10
BOLETIM Febre do Nilo Ocidental eletrônico EPIDEMIOLÓGICO Secretaria de Vigilância em Saúde Ministério da Saúde Secretaria de Vigilância em Saúde Edifício-sede - Bloco G - 1 o Andar Brasília-DF CEP: 70058-900 Fone: (0xx61) 315.3777 www.saude.gov.br/svs Primeiro inquérito sorológico em aves migratórias e nativas do Parque Nacional da Lagoa do Peixe/RS para detecção do vírus do Nilo Ocidental Introdução A Febre do Nilo Ocidental é uma encefalite viral causada por um Flavivírus, que acomete principalmente aves e ocasionalmente o homem e cavalos. A transmissão desta enfermidade se dá através da picada de mosquitos hematófagos e tem comoprincipais disseminadores as aves. A doença foi identificada pela primeira vez em Uganda, em 1937. Na década de 50, verificou-se em Israel a primeira epidemia, sendo reconheci- da como o vírus do Nilo Ocidental, o causador de uma meningoencefalite severa. Subseqüentemente sua presença foi novamente identificada em Israel, bem como na Índia, Egito e outros países da África. Em 1974, ocor- reu na África do Sul a maior epidemia conhecida causada por este agente. Na década de 90 ocorreram surtos nos seguintes países: Argélia (1994), Romênia (1996-1997), República Checa (1997), República Democrática do Congo (1998), Rússia (1999), Israel (2000). Nos EUA, a doença vem ocorrendo desde 1999 e, em 2002, já foram identificados 4.156 casos com 284 óbitos. A maioria das populações de aves migratórias que fazem do Brasil uma área de invernada são provenientes das colônias de reprodução da costa leste norte-americana e canadense. Chegam ao norte do país a partir de setembro e à costa do Rio Grande do Sul, em novembro. Muitos jovens e adultos que não irão reproduzir naquele ano, permanecem no Brasil até que A SVS, preocupada com a possibilidade da entrada do vírus causador da febre do Nilo Ocidental, vem desde o início do ano passado desenvol- vendo as seguintes atividades para estruturação da vigilância e controle da Febre do Nilo Ocidental no território brasileiro. 1. Participação de dois técnicos do SVS, na oficina de trabalho em Vigilância da Febre do Nilo Ocidental realizado em Trinidad e Tobago, abril 2002 (Abril/Maio/2002). 2. Levantamento de aves mortas, sem causa definida, nos dois últimos anos, nos principais zoológicos do país.(Abril/2002). 3. Estabelecimento de Portaria Interministerial entre o Ministério da Saúde, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e Ministério do Meio Ambiente, que dispõe sobre a criação do Comitê Executivo para implantar e coordenar o Sistema de Vigilância da Febre do Nilo Ocidental (Setembro/2002). 4. Treinamento de equipe técnica no Centro de Vigilância Ambiental do Recife/PE e na Ilha de Itamaracá/PE, para realização do Primeiro Inquérito Sorológico em Aves Migratórias do País(Outubro/2002). 5. Realização do Primeiro Inquérito Sorológico em Aves Migratórias e Nativas do Parque Nacional da Lagoa do Peixe-RS para detecção do Vírus da Febre do Nilo Ocidental(Novembro/2002). 6. Desenvolvimento do Guia de Vírus da Febre do Nilo Ocidental (Novembro/2002). 7. Realização do Primeiro Inquérito Sorológico em Aves Migratórias e Residentes de Galinhos-RN para detecção do Vírus do Nilo Ocidental e outros vírus (Abril/maio 2003). Extraído do Boletim Eletrônico EPIDEMIOLÓGICO Ano 03, N O 1 30/05/2003 Pag. 3 a 12

Febre do Nilo Ocidental - antigo.saude.gov.br

  • Upload
    others

  • View
    4

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Febre do Nilo Ocidental - antigo.saude.gov.br

BOLETIM

Febre do Nilo Ocidental

eletrônicoEPIDEMIOLÓGICO

Secretariade Vigilância em Saúde

Ministério da SaúdeSecretaria de Vigilância em SaúdeEdifício-sede - Bloco G - 1o Andar

Brasília-DFCEP: 70058-900

Fone: (0xx61) 315.3777

www.saude.gov.br/svs

Primeiro inquérito sorológico em aves migratórias e nativas do Parque Nacional da Lagoa do Peixe/RS para detecção do vírus do

Nilo OcidentalIntrodução

A Febre do Nilo Ocidental é uma encefalite viral causada por um Flavivírus, que acomete principalmente aves e ocasionalmente o homem e cavalos. A transmissão desta enfermidade se dá através da picada de mosquitos hematófagos e tem comoprincipais disseminadores as aves.

A doença foi identificada pela primeira vez em Uganda, em 1937. Na década de 50, verificou-se em Israel a primeira epidemia, sendo reconheci-da como o vírus do Nilo Ocidental, o causador de uma meningoencefalite severa. Subseqüentemente sua presença foi novamente identificada em Israel, bem como na Índia, Egito e outros países da África. Em 1974, ocor-reu na África do Sul a maior epidemia conhecida causada por este agente. Na década de 90 ocorreram surtos nos seguintes países: Argélia (1994), Romênia (1996-1997), República Checa (1997), República Democrática do Congo (1998), Rússia (1999), Israel (2000).

Nos EUA, a doença vem ocorrendo desde 1999 e, em 2002, já foram identificados 4.156 casos com 284 óbitos.

A maioria das populações de aves migratórias que fazem do Brasil uma área de invernada são provenientes das colônias de reprodução da costa leste norte-americana e canadense. Chegam ao norte do país a partir de setembro e à costa do Rio Grande do Sul, em novembro. Muitos jovens e adultos que não irão reproduzir naquele ano, permanecem no Brasil até que A SVS, preocupada com a possibilidade da entrada do vírus causador da febre do Nilo Ocidental, vem desde o início do ano passado desenvol-

vendo as seguintes atividades para estruturação da vigilância e controle da Febre do Nilo Ocidental no território brasileiro.1. Participação de dois técnicos do SVS, na oficina de trabalho em Vigilância

da Febre do Nilo Ocidental realizado em Trinidad e Tobago, abril 2002 (Abril/Maio/2002).

2. Levantamento de aves mortas, sem causa definida, nos dois últimos anos, nos principais zoológicos do país.(Abril/2002).

3. Estabelecimento de Portaria Interministerial entre o Ministério da Saúde, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e Ministério do Meio Ambiente, que dispõe sobre a criação do Comitê Executivo para implantar e coordenar o Sistema de Vigilância da Febre do Nilo Ocidental (Setembro/2002).

4. Treinamento de equipe técnica no Centro de Vigilância Ambiental do Recife/PE e na Ilha de Itamaracá/PE, para realização do Primeiro Inquérito Sorológico em Aves Migratórias do País(Outubro/2002).

5. Realização do Primeiro Inquérito Sorológico em Aves Migratórias e Nativas do Parque Nacional da Lagoa do Peixe-RS para detecção do Vírus da Febre do Nilo Ocidental(Novembro/2002).

6. Desenvolvimento do Guia de Vírus da Febre do Nilo Ocidental (Novembro/2002).

7. Realização do Primeiro Inquérito Sorológico em Aves Migratórias e Residentes de Galinhos-RN para detecção do Vírus do Nilo Ocidental e outros vírus (Abril/maio 2003).

Extraído do Boletim Eletrônico EPIDEMIOLÓGICO

Ano 03, NO 130/05/2003Pag. 3 a 12

Page 2: Febre do Nilo Ocidental - antigo.saude.gov.br

2 - SVS - Boletim eletrônico EPIDEMIOLÓGICO

Febre do Nilo Ocidental (continuação)

8. Realização do Primeiro Inquérito Sorológico em Andorinhas estejam aptos à reprodução. Existem pou-cos relatos na literatura sobre o período de incubação da doença nas aves, entretanto o período de viremia nestes animais é de 1 a 4 dias, onde a partir daí a maioria adquire imunidade. Por serem as aves migratórias os principais reservatórios do vírus, como parte da implan-tação da vigilância em aves se fez necessário a realização de inquérito sorológico nesses animais. da Refinaria de Petróleo/REMAN em Manaus para detecção do Vírus do Nilo Ocidental e outros vírus (Setembro/2003).

9. Realização de Monitoramento Sorológico em Aves Migratórias e Residentes na Coroa do Avião/PE para detecção do vírus do Nilo Ocidental e outros vírus (Influenza Aviária e Newcastle) (set/out/nov de 2003 e fev/mar/abr de 2004).Por fim uma Reunião Nacional com os Coordenadores

Estaduais de Epidemiologia e Zoonoses das SES para dis-cussão da Estruturação da Vigilância no País.

LocalO Parque Nacional da Lagoa do Peixe, localiza-se na

costa gaúcha, com limites entre os municípios de Tavares, Mostardas e

São José do Norte, cerca de 240km de Porto Alegre/RS, entre o Oceano Atlântico e a Lagoa dos Patos (Foto 1).

O Parque constitui um dos mais espetaculares refúgios de aves que migram mais de 8.000km, concentrando-se na área por mais de quatro meses.

A migração se dá com os indivíduos ainda não sexual-mente imaturos, os quais permanecem no território brasilei-ro quase o ano inteiro; os demais ali descansam, recuperando as energias gastas na migração, realizando ciclos de mudas (trocas de penas), acumulando reservas para suas extensas jornadas de volta, à caminho da reprodução, no Ártico Ca-nadense ou no sul do continente sul-americano.

A quantidade de animais que migra para a área, a diver-sidade de espécies e a infra-estrutura do local, foram fatores importantes para a determinação do local a ser realizado o inquérito.

Período• 31 de outubro a 13 de novembro de 2002

Para a escolha do período a ser realizado o inquérito, foi observado a época do ano do início da migração das aves do hemisfério norte e a fase da lua, devido a captura ser realizada no período noturno, das 22:00 ás 6:00hs e a escuridão ser um fator facilitador para a captura.

Participantes• Médicos Veterinários

- Francisco Anilton Alves Araújo/SVS – Coordenador- Marcelo Yoshito Wada/SVS - EPI_SUS- Égon Vieira da Silva/Ministério da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento- Georges Cavalcanti e Cavalcante/Sociedade de

Zoológicos do Brasil- Vivyanne Santiago Magalhães/UFRPE- Geraldo Vieira de Andrade Filho/CVA/Prefeitura do

Recife• Farmacêuticos-Bioquímicos

- Sueli Guerreiro Rodrigues/IEC/SVS- Lívia Caricio Martins/IEC/SVS

• Biólogos- Carmem Elisa Fedrizzi/UFRPE- Adriano Scherer/Cemave/Ibama

- Leonardo Vianna Mohr/Cemave/Ibama- Marco Antônio Barreto de Almeida/Secretaria de

Saúde/RS• Auxiliares Técnicos

- Basílio Silva Buna/Instituto Evandro Chagas/SVS- Luís Roberto de Oliveira Costa - IEC/SVS- Shrerezino Barbosa Scherer - Cemave/Ibama- Ricardo da Silva Teixeira Vianna - SVS

Promoção e Instituições Participantes• Secretaria de Vigilância em Saúde

- Departamento de Vigilância Epidemiológica- Instituto Evandro Chagas

• Fundação Nacional de Saúde- Coordenação Regional do Rio Grande do Sul

• Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

• Ministério do Meio Ambiente• Ibama

- Superintendência do Rio Grande do Sul- Parque Nacional da Lagoa do Peixe- Cemave

• Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul• Sociedade de Zoológicos do Brasil

ObjetivoRealizar inquérito sorológico amostral em aves migrató-

rias e nativas da Lagoa do Peixe/RS para detecção da presença de anticorpos para o vírus do Nilo Ocidental.

Financiamento• Fundação Nacional de Saúde

Desenvolvimento das atividadesA chegada ao local se deu no dia primeiro de novembro,

quando a equipe procurou se alojar para dar início as ativi-dades ainda no primeiro momento.

Devido a distância da cidade mais próxima ser de cerca de 40km que deveriam ser percorridos na praia, e as atividades serem desenvolvidas no período da noite se fez necessário Foto 1 - Lagoa do Peixe

Page 3: Febre do Nilo Ocidental - antigo.saude.gov.br

Boletim eletrônico EPIDEMIOLÓGICO - SVS - 3

improvisar como alojamento uma escola e uma pequena cabana como laboratório (Foto 2 e Foto 3).

Retirada de animais das redesO uso de redes e a retirada dos animais presos nelas

pressupõe uma certa habilidade dos técnicos para não cau-sar danos nas aves. A quantidade de aves que ela permite capturar é bastante grande e os técnicos necessitam de um grande conhecimento ornitológico (Foto 6 e Foto 7).

A cada duas horas eram feitas vistorias nas redes onde os animais eram retirados e levados para o laboratório para se-rem processados (identificação, biometria e coleta de sangue).

TriagemNo momento da retirada dos animais das redes eles eram

colocados em caixas, separados por espécie, para evitar que as mais agressivas não viessem a ferir as outras (Foto 8).

BiometriaPara realização da biometria foi utilizada uma ficha espe-

cífica, preparada em conjunto pelos técnicos que participa-ram do inquérito. A ficha possuía dados biológicos referentes

Foto 2 - Laboratório

Foto 3 - Alojamento

Colocação de redesForam colocadas 32 redes ornitológicas de captura de

aves, em dois locais de pouso e alimentação das aves, per-fazendo uma área de 320 metros em linha reta. Estas redes eram abertas durante a noite e fechadas durante o dia (Foto 4 e Foto 5).

Foto 4 - Colocação das redes

Foto 5 - Redes colocadas

Foto 6 - Ave apreendida - batuira de bando (C. semipalmatus)

Foto 7 - Retir brancoada da ave - maçarico (Calidris alba)

Febre do Nilo Ocidental (continuação)

Page 4: Febre do Nilo Ocidental - antigo.saude.gov.br

4 - SVS - Boletim eletrônico EPIDEMIOLÓGICO

a: espécie, status (ave nova, recapturada, recuperada e anilha destruída), idade, sexo, plumagem, número da anilha, muda, medidas (asa, tarso, cauda, cúlmen total e narina ponta), peso e quantidade de sangue coletada.

Todas as aves capturadas foram anilhadas conforme normas internacionais, entretanto aquelas já anilhadas eram anotadas na ficha o número das anilhas e observadas a procedência.

A coleta de dados tem como objetivo principal conhecer as espécies capturadas e a procedência dos animais anilha-dos em outras partes do mundo, auxiliar na determinação da quantidade de sangue a ser coletada além de definir em que fase de desenvolvimento estes animais se encontram.

Toda a responsabilidade da biometria ficou a cargo dos biólogos da equipe (Foto 9 e Foto 10).

Este procedimento foi realizado pelos médicos veteriná-rios da equipe, devidamente treinados (Foto 11 e Foto 12).• A quantidade de sangue a ser coletado, dependia do peso

corporal da ave, isto é, foi padronizado a quantidade máxima de sangue, como 1% do peso do animal.

• A coleta de sangue foi realizada utilizando seringa de insulina heparinizada, e feita preferencialmente na veia jugular ou na veia basílica (alar).

• O sangue foi colocado em flaconetes etiquetados, centrifugado e congelados em nitrogênio líquido para envio ao laboratório de diagnóstico (Instituto Evandro Chagas).

• A etiqueta possuía um número que correspondia a anilha colocada ou já existente na perna do animal.

Resultados obtidos1. Aves apreendidas

Foram apreendidas 556 aves, de 19 espécies diferentes, das quais, foi coletado sangue de 522 (93,9%) animais. Destas espécies, vale considerar que já foram isolados vírus nos

Foto 8 - Separação das aves Foto 9 - Medição da asa

Foto 10 - Medição da narina ponta - piru-piru (Haematopus palliatus)

Foto 11 - Punção da jugular - maçarico-de-bico-virado (Limosa haemastica)

Foto 12 - Punção da veia basílica

Febre do Nilo Ocidental (continuação)

Page 5: Febre do Nilo Ocidental - antigo.saude.gov.br

Boletim eletrônico EPIDEMIOLÓGICO - SVS - 5

EEUU, segundo OPAS (http://www.paho.org/Portuguese/HCP/HCT/VBD/wnv-guidelines.htm) em 3 delas; Calidris alba, Arenaria interpres e Rynchops niger (Foto 13).

57 aves recuperadas, 55 (96,5%) são provenientes do leste dos EEUU e duas (3,5%) de Portugal. Vale considerar que a anilha de uma das aves recuperadas encontrava-se semi-destruída, dificultando assim a identificação precisa do local de origem da numeração da mesma (Foto 17).

Chama a atenção que 10,3% do total de animais captura-dos já haviam sido anilhados em outros países, confirmando a migração a partir das áreas onde o vírus do Nilo Ocidental tem circulado.

4. Aves observadasAlém do trabalho de rotina de captura, apreensão, bio-

metria, necropsia, coleta de material dos animais domésti-

Foto 13 - Contenção da ave - talha-mar (Rynchops niger)

Considerando o projeto inicial, onde a perspectiva de captura era de pelo menos 14 espécies diferentes de aves mi-gratórias e residentes com uma amostra de 704 animais, além de 100 amostras de espécies não relacionadas inicialmente, não houve considerável mudança nas espécies propostas inicialmente, coincidindo com 42,1% da proposta inicial. Entretanto, a meta inicial do número de aves a serem apre-endidas por espécie foi cumprida nas Calidris canutus, Sterna hirundo (Foto 14) e Sterna trudeaui e a Limosa haemastica em 34%, fato que deve ser considerado que a queda destes animais nas redes ocorre de uma forma aleatória (Foto 15).

2. Aves recapturadasForam considerados recapturados os animais previa-

mente capturados e anilhados pelo grupo durante a viagem. Considerando as 556 aves trabalhadas, 13 delas foram re-capturadas (2,3%) do total. Sendo, oito Sterna hirundo, duas Sterna trudeaui, uma Sterna nilotica, uma Arenaria interpres e um Calidris canutus (Foto 16).

3. Aves recuperadasForam consideradas como recuperadas as aves apeendi-

das em outros locais e apreendidos durante o trabalho. Das

Foto 14 - Bando de trinta-réis-boreal (Sterna hirundo)

Foto 15 - Contenção da ave - trinta-réis-de-bico-amarelo (Sterna eurygnatha)

Quadro 1 - Nome científico e popular, status e quantidade de aves capturadas

Foto 16 - Contenção e localização da anilha - maçarico-de-papo-amarelo (Calidris canuttus)

Febre do Nilo Ocidental (continuação)

Page 6: Febre do Nilo Ocidental - antigo.saude.gov.br

6 - SVS - Boletim eletrônico EPIDEMIOLÓGICO

Foto 18 - Carcará (Carcara piancus)

Foto 19 - Garça-moura (Ardea cocoi)

Foto 17 - Contenção da ave - trinta-réis-boreal (Sterna hirundo)

Quadro 2 - Aves recuperadas segundo espécie, nome popular e procedência

cos, coleta de mosquitos e ectoparasitos, foi realizado um trabalho de observação das aves, utilizando binóculos, com um objetivo de subsidiar o inquérito sorológico tendo em vista que muitas das espécies de aves observadas não foram capturadas e que existe a possibilidade das mesmas serem provenientes de áreas com circulação do vírus do Nilo Oci-dental (Foto 18 e Foto 19).

Neste sentido, o Quadro 3 mostra 81 espécies de aves observadas na área do Parque, 10 das quais, o vírus do Nilo Ocidental já foi isolado nos EEUU, com objetivo de relacionar que espécies seriam mais importantes de serem monitoradas no país.

5. Animais mortos observadosDurante o período de desenvolvimento das atividades

foram encontrados centenas de pingüins (Sphenicus magella-nicus) mortos na praia, além de cinco aves do tipo pardela-

boreal (Puffinus puffinus), três tartarugas, três toninhas e um lobo marinho. Fato considerado, normal, nesta época do ano, pelos pesquisadores do Ibama.

Houve a tentativa de realização de necropsia de alguns destes animais (pinguins), entretanto devido ao avançado estado de decomposição que eles se encontravam só foi possível nas pardela-boreal (Puffinus puffinus) (Foto 20).

6. Necropsias realizadasForam realizadas necropsias em 16 aves e coletado frag-

mentos de cérebro, coração, fígado, baço e rim. O material foi devidamente conservado em nitrogênio líquido e enca-minhado para o Instituto Evandro Chagas/Funasa para ten-tativa de isolamento do vírus. Além disto, o objetivo da coleta

de material de animais mortos é correlacionar os resultados laboratoriais com os resultados da sorologia (Quadro 4).

Vale considerar que nada fora do normal foi observado macroscopicamente nos animais necropsiados. Cinco ani-

Febre do Nilo Ocidental (continuação)

Quadro 3 - Lista de aves observadas segundo espécie, nome popular, status e isolamento do vírus do Nilo Ocidental nos EUA

Page 7: Febre do Nilo Ocidental - antigo.saude.gov.br

Boletim eletrônico EPIDEMIOLÓGICO - SVS - 7

mais necropsiados foram encontrados mortos na praia e o restante foram a óbito em decorrencia da captura, tendo portanto sido encontrados mortos na praia e os outros foram a óbito. É importante considerar que não houve nenhuma morte de ave devido o manuseio indevido, stress, biometria ou coleta de sangue (Foto 21).

Foto 20 - Pardela-boreal (Putfinus putfinus) encontrada morta

Quadro 4 - Aves necropsiadas segundo nome científico, nome popular e quantidade

Foto 21 - Necrópsia

Febre do Nilo Ocidental (continuação)

Page 8: Febre do Nilo Ocidental - antigo.saude.gov.br

8 - SVS - Boletim eletrônico EPIDEMIOLÓGICO

7. Coleta de sangue de animais domésticosA Diretora do Parque visitou o líder da comunidade

de pescadores para informar sobre o trabalho que estava sendo realizado e solicitar o apoio no sentido de permitir a realização de coleta de sangue dos animais domésticos da comunidade (Foto 22 e Foto 23).

Foto 22 - Punção da jugular de um equino

Foto 23 - Punção da veia basílica (alar) do pato

8. Mosquitos capturadosPelo fato da transmissão da doença ocorrer através da

picada de mosquito, considerou-se importante a captura destes animais na área. Vale ressaltar que não foi feito levantamento entomológico, e sim capturas esporádi-cas diurnas e noturnas no intuito de conhecer a fauna presente no momento e local da captura das aves. Estes insetos foram encaminhados ao Instituto Evandro Cha-gas/Funasa para identificação e tentativa de isolamento do vírus (Foto 24).

Foto 24 - Material para captura dos mosquitos

Quadro 6 - Lotes de mosquitos preparados para tentativas de isolamento viral

Foram capturados 445 mosquitos, de dois gêneros dife-rentes, sendo 416 (93,5%) Aedes albifasciatus e 29 (6,5%) Culex spp. O Culex spp, destes mosquitos, não foi possível a identificação até espécie, devido os mesmos terem chegado ao laboratório em condições inadequadas (Quadro 6).

Aedes albifasciatus é uma espécie zoofílica comum en-contrada no sul do continente americano, apresentando im-portância por atacar animais e o homem, principalmente no verão chuvoso, época em que se reproduz. Sua criação é dada em locais planos onde hajam depressões temporárias. Pode ser encontrado em áreas peridomiciliares e domiciliares.

9. Ectoparasitos capturadosConsiderando o alto grau de infestação por ectoparasitos

de algumas aves capturadas e levando em conta a possibili-dade destes animais também serem vetores do vírus do Nilo Ocidental e de outras enfermidades exóticas em nosso meio, foram coletados 26 espécimes a partir de 10 aves, os quais estão sendo identificados para determinar se são piolhos hematófagos ou mastigadores (alimentam de penas e esca-mas) na Universidade Federal Rural de Pernambuco pelas técnicas Jackeline Biankue de Oliveira (médica veterinária), Magnólia da Conceição Nunes Botelho (bióloga) e Mirian Dowell de Brito (bióloga).

10. Resultados laboratoriaisO material coletado foi encaminhado para o Instituto

Evandro Chagas/SVS, laboratório de referência para arboví-rus, para realização do teste de inibição da hemaglutinação e tentativa de isolamento do vírus. Nem o vírus do Nilo Oci-dental ou outro vírus foi isolado dos espécimes inoculados.

Febre do Nilo Ocidental (continuação)

Quadro 5 - Animais coletados segundo espécie e quantidade de indivíduos

Page 9: Febre do Nilo Ocidental - antigo.saude.gov.br

Boletim eletrônico EPIDEMIOLÓGICO - SVS - 9

Entretanto, o teste de inibição da hemaglutinação detectou a presença de anticorpos IH para os vírus Mayaro, Oropou-che, Encefalite Equina do Leste (E.E.E), Cacicaporé, Rocio, Tacaiúma, Dengue 1 e Encefalite St. Louis. Ressalta-se que os soros foram também testados e mostraram resultados negativos para os seguintes arbovírus: Encefalite, Eqüina do Oeste, Mucambo, Guaroa, Turlock, Maguari, Catu, Carapa-ru, Bussuquara e Ilhéus.

O maior percentual de detecção foi de anticorpos foi para o antígeno do vírus Mayaro, em 68 aves, ou seja 13% da amostra, sendo em 12 espécies de aves migratórias diferentes e três espécies de aves residentes e duas galinhas. Além deste, foram detectados anticorpos para os seguintes vírus:• Oropouche: em quatro aves, sendo de três residentes no

país Haematopus palliatus e uma migratória Rynchops Niger.

• Cacicaporé: em duas aves migratórias, Sterna hirundo.• Vírus da E.E.E.: em oito aves, sendo seis migratórias:

Calidris canutus (1), Arenaria interpres (2), Sterna hi-rundo (3), Tringa flavipes (1) e uma residente, a Sterna trudeaui.

• Vírus Rocio: em duas aves migratórias, S. hirundo (2) e uma residente S. trudeaui (1).

• Vírus Tacaiúma: em uma ave migratória da espécie A. interpres.

• Vírus da Encefalite de St. Louis: em um cão e uma galinha.

• Vírus Dengue 1: em um cão e em uma S. superciliares, sugerindo uma reação cruzada com outros vírus e que deverá ser esclarecida através do teste de soroneutrali-zação.

ConclusõesApós análise dos resultados sorológicos pode-se concluir

que é possível que estes animais tenham tido contato com os referidos arbovírus ou vírus relacionados, se infectaram e criaram anticorpos, não existindo risco de transmissão atual dos mesmos à população. No entanto, devem ser to-madas medidas para estruturação da vigilância, prevenção e controle destas enfermidades, tais como, controle do ve-

Quadro 7 - Número de aves capturadas com sorologia positiva segundo espécie e tipo de vírus

tor, e práticas do uso de repelentes, proteção das casas pela utilização de tela nas portas e janelas para evitar a entrada de mosquitos, tendo em vista que foi detectada presença de anticorpos nas espécies de aves residentes no país do tipo Haematopus palliatus, Limosa haemastica, Rynchops niger, Sterna superciliares e Sterna trudeaui sugerindo que os vírus podem ter circulado na área de residência dessas aves. A de-tecção de anticorpos em aves e animais residentes mostrou a necessidade de realização de outros inquéritos na mesma área. O primeiro foi o “Inquérito entomológico na área do Parque Nacional da Lagoa do Peixe-RS” com o objetivo de conhecer a fauna entomológica local e a realização de testes laboratoriais na tentativa de isolamento viral nos mosquitos capturados (Abril de 2003).

O segundo foi o “Inquérito sorológico em humanos para arbovírus em população da área do Parque da Lagoa do Peixe” com o objetivo de estabelecer a existência ou não de contato com os arbovírus detectados entre aves e animais domésticos da região (junho de 2003). Os resultados de ambos os inquéritos estão sendo processados no Instituto Evandro Chagas.

Referências bibliográficasPeter Hayman, John Marchant and Tony Prater. “Shorebirds. An

identification guide to the wanders of the world”. Foreword by Roger Tory Perterson. Croom Helm. London & Sydney

Peter Harrison. “Seabirds. An identification guide”. Foreworld by Roger Tory Peterson. Houghton Miffin Company

Marcelo Canivari, Pablo Canivari, Gustavo Rodolfo Carrizo, Guilhermo Harris, Jorge Rodriguez Mata, Roberto J. Straneck. “Nueva Guia de las Aves Argentinas. Tomo I”. fundacion Acindar, 1991

“Manual de Anilhamento de Aves Silvestres”. Ministério do Meio Ambiente e da Amazônia Legal. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Centro de Pesquisas para Conservação das Aves Silvestres. 2º edição - revista e ampliada. Brasília, 1994 IBAMA

T. Narosky, D. Yzurieta. “Guia para la Identification de las Aves de Argentina y Uruguai”. Associacion Ornitologica del Plata. Vasquez Mazzini editores. Concipaón Arenal 4864

Centers for Disease Control and Prevention. “Epidemic/ Epizootic West Nile Virus in the United States: Revised Guidelines for Surveillance, Prevention, and Control”. From a workshop Held in Charlotte, North Carolina January 31 - February 4,2001. April, 2001

John H. Rappole, Scott R. Derrickson and Zdenek Hubálek. “Migratory Birds and Spread of West Nile Virus in the Western Hemisphere”. Emerging Infectious Diseases. Vol.6, n.4, July-August 2000

United States Department of Agriculture. Animal and Plant Health Inspection Service. “West Nile Virus in Equids in the Northeastern United States in 2000”. August 2001

Centers for Disease Control and Prevention - Homepage. Division of Vector-borne Infectious Diseases. www.cdc.gov/ncidod/dvbid/westnile/index.htm

MMWR 51(37);833-836. “Update: Investigations of West Nile Virus Infections in Recipients of Organ Transplantation and Blood Transfusion”. September 20, 2002

Zdenek Hubálek and Jirí Halouzka. “West Nile Fever-a Reemerging Mosquito-Borne Viral Disease in Europe”. Emerging Infectious Diseases. Vol. 5, N. 5 September-October, 1999

Febre do Nilo Ocidental (continuação)

Page 10: Febre do Nilo Ocidental - antigo.saude.gov.br

10 - SVS - Boletim eletrônico EPIDEMIOLÓGICO

C.G. Moore, R.G. McLean, C.J. Mitchell, R.S. Nasci, T.F. Tsai, C.H. Calisher, A.A. Marfin, P.S. Moore, and D.J. Gubler. “Guidelines forArbovirus Surveillance Programs in the United States”. Division of Vector-Borne Infectious Diseases. National Center for Infectious Diseases. Centers for Disease Control and Prevention. Public Health Service U.S. Department of Health and Human Services. Fort Collins, Colorado. April, 1993

Department of Health and Human Services. Centers for Disease Control and Prevention. “West Nile Virus CDC Brochure”. August 22, 2002-11-14

Bencke, G. A. 2001. ”Lista de Referência das Aves do Rio Grande do Sul”. Porto Alegre, FZBRS.

Nascimento, I.L.S. “As Aves do Parque Nacional da Lagoa do Peixe”. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, 1995. Brasília.

Pan American Health Organization World. World Health Organization. “Diretrizes para Vigilância, Prevenção e Controle do Vírus do Nilo Ocidental”. Setembro, 2002. www.paho.org/Portuguese/HCP/HCT/VBD/wnv-guidelines.htm

Agência Nacional de Vigilância Sanitária. “Medidas Sanitárias para Combate à Febre do Nilo Ocidental”. Brasília, agosto2000.

Vianna, M.S.R. “A transmissão das arboviroses e encefalites”. SMS Rio de Janeiro. Outubro 2000.

Michel L. Bunning, Richard A. Bowen, C. Bruce Cropp, Kevin G. Sullivan, Brent S. Davis, Nicholas Komar, Marvin S. Godsey, Dale Baker, Danielle L. Hettler, Derek A. Holmes, Brad J. Biggerstaff e Carl J.

Mitchell. “Experimental Infection of horses with West Nile Virus”. Emerging infectious Disease. Vol. 8, n. 4. Abril, 2002

AutoresFrancisco Anilton Alves Araújo - SVS/MSMarcelo Yoshito Wada - SVS/MSÉgon Vieira da Silva - Min. da Agricultura, Pecuária e Abas-tecimentoGeorges Cavalcanti e Cavalcante - Soc. Zoológicos do BrasilVivyanne Santiago Magalhães - UFRPEGeraldo Vieira de Andrade Filho - CVA/Prefeitura de RecifeSueli Guerreiro Rodrigues - IEC/SVS/MS

Livia Carício Martins - IEC/SVS/MSCarmem Elisa Fedrizzi - UFRPEAdriano Scherer - Cemave/IbamaLeonardo Vianna Mohr - Cemave/IbamaMarco Antonio Barreto de Almeida - SES/RSBasílio Silva Buna - IEC/SVS/MSLuís Roberto de Oliveira Csota - IEC/SVS/MSSherezino Barbosa Scherer - Cemave/IbamaRicardo da Silva Vianna - SVS/MSVera Lúcia Gattas - SVS/MS

Febre do Nilo Ocidental (continuação)