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UNIARA – CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAQUARA PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÀO EM DESENVOLVIMENTO
REGIONAL E MEIO AMBIENTE
Feiras do produtor: alternativa para sustentabilidade de famílias assentadas rurais da região de Araraquara
Alcir Antonio Kuranaga
Araraquara 2006
UNIARA – CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAQUARA PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÀO EM DESENVOLVIMENTO
REGIONAL E MEIO AMBIENTE
Feiras do produtor: alternativa para sustentabilidade de famílias assentadas rurais da região de Araraquara
Alcir Antonio Kuranaga
Dissertação apresentada ao Centro Universitário de Araraquara (Uniara), para a obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento regional e meio ambiente. ORIENTADORA: Prof.ª Dr.ª Vera L. S. Botta Ferrante
Araraquara 2006
K98f KURANAGA, Alcir Antonio
Feiras do produtor: alternativa para sustentabilidade de famílias assentadas rurais da região de Araraquara. Araraquara: Centro Universitário de Araraquara, 2006
Dissertação de Mestrado apresentada ao Centro Universitário de Araraquara como parte dos requisitos para a obtenção do titulo de mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente.
Orientador: Profa. Dra. Vera Lúcia Silveira Botta Ferrante 109 p. ilus. 1. assentamentos rurais 2. feiras de produtor 3. diversidade agrícola I. T.
C.D.U . 577.4: 333.013.6
Dedico esse trabalho a meu pai que por mais que eu faça ainda faltará um passo para alcançá-lo. Ao meu filho Lincoln e à minha namorada Mara.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço a minha orientadora Vera Botta que em vários
momentos difíceis que passei durante este trabalho sempre me apoiou e incentivou a
continuar.
Ao professor Queda que por várias vezes indicou pistas importantes e
bibliografias contribuindo muito com esse trabalho.
Aos professores Luis Antonio Barone e João Sé que a partir de um texto de
qualificação bastante preliminar contribuíram com orientações importantes.
Ao grupo do Nupedor: Thauana, Daniel, Aline, Henrique, João, Lee, Cidinha
companheiros de luta e de trabalho nas pesquisas de assentamentos e amigos.
Às secretárias do mestrado Ivani e Adriana que mais que secretárias são
companheiras de trabalho e amigas.
Aos funcionários do ITESP: Danilo, Parizatti, Alessandro, Fátima, Carlão,
Marucio, Luizinho, Rubão, entre outros, que ajudaram muito a conhecer melhor a
realidade nos assentamentos.
Aos integrantes da Coordenadoria de atividades agroindustriais da prefeitura de
Araraquara, particularmente ao Sinézio e Luciano, dos quais tomamos tempo com
longas conversas.
A todos os professores do mestrado pelas ricas discussões em sala de aula, por
carregar esse mestrado com todas as forças e pela convivência sempre agradável e, às
vezes, divertida.
A Isolina sempre alegre, simpática e cordial.
Aos colegas do mestrado pela convivência e experiência juntos: Alessandro,
Eliene, Luiz Meneguello, Valdir, Núbia, As duas Julianas, Silvestre, Alexandre, Selma,
Cristiana, Kátia, Buga, Lee, Manoel, Alessandra, Leonice, Florida, Décio, Cleiton, Zé
Renato, Juliano, Maria Lucia, Neusa, Moacir, Paulo Moreno, Rodrigo, entre outros.
Aos meus amigos: César, Omar, Naji, Amin, Arnobio, Cano, Thiago, Elen,
Pantanal, Nelson, Roberto, dentre outros.
As meus alunos Verusca, M1, M2, Janaina, Pitoco, dentre outros.
À Ligia pelo importante apoio no momento de entrada no mestrado
À Funadesp pela bolsa que ajudou muito no transcorrer do mestrado
À UNIARA pelo acolhimento e incentivo à construção deste importante
programa de mestrado
E por último agradeço a essas pessoas humildes e batalhadoras que no seu dia a
dia de assentados demonstram que é possível vencer a exclusão social e a falta de apoio
por não se inserirem perfeitamente no individualismo do sistema capitalista,
particularmente agradeço ao grupo de assentados rurais que participam das feiras de
produtores.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.......................................................................................................................................... 1 CAPÍTULO 1: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA. ASSENTAMENTOS E SUSTENTABILIDADE 7
1.1. ASSENTAMENTOS E MODOS DE VIDA ......................................................................................... 7 1.2. FEIRAS: ESPAÇO DE COMERCIALIZAÇÃO E DE SOCIABILIDADE ................................................. 12 1.3. SUSTENTABILIDADE: FRAGMENTOS DE UMA POLÊMICA........................................................... 14
CAPÍTULO 2: O ESPAÇO SOCIAL INVESTIGADO. ASSENTAMENTO MONTE ALEGRE E FEIRAS..................................................................................................................................................... 19
2.1 HISTÓRICO DA OCUPAÇÃO DAS TERRAS DA FAZENDA MONTE ALEGRE ................................... 19 2.2. O ASSENTAMENTO MONTE ALEGRE NA ATUALIDADE............................................................. 24 2.3. ASSENTAMENTOS NA AGENDA MUNICIPAL DE ARARAQUARA ................................................ 28 2.4. O PROGRAMA “DIRETO DO CAMPO”: CRIAÇÃO E FUNCIONAMENTO. ....................................... 31
CAPÍTULO 3: METODOLOGIA. OS FEIRANTES ASSENTADOS: FRAGMENTOS DE SUAS TRAJETÓRIAS....................................................................................................................................... 39
3.1. COLETA DOS DADOS. ............................................................................................................... 40 3.2. DIÁRIO DE CAMPO ................................................................................................................... 40 3.3. OS ASSENTADOS E SUA TRAJETÓRIA ........................................................................................ 42
CAPÍTULO 4: ANÁLISE E DISCUSSÃO. ESTRATÉGIAS DE SUSTENTABILIDADE DOS FEIRANTES ASSENTADOS................................................................................................................. 57
4.1. O PAPEL DA FEIRA PARA O GRUPO ........................................................................................... 57 4.1.1. A feira como fator de geração de renda e diversificação do produto................................ 57 4.1.2. A participação da família na produção e na feira. ............................................................ 65 4.1.3. A relação do grupo na feira e com os atores locais (técnicos e representantes do poder público municipal)............................................................................................................................ 68 4.1.4. Destinação das sobras ....................................................................................................... 73
4.2. A DIVERSIFICAÇÃO AGRÍCOLA E O AUTOCONSUMO DO GRUPO................................................. 75 4.3. ASPECTOS DA SUSTENTABILIDADE NO PROCESSO DE PRODUÇÃO............................................. 79
4.3.1. Recursos (maquinários, hídricos, solo) para a produção.................................................. 79 4.3.2. Utilização de insumos. ....................................................................................................... 83 4.3.3. Utilização de defensivos agrícolas..................................................................................... 86 4.3.4. A destinação do lixo........................................................................................................... 89 4.3.5. A destinação do esgoto. ..................................................................................................... 92 4.3.6. Relações do grupo com o plantio de cana. ........................................................................ 93
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................................. 98 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................................. 105 ANEXO 1. QUESTIONÁRIO............................................................................................................... 110 ANEXO 2. LEI Nº. 5.908....................................................................................................................... 112 ANEXO 3. LEI Nº. 6.317 DE 11 DE OUTUBRO DE 2005 (DISPÕE SOBRE AS DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS PARA ELABORAÇÃO DA LEI ORÇAMENTÁRIA DO EXERCÍCIO DE 2006 E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS) [P. 41, 123-124] ................................................................. 118
Lista de Fotos, Tabelas e Gráficos.
Fotografia 1: Feira do Produtor, Praça Pedro de Toledo. ............................................... 35 Fotografia 2: Feira do Produtor, Terminal Urbano de Integração .................................. 36 Fotografia 3: Feira da Roça, Terminal de Urbano de Integração. .................................. 37
Tabela 1: Renda, principais tipos de produção e comercialização. ................................ 58 Tabela 2: Destinação da renda da feira ........................................................................... 62 Tabela 3: Participação da família e utilização de mão-de-obra não familiar.................. 66 Tabela 4: Relações entre os atores .................................................................................. 69 Tabela 5: Destinação de sobras da feira.......................................................................... 74 Tabela 6: Relação entre o que produz/consome e o que compra de fora........................ 76 Tabela 7: Estrutura e recursos dos participantes da feira................................................ 80 Tabela 8: Utilização de insumos na produção. ............................................................... 83 Tabela 9: Práticas e usos de defensivos. ......................................................................... 87 Tabela 10: Destinação do lixo. ....................................................................................... 90 Tabela 11: Relações do grupo com o plantio de cana..................................................... 93
Gráfico 1: Renda da feira em relação a faixas salariais. ................................................. 61 Gráfico 2: Renda da feira em relação à renda familiar total (%) .................................... 63 Gráfico 3: Utilização de mão-de-obra além da familiar. ................................................ 67 Gráfico 4: Participação na feira por gênero. ................................................................... 68 Gráfico 5: Qualidade do solo. ......................................................................................... 82 Gráfico 6: Utilização de adubos químicos. ..................................................................... 86 Gráfico 7: Utilização de defensivos................................................................................ 89 Gráfico 8: Destinação das embalagens de defensivos .................................................... 91
Lista de abreviaturas
CAI - Complexos Agroindustriais
CAIC - Companhia Agrícola Imobiliária e Colonizadora
CDC - Centro Comunitário do Bela Vista
CEDIR - Centro de Desenvolvimento Rural da Monte Alegre
CEPAM - Centro de estudos e pesquisas de administração municipal Faria Lima
CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
CODASP – Companhia de Desenvolvimento Agrícola do Estado de São Paulo
COMAPA – Cooperativa Mista Agropecuária Araraquara
CPT - Comissão Pastoral da Terra
DAF – Departamento de Assentamento Fundiário
FEPASA – Ferrovia Paulista S/A
FERAESP – Federação dos empregados rurais assalariados do Estado de São Paulo
IAF – Instituto de Assuntos Fundiários
ITESP – Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo
LDO - Lei de Diretrizes Orçamentárias
NUPEDOR – Núcleo de Pesquisa e Documentação Rural
PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
REGAR – Associação para o Desenvolvimento da Agricultura Regenerativa na Região
de Araraquara
SAI – Sistema Agroindustrial Integrado
SEBRAE – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
STRA - Sindicato dos Trabalhadores Rurais Assalariados de Araraquara
RESUMO
O objetivo deste trabalho foi discutir se as feiras do produtor promovidas pela prefeitura
de Araraquara impulsionam a diversidade de produção agrícola e as estratégias de
reprodução de um grupo de vinte famílias assentadas no Projeto de Assentamento Rural
Monte Alegre.
Para tanto, tomamos por base discussões a respeito da sustentabilidade de
assentamentos rurais, enfocando o seu viés sócio-econômico e ambiental, e algumas
construções teóricas relacionadas a assentamentos. Tendo em vista tais construções,
foram importantes para o trabalho as noções de modo de vida e de reconstrução de
modo de vida, bem como as noções de trajetórias, de estratégias de vida, e de
autoconsumo. Em hipótese, a feira permite que o produtor assentado distribua seus
produtos, o que pode contribuir para a diversidade de culturas nos espaços agrícolas do
assentamento rural. A diversidade de culturas, a geração de rendas através das feiras e
os modos de vida em assentamentos rurais podem ser um caminho para o
desenvolvimento sustentável.
Os dados foram coletados tendo como instrumento um questionário. Informações
adicionais foram obtidas por meio de entrevistas junto a funcionários do ITESP e da
Coordenadoria de Atividades Agroindustriais da Prefeitura de Araraquara.
Foram analisados fatores como a geração de renda, a diversificação agrícola, o
autoconsumo e aspectos da sustentabilidade no processo de produção. A partir da
análise dos dados, percebemos que a feira é um veículo de novas bases ou de estratégias
de sustentabilidade criadas pelos assentados, com a mediação do poder público, o que
permite aos assentados permanecerem na terra.
PALAVRAS-CHAVE: assentamentos rurais; sustentabilidade; autoconsumo, modo de
vida, feiras de produtor; diversidade agrícola.
ABSTRACT
The intent of this work was to discuss if the producer fairs provided by the City Hall of
Araraquara stimulated the diversity of agricultural products and the strategies of
reproduction of a group of twenty families placed in the Projeto de Assentamento Rural
Monte Alegre (Project of Rural Placement Monte Alegre).
So, we based on arguments about supportability of rural placements, focusing on their
social-economic and environmental lines and some theory constructions related to
placements. As so, it was important to this work to understand the way of life and its
reconstruction, course, life strategies and self-consuming. Hypothetically, the fair
allows the placed producer to deliver their products, what contributes to the cultures
diversity in agricultural spaces of rural placements. The cultures diversity, the budget
formation through those fairs and the ways of life can be the way to a supportable
development.
The data were collected using a questionnaire as gathering. Additional information was
obtained by interviews with employees from ITESP and from Agro Industrial Activities
Coordination of City Hall of Araraquara. We analyzed factors as budget formation,
agricultural diversification, self-consuming and prospects of supportability during the
production process. From that analyzing, we confirmed the fairs as means of promotion
for new bases or strategies for supportability, created by placed producers with help of
political influence what allows them to remain in their places.
KEYWORDS: Rural placements, supportability, self-consuming, way of life, producer
fair, agricultural diversity
1
INTRODUÇÃO
Neste trabalho buscamos analisar como a Feira do Produtor e as Bancas do
Terminal de Integração Urbano de Araraquara incentivam a diversificação das
produções comerciais e não comerciais de um grupo de assentados da região de
Araraquara.
A Feira do Produtor e as Bancas do Terminal de Integração Urbano de
Araraquara constituem o Programa Direto do Campo, organizado pela Secretaria de
Desenvolvimento Econômico da Prefeitura Municipal de Araraquara. O programa é
uma alternativa para o escoamento da produção de alimentos de pequenos produtores.
Ao iniciarmos o levantamento dos participantes da Feira do Produtor e das
Bancas do Terminal, percebemos que a maior parte dos produtores eram assentados. De
um total de 32 famílias participantes do Programa Direto do Campo, 26 eram de
assentamentos. Desses 26, cinco eram do Assentamento Bela Vista do Chibarro, um do
Assentamento Horto Bueno de Andrade e 20 eram dos núcleos do Assentamento Monte
Alegre. Assim, pelo fato da maioria dos participantes pertencer ao Assentamento Monte
Alegre, optamos por trabalhar apenas com esse assentamento. Em suma, trabalhamos
com um grupo de 20 famílias de produtores assentados da fazenda Monte Alegre que
participam do Programa Direto do Campo, no município de Araraquara.
Esta pesquisa insere se num projeto maior “Poder Local e Assentamentos rurais:
expressões de conflito, de acomodação e de resistência” que vem analisando os modos
de vida e a inserção dos Projetos de Assentamentos nos contextos regionais/locais, sob a
2
coordenação da Profª.drª. Vera Lúcia Silveira Botta Ferrante, e desenvolvido pelo
NUPEDOR1, com financiamento do CNPq.
Os principais objetivos deste projeto maior são (FERRANTE, WHITAKER e
BARONE, 2003):
“1. Proceder à avaliação das diferenciadas formas de ação levadas adiante pelas
3
controles traçados pelas usinas para o plantio da cana estimulados muitas vezes pelos
anseios em relação à defesa do meio ambiente.
3. Como terceiro bloco de objetivos a serem perseguidos na análise da trama de
tensões constituída pela inserção dos assentamentos nos entornos locais/microrregionais
destacamos as alternativas de sustentabilidade desenvolvidas pelos assentamentos,
sempre em relação com os demais agentes locais, através de projetos e aspirações
educacionais. Essa sustentabilidade pode se apresentar como expressão de resistência,
recusa ou acomodação, tendo como sujeitos privilegiados os jovens moradores dos
Projetos de Assentamentos.”
Há que se acrescentar que o grupo de pesquisa da UNIARA/UNESP tem larga e
sólida trajetória em estudos sobre assentamentos2, o que veio ao encontro dos objetivos
desta dissertação. Nesse sentido, a pesquisa aqui desenvolvida está inserida tanto no
primeiro objetivo que trabalha a relação do poder local com os assentamentos, como no
segundo objetivo que estuda a inserção dos assentamentos na economia regional.
Especificamente, o objetivo principal desta pesquisa é discutir como a Feira do
Produtor e as Bancas do Terminal de Integração Urbano de Araraquara3 - promovidas
pela Prefeitura de Araraquara - podem impulsionar as diversificações agrícolas e
alimentares, gerando renda para as famílias assentadas.
2 Foram desenvolvidos por esse grupo vários projetos ligados à temática de assentamentos rurais: “Análise e Avaliação dos Projetos de Reforma Agrária e Assentamentos no Estado de São Paulo (de
1989 a 1995)”, sob coordenação das Profas. Dras.Vera L. S. B. Ferrante e Sônia M. P. P. Bergamasco.
De 1996 a 1999, “Assentamentos Rurais: a construção de um novo modo de vida em um campo de possibilidades e diversidades”, coordenado pela Profas. Dras. Vera L. S. B. Ferrante; Dulce C. A. Whitaker e Terezinha D’ Aquino.
“Inserção dos Assentamentos de Reforma Agrária às Economias Regionais: indicadores de qualidade de vida e de integração ao meio ambiente (1999 – 2003)”, coordenado pela Profas. Dras. Vera L. S. B. Ferrante; Dulce C. A. Whitaker.
“Poder Local e Assentamentos Rurais: expressões de conflito, de acomodação e de resistência (2004 – 2007)”, coordenado pela Profas. Dras. Vera L. S. B. Ferrante; Dulce C. A. Whitaker.
3 Doravante trataremos a Feira do Produtor e Bancas do Terminal apenas como “feira”.
4
Os projetos de assentamento rurais são locais propícios ao desenvolvimento de
diversificações agrícolas. Estas diversificações podem ser produções para autoconsumo
ou produções para fins comerciais, nestes locais é possível encontrar aspectos que
podem ser relacionados com o desenvolvimento da sustentabilidade, que neste trabalho
é abordado em duas grandes dimensões.
A dimensão ambiental transparece pela diversificação de culturas que quebram a
homogeneização da paisagem através dos assentamentos e dos diversos sistemas
produtivos em seu interior; cada família desenvolve uma estratégia diferente, formando
mosaicos (WHITAKER e FIAMENGUE, 2000). Contudo, vale lembrar que nos últimos
anos o plantio de cana, patrocinado pela Prefeitura de Motuca e por usinas da região,
tem ocupado os espaços dos assentamentos da região, sob a forma de controversos
consórcios.
A diversificação agrícola nos conduz a uma dicotomia. Por um lado, quanto
maior o nível de diversificação agrícola, maiores as possibilidades de integração
econômica. Diminuem com isso a dependência em relação ao mercado de um produto
específico, ou seja, no caso de queda de preço de um produto ou mesmo do ataque de
pragas em um deles, o agricultor tem outras alternativas para diminuir o impacto no
orçamento familiar. Por outro lado, a diversificação agrícola, no caso dos assentados,
pode não encontrar escoamento. A feira do produtor e as bancas do Terminal permitem
ao assentado vender sua produção bastante diversificada que, a não ser pelo escoamento
promovido pela prefeitura, não encontra mercado com facilidade. E por que o assentado
não encontra mercado com facilidade? Porque a produção de cada assentado é pequena
e diversificada, também porque o produtor tem dificuldade em transporte e porque o
produtor enfrenta a concorrência dos grandes distribuidores de produtos horti-fruti.
5
Entretanto, a feira, dando retornos financeiros, permite ao assentado renda para
comprar os produtos não-produzidos no sítio - produtos tais como alimentos
industrializados, de higiene, de limpeza e do vestuário, além de contas de prestação de
serviços públicos. A feira, então, permite que o assentado se sustente economicamente,
hipótese discutida ao longo do trabalho. O sítio no assentamento, também gera a essas
pessoas, moradia, alimentos, além da renda, em suma, um certo nível de bem estar.
Os alimentos produzidos nos assentamentos são utilizados pelos assentados
como parte de sua dieta alimentar; são vendidos na feira e as sobras da feira são doadas
para instituições de caridade. Neste sentido, as atividades realizadas dentro do
assentamento rural podem gerar externalidades4 positivas para a população da cidade,
na medida em que produzem alimentos que são consumidos por essa população urbana,
estendendo o “bem estar” para outras pessoas, o que garante a dimensão sócio-
econômica da sustentabilidade
Com base nisto, partimos da hipótese de que as feiras, permitindo o escoamento
dos produtos do grupo de assentados aqui em questão, contribuem para a
sustentabilidade sócio-econômica e ambiental.
Através do histórico da criação e da implementação do Programa Direto do
Campo e do acompanhamento de sua situação atual, foram discutidas as feiras (aspecto
pouco salientado na produção voltada a assentamentos) como instrumento importante
para as estratégias de sustentabilidade e de permanência na terra.
Nesse sentido, durante o desenvolvimento do trabalho, coletamos informações
de todos os participantes selecionados nesta pesquisa por meio de respostas a um
questionário. Além disso, nas feiras, foram tomados depoimentos, registrados em
4 Conceito econômico que se refere aos efeitos exercidos pela produção de uma empresa ou o consumo
de um indivíduo sobre terceiros de forma positiva ou negativa.
6
diários de campo. Foram feitas, também, entrevistas com membros da Secretaria
Municipal de Desenvolvimento Econômico de Araraquara, do ITESP (órgão gestor do
Assentamento Monte Alegre) e com um vereador municipal.
O trabalho aqui apresentado está dividido em quatro capítulos. No primeiro
capítulo - Fundamentação teórica: Assentamentos e sustentabilidade - trabalhamos
questões teóricas relacionadas a modos de vida, trajetórias, estratégias de vida e
sustentabilidade nas dimensões sócio-econômica e ambiental. No segundo - O espaço
social investigado: Assentamento Monte Alegre e Feiras - apresentamos o espaço social
investigado, caracterizando o Assentamento Monte Alegre e a feira. No terceiro capítulo
- Metodologia: Os feirantes assentados: Fragmentos de suas trajetórias - tratamos da
metodologia e descrevemos brevemente a trajetória das famílias estudadas. No último
capítulo - Análise e discussão: A sustentabilidade dos feirantes assentados - fazemos a
análise e discussão dos dados coletados.
7
CAPÍTULO 1: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.
ASSENTAMENTOS E SUSTENTABILIDADE
A formação dos assentamentos rurais implica na mudança dos modos de vida
das pessoas que ocupam esse espaço rural. Ao reconstruírem seus modos de vida, os
assentados se integram a esse espaço rural modificando-o. O que era geralmente
propriedades rurais com culturas homogêneas, passa a ser espaços rurais segmentados,
cuidados por várias pessoas e com diversas culturas agrícolas. O produto gerado nesse
espaço precisa ser comercializado, para o assentado ter rendas para sobreviver. Nesse
sentido, a feira é “um canal de escoamento” que vai ligar a produção rural dos
assentamentos aos consumidores urbanos. A feira pode gerar sustentabilidade à medida
em que incentiva o produtor assentado a ter culturas diversas que lhe garantam retornos
financeiros. A maneira com que o produtor faz o manejo de culturas no sítio e os tipos
de insumos e defensivos que utiliza está ligada à sustentabilidade ambiental.
Aspectos teóricos relacionados a assentamentos, modos de vida, trajetórias,
feiras e sustentabilidade servem, pois, de base a este trabalho. Nesse sentido, faremos
uma incursão buscando apresentar os pontos mais importantes relacionados a esses
temas, sem qualquer pretensão de esgotar este instigante debate teórico.
1.1. Assentamentos e modos de vida
A trajetória das famílias do projeto de Assentamento Monte Alegre está ligada
aos movimentos que ocorreram no meio rural durante todo o processo de modernização
do campo, processo esse gerador de exclusão social, no período pós 1964.
8
No período político vivido de 1964 até 1984, claramente apoiado pelas elites
agrárias, ocorre no campo um processo de desenvolvimento agrícola com agravamento
da concentração fundiária, seguido de aumentos de produtividade, avanço técnico e alto
grau de capitalização. Neste formato, agricultura e indústria se completam, formando os
chamados complexos agroindustriais (CAI).
Este modelo de agricultura adotado, intensivo em capital e com alta
produtividade, proporcionou o desenvolvimento do campo, sem a necessidade de se
fazer uma reforma agrária, o que é denominado por DELGADO (2004, p. 12; 37) e
outros, como modernização conservadora.
A população que tinha no campo seu local de moradia, de trabalho e como fonte
de sustento, foi compelida a deixá-lo. Essa população foi para o meio urbano para
trabalhar como operários na indústria que vinha crescendo e, normalmente, residir nas
periferias das cidades. Outra parte permaneceu no campo, como mão de obra volante,
trabalhando como cortadores de cana, colhedores de laranja, genericamente chamados
de bóias frias.
Sobre os assentados do projeto Monte Alegre, CHONCHOL (2003) relata a
trajetória dos grupos pioneiros que eram bóias frias e não tinham emprego nas
entressafras de cana. Esses trabalhadores participaram de movimentos reivindicatórios
por melhores condições de trabalho e depois se integraram a movimentos de luta pela
terra, ocupando posteriormente a fazenda Monte Alegre. Nas palavras de CHONCHOL
(2003):
“Trata-se de trabalhadores de origem rural, que, sob os impactos da modernização
capitalista na agricultura, foram expulsos do campo há cerca de trinta anos, para as zonas
urbanas. Desde então, eles buscavam, sem sucesso, um habitat definitivo nas cidades da
região e um emprego permanente que lhes permitisse construir, na região urbana, uma nova
9
vida com suas famílias. As peregrinações nas periferias urbanas – sem no entanto que
tivessem abandonado o corte de cana-de-açúcar – têm marcado este grupo de bóias frias
que, tanto quanto outros, sonharam com a cidade e agora desejavam retornar à terra”
(CHONCHOL, 2003, p. 67).
Nesse sentido, essa modernização do campo teve seu lado perverso à medida em
que promoveu o êxodo rural e fez crescer um contingente de excluídos cuja
manifestação toma corpo na metade dos anos 80, em movimentos sociais5 que - com
apoio da igreja católica, sindicatos rurais e políticos - reivindicam reforma agrária.
Os conflitos que ocorreram no campo na década de 80 fizeram o governo
intervir com ações pontuais (MEDEIROS, LEITE, 2004) para minimizar seus efeitos.
Os projetos de assentamentos rurais que se iniciam particularmente na metade da
década de 80 são reflexos desse conflito no campo. Assim, a origem das famílias que
ocuparam os assentamentos rurais está ligada, principalmente, à mão-de-obra volante
que trabalhava nos complexos agroindustriais do interior paulista.
Nesse sentido, estudar assentamentos de trabalhadores rurais, como diz
FERRANTE (1999), implica em vê-los em movimento, como parte de uma história de
distintos tempos sociais, vivida por múltiplos sujeitos que têm as fronteiras de seu
mundo demarcadas por pressões, atritos e lutas.
A análise dos assentamentos, segundo FERRANTE, WHITAKER e BARONE
(2003), deve enfocar
“(...) um conjunto de idéias que reflitam a complexidade, a diversidade, a
multidisciplinariedade desses locais mantendo um diálogo critico com os estudos que
procuram discutir assentamentos a partir de indicadores sócioeconômicos (...) Acreditamos
que os assentamentos inserem-se em uma rede de relações, cuja discussão tem sido por nós
5 Um exemplo são as greves que aconteceram em Guariba neste período e a posterior luta desses
trabalhadores pela conquista da terra. Ver: ALVES (1991); FERRANTE (1992); BARONE (1996).
10
enfrentada com referenciais analíticos que têm como parâmetro a constituição de categorias
e não a construção de instrumentos de medidas.” (FERRANTE, WHITAKER e BARONE,
2003, p. 02).
Os assentamentos são formados por pessoas de origens diferentes, com idades e
composição familiar diversas, o que implica que no âmbito de cada família e na maneira
de produzir existam particularidades que conceitos e teorias “fechadas” não dão conta
de explicar. Assim, apenas o viés de indicadores sócio-econômicos não permite
interpretar a objetividade e a subjetividade de cada família ao produzir e viver no
assentamento.
Por esses aspectos, este trabalho é conduzido: a) pela noção de modos de vida e
a reconstrução de modos de vida no interior dos assentamentos; b) pela noção de que
cada sujeito neste espaço social tem uma trajetória de vida que abrange distintos tempos
sociais, constituído-se estratégias de vida e sobrevivência.
A agricultura familiar, particularmente a dos assentados, tem uma dinâmica
diferente das empresas agrícolas. Cada família assentada tem uma trajetória de vida que
apresenta diferenças e histórias comuns. Pressupõe-se que exista um fio condutor
(estratégia) que dá sentido às diversas situações vividas por essas pessoas, por mais
descontínuas que sejam para quem observa. Entende-se que essa linha condutora se
refere à dimensão racional das pessoas e não se reduz à racionalidade econômica
(ANTUNIASSI, AUBRÉE, CHONCHOL, 1993).
Na contextualização da trajetória de vida das famílias, o acesso à terra permite
um lugar para morar, trabalhar e ter disponíveis os serviços sociais básicos implicando
numa melhoria concreta na qualidade de vida comparada a situações anteriores. Assim,
reconstruir as estratégias implica em conhecer a trajetória social das famílias.
11
SILVA (2003) analisando as trajetórias de três trabalhadores rurais, hoje
assentados, através da narrativa deles, relata que:
“Por meio das narrativas, foi possível perceber que a memória não se constitui apenas como
uma rememoração ou reconstrução do passado, como também a reconstrução da realidade
social presente. As lembranças do passado informam, por meio da experiência de cada um,
o presente. Assim sendo, as lembranças da fome experimentadas pelo primeiro narrador, na
fase infantil, continuam informando o presente sobre a importância da terra como um meio
para garantir a sobrevivência física (...)”.
A noção de trajetória expressa assim a dimensão diacrônica que liga o conjunto
das circunstâncias às estratégias (ANTUNIASSI, AUBRÉE, CHONCHOL, 1993). Os
assentados, em sua maioria “herdeiros” da exclusão social da modernização capitalista
agrícola, ao buscar moradia e emprego para poderem reconstruir uma nova vida com
suas famílias (CHONCHOL, 2003, p. 67) passaram por diversas situações e momentos
que implicaram em estratégias de vida e sobrevivência, constituindo sua trajetória de
vida que continuará no interior dos projetos de assentamento rural.
Assim, a complexidade do objeto passa pelo próprio movimento dos assentados
e pela impossibilidade de se trabalhar a categoria tempo linearmente, em um processo
no qual fluxos variáveis dos produtos colhidos, das condições de consumo ou
investimento podem ser subestimados ou superestimados (FERRANTE, WHITAKER e
BARONE, 2003).
Relacionado à complexidade de se discutir assentamentos rurais, devido à
problemática inserção desses no contexto regional e “a contradição do próprio sujeito
assentado de não ser o era antes, nem ser o que talvez desejasse” (FERRANTE, 1999, p.
43), torna-se importante o estudo dos modos de vida e a reconstrução de modos de vida
dentro do espaço dos assentamento rurais. O estudo da reconstrução dos modos de vida:
12
“(...) dá conta de diferentes dimensões da ação social dos sujeitos estudados. Ela enfatiza as
dimensões teóricas (aspirações, projetos, representações) e práticas (estratégias e hábitos)
da ação do grupo social dos assentados, sempre numa relação de forças com outros agentes.
E leva em conta ainda suas relações com a natureza.” (FERRANTE, WHITAKER e BARONE,
2003, p. 9).
Os assentados quando ocupam seus lotes deixam para trás as referências de
quem eles eram e o espaço que ocupavam dentro da sociedade para se integrar num
outro espaço social. Neste novo espaço, eles reconstroem relações em múltiplos
âmbitos, redefinindo, assim, seu modo de vida no interior do assentamento ao
estabelecer novas relações com o meio ambiente e ao mudar a maneira de ganhar o
sustento. Nesse espaço, quanto mais variedades de culturas plantar, mais abastecida estará
sua dispensa e mais variedades de produtos terá para vender. É nesse contexto que a
realização de feiras de produtores ganha importância.
1.2. Feiras: espaço de comercialização e de sociabilidade
ANJOS, GODOY e CALDA (2005) fizeram um importante trabalho sobre as
feiras livres de Pelotas-RS, que existem há mais de 50 anos.
Nas feiras de Pelotas, os produtores são minoria, mas ainda persiste na
população que as freqüentam, a crença de que os produtos são regionais e produzidos
pelos feirantes. No caso do nosso estudo, a feira que focamos é totalmente composta por
produtores. Vejamos o que ANJOS, GODOY e CALDA(2005) relatam sobre as feiras
livres de Pelotas:
“As feiras livres consistem num sistema local de comercialização muito particular representando
o limiar difuso entre o rural e o urbano, fim da fase produtiva e início da fase de consumo,
bem como um espaço social detentor de atributos peculiares que presumidamente, asseguram
sua persistência na sociedade contemporânea” (ANJOS, GODOY, CALDAS, 2005).
13
Se pensarmos do ponto de vista de feiras de produtores, mais ainda representam
as fronteiras e integração do meio rural com o urbano. Sobre isso, VELOSO (2005)
relata a respeito das feiras de produtores assentados da Paraíba:
“Através das feiras, estabelece-se uma comercialização direta do pequeno produtor ao
consumidor, subsidiária e solidária. É um momento de fortalecimento do processo de
organização e estímulo à prática de autogestão dos pequenos produtores, além de ser um
estímulo à participação integral da cadeia produtiva plantio-colheita-beneficiamento-
comercialização” VELOSO (2005).
“Muitos estudiosos acreditam que as feiras justificam sua existência justamente porque
possuem como vocação natural o atendimento a seguimentos marginalizados em razão dos
baixos ingressos econômicos” (ANJOS, GODOY, CALDAS, 2005).
Pensando do ponto de vista dos assentamentos rurais, os lotes normalmente medem
de 10 a 20 ha, a produção nestes espaços, quando extensiva encontra compradores com
mais facilidade, porém pelo lado dos preços finais, no atacado, o retorno financeiro do
produtor é pequeno, isso quando não leva prejuízo. Se a produção for diversificada, a
dificuldade é encontrar mercado para vender, assim a feira torna-se um importante espaço
de escoamento. Os ingressos econômicos podem ser baixos do ponto de vista de uma
empresa nos moldes capitalistas de geração de lucro, mas do ponto de vista do produtor
familiar; esses ingressos podem não ser tão baixos assim. Acreditamos também que no
caso que estudamos a população atendida pela feira não é composta particularmente por
uma população marginalizada e sim por pessoas que optam muitas vezes por esses tipo
de comércio varejista, como ANJOS, GODOY e CALDA(2005) relatam:
“Preservam as feiras do ponto de vista do consumidor, uma dinâmica de funcionamento
peculiar com a possibilidade de negociação de preços dos produtos e um atendimento
personalizado, oferecendo, num mesmo espaço, uma maior diversidade e qualidade de
14
artigos, de procedência local e/ou regional, sendo também um local propício à ocorrência
de relações sócio-afetivas” (ANJOS, GODOY, CALDAS, 2005, p. 25).
Não é objetivo deste trabalho estudar os clientes, mas nas varias idas a campo e
pelas próprias respostas dos feirantes, quando perguntados se tinham clientes (fregueses
fixos), percebemos que existe a construção de alguns laços de amizade e afetividade
entre os feirantes e as pessoas que freqüentam este espaço e que muitas vezes se
preocupam com a origem dos produtos que consomem. Sobre isso ANJOS, GODOY e
CALDA(2005) também falam:
“Nos países desenvolvidos há um movimento bastante importante na criação das chamadas
‘denominações de origem’. Trata-se, entre outros aspectos, de uma estratégia de
agricultores e empresas dos mais distintos ramos no sentido de assegurar a defesa da
singularidade dos artigos gerados e dos processos que lhes deram origem. Há portanto, o
reconhecimento tácito de que os atributos do local não podem ser estendidos a outras partes
do país ou do planeta.” (ANJOS, GODOY, CALDAS, 2005, p. 172).
Assim, o produto distribuído pelos assentados da região em feiras, pode trazer
retornos financeiros e resgatar as relações sócio-afetivas, além do que, se a produção é
diversificada e em pequena escala, a qualidade dos produtos pode ser melhor,
contribuindo assim, de diversas formas, para a sustentabilidade desse sistema rural.
1.3. Sustentabilidade: fragmentos de uma polêmica
Não há dúvidas de que a idéia de sustentabilidade está ligada à conservação do
meio ambiente. É um termo em construção que tem pelo menos três interpretações,
sendo que duas delas são extremas. Segundo VEIGA (2005) há:
a) Os que simplesmente acreditam que não existe dilema entre conservação ambiental
e crescimento econômico, crêem ao contrário, que seja factível combinar essa dupla
exigência.
15
b) Os seguidores de Nicholas Georgescu-Roegen - que baseado na segunda lei da
termodinâmica - assinalou que as atividades econômicas gradualmente transformam
energia em formas de calor tão difusas que são inutilizáveis, por isso em algum
momento, no futuro, o desenvolvimento humano deverá ser apoiado em
decrescimento econômico.
c) Os que acreditam que o crescimento da população e da produção não deva levar a
humanidade a ultrapassar a capacidade de regeneração dos recursos e absorção dos
dejetos. Assim, o crescimento físico deveria cessar, com continuidade exclusiva de
alterações qualitativas.
Do ponto de vista da agricultura sustentável, segundo EHLERS (1999), a
literatura conhecida sobre o assunto incorpora os seguintes pontos:
“- manutenção a longo prazo dos recursos naturais e da produtividade agrícola;
- o mínimo de impactos adversos ao ambiente;
- retornos adequados aos produtores;
- otimização da produção das culturas com o mínimo de insumos químicos;
- satisfação das necessidades humanas de alimentos e de renda;
- atendimento das necessidades sociais das famílias e das comunidades rurais” (EHLERS,
1999, p. 112)
Pela mesma linha, NIJKAMP (1990) escreve:
“A sustentabilidade envolveria três aspectos. O primeiro ecológico, refere-se à manutenção
das características do ecossistema que forem essenciais para a sobrevivência de longo
prazo. O segundo, econômico, refere-se à obtenção de uma renda suficiente para que o
manejo continue atrativo. E o terceiro, social refere-se, tanto à justiça na distribuição dos
benefícios e dos custos, quanto no respeito aos valores sociais e culturais da população
envolvida.” NIJKAMP (1990, apud VEIGA, 1994)
As análises que são feitas nesta dissertação partem da sustentabilidade do ponto
de vista ambiental e sócio-econômico.
16
Do ponto de vista ambiental, o meio deve ser visto de um modo holístico e
sistêmico. A ação humana é menos impactante à medida que conserva e amplia a
biodiversidade dos ecossistemas. Assim escreve ALTIERI (2000):
“Só uma compreensão mais profunda da ecologia humana dos sistemas agrícolas pode levar
a medidas coerentes com uma agricultura realmente sustentável”. (ALTIERI, 2000, p. 17)
Para CAPORAL E COSTABEBER (2004) a dimensão ambiental é sustentável:
“(...) à medida em que preserva as condições químicas, físicas e biológicas do solo; melhora
e mantém a biodiversidade, das reservas e dos mananciais hídricos, preservando os recursos
naturais como condição essencial para a continuidade dos processos de reprodução
socioeconômica e cultural das gerações”. (CAPORAL; COSTABEBER, 2004, p. 136).
Pela dimensão social, o produto gerado precisa ser eqüitativamente apropriado e
usufruído pelos diversos segmentos da sociedade assim como seus custos, contribuindo
para a eliminação da desigualdade. A distribuição deve ocorrer também entre gerações de
modo que o resultado de bem estar adquirido hoje não comprometa o bem estar e sustento
das gerações futuras. Ainda por esta dimensão, deve ocorrer a busca por melhores níveis
de qualidade de vida mediante a produção de alimentos com qualidade biológica superior,
o que implica na eliminação de insumos tóxicos. Os riscos de utilização de tecnologias
inadequadas à segurança alimentar devem ser avaliados tanto do ponto de vista de quem
consome o produto, como também das famílias de agricultores que a praticam.
Do ponto de vista econômico, os aumentos de produção e produtividade
agropecuária a qualquer custo, podem causar reduções de renda e dependência crescente
em relação a fatores externos. Cada vez mais a agricultura fica dependente da indústria,
seja pela compra de insumos ou pela utilização de fatores externos a ela, características
17
do pacote tecnológico da Revolução verde6. Por outro lado, à medida que a produção
agrícola é extensiva e produtora de grandes quantidades de produtos homogêneos, esta
fica a mercê das demandas industriais.
A produção nos moldes da Revolução verde, descrita anteriormente é altamente
demandante de fontes de energia não renováveis, seja na mecanização do campo, seja
no processo de produção dos insumos agrícolas7.
Modelos economicamente mais sustentáveis partem de propriedades de tamanho
menor, baseados na mão-de-obra familiar, onde a produção é distribuída de forma menos
concentrada. Parte do produto fica para o auto-consumo, essa produção não aparece nas
medições monetárias convencionais, mas é importante no processo de reprodução social
e nos graus de satisfação dos membros das famílias. A produção familiar também
interfere no abastecimento regional chegando mais diretamente aos consumidores.
Os assentamentos rurais são justamente modelos baseados em mão-de-obra
familiar e lotes pequenos, onde a diversidade de culturas costuma ser freqüente. No caso
do grupo estudado neste trabalho, veremos que tal grupo interfere diretamente no
abastecimento regional por participar de feiras de produtores. Por isso, acreditamos ser
possível traçar um paralelo desse espaço rural com o conceito de sustentabilidade.
Do ponto de vista do autoconsumo, as famílias assentadas costumam ter tal
prática, como constatou BEDUSCHI FILHO (2003):
“(...) as atividades de autoconsumo existentes nos assentamentos do Estado de São Paulo,
como a criação de aves e suínos e o cultivo de frutas e hortaliças, que sempre ocorrem
6 Segundo EHLERS (1996): “A euforia da grande produtividade ligada a este tipo de agricultura
contrasta com os impactos ambientais: erosão, perda da fertilidade dos solos, destruição florestal, perda de biodiversidade, etc. Por outro lado, com o tempo, tal prática perde eficiência, o que faz a produtividade agrícola declinar”.
7 PASCHOAL (1994, p. 14 e 19) descreve o custo energético de se produzir insumos químicos agrícolas.
19
CAPÍTULO 2: O ESPAÇO SOCIAL INVESTIGADO.
ASSENTAMENTO MONTE ALEGRE E FEIRAS
Neste capítulo descreveremos o objeto estudado. Faremos um breve histórico da
formação do Assentamento Monte Alegre e de como ele está ocupado na atualidade. Na
seqüência, apresentamos como está inserido o Assentamento Monte Alegre na Agenda
da Prefeitura Municipal de Araraquara. Por último, há um item em que descrevemos o
Programa Direto do Campo, que promove as feiras de produtores.
2.1 Histórico da ocupação das terras da fazenda Monte Alegre8
O Projeto de Assentamento Monte Alegre ocupa uma área de 6.595,19 ha
pertencente ao Governo do Estado de São Paulo. Está localizado na zona rural dos
municípios de Araraquara, Motuca e Matão. Era uma antiga área de plantio de eucalipto
para comercialização de madeira.
O processo de ocupação iniciou-se em 1985, com a ocupação da área Horto de
Silvânia, de propriedade da FEPASA, administrada pela CAIC (Companhia Agrícola
Imobiliária e Colonizadora).
O STRA (Sindicato dos Trabalhadores Rurais Assalariados de Araraquara),
junto com o CEPAM (Centro de Estudos e Pesquisas de Administração Municipal Faria
Lima) e o IAF (Instituto de Assuntos Fundiários), tentou junto ao governo estadual a
liberação da área para fins de reforma agrária. IAF e CAIC eram organismos
8 Este texto é baseado em: FERRANTE et al (1994); BARONE (1996) e CAMPOI (2005)
20
pertencentes à Secretaria de Agricultura e tinham posições opostas entre si; o IAF
buscava a liberação da área e a CAIC era contrária a isto, o que dificultava o processo.
Em 4 de julho de 1985, 25 famílias apoiadas pelo STRA tentaram ocupar a terra,
sem autorização legal e foram impedidas antes de chegarem à área pretendida. Tal fato
mostrava a disposição do sindicato e das famílias na luta pela terra, pressionando o
governo do Estado a resolver as questões fundiárias locais, conforme relata LEITE (1987):
“Cansados de tanta espera, os trabalhadores se organizaram e penetraram nas terras da
fazenda. No entanto foram despejados “pacificamente” e da área dirigiram-se à sede do
STRA e permaneceram acampados neste local durante uma semana. O fato foi amplamente
divulgado pela imprensa local e houve mobilização no sentido de arrecadar alimentos e
roupas para os trabalhadores. Estava caracterizada uma situação de conflito latente, que
poderia, inclusive, gerar movimentos mais violentos (LEITE, 1987)”.
Em julho de 1985, 50 famílias puderam entrar na área e levantar precários
barracos. No cadastramento oficial, no final deste ano, o que seria o núcleo I do
Assentamento Monte Alegre tinha 32 famílias. Os números variáveis do início deste
núcleo devem se à mobilidade das famílias e à falta de experiência dos órgãos que
representavam o governo estadual no processo.
Ainda em 1985, foram assentadas aproximadamente 42 famílias numa segunda
área da fazenda Monte Alegre. A maior parte dessas famílias tinha saído da cidade de
Sertãozinho. Com apoio de políticos locais, esse grupo acampou no Horto da Fazenda
Guarani, de propriedade da FEPASA, no município de Pradópolis. Despejados desse
local, os trabalhadores mantiveram o acampamento na beira da rodovia que liga
Pradópolis a Jaboticabal durante cerca de dois meses. Negociando com esses políticos
de Sertãozinho e com o STR de Araraquara, o governo estadual transferiu essas famílias
para uma nova área, a qual constituiu o núcleo II do Assentamento Monte Alegre.
21
Os dois primeiros núcleos são de julho e outubro de 1985 e as datas das leis que
os regularizaram são, respectivamente, de 19 e 30 de dezembro. Segundo BARONE
(1996), há um hiato de alguns meses entre a entrada das famílias e a regulamentação, o
que indica a urgência do poder público em assentar essas famílias como resposta à
pressão que partiu dos trabalhadores rurais da região liderados pelo sindicato (STRA) e
apoiados por autoridades políticas regionais.
A constituição dos núcleos III e IV do Monte Alegre passa pela trajetória de dois
grupos distintos de trabalhadores, com percursos e dificuldades diferenciados.
Haviam trabalhadores que estavam ligados ao STRA. Este sindicato, junto com
o IAF, no ano de 1986, cadastrou e selecionou esses trabalhadores para serem
assentados em mais uma área da fazenda Monte Alegre. Esse grupo, então, não passou
por um processo de mobilização e ocupação fora das instâncias públicas, eles foram
selecionados oficialmente para ocupar uma terceira área na fazenda Monte Alegre.
Por outro lado, em Guariba começou, ainda em 1985, a se organizar um grupo
de trabalhadores que, notando a movimentação de luta pela terra na região, tinham
anseios de conseguir uma terra sua9. Essa organização não tinha vínculos com os
sindicatos da categoria, eram amigos, parentes e colegas de trabalho, que contavam com
apoio de lideranças políticas locais e regionais. Em 27 de maio de 1986, ao todo 60
famílias ocuparam a área dentro da fazenda Monte Alegre, que estava sendo preparada
para a constituição do núcleo III de assentamento, onde iriam ser assentados o grupo
selecionado pelo STRA e IAF.
9 Em 1984, o governo do Estado de São Paulo através do CEPAM institui o programa Bóia Fria,
objetivando alocar os trabalhadores rurais na entressafra, em atividades produtivas. Concomitante a isso, realiza uma política de assentamentos rurais através do programa de valorização de terras públicas. Tais políticas podem ser compreendidas em alguns aspectos como uma resposta às greves ocorridas durante o ano de 1984 que têm como foco principal a cidade de Guariba (FERRANTE, 1992). Os trabalhadores regionais observando essa movimentação se organizam na luta pela terra.
22
Esse grupo, vindo de Guariba, sofreu pressões para sair da área, desde pressões
advindas de órgãos que apoiavam o projeto de assentamento como o STRA e IAF, até
pressões dos administradores da CAIC. As lideranças políticas regionais, o prefeito de
Guariba, Evandro Vitorino (PMDB) e o deputado Waldir Trigo (PMDB), ambos do
mesmo partido do governo estadual, juntamente com os trabalhadores, negociaram com
o governo um acordo que transferiu o grupo para uma área próxima, onde funcionava o
viveiro do horto. O grupo ficou lá durante seis meses, período em que montaram seus
barracos e trabalharam na destoca de eucalipto.
Em agosto de 1986, as 18 famílias selecionadas para a área III puderam
oficialmente ocupar essa terra. As 22 famílias remanescentes do grupo de Guariba
puderam ocupar oficialmente uma área na fronteira leste da fazenda Monte Alegre em
novembro de 1986, constituindo o núcleo IV.
Em 1987, uma quinta área da fazenda Monte Alegre foi ocupada por 65 famílias
provenientes de Sertãozinho-SP; destas, 35 permaneceram. O grupo foi alocado para
lotes vazios nos núcleos já existentes, 12 famílias foram para o núcleo I, 11 famílias
foram colocadas no núcleo IV, e, 12 famílias restantes foram transferidas, no ano
seguinte, para outro Projeto de Assentamento (Assentamento Bela Vista do Chibarro em
Araraquara).
Esta quinta área ficou desocupada até novembro de 1989, quando 42 famílias a
ocuparam, reivindicando a área. Dessas 42 famílias, 35 persistiram no local e foram
regularizadas em 1991, formando o núcleo V do Monte Alegre.
Dada a existência de 22 lotes agrícolas vazios nas áreas já implantadas, em julho
de 1990 foi aberto cadastramento para seleção de novos beneficiários e, em novembro
do mesmo ano, os lotes foram ocupados.
23
Em maio de 1997, 250 famílias ocuparam uma sexta área da fazenda Monte
Alegre e após novas negociações dos trabalhadores rurais com o governo estadual, esta
foi liberada para implantação do assentamento, procedendo se a inscrição/
cadastramento destas famílias. Em setembro do mesmo ano, foram assentadas 179
famílias, sendo 88 delas, nesta sexta área, o Assentamento VI (Projeto de Assentamento
Monte Alegre-Área VI), 02 famílias na área I, 24 famílias na área II, 53 famílias foram
para na área III, e 12 famílias na área IV da Fazenda Monte Alegre.
Em setembro de 1998, nova ocupação foi realizada na fazenda por 27 famílias
de trabalhadores rurais na área da sede da Fazenda Monte Alegre (escritório central),
administrada pela Companhia de Desenvolvimento Agrícola do Estado de São Paulo
(CODASP), após inscrição/cadastramento destas famílias. Em novembro do mesmo
ano, 19 delas foram assentadas nesta área, hoje denominada Projeto de Assentamento
Horto de Silvânia.
As outras 8 famílias ocuparam uma área de 94 ha, localizada dentro do
perímetro da área do assentamento VI, em área cedida pelo governo do estado para um
consórcio intermunicipal de nove prefeituras da região, entre elas Araraquara, Matão e
Motuca (ainda no período em que a fazenda estava sob administração da CODASP),
para plantio de soja, que seria utilizada na produção do leite a ser fornecido na merenda
escolar destes municípios.
O plantio de soja na área, realizado pelo consórcio, foi suspenso em 1999 e, a
partir daí, as famílias que lá estavam aguardaram a “devolução” da área para o governo
do estado pelo consórcio intermunicipal, fato este que ocorreu no mês de janeiro de
2002. Em junho do mesmo ano, as famílias foram oficialmente assentadas, encerrando-
se aí, até o momento, o histórico de ocupação da Fazenda Monte Alegre.
24
Aproximadamente 70% dos assentados no projeto de Assentamento Monte
Alegre foram proletários rurais nas culturas de cana e de laranja.
2.2. O Assentamento Monte Alegre na atualidade
Atualmente no Assentamento Monte Alegre há uma grande diversidade de
produção, conforme relatado em recente trabalho de CAMPOI (2005):
“O Projeto de Assentamento Monte Alegre apresenta uma significativa diversificação nas
suas atividades produtivas desenvolvida pelos beneficiários (visão do assentamento), tais
como culturas anuais (milho, mandioca, arroz, feijão), culturas perenes (laranja, limão,
manga, goiaba, café), hortaliças diversas (folhas, raízes e frutos), bovinocultura de leite,
caprinocultura, suinocultura, avicultura de corte e postura, além de pequenas agroindústrias
familiares com produção de farinha de mandioca, polvilho, rapadura, açúcar mascavo,
doces, compotas, mel e queijos” (CAMPOI, 2005, p. 38).
Essa produção é definida de acordo com as estratégias de cada família assentada,
coerentemente com suas origens e trajetórias, mas também em muito influenciadas
pelas condições que a estrutura agrícola regional e as políticas impõem. Existem tanto
produções voltadas ao autoconsumo das famílias, marcadas por aspectos culturais e pela
diversificação, como sistemas voltados exclusivamente para a integração com a
economia regional. São dois tipos de sistemas de produção que coexistem nos lotes.
Após a portaria do ITESP que regulamenta parcerias entre assentados e
agroindústrias (portaria 075 – setembro de 2002) ocorreu uma explosão de contratos
para o plantio de cana com a finalidade agroindustrial no assentamento. Desde então, o
número de assentados que aderiram à parceria aumentou rapidamente. De quarenta lotes
no primeiro ano (safra 2002-2003), o número passou para oitenta no segundo ano e para
cento e trinta e sete no terceiro, e, continua aumentando. Além desta alternativa
produtiva, é muito comum entre os assentados a adesão a contratos de fornecimento
25
para empresas de alimentos, de ração animal, de sementes, dentre outras. As condições
a que ficam submetidos os pequenos agricultores perante as empresas são preocupantes
e dizem respeito ao modelo de desenvolvimento idealizado, posto em prática pelos
órgãos gestores da reforma agrária, pela economia regional e mesmo pelo poder local.
Com o pretexto de alavancar o desenvolvimento, são permitidas associações
entre desiguais que não deixam de transparecer interesses em envolver os assentados na
tradicional estrutura agrícola desta região. Estrutura esta que, após vinte anos da
implementação dos assentamentos, ainda não possibilitou uma alternativa mais condizente
com a realidade vivida nos assentamentos. Ao contrário, as alternativas de desenvolvimento
para eles parecem sempre atreladas ao modelo agroindustrial, tais como contratos de
fornecimento para empresas maiores. Os contratos têm permitido aos assentados não
apenas plantar cana, mas também produzir milho, mandioca, algodão, soja, feijão-de-
porco, café, eucalipto, bicho-da-seda, mel, e tem permitido, também, consórcio de
criação de frangos de corte (Rei Frango); tudo com certa garantia de comercialização. Há
também, nesta relação, um incentivo à produção, pois os assentados recebem
investimentos em infra-estrutura e assistência técnica diretamente das empresas.
Este dado está relacionado à ineficiência da política do crédito e da assistência
técnica que os assentamentos recebem do Estado. Por outro lado, esse processo vem
demonstrar a fragilidade financeira dos assentados impondo-lhes a necessidade em
recorrer aos usineiros de cana-de-açúcar e a outros representantes da agricultura
empresarial - aqueles que antes os colocavam em péssimas condições de trabalho -
como o caminho para seu desenvolvimento.
Um aspecto da fragilidade financeira vem do próprio poder local, neste caso
representado pela Prefeitura de Motuca (gestão 2001/2004), que considerava os
26
assentamentos como um problema. Na avaliação dessa prefeitura, as famílias assentadas
não têm renda e dinheiro suficiente para sobreviver, gerando um aumento na demanda
por serviços públicos municipais. A prefeitura desse município vem, desde 1993,
propondo projetos de plantio de cana em parceria com a Usina Santa Luzia no projeto
de assentamento Monte Alegre.
Num primeiro momento, a Prefeitura propôs uma forma de arrendamento das
terras do assentamento para a Usina Santa Luzia. Neste modelo, o assentado não
receberia remuneração pelo arrendamento, receberia um salário mínimo e alguns
benefícios assistencialistas tais como descontos na compra de remédios, assistência
médica/odontológica e uma cota de leite de soja. Com a mediação do DAF
(Departamento de Assentamentos Fundiários) e do STRA (Sindicato dos Trabalhadores
Rurais Assalariados de Araraquara), ambos contrários à proposta, essa encontrou
empecilhos para sua implantação à medida em que tramitava dentro das esferas do
governo estadual e federal.
Num momento seguinte, 1995, é proposto um consórcio de plantio de cana
ocupando um espaço de 50% dos lotes, mas sem os benefícios diretos e indiretos da
primeira proposta. O STRA e o DAF fizeram uma contraposta que incluía a
continuidade da gestão e administração dos assentamentos. Por meio de associações
tenta-se iniciar um projeto de plantio de cana que se inviabiliza pelas dificuldades
associativas e pela resistência a modelos de trabalho coletivo por parte dos assentados10.
Nos últimos anos, com apoio da portaria do ITESP, conforme já mencionado, o
plantio de cana passou a ser realizado no interior do Assentamento Monte Alegre,
10 Em vários núcleos do Assentamento Monte Alegre tentou-se implantar modelos de trabalho coletivo,
o que se revelou bastante problemático.
27
através de parcerias entre a Usina Santa Luzia e os assentados, com apoio da Prefeitura
de Motuca (STETTER, 2004).
A portaria do ITESP e os contratos, sob a forma de arranjos produtivos
envolvendo a prefeitura de Motuca, a usina do município e órgãos do Estado, trouxeram
desdobramentos e “divisores de águas”, pondo em discussão o modo de vida constituído
nos assentamentos. A perspectiva junto às agroindústrias, o significado da cana e de
outros arranjos produtivos - como possíveis estratégias de gestão econômica do
território e de permanência na terra - se chocam com os espaços diversificados de
produção/reprodução social que marcam o assentamento. Nesse sentido, dizem
FERRANTE, WHITAKER e BARONE (2006):
“Em um jogo de expectativas, idealizações e irrealizações, estratégias familiares para se
viver melhor na terra aparecem no mesmo cenário em que tais arranjos [plantio de cana,
granjas de frango, etc...] se fazem presentes. Expressões de clientelismo por parte do poder
local se contrapõem a outras tentativas de uma nova cultura política” (FERRANTE,
WHITAKER e BARONE, 2006, p. 19).
Numa outra perspectiva para o desenvolvimento, priorizada nesta pesquisa,
encontram-se os programas municipais de Araraquara que incentivam as produções
mais diversificadas que têm chegado aos consumidores do município por meio de feiras
e outros espaços onde ocorre a venda direta. A atuação da prefeitura deste município em
suas duas últimas gestões têm demonstrado, através de programas voltados aos
assentamentos, muito mais interesse em incluí-los em sua agenda política, incentivando
uma forma de desenvolvimento alternativa ao agronegócio, embora podendo beneficiar
um número reduzido de produtores.
Em comparação ao município de Motuca, que abriga praticamente metade dos
assentados da fazenda Monte Alegre e que prioriza a inserção deles em arranjos com a
28
usina canavieira do município, os programas de Araraquara têm viés muito diferente.
São pautados pela segurança alimentar, pela produção de alimentos por pequenos
produtores e pela venda direta aos consumidores urbanos. Embora estejam ocorrendo
somente a partir da primeira gestão do Partido dos Trabalhadores (2001-2004), as
iniciativas envolvendo assentados e as produções de alimentos para escoamento no
próprio município podem acenar para uma forma de desenvolvimento regional.
2.3. Assentamentos na Agenda Municipal de Araraquara
Em 2001, assume a prefeitura de Araraquara, uma corrente política ligada aos
movimentos populares. Parte desse grupo11, ao longo dos anos que antecedem a vitória
política, estava ligado ao estudo e à pesquisa dos projetos de assentamento da região.
Uma das metas de campanha era incentivar o desenvolvimento local da produção
familiar rural.
Segundo FERRANTE e BARONE (2003), as metas deste novo governo -
condizentes com a proposta do governo federal de descentralização da reforma agrária e
expressas no documento “Agricultura Familiar, Reforma Agrária e Desenvolvimento
Local para um Novo Mundo Rural” - reforçam a base local para desenvolvimento
sustentável dos projetos de assentamentos.
A primeira sinalização importante de que esse governo estava preocupado com a
agricultura familiar e com os assentamentos da região, foi a criação, no âmbito da
Secretária de Desenvolvimento Econômico, dos cargos de Coordenador de Atividades
Agroindustriais e de Gestor de Segurança Alimentar. O cargo de Coordenador de
Atividades Agroindustriais foi ocupado por um antigo membro da CPT, profissional
11 O prefeito eleito foi militante da pastoral do migrante, o então futuro coordenador de atividades
agroindustriais atuava em pesquisas acadêmicas nos assentamentos e desenvolvia projetos sociais.
30
na Bela Vista... Em média as máquinas ficam de um a dois meses fazendo
estradas...”;
c) auxiliar no assentamento através do Projeto “Patrulha Agrícola” com dois tratores e
oito implementos, esses tratores ficam um na Monte Alegre e outro na Bela Vista; a
utilização segue algumas normas, como por exemplo, a solicitação de uso deve ser
feita por uma associação de produtores e não individualmente (o que gera queixas
por parte dos assentados);
Na LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias), de outubro de 2005, páginas no
anexo III, a Prefeitura estabelece programas e projetos de fomento à agricultura familiar
e aos assentamentos, com objetivos de proporcionar: assistência técnica; melhoria da
qualidade, diversificação da produção, operacionalização da comercialização, a venda
das produções para merenda escolar, consolidação de uma central municipal de
abastecimento, implantação de pontos de pesagem nos assentamentos, reformas de
estradas rurais, etc. Tais diretrizes indicam uma preocupação da política municipal com
os assentamentos rurais.
Dentre as atuações da Prefeitura, através da Coordenadoria de Atividades
Agroindustriais, ressaltamos dois programas municipais que favorecem parte dos
assentados no escoamento da produção e, de certa forma, impulsionam sua
continuidade.
Um dos programas é o Direto do Campo, programa que comporta uma feira aos
sábados, localizada na região central da cidade e também a venda diária no terminal
urbano de ônibus, de segunda a sábado. Para estes dois espaços, a prefeitura
disponibiliza o transporte de ida e volta dos produtores com suas mercadorias, barracas
para exposição e um avental para caracterizá-los.
31
Já o outro programa é em parceria com o governo federal, chamado Programa
de Aquisição de Alimentos. Neste caso, cada produtor familiar tem direito a vender para
a prefeitura até R$ 2.500,00 por ano em alimentos. A prefeitura também vai buscar as
produções nos lotes e destina parte dela para a merenda escolar e outra parte para
instituições como albergues e restaurantes populares. Existe como plano da Prefeitura,
constituir uma central de abastecimento que armazenaria esses produtos para posterior
distribuição; a central também seria um espaço onde o produtor assentado poderia
deixar guardado de véspera suas mercadorias que seriam vendidas, no dia seguinte, na
feira ou no terminal de integração. O projeto de uma central de abastecimento ainda não
tinha se consolidado quando terminamos a pesquisa de campo.
Em particular, para o desenvolvimento deste trabalho, nos interessa o Programa
“Direto do Campo”, visto em mais detalhes na seqüência.
2.4. O Programa “Direto do Campo”: criação e funcionamento.
Desde 1995, os produtores da região já vinham vendendo seus produtos em um
espaço cedido pela Cooperativa Mista Agropecuária de Araraquara (COMAPA), mas
não havia uma política compromissada com o desenvolvimento da agricultura familiar e
dos assentamentos rurais.
Em 2001, a recém criada Coordenadoria de Atividades Agroindustriais
procurava transformar a feira de produtores, que acontecia no espaço da COMAPA, em
uma feira regional de agricultura familiar; para tanto precisava encontrar outro lugar
para realização da feira, pois o espaço da COMAPA havia sido vendido. Diante disso,
uma das opções passou a ser o Terminal de Integração, local de grande movimentação
de população, pela sua localização e papel estratégico no transporte coletivo.
32
A área de Segurança Alimentar buscava criar um espaço onde as pessoas de
baixa renda pudessem comprar alimentos mais baratos, talvez com a venda direta do
produtor. Essa população mora em bairros distantes do centro, na periferia da cidade,
onde normalmente há poucas quitandas, cujos preços são majorados. O projeto era
estabelecer pontos de vendas no Terminal de Integração.
Da união das idéias desses gestores foi criado o Programa Direto do Campo, o
nome foi inspirado no Projeto Direto da Roça, de Belo Horizonte e na prática da Feira
de Produtores do Terminal de Integração de Campinas.
Em outubro de 2001, os produtores assentados, tiveram uma “super” safra de
manga e precisavam vender o produto. A Coordenadoria de Atividades Agroindustriais
e a área de Gestão de Segurança Alimentar providenciaram espaços públicos para escoar
esta produção (Praça Santa Cruz, Paço Municipal e Terminal de Integração), colaborando
com bancas e transporte. Este fato marca o início do Programa Direto do Campo.
Dentre os produtores que vendiam suas safras de manga havia os que estavam lá
só para vender a produção sazonal e os que - além da manga - tinham produções
diversificadas; havia, também, entre eles alguns que já participavam da feira no espaço
da COMAPA. Assim, à medida em que a safra de manga terminava, esses produtores
passaram a vender, além da manga, outros produtos cultivados em sua propriedade.
Durante o final de 2001 e o primeiro semestre de 2002, provisoriamente, o
espaço público ocupado pelos produtores passou a ser, durante a semana, o Terminal de
Integração e a Praça de Santa Cruz e, aos sábados, o espaço da COMAPA.
Em agosto de 2002, é inaugurada na Praça Pedro de Toledo, aos sábados, a Feira
do Produtor, fazendo parte do Programa Direto do Campo. Tratava-se de um novo
espaço público onde foram alocados os produtores que participavam da Feira da
33
COMAPA, os que participavam das bancas do Terminal de Integração e os da Praça
Santa Cruz.
No mês de setembro de 2002, o programa assumiu o formato de lei, sendo aprovada
pela Câmara Municipal a Lei 5.098 que regulamenta o Programa Direto do Campo.
O programa é administrado pela Coordenadoria de Atividades Agroindustriais,
que se volta à produção familiar e atende majoritariamente os assentamentos. A equipe
da coordenadoria é composta por um engenheiro de alimentos, um engenheiro
agrônomo, um sociólogo e um técnico agropecuário; geralmente profissionais de
carreira que ficarão na máquina administrativa mesmo após o mandato deste governo, o
que indica a possibilidade do Programa continuar mesmo após o término da gestão atual
(2001-2004, 2005-2008).
A lei municipal de aprovação informa, no seu artigo primeiro, que o programa
está voltado para facilitar a comercialização direta entre produtor e consumidor de
produtos hortifrutigranjeiros, conservas, produtos derivados do leite e da
industrialização artesanal e artigos oriundos do artesanato rural (Lei Municipal 5.908,
ver anexo 2)14.
Os assentados podem participar independentemente do município em que
residam. Essa parte do Programa foi pensada particularmente para atender ao
Assentamento Monte Alegre que é encarado como uma unidade produtora regional,
assim não importa se o produtor é assentado na parte do Monte Alegre pertencente à
Araraquara, Matão ou Motuca, o que importa é que ele seja assentado.
14 Atualmente, a Coordenadoria de Atividades Agroindustriais só permite vender nas feiras produtos da
horta, legumes e frutas. No Terminal de Integração, é permitida, fora esses produtos, a venda de pães e roscas caseiras.
34
Além do apoio legal, a permissão de uso da área pública e a assistência técnica, a
Prefeitura de Araraquara cede também as bancas, disponibilizando ainda um caminhão
para transportar as mercadorias e um ônibus para os produtores.
Para a Feira da Praça Pedro de Toledo são disponibilizadas cerca de 40 bancas,
no Terminal de Integração há 4 bancas. Se não houver vagas para um produtor
participar, ele é colocado numa lista de espera. Primeiro, ele começa participando da
Feira aos sábados e depois, se ele tiver produtos e aparecer uma vaga, ele também pode
participar da feira do terminal.
O programa, segundo a lei, deve ser gerido por uma comissão formada por um
representante do assentamento Bela Vista do Chibarro, um representante do
Assentamento Monte Alegre, um representante da Prefeitura, um representante da
Câmara Municipal, dois representantes dos produtores rurais, um representante da Casa
de Agricultura de Araraquara, um representante do ITESP e um representante do
Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural. A fiscalização cabe à Secretária
Municipal de Desenvolvimento Econômico. No momento dessa pesquisa, a gestão do
Programa Direto do Campo está centralizada na Coordenadoria de Atividades
Agroindustriais.
Atualmente (janeiro, 2006), conforme já vimos, a quantidade de produtores que
participam das feiras é de aproximadamente 32 famílias. Destes, seis não são assentados
e os outros 26 estão divididos da seguinte forma: cinco são do Assentamento Bela Vista
do Chibarro, um é do Assentamento Horto de Bueno de Andrade e 20 são assentados da
fazenda Monte Alegre. Esses produtores participam de projetos diferenciados dentro do
Programa Direto do Campo.
35
O Programa Direto do Campo comporta atualmente cinco projetos diferentes: a
Feira do Produtor (Integração), o Pró-organico, a Feira da Roça, e Feira do Produtor
(Praça Pedro de Toledo), e esporadicamente, há, também, o funcionamento do Direto
do Campo Intinerante; todos em mais detalhes na seqüência.
A Feira do Produtor (Praça Pedro de Toledo), fotografia 1, acontece aos
sábados de manhã, envolvendo todos os produtores que participam do Programa Direto
do Campo, com exceção das mulheres participantes da Feira da Roça. Existem
produtores que, por ter pequenas quantidades de produtos, só participam dessa Feira.
Fotografia 1: Feira do Produtor, Praça Pedro de Toledo. A Feira do Produtor (Integração), fotografia 2, acontece às terças e sextas feiras
no Terminal de Integração, com os produtores que têm uma maior quantidade de
produtos e podem atuar, assim, três dias por semana (um dia na Praça Pedro de Toledo e
dois dias no Terminal de Integração).
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Fotografia 2: Feira do Produtor, Terminal Urbano de Integração A feira de Produtos Orgânicos, chamada Pró-Orgânico, acontece, às segundas e
quintas feiras, no Terminal de Integração e, aos sábados, dentro da feira maior, na Praça
Pedro de Toledo. O Pró-Orgânico envolve produtores que participam da Associação
para o Desenvolvimento da Agricultura Regenerativa na Região de Araraquara
(REGAR). Essa Associação, no momento da pesquisa, era composta por produtores
assentados e não assentados. Tal projeto envolve produtores que, também com apoio da
Prefeitura e da Fundação Mokit Okada, estão se adequando às normas de produção
orgânica, para no futuro buscarem uma certificação dos produtos.
A Feira da Roça (Fotografia 3), que acontece às quartas-feiras e aos sábados no
Terminal de Integração, caracteriza se por ser uma feira de mulheres. As integrantes
desse Projeto pertencem ao Assentamento Monte Alegre e ao Assentamento Horto de
Bueno de Andrade. As mulheres vendem produtos agrícolas (que a família produz no
sítio) ou produtos que fazem em casa (tais como pães caseiros e roscas doces).
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Fotografia 3: Feira da Roça, Terminal de Urbano de Integração. Um último projeto, dentro do Programa Direto do Campo, é o Direto do Campo
Itinerante. Em 2004, houve uma tentativa de montar a estrutura da Feira do Produtor
nos bairros, iniciando-se no Jardim Paraíso onde, por três meses (agosto, setembro e
outubro de 2004), realizaram-se feiras aos domingos. O projeto não foi bem sucedido
porque participavam feirantes cadastrados na prefeitura que pertenciam a outra secretaria
(obras) e integrantes do Programa Direto do Campo. Como as normas não eram as
mesmas para ambos, ocorriam dificuldades de se controlar os produtos vendidos. Um
outro problema é que era um período de transição política e, apesar dos técnicos da área
de atividades agroindustriais estarem conduzindo o programa, o coordenador geral tinha
sido exonerado. Apesar disso, com as eleições e a reeleição do prefeito,
esporadicamente o projeto é ativado nas praças da cidade, para os produtores venderem
sua produção sazonal.
O Programa Direto do Campo, como visto, é composto por cinco projetos que
envolvem a venda direta de produtos agrícolas para a população de Araraquara e região.
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O Programa funciona com bancas instaladas no Terminal de Integração e uma Feira do
Produtor na Praça Pedro de Toledo. A maioria dos participantes do Programa são
produtores assentados. A Prefeitura de Araraquara, através da Lei de Diretrizes
Orçamentárias (cf. páginas no anexo 3), conforme já vimos, estabelece políticas
direcionadas aos assentamentos da região. O Programa Direto do Campo se faz
presente indiretamente na LDO através das diretrizes voltadas aos seus projetos,
mostrando o compromisso da Prefeitura em incentivar o funcionamento da Feira do
Produtor. Neste trabalho, visamos, assim, coletar e analisar dados de todos os
produtores do Assentamento Monte Alegre que participam do Programa Direto do
Campo, independentemente do subprojeto dos quais os produtores participam.
39
CAPÍTULO 3: METODOLOGIA.
OS FEIRANTES ASSENTADOS:
FRAGMENTOS DE SUAS TRAJETÓRIAS
No momento deste trabalho, coletamos informações com 20 famílias do Projeto
de Assentamento Monte Alegre, participantes das feiras do Programa Direto do Campo
da Prefeitura de Araraquara. Além da entrevista com as famílias, foram coletados dados
sobre a relação de feirantes e de projetos de que participam. Também foram realizadas
entrevistas questionando acerca de programas voltados aos assentamentos. Os dados
foram coletados e as entrevistas realizadas na Coordenadoria de Atividades
Agroindustriais da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico. No Instituto
de Terras do Estado de São Paulo (ITESP) foram levantadas, por meio de entrevistas
com os técnicos, informações relativas à conservação ambiental e à identificação de
cada família do grupo estudado neste trabalho; nesse órgão também foram coletados
dados a respeito do plantio de cana nos assentamentos.
No primeiro item (3.1.) apresentamos mais detalhadamente como foi a coleta de
dados, e, no segundo item (3.2.) apresentamos o procedimento metodológico utilizado,
que está em consonância com os trabalhos de campo realizados pelo Núcleo de Pesquisa
e Documentação Rural (NUPEDOR), conhecido como diário de campo. Por último item
(3.3) apresentamos relatos das trajetórias de vida do grupo estudado
40
3.1. Coleta dos dados.
A coleta dos dados foi realizada a partir de um questionário aplicado a 20
famílias, no primeiro semestre de 2006; algumas complementações foram feitas, por
meio de entrevistas, na fase final do trabalho e do registro em diário de campo. O
questionário é apresentado no anexo 1.
Para a seleção dos sujeitos que foram entrevistados, inicialmente, objetivamos
uma relação dos participantes do Programa Direto do Campo, junto à Secretaria de
Desenvolvimento Econômico (Setor de Gestão de Projetos Agro-Industriais). A partir
dessa lista, foram selecionados os produtores que eram assentados, que constituíam a
maioria. Após as primeiras idas a campo, percebemos que, da amostra inicial de
assentados, a maior parte (cerca de 76%) pertencia ao Assentamento Monte Alegre;
optamos, assim, por delimitar o universo de pesquisa somente a 20 famílias (76% dos
assentados que participam do Programa Direto do Campo) que pertencem a tal
assentamento.
As entrevistas, cuja base principal foi o questionário (anexo 01), foram
realizadas no espaço da feira da Praça Pedro de Toledo e das bancas instaladas no
Terminal de Integração Urbano de Araraquara. Foram feitas, também, algumas visitas
ao assentamento cujas informações levantadas foram registradas em um diário de
campo.
3.2. Diário de campo15
No ano de 2005, foram realizadas algumas visitas aos assentamentos da região
estudada. O objetivo dessas visitas era colher dados para o projeto maior em andamento
15 Para maiores detalhes ver AMARAL (2004), DUVAL (2004), OLIVEIRA (2004).
41
“Poder Local e Assentamentos Rurais: expressões de conflito, de acomodação e de
resistência”, a coleta de dados era realizada por meio dos chamados diários de campo,
que consistem em registrar por escrito as impressões do pesquisador, entrevistas e
conversas realizadas no interior dos assentamentos.
As entrevistas ocorriam geralmente nos lotes de produção dos assentados ou nas
casas da agrovila, quando o assentado fazia o relato das experiências de produção e de
outras questões que investigávamos, não o fazia só por meio de palavras, pois é costume
deles mostrar parte de sua atividade no sitio e seu modo de vida. Esses dados seriam
difíceis de ser captados num sistema de questionários e perguntas fechadas, assim a
prática de ir anotando os relatos e as nossas percepções. Muitas vezes o visual da
situação vivenciada por nós no universo de pesquisa era muito mais rico e abrangente
do que uma relação de perguntas. O trabalho de campo era pautado geralmente por um
roteiro de questões que precisávamos levantar, mas as entrevistas seguiam a dinâmica
das conversas que tínhamos com nossos entrevistados, o que nos dava oportunidade de
observar a realidade de cada família em suas particularidades.
A aplicação do questionário para este trabalho foi realizada na feira, seguimos
um roteiro próximo às idas a campo nos assentamentos, registrando além das perguntas,
em sua maior parte abertas, outros relatos que esses produtores faziam e algumas
peculiaridades que aconteciam no momento da aplicação. Assim, o trabalho de coleta de
dados incluiu relatos anotados em diários de campo, tornando a coleta de dados,
quantitativa e qualitativa. Os relatos das trajetórias de vida desse grupo estudado
encontram se a seguir (item 3.3.).
42
3.3. Os assentados e sua trajetória
O grupo estudado tem no Programa Direto do Campo um espaço comum para
distribuição de seus produtos, mas ocupou as terras do Assentamento Monte Alegre em
momentos diferentes. As trajetórias de vida desses sujeitos têm semelhanças e
diferenças; neste item buscamos retratar aspectos da trajetória de cada uma das famílias
desse grupo estudado.
1) Sra. Luzia Babi e Sr. Juvenal
Assentados do Projeto de Assentamento Monte Alegre, núcleo I; estão no
assentamento há 21 anos. Vieram da zona rural de Ibitinga-SP onde trabalhavam de
empregados com roça e carpa de laranja.
O Sr. Juvenal era trabalhador rural e associado do sindicato de empregados
rurais. Participou do primeiro grupo que se organizou e ocupou a Fazenda Monte
Alegre, foram despejados e ocuparam novamente até serem assentados.
A família é composta pela Sra. Luzia, com 57 anos e o Sr. Juvenal, com 68 anos;
ambos estudaram até a 3ª série e estão aposentados com um salário mínimo cada. Têm três
netos morando com eles, sem renda fora do sítio, um de 19 anos que faz supletivo, uma
neta de 17 anos que faz a 7ª série do ensino fundamental e uma neta de 15 anos que faz
o 1º série do nível médio.
Quando entraram no assentamento, plantavam com equipamentos de tração
animal, hoje usam máquinas de terceiros, pagam para “fazer a terra”. Fora as horas de
máquinas, a mão-de-obra é toda familiar.
43
2) Sr. Carlos e Sra. Luciana
Eles são do núcleo I do Projeto de Assentamento Monte Alegre, onde vivem há
9 anos. Sua família veio de Matão. O pai acampou sozinho na Bela Vista junto com um
grupo de 100 famílias de Matão. O Sr. Carlos, antes de trabalhar com horta, no sitio do
pai, trabalhou em serralheria e na colheita de laranja.
A família no sitio é composta por: Carlos, a esposa Luciana e dois filhos
pequenos; o pai e o sogro, aposentados com um salário mínimo cada; o irmão Fernando
e sua esposa. Quem trabalha no lote principalmente é ele e o irmão.
3) José Parma e Sra. Maria
Moram no núcleo I do Projeto de Assentamento Monte Alegre e estão no
assentamento há 13 anos, desde 1991. A família veio de Matão. O Sr. José trabalhava na
roça como tratorista, formava pomar e plantava arroz e feijão. Quando veio para o
assentamento estava desempregado, fez inscrição para o Projeto de Assentamento e foi
contemplado.
A família é composta pelo Sr. José, com 67 anos, a Sra. Maria, com 52 anos, os
filhos, Rodrigo, com 25 anos, que costuma trabalhar na safra de laranja, Ricieri, com 23
anos, que vende os produtos na feira e uma irmã mais nova com 06 anos.
A família trabalha com pomar de laranja de 2.300 pés, na época da colheita
costumam utilizar diárias de terceiros, aproximadamente durante15 dias utilizam o
trabalho de 10 pessoas. Além de laranja, tem no sitio 300 pés de manga, 80 pés de
abacate, 150 pés de limão ocupando um espaço de quatro alqueires.
44
4) Sra. Cacilda
Mora no núcleo II do Projeto de Assentamento Monte Alegre. Está no
assentamento há 20 anos. Veio de Sertãozinho onde era empregada doméstica e o
marido trabalhava no corte de cana e era motorista de caminhão.
Inicialmente, veio o marido acampar na Fazenda Monte Alegre, só depois da
regularização da terra, ela veio.
A família é composta por ela, com 42 anos, pelo marido, que trabalha de
motorista, e por três filhos: um de 23 anos que trabalha de aprendiz de soldador, uma
filha de 17 anos que faz a 3ª série do ensino médio e um filho de 18 anos que também
faz a 3ª série do ensino médio.
Ela aprendeu a mexer na terra depois que se tornou assentada. Quando morava
na cidade não tinha “pés de frutas” e nem sabia o que era um canteiro.
5) Sra. Maria da Glória e Sr. Alvino
Assentados no Projeto de Assentamento Monte Alegre, núcleo II, estão no
projeto há 19 anos, vieram de Araras onde eram comerciantes.
Trabalharam dentro do Projeto de Assentamento de Araras, com gado de leite
nas terras de um assentado. Conhecendo o assentamento fizeram inscrição e foram
sorteados no núcleo II do Projeto de Assentamento Monte Alegre.
Hoje no assentamento moram e trabalham somente a Sra. Maria da Glória, com
46 anos, e o Sr. Alvino, que tem 51 anos. Quando vieram para o assentamento
trouxeram três filhos, que hoje, maiores de idade, trabalham e moram na cidade.
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6) Sra. Maria Amélia
A Sra. Maria Amélia está assentada no núcleo II do Projeto de Assentamento
Monte Alegre. Está no projeto há 21 anos. Sua cidade de origem é Sertãozinho onde
trabalhava como enfermeira e o marido como motorista de ambulância. Tanto ela como
o marido têm origens rurais. Ela saiu do sítio com 14 anos e o marido saiu da área rural
com 20 anos.
No processo de busca pela terra o marido ficou acampado por 20 dias onde hoje
é o P. A. Guarani perto de Pradópolis. O sindicalista Elio Neves interferiu e os trouxe
para o núcleo II do Monte Alegre, foi quando ela se juntou ao marido que estava na luta
pela terra.
Na área do núcleo II, o trabalho era coletivo, isso perdurou por três anos.
Segundo ela, eram aproximadamente 63 famílias que só usavam uma parte do que hoje
é o núcleo II, o resto do núcleo II, uma parte era um mandiocal da CODASP e a outra
era plantação de soja da Prefeitura de Matão.
No primeiro ano esse grupo plantou arroz e a colheita foi muito boa, todos
haviam trabalhado e dividiram os resultados.
No segundo ano foi plantado arroz, amendoim e milho, neste ano o trabalho
coletivo não funcionou. Alguns foram trabalhar fora e não cuidaram da roça e outros
simplesmente não cuidavam. A solução foi dividir pedaços para cada um cuidar. Havia
uma cooperativa (associação) que fazia as compras (despesas) que cada família
precisava para se manter; cada família fazia uma lista do que precisava e a cooperativa
comprava para ser descontado na colheita, tal prática gerou problemas na medida em
que as listas de compras não eram iguais e o desconto foi igual para todos. Uma outra
questão eram os gastos da própria diretoria que, para ir à cidade e fazer suas atribuições,
46
demandava recursos. O resultado deste processo foi que, vendida a colheita e
descontados os gastos, sobrou muito pouco para cada assentado.
A partir daí essas famílias resolveram dividir espaços individuais para cada um
trabalhar e demarcaram cada espaço esticando cordas. Posteriormente, o ITESP,
percebendo o processo, levou um topógrafo que dividiu a área em lotes.
Para sua família a divisão dos lotes foi complicada, pois mudou para três áreas
diferentes. No primeiro lote ela tinha horta e cerca, mas tiveram que mudar para outra
área. Tornaram a cuidar, adubar a terra e fazer uma horta, mas tiveram que ir para um
sorteio de novo e caíram em outro lugar. Os recursos que haviam trazidos da cidade
acabaram-se todos nesse processo. Ainda relatando sobre o seu processo de entrada e
permanência no assentamento, ela fala que morou por 17 anos num rancho. Somente no
ano de 2005 é que começou a construir uma casa, com dinheiro vindo da safra de cana e
está terminando.
Entre o tempo que foram para a cidade e a entrada no projeto de assentamento
eles ficaram 15 anos sem mexer com lavoura. Recomeçaram por “imaginação”, iam
plantando coisas no lote. O ITESP ajudou oferecendo cursos, aulas de trator e plantação.
Quando veio para o projeto de assentamento, trouxe a família toda: ela, o marido
e os 4 filhos. Atualmente mora na agrovila ela o marido e uma filha portadora de
cuidados especiais. No mesmo lote há a casa de uma filha casada que tem 24 anos, ela faz
enfermagem e o marido trabalha de caminhoneiro, ambos não participam da renda do sitio.
O filho mais velho veio para o projeto de assentamento com 16 anos e saiu para
trabalhar fora com 20 anos; hoje ele trabalha em Piracicaba, na parte elétrica de uma
construtora; O outro filho veio com 05 anos e saiu de casa aos 17 anos para jogar
basquete, hoje ele joga e faz fisioterapia em São Paulo.
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Na agrovila tem uma pocilga de suínos que hoje está desativada. Foi construída
em parte com financiamento e a maior parte com dinheiro próprio, havia porcos brancos
(cada um era registrado). Parou com a pocilga porque a carne tinha preço baixo e a ração,
mesmo quando feita por ela e o marido, custava muito caro. Depois que parou, arrendou
a pocilga por três anos para um fazendeiro de Santa Rita do Passa Quatro, que colocava
os porcos e pagava arrendamento e o trabalho de cuidar. Posteriormente, este fazendeiro
parou porque encontrou um ponto mais próximo de sua fazenda para colocar os porcos.
7) Sr. José Jorge e Sra. Neide
Estão assentados no núcleo IV do Projeto de Assentamento Monte Alegre desde
1985, então há 21 anos. Vieram do Norte de Minas Gerais para Guariba - SP onde o Sr.
José Jorge trabalhou no corte de cana para usina. Em Minas Gerais, trabalhava com roça
e também em garimpo. No trabalho de corte de cana em Guariba, a usina não pagava
daí surgiu a oportunidade de ocupar a Fazenda Monte Alegre. Ficaram 08 meses
acampados.
Hoje no assentamento moram somente Sr. José Jorge e Sra. Neide, ambos
participam do Programa Direto do Campo em programas diferentes. Ele, da Feira do
Produtor, no sábado, e ela, da Feira da Roça, às quartas feiras e aos sábados.
8) Sr. Sebastião e Sra. Madalena
Assentados no Projeto de Assentamento Monte Alegre, núcleo IV, há 20 anos. O
Sr. Sebastião veio do Paraná para trabalhar no corte de cana em Guariba. No Paraná
cuidava de lavoura por porcentagem, plantava milho, feijão e arroz.
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Na usina em Guariba ganhava muito pouco como cortador de cana, por isso
juntou-se a outros amigos e trabalhadores da cana e invadiram onde hoje é o núcleo VI
da Monte Alegre.
Sua família atualmente é formada por ele, com 45 anos, a esposa, com 44 anos, e
uma filha, com 08 anos.
A mão-de-obra utilizada no sitio é familiar. Eles têm no assentamento outros
parentes assentados, o tio e o pai.
Produz não somente no seu lote mas também no lote de seu pai, do qual utiliza
parte. Sua horta e plantação de legumes ocupam aproximadamente meio hectare do lote
do pai.
9) Sr. Antonio e Sra. Denanci
Este participante é cunhado de um assentado. Mora e produz hortaliças e
legumes no lote da agrovila de seu cunhado. Está morando no assentamento há um ano,
veio de Guariba onde já trabalhou em vários empregos: trabalhou na usina e também
como vigilante, quando mudou para o assentamento estava desempregado.
Sua família é composta por ele, com 53 anos, a esposa, com 47 anos, e uma
filha, com 27 anos.
Tem no lote da agrovila, horta, legumes e milho além de árvores frutíferas.
Neste lote tem um córrego e área de reserva.
De criações possui: 01 cavalo, 01 égua e 40 galinhas. Não tem nenhum
maquinário. A casa é abastecida com água de poço e para a horta utiliza água do
córrego. A terra, segundo ele, é boa.
49
10) Sr. Pedro e Sra. Maria Bárbara
Em maio de 2006, fizeram 20 anos de assentamento. Moram no núcleo IV do
Projeto de Assentamento Monte Alegre. O Sr. Pedro veio do Paraná para Guariba
trabalhar como cortador de cana. No Paraná arrendava terra e plantava milho, feijão,
mamona e girassol.
Entrou para a reforma agrária após 1984, a partir da greve dos cortadores de
cana em Guariba. Tinha parentes no núcleo II da Monte Alegre o que o levou para esse
assentamento, ficando acampado durante sete meses.
Sua família é composta, por ele, com 49 anos, sua esposa e três filhos: um com
26 anos que ajuda no sítio e trabalha durante a safra numa usina de álcool, uma filha
com 24 anos e um filho com 16 anos que está no 3º colegial.
11) Sra. Maria Miguel
Está assentada no Projeto de Assentamento Monte Alegre, núcleo IV, desde 1997,
então há 8 anos. Vieram da cidade de Rincão. Antes de entrarem no projeto ela, o marido e
o filho mais velho trabalhavam com colheita e carpa de laranja e cana. Ao mesmo tempo,
na cidade onde moravam plantavam arroz nas vargens de cana ou de pastos de propriedades
que os donos cediam. E antes desse período, que antecede a entrada no projeto de
assentamento, o marido trabalhava de administrador numa fazenda da região e havia
terras que eles podiam plantar, era comum plantarem feijão, milho, arroz e uma horta.
Em 1997, o marido e o filho ficaram acampados durante 1 ano até conseguirem a
terra.
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A Sra. Maria Miguel relatou que antes de entrar no projeto de assentamento, eles
plantavam menos, particularmente para consumir, e que a terra era melhor, usavam
pouco adubo químico; segundo ela hoje em dia usam mais, principalmente no milho.
Hoje toda família mora no assentamento: ela, o marido, o filho mais velho, com
32 anos que estudou ate a 5ª série e trabalha nas safras de laranja, outro filho, com 24
anos que estudou até o 1º colegial, uma filha de 22 anos, que estudou também ate o 1º
colegial e trabalhou na ultima safra de laranja, e, a filha caçula, com 17 anos que
terminou o 2º grau.
12) Sr. Valdomiro
Mora no núcleo IV do Projeto de Assentamento Monte Alegre há 12 anos. Veio
de Matão onde morou 14 anos numa fazenda trabalhando de tratorista e 04 anos na
cidade trabalhando de segurança.
Seu pai trabalhava numa fazenda em Guaiçara e dispunha de aproximadamente
12 alqueires onde a família plantava amendoim, arroz, feijão e tinha horta.
A entrada no assentamento ocorreu através do irmão que acampou na Usina
Tamoio e depois em Pradópolis. Fizeram inscrição e por pontuação foram chamados
para o Projeto de Assentamento Monte Alegre, comprando o direito de outro assentado.
A família é composta por ele, o pai aposentado com um salário mínimo, a mãe, o
irmão que é titular da terra, um irmão doente, aposentado por invalidez e uma irmã que
trabalha na área de saúde recebendo aproximadamente um salário mínimo e meio.
51
13) Sr. Aparecido e família
Esta há 10 anos no Projeto de Assentamento Monte Alegre, o sitio é de seus
pais, que estão no assentamento há 12 anos, vieram da cidade de Matão. Ele trabalhava
de segurança numa metalúrgica. Seu pai teve sitio no Mato Grosso.
O pai estava desempregado e queria a terra para plantar, ficou acampado durante
03 anos em Pradópolis-SP e depois conseguiu lote no Monte Alegre.
A sua família é composta pelo pai e a mãe, que são aposentados, ganhando um
salário mínimo cada um. Ele, a esposa e 03 filhos pequenos. Um irmão com a esposa,
um filho pequeno. E um afilhado de 17 anos. Todos dependem do sítio para viver.
14) Sr. Celso e Sra. Ivete
Moram no núcleo V do Projeto de Assentamento Monte Alegre. Estão no
assentamento desde 1994 então, há 12 anos. Vieram do Paraná para Matão em 1985. No
Paraná trabalhavam com lavoura de algodão, milho, arroz e feijão. Em Matão, o Sr.
Celso trabalhava de prensista na Marquezan.
Para entrar na Reforma Agrária a família fez inscrição em Matão e ocuparam a
Usina Tamoio, onde ficaram um ano. Depois foram para o núcleo II do Monte Alegre
ficando acampados durante dois anos. Em 1994, foram chamados para uma vaga no
núcleo V, ele não é o titular do lote e sim sua mãe que não mora mais com ele.
A família deste assentado é composta pelo Sr. Celso, com 44 anos e 2º grau
completo, sua esposa, com a mesma idade e o mesmo nível escolar, e um filho de 20
anos, que terminou o 2º grau e faz curso no SENAI.
52
15) Sra. Maria Carmelita e Sr. Eurival
Moram no núcleo VI do Projeto de Assentamento Monte Alegre. Em setembro
de 2006 farão 09 anos de assentamento. A família veio de Paranavaí-PR para Rincão e
de lá para o assentamento.
No Paraná o Sr. Eurival era administrador de fazenda. Em Rincão, trabalhou na
Cutrale como mestre de obras e foi motorista da usina Santa Cruz.
Quando trabalhava na usina soube dos assentamentos e se interessou, ficou
sabendo da invasão do Monte Alegre então se “inscreveu” e juntou-se na ocupação,
ficando acampado durante 06 meses.
No assentamento moram o Sr. Eurival, sua esposa, a Sra. Maria Carmelita. Eles
têm 03 filhos que moram na cidade, um deles morou durante 06 meses no assentamento.
16) Sr. Sinval
Assentado no núcleo VI do Projeto de Assentamento Monte Alegre está no
assentamento há 08 anos. Em 1988 morava em Feira de Santana-BA, veio para o
assentamento em Araraquara em 1998. Antes de entrar no assentamento trabalhava
como empregado rural, com milho, feijão e criação de gado. Ficou sabendo do projeto
de assentamento, fez inscrição e foi chamado em casa, daí fez uma entrevista e foi
contemplado.
Atualmente moram no sítio ele e um filho de 10 anos que está na 4ª série.
17) Sra. Maria Aparecida
Ela está assentada há 09 anos no núcleo VI do Projeto de Assentamento Monte
Alegre. Veio de Barbosa Ferraz no Paraná, onde trabalhava como meeira com lavoura
53
branca completa: milho, arroz, feijão e não trabalhava com horta, o que passou a fazer
no assentamento.
No Paraná ouviu no rádio sobre o acampamento em São Paulo e veio acampar
onde ficou 1 ano até ser assentada.
A família é composta por ela, com 44 anos, que estudou até a 5ª série, o marido,
com 47 anos, que também estudou até a 5ª série, uma filha de 22 anos que já terminou o
segundo grau, e um filho de 18 anos que parou no segundo colegial. Todos dependem
do sitio para viver.
18) Sra. Clemência
Assentada do núcleo VI do Projeto Assentamento Monte Alegre, está no projeto
de assentamento há 06 anos. Para ser regularizada no assentamento levou 02 anos.
Ela veio de Sertãozinho para o assentamento. Antes de morar em Sertãozinho,
quando nova, havia morado em Minas, de onde foi para São Paulo e depois para Santo
André.
Ela e o marido trabalhavam de metalúrgicos em Santo André. Ambos nasceram
e foram criados no sítio, mas foram depois para a área urbana.
Através de uma cunhada souberam da ocupação e que tinha vaga para mais uma
família, então a família inteira foi acampar.
Por muito tempo esteve afastada do meio rural, reaprendeu a produzir lendo
revistas, conversando com técnicos, vendo e aprendendo com os vizinhos, fazendo
cursos, etc.
54
A família é composta por ela e o marido, até pouco tempo moravam com eles no
sitio dois filhos, o do meio casou e foi acampar em uma ocupação buscando sua terra e
o caçula está procurando emprego em Sertãozinho, não nos informou dos outros filhos.
19) Sra. Alaide
Está assentada no Projeto de Assentamento Monte Alegre, núcleo VI, há nove
anos. Veio da cidade de Rincão onde ela e o marido viviam de empregos temporários,
ele geralmente no trato de gados e ela como doméstica. Costumavam pegar lotes vazios,
em Rincão, cedidos pelos proprietários, e plantavam: arroz, feijão, etc.
No processo de entrada no projeto assentamento, ficaram acampados durante 1 ano.
Ela tem 59 anos e recebe uma pensão do primeiro marido, já falecido, no valor
de 1 salário mínimo. Vive com o segundo marido que tem 66 anos e no momento está
encostado pelo INSS, recebendo também 1 salário mínimo. Moram com eles três netos,
uma de 15 anos que está na 7ª série, uma de 12 anos que está na 6º série e uma de 10
anos que está na 5ª série.
Quem participava da feira era sua filha, esta se casou e ela está vindo para a
banca há dois meses. No inicio tinha vergonha foi muito incentivada pelas
companheiras que participam. Está gostando, além da renda que lhe proporciona, vê a
feira, também, como uma distração e que lhe permite que produza mais no sitio, pois
tem para quem vender.
20) Sra. Maria Antonia
Assentada no núcleo VI do Projeto Assentamento Monte Alegre, está há 09
anos no assentamento. Era do estado de Minas Gerais; de lá foi para a cidade de
55
Américo Brasiliense-SP e depois para Santa Lucia-SP, posteriormente indo para o
assentamento.
Ela e o marido trabalhavam na região, no corte de cana, na colheita de laranja e
em capinas diversas. Em Minas trabalhavam, como empregados, com o plantio de
milho, feijão, mandioca, arroz e algodão, o marido trabalhou, também, em fábrica de
carvão.
Através de conhecidos de Santa Lucia souberam do acampamento, surgiu então
a oportunidade de acampar e buscar a terra. Antes de entrar no projeto de assentamento
não plantavam horta nem legumes.
Ela tem 53 anos, o marido 61 anos, este se aposentou faz 2 meses. Moram com
eles e dependem do sitio 6 filhos: um de 31 anos, uma filha de 26 anos, um filho de 17
anos, um filho de 14 anos que está na 8ª série, uma filha de 12 anos que está na 6ª série,
e um filho de 09 anos que está na 3ª série.
***
Pelo relatado nestas histórias de vida notamos que uma boa parte dessas pessoas
eram empregadas dos complexos agrícolas regionais, particularmente de cana e de
laranja. Observamos do ponto de vista da origem e das atividades rurais - que essas
pessoas realizavam antes de entrarem nos projetos de assentamento – que,
particularmente, todas tiveram alguma ligação com o meio rural.
No processo de entrada no assentamento, a maioria participou de algum tipo de
luta pela terra, poucos foram os que fizeram inscrição e conseguiram a terra sem
participar de um processo de ocupação.
A média de idade dessas pessoas está acima dos quarenta anos; dos assentados
mais velhos alguns ficaram sozinhos no assentamento porque seus filhos saíram de casa
56
para trabalhar no meio urbano, mas também há famílias em que os filhos ficaram ou
foram para o sítio para trabalhar junto com os pais na produção. E, mesmo, há famílias
em que, após a “aposentadoria” dos pais, são os filhos que realizam a maior parte das
atividades do sítio e dependem dele para viver.
Em resumo, essa é a trajetória de vida das famílias que participam das feiras
promovidas pela Prefeitura de Araraquara.
A trajetória de vida dessas famílias é significativa porque abrange “(...) uma
história de distintos tempos sociais vividas por múltiplos sujeitos que têm as fronteiras e
seu mundo demarcadas por pressões, atritos e lutas (...)” (FERRANTE, 1999). Ao
entrarem nos projetos de assentamento, elas reconstroem seus modos de vida, antes na
maioria das vezes assalariados rurais que, embora tivessem ligações com a terra, não
tinham poder de decisão sobre o que plantar. Quando se tornam assentados, passam a
ocupar um espaço no meio rural que lhes permite ter moradia e a decisão do plantar,
reconstruindo, assim, seu modo de vida. Olhando os assentamentos, percebemos que, ao
plantarem, na maioria das vezes, não seguem a agricultura convencional dominante na
região e, sim, optam por ter dentro de seu sítio vários tipos de cultura. Nesse sentido,
acreditamos que a feira atua como um dos fatores que permite que este modo de vida
seja reconstruído e se reproduza.
No próximo capitulo faremos uma análise mais pormenorizada das atividades e
modo de vida nos sítios em relação à feira e à sustentabilidade.
57
CAPÍTULO 4: ANÁLISE E DISCUSSÃO.
ESTRATÉGIAS DE SUSTENTABILIDADE
DOS FEIRANTES ASSENTADOS
Faremos agora uma análise dos dados levantados junto ao grupo de assentados.
Esses dados foram organizados em tabelas e gráficos, para maior visibilidade. Os dados
foram sistematizados de acordo com as questões formuladas no início do trabalho, com
base na hipótese geral que envolve basicamente o fato de que a feira, permitindo o
escoamento dos produtos, contribui para a sustentabilidade socioeconômica e ambiental.
Buscamos, assim, por meio dos dados, analisar o papel e a importância da feira para o
grupo estudado, e, também, como essa gera diversificação e sustentabilidade.
Paralelamente a isso, discutimos as relações criadas no âmbito da feira e as
conseqüências que a entrada da cana no assentamento tem sobre esse grupo.
4.1. O papel da feira para o grupo
Para verificarmos o papel da feira para o grupo, analisamos os dados
relacionados à diversificação, à atividade familiar e à relação dos assentados com outros
atores.
4.1.1. A feira como fator de geração de renda e diversificação do produto.
Uma característica do modo de vida do assentado é plantar vários tipos de
alimentos, ora para satisfação de seu consumo pessoal, ora com objetivos comerciais. O
lote para produção, incluindo a agrovila - mesmo que em alguns casos, em pequena
59
frutas (2ha), mandioca (1ha), pastagem (4ha), milho (1ha)
4 Sebastião Pio e Madalena
600,00 3 banana (1ha)
horta (0,5ha no lote de seu pai), feijão (1ha), milho (10ha), frutas (1,5ha)
vende o milho para atacadistas, o resto na feira
4 Antonio Guiraldeli e Denanci
320,00 1 horta e frutas (1ha)
--- feira, pessoas do assentamento, pessoas que passam pelo assentamento
4 Pedro Hipólito e Maria Bárbara
650,00 3 horta (0,1ha)
mandioca industrial (7ha), pastagem (4ha), frutas
70% na feira, restante atravessadores que vão comprar no sítio
4 Maria Miguel 240,00 1 horta cana (4ha), milho, feijão, laranja, manga e pastagem
maior parte na feira
4 Valdomiro Gomes 600,00 3 horta (1ha) cana (7ha), pastagem (4ha), milho, manga (200 pés)
feira e atacado (milho e manga)
5 Aparecido Domingos e família (são dois lotes de produção)
1.200,00 3 --- horta (2,5ha), milho (1ha), mandioca e outros legumes (12ha), manga (500 pés), cana (para uso) (1ha), pastagem (4ha)
feira e atacado nas cidades da região
5 Celso e Ivete 300,00 1 --- horta, milho, feijão, pasto
na feira e em feira de matão
6 Eurival e Maria Carmelita 1.200,00 3 --- horta (3ha), pastagem (6ha), frutas
feira e parte vende no sítio
6 Sinval 1.200,00 2 --- horta (5ha), pastagem (7ha), frutas, cereais
feira, fome zero, no lote
6 Maria Aparecida 800,00 2 --- horta, mandioca e cereais (7ha), pastagem (7ha)
feira
6 Clemência 750,00 2 --- pastagem (7ha), horta, milho e feijão
feira
6 Alaíde 280,00 2 --- horta (em estufa),
feira
60
mandioca (0,5ha), milho (1,5ha), pastagem (1ha), frutas
6 Maria Antonia de Jesus 200,00 2 --- pastagem (3ha), frutas, mandioca, horta
feira
* O lote da agrovila tem em média 1ha. ** O lote de produção tem em média 16ha.
Notamos pela tabela que todas as pessoas que participam da feira têm um grande
nível de diversificação. Por exemplo, podemos notar que quase todos têm horta, frutas e
milho e/ou algum outro produto, como feijão e mandioca, passíveis de serem
comercializados na feira.
Os assentados que têm menor renda vinda da feira normalmente têm a tendência
de terem seus lotes ocupados com produções mais extensivas, cujo destino é a venda
fora da feira. Esse é o caso, por exemplo, de José Parma, Maria Amélia, Cacilda, Maria
Miguel (uma das que a família já teve retorno financeiro do plantio de cana). No caso da
Sra. Maria Amélia, essa pouco traz de produtos agrícolas; o seu principal produto são
pães e roscas caseiras. Um outro caso interessante é o do Sr. Antonio Guriraldeli que
ocupa a casa da agrovila de um parente e é nesse pequeno espaço de menos de um
hectare que produz o que vende na feira, por isso sua renda não é alta.
A maioria declarou que seu principal ponto de comercialização é a feira, que por
si só é um lugar propício a escoar a diversidade produzida. O que é vendido fora da
feira são, na maioria, produções em escala maior de milho, mandioca, manga e laranja,
com exceções de um produtor que, no período em questão, forneceu para o Fome Zero e
outro que, por ter uma grande produção ligada à horta, fornece a atacado para quitandas
da cidade e região.
Notamos também que as pessoas que tendem a ter maior renda são as pessoas
que participam de duas a três vezes por semana dos locais de venda. Considerando que
61
os locais de venda são: a Feira do Produtor, na Praça Pedro de Toledo (somente aos
sábados), e as bancas do Terminal de integração (dois dias da semana), as pessoas que
participam duas vezes normalmente só atuam no Terminal, lugar no qual as vendas são
maiores. As pessoas que fazem três vezes, além do Terminal, participam da Feira do
Produtor, na praça. Assim, normalmente, as pessoas que realizam de duas a três feiras
têm retorno maior e são as que têm maiores quantidades de produtos. Exceções na
relação entre participações na feira e renda, como a Alaíde e a Maria Antonia, podem
ser explicadas pela menor quantidade de produtos por elas oferecidos para venda ou por
não saber precisar as informações declaradas em relação à renda; por exemplo, tal pode
ter ocorrido no caso da Sra. Alaíde que, quando entrevistada, estava no lugar da filha há
apenas dois meses. A dificuldade de precisar a renda deve ser compreendida como parte
da dificuldade dos assentados de interiorizar categorias contábeis e a importância de
serem respeitados seus códigos específicos recriados neste novo modo de vida.
Para uma melhor análise da renda obtida com a comercialização dos produtos na
feira, no gráfico 1, classificamos essa renda em relação ao salário mínimo vigente no
período das declarações (março/2006) que era de R$ 300,00.
Gráfico 1: Renda da feira em relação a faixas salariais. (cada coluna refere-se a um assentado do grupo estudado)
0100200300400500600700800900
100011001200
até1salario até2salarios até3salarios até4salários
Luzia Babi e Juvenal Carlos Alberto e Luciana José Parma e famíliaCacilda Alvino e Maria da Glória Maria AméliaJosé Jorge e Neide Sebastião Pio e Madalena Antonio Guiraldeli e DenanciPedro Hipólito e Maria Bárbara Maria Miguel Valdomiro GomesAparecido Domingos e família Celso e Ivete Eurival e Maria CarmelitaSinval Maria Aparecida ClemênciaAlaíde Maria Antonia de Jesus
62
Observando o gráfico, notamos que a renda vinda da feira está distribuída
proporcionalmente em quatro categorias: cinco assentados recebem até um salário
mínimo; seis assentados recebem até dois salários mínimos; quatro, até três salários
mínimos; e cinco recebem até quatro salários mínimos.
Na Tabela 2, que se segue, voltamos a apresentar a renda vinda da feira e como
o assentado utiliza essa renda, de acordo com suas declarações. As questões do
questionário contempladas e que se encontram inter-relacionadas na tabela 2 são:
questão 33 (Quanto vende? Semanal? Mensal?), questão 34 (A renda vinda da feira
para que é utilizada?). Vejamos a tabela 2:
Tabela 2: Destinação da renda da feira NÚCLEO ASSENTADO renda da
feira (mensal)
utilização
1 Luzia Babi e Juvenal 880,00 trato de criação, mistura, roupas, calçados e outros.
1 Carlos Alberto e Luciana 1.200,00 uso da casa e compra de sementes 1 José Parma e família 320,00 investe no sítio e uso da casa 2 Cacilda 200,00 para plantar, coisas para casa e
pagar contas 2 Alvino e Maria da Glória 500,00 investir na horta, uso da casa 2 Maria Amélia 440,00 gasto da casa 4 José Jorge e Neide 1.200,00 produzir, comprar coisas para casa
e pagar contas 4 Sebastião Pio e Madalena 600,00 consumo da casa, manter a horta
com sementes, adubo e venenos 4 Antonio Guiraldeli e Denanci 320,00 para sustento da casa 4 Pedro Hipólito e Maria Bárbara 650,00 compra de alimentos e gastos com
a família 4 Maria Miguel 240,00 ração para criação, sementes,
pagamento de contas, gastos da casa
4 Valdomiro Gomes 600,00 comprar coisas para casa 5 Aparecido Domingos e família 1.200,00 consumo da casa e insumos para
produção 5 Celso e Ivete 300,00 gastos da casa 6 Eurival e Maria Carmelita 1.200,00 gastos para plantar, pouco sobra
para casa 6 Sinval 1.200,00 para cuidar do sítio e para viver 6 Maria Aparecida 800,00 gastos nas coisas de comer e pagar
contas 6 Clemência 750,00 pagar contas e alimentação 6 Alaíde 280,00 compra de coisas para produção e
consumo da casa 6 Maria Antonia de Jesus 200,00 compra de coisas para casa
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Conforme as declarações dos assentados, a renda da feira serve, principalmente,
para ser reinvestida no sítio, seja para comprar trato para as criações, seja para gastos
com a produção agrícola voltada para a feira. A outra destinação da renda é para
sobrevivência, sendo entendida como compra de alimentos, produtos diversos e
pagamentos de contas (normalmente de prestação de serviços, como eletricidade). Isso
significa que, na maior parte dos casos, a renda proveniente da feira, já explicitada na
análise da Tabela 1 e no Gráfico 1, não é líquida.
No gráfico 2, podemos visualizar a renda vinda da feira em relação à renda
familiar total. As questões do questionário contempladas no Gráfico 2 são: questão 8
(Quem compõe sua família? Renda? O que fazem?); questão 35 (De onde vem o
total da renda familiar? Feira? Outros?). Observemos, então, o gráfico em questão:
Gráfico 2: Renda da feira em relação à renda familiar total (%)
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Luzia Babi e Juvenal
Carlos Alberto e Luciana
José Parma e família
Cacilda
Alvino e Maria da Glória
Maria Amélia
José Jorge e Neide
Sebastião Pio e Madalena
Antonio Guiraldeli e Denanci
Pedro Hipólito e Maria Bárbara
Maria Miguel
Valdomiro Gomes
Aparecido Domingos e família
Celso e Ivete
Eurival e Maria Carmelita
Sinval
Maria Aparecida
Clemência
Alaíde
Maria Antonia de Jesus
64
Percebemos pelo gráfico que para oito dos produtores, de um universo total de
vinte, a feira é fonte de mais de 50% da renda familiar. Estratificando para cima, para
três das famílias, a feira representa 90% ou mais da renda familiar. Por outro lado,
temos 11 famílias para as quais a feira representa 50% ou menos da renda familiar.
Nesses casos, temos pessoas que na composição da renda familiar recebem Bolsa
Família, são aposentados, trabalham em algum tipo de atividade fora do sítio ou tem
outras produções comerciais em escala maior, que são vendidas ao atacado.
No gráfico apresentado, a pessoa que apresentou menor porcentagem de renda
da feira em relação à renda familiar total é a Sra. Cacilda, cujo marido é motorista de
ônibus no assentamento. Um outro exemplo é o caso da Sra. Maria Aparecida cujo
marido produz carvão com tocos de eucalipto do assentamento ou com madeira de corte
e poda de árvores obtidas em serviços que realiza na cidade; o que lhe rende ao total uns
60% da renda familiar.
Vale notar, por exemplo, no caso do Sr. José Parma e do Sr. Sebastião Pio (que
apresentam renda menor do que 50%¨provenientes da feira, porque vendem em atacado)
que apesar de haver diversificações, a quantidade de produção destinada à feira tende a
ser menor porque o espaço do lote está em sua maior parte ocupado, no primeiro caso,
com plantações de laranja, e, no segundo, com plantações de milho; o que caracteriza
que as culturas desses lotes estão mais homogeneizadas.
Uma das famílias entrevistadas, a da Sra. Maria Miguel, não soube precisar em
números a renda vinda da feira em relação à renda total familiar, mas nos disse que a
maior parte da renda vem da feira, exceto nos períodos de safra em que seus familiares
(filhos) costumam fazer. Também, a família da Sra. Maria Miguel foi uma das que
declarou ter tido renda vinda do plantio de cana, mas não soube precisar quanto.
65
Pelo que foi explanado, percebemos que a feira é uma importante fonte de renda
para esse grupo, mas não é a única e nem sempre é líquida (pois na maioria das vezes é
revertida para a própria produção). A ocupação dos lotes, incluindo aí as agrovilas, é
diversificada, mas não queremos dizer com isso que não existam culturas homogêneas.
Particularmente, os lotes de produção desse grupo estão ocupados com algumas culturas
extensivas que podem ser de milho, mandioca, cana, laranja, eucalipto e mesmo
pastagens, que também são fontes de renda.
4.1.2. A participação da família na produção e na feira.
Discutiremos agora a participação da família na produção do sítio. Na
construção da Tabela 3 foram levadas em conta as declarações da família entrevistada.
Para o número de pessoas que participam da produção no sítio, foram contadas as
pessoas da família que dependem do sítio para sobreviver, com idade acima de
dezesseis anos. No aspecto de depender do sítio para sobreviver, estão incluídos os
filhos e parentes que, além do sítio, costumam realizar serviços temporários ou sazonais
como safras e diárias fora dos sítios. As pessoas da família que têm um emprego fixo e
que não participam da atividade do sítio, somente lá residem, não foram incluídas.
As questões contempladas e que se encontram inter-relacionadas na tabela 3 são:
questão 8 (Quem compõe sua família? Renda? O que fazem?); questão 9 (Utiliza
mão-de-obra que não pertence à família? Como utiliza?); questão 36 (Quem da
família participa da feira?). Analisemos a tabela:
66
Tabela 3: Participação da família e utilização de mão-de-obra não familiar.
NÚCLEO ASSENTADO participação da família na produção (nº. de. pessoas)
participação da família na feira (nº. de. pessoas)
Utiliza mão-de-obra não familiar
1 Luzia Babi e Juvenal 5 3 não 1 Carlos Alberto e Luciana 6 2 sim 1 José Parma e família 4 3 sim 2 Cacilda 4 1 não 2 Alvino e Maria da Glória 2 2 sim 2 Maria Amélia 2 1 não 4 José Jorge e Neide 2 2 sim 4 Sebastião Pio e Madalena 2 2 não 4 Antonio Guiraldeli e Denanci 3 2 não 4 Pedro Hipólito e Maria Bárbara 4 2 sim 4 Maria Miguel 6 2 não 4 Valdomiro Gomes 4 1 não 5 Aparecido Domingos e família 7 2 sim 5 Celso e Ivete 3 2 não 6 Eurival e Maria Carmelita 2 2 sim 6 Sinval 1 1 sim 6 Maria Aparecida 4 1 sim 6 Clemência 2 1 não 6 Alaíde 2 1 não 6 Maria Antonia de Jesus 5 1 não
Notamos pela Tabela 3 - e pela análise do quadro da questão 8 do questionário -
que a maior parte da família que mora no sítio participa da produção. Vejamos, por
exemplo, o caso da família que tem maior número de familiares, a do Sr. Aparecido
Domingos e o caso da que tem menor número de familiares, apenas o próprio Sr.
Sinval; ambos utilizam mão-de-obra fora da família. No caso do Sr. Aparecido, estamos
falando de praticamente três famílias que cuidam de dois lotes no assentamento:
Aparecido e esposa; o irmão e a esposa; o pai e a mãe que são aposentados, mas
trabalham no sítio, e um afilhado de dezessete anos. Apesar da família ser grande, a
quantidade de terra cuidada por eles é o dobro da terra dos demais casos, assim ele tem
um empregado fixo ao longo do ano. No caso do Sr. Sinval, a família é formada por ele
e um filho de dez anos, assim, quem realiza a atividade do sítio é ele e um empregado
fixo. Os demais que utilizam mão-de-obra não-familiar, o fazem esporadicamente, isto
é, mão-de-obra avulsa, paga em diárias.
67
A mão-de-obra, então, na maioria das vezes, é familiar, mas, em pequena escala
de números de diárias pagas, existe a utilização de mão-de-obra não-familiar. Conforme
o Grafico 3, na seqüência, menos de 50% das famílias do grupo costumam utilizar
diárias de pessoas fora da família, principalmente em períodos de safra de seus produtos
ou em dias em que as pessoas das famílias não dão conta dos serviços de plantio ou
colheita.
Gráfico 3: Utilização de mão-de-obra além da familiar.
É interessante notar que, nas bancas, geralmente quando a família é composta
por marido e mulher com ou sem filhos morando com eles, praticamente todos
participam do processo de vendas dos produtos na feira (cf. casal no Gráfico 4). A
participação de “somente homens” (cf. Gráfico 4), no caso um solteiro e outro separado,
é mais incomum. A participação de “somente mulheres” (cf. Gráfico 4), com um total
de sete, se deve ao fato de que seis delas participam de um dos projetos que se chama
Feira da Roça, projeto do qual só participam mulheres. A Sra. Cacilda, a outra mulher
restante, por sua vez não pertence ao projeto, sua participação sozinha se deve ao fato
de que o marido realiza atividades fora do sítio. A Sra. Maria Miguel é a única das
sim; 9; 45%
não; 11; 55%
68
mulheres também pertencentes ao projeto Feira da Roça que vem acompanhada (de sua
filha) para a comercialização na feira.
Gráfico 4: Participação na feira por gênero.
Por meio dos dados é possível, então, afirmar que a maior parte da mão-de-obra
é familiar. A mão-de-obra não-familiar, apesar de ocorrer em 45% dos casos é pequena
por se tratar, em maior parte, de diárias esporádicas. A presença de casais é
preponderante na feira, seguido das mulheres, talvez pelo fato de haver paralelamente
uma feira específica só para elas. Os dados corroboram, indicando a participação da
família na produção (nos assentamentos) e na comercialização na feira.
4.1.3. A relação do grupo na feira e com os atores locais (técnicos e
representantes do poder público municipal).
A feira é espaço de encontro de pessoas de núcleos diferentes que, normalmente,
não costumam se encontrar no assentamento, nem fazer atividades em conjunto. Assim,
o espaço da feira é um espaço de interação e ajuda mútua para se desenvolverem as
atividades de venda dos produtos, o que cria entre eles relações de amizade e de
cooperação. Espaço de trocas simbólicas, de sociabilidade.
só homem; 2; 10%
só mulher; 7; 35%
casal; 11; 55%
69
Buscamos, também, neste estudo, identificar as relações do grupo com o órgão
gestor do assentamento (ITESP), particularmente a relação do grupo com os técnicos.
Nesse aspecto, coletamos informações não específicas da feira, mas as relações gerais
que essas pessoas têm com os técnicos do ITESP, que não se resumem somente aos
produtos voltados para a feira. Com relação aos representantes da Prefeitura, os relatos
são referentes diretamente à feira, até porque o laço que une essas duas categorias é
justamente a participação na Feira do Produtor, organizada pela Prefeitura de
Araraquara.
As questões do questionário contempladas, direta ou indiretamente, são: questão
45 (Como é o seu contato com os outros produtores que participam da feira?);
questão 46 (Como é o acompanhamento da Prefeitura dos produtos vendidos?).
Analisemos a tabela:
Tabela 4: Relações entre os atores NÚCLEO
ASSENTADO entre assentados com técnicos do ITESP
com representantes da prefeitura na feira
1 Luzia Babi e Juvenal na feira se ajudam, nunca houve desavença
as relações são boas e todas as semanas estão no assentamento
as relações são boas, mas a fiscalização não deixa vender alguns produtos processados, tipo abóboras e mandiocas descascadas (os fregueses preferem assim porque vêem que o produto está bom.
1 Carlos Alberto e Luciana boa, se ajudam eles dão assistência mais ou menos uma vez por mês
a prefeitura apóia as vendas, e no caso dele não tem problemas com os produtos que traz.
1 José Parma e família são boas, quando precisamos de equipamentos conseguimos emprestado
as relações são boas, eles prestam assistência semanalmente
tem boas relações
2 Cacilda boa, cooperamos entre si
--- ---
70
2 Alvino e Maria da Glória muita boa, ajudam e são companheiros
no meu lote não vão, mas a gente sempre precisa dos projetos que eles fazem
não tenho nada contra o pessoal da prefeitura, eles nos ajudam. Eu tenho coisas no sítio tais como frango, ovos e queijos que gostaria de vender mas a Prefeitura não permite
2 Maria Amélia boa, nas bancas um ajuda o outro, fazemos banco, buscamos marmitex
a assistência é pouca e deixa a desejar; acontece coisas, eventos mas ficam sabendo
relações são boas
4 José Jorge e Neide temos boas relações
costumam dar assistência, mas é difícil de ir no lote, quando precisamos nós chamamos
a relação é boa, funciona direito, não atrapalha
4 Sebastião Pio e Madalena ótima, nós nos ajudamos (referiu-se principalmente ao grupo no núcleo 4 com os quais tem grau de parentesco)
eles são bons e costumam ir no lote ver como está
estão ajudando porque buscam os produtos
4 Antonio Guiraldeli e Denanci tenho mais contato com o pessoal do quatro, tenho boas relações, ajudam, olhamos as bancas e vendemos uns para os outros
--- ---
4 Pedro Hipólito e Maria Bárbara ótimo, há cooperação
as relações são boas, precisando eles vão no sítio, costumam ir mais ou menos uma vez por semana
os técnicos da prefeitura já fiscalizaram mais, eu mesmo levei uma advertência; hoje tá meio abandonado
4 Maria Miguel se dão bem, nos ajudamos, antes de entrar na feira não conhecia a maioria dos outros feirantes
--- ---
4 Valdomiro Gomes um ajuda o outro não dão assistência, nem fazem análise de solo, só fazem projeto para plantio de milho, mandioca.
atendem bem, analisam os produtos que nós estamos vendendo e já foram no sítio ver o que temos
5 Aparecido Domingos e família boa não vão no lote dar assistência
é difícil a gente pedir alguma coisa, quando precisamos fazer uma reunião e pedir alguma coisa, eles sempre resolvem.
5 Celso e Ivete boa as relações são boas, eu vou lá e
estávamos com um problema de
71
sou bem recebido; dão assistência e todos lá tratam bem
ônibus, queriam cortar o ônibus e as bancas andam meio quebradas
6 Eurival e Maria Carmelita normal eles dão assistência, nós nos tratamos bem e temos muita amizade com eles; quando precisamos deles, somos atendidos.
a prefeitura ajuda com transporte e quando participávamos do Pró-orgânico eles davam assistência.
6 Sinval ninguém se ajuda, são todos independentes, ninguém confia em ninguém, há falta de união
não tem nenhuma relação com os técnicos do ITESP; não tem assistência; a última vez que foram no sítio faz dois anos.
com o pessoal da prefeitura a relação é complicada, com alguns se relaciona, com outros não; o problema maior é que eles não deixam vender todos os produtos que posso trazer, por exemplo, fabricação de farinha de mandioca e polvilho.
6 Maria Aparecida boa é mais ou menos, não dão assistência, de vez em quando vão lá levar alguma cobrança.
a relação é boa, ajuda no transporte com o caminhão; fazem direito o transporte das coisas
6 Clemência nos relacionamos bem
não vão no lote, só vão para entregar algum papel, pessoalmente não temos problemas com eles, as relações são boas, normalmente dão plantão uma vez por semana (terça-feira) no assentamento. Ela relatou que entende que por serem muitos assentados fica difícil atender todos.
não tem problemas
6 Alaíde relações boas faz tempo que não vão no sítio; passam na rua; do ponto de vista pessoal a relação é boa.
a relação é boa; os meus produtos não impedem de vender nada.
6 Maria Antonia de Jesus nos ajudamos vão pouco no lote não tem problemas
Analisando a Tabela 4, podemos perceber que a maioria mantém entre eles uma boa
relação. Apesar de a Tabela ser ilustrativa por si só, ressaltamos alguns pontos na seqüência.
72
Vários dos participantes declararam que costumam - no âmbito da feira - olhar
as bancas em conjunto; alguns chegam a delegar aos companheiros a realização de
serviços externos, tais como pagamento de contas, compra de marmitex, depósitos
bancários, etc. Existe, particularmente, um grupo do núcleo quatro que tem graus de
parentescos e além das relações sociais na feira, eles têm relações de cooperação no
próprio assentamento. As práticas desse grupo e a construção de códigos de
reconhecimento social - relacionados à matriz da economia moral - foram analisadas em
dissertação de mestrado (BARONE, 1996).
Tendo em vista o ITESP, as relações com os técnicos e outros integrantes que
vão até o assentamento são boas. A opinião sobre a assistência técnica é diversa, vai
desde relatos de que não há assistência técnica nenhuma a relatos de que a assistência
técnica é boa e, quando precisam, são correspondidos. Tais relações vêm sofrendo uma
alteração ao longo desses vinte e um anos de existência desses projetos. Passaram por
relações de hostilidade, de conflito, de indiferença, de confiança. Uma discussão de tais
relações pode ser encontrada em BARONE (2000, 2002)
Com os representantes da Prefeitura, normalmente as relações também são boas.
Os produtores reconhecem o apoio dado pela Prefeitura cedendo o transporte, as bancas
e o espaço público. Contudo, no contato com os representantes da Prefeitura, que na
maior parte do tempo acontece na feira, ocorrem alguns conflitos quando os feirantes
trazem para vender alguns produtos cuja venda não é permitida, ou quando infrigem
alguma regra estabelecida, como, por exemplo, a falta de uniforme e identificação. A
proibição de venda de alguns produtos tais como ovos, frango caipira, abóbora ou
mandioca descascadas causa um descontentamento entre os produtores que reclamam
da fiscalização e de uma falta de apoio e presença maior da Prefeitura.
73
Pelo exposto, notamos que, de uma forma geral, existe uma boa relação entre
assentados, técnicos do ITESP e representantes da prefeitura. Entre os assentados, a feira
permite certa cooperação entre eles, fato que contrasta com as idéias de cooperativas e
associações que normalmente não dão certo dentro dos assentamentos; talvez porque
nas cooperativas, as regras sejam impostas e, na feira, acontecem naturalmente. A
assistência do ITESP deixa a desejar, dado o número de assentados/técnicos e pelo fato
de ainda não estar voltada para a diversidade desses produtores. Com relação ao apoio
da Prefeitura, é muito importante o transporte, o espaço público e a cessão das bancas,
mas falta um acompanhamento e um estudo da viabilidade de venda de produtos um
pouco mais processados, como no caso da mandioca ou abóbora descascadas; falta,
também, um diálogo maior de todo o grupo da área de gestão de atividades
agroindustriais, que coordena a feira com os produtores, discutindo o porquê da
proibição da venda de certos produtos. Falta igualmente uma clara definição na agenda
municipal, da relação possível entre assentamentos e desenvolvimento local, o que pode
ser constatado pelo descontínuo investimento nos assentamentos, pela demora no
atendimento às prioridades escolhidas no Orçamento Participativo, pelo afastamento
entre o discurso e a prática dos Centros de Desenvolvimento Comunitário, pelas
dificuldades enfrentadas na programação do Projeto Escola do Campo, dentre outras.
4.1.4. Destinação das sobras
Na Tabela 5, a seguir, relacionamos a destinação das sobras da feira.
Normalmente, na feira da Praça Pedro de Toledo, os produtos que sobram são doados
para a Santa Casa de Araraquara e para o Hospital Psiquiátrico Espírita Caibar Schutel.
No Terminal de Integração, as sobras, geralmente, são dadas a funcionários do
74
Terminal; algumas vezes são levadas de volta para dar para criações ou, quando estão
boas, para serem vendidas.
Tabela 5: Destinação de sobras da feira. NÚCLEO ASSENTADO destinação 1 Luzia Babi e Juvenal doa para a Santa Casa e para o Caibar 1 Carlos Alberto e Luciana doa para a Santa Casa e para o Caibar 1 José Parma e família o que dá para agüentar leva para vender, o que não
agüenta doa para Santa Casa 2 Cacilda doa 2 Alvino e Maria da Glória doa para a Santa Casa e para o Caibar 2 Maria Amélia pão não tem sobra; frutas e verduras, quando sobra
doa para funcionários do terminal(*) 4 José Jorge e Neide as vezes leva de volta o que não estraga, o resto doa
para Santa Casa 4 Sebastião Pio e Madalena doa para Santa Casa 4 Antonio Guiraldeli e Denanci doa para a Santa Casa e para o Caibar 4 Pedro Hipólito e Maria Bárbara doa para a Santa Casa e para o Caibar; no terminal as
sobras são deixadas na banca para os funcionários pegarem
4 Maria Miguel --- 4 Valdomiro Gomes as sobras do terminal, leva de volta; as sobras da feira
da praça, doa para Santa Casa e Caibar. 5 Aparecido Domingos e família doa para a Santa Casa e para o Caibar 5 Celso e Ivete doa para a Santa Casa e para o Caibar 6 Eurival e Maria Carmelita doa para a Santa Casa e para o Caibar 6 Sinval não tem sobras 6 Maria Aparecida doa para as pessoas do terminal 6 Clemência quando são legumes aproveita para dar para suas
criações; as verduras doa para as pessoas que trabalham no terminal.
6 Alaíde doa para as funcionárias da limpeza (do terminal) 6 Maria Antonia de Jesus doa para os funcionários do terminal (*) quando falamos de funcionários do terminal, geralmente são para as pessoas que trabalham na limpeza e outros.
Os assentados, por meio da feira, assumem um papel social ao doarem as sobras,
normalmente produtos de boa qualidade. Ajudam, assim, hospitais e pessoas,
estendendo os benefícios dos projetos de assentamento para a sociedade envolvente.
*
O papel da feira para o grupo é, portanto, permitir o escoamento dos produtos
diversificados do sítio, gerando renda aos assentados. Em meio a isso, incentiva a
atividade familiar e cria relações entre eles e outros atores e instituições locais.
75
4.2. A diversificação agrícola e o autoconsumo do grupo.
No lote do assentamento, incluindo a agrovila, como já mencionado (vide tabela
1), mesmo ocorrendo produções mais extensivas como milho, mandioca e cana, é
característico encontrarmos frutas, hortas e culturas diversas também; o que nos permite
dizer que ocorre diversificação agrícola no grupo estudado.
A diversidade de bens, alimentos, produzidos dentro dos lotes, tem a feira como
um canal para serem comercializados; a feira, nesse sentido, pode até incentivar o
aumento da produção, uma vez que ela traz aos assentados rendimentos financeiros. A
ocorrência da diversidade é, por outro lado, uma importante fonte de abastecimento das
necessidades da família, isso porque, com ela, as famílias têm uma variedade de
alimentos a sua disposição. Isso dá a esse espaço rural um nível de bem estar e
qualidade de vida que não seria possível se a propriedade estivesse toda ocupada com
uma só cultura e essas pessoas, com a renda, comprassem nos mercados urbanos, os
seus alimentos. O assentado, ao produzir, não gera somente renda para viver, ele produz
parte de sua alimentação.
Poderia, então, essa situação tão peculiar aos assentados ser chamada de
autoconsumo e a mesma ser considerada como uma estratégia de sustentabilidade? O
termo “produção para autoconsumo” (FERRANTE e SANTOS, 2003) normalmente
está voltado para produções que se destinam especificamente para o consumo da casa.
Neste estudo nos deparamos com a seguinte situação: algumas poucas famílias
entrevistadas declararam terem pequenas produções destinadas exclusivamente para o
consumo da casa (cf. Tabela 6, adiante); todas declararam que parte do consumo da
família vem de produtos por elas mesmas produzidos. Assim, não podemos afirmar que
76
todos têm “produção para autoconsumo”, mas o autoconsumo do que é produzido é
peculiar em todas as famílias (até mesmo porque não há sentido em se comprar algo que
se tem à disposição)16.
Na Tabela 06, a seguir, levantamos quanto, proporcionalmente, do consumo
doméstico vem da propriedade. Em alguns casos as famílias não souberam precisar
quanto do que produzem se destina a seu consumo familiar, mas todas afirmaram que
parte do que produzem se destina ao consumo de sua casa. A tabela ainda relaciona o
que cada família compra de fora. Nesse caso estamos tratando especificamente da parte
de alimentação. De certa forma, todos afirmaram que produtos de higiene, limpeza,
vestuário e outros são normalmente comprados. Algumas famílias conseguiram nos
especificar o que particularmente produzem somente para consumir. Tal dado será
discutido no conjunto da análise da tabela.
As questões do questionário contempladas e que se encontram inter-relacionadas
na tabela 6 são: questão 37 (Auto consumo?); questão 38 (Consome o que planta?);
questão 39 (O que compra de fora para comer?). Vejamos a tabela:
Tabela 6: Relação entre o que produz/consome e o que compra de fora. NÚCLEO
ASSENTADO produtos declaradamente produzidos para autoconsumo
consome os alimentos que produz? quanto (%)
principais produtos alimentícios que compra fora
1 Luzia Babi e Juvenal faz sabão 50 óleo, arroz, açúcar, algumas vezes carne
1 Carlos Alberto e Luciana planta feijão sim carne, arroz, farinha de trigo, fubá, óleo
1 José Parma e família cria uns 12 frangos de granja por mês
70 arroz, feijão, carne
2 Cacilda --- 50 arroz, feijão, açúcar, café, macarrão, óleo
2 Alvino e Maria da Glória --- 50 arroz, óleo, batata, macarrão, carne
2 Maria Amélia planta alface, cebolinha e cheiro-verde, frutas do seu quintal
sim vários, exceto carne, ovos, feijão e coisas da horta
16 A este respeito há um longo e rico debate sobre a inserção do autoconsumo nos componentes de renda dos
assentados. Ver ROMEIRO et al. (1994), GUANZIROLI (1996), FERRANTE e SANTOS (2003).
77
4 José Jorge e Neide --- sim arroz, feijão, açúcar, sal
4 Sebastião Pio e Madalena --- 70 arroz, açúcar, sal, café, uma vez ou outra óleo
4 Antonio Guiraldeli e Denanci --- 50 arroz, açúcar, sal, café, óleo, carne
4 Pedro Hipólito e Maria Bárbara --- 30 arroz, óleo, mistura 4 Maria Miguel --- sim arroz, açúcar, sal 4 Valdomiro Gomes --- 40 arroz, óleo 5 Aparecido Domingos e família --- sim arroz, feijão, açúcar,
sal, carne 5 Celso e Ivete --- 40 arroz, óleo, feijão,
mistura 6 Eurival e Maria Carmelita --- 60 arroz, feijão e carne 6 Sinval --- 50 arroz, feijão, açúcar,
óleo, café 6 Maria Aparecida --- sim óleo, açúcar, sal 6 Clemência --- 50 arroz, café, açúcar,
mistura 6 Alaíde --- sim arroz, café, óleo,
açúcar, mistura, trigo 6 Maria Antonia de Jesus --- sim café, mistura, arroz,
feijão, óleo, sal, trigo
Pelos dados declarados, apresentados na Tabela 6, notamos que o autoconsumo
ocorre em todas as famílias. Oito delas não souberam especificar em que proporção do
consumo total de alimentos elas consomem o que produzem, e, em qual proporção
compram de fora. Mas essas oito famílias têm nas propriedades variedades de frutas, de
verduras e de outros alimentos; assim podemos considerar que, mesmo não
especificando a proporção, o autoconsumo atinge valores razoáveis na demanda da casa.
Os demais conseguiram nos dar uma proporção aproximada de seu
autoconsumo. A família que menos utiliza o que produz declarou fazê-lo em 30%. Duas
famílias declararam que 70% do consumo são elas que produzem; esse foi o maior valor
encontrado. Das famílias que declaram a proporção, para seis delas, o valor mais
comum foi de 50%.
Também perguntamos para essas famílias quais são os principais alimentos que
compram de fora. Os alimentos mais citados foram: óleo, arroz, açúcar, carne (mistura).
Também foi citado, mas com menos incidência, farinha de trigo, fubá, macarrão, ovos,
sal, café. Dos principais alimentos citados, o açúcar é caracteristicamente um produto
78
industrializado que os assentados têm dificuldades para produzir; o óleo, algumas vezes,
é substituído por banha de porco produzida pelo próprio assentado, mas não é algo
muito comum; o arroz, várias famílias nos disseram que já produziram, mas não o
fazem atualmente por causa do transporte e beneficiamento desse produto. Fica mais
oneroso para o assentado produzir do que comprar de fora, além do que, a qualidade do
comprado costuma ser melhor; mistura em geral, o assentado tem dificuldade de manter
um abastecimento próprio por períodos longos de tempo. Eles até consomem galinhas,
ovos e - em menor proporção - gado de produção própria, mas o que ocorre
normalmente é que esse produto é comprado.
Nesse sentido, podemos dizer que o autoconsumo, fruto da diversidade de
produtos agrícolas produzidos (cuja distribuição tem na feira seu mais importante
espaço) corresponde a uma parcela substancial das necessidades de alimentos dessas
famílias; sendo comprado fora apenas o que eles têm dificuldades de produzir.
79
4.3. Aspectos da sustentabilidade no processo de produção.
O que pretendemos neste tópico é analisar alguns aspectos do processo de
produção agrícola no sítio e relacionar à idéia de sustentabilidade ambiental.
Entendemos, como CAPORAL e COSTABEBER (2004), que o lote agrícola é mais
sustentável na medida em que preserva as condições químicas, físicas e biológicas do
solo; o que melhora e mantém a biodiversidade das reservas e dos mananciais hídricos,
preservando os recursos naturais como condição essencial para a continuidade dos
processos de reprodução socioeconômica e cultural das gerações.
Com as tabelas a seguir procuramos identificar como é o processo de produção
dos bens vendidos na feira. Para fazer isso, arrolamos os meios de produção, os tipos de
insumos utilizados e a destinação do lixo. Além disso, identificamos a relação desses
produtores com o plantio extensivo de cana, cultura que, da maneira comercial como é
plantada para abastecimento das usinas da região, claramente inibe a biodiversidade em
áreas amplas da paisagem. Consideramos esses aspectos importantes para analisarmos a
sustentabilidade ambiental do grupo que participa da feira.
4.3.1. Recursos (maquinários, hídricos, solo) para a produção.
Nesta tabela traçamos um panorama dos instrumentos de trabalho que os
assentados declararam ter em seu lote, incluindo aí os recursos hídricos e a qualidade do
solo. A questão contemplada na Tabela 7 é a questão 19 (Que tipo de recursos possui
no lote? Maquinário? Hídricos? Solo).
80
Tabela 7: Estrutura e recursos dos participantes da feira. NÚCLEO
ASSENTADO maquinários hídricos solo
1 Luzia Babi e Juvenal 1 carroça, 1 carpideira
água vem do córrego
ruim
1 Carlos Alberto e Luciana 1 carroça, 1 arado de tração animal
tanque para irrigação
ruim
1 José Parma e família 1 trator com acessórios, 1 carroça
cacimba (poço) fraco
2 Cacilda não tem tanque abastecido com água do córrego
bom
2 Alvino e Maria da Glória 1 trator com grade e arado
água vem da mina
não soube dizer a qualidade do solo
2 Maria Amélia não tem água vem do córrego
boa (foi corrigida com esterco)
4 José Jorge e Neide 1 carroça, 1 plantadeira, 1 arado; todos de tração animal
água do córrego abastecido através de roda de água
péssimo
4 Sebastião Pio e Madalena 1 trator com acessórios e bomba de irrigação, 1 carroça
água de mina e cacimba (poço)
bom
4 Antonio Guiraldeli e Denanci não tem água de poço bom 4 Pedro Hipólito e Maria Bárbara 1 carpideira
(mas não usa) roda de água médio
4 Maria Miguel 1 arado, 1 carroça, 1 charrete
água da represa que está perto do lote
bom
4 Valdomiro Gomes 1 trator com acessórios e tanque para irrigações
não tem água no lote, a água vem de poço da agrovila
péssimo
5 Aparecido Domingos e família 1 trator e acessório, 1 carroça
poço semi-artesiano, tanque de água
corrigido com calcário
5 Celso e Ivete 1 trator pequeno, 2 carroças, 1 charrete
tanque abastecido por mina
médio
6 Eurival e Maria Carmelita 1 arado de tração animal
o lote é irrigado por um canal que trás água do rio
bom
6 Sinval 2 barracões, 1 estufa
canal do córrego Monte Alegre
médio
6 Maria Aparecida 2 caminhões, 1 carroça
poço puxado a bomba
médio
6 Clemência 1 carroça, 1 arado
poço e mina, e possui um tanque de água
médio
6 Alaíde 1 perua (usa só no assentamento), 2 estufas
do rio que abastece uma represa e fornece água para as estufas
bom
6 Maria Antonia de Jesus 1 carroça, 1 arado animal
rio e poço bom
81
Observando a Tabela 7, percebemos que a maior parte do grupo não possui
maquinários motomecânicos (ou seja, tratores e outros); ao todo, doze entrevistados não
têm esses maquinários, sendo que nove declaram ter instrumentos de trabalho de tração
animal, tais como arado, carroça, plantadeira. Desses doze, outros três declaram não ter
maquinário algum (seja motomecânico, seja de tração animal). Os oito entrevistados
restantes declararam terem um trator ou outro maquinário mecânico.
Do ponto de vista da capitalização do grupo, podemos dizer que os que têm
tratores e/ou outros equipamentos (40%) podem estar mais capitalizados para continuar
produzindo. Vale notar, contudo, que se por um lado 60% dos entrevistados se mostram
menos capitalizados, por outro lado tendem a utilizar menos equipamentos que
consomem combustíveis fósseis, emitindo assim menos CO2 na atmosfera, o que pode
contribuir para a sustentabilidade agrícola/ambiental. Não descartamos aqui a hipótese
de que, quem não tem trator deixe de usá-lo, pois, pelas declarações, vários desses
disseram que quando precisam costumam “alocar horas” de uso (mas só usam “horas-
máquinas” quando precisam: o uso do equipamento mecânico não é uma constante).
Na maioria dos casos (cerca de 75%), a água que abastece o sítio vem de
córregos que passam dentro ou próximo do sítio. Existem lotes que possuem tanques
que acumulam água que servem para a irrigação do sítio; a irrigação é feita através de
canais ou com a utilização de bombas. No caso do Sr. Pedro e do Sr. José Jorge, por
exemplo, a água de um córrego que está fora do lote é trazida para o sítio por meio de
uma roda de água. Em conversas com os técnicos do ITESP que acompanham os lotes
do grupo aqui em questão, foi nos dito que a maioria dos tanques (abastecidos por água
de minas ou de canais vindo de córregos) foram construídos através de projetos feitos
pelo ITESP e, assim, estão devidamente regularizados junto aos órgãos ambientais. Os
82
assentados que não utilizam água de córrego ou mina (cerca de 15% restante)
normalmente utilizam água proveniente de cacimbas (poço rudimentar); somente um, o
Sr. Aparecido, declarou que o abastecimento de água no lote é feito por um poço semi-
artesiano.
Quanto à qualidade do solo, sistematizamos no Gráfico 5, que segue, os
julgamento feitos pelos assentados, ressaltando que no item “bom” foram incluídos os
que disseram que corrigiram o solo, e, no item “ruim” foi colocado quem declarou que o
solo é “péssimo” ou “fraco.
Gráfico 5: Qualidade do solo.
Considerando que 40% possuem trator e outros, que 45% possuem
equipamentos de tração animal, que 75% têm disponibilidade de água (córrego ou
mina), e que 70% dos entrevistados consideram seu solo “bom” ou “médio”, podemos
dizer que as condições de infra-estrutura do grupo aqui estudado não são excelentes,
mas estão dentro de um padrão satisfatório.
Pensando que a infra-estrutura é um fator de estabilidade econômica e que a
estabilidade econômica pode estar intimamente ligada à estabilidade ambiental, isso
não soube responder; 1;
5%
ruim; 5; 25%
médio; 5; 25%
bom; 9; 45%
83
levando-se em conta que à medida que as pessoas estão com suas necessidades básicas
satisfeitas, existe a tendência a se preocupar mais com as questões ambientais e explorar
de forma mais racional o meio que as cercam, podemos considerar que o padrão
satisfatório do grupo pode lhes permitir serem mais sustentáveis. Além disso, o padrão
satisfatório, garantido pelo acesso relativamente fácil à água e um solo de “médio” a
“bom” propicia práticas ligadas ao cultivo de hortas, de onde saem os principais
produtos vendidos na feira.
4.3.2. Utilização de insumos.
Os insumos utilizados na produção, particularmente na horta, podem nos indicar
o quanto a forma de produção é mais natural ou não nas práticas agrícolas realizadas
pelo grupo estudado. Na Tabela 8, buscamos traçar essa relação. As questões do
questionário contempladas na tabela 8 são: questão 23 (Que tipo de insumos utiliza?
Adubo? Defensivos?); questão 31 (Realiza algum tipo de manejo (reaproveitamento)?).
Observemos a tabela:
Tabela 8: Utilização de insumos na produção. NÚCLEO ASSENTADO natural químico manejo
(reaproveitamento das sobras)
1 Luzia Babi e Juvenal esterco de gado, de galinha, cal, cobertura morta
sim utiliza os restos vegetais em canteiros e também dá para criações
1 Carlos Alberto e Luciana esterco de gado, cama de frango
não trata as criações, usa para esterco, faz compostagem
1 José Parma e família esterco de gado sim não faz 2 Cacilda esterco de gado sim utiliza os restos
vegetais como adubo
2 Alvino e Maria da Glória esterco de gado sim utiliza como adubo as folhas e restos de plantas
84
2 Maria Amélia esterco de porco
não matos, folhas e cascas são amontoadas para usar como adubo
4 José Jorge e Neide esterco de curral
não junta o mato, espera apodrecer e coloca nos canteiros
4 Sebastião Pio e Madalena esterco de gado sim comidas e vegetais joga para os porcos; matos e outros reaproveita na terra
4 Antonio Guiraldeli e Denanci esterco de curral, cama de frango
não os restos vegetais são juntados, espera decompor e coloca nas plantas
4 Pedro Hipólito e Maria Bárbara esterco de galinha
sim restos vegetais são dados para criação
4 Maria Miguel esterco de gado e de frango
sim usa mato, cascas e restos de frutas como esterco
4 Valdomiro Gomes esterco de gado sim coloca mato capinado nas plantas
5 Aparecido Domingos e família cama de frango, esterco de curral e folhas
não utiliza o mato roçado como cobertura morta
5 Celso e Ivete esterco de gado e urina de vaca
não mistura as folhas e os ciscos na terra
6 Eurival e Maria Carmelita forragens e esterco de vaca
não utiliza forragem na horta
6 Sinval esterco de gado não coloca capim em leira e põe nos pés de laranja
6 Maria Aparecida esterco de gado, cama de franco
sim restos de plantas comestíveis dá para os porcos, mato não utiliza
6 Clemência esterco de curral, cama de frango, urina de gado
não palha e cascas utiliza como adubo e o mato faz compostagem
6 Alaíde esterco de gado sim deixa matos e outros secar e encosta nas plantas; restos de alimentos dá para os bichos.
6 Maria Antonia de Jesus esterco de vaca sim utiliza os restos com as criações e como adubo
85
Todos os entrevistados declararam que o principal insumo utilizado para
produzir os alimentos vendidos na feira é de origem natural. Na feira os produtos mais
ofertados vêm da horta e dos “pés de frutas” mantidos no sítio/agrovila, logo é comum a
utilização de esterco de gado ou de galinha na horta.
Os restos vegetais costumam, também, ser reutilizados como adubo. Os
assentados costumam deixar apodrecer matos, folhas, etc, misturando-os, em seguida,
nos canteiros. O mato também costuma ser amontoado nos pés das árvores frutíferas,
servindo como adubo para elas. Uma outra prática é utilizar os restos de alimentos para
tratar das criações (porcos, galinhas, patos, etc). Percebemos, então, que ocorre nessas
áreas, um manejo mais sustentável da produção vegetal.
Nesse sentido, a fertilização do solo que se destina à produção de alimentos é
realizada através de estercos de animais e com restos vegetais, tendo, portanto, como
principal fonte de nutrientes adubos naturais.
A utilização de adubos químicos também é prática comum entre os assentados
do grupo estudado. Durante as entrevistas, quando perguntados sobre que adubos
utilizam, foi comum, ao responderem, a separação entre horta e roça. Na horta,
normalmente, os entrevistados declaram usar estercos de animais, e, na produção de
milho, laranja e outros plantios mais homogêneos, declararam utilizar adubos químicos.
A relação dos que de alguma forma utilizam adubos químicos e dos que declaram não
utilizar se encontra no Gráfico 6.
86
Gráfico 6: Utilização de adubos químicos.
O manejo dentro do sítio é prática comum entre os entrevistados, com exceção
da família do Sr. José Parma que disse que não faz. Do ponto de vista da utilização de
insumos, observamos, então, que os produtos vendidos na feira, quando vêm da horta, ou
mesmo frutas, tendem a ser produzidos de maneira mais natural; porém não descartamos
que possa ocorrer o uso de adubos químicos nessas plantações, até porque parte dos
assentados do grupo estudado costuma ter adubos químicos para uso nas roças.
4.3.3. Utilização de defensivos agrícolas.
Neste item relacionamos a utilização de defensivos agrícolas naturais e
químicos, levantando os tipos de produtos que cada assentado do grupo estudado utiliza
no combate a possíveis pragas agrícolas. O item, assim, contribui para podermos
analisar o quanto são saudáveis ou não os alimentos produzidos por eles e destinados à
venda na feira. As questões do questionário contempladas, direta ou indiretamente, são:
questão 23 (Que tipo de insumos utiliza? Adubo? Defensivos?); questão 24 (Como
faz o manejo do defensivo?); questão 25 (Onde costuma armazenar?); questão 26 (O
não utiliza ; 9; 45%
utiliza ; 11; 55%
87
que faz com as embalagens?); questão 27 (Conhece a ação do defensivo/inibir
plantio, efeitos?). Vejamos a tabela:
Tabela 9: Práticas e usos de defensivos. NÚCLEO ASSENTADO naturais químicos utilização de
defensivos químicos fora da área de produção
1 Luzia Babi e Juvenal - preparo com folhas de Santa Bárbara, couve, água de mandioca e fumo; - planta flores em volta dos canteiros para tirar borboletas
não mata mato
1 Carlos Alberto e Luciana bordalesa(*) não --- 1 José Parma e família não na laranja usa
enxofre, perfective, torq;(*) usa também um defensivo químico na manga
---
2 Cacilda não não ---
2 Alvino e Maria da Glória não usou para o pulgão
---
2 Maria Amélia o controle do mato no quintal é feito por carpa (agrovila)
usou mata mato na cana
---
4 José Jorge e Neide não tamarão(*) rondup na cerca 4 Sebastião Pio e Madalena não utiliza para
combater o cochonilha(*)
rondup na cerca
4 Antonio Guiraldeli e Denanci curte folhas de planta com água e aplica
usa rondup para conter o mato
---
4 Pedro Hipólito e Maria Bárbara não tamarão e rondup (*)
---
4 Maria Miguel não mata mato e tamarão
---
4 Valdomiro Gomes calda de fumo titâneo na laranja
---
5 Aparecido Domingos e família não grifosato --- 5 Celso e Ivete folhas de Santa
Bárbara com fumo para combater pulgão
--- ---
6 Eurival e Maria Carmelita produto natural para espantar os bichos (ninho)
não ---
6 Sinval urina de vaca, com fumo e sabão
não ---
88
6 Maria Aparecida mistura de fumo com urina de vaca e cinza, para combater pulgão
não mata mato para controlar o mato da cerca
6 Clemência não decis(*) --- 6 Alaíde urina de vaca
com fumo rondup para controlar o mato
---
6 Maria Antonia de Jesus não não está utilizando
---
(*) Bordalesa: “A calda bordalesa é um tradicional fungicida agrícola, resultado da mistura simples de sulfato de cobre, cal hidratada ou cal virgem e água”. Disponível em: http://www.cati.sp.gov.br/novacati/tecnologias/producao_agricola/calda/calda_bordalesa.htm. Acesso em: Fev/2007. Perfekthion: inseticida organofosforado produzido pela Basf. Torque: acaricida de suspensão concentrada, produzido pela Basf. Tamarão: inseticida e acaricida, organofosforado, sistemico, produzido pela Bayer. Roundup: herbicida, componente ativo: glifosato, produzido pela Monsanto. Decis: inseticida de contato, piretróide, produzido pela Bayer. Cochonilha: inseto que suga a seiva das plantas.
Pela Tabela 9 e pelo Gráfico 7, que se encontram na seqüência, percebemos que
50% dos entrevistados declararam controlar o ataque de pragas e o crescimento do mato
com algum tipo de prática natural. Dessas pessoas que realizam práticas naturais,
algumas delas também fazem uso de defensivos químicos. A Sra. Luzia, por exemplo,
declarou fazer um preparado natural com folhas de planta e fumo para colocar na horta,
além disso planta flores em volta dos canteiros para não deixar as borboletas irem nas
verduras, por outro lado essa mesma senhora usa mata-mato para conter o mato da
cerca. Como no caso dela, vários dos que utilizam defensivos naturais utilizam para
controle do mato algum produto, geralmente, a base de glifosato. Dos dez entrevistados
que declaram usar defensivos naturais, menos da metade (quatro) declarou não usar
nenhum defensivo químico.
89
Gráfico 7: Utilização de defensivos.
O defensivo químico é utilizado, de alguma forma, por 75% dos entrevistados;
30% dos entrevistados utilizam defensivos químicos nos alimentos que produz, outros
45% utilizam o produtos químicos para controle do mato. O casal Celso e Ivete não
informou se usa ou não produtos químicos.
No geral, é interessante notar como a prática dos assentados do grupo em
questão está direcionada para o uso de produtos químicos, particularmente no combate
ao mato. Por outro lado, é interessante notar também a presença significativa de práticas
naturais de combate às pragas. Acreditamos, assim, que a presença do controle por meio
de práticas naturais no assentamento confere certa peculiaridade à produção dos
assentados do grupo, contribuindo para a sustentabilidade ambiental.
4.3.4. A destinação do lixo.
Essa questão nos parece relevante porque se trata de uma área rural onde, na
maior parte, não há coleta de lixo, embora seus ocupantes não deixem de consumir
produtos urbanos. O consumo de produtos urbanos no sítio faz com que, por exemplo, a
destinação das embalagens não seja adequada, podendo prejudicar o espaço rural onde
ocorre a produção de alimentos que são vendidos nas feiras.
10 10
0
15
4
10
5
10
15
20
natural químico
utilizanão utilizanão informou
90
Uma outra questão relevante, relacionada ao tema, também é a destinação das
embalagens de defensivos, que, quando não destinadas aos locais corretos de
recolhimento, podem contaminar o meio ambiente.
Assim, neste tópico, buscamos analisar a destinação do lixo comum e das
embalagens de defensivos, considerando esses como fatores relevantes na qualidade e
segurança dos alimentos que são vendidos na feira, e, por outro lado, buscando
diagnosticar possíveis erros de manejo de embalagens que podem comprometer a
situação ambiental do assentamento.
As questões contempladas e que se encontram inter-relacionadas na tabela 10
são: questão 26 (O que faz com as embalagens?); questão 29 (Para onde vai o lixo?).
Analisemos a tabela:
Tabela 10: Destinação do lixo. NÚCLEO
ASSENTADO lixo doméstico embalagens de defensivos
1 Luzia Babi e Juvenal coloca num buraco e põe fogo
são guardadas para serem reutilizadas
1 Carlos Alberto e Luciana parte queima, outra parte junta e vende (lata, plástico e papel)
devolve onde comprou
1 José Parma e família queima ou enterra entrega no local da compra 2 Cacilda o lixo da agrovilla vai para
a caçamba da prefeitura, no lote não tem lixo doméstico
não tem
2 Alvino e Maria da Glória põe num buraco do quintal ficam guardadas num quartinho
2 Maria Amélia o que dá para queimar é queimado, latas e vidros têm que ser jogados num buraco
não declarou
4 José Jorge e Neide queima devolve ao fornecedor, as de rondup as vezes utiliza para colocar combustível
4 Sebastião Pio e Madalena queima queima 4 Antonio Guiraldeli e Denanci coloca num buraco e
queima não sobrou nenhuma embalagem, quando tiver vai devolver na casa onde comprou
4 Pedro Hipólito e Maria Bárbara
tem buraco onde deposita o lixo do lote
devolve na loja onde comprou
4 Maria Miguel deposita num lugar no sítio guarda (quase não tem) 4 Valdomiro Gomes põe num buraco e queima guarda e enterra 5 Aparecido Domingos e família queima separa e devolve onde
comprou 5 Celso e Ivete queima não tem 6 Eurival e Maria Carmelita põe num tambor e queima não tem
91
6 Sinval joga num buraco não tem 6 Maria Aparecida queima entrega na comapa 6 Clemência coloca na caçamba de
coleta junta e entrega onde comprou
6 Alaíde joga num buraco joga longe ou queima 6 Maria Antonia de Jesus faz buraco e enterra enterra
Conforme explicitado na Tabela 10, na questão do lixo doméstico, a maioria dos
entrevistados declarou queimá-lo, alguns declararam que costumam enterrar o que não
pode ser queimado. Em um dos casos, o Sr. Carlos Alberto, declarou que, no caso de
lata, plástico e papel, costuma juntar e vender. É comum aos assentados jogarem o lixo
em um buraco no sítio, neste caso alguns queimam, outros não. Uma minoria tem
contato com caçambas da Prefeitura de Araraquara, onde depositam o lixo que
posteriormente é recolhido pela Prefeitura.
O manejo do lixo se mostra problemático porque, na maioria dos casos, deixa
resíduos no sítio, seja os restos da queima, seja as coisas que não podem ser queimadas
e são enterradas. Não nos esquecendo que também, o próprio ato de queimar, mesmo
sendo em pequena escala, contribui para a contaminação do ar.
Para a análise da destinação das embalagens de defensivos agrícolas utilizamos a
Tabela 10, já descrita anteriormente, e o Gráfico 8. Vejamos o gráfico:
Gráfico 8: Destinação das embalagens de defensivos
não declarou; 1; 5%
entrega; 8; 37%
não tem; 4; 18%
queima; 2; 10%
enterra; 2; 10%
guarda; 2; 10%
reutiliza; 2; 10%
93
que o esgoto da cozinha é lançado na terra (a “céu aberto”). Uma outra declaração
comum foi a de que a fossa localiza se longe da casa e de fontes de água.
Percebemos assim que apesar de não haver um tratamento adequado do esgoto,
existe no grupo certa preocupação com as questões de saneamento e contaminação da
água.
4.3.6. Relações do grupo com o plantio de cana.
Na Tabela 11, levantamos os integrantes do grupo estudado que plantam cana e
os que não plantam. Considerando que a cana gera uma renda extra a esses produtores,
identificamos o destino dado a essa renda. Se por um lado a renda da cana é importante
para o assentado, por outro, a cana, plantada extensivamente, contribui para uma menor
diversidade do sítio, o que ambientalmente é ruim.
Tabela 11: Relações do grupo com o plantio de cana NÚCLEO ASSENTADO planta
cana? data da primeira safra
valor que recebeu
destino da renda
1 Luzia Babi e Juvenal plantou (7ha) em 2005
setembro/2006
líquido mesmo até o momento,afirmou que deu uns dez mil reais; relatou que a TR comeu boa parte dos valores(*)
fez um poço artesiano, fez um mangueiro para porco, investiu na casa do lote (**)
1 Carlos Alberto e Luciana plantou em 2004 (2,5ha)
meio de 2005
não soube informar
investiu no sítio, entre outras coisas construiu uma estufa
1 José Parma e família plantou para muda (1,5 ha) em fev/2006
ainda não teve safra
- -
2 Cacilda não - - -
94
2 Alvino e Maria da Glória (Sr. Alvino relatou que já plantou milho, mandioca e só dava para viver; com a cana foi a única vez que sobrou dinheiro para fazer outras coisas).
faz cinco anos que plantou cana, antes eu fazia pinga, agora vendo para a usina (7ha)
não soube dizer
ainda não calculou
investiu no sítio, construiu cerca, investiu em gado, ampliou a casa e investiu em casas que tem na cidade
2 Maria Amélia plantou (7ha) em 2004
julho/2005 35.000,00 construiu uma casa no sítio para ela e está mobiliando
4 José Jorge e Neide plantou (7ha) em 2005
setembro/2006
não sabe dizer
investiu na cana, comprou semente de milho e adubos, investiu para melhorar a produção de verduras e investiu na própria cana (**)
4 Sebastião Pio e Madalena não - - - 4 Antonio Guiraldeli e Denanci não - - - 4 Pedro Hipólito e Maria Bárbara não - - - 4 Maria Miguel plantou
(4ha) em 2004
já teve primeira safra
não informou
não informou
4 Valdomiro Gomes plantou em fev/2006 (7ha)
ainda não teve
- -
5 Aparecido Domingos e família não - - - 5 Celso e Ivete não - - - 6 Eurival e Maria Carmelita não - - - 6 Sinval não - - - 6 Maria Aparecida não - - - 6 Clemência não - - - 6 Alaíde não - - - 6 Maria Antonia de Jesus não - - - (*) Pelo que o produtor informou, os custos do plantio da cana foram corrigidos pela TR, o que diminuiu parte do seu recebimento. (**) Estes produtores tiveram safra de cana posteriormente à coleta dos dados da pesquisa; foram incluídos porque achamos importante relatar a destinação dada à renda ganha. Esses dados foram coletados em dezembro/2006.
95
Observando a Tabela 11, percebemos que a maior parte do grupo estudado (12
famílias) não plantou cana, em contrapartida a uma menor parte (8 famílias) que plantou
cana. Do grupo estudado, todos do núcleo cinco e seis do Assentamento Monte Alegre
não plantaram cana, enquanto todos do núcleo um plantaram cana. Do núcleo dois, de
três participantes da feira, dois plantaram cana, e, do núcleo quatro, de seis participantes
da feira, três plantaram cana18.
Tendo em vista os que plantaram cana, seis famílias já tiveram safra e duas ainda
não. Quem teve safra de cana, e então teve renda, utilizou a renda, principalmente, para
investimento no sítio, seja para produzir (construção de estufas, compra de adubos,
etc.), seja na melhoria da infra-estrutura geral (construção de poço artesiano, construção
de casa no sítio, etc.).
Algumas declarações, relatadas durante a entrevista, são interessantes de serem
ressaltadas porque demonstram a opção do assentado em plantar cana por causa da
renda e pela facilidade de venda. Um dos entrevistados disse que já plantou milho e
mandioca e mal dava para viver e que a única vez que sobrou alguma renda foi com o
plantio de cana. Da mesma forma, um outro entrevistado, que no momento não planta
cana, declarou que talvez venha a plantar, dado que sua plantação de mandioca para a
indústria (uma plantação com quase três anos e com cerca de sete hectares) não encontra
preço para venda; segundo ele, somente o custo do transporte para levar a mandioca
para a indústria quase fica mais alto do que o que vai receber.
Pelas declarações coletadas, observamos que o plantio de cana gera rendas para
os assentados que, no caso do grupo aqui estudado, muitas vezes são investidas na
18 A partir de dados, referentes ao ano de 2004, coletados no ITESP, chegamos aos seguintes números
sobre o número de famílias que plantam cana nos núcleos do Assentamento Monte Alegre: núcleo I, 61%; núcleo II, 29%; núcleo III, 33%; núcleo IV, 25%; núcleo V, 47%; núcleo VI, 10% (porcentagens aproximadas).
96
melhoria da qualidade de vida no sítio e, também, na infra-estrutura, o que pode ampliar
a diversidade do sítio. Entre os assentados que não plantam cana, alguns se mostram
propensos a plantar no futuro, por causa da renda e porque é uma alternativa a áreas do
sítio que têm outras culturas homogêneas e que são mais difíceis de serem
comercializadas por causa dos preços baixos e das dificuldades para se vender19.
O plantio de cana, assim, gera renda para o assentado, uma renda que pode ser
investida em outras culturas (inclusive a horta), mas por outro lado diminui a
diversidade. A troca de culturas homogêneas (como milho e mandioca) por cana
contribui ainda mais para a homogeneização da paisagem, o que prejudica
ambientalmente a região, diminuindo a sustentabilidade ambiental.
*
A sustentabilidade discutida neste item leva em conta que a estabilidade
econômica permite ao assentado ter uma melhor qualidade de vida; as feiras, gerando
renda, contribuem para esse aspecto. A infra-estrutura (maquinários, água, solo)
contribui para uma melhor produtividade desses sistemas de produção, quanto mais
fácil for o acesso à água e a um solo de melhor qualidade, a produção voltada para a
feira tende a ser maior e de melhor qualidade.
Do ponto de vista dos insumos, se considerarmos que os insumos utilizados na
produção voltada para a feira tendem a ser mais naturais, incluindo aí as formas de
manejos, a feira, além de ser canal de escoamento da produção dos assentados, passa a ser
também um espaço no qual os consumidores urbanos podem encontrar produtos mais
naturais por serem produzidos em pequena escala e com menos insumos
industrializados. Do ponto de vista do uso de defensivos, existe um aspecto negativo: a
19 Ver STETTER (2000, 2004), BAÚ (2001).
98
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo inicial deste trabalho foi discutir se as feiras promovidas pela
prefeitura de Araraquara impulsionam a diversidade de produção agrícola de um grupo
de vinte famílias assentadas no Projeto de Assentamento Rural Monte Alegre.
As vinte famílias participantes da feira entraram no Assentamento Monte Alegre
em diferentes momentos, desde ocupações iniciais em 1985 até a última ocupação por
volta de 1998; há, também, famílias que se integraram recentemente, como o caso de
uma família agregada que está há apenas um ano neste assentamento.
O grupo entrevistado tem no assentamento o seu espaço geográfico de
identificação, muitos estão lá já há muitos anos e é onde alguns criaram os filhos, sendo,
também, o lugar onde muitas famílias reconstruíram sua história de vida. Em algumas
famílias, os filhos saíram de casa para tentar a vida fora, em outras, eles trabalham junto
no sítio, o que torna a mão-de-obra familiar ora maior, ora menor, em algumas famílias.
Embora a mão-de-obra familiar seja predominante no grupo estudado, há, também o uso
de mão-de-obra de terceiros. A produção do assentado gera, assim, trabalho não só para
a família, mas, também, para outras pessoas, geralmente, do próprio assentamento.
O Programa Direto do Campo, criado pela Coordenadoria de Atividades
Agroindustriais da Prefeitura de Araraquara, proporciona aos pequenos produtores
agrícolas da região de Araraquara realizar a venda de seus produtos em locais públicos
como a Praça Pedro de Toledo e o Terminal Urbano de Integração. Além do espaço
público, o Programa Direto do Campo - cede bancas e transporte das mercadorias. O
99
apoio da Prefeitura promove, sem dúvida, uma boa infra-estrutura para os pequenos
produtores que buscam na feira escoar sua produção. Por outro lado, estes últimos cinco
anos de funcionamento do Programa (2002-2006) não foram tranqüilos: o Programa
encontra obstáculos em relação aos comerciantes da cidade que se opõem a produtos
similares aos seus oferecidos pelos feirantes, particularmente os produtos mais
processados. Por ser um programa voltado para pequenos produtores e assentados,
diferentemente das feiras livres da cidade que já estão mais consolidadas, o Programa
sofre uma maior pressão relacionada às condições de higiene e comercialização.
Durante esses anos, também, por várias vezes, o Programa correu o risco de ser
interrompido devido a questões orçamentárias, e ainda devido à transição política da
Prefeitura (eleições municipais de 2004). Os assentados por sua vez reclamam das
limitações impostas a alguns produtos, como, por exemplo, a de não poder vender
produtos já processados (ex. rapadura, farinha de mandioca), produtos agrícolas com
algum grau de processamento (ex. legumes descascados) ou produtos de origem animal
(ex. ovos, queijos). Assim percebemos que tanto os assentados como o órgão gestor das
feiras ainda não conseguiram estabelecer um diálogo claro com metas para o futuro do
Programa, o que pode ocasionar riscos para sua continuidade.
O ITESP, como órgão gestor do Assentamento Monte Alegre, no início do
Programa Direto do Campo, teve seus integrantes participando da discussão do projeto
com diagnósticos do assentamento, intermediando o contato da Prefeitura com o
assentamento e promovendo cursos de capacitação ligados aos objetivos da feira (por
exemplo, um curso de práticas de comercialização e visitas técnicas). Contudo, levando
em consideração as declarações do grupo, a atuação do ITESP no assentamento recebe
críticas de diversas naturezas. Os entrevistados falam que o ITESP atua no
100
assentamento mais como um órgão fiscalizador e administrativo, deixando a desejar na
parte relacionada à assistência técnica; falam também que há falta de divulgação de
informações e eventos, e que os projetos desse órgão estão voltados particularmente
para milho, mandioca, etc. Podemos levantar, assim, a existência de três importantes
fatores aí atuantes: a) o número de técnicos que o ITESP dispõe não é suficiente para
atender ao assentamento como um todo; b) o ITESP, apesar das tentativas, ainda não
conseguiu sair dos projetos padronizados que sempre fez; projetos esses ligados às
lavouras de milho e outros; c) existe uma falta de diálogo e distanciamento entre o
ITESP e os assentados, algo que transparece nas declarações do grupo estudado.
O Programa Direto do Campo, como um todo, gera uma renda corrente para o
grupo entrevistado, o que supre principalmente as necessidades de consumo de bens que
as famílias não produzem. Contudo, a renda da feira nem sempre constitui o total da
renda familiar, sendo complementada, muitas vezes, por rendas provenientes de outras
safras; de rendas vindas de trabalho fora do sítio; e de rendas vindas de aposentadorias,
pensões e outros benefícios sociais. Ressaltamos que, se compararmos a renda da feira
com a renda de safras como laranja, cana, milho e outros, veremos que a renda da feira
serve, principalmente, para manutenção dos gastos correntes do assentado, enquanto
que a renda de safras, normalmente, serve para ser investida no sítio e na melhoria de
qualidade de vida, como, por exemplo, no caso da cana que serviu para algumas
famílias reformarem suas casas ou colocarem alguma infra-estrutura de maior valor no
sítio (por exemplo, estufa, poço artesiano).
A sobrevivência cotidiana da família depende das rendas mencionadas acima e
dos alimentos produzidos no sítio. Os alimentos produzidos no sítio - que podem ser
vendidos na feira ou não - são autoconsumidos, compondo parte da dieta familiar e
101
diminuindo os custos com produtos comprados externamente. Nesse sentido, quanto
mais diversificada for a produção, maior será o autoconsumo dessas famílias.
Salientamos, porém, que não estamos falando em “produção estrita para autoconsumo”
(produção exclusiva para o consumo familiar, havendo excedentes poderá ser vendido),
mas sim em um “autoconsumo” dos alimentos produzidos no sítio (incluem-se aí as
produções voltadas para a comercialização).
Os produtores, produzindo com diversificação, preenchem o espaço do seu sítio
com uma variedade grande de culturas, contribuindo para o equilíbrio ambiental desse
espaço. O espaço ocupado por culturas mais homogêneas, como milho entre outros,
requer maior uso de insumos químicos, o que contribui para que essas culturas sejam
menos naturais e para que diminua a biodiversidade da área. Quando, de culturas de
milho, de pasto, de mandioca, esses produtores passam a plantar cana, além de diminuir
a biodiversidade local contribuem para a homogeneização da paisagem de toda região,
na medida em que o espaço do assentamento era um dos poucos em que o plantio de
cana não estava generalizado.
Embora o fator ambiental seja importante, pelas declarações do grupo
entrevistado, notamos que o fator econômico é preponderante: o que se torna mais
importante para o assentado é a opção pelo plantio de cana tendo em vista que tal
plantio gera uma renda maior do que a de outras culturas homogêneas.
O plantio de cana, no grupo estudado, seja do ponto de vista dos que já
plantaram ou dos que pretendem plantar, está substituindo, normalmente, outras culturas
homogêneas, assim, a produção voltada para a feira (hortas, legumes, entre outros),
nesse espaço rural, ainda não está sendo prejudicada. Nos poucos casos em que o
produtor já obteve renda da safra da cana, identificamos que parte dela foi aplicada no
102
sítio, inclusive na construção de estufas, por exemplo, o que pode até mesmo contribuir
para a produção voltada para a feira.
Na produção voltada para a feira são utilizados, na maioria das vezes, insumos
naturais. Tendo em vista os defensivos, apesar de vários dos entrevistados utilizarem
receitas caseiras e naturais, é pratica comum a utilização de herbicidas para controle do
mato. A destinação das embalagens, nesse caso, nem sempre atende aos padrões
estabelecidos, assim, podemos considerar que, no grupo estudado, existe, mesmo que
em menor número, problemas relacionados à utilização dos defensivos químicos.
A discussão feita neste trabalho girou em torno da hipótese de que a feira,
permitindo o escoamento dos produtos do assentamento, incentiva a diversificação,
contribuindo para a sustentabilidade socioeconômica e ambiental.
A partir do levantamento realizado para este trabalho, pudemos perceber, pela
análise dos dados relativos à renda e ao autoconsumo, que a feira gera uma renda
corrente que garante o sustento cotidiano dessas famílias, complementadas pelo
autoconsumo do que se produz no sítio. Pela análise dos dados relativos à mão-de-obra,
percebemos que a produção familiar, em alguns casos, utiliza mão de obra não-familiar
do próprio assentamento, contribuindo para emprego e meios de sobrevivência de
pessoas externas ao núcleo familiar. E pela análise dos dados relativos à produção
vendida na feira e relativos à destinação das sobras, percebemos que os benefícios de
se ter um lote para produzir chega ao meio urbano através dos alimentos que são
produzidos pelo grupo, no assentamento e distribuídos ou doados no meio urbano.
Assim, não estamos analisando a sustentabilidade sócio-econômica só do ponto de vista
contábil, mas, também, pelo prisma de um maior nível de bem estar e de satisfação das
necessidades básicas.
103
Tendo em vista a sustentabilidade ambiental, pelos dados relativos à
diversidade, que se encontram diluídos no corpo da análise e relativos à utilização de
insumos, pudemos perceber que as produções voltadas para a feira contribuem para a
biodiversidade e sustentabilidade ambiental porque são compostas de diversos tipos de
cultura e produzidas preponderantemente com insumos naturais. Do ponto de vista da
utilização de defensivos agrícolas e destinação do lixo, notamos que: a) o uso de
defensivos naturais contribui para a conservação da biodiversidade nesse ecossistema,
sendo favorável ao meio ambiente; b) o uso de defensivos químicos e a destinação
incorreta de suas embalagens e do lixo doméstico degradam e podem contaminar o
espaço de produção agrícola e comprometer a qualidade dos alimentos.
A mudança de uma fazenda que produzia extensivamente eucalipto ou outras
culturas homogêneas, para um espaço loteado de assentamento rural, ocupado por mais
de trezentas famílias, já dá indícios de mudanças nas diversidades de culturas. As
famílias que ocuparam o assentamento, muitas delas ex-bóias-frias, mudaram seu modo
de vida e construíram nesse novo meio rural suas moradias e tiveram oportunidade de
ocupar o lote com culturas a sua escolha. Os assentados do grupo estudado, em especial
por freqüentarem a Feira do Produtor, integram-se ao meio urbano ao vender seus
produtos; conduzindo os indicadores a ilustrarem o sucesso de um projeto de
assentamento rural que não se resume somente a fatores econômicos, mas à
sobrevivência do assentado e sua integração com o meio urbano, o que lhe permite que
seja reconhecido socialmente.
O assentado vende para o consumidor da cidade não somente um alimento, mas
o “produto roça”. A hipótese de sustentabilidade foi discutida neste trabalho não por
atributos únicos que buscam comprovar o sucesso ou o fracasso dos assentamentos a
104
partir de indicadores econômicos. O ser assentado passa pela construção e
desconstrução de modos de vida, constituindo trajetórias que ora os individualizam, ora
os aproximam. Os valores dessa categoria social estão ligados ao bem estar que o
espaço do assentamento lhes proporciona (morar, trabalhar, ter perspectivas para o
futuro) que não podem ser analisados através de categorias e de conceitos fechados.
Assim, neste trabalho, ressaltamos a relevância de questões relacionadas ao
autoconsumo, à sociabilidade e ao reconhecimento social, entre outras.
Este trabalho pretende ser uma pequena contribuição à discussão dos dilemas
que cercam a política de assentamentos. A importância da feira, mais do que
econômica, está na criação de novas bases ou de estratégias de sustentabilidade criadas
pelos assentados, com a mediação do poder público. Numa região fortemente
caracterizada pela agricultura patronal e pelo agrobusines, a feira expressa a perspectiva
de embriões ou de contrapartidas de desenvolvimento local.
105
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107
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ANEXO 1. QUESTIONÁRIO
Nome: Endereço: Questões: 1. Há quanto tempo está nos projetos de Assentamento? 2. De onde veio? 3. O que fazia? 4. Antes de entrar nos projeto de Assentamento tinha alguma experiência com a terra? 5. Como entrou no projeto RA? 6. Tem aprendido novas formas de produzir? 7. Como? 8. Quem compõe sua família? renda O que fazem?
9. Utiliza mão-de-obra que não pertence à família?............. Como utiliza: 10. O que produz? Área total: Área
11. Hortaliças: 12. Cereais: 13. Anuais: 14. Permanentes: 15. Cana: 16. Pastagem: 17. Reserva Legal: 18. Animais: Bovinos: Suínos: Eqüinos: Caprinos: Ovinos: Galinhas: outros:
19. Que tipo de recursos possui no lote? Maquinário: Hídricos: Solo:
20. Como ficou sabendo da feira? 21. Participa regularmente? (Tempo) 22. Como produz? 23. Que tipo de insumos utiliza?
Adubo: Defensivos:
24. Como faz o manejo do defensivo: 25. Onde costuma armazenar? 26. O que faz com as embalagens? 27. Conhece a ação do defensivo(inibir plantio, efeitos)? 28 Com quem aprendeu?
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29. Para onde vai o lixo? 30. Para onde vai o esgoto? 31. Realiza algum tipo de manejo(reaproveitamento)? 32. Recebeu algum incentivo para participar da feira? 33. Quanto vende?
Semanal: Mensal:
34. A renda vinda da feira para que é utilizada? 35. De onde vem o total da renda familiar? ....................feira outros:..... 36. Quem da família participa da feira? 37. Auto consumo: 38. Consome o que planta? 39. O que compra fora para comer? 40. Com o que vende poderia se sustentar? 41. Teve algum contato com a Regar? 42. Como comercializa o que produz? 43. Todos os produtos comercializados você que produz? 44. O que diferencia sua produção dos outros? 45. Como é o seu contato com os outros produtores que participam da feira? 46. Como é o acompanhamento da Prefeitura dos produtos vendidos? 47. Recebe algum apoio para produzir?......................De Quem?
118
ANEXO 3.
LEI Nº. 6.317 de 11 de outubro de 2005
(Dispõe sobre as diretrizes orçamentárias para elaboração da lei
orçamentária do exercício de 2006 e dá outras providências)
[p. 41, 123-124]
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