá de dentro, sem pelo menosgrande interferência daquilo que a gente chama deconsciência. Porque há, para a autora, uma questãoainda não definida: o que será a consciência - o queme faz saber que existe ou o Inconsciente, que sepoderia entender como a Consciência aprisionada(embora às vezes, rompendo todas as barreiras, seexpresse), do que sou?1 “Retomada”,

in Revista FESPIano II, no 3, Jan/

Jun: Ilhéus: 1984.Por sua importância

enquanto auto-reflexão poética, a

sua reediçãojustifica-se devido à

Revista FESPI tersido de pequena

circulação e estar,há muito, esgotada.

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Page 137: Expressão poética de Valdelice Pinheiro

Retomemos...

Há dias, ou há momentos em que o silêncio me toma,me leva. O silêncio não da Voz, mas da palavra.(Deixa-me dizer “loucamente” tudo, sem a obrigação(social? lógica?) da linguagem. Dizer como se osilêncio chegasse à mão e libertasse o gesto absoluto,mesmo que esse silêncio ou esse gesto só possa sertraçado, no espaço, na conformidade da palavra).Retomar-me sem que me tome nada de anteriorsenão a própria “prisão” da palavra... Da palavra quefinge que me liberta... Mas não é a palavra que meliberta, é a voz! Não a voz, a simples voz, um somemitido pela competência de um aparelho fonador,mas a Voz, a VOZ, aquilo que sem dúvida não meantecipa, mas é certamente o que me diz. A Voz...Esse silêncio que chega aflito e, precisando do grito,tem que inventar o som...Terá sido assim que nasceua palavra.

igo sem nexo, mas a palavra ainda é forte ...Não, não é a palavra que é forte, é a Voz, que cria

o nexo, que encontra o elo (perdido?) entre o gesto, ogrito e... e o som que se fez palavra.Retomemos...Preciso dizer-me como se sonhasse...

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Retom

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Page 138: Expressão poética de Valdelice Pinheiro

lho fixamente para a superfície toda azul de umlago, que se confunde com todo o resto azul. Não

há fronteira, linha, limite ou horizonte – é tudo umacoisa só e o silêncio é absoluto... Descubro que osilêncio é o espaço sem limite, o tempo desfeito. Nãome vejo. E não sei se sou um pássaro, um peixe, ousimplesmente a água inaugural. Nada sinto – nemaflição, nem ansiedade, nem tranqüilidade. Nadaexperimento. De fora do sonho, entretanto,represento-me ser... Ser-em-mim sem, contudo,qualquer “impressão” (sensação?) metafísica de ser.Como se fosse o nada. O nada...De repente estou de novo aqui, existo (crio-me!),tomo consciência do que digo e vejo, me retomo noespaço-tempo de minha consciência, com todos ostraços de minha ligação ontossomática (existe estetermo? Não sei, mas não faz mal – não quero éperder o elo, o encontro de minha nascente com afonte – profundeza e superfície...).De repente descubro que a palavra é bênção e brisa...E asa. Pode não dizer, pode trair o gesto, a Voz, masleva o que brota: o som, imaginado que seja, danascente, no som concreto da fonte.De repente também descubro que o poema nasce dosilêncio, ou da Voz que se liberta no gesto... ou napalavra, instrumento ainda.Calar...Talvez eu quisesse apenas calar, como umapedra, e justificar o silêncio. Talvez eu esteja comvergonha – triste contingência! - de minhaesquizofrenia, essa viagem.Retomemos...Soma... Somatizar... Tomar no corpo as porradas da

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mente... Bem feito! Quem manda?!...Mente que mente?... Ou verdade íntima que seintimida e, encolhida em seu próprio fosso,arrebenta-se, explode-se?...Soma... Somatizar... Até somar! Trazer à tona bolhasinfinitas... Tomar no corpo as queimaduras... Sofrero que não era para sofrer e, contudo, viver. Viver...Que milagre!... No entanto, adir a dor... Quemistério!...O homem é um animal que se inventa e, inventando,se desconhece. Dobra-se às suas próprias leis,inventadas, em vez de trazer à fonte as leis própriasde sua substância humana. Daí essas bolhas, essagripe, esse sarampo...Soma... Somatizar... Somatizar é defender-se. É comose fosse uma raquete devolvendo a bola pro outrolado, com todo o poder violento do braço, toda asubstância da mão...Ih!...

ontade de dançar. Vontade de dançar?!...Sim, épossível. Dançar é a alegria do ato de viver... Um

ato que dói... E a dança alivia. É o corpo somado àdivindade. Dançar é crer com o corpo.Dançar... De repente me vem uma expressão virgem:dançar é o Belo, esse algo que não se descreve, o gestopuro no corpo de Isadora, a Voz diretamenteexplodida, exatamente como um ovo fecundado que,sem dúvida, emite a música inicial, cria a luz e o sompara então, na dor da existência, nascer a palavra –uma forma de dizer a VOZ, o grito inevitável.Retomemos...Rabisco... Rabisco retas, curvas, espirais... Como se

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estivesse no “mundo das idéias”... E aparece derepente essa forma de abacate... Um abacate, quecoisa poderosa! Ele me traz todos os quintais dainfância. E de repente, quase que bruto e ao mesmotempo lúcido como um raio, nasce um poema:

Deus beijouas abelhas e as pitangase desenhou os divinos dentesna polpa de uma goiaba.Depois encomendouàs criançase aos passarinhoso sabor da vida.

E outro poema:

Se a carambolativesse dedostocaria Mozart,certamente.

as que doidice é esta?!A Voz tira a lógica, o juízo, desregula o

comportamento do vocabulário. A Voz, no poema ouno gesto, cria o “milagre” humano... A palavra éapenas via, instrumento, acidente.Retomemos...Li, ou ouvi, ou inventei, não sei, que a luz é invisível.Não compreendo muito bem este fenômeno, masminha fantasia (?!...) se fascina. Se a luz é invisível oque é que acontece com os meus olhos?! Eles

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inventam, adivinham a luz?! Mas e a luz que Deusmandou que se fizesse no primeiro dia?! Seria essamesma luz invisível? E agora me bate uma questãotranscendental: antes do “fiat lux” era a escuridão?!...Não, não pode!... Antes do “fiat lux” devia ser a LUZ,a Absoluta, a que se explodiu para dar-se em raiosluminosos – o que vejo – e, iluminando o Nada, criaro Universo...Retomar...

e repente tomar... tomar posse da Unidade...Saber (ou sentir?...) que a chuva e eu não nos

separamos, somos Um, embora diferentes, e queassim eu chovo e a chuva me respira, assume minhaágua... a água que sou... o meu vapor... o meu corpoaguado. Sentir, portanto, que a chuva me pode... e euposso a chuva!... Sentir que o equilíbrio eu-chuva,chuva-eu, quebraria o furor das enchentes e aimpiedade das secas...Retomar...Retomar a inocência, a alegria vegetal do oxigênio eretomar-retornar à luz da verdura do mundo-terra,fotossíntese fazendo clorofila.Retomar...De repente sentir um intervalo, um vão paraatravessar e não encontrar a ponte, a ligação... Derepente esse nó antigo, amarrado e amarrando,fechando a porta... (lá ou cá?...). E a verdade ésempre o que precisa ser revelado, desvelado,libertado, como o David saindo da pedra...Retomar...Tomar o leme, a direção... Foi inventado que épreciso tomar o leme, a direção e desenhar o traço e

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o espaço da viagem, para que ela seja precisa...Quem, porém, determina essa precisão?!... E o queserá mais saudável: a precisão ou a aventura daviagem, a travessia feita a nado, o acaso descobrindo,no susto ou na alegria, cada espaço da distância, aproximidade da margem?!Quem disse que é preciso ser preciso?!...Retomemos...... ah, esse nó no estômago, essa angústia, esse nãosei que de nada!... Onde retomar-me? Em que coiceou em que afago, ou em que espaço vazio,desocupado de amor tão necessário e ao mesmotempo tão acidental?!...Retomemos...... essa agonia, esse medo de morte e fomeiluminando esses olhos já sem luz... esse abandono, asolidão entre os braços que se apertam sobre simesmos com a precisão do amor que não gerou... quenão gerou nem luz, nem outro e abortou o sonho, aespera, o encontro...... o corpo é como se fosse palha seca que no vão darede o vento abana na esperança do fogo, perspectivavã de caldo e vida...... depois os dedos se fecham, os ossos endurecem asjuntas, da boca jorra essa água inventada que ocorpo já não tem – esse vômito de nada, náusea doúltimo suspiro...

aaãeee!... o grito derradeiro pelo afago, o peito, oleite...

... mas a mãe que houve no desespero de cactofurando o chão, buscando a gota escapada que seseca no ar inútil, já não ouve....

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etomemos...Sonhar... Trazer-se verdadeiro como em tempo

de raízes, garras, patas...Trazer de lá o olho colado àluz, o corpo indiferenciado, ou esse nó mais próximoe tão difícil que se desdobra em cortina e palco, autore personagem...Sonhar... Revelar-se até a primeira substância, omilagre desse caldo que gerou o amor quando geroua vida...Sonhar... Sonhar é desejar... Querer... Não, querernão, que querer é desejo moralizado... É só sonhar,como se fosse voar...Voar para dentro...Voar pordentro...Sonhar... De repente parece que só do sonho épossível criar... E criar é revelar-se... Revelar-seNarciso?... Água e face... Depois, a mão buscando noespelho o corpo impossível, a primeira imagem...

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REFERÊNCIAS

MAMAMAMAMATERIAL PRODUTERIAL PRODUTERIAL PRODUTERIAL PRODUTERIAL PRODUZIDO PZIDO PZIDO PZIDO PZIDO PARARARARARAAAAADIVULGAÇÃO DO PROJETODIVULGAÇÃO DO PROJETODIVULGAÇÃO DO PROJETODIVULGAÇÃO DO PROJETODIVULGAÇÃO DO PROJETO

Cartaz: Tamanho: 0,40m x 0,60 m; Papel: couchê;Apresentação em preto e branco, com marcad’água (divulgado na comunidade sul-baiana edisponibilizado na internet:www.uescba.com.br\projetos\literatura.

Folder: Restauração: Um canto brasileiro (poema edesenho, inéditos) Formato 0,19 x 0,30m comduas dobraduras; papel: couchê; apresentaçãoem preto e branco. Divulgado nacionalmente,inclusive nos Congressos e comemoraçõesrelativas aos 500 anos do Brasil.

Painel: Tamanho: 2m X 2m; Com material produzidoem glossy paper, constando de poemasmanuscritos (scaneados e digitados), fotos edesenhos (digitalizados). Periodicamenterevisto e acrescentado. Apresentado emSeminários da UESC e em escolas e eventosculturais nas comunidades de Ilhéus, Itabuna eUna. Apresentado nos Congressos da SBPC, em1997, 1998, 1999, 2000.

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Referências

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IMPRENSA UNIVERSITÁRIA

COORDENAÇÃO GRÁFICA: Luiz Henrique FariasDESIGNER GRÁFICO: Cristovaldo C. da SilvaIMPRESSÃO: Davi Macêdo e André Andrade

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