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extensionunicenextension.unicen.edu.ar/jem/subir/uploads/1419_2016.… · Web viewO texto apresenta a ação extensionista “Segurança Alimentar e Nutricional”, ocorrida na manhã

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INTER E TRANSDISCIPLINARIDADE EM AÇÃO EXTENSIONISTA DA UNIJUI NO PROJETO RONDON 2015[footnoteRef:1] [1: Projeto Institucional de Extensão Universitária “Ações multidisciplinares: construção de soluções para o desenvolvimento com sustentabilidade – Operação Porta do Sol 2015”, vinculado ao Projeto Rondon.]

Paulo Ernesto Scortegagna[footnoteRef:2], Leonir Terezinha Uhde[footnoteRef:3], Tchiago Brigo[footnoteRef:4] [2: ] [3: ] [4: Acadêmico do Curso de Educação Física da UNIJUÍ, participante da equipe do Projeto Rondon, [email protected]]

Resumo

O texto apresenta a ação extensionista “Segurança Alimentar e Nutricional”, ocorrida na manhã e tarde do dia 26 de janeiro de 2015, na cidade de Itabaiana/PB, no contexto da Operação Porta do Sol, do Projeto Rondon 2015. Discute e analisa a interação de seis Cursos/Áreas de conhecimento (Engenharia Civil, Medicina Veterinária, Educação Física, Comunicação Social, Design e Nutrição) na concepção e desenvolvimento de um processo educativo, em espaço não formal, onde a opção pelas abordagens Inter e Transdisciplinar e a metodologia da Pesquisa–Ação Integral e Sistêmica- antropopedagogica é adotada para a efetivação da ação.

Palavras Chaves: Extensão e Educação, Interdisciplinaridade, Operação Porta do Sol, Pesquisa-Ação, Transdisciplinaridade.

Contextualização

O Projeto Rondon, coordenado pelo Ministério da Defesa, é um projeto de integração social que envolve a participação voluntária de estudantes universitários na busca de soluções que contribuam para o desenvolvimento sustentável de comunidades carentes e ampliem o bem-estar da população. Realizado em parceria com diversos Ministérios e tem o apoio das Forças Armadas, que proporcionam o suporte logístico e a segurança necessários às operações. Conta, ainda, com a colaboração dos Governos Estaduais, das Prefeituras Municipais e de empresas socialmente responsáveis. Tendo como objetivos contribuir para a formação do universitário como cidadão; integrar o universitário ao processo de desenvolvimento nacional, por meio de ações participativas sobre a realidade do País; consolidar no universitário brasileiro o sentido de responsabilidade social, coletiva, em prol da cidadania, do desenvolvimento e da defesa dos interesses nacionais e estimular no universitário a produção de projetos coletivos locais, em parceria com as comunidades assistidas.

A UNIJUI participou no Projeto Rondon a partir da proposta de trabalho “Ações multidisciplinares: construção de soluções para o desenvolvimento com sustentabilidade” o qual é um projeto institucional de extensão universitária, selecionado por edital interno da Vice-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão e, posteriormente, aprovado pelo Projeto Rondon. As atividades desenvolvidas pertencem ao Conjunto de Ações B: Comunicação, Tecnologia e Produção, Meio Ambiente e Trabalho e aconteceram no período de 25 de janeiro a 06 de fevereiro de 2015, no município de Itabaiana (PB) fazendo parte da Operação Porta do Sol.

De acordo com a Política Nacional de Extensão Universitária (2012), o FORPROEX apresenta às Universidades Públicas e à sociedade o conceito de Extensão Universitária: “A Extensão Universitária, sob o princípio constitucional da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, é um processo interdisciplinar, educativo, cultural, científico e político que promove a interação transformadora entre Universidade e outros setores da sociedade” (2012, p. 15).

As ações propostas para o município de Itabaiana (PB) estiveram embasadas nos seguintes princípios estruturantes da Extensão Universitária: o caráter da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão; a intervenção dialógica na convivência para a construção de saberes conjuntos; as abordagens multidisciplinares, inter/transdisciplinar e a metodologia da Pesquisa-Ação Integral e Sistêmica.

Dentre as 32 atividades/ações (oficinas, seminários e atendimentos e orientações de nutrição) trabalhadas no município pela equipe da UNIJUÍ, a Segurança do Trabalho, Corpo, Trabalho e Saúde (Corporeidade e Sentidos), Comunicação e Design: Livro de Receitas, temas esses preparatórios de uma discussão sobre Segurança Alimentar e Nutricional temas geradores das atividades realizadas na Escola Municipal Nossa Senhora das Graças, zona urbana, no dia 26 de janeiro de 2015, com carga horária de 8 horas, sendo 4 horas no turno da manhã e 4 no turno da tarde. Com o intuito de proporcionar um processo educativo aos participantes das Oficinas utilizaram-se as abordagens inter e transdisciplinar, a partir de um trabalho conjunto de diferentes áreas do conhecimento (nutrição, comunicação social, engenharia civil, educação física, comunicação social, design e medicina veterinária).

Percurso Metodológico

O percurso metodológico seguiu os seguintes procedimentos e etapas: Seleção dos participantes (acadêmicos) da equipe que atuaria no Projeto Rondon. Processo de Planejamento para atuação no Projeto e da Ação/Oficina através da sensibilização e capacitação dos membros através das seguintes metodologias e atividades: Encontros/reuniões sistemáticas, leitura e debate do Projeto/proposta, estudo teórico e prático das metodologias que seriam usadas, metodologia da pesquisa bibliográfica e pesquisa-ação. Viagem precursora (ida do coordenador até a cidade onde a Operação ocorreria) e o diagnóstico da necessidade de uma demanda relacionada à Educação para a Segurança Alimentar e Nutricional. Planejamento, estudo e construção dos materiais didáticos e pedagógicos (teóricos e práticos); estudo, debate, escolha e construção da estrutura pedagógica e didática da Ação e das Oficinas. Apresentação, análise e avaliação prévia da estrutura e dos materiais didáticos pedagógicos da Oficina.

Quanto à processualidade específica e “protocolos” da Ação: 1-Chegada ao local de realização da Oficina; 2-Fixação do banner do Projeto Rondon e da IES (UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul); 3- Explicitação da temática, metodologia e atividades planejadas para a ação/oficinas do dia; atividades específicas (teórico-práticas) relacionadas ao desenvolvimento da Ação/Oficina conforme as etapas e metodologia. 4 - Para as Oficinas do turno da manhã: Divisão do total de participantes em 3 grupos de 10 participantes e o rodizio dos respectivos grupos na participação das três oficinas (Oficina de Corporeidade e Sentidos, Oficina de Segurança do Trabalho e Oficina de Criação de Livro de Receita), que tiveram 1h e 15 min de duração cada uma. As especificidades metodológicas de cada Oficina serão descritas posteriormente. 5 - Para o turno da tarde: participação do todos os membros na Oficina de Segurança Alimentar e Nutricional. 6 - Socialização, sistematização e avaliação das atividades desenvolvidas. 7 - Entrega dos certificados e registro fotográfico dos participantes. Procedeu-se o registro fotográfico/fílmico da Ação/Oficina durante todas as etapas. Na Figura 1, são apresentados o esquema da inter e transdisciplinaridade, utilizado para efetivação das ações.

Figura 1. Esquema da inter e transdisciplinaridade utilizado para efetivação das ações.

ESQUEMA DA INTER E TRANSDISCIPLINARIDADE

Tema Gerador: SEGURANÇA ALIMENTAR E

NUTRICIONAL

Engenharia Civil

Oficina

Segurança no Trabalho

Oficina

Criação de livro de Receitas

Oficina

Corporeidadee Sentidos

Design e Comunicação

Educação Física

Oficina

Segurança Alimentar e Nutricional

Nutrição e Medicina Veterinária

Oficina de Corporeidade e Sentidos

Conforme Brigo (2015) a oficina teve a seguinte estrutura: 1 - Apresentação: todos os participantes apresentavam-se mencionando três itens – nome, residência e expectativas da oficina. Desenvolvimento - 45 min: Vídeo sobre os sentidos humanos (Dráuzio Varela), 2 – Identificar e descrever o funcionamento de cada sentido humano, 3 - Diálogo sobre sinestesia e sentidos humanos, 4 - Prática - apurar os sentidos humanos: os participantes foram divididos em dupla. Foram realizadas atividades de percepção dos sentidos através da cegueira de um dos sentidos. Exemplo: foi utilizada uma venda, após, os participantes deveriam identificar o material disposto através do tato. Provar alimentos e identificar. Cheirar aromas e identificar os tipos de ervas utilizados. Final – 10 min: Debate e apontamento de questões/dúvidas, relato de experiências e avaliação da oficina. Com auxilio audiovisual foi transmitido o vídeo sobre a formação dos sentidos humanos. Foi realizada atividade de conceituação de cada sentido humano através de um trabalho individual. Explanação de relatos de experiências a respeito das percepções humanas. Foi realizado prática para aguçar os sentidos através da sensibilização sensorial, figuras 2 e 3.

Figura 2 Figura 3

Aguçando os sentidos: Paladar Sistematizando as informações do

Vídeo

Fotos: Prof. Paulo Ernesto Scortegagna

Oficina de Segurança do Trabalho

Segundo Prado (2015) a Oficina de Segurança do Trabalho buscou a proteção do trabalhador em seu local de trabalho, no que se refere à questão da segurança e da higiene do trabalho. Objetivando basicamente a prevenção de riscos e de acidentes nas atividades de trabalho visando à defesa da integridade da pessoa humana. Em ambientes de cozinha (escolares, doméstico, bares, restaurantes e lancherias) existem riscos físicos (calor, frio, umidade e ruídos), químicos (produtos de limpeza em geral, desinsetização) e ergonômicos (decorrentes de espaços e dimensões mal definidos, podendo causar desconforto, cansaço e, consequentemente acidentes, cortes, queimaduras, quedas), figuras 4 e 5.

Figura 4 Figura 5

Conteúdo sobre EPIs Um dos Grupos de participantes

Iniciou-se com a apresentação dos participantes, onde cada um falou seu nome, qual o conhecimento que tinha na área de Segurança do Trabalho e as expectativas da Oficina. Em seguida foi realizada uma apresentação sobre Segurança do Trabalho em ambientes domésticos, mais especificamente na cozinha, contemplando: 1. Conceito de Segurança do Trabalho, 2. Riscos existentes na cozinha, 3. Equipamentos que podem trazer riscos, 4. Cuidados e atenções e Equipamento de Proteção Individual – (EPIs). Por fim, os participantes através de debate retomaram as questões teóricas abordadas, explanaram sobre as contribuições dos conteúdos tratados na oficina em relação as suas atividades diárias de modo a sistematizar sobre a relevância do tema da oficina (PRADO, 2015).

Oficina Criação de Criação de Livro de Receita

Grumicker (2015) relata que o início das atividades na oficina de Comunicação e Design foi à apresentação da equipe de rondonistas da Unijuí, seguida da apresentação dos participantes. Próximo passo foi à apresentação da proposta: criação de um livro de receitas com foco no aproveitamento de alimentos, na interação entre os participantes para que pudessem discutir, analisar e escrever receitas que conhecessem utilizando ingrediente típicos da região.

Na sequência, procedeu-se a explanação sobre a diagramação de um livro de receitas levando em conta características e também o formato do texto/informações necessárias para fazê-lo. Em seguida, foi distribuído moldes de frutas. Havia quatro opções: banana, coco, tomate e caju. Devido ao número não muito grande de pessoas nas três oportunidades que foi apresentado essa oficina foi distribuída apenas moldes com duas das quatro opções, sendo revezadas as opções, em que foi feita a produção de receitas pela divisão em dois grupos dependendo a figura que cada um retirou. A partir daí cada grupo ficou responsável, a partir da entrega do modelo de estrutura da receita, de pautar no mínimo uma receita contendo aquele ingrediente.

Após a troca de saberes entre os grupos a receita foi anotada pelos participantes e consequentemente apresentada para os demais. Foi também realizado um debate e a avaliação da oficina (figuras 6 e 7).

Figura 6 Figura 7

Propostas e Modelos de Diagramação Prática de Registro de Receitas

Fotos: Prof. Paulo Ernesto Scortegagna

Oficina de Segurança Alimentar e Nutricional

Para Girotto (2015) os conteúdos apresentados e dialogados com os participantes da oficina de SAN foram desenvolvidos através de pesquisa Bibliográfica em livros, artigos, sites, utilizando-se de recursos multimídia - slides no software Power Point. Na realização da dinâmica sobre higienização adequada das mãos foram utilizada bacia, farinha, água, detergente. Para a produção dos bolos, com aproveitamento integral: foram utilizadas fichas técnicas, fogão, utensílios de cozinha, e ingredientes necessários para a produção.

Foi apresentado conteúdo sobre cuidados sobre higiene e saúde do manipulador de alimentos e ainda dialogado sobre alguns conceitos básicos higiene, origem dos alimentos, os tipos de perigos físicos, químicos e biológicos.

Através de diálogos/trocas de experiências entre os participantes e apresentação de slides houve a conceituação e identificação de DTA’s – Doenças Transmitidas por Alimentos, conservação e contaminação de alimentos, estendendo o assunto para o comportamento e higiene nas áreas de produção.

Após a discussão sobre higiene, solicitou-se ajuda voluntária de um participante do grande grupo para realizar a dinâmica de lavagem das mãos, ensinando aos demais a técnica correta. Para essa dinâmica, utilizou-se uma bacia com farinha de trigo e água, o participante voluntário misturou a farinha com a água formando uma massa pegajosa, e após teve que demonstrar aos demais participantes como ele higienizaria as mãos, assim foi possível trabalhar na prática a técnica correta para lavagem/higienização das mãos.

Posteriormente, a partir da divisão de dois grupos, os participantes foram realizar a técnica correta de lavagem de mãos para participar da segunda etapa da oficina que trataria do Aproveitamento Integral de Alimentos para produção de alimentos. Após a higienização das mãos os participantes receberam fichas técnicas para a produção de dois bolos e sucos naturais, cada grupo produziria um tipo de bolo e um tipo de suco utilizando cascas, sementes e talos.

Durante o desenvolvimento da oficina optou-se em trabalhar com os participantes duas alternativas de bolo: um bolo de Banana com Aveia que utilizaria como matéria prima além da polpa a casca da banana, e outro bolo de Manga, que também levou a polpa e a casca da fruta. Além dos bolos a produção de dois tipos de sucos, um de Maracujá e outro de Cenoura com Limão.

Enquanto os bolos assavam, explanamos e dialogamos sobre alimentação saudável, a importância de uma dieta rica em vitaminas e minerais e de utilizarmos todas as partes dos alimentos, desde que bem higienizadas. São vários os benefícios com a utilização integral dos alimentos, de fins nutritivos, pois muitas partes que são desperdiçadas encontram-se nutrientes que na polpa não são encontrados, tornando-se econômicos e sustentáveis.

As partes não aproveitáveis dos alimentos poderiam ser utilizadas enfatizando o enriquecimento alimentar, diminuindo o desperdício e aumentando o valor nutricional das refeições, pois talos e folhas podem ser mais nutritivos do que a parte nobre do vegetal como é o caso das folhas verdes da couve-flor que, mesmo sendo mais duras, contêm mais ferro que a couve manteiga e são mais nutritivas que a própria couve-flor (GIROTTO, 2015), figuras 8, 9 e 10.

Figura 8 Figura 9

Prática de Preparação dos Alimentos Equipe de participantes da Oficina

Figura 10

Equipe de rondonistas e participantes das oficinas

Foto: Prof. Paulo Ernesto Scortegagna

Resultados

O total de participantes das quatro Oficinas foi de 30 indivíduos, sendo que destes, 17 eram do sexo feminino e 13 do sexo masculino.

Em relação à Oficina de Segurança do Trabalho os resultados Obtidos foram à capacitação dos participantes da oficina com ênfase em situações relacionadas à Segurança do trabalho no ambiente doméstico e da cozinha.

Para Brigo (2015) a Oficina de Corporeidade e Sentidos resultou na capacitação dos participantes em experiência e vivências práticas da corporeidade e desenvolvimento dos cinco sentidos humanos; Reconhecimento da necessidade de práticas pedagógicas/Processo de educação para o conhecimento teórico e prático dos sentidos humanos e sua relação aos distintos campos profissionais, no caso aqui relacionado à produção de alimentos. Foram desenvolvidas atividades que potencializaram os sentidos humanos na preparação dos alimentos, bem como, na melhora da memória sensorial.

No que diz respeito à Oficina de Comunicação e Design: Livro de Receitas, Grumicker (2015) aponta que houve a criação de um livro de receitas impresso para cada participante; a troca de informações/resgate a cerca de receitas da região com frutas/verduras típicas, ocorrendo uma troca de informações/resgate a cerca de receitas da região com frutas/verduras típicas. A oficina aconteceu em rodízio, sendo que foi ministrada três vezes com duração de uma hora, cada. Foi contabilizada a participação total de 19 pessoas e produzidas 10 receitas. Um dos pontos apontados pelos próprios participantes foi à importância de conhecer outras receitas e de discutir, por exemplo, as quantidades de determinado ingrediente. Nos grupos foi possível perceber a interação na discussão das receitas, seus ingredientes e modo de ser feito. Algumas receitas foram de conhecimento geral, mas que cada um tinha um determinado método de fazer e/ou uma determinada quantidade de determinado ingrediente. Isso permitiu uma conversa para determinar se aquela determinada receita com aquela determinada quantidade iria dar certo.

Para Girotto (2015) na Oficina Segurança Alimentar e Nutricional ocorreu à capacitação teórica e prática dos participantes nas seguintes áreas: DTA’s – Doenças Transmitidas por Alimentos; conservação e contaminação de alimentos; comportamento e higiene nas áreas de produção de alimentos; segurança alimentar e nutricional e aproveitamento total de alimentos; - Prática de Produção de bolos e sucos com aproveitamento total de alimentos: Bolos utilizando as cascas de frutas da época como a manga e banana. Ao final houve uma reflexão sobre a oficina, bem como sobre as demais que haviam sido ofertadas pela manhã, onde voluntariamente os participantes puderam comentar o que acharam da experiência e das oficinas, e degustaram do que haviam produzido - os bolos e os sucos.

Discussões

Considerando a opção pelo uso da metodologia da Pesquisa Ação cabe, inicialmente, apresentar como Thiollent (1996, p.14) a define:

(...) um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo.

E, ainda, que para Morin (2004): “Trata-se de uma abordagem de compreensão e de explicação da práxis dos grupos sociais, pela implicação dos próprios grupos, e com intenção de melhorar sua prática”.

Tem ainda objetivo emancipatório e transformador do discurso, das condutas e das relações sociais sendo uma modalidade de pesquisa social na qual há um diálogo entre o pesquisador e os pesquisados que estão envolvidos na solução de um problema detectado para, em seguida, montarem estratégias visando à solução da questão detectada (MORIN, 2004).

Neste sentido e considerando que a especificidade da metodologia da pesquisa-ação em sua finalidade essencial é a participação dos atores sociais na resolução de problemas, tinha-se como Tema/Problemática a questão da Segurança Alimentar e Nutricional (em conformidade com a demanda e diagnóstico da viagem precursora) e como os demais atores sociais poderiam participar de um processo educativo e participativo onde pudesse ocorrer a troca/compartilhamento e a construção de saberes coletivo.

Para além da resolução de problemas, El Andaloussi (2004, p.140) questiona em que aspectos as finalidades da pesquisa-ação estão voltadas para a produção de saber e o desenvolvimento da ação. Como a pesquisa pode gerar simultaneamente ação e saber?

Ao tentar responder a essa questão o mesmo autor distingue pelo menos três tipos de produções que se realizam ao longo de uma pesquisa-ação: a didática[footnoteRef:5], a praxiológica e, finalmente, a científica. [5: O termo didático foi utilizado no sentido que possui em tecnologia educacional, isto é, com ênfase nas influências das ferramentas (documentos, livros, filmes, jogos, etc) sobre as aprendizagens e a aquisição de saberes.]

Para El Andaloussi (2004, p.142) “Quando os educadores implicados em uma pesquisa-ação se concentram na resolução de um problema, eles precisam produzir materiais e documentos apropriados”. Esta tarefa está relacionada à produção didática.

Para que se pudesse atender a demanda (resultantes do diagnóstico da necessidade de problematizar e produzir uma Oficina sobre Segurança Alimentar e Nutricional) teve-se que produzir uma série de materiais didáticos, tais como, o Livro de receitas.

A produção do saber praxiológico está intimamente ligada ao saber didático: a produção do saber praxiológico elabora-se quando os pesquisadores questionam a ampliação do conhecimento relativo à ação, com o intuito de compreender sua lógica e de propor os meios de desenvolver a prática. Por fim, a produção do saber científico é aquela que é produzida pelo pesquisador após ter tomado o recuo necessário para processar os dados coletados, com o intuito de articular a coerência dos fatos e de produzir um saber científico.

A opção pelas abordagens Inter e transdisciplinar e metodologia participativa com aspectos de Pesquisa Ação consolidou-se pelo estudo e a Pesquisa Bibliográfica inicial onde, Jurjo Torres Santomé (1998, p. 70), apresenta a hierarquização dos níveis de colaboração e integração entre as disciplinas proposta por Piaget:

1. Multidisciplinaridade. O nível inferior de integração. Ocorre quando, para solucionar um problema, busca-se informação e ajuda em várias disciplinas, sem que tal interação contribua para modificá-las ou enriquecê-las. Esta costuma ser a primeira fase da constituição de equipes de trabalho interdisciplinar, porém não implica em que necessariamente seja preciso passar a níveis de maior cooperação.

2. Interdisciplinaridade. Segundo nível de associação entre disciplinas, em que a cooperação entre várias disciplinas provoca intercâmbios reais; isto é, existe verdadeira reciprocidade nos intercâmbios e, consequentemente, enriquecimentos mútuos.

3. Transdisciplinaridade. É a etapa superior de integração. Trata-se da construção de um sistema total, sem fronteiras sólidas entre as disciplinas, ou seja, de ‘uma teoria geral de sistemas ou de estruturas, que inclua estruturas operacionais, estruturas de regulamentação e sistemas probabilísticos, e que una estas diversas possibilidades por meio de transformações reguladas e definidas.

No tocante ao que trata sobre a Diretriz Interdisciplinaridade e Interprofissionalidade, o Planejamento e a opção por tais abordagens tiveram como base as orientações da Política Nacional de Extensão Universitária:

É um truísmo dizer que a realidade social é complexa, mas talvez não o seja argumentar que qualquer intervenção ou ação destinada a alterá-la deve levar em conta essa complexidade sob pena de se tornar estéril ou ineficiente. Por muitas décadas, as tecnologias de intervenção social têm oscilado entre visões holistas, destinadas a apreender a complexidade do todo, mas condenadas a ser generalistas, e visões especializadas, destinadas a tratar especificidades, mas caracterizadas pelo parcelamento do todo. A diretriz de Interdisciplinaridade e Interprofissionalidade para as ações extensionistas busca superar essa dicotomia, combinando especialização e consideração da complexidade inerente às comunidades, setores e grupos sociais, com os quais se desenvolvem as ações de Extensão, ou aos próprios objetivos e objetos dessas ações. O suposto dessa diretriz é que a combinação de especialização e visão holista pode ser materializada pela interação de modelos, conceitos e metodologias oriundos de várias disciplinas e áreas do conhecimento, assim como pela construção de alianças intersetoriais, interorganizacionais e interprofissionais. Dessa maneira, espera-se imprimir às ações de Extensão Universitária a consistência teórica e operacional de que sua efetividade depende (2012 p. 17-18).

Conclusões

A fase de planejamento e desenvolvimento das ações, com um total de 150 horas, constituiu-se em um processo de sensibilização e integração dos acadêmicos e coordenadores e foi de fundamental importância para o sucesso da Ação. Nesse processo, evidenciou-se a consistência do uso das abordagens multi, inter e transdisciplinar e se pôde verificar como a Interdisciplinaridade e Interprofissionalidade foi operando na relação “teoria-prática”. Pôde-se constatar que, neste sentido, o esforço produzido esteve também pautado por um momento de síntese entre a teoria e a prática.

Outro aspecto que contribui foi a Interação Dialógica a qual foi reiterada no sentido da orientação teórica do desenvolvimento de relações entre Universidade e setores sociais marcadas pelo diálogo e troca de saberes, superando-se, assim, o discurso da hegemonia acadêmica e substituindo-o pela ideia de aliança com movimentos, setores e organizações sociais:

Não se trata mais de “estender à sociedade o conhecimento acumulado pela Universidade”, mas de produzir, em interação com a sociedade, um conhecimento novo. Um conhecimento que contribua para a superação da desigualdade e da exclusão social e para a construção de uma sociedade mais justa, ética e democrática (FORPROEX, 2004, p.16-17).

Cabem ainda, ao término deste texto, algumas considerações sobre o Impacto e Transformação Social. Embora, de modo empírico, pôde-se observar a riqueza e importância da Ação para os participantes e para os contextos de apontamento e identificação de mudanças possíveis em relação às realidades diagnosticadas pelos próprios participantes, não se tem dados suficientes para precisar, de modo claro e efetivo, o seu Impacto. Outro fator que se observa é que a estrutura funcional do Projeto Rondon, com características pontuais e sem continuidade, bem como a complexidade de variáveis relacionadas, também impossibilitou a verificação de como o Princípio do Impacto e Transformação Social operou, até porque precisa ser considerado a médio e longo prazo.

As sistematizações da Ação e das oficinas, em certa medida, podem ser consideradas também um processo de avaliação da Ação, pois, na medida em que se resgatou a experiência da Ação, sistematizando os dados, procedendo à análise pôde-se compreender que o processo de percepção e, mesmo, o conhecimento que se tinha dos princípios estruturantes foi enriquecido. O processo de investigação, em conformidade com suas análises e interpretações, aponta também para a possibilidade de que a Ação de Extensão possa ser considerada enquanto “modelo” a ser seguido, bem como ser alvo de novas análises e aprimoramentos.

Agradecimentos

À UNIJUI, pelo apoio em todas as etapas do projeto, aos professores colaboradores do projeto nas diferentes áreas do conhecimento e a toda a equipe de rondonistas, ao Projeto Rondon, pela oportunidade de vivenciar lições de vida e de cidadania, a Secretaria Municipal de Educação e cultura e a toda população do município de Itabaiana – PB. Enfim, a todos com que tivemos a oportunidade de conviver e vivenciar novas experiências de vida.

Referências

BRIGO, Tiago. Relatório das Atividades do Projeto Rondon – 2015 - Operação Porta do Sol Ijuí: 2015.

EL ANDALOUSSI, Khalid. Pesquisas-Ações: ciências, desenvolvimento, democracia. Traduzido por Michel Thiollent. São Carlos: EdUFSCar, 2004.

GIROTTO, Cristiane Tarine Müller. Relatório das Atividades do Projeto Rondon – 2015 -Operação Porta do Sol. Ijuí: 2015.

GRUMICKER, Cristiane. Relatório das Atividades do Projeto Rondon – 2015 - Operação Porta do Sol. Ijuí: 2015.

MORIN, André. Pesquisa-ação integral e sistêmica: uma antropopedagogia renovada. Rio de Janeiro: DP&A, 2004.

Política Nacional de Extensão Universitária. Fórum de pró-reitores de extensão das universidades públicas brasileiras-Forproex. Manaus-AM, maio de 2012.

PENA, Fábio do Prado. Relatório das Atividades do Projeto Rondon – 2015 - Operação Porta do Sol Ijuí: 2015.

SANTOMÉ, Jurjo Torres. Globalização e interdisciplinaridade. Porto Alegre: Artmed, 1998.

THIOLLENT, Michel. Metodologia da Pesquisa-Ação. São Paulo: Cortez, 1996.