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Psicologia do Trânsito

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FATORES PSICOLÓGICOS QUE IMPLICAM NA AÇÃO DO CONDUTOR E O DESAFIO DA EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO1

Leni de Souza Barros2

RESUMO: Este artigo visa verificar os fatores psicológicos que implicam na ação/comportamento do condutor e interferem significativamente no dia-a-dia, no ambiente, na família e, logicamente, no trânsito. Assim, o desafio da educação para o trânsito se torna uma tarefa ainda mais árdua e desafiadora. É indiscutível a necessidade de se melhorar a Educação para o Trânsito, pois é clara a quantidade de acidentes que ocorrem pela falta de prudência dos motoristas. Há necessidade de se promover e conscientizar a população para que haja comportamentos humanos mais seguros no trânsito. Pois, para realizarmos o ato de conduzir precisamos que a nossa capacidade física e mental esteja em ordem para que não coloquemos a nossa vida e a de outros em risco. Apesar de muitas mudanças e melhorias com o novo Código de Trânsito Brasileiro, o Brasil ainda tem muito que investir na educação voltada para o trânsito. O problema está em identificar os problemas psicológicos existentes e fazer com que este candidato procure ajuda profissional antes de iniciar o processo que resultará na sua CNH e se inserir num trânsito que já está problemático no Brasil e que necessita de uma intervenção rápida e eficiente.

Palavras-chave: Psicologia; trânsito; educação; comportamento humano no trânsito.

ABSTRACT: This article aims at to verify the psychological factors that imply on behavior of driver that a lot interfere significantly on day-by-day, in the environment, on family and obviously, on the traffic. Such, the challenge of traffic education becomes very difficult and hard. It is very important make better traffic education, therefore the amount of accidents is clear happened because of bad drivers. It has necessity promotion and conscientiousness populations for safe behaviors in the traffic. Then, for drive the car we need to be perfect body and mind, because we can put in danger our live and live of other peaples. Even though many change the subject on the new brazilian code traffic, Brazil still has much that to invest in the traffic education. The problem it is to find psychological problems and make sure this person go to professional help before your driver license and include on the problematic brazilian traffic that it needs a fast and efficient intervention. Key words: psychology, traffic, education, human behavior on the traffic.

Introdução

Os fatores psicológicos que implicam na ação/comportamento do condutor

interferem significativamente no dia-a-dia, no ambiente, na família e, logicamente, no

1 Artigo Científico orientado pelo professor ms. Antonio Carlos Thonny e depositado como requisito para obtenção do título de especialista em Metodologia e Didática do Ensino Superior, pela Faculdade de Informática de Ouro Preto do Oeste, mantida pelas Escolas Unidas de Ouro Preto do Oeste. 2 Autora do artigo, Psicóloga, Perita Examinadora de Trânsito, Pós-graduanda em Metodologia e Didática do Ensino Superior.

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trânsito. Assim, o desafio da educação para o trânsito se torna uma tarefa ainda

mais árdua e desafiadora.

É indiscutível a necessidade de se melhorar a Educação para o Trânsito, pois

é clara a quantidade de acidentes que ocorrem pela falta de prudência dos

motoristas. Há necessidade de se promover e conscientizar a população para que

haja comportamentos humanos mais seguros no trânsito. Pois, para realizarmos o

ato de conduzir precisamos que a nossa capacidade física e mental esteja em ordem

para que não coloquemos a nossa vida e a de outros em risco. Assim, devemos

pensar no papel do psicólogo como um importante interventor na busca de novas

maneiras para que haja a prática psicológica adequada neste vasto campo de

trabalho que é zelar, também, pelo bem estar social, pessoal e atuar onde as

necessidades da sociedade exigem.

Apesar de muitas mudanças e melhorias com o novo Código de Trânsito

Brasileiro, o Brasil ainda tem muito que investir na educação voltada para o trânsito.

Números alarmantes têm nos perseguido como num grito de socorro, esperando por

soluções que tardam. Nesse sentido, Thielen (2005) afirma que no Brasil em 2002

foram registradas 18.877 vítimas fatais e 318.313 vítimas não fatais de acidentes de

trânsito. Já, de acordo com a ABRAMET (2007) nas rodovias estaduais de São

Paulo somadas com federais registram 492 acidentes por dia. O quadro é tão grave

que, somente em 2006, nas rodovias estaduais de São Paulo, foram registrados

70.603 acidentes, com 35.024 feridos e 2.191 mortos. São consideradas as

melhores estradas do país mas registraram 193 acidentes por dia. Nas rodovias

federais pavimentadas, em todo território nacional, foram 109.278 acidentes com

66.066 feridos e 6.116 mortos. Somando somente as rodovias federais com as

estaduais de São Paulo, temos 492 acidentes por dia, 277 feridos e 23 mortos. É

quase 1 morto por hora e 1 ferido a cada cinco minutos, sem contar os dados das

rodovias estaduais e municipais de todos os demais estados do país", acrescenta o

Coordenador do SOS Estradas.

Nós, psicólogos, precisamos elaborar mais propostas de intervenção na área

da saúde pública e contribuir para o avanço desta.

Pelo fato de trabalhar com a Avaliação Psicológica de Candidatos à CNH,

percebo que muitos candidatos têm problemas psicológicos e não têm consciência

de sua condição, ou se têm, mesmo assim, querem ou necessitam de suas CNH’s.

O problema está em identificar os problemas psicológicos existentes e fazer com

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que este candidato procure ajuda profissional antes de iniciar o processo que

resultará na sua CNH e inserir-se num trânsito que já está problemático no Brasil e

que necessita de uma intervenção rápida e eficiente.

Melhorar o trânsito brasileiro a partir de uma educação voltada para os

aspectos psicológicos implícitos neste contexto representa um cuidado maior com a

formação do condutor, com a vida de todos que participam deste trânsito e com a

saúde pública de nosso país.

Ter indivíduos mais saudáveis, física e psicologicamente, no trânsito, significa

uma melhor qualidade de vida, pessoas mais conscientes do “eu-individual” e do

“outro” enquanto “sociedade” e estará saindo de uma situação egocêntrica para uma

vida inserida num contexto social.

Hoffmann (2003) descreve que o ambiente de trânsito mostra ao motorista o

que ele deve ou não fazer, e que, um dos comportamentos importantes é a tomada

de decisão frente às condições variadas a que nos submetemos, inesperadas ou

emergentes à situação de trânsito. Assim, podemos perceber que o fator psicológico,

o estado emocional do condutor, é um componente imprescindível no momento

desta tomada de decisão.

De acordo com o CTB, Art. 76º, a educação para o trânsito será promovida na

pré-escola e nas escolas de 1º, 2º e 3º graus, por meio de planejamento e ações

coordenadas entre órgãos e entidades do Sistema Nacional de Trânsito e de

Educação, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, nas

respectivas áreas de atuação. Ou seja, a competência esperada do Estado não se

verifica no dia-a-dia, pois, de acordo com o que vivenciamos esta não é a realidade,

ou não ocorre com a freqüência com que deveria, pois os acidentes continuam em

grande número. É preciso uma intervenção mais concreta, assídua, rotineira,

freqüente e decisiva, além de uma análise objetiva de suas condições de existência

(educação para o trânsito) e de funcionamento para que, de fato, haja uma

significativa alteração nas estatísticas de acidentes, sejam eles com vítimas ou não.

Não há como não associar a condução de um veículo ao estado emocional do

condutor. Quando o condutor está atrás de uma direção é como haver uma junção

entre ambos, homem = máquina, máquina = homem. Pois, para alguns, segurar na

direção de um veículo é como tomar o poder em suas mãos, ganhar a liberdade ou

até mesmo, ter uma arma em suas mãos. Assim, o psicólogo pode atuar na

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prevenção dos fatores que levam ao acidente e nos conflitos associados a ele

(medo, angústia, ansiedade, nervosismo, raiva etc).

O motivo de estudarmos os fatores psicológicos que implicam no

comportamento humano no trânsito Asch (1977, p.64) explicita bem quando

descreve que “muitos processos internos, que influenciam a ação, não são

representados na consciência”. Ou seja, são de natureza inconsciente, e um fato

desses deve ser de competência para tratamento psicológico. Daí se dá a

necessidade de se estudar esses fatores que influenciam e alteram a vida do

indivíduo e em sociedade, e contribuir com a promoção de ações que visam o bem-

estar individual e coletivo.

Educação para o Trânsito é promover cidadania, é contribuir para o

desenvolvimento da sociedade e melhorar a convivência, o senso coletivo.

Para se estudar um fato complicado como o trânsito é preciso decompô-lo em

seus elementos, identificá-los e descrevê-los, para então, estudar as formas pelas

quais se poderá intervir de maneira construtiva, visando o bem-estar humano e a

forma de melhor convivência em sociedade.

Definição de Trânsito e o CTB

Existem várias definições para o trânsito, mas todos concordam que dele

participam pessoas, veículos, animais e é uma questão social e política a se tratar.

De acordo com DENATRAN (2006) o CTB – Código de Trânsito Brasileiro

define Trânsito como a movimentação e imobilização de veículos, pessoas e animais

nas vias terrestres.

Tonglet (1999) diz que a realidade do trânsito se dá pelo movimento,

circulação, afluência de pessoas ou de veículos que seguem manifestações volitivas

individuais.

No trânsito, os acontecimentos são democráticos e inclui todas as pessoas

sem distinção de classe social, religião, política ou de educação. É uma questão de

atitude social que envolve pessoas, grupos e classes, sendo os três principais

subsistemas o homem, a via e o veículo (Rozestraten, 1988).

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Vasconcelos (1985) define trânsito como uma luta pelo espaço, pelo tempo e

pelo acesso aos equipamentos urbanos - é uma negociação permanente do espaço,

coletiva e conflituosa. E essa negociação, dadas as características da nossa

sociedade, não se dá entre pessoas iguais: a disputa pelo espaço tem uma base

ideológica e política, depende de como as pessoas se vêem na sociedade e de seu

acesso real ao poder. Nada mais que o princípio da alteridade e ascensão ao poder.

“Trânsito é um fenômeno público e coletivo e que a melhoria da qualidade de

vida no mesmo depende delas: motoristas e transeuntes” (Thielen, 2005, p. 4).

Para Rodrigues (2007) é preciso analisar o trânsito como funciona, como as

pessoas participam dele - pedestres, motoristas, passageiros -, quais são seus

interesses e necessidades. Considera que o trânsito é uma questão social e política,

e que pode ser uma luta pelo espaço e pelo tempo e reflexo de uma desigualdade

na própria sociedade, resultado de relações sociais e de poder que se manifestam.

Participar de um trânsito é ser um integrante ativo de uma negociação,

transação, de um relacionamento, é ser co-participante, é interagir com o outro, com

a sociedade, é ser político e cidadão.

No CTB, no Art. 147º, diz que o candidato à habilitação deverá submeter-se

a exames de aptidão física e mental, escrito, sobre legislação de trânsito, de noções

de primeiros socorros, conforme regulamentação do CONTRAN, e de direção

veicular, realizado na via pública, em veículo da categoria para a qual estiver

habilitando-se, realizados pelo órgão executivo de trânsito. Em nenhum momento,

no CTB é citado ou mencionado que deva fazer parte um trabalho de

conscientização quanto aos aspectos psicológicos envolvidos no ato de condução

automotora.

Para que tenhamos bons e conscientes condutores, precisamos que estes

tenham a consciência de seu estado emocional no ato de dirigir.

Da mesma forma que existe uma campanha para que não dirijam depois de

ingerir bebida alcoólica ou com sono, deveriam existir campanhas para que não

dirijam emocionalmente abalados, pois este, é tão prejudicial ao trânsito quanto um

condutor alcoolizado.

Os § 2º e 3º do Art. 147º refere-se aos exames de aptidão física e mental

onde diz que será preliminar e renovável a cada cinco anos, ou a cada três anos

para condutores com mais de sessenta e cinco anos de idade, no local de residência

ou domicílio do examinado (incluído pela Lei nº 9.602, de 1998), que incluirá o

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condutor que exerce atividade remunerada ao veículo e também os referente à

primeira habilitação (Redação dada pela Lei nº 10.350, de 2001). Seria este o tempo

correto para uma renovação dos exames, não sendo trabalhado os aspectos

psicológicos durante o processo de habilitação e renovação?

Num período de cinco anos um condutor pode sofrer um abalo emocional

capaz de interferir ou prejudicar sua maneira de conduzir colocando em risco outras

pessoas no trânsito. Além do que se sabe, muitos têm resistência em procurar um

tratamento psicológico, ou, como sugere Tonglet (1999, p.12) “muitos têm seu

primeiro contato com a Psicologia por intermédio da Avaliação Psicológica para

obtenção da C.N.H”.

Vale ainda complementar que muitos quando chegam para a avaliação

psicológica para obterem a CNH não têm idéia do que irão fazer nesta. Muitos não

sabem o papel de um psicólogo e que importância isso tem para o trânsito.

A Psicologia do Trânsito

A Psicologia do Trânsito é uma área, relativamente, nova e que tem se

desenvolvido muito no Brasil nos últimos anos.

Segundo Hoffmann (2003) a Psicologia do Trânsito nasceu em 1910 e seu

precursor foi Hugo Munsterberg. Trouxe os testes psicológicos para o campo do

trânsito com o objetivo de diminuir os acidentes por meio de uma testagem dos

candidatos a motorista em geral, “selecionando os indivíduos que apresentavam

capacidades atualizadas para desempenho intelectual, motor, racional e emocionais

satisfatórios necessários à operação de transitar” (2003, p.39).

Ainda, segundo Hoffmann (2003) houve um marco histórico na Psicologia do

Trânsito com o Dr. Reinier Rozestraten. É com este que a psicologia do trânsito

começa a se enraizar e ser amplamente difundida no Brasil.

A psicologia do trânsito é uma área que estuda, por meio de métodos

científicos empíricos, os comportamentos humanos no trânsito, assim como os itens

conscientes e inconscientes que os modificam. Segue ainda dizendo que o maior

causador de acidentes no trânsito é o comportamento humano, assim, devemos

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estudar as causas de seu funcionamento ineficiente e o que leva à disfunção do

sistema homem-veículo-via (Rozestraten, 1988).

Vale citar aqui um questionamento de Hoffmann, onde diz que, considerando

o participante do trânsito como causa e conseqüência da sociedade, do ambiente

social e físico, onde temos de procurar os antecedentes dos acontecimentos de

trânsito, especialmente a desobediência, erros, lapsos e demais comportamentos

que viram violações do código do trânsito e até, colisões, fatal ou não��(2003, p.51).

A resposta para esta pergunta é o papel da psicologia do trânsito.

O papel da psicologia deve ser desvelar e resgatar o sentido coletivo intrínseco às ações do ser no mundo. É resgatar o outro. É integrar a responsabilidade das ações individuais a partir de uma perspectiva coletiva. No trânsito não há possibilidade de escolhas individuais sem conseqüências coletivas, sempre as ações irão interferir no "outro", pois, como ensina a física, dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo (Thielen, 2005, p.8).

A Avaliação Psicológica

A avaliação psicológica está recebendo uma influência multidisciplinar do

trânsito e com isto apresentará novos caminhos assumindo um enfoque educacional,

formativo e preventivo. Considera ainda que a avaliação psicológica deva ser

encarada como uma etapa da formação do candidato à C.N.H. e como uma

alternativa de revisão sistemática das funções mentais do motorista profissional

(Tonglet,1999).

O objetivo do trabalho do psicólogo do trânsito, no que se refere à avaliação

psicológica dos candidatos à CNH, é detectar motoristas acidentógenos3 e retirá-los

do trânsito. Além de contribuir para repensar o comportamento do condutor e

proporcionar condições mais favoráveis para o enfrentamento do trânsito.

Tonglet (1999) considera que a avaliação psicológica, os testes, não podem

ser algo estranho ou alheio ao dia-a-dia do condutor, precisam estar em

3 Trata-se daquele condutor causador de acidentes em potencial. Refere-se conforme nova tendência a “criminosos do trânsito”. Vide Congresso da ABRAMET, em http://www.congressoabramet.com.br.

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conformidade com a realidade do trânsito como da função mental necessária a ser

utilizada no ato de conduzir um veículo.

Partindo deste pressuposto, faz-se necessário que a Avaliação Psicológica

não seja uma obrigação para o condutor, mas sim um auxílio para a manutensão de

sua CNH.

Fatores Psicológicos implícitos no ato de conduzir

São muitos os fatores psicológicos que inferem no ato de conduzir mas

faremos apontamentos sobre a atenção, a ansiedade, depressão, estresse,

agressividade ou estado de raiva, conflitos internos e fobias neste artigo.

O condutor em seu veículo no trânsito necessita de muita atenção,

concentração e direção segura, e entra em conflito com as características do

ambiente ao dirigir sob influência de substâncias psicoativas4, estressado,

emocionado, fatigado ou sonolento e se o condutor estiver atento ao seu mundo

interior, aos seus problemas, poderá diminuir, e muito, sua capacidade para

perceber e analisar os estímulos exteriores. Assim, perderá um pouco de sua

percepção da realidade, diminuindo seu reflexo, e provocar uma resposta

inesperada ou imprópria a um estímulo que poderá resultar num acidente de trânsito

ou mesmo, apenas, prejudicar o trânsito (Hoffmann, 2003).

Um dos fatores que interfere também no ato de conduzir é o estresse. Parot

(2001) define Estresse em psicologia como termo empregado para evocar as

múltiplas dificuldades que o indivíduo tem para enfrentar (os acontecimentos

estressantes da vida, também chamados acontecimentos vitais) e os meios de que

dispõe para administrar esses problemas (as estratégias de ajustamento).

Quando uma pessoa passa por um importante momento ou acontecimento

estressante a possibilidade dessa pessoa sofrer um acidente aumenta ou duplica,

mas que o estresse por si só não é um fator eficiente para provocar um acidente de

trânsito, pois o momento estressante depende da personalidade da pessoa e da

situação em que tal evento ocorre (Hoffmann, 2003).

4 . Refere-se às substâncias tóxicas como álcool, drogas, estimulantes, etc.

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Um condutor em certos momentos tem que utilizar sua atenção difusa, que é

a função mental que focaliza vários estímulos que estão dispersos no ambiente

fornecendo um conhecimento instantâneo para o indivíduo; em outro momento sua

atenção de maneira concentrada, que é a função mental que focaliza apenas um

estímulo dentre muitos dispondo de maior tempo para alcançar o nível de

assimilação da aprendizagem; e ainda em outro momento focaliza sua atenção

discriminativa que é a função mental que ao focalizar dois ou mais estímulos faz-se

necessário uma separação do estímulo de seu interesse para então emitir uma

resposta específica (Tonglet, 1999).

Para Parot (2001) a agressividade pode ser como a disposição permanente

para se engajar em condutas de agressão reais ou fantasiosas. Distingui uma

agressividade maligna, destrutiva, e uma agressividade benigna, em que a

combatividade se exprime pela competição e pela criatividade. Parot afirma que

agressividade, conforme as escolas de psicanálise, é como uma pulsão unitária e

independente, a projeção do instinto de morte ou de destruição (S. Freud) ou como

uma manifestação do desejo de poder sobre o outro e de afirmação de si (A. Adler).

Spielberger (2003) em seus estudos sobre Estado e Traços de raiva, diz que

raiva, hostilidade e agressão, às vezes, criam uma confusão conceitual. Para ele,

raiva é considerada geralmente como mais elementar que hostilidade ou agressão.

Raiva refere-se a um estado emocional que abrange sentimentos que variam desde

aborrecimento leve ou irritação até a fúria e raiva, que são acompanhados por uma

estimulação do sistema nervoso autônomo. A hostilidade tem uma conotação de um

conjunto de sentimentos e atitudes que motivam comportamentos agressivos e

frequentemente vingativos. Já a agressão, diferentemente da raiva e da hostilidade,

que são sentimentos e atitudes, refere-se a comportamentos destrutivos e punitivos.

Segundo estes conceitos, pode se verificar que qualquer uma dessas características

em alteração em um indivíduo pode causar danos à saúde (como distúrbios físicos).

Segundo Hoffmann (2003) sabe-se que poucas horas de sono faz com que

no indivíduo os reflexos ficam comprometidos pela baixa reação aos estímulos e

diminui a concentração, características estas importantíssimas para o condutor.

Complementa, ainda, que a sonolência causada pela insônia pode ser

desencadeada por muitos fatores: estresse, depressão, trabalho, ansiedade,

enfermidades, consumo de estimulantes, etc.

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Tonglet (1999, p.35) acrescenta que um motorista que esteja desanimado por conflitos internos, terá rebaixada sua motivação para dirigir e isso irá causar alterações na sua percepção, pois ele poderá não dar conta de perceber corretamente a sinalização de trânsito, ou mesmos de não vê-los no momento apropriado. Voltado para seus aspectos psíquicos, ele está investindo pouca energia no mundo externo e os estímulos de fora podem não atingir o limiar mínimo para ocorrer a estimulação dos receptores, que são as células nervosas especializadas, capazes de responder a estímulos específicos.

Hoffmann (2003) destaca que muitas pessoas desconhecem o fator de que a

depressão é uma alteração psicofísica e que pode causar diminuição da atenção,

alterações do sono, alterações na sua capacidade de tomada de decisão, diminuição

do campo visual e tendências suicidas. Estas capacidades são indispensáveis para

conduzir e não podemos, simplesmente, fechar os olhos às mesmas.

Parot (2001) define Ansiedade como uma emoção gerada pela antecipação

de um perigo difuso, difícil de prever e de controlar. Diz ainda que os distúrbios

ansiosos compreendem as fobias, as crises de angústia ou ataques de pânico, a

ansiedade generalizada, manifestações obsessivas e compulsivas, e a ansiedade

pós-traumática.

Conclusão

Asch (1977) diz que se deve observar um organismo em seu ambiente e que

o indivíduo é parte integrante desse ambiente, mas que, de certa maneira, separado.

Diz ainda que os nossos interesses e relações de dependência são medidos por

processos psicológicos como o “estímulo (grifo da autora), que é uma

transformação de condições de campo que exige um equilíbrio modificado” e

“resposta (grifo da autora), que é a ação para o restabelecimento do equilíbrio em

ação, que exige esforço e atenção”. Ou seja, de acordo com as diferenças

individuais, cada sujeito reagirá conforme a sua característica, recebendo o estímulo

e dando sua resposta que é, totalmente, individual e intrínseca.

Hoffmann (2003) afirma que a real produção de conhecimentos psicológicos

no trânsito, em união com o meio técnico-científico poderão proporcionar uma ampla

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visão deste fenômeno estabelecendo programas eficazes de humanização do

trânsito, prevenindo acidentes, etc., resultando num real benefício para a sociedade.

Portanto, concluímos que o bom motorista deve estar sempre vigilante,

atencioso ao trânsito, ter tranqüilidade, ser capaz de fazer julgamentos rápidos e

precisos, ter bom ajustamento da personalidade, ter controle sobre os medos e

conflitos, ter consciência de seu estado emocional, além de ter boa concentração. As

conseqüências lógicas dessas atitudes são comportamentos mais humanos no

trânsito, vida digna e o objetivo final da vida em sociedade: cidadania.

Para que a educação para o trânsito seja mais eficaz, deveria haver a

disciplina “Psicologia do Trânsito”, no curso realizado nos CFC’s, em que todos

esses assuntos pudessem ser tratados, ao menos, discutidos. Muitos ainda ignoram

esses aspectos e não sabem como tratá-los. E, levando em consideração que o que

se deseja atingir ou intervir, é o condutor, quanto maior for o conhecimento das

causas prováveis, origens, de um possível acidente, maior será a eficácia da

prevenção do mesmo.

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