Upload
others
View
1
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
FACULDADE MARIA MILZA
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA
ROGÉRIO SANTOS DA CONCEIÇÃO
PROPOSIÇÕES PEDAGÓGICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA:
PRIMEIRAS APROXIMAÇÕES ACERCA DO DEBATE ENTRE O
CONSTRUTIVISMO E A CRÍTICO-SUPERADORA
GOVERNADOR MANGABEIRA-BA
2017
ROGÉRIO SANTOS DA CONCEIÇÃO
PROPOSIÇÕES PEDAGÓGICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA:
PRIMEIRAS APROXIMAÇÕES ACERCA DO DEBATE ENTRE O
CONSTRUTIVISMO E A CRÍTICO-SUPERADORA
Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao curso de Licenciatura em Educação Física da Faculdade Maria Milza, como requisito
avaliativo da disciplina TCC II.
ORIENTADOR: Prof. Ms. IVSON CONCEIÇÃO SILVA
GOVERNADOR MANGABEIRA-BA
2017
Dados Internacionais de Catalogação
Conceição, Rogério Santos da
C744p Proposições pedagógicas da educação física: primeiras aproximações acerca do debate entre o construtivismo e a crítico-superadora / Rogério Santos da Conceição. – Governador Mangabeira – Ba, 2017.
40 f.
Orientador: Prof. Me. Ivson Conceição Silva
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Educação
Física) – Faculdade Maria Milza, 2017.
1. Proposições Pedagógicas. 2. Construtivismo – Educação Física. 3. Crítico-superadora – Educação Física. I. Silva, Ivson Conceição. II. Título.
CDD 796
ROGÉRIO SANTOS DA CONCEIÇÃO
PROPOSIÇÕES PEDAGÓGICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA:
PRIMAEIRAS APROXIMAÇÕES ACERCA DO DEBATE ENTRE O
CONSTRUTIVISMO E A CRÍTICO-SUPERADORA
Comissão Examinadora
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
Aprovado em ________ de ________________de _________
GOVERNADOR MANGABEIRA-BA
2017
Dedico este trabalho ao meu grande amor, minha mãe Ana Conceição,
que me ensinou a ser forte e corajoso;
Ao meu grande amigo, meu pai Bartolomeu Conceição, com quem
aprendi a ser batalhador;
Aos meus irmãos, Railda, Rodrigo, Ronaldo, Raquel e Ana Célia, que
sempre me apoiaram na minhas ações durante todos esses anos.
AGRADECIMENTOS
À minha mãe, Ana Conceição, por ter me apoiado e me incentivado, para que eu chegasse até aqui. Mãe, quando penso na Senhora, encontro forças que não tenho. Ao meu pai, Bartolomeu Conceição, amigo de todas as horas, pelo apoio neste meu percurso acadêmico e, também, pelo carinho e educação que deu a mim e aos meus irmãos durante todos esses anos. A toda minha família, pelo apoio e incentivo durante a minha trajetória acadêmica; Aos meus irmãos, Railda, Rodrigo, Ronaldo, Raquel e Ana Célia, por terem me apoiado, desde o meu ingresso no curso até este momento de conclusão; Ao meu querido amigo e orientador, Ivson Silva, pelas contribuições à pesquisa e, sobretudo, à minha formação. E, também, pelo apoio e conselhos que me deu desde que nos conhecemos; Aos meus amigos e parceiros de estudos, Caio, Rodrigo e Tairone, pelo apoio, as críticas e o carinho durante todo o curso; À minha namorada, Paula, pelo companheirismo, o carinho e o apoio moral que me deu, quando tive alguns problemas na realização desta pesquisa; À Faculdade Maria Milza e todos os seus funcionários, pelo comprometimento com a minha formação; Aos professores do Curso de Educação Física, em especial, Ivson Silva, Fabrício Simões, Liziane Dias, Petry Lordelo, William Lordelo e Rafael Mota, pelas contribuições à minha formação; Aos meus colegas de turma, em especial, Caio, Rodrigo, Tairone, Matheus, Caio Lô, Larissa e Zenóbia, pelo carinho, amizade e por terem, direta ou indiretamente, contribuído para as minhas realizações acadêmicas; A todos os meus amigos, que, direta ou indiretamente, contribuíram e contribuem para as minhas realizações acadêmicas e pessoais.
“A primeira condição para modificar a realidade
consiste em conhecê-la”.
Eduardo Galeano
RESUMO
A Educação Física, a partir do final dos anos de 1970, buscou se legitimar enquanto campo epistemológico. Nessa busca, surgiram várias proposições pedagógicas para o trabalho com a educação Física na escola, que tinham como ponto de partida o mesmo objetivo: superar a educação tradicional/instrumental. Porém, estas tinham explicações sobre os objetos enraizadas em diferentes matrizes filosóficas e epistemológicas. Assim, surgiram a Psicomotricidade e a Desenvolvimentista, preocupadas com o crescimento e educação motora da criança; o Construtivismo, focado na aprendizagem a partir do sujeito, tendo com objeto o jogo; a Crítico-superadora, tratando da cultura corporal e do aluno como sujeito histórico que pode transformar a realidade; a Saúde Renovada, na defesa da educação física como promotora de qualidade de vida, dentre outras. Diante desse quadro, levantamos a seguinte Problemática: qual é o eixo central defendido pelas proposições Construtivista e Crítico-superadora, considerando os pares dialéticos conteúdo-método e objetivo-avaliação no trabalho pedagógico do professor de educação física na escola?; Como Objetivo: Analisar qual é o eixo central defendido pelas proposições Construtivista e Crítico-superadora, considerando os pares dialéticos conteúdo-método e objetivo-avaliação, no trabalho pedagógico do professor de educação física na escola. Para o desenvolvimento do trabalho, desenvolvemos uma revisão bibliográfica das obras “Metodologia do Ensino de Educação Física” e “Educação de Corpo Inteiro: teoria e prática da Educação Física”. A Proposição Construtivista tem seus pressupostos filosóficos assentados idealismo da psicologia cognitiva expressa no método lógico-formal e modelo educacional escolanovista, tendo o jogo como objeto de estudo e a auto avaliação como principal instrumento de avaliação. Por outro lado, a Proposição Crítico-superadora fundamenta-se na pedagogia histórico-crítica, e esta estrutura-se com base no materialismo histórico-dialético e na psicologia histórico-cultural, onde o objeto de estudo na escola é cultura corporal, e no ato de avaliar, privilegia-se o processo de ensino-aprendizagem. Concluímos que a Educação Física na escola pode ter sentidos e significados diferentes, onde o que determina essa condição é a fundamentação teórica utilizada pelo professor, sendo que as proposições possuem concepções de mundo e de homem diferentes, e esses são fatores que determinam o trato com a Educação Física na escola. Desse modo, para a Crítico-superadora, onde o objeto de estudo é a Cultura corporal, com objetivo de apreender a pratica social, o conhecimento deve ser tratado de forma espiralada para ampliação das referências e a avaliação deve ser realizada de maneira formal e informal, a fim de elaborar uma nova síntese. Já para o construtivismo, que tem conteúdo central o jogo como meio para desenvolvimento da criança e deve ser desenvolvido em situações experimentais para sua própria construção do conhecimento, o objetivo de desenvolver as estruturas mentais e a avaliação ocorre através da observação do envolvimento da criança, bem como, é enfatizado como principal instrumento de avaliação a auto avaliação.
Palavras-chave: Proposições pedagógicas. Educação Física. Crítico-superadora.
Construtivismo.
ABSTRACT
The Physical Education, from the end of the 1970s, sought to legitimize itself as an epistemological field. In this search, appeared several pedagogical propositions for the work with the physical education in the school, that had like point of departure the same objective: to surpass the traditional/instrumental education. However, these had explanations about the objects rooted in different philosophical and epistemological matrices. Constructivism, focused on learning of the individual, having the objective of the game; the Super-critical, dealing with the body culture, and the student as historical subject that can transform the reality; the health renewed, in defense of physical education as a promoter of quality of life, among others. In this context, we raise the following problematic: what is the central axis defended by the Constructivist and Super-critical propositions, considering the dialectical pairs content-method and objective-evaluation in the pedagogical work of the physical education teacher in the schoo?; As Objective: To analyze the central axis defended by Constructivist and Super-critical propositions, considering the dialectical pairs content-method and objective-evaluation, in the pedagogical work of the teacher of physical education in the school. For the development of the work, we have developed a bibliographical review of the works "Methodology of the Teaching of Physical Education" and "Education of the Whole Body: theory and practice of Physical Education". The Constructivist Proposition has its philosophical assumptions based on idealism of cognitive psychology expressed in the logical-formal method and Scholastic model of education, having the game as object of study and self-evaluation as the main instrument of evaluation. On the other hand, the Super-critical proposition is based on historical-critical pedagogy, and this structure is based on historical-dialectical materialism and historical-cultural psychology, where the object of study in the school is body culture, and to evaluate, the teaching-learning process is privileged. We conclude that Physical Education in school can have different senses and meanings, where what determines this condition is the theoretical foundation used by the teacher, and the propositions have different conceptions of the world and man, and these are factors that determine the treatment with Physical Education in school. Thus, for the Super-critical Overcomer, where the object of study is Body Culture, with the objective of apprehending social practice, knowledge must be treated in a spiral form to broaden the references and evaluation must be carried out in a formal and informal way, with a view to drawing up a new synthesis. For constructivism, which has a central content, the game as a means for the development of the child and must be developed in experimental situations for its own construction of knowledge, the objective of developing the mental structures and evaluation occurs through observation of the child's involvement, as well as, it is emphasized as the main evaluation tool the self evaluation.
Keywords: Pedagogical propositions. Physical Education. Super-critical. Constructivism.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO................................................................................................9
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA DAS PROPOSIÇÕES CONSTRUTIVISTA E
CRÍTICO-SUPERADORA................................................................................11
2.1 IDEALISMO E MATERIALISMO ENQUANTO FUNDAMENTAÇÃO
FILOSÓFICA DA EXPLICAÇÃO SOBRE O MUNDO......................................11
2.1.1 O Positivismo........................................................................................12
2.1.2 A Fenomenologia..................................................................................13
2.1.3 O Marxismo............................................................................................14
2.2 FUNDAMENTAÇÃO PSICOLÓGICA DAS PROPOSIÇÕES
CONSTRUTIVISTA E CRÍTICO-SUPERADORA............................................15
2.3 O DEBATE ACERCA DAS TEORIAS EDUCACIONAIS............................18
2.3.1 As Categorias e os Pares Dialéticos como pressupostos da
organização do trabalho pedagógico nas proposições Construtivista
Crítico-superadora.........................................................................................22
2.3.1.1 Os Objetivos e os Métodos..................................................................22
2.3.1.2 O Conteúdo..........................................................................................23
2.3.1.3 A Avaliação..........................................................................................24
2.3.1.4 Os pares dialéticos...............................................................................25
3 AS PROPOSIÇÕES PEDAGÓGICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA:
CONSTRUTIVISMO E CRITICO-SUPERADORA...........................................27
3.1 O CONSTRUTIVISMO................................................................................27
3.2 A CRÍTICO-SUPERADORA.......................................................................28
4 DEBATE ACERCA DO OBJETO DE ESTUDO E DA AVALIÇÃO NAS
PROPOSIÇÕES CONTRUTIVISTA E CRÍTICO-SUPERADORA...................29
4.1 OBJETO DE ESTUDO NA PROPOSIÇÃO CONSTRUTIVISTA.................29
4.2 OBJETO DE ESTUDO NA PROPOSIÇÃO CRÍTICO-SUPERADORA.......32
4.3 AVALIAÇÃO NA PROPOSIÇÃO CONSTRUTIVISTA................................33
4.4 AVALIAÇÃO NA PROPOSIÇÃO CRÍTICO-SUPERADORA.......................34
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................36
REFERÊNCIAS................................................................................................38
9
1. INTRODUÇÃO
A Educação Física, a partir do final dos anos de 1970, buscou se legitimar
enquanto campo epistemológico. Isso se deu por uma crise de paradigma que tem
nexos e relações com as mudanças operadas na organização do mundo trabalho, do
padrão fordista/taylorista para o padrão toyotista ou acumulação flexível (HARVEY,
1992), que impactou diretamente na forma como esta prática pedagógica vinha se
desenvolvendo no âmbito escolar. Iniciou-se, assim, uma busca pela identidade
epistemológica da área, estabelecida naquele momento histórico, haja vista a
necessidade de superação do trato com os seus conteúdos de forma mecanizada ou
desportivizada (TAFFAREL e ESCOBAR, S/D).
Nessa busca, surgiram várias proposições pedagógicas para o trabalho com a
Educação Física na escola, que tinham como ponto de partida o mesmo objetivo:
suparar a educação tradicional/instrumental. No entanto, tem explicações sobre os
objetos enraizadas em diferentes matrizes filosóficas e epistemológicas. Assim,
surgiram a Psicomotricidade (LE BOUCH, 1978) e a Desenvolvimentista (SERGIO,
GO TANI, KOKOBUM, 1998) preocupadas com o crescimento e educação motora da
criança; o Construtivismo (FREIRE, 1991) focado na aprendizagem a partir do sujeito,
tendo com objeto o jogo; a Crítico-superadora (COLETIVO DE AUTORES, 1992)
tratando da cultura corporal e do aluno como sujeito histórico que pode transformar a
realidade; a Saúde Renovada (NAHAS, 1997) e (GUEDES E GUEDES, 1996) na
defesa da educação física como promotora de qualidade de vida, dentre outras.
Assim, o debate proposto pela diferentes proposições implica em concepções
divergentes de ser humano, processo de ensino e aprendizagem, de sociedade, de
conhecimento e das finalidades das ações. Essa condição nos leva a investigar como
é que isso se expressa nas abordagens Construtivista e Critico-superadora,
entendendo os limites e as possibilidades de cada uma.
Nesse sentido, levantamos a seguinte problemática: Qual é o eixo central
defendido pelas proposições Construtivista e Crítico-superadora, considerando os
pares dialéticos conteúdo-método e objetivo-avaliação no trabalho pedagógico do
professor de Educação Física na escola?
Nesse sentido, apresentamos como objetivo geral: Analisar qual é o eixo central
defendido pelas proposições Construtivista e Crítico-superadora, considerando os
pares dialéticos conteúdo-método e objetivo-avaliação no trabalho pedagógico do
10
professor de Educação Física na escola. E específicos: 1) identificar o papel da
Educação Física na escola com base nas abordagens Construtivista e Crítico-
superadora e; 2) verificar os objetos de estudo e os instrumentos e formas de
avaliação nas abordagens Construtivista e Crítico-superadora.
A escolha do tema justifica-se devido à forte influência que as duas abordagens
têm no âmbito da Educação Física. Com isso, acreditamos que este trabalho pode
contribuir, do ponto de vista teórico, junto aos professores em formação, haja vista
que a Educação Física na escola pode ter sentidos e significados diferentes, onde o
que determina essa condição é metodologia de ensino utilizada pelo professor.
Portanto, é necessário que se tenha um conhecimento mais aprofundado acerca das
questões centrais defendidas pelas diferentes proposições pedagógicas.
A abordagem definida para a pesquisa foi qualitativa, a qual não usa
representações numéricas em seus resultados. Com base em seus objetivos, esta é
classificada como uma pesquisa descritiva que, para Gil (2002), tem como principal
objetivo a descrição das características de determinada população ou estabelecer
relações entre variáveis, onde uma de suas características mais sugestivas é a coleta
de dados por meio de técnicas padronizadas, como questionários e observação
sistemática, por exemplo. No tocante aos procedimentos técnicos utilizados, trata-se
de uma pesquisa bibliográfica, a qual é desenvolvida coma base numa gama de
materiais já elaborados, sendo estes livros e artigos científicos, principalmente (GIL,
2002).
Para o desenvolvimento do trabalho, foi feito uma revisão bibliográfica das
obras “Metodologia do Ensino de Educação Física” e “Educação de Corpo Inteiro:
teoria e prática da Educação Física”, obras essas impressas, bem como, de outras
obras complementares que tratam do mesmo objeto, sendo elas digitais e, também,
impressas. Dessa forma, inicialmente, foi feito um levantamento bibliográfico com
artigos, teses e livros que tratavam das Proposições Pedagógicas da Educação Física
e, em específico, das duas proposições estudadas neste estudo. Em seguida,
selecionamos os textos que acreditamos ter maior relevância para a pesquisa, por
tratarem, especificamente das proposições que seriam estudadas. Após tal seleção,
o próximo passo foi a leitura e fichamento desses textos, a fim de extrair as categorias
de análise: objetivo, avaliação, conteúdos e métodos das duas proposições,
identificando os elementos que iríamos discutir (objeto de estudo e avaliação).
11
A escolhas das categorias se justifica, uma vez que, segundo Freitas (1995),
são moduladoras da organização do trabalho pedagógico. Nesse sentido, o professor
precisa estabelecer objetivo, avaliar o que foi proposto, considerar as melhores formas
para transmitir o conteúdo.
A pesquisa está dividida em dois tópicos, organizados da seguinte forma: 1)
Objeto de Estudo, que propõe discutir o que é defendido enquanto conteúdo essencial
em cada uma das metodologias; e 2) Avaliação, que discute sobre os instrumentos e
formas de avaliação em cada uma das metodologias.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA DAS PROPOSIÇÕES CONSTRUTIVISTA E
CRÍTICO-SUPERADORA
Nesta seção, apresentaremos a fundamentação teórica das proposições
Construtivista e Crítico-superadora. Serão, portanto, apresentadas as
fundamentações filosófica, psicológica e educacional das abordagens.
2.1 IDEALISMO E MATERIALISMO ENQUANTO FUNDAMENTAÇÕES
FILOSÓFICAS DA EXPLICAÇÃO SOBRE O MUNDO
A Filosofia tem o objetivo de explicar a natureza e a sociedade através da
ciência, uma vez que tais explicações mudam de acordo com os avanços do
conhecimento científico. Desse modo, as bases filosóficas – ainda que não apareçam
de forma explícita – fundamentam qualquer conhecimento construído. Em verdade,
uma base filosófica determina a construção do conhecimento, haja vista que ela
aponta a direção da pesquisa. De acordo com Triviños (1987), “se a Filosofia pretende
estabelecer leis do desenvolvimento do mundo, quer dizer que o ser humano é capaz
de conhecer a realidade natural e social” (TRIVIÑOS, 1987. p. 17).
Na busca pela explicação do ser, os filósofos separavam-se em dois campos:
espiritual e material. Desse modo, consequentemente, nessa ligação, cabem duas
explicações filosóficas distintas: o idealismo, que explica a criação do mundo e das
espécies através das ideais, e; o materialismo, que acredita que não foi a ideia que
12
criou a realidade objetiva, mas, sim, que é a partir da base material que surgem as
ideias (TRIVIÑOS, 1987).
O idealismo atribui ao espiritual a primordialidade da existência, enquanto a
matéria é vista como um aspecto secundário, e tem como sua grande figura o filósofo
Friedrich Hegel. A ideia fundamental da Filosofia hegeliana é a da identidade do
pensamento. Ele afirma que o mundo real deve ser compreendido como uma
manifestação da ideia absoluta. Segundo Triviños (1987),
Os idealistas subjetivos e objetivos resolvem o problema da prioridade afirmando que é o espírito, a idéia, o primeiro, e que o secundário é a matéria. Os materialistas [...] elevam a matéria a uma categoria de importância primordial. Ela, o mundo objetivo, originaria as idéias, os pensamentos. Isto é o que acham os representantes do materialismo filosófico (TRIVIÑOS, 1987. p. 21).
Ao contrário do idealismo, o materialismo coloca a matéria como aspecto
primário, visto que os materialistas, como expressa Trivinõs, acreditam que as ideias
surgem a partir da matéria, do contato com a realidade objetiva concreta.
2.1.1 O Positivismo
O Positivismo é a corrente de pensamento que tem maior força dentro do
idealismo filosófico, tendo como fundador o filósofo e sociólogo Auguste Comte, que
também é conhecido como o pai da sociologia moderna, a qual, num primeiro
momento, foi por ele denominada de Física Social.
Auguste Comte formulou o que ele próprio chamou de “lei dos Três Estados”,
a qual explicava as fases do desenvolvimento do pensamento humano segundo ele.
Onde as fases são: Teologia, Metafísica e Positiva. A última, em suma, seria a ciência;
o estágio mais avançado do conhecimento.
Uma das principais características do Positivismo é a fragmentação da
realidade, onde esta é considerada como formada por partes isoladas, sem se
estabelecer relações entre os fenômenos sociais. Esta visão positivista também é
oposta à dialética hegeliana, uma vez que não se considera a ideia de constante
transformação da realidade, acreditando-se que o mundo seja um aglomerado de
coisas separadas, fixas. Desse modo, o que importa para o Positivismo são os fatos
13
que podem ser observados, não preocupando-se, assim, com as causas e
consequências. Para Triviños (1987),
Ao positivismo não interessavam as causas dos fenômenos, porque isso não era positivo, não era tarefa da ciência. Buscar as causas dos fatos, sejam elas primeiras ou finais, era crer demasiado na capacidade de conhecer do ser humano, era ter uma visão desproporcionada da força intelectual do homem, de sua razão. Isso era metafísico (TRIVIÑOS, 1987. p. 36).
Os positivistas reconheciam dois tipos de conhecimento como verdadeiros,
científicos: o empírico, que é o mais importante dos dois, sendo representado pelas
descobertas da Ciências da Natureza; e o lógico, que era composto pela lógica e pela
matemática. Segundo Triviños (1987), Horkheimer e Adorno revisaram
especificamente uma obra de Comte, e apontaram limitações acerca da sua
concepção sociológica.
2.1.2 A Fenomenologia
A Fenomenologia é uma corrente de pensamento dentro do idealismo,
denominada de idealismo subjetivo (TRIVIÑOS, 1987). De acordo a lógica
fenomenológica, na relação entre sujeito e objeto, há uma hipervalorização do sujeito
em detrimento do objeto. O que importa aqui é, pois, a consciência do sujeito. Desse
modo, o objeto depende da intencionalidade da consciência destee. De acordo com
Triviños (1987),
A ideia fundamental, básica, da fenomenologia, é a noção de intencionalidade. Esta intencionalidade é da consciência que sempre está dirigida a um objeto. Isso tende a reconhecer o princípio existe objeto sem sujeito (TRIVIÑOS, 1987. p. 42-43).
Triviños apresenta, em sua fala, as crenças das teorias idealistas, as quais
afirmam que a realidade que está posta foi completamente criada pela consciência
humana, onde a ideia é aspecto primário, enquanto a matéria é secundário e, portanto,
o homem explica a realidade.
Com o avanço da fenomenologia, surgiram diferentes grupos de correntes
dentro dela. Dentre elas, a de natureza sociológica, que influenciou diretamente no
campo da educação, determinando ações e maneiras de encarar o currículo na escola
e, de maneira singular, o a pesquisa no ensino.
14
É o estudo das essências e todos os problemas, segundo ela, tornam a definir
as essências: a essências da percepção, a essência da consciência. Também é uma
filosofia que substitui as essências na existência e não pensa o homem e o mundo de
outra forma senão a partir de sua “facticidade”. A fenomenologia enquanto uma teoria
do conhecimento só trata de descrever, e não de explicar e nem de analisar. Segundo
ela, tudo que está no mundo pode ser interpretado a partir da visão e da experiência
no mundo de cada pessoa, independentemente da confirmação científica. Desse
modo, a ciência é colocada em segundo plano.
A fenomenologia na história da humanidade trouxe um avanço filosófico na
produção do conhecimento, por questionar todo o conhecimento que era produzido
pelo positivismo, principalmente na educação, que tratava como pressupostos
advindos da natureza. Porém, desconsidera a história, e os fatores estruturantes das
sociedades divididas em classes, não apresenta categorias e leis para discutir um
objeto. Portanto, limita-se na descrição fenomênica do objeto, ou seja, um objeto pode
ser interpretado de várias formas por diferentes sujeitos.
2.1.3 O Marxismo
O Marxismo, como o próprio nome sugere, é uma corrente de pensamento
formulada pelo filósofo Karl Marx. Segundo Triviños (1987), de acordo com o quadro
geral de referência em relação, ao problema fundamental da filosofia, a doutrina
marxista apresenta-se como uma tendência dentro do materialismo filosófico, que tem
outras correntes de pensamento. E tem três aspectos principais: o materialismo
dialético, o materialismo histórico e a economia política. Contudo, o Marxismo tem,
também, influências idealistas, umas vez que
As raízes da concepção do mundo de Marx estão unidas às idéias idealistas de Hegel (1770-1831). O idealismo objetivo de Hegel aceitava que todos os fenômenos da natureza e da sociedade tinham sua base na Idéia Absoluta. Marx tomou de Hegel várias idéias que foram fundamentais para o marxismo, como, por exemplo, o conceito de alienação e, de maneira essencial, seu ponto de vista dialético da compreensão da realidade. Mas, ao invés de vincular essas idéias ao espírito absoluto hegeliano, desenvolveu-as dentro de sua concepção materialista do mundo (TRIVIÑOS, 1987. p. 50).
15
Além de Hegel, Marx também fundamenta-se em Demócrito, que era
materialista e, portanto, defendia que a realidade era e deveria ser explicada com base
na matéria. Nota-se que Marx adota algumas ideias de Hegel, todavia incorpora-as a
uma concepção materialista de mundo, onde foi feita por Marx uma revisão crítica da
filosofia hegeliana. Dentre tais ideias adotadas, a lógica dialética, do devir (mudança
constante do ser), a qual explica que a relação entre sujeito e objeto pode ser
compreendida com base em três fases: tese (estado natural da matéria); antítese
(ação humana, que nega o estado natural da matéria, transformando-a) e síntese
(resultado da ação humana sobre a matéria).
Desse modo, a realidade é uma síntese da intervenção humana na natureza,
uma vez que ela é o resultado dessa transformação. Transformação cuja ideia prévia
surgiu da própria matéria. É assim que acontece na lógica histórico-dialética. A
matéria altera a capacidade intelectual subjetiva do homem, e este, a partir de uma
determinada necessidade, tem uma ideia prévia do que se é preciso modificar, e
antecipa mentalmente suas ações para que tal ideia seja objetivada. Dessa forma, a
realidade muda a todo momento, haja vista que estão sempre surgindo novas
necessidades e, portanto, novas ideias prévias e, também, novas objetivações. Assim
é o processo dialético.
Para Triviños (1987), os fenômenos e objetos do mundo não fazem parte de
um aglomerado de coisas acabadas, mas, sim, em constante transformação. Nesse
sentido, deve-se compreender a realidade natural e social num processo dialético de
constante mudança, uma vez que tudo que se criar de novo tem relações com o que
já existe no campo dos fenômenos materiais ou ideais.
2.2 FUNDAMENTAÇÃO PSICOLÓGICA DAS PROPOSIÇÕES CONSTRUTIVISTA E
CRÍTICO-SUPERADORA
A Proposição Construtivista tem seus pressupostos filosóficos assentados
idealismo Kantiano da psicologia cognitiva expressa no método lógico-formal de Jean
Piaget. Por outro lado, a Proposição Crítico-superadora fundamenta-se na pedagogia
histórico-crítica, e esta estrutura-se com base no materialismo histórico-dialético e na
psicologia histórico-cultural, formulada inicialmente por Vigotski, Leontiev e Luria.
Desse modo, as duas proposições estruturam-se sobre diferentes concepções de ser
16
humano e de sociedade, uma vez que se assentam em determinantes metodológicos
antagônicos (MARSIGLIA e MARTINS, 2015).
De acordo com Marsiglia e Martins (2015), tanto a “epistemologia cognitiva”
quanto a psicologia histórico-cultural tem como ponto de partida a compreensão dos
fenômenos psíquicos em tempos de uma ciência psicológica hegemonicamente
pautada nos fundamentos materiais e ideais humanos de caráter formal, lógico-
positivista, expresso no dualismo entre os aspectos biológico e o cultural do
comportamentos, que estão presentes tanto nas concepções idealistas quanto
materialistas acerca deste. Contudo, enquanto a primeira incorpora e dá continuidade
a essa perspectiva metodológica, a segunda orienta-se, desde as suas formulações
mais primárias, à superação dos inúmeros empecilhos sobrevindos dela no que tange
ao desenvolvimento humano. Trata-se, pois, do pensamento abstrato e da
consciência humana, bem como a suas complexas formas de expressão. Desse
modo, “se Piaget visava a uma análise genética e funcional, Vigotski visava a uma
análise casual, fundada na dialética entre processo e produto” (MARSIGLIA e
MARTINS, 2015. p. 9).
Nota-se que, na concepção piagetiana lógico-positivista, a realidade apresta-
se fracionada, onde esta é concebida como um aglomerado de coisas separadas,
fixas. Trata-se, pois, de um “jogo de caixinhas”, do tipo: “uma coisa é uma coisa, outra
é outra coisa”. De outro modo, na concepção vigotskiana histórico-dialética, a
realidade é entendida a partir da relação entre o sujeito e o objeto; processo e produto;
ideia e matéria, e suas determinações. Entretanto, aqui, a matéria é vista como
aspecto primário, uma vez que é dela que surge a ideia, a qual vai ser dialeticamente
transformada “noutra matéria”. Dessa forma, diferentemente da lógica formal, o
materialismo fundamenta-se no devir (mudança constante do ser), portanto o que
importa são as relações dialéticas estabelecidas entre sujeito e objetivo. Assim, usa-
se uma lógica contrária à lógico-positivista, do tipo: “uma coisa pode ser outra coisa
sem deixar de ser ela mesma”.
Pode-se dizer que, nas formulação lógico-positivitas, a explicação advém das
partes do objeto e a totalidade com a junção de tais partes. Desse modo, uma coisa
não pode ser ela mesma e, concomitantemente, algo distinto. Diz-se, pois, que, se um
juízo emitido a um objeto é verdadeiro, não pode ser considerado verdadeiro uma
afirmação contrária. Conforme essa lógica, dois juízos (proposições do pensamento)
17
que se contrariam não podem pertencer a duas classes opostas ao mesmo tempo. Se
um deles é verdadeiro, logo o outro é falso e vice-versa. (MARSIGLIA e MARTINS,
2015).
No tocante à construção do conhecimento, a primeira coisa que deve ser levada
em conta é a afirmação da ciência positivista cartesiana, a qual diz que o universo é
formado apenas por dois elementos: ideia (mente) e matéria. A segunda é a
experimentação como critério de cientificidade, proposta na filosofia de Francis Bacon
(1561-1626). Marsiglia e Martins (2015), afirmam que
Nas formulações epistemológicas modernas, a lógica formal conserva seu significado como fundamento do conhecimento dedutivo, não obstante promover a apreensão da realidade como um dado estático
e parcial. Dessa fonte nutriu-se Piaget (MARSIGLIA e MARTINS, 2015. p. 10).
De outro modo, Vigotski usou a lógica dialética como aporte lógico-
metodológico para seus estudos. De acordo com Novack (apud Marsiglia e Martins,
2015), a lógica dialética, que tem como objeto a realidade concreta, direciona-se para
o estudo do movimento de tal realidade, bem como, da contradições e das mudanças
que elas promovem, estruturando-se com base nos princípios da totalidade, do
movimento e da contradição. Ao apreender os fenômenos em sua totalidade, a
dialética afirma ser estes sínteses de múltiplas determinações, ou seja
A realidade congrega fenômenos que são essencialmente intervinculados e interdependentes e, assim sendo, torna-se impossível construir qualquer conhecimento objetivo, explicar de fato o real, levando-se em conta as partes ou os aspectos isolados que o constituem (MARSIGLIA e MARTINS, 2015. p. 10-11).
Desse modo, o método dialético defende a lógica da realidade como um todo
único, no qual os fenômenos se articulam e se transformam organicamente, de modo
que um dado fenômeno determina a condição do outro. Assim, para serem
compreendidos objetivamente, os dados devem ser reconhecidos pelo ângulo dos
determinantes que os cercam.
Portanto, o princípio do movimento implica a constatação da realidade sob
constante transformação, visto que o método dialético, além de pressupor apreensão
do objeto como totalidade e de modo a reconhecer a existência de oposição, exige,
18
também, seu reconhecimento do ponto de vista do movimento e ontológico (gênese,
desenvolvimento e atualidade), de modo a entender o que dado é, o que foi e o que
ele pode vir a ser. Dessa forma, o desenvolvimento apresenta-se como resultado da
acumulação de quantitativas transformadas em qualitativa, uma vez que “toda
transformação é uma passagem da quantidade à qualidade, é um movimento
progressivo, ascendente, que perpassa do simples ao complexo” (MARSIGLIA e
MARTINS, 2015. p. 11).
O movimento é processado por decorrências das contradições postas
internamente a ele. Assim, ao contrário da lógica de identidade formal, solicita que
tudo pode ser e não ser ao mesmo tempo. Entretanto, não se trata aqui de admitir
opostos confrontados exteriormente, mas de forma interior, entendendo que os
opostos, contrapondo-se a si mesmos, se transformam constantemente.
Nota-se que a lógica formal e a lógica dialética apresentam diferentes direções
no estudo científico dos fenômenos, uma que, para lógica formal, o que importa é a
consciência humana, com uso do pensamento abstrato, enquanto a lógica dialética
tem por base a realidade concreta em sua totalidade, entendendo que tudo o que é
objetivado está transformando organicamente outro fenômeno. No entanto, “a lógica
dialética não prescinde da lógica formal para a construção do conhecimento, até
mesmo porque seus objetos não são os mesmos, mas a incorpora por superação”
(MARSIGLIA e MARTINS, 2015. p. 12). Em outras palavras, pode-se dizer que a lógica
dialética reconhece a qualidades da lógica formal e, também, seus limite e, com base
nisso, dá os devidos saltos para a orientação da construção do conhecimento
científico.
2.3 O DEBATE ACERCA DAS TEORIAS EDUCACIONAIS
As teorias educacionais são extremamente importantes para a educação em
geral, pois são teorias que sustentam trabalho pedagógico, a ideologia do professor.
Saviani (2003), escreveu sobre as teorias educacionais, e identificou que, na década
de 1970, o grande problema estava no fato de que muitas crianças em idade escolar
não tinham acesso à educação e, portanto, já se encontravam marginalizadas. Desse
modo, a questão da marginalidade aparece no centro da relação entre educação e
19
sociedade e, no debate sobre tal questão, ele classificou as teorias educacionais em
dois grupos, onde
No primeiro, temos aquelas teorias que entende ser a educação um fator de equalização social, portanto, de superação da marginalidade. No segundo, estão as teorias que entendem ser a educação um instrumento de discriminação social, logo, um fator de marginalização (SAVIANI, 2003. p. 3).
Nota-se que ambos os grupos explicam a questão da marginalidade, porém
sob diferentes concepções acerca da relação entre educação e sociedade. Desse
modo, para o primeiro grupo, a marginalidade se apresenta como um fenômeno que
afeta acidentalmente alguns indivíduos, e este problema deve ser corrigido por meio
da educação.
Já o segundo grupo entende que, por conta de uma estrutura social
essencialmente marcada pela divisão de grupos ou classes com interesses
antagônicos, a marginalidade é um fenômeno inerente a própria estrutura social. Isso
porque os grupos ou classes sociais que detém maior força se tornam dominantes e,
consequentemente, repelem os demais à condição de marginalizados.
Assim, os dois grupos são por Saviani denominados de teorias não-críticas e
crítico-reprodutivistas, como ele próprio afirma:
[...] denominarei as teorias do primeiro grupo de ‘teorias não-críticas’ já que encaram a educação como autônoma e buscam compreendê-la a partir dela mesma. Inversamente, aquelas do segundo grupo são críticas uma vez que se empenham em compreender a educação remetendo-a sempre a seus condicionantes objetivos, isto é, à estrutura sócio-econômica que determina a forma de manifestação do fenômeno educativo. Como, porém, entendem que a função básica da educação é a reprodução da sociedade, serão por mim denominadas de teorias ‘crítico-reprodutivistas’ (SAVIANI, 2003. p. 5).
Desse modo, no que diz respeito às teorias educacionais, a Proposição
Construtivista se apresenta como uma teoria não crítica e fundamenta-se no modelo
educacional escolanovista, a pedagogia do aprender a aprender.
De acordo com Saviani (2003), a defesa do modelo escolanovista era por uma
educação que supere o fenômeno da marginalidade. No entanto, escola nova não
enxerga o marginalizado como ignorante – como era feito no modelo educacional
20
tradicional. O marginalizado é, pois, enxergado como rejeitado, e a educação seria
um fator de equalização social. Desse modo, ela é entendida como “um instrumento
de correção da marginalidade na medida em que cumprir a função de ajustar, de
adaptar os indivíduos à sociedade, incutindo neles o sentimento de aceitação dos
demais e pelos demais” (SAVIANI, 2003. p. 8).
Entretanto, a marginalidade não poderia ser explicada pelas diferenças. A
“anormalidade” não é, em si, algo negativo, mas, sim, uma simples diferença e,
portanto, não serve para caracterizar a marginalidade. Esta está marcada pelo
desajustamento, o que pode ser associado a um sentimento de rejeição.
Tendo o aluno no centro do processo de ensino, e não mais o professor; e, por
outro lado, considerando que o importante não é aprender, mas aprender a aprender,
em vez de resolver o problema da marginalidade, o modelo escolanovista o agravou,
se compreendermos que
[...] provocando o afrouxamento da disciplina e a despreocupação com a transmissão de conhecimentos, acabou a absorção do escolanovismo pelos professores por rebaixar o nível do ensino destinado às camadas populares, as quais muito frequentemente têm na escola o único meio de acesso ao conhecimento elaborado. Em contrapartida, a ‘Escola Nova’ aprimorou a qualidade do ensino destinado às elites (SAVIANI, 2003. p. 10).
Por outro lado, a Proposição Crítico-superadora, que, como o próprio nome
sugere, é uma teoria educacional crítica, uma vez que propõe transformação da
sociedade, formação do sujeito histórico, enquanto o Construtivismo não o faz. Pelo
contrário, a Proposição Construtivista, em verdade, oculta o projeto histórico.
Assim, a abordagem Crítico-superadora estrutura-se com base na pedagogia
histórico-crítica, formulada pelo autor Dermeval Saviani, a qual tem a prática social
como ponto de partida e de chegada da prática pedagógica. Diferentemente das
teorias crítico-reprodutivistas – as quais não analisam o processo histórico e, também,
não propõe transformação social por meio da educação – a pedagogia histórico-crítica
considera o processo histórico e acredita numa transformação da sociedade por meio
da educação.
Saviani (2003 apresenta a educação como sendo um fenômeno próprio do ser
humano, uma vez que, compreendendo a natureza humana, o que diferencia o
homem dos demais fenômenos, dos outros seres vivos e, também, dos animais é o
21
trabalho, uma vez que ele modifica a natureza para atender às suas necessidades, e
este instaura-se a partir do momento em que o homem antecipa mentalmente suas
ações, tornando-se uma atividade intencional (SAVIANI, 2003).
Assim sendo, se o homem transforma a natureza para atender às suas
necessidades vitais e não-vitais, e antecipa mentalmente suas ações, fazendo desta
uma atividade intencional, revela-se uma outra categoria: a do trabalho não-material,
que diz respeito à produção de ideias, conceitos, símbolos, hábitos, atitudes,
habilidades (SAVIANI, 2003). Assim, obviamente a educação situa-se nessa categoria
de trabalho não-material. Consequentemente, Saviani define o trabalho educativo
como
O ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens. Assim, o objeto da educação diz respeito, de um lado, à identificação dos elementos culturais que precisam ser assimilados pelos indivíduos da espécie humana para que eles se tornem humanos e, de outro lado e concomitantemente, à descoberta das formas mais adequadas para atingir esse objetivo (SAVIANI, 2003. p. 13).
Assim, o trabalho não-material por via da educação, em suma, diz respeito à
produção do saber. Porém, não se trata de qualquer tipo de saber, mas do saber
metódico, elaborado, sistematizado. Trata-se, pois, do conhecimento científico, e não
do empírico, sendo este o único conhecimento que deve povoar a escola, que “é uma
instituição cujo papel consiste na socialização do saber sistematizado” (SAVIANI,
2003. p. 14). Dessa forma, a existência da escola torna-se necessária à medida que
o conhecimento historicamente produzido pela humanidade precisa ser socializado,
para que seja apropriado por parte das novas gerações. No entanto, para existir a
escola não precisa apenas do saber sistematizado. É necessário, também, que hajam
condições para garantir o processo de transmissão-socialização deste saber.
Portanto,
[...] é necessário viabilizar as condições de sua transmissão e assimilação. Isto implica dosá-lo a sequenciá-lo de modo que a criança passe gradativamente de seu não-domínio ao seu domínio. Ora, o saber dosado e sequenciado para efeitos de sua transmissão-assimilação no espaço escolar, ao longo de um tempo determinado, é o que convencionamos chamar de ‘saber escolar’ (SAVIANI, 2003. p. 18).
22
Desse modo, para escola garantir sua função, que, como foi dito acima,
consiste na socialização do saber sistematizado, é necessário, também, se aprimorar
a prática pedagógica, a atuação docente. Não basta apenas que o conhecimento
científico esteja na escola. É preciso desenvolver e/ou aprimorar metodologias de
ensino com vistas a garantir a transmissão-assimilação desse conhecimento.
2.3.1 As Categorias e os Pares Dialéticos como pressupostos da organização
do trabalho pedagógico nas proposições Construtivista e Crítico-superadora
Nas próximas subseções, conceituaremos algumas categorias (objetivo,
métodos, conteúdo e avaliação), bem como, apresentaremos os pares dialéticos como
pressuposto da organização do trabalho pedagógico.
2.3.1.1 Os Objetivos e os Métodos
Os objetivos e os métodos são categorias do trabalho pedagógico, ou seja,
categorias que influenciam no trabalho desenvolvido pelo professor. De acordo com
Saviani (2009), com a definição dos objetivos, surge a necessidade de escolha das
ferramentas e meios (métodos) para a sua consecução. Objetivos e meios, entretanto,
não devem ser analisados sob forma de oposição, em termos lógicos, como se faz
comumente. Há uma relação dialética entre ambos. Portanto, se objetivos resultam
de uma decisão consciente tomada a partir de uma dada necessidade, os meios
também derivarão dessa mesma captura de consciência da situação. Desse modo,
Se os objetivos traduzem o para que da ação, os meios traduzem o com que. Ambos, porém, estão referidos à mesma condição existencial do homem [...] A situação, ao mesmo tempo que indica o que nos falta (portanto, os objetivos, ou seja, aquilo que ainda não foi alcançado mas que deve ser alcançado), indica o que temos (portanto, os meios que nos permitem realizar os objetivos propostos); ao mesmo tempo que nos indica as carências, fornece-nos os critérios para a definição das prioridades no planejamento (SAVIANI, 2009. p. 77).
Nota-se que, para Saviani (2009), há uma interdependência objetivos-meios,
uma que, de forma dialética, um determina a condição do outro. Desse modo, a
escolha dos meios depende da definição dos objetivos, ao passo que a consecução
dos objetivos depende da escolha dos meios.
23
Segundo Saviani (2009), o uso dos métodos adequados impulsiona os
conteúdos na direção dos objetivos definidos. Desse modo, a relação dialética
objetivos-meios pode ser desdobrada na relação dialética objetivos-conteúdos-meios,
onde “cada um desses elementos é a um tempo condição e consequência do outro, o
que quer dizer que eles se contrapõem e se compõem num todo único que constitui
(no nosso caso) o processo educativo” (SAVIANI, 2009. p. 80).
2.3.1.2 O Conteúdo
O conteúdo de ensino é outra importante categoria do trabalho, a qual diz
respeito ao que se deve ensinar/aprender. De acordo com Libâneo (1987), os
conteúdos de ensino são os conteúdos culturais universais, que foram historicamente
construídos de forma autônoma, e incorporados pela humanidade, mas que são
permanentemente reavaliados paralelamente às transformações da realidade social.
Para ele,
Embora se aceite que os conteúdos são realidades exteriores ao aluno, que devem ser assimilados e não simplesmente reinventados, eles não são fechados e refratários às realidades sociais. Não basta que os conteúdos sejam apenas ensinados, ainda que bem ensinados; é preciso que se liguem, de forma indissociável, à sua significação humana e social (LIBÂNEO, 1987. p. 30).
Desse modo, não se estabelece oposição entre a cultura erudita e cultura
popular, mas uma relação de continuidade, uma vez que, de acordo com Libâneo
(1987), “progressivamente, se passa da experiência imediata e desorganizada ao
conhecimento sistematizado” (LIBÂNEO, ibidem).
No tocante à dicotomia entre cultura popular e cultura erudita, Saviani (2011)
afirma que a cultura popular é a cultura verdadeira, autêntica. A cultura erudita seria,
então, uma cultura artificial. Entretanto, não há valorização de uma em detrimento de
outra. Para ele,
[...] essa dicotomia entre saber erudito como saber da dominação e saber popular como saber autêntico próprio da libertação é uma dicotomia falsa. Nem o saber erudito é puramente burguês, dominante, nem a cultura popular é puramente popular (SAVIANI, 2011. p. 69).
24
Em suma, pode-se dizer que, se a cultura erudita é uma cultura elaborada, a
cultura popular pode ser erudita à medida em que passa a ser dominada pela
população. Por outro lado, se a população tem acesso ao saber erudito, este não é
mais um distintivo das elites, tornando-se, portanto, um saber popular.
2.3.1.3 A Avaliação
De acordo com Chaves-Gamboa e Gamboa (2015), a avaliação, no campo da
educação, diz respeito a um mecanismo ligado a pedagogia por objetivos. Mecanismo
este que “estende-se à coleta de informações sobre os diferentes aspectos do sistema
educativo e visa à descrição do funcionamento dos componentes do sistema”
(CHAVES-GAMBOA e GAMBOA, 2015. p. 17).
A avaliação educacional é, pois, um quadro de critérios que delimitam o
processo educacional com base em objetivos previamente definidos. Chaves-
Gamboa e Gamboa (2015), afirmam que
Avalia-se algo com base em critérios de valores previamente determinados ou esperados que, geneticamente, se referem a ações ou fatores previstos na fase de um planejamento, da definição de objetivos, ou por ocasião da elaboração de um projeto de ação, ou de uma proposta de intervenção. Refere-se também aos resultados
esperados ou previstos numa determinada prática (CHAVES-GAMBOA e GAMBOA, Ibidem).
Freitas (1995), estabelece a distinção entre avaliação formal e informal, uma
vez que a avaliação informal acontece no decorrer de todo o processo até chegar à
avaliação formal, e não é a nota a responsável pelo formalização ou não da avaliação.
Em verdade, são o os instrumentos usados para avaliar que define tal questão. Desse
modo, ele entende por avaliação formal
Aquelas práticas que envolvem o uso de instrumentos explícitos de avaliação, cujos resultados podem ser examinados objetivamente pelo aluno, à luz de um procedimento claro (FREITAS, 1995. p. 145).
Em contrapartida, ele entende a avaliação informal como “a construção, por
parte do professor, de juízos gerais sobre o aluno, cujo processo de constituição está
encoberto está encoberto e é aparentemente assistemático” (FREITAS, Ibidem).
Em suma, pode-se dizer que a avaliação é aquela na qual o aluno percebe que
está sendo avaliado, pois, como foi dito acima, os instrumentos de avaliação são
explícitos por via de procedimento claro, ao passo que, na avaliação informal, o aluno
25
está sendo avaliado durante todo o processo – ainda que ele não perceba – através
de juízos sobre este imprimidos por parte do professor. De acordo com Freitas (2011),
Um dos equívocos dos manuais de didática é situar a avaliação como uma atividade formal que ocorre ao final do processo de ensino-aprendizagem. Nesta visão linear, primeiro ocorre a aprendizagem e finalmente a verificação da aprendizagem. Se do ponto de vista das aparências é assim que ocorre, do ponto de vista processual, observando-se o interior da sala de aula, esta perspectiva mostra-se incompleta (FREITAS, 2011. p. 14).
Por outro lado, Freitas, diferentemente de Saviani, define o par dialético
objetivo-avaliação como uma das categorias centrais do processo educativo, sendo o
par dialético conteúdo-método, e entende que
No âmbito da sala de aula e da escola atual, tem havido uma subordinação da última à primeira. Os objetivos permanecem embutidos na situação de ensino-aprendizagem e na própria avaliação e terminam decidindo o destino do aluno, já que é a avaliação que define se ele terá ou não acesso a mais conteúdo e a qual conteúdo (FREITAS, 2011. p. 16).
O objetivo é a categoria que guia o trabalho pedagógico enquanto que
avaliação é o momento de refletir sobre o que foi traçado.
Na próxima subseção, apresentaremos o debate acerca dos pares dialéticos
conteúdo-método e objetivo-avaliação, os quais foram analisados na pesquisa.
2.3.1.4 Os pares dialéticos
Freitas (2011), apresenta duas grandes categorias centrais no processo de
ensino-aprendizagem: os pares dialéticos conteúdo-método e objetivo-avaliação, os
quais dialogam entre si.
A primeira diz respeito ao que ensinar e como ensinar, ou seja, a escolher os
conteúdos necessários à formação dos alunos e o melhor método para a transmissão
de tais conteúdos, com vistas a alcançar determinado objetivo. Já a segunda diz
respeito à relação entre o (os) objetivo (os) a serem alcançados e a forma de avaliar
o processo de ensino-aprendizagem, onde a avaliação deve estar presente em todo
o processo. A avaliação deve dialogar com o objetivo, onde esta vai responder se o
26
(os) objetivo (os) foram alcançados plenamente, parcialmente ou se eles não foram
alcançados (FREITAS, 2011).
Para Freitas (1995), a escola capitalista é organizada de modo que sua função
se dá no interior de seu conteúdo/método. Trata-se de uma relação dialética, ou seja,
um determina a condição do outro. Dessa forma,
Não existe, por conseguinte, uma forma que não seja embebida de conteúdo, que não organize o movimento e a atividade de um conteúdo, do mesmo modo que não existe um conteúdo que não se expresse estruturalmente em determinada forma (ROSENTHAL E STRAKS, apud FREITAS, 1995. p. 97).
Freitas (1995) afirma que, no tocante à questão do conteúdo/método da escola,
pode-se destacar três aspectos cruciais: “a ausência do trabalho material socialmente
útil, como princípio educativo; a fragmentação do conhecimento na escola; e a gestão
da escola” (FREITAS, 1995. p. 97).
De acordo com Freitas (2011), na sala de aula do atual cenário educacional há
subordinação da categoria conteúdo-método à categoria objetivo-avaliação. Os
objetivos permanecem embutidos no processo de ensino-aprendizagem e na própria
avaliação, que decide o destino do aluno, uma vez que é esta que diz se o aluno terá
ou não acesso a mais conteúdo e qual conteúdo. O autor acredita que a avaliação não
deve se resumir apenas à questão de permitir ou negar o acesso a mais conteúdo,
bem como, deve estar atrelada aos objetivos ligados à função social da escola, e não
apenas aos objetivos das disciplinas. Para ele,
Deve-se levar em conta que a avaliação não importa apenas objetivos escolares, das matérias ensinadas, mas também objetivos ligados a função social da escola do mundo atual, os quais são incorporados na organização do trabalho pedagógico global da escola. Ao enfatizarmos a sala de aula, não devemos esquecer que ela está inserida em um ambiente maior, a escola (FREITAS, 2011. p. 17).
Para Freitas (2011), no âmbito escolar, os alunos não aprendem apenas os
conteúdos das disciplinas, mas, também, desenvolvem valores e atitudes, que podem
ser bons ou ruins, onde o que determina essa condição é a função social exercida
pela escola. Trata-se, pois, de saber quais “valores” a escola deveria disponibilizar.
Desse modo, a assimilação do conteúdo não deve ocorrer apenas com o objetivo de
ter uma nota em troca. O conhecimento não deve ser transformado em experiência
de aprendizagem de troca de mercadorias, mas, pelo contrário, este deve ter uma
dimensão social que não seja a do consumismo; da competição, do individualismo.
Segundo o autor,
27
É importante que o professor lide com as diferenças dos alunos como ‘simples diferenças’ e não com ‘diferenças antagônicas’ que conduzem a exclusão. A partir desta compreensão é fundamental reinventar as práticas de avaliação no interior da sala de aula e da escola. Tais práticas deverão ser vistas como instrumento de permanente superação da contradição entre o desempenho real do aluno e o desempenho esperados pelos objetivos, através de um processo de produção de conhecimento que procure incluir o aluno e não o alienar (FREITAS, 2011. p. 31).
Com base nessa afirmação, compreendemos que a avaliação é um instrumento
de verificação da aprendizagem, não de punição. Dessa forma, o professor deve
atentar para tal condição e procurar incluir o aluno nos processos pedagógicos,
maximizando seu desenvolvimento.
3. AS PROPOSIÇÕES PEDAGÓGICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA:
CONSTRUTIVISMO E CRITICO-SUPERADORA
Nesta seção, apresentaremos as principais características das Proposições
Construtivista e Crítico-superadora.
3.1 O CONSTRUTIVISMO
O construtivismo é uma tendência epistemológica, psicológica e pedagógica
que vem influenciando fortemente o trabalho pedagógico do professor de Educação
Física na escola, haja vista a diversidade de reflexões que vem sendo desenvolvidas
em pesquisas. Segundo Rossler (2005), o construtivismo não é uma vertente teórica
isolada, mas
[...] um conjunto de diferentes vertentes que, apesar de uma aparente heterogeneidade ou diversidade de enfoque no interior do seu pensamento, possuem com núcleo de referência básica a epistemologia genética de Piaget, em torno à qual são agregadas certas características que definem a identidade do ideário construtivista como um ideário filosófico, psicológico e educacional compartilhando, assim, um mesmo conjunto de pressuposto, conceitos e princípios teóricos (ROSSLER, 2005. p. 7).
28
Nesse sentido, sua difusão acontece em larga escala, o que faz com que se
torne a vertente teórica hegemônica na educação de forma geral e tenha forte
influência na Educação Física em específico.
Segundo Facci (2011), sua influência na educação brasileira vem do início do
século XX com o movimento da escola Nova em contraposição ao modelo tradicional.
De acordo com a autora, sua ênfase está nos aspectos biológicos maturacionais do
desenvolvimento humano. Nesse sentido o processo de aprendizagem do ser humano
se dá pela interação com o meio e sobre o objeto.
Com base nessa proposição, a apropriação do conhecimento por parte do ser
humano é um processo em que uma dimensão se expressa no objeto que contém
propriedades físicas, culturais e sociais e por outro lado pelo sujeito através de
esquema de assimilação a acomodação que ocorre numa sequência de quatro
estágios de desenvolvimento: 1) sensório motor (0-2 anos); pré-operacional (2-6
anos); de operações concretas (6-11 anos); de operações formais (11 a 15 anos).
(FACCI, 2011, p. 124)
Essas etapas ocorrerem sempre de forma linear, uma superando a outra.
Segundo Martins e Marsiglia (2015), esse é um dos aspectos limitantes da abordagem
construtivista para compreender e explicar o desenvolvimento humano, haja vista que
tem seus pressupostos filosóficos assentados na lógica formal.
3.2 A CRÍTICO-SUPERADORA
A proposição Crítico-Superadora foi desenvolvida para atendar às
necessidades epistemológicas da Educação Física. Trata-se de uma metodologia do
ensino que tem sua fundamentação filosófica na concepção materialista e dialética da
história enquanto teoria do conhecimento, na pedagogia histórico-crítica (SAVIANI,
2010) enquanto uma teoria educacional e na psicologia histórico-cultural (VIGOTSKY,
2007) enquanto uma teoria psicológica.
Nesse sentido, seu fundamento tem base na justiça social no qual o estudante
se reconheça como produtor e produto da história, ampliando a sua capacidade de
compreender, explicar, e agir para alteração da realidade concreta. Por isso a escola
deve ser o espaço mais avançado de apropriação dos conhecimentos científicos, sem
29
os quais a capacidade humana de conhecer fica limitada ao imediato, ao pratico, ao
sensível.
Uma especificidade da metodologia Crítico-Superadora é sua reflexão
pedagógica que aponta seu caráter diagnostico, uma vez que os alunos, ao se
apropriarem cientificamente dos conteúdos, devem desenvolver a leitura da realidade
e emitir um juízo de valor, sua judicatividade, haja vista que quem emite um juízo de
valor assume uma posição de classes numa sociedade dividida antagonicamente, e
seu caráter teleológico, que buscar transformar substancial e estruturalmente a
sociedade capitalista (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
Assim sendo, sua proposta não descola o político do pedagógico, considerando
que todo ato é político, pois, aponta para uma direção e por sua também é pedagógico
porque exige uma reflexão dos seres humanos sobre as ações (COLETIVO DE
AUTORES, 1992).
4. DEBATE ACERCA DO OBJETO DE ESTUDO E DA AVALIÇÃO NAS
PROPOSIÇÕES CONTRUTIVISTA E CRÍTICO-SUPERADORA
Nesta seção, apresentaremos a análise acerca do objeto de estudo e da
avaliação nas Proposições Construtivista e Crítico-superadora.
4.1 OBJETO DE ESTUDO NA PROPOSIÇÃO CONSTRUTIVISTA
Na proposição Construtivista, o estudo/ensino tem enfoque na cultura infantil,
por meio de atividades lúdicas, onde, considerando-se que o aluno deve ser o centro
do processo de ensino-aprendizagem, acabam sendo resgatados os jogos e as
brincadeiras.
De acordo com Freire (1999), as habilidades motores que são desenvolvidas
no universo da cultura infantil, por meio do jogo e da brincadeira, com base no que a
criança já conhece, exercem importante papel no desenvolvimento no
desenvolvimento da criança. Para ele,
30
[...] a adoção de atividades da cultura infantil como conteúdo pedagógico facilita o trabalho pedagógico de professores das escolas de primeira infância, pois garante o interesse e a motivação das crianças (FREIRE, 1999. p. 24).
Freire (1999), afirma que o jogo da escola não deve ser o mesmo jogo que
acontece fora dela, o qual os alunos vivenciam em grupo com colegas da mesma faixa
etária. Segundo ele,
O jogo realizado como conteúdo da escola deve ser aquele que se inclui num projeto, que tem objetivos educacionais, como qualquer outra atividade. Dentro do brinquedo, orientando-o, a professora deve saber onde chegar, o que desenvolver. Pode estar pensando em habilidades motoras, como as corridas, os saltos, os giros, ou em habilidades perceptivas, como as noções de espaço e tempo, a manipulação fina de objetos. Em outros momentos pode colocar ênfase na formação de noções lógicas, como seriação, conservação e classificação. Em outros, ainda, o objetivo poderia ser o trabalho em grupos, como forma de desenvolver a cooperação (p. 75).
Desse modo, o objetivo educacional seria criar atividades que propiciem à
criança o conhecimento de seu próprio corpo e de suas ações, e isso deveria ser feito
por meio do trato com o jogo como elemento de motivação (FREIRE, 1999).
Para Freire (1999), nos cursos de formação devem ser trabalhadas atividades
lúdicas, nas quais os alunos devem se envolver e, também, criticá-las de modo a
recriar tais atividades. E isso, de acordo com ele, deveria ser ampliando durante os
estágios desses mesmos professores em formação. “É necessário dar mais atenção
ao brinquedo, à atividade lúdica, à cultura infantil, como material de trabalho do
professor, nas escolas de formação” (FREIRE, 1999. p. 67).
Entretanto, os jogos e as brincadeiras são usados como um meio para o
aprendizado de outras disciplinas, uma vez que, de acordo com Freire, “o que importa
para um professor é saber usar definitivamente esse recurso pedagógico que é o jogo
ou o brinquedo” (FREIRE, 1999. p. 51).
O jogo é um conteúdo clássico da Educação Física, todavia não é e não pode
ser considerado como o único a ser transmitido, haja vista que esta possui outros
conteúdos, cuja transmissão é necessária à formação humana. Trata-se, pois, dos
elementos da Cultura Corporal, que são: Jogo, Esporte, Dança, Ginástica e a
Capoeira, que, de acordo com o Coletivo de Autores (1992), se constituem objeto de
31
estudo e ensino da Educação Física. E, quando tratado, o jogo dever ser tratado como
conteúdo, de fato, e não como um recurso pedagógico, um meio para apreensão de
conteúdos inerentes a outras disciplinas do currículo escolar. O jogo tratado como
meio para o aprendizado de outros conteúdos foge ao objetivo, que é o jogo enquanto
elemento da cultura corporal, enquanto conteúdo da Educação Física.
A proposição construtivista, em seu processo de ensino-aprendizagem, não
considera os par dialético conteúdo-método, como propõe Freitas (2011), e, muito
menos, a relação dialética objetivos-meios, de acordo com Saviani (2009). O que
importa é fazer do jogo um recurso pedagógico; o método de ensino gira em torno
dessa questão.
É relevante, pois, compreender a fundamentação teórica da abordagem. Uma
vez entendido que a proposição construtivista se fundamenta no Positivismo, do posto
de vista da organização teórica; na Fenomenologia, do ponto de vista do processo de
ensino-aprendizagem, enquanto bases filosóficas; na teoria cognitiva, enquanto
psicologia educacional; e no escolanovismo, enquanto teoria educacional, pode-se
compreender, também, o porquê dessa proposição não considerar nenhuma relação
dialética entre o conteúdo e outra categoria do trabalho pedagógico.
Para essa posição, o conteúdo não importa, pois o que vale é a centralidade
nos interesses dos alunos. Ora, se a função social da escola, com já falamos, é
propiciar o desenvolvimento humano de forma intencional, deixar a centralidade nos
alunos é justamente negar atividade central do trabalho do professor, o ensino, e o
objetivo da escola enquanto espaço socialmente estabelecido para aquisição de
conhecimentos científicos.
Nesse sentido, a dimensão subjetivista, em que o conhecimento não vem de
fora, mas já está internalizado no sujeito. Assim, apresenta uma visão naturalista de
um fenômeno social que é restritamente humano, a educação.
Assim, é preciso que pensemos criticamente como essa proposição vem dando
orientações para a organização do trabalho pedagógico na Educação Física, para não
acabar acentuando a ideia de que qualquer pessoa pode exercer essa função.
32
4.2 OBJETO DE ESTUDO NA PROPOSIÇÃO CRÍTICO-SUPERADORA
Na proposição Crítico-superadora, são tratados os temas inerentes à Cultura
Corporal: jogo, ginástica, dança, esporte e lutas. No entanto, cabe ressaltar que a
Cultura Corporal não se resume a esses cinco elementos. Tais elementos
representam um debate travado em determinado período histórico: em 1992, quando
livro “Metodologia do Ensino de Educação Física” foi escrito. Ora, Cultura Corporal é,
pois, tudo o que foi historicamente produzido pela humanidade no âmbito das práticas
corporais. Isso significa dizer que, das práticas clássicas às modernas, da ginástica
ao crossfit, tudo é parte da Cultura Corporal. Entretanto, a abordagem pedagógica na
escola se dá a partir de outro tratamento.
Diferentemente da proposição vista anteriormente, aqui o jogo, quando tratado,
é tratado como elemento da Cultura Corporal, um produto histórico, que precisar ser
acessado, sistematicamente, pelo conjunto da humanidade, que uma vez apropriado,
atribui seus próprios sentidos e significados.
O conteúdo é, então, tratado de modo a promover uma leitura de realidade, de
modo que possibilite ao aluno compreender-se enquanto sujeito histórico, capaz de
transformar a realidade através de intervenção individual e da atividade coletiva.
Desse modo, o Coletivo de Autores afirma:
Tratar dos grandes problemas sócio-políticos atuais não significa um ato de doutrinamento. Não é isso que estamos propondo. Defendemos para a escola uma proposta clara de conteúdos do ponto de vista da classe trabalhadora, conteúdo este que viabilize a leitura da realidade estabelecendo laços concretos com projetos políticos de mudanças sociais (COLETIVO DE AUTORES, 1992. p. 63).
Desse modo, o ensino parte da análise do processo histórico de cada tema
tratado, a fim de se descobrir como cada um se desenvolveu, bem como, as alterações
que sofreram ao longo da história e, consequentemente, conhecer o determinou a
necessidade de seu ensino. Para tal,
[...] conhecimento é tratado de forma a ser retraçado desde sua origem ou gênese, a fim de possibilitar ao aluno a visão de historicidade, permitindo-lhe compreender-se enquanto sujeito histórico, capaz de interferir nos rumos de sua própria vida e da atividade social sistematizada (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 28).
33
No tocante ao jogo, o Coletivo de Autores (1992), afirma que este satisfaz as
necessidades da criança, em especial, as necessidades do fazer, as necessidades de
ação. Desse modo, o professor deve conhecer as motivações dessa ação, uma vez
que “o jogo é entendido como um ‘fator de desenvolvimento’ por estimular a criança
no exercício do pensamento, que pode desvincular-se das situações reais e levá-la a
agir independentemente do que ela vê” (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 66).
É necessário entender, pois, que o jogo é uma intervenção do homem, um ato
intencional, curioso, onde intencionalidades e curiosidades implicam num processo
criativo para modificar, imaginariamente, a realidade. De acordo com o Coletivo de
Autores,
Quando a criança joga, ela opera com o significado das suas ações, o que a faz desenvolver sua vontade e ao mesmo tempo tornar-se consciente das suas escolhas e decisões. Por isso, o jogo apresenta-se como elemento básico para a mudança das necessidades e da consciência (COLETIVO DE AUTORES, Ibidem).
Desse modo, num jogo de “queimadas”, por exemplo, o imaginário da guerra
vai sendo escondido pelas regras, com as quais os jogadores devem ter o máximo de
atenção, pois, por vezes, são bem complexas. É, portanto, necessário discutir com os
alunos sobre as situações de violência que o jogo cria e, também, regras para
controlar tais situações. A respeito das regras, o Coletivo de Autores (1992), afirma:
Quanto mais rígidas são as regras dos jogos, maior é a exigência de atenção da criança e de regulação da sua própria atividade, tomando o jogo tenso. Todavia, é fundamental o desenvolvimento das regras na escola, porque isso permite à criança a percepção da passagem do jogo para o trabalho (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 67).
Em suma, pode-se que as regras são necessárias ao desenvolvimento da criança e
devem ser trabalhadas na escola, de modo que propiciem à criança um entendimento de suas
ações e das implicações destas, bem como, que permitam à criança estabelecer relações
entre o imaginário (do jogo) e o real (do trabalho).
4.3 AVALIAÇÃO NA PROPOSIÇÃO CONSTRUTIVISTA
A avaliação é realizada durante todo o processo, onde é observado o
comportamento intelectual, psicomotor, afetivo, relacional do aluno. Além disso, como
o aluno é o centro do processo de ensino-aprendizagem, é enfatizado como principal
34
instrumento de avaliação a auto avaliação (FREIRE, 1999). No tocantes às relações
sociais entre os alunos na aulas de Educação Física, Freire (1999), afirma:
[...] não podem ser avaliadas a não ser levando-se em conta os aspectos qualitativos das relações, ou seja, uma análise qualitativa daquilo que o professor observa nas relações entre as crianças, inclusive nas verbalizações entre elas e com o professor. E aí nem tudo pode ser medido (FREIRE, 1999. p. 198).
Desse modo, entendendo que o aluno é o centro do processo de ensino-
aprendizagem, sendo o professor apenas mediador desse processo, é muito utilizada
a auto avalição, uma vez que o que realmente importa são as sensações; o que, de
fato, interessa é saber se a atividade foi ou não prazerosa para o aluno.
A avaliação fica restrita à esfera subjetiva, e não a objetividade do trabalho
pedagógico, retirando a dimensão da intencionalidade pedagógica do professor, pois,
nem sempre o processo de ensino é prazeroso, mas deve ser garantidor dos
conhecimentos necessários para que ser humano domine os conteúdos no processo
de escolarização.
Assim, o professor não assume a responsabilidade de garantir o ensino, mas
de ofertar às crianças atividades divertidas que impliquem em resultados
motivacionais. Essa pode ser uma dimensão do trabalho, mas não pode ser restritiva,
deve ser uma consequência das atividades desenvolvidas. Pois, existem momentos
que a criança precisa se concentrar para ler, escrever, ficar em silêncio para realizar
uma tarefa, o que não vai gerar sensação imediatamente prazerosa, mas que, no
futuro, lhe garantirá uma condição elevada para explicar um fenômeno.
4.4 AVALIAÇÃO NA PROPOSIÇÃO CRÍTICO-SUPERADORA
Na Proposição Crítico-Superadora, privilegia-se a avaliação do processo de
ensino-aprendizagem, onde, de acordo com o Coletivo de Autores (1992),
[...] para compreender isso é necessário considerar que a avaliação do processo ensino-aprendizagem está relacionada ao projeto pedagógico da escola, está determinada também pelo processo de trabalho pedagógico, processo inter-relacionado dialeticamente com tudo o que a escola assume, corporifica, modifica e reproduz e que é próprio do modo de produção da vida em uma sociedade capitalista, dependente e periférica (COLETIVO DE AUTORES, 1992. p. 98).
35
A reflexão pedagógica acerca do processo de ensino-aprendizagem considera
alguns aspectos, que são: o processo histórico, as condutas humanas, as práticas
avaliativas, as decisões em conjunto, o tempo pedagogicamente necessário para a
aprendizagem, a compreensão crítica da realidade, o privilégio da ludicidade e da
criatividade, as intencionalidades e intenções, a nota enquanto síntese qualitativa e
reinterpretação e redefinição de valores e normas (COLETIVOS DE AUTORES,
1992).
Cabe ressaltar que, nesta proposição, a avaliação deve sempre dialogar com o
objetivo, visando descobrir se este foi alcançado plenamente, parcialmente ou se ele
não foi alcançado. Na abordagem crítico, o professor também é mediador do processo
de ensino-aprendizagem, porém, diferentemente da proposição construtivista, a
mediação acontece noutra perspectiva.
Na Proposição Crítico-superadora, a mediação acontece, portanto, na
perspectiva vigotskiana, com intencionalidade, com o objetivo de elevar as
capacidades psíquicas do aluno.
Assim, desde o início, a avaliação faz parte do processo pedagógico, pois ela
é uma categoria moduladora e que precisa ser destacada, não no sentido de
classificar quem melhor, ou pior nem de punir o aluno que não conseguir alcançar,
num tempo pedagógico determinado, aquilo que foi proposto pelo professor, mas de
verificar o grau de desenvolvimento da aprendizagem destes e, a partir desse
diagnóstico, direcionar a prática pedagógica a fim de propiciar que todos se
desenvolvam por igual.
Desenvolver por igual não significa que todos terão o mesmo grau de
desenvolvimento, mas que terão garantido a apreensão de um conhecimento
específico. Portanto, todos aprendem, mas em condições diferenciadas, haja vista que
cada ser humano tem um nível de aprendizagem.
36
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o objetivo de responder ao seguinte problema de pesquisa: qual é o eixo
central defendido pelas proposições Construtivista e Crítico-superadora,
considerando os pares dialéticos conteúdo-método e objetivo-avaliação no trabalho
pedagógico do professor de Educação Física na escola? Constatamos que a
proposição construtivista tem seus pressupostos filosóficos assentados no
Positivismo, no que diz respeito à fundamentação teórica, uma vez que o
desenvolvimento da criança é entendido sob o ponto de vista da lógica formal; e na
Fenomenologia, no que se refere ao processo de ensino-aprendizagem, e isso se
expressa de forma tal que o aluno é o centro desse processo, entendendo que, na
Fenomenologia, há uma hipervalorização do sujeito em detrimento do objeto.
Constatamos, também, que o construtivismo fundamenta-se na psicologia
cognitiva, por via dos trabalhos de Jean Piaget, enquanto psicologia educacional,
entendendo que o desenvolvimento da criança acontece através de uma lógica de
processos maturacionais. E, no que se refere às teorias educacionais, a proposição
construtivista fundamenta-se na escola nova, considerando o aluno como o centro do
processo de ensino-aprendizagem, onde o professor é apenas um mediador desse
processo. Percebe-se, então, que o escolanovismo nutre-se na psicologia cognitiva,
e ambos no Positivismo e na Fenomenologia.
Em contrapartida, a proposição crítico-superadora fundamenta-se no
materialismo histórico-dialético, enquanto matriz filosófica, onde esta reconhece as
qualidades da lógica formal, mas, também, os seus limites e, portanto, dá os devidos
saltos com vistas a superar tais limites.
No que diz respeito à psicologia educacional, a Proposição Crítico-superadora
fundamenta-se na psicologia histórico-cultural, a qual defende que o aluno se
desenvolve não através de processos maturacionais, mas, sim, por meio do acesso à
cultura, ou seja, de tudo aquilo que produzido pela humanidade, ao longo da história.
Essa é a mesma defesa da pedagogia histórico-crítica, na qual a Proposição Crítico-
superadora se fundamenta enquanto teoria educacional, onde é afirmado que a
educação existe, pois, para propiciar o acesso à cultura, a tudo o que foi
historicamente produzido pelo conjunto homens e, consequentemente, propiciar o
desenvolvimento humano. Aqui, a mediação também acontece, porém noutra
perspectiva; na perspectiva vigotskiana, com intencionalidade no sentido de elevar as
37
capacidades psíquicas do aluno. Cabe ressaltar que a psicologia histórico-cultural e a
pedagogia histórico-crítico nutrem-se no materialismo histórico-dialético.
Foi constatado, também, que a proposição construtivista não considera os
pares dialéticos, o que nos fez concluir que este seja um dos aspectos limitantes dessa
abordagem, haja vista a importância de se considerar as relações dialéticas existentes
entre as categorias do trabalho pedagógico, entendendo que um influencia e,
sobretudo, determina a condição do outro para o desenvolvimento da pratica
pedagógica.
Assim, a discussão entre o Construtivismo e a Proposição Crítico-superadora
nos levou a concluir que a Educação Física na escola pode ter sentidos e significados
diferentes, onde o que determina essa condição é a fundamentação teórica utilizada
pelo professor, sendo que as proposições possuem concepções de mundo e de
homem diferentes, e esses são fatores que determinam o trato com a Educação Física
na escola.
Desse modo, para a Crítico-superadora, onde o objeto de estudo é a Cultura
corporal, com objetivo de apreender a pratica social, o conhecimento deve ser tratado
de forma espiralada para ampliação das referências e a avaliação deve ser realizada
de maneira formal e informal, a fim de elaborar uma nova síntese. Já para o
construtivismo, que tem conteúdo central o jogo como meio para desenvolvimento da
criança e deve ser desenvolvido em situações experimentais para sua própria
construção do conhecimento, o objetivo de desenvolver as estruturas mentais e a
avaliação ocorre através da observação do envolvimento da criança, bem como, é
enfatizado como principal instrumento de avaliação a auto avaliação.
38
REFERÊNCIAS
COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do Ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992.
DARIDO, S. C.; RANGEL, I C. Educação Física na Escola: implicações para a prática pedagógica. – [reimpr.] – Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.
FACCI. M. G. D. A críticas às pedagogias do “aprender a aprender”: a naturalização do desenvolvimento humano e a influência do construtivismo na educação. In Marsiglia. A. C. G. Pedagogia histórico-crítica 30 anos. Campinas: Autores associados, 2011.
FREIRE, J B. Educação de Corpo Inteiro: teoria e prática da Educação Física. São Paulo: Scipione, 1992.
FREITAS, L. C. de. Avaliação Educacional: caminhando pela contramão. 3ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011. (Coleção Fronteiras Educacionais).
______. Crítica da organização do trabalho pedagógico e da didática. Campinas:
SP, Papirus, 1995.
GIL, A. Como elaborar projeto de pesquisa. 4ª edição, São Paulo S.A 2002.
HARVEY, D. A condição Pós-moderna. São Paulo: Loyola, 1992.
LEONTIEV, A. O desenvolvimento do psiquismo; [tradutor Rubens Eduardo Farias]. 2. ed. São Paulo: Centauro, 2004. P. 279-302.
LIBÂNEO, J. C. A democratização da escola pública: a pedagogia crítico-social dos conteúdos. São Paulo: Loyola, 1987. MINAYO, M. C. S (org.); DESLANDES, S. F; GOMES, R; Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 29 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2010.
Marsiglia. A.C. Martins. L. M. As perspectivas construtivistas e histórico-crítica sobre o desenvolvimento da escrita. Campinas Autores Associados, 2015.
OLIVEIRA, Ai A. B de. Metodologias Emergentes no Ensino da Educação Física. Revista da EDUCAÇÃO FÍSICA/UEM 8(1):21-2 ,1997.
ROSSLER, H. J. Construtivismo e alienação: as origens do poder de atração do ideário construtivista. In: Duarte. N. (orgs). Sobre o construtivismo. Campinas: Autores Associados, 2005.
SAVIANI, Dermeval. Educação: do senso comum à consciência filosófica. 16 ed.
Campinas, SP: Autores Associados, 2009.
______. Escola e Democracia: teorias da educação. 36 ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2003 (Coleção polêmicas do Nosso Tempo; vol. 5).
______. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. 8 ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2003.
39
VIGOTSKI. L. V. El instrumento y el signo en el desarrollo del niño. Madrid, Fundanión Infancia y Aprendizage, 2007.