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216 Revista da Abordagem Gestáltica – XIII(2): 216-221, jul-dez, 2007 A r t i g o FENOMENOLOGIA E TEORIA DO CONHECIMENTO EM HUSSERL Phenomenology and Theory of Knowledge in Husserl Fenomenología y Teoría del Conocimiento en Husserl URBANO ZILLES Resumo: O texto apresenta a construção da fenomenologia em torno de uma teoria do conhecimento. Principia pelo contexto fi- losófico do surgimento da fenomenologia, apontando as relações entre a perspectiva de Husserl e a Teoria do Conhecimento de Hermann Cohen. Faz um relato das principais obras de Husserl, destacando sua progressão, de uma crítica ao psicologismo à estruturação de uma fenomenologia transcendental, até alcançar temas como o corpo e o mundo-da-vida. O texto apresenta os principais conceitos da fenomenologia, situando-a como uma filosofia rigorosa. Palavras-chave: Fenomenologia; Teoria do Conhecimento; Husserl. Abstract: This paper presents the construction of phenomenology around a theory of knowledge. It begins by the philosophical context of appearance of phenomenology, pointing the relations between Husserl’s perspective and the Theory of Knowledge of Hermann Cohen. After that, it relates the main works of Husserl, to make salient his progression, since the critique of psychol- ogism to the development of transcendental phenomenology, to subjects like the body and life-world. The paper presents the main concepts of phenomenology, putting is place like a rigorous philosophy. Keywords: Phenomenology; Theory of Knowledge; Husserl. Resumen: El texto exhibe la construcción de la fenomenología en torno de una teoría del conocimiento. Comienza por el con- texto filosófico del surgimiento de la fenomenología, señalando las relaciones entre la perspectiva de Husserl y la Teoría del Conocimiento de Hermann Cohen. Hace un relato de las principales obras de Husserl, resaltando su progresión, desde una crí- tica al psicologismo hasta la estructuración de una fenomenología trascendental, alcanzando temas como el cuerpo y el mundo de la vida. El texto presenta los principales conceptos de la fenomenología, localizándola como una filosofía estricta. Palabras-claves: Fenomenología; Teoría del Conocimiento; Husserl. A influência da Fenomenologia de Edmund Husserl (1859-1938) foi tamanha que hoje se tornou difícil ava- liá-la em toda a sua extensão e profundidade. A recep- ção de sua obra começou pouco antes da Primeira Guerra Mundial e teve certo apogeu na década de 1920. Nessa época surgiram Escolas que desenvolveram alguns as- pectos de sua concepção, como é o caso da ontologia existencial de Martin Heidegger e a ética dos valores de Max Scheler. Contexto Filosófico No final do século XIX, a psicologia não só gozava de grande prestígio, mas para muitos parecia a chave de ex- plicação da teoria do conhecimento e da lógica. Para rejei- tar essa tese, Edmund Husserl elaborou seu método feno- menológico, produzindo uma obra gigantesca em extensão e profundidade que desafia seus intérpretes até hoje. Na primeira década do século XX, poucos historiado- res consideravam a obra de Husserl. Suas Investigações Lógicas (1900/1901), em vista das numerosas pesquisas neokantianas no campo da epistemologia, chamavam pou- ca atenção. Na verdade, pareciam muito próximas da tese de Hermann Cohen de que a lógica deve ser fundamento de um sistema filosófico. Da mesma forma, o ideal da pure- za e o postulado da fundamentação da filosofia, sobretudo da teoria do conhecimento, da matemática ou das ciências naturais também podia encontrar-se em Cohen. Hermann Cohen (1842-1918) buscava um último axio- ma no qual todo o ser identificado com o pensamento pu- desse ser derivado e explicado. Via tal princípio no vir-a- ser. A pesquisa sobre o fundamento, que o pensamento matemático deve seguir, em Cohen exerce um papel cen- tral. Chama atenção seu esforço para restaurar a filosofia com o status de uma teoria universal da ciência. A teoria do conhecimento de Cohen tem caráter du- plo: por um lado, busca um a priori irredutível, separando conhecimento de experiência, situando-o no puro pen- samento; por outro, tenta conciliar o mundo das idéias da lógica pura com o pensamento de Heráclito sobre o devir. Entende a pureza, não como isolamento, mas sob o aspecto de sua aplicação. Propõe que a filosofia, analo- gamente ao processo da análise infinitesimal, se adapte ao processo. Cohen procura mostrar que as sensações e a ciência experimental a elas relacionada são perfeita- mente reconstruíveis pelo pensamento, sem que algo fi- que de fora.

Fenomenologia e Teoria Do Conhecimento Em Husserl

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  • Urbano Zilles

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    FENOMENOLOGIA E TEORIA DO CONHECIMENTO EM HUSSERL

    Phenomenology and Theory of Knowledge in Husserl

    Fenomenologa y Teora del Conocimiento en Husserl

    urbano zilles

    Resumo: O texto apresenta a construo da fenomenologia em torno de uma teoria do conhecimento. Principia pelo contexto fi-losfico do surgimento da fenomenologia, apontando as relaes entre a perspectiva de Husserl e a Teoria do Conhecimento de Hermann Cohen. Faz um relato das principais obras de Husserl, destacando sua progresso, de uma crtica ao psicologismo estruturao de uma fenomenologia transcendental, at alcanar temas como o corpo e o mundo-da-vida. O texto apresenta os principais conceitos da fenomenologia, situando-a como uma filosofia rigorosa.Palavras-chave: Fenomenologia; Teoria do Conhecimento; Husserl.

    Abstract: This paper presents the construction of phenomenology around a theory of knowledge. It begins by the philosophical context of appearance of phenomenology, pointing the relations between Husserls perspective and the Theory of Knowledge of Hermann Cohen. After that, it relates the main works of Husserl, to make salient his progression, since the critique of psychol-ogism to the development of transcendental phenomenology, to subjects like the body and life-world. The paper presents the main concepts of phenomenology, putting is place like a rigorous philosophy.Keywords: Phenomenology; Theory of Knowledge; Husserl.

    Resumen: El texto exhibe la construccin de la fenomenologa en torno de una teora del conocimiento. Comienza por el con-texto filosfico del surgimiento de la fenomenologa, sealando las relaciones entre la perspectiva de Husserl y la Teora del Conocimiento de Hermann Cohen. Hace un relato de las principales obras de Husserl, resaltando su progresin, desde una cr-tica al psicologismo hasta la estructuracin de una fenomenologa trascendental, alcanzando temas como el cuerpo y el mundo de la vida. El texto presenta los principales conceptos de la fenomenologa, localizndola como una filosofa estricta.Palabras-claves: Fenomenologa; Teora del Conocimiento; Husserl.

    A influncia da Fenomenologia de Edmund Husserl (1859-1938) foi tamanha que hoje se tornou difcil ava-li-la em toda a sua extenso e profundidade. A recep-o de sua obra comeou pouco antes da Primeira Guerra Mundial e teve certo apogeu na dcada de 1920. Nessa poca surgiram Escolas que desenvolveram alguns as-pectos de sua concepo, como o caso da ontologia existencial de Martin Heidegger e a tica dos valores de Max Scheler.

    Contexto Filosfico

    No final do sculo XIX, a psicologia no s gozava de grande prestgio, mas para muitos parecia a chave de ex-plicao da teoria do conhecimento e da lgica. Para rejei-tar essa tese, Edmund Husserl elaborou seu mtodo feno-menolgico, produzindo uma obra gigantesca em extenso e profundidade que desafia seus intrpretes at hoje.

    Na primeira dcada do sculo XX, poucos historiado-res consideravam a obra de Husserl. Suas Investigaes Lgicas (1900/1901), em vista das numerosas pesquisas neokantianas no campo da epistemologia, chamavam pou-ca ateno. Na verdade, pareciam muito prximas da tese

    de Hermann Cohen de que a lgica deve ser fundamento de um sistema filosfico. Da mesma forma, o ideal da pure-za e o postulado da fundamentao da filosofia, sobretudo da teoria do conhecimento, da matemtica ou das cincias naturais tambm podia encontrar-se em Cohen.

    Hermann Cohen (1842-1918) buscava um ltimo axio-ma no qual todo o ser identificado com o pensamento pu-desse ser derivado e explicado. Via tal princpio no vir-a-ser. A pesquisa sobre o fundamento, que o pensamento matemtico deve seguir, em Cohen exerce um papel cen-tral. Chama ateno seu esforo para restaurar a filosofia com o status de uma teoria universal da cincia.

    A teoria do conhecimento de Cohen tem carter du-plo: por um lado, busca um a priori irredutvel, separando conhecimento de experincia, situando-o no puro pen-samento; por outro, tenta conciliar o mundo das idias da lgica pura com o pensamento de Herclito sobre o devir. Entende a pureza, no como isolamento, mas sob o aspecto de sua aplicao. Prope que a filosofia, analo-gamente ao processo da anlise infinitesimal, se adapte ao processo. Cohen procura mostrar que as sensaes e a cincia experimental a elas relacionada so perfeita-mente reconstruveis pelo pensamento, sem que algo fi-que de fora.

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    Enquanto Cohen atribura ao pensamento a dimen-so de fim em si mesmo, Husserl tentou superar a apo-ria do neokantismo, que dilura o ser racionalmente no puro pensamento, fundando o ideal de uma lgica pura na empiria. Vindo de Franz Brentano (1838-1917), com o qual estudara em Viena, primeiro Husserl via conceitos fundamentais da matemtica ou aritmtica numa psico-logia descritiva. Isso est evidenciado em sua obra Sobre o Conceito de Nmero, publicada em 1887.

    Desde o comeo Husserl tem o objetivo de superar a oposio entre objetivismo e subjetivismo. No final do s-culo XIX, ainda reinava um fascnio pelo ideal do conhe-cimento das cincias da natureza. Husserl quer satisfazer objetividade do conhecimento, seja ele ideal ou real, e subjetividade do cognoscente. No seu ensaio de Filosofia da Aritmtica (1891) manifesta seu objetivo, mas sucum-be ao psicologismo.

    O psicologismo defendia a tese de que a lgica com-preende as normas que valem para todo o pensamento certo da mesma maneira como a engenharia apresenta as regras para construir bem. Por isso, como a engenha-ria se fundamenta na fsica, a lgica se fundamentaria na psicologia.

    Rejeitando o psicologismo, Husserl afirma que as pro-posies lgicas contm verdades necessrias, puramente ideais; as proposies da psicologia generalizam interpre-taes da experincia. A psicologia pressupe a existncia de seus objetos e a lgica no. Pela crtica ao psicologismo Husserl pensa a propriedade dos atos de pensar, perce-ber etc., a partir do seu contedo de sentido, ou seja, do pensado e percebido.

    No decurso da elaborao da fenomenologia, Husserl concentra seu interesse sempre mais nos seguintes pro-blemas: a) Como o mundo real em sua temporalidade, em sua consistncia intersubjetiva, em sua objetividade se constitui em nossa conscincia? b) Como passar da ati-tude natural para a atitude filosfica?

    No primeiro volume das Investigaes Lgicas (1900), cujo subttulo Prolegomena para uma lgica pura, ten-ta mostrar que a lgica a priori para uma teoria da ci-ncia. Husserl rejeita a idia de que os fundamentos de uma lgica normativa e de uma teoria do conhecimen-to se encontram na psicologia. Da mesma maneira no aceita a conseqncia emprica do psicologismo, no sen-tido de que as leis do pensamento tambm sejam as leis da natureza, que produziria o pensar racional. Critica, sobretudo, as concepes de Stuart Mill (1806-1873) e Herbert Spencer (1820-1903) que tentaram fundamentar a lgica antropologicamente. Husserl critica, outrossim, o psicologismo na lgica, que comum a essas posies, por conduzir a um relativismo ctico. Diante isso, Husserl persegue as condies que possibilitam cincia ou teoria em geral. Distingue dois campos da lgica pura: de um lado, a lgica das categorias de significao (como con-ceito, proposio, concluso, etc.) e, de outro, a lgica das

    categorias objetivas (como objeto, contedo, unidade, plu-ralidade, relao, etc.). Dentro dessa esfera de essncias ideais, distingue, mais uma vez, entre um sistema de ca-tegorias semiticas e outro sistema objetivo para o qual o primeiro indica. Entre ambos existe uma correlao. Mais tarde, designou esses dois sistemas com os termos de lgica apofntica e lgica formal ou ontologia formal e teoria formal dos objetos.

    No segundo volume das Investigaes lgicas, com o subttulo Investigaes sobre fenomenologia e teoria do conhecimento, desenvolve, programaticamente, pela pri-meira vez, o mtodo fenomenolgico. Elabora esse tema, de maneira mais clara, na obra publicada em 1913, Idias para uma fenomenologia pura e uma filosofia fenomeno-lgica. Nas Investigaes Lgicas aparece indicado, de modo ainda impreciso, o aspecto do noemtico. Por noe-ma Husserl entende o contedo temtico do conhecimen-to em oposio noese como o prprio ato da vivncia, que tem o noema como objeto.

    Fundamentao da Fenomenologia

    Husserl nega que as leis lgicas, sustentculos da uni-dade de toda cincia, possam ser fundamentadas na psi-cologia, cincia emprica. Com isso o psicologismo no consegue resolver o problema fundamental da teoria do conhecimento, ou seja, o problema de como possvel alcanar objetividade. Coloca a questo nos seguintes ter-mos: como possvel que o sujeito cognoscente alcance, com certeza e evidncia, uma realidade que lhe exte-rior? A noese so os atos pelos quais a conscincia visa um certo objeto de uma certa maneira, e o contedo ou significado desses objetos visados o noema. No nvel transcendental, as noeses so os atos do sujeito consti-tuinte que criam os noemas enquanto puras idealidades ou significaes. As noeses empricas so passivas, por-que visam uma significao preexistente; a noese trans-cendental ativa, porque constitui as prprias significa-es ideais.

    Para Husserl, a fenomenologia o acabamento da ten-tativa de Descartes de fundamentar todo o conhecimento na certeza reflexiva do ego cogito e de suas cogitationes. A reflexo fenomenolgica parte da correlao de cada cogito com seu cogitatum, que nunca um objeto isola-do, mas desde logo deve ser concebido como objeto em seu mundo. Nas Conferncias de Paris, Husserl afirma que tudo que mundano, tudo que espcio-temporal para mim, na medida em que o vivencio, percebo, lem-bro, penso, julgo, valorizo, desejo, etc.

    Tudo isso Descartes designa com o cogito. O mundo no outra coisa para mim que o consciente em tais co-gitationes (Husserl, 1992). O eu penso cartesiano apre-senta aquele carter a priori necessrio e absoluto, sem o qual a filosofia impossvel, porque ver-se-ia lanada na contingncia das coisas empricas e jamais poderia pen-

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    s-las como apodticas. O cogito permanece idntico sob a multiplicidade das vivncias.

    Husserl afirma que a atitude natural, no-fenomeno-lgica, faz o homem olhar o mundo de maneira ingnua como mundo dos objetos. A fenomenologia, ao contrrio, busca uma fundamentao totalmente nova, no s da fi-losofia, mas tambm das cincias singulares. Enquanto as cincias positivas consideram os objetos como indepen-dentes do observador, a fenomenologia tematiza o sujeito, o eu transcendental, que coloca os objetos.

    O primeiro passo do mtodo fenomenolgico consis-te em abster-se da atitude natural, colocando o mundo entre parnteses (epoqu). Isso no significa negar sua existncia, mas metodicamente renunciar ao seu uso. Ao analisar, aps essa reduo fenomenolgica, a cor-rente de vivncias puras que permanecem, constata que a conscincia conscincia de algo. Esse algo chama de fenmeno.

    Husserl usou o termo fenomenologia, pela primeira vez, nas Investigaes Lgicas (1901), em lugar da expres-so Psicologia Descritiva, que usara at ento. A cons-cincia funda sentido como compreenso de algo que (sentido do ser), atravs da intencionalidade, ou seja, atravs de sua orientao intencional para encher o va-zio. O conceito de intencionalidade da conscincia, por isso, fundamental e constitutivo na fenomenologia de Husserl. Nela constituem-se os cogitata do cogito, os ob-jetos da conscincia. A intencionalidade constitui sn-tese ou unidade, uma constituio ativa e passiva. Esse conceito de sntese distingue-se do tradicional, pois no se limita sntese no juzo.

    Para Husserl, a fenomenologia uma descrio da estrutura especfica do fenmeno (fluxo imanente de vi-vncias que constitui a conscincia) e, como estrutura da conscincia enquanto conscincia, ou seja, como condi-o de possibilidade do conhecimento, o na medida em que ela, enquanto conscincia transcendental, constitui as significaes e na medida em que conhecer pura e simplesmente apreender (no plano emprico) ou consti-tuir (no plano transcendental) os significados naturais e espirituais.

    Para entender essas funes at sua dimenso de pro-fundidade em sua abrangncia, necessita-se do mtodo da reduo fenomenolgica. A reduo fenomenolgica, conceito fundamental na fenomenologia de Husserl, tem o sentido de tematizar a conscincia pura. Comea com a colocao entre parnteses do mundo. Prossegue na redu-o eidtica, termo usado para o procedimento metdico que leva viso da essncia. A meta da reduo eidtica a compreenso do a priori como eidos (essncia). O pres-suposto que a j existente oposio entre sujeito e objeto superada para voltar-se anlise dos dados constituintes na conscincia que conscincia de..., pondo-se o mun-do com seus objetos ao eu (conscincia). A conscincia intencionalidade significa: dirige-se para, visa alguma coisa. Toda conscincia conscincia de.

    Filosofia Radical

    Para entender a fenomenologia de Husserl, preciso compreender como ele apresenta a estrutura da consci-ncia como intencionalidade. Se todo o sentido e valor a dar ao Ser se baseiam em funes intencionais, com essa reduo, o eu se manifesta como condio de possibilida-de de ter em vista o mundo (fenmeno). Sob esse aspecto, a reduo conduz ao eu como subjetividade. Assim, pela reduo fenomenolgica, chega-se, de maneira reflexiva, ao conhecimento do eu como fonte original de toda a cer-teza e de todo o saber e ter do mundo. Nesse sentido, todo o conhecimento filosfico fundamenta-se como conheci-mento universal de si mesmo. Toda a filosofia husserlia-na resume-se, em grandes linhas, como filosofia transcen-dental enquanto anlise da constituio da subjetividade transcendental. Seu princpio metodolgico a tentativa de descrever a vida da conscincia como se apresenta reflexo. Pretende purificar a filosofia transcendental ini-ciada por Kant, distinguindo seu trabalho atravs da ela-borao do mtodo e construo sistemtica.

    Na abordagem desses problemas, percebe-se como o foco de interesse de Husserl, na pesquisa, muda e evo-lui. Primeiro queria elaborar apenas uma teoria da lgica pura, delimitando o psicologismo. Aos poucos, moveu-se sempre mais para o terreno da anlise da conscincia. Especfico do mtodo fenomenolgico servir-se, no pro-cedimento, de conceitos psicolgicos (vivncia, percep-es, etc.), prescindindo de seus componentes empricos, para chegar a uma ideao independente da experincia. Husserl funda sua pesquisa na introspeco, construindo um mundo de objetos ideais.

    Nesse processo ocupa lugar central o princpio da in-tencionalidade, um conceito que Husserl herdou da psi-cologia descritiva de Brentano. A intencionalidade, segun-do Brentano, constitui uma caracterstica do psquico, a relao com um objeto. Tal relacionar-se ou orientar-se pertence ao sentido do psquico: eu vejo, eu amo, valorizo algo. Isso no decorre do simples encontro de um corpo com outro, pois os atos psquicos permanecem eles mes-mos quando o objeto visado irreal ou ideal / engano da percepo ou ocupao com coisas abstratas.

    Quando se indaga das razes fundamentais do empe-nho de Husserl na busca das leis essenciais ltimas, cer-tamente o motivo a justificao da filosofia como saber rigoroso e cientfico. Em 1911, no artigo A filosofia como cincia de rigor, afirma na concluso:

    A filosofia, porm, por essncia uma cincia dos incios verdadeiros, das origens, dos rizmata pnton. A cincia do radical tem que proceder tambm radicalmente, e sob todos os respeitos. Sobretudo ela no deve descansar antes de ter chegado aos seus incios, isto , aos seus problemas absolutamente claros, aos mtodos delineados no prprio sentido desses problemas, e ao campo nfimo da elaborao das coisas de apresentao absolutamente clara (Husserl, 1965, p. 72).

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    Desafio para a Fenomenologia

    Depois de 1900, a filosofia foi desafiada pelas cincias empricas nos meios acadmicos. Os docentes de filosofia, nas Faculdades, tentavam recuperar seu papel de lideran-a no mundo do saber. Nesse contexto, Husserl quer con-solidar a filosofia no status de cincia fundamental. Esse fundamento, ao contrrio do que acontece nas cincias empricas, no deveria situar-se na empiria como a prio-ri ltimo, mas na conscincia transcendental. Por isso a filosofia fenomenolgica , em todos os sentidos, a nica cincia absolutamente rigorosa, pois fornece a si prpria os seus fundamentos e os de todas as outras cincias.

    Husserl chegou a falar de uma situao precria da fi-losofia acadmica de sua poca. Na revista Lgos (I, 1911) desenvolveu seu programa no citado artigo A Filosofia como cincia de rigor. Como a fenomenologia no se baseia em dados da experincia ou vivncia de realidades, sua tarefa a pesquisa das possibilidades ideais da vivncia. O meio para chegar a ela a intuio. Afirma:

    Mas precisamente prprio da filosofia, desde que remonte s suas origens extremas, o seu trabalho cientfico situar-se em esferas de intuio direta, e constitui o maior passo a dar pela nossa poca, reconhecer-se que a intuio filosfica no sentido autntico, a percepo fenomenolgica do Ser, abre um campo imenso de trabalho e leva a uma cincia que, sem todos os mtodos indiretamente simbolizantes e matemati-zantes, sem o aparelho das concluses e provas, no deixa de chegar a amplas inteleces das mais rigorosas e decisivas para toda a filosofia ulterior (Husserl, 1965, p. 73).

    surpreendente que Husserl, querendo estabelecer uma cincia de rigor, escolha uma instncia cognitiva que representa um rgo do conhecimento mais indeter-minado e difuso. Nisso converge com concepes da fi-losofia da vida, como as encontramos no intuicionismo de Henri Bergson, o qual, de resto, rejeitou como filosofia da mundividncia. Assim a intuio no podia constituir um fundamento estvel para o processo do conhecimen-to. Para isso Husserl recorreu ao argumento do cogito car-tesiano. Como exclura tudo que emprico, atravs da epoqu ou colocao entre parnteses, na sua constru-o mental se fixava nos noemata, que so determinao formal. Dessa maneira no existe transio da abstrao para as cincias. Husserl afirma, de maneira apodtica, que esses noemata so os ltimos momentos transcen-dentais. Com isso no se evidencia grande vantagem da fenomenologia para uma teoria fundamental e uma me-todologia das cincias.

    Husserl percebera a dificuldade oriunda da estratgia de no partir do emprico, melhor, de colocar todo fato emprico entre parnteses. Desde o comeo, tinha como meta buscar um fundamento ltimo para toda a argu-mentao filosfica na conscincia do eu pensado trans-cendentalmente. Por isso essa reduo ou epoqu, colo-cando o emprico entre parnteses, tinha que conduzir

    forosamente suspenso do eu emprico. Entretanto, como outros pensadores contemporneos, queria salvar esse eu. A reflexo solipsista do eu da apercepo trans-cendental tinha a funo de conservar a individualidade, mas de uma individualidade no sentido espiritual e no de uma individualidade natural.

    O acesso metodolgico subjetividade transcenden-tal Husserl designa reduo transcendental. Nesta, pe-se fundamentalmente entre parnteses a crena na exis-tncia das coisas e na existncia do mundo natural e de todos os domnios que lhe esto ligados, para alcanar o terreno firme da conscincia pura em que o seu correlato, que o mundo, se transforma em mero objeto intencional. a reduo ou operao pela qual a existncia efetiva do mundo exterior colocada entre parnteses, para que a investigao se ocupe apenas com as operaes realiza-das pela conscincia, sem perguntar se as coisas visadas por ela existem realmente ou no.

    Considerando ser da essncia da reflexo que somen-te possvel como reflexo do eu sobre si mesmo, sobre sua prpria conscincia, a anlise constitutiva da feno-menologia primeiro deve realizar-se como egologia. Isso, todavia, no equivale a solipsismo, pois a fenomenolo-gia husserliana parte da certeza do Ser dos outros com os quais o eu sempre j se sabe em existncia comum no mundo. Nessa certeza do ser do mundo, no qual j sem-pre vivemos, antes mesmo da reflexo fenomenolgica, est implcita a existncia do outro.

    Husserl no tinha como reconhecer maior importn-cia aos fatores empricos. Isso j se evidencia em sua fe-nomenologia, fundada, inicialmente, na conscincia te-rica e, depois, passa somatologia e estesiologia, de um lado, e a uma teoria da intersubjetividade, de outro. No primeiro caso, o corpo reconhecido como fundamento ltimo de todos os processos de vivncia e, no segundo, cada indivduo s se pode constituir na base da compre-enso do outro, atravs do sentimento de outros indiv-duos pela leitura semitica das expresses corporais. De acordo com a concepo idealista de Husserl, o corpo (Leib) considerado menos como substrato material que corpo (Krper) carregado de sentido.

    O universo das percepes, das impresses sensveis, de cada eu, segundo Husserl, adquire uma relao com o corpo (Leib) e seus membros como rgos sensveis, tor-nando-se ele mesmo algo corpreo, mas no material. Todas as ampliaes, que a experincia possvel pode fa-zer, esto vinculadas ao sentido pr-dado pela apercepo do corpo, e este sentido determinado pela corporeidade percebida com localizao tambm percebida. O que localizvel no tudo. Husserl define o corpo (Leib) pela conscincia da identidade: como o corpo (Krper) pode mudar constantemente, o que significa que pode perder ou ganhar algo, tambm podem alterar-se os campos de percepo, isso s pode ser concebido como rgo da von-tade. No campo da vontade surgem movimentos livres e mudanas que so nicas.

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    A reflexo fenomenolgica de Husserl mostra o outro como outro, ou seja, como um eu-sujeito consciente no pode estar presente na minha conscincia da mesma ma-neira como outros entes do mundo. Somente dado como apresentado em seu corpo, numa apresentao que nun-ca encontra sua plenitude numa apresentao.

    Por isso, o outro o estranho do eu. Nesse caminho, a reflexo conduz para alm da egologia intersujetivi-dade transcendental. Pode discutir-se se Husserl, atravs da anlise constitutiva do outro, conseguiu atingir aquela dimenso na qual a transcendncia do outro se manifesta na prpria conscincia.

    Teoria da Intersubjetividade e Mundo da Vida

    A teoria da intersubjetividade de Husserl, que mo-difica sua egologia radical at certo ponto, apia-se, em grande parte, na psicologia do sentimento, recorren-do a elementos semiticos do pragmatismo de Charles Peirce (1830-1914). Essa influncia manifesta-se, sobre-tudo, na explorao de conceitos como signo, expresso e sentido.

    Com a idia da semitica abstrativa do corpo, de uma hermenutica cotidiana prtica, Husserl busca uma com-preenso intersubjetiva de sentido. No olha o mundo que o cerca de fora, de maneira objetiva, mas quer compreen-d-lo exclusivamente na perspectiva do sujeito. Considera a contemplao objetiva como um obstculo, porque, em ltima anlise, conduziria ao positivismo, como exps em sua obra A crise da cincia europia e a fenomenologia transcendental. O mundo da vida (Lebenswelt) dado ao sujeito como horizonte de experincia, centrada no seu eu. Est fundado fisicamente, constituindo-se em cama-das desde o animal at o cultural, podendo desenvolver-se ontologias regionais das diferentes camadas. Assim, em ltima anlise, Husserl entende por mundo da vida algo espiritual. Como o conceito mais amplo de mun-do, tambm o conceito de mundo da vida , para ele, um fenmeno dado na conscincia. dado ao sujeito: Conscincia do mundo conscincia no modo da certe-za da f (Experincia e juzo).

    Com sua teoria do mundo da vida, Husserl procura um cho no qual todos os juzos predicativos, com os quais operam as cincias especializadas, possam encontrar uma referncia antepredicativa. O recurso ao mundo da expe-rincia recurso ao mundo da vida, ou seja, ao mundo no qual sempre j vivemos e que fornece o ponto de partida para todas as conquistas do conhecimento e para toda a determinao cientfica.

    Segundo Husserl, primeiro se deve perder o mundo, atravs da epoqu, para recuper-lo mediante a reflexo universal sobre si mesmo. Essa a meta e a inteno da reflexo radical. Com o conceito de subjetividade trans-cendental ou intersubjetividade, na sua obra tardia, indi-ca o aspecto teleolgico. Usa-o para esclarecer a reivindi-

    cao de que a fenomenologia conduz o ponto de partida de Descartes ao acabamento.

    At certo ponto, a fenomenologia pode ser compreen-dida como explicao do que est implcito, desde o in-cio, no conceito de intencionalidade da conscincia. Essa orienta-se para a subjetividade absoluta que se constitui de maneira transcendental, que Husserl tambm designa como intersubjetividade transcendental ou vida transcen-dental. Todo o empenho intencional realiza-se na relao entre inteno vazia e plena. Assim o prprio conceito de intencionalidade , em sua raiz, teleolgico. E a teleologia da intencionalidade uma teleologia da razo, ou seja, transforma a razo latente em razo patente.

    J no incio de A crise da humanidade europia e a fi-losofia, Husserl afirma: Nesta conferncia quero ousar a tentativa de suscitar um novo interesse para o to freqen-temente tratado tema da crise europia, desenvolvendo a idia histrico-filosfica (ou o sentido teleolgico) da hu-manidade europia (Husserl, 2002, p. 65).

    Diz:

    Creio que ns sentimos (e, apesar de toda obscuridade, este sentimento provavelmente tem sua razo) que nossa humanidade europia est inata uma entelquia que domi-na todas as mudanas de formas europias e lhe confere o sentido de uma evoluo em direo a um plo eterno (...). O tlos espiritual da humanidade europia, no qual est compreendido o tlos particular das naes singulares e dos homens individuais, situa-se num infinito, uma idia infinita, para a qual tende, por assim dizer, o vir-a-ser espi-ritual global. medida que, no prprio desenvolvimento, se torna consciente como tlos, torna-se tambm meta prtica da vontade (Willensziel), iniciando com isso uma nova for-ma de evoluo, colocada sob a direo de normas e idias normativas (Husserl, 2002, p. 71-72).

    O conceito de mundo da vida serve a Husserl para uma crtica radical das cincias, cuja idealizao j re-sultado de mtodos de conhecimento fundados em nossa experincia imediata, tais como o espao exato da geome-tria, o tempo exato da fsica ou ainda a causalidade exata. claro que Husserl quer questionar as certezas ingnuas das cincias. Embora argumente apenas de maneira sis-temtica, sua teoria do mundo da vida, na perspectiva da histria da cincia, prepara o solo, uma vez que a questo da gnese de certos paradigmas cientficos s encontra so-luo histrica. Husserl chama a ateno para experin-cias pr-cientficas no menos legtimas que a aceitao de modelos de conhecimento cientfico. A rigor, como instncias de fundamentao ltima, tais experincias at so mais importantes.

    Segundo Husserl, tambm preciso colocar entre pa-rnteses o mundo resultante da viso das cincias moder-nas, pois tal viso tambm elaborada a partir da vida natural. A prpria cincia deve ser compreendida como uma determinada prxis da vida na qual, sob determina-das condies histricas, nasceu como formao subjetiva

  • Fenomenologia e Teoria do Conhecimento em Husserl

    221 Revista da Abordagem Gestltica XIII(2): 216-221, jul-dez, 2007

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    de uma prxis terico-lgica especial. A vida moderna, sua conscincia cientfica e cultural, apenas uma entre outras possveis.

    Relativizando, pergunta por aquilo que comum e possibilita uma comunicao entre todas as cultu-ras humanas. Analisando a crise da cultura europia, Husserl constata que comum o Lebenswelt (mundo da vida). Dele emerge o prprio mundo da cincia. Husserl afirma:

    O investigador da natureza no se d conta de que o fun-damento permanente de seu trabalho mental, subjetivo, o mundo circundante (Lebensumwelt) vital, que constante-mente pressuposto como base, como terreno da ativida-de, sobre o qual suas perguntas e seus mtodos de pensar adquirem um sentido (Husserl, 2002, p. 90).

    O recurso ao mundo da vida e anlise de sua es-trutura impede que formas culturais, historicamente condicionadas, sejam hipostasiadas como a priori. Por outro lado, indica a linha mestra das atividades da sub-jetividade transcendental na constituio do mundo da vida. A fenomenologia conhecimento das estruturas essenciais da vida transcendental como sendo o devir heraclitiano. Nesse sentido, fenomenologia experin-cia transcendental que visa a experincia absoluta. Por isso Husserl considera-a acabamento do racionalismo do qual o racionalismo histrico no passa de plida pr-forma.

    Mas, na fenomenologia, tambm permanecem a verda-de do empirismo, a justificao da constituio imediata do mundo da vida, da subjetividade e sua dxa. o fun-damento no qual as oposies, entre racionalismo e em-pirismo, tm suas razes comuns. A subjetividade trans-cendental absoluta e se manifesta com suas estruturas essenciais no processo teleolgico da histria. Entretanto, indagar do sentido da histria tema da metafsica, que Husserl no chegou a desenvolver.

    As concepes da fenomenologia, apresentadas por alguns contemporneos e seguidores de Husserl, em gran-de parte so incompatveis com sua concepo transcen-dental-idealista. Alguns fenomenlogos aceitaram as teses husserlianas da fenomenologia como atitude e mtodo, a viso das essncias, mas no assumiram o recurso ao mundo (pr-cientfico) da vida, ao vnculo situacional e ao horizonte da vida humana, seu conceito de corpora-lidade, etc. Em parte, acompanharam a reduo fenome-nolgica e a reduo eidtica, mas no a reduo trans-cendental como condio a priori do conhecimento filo-sfico e cientfico.

    Em sntese, Husserl no encontrou um continuador de sua filosofia, ou seja, como ele a entendia. Apesar dis-so, em meados do sculo XX, quando a fenomenologia j parecia condenada ao esquecimento, renasceu o inte-resse por ela.

    Referncias Bibliogrficas

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    Husserl, E. (s/d). Meditaes Cartesianas. Porto: Rs.

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    Schneider, N. (1998). Erkenntnistheorie im 20. Jahrhundert. Stuttgart: Reclam.

    Urbano Zilles - Bacharelado em Filosofia pela Faculdade de Filosofia Nossa Senhora Imaculada Conceio (1962); Licenciatura em Filosofia pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (1971); Bacharelado em Teologia pela Theologische Hochschule Beuron (1966); Doutorado em Teologia pela Universitat Munster (Westfalische-Wilhelms) (1969); Atualmente Professor Titular da Pontifcia Uni-versidade Catlica do Rio Grande do Sul, Membro de Corpo Editorial da revista Veritas (PUC-RS), Membro de Corpo Editorial da revista Teocomunicao (PUC-RS) e Membro de Corpo Editorial da Revista Anlise & Sntese (Revista de Filosofia e Teologia da Faculdade So Bento, BA). o tradutor do texto de Husserl, A Crise da Humanidade Europia e a Filosofia (Editora da PUC-RS, 1996).

    Recebido em 19.09.07Aceito em 24.11.07