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UNIVERSIDADE DE SO PAULO
ESCOLA DE ENGENHARIA DE SO CARLOS
FELIPE DA SILVA NASCIMENTO
Desenvolvimento de prottipo de gaseificador de resduos combustveis em leito horizontal
verso corrigida
So Carlos SP
2014
FELIPE DA SILVA NASCIMENTO
Desenvolvimento de prottipo de gaseificador de resduos combustveis em leito horizontal
Dissertao apresentada Escola de
Engenharia de So Carlos da
Universidade de So Paulo como parte
dos requisitos para a obteno do ttulo de
Mestre em Cincias: Engenharia
Hidrulica e Saneamento.
Orientador: Prof. Dr. Nivaldo Aparecido
Corra
So Carlos
2014
AUTORIZO A REPRODUO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
Nascimento, Felipe da Silva N244d Desenvolvimento de prottipo de gaseificador de resduos combustveis em leito horizontal / Felipe da Silva Nascimento; orientador Nivaldo Aparecido Corra. So Carlos, 2014.
Dissertao (Mestrado) - Programa de Ps-Graduao
e rea de Concentrao em Hidrulica e Saneamento Escola de Engenharia de So Carlos da Universidade de So Paulo, 2014.
1. Bagao de cana-de-acar. 2. Energia. 3.
Tratamento trmico. I. Ttulo.
Dedico esse trabalho minha famlia, amigos e aos leitores que
puderem encontrar nessas linhas um guia para realizar um grande
trabalho.
AGRADECIMENTOS
Agradeo com toda sinceridade aos companheiros que mesmo em um breve encontro fizeram parte dessa caminhada.
A toda minha famlia, em especial minha me (Elizabeth), avs (Seda e Eurides) e irmos (Alex, Lvia e Flvia) que estiveram mais presentes nesses anos de mestrado.
Aos novos integrantes Francis e famlia.
Ao professor Nivaldo Corra que tem sido um grande parceiro e orientador na pesquisa, cuja convivncia trouxe vrios ensinamentos
Repblica Cooperativa dos Loucos que foi mais que uma residncia durante esse tempo em So Carlos, cooperados: Zupa, Alecrim (Phillipe), Bidjei (Vincius), Tx (Fernando), Mestre dos Magos (Rogrio), Lombardi (Rafael), Bola (Marcelo), Serjo Malandro (Srgio), Lingine (Joo), Fujo (Diego - Equador), Armrio (Mrio),Viel (Giovani), Cachorro Loko (Gabriel), Mumuca (Murillo), Piru (Carlos Gamarra - Peru), Tiago e tambm, aqueles que junto Cooperativa so grandes amigos que consideramos agregados a nossa turma: Marj, Leandro, Jacque, Tia Loide, Marlia, Marisco, Pri.
Aos colegas e amigos que desde o incio, trabalhamos e festejamos nessa estrada: Pauleta, Tetinha, Cebola, Fred, Nego, Carli, Ju, Karen, Carol, Dico, Bobo, Transo, Irlands, Jairo, Ana Paula, Andressa, Las, Fr, Andrezo, Samurai, Portuga, Sami,
Aos novos colegas: Crdoba, Monstro, Xamego, Pimpo, Ivan, Gabi, Drica, Mari, Thas, Poty, Z, Toninha, Anne, Char, Vitria, Jlia, Perri, Quixeramobim, Bel, Marco, Plnio, Pariconha, Goiaba, Dani, Mineiro, Schaaf, Lo, Thalita, Tiago, Dayane, Mahl, Roger, Pedro (espanhol), Clara, Ina, Juliana, Leandro, Aline, Patrick, Juan, Joo Chiabai, Pedro Gonalves, Marcon, Carol.
companheira Priscila que me apoiou com uma grande amizade.
Aos irmos que foram acolhidos pelo pai Nivaldo: Nayara, Andreza, Elaine, Guilherme e Natlia.
Aos grandes amigos desde muito tempo: Cabrito (Pablo), Azul (Artur), ET (Douglas), Fred
(Frederico Nogueira), galera de Viosa e da Engenharia Agrcola e Ambiental, Luan Giovanelli, Patetinha (Mrcio), Schuery (Filipe), Lucas, Calouro (Andr).
Ao pessoal do Departamento de Hidrulica e Saneamento, principalmente, Rose, Valdir, Luiz Daniel, S, Priscila.
Aos colaboradores da pesquisa (citando alguns): Alcino, Janja e a equipe do LPB, Brgamo, Chico, Pedro e Flvio (oficina mecnica);
Aos funcionrios da Us. So Martinho: Michele Pires e Cludio Frazo pela ateno
dispensada para adquirir a biomassa de cana-de-acar.
Nitimur in vetitum: sob este signo minha filosofia h de vencer um dia, porque at
agora a nica coisa que foi proibida sempre, por princpio, foi a verdade.
Friedrich Nietzsche
RESUMO
NASCIMENTO, F. S. Desenvolvimento de prottipo de gaseificador de resduos combustveis em leito horizontal. 2014. 103f. Dissertao (Mestrado) Escola de Engenharia de So Carlos,
Universidade de So Paulo, So Carlos, SP. 2014
As vantagens de um sistema gaseificador como soluo energtica na gesto de
resduos slidos urbanos incentivaram o desenvolvimento de um sistema de
gaseificao que opere na horizontal, ou parcialmente inclinado, e que utilize vrios
tipos de resduos, principalmente os classificados como biomassa para a gerao de
gs combustvel ou de sntese. O gaseificador tem sido fortemente recomendado
como uma tecnologia promissora para o tratamento trmico dos resduos slidos,
nesse trabalho experimentou-se algumas biomassas como matria-prima para o
prottipo, e atualmente tem sido testado o bagao da cana-de-acar como
biomassa a testar na co-gaseificao com os resduos slidos municipais, devido a
sua abundncia na regio, alm da sua capacidade trmica. Com isso, desafios
como a destinao final dos resduos slidos urbanos, eliminao dos lixes
atendendo s responsabilidades estabelecidas na Lei Federal do Saneamento
Bsico (Lei n 11.445/2007) e na Poltica Nacional de Resduos Slidos PNRS (Lei
n 12.305/2010) e melhorar as fontes de energia complementares energia das
usinas hidroeltricas, base da matriz da energia eltrica brasileira, buscando uma
alternativa ambientalmente segura e economicamente vivel, podem ser superados.
O gaseificador, ainda no demonstra resultados relevantes quanto aos seus
produtos gerados, contudo, a pesquisa inovadora e sugere mais investimentos
para seu avano, tendo como resultados parciais a deteco, pelo cromatgrafo, dos
gases: Hidrognio, nitrognio, metano e dixido de carbono, tanto com o reator
aberto quanto fechado.
Palavras-chave: Bagao de cana-de-acar.Energia.Tratamento trmico.
ABSTRACT
NASCIMENTO, F. S. Development of gasifier prototype fuel waste in
horizontal bed. 2014. 103f. Dissertao (Mestrado) Escola de
Engenharia de So Carlos, Universidade de So Paulo, So Carlos, SP.
2014
The advantages of a gasifier system as energy solution in the management of
municipal solid wastes encouraged the development of a gasification system that
operates horizontally, tilted or partially, and uses various types of waste, especially
those classified as selective collection of waste as material to generate fuel gas or
synthesis. The gasifier has been strongly recommended as a promising technology
for the thermal treatment of solid waste, in this study experienced are some biomass
as feedstock for the prototype, and currently it has been tested bagasse from sugar
cane as biomass testing in co-gasification with municipal solid waste, due to its
abundance in the region beyond its thermal capacity. Thus, challenges such as the
disposal of municipal solid waste, elimination of landfills, that meet the responsibilities
set out in the Federal Law of Sanitation (Law No. 11.445/2007) and the National
Policy on Solid Waste - PNRS (Law No. 12.305/2010) and improve additional
sources of energy from hydroelectric energy, base matrix of Brazilian electricity,
seeking an alternative environmentally safe and economically viable. The gasifier, yet
shows results relevant to their products as generated, however, this research is
innovative and suggests more investment to its advancement, having as partial
results the detection of gases, by the chromatograph: hydrogen, nitrogen, methane
and carbon dioxide, with the reactor open and the closed mode.
Keywords: Sugar cane bagasse. Energy. Heat treatment
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 Caractersticas dos gaseificadores .............................................................. 23
Tabela 02 Configuraes de gaseificadores .................................................................. 24
Tabela 03 Contaminantes do gs de sntese .................................................................. 29
Tabela 04 Caractersticas gs de sntese desejveis para diferentes aplicaes ...... 35
Tabela 05 Condies individuais de operao dos gaseificadores de RSU ............... 38
Tabela 06 Composio do syngas derivado do uso de RSU como biomassa. ........... 39
Tabela 07 Emisses de gaseificao de biomassa ....................................................... 40
Tabela 08 Anlise imediata e final da biomassa madeireira (base mida) .................. 44
Tabela 09 Caractersticas nominais do gaseificador descendente com suprimento de ar em duplo estgio ........................................................................................................... 45
Tabela 10 Componentes do bagao de cana-de-acar ............................................... 58
Tabela 11 Anlise de potencial do bagao de cana-de-acar como matria-prima para o gaseificador ............................................................................................................ 58
Tabela 12 Gerao mdia per capita de resduos slidos urbanos no Brasil. ............ 60
Tabela 13 Emisses evitadas por tecnologia. ............................................................... 64
Tabela 14 Anlise final e imediata do bagao ................................................................ 66
Tabela 15 Componentes eltricos do sistema gaseificador ........................................ 68
Tabela 15 Quantificao dos gases obtidos pela cromatografia ................................. 86
Tabela 16 Mdia e desvio padro dos gases obtidos pela cromatografia .................. 86
Tabela 17 Limites de deteco (LD) e de quantificao (LQ): ...................................... 87
Tabela 18 Tempo de reteno dos gases; equaes de calibrao e coeficiente de determinao das curvas .................................................................................................. 88
SUMRIO
1. INTRODUO ...................................................................................................... 15
2. OBJETIVOS ......................................................................................................... 19
3. REVISO BIBLIOGRFICA ................................................................................. 20
3.1 Gaseificao ......................................................................................................... 20
3.2 Gaseificadores - Estado da arte ............................................................................ 27
3.2.1 Preparo da matria-prima....................................................................................... 27
3.2.2 Condicionamento do syngas .................................................................................. 28
3.2.3 Co-gaseificao ..................................................................................................... 31
3.2.4 Aplicaes do gs de sntese ................................................................................. 32
3.2.5 Aplicaes do gs combustvel .............................................................................. 33
3.2.6 Avaliao dos resultados: Condies de operao ................................................ 37
3.2.7 Composio do gs de sntese .............................................................................. 38
3.2.8 Emisses ............................................................................................................... 39
3.2.9 Equipamento de suporte ........................................................................................ 41
3.2.10 Potencial de aplicaes .......................................................................................... 41
3.2.11 A necessidade de avaliao dos dados .................................................................. 43
3.2.12 GASEIFICAO DE MADEIRA COMO BIOMASSA .............................................. 43
3.2.13 REATOR COM LEITO FLUIDIZADO 4FBR ........................................................ 48
3.2.14 REATOR DE LEITO FLUIDIZADO BORBULHANTE ALIMENTADO COM CASCAS DE ARROZ .......................................................................................................................... 52
3.2.15 Biomassa na secagem de produtos agrcolas via gaseificao com combusto adjacente dos gases produzidos .......................................................................................... 56
3.3 Biomassa .............................................................................................................. 56
3.3.1 Bagao de cana-de-acar .................................................................................... 57
3.3.2 Resduos Slidos ................................................................................................... 59
3.4 Aproveitamento Energtico de Resduos ............................................................... 63
4. MATERIAL E MTODOS ....................................................................................... 65
4.1 Montagem do experimento .................................................................................... 65
4.2 Sequncia de funcionamento ................................................................................ 67
4.3 Operao do sistema ............................................................................................ 71
4.4 Anlise dos gases ................................................................................................. 73
5. RESULTADOS E DISCUSSO ............................................................................. 76
5.1 Desenvolvimento do sistema ................................................................................. 76
5.1.1 Montagem do suporte ............................................................................................ 76
5.1.2 Sistema transportador da matria-prima ................................................................ 77
5.1.3 Matria-prima ......................................................................................................... 78
5.1.4 Sistema de suco dos gases ................................................................................ 80
5.1.5 A combusto parcial ............................................................................................... 82
5.1.6 Trocador de calor ................................................................................................... 83
5.2 Produtos gerados .................................................................................................. 85
5.2.1 Compostos gasosos ............................................................................................... 85
5.2.2 Compostos lquidos ................................................................................................ 89
6. SUGESTES PARA TRABALHOS FUTUROS: .................................................... 91
7. CONCLUSO ....................................................................................................... 93
REFERNCIAS ................................................................................................................... 94
ANEXOS ............................................................................................................................. 98
15
1. INTRODUO
Durante todo o sculo XX, a oferta excessiva de energia, obtida
principalmente a partir dos combustveis fsseis como petrleo e carvo mineral, deu
suporte ao crescimento e s transformaes da economia mundial. J nos primeiros
anos do sculo XXI, o cenrio mudou ao ser colocado prova por uma nova
realidade: a necessidade do desenvolvimento sustentvel (ANEEL, 2008).
Segundo a ANEEL (2008), desde o incio dos anos 90, estudiosos e cientistas
alertavam para os efeitos da deteriorao ambiental provocada pela ao humana.
Um deles o aquecimento global, provocado pelo elevado volume de emisses dos
gases causadores do efeito estufa (GEE), particularmente o dixido de carbono
(CO2), liberado em larga escala nos processos de combusto dos recursos fsseis
para produo de calor, vapor ou energia eltrica. Outro, a possibilidade de
esgotamento, no mdio prazo, das reservas de recursos naturais mais utilizadas.
Entre elas, carvo mineral e petrleo. Do ponto de vista econmico, este ltimo, por
sinal, durante quase uma dcada foi caracterizado pela volatilidade e tendncia de
alta das cotaes (que superaram US$100,00 por barril em 1980 e, mais
recentemente, em 2008), o que se revelou como um forte estmulo para as iniciativas
de substituio por outras fontes.
A atividade de produo de energia e, particularmente, da energia eltrica
ingressou no sculo XXI, portanto, em busca do desenvolvimento sustentvel,
conceito que alia a expanso da oferta, consumo consciente, preservao do
ambiente e melhoria da qualidade de vida. o desenvolvimento capaz de suprir as
necessidades da gerao atual, sem comprometer a capacidade de atender as
necessidades das futuras geraes, ou seja, que no esgota os recursos para o
futuro. Em outras palavras: o desafio reduzir o impacto ambiental negativo e, ao
mesmo tempo, ser capaz de suportar o crescimento da demanda (ANEEL, 2008).
A expanso acentuada do consumo de energia, embora possa refletir o
aquecimento econmico e a qualidade de vida, tem aspectos negativos. Um deles
a possibilidade do esgotamento dos recursos utilizados para a produo de energia.
Um segundo o impacto ao meio ambiente produzido por essa atividade.
Finalmente, um terceiro so os elevados investimentos exigidos na pesquisa de
novas fontes e construo de novas usinas (ANEEL, 2008).
16
Fernandes (2003) afirma que devemos buscar o desenvolvimento de
tecnologias sustentveis para a gerao de energia. Estas tecnologias visam
apresentar uma alternativa para o petrleo como principal fonte energtica da nossa
civilizao. Como o petrleo e o carvo no so fontes renovveis, so necessrias
alternativas para suprir a demanda energtica futura da sociedade.
A busca no se reduz a um nico substituto para o petrleo, e sim na
possibilidade de coexistirem vrias fontes alternativas, propondo a mudana da
estrutura tecnolgica e energtica. Significa que necessrio tornar
economicamente viveis, propostas como: co-gerao energtica, gerao
descentralizada de energia eltrica, pequenas centrais geradores, combustveis
renovveis e at mesmo fontes de fornecimento irregular de energia elica e a
converso de energia solar por clulas fotovoltaicas (FERNANDES, 2000; 2003).
O governo brasileiro, atravs das RESOLUO NORMATIVA N 482, DE 17
DE ABRIL DE 2012; LEI N 10.438, DE 26 DE ABRIL DE 2002; LEI N 9.478, DE 6
DE AGOSTO DE 1997; entre outras, incentiva e orienta a utilizao de fontes
alternativas de energia para promover o desenvolvimento, ampliar o mercado de
trabalho e valorizar os recursos energticos, proteger os interesses do consumidor
quanto a preo, qualidade e oferta dos produtos; proteger o meio ambiente e
promover a conservao de energia; e vrios outros benefcios (MMA, 2012).
A recuperao e o aproveitamento energtico como objetivo da Poltica
Nacional de Resduos Slidos, Lei 12.305 de 2 de agosto de 2010, traz consigo a
adoo, desenvolvimento e aprimoramento de tecnologias limpas como forma de
minimizar impactos ambientais, a capacitao tcnica continuada na rea de
resduos slidos, o incentivo ao desenvolvimento de sistemas de gesto ambiental e
empresarial voltados para a melhoria dos processos produtivos e ao
reaproveitamento dos resduos slidos (MMA, 2010). Tendo metas como, reduzir a
quantidade de rejeitos encaminhados para a disposio final ambientalmente
adequada, remete a explorar o potencial energtico desses rejeitos.
Conforme Lora et al. (2012), resduos domiciliares e uma grande quantidade
de rejeitos industriais que possuem na sua maior parte compostos orgnicos de
longa cadeia de carbono, podem ser transformados em molculas orgnicas
menores para uma finalidade de oxidao para a obteno de energia. A queima
direta tambm pode ser vivel, entretanto se forem consideradas operaes de
17
armazenamento, transporte e usos mais nobres dos compostos reformados, outras
operaes de queima parcial seriam mais interessantes. Essas operaes so
basicamente duas, dependendo do grau de oxidao que se impe no
processamento:
Pirlise queima de material na ausncia de oxignio, onde se obtm muitos gases volteis e leos pirolticos com capacidade combustvel, alm de
grande quantidade de alcatro.
Gaseificao queima parcial do material com quantidades reguladas de oxignio, onde os principais produtos so os gases de reforma, metano,
hidrognio e monxido de carbono, interessantssimos para queima direta em
motores de exploso e como molculas bsicas para reaes de produtos
para outros interesses.
Em qualquer um dos processos, sempre haver formao de alcatro, cinzas
ou carvo. O alcatro tambm tem seu valor comercial, como insumo agrcola
biocida, ou ainda como piche para pavimentao, aps sua queima. O carvo pode
ser aproveitado em novas queimas. As cinzas devero ir para o aterro ou serem
encapsuladas por meio de solidificao em materiais de construo, como tijolos,
telhas, pavimentos, entre outros. Evidentemente, tambm haver formao de
muitos outros compostos com enxofre e nitrognio, principalmente. Muitos desses
podem ser nocivos se forem emitidos no ar ou na gua. Nessa etapa, com em
qualquer outra de processamento industrial, necessrio que haja procedimentos
operacionais de tratamento do efluente lquido ou gasoso.
Os equipamentos usuais para realizar essas operaes, baseiam-se em leitos
fixos deslizantes e fluidizados, sempre considerando a direo vertical de
movimentao devido ajuda da fora gravitacional como agente motora ou de
mistura do meio particulado. possvel ter alturas de leito que proporcionem etapas
diversificadas de processamento do material, partindo desde a completa queima na
parte inferior, passando por gaseificao, pirlise at a secagem na parte superior,
por onde o material alimentado. Um equipamento multioperacional de fato muito
interessante, ao se considerar que o material de resduo sempre vem disposto de
altos teores de umidade. Esses equipamentos devido a sua altura com relao a
base, devem considerar um sistema de transporte vertical, seja por rampas,
18
gndolas, esteiras ou helicides, o qual tem a sua parcela energtica a ser subtrada
do montante produzido.
Na tentativa de aproveitar essa parcela e ainda tornar a operao mais
facilitada, prope-se testar um equipamento de queima que opere na horizontal, ou
parcialmente inclinado, onde o transportador, no caso helicoidal, j pressione o
material para dentro da cmara de combusto, ou que parte da combusto, ou
secagem, possa ser feita dentro do prprio duto de umahelicide (rosca sem fim ou
transportador de parafuso).
19
2. OBJETIVOS
Desenvolver um gaseificador horizontal capaz de gerar gs combustvel, ou
de sntese, a partir de mltiplos resduos.
Objetivo especficos:
Explorar a regulao da alimentao do resduo e do ar para se obter maior
eficincia, com base em medidas de teores de algum dos componentes
gasosos gerados (metano, hidrognio ou monxido de carbono);
Explorar o potencial energtico do rejeito da coleta seletiva como material
combustvel conciliando diferentes biomassas;
Desenvolver um sistema de transporte com parafuso helicoidal;
Propor usos para os produtos gerados.
20
3. REVISO BIBLIOGRFICA
3.1 Gaseificao
A soluo para vrios problemas com resduos slidos no Brasil pode estar na
gaseificao. Segundo relato da FAPESP, em 2012 a produo de biocombustvel
pela gaseificao de biomassa foi tema de simpsio internacional na FAPESP em 17
de Setembro.Pesquisadores brasileiros e da Alemanha, Austrlia, Sucia e Reino
Unido participaram de um simpsio sobre gaseificao de biomassa no dia 17 de
Outubro, em So Paulo. Organizado em conjunto pela Fundao de Amparo
Pesquisa do Estado de So Paulo (FAPESP) e pelo Instituto de Pesquisas
Tecnolgicas (IPT), o encontro discutiu tecnologias, processos de produo e
operao de usinas piloto para obteno de combustveis a partir da transformao
de biomateriais slidos e lquidos em gases, para uso como biocombustveis.
Fernando Landgraf, diretor-presidente do IPT, exps o Programa Biosyngas,
desenvolvido pelo Instituto para a obteno de gs de sntese a partir de materiais
alternativos aos de origem fssil.
A gaseificao de biomassa a combusto incompleta da biomassa que
resulta na produo de gases combustveis contendo monxido de carbono (CO),
hidrognio (H2) e traos de metano (CH4). Esta mistura chamada gs de sntese.
Gs de sntese pode ser usado para acionar motores de combusto interna (tanto
compresso e fasca de ignio), pode tambm ser um substituto para leo de forno
em aplicaes de calor direto e para produzir, de forma economicamente vivel,
metanol - um produto qumico extremamente atrativo o qual til tanto como
combustvel para mquinas trmicas bem como matria-prima qumica para
indstrias. J que, qualquer biomassa pode ser submetida gaseificao, este
processo mais atrativo que a produo de etanol ou biogs, onde apenas certos
tipos de biomassa pode produzir o combustvel (RAJVANSHI, 1986).
A produo de gs gerador (gs de sntese) chamada gaseificao, a
combusto incompleta de combustvel slido (biomassa) e ocorre em temperaturas
em torno de 1000 C. O reator onde isto ocorre o gaseificador (RAJVANSHI, 1986).
21
Os produtos da combusto completa de biomassa geralmente contm
nitrognio (N2), vapor dgua (H2O(g)), dixido de carbono(CO2) e um excesso de
oxignio (O2). Contudo na gaseificao onde existe um excesso de combustvel
slido (combusto incompleta) os produtos da combusto so gases combustveis
como monxido de carbono (CO), hidrognio (H2) e traos de metano (CH4) e outros
produtos como alcatro e cinzas. A produo destes gases pela reao do vapor
dgua e dixido de carbono atravs de uma camada fulgurosa de carvo. Ento, a
chave para um projeto de gaseificao criar condies que a) a biomassa
reduzida (transformada) em carvo e, b) o carvo convertido na temperatura
adequada para produzir CO e H2 (RAJVANSHI, 1986). Abaixo, na figura 1, tem-se
uma ilustrao bsica da gaseificao.
Figura 01: Gaseificao de biomassa
Fonte: Rajvanshi (1986)
A gaseificao tem como vantagens: permanncia das cinzas e do carbono
residual no gaseificador, diminuindo assim a emisso de partculas; obteno de
combustvel resultante limpo, no havendo na maioria dos casos necessidade de
controle de poluio; associada a catalisadores, como alumnio e zinco, a
gaseificao aumenta a produo de hidrognio e de monxido de carbono e diminui
a produo de dixido de carbono. A gaseificao tem pois impacto no s na
economia do hidrognio, como na captura do dixido de carbono. A gaseificao da
22
biomassa, aparece, como alternativa limpa e renovvel de energia, com grande
possibilidade de aplicao em pases com grandes reas cultivveis, em climas
tropicais, onde a taxa de crescimento dos vegetais alta (SANTOS et al, 2010).
De acordo com Vale et al. (2000) quanto menor o teor de umidade maior ser
a produo de calor por unidade de massa, na madeira, o que determina que o teor
de umidade uma caracterstica a ser controlada ao utilizar biomassa para gerar
energia, haja vista que, segundo Brito1 (1986, apud GONALVES et al., 2009), a
presena de gua representa poder calorfico negativo, pois parte da energia
liberada gasta na vaporizao da gua e se o teor de umidade for muito varivel,
poder dificultar o processo de combusto, havendo necessidade de constantes
ajustes no sistema.
Um dos maiores desafios na produo de biocombustveis a partir da
gaseificao e sntese a formao, durante o processo de gaseificao, de
espcies com alto peso molecular chamadas alcatres. Alcatres diminuem a partir
da produo do gs de sntese (syngas) e tem que ser removido previamente ao
passo de sntese de combustvel para prevenir a desativao dos catalisadores e
incrustantes do equipamento do processo (GASTON et. al., 2011).
No gaseificador as paredes so geralmente forradas com materiais refratrios
e isolantes, que servem a trs propsitos: (1) eles reduzem a perda de calor atravs
das paredes, (2) eles agem como um armazenador trmico para auxiliar na ignio
de biomassa fresca, e (3) eles protegem o metal da corroso (BASU, 2010).As
reaeschegam a temperaturas de aproximadamente 850 C, sob condies de
presso atmosfrica ou sob elevada presso Brand (2010 apud FEAM, 2012).
Na tabela 01 esto reportadas algumas caractersticas gerais dos
gaseificadores:
1 BRITO, J. O. Madeira para a floresta: A verdadeira realidade do uso de recursos florestais.
Silvicultura, v.11, n.41, p.188-193. 1986.
23
Tabela 01 Caractersticas dos gaseificadores
Caractersticas Variaes
Poder calorfico do gs produzido Baixo: at 5 MJ/Nm (997 kcal/kg)
Mdio: 5 a 10 MJ/Nm (997 a 1.993 kcal/kg)
Alto: 10 a 40 MJ/Nm (1.993 a 7.972 kcal/kg)
Tipo de agente gaseificador Ar, vapor d'gua, oxignio, hidrognio
(hidrogaseificao)
Tipo de leito Fixo: corrente paralela ou contracorrente
Fluidizado: borbulhante ou circulante
Presso de trabalho Baixa: presso atmosfrica
Pressurizado: at 6 Mpa (59,2 atm)
Natureza da biomassa Resduos agrcolas, industriais ou slidos
urbanos (lixo)
Biomassa in natura, peletizada ou pulverizada
*Para gases expresso em unidade de energia por volume. Para converter MJ/Nm em kcal/kg, deve-
se multiplicar o valor por 239,2 kcal/MJ e dividir pela massa especfica em kg/Nm. As converses
nesta tabela, reportadas entre parnteses, adotam massa especfica mdia de 1,2 kg/Nm,
considerando dados de Caputo (2009): valores para biomassa entre 1,07 e 1,25 kg/Nm, conforme a
composio do syngas, decorrente do processo de gaseificao.
Fonte: FEAM (2012)
Uma variedade de gaseificadores de biomassa tm sido desenvolvidos. Eles
podem ser agrupados em 4 grandes classificaes: Leito fixo ascendente, leito fixo
descendente, leito fluidizado borbulhante e leito fluidizado circulante. A diferenciao
est baseada nos meios de suporte da biomassa no reservatrio do reator, a direo
do fluxo da biomassa e do oxidante, e o modo como o calor suprido para o reator.
24
Na tabela 02 listam-se as configuraes mais usadas (CIFERNO; MARANO, 2002).
E mais abaixo, na figura 2, encontra-se algumas ilustraes dos fluxos do material e
das zonas formadas no processo.
Tabela 02 Configuraes de gaseificadores
Tipo de
gaseificador
Direo do fluxo Velocidade
do
combustvel
Suporte Fonte de Calor
Combustvel Oxidante
Leito fixo
contracorrente
Descendente Ascendente Nenhuma Grelha Combusto do carvo
Leito fixo
concorrente
Descendente Descendente Nenhuma Grelha Combusto parcial de volteis
Leito fluidizado
borbulhante
Ascendente Ascendente 1 m/s Nenhum Combusto parcial de volteis e carvo
Leito fluidizado
circulante
Ascendente Ascendente 7 a 10 m/s Nenhum Combusto parcial de volteis e carvo
Fonte: Reed; Siddhartha (2001). Bridgwater; Evans (1993). Paisley et al. (2001). Ciferno e
Marano (2002).
25
Figura 02: Zonas de gaseificao nos gaseificadores: 1) Fluxo ascendente; 2) Fluxo descendente e 3) Fluxo cruzado
Fonte: Rajvanshi (1986, traduo do autor).
Para formar a base de suporte de um leito fluidizado, normalmente se utiliza
areia, que representa um grande reservatrio trmico capaz de atenuar grandes
variaes de umidade por perodos relativamente longos, no combustvel
alimentado, ao contrrio de caldeiras de grelha (FEAM, 2012).
Para a gerao de energia em ciclos termeltricos utiliza-se principalmente a
gaseificao pressurizada, entretanto esses sistemas apresentam problemas ainda
no solucionados, como a alimentao de combustvel, a reduo do teor de
alcatro do gs, os xidos de nitrognio produzidos e a filtragem do gs quente,
Henriques1 (2004 apud FEAM, 2012).
1HENRIQUES, R. M. Aproveitamento energtico dos resduos slidos urbanos: uma abordagem
tecnolgica. Rio de Janeiro: UFRJ, 2004, 204 p. Originalmente apresentada como tese de mestrado
26
A tcnica de gaseificao , em princpio, extremamente verstil, mas existem
muitos problemas em transformar este potencial terico em uma tecnologia vivel e
prtica. Na maior parte dos casos, as dificuldades residem no no processo bsico
de gaseificao, mas sim no projeto de um equipamento que deve produzir um gs
de qualidade, com confiabilidade e segurana, adaptado s condies particulares
do combustvel e da operao (FEAM, 2012).
Segundo a FEAM (2012), as principais exigncias tcnicas operacionais
considerando informaes em literaturas, referentes a pesquisas e implantaes
comerciais principalmente para gaseificao de madeira, casca de arroz, palha e
outros resduos agrcolas, verificam-se:
Taxa de alimentao do gaseificador;
Presso e temperatura do processo;
Relao ar/combustvel;
Sistema de limpeza dos gases antecedendo seu aproveitamento energtico;
Sistema de remoo de cinzas.
Brand1 (2010 apud FEAM, 2012) orienta que os materiais mais indicados para
a gaseificao como forma de aproveitamento energtico so resduos ligno-
celulsicos com baixa umidade (menos de 40%) como palha de cereais, cavacos de
madeira, cascas de frutos, serragem, resduos urbanos, resduos animais, lodo de
esgoto e outros.
Os sistemas de tratamento/controle das emisses atmosfricas devem
contemplar os principais problemas a respeito dos gases de gaseificao: material
particulado (causa a eroso das palhetas das turbinas a gs), metais alcalinos
(devido corroso e deposio nas palhetas) e o alcatro (causa o bloqueio dos
filtros de particulados) (FEAM, 2012).
em Cincias em Planejamento Energtico, Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro,
2004.
1 BRAND, M. A. Energia de biomassa florestal. Rio de Janeiro: Intercincia, 2010. 131p.
27
3.2 Gaseificadores - Estado da arte
Na figura 03, tem-se um resumo do histrico da gaseificao:
Figura 03: Marcos histricos no desenvolvimento da gaseificao
Fonte: Basu (2010)
Os trabalhos a seguir so algumas das atualidades relacionadas tecnologia
dos gaseificadores, tanto plantas em operao quanto estudos cientficos, a
presente pesquisa identificou que a gaseificao tem sido amplamente estudada o
que sugere que seu potencial deve estar alm dos trabalhos apresentados.
3.2.1 Preparo da matria-prima
O preparo da matria-prima da biomassa pode ser dividido em dois passos:
Seleo/reduo do tamanho do material e sua secagem. Os custos aumentam pela
dificuldade de manusear o material (por exemplo, a palha) e material com umidade
alta (>30%) que requerem uma extensiva secagem prvia para a gaseificao.
Vrios mtodos so adequados para prover um abastecimento contnuo de matria-
prima para o gaseificador. H um consenso, no entanto, que algumas dificuldades
28
continuam a existir na manuteno de uma biomassa de manuseio seguro,
armazenamento, e sistema de alimentao, no caso de um gaseificador atmosfrico
ou pressurizado. Estes resultados inconsistentes de umidade, densidade, tamanho e
teor de energia trmica da maioria das matrias-primas da biomassa, por exemplo, a
manipulao mecnica de palha difcil, devido sua baixa densidade (
29
ou mais dos contaminantes listados na tabela 03. A identidade e quantidade destes
contaminantes dependem do processo de gaseificao e o tipo de matria-prima.
Tabela 03 Contaminantes do gs de sntese
Contaminante Exemplo Problema potencial
Particulados Cinzas, coque (char),
material fluido no leito
Eroso
Metais alcalinos Compostos de sdio e
potssio
Corroso quente,
envenenamento catalisador
Compostos nitrogenados NH3 e HCN Emisses
Alcatres Aromticos refrativos Entupimento dos filtros
Enxofre e cloro H2S e HCl Corroso, emisses,
envenenamento catalisador
Fonte: Gray, Tomlinson e Berger1(1996 apud CIFERNO; MARANO, 2002).
Alcatres so, em sua maioria, hidrocarbonetos polinucleares (tal como pireno
e antraceno) que podem entupir vlvulas dos motores, causar deposio nas
lminas das turbinas ou incrustaes no sistema de uma turbina levando reduo
da performance e aumentando a manuteno.
Sistemas convencionais de lavagem so geralmente a escolha de tecnologia
para remover alcatro do gs de sntese produzido. Contudo, a lavagem esfria o gs
e produz um fluxo de resduos indesejados. Uma opo a remoo de alcatres
pelo craqueamento cataltico que reduz os hidrocarbonetos de cadeia longa ou
elimina este fluxo de resduos, elimina a ineficincia de arrefecimento de lavagem, e
aumenta a produo de gs em qualidade e quantidade.
1 Gray, D.; Tomlinson, G.; Berger, M. Techno-Economic Assessment of Biomass Gasification Technologies for Fuels and Power. Produced by The MITRE Corporation for The National
Renewable Energy Laboratory, Under Contract No.AL-4159, January. 1996.
30
Um exemplo de tecnologia de craqueamento de alcatro um desenvolvido
pela Battelle usando catalisador de craqueamento descartvel em conjunto com a
adio de vapor Wiant, Bryan e Miles1 (1998 apud CIFERNO; MARANO, 2002
traduo do autor). O craqueamento realizado atravs da seguinte reao [1]:
[1]
O catalisador de Battelle tem tambm atividade de deslocamento gua/gs
(water-gas shift). Isto aumenta o teor de hidrognio do gs produzido de modo que
seja adequado para a clula de combustvel e outras aplicaes.
A biomassa convertida incompletamente e a remoo de cinza particulada
realizada com ciclones, lavagem de gases (wetscrubbing), ou filtros de alta
temperatura Carty, Lau, De Long, Wiant, Bachovchin e Ruel2 (1995 apud CIFERNO;
MARANO 2002),Carty, Bryan, Lau e Abbasian3 (1995 apud CIFERNO;
MARANO).Lavagem gua de gases (waterscrubbing) pode remover at 50% de
alcatro no gs produzido, e quando seguida de um lavador Venturi, o potencial de
remoo dos alcatres remanescentes aumenta para 97% Stultz e Kitto4, (1992
apud CIFERNO; MARANO, 2002 traduo do autor).
1 WIANT, B.; BRYAN, B.; MILES, T. Hawaiian Biomass Gasification Facility: Testing Results and Current Status. Institute of Gas Technology. BioEnergy 1998 Conference, Madison WI, October 1998.
2CARTY, R. H.; LAU, F.S.; DELONG, M.; WIANT, B.C.; BACHOVCHIN, D.M.; RUEL, R.H.
Commercialization of the Renugas Process for Biomass Gasification, Institute of Gas
Technology. 13 EPRI Conference on Gasification Power Plants. 1994.
3 CARTY, R. H.; BRYAN, B. G.; LAU, F.S.; ABBASIAN, J.M. Status of the Commercialization of IGT Gasification Technologies. Institute of Gas Technology. EPRI Conference on New Power Generation
Technology, San Francisco CA, October. 1995.
4 STULTZ, S.C.;KITTO, J.B. Steam - its generation and use. The Babcock & Wilcox Company,
Barberton, Ohio USA, 1992.
31
3.2.3 Co-gaseificao
A co-gaseificao de carvo e biomassa uma rea relativamente nova de
pesquisa. Resultados preliminares de vrios estudos pilotos tm mostrado efeitos
promissores em termos de qualidade do gs de sntese e reduo do impacto
ambiental negativo. Embora o carvo seja o combustvel fssil mais abundante no
mundo e extensivamente usado na gerao de energia, ele tem causado um srio
impacto no ambiente como evidenciado pela chuva cida provocada pelas emisses
de SOx e NOx (LAU1, 1997 apud CIFERNO; MARANO, 2002). Emisses de gs CO2
do efeito estufa durante a combusto do carvo tambm se tornaram um dos
maiores interesses globais. A biomassa tem um teor enrgico menor que o carvo;
contudo, seu uso para produo de energia pode contribuir significantemente para a
reduo de emisses da rede de CO2. Esses dois combustveis, quando co-
gaseificados, exibem sinergia com respeito s emisses totais, incluindo as
emisses de gases de efeito estufa, sem sacrificar o teor de energia do produto
gasoso.
Lau e Carty2 (1994 apud CIFERNO; MARANO, 2002 traduo do autor)
apresenta um bom nmero de opes para integrar carvo e biomassa dentro de um
processo de co-gaseificao. Elas esto apresentadas a seguir:
1) Co-alimentao biomassa e carvo no gaseificador com uma mistura;
2) Co-alimentao biomassa e carvo na gaseificao usando sistemas de
alimentao separados;
3) Pirolisando a biomassa e seguindo pela co-alimentao de carvo pirolisado e
carvo para o gaseificador;
4) Gaseificando a biomassa e o carvo em gaseificadores separados seguindo para
uma limpeza combinada de gs.
1LAU, F. S. The Hawaiian Project. Institute of Gas Technology, Presented at the Biomass Gasification Utility Scale Demonstration Projects Meeting, Brussels, Belgium, October. 1997.
2 LAU, F.S.; CARTY, R. H. Development of the IGT Renugas Process. Institute of Gas Technology,
Presented at the 29th Intersociety Energy Conversion Engineering Conference, Monterey CA,
August. 1994.
32
Cada abordagem, como na figura 04, tem benefcios e desvantagens e em
ltima anlise, a melhor escolha depender dos resultados de mais pesquisas e
anlises.
Figura 04: Opes de integrao para co-gaseificao de carvo/biomassa Fonte: Ciferno e Marano (2002)
3.2.4 Aplicaes do gs de sntese
A composio do gs de sntese proveniente da gaseificao de biomassa ir
variar baseada em vrios fatores, incluindo o tipo de reator, matria-prima e
condies de processo (temperatura, presso etc.). A figura abaixo retrata as opes
de uso final discutidas no estudo de Ciferno e Marano (2002). Neste estudo so
considerados o combustvel especfico e as aplicaes qumicas: combustveis
obtidos pelo mtodo de Fischer-Tropsch, metanol e hidrognio. Na figura 05 est
apresentado um resumo das opes conhecidas de converso do syngas.
33
Figura 05: Opes de converso do gs de sntese
fonte: Ciferno e Marano (2002)
3.2.5 Aplicaes do gs combustvel
A biomassa pode produzir energia eltrica por meio de uma combusto direta
numa caldeira a vapor. A eficincia total de converso da biomassa para eletricidade
limitada pela eficincia terica da gerao de energia numa turbina a vapor, a alta
umidade inerente da biomassa como matria-prima, e por causa dos tamanhos da
planta do sistema de biomassa, tipicamente os menores. A eficincia do sistema de
biomassa para turbina a vapor est entre 20 e 25%. A gerao de energia pode ser
completada via gaseificao de biomassa, seguida por um motor de combusto,
turbina de combusto, turbina a vapor ou clula de combustvel. Estes sistemas
podem produzir tanto calor quanto energia (Associao calor e energia) e pode
alcanar timas eficincias no sistema em torno de 30 a 40% (TURN1, 1999 apud
CIFERNO; MARANO, 2002). O sistema de gerao de energia empregado
estabelece as especificaes do gs de sntese. H uma maior amplitude no que diz
respeito composio do gs de sntese para combusto em motor do que para
1 TURN, S.Q. Biomass integrated gasifier combined cycle technology: Application in the cane sugar industry. Int. Sugar JNL, 1999, Vol. 101, NO. 1205.
34
combusto em turbina. Turbinas a gs tm emergido como o melhor meio para
transformar calor em energia mecnica e so agora peas-chave para a maior
eficincia dos sistemas de gerao eltrica (CIFERNO; MARANO, 2002).
Hidrognio
Hidrognio produzido atualmente em grandes quantidades via reforma a
vapor de hidrocarbonetos sobre um catalisador de Ni a 800 C (1472 F), Nieminen
(1999). Este processo produz um gs de sntese que deve ser processado
novamente para produzir hidrognio de alta pureza. O gs de sntese condicionado,
necessrio para reforma a vapor, semelhante ao que seria necessrio para um
syngas derivado da gaseificao de biomassa; no entanto, alcatres e partculas no
se tornam uma preocupao. Para aumentar o teor de hidrognio, o gs de sntese
produzido alimentado em um ou mais reatores de deslocamento de gua/gs
(water-gas shift), que convertem CO em H2 (CIFERNO; MARANO, 2002).
Metanol
A sntese de metanol comercial envolve a reao de CO, H2 e vapor sobre um
catalisador de xido de cobre-zinco na presena de uma pouca quantidade de CO2 a
uma temperatura por volta de 260 C (500 F) e uma presso aproximada de 70 bar
(1015 psi) (PAISLEY; ANSON, 1997).
Ciferno e Marano (2002) constata que para melhor uso do produto bruto do
gs de sntese na sntese de metanol e limitar a extenso de um tratamento
adicional do gs de sntese e reforma a vapor, essencial manter:
Uma relao H2/CO2 no mnimo em 2;
Uma taxa de CO2/CO por volta de 0,6 para prevenir a desativao do catalisador
e manter o catalisador em um estado ativo reduzido;
Baixas concentraes de N2, CH4, C2+ etc para prevenir a acumulao de inertes
dentro do circuito de sntese de metanol;
Baixas concentraes de CH4 e C2+ para limitar a necessidade para uma
posterior reforma a vapor.
35
Combustveis sintticos de Fisher-Tropsch (FT)
Combustveis sintticos como a gasolina e o diesel podem ser produzidos a
partir do gs de sntese via processo de FT. O gaseificador precisa produzir gases
com uma taxa de H2/CO em torno de 0,5 a 0,7 recomendada como matria para o
processo de FT quando se usa catalisador de ferro (CIFERNO; MARANO, 2002).
Como ilustra a tabela 4, a composio pretendida do gs de sntese para
aplicao como gs combustvel diferente daquela para combustveis sintticos ou
sntese qumica. Um contedo alto de H2, baixo CO2, baixo CH4 necessrio para
produo de qumicos e combustvel. J um teor alto de H2 no necessrio para
produo de energia, enquanto um suficientemente alto poder calorfico fornecido
atravs dos hidrocarbonetos de CH4 e C2+.
Tabela 04 Caractersticas gs de sntese desejveis para diferentes aplicaes
Produto Combustivis Sintticos Metanol
FT Gasolina & Diesel
H2/CO 0,6a ~2,0
CO2 Baixo Baixoc
Hidrocarbonetos Baixod Baixod
N2 Baixo Baixo
H2O Baixo Baixo
Contaminantes Enxofre
36
Produto Hidrognio Gs combustvel
Caldeira Turbina
H2/CO Alto Irrelev Irrelev
CO2 Irrelevb No crtico No crtico
Hidrocarbonetos Baixod Alto Alto
N2 Baixo Notae Notae
H2O Altof Baixo Notag
Contaminantes Enxofre
37
(j) Dependendo do tipo de catalisador; os de ferro normalmente operam a temperaturas maiores que os
catalisadores de cobalto.
(k) Quantidades pequenas de contaminantes podem ser aceitas.
Fonte: Ciferno e Marano (2002, traduo do autor)
3.2.6 Avaliao dos resultados: Condies de operao
As matrias-primas primrias, para as quais os dados de composio do gs
de sntese do produto foram analisados esto identificados na tabela 6 (p. 18) do
artigo. Estes foram tipicamente madeira, lodo de celulose, resduo slido municipal,
combustveis derivados de resduos e palha de milho. A taxa de alimentao variou
de 136 a 7.575 kg.h-1 (300-16.665 lb.h-1); presses de 1 a 33 bar (14,7-480 psi); e
alcanaram temperatura do reator de 725 a 1400 C (1337-2550 F). Abaixo, na
tabela 5 citou-se apenas os resduos slidos municipais (RSU) (CIFERNO;
MARANO, 2002).
A operao de gaseificadores de biomassa com presso atmosfrica ou
superior tem tanto vantagens quanto desvantagens dependendo da aplicao que se
busca para o gs de sntese. Gaseificadores pressurizados so complexos, custosos
e tm um alto custo de capital, tanto para o gaseificador quanto seus sistemas de
suprimento associados. Por outro lado, se o gs fornecido para uma turbina de
combusto ou processo de converso sob presso, evita-se a necessidade
dispendiosa de compresso do gs. As temperaturas de sada variam
consideravelmente, refletindo na limpeza do gs e no sistema de recuperao do
calor (CIFERNO; MARANO, 2002).
As principais fontes de oxignio usadas na gaseificao de biomassa so o
ar, oxignio puro e vapor, ou as combinaes destes. O ar o oxidante mais usado,
evitando a necessidade de produo de oxignio, e mais de 70% dos gaseificadores
que se pesquisou tm usado ar. Contudo, o uso de ar provoca um gs de poder
calorfico baixo, de 4 a 6 MJ/Nm (107-161 Btu/ft), adequado apenas para caldeira e
motor. Algumas tecnologias de gaseificadores de resduos slidos urbanos
conhecidas so a Purox da Union Carbide e a Sofresid/Caliqua e na tabela 05 esto
apresentadas as condies conhecidas desses sistemas (CIFERNO; MARANO,
2002).
38
Tabela 05 Condies individuais de operao dos gaseificadores de RSU
Purox Sofresid
Tipo Leito fluidizado Leito fluidizado
Matria-prima principal Resduos slidos urbanos Resduos slidos urbanos
Rendimento (tonelada/dia) 181 195
Presso (bar) 1 1
Temperatura (C) - 1300-1400
Gaseificante O2 Ar
Gs de sada (m/h) - 33.960
Poder calorfico (MJ/Nm) - 7,92
Fonte: Ciferno e Marano (2002).
3.2.7 Composio do gs de sntese
Ciferno e Marano (2002) afirmam que um grande nmero de parmetros
influenciam na composio, incluindo a matria-prima, a presso, a temperatura e o
oxidante. Poucos estudos de gaseificao falharam em reportar o teor de alcatro e
outras impurezas no sings. A composio do gs de sntese proveniente do uso de
resduos slidos municipais no gaseificador Purox est apresentada na tabela 06.
39
Tabela 06 Composio do syngas derivado do uso de RSU como biomassa.
Purox
Tipo Leito fluidizado
Matria-prima Resduos slidos urbanos
H2 23,4
CO 39,1
CO2 24,4
H2O seco
CH4 5,47
C2+ 4,93
Alcatres (em C2+)
H2S 0,05
O2 -
NH3 -
N2 -
Taxa H2/CO 0,6
Poder calorfico (MJ/Nm) -
Fonte: Ciferno e Marano (2002).
3.2.8 Emisses
Apenas uma quantidade limitada de dados sobre emisses de gaseificadores
de biomassa esto disponveis. Alguns destes esto apresentados na tabela 07.
Emisses so altamente variveis e dependem do tipo de gaseificador, matria-
40
prima, condies de processo (temperatura e presso) e sistema de
condicionamento do gs, Ciferno e Marano (2002). Por exemplo, sistemas indiretos
de gaseificao geram emisses de gs de combusto a partir da combusto de
combustveis adicionais, coque (char), uma poro da biomassa alimentada, ou no
caso de manufatura e tecnologia de converso internacional (MTCI), gs natural
(PAISLEY et al. 2001). Para Ciferno e Marano (2002), a gaseificao de resduos
slidos municipais e lodo de esgoto resultam em cinzas contendo metais pesados. A
maior preocupao com estas matrias-primas est no potencial de se filtrar metais
pesados atravs do ambiente aps o descarte das cinzas.
Tabela 07 Emisses de gaseificao de biomassa
Tecnologia Sofresid
Tipo de reator Leito fluidizado
Matria-prima Resduos slidos urbanos
Resduo lquido (alcatro/olo) (kg/kg
biomassa)
0
Resduos slido (coque/cinza) (kg/kg
biomassa)
10
Teor de alcatro Queimado
CO -
NOx 120 ppm
SO2 79 ppm
Carbono orgnico
41
3.2.9 Equipamento de suporte
Ciferno e Marano (2002) observa que a maioria das tecnologias de
gaseificadores requerem secagem da matria-combustvel para um teor especfico
de umidade antes da gaseificao. Esta etapa requere energia e, portanto, diminui a
eficincia global. A peletizao o processo pelo qual a biomassa transformada
em um compacto, denso, matria de fcil manipulao, mas isto no praticado ou
necessrio para a maioria dos gaseificadores de biomassa. A separao usada
primariamente ao manusear combustveis derivados de rejeitos para separar os
resduos mais pesados e os mais leves. Reduo de tamanho e pressurizao esto
especificados em vrios sistemas de alimentao manual. Equipamentos, tal como o
silo de armazenamento, transportadores, parafuso de avano, funil com trava,
sistemas de pesagens etc, que necessrio para quase, se no, todas as
tecnologias de gaseificao consideradas.
3.2.10 Potencial de aplicaes
Gaseificadores de leito fluidizado borbulhante (LFB)
Ciferno e Marano (2002) reconhece que a gaseificao em leito fluidizado
borbulhante aquecido diretamente tem sido amplamente estudada entre as
tecnologias consideradas. Ela tem sido operada em uma ampla faixa de condies,
como temperatura, presso e rendimento, usando uma variedade de biomassas
como matria-prima.Os gaseificadores de leito fluidizado so, provavelmente, a
opo de menor custo capital entre as tecnologias de gaseificao de biomassa
mais avanadas. Existe informao suficiente para conduzir um estudo-projeto
conceitual destes sistemas.
Gaseificadores de leito fluidizado circulante (LFC)
A gaseificao em leito fluidizado circulante aquecido diretamente no tem
sido estudada na mesma extenso da gaseificao em leito fluidizado borbulhante.
Pouqussimos experimentos tm sido realizados em presses elevadas; e, assim
como com os gaseificadores em leito fluidizado borbulhante, todos os resultados
reportados so para temperaturas menores que 1000 C. Operaes em presses
42
elevadas foram testadas, mas no para presses to altas quanto com
gaseificadores de LFB (no mximo 18,75 contra 35,53 atm (19 contra 36 bar)). A
reduo do tamanho da partcula da matria-combustvel provavelmente ser
necessria para gaseificadores LFC, e a biomassa poderia ser seca para aumentar a
temperatura de operao (CIFERNO; MARANO, 2002).
Gaseificadores em leito fixo (LFX)
Gaseificadores em leito fixo tambm tm sido demonstrados ao longo de um
intervalo limitado de condies. Por causa da tendncia deles para produzir largas
quantidades de outros alcatres ou coque (char) no-convertido, eles no tm sido
as primeiras escolhas para serem desenvolvidos. Sua principal vantagem a
habilidade para manusear matria-prima extremamente heterognea como resduo
slido urbano, e no deve ser descartada sua aplicao para resduos-combustveis
(CIFERNO; MARANO, 2002).
Gaseificadores de aquecimento indireto
Os sistemas de gaseificao de biomassa por aquecimento indireto, tanto
LFC (BCL/FERCO) quanto LFB (MTCI), esto num estgio precoce de
desenvolvimento, sua flexibilidade para uma variedade de aplicaes no tem sido
explorada. Estas unidades tm sido apenas testadas sob presso atmosfrica. Eles
so inerentemente mais complicados que os sistemas de aquecimento direto devido
necessidade de uma cmara de combusto separada, mas podem produzir um
gs de sntese com um poder calorfico alto, ideal para aplicaes combinadas de
calor e energia. Isto est tambm refletido no seu alto custo capital. Mas, eles no
requerem oxignio ou ar como reagente para a gaseificao, uma vantagem em
todas as aplicaes, uma vez que uma instalao de oxignio no necessria
(assim, uma penalidade de custo de capital e eficincia no constituda por esta
unidade), e a diluio do nitrognio no ocorre (CIFERNO; MARANO, 2002).
43
Co-Gaseificao e Co-Produo
Como foi apontado anteriormente, a biomassa pode ser co-gaseificada com
carvo. Um sistema combinado oferece significantes vantagens operacionais e
ambientais para ambos, o carvo e a biomassa. Num tom similar, a co-produo de
energia com combustveis, qumicos ou hidrognio podem melhorar o desempenho
dos sistemas de gaseificao de biomassa. Pureza baixa, teor de metano alto no
gs de sntese poderiam ser um problema a menos para tal cenrio (CIFERNO;
MARANO, 2002).
3.2.11 A necessidade de avaliao dos dados necessrio desenvolver mais trabalho para estabelecer os limites de
operao para a maioria das tecnologias de gaseificao de biomassa. A maioria das
demonstraes anteriores de gaseificador de biomassa tem sido para gerao de
processos como calor, vapor e eletricidade, e atividades de desenvolvimento atuais
so focadas em produzir eletricidade mais eficientemente integrando o sistema de
gaseificao com turbina a gs. As seguintes orientaes de Pesquisa &
Desenvolvimento para produo do gs de sntese para combustveis, qumicos e
produo de hidrognio, podem preencher a falta de dados identificada pelo autor
(CIFERNO; MARANO, 2002):
- Gaseificadores LFC e LFB pressurizados acima de 20 bar com vrias taxas de O2 e
vapor como co-alimentao;
- Todos os sistemas de gaseificao de biomassa, tanto LFB quanto LFC, a
temperaturas maiores que 1200 C;
- Todos os sistemas de gaseificao de biomassa numa ampla faixa de matria-
prima potencial;
- A co-gaseificao de biomassa/carvo em sistemas de gaseificao de carvo.
3.2.12 GASEIFICAO DE MADEIRA COMO BIOMASSA
Martnez et. al. (2011) em seu trabalho experimental de gaseificao da
biomassa madeireira de eucalipto na forma cilndrica com dimenses menores que 6
cm tanto em dimetro quanto em altura e umidade em torno de 10,32%,no qual
44
trabalhou com um reator em fluxo descendente no leito mvel com suprimento de ar
em dois estgios obteve em porcentagem de volume de CO, CH4 e H2concentraes
de 19.04, 0,89, 16,78% v, respectivamente, a um fluxo de ar de 20 Nm.h-1 e razo
do fluxo de ar entre os primeiro e segundo estgios de 80%, obtendo nessas
condies um gs com um poder calorfico baixo de 4.539 kJ.Nm-3.
Nas tabelas 8 e 9, os dados de anlise do material:
Tabela 08 Anlise imediata e final da biomassa madeireira (base mida)
Anlise imediata (b.u.%)
Cinzas 1,87
Volteis 83,02
Carbono fixo 15,11
Anlise final (b.u.%)
Carbono 44,31
Hidrognio 5,63
Nitrognio 3,23
Enxofre 0,91
Oxignio 44,05
LHV (kJ/kg) 18.140
Fonte: Martnez et al. (2011)
45
Tabela 09 Caractersticas nominais do gaseificador descendente com suprimento de ar em
duplo estgio
Caracterstica Valor Unidade
Energia trmica 50 kW
Energia trmica especfica 1200 500 kW.m-2
Consumo de biomassa
(a 15% de umidade na base
mida)
12 Kg.h-1
Tamanho da biomassa 2-6 cm
Razo de equivalncia (ER) 0,35 -
Fonte: Martnez et al (2011)
O gaseificador usado por Martnez et al. (2011) foi construdo de ao carbono
com revestimento interno de material refratrio. Ao longo do reator esto arranjados
seis termopares tipo K, que permanecem registrando as temperaturas do reator em
diferentes pontos. Os termopares so projetados at a parede interna do reator, de
forma a evitar possveis problemas com o fluxo de biomassa medida que ela
consumida. Contudo, este arranjo no favorece uma leitura confivel da
temperatura, mas evita-se um dos maiores problemas na gaseificao em leito
mvel: A formao de canais preferenciais (canalizando e colmatando). Desse modo
para reduzir este fenmeno, um dispositivo de vibrao no topo do gaseificador,
acoplado com um temporizador, favorece uma distribuio e consumo homogneo
da biomassa dentro do reator. E alm disso, outro vibrador tambm acoplado com
um temporizador no fundo do gaseificador, permite a descarga das cinzas atravs da
grade. O sistema de limpeza inclui um ciclone, trocadores de calor, e um filtro de
manga.
46
Martnez et al. (2011) comprova que os resultados encontrados corroboram
com os dados reportados na literatura para gaseificao de biomassa num reator
descendente convencional. Garca-Bacaicoa et al.1 (1994 apud MARTNEZ et al.
2011), em um reator tipo descendente com estreitamento e usando madeira como
combustvel, encontrou concentraes de 22,1%v (volume) de CO, 2,9%v de CH4 e
13,4%v de H2 para um poder calorfico baixo a mdio em torno de 5.590 kJ.Nm-3. Bui
et al. (1994), em um gaseificador descendente com estreitamento multi-estgio em
um modo dos estgios obteve um poder calorfico de 3.720 kJ.Nm-3 sendo as
composies de CO, CO2, H2 e CH4 de, 17,6, 13,6, 10,7 e 1,2%v, respectivamente.
Jain e Goss2 (2000 apud MARTNEZ et al. 2011), com casca de arroz e um reator
descendente do tipo estratificado obteve um gs com poder calorfico baixo de 4.000
kJ.Nm-3. Dogru et al.3 (2002 apud MARTNEZ et al. 2011), nos experimentos de
gaseificao de cascas de avel e tambm em um gaseificador Imbert (reator
descendente com estreitamento) obteve um gs combustvel com poder calorfico de
4.550 kJ.Nm-3 sendo que as concentraes de CO, CH4 e H2foram 16,8 %v, 1,7 %v,
e 14,12%v, respectivamente. Trabalhando em um gaseificador descendente com
estreitamento, Pathak et al.4 (2008 apud MARTNEZ et al. 2011), com uma taxa
consumo de madeira de 55 kg.h-1 encontrou poder calorfico de 4.240 kJ.Nm-3
(obtido pelo mtodo de Junker).
De acordo com Chen et al. (2009), as redues das emisses de alcatres
em um gaseificador descendente em dois estgios so relacionadas aos radicais
mais reativos produzidos em condies oxidativas devido alimentao de ar diludo
1 GARCA-BACAICOA, P.; BILBAO, R.; ARAUZO, J.; SALVADOR, M. L. Scale-up of downdraft moving
bed gasifers (25-300 kg/h) - design, experimental aspects and results. Bioresource Technology.
48:229-35. 1994.
2 JAIN, A. K.; GOSS, J. R. Determination of reactor scaling factors for throatless rice husk gasifier.
Biomass Bioenergy 18:249-56. 2000.
3 DOGRU, M.;HOWARTH, C. R.;AKAY, G.;KESKINLER, B.;MALIK, A. A. Gasification of hazelnut shells
in a downdraft gasifier. Energy; 27:415-27. 2002.
4 PATHAK; B. S., PATEL; S. R., BHAVE; A. G., BHOI; P. R., SHARMA; A. M., SHAH; N. P.
Performance evaluation of an agricultural residue-based modular throat-type down-draft gasifier for
thermal application. Biomass Bioenergy. 32:72-7. 2008.
47
no segundo estgio de ar. Segundo Bhattacharya, Siddique e Pham(1999), a
implementao de dois estgios de suprimento nos gaseificadores descendentes
resulta num decrscimo nos valores de alcatres nos gases produzidos, como
tambm no aumento das concentraes de CO em comparao com o gaseificador
descendente convencional simples estgio.
Velocidade superficial do gs
A velocidade superficial considerada por muitos autores como o principal
fator que determina a performance dos gaseificadores descendentes. De acordo
com Reed e Das1 (1988 apud MARTNEZ, 2011), a velocidade superficial tem um
efeito importante na taxa de produo de gs, no contedo energtico do gs, na
taxa de consumo do combustvel, na energia de sada e taxa de produo de coque
(char) e alcatres, e independente das dimenses do reator. A baixa velocidade
superficial resulta em uma lentido relativa nas condies de pirlise principalmente
favorecendo a obteno de um gs com alta quantidade de alcatro. E ao contrrio,
uma velocidade superficial alta provoca um aumento nas condies pirolticas
favorecendo a produo de coque (char) e gases com temperatura superior na zona
em chamas. Ainda assim, existe ainda um efeito negativo considervel, dado o
declnio do tempo de residncia resultando numa desfavorvel condio para a
quebra do alcatro quando o vapor do gs atravessa as zonas de combusto e
gaseificao.
Foi observado por Fagbemi, Khezami e Capart2 (2002 apud MARTNEZ,
2011) que o alcatro nos gases pirolticos da biomassa decresce pelo tempo de
residncia na faixa de 0,3-4 segundos, alcanando maior eficincia no
craqueamento trmico a temperaturas maiores e tempos mais elevados.
Martnez (2011) encontrou que em relao razo de equivalncia (ER)
tambm conhecida como fator de ar, o poder calorfico baixo do gs aumentou com 1 REED, T. B.; DAS, A. Handbook of biomass downdraft gasifier engine systems: solar energy
research institute. US Department of Energy; 1988.
2FAGBEMI, L.; KHEZAMI, L.; CAPART, R. Pyrolysis products from different biomasses: application to
the thermal cracking of tar. Applied Energy; 69:293-306. 2002.
48
sua reduo e vice-versa. Porm, esse gaseificador apresenta uma estabilidade
considervel no baixo poder calorfico do gs produzido para todas as vazes de ar
estudadas (de 16 a 24Nm3.h-1), com valores entre 3.890 e 4.637 kJ.Nm-3.
Eficincia fria e potncia til
Os valores de eficincia fria (c) e potncia til (Euseful) que obtiveram para a
vazo total de ar na faixa estudada e de cada condio da razo da vazo de ar
entre o primeiro e segundo estgios (AR) podem ser encontrados no artigo. A
potncia til mostra uma mesma tendncia ascendente para as AR de 0 e 80%
(testes A e C): resultando em valores em torno de 42 e 44 kW, respectivamente para
22 Nm3.h-1. Alm disso, a eficincia fria tem um comportamento com variaes na
faixa de 65 a 67%, indicando a robustez e estabilidade do gaseificador. Para um AR
igual a 0% (teste A), a eficincia fria mostra um valor estvel em torno de 66% na
faixa entre 16 e 22 Nm3.h-1. Maiores vazes de ar guiam para uma reduo na
potncia e eficincia do gs. A eficincia fria para AR de 40% (teste B), mostra um
pico de 67,38% na vazo de 22 Nm3.h-1. Superiores vazes de ar indicam a
tendncia de reduo devido ao poder calorfico baixo do gs. Tambm, para AR de
40%, a maior potncia (46,63 kW) alcanada em 24 Nm3.h-1 (ponto B5), apesar de,
para esta condio de poder calorfico baixo do gs ser inferior comparando com o
ponto anterior (B4), nesse caso, a vazo dos gases gerados compensa o teor
energtico inferior do gs produzido alcanando tal potncia. Para AR igual a 80%
na vazo total de ar de 20 Nm3.h-1 (onde foi obtido a menor concentrao de CH4) os
valores de eficincia fria e potncia til apresentam valores de 67,93% e 40,57 kW,
respectivamente. Segundo o autor, este fato indica que o gaseificador operando sob
estas condies produz um gs combustvel com boas caractersticas operando com
uma eficincia superior (MARTNEZ, 2011).
3.2.13 REATOR COM LEITO FLUIDIZADO 4FBR
Gaston et al. (2011 traduzido pelo autor) estudaram um novo reator de leito
fluidizado com 102 mm de dimetro (4FBR) e usaram para avaliar o efeito do
tamanho da partcula da biomassa na produo de gases leves (CO, CO2, H2 e CH4)
e compostos de alcatro durante a gaseificao usando um agente gaseificante
49
inerte.Experimentos foram realizados em lote com carvalho branco modo em quatro
tamanhos de esfera com dimetro de 6, 13, 18 e 25 mm, em temperaturas do leito
do reator de 500, 600, 700, 800 e 900 C. Os componentes orgnicos foram
caracterizados usando um espectrmetro de massa de feixe molecular (MBMS),
enquanto gases leves foram medidos usando detectores de infravermelho no
dispersivo (NDIRS).
Como resultado, os teores de gs leve aumentaram com a temperatura, mas,
em seguida, atingiu-se um plat acima de 800 C. A medida que o tamanho da
partcula aumenta, observada uma diminuio na formao de gases leves,
acompanhada por um aumento na formao de coque (char). As medies dos
compostos orgnicos presentes no gs de sntese foram realizadas utilizando um
espectrmetro de massa de feixe molecular (MBMS). Estas medidas indicam que,
quando o tamanho das esferas aumenta, a formao de alcatro e hidrocarbonetos
aromticos policclicos (HAP) aumenta.Estas observaes enfatizam ainda mais a
importncia do papel das restries de transporte de massa e calor para as
partculas maiores na evoluo dos produtos durante a gaseificao e suas
possveis implicaes na economia do processo de gaseificao (GASTON et al.,
2011).
Gaston et al. (2011) constatou que um dos maiores desafios na produo de
biocombustveis a partir da gaseificao e sntese a formao de espcies com
alto peso molecular, chamadas alcatres, durante o processo de gaseificao.
Alcatres impedem a produo de gs de sntese e tm que ser removidos antes do
passo de sntese do combustvel para prevenir a desativao dos catalisadores e
incrustaes do equipamento no processo.
Os modelos de cintica globais que descrevem a converso de biomassa
para coque (char), gs, e alcatro podem ser acoplados s equaes de transporte
de calor e massa para fornecer a taxa daquelas classes de produtos quando eles
50
liberam as partculas, Di Blasi1; Miller e Bellan2,3 (2008; 1996 e 1997 apud GASTON
et al. 2011), mas poucos estudos investigaram o elo entre os processos de intra-
partculas e as quantidades atuais de alcatro na escala do reator. Experimentos de
gaseificao a temperaturas relativamente baixas (at 800 C) por Herguido, Corella
e Gonzalez-Saiz4 (1992apud GASTON et al. 2011) sugerem uma produo alta de
gs e reduo de alcatro para partculas menores, mas o uso de matrias-primas
diferentes impede uma concluso definitiva. Estudos sistemticos demonstraram
experimentalmente que a reduo do tamanho da partcula leva para uma melhoria
significativa nos parmetros de gaseificao, especialmente em termos de
quantidade de alcatro e eficincia do gs produzido (JAND; FOSCOLLO5, 2005;
RAPAGN; CELSO6, 2008; HERNANDEZ; ARANDA-ALMANSA; BULA7, 2010 apud
GASTN et al. 2011).
O aparato denominado 4FBR foi projetado para investigar as gaseificao e
pirlise em escala de bancada para permitir pelo escaneamento rpido das
condies experimentais e habilitar um entendimento detalhado das condies do
reator e seus impactos nos produtos. O reator est integrado numa caamba
1 DI BLASI, C. Modeling chemical and physical processes of wood and biomass pyrolysis. Prog. Energy Combust. Sci. 34 (1), 4790. 2008.
2 MILLER, R. S.; BELLAN, J. Analysis of reaction products and conversion time in the pyrolysis of cellulose and wood particles. Combust. Sci. Technol. 119, 331373.1996.
3 ________. A generalized biomass pyrolysis model based on superimposed cellulose, hemicellulose and lignin kinetics. Combustion Science and Technology. 126 (1), 97137. 1997.
4 HERGUIDO, J.; CORELLA, J.; GONZALEZ-SAIZ, J. Steam gasification of lignocellulosic residues in a fluidized bed at a small pilot scale: Effect of the type of feedstock. Industrial & Engineering Chemistry Research. 1992.
5 JAND, N.; FOSCOLO, P. U. Decomposition of wood particles in fluidized beds. Industrial &
Engineering. Chemistry. Research, 44 (14), 50795089. 2005.
6 RAPAGN, S.; DI CELSO, G. M. Devolatilization of wood particles in a hot fluidized bed: Product
yields and conversion rates. Biomass Bioenergy, 32 (12), 11231129. 2008.
7 HERNANDEZ, J. J.; ARANDA-ALMANSA, G.; BULA, A. Gasification of biomass wastes in an
entrained flow gasifier: Effect of the particle size and the residence time. Fuel Processing Technology.
91 (6), 681692. 2010.
51
portvel contendo todos os equipamentos necessrios para sua operao:
tubulao, aquecedores e isolamento, equipamentos de limpeza de gases,
instrumentao, equipamentos de sistema de controle, e um painel de distribuio
de energia. Este sistema est projetado para operar sob temperaturas internas at
950 C e presses at 80 kPa. Todas as partes aquecidas do reator so feitas de
Inconel ou Incoloy para suportar as altas temperaturas e eventual exposio a gases
contendo enxofre; da mesma forma, todas as conexes no reator so flangeadas ou
soldadas. De Incoloy/cermica, juntas em espiral se encaixam entre cada flange,
com duas juntas em ambos os lados da placa de distribuio na flange inferior
(GASTN et al. 2011).
Gaston et al. (2011) observou que a 500 C, a maioria do material voltil
vaporizado das partculas na biomassa mas evoluiu-se principalmente como vapores
orgnicos condensveis com apenas uma pequena produo de gases leves.
medida que a temperatura aumentou, esses produtos pirolticos foram craqueados e
mais gases leves foram formados. A 800 e 900C, retornos decrescentes foram
vistos enquanto se aumenta a temperatura de reao, na tentativa de aumentar a
produo de gs leve. Estes resultados foram consistentes com Carpenter et. al.
(2010) que encontrou que o total de produo de gases leves aumenta com o
aumento da temperatura at estabilizar na faixa de 750-870 C, para partculas
menores que as deste trabalho. A produo total de gs aparentou reduzir com o
aumento do tamanho da esfera, embora as anlises estatsticas mostram que pode-
se apenas verificar isto para 600 C e o menor contra dois tamanhos acima para 500
e 700 C, no encontrou-se diferenas entre o tamanho das partculas para 800 e
900 C. Nas mais altas temperaturas, a taxa de transferncia de calor e massa
aumentaram, partculas aqueceram mais rpido e se formaram menos alcatres e
coque (char). Como resultado, o tamanho da partcula tem menos influncia na
evoluo dos gases leves num reator nas mais altas temperaturas.
Os dados de coque (char) indicam que com significncia estatstica, as taxas
de aquecimento mais rpidas produzem menos coque (char). Para as partculas
maiores e temperaturas menores, o carbono tende a formar mais coque (char), e
isso, em ltima anlise reduz a produo de gases leves. Estes resultados para
produo coque (char) e gs leve, concordam com as observaes de outros,
52
Herguido, Corella e Gonzalez-Saiz1; Jand e Foscolo2; Rapagn et al.3 (1992; 2005;
2008 apud GASTN et al. 2011), como se descobriu bem as diferenas entre
pirlise lenta para produzir carvo (charcoal) contra a pirlise rpida para produzir
leos.
Gastn et al. (2011) concluram que a formao de hidrocarbonetos
aromticos policclicos deve estar a ocorrer no interior da partcula, para formar as
concentraes mais elevadas para as partculas maiores, dado que, as reaes das
biomolculas fora da partcula iriam ter velocidades de reao mais lenta com base
na concentrao.
3.2.14 REATOR DE LEITO FLUIDIZADO BORBULHANTE ALIMENTADO COM CASCAS DE ARROZ
Behaine e Martinez (2014 traduo do autor), na Colmbia, trabalharam num
reator de leito fluidizado borbulhante (com capacidade nominal de 150 kWh)
alimentado com cascas de arroz atravs de um sistema automtico de parafuso
transportador que tem uma cmara de arrefecimento tanto externamente quanto
internamente para evitar a pirlise e carbonizao da matria-prima antes de entrar
no reator desenvolvido para trabalhar em condies de gaseificao. Este sistema
foi aferido usando um projeto estatstico de experimentos baseado na metodologia
de superfcie de resposta, de forma a obter correlaes empricas para traar o
comportamento de operao em termos de razo de equivalncia (ER) e o estado
normal da velocidade de fluidizao (Unc). O baixo poder calorfico, a produo
volumtrica de gs, a potncia do gs e a eficincia fria de gaseificao foram as
variveis de sada. Condies timas com respeito, a uma vazo de alimentao da
1 HERGUIDO, J.; CORELLA, J.; GONZALEZ-SAIZ, J. Steam gasification of lignocellulosic residues in a fluidized bed at a small pilot scale. Effect of the type of feedstock. Industrial &
Engineering Chemistry Research.31 (5), 12741282.1992.
2 JAND, N.; FOSCOLO, P. U. Decomposition of wood particles in fluidized beds. Ind. Eng. Chem. Res.
2005, 44 (14), 50795089.] 3 RAPAGN, S.; DI CELSO, G. M. Devolatilization of wood particles in a hot fluidized bed: Product
yields and conversion rates. BiomassBioenergy.32 (12), 11231129. 2008.
53
casca de arroz em 56,0 kg.h-1, e temperatura 828 C, tanto o baixo poder calorfico
(3,78 MJ/Nm) e a potncia do gs (73,82 kW) foram obtidas a uma ER de 0,24 e Unc
de 0,19 m/s, e tambm 36,51 % de eficincia fria, 1,25 Nm.kg-1 na produo de gs.
Contudo, a altura do leito fixo inicial de inertes exige que seja maior de modo que
aumente as condies de transferncia de massa e energia e por conseguinte, a
converso do carbono. As correlaes estatsticas obtidas foram consideradas
aceitveis levando em conta a complexidade do fenmeno de gaseificao no leito
fluidizado. Os resultados so considerados como uma base para projetar unidades
de gerao de energia decentralizadas em pequena escala tendo como matria-
prima a casca de arroz.
Behaine e Martinez (2014), a partir dos resultados experimentais, observaram
que Unc de 0,19 m/s e ER de 0,24 aparentam serem as condies timas em relao
as concentraes de gases combustveis resultando em 14,07 % de CO, 5,58 % de
H2 e 3,93 % de CH4, alm de 54,37 % de N2, 10,69 % de CO2, 0,45 % de O2 e 10,91
% de H2O.
A tecnologia de leito fluidizado para a valorizao energtica dos resduos de
biomassa, como casca de arroz, bagao de cana-de-acar e serragem, tem
experienciado um desenvolvimento considervel nos ltimos anos. Reatores de leito
fluidizado tm sido altamente provados como uma tecnologia eficiente para altas
capacidades especficas e foram considerados como a melhor opo para converter
biomassa em energia devido a sua flexibilidade de combustveis e pela possibilidade
de alcanar uma operao limpa (SINGH; MOHAPATRA; GANGACHARYULU1,
2008 apud BEHAINE; MARTINEZ, 2014). Algumas das principais caractersticas da
tecnologia de leito fluidizado so: distribuio homognea da temperatura na cmara
do reator, bom contato superfcie gs-slido, ampla tolerncia para variaes na
qualidade do combustvel, fcil de ligar e desligar, rpido aquecimento, alta eficincia
1 SINGH R. I.;MOHAPATRA S. K;GANGACHARYULU D. Studies in an atmospheric bubbling fluidized-
bed combustor of 10 MW power plant based on rice husk. Energy Convers Manage.49:3086103.
2008.
54
na converso do carbono e investimento relativamente baixo (KUNII; LEVENSPIEL1,
1991; ANTHONY2, 1995; BASU3, 2006 apud BEHAINE; MARTINEZ, 2014).
Adicionalmente, esses tipos de reatores apenas oferecem vantagens importantes
quando so usados para gaseificao de baixa densidade, alto contedo de cinzas e
irregulares/complexas biomassas como cascas de arroz. Reatores convencionais
como os de leito fixo no so adequados para o processamento de cascas de arroz
dadas as propriedades fsico-qumicas e o baixo ponto de fuso para as cinzas.
Neste sentido, a gaseificao, alm de permitir a produo de produtos gasosos,
para energia e/ou gerao trmica ou para a sntese de componentes qumicos,
geralmente guiam para uma temperatura baixa de reao em comparao a
combusto. Ento, os problemas associados com sinterizao e aglomerao de
cinzas durante a combusto so prevenidos (NATARAJAN; NORDIN; RAO4, 1998;
MANSARAY et al.5, 1999 apud BEHAINE; MARTINEZ, 2014).
Mansaray et al.5(1999 apud BEHAINE; MARTINEZ, 2014) demonstraram os
efeitos da velocidade de fluidizao (Uf) e razo de equivalncia (ER) usando uma
placa distribuidora dupla e obtiveram que a uma Uf de 0,22 m/s e ER de 0,25, as
concentraes volumtricas de produo de gs foram 4% de H2, 5% de
hidrocarbonetos (CH4, C2H2, C2H4 e C2H6), 15% de CO2, 20 % de CO e 57% de N2.
1KUNII; LEVENSPIEL. Fluidization Engineering. 2nd ed. Boston: Butterworth-Heinemann;
1991.
2ANTHONY. Fluidized bed combustion of alternative solid fuels; status successes and
problems of the technology. Progress in Energy and Combustion Science. 1995; 21:23968.
3BASU. Combustion and Gasification in Fluidized Beds. Florida: CRC/Taylor & Francis
Group LLC; 2006.
4NATARAJAN; NORDIN; RAO. Overview of combustion and gasification of rice husk in
fluidized bed reactors. Biomass Bioenergy 1998; 14:53346.
5MANSARAY; GHALY; AL-TAWEEL; HAMDULLHPUR; UGURSAL. Air gasification of rice husk
in a dual distributor type fluidized bed gasifier. Biomass Bioenergy 1999; 17:31532.
55
Seleo de variveis de entrada e sada
Gmez-Barea, Arjona e Ollero1 (2005 apud BEHAINE; MARTINEZ, 2014)
constataram que para um gaseificador no aquecido externamente, h apenas duas
variveis importantes que podem ser variadas de uma forma independente entre
uma gama limitada de opes: o rendimento da biomassa e a taxa de fluxo de ar.
Estes dois parmetros determinam a razo de equivalncia e a velocidade
superficial do gs. Como sabe-se bem, a razo de equivalncia uma das variveis
operacionais mais importantes na gaseificao de biomassa utilizando ar como
agente gaseificante. A razo de equivalncia (ER) definida como a taxa de ar-
combustvel usado atualmente no processo (Nm.kg-1), dividida pela taxa de ar-
combustvel nas condies estequiomtricas de combusto (Nm.kg-1), usualmente
varia entre 0,20 e 0,40, segundo Lora et a. (2012). De acordo com Natarajan et al.2
(1998 apud BEHAINE; MARTINEZ, 2014) o limite inferior de ER decidido pela
quantidade mnima de ar necessria para queimar uma frao de combustvel, e
assim para liberar calor suficiente para suportar as reaes endotrmicas envolvidas
na gaseificao. De outra forma, o limite superior determinado pela anlise
combinada, considerando a temperatura do reator (de forma a evitar o ponto de
fuso das cinzas), a qualidade de fluidizao, o poder calorfico do gs e o contedo
de alcatres no gs produzido.
Behaine e Martinez (2014) reconhecem que a velocidade de fluidizao a
principal varivel envolvida nos processos de fluidizao e est ligada com o tempo
de residncia aparente, tanto do coque quanto dos volteis dentro do reator, e
tambm com as taxas de transferncia de massa e calor. Neste trabalho a
velocidade superficial do ar na zona densa do leito a 101,3 kPa e 273,1 K tem sido
considerada e designada como velocidade normalizada de fluidizao (Unc).
As variaes nas condies de processo foram atribudas a vrias razes, tal
como a composio das cascas de arroz, as propriedades dos materiais inertes que 1 GMEZ-BAREA A., ARJONA R., OLLERO P. Pilot-plant gasification of olive stone: a technical
assessment. Energy Fuels 19:598605. 2005.
2NATARAJAN; NORDIN; RAO. Overview of combustion and gasification of rice husk in
fluidized bed reactors. Biomass Bioenergy 1998; 14:53346.
56
conduzem a condies diferentes de fluidizao e o projeto do gaseificador
(isolamento, placa distribuidora, ponto de alimentao da matria-prima) (BEHAINE;
MARTINEZ, 2014).
3.2.15 Biomassa na secagem de produtos agrcolas via gaseificao com combusto adjacente dos gases produzidos
Silva, Cardoso Sobrinho e Saiki (2004) estudaram a viabilidade do uso de um
gaseificador/combustor que utiliza tocos de eucalipto, resduos de serraria, cavacos
de lenha e sabugo de milho como combustvel na secagem de produtos agrcolas.
Como teste do sistema, o caf foi secado a partir da umidade inicial de 54,5% b.u.
(base mida) at 11,1 1,6% b.u., utilizando cavacos de lenha. A temperatura do ar
de secagem foi de 60 C, presso esttica do ar na sada do ventilador de 9 mmca e
velocidade de 46,3 m3.min-1. Observaram que o gaseificador, usando, consumiu
entre 15,3 e18,8 kg h-1 de biomassa, que o equipamento vivel para a secagem de
caf despolpado e para outros produtos agrcolas, no o impregnou o caf com
fumaa ou outras partculas geradas nas fornalhas de fogo direto, e que todos os
combustveis de biomassa testados so viveis na utilizao do sistema via
gasificao com adjacente combusto dos gases gerados.
3.3 Biomassa
A biomassa a matria orgnica de seres que foram mortos a pouco tempo,
incluindo matria vegetal de rvores, gramneas e colheita agrcola. A composio
qumica da biomassa varia dependendo da espcie, mas basicamente consiste de
alto, mas varivel, teor de umidade, uma estrutura fibrosa consistindo de lignina,
carboidratos ou acares, e cinzas Turn1 (1999 apud CIFERNO; MARANO, 2002
traduo do autor). A biomassa um material bastante heterogneo nas suas
condies naturais e possuem um poder calorfico menor que o do carvo. Na
gaseificao, o alto teor de oxignio e umidade resultam num poder calorfico baixo 1 TURN, S.Q. Biomass integrated gasifier combined cycle technology III: Application in the cane sugar industry.Int. Sugar JNL, 1999, Vol. 101, NO. 1207.
57
para o gs de sntese produzido, tipicamente
58
Tabel