5
1. Eu fiz a Terra. Meu sopro esfriou seu magma. Minhas mãos moldaram as montanhas, os morros, os declives; cada detalhe desse planeta foram escolhidos por mim. Fui eu que atraí os cometas portadores da tão preciosa água. Fui eu que trouxe à vida as primeiras criaturas, outrora meros aglomerados de proteínas e aminoácidos. Eu que permiti que se desenvolvessem, criassem vínculos com a terra que as sustentava. Eu as protegi dos caustícos raios solares. Minhas mãos desviaram os bólidos quanto deveriam ser afastados. Eu sou o verdadeiro dono desse planeta, e toda forma de vida existente nele é minha. Não são livres, como pregam os homens, apenas meros fantoches de minha vontade. Contudo, tal como um pai, zelo por meu filho. Não permetirei que os vermes que crescem em sua crosta o aniquilem. Nunca mais furaram o ventre da Terra. 2. Fazia alguns milhares de anos que vagava pela eterna escuridão. Não havia muito o que se ver. Alguns planetas nasciam, outros morriam, e o universo continuava sua marcha cíclica em direção da vida à morte. Conhecia bem esse ciclo, já que minha antiga morada era um universo defunto, cujos corpo serviu de matéria para novos universos. Gostava de lá. Minha raça era a maior de todas, e nosso nome ecoava por todos os cantos conhecidos. Mas agora acabou. 3. Finalmente! Um lugar propício, cujo o arranjo de energias permita que o planeta perfeito seja criado. Não vagarei mais. Ao olhar os restos de matéria que flutuam no grande ventre do universo, imagino sua forma futura. Não uma forma grosseira, pontiaguda, mas uma forma arredondada, onde o escape da energia condutora seja mínimo. Não muito grande, a gravidade seria terrível se assim o fosse, e eu não gosto de gravidade elevadíssimas. Terá água, assim sendo terei que atraí-la até

Fera.docx

Embed Size (px)

DESCRIPTION

titulo

Citation preview

Page 1: Fera.docx

1.

Eu fiz a Terra. Meu sopro esfriou seu magma. Minhas mãos moldaram as montanhas, os morros, os declives; cada detalhe desse planeta foram escolhidos por mim. Fui eu que atraí os cometas portadores da tão preciosa água. Fui eu que trouxe à vida as primeiras criaturas, outrora meros aglomerados de proteínas e aminoácidos. Eu que permiti que se desenvolvessem, criassem vínculos com a terra que as sustentava. Eu as protegi dos caustícos raios solares. Minhas mãos desviaram os bólidos quanto deveriam ser afastados. Eu sou o verdadeiro dono desse planeta, e toda forma de vida existente nele é minha. Não são livres, como pregam os homens, apenas meros fantoches de minha vontade. Contudo, tal como um pai, zelo por meu filho. Não permetirei que os vermes que crescem em sua crosta o aniquilem. Nunca mais furaram o ventre da Terra.

2.

Fazia alguns milhares de anos que vagava pela eterna escuridão. Não havia muito o que se ver. Alguns planetas nasciam, outros morriam, e o universo continuava sua marcha cíclica em direção da vida à morte. Conhecia bem esse ciclo, já que minha antiga morada era um universo defunto, cujos corpo serviu de matéria para novos universos. Gostava de lá. Minha raça era a maior de todas, e nosso nome ecoava por todos os cantos conhecidos. Mas agora acabou.

3.

Finalmente! Um lugar propício, cujo o arranjo de energias permita que o planeta perfeito seja criado. Não vagarei mais. Ao olhar os restos de matéria que flutuam no grande ventre do universo, imagino sua forma futura. Não uma forma grosseira, pontiaguda, mas uma forma arredondada, onde o escape da energia condutora seja mínimo. Não muito grande, a gravidade seria terrível se assim o fosse, e eu não gosto de gravidade elevadíssimas. Terá água, assim sendo terei que atraí-la até aqui. E por que não crio dois? Planetas quase gêmeos. Basta rearranjar a estrutura galáctica corretamente. Está feito.

4.

O primeiro se chamará Augusto e o segundo será o Melodioso. O primeiro terá três luas, o segundo terá apenas uma. Talvez permita vida na lua do melodioso. Foi engraçado quando os habitantes de um dos meus planetas antigos encontraram vida inteligente numa das luas de seu planeta. Houve guerra, e me diverti com a ignorância das criaturas materiais. Talvez deva permitir que haja um contato tardio entre as espécies dominantes de Augusto e Melodioso. Quiçá haja guerra novamente!

5.

Page 2: Fera.docx

Meus planetas já florescem. Augusto se mostra mais rápido do que Melodioso. Grande parte de seu magma esfriou e o basalto já começa a se formar. O arranjo dimensional onde está Augusto já me indicava isso. Espero que o povo que nele nascer domine esse universo tal qual fez meu povo com seu antepassado. Ajuda não faltará, e duvido que outro de mim tenha vindo para esse lado da bolha. Devem ter voltado para a primeira casa.

6.

A alma de Augusto é bem temperamental. Nunca acreditaria que seu desenvolvimento fosse tão rápido. Após inserir a água, vi que a vida não tardaria a nascer. Não que a água fosse necessária, mas é um bom veículo para a energia canalizada. Já vi vida até no urânio, mas é mais raro, e não tão interessante como a que surge na água. A vida material é uma maldição para o universo, e é minha obrigação mantê-la sob controle, pelo menos nos planetas que conduzo.

7.

Demorará vários anos até que consiga o resultado desejado em Melodioso. Parece que não medi corretamente a vibração das cordas. Ajudarei do modo que puder, mas até lá, muitos objetos terão que assolar o planeta. Não deixarei nada assolar Augusto.

8.

Quando ouver a melodia harmoniosa da bolha, haverá vida brotando por todos os cantos – material, imaterial, semi-material. Clara ou escura, fraca ou forte, haverá vida. Haverá vida nos buracos mais obscuros do universo, nos planetas caucinados pelo frio e calor; haverá vida dentro da vida. Esse é o modo que o grande mundo encontra para se manifestar, para deixar sua marca. É a maneira que o universo arranja para pensar em si mesmo. Isso levanta uma interessante questão, quiçá uma baboseira existencialista, mas ainda interessante: Seria a minha vontade um mero produto da volunta universal? Se assim o fosse, seria eu apenas um instrumento, e não teria valor como unidade indepentende. Isso me lembra o que dizia os velhos loucos da minha antiga terra – Somos todos um só.

9.

Page 3: Fera.docx

E a vida já brota em Augusto! Das entranhas do mar que se extende sobre sua face a vida se aquartela! Que alegria, que magnificiência! E o melhor: minha vontade não tem nada a ver com este fato. Agora basta alguns minutos e alguns ajustes no clima então ela florescerá até a inteligência.

10.

O som obscuro das profundezas do universo ecoam neste sistema. Algo de ruim ocorreu, e a própria massa negra que me constitui sente o impacto. Houve guerra em algum canto obscuro deste universo, e espero que nenhum semelhante a mim esteja envolvido. Pelejas intergalácticas são muito diferentes das guerras dos povos primitivos – divertidas, até certo ponto –: As grandes guerras matam estrelas e até galáxias; morre tudo que seus tentáculos tocarem. Pior são aquelas que se usa as cordas. Arrisco a dizer que até mesmo minha existência possa ser prejudicada por essas guerras. Por sorte nenhum povo primitivo controla tal tecnologia, e os grandes que a dominam, são civilizados a ponto de não comprometer o mundo de tal maneira. Quiçá o povo de augusto controle essa tecnologia. Ficaria extremamente feliz em saber que meu planeta gerou raça tão augusta. Os césares se orgulhariam de mim por tal feito.

11.

Para cima donde estou, houve guerra. Quadrilhões de espirítos voltaram à bolha. O que animava seus corpos agora jaz em uma dimensão um pouco abaixo da minha.

12.

O universo sempre guerreou contra si mesmo e contra tudo que houve e haverá. As vidas ceifadas por essas guerras são uma mera casualidade. A reticula de suas balas é manchada pelas partículas dilaceradas dos mortos. Quando o universo esmaga planetas, envia asteróides para dilacerar suas faces; quando ele aniquila estrelas dos sistemas onde a vida torna-se forte, é ele guerreando. A guerra é um estado natural da grande bolha. Aqueles que fogem da batalha são aqueles que se tornam os senhores de tudo. Não deixarei que meus planetas sejam afetados pela casualidade da guerra insana do universo.

13.

Page 4: Fera.docx

O fogo brota nas terras de augusto. O primeiro passo, e tão importante passo: controlar a reação que possibilite que a evolução da espécie.