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-x- , 05 de abril de 2010. Excelentíssimo Senhor Presidente da República Luis Inácio Lula da Silva Há quatro ou cinco anos atrás, cometi a ousadia de convocá-lo para a festa em homenagem aos aviadores do Primeiro Grupo de Aviação de Caça do Brasil, o “Senta a Pua”. Embora ausente, senhor Presidente, todos se sentiram orgulhosos ao receberem, na Base Aérea de Santa Cruz (RJ) o Vice- Presidente José de Alencar. Esses veteranos da Segunda Guerra Mundial reuniam-se (e isto ainda ocorre) com regularidade, para lembrar a colaboração honrosa de nosso país para as forças aliadas durante aquele evento bélico que mudou a história do mundo. Também presenciei, pela TV, a sua presença em uma conferência sobre o Holocausto em  janeiro de 2008, ocasião em que o Brigadeiro Rui Moreira Lima (um dos veteranos do “Senta a Pua”) fez uso da palavra durante quinze minutos.  Em 2004 e 2009, minha esposa e eu acompanhamos as comemorações de 60 e 65 anos, respectivamente, dos desembarques aliados (o famoso “Dia D”) nas praias da Normandia, França. Essa operação militar mudou os rumos da Guerra e marcou o início do fim do domínio nazista no continente europeu. Mais que isto, era o fim de uma tirania absurda. Éramos dois brasileiros prestigiando o esforço concentrado de ingleses, canadenses, americanos, poloneses e franceses livres para libertar a França e a Europa, do jugo alemão. É claro que isto provocava espécie sempre que mencionávamos nossa nacionalidade e surpresa maior ainda surgia quando narrávamos algo sobre os brasileiros que lutaram na Itália em 1944/1945. São passados 65 anos do conflito mencionado e o carinho dedicado aos ex-combatentes nas praias francesas se repete ano após ano, com a presença dos presidentes, rainhas e primeiros- ministros. E O BRASIL? Quase trinta mil brasileiros integraram a FEB (Força Expedicionária Brasileira) na 2ª Guerra Mundial, aí incluídos os aviadores e pessoal de Marinha. Mais de 400 morreram nos campos de batalha da Itália, inicialmente sepultados em Pistóia e depois trasladados para o Mausoléu no aterro do Flamengo, Rio. Hoje, ao menos uma dezena de cidades italianas se gaba de ter sido libertada por soldados brasileiros! E nós, que vimos os principais mandatários do mundo nas praias de N ormandia em 2004 e 2005, nos perguntamos  quando foi a última vez que um Presidente da República prestigiou nossos pracinhas em Montese, Zocca, Monte Castelo e Pistóia?

FEB, 65 anos depois

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8/9/2019 FEB, 65 anos depois...

http://slidepdf.com/reader/full/feb-65-anos-depois 1/2

-x- , 05 de abril de 2010.

Excelentíssimo Senhor Presidente da República

Luis Inácio Lula da Silva

Há quatro ou cinco anos atrás, cometi a ousadia de convocá-lo para a festa em homenagem

aos aviadores do Primeiro Grupo de Aviação de Caça do Brasil, o “Senta a Pua”. Embora

ausente, senhor Presidente, todos se sentiram orgulhosos ao receberem, na Base Aérea de

Santa Cruz (RJ) o Vice-Presidente José de Alencar.

Esses veteranos da Segunda Guerra Mundial reuniam-se (e isto ainda ocorre) com

regularidade, para lembrar a colaboração honrosa de nosso país para as forças aliadas duranteaquele evento bélico que mudou a história do mundo.

Também presenciei, pela TV, a sua presença em uma conferência sobre o Holocausto em

 janeiro de 2008, ocasião em que o Brigadeiro Rui Moreira Lima (um dos veteranos do “Senta a

Pua”) fez uso da palavra durante quinze minutos.  

Em 2004 e 2009, minha esposa e eu acompanhamos as comemorações de 60 e 65 anos,

respectivamente, dos desembarques aliados (o famoso “Dia D”) nas praias da Normandia,

França. Essa operação militar mudou os rumos da Guerra e marcou o início do fim do domínio

nazista no continente europeu. Mais que isto, era o fim de uma tirania absurda.

Éramos dois brasileiros prestigiando o esforço concentrado de ingleses, canadenses,

americanos, poloneses e franceses livres para libertar a França e a Europa, do jugo alemão. É

claro que isto provocava espécie sempre que mencionávamos nossa nacionalidade e surpresa

maior ainda surgia quando narrávamos algo sobre os brasileiros que lutaram na Itália em

1944/1945.

São passados 65 anos do conflito mencionado e o carinho dedicado aos ex-combatentes nas

praias francesas se repete ano após ano, com a presença dos presidentes, rainhas e primeiros-

ministros.

E O BRASIL?

Quase trinta mil brasileiros integraram a FEB (Força Expedicionária Brasileira) na 2ª Guerra

Mundial, aí incluídos os aviadores e pessoal de Marinha. Mais de 400 morreram nos campos

de batalha da Itália, inicialmente sepultados em Pistóia e depois trasladados para o Mausoléu

no aterro do Flamengo, Rio.

Hoje, ao menos uma dezena de cidades italianas se gaba de ter sido libertada por soldados

brasileiros! E nós, que vimos os principais mandatários do mundo nas praias de Normandia em

2004 e 2005, nos perguntamos  – quando foi a última vez que um Presidente da República

prestigiou nossos pracinhas em Montese, Zocca, Monte Castelo e Pistóia?

8/9/2019 FEB, 65 anos depois...

http://slidepdf.com/reader/full/feb-65-anos-depois 2/2

Esta na hora de mudar essa história. Nossos combatentes são mais respeitados no exterior do

que dentro de seu próprio país.

SENHOR PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Não é outro o motivo desta carta, senão chamá-lo novamente para as homenagens que aspequenas cidades e vilarejos italianos farão aos velhos soldados brasileiros entre 23 e 29 de

abril. Não será difícil a seu staff obter toda a programação. Menos difícil ainda será Vossa

Excelência, no uso dos atributos que o cargo lhe confere, providenciar a viagem do maior

número possível de veteranos para o período, incluídos aí representantes das três armas.

Alguns brasileiros idealistas irão, de qualquer forma, até aquela região. Muitos de nós

adquirimos réplicas de uniformes de época, e estamos preparando, dentro dos limites, a nossa

homenagem a esses homens e mulheres, esquecidos por todos e pela História Moderna do

Brasil.

Senhor Presidente, não sou militar, não sou filho ou parente de veterano, não tenho intenções

políticas ou ambições profissionais. Em não raras ocasiões, sinto tristeza por ver como

desprezamos o passado e como isto custará caro ao nosso futuro.

Desejo apenas que isso mude algum dia, e podemos usar o exemplo dos veteranos brasileiros

da Segunda Guerra Mundial como marco para essa mudança. Vossa Excelência pode ser o

vetor para um novo rumo!

Faça um esforço. Não renderá muitos votos, já que todos os ex-combatentes têm, no mínimo,

oitenta anos. Mas a recompensa virá de outra forma, estou certo disto.

Contamos com sua presença e apoio durante os eventos comemorativos na Itália.

Obrigado.

VITOR LUIS AIDAR DOS SANTOSRG 11

py2ny @ arrl.net(16)