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UNIARA – CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAQUARA PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÀO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL E MEIO AMBIENTE Feiras do produtor: alternativa para sustentabilidade de famílias assentadas rurais da região de Araraquara Alcir Antonio Kuranaga Araraquara 2006

Feiras do produtor: alternativa para sustentabilidade de famílias …livros01.livrosgratis.com.br/cp029125.pdf · 2016-01-25 · alternativa para sustentabilidade de famílias

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UNIARA – CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAQUARA PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÀO EM DESENVOLVIMENTO

REGIONAL E MEIO AMBIENTE

Feiras do produtor: alternativa para sustentabilidade de famílias assentadas rurais da região de Araraquara

Alcir Antonio Kuranaga

Araraquara 2006

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UNIARA – CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAQUARA PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÀO EM DESENVOLVIMENTO

REGIONAL E MEIO AMBIENTE

Feiras do produtor: alternativa para sustentabilidade de famílias assentadas rurais da região de Araraquara

Alcir Antonio Kuranaga

Dissertação apresentada ao Centro Universitário de Araraquara (Uniara), para a obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento regional e meio ambiente. ORIENTADORA: Prof.ª Dr.ª Vera L. S. Botta Ferrante

Araraquara 2006

K98f KURANAGA, Alcir Antonio

Feiras do produtor: alternativa para sustentabilidade de famílias assentadas rurais da região de Araraquara. Araraquara: Centro Universitário de Araraquara, 2006

Dissertação de Mestrado apresentada ao Centro Universitário de Araraquara como parte dos requisitos para a obtenção do titulo de mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente.

Orientador: Profa. Dra. Vera Lúcia Silveira Botta Ferrante 109 p. ilus. 1. assentamentos rurais 2. feiras de produtor 3. diversidade agrícola I. T.

C.D.U . 577.4: 333.013.6

Dedico esse trabalho a meu pai que por mais que eu faça ainda faltará um passo para alcançá-lo. Ao meu filho Lincoln e à minha namorada Mara.

AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a minha orientadora Vera Botta que em vários

momentos difíceis que passei durante este trabalho sempre me apoiou e incentivou a

continuar.

Ao professor Queda que por várias vezes indicou pistas importantes e

bibliografias contribuindo muito com esse trabalho.

Aos professores Luis Antonio Barone e João Sé que a partir de um texto de

qualificação bastante preliminar contribuíram com orientações importantes.

Ao grupo do Nupedor: Thauana, Daniel, Aline, Henrique, João, Lee, Cidinha

companheiros de luta e de trabalho nas pesquisas de assentamentos e amigos.

Às secretárias do mestrado Ivani e Adriana que mais que secretárias são

companheiras de trabalho e amigas.

Aos funcionários do ITESP: Danilo, Parizatti, Alessandro, Fátima, Carlão,

Marucio, Luizinho, Rubão, entre outros, que ajudaram muito a conhecer melhor a

realidade nos assentamentos.

Aos integrantes da Coordenadoria de atividades agroindustriais da prefeitura de

Araraquara, particularmente ao Sinézio e Luciano, dos quais tomamos tempo com

longas conversas.

A todos os professores do mestrado pelas ricas discussões em sala de aula, por

carregar esse mestrado com todas as forças e pela convivência sempre agradável e, às

vezes, divertida.

A Isolina sempre alegre, simpática e cordial.

Aos colegas do mestrado pela convivência e experiência juntos: Alessandro,

Eliene, Luiz Meneguello, Valdir, Núbia, As duas Julianas, Silvestre, Alexandre, Selma,

Cristiana, Kátia, Buga, Lee, Manoel, Alessandra, Leonice, Florida, Décio, Cleiton, Zé

Renato, Juliano, Maria Lucia, Neusa, Moacir, Paulo Moreno, Rodrigo, entre outros.

Aos meus amigos: César, Omar, Naji, Amin, Arnobio, Cano, Thiago, Elen,

Pantanal, Nelson, Roberto, dentre outros.

As meus alunos Verusca, M1, M2, Janaina, Pitoco, dentre outros.

À Ligia pelo importante apoio no momento de entrada no mestrado

À Funadesp pela bolsa que ajudou muito no transcorrer do mestrado

À UNIARA pelo acolhimento e incentivo à construção deste importante

programa de mestrado

E por último agradeço a essas pessoas humildes e batalhadoras que no seu dia a

dia de assentados demonstram que é possível vencer a exclusão social e a falta de apoio

por não se inserirem perfeitamente no individualismo do sistema capitalista,

particularmente agradeço ao grupo de assentados rurais que participam das feiras de

produtores.

“Toda semente que eu acho eu enterro para ver o que vai nascer” ( Luzia Babi – MA – I )

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.......................................................................................................................................... 1 CAPÍTULO 1: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA. ASSENTAMENTOS E SUSTENTABILIDADE 7

1.1. ASSENTAMENTOS E MODOS DE VIDA ......................................................................................... 7 1.2. FEIRAS: ESPAÇO DE COMERCIALIZAÇÃO E DE SOCIABILIDADE ................................................. 12 1.3. SUSTENTABILIDADE: FRAGMENTOS DE UMA POLÊMICA........................................................... 14

CAPÍTULO 2: O ESPAÇO SOCIAL INVESTIGADO. ASSENTAMENTO MONTE ALEGRE E FEIRAS..................................................................................................................................................... 19

2.1 HISTÓRICO DA OCUPAÇÃO DAS TERRAS DA FAZENDA MONTE ALEGRE ................................... 19 2.2. O ASSENTAMENTO MONTE ALEGRE NA ATUALIDADE............................................................. 24 2.3. ASSENTAMENTOS NA AGENDA MUNICIPAL DE ARARAQUARA ................................................ 28 2.4. O PROGRAMA “DIRETO DO CAMPO”: CRIAÇÃO E FUNCIONAMENTO. ....................................... 31

CAPÍTULO 3: METODOLOGIA. OS FEIRANTES ASSENTADOS: FRAGMENTOS DE SUAS TRAJETÓRIAS....................................................................................................................................... 39

3.1. COLETA DOS DADOS. ............................................................................................................... 40 3.2. DIÁRIO DE CAMPO ................................................................................................................... 40 3.3. OS ASSENTADOS E SUA TRAJETÓRIA ........................................................................................ 42

CAPÍTULO 4: ANÁLISE E DISCUSSÃO. ESTRATÉGIAS DE SUSTENTABILIDADE DOS FEIRANTES ASSENTADOS................................................................................................................. 57

4.1. O PAPEL DA FEIRA PARA O GRUPO ........................................................................................... 57 4.1.1. A feira como fator de geração de renda e diversificação do produto................................ 57 4.1.2. A participação da família na produção e na feira. ............................................................ 65 4.1.3. A relação do grupo na feira e com os atores locais (técnicos e representantes do poder público municipal)............................................................................................................................ 68 4.1.4. Destinação das sobras ....................................................................................................... 73

4.2. A DIVERSIFICAÇÃO AGRÍCOLA E O AUTOCONSUMO DO GRUPO................................................. 75 4.3. ASPECTOS DA SUSTENTABILIDADE NO PROCESSO DE PRODUÇÃO............................................. 79

4.3.1. Recursos (maquinários, hídricos, solo) para a produção.................................................. 79 4.3.2. Utilização de insumos. ....................................................................................................... 83 4.3.3. Utilização de defensivos agrícolas..................................................................................... 86 4.3.4. A destinação do lixo........................................................................................................... 89 4.3.5. A destinação do esgoto. ..................................................................................................... 92 4.3.6. Relações do grupo com o plantio de cana. ........................................................................ 93

CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................................. 98 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................................. 105 ANEXO 1. QUESTIONÁRIO............................................................................................................... 110 ANEXO 2. LEI Nº. 5.908....................................................................................................................... 112 ANEXO 3. LEI Nº. 6.317 DE 11 DE OUTUBRO DE 2005 (DISPÕE SOBRE AS DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS PARA ELABORAÇÃO DA LEI ORÇAMENTÁRIA DO EXERCÍCIO DE 2006 E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS) [P. 41, 123-124] ................................................................. 118

Lista de Fotos, Tabelas e Gráficos.

Fotografia 1: Feira do Produtor, Praça Pedro de Toledo. ............................................... 35 Fotografia 2: Feira do Produtor, Terminal Urbano de Integração .................................. 36 Fotografia 3: Feira da Roça, Terminal de Urbano de Integração. .................................. 37

Tabela 1: Renda, principais tipos de produção e comercialização. ................................ 58 Tabela 2: Destinação da renda da feira ........................................................................... 62 Tabela 3: Participação da família e utilização de mão-de-obra não familiar.................. 66 Tabela 4: Relações entre os atores .................................................................................. 69 Tabela 5: Destinação de sobras da feira.......................................................................... 74 Tabela 6: Relação entre o que produz/consome e o que compra de fora........................ 76 Tabela 7: Estrutura e recursos dos participantes da feira................................................ 80 Tabela 8: Utilização de insumos na produção. ............................................................... 83 Tabela 9: Práticas e usos de defensivos. ......................................................................... 87 Tabela 10: Destinação do lixo. ....................................................................................... 90 Tabela 11: Relações do grupo com o plantio de cana..................................................... 93

Gráfico 1: Renda da feira em relação a faixas salariais. ................................................. 61 Gráfico 2: Renda da feira em relação à renda familiar total (%) .................................... 63 Gráfico 3: Utilização de mão-de-obra além da familiar. ................................................ 67 Gráfico 4: Participação na feira por gênero. ................................................................... 68 Gráfico 5: Qualidade do solo. ......................................................................................... 82 Gráfico 6: Utilização de adubos químicos. ..................................................................... 86 Gráfico 7: Utilização de defensivos................................................................................ 89 Gráfico 8: Destinação das embalagens de defensivos .................................................... 91

Lista de abreviaturas

CAI - Complexos Agroindustriais

CAIC - Companhia Agrícola Imobiliária e Colonizadora

CDC - Centro Comunitário do Bela Vista

CEDIR - Centro de Desenvolvimento Rural da Monte Alegre

CEPAM - Centro de estudos e pesquisas de administração municipal Faria Lima

CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

CODASP – Companhia de Desenvolvimento Agrícola do Estado de São Paulo

COMAPA – Cooperativa Mista Agropecuária Araraquara

CPT - Comissão Pastoral da Terra

DAF – Departamento de Assentamento Fundiário

FEPASA – Ferrovia Paulista S/A

FERAESP – Federação dos empregados rurais assalariados do Estado de São Paulo

IAF – Instituto de Assuntos Fundiários

ITESP – Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo

LDO - Lei de Diretrizes Orçamentárias

NUPEDOR – Núcleo de Pesquisa e Documentação Rural

PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

REGAR – Associação para o Desenvolvimento da Agricultura Regenerativa na Região

de Araraquara

SAI – Sistema Agroindustrial Integrado

SEBRAE – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

STRA - Sindicato dos Trabalhadores Rurais Assalariados de Araraquara

RESUMO

O objetivo deste trabalho foi discutir se as feiras do produtor promovidas pela prefeitura

de Araraquara impulsionam a diversidade de produção agrícola e as estratégias de

reprodução de um grupo de vinte famílias assentadas no Projeto de Assentamento Rural

Monte Alegre.

Para tanto, tomamos por base discussões a respeito da sustentabilidade de

assentamentos rurais, enfocando o seu viés sócio-econômico e ambiental, e algumas

construções teóricas relacionadas a assentamentos. Tendo em vista tais construções,

foram importantes para o trabalho as noções de modo de vida e de reconstrução de

modo de vida, bem como as noções de trajetórias, de estratégias de vida, e de

autoconsumo. Em hipótese, a feira permite que o produtor assentado distribua seus

produtos, o que pode contribuir para a diversidade de culturas nos espaços agrícolas do

assentamento rural. A diversidade de culturas, a geração de rendas através das feiras e

os modos de vida em assentamentos rurais podem ser um caminho para o

desenvolvimento sustentável.

Os dados foram coletados tendo como instrumento um questionário. Informações

adicionais foram obtidas por meio de entrevistas junto a funcionários do ITESP e da

Coordenadoria de Atividades Agroindustriais da Prefeitura de Araraquara.

Foram analisados fatores como a geração de renda, a diversificação agrícola, o

autoconsumo e aspectos da sustentabilidade no processo de produção. A partir da

análise dos dados, percebemos que a feira é um veículo de novas bases ou de estratégias

de sustentabilidade criadas pelos assentados, com a mediação do poder público, o que

permite aos assentados permanecerem na terra.

PALAVRAS-CHAVE: assentamentos rurais; sustentabilidade; autoconsumo, modo de

vida, feiras de produtor; diversidade agrícola.

ABSTRACT

The intent of this work was to discuss if the producer fairs provided by the City Hall of

Araraquara stimulated the diversity of agricultural products and the strategies of

reproduction of a group of twenty families placed in the Projeto de Assentamento Rural

Monte Alegre (Project of Rural Placement Monte Alegre).

So, we based on arguments about supportability of rural placements, focusing on their

social-economic and environmental lines and some theory constructions related to

placements. As so, it was important to this work to understand the way of life and its

reconstruction, course, life strategies and self-consuming. Hypothetically, the fair

allows the placed producer to deliver their products, what contributes to the cultures

diversity in agricultural spaces of rural placements. The cultures diversity, the budget

formation through those fairs and the ways of life can be the way to a supportable

development.

The data were collected using a questionnaire as gathering. Additional information was

obtained by interviews with employees from ITESP and from Agro Industrial Activities

Coordination of City Hall of Araraquara. We analyzed factors as budget formation,

agricultural diversification, self-consuming and prospects of supportability during the

production process. From that analyzing, we confirmed the fairs as means of promotion

for new bases or strategies for supportability, created by placed producers with help of

political influence what allows them to remain in their places.

KEYWORDS: Rural placements, supportability, self-consuming, way of life, producer

fair, agricultural diversity

1

INTRODUÇÃO

Neste trabalho buscamos analisar como a Feira do Produtor e as Bancas do

Terminal de Integração Urbano de Araraquara incentivam a diversificação das

produções comerciais e não comerciais de um grupo de assentados da região de

Araraquara.

A Feira do Produtor e as Bancas do Terminal de Integração Urbano de

Araraquara constituem o Programa Direto do Campo, organizado pela Secretaria de

Desenvolvimento Econômico da Prefeitura Municipal de Araraquara. O programa é

uma alternativa para o escoamento da produção de alimentos de pequenos produtores.

Ao iniciarmos o levantamento dos participantes da Feira do Produtor e das

Bancas do Terminal, percebemos que a maior parte dos produtores eram assentados. De

um total de 32 famílias participantes do Programa Direto do Campo, 26 eram de

assentamentos. Desses 26, cinco eram do Assentamento Bela Vista do Chibarro, um do

Assentamento Horto Bueno de Andrade e 20 eram dos núcleos do Assentamento Monte

Alegre. Assim, pelo fato da maioria dos participantes pertencer ao Assentamento Monte

Alegre, optamos por trabalhar apenas com esse assentamento. Em suma, trabalhamos

com um grupo de 20 famílias de produtores assentados da fazenda Monte Alegre que

participam do Programa Direto do Campo, no município de Araraquara.

Esta pesquisa insere se num projeto maior “Poder Local e Assentamentos rurais:

expressões de conflito, de acomodação e de resistência” que vem analisando os modos

de vida e a inserção dos Projetos de Assentamentos nos contextos regionais/locais, sob a

2

coordenação da Profª.drª. Vera Lúcia Silveira Botta Ferrante, e desenvolvido pelo

NUPEDOR1, com financiamento do CNPq.

Os principais objetivos deste projeto maior são (FERRANTE, WHITAKER e

BARONE, 2003):

“1. Proceder à avaliação das diferenciadas formas de ação levadas adiante pelas

3

controles traçados pelas usinas para o plantio da cana estimulados muitas vezes pelos

anseios em relação à defesa do meio ambiente.

3. Como terceiro bloco de objetivos a serem perseguidos na análise da trama de

tensões constituída pela inserção dos assentamentos nos entornos locais/microrregionais

destacamos as alternativas de sustentabilidade desenvolvidas pelos assentamentos,

sempre em relação com os demais agentes locais, através de projetos e aspirações

educacionais. Essa sustentabilidade pode se apresentar como expressão de resistência,

recusa ou acomodação, tendo como sujeitos privilegiados os jovens moradores dos

Projetos de Assentamentos.”

Há que se acrescentar que o grupo de pesquisa da UNIARA/UNESP tem larga e

sólida trajetória em estudos sobre assentamentos2, o que veio ao encontro dos objetivos

desta dissertação. Nesse sentido, a pesquisa aqui desenvolvida está inserida tanto no

primeiro objetivo que trabalha a relação do poder local com os assentamentos, como no

segundo objetivo que estuda a inserção dos assentamentos na economia regional.

Especificamente, o objetivo principal desta pesquisa é discutir como a Feira do

Produtor e as Bancas do Terminal de Integração Urbano de Araraquara3 - promovidas

pela Prefeitura de Araraquara - podem impulsionar as diversificações agrícolas e

alimentares, gerando renda para as famílias assentadas.

2 Foram desenvolvidos por esse grupo vários projetos ligados à temática de assentamentos rurais: “Análise e Avaliação dos Projetos de Reforma Agrária e Assentamentos no Estado de São Paulo (de

1989 a 1995)”, sob coordenação das Profas. Dras.Vera L. S. B. Ferrante e Sônia M. P. P. Bergamasco.

De 1996 a 1999, “Assentamentos Rurais: a construção de um novo modo de vida em um campo de possibilidades e diversidades”, coordenado pela Profas. Dras. Vera L. S. B. Ferrante; Dulce C. A. Whitaker e Terezinha D’ Aquino.

“Inserção dos Assentamentos de Reforma Agrária às Economias Regionais: indicadores de qualidade de vida e de integração ao meio ambiente (1999 – 2003)”, coordenado pela Profas. Dras. Vera L. S. B. Ferrante; Dulce C. A. Whitaker.

“Poder Local e Assentamentos Rurais: expressões de conflito, de acomodação e de resistência (2004 – 2007)”, coordenado pela Profas. Dras. Vera L. S. B. Ferrante; Dulce C. A. Whitaker.

3 Doravante trataremos a Feira do Produtor e Bancas do Terminal apenas como “feira”.

4

Os projetos de assentamento rurais são locais propícios ao desenvolvimento de

diversificações agrícolas. Estas diversificações podem ser produções para autoconsumo

ou produções para fins comerciais, nestes locais é possível encontrar aspectos que

podem ser relacionados com o desenvolvimento da sustentabilidade, que neste trabalho

é abordado em duas grandes dimensões.

A dimensão ambiental transparece pela diversificação de culturas que quebram a

homogeneização da paisagem através dos assentamentos e dos diversos sistemas

produtivos em seu interior; cada família desenvolve uma estratégia diferente, formando

mosaicos (WHITAKER e FIAMENGUE, 2000). Contudo, vale lembrar que nos últimos

anos o plantio de cana, patrocinado pela Prefeitura de Motuca e por usinas da região,

tem ocupado os espaços dos assentamentos da região, sob a forma de controversos

consórcios.

A diversificação agrícola nos conduz a uma dicotomia. Por um lado, quanto

maior o nível de diversificação agrícola, maiores as possibilidades de integração

econômica. Diminuem com isso a dependência em relação ao mercado de um produto

específico, ou seja, no caso de queda de preço de um produto ou mesmo do ataque de

pragas em um deles, o agricultor tem outras alternativas para diminuir o impacto no

orçamento familiar. Por outro lado, a diversificação agrícola, no caso dos assentados,

pode não encontrar escoamento. A feira do produtor e as bancas do Terminal permitem

ao assentado vender sua produção bastante diversificada que, a não ser pelo escoamento

promovido pela prefeitura, não encontra mercado com facilidade. E por que o assentado

não encontra mercado com facilidade? Porque a produção de cada assentado é pequena

e diversificada, também porque o produtor tem dificuldade em transporte e porque o

produtor enfrenta a concorrência dos grandes distribuidores de produtos horti-fruti.

5

Entretanto, a feira, dando retornos financeiros, permite ao assentado renda para

comprar os produtos não-produzidos no sítio - produtos tais como alimentos

industrializados, de higiene, de limpeza e do vestuário, além de contas de prestação de

serviços públicos. A feira, então, permite que o assentado se sustente economicamente,

hipótese discutida ao longo do trabalho. O sítio no assentamento, também gera a essas

pessoas, moradia, alimentos, além da renda, em suma, um certo nível de bem estar.

Os alimentos produzidos nos assentamentos são utilizados pelos assentados

como parte de sua dieta alimentar; são vendidos na feira e as sobras da feira são doadas

para instituições de caridade. Neste sentido, as atividades realizadas dentro do

assentamento rural podem gerar externalidades4 positivas para a população da cidade,

na medida em que produzem alimentos que são consumidos por essa população urbana,

estendendo o “bem estar” para outras pessoas, o que garante a dimensão sócio-

econômica da sustentabilidade

Com base nisto, partimos da hipótese de que as feiras, permitindo o escoamento

dos produtos do grupo de assentados aqui em questão, contribuem para a

sustentabilidade sócio-econômica e ambiental.

Através do histórico da criação e da implementação do Programa Direto do

Campo e do acompanhamento de sua situação atual, foram discutidas as feiras (aspecto

pouco salientado na produção voltada a assentamentos) como instrumento importante

para as estratégias de sustentabilidade e de permanência na terra.

Nesse sentido, durante o desenvolvimento do trabalho, coletamos informações

de todos os participantes selecionados nesta pesquisa por meio de respostas a um

questionário. Além disso, nas feiras, foram tomados depoimentos, registrados em

4 Conceito econômico que se refere aos efeitos exercidos pela produção de uma empresa ou o consumo

de um indivíduo sobre terceiros de forma positiva ou negativa.

6

diários de campo. Foram feitas, também, entrevistas com membros da Secretaria

Municipal de Desenvolvimento Econômico de Araraquara, do ITESP (órgão gestor do

Assentamento Monte Alegre) e com um vereador municipal.

O trabalho aqui apresentado está dividido em quatro capítulos. No primeiro

capítulo - Fundamentação teórica: Assentamentos e sustentabilidade - trabalhamos

questões teóricas relacionadas a modos de vida, trajetórias, estratégias de vida e

sustentabilidade nas dimensões sócio-econômica e ambiental. No segundo - O espaço

social investigado: Assentamento Monte Alegre e Feiras - apresentamos o espaço social

investigado, caracterizando o Assentamento Monte Alegre e a feira. No terceiro capítulo

- Metodologia: Os feirantes assentados: Fragmentos de suas trajetórias - tratamos da

metodologia e descrevemos brevemente a trajetória das famílias estudadas. No último

capítulo - Análise e discussão: A sustentabilidade dos feirantes assentados - fazemos a

análise e discussão dos dados coletados.

7

CAPÍTULO 1: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.

ASSENTAMENTOS E SUSTENTABILIDADE

A formação dos assentamentos rurais implica na mudança dos modos de vida

das pessoas que ocupam esse espaço rural. Ao reconstruírem seus modos de vida, os

assentados se integram a esse espaço rural modificando-o. O que era geralmente

propriedades rurais com culturas homogêneas, passa a ser espaços rurais segmentados,

cuidados por várias pessoas e com diversas culturas agrícolas. O produto gerado nesse

espaço precisa ser comercializado, para o assentado ter rendas para sobreviver. Nesse

sentido, a feira é “um canal de escoamento” que vai ligar a produção rural dos

assentamentos aos consumidores urbanos. A feira pode gerar sustentabilidade à medida

em que incentiva o produtor assentado a ter culturas diversas que lhe garantam retornos

financeiros. A maneira com que o produtor faz o manejo de culturas no sítio e os tipos

de insumos e defensivos que utiliza está ligada à sustentabilidade ambiental.

Aspectos teóricos relacionados a assentamentos, modos de vida, trajetórias,

feiras e sustentabilidade servem, pois, de base a este trabalho. Nesse sentido, faremos

uma incursão buscando apresentar os pontos mais importantes relacionados a esses

temas, sem qualquer pretensão de esgotar este instigante debate teórico.

1.1. Assentamentos e modos de vida

A trajetória das famílias do projeto de Assentamento Monte Alegre está ligada

aos movimentos que ocorreram no meio rural durante todo o processo de modernização

do campo, processo esse gerador de exclusão social, no período pós 1964.

8

No período político vivido de 1964 até 1984, claramente apoiado pelas elites

agrárias, ocorre no campo um processo de desenvolvimento agrícola com agravamento

da concentração fundiária, seguido de aumentos de produtividade, avanço técnico e alto

grau de capitalização. Neste formato, agricultura e indústria se completam, formando os

chamados complexos agroindustriais (CAI).

Este modelo de agricultura adotado, intensivo em capital e com alta

produtividade, proporcionou o desenvolvimento do campo, sem a necessidade de se

fazer uma reforma agrária, o que é denominado por DELGADO (2004, p. 12; 37) e

outros, como modernização conservadora.

A população que tinha no campo seu local de moradia, de trabalho e como fonte

de sustento, foi compelida a deixá-lo. Essa população foi para o meio urbano para

trabalhar como operários na indústria que vinha crescendo e, normalmente, residir nas

periferias das cidades. Outra parte permaneceu no campo, como mão de obra volante,

trabalhando como cortadores de cana, colhedores de laranja, genericamente chamados

de bóias frias.

Sobre os assentados do projeto Monte Alegre, CHONCHOL (2003) relata a

trajetória dos grupos pioneiros que eram bóias frias e não tinham emprego nas

entressafras de cana. Esses trabalhadores participaram de movimentos reivindicatórios

por melhores condições de trabalho e depois se integraram a movimentos de luta pela

terra, ocupando posteriormente a fazenda Monte Alegre. Nas palavras de CHONCHOL

(2003):

“Trata-se de trabalhadores de origem rural, que, sob os impactos da modernização

capitalista na agricultura, foram expulsos do campo há cerca de trinta anos, para as zonas

urbanas. Desde então, eles buscavam, sem sucesso, um habitat definitivo nas cidades da

região e um emprego permanente que lhes permitisse construir, na região urbana, uma nova

9

vida com suas famílias. As peregrinações nas periferias urbanas – sem no entanto que

tivessem abandonado o corte de cana-de-açúcar – têm marcado este grupo de bóias frias

que, tanto quanto outros, sonharam com a cidade e agora desejavam retornar à terra”

(CHONCHOL, 2003, p. 67).

Nesse sentido, essa modernização do campo teve seu lado perverso à medida em

que promoveu o êxodo rural e fez crescer um contingente de excluídos cuja

manifestação toma corpo na metade dos anos 80, em movimentos sociais5 que - com

apoio da igreja católica, sindicatos rurais e políticos - reivindicam reforma agrária.

Os conflitos que ocorreram no campo na década de 80 fizeram o governo

intervir com ações pontuais (MEDEIROS, LEITE, 2004) para minimizar seus efeitos.

Os projetos de assentamentos rurais que se iniciam particularmente na metade da

década de 80 são reflexos desse conflito no campo. Assim, a origem das famílias que

ocuparam os assentamentos rurais está ligada, principalmente, à mão-de-obra volante

que trabalhava nos complexos agroindustriais do interior paulista.

Nesse sentido, estudar assentamentos de trabalhadores rurais, como diz

FERRANTE (1999), implica em vê-los em movimento, como parte de uma história de

distintos tempos sociais, vivida por múltiplos sujeitos que têm as fronteiras de seu

mundo demarcadas por pressões, atritos e lutas.

A análise dos assentamentos, segundo FERRANTE, WHITAKER e BARONE

(2003), deve enfocar

“(...) um conjunto de idéias que reflitam a complexidade, a diversidade, a

multidisciplinariedade desses locais mantendo um diálogo critico com os estudos que

procuram discutir assentamentos a partir de indicadores sócioeconômicos (...) Acreditamos

que os assentamentos inserem-se em uma rede de relações, cuja discussão tem sido por nós

5 Um exemplo são as greves que aconteceram em Guariba neste período e a posterior luta desses

trabalhadores pela conquista da terra. Ver: ALVES (1991); FERRANTE (1992); BARONE (1996).

10

enfrentada com referenciais analíticos que têm como parâmetro a constituição de categorias

e não a construção de instrumentos de medidas.” (FERRANTE, WHITAKER e BARONE,

2003, p. 02).

Os assentamentos são formados por pessoas de origens diferentes, com idades e

composição familiar diversas, o que implica que no âmbito de cada família e na maneira

de produzir existam particularidades que conceitos e teorias “fechadas” não dão conta

de explicar. Assim, apenas o viés de indicadores sócio-econômicos não permite

interpretar a objetividade e a subjetividade de cada família ao produzir e viver no

assentamento.

Por esses aspectos, este trabalho é conduzido: a) pela noção de modos de vida e

a reconstrução de modos de vida no interior dos assentamentos; b) pela noção de que

cada sujeito neste espaço social tem uma trajetória de vida que abrange distintos tempos

sociais, constituído-se estratégias de vida e sobrevivência.

A agricultura familiar, particularmente a dos assentados, tem uma dinâmica

diferente das empresas agrícolas. Cada família assentada tem uma trajetória de vida que

apresenta diferenças e histórias comuns. Pressupõe-se que exista um fio condutor

(estratégia) que dá sentido às diversas situações vividas por essas pessoas, por mais

descontínuas que sejam para quem observa. Entende-se que essa linha condutora se

refere à dimensão racional das pessoas e não se reduz à racionalidade econômica

(ANTUNIASSI, AUBRÉE, CHONCHOL, 1993).

Na contextualização da trajetória de vida das famílias, o acesso à terra permite

um lugar para morar, trabalhar e ter disponíveis os serviços sociais básicos implicando

numa melhoria concreta na qualidade de vida comparada a situações anteriores. Assim,

reconstruir as estratégias implica em conhecer a trajetória social das famílias.

11

SILVA (2003) analisando as trajetórias de três trabalhadores rurais, hoje

assentados, através da narrativa deles, relata que:

“Por meio das narrativas, foi possível perceber que a memória não se constitui apenas como

uma rememoração ou reconstrução do passado, como também a reconstrução da realidade

social presente. As lembranças do passado informam, por meio da experiência de cada um,

o presente. Assim sendo, as lembranças da fome experimentadas pelo primeiro narrador, na

fase infantil, continuam informando o presente sobre a importância da terra como um meio

para garantir a sobrevivência física (...)”.

A noção de trajetória expressa assim a dimensão diacrônica que liga o conjunto

das circunstâncias às estratégias (ANTUNIASSI, AUBRÉE, CHONCHOL, 1993). Os

assentados, em sua maioria “herdeiros” da exclusão social da modernização capitalista

agrícola, ao buscar moradia e emprego para poderem reconstruir uma nova vida com

suas famílias (CHONCHOL, 2003, p. 67) passaram por diversas situações e momentos

que implicaram em estratégias de vida e sobrevivência, constituindo sua trajetória de

vida que continuará no interior dos projetos de assentamento rural.

Assim, a complexidade do objeto passa pelo próprio movimento dos assentados

e pela impossibilidade de se trabalhar a categoria tempo linearmente, em um processo

no qual fluxos variáveis dos produtos colhidos, das condições de consumo ou

investimento podem ser subestimados ou superestimados (FERRANTE, WHITAKER e

BARONE, 2003).

Relacionado à complexidade de se discutir assentamentos rurais, devido à

problemática inserção desses no contexto regional e “a contradição do próprio sujeito

assentado de não ser o era antes, nem ser o que talvez desejasse” (FERRANTE, 1999, p.

43), torna-se importante o estudo dos modos de vida e a reconstrução de modos de vida

dentro do espaço dos assentamento rurais. O estudo da reconstrução dos modos de vida:

12

“(...) dá conta de diferentes dimensões da ação social dos sujeitos estudados. Ela enfatiza as

dimensões teóricas (aspirações, projetos, representações) e práticas (estratégias e hábitos)

da ação do grupo social dos assentados, sempre numa relação de forças com outros agentes.

E leva em conta ainda suas relações com a natureza.” (FERRANTE, WHITAKER e BARONE,

2003, p. 9).

Os assentados quando ocupam seus lotes deixam para trás as referências de

quem eles eram e o espaço que ocupavam dentro da sociedade para se integrar num

outro espaço social. Neste novo espaço, eles reconstroem relações em múltiplos

âmbitos, redefinindo, assim, seu modo de vida no interior do assentamento ao

estabelecer novas relações com o meio ambiente e ao mudar a maneira de ganhar o

sustento. Nesse espaço, quanto mais variedades de culturas plantar, mais abastecida estará

sua dispensa e mais variedades de produtos terá para vender. É nesse contexto que a

realização de feiras de produtores ganha importância.

1.2. Feiras: espaço de comercialização e de sociabilidade

ANJOS, GODOY e CALDA (2005) fizeram um importante trabalho sobre as

feiras livres de Pelotas-RS, que existem há mais de 50 anos.

Nas feiras de Pelotas, os produtores são minoria, mas ainda persiste na

população que as freqüentam, a crença de que os produtos são regionais e produzidos

pelos feirantes. No caso do nosso estudo, a feira que focamos é totalmente composta por

produtores. Vejamos o que ANJOS, GODOY e CALDA(2005) relatam sobre as feiras

livres de Pelotas:

“As feiras livres consistem num sistema local de comercialização muito particular representando

o limiar difuso entre o rural e o urbano, fim da fase produtiva e início da fase de consumo,

bem como um espaço social detentor de atributos peculiares que presumidamente, asseguram

sua persistência na sociedade contemporânea” (ANJOS, GODOY, CALDAS, 2005).

13

Se pensarmos do ponto de vista de feiras de produtores, mais ainda representam

as fronteiras e integração do meio rural com o urbano. Sobre isso, VELOSO (2005)

relata a respeito das feiras de produtores assentados da Paraíba:

“Através das feiras, estabelece-se uma comercialização direta do pequeno produtor ao

consumidor, subsidiária e solidária. É um momento de fortalecimento do processo de

organização e estímulo à prática de autogestão dos pequenos produtores, além de ser um

estímulo à participação integral da cadeia produtiva plantio-colheita-beneficiamento-

comercialização” VELOSO (2005).

“Muitos estudiosos acreditam que as feiras justificam sua existência justamente porque

possuem como vocação natural o atendimento a seguimentos marginalizados em razão dos

baixos ingressos econômicos” (ANJOS, GODOY, CALDAS, 2005).

Pensando do ponto de vista dos assentamentos rurais, os lotes normalmente medem

de 10 a 20 ha, a produção nestes espaços, quando extensiva encontra compradores com

mais facilidade, porém pelo lado dos preços finais, no atacado, o retorno financeiro do

produtor é pequeno, isso quando não leva prejuízo. Se a produção for diversificada, a

dificuldade é encontrar mercado para vender, assim a feira torna-se um importante espaço

de escoamento. Os ingressos econômicos podem ser baixos do ponto de vista de uma

empresa nos moldes capitalistas de geração de lucro, mas do ponto de vista do produtor

familiar; esses ingressos podem não ser tão baixos assim. Acreditamos também que no

caso que estudamos a população atendida pela feira não é composta particularmente por

uma população marginalizada e sim por pessoas que optam muitas vezes por esses tipo

de comércio varejista, como ANJOS, GODOY e CALDA(2005) relatam:

“Preservam as feiras do ponto de vista do consumidor, uma dinâmica de funcionamento

peculiar com a possibilidade de negociação de preços dos produtos e um atendimento

personalizado, oferecendo, num mesmo espaço, uma maior diversidade e qualidade de

14

artigos, de procedência local e/ou regional, sendo também um local propício à ocorrência

de relações sócio-afetivas” (ANJOS, GODOY, CALDAS, 2005, p. 25).

Não é objetivo deste trabalho estudar os clientes, mas nas varias idas a campo e

pelas próprias respostas dos feirantes, quando perguntados se tinham clientes (fregueses

fixos), percebemos que existe a construção de alguns laços de amizade e afetividade

entre os feirantes e as pessoas que freqüentam este espaço e que muitas vezes se

preocupam com a origem dos produtos que consomem. Sobre isso ANJOS, GODOY e

CALDA(2005) também falam:

“Nos países desenvolvidos há um movimento bastante importante na criação das chamadas

‘denominações de origem’. Trata-se, entre outros aspectos, de uma estratégia de

agricultores e empresas dos mais distintos ramos no sentido de assegurar a defesa da

singularidade dos artigos gerados e dos processos que lhes deram origem. Há portanto, o

reconhecimento tácito de que os atributos do local não podem ser estendidos a outras partes

do país ou do planeta.” (ANJOS, GODOY, CALDAS, 2005, p. 172).

Assim, o produto distribuído pelos assentados da região em feiras, pode trazer

retornos financeiros e resgatar as relações sócio-afetivas, além do que, se a produção é

diversificada e em pequena escala, a qualidade dos produtos pode ser melhor,

contribuindo assim, de diversas formas, para a sustentabilidade desse sistema rural.

1.3. Sustentabilidade: fragmentos de uma polêmica

Não há dúvidas de que a idéia de sustentabilidade está ligada à conservação do

meio ambiente. É um termo em construção que tem pelo menos três interpretações,

sendo que duas delas são extremas. Segundo VEIGA (2005) há:

a) Os que simplesmente acreditam que não existe dilema entre conservação ambiental

e crescimento econômico, crêem ao contrário, que seja factível combinar essa dupla

exigência.

15

b) Os seguidores de Nicholas Georgescu-Roegen - que baseado na segunda lei da

termodinâmica - assinalou que as atividades econômicas gradualmente transformam

energia em formas de calor tão difusas que são inutilizáveis, por isso em algum

momento, no futuro, o desenvolvimento humano deverá ser apoiado em

decrescimento econômico.

c) Os que acreditam que o crescimento da população e da produção não deva levar a

humanidade a ultrapassar a capacidade de regeneração dos recursos e absorção dos

dejetos. Assim, o crescimento físico deveria cessar, com continuidade exclusiva de

alterações qualitativas.

Do ponto de vista da agricultura sustentável, segundo EHLERS (1999), a

literatura conhecida sobre o assunto incorpora os seguintes pontos:

“- manutenção a longo prazo dos recursos naturais e da produtividade agrícola;

- o mínimo de impactos adversos ao ambiente;

- retornos adequados aos produtores;

- otimização da produção das culturas com o mínimo de insumos químicos;

- satisfação das necessidades humanas de alimentos e de renda;

- atendimento das necessidades sociais das famílias e das comunidades rurais” (EHLERS,

1999, p. 112)

Pela mesma linha, NIJKAMP (1990) escreve:

“A sustentabilidade envolveria três aspectos. O primeiro ecológico, refere-se à manutenção

das características do ecossistema que forem essenciais para a sobrevivência de longo

prazo. O segundo, econômico, refere-se à obtenção de uma renda suficiente para que o

manejo continue atrativo. E o terceiro, social refere-se, tanto à justiça na distribuição dos

benefícios e dos custos, quanto no respeito aos valores sociais e culturais da população

envolvida.” NIJKAMP (1990, apud VEIGA, 1994)

As análises que são feitas nesta dissertação partem da sustentabilidade do ponto

de vista ambiental e sócio-econômico.

16

Do ponto de vista ambiental, o meio deve ser visto de um modo holístico e

sistêmico. A ação humana é menos impactante à medida que conserva e amplia a

biodiversidade dos ecossistemas. Assim escreve ALTIERI (2000):

“Só uma compreensão mais profunda da ecologia humana dos sistemas agrícolas pode levar

a medidas coerentes com uma agricultura realmente sustentável”. (ALTIERI, 2000, p. 17)

Para CAPORAL E COSTABEBER (2004) a dimensão ambiental é sustentável:

“(...) à medida em que preserva as condições químicas, físicas e biológicas do solo; melhora

e mantém a biodiversidade, das reservas e dos mananciais hídricos, preservando os recursos

naturais como condição essencial para a continuidade dos processos de reprodução

socioeconômica e cultural das gerações”. (CAPORAL; COSTABEBER, 2004, p. 136).

Pela dimensão social, o produto gerado precisa ser eqüitativamente apropriado e

usufruído pelos diversos segmentos da sociedade assim como seus custos, contribuindo

para a eliminação da desigualdade. A distribuição deve ocorrer também entre gerações de

modo que o resultado de bem estar adquirido hoje não comprometa o bem estar e sustento

das gerações futuras. Ainda por esta dimensão, deve ocorrer a busca por melhores níveis

de qualidade de vida mediante a produção de alimentos com qualidade biológica superior,

o que implica na eliminação de insumos tóxicos. Os riscos de utilização de tecnologias

inadequadas à segurança alimentar devem ser avaliados tanto do ponto de vista de quem

consome o produto, como também das famílias de agricultores que a praticam.

Do ponto de vista econômico, os aumentos de produção e produtividade

agropecuária a qualquer custo, podem causar reduções de renda e dependência crescente

em relação a fatores externos. Cada vez mais a agricultura fica dependente da indústria,

seja pela compra de insumos ou pela utilização de fatores externos a ela, características

17

do pacote tecnológico da Revolução verde6. Por outro lado, à medida que a produção

agrícola é extensiva e produtora de grandes quantidades de produtos homogêneos, esta

fica a mercê das demandas industriais.

A produção nos moldes da Revolução verde, descrita anteriormente é altamente

demandante de fontes de energia não renováveis, seja na mecanização do campo, seja

no processo de produção dos insumos agrícolas7.

Modelos economicamente mais sustentáveis partem de propriedades de tamanho

menor, baseados na mão-de-obra familiar, onde a produção é distribuída de forma menos

concentrada. Parte do produto fica para o auto-consumo, essa produção não aparece nas

medições monetárias convencionais, mas é importante no processo de reprodução social

e nos graus de satisfação dos membros das famílias. A produção familiar também

interfere no abastecimento regional chegando mais diretamente aos consumidores.

Os assentamentos rurais são justamente modelos baseados em mão-de-obra

familiar e lotes pequenos, onde a diversidade de culturas costuma ser freqüente. No caso

do grupo estudado neste trabalho, veremos que tal grupo interfere diretamente no

abastecimento regional por participar de feiras de produtores. Por isso, acreditamos ser

possível traçar um paralelo desse espaço rural com o conceito de sustentabilidade.

Do ponto de vista do autoconsumo, as famílias assentadas costumam ter tal

prática, como constatou BEDUSCHI FILHO (2003):

“(...) as atividades de autoconsumo existentes nos assentamentos do Estado de São Paulo,

como a criação de aves e suínos e o cultivo de frutas e hortaliças, que sempre ocorrem

6 Segundo EHLERS (1996): “A euforia da grande produtividade ligada a este tipo de agricultura

contrasta com os impactos ambientais: erosão, perda da fertilidade dos solos, destruição florestal, perda de biodiversidade, etc. Por outro lado, com o tempo, tal prática perde eficiência, o que faz a produtividade agrícola declinar”.

7 PASCHOAL (1994, p. 14 e 19) descreve o custo energético de se produzir insumos químicos agrícolas.

19

CAPÍTULO 2: O ESPAÇO SOCIAL INVESTIGADO.

ASSENTAMENTO MONTE ALEGRE E FEIRAS

Neste capítulo descreveremos o objeto estudado. Faremos um breve histórico da

formação do Assentamento Monte Alegre e de como ele está ocupado na atualidade. Na

seqüência, apresentamos como está inserido o Assentamento Monte Alegre na Agenda

da Prefeitura Municipal de Araraquara. Por último, há um item em que descrevemos o

Programa Direto do Campo, que promove as feiras de produtores.

2.1 Histórico da ocupação das terras da fazenda Monte Alegre8

O Projeto de Assentamento Monte Alegre ocupa uma área de 6.595,19 ha

pertencente ao Governo do Estado de São Paulo. Está localizado na zona rural dos

municípios de Araraquara, Motuca e Matão. Era uma antiga área de plantio de eucalipto

para comercialização de madeira.

O processo de ocupação iniciou-se em 1985, com a ocupação da área Horto de

Silvânia, de propriedade da FEPASA, administrada pela CAIC (Companhia Agrícola

Imobiliária e Colonizadora).

O STRA (Sindicato dos Trabalhadores Rurais Assalariados de Araraquara),

junto com o CEPAM (Centro de Estudos e Pesquisas de Administração Municipal Faria

Lima) e o IAF (Instituto de Assuntos Fundiários), tentou junto ao governo estadual a

liberação da área para fins de reforma agrária. IAF e CAIC eram organismos

8 Este texto é baseado em: FERRANTE et al (1994); BARONE (1996) e CAMPOI (2005)

20

pertencentes à Secretaria de Agricultura e tinham posições opostas entre si; o IAF

buscava a liberação da área e a CAIC era contrária a isto, o que dificultava o processo.

Em 4 de julho de 1985, 25 famílias apoiadas pelo STRA tentaram ocupar a terra,

sem autorização legal e foram impedidas antes de chegarem à área pretendida. Tal fato

mostrava a disposição do sindicato e das famílias na luta pela terra, pressionando o

governo do Estado a resolver as questões fundiárias locais, conforme relata LEITE (1987):

“Cansados de tanta espera, os trabalhadores se organizaram e penetraram nas terras da

fazenda. No entanto foram despejados “pacificamente” e da área dirigiram-se à sede do

STRA e permaneceram acampados neste local durante uma semana. O fato foi amplamente

divulgado pela imprensa local e houve mobilização no sentido de arrecadar alimentos e

roupas para os trabalhadores. Estava caracterizada uma situação de conflito latente, que

poderia, inclusive, gerar movimentos mais violentos (LEITE, 1987)”.

Em julho de 1985, 50 famílias puderam entrar na área e levantar precários

barracos. No cadastramento oficial, no final deste ano, o que seria o núcleo I do

Assentamento Monte Alegre tinha 32 famílias. Os números variáveis do início deste

núcleo devem se à mobilidade das famílias e à falta de experiência dos órgãos que

representavam o governo estadual no processo.

Ainda em 1985, foram assentadas aproximadamente 42 famílias numa segunda

área da fazenda Monte Alegre. A maior parte dessas famílias tinha saído da cidade de

Sertãozinho. Com apoio de políticos locais, esse grupo acampou no Horto da Fazenda

Guarani, de propriedade da FEPASA, no município de Pradópolis. Despejados desse

local, os trabalhadores mantiveram o acampamento na beira da rodovia que liga

Pradópolis a Jaboticabal durante cerca de dois meses. Negociando com esses políticos

de Sertãozinho e com o STR de Araraquara, o governo estadual transferiu essas famílias

para uma nova área, a qual constituiu o núcleo II do Assentamento Monte Alegre.

21

Os dois primeiros núcleos são de julho e outubro de 1985 e as datas das leis que

os regularizaram são, respectivamente, de 19 e 30 de dezembro. Segundo BARONE

(1996), há um hiato de alguns meses entre a entrada das famílias e a regulamentação, o

que indica a urgência do poder público em assentar essas famílias como resposta à

pressão que partiu dos trabalhadores rurais da região liderados pelo sindicato (STRA) e

apoiados por autoridades políticas regionais.

A constituição dos núcleos III e IV do Monte Alegre passa pela trajetória de dois

grupos distintos de trabalhadores, com percursos e dificuldades diferenciados.

Haviam trabalhadores que estavam ligados ao STRA. Este sindicato, junto com

o IAF, no ano de 1986, cadastrou e selecionou esses trabalhadores para serem

assentados em mais uma área da fazenda Monte Alegre. Esse grupo, então, não passou

por um processo de mobilização e ocupação fora das instâncias públicas, eles foram

selecionados oficialmente para ocupar uma terceira área na fazenda Monte Alegre.

Por outro lado, em Guariba começou, ainda em 1985, a se organizar um grupo

de trabalhadores que, notando a movimentação de luta pela terra na região, tinham

anseios de conseguir uma terra sua9. Essa organização não tinha vínculos com os

sindicatos da categoria, eram amigos, parentes e colegas de trabalho, que contavam com

apoio de lideranças políticas locais e regionais. Em 27 de maio de 1986, ao todo 60

famílias ocuparam a área dentro da fazenda Monte Alegre, que estava sendo preparada

para a constituição do núcleo III de assentamento, onde iriam ser assentados o grupo

selecionado pelo STRA e IAF.

9 Em 1984, o governo do Estado de São Paulo através do CEPAM institui o programa Bóia Fria,

objetivando alocar os trabalhadores rurais na entressafra, em atividades produtivas. Concomitante a isso, realiza uma política de assentamentos rurais através do programa de valorização de terras públicas. Tais políticas podem ser compreendidas em alguns aspectos como uma resposta às greves ocorridas durante o ano de 1984 que têm como foco principal a cidade de Guariba (FERRANTE, 1992). Os trabalhadores regionais observando essa movimentação se organizam na luta pela terra.

22

Esse grupo, vindo de Guariba, sofreu pressões para sair da área, desde pressões

advindas de órgãos que apoiavam o projeto de assentamento como o STRA e IAF, até

pressões dos administradores da CAIC. As lideranças políticas regionais, o prefeito de

Guariba, Evandro Vitorino (PMDB) e o deputado Waldir Trigo (PMDB), ambos do

mesmo partido do governo estadual, juntamente com os trabalhadores, negociaram com

o governo um acordo que transferiu o grupo para uma área próxima, onde funcionava o

viveiro do horto. O grupo ficou lá durante seis meses, período em que montaram seus

barracos e trabalharam na destoca de eucalipto.

Em agosto de 1986, as 18 famílias selecionadas para a área III puderam

oficialmente ocupar essa terra. As 22 famílias remanescentes do grupo de Guariba

puderam ocupar oficialmente uma área na fronteira leste da fazenda Monte Alegre em

novembro de 1986, constituindo o núcleo IV.

Em 1987, uma quinta área da fazenda Monte Alegre foi ocupada por 65 famílias

provenientes de Sertãozinho-SP; destas, 35 permaneceram. O grupo foi alocado para

lotes vazios nos núcleos já existentes, 12 famílias foram para o núcleo I, 11 famílias

foram colocadas no núcleo IV, e, 12 famílias restantes foram transferidas, no ano

seguinte, para outro Projeto de Assentamento (Assentamento Bela Vista do Chibarro em

Araraquara).

Esta quinta área ficou desocupada até novembro de 1989, quando 42 famílias a

ocuparam, reivindicando a área. Dessas 42 famílias, 35 persistiram no local e foram

regularizadas em 1991, formando o núcleo V do Monte Alegre.

Dada a existência de 22 lotes agrícolas vazios nas áreas já implantadas, em julho

de 1990 foi aberto cadastramento para seleção de novos beneficiários e, em novembro

do mesmo ano, os lotes foram ocupados.

23

Em maio de 1997, 250 famílias ocuparam uma sexta área da fazenda Monte

Alegre e após novas negociações dos trabalhadores rurais com o governo estadual, esta

foi liberada para implantação do assentamento, procedendo se a inscrição/

cadastramento destas famílias. Em setembro do mesmo ano, foram assentadas 179

famílias, sendo 88 delas, nesta sexta área, o Assentamento VI (Projeto de Assentamento

Monte Alegre-Área VI), 02 famílias na área I, 24 famílias na área II, 53 famílias foram

para na área III, e 12 famílias na área IV da Fazenda Monte Alegre.

Em setembro de 1998, nova ocupação foi realizada na fazenda por 27 famílias

de trabalhadores rurais na área da sede da Fazenda Monte Alegre (escritório central),

administrada pela Companhia de Desenvolvimento Agrícola do Estado de São Paulo

(CODASP), após inscrição/cadastramento destas famílias. Em novembro do mesmo

ano, 19 delas foram assentadas nesta área, hoje denominada Projeto de Assentamento

Horto de Silvânia.

As outras 8 famílias ocuparam uma área de 94 ha, localizada dentro do

perímetro da área do assentamento VI, em área cedida pelo governo do estado para um

consórcio intermunicipal de nove prefeituras da região, entre elas Araraquara, Matão e

Motuca (ainda no período em que a fazenda estava sob administração da CODASP),

para plantio de soja, que seria utilizada na produção do leite a ser fornecido na merenda

escolar destes municípios.

O plantio de soja na área, realizado pelo consórcio, foi suspenso em 1999 e, a

partir daí, as famílias que lá estavam aguardaram a “devolução” da área para o governo

do estado pelo consórcio intermunicipal, fato este que ocorreu no mês de janeiro de

2002. Em junho do mesmo ano, as famílias foram oficialmente assentadas, encerrando-

se aí, até o momento, o histórico de ocupação da Fazenda Monte Alegre.

24

Aproximadamente 70% dos assentados no projeto de Assentamento Monte

Alegre foram proletários rurais nas culturas de cana e de laranja.

2.2. O Assentamento Monte Alegre na atualidade

Atualmente no Assentamento Monte Alegre há uma grande diversidade de

produção, conforme relatado em recente trabalho de CAMPOI (2005):

“O Projeto de Assentamento Monte Alegre apresenta uma significativa diversificação nas

suas atividades produtivas desenvolvida pelos beneficiários (visão do assentamento), tais

como culturas anuais (milho, mandioca, arroz, feijão), culturas perenes (laranja, limão,

manga, goiaba, café), hortaliças diversas (folhas, raízes e frutos), bovinocultura de leite,

caprinocultura, suinocultura, avicultura de corte e postura, além de pequenas agroindústrias

familiares com produção de farinha de mandioca, polvilho, rapadura, açúcar mascavo,

doces, compotas, mel e queijos” (CAMPOI, 2005, p. 38).

Essa produção é definida de acordo com as estratégias de cada família assentada,

coerentemente com suas origens e trajetórias, mas também em muito influenciadas

pelas condições que a estrutura agrícola regional e as políticas impõem. Existem tanto

produções voltadas ao autoconsumo das famílias, marcadas por aspectos culturais e pela

diversificação, como sistemas voltados exclusivamente para a integração com a

economia regional. São dois tipos de sistemas de produção que coexistem nos lotes.

Após a portaria do ITESP que regulamenta parcerias entre assentados e

agroindústrias (portaria 075 – setembro de 2002) ocorreu uma explosão de contratos

para o plantio de cana com a finalidade agroindustrial no assentamento. Desde então, o

número de assentados que aderiram à parceria aumentou rapidamente. De quarenta lotes

no primeiro ano (safra 2002-2003), o número passou para oitenta no segundo ano e para

cento e trinta e sete no terceiro, e, continua aumentando. Além desta alternativa

produtiva, é muito comum entre os assentados a adesão a contratos de fornecimento

25

para empresas de alimentos, de ração animal, de sementes, dentre outras. As condições

a que ficam submetidos os pequenos agricultores perante as empresas são preocupantes

e dizem respeito ao modelo de desenvolvimento idealizado, posto em prática pelos

órgãos gestores da reforma agrária, pela economia regional e mesmo pelo poder local.

Com o pretexto de alavancar o desenvolvimento, são permitidas associações

entre desiguais que não deixam de transparecer interesses em envolver os assentados na

tradicional estrutura agrícola desta região. Estrutura esta que, após vinte anos da

implementação dos assentamentos, ainda não possibilitou uma alternativa mais condizente

com a realidade vivida nos assentamentos. Ao contrário, as alternativas de desenvolvimento

para eles parecem sempre atreladas ao modelo agroindustrial, tais como contratos de

fornecimento para empresas maiores. Os contratos têm permitido aos assentados não

apenas plantar cana, mas também produzir milho, mandioca, algodão, soja, feijão-de-

porco, café, eucalipto, bicho-da-seda, mel, e tem permitido, também, consórcio de

criação de frangos de corte (Rei Frango); tudo com certa garantia de comercialização. Há

também, nesta relação, um incentivo à produção, pois os assentados recebem

investimentos em infra-estrutura e assistência técnica diretamente das empresas.

Este dado está relacionado à ineficiência da política do crédito e da assistência

técnica que os assentamentos recebem do Estado. Por outro lado, esse processo vem

demonstrar a fragilidade financeira dos assentados impondo-lhes a necessidade em

recorrer aos usineiros de cana-de-açúcar e a outros representantes da agricultura

empresarial - aqueles que antes os colocavam em péssimas condições de trabalho -

como o caminho para seu desenvolvimento.

Um aspecto da fragilidade financeira vem do próprio poder local, neste caso

representado pela Prefeitura de Motuca (gestão 2001/2004), que considerava os

26

assentamentos como um problema. Na avaliação dessa prefeitura, as famílias assentadas

não têm renda e dinheiro suficiente para sobreviver, gerando um aumento na demanda

por serviços públicos municipais. A prefeitura desse município vem, desde 1993,

propondo projetos de plantio de cana em parceria com a Usina Santa Luzia no projeto

de assentamento Monte Alegre.

Num primeiro momento, a Prefeitura propôs uma forma de arrendamento das

terras do assentamento para a Usina Santa Luzia. Neste modelo, o assentado não

receberia remuneração pelo arrendamento, receberia um salário mínimo e alguns

benefícios assistencialistas tais como descontos na compra de remédios, assistência

médica/odontológica e uma cota de leite de soja. Com a mediação do DAF

(Departamento de Assentamentos Fundiários) e do STRA (Sindicato dos Trabalhadores

Rurais Assalariados de Araraquara), ambos contrários à proposta, essa encontrou

empecilhos para sua implantação à medida em que tramitava dentro das esferas do

governo estadual e federal.

Num momento seguinte, 1995, é proposto um consórcio de plantio de cana

ocupando um espaço de 50% dos lotes, mas sem os benefícios diretos e indiretos da

primeira proposta. O STRA e o DAF fizeram uma contraposta que incluía a

continuidade da gestão e administração dos assentamentos. Por meio de associações

tenta-se iniciar um projeto de plantio de cana que se inviabiliza pelas dificuldades

associativas e pela resistência a modelos de trabalho coletivo por parte dos assentados10.

Nos últimos anos, com apoio da portaria do ITESP, conforme já mencionado, o

plantio de cana passou a ser realizado no interior do Assentamento Monte Alegre,

10 Em vários núcleos do Assentamento Monte Alegre tentou-se implantar modelos de trabalho coletivo,

o que se revelou bastante problemático.

27

através de parcerias entre a Usina Santa Luzia e os assentados, com apoio da Prefeitura

de Motuca (STETTER, 2004).

A portaria do ITESP e os contratos, sob a forma de arranjos produtivos

envolvendo a prefeitura de Motuca, a usina do município e órgãos do Estado, trouxeram

desdobramentos e “divisores de águas”, pondo em discussão o modo de vida constituído

nos assentamentos. A perspectiva junto às agroindústrias, o significado da cana e de

outros arranjos produtivos - como possíveis estratégias de gestão econômica do

território e de permanência na terra - se chocam com os espaços diversificados de

produção/reprodução social que marcam o assentamento. Nesse sentido, dizem

FERRANTE, WHITAKER e BARONE (2006):

“Em um jogo de expectativas, idealizações e irrealizações, estratégias familiares para se

viver melhor na terra aparecem no mesmo cenário em que tais arranjos [plantio de cana,

granjas de frango, etc...] se fazem presentes. Expressões de clientelismo por parte do poder

local se contrapõem a outras tentativas de uma nova cultura política” (FERRANTE,

WHITAKER e BARONE, 2006, p. 19).

Numa outra perspectiva para o desenvolvimento, priorizada nesta pesquisa,

encontram-se os programas municipais de Araraquara que incentivam as produções

mais diversificadas que têm chegado aos consumidores do município por meio de feiras

e outros espaços onde ocorre a venda direta. A atuação da prefeitura deste município em

suas duas últimas gestões têm demonstrado, através de programas voltados aos

assentamentos, muito mais interesse em incluí-los em sua agenda política, incentivando

uma forma de desenvolvimento alternativa ao agronegócio, embora podendo beneficiar

um número reduzido de produtores.

Em comparação ao município de Motuca, que abriga praticamente metade dos

assentados da fazenda Monte Alegre e que prioriza a inserção deles em arranjos com a

28

usina canavieira do município, os programas de Araraquara têm viés muito diferente.

São pautados pela segurança alimentar, pela produção de alimentos por pequenos

produtores e pela venda direta aos consumidores urbanos. Embora estejam ocorrendo

somente a partir da primeira gestão do Partido dos Trabalhadores (2001-2004), as

iniciativas envolvendo assentados e as produções de alimentos para escoamento no

próprio município podem acenar para uma forma de desenvolvimento regional.

2.3. Assentamentos na Agenda Municipal de Araraquara

Em 2001, assume a prefeitura de Araraquara, uma corrente política ligada aos

movimentos populares. Parte desse grupo11, ao longo dos anos que antecedem a vitória

política, estava ligado ao estudo e à pesquisa dos projetos de assentamento da região.

Uma das metas de campanha era incentivar o desenvolvimento local da produção

familiar rural.

Segundo FERRANTE e BARONE (2003), as metas deste novo governo -

condizentes com a proposta do governo federal de descentralização da reforma agrária e

expressas no documento “Agricultura Familiar, Reforma Agrária e Desenvolvimento

Local para um Novo Mundo Rural” - reforçam a base local para desenvolvimento

sustentável dos projetos de assentamentos.

A primeira sinalização importante de que esse governo estava preocupado com a

agricultura familiar e com os assentamentos da região, foi a criação, no âmbito da

Secretária de Desenvolvimento Econômico, dos cargos de Coordenador de Atividades

Agroindustriais e de Gestor de Segurança Alimentar. O cargo de Coordenador de

Atividades Agroindustriais foi ocupado por um antigo membro da CPT, profissional

11 O prefeito eleito foi militante da pastoral do migrante, o então futuro coordenador de atividades

agroindustriais atuava em pesquisas acadêmicas nos assentamentos e desenvolvia projetos sociais.

30

na Bela Vista... Em média as máquinas ficam de um a dois meses fazendo

estradas...”;

c) auxiliar no assentamento através do Projeto “Patrulha Agrícola” com dois tratores e

oito implementos, esses tratores ficam um na Monte Alegre e outro na Bela Vista; a

utilização segue algumas normas, como por exemplo, a solicitação de uso deve ser

feita por uma associação de produtores e não individualmente (o que gera queixas

por parte dos assentados);

Na LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias), de outubro de 2005, páginas no

anexo III, a Prefeitura estabelece programas e projetos de fomento à agricultura familiar

e aos assentamentos, com objetivos de proporcionar: assistência técnica; melhoria da

qualidade, diversificação da produção, operacionalização da comercialização, a venda

das produções para merenda escolar, consolidação de uma central municipal de

abastecimento, implantação de pontos de pesagem nos assentamentos, reformas de

estradas rurais, etc. Tais diretrizes indicam uma preocupação da política municipal com

os assentamentos rurais.

Dentre as atuações da Prefeitura, através da Coordenadoria de Atividades

Agroindustriais, ressaltamos dois programas municipais que favorecem parte dos

assentados no escoamento da produção e, de certa forma, impulsionam sua

continuidade.

Um dos programas é o Direto do Campo, programa que comporta uma feira aos

sábados, localizada na região central da cidade e também a venda diária no terminal

urbano de ônibus, de segunda a sábado. Para estes dois espaços, a prefeitura

disponibiliza o transporte de ida e volta dos produtores com suas mercadorias, barracas

para exposição e um avental para caracterizá-los.

31

Já o outro programa é em parceria com o governo federal, chamado Programa

de Aquisição de Alimentos. Neste caso, cada produtor familiar tem direito a vender para

a prefeitura até R$ 2.500,00 por ano em alimentos. A prefeitura também vai buscar as

produções nos lotes e destina parte dela para a merenda escolar e outra parte para

instituições como albergues e restaurantes populares. Existe como plano da Prefeitura,

constituir uma central de abastecimento que armazenaria esses produtos para posterior

distribuição; a central também seria um espaço onde o produtor assentado poderia

deixar guardado de véspera suas mercadorias que seriam vendidas, no dia seguinte, na

feira ou no terminal de integração. O projeto de uma central de abastecimento ainda não

tinha se consolidado quando terminamos a pesquisa de campo.

Em particular, para o desenvolvimento deste trabalho, nos interessa o Programa

“Direto do Campo”, visto em mais detalhes na seqüência.

2.4. O Programa “Direto do Campo”: criação e funcionamento.

Desde 1995, os produtores da região já vinham vendendo seus produtos em um

espaço cedido pela Cooperativa Mista Agropecuária de Araraquara (COMAPA), mas

não havia uma política compromissada com o desenvolvimento da agricultura familiar e

dos assentamentos rurais.

Em 2001, a recém criada Coordenadoria de Atividades Agroindustriais

procurava transformar a feira de produtores, que acontecia no espaço da COMAPA, em

uma feira regional de agricultura familiar; para tanto precisava encontrar outro lugar

para realização da feira, pois o espaço da COMAPA havia sido vendido. Diante disso,

uma das opções passou a ser o Terminal de Integração, local de grande movimentação

de população, pela sua localização e papel estratégico no transporte coletivo.

32

A área de Segurança Alimentar buscava criar um espaço onde as pessoas de

baixa renda pudessem comprar alimentos mais baratos, talvez com a venda direta do

produtor. Essa população mora em bairros distantes do centro, na periferia da cidade,

onde normalmente há poucas quitandas, cujos preços são majorados. O projeto era

estabelecer pontos de vendas no Terminal de Integração.

Da união das idéias desses gestores foi criado o Programa Direto do Campo, o

nome foi inspirado no Projeto Direto da Roça, de Belo Horizonte e na prática da Feira

de Produtores do Terminal de Integração de Campinas.

Em outubro de 2001, os produtores assentados, tiveram uma “super” safra de

manga e precisavam vender o produto. A Coordenadoria de Atividades Agroindustriais

e a área de Gestão de Segurança Alimentar providenciaram espaços públicos para escoar

esta produção (Praça Santa Cruz, Paço Municipal e Terminal de Integração), colaborando

com bancas e transporte. Este fato marca o início do Programa Direto do Campo.

Dentre os produtores que vendiam suas safras de manga havia os que estavam lá

só para vender a produção sazonal e os que - além da manga - tinham produções

diversificadas; havia, também, entre eles alguns que já participavam da feira no espaço

da COMAPA. Assim, à medida em que a safra de manga terminava, esses produtores

passaram a vender, além da manga, outros produtos cultivados em sua propriedade.

Durante o final de 2001 e o primeiro semestre de 2002, provisoriamente, o

espaço público ocupado pelos produtores passou a ser, durante a semana, o Terminal de

Integração e a Praça de Santa Cruz e, aos sábados, o espaço da COMAPA.

Em agosto de 2002, é inaugurada na Praça Pedro de Toledo, aos sábados, a Feira

do Produtor, fazendo parte do Programa Direto do Campo. Tratava-se de um novo

espaço público onde foram alocados os produtores que participavam da Feira da

33

COMAPA, os que participavam das bancas do Terminal de Integração e os da Praça

Santa Cruz.

No mês de setembro de 2002, o programa assumiu o formato de lei, sendo aprovada

pela Câmara Municipal a Lei 5.098 que regulamenta o Programa Direto do Campo.

O programa é administrado pela Coordenadoria de Atividades Agroindustriais,

que se volta à produção familiar e atende majoritariamente os assentamentos. A equipe

da coordenadoria é composta por um engenheiro de alimentos, um engenheiro

agrônomo, um sociólogo e um técnico agropecuário; geralmente profissionais de

carreira que ficarão na máquina administrativa mesmo após o mandato deste governo, o

que indica a possibilidade do Programa continuar mesmo após o término da gestão atual

(2001-2004, 2005-2008).

A lei municipal de aprovação informa, no seu artigo primeiro, que o programa

está voltado para facilitar a comercialização direta entre produtor e consumidor de

produtos hortifrutigranjeiros, conservas, produtos derivados do leite e da

industrialização artesanal e artigos oriundos do artesanato rural (Lei Municipal 5.908,

ver anexo 2)14.

Os assentados podem participar independentemente do município em que

residam. Essa parte do Programa foi pensada particularmente para atender ao

Assentamento Monte Alegre que é encarado como uma unidade produtora regional,

assim não importa se o produtor é assentado na parte do Monte Alegre pertencente à

Araraquara, Matão ou Motuca, o que importa é que ele seja assentado.

14 Atualmente, a Coordenadoria de Atividades Agroindustriais só permite vender nas feiras produtos da

horta, legumes e frutas. No Terminal de Integração, é permitida, fora esses produtos, a venda de pães e roscas caseiras.

34

Além do apoio legal, a permissão de uso da área pública e a assistência técnica, a

Prefeitura de Araraquara cede também as bancas, disponibilizando ainda um caminhão

para transportar as mercadorias e um ônibus para os produtores.

Para a Feira da Praça Pedro de Toledo são disponibilizadas cerca de 40 bancas,

no Terminal de Integração há 4 bancas. Se não houver vagas para um produtor

participar, ele é colocado numa lista de espera. Primeiro, ele começa participando da

Feira aos sábados e depois, se ele tiver produtos e aparecer uma vaga, ele também pode

participar da feira do terminal.

O programa, segundo a lei, deve ser gerido por uma comissão formada por um

representante do assentamento Bela Vista do Chibarro, um representante do

Assentamento Monte Alegre, um representante da Prefeitura, um representante da

Câmara Municipal, dois representantes dos produtores rurais, um representante da Casa

de Agricultura de Araraquara, um representante do ITESP e um representante do

Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural. A fiscalização cabe à Secretária

Municipal de Desenvolvimento Econômico. No momento dessa pesquisa, a gestão do

Programa Direto do Campo está centralizada na Coordenadoria de Atividades

Agroindustriais.

Atualmente (janeiro, 2006), conforme já vimos, a quantidade de produtores que

participam das feiras é de aproximadamente 32 famílias. Destes, seis não são assentados

e os outros 26 estão divididos da seguinte forma: cinco são do Assentamento Bela Vista

do Chibarro, um é do Assentamento Horto de Bueno de Andrade e 20 são assentados da

fazenda Monte Alegre. Esses produtores participam de projetos diferenciados dentro do

Programa Direto do Campo.

35

O Programa Direto do Campo comporta atualmente cinco projetos diferentes: a

Feira do Produtor (Integração), o Pró-organico, a Feira da Roça, e Feira do Produtor

(Praça Pedro de Toledo), e esporadicamente, há, também, o funcionamento do Direto

do Campo Intinerante; todos em mais detalhes na seqüência.

A Feira do Produtor (Praça Pedro de Toledo), fotografia 1, acontece aos

sábados de manhã, envolvendo todos os produtores que participam do Programa Direto

do Campo, com exceção das mulheres participantes da Feira da Roça. Existem

produtores que, por ter pequenas quantidades de produtos, só participam dessa Feira.

Fotografia 1: Feira do Produtor, Praça Pedro de Toledo. A Feira do Produtor (Integração), fotografia 2, acontece às terças e sextas feiras

no Terminal de Integração, com os produtores que têm uma maior quantidade de

produtos e podem atuar, assim, três dias por semana (um dia na Praça Pedro de Toledo e

dois dias no Terminal de Integração).

36

Fotografia 2: Feira do Produtor, Terminal Urbano de Integração A feira de Produtos Orgânicos, chamada Pró-Orgânico, acontece, às segundas e

quintas feiras, no Terminal de Integração e, aos sábados, dentro da feira maior, na Praça

Pedro de Toledo. O Pró-Orgânico envolve produtores que participam da Associação

para o Desenvolvimento da Agricultura Regenerativa na Região de Araraquara

(REGAR). Essa Associação, no momento da pesquisa, era composta por produtores

assentados e não assentados. Tal projeto envolve produtores que, também com apoio da

Prefeitura e da Fundação Mokit Okada, estão se adequando às normas de produção

orgânica, para no futuro buscarem uma certificação dos produtos.

A Feira da Roça (Fotografia 3), que acontece às quartas-feiras e aos sábados no

Terminal de Integração, caracteriza se por ser uma feira de mulheres. As integrantes

desse Projeto pertencem ao Assentamento Monte Alegre e ao Assentamento Horto de

Bueno de Andrade. As mulheres vendem produtos agrícolas (que a família produz no

sítio) ou produtos que fazem em casa (tais como pães caseiros e roscas doces).

37

Fotografia 3: Feira da Roça, Terminal de Urbano de Integração. Um último projeto, dentro do Programa Direto do Campo, é o Direto do Campo

Itinerante. Em 2004, houve uma tentativa de montar a estrutura da Feira do Produtor

nos bairros, iniciando-se no Jardim Paraíso onde, por três meses (agosto, setembro e

outubro de 2004), realizaram-se feiras aos domingos. O projeto não foi bem sucedido

porque participavam feirantes cadastrados na prefeitura que pertenciam a outra secretaria

(obras) e integrantes do Programa Direto do Campo. Como as normas não eram as

mesmas para ambos, ocorriam dificuldades de se controlar os produtos vendidos. Um

outro problema é que era um período de transição política e, apesar dos técnicos da área

de atividades agroindustriais estarem conduzindo o programa, o coordenador geral tinha

sido exonerado. Apesar disso, com as eleições e a reeleição do prefeito,

esporadicamente o projeto é ativado nas praças da cidade, para os produtores venderem

sua produção sazonal.

O Programa Direto do Campo, como visto, é composto por cinco projetos que

envolvem a venda direta de produtos agrícolas para a população de Araraquara e região.

38

O Programa funciona com bancas instaladas no Terminal de Integração e uma Feira do

Produtor na Praça Pedro de Toledo. A maioria dos participantes do Programa são

produtores assentados. A Prefeitura de Araraquara, através da Lei de Diretrizes

Orçamentárias (cf. páginas no anexo 3), conforme já vimos, estabelece políticas

direcionadas aos assentamentos da região. O Programa Direto do Campo se faz

presente indiretamente na LDO através das diretrizes voltadas aos seus projetos,

mostrando o compromisso da Prefeitura em incentivar o funcionamento da Feira do

Produtor. Neste trabalho, visamos, assim, coletar e analisar dados de todos os

produtores do Assentamento Monte Alegre que participam do Programa Direto do

Campo, independentemente do subprojeto dos quais os produtores participam.

39

CAPÍTULO 3: METODOLOGIA.

OS FEIRANTES ASSENTADOS:

FRAGMENTOS DE SUAS TRAJETÓRIAS

No momento deste trabalho, coletamos informações com 20 famílias do Projeto

de Assentamento Monte Alegre, participantes das feiras do Programa Direto do Campo

da Prefeitura de Araraquara. Além da entrevista com as famílias, foram coletados dados

sobre a relação de feirantes e de projetos de que participam. Também foram realizadas

entrevistas questionando acerca de programas voltados aos assentamentos. Os dados

foram coletados e as entrevistas realizadas na Coordenadoria de Atividades

Agroindustriais da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico. No Instituto

de Terras do Estado de São Paulo (ITESP) foram levantadas, por meio de entrevistas

com os técnicos, informações relativas à conservação ambiental e à identificação de

cada família do grupo estudado neste trabalho; nesse órgão também foram coletados

dados a respeito do plantio de cana nos assentamentos.

No primeiro item (3.1.) apresentamos mais detalhadamente como foi a coleta de

dados, e, no segundo item (3.2.) apresentamos o procedimento metodológico utilizado,

que está em consonância com os trabalhos de campo realizados pelo Núcleo de Pesquisa

e Documentação Rural (NUPEDOR), conhecido como diário de campo. Por último item

(3.3) apresentamos relatos das trajetórias de vida do grupo estudado

40

3.1. Coleta dos dados.

A coleta dos dados foi realizada a partir de um questionário aplicado a 20

famílias, no primeiro semestre de 2006; algumas complementações foram feitas, por

meio de entrevistas, na fase final do trabalho e do registro em diário de campo. O

questionário é apresentado no anexo 1.

Para a seleção dos sujeitos que foram entrevistados, inicialmente, objetivamos

uma relação dos participantes do Programa Direto do Campo, junto à Secretaria de

Desenvolvimento Econômico (Setor de Gestão de Projetos Agro-Industriais). A partir

dessa lista, foram selecionados os produtores que eram assentados, que constituíam a

maioria. Após as primeiras idas a campo, percebemos que, da amostra inicial de

assentados, a maior parte (cerca de 76%) pertencia ao Assentamento Monte Alegre;

optamos, assim, por delimitar o universo de pesquisa somente a 20 famílias (76% dos

assentados que participam do Programa Direto do Campo) que pertencem a tal

assentamento.

As entrevistas, cuja base principal foi o questionário (anexo 01), foram

realizadas no espaço da feira da Praça Pedro de Toledo e das bancas instaladas no

Terminal de Integração Urbano de Araraquara. Foram feitas, também, algumas visitas

ao assentamento cujas informações levantadas foram registradas em um diário de

campo.

3.2. Diário de campo15

No ano de 2005, foram realizadas algumas visitas aos assentamentos da região

estudada. O objetivo dessas visitas era colher dados para o projeto maior em andamento

15 Para maiores detalhes ver AMARAL (2004), DUVAL (2004), OLIVEIRA (2004).

41

“Poder Local e Assentamentos Rurais: expressões de conflito, de acomodação e de

resistência”, a coleta de dados era realizada por meio dos chamados diários de campo,

que consistem em registrar por escrito as impressões do pesquisador, entrevistas e

conversas realizadas no interior dos assentamentos.

As entrevistas ocorriam geralmente nos lotes de produção dos assentados ou nas

casas da agrovila, quando o assentado fazia o relato das experiências de produção e de

outras questões que investigávamos, não o fazia só por meio de palavras, pois é costume

deles mostrar parte de sua atividade no sitio e seu modo de vida. Esses dados seriam

difíceis de ser captados num sistema de questionários e perguntas fechadas, assim a

prática de ir anotando os relatos e as nossas percepções. Muitas vezes o visual da

situação vivenciada por nós no universo de pesquisa era muito mais rico e abrangente

do que uma relação de perguntas. O trabalho de campo era pautado geralmente por um

roteiro de questões que precisávamos levantar, mas as entrevistas seguiam a dinâmica

das conversas que tínhamos com nossos entrevistados, o que nos dava oportunidade de

observar a realidade de cada família em suas particularidades.

A aplicação do questionário para este trabalho foi realizada na feira, seguimos

um roteiro próximo às idas a campo nos assentamentos, registrando além das perguntas,

em sua maior parte abertas, outros relatos que esses produtores faziam e algumas

peculiaridades que aconteciam no momento da aplicação. Assim, o trabalho de coleta de

dados incluiu relatos anotados em diários de campo, tornando a coleta de dados,

quantitativa e qualitativa. Os relatos das trajetórias de vida desse grupo estudado

encontram se a seguir (item 3.3.).

42

3.3. Os assentados e sua trajetória

O grupo estudado tem no Programa Direto do Campo um espaço comum para

distribuição de seus produtos, mas ocupou as terras do Assentamento Monte Alegre em

momentos diferentes. As trajetórias de vida desses sujeitos têm semelhanças e

diferenças; neste item buscamos retratar aspectos da trajetória de cada uma das famílias

desse grupo estudado.

1) Sra. Luzia Babi e Sr. Juvenal

Assentados do Projeto de Assentamento Monte Alegre, núcleo I; estão no

assentamento há 21 anos. Vieram da zona rural de Ibitinga-SP onde trabalhavam de

empregados com roça e carpa de laranja.

O Sr. Juvenal era trabalhador rural e associado do sindicato de empregados

rurais. Participou do primeiro grupo que se organizou e ocupou a Fazenda Monte

Alegre, foram despejados e ocuparam novamente até serem assentados.

A família é composta pela Sra. Luzia, com 57 anos e o Sr. Juvenal, com 68 anos;

ambos estudaram até a 3ª série e estão aposentados com um salário mínimo cada. Têm três

netos morando com eles, sem renda fora do sítio, um de 19 anos que faz supletivo, uma

neta de 17 anos que faz a 7ª série do ensino fundamental e uma neta de 15 anos que faz

o 1º série do nível médio.

Quando entraram no assentamento, plantavam com equipamentos de tração

animal, hoje usam máquinas de terceiros, pagam para “fazer a terra”. Fora as horas de

máquinas, a mão-de-obra é toda familiar.

43

2) Sr. Carlos e Sra. Luciana

Eles são do núcleo I do Projeto de Assentamento Monte Alegre, onde vivem há

9 anos. Sua família veio de Matão. O pai acampou sozinho na Bela Vista junto com um

grupo de 100 famílias de Matão. O Sr. Carlos, antes de trabalhar com horta, no sitio do

pai, trabalhou em serralheria e na colheita de laranja.

A família no sitio é composta por: Carlos, a esposa Luciana e dois filhos

pequenos; o pai e o sogro, aposentados com um salário mínimo cada; o irmão Fernando

e sua esposa. Quem trabalha no lote principalmente é ele e o irmão.

3) José Parma e Sra. Maria

Moram no núcleo I do Projeto de Assentamento Monte Alegre e estão no

assentamento há 13 anos, desde 1991. A família veio de Matão. O Sr. José trabalhava na

roça como tratorista, formava pomar e plantava arroz e feijão. Quando veio para o

assentamento estava desempregado, fez inscrição para o Projeto de Assentamento e foi

contemplado.

A família é composta pelo Sr. José, com 67 anos, a Sra. Maria, com 52 anos, os

filhos, Rodrigo, com 25 anos, que costuma trabalhar na safra de laranja, Ricieri, com 23

anos, que vende os produtos na feira e uma irmã mais nova com 06 anos.

A família trabalha com pomar de laranja de 2.300 pés, na época da colheita

costumam utilizar diárias de terceiros, aproximadamente durante15 dias utilizam o

trabalho de 10 pessoas. Além de laranja, tem no sitio 300 pés de manga, 80 pés de

abacate, 150 pés de limão ocupando um espaço de quatro alqueires.

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4) Sra. Cacilda

Mora no núcleo II do Projeto de Assentamento Monte Alegre. Está no

assentamento há 20 anos. Veio de Sertãozinho onde era empregada doméstica e o

marido trabalhava no corte de cana e era motorista de caminhão.

Inicialmente, veio o marido acampar na Fazenda Monte Alegre, só depois da

regularização da terra, ela veio.

A família é composta por ela, com 42 anos, pelo marido, que trabalha de

motorista, e por três filhos: um de 23 anos que trabalha de aprendiz de soldador, uma

filha de 17 anos que faz a 3ª série do ensino médio e um filho de 18 anos que também

faz a 3ª série do ensino médio.

Ela aprendeu a mexer na terra depois que se tornou assentada. Quando morava

na cidade não tinha “pés de frutas” e nem sabia o que era um canteiro.

5) Sra. Maria da Glória e Sr. Alvino

Assentados no Projeto de Assentamento Monte Alegre, núcleo II, estão no

projeto há 19 anos, vieram de Araras onde eram comerciantes.

Trabalharam dentro do Projeto de Assentamento de Araras, com gado de leite

nas terras de um assentado. Conhecendo o assentamento fizeram inscrição e foram

sorteados no núcleo II do Projeto de Assentamento Monte Alegre.

Hoje no assentamento moram e trabalham somente a Sra. Maria da Glória, com

46 anos, e o Sr. Alvino, que tem 51 anos. Quando vieram para o assentamento

trouxeram três filhos, que hoje, maiores de idade, trabalham e moram na cidade.

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6) Sra. Maria Amélia

A Sra. Maria Amélia está assentada no núcleo II do Projeto de Assentamento

Monte Alegre. Está no projeto há 21 anos. Sua cidade de origem é Sertãozinho onde

trabalhava como enfermeira e o marido como motorista de ambulância. Tanto ela como

o marido têm origens rurais. Ela saiu do sítio com 14 anos e o marido saiu da área rural

com 20 anos.

No processo de busca pela terra o marido ficou acampado por 20 dias onde hoje

é o P. A. Guarani perto de Pradópolis. O sindicalista Elio Neves interferiu e os trouxe

para o núcleo II do Monte Alegre, foi quando ela se juntou ao marido que estava na luta

pela terra.

Na área do núcleo II, o trabalho era coletivo, isso perdurou por três anos.

Segundo ela, eram aproximadamente 63 famílias que só usavam uma parte do que hoje

é o núcleo II, o resto do núcleo II, uma parte era um mandiocal da CODASP e a outra

era plantação de soja da Prefeitura de Matão.

No primeiro ano esse grupo plantou arroz e a colheita foi muito boa, todos

haviam trabalhado e dividiram os resultados.

No segundo ano foi plantado arroz, amendoim e milho, neste ano o trabalho

coletivo não funcionou. Alguns foram trabalhar fora e não cuidaram da roça e outros

simplesmente não cuidavam. A solução foi dividir pedaços para cada um cuidar. Havia

uma cooperativa (associação) que fazia as compras (despesas) que cada família

precisava para se manter; cada família fazia uma lista do que precisava e a cooperativa

comprava para ser descontado na colheita, tal prática gerou problemas na medida em

que as listas de compras não eram iguais e o desconto foi igual para todos. Uma outra

questão eram os gastos da própria diretoria que, para ir à cidade e fazer suas atribuições,

46

demandava recursos. O resultado deste processo foi que, vendida a colheita e

descontados os gastos, sobrou muito pouco para cada assentado.

A partir daí essas famílias resolveram dividir espaços individuais para cada um

trabalhar e demarcaram cada espaço esticando cordas. Posteriormente, o ITESP,

percebendo o processo, levou um topógrafo que dividiu a área em lotes.

Para sua família a divisão dos lotes foi complicada, pois mudou para três áreas

diferentes. No primeiro lote ela tinha horta e cerca, mas tiveram que mudar para outra

área. Tornaram a cuidar, adubar a terra e fazer uma horta, mas tiveram que ir para um

sorteio de novo e caíram em outro lugar. Os recursos que haviam trazidos da cidade

acabaram-se todos nesse processo. Ainda relatando sobre o seu processo de entrada e

permanência no assentamento, ela fala que morou por 17 anos num rancho. Somente no

ano de 2005 é que começou a construir uma casa, com dinheiro vindo da safra de cana e

está terminando.

Entre o tempo que foram para a cidade e a entrada no projeto de assentamento

eles ficaram 15 anos sem mexer com lavoura. Recomeçaram por “imaginação”, iam

plantando coisas no lote. O ITESP ajudou oferecendo cursos, aulas de trator e plantação.

Quando veio para o projeto de assentamento, trouxe a família toda: ela, o marido

e os 4 filhos. Atualmente mora na agrovila ela o marido e uma filha portadora de

cuidados especiais. No mesmo lote há a casa de uma filha casada que tem 24 anos, ela faz

enfermagem e o marido trabalha de caminhoneiro, ambos não participam da renda do sitio.

O filho mais velho veio para o projeto de assentamento com 16 anos e saiu para

trabalhar fora com 20 anos; hoje ele trabalha em Piracicaba, na parte elétrica de uma

construtora; O outro filho veio com 05 anos e saiu de casa aos 17 anos para jogar

basquete, hoje ele joga e faz fisioterapia em São Paulo.

47

Na agrovila tem uma pocilga de suínos que hoje está desativada. Foi construída

em parte com financiamento e a maior parte com dinheiro próprio, havia porcos brancos

(cada um era registrado). Parou com a pocilga porque a carne tinha preço baixo e a ração,

mesmo quando feita por ela e o marido, custava muito caro. Depois que parou, arrendou

a pocilga por três anos para um fazendeiro de Santa Rita do Passa Quatro, que colocava

os porcos e pagava arrendamento e o trabalho de cuidar. Posteriormente, este fazendeiro

parou porque encontrou um ponto mais próximo de sua fazenda para colocar os porcos.

7) Sr. José Jorge e Sra. Neide

Estão assentados no núcleo IV do Projeto de Assentamento Monte Alegre desde

1985, então há 21 anos. Vieram do Norte de Minas Gerais para Guariba - SP onde o Sr.

José Jorge trabalhou no corte de cana para usina. Em Minas Gerais, trabalhava com roça

e também em garimpo. No trabalho de corte de cana em Guariba, a usina não pagava

daí surgiu a oportunidade de ocupar a Fazenda Monte Alegre. Ficaram 08 meses

acampados.

Hoje no assentamento moram somente Sr. José Jorge e Sra. Neide, ambos

participam do Programa Direto do Campo em programas diferentes. Ele, da Feira do

Produtor, no sábado, e ela, da Feira da Roça, às quartas feiras e aos sábados.

8) Sr. Sebastião e Sra. Madalena

Assentados no Projeto de Assentamento Monte Alegre, núcleo IV, há 20 anos. O

Sr. Sebastião veio do Paraná para trabalhar no corte de cana em Guariba. No Paraná

cuidava de lavoura por porcentagem, plantava milho, feijão e arroz.

48

Na usina em Guariba ganhava muito pouco como cortador de cana, por isso

juntou-se a outros amigos e trabalhadores da cana e invadiram onde hoje é o núcleo VI

da Monte Alegre.

Sua família atualmente é formada por ele, com 45 anos, a esposa, com 44 anos, e

uma filha, com 08 anos.

A mão-de-obra utilizada no sitio é familiar. Eles têm no assentamento outros

parentes assentados, o tio e o pai.

Produz não somente no seu lote mas também no lote de seu pai, do qual utiliza

parte. Sua horta e plantação de legumes ocupam aproximadamente meio hectare do lote

do pai.

9) Sr. Antonio e Sra. Denanci

Este participante é cunhado de um assentado. Mora e produz hortaliças e

legumes no lote da agrovila de seu cunhado. Está morando no assentamento há um ano,

veio de Guariba onde já trabalhou em vários empregos: trabalhou na usina e também

como vigilante, quando mudou para o assentamento estava desempregado.

Sua família é composta por ele, com 53 anos, a esposa, com 47 anos, e uma

filha, com 27 anos.

Tem no lote da agrovila, horta, legumes e milho além de árvores frutíferas.

Neste lote tem um córrego e área de reserva.

De criações possui: 01 cavalo, 01 égua e 40 galinhas. Não tem nenhum

maquinário. A casa é abastecida com água de poço e para a horta utiliza água do

córrego. A terra, segundo ele, é boa.

49

10) Sr. Pedro e Sra. Maria Bárbara

Em maio de 2006, fizeram 20 anos de assentamento. Moram no núcleo IV do

Projeto de Assentamento Monte Alegre. O Sr. Pedro veio do Paraná para Guariba

trabalhar como cortador de cana. No Paraná arrendava terra e plantava milho, feijão,

mamona e girassol.

Entrou para a reforma agrária após 1984, a partir da greve dos cortadores de

cana em Guariba. Tinha parentes no núcleo II da Monte Alegre o que o levou para esse

assentamento, ficando acampado durante sete meses.

Sua família é composta, por ele, com 49 anos, sua esposa e três filhos: um com

26 anos que ajuda no sítio e trabalha durante a safra numa usina de álcool, uma filha

com 24 anos e um filho com 16 anos que está no 3º colegial.

11) Sra. Maria Miguel

Está assentada no Projeto de Assentamento Monte Alegre, núcleo IV, desde 1997,

então há 8 anos. Vieram da cidade de Rincão. Antes de entrarem no projeto ela, o marido e

o filho mais velho trabalhavam com colheita e carpa de laranja e cana. Ao mesmo tempo,

na cidade onde moravam plantavam arroz nas vargens de cana ou de pastos de propriedades

que os donos cediam. E antes desse período, que antecede a entrada no projeto de

assentamento, o marido trabalhava de administrador numa fazenda da região e havia

terras que eles podiam plantar, era comum plantarem feijão, milho, arroz e uma horta.

Em 1997, o marido e o filho ficaram acampados durante 1 ano até conseguirem a

terra.

50

A Sra. Maria Miguel relatou que antes de entrar no projeto de assentamento, eles

plantavam menos, particularmente para consumir, e que a terra era melhor, usavam

pouco adubo químico; segundo ela hoje em dia usam mais, principalmente no milho.

Hoje toda família mora no assentamento: ela, o marido, o filho mais velho, com

32 anos que estudou ate a 5ª série e trabalha nas safras de laranja, outro filho, com 24

anos que estudou até o 1º colegial, uma filha de 22 anos, que estudou também ate o 1º

colegial e trabalhou na ultima safra de laranja, e, a filha caçula, com 17 anos que

terminou o 2º grau.

12) Sr. Valdomiro

Mora no núcleo IV do Projeto de Assentamento Monte Alegre há 12 anos. Veio

de Matão onde morou 14 anos numa fazenda trabalhando de tratorista e 04 anos na

cidade trabalhando de segurança.

Seu pai trabalhava numa fazenda em Guaiçara e dispunha de aproximadamente

12 alqueires onde a família plantava amendoim, arroz, feijão e tinha horta.

A entrada no assentamento ocorreu através do irmão que acampou na Usina

Tamoio e depois em Pradópolis. Fizeram inscrição e por pontuação foram chamados

para o Projeto de Assentamento Monte Alegre, comprando o direito de outro assentado.

A família é composta por ele, o pai aposentado com um salário mínimo, a mãe, o

irmão que é titular da terra, um irmão doente, aposentado por invalidez e uma irmã que

trabalha na área de saúde recebendo aproximadamente um salário mínimo e meio.

51

13) Sr. Aparecido e família

Esta há 10 anos no Projeto de Assentamento Monte Alegre, o sitio é de seus

pais, que estão no assentamento há 12 anos, vieram da cidade de Matão. Ele trabalhava

de segurança numa metalúrgica. Seu pai teve sitio no Mato Grosso.

O pai estava desempregado e queria a terra para plantar, ficou acampado durante

03 anos em Pradópolis-SP e depois conseguiu lote no Monte Alegre.

A sua família é composta pelo pai e a mãe, que são aposentados, ganhando um

salário mínimo cada um. Ele, a esposa e 03 filhos pequenos. Um irmão com a esposa,

um filho pequeno. E um afilhado de 17 anos. Todos dependem do sítio para viver.

14) Sr. Celso e Sra. Ivete

Moram no núcleo V do Projeto de Assentamento Monte Alegre. Estão no

assentamento desde 1994 então, há 12 anos. Vieram do Paraná para Matão em 1985. No

Paraná trabalhavam com lavoura de algodão, milho, arroz e feijão. Em Matão, o Sr.

Celso trabalhava de prensista na Marquezan.

Para entrar na Reforma Agrária a família fez inscrição em Matão e ocuparam a

Usina Tamoio, onde ficaram um ano. Depois foram para o núcleo II do Monte Alegre

ficando acampados durante dois anos. Em 1994, foram chamados para uma vaga no

núcleo V, ele não é o titular do lote e sim sua mãe que não mora mais com ele.

A família deste assentado é composta pelo Sr. Celso, com 44 anos e 2º grau

completo, sua esposa, com a mesma idade e o mesmo nível escolar, e um filho de 20

anos, que terminou o 2º grau e faz curso no SENAI.

52

15) Sra. Maria Carmelita e Sr. Eurival

Moram no núcleo VI do Projeto de Assentamento Monte Alegre. Em setembro

de 2006 farão 09 anos de assentamento. A família veio de Paranavaí-PR para Rincão e

de lá para o assentamento.

No Paraná o Sr. Eurival era administrador de fazenda. Em Rincão, trabalhou na

Cutrale como mestre de obras e foi motorista da usina Santa Cruz.

Quando trabalhava na usina soube dos assentamentos e se interessou, ficou

sabendo da invasão do Monte Alegre então se “inscreveu” e juntou-se na ocupação,

ficando acampado durante 06 meses.

No assentamento moram o Sr. Eurival, sua esposa, a Sra. Maria Carmelita. Eles

têm 03 filhos que moram na cidade, um deles morou durante 06 meses no assentamento.

16) Sr. Sinval

Assentado no núcleo VI do Projeto de Assentamento Monte Alegre está no

assentamento há 08 anos. Em 1988 morava em Feira de Santana-BA, veio para o

assentamento em Araraquara em 1998. Antes de entrar no assentamento trabalhava

como empregado rural, com milho, feijão e criação de gado. Ficou sabendo do projeto

de assentamento, fez inscrição e foi chamado em casa, daí fez uma entrevista e foi

contemplado.

Atualmente moram no sítio ele e um filho de 10 anos que está na 4ª série.

17) Sra. Maria Aparecida

Ela está assentada há 09 anos no núcleo VI do Projeto de Assentamento Monte

Alegre. Veio de Barbosa Ferraz no Paraná, onde trabalhava como meeira com lavoura

53

branca completa: milho, arroz, feijão e não trabalhava com horta, o que passou a fazer

no assentamento.

No Paraná ouviu no rádio sobre o acampamento em São Paulo e veio acampar

onde ficou 1 ano até ser assentada.

A família é composta por ela, com 44 anos, que estudou até a 5ª série, o marido,

com 47 anos, que também estudou até a 5ª série, uma filha de 22 anos que já terminou o

segundo grau, e um filho de 18 anos que parou no segundo colegial. Todos dependem

do sitio para viver.

18) Sra. Clemência

Assentada do núcleo VI do Projeto Assentamento Monte Alegre, está no projeto

de assentamento há 06 anos. Para ser regularizada no assentamento levou 02 anos.

Ela veio de Sertãozinho para o assentamento. Antes de morar em Sertãozinho,

quando nova, havia morado em Minas, de onde foi para São Paulo e depois para Santo

André.

Ela e o marido trabalhavam de metalúrgicos em Santo André. Ambos nasceram

e foram criados no sítio, mas foram depois para a área urbana.

Através de uma cunhada souberam da ocupação e que tinha vaga para mais uma

família, então a família inteira foi acampar.

Por muito tempo esteve afastada do meio rural, reaprendeu a produzir lendo

revistas, conversando com técnicos, vendo e aprendendo com os vizinhos, fazendo

cursos, etc.

54

A família é composta por ela e o marido, até pouco tempo moravam com eles no

sitio dois filhos, o do meio casou e foi acampar em uma ocupação buscando sua terra e

o caçula está procurando emprego em Sertãozinho, não nos informou dos outros filhos.

19) Sra. Alaide

Está assentada no Projeto de Assentamento Monte Alegre, núcleo VI, há nove

anos. Veio da cidade de Rincão onde ela e o marido viviam de empregos temporários,

ele geralmente no trato de gados e ela como doméstica. Costumavam pegar lotes vazios,

em Rincão, cedidos pelos proprietários, e plantavam: arroz, feijão, etc.

No processo de entrada no projeto assentamento, ficaram acampados durante 1 ano.

Ela tem 59 anos e recebe uma pensão do primeiro marido, já falecido, no valor

de 1 salário mínimo. Vive com o segundo marido que tem 66 anos e no momento está

encostado pelo INSS, recebendo também 1 salário mínimo. Moram com eles três netos,

uma de 15 anos que está na 7ª série, uma de 12 anos que está na 6º série e uma de 10

anos que está na 5ª série.

Quem participava da feira era sua filha, esta se casou e ela está vindo para a

banca há dois meses. No inicio tinha vergonha foi muito incentivada pelas

companheiras que participam. Está gostando, além da renda que lhe proporciona, vê a

feira, também, como uma distração e que lhe permite que produza mais no sitio, pois

tem para quem vender.

20) Sra. Maria Antonia

Assentada no núcleo VI do Projeto Assentamento Monte Alegre, está há 09

anos no assentamento. Era do estado de Minas Gerais; de lá foi para a cidade de

55

Américo Brasiliense-SP e depois para Santa Lucia-SP, posteriormente indo para o

assentamento.

Ela e o marido trabalhavam na região, no corte de cana, na colheita de laranja e

em capinas diversas. Em Minas trabalhavam, como empregados, com o plantio de

milho, feijão, mandioca, arroz e algodão, o marido trabalhou, também, em fábrica de

carvão.

Através de conhecidos de Santa Lucia souberam do acampamento, surgiu então

a oportunidade de acampar e buscar a terra. Antes de entrar no projeto de assentamento

não plantavam horta nem legumes.

Ela tem 53 anos, o marido 61 anos, este se aposentou faz 2 meses. Moram com

eles e dependem do sitio 6 filhos: um de 31 anos, uma filha de 26 anos, um filho de 17

anos, um filho de 14 anos que está na 8ª série, uma filha de 12 anos que está na 6ª série,

e um filho de 09 anos que está na 3ª série.

***

Pelo relatado nestas histórias de vida notamos que uma boa parte dessas pessoas

eram empregadas dos complexos agrícolas regionais, particularmente de cana e de

laranja. Observamos do ponto de vista da origem e das atividades rurais - que essas

pessoas realizavam antes de entrarem nos projetos de assentamento – que,

particularmente, todas tiveram alguma ligação com o meio rural.

No processo de entrada no assentamento, a maioria participou de algum tipo de

luta pela terra, poucos foram os que fizeram inscrição e conseguiram a terra sem

participar de um processo de ocupação.

A média de idade dessas pessoas está acima dos quarenta anos; dos assentados

mais velhos alguns ficaram sozinhos no assentamento porque seus filhos saíram de casa

56

para trabalhar no meio urbano, mas também há famílias em que os filhos ficaram ou

foram para o sítio para trabalhar junto com os pais na produção. E, mesmo, há famílias

em que, após a “aposentadoria” dos pais, são os filhos que realizam a maior parte das

atividades do sítio e dependem dele para viver.

Em resumo, essa é a trajetória de vida das famílias que participam das feiras

promovidas pela Prefeitura de Araraquara.

A trajetória de vida dessas famílias é significativa porque abrange “(...) uma

história de distintos tempos sociais vividas por múltiplos sujeitos que têm as fronteiras e

seu mundo demarcadas por pressões, atritos e lutas (...)” (FERRANTE, 1999). Ao

entrarem nos projetos de assentamento, elas reconstroem seus modos de vida, antes na

maioria das vezes assalariados rurais que, embora tivessem ligações com a terra, não

tinham poder de decisão sobre o que plantar. Quando se tornam assentados, passam a

ocupar um espaço no meio rural que lhes permite ter moradia e a decisão do plantar,

reconstruindo, assim, seu modo de vida. Olhando os assentamentos, percebemos que, ao

plantarem, na maioria das vezes, não seguem a agricultura convencional dominante na

região e, sim, optam por ter dentro de seu sítio vários tipos de cultura. Nesse sentido,

acreditamos que a feira atua como um dos fatores que permite que este modo de vida

seja reconstruído e se reproduza.

No próximo capitulo faremos uma análise mais pormenorizada das atividades e

modo de vida nos sítios em relação à feira e à sustentabilidade.

57

CAPÍTULO 4: ANÁLISE E DISCUSSÃO.

ESTRATÉGIAS DE SUSTENTABILIDADE

DOS FEIRANTES ASSENTADOS

Faremos agora uma análise dos dados levantados junto ao grupo de assentados.

Esses dados foram organizados em tabelas e gráficos, para maior visibilidade. Os dados

foram sistematizados de acordo com as questões formuladas no início do trabalho, com

base na hipótese geral que envolve basicamente o fato de que a feira, permitindo o

escoamento dos produtos, contribui para a sustentabilidade socioeconômica e ambiental.

Buscamos, assim, por meio dos dados, analisar o papel e a importância da feira para o

grupo estudado, e, também, como essa gera diversificação e sustentabilidade.

Paralelamente a isso, discutimos as relações criadas no âmbito da feira e as

conseqüências que a entrada da cana no assentamento tem sobre esse grupo.

4.1. O papel da feira para o grupo

Para verificarmos o papel da feira para o grupo, analisamos os dados

relacionados à diversificação, à atividade familiar e à relação dos assentados com outros

atores.

4.1.1. A feira como fator de geração de renda e diversificação do produto.

Uma característica do modo de vida do assentado é plantar vários tipos de

alimentos, ora para satisfação de seu consumo pessoal, ora com objetivos comerciais. O

lote para produção, incluindo a agrovila - mesmo que em alguns casos, em pequena

59

frutas (2ha), mandioca (1ha), pastagem (4ha), milho (1ha)

4 Sebastião Pio e Madalena

600,00 3 banana (1ha)

horta (0,5ha no lote de seu pai), feijão (1ha), milho (10ha), frutas (1,5ha)

vende o milho para atacadistas, o resto na feira

4 Antonio Guiraldeli e Denanci

320,00 1 horta e frutas (1ha)

--- feira, pessoas do assentamento, pessoas que passam pelo assentamento

4 Pedro Hipólito e Maria Bárbara

650,00 3 horta (0,1ha)

mandioca industrial (7ha), pastagem (4ha), frutas

70% na feira, restante atravessadores que vão comprar no sítio

4 Maria Miguel 240,00 1 horta cana (4ha), milho, feijão, laranja, manga e pastagem

maior parte na feira

4 Valdomiro Gomes 600,00 3 horta (1ha) cana (7ha), pastagem (4ha), milho, manga (200 pés)

feira e atacado (milho e manga)

5 Aparecido Domingos e família (são dois lotes de produção)

1.200,00 3 --- horta (2,5ha), milho (1ha), mandioca e outros legumes (12ha), manga (500 pés), cana (para uso) (1ha), pastagem (4ha)

feira e atacado nas cidades da região

5 Celso e Ivete 300,00 1 --- horta, milho, feijão, pasto

na feira e em feira de matão

6 Eurival e Maria Carmelita 1.200,00 3 --- horta (3ha), pastagem (6ha), frutas

feira e parte vende no sítio

6 Sinval 1.200,00 2 --- horta (5ha), pastagem (7ha), frutas, cereais

feira, fome zero, no lote

6 Maria Aparecida 800,00 2 --- horta, mandioca e cereais (7ha), pastagem (7ha)

feira

6 Clemência 750,00 2 --- pastagem (7ha), horta, milho e feijão

feira

6 Alaíde 280,00 2 --- horta (em estufa),

feira

60

mandioca (0,5ha), milho (1,5ha), pastagem (1ha), frutas

6 Maria Antonia de Jesus 200,00 2 --- pastagem (3ha), frutas, mandioca, horta

feira

* O lote da agrovila tem em média 1ha. ** O lote de produção tem em média 16ha.

Notamos pela tabela que todas as pessoas que participam da feira têm um grande

nível de diversificação. Por exemplo, podemos notar que quase todos têm horta, frutas e

milho e/ou algum outro produto, como feijão e mandioca, passíveis de serem

comercializados na feira.

Os assentados que têm menor renda vinda da feira normalmente têm a tendência

de terem seus lotes ocupados com produções mais extensivas, cujo destino é a venda

fora da feira. Esse é o caso, por exemplo, de José Parma, Maria Amélia, Cacilda, Maria

Miguel (uma das que a família já teve retorno financeiro do plantio de cana). No caso da

Sra. Maria Amélia, essa pouco traz de produtos agrícolas; o seu principal produto são

pães e roscas caseiras. Um outro caso interessante é o do Sr. Antonio Guriraldeli que

ocupa a casa da agrovila de um parente e é nesse pequeno espaço de menos de um

hectare que produz o que vende na feira, por isso sua renda não é alta.

A maioria declarou que seu principal ponto de comercialização é a feira, que por

si só é um lugar propício a escoar a diversidade produzida. O que é vendido fora da

feira são, na maioria, produções em escala maior de milho, mandioca, manga e laranja,

com exceções de um produtor que, no período em questão, forneceu para o Fome Zero e

outro que, por ter uma grande produção ligada à horta, fornece a atacado para quitandas

da cidade e região.

Notamos também que as pessoas que tendem a ter maior renda são as pessoas

que participam de duas a três vezes por semana dos locais de venda. Considerando que

61

os locais de venda são: a Feira do Produtor, na Praça Pedro de Toledo (somente aos

sábados), e as bancas do Terminal de integração (dois dias da semana), as pessoas que

participam duas vezes normalmente só atuam no Terminal, lugar no qual as vendas são

maiores. As pessoas que fazem três vezes, além do Terminal, participam da Feira do

Produtor, na praça. Assim, normalmente, as pessoas que realizam de duas a três feiras

têm retorno maior e são as que têm maiores quantidades de produtos. Exceções na

relação entre participações na feira e renda, como a Alaíde e a Maria Antonia, podem

ser explicadas pela menor quantidade de produtos por elas oferecidos para venda ou por

não saber precisar as informações declaradas em relação à renda; por exemplo, tal pode

ter ocorrido no caso da Sra. Alaíde que, quando entrevistada, estava no lugar da filha há

apenas dois meses. A dificuldade de precisar a renda deve ser compreendida como parte

da dificuldade dos assentados de interiorizar categorias contábeis e a importância de

serem respeitados seus códigos específicos recriados neste novo modo de vida.

Para uma melhor análise da renda obtida com a comercialização dos produtos na

feira, no gráfico 1, classificamos essa renda em relação ao salário mínimo vigente no

período das declarações (março/2006) que era de R$ 300,00.

Gráfico 1: Renda da feira em relação a faixas salariais. (cada coluna refere-se a um assentado do grupo estudado)

0100200300400500600700800900

100011001200

até1salario até2salarios até3salarios até4salários

Luzia Babi e Juvenal Carlos Alberto e Luciana José Parma e famíliaCacilda Alvino e Maria da Glória Maria AméliaJosé Jorge e Neide Sebastião Pio e Madalena Antonio Guiraldeli e DenanciPedro Hipólito e Maria Bárbara Maria Miguel Valdomiro GomesAparecido Domingos e família Celso e Ivete Eurival e Maria CarmelitaSinval Maria Aparecida ClemênciaAlaíde Maria Antonia de Jesus

62

Observando o gráfico, notamos que a renda vinda da feira está distribuída

proporcionalmente em quatro categorias: cinco assentados recebem até um salário

mínimo; seis assentados recebem até dois salários mínimos; quatro, até três salários

mínimos; e cinco recebem até quatro salários mínimos.

Na Tabela 2, que se segue, voltamos a apresentar a renda vinda da feira e como

o assentado utiliza essa renda, de acordo com suas declarações. As questões do

questionário contempladas e que se encontram inter-relacionadas na tabela 2 são:

questão 33 (Quanto vende? Semanal? Mensal?), questão 34 (A renda vinda da feira

para que é utilizada?). Vejamos a tabela 2:

Tabela 2: Destinação da renda da feira NÚCLEO ASSENTADO renda da

feira (mensal)

utilização

1 Luzia Babi e Juvenal 880,00 trato de criação, mistura, roupas, calçados e outros.

1 Carlos Alberto e Luciana 1.200,00 uso da casa e compra de sementes 1 José Parma e família 320,00 investe no sítio e uso da casa 2 Cacilda 200,00 para plantar, coisas para casa e

pagar contas 2 Alvino e Maria da Glória 500,00 investir na horta, uso da casa 2 Maria Amélia 440,00 gasto da casa 4 José Jorge e Neide 1.200,00 produzir, comprar coisas para casa

e pagar contas 4 Sebastião Pio e Madalena 600,00 consumo da casa, manter a horta

com sementes, adubo e venenos 4 Antonio Guiraldeli e Denanci 320,00 para sustento da casa 4 Pedro Hipólito e Maria Bárbara 650,00 compra de alimentos e gastos com

a família 4 Maria Miguel 240,00 ração para criação, sementes,

pagamento de contas, gastos da casa

4 Valdomiro Gomes 600,00 comprar coisas para casa 5 Aparecido Domingos e família 1.200,00 consumo da casa e insumos para

produção 5 Celso e Ivete 300,00 gastos da casa 6 Eurival e Maria Carmelita 1.200,00 gastos para plantar, pouco sobra

para casa 6 Sinval 1.200,00 para cuidar do sítio e para viver 6 Maria Aparecida 800,00 gastos nas coisas de comer e pagar

contas 6 Clemência 750,00 pagar contas e alimentação 6 Alaíde 280,00 compra de coisas para produção e

consumo da casa 6 Maria Antonia de Jesus 200,00 compra de coisas para casa

63

Conforme as declarações dos assentados, a renda da feira serve, principalmente,

para ser reinvestida no sítio, seja para comprar trato para as criações, seja para gastos

com a produção agrícola voltada para a feira. A outra destinação da renda é para

sobrevivência, sendo entendida como compra de alimentos, produtos diversos e

pagamentos de contas (normalmente de prestação de serviços, como eletricidade). Isso

significa que, na maior parte dos casos, a renda proveniente da feira, já explicitada na

análise da Tabela 1 e no Gráfico 1, não é líquida.

No gráfico 2, podemos visualizar a renda vinda da feira em relação à renda

familiar total. As questões do questionário contempladas no Gráfico 2 são: questão 8

(Quem compõe sua família? Renda? O que fazem?); questão 35 (De onde vem o

total da renda familiar? Feira? Outros?). Observemos, então, o gráfico em questão:

Gráfico 2: Renda da feira em relação à renda familiar total (%)

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Luzia Babi e Juvenal

Carlos Alberto e Luciana

José Parma e família

Cacilda

Alvino e Maria da Glória

Maria Amélia

José Jorge e Neide

Sebastião Pio e Madalena

Antonio Guiraldeli e Denanci

Pedro Hipólito e Maria Bárbara

Maria Miguel

Valdomiro Gomes

Aparecido Domingos e família

Celso e Ivete

Eurival e Maria Carmelita

Sinval

Maria Aparecida

Clemência

Alaíde

Maria Antonia de Jesus

64

Percebemos pelo gráfico que para oito dos produtores, de um universo total de

vinte, a feira é fonte de mais de 50% da renda familiar. Estratificando para cima, para

três das famílias, a feira representa 90% ou mais da renda familiar. Por outro lado,

temos 11 famílias para as quais a feira representa 50% ou menos da renda familiar.

Nesses casos, temos pessoas que na composição da renda familiar recebem Bolsa

Família, são aposentados, trabalham em algum tipo de atividade fora do sítio ou tem

outras produções comerciais em escala maior, que são vendidas ao atacado.

No gráfico apresentado, a pessoa que apresentou menor porcentagem de renda

da feira em relação à renda familiar total é a Sra. Cacilda, cujo marido é motorista de

ônibus no assentamento. Um outro exemplo é o caso da Sra. Maria Aparecida cujo

marido produz carvão com tocos de eucalipto do assentamento ou com madeira de corte

e poda de árvores obtidas em serviços que realiza na cidade; o que lhe rende ao total uns

60% da renda familiar.

Vale notar, por exemplo, no caso do Sr. José Parma e do Sr. Sebastião Pio (que

apresentam renda menor do que 50%¨provenientes da feira, porque vendem em atacado)

que apesar de haver diversificações, a quantidade de produção destinada à feira tende a

ser menor porque o espaço do lote está em sua maior parte ocupado, no primeiro caso,

com plantações de laranja, e, no segundo, com plantações de milho; o que caracteriza

que as culturas desses lotes estão mais homogeneizadas.

Uma das famílias entrevistadas, a da Sra. Maria Miguel, não soube precisar em

números a renda vinda da feira em relação à renda total familiar, mas nos disse que a

maior parte da renda vem da feira, exceto nos períodos de safra em que seus familiares

(filhos) costumam fazer. Também, a família da Sra. Maria Miguel foi uma das que

declarou ter tido renda vinda do plantio de cana, mas não soube precisar quanto.

65

Pelo que foi explanado, percebemos que a feira é uma importante fonte de renda

para esse grupo, mas não é a única e nem sempre é líquida (pois na maioria das vezes é

revertida para a própria produção). A ocupação dos lotes, incluindo aí as agrovilas, é

diversificada, mas não queremos dizer com isso que não existam culturas homogêneas.

Particularmente, os lotes de produção desse grupo estão ocupados com algumas culturas

extensivas que podem ser de milho, mandioca, cana, laranja, eucalipto e mesmo

pastagens, que também são fontes de renda.

4.1.2. A participação da família na produção e na feira.

Discutiremos agora a participação da família na produção do sítio. Na

construção da Tabela 3 foram levadas em conta as declarações da família entrevistada.

Para o número de pessoas que participam da produção no sítio, foram contadas as

pessoas da família que dependem do sítio para sobreviver, com idade acima de

dezesseis anos. No aspecto de depender do sítio para sobreviver, estão incluídos os

filhos e parentes que, além do sítio, costumam realizar serviços temporários ou sazonais

como safras e diárias fora dos sítios. As pessoas da família que têm um emprego fixo e

que não participam da atividade do sítio, somente lá residem, não foram incluídas.

As questões contempladas e que se encontram inter-relacionadas na tabela 3 são:

questão 8 (Quem compõe sua família? Renda? O que fazem?); questão 9 (Utiliza

mão-de-obra que não pertence à família? Como utiliza?); questão 36 (Quem da

família participa da feira?). Analisemos a tabela:

66

Tabela 3: Participação da família e utilização de mão-de-obra não familiar.

NÚCLEO ASSENTADO participação da família na produção (nº. de. pessoas)

participação da família na feira (nº. de. pessoas)

Utiliza mão-de-obra não familiar

1 Luzia Babi e Juvenal 5 3 não 1 Carlos Alberto e Luciana 6 2 sim 1 José Parma e família 4 3 sim 2 Cacilda 4 1 não 2 Alvino e Maria da Glória 2 2 sim 2 Maria Amélia 2 1 não 4 José Jorge e Neide 2 2 sim 4 Sebastião Pio e Madalena 2 2 não 4 Antonio Guiraldeli e Denanci 3 2 não 4 Pedro Hipólito e Maria Bárbara 4 2 sim 4 Maria Miguel 6 2 não 4 Valdomiro Gomes 4 1 não 5 Aparecido Domingos e família 7 2 sim 5 Celso e Ivete 3 2 não 6 Eurival e Maria Carmelita 2 2 sim 6 Sinval 1 1 sim 6 Maria Aparecida 4 1 sim 6 Clemência 2 1 não 6 Alaíde 2 1 não 6 Maria Antonia de Jesus 5 1 não

Notamos pela Tabela 3 - e pela análise do quadro da questão 8 do questionário -

que a maior parte da família que mora no sítio participa da produção. Vejamos, por

exemplo, o caso da família que tem maior número de familiares, a do Sr. Aparecido

Domingos e o caso da que tem menor número de familiares, apenas o próprio Sr.

Sinval; ambos utilizam mão-de-obra fora da família. No caso do Sr. Aparecido, estamos

falando de praticamente três famílias que cuidam de dois lotes no assentamento:

Aparecido e esposa; o irmão e a esposa; o pai e a mãe que são aposentados, mas

trabalham no sítio, e um afilhado de dezessete anos. Apesar da família ser grande, a

quantidade de terra cuidada por eles é o dobro da terra dos demais casos, assim ele tem

um empregado fixo ao longo do ano. No caso do Sr. Sinval, a família é formada por ele

e um filho de dez anos, assim, quem realiza a atividade do sítio é ele e um empregado

fixo. Os demais que utilizam mão-de-obra não-familiar, o fazem esporadicamente, isto

é, mão-de-obra avulsa, paga em diárias.

67

A mão-de-obra, então, na maioria das vezes, é familiar, mas, em pequena escala

de números de diárias pagas, existe a utilização de mão-de-obra não-familiar. Conforme

o Grafico 3, na seqüência, menos de 50% das famílias do grupo costumam utilizar

diárias de pessoas fora da família, principalmente em períodos de safra de seus produtos

ou em dias em que as pessoas das famílias não dão conta dos serviços de plantio ou

colheita.

Gráfico 3: Utilização de mão-de-obra além da familiar.

É interessante notar que, nas bancas, geralmente quando a família é composta

por marido e mulher com ou sem filhos morando com eles, praticamente todos

participam do processo de vendas dos produtos na feira (cf. casal no Gráfico 4). A

participação de “somente homens” (cf. Gráfico 4), no caso um solteiro e outro separado,

é mais incomum. A participação de “somente mulheres” (cf. Gráfico 4), com um total

de sete, se deve ao fato de que seis delas participam de um dos projetos que se chama

Feira da Roça, projeto do qual só participam mulheres. A Sra. Cacilda, a outra mulher

restante, por sua vez não pertence ao projeto, sua participação sozinha se deve ao fato

de que o marido realiza atividades fora do sítio. A Sra. Maria Miguel é a única das

sim; 9; 45%

não; 11; 55%

68

mulheres também pertencentes ao projeto Feira da Roça que vem acompanhada (de sua

filha) para a comercialização na feira.

Gráfico 4: Participação na feira por gênero.

Por meio dos dados é possível, então, afirmar que a maior parte da mão-de-obra

é familiar. A mão-de-obra não-familiar, apesar de ocorrer em 45% dos casos é pequena

por se tratar, em maior parte, de diárias esporádicas. A presença de casais é

preponderante na feira, seguido das mulheres, talvez pelo fato de haver paralelamente

uma feira específica só para elas. Os dados corroboram, indicando a participação da

família na produção (nos assentamentos) e na comercialização na feira.

4.1.3. A relação do grupo na feira e com os atores locais (técnicos e

representantes do poder público municipal).

A feira é espaço de encontro de pessoas de núcleos diferentes que, normalmente,

não costumam se encontrar no assentamento, nem fazer atividades em conjunto. Assim,

o espaço da feira é um espaço de interação e ajuda mútua para se desenvolverem as

atividades de venda dos produtos, o que cria entre eles relações de amizade e de

cooperação. Espaço de trocas simbólicas, de sociabilidade.

só homem; 2; 10%

só mulher; 7; 35%

casal; 11; 55%

69

Buscamos, também, neste estudo, identificar as relações do grupo com o órgão

gestor do assentamento (ITESP), particularmente a relação do grupo com os técnicos.

Nesse aspecto, coletamos informações não específicas da feira, mas as relações gerais

que essas pessoas têm com os técnicos do ITESP, que não se resumem somente aos

produtos voltados para a feira. Com relação aos representantes da Prefeitura, os relatos

são referentes diretamente à feira, até porque o laço que une essas duas categorias é

justamente a participação na Feira do Produtor, organizada pela Prefeitura de

Araraquara.

As questões do questionário contempladas, direta ou indiretamente, são: questão

45 (Como é o seu contato com os outros produtores que participam da feira?);

questão 46 (Como é o acompanhamento da Prefeitura dos produtos vendidos?).

Analisemos a tabela:

Tabela 4: Relações entre os atores NÚCLEO

ASSENTADO entre assentados com técnicos do ITESP

com representantes da prefeitura na feira

1 Luzia Babi e Juvenal na feira se ajudam, nunca houve desavença

as relações são boas e todas as semanas estão no assentamento

as relações são boas, mas a fiscalização não deixa vender alguns produtos processados, tipo abóboras e mandiocas descascadas (os fregueses preferem assim porque vêem que o produto está bom.

1 Carlos Alberto e Luciana boa, se ajudam eles dão assistência mais ou menos uma vez por mês

a prefeitura apóia as vendas, e no caso dele não tem problemas com os produtos que traz.

1 José Parma e família são boas, quando precisamos de equipamentos conseguimos emprestado

as relações são boas, eles prestam assistência semanalmente

tem boas relações

2 Cacilda boa, cooperamos entre si

--- ---

70

2 Alvino e Maria da Glória muita boa, ajudam e são companheiros

no meu lote não vão, mas a gente sempre precisa dos projetos que eles fazem

não tenho nada contra o pessoal da prefeitura, eles nos ajudam. Eu tenho coisas no sítio tais como frango, ovos e queijos que gostaria de vender mas a Prefeitura não permite

2 Maria Amélia boa, nas bancas um ajuda o outro, fazemos banco, buscamos marmitex

a assistência é pouca e deixa a desejar; acontece coisas, eventos mas ficam sabendo

relações são boas

4 José Jorge e Neide temos boas relações

costumam dar assistência, mas é difícil de ir no lote, quando precisamos nós chamamos

a relação é boa, funciona direito, não atrapalha

4 Sebastião Pio e Madalena ótima, nós nos ajudamos (referiu-se principalmente ao grupo no núcleo 4 com os quais tem grau de parentesco)

eles são bons e costumam ir no lote ver como está

estão ajudando porque buscam os produtos

4 Antonio Guiraldeli e Denanci tenho mais contato com o pessoal do quatro, tenho boas relações, ajudam, olhamos as bancas e vendemos uns para os outros

--- ---

4 Pedro Hipólito e Maria Bárbara ótimo, há cooperação

as relações são boas, precisando eles vão no sítio, costumam ir mais ou menos uma vez por semana

os técnicos da prefeitura já fiscalizaram mais, eu mesmo levei uma advertência; hoje tá meio abandonado

4 Maria Miguel se dão bem, nos ajudamos, antes de entrar na feira não conhecia a maioria dos outros feirantes

--- ---

4 Valdomiro Gomes um ajuda o outro não dão assistência, nem fazem análise de solo, só fazem projeto para plantio de milho, mandioca.

atendem bem, analisam os produtos que nós estamos vendendo e já foram no sítio ver o que temos

5 Aparecido Domingos e família boa não vão no lote dar assistência

é difícil a gente pedir alguma coisa, quando precisamos fazer uma reunião e pedir alguma coisa, eles sempre resolvem.

5 Celso e Ivete boa as relações são boas, eu vou lá e

estávamos com um problema de

71

sou bem recebido; dão assistência e todos lá tratam bem

ônibus, queriam cortar o ônibus e as bancas andam meio quebradas

6 Eurival e Maria Carmelita normal eles dão assistência, nós nos tratamos bem e temos muita amizade com eles; quando precisamos deles, somos atendidos.

a prefeitura ajuda com transporte e quando participávamos do Pró-orgânico eles davam assistência.

6 Sinval ninguém se ajuda, são todos independentes, ninguém confia em ninguém, há falta de união

não tem nenhuma relação com os técnicos do ITESP; não tem assistência; a última vez que foram no sítio faz dois anos.

com o pessoal da prefeitura a relação é complicada, com alguns se relaciona, com outros não; o problema maior é que eles não deixam vender todos os produtos que posso trazer, por exemplo, fabricação de farinha de mandioca e polvilho.

6 Maria Aparecida boa é mais ou menos, não dão assistência, de vez em quando vão lá levar alguma cobrança.

a relação é boa, ajuda no transporte com o caminhão; fazem direito o transporte das coisas

6 Clemência nos relacionamos bem

não vão no lote, só vão para entregar algum papel, pessoalmente não temos problemas com eles, as relações são boas, normalmente dão plantão uma vez por semana (terça-feira) no assentamento. Ela relatou que entende que por serem muitos assentados fica difícil atender todos.

não tem problemas

6 Alaíde relações boas faz tempo que não vão no sítio; passam na rua; do ponto de vista pessoal a relação é boa.

a relação é boa; os meus produtos não impedem de vender nada.

6 Maria Antonia de Jesus nos ajudamos vão pouco no lote não tem problemas

Analisando a Tabela 4, podemos perceber que a maioria mantém entre eles uma boa

relação. Apesar de a Tabela ser ilustrativa por si só, ressaltamos alguns pontos na seqüência.

72

Vários dos participantes declararam que costumam - no âmbito da feira - olhar

as bancas em conjunto; alguns chegam a delegar aos companheiros a realização de

serviços externos, tais como pagamento de contas, compra de marmitex, depósitos

bancários, etc. Existe, particularmente, um grupo do núcleo quatro que tem graus de

parentescos e além das relações sociais na feira, eles têm relações de cooperação no

próprio assentamento. As práticas desse grupo e a construção de códigos de

reconhecimento social - relacionados à matriz da economia moral - foram analisadas em

dissertação de mestrado (BARONE, 1996).

Tendo em vista o ITESP, as relações com os técnicos e outros integrantes que

vão até o assentamento são boas. A opinião sobre a assistência técnica é diversa, vai

desde relatos de que não há assistência técnica nenhuma a relatos de que a assistência

técnica é boa e, quando precisam, são correspondidos. Tais relações vêm sofrendo uma

alteração ao longo desses vinte e um anos de existência desses projetos. Passaram por

relações de hostilidade, de conflito, de indiferença, de confiança. Uma discussão de tais

relações pode ser encontrada em BARONE (2000, 2002)

Com os representantes da Prefeitura, normalmente as relações também são boas.

Os produtores reconhecem o apoio dado pela Prefeitura cedendo o transporte, as bancas

e o espaço público. Contudo, no contato com os representantes da Prefeitura, que na

maior parte do tempo acontece na feira, ocorrem alguns conflitos quando os feirantes

trazem para vender alguns produtos cuja venda não é permitida, ou quando infrigem

alguma regra estabelecida, como, por exemplo, a falta de uniforme e identificação. A

proibição de venda de alguns produtos tais como ovos, frango caipira, abóbora ou

mandioca descascadas causa um descontentamento entre os produtores que reclamam

da fiscalização e de uma falta de apoio e presença maior da Prefeitura.

73

Pelo exposto, notamos que, de uma forma geral, existe uma boa relação entre

assentados, técnicos do ITESP e representantes da prefeitura. Entre os assentados, a feira

permite certa cooperação entre eles, fato que contrasta com as idéias de cooperativas e

associações que normalmente não dão certo dentro dos assentamentos; talvez porque

nas cooperativas, as regras sejam impostas e, na feira, acontecem naturalmente. A

assistência do ITESP deixa a desejar, dado o número de assentados/técnicos e pelo fato

de ainda não estar voltada para a diversidade desses produtores. Com relação ao apoio

da Prefeitura, é muito importante o transporte, o espaço público e a cessão das bancas,

mas falta um acompanhamento e um estudo da viabilidade de venda de produtos um

pouco mais processados, como no caso da mandioca ou abóbora descascadas; falta,

também, um diálogo maior de todo o grupo da área de gestão de atividades

agroindustriais, que coordena a feira com os produtores, discutindo o porquê da

proibição da venda de certos produtos. Falta igualmente uma clara definição na agenda

municipal, da relação possível entre assentamentos e desenvolvimento local, o que pode

ser constatado pelo descontínuo investimento nos assentamentos, pela demora no

atendimento às prioridades escolhidas no Orçamento Participativo, pelo afastamento

entre o discurso e a prática dos Centros de Desenvolvimento Comunitário, pelas

dificuldades enfrentadas na programação do Projeto Escola do Campo, dentre outras.

4.1.4. Destinação das sobras

Na Tabela 5, a seguir, relacionamos a destinação das sobras da feira.

Normalmente, na feira da Praça Pedro de Toledo, os produtos que sobram são doados

para a Santa Casa de Araraquara e para o Hospital Psiquiátrico Espírita Caibar Schutel.

No Terminal de Integração, as sobras, geralmente, são dadas a funcionários do

74

Terminal; algumas vezes são levadas de volta para dar para criações ou, quando estão

boas, para serem vendidas.

Tabela 5: Destinação de sobras da feira. NÚCLEO ASSENTADO destinação 1 Luzia Babi e Juvenal doa para a Santa Casa e para o Caibar 1 Carlos Alberto e Luciana doa para a Santa Casa e para o Caibar 1 José Parma e família o que dá para agüentar leva para vender, o que não

agüenta doa para Santa Casa 2 Cacilda doa 2 Alvino e Maria da Glória doa para a Santa Casa e para o Caibar 2 Maria Amélia pão não tem sobra; frutas e verduras, quando sobra

doa para funcionários do terminal(*) 4 José Jorge e Neide as vezes leva de volta o que não estraga, o resto doa

para Santa Casa 4 Sebastião Pio e Madalena doa para Santa Casa 4 Antonio Guiraldeli e Denanci doa para a Santa Casa e para o Caibar 4 Pedro Hipólito e Maria Bárbara doa para a Santa Casa e para o Caibar; no terminal as

sobras são deixadas na banca para os funcionários pegarem

4 Maria Miguel --- 4 Valdomiro Gomes as sobras do terminal, leva de volta; as sobras da feira

da praça, doa para Santa Casa e Caibar. 5 Aparecido Domingos e família doa para a Santa Casa e para o Caibar 5 Celso e Ivete doa para a Santa Casa e para o Caibar 6 Eurival e Maria Carmelita doa para a Santa Casa e para o Caibar 6 Sinval não tem sobras 6 Maria Aparecida doa para as pessoas do terminal 6 Clemência quando são legumes aproveita para dar para suas

criações; as verduras doa para as pessoas que trabalham no terminal.

6 Alaíde doa para as funcionárias da limpeza (do terminal) 6 Maria Antonia de Jesus doa para os funcionários do terminal (*) quando falamos de funcionários do terminal, geralmente são para as pessoas que trabalham na limpeza e outros.

Os assentados, por meio da feira, assumem um papel social ao doarem as sobras,

normalmente produtos de boa qualidade. Ajudam, assim, hospitais e pessoas,

estendendo os benefícios dos projetos de assentamento para a sociedade envolvente.

*

O papel da feira para o grupo é, portanto, permitir o escoamento dos produtos

diversificados do sítio, gerando renda aos assentados. Em meio a isso, incentiva a

atividade familiar e cria relações entre eles e outros atores e instituições locais.

75

4.2. A diversificação agrícola e o autoconsumo do grupo.

No lote do assentamento, incluindo a agrovila, como já mencionado (vide tabela

1), mesmo ocorrendo produções mais extensivas como milho, mandioca e cana, é

característico encontrarmos frutas, hortas e culturas diversas também; o que nos permite

dizer que ocorre diversificação agrícola no grupo estudado.

A diversidade de bens, alimentos, produzidos dentro dos lotes, tem a feira como

um canal para serem comercializados; a feira, nesse sentido, pode até incentivar o

aumento da produção, uma vez que ela traz aos assentados rendimentos financeiros. A

ocorrência da diversidade é, por outro lado, uma importante fonte de abastecimento das

necessidades da família, isso porque, com ela, as famílias têm uma variedade de

alimentos a sua disposição. Isso dá a esse espaço rural um nível de bem estar e

qualidade de vida que não seria possível se a propriedade estivesse toda ocupada com

uma só cultura e essas pessoas, com a renda, comprassem nos mercados urbanos, os

seus alimentos. O assentado, ao produzir, não gera somente renda para viver, ele produz

parte de sua alimentação.

Poderia, então, essa situação tão peculiar aos assentados ser chamada de

autoconsumo e a mesma ser considerada como uma estratégia de sustentabilidade? O

termo “produção para autoconsumo” (FERRANTE e SANTOS, 2003) normalmente

está voltado para produções que se destinam especificamente para o consumo da casa.

Neste estudo nos deparamos com a seguinte situação: algumas poucas famílias

entrevistadas declararam terem pequenas produções destinadas exclusivamente para o

consumo da casa (cf. Tabela 6, adiante); todas declararam que parte do consumo da

família vem de produtos por elas mesmas produzidos. Assim, não podemos afirmar que

76

todos têm “produção para autoconsumo”, mas o autoconsumo do que é produzido é

peculiar em todas as famílias (até mesmo porque não há sentido em se comprar algo que

se tem à disposição)16.

Na Tabela 06, a seguir, levantamos quanto, proporcionalmente, do consumo

doméstico vem da propriedade. Em alguns casos as famílias não souberam precisar

quanto do que produzem se destina a seu consumo familiar, mas todas afirmaram que

parte do que produzem se destina ao consumo de sua casa. A tabela ainda relaciona o

que cada família compra de fora. Nesse caso estamos tratando especificamente da parte

de alimentação. De certa forma, todos afirmaram que produtos de higiene, limpeza,

vestuário e outros são normalmente comprados. Algumas famílias conseguiram nos

especificar o que particularmente produzem somente para consumir. Tal dado será

discutido no conjunto da análise da tabela.

As questões do questionário contempladas e que se encontram inter-relacionadas

na tabela 6 são: questão 37 (Auto consumo?); questão 38 (Consome o que planta?);

questão 39 (O que compra de fora para comer?). Vejamos a tabela:

Tabela 6: Relação entre o que produz/consome e o que compra de fora. NÚCLEO

ASSENTADO produtos declaradamente produzidos para autoconsumo

consome os alimentos que produz? quanto (%)

principais produtos alimentícios que compra fora

1 Luzia Babi e Juvenal faz sabão 50 óleo, arroz, açúcar, algumas vezes carne

1 Carlos Alberto e Luciana planta feijão sim carne, arroz, farinha de trigo, fubá, óleo

1 José Parma e família cria uns 12 frangos de granja por mês

70 arroz, feijão, carne

2 Cacilda --- 50 arroz, feijão, açúcar, café, macarrão, óleo

2 Alvino e Maria da Glória --- 50 arroz, óleo, batata, macarrão, carne

2 Maria Amélia planta alface, cebolinha e cheiro-verde, frutas do seu quintal

sim vários, exceto carne, ovos, feijão e coisas da horta

16 A este respeito há um longo e rico debate sobre a inserção do autoconsumo nos componentes de renda dos

assentados. Ver ROMEIRO et al. (1994), GUANZIROLI (1996), FERRANTE e SANTOS (2003).

77

4 José Jorge e Neide --- sim arroz, feijão, açúcar, sal

4 Sebastião Pio e Madalena --- 70 arroz, açúcar, sal, café, uma vez ou outra óleo

4 Antonio Guiraldeli e Denanci --- 50 arroz, açúcar, sal, café, óleo, carne

4 Pedro Hipólito e Maria Bárbara --- 30 arroz, óleo, mistura 4 Maria Miguel --- sim arroz, açúcar, sal 4 Valdomiro Gomes --- 40 arroz, óleo 5 Aparecido Domingos e família --- sim arroz, feijão, açúcar,

sal, carne 5 Celso e Ivete --- 40 arroz, óleo, feijão,

mistura 6 Eurival e Maria Carmelita --- 60 arroz, feijão e carne 6 Sinval --- 50 arroz, feijão, açúcar,

óleo, café 6 Maria Aparecida --- sim óleo, açúcar, sal 6 Clemência --- 50 arroz, café, açúcar,

mistura 6 Alaíde --- sim arroz, café, óleo,

açúcar, mistura, trigo 6 Maria Antonia de Jesus --- sim café, mistura, arroz,

feijão, óleo, sal, trigo

Pelos dados declarados, apresentados na Tabela 6, notamos que o autoconsumo

ocorre em todas as famílias. Oito delas não souberam especificar em que proporção do

consumo total de alimentos elas consomem o que produzem, e, em qual proporção

compram de fora. Mas essas oito famílias têm nas propriedades variedades de frutas, de

verduras e de outros alimentos; assim podemos considerar que, mesmo não

especificando a proporção, o autoconsumo atinge valores razoáveis na demanda da casa.

Os demais conseguiram nos dar uma proporção aproximada de seu

autoconsumo. A família que menos utiliza o que produz declarou fazê-lo em 30%. Duas

famílias declararam que 70% do consumo são elas que produzem; esse foi o maior valor

encontrado. Das famílias que declaram a proporção, para seis delas, o valor mais

comum foi de 50%.

Também perguntamos para essas famílias quais são os principais alimentos que

compram de fora. Os alimentos mais citados foram: óleo, arroz, açúcar, carne (mistura).

Também foi citado, mas com menos incidência, farinha de trigo, fubá, macarrão, ovos,

sal, café. Dos principais alimentos citados, o açúcar é caracteristicamente um produto

78

industrializado que os assentados têm dificuldades para produzir; o óleo, algumas vezes,

é substituído por banha de porco produzida pelo próprio assentado, mas não é algo

muito comum; o arroz, várias famílias nos disseram que já produziram, mas não o

fazem atualmente por causa do transporte e beneficiamento desse produto. Fica mais

oneroso para o assentado produzir do que comprar de fora, além do que, a qualidade do

comprado costuma ser melhor; mistura em geral, o assentado tem dificuldade de manter

um abastecimento próprio por períodos longos de tempo. Eles até consomem galinhas,

ovos e - em menor proporção - gado de produção própria, mas o que ocorre

normalmente é que esse produto é comprado.

Nesse sentido, podemos dizer que o autoconsumo, fruto da diversidade de

produtos agrícolas produzidos (cuja distribuição tem na feira seu mais importante

espaço) corresponde a uma parcela substancial das necessidades de alimentos dessas

famílias; sendo comprado fora apenas o que eles têm dificuldades de produzir.

79

4.3. Aspectos da sustentabilidade no processo de produção.

O que pretendemos neste tópico é analisar alguns aspectos do processo de

produção agrícola no sítio e relacionar à idéia de sustentabilidade ambiental.

Entendemos, como CAPORAL e COSTABEBER (2004), que o lote agrícola é mais

sustentável na medida em que preserva as condições químicas, físicas e biológicas do

solo; o que melhora e mantém a biodiversidade das reservas e dos mananciais hídricos,

preservando os recursos naturais como condição essencial para a continuidade dos

processos de reprodução socioeconômica e cultural das gerações.

Com as tabelas a seguir procuramos identificar como é o processo de produção

dos bens vendidos na feira. Para fazer isso, arrolamos os meios de produção, os tipos de

insumos utilizados e a destinação do lixo. Além disso, identificamos a relação desses

produtores com o plantio extensivo de cana, cultura que, da maneira comercial como é

plantada para abastecimento das usinas da região, claramente inibe a biodiversidade em

áreas amplas da paisagem. Consideramos esses aspectos importantes para analisarmos a

sustentabilidade ambiental do grupo que participa da feira.

4.3.1. Recursos (maquinários, hídricos, solo) para a produção.

Nesta tabela traçamos um panorama dos instrumentos de trabalho que os

assentados declararam ter em seu lote, incluindo aí os recursos hídricos e a qualidade do

solo. A questão contemplada na Tabela 7 é a questão 19 (Que tipo de recursos possui

no lote? Maquinário? Hídricos? Solo).

80

Tabela 7: Estrutura e recursos dos participantes da feira. NÚCLEO

ASSENTADO maquinários hídricos solo

1 Luzia Babi e Juvenal 1 carroça, 1 carpideira

água vem do córrego

ruim

1 Carlos Alberto e Luciana 1 carroça, 1 arado de tração animal

tanque para irrigação

ruim

1 José Parma e família 1 trator com acessórios, 1 carroça

cacimba (poço) fraco

2 Cacilda não tem tanque abastecido com água do córrego

bom

2 Alvino e Maria da Glória 1 trator com grade e arado

água vem da mina

não soube dizer a qualidade do solo

2 Maria Amélia não tem água vem do córrego

boa (foi corrigida com esterco)

4 José Jorge e Neide 1 carroça, 1 plantadeira, 1 arado; todos de tração animal

água do córrego abastecido através de roda de água

péssimo

4 Sebastião Pio e Madalena 1 trator com acessórios e bomba de irrigação, 1 carroça

água de mina e cacimba (poço)

bom

4 Antonio Guiraldeli e Denanci não tem água de poço bom 4 Pedro Hipólito e Maria Bárbara 1 carpideira

(mas não usa) roda de água médio

4 Maria Miguel 1 arado, 1 carroça, 1 charrete

água da represa que está perto do lote

bom

4 Valdomiro Gomes 1 trator com acessórios e tanque para irrigações

não tem água no lote, a água vem de poço da agrovila

péssimo

5 Aparecido Domingos e família 1 trator e acessório, 1 carroça

poço semi-artesiano, tanque de água

corrigido com calcário

5 Celso e Ivete 1 trator pequeno, 2 carroças, 1 charrete

tanque abastecido por mina

médio

6 Eurival e Maria Carmelita 1 arado de tração animal

o lote é irrigado por um canal que trás água do rio

bom

6 Sinval 2 barracões, 1 estufa

canal do córrego Monte Alegre

médio

6 Maria Aparecida 2 caminhões, 1 carroça

poço puxado a bomba

médio

6 Clemência 1 carroça, 1 arado

poço e mina, e possui um tanque de água

médio

6 Alaíde 1 perua (usa só no assentamento), 2 estufas

do rio que abastece uma represa e fornece água para as estufas

bom

6 Maria Antonia de Jesus 1 carroça, 1 arado animal

rio e poço bom

81

Observando a Tabela 7, percebemos que a maior parte do grupo não possui

maquinários motomecânicos (ou seja, tratores e outros); ao todo, doze entrevistados não

têm esses maquinários, sendo que nove declaram ter instrumentos de trabalho de tração

animal, tais como arado, carroça, plantadeira. Desses doze, outros três declaram não ter

maquinário algum (seja motomecânico, seja de tração animal). Os oito entrevistados

restantes declararam terem um trator ou outro maquinário mecânico.

Do ponto de vista da capitalização do grupo, podemos dizer que os que têm

tratores e/ou outros equipamentos (40%) podem estar mais capitalizados para continuar

produzindo. Vale notar, contudo, que se por um lado 60% dos entrevistados se mostram

menos capitalizados, por outro lado tendem a utilizar menos equipamentos que

consomem combustíveis fósseis, emitindo assim menos CO2 na atmosfera, o que pode

contribuir para a sustentabilidade agrícola/ambiental. Não descartamos aqui a hipótese

de que, quem não tem trator deixe de usá-lo, pois, pelas declarações, vários desses

disseram que quando precisam costumam “alocar horas” de uso (mas só usam “horas-

máquinas” quando precisam: o uso do equipamento mecânico não é uma constante).

Na maioria dos casos (cerca de 75%), a água que abastece o sítio vem de

córregos que passam dentro ou próximo do sítio. Existem lotes que possuem tanques

que acumulam água que servem para a irrigação do sítio; a irrigação é feita através de

canais ou com a utilização de bombas. No caso do Sr. Pedro e do Sr. José Jorge, por

exemplo, a água de um córrego que está fora do lote é trazida para o sítio por meio de

uma roda de água. Em conversas com os técnicos do ITESP que acompanham os lotes

do grupo aqui em questão, foi nos dito que a maioria dos tanques (abastecidos por água

de minas ou de canais vindo de córregos) foram construídos através de projetos feitos

pelo ITESP e, assim, estão devidamente regularizados junto aos órgãos ambientais. Os

82

assentados que não utilizam água de córrego ou mina (cerca de 15% restante)

normalmente utilizam água proveniente de cacimbas (poço rudimentar); somente um, o

Sr. Aparecido, declarou que o abastecimento de água no lote é feito por um poço semi-

artesiano.

Quanto à qualidade do solo, sistematizamos no Gráfico 5, que segue, os

julgamento feitos pelos assentados, ressaltando que no item “bom” foram incluídos os

que disseram que corrigiram o solo, e, no item “ruim” foi colocado quem declarou que o

solo é “péssimo” ou “fraco.

Gráfico 5: Qualidade do solo.

Considerando que 40% possuem trator e outros, que 45% possuem

equipamentos de tração animal, que 75% têm disponibilidade de água (córrego ou

mina), e que 70% dos entrevistados consideram seu solo “bom” ou “médio”, podemos

dizer que as condições de infra-estrutura do grupo aqui estudado não são excelentes,

mas estão dentro de um padrão satisfatório.

Pensando que a infra-estrutura é um fator de estabilidade econômica e que a

estabilidade econômica pode estar intimamente ligada à estabilidade ambiental, isso

não soube responder; 1;

5%

ruim; 5; 25%

médio; 5; 25%

bom; 9; 45%

83

levando-se em conta que à medida que as pessoas estão com suas necessidades básicas

satisfeitas, existe a tendência a se preocupar mais com as questões ambientais e explorar

de forma mais racional o meio que as cercam, podemos considerar que o padrão

satisfatório do grupo pode lhes permitir serem mais sustentáveis. Além disso, o padrão

satisfatório, garantido pelo acesso relativamente fácil à água e um solo de “médio” a

“bom” propicia práticas ligadas ao cultivo de hortas, de onde saem os principais

produtos vendidos na feira.

4.3.2. Utilização de insumos.

Os insumos utilizados na produção, particularmente na horta, podem nos indicar

o quanto a forma de produção é mais natural ou não nas práticas agrícolas realizadas

pelo grupo estudado. Na Tabela 8, buscamos traçar essa relação. As questões do

questionário contempladas na tabela 8 são: questão 23 (Que tipo de insumos utiliza?

Adubo? Defensivos?); questão 31 (Realiza algum tipo de manejo (reaproveitamento)?).

Observemos a tabela:

Tabela 8: Utilização de insumos na produção. NÚCLEO ASSENTADO natural químico manejo

(reaproveitamento das sobras)

1 Luzia Babi e Juvenal esterco de gado, de galinha, cal, cobertura morta

sim utiliza os restos vegetais em canteiros e também dá para criações

1 Carlos Alberto e Luciana esterco de gado, cama de frango

não trata as criações, usa para esterco, faz compostagem

1 José Parma e família esterco de gado sim não faz 2 Cacilda esterco de gado sim utiliza os restos

vegetais como adubo

2 Alvino e Maria da Glória esterco de gado sim utiliza como adubo as folhas e restos de plantas

84

2 Maria Amélia esterco de porco

não matos, folhas e cascas são amontoadas para usar como adubo

4 José Jorge e Neide esterco de curral

não junta o mato, espera apodrecer e coloca nos canteiros

4 Sebastião Pio e Madalena esterco de gado sim comidas e vegetais joga para os porcos; matos e outros reaproveita na terra

4 Antonio Guiraldeli e Denanci esterco de curral, cama de frango

não os restos vegetais são juntados, espera decompor e coloca nas plantas

4 Pedro Hipólito e Maria Bárbara esterco de galinha

sim restos vegetais são dados para criação

4 Maria Miguel esterco de gado e de frango

sim usa mato, cascas e restos de frutas como esterco

4 Valdomiro Gomes esterco de gado sim coloca mato capinado nas plantas

5 Aparecido Domingos e família cama de frango, esterco de curral e folhas

não utiliza o mato roçado como cobertura morta

5 Celso e Ivete esterco de gado e urina de vaca

não mistura as folhas e os ciscos na terra

6 Eurival e Maria Carmelita forragens e esterco de vaca

não utiliza forragem na horta

6 Sinval esterco de gado não coloca capim em leira e põe nos pés de laranja

6 Maria Aparecida esterco de gado, cama de franco

sim restos de plantas comestíveis dá para os porcos, mato não utiliza

6 Clemência esterco de curral, cama de frango, urina de gado

não palha e cascas utiliza como adubo e o mato faz compostagem

6 Alaíde esterco de gado sim deixa matos e outros secar e encosta nas plantas; restos de alimentos dá para os bichos.

6 Maria Antonia de Jesus esterco de vaca sim utiliza os restos com as criações e como adubo

85

Todos os entrevistados declararam que o principal insumo utilizado para

produzir os alimentos vendidos na feira é de origem natural. Na feira os produtos mais

ofertados vêm da horta e dos “pés de frutas” mantidos no sítio/agrovila, logo é comum a

utilização de esterco de gado ou de galinha na horta.

Os restos vegetais costumam, também, ser reutilizados como adubo. Os

assentados costumam deixar apodrecer matos, folhas, etc, misturando-os, em seguida,

nos canteiros. O mato também costuma ser amontoado nos pés das árvores frutíferas,

servindo como adubo para elas. Uma outra prática é utilizar os restos de alimentos para

tratar das criações (porcos, galinhas, patos, etc). Percebemos, então, que ocorre nessas

áreas, um manejo mais sustentável da produção vegetal.

Nesse sentido, a fertilização do solo que se destina à produção de alimentos é

realizada através de estercos de animais e com restos vegetais, tendo, portanto, como

principal fonte de nutrientes adubos naturais.

A utilização de adubos químicos também é prática comum entre os assentados

do grupo estudado. Durante as entrevistas, quando perguntados sobre que adubos

utilizam, foi comum, ao responderem, a separação entre horta e roça. Na horta,

normalmente, os entrevistados declaram usar estercos de animais, e, na produção de

milho, laranja e outros plantios mais homogêneos, declararam utilizar adubos químicos.

A relação dos que de alguma forma utilizam adubos químicos e dos que declaram não

utilizar se encontra no Gráfico 6.

86

Gráfico 6: Utilização de adubos químicos.

O manejo dentro do sítio é prática comum entre os entrevistados, com exceção

da família do Sr. José Parma que disse que não faz. Do ponto de vista da utilização de

insumos, observamos, então, que os produtos vendidos na feira, quando vêm da horta, ou

mesmo frutas, tendem a ser produzidos de maneira mais natural; porém não descartamos

que possa ocorrer o uso de adubos químicos nessas plantações, até porque parte dos

assentados do grupo estudado costuma ter adubos químicos para uso nas roças.

4.3.3. Utilização de defensivos agrícolas.

Neste item relacionamos a utilização de defensivos agrícolas naturais e

químicos, levantando os tipos de produtos que cada assentado do grupo estudado utiliza

no combate a possíveis pragas agrícolas. O item, assim, contribui para podermos

analisar o quanto são saudáveis ou não os alimentos produzidos por eles e destinados à

venda na feira. As questões do questionário contempladas, direta ou indiretamente, são:

questão 23 (Que tipo de insumos utiliza? Adubo? Defensivos?); questão 24 (Como

faz o manejo do defensivo?); questão 25 (Onde costuma armazenar?); questão 26 (O

não utiliza ; 9; 45%

utiliza ; 11; 55%

87

que faz com as embalagens?); questão 27 (Conhece a ação do defensivo/inibir

plantio, efeitos?). Vejamos a tabela:

Tabela 9: Práticas e usos de defensivos. NÚCLEO ASSENTADO naturais químicos utilização de

defensivos químicos fora da área de produção

1 Luzia Babi e Juvenal - preparo com folhas de Santa Bárbara, couve, água de mandioca e fumo; - planta flores em volta dos canteiros para tirar borboletas

não mata mato

1 Carlos Alberto e Luciana bordalesa(*) não --- 1 José Parma e família não na laranja usa

enxofre, perfective, torq;(*) usa também um defensivo químico na manga

---

2 Cacilda não não ---

2 Alvino e Maria da Glória não usou para o pulgão

---

2 Maria Amélia o controle do mato no quintal é feito por carpa (agrovila)

usou mata mato na cana

---

4 José Jorge e Neide não tamarão(*) rondup na cerca 4 Sebastião Pio e Madalena não utiliza para

combater o cochonilha(*)

rondup na cerca

4 Antonio Guiraldeli e Denanci curte folhas de planta com água e aplica

usa rondup para conter o mato

---

4 Pedro Hipólito e Maria Bárbara não tamarão e rondup (*)

---

4 Maria Miguel não mata mato e tamarão

---

4 Valdomiro Gomes calda de fumo titâneo na laranja

---

5 Aparecido Domingos e família não grifosato --- 5 Celso e Ivete folhas de Santa

Bárbara com fumo para combater pulgão

--- ---

6 Eurival e Maria Carmelita produto natural para espantar os bichos (ninho)

não ---

6 Sinval urina de vaca, com fumo e sabão

não ---

88

6 Maria Aparecida mistura de fumo com urina de vaca e cinza, para combater pulgão

não mata mato para controlar o mato da cerca

6 Clemência não decis(*) --- 6 Alaíde urina de vaca

com fumo rondup para controlar o mato

---

6 Maria Antonia de Jesus não não está utilizando

---

(*) Bordalesa: “A calda bordalesa é um tradicional fungicida agrícola, resultado da mistura simples de sulfato de cobre, cal hidratada ou cal virgem e água”. Disponível em: http://www.cati.sp.gov.br/novacati/tecnologias/producao_agricola/calda/calda_bordalesa.htm. Acesso em: Fev/2007. Perfekthion: inseticida organofosforado produzido pela Basf. Torque: acaricida de suspensão concentrada, produzido pela Basf. Tamarão: inseticida e acaricida, organofosforado, sistemico, produzido pela Bayer. Roundup: herbicida, componente ativo: glifosato, produzido pela Monsanto. Decis: inseticida de contato, piretróide, produzido pela Bayer. Cochonilha: inseto que suga a seiva das plantas.

Pela Tabela 9 e pelo Gráfico 7, que se encontram na seqüência, percebemos que

50% dos entrevistados declararam controlar o ataque de pragas e o crescimento do mato

com algum tipo de prática natural. Dessas pessoas que realizam práticas naturais,

algumas delas também fazem uso de defensivos químicos. A Sra. Luzia, por exemplo,

declarou fazer um preparado natural com folhas de planta e fumo para colocar na horta,

além disso planta flores em volta dos canteiros para não deixar as borboletas irem nas

verduras, por outro lado essa mesma senhora usa mata-mato para conter o mato da

cerca. Como no caso dela, vários dos que utilizam defensivos naturais utilizam para

controle do mato algum produto, geralmente, a base de glifosato. Dos dez entrevistados

que declaram usar defensivos naturais, menos da metade (quatro) declarou não usar

nenhum defensivo químico.

89

Gráfico 7: Utilização de defensivos.

O defensivo químico é utilizado, de alguma forma, por 75% dos entrevistados;

30% dos entrevistados utilizam defensivos químicos nos alimentos que produz, outros

45% utilizam o produtos químicos para controle do mato. O casal Celso e Ivete não

informou se usa ou não produtos químicos.

No geral, é interessante notar como a prática dos assentados do grupo em

questão está direcionada para o uso de produtos químicos, particularmente no combate

ao mato. Por outro lado, é interessante notar também a presença significativa de práticas

naturais de combate às pragas. Acreditamos, assim, que a presença do controle por meio

de práticas naturais no assentamento confere certa peculiaridade à produção dos

assentados do grupo, contribuindo para a sustentabilidade ambiental.

4.3.4. A destinação do lixo.

Essa questão nos parece relevante porque se trata de uma área rural onde, na

maior parte, não há coleta de lixo, embora seus ocupantes não deixem de consumir

produtos urbanos. O consumo de produtos urbanos no sítio faz com que, por exemplo, a

destinação das embalagens não seja adequada, podendo prejudicar o espaço rural onde

ocorre a produção de alimentos que são vendidos nas feiras.

10 10

0

15

4

10

5

10

15

20

natural químico

utilizanão utilizanão informou

90

Uma outra questão relevante, relacionada ao tema, também é a destinação das

embalagens de defensivos, que, quando não destinadas aos locais corretos de

recolhimento, podem contaminar o meio ambiente.

Assim, neste tópico, buscamos analisar a destinação do lixo comum e das

embalagens de defensivos, considerando esses como fatores relevantes na qualidade e

segurança dos alimentos que são vendidos na feira, e, por outro lado, buscando

diagnosticar possíveis erros de manejo de embalagens que podem comprometer a

situação ambiental do assentamento.

As questões contempladas e que se encontram inter-relacionadas na tabela 10

são: questão 26 (O que faz com as embalagens?); questão 29 (Para onde vai o lixo?).

Analisemos a tabela:

Tabela 10: Destinação do lixo. NÚCLEO

ASSENTADO lixo doméstico embalagens de defensivos

1 Luzia Babi e Juvenal coloca num buraco e põe fogo

são guardadas para serem reutilizadas

1 Carlos Alberto e Luciana parte queima, outra parte junta e vende (lata, plástico e papel)

devolve onde comprou

1 José Parma e família queima ou enterra entrega no local da compra 2 Cacilda o lixo da agrovilla vai para

a caçamba da prefeitura, no lote não tem lixo doméstico

não tem

2 Alvino e Maria da Glória põe num buraco do quintal ficam guardadas num quartinho

2 Maria Amélia o que dá para queimar é queimado, latas e vidros têm que ser jogados num buraco

não declarou

4 José Jorge e Neide queima devolve ao fornecedor, as de rondup as vezes utiliza para colocar combustível

4 Sebastião Pio e Madalena queima queima 4 Antonio Guiraldeli e Denanci coloca num buraco e

queima não sobrou nenhuma embalagem, quando tiver vai devolver na casa onde comprou

4 Pedro Hipólito e Maria Bárbara

tem buraco onde deposita o lixo do lote

devolve na loja onde comprou

4 Maria Miguel deposita num lugar no sítio guarda (quase não tem) 4 Valdomiro Gomes põe num buraco e queima guarda e enterra 5 Aparecido Domingos e família queima separa e devolve onde

comprou 5 Celso e Ivete queima não tem 6 Eurival e Maria Carmelita põe num tambor e queima não tem

91

6 Sinval joga num buraco não tem 6 Maria Aparecida queima entrega na comapa 6 Clemência coloca na caçamba de

coleta junta e entrega onde comprou

6 Alaíde joga num buraco joga longe ou queima 6 Maria Antonia de Jesus faz buraco e enterra enterra

Conforme explicitado na Tabela 10, na questão do lixo doméstico, a maioria dos

entrevistados declarou queimá-lo, alguns declararam que costumam enterrar o que não

pode ser queimado. Em um dos casos, o Sr. Carlos Alberto, declarou que, no caso de

lata, plástico e papel, costuma juntar e vender. É comum aos assentados jogarem o lixo

em um buraco no sítio, neste caso alguns queimam, outros não. Uma minoria tem

contato com caçambas da Prefeitura de Araraquara, onde depositam o lixo que

posteriormente é recolhido pela Prefeitura.

O manejo do lixo se mostra problemático porque, na maioria dos casos, deixa

resíduos no sítio, seja os restos da queima, seja as coisas que não podem ser queimadas

e são enterradas. Não nos esquecendo que também, o próprio ato de queimar, mesmo

sendo em pequena escala, contribui para a contaminação do ar.

Para a análise da destinação das embalagens de defensivos agrícolas utilizamos a

Tabela 10, já descrita anteriormente, e o Gráfico 8. Vejamos o gráfico:

Gráfico 8: Destinação das embalagens de defensivos

não declarou; 1; 5%

entrega; 8; 37%

não tem; 4; 18%

queima; 2; 10%

enterra; 2; 10%

guarda; 2; 10%

reutiliza; 2; 10%

93

que o esgoto da cozinha é lançado na terra (a “céu aberto”). Uma outra declaração

comum foi a de que a fossa localiza se longe da casa e de fontes de água.

Percebemos assim que apesar de não haver um tratamento adequado do esgoto,

existe no grupo certa preocupação com as questões de saneamento e contaminação da

água.

4.3.6. Relações do grupo com o plantio de cana.

Na Tabela 11, levantamos os integrantes do grupo estudado que plantam cana e

os que não plantam. Considerando que a cana gera uma renda extra a esses produtores,

identificamos o destino dado a essa renda. Se por um lado a renda da cana é importante

para o assentado, por outro, a cana, plantada extensivamente, contribui para uma menor

diversidade do sítio, o que ambientalmente é ruim.

Tabela 11: Relações do grupo com o plantio de cana NÚCLEO ASSENTADO planta

cana? data da primeira safra

valor que recebeu

destino da renda

1 Luzia Babi e Juvenal plantou (7ha) em 2005

setembro/2006

líquido mesmo até o momento,afirmou que deu uns dez mil reais; relatou que a TR comeu boa parte dos valores(*)

fez um poço artesiano, fez um mangueiro para porco, investiu na casa do lote (**)

1 Carlos Alberto e Luciana plantou em 2004 (2,5ha)

meio de 2005

não soube informar

investiu no sítio, entre outras coisas construiu uma estufa

1 José Parma e família plantou para muda (1,5 ha) em fev/2006

ainda não teve safra

- -

2 Cacilda não - - -

94

2 Alvino e Maria da Glória (Sr. Alvino relatou que já plantou milho, mandioca e só dava para viver; com a cana foi a única vez que sobrou dinheiro para fazer outras coisas).

faz cinco anos que plantou cana, antes eu fazia pinga, agora vendo para a usina (7ha)

não soube dizer

ainda não calculou

investiu no sítio, construiu cerca, investiu em gado, ampliou a casa e investiu em casas que tem na cidade

2 Maria Amélia plantou (7ha) em 2004

julho/2005 35.000,00 construiu uma casa no sítio para ela e está mobiliando

4 José Jorge e Neide plantou (7ha) em 2005

setembro/2006

não sabe dizer

investiu na cana, comprou semente de milho e adubos, investiu para melhorar a produção de verduras e investiu na própria cana (**)

4 Sebastião Pio e Madalena não - - - 4 Antonio Guiraldeli e Denanci não - - - 4 Pedro Hipólito e Maria Bárbara não - - - 4 Maria Miguel plantou

(4ha) em 2004

já teve primeira safra

não informou

não informou

4 Valdomiro Gomes plantou em fev/2006 (7ha)

ainda não teve

- -

5 Aparecido Domingos e família não - - - 5 Celso e Ivete não - - - 6 Eurival e Maria Carmelita não - - - 6 Sinval não - - - 6 Maria Aparecida não - - - 6 Clemência não - - - 6 Alaíde não - - - 6 Maria Antonia de Jesus não - - - (*) Pelo que o produtor informou, os custos do plantio da cana foram corrigidos pela TR, o que diminuiu parte do seu recebimento. (**) Estes produtores tiveram safra de cana posteriormente à coleta dos dados da pesquisa; foram incluídos porque achamos importante relatar a destinação dada à renda ganha. Esses dados foram coletados em dezembro/2006.

95

Observando a Tabela 11, percebemos que a maior parte do grupo estudado (12

famílias) não plantou cana, em contrapartida a uma menor parte (8 famílias) que plantou

cana. Do grupo estudado, todos do núcleo cinco e seis do Assentamento Monte Alegre

não plantaram cana, enquanto todos do núcleo um plantaram cana. Do núcleo dois, de

três participantes da feira, dois plantaram cana, e, do núcleo quatro, de seis participantes

da feira, três plantaram cana18.

Tendo em vista os que plantaram cana, seis famílias já tiveram safra e duas ainda

não. Quem teve safra de cana, e então teve renda, utilizou a renda, principalmente, para

investimento no sítio, seja para produzir (construção de estufas, compra de adubos,

etc.), seja na melhoria da infra-estrutura geral (construção de poço artesiano, construção

de casa no sítio, etc.).

Algumas declarações, relatadas durante a entrevista, são interessantes de serem

ressaltadas porque demonstram a opção do assentado em plantar cana por causa da

renda e pela facilidade de venda. Um dos entrevistados disse que já plantou milho e

mandioca e mal dava para viver e que a única vez que sobrou alguma renda foi com o

plantio de cana. Da mesma forma, um outro entrevistado, que no momento não planta

cana, declarou que talvez venha a plantar, dado que sua plantação de mandioca para a

indústria (uma plantação com quase três anos e com cerca de sete hectares) não encontra

preço para venda; segundo ele, somente o custo do transporte para levar a mandioca

para a indústria quase fica mais alto do que o que vai receber.

Pelas declarações coletadas, observamos que o plantio de cana gera rendas para

os assentados que, no caso do grupo aqui estudado, muitas vezes são investidas na

18 A partir de dados, referentes ao ano de 2004, coletados no ITESP, chegamos aos seguintes números

sobre o número de famílias que plantam cana nos núcleos do Assentamento Monte Alegre: núcleo I, 61%; núcleo II, 29%; núcleo III, 33%; núcleo IV, 25%; núcleo V, 47%; núcleo VI, 10% (porcentagens aproximadas).

96

melhoria da qualidade de vida no sítio e, também, na infra-estrutura, o que pode ampliar

a diversidade do sítio. Entre os assentados que não plantam cana, alguns se mostram

propensos a plantar no futuro, por causa da renda e porque é uma alternativa a áreas do

sítio que têm outras culturas homogêneas e que são mais difíceis de serem

comercializadas por causa dos preços baixos e das dificuldades para se vender19.

O plantio de cana, assim, gera renda para o assentado, uma renda que pode ser

investida em outras culturas (inclusive a horta), mas por outro lado diminui a

diversidade. A troca de culturas homogêneas (como milho e mandioca) por cana

contribui ainda mais para a homogeneização da paisagem, o que prejudica

ambientalmente a região, diminuindo a sustentabilidade ambiental.

*

A sustentabilidade discutida neste item leva em conta que a estabilidade

econômica permite ao assentado ter uma melhor qualidade de vida; as feiras, gerando

renda, contribuem para esse aspecto. A infra-estrutura (maquinários, água, solo)

contribui para uma melhor produtividade desses sistemas de produção, quanto mais

fácil for o acesso à água e a um solo de melhor qualidade, a produção voltada para a

feira tende a ser maior e de melhor qualidade.

Do ponto de vista dos insumos, se considerarmos que os insumos utilizados na

produção voltada para a feira tendem a ser mais naturais, incluindo aí as formas de

manejos, a feira, além de ser canal de escoamento da produção dos assentados, passa a ser

também um espaço no qual os consumidores urbanos podem encontrar produtos mais

naturais por serem produzidos em pequena escala e com menos insumos

industrializados. Do ponto de vista do uso de defensivos, existe um aspecto negativo: a

19 Ver STETTER (2000, 2004), BAÚ (2001).

98

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo inicial deste trabalho foi discutir se as feiras promovidas pela

prefeitura de Araraquara impulsionam a diversidade de produção agrícola de um grupo

de vinte famílias assentadas no Projeto de Assentamento Rural Monte Alegre.

As vinte famílias participantes da feira entraram no Assentamento Monte Alegre

em diferentes momentos, desde ocupações iniciais em 1985 até a última ocupação por

volta de 1998; há, também, famílias que se integraram recentemente, como o caso de

uma família agregada que está há apenas um ano neste assentamento.

O grupo entrevistado tem no assentamento o seu espaço geográfico de

identificação, muitos estão lá já há muitos anos e é onde alguns criaram os filhos, sendo,

também, o lugar onde muitas famílias reconstruíram sua história de vida. Em algumas

famílias, os filhos saíram de casa para tentar a vida fora, em outras, eles trabalham junto

no sítio, o que torna a mão-de-obra familiar ora maior, ora menor, em algumas famílias.

Embora a mão-de-obra familiar seja predominante no grupo estudado, há, também o uso

de mão-de-obra de terceiros. A produção do assentado gera, assim, trabalho não só para

a família, mas, também, para outras pessoas, geralmente, do próprio assentamento.

O Programa Direto do Campo, criado pela Coordenadoria de Atividades

Agroindustriais da Prefeitura de Araraquara, proporciona aos pequenos produtores

agrícolas da região de Araraquara realizar a venda de seus produtos em locais públicos

como a Praça Pedro de Toledo e o Terminal Urbano de Integração. Além do espaço

público, o Programa Direto do Campo - cede bancas e transporte das mercadorias. O

99

apoio da Prefeitura promove, sem dúvida, uma boa infra-estrutura para os pequenos

produtores que buscam na feira escoar sua produção. Por outro lado, estes últimos cinco

anos de funcionamento do Programa (2002-2006) não foram tranqüilos: o Programa

encontra obstáculos em relação aos comerciantes da cidade que se opõem a produtos

similares aos seus oferecidos pelos feirantes, particularmente os produtos mais

processados. Por ser um programa voltado para pequenos produtores e assentados,

diferentemente das feiras livres da cidade que já estão mais consolidadas, o Programa

sofre uma maior pressão relacionada às condições de higiene e comercialização.

Durante esses anos, também, por várias vezes, o Programa correu o risco de ser

interrompido devido a questões orçamentárias, e ainda devido à transição política da

Prefeitura (eleições municipais de 2004). Os assentados por sua vez reclamam das

limitações impostas a alguns produtos, como, por exemplo, a de não poder vender

produtos já processados (ex. rapadura, farinha de mandioca), produtos agrícolas com

algum grau de processamento (ex. legumes descascados) ou produtos de origem animal

(ex. ovos, queijos). Assim percebemos que tanto os assentados como o órgão gestor das

feiras ainda não conseguiram estabelecer um diálogo claro com metas para o futuro do

Programa, o que pode ocasionar riscos para sua continuidade.

O ITESP, como órgão gestor do Assentamento Monte Alegre, no início do

Programa Direto do Campo, teve seus integrantes participando da discussão do projeto

com diagnósticos do assentamento, intermediando o contato da Prefeitura com o

assentamento e promovendo cursos de capacitação ligados aos objetivos da feira (por

exemplo, um curso de práticas de comercialização e visitas técnicas). Contudo, levando

em consideração as declarações do grupo, a atuação do ITESP no assentamento recebe

críticas de diversas naturezas. Os entrevistados falam que o ITESP atua no

100

assentamento mais como um órgão fiscalizador e administrativo, deixando a desejar na

parte relacionada à assistência técnica; falam também que há falta de divulgação de

informações e eventos, e que os projetos desse órgão estão voltados particularmente

para milho, mandioca, etc. Podemos levantar, assim, a existência de três importantes

fatores aí atuantes: a) o número de técnicos que o ITESP dispõe não é suficiente para

atender ao assentamento como um todo; b) o ITESP, apesar das tentativas, ainda não

conseguiu sair dos projetos padronizados que sempre fez; projetos esses ligados às

lavouras de milho e outros; c) existe uma falta de diálogo e distanciamento entre o

ITESP e os assentados, algo que transparece nas declarações do grupo estudado.

O Programa Direto do Campo, como um todo, gera uma renda corrente para o

grupo entrevistado, o que supre principalmente as necessidades de consumo de bens que

as famílias não produzem. Contudo, a renda da feira nem sempre constitui o total da

renda familiar, sendo complementada, muitas vezes, por rendas provenientes de outras

safras; de rendas vindas de trabalho fora do sítio; e de rendas vindas de aposentadorias,

pensões e outros benefícios sociais. Ressaltamos que, se compararmos a renda da feira

com a renda de safras como laranja, cana, milho e outros, veremos que a renda da feira

serve, principalmente, para manutenção dos gastos correntes do assentado, enquanto

que a renda de safras, normalmente, serve para ser investida no sítio e na melhoria de

qualidade de vida, como, por exemplo, no caso da cana que serviu para algumas

famílias reformarem suas casas ou colocarem alguma infra-estrutura de maior valor no

sítio (por exemplo, estufa, poço artesiano).

A sobrevivência cotidiana da família depende das rendas mencionadas acima e

dos alimentos produzidos no sítio. Os alimentos produzidos no sítio - que podem ser

vendidos na feira ou não - são autoconsumidos, compondo parte da dieta familiar e

101

diminuindo os custos com produtos comprados externamente. Nesse sentido, quanto

mais diversificada for a produção, maior será o autoconsumo dessas famílias.

Salientamos, porém, que não estamos falando em “produção estrita para autoconsumo”

(produção exclusiva para o consumo familiar, havendo excedentes poderá ser vendido),

mas sim em um “autoconsumo” dos alimentos produzidos no sítio (incluem-se aí as

produções voltadas para a comercialização).

Os produtores, produzindo com diversificação, preenchem o espaço do seu sítio

com uma variedade grande de culturas, contribuindo para o equilíbrio ambiental desse

espaço. O espaço ocupado por culturas mais homogêneas, como milho entre outros,

requer maior uso de insumos químicos, o que contribui para que essas culturas sejam

menos naturais e para que diminua a biodiversidade da área. Quando, de culturas de

milho, de pasto, de mandioca, esses produtores passam a plantar cana, além de diminuir

a biodiversidade local contribuem para a homogeneização da paisagem de toda região,

na medida em que o espaço do assentamento era um dos poucos em que o plantio de

cana não estava generalizado.

Embora o fator ambiental seja importante, pelas declarações do grupo

entrevistado, notamos que o fator econômico é preponderante: o que se torna mais

importante para o assentado é a opção pelo plantio de cana tendo em vista que tal

plantio gera uma renda maior do que a de outras culturas homogêneas.

O plantio de cana, no grupo estudado, seja do ponto de vista dos que já

plantaram ou dos que pretendem plantar, está substituindo, normalmente, outras culturas

homogêneas, assim, a produção voltada para a feira (hortas, legumes, entre outros),

nesse espaço rural, ainda não está sendo prejudicada. Nos poucos casos em que o

produtor já obteve renda da safra da cana, identificamos que parte dela foi aplicada no

102

sítio, inclusive na construção de estufas, por exemplo, o que pode até mesmo contribuir

para a produção voltada para a feira.

Na produção voltada para a feira são utilizados, na maioria das vezes, insumos

naturais. Tendo em vista os defensivos, apesar de vários dos entrevistados utilizarem

receitas caseiras e naturais, é pratica comum a utilização de herbicidas para controle do

mato. A destinação das embalagens, nesse caso, nem sempre atende aos padrões

estabelecidos, assim, podemos considerar que, no grupo estudado, existe, mesmo que

em menor número, problemas relacionados à utilização dos defensivos químicos.

A discussão feita neste trabalho girou em torno da hipótese de que a feira,

permitindo o escoamento dos produtos do assentamento, incentiva a diversificação,

contribuindo para a sustentabilidade socioeconômica e ambiental.

A partir do levantamento realizado para este trabalho, pudemos perceber, pela

análise dos dados relativos à renda e ao autoconsumo, que a feira gera uma renda

corrente que garante o sustento cotidiano dessas famílias, complementadas pelo

autoconsumo do que se produz no sítio. Pela análise dos dados relativos à mão-de-obra,

percebemos que a produção familiar, em alguns casos, utiliza mão de obra não-familiar

do próprio assentamento, contribuindo para emprego e meios de sobrevivência de

pessoas externas ao núcleo familiar. E pela análise dos dados relativos à produção

vendida na feira e relativos à destinação das sobras, percebemos que os benefícios de

se ter um lote para produzir chega ao meio urbano através dos alimentos que são

produzidos pelo grupo, no assentamento e distribuídos ou doados no meio urbano.

Assim, não estamos analisando a sustentabilidade sócio-econômica só do ponto de vista

contábil, mas, também, pelo prisma de um maior nível de bem estar e de satisfação das

necessidades básicas.

103

Tendo em vista a sustentabilidade ambiental, pelos dados relativos à

diversidade, que se encontram diluídos no corpo da análise e relativos à utilização de

insumos, pudemos perceber que as produções voltadas para a feira contribuem para a

biodiversidade e sustentabilidade ambiental porque são compostas de diversos tipos de

cultura e produzidas preponderantemente com insumos naturais. Do ponto de vista da

utilização de defensivos agrícolas e destinação do lixo, notamos que: a) o uso de

defensivos naturais contribui para a conservação da biodiversidade nesse ecossistema,

sendo favorável ao meio ambiente; b) o uso de defensivos químicos e a destinação

incorreta de suas embalagens e do lixo doméstico degradam e podem contaminar o

espaço de produção agrícola e comprometer a qualidade dos alimentos.

A mudança de uma fazenda que produzia extensivamente eucalipto ou outras

culturas homogêneas, para um espaço loteado de assentamento rural, ocupado por mais

de trezentas famílias, já dá indícios de mudanças nas diversidades de culturas. As

famílias que ocuparam o assentamento, muitas delas ex-bóias-frias, mudaram seu modo

de vida e construíram nesse novo meio rural suas moradias e tiveram oportunidade de

ocupar o lote com culturas a sua escolha. Os assentados do grupo estudado, em especial

por freqüentarem a Feira do Produtor, integram-se ao meio urbano ao vender seus

produtos; conduzindo os indicadores a ilustrarem o sucesso de um projeto de

assentamento rural que não se resume somente a fatores econômicos, mas à

sobrevivência do assentado e sua integração com o meio urbano, o que lhe permite que

seja reconhecido socialmente.

O assentado vende para o consumidor da cidade não somente um alimento, mas

o “produto roça”. A hipótese de sustentabilidade foi discutida neste trabalho não por

atributos únicos que buscam comprovar o sucesso ou o fracasso dos assentamentos a

104

partir de indicadores econômicos. O ser assentado passa pela construção e

desconstrução de modos de vida, constituindo trajetórias que ora os individualizam, ora

os aproximam. Os valores dessa categoria social estão ligados ao bem estar que o

espaço do assentamento lhes proporciona (morar, trabalhar, ter perspectivas para o

futuro) que não podem ser analisados através de categorias e de conceitos fechados.

Assim, neste trabalho, ressaltamos a relevância de questões relacionadas ao

autoconsumo, à sociabilidade e ao reconhecimento social, entre outras.

Este trabalho pretende ser uma pequena contribuição à discussão dos dilemas

que cercam a política de assentamentos. A importância da feira, mais do que

econômica, está na criação de novas bases ou de estratégias de sustentabilidade criadas

pelos assentados, com a mediação do poder público. Numa região fortemente

caracterizada pela agricultura patronal e pelo agrobusines, a feira expressa a perspectiva

de embriões ou de contrapartidas de desenvolvimento local.

105

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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110

ANEXO 1. QUESTIONÁRIO

Nome: Endereço: Questões: 1. Há quanto tempo está nos projetos de Assentamento? 2. De onde veio? 3. O que fazia? 4. Antes de entrar nos projeto de Assentamento tinha alguma experiência com a terra? 5. Como entrou no projeto RA? 6. Tem aprendido novas formas de produzir? 7. Como? 8. Quem compõe sua família? renda O que fazem?

9. Utiliza mão-de-obra que não pertence à família?............. Como utiliza: 10. O que produz? Área total: Área

11. Hortaliças: 12. Cereais: 13. Anuais: 14. Permanentes: 15. Cana: 16. Pastagem: 17. Reserva Legal: 18. Animais: Bovinos: Suínos: Eqüinos: Caprinos: Ovinos: Galinhas: outros:

19. Que tipo de recursos possui no lote? Maquinário: Hídricos: Solo:

20. Como ficou sabendo da feira? 21. Participa regularmente? (Tempo) 22. Como produz? 23. Que tipo de insumos utiliza?

Adubo: Defensivos:

24. Como faz o manejo do defensivo: 25. Onde costuma armazenar? 26. O que faz com as embalagens? 27. Conhece a ação do defensivo(inibir plantio, efeitos)? 28 Com quem aprendeu?

111

29. Para onde vai o lixo? 30. Para onde vai o esgoto? 31. Realiza algum tipo de manejo(reaproveitamento)? 32. Recebeu algum incentivo para participar da feira? 33. Quanto vende?

Semanal: Mensal:

34. A renda vinda da feira para que é utilizada? 35. De onde vem o total da renda familiar? ....................feira outros:..... 36. Quem da família participa da feira? 37. Auto consumo: 38. Consome o que planta? 39. O que compra fora para comer? 40. Com o que vende poderia se sustentar? 41. Teve algum contato com a Regar? 42. Como comercializa o que produz? 43. Todos os produtos comercializados você que produz? 44. O que diferencia sua produção dos outros? 45. Como é o seu contato com os outros produtores que participam da feira? 46. Como é o acompanhamento da Prefeitura dos produtos vendidos? 47. Recebe algum apoio para produzir?......................De Quem?

112

ANEXO 2. LEI Nº. 5.908

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116

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ANEXO 3.

LEI Nº. 6.317 de 11 de outubro de 2005

(Dispõe sobre as diretrizes orçamentárias para elaboração da lei

orçamentária do exercício de 2006 e dá outras providências)

[p. 41, 123-124]

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