28
Carlos Jaca 1 l. “Fazer dos Mortos Gente de Hoje” Oliveira Martins na 1ª Pessoa por Carlos Jaca ………………… Tempo para sofrer Por entre os vivos que morrem Saudando os mortos a viver…. “Plenário das Sombras”. F. M. de Menezes Falcão Não se pode afirmar que a obra de Oliveira Martins tenha caído no esquecimento e até a sua pessoa. No entanto, hoje, parece quase oficializado o facto de que só no decorrer de centenários de nascimento ou morte de grandes personalidades da vida portuguesa, haja uma maior tomada de consciência para relembrar homens que em parte foram absorvidos pelo século que os viu nascer e que tiveram a admiração e respeito dos seus contemporâneos. Nos últimos decénios, julgo que a memória colectiva não terá sido muito pródiga na atenção votada (ou devotada) à trajectória humana, social, cultural e política de Oliveira Martins, o mesmo não se podendo dizer da memória familiar e, felizmente, de um ilustre sector passado e recente da vida intelectual portuguesa. E mais, até estrangeiro. Refiro-me a Georges Le Gentil e Miguel de Unamuno. Houve tempo em que Oliveira Martins era uma referência obrigatória, e justificada, nos compêndios escolares. Assim, tomei conhecimento com o grande escritor, relembrando-o agora numa breve abordagem visando, essencialmente, a sua dimensão de homem, historiador e político.

“Fazer dos Mortos Gente de Hoje” - esas.pt Martins.pdf · De qualquer maneira, o mundo dos negócios, do deve e do haver, dos balancetes, do caixa e do razão, era para mim apenas

Embed Size (px)

Citation preview

Carlos Jaca 1

l. “Fazer dos Mortos Gente de Hoje”

Oliveira Martins na 1ª Pessoa

por Carlos Jaca

…………………

Tempo para sofrer

Por entre os vivos que morrem

Saudando os mortos a viver….

“Plenário das Sombras”. F. M. de Menezes Falcão

Não se pode afirmar que a obra de Oliveira Martins tenha caído no esquecimento e até a

sua pessoa. No entanto, hoje, parece quase oficializado o facto de que só no decorrer de

centenários de nascimento ou morte de grandes personalidades da vida portuguesa, haja uma

maior tomada de consciência para relembrar homens que em parte foram absorvidos pelo século

que os viu nascer e que tiveram a admiração e respeito dos seus contemporâneos.

Nos últimos decénios, julgo que a memória colectiva não terá sido muito pródiga na

atenção votada (ou devotada) à trajectória humana, social, cultural e política de Oliveira Martins,

o mesmo não se podendo dizer da memória familiar e, felizmente, de um ilustre sector passado e

recente da vida intelectual portuguesa. E mais, até estrangeiro. Refiro-me a Georges Le Gentil e

Miguel de Unamuno.

Houve tempo em que Oliveira Martins era uma referência obrigatória, e justificada, nos

compêndios escolares. Assim, tomei conhecimento com o grande escritor, relembrando-o agora

numa breve abordagem visando, essencialmente, a sua dimensão de homem, historiador e

político.

Carlos Jaca 2

O Homem e a Vida

Morri, “sem saudades do mundo” e só a profunda amizade que me liga ao Alberto

Sampaio e ao Antero de Quental, ambos já presentes neste espaço de cultura, fez com que

“regressasse” … E, já agora, aproveito para dizer que, também, me julgo com”direito à

indignação” e não só pelo facto da minha obra ter sido excluída dos programas escolares.

Reparem, há alguns meses (13/03/2004) o Vasco Graça Moura escrevia numa das revistas do

jornal “Expresso” o seguinte: Uma catedrática minha amiga, dizia-me há dias ter encontrado

um professor de Português que lhe falou de Oliveira Martins, “pensador do século XII”

(doze). Não comento!

É numa sociedade marcada pela instabilidade e sob o signo do sobressalto – as guerras civis

reacendiam-se e colocavam o país a ferro e fogo, primeiro com o

movimento popular conhecido pela revolta da “Maria da Fonte” e depois

com a formação das Juntas Revolucionárias do Reino sob o comando de

inspiração “setembrista” – que, em 30 de Abril de 1845, vim ao mundo

em Lisboa na Travessa do Pombal, a S. Bento, hoje Rua da Imprensa

Nacional.

Conforme se encontra registado, recebi na pia baptismal da

Igreja de S.ta Isabel o nome de meu avô materno, figura tutelar da

família, Joaquim Pedro, Joaquim Pedro Ayres de Oliveira Martins, tendo como padrinhos Nossa

Senhora e meu tio-avô materno Dr. Ayres Barbosa de Figueiredo.

Originário de uma família da média burguesia urbana, com algumas raízes do lado materno

na pequena aristocracia rural do sul do Tejo, eu era o terceiro de uma prole de nove filhos, dos

quais apenas vingariam seis – Francisco Maria, o mais velho, Maria Bárbara, Maurício Cândido,

Guilherme Augusto e Maria José.

Meus pais eram Francisco Cândido Gonçalves Martins, oficial da Junta de Crédito Público

e pequeno proprietário, e Maria Henriqueta de Morais Gomes de Oliveira, filha do Desembargador

Joaquim Pedro Gomes de Oliveira, que duas vezes foi ministro de D. João VI e membro do

Governo do Reino em 1820, até à Constituição das Cortes em 1821.

Os primeiros anos de vida passei-os, juntamente com meus irmãos, entre Lisboa e o velho

casarão da família materna, a Quinta dos “Castanhos”, em Vila Nogueira de Azeitão, onde viviam

o meu tio morgado, Agostinho de Oliveira e o seu “clan” familiar. Também aí viviam as minhas

tias, filhas do meu avô Desembargador, conhecidas em Azeitão pelas “Senhoras Conselheiras” e

em casa das quais tomaria os primeiros contactos com os segredos da leitura e tabuada, ensino que

Carlos Jaca 3

me foi ministrado por Frei Bernardino, um pobre e simples irmão arrábido, que ali vivia desde a

extinção das Ordens Religiosas.

Em Azeitão vivia-se o encontro entre a tradição e os ventos de mudança. Estes primeiros

anos decorreram sem sobressalto e sob a influência dum meio familiar complexo, onde ao mesmo

tempo se confrontavam as ideias marcadas pelo vago legitimismo apostólico de meu tio

Agostinho, a memória liberal moderada de meu avô e a tradição pequeno-burguesa dos avós e tios

paternos.

Aos onze anos (1856) fiz provas finais da instrução primária com “perfeito

aproveitamento”, matriculando-me em 31 de Outubro na Academia de Belas-Artes, onde havia

sido admitido na aula de Desenho Histórico como aluno voluntário. De seguida, habilitei-me para

o exame de Gramática Latina no qual obtive aprovação “unânime”, matriculando-me em 1857 na

Secção Central do Liceu Nacional de Lisboa.

Durante a frequência deste último estabelecimento de ensino granjeei sólidas amizades, que

haviam de manter-se ao longo da minha breve existência, como foi o caso de Sousa Martins, que

viria a ser um celebrizado médico, João Maria Edmond Plantier, cujo pai seria o editor das minhas

primeiras obras e, ainda, João Calvet de Magalhães.

No referido ano de 1957 abatera-se sobre Lisboa a catástrofe da epidemia da febre-amarela.

Depois das guerras e da instabilidade era a doença, pavorosamente mortífera, que avançava e se

apoderava da cidade.

Em nossa casa quase todos foram

atingidos pela enfermidade, em estado

preocupante. Meu pai tentou, teimosamente,

resistir à doença, mas o coração e os pulmões

estavam já seriamente afectados. Perto do Natal,

a 14 de Dezembro, meu pai morre, repetindo o

verso do Salmo 31, invocado por Jesus no

Calvário: “Pai nas tuas mãos encomendo o meu

espírito”. Tinha quarenta e cinco anos e deixava

minha mãe e seus filhos em situação de grave

carência económica.

Estavam, assim, destruídos os sonhos de

me tornar engenheiro militar e de prosseguir o

ensino regular.

Se era verdade que fora obrigado a interromper os estudos regulares, o certo é que em todos

os momentos que podia aproveitar dedicava-me à leitura, noite alta, apaixonado pela economia,

Carlos Jaca 4

pela história e pela sociologia. Apesar de tudo nunca viria a abandonar, como autodidacta, os

estudos técnicos, em paralelo com a minha paixão literária.

A este propósito, não deixa de ser curiosa a opinião de um escritor do século passado –

Manuel Mendes (1906-1969) quando, convictamente, considera ter sido a falta de recursos

materiais que me defendeu de um dos piores perigos da nossa cultura, “pois até do mal se tiram

vantagens”. Considera Manuel Mendes que, como já acontecera a Alexandre Herculano, eu, pouco

ou nada teria ficado a dever ao ensino oficial… “nem um nem outro frequentaram a monástica

Coimbra, e por isso não mamariam o leite grosso e indigesto da nossa cultura tradicional. Eis por

que, talvez a ambos, foi dado também encarar e estudar os nossos problemas sociais, políticos e

culturais, com uma visão mais livre e esclarecida, sem o peso de mil preconceitos e vícios de

educação”.

Sob este ponto de vista, parece-me que Manuel Mendes não tomou em linha de conta as

honrosas excepções e… que não foram poucas. Para além de muitos outros, uma boa parte da

“Geração de 70” passou por Coimbra, só que … mamaram por outra “teta”.

Já agora, devo dizer que tinha, julgo, ideias bem definidas e sólidas sobre um ensino oficial

antipedagógico e que soava a falso, e que nada tinha a ver com o que se passava além-Pirineus.

Visando, particularmente, o ensino secundário, escrevia em 1873 na minha obra “Portugal e o

Socialismo”:

“A instrução secundária, constituída como está e engrenada no sistema geral dos estudos,

produz estes três resultados:

1) Atrofiar as faculdades intelectuais das crianças pelo abuso do exercício da memória;

2) Materializar-lhes a inteligência e afastá-las do estudo pelo processo mecânico e

exterior de ensinar buscando sempre as fórmulas, as datas, os nomes, as definições, em

vez de procurar a razão de ser de tudo isso; substituindo à ciência a sua tecnologia, da

mesma forma que na religião se substituía à ideia o símbolo frio e deificado;

3) Considerar o estudo, não como um fim mas como um meio; estudar não para aprender

mas sim para fazer exame; resultando finalmente desta série a esterilização moral e

intelectual das gerações”.

Hoje por hoje, e a este propósito, não será de todo descabido aceitar que, “se non e vero e

bene trovato”.

Terminado o ano lectivo de 1857-58 fui obrigado a abandonar os estudos e a procurar

meios de subsistência, ganhando para mim e para os meus o “pão que o diabo amassou”.

Apesar de neto do Desembargador Joaquim Pedro Gomes de Oliveira a situação da minha

família era modesta.

Assim, aos quinze anos incompletos, começa para mim a dura experiência da vida, ao

entrar para a casa comercial “Gruis & Companhia” como praticante de escritório.

Carlos Jaca 5

Em breve, porém, me vi forçado a procurar colocação mais segura e vantajosa, o que

consegui na firma “Ellicott, Abreu & C.ª”, dedicada ao comércio dos vinhos da Madeira, onde em

pouco tempo obtive a total confiança e estima dos patrões. Chamavam-me por amizade e simpatia,

o “Oliveirinha”.

De qualquer maneira, o mundo dos negócios, do deve e do haver, dos balancetes, do caixa e

do razão, era para mim apenas um meio de angariar o sustento. Apesar de todo o meu empenho no

trabalho que me estava destinado, progredindo na prática comercial, arranjava meios de, e não

obstante a minha débil saúde, fazer noitadas de autodidáctico estudo, embrenhando-me na

literatura, na filosofia e na história. Através de obras adquiridas com o pouco que conseguia

amealhar e das muitas que os meus amigos me iam emprestando, tomava contacto com um mundo

intelectual em profunda transformação. Era o fim do romantismo, e um conjunto de novas

aspirações, de novos ideais, de novos problemas, de desafios diferentes colocavam-se à Europa,

que se ia industrializando a um ritmo cada vez mais rápido e avassalador.

Antes, porém, de me lançar nesse mar vasto e revolto das ideias novas encontrei um

Mestre, cuja obra e cujo exemplo me animam nos primeiros passos da formação intelectual.

Tratava-se de Alexandre Herculano, cuja obra histórica, poética e romanesca me prende e

influencia profundamente. A obra histórica do Mestre atrai-me particularmente, torna-se para mim

o caminho que me permitirá a compreensão dos clássicos e da História, levando-me a Carlyle, a

Guizot, a Tierry e a Michelet, ou a Momsen… Mas, a pouco e pouco, ver-me-ia crítico da

perspectiva de Herculano, sem perder o fascínio pela personalidade e pela força do exilado de Vale

de Lobos.

Com dezassete anos, posso afirmar que já estava possuído duma maturidade invulgar,

construída na dureza da vida e na luta contra a adversidade. Com meu irmão Francisco sustentava

a casa e a família, o que exigia um esforço muito grande, sobretudo a quem dava os primeiros

passos numa profissão insuficientemente remunerada e com perspectivas pouco realizadoras para

um jovem que, como eu, sentia o apelo das Letras.

Por esta altura, conheci uma jovem de ascendência inglesa com mais alguns anos do que eu

– Vitória de Mascarenhas Barbosa – por quem me apaixonei. O amor é correspondido e ambos

pensámos no casamento, apesar de ter menos de vinte anos e dos meus enormes encargos

familiares.

Durante o namoro procurei criar condições que me permitissem constituir família e não

deixar desamparados minha mãe e irmãos. Com todas as dificuldades consegui-lo-ia no início de

1865 e, assim, com dezanove anos, na Igreja de Santa Maria de Belém, caso-me em 10 de

Fevereiro com Vitória, que me acompanhará constantemente até aos últimos momentos da minha

existência. Profundamente religiosa, vivíamos em perfeito entendimento e recíproca tolerância,

nunca me opus à prática das suas devoções, nem ela procurou intervir nas minhas ideias.

Carlos Jaca 6

Foi neste período que dei início à minha produção intelectual, trazendo a público “Febo

Moniz”, romance histórico de intenção política, em torno da então candente questão do Iberismo,

a que aderira, e ainda o opúsculo “Teófilo Braga e o Cancioneiro e o Romanceiro Português”,

para além da colaboração dispersa no “Jornal do Comércio” e na “Revolução de Setembro”.

O “Febo Moniz” (1867) romance histórico marcado pela influência de Herculano, não é

bem recebido. Reconheço ser frágil literariamente, tendo pouca originalidade formal, a mensagem

não é clara. Assim, mais tarde, considerei esse romance dos meus vinte anos como uma obra

relativamente menor, não o tendo incluído depois no elenco das minhas obras, retirando-o do

mercado.

Não se prolongou por muito tempo a situação de relativa estabilidade que conseguira

alcançar. Tendo falecido, entretanto, um dos sócios da casa onde me empregara, esta entra em

liquidação obrigando-me a procurar novo modo de vida.

A situação é ultrapassada quando, pouco depois, me é oferecida colocação em Espanha – o

lugar de Administrador das Minas de Santa Eufémia, perdidas nas faldas da Serra Morena, na

província de Córdova. O convite formulado devo-o a Henry Ellicott. Sabidas as minhas aptidões

profissionais e os meus conhecimentos de engenharia, adquiridos pelo autodidactismo, bem como

a situação de desemprego em que me encontrava, compreende-se a escolha e a aceitação da

responsabilidade.

É neste período que antecede a minha partida para as minas de Santa Eufémia que entro

para o “Cenáculo”, famoso grupo onde pontificavam Antero de Quental e José Fontana; embora

ausente do País, fui um dos doze signatários do programa das Conferências do Casino, datado de

16 de Maio de 1871. Da mesma época, por influência de Antero e José Fontana, é a minha adesão

ao socialismo.

As minhas relações de amizade com Antero datam de 1870, fins de Fevereiro, ou princípios

de Março.

Quanto a essa profunda amizade não irei alongar-me, porquanto já o Alberto Sampaio e o

próprio Antero a deixaram bem vincada nos respectivos depoimentos ao suplemento Cultura do

“Diário do Minho”.

Quando, primeiro, o conheci, já o período da extravagância juvenil havia passado. Era um

rapaz sedutor, como nunca encontrei outro. Em volta dele, os amigos ouviam-no fascinados pela

sua palavra quente, mas sem ênfase, pela sua facilidade de improvisador, pela sua “vis” cáustica,

em que o azedume, porém, se substituía pela ironia e pela “charge” até, nessas intermináveis

palestras, quando as noites passavam rápidas, como instantes. Deviam ser alguma coisa semelhante

aos diálogos dos atenienses, fora as ceias e as Aspásias. Eram banquetes de inteligência pura.

Tive sólidas amizades. Fazia parte do grupo famoso dos “Vencidos da Vida”, e sabe-se

como os homens desse grupo cultivavam entre si e fina flor da Amizade. Antero foi querido por

Carlos Jaca 7

toda a “Geração de 70”. Fui, porventura, o seu melhor amigo, mas ele pagava-me na mesma

“moeda”.

Apesar das diferenças existentes, que se foram atenuando com o evoluir do tempo e do

pensamento, seríamos, desde o momento em que nos conhecemos até à separação (motivada pelo

seu suicídio), dois íntimos companheiros de lutas e angústias.

De origens geográficas, de formação didácticas e de temperamentos diferentes, ambos

percorremos caminhos totalmente diversos, que lentamente foram coincidindo.

Porém, a amizade que Antero me dedicava, nunca o impediu de dizer-me aquilo que se lhe

afigurava ser a verdade a respeito das minhas

obras literárias. E, eu, nunca me abespinhei

com a circunstância do meu querido amigo me

criticar, apontando-me erros que deveria

corrigir.

Eram duas amizades indestrutíveis que

o tempo teve o condão de fortalecer e

aprofundar, num mundo de intrigas e mal-

entendidos, de inveja e de ambições.

Antes de partir para as minas de Santa Eufémia, onde me fixei a partir de 3 de Agosto, os

amigos tentaram afastar-me da ideia, considerando-a uma perigosa aventura, não só pela minha

debilitada saúde e de Vitória, mas também pela crise aberta pelo derradeiro e desastrado golpe do

Marechal Saldanha, a “saldanhada”.

Considerava-se, ainda, a instabilidade ibérica e até a esperança, dos meus amigos do

“Cenáculo”, numa rápida instauração republicana… Todos os argumentos foram utilizados, mas

não podia trocar a luta política incerta, por uma ocupação que me exigia o sacrifício do

afastamento. As pesadas obrigações familiares motivaram essencialmente a escolha, que não

deixou de ter sido difícil e dura.

Enquanto estive em Espanha, funcionário

de uma empresa mineira, entendi ser meu dever

estudar a engenharia, porque além da vontade,

possuía “também um espírito ansioso de acção

útil”…

O dia passava-o ocupado com os trabalhos

burocráticos ou técnicos da mina, as noites dedicava-as à leitura, ao estudo e à reflexão. O que não

pudera aprender nas escolas oficiais, aprendi ali, como autodidacta ávido do saber. Ainda assim,

encontrei tempo para, conjuntamente, com a minha esposa, dedicar-me à missão de ensinar a ler os

filhos dos mineiros e até os próprios mineiros analfabetos.

Carlos Jaca 8

Quotidianamente contactava com cerca de quatrocentos mineiros cujos problemas e

angústias procurava partilhar e resolver. Estava ali em presença da classe operária, não de um ente

mítico, abstracto ou idealizado das obras dos utópicos, mas de uma realidade palpável, complexa e

heterogénea. Esse convívio obriga-me a aprofundar ainda mais a minha reflexão sobre o

socialismo, o que vai levar a interessar-me cada vez menos pelas discussões intermináveis do

regime político-monárquico ou republicano. As condições materiais do operariado e as injustiças

de que é vítima, enquanto classe, preocupam-me profundamente.

Educado na dura escola da vida, através de uma aprendizagem, por vezes, dolorosa, não

esqueci a lição aprendida, e isto levou-me à compreensão humana da vida do operário, quando as

reivindicações dos trabalhadores não passavam de utopias.

Foi o relacionamento, o calor humano com os humildes que me proporcionou a amizade

profunda dos mineiros de Santa Eufémia. Essa amizade manifestou-se, de modo muito

significativo, no dia em que deixei a administração das minas. Os operários tiveram grande

desgosto, nesse dia ninguém foi ao trabalho: “Um enorme cortejo formado pelas crianças,

mulheres e homens precedia, pelas veredas da Serra Morena, os seus protectores, durante o

percurso que separa Santa Eufémia da estação de Almaden, causando assombro tão imponente

manifestação”.

Acredito que, com a minha saída, todo o pessoal das minas de Santa Eufémia perdia um

amigo verdadeiro.

Durante a minha estadia em Santa Eufémia, colaborei nos vários jornais que os amigos vão

lançando, “Pensamento Social”, “Democracia”, “República Federal” e publiquei

sucessivamente, “Camões, os Lusíadas e a Renascença”, “A Teoria do Socialismo” e

“Portugal e o Socialismo”.

A experiência migratória fora um recurso momentâneo, do qual procurei libertar-me logo

que surgisse uma hipótese de regresso definitivo à pátria.

A ocasião desejada surgiu logo em 1874, quando Henry Ellicott e o Barão Kessler me

convidaram para dirigir, com eles, a construção do caminho-de-ferro do Porto à Póvoa de Varzim.

Daí a fixação de residência na cidade do Porto, primeiro na Boavista e depois na célebre “Casa da

Pedra” nas Águas Férreas, muito frequentada e celebrada pelos meus amigos.

Entre 1874 e 1876 decorrem as obras da via férrea, que me ocupam inteiramente o tempo.

Há problemas técnicos a solucionar, torna-se indispensável acompanhar, fiscalizar, corrigir e

garantir minuciosos estudos de terrenos e trajectos. Não apenas estudava e acompanhava a

concepção técnica, mas também ia ao terreno, percorrendo toda a extensão da linha em construção,

para que tudo decorresse da melhor maneira.

Carlos Jaca 9

Em 1876 assumi a direcção da linha de caminho-de-ferro, lugar que desempenhei durante

doze anos, até 1888. Neste lugar comecei por criar uma caixa de Socorros Mútuos para o pessoal,

procurando, deste modo, pôr em prática muito daquilo que defendia teoricamente.

Terminadas as tarefas eminentemente técnicas iria, agora, iniciar-se um novo período da

minha vida. Neste retiro de Águas Férreas realizaria o maior e o melhor da minha obra. De 1877 a

1888 escrevi mais de uma dezena de volumes, além da colaboração assídua em jornais. À

publicação de obras novas tinha que juntar a tarefa das reedições, pois algumas em breve se

esgotavam, dada a curiosidade e o interesse que os meus escritos, provavelmente, despertavam.

Da minha actividade como historiador e da minha participação na política activa falarei a

seu tempo, acautelando, desde já, que, por motivos óbvios, qualquer dessas actividades não poderá

ser alvo de grandes especulações, especialmente a primeira, a de historiador.

Para além dos assuntos literários, estudava economia e finanças, procurando compreender o

País nos seus problemas e nas suas energias disponíveis.

Assim, em 1878, participei no concurso aberto pela Academia Real das Ciências sobre a

concepção do melhor sistema de circulação fiduciária. Elaborei uma memória de duzentas páginas,

acompanhada de inúmeros anexos e notas, quadros e justificações. O resultado não poderia ter sido

mais brilhante – fui eleito sócio da Academia Real das Ciências de Lisboa, e recebi a medalha de

ouro, distinções conferidas por decisão do júri do concurso a que apresentara a memória

“Circulação Fiduciária”.

A obra tem sólida fundamentação, debruçando-me sobre “a moeda”, “as crises de emissão”

e “as organizações bancárias”. No essencial a “Circulação Fiduciária” é um libelo acusatório

contra o livre-cambismo e contra uma economia especulativa de “pés de barro”. O princípio do

sistema deveria estar na separação do comércio e do serviço bancário, limitando o primeiro ao foro

da liberdade individual ou da responsabilidade do direito comum… o banco central deveria ser o

regulador do crédito e da circulação, o que permitiria acabar com os defeitos perversos de

especulação e promover a organização do sistema financeiro.

No ano seguinte iniciei a Biblioteca de Ciências Sociais, esclarecendo no prospecto que a

anunciava, destinar-se “a vulgarizar entre nós conhecimentos essenciais à vida de uma nação,

destina-se não só ao público em geral, mas também ao ensino secundário, que é o alicerce

indispensável da sólida ilustração de um povo. […] Alheia a todo e qualquer ponto de vista

partidário”, o seu objectivo primacial consistia em “generalizar entre as classes médias

portuguesas uma ordem de conhecimentos que, sem ofensa dos nossos brios, se pode dizer

ignorarem”.

A colecção dividir-se-ia em quatro grandes partes: a “Pré-História”, a “História”, a

“Civilização Peninsular” e as “Sociedades Contemporâneas”.

As manhãs e os serões eram inteiramente dedicados ao estudo e à elaboração das obras que

me comprometi a entregar periodicamente à Casa Bertrand. Às seis horas da manhã já estava à

Carlos Jaca 10

banca de trabalho, escrevendo quase sempre de pé, sentando-me só para fazer consultas e leituras.

Este primeiro período vai ininterruptamente até ao meio-dia, altura que fazia uma pausa, para

tomar uma refeição, depois da qual me dirigia para a sede da Companhia dos Caminhos-de-Ferro

do Porto à Póvoa de Varzim situada perto de minha casa. Ao serão tinha, por vezes, visitantes.

Antero e Lobo de Moura são convivas assíduos.

Entretanto, surge por iniciativa da imprensa portuense o lançamento das bases da fundação

da Sociedade de Geografia Comercial do Porto, por ocasião do tricentenário de Camões (Junho

de 1880). Fundada na redacção do “Jornal das Viagens”, a iniciativa apontava para uma

afirmação económica das províncias do Norte, procurando fomentar os estudos e a união de

esforços a realizar nesse sentido. Fui convidado para presidir à nova Sociedade, se bem que na

altura da decisão me encontrasse acidentalmente em Lisboa a tratar de assuntos ligados ao

caminho-de-ferro do Porto à Póvoa, de que então era director.

Aceitei a incumbência e iniciei funções na sessão de 11 de Julho, na qual foram

reafirmados os objectivos a prosseguir pela nova agremiação. Para além de criar escolas de

geografia comercial que preparassem futuros empresários, o problema da industrialização

preocupava-me. Na Sociedade de Geografia Comercial do Porto empenhei-me na elaboração dum

extenso e fundamentado relatório sobre a situação industrial no Norte de Portugal onde se

sustentam teses proteccionistas e se defende a necessidade de um arranque industrializador,

condição essencial para o melhor aproveitamento dos recursos e das riquezas.

Efectivamente, em 1881, apresentei ao Governo o “Relatório da Comissão de Inquérito

Industrial”, relatório esse que me obrigou e aos meus companheiros da Comissão a um enorme

esforço, porquanto tratava-se de um trabalho de grande envergadura. Pois tudo isto foi feito sem

qualquer remuneração pecuniária, porque largamente me considerava pago por se me ter

proporcionado o ensejo de estudar e mostrar ao governo a situação precária das nossas indústrias,

apresentando os alvitres a seguir para a remediar.

Tudo isso, repito, foi feito desinteressadamente. Colaborei no inquérito, posso dizê-lo com

um certo orgulho desculpável, com dedicação e amor. Nada pretendia, porque não me ocupava da

política, nem era fabricante: nada queria para mim, desejava apenas ser, de algum modo, útil à

minha infeliz terra. A satisfação de um dever cumprido era a única retribuição condigna de

trabalhos da natureza desses.

Assim, não admira que me tivesse magoado de me terem acusado de receber gorda

remuneração por tal trabalho. Doeu-me, e nem a mim só, quando se disse terem-nos pago não sei

quantas libras ao dia, a nós que não recebemos um ceitil.

Em 1883 e 84 prestei boa parte da minha atenção ao Museu Industrial e Comercial do

Porto, para cuja directoria fui nomeado por António Augusto de Aguiar, trabalhando para a sua

instalação. Elaborei, ainda, um plano de conjunto sobre a criação de outros museus do mesmo tipo,

Carlos Jaca 11

encarados como núcleos de estudo e de difusão de progresso e de inovação. Devo dizer que exerci

o cargo gratuitamente, como, aliás, aconteceu com muitas outras tarefas públicas por mim

desempenhadas.

Agosto de 1887 é um mês agitado. Os ecos da questão bancária ainda se faziam sentir, ao

mesmo tempo que rebenta a questão dos tabacos para a qual iriam estar frente a frente três

posições possíveis para a sua solução política. No seio do Governo rebentava, assim, mais uma

fonte de discórdia entre o Presidente do Ministério, José Luciano de Castro e o titular da pasta da

Fazenda, Mariano de Carvalho.

Nesse mesmo ano de 87 sou eleito deputado pelo Porto, tendo, no ano anterior, recusado o

Ministério da Agricultura por razões que, para já, aqui e agora, não interessa divulgar.

Corria o ano de 1888 quando deixo o Porto e instalo-me com “armas e bagagens” em

Lisboa, no 1º andar da casa onde morava o Ramalho Ortigão, ao Bairro

Alto, na Rua dos Caetanos, e assumi a direcção de “O Repórter” onde

substituí Manuel Pinheiro Chagas. Aí passei a escrever diariamente um

comentário sobre questões políticas, económicas ou pedagógicas. Eça,

Ramalho, Fialho de Almeida, António Cândido, Guerra Junqueiro, Luís

Magalhães, Maria Amália Vaz de Carvalho, Lobo d’Ávila, Conde de

Ficalho e outros, eram os fundistas concedendo uma qualidade

acentuada ao Jornal. Juntando-se-lhes os nomes de Antero, Jaime

Magalhães Lima, Alberto Sampaio e Rocha Peixoto constatava-se que

tinha comigo a elite intelectual do País.

No entanto, continuei a manter intensa actividade nas comissões parlamentares,

privilegiando a defesa da indústria nacional e dos direitos dos trabalhadores.

Ao findar o ano de 1888 aceitei a Administração da Régie dos Tabacos. A situação

desastrosa da empresa teria levado o próprio Rei, e depois o Governo, a indicar o meu nome para

resolver tão grave situação, com o argumento de que eu tinha sido um dos defensores mais

acérrimos da situação que veio a ser adoptada.

Perante a notícia, os ataques não se fizeram esperar: os Regeneradores e os Republicanos

vieram com a argumentação de sempre, a que juntaram o vencimento de 75.000 réis mensais,

qualificado como principesco; outros jornais diziam que se tratava de obra do Mariano de

Carvalho (Ministro da Fazenda) para me comprometer, “acabando com a fama das suas (minhas)

capacidades”.

A campanha veio, porém, a ser diluída pelos factos, porquanto a minha administração se

viria a revelar bem positiva: procurei aliar os interesses do Estado com os dos operários, que era o

que sempre tivera em vista.

Carlos Jaca 12

Era este o primeiro serviço público que eu prestava recebendo retribuição. Se aceitei este

lugar em tais condições foi porque me pesava ter consumido tão grande parte das minhas forças, e

não ver garantido o meu futuro e, portanto, o dos meus. Começava já a sentir-me cansado e a

pensar que má sorte me esperava se a doença me vencesse.

Em 1890 representei o Governo em conferências internacionais: Conferência

Internacional de Berlim e Conferência de Propriedade Industrial (Madrid), e, na ressaca do

“Ultimatum”, impugnei na imprensa os termos do tratado anglo-luso de 20 de Agosto, em escrito

que viria a reunir no ano seguinte, em “Portugal em África” (1891).

Neste mesmo ano, em 24 de Fevereiro, realizei uma conferência no Ateneu de Madrid,

integrada no quarto centenário do descobrimento da América. Essa conferência foi proferida em

língua castelhana, com o título “Navigaciones y Descubrimientos de los Portugueses anteriores

al viaje de Colón”.

No dia seguinte, o jornal espanhol “La Epoca” dava relato do acolhimento que o público

me fizera: “A concorrência era a das noites de gala no Ateneu: as letras como as artes, a política

e ciência, estavam brilhantemente representadas. Para onde quer que se olhasse via-se um homem

ilustre. Já antes de se apresentar, o conferencista fora ovacionado (…). Mas, ao apresentar-se, a

ovação foi doutro género, ressoou tão larga e forte salva de palmas que parecia não ter fim”.

Todo o mundo oficial e particular me recebeu festivamente, considerando-me mais do que

na minha própria terra. A Real Academia de História fez-me seu sócio – honra tanto mais

significativa quanto é certo só ter sido concedida a dois estrangeiros: Momsen e César Cantu.

Reconhecido, o Ateneu de Madrid elegeu-me sócio, e o Governo espanhol agraciou-me

com a Grã-Cruz do Mérito Naval… Só em Portugal não tive nunca uma simples portaria de

louvor!

Emílio Castelar, Canovas del Castillo e Sanchez Moguel consideraram a minha presença na

capital espanhola como algo de extraordinariamente importante no estreitamento das relações

ibéricas, o que os levou a lançar a entusiástica ideia de uma Liga Ibérica que teria no embaixador

português Conde de Casal Ribeiro também um defensor.

Entretanto, a Régie dos Tabacos é extinta e substituída pela solução do monopólio, por

virtude das enormes dívidas contraídas pelo Governo em relação a Henry Burnay e pelas inúmeras

pressões exercidas para que a solução “socializante” fosse revogada. Nomeado para a comissão

liquidatária rejeitei a indicação, com o argumento de que não desejaria perder o lugar de deputado.

Tratava-se, porém, dum pretexto visto que, essencialmente, o que eu desejava manifestar era o

meu desacordo pela solução adoptada.

A indústria é entregue em monopólio ao banqueiro Burnay. Obrigado de novo a ganhar, na

incerteza do dia de amanhã, e com o suor do rosto, o pão diário, mais de uma vez me passou pela

cabeça emigrar – porque a filosofia é excelente, mas antes disso é mister viver. E viver para mim,

Carlos Jaca 13

que não tinha riqueza, nem ofício, nem profissão definida, era um problema, querendo, como

queria, conservar-me limpo e … conservei!

O Historiador

Se hoje ser juiz em causa alheia é o “cabo dos trabalhos”, também não é muito confortável

sê-lo em causa própria.

Já referi, anteriormente, que o faria de forma muito breve, não entrando pela via das

grandes considerações e tentando ser o mais isento possível.

Naturalmente não deixará de ser algo subjectiva uma análise,

breve que seja, nestas condições, porém, convenhamos que

passado mais de um século, essa apreciação terá, forçosa e

honestamente de ser mais fria.

De qualquer modo poderão dispor, hoje, de diversos

autores de reconhecido mérito ainda que apenas em relação a

aspectos parcelares da minha obra; tal é o caso de António José

Saraiva, como antes já tinha sido o de António Sérgio.

Existem, ainda, inúmeras biografias, com diversas

dimensões e ópticas, onde naturalmente a perspectiva crítica

surge apenas traçada ou esboçada. Nestes termos a bibliografia

disponível é rica.

O certo é que continuo, ainda, a ser tema de debates e de polémicas, por vezes tão acesas

que as pessoas se esquecem que pertenci a uma geração que atingiu a sua maturidade há mais de

cem anos. Diga-se, porém, em abono da verdade, que hoje já se assiste a uma discussão mais

serena do que aquela que se desenvolveu quando ainda estavam abertas as feridas da oposição

republicanismo- monarquismo.

Por ser justo recordo aqui especialmente a elevação intelectual e cívica de António Sérgio,

que desde o primeiro momento que estudou a minha pessoa o fez com verdadeiro espírito crítico

(algumas vezes severo), abandonando a predominância dos temas que tinham menos a ver com a

minha obra e comigo do que com a intriga de grupo ou de capela…

Apesar de ser meu sobrinho-neto, Guilherme d’Oliveira Martins, o que foi Ministro, num

ensaio biográfico que elaborou, recusou-se a seguir qualquer tipo de panegirismo ou de

justificação sistemática para os meus erros e incoerências. Esses existiram e não podem ser

escamoteados, como também não é possível cair na conclusão doentia daqueles que, por facilidade

preferem optar por ver só negrume e treva no meu pessimismo. E mais: onde alguns vêem

negrume e treva pode ver-se o apontar veemente de caminhos que não têm sido seguidos, e que

foram (e são-no, hoje) sucessivamente adiados.

Carlos Jaca 14

Se o meu sobrinho-neto tivesse traçado uma hagiografia ou um retrato intocável não

quadrariam, porém, com a minha obra, a minha vida, a minha personalidade e a minha

existência… Eu seria o primeiro a recusá-los – a honestidade sempre esteve na “massa do sangue”

da nossa família.

Como historiador pretendi apresentar um tipo de história ao alcance das massas populares,

procurando explicar as grandes mutações e lutas sociais do presente em termos históricos. Este

novo estilo de história acabaria, inevitavelmente, por suscitar larga polémica, porquanto uns a

rotularam de “história artística, outros de história explicativa, outros ainda de história sem valor

histórico”.

Com o “Helenismo e a Civilização Cristã”, obra de interesse filosófico profundo,

publicada em 1878 e dedicada a Antero de Quental, fiz a minha estreia como historiador.

Precisamente na introdução desenvolvi o meu conceito de

história – como ciência obedecia a leis, mas havia factos que

estavam fora do império dessas leis. E se as excepções são mais

numerosas na história do que em qualquer outra ciência positiva,

isso resulta do “lugar superior, por mais complexo, que a

história ocupa na hierarquia das ciências”. A história

caracteriza-se pela multiplicidade dos casos fortuitos e assim à

sua linguagem não bastavam a precisão e a clareza; “é mister

sentir e adivinhar”.

O historiador não reproduzirá a vida nem a sociedade, se

não lhe for possível “combinar no seu espírito o raciocínio que

descreve, a intuição que vê, e a alma que sente”. Este processo que, por vezes, traz algum realce

às minhas deduções não deixa de ser, no entanto, reconheço, um dos defeitos das minhas obras

históricas.

Com o “Helenismo” procurei explanar uma determinada visão do processo evolutivo das

sociedades humanas, relacionando-o com os fenómenos religiosos e com a procura de um sentido

racionalizador desse processo.

Entre 1879 e 1885, publiquei as obras que me consagrariam como historiador: “História

da Civilização Ibérica”, “História de Portugal”, “O Brasil e as Colónias Portuguesas”,

“Portugal Contemporâneo” e “História da República Romana”.

Já referi que à publicação de novas obras tinha de aliar a tarefa das reedições, pois algumas

facilmente se esgotavam.

A “História da Civilização Ibérica” é, como o “Helenismo”, uma dissertação ou ensaio,

ou mais propriamente, um misto dos dois processos, o ensaio e a narrativa.

Carlos Jaca 15

A “História da Civilização Ibérica” é para mim o estudo do sistema de instituições e de

ideias da sociedade peninsular e a exposição da sua vida colectiva orgânica e moral.

Sobre a “História da Civilização Ibérica”, permitam-me recorrer às palavras do grande

Miguel Unamuno, gravadas no seu livro “Por tierras de Portugal y de España”: “A sua

“História da Civilização Ibérica” deveria ser um breviário de todo o espanhol e de todo o

português culto, e não devia haver tão pouco um hispano-americano, dos que tão frequentemente

buscamos na nossa história e nossa casta os antecedentes das suas, que não conhecesse esse livro

admirável”.

A “História da Civilização Ibérica” é uma obra especial de entusiasmo e de crença nos

ideais peninsulares, na solidariedade dos povos ibéricos e nas suas virtualidades.

Do mesmo ano, Outubro de 1879, é a “História de Portugal”.

Em preâmbulo faço a seguinte advertência: “para caracterizar o que há de particular na

história portuguesa … resta fazer viver os seus homens e representar de um modo real a cena em

que se agitam: tal é o programa deste livro, cujas dificuldades de execução excedem em muito as

do anterior. Agora carece-se de faro especial da intuição histórica e dum estilo que traduza a

animação própria das coisas vivas. Toda a longanimidade (generosidade) do leitor será pois

necessária para desculpar as imperfeições da obra”.

Embora, antecipadamente, tivesse pedido desculpa para as eventuais imperfeições,

considero hoje, que, de facto, como obra histórica a “História de Portugal” tem erros, devidos à

falta de documentação, sempre demorada, e por isso mesmo incompatível com a rapidez, o calor

da improvisação; resultantes outros de algumas ousadas generalizações, partindo às vezes de um

facto secundário, que exaltava até ao característico de uma época. Daí a minha concordância com

António Sérgio (aliás, meu admirador e compilador devotado dos meus “Dispersos”), quando

afirma que a “História de Portugal” “não foi escrita com o critério a que se chamava histórico. A

verdade é que Oliveira Martins, prosador inspirado como poucos foram, só é um mestre

perfeitamente claro, com rigor de análise e seriação de ideias nos seus escritos de economia pura;

quando entra, porém, na concreta história, sente-se-lhe a riqueza e a pujança da sensibilidade e

da fantasia mas não há sequência, nem rigor, nem forma no senso crítico”.

Não fui um historiador no sentido rigoroso da palavra? Admito.

Em contrapartida há quem considere a “História de Portugal” uma admirável obra de arte,

cheia de movimento dramático, estuante de vigor e de vida, e que nenhum escritor português

possuiu, em tão alto grau, a faculdade de descrever interiores de alma.

De facto, parece haver unanimidade quando se diz que fui um excelente evocador, um

extraordinário historiador-artista, e que até terei sido pioneiro no campo da biografia histórica.

A expansão marítima e colonial portuguesa serviu-me de assunto ao “O Brasil e as

Colónias Portuguesas”, obra também integrada na Biblioteca da Bertrand e dada à estampa no

início de 1880.

Carlos Jaca 16

Nesta obra onde se encontra um longo excerto da Carta de Pêro Vaz de Caminha, debrucei-

me sobre a colonização da África e das Américas austrais.

Conforme salienta o Professor George Le Gentil fui o primeiro em Portugal a descobrir a

importância dos algarismos, das estatísticas.

Com efeito partiu de mim toda a sistematização da ciência portuguesa da colonização: a

diversidade de categorias das colónias e dos métodos, o estudo estatístico, movimento de

importação e exportação, das receitas das alfândegas, a história dos estatutos das companhias e da

legislação comercial, os orçamentos navais, etc.

Nesta obra, ao optimismo sobre as potencialidades do Brasil, contrapus uma funda reserva

relativamente ao futuro da acção colonizadora portuguesa em África. Esta apenas poderia tornar-se

eficaz se exercida por um país e por uma economia com capacidade industrial, com aptidões para a

criação de riqueza e para um melhor aproveitamento dos recursos, o que infelizmente não era o

caso… Os acontecimentos da década seguinte, o conflito com a Inglaterra e o incidente do Mapa

Cor-de-Rosa vieram confirmar as minhas preocupações.

O período do liberalismo foi a matéria do “Portugal Contemporâneo”.

Na advertência à primeira edição, vinda a lume em 1881, fazia questão em afirmar: “o

Portugal Contemporâneo sem ser miguelista nem liberal, nem cartista nem setembrista, nem

regenerador nem histórico, nem monárquico nem republicano, de certo não satisfaz à opinião

pública de nenhum grupo, ao sistema de nenhuma doutrina; mas por isso servirá melhor à

História, se o autor pôde desempenhar-se da tarefa concebida”.

Quando saiu, a obra sofreu, porém, críticas severas de quase todos os lados. Uns

consideraram-na miguelista por ser demasiado condescendente para com o rei absoluto, outros

acusaram o quase esquecimento da importância e do significado da Carta Constitucional de 1826,

outros ainda criticaram a insuficiente contundência contra o regime monárquico-parlamentar.

Enfim, houve críticas para todos os paladares e de quase todos os grupos ou capelas.

Ao longo de cerca de setecentas páginas retratei não só a evolução política e social

portuguesa durante quase cinquenta anos, mas também as variadas causas e manifestações de uma

fragilidade congénita da sociedade e de uma desorganização confrangedora dos poderes

políticos…

Tendo ao meu dispor maior e mais acessível abundância de documentos, esta obra foi sob o

ponto de vista histórico, mais informada, mais recheada de factos.

Efectivamente, para escrever o “Portugal Contemporâneo” utilizei fontes das mais diversas

origens, desde obras impressas até aos relatos das sessões parlamentares, imprensa da época,

correspondências oficiais ou diplomáticas e ainda testemunhos orais.

Porém, conhecendo o cenário, directa e indirectamente as pessoas, presenciando alguns

acontecimentos e baseado, em grande parte, nos jornais partidários, nos violentos panfletos e nos

manifestos facciosos da época, admito ter sido mais de uma vez severo ou me terei equivocado em

Carlos Jaca 17

algumas circunstâncias. Aliás, este pressuposto foi considerado, por mim próprio, na advertência:

“Andam vivos os monumentos da história actual, e mais de uma vez, de certo, muitos deles

poderão corrigir as afirmações, as opiniões formuladas. Oxalá o façam todos – oxalá possam

rasgar uma a uma as páginas tristes que pululam nesta obra!

Oxalá, com as suas rectificações, forcem o autor a moderar a melancolia dominante no seu

livro”.

A “História da República Romana”, último volume publicado pela Biblioteca de

Ciências Sociais (1885), porventura a obra onde melhor me revelo desenvolvendo um estilo a um

tempo plástico e dramático, apresenta uma sequência de retratos, descrições e narrações, que

frequentemente comento, interpreto, explico e comparo.

Tratava-se de uma história extensa, desde a lenda dos Reis, o Senado, o Tribunado da Plebe

e da igualdade política, até às conquistas, guerras púnicas, guerras civis e cesarismo, havendo

quem considere esta obra uma peça da cultura europeia.

O meu ingresso na prática política teria forçosamente de provocar um abrandamento, ou até

uma supressão nos meus trabalhos históricos.

Assim, “Os Filhos de D. João I”, publicado, inicialmente, em 1889 e 1890, na “Revista

Portugal”, fundada e dirigida por Eça de Queirós, saem a lume no ano seguinte, em edição

ampliada, corrigida e documentada.

Após ter exposto a minha teoria histórica e ensaiado uma interpretação crítica da história

grega, romana, ibérica e portuguesa, propunha-me demonstrar que a intervenção da personalidade

tinha sido na História de Portugal acentuado factor de progresso e de modelação social.

Efectivamente, fazer psicologia histórica foi característica principal da minha última fase de

historiador.

A “Vida de Nun’Álvares”, na sua composição, segue o plano de “Os Filhos e D. João I”.

Relato as convulsões políticas do interregno, destacando a figura do Santo Condestável, descrevo a

nova sociedade portuguesa depois da subida ao trono do Mestre de Aviz e procurei reconstruir

todo o viver de D. Nuno, desde o seu recolhimento abstencionista nas suas terras, até à sua

profissão monástica no Convento do Carmo.

Propunha-me ainda, se dispusesse de “saúde, de vida, de inteligência e de sossego de

ânimo, bastantes”, escrever três livros: A figura trágica de D. João II, o grande Afonso de

Albuquerque e D. Sebastião.

Carlos Jaca 18

O Político

Já nos últimos anos da minha vida, fiz uma rotação em sentido conservador, decidindo

entrar na política activa dentro dos quadros das agremiações partidárias do regime monárquico, ou

mais propriamente, no Partido Progressista, um dos grandes partidos que asseguravam o regime

entre 1851 e 1907.

Mantivera-me até então alheio à política constitucional e a toda a política directa, pois na

qualidade de republicano-socialista, era essa a referência da época, a minha acção fora meramente

doutrinária.

No entanto, também não deixei de considerar ser o Partido Progressista o melhor situado

para veicular as minhas ideias e desenvolver uma dinâmica de execução e realização do meu

programa. Por outro lado, tratava-se de um partido de tradição e carácter democrático nacional. E

mais, para mim o Partido Progressista era o herdeiro do “Setembrismo” democrático, o partido de

Passos Manuel e de Sá da Bandeira.

Acresce ainda, que na liderança desse partido pontificava o “velho” Anselmo José

Braancamp, homem com uma longa vida política, constituindo um vivo exemplo de isenção,

patriotismo, coerência e firmeza moral. A sua respeitabilidade não poderá ter deixado de exercer

notável influência na minha decisão, sendo pois pela mão de Braancamp que entrei no Partido

Progressista.

Fui apresentado ao Partido, onde grassava uma crise que se arrastava desde 1885,

justificando a minha entrada na prática política pela crise profunda vivida pelo País, que exigia um

empenhamento cívico em prol de reformas autênticas do revigoramento da economia e da

resolução do problema social.

O facto de ter descido ao terreno para tentar aplicar o meu ideário político, levantar-me-ia

uma série de críticas e ataques, com particular veemência do lado dos republicanos, que me

acusaram com todas as letras de “trânsfuga”.

Porém, não era apenas a hostilidade dos republicanos que se manifestava, era também a

frieza dos progressistas. Nem todos, claro.

Outros consideraram, ainda, que a minha atitude tinha sido inoportuna, sobretudo pelo

momento escolhido. Assim não pensava o Antero, quando confidenciou a seu primo, Sebastião de

Arruda: “O Oliveira Martins é o único homem político superior que temos, pois reúne a um

elevado carácter um saber vasto e não só teórico mas técnico, e um poder de trabalho

incomparável. Quando um homem dá um passo, como ele deu, o dever da gente séria ainda

quando o não aprove, é não o estorvar na sua tentativa, reconhecendo a pureza das suas

intenções. Os republicanos, porém, cobriram-no de insultos e imputações as mais baixas…”

Carlos Jaca 19

As variadas reacções à minha atitude, porém, não me incomodaria. Quanto à indiferença e à

frieza dos monárquicos, considerei-as como manifestações de resistência ao movimento rumo à

Igualdade e à Justiça, do mesmo modo que quanto à excitação republicana não era mais do que

uma tremenda incapacidade da parte do jacobinismo positivista para compreender as necessidades

das transformações estruturais da economia e da sociedade.

O certo é que a minha adesão ao Partido Progressista constituiu uma autêntica bomba nos

meios político-literários.

No início do ano de 1885, pouco antes de entrar no Partido, coligi e publiquei um volume

de artigos dispersos, “Política e Economia Nacional”, em cujo prefácio lancei os fundamentos da

“Vida Nova” e fundei o jornal “A Província” destinado a ser o órgão desse movimento político.

Tratava-se de um programa ambicioso e profundo. Em síntese, a “Vida Nova” propunha-se

reformar o País, reencontrando o projecto regenerador de 1820 e de 1834. No ponto a que as coisas

tinham chegado não havia remédio possível fora de uma vida nova, em que, pondo de parte

interesses e rivalidades pessoais e partidários, esquecendo as questiúnculas mesquinhas de

conventículos políticos, nos dispuséssemos sinceramente a meter as mãos à obra reformadora da

nossa sociedade; a dissipar por sua vez a ilusão cruel de que explorando por todos os modos o

Estado nos não explorássemos a nós mesmos. E mais, conforme confidenciei ao meu amigo Luís

de Magalhães, “uma nação em marcha para uma crise grave, não se salva com ideias formuladas

em livros: salva-se, sim, mas com ideias realizadas em actos.”

Subitamente, quando menos se esperava, Braancamp adoece gravemente e morre a 13 de

Novembro, abrindo, assim, mais um período de querelas e de jogos no seio dos Progressistas.

Procedendo-se à eleição no dia 10 do mês seguinte é eleito para a liderança do partido, José

Luciano de Castro, uma das mais manhosas “raposas” que actuou na política portuguesa no fim da

monarquia liberal. Político hábil e inteligente, mas demasiado habituado aos equilíbrios e aos

arranjos circunstanciais, mais do que às mudanças profundas…

No início de 1886 o governo regenerador vê-se a braços com dificuldades. Há

descontentamento, designadamente por causa das leis tributárias de Hintze Ribeiro, enquanto o

conflito entre o concelho de Guimarães e Braga está ao rubro, por via dos pesados encargos

lançados pela sede do distrito.

Em Fevereiro, Fontes Pereira de Melo solicita o adiamento da sessão parlamentar,

adiamento esse que o rei, D. Luís, recusa. O Governo não tem outra alternativa senão pedir a

demissão abrindo, na lógica rotativa, caminho à nomeação de José Luciano de Castro.

Neste cenário contava, logicamente, que me fosse confiada uma das pastas, ou melhor a

Fazenda, em consequência de acordo anterior com o chefe do partido. Aconteceu, porém, que a

pasta da Fazenda foi entregue a Mariano de Carvalho, um dos maiorais do partido.

Carlos Jaca 20

O Presidente do Conselho indigitado ainda me pôs a hipótese das Obras Públicas. Não

hesitei e declinei o convite, consciente do melindre da situação, porquanto sentia as más vontades

crescentes a meu respeito dentro do próprio partido.

Complicações de ordem política levaram José Luciano de Castro a propor-me a pasta da

Agricultura que ulteriormente seria criada e cuja gerência me seria entregue mais tarde.

Então, fechei-me nas Águas Férreas, rodeado de relatórios e estudos sobre o problema

agrícola, preparando-me para o que desse e viesse.

Em Março sou nomeado para presidir à comissão encarregada de elaborar um inquérito

agrícola nacional. Estaria deste modo em preparação o novo Ministério. Entretanto, fui eleito

deputado por Viana do Castelo o que, teoricamente, reforçava a minha condição de ministeriável.

Porém, o Conde de Casal Ribeiro é designado para presidir à comissão de análise dos

resultados do inquérito, cabendo-me a mim a coordenação da zona norte. A solução vai tendo

entraves. O Ministério da Agricultura continuava em “lista de espera”. Perante as delongas, pus o

lugar à disposição e respondi: Quem quiser que faça o inquérito, eu não o faço!”

José Luciano de Castro insiste que o ministério está para breve, voltando a questão a

Conselho de Ministros.

Percebendo que a minha subida ao poder era motivada por uma imposição e não por

vontade livre do partido, decidi não aceitar o convite, ficando sem efeito o decreto já lavrado, para

criação do referido ministério.

O boicote da dupla Emídio Navarro (Obras Públicas) – Mariano de Carvalho (Fazenda) era

mais do que óbvio. Um grupo de progressistas da “capela” de Mariano e Navarro enviaram,

mesmo, um abaixo assinado a José Luciano contra a minha entrada no Governo.

O Primeiro-Ministro colocou a questão da manutenção ou não do convite que me fora

formulado. Todos votaram favoravelmente, à excepção de Emídio Navarro e Mariano de Carvalho.

Nestas circunstâncias não havia outra hipótese e, assim, decidi-me pela recusa de entrar no

executivo, fundamentando-a em carta que enviei (2/7/1886) ao presidente do Conselho.

A intriga e chantagem venciam. Emídio Navarro e Mariano de Carvalho viam em mim um

rival e faziam-me má imprensa em Lisboa. Era, com efeito, um “vespeiro”, onde a minha lealdade

não sabia manobrar. No fundo, fui iludido e atraiçoado pela manha e velhacaria dos politiqueiros.

Após o jogo da “cabala” com a constituição do governo de José Luciano, o meu interesse

pela vida partidária diminuiu e as intrigas em torno da eleição para a Câmara do Porto só

agravaram esse estado de espírito.

Porém, em Março de 1887, há de novo eleições gerais. Os adversários tentaram torpedear a

minha candidatura, sofrendo mais uma vez a oposição tenaz de Emídio Navarro e Mariano de

Carvalho.

Aguardados os resultados do círculo nº 24 (Porto), as melhores previsões foram

ultrapassadas, tendo sido eleito sem dificuldades por número considerável de votos. O operariado

Carlos Jaca 21

votara maciçamente e o eleitorado tradicional progressista também acorrera à chamada. Esta

vitória também significava que as “raposas” jamais perdoariam, porquanto eu continuaria a lutar

contra os interesses negocistas e contra a politiquice mesquinha e soez.

Quando se falou do meu nome para a pasta da Agricultura e Emídio Navarro me

encarregou do inquérito rural, estudei a questão agrícola portuguesa, relacionando-a

essencialmente com o programa de acção contido na “Política e Economia Nacional” e com as

grandes linhas do meu pensamento expressas em diversas ocasiões.

Assim, na sessão de 27 de Abril de 1887, recém-eleito deputado pelo Porto, tomei a palavra

para apresentar o “Projecto de Lei de Fomento Rural”, no qual, ao longo de 284 artigos,

distribuídos por nove títulos, apresentei as traves-mestras de uma reforma estrutural de que o País

necessitava absolutamente.

Numa intervenção despida de quaisquer rodeios retóricos e centrado na análise do estado

das classes trabalhadoras rurais” e da corrente emigratória, pus diante da Câmara um diagnóstico

sobre a situação “em que se encontra o País (…), que parece contrastar

de um modo gravíssimo com aquele que se afigura a muitas pessoas,

que não olham além do perímetro da capital”. O mal era estrutural, logo

carecia de ser resolvido através de medidas de fundo que atingissem as

verdadeiras raízes da situação que, a meu ver, consistiam na defeituosa

distribuição populacional, na alta percentagem de terrenos incultos e nas

deficiências da distribuição do crédito.

O “Projecto de Lei de Fomento Rural” seria o meu plano de

governo, se tivesse sido governo.

António Sérgio, normalmente parco em elogios a homens e a livros chamou-lhe “uma

maravilha”

A despeito das qualidades e vantagens que Alberto Sampaio apresentava no meu programa,

sabe-se qual foi o destino desse projecto de lei. A Câmara dos Deputados não chegou sequer a

discuti-lo. A Câmara sepultou o projecto nas páginas do “Diário das Cortes” e… passou adiante!

A burguesia monárquica confirmava assim as razões do cepticismo que se havia

generalizado na sociedade portuguesa. Então, compreendi que não seria como deputado, ido da

província, que poderia interferir de um modo construtivo nos negócios do Estado.

No meu íntimo havia, ainda, alguma esperança nas possibilidades de levar a cabo o meu

vasto plano, parte do qual era expressão o “Projecto de Lei de Fomento Rural”. Por isso, e como já

disse, resolvi deixar o Porto e a minha posição à frente do caminho-de-ferro na Póvoa, instalando-

me em Lisboa, cidade onde nasci, e passando a dirigir “O Repórter” para orientar a política do

partido em época particularmente grave para o País.

Efectivamente, o ambiente da vida portuguesa ia-se complicando.

Carlos Jaca 22

Em 19 de Outubro do ano seguinte à minha fixação em Lisboa morre D. Luís. Nesse

mesmo dia fui chamado ao Paço pelo novo Rei, D. Carlos, a fim de considerar a hipótese de ser

nomeado Ministro da Fazenda, em virtude da fragilidade do governo de José Luciano de Castro.

Depois de reflectir, aceitei a proposta na condição de se inverter o sentido da política africana e

que António Enes fosse convidado para a Secretaria da Marinha e Ultramar, já que ambos

coincidíamos quanto à questão colonial. Acontece que António Enes recusa o lugar argumentando

que não lhe davam condições mínimas, nomeadamente para evitar o conflito com os britânicos.

Solidarizei-me com o meu amigo, pedindo apenas que me fosse concedida uma audiência para

explicar a D. Carlos a atitude tomada e… aconteceu o que, infelizmente, prevíamos.

Em 11 de Janeiro de 1890, a Inglaterra impõe o “Ultimatum”, golpe profundo para a

monarquia, de que a Revolução de 31 de Janeiro de 1891 viria a ser a primeira reacção.

O ano de 91 não terminaria sem que uma trágica ocorrência viesse causar-me um profundo

abatimento – o suicídio de Antero. Já não bastava a incompreensão política, o agravamento da

doença, a depressão psíquica, o pessimismo…

Os dias que se seguiram foram de luto pesado em nossa casa, tendo recebido dezenas de

mensagens de condolências. É que o Antero era e continuaria a ser sempre considerado da família.

Todos os amigos sabiam que era fraternal e intenso o afecto que nos ligava e que agora era

brutalmente interrompido.

Muito tempo depois, ainda não me habituara à realidade do Antero não estar vivo e de não

regressar um dia qualquer.

Toda esta inquietação me vai empurrar para uma intervenção política, que iria acelerar o

fim dos meus dias.

O “Ultimatum” de 11 de Janeiro derrubara o Ministério progressista de José Luciano de

Castro. Outros se sucederam, porém manifestaram-se impotentes para enfrentar e, muito menos,

resolver a grave crise. A braços com vultuosos défices orçamentais e de balança de pagamentos, os

sucessivos Governos foram tomando medidas que não eram mais do que simples paliativos.

A última depressão cíclica do século XIX verifica-se entre 1890-1892, surgindo

inicialmente em Inglaterra, onde a falência da casa bancária “Baring & Brothers”, com a qual

mantínhamos estreitas relações, atinge muitos interesses portugueses. E é precisamente em relação

com estes acontecimentos que se manifesta a mais violenta crise financeira do século, implicando

um longo ciclo depressivo que persistiu quase toda a década de 1890.

Os sinais deste desastre financeiro acumulam-se rapidamente, porquanto multiplicavam-se

as dificuldades dos bancos, que o Governo procura eliminar com financiamento através de

empréstimos, tornando-se patente as más aplicações de capitais. Surge a corrida aos bancos e em

Maio de 1891 decreta-se a inconvertibilidade temporária das notas bancárias, pouco depois tornada

definitiva. A crise de 1891 teve repercussões económicas importantes, originando uma acentuada

Carlos Jaca 23

contracção dos negócios, o encerramento de estabelecimentos, desemprego e a emigração de

muitos portugueses, que procuram assim a resolução da sua situação difícil.

O descalabro financeiro assustava todos os Portugueses, o ouro fugia do País em

abundância e os cupões (título de juro que faz parte de uma acção ou obrigação e que se corta na

ocasião do pagamento) da dívida externa eram o espectro que amedrontava os Ministérios. Em fins

de 1891 tudo levava a crer que o problema do cupão de Janeiro de 1892 provocaria a bancarrota e

com ela a subversão total da nacionalidade.

A situação era dramática, e não era qualquer um que se atreveria a encarar a crise e a tentar

deter a bancarrota iminente, empresa melindrosa por antecipadamente se ter a noção da

necessidade de medidas drásticas que pesariam acima de tudo sobre o contribuinte.

É precisamente nesta conjuntura que alguns políticos mais representativos, e até o próprio

Rei, me consideraram o homem capaz desse trabalho ciclópico.

Foi neste contexto que entendi a entrada para o Governo ser um dever imperioso da minha

consciência de português, tanto mais que em Outubro havia tomado compromisso verbal mas

solene com o Dr. José Dias Ferreira de só fazer parte de um Gabinete presidido por ele e

constituído por indivíduos sem responsabilidades nos actos por que tantos eram acusados na

Câmara dos Deputados.

Assim em conjuntura muito adversa, a 17 de Janeiro, aceitei a nomeação para a pasta da

Fazenda propondo-me equacionar os problemas e actuar com decisão, a fim de levar a efeito

qualquer coisa séria e não só de fachada.

Algo inexperiente em política, mas de boa fé, afinal viria a ligar-me, pela minha palavra,

com um homem, (autêntica “rábula”, como o classificou António Sérgio) afastado do Poder havia

anos e que alguns dos meus amigos tinham previsto nunca aceitaria a tutela de um político elevado

pela primeira vez aos conselhos da coroa, embora me reconhecessem capacidade de “limpar a

casa”.

De facto, Dias Ferreira, político rodado e conhecedor dos meandros altos e baixos da

Arcada e de S. Bento, havia forçosamente de impor a sua vontade e, eu, não possuía, minado pela

doença de que havia de falecer dois anos mais tarde, a energia serena para implantar a ditadura

financeira como 36 anos depois, outro lente coimbrão havia de fazer.

Durante os quatro meses que exerci o cargo o meu trabalho foi exaustivo, arquitectando um

plano para actuar em 3 fases: tomar medidas de ocasião para acudir aos apuros imediatos; proceder

à substituição dessas medidas violentas por outras mais suaves e equitativas; levar a cabo reformas

profundas, ou seja, uma actuação de longo prazo para estabilizar a situação económica e

financeira.

Infelizmente, não consegui ir além da primeira fase, e apenas tive tempo para tomar as

inevitáveis “medidas antipáticas”: corte de vencimentos, supressão de verbas orçamentais,

aumento dos impostos mais manejáveis, diminuição dos juros da dívida pública, início de

Carlos Jaca 24

negociações para um convénio com os credores internacionais, lançamento de um novo

empréstimo e adopção de medidas proteccionistas, à sombra da nova pauta aduaneira, em cuja

elaboração participei com João Franco.

Como diria mais tarde na Câmara dos Deputados, “o convénio e o empréstimo não eram

mais do que o prólogo indispensável para posteriormente (…) proceder à reconstituição do

organismo financeiro e económico português.”

Porém, cedo se fizeram sentir obstruções e impasses. A intriga tratava de desprestigiar o

Ministério (a baixíssima intriga tão nacional) e uma parte do Ministério, por seu turno, de me

desprestigiar. Quando quis demitir alguns funcionários, esbarrei na oposição dos meus colegas.

Dias Ferreira queria alijar quem lhe fazia sombra, não escrupulizando, para tal, em questão de

fórmulas e processos; e como o Rei, por bom princípio, só ouvia os chefes dos governos, vi-me

isolado – com os políticos, os burocratas e os argentários contra mim, num Portugal que, aliás, não

desejava, não entendia, não suportava naquele momento uma política de fundo e autêntica. “Devia

ter saído logo”, afirmaram alguns; se o houvesse feito acusar-me-iam de abandonar a empresa, de

não resistir à “guerra” até à última, etc., etc..

Empenhado na resolução do problema da dívida pública a credores estrangeiros, velho

cancro “fontista”, quando uma solução de emergência se entrevia já, uma tramóia do Chefe do

Governo, Dias Ferreira, deitou tudo por terra, impelindo-me à demissão.

Foi, de facto, a questão candente do pagamento do cupão da dívida externa que constituiu a

casca de laranja que fez tombar o Ministério da Fazenda.

Perante as exigências dos credores externos, na impossibilidade de se lhes liquidar os juros

devidos, estabeleceram-se negociações com a comissão de credores. A Câmara dos Deputados

havia dado luz verde para a negociação sem limitações nem exigências que, aliás, a situação não as

permitia. Dei as instruções convenientes ao nosso representante em Paris, António Serpa Pimentel.

Dias Ferreira discordou do processo e mostrando-se renitente, passou a tratar directamente

com Serpa Pimentel, sobrepondo-se ao meu Ministério.

Traumatizado pelos insultos recebidos a propósito das minhas medidas drásticas e agora

pelo enxovalho do Presidente, terminava a minha breve, amarga e incompreendida passagem pelas

cadeiras do Poder, demitindo-me a 27 de Maio.

No próprio dia em que deixei o Terreiro do Paço escrevi ao meu amigo Eça:

“José Maria do meu coração!

Emergi da cloaca ministerial!

Parto amanhã no “Magdalena” para

Inglaterra, onde tomarei algumas semanas

de ar…”

Assim foi.

Carlos Jaca 25

A viagem a Inglaterra, cujas impressões relatei na “Inglaterra de hoje”, foi uma

oportunidade para tentar espairecer os dissabores duma vida política praticamente terminada… No

regresso, passei por Paris onde abracei Eça de Queirós e… pela última vez. Os filhos do meu

amigo referiam-se a mim como o “oncle philosophe”.

Eleito deputado ainda ausente de Portugal, em 1893, voltei à Câmara dos Deputados

esclarecendo ponto por ponto, a trama de que tinha sido vítima, desfazendo uma por uma as

acusações que me haviam sido feitas e tinham por base, já o referi, a forma como conduzi o

convénio com os credores externos.

Longe de acusar, como muitos teriam feito, preocupei-me unicamente em defender-me e

demonstrar a honestidade dos meus actos enquanto Ministro, quando podia ter assumido a posição

de severo acusador remetendo-me, posteriormente, a um silêncio não isento de desdém.

As contas estavam saldadas! Mas o regime definhava progressivamente, incapaz de

resolver os seus próprios problemas.

Se eu tivesse vivido em época de maior estabilidade, quando ódios e paixões não

campeassem bravamente; se as questões de interesse público se encontrassem à frente de todas as

outras, relegando-se para um lugar remoto, ou até banindo-se por completo, as de interesse

meramente partidário, se o Liberalismo português não fosse oco e retórico ou simplesmente

demolidor, por certo a minha actuação política ter-se-ia feito sentir não apenas em extensão, mas

também em profundidade. Porém, o ambiente corrupto do tempo, carregado de electricidade dos

ódios latentes e das ambições desmesuradas, não se mostrava propício à prática de nobres ideais.

Era fatal: a minha obra tinha de cair e perder-se, mal chegando sequer a esboçar-se.

Eleito, entretanto, vice-presidente da Junta de Crédito Público entreguei-me de novo à

minha obra histórica, publicando então a “Vida de Nun’Álvares” e reunindo materiais para o

“Príncipe Perfeito”.

Nesse ano de 93 já ia sentindo que a minha vida não iria longe. As forças começavam a

minguar-me, precisando de ser auxiliado nos meus labores intelectuais.

A leitura facilmente me cansava, e já não podia, como antes, fazer os meus extractos dos

livros que ia lendo e que interessavam aos meus trabalhos de historiador. O ano acabava e eu

também estava perto do fim. A febre da tuberculose estava a minar-me. Todavia, não descansava,

o inveterado vício do trabalho não me largava.

Já entrado o ano de 1894 convidaram-me a tomar parte nas festas henriquinas. Escrevi

então o discurso, que por motivos de saúde não me foi possível ir dizer ao Porto, sobre o Infante D.

Henrique e que se encontra no final do 2º volume de “Portugal nos Mares”.

A morte rondava-me e eu rondava a ideia de não morrer sem escrever “O Príncipe

Perfeito”, para o qual andava juntando o máximo de elementos. A 16 de Março, tive, porém, a

primeira e grave advertência (uma pleurisia) de que a tuberculose não perdoaria.

Carlos Jaca 26

Dez dias depois da crise, que me levou a fazer testamento, segui para Cascais, em procura

de lenitivos, mas acompanhado de vastos apontamentos para a elaboração do trabalho sobre D.

João II.

Uma vez desaparecida a febre e a partir das poucas forças recuperadas, era minha ideia que

não me desobrigaria decentemente de escrever “O Príncipe Perfeito”, sem ir directamente a

Espanha, para estudar, “in loco”, o teatro onde se dera a Batalha de Toro, episódio de relevo no

livro que me propunha escrever.

A este propósito, devo dizer, que muitas vezes me desloquei aos lugares onde se deram os

acontecimentos históricos que pretendia evocar, para não os descrever de cor. Dentro deste

escrupoloso critério, visitei Aljubarrota e Valverde e, para além do campo de batalha de Toro e

adjacências, propunha-me ir inspeccionar, directamente, Alvor, no Algarve, onde, em 1495 (talvez

envenenado) morreu D. João II, o “Homem”, no dizer de Isabel a Católica.

Iludido sobre o rejuvenescimento das minhas forças, requeri autorização para fazer a

viagem de estudo a qual me foi concedida, com relutância, já que o médico pressentia piores dias.

A 5 de Junho, segui para Espanha, feliz com a ideia de que o meu “Príncipe Perfeito” iria

receber com essa viagem, uma melhoria magnífica.

As “Cartas Peninsulares” foram geradas nessa ida a Espanha e viriam a ser publicadas,

postumamente, pelo meu irmão médico, o Guilherme.

Em 23 de Junho estava de volta, regressando muito pior, a viagem a Espanha agravou os

meus padecimentos, tinha sido um esforço quase sobre-humano. Sousa Martins, o médico que

desveladamente me tratava, amigos desde crianças, vendo o organismo a reagir mal aos

tratamentos, aconselha a partida urgente para Brancanes, junto de Setúbal e à minha “Arrábida”.

Para Brancanes, onde cheguei a 7 de Julho, levei comigo numa pequena mala,

cuidadosamente coligido e ordenado, o material todo que consegui reunir para a obra tão desejada,

só que… as melhoras eram fictícias e tanto assim que as “Cartas Peninsulares” e o único capítulo

de “O Príncipe Perfeito”, que deixaria escrito e a que dei o título “ Batalha de Toro”, já não saíram

do meu punho, mas sim ditados a Vitória, minha mulher.

Nos começos de Agosto volto para Lisboa.

Já não havia dúvidas, o próprio Sousa Martins terá dito aos meus familiares e amigos: “O

Joaquim Pedro está perdido”!

Entretanto, por influência, ou não, de minha mulher e de outros familiares, o Núncio

Apostólico, Monsenhor Jacobini, dirigiu-se-me por carta, manifestando-me o seu apreço pelo

retrato místico de Nun’Álvares, desejando-me o restabelecimento e “lembrando-me” as verdades

da fé…

Apesar de fazer nisso grande sacrifício, peguei na pena e respondi ao Núncio traçando o

meu estado de espírito agnóstico e de descrença, mas admitindo que o ideal cristão me conduzia,

tendo colhido grande bem das excelências e belezas do cristianismo.

Carlos Jaca 27

Monsenhor Jacobini escreveu-me novamente: “a fé não se impõe, nem se ordena […]. Vejo

que há uma diferença entre o nosso modo de pensar, mas este não impede nem a nossa amizade,

nem que eu admire a superioridade do seu espírito, nem me há-de proibir […] a pedir a Deus com

todas as forças do meu coração e com lágrimas que lhe conceda a graça da fé e salve o seu

espírito.”

Meditei nas palavras do Núncio. Afinal, eu tinha vivido como o Antero, sempre uma

relação contraditória com a transcendência. Vinha-me à mente a frase de Tertuliano já citada em

1878 no “Helenismo e a Civilização Cristã”: “Credo, quia absurdum”! Fé e razão chocam-se e

completam-se.

Dezassete dias me durou a lenta agonia, o calvário doloroso. Os pulmões desfaziam-se a

pedaços, a respiração dificílima e a inalação artificial do oxigénio transformava-me o peito numa

viva chama e as noites tão angustiosas que a permanência no leito era já impossível.

A 29 de Agosto, ao alvorecer, despedi-me dos meus familiares mais queridos, pedindo que

me lembrassem aos amigos.

Morria desiludido dos homens, mas não descrente da amizade, deixava o mundo

serenamente, sem saudade e com tristeza. Sim, disse-o: “morro triste não levo saudades do

mundo”… Tudo terminou pelas seis horas da manhã. Morria com a mesma idade do meu querido

amigo, do meu”irmão” Antero, tinha 49 anos.

… “E muitos homens de verdadeiro mérito foram perdidos ou desaproveitados, dos quais

uns buscaram no estrangeiro ambiente próprio para o seu espírito e outros estiolaram-se aqui no

País, pela ignorância, desapreço ou hostilidade dos dominadores.”

(António Sérgio – Ensaios – Tomo V)

Carlos Jaca 28

Bibliografia consultada.

Almeida, Vieira de - «Oliveira Martins» - Revista Ocidental, Abril, 1945.

Calafate, Pedro - «Oliveira Martins». Introdução e selecção de textos de Pedro Calafate. Editorial

Verbo. Lisboa / S. Paulo, 1990. Dória, A. Álvaro – Oliveira Martins, «O Historiador». Guimarães, 1984. Figueiredo, Fidelino de - «História de um vencido da vida». Parceria António Maria Pereira.

Lisboa, 1930. Jaca, Carlos - «Centenário da morte de Oliveira Martins» (1894-1994). Revista «História» n.º 6,

Março, 1995. Magalhães, Luís de - «Perfis». J. P. Oliveira Martins. Parceria António Maria Pereira. Lisboa,

1930. Mendes, Manuel - «Oliveira Martins», O Homem e a Vida . Cadernos «Seara Nova». Lisboa,

1974. Oliveira Martins, F.A. - «Oliveira Martins e os seus contemporâneos». Guimarães Editores.

Lisboa, 1960. Oliveira Martins, Guilherme - «Oliveira Martins», uma biografia. Imprensa Nacional Casa da

Moeda, 1986. Oliveira Martins, Joaquim Pedro - «História de Portugal», Vol. I Europa-América. Oliveira Martins, Joaquim Pedro - «Portugal Contemporâneo». Lisboa. Guimarães Editores,

1986. Ramos, R. Monteiro – Jornal «Público», 24 /Agosto/1994. Sá, Victor de - «Estudos, Alberto Sampaio». Revista «História» n.º 14, Dezembro, 1979. Sérgio, António – «Ensaios», Tomo V. Clássicos Sá da Costa, 1973. Unamuno, Miguel de - «Por Tierras de Portugal y de España». Tradução e notas de José Bento.

Assírio & Alvim. Veloso, J. M. Queirós – No centenário do nascimento de Oliveira Martins, «O Historiador».

Lisboa, 1945.