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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS RAQUEL RENZO DA SILVA PEQUIÁ O ESTUDO DAS NOVAS LEGISLAÇÕES DE ESTÁGIO E O CONTEXTO NO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL DA FCHS - UNESP - CAMPUS DE FRANCA FRANCA 2015

FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS RAQUEL … · PNAS Política Nacional de Assistência Social PNE Política Nacional de Estágio PROUNI Programa Universidade para Todos REUNI

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO”

FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

RAQUEL RENZO DA SILVA PEQUIÁ

O ESTUDO DAS NOVAS LEGISLAÇÕES DE ESTÁGIO E O CONTEXTO NO

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL DA FCHS - UNESP - CAMPUS DE FRANCA

FRANCA

2015

RAQUEL RENZO DA SILVA PEQUIÁ

O ESTUDO DAS NOVAS LEGISLAÇÕES DE ESTÁGIO E O CONTEXTO NO

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL DA FCHS - UNESP - CAMPUS DE FRANCA

Dissertação apresentada à Faculdade de

Ciências Humanas e Sociais da

Universidade Estadual Paulista “Júlio de

Mesquita Filho”, como pré-requisito para

obtenção do Título de Mestre em Serviço

Social. Área de concentração: Serviço

Social, trabalho e sociedade.

Orientadora: ProfªDrªAnalúcia Bueno dos

Reis Giometti

FRANCA

2015

Pequiá, Raquel Renzo da Silva.

O estudo das novas legislações de estágio e o contexto no curso

de serviço social da FCHS - UNESP – Campus de Franca / Raquel

Renzo da Silva Pequiá. – Franca : [s.n.], 2015.

161 f.

Dissertação (Mestrado em Serviço Social). Universidade Esta-

dual Paulista. Faculdade de Ciências Humanas e Sociais.

Orientadora: Analúcia Bueno dos Reis Giometti.

1.Serviço social - Estudo e ensino. 2.Programas de estágio.

3. Serviço social - Legislação. I. Título.

CDD – 361.007

RAQUEL RENZO DA SILVA PEQUIÁ

O ESTUDO DAS NOVAS LEGISLAÇÕES DE ESTÁGIO E O CONTEXTO NO

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL DA FCHS - UNESP – CAMPUS DE FRANCA

Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade

Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, como pré-requisito para obtenção do

Título de Mestre em Serviço Social. Área de concentração: Serviço Social, trabalho e

sociedade.

BANCA EXAMINADORA

Presidente:_________________________________________________________________

ProfªDrªAnalúcia Bueno dos Reis Giometti – FCHS/ UNESP

1º Examinador:______________________________________________________________

ProfªDrªCirlene Aparecida Hilário da Silva Oliveira - FCHS/UNESP

2º Examinador:______________________________________________________________

ProfªDrªLeslianeCaputti – Universidade Federal do Triangulo Mineiro

Franca, ____de ______________________de 2015.

“Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”.

(Cora Coralina)

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço a Deus, pela força e iluminação nessa caminhada, que sem a sua

intercessão Divina não seria possível a minha existência.

Aos meus pais, pelo apoio incondicional, incentivo e que mesmo distantes fisicamente

estiveram ao meu lado com suas orações e compreenderam as minhas muitas ausências

durante essa jornada. Vocês são as pessoas responsáveis pelo ser humano que me tornei hoje.

Amo-os muito.

Ao meu irmão, Marcos, pelo incentivo e por acreditar na minha perseverança, dizendo

palavras que me fazem acreditar ser capaz de superar coisas inimagináveis.

Ao meu esposo, André, que muitas vezes teve que conviver com a ausência “mesmo estando

juntos”, pela tolerância e compreensão neste momento. Pelos dias que não pudemos fazer

passeios, os finais de semana e férias reservados para os estudos. Esta vitória compartilho

com você.

Aos meus familiares na pessoa dos meus primos Rosevane e ao meu primo “irmão” Abner,

pelos ensinamentos de informática e pela paciência em ensinar todos os recursos possíveis

para quem não domina recursos tecnológicos.

Às minhas amigas do exercício profissional no Tribunal de Justiça – Comarca de Franca, que,

apesar de recente o nosso convívio, vocês fazem parte de minha história e são também

apoiadoras e incentivadoras que Deus colocou no meu caminho. Todas vocês personificaram

a palavra amizade e tudo que dela advém.

À minha amiga e “irmã” de muitos momentos Lucélia, que emprestou seus ouvidos e ombro

para os meus desabafos e incansáveis questionamentos profissionais. Sou grata a você pela

paciência e por ser tornar um exemplo de fé e bondade.

Um especial agradecimento aos sujeitos da pesquisa que foram relevantes para o

desenvolvimento deste trabalho.

E, por último e não menos especial, à ProfªDrª. Analúcia Bueno dos Reis Giometti, meus

agradecimentos pela aventura em um tema tão “novo” à sua carreira acadêmica e por me

permitir navegar também por “novos ares como o da temática ambiental”, pelo exemplo de

que sempre é tempo para aprender e estudar novas empreitadas. Pelo profissionalismo,

dedicação, compreensão e carinho a mim dispensados. Acredito que Deus tem um designo

para todos nós e que nossas trajetórias se encontraram por algum motivo especial.

Agradeço a todos que de alguma forma contribuíram para que mais uma etapa fosse vencida.

Dedico este trabalho a Deus, pela força, fé e iluminação

que me guiam sempre. Aos meus pais, Eduardo e Tereza,

meus exemplos de perseverança e coragem.

Ao meu irmão, por acreditar sempre em mim.

Ao meu esposo, André Luís, pelo amor e compreensão.

PEQUIÁ, Raquel Renzo da Silva. O estudo das novas legislações de estágio e o contexto no

curso de Serviço Social da FCHS- UNESP – Campus de Franca. 2015. 161 f. Dissertação

(Mestrado em Serviço Social) – Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade

Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Franca, 2015.

RESUMO

O presente estudo se propõe a refletir sobre o estágio enquanto espaço privilegiado de

aprendizagem, um momento propício para o estagiário desenvolver sua matriz de identidade

profissional, efetivada através da responsabilidade e compromisso e, na medida em que o

estudante é inserido nesta atividade educativa, o estágio é efetivamente o espaço de

legitimidade profissional. Diante disso, o presente trabalho visa a realização de uma reflexão

sobre essas legislações e o contexto no curso de Serviço Social da Faculdade de Ciências

Humanas e Sociais – UNESP – Campus Franca. O estudo procurou analisar a

compreensãodos docentes envolvidos com a temática, diante das repercussões das novas

alterações legislativas e normativas vigentes: coordenadores do curso de Serviço Social,

coordenadores do setor de estágio e supervisores do núcleo de estágio. Para melhor apreender

a configuração do estágio supervisionado no curso da UNESP, realizamos mapeamento dos

campos de estágio supervisionado no período de 2009 a 2014. Partimos do pressuposto que o

estágio supervisionado, segundo as diretrizes curriculares do Serviço Social, é uma atividade

curricular obrigatória, que se estabelece a partir da inserção do aluno no espaço sócio-

ocupacional e tem como objetivo principal sua capacitação para o exercício profissional. Esta

pesquisa aponta a necessidade de compreender e problematizar o estágio supervisionado no

ensino superior, vinculado aos princípios educacionais, identificando a atual configuração do

estágio supervisionado em Serviço Social, sob a ótica das novas legislações e normativas

vigentes até o ano de 2014.

Palavras-chave: Serviço Social. formação profissional. estágio supervisionado. legislações.

PEQUIÁ, Raquel Renzo da Silva.O estudo das novas legislações de estágio e o contexto no

curso de Serviço Social da FCHS - UNESP -Campus de Franca. 2015. 161f. Dissertação

(Mestrado em Serviço Social) – Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade

Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Franca, 2015.

ABSTRACT

This study aims to reflect on the stage as a privileged space for learning, a good time for the

trainee to develop their professional identity matrix, carried out by responsibility and

commitment and, to the extent that the student is inserted in this educational activity, stage is

effectively the professional legitimacy of space. Thus, the present work aims to hold a debate

on that legislation and the context in the course of Social Work, Faculty of Humanities and

Social Sciences - UNESP - Franca. The study sought to analyze the understanding of teachers

involved with the theme, given the impact of new legislative and regulatory changes

applicable: Course coordinators of Social Work, internship sector coordinators and

supervisors of the training group. To better grasp the stage setup supervised the course of

UNESP, we conducted mapping of training camps supervised from 2009 to 2014. We assume

that the supervised training, according to the curriculum guidelines of Social Work, is a must-

curricular activity, which is established from the insertion of the student in social and

occupational space and aims his training for professional practice. This research points to the

need to understand and question the supervised training in higher education, linked to

educational principles by identifying the current configuration of supervised training in social

work from the perspective of new legislation and regulations in force until the year 2014.

Keywords: Social Work. professional qualification. supervised internship. legislation.

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Os Sujeitos pesquisados ...................................................................................... 66

Quadro 2 - Campos de estágio 3º ano Serviço Social 2009 ................................................. 80

Quadro 3 - Campos de estágio 4º ano Serviço Social 2009 ................................................. 80

Quadro 4 - Campos de estágio 3º ano Serviço Social 2010 ................................................. 80

Quadro 5 - Campos de estágio 4º ano Serviço Social 2010 ................................................. 80

Quadro 6 - Campos de estágio 3º ano Serviço Social 2011 ................................................. 80

Quadro 7 - Campos de estágio 4º ano Serviço Social 2011 ................................................. 80

Quadro 8 - Campos de estágio 3º ano Serviço Social 2012 ................................................. 80

Quadro 9 - Campos de estágio 4º ano Serviço Social 2012 ................................................. 81

Quadro 10 - Campos de estágio 3º ano Serviço Social 2013 ............................................... 81

Quadro 11 - Campos de estágio 4º ano Serviço Social 2013 ............................................... 81

Quadro 12 - Campos de estágio 3º ano Serviço Social 2014 ............................................... 81

Quadro 13 - Campos de estágio 4º ano Serviço Social 2014 ............................................... 81

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Quantidade de campos de estágio nos 3º anos .................................................. 82

Gráfico 2 - Quantidade de campos de estágio nos 3º anos .................................................. 83

Gráfico 3 - Quantidade de campos de estágio nos 4º anos .................................................. 84

Gráfico 4 -Quantidade de campos de estágio nos 4º anos noturno .................................... 85

Gráfico 5 -Natureza dos campos de estágio 2009 ................................................................ 86

Gráfico 6 - Natureza dos campos de estágio 2010 ............................................................... 86

Gráfico 7 - Natureza dos campos de estágio 2011 ............................................................... 87

Gráfico 8 - Natureza dos campos de estágio 2012 ............................................................... 87

Gráfico 9 - Natureza dos campos de estágio 2013 ............................................................... 87

Gráfico 10 - Natureza dos campos de estágio 2014 ............................................................. 88

Gráfico 11 - Quantidade de supervisores de estágio 2009 – 2014 ...................................... 88

LISTA DE SIGLAS

ABESS Associação Brasileira de Ensino em Serviço Social

ABEPSS Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social

CEDEPSS Centro de Documentação e Pesquisa em Políticas Sociais e Serviço

Social

CES Câmara de Educação Superior

CFE Conselho Federal de Educação

CFESS Conselho Federal de Serviço Social

CNE Conselho Nacional de Educação

CRESS Conselho Regional de Serviço Social

Enesso Executiva Nacional dos Estudantes de Serviço Social

Enpess Encontro Nacional de Pesquisadores em Serviço

GEFORMSS Grupo de Pesquisa sobre Formação Profissional em Serviço Social

GTPs Grupos Temáticos de Pesquisa

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

Teixeira

LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação

LOAS Lei Orgânica da Assistência Social

MEC Ministério da Educação e Cultura

MPOG Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão

PIB Produto Interno Bruto

PNAS Política Nacional de Assistência Social

PNE Política Nacional de Estágio

PROUNI Programa Universidade para Todos

REUNI Programa de Apoio aos Planos de Reestruturação e Expansão das

Universidades Federais

SUAS Sistema Único de Assistência Social

SUS Sistema Único de Saúde

TCC Trabalho de Conclusão de Curso

UNESP Universidade Estadual Paulista

UFA Unidade de Formação Acadêmica

Unifesp Universidade Federal de São Paulo

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 14

CAPÍTULO 1 A FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM SERVIÇO SOCIAL ................... 19

1.1 Situando historicamente o processo de formação profissional em Serviço Social no

Brasil ................................................................................................................................. 19

1.1.1 A formação profissional na contemporaneidade ............................................................. 23

1.2 Mercado de trabalho e precarização do ensino ............................................................. 27

1.3O processo de revisão curricular ...................................................................................... 30

1.3.1 Diretrizes Curriculares ................................................................................................... 31

1.3.1.1 Qual o papel das Diretrizes Curriculares? .................................................................... 32

CAPÍTULO 2 CONVERSANDO SOBRE O ESTÁGIO SUPERVISIONADO NA

FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM SERVIÇO SOCIAL ...................... 37

2.1Breve histórico sobre as legislações de estágio em Serviço Social ................................. 39

2.2 Lei de Estágio n. 11.788, de 25 de setembro de 2008 ..................................................... 41

2.3 Resolução CFESS n. 533, de 29 de setembro de 2008 ................................................... 48

2.4 Política Nacional de Estágio da ABEPSS ....................................................................... 54

CAPÍTULO 3 A REALIDADE DO CURSO DE SERVIÇO DA UNESP DIANTE DAS

ALTERAÇÕES NA LEGISLAÇÃO E NORMATIVAS DE ESTÁGIO ... 63

3.1 Percursometodológico ...................................................................................................... 63

3.2 Situando o “lócus” da pesquisa ....................................................................................... 69

3.2.1 Sobre o curso de Serviço Social da Unesp - Campus Franca .......................................... 69

3.3 A compreensão dos docentes envolvidos com a temática estágio supervisionado

diante das novas legislações e normativas e o contexto no curso de Serviço

SocialdaUnesp - Campus de Franca ............................................................................... 72

3.4 Mapeamento dos campos de estágio da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da

Unesp - Campus de Franca ............................................................................................. 78

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 90

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 96

APÊNDICES

APÊNDICE A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO..........104

ANEXOS

ANEXO A - LEI Nº 11.788, DE 25 DE SETEMBRO DE 2008 ........................................ 106

ANEXO B - RESOLUÇÃO CFESS N. 533, DE 29 DE SETEMBRO DE 2009 .............. 111

ANEXO C - POLÍTICA NACIONAL DE ESTÁGIO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA

DE ENSINO E PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL (ABEPSS) .............. 115

ANEXO D - REGULAMENTO DO NÚCLEO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO DO

CURSO DE GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL DA FACULDADE

DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS DA UNIVERSIDADE

ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” ................... 159

14

INTRODUÇÃO

O presente trabalho é resultado de indagações e reflexões em relação aos

direcionamentos e rumos da categoria profissional de assistente social, principalmente quando

do exercício profissional no âmbito da operacionalização de políticas públicas sociais desde

2009 e a responsabilidade, como supervisora de campo de estágio desde o início da atuação

profissional, além da participação no Grupo de Estudos e Pesquisa Formação Profissional em

Serviço Social da UNESP – Campus Franca.

A experiência como assistente social - supervisora de campo - permitiu vivenciar as

implicações e novos paradigmas ocasionados pelas aprovações das últimas legislações de

estágio tais como a Lei n. 11.788, de 25 de setembro de 2008 (BRASIL, 2008), a

Resolução CFESS1 n. 533, de 29 de setembro de 2008 (CFESS, 2008), e a construção

da Política Nacional de Estágio em Serviço Social (PNE), tanto nos campos de estágio,

quanto no posicionamento da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais (FCHS) – UNESP -

Campus de Franca, quanto a estas diretrizes e normativas.

A atualidade expressa uma conjuntura marcada por profundas alterações no mundo do

trabalho, na reforma do Estado, com a transferência de funções de sua responsabilidade para a

sociedade civil, ou seja, atribuindo-lhe funções de caráter público, além de outras constantes

mudanças estabelecidas na sociedade brasileira, como o desmonte das políticas públicas.

Mediante todas essas alterações, se observa uma necessidade premente no Serviço Social,

enquanto profissão de natureza interventiva, de construção de uma proposta de formação

profissional conciliada com a atualidade, comprometida com os valores democráticos e que

perpassa a prática da construção de uma cidadania plena, e não somente aquela que considera

o sujeito como um cidadão consumidor, mas detentor de direitos, limites e possibilidades e

principalmente pautada numa nova forma de sociabilidade, em que exista real possibilidade

de um protagonismo social.

Em virtude das profundas mudanças sociais, econômicas, políticas e culturais, se

observa um reflexo direto nos processos de formação profissional tanto do curso de Serviço

Social, como de outras áreas, o que reafirma a necessidade de superar algumas práticas,

conceitos e teorias e coloca a necessidade de uma revisão crítica não somente de currículo,

mas de projeto profissional, que efetivamente expressa as novas tendências e condições

emergentes na dinâmica social.

1 Conselho Federal de Serviço Social (CFESS).

15

Essa revisão deve estar contextualizada no seu significado histórico, num

entendimento anteàs demandas postas ao Serviço Social em virtude das transformações

societárias. A conjuntura brasileira, principalmente nos aspectos econômicos, sociais,

políticos e culturais, denota uma variedade de desafios e mudanças que são requeridas para

esse redimensionamento da profissão. Dessa forma, a formação profissional requer:

[...] um profissional culto e atento às possibilidades descortinadas pelo

mundo contemporâneo, capaz de formular, avaliar e recriar propostas ao

nível das políticas sociais e da organização das forças da sociedade civil. Um

profissional informado, crítico e propositivo, que aposte no protagonismo

dos sujeitos sociais. (IAMAMOTO, 2001, p.144).

Sabe-se que o processo de formação se inicia na graduação e “[...] é construído no

decorrer do exercício da prática profissional”; é também o espaço propício para construir

propostas criativas de enfrentamento dos desafios contemporâneos (PINTO, 1997, p.45). A

universidade, como espaço em que se inicia a construção dessa formação, é uma das

responsáveis por esse processo e, juntamente com ela, os demais sujeitos envolvidos que são

os discentes, docentes e supervisores de campo.

O estágio supervisionado em Serviço Social, enquanto atividade curricular obrigatória,

e vinculado diretamente ao chamado “ensino da prática”2, se constitui em um dos eixos

fundamentais desse processo de reformulação da formação profissional, em suas dimensões

teórica, ético-política e técnica.É necessário destacar que, além do caráter obrigatório, o

estágio é um componente essencial para o processo de formação, pois é o primeiro contato do

aluno como experiência de trabalho, e um espaço privilegiado de aproximação com a prática

profissional e a realidade social, objeto de intervenção do Assistente Social.

Integrante da grade curricular, com caráter obrigatório, o estágio fundamenta-se na Lei

n. 8.662, de 7 de junho de 1993 (BRASIL, 1993a), que regulamente a profissão, e no Código

de Ética do Assistente Social e na Resolução CFESS n. 273, de 13 de março de 1993 (CFESS,

1993). As legislações objetivam garantir exigências mínimas e legais a essa fase de

aprendizado, além de seu caráter pedagógico e a perspectiva das novas diretrizes curriculares

que caracterizam o estágio como atividade indispensável, integradora do currículo,junto ao

trabalho de conclusão de curso.

2Entendida com uma perspectiva de supervisão pautada numa relação horizontal, dialogada e participativa, em

que não há a dicotomia daquele que ensina daquele que aprende ambos constituem o mesmo processo de

construção de conhecimento, autonomia, participação, emancipação política e identidade profissional.

(CAPUTI, 2014, p. 133).

16

Compreendido como um dos momentos cruciais no processo de ensino-aprendizagem

do estudante, o estágio supervisionado em Serviço Social propicia o início da construção de

uma identidade profissional baseada num elemento essencial: o conhecimento teórico prático.

E ainda, a partir desse momento que o aluno tem subsídios para refletir sobre sua visão de

homem/mundo, a consonância dessa maneira de refletir com o exercício profissional e

principalmente, a adoção por um caminho que trilhe na direção de uma nova ordem social,

proposta no Projeto Ético-Político do Serviço Social.

Partindo de tais considerações, a presente pesquisa se propõe a compreender a atual

configuração do estágio supervisionado em Serviço Social após a aprovação das novas

legislações e normativas e suas repercussões no curso de Serviço Social da Faculdade de

Ciências Humanas e Sociais - UNESP - Campus de Franca, o primeiro curso público no

Estado de São Paulo.

Procuramos compreender a atual configuração do estágio supervisionado em Serviço

Social concebido como uma atividade integradora do currículo e parte integrante e essencial

na formação profissional do assistente social sob a ótica dos docentes envolvidos na

coordenação de curso, comissão de estágio e núcleo de estágio em Serviço Social.

Partindo de tais considerações, num primeiro momento utilizou-se comoprocedimento

metodológico a investigação, que foi realizada através da pesquisa qualitativa, de caráter

exploratório com a aproximação empírica à realidade social, apresentando como um dos seus

instrumentos de coleta de dados a entrevista.

A abordagem qualitativa parte do fundamento de que há uma relação

dinâmica entre o mundo real e o sujeito, uma interdependência viva entre o

sujeito e o objeto, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a

subjetividade do sujeito. (CHIZZOTTI, 1991, p. 79).

Para o estudo do tema, objetivou-se uma grande reflexão do objeto inserido numa

realidade em movimento, a fim de interpretar, analisar e compreender suas determinações.

Sendo assim, este caminho foi percorrido primeiramente, através da pesquisa bibliográfica e

documental, sendo a primeira composta pelo levantamento e utilização de referências e a

segunda, pela consulta de documentos relacionados à temática estudada junto ao Setor de

Estágio de Serviço Social da FCHS – UNESP - Campus de Franca.

Ainda sobre a abordagem qualitativa:

As abordagens qualitativas facilitam descrever a complexidade de

problemas e hipóteses, bem como analisar a interação entre variáveis,

compreender e classificar determinados processos sociais, oferecer

17

contribuições no processo de mudanças, criação ou formação de opiniões

de determinados grupos e interpretações das particularidades (OLIVEIRA,

M.M., 2010, p. 59).

Foi também utilizada a pesquisa de campo, que é uma forma de aproximação do

objeto de estudo, ou seja, um espaço onde se pode criar um conhecimento partindo da

realidade concreta.Assim, numa etapa posterior foram escolhidos os sujeitos, via registros e

documentos da Divisão técnica acadêmica por meio da Diretoria Técnica Acadêmica, onde

acessamos os registros de portaria de nomeação de docentes no período de 2008 a 2014 e

onde identificamos os sujeitos.Após essa identificação, realizamos contato via e-mail e

pessoalmente com os docentes, disponibilizando o roteiro para as questões a serem abordadas

em posterior entrevista, de acordo com a anuência dos envolvidos.

Sendo assim, os sujeitos da pesquisa, inseridos num universo dinâmico, foram os

docentes coordenadores de curso de Serviço Social, os coordenadores da comissão de estágio

e os supervisores acadêmicos do Núcleo de Estágio em Serviço Social.

Para o mapeamento dos campos de estágio nos períodos de 2008 e 2014, efetuaram-se

consultas aos documentosde controle do Setor de Estágio do curso de Serviço Social que

permitiu o acesso às guias de encaminhamento dos estudantes às instituições que mantiveram

convênio com a universidade na modalidade de campo de estágio, no período indicado. O

critério estabelecido para a colheita dos dados foi a consulta aos documentos dos graduandos

de Serviço Social dos terceiros e quartos anos que realizavam o estágio curricular obrigatório

após a aprovação da nova Lei de Estágio, a Resolução CFESS n. 533, de 29 de setembro de

2008, e a Política Nacional de Estágio da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em

Serviço Social(ABEPSS).

Em relação à estrutura do trabalho, escolheu-se organizá-lo em três capítulos. O

primeiro capítulo aborda a formação profissional no Brasil desde seus primórdios, traçando

um breve panorama histórico até a formação profissional na contemporaneidade, ressaltando

o processo de revisão curricular e as Novas Diretrizes Curriculares para o curso de Serviço

Social.

O segundo capítulo é constituído por reflexões sobre a legalidade do estágio

supervisionado na formação profissional em Serviço Social com breves considerações sobre o

histórico das legislações e reflexões sobre asnovas legislações e normativas que disciplinam a

temática na atualidade.

O terceiro capítulo enfoca a caracterização do universo da pesquisa, ou seja, o

município de Franca; a “criação da Unesp”, a primeira faculdade pública do Estado de São

18

Paulo a ofertar o curso de Serviço Social, alémde reflexões quanto a compreensão dos sujeitos

pesquisados em relação às alterações da legislação e normativas de concernentes ao estágio e

as repercussões na realidade do curso de Serviço Social da FCHS, nos períodos de 2008 a

2014. Também optou-se pelo que denominou-se “mapeamento” dos campos de estágio em

Serviço Social no período de 2009 a 2014, cujo objetivo é traçar um panorama dos campos de

estágio de Serviço Social no período posterior a aprovação das novas legislações e

normativas, conveniados com a UNESP.

Sendo assim, colocados tais pontos para reflexão, apresentam-se algumas

considerações finais com o objetivo de subsidiar debates e trabalhos futuros.

Entendemos que esta pesquisa tem por finalidade contribuir para a reflexão sobre os

rumos da formação profissional na atual conjuntura, principalmente no que concerne à

temática estágio supervisionado, sobretudo após a aprovação das novas legislações e

normativas. Tais dispositivos legais aqui compreendidos como norteador na atual

configuração dessa atividade integradora do currículo profissional.

19

CAPÍTULO 1 A FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM SERVIÇO SOCIAL

1.1 Situando historicamente o processo de formação profissional em Serviço Social

noBrasil

O Serviço Social no Brasil como profissão, ou seja, como prática institucionalizada,

legitimada socialmente e legalmente sancionada é vinculado à chamada questão social,

entendida como:

Uma nominação surgida no século XIX, a partir das manifestações de

miséria e pobreza provenientes da exploração das sociedades capitalistas

com o desenvolvimento da industrialização. É relacionada ao surgimento do

operariado e da burguesia industrial. Nesse contexto começam as respostas

para o enfrentamento do capitalismo àquela época. A partir dos anos de

1970, a questão social torna-se um elemento central resultante das mudanças

no mundo do trabalho e da vigência do ideário neoliberal dessa etapa do

capitalismo. (SERRA, 2000, p.169).

É importante destacar que o início da profissão no Brasil é marcado pelo agravamento

da questão social, e segundo Kelly Silva (2006, p.10) “[...] no tratamento desta num momento

específico do processo da sociedade burguesa fundada na organização do monopólio”, vale

lembrar que com o processo de industrialização na década de 1930, e suas implicações na

sociedade acelera a urbanização do País provocando ainda mais o agravamento da questão

social. Em face dos interesses contraditórios das classes sociais e a essa realidade, o Estado,

adota medidas e estratégias visando uma “harmonia social”.

Ao mesmo tempo, na Igreja Católica há uma busca pela redefinição de sua relação

com a sociedade e o Estado, por meio de ações conduzidas pelo movimento laico. A partir

dessa aliança entre o Estado e Igreja é que surge o Serviço Social, ou seja, através de

interesses político-sociais e ideológicos. O assistente social revelava uma prática

“humanitária, sancionada pelo Estado e protegida pela Igreja com uma mistificada ilusão de

servir” que o colocava numa posição com um papel definido como instrumento da burguesia

(MARTINELLI, 1989, p. 57).

A formação profissional no período é marcada pela presença de características

doutrinárias e religiosas, fundamentadas principalmente, na filosofia Tomista 3 expressa pelos

cristãos da Igreja Católica, presentes na sociedade na década de 1930. O contexto econômico,

3 A postura de uma filosofia humanista com base na doutrina social da Igreja, que marcou de

maneirasignificativa o Serviço Social brasileiro desde seu surgimento até o início da década de 1960.

20

político e social da época são marcados pela transição das atividades agrária e exportadora

para a industrial.

[...] entre 1930 e 1945 criaram-se as condições para que a industrialização se

constituísse em fator decisivo na formação econômica e social brasileira. A

revolução de 1930 bem como a reorganização econômica após a crise de

1929 possibilitou a dinamização do setor industrial e pouco a pouco vão

sendo firmadas e garantidas as condições para a consolidação do processo de

acumulação de capital na indústria. (YASBEK, 1997, p. 25).

E ainda “A partir das grandes mobilizações da classe operária nas duas primeiras

décadas do século, o debate sobre a “questão social” atravessa toda a sociedade e obriga o

Estado, as frações dominantes e a Igreja a se posicionarem diante dela.” (IAMAMOTO,

2002,p. 18). Predomina no curso de Serviço Social os traços de caráter essencialmente

pessoal e moral, quer em nível de formação profissional, da prática e do discurso de seus

agentes. Sabe-se que o pensamento conservador e a forte influência da Igreja Católica

contribuíram para delinear o perfil da formação e da intervenção dos profissionais em

Serviço Social atrelado ao pensamento burguês, com a tarefa de amenizar conflitos,

recuperar o equilíbrio e preservar a ordem vigente. Observa-se que essa condição não

permitiu a construção de uma prática que esteve longe de legitimar as necessidades e

interesses da classe trabalhadora.

A partir de 1945, o Serviço Social no Brasil passa por um processo de forte

influência norte-americana devido a dois fatores: a 2ª Grande Guerra Mundial e

consequentemente um distanciamento do País com a Europa, e outro, a política americana

do presidente Roosevelt de aproximação com a América Latina. Nesse período a formação

profissional tem ênfase na instrumentalização técnica, com a valorização do método. É

marcada pela necessidade de uma ação profissional eficaz, voltada para o ajustamento do

indivíduo a uma sociedade harmônica e justa, alicerçada na corrente positivista. Além do

destaque para a questão da instrumentalização técnica, o empirismo é muito forte como

tendência dominante, cuja atuação profissional exigia apenas habilidade para entrevista, a

observação e questionário.

A profissão atravessava o período de “ouro” porque ela se estabeleceu de forma

significativa no seio das instituições públicas e privadas e a prática profissional passou a ter

reconhecido valor técnico, segundo (ANDRADE, 2007, p.23).

21

Em 1946 foi fundada a AssociaçãoBrasileira das Escolas de Serviço

Social4(ABESS)cuja finalidade se constituiu em definir e coordenar uma política de formação

profissional do Assistente Social e promover a adoção de um padrão mínimo de ensino entre

as escolas.

Na década de 1950 inicia-se um grande impulso na formação profissional em bases

científicas que, através da tecnificação da profissão, buscará capacitar o assistente social para

execução de programas de acordo com o modelo desenvolvimentista assumido pelo país.

Já no início da década de 1960, com as ideias advindas do Movimento de

Reconceituação no Serviço Social, inicia-se a busca por uma ação profissional comprometida

com as mudanças na sociedade e com os movimentos populares. É nesse período que se inicia

um processo de crítica ao Serviço Social tradicional, cujo eixo é doutrinário. Dentro deste

movimento são realizados os Seminários de Teorização: Araxá em 1976, Teresópolis em

1970, Sumaré em 1978 e Alto da Boa Vista no ano de 1984.

O Movimento de Reconceituação comportou diversas tendências calcadas em

diferentes matrizes teóricas, sendo que as principais de acordo com a denominação de Paulo

Netto (2004)são: a perspectiva modernizadora, de inspiração funcionalista, e que visa dar um

caráter científico à profissão; a perspectiva de reatualização do conservadorismo, inspirada na

Fenomenologia, cujo principal expoente é Ana Augusta de Almeida, e a intenção de ruptura,

de inspiração marxista, uma primeira aproximação do Serviço Social com a teoria social de

Marx5. É importante destacar que em cada uma dessas tendências há grande heterogeneidade.

Essa reatualização do conservadorismo teve como característica a valorização da elaboração

teórica, pois os padrões teóricos e metodológicos anteriores eram de influência positivista.

Pensava-se em analisar o homem em sua totalidade a partir da compreensão e não da

explicação sobre os fatos. “No entanto o pensamento crítico-dialético manteve-se discreto,

pois, não se buscou nas fontes originais de Marx e sim em autores que falavam a respeito de

sua obra.” (SILVA, K. M., 2006, p. 29).

4 Posteriormente, passará a Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social

4, juntando-se ao

Centro de Documentação e Pesquisa em Política Social e Serviço Social, desempenhando papel fundamental

na construção do Projeto Ético-Político da profissão e nos direcionamentos e avanços nas questões relativas ao

ensino e formação profissional do Curso de Serviço Social. 5 A tradição marxista é entendida como o elenco diferenciado de propostas, elaborações e contribuições

caracterizadas pela reflexão das diversas correntes marxistas, que é diferente da obra marxiana, escrita por

Marx. O marxismo, do qual deriva a tradição marxista tem dois conceitos fundamentais: o da alienação e o da

práxis. Ele denuncia o mundo alienado, o mundo que é resultado de forças contraditórias, sendo que a forma

de compreender esse movimento do mundo é através do método dialético, que está aberto para o novo e para a

transformação social.Analisa a luta de classes e o proletariado como também a exploração da força de trabalho

pelo sistema capitalista (PAULO NETTO, 1989).

22

É notável, nas décadas de 1970 e 1980, a preocupação da profissão com a necessidade

de uma “revisão” e “reorientação” de suas ações, visto que o movimento da categoria

profissional colocava em jogo a necessidade de superação da ideia de que a profissão seria

uma atividade meramente “técnica”.

Na mesma época aAssociação Brasileira de Ensino em Serviço Social (ABESS)

através de convenções nacionais encabeça a discussão para redefinir o currículo mínimo

do curso, no entanto o país atravessa uma conjuntura marcada por um regime autoritário,

com momentos de tensão política e social: o fim do milagre econômico, a crise do

petróleo, a repressão, a censura, a perseguição, a tortura e o exílio de lideranças de

esquerda, influenciando diretamente essa intenção. Uma das ações que o governo da época

põe em prática é vigilância e o afastamento de docentes considerados marxistas e

subversivos.

Há de se considerar também que o País assiste a um aumento significativo do número

de instituições privadas de ensino superior em relação às públicas, não somente no curso de

Serviço Social. É importante lembrar que uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação

(Lei n. 5.692/1971) entrou em vigor (BRASIL, 1971).

Nesse período observa-se grande tensão, gerada pela repressão vivenciada no país. É

nesse contexto que o processo de formação profissional do Curso de Serviço Social começou

a ser questionado, gerando uma sequência de debates envolvendo docentes e discentes, com a

intenção de formular um novo projeto que englobasse a revisão curricular. Estabelecido a

partir de formulações mais amplas, esse projeto ultrapassava a compreensão de não ser

somente uma mudança na grade curricular, mas uma mudança no projeto educacional do

Serviço Social, comprometido com uma postura crítica e com os interesses da classe

trabalhadora. Em razão da situação vivenciada pelo país, essa proposta de mudanças e a ideia

de que o modelo de ensino deveria ser ministrado em universidades públicas, que associassem

ensino e pesquisa e detivessem autonomia de gestão não saiu vitorioso. O que se observou na

realidade foi um crescimento das unidades de ensino, muitas com o objetivo único de lucro,

sem o comprometimento com a pesquisa ou com a qualidade do ensino.

Apesar da forte repressão que o País atravessa, em virtude da Ditadura Militar, a partir

da década de 1980 a teoria social de Marx passa a ser considerada a matriz teórico-

metodológica que mais pode contribuir para a profissão.

23

Quanto à matriz teórica citada:

Sua adoção gerou um movimento de “ruptura” com o chamado “Serviço

Social tradicional”. Repensando sua pratica os profissionais de Serviço Social

começaram a questionar a sociedade capitalista e buscaram uma nova ordem

social que superasse a exploração e exclusão.(ANDRADE, 2007, p. 27).

Apesar de constituir um importante avanço para a profissão, a adoção do “pensamento

marxiano” não provocou uma unanimidade entre os profissionais sobre essa nova

possibilidade de repensar a prática profissional. Com isso diz que se verificou uma verdadeira

divisão na categoria: de um lado estavam os reconceituados e os transformadores e de outro,

os não reconceituados e reprodutores do sistema6 (ANDRADE, 2007, p.28).

1.1.1 A formação profissional na contemporaneidade

A formação profissional do assistente social deve ser compreendida a partir da

apreensão da trajetória histórica da profissão, ou seja, a história da profissão está relacionada

com os processos econômicos, das classes e das próprias ciências. Consoante issopode-se

dizer que o entendimento do Serviço Social como profissão não se desvincula do contexto

social que o gera, o que implica em desvendar sua função real e suas consequências no

movimento concreto da vida social.

Refletir sobre essa formação profissional diante desse contexto implica também em

partir do pressuposto de um olhar atento ante a análise conjuntural, representada pelas novas

exigências da sociedade brasileira nas últimas décadas, que são consequências decorrentes das

mudanças do mundo do trabalho, da reforma do Estado e das novas formas assumidas pela

sociedade civil.

A formação profissional é entendida como um processo dialético, portanto,

aberto, dinâmico e permanente, incorporando as contradições decorrentes da

inserção da profissão e dos profissionais na própria sociedade. [...] falar em

formação profissional implica acompanhar a dinâmica da sociedade e a

trajetória histórica do próprio Serviço Social, procurando entender os

condicionamentos que a sociedade impõe sobre a prática

profissional.(SILVA, A. A., 1984, p. 73).

6 Para um melhor entendimento sobre esse período da trajetória histórica da profissão Consultar: Andrade (2007)

- Tese de Livre-docência em Serviço Social.

24

Analisando a conjuntura em que o Serviço Social está inserido é interessante registrar

que, nos anos 1980 verificou-se no Brasil, uma considerável organização de sujeitos políticos

coletivos, como sindicatos, partidos e movimentos sociais.

Paralelamente a esses movimentos, os trabalhadores também se organizavam pela

reivindicação de seus direitos, revelando uma gritante desigualdade social no País7.

Apesar dos avanços conquistados por esses movimentos, essa transição democrática não

alterou o aspecto conservador da sociedade brasileira, que historicamente estava impresso

ao processo de modernização. Na realidade o que se verifica no período é um forte

conteúdo conservador de que se reveste o processo de modernização capitalista no Brasil,

que pelo modelo de desenvolvimento econômico adotado gera, ao invés da inserção, a

exclusão social.

Diante do quadro de intensas transformações nos padrões de acumulação capitalistas,

aliada ao reordenamento do Estado à luz da ideologia neoliberal, o que se observa é uma cada

vez maior e intensa situação de exclusão social de grandes segmentos da população que

resulta numa ocorrência de pobreza aprofundada da população.

Aliada a essa conjuntura, o mundo do trabalho também sofre transformações com a

substituição do padrão produtivo taylorista/fordista pelo toyotismo, que é o padrão japonês de

trabalho, no qual a alta tecnologia e a produtividade são absolutamente fundamentais. A

empresa tem hoje um quadro de trabalhadores muito menor do que antigamente, pois além da

mecanização e da informatização do processo de trabalho, o próprio trabalhador é impelido a

se impor um nível de autoexigência, ou seja, a exigência para consigo mesmo é altíssima, pelo

medo de perder o emprego, fator esse que o impele a manter um ritmo de produção

incessante.

Dentre essas transformações pode-se citar ainda a substituição do homem pela

maquina, pela eletrônica e pela robótica que são essenciais, mas, dependendo de como

acontece esta relação “[...] para que não nos degrademos juntamente com o mundo do

trabalho, tornando-nos tão descartáveis como peças de uma engrenagem obsoleta.”

(MARTINELLI, 1998, p. 136-137).

Sabe-se que as questões da transformação e da degradação do mundo do trabalho

afetam todos os trabalhadores (dentre eles, os assistentes sociais) que vivem do mesmo. O

trabalho foi transformado em emprego e o emprego em salário, quando não há ainda o

7 A organização desses movimentos pode ser visualizada com a criação na década de1980, do Partido dos

Trabalhadores (PT), da Central Única dos Trabalhadores (CUT), o surgimento e organização dos

Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), além de outros como da classe trabalhadora, dos negros, de mulheres,

de homossexuais, de meninos e meninas de rua entre outros.

25

desaparecimento do emprego e a sociedade é pensada pela via do salário. Verifica-se também

uma tendência na baixa de salários, pois para um mesmo posto há uma infinidade de pessoas.

Esses fatores, aliados a outros de ordem conjuntural, culmina na precarização das relações de

trabalho. Há um crescimento elevado também do desemprego, do setor informal, onde as

relações já tão precárias tornam-se ainda pior. Há de atentar-se também para o trabalho

infantil, além da questão do trabalho da mulher. Tudo isso se expressa de forma contundente,

pois o trabalho é a fonte de sobrevivência e realização profissional.

Esse processo é expresso na reestruturação industrial e nas políticas de cunho

neoliberal, que vêm presidindo as orientações políticas do Estado para com a sociedade

inclusive nas propostas de enfrentamento da questão social que é entendida como:

[...] conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista

madura, que tem uma raiz comum: a produção social é cada vez mais

coletiva, o trabalho torna-se amplamente social, enquanto a apropriação dos

seus frutos mantém-se privada, monopolizada por uma parte da

sociedade.(IAMAMOTO, 1998, p. 27).

Diante do agravamento da denominada “questão social” na atualidade e de um país

com orientação neoliberal, o que se observa é um Estado que se torna mínimo na garantia

das condições básicas de vida da população em contrapartida com um Estado máximo

para os interesses econômicos. Há um ideário que aponta para a necessidade de uma

reformulação no que diz respeito ao papel do Estado e que conta com o apoio seguro de

uma parte dominante da população brasileira, ou seja, os atores sociais inseridos nas

classes dominantes (grandes empresários, banqueiros, políticos, entre outros). Esta

concepção é centrada basicamente em dois fenômenos: o projeto neoliberal e a

globalização da economia que, por sua vez, se fundam na proposta de reestruturação e

interdependência do mercado.

Esse conjunto de transformações no mundo do trabalho acaba rebatendo diretamente

no trabalho do assistente social e, consequentemente, na sua formação profissional. O

profissional tem que estar atento para as tradicionais e novas demandas do Serviço Social. As

tradicionais como saúde, previdência social, assistência social, requerem a criação de novas

estratégias de atuação, incorporando o atendimento de reivindicações dos trabalhadores,

sendo mediadas por diversos fatores decorrentes do mundo do trabalho, das mudanças do

Estado e da sociedade civil.

O assistente social é um trabalhador social que atua na relação direta com o

indivíduo, se aproximando da esfera da vida privada das pessoas; tanto que tem um

26

potencial de trabalho socioeducativo, veiculando informações na busca da efetivação dos

direitos sociais da população. É nesse sentido que o profissional exerce seu trabalho: no

âmbito político, no interesse coletivo da população usuária e na implementação e

discussão sobre a cidadania.

Vale destacar que com a Constituição de 1988 (BRASIL, 1988), verifica-se uma

mudança importante para a profissão, ou seja, a Assistência Social é assegurada como um

direito social, mudando seu enfoque de favor ou benesse. Para que essa conquista se

efetivasse, a sociedade se mobilizou e, junto a ela as classes trabalhadoras e a categoria

profissional dos assistentes sociais nessa importante luta e conquista concernente aos

direitos.

Observando esse direcionamento da realidade, é preciso que a profissão caminhe além

desse trabalho realizado, participando ativamente na formulação das políticas públicas e na

gestão dessas políticas. Segundo Iamamoto(2005, p. 20) um dos maiores desafios da

atualidade para os assistentes sociais é a “[...] construção de propostas de trabalho criativas e

capazes de preservar e efetivar direitos, a partir de demandas do cotidiano. Enfim, ser um

profissional propositivo, não só executivo.”

Essa conjuntura traz significativas transformações na categoria profissional dos

assistentes sociais, como também aos docentes, discentes, supervisores de campo dos cursos

de Serviço Social das faculdades deste país. Atenta a essas mudanças, a ABESS8, na década

de 1980, começou a discutir sobre a qualificação profissional capaz de atender às demandas

contemporâneas, atingindo expressivamente o processo de formação profissional do assistente

social. Através de uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa

em Serviço Social, o projeto de formação profissional ganha novos rumos, culminando no

Projeto Curricular de 1982.

A partir de então, o processo de formação profissional adquire espaços de reflexão

mais amplos como na produção teórica do Serviço Social, na organização política da

categoria, nas reflexões éticas e na ampliação das pesquisas.

A dinâmica da sociedade brasileira na década de1980 colocou a revisão do

currículo e da formação profissional como uma necessidade histórica, apontando para uma

determinada perspectiva de análise da realidade e do próprio Serviço Social, ou seja, uma

direção social.

8 Atualmente Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS)

27

Assim, essa direção social está vinculada aos interesses da classe trabalhadora e é

expressa na reformulação do Código de Ética de 1986. O Código de Ética de 1993, que

está em vigor, reafirma o projeto profissional comprometido com as classes trabalhadoras

e dáoutro tratamento à dimensão ético-politica da profissão: o compromisso com os

valores e princípios colocados nos horizontes de um projeto de superação da ordem

burguesa.

O Código de Ética de 1993 sugere a ampliação da liberdade, entendida como a

autonomia, emancipação e pleno desenvolvimento dos indivíduos sociais; há também a

consolidação da democracia, enquanto socialização da política e da riqueza socialmente

produzida. Cita-se a defesa da equidade e justiça social enquanto universalização do

acesso a bens e serviços relativos a programas e políticas sociais e à sua gestão

democrática, bem como as questões relativas ao pluralismo e a rejeição ao preconceito e à

discriminação.

Ainda nos anos de 1980 e 1990 a categoria de assistentes sociais aprofundou o debate

sobre a teoria marxiana, principalmente no que se refere à centralidade do trabalho na

composição do ser social. Sabe-se que a formação profissional deve ser entendida a partir de

elementos que dão concretude ao Serviço Social, ou seja, a partir da apreensão da vinculação

entre a profissão e as novas configurações da questão social.

A definição/redefinição da formação profissional hoje implica agir no tratamento de

algumas questões, dentre elas o que se diz respeito à relação entre conhecimento – profissão –

realidade e o significado social do exercício profissional.

1.2 Mercado de trabalho e precarização do ensino

O assistente social muitas vezes se defronta no mercado de trabalho com a

defasagem entre o discurso genérico sobre a realidade e os fenômenos singulares, o que

implica identificar mediações históricas para superar tal impasse. Há também a necessidade

da formação profissional9 estimular e desenvolver o domínio de fontes de dados empíricos

que permitam uma aproximação mais rigorosa das várias dimensões da realidade social.

Isso possibilitaria ao profissional a capacidade de enfrentar com competência e criatividade

9 Segundo ABESS; CEDEPSS (1996, p.143-171), há dois pontos relevantes para a compreensão das exigências

feitas ao exercício e à formação profissional: o entendimento do Serviço Social como especialização do

trabalho coletivo, atividade profissional assalariada, por meio de um processo que objetiva um produto

concreto; o significado social da profissão vinculado ao tratamento da questão social de forma histórica, na

qual as demandas refletem na ação profissional, ou seja, deve-se reconhecer alterações na formação do

mercado, etc, aliando a questão da direção social.

28

as demandas cotidianas, formando um acervo crítico sobre a situação social do País. Além

disso, destaca-se o fundamento para o trabalho profissional do assistente social que é a

questão social entendidacomo “[...] a expressão direta da apropriação privada da produção

social e da lei geral da acumulação capitalista que produz e reproduz, ao mesmo tempo,

beleza e caos, riqueza e pobreza, alegria e tristeza, emprego e desemprego, entre outros

aspectos.” (IAMAMOTO, CARVALHO, 1990, p. 77).

Verifica-se que nas décadas de 1980 e 1990 que o Serviço Social avança na sua

legitimidade e concretiza características qualitativas e apresenta-se como pontos de

partida para essa real efetivação da profissão a promulgação da Constituição de 198810

, o

Código de Ética de 1993 que definiu o compromisso ético-político da profissão, a Lei 8.662,

de 1993 que regulamentou a profissão de Serviço Social, a Lei Orgânica da Assistência Social

(LOAS) Lei 8.742, de 199311

e as Diretrizes Curriculares do Curso de Serviço Social.

Em relação àprecarização do ensino no Serviço Social existem alguns obstáculos a

serem vencidos, dentre eles está um dos maiores desafios apresentados pela ordem neoliberal

e pelo neoconservadorismono conhecimento que dão a dimensão da gravidade da

precarização do ensino superior no País: evidencia-se que no Serviço Social, em face à

realidade apresentada, quanto mais se precisa de um profissional apto para lidar com as

contradições do presente, menos as instituições de ensino superior estão aptas para formá-lo.

Sob o pretexto da flexibilização, da reforma, modernização, vem acontecendo uma

vulgarização de oferta de vagas no ensino superior, com perda de qualidade e de consistência

em boa parte dos casos.

São projetos movidos pela ideia do lucro, pela conquista de segmentos

‘consumidores’ de educação. E a posição da categoria profissional tem sido

a defesa da educação como bem público e que vê neste processo uma

ameaça aos princípios de defesa dos direitos sociais, norteadores da

profissão. (SILVA, R. R., 2008, p.5).

10

A Constituição de 1988 trouxe a ampliação do campo dos direitos sociais, sendo por isso reconhecida como a

“Constituição Cidadã”. A normatização desses direitos abre novas frentes de luta no zelo pela sua efetivação,

preservando o princípio da universalidade em sua abrangência a todos os cidadãos. É também a partir de sua

promulgação, que a assistência social é reconhecida pela primeira vez no Estado brasileiro como uma política

pública, dever do Estado e direito do cidadão, compondo juntamente com a saúde e a previdência social o

chamado tripé da seguridade social, campo privilegiado da atuação do Serviço Social não podem ser

desapropriadas.

Em 7 de dezembro, foi promulgada a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) - Lei n° 8.742/93 - que

organizou a Assistência Social no Brasil e instituiu o Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS). Os

municípios e estados também têm seus conselhos de assistência social, que são formados paritariamente pelos

governos e pela sociedade civil, deliberando e propondo soluções para a área. A efetivação da LOAS deve ser

uma prioridade na luta pela superação da exclusão social e para dirimir a desigualdade social. "Artigo 1º - A

assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é Política de Seguridade Social não contributiva, que

provê os mínimos sociais, realizada por meio de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da

sociedade para garantir o atendimento às necessidades básicas." (BRASIL, 1993b).

29

Salienta-se que sob o discurso da democratização da educação superior, tal política

tem se efetivado no Brasil pela via do avanço da contrarreforma doEstado, em razão do

acesso à universidade ocorrer a partir da implementação de mecanismos que garantem uma

expansão de vagas associadas à privatização, com planos voltados para o alcance de metas

quantitativas sem qualidade (Reuni, Prouni, Universidade Nova), apropriação do fundo

público pelo setor privado via financiamentos e a mercantilização generalizada dos cursos.

Esta perda de qualidade também tem efeitos específicos na atuação do Assistente

Social.

Quando falamos de qualidade, nos referimos a um a qualidade que perpassa

todas as instâncias, desde a formação até o término de prestação de serviço

no mercado de trabalho. Por que se você improvisa, se você trabalha a partir

de uma visão superficial dos problemas sociais, você acaba assumindo

posições tecnicistas, com um Serviço Social eficiente, mas sem reflexão,

sem crítica, burocrático. Então, quando a gente fala em resistir à tendência

de perda de qualidade é resistir a que o Serviço Social fique burocratizado,

tecnicista, frio e mercantil. (SILVA, R. R., 2008, p.5).

Diante do exposto o que se verifica na atualidade é uma verdadeira proliferação do

chamado ensino a distancia (EaD), conforme estudos publicados, e que comprometem

totalmente a formação profissional do Assistente Social.

Sabe-se que essa modalidade de ensino vai contra os princípios estabelecidos nas

Diretrizes Curriculares de 1998, e que interfere diretamente na qualidade dos cursos

oferecidos.

Sobre o assunto CFESS (2014, p. 7)manifesta:

Seguimos denunciando a mercantilização da educação e desmascarando a

falácia do discurso da ‘democratização do ensino’ que conduz a uma política

que reforça as desigualdades sociais e regionais do país;que assegura aos/às

ricos/as o ensino de qualidade e, aos/às que não possuem condições para

acessar as poucas Instituições de graduação públicas presenciais ou de

custear a sua própria formação de qualidade, são ofertados os cursos de

ensino à distância (EaD) – expressão máxima da precarização e da

mercantilização da educação.

Além disso, com uma formação profissional deficitária e lacunar, o assistente social

corre inevitavelmente sérios riscos no que tange ao conhecimento da realidade, a uma análise

de conjuntura e na proposição de ações e estratégias de intervenção, pautados na defesa

intransigente dos direitos conforme preconiza o Código de Ética Profissional dos Assistentes

Sociais, promulgado em 1993.

30

Há de se considerar também, que caminhar na direção orientada pelo projeto ético-

político do Serviço Social, requer conhecimento, aprofundamento e constante atualização por

parte do profissional, ou seja, a formação profissional continuada.

Diante dessas mudanças vale destacar uma importante conquista para a categoria

profissional, que se trata da Lei n. 12.317, de 27 de agosto de 2010 (BRASIL, 2010), que

estabeleceu a jornada de trabalho de 30 horas semanais para assistentes sociais, e que

Boschetti(2011, p.556) trata como a mais significativa conquista do Serviço Social nos

últimos vinte anos que tem um impacto profundo nas condições de trabalho e de vida dos (as)

assistentes sociais. A redução da jornada de trabalho para trinta horas

É importante ressaltar também que a conquista das 30 horas semanais sem redução de

salário para assistentes sociais deve ser compreendida no conjunto das lutas da classe

trabalhadora, porque contribui para a garantia de melhores condições de trabalho e se insere

na luta pelo direito ao trabalho com qualidade para todos os profissionais.

Em 20 de dezembro de 2010, o Ministério do Planejamento, Orçamento e

Gestão(MPOG, 2010) publicou a Portaria n. 3.353, incluindo a categoria de assistente social

dentre as que fazem jus à carga horária inferior a 40 horas semanais, com respaldo na

legislação específica, ou seja, a Lei n. 8.662/1993, artigo 5º,acrescido pelo artigo 1º da Lei n.

12.317/2010 (BRASIL, 2010).

1.3 O processo de revisão curricular

O processo de revisão curricular no curso de Serviço Social tem momentos marcantes

que podem ser destacados, segundo a síntese do quadro, Faleiros (2000 apud

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA, 2009, p. 7-8):

Anos 30 – Currículo fragmentado, centrado no disciplinamento da força de

trabalho por meio dos valores cristãos e controle paramédico e parajurídico.

Prática social paramédica, parajurídica, em obras sociais e de acordo com a

doutrina social da igreja.

Pós Guerra – Currículo centrado na integração com o meio com ênfase na

família e nas instituições para a adaptação social ou bem estar social. Visões

com base na teoria funcionalista. A Associação Brasileira de Escolas de

Serviço Social é fundada em 1946, e em 1952 elabora um currículo que tem

traços da visão anterior, mas estrutura os três enfoques de “caso”, “grupo” e

“comunidade”, [...].

Anos 60 - Currículo centrado na solução (tratamento) de problemas

individuais, no desenvolvimento e no planejamento social, com ênfase na

31

comunidade e nos valores cristãos por parte das escolas católicas; há o

contraponto crítico da visão social, da influência dos setores progressistas

cristão socialmente engajados.

Anos 70 - Currículos centrados no planejamento social com ênfase na

marginalização/integração e, por outro lado, na luta de classes.

Anos 80 - Reforma curricular centrada na crítica ao sistema capitalista, nas

políticas sociais e nos movimentos sociais. Teoria dialética.

Anos 90 – Reforma curricular centrada na análise da “questão social” e nos

fundamentos teóricos e históricos da profissão enquanto “processo de

trabalho” – em implementação. Teoria marxista da reprodução social.

O breve histórico apresentado por Faleiros (2000 apud UNIVERSIDADE CATÓLICA

DE BRASÍLIA, 2009) permite mostrar que o movimento de mudança curricular que se operou

no Serviço Social está vinculado, e sempre esteve atrelado, às mudanças sociais, econômicas,

políticas e culturais, como aconteceu no pós-guerra, nos anos de 1960(desenvolvimentismo), na

crise dos anos de 1970, no final dos anos de 1990 (globalização).

Ainda o autor nos diz que para um melhor entendimento desse período se deve

considerar que existem três períodos nesse processo de elaboração curricular: ‘[...] o período

‘idealista-ativista’ de 1936 a 1954; o ‘mecanicista’, de 1955 a 1975 e o ‘objeto-ativista’ de

1976 em diante.” (FALEIROS, 2000 apud UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA,

2009, p. 7).

Diante disso, considerar a conjuntura vivida é essa condição fundamental para o

entendimento do atual momento vivenciado pela profissão e, principalmente para a

compreensão sobre os currículos não como atos isolados, inseridos numa dada realidade,

mascomo um processo que reflete diretamente o momento.

1.3.1 Diretrizes Curriculares

Cabe destacar que a formação profissional não está dissociada, em tempos de capital

fetiche, da complexidade de singularidades/particularidades que permeiam o processo de

constituição, produção e reprodução do ser social nos marcos da sociedade contemporânea na

tarefa de decodificarvalores, concepções

Os estudos aqui tecidos revelam que a Proposta de Diretrizes Gerais para o curso de

Serviço Social resultou de um amplo e sistemático debate realizado pelas unidades de ensino

a partir de 1994, após a XXVIII Convenção Nacional da ABESS, realizada na cidade de

Londrina (PR), em 1993 que deliberou sobre os encaminhamentos da revisão do Currículo

32

Mínimo vigente desde 1982 (Parecer CFE n. 412, de 4/08/1982 e Resolução n. 6, de

23/09/1982) (BRASIL, 1982a, 1982b).

A revisão curricular supõe uma profunda avaliação do processo de formação

profissional em face das exigências da contemporaneidade e a ABESS promoveu e coordenou

juntamente com o Centro de Documentação e Pesquisa em Políticas Sociais e Serviço Social

(Cedepss), órgão acadêmico que articula a pós-graduação em serviço social, um intenso

trabalho de mobilização das unidades de ensino no país nesse sentido. Esse processo foi

apoiado também por profissionais; pelo Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) e

estudantes através da Executiva Nacional dos Estudantes de Serviço Social (Enesso).

No período de 1994 a 1996 cerca de 200 oficinas locais foram realizadas nas 67

Unidades de Ensino filiadas a ABESS, 25 oficinas regionais e duas nacionais para discussão

da temática.

Num primeiro momento os esforços foram concentrados nas discussões referentes aos

impasses e tensões que eram obstáculos à formação profissional numa perspectiva

contemporânea e de qualidade.

Em 1996, por meio de oficinas com assessoria de um grupo de consultores, as

continuidades das discussões resultaram na elaboração do 2º documento intitulado “Proposta

Básica para o projeto de formação profissional: novos subsídios para o debate”.

Na etapa seguinte da revisão curricular juntaram-se as proposições das Unidades de

Ensino que resultaram em seis documentos regionais que subsidiaram a Diretoria da ABESS,

a representação da Enesso e do CFESS, o Grupo de Consultores de Serviço Social e a

Consultoria Pedagógica na elaboração da Proposta Nacional de Currículo Mínimo para o

curso de Serviço Social.

Em continuidade aos trabalhos do grupo esta proposta foi apreciada na II Oficina

Nacional em Formação Profissional, aprovada em Assembleia Geral da ABESS, realizadas no

Rio de Janeiro, nos dias 7 e 8 de dezembro de 1996.

No dia 20 de dezembro de 1996 foi promulgada a Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional (LDB) (Lei n. 9.394/1996) que tornou oportuno o processo de

normatização e definição das Diretrizes Gerais para o Curso de Serviço Social.

1.3.1.1 Qual o papel das Diretrizes Curriculares?

Refletir sobre a formação profissional em Serviço Social na atual conjuntura requer,

segundo Iamamoto (2008), inscrever todo complexo de singularidades/particularidades que

33

envolvem o processo de constituição/produção do ser social nos marcos da sociedade

contemporânea no exercício de decifrar, desmitificar e reconstruir valores.

Diante disso, é relevante mencionar que a formação acadêmica não pode ser

apreendida dissociada das discussões ampliadas que envolvem a categoria.

Ao contrário, reflete as angústias e superações presentes na objetivação do

cotidiano profissional. Sob esse aspecto, as nuances transportadas de teorias

e persistentemente reproduzidas pelos docentes nos espaços da academia

traduzem os valores arraigados próprios da ideologia capitalista e cuja

fundamentação produzida pela hegemonia teórica da profissão por vezes não

encontrou mecanismos adequados para sua difusão. (GUELLI, 2013, p. 37).

Nesse sentido, as entidades como a Associação Brasileira de Ensino em Serviço Social

(ABESS) e o Centro de Documentação e Pesquisa em Política Social e Serviço

Social(Cedepss) e o apoio do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) e a Executiva

Nacional de Serviço Social empreenderam papel de destaque na elaboração das Diretrizes

Curriculares Gerais para o Curso de Serviço Social.

As Diretrizes tiveram um papel decisivo para estabelecer um patamar comum no

Ensino em Serviço Social e ao mesmo tempo assegurar a flexibilidade; a descentralização e a

pluralidade que são elementos importantes para acompanhar as profundas transformações da

ciência e da tecnologia na contemporaneidade.

As Diretrizes Gerais aprovadas pelo Ministério da Educação e Desporto (MEC),

englobam os seguintes pontos:

Pressupostos da Formação Profissional;

Princípios e Diretrizes da Formação Profissional;

Nova Lógica Curricular: com Núcleos de Fundamentação (Núcleo de

Fundamentos Teórico- metodológicos da vida social, Núcleo de

Fundamentos da Formação Sócio-Histórica da Sociedade Brasileira e o

Núcleo de Fundamentos do Trabalho Profissional);

Matérias Básicas (Sociologia, Economia, Política, Filosofia, Psicologia,

Antropologia, Formação Sócio-Histórica do Brasil, Direito, Política Social,

Fundamentos Históricos e Teórico-Metodológicos do Serviço Social,

Processo de Trabalho do Serviço Social, Administração e Planejamento em

Serviço Social, Pesquisa em Serviço Social, Ética Profissional);

Atividades Indispensáveis integradoras do Currículo (Estágio Supervisionado

e Trabalho de Conclusão de Curso). (ABEPSS, 1996, p.19).

Posteriormente serão elaboradas as Diretrizes Curriculares para Curso de Serviço

Social, estabelecida pela Resolução do Conselho Nacional Educação (CNE/CES n. 15, de 13

34

de março de 2002) norteando as Unidades de Ensino na Elaboração de seus Projetos

Pedagógicos e de seus currículos plenos (MEC, 2002).

De acordo com as Diretrizes Gerais para o Curso, a formação profissional deve estar

fundamentada numa concepção de ensino-aprendizagem baseada na dinâmica da vida social,

pois é a partir desta que se estabelecem parâmetros para a inserção na realidade

socioinstitucional. Esta concepção está expressa nos princípios que seguem:

1- Flexibilização de organização dos currículos plenos expressa na

possibilidade de definição de disciplina se outros componentes curriculares –

tais como oficinas, seminários temáticos, atividades complementares – como

forma de favorecer a dinamicidade do currículo;

2- Rigoroso trato teórico, histórico e metodológico da realidade social e do

Serviço Social, que possibilite a compreensão dos problemas e desafios com

o quais o profissional se defronta no universo da produção e reprodução da

vida social;

3- Adoção de uma teoria social crítica que possibilite a apreensão da totalidade

social em suas dimensões de universalidade, particularidade e singularidade;

4- Superação da fragmentação de conteúdos na organização curricular,

evitando-se a dispersão e a pulverização de disciplina se outros elementos

curriculares;

5- Estabelecimento das dimensões investigativa e interventiva como princípios

formativos e condição central da formação profissional, e da relação teoria e

realidade;

6- Padrões de desempenho e qualidade idênticos para os cursos diurnos e

noturnos, com máximo de quatro/horas aulas diárias de atividades nestes

últimos;

7- Caráter interdisciplinar nas várias dimensões do projeto de formação

profissional;

8- Indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão;

9- Exercício de pluralismo como elemento próprio da vida acadêmica e

profissional, impondo-se o necessário debate sobre as várias tendências

teóricas, em luta a direção social da formação profissional, que compõem a

produção das ciências sociais;

10- Ética como princípio formativo, perpassando a formação curricular;

11- Indissociabilidade entre Estágio e Supervisão Acadêmica e Profissional

(ABEPSS, 1996,p. 17).

Estes princípios são comuns a todos os Cursos de Serviço Social do País devendo

servir de orientação à formação profissional a partir desde a sua aprovação.

Dessa forma, vale destacar que o debate sobre a formação profissional na realidade

brasileira, principalmente no que diz respeito às novas diretrizes curriculares, encontra como

um dos principais desafios o diálogo crítico com o projeto profissional, alicerçado nos

princípios e diretrizes dessa proposta12

, numa relação de continuidade e ruptura. Isto se traduz

principalmente no que se refere às particularidades da questão social no cenário atual.

12

Consultar: ABESS; CEDEPSS, 1996, p.143-171.

35

Sabe-se que garantir uma formação profissional adequada à dinâmica da realidade e ao

mercado de trabalho é importante, não perdendo de vista que deve haver um distanciamento

critico do mesmo, pois “[...] a sintonia da formação profissional com o mercado de trabalho é

a condição para se preservar a própria sobrevivência do Serviço Social.[...] profissão, inscrita

na divisão social e técnica do trabalho.” (IAMAMOTO, 2005, p. 172).

Percebe-se, diante desse quadro, que a formação profissional tem necessidade de

caminhar em direção à criação de um perfil profissional dotado de competência teórico-

crítica, com uma aproximação consistente às principais matrizes do pensamento social na

modernidade e suas expressões teórico-práticas no Serviço Social.

Sabe-se que:

Tudo isso nos remete a três pressupostos fundamentais: a apropriação

teórico-metodológica, o engajamento ético-político e o aperfeiçoamento

técnico-operativo; no entanto estes elementos são complementares entre si,

não devendo ser remetidos a uma abordagem unilateral, nem serem

apropriados de forma isolada. Assim, esse conjunto de características faz

parte de um processo global devendo integrar teoria e prática (SILVA, K.

M., 2006, p.42).

Saliente-se que uma das grandes preocupações referente à formação profissional em

Serviço Social é o debate sobre o chamado “ensino da prática” em suas mais variadas

dimensões: teórica, ético-política e técnica. Para o assistente social esta atividade está ligada

diretamente ao estágio supervisionado, como atividade curricular obrigatória, dado à

dimensão teórico-prática da profissão.

Sabe-se, no entanto, que os debates sobre esse processo de formação profissional, tem

relegado a um plano menor a discussão sobre o estágio supervisionado, ou seja, o “ensino da

prática”.

A dimensão da prática profissional na formação profissional tem sido assim

considerada o “primo pobre” nas revisões curriculares, assumindo uma

posição residual e de pouca relevância na produção acadêmica especializada,

[...] tema inquietante no cotidiano do ensino. Entretanto, poucas unidades de

ensino têm de fato, definida uma política de prática acadêmica e, dentro

desta, uma política de pesquisa e de estágio. (IAMAMOTO, 2005, p.269).

Enquanto atividade integrante do currículo e descrita como uma das atividades

integradoras do currículo, o estágio deve ser repensado consoante um espaço de práxis,

momento privilegiado da relação teoria/pratica, contato direto e comprometido do aluno com

o lócus da atuação profissional.

36

Essa mediação entre o “ensino teórico” e o ensino da prática se constitui como uma

problemática no deficitário desenvolvimento de relações acadêmicas entre os centros de

formação e as instituições do mercado de trabalho, que oferecem campos de treinamento

profissional, na rede de intercâmbios entre universidades e o meio profissional. O significado

do estágio supervisionado deve estar articulado ao processo de formação profissional do

assistente social, devendo ser analisado na realidade do ensino teórico-prático do curso de

Serviço Social (SILVA, K. M., 2006, p. 269).

Sendo assim, devido à relevância do tema, é preciso que esse processo de formação

profissional aponte na direção de um Serviço Social atento às questões do mundo

contemporâneo com um olhar crítico às transformações do perfil profissional e ao mercado de

trabalho.

Portanto, é necessário que estejamos atentos e cuidadosos a respeito dessa etapa inicial

da formação profissional, ou seja, a primeira aproximação com a realidade social a ser

trabalhada, que é o estágio supervisionado.

37

CAPÍTULO 2 CONVERSANDO SOBRE O ESTÁGIO SUPERVISIONADO NA

FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM SERVIÇO SOCIAL

Na formação profissional em Serviço Social existe uma preocupação constante no que

se diz respeito ao chamado “ensino da prática” e, sabe-se que devido à dimensão teórico-

prática da profissão, essa inquietação está intimamente atrelada ao estágio supervisionado

enquanto atividade curricular obrigatória, e que tem um caráter:

[...] essencial à formação do aluno de Serviço Social, enquanto lhe propicia

um momento específico de sua aprendizagem, uma reflexão sobre a ação

profissional, uma visão crítica da dinâmica das relações existentes do campo

institucional, apoiados na supervisão enquanto processo dinâmico e criativo,

tendo em vista possibilitar a elaboração de novos conhecimentos.

(BURIOLLA, 1995, p.17).

O estágio supervisionado, enquanto processo de ensino-aprendizagem, denota um

espaço de trocas de experiências entre estagiário e supervisor, pois é um momento rico de

possibilidades e construção, para ambos os envolvidos nessa atividade.

Dando sequência ao pensamento do autor citado, estágio supervisionado é uma

atividade curricular obrigatória que se faz configurar com a inserção do estagiário no espaço

socioinstitucional objetivando capacitá-lo a exercitar o trabalho profissional, pressupondo a

oferta de supervisão sistemática, que será realizada pelo professor supervisor acadêmico e

pelo profissional de campo, por intermédio da reflexão, acompanhamento e sistematização

com fundamento no plano de estágio, elaborado em conjunto entre unidade de ensino e campo

de estágio.

Segundo Buriolla (1995, p.13)

[...] o estágio é concebido como um campo de treinamento, um espaço de

aprendizagem do fazer concreto do Serviço Social, onde um leque de

situações e de atividades de aprendizagem profissional se manifesta para o

estagiário, tendo em vista a sua formação.

O estágio supervisionado também é fundamental no domínio da dimensão técnico-

operativa adequada para a aprendizagem profissional e na contribuição para a unidade teoria e

prática. Como atividade curricular obrigatória se caracteriza, de modo geral, com a exigência

de carga horária mínima de 270 horas, realizado no contexto de trabalho, portanto, nos

espaços de execução de atribuições profissionais, o que conduz ao espaço de formação

decapacitação pessoal e profissional (BURIOLLA, 1995).

38

O estágio visa à participação direta do estagiário em situações profissionais de sua área

específica de trabalho, a fim de estabelecer correlações entre essas situações e o referencial

teórico. O impacto de transição da vida acadêmica para a atividade profissional pode ser

diminuído através de experiências de trabalho sistematizado, crítico e participante.

É possível identificar ainda, ser esta a fase de capacitação do estagiário, contextualizada

no processo de formação profissional, em que o mesmo usufrui de um momento de

aproximação com a realidade social e a prática profissional. Sabe-se que, enquanto atividade

curricular obrigatória para o curso de Serviço Social, esse processo oportuniza ao estudante a

apreensão de determinados conteúdos, a identificação e a apropriação da futura profissão.

A vivência do estágio supervisionado traz, para o estagiário, o conhecimento de

aspectos que auxiliam a tomada de decisão no processo de vir a ser profissional, bem como

auxilia na concretização de relações entre o saber organizado adquirido na universidade e o

saber reconstruído na prática profissional.

Pensando assim:

É no estágio que a imediaticidade do espaço institucional e a

operacionalidade do Serviço Social mostra-se como algo singular e

concluso. Para romper esta relação, a compreensão do real a partir desta

mesma imediaticidade deve desnudar a teia de relações que envolvem a ação

profissional do Assistente Social, oriunda das demandas sociais que dão

substância à sua intervenção na realidade. (PINTO, 1997, p. 56).

É a partir do estágio que o processo de ensino e aprendizagem profissional se manifesta

de uma forma mais completa e mais bem apreendida. Percebe-se também que essa atividade,

além de obrigatória, tem o caráter fundamental para a formação profissional do assistente

social. Para tanto alguns desafios são encontrados nessa trajetória a ser percorrida. Dentre eles

podemos destacar a falsa ideia de dicotomia entre teoria e prática, a efetivação do projeto

ético-político da profissão, a apreensão dos instrumentais técnico-operativos e a própria

realização sistemática da supervisão.

Enquanto espaço privilegiado de contato direto com a prática profissional, com o

cotidiano institucional e com as experiências de trabalho desenvolvidas por assistentes

sociais, é, a partir da inserção no espaço profissional através das organizações públicas,

privadas, governamentais e não governamentais e movimentos sociais e, também, via projetos

de extensão das universidades, que nos aproximamosdos desafios profissionais, sejam eles no

campo dos limites como no das possibilidades.

39

A Lei n. 1.889, de 1º de junho de 1953 que regulamenta o ensino nesta área do

conhecimento, o estágio no curso de Serviço Social, é considerado um fator imprescindível

para a formação profissional (BRASIL, 1953), O Ministério de Educação e Cultura (MEC)

estabelece a condição de obrigatoriedade curricular do estágio para que o estudante obtenha o

certificado de graduação em Serviço Social.

2.1 Breve histórico sobre as legislações de estágio em Serviço Social

As primeiras leis que regulamentaram o estágio em Serviço Social remetem à Lei n.

1.889, de 13 de junho de 1953, que disciplina sobre o ensino de Serviço Social no seu artigo 4º,

item III,preconizado que o mesmo deva atingir um quarto no mínimo do total das aulas e as

escolas de Serviço Social deverão organizar os seus programas atendendo a: que no primeiro

ano haja preponderância da parte teórica; no segundo ano seja observado o equilíbrio entre a

parte teórica e prática; e, no terceiro ano haja preponderância da parte prática.

Segundo Buriolla (2011, p. 14)

Mais tarde, o Decreto nº 35.311, de 2 de abril de 1954, que regulamentou a

lei acima, em vários momentos, se reporta ao estágio. Desta forma,

determina no artigo 4º que “o Curso ordinário de Serviço social, cuja

duração mínima é de três anos compreende, além do ensino teórico e prático,

estágios supervisionados e realização de trabalho final de exclusiva autoria

do aluno”.

Em termos de legislação, no dia 27 de agosto de 1957, a Lei n. 3.252, que regulamentou

a profissão, no seu artigo 5º diz que, entre outras atribuições do assistente social, há as de

“[...] supervisionar profissionais e alunos em trabalhos teóricos e práticos de Serviço Social.”

(BRASIL, 1957).

No ano de 1970, a Resolução do Conselho Federal da Educação, de 13 de março de

1970, de n. 242/70, regulamentou o currículo mínimo do curso de Serviço Social e que dispôs

em seu artigo 7º:

[...] à teoria do Serviço Social cabe dupla função: a de proporcionar, com os

elementos recolhidos das diversas ciências sociais do ciclo básico, uma visão

integrada com vistas à ação social, e a de ligar a ordem teórica à ordem

prática. (BURIOLLA, 2011, p. 14).

Em meados da década de 1970 e 1980, os cursos de graduação em Serviço Social

possuíam como regulador a Lei n. 6.494, de 7 de dezembro de 1977 e o Decreto n. 87.497, de

40

18 de agosto de 1982 que atribuíam ao estágio um caráter complementar no processo de

formação profissional.

Segundo a lei em evidência “[...] os estágios devem propiciar a complementação do

ensino e da aprendizagem a serem planejados, executados, acompanhados e avaliados em

conformidade com os currículos, programas e calendários escolares.” (BRASIL, 1977).

Apesar dessa legislação não formular um conceito de estágio, o artigo 2º do Decreto

mencionado anteriormente, possui características que permitem pensá-lo:

Considera-se estágio curricular obrigatório, para os efeitos deste Decreto, as

atividades de aprendizagem social, profissional e cultural, proporcionadas ao

estudante pela participação em situações reais de vida e trabalho de seu meio,

sendo realizada na comunidade em geral ou junto a pessoas jurídicas de

direito público ou privado, sob a responsabilidade e coordenação da

instituição de ensino. (BRASIL, 1982).

Percebe-se que em ambas as legislações há predominância do sentido de

complementaridade atribuído ao estágio, fato este que influi diretamente na formação

profissional dos estudantes de graduação em Serviço Social.

Os saberes adquiridos na formação profissional do assistente social não podem ser

encarados como um simples aprendizado de conteúdos herméticos, segundo (OLIVEIRA,

C.A.H.S., 2003, p.43):

Restringindo-se à instrumentalização técnica, transmitida num determinado

espaço de tempo, mas sim à capacitação teórico-metodológica, alicerçada

numa vertente crítica, que permita ao profissional compreender a realidade

social no seu movimento estrutural e conjuntural.

Prosseguindo com o pensamento da autora, observa-se que a formação profissional do

aluno de Serviço Social inicia no curso e vai sendo construída ao longo do exercício de sua

prática profissional enquanto assistente social.

Há de considerar-se que de modo geral o estágio curricular se caracteriza, segundo

Pacchioni(2000, p. 31), como:

atividade curricular obrigatória com exigência de carga horária

mínima;

processo de ensino aprendizagem profissional realizado no contexto

do trabalho;

lugar de aprendizagem (treinamento);

exercício de habilidades técnicas profissionais em diversos campos

de trabalho;

espaço de execução das atribuições profissionais;

espaço de formação e capacitação pessoal e profissional

41

Pensando sobre as atribuições expostas acima e na realização do estágio de fato pelo

estagiário, não se pode esquecer-se das determinações legais dispostas pela Lei n. 8.662, de 7

de junho de 1993 que dispõe sobre a profissão de assistente social e dá outras providências e

em seu artigo 14 também regulamenta as atribuições das unidades de Ensino em Serviço

Social, dos campos de Estágio, dos alunos e da supervisão dos assistentes sociais.

Ainda sobre os dispositivos contidos na lei que regulamenta a profissão, o parágrafo

único do artigo 14 trata dos estudantes de Serviço Social sob supervisão direta de assistente

social, regulando a supervisão dos estágios aos estudantes.

Vale destacar que no Código de Ética de 1993, instituído pela Resolução CFESS n. 273,

de 13 de março de 1993, em seu artigo 4º diz que é vedado ao assistente social, na alínea “e”

“[...] permitir ou exercer a supervisão de aluno/a de Serviço Social em instituições Públicas ou

Privadas que não tenham em seu quadro assistente social que realize acompanhamento direto

a/ao aluno/estagiário.”

Todas essas legislações compõem o arcabouço jurídico referente ao estágio em serviço

social e são anteriores a 2008 e que deve ser considerada sob a ótica da Lei de Diretrizes e

Bases da Educação (LDB), Lei n. 9.9394, promulgada em 1996, e que imputou às

Universidades a definição das diretrizes curriculares para os cursos de graduação para

substituir os antigos currículos mínimos. No Brasil, especificamente no curso de Serviço

Social, esta empreitada foi encabeçada pela ABEPSS, numa construção coletiva da categoria

profissional.

2.2Lei de Estágio n. 11.788, de 25 de setembro de 2008

No ano de 2008, com a efervescência das discussões sobre a expansão do ensino

superior, as legislações que regiam a realização do estágio se referiam a Lei n. 6.494, de 7 de

dezembro de 1977 e o Decreto n. 87.497, de 18 de agosto de 1982 foram revogadas com a

promulgação da Lei n. 11.788, de 25 de setembro de 2008, que estabeleceu novas diretrizes

para a temática.

Segundo Costa (2013, p. 148), esta legislação, embora tenha sido reformulada com

base na lógica mercadológica de educação, no sentido de adequar a formação profissional do

estágio às exigências do mercado de trabalho, foram introduzidas várias mudanças na política

deestágio. Uma dessas mudanças diz respeito à concepção de estágio como ato educativo,

componente do projeto pedagógico da formação profissional.

42

Art. 1º estágio é um ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no

ambiente de trabalho, que visa à preparação para o trabalho produtivo de

educandos que estejam freqüentando o ensino regular em instituições de

educação superior, de educação profissional, de ensino médio, de educação

especial e dos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional da

educação de jovens e adultos. (BRASIL, 2008).

Estas alterações documentadas no artigo 1º são reiteradas emseu Inciso 1 quando afirma

que “[...] o estágio faz parte do projeto pedagógico do curso, além de integrar o itinerário

formativo do educando.” (BRASIL, 2008).

É interessante observar que essa legislação trouxe a superação da característica de

complementaridade atribuída ao estágio pela legislação anterior. A partir de então, exige-se

dos cursos de formação a obrigatoriedade de construir um projeto pedagógico destinado a

explicitar a finalidade, a pedagogia, as diretrizes curriculares, a vertente teórico metodológica

e o compromisso ético, orientadores da formação profissional (COSTA, 2013, p. 148).

§2º O estágio visa ao aprendizado de competências próprias da atividade

profissional e à contextualização curricular, objetivando o desenvolvimento

do educando para a vida cidadã e para o trabalho. (BRASIL, 2008).

Cabe ressaltar que no curso de graduação de Serviço Social da UNESP - Campus de

Franca, essa normatização já vinham sendo cumprida mesmo sem o aparato da lei para a

realização dos estágios curriculares obrigatórios e, inclusive com a fiscalização em conjunto

CFESS/CRESSde cada circunscrição.

Considera-se que a legislação mencionada pretende alcançar a todas as categorias

profissionais, sejam elas organizadas ou não, no campo da regulamentação de estágio e

supervisão.

Vale lembrar que, em virtude dessas mudanças, foi a partir desta nova legislação que

passou a existir a atual configuração do estágio, que abarca dois vieses: o curricular

obrigatório e o não obrigatório. Sendo que, o primeiro refere-se ao projeto pedagógico do

curso, e necessário para obtenção do diploma, com carga horária definida e regulamenta. Já o

segundo é opcional.

Para a legislação vigente, a instituição cedente do estágio não obrigatório foi

condicionada a proporcionar ao estudante estagiário como contrapartida, uma bolsa estágio e

auxílio-transporte.

Ao analisar o artigo 5º desta Lei, verifica-se que a intenção implícita da mesma está em

atender as exigências do mercado, sejam estas mudanças decorrentes das alterações ocorridas

43

no mundo do trabalho, tais como: nos modos de produção, na esfera do Estado, nas políticas

sociais, no processo de organização da sociedade civil, em seus aspectos regionais e culturais

como diz (OLIVEIRA, C.A. H. S., 2003, p. 31). Todas essas mudanças têm produzido

significativas modificações nas relações e processo de trabalho do Serviço Social.

Não se trata, de subornar o projeto educacional às demandas do mercado de

trabalho, mas de perseguir, ao nível de estágios, uma articulação mais

criativa entre o homem pensante e o fazedor, entre a universidade e o local

de trabalho, de modo a superar os chavões e o lugar comum e aponta as

possibilidades reais de uma prática que seja a expressão concreta de um

pensamento crítico em face do contexto social, em que se inscreve (Silva,

1987, p. 132 apud OLIVEIRA, C.A.H.S., 2003, p. 64).

Sabe-se que a Universidade e o mercado de trabalho possuem um movimento

contraditório, pois nos apontam que a formação profissional não pode simplesmente visar às

demandas do mercado de trabalho, sob a retórica da especialidade e rigor técnico. Isto

acontece porque a realidade exige determinadas ações profissionais que são atividades

socialmente condicionadas pela conjuntura, pela estrutura econômica e momento político.

Mas, não se podem desconsiderar as demandas postas à intervenção profissional, pois a

universidade tem a responsabilidade de formar profissionais qualificados para a inserção no

mercado de trabalho (OLIVEIRA, C.A.H.S., 2003, p. 64).

Ainda nesse sentido a autora nos fala:

Precisamos compreender a formação profissional no âmbito do Serviço

Social, para além da habilitação propiciada pelas instituições de Ensino, com

vistas a uma capacitação continuada, que ultrapasse o período proposto na

graduação - em observância aos projetos pedagógicos vigentes nas várias

instituições que oferecem o curso.

Segundo o artigo 5º, pode-se utilizar terceiros, no caso os agentes de integração, para

intermediar a relação às instituições de ensino e as partes concedentes de estágio:

Art. 5º As instituições de ensino e partes cedentes de estágio podem a seu

critério, recorrer a serviços de agentes de integração públicas e privadas,

mediante condições acordadas em instrumento jurídico apropriado, devendo

ser observada, no caso de contratação com recursos públicos, a legislação

que estabelece as normas gerais de licitação. (BRASIL, 2008).

Observa-se que a legislação atual também aponta as responsabilidades no artigo 9º em

relação às obrigações das instituições concedentes de estágio, sejam elas pessoas jurídicas de

direito privado ou público, bem como profissional liberal.

44

Art. 9º [...]

III- Indicar funcionário de seu quadro de pessoal, com formação ou

experiência profissional na área de conhecimento desenvolvida no curso do

estagiário, para orientar e supervisionar até 10 (dez) estagiários

simultaneamente; [...]. (BRASIL, 2008).

Esse artigo da legislação de estágio, entretanto, provoca algumas indagações como a

quantidade de estagiário por supervisor, sem adentrar no mérito da capacidade para a

supervisão ou até mesmo a supervisão dita “fictícia” que alguns locais e profissionais

realizam com os seus estudantes, tornando-os meros cumpridores de carga horária, mão de

obra barata como nos diz (BURIOLA, 2011, p. 22):

[...] o estágio hoje como “emprego inserido no mundo do trabalho”, uma vez

que o estagiário se situa no contexto institucional, onde existem as normas,

as regras, o jogo de forças. Todavia, deve-se ter o cuidado de não perder de

vista o caráter educacional que não carece ser anulado na vivência do

estagiário no mundo do trabalho.

Sabe-se que o estudante de graduação, ainda não é um profissional de Serviço Social,

estando, portanto em formação. Nesta medida, segundo a autora, o estágio deve ser respeitado

como tal e deve ser também programado, com cuidado, nos cursos de graduação, como

qualquer outra disciplina.

Nesta linha é que se acredita que alguns profissionais interpretam e aceitam o estágio e

a supervisão equivocadamente “como trabalho”, praticam abusos e utilizam a mão de obra

dos estagiários nas mais variadas funções, conforme situação observada no mercado de

trabalho.

É também nesta interpretação e incorporação que Buriolla (2011, p.23) diz que o

mercado contrata estes profissionais para executar as tarefas de um assistente social, sem

estarpreparado para tal, nem sequer usufruir os direitos trabalhistas.

Há deconsiderar ainda que em relação à nova Lei de Estágio, no artigo 9º, parágrafo V

ao VII, sobre o desligamento do estagiário, o termo de realização de estágio, o período de

avaliação de desempenho, a manutenção à disposição de documentação que comprove a

relação de estágio, bem como o compromisso de enviar à instituição de ensino, com

periodicidade mínima de seis meses, o relatório de atividades, com vista obrigatória ao

estagiário (BRASIL, 2008).

Em relação às alterações sofridas na legislação, se refere ao limite imposto pela Lei por

um período de dois anos para a realização de estágio no mesmo local, mas, quando se trata de

estudante estagiário portador de deficiência, a mesma faz-se exceção, podendo,

45

portanto,empresas concedentes utilizar o estágio como instrumento para admitir, em seu

quadro de pessoal, empregados travestidos de estagiário, com a finalidade de burlar as

legislações trabalhistas (COSTA, 2013, p. 151).

Pensando sobre a jornada das atividades referente ao estágio, está definida no artigo 10

da lei em questão e, deve estar em consonância com as atividades escolares.

Art.10

I – 4 (quatro) horas diárias e 20 (vinte ) horas semanais, no caso de

Estudantes de educação especial e dos anos finais do ensino fundamental, na

modalidade profissional de educação de jovens e adultos;

II – 6 (seis) horas diárias e (30) trinta horas semanais, no caso de estudantes

do ensino superior, da educação superior, da educação profissional de nível

médio regular

§1º O estágio relativo a cursos que alteram teoria e prática, nos períodos em

que não estão programadas aulas presenciais, poderá ter jornada de até 40

(quarenta) horas semanais, desde que isso esteja previsto no projeto

pedagógico do curso e da instituição de ensino

(BRASIL, 2008)

Observa em relação a este artigo uma característica acentuada de atenção ao aspecto

“emprego”, pois, a partir do momento que sinaliza a possibilidade de jornadas flexíveis nos

períodos em que não houver aulas programadas, há uma facilitação e fragmentação da relação

de estágio com a parte cedente e, abertura para a ampliação dos conflitos.

No artigo 17 há um dispositivo que delimita o número de estagiários por campo de

estágio, proporcionalmente ao contingente de empregados existentes nas instituições e

empresas concedentes de estágio.

Art. 17. O número máximo de estagiários em relação ao quadro de pessoal

das entidades concedentes de estágio deverá atender às seguintes proporções:

I – de 1 (um) a 5 (cinco) empregados: 1 (um) estagiário;

II – de 6 (seis) a 10 (dez) empregados: até 2 (dois) estagiários;

III – de 11 (onze) a 25 (vinte e cinco) empregados: até 5 (cinco) estagiários;

IV – acima de 25 (vinte e cinco) empregados: até 20% (vinte por cento) de

estagiários. § 1º Para efeito desta Lei, considera-se quadro de pessoal o

conjunto de trabalhadores empregados existentes no estabelecimento do

estágio.

§ 2º Na hipótese de a parte concedente contar com várias filiais ou

estabelecimentos, os quantitativos previstos nos incisos deste artigo serão

aplicados a cada um deles.

§ 3º Quando o cálculo do percentual disposto no inciso IV do caput deste

artigo resultar em fração, poderá ser arredondado para o número inteiro

imediatamente superior.

§ 4º Não se aplica o disposto no caput deste artigo aos estágios de nível

superior e de nível médio profissional.

46

§ 5º Fica assegurado às pessoas portadoras de deficiência o percentual de

10% (dez por cento) das vagas oferecidas pela parte concedente do estágio.

(BRASIL, 2008).

A explicação para tal delimitação é impedir a precarização das condições dos

estudantes? Ou atender as exigências empresariais de flexibilização da força de trabalho?

A partir desses questionamentos, outros podemos fazer. Baseado em quais pesquisas e

categorias profissionais foram encontrados os dados para a delimitação do número de

supervisores e estagiários na efetivação do estágio supervisionado?

Será que a parte que se refere aos estagiários deficientes é suficiente para impedir a

utilização da lei com a finalidade de lograr a justiça trabalhista? Pensemos.

Há de considerar-se que a legislação também introduz um texto em sua redação que

altera a jornada diária do estágio no período de avaliação, conforme determina o artigo 10,

§2º:

Art.10 [...]

§ 2º se a instituição de ensino adotar verificações de aprendizagem

periódicas ou finais, nos períodos de avaliação, a carga horária do estágio

será reduzida pelo menos à metade, segundo estipulado no termo de

compromisso, para garantir o bom desempenho do estudante (BRASIL,

2008).

Sabe-se que a legislação anterior recomendava sobre alguns aspectos referentes à

medida de proteção ao estagiário através de seguro contra acidentes pessoais, o direito de

recesso no período de férias escolares, mas deixava um vácuo e indefinição. Sendo assim, a

Lei n. 11.788 na tentativa de coibir as situações vivenciadas pelos estagiários, instituiu o

seguinte:

Art. 9º As pessoas jurídicas de direito privado e os órgãos da administração

pública direta, autárquica e fundacional de qualquer dos poderes da União,

dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, bem como profissionais

liberais de nível superior devidamente registrado em seus respectivos

conselhos de fiscalização profissional, podem oferecer estágio, observada as

seguintes obrigações:

IV – contratar em favor do estagiário seguro contra acidentes pessoais, cuja

apólice seja compatível com valores de mercado, conforme fique

estabelecido no termo de compromisso. (BRASIL, 2008).

Destaca-se que esta Lei trata com maior evidência os aspectos relacionados também ao

estágio considerado supervisionado curricular, instituindo medidas que deem ao estudante

estagiário retorno: férias, bolsa de estudo, vale transporte, entre outras.

47

A lei vigente é explícita quanto à necessidade do gozo de férias, pois, verificava-se

que em algumas situações o estagiário permanecia na instituição por mais de um ano e, não

possuía a regulamentação desse direito que:

Art. 13 é assegurado ao estagiário, sempre que o estágio tenha duração

igual ou superior a 1 ( um ) ano, período de recesso de trinta dias, a ser

gozado preferencialmente durante suas férias escolares. (BRASIL,

2008).

Para Costa (2013, p. 49) há uma inovação da legislação ao criar um capítulo sobre

fiscalização das atividades de estágio nas instituições concedentes, que é atribuição do

Ministério do Trabalho e Emprego. Deste modo, a instituição concedente que não cumprir as

normas que regem o estágio, acarretará na caracterização de vínculo empregatício.

Para situações como a citada acima, a legislação prevê a punição com a proibição à

Instituição, de receber estagiários por um período de dois anos, computados a partir da

emissão da decisão do processo administrativo.

Em relação aos demais assuntos, a Lei n. 11. 788, de 25 de setembro de 2008, não

altera os dispositivos da lei anterior no que se refere à normativa de que o estágio não cria

vínculo empregatício de qualquer natureza no âmbito da instituição.

Verifica-se que a previsão legal da assinatura do Termo de Compromisso, emborade

modo inovador, visto que a instituição de Ensino passa a ser parte do mesmo, além de vedar a

atuação dos agentes de integração como representantes de uma das partes nesse pacto.

Art. 7º

São obrigações das instituições de ensino, em relação aos estágios de seus

educandos:

I – celebrar termo de compromisso com o educando ou com seu

representante ou assistente legal, quando ele for absoluta ou relativamente

incapaz, e com a parte concedente, indicando as condições de adequação do

estágio à proposta pedagógica do curso, à etapa e modalidade da formação

escolar do estudante e ao horário e calendário escolar; [...]. (BRASIL, 2008).

Em relação ao Serviço social, verifica-se que esses elementos sempre foram objeto de

preocupação constante para os envolvidos no processo de realização do estágio

supervisionado dos cursos.

É interessante notar que a Lei n. 11.788, de 25 de setembro de 2008,tem por objetivo

garantir relevantes pontos na efetivação do estágio supervisionado. A legislação possui em

seu bojo o entendimento do estágio como “Art. 1º [...] ato educativo escolar supervisionado”

e, tornando assuntos relevantes como a celebração de convênios entre instituições e parte

48

concedente, assinatura do termo de compromisso, planos de estágio, férias, supervisão, limite

de número de supervisionados e cotas, dependendo do número de empregados, para evitar a

precarização da mão de obra em virtude da contratação de estagiários, entre outros.

2.3 Resolução CFESS n. 533, de 29 de setembro de 2008

Em relação à formação profissional em Serviço Social, segundo as Diretrizes

Curriculares aprovadas em 2001 pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC), o estágio tem

o caráter obrigatório edeve ser desenvolvido durante o processo de formação, concomitante

ao período letivo escolar.

Como modalidade de intervenção profissional, a supervisão não pode ser compreendida

desvinculada dos seus componentes ético-filosóficos, pedagógicos e políticos (como parte do

projeto de sociedade do assistente social e do seuprojeto profissional).

Segundo a Lei n. 8.662, de 7 de junho de 1993 constitui-se entre uma das atribuições

dos assistentes sociais, a supervisão direta de estagiários (BRASIL, 1993a).Diante disso,

apesar de constar na legislação como uma atribuição e não como uma obrigatoriedade, cabe

aos profissionais a compreensão, valorização e opção pelo exercício dessa atribuição.

A supervisão em Serviço Social, para ser analisada e compreendida, precisa

ser configurada e considerada como parte integrante da formação e do

exercício profissional. Esta análise se faz sob uma perspectiva totalizante da

profissão, que envolve na mesma reflexão, a teoria, a prática e as relações da

categoria profissional com a sociedade, nos diferentes momentos históricos.

A partir desse entendimento, cabe dizer que a supervisão de estágio contribui para a

formação continuada do assistente social, visto que estabelece uma relação direta com a

universidade.

Diante disso, no ano de 2008, foi aprovada a Resolução CFESS n. 533, de 29 de

setembro de 2008,que considera:

O Estágio Supervisionado é uma atividade curricular obrigatória que se

configura a partir da inserção do aluno no espaço socioinstitucional,

objetivando capacitá-lo para o exercício profissional, o que pressupõe

supervisão sistemática. Esta supervisão será feita conjuntamente por

professor supervisor e por profissional do campo, com base em planos de

estágio elaborados em conjunto pelas unidades de ensino e organizações que

oferecem estágio. (CFESS, 2008).

49

Tal disposição legal pode ser vista como um avanço na definição de estágio, visto que

pressupõe uma nova forma de organização e de responsabilidades tanto por parte das

instituições campo de estágio como as de ensino.

Segundo a Resolução CFESS n. 533, a relevância do estágio e supervisão vai além do

disposto e nas legislações anteriores. Para tanto diz:

A atividade de supervisão direta do estágio em Serviço Social constitui

momento ímpar no processo ensino-aprendizagem, pois se configura como

elemento síntese na relação teoria e prática, na articulação entre pesquisa e

intervenção profissional e que se consubstancia como exercício teórico-

prático, mediante a inserção do aluno nos diferentes espaços ocupacionais

das esferas públicas e privadas, com vistas à formação profissional,

conhecimento da realidade institucional, problematização teórico-

metodológica.(CFESS, 2008).

Cabe ressaltar que a construção dessa Resolução foi embasada nos princípios do Código

de Ética de 1993; a Lei n. 8.662 que regulamenta a profissão de Assistente Social; as

Diretrizes Curriculares aprovadas em 2001, a Resolução CNE/CES n. 15 /2002; e, a Lei n. 11.

788, de 25 de setembro de 2008.

Sobre a Resolução n. 15/2002, vem trazer a garantia de que o discente em formação será

encaminhado para a realização de carga horária específica de estágio supervisionado como

elemento essencial à sua formação (MARIANO, 2010).

Na primeira aproximação com o processo de formação do Assistente Social, ou seja, na

graduação o estágio supervisionado configura como uma atividade obrigatória do ensino, que

viabiliza a inserção do aluno no espaço de trabalho.

Compreender esse momento único do aprendizado profissional consiste em reconhecê-

lo como um local propício ao aprendizado específico das atividades profissionais, que são

executadas a partir de determinados referenciais teórico-metodológicos, que embasam a

intervenção dos profissionais assistentes sociais.

Considero a supervisão em Serviço Social como um dos componentes do

exercício profissional. Ela se processa em função da prática profissional.

Nesse sentido, ela desenvolve o acompanhamento da prática cotidiana do

profissional ou do estagiário... e, no Serviço Social é vista como um

processo educativo, de ensino aprendizagem, que se relaciona ao conjunto de

conhecimento referentes à formação para o Serviço Social (BURIOLLA,

1994, p.5 apud MARIANO, 2012, p.77).

O estágio e a supervisão nas unidades de ensino consistem em atividades organizadas

sob critérios normatizados, conforme legislação do Ensino Superior. As unidades de ensino

50

do Serviço Social seguem a regulamentação, que por decreto, instituiu o estágio

supervisionado como exercício obrigatório do ensino de Serviço, numa correspondência de

15% da carga horária total do curso, com um mínimo obrigatório de 270 horas.

Além da Lei de Estágio, o Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) e o Código de

Ética Profissional dos Assistentes Sociais de 1993 que definem a regulamentação referente

aos estágios, deve-se levar em conta que em cada instituição de ensino há um projeto de

regulamentação do estágio.

Entende-se que uma das finalidades do estágio segundo CirleneOliveira(2004a)é inserir

o aluno em situações reais de vida e trabalho, permitindo o desenvolvimento de competências

e habilidades que se iniciam com a aproximação do estagiário junto à demanda. Com base

nisso Lewgoy(2010) propõe que sejam pensadas as dimensões ético-políticas, teórico-

metodológicas e técnico-instrumentais no processo de supervisão em Serviço Social.

Ainda assim, a autora nos diz:

[...] ao relacioná-las ao que é proposto pelas diretrizes curriculares, a noção

de competência requisita para o trabalho profissional o caráter dialético entre

as três dimensões pela sua relação de complementaridade, reciprocidade e

compromisso. Isso se concretiza em valores éticos fundamentais, tais como “

[..[ liberdade, equidade e justiça social, articulando-os à democracia, à

cidadania [...].” (BARROCO, 2003 apud LEWGOY, 2010, p. 54).

Para tanto, no âmbito do processo da supervisão de estágio, a efetivação da

competência evidencia uma compreensão histórica da dicotomia entre o técnico, o político e o

teórico. Considera-se que essa falta de unidade aparente está na atribuição de um peso

demasiadamente tecnicista à dimensão técnica, politicista à dimensão política e teoricista à

dimensão teórica, conforme afirma (LEWGOY, 2010, p.56).

É interessante observar que nos campos de estágio há um relativo distanciamento entre

os supervisores de campo, conforme a fala dos mesmos e, até no relato dos alunos estagiários.

[...] há dificuldade geral dosestagiários, supervisores de campo e das

unidades de ensino. Os acadêmicos reconhecem que são preparados para ler

criticamente a realidade, porém sem instrumentalização necessária para o

agir profissional, não havendo, portanto, um sincronismo entre o ensinado e

a prática de estágio, o que traz insegurança no processo ensino-

aprendizagem e que nem sempre reflete a matriz da questão social como

direção social da profissão. (MADEIREIRA, 1996, p.2 apud LEWGOY,

2010, p. 59)

Nesse sentido, a Resolução CFESS n. 533, de 29 de setembro de 2008 estabelece que

para assegurar a qualidade do exercício profissional do assistente social, esta qualidade deve

51

ser garantida por meio de um aprendizado de qualidade, ou seja, da supervisão direta, e só

será viável através de:

[...] uma prática crítica e reflexiva, que deve ser informada por uma teoria

social e por procedimentos metodológicos – em consonância com os valores

expressos no Código de Ética- que possibilitem ao profissional uma análise

do movimento do real e a proposição de estratégias e táticas para o seu

enfrentamento sem perder de vista a intencionalidade dessa prática e as

possibilidades de construções coletivas de táticas e estratégias na relação

com os movimentos sociais [...] Somente assim será possível abandonar o

praticismo, obreirismoe o pragmatismo que, hoje, se (re) atualizam [...].

(LEWGOY, 2010, p. 59).

Sabe-se que dominar técnicas, depende de incorrer em um campo onde o terreno das

competências e habilidades profissionais têm que estar ancorado em um conjunto de

conhecimentos teóricos, metodológicos, ético-políticos e instrumentais propostos pela

multiplicidade de vivências, segundo a autora.

Para tanto, a Resolução CFESS n. 533, de 2008 diz sobre o estágio:

O Estágio Supervisionado é uma atividade curricular obrigatória que se

configura a partir da inserção do aluno no espaço socioinstitucional,

objetivando capacitá-lo para o exercício profissional, o que pressupõe

supervisão sistemática. “Esta supervisão será feita conjuntamente por

professor supervisor e por profissional do campo, com base em planos de

estágio elaborados em conjunto pelas unidades de ensino e organizações que

oferecem estágio”. (CFESS, 2008).

É interessante relatar que esse conceito também foi apropriado em conformidade com

o disposto no Parecer CNE/CES n. 492/2001, homologado pelo Ministro de Estado da

Educação em 9 de julho de 2001, e consubstanciado na Resolução CNE/CES n. 15/2002,

publicada no Diário Oficial da União em 9 de abril de 2002, que veio aprovar as Diretrizes

Curriculares para o curso de Serviço Social.

Através de encontros com supervisores de campo, nos Fóruns de debate da categoria

profissional há grandes discussões sobre a interpretação da legislação vigente e,

principalmente, sobre os rebatimentos e implicações que a nova legislação trará aos campos

de estágio, haja vista que o número de estagiário tem aumentado demasiadamente, em virtude

da expansão de vagas do setor privado e público.

O embate entre o público e o privado, no campo educacional, revela a

persistência de forças patrimoniais na educação, favorecendo dessa forma,

várias modalidades de privatização do público. Esse cenário privatista é

fruto, dentre outros, do fato de o poder público não ter priorizado a sua

52

atuação na defesa da esfera pública, ao delegar para o setor privado o papel

de representação do público, acarretando a privatização da esfera pública

(DOURADO, 2000, p. 283 apud COSTA, 2013, p. 138).

É interessante salientar que as reformas do ensino superior, segundo Costa (2013,p.

138) estão atreladas aos processos de reestruturação capitalista e a mundialização da

economia, sob os ditames dos organismos internacionais, exigindo a supressão da

intervenção estatal em relação ao setor econômico e a políticas públicas, dentre elas insere-

se a educação. Para isso, o Estado se ausenta no que tange à educação, especificamente ao

ensino superior, como direito social, e permite o enxugamento da esfera pública e a

ampliação do espaço privado.

[...] a reforma não prevê apenas a saída do Estado do setor de Produção para

o Mercado (como seria de esperar numa ideologia da “regulamentação”

econômica), mas também do setor de serviços públicos, pois estabelece uma

identificação imediata entre intervenção estatal reguladora da economia e de

direitossociais em outras palavras, exclui as exigências democráticas dos

cidadãos ao seu Estado, isto é, exclui todas as conquistas econômicas,

sociais e políticas, advindas de lutas populares no interior da luta de classes.

Essa identificação entre o Estado e o Capital em sua forma neoliberal

aparece de maneira clara na substituição do conceito de direitos pelo de

serviços, que leva a colocar direitos (como a saúde, a educação e a cultura)

no setor de serviços estatais, destinados a se tornar não estatais. A Reforma

encolhe o espaço público dos direitos e amplia o espaço privado não só ali

onde seria previsível – nas atividades ligadas à produção econômica – mas

também onde não é admissível – no campo dos direitos conquistados. O

Estado se desobriga, portanto, de uma atividade eminentemente política,

uma vez que pretende desfazer a articulação democrática dentre poder e

direito. Dessa maneira, ao colocar a educação no campo de serviço, deixa de

considerá-la como qualquer outro serviço público, que pode ser terceirizado

ou privatizado (CHAUÍ, 2001, p.117).

Percebe-se que há uma desobrigação do Estado neoliberal para com a educação

superior na agenda de políticas públicas do País, que tem implicado em tensão no meio

acadêmico com o discurso propagado de democratização do ensino superior, sem perder a

qualidade, o que acontece através dos programas vigentes como: Prouni, Reuni, entre outros.

Ao fazer uma análise da Resolução n. 533/2008 no parágrafo que diz:

[...] considerando a necessidade de normatizar a relação direta, sistemática e

contínua entre as Instituições de Ensino Superior, as instituições campos de

estágio e os Conselhos Regionais de Serviço Social, na busca da

indissociabilidade entre formação e exercício profissional.

Percebe-se que a regulamentação da supervisão visa a contemplar a atual conjuntura

vivenciada pelas políticas públicas no País, que rebatem diretamente nos cursos de Serviço

53

Social e, consequentemente, na formação profissional dos estagiários. Vive-se um momento

em que:

[...] chamada Teoria do Capital Humano, predominante na década de 1970,

em que se associa a educação à empregabilidade, sob a alegação de que a

nova ordem produtiva, baseada na mundialização da economia, na

flexibilidade da produção e do trabalho, exige novo perfil dos trabalhadores;

assim, a educação é concebida como um dos principais instrumentos

viabilizadores de competição entre os países,devendo, portanto, adequar-se

às demandas de qualificação profissional exigida pelo capital. (SHIROMA;

MORAES; EVANGELISTA, 2002 apud COSTA, 2013, p. 141).

Seguindo esse argumento de reforma universitária, estaríamos partindo para um

retrocesso no ensino superior, ao passo que a defesa da união dos setores público e privado

sob o manto das parcerias, a expansão do ensino privado por meio do repasse de recursos

privados, a dissociação da unidade entre ensino, pesquisa e extensão e a adoção de medidas

legais para a privatização das universidades públicas sobre o argumento de contenção de

despesas.

Dessa forma, o Conjunto CFESS/CRESS tem se posicionado, juntamente com a

ABEPSS e a categoria profissional, para que as discussões e as normativas derivadas do

posicionamento dos assistentes sociais sejam transformadas em Resoluções como a CFESSn.

533, de setembro de 2008 e que contemple as especificidades e particularidades de cada

região do País, uma vez que

[...] a atividade de supervisão direta do estágio em Serviço Social constitui

momento ímpar no processo ensino-aprendizagem, pois se configura como

elemento síntese na relação teoria/prática, na articulação entre pesquisa e

intervenção profissional e que se consubstancia como exercício teórico-

prático, mediante a inserção do aluno nos diferentes espaços ocupacionais

das esferas públicas e privadas, com vistas à formação profissional,

conhecimento da realidade institucional, problematização teórico-

metodológica. (CFESS, 2008).

Além da situação descrita acima, tem-se a supervisão segundo Pacchioni (2000, p.30):

A supervisão como trabalho acadêmico, orienta a aprendizagem no estágio,

tendo como preocupação a formação e capacitação do aluno para um modo

de fazer. Como atividade de ensino, caracteriza-se como prática educativa,

tanto pelo caráter técnico pedagógico como por colocar em questão o sentido

do aprendizado do aluno, tendo em vista sua capacitação.

Neste sentido, o estágio e a supervisão consistem em atividades de ensino organizadas

sob critérios normatizados, conforme legislação do Ensino Superior e: “Tratar da Supervisão

54

de Estágio implica ascender a um campo de reflexão e debate em que Estágio e Supervisão

configuram como unidade indissociável, ações e relações intrínsecas ao saber-fazer do

Serviço Social.” (CAPUTI, 2014, p. 19).

Ainda nesse sentido, Caputi (2014, p. 19) diz que a supervisão de estágio em Serviço

Social é uma atribuição privativa dos assistentes sociais, e toda a sua dinâmica e

regulamentação conectam-se a outros processos sociopolíticos e normativos, ou seja,

acarretam implicações de processos que se dão no contexto da educação superior, do mercado

de trabalho, assim como de processos internos à profissão. Envolve a complexidade de que

formação e exercício profissional são imersos em um conjunto de relações sociais, o que faz

com que sua compreensão não deva se esgotar em seu sentido estrito do fazer cotidiano, mas

considerá-lo.

2.4 Política Nacional de Estágio da ABEPSS

A construção da Política Nacional de Estágio (PNE) teve início no ano de 2009 com o

documento base intitulado “Proposta para a construção da política nacional de estágio” e que

contemplou contribuições de assistentes sociais de diversas regiões do País, diga-se, todos

estudiosos e envolvidos com as discussões e estudos sobre a temática, e que se mobilizaram

para a efetivação e concretização desta PNE.

Nesta perspectiva, conectada ao contexto sócio-econômico e político

contemporâneo e comprometida com essas, (dentre outras) finalidades, a

ABEPSS delibera por traçar uma política nacional de estágio na área do

Serviço Social, entendendo-a como fundamental para balizar os processos de

mediação teórico-prática na integralidade da formação profissional do

assistente social.

A construção coletiva desta Política Nacional de Estágio (PNE), certamente,

encontra, no contexto atual, a urgência na defesa de um projeto profissional

vinculado a um projeto de sociedade no horizonte estratégico da ampliação

dos direitos, na direção da emancipação humana. A discussão sobre a

Política iniciou-se com o lançamento, em maio de 2009, do documento-base

que subsidiou o amplo debate coletivo, ocorrido em todo o país em eventos

realizados entre os meses de maio e outubro do corrente ano, que discutiram

o referido documento e encaminharam propostas para a versão final da PNE.

Essas contribuições foram debatidas nas seis oficinas regionais de graduação

da ABEPSS.

Esse processo coletivo de debates demonstra o caráter mobilizador e

estratégico da PNE na defesa do projeto de formação profissional e

instrumento de luta contra a precarização do ensino superior. Neste sentido,

a resposta das Unidades de Formação Acadêmicas (UFAs), professores,

estudantes e assistentes sociais ao chamado da ABEPSSfoi significativa e

propositiva, tornando a construção da PNE um elemento de mobilização

efetiva em todo Brasil, conforme demonstram os dados relativos aos debates

55

ocorridos no país que discutiram a Política: 80 eventos, que contaram com a

participação de 175 UFAs e 4.445 participantes. (ABEPSS, 2010, p. 1-2).

Sabe-se que para a realização deste importante documentotambém foram considerados

alguns pontos da Lei n. 11.788/2008 e da Resolução CFESS n. 533/2008, que representam

mais um avanço na criação de condições normativas para fiscalização exercida pelos CRESS

e CFESS e, sobretudo, em relação à supervisão direta de estágio em Serviço Social e para a

sociedade que será a beneficiada com a melhoria da qualidade dos serviços profissionais

prestados no âmbito do Serviço Social (BRASIL, 2008).

Há de considerar que a Política Nacional de Estágio possui o efeito normatizador e

alguns destaques podem ser mencionados com o aprofundamento nas avaliações e estudos

que foram realizados nos encontros regionais que subsidiaram o documento:

[...] ampliação do EaD e suas implicações na qualidade da formação

profissional do assistente social, notadamente, na realização do estágio

supervisionado curricular obrigatório, processo no qual temos constatado

descumprimento ao que é preconizado pelas Diretrizes Curriculares, com

destaque para a não realização da supervisão conjunta entre supervisores

acadêmicos e de campo e problemas relacionados a carga horária prevista

para essa atividade. De outro, a aprovação da Lei 11.788, de 25/09/2008 que

dispõe sobre o estágio de estudantes e dá outras providências; considere-se

também, e especialmente, a resolução CFESS Nº 533, de 29 de setembro de

2008, que regulamenta a supervisão direta de estágio no Serviço Social.

(ABEPSS, 2010, p. 3).

Em virtude das questões apontadas como o avanço do ensino a distância, a formação

profissional precária, e implicações severas com rebatimento no estágio supervisionado, o

relatório da pesquisa avaliativa da implementação das Diretrizes Curriculares doCurso de

Serviço Social, apontou também a necessidade de elaboração de uma políticanacional de

estágio. É notável que na síntese dos dados construídos na referida pesquisa, são

sinalizadasdiversas questões que precisam ser encaradas, entre elas:

A reflexão sobre a relação da quantidade de estudantes estagiários por

supervisor e a qualidade do processo pedagógico; a necessidade de

ampliação dos fóruns de supervisores de estágio, sobretudo nas IES públicas;

o aprofundamento da articulação das UEs com os CRESS nas discussões

sobre o estágio; a intensificação da fiscalização dos CRESS em relação à

supervisão de estagiários vinculados a cursos de graduação à distância em

Serviço Social [...] dentre outras. (RAMOS, 2007, p.17 apud ABEPSS, 2010,

p. 3).

Outro ponto a ser considerado na Política Nacional de Estágio e que merece destaque é

o estágio supervisionado curricular não obrigatório, a saber:

56

Em alguns cursos de Serviço Social o estágio supervisionado curricular não

obrigatório está presente nos Projetos Pedagógicos, sendo possível

contabilizar a carga horária, realizada pelo estudante, como atividade

complementar. Em outros, essa possibilidade não existe, pois não está

contida nos Projetos Pedagógicos. Parece ser uma realidade geral que as

UFAs não vêm acompanhando a referida modalidade de estágio, ficando seu

encaminhamento sob a responsabilidade de entidades que atuam como

agentes de integração, pró-reitorias de graduação e dos departamentos de

assistência ao estudante. (ABEPSS, 2010, p.5).

Percebe-se que de acordo com a PNE, o estágio supervisionado curricular não

obrigatório deve constar no Projeto Pedagógico do curso, facilitando o acompanhamento

deste estágio por parte da Instituição de Ensino, e, evitando danos ao estagiário ao exercer

funções e atribuições que não estavam previstas e condizentes com o seu curso e formação.

É necessário relatar que, na maioria dos casos, o acompanhamento desse estagiário,

fica prejudicado, pois, em geral nas Universidades há uma sobrecarga do docente responsável

pela fiscalização e acompanhamento desse estágio não curricular, bem como ocorre no estágio

curricular obrigatório.

O que se verifica são docentes cumprindo dupla função e que muitas vezes não há

supervisão acadêmica nas Unidades de Ensino.

Essa questão ocorre devido à sobrecarga docente que se expressa na ausência

de carga horária para viabilizar o processo de supervisão, conforme ocorre

com o estágio curricular obrigatório. Para a referida autora, trata-se de uma

dificuldade recorrente, apontada por docentes e discentes de todas as regiões

do país, que sinaliza os rebatimentos estruturais e conjunturais do processo

de acumulação do capital - através de uma lógica de atendimento as novas

requisições do mundo do trabalho - no desenvolvimento da formação

profissional, sobretudo, na atividade de estágio (ABEPSS, 2010, p.7).

Também se observa que a proposta de 15 estudantes por turma, tendo em vista as

especificidades da disciplina de estágio, assim como os critérios de avaliação institucional

previstos pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

(INEP), em relação às disciplinas que articulam teoria e prática. A PNE índica que as turmas

sejam subdivididas por área de atuação/conhecimento do Serviço Social (políticas sociais,

fundamentos, trabalho, questão urbana e rural, questão geracional, etc) organizadas conforme

a realidade dos campos de estágio e quando possível, a compatibilização com as áreas dos

Grupos Temáticos de Pesquisa (GTPs) da ABEPSS.

Outra questão a ser refletida diz respeito à qualificação dos campos de estágio,

principalmente diante de verdadeiras disputas por campo, conforme ABEPSS (2010, p. 34).

57

O estágio supervisionado curricular, além dos aspectos pedagógicos

relacionados às disciplinas, implica, ainda na ampliação de estratégias que

viabilizem a oferta e qualificação de campos e de estudantes de Serviço

Social. Estas mudanças, já apontadas na contextualização da Universidade

trouxeram à tona nos debates regionais, um dos cenários lamentáveis

ocasionado pela contra-reforma. As denúncias descrevem as “disputas” por

vagas de estágio em troca de material de consumo e outras formas e

“clientelismo” que são acirrados de maneira perversa em algumas Unidades

Presenciais e com maior ênfase nas Unidades não presenciais.

Vale destacar que a Política Nacional de Estágio trata esta questão como um

verdadeiro ciclo vicioso, na qual a deformação do ensino superior serve de alimento à

precarização do trabalho, e essa equação possui rebatimentos na denominada lógica destrutiva

da formação profissional de qualidade. Os impactos desse processo para o atendimento dos

usuários não podem ser mensurados de imediato, mas certamente, contribuem gradativamente

para o retrocesso das políticas e desvalorização da profissão (ABEPSS, 2010, p. 35).

Salienta-se que tal situação pertence às UFAs e que cabe a elas o devido

enfrentamento, através da criação de Política de Estágio, aliado a ações que envolvem a

articulação e o relacionamento institucional com os campos de estágios, com as entidades de

representação da categoria e aproximação entre supervisores e estudantes.

Também é relevante considerar outra indicação importante dessa PNE no tocante à

criação e fortalecimento do Fórum de Supervisores:

As questões de estágio têm suscitado um amplo debate em todo o país

envolvendo os sujeitos. Este mecanismo de articulação tem se constituído

como uma das estratégias utilizadas pelas diversas unidades de ensino, e

também foi enfatizado após a liberação do eixo de formação profissional do

conjunto CFESS/CRESS no ano de 2009. A incorporação dessa estratégia na

PNE vem com o intuito de aglutinar docentes e profissionais e estudantes em

torno das questões do estágio, como uma estratégia política de

fortalecimento e permanência do debate sobre a temática, bem como a

garantia de construção de alternativas comuns à qualificação do estágio em

Serviço Social. (ABEPSS, 2010, p. 34).

Destaca-se que a indicação da necessidade da criação e do fortalecimento dos Fóruns

Estaduais de Supervisores, em todo o País, representa um ganho político para a garantia da

operacionalização da PNE; e que a defesa da garantia da criação e ou ampliação do Fórum de

Supervisores nas unidades de ensino e em todos os estados adquiriu centralidade no debate

em todas as seis oficinas regionais realizadas para a construção coletiva da PNE segundo

ABEPSS (2010, p. 36).

58

Vale ressaltar que este espaço de discussão deve ser compreendido como uma

oportunidade de resistência e de luta para a defesa e consolidação da qualificação do Estágio

supervisionado como espaço privilegiado da formação profissional, além de se constituir em

um espaço propício para fomentar as trocas de experiências e discussões que perpassam o

estágio, e promover a interlocução entre os profissionais, estudantes e docentes, tendo como

finalidades:

• Fortalecer o estágio como momento estratégico de formação dos

assistentes sociais;

• Propiciar espaço político–pedagógico de formação dos supervisores;

• Proporcionar a organização dos profissionais para o enfretamento das

questões relativas à formação e o exercício profissional;

• Fomentar a discussão sobre o estágio em Serviço Social, tomando como

referências formais: as diretrizes curriculares em vigor, a lei de

regulamentação da profissão nº 8662/93, o código de ética profissional, a

legislação nacional referente a estágio, a resolução CFESS 533/2008, o

parecer jurídico 12/98 do CFESS e a Política Nacional de Estágio;

• Contribuir para o aprimoramento do processo de formação profissional;

• Tratar e encaminhar questões que envolvam a dimensão ética do

estágio, prevendo respostas coletivas às situações corriqueiras. (ABEPSS,

2010, p. 36).

Para a operacionalização dos fóruns de supervisores, sugere-se que sejam construídas

agendas de trabalho que priorizem a reflexão sobre as condições éticas e técnicas do trabalho

profissional e da formação profissional. Que haja um colegiado eleito anualmente com

representações das UFAs e CRESS para o planejamento, acompanhamento e avaliação das

atividades do fórum. As atividades poderão ser itinerantes (organizadas pelas diferentes

escolas), com encontros em formatos diferenciados e dinâmicos, conforme a realidade

regional, contemplando reuniões, seminários, palestras, cursos, entre outras atividades

pertinentes.

Dentre os resultados esperados com os fóruns, destacam-se o processo de

retroalimentação do ensino com a implementação de um espaço para divulgação de

experiências bem sucedidas no tocante a prática da supervisão e a garantia de um espaço

político legítimo para representação política dos(as) supervisores(as) no seio da ABEPSS e

dos CRESS, além do fortalecimento dos eventos e práticas de discussão ligadas ao exercício e

formação profissional (ABEPSS, 2010).

Também é necessário atentar-se para a questão apontada na construção da PNE que

diz respeito à articulação necessária do Estágio com a pesquisa e extensão, cuja importância

da indissociabilidade foi reafirmada nas discussões para a construção dessa política. Por meio

59

do desenvolvimento articulado entre o tripé do ensino superior, objetiva-se reforçar o

cumprimento do princípio universitário e a possibilidade da efetivação de uma formação

crítica e de qualidade, capaz de articular teoria e prática, numa perspectiva de revisitar a

função social da universidade que é produzir e socializar conhecimentos necessários e úteis à

sociedade, tão desvirtuada no contexto de mercantilização e produtivismo acadêmico.

Contudo, tal articulação com as atividades de ensino, pesquisa e extensão, não devem

se confundir com o estágio Supervisionado em si, merecendo aqui o tratamento devido ao

Estágio em Extensão e o Estágio em Pesquisa.

O Estágio em Extensão nos cursos de serviço social historicamente é

desenvolvido como estratégia de aproximação da academia com a realidade

social, busca-se nessas experiências o aperfeiçoamento de práticas

profissionais em campos diversificados, geralmente envolvendo atividades

de ensino e pesquisa.

No caso particular da formação dos assistentes sociais, essa tem sido

representativa no chamado ensino da prática e do desenvolvimento de

metodologias participativas no processo de intervenção e investigação no

Serviço Social. As atividades extensionistas servem ainda para dar maior

flexibilidade e dinamicidade aos currículos (conforme Diretrizes

Curriculares), com a prestação de serviços de excelência e do seu contato

direto com a sociedade por meio dos núcleos temáticos de pesquisa e

extensão. (ABEPSS, 2010, p. 38).

Ademais, existe uma consonância entre a defesa da universidade e da extensão,

conforme designa a política nacional de extensão ao indicar as seguintes diretrizes:

A Extensão Universitária é o processo educativo, cultural e científico que

articula o Ensino e a Pesquisa de forma indissociável entre Universidade e

Sociedade.

A Extensão é uma via de mão-dupla, com trânsito assegurado à comunidade

acadêmica, que encontrará, na sociedade, a oportunidade de elaboração da

práxis de um conhecimento acadêmico. No retorno à Universidade, docentes

e discentes trarão um aprendizado que, submetido à reflexão teórica, será

acrescido àquele conhecimento.

Esse fluxo, que estabelece a troca de saberes sistematizados, acadêmico e

popular, terá como conseqüências a produção do conhecimento resultante do

confronto com a realidade brasileira e regional, a democratização do

conhecimento acadêmico e a participação efetiva da comunidade na atuação

da Universidade. Além de instrumentalizadora deste processo dialético de

teoria/prática, a extensão é um trabalho interdisciplinar que favorece a visão

integrada do social (FÓRUM NACIONAL DE PRÓ-REITORES DE

EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA, 2005, p.18 apud ABEPSS 2010, p. 38).

Contudo, as informações obtidas por ocasião da construção desta política revelam que

as contradições se ampliam no desenvolvimento dessas atividades, seja pela obrigatoriedade

para obtenção de pontuação no sistema de avaliação institucional no modelo atual de gestão

60

das Universidades, (embora o peso atribuído e o fomento às atividades da extensão, seja

simplório diante da pesquisa e do ensino), seja pelo crescimento dos espaços para uma

responsabilidade social esvaziada do sentido de superação do sistema de exploração,

baseando-se no caráter assistencialista da prestação dos serviços atribuídos ao Estado para a

população mais empobrecida e historicamente relegada (idosos, crianças em situação de risco,

etc).

Tal dinâmica, quando adotada sem a devida análise crítica, pode gerar uma

ressignificação perigosa da função social da Universidade, colocando o

debate distanciado de questões de fundo, gerando muitas vezes posição a-

política favorecendo a formação profissional acrítica e conectada às

demandas imediatistas do mercado. (ABREU, 2005 apud ABEPSS, 2010,

p. 38-39).

Com a ausência de recursos para o desenvolvimento das atividades de extensão e a

necessidade de ampliação de vagas de Estágio, algumas UFAs desenvolvem atividades

provisórias e precárias, sem a devida estruturação de projetos no âmbito institucional,

fragilizando a riqueza e o potencial de experiências significativas de estágios nessa área.

Algumas considerações devem ser realizadas, visto que os precedentes abertos que

desvirtuam a Extensão Universitária de seus objetivos, quando se caminha para a busca de

alternativas de sustentação dos projetos, com a prática de cobrança de taxas, a realização de

convênios com empresas privadas e a transformação de projetos em entidades do Terceiro

Setor, fortalecendo a privatização dos espaços universitários, onde as relações econômicas de

financiamento das ações, passam a indicar a direção da política dos projetos (implícita ou

explicitamente). Salienta-se que a entrada do trabalho voluntário, chamado a atuar na

prestação de serviços sociais, fragiliza ainda mais os sistemas de concurso público para

contratação e as relações de trabalho. Por outro lado afirma-se que historicamente a Extensão

se legitimou na Universidade como um espaço de interlocução e permanência da relação desta

instituição com a sociedade civil (movimentos sociais de base, luta pelos direitos, diversidade

cultural, etc), que demanda outra postura e compromisso da universidade em face aos

problemas sociais do seu contexto (ABREU, 2008, p. 8 apud ABEPSS, 2010, p. 39).

Considerando que a realidade vivenciada pelas UFAs quanto à extensão universitária

já está posta e merece um olhar mais aprofundado na formação profissional, diz

aABEPSS(2010, p. 39) que ao ser considerada no universo do estágio supervisionado, nos

remete à importância do posicionamento crítico e cuidadoso na abertura de campos de

estágio.

61

Diante do acúmulo das discussões sobre essa temática, a Lei Federal n. 11. 788, dispõe

sobre a permissão da extensão como estágio em seu art. 1º

§ 3o As atividades de extensão, de monitorias e de iniciação científica na

educação superior, desenvolvidas pelo estudante, somente poderão ser

equiparadas ao estágio em caso de previsão no projeto pedagógico do curso

(BRASIL, 2008).

A PNE categoriza as atividades de extensão (núcleos, projetos) como campo de

estágio, desde que devidamente previstas no projeto pedagógico e respeitada a questão da

carga horária docente e discente. Para que os projetos de extensão se tornem campo de estágio

faz-se necessário:

Explicitar objetivos e funções desempenhadas pelo Serviço Social em

conformidade com artigo 4º e 5º da Lei que regulamenta a profissão;

Indicar que os projetos e planos de intervenção do estágio estejam

articulados ao exercício profissional do serviço social, considerando a

análise e a apropriação crítica do contexto sócio-institucional;

Que o docente envolvido na atividade de extensão assuma o processo de

supervisão de campo, quando não houver outro assistente social

devidamente registrado no Conselho;

Que não haja acúmulo nas funções de supervisor(a) de campo e de

supervisor(a) acadêmico(a). O(a) docente, ao assumir a função de

supervisor(a) acadêmico(a) de um grupo de estudantes, não poderá

acumular a função do supervisor de campo junto aos mesmos.

(ABEPSS, 2010, p. 40).

Outra polêmica tratada no debate girou em torno das atividades de Estágio em

Pesquisa, que após análise e proposições, entende-se que estas não podem ser caracterizadas

como campo de estágio. Cabe destacar que as diretrizes curriculares indicam claramente o

seguinte:

A postura investigativa é um suposto para a sistematização teórica e prática

do exercício profissional, assim como para a definição de estratégias e o

instrumental técnico que potencializam as formas de enfrentamento da

desigualdade social. Este conteúdo da formação profissional está vinculado à

realidade social e às mediações que perpassam o exercício profissional. Tais

mediações exigem não só a postura investigativa, mas o estreito vínculo com

os modos de pensar/agir dos profissionais. (ABEPSS, 1996, p. 14 apud

ABEPSS, 2010, p. 40).

Sendo assim, a pesquisa se apresenta como eixo estruturante e transversal do processo

de formação, devendo perpassar o trabalho profissional. O estágio supervisionado como

62

atividade que agrega formação e exercício profissional precisa contemplar todas as dimensões

do fazer profissional (teórico-metodológica, ético-política, técnico-operativa e investigativa).

Diversas reflexões também apontam no que diz respeito ao estágio realizado no

mesmo local onde o (a) estagiário trabalha, e a PNE indica que esta situação deva ser evitada

e/ou que sua viabilidade esteja condicionada a situações nas quais sejam esgotadas todas as

possibilidades do(a) estudante se inserir como estagiário(a) em outro local, mediante

avaliação do colegiado do curso. Nestes casos, compreendemos que as atividades devem ser

explicitadas no Termo de Compromisso de Estágio, apontando a diferenciação entre as

atividades de estágio e de trabalho, a especificação do horário de trabalho e do horário de

estágio do(a) estudante trabalhador e a necessária alocação do estudante em setor de serviço

diferente da sua lotação original.

Diante dos debates vivenciados, a política ressalta a necessidade de aproximação dos

supervisores e coordenações de estágio da atuação dos CRESS, de modo a trazer para o

debate, no âmbito dos estágios, situações referentes ao descumprimento da ética profissional.

Ressaltem-se aquelas previstas na Resolução n. 493/2006 (ABEPSS, 2010, p. 41), que dispõe

sobre as condições éticas e técnicas do exercício profissional do Serviço Social, que apontam

para uma realidade presente nos campos de estágio.

Estes são os desafios dessa grande tarefa de competência da ABEPSS, que é

a implementação de uma política nacional de estágio em Serviço Social, a

qual tem que contar, necessariamente, com o protagonismo dos diversos

sujeitos que compõem a categoria profissional. (ABEPSS, 2010, p. 41)

63

CAPÍTULO 3 A REALIDADE DO CURSO DE SERVIÇO DA UNESP DIANTE DAS

ALTERAÇÕES NA LEGISLAÇÃO E NORMATIVAS DE ESTÁGIO

3.1 Percurso metodológico

Importante dizer que as reflexões destacadas neste trabalho fazem parte dos

questionamentos dessa pesquisadora identificados no decorrer do exercício profissional

enquanto supervisora de campo no período de 2009 a 2013, além do processo de estudos

realizado nos encontros de estudos e pesquisa do Grupo de Pesquisa sobre Formação

Profissional em Serviço Social(Geformss) – Unesp - Campus de Franca, do qual a

pesquisadora é integrante desde 2006, especificamente no eixo temático - estágio

supervisionado.

O percurso metodológico partiu da premissa de compreender a atual configuração do

estágio supervisionado em Serviço Social após a promulgação das novas legislações e

normativas, entre elas a Nova Lei de Estágio de n. 11.788, de 25 de setembro de 2008, a

Resolução CFESS n. 533, de 29 de setembro de 2008 e a Política Nacional de Estágio da

ABEPSS e o contexto no curso da UNESP, a primeira faculdade pública a ofertar a graduação

em Serviço Social no Estado de São Paulo.

Tal questionamento começou a ser constante nas reflexões sobre a formação

profissional, visto os desafios apresentados a esta profissional no decorrer da realização da

“tarefa” de supervisionar alunos do terceiro e quarto anos de Serviço Social da FCHS, além

das inúmeras aproximações em compreender e apreender de forma mais aprofundada as

questões trazidas pelos estudantes/estagiários quanto às novas legislações e normativas

regulatórias do estágio supervisionado.

Para atingir tal proposta, algumas indagações foram traduzidas e sintetizadas nos

seguintes questionamentos:

- Observou algumaalteraçãosignificativa para o curso de Serviço Social nos períodos da

promulgação das novas legislações?

- Quais os desafios que as novas legislações trazem para a formação profissional em Serviço

Social?

- Percebeu alguma modificação após as novas legislações em relação aos campos de estágio

conveniados com a Faculdade de Ciências Humanas e Sociais – UNESP - Campus de Franca?

64

Trata-se, contudo, de uma discussão complexa, já que as novas legislações e

normativas referem-se à supervisão direta de estágio em Serviço Social, que é uma atribuição

privativa dos assistentes sociais, e toda a sua dinâmica e regulamentação vinculam-se a outros

processos sociopolíticos e normativos; ou seja, apresentam implicações de processos que se

dão no contexto do ensino superior, do mercado de trabalho, assim como de processos

endógenos a categoria profissional (CAPUTI, 2014, p.19).

As reflexões sobre estágio supervisionado devem ser contextualizadas intrinsecamente

com o cenário de avanços e desafios da profissão neste tempo de capital fetiche, financeiro,

globalizado e com lógica administrativa e ética neoliberal, o que coloca o profissional diante

de dilemas e desafios, e tão logorequer do assistente social competências, habilidades, olhar

crítico e propositivo, aprofundamento teórico-metodológico e ético-político para decifrar a

realidade e propor ações emancipatórias13

.

Na atual circunstância de precarização da educação e do trabalho profissional, que nos

debruçamos no estudo sobre os rebatimentos dessas legislações e normativas de estágio no

contexto da FCHS – Unesp- Campus de Franca, considerando que essa análise não pode ser

desvinculada de uma análise de conjuntura, do caráter das políticas sociais, da interpretação

das diferentes manifestações da questão social, bem como da dinâmica da relação da profissão

com o mundo do trabalho.

Para compreender o processo metodológico a ser percorrido no decorrer do estudo,

faz-se necessário referenciá-lo à matriz teórico-metodológica na perspectiva crítica, pois, ela é

capaz de subsidiar a compreensão da realidade social a ser desvelada. No dizer de Pontes, a

teoria busca a compreensão do que é o ser social e do que é necessário para que o homem se

constitua como tal, ou seja, estuda como são as relações sociais que os homens estabelecem

em sociedade (PONTES, 2000, p.38).

Neste estudo, o estágio supervisionado está inserido em um contexto histórico e real,

enfatizando as contradições do mundo capitalista.

A pesquisa de campo referenciou como universo a Faculdade de Ciências Humanas e

Sociais -Unesp - Campus de Franca, especificamente, o curso de Serviço Social, e os sujeitos

da pesquisa foram: os docentes – assistentes sociais – que exerceram a função de

coordenadores do conselho de curso, os coordenadores da comissão de Estágio e os

supervisores acadêmicos do núcleo de estágio em Serviço Social no período de 2008 a 2014,

considerando que este recorte temporal baseou-se no fato de ser os seis primeiros anos de

13

Ver (IAMAMOTO, 2008).

65

vigência da nova Lei de Estágio n. 11.788, de 24 de setembro de 2008, a Resolução CFESSn.

533, de 29 de setembro de 2008, e a construção coletiva da Política Nacional de ABEPSS no

ano de 2009.

Tal recorte temporal foi utilizado em razão da compreensão de que essas legislações e

normativas trouxeram contribuições e desafios para os cursos de Serviço Social no Brasil,

especificamente na FCHS -Unesp- Campus de Franca, primeiro curso presencial público no

Estado de São Paulo. Informações do site oficial da Universidade revelam que no período de

1980 a 2013 havia formado 1.779 Bacharéis em Serviço Social.

Faz-se necessário lembrar que a discussão sobre a construção da Política Nacional de

Estágio iniciou-se com o lançamento, em maio de 2009, do documento-base1 que subsidiou o

amplo debate coletivo, ocorrido em todo o País em eventos realizados entre os meses de maio

e outubro do ano de 2009 e que as propostas culminaram com a versão final da PNE.

Esse processo coletivo de debates demonstra o caráter mobilizador e

estratégico da PNE na defesa do projeto de formação profissional e

instrumento de luta contra a precarização do ensino superior. Neste sentido,

a resposta das Unidades de Formação Acadêmicas (UFAs), professores,

estudantes e assistentes sociais ao chamado da ABEPSSfoi significativa e

propositiva, tornando a construção da PNE um elemento de mobilização

efetiva em todo Brasil, conforme demonstram os dados relativos aos debates

ocorridos no país que discutiram a Política: 80 ventos, que contaram com a

participação de 175 UFAs e 4.445 participantes. (ABEPSS, 2010, p. 2).

Para atingir os objetivos do presente estudo, foram utilizados como procedimento

metodológico a abordagem qualitativa que segundo (Sílvio Oliveira apud OLIVEIRA, M.M.,

2010, p.59)

[...] as abordagens qualitativas facilitam descrever a complexidade de

problemas e hipóteses, bem como analisar a interação entre variáveis,

compreender e classificar determinados processos sociais, oferecer

contribuições no processo de mudanças, criação ou formação de opiniões de

determinados grupos e interpretação das particularidades dos

comportamentos ou atitudes dos indivíduos.

No decorrer da pesquisa, organizo-use um roteiro de questões em forma de tópicos

semiestruturados com o intuito de compreender as alterações propostas pelas novas

legislações de estágio e as implicações no curso de Serviço Social da FCHS -Unesp -

Campus de Franca, sob a compreensão dos sujeitos docentes do curso de Serviço Social

envolvidos diretamente com a temática: coordenadores de curso, coordenadores da Comissão

de Estágio e supervisores acadêmicos.

66

O processo de levantamento dos sujeitos a serem pesquisados ocorreu mediante a

consulta aos dados de publicações de portarias de nomeação da Unesp- Campus de Franca no

período de 2008 a 2014, que nos apontou o seguinte quadro

QUADRO 1 - Os sujeitos pesquisados

Sujeitos

Quantidade

Total

Coordenadores curso

3

13

Coordenadores comissão de

Estágio

6

Supervisores Acadêmicos

4

Fonte: Elaborado por Raquel Renzo da Silva Pequiá, 2015.

Os documentos oficiais (portarias) analisados revelaram que 3 dos docentes

identificados para a participação na pesquisa exerceram duas atribuições diferentes no

referido período: coordenação de curso/participação na comissão de estágio.

Quanto aos supervisores acadêmicos do Núcleo de Estágio (NESS), identificamos a

nomeação de 4 docentes, entretanto, por ocasião da pesquisa, somente um supervisor não

participou da entrevista, em razão de compromissos profissionais.

Diante do contato com os docentes envolvidos, todos confirmaram participação,

inclusive aqueles que já não mantinham mais o vínculo empregatício com a referida

Universidade – universo da pesquisa.

Durante o processo investigatório, os conteúdos foram classificados em três categorias

de análise de acordo com os objetivos propostos e divididas em:

A compreensão dos coordenadores de curso, coordenadores de estágio e supervisores

acadêmicos em relação às alterações propostas nas recentes legislações e normativas

de estágio;

67

Os desafios e implicações na realidade do curso de Serviço Social da FCHS Unesp –

Campus de Franca;

Observação de alterações ou não em relação aos campos de estágio

O conceito de categoria entendido neste processo investigativo como “[...]

agrupamento de informações similares em função de características comuns. Como se pode

perceber por este conceito, em pesquisa é preciso se estabelecer categorias para que se faça

um trabalho sistematizado e coerente.” (OLIVEIRA, M.M., 2010, p. 93).

Tais questionamentos se propuseram a atender o nosso objeto de estudo que se propôs

a compreender a atual configuração do estágio supervisionado como parte integrante e

essencial na formação profissional do assistente social, a partir das novas legislações e suas

implicações no contexto do curso da FCHS -Unesp - Campus de Franca.

Para as entrevistas, utilizamos a técnica de gravação com o consentimento de todos os

entrevistados que, posteriormente foram transcritas e analisadas de acordo com as categorias

descritas. Para tanto, solicitamos a permissão para gravar as entrevistas, garantindo aos

sujeitos o devido sigilo quanto às informações e que não haveria identificação do informante

na redação final do relatório de pesquisa, através da submissão ao Comitê de ética e Pesquisa

e mediante o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, devidamente aprovado por aquele

órgão de pesquisa.

Durante a realização do processo de investigação, os sujeitos pesquisados tiveram suas

identidades preservadas e receberam nomes fictícios para a exposição de suas reflexões. Os

docentes receberam a identificação de letras do alfabeto.

Visando entendimento quanto aos dados obtidos na pesquisa de campo os resultados

das entrevistas foram sistematizados em categorias entendidas como:

[...] categoria é a classificação que se faz em função de certos princípios

gerais e que tenham identidade em comum. Portanto, vamos ter em mente

que a palavra categoria está relacionada à classificação ou mais

precisamente, a um agrupamento de elementos que são sistematizados pelo

pesquisados após a pesquisa de campo, ou durante a análise de conceitos em

livros didáticos, textos e documentos. (OLIVEIRA, M.M., 2010, p. 93).

Diante disso, atemo-nos às falas mais significativas dos sujeitos representantes de cada

uma das três funções desempenhadas pelos docentes: coordenadores do curso, coordenadores

da comissão de estágio e supervisores acadêmicos do núcleo de estágio.

68

Dando sequência aos estudos, foi realizada pesquisa bibliográfica e documental junto

aos dados disponíveis no Setor de Estágio.

A principal finalidade da pesquisa bibliográfica é levar o pesquisador (a) a

entrar em contato direto com obras, artigos ou documentos que tratem do

tema em estudo. O mais importante para quem faz opção por uma pesquisa

bibliográfica é ter a certeza de que as fontes a serem pesquisadas já são

reconhecidamente do domínio científico. (OLIVEIRA, M.M., 2010, p.69).

A análise dos documentos e informações disponíveis, naquele momento, no Setor de

Estágio objetivou a construção do mapeamento dos campos de estágio em Serviço Social no

período de 2008 a 2014, período de 6 anos após a aprovação das novas legislações e

normativas vigentes. A pesquisa documental caracteriza-se pela busca de informações em

documentos que não receberam nenhum tratamento científico, como relatórios, reportagens de

jornais, revistas, cartas, filmes, gravações, fotografias, ente outras matérias de gravação

(OLIVEIRA, M.M., 2010, p. 69).

A captura das informações do ano de 2008 se tornou inviável e do ano de 2009

restouprejudicada, em razão do material ter sido extraviado, segundo o servidor responsável

pelo setor.

Considerando tais informações, o mapeamento dos campos de estágio compreendeu o

período entre o ano de 2009 e 2014. Considerando a concepção disseminada por Martinelli

(1999, p. 24) de sujeito significativo e/ou coletivo, no sentido de que a pessoa participante da

pesquisa expressa de forma típica a realidade de vivências de seu segmento. “O que importa

não é o número de sujeitos que vai prestar a informação, mas o significado que esses sujeitos

têm em função do que estamos buscando com a pesquisa.” (MARTINELLI, 1999, p. 24).

Esta metodologia teve como objetivo compreender a atual configuração do estágio

supervisionado a partir das novas legislações e normas vigentes desse momento, que é

considerado ímpar na formação profissional em Serviço Social.

Sobre o mapeamento dos campos de estágio, o processo investigativo ocorreu a partir

dos dados contidos nas guias de encaminhamento de estágio dos estudantes dos 3º e 4º anos

de Serviço Social, do período de 2009 a 2014, com a finalidade de retratar a natureza jurídica

dos campos, a quantidade de espaços sócio-ocupacionais como campo e o número de

supervisores de campo no exercício da atribuição privativa dos assistentes sociais.

69

3.2 Situando o“lócus” da pesquisa

A Faculdade de Ciências Humanas e Sociais - Unesp/Franca possui sua fundação na

década de 1960, com os seguintes dispositivos legais:

Lei Estadual nº 6.814, de 1963, cria a Faculdade de Filosofia, Ciências e

Letras (FFCL) na cidade de Franca, Estado de São Paulo oferecendo os

cursos de Pedagogia, História, Geografia e Letras.

Lei Estadual nº 952, de 30 de janeiro de 1976, cria a Universidade Estadual

Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP. A FFCL, enquanto faculdade

isolada passa a integrar o complexo de educação superior da UNESP.

Em 1976, com a instalação do curso de Serviço Social, a Unidade

Universitária passa a ser denominada Instituto de História e Serviço Social –

UNESP, Campus Universitário de Franca.

Em 1984, com criação do Curso de Direito, ganha a denominação de

Faculdade de História, Direito e Serviço Social (FHDSS) – UNESP, Campus

de Franca. No ano de 2002, foi implantado o curso de Relações

Internacionais. (OLIVEIRA, C.A.H.S., 2003, p. 71).

Atualmente, a referida faculdade recebe o nome de Faculdade de Ciências Humanas e

Sociais (FCHS)14

e possui 90 professores – a maioria com dedicação integral à docência e à

pesquisa – e, cerca de 1.900 alunos de graduação e pós-graduação.

No que diz respeito ao curso de Serviço Social, oferece 40 vagas para o período diurno

e 50 vagas para o período noturno.

3.2.1 Sobre o curso de Serviço Social da Unesp - Campus de Franca

Os dados obtidos junto aos arquivos da Universidade referem que no dia 21 de junho

de 1977, o então reitor da Unesp designou uma comissão para apreciação da proposta

curricular na área de Serviço Social e no dia 9 de fevereiro de 1978, a Resolução n. 9, da

Unesp, aprova a estrutura curricular do curso de Serviço Social do Campus de Franca.

Em 1983, o Instituto de História e Serviço Social -Unesp - Campus de Franca, enviou

estudos à Câmara Central de Graduação (CCG – Órgão Superior da Unesp), proposta para

reestruturação do currículo mínimo do Curso de Serviço Social que foi aprovado em 17 de

maio de 1983 pelo Parecer n. 16/83 da CCG, antecipando-se às decisões da própria ABESS15

.

14

Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (2012). 15

Associação Brasileira de Ensino em Serviço Social, atualmente Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em

Serviço Social (ABEPSS). Esta proposta permaneceu em vigor até 1991.

70

Os dados apontam que entre os anos de 1985 a 1988, a CCG promoveu debates sobre

o ensino com a instalação da Pró-Reitoria de Graduação, em consonância com o projeto

Universidade – Democracia e Participação, do então governador do Estado de São Paulo,

André Franco Montoro.

No período de 1989 a 1991, houve grandes avanços nas questões relativas ao Ensino e

à aprendizagem com a criação, pelo corpo docente do curso de Serviço Social do Campus de

Franca, e de instrumentais para constantes avaliações.

No ano de 1989, os conselhos de cursos de graduação da Universidade Estadual

Paulista contaram com a instrumentalização das propostas curriculares que foram

encaminhadas para a transformação em propostas pedagógicas, de acordo com cada momento

histórico da realidade brasileira. Essa condição da Unesp ocorreu concomitante a evolução da

formação profissional do assistente social que também enfatizava a preocupação em criar

Projetos Pedagógicos e não apenas currículos.

Percebem-se os esforços para a superação da dicotomia teoria e prática, em busca do

perfil de aluno que se pretende formar e em consonância com o Código de Ética Profissional.

A formação profissional passa a ser encarada como projeto pedagógico coletivo do corpo

docente, com participação ativa do corpo discente, sob articulação do Conselho de Curso de

Graduação em Serviço Social. Inúmeros foram os trabalhos realizados pelo colegiado do

curso de Serviço Social em Franca no sentido de rever e criar possibilidades de melhorias do

ensino/aprendizagem em cumprimento ao papel da Universidade: ensino, pesquisa e extensão.

A Resolução UNESP n. 19, de fevereiro de 1991, aprova a alteração curricular com o

objetivo de formar profissionais em Serviço Social habilitados a responder cientificamente às

demandas sociais e capacitá-los no enfrentamento das relações sociais, buscando respostas de

ação para transformação. Outro objetivo importante desta alteração curricular foi criar o perfil

que se pretendia formar, enfatizando a consonância com o Código de Ética da Profissão.

Em março de 1992, a Unesp publicou a Resolução n. 16 que ratifica as decisões da

Câmara Central de Graduação (CCG) e do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão

Universitária (CEPE) com relação ao currículo pleno do curso de Serviço Social do Campus

de Franca. De 1992 a 1999, o curso de Serviço Social procedeu às modificações e adequações

necessárias ao desenvolvimento e operacionalização dos currículos, alocando disciplinas e

conteúdos que foram posteriormente referendados pelo CEPE.

A partir do inicio do ano de 1999, o colegiado, após profundas reflexões em

seminários e fóruns de estudos, decidiu pela reestruturação curricular optando pela elaboração

de um projeto pedagógico para o curso em consonância com as sugestões da Associação

71

Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS), antecipando-se à Resolução do

MEC, prevista pela Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996 – Lei de Diretrizes e Bases

(LDB).

A Resolução da Universidade Estadual Paulista n. 29, de 31 de março de 2000, aprova,

em todas as instâncias, incluindo a Comissão de Especialistas, a Proposta Pedagógica do

Curso de Serviço Social – Unesp - Campus de Franca, para ser implantada aos alunos

ingressantes no mesmo ano. Segundo o Projeto Pedagógico proposto:

O curso de Serviço Social visa a formação e qualificação de assistentes

sociais críticos e competentes por meio do ensino, pesquisa e extensão, de

modo a contribuir para a formulação de políticas sociais públicas, com a

organização e mobilização da sociedade civil, tendo em vista o

desenvolvimento da cidadania [...]. O novo currículo busca imprimir uma

direção á formação profissional pautando-se pela ética como princípio

formativo; [...] superar a fragmentação dos conteúdos na organização

curricular de modo a propiciar uma visão de totalidade em que ensino,

pesquisa e extensão, estágio e supervisão sejam indissociáveis. (COSAC,

2001, p.11).

A condição deste curso de Serviço Social constitui-se em situação especial, pois se

trata do primeiro curso de natureza pública do Estado de São Paulo e compõe com várias

outras unidades de Ensino privadas e uma pública, o universo de centros de formação dos

profissionais assistentes sociais no território paulista. Constitui-se ainda um dos poucos cursos

de natureza estadual no Brasil. Atualmente, o outro curso de Serviço Social público do Estado

de São Paulo encontra-se em funcionamento desde 2009 na Universidade Federal de São

Paulo (Unifesp) - Campus da Baixada Santista.

As informações contidas no site oficial da Unifesp demonstram que o curso de

bacharelado em Serviço Social conta com a previsão de duração de oito semestres e com 100

vagas, distribuídas equitativamente entre o período vespertino e noturno.16

O perfil do bacharel em Serviço Social é um profissional que atua nas expressões da

questão social, formulando e implementando propostas para seu enfrentamento, por meio de

políticas sociais públicas, empresariais, de organização da sociedade civil e movimentos

sociais. Um profissional dotado de formação intelectual e cultural generalista crítica,

competente em sua área de desempenho, com capacidade de inserção criativa e propositiva,

no conjunto das relações sociais e no mercado de trabalho. Comprometido com os valores e

princípios norteadores do Código de Ética do Assistente Social.

16

Para maiores informações Universidade Federal de São Paulo (2015).

72

As informações no site da FCHS17

apontam que o curso tem como missão a formação

profissional de assistentes sociais com competência crítica e propositiva, capaz de decifrar a

gênese dos processos sociais, suas desigualdades e as estratégias de ação para enfrentá-las.

Este compromisso supõe o desenvolvimento da competência teórica e fidelidade ao

movimento da realidade; competências técnicas e ético-políticas que subordinem o “como

fazer” ao “o que fazer”, e este ao “dever ser”, sem perder de vista seu enraizamento no

processo social. O conteúdo programático do Curso concentra os segmentos acadêmicos

envolvidos na formação profissional, tais como professores, alunos e supervisores de campo,

compondo a elaboração dinâmica de uma proposta adequada à realidade sociocultural-

política e econômica do País e o contexto institucional e regional do curso.

3.3 Acompreensão dos docentes envolvidos com a temática estágio supervisionado diante

das novas legislações e normativas e o contexto no curso de Serviço SocialdaUnesp -

Campus de Franca

O estágio é visto como uma atividade necessária à formação profissional do estagiário

e, segundo a Lei n. 11.788, de 25 de setembro de 2008, estatui-se entre outras disposições:

Art. 1º - O estágio é ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido

no ambiente de trabalho, que visa à preparação para o trabalho produtivo

de educandos que estejam frequentando o ensino regular em instituições

de educação superior. (BRASIL, 2008).

Essa atividade pressupõe, além da descrição acima, uma aproximação efetiva do

estagiário com a realidade de sua área de atuação, com a possibilidade de uma relação teórica

prática essencial ao aprendizado e a construção da identidade profissional. Em relação à

formação profissional em Serviço Social, segundo as Diretrizes Curriculares aprovadas em

2001 pelo MEC, o estágio tem o caráter obrigatório e deve ser desenvolvido durante o

processo de formação e concomitante ao período letivo escolar. Segundo a Lei n. 8.662, de 7

de junho de 1993, constitui-se entre uma das atribuições dos assistentes sociais, a supervisão

direta de estagiários. Diante disso, apesar de estar alocado na legislação como uma atribuição

e não como uma obrigatoriedade cabe aos profissionais a compreensão, valorização e opção

pelo exercício dessa atribuição.

17

Maiores informações Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (2015).

73

A partir desse entendimento, é possível dizer que a supervisão de estágio contribui

para a formação continuada do assistente social, visto que estabelece uma relação direta

com a universidade.

Diante disso, a Resolução CFESS n. 533, de 29 de setembro de 2008 considera que:

O Estágio Supervisionado é uma atividade curricular obrigatória que se

configura a partir da inserção do aluno no espaço socioinstitucional,

objetivando capacitá-lo para o exercício profissional, o que pressupõe

supervisão sistemática. Esta supervisão será feita conjuntamente por

professor supervisor e por profissional do campo, com base em planos de

estágio elaborados em conjunto pelas unidades de ensino e organizações que

oferecem estágio. (CFESS, 2008).

Tal disposição legal e a Política Nacional de Estágio da ABEPSS podem ser

consideradas como avanços na definição do papel de estágio, visto que pressupõem uma nova

forma de organização e de responsabilidades tanto por parte das instituições campo de

estágio, como as das unidades de ensino e que os docentes sujeitos pesquisados compreendem

assim:

Essas normativas vieram realmente para contribuir muito para que o estágio

realmente ocupasse um espaço de centralidade na formação profissional, que

ocupasse o verdadeiro espaço que ele deveria já estar ocupando desde

oinicio e de ter uma preocupação maior, os dirigentes de escola de cursos de

SS para ter uma preocupação maior em atender isso, fazer o negócio

funcionar da forma correta. (Sujeito A).

A legislação veio na verdade fortalecer uma discussão e uma luta que a gente

já vinha encampando na Unesp já há um bom tempo. Quando eu entrei como

docente já aconteciam seminários de revisão curricular, todos os anos todo o

corpo docente se reunia tirava uma semana inteira, ou no mínimo três dias,

para discutir o projeto pedagógico e a questão do estágio, desde que eu entrei

eu vi que ele era mesmo central nas discussões, embora nem todos os

docentes tinham ou quisessem ter envolvimento com a questão do estágio,

mas pelo menos era um ponto em consenso da importância do lugar do

estágio na formação, isso eu percebia. (Sujeito B).

Essa visão do estágio como central na formação foi fortalecida com a

legislação. Nós pudemos nesse sentido incorporar no projeto político

pedagógico, que estava em construção já há bastante tempo, nós tivemos 16

seminários de revisão curricular, pudemos incorporar nessa proposta de

alteração de construção de um novo projeto que de fato fosse novo e que de

fato contemplasse o estágio como central na formação, como a gente tinha o

respaldo da legislação, criou-se o núcleo de estágio que não existia antes,

hoje já existe, isso foi um avanço, ter um núcleo oficial, isso foi um grande

passo. (Sujeito C).

74

Os apontamentos dos sujeitos pesquisados sinalizam que a compreensão em relação às

legislações e normativas vigentes pauta-se na concepção de centralidade do estágio

supervisionado conforme:

O estágio prático supervisionado é fundamental à formação profissional do

estudante de Serviço Social, pois oportuniza um momento específico no seu

processo de aprendizagem, alicerçado na reflexão sobre a ação profissional,

e possibilita uma visão crítica da dinâmica das relações existentes no campo

institucional, contextualizada numa dada realidade social (OLIVEIRA,

C.A.H.S., 2003, p. 101).

.

As reflexões tratadas pelos docentes pesquisados compreendem as legislações e

normativas como propiciadora de maior respaldo ao curso de Serviço Social, inclusive na

proposta de reestruturação pedagógica que o curso de Serviço Social da FCHS - Unesp -

Campus de Franca já trabalhava em períodos anteriores a publicação e aprovação das

legislações e normativas consideradas nesta pesquisa. Contudo, o fortalecimento acarretado

pela aprovação destes dispositivos legais contribuíram para a organização do corpo docente

do curso, que se concretizou na implantação do Núcleo de Estágio em Serviço Social (Ness),

considerado um avanço no que concerne ao tratamento do estágio supervisionado por esta

unidade de ensino. Em seu regimento dispõe:

Art. 2º - O Núcleo de Estágio Supervisionado - NESS é ligado, diretamente à

Seção Técnica de Graduação no que tange às questões administrativas e

subordinado ao Conselho de Curso de Graduação em Serviço Social nas

questões didático pedagógicas, sendo criado em conformidade com as

seguintes legislações: LDB nº 9.394/96 art. 82; Lei Federal 11.788/2008, art.

1º; Resoluções do CNE 492/2001, 1363/2001 e a 15/2002 deliberam sobre as

Diretrizes Curriculares para o Curso de Serviço Social; Política Nacional de

Estágio – PNE, organizada pela Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa

em Serviço Social.

Art. 3º - O NESS tem a finalidade de promover e coordenar a realização do

Estágio Supervisionado dos acadêmicos do Curso de Serviço Social.

(UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA

FILHO”,2014, p. 1).

Os demais sujeitos pesquisados são unânimes na concepção de que as recentes

legislações e normativas ratificam a importância do estágio no processo de formação do

estudante, além dorespaldo ao processo de supervisão acadêmica e supervisão de campo.

Nesta perspectiva, salienta-se que essas normativas assentam o estágio como possibilidade

concreta de materialização da lógica curricular, na perspectiva das diretrizes curriculares da

ABEPSS de 1996 e consoante com os princípios do Código de ética dos/as assistentes sociais

75

de 1993. Numa leitura atenta e crítica da realidade, segundo a Cartilha Estágio

Supervisionado - meia formação não garante um direito, destaca-se:

O estágio no Serviço Social deve se nortear por princípios que são

preservadores desta lógica, quais sejam,indissociabilidade entre as

dimensões teórico-metodológicas, ético-políticas e técnico-operativas;

articulação entre formação e exercício profissional; indissociabilidade entre

estágio, supervisão acadêmica e de campo; articulação entre universidade e

sociedade; unidade entre teoria e prática; articulação entre ensino pesquisa e

extensão. (ABEPSS, 2010, p.13).

As legislações e normativas também são apontadas como retaguarda aos embates

vivenciados pelos docentes na coordenação de curso, principalmente na condução do trabalho

coletivamente e em sintonia com os órgãos representativos e coletivos da categoria

profissional: CFESS, CRESS, ABEPSS.

Deste modo:

Essas legislações elas tinham assim a intencionalidade de dar uma qualidade

efetiva ao estágio. Acho que veio de um processo de discussão, de reflexão

com a categoria profissional que é peculiar ao Serviço Social sempre estar

mobilizando, e das arestas que haviam na formação do Serviço Social.

(Sujeito G).

No que tange aos desafios e as repercussões no contexto do curso de Serviço Social da

FCHS - UNESP - Campus de Franca, por ocasião da aprovação da Lei de estágio n. 11.788 de

25 de setembro de 2008, da aprovação da Resolução n. 533, de 29 de setembro de 2008 e da

orientação da Política Nacional de Estágio, os docentes refletem:

Trouxeram vários desafios, um era adaptar o nosso setor de estágio para

realmente adequar à nova proposta que tinha, e que nós realmente queríamos

criar do setor de estágio praticamente quase um departamento, um setor que

fosse algo que tivesse condição a mais de fazer aquilo que a gente tinha em

mente que no início era nossa proposta, fazer do estágio não aquilo que o

aluno aprende na teoria e depois vai pôr em prática, mas o estágio ser um

momento de atuação profissional. (Sujeito E).

Embora uma luta árdua e até muito demorada, em relação à supervisão

acadêmica, foram anos e anos para a gente conseguir convencer a Unesp do

que significava para a nossa profissão a supervisão acadêmica, enfim eu nem

posso dizer que nós convencemos ainda, mas pelo menos nós conseguimos

no projeto pedagógico contar com uma disciplina, nós tivemos que disfarçar,

colocar outro nome que não supervisão acadêmica, nós tivemos que colocar

um nome fantasia porque a Unesp não compreendeu o que a

ABEPSSpreconizava em termos de supervisão acadêmica, essa metodologia

em dividir a turma em turmas menores, cada 15 alunos para um supervisor

acadêmico, então nós tivemos que mudar os nomes. (Sujeito C).

76

A questão de nosso antigo projeto político-pedagógico não constar

supervisor acadêmico na grade curricular, então essa é uma primeira

dificuldade. Não há também um setor de estágio, uma assistente social que

coordena o setor de estágio como é feito nas instituições particulares. Então

o docente que se dispor a participar dessa comissão de estágio tem que fazer

todas as atividades de ensino, pesquisa, extensão, gestão, que são cobradas

do professor docente de curso da universidade e também a sobrecarga da

comissão de estágio. (Sujeito D).

Salienta-se que os desafios elencados pelos sujeitos pesquisados referem a ausência de

uma coordenação específica para o setor de estágio, inclusive com profissional contratado

exclusivamente para a referida função e ao desenvolvimento da supervisão acadêmica nos

moldes preconizados pela PNE:

A supervisão acadêmica está imbricada diretamente com a finalidade

social da profissão, da prestação de serviços sociais, que consiste em

conhecer e refletir com os (as) estagiários, em pequenos grupos, a

realidade profissional das diferentes organizações no enfrentamento

das expressões da questão social, reconhecer e debater os elementos

constitutivos do projeto profissional em curso nos diversos espaços

sócio-ocupacionais e sua relação com o projeto hegemônico da

profissão. (ABEPSS, 2010, p. 17).

Ainda sobre a dificuldade da realização da supervisão acadêmica na FCHS, salienta-se

que a situação vivenciada pelos docentes apresenta se apresenta de acordo com as

peculiaridades locais, regionais e as limitações institucionais, coerentes com a precarização da

educação superior e seusrebatimentos no Serviço Social (CAPUTI, 2014, p. 173).

Concordamos com a autora quando se diz que uma das estratégias para garantir a

supervisão acadêmica é constá-la também como disciplina na matriz curricular e ser realizada

no horário de aulas (CAPUTI, 2014, p. 160). Atualmente, ainda que as UFAs possuam a

disciplina de supervisão acadêmica ou referente ao estágio na matriz curricular, não conferem

ao que preconiza a PNE na totalidade.

Tais reflexões sintetizam que, apesar da FCHS- UNESP - Campus de Franca pertencer

à Administração Pública e figurar como uma das maiores Universidades do Estado, até

mesmo do País, a situação vivenciada pelo corpo docente sintetiza-se assim:

A tendência predominante tem sido imprimir uma lógica mercantil e

empresarial a universidade, estimulando a sua privatização: o que CHAUÍ

(1995, 1999) denomina de “universidade operacional” ou “universidade de

resultados e serviços”, condizente com as recomendações dos organismos

multilaterais. (IAMAMOTO, 2014, p. 625).

77

Quanto à compreensão dos entrevistados em relação a possíveis alterações nos campos

de estágio da FCHS -Unesp - Campus de Franca após as novas legislações e normativas,

assim declaram:

Acho que essa questão da divisão entre o número de horas e o número de

estagiários teve um rebatimento nos campos de estágio porque na verdade

diminuiu o número de alunos por assistente social, e quer queira quer não,

claro que o estagiário não atua, mas ele contribui com o trabalho do

assistente social, eu acho que essa diminuição teve uma influência nesse

processo de reorganização do estágio nos espaços ocupacionais, acho que

isso teve um rebatimento sim. (Sujeito E).

Observo não da parte dos campos propriamente, mas dos supervisores de

campo que representam esses campos de estágio, eu percebo que esses

supervisores de campo, esses profissionais de Serviço Social, estão mais

atentos, estão tentando entender mais sobre estágio, estão tentando

compreender essas normativas, estão buscando aproximação com a escola e

o curso para garantir essas implementações, até porque o CRESS está

envolvido nessa história do exercício profissional, porque enquanto

supervisor de campo esse profissional está em exercício profissional, está

sob a fiscalização do CRESS, então eu penso que por conta dessa

fiscalização do CRESS, nesse sentido do exercício profissional, os

profissionais estão mais atentos e preocupados em responder a essas

normativas juntamente com os cursos de Serviço Social. (Sujeito L).

Acho que, assim, o nosso olhar para o campo de estágio se modificou porque

hoje não basta ser campo, a gente está num processo de fiscalização, não

acho que é isso, mas assim o olhar para verificar a nossa atuação, para nós

supervisores acadêmicos também tem implicações éticas e fiscalizatórias por

parte do CRESS. (Sujeito G).

Os sujeitos apontam a observação de alterações, principalmente na relação dos

supervisores de campo com a Universidade, situação que pode ser atribuída a recente trabalho

desenvolvido pelo NESS, no que tange a maior aproximação com os estudantes, com os

supervisores de campo, além de ações concretas como: visitas institucionais, reuniões e até

mesmo “plantões” semanais na FCHS - UNESP - Campus de Franca, onde os envolvidos

(estudantes e assistentes sociais supervisores)possuem acesso aos supervisores acadêmicos.

Ressalta-se que as iniciativas anteriores da comissão de estágio em estabelecer maior

aproximação com os campos de estágio partiram da compreensão individual dos docentes

acerca da relevância do estágio na formação profissional, visto a ausência de infraestrutura e

recursos institucionais que viabilizassem o desempenho das atividades conforme as

normativas e legislações preconizam.

Quanto ao número de estagiários por supervisor, respeitando o limite de 1 estudante, a

cada dez horas trabalhadas pelo profissional e que os docentes atribuem a diminuição da

78

quantidade de supervisionados por profissional, a Resolução n. 533, de 29 de setembro de

2008, regulamenta:

Art. 3º. O desempenho de atividade profissional de supervisão direta de

estágio, suas condições, bemcomo a capacidade de estudantes a serem

supervisionados, nos termos dos parâmetros técnicos e éticos doServiço

Social, é prerrogativa do profissional assistente social, na hipótese de não

haver qualquerconvenção ou acordo escrito que estabeleça tal obrigação em

sua relação de trabalho.

Parágrafo único. A definição do número de estagiários a serem

supervisionados deve levar em conta acarga horária do supervisor de campo,

as peculiaridades do campo de estágio e a complexidade das atividades

profissionais, sendo que o limite máximo não deverá exceder 1 (um)

estagiário para cada 10(dez) horas semanais de trabalho. (CFESS, 2008).

Salienta-se que as alterações no limite de estudantes por profissional também pode ser

atribuída a uma importante conquista da categoria profissional de assistente social, que trata-

se da redução da duração do trabalho do Assistente Social para 30 (trinta) horas semanais,

definidas na Lei n. 12.317, de 26 de agosto de 2010.

Art. 1o A Lei n

o 8.662, de 7 de junho de 1993, passa a vigorar acrescida do

seguinte art. 5o-A:

“Art. 5o-A. A duração do trabalho do Assistente Social é de 30 (trinta) horas

semanais.”

Art. 2o Aos profissionais com contrato de trabalho em vigor na data de

publicação desta Lei é garantida a adequação da jornada de trabalho, vedada

a redução do salário.

Art. 3o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

3.4 Mapeamento dos campos de estágio da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da

Unesp - Campus de Franca

O universo da pesquisa se limitou a FCHS -Unesp- Campus de Franca, em razão da

vinculação da pesquisadora,que cursou graduação nesta Universidade, de sua participação no

grupos de estudo e como supervisora de campo de estagiários desta referida unidade nos

períodos de 2009 a 2013.A escolha desse universo também ocorreu em função de ser a

primeira faculdade pública do Estado de São Paulo a ofertar o curso de Serviço Social e de já

ter formado no período de 1980 a 2013, cerca de 1.779 bacharéis no referido curso.

Por ser uma Universidade de referencia na formação de profissionais assistentes

sociais, inclusive que participamativamente dos debates sobre formação e exercício

profissional, assim como sobre o estágio supervisionado e supervisão. Também é conhecida

79

por ter representantes nas diversas categorias e espaços de representação profissional, tais

como: CRESS, CFESS, ABEPSS, entre outros. Também possuiu docentes que participaram

ativamente da elaboração da PNE(ABEPSS, 2010), e que possuem diversas produções sobre a

temática – estágio supervisionado, além de outras temáticas com relevantes contribuições à

formação profissional do Assistente Social no Brasil e exterior.

Para a elaboração dos quadros e gráficos apresentados a seguir, realizamos contato

pessoalmente com o profissional responsável pelo denominado setor de estágio, que solicitou

autorização da Diretoria para a liberação dos arquivos que contendo a documentação de

estágio dos alunos. Mediante o envio de ofício, foi liberado o acesso ao documento Termo de

Convênio de Estágio, visto que os demais documentos possuem natureza sigilosa e sua

consulta seria realizada mediante autorização individual de cada estudante. Situação

considerada inviável para a pesquisadora, neste momento, visto que o recorte temporal de

2008 a 2014 implicaria em limites institucionais, em razão de a maioria dos estudantes já ter

colado grau e a Faculdade não possuir bancos de dados sobre os seus egressos.

Além do envolvimento com a temática desde a graduação, em razão de pesquisa com

bolsa de Iniciação Científica e Trabalho de Conclusão De Curso (TCC), cabe destacar que a

participação no Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Formação Profissional em Serviço Social

– Geoforms contribuiu para maior envolvimento profissional com o assunto.

Efetivaram-se diversas aproximações e investigações aos documentos disponíveis,

primeiramente com o intuito de obter os dados sobre a quantidade de campos de estágio

identificados no período de 2008 a 2014, contudo, nos deparamos com a ausência de

documentação do ano de 2008 e anteriores. Ao indagar o funcionário responsável pelo setor

de estágio, fomos informados que os documentos foram extraviados. Ao ser indagado sobre a

relevância de tais documentos, o referido servidor público estadual declarou que o “setor” não

cuidava apenas do estágio em Serviço Social, mas também do curso de Relações

Internacionais. Tal informação se constitui como expressão da realidade e revela o contexto

de precarização da formação profissional nos dias hodiernos, bem como envolvem mediações

acerca da autonomia profissional, referindo-se ao projeto de profissão e à dimensão da

universidade (CAPUTI, 2014, p. 14).

80

Os documentos consultados revelam os seguintes dados:

Quadro 2 - Campos de estágio 3º anoServiço Social 2009

Ano/Período Número de campos de estágio Número de supervisores

campo 2009/3º Diurno 07 08 2009/3º Noturno 14 15 Fonte: Elaborado por Raquel Renzo da Silva Pequiá, 2015.

Quadro 3 - Campos de estágio 4º ano Serviço Social 2009

Ano/Período Número de campos de estágio Número de supervisores

campo 2009/4º Diurno 10 14 2009/4º Noturno 11 11 Fonte: Elaborado por Raquel Renzo da Silva Pequiá, 2015.

Quadro 4 - Campos de estágio 3º ano Serviço Social 2010

Ano/Período Número de campos de estágio Número de Supervisores

campo 2010/3º Diurno 26 32 2010/3º Noturno 30 35 Fonte: Elaborado por Raquel Renzo da Silva Pequiá, 2015.

Quadro 5 - Campos de estágio 4º ano Serviço Social 2010

Ano/Período Número de campos de estágio Número de Supervisores

campo 2010/4ºDiurno 20 21 2010/4º Noturno 23 27 Fonte: Elaborado por Raquel Renzo da Silva Pequiá, 2015.

Quadro6 Campos de estágio 3º ano Serviço Social 2011

Ano/Período Número de campos de estágio Número de supervisores

campo 2011/3º Diurno 27 29 2011/3º Noturno 21 26 Fonte: Elaborado por Raquel Renzo da Silva Pequiá, 2015.

Quadro 7 Campos de estágio 4º ano Serviço Social 2011

Ano/Período Número de Campos de

Estágio Número de Supervisores

campo 2011/4ºDiurno 21 25 2011/4º Noturno 16 18 Fonte: Elaborado por Raquel Renzo da Silva Pequiá, 2015.

Quadro 8 - Campos de estágio 3º ano Serviço Social 2012

Ano/Período Número de campos de estágio Número de supervisores

campo 2012/3º Diurno 23 31 2012/3º Noturno 38 43 Fonte: Elaborado por Raquel Renzo da Silva Pequiá, 2015.

81

Quadro 9 - Campos de estágio4º ano Serviço Social 2012

Ano/Período Numero de campos de Estágio Número de supervisores

campo 2012/4º Diurno 20 23 2012/4º Noturno 18 19 Fonte: Elaborado por Raquel Renzo da Silva Pequiá, 2015.

Quadro 10 - Campos de estágio 3º ano Serviço Social2013

Ano/Período Número de campos de estágio Número de Supervisores

campo 2013/3º Diurno 13 16 2013/3º Noturno 30 31 Fonte: Elaborado por Raquel Renzo da Silva Pequiá, 2015.

Quadro 11 - Campos de estágio 4º ano Serviço Social 2013

Ano/Período Número de campos de estágio Número de supervisores

campo 2013/4º Diurno 18 24 2013/4º Noturno 28 30 Fonte: Elaborado por Raquel Renzo da Silva Pequiá, 2015.

Quadro 12 - Campos de estágio3º ano Serviço Social 2014

Ano/Período Número de campos de estágio Número de supervisores

campo 2014/3º Diurno 14 16 2014/3º Noturno 30 30 Fonte: Elaborado por Raquel Renzo da Silva Pequiá, 2015.

Quadro 13 - Campos de estágio 4º ano Serviço Social 2014 Ano/Período Número de campos de estágio Número de supervisores de

campo 2014/4º Diurno 20 22 2014/4º Noturno 30 36 Fonte: Elaborado por Raquel Renzo da Silva Pequiá, 2015.

Ressalta-se que os dados apresentados neste estudo foram sintetizados em forma de

gráficos, com vistas a melhor visualização dos números obtidos na realização da pesquisa

documental.

82

Gráfico 1 – Quantidade de campos de estágio nos 3º anos diurno

Fonte: Elaborado por Raquel Renzo da Silva Pequiá, 2015.

Nos anos de 2010 a 2012 houve um aumento expressivo nos dados sobre a quantidade

de campos de estágio no terceiro ano diurno. O mesmo não acontece nos anos subsequentes

de 2013 e 2014 que apresentaram uma redução nos índices, com ligeira ascensão no ano de

2014.

Tais informações podem ser identificadas, de acordo com a realidade vivenciada por

esta pesquisadora, como decorrente da preferência de estagiários que estejam cursando os 3º

anos, visto que este estudante poderá estabelecer maior vínculo com a instituição e a

população atendida, devido a possibilidade de permanecia por dois anos no campo de estágio.

83

Gráfico 2 – Quantidade de campos de estágio nos 3º anos noturnos

Fonte: Elaborado por Raquel Renzo da Silva Pequiá, 2015.

O quadro do terceiro ano noturno apresenta outra realidade. Existe uma regularidade

nos números de campos de estágio entre os anos de 2010 e 2013. Já quando a analise recai em

2012, percebe-se uma maior expressividade nestes dados. Por outro lado 2014 é o ano que

apresenta menores índices, que podem ser compreendidos sob o prisma de que os alunos dos

4º anos permaneceram em seus respectivos campos e percebe-se que não houve abertura de

número significativo de novos campos de estágio.

84

Gráfico 3 – Quantidade de campos de estágio nos 4º anos do diurno

Fonte: Elaborado por Raquel Renzo da Silva Pequiá, 2015.

Quando a análise recai nos quartos anos os dados apresentam facetas diferenciadas.

No diurno é possível perceber uma simetria nos dados entre os anos 2010 a 2013. Em 2014,

observa-se uma disparada nos dados referentes aos campos de estágio. Por outro lado no

noturno é o ano de 2013 que se destaca dos demais interrompendo o crescimento ascendente e

constante entre os anos de 2011 a 2014. No ano de 2010 também os dados apresentam uma

configuração expressiva, embora menor que no ano de 2013.

Os números expressivos de campos de estágio no ano de 2014 podem ser traduzidos

para a permanência dos estudantes nos seus respectivos campos de estágio. Também faz-se

necessário lembrar o trabalho desempenhado pelo Ness na “conquista” de novos convênios de

estágio, que pode esta revelado neste dado.

85

Gráfico 4 – Quantidade de campos de estágios nos 4º anos noturnos

Fonte: Elaborado por Raquel Renzo da Silva Pequiá, 2015.

Quanto à natureza jurídica dos campos de Estágio, os dados colhidos apontam

contexto em que há predominância de campos de estágio com natureza jurídica pública.

Tal aspecto merece destaque, visto que o contingente de assistentes sociais brasileiros

é o segundo no cenário mundial, com 135 mil profissionais ativos, conforme dados do

CFESS, apenas superado pelos EUA, num total de 750 mil assistentes sociais no mundo,

segundo dados apontados por Iamamoto(2014, p. 612). Ainda nesse sentido a autora nos fala:

Existe uma necessária autonomia entre o trabalho profissional na política

pública e a política pública. Profissão não se confunde com política pública de

governo ou de Estado e nem o Serviço Social se confunde com assistência

social, ainda que esta possa ser uma das mediações persistentes na justificativa

histórica da existência da profissão. (IAMAMOTO, 2014, p. 612).

86

Gráfico 5 –Natureza dos campos de estágio em 2009

Fonte: Elaborado por Raquel Renzo da Silva Pequiá, 2015

No ano de 2010, a diferença quanto à natureza dos campos de estágio começam a

acentuar, de forma que atinge percentual superior a 32% entre elas, com predominância do

setor público.

Gráfico 6 – Natureza dos campos de estágio em 2010

Fonte: Elaborado por Raquel Renzo da Silva Pequiá, 2015

Percebe-se que, contudo, que a diferença atinge seu maior nível no ano de 2012 e que

os dados apontados anteriormente revelam que se tratar do período o maior número de

campos de estágio em atividade, com predominância do setor público.

87

Gráfico 7 – Natureza dos campos de estágio em 2011

Fonte: Elaborado por Raquel Renzo da Silva Pequiá, 2015.

Gráfico 8 – Natureza dos campos de estágio em 2012

Fonte: Elaborado por Raquel Renzo da Silva Pequiá, 2015.

Gráfico 9 – Natureza dos campos de estágio em 2013

Fonte: Elaborado por Raquel Renzo da Silva Pequiá, 2015.

88

Gráfico 10 – Natureza dos campos de estágio em 2014

Fonte: Elaborado por Raquel Renzo da Silva Pequiá, 2015

Diante dos dados obtidos, salienta-se que a predominância de campos de estágio no

setor público se configura historicamente na trajetória do Serviço Social brasileiro e

Iamamoto (2014, p. 611) nos diz que o Estado, nos diversos níveis da federação, é hoje o

maior empregador dos assistentes sociais, e a atuação na órbita das políticas públicas um

espaço profissional privilegiado.

Quanto aos supervisores de estágio, os dados obtidos junto ao Setor e traduzidos no

gráfico seguinte, sinalizam que o ano de 2012 apresentou aumento significativo no número de

supervisores de campo do 3º ano noturno.

Gráfico 11 – Quantidade de supervisores de estágio de 2009 a 2014

Fonte: Elaborado por Raquel Renzo da Silva Pequiá, 2015

89

Verifica-se que os campos de estágio no setor público mantiveram regularidade em

torno de 60% e os de natureza privada em torno de 40%, se considera a média aritmética entre

eles.

Contudo, apesar dos dados apontados estarem em consonância com a realidade

identificada nos espaços sócio-ocupacionais do Serviço Social brasileiro, observa-se que os 3º

anos possuem o maior número de supervisores, coincidindo com a configuração dos campos

de estágio e que podem ser entendidos como sendo “preferência” dos assistentes sociais para

os estudantes dos 3º anos.

90

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A reflexão proposta neste trabalho de dissertação pautou-se na discussão sobre os

rebatimentos que as novas legislações e normativas de estágio trouxeram para a formação

profissional em Serviço Social, sob a ótica dos docentes envolvidos com a temática, da

primeira Universidade Pública do Estado de São Paulo a manter o curso de Serviço Social,

desde o final da década de 1970.

Sabe-se, contudo, que compreender os rumos atuais da profissão requer um

entendimento do Serviço Social enquanto profissão de caráter interventivo na denominada

“questão social” e inserido na divisão sociotécnica do trabalho, implica em compreender a

sua trajetória, assim como o contexto histórico-social no qual está inserido na

contemporaneidade e as múltiplas determinações que incidem sobre a atuação profissional.

[...] as condições que circunscrevem o trabalho do assistente social

expressam a dinâmica das relações sociais vigentes na sociedade. O

exercício profissional é necessariamente polarizado pela trama de suas

relações e interesses sociais. (IAMAMOTO, 2009, p. 24).

Neste aspecto, além da identidade que nos é atribuída como o profissional

“bonzinho”, aquele que “cuida dos pobres”, faz-se necessário compreender que a política

neoliberal tem imposto alterações significativas tanto no perfil do profissional quanto em

seu lócus ocupacional, tal qual tem ocorrido com o mundo do trabalho em geral,

requisitando profissionais chamados de polivalentes, dominadores de diversas áreas do

conhecimento. Diante dessa demanda, faz–se necessário repensar a formação profissional

do assistentesocial, pois ela se inicia na graduação e propiciará a compreensão das

implicações ético-políticas e teórico-metodológicas exigidas para o exercício da profissão.

Sabe-se que a Universidade tem as suas contribuições e responsabilidades para que a

construção da identidade profissional que se inicia nessa fase da formação, esteja em

consonância com um projeto pedagógico pautado numa postura ético-política definida e,

principalmente caminhando nos rumos norteados pelas novas diretrizes curriculares para o

curso de Serviço Social.

Em relação a essa formação, um dos componentes importantes para a sua construção

é o contato com a prática profissional, mediatizada pela primeira aproximação com a

realidade social pelo estágio supervisionado.

91

Além de configurar como atividade curricular obrigatória:

[...] o estágio é concebido como um espaço de treinamento, um espaço de

aprendizado do fazer concreto do Serviço Social, onde um leque de

situações de atividades de aprendizagem profissional se manifesta para o

estagiário, tendo em vista a sua formação. O estágio é o lócus onde a

identidade profissional do aluno é gerada, construída e referida; volta-se

para o desenvolvimento de uma ação vivenciada, reflexiva e crítica e, por

isso, deve ser planejado gradativa e sistematicamente. (BURIOLLA, 1995,

p.13).

No momento em que se inicia a atividade de estágio, o graduando, na maioria das

vezes se depara com situações que são traduções das, nem sempre percebidas, relações

sociais e se encontra na posição de responsável por dar uma resposta a tais demandas,

mesmo que ainda esteja em processo de aprendizagem. Esta insegurança é compreensível na

medida em que se está iniciando o exercício profissional e construindo uma identidade

profissional própria. Neste sentido, os campos de estágio e, sobretudo a postura do

supervisor no respaldo a esses conflitos dos estagiários, são fundamentais e o respaldo dos

supervisores acadêmicos essencial para propiciar as reflexões em sala de aula.

Diante disso, as novas legislações de estágio, como a Resolução CFESS n. 533, de

29 de setembro de 2008 e a Política Nacional de Estágio (PNE), assentam que o Estágio

curricular como atividade obrigatória possui a centralidade na formação profissional e se

constitui num espaço privilegiado de articulação entre teoria e prática, da ética profissional,

da sistematização de conhecimentos e outras mediações que contribuem para a melhor

apreensão da realidade socioinstitucional a ser trabalhada.

Diz Lewgoy (2010, p. 119) que:

[...] a concepção que alicerça o estágio supervisionado curricular

obrigatório e não obrigatório tem como perspectiva a processualidade da

supervisão na formação para o exercício profissional, processo que não é

linear, mas complexo e tipicamente histórico. O compromisso com a

profissão é elemento que, no âmbito da competência profissional, prima

pela qualidade dos serviços prestados à população. É terreno germinador

das demandas e das possibilidades de conhecimento e das práticas na

apreensão das determinações e mediações que incidem na realidade social.

Reflete-se que as novas legislações e normatizações sobre o estágio supervisionado

se apresentam como forma de resguardar e garantir que essa atividade mantenha uma

perspectiva que o Serviço Social já construiu historicamente e que a considera como parte

constituinte, integrante e central na formação profissional, portanto, deve ser realizada em

condições objetivas, que de fato proporcione ao estagiário a vivência como um espaço de

92

fato de aprendizagem. Para tanto, um dos desafios apontados e que a Universidade tem

“perseguido” com maior ênfase após a implantação do NESS é o estreitamento dos vínculos

institucionais da Universidade com os campos de estágio, apesar da infraestrutura e dos

recursos disponíveis serem insuficientes e incipientes, muitas vezes dependendo da

iniciativa pessoal do docente para a realização de determinadas atividades, ainda que

preconizadas nas legislações e normativas.

A compreensão dos sujeitos pesquisados (docentes) sobre as recentes legislações e

normativas sobre estágio supervisionado e supervisão apontam que desafios têm se

apresentado ao corpo docente da FCHS- Unesp - Campus de Franca, especificamente aos

envolvidos com a temática. Trata-se de sensibilização de instâncias administrativas quanto

às mudanças, inclusive na contratação de profissionais para a realização da supervisão

acadêmica, conforme preconiza a PNE, além da tarefa de estabelecer diálogo permanente

com os supervisores de campo, um dos partícipes desse processo. Tal aproximação visa a

apropriação e compreensão das recentes legislações e normativas, suas implicações e os

rebatimentos em seu exercício profissional. É necessário que se reflita sobre o estágio

supervisionado como parte integrante e essencial na formação profissional do assistente

social.

Sendo assim, devido à relevância do tema, é preciso que esse processo de formação

profissional aponte na direção de um Serviço Social atento às questões do mundo

contemporâneo, com um olhar crítico às transformações do perfil profissional e ao mercado

de trabalho. Que as UFAsmantenham maior proximidade com os campos de estágio; com os

profissionais responsáveis tanto pela supervisão de campo, principalmente mediatizadas

pelo sujeito partícipe – supervisor acadêmico.

Faz-se necessário que o corpo docente atente para o direcionamento colocado

pelaPolítica Nacional de Estágio (PNE), que se configura uma conquista relevante para a

categoria profissional, embora não tenha força de lei, inclusive com a legitimidade do

debate coletivo no âmbito da ABEPSS, como entidade acadêmica. Seus desdobramentos são

significativos para o Serviço Social, na medida em que se regulamentou de forma mais

homogênea a atividade de estágio no País, inclusive a necessidade de garantir a supervisão

acadêmica.

[...] instrumento fundamental na formação da análise crítica e da

capacidade interventiva, propositiva e investigativa do (a) estudante, que

precisa apreender os elementos que constituem a realidade social

capitalista e suas contradições, de modo a intervir, posteriormente como

93

profissional, nas diferentes expressões da questão social. (ABEPSS, 2010,

p.11).

Os relatos dos entrevistados indicam que a realização da supervisão acadêmica,

conforme preconiza as novas legislações e normativas necessitou superar desafios, entre

eles, a realização da supervisão acadêmica que não se encontrava com carga horária

específica no Projeto Político Pedagógico aprovado em 2001 e vigente até o ano de 2014.

Tal condição não permitiu a sua integração à grade curricular18

, contudo, para o ano de 2015

os estudantes já estão sob a égide de nova proposta pedagógica, inclusive com a previsão de

carga horária específica para essa atividade.

Outro desafio elencado se coloca com a ausência de um setor de estágio específico

para tratar das questões pertinentes ao estágio supervisionado e uma coordenação do setor

de estágio, nos moldes como já ocorria em algumas instituições particulares não contribuiu

para um olhar mais aprofundando, tampouco na perspectiva das atribuições da Coordenação

de Estágio da qual trata a PNE:

Como esfera de organização e gestão da política de estágio; indicando a

necessidade de todas as UFAs possuírem essa instância, fundamental para

o encaminhamento de um estágio supervisionado com qualidade. Cabendo

a esta Coordenação atuar diretamente articulada às coordenações de curso

ou departamentos, de modo a viabilizar as novas demandas de qualificação

do Estágio como elemento central da formação profissional. (ABEPSS,

2010, p.24).

Apesar de o curso de Serviço Social da FCHS -Unesp - Campus Franca contar com

a previsão normativa de uma coordenação de estágio, a pesquisa aponta que o docente

“eleito” para participar da referida comissão, comumente, se tratava daqueles profissionais

docentes recém-contratados e que “recebiam” tal tarefa como sendo um “prenda”, “trote” e

“castigo” destinado aos ingressantes.

O desempenho das atribuições como docente (aula) aliada ao acúmulo com as

atividades de ensino, pesquisa, extensão e gestão, que são cobradas do professor docente do

curso de faculdade pública, e também a sobrecarga da comissão de estágio, contribuíram

para que esta atribuição fosse relegada a um segundo plano por parte da Universidade,

apesar da compreensão dos sujeitos envolvidos acerca da relevância e da centralidade do

estágio supervisionado na formação profissional dos graduandos.

18

No ano de 2014 foi aprovado o novo projeto pedagógico para o curso de Serviço Social da FCHS – UNESP -

Campus de Franca

94

Na tentativa de superar o desafio da efetivação da supervisão acadêmica, reflexões e

debates entre os docentes culminaram com a instituição do Núcleo de Estágio em Serviço

Social (NESS) desde 9/9/2015, substituindo a Comissão de Estágio prevista no artigo 1º do

Regimento Interno do Estágio Curricular de 16/05/2001. A composição do Núcleo de

Estágio em Serviço Social é integrada por coordenador, supervisores acadêmicos, apoio

técnico administrativo e um representante discente regularmente matriculado no curso de

graduação em Serviço Social, membro do CCGSS. Há de se considerar que o Art. 4º ainda

coloca, no Parágrafo único, que: todos os docentes do Curso de Serviço Social da FCHS

poderão atuar como colaboradores junto ao Núcleo de Estágio Supervisionado, contudo, no

artigo seguinte destaca que a supervisão acadêmica será exercida por docentes graduados

em Serviço Social, responsáveis pelo conjunto de disciplinas de Processos Educativos em

Serviço Social.

Tal condição apontada no Regulamento do Núcleo de Estágio em Serviço Social19

reforça a necessidade de contratação de docentes com formação em Serviço Social, cujo

objetivo deverá ser de realizar a supervisão acadêmica conforme orientação da PNE:

Aos (às) supervisores (as) acadêmicos (as) compete o papel de orientar os

estagiários e avaliar seu aprendizado, em constante diálogo com o (a)

supervisor(a) de campo, visando a qualificação do estudante durante o

processo de formação e aprendizagem das dimensões teórico-

metodológicas, ético-políticas e técnico-operativas da profissão, em

conformidade com o plano de estágio (ABEPSS, 2010, p.19).

Salienta-se que pelo fato de a FCHS ser a única unidade da UNESP a ofertar o curso

de Serviço Social, é assinalado como entrave no diálogo com a reitoria para a sensibilização

quanto à necessidade de contratação de docentes para o desempenho dessa função. É

necessário destacar a necessidade de estreitamento dos vínculos institucionais com os

campos de estágio, inclusive com a realização de visitas, reuniões com os supervisores de

campo, além de atividades que incluem a organização de Fóruns de Supervisores, o

atendimento dos estagiários em suas dúvidas quanto à efetivação do estágio supervisionado.

O que se observou no período pesquisado foi a ausência de infraestrutura mínima por

parte da Diretoria da FCHS, apesar da mobilização do corpo docente, especialmente na

figura dos coordenadores de conselho de curso em Serviço Social, da denominada comissão

de estágio que se empenhou na condução de uma melhor organização administrativa para

tratar dos assuntos referentes ao estágio supervisionado, tais como funcionário para cuidar

19

Universidade Estadual Paulista “Júlio De Mesquita Filho”(2014).

95

da parte administrativa, sala adequada para atendimento dos estudantes e supervisores de

campo, docente contratado exclusivamente para a disciplina de supervisão acadêmica,

transporte para visitas institucionais, profissionais assistentes sociais contratados

especificamente para a coordenação de estágio, com vistas a avançar para além das

garantias postas pelas legislações e normativas e que a perspectiva de centralidade do

estágio supervisionado na formação profissional se concretize.

96

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1997.

APÊNDICE

104

APÊNDICE A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

ANEXOS

106

ANEXO A - LEI Nº 11.788, DE 25 DE SETEMBRO DE 2008

Presidência da República

Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos

LEI Nº 11.788, DE 25 DE SETEMBRO DE 2008.

Dispõe sobre o estágio de estudantes; altera a

redação do art. 428 da Consolidação das Leis do

Trabalho – CLT, aprovada pelo Decreto-Lei no

5.452, de 1o de maio de 1943, e a Lei n

o 9.394, de

20 de dezembro de 1996; revoga as Leis nos

6.494,

de 7 de dezembro de 1977, e 8.859, de 23 de março

de 1994, o parágrafo único do art. 82 da Lei no

9.394, de 20 de dezembro de 1996, e o art. 6o da

Medida Provisória no 2.164-41, de 24 de agosto de

2001; e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu

sanciono a seguinte Lei:

CAPÍTULO I

DA DEFINIÇÃO, CLASSIFICAÇÃO E RELAÇÕES DE ESTÁGIO

Art. 1o Estágio é ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no ambiente de trabalho,

que visa à preparação para o trabalho produtivo de educandos que estejam freqüentando o ensino

regular em instituições de educação superior, de educação profissional, de ensino médio, da educação

especial e dos anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional da educação de jovens e

adultos.

§ 1o O estágio faz parte do projeto pedagógico do curso, além de integrar o itinerário formativo

do educando.

§ 2o O estágio visa ao aprendizado de competências próprias da atividade profissional e à

contextualização curricular, objetivando o desenvolvimento do educando para a vida cidadã e para o

trabalho.

Art. 2o O estágio poderá ser obrigatório ou não-obrigatório, conforme determinação das

diretrizes curriculares da etapa, modalidade e área de ensino e do projeto pedagógico do curso.

§ 1o Estágio obrigatório é aquele definido como tal no projeto do curso, cuja carga horária é

requisito para aprovação e obtenção de diploma.

§ 2o Estágio não-obrigatório é aquele desenvolvido como atividade opcional, acrescida à carga

horária regular e obrigatória.

§ 3o As atividades de extensão, de monitorias e de iniciação científica na educação superior,

desenvolvidas pelo estudante, somente poderão ser equiparadas ao estágio em caso de previsão no

projeto pedagógico do curso.

Art. 3o O estágio, tanto na hipótese do § 1

o do art. 2

o desta Lei quanto na prevista no § 2

o do

mesmo dispositivo, não cria vínculo empregatício de qualquer natureza, observados os seguintes

requisitos:

107

I – matrícula e freqüência regular do educando em curso de educação superior, de educação

profissional, de ensino médio, da educação especial e nos anos finais do ensino fundamental, na

modalidade profissional da educação de jovens e adultos e atestados pela instituição de ensino;

II – celebração de termo de compromisso entre o educando, a parte concedente do estágio e a

instituição de ensino;

III – compatibilidade entre as atividades desenvolvidas no estágio e aquelas previstas no termo

de compromisso.

§ 1o O estágio, como ato educativo escolar supervisionado, deverá ter acompanhamento efetivo

pelo professor orientador da instituição de ensino e por supervisor da parte concedente, comprovado

por vistos nos relatórios referidos no inciso IV do caputdo art. 7o desta Lei e por menção de aprovação

final.

§ 2o O descumprimento de qualquer dos incisos deste artigo ou de qualquer obrigação contida

no termo de compromisso caracteriza vínculo de emprego do educando com a parte concedente do

estágio para todos os fins da legislação trabalhista e previdenciária.

Art. 4o A realização de estágios, nos termos desta Lei, aplica-se aos estudantes estrangeiros

regularmente matriculados em cursos superiores no País, autorizados ou reconhecidos, observado o

prazo do visto temporário de estudante, na forma da legislação aplicável.

Art. 5o As instituições de ensino e as partes cedentes de estágio podem, a seu critério, recorrer a

serviços de agentes de integração públicos e privados, mediante condições acordadas em instrumento

jurídico apropriado, devendo ser observada, no caso de contratação com recursos públicos, a

legislação que estabelece as normas gerais de licitação.

§ 1o Cabe aos agentes de integração, como auxiliares no processo de aperfeiçoamento do

instituto do estágio:

I – identificar oportunidades de estágio;

II – ajustar suas condições de realização;

III – fazer o acompanhamento administrativo;

IV – encaminhar negociação de seguros contra acidentes pessoais;

V – cadastrar os estudantes.

§ 2o É vedada a cobrança de qualquer valor dos estudantes, a título de remuneração pelos

serviços referidos nos incisos deste artigo.

§ 3o Os agentes de integração serão responsabilizados civilmente se indicarem estagiários para

a realização de atividades não compatíveis com a programação curricular estabelecida para cada curso,

assim como estagiários matriculados em cursos ou instituições para as quais não há previsão de

estágio curricular.

Art. 6o O local de estágio pode ser selecionado a partir de cadastro de partes cedentes,

organizado pelas instituições de ensino ou pelos agentes de integração.

CAPÍTULO II

DA INSTITUIÇÃO DE ENSINO

Art. 7o São obrigações das instituições de ensino, em relação aos estágios de seus educandos:

I – celebrar termo de compromisso com o educando ou com seu representante ou assistente

legal, quando ele for absoluta ou relativamente incapaz, e com a parte concedente, indicando as

condições de adequação do estágio à proposta pedagógica do curso, à etapa e modalidade da formação

escolar do estudante e ao horário e calendário escolar;

II – avaliar as instalações da parte concedente do estágio e sua adequação à formação cultural e

profissional do educando;

III – indicar professor orientador, da área a ser desenvolvida no estágio, como responsável pelo

acompanhamento e avaliação das atividades do estagiário;

IV – exigir do educando a apresentação periódica, em prazo não superior a 6 (seis) meses, de

relatório das atividades;

V – zelar pelo cumprimento do termo de compromisso, reorientando o estagiário para outro

local em caso de descumprimento de suas normas;

108

VI – elaborar normas complementares e instrumentos de avaliação dos estágios de seus

educandos;

VII – comunicar à parte concedente do estágio, no início do período letivo, as datas de

realização de avaliações escolares ou acadêmicas.

Parágrafo único. O plano de atividades do estagiário, elaborado em acordo das 3 (três) partes a

que se refere o inciso II do caputdo art. 3o desta Lei, será incorporado ao termo de compromisso por

meio de aditivos à medida que for avaliado, progressivamente, o desempenho do estudante.

Art. 8o É facultado às instituições de ensino celebrar com entes públicos e privados convênio

de concessão de estágio, nos quais se explicitem o processo educativo compreendido nas atividades

programadas para seus educandos e as condições de que tratam os arts. 6o a 14 desta Lei.

Parágrafo único. A celebração de convênio de concessão de estágio entre a instituição de

ensino e a parte concedente não dispensa a celebração do termo de compromisso de que trata o inciso

II do caputdo art. 3o desta Lei.

CAPÍTULO III

DA PARTE CONCEDENTE

Art. 9o As pessoas jurídicas de direito privado e os órgãos da administração pública direta,

autárquica e fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos

Municípios, bem como profissionais liberais de nível superior devidamente registrados em seus

respectivos conselhos de fiscalização profissional, podem oferecer estágio, observadas as seguintes

obrigações:

I – celebrar termo de compromisso com a instituição de ensino e o educando, zelando por seu

cumprimento;

II – ofertar instalações que tenham condições de proporcionar ao educando atividades de

aprendizagem social, profissional e cultural;

III – indicar funcionário de seu quadro de pessoal, com formação ou experiência profissional na

área de conhecimento desenvolvida no curso do estagiário, para orientar e supervisionar até 10 (dez)

estagiários simultaneamente;

IV – contratar em favor do estagiário seguro contra acidentes pessoais, cuja apólice seja

compatível com valores de mercado, conforme fique estabelecido no termo de compromisso;

V – por ocasião do desligamento do estagiário, entregar termo de realização do estágio com

indicação resumida das atividades desenvolvidas, dos períodos e da avaliação de desempenho;

VI – manter à disposição da fiscalização documentos que comprovem a relação de estágio;

VII – enviar à instituição de ensino, com periodicidade mínima de 6 (seis) meses, relatório de

atividades, com vista obrigatória ao estagiário.

Parágrafo único. No caso de estágio obrigatório, a responsabilidade pela contratação do seguro

de que trata o inciso IV do caputdeste artigo poderá, alternativamente, ser assumida pela instituição de

ensino.

CAPÍTULO IV

DO ESTAGIÁRIO

Art. 10. A jornada de atividade em estágio será definida de comum acordo entre a instituição

de ensino, a parte concedente e o aluno estagiário ou seu representante legal, devendo constar do

termo de compromisso ser compatível com as atividades escolares e não ultrapassar:

I – 4 (quatro) horas diárias e 20 (vinte) horas semanais, no caso de estudantes de educação

especial e dos anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional de educação de jovens e

adultos;

II – 6 (seis) horas diárias e 30 (trinta) horas semanais, no caso de estudantes do ensino superior,

da educação profissional de nível médio e do ensino médio regular.

109

§ 1o O estágio relativo a cursos que alternam teoria e prática, nos períodos em que não estão

programadas aulas presenciais, poderá ter jornada de até 40 (quarenta) horas semanais, desde que isso

esteja previsto no projeto pedagógico do curso e da instituição de ensino.

§ 2o Se a instituição de ensino adotar verificações de aprendizagem periódicas ou finais, nos

períodos de avaliação, a carga horária do estágio será reduzida pelo menos à metade, segundo

estipulado no termo de compromisso, para garantir o bom desempenho do estudante.

Art. 11. A duração do estágio, na mesma parte concedente, não poderá exceder 2 (dois) anos,

exceto quando se tratar de estagiário portador de deficiência.

Art. 12. O estagiário poderá receber bolsa ou outra forma de contraprestação que venha a ser

acordada, sendo compulsória a sua concessão, bem como a do auxílio-transporte, na hipótese de

estágio não obrigatório.

§ 1o A eventual concessão de benefícios relacionados a transporte, alimentação e saúde, entre

outros, não caracteriza vínculo empregatício.

§ 2o Poderá o educando inscrever-se e contribuir como segurado facultativo do Regime Geral

de Previdência Social.

Art. 13. É assegurado ao estagiário, sempre que o estágio tenha duração igual ou superior a 1

(um) ano, período de recesso de 30 (trinta) dias, a ser gozado preferencialmente durante suas férias

escolares.

§ 1o O recesso de que trata este artigodeverá ser remunerado quando o estagiário receber bolsa

ou outra forma de contraprestação.

§ 2o Os dias de recesso previstos neste artigo serão concedidos de maneira proporcional, nos

casos de o estágio ter duração inferior a 1 (um) ano.

Art. 14. Aplica-se ao estagiário a legislação relacionada à saúde e segurança no trabalho, sendo

sua implementação de responsabilidade da parte concedente do estágio.

CAPÍTULO V

DA FISCALIZAÇÃO

Art. 15. A manutenção de estagiários em desconformidade com esta Lei caracteriza vínculo de

emprego do educando com a parte concedente do estágio para todos os fins da legislação trabalhista e

previdenciária.

§ 1o A instituição privada ou pública que reincidir na irregularidade de que trata este artigo

ficará impedida de receber estagiários por 2 (dois) anos, contados da data da decisão definitiva do

processo administrativo correspondente.

§ 2o A penalidade de que trata o § 1

o deste artigo limita-se à filial ou agência em que for

cometida a irregularidade.

CAPÍTULO VI

DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 16. O termo de compromisso deverá ser firmado pelo estagiário ou com seu representante

ou assistente legal e pelos representantes legais da parte concedente e da instituição de ensino, vedada

a atuação dos agentes de integração a que se refere o art. 5o desta Lei como representante de qualquer

das partes.

Art. 17. O número máximo de estagiários em relação ao quadro de pessoal das entidades

concedentes de estágio deverá atender às seguintes proporções:

I – de 1 (um) a 5 (cinco) empregados: 1 (um) estagiário;

II – de 6 (seis) a 10 (dez) empregados: até 2 (dois) estagiários;

III – de 11 (onze) a 25 (vinte e cinco) empregados: até 5 (cinco) estagiários;

IV – acima de 25 (vinte e cinco) empregados: até 20% (vinte por cento) de estagiários.

§ 1o Para efeito desta Lei, considera-se quadro de pessoal o conjunto de trabalhadores

empregados existentes no estabelecimento do estágio.

110

§ 2o Na hipótese de a parte concedente contar com várias filiais ou estabelecimentos, os

quantitativos previstos nos incisos deste artigo serão aplicados a cada um deles.

§ 3o Quando o cálculo do percentual disposto no inciso IV do caputdeste artigo resultar em

fração, poderá ser arredondado para o número inteiro imediatamente superior.

§ 4o Não se aplica o disposto no caput deste artigo aos estágios de nível superior e de nível

médio profissional.

§ 5o Fica assegurado às pessoas portadoras de deficiência o percentual de 10% (dez por cento)

das vagas oferecidas pela parte concedente do estágio.

Art. 18. A prorrogação dos estágios contratados antes do início da vigência desta Lei apenas

poderá ocorrer se ajustada às suas disposições.

Art. 19. O art. 428 da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, aprovada pelo Decreto-Lei no

5.452, de 1o de maio de 1943, passa a vigorar com as seguintes alterações:

“Art. 428. ......................................................................

§ 1o A validade do contrato de aprendizagem pressupõe anotação na Carteira de

Trabalho e Previdência Social, matrícula e freqüência do aprendiz na escola, caso não

haja concluído o ensino médio, e inscrição em programa de aprendizagem desenvolvido

sob orientação de entidade qualificada em formação técnico-profissional metódica.

......................................................................

§ 3o O contrato de aprendizagem não poderá ser estipulado por mais de 2 (dois) anos,

exceto quando se tratar de aprendiz portador de deficiência.

......................................................................

§ 7o Nas localidades onde não houver oferta de ensino médio para o cumprimento do

disposto no § 1o deste artigo, a contratação do aprendiz poderá ocorrer sem a freqüência

à escola, desde que ele já tenha concluído o ensino fundamental.” (NR)

Art. 20. O art. 82 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar com a seguinte

redação:

“Art. 82. Os sistemas de ensino estabelecerão as normas de realização de estágio em

sua jurisdição, observada a lei federal sobre a matéria.

Parágrafo único. (Revogado).” (NR)

Art. 21. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 22. Revogam-se as Leis nos

6.494, de 7 de dezembro de 1977, e 8.859, de 23 de março de

1994, o parágrafo único do art. 82 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e o art. 6

o da Medida

Provisória no 2.164-41, de 24 de agosto de 2001.

Brasília, 25 de setembro de 2008; 187o da Independência e 120

o da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Fernando Haddad

André Peixoto Figueiredo Lima

111

ANEXO B – RESOLUÇÃO CFESS Nº 533, de 29 de setembro de 2008

RESOLUÇÃO CFESS Nº 533, de 29 de setembro de 2008.

Ementa: Regulamenta a SUPERVISÃO DIRETA DE ESTÁGIO no Serviço Social O CONSELHO

FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL, por sua Presidente, no uso de suas atribuições legais e

regimentais;

CONSIDERANDO o processo de debate já acumulado, que teve seu início no XXXII Encontro

Nacional CFESS/CRESS realizado em Salvador, em 2003, com representantes do CFESS, da

ABEPSS e da ENESSO, que discutiram a relação do estágio supervisionado com a Política Nacional

de Fiscalização;

CONSIDERANDO a necessidade de regulamentar a supervisão direta de estágio, no âmbito do

Serviço Social, eis que tal atribuição é de competência exclusiva do CFESS, em conformidade com o

inciso I do artigo 8º da Lei 8662/93 e tendo em vista que o exercício de tal atividade profissional é

privativa dos assistentes sociais, regularmente inscritos nos Conselhos Regionais de Serviço Social, de

sua área de ação, nos termos do inciso VI do artigo 5º da lei antedita;

CONSIDERANDO que a norma regulamentadora, acerca da supervisão direta de estágio em Serviço

Social, deve estar em consonância com os princípios do Código de Ética dos Assistentes Sociais, com

as bases legais da Lei de Regulamentação da Profissão e com as exigências teórico-metodológicas das

Diretrizes Curriculares do Curso de Serviço Social aprovadas pela ABEPSS, bem como o disposto na

Resolução CNE/CES 15/2002 e na lei 11.788, de 25 de setembro de 2008;

CONSIDERANDO o amplo debate em torno da matéria, que resultou nas contribuições enviadas

pelos Conselhos Regionais de Serviço Social, que indicaram as principais dificuldades encontradas na

fiscalização profissional, bem como sugestões para a regulamentação da supervisão direta de estágio;

CONSIDERANDO a necessidade de normatizar a relação direta, sistemática e contínua entre as

Instituições de Ensino Superior, as instituições campos de estágio e os Conselhos Regionais de

Serviço Social, na busca da indissociabilidade entre formação e exercício profissional;

CONSIDERANDO a importância de se garantir a qualidade do exercício profissional do assistente

social que, para tanto, deve ter assegurada uma aprendizagem de qualidade, por meio da supervisão

direta, além de outros requisitos necessários à formação profissional;

CONSIDERANDO que “O Estágio Supervisionado é uma atividade curricular obrigatória que se

configura a partir da inserção do aluno no espaço socioinstitucional, objetivando capacitá-lo para o

exercício profissional, o que pressupõe supervisão sistemática. Esta supervisão será feita

conjuntamente por professor supervisor e por profissional do campo, com base em planos de estágio

elaborados em conjunto pelas unidades de ensino e organizações que oferecem estágio”, em

conformidade com o disposto no parecer CNE/CES nº 492/2001, homologado pelo Ministro de Estado

da Educação em 09 de julho de 2001 e consubstanciado na Resolução CNE/CES 15/2002, publicada

no Diário Oficial da União em 09 de abril de 2002, que veio aprovar as diretrizes curriculares para o

curso de Serviço Social;

CONSIDERANDO, ainda, os termos do artigo 14 e seu parágrafo único, da Lei 8662/93, que

estabelecem: “Cabe às Unidades de Ensino credenciar e comunicar aos Conselhos Regionais de sua

jurisdição os campos de estágio de seus alunos e designar os assistentes sociais responsáveis por sua

supervisão e que somente os estudantes de Serviço Social, sob supervisão direta do assistente social

em pleno gozo de seus direitos profissionais, poderão realizar estágio em Serviço Social”.

112

CONSIDERANDO as disposições do Código de Ética Profissional do Assistente Social, que veda a

prática de estágio sem a supervisão direta, conforme as alíneas “d” e “e” do artigo 4º do Código de

Ética do Assistente Social;

CONSIDERANDO que a atividade de supervisão direta do estágio em Serviço Social constitui

momento ímpar no processo ensino-aprendizagem, pois se configura como elemento síntese na relação

teoriaprática, na articulação entre pesquisa e intervenção profissional e que se consubstancia como

exercício teórico-prático, mediante a inserção do aluno nos diferentes espaços ocupacionais das

esferas públicas e privadas, com vistas à formação profissional, conhecimento da realidade

institucional, problematização teórico-metodológica;

CONSIDERANDO que a presente Resolução representará mais um avanço na criação de condições

normativas para fiscalização exercida pelos CRESS e CFESS e, sobretudo, em relação à supervisão

direta de estágio em Serviço Social e para a sociedade que será a beneficiada com a melhoria da

qualidade dos serviços profissionais prestados no âmbito do Serviço Social;

CONSIDERANDO os termos do Parecer Jurídico nº 12/98, de 17 de março de 1998, de autoria da

assessora jurídica do CFESS Sylvia Helena Terra, que discorre sobre a caracterização da supervisão

direta no Serviço Social, que subsidiará os termos da presente norma;

CONSIDERANDO a aprovação das normas consubstanciadas pela presente Resolução no XXXVII

Encontro Nacional CFESS/CRESS, realizado em Brasília/DF, no período de 25 a 28 de setembro de

2008;

CONSIDERANDO ademais, a aprovação da presente Resolução pelo colegiado do CFESS, reunido

em seu Conselho Pleno, em 29 de setembro de 2008;

RESOLVE:

Art. 1º. As Unidades de Ensino, por meio dos coordenadores de curso, coordenadores de estágio e/ou

outro profissional de serviço social responsável nas respectivas instituições pela abertura de campo de

estágio, obrigatório e não obrigatório, em conformidade com a exigência determinada pelo artigo 14

da Lei 8662/1993, terão prazo de 30 (trinta) dias, a partir do início de cada semestre letivo, para

encaminhar aos Conselhos Regionais de Serviço Social de sua jurisdição, comunicação formal e

escrita, indicando:

I- Campos credenciados, bem como seus respectivos endereços e contatos;

II- Nome e número de registro no CRESS dos profissionais responsáveis pela supervisão acadêmica e

de campo;

III- Nome do estagiário e semestre em que está matriculado.

Parágrafo 1º. Para efeito desta Resolução, considera-se estágio curricular obrigatório o estabelecido

nas diretrizes curriculares da ABEPSS e no Parecer CNE/CES 15/2002, que deverá constar no projeto

pedagógico e na política de estágio da instituição de ensino superior, de forma a garantir maior

qualidade à formação profissional.

Parágrafo 2º. O estágio não obrigatório, definido na lei 11.788, de 25 de setembro de 2008, deverá

ocorrer nas condições definidas na referida lei e na presente Resolução.

Parágrafo 3º. A abertura de campos/vagas ao longo do semestre/ano letivo deverá ser comunicada ao

CRESS até 15 (quinze) dias após sua abertura.

Parágrafo 4º. O não cumprimento do prazo e das exigências previstas no presente artigo ensejará

aplicação da penalidade de multa à Unidade de Ensino, no valor de 1 a 5 vezes a anuidade de pessoa

física vigente, nos termos do parágrafo primeiro do artigo 16 da Lei 8662/1993, desde que garantido o

direito de defesa e do contraditório.

113

Parágrafo 5º. Cabe ao profissional citado no caput e ao supervisor de campo averiguar se o campo de

estágio está dentro da área do Serviço Social, se garante as condições necessárias para que o posterior

exercício profissional seja desempenhado com qualidade e competência técnica e ética e se as

atividades desenvolvidas no campo de estágio correspondem às atribuições e competências específicas

previstas nos artigos 4 º e 5 º da Lei 8662/1993.

Parágrafo 6º. Compete aos Conselhos Regionais de Serviço Social a fiscalização do exercício

profissional do assistente social supervisor nos referidos campos de estágio.

Art. 2º. A supervisão direta de estágio em Serviço Social é atividade privativa do assistente social, em

pleno gozo dos seus direitos profissionais, devidamente inscrito no CRESS de sua área de ação, sendo

denominado supervisor de campo o assistente social da instituição campo de estágio e supervisor

acadêmico o assistente social professor da instituição de ensino. Parágrafo único. Para sua realização,

a instituição campo de estágio deve assegurar os seguintes requisitos básicos: espaço físico adequado,

sigilo profissional, equipamentos necessários, disponibilidade do supervisor de campo para

acompanhamento presencial da atividade de aprendizagem, dentre outros requisitos, nos termos da

Resolução CFESS nº 493/2006, que dispõe sobre as “condições éticas e técnicas do exercício

profissional do assistente social”.

Art. 3º. O desempenho de atividade profissional de supervisão direta de estágio, suas condições, bem

como a capacidade de estudantes a serem supervisionados, nos termos dos parâmetros técnicos e

éticos do Serviço Social, é prerrogativa do profissional assistente social, na hipótese de não haver

qualquer convenção ou acordo escrito que estabeleça tal obrigação em sua relação de trabalho.

Parágrafo único. A definição do número de estagiários a serem supervisionados deve levar em conta a

carga horária do supervisor de campo, as peculiaridades do campo de estágio e a complexidade das

atividades profissionais, sendo que o limite máximo não deverá exceder 1 (um) estagiário para cada 10

(dez) horas semanais de trabalho.

Art. 4º. A supervisão direta de estágio em Serviço Social estabelece-se na relação entre unidade

acadêmica e instituição pública ou privada que recebe o estudante, sendo que caberá:

I) ao supervisor de campo apresentar projeto de trabalho à unidade de ensino incluindo sua proposta de

supervisão, no momento de abertura do campo de estágio;

II) aos supervisores acadêmico e de campo e pelo estagiário construir plano de estágio onde constem

os papéis, funções, atribuições e dinâmica processual da supervisão, no início de cada semestre/ano

letivo.

Parágrafo 1º. A conjugação entre a atividade de aprendizado desenvolvida pelo aluno no campo de

estágio, sob o acompanhamento direto do supervisor de campo e a orientação e avaliação a serem

efetivadas pelo supervisor vinculado a instituição de ensino, resulta na supervisão direta.

Parágrafo 2º. Compete ao supervisor de campo manter cópia do plano de estágio, devidamente

subscrito pelos supervisores e estagiários, no local de realização do mesmo.

Art. 5º. A supervisão direta de estágio de Serviço Social deve ser realizada por assistente social

funcionário do quadro de pessoal da instituição em que se ocorre o estágio, em conformidade com o

disposto no inciso III do artigo 9º da lei 11.788, de 25 de setembro de 2008, na mesma instituição e no

mesmo local onde o estagiário executa suas atividades de aprendizado, assegurando seu

acompanhamento sistemático, contínuo e permanente, de forma a orientá-lo adequadamente.

Parágrafo 1º. Sem as condições previstas no caput a supervisão direta poderá ser considerada irregular,

sujeitando os envolvidos à apuração de sua responsabilidade ética, através dos procedimentos

processuais previstos pelo Código Processual de Ética, garantindo-se o direito de defesa e do

contraditório.

114

Parágrafo 2º. A atividade do estagiário sem o cumprimento do requisito previsto no caput poderá se

caracterizar em exercício ilegal de profissão regulamentada, conforme previsto no artigo 47, da Lei de

Contravenções Penais, que será apurada pela autoridade policial competente, mediante representação a

esta ou ao Ministério Público.

Art. 6º. Ao supervisor de campo cabe a inserção, acompanhamento, orientação e avaliação do

estudante no campo de estágio em conformidade com o plano de estágio.

Art. 7º. Ao supervisor acadêmico cumpre o papel de orientar o estagiário e avaliar seu aprendizado,

visando a qualificação do aluno durante o processo de formação e aprendizagem das dimensões

técnicooperativas, teórico-metodológicas e ético-política da profissão.

Art. 8º. A responsabilidade ética e técnica da supervisão direta é tanto do supervisor de campo, quanto

do supervisor acadêmico, cabendo a ambos o dever de:

I. Avaliar conjuntamente a pertinência de abertura e encerramento do campo de estágio;

II. Acordar conjuntamente o início do estágio, a inserção do estudante no campo de estágio, bem como

o número de estagiários por supervisor de campo, limitado ao número máximo estabelecido no

parágrafo único do artigo 3º;

III. Planejar conjuntamente as atividades inerentes ao estágio, estabelecer o cronograma de supervisão

sistemática e presencial, que deverá constar no plano de estágio;

IV. Verificar se o estudante estagiário está devidamente matriculado no semestre correspondente ao

estágio curricular obrigatório;

V. Realizar reuniões de orientação, bem como discutir e formular estratégias para resolver problemas e

questões atinentes ao estágio;

VI. Atestar/reconhecer as horas de estágio realizadas pelo estagiário, bem como emitir avaliação e

nota.

Art. 9º. Os casos omissos e aqueles concernentes a interpretação geral e abstrata sobre esta norma

serão resolvidos e dirimidos pelo Conselho Pleno do CFESS.

Art. 10. Os CRESS/Seccionais e CFESS deverão se incumbir de dar plena e ampla publicidade a

presente norma, por todos os meios disponíveis, de forma que ela seja conhecida pelas instituições de

ensino, instituições empregadoras, assistentes sociais, docentes, estudantes e sociedade.

Art. 11. A presente Resolução entra em vigor na data da sua publicação no Diário Oficial da União,

passando a surtir seus regulares efeitos de direito.

Ivanete Salete Boschetti

Presidente do CFESS

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ANEXO C – POLÍTICA NACIONAL DE ESTÁGIO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA

DE ENSINO E PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL (ABEPSS)

POLÍTICA NACIONAL DE ESTÁGIO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE

ENSINO E PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL - ABEPSS

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ANEXO D - REGULAMENTO DO NÚCLEO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADODO

CURSO DE GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIALDA FACULDADE DE

CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAISDA UNIVERSIDADE ESTADUAL

PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO”

REGULAMENTO DO NÚCLEO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADODO CURSO DE

GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIALDA FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E

SOCIAISDA UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO”

TÍTULO I

DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

Art. 1º - Este regulamento normatiza a estruturação, o funcionamento, asatribuições e atividades do

Núcleo de Estágio Supervisionado do Curso de Graduaçãoem Serviço Social – NESS, da Faculdade de

Ciências Humanas e Sociais (FCHS) doCampus de Franca, da Universidade Estadual Paulista “Júlio

de Mesquita Filho”.

Art. 2º - O Núcleo de Estágio Supervisionado - NESS é ligado, diretamente à SeçãoTécnica de

graduação no que tange ás questões administrativas e subordinado aoConselho de Curso de Graduação

em Serviço Social nas questões didáticopedagógicas,sendo criado em conformidade com as seguintes

legislações: LDB nº9394/96 art. 82; Lei Federal 11.788/2008, art. 1º; Resoluções do CNE

492/2001,1363/2001 e a 15/2002 deliberam sobre as Diretrizes Curriculares para o Curso deServiço

Social; Política Nacional de Estágio – PNE, organizada pela AssociaçãoBrasileira de Ensino e

Pesquisa em Serviço Social.

Art. 3º - O NESS tem a finalidade de promover e coordenar a realização do EstágioSupervisionado

dos acadêmicos do Curso de Serviço Social.

Parágrafo único. O Estágio Supervisionado é componente curricular obrigatório,indispensável à

consolidação das competências profissionais desejadas, inerentes aoperfil do formando, preconizado

nas Diretrizes Curriculares do Curso de ServiçoSocial e na Lei de Regulamentação da Profissão

8.662/2003, devendo ser realizado apartir do 2º ano do Curso de Graduação em Serviço Social.

TÍTULO II

DA COMPOSIÇÃO DO NÚCLEO

Art. 4º - O NESS compõe-se de:

I – Coordenador;

II – Supervisores Acadêmicos;

III – Apoio Técnico Administrativo;

IV – Um representante discente regularmente matriculado no curso de graduação emServiço Social,

membro do CCGSS.

Parágrafo único - Todos os docentes do Curso de Serviço Social da FCHS, poderãoatuar como

colaboradores junto ao Núcleo de Estágio Supervisionado.

Art. 5º - A Supervisão Acadêmica será exercida por docentes graduados em ServiçoSocial,

responsáveis pelo conjunto de disciplinas de Processos Educativos em ServiçoSocial.

Art. 6º - O Apoio Técnico será exercido por um servidor técnico administrativosubordinado

administrativamente à Seção técnica de Graduação.

Art. 7º O NESS será coordenado por um docente, Assistente Social, indicado pelosseus membros, em

reunião ordinária, cuja indicação será homologada pelo Conselhode Curso, com mandato de 02 anos

correspondentes ao CCGSS.

TÍTULO III

ATRIBUIÇÕES DA COORDENAÇÃO DO NESS

Art. 8º - Compete ao coordenador do Núcleo de Estágio Supervisionado em ServiçoSocial:

I – Fazer cumprir as determinações do presente Regulamento;

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II – Elaborar plano anual de atividades do NESS;

III – Avaliar os campos de estágio para formalização dos contatos de Convênios pelaSeção Técnica

Administrativa responsável.

IV – Propor ao Conselho de Curso de Graduação em Serviço Social, as modificações noregulamento e

na documentação referente ao estágio supervisionado em ServiçoSocial.

V – Manifestar-se sempre que solicitado, perante os órgãos da Instituição, sobreassuntos

desenvolvidos pelo Núcleo de Estágio Supervisionado em Serviço Social.

VI – Encaminhar ao Conselho de Curso de Graduação em Serviço Social relatóriosanuais das

atividades desenvolvidas pelo Núcleo de Estágio Supervisionado emServiço Social;

VII –Realizar ou apoiar pesquisas científicas ou tecnológicas, bem como, atividades deextensão por

meio da integração da Instituição de Ensino Superior com os campos deestágios conveniados.

VIII – Assinar documentos e correspondência de controle do NESS;

IX – Convocar reuniões, quando necessário, com os membros do NESS.

X – Participar das reuniões convocadas pelo Conselho de Curso de Serviço Social eDepartamento de

Serviço Social.

TÍTULO IV

DAS COMPETENCIASDA SUPERVISÃO ACADÊMICA NO NESS

Art. 9º - Compete ao Supervisor Acadêmico:

I - Organizar grupo(s), por afinidade temática, com os supervisores de campo eestagiários sob sua

supervisão;

II - Desenvolver atividades de capacitação com os supervisores de campo de forma agarantir uma

supervisão de qualidade aos estagiários;

III - Promover troca de experiências entre os campos de estágio;

IV - Desenvolver estudos com estagiários e supervisores de campo sobre temáticaspertinentes às

necessidades suscitadas pela dinâmica dos estágios, por meio de gruposde estudo, cursos e/ou eventos

culturais, técnicos ou científicos;

V - Realizar visita aos campos de estágio periodicamente;

VI - Mediar as relações entre campo de estágio e o Núcleo de Estagio Supervisionadoem Serviço

Social;

VII - Apresentar ao NESS as possibilidades de abertura de novos campos, bem comopareceres sobre

situações que requeiram fechamento de campos de estágio, em suaárea de atuação;

VIII - Acompanhar o cumprimento por parte dos supervisores de campo e estagiáriosdos prazos de

entrega da documentação pertinente, ao setor de estágio;

IX - Convidar supervisores de campo para as atividades planejadas;

TÍTULO V

DAS ATRIBUIÇÕESDA SUPERVISÃO ACADÊMICA NO NESS

I – Orientar os supervisores de campo e estagiários sobre a política de estágio doCurso de Serviço

Social, inserindo o debate atual do estágio supervisionado e seusdesdobramentos no processo de

formação profissional;

II - Acompanhar os supervisores de campo e orientar os estagiários na elaboração doPlano de Estágio,

de acordo com os objetivos acadêmicos, em consonância com oprojeto pedagógico e com as demandas

específicas da organização/ campo de estágio;

III - Supervisionar as atividades desenvolvidas pelos estagiários por meio de encontrossistemáticos,

com horários previamente estabelecidos, e no local de desenvolvimentodo estágio, quando da

realização das visitas sistemáticas aos campos de estágio,contribuindo na efetivação da supervisão

direta e de qualidade, juntamente com osupervisor de campo;

IV - Auxiliar o estagiário no processo de sistematização do conhecimento,orientando e revisando suas

produções teóricas, como também contribuindo noprocesso pedagógico para a efetivação do trabalho

profissional;

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V - Receber, ler, manter sigilo e observar criticamente as sínteses profissionaisconstruídas pelos

estagiários, conduzindo a supervisão embasada empressupostos teóricos, ético-políticos, técnico-

operativos que contribuam comuma formação integral;

VI - Organizar e participar de reuniões, encontros, seminários e outras atividades quese fizerem

necessárias, com os supervisores de campo para atualizações acerca dedemandas à profissão,

qualificação do processo de formação e exercício profissional eo aprofundamento teórico sobre

temáticas pertinentes à efetivação da supervisãodireta.

VII - Acompanhar a trajetória acadêmica do estagiário através da documentaçãoespecífica exigida

pelo processo didático de aprendizagem;

VIII - Receber e analisar o controle de frequência, relatórios e demais documentossolicitados para

avaliação dos acadêmicos em cada nível de estágio, que comporá oprontuário dos estagiários;

IX - Avaliar o estagiário emitindo parecer sobre sua frequência, desempenho eatitude ético-crítica e

técnico-política no exercício do estágio, atribuindo orespectivo conceito ou à respectiva nota;

X – Fazer o registro de notas e frequencias dos discentes matriculados nos estágiossupervisionados no

sistema da graduação vigente para fins de registro no históricoescolar;

XII – Registro das pesquisas realizadas pelos discentes á partir das diferentesrealidades oriundas dos

campos de estágio, identificando as áreas e ossegmentos envolvidos, com o objetivo de implantar um

banco de dados sobre aarticulação entre o ensino da prática e a atividade de pesquisa, a partir

dadimensão investigativa do trabalho profissional do Assistente Social;

XII - Encaminhar ao NESS, relato de irregularidade ou demanda específicasobre a atuação dos

campos, para efeito de realização de visita institucional;

XIII – Zelar pela ordem e conservação dos materiais utilizados no Núcleo de Estágio Supervisionado

em Serviço Social.

TITULO VI

DAS ATRIBUIÇÕES DO APOIO TÉCNICO ADMINISTRATIVO

Art. 11 - Compete ao servidor técnico administrativo:

I – Auxiliar a coordenação nas atividades administrativas que lhes são próprias;

II - Divulgar as informações sobre o Estágio Supervisionado através de murais,internet ou cartazes;

III – Expedir declarações, certidões, ofícios pertinentes às atividades do NESS,respeitando as

atribuições específicas dos seus componentes.

Parágrafo único – É de responsabilidade exclusiva da coordenação do NESS assinaras declarações e

certidões a que se refere o item III.

TÍTULO VII

DISPOSIÇÃO FINAL

Art. 12 – O Núcleo de Estágio Supervisionado do curso de graduação em ServiçoSocial substitui a

Comissão de Estágio, anteriormente prevista no Art. 1º doRegimento Interno do Estágio Curricular de

16/05/2001.

Art. 13 - As normas deste Regulamento somente poderão ser alteradas, apósaprovação do Conselho de

Curso de Graduação em Serviço Social, seguindo oprocedimento deliberativo adotado neste órgão.

Art. 14 - O presente Regulamento entra em vigor a partir da data de sua aprovação,pela Egrégia

Congregação da FCHS (Proc XXXX/2014).