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GUSTAVO LEME FERNANDES PERFIL DAS ANORMALIDADES CITOLÓGICAS EM LABORATÓRIO DA REDE PRIVADA NA CIDADE DE SÃO PAULO Tese apresentada ao Curso de Pós Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do Titulo de Doutor em Ciências da Saúde. São Paulo 2018

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GUSTAVO LEME FERNANDES

PERFIL DAS ANORMALIDADES CITOLÓGICAS EM LABORATÓRIO DA REDE PRIVADA NA CIDADE DE SÃO PAULO

Tese apresentada ao Curso de Pós Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do Titulo de Doutor em Ciências da Saúde.

São Paulo

2018

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GUSTAVO LEME FERNANDES

PERFIL DAS ANORMALIDADES CITOLÓGICAS EM LABORATÓRIO DA REDE PRIVADA NA CIDADE DE SÃO PAULO

Tese apresentada ao Curso de Pós Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do Titulo de Doutor em Ciências da Saúde.

Área de Concentração: Ciências da Saúde

Orientadora: Profa Dra Adriana Bittencourt Campaner

São Paulo

2018

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FICHA CATALOGRÁFICA

Preparada pela Biblioteca Central da

Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo

Fernandes, Gustavo Leme Perfil das anormalidades citológicas de um laboratório privado da cidade de São Paulo./ Gustavo Leme Fernandes. São Paulo, 2018.

Tese de Doutorado. Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo – Curso de Pós-Graduação em Ciências da Saúde.

Área de Concentração: Ciências da Saúde Orientadora: Adriana Bittencourt Campaner 1. Programas de rastreamento 2. Neoplasias do colo do útero

3. Papanicolau 4. Colo do útero/citologia 5. Técnicas citológicas BC-FCMSCSP/78-18

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DEDICATÓRIA

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Aos meus filhos, Pedro e Mariana, que me

fazem todos os dias querer ser uma pessoa melhor. Meu amor por vocês é maior que tudo!

Aos meus pais, José Oswaldo (in

memoriam) e Jonilde, que me amam muito e cuidam de mim até hoje.

À Mariana Lial, minha grande parceira,

amiga e cúmplice. Te buscava, te encontrei e vivo te amando.

Aos meus irmãos por estarem do meu lado

em todos os momentos. À minha família, pelo apoio incondicional.

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AGRADECIMENTOS

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À Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, por me ensinar diariamente a buscar realizar um trabalho digno para toda população.

À Faculdade de Ciências Médicas da Santa

Casa de São Paulo, minha casa há 20 anos, por toda minha formação como médico.

Ao Laboratório Salomão e Zoppi por ter

permitido a análise dos dados que compõem este estudo.

Ao Prof. Dr. Paulo Augusto Ayroza Galvão

Ribeiro, Diretor do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, pela confiança, pelos conselhos e oportunidades na minha carreira.

Ao Prof. Dr. José Mendes Aldrighi, Ex-

Diretor do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, pela oportunidade de realizar este estudo e incentivo sempre.

À minha orientadora Prof. Dra Adriana

Bittencourt Campaner, por todo o carinho e dedicação e pela amizade.

Ao Dr. José Carlos Pascalicchio, por toda

confiança, mentoria e amizade. Além do grande apoio e das contribuições na confecção desta tese.

À Prof. Dra. Maria Antonieta Galvão Longo

da Silva, por toda a ajuda desde o inicio da minha carreira e pelas contribuições a esta tese.

Ao Prof. Dr. Renato Marques Moretti, pela

amizade e pelas contribuições a esta tese. À Prof. Dra Adrienne Pratti Lucarelli, pelas

contribuições a tese na qualificação e na defesa Aos funcionários da pós-graduação da

Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, em especial ao serviço de estatística e secretaria, pela dedicação.

E por fim a todos os pacientes que

contribuíram para o estudo.

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LISTA DE ABREVIATURAS

ACOG American College of Obstetricians and Gynecologists

ACS American Cancer Society

AIS adenocarcinoma in situ

ASC-US atypical squamous cells of undetermined significance ou células

escamosas atípicas de significado indeterminado, possivelmente não neoplásicas

ASC-H células escamosas atípicas de significado indeterminado, não se pode

excluir lesão de alto grau

AGC atypical glandular cells ou células glandulares atípicas de significado

indeterminado

ASCCP American Society for Colposcopy and Cervical Pathology

CEC carcinoma epidermóide

DNA deoxyribonucleic acid ou ácido desoxirribonucleico

HPV human papilloma virus ou papilomavírus humano

HIV human immunodeficiency virus ou vírus da imunodeficiência humana

INCA: Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva

LIEAG lesão intraepitelial de alto grau

LIEBG lesão intraepitelial de baixo grau

MS Ministério da Saúde

NBLC nomenclatura brasileira para laudos de citopatologia

NIC neoplasia intraepitelial cervical

OMS Organização Mundial da Saúde

SUS Sistema Único de Saúde

TBS the bethesda system

WHO World Health Organization

ZT Zona de transformação

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SUMÁRIO

1- INTRODUÇÃO....................................................................................................1

1.1- Papilomavírus humano (HPV) ..............................................................3

1.2- Prevenção Primária e Secundária do câncer do colo do útero.............7

1.3- Rastreio do câncer do colo do útero no Brasil .....................................8

1.4- Métodos de coleta da citologia cervico-vaginal....................................13

2- OBJETIVOS ......................................................................................................18

2.1- Objetivo geral ......................................................................................19

2.2- Objetivos específicos ..........................................................................19

3- CASUÍSTICA E MÉTODOS ..............................................................................20

4- RESULTADOS ..................................................................................................24

4.1- Adequabilidade.....................................................................................26

4.2- Método de coleta..................................................................................28

4.3- Microbiologia........................................................................................31

4.4- Resultados citológicos..........................................................................31

4.5- Resultados citológicos em adolescentes e adultas jovens..................39

4.6- Resultados citológicos em mulheres após a menopausa....................40

4.7- Comparação entre métodos de coleta e resultados citológicos........ ..42

5- DISCUSSÃO .....................................................................................................45

6- CONCLUSÕES ................................................................................................ 67

7- ANEXOS ...........................................................................................................69

8- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................79

RESUMO...............................................................................................................89

ABSTRACT...........................................................................................................92

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1. INTRODUÇÃO

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1. Introdução

O câncer do colo do útero é o segundo tipo de câncer mais prevalente no

sexo feminino no mundo, sendo que 250.000 mulheres morrem por esse tumor

todos os anos; ocorre principalmente em países em desenvolvimento (Isaoglu et

al, 2015). Embora seja doença evitável, com longo período desde o

desenvolvimento das lesões precursoras ao aparecimento do câncer, essa

neoplasia ainda está entre as enfermidades que mais atingem as mulheres e

levam a óbito no Brasil, com estimativa de 16.370 novos casos para o ano de

2018 (Ministério da Saúde, 2018). Em nosso país é o terceiro tipo de neoplasia

mais comum em mulheres (8,1% dos casos de câncer), superado apenas pelo

câncer de mama e o colorretal. Em 2015, no Brasil, ocorreram 5.727 óbitos por

câncer do colo do útero (DATASUS) (BRASIL, 2017).

O tipo histológico mais comumente encontrado de câncer do colo do útero

é o carcinoma espidermóide (CEC) com cerca de 75 a 85% dos casos, seguido

pelo adenocarcinoma, responsável por 10 a 15% dos tumores existentes. O

restante dos casos se relaciona com linhagem histológicas não epiteliais, de

ocorrência muito pouco frequente. O CEC teve sua incidência e mortalidade

reduzidas nos últimos anos, por meio da utilização do exame de citologia cervical

(Papanicolaou); no entanto, ainda existem desafios quanto ao diagnóstico dos

adenocarcinomas, cuja incidência vem aumentando ao longo dos anos (Munro et

al, 2015).

Sabe-se que a infecção pelo papilomavírus humano (HPV) é o fator

oncogênico primordial na gênese do câncer de colo uterino (Patel et al, 2013; Piris

et al, 2014). Diversos estudos têm demonstrado a presença deste vírus em mais

de 99% dos casos deste tumor (Bassal et al 2014). Em importante estudo

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retrospectivo multicêntrico que avaliou a prevalência do HPV em blocos

histológicos de parafina, observou-se que a positividade global do vírus foi de

85%, variando nos diversos continentes: África (79%), América Centro-Sul (82%),

Europa (87%), Ásia (88%), América do Norte (91%) e Oceania (95%). Houve

também diferença na positividade entre os grupos histológicos, sendo a mesma

de 87% nos casos de CEC e 62% nos de adenocarcinomas (De Sanjose et al,

2010).

A infecção pelo HPV é um fator necessário, mas não suficiente para o

desenvolvimento dessa neoplasia; a infecção deve persistir conforme a

combinação do efeito do vírus (mais importante os tipos virais 16 e 18) e os

cofatores do hospedeiro, que incluem tabagismo, fatores genéticos, ambientais e

principalmente o status imunológico, dentre outros (Campbell, 2009; Conesa-

Zamora, 2013; Isaoglu et al, 2015).

1.1. Papilomavírus humano (HPV)

O papilomavírus humano (HPV) é um DNA-vírus da família

Papillomaviridae, constituído por um capsídeo que engloba uma molécula de DNA

de dupla fita, circular, capaz de provocar lesões de pele ou mucosas. Existem

mais de 200 tipos desse vírus, sendo que cerca de 45 tipos dos mesmos infectam

o trato genital inferior. A organização genômica pode ser dividida em três regiões

funcionais: a precoce (genes E1, E2, E4, E5, E6 e E7), a tardia (genes L1 e L2) e

a reguladora - LCR. O gene E1 e E2 estão relacionados com a replicação viral. O

E4 estaria associado ao colapso da rede de citoqueratina celular auxiliando na

saída do vírus da célula. Os genes E5, E6 e E7 estão envolvidos na

transformação celular. Já os genes L1 e L2 codificam proteínas do capsídeo viral

durante a fase tardia (Doorbar et al,2015).

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De acordo com estudos epidemiológicos e filogenéticos, e com base no

potencial oncogênico que apresentam, os HPV anogenitais podem ser

classificados em alto risco (HPVar: HPV 16, 18, 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52, 56, 58

e 59) e baixo risco (HPVbr: HPV 6, 11, 13, 40, 42, 43, 44, 54, 61, 72, 81 e 89). Os

mais prevalentes nas lesões genitais condilomatosas são os tipos 6 e 11,

enquanto os tipos 16 e 18 estão relacionados com lesões de alto grau histológico

e neoplasias do trato anogenital (Banura et al, 2011). No estudo referido

anteriormente, os oito tipos de HPV mais comumente encontrados nos casos de

câncer invasivo de colo do útero foram: 16,18, 31, 33, 35, 45, 52, e 58; esses

tipos contribuíram com 91% dos casos de neoplasias. Os tipos 16, 18 e 45 foram

os três mais prevalentes em todos os tipos histológicos, representando 75% dos

CEC e 94% dos adenocarcinomas (De Sanjose et al, 2010). No Brasil, a

prevalência geral de infecção do colo do útero pelo HPV varia entre 13,7 e 54,3%

(Ayres et al, 2010).

O primeiro contato com o vírus geralmente ocorre no início da atividade

sexual; o mesmo é transmitido pelo contato direto com a pele ou mucosas e a

infecção na maioria dos casos tem resolução espontânea (Banura et al, 2011). O

vírus infecta preferencialmente as células basais, de reserva, ou células

indiferenciadas da região da junção escamocolunar, que são células com alto

potencial de diferenciação (Doorbar et al,2015). Entre os fatores de risco mais

relevantes para a infecção pelo HPV temos a idade inferior a 25 anos e vida

sexual ativa. Os jovens apresentam taxas mais elevadas de prevalência da

infecção viral, com valores entre 50 e 80% nos dois primeiros anos do inicio da

atividade sexual, em virtude da maior exposição ao vírus (Roteli-Martins et al,

2007). Estudos indicam um segundo pico de infecção em mulheres mais velhas,

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perto da idade em que a incidência de câncer do colo do útero é máxima. A

importância do segundo pico da infecção por HPV na carcinogênese do câncer

cervical nas mulheres a partir da quinta década de vida ainda não está

estabelecida. Este câncer tem sido relacionado à infecção persistente por HPV de

alto risco, adquirida durante a fase reprodutiva (Castellsagué, 2008).

Entretanto, o entendimento da história natural dessa infecção nas

diferentes fases de vida da mulher é importante para que o desenvolvimento de

estratégias preventivas do câncer cervical sejam efetivas e adequadas em todas

as idades (Castellsagué, 2008). Em importante estudo de meta-análise, com

avaliação de um milhão de citologias normais, observou-se em todos os

continentes a ocorrência de pico de incidência na infecção pelo HPV em idades

mais jovens (< 25 anos), diminuindo para um platô na meia-idade. Em algumas

regiões, um modesto segundo pico foi observado em idades acima de 40 anos.

Esse segundo pico foi claramente identificado em idades maiores que 45 anos na

América Central e América do Sul e acima de 55 anos na África Ocidental. Um

segundo pico menos pronunciado também foi observado no sudoeste da Ásia,

sudoeste da Europa e sudoeste da África. No restante das regiões, essa

ocorrência não foi observada. As razões sugeridas para esse segundo pico de

ocorrência do vírus estaria relacionado principalmente a separações conjugais

com encontro de novos parceiros e falha no hábito do uso do preservativo (Bruni

et al, 2010).

Nesse estudo acima descrito, os tipos de HPV mais comumente

encontrados entre 215.568 mulheres com achados citológicos normais em todo o

mundo foram os tipos oncogênicos, a saber, o HPV 16, 18, 52, 31, 58, 39, 51 e

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56. Da carga global das infecções pelo HPV, 22,5% foram produzidas pelo HPV-

16 (Bruni et al, 2010).

Os tumores invasivos de colo do útero relacionados com os tipos de HPV

16, 18, e 45 são diagnosticados, em média, 4 anos mais cedo do que aqueles

causados por outros tipos de HPV de alto risco, independentemente do tipo

histológico. Esses achados sugerem que talvez seja necessário um protocolo

específico de seguimento para pacientes com a presença desses tipos virais

específicos, principalmente o subtipo 45 que está diretamente ligado ao

adenocarcinoma (De Sanjose,2010).

A maioria das infecções pelo HPV é assintomática, irreconhecível ou

subclínica, apenas sendo detectável sua presença por meio da pesquisa de seu

DNA por técnicas moleculares em tecidos contaminados. Após período de

incubação que varia de meses a anos, podem surgir diversos tipos de lesões

clínicas relacionadas ao HPV de baixo risco no trato anogenital: lesões papulosas

pequenas, queratoses, lesões vegetantes (verrugas/ condilomas) visíveis a olho

nu e tumorações gigantes (tumor de Buschke-Lowenstein) (Patel et al,2013). Os

HPV de baixo risco (6 e 11) são a causa de papilomatose respiratória recorrente e

verrugas genitais. Já os tipos de alto risco oncogênico podem causar lesões pré-

cancerosas e tumores anogenitais, incluindo ânus, pênis, vulva, vagina e colo do

útero. Dentre esses sítios de acometimento viral, destacamos o colo uterino como

principal sítio de desenvolvimento de neoplasia maligna (Castellsagué, 2008).

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1.2. Prevenção primária e secundária do câncer de colo uterino

A prevenção primária para este tipo de neoplasia se relaciona a esforços

para se evitar a contaminação pelo HPV, incluindo-se a orientação sexual aos

jovens, uso de preservativos, bem como o emprego da vacinação contra o HPV

(Sauer et al, 2015). A imunização com vacinas profiláticas produz anticorpos

neutralizantes, em títulos mais elevados e duradouros do que aqueles

encontrados após uma infecção natural. Com a introdução da vacina do HPV,

espera-se redução significativa da prevalência de lesões induzidas por esse vírus

no decorrer do tempo (Conesa-Zamora, 2013).

Em nosso país existem dois tipos de vacina contra o HPV; a bivalente, que

protege contra os tipos 16 e 18 e a quadrivalente que protege contra os vírus 6,

11, 16 e 18. Ambas as vacinas estão aprovadas no Brasil e presentes na rede

privada de saúde. A vacina quadrivalente passou a ser ofertada gratuitamente no

Sistema Único de Saúde (SUS), sendo atualmente indicada para meninas de 9 a

14 anos, para meninos de 11 a 14 anos e também ofertadas para mulheres e

homens entre 9 e 26 anos com HIV/AIDS e outros fatores imunossupressores.

O esquema de vacinação do Ministério da Saúde para jovens até 14 anos é

composto apenas por duas doses: a segunda será aplicada com intervalo de seis

meses após a primeira dose. Para imunossuprimidos a administração das três

doses é obrigatória (Ministério da Saúde, 2017).

A prevenção primária do câncer do colo do útero baseia-se também na

detecção precoce das lesões precursoras ou de tumores em estágios iniciais,

através do rastreamento pela citologia cervical e/ou teste de DNA-HPV. O

emprego desses dois testes (rastreio conjunto) é preconizado por algumas

sociedades internacionais (Saslow et al, 2012). No entanto, em alguns países em

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desenvolvimento como o nosso, os recursos econômicos direcionados para a

saúde são escassos, sendo que a citologia cervical isolada permanece como o

único método de rastreio indicado pelo Ministério da Saúde (INCA 2016).

A citologia oncológica é de extrema importância na detecção precoce, e,

consequentemente, no prognóstico do câncer de colo do útero. Este teste foi

desenvolvido na década de 1950 pelo médico grego Georgios N. Papanicolaou,

cujo nome foi dado a esse método de rastreio do câncer do colo do útero,

chamado "exame de papanicolau”.

1.3 Rastreio do câncer do colo do útero no Brasil

O método de escolha para o rastreio do câncer de colo no Brasil é a

citologia cervico-vaginal. A Nomenclatura atualmente utilizada no Brasil é a

Nomenclatura Brasileira para Laudos de Citopatologia (NBLC), a qual foi baseada

no Sistema de Bethesda e incorporada pelos laboratórios que prestam serviços

ao Programa Nacional de controle do câncer do colo de útero e mama - Viva

Mulher, a partir de 1998. Com a atualização do sistema de Bethesda em 2014, e

considerando-se a necessidade de incorporar as novas tecnologias e

conhecimentos clínicos, morfológicos e moleculares, o INCA e a Sociedade

Brasileira de Citopatologia promoveram diversas discussões com patologistas e

ginecologistas a respeito da nova nomenclatura brasileira, implantada em 2006

(Ministério da saúde, 2006). No entanto a classificação para laudos brasileiros

que ainda vigora é essa última de 2006 (Quadro 1) (Ministério da Saúde, 2006;

Aguiar et al, 2011).

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Quadro 1. Nomenclatura Brasileira para Laudos de Citopatologia (NBLC)

(Ministério da Saude, 2006).

Células escamosas

ASC-US: células escamosas atípicas de significado indeterminado

ASC-H: células escamosas atípicas que não se pode excluir lesão intraepitelial de alto grau

LIEBG: lesão intraepitelial de baixo grau, compreendendo displasia leve, HPV e NIC 1.

LIEAG: lesão intraepitelial de alto grau, compreendendo displasia moderada, grave, NIC 2, NIC 3 e carcinoma in situ.

LIEAG com suspeita de invasão

Carcinoma epidermóide

Células Glandulares

Atipias não especificadas: células endocervicais, endometriais e glandulares (AGC)

Adenocarcinoma endocervical in situ

Adenocarcinoma: endocervical, endometrial, extra-uterino e não especificado.

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O Ministério da Saúde, em sua revisão do protocolo de rastreamento do

câncer do colo do útero em 2016, recomenda o inicio da coleta da citologia aos 25

anos de idade para as mulheres que já tiveram ou têm atividade sexual. O

rastreamento antes dos 25 anos deve ser evitado. Os dois primeiros exames

devem ser realizados com intervalo anual e, se ambos os resultados forem

negativos, os próximos devem ser realizados a cada 3 anos. O rastreamento em

gestantes deve seguir as recomendações de periodicidade e faixa etária como

para as demais mulheres, devendo sempre ser considerada uma oportunidade a

procura ao serviço de saúde para realização de pré-natal (Ministério da Saúde,

2016).

Os exames periódicos devem seguir até os 64 anos de idade e, naquelas

mulheres sem história prévia de doença neoplásica pré-invasiva, interrompidos

quando essas mulheres tiverem pelo menos dois exames negativos consecutivos

nos últimos cinco anos. Para mulheres com mais 64 anos de idade e que nunca

se submeteram ao exame citopatológico, deve-se realizar dois exames com

intervalo de um a três anos. Se ambos os exames forem negativos, estas

mulheres podem ser dispensadas de exames adicionais (Ministério da Saúde,

2016).

Mulheres submetidas à histerectomia total por lesões benignas, sem

história prévia de diagnóstico ou tratamento de lesões cervicais de alto grau,

podem ser excluídas do rastreamento, desde que apresentem exames anteriores

normais.

Em casos de histerectomia por lesão precursora ou câncer do colo do útero

a mulher deverá ser acompanhada de acordo com a lesão tratada.

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No grupo de mulheres com imunossupressão, exame citopatológico deve

ser realizado após o início da atividade sexual com intervalos semestrais no

primeiro ano e, se normais, manter seguimento anual enquanto se mantiver o

fator de imunossupressão. Mulheres HIV positivas com contagem de linfócitos

CD4+ abaixo de 200 células/mm3 devem ter priorizada a correção dos níveis de

CD4+ e, enquanto isso, devem ter o rastreamento citológico a cada 6 meses

(Ministério da Saúde, 2016).

Para garantir boa representação celular do epitélio do colo do útero, o

exame citopatológico deve conter amostra da ectocérvice coletada com espátula

tipo ponta longa (espátula de Ayre) e do canal cervical, preferencialmente,

coletada com escova apropriada (Ministério da Saúde, 2016).

Quando o resultado do exame for insatisfatório, esse exame deve ser

repetido em 6 a 12 semanas, com correção do problema que motivou esse

resultado. É considerada insatisfatória a amostra cuja leitura esteja prejudicada

pelas razões expostas a seguir, sendo algumas de natureza técnica e outras de

amostragem celular, podendo ser assim classificada: material acelular ou

hipocelular (<10% do esfregaço); leitura prejudicada (>75% do esfregaço) por

presença de sangue, piócitos, artefatos de dessecamento, contaminantes

externos ou intensa superposição celular (Ministério da Saúde, 2016).

O quadro 2 apresenta um resumo das recomendações para a conduta

inicial quando do achado de anormalidades citológicas, segundo a última revisão

do INCA de 2016.

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Quadro 2. Resumo das recomendações para conduta inicial diante de

resultados de citologias alteradas na atenção primária (Ministério da Saúde,

2016).

Diagnóstico citopatológico Conduta inicial

Células escamosas atípicas de significado

indeterminado

ASC-US ≥ 30 anos Repetir citologia em 6

meses

< 30 anos Repetir citologia em 12 meses

ASC-H Encaminhar para colposcopia

Células glandulares atípicas de significado indeterminado (AGC)

AGC Encaminhar para colposcopia

LIEBG ≤ 25 anos Repetir a citologia em 3 anos

> 25 anos Repetir a citologia em 6 meses

LIEAG Encaminhar para colposcopia

LIEAG não podendo excluir micro-invasão Encaminhar para colposcopia

Carcinoma epidermóide invasor Encaminhar para colposcopia

Adenocarcinoma in situ ou invasor Encaminhar para colposcopia

Apesar de todas as recomendações estarem disponíveis na internet e em

livros, os médicos brasileiros ainda não seguem as mesmas; muitos por receio de

perder uma lesão de alto grau ou um câncer, outros para evitar complicações

jurídicas, bem como solicitação de coleta por parte das próprias pacientes. Esses

fatores mencionados levam a coleta de grande número de citologias

dispensáveis, com consequentes exames diagnósticos e procedimentos

terapêuticos desnecessários.

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1.4 Métodos de coleta da citologia cervico-vaginal (meio líquido versus

meio convencional)

Há dois métodos de coleta da citologia, a convencional e a realizada em

meio líquido. A citologia convencional vem sido utilizada há muitos anos; no

entanto está técnica está sujeita a erros na coleta e interpretações subjetivas com

consequente baixa reprodutibilidade (Yobs et al, 1987; O’Sullivan et al 1998,

Simion et al, 2014). A coleta utiliza escovinha endocervical, comercialmente

chamada de Cytobrush e espátula de madeira, conhecida como espátula de Ayre,

que devem ser esfregadas na lâmina de vidro após obtenção do material, ao qual

é aplicado o fixador e realizada a coloração e leitura.

A baixa sensibilidade e especificidade da citologia sempre foi conhecida,

mas pouco valorizada devido a facilidade do teste e ao fator protetor do exame

(Saslow, 2002). Em uma meta-análise de 85 estudos, a sensibilidade desse

exame para lesões intraepiteliais variou de 51% a 66%. A sensibilidade para

lesões de alto grau foi de 70% a 80%. Apesar de ser um bom método e do fato de

termos muitos anos para detectar uma lesão antes de sua transformação maligna,

devemos considerar suas falhas (Fahey, 1995; Saslow, 2002)

Em 1996, o ThinPrep® se tornou o primeiro método de citologia líquida

aprovado pelo FDA (food and drug administration), orgão americano que

regulamento os procedimentos de saúde. Três anos após, o AutoCyte Prep®,

agora chamado SurePath® foi também aprovado. Atualmente estima-se que 80%

dos exames citológicos sejam realizados por meio citologia líquida nos Estados

Unidos da América (EUA) (Cox, 2004).

Essa expressiva aceitação da citologia líquida é secundária às vantagens

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teóricas deste método, incluindo a maior captação de células do dispositivo de

coleta (Hutchinson, 1994) e a melhor visualização devido a redução de

sobreposição celular, de células sanguíneas e inflamatórias (Klinkhamer, 2003;

Hurley, 1991; Zahniser, 1996; Braly 2000).

A melhor preparação da lâmina no meio liquido oferece uma grande

vantagem e representa uma importante conquista na prevenção do câncer de colo

de útero, já que aproximadamente 2/3 dos falsos negativos na citologia

convencional são por erros na preparação das laminas (Haghighi, 2016). A

citologia líquida também possibilita a pesquisa do DNA-HPV e outros agentes

infecciosos no material residual (Solomon, 2002)

O sistema ThinPrep® dispersa as células coletadas em um meio conservante

fluido que fornece preservação a longo prazo das células de diagnóstico e

ocasiona lise dos glóbulos vermelhos. As células são subseqüentemente

transferidas para uma lâmina de vidro no laboratório em um sistema semi-

automatizado (Zahniser et al, 1996).

A preparação do sistema SurePath® é significativamente diferente da do

ThinPrep® de várias maneiras (Gupta et al, 2001). O meio líquido nesse caso é a

base de etanol, o que mantém a morfologia celular e as características nucleares

(Gupta et al, 2001). Além disso, o material celular não é separado através de um

filtro, mas sim por um gradiente de densidade que aparentemente mantem as

células de diagnostico e células endocervicais (Bishop et al, 1998).Gupta et al

compararam espécimes de ThinPrep® e SurePath® examinando de forma

independente, a partir de um mesmo frasco, com alto grau de concordância entre

as duas técnicas (Gupta et al, 2001).

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Mesmo com essa técnica que permite maior preservação das células, é

necessário obter amostra da zona de transformação com dispositivo adequado

para que o método seja efetivo (Hoda et al, 2013; McCord et al, 1992). Vale

ressaltar que existem comercialmente disponíveis diversos tipos de artefatos de

coleta de material para citologia, que incluem: a espátula de Ayre associada ao

Cytobrush, o Cervex-Brush® e o Cervex-Brush® Combi. O dispositivo ideal deve

ter custo adequado para rastreamento populacional e ser capaz de retirar células

em quantidade adequada do canal endocervical e do colo com mínimo

desconforto associado e que não ocasione trauma dos epitélios (Lee et al, 1997;

Germain et al, 1994). No entanto, a avaliação nas diferenças desses artefatos não

foi o motivo de avaliação neste estudo.

A maioria dos laboratórios que interpretam lâminas de citologia cervical

aprenderam as diferenças na leitura de citologias convencionais e no meio

líquido. No entanto, ao mudar para o meio líquido, os clínicos devem monitorar os

resultados que estão recebendo ao longo do tempo para detectar possíveis pioras

no desempenho. Além disso, para uma otimização do meio líquido pode ser

necessário que o profissional de saúde sistematize melhor a sua metodologia de

coleta das amostras cervicais. Quando a espátula de Ayre é usada em

combinação com uma escova endocervical, a aderência de espécimes pode ser

aprimorada raspando a espátula contra a escova em solução para liberar mais

células endocervicais. As espátulas de Ayre utilizadas para coletar as amostras

do ThinPrep® devem ser de plástico, porque partículas de uma espátula de

madeira podem se aderir ao filtro (Cox, 2004; Sherman, 2003).

Beerman et al demonstraram a superioridade do meio liquido, sendo que a

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taxa de lâminas insatisfatórias foi significativamente menor utilizando citologia

líquida (0,13% vs. 0,89%). A detecção de ASC-US ou anormalidades mais

importantes foi significativamente maior utilizando este método (2,97% vs. 1,64%),

principalmente devido ao aumento no ASC-US. A porcentagem de anormalidades

histológicas nas amostras ASC-US foi aproximadamente igual em ambas as

coortes, indicando que mais casos anormais verdadeiros foram detectados

usando citologia líquida. A sensibilidade para a detecção de uma lesão histológica

confirmada é significativamente maior na coorte líquida comparada à coorte

convencional (96,2% vs. 92,0%), com apenas uma ligeira diferença de

especificidade (97,8% vs. 98,2%). A porcentagem de espécimes satisfatórios

contendo células endocervicais foi maior na coorte líquida em comparação com a

coorte convencional (89,01% vs. 86,17%).

A acurácia diagnóstica da citologia em meio líquido comparada com a

citologia convencional tem sido um tema de grande debate. Vários estudos

demonstraram a superioridade do meio liquido, no entanto outros sugerem

sensibilidade e especificidade menor ou igual (Arbyn et all, 2008; Siebers et al,

2009; Ronco et al, 2007)

A presença de células da zona de transformação (ZT) em amostras de

citologia cervical tem sido, nos últimos anos, considerada um indicador da

qualidade da amostra (Baer et al, 2002); no entanto, as diretrizes atuais da

Bethesda não exigem a presença de células da ZT para que as amostras sejam

consideradas adequadas (Nayar e Wilbur, 2015). Já para o Ministério da saúde

(2016), esfregaços normais somente com células escamosas em mulheres com

colo do útero presente devem ser repetidos com intervalo de um ano e, com dois

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exames normais anuais consecutivos, o intervalo passará a ser de três anos. Para

garantir boa representação celular do epitélio do colo do útero, o exame

citopatológico deve conter amostra do canal cervical, preferencialmente, coletada

com escova apropriada, e da ectocérvice, coletada com espátula tipo ponta longa

(espátula de Ayre).

Resultados de estudos transversais relataram uma maior proporção de

resultados negativos para neoplasia intraepitelial ou malignidade em exames de

papanicolau sem representação da ZT (Elias et al, 1983; Henry e Wadehra,

1996). No entanto, outros estudos não mostraram aumento de anormalidades

após um exame de Papanicolaou sem células da ZT (Mitchell, 2001; Polanco

Jacome, 2018)

Estas controvérsias apresentadas nos diversos resultados dos estudos na

literatura quanto a adequabilidade dos dois métodos citológicos nos suscitaram o

interesse em desenvolver este estudo.

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2. OBJETIVOS

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2. Objetivos

2.1. Geral

Avaliar a prevalência de anormalidades das citologias cervicais de um

laboratório privado do estado de São Paulo, no período de janeiro de 2010 a

dezembro de 2015.

2.2. Específicos

Avaliar a adequabilidade das citologias de acordo com as faixas etárias e

de acordo com o método de coleta (citologia líquida versus convencional).

Avaliar a evolução percentual das diferentes anormalidades citológicas com

o decorrer dos anos.

Avaliar a prevalência de anormalidades citológicas de acordo com as

diferentes faixas etárias.

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3. CASUÍSTICA E MÉTODOS

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3. Casuística e métodos

Trata-se de estudo retrospectivo realizado por meio do levantamento dos

resultados de todas as citologias cérvico-vaginais realizadas em laboratório

privado da cidade de São Paulo – SalomãoZoppi Diagnósticos, no período de

janeiro de 2010 a dezembro de 2015. As pacientes atendidas por este laboratório

possuem seguro de saúde. O trabalho foi aprovado pelo comitê de ética da

Irmandade de Misericórdia da Santa Casa de São Paulo, sob o número:

64365817.0.0000.5479. Todas as pacientes ao realizarem exames no referido

laboratório assinam termo de consentimento permitindo a utilização de seus

dados epidemiológicos e resultados laboratoriais com finalidades acadêmicas.

Foram incluídos todos os resultados de exames citológicos realizados no

período acima descrito. Considerando a possibilidade de que a mesma paciente

possa ter realizado mais de um exame por ano, foi executada a análise de

repetições através do número de registro da paciente no laboratório. Este número

de registro é único para cada paciente. Em nossa amostra, observamos que

apenas 426 pacientes (0,04% do total da amostra) realizaram mais de um exame

no mesmo ano, sendo que nenhuma realizou mais de três exames.

Foram excluídos os exames considerados insatisfatórios, isto é, amostras cuja

leitura está prejudicada por razões de natureza técnica ou de amostragem celular.

Estes fatores são: amostra acelular ou hipocelular; leitura prejudicada por

presença de sangue, piócitos, artefatos de dessecamento, contaminantes

externos ou intensa superposição cellular, em mais do que 75% da lâmina.

Dentre os exames satisfatórios considerou-se os seguintes dados referentes

aos exames citológicos: data da coleta (mês e ano), idade da paciente, método de

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coleta (citologia convencional ou citologia líquida), microbiologia, adequação do

material coletado, resultado do exame citopatológico (critérios de Bethesda). Para

análise dos resultados, consideramos adequadas aquelas amostras que

continham células escamosas e glandulares e/ou metaplásicas em sua totalidade;

foram consideradas inadequadas aquelas em que não foram encontradas células

glandulares e/ou metaplásicas, as quais representariam a região da junção

escamocolunar.

Os resultados citológicos foram classificados de acordo com o sistema

Bethesda 2001(Solomon et al, 2002) em: negativos para neoplasia (quando não

há alteração celular); ASC-US(células escamosas atípicas de significado

indeterminado, possivelmente não neoplásicas); ASC-H(células escamosas

atípicas de significado indeterminado, não se pode excluir lesão intraepitelial de

alto grau); AGC (células glandulares atípicas); LIEBG (lesão intraepitelial de

baixo grau), LIEAG (lesão intraepitelial de alto grau); CEC (carcinoma

epidermóide/espinocelular) invasor; adenocarcinoma is situ; adenocarcinoma

invasor; adenocarcinoma endometrial invasor e LIEAG que não pode afastar

micro-invasão.

Os dados obtidos foram tabulados em planilha Microsoft Excel®, porém a

mesma não comporta a quantidade de informações necessária e assim as

mesmas foram divididas por ano de 2010 a 2015. Posteriormente, os dados foram

exportados para o programa SPSS Statistics® que aceita uma maior quantidade

de registros. Para tanto os dados do Microsoft Excel® foram exportados no

formato “txt com espaçamento” e desta forma foram lidos pelo SPSS.

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Os dados foram cruzados entre si com o intuito de se responder às

questões levantadas nos objetivos. Inicialmente realizamos uma análise descritiva

da amostra, demonstrando as frequências absoluta (n) e relativa (%). Avaliamos:

número de citologias realizadas, número de exames realizados por ano e por

faixa etária. A seguir, descrevemos a adequabilidade da amostra total e sua

relação com o método de coleta e idade. Na sequência, avaliamos os resultados

citológicos, cruzando os com idade, método de coleta, adequabilidade e anos de

estudo.

Para avaliar associação entre as variáveis de interesse, o teste realizado

foi o qui-quadrado com nível de significância de 0.05. Para correlação das

variáveis com o decorrer dos anos foi realizada curva de regressão linear e o

calcúlo do R2 para medir o ajuste do modelo.

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4. RESULTADOS

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4. Resultados

O número total de citologias colhidas de Janeiro de 2010 a dezembro 2015

foi de 1.030.482. Foram excluídas as citologias ditas como insatisfatórias que

totalizaram 3.811 (0,36%), restando 1.026.671 citologias satisfatórias para

avaliação; esse foi o número total utilizado para os cálculos estatísticos

(Fluxograma 1).

Fluxograma 1 – Total de amostras, amostras incluídas e excluídas

Em 2010, foram colhidas 123.091 citologias (12%); em 2011, 139.126

(13,6%); em 2012, 158.895 (15,5%); em 2013, 180.002 (17,5%); em 2014,

195.506 (19%); e em 2015, 230.051 (22,4%) (Anexo 1).

A idade das pacientes variou de 13 a 95 anos, com média de 39,3 anos ±

12,8 anos (desvio padrão). Não foi possível calcular o valor da mediana de idade

devido ao grande numero de pacientes. Ao dividirmos as pacientes por faixas

etárias, encontramos 2% com idade até 19 anos; 22,1%, de 20 a 29 anos; 33,3%

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de 30 a 39 anos; 21,3%, de 40 a 49 anos; 13,6% de 50 a 59 anos; 5,6%, de 60 a

69 anos; e, 2,1% com 70 anos ou mais (Tabela 1). A distribuição das pacientes

por idade no decorrer dos anos se encontra no gráfico 1 (Anexo 2).

Tabela 1 – Percentual de exames por faixa etária

Faixa etária número de exames % (anos) (n) Até 19 20.921 2 20 a 29 226.897 22,1 30 a 39 341.674 33,3 40 a 49 218.465 21,3 50 a 59 139.359 13,6 60 a 69 57.175 5,6

Acima de 70 22.030 2,1 Total 1.026.521 100

Gráfico 1 – Distribuição das pacientes por faixa etária no decorrer dos anos.

4.1 - Adequabilidade

Do total de exames satisfatórios, foram encontradas citologias adequadas

para avaliação em 60,6% dos casos (622.071) e inadequadas em 39,4%

(404.600).

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A distribuição da adequabilidade da citologia no decorrer dos anos é

apresentada no gráfico 2, onde percebe-se uma redução do número de citologias

adequadas com o passar do tempo. Em 2010, a porcentagem de citologias

adequadas foi de 68,6%; em 2011, 71,2%; em 2012, 71,4%; em 2013, 61,8%; em

2014, 51,8%; e, em 2015, 49%. Realizada a análise estatística por meio do teste

de qui-quadrado, observou-se que a queda da adequabilidade é estatisticamente

significante com p<0,001. Tal dado foi confirmado com a curva de regressão

linear que evidenciou tendência a queda da adequabilidade com o passar do

tempo com R2=0,82 (Valores entre 0,7 e 1 confirmam tendência) (Gráfico 3).

Gráfico 2 - Distribuição das amostras adequadas / inadequadas no decorrer das décadas

Gráfico 3: Curva de regressão linear das taxas de exames adequados no decorrer

das décadas

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4.2- Método de coleta

A coleta da citologia em nossa amostra foi realizada por meio da técnica

convencional em 394.879 (38,5%) casos e no meio líquido em 631.792 (61,5%)

casos. A tabela 2 apresenta os números de exames colhidos pelas diferentes

técnicas no decorrer dos anos do estudo. Observamos um nítido aumento na

coleta de exames pelo meio líquido. (Anexo 3).

Uma das vantagens da coleta em meio líquido seria a melhor qualidade da

amostra, com celularidade maior e menor possibilidade de amostras

insatisfatórias. Apesar de termos excluído os resultados insatisfatórios,

analisamos a diferença entre o meio líquido e meio convencional no que tange a

amostras insatisfatórias. Dentre todas as amostras colhidas a taxa de amostras

satisfatórias no meio líquido foi de 99,5% e no meio convencional 99,8% (Anexo

4).

Tabela 2 – Distribuição em número e porcentagem de exames colhidos pelas diferentes técnicas no decorrer dos anos

Relacionando-se a coleta em meio convencional e no meio líquido com a

adequabilidade da amostra, observamos que no meio convencional as amostras

eram adequadas para avaliação em 73,2% e o valor respectivo para o meio

liquido foi de 52,7%. Esta diferença foi estatisticamente significante com p<0,001

(teste qui-quadrado) (tabela 3 e anexo 5).

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Tabela 3 – Adequabilidade da amostra de acordo com o método de coleta Método Amostra Amostra

de adequada inadequada p coleta n % n %

Meio Liquido 333115 52,7 298677 47,3 <0,001 Convencional 288956 73,2 105923 26,8 <0,001

A tabela 4 e anexo 6 mostram a adequabilidade das amostras de acordo com as

faixas etárias. Podemos observar nítida queda da adequabilidade com o progredir

da idade e com acentuação após os 50 anos (p<0,001; teste de qui-quadrado).

Tabela 4 – Adequabilidade da amostra de acordo com a faixa etária

A tabela 5 apresenta a adequabilidade das amostras de acordo com o tipo

de coleta, por faixa etária. Comparando-se a adequabilidade entre os dois

diferentes tipos de exame por faixa etária, observamos haver diferença

significativa entre o meio liquido e o convencional em todas as faixas etárias

(p<0,001 - teste de qui-quadrado). Observamos nesta mesma tabela que a

adequabilidade diminui com o progredir da idade nos dois métodos de coleta

(p<0,001 - teste de qui-quadrado). O gráfico 4 mostra as taxas de adequabilidade

nas diferentes faixas etárias evidenciando que os valores caem em ambos os

grupos, mas a adequabilidade no meio líquido é sempre inferior.

Faixa etária(em anos)

n % n % n %Até 19 14612 69,8 6309 30,2 20921 10020 a 29 163523 72,1 63374 27,9 226897 10030 a 39 231605 67,8 110069 32,2 341674 10040 a 49 135867 62,2 82598 37,8 218465 10050 a 59 58328 41,9 81031 58,1 139359 10060 a 69 13949 24,4 43226 75,6 57175 100

Acima de 70 4086 18,5 17944 81,5 22030 100p<0,001

adequada inadequada TotalAmostra Amostra

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Tabela 5- Adequabilidade das amostras entre os dois diferentes tipos de coleta por faixa etária

Gráfico 4- Taxa de adequabilidade das amostras entre os dois diferentes tipos de coleta por faixa etária

A média etária do início da menopausa no Brasil ocorre ao redor do 48-50

anos. (Ministério da saúde, 2008). Desta maneira, utilizamos a faixa etária de 50

anos como corte para se analisar diferenças na adequabilidade da citologia nesse

grupo. Encontramos 21,3% (218.714) das pacientes com 50 anos ou mais em

nossa amostra; nesse grupo de mulheres observamos 35% das mesmas com

amostras adequadas para avaliação, sendo o valor encontrado para pacientes

com menos de 50 anos de 67,5% (p<0,001) (anexo 7). Concluindo-se que a

adequabilidade em mulheres após a menopausa é inferior.

Faixa etária(em anos) n % n % n % n % n % n %

Até 19 8596 63,7 4888 36,3 13484 100 6016 80,9 1421 19,1 7437 10020 a 29 85731 63,2 49883 36,8 135614 100 77792 85,2 13491 14,8 91283 10030 a 39 127511 59,1 88253 40,9 215764 100 104094 82,7 21816 17,3 125910 10040 a 49 72625 53,4 63294 46,6 135919 100 63242 76,6 19304 23,4 82546 10050 a 59 29472 35,1 54514 64,9 83986 100 28856 52,1 26517 47,9 55373 10060 a 69 7034 20,5 27274 79,5 34308 100 6915 30,2 15952 69,8 22867 100

Acima de 70 2082 16,5 10533 83,5 12615 100 2004 21,3 7411 78,7 9415 100p<0,001

Meio Líquido ConvencionalAdequada Inadequada Total Adequada Inadequada Total

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4.3. Microbiologia

Em relação aos micróbios, a maioria das pacientes apresentava

lactobacilos (68,9%); Candida sp foi encontrada em 5,5% dos casos e Gardnerella

vaginalis em 4,2% (tabela 6). A tabela 7 mostra a distribuição de micro-

organismos encontrados de acordo com a faixa etária.

Tabela 6 – Distribuição da flora vaginal encontrada nas coletas de citologia estudadas.

Micróbios n % Lactobacillus 707.687 73,06 Flora mista 138.777 14,33 Candida sp 56.600 5,84 Gardnerella vaginalis 43.157 4,46 Cocos 22.202 2,29 Trichomonas vaginalis 183 0,02 Actinomyces israelii 92 0,01 Total 968.698 100

Tabela 7- Distribuição da flora vaginal de acordo com a faixa etária

4.4. Resultados citológicos

Dentre as citologias satisfatórias, observamos resultados negativos em

91,1% das mesmas e alterados em 8,9%, independente do período e faixa etária.

Analisando-se a proporção de exames com resultados alterados no decorrer dos

anos, nao observou-se alteração nessas taxas (teste qui-quadrado; p<0,001)

(anexo 8 e anexo 9). A análise da curva de regressão linear confirmou este

resultado, demonstrando que as taxas de anormalidades citológicas não variaram

de acordo com o tempo com R2=0,1067 (R< 0,7 não confirma tendência). A

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provável diferença observada pelo teste do qui-quadrado deveu-se pelo grande

tamanho da amostra (Gráfico 5).

Gráfico 5 - Curva de regressão linear da taxa de citologias com resultados alterados no decorrer dos anos.

A tabela 8 mostra os resultados citológicos, com o respectivo intervalo de

confiança, da amostra estudada.

Tabela 8 – Resultados das citologias analisadas de 2010 a 2015.

Resultado n % IC 95% Negativo 935.300 91,100 91,05% 91,15% ASC-US 66.878 6,514 6,45% 6,55% LIEBG 18.729 1,824 1,77% 1,83% ASC-H 2.459 0,240 0,19% 0,21% LIEAG 1.859 0,181 0,19% 0,21% AGC 1.355 0,132 0,09% 0,11% LIEAG - sugestivo de invasão 50 0,005 0,004% 0,006% Adenocarcinoma 28 0,003 0,002% 0,004% CEC 13 0,001 0,000% 0,002% Total 1.026.671 100,000

Analisando-se apenas os resultados citológicos alterados estes

representam 8,9% do total (91.371). A tabela 9 apresenta a prevalência dos

resultados citológicos alterados, de acordo com o total de citologias e de acordo

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com as citologia alteradas. A tabela 10 e o anexo 10 demonstram a prevalência

das alterações citológicas no decorrer dos anos.

Tabela 9 – Prevalências das alterações citológicas de 2010 a 2015

Tabela 10 - Prevalência das alterações citológicas no decorrer dos anos.

Avaliamos a seguir a evolução das principais anormalidades no decorrer do

tempo. Analisando-se as taxas de ASC-US, observou-se queda significativa

nessas taxas (teste qui-quadrado p<0,001). No entanto, a análise da curva de

regressão linear não confirmou este resultado, demonstrando que as taxas de

ASC-US não variaram de acordo com o tempo com R2=0,22 (R< 0,7 não confirma

tendência) . A provável diferença observada pelo teste do qui-quadrado deveu-se

pelo grande tamanho da amostra (Gráfico 6). O mesmo se observou para as

taxas de LIEBG, LIEAG, ASC-H e AGC, todos com diferença significativa nas

taxas no decorrer dos anos (p<0,001), porém com curvas de regressão linear não

evidenciando tendência de queda ou aumento (gráficos 7, 8, 9 e 10)

n % n % n % n % n % n %ASC-US 7964 72,52 9272 75,38 11231 76,20 12953 75,91 13860 75,54 11598 64,66LIEBG 2355 21,44 2425 19,72 2594 17,60 3008 17,63 3331 18,15 5016 27,96ASC-H 266 2,42 267 2,17 394 2,67 504 2,95 480 2,62 548 3,05LIEAG 276 2,51 233 1,89 261 1,77 267 1,56 311 1,69 511 2,85AGC 104 0,95 93 0,76 236 1,60 320 1,88 355 1,93 247 1,38LIEAG - sugestivo de invasão 11 0,10 5 0,04 10 0,07 8 0,05 5 0,03 11 0,06Adenocarcinoma 3 0,03 3 0,02 7 0,05 4 0,02 6 0,03 5 0,03CEC 3 0,03 2 0,02 5 0,03 0 0,00 1 0,01 2 0,01Total 10982 100 12300 100 14738 100 17064 100 18349 100 17938 100

Resultado citológico 2010 20152014201320122011

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Gráfico 6 – Taxas de ASC-US no decorrer dos anos (curva de regressão linear e cálculo do R2).

Gráfico 7 - Taxas de LIEBG no decorrer dos anos com curva de regressão linear e cálculo do R2.

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Gráfico 8 - Taxas de ASC-H no decorrer dos anos com curva de regressão linear e cálculo do R2.

Gráfico 9 - Taxas de LIEAG no decorrer dos anos com curva de regressão linear e cálculo do R2.

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Gráfico 10 - Taxas de AGC no decorrer dos anos com curva de regressão linear e cálculo do R2.

Estratificando-se as pacientes por faixa etária observamos, que a

proporção de exames alterados diminui com o aumento da faixa etária (gráfico 11)

(teste do qui-quadrado; p<0,001).

As prevalências das alterações citológicas de acordo com a faixa etária são

apresentadas no gráfico 12 e 13 e na tabela 11, onde observou-se variação

significativa em todas as anormalidades citológicas, ocasionado pelo grande

tamanho amostral.

No entanto, avaliando-se as curvas no gráfico 12 e 13, pode-se verificar

nítido aumento da prevalência de ASC-US com o avançar da idade (gráfico 13);

queda da prevalência de LIEBG, principalmente após os 30 anos (gráfico 13) e

aumento de ASC-H acima dos 50 anos (gráfico 12). Para facilitar a visualização

dividimos o gráfico em duas partes com diferentes escalas, devido a baixa

prevalência de algumas alterações citológicas.

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O AGC tem dois picos de elevação, isto é, na faixa de 40-49 anos e outro

pico em pacientes acima de 70 anos; já a LIEAG mostra dois picos de elevação,

respectivamente nas faixas de 30-39 anos e acima de 70 anos (gráfico 12)

Gráfico 11- Relação dos exames citológicos negativos/alterados nas diferentes faixas etárias

75

80

85

90

95

100

Até 19 20 a 29 30 a 39 40 a 49 50 a 59 60 a 69 Acima de 70

Faixa etária (em anos)

Alterados

Negativos

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Gráfico 12 – Prevalência das alterações citológicas nas diferentes faixas etárias. (ASC-H, LIEAG, AGC, LIEAG – sugestivo de invasão, adenocarcinoma, CEC)

* Escala de prevalência no gráfico com valor máximo de 12% para facilitar visualização. Gráfico 13 - Prevalência das alterações citológicas nas diferentes faixas etárias. (ASC-US, LIEBG)

Tabela 11 – Prevalência das alterações citológicas de acordo com a faixa etária

p<0,001

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4.5- Resultados citológicos em adolescentes e adultas jovens

Visando uma melhor comparação das alterações citológicas entre as faixas

etárias, as análises estatísticas foram realizadas comparando-se grupos distintos.

Consideramos como mulheres adolescentes aquelas com idade até 19 anos,

segundo a Organização Mundial de Saúde (WHO,1986); como mulheres adultas

jovens aquelas com idade entre 20 e 24 anos, visto que a idade de início do

rastreamento do câncer de colo do útero em nosso país é 25 anos (Ministério da

Saúde, 2016). Já as adultas são aquelas com idade superior a 25 anos.

Comparando os resultados citológicos normais e alterados nesses três

grupos etários observamos que as taxas de anormalidades são semelhantes nos

grupos de adolescentes e adultas jovens, com 16,3% e 17,4%, respectivamente.

No entanto, no grupo de pacientes adultas, foi encontrada menor taxa de

resultados alterados com 8%, sendo este resultado significativo (qui-quadrado

p<0,001) (anexo 11 e anexo 12).

Ao analizarmos separadamente os resultados citológicos alterados,

observamos nítida ascensão das taxas de ASC-US, LIEAG e AGC e queda

importante na de LIEBG (tabela 12 e grafico 14). Aplicando o teste de qui-

quadrado obtivemos resultados significativos em todas as comparações com

p<0,01. As taxas de LIEAG - sugestivo de invasão, adenocarcinoma e CEC são

muito pequenas, não se observando nenhum caso no grupo de adolescentes e

um caso de CEC e um caso de LIEAG - sugestivo de invasão no grupo de

mulheres adultas jovens.

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Tabela 12 – Prevalência das alterações citológicas divididas nos grupos etários adolescentes, adultas jovens e mulheres acima de 25 anos.

Gráfico 14 – Representação em colunas da prevalência das principais alterações citológicas divididas nos grupos etários adolescentes, adultas jovens e mulheres acima de 25 anos.

4.6- Resultados citológicos em mulheres após a menopausa

De maneira similar a que fizemos para avaliar adequabilidade celular,

consideramos a menopausa aos 50 anos. Analisamos assim, os resultados

citológicos nos grupos etários abaixo de 50 anos (pré-menopausa) e com 50 anos

ou mais (pós-menopausa). Obtivemos 807.957 pacientes (78,7%) abaixo de 50

anos e 218.714acima desta faixa etária.

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A prevalência dos resultados citológicos nesses dois grupos etários

mostrou 89,9% de resultados negativos em pacientes abaixo dos 50 anos e

95,3% nas mulheres com 50 anos ou mais. A tabela 13 apresenta a comparação

entre todas as anormalidades citológicas nesses grupos de estudo. Aplicando o

teste de qui-quadrado obtivemos resultados significativos em todas as

comparações com p<0,01. (anexo 13). Relacionando-se a prevalência das cinco

principais normalidades nos dois grupos etários, observamos que as taxas de

ASC-US são semelhantes nos dois grupos com 72,3% no grupo de pacientes pré-

menopausa e 80,2% no grupo pós-menopausa. A prevalência de ASC-H, AGC,

LIEAG - sugestivo de invasão, adenocarcinoma e carcinoma epidermóide foi

maior no grupo pós-menopausa.

A taxa de ASC-H encontrada na pós-menopausa foi de 5,19%, que

representa valor 2,18 vezes maior que no grupo pré-menopausa, com taxa de

2,38%; AGC ocorreu em 2,87% e 1,31% respectivamente (2,19 vezes maior no

grupo pós-menopausa); já, LIEAG - sugestivo de invasão, 0,16% e 0,04%

respectivamente (3,72 vezes maior na pós menopausa); Adenocarcinoma, 0,15%

e 0,02% (9,12 vezes maior na pós-menopausa);e, CEC 0,05 e 0,01% (3,72 vezes

maior).

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Tabela 13 - Prevalência das alterações citológicas divididas nos grupos etários pré e pós-menopausa. Menor que 50 anos 50 anos ou mais

Resultado citológico n citologias n citologias

alteradas

alteradas

(%) (%) ASC-US 58650 72,30 8228 80,23LIEBG 17702 21,82 1027 10,01ASC-H 1927 2,38 532 5,19LIEAG 1721 2,12 138 1,35AGC 1061 1,31 294 2,87LIEAG - sugestivo de invasão 34 0,04 16 0,16Adenocarcinoma 13 0,02 15 0,15CEC 8 0,01 5 0,05

p<0,001

As alterações LIEBG e LIEAG são mais prevalentes na pré-menopausa

com 21,82% de LIEBG (2,17 vezes maior que na pós menopausa) e 2,12% de

LIEAG (1,57 vezes maior que na pós-menopausa) (Tabela 13).

4.7- Comparação entre métodos de coleta e resultados citológicos

Comparamos as prevalências das alterações citológicas de acordo com

os diferentes métodos de coleta (anexo 14 e tabela 14). A taxa de detecção de

ASC-US, ASC-H e LIEAG sao semelhantes nos dois tipos de exame; no entanto,

taxa de detecção de AGC no meio líquido foi de 0,86% e no meio convencional é

de 2,65%, denotando um valor 3,07 vezes maior. A mesma situação foi

evidenciada para a taxa de LIEAG - sugestivo de invasão encontrada no meio

convencional foi de 0,09% (2,6 vezes maior que no meio líquido com taxa de

0,04%); de Adenocarcinoma, 0,04% e 0,02% (1,8 vezes maior no meio

convencional);e, CEC 0,03% e 0,01% (6,26 vezes maior). A taxa de detecção de

LIEBG foi 1,4 vezes maior no meio líquido com taxa de 22,79% e taxa de 16,19%

no meio convencional.

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Tabela 14 - Prevalência das alterações citológicas nos diferentes meios de coleta (meio líquido x convencional). Meio líquido Meio convencional

Resultado citológico

Citologias

Citologias

n alteradas n alteradas

(%) (%) ASC-US 42922 71,98 23956 75,47LIEBG 13590 22,79 5139 16,19ASC-H 1464 2,46 995 3,13LIEAG 1100 1,84 759 2,39AGC 514 0,86 841 2,65LIEAG - sugestivo de invasão 21 0,04 29 0,09Adenocarcinoma 14 0,02 14 0,04CEC 3 0,01 10 0,03

A proporção entre o numero absoluto de lesões de alto grau e de lesões

de baixo grau nos diferentes métodos de coleta, correlacionando com

adequabilidade. Na primeira análise, comparamos somente as LIEAG com as

LIEBG (Tabela 15 e gráfico 15). Posteriormente relacionamos também a

proporção entre todas as alterações citológicas consideradas de alto grau (AG)

(ASC-H, LIEAG, AGC, LIEAG – sugestivo de invasão, adenocarcinoma e CEC)

com todas as de baixo grau (BG) (ASC-US e LIEBG) (Tabela 15 e gráfico 16).

Pudemos observar que a proporção de detecção de LIEAG nas amostras

adequadas é maior do que nas inadequadas, tanto no meio liquido quanto no

convencional.

Tabela 15 – Proporção de LIEAG/LIEBG e de AG/BG na citologia convencional e na citologia líquida em amostras adequadas e inadequadas.

Adequada Inadequada Adequada Inadequada Adequada InadequadaTaxa LIEAG / LIEBG 0,0916 0,0423 0,1508 0,0997 0,1100 0,0478Taxa AG/BG 0,0625 0,0325 0,0940 0,0529 0,0747 0,0352

Meio Liquido Convencional Total

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Gráfico 15 - Proporção de LIEAG/LIEBG na citologia convencional e na citologia líquida em amostras adequadas e inadequadas.

Gráfico 16 - Proporção de AG/BG na citologia convencional e na citologia líquida em amostras adequadas e inadequadas.

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5. DISCUSSÃO

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O câncer de colo uterino é uma doença peculiar por diversos motivos.

Dentre eles, podemos citar o fato de sabermos a causa. Poucos são os cânceres

que se tem uma relação causal tão direta e evidente. Os estudos mostram que

99% dos casos de câncer de colo do útero são causados pelo HPV (papiloma

vírus humano). Outros fatores que tornam esta doença peculiar é que ela se

manifesta através de lesões precursoras e o tempo de evolução destas lesões

precursoras até o câncer pode levar de 10 a 15 anos. Estes fatores citados

tornam esta doença evitável, mas apesar disso ainda é um problema de saúde

pública no Brasil e em outros países em desenvolvimento.

Apesar da melhoria significativa na taxa de mortalidade por câncer do colo

do útero, ainda há opiniões conflitantes sobre o apropriado protocolo de rastreio

do câncer de colo uterino ao longo da vida. Rastreio regular com Papanicolau é

geralmente recomendado até a idade de 65-70 anos. Se não houver um rastreio

anterior, rastreio pode ser útil após a idade de 65-70 anos (Cakmak and

Koseoglu, 2014). Algumas sociedades internacionais recomendam emprego de

dois testes associados, a citologia e a pesquisa do DNA-HPV (co-teste). Em

nosso país (Brasil) com recursos escassos, ainda se utiliza a citologia

convencional como método de triagem único. Dessa maneira, o encontro de uma

anormalidade citológica no rastreamento pressupõe uma melhor investigação

diagnóstica através da repetição da citologia em curto espaço de tempo ou

encaminhamento para colposcopia imediata, dependendo do tipo de alteração

encontrada (Ministério da Saúde, 2016).

Em uma meta-análise que avaliou a sensibilidade e a especificidade das

estratégias de screening para câncer de colo do útero, observou-se que a

sensibilidade e a especificidade de cada teste foram respectivamente de: 59% e

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94% para a citologia cérvico-vaginal convencional; 88% e 88% para citologia em

meio líquido; 74% e 92% para o teste de HPV (captura híbrida) (Chen et al, 2012).

Apesar de existirem outros estudos semelhantes a esse, no nosso país ainda

permanece a recomendação do rastreio com a citologia cervical exclusivamente.

Segundo Zeferino et al, a probabilidade de presença de lesão intraepitelial

pode chegar a 40% dos casos quando presentes tipos oncogênicos de HPV,

contra 4% quando ausentes, apontando para uma possível aplicação desse teste

no rastreio de mulheres e considerando as limitações da citologia e da

colposcopia nessas situações, a utilização do teste de HPV pode ter uma

contribuição adicional na investigação. A presença de DNA-HPV oncogênico

também mostrou associação com doença invasiva ou pré-invasiva glandular

(Longatto-Filho et al, 2006; Zeferino et al, 2011; Zeferino et al 2018).

A citologia cervical ou teste de Papanicolaou é um exame simples e barato,

o qual é empregado no rastreio do câncer do colo do útero e de suas lesões pré-

invasivas (Tokmak et al, 2014). A citologia deve ser incentivada como método de

triagem nos países em desenvolvimento com falta de recursos, devido ao seu

baixo custo e boa eficácia na detecção de lesões cervicais, especialmente as de

alto grau.

Na atualidade pode-se colher a citologia cervical por meio da técnica

tradicional e também pelo meio liquido. Acredita-se que o meio líquido melhore a

qualidade das amostras, apresenta melhor relação custo-benefício e permite que

com o material residual da amostra possa ser realizado o teste do DNA HPV e

outros agentes infecciosos, bem como a criação de um banco biológico (Hoda et

al, 2013; Kuramoto et al, 2013). Esta metodologia reduz o número de exames

insatisfatórios em virtude do menor numero de contaminantes e também do

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menor desperdício de células coletadas (Kuramoto et al, 2013; Kothari et al, 2006)

com relatos de menos de 1% de amostras ilegíveis (Vooijs et al, 1985). A

padronização da coleta por médicos especialistas acrescida do rigoroso preparo e

leitura de lâminas por equipe de patologia experiente contribuíram para o alto

índice de lâminas satisfatórias. Em nossa amostra, encontramos uma taxa de

exames insatisfatórios de 0,36%, sem diferença entre o meio líquido e o

convencional.

Avaliando a adequabilidade das amostras em nosso estudo, isto é, a

presença de células endocervicais e/ou da zona de transformação, observamos

uma taxa global de amostras adequadas em 60,6% das citologias, que pode ser

considerada alarmante se ponderarmos possíveis dificuldades diagnósticas em

amostras inadequadas.

Relacionando-se a coleta em meio convencional e no meio líquido com a

adequabilidade da amostra, observamos que no meio convencional as amostras

eram adequadas para avaliação em 73,2% e o valor respectivo para o meio

liquido foi de 52,7%. Pudemos observar, de maneira geral, que a taxa de

amostras adequadas foi maior no meio convencional do que no meio líquido e que

a taxa de adequabilidade teve uma diminuição progressiva no decorrer dos anos

coincidindo com um aumento progressivo da coleta no meio líquido.

Comparando-se a adequabilidade entre os dois diferentes tipos de métodos

do exame por faixa etária, observamos haver diferença significativa entre o meio

liquido e o convencional em todas as faixas etárias e que a adequabilidade

diminui com o progredir da idade nos dois métodos de coleta, principalmente a

partir dos 50 anos. Os valores caem em ambos os grupos, mas a adequabilidade

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no meio líquido é sempre inferior. Tal achado nos preocupa, pois poderia ocorrer

diminuição importante da sensibilidade desse método na pós-menopausa, o que

será abordado posteriormente.

A prevalência das anormalidades citológicas em nossa amostra foi de

8,9%, ligeiramente maior do que as taxas de Israel (4,78%), em estudo publicado

em 2014 (Bassal et al, 2014) e dos dados levantados na Santa Casa de São

Paulo que foi de 5% (Henrique et al, 2017). As alterações citológicas mais

prevalentes em nossa população total foram: : ASC-US com 6,5% do total

(73,19% das citologias alteradas), LIEBG com 1,82% (20,50% das citologias

alteradas), ASC-H com 0,24% (2,69% das citologias alteradas), LIEAG com

0,18% (2,03% das citologias alteradas) e AGC com 0,13% (1,48% das citologias

alteradas). As duas citologias mais encontradas foram ASC-US E LIEBG, sendo

ASC-US presente em 73,19% das citologias alteradas.

A prevalência das principais alterações citológicas no Brasil em 2013,

segundo o SISCOLO, foi de 1,4% de ASC-US (48,8% dentre as citologias

alteradas); 0,2% de ASC-H (8,8% das alteradas); 0,13% de AGC (4,7% das

alteradas); 0,8% de LIEBG (27,6% das alteradas); 0,26% de LIEAG (9,1% das

alteradas) (Ministério da saúde, 2016). Estes dados são semelhantes aos

encotrados em nossa amostra.

As alterações denominadas ASC-US e LIEBG foram semelhantes aos

dados da Romênia, onde a respectiva prevalência foi de 2,6% e 0,8% (Stolnicu et

al, 2014) e Israel com 2,72% e 1,54% respectivamente (Bassal et al, 2014). A

prevalência de carcinoma epidermóide invasivo foi 0,001% em nossa amostra,

comparado a 0,07% na Romênia (Stolnicu et al, 2014). Na Turquia em 2009, a

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prevalência de ASCUS, ASC-H, LIEBG, LIEAG, e AGC foi 1,07%, 0,07%, 0,3%,

0,17% e 0,08%, respectivamente (Turkish Cervical Cancer And Cervical Cytology

Research Group, 2009); esses dados são menores que os valores de referência

obtidos nos países da América Latina, incluindo o Brasil. A maior frequência de

anormalidades citológicas pode ser explicadas pela maior prevalência do HPV na

América Latina. Bruni e colaboradores (2010) mostraram em um importante

estudo de meta-análise, com dados obtidos de cerca de um milhão de citologias

nos cinco continentes, que a prevalência global do DNA-HPV foi de 11,7%. No

entanto verificou-se que a África Sub-saariana (24%), o Leste Europeu (21,4%) e

América Latina (16,1%) mostraram as mais altas prevalências virais no mundo.

A tabela 16 mostra um resumo da prevalência das alterações citológicas

em estudos encontrados na literatura e em na amostra do presente estudo.

Tabela 16 – Prevalências das alterações citológicas em estudos

encontrados na literatura.

Alteração Estudo

Santa Casa

(Henrique, 2017)

SISCOLO (Ministério da Saúde,

2016)

EUA (Datta, 2008)

Turquia (Turkish

CCC Research

group, 2009)

Romenia (Stolnicu,

2014) Israel (Bassal,

2014)

ASC-US 6,5% 2,9% 1,4% 8,0% 1,1% 2,6% 2,7%

LIEBG 1,8% 1,1% 0,8% 5,0% 0,3% 0,8% 1,5%

AGC 0,1% 0,1% 0,1% 0,3% 0,1% 0,4% 0,1%

ASC-H 0,2% 0,3% 0,2% 0,4% 0,1% 1,0% Não avaliado

LIEAG 0,2% 0,2% 0,3% 0,6% 0,2% 0,9% 0,3%

Ao analisarmos as alterações citológicas nas diferentes faixas etárias

observamos algumas variações nas prevalências entre os grupos. Pode-se

verificar nítido aumento da prevalência de ASC-US com o avançar da idade. Esse

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aumento deve se justificar pela maior atrofia em mulheres mais velhas e possíveis

dificuldades na coleta.

Observou-se também queda da prevalência de LIEBG, principalmente

após os 30 anos; essa elevada prevalência de lesões de baixo grau em mulheres

abaixo de 30 anos pode ser explicada devido a elevada prevalência de infecção

pelo HPV nesta faixa etária. Mulheres mais jovens são particularmente mais

sucetíveis a infecção por este vírus em decorrência da multiplicidade de parceiros

sexuais, com consequente contato com diversos tipos de vírus, havendo um pico

de prevalência do HPV em mulheres abaixo de 24 anos (Piris et al, 2010, Bruni,

2010).

Em jovens, fatores anatômicos como imaturidade do colo do útero com

ectopia fisiológica, composta por epitélio colunar e metaplásico, favorecem a

infecção e o desenvolvimento de neoplasias intraepiteliais cervicais no local da

zona de transformação do colo uterino (Decew et al, 2013). Especialmente nessa

faixa etária, a maioria das infecções é transitória, com duração de apenas alguns

meses, com mais de 90% de clareamento da infecção dentro de 3 anos (Piris et

al, 2014; Duke et al, 2015).

Devido a grande prevalência das alterações ASC-US e LIEBG em jovens,

associado ao elevado indice de regressao destas lesões nesta faixa etária, em

nosso país a recomendação do MS para essas anormalidades citológicas é de

seguimento citológico.

O AGC apresentou dois picos de elevação, na faixa de 40-49 anos e outro

pico em pacientes acima de 70 anos. Esses picos coincidem com as faixas etárias

que esta anormalidade é relacionada. Apesar de ser uma alteração citológica

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pouco prevalente, é um tanto preocupante. Um estudo australiano foi realizado

entre 2006 e 2012, com intuito de avaliar a prevalência de anormalidades

histológicas do colo do útero em pacientes com AGC. Os autores observaram

12% de lesões alto grau histológico e AIS, 0,7% de casos de câncer de colo do

útero, 3,8% de câncer de endométrio e 8,9% de lesões de baixo grau histológico,

confirmando a necessidade de acompanhamento ginecológico específico com

colposcopia e seguimento. Mulheres mais jovens (25-34 anos) tiveram maior

probabilidade de desenvolverem lesões de alto grau, no entanto a faixa etária de

45 a 54 anos foi a que mostrou maior risco de desenvolvimento de lesões de alto

grau em 5 anos (Munro et al, 2015).

Zhao et al observaram resultados histológicos neoplásicos pré-cancerosos

ou malignos em 15,3% dos AGC, incluindo 8.3% cervical, 6.3% endometrial e

0.6% ovarianos. Os resultados de AGC foram mais frequentemente associados a

resultados cervicais neoplásicos em mulheres com menos de 40 anos e com

desfechos neoplásicos endometriais em mulheres de 50 anos ou mais.

Já a LIEAG mostra dois picos de elevação, respectivamente nas faixas de

30-39 anos e acima de 70 anos, que se justifica pela história natural do HPV com

o pico de incidência das lesões de baixo grau antes dos 30 anos e, com um

período estimado de 10 a 15 anos para desenvolvimento das lesões, o pico de

incidência das lesões de alto grau se dá na década seguinte.

Nas adolescentes foram encontradas 16,3% de citologia alteradas no

presente estudo, número este maior do que o valor encontrado na Santa Casa de

São Paulo que foi de 9,58% (Henrique et Al, 2017) e semelhante a estudo

americano que encontrou 19% (Soren et al, 2009).

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Das citologias cérvico-vaginais alteradas em adolescentes, 63,3%

corresponderam a ASC-US e 34,5% LIEBG, totalizando 97,8% de alterações

consideradas de baixo grau. Dados semelhantes (96%) foram encontrados em um

estudo americano de adolescentes, que foram submetidas a colposcopia devido

estas alterações citológicas, verificando-se 61,9% de ASC-US e 33,7% de LIEBG

(Campbell and Lara-Tore ,2009).

Apesar de todas as recomendações acima descritas, muitos profissionais

da área da saúde se preocupam com o início sexual precoce das adolescentes e

acabam colhendo a citologia cervical em faixas etárias inferiores a 25 anos. Este

evento vem sido notado frequentemente apesar de todas as orientações

pertinentes, gerando grande número de citologias colhidas em adolescentes.

Novas evidências sobre a história natural da infecção por HPV demonstram

que a mesma é transitória em mulheres jovens, sendo que a maioria dos casos de

NIC 1 e 2 desaparecem em até 2 anos de evolução, nesta população. O NIC 2

regride espontaneamente em até 68% das adolescentes , dentro de um período

de até 3 anos de observação clínica. Tratamentos destrutivos ou excisionais são

recomendados somente quando há persistência da NIC 2 na biópsia por mais de

2 anos, visto que o câncer cervical é raro nesta população (3,3 por 1.000.000 de

casos). A baixa prevalência de câncer cervical entre adolescentes estaria

relacionada a maior eliminação viral neste grupo, associada ao longo período

necessário para evolução das lesões pré-cancerosas (Campbell and Lara-Tore,

2009; Soren et al, 2009; Decew et al,2013).

De acordo com Decew et al (2013), em estudo no qual incluíram apenas

jovens com idade <21 anos, acometidas por alterações histológicas de alto grau

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(NIC 2 ou maior), os autores observaram que 70% das alterações encontradas

em biópsia nessa faixa etária corresponderam a NIC 2, NIC 2/3 em 13,5% e NIC 3

em 16,2%; AIS foi encontrado em apenas 0,2% da população. Dessa maneira,

concluíram que a maioria das lesões cervicais pré-cancerosas em adolescentes

apresentam-se como NIC 2 e, portanto, apresenta grande chance de regressão.

No nosso estudo não foram encontrados casos de câncer

(adenocarcinoma e carcinoma epidermóide) no grupo de adolescentes, no

entanto obtivemos uma prevalência de 2,2% de citologias alteradas consideradas

como de alto grau. As mesmas foram encontradas nas seguintes porcentagens:

AGC (0,2%), ASC-H(1,2%) e LIEAG (0,8%).

Do exposto poderíamos recomendar o não rastreamento de adolescentes

(<20 anos) em virtude dos seguintes motivos: a) alta prevalência de alterações

citológicas de baixo grau e baixa prevalência de lesões de alto grau nessa

população; b) quando presente, as lesões de alto grau geralmente são

compatíveis a NIC 2 em 85% dos casos; c) são elevadas as taxas de regressão

espontânea das lesões de alto grau; d) câncer de colo do útero é um evento raro

neste grupo populacional.

A orientação para início do rastreamento do câncer do colo do útero varia

nos diferentes países do mundo. As diretrizes da ASCCP (Saslow et al, 2012)

recomendam início do rastreio com 21 anos, apenas com citologia cérvico-

vaginal a cada 3 anos até os 29 anos. Na Europa, o rastreamento do câncer do

colo do útero é iniciado preferencialmente entre 25 e 30 anos de idade (Arbyn et

al, 2010), com algumas variações regionais. No Brasil a recomendação é de se

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iniciar o rastreio aos 25 anos, quando a paciente já tiver iniciado atividade sexual

(Ministério da Saúde, 2016).

Considerando recomendação do Ministério da saúde de iniciar a coleta da

citologia aos 25 anos, avaliamos as diferenças nas anormalidades citológicas no

grupo de adolescentes e adultas abaixo desta idade. As citologias alteradas tem

taxas superiores nos grupos de adolescentes e adultas abaixo de 25 anos (16,3%

e 17.4% respectivamente), porém as taxas de LIEAG - sugestivo de invasão,

adenocarcinoma e CEC são muito pequenas, não se observando nenhum caso

no grupo de adolescentes e um caso de CEC e um caso de LIEAG - sugestivo de

invasão no grupo de mulheres adultas jovens. Tal fato, corrobora a recomentação

do ministerrio em relação a idade de início de coleta.

Segundo a OMS, o climatério/perimenopausa é uma fase biológica da vida

e não um processo patológico e, compreende a transição entre o período

reprodutivo e o não reprodutivo da vida da mulher. A menopausa é um marco

dessa fase, correspondendo ao último ciclo menstrual, somente reconhecida

depois de passados 12 meses da sua ocorrência e acontece em média aos 48,6

anos (Ministério da Saúde, 2008).

Em relação ao colo uterino, em virtude do hipoestrogenismo, produzem-se

importantes modificações na morfologia do epitélio e do estroma. O colo torna-se

fibroso e reduz seu volume, encurtando-se e experimentando diminuição da

irrigação sanguínea. O tecido conjuntivo é menos denso e vascularizado. O

epitélio escamoso torna-se fino e atrófico. Esse epitélio delgado não protege

adequadamente os vasos subepiteliais, que são frágeis; a rede capilar subepitelial

fica mais nítida. A simples pressão pode provocar pequenas hemorragias

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subepiteliais de aspecto petequial característico. A mucosa ectocervical se retrai

em sentido cranial e, em consequência, a junção escamo-colunar (JEC) situa-se

frequentemente aquém do orifício externo e não fica visível. O orifício externo

torna-se estenótico, dificultando ainda mais a avaliação endocervical (Mac Bride

et al, 2010; Singer, 1975).

Quando avaliamos as alterações citológicas mais prevalentes em mulheres

com mais de 50 anos foram: ASC-US, LIEBG, ASC-H, AGC e LIEAG com 80 %,

10%, 5,19%, 2,87% e 1,35%, respectivamente. Sendo que as alterações LIEBG e

LIEAG são mais prevalentes na pré-menopausa com 21,82% de LIEBG (2,17

vezes maior que na pós menopausa) e 2,12% de LIEAG (1,57 vezes maior que na

pós-menopausa)

A American Cancer Society (ACS) orienta que mulheres com 70 anos de

idade ou mais podem optar por interromper o teste de Papanicolaou se as

mesmas tiverem três ou mais exames normais, sem nenhuma alteração nos

últimos 10 anos. As diretrizes ACOG 2009 recomendam cessar a triagem com o

teste citológico com a idade de 65-70 anos em pacientes com as mesmas

prerrogativas anteriores. Uma atualização da ACS recomenda que as mulheres

com idade acima de 65 anos com evidência de triagem prévia negativa adequada

e sem história de NIC 2 ou superior dentro dos últimos 20 anos, não devem ser

selecionadas para qualquer modalidade de rastreio do câncer do colo do útero.

Na Turquia, o rastreio aleatório é bastante difundido, assim como, no Brasil e por

isso temos um grande número de citologias colhidas fora das faixas etárias das

diretrizes nacionais (Gyllensten et al, 2012). As alterações morfológicas das

células reduzem a adequabilidade da amostra citológica na pós menopausa,

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como observado em nosso estudo, e portanto o rastreio adequado deveria ser

feito com o teste de DNA-HPV. Comparando-se a adequabilidade nos dois grupos

observamos amostras adequadas em apenas 35% das mulheres acima de 50

anos, sendo que em mulheres abaixo desta faixa etária as amostras eram

adequadas em 67,5%.

Observamos também aumento significativo das citologias de alto grau ou

com suspeita de câncer nessa faixa etária de mulheres mais velhas (pós-

menopausa), sendo 5,88% na pré e 9,76% na pós, sugerindo um cuidado no

rastreamento na nessa população.

Em um estudo de coorte sueco com 2.113 mulheres pós-menopáusicas

(faixa etária 55-76 anos, média de idade 61 anos) foram encontrados HPV de alto

risco em 6,2% desse grupo e destas 22% foram confirmadas NIC 2 ou superior

em histologia (Gyllensten et al, 2012), evidenciando o alto valor preditivo positivo

do teste de HPV nesta faixa etária.

Em um estudo de caso controle americano, comparou-se rastreio citológico

do colo do útero de mulheres que morreram de câncer do colo do útero (casos)

com uma amostra de mulheres em risco habitual (controles) a partir de 2 planos

de saúde. Embora algoritmos de triagem desses planos de saúde já utilizem

testes de DNA-HPV para triagem, estes resultados não foram avaliados. Depois

do ajuste para variáveis (tabagismo, estado civil, e raça/etnia), a triagem foi

associada a uma redução de 74% na mortalidade por câncer do colo do útero em

mulheres de 55 a 79 anos (odds ratio (OR) = 0,26, 95% CI: 0,10, 0,63). É

provável que um maior número de mortes poderia ser evitado com uma estratégia

de rastreio baseada em DNA-HPV. Os resultados deste estudo, em conjunto com

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os de análises anteriores, sugerem um benefício potencial de estender rastreio

para mulheres com mais de 65 anos. Se os riscos de triagem em mulheres mais

velhas forem superados pelos benefícios potenciais, diretrizes poderiam

considerar uma expansão da faixa etária para rastreio (Rustagi et al,2014).

É nas mulheres adultas que a infeção pelo HPV tem o risco de se tornar

persistente e invasiva, conforme a combinação do efeito do vírus (mais importante

o genótipo) e os cofatores do hospedeiro (Conesa-Zamora, 2013). A infecção

persistente pelo HPV oncogênico leva a maior risco de desenvolvimento de

neoplasias intraepiteliais cervicais e câncer do colo do utero (Duke et al, 2015).

Uma grande fração de mulheres com lesões pré-invasivas saem do

programa de rastreio com a informação errada de que não apresentam risco de

câncer de colo uterino. Esses resultados confirmam uma menor sensibilidade de

um único teste de Papanicolaou na pós-menopausa, justificando a prevalência

relativamente elevada desse tumor na pós-menopausa em países com

rastreamento organizado. Logo o teste de HPV na pós-menopausa tem alto valor

preditivo negativo, visto que a mulher que apresenta HPV negativo e alteração

citológica, não entra no grupo de risco de câncer, não necessitando investigação

com colposcopia e biópsia. (Gyllensten et al, 2012).

A triagem da população em um programa oportunista como o da maioria

dos países em desenvolvimento deve começar com a seleção com um teste de

alta sensibilidade para controlar o custo total e o número de casos não

detectados. Neste sentido, o papanicolau sozinho é a opção mais cara,

considerando a alta porcentagem de falsos negativos que ela produz. Um teste

utilizando o DNA-HPV seria a opção menos onerosa, principalmente após os 64

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anos de idade (Yunes-Diaz et al, 2015). Apesar de todos os dados apresentados,

em nosso país a citologia ainda permanece como único método de rastreio do

câncer de colo uterino. Assim, em virtude do exposto poder-se-ia sugerir a

manutenção do rastreamento citológico além dos 64 anos contradizendo a

orientação do Ministério da Saúde do Brasil (Ministério da Saúde, 2016), a critério

médico, com a possibilidade de inclusão do rastreio do HPV em mulheres mais

idosas.

De acordo com nossos achados, idade jovem e a menopausa mostraram-

se como fatores de riscos independentes. Os mecanismos exatos para aumento

da vulnerabilidade à infecção por HPV em jovens e na pós-menopausa não são

completamente compreendidos. Contudo, imunidade adquirida inadequada em

jovens e diminuição da imunidade adquirida na idade pós-menopausa poderia ser

uma das explicações (Jia et al, 2015).

A presença de células endocervicais sempre foi considerada como um

indicador importante da qualidade dos esfregaços cervicais. Na literatura, maiores

taxas de lesões intraepitelias foram encontradas em esfregaços com células

colunares endocervicais presentes. Assim, sugeriu-se que os esfregaços que não

possuíam estas células eram menos sensíveis ao rastreamento de displasias e do

câncer (Mitchell and Medley, 1992). Woodman et al e Mitchell et al observaram

em seu estudos que a presença de células metaplásticas foram consideradas

fortes preditoras de displasia escamosa (Woodman et al,1989 ; Mitchell and

Medley, 1992). Já um estudo holândes que acompanhou pacientes com citologias

negativas com e sem representação da zona de transformação, demonstrou não

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haver diferença na proporção de lesões de alto grau e câncer nestes grupos (Bos,

2001).

No estudo de Jacome et al, foram analisados 566 casos de ThinPrep

relatados como negativos para lesão intraepitelial ou malignidade. Foram

comparados os exames subsequentes destas paciente comparando aqueles com

presença de células de ZT e sem células da ZT . A taxa de citologias anormais

em 5 anos de seguimento não teve diferença estatística significativa (P <0,9520)

entre as coortes. Segundo o autor, os exames de Papanicolaou com ausência de

células da ZT não apresentaram um risco maior de detecção subseqüente de

anormalidades cervicais.

Acreditamos não haver consenso na literatura para afirmar que a ausência

de células da ZT não diminua a taxas de detecção de lesões. Sabe-se que a

maior parte das lesões intraepiteliais e carcinomas invasores do colo do útero

ocorrem próximos a região da junção escamocolunar. Desse maneira, uma

amostragem adequada dessa região, contendo células glandulares e

metaplásicas, possivelmente melhoraria a sensibilidade do método.

Alguns pesquisadores já relataram preocupação com a avaliação de

células endocervicais na citologia líquida, afirmando que algumas alterações

podem ser mais sutis neste meio (Cox, 2004; Sherman, 2003). No entanto, alguns

autores encontraram taxa de detecção de lesões glandulares no meio líquido

maior que no meio convencional (Cox, 2004; Ashfaq et al, 1999; Bai et al, 2000;

Hecht et al, 2002; Schorge et al, 2002) e que sua especificidade para

anormalidades glandulares é maior (Ashfaq et al, 1999; Bai et al). Um estudo

reportou um declínio de 50% na taxa de AGC com o uso do meio liquido, mas um

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aumento de cinco vezes na especificidade para adenocarcinoma in situ (AIS) (Bai

et al, 2000).

Schorge et al demonstrou uma maior sensibilidade do ThinPrep para a

interpretação de AGC, sendo de 72% para detecção de lesões cervicais e

adenocarcinoma endometrial comparado com 41.5% na citologia convencional.

Para adenocarcinoma endometrial somente a sensibilidade no meio liquido

encontrada foi de 65,2% contra 38,6% no meio convencional (Schorge, 2002).

Com o aumento de casos de adenocarcinoma de colo uterino reportados nas

últimas duas décadas, é evidente a necessidade de um método mais acurado

para detecção de adenocarcinoma in situ e adenocarcinoma invasor de colo

uterino (Zahniser et al, 1996).

Cox (2004) afirmou que apesar da qualidade da amostra celular no meio

liquido ser maior (Cox, 2004; Marino et al, 2001), visto apresentar uma maior

coleta de células exfoliadas, maior transferência teórica de células para as

lâminas, melhora da visualização das células ao microscópio atribuída a redução

na sobreposição de células, diminuição de células sanguíneas e inflamatórias

(Sherman, 2003), a identificação de células endocervicais como um marcador da

presença da zona de transformação é geralmente mais difícil do que na citologia

convencional (Lee et al, 1997, Diaz-Rosario e Kabawat, 1999; Obwegeser e

Brack, 2001). Isso poderia resultar em um aumento nas amostras inadequadas no

meio liquido, porém a maioria dos estudos não relata impacto na detecção de

lesões neoplásicas (Lee, 1997; Hutchinson et al, 1999; Diaz-Rosario e Kabawat,

1999; Marino et al, 2001; Clavel et al, 2001; Belinson et al, 2001; Obwegeser e

Brack, 2001).

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No entanto o estudo desenvolvido por Leung observou uma proporção de

células de alto grau / baixo grau foi de 0,0022 em esfregaços inadequados (sem

células endocervicais e/ou metaplásicas) e de 0,0056 em esfregaços adequados.

A presença de células endocervicais e metaplásicas esteve associada a maiores

taxas de detecção de HSIL. Em nossa amostra, a proporção foi de 0,0352 nas

amostras inadequadas e 0,0747 nas adequadas, demonstrando diferença

semelhante ao referido estudo de Leung.

Comparamos as prevalências das alterações citológicas de acordo com os

diferentes métodos de coleta. A taxa de detecção de ASC-US, ASC-H e LIEAG

sao semelhantes nos dois tipos de exame; no entanto, taxa de detecção de

LIEAG - sugestivo de invasão encontrada no meio convencional foi de 0,09% (2,6

vezes maior que no meio líquido com taxa de 0,04%); de Adenocarcinoma, 0,04%

e 0,02% (1,8 vezes maior no meio convencional);e, CEC 0,03% e 0,01% (6,26

vezes maior). A taxa de detecção de LIEBG foi 1,4 vezes maior no meio líquido

com taxa de 22,79% e taxa de 16,19% no meio convencional.

Em nossa amostra, observamos 1,48% de AGC dentre as citologias

alteradas. Quando comparada a taxa de detecção de AGC no meio convencional

e no meio liquido, houve diferença significativa com taxa de 2,65% e 0,86%,

respectivamente. As células glandulares atípicas (AGCs) são células glandulares

que apresentam atipias além de alterações reativas ou reparativas consideradas

normais, mas não possuem características inequívocas do adenocarcinoma

invasivo (Wright, 2002 e Wright,2007). Os AGCs são freqüentemente causados

por condições benignas, como alterações reativas e pólipos, ou condições

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neoplásicas subjacentes significativas do colo do útero, endometrio, ovário ou

tubas.

Apesar de ser uma alteração citológica pouco prevalente, é um tanto

preocupante. Um estudo australiano foi realizado entre 2006 e 2012, com intuito

de avaliar a prevalência de anormalidades histológicas do colo do útero em

pacientes com AGC. Os autores observaram que apesar de a mesma ser uma

alteração pouco prevalente (1%), encontraram 12% de lesões alto grau

histológico e AIS, 0,7% de casos de câncer de colo do útero, 3,8% de câncer de

endométrio e 8,9% de lesões de baixo grau histológico, confirmando a

necessidade de acompanhamento ginecológico específico com colposcopia e

seguimento. Mulheres mais jovens (25-34 anos) tiveram maior probabilidade de

desenvolverem lesões de alto grau nos primeiros 3 anos após a citologia alterada,

no entanto a faixa etária de 45 a 54 anos foi a que mostrou maior risco de

desenvolvimento de lesões de alto grau em 5 anos (Munro et al, 2015).

A porcentagem de neoplasia entre mulheres com AGCs varia entre 9% a

38% , segundo Wright, 2007. Um estudo retrospectivo de 71 citologias líquidas e

114 amostras convencionais de AGC revelou que o a citologia líquida determinou

uma maior incidência de patologia confirmada, em comparação com um método

de esfregaço convencional (33,8% versus 15,3%) (Diaz-Montes, 2007). Um

estudo retrospectivo de 63 casos de AGC em esfregaços convencionais

determinou a incidência de patologia significativa e câncer de 22% e 8%,

respectivamente. Outro estudo comparando citologias líquidas e citologias

convencionais descobriu que a incidência de patologia significativa e câncer

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invasivo foi de 38% e 17%, respectivamente (DeSimone, 2006). O risco de câncer

foi maior em mulheres com mais de 40 anos (DeSimone, 2006).

A prevalência de doença pré-invasiva e invasiva em mulheres com esse

diagnóstico citológico é maior do que nas mulheres com células escamosas

atípicas de significado indeterminado. Alie-se a isso o fato de que a maioria das

lesões glandulares estão situadas no canal endocervical, frequentemente de

acesso difícil ao colposcopista, e com achados colposcópicos menos específicos

(Zeferino et al, 2018).

Apos ampla pesquisa na literatura médica em relação ao motivo que a

citologia líquida apresenta menor representavidade da ZT em relação ao meio

convencional não foram encontrados muitos estudos. Hipotetizamos que as

células metaplásicas e glandulares, por apresentarem menor tamanho

escapariam no filtro, no entanto as células anormais seriam incluídas por serem

maiores o que não afetaria a taxa de detecção. No nosso estudo, não

correlacionamos os resultados citológicos com a histologia final, não sendo

possível dessa maneira avaliar especificidade e sensibilidade. Outra suposição

seria que no momento da transferência das células para o frasco do meio líquido,

o profissional coletor não realize o cuidado adequado para que as células de

destaquem da espátula ou da escova determinando a ausência de células

endocervicas e/ou metaplásicas.

O estudo de Singh et al observou que as células endocervicais estavam

presentes em 57,5% nos casos de citologia convencional enquanto que o

respectivo valor para o meio líquido foi de 18,8%, o que foi estatisticamente

significativo. Os autores concluiram que essa diferença justificava-se visto que as

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células endocervicais são transferidas de forma menos adequada para o frasco

por estarem propensas a maior adesão ao muco endocervical, que é mantido

pelas cerdas da escova e, portanto, são menos facilmente dispersas no líquido

fixador. Além disso, a captura de células cilíndricas no muco endocervical durante

o processamento da amostra poderia potencialmente afetar a recuperação dessas

células específica. Porém nestes estudos citados, foi utilizado o Cervexbrush e

em nosso estudo foi utilizado o citobrush.

Os estudos de Kirschner et al. e Stabile et al. também observaram esta

diferença estatisticamente significativa na detecção de número maior de células

endocervicais no meio convencional em relação ao meio liquido.

Nosso estudo tem algumas limitações, como o fato de que os dados

utilizados são de um único fornecedor de serviços de saúde e não a população

brasileira total. Além do fato de que existe uma grande heterogenicidade dentre

os coletores destes exames. Também não foi possível comparar alterações

citológicas com histológicas e os dados são baseados no rastreio oportunista e

não em um maciço programa de rastreio organizado. Assim, as mulheres

incluídas neste estudo pode ser um grupo seletivo de mulheres com consciência

elevada de saúde que compreendem a importância de exames citológicos

realizados. As citologias foram colhidas sem padronização da técnica, o que pode

ter influenciado na qualidade da amostra, como por exemplo na adequabilidade.

Baseado em nossos resultados, valeria a pena orientar aos profissionais

que realizam a coleta desse exame que tenham um maior cuidado na

transferência de células da espátula de ayre e do citobrush para o frasco do meio

liquido. Em mulheres na menopausa, tomar maior cuidado na coleta das

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citologias, independente da técnica e considerar o teste de DNA-HPV no rastreio

de lesões nestas mulheres (Zeferino et al, 2018). Acreditamos que apesar destas

limitações, o grande número de amostras analisadas provê a este estudo um

grande poder de análise e conclusões.

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6. CONCLUSÕES

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1. A prevalência das anormalidades citológicas no presente estudo foi de

8,9% no período estudado, sendo ASC-US a alteração mais frequente em nossa

população;

2. Não houve mudanças no padrão de anormalidades citológicas no

decorrer dos anos.

3. A adequabilidade das citologias apresentou queda significativa com o

evoluir das faixas etárias, principalmente em mulheres acima de 50 anos; Houve

diferença significativa na adequeabilidade na citologia convencional em relação

ao meio líquido, com valores de 73,2% e 52,7%, respectivamente.

3. Mulheres com idade inferior a 30 anos apresentam maior prevalência de

lesões de baixo grau; Em mulheres mais velhas, a taxa de ASC-US e AGC

aumentou progressivamente.

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7. ANEXOS

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Anexo 1 - Percentual de exames por ano

Ano Exames Realizados % (n)

2010 123.091 12,0 2011 139.126 13,6 2012 158.895 15,5 2013 180.002 17,5 2014 195.506 19,0 2015 230.051 22,4 Total 1.026.671 100

Anexo 2 – Distribuição das pacientes e percentual por faixa etária no decorrer dos anos do estudo

Anexo 3- Proporção de exames coletados pela técnica convencional e em meio líquido no decorrer dos anos do estudo.

Faixa etária(em anos) n % n % n % n % n % n %

Até 19 2536 2,1 2796 2,0 3122 2,0 3619 2,0 4004 2,0 4844 2,120 a 29 28854 23,4 31822 22,9 36812 23,2 39759 22,1 41715 21,3 47935 20,830 a 39 38605 31,4 44149 31,8 52846 33,3 60552 33,6 66632 34,1 78890 34,340 a 49 26080 21,2 29535 21,2 33683 21,2 38222 21,2 41769 21,4 49176 21,450 a 59 16623 13,5 19178 13,8 20916 13,2 24285 13,5 26686 13,6 31671 13,860 a 69 7072 5,7 8043 5,8 8174 5,1 9879 5,5 10961 5,6 13046 5,7

Acima de 70 3321 2,7 3480 2,5 3315 2,1 3686 2,0 3739 1,9 4489 2,0Total 123091 100,0 139003 100,0 158868 100,0 180002 100,0 195506 100,0 230051 100,0

20152010 2011 2012 2013 2014

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Anexo 4 - taxa de amostras satisfatórias nos diferentes meios de coleta

Satisfatórios % Insatisfatórios % Total

Meio Líquido 631792 99,5 3247 0,5 635039 Convencional 394879 99,9 564 0,1 395443

p<0,001

Anexo 5 - Adequabilidade da amostra de acordo com o tipo de coleta

Anexo 6 - Adequabilidade da amostra de acordo com a faixa etária

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Anexo 7- Taxa de adequabilibilade das citologias em pacientes antes e após a menopausa

Anexo 8 – Proporção de exames com resultados negativos e alterados no decorrer dos anos.

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Anexo 9 - Porcentagem de exames alterados no decorrer dos anos

Resultado citológico 2010 2011 2012 2013 2014 2015 p Alterado 8,9 8,8 9,3 9,5 9,4 7,8 <0,001 Negativo 91,1 91,2 90,7 90,5 90,6 92,2 <0,001

Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 Anexo 10 – Prevalência das alterações citológicas no decorrer dos anos de estudo.

Anexo 11 – Proporção de exames citológicos negativos e alterados nos grupos etários adolescentes, adultas jovens e mulheres acima de 25 anos.

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Anexo 12 - Taxas de exames citológicos negativos e alterados nos grupos etários adolescentes, adultas jovens e mulheres acima de 25 anos. Negativo Alterados Total

n % n % n %

Até 19 anos 17516 83,7 3405 16,3 20921 100 20 a 24 anos 64642 82,6 13635 17,4 78277 100 25 ou mais 853003 92 74320 8,0 927323 100

p<0,001

Anexo 13 – Prevalências das alterações citológicas de acordo em pacientes antes e após a menopausa

Anexo 14 – Prevalências das alterações citológicas de acordo com os diferentes métodos de coleta

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SANTA CASA DEMISERICÓRDIA DE SÃO

PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP

Pesquisador:

Título da Pesquisa:

Instituição Proponente:

Versão:CAAE:

PERFIL DAS ANORMALIDADES CITOLÓGICAS EM LABORATÓRIO DA REDEPRIVADA NA CIDADE DE SÃO PAULO

Gustavo Leme Fernandes

IRMANDADE DA SANTA CASA DE MISERICORDIA DE SAO PAULO

264365817.0.0000.5479

Área Temática:

DADOS DO PROJETO DE PESQUISA

Número do Parecer: 2.047.815

DADOS DO PARECER

Desenho:Análise restrospectiva de resultados de citologias oncóticas (papanicolaou) coletadas em um laboratórioprivado da cidade de São Paulo de 2010 a2015 com análise estatística avaliando idade, local de coleta, adequação da coleta e resultados para seestabelecer um perfil da evolução dasanormalidadescitológicas nos últimos anos

Apresentação do Projeto:

Objetivo Primário:Avaliar a prevalência de anormalidades citológicas em laboratório da rede privada na cidade de São PauloObjetivo Secundário:- Avaliar a prevalência de anormalidades citológicas de acordo com as diferentesfaixas etárias.

Objetivo da Pesquisa:

Financiamento PróprioPatrocinador Principal:

01.221-010

(11)2176-7689 E-mail: [email protected]

Endereço:Bairro: CEP:

Telefone:

SANTA ISABELVILA BUARQUE

UF: Município:SP SAO PAULOFax: (11)2176-7688

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SANTA CASA DEMISERICÓRDIA DE SÃO

Continuação do Parecer: 2.047.815

- Avaliar a evolução percentual das diferentes anormalidades citológicas deacordo com o tempo decorrido em anos X idade.- Avaliar a qualidade dos esfregaços cervicais colhidos e sua variação deacordo com o tempo e método de coletaMetodologia Proposta:Realizaremos estudo retrospectivo através do levantamento dos resultados detodas as citologias oncológicas realizadas de 2010 a 2015 em laboratório da redeprivada na cidade de São Paulo. Os dados serão obtidos através do Centro de Processamentode Dados (CPD).Serão levados em consideração os seguintes dados referentes aos examescitológicos: data da coleta (mês e ano), idade da paciente, método de coleta (citologiaconvencional oucitologia líquida), adequação do material coletado, resultado doexame citopatológico (Critérios de Bethesda).

Riscos:Trata-se de estudo retrospectivo sem intervenção não implicando em riscos aos pacientesBenefícios:Estabelecer um perfil da evolução das anormalidades citológicas nos últimos anosUso dessas informações em outros estudos que visarão a comparar a mudança das anormalidadescitológicas com a introdução da vacina do HPV,com a idade de inicio da atividade sexual nas adolescentes, aumento daexpectativa de vida.

Avaliação dos Riscos e Benefícios:

pesquisa pertinente, com documentacao cientifica adequada, sem vies etico moral. Pesquisador envia cartado laboratorio externo que se responsabiliza pela confeccao e dados laboratoriais do estudo

Comentários e Considerações sobre a Pesquisa:

Apresenta termo para dispensa de TCLE, folha de rosto, autorizações, cronograma adequadosConsiderações sobre os Termos de apresentação obrigatória:

aprovadoConclusões ou Pendências e Lista de Inadequações:

As pendências foram resolvidas. A documentação completa do projeto foi aprovada pelo CEP daConsiderações Finais a critério do CEP:

01.221-010

(11)2176-7689 E-mail: [email protected]

Endereço:Bairro: CEP:

Telefone:

SANTA ISABELVILA BUARQUE

UF: Município:SP SAO PAULOFax: (11)2176-7688

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SANTA CASA DEMISERICÓRDIA DE SÃO

Continuação do Parecer: 2.047.815

Santa Casa de São Paulo. Apresentar Relatórios parciais e final do projeto. (modelo na página do CEP) 1ºrelatório deverá ser apresentado ao CEP via Plataforma Brasil dentro de 6 meses

Este parecer foi elaborado baseado nos documentos abaixo relacionados:Tipo Documento Arquivo Postagem Autor Situação

Informações Básicasdo Projeto

PB_INFORMAÇÕES_BÁSICAS_DO_PROJETO_854078.pdf

28/03/201712:29:59

Aceito

Outros Autorizacao_Laboratorio_Uso_Dados.pdf

28/03/201712:28:44

Gustavo LemeFernandes

Aceito

Outros OFACPC0312017.pdf 03/02/201711:32:49

Alayne MagalhãesTrindade DominguesYamada

Aceito

TCLE / Termos deAssentimento /Justificativa deAusência

ausenciaTCLE.pdf 30/01/201712:14:45

Gustavo LemeFernandes

Aceito

Declaração dePesquisadores

Termo.pdf 27/01/201715:39:52

Gustavo LemeFernandes

Aceito

Outros Parecer.pdf 27/01/201715:38:56

Gustavo LemeFernandes

Aceito

Declaração deInstituição eInfraestrutura

Autorizacoes.pdf 27/01/201715:38:12

Gustavo LemeFernandes

Aceito

Folha de Rosto Folhaderosto.pdf 27/01/201715:37:50

Gustavo LemeFernandes

Aceito

Orçamento orcamento.pdf 27/01/201715:37:07

Gustavo LemeFernandes

Aceito

Projeto Detalhado /BrochuraInvestigador

PROJETO.pdf 16/01/201712:29:37

Gustavo LemeFernandes

Aceito

Situação do Parecer:AprovadoNecessita Apreciação da CONEP:Não

01.221-010

(11)2176-7689 E-mail: [email protected]

Endereço:Bairro: CEP:

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SANTA ISABELVILA BUARQUE

UF: Município:SP SAO PAULOFax: (11)2176-7688

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SANTA CASA DEMISERICÓRDIA DE SÃO

Continuação do Parecer: 2.047.815

SAO PAULO, 05 de Maio de 2017

José Cassio de Moraes(Coordenador)

Assinado por:

01.221-010

(11)2176-7689 E-mail: [email protected]

Endereço:Bairro: CEP:

Telefone:

SANTA ISABELVILA BUARQUE

UF: Município:SP SAO PAULOFax: (11)2176-7688

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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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RESUMO

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PERFIL DAS ANORMALIDADES CITOLÓGICAS EM LABORATÓRIO DA

REDE PRIVADA NA CIDADE DE SÃO PAULO

Gustavo Leme Fernandes

Doutorado em Ciências da Saúde, 2018

Objetivo: Avaliar a prevalência de anormalidades das citologias cervicais de um

laboratório privado do estado de São Paulo e comparar as diferenças entre a

citologia liquida e a convencional no que concerne a adequabilidade da amostra

(presença de células escamosas e glandulares e/ou metaplásicas), avaliando nas

diferentes faixas etárias e o desempenho do exame correlacionando com as

alterações citológicas. Métodos: Estudo retrospectivo avaliando as citologias

cérvico-vaginais realizadas em laboratório privado da cidade de São Paulo no

período de janeiro de 2010 a dezembro de 2015. Resultados: O número total de

citologias satisfatórias foi de 1.026.671. No meio convencional as amostras eram

adequadas para avaliação em 73,2% (288.956 citologias) e o valor respectivo

para o meio liquido foi de 52,7% (333.115 citologias) - p<0,001 (teste qui-

quadrado). Observamos que as taxas de adequabilidade nas diferentes faixas

etárias caem em ambos os grupos, mas a adequabilidade no meio líquido é

sempre inferior (p<0,001). Entre as citologias satisfatórias, observamos resultados

negativos em 91,1% (935.300). As alterações citológicas mais prevalentes em

nossa população foram: ASC-US com 6,5% do total (73,19% de todas alteradas),

LSIL com 1,82% (20,50% de todas alteradas), ASC-H com 0,24% (2,69% de

todas) alterado), HSIL com 0,18% (2,03% do alterado) e AGC com 0,13% (1,48%

de todos alterados). A proporção Alto grau / Baixo grau foi de 0,0352 nas

amostras inadequadas e 0,0747 nas adequadas A presença de células

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endocervicais e metaplásicas esteve associada a maiores taxas de detecção de

HSIL. Conclusao: Observamos em nosso estudo uma baixa representação da

zona de transformação nas amostras coletadas no meio líquido, principalmente

em mulheres de faixa etária acima de 50 anos. Além de uma proporção maior de

detecção de lesões de alto grau no meio convencional. Ressaltamos a

necessidade de orientar aos profissionais que realizam a coleta que tenham um

maior cuidado na transferência de células da espátula de ayre e do citobrush para

o frasco do meio liquido. Em mulheres na menopausa, tomar maior cuidado na

coleta das citologias, independente da técnica e considerar o teste de DNA-HPV

no rastreio de lesões nestas mulheres.

PALAVRAS-CHAVE: Programas de rastreamento; Neoplasias do colo do útero;

Papanicolau; Colo do útero/citologia; Técnicas citológicas

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ABSTRACT

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PROFILE OF CYTOLOGICAL ABNORMALITIES IN THE LABORATORY OF

THE PRIVATE NETWORK IN THE CITY OF SÃO PAULO

Gustavo Leme Fernandes

Doctorate in Healh Sciences, 2018 – School of Medical Science of Santa

Casa de Sao Paulo

Objective: To determine the prevalence of abnormal cytologic smears collected at

a private laboratory in São Paulo and compare differences between liquid-based

and conventional cytology for sample adequacy (presence of squamous and

glandular and/or metaplastic cells) by age group and for test performance by

correlating with cytological abnormalities. Methods: A retrospective study

assessing results of cervical-vaginal cytology smears collected at a private

laboratory in São Paulo city between January 2010 and December 2015 was

conducted. Results: The total number of satisfactory cytology samples was

1,026,671. The proportion of adequate samples for interpretation was 73.2%

(288,956 samples) on conventional cytology and 52.7% (333,115 samples) on

liquid-based cytology - p<0.001 (Chi-squared test). The sample adequacy rate

declined in both groups with age, but was consistently lower for liquid-based

cytology (p<0.001). The most prevalent cytological alterations in our tpopulation

were: ASC-US with 6.5% of the total (73.19% of all altered), LSIL with 1.82%

(20.50% of all altered), ASC- H with 0.24% (2.69% of all altered), HSIL with 0.18%

(2.03% of the altered) and AGC with 0.13% (1.48% of all altered). The high/low-

grade rate was 0.0352 in inadequate samples and 0.0747 in adequate samples.

The presence of endocervical and metaplastic cells was associated with higher

HSIL detection rates. Conclusion: Low representation of the transformation zone

was found in the samples collected using the liquid-based cytology technique,

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particularly in the over 50 age group. Conventional cytology was associated with a

higher rate of detection of high-grade lesions. Professionals collecting smears

should take greater care when transferring cells from the Ayre spatula and

Cytobrush into liquid-based cytology vials. Irrespective of the technique, care

should be taken in preparing cytology specimens from menopausal women and

DNA-HPV testing should be considered when screening for lesions in this group.

Key Words: Cervical cancer; conventional cytology; liquid-based cytology; Early

Detection of Cancer