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1 FESTEJOS DE SÃO SEBASTIÃO EM ITAGIMIRIM-BA: Memória e História de Um Povo (1960- 1998) Jairo Viana de Castro 1 INTRODUÇÃO A festividade em um olhar da sociedade moderna representa apenas uma manifestação de caráter popular, porém dentro desse universo de popularidade está repleta de aspectos que inicialmente podem se destacar a religiosidade católica, negra e indígena; o próprio ato de agradecer um santo pela benção recebida ou mesmo à fé dos membros constitui a base de uma sociabilidade entre o homem e o meio social ao qual está inserido. O culto aos santos é uma apropriação do campo religioso, forma encontrada pelos leigos de participarem dos atos litúrgicos a partir de suas expressões religiosas, como aborda Edilece Souza Couto 2 : “A partir do século X a Igreja tentava impor a devoção aos seus patronos, membros das ordens religiosas. Porém, os fiéis continuaram cultuando crianças, virgens e pessoas comuns, figuras familiares e caridosas”. Na contemporaneidade existem diversas pesquisas sobre festas e festejos no Brasil e, sobretudo na Bahia, no entanto não existem estudos sobre a origem, o desdobramento e a permanecia de uma manifestação religiosa de caráter popular em devoção a São Sebastião na cidade de Itagimirim-Ba, que está localizada entre o Vale do Jequitinhonha e a Costa do Descobrimento. Flávia Pires (2011) descreve a transformações e permanência da festa ao padroeiro São Sebastião em Catingueira- PB 3 , onde o evento nesta localidade é organizado pela Igreja Católica com missas durante nove dias (denominado de novenas). Após as celebrações em um determinado espaço os devotos se socializam com comidas e bebidas, ou ainda quermesses onde são realizadas diversas atividades. 1 Graduando em Licenciatura em História pela Universidade do Estado da Bahia Departamento de Ciencias Humanas e Tecnologias Campus XVIII. Eunápolis- Ba . [email protected] 2 Edilece Souza Couto. FESTEJAR OS SANTOS EM SALVADOR: REGRAS ECLESIÁSTICAS E DESOBEDIÊNCIAS LEIGAS (1850-1930). Universidade Federal da Bahia. 3 Para compreender as análises da festa de São Sebastião em Catingueira PB recomenda-se a leitura do artigo de PIRES, Flávia. A Festa de São Sebastião em Catingueira: transformações e permanências dez anos depois. University of Sheffield. 2011.

FESTEJOS DE SÃO SEBASTIÃO EM ITAGIMIRIM-BA ......1 FESTEJOS DE SÃO SEBASTIÃO EM ITAGIMIRIM-BA: Memória e História de Um Povo (1960- 1998) Jairo Viana de Castro1 INTRODUÇÃO

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Page 1: FESTEJOS DE SÃO SEBASTIÃO EM ITAGIMIRIM-BA ......1 FESTEJOS DE SÃO SEBASTIÃO EM ITAGIMIRIM-BA: Memória e História de Um Povo (1960- 1998) Jairo Viana de Castro1 INTRODUÇÃO

1

FESTEJOS DE SAtildeO SEBASTIAtildeO EM ITAGIMIRIM-BA Memoacuteria e Histoacuteria de Um

Povo (1960- 1998)

Jairo Viana de Castro1

INTRODUCcedilAtildeO

A festividade em um olhar da sociedade moderna representa apenas uma manifestaccedilatildeo

de caraacuteter popular poreacutem dentro desse universo de popularidade estaacute repleta de aspectos que

inicialmente podem se destacar a religiosidade catoacutelica negra e indiacutegena o proacuteprio ato de

agradecer um santo pela benccedilatildeo recebida ou mesmo agrave feacute dos membros constitui a base de uma

sociabilidade entre o homem e o meio social ao qual estaacute inserido

O culto aos santos eacute uma apropriaccedilatildeo do campo religioso forma encontrada pelos

leigos de participarem dos atos lituacutergicos a partir de suas expressotildees religiosas como aborda

Edilece Souza Couto2 ldquoA partir do seacuteculo X a Igreja tentava impor a devoccedilatildeo aos seus

patronos membros das ordens religiosas Poreacutem os fieacuteis continuaram cultuando crianccedilas

virgens e pessoas comuns figuras familiares e caridosasrdquo

Na contemporaneidade existem diversas pesquisas sobre festas e festejos no Brasil e

sobretudo na Bahia no entanto natildeo existem estudos sobre a origem o desdobramento e a

permanecia de uma manifestaccedilatildeo religiosa de caraacuteter popular em devoccedilatildeo a Satildeo Sebastiatildeo na

cidade de Itagimirim-Ba que estaacute localizada entre o Vale do Jequitinhonha e a Costa do

Descobrimento

Flaacutevia Pires (2011) descreve a transformaccedilotildees e permanecircncia da festa ao padroeiro

Satildeo Sebastiatildeo em Catingueira- PB3 onde o evento nesta localidade eacute organizado pela Igreja

Catoacutelica com missas durante nove dias (denominado de novenas) Apoacutes as celebraccedilotildees em um

determinado espaccedilo os devotos se socializam com comidas e bebidas ou ainda quermesses

onde satildeo realizadas diversas atividades

1 Graduando em Licenciatura em Histoacuteria pela Universidade do Estado da Bahia Departamento de Ciencias

Humanas e Tecnologias Campus XVIII Eunaacutepolis- Ba castrovianajgmailcom 2 Edilece Souza Couto FESTEJAR OS SANTOS EM SALVADOR REGRAS ECLESIAacuteSTICAS E

DESOBEDIEcircNCIAS LEIGAS (1850-1930) Universidade Federal da Bahia 3 Para compreender as anaacutelises da festa de Satildeo Sebastiatildeo em Catingueira PB recomenda-se a leitura do artigo de

PIRES Flaacutevia A Festa de Satildeo Sebastiatildeo em Catingueira transformaccedilotildees e permanecircncias dez anos depois

University of Sheffield 2011

2

A memoacuteria que carrega a histoacuteria de um povo e suas experiecircncias humanas aleacutem de

ser um meacutetodo usado antes do surgimento da Histoacuteria para descrever uma sociedade e suas

formas de organizaccedilatildeo agraves pessoas iletradas trazia uma riqueza de detalhes de suas vivecircncias

por meio da oralidade e muitas vezes se perdem ou caminham em um mundo paralelo aos dos

letrados

O festejo que nasce a partir da junccedilatildeo entre duas religiotildees o catolicismo popular

reconhecido oficialmente pela coroa portuguesa e a Umbanda religiatildeo de matriz africana que

se desenvolve na colocircnia brasileira pelas culturas africanas e indiacutegenas surge entre esses

conflitos culturais e religiosos existentes no Brasil Para Abreu (1999) ldquo[] as festas satildeo

sempre recriadas e reapropriadas contendo as paixotildees os conflitos as crenccedilas e as esperanccedilas

de seus proacuteprios agentes sociais Ou seja atraveacutes das festas pode-se conhecer melhor a

coletividade e a eacutepoca em que aconteceramrdquo

Este Trabalho busca contribuir e analisar o festejo de Satildeo Sebastiatildeo uma manifestaccedilatildeo

religiosa e profana que fez parte do desenvolvimento e da sociabilidade urbana e rural desde o

tempo que surgiu em Itagimirim-Ba uma demonstraccedilatildeo de feacute e agradecimento pelas becircnccedilatildeos

recebidas ao longo do ano o cortejo dos foliotildees representa um espaccedilo de respeito por duas

religiotildees que manteacutem a tradiccedilatildeo

Quando menino nas muitas vezes que meus pais me levaram para contemplar os

festejos a SAtildeO SEBASTIAtildeO natildeo entendia por que aquelas pessoas danccedilavam e brincavam

com seus instrumentos como bumba gaitas violas caixas triacircngulos e pratos velhos de

esmalte que produziam um som estranho as muacutesicas difiacuteceis de compreender em muitas

vozes roucas mas meu pai conta que era para demonstrar a feacute e agradecer o santo pelas

becircnccedilatildeos recebidas ao longo dos anos

Mesmo fazendo parte desta cultura perguntas ficaram sem respostas tais como

quando surgiu este festejo que elementos de renovaccedilatildeo os mantiveram durante o periacuteodo

percorrido

A escolha do festejo de Satildeo Sebastiatildeo em Itagimirim-Ba como corpus deste Trabalho

se deu com a finalidade de analisar a comunidade itagimiriense a partir das suas

manifestaccedilotildees populares e suas praacuteticas em relaccedilatildeo aos rituais religiosos festivos que

3

representa uma demonstraccedilatildeo de feacute e devoccedilatildeo desenvolvida por trabalhadores rurais pessoas

simples que migraram de outras regiotildees a qual foi iniciada pela religiatildeo afro-brasileira

A memoacuteria eacute algo fundamental na trajetoacuteria de vida dos seres humanos para a histoacuteria

oral essa fonte perpassa os indiviacuteduos pelo motivo da transmissatildeo dos valores culturais esse

longo espaccedilo percorrido no tempo eacute possiacutevel graccedilas agraves lembranccedilas e tradiccedilotildees coletivas e

individuais de grupos sociais

SURGIMENTO E MOTIVOS DO FESTEJO DE SAtildeO SEBASTIAtildeO EM

ITAGIMIRIM-BA

Com a descoberta do ouro e pedras preciosas em Minas Gerais o Rio Grande de

Belmonte torna-se uma rota de comeacutercio com o porto da cidade de BelmonteBA nas

margens desse rio que hoje eacute conhecido como Jequitinhonha 4

Aleacutem das relaccedilotildees comerciais e as trocas culturais da Bahia o fluxo de mercadoria

tambeacutem fazem surgir agraves tradiccedilotildees da regiatildeo o festejo a Satildeo Sebastiatildeo em Itagimirim-Ba teve

seu surgimento no povoado de Cachoeirinha ldquoFreguesia de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo da

Cachoeirinha do Baixo Jequitinhonhardquo tiacutetulo de um livro onde o autor descreve que

Cachoeirinha ldquo[] foi o primeiro ponto de recebimento das tropas e canoas que transportavam

mercadorias para abastecer o norte de Minas Gerais []rdquo (NASCIMENTO 2010 P 14)

O cortejo ao santo eacute desenvolvido pelo terreiro de umbanda 5que se instalou no

povoado por dona Marta Gomes da Conceiccedilatildeo que herdou de seus pais vinda de Minas

Gerais casada com Sr Antocircnio Rodrigues que migrou do estado de Alagoas na localidade de

Palmeiras dos iacutendios6 como nos relata sua filha a Srordf Maria Conceiccedilatildeo Rodrigues7

4NASCIMENTO Nilson do Carmo Cachoeirinha Freguesia de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo da Cachoeirinha

do Baixo Jequitinhonha ldquoA regiatildeo da baixa do Jequitinhonha que se inicia e Salto da divisa Minas Gerais indo

ateacute a foz em Belmonte no extremo sul da Bahia () p- 11 5Simbolizado pela flechas eacute um dos maacutertires mais queridos e cultuados pela Igreja Catoacutelica no sincretismo

religioso com as religiotildees afro-brasileiras eacute representado como Oxossi o orixaacute das matas da sauacutede e das ervas

medicinais O seu nome deriva do grego sebastoacutes que significa divino veneraacutevel (que seguia a beatitude da

cidade suprema e da gloacuteria altiacutessima) No Brasil ele eacute celebrado com festas e feriados no dia 20 de janeiro como

padroeiro de vaacuterias cidades httpproblemaenossoblogspotcombr201101sob-flechas-e-martirio-ontem-

igrejahtmlacesso dia 06-05-12 agraves 12h43min horas 6 Palmeira dos Iacutendios Alagoas ndashAl Histoacuterico A terras ocupadas pelo municiacutepio de Palmeira dos Iacutendios

construiacuteam primitivamente um aldeamento dos iacutendios Xucurus que aiacute se estabeleceram no meado do seacuteculo

XVIII Tinham esses indiacutegenas o seu haacutebitat cercado de esbeltas palmeiras bem proacuteximo ao peacute da serra onde

hoje se ergue a cidade de Palmeira dos Iacutendios O nome do municiacutepio veio pois em consequumlecircncia dos seus

primeiros habitantes e do fato da abundacircncia de palmeiras que entatildeo havia em seus campos Os gentios

4

Conheci o festejo com doze anos de idade quando saia com meus pais ()

Antigamente a gente morava em cachoeirinha onde hoje eacute a barragem De laacute

o percurso ia para Itapebi Itagimirim que natildeo era emancipada era uma roccedila

soacute tinha mesmo essa pracinha Castro Alves tinha mas natildeo era calccedilada e

nem nada Entatildeo noacutes ia para Itapebide laacute vinha pra aqui (Itagimirim) Neste

tempo eu era pequena papai me colocava eu muntada na cangaia com os

panicus cheios de comida pra da os foliotildees eu no meio pequena mas jaacute no

meio ai agente vinha pra aqui acampava trecircs a quatro dias daqui passava em

Gabiarra A peacute andando andando nessa cidade tudo passava em Uniatildeo

Baiana descia e saia em cachoeirinha ( Srordf Maria C Rodrigues 20-03-14)

Neste sentido o festejo a Satildeo Sebastiatildeo na comunidade Itagimiriense eacute um tradiccedilatildeo e

memoacuteria de familiares sendo passada as novas geraccedilotildees como se pode perceber no trecho

acima essa devoccedilatildeo foi passada de matildee para filha O membro responsaacutevel tem a missatildeo de

todos os anos organizar e desenvolver o festejo comprando mantimentos ou pedindo doaccedilotildees

aos devotos e fazendeiros no qual as doaccedilotildees satildeo divididas com os tocadores ou foliotildees

Inicialmente nos anos de 1960 a manifestaccedilatildeo de feacute acontecia fora do periacutemetro

urbano como nos relata a Srordf Hilda Queiroz (04-05-14) ldquoesse negoacutecio de reisado era

realizado na zona ruralrdquo Jaacute o Sr Gildo Gonccedilalves (30-05-14) evidencia que ldquoera trinta dias

de reisado visitando as fazendas e a cidade tambeacutem era Satildeo Sebastiatildeordquo

Percebemos que a praacutetica de reisado a Satildeo Sebastiatildeo em Itagimirim eacute desenvolvido

por pessoas da zona rural com isso os foliotildees no momento do cortejo entravam dentro da

cidade e compartilhe com os moradores que festejavam a Satildeo Joatildeo Batista padroeiro

instituiacutedo pela igreja catoacutelica

O festejo que se desenvolveu pela memoacuteria herdada tambeacutem natildeo eacute um acontecimento

imoacutevel sofre transformaccedilotildees no decorrer das geraccedilotildees de acordo com o contexto social sendo

agregados valores e concepccedilotildees do momento vivenciado

A Srordf Maria da Conceiccedilatildeo relata que a organizaccedilatildeo do festejo a Satildeo Sebastiatildeo

comeccedilou a ser desenvolvido dentro da zona urbana quando o seu pai faleceu com isso eles

formaram seu aldeamento entre um brejo chamado Cafuma e a serra da Boa Vista Diz a tradiccedilatildeo que mais ou

menos em 1770 chegou a regiatildeo Frei Domingos de Satildeo Joseacute conseguindo converter os gentios ao cristianismo

Posteriormente o franciscano obteve de D Maria Pereira Gonccedilalves e dos seus herdeiros a doaccedilatildeo de meia leacutegua

de terra para patrimocircnio da capela que aiacute foi construiacuteda sendo com sagrada ao Senhor Bom Jesus da Morte

httpcidadesgovbrpainelhistoacutericophplang=ampcodmun=270630ampsearch=alagoas|palmeira-dos-

C38Dndios|infograficos-historico Acesso em 09-07-2014 agraves 2045 7 Moradora de Itagimirim-Ba conhecida como Matildee Ceicinha nasceu em 11 de setembro de 1950

5

perderam a fazenda atraveacutes de um golpe quando seu primo a vendeu a propriedade

utilizando uma procuraccedilatildeo cedida a ele sendo obrigados a residir dentro da cidade

Antigamente era na fazenda pedreira o nome que dava onde mamatildee

comeccedilou o candombleacute Quando agente chegou aqui montou o terreirinho

dela aiacute veio para cidade em 62 quando Itagimirim jaacute era bem desenvolvida

e movimentada (Srordf Maria C Rodrigues 20-03-14)

Diante desse acontecimento e da mudanccedila de um lugar para o outro o festejo continua

sendo cultuado pelos devotos salientando que dentro do cenaacuterio urbano jaacute existia o culto ao

Padroeiro Satildeo Joatildeo Batista Poreacutem o festejo ao padroeiro antes da instalaccedilatildeo do padre era

desenvolvido o lado profano pela populaccedilatildeo que tinha maior participaccedilatildeo na montagem das

barracas para vender comidas tiacutepicas das festas juninas

Com a organizaccedilatildeo das cerimocircnias religiosa e profana como as quermesses e leilotildees

para arrecadar fundos para construccedilatildeo da igreja catoacutelica em 1963 pelo padre haacute um

afastamento da populaccedilatildeo que ganhava um dinheiro extra com o evento

Segundo Hobsbawm (1997 P 20) ldquoAntes de mais nada pode-se dizer que as tradiccedilotildees

inventadas satildeo sintomas importantes e portanto indicadores de problemas que de outra forma

poderiam natildeo ser detectadas nem localizadas no tempordquo

Portanto a manifestaccedilatildeo a Satildeo Sebastiatildeo ganha mais participantes principalmente

dentro da cidade fazendo um movimento contraacuterio no momento das celebraccedilotildees ao santo

pois antes as pessoas se deslocavam para zona rural Agora o povo das fazendas quem se

desloca para zona urbana O Sr Jonas A de Castro relata que na eacutepoca que chegou ao

municiacutepio itagimiriense em 1975 a praacutetica do reisado era desenvolvido por vaacuterios grupos

Quando eu cheguei ao municiacutepio existiam quatro grupos de reisado o de

Ceizinha o de Zeacute de Cabelatildeo o de Joaquim Teixeira e Otaciacutelio da Caccediloada

trecircs festejavam a Satildeo Sebastiatildeo e um a Santos Reis Eu participava dos dois

o de Otaciacutelio que festeja a Santos Reis ai eu participava com Joaquim

Teixeira que festejava a Satildeo Sebastiatildeo (Sr Jonas Almeida de Castro 30-05-

14)

O que se observa neste trecho descrito pelo Sr Jonas eacute o aumento de grupos de reisado

na localidade isto se deu devido agraves memoacuterias da populaccedilatildeo estar ligadas as folias de reisado

6

ou o proacuteprio culto a Satildeo Sebastiatildeo que eacute um santo de crendice popular que proteger contra a

fome guerra e afliccedilotildees principalmente neste municiacutepio empobrecido

Devido agrave quantidade de grupos e um nuacutemero pequeno de muacutesicos havia uma

disputa entre os grupos para atrair esses foliotildees tocadores com isso alguns liacutederes procuravam

agradar dividindo as esmolas e doaccedilotildees que eram arrecadadas no percurso do cortejo que

passava em residecircncias e casas comerciais

Oito homens e quatro mulheres que estatildeo diretamente responsaacuteveis pelos os cantos

manusear os instrumentos e na maioria das vezes apenas as mulheres quem carrega a bandeira

de Satildeo Sebastiatildeo As folias do divino Espiacuterito Santo sobre as descriccedilotildees de Thomas Ewbank

em 1846 um escritor e desenhista de Nova York destaca que a praacutetica de pedir esmolas eacute

fundamental para o desenvolvimento dos festejos Abreu concluiu que

O haacutebito de se pedirem esmolas era muito comum desde o periacuteodo colonial e

tinha como objetivo a reuniatildeo para as festas das irmandades ou para o

financiamento dos benefiacutecios aos irmatildeos carentes como indicam os vaacuterios

anuacutencios de festas No caso das folias do Divino conta Ewbank os irmatildeos

nem precisavam bater de porta em porta porque a muacutesica por si soacute jaacute atraiacutea

todos agrave rua Pela descriccedilatildeo deste viajante norte-americano se todas as

classes contribuiacuteam com donativos as irmandades do Espiacuterito Santo

pareciam distinguir-se entre si pela riqueza A da Lapa por exemplo

contratava barbeiros brancos haacutebeis tocadores de clarim e violinistas que

ofereciam seus serviccedilos por um preccedilo mais elevado (ABREU 1999 P 51)

Com essa descriccedilatildeo e anaacutelise da autora se percebeu que essas praacuteticas estatildeo presentes

nos festejos em homenagem a Satildeo Sebastiatildeo em Itagimirim desde a contrataccedilatildeo dos foliotildees

tocadores ateacute o cortejo de casa em casa em que ganham donativos Esta situaccedilatildeo estaacute evidente

no canto de chegada no seguinte trecho

Eacute filho de um homem nobre

Ele estaacute lhe pedido uma esmola

Natildeo eacute por ganhar dinheiro

Mas pra cumprir uma promessa

No dia 20 de janeiro 8

8 Parte do quinto trecho do canto de chegada que louva a Satildeo Sebastiatildeo entoado pelos foliotildees na cidade de

Itagimirim-Ba

7

Eis o poder da memoacuteria oral aonde essas praacuteticas vem sendo seguidas desde a eacutepoca

colonial chegando ateacute o periacuteodo analisado do trabalho em estudo com algumas mudanccedilas

mas mantendo uma continuidade na maneira de homenagear ao santo intercessor

Alessandro Portelli (2009) dialoga sobre a valorizaccedilatildeo da memoacuteria a partir da oralidade onde

as trajetoacuterias de vidas dos excluiacutedos devem ser relatadas e conhecidas por todas as esferas

sociais

Com frequecircncia se diz que na Histoacuteria Oral damos voz aos sem voz Natildeo eacute

assim Se natildeo tivessem voz natildeo teriacuteamos nada a gravar natildeo teriacuteamos nada a

escutar Os excluiacutedos os marginalizados os sem-poder sim tem voz mas

natildeo haacute ningueacutem que os escute Essa voz estaacute incluiacuteda num espaccedilo limitado

O que fazemos eacute recolher essa voz amplificaacute-la e levaacute-la ao espaccedilo puacuteblico

do discurso e da palavra Isso eacute um trabalho poliacutetico porque tem a ver natildeo soacute

com o direito agrave palavra o direito baacutesico de falar mas com o direito de falar e

de que se faccedila caso de falar e ser ouvido ser escutado de ter um papel no

discurso puacuteblico e nas instituiccedilotildees poliacuteticas na democracia (PORTELLI

2009 P2)

A devoccedilatildeo ao santo na cidade de Itagimirim corresponde agrave trajetoacuteria de vida do

maacutertir que lutou contra as afliccedilotildees impostas aos cristatildeos pelo impeacuterio romano devido agrave dura

realidade financeira vivida pela populaccedilatildeo Salomatildeo (2008) descreve que

Satildeo Sebastiatildeo eacute um maacutertir cristatildeo elevado a condiccedilatildeo de santo pela devoccedilatildeo

popular A tradiccedilatildeo cristatilde afirma que o maacutertir foi assassinado em 20 de

janeiro de 288 em Roma () Sua proteccedilatildeo eacute evocada para deter as guerras

a fome e epidemias No candombleacute haacute referecircncias de sua associaccedilatildeo a

Oxoacutessi divindade guerreira que o sincretismo religioso relacionava na Bahia

a Satildeo Jorge (SALOMAtildeO 2008 p87)

Ter um santo para interceder sobre suas necessidades fiacutesicas e espirituais eacute significante

para o povo pois suas afliccedilotildees poderiam ser resolvidas junto ao divino atraveacutes da feacute

Contudo no decorrer dos anos alguns grupos vatildeo desaparecendo seja por morte do liacuteder ou

por questotildees financeiras

Fotografia -5

8

Foto cedida pela Srordf Alzira Pereira de Souza do arquivo familiar fotoacutegrafo desconhecido Ano 1972

Nesta imagem se pode verificar o Sr Joaquim Teixeira (jaacute falecido) que estaacute atraacutes e no

lado direito da porta bandeira com seu grupo de Reisado os seus foliotildees vestido de branco e

vermelho poreacutem ele nos cortejos estava sempre com seu vestuaacuterio branco que relatava ser

sua devoccedilatildeo Outro aspecto visiacutevel na populaccedilatildeo itagimiriense satildeo seus traccedilos com diversos

grupos eacutetnicos que habitavam a regiatildeo

O que se concluiu em relaccedilatildeo ao outro grupo e seu desaparecimento estatildeo

relacionados com questotildees financeiras pois muitos habitantes deixaram a cidade para

procurar melhores condiccedilotildees de vida nos grandes centros urbanos

OS FOLIOtildeES E O ESPACcedilO SACRALIZADO

As festas de Satildeo Joatildeo foram sempre diferentes do reisado que todo ano tem

o reisado de SAtildeO SEBASTIAtildeO comeccedila do dia primeiro de janeiro que o

primeiro reis eacute Santo Reis (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-14)

Os foliotildees representam uma manifestaccedilatildeo de feacute em movimento poreacutem enquanto estaacute

festejando em uma residecircncia aquele espaccedilo eacute sacralizado pelos que compartilham com o

festejo a bandeira com a imagem do santo representa o martiacuterio a santificaccedilatildeo a interseccedilatildeo

9

para aqueles que sofrem com as condiccedilotildees de vidas precaacuterias a fome a peste e as afliccedilotildees

sendo descriminados por expressarem seu sentimento religioso

No festejo de Satildeo Sebastiatildeo eacute possiacutevel ver elementos do sagrado e do profano No

entanto o espaccedilo sagrado eacute delimitado Segundo Edilece Souza eacute preciso criar limites entre os

espaccedilos sagrado e profano9

No entanto eacute necessaacuterio sacralizar o espaccedilo para que ele seja habitado E por

isso procura-se um eixo um centro de orientaccedilatildeo que pode ser um templo

o local ou o altar de sacrifiacutecio de um animal cruz poste ou mastro escada

aacutervore ou montanha Qualquer um desses elementos marca o limiar entre o

sagrado e o profano e torna-se o eixo de ligaccedilatildeo entre o ceacuteu a terra e o

mundo inferior (COUTO 2008 p1)

As muacutesicas iniciam-se quando os foliotildees chegam agrave casa de uma pessoa eacute em forma de

louvor onde o dono da residecircncia espera o teacutermino da canccedilatildeo para abrir a porta e oferecer a

sua casa como salatildeo de reza e brincadeira

A letra da muacutesica para sair de uma casa eacute em forma profana ou mesmo uma

contradanccedila que canta os acontecimentos do cotidiano familiar e do trabalho representa uma

forma de socializaccedilatildeo entre familiares amigos e conhecidos festejados do dia 10 aacute 20 de

janeiro que o aacutepice da festa

No canto em louvor10 ao Satildeo Sebastiatildeo pode-se identificar em alguns trechos a ligaccedilatildeo

dos devotos com o Santo

Eacute filho de um homem nobre

Ele estaacute lhe pedido uma esmola

Natildeo eacute por ganhar dinheiro

Mas pra cumprir uma promessa

No dia 20 de janeiro

Vocecirc jaacute pagou sua esmola

Cada um da o que pode

Vocecirc jaacute pagou sua esmola

Deus lhe dar merecimento

9 COUTO Edilece Souza DEVOCcedilOtildeES FESTAS E RITOS ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeE Revista Brasileira de

Histoacuteria das Religiotildees ndash Ano I no 1 ndash Dossiecirc Identidades Religiosas e Histoacuteria 10 O canto da Chegada em homenagem ao Santo SAtildeO SEBASTIAtildeO eacute entoado quando os foliotildees de Itagimirim-

Ba chegam agrave porta de uma residecircncia para Louvar A letra eacute cantada por todos os grupos que existiram e existe

na localidade natildeo se sabe quem eacute o verdadeiro autor No final da entrevista com Sr Jonas Almeida de Castro

cantou um trecho no entanto veio o interesse de transcrever e analisar alguns trecho na letra do canto

10

Deus lhe dar chuva santa

Para molhar seu mantimento

Viva Satildeo Sebastiatildeo

Ele chegou aqui

Quem tem promessa com ele

Ta na hora de cumprir

Viva Satildeo Sebastiatildeo

Eacute um santo de alegria

Quem tem saudade dele

Vai agrave reza do seu dia 11

Neste sentido o significado da muacutesica que os foliotildees cantam ao chegar a uma casa eacute

ldquopara louvar o dono da casa porque vocecirc cantar o Reis laacute fora e agradece dentro da casa

poreacutem a contra danccedila eacute uma musica entoadardquo isso que evidencia o Sr Jonas A de Castro (30-

05-14)

Sendo assim o festejo acontece nas casas das pessoas que compartilham com a devoccedilatildeo

a Satildeo Sebastiatildeo onde se reuacutenem com alegria dentre eles idosos crianccedilas jovens homens e

mulheres tendo momentos de oraccedilatildeo de comer de beber e festejar desde que a noite

chegava ateacute quando a noite desaparecia em belos raios de sol o local na muitas das vezes natildeo

eacute fixo passava de casa em casa dos que compartilhavam com a tradiccedilatildeo

Esse cortejo visita todas as casas do lugar que rezavam em forma musical com

instrumentos como gaitas caixas bumbas e violas maneira utilizada na maioria das festas e

festejos populares Os foliotildees do primeiro grupo de reisado trazem em suas memoacuterias um

milagre que foi atendido pelo santo que segundo Srordf Maria C Rodrigues um acontecimento

coletivo estabelece a devoccedilatildeo por Satildeo Sebastiatildeo

Minha matildee era professora e costureira laacute em Cachoeirinha (comunidade

desenvolvida na beira do rio Jequitinhonha) meu pai era canoeiro vendedor

ambulante em 1951 eu tinha um ano de idade eu natildeo lembro mas meus pais

contavam meu pai saia de Cachoeirinha para vim comprar farinha teve um

ano que ficou conhecido como o ano da fome que a seca foi tanta que natildeo

tinha como se achar o que comer Meu pai passa em Itagimirim que soacute

estava comeccedilando tinha aquela pracinha ali que hoje eacute a Castro Alves Soacute

tinha poucas casinhas ele vinha laacute de Gabiarra-Ba acampava aqui desde

11 Eacute o quinto sexto seacutetimo e oitavo trecho do canto de chegada em Louvor a Satildeo Sebastiatildeo entoado pelos

foliotildees da cidade de Itagimirim-Ba Letra relatada pelo Sr Jonas Almeida de Castro (30-05-14)

11

dessa eacutepoca eu com um ano de idade jaacute participo da histoacuteria de Itagimirim-

Ba Ele acampava aqui para trazer mantimento tinha um barracatildeo grande em

Cachoeirinha laacute ele leva as coisas comprava gado era magarefe ele servia

praticamente essa regiatildeo daqui todinha era meu pai trabalhava vendendo

coisa ambulante com as tropas que antigamente natildeo tinha carro eram tropas

34 5 6 burros Com aqueles caccediloar que hoje ainda existe em muito lugar

trazendo coisa para manter a regiatildeo Foi uma fome muito grande e nessa

eacutepoca Satildeo Sebastiatildeo junto com Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo eram padroeiro

de Cachoeirinha e todo mundo fazia promessa com ele pedindo chuva Que

levou um ano sem chover na regiatildeo na eacutepoca todo mundo carregava pedra

na cabeccedila para botar no cruzeiro da igreja de nossa senhora da Conceiccedilatildeo

para fazer penitecircncia como era chamado antigamente para pedir ao santo que

chovesse foi um ano de sofrimento quando levantou esse povo e fez essa

promessa foi quando surgiu a primeira festa a Satildeo Sebastiatildeo Quando choveu

todo mundo saiu de vermelho e branco homenageando a ele que a minha

folia ateacute hoje todos se vestem de vermelho e branco por causa dessa fome

que foi demais aqui na regiatildeo (Srordf Maria C Rodrigues 20-03-14)

Foi atraveacutes desse ritual que se constituiu a memoacuteria coletiva dessa populaccedilatildeo esse

acontecimento que fez desenvolver a religiosidade cultural Michel Pollak (1988 p 2) ao

analisar a memoacuteria como identidade social reflete que ldquo[] Eacute perfeitamente possiacutevel que por

meio da socializaccedilatildeo poliacutetica ou da socializaccedilatildeo histoacuterica ocorra um fenocircmeno de projeccedilatildeo

ou de identificaccedilatildeo com determinado passado tatildeo forte que podemos falar numa memoacuteria

quase que herdadardquo

Alguns habitantes de Cachoeirinha ao migrarem para a comunidade Itagimiriense

como no caso do primeiro grupo de reisado de religiatildeo Umbanda que montam seu terreiro em

sua fazenda nas proximidades de Itagimirim trazem o cortejo como uma forma de devoccedilatildeo e

tornando tambeacutem um espaccedilo de socializaccedilatildeo

Onde a maioria dos foliotildees relatou que essas praacuteticas de reisado e devoccedilatildeo a Satildeo

Sebastiatildeo esta relacionada com a histoacuteria de suas famiacutelias ligadas a acontecimentos como

Promessas milagres um momento difiacutecil ou alegrias e brincadeiras Hobsbawm (1997 p21)

afirma que ldquo[] o estudos dessas tradiccedilotildees esclarece bastante as relaccedilotildees humanas com seu

passado []rdquo

Entre costureiras vaqueiros pedreiros vendedores ambulantes accedilougueiros

professoras de primaacuterio e pessoas de pouca leitura mas de uma feacute grandiosa que faziam da

relaccedilatildeo com o ambiente uma forma de sobrevivecircncia e ligaccedilatildeo com o divino mesmo com

12

aacuterduo labor no campo essa relaccedilatildeo entre homem e divindade pode ser percebido no trecho do

canto de chegada

Deus lhe dar merecimento

Deus lhe dar chuva santa

Para molhar seu mantimento 12

Para a cidade que desenvolve a religiosidade popular foi um fator de extrema

importacircncia pois a relaccedilatildeo social do povo atraveacutes dos festejos tornou-se uma expressatildeo

devocional de identificaccedilatildeo entre eles No entanto as experiecircncias culturais Segundo Abreu

(2003 p 94-95) ldquo[] pode tambeacutem estimular a criaccedilatildeo de identidades sociais culturais e

viacutenculos duradouros entre grupos de reconhecida expressatildeo cultural ou religiosa como por

exemplo as escolas de samba os grupos que organizam folias de reis e congadasrdquo Para as

duas senhoras que tem centros de Umbanda em Itagimirim eacute uma missatildeo a seguir pois estaacute

ligado a uma promessa familiar e o compromisso passado a elas

O festejo criou viacutenculos duradouros entre os participantes pois suas expressotildees de feacute

estatildeo relacionadas no cotidiano familiar e por meio do lugar onde se encontram e

desenvolveu uma organizaccedilatildeo social que ao longo dos anos constituiu grupos distintos

Segundo Abreu (1999) ldquoatraveacutes das festas pode-se conhecer melhor a coletividaderdquo e com

isso quais indiviacuteduos que se relacionam com religiosidade popular

No entanto o que se discute neste trabalho eacute a festa enquanto espaccedilo de sociabilidade

a partir de uma memoacuteria coletiva e individual no espaccedilo social onde esta produccedilatildeo do

cotidiano ganha significado e que agrega valores entre o profano e o sagrado Sendo que estes

acontecimentos quebram o ritmo do cotidiano e estatildeo fixos dentro do calendaacuterio devocional

festivos das comunidades que desenvolvem os rituais

Os foliotildees no mecircs de janeiro quando saem agraves ruas apropriam dos espaccedilos puacuteblicos

festejando durante o dia eles mostram suas tradiccedilotildees para a populaccedilatildeo os indiviacuteduos ao

escrever suas tradiccedilotildees nos espaccedilos histoacutericos da cidade estatildeo demonstrando o seu lugar social

que segundo Larissa Novais Britto (2009)13

12 Parte do sexto trecho do canto de chegada que louva a Satildeo Sebastiatildeo entoado pelos foliotildees na cidade de

Itagimirim-Ba 13 A festa de Satildeo Benedito eacute um evento dinacircmico que eacute reinventado e reformulado atraveacutes de celebraccedilotildees

anuais descrito no trabalho monograacutefico de Larissa Novais Britto a festa se organiza no interior de uma

13

Nos dias da festa os negros saem do anonimato e assumem lugar de

destaque na cena urbana e promovem uma ruptura com a rotina cotidiana

extremamente marcada pela submissatildeo Ao danccedilar e cantar para seu santo

os festeiros revivem a liccedilotildees de seus ancestrais e revertem

momentaneamente o lugar secundaacuterio que ocupam na hierarquia do poder

local ( BRITTO 2009 p 9 )

Ao entrevistar as pessoas dessa comunidade que traz em suas memoacuterias um periacuteodo de

muitas recordaccedilotildees do tempo festivo no qual o homem rural criava seus modos de

sociabilidade atraveacutes de praacuteticas e instrumentos simples que faziam parte do seu cotidiano

Uma maneira de cultuar ao santo de forma direta atraveacutes de brincadeiras rezas

demonstraccedilotildees de feacute que tinha um grande significado diante de toda a expectativa para um

novo ano

Mediante a esses costumes e tradiccedilotildees que contribuem para o desenvolvimento da

localidade que teve avanccedilos permitindo que novos elementos fossem inseridos na festividade

Ao analisar a festa a Santos Reis na comunidade de aldeia com o processo de modernizaccedilatildeo

do lugar com a chegada da luz eleacutetrica que deu outros rumos ao ritual festivo apropriando de

outras caracteriacutesticas Brandatildeo (2010 P7) afirma que ldquo[] A festa em louvor a Santos Reis

esta viva justamente pela sua capacidade de se reinventar e natildeo pelo apego a uma praacutetica

ritualiacutestica congelada no tempordquo

A manifestaccedilatildeo de feacute eacute um espaccedilo de troca de saberes atraveacutes das praacuteticas culturais

seja no movimento das danccedilas ou manuseio dos instrumentos com muita alegria e devoccedilatildeo

sendo tambeacutem um lugar de afirmaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais

A festa eacute repleta de interesses e significados disfarccedilados Segundo Guarinello (2001

p974) ldquo[] o sentido da festa eacute portanto da identidade que propotildee e produz depende sempre

dos participantes eventuais ou desejados cuja presenccedila e envolvimento determinam o

sucesso e o significado uacuteltimo de qualquer festa []rdquo

Assim se constituiu a relaccedilatildeo existente entre os foliotildees e devotos Habitantes de um

espaccedilo rural e urbano que no periacuteodo do festejo migram de um local a outro levando a boa

nova atraveacutes do cortejo ao santo

irmandade religiosa e em funccedilatildeo de um mito fundador que remete a histoacuteria de vida de um santo que considerado

protetor do povo negro

14

O RITO

Todo mundo espera chegou primeiro de Janeiro O reisado de santos reis eacute agrave

noite o de SAtildeO SEBASTIAtildeO eacute de dia Se noacutes cantamos em uma rua canta

de um lado ateacute o final depois passamos para o outro lado noacutes natildeo podemos

cruzar bandeira (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-14)

No primeiro dia (10 de janeiro) acontece uma reza nos salotildees de umbanda e tambeacutem

na igreja catolica essa praacutetica eacute realizada tanto por um grupo quanto pelo outro Quando os

foliotildees saem do salatildeo em cortejo vatildeo direto a igreja neste espaccedilo fazem vaacuterios pedidos e

rezas

Poreacutem dentro da igreja apenas as violas e gaitas satildeo ultilizadas para acompanhar o

louvor trovado agrave Satildeo Sebatiatildeo Pode ser pela amanhatilde ou agrave tarde para pedir proteccedilatildeo durante os

dias que os foliotildees percorrem em fazendas cidades vizinhas para depois que estiver faltando

uns quatro dias para vinte de Janeiro que eacute o dia de comemoraccedilatildeo a Satildeo Sebastiatildeo eles

retornam a Itagimirim Como foliatildeo do primeiro grupo de reisado o Sr Diomario relata o

trajeto do primeiro dia

Quando noacutes descemos da casa de Ceicinha no primeiro dia com a bandeira

noacutes vamos direto a igreja noacutes cantamos na igreja depois noacutes esparramamos

nos gerais esparramamos no mundo noacutes vai para casa do prefeito que eacute de

obrigaccedilatildeo ele receber a bandeira (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-14)

O primeiro grupo reisado segue a seguinte rota vatildeo para cidade de Itabepi onde satildeo

recebidos com muita festa pela populaccedilatildeo e governante local que disponibiliza uma pousada

para os foliotildees descasarem Depois de quatro dias cantando nesta cidade retornam a

Itagimirim cantam em diversas casas finalizando com a reza do terccedilo no oratoacuterio dentro do

salatildeo entre os dias 20 (vinte) para 21 (vinte e um) de janeiro A preparaccedilatildeo do foliatildeo para a

reza do terccedilo no uacuteltimo dia de Festejo eacute evidenciado pelo O Sr Diomario

15

No dia vinte noacutes estamos chegando em casa para poder descansar de meio

dia para tarde tomar banho ajeitar para a noite ter a reza de sete para oito

horas da noite a gente reza ai encerrou aquele reisado depois da reza acabou

mas se noacutes querer amanhecer o dia brincado pulando fazendo contra danccedila

tomando cachaccedila comendo tira gosto porque ela mata um boi para dar

despesa para os foliotildees dela e alguns visitantes que querem acompanhar (Sr

Diomaacuterio de Jesus 04-05-14)

O segundo grupo de Reisado apoacutes as rezas em seu salatildeo de umbanda tambeacutem seguem

com o cortejo para a igreja catoacutelica a bandeira do santo representando o martiacuterio e estaacute

sempre agrave frente do grupo Nenhum foliatildeo passa a frente da bandeira ficando atraacutes e se por

acaso necessitar passar na frente da bandeira logo eacute reverenciada pelos foliotildees colocando se

de joelho e beijando o manto sagrado

Essa praacutetica tambeacutem eacute abordada por Abreu (1999 p 48) na festa do divino Espiacuterito

santo a partir dos relatos do Escritor Thomas Ewbank ldquo[] que sempre estranhava nossos

haacutebitos beijando-se tambeacutem a bandeira ou melhor ldquoafundava-se o rosto em suas dobrasrdquo

para realizar a devoccedilatildeo e tanto fazia se fossem pessoas brancas ou negras []rdquo

Beijar a bandeira com a imagem de Satildeo Sebastiatildeo para um devoto que participa do

cortejo eacute uma forma de respeito que expressa agrave fidelidade ao santo onde seus pedidos foram

ouvidos e realizados uma relaccedilatildeo de proximidade e confianccedila na intercessatildeo do santo diante

do divino

Os foliotildees dizem que antes de iniciar o cortejo vatildeo a igreja catoacutelica pedir proteccedilatildeo

com a presenccedila ou natildeo do padre eles pedem licenccedila e entra na igreja entoando seus cacircnticos

uns ajoelham outros cantam com muita entonaccedilatildeo A Srordf Maria diz que sempre cantou na

igreja ldquoEu natildeo sei por que natildeo mas realmente quando a gente chega laacute tem vez que o padre

natildeo esta mais a gente canta eacute um direito nosso que ali eacute a casa de Deus casa nossa ali eacute

portas abertardquo

Santos (2010) ao analisar o catolicismo na cidade Maragogipe-Ba a partir do culto a

Satildeo Bartolomeu nos anos de 1851 a 1943 Destaca a seguinte informaccedilatildeo

No Brasil colonial as manifestaccedilotildees religiosas tinham como caracteriacutestica a

superficialidade constituindo-se como uma religiatildeo epideacutermica de fundo

emocional comprazendo-se nas exterioridades do culto mesmo sem

16

compreendecirc-lo e tomando um gosto de festa de reuniatildeo social sem aquela

convicccedilatildeo profunda nascida de uma interioridade forte e espiritualizada

Essa superficialidade fez-se notar pela enfaacutetica predominacircncia de ritos

externos pelo colorido e pompa das praacuteticas exteriores Tudo se fazia para

cultuar e homenagear os santos protetores No fundo uma religiatildeo

imediatista distante da ortodoxia (SANTOS 2010 P 63)

Neste sentido a igreja catoacutelica na cidade de Itagimirim natildeo participa diretamente das

homenagens ao santo cultuado por parte da populaccedilatildeo mas respeita o louvor a Satildeo Sebastiatildeo

que eacute manifestado pelos foliotildees atraveacutes de uma devoccedilatildeo desenvolvida por vaacuterias famiacutelias

contudo pode se perceber que alguns dos devotos satildeo frequumlentadores das missas dominicais e

que tambeacutem participam de muitos eventos promovidos pela igreja Couto (2004) ao investigar

os estudos sobre religiatildeo oficial e religiosidade popular abordou que

A partir da emergecircncia da espiritualidade laica no seacuteculo XIII o clero sentiu

a necessidade de falar a mesma liacutengua dos fieacuteis utilizar formas orais nas

liturgias ndash cantos e sermotildees ndash aceitar procissotildees e peregrinaccedilotildees a oratoacuterios

consagrados pelo povo e as funccedilotildees pagatildes atribuiacutedas aos santos (P 45)

Apoacutes o rito dentro da igreja os foliotildees entram em um carro geralmente alugado pela

dona do reisado passando por fazendas e chegando ao distrito de Gabiarra municiacutepio de

Eunaacutepolis retornando por Uniatildeo Bainana (distrito de Itagimirim-Ba) que faz divisa com o

estado de Minas Gerais

E concluem o cortejo dentro da cidade de Itagimirim passando em muitas residecircncias

No dia 19 (dezenove) agraves 18h00 (dezoito) realizam um jantar depois de muita contra danccedila

com as oitavas um roda de oito pessoas com instrumentos como gaitas bumba viola

pandeiro pratos de esmalte e palmas girando e passando um pelo o outro Depois das

brincadeiras fazem uma pausa para rezar o terccedilo dentro do oratoacuterio na passagem do dia 19

(dezenove) para 20 (vinte) de Janeiro

Os foliotildees percorrem a regiatildeo anunciando a boa nova um tempo de paz e alegria cada

pessoa que recebe esse cortejo fortalece sua feacute e de seus familiares O festejo representa um

ato de feacute para as pessoas que se juntam para agradecer pelas becircnccedilatildeos recebidas ao longo do

ano com esperanccedilas de dias melhores e sendo entrelaccediladas pelos festejos natalinos e todas as

expectativas para um novo ano

17

O festejo serve tambeacutem para pagar uma promessa ou mesmo para seguir a tradiccedilatildeo

aleacutem da questatildeo religiosa o festejo representa um sentimento de pertencimento e sociabilidade

para as pessoas que herdaram a devoccedilatildeo Segundo relata Edilece Souza

No entanto natildeo podemos perder de vista que o cristianismo inaugurou o

tempo lituacutergico baseado na historicidade de Jesus Cristo Dessa forma o

tempo festivo eacute repetido mas natildeo eacute imoacutevel nem imutaacutevel Apesar de se

revelar especial e diferente do calendaacuterio profano tambeacutem natildeo eacute um evento

isolado pois quebra o ritmo regular do cotidiano promove a sociabilidade e

o sentimento de pertencimento e identidade em um determinado grupo

social (COUTO 2008 P 2)

Nem todos os devoltos dos dois ternos de reisado vatildeo para os cortejos nas fazendas ou

para outras cidades alguns ficam nos salotildees de oraccedilotildees preparando as comidas e bebidas

organizando para a chegada e finalizaccedilatildeo do festejo segundo o Sr Diomario foliatildeo do

primeiro grupo de reisado satildeo poucas as pessoas que ficam a frente do cortejo

Mas os dela (foliotildees) satildeo oito macho e quatro fecircmea que satildeo de carregar a

bandeirae os machos para tocar os instrumentos pois cada um daqueles oito

tem os instrumento deles que domina que satildeo reco-reco pandeiro a caixa

era de Ceicinha o bunda eacute de quem saber bater que nem esse Neo era

bumbeiro nosso Neo batia bumba muito bem mas agora ficou o filho de

Ceicinha que eacute bumbeiro dela tambeacutem eacute isso (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-

14)

O individuos pertecente a um grupo desde o seu nascimento e no decorrer da vida vatildeo

aquirindo os usos haacutebitos alimentares vestimentas moradia objetos de pertecimento

ensiados pelas pessoas idosas que tem experiecircncia a religiosidade que vai sendo transmitida

de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo independe de tamanho e de grupo social ao qual estaacute inserido

Resultando em caracteriacutesticas peculiares ou a chamada memoacuteria comum do grupo para

Jacqueline Hermann (1997) chega-se ao ponto onde religiatildeo e religiosidade se cruzam

Quando o cortejo chega na porta de uma casa cantam um louvor para chamar atenccedilatildeo

do morador ldquoPorque vocecirc canta o Reis laacute fora e agradece dentro da casa o dono da casa abre

a porta vocecirc entra ai deu bom dia vocecirc louva o dono da casa e agradece o Reisrdquo isso que nos

relata o Sr Jonas Almeida de Castro Depois do lovour abre a porta dentro da residecircncia foi

observando que em um trecho do canto o devoltos obedecem a letra

18

Ajoelha pecadores

Potildee seu joelho no chatildeo

Para cobrir com a bandeira

Viva satildeo Sebastiatildeo

Essa bandeira me salva

Quando chegar laacute no ceacuteu

Alevanta pecador

Todo coberto de veacuteu 14

Sendo assim a bandeira eacute passada pela cabeccedila de todos os devotos que ajoelham

algumas pessoas beijam o manto outras se emocionam e agradecem Para Brandatildeo (2011 P

64) ldquo[] A festa eacute o momento de reconhecer que foram agraciados com uma benccedilatildeo e que eacute

preciso retribuir []rdquo A contra danccedila ndash uma muacutesica entoada cantado coisas do cotidiano para

os foliotildees saiacuterem da residecircncia como aborda o Sr Jonas Almeida de Castro (2014)

Convidei meus companheiros

para fazer sociedade

Para roubar dessa cigana

um amor da eternidade

O ciganhinha hora eacute hora

quem quiser comigo eacute hora

Agrave Deus ponta da areia

que laacute vai a cigana embora

A festa eacute uma forma de diversatildeo tatildeo especial para os foliotildees que toca os instrumentos

por prazer em estar festejando que apaga todo o cansaccedilo do corpo Brandatildeo (2011 P74)

afirma que ldquoApesar de a festa ser uma celebraccedilatildeo do cotidiano das sociedades ela representa uma

quebra nesse cotidiano quando as pessoas deixam suas atividades do dia- a- dia para se

dedicarem ao seu inversordquo

Dois foliotildees relataram duas situaccedilotildees envolvendo o cortejo de Satildeo Sebastiatildeo a

primeira foi quando uma senhora os convidou o terno de reis para entrar em sua residecircncia

muito humilde Poreacutem a dona da casa tinha apenas dois ovos de galinha para oferecer nesta

situaccedilatildeo um foliatildeo fez a doaccedilatildeo por ela e devolveu a oferta da senhora A outra situaccedilatildeo eacute

14 Nona e deacutecima estrofe do canto de chegada em louvor a Satildeo Sebastiatildeo entoado pelos foliotildees em Itagimirim-

Ba

19

quando uma fita da bandeira do santo cai dentro de uma casa eacute sinal de milagre concedido ao

morador como Aborda dona Srordf Alzira P de Souza

Olha se cair na casa da pessoa eacute para pegar e guardar ali eacute uma virtude que

esta deixando na casa da pessoa e uma forccedila que esta deixando ali na casa

da pessoa o santo deixou cai aquela fita ali para agradecer e recomendar o

dono da casa (Srordf Alzira Pereira de Souza 08-05-14)

Para muitos moradores essa fita eacute utilizada como remeacutedio quando um familiar sente

uma dor amarando no local essa recordaccedilatildeo eacute guardada como muita alegria

Quando o reisado chega em uma rua eles cantam de um lado e depois do outro a

bandeira indo por um canto natildeo pode voltar pelo mesmo lugar tem que seguir o giro o

caminho aberto A Srordf Maria C Rodrigues relata que ldquoquando passo numa casa e vejo a porta

fechada eu acho que a pessoa natildeo quer que eu paro ai a bandeira passa se pedir para voltar

a gente natildeo pode maisrdquo Hobsbawm (1997) dialoga que entende-se por ldquotradiccedilatildeo inventadardquo

um conjunto de praacuteticas normalmente reguladas por regras taacutecita ou abertamente aceitas ldquo[]

tais praacuteticas de natureza ritual ou simboacutelica visam inculcar certos valores e normas de

comportamento atraacuteves de repeticcedilatildeo o que implica automaticamente uma continuidade em

relaccedilatildeo ao passado []rdquo

Muitas festas foram apontadas por vaacuterios pesquisadores do periacuteodo colonial como

forma de fugas e rebeliotildees ou sendo para assumir uma identidade por determinados grupos

nesse contexto as festas natildeo satildeo vistas simplesmente como passivas mas como oportunidade

de romper com o cotidiano

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O trabalho realizado atraveacutes do festejo de Satildeo Sebastiatildeo em Itagimirim-Ba investigou

e analisou o surgimento da manifestaccedilatildeo religiosa de caraacuteter popular sendo renovada e

20

modificada com as migraccedilotildees de pessoas vindas de outros povoados e municiacutepios da regiatildeo

re-significando a tradiccedilatildeo e incorporando novas praacuteticas

A devoccedilatildeo dos foliotildees por um santo representa uma afirmaccedilatildeo de identidade

possibilitando novas relaccedilotildees entre os homens e o meio social ao qual estaacute inserido

Rememorar natildeo significa trazer de volta a festa do mesmo jeito que era outrora e sim

reafirmar e reconstruir novos haacutebitos

O festejo eacute um elemento que fez e faz parte da origem e desenvolvimento da cidade

pois seus habitantes fundadores jaacute traziam em suas memoacuterias essa forma de socializaccedilatildeo

religiosa Que tambeacutem se construiu como um escape para os longos dias de trabalhos

quebrando o ritmo do cotidiano A manifestaccedilatildeo de feacute eacute um espaccedilo de troca de saberes atraveacutes

das praacuteticas de alegria e devoccedilatildeo sendo um lugar de afirmaccedilatildeo de relaccedilotildees sociais ou criar

novos laccedilos de amizade o que fundamental para comunidade itagimiriense

REFEREcircNCIAS

ABREU Marta Cultura popular um conceito e vaacuterias histoacuterias In Ensino de Histoacuteria

conceitos temaacuteticas e metodologia Martha Abreu amp Rachel Sohiet (orgs) Rio de Janeiro

Casa da Palavra 2003

ALBERTI Verena Manual de Histoacuteria oral ndash 3 ed ndash Rio de Janeiro Editora FGV 2005

BOSI Ecleacutea Memoacuteria e Sociedade Lembranccedilas de Velhos ndash 3 ed ndashSatildeo Paulo Companhia

das letras 1994

BRANDAtildeO Alex Sandro da Conceiccedilatildeo Santos Reis Festa Poder e Memoacuteria (Governador

Mangabeira- BA 1970-2000) Artigo apresentado no X Encontro Nacional de Histoacuteria Oral

Recife 2010

21

BRANDAtildeO Alex Sandro da Conceiccedilatildeo Santos Reis festa poder e memoacuteria na comunidade

rural de aldeia (Governador Mangabeira- BA 1970-2000) Dissertaccedilatildeo apresentada ao

programa de poacutes-graduaccedilatildeo em histoacuteria regional e local da universidade do estado da

BahiaUNEB Santo Antonio de Jesus ndash BA abril ndash 2011

BRITTO Larissa Novais Festa de Satildeo Benedito O Sagrado e o profano nas festas regiliosas

de origem africana em Porto Seguro-Ba Monografia apresentada a UNEB Eunaacutepolis 2009

CASTRO Jakson Viana de Educaccedilatildeo patrimonial um instrumento de ensino para Histoacuteria local

Monografia apresentada a UNEB Eunaacutepolis 2009

CHALHOUB Sidney Visotildees da liberdade uma histoacuteria das uacuteltimas deacutecadas da escravidatildeo

na Corte Sidney Chalhoub mdash Satildeo Paulo Companhia das Letras 2011

COUTO Edilece Souza Devoccedilotildees festas e ritos algumas consideraccedilotildees Revista Brasileira

de Histoacuteria das Religiotildees ndash Ano I no 1 ndash Dossiecirc Identidades Religiosas e Histoacuteria Maio

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(orgs)Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa Volume II Satildeo Paulo 2001

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HERMANN Jacqueline Histoacuteria das religiotildees e religiosidades Domiacutenios da Historia

ensaios da teoria e metodologias Ciro Flamrion Cardoso Ronaldo Vainfas (orgs) Rio de

Janeiro Campus 1997

HOBSBAWM Eric A invenccedilatildeo das tradiccedilotildees Eric Hobsbawn e Terenge Ranger

organizadores Traduccedilatildeo Celina Cardim Cavalgante 2ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro 1997

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel emwwwibgegovbr acesso

dia 06-05-12 agraves 13h00min

JANCSOacute Istvaacutem KANTOR Iris (orgs) Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica

Portuguesa Volume I Satildeo Paulo 2001

JANCSOacute Istvaacutenamp KANTOR Iris Festa Cultura e Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa (2

volumes) Satildeo Paulo Imprensa Oficial Hucitec Edusp Fapesp 2001

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Conceiccedilatildeo da Cachoeirinha do Baixo Jequitinhonhandash Brasiacutelia 2010

22

2 NASCIMENTO Mara Regina do Religiosidade e cultura popular Catolicismo

irmandades e tradiccedilotildees em movimento Revista da Catoacutelica Uberlacircndia v 1 n 2 p 119-130

2009 ndash catolicaonlinecom BR revista da catoacutelica

PORTELLI Alessandro Histoacuteria Oral e Poder Transcriccedilatildeo de Luiz Henrique dos Santos

Blume a partir do arquivo em aacuteudio wmp Traduccedilatildeo de Luiz Henrique dos Santos Blume e

Heliana de Barros Conde Rodrigues Mnemosine Vol6 nordm2 p 2-13 (2010) ndash Artigos

Conferecircncia no XXV Simpoacutesio Nacional da ANPUH Fortaleza 2009

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POLLAK Michel Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Conferecircncia foi transcrita e traduzida

por monique augras A ediccedilatildeo eacute de Dora Rocha Flaksman Estudos Histoacutericos Rio de

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PIRES Flaacutevia A Festa de Satildeo Sebastiatildeo em Catingueira transformaccedilotildees e permanecircncias dez

anos depois Revista de antropologia Satildeo Paulo USP 2011 v 54 nordm 2 Artigo Recebido em

novembro de 2010 Aceito em julho de 2011

SOIHET Rachel Histoacuteria das mulheres Domiacutenios da Historia ensaios da teoria e

metodologias Ciro Flamrion Cardoso Ronaldo Vainfas (orgs) Rio de Janeiro Campus

1997

SANTANA Tacircnia de Devoccedilotildees catoacutelicas entre os negros na Bahia colonial Artigo

apresentado na participaccedilatildeo no evento Fala Professor em 250803 promovido pelo curso de

Histoacuteria das Faculdades Jorge Amado

SANTOS Fernanda reis dos ldquoa festa do excelso padroeiro da cidade das palmeirasrdquo o culto

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graduaccedilatildeo em histoacuteria da faculdade de filosofia e ciecircncias humanas universidade federal da

Bahia Salvador 2010

VAINFAS Ronaldo Da festa tupinambaacute ao sabaacute tropical a catequese pelo avesso Istvaacutem

Jancsoacute Iris kantor (orgs)Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa Volume I

Satildeo Paulo 2001

Page 2: FESTEJOS DE SÃO SEBASTIÃO EM ITAGIMIRIM-BA ......1 FESTEJOS DE SÃO SEBASTIÃO EM ITAGIMIRIM-BA: Memória e História de Um Povo (1960- 1998) Jairo Viana de Castro1 INTRODUÇÃO

2

A memoacuteria que carrega a histoacuteria de um povo e suas experiecircncias humanas aleacutem de

ser um meacutetodo usado antes do surgimento da Histoacuteria para descrever uma sociedade e suas

formas de organizaccedilatildeo agraves pessoas iletradas trazia uma riqueza de detalhes de suas vivecircncias

por meio da oralidade e muitas vezes se perdem ou caminham em um mundo paralelo aos dos

letrados

O festejo que nasce a partir da junccedilatildeo entre duas religiotildees o catolicismo popular

reconhecido oficialmente pela coroa portuguesa e a Umbanda religiatildeo de matriz africana que

se desenvolve na colocircnia brasileira pelas culturas africanas e indiacutegenas surge entre esses

conflitos culturais e religiosos existentes no Brasil Para Abreu (1999) ldquo[] as festas satildeo

sempre recriadas e reapropriadas contendo as paixotildees os conflitos as crenccedilas e as esperanccedilas

de seus proacuteprios agentes sociais Ou seja atraveacutes das festas pode-se conhecer melhor a

coletividade e a eacutepoca em que aconteceramrdquo

Este Trabalho busca contribuir e analisar o festejo de Satildeo Sebastiatildeo uma manifestaccedilatildeo

religiosa e profana que fez parte do desenvolvimento e da sociabilidade urbana e rural desde o

tempo que surgiu em Itagimirim-Ba uma demonstraccedilatildeo de feacute e agradecimento pelas becircnccedilatildeos

recebidas ao longo do ano o cortejo dos foliotildees representa um espaccedilo de respeito por duas

religiotildees que manteacutem a tradiccedilatildeo

Quando menino nas muitas vezes que meus pais me levaram para contemplar os

festejos a SAtildeO SEBASTIAtildeO natildeo entendia por que aquelas pessoas danccedilavam e brincavam

com seus instrumentos como bumba gaitas violas caixas triacircngulos e pratos velhos de

esmalte que produziam um som estranho as muacutesicas difiacuteceis de compreender em muitas

vozes roucas mas meu pai conta que era para demonstrar a feacute e agradecer o santo pelas

becircnccedilatildeos recebidas ao longo dos anos

Mesmo fazendo parte desta cultura perguntas ficaram sem respostas tais como

quando surgiu este festejo que elementos de renovaccedilatildeo os mantiveram durante o periacuteodo

percorrido

A escolha do festejo de Satildeo Sebastiatildeo em Itagimirim-Ba como corpus deste Trabalho

se deu com a finalidade de analisar a comunidade itagimiriense a partir das suas

manifestaccedilotildees populares e suas praacuteticas em relaccedilatildeo aos rituais religiosos festivos que

3

representa uma demonstraccedilatildeo de feacute e devoccedilatildeo desenvolvida por trabalhadores rurais pessoas

simples que migraram de outras regiotildees a qual foi iniciada pela religiatildeo afro-brasileira

A memoacuteria eacute algo fundamental na trajetoacuteria de vida dos seres humanos para a histoacuteria

oral essa fonte perpassa os indiviacuteduos pelo motivo da transmissatildeo dos valores culturais esse

longo espaccedilo percorrido no tempo eacute possiacutevel graccedilas agraves lembranccedilas e tradiccedilotildees coletivas e

individuais de grupos sociais

SURGIMENTO E MOTIVOS DO FESTEJO DE SAtildeO SEBASTIAtildeO EM

ITAGIMIRIM-BA

Com a descoberta do ouro e pedras preciosas em Minas Gerais o Rio Grande de

Belmonte torna-se uma rota de comeacutercio com o porto da cidade de BelmonteBA nas

margens desse rio que hoje eacute conhecido como Jequitinhonha 4

Aleacutem das relaccedilotildees comerciais e as trocas culturais da Bahia o fluxo de mercadoria

tambeacutem fazem surgir agraves tradiccedilotildees da regiatildeo o festejo a Satildeo Sebastiatildeo em Itagimirim-Ba teve

seu surgimento no povoado de Cachoeirinha ldquoFreguesia de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo da

Cachoeirinha do Baixo Jequitinhonhardquo tiacutetulo de um livro onde o autor descreve que

Cachoeirinha ldquo[] foi o primeiro ponto de recebimento das tropas e canoas que transportavam

mercadorias para abastecer o norte de Minas Gerais []rdquo (NASCIMENTO 2010 P 14)

O cortejo ao santo eacute desenvolvido pelo terreiro de umbanda 5que se instalou no

povoado por dona Marta Gomes da Conceiccedilatildeo que herdou de seus pais vinda de Minas

Gerais casada com Sr Antocircnio Rodrigues que migrou do estado de Alagoas na localidade de

Palmeiras dos iacutendios6 como nos relata sua filha a Srordf Maria Conceiccedilatildeo Rodrigues7

4NASCIMENTO Nilson do Carmo Cachoeirinha Freguesia de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo da Cachoeirinha

do Baixo Jequitinhonha ldquoA regiatildeo da baixa do Jequitinhonha que se inicia e Salto da divisa Minas Gerais indo

ateacute a foz em Belmonte no extremo sul da Bahia () p- 11 5Simbolizado pela flechas eacute um dos maacutertires mais queridos e cultuados pela Igreja Catoacutelica no sincretismo

religioso com as religiotildees afro-brasileiras eacute representado como Oxossi o orixaacute das matas da sauacutede e das ervas

medicinais O seu nome deriva do grego sebastoacutes que significa divino veneraacutevel (que seguia a beatitude da

cidade suprema e da gloacuteria altiacutessima) No Brasil ele eacute celebrado com festas e feriados no dia 20 de janeiro como

padroeiro de vaacuterias cidades httpproblemaenossoblogspotcombr201101sob-flechas-e-martirio-ontem-

igrejahtmlacesso dia 06-05-12 agraves 12h43min horas 6 Palmeira dos Iacutendios Alagoas ndashAl Histoacuterico A terras ocupadas pelo municiacutepio de Palmeira dos Iacutendios

construiacuteam primitivamente um aldeamento dos iacutendios Xucurus que aiacute se estabeleceram no meado do seacuteculo

XVIII Tinham esses indiacutegenas o seu haacutebitat cercado de esbeltas palmeiras bem proacuteximo ao peacute da serra onde

hoje se ergue a cidade de Palmeira dos Iacutendios O nome do municiacutepio veio pois em consequumlecircncia dos seus

primeiros habitantes e do fato da abundacircncia de palmeiras que entatildeo havia em seus campos Os gentios

4

Conheci o festejo com doze anos de idade quando saia com meus pais ()

Antigamente a gente morava em cachoeirinha onde hoje eacute a barragem De laacute

o percurso ia para Itapebi Itagimirim que natildeo era emancipada era uma roccedila

soacute tinha mesmo essa pracinha Castro Alves tinha mas natildeo era calccedilada e

nem nada Entatildeo noacutes ia para Itapebide laacute vinha pra aqui (Itagimirim) Neste

tempo eu era pequena papai me colocava eu muntada na cangaia com os

panicus cheios de comida pra da os foliotildees eu no meio pequena mas jaacute no

meio ai agente vinha pra aqui acampava trecircs a quatro dias daqui passava em

Gabiarra A peacute andando andando nessa cidade tudo passava em Uniatildeo

Baiana descia e saia em cachoeirinha ( Srordf Maria C Rodrigues 20-03-14)

Neste sentido o festejo a Satildeo Sebastiatildeo na comunidade Itagimiriense eacute um tradiccedilatildeo e

memoacuteria de familiares sendo passada as novas geraccedilotildees como se pode perceber no trecho

acima essa devoccedilatildeo foi passada de matildee para filha O membro responsaacutevel tem a missatildeo de

todos os anos organizar e desenvolver o festejo comprando mantimentos ou pedindo doaccedilotildees

aos devotos e fazendeiros no qual as doaccedilotildees satildeo divididas com os tocadores ou foliotildees

Inicialmente nos anos de 1960 a manifestaccedilatildeo de feacute acontecia fora do periacutemetro

urbano como nos relata a Srordf Hilda Queiroz (04-05-14) ldquoesse negoacutecio de reisado era

realizado na zona ruralrdquo Jaacute o Sr Gildo Gonccedilalves (30-05-14) evidencia que ldquoera trinta dias

de reisado visitando as fazendas e a cidade tambeacutem era Satildeo Sebastiatildeordquo

Percebemos que a praacutetica de reisado a Satildeo Sebastiatildeo em Itagimirim eacute desenvolvido

por pessoas da zona rural com isso os foliotildees no momento do cortejo entravam dentro da

cidade e compartilhe com os moradores que festejavam a Satildeo Joatildeo Batista padroeiro

instituiacutedo pela igreja catoacutelica

O festejo que se desenvolveu pela memoacuteria herdada tambeacutem natildeo eacute um acontecimento

imoacutevel sofre transformaccedilotildees no decorrer das geraccedilotildees de acordo com o contexto social sendo

agregados valores e concepccedilotildees do momento vivenciado

A Srordf Maria da Conceiccedilatildeo relata que a organizaccedilatildeo do festejo a Satildeo Sebastiatildeo

comeccedilou a ser desenvolvido dentro da zona urbana quando o seu pai faleceu com isso eles

formaram seu aldeamento entre um brejo chamado Cafuma e a serra da Boa Vista Diz a tradiccedilatildeo que mais ou

menos em 1770 chegou a regiatildeo Frei Domingos de Satildeo Joseacute conseguindo converter os gentios ao cristianismo

Posteriormente o franciscano obteve de D Maria Pereira Gonccedilalves e dos seus herdeiros a doaccedilatildeo de meia leacutegua

de terra para patrimocircnio da capela que aiacute foi construiacuteda sendo com sagrada ao Senhor Bom Jesus da Morte

httpcidadesgovbrpainelhistoacutericophplang=ampcodmun=270630ampsearch=alagoas|palmeira-dos-

C38Dndios|infograficos-historico Acesso em 09-07-2014 agraves 2045 7 Moradora de Itagimirim-Ba conhecida como Matildee Ceicinha nasceu em 11 de setembro de 1950

5

perderam a fazenda atraveacutes de um golpe quando seu primo a vendeu a propriedade

utilizando uma procuraccedilatildeo cedida a ele sendo obrigados a residir dentro da cidade

Antigamente era na fazenda pedreira o nome que dava onde mamatildee

comeccedilou o candombleacute Quando agente chegou aqui montou o terreirinho

dela aiacute veio para cidade em 62 quando Itagimirim jaacute era bem desenvolvida

e movimentada (Srordf Maria C Rodrigues 20-03-14)

Diante desse acontecimento e da mudanccedila de um lugar para o outro o festejo continua

sendo cultuado pelos devotos salientando que dentro do cenaacuterio urbano jaacute existia o culto ao

Padroeiro Satildeo Joatildeo Batista Poreacutem o festejo ao padroeiro antes da instalaccedilatildeo do padre era

desenvolvido o lado profano pela populaccedilatildeo que tinha maior participaccedilatildeo na montagem das

barracas para vender comidas tiacutepicas das festas juninas

Com a organizaccedilatildeo das cerimocircnias religiosa e profana como as quermesses e leilotildees

para arrecadar fundos para construccedilatildeo da igreja catoacutelica em 1963 pelo padre haacute um

afastamento da populaccedilatildeo que ganhava um dinheiro extra com o evento

Segundo Hobsbawm (1997 P 20) ldquoAntes de mais nada pode-se dizer que as tradiccedilotildees

inventadas satildeo sintomas importantes e portanto indicadores de problemas que de outra forma

poderiam natildeo ser detectadas nem localizadas no tempordquo

Portanto a manifestaccedilatildeo a Satildeo Sebastiatildeo ganha mais participantes principalmente

dentro da cidade fazendo um movimento contraacuterio no momento das celebraccedilotildees ao santo

pois antes as pessoas se deslocavam para zona rural Agora o povo das fazendas quem se

desloca para zona urbana O Sr Jonas A de Castro relata que na eacutepoca que chegou ao

municiacutepio itagimiriense em 1975 a praacutetica do reisado era desenvolvido por vaacuterios grupos

Quando eu cheguei ao municiacutepio existiam quatro grupos de reisado o de

Ceizinha o de Zeacute de Cabelatildeo o de Joaquim Teixeira e Otaciacutelio da Caccediloada

trecircs festejavam a Satildeo Sebastiatildeo e um a Santos Reis Eu participava dos dois

o de Otaciacutelio que festeja a Santos Reis ai eu participava com Joaquim

Teixeira que festejava a Satildeo Sebastiatildeo (Sr Jonas Almeida de Castro 30-05-

14)

O que se observa neste trecho descrito pelo Sr Jonas eacute o aumento de grupos de reisado

na localidade isto se deu devido agraves memoacuterias da populaccedilatildeo estar ligadas as folias de reisado

6

ou o proacuteprio culto a Satildeo Sebastiatildeo que eacute um santo de crendice popular que proteger contra a

fome guerra e afliccedilotildees principalmente neste municiacutepio empobrecido

Devido agrave quantidade de grupos e um nuacutemero pequeno de muacutesicos havia uma

disputa entre os grupos para atrair esses foliotildees tocadores com isso alguns liacutederes procuravam

agradar dividindo as esmolas e doaccedilotildees que eram arrecadadas no percurso do cortejo que

passava em residecircncias e casas comerciais

Oito homens e quatro mulheres que estatildeo diretamente responsaacuteveis pelos os cantos

manusear os instrumentos e na maioria das vezes apenas as mulheres quem carrega a bandeira

de Satildeo Sebastiatildeo As folias do divino Espiacuterito Santo sobre as descriccedilotildees de Thomas Ewbank

em 1846 um escritor e desenhista de Nova York destaca que a praacutetica de pedir esmolas eacute

fundamental para o desenvolvimento dos festejos Abreu concluiu que

O haacutebito de se pedirem esmolas era muito comum desde o periacuteodo colonial e

tinha como objetivo a reuniatildeo para as festas das irmandades ou para o

financiamento dos benefiacutecios aos irmatildeos carentes como indicam os vaacuterios

anuacutencios de festas No caso das folias do Divino conta Ewbank os irmatildeos

nem precisavam bater de porta em porta porque a muacutesica por si soacute jaacute atraiacutea

todos agrave rua Pela descriccedilatildeo deste viajante norte-americano se todas as

classes contribuiacuteam com donativos as irmandades do Espiacuterito Santo

pareciam distinguir-se entre si pela riqueza A da Lapa por exemplo

contratava barbeiros brancos haacutebeis tocadores de clarim e violinistas que

ofereciam seus serviccedilos por um preccedilo mais elevado (ABREU 1999 P 51)

Com essa descriccedilatildeo e anaacutelise da autora se percebeu que essas praacuteticas estatildeo presentes

nos festejos em homenagem a Satildeo Sebastiatildeo em Itagimirim desde a contrataccedilatildeo dos foliotildees

tocadores ateacute o cortejo de casa em casa em que ganham donativos Esta situaccedilatildeo estaacute evidente

no canto de chegada no seguinte trecho

Eacute filho de um homem nobre

Ele estaacute lhe pedido uma esmola

Natildeo eacute por ganhar dinheiro

Mas pra cumprir uma promessa

No dia 20 de janeiro 8

8 Parte do quinto trecho do canto de chegada que louva a Satildeo Sebastiatildeo entoado pelos foliotildees na cidade de

Itagimirim-Ba

7

Eis o poder da memoacuteria oral aonde essas praacuteticas vem sendo seguidas desde a eacutepoca

colonial chegando ateacute o periacuteodo analisado do trabalho em estudo com algumas mudanccedilas

mas mantendo uma continuidade na maneira de homenagear ao santo intercessor

Alessandro Portelli (2009) dialoga sobre a valorizaccedilatildeo da memoacuteria a partir da oralidade onde

as trajetoacuterias de vidas dos excluiacutedos devem ser relatadas e conhecidas por todas as esferas

sociais

Com frequecircncia se diz que na Histoacuteria Oral damos voz aos sem voz Natildeo eacute

assim Se natildeo tivessem voz natildeo teriacuteamos nada a gravar natildeo teriacuteamos nada a

escutar Os excluiacutedos os marginalizados os sem-poder sim tem voz mas

natildeo haacute ningueacutem que os escute Essa voz estaacute incluiacuteda num espaccedilo limitado

O que fazemos eacute recolher essa voz amplificaacute-la e levaacute-la ao espaccedilo puacuteblico

do discurso e da palavra Isso eacute um trabalho poliacutetico porque tem a ver natildeo soacute

com o direito agrave palavra o direito baacutesico de falar mas com o direito de falar e

de que se faccedila caso de falar e ser ouvido ser escutado de ter um papel no

discurso puacuteblico e nas instituiccedilotildees poliacuteticas na democracia (PORTELLI

2009 P2)

A devoccedilatildeo ao santo na cidade de Itagimirim corresponde agrave trajetoacuteria de vida do

maacutertir que lutou contra as afliccedilotildees impostas aos cristatildeos pelo impeacuterio romano devido agrave dura

realidade financeira vivida pela populaccedilatildeo Salomatildeo (2008) descreve que

Satildeo Sebastiatildeo eacute um maacutertir cristatildeo elevado a condiccedilatildeo de santo pela devoccedilatildeo

popular A tradiccedilatildeo cristatilde afirma que o maacutertir foi assassinado em 20 de

janeiro de 288 em Roma () Sua proteccedilatildeo eacute evocada para deter as guerras

a fome e epidemias No candombleacute haacute referecircncias de sua associaccedilatildeo a

Oxoacutessi divindade guerreira que o sincretismo religioso relacionava na Bahia

a Satildeo Jorge (SALOMAtildeO 2008 p87)

Ter um santo para interceder sobre suas necessidades fiacutesicas e espirituais eacute significante

para o povo pois suas afliccedilotildees poderiam ser resolvidas junto ao divino atraveacutes da feacute

Contudo no decorrer dos anos alguns grupos vatildeo desaparecendo seja por morte do liacuteder ou

por questotildees financeiras

Fotografia -5

8

Foto cedida pela Srordf Alzira Pereira de Souza do arquivo familiar fotoacutegrafo desconhecido Ano 1972

Nesta imagem se pode verificar o Sr Joaquim Teixeira (jaacute falecido) que estaacute atraacutes e no

lado direito da porta bandeira com seu grupo de Reisado os seus foliotildees vestido de branco e

vermelho poreacutem ele nos cortejos estava sempre com seu vestuaacuterio branco que relatava ser

sua devoccedilatildeo Outro aspecto visiacutevel na populaccedilatildeo itagimiriense satildeo seus traccedilos com diversos

grupos eacutetnicos que habitavam a regiatildeo

O que se concluiu em relaccedilatildeo ao outro grupo e seu desaparecimento estatildeo

relacionados com questotildees financeiras pois muitos habitantes deixaram a cidade para

procurar melhores condiccedilotildees de vida nos grandes centros urbanos

OS FOLIOtildeES E O ESPACcedilO SACRALIZADO

As festas de Satildeo Joatildeo foram sempre diferentes do reisado que todo ano tem

o reisado de SAtildeO SEBASTIAtildeO comeccedila do dia primeiro de janeiro que o

primeiro reis eacute Santo Reis (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-14)

Os foliotildees representam uma manifestaccedilatildeo de feacute em movimento poreacutem enquanto estaacute

festejando em uma residecircncia aquele espaccedilo eacute sacralizado pelos que compartilham com o

festejo a bandeira com a imagem do santo representa o martiacuterio a santificaccedilatildeo a interseccedilatildeo

9

para aqueles que sofrem com as condiccedilotildees de vidas precaacuterias a fome a peste e as afliccedilotildees

sendo descriminados por expressarem seu sentimento religioso

No festejo de Satildeo Sebastiatildeo eacute possiacutevel ver elementos do sagrado e do profano No

entanto o espaccedilo sagrado eacute delimitado Segundo Edilece Souza eacute preciso criar limites entre os

espaccedilos sagrado e profano9

No entanto eacute necessaacuterio sacralizar o espaccedilo para que ele seja habitado E por

isso procura-se um eixo um centro de orientaccedilatildeo que pode ser um templo

o local ou o altar de sacrifiacutecio de um animal cruz poste ou mastro escada

aacutervore ou montanha Qualquer um desses elementos marca o limiar entre o

sagrado e o profano e torna-se o eixo de ligaccedilatildeo entre o ceacuteu a terra e o

mundo inferior (COUTO 2008 p1)

As muacutesicas iniciam-se quando os foliotildees chegam agrave casa de uma pessoa eacute em forma de

louvor onde o dono da residecircncia espera o teacutermino da canccedilatildeo para abrir a porta e oferecer a

sua casa como salatildeo de reza e brincadeira

A letra da muacutesica para sair de uma casa eacute em forma profana ou mesmo uma

contradanccedila que canta os acontecimentos do cotidiano familiar e do trabalho representa uma

forma de socializaccedilatildeo entre familiares amigos e conhecidos festejados do dia 10 aacute 20 de

janeiro que o aacutepice da festa

No canto em louvor10 ao Satildeo Sebastiatildeo pode-se identificar em alguns trechos a ligaccedilatildeo

dos devotos com o Santo

Eacute filho de um homem nobre

Ele estaacute lhe pedido uma esmola

Natildeo eacute por ganhar dinheiro

Mas pra cumprir uma promessa

No dia 20 de janeiro

Vocecirc jaacute pagou sua esmola

Cada um da o que pode

Vocecirc jaacute pagou sua esmola

Deus lhe dar merecimento

9 COUTO Edilece Souza DEVOCcedilOtildeES FESTAS E RITOS ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeE Revista Brasileira de

Histoacuteria das Religiotildees ndash Ano I no 1 ndash Dossiecirc Identidades Religiosas e Histoacuteria 10 O canto da Chegada em homenagem ao Santo SAtildeO SEBASTIAtildeO eacute entoado quando os foliotildees de Itagimirim-

Ba chegam agrave porta de uma residecircncia para Louvar A letra eacute cantada por todos os grupos que existiram e existe

na localidade natildeo se sabe quem eacute o verdadeiro autor No final da entrevista com Sr Jonas Almeida de Castro

cantou um trecho no entanto veio o interesse de transcrever e analisar alguns trecho na letra do canto

10

Deus lhe dar chuva santa

Para molhar seu mantimento

Viva Satildeo Sebastiatildeo

Ele chegou aqui

Quem tem promessa com ele

Ta na hora de cumprir

Viva Satildeo Sebastiatildeo

Eacute um santo de alegria

Quem tem saudade dele

Vai agrave reza do seu dia 11

Neste sentido o significado da muacutesica que os foliotildees cantam ao chegar a uma casa eacute

ldquopara louvar o dono da casa porque vocecirc cantar o Reis laacute fora e agradece dentro da casa

poreacutem a contra danccedila eacute uma musica entoadardquo isso que evidencia o Sr Jonas A de Castro (30-

05-14)

Sendo assim o festejo acontece nas casas das pessoas que compartilham com a devoccedilatildeo

a Satildeo Sebastiatildeo onde se reuacutenem com alegria dentre eles idosos crianccedilas jovens homens e

mulheres tendo momentos de oraccedilatildeo de comer de beber e festejar desde que a noite

chegava ateacute quando a noite desaparecia em belos raios de sol o local na muitas das vezes natildeo

eacute fixo passava de casa em casa dos que compartilhavam com a tradiccedilatildeo

Esse cortejo visita todas as casas do lugar que rezavam em forma musical com

instrumentos como gaitas caixas bumbas e violas maneira utilizada na maioria das festas e

festejos populares Os foliotildees do primeiro grupo de reisado trazem em suas memoacuterias um

milagre que foi atendido pelo santo que segundo Srordf Maria C Rodrigues um acontecimento

coletivo estabelece a devoccedilatildeo por Satildeo Sebastiatildeo

Minha matildee era professora e costureira laacute em Cachoeirinha (comunidade

desenvolvida na beira do rio Jequitinhonha) meu pai era canoeiro vendedor

ambulante em 1951 eu tinha um ano de idade eu natildeo lembro mas meus pais

contavam meu pai saia de Cachoeirinha para vim comprar farinha teve um

ano que ficou conhecido como o ano da fome que a seca foi tanta que natildeo

tinha como se achar o que comer Meu pai passa em Itagimirim que soacute

estava comeccedilando tinha aquela pracinha ali que hoje eacute a Castro Alves Soacute

tinha poucas casinhas ele vinha laacute de Gabiarra-Ba acampava aqui desde

11 Eacute o quinto sexto seacutetimo e oitavo trecho do canto de chegada em Louvor a Satildeo Sebastiatildeo entoado pelos

foliotildees da cidade de Itagimirim-Ba Letra relatada pelo Sr Jonas Almeida de Castro (30-05-14)

11

dessa eacutepoca eu com um ano de idade jaacute participo da histoacuteria de Itagimirim-

Ba Ele acampava aqui para trazer mantimento tinha um barracatildeo grande em

Cachoeirinha laacute ele leva as coisas comprava gado era magarefe ele servia

praticamente essa regiatildeo daqui todinha era meu pai trabalhava vendendo

coisa ambulante com as tropas que antigamente natildeo tinha carro eram tropas

34 5 6 burros Com aqueles caccediloar que hoje ainda existe em muito lugar

trazendo coisa para manter a regiatildeo Foi uma fome muito grande e nessa

eacutepoca Satildeo Sebastiatildeo junto com Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo eram padroeiro

de Cachoeirinha e todo mundo fazia promessa com ele pedindo chuva Que

levou um ano sem chover na regiatildeo na eacutepoca todo mundo carregava pedra

na cabeccedila para botar no cruzeiro da igreja de nossa senhora da Conceiccedilatildeo

para fazer penitecircncia como era chamado antigamente para pedir ao santo que

chovesse foi um ano de sofrimento quando levantou esse povo e fez essa

promessa foi quando surgiu a primeira festa a Satildeo Sebastiatildeo Quando choveu

todo mundo saiu de vermelho e branco homenageando a ele que a minha

folia ateacute hoje todos se vestem de vermelho e branco por causa dessa fome

que foi demais aqui na regiatildeo (Srordf Maria C Rodrigues 20-03-14)

Foi atraveacutes desse ritual que se constituiu a memoacuteria coletiva dessa populaccedilatildeo esse

acontecimento que fez desenvolver a religiosidade cultural Michel Pollak (1988 p 2) ao

analisar a memoacuteria como identidade social reflete que ldquo[] Eacute perfeitamente possiacutevel que por

meio da socializaccedilatildeo poliacutetica ou da socializaccedilatildeo histoacuterica ocorra um fenocircmeno de projeccedilatildeo

ou de identificaccedilatildeo com determinado passado tatildeo forte que podemos falar numa memoacuteria

quase que herdadardquo

Alguns habitantes de Cachoeirinha ao migrarem para a comunidade Itagimiriense

como no caso do primeiro grupo de reisado de religiatildeo Umbanda que montam seu terreiro em

sua fazenda nas proximidades de Itagimirim trazem o cortejo como uma forma de devoccedilatildeo e

tornando tambeacutem um espaccedilo de socializaccedilatildeo

Onde a maioria dos foliotildees relatou que essas praacuteticas de reisado e devoccedilatildeo a Satildeo

Sebastiatildeo esta relacionada com a histoacuteria de suas famiacutelias ligadas a acontecimentos como

Promessas milagres um momento difiacutecil ou alegrias e brincadeiras Hobsbawm (1997 p21)

afirma que ldquo[] o estudos dessas tradiccedilotildees esclarece bastante as relaccedilotildees humanas com seu

passado []rdquo

Entre costureiras vaqueiros pedreiros vendedores ambulantes accedilougueiros

professoras de primaacuterio e pessoas de pouca leitura mas de uma feacute grandiosa que faziam da

relaccedilatildeo com o ambiente uma forma de sobrevivecircncia e ligaccedilatildeo com o divino mesmo com

12

aacuterduo labor no campo essa relaccedilatildeo entre homem e divindade pode ser percebido no trecho do

canto de chegada

Deus lhe dar merecimento

Deus lhe dar chuva santa

Para molhar seu mantimento 12

Para a cidade que desenvolve a religiosidade popular foi um fator de extrema

importacircncia pois a relaccedilatildeo social do povo atraveacutes dos festejos tornou-se uma expressatildeo

devocional de identificaccedilatildeo entre eles No entanto as experiecircncias culturais Segundo Abreu

(2003 p 94-95) ldquo[] pode tambeacutem estimular a criaccedilatildeo de identidades sociais culturais e

viacutenculos duradouros entre grupos de reconhecida expressatildeo cultural ou religiosa como por

exemplo as escolas de samba os grupos que organizam folias de reis e congadasrdquo Para as

duas senhoras que tem centros de Umbanda em Itagimirim eacute uma missatildeo a seguir pois estaacute

ligado a uma promessa familiar e o compromisso passado a elas

O festejo criou viacutenculos duradouros entre os participantes pois suas expressotildees de feacute

estatildeo relacionadas no cotidiano familiar e por meio do lugar onde se encontram e

desenvolveu uma organizaccedilatildeo social que ao longo dos anos constituiu grupos distintos

Segundo Abreu (1999) ldquoatraveacutes das festas pode-se conhecer melhor a coletividaderdquo e com

isso quais indiviacuteduos que se relacionam com religiosidade popular

No entanto o que se discute neste trabalho eacute a festa enquanto espaccedilo de sociabilidade

a partir de uma memoacuteria coletiva e individual no espaccedilo social onde esta produccedilatildeo do

cotidiano ganha significado e que agrega valores entre o profano e o sagrado Sendo que estes

acontecimentos quebram o ritmo do cotidiano e estatildeo fixos dentro do calendaacuterio devocional

festivos das comunidades que desenvolvem os rituais

Os foliotildees no mecircs de janeiro quando saem agraves ruas apropriam dos espaccedilos puacuteblicos

festejando durante o dia eles mostram suas tradiccedilotildees para a populaccedilatildeo os indiviacuteduos ao

escrever suas tradiccedilotildees nos espaccedilos histoacutericos da cidade estatildeo demonstrando o seu lugar social

que segundo Larissa Novais Britto (2009)13

12 Parte do sexto trecho do canto de chegada que louva a Satildeo Sebastiatildeo entoado pelos foliotildees na cidade de

Itagimirim-Ba 13 A festa de Satildeo Benedito eacute um evento dinacircmico que eacute reinventado e reformulado atraveacutes de celebraccedilotildees

anuais descrito no trabalho monograacutefico de Larissa Novais Britto a festa se organiza no interior de uma

13

Nos dias da festa os negros saem do anonimato e assumem lugar de

destaque na cena urbana e promovem uma ruptura com a rotina cotidiana

extremamente marcada pela submissatildeo Ao danccedilar e cantar para seu santo

os festeiros revivem a liccedilotildees de seus ancestrais e revertem

momentaneamente o lugar secundaacuterio que ocupam na hierarquia do poder

local ( BRITTO 2009 p 9 )

Ao entrevistar as pessoas dessa comunidade que traz em suas memoacuterias um periacuteodo de

muitas recordaccedilotildees do tempo festivo no qual o homem rural criava seus modos de

sociabilidade atraveacutes de praacuteticas e instrumentos simples que faziam parte do seu cotidiano

Uma maneira de cultuar ao santo de forma direta atraveacutes de brincadeiras rezas

demonstraccedilotildees de feacute que tinha um grande significado diante de toda a expectativa para um

novo ano

Mediante a esses costumes e tradiccedilotildees que contribuem para o desenvolvimento da

localidade que teve avanccedilos permitindo que novos elementos fossem inseridos na festividade

Ao analisar a festa a Santos Reis na comunidade de aldeia com o processo de modernizaccedilatildeo

do lugar com a chegada da luz eleacutetrica que deu outros rumos ao ritual festivo apropriando de

outras caracteriacutesticas Brandatildeo (2010 P7) afirma que ldquo[] A festa em louvor a Santos Reis

esta viva justamente pela sua capacidade de se reinventar e natildeo pelo apego a uma praacutetica

ritualiacutestica congelada no tempordquo

A manifestaccedilatildeo de feacute eacute um espaccedilo de troca de saberes atraveacutes das praacuteticas culturais

seja no movimento das danccedilas ou manuseio dos instrumentos com muita alegria e devoccedilatildeo

sendo tambeacutem um lugar de afirmaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais

A festa eacute repleta de interesses e significados disfarccedilados Segundo Guarinello (2001

p974) ldquo[] o sentido da festa eacute portanto da identidade que propotildee e produz depende sempre

dos participantes eventuais ou desejados cuja presenccedila e envolvimento determinam o

sucesso e o significado uacuteltimo de qualquer festa []rdquo

Assim se constituiu a relaccedilatildeo existente entre os foliotildees e devotos Habitantes de um

espaccedilo rural e urbano que no periacuteodo do festejo migram de um local a outro levando a boa

nova atraveacutes do cortejo ao santo

irmandade religiosa e em funccedilatildeo de um mito fundador que remete a histoacuteria de vida de um santo que considerado

protetor do povo negro

14

O RITO

Todo mundo espera chegou primeiro de Janeiro O reisado de santos reis eacute agrave

noite o de SAtildeO SEBASTIAtildeO eacute de dia Se noacutes cantamos em uma rua canta

de um lado ateacute o final depois passamos para o outro lado noacutes natildeo podemos

cruzar bandeira (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-14)

No primeiro dia (10 de janeiro) acontece uma reza nos salotildees de umbanda e tambeacutem

na igreja catolica essa praacutetica eacute realizada tanto por um grupo quanto pelo outro Quando os

foliotildees saem do salatildeo em cortejo vatildeo direto a igreja neste espaccedilo fazem vaacuterios pedidos e

rezas

Poreacutem dentro da igreja apenas as violas e gaitas satildeo ultilizadas para acompanhar o

louvor trovado agrave Satildeo Sebatiatildeo Pode ser pela amanhatilde ou agrave tarde para pedir proteccedilatildeo durante os

dias que os foliotildees percorrem em fazendas cidades vizinhas para depois que estiver faltando

uns quatro dias para vinte de Janeiro que eacute o dia de comemoraccedilatildeo a Satildeo Sebastiatildeo eles

retornam a Itagimirim Como foliatildeo do primeiro grupo de reisado o Sr Diomario relata o

trajeto do primeiro dia

Quando noacutes descemos da casa de Ceicinha no primeiro dia com a bandeira

noacutes vamos direto a igreja noacutes cantamos na igreja depois noacutes esparramamos

nos gerais esparramamos no mundo noacutes vai para casa do prefeito que eacute de

obrigaccedilatildeo ele receber a bandeira (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-14)

O primeiro grupo reisado segue a seguinte rota vatildeo para cidade de Itabepi onde satildeo

recebidos com muita festa pela populaccedilatildeo e governante local que disponibiliza uma pousada

para os foliotildees descasarem Depois de quatro dias cantando nesta cidade retornam a

Itagimirim cantam em diversas casas finalizando com a reza do terccedilo no oratoacuterio dentro do

salatildeo entre os dias 20 (vinte) para 21 (vinte e um) de janeiro A preparaccedilatildeo do foliatildeo para a

reza do terccedilo no uacuteltimo dia de Festejo eacute evidenciado pelo O Sr Diomario

15

No dia vinte noacutes estamos chegando em casa para poder descansar de meio

dia para tarde tomar banho ajeitar para a noite ter a reza de sete para oito

horas da noite a gente reza ai encerrou aquele reisado depois da reza acabou

mas se noacutes querer amanhecer o dia brincado pulando fazendo contra danccedila

tomando cachaccedila comendo tira gosto porque ela mata um boi para dar

despesa para os foliotildees dela e alguns visitantes que querem acompanhar (Sr

Diomaacuterio de Jesus 04-05-14)

O segundo grupo de Reisado apoacutes as rezas em seu salatildeo de umbanda tambeacutem seguem

com o cortejo para a igreja catoacutelica a bandeira do santo representando o martiacuterio e estaacute

sempre agrave frente do grupo Nenhum foliatildeo passa a frente da bandeira ficando atraacutes e se por

acaso necessitar passar na frente da bandeira logo eacute reverenciada pelos foliotildees colocando se

de joelho e beijando o manto sagrado

Essa praacutetica tambeacutem eacute abordada por Abreu (1999 p 48) na festa do divino Espiacuterito

santo a partir dos relatos do Escritor Thomas Ewbank ldquo[] que sempre estranhava nossos

haacutebitos beijando-se tambeacutem a bandeira ou melhor ldquoafundava-se o rosto em suas dobrasrdquo

para realizar a devoccedilatildeo e tanto fazia se fossem pessoas brancas ou negras []rdquo

Beijar a bandeira com a imagem de Satildeo Sebastiatildeo para um devoto que participa do

cortejo eacute uma forma de respeito que expressa agrave fidelidade ao santo onde seus pedidos foram

ouvidos e realizados uma relaccedilatildeo de proximidade e confianccedila na intercessatildeo do santo diante

do divino

Os foliotildees dizem que antes de iniciar o cortejo vatildeo a igreja catoacutelica pedir proteccedilatildeo

com a presenccedila ou natildeo do padre eles pedem licenccedila e entra na igreja entoando seus cacircnticos

uns ajoelham outros cantam com muita entonaccedilatildeo A Srordf Maria diz que sempre cantou na

igreja ldquoEu natildeo sei por que natildeo mas realmente quando a gente chega laacute tem vez que o padre

natildeo esta mais a gente canta eacute um direito nosso que ali eacute a casa de Deus casa nossa ali eacute

portas abertardquo

Santos (2010) ao analisar o catolicismo na cidade Maragogipe-Ba a partir do culto a

Satildeo Bartolomeu nos anos de 1851 a 1943 Destaca a seguinte informaccedilatildeo

No Brasil colonial as manifestaccedilotildees religiosas tinham como caracteriacutestica a

superficialidade constituindo-se como uma religiatildeo epideacutermica de fundo

emocional comprazendo-se nas exterioridades do culto mesmo sem

16

compreendecirc-lo e tomando um gosto de festa de reuniatildeo social sem aquela

convicccedilatildeo profunda nascida de uma interioridade forte e espiritualizada

Essa superficialidade fez-se notar pela enfaacutetica predominacircncia de ritos

externos pelo colorido e pompa das praacuteticas exteriores Tudo se fazia para

cultuar e homenagear os santos protetores No fundo uma religiatildeo

imediatista distante da ortodoxia (SANTOS 2010 P 63)

Neste sentido a igreja catoacutelica na cidade de Itagimirim natildeo participa diretamente das

homenagens ao santo cultuado por parte da populaccedilatildeo mas respeita o louvor a Satildeo Sebastiatildeo

que eacute manifestado pelos foliotildees atraveacutes de uma devoccedilatildeo desenvolvida por vaacuterias famiacutelias

contudo pode se perceber que alguns dos devotos satildeo frequumlentadores das missas dominicais e

que tambeacutem participam de muitos eventos promovidos pela igreja Couto (2004) ao investigar

os estudos sobre religiatildeo oficial e religiosidade popular abordou que

A partir da emergecircncia da espiritualidade laica no seacuteculo XIII o clero sentiu

a necessidade de falar a mesma liacutengua dos fieacuteis utilizar formas orais nas

liturgias ndash cantos e sermotildees ndash aceitar procissotildees e peregrinaccedilotildees a oratoacuterios

consagrados pelo povo e as funccedilotildees pagatildes atribuiacutedas aos santos (P 45)

Apoacutes o rito dentro da igreja os foliotildees entram em um carro geralmente alugado pela

dona do reisado passando por fazendas e chegando ao distrito de Gabiarra municiacutepio de

Eunaacutepolis retornando por Uniatildeo Bainana (distrito de Itagimirim-Ba) que faz divisa com o

estado de Minas Gerais

E concluem o cortejo dentro da cidade de Itagimirim passando em muitas residecircncias

No dia 19 (dezenove) agraves 18h00 (dezoito) realizam um jantar depois de muita contra danccedila

com as oitavas um roda de oito pessoas com instrumentos como gaitas bumba viola

pandeiro pratos de esmalte e palmas girando e passando um pelo o outro Depois das

brincadeiras fazem uma pausa para rezar o terccedilo dentro do oratoacuterio na passagem do dia 19

(dezenove) para 20 (vinte) de Janeiro

Os foliotildees percorrem a regiatildeo anunciando a boa nova um tempo de paz e alegria cada

pessoa que recebe esse cortejo fortalece sua feacute e de seus familiares O festejo representa um

ato de feacute para as pessoas que se juntam para agradecer pelas becircnccedilatildeos recebidas ao longo do

ano com esperanccedilas de dias melhores e sendo entrelaccediladas pelos festejos natalinos e todas as

expectativas para um novo ano

17

O festejo serve tambeacutem para pagar uma promessa ou mesmo para seguir a tradiccedilatildeo

aleacutem da questatildeo religiosa o festejo representa um sentimento de pertencimento e sociabilidade

para as pessoas que herdaram a devoccedilatildeo Segundo relata Edilece Souza

No entanto natildeo podemos perder de vista que o cristianismo inaugurou o

tempo lituacutergico baseado na historicidade de Jesus Cristo Dessa forma o

tempo festivo eacute repetido mas natildeo eacute imoacutevel nem imutaacutevel Apesar de se

revelar especial e diferente do calendaacuterio profano tambeacutem natildeo eacute um evento

isolado pois quebra o ritmo regular do cotidiano promove a sociabilidade e

o sentimento de pertencimento e identidade em um determinado grupo

social (COUTO 2008 P 2)

Nem todos os devoltos dos dois ternos de reisado vatildeo para os cortejos nas fazendas ou

para outras cidades alguns ficam nos salotildees de oraccedilotildees preparando as comidas e bebidas

organizando para a chegada e finalizaccedilatildeo do festejo segundo o Sr Diomario foliatildeo do

primeiro grupo de reisado satildeo poucas as pessoas que ficam a frente do cortejo

Mas os dela (foliotildees) satildeo oito macho e quatro fecircmea que satildeo de carregar a

bandeirae os machos para tocar os instrumentos pois cada um daqueles oito

tem os instrumento deles que domina que satildeo reco-reco pandeiro a caixa

era de Ceicinha o bunda eacute de quem saber bater que nem esse Neo era

bumbeiro nosso Neo batia bumba muito bem mas agora ficou o filho de

Ceicinha que eacute bumbeiro dela tambeacutem eacute isso (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-

14)

O individuos pertecente a um grupo desde o seu nascimento e no decorrer da vida vatildeo

aquirindo os usos haacutebitos alimentares vestimentas moradia objetos de pertecimento

ensiados pelas pessoas idosas que tem experiecircncia a religiosidade que vai sendo transmitida

de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo independe de tamanho e de grupo social ao qual estaacute inserido

Resultando em caracteriacutesticas peculiares ou a chamada memoacuteria comum do grupo para

Jacqueline Hermann (1997) chega-se ao ponto onde religiatildeo e religiosidade se cruzam

Quando o cortejo chega na porta de uma casa cantam um louvor para chamar atenccedilatildeo

do morador ldquoPorque vocecirc canta o Reis laacute fora e agradece dentro da casa o dono da casa abre

a porta vocecirc entra ai deu bom dia vocecirc louva o dono da casa e agradece o Reisrdquo isso que nos

relata o Sr Jonas Almeida de Castro Depois do lovour abre a porta dentro da residecircncia foi

observando que em um trecho do canto o devoltos obedecem a letra

18

Ajoelha pecadores

Potildee seu joelho no chatildeo

Para cobrir com a bandeira

Viva satildeo Sebastiatildeo

Essa bandeira me salva

Quando chegar laacute no ceacuteu

Alevanta pecador

Todo coberto de veacuteu 14

Sendo assim a bandeira eacute passada pela cabeccedila de todos os devotos que ajoelham

algumas pessoas beijam o manto outras se emocionam e agradecem Para Brandatildeo (2011 P

64) ldquo[] A festa eacute o momento de reconhecer que foram agraciados com uma benccedilatildeo e que eacute

preciso retribuir []rdquo A contra danccedila ndash uma muacutesica entoada cantado coisas do cotidiano para

os foliotildees saiacuterem da residecircncia como aborda o Sr Jonas Almeida de Castro (2014)

Convidei meus companheiros

para fazer sociedade

Para roubar dessa cigana

um amor da eternidade

O ciganhinha hora eacute hora

quem quiser comigo eacute hora

Agrave Deus ponta da areia

que laacute vai a cigana embora

A festa eacute uma forma de diversatildeo tatildeo especial para os foliotildees que toca os instrumentos

por prazer em estar festejando que apaga todo o cansaccedilo do corpo Brandatildeo (2011 P74)

afirma que ldquoApesar de a festa ser uma celebraccedilatildeo do cotidiano das sociedades ela representa uma

quebra nesse cotidiano quando as pessoas deixam suas atividades do dia- a- dia para se

dedicarem ao seu inversordquo

Dois foliotildees relataram duas situaccedilotildees envolvendo o cortejo de Satildeo Sebastiatildeo a

primeira foi quando uma senhora os convidou o terno de reis para entrar em sua residecircncia

muito humilde Poreacutem a dona da casa tinha apenas dois ovos de galinha para oferecer nesta

situaccedilatildeo um foliatildeo fez a doaccedilatildeo por ela e devolveu a oferta da senhora A outra situaccedilatildeo eacute

14 Nona e deacutecima estrofe do canto de chegada em louvor a Satildeo Sebastiatildeo entoado pelos foliotildees em Itagimirim-

Ba

19

quando uma fita da bandeira do santo cai dentro de uma casa eacute sinal de milagre concedido ao

morador como Aborda dona Srordf Alzira P de Souza

Olha se cair na casa da pessoa eacute para pegar e guardar ali eacute uma virtude que

esta deixando na casa da pessoa e uma forccedila que esta deixando ali na casa

da pessoa o santo deixou cai aquela fita ali para agradecer e recomendar o

dono da casa (Srordf Alzira Pereira de Souza 08-05-14)

Para muitos moradores essa fita eacute utilizada como remeacutedio quando um familiar sente

uma dor amarando no local essa recordaccedilatildeo eacute guardada como muita alegria

Quando o reisado chega em uma rua eles cantam de um lado e depois do outro a

bandeira indo por um canto natildeo pode voltar pelo mesmo lugar tem que seguir o giro o

caminho aberto A Srordf Maria C Rodrigues relata que ldquoquando passo numa casa e vejo a porta

fechada eu acho que a pessoa natildeo quer que eu paro ai a bandeira passa se pedir para voltar

a gente natildeo pode maisrdquo Hobsbawm (1997) dialoga que entende-se por ldquotradiccedilatildeo inventadardquo

um conjunto de praacuteticas normalmente reguladas por regras taacutecita ou abertamente aceitas ldquo[]

tais praacuteticas de natureza ritual ou simboacutelica visam inculcar certos valores e normas de

comportamento atraacuteves de repeticcedilatildeo o que implica automaticamente uma continuidade em

relaccedilatildeo ao passado []rdquo

Muitas festas foram apontadas por vaacuterios pesquisadores do periacuteodo colonial como

forma de fugas e rebeliotildees ou sendo para assumir uma identidade por determinados grupos

nesse contexto as festas natildeo satildeo vistas simplesmente como passivas mas como oportunidade

de romper com o cotidiano

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O trabalho realizado atraveacutes do festejo de Satildeo Sebastiatildeo em Itagimirim-Ba investigou

e analisou o surgimento da manifestaccedilatildeo religiosa de caraacuteter popular sendo renovada e

20

modificada com as migraccedilotildees de pessoas vindas de outros povoados e municiacutepios da regiatildeo

re-significando a tradiccedilatildeo e incorporando novas praacuteticas

A devoccedilatildeo dos foliotildees por um santo representa uma afirmaccedilatildeo de identidade

possibilitando novas relaccedilotildees entre os homens e o meio social ao qual estaacute inserido

Rememorar natildeo significa trazer de volta a festa do mesmo jeito que era outrora e sim

reafirmar e reconstruir novos haacutebitos

O festejo eacute um elemento que fez e faz parte da origem e desenvolvimento da cidade

pois seus habitantes fundadores jaacute traziam em suas memoacuterias essa forma de socializaccedilatildeo

religiosa Que tambeacutem se construiu como um escape para os longos dias de trabalhos

quebrando o ritmo do cotidiano A manifestaccedilatildeo de feacute eacute um espaccedilo de troca de saberes atraveacutes

das praacuteticas de alegria e devoccedilatildeo sendo um lugar de afirmaccedilatildeo de relaccedilotildees sociais ou criar

novos laccedilos de amizade o que fundamental para comunidade itagimiriense

REFEREcircNCIAS

ABREU Marta Cultura popular um conceito e vaacuterias histoacuterias In Ensino de Histoacuteria

conceitos temaacuteticas e metodologia Martha Abreu amp Rachel Sohiet (orgs) Rio de Janeiro

Casa da Palavra 2003

ALBERTI Verena Manual de Histoacuteria oral ndash 3 ed ndash Rio de Janeiro Editora FGV 2005

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das letras 1994

BRANDAtildeO Alex Sandro da Conceiccedilatildeo Santos Reis Festa Poder e Memoacuteria (Governador

Mangabeira- BA 1970-2000) Artigo apresentado no X Encontro Nacional de Histoacuteria Oral

Recife 2010

21

BRANDAtildeO Alex Sandro da Conceiccedilatildeo Santos Reis festa poder e memoacuteria na comunidade

rural de aldeia (Governador Mangabeira- BA 1970-2000) Dissertaccedilatildeo apresentada ao

programa de poacutes-graduaccedilatildeo em histoacuteria regional e local da universidade do estado da

BahiaUNEB Santo Antonio de Jesus ndash BA abril ndash 2011

BRITTO Larissa Novais Festa de Satildeo Benedito O Sagrado e o profano nas festas regiliosas

de origem africana em Porto Seguro-Ba Monografia apresentada a UNEB Eunaacutepolis 2009

CASTRO Jakson Viana de Educaccedilatildeo patrimonial um instrumento de ensino para Histoacuteria local

Monografia apresentada a UNEB Eunaacutepolis 2009

CHALHOUB Sidney Visotildees da liberdade uma histoacuteria das uacuteltimas deacutecadas da escravidatildeo

na Corte Sidney Chalhoub mdash Satildeo Paulo Companhia das Letras 2011

COUTO Edilece Souza Devoccedilotildees festas e ritos algumas consideraccedilotildees Revista Brasileira

de Histoacuteria das Religiotildees ndash Ano I no 1 ndash Dossiecirc Identidades Religiosas e Histoacuteria Maio

2008

GUARINELLO Noberto Luiz Festa trabalho e cotidiano Istvaacutem Jancsoacute Iris kantor

(orgs)Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa Volume II Satildeo Paulo 2001

GUERRA Teoney Araujo Dados e informaccedilotildees para Estudantes Itagimirim-Ba 2000

HERMANN Jacqueline Histoacuteria das religiotildees e religiosidades Domiacutenios da Historia

ensaios da teoria e metodologias Ciro Flamrion Cardoso Ronaldo Vainfas (orgs) Rio de

Janeiro Campus 1997

HOBSBAWM Eric A invenccedilatildeo das tradiccedilotildees Eric Hobsbawn e Terenge Ranger

organizadores Traduccedilatildeo Celina Cardim Cavalgante 2ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro 1997

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel emwwwibgegovbr acesso

dia 06-05-12 agraves 13h00min

JANCSOacute Istvaacutem KANTOR Iris (orgs) Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica

Portuguesa Volume I Satildeo Paulo 2001

JANCSOacute Istvaacutenamp KANTOR Iris Festa Cultura e Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa (2

volumes) Satildeo Paulo Imprensa Oficial Hucitec Edusp Fapesp 2001

1 NASCIMENTO Nilson do Carmo Cachoeirinha Freguesia de Nossa Senhora da

Conceiccedilatildeo da Cachoeirinha do Baixo Jequitinhonhandash Brasiacutelia 2010

22

2 NASCIMENTO Mara Regina do Religiosidade e cultura popular Catolicismo

irmandades e tradiccedilotildees em movimento Revista da Catoacutelica Uberlacircndia v 1 n 2 p 119-130

2009 ndash catolicaonlinecom BR revista da catoacutelica

PORTELLI Alessandro Histoacuteria Oral e Poder Transcriccedilatildeo de Luiz Henrique dos Santos

Blume a partir do arquivo em aacuteudio wmp Traduccedilatildeo de Luiz Henrique dos Santos Blume e

Heliana de Barros Conde Rodrigues Mnemosine Vol6 nordm2 p 2-13 (2010) ndash Artigos

Conferecircncia no XXV Simpoacutesio Nacional da ANPUH Fortaleza 2009

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POLLAK Michel Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Conferecircncia foi transcrita e traduzida

por monique augras A ediccedilatildeo eacute de Dora Rocha Flaksman Estudos Histoacutericos Rio de

Janeiro vol 2 n 3 1989 p 3-15

PIRES Flaacutevia A Festa de Satildeo Sebastiatildeo em Catingueira transformaccedilotildees e permanecircncias dez

anos depois Revista de antropologia Satildeo Paulo USP 2011 v 54 nordm 2 Artigo Recebido em

novembro de 2010 Aceito em julho de 2011

SOIHET Rachel Histoacuteria das mulheres Domiacutenios da Historia ensaios da teoria e

metodologias Ciro Flamrion Cardoso Ronaldo Vainfas (orgs) Rio de Janeiro Campus

1997

SANTANA Tacircnia de Devoccedilotildees catoacutelicas entre os negros na Bahia colonial Artigo

apresentado na participaccedilatildeo no evento Fala Professor em 250803 promovido pelo curso de

Histoacuteria das Faculdades Jorge Amado

SANTOS Fernanda reis dos ldquoa festa do excelso padroeiro da cidade das palmeirasrdquo o culto

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graduaccedilatildeo em histoacuteria da faculdade de filosofia e ciecircncias humanas universidade federal da

Bahia Salvador 2010

VAINFAS Ronaldo Da festa tupinambaacute ao sabaacute tropical a catequese pelo avesso Istvaacutem

Jancsoacute Iris kantor (orgs)Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa Volume I

Satildeo Paulo 2001

Page 3: FESTEJOS DE SÃO SEBASTIÃO EM ITAGIMIRIM-BA ......1 FESTEJOS DE SÃO SEBASTIÃO EM ITAGIMIRIM-BA: Memória e História de Um Povo (1960- 1998) Jairo Viana de Castro1 INTRODUÇÃO

3

representa uma demonstraccedilatildeo de feacute e devoccedilatildeo desenvolvida por trabalhadores rurais pessoas

simples que migraram de outras regiotildees a qual foi iniciada pela religiatildeo afro-brasileira

A memoacuteria eacute algo fundamental na trajetoacuteria de vida dos seres humanos para a histoacuteria

oral essa fonte perpassa os indiviacuteduos pelo motivo da transmissatildeo dos valores culturais esse

longo espaccedilo percorrido no tempo eacute possiacutevel graccedilas agraves lembranccedilas e tradiccedilotildees coletivas e

individuais de grupos sociais

SURGIMENTO E MOTIVOS DO FESTEJO DE SAtildeO SEBASTIAtildeO EM

ITAGIMIRIM-BA

Com a descoberta do ouro e pedras preciosas em Minas Gerais o Rio Grande de

Belmonte torna-se uma rota de comeacutercio com o porto da cidade de BelmonteBA nas

margens desse rio que hoje eacute conhecido como Jequitinhonha 4

Aleacutem das relaccedilotildees comerciais e as trocas culturais da Bahia o fluxo de mercadoria

tambeacutem fazem surgir agraves tradiccedilotildees da regiatildeo o festejo a Satildeo Sebastiatildeo em Itagimirim-Ba teve

seu surgimento no povoado de Cachoeirinha ldquoFreguesia de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo da

Cachoeirinha do Baixo Jequitinhonhardquo tiacutetulo de um livro onde o autor descreve que

Cachoeirinha ldquo[] foi o primeiro ponto de recebimento das tropas e canoas que transportavam

mercadorias para abastecer o norte de Minas Gerais []rdquo (NASCIMENTO 2010 P 14)

O cortejo ao santo eacute desenvolvido pelo terreiro de umbanda 5que se instalou no

povoado por dona Marta Gomes da Conceiccedilatildeo que herdou de seus pais vinda de Minas

Gerais casada com Sr Antocircnio Rodrigues que migrou do estado de Alagoas na localidade de

Palmeiras dos iacutendios6 como nos relata sua filha a Srordf Maria Conceiccedilatildeo Rodrigues7

4NASCIMENTO Nilson do Carmo Cachoeirinha Freguesia de Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo da Cachoeirinha

do Baixo Jequitinhonha ldquoA regiatildeo da baixa do Jequitinhonha que se inicia e Salto da divisa Minas Gerais indo

ateacute a foz em Belmonte no extremo sul da Bahia () p- 11 5Simbolizado pela flechas eacute um dos maacutertires mais queridos e cultuados pela Igreja Catoacutelica no sincretismo

religioso com as religiotildees afro-brasileiras eacute representado como Oxossi o orixaacute das matas da sauacutede e das ervas

medicinais O seu nome deriva do grego sebastoacutes que significa divino veneraacutevel (que seguia a beatitude da

cidade suprema e da gloacuteria altiacutessima) No Brasil ele eacute celebrado com festas e feriados no dia 20 de janeiro como

padroeiro de vaacuterias cidades httpproblemaenossoblogspotcombr201101sob-flechas-e-martirio-ontem-

igrejahtmlacesso dia 06-05-12 agraves 12h43min horas 6 Palmeira dos Iacutendios Alagoas ndashAl Histoacuterico A terras ocupadas pelo municiacutepio de Palmeira dos Iacutendios

construiacuteam primitivamente um aldeamento dos iacutendios Xucurus que aiacute se estabeleceram no meado do seacuteculo

XVIII Tinham esses indiacutegenas o seu haacutebitat cercado de esbeltas palmeiras bem proacuteximo ao peacute da serra onde

hoje se ergue a cidade de Palmeira dos Iacutendios O nome do municiacutepio veio pois em consequumlecircncia dos seus

primeiros habitantes e do fato da abundacircncia de palmeiras que entatildeo havia em seus campos Os gentios

4

Conheci o festejo com doze anos de idade quando saia com meus pais ()

Antigamente a gente morava em cachoeirinha onde hoje eacute a barragem De laacute

o percurso ia para Itapebi Itagimirim que natildeo era emancipada era uma roccedila

soacute tinha mesmo essa pracinha Castro Alves tinha mas natildeo era calccedilada e

nem nada Entatildeo noacutes ia para Itapebide laacute vinha pra aqui (Itagimirim) Neste

tempo eu era pequena papai me colocava eu muntada na cangaia com os

panicus cheios de comida pra da os foliotildees eu no meio pequena mas jaacute no

meio ai agente vinha pra aqui acampava trecircs a quatro dias daqui passava em

Gabiarra A peacute andando andando nessa cidade tudo passava em Uniatildeo

Baiana descia e saia em cachoeirinha ( Srordf Maria C Rodrigues 20-03-14)

Neste sentido o festejo a Satildeo Sebastiatildeo na comunidade Itagimiriense eacute um tradiccedilatildeo e

memoacuteria de familiares sendo passada as novas geraccedilotildees como se pode perceber no trecho

acima essa devoccedilatildeo foi passada de matildee para filha O membro responsaacutevel tem a missatildeo de

todos os anos organizar e desenvolver o festejo comprando mantimentos ou pedindo doaccedilotildees

aos devotos e fazendeiros no qual as doaccedilotildees satildeo divididas com os tocadores ou foliotildees

Inicialmente nos anos de 1960 a manifestaccedilatildeo de feacute acontecia fora do periacutemetro

urbano como nos relata a Srordf Hilda Queiroz (04-05-14) ldquoesse negoacutecio de reisado era

realizado na zona ruralrdquo Jaacute o Sr Gildo Gonccedilalves (30-05-14) evidencia que ldquoera trinta dias

de reisado visitando as fazendas e a cidade tambeacutem era Satildeo Sebastiatildeordquo

Percebemos que a praacutetica de reisado a Satildeo Sebastiatildeo em Itagimirim eacute desenvolvido

por pessoas da zona rural com isso os foliotildees no momento do cortejo entravam dentro da

cidade e compartilhe com os moradores que festejavam a Satildeo Joatildeo Batista padroeiro

instituiacutedo pela igreja catoacutelica

O festejo que se desenvolveu pela memoacuteria herdada tambeacutem natildeo eacute um acontecimento

imoacutevel sofre transformaccedilotildees no decorrer das geraccedilotildees de acordo com o contexto social sendo

agregados valores e concepccedilotildees do momento vivenciado

A Srordf Maria da Conceiccedilatildeo relata que a organizaccedilatildeo do festejo a Satildeo Sebastiatildeo

comeccedilou a ser desenvolvido dentro da zona urbana quando o seu pai faleceu com isso eles

formaram seu aldeamento entre um brejo chamado Cafuma e a serra da Boa Vista Diz a tradiccedilatildeo que mais ou

menos em 1770 chegou a regiatildeo Frei Domingos de Satildeo Joseacute conseguindo converter os gentios ao cristianismo

Posteriormente o franciscano obteve de D Maria Pereira Gonccedilalves e dos seus herdeiros a doaccedilatildeo de meia leacutegua

de terra para patrimocircnio da capela que aiacute foi construiacuteda sendo com sagrada ao Senhor Bom Jesus da Morte

httpcidadesgovbrpainelhistoacutericophplang=ampcodmun=270630ampsearch=alagoas|palmeira-dos-

C38Dndios|infograficos-historico Acesso em 09-07-2014 agraves 2045 7 Moradora de Itagimirim-Ba conhecida como Matildee Ceicinha nasceu em 11 de setembro de 1950

5

perderam a fazenda atraveacutes de um golpe quando seu primo a vendeu a propriedade

utilizando uma procuraccedilatildeo cedida a ele sendo obrigados a residir dentro da cidade

Antigamente era na fazenda pedreira o nome que dava onde mamatildee

comeccedilou o candombleacute Quando agente chegou aqui montou o terreirinho

dela aiacute veio para cidade em 62 quando Itagimirim jaacute era bem desenvolvida

e movimentada (Srordf Maria C Rodrigues 20-03-14)

Diante desse acontecimento e da mudanccedila de um lugar para o outro o festejo continua

sendo cultuado pelos devotos salientando que dentro do cenaacuterio urbano jaacute existia o culto ao

Padroeiro Satildeo Joatildeo Batista Poreacutem o festejo ao padroeiro antes da instalaccedilatildeo do padre era

desenvolvido o lado profano pela populaccedilatildeo que tinha maior participaccedilatildeo na montagem das

barracas para vender comidas tiacutepicas das festas juninas

Com a organizaccedilatildeo das cerimocircnias religiosa e profana como as quermesses e leilotildees

para arrecadar fundos para construccedilatildeo da igreja catoacutelica em 1963 pelo padre haacute um

afastamento da populaccedilatildeo que ganhava um dinheiro extra com o evento

Segundo Hobsbawm (1997 P 20) ldquoAntes de mais nada pode-se dizer que as tradiccedilotildees

inventadas satildeo sintomas importantes e portanto indicadores de problemas que de outra forma

poderiam natildeo ser detectadas nem localizadas no tempordquo

Portanto a manifestaccedilatildeo a Satildeo Sebastiatildeo ganha mais participantes principalmente

dentro da cidade fazendo um movimento contraacuterio no momento das celebraccedilotildees ao santo

pois antes as pessoas se deslocavam para zona rural Agora o povo das fazendas quem se

desloca para zona urbana O Sr Jonas A de Castro relata que na eacutepoca que chegou ao

municiacutepio itagimiriense em 1975 a praacutetica do reisado era desenvolvido por vaacuterios grupos

Quando eu cheguei ao municiacutepio existiam quatro grupos de reisado o de

Ceizinha o de Zeacute de Cabelatildeo o de Joaquim Teixeira e Otaciacutelio da Caccediloada

trecircs festejavam a Satildeo Sebastiatildeo e um a Santos Reis Eu participava dos dois

o de Otaciacutelio que festeja a Santos Reis ai eu participava com Joaquim

Teixeira que festejava a Satildeo Sebastiatildeo (Sr Jonas Almeida de Castro 30-05-

14)

O que se observa neste trecho descrito pelo Sr Jonas eacute o aumento de grupos de reisado

na localidade isto se deu devido agraves memoacuterias da populaccedilatildeo estar ligadas as folias de reisado

6

ou o proacuteprio culto a Satildeo Sebastiatildeo que eacute um santo de crendice popular que proteger contra a

fome guerra e afliccedilotildees principalmente neste municiacutepio empobrecido

Devido agrave quantidade de grupos e um nuacutemero pequeno de muacutesicos havia uma

disputa entre os grupos para atrair esses foliotildees tocadores com isso alguns liacutederes procuravam

agradar dividindo as esmolas e doaccedilotildees que eram arrecadadas no percurso do cortejo que

passava em residecircncias e casas comerciais

Oito homens e quatro mulheres que estatildeo diretamente responsaacuteveis pelos os cantos

manusear os instrumentos e na maioria das vezes apenas as mulheres quem carrega a bandeira

de Satildeo Sebastiatildeo As folias do divino Espiacuterito Santo sobre as descriccedilotildees de Thomas Ewbank

em 1846 um escritor e desenhista de Nova York destaca que a praacutetica de pedir esmolas eacute

fundamental para o desenvolvimento dos festejos Abreu concluiu que

O haacutebito de se pedirem esmolas era muito comum desde o periacuteodo colonial e

tinha como objetivo a reuniatildeo para as festas das irmandades ou para o

financiamento dos benefiacutecios aos irmatildeos carentes como indicam os vaacuterios

anuacutencios de festas No caso das folias do Divino conta Ewbank os irmatildeos

nem precisavam bater de porta em porta porque a muacutesica por si soacute jaacute atraiacutea

todos agrave rua Pela descriccedilatildeo deste viajante norte-americano se todas as

classes contribuiacuteam com donativos as irmandades do Espiacuterito Santo

pareciam distinguir-se entre si pela riqueza A da Lapa por exemplo

contratava barbeiros brancos haacutebeis tocadores de clarim e violinistas que

ofereciam seus serviccedilos por um preccedilo mais elevado (ABREU 1999 P 51)

Com essa descriccedilatildeo e anaacutelise da autora se percebeu que essas praacuteticas estatildeo presentes

nos festejos em homenagem a Satildeo Sebastiatildeo em Itagimirim desde a contrataccedilatildeo dos foliotildees

tocadores ateacute o cortejo de casa em casa em que ganham donativos Esta situaccedilatildeo estaacute evidente

no canto de chegada no seguinte trecho

Eacute filho de um homem nobre

Ele estaacute lhe pedido uma esmola

Natildeo eacute por ganhar dinheiro

Mas pra cumprir uma promessa

No dia 20 de janeiro 8

8 Parte do quinto trecho do canto de chegada que louva a Satildeo Sebastiatildeo entoado pelos foliotildees na cidade de

Itagimirim-Ba

7

Eis o poder da memoacuteria oral aonde essas praacuteticas vem sendo seguidas desde a eacutepoca

colonial chegando ateacute o periacuteodo analisado do trabalho em estudo com algumas mudanccedilas

mas mantendo uma continuidade na maneira de homenagear ao santo intercessor

Alessandro Portelli (2009) dialoga sobre a valorizaccedilatildeo da memoacuteria a partir da oralidade onde

as trajetoacuterias de vidas dos excluiacutedos devem ser relatadas e conhecidas por todas as esferas

sociais

Com frequecircncia se diz que na Histoacuteria Oral damos voz aos sem voz Natildeo eacute

assim Se natildeo tivessem voz natildeo teriacuteamos nada a gravar natildeo teriacuteamos nada a

escutar Os excluiacutedos os marginalizados os sem-poder sim tem voz mas

natildeo haacute ningueacutem que os escute Essa voz estaacute incluiacuteda num espaccedilo limitado

O que fazemos eacute recolher essa voz amplificaacute-la e levaacute-la ao espaccedilo puacuteblico

do discurso e da palavra Isso eacute um trabalho poliacutetico porque tem a ver natildeo soacute

com o direito agrave palavra o direito baacutesico de falar mas com o direito de falar e

de que se faccedila caso de falar e ser ouvido ser escutado de ter um papel no

discurso puacuteblico e nas instituiccedilotildees poliacuteticas na democracia (PORTELLI

2009 P2)

A devoccedilatildeo ao santo na cidade de Itagimirim corresponde agrave trajetoacuteria de vida do

maacutertir que lutou contra as afliccedilotildees impostas aos cristatildeos pelo impeacuterio romano devido agrave dura

realidade financeira vivida pela populaccedilatildeo Salomatildeo (2008) descreve que

Satildeo Sebastiatildeo eacute um maacutertir cristatildeo elevado a condiccedilatildeo de santo pela devoccedilatildeo

popular A tradiccedilatildeo cristatilde afirma que o maacutertir foi assassinado em 20 de

janeiro de 288 em Roma () Sua proteccedilatildeo eacute evocada para deter as guerras

a fome e epidemias No candombleacute haacute referecircncias de sua associaccedilatildeo a

Oxoacutessi divindade guerreira que o sincretismo religioso relacionava na Bahia

a Satildeo Jorge (SALOMAtildeO 2008 p87)

Ter um santo para interceder sobre suas necessidades fiacutesicas e espirituais eacute significante

para o povo pois suas afliccedilotildees poderiam ser resolvidas junto ao divino atraveacutes da feacute

Contudo no decorrer dos anos alguns grupos vatildeo desaparecendo seja por morte do liacuteder ou

por questotildees financeiras

Fotografia -5

8

Foto cedida pela Srordf Alzira Pereira de Souza do arquivo familiar fotoacutegrafo desconhecido Ano 1972

Nesta imagem se pode verificar o Sr Joaquim Teixeira (jaacute falecido) que estaacute atraacutes e no

lado direito da porta bandeira com seu grupo de Reisado os seus foliotildees vestido de branco e

vermelho poreacutem ele nos cortejos estava sempre com seu vestuaacuterio branco que relatava ser

sua devoccedilatildeo Outro aspecto visiacutevel na populaccedilatildeo itagimiriense satildeo seus traccedilos com diversos

grupos eacutetnicos que habitavam a regiatildeo

O que se concluiu em relaccedilatildeo ao outro grupo e seu desaparecimento estatildeo

relacionados com questotildees financeiras pois muitos habitantes deixaram a cidade para

procurar melhores condiccedilotildees de vida nos grandes centros urbanos

OS FOLIOtildeES E O ESPACcedilO SACRALIZADO

As festas de Satildeo Joatildeo foram sempre diferentes do reisado que todo ano tem

o reisado de SAtildeO SEBASTIAtildeO comeccedila do dia primeiro de janeiro que o

primeiro reis eacute Santo Reis (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-14)

Os foliotildees representam uma manifestaccedilatildeo de feacute em movimento poreacutem enquanto estaacute

festejando em uma residecircncia aquele espaccedilo eacute sacralizado pelos que compartilham com o

festejo a bandeira com a imagem do santo representa o martiacuterio a santificaccedilatildeo a interseccedilatildeo

9

para aqueles que sofrem com as condiccedilotildees de vidas precaacuterias a fome a peste e as afliccedilotildees

sendo descriminados por expressarem seu sentimento religioso

No festejo de Satildeo Sebastiatildeo eacute possiacutevel ver elementos do sagrado e do profano No

entanto o espaccedilo sagrado eacute delimitado Segundo Edilece Souza eacute preciso criar limites entre os

espaccedilos sagrado e profano9

No entanto eacute necessaacuterio sacralizar o espaccedilo para que ele seja habitado E por

isso procura-se um eixo um centro de orientaccedilatildeo que pode ser um templo

o local ou o altar de sacrifiacutecio de um animal cruz poste ou mastro escada

aacutervore ou montanha Qualquer um desses elementos marca o limiar entre o

sagrado e o profano e torna-se o eixo de ligaccedilatildeo entre o ceacuteu a terra e o

mundo inferior (COUTO 2008 p1)

As muacutesicas iniciam-se quando os foliotildees chegam agrave casa de uma pessoa eacute em forma de

louvor onde o dono da residecircncia espera o teacutermino da canccedilatildeo para abrir a porta e oferecer a

sua casa como salatildeo de reza e brincadeira

A letra da muacutesica para sair de uma casa eacute em forma profana ou mesmo uma

contradanccedila que canta os acontecimentos do cotidiano familiar e do trabalho representa uma

forma de socializaccedilatildeo entre familiares amigos e conhecidos festejados do dia 10 aacute 20 de

janeiro que o aacutepice da festa

No canto em louvor10 ao Satildeo Sebastiatildeo pode-se identificar em alguns trechos a ligaccedilatildeo

dos devotos com o Santo

Eacute filho de um homem nobre

Ele estaacute lhe pedido uma esmola

Natildeo eacute por ganhar dinheiro

Mas pra cumprir uma promessa

No dia 20 de janeiro

Vocecirc jaacute pagou sua esmola

Cada um da o que pode

Vocecirc jaacute pagou sua esmola

Deus lhe dar merecimento

9 COUTO Edilece Souza DEVOCcedilOtildeES FESTAS E RITOS ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeE Revista Brasileira de

Histoacuteria das Religiotildees ndash Ano I no 1 ndash Dossiecirc Identidades Religiosas e Histoacuteria 10 O canto da Chegada em homenagem ao Santo SAtildeO SEBASTIAtildeO eacute entoado quando os foliotildees de Itagimirim-

Ba chegam agrave porta de uma residecircncia para Louvar A letra eacute cantada por todos os grupos que existiram e existe

na localidade natildeo se sabe quem eacute o verdadeiro autor No final da entrevista com Sr Jonas Almeida de Castro

cantou um trecho no entanto veio o interesse de transcrever e analisar alguns trecho na letra do canto

10

Deus lhe dar chuva santa

Para molhar seu mantimento

Viva Satildeo Sebastiatildeo

Ele chegou aqui

Quem tem promessa com ele

Ta na hora de cumprir

Viva Satildeo Sebastiatildeo

Eacute um santo de alegria

Quem tem saudade dele

Vai agrave reza do seu dia 11

Neste sentido o significado da muacutesica que os foliotildees cantam ao chegar a uma casa eacute

ldquopara louvar o dono da casa porque vocecirc cantar o Reis laacute fora e agradece dentro da casa

poreacutem a contra danccedila eacute uma musica entoadardquo isso que evidencia o Sr Jonas A de Castro (30-

05-14)

Sendo assim o festejo acontece nas casas das pessoas que compartilham com a devoccedilatildeo

a Satildeo Sebastiatildeo onde se reuacutenem com alegria dentre eles idosos crianccedilas jovens homens e

mulheres tendo momentos de oraccedilatildeo de comer de beber e festejar desde que a noite

chegava ateacute quando a noite desaparecia em belos raios de sol o local na muitas das vezes natildeo

eacute fixo passava de casa em casa dos que compartilhavam com a tradiccedilatildeo

Esse cortejo visita todas as casas do lugar que rezavam em forma musical com

instrumentos como gaitas caixas bumbas e violas maneira utilizada na maioria das festas e

festejos populares Os foliotildees do primeiro grupo de reisado trazem em suas memoacuterias um

milagre que foi atendido pelo santo que segundo Srordf Maria C Rodrigues um acontecimento

coletivo estabelece a devoccedilatildeo por Satildeo Sebastiatildeo

Minha matildee era professora e costureira laacute em Cachoeirinha (comunidade

desenvolvida na beira do rio Jequitinhonha) meu pai era canoeiro vendedor

ambulante em 1951 eu tinha um ano de idade eu natildeo lembro mas meus pais

contavam meu pai saia de Cachoeirinha para vim comprar farinha teve um

ano que ficou conhecido como o ano da fome que a seca foi tanta que natildeo

tinha como se achar o que comer Meu pai passa em Itagimirim que soacute

estava comeccedilando tinha aquela pracinha ali que hoje eacute a Castro Alves Soacute

tinha poucas casinhas ele vinha laacute de Gabiarra-Ba acampava aqui desde

11 Eacute o quinto sexto seacutetimo e oitavo trecho do canto de chegada em Louvor a Satildeo Sebastiatildeo entoado pelos

foliotildees da cidade de Itagimirim-Ba Letra relatada pelo Sr Jonas Almeida de Castro (30-05-14)

11

dessa eacutepoca eu com um ano de idade jaacute participo da histoacuteria de Itagimirim-

Ba Ele acampava aqui para trazer mantimento tinha um barracatildeo grande em

Cachoeirinha laacute ele leva as coisas comprava gado era magarefe ele servia

praticamente essa regiatildeo daqui todinha era meu pai trabalhava vendendo

coisa ambulante com as tropas que antigamente natildeo tinha carro eram tropas

34 5 6 burros Com aqueles caccediloar que hoje ainda existe em muito lugar

trazendo coisa para manter a regiatildeo Foi uma fome muito grande e nessa

eacutepoca Satildeo Sebastiatildeo junto com Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo eram padroeiro

de Cachoeirinha e todo mundo fazia promessa com ele pedindo chuva Que

levou um ano sem chover na regiatildeo na eacutepoca todo mundo carregava pedra

na cabeccedila para botar no cruzeiro da igreja de nossa senhora da Conceiccedilatildeo

para fazer penitecircncia como era chamado antigamente para pedir ao santo que

chovesse foi um ano de sofrimento quando levantou esse povo e fez essa

promessa foi quando surgiu a primeira festa a Satildeo Sebastiatildeo Quando choveu

todo mundo saiu de vermelho e branco homenageando a ele que a minha

folia ateacute hoje todos se vestem de vermelho e branco por causa dessa fome

que foi demais aqui na regiatildeo (Srordf Maria C Rodrigues 20-03-14)

Foi atraveacutes desse ritual que se constituiu a memoacuteria coletiva dessa populaccedilatildeo esse

acontecimento que fez desenvolver a religiosidade cultural Michel Pollak (1988 p 2) ao

analisar a memoacuteria como identidade social reflete que ldquo[] Eacute perfeitamente possiacutevel que por

meio da socializaccedilatildeo poliacutetica ou da socializaccedilatildeo histoacuterica ocorra um fenocircmeno de projeccedilatildeo

ou de identificaccedilatildeo com determinado passado tatildeo forte que podemos falar numa memoacuteria

quase que herdadardquo

Alguns habitantes de Cachoeirinha ao migrarem para a comunidade Itagimiriense

como no caso do primeiro grupo de reisado de religiatildeo Umbanda que montam seu terreiro em

sua fazenda nas proximidades de Itagimirim trazem o cortejo como uma forma de devoccedilatildeo e

tornando tambeacutem um espaccedilo de socializaccedilatildeo

Onde a maioria dos foliotildees relatou que essas praacuteticas de reisado e devoccedilatildeo a Satildeo

Sebastiatildeo esta relacionada com a histoacuteria de suas famiacutelias ligadas a acontecimentos como

Promessas milagres um momento difiacutecil ou alegrias e brincadeiras Hobsbawm (1997 p21)

afirma que ldquo[] o estudos dessas tradiccedilotildees esclarece bastante as relaccedilotildees humanas com seu

passado []rdquo

Entre costureiras vaqueiros pedreiros vendedores ambulantes accedilougueiros

professoras de primaacuterio e pessoas de pouca leitura mas de uma feacute grandiosa que faziam da

relaccedilatildeo com o ambiente uma forma de sobrevivecircncia e ligaccedilatildeo com o divino mesmo com

12

aacuterduo labor no campo essa relaccedilatildeo entre homem e divindade pode ser percebido no trecho do

canto de chegada

Deus lhe dar merecimento

Deus lhe dar chuva santa

Para molhar seu mantimento 12

Para a cidade que desenvolve a religiosidade popular foi um fator de extrema

importacircncia pois a relaccedilatildeo social do povo atraveacutes dos festejos tornou-se uma expressatildeo

devocional de identificaccedilatildeo entre eles No entanto as experiecircncias culturais Segundo Abreu

(2003 p 94-95) ldquo[] pode tambeacutem estimular a criaccedilatildeo de identidades sociais culturais e

viacutenculos duradouros entre grupos de reconhecida expressatildeo cultural ou religiosa como por

exemplo as escolas de samba os grupos que organizam folias de reis e congadasrdquo Para as

duas senhoras que tem centros de Umbanda em Itagimirim eacute uma missatildeo a seguir pois estaacute

ligado a uma promessa familiar e o compromisso passado a elas

O festejo criou viacutenculos duradouros entre os participantes pois suas expressotildees de feacute

estatildeo relacionadas no cotidiano familiar e por meio do lugar onde se encontram e

desenvolveu uma organizaccedilatildeo social que ao longo dos anos constituiu grupos distintos

Segundo Abreu (1999) ldquoatraveacutes das festas pode-se conhecer melhor a coletividaderdquo e com

isso quais indiviacuteduos que se relacionam com religiosidade popular

No entanto o que se discute neste trabalho eacute a festa enquanto espaccedilo de sociabilidade

a partir de uma memoacuteria coletiva e individual no espaccedilo social onde esta produccedilatildeo do

cotidiano ganha significado e que agrega valores entre o profano e o sagrado Sendo que estes

acontecimentos quebram o ritmo do cotidiano e estatildeo fixos dentro do calendaacuterio devocional

festivos das comunidades que desenvolvem os rituais

Os foliotildees no mecircs de janeiro quando saem agraves ruas apropriam dos espaccedilos puacuteblicos

festejando durante o dia eles mostram suas tradiccedilotildees para a populaccedilatildeo os indiviacuteduos ao

escrever suas tradiccedilotildees nos espaccedilos histoacutericos da cidade estatildeo demonstrando o seu lugar social

que segundo Larissa Novais Britto (2009)13

12 Parte do sexto trecho do canto de chegada que louva a Satildeo Sebastiatildeo entoado pelos foliotildees na cidade de

Itagimirim-Ba 13 A festa de Satildeo Benedito eacute um evento dinacircmico que eacute reinventado e reformulado atraveacutes de celebraccedilotildees

anuais descrito no trabalho monograacutefico de Larissa Novais Britto a festa se organiza no interior de uma

13

Nos dias da festa os negros saem do anonimato e assumem lugar de

destaque na cena urbana e promovem uma ruptura com a rotina cotidiana

extremamente marcada pela submissatildeo Ao danccedilar e cantar para seu santo

os festeiros revivem a liccedilotildees de seus ancestrais e revertem

momentaneamente o lugar secundaacuterio que ocupam na hierarquia do poder

local ( BRITTO 2009 p 9 )

Ao entrevistar as pessoas dessa comunidade que traz em suas memoacuterias um periacuteodo de

muitas recordaccedilotildees do tempo festivo no qual o homem rural criava seus modos de

sociabilidade atraveacutes de praacuteticas e instrumentos simples que faziam parte do seu cotidiano

Uma maneira de cultuar ao santo de forma direta atraveacutes de brincadeiras rezas

demonstraccedilotildees de feacute que tinha um grande significado diante de toda a expectativa para um

novo ano

Mediante a esses costumes e tradiccedilotildees que contribuem para o desenvolvimento da

localidade que teve avanccedilos permitindo que novos elementos fossem inseridos na festividade

Ao analisar a festa a Santos Reis na comunidade de aldeia com o processo de modernizaccedilatildeo

do lugar com a chegada da luz eleacutetrica que deu outros rumos ao ritual festivo apropriando de

outras caracteriacutesticas Brandatildeo (2010 P7) afirma que ldquo[] A festa em louvor a Santos Reis

esta viva justamente pela sua capacidade de se reinventar e natildeo pelo apego a uma praacutetica

ritualiacutestica congelada no tempordquo

A manifestaccedilatildeo de feacute eacute um espaccedilo de troca de saberes atraveacutes das praacuteticas culturais

seja no movimento das danccedilas ou manuseio dos instrumentos com muita alegria e devoccedilatildeo

sendo tambeacutem um lugar de afirmaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais

A festa eacute repleta de interesses e significados disfarccedilados Segundo Guarinello (2001

p974) ldquo[] o sentido da festa eacute portanto da identidade que propotildee e produz depende sempre

dos participantes eventuais ou desejados cuja presenccedila e envolvimento determinam o

sucesso e o significado uacuteltimo de qualquer festa []rdquo

Assim se constituiu a relaccedilatildeo existente entre os foliotildees e devotos Habitantes de um

espaccedilo rural e urbano que no periacuteodo do festejo migram de um local a outro levando a boa

nova atraveacutes do cortejo ao santo

irmandade religiosa e em funccedilatildeo de um mito fundador que remete a histoacuteria de vida de um santo que considerado

protetor do povo negro

14

O RITO

Todo mundo espera chegou primeiro de Janeiro O reisado de santos reis eacute agrave

noite o de SAtildeO SEBASTIAtildeO eacute de dia Se noacutes cantamos em uma rua canta

de um lado ateacute o final depois passamos para o outro lado noacutes natildeo podemos

cruzar bandeira (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-14)

No primeiro dia (10 de janeiro) acontece uma reza nos salotildees de umbanda e tambeacutem

na igreja catolica essa praacutetica eacute realizada tanto por um grupo quanto pelo outro Quando os

foliotildees saem do salatildeo em cortejo vatildeo direto a igreja neste espaccedilo fazem vaacuterios pedidos e

rezas

Poreacutem dentro da igreja apenas as violas e gaitas satildeo ultilizadas para acompanhar o

louvor trovado agrave Satildeo Sebatiatildeo Pode ser pela amanhatilde ou agrave tarde para pedir proteccedilatildeo durante os

dias que os foliotildees percorrem em fazendas cidades vizinhas para depois que estiver faltando

uns quatro dias para vinte de Janeiro que eacute o dia de comemoraccedilatildeo a Satildeo Sebastiatildeo eles

retornam a Itagimirim Como foliatildeo do primeiro grupo de reisado o Sr Diomario relata o

trajeto do primeiro dia

Quando noacutes descemos da casa de Ceicinha no primeiro dia com a bandeira

noacutes vamos direto a igreja noacutes cantamos na igreja depois noacutes esparramamos

nos gerais esparramamos no mundo noacutes vai para casa do prefeito que eacute de

obrigaccedilatildeo ele receber a bandeira (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-14)

O primeiro grupo reisado segue a seguinte rota vatildeo para cidade de Itabepi onde satildeo

recebidos com muita festa pela populaccedilatildeo e governante local que disponibiliza uma pousada

para os foliotildees descasarem Depois de quatro dias cantando nesta cidade retornam a

Itagimirim cantam em diversas casas finalizando com a reza do terccedilo no oratoacuterio dentro do

salatildeo entre os dias 20 (vinte) para 21 (vinte e um) de janeiro A preparaccedilatildeo do foliatildeo para a

reza do terccedilo no uacuteltimo dia de Festejo eacute evidenciado pelo O Sr Diomario

15

No dia vinte noacutes estamos chegando em casa para poder descansar de meio

dia para tarde tomar banho ajeitar para a noite ter a reza de sete para oito

horas da noite a gente reza ai encerrou aquele reisado depois da reza acabou

mas se noacutes querer amanhecer o dia brincado pulando fazendo contra danccedila

tomando cachaccedila comendo tira gosto porque ela mata um boi para dar

despesa para os foliotildees dela e alguns visitantes que querem acompanhar (Sr

Diomaacuterio de Jesus 04-05-14)

O segundo grupo de Reisado apoacutes as rezas em seu salatildeo de umbanda tambeacutem seguem

com o cortejo para a igreja catoacutelica a bandeira do santo representando o martiacuterio e estaacute

sempre agrave frente do grupo Nenhum foliatildeo passa a frente da bandeira ficando atraacutes e se por

acaso necessitar passar na frente da bandeira logo eacute reverenciada pelos foliotildees colocando se

de joelho e beijando o manto sagrado

Essa praacutetica tambeacutem eacute abordada por Abreu (1999 p 48) na festa do divino Espiacuterito

santo a partir dos relatos do Escritor Thomas Ewbank ldquo[] que sempre estranhava nossos

haacutebitos beijando-se tambeacutem a bandeira ou melhor ldquoafundava-se o rosto em suas dobrasrdquo

para realizar a devoccedilatildeo e tanto fazia se fossem pessoas brancas ou negras []rdquo

Beijar a bandeira com a imagem de Satildeo Sebastiatildeo para um devoto que participa do

cortejo eacute uma forma de respeito que expressa agrave fidelidade ao santo onde seus pedidos foram

ouvidos e realizados uma relaccedilatildeo de proximidade e confianccedila na intercessatildeo do santo diante

do divino

Os foliotildees dizem que antes de iniciar o cortejo vatildeo a igreja catoacutelica pedir proteccedilatildeo

com a presenccedila ou natildeo do padre eles pedem licenccedila e entra na igreja entoando seus cacircnticos

uns ajoelham outros cantam com muita entonaccedilatildeo A Srordf Maria diz que sempre cantou na

igreja ldquoEu natildeo sei por que natildeo mas realmente quando a gente chega laacute tem vez que o padre

natildeo esta mais a gente canta eacute um direito nosso que ali eacute a casa de Deus casa nossa ali eacute

portas abertardquo

Santos (2010) ao analisar o catolicismo na cidade Maragogipe-Ba a partir do culto a

Satildeo Bartolomeu nos anos de 1851 a 1943 Destaca a seguinte informaccedilatildeo

No Brasil colonial as manifestaccedilotildees religiosas tinham como caracteriacutestica a

superficialidade constituindo-se como uma religiatildeo epideacutermica de fundo

emocional comprazendo-se nas exterioridades do culto mesmo sem

16

compreendecirc-lo e tomando um gosto de festa de reuniatildeo social sem aquela

convicccedilatildeo profunda nascida de uma interioridade forte e espiritualizada

Essa superficialidade fez-se notar pela enfaacutetica predominacircncia de ritos

externos pelo colorido e pompa das praacuteticas exteriores Tudo se fazia para

cultuar e homenagear os santos protetores No fundo uma religiatildeo

imediatista distante da ortodoxia (SANTOS 2010 P 63)

Neste sentido a igreja catoacutelica na cidade de Itagimirim natildeo participa diretamente das

homenagens ao santo cultuado por parte da populaccedilatildeo mas respeita o louvor a Satildeo Sebastiatildeo

que eacute manifestado pelos foliotildees atraveacutes de uma devoccedilatildeo desenvolvida por vaacuterias famiacutelias

contudo pode se perceber que alguns dos devotos satildeo frequumlentadores das missas dominicais e

que tambeacutem participam de muitos eventos promovidos pela igreja Couto (2004) ao investigar

os estudos sobre religiatildeo oficial e religiosidade popular abordou que

A partir da emergecircncia da espiritualidade laica no seacuteculo XIII o clero sentiu

a necessidade de falar a mesma liacutengua dos fieacuteis utilizar formas orais nas

liturgias ndash cantos e sermotildees ndash aceitar procissotildees e peregrinaccedilotildees a oratoacuterios

consagrados pelo povo e as funccedilotildees pagatildes atribuiacutedas aos santos (P 45)

Apoacutes o rito dentro da igreja os foliotildees entram em um carro geralmente alugado pela

dona do reisado passando por fazendas e chegando ao distrito de Gabiarra municiacutepio de

Eunaacutepolis retornando por Uniatildeo Bainana (distrito de Itagimirim-Ba) que faz divisa com o

estado de Minas Gerais

E concluem o cortejo dentro da cidade de Itagimirim passando em muitas residecircncias

No dia 19 (dezenove) agraves 18h00 (dezoito) realizam um jantar depois de muita contra danccedila

com as oitavas um roda de oito pessoas com instrumentos como gaitas bumba viola

pandeiro pratos de esmalte e palmas girando e passando um pelo o outro Depois das

brincadeiras fazem uma pausa para rezar o terccedilo dentro do oratoacuterio na passagem do dia 19

(dezenove) para 20 (vinte) de Janeiro

Os foliotildees percorrem a regiatildeo anunciando a boa nova um tempo de paz e alegria cada

pessoa que recebe esse cortejo fortalece sua feacute e de seus familiares O festejo representa um

ato de feacute para as pessoas que se juntam para agradecer pelas becircnccedilatildeos recebidas ao longo do

ano com esperanccedilas de dias melhores e sendo entrelaccediladas pelos festejos natalinos e todas as

expectativas para um novo ano

17

O festejo serve tambeacutem para pagar uma promessa ou mesmo para seguir a tradiccedilatildeo

aleacutem da questatildeo religiosa o festejo representa um sentimento de pertencimento e sociabilidade

para as pessoas que herdaram a devoccedilatildeo Segundo relata Edilece Souza

No entanto natildeo podemos perder de vista que o cristianismo inaugurou o

tempo lituacutergico baseado na historicidade de Jesus Cristo Dessa forma o

tempo festivo eacute repetido mas natildeo eacute imoacutevel nem imutaacutevel Apesar de se

revelar especial e diferente do calendaacuterio profano tambeacutem natildeo eacute um evento

isolado pois quebra o ritmo regular do cotidiano promove a sociabilidade e

o sentimento de pertencimento e identidade em um determinado grupo

social (COUTO 2008 P 2)

Nem todos os devoltos dos dois ternos de reisado vatildeo para os cortejos nas fazendas ou

para outras cidades alguns ficam nos salotildees de oraccedilotildees preparando as comidas e bebidas

organizando para a chegada e finalizaccedilatildeo do festejo segundo o Sr Diomario foliatildeo do

primeiro grupo de reisado satildeo poucas as pessoas que ficam a frente do cortejo

Mas os dela (foliotildees) satildeo oito macho e quatro fecircmea que satildeo de carregar a

bandeirae os machos para tocar os instrumentos pois cada um daqueles oito

tem os instrumento deles que domina que satildeo reco-reco pandeiro a caixa

era de Ceicinha o bunda eacute de quem saber bater que nem esse Neo era

bumbeiro nosso Neo batia bumba muito bem mas agora ficou o filho de

Ceicinha que eacute bumbeiro dela tambeacutem eacute isso (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-

14)

O individuos pertecente a um grupo desde o seu nascimento e no decorrer da vida vatildeo

aquirindo os usos haacutebitos alimentares vestimentas moradia objetos de pertecimento

ensiados pelas pessoas idosas que tem experiecircncia a religiosidade que vai sendo transmitida

de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo independe de tamanho e de grupo social ao qual estaacute inserido

Resultando em caracteriacutesticas peculiares ou a chamada memoacuteria comum do grupo para

Jacqueline Hermann (1997) chega-se ao ponto onde religiatildeo e religiosidade se cruzam

Quando o cortejo chega na porta de uma casa cantam um louvor para chamar atenccedilatildeo

do morador ldquoPorque vocecirc canta o Reis laacute fora e agradece dentro da casa o dono da casa abre

a porta vocecirc entra ai deu bom dia vocecirc louva o dono da casa e agradece o Reisrdquo isso que nos

relata o Sr Jonas Almeida de Castro Depois do lovour abre a porta dentro da residecircncia foi

observando que em um trecho do canto o devoltos obedecem a letra

18

Ajoelha pecadores

Potildee seu joelho no chatildeo

Para cobrir com a bandeira

Viva satildeo Sebastiatildeo

Essa bandeira me salva

Quando chegar laacute no ceacuteu

Alevanta pecador

Todo coberto de veacuteu 14

Sendo assim a bandeira eacute passada pela cabeccedila de todos os devotos que ajoelham

algumas pessoas beijam o manto outras se emocionam e agradecem Para Brandatildeo (2011 P

64) ldquo[] A festa eacute o momento de reconhecer que foram agraciados com uma benccedilatildeo e que eacute

preciso retribuir []rdquo A contra danccedila ndash uma muacutesica entoada cantado coisas do cotidiano para

os foliotildees saiacuterem da residecircncia como aborda o Sr Jonas Almeida de Castro (2014)

Convidei meus companheiros

para fazer sociedade

Para roubar dessa cigana

um amor da eternidade

O ciganhinha hora eacute hora

quem quiser comigo eacute hora

Agrave Deus ponta da areia

que laacute vai a cigana embora

A festa eacute uma forma de diversatildeo tatildeo especial para os foliotildees que toca os instrumentos

por prazer em estar festejando que apaga todo o cansaccedilo do corpo Brandatildeo (2011 P74)

afirma que ldquoApesar de a festa ser uma celebraccedilatildeo do cotidiano das sociedades ela representa uma

quebra nesse cotidiano quando as pessoas deixam suas atividades do dia- a- dia para se

dedicarem ao seu inversordquo

Dois foliotildees relataram duas situaccedilotildees envolvendo o cortejo de Satildeo Sebastiatildeo a

primeira foi quando uma senhora os convidou o terno de reis para entrar em sua residecircncia

muito humilde Poreacutem a dona da casa tinha apenas dois ovos de galinha para oferecer nesta

situaccedilatildeo um foliatildeo fez a doaccedilatildeo por ela e devolveu a oferta da senhora A outra situaccedilatildeo eacute

14 Nona e deacutecima estrofe do canto de chegada em louvor a Satildeo Sebastiatildeo entoado pelos foliotildees em Itagimirim-

Ba

19

quando uma fita da bandeira do santo cai dentro de uma casa eacute sinal de milagre concedido ao

morador como Aborda dona Srordf Alzira P de Souza

Olha se cair na casa da pessoa eacute para pegar e guardar ali eacute uma virtude que

esta deixando na casa da pessoa e uma forccedila que esta deixando ali na casa

da pessoa o santo deixou cai aquela fita ali para agradecer e recomendar o

dono da casa (Srordf Alzira Pereira de Souza 08-05-14)

Para muitos moradores essa fita eacute utilizada como remeacutedio quando um familiar sente

uma dor amarando no local essa recordaccedilatildeo eacute guardada como muita alegria

Quando o reisado chega em uma rua eles cantam de um lado e depois do outro a

bandeira indo por um canto natildeo pode voltar pelo mesmo lugar tem que seguir o giro o

caminho aberto A Srordf Maria C Rodrigues relata que ldquoquando passo numa casa e vejo a porta

fechada eu acho que a pessoa natildeo quer que eu paro ai a bandeira passa se pedir para voltar

a gente natildeo pode maisrdquo Hobsbawm (1997) dialoga que entende-se por ldquotradiccedilatildeo inventadardquo

um conjunto de praacuteticas normalmente reguladas por regras taacutecita ou abertamente aceitas ldquo[]

tais praacuteticas de natureza ritual ou simboacutelica visam inculcar certos valores e normas de

comportamento atraacuteves de repeticcedilatildeo o que implica automaticamente uma continuidade em

relaccedilatildeo ao passado []rdquo

Muitas festas foram apontadas por vaacuterios pesquisadores do periacuteodo colonial como

forma de fugas e rebeliotildees ou sendo para assumir uma identidade por determinados grupos

nesse contexto as festas natildeo satildeo vistas simplesmente como passivas mas como oportunidade

de romper com o cotidiano

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O trabalho realizado atraveacutes do festejo de Satildeo Sebastiatildeo em Itagimirim-Ba investigou

e analisou o surgimento da manifestaccedilatildeo religiosa de caraacuteter popular sendo renovada e

20

modificada com as migraccedilotildees de pessoas vindas de outros povoados e municiacutepios da regiatildeo

re-significando a tradiccedilatildeo e incorporando novas praacuteticas

A devoccedilatildeo dos foliotildees por um santo representa uma afirmaccedilatildeo de identidade

possibilitando novas relaccedilotildees entre os homens e o meio social ao qual estaacute inserido

Rememorar natildeo significa trazer de volta a festa do mesmo jeito que era outrora e sim

reafirmar e reconstruir novos haacutebitos

O festejo eacute um elemento que fez e faz parte da origem e desenvolvimento da cidade

pois seus habitantes fundadores jaacute traziam em suas memoacuterias essa forma de socializaccedilatildeo

religiosa Que tambeacutem se construiu como um escape para os longos dias de trabalhos

quebrando o ritmo do cotidiano A manifestaccedilatildeo de feacute eacute um espaccedilo de troca de saberes atraveacutes

das praacuteticas de alegria e devoccedilatildeo sendo um lugar de afirmaccedilatildeo de relaccedilotildees sociais ou criar

novos laccedilos de amizade o que fundamental para comunidade itagimiriense

REFEREcircNCIAS

ABREU Marta Cultura popular um conceito e vaacuterias histoacuterias In Ensino de Histoacuteria

conceitos temaacuteticas e metodologia Martha Abreu amp Rachel Sohiet (orgs) Rio de Janeiro

Casa da Palavra 2003

ALBERTI Verena Manual de Histoacuteria oral ndash 3 ed ndash Rio de Janeiro Editora FGV 2005

BOSI Ecleacutea Memoacuteria e Sociedade Lembranccedilas de Velhos ndash 3 ed ndashSatildeo Paulo Companhia

das letras 1994

BRANDAtildeO Alex Sandro da Conceiccedilatildeo Santos Reis Festa Poder e Memoacuteria (Governador

Mangabeira- BA 1970-2000) Artigo apresentado no X Encontro Nacional de Histoacuteria Oral

Recife 2010

21

BRANDAtildeO Alex Sandro da Conceiccedilatildeo Santos Reis festa poder e memoacuteria na comunidade

rural de aldeia (Governador Mangabeira- BA 1970-2000) Dissertaccedilatildeo apresentada ao

programa de poacutes-graduaccedilatildeo em histoacuteria regional e local da universidade do estado da

BahiaUNEB Santo Antonio de Jesus ndash BA abril ndash 2011

BRITTO Larissa Novais Festa de Satildeo Benedito O Sagrado e o profano nas festas regiliosas

de origem africana em Porto Seguro-Ba Monografia apresentada a UNEB Eunaacutepolis 2009

CASTRO Jakson Viana de Educaccedilatildeo patrimonial um instrumento de ensino para Histoacuteria local

Monografia apresentada a UNEB Eunaacutepolis 2009

CHALHOUB Sidney Visotildees da liberdade uma histoacuteria das uacuteltimas deacutecadas da escravidatildeo

na Corte Sidney Chalhoub mdash Satildeo Paulo Companhia das Letras 2011

COUTO Edilece Souza Devoccedilotildees festas e ritos algumas consideraccedilotildees Revista Brasileira

de Histoacuteria das Religiotildees ndash Ano I no 1 ndash Dossiecirc Identidades Religiosas e Histoacuteria Maio

2008

GUARINELLO Noberto Luiz Festa trabalho e cotidiano Istvaacutem Jancsoacute Iris kantor

(orgs)Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa Volume II Satildeo Paulo 2001

GUERRA Teoney Araujo Dados e informaccedilotildees para Estudantes Itagimirim-Ba 2000

HERMANN Jacqueline Histoacuteria das religiotildees e religiosidades Domiacutenios da Historia

ensaios da teoria e metodologias Ciro Flamrion Cardoso Ronaldo Vainfas (orgs) Rio de

Janeiro Campus 1997

HOBSBAWM Eric A invenccedilatildeo das tradiccedilotildees Eric Hobsbawn e Terenge Ranger

organizadores Traduccedilatildeo Celina Cardim Cavalgante 2ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro 1997

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel emwwwibgegovbr acesso

dia 06-05-12 agraves 13h00min

JANCSOacute Istvaacutem KANTOR Iris (orgs) Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica

Portuguesa Volume I Satildeo Paulo 2001

JANCSOacute Istvaacutenamp KANTOR Iris Festa Cultura e Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa (2

volumes) Satildeo Paulo Imprensa Oficial Hucitec Edusp Fapesp 2001

1 NASCIMENTO Nilson do Carmo Cachoeirinha Freguesia de Nossa Senhora da

Conceiccedilatildeo da Cachoeirinha do Baixo Jequitinhonhandash Brasiacutelia 2010

22

2 NASCIMENTO Mara Regina do Religiosidade e cultura popular Catolicismo

irmandades e tradiccedilotildees em movimento Revista da Catoacutelica Uberlacircndia v 1 n 2 p 119-130

2009 ndash catolicaonlinecom BR revista da catoacutelica

PORTELLI Alessandro Histoacuteria Oral e Poder Transcriccedilatildeo de Luiz Henrique dos Santos

Blume a partir do arquivo em aacuteudio wmp Traduccedilatildeo de Luiz Henrique dos Santos Blume e

Heliana de Barros Conde Rodrigues Mnemosine Vol6 nordm2 p 2-13 (2010) ndash Artigos

Conferecircncia no XXV Simpoacutesio Nacional da ANPUH Fortaleza 2009

POLLAK Michel Memoacuteria e identidade social Conferecircncia foi transcrita e traduzida por

monique augras A ediccedilatildeo eacute de Dora Rocha Flaksman Estudos histoacutericos rio de janeiro vol

5 n 10 1992 p 200-212

POLLAK Michel Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Conferecircncia foi transcrita e traduzida

por monique augras A ediccedilatildeo eacute de Dora Rocha Flaksman Estudos Histoacutericos Rio de

Janeiro vol 2 n 3 1989 p 3-15

PIRES Flaacutevia A Festa de Satildeo Sebastiatildeo em Catingueira transformaccedilotildees e permanecircncias dez

anos depois Revista de antropologia Satildeo Paulo USP 2011 v 54 nordm 2 Artigo Recebido em

novembro de 2010 Aceito em julho de 2011

SOIHET Rachel Histoacuteria das mulheres Domiacutenios da Historia ensaios da teoria e

metodologias Ciro Flamrion Cardoso Ronaldo Vainfas (orgs) Rio de Janeiro Campus

1997

SANTANA Tacircnia de Devoccedilotildees catoacutelicas entre os negros na Bahia colonial Artigo

apresentado na participaccedilatildeo no evento Fala Professor em 250803 promovido pelo curso de

Histoacuteria das Faculdades Jorge Amado

SANTOS Fernanda reis dos ldquoa festa do excelso padroeiro da cidade das palmeirasrdquo o culto

a satildeo Bartolomeu em Maragogipe (1851-1943) dissertaccedilatildeo apresentada ao programa de poacutes-

graduaccedilatildeo em histoacuteria da faculdade de filosofia e ciecircncias humanas universidade federal da

Bahia Salvador 2010

VAINFAS Ronaldo Da festa tupinambaacute ao sabaacute tropical a catequese pelo avesso Istvaacutem

Jancsoacute Iris kantor (orgs)Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa Volume I

Satildeo Paulo 2001

Page 4: FESTEJOS DE SÃO SEBASTIÃO EM ITAGIMIRIM-BA ......1 FESTEJOS DE SÃO SEBASTIÃO EM ITAGIMIRIM-BA: Memória e História de Um Povo (1960- 1998) Jairo Viana de Castro1 INTRODUÇÃO

4

Conheci o festejo com doze anos de idade quando saia com meus pais ()

Antigamente a gente morava em cachoeirinha onde hoje eacute a barragem De laacute

o percurso ia para Itapebi Itagimirim que natildeo era emancipada era uma roccedila

soacute tinha mesmo essa pracinha Castro Alves tinha mas natildeo era calccedilada e

nem nada Entatildeo noacutes ia para Itapebide laacute vinha pra aqui (Itagimirim) Neste

tempo eu era pequena papai me colocava eu muntada na cangaia com os

panicus cheios de comida pra da os foliotildees eu no meio pequena mas jaacute no

meio ai agente vinha pra aqui acampava trecircs a quatro dias daqui passava em

Gabiarra A peacute andando andando nessa cidade tudo passava em Uniatildeo

Baiana descia e saia em cachoeirinha ( Srordf Maria C Rodrigues 20-03-14)

Neste sentido o festejo a Satildeo Sebastiatildeo na comunidade Itagimiriense eacute um tradiccedilatildeo e

memoacuteria de familiares sendo passada as novas geraccedilotildees como se pode perceber no trecho

acima essa devoccedilatildeo foi passada de matildee para filha O membro responsaacutevel tem a missatildeo de

todos os anos organizar e desenvolver o festejo comprando mantimentos ou pedindo doaccedilotildees

aos devotos e fazendeiros no qual as doaccedilotildees satildeo divididas com os tocadores ou foliotildees

Inicialmente nos anos de 1960 a manifestaccedilatildeo de feacute acontecia fora do periacutemetro

urbano como nos relata a Srordf Hilda Queiroz (04-05-14) ldquoesse negoacutecio de reisado era

realizado na zona ruralrdquo Jaacute o Sr Gildo Gonccedilalves (30-05-14) evidencia que ldquoera trinta dias

de reisado visitando as fazendas e a cidade tambeacutem era Satildeo Sebastiatildeordquo

Percebemos que a praacutetica de reisado a Satildeo Sebastiatildeo em Itagimirim eacute desenvolvido

por pessoas da zona rural com isso os foliotildees no momento do cortejo entravam dentro da

cidade e compartilhe com os moradores que festejavam a Satildeo Joatildeo Batista padroeiro

instituiacutedo pela igreja catoacutelica

O festejo que se desenvolveu pela memoacuteria herdada tambeacutem natildeo eacute um acontecimento

imoacutevel sofre transformaccedilotildees no decorrer das geraccedilotildees de acordo com o contexto social sendo

agregados valores e concepccedilotildees do momento vivenciado

A Srordf Maria da Conceiccedilatildeo relata que a organizaccedilatildeo do festejo a Satildeo Sebastiatildeo

comeccedilou a ser desenvolvido dentro da zona urbana quando o seu pai faleceu com isso eles

formaram seu aldeamento entre um brejo chamado Cafuma e a serra da Boa Vista Diz a tradiccedilatildeo que mais ou

menos em 1770 chegou a regiatildeo Frei Domingos de Satildeo Joseacute conseguindo converter os gentios ao cristianismo

Posteriormente o franciscano obteve de D Maria Pereira Gonccedilalves e dos seus herdeiros a doaccedilatildeo de meia leacutegua

de terra para patrimocircnio da capela que aiacute foi construiacuteda sendo com sagrada ao Senhor Bom Jesus da Morte

httpcidadesgovbrpainelhistoacutericophplang=ampcodmun=270630ampsearch=alagoas|palmeira-dos-

C38Dndios|infograficos-historico Acesso em 09-07-2014 agraves 2045 7 Moradora de Itagimirim-Ba conhecida como Matildee Ceicinha nasceu em 11 de setembro de 1950

5

perderam a fazenda atraveacutes de um golpe quando seu primo a vendeu a propriedade

utilizando uma procuraccedilatildeo cedida a ele sendo obrigados a residir dentro da cidade

Antigamente era na fazenda pedreira o nome que dava onde mamatildee

comeccedilou o candombleacute Quando agente chegou aqui montou o terreirinho

dela aiacute veio para cidade em 62 quando Itagimirim jaacute era bem desenvolvida

e movimentada (Srordf Maria C Rodrigues 20-03-14)

Diante desse acontecimento e da mudanccedila de um lugar para o outro o festejo continua

sendo cultuado pelos devotos salientando que dentro do cenaacuterio urbano jaacute existia o culto ao

Padroeiro Satildeo Joatildeo Batista Poreacutem o festejo ao padroeiro antes da instalaccedilatildeo do padre era

desenvolvido o lado profano pela populaccedilatildeo que tinha maior participaccedilatildeo na montagem das

barracas para vender comidas tiacutepicas das festas juninas

Com a organizaccedilatildeo das cerimocircnias religiosa e profana como as quermesses e leilotildees

para arrecadar fundos para construccedilatildeo da igreja catoacutelica em 1963 pelo padre haacute um

afastamento da populaccedilatildeo que ganhava um dinheiro extra com o evento

Segundo Hobsbawm (1997 P 20) ldquoAntes de mais nada pode-se dizer que as tradiccedilotildees

inventadas satildeo sintomas importantes e portanto indicadores de problemas que de outra forma

poderiam natildeo ser detectadas nem localizadas no tempordquo

Portanto a manifestaccedilatildeo a Satildeo Sebastiatildeo ganha mais participantes principalmente

dentro da cidade fazendo um movimento contraacuterio no momento das celebraccedilotildees ao santo

pois antes as pessoas se deslocavam para zona rural Agora o povo das fazendas quem se

desloca para zona urbana O Sr Jonas A de Castro relata que na eacutepoca que chegou ao

municiacutepio itagimiriense em 1975 a praacutetica do reisado era desenvolvido por vaacuterios grupos

Quando eu cheguei ao municiacutepio existiam quatro grupos de reisado o de

Ceizinha o de Zeacute de Cabelatildeo o de Joaquim Teixeira e Otaciacutelio da Caccediloada

trecircs festejavam a Satildeo Sebastiatildeo e um a Santos Reis Eu participava dos dois

o de Otaciacutelio que festeja a Santos Reis ai eu participava com Joaquim

Teixeira que festejava a Satildeo Sebastiatildeo (Sr Jonas Almeida de Castro 30-05-

14)

O que se observa neste trecho descrito pelo Sr Jonas eacute o aumento de grupos de reisado

na localidade isto se deu devido agraves memoacuterias da populaccedilatildeo estar ligadas as folias de reisado

6

ou o proacuteprio culto a Satildeo Sebastiatildeo que eacute um santo de crendice popular que proteger contra a

fome guerra e afliccedilotildees principalmente neste municiacutepio empobrecido

Devido agrave quantidade de grupos e um nuacutemero pequeno de muacutesicos havia uma

disputa entre os grupos para atrair esses foliotildees tocadores com isso alguns liacutederes procuravam

agradar dividindo as esmolas e doaccedilotildees que eram arrecadadas no percurso do cortejo que

passava em residecircncias e casas comerciais

Oito homens e quatro mulheres que estatildeo diretamente responsaacuteveis pelos os cantos

manusear os instrumentos e na maioria das vezes apenas as mulheres quem carrega a bandeira

de Satildeo Sebastiatildeo As folias do divino Espiacuterito Santo sobre as descriccedilotildees de Thomas Ewbank

em 1846 um escritor e desenhista de Nova York destaca que a praacutetica de pedir esmolas eacute

fundamental para o desenvolvimento dos festejos Abreu concluiu que

O haacutebito de se pedirem esmolas era muito comum desde o periacuteodo colonial e

tinha como objetivo a reuniatildeo para as festas das irmandades ou para o

financiamento dos benefiacutecios aos irmatildeos carentes como indicam os vaacuterios

anuacutencios de festas No caso das folias do Divino conta Ewbank os irmatildeos

nem precisavam bater de porta em porta porque a muacutesica por si soacute jaacute atraiacutea

todos agrave rua Pela descriccedilatildeo deste viajante norte-americano se todas as

classes contribuiacuteam com donativos as irmandades do Espiacuterito Santo

pareciam distinguir-se entre si pela riqueza A da Lapa por exemplo

contratava barbeiros brancos haacutebeis tocadores de clarim e violinistas que

ofereciam seus serviccedilos por um preccedilo mais elevado (ABREU 1999 P 51)

Com essa descriccedilatildeo e anaacutelise da autora se percebeu que essas praacuteticas estatildeo presentes

nos festejos em homenagem a Satildeo Sebastiatildeo em Itagimirim desde a contrataccedilatildeo dos foliotildees

tocadores ateacute o cortejo de casa em casa em que ganham donativos Esta situaccedilatildeo estaacute evidente

no canto de chegada no seguinte trecho

Eacute filho de um homem nobre

Ele estaacute lhe pedido uma esmola

Natildeo eacute por ganhar dinheiro

Mas pra cumprir uma promessa

No dia 20 de janeiro 8

8 Parte do quinto trecho do canto de chegada que louva a Satildeo Sebastiatildeo entoado pelos foliotildees na cidade de

Itagimirim-Ba

7

Eis o poder da memoacuteria oral aonde essas praacuteticas vem sendo seguidas desde a eacutepoca

colonial chegando ateacute o periacuteodo analisado do trabalho em estudo com algumas mudanccedilas

mas mantendo uma continuidade na maneira de homenagear ao santo intercessor

Alessandro Portelli (2009) dialoga sobre a valorizaccedilatildeo da memoacuteria a partir da oralidade onde

as trajetoacuterias de vidas dos excluiacutedos devem ser relatadas e conhecidas por todas as esferas

sociais

Com frequecircncia se diz que na Histoacuteria Oral damos voz aos sem voz Natildeo eacute

assim Se natildeo tivessem voz natildeo teriacuteamos nada a gravar natildeo teriacuteamos nada a

escutar Os excluiacutedos os marginalizados os sem-poder sim tem voz mas

natildeo haacute ningueacutem que os escute Essa voz estaacute incluiacuteda num espaccedilo limitado

O que fazemos eacute recolher essa voz amplificaacute-la e levaacute-la ao espaccedilo puacuteblico

do discurso e da palavra Isso eacute um trabalho poliacutetico porque tem a ver natildeo soacute

com o direito agrave palavra o direito baacutesico de falar mas com o direito de falar e

de que se faccedila caso de falar e ser ouvido ser escutado de ter um papel no

discurso puacuteblico e nas instituiccedilotildees poliacuteticas na democracia (PORTELLI

2009 P2)

A devoccedilatildeo ao santo na cidade de Itagimirim corresponde agrave trajetoacuteria de vida do

maacutertir que lutou contra as afliccedilotildees impostas aos cristatildeos pelo impeacuterio romano devido agrave dura

realidade financeira vivida pela populaccedilatildeo Salomatildeo (2008) descreve que

Satildeo Sebastiatildeo eacute um maacutertir cristatildeo elevado a condiccedilatildeo de santo pela devoccedilatildeo

popular A tradiccedilatildeo cristatilde afirma que o maacutertir foi assassinado em 20 de

janeiro de 288 em Roma () Sua proteccedilatildeo eacute evocada para deter as guerras

a fome e epidemias No candombleacute haacute referecircncias de sua associaccedilatildeo a

Oxoacutessi divindade guerreira que o sincretismo religioso relacionava na Bahia

a Satildeo Jorge (SALOMAtildeO 2008 p87)

Ter um santo para interceder sobre suas necessidades fiacutesicas e espirituais eacute significante

para o povo pois suas afliccedilotildees poderiam ser resolvidas junto ao divino atraveacutes da feacute

Contudo no decorrer dos anos alguns grupos vatildeo desaparecendo seja por morte do liacuteder ou

por questotildees financeiras

Fotografia -5

8

Foto cedida pela Srordf Alzira Pereira de Souza do arquivo familiar fotoacutegrafo desconhecido Ano 1972

Nesta imagem se pode verificar o Sr Joaquim Teixeira (jaacute falecido) que estaacute atraacutes e no

lado direito da porta bandeira com seu grupo de Reisado os seus foliotildees vestido de branco e

vermelho poreacutem ele nos cortejos estava sempre com seu vestuaacuterio branco que relatava ser

sua devoccedilatildeo Outro aspecto visiacutevel na populaccedilatildeo itagimiriense satildeo seus traccedilos com diversos

grupos eacutetnicos que habitavam a regiatildeo

O que se concluiu em relaccedilatildeo ao outro grupo e seu desaparecimento estatildeo

relacionados com questotildees financeiras pois muitos habitantes deixaram a cidade para

procurar melhores condiccedilotildees de vida nos grandes centros urbanos

OS FOLIOtildeES E O ESPACcedilO SACRALIZADO

As festas de Satildeo Joatildeo foram sempre diferentes do reisado que todo ano tem

o reisado de SAtildeO SEBASTIAtildeO comeccedila do dia primeiro de janeiro que o

primeiro reis eacute Santo Reis (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-14)

Os foliotildees representam uma manifestaccedilatildeo de feacute em movimento poreacutem enquanto estaacute

festejando em uma residecircncia aquele espaccedilo eacute sacralizado pelos que compartilham com o

festejo a bandeira com a imagem do santo representa o martiacuterio a santificaccedilatildeo a interseccedilatildeo

9

para aqueles que sofrem com as condiccedilotildees de vidas precaacuterias a fome a peste e as afliccedilotildees

sendo descriminados por expressarem seu sentimento religioso

No festejo de Satildeo Sebastiatildeo eacute possiacutevel ver elementos do sagrado e do profano No

entanto o espaccedilo sagrado eacute delimitado Segundo Edilece Souza eacute preciso criar limites entre os

espaccedilos sagrado e profano9

No entanto eacute necessaacuterio sacralizar o espaccedilo para que ele seja habitado E por

isso procura-se um eixo um centro de orientaccedilatildeo que pode ser um templo

o local ou o altar de sacrifiacutecio de um animal cruz poste ou mastro escada

aacutervore ou montanha Qualquer um desses elementos marca o limiar entre o

sagrado e o profano e torna-se o eixo de ligaccedilatildeo entre o ceacuteu a terra e o

mundo inferior (COUTO 2008 p1)

As muacutesicas iniciam-se quando os foliotildees chegam agrave casa de uma pessoa eacute em forma de

louvor onde o dono da residecircncia espera o teacutermino da canccedilatildeo para abrir a porta e oferecer a

sua casa como salatildeo de reza e brincadeira

A letra da muacutesica para sair de uma casa eacute em forma profana ou mesmo uma

contradanccedila que canta os acontecimentos do cotidiano familiar e do trabalho representa uma

forma de socializaccedilatildeo entre familiares amigos e conhecidos festejados do dia 10 aacute 20 de

janeiro que o aacutepice da festa

No canto em louvor10 ao Satildeo Sebastiatildeo pode-se identificar em alguns trechos a ligaccedilatildeo

dos devotos com o Santo

Eacute filho de um homem nobre

Ele estaacute lhe pedido uma esmola

Natildeo eacute por ganhar dinheiro

Mas pra cumprir uma promessa

No dia 20 de janeiro

Vocecirc jaacute pagou sua esmola

Cada um da o que pode

Vocecirc jaacute pagou sua esmola

Deus lhe dar merecimento

9 COUTO Edilece Souza DEVOCcedilOtildeES FESTAS E RITOS ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeE Revista Brasileira de

Histoacuteria das Religiotildees ndash Ano I no 1 ndash Dossiecirc Identidades Religiosas e Histoacuteria 10 O canto da Chegada em homenagem ao Santo SAtildeO SEBASTIAtildeO eacute entoado quando os foliotildees de Itagimirim-

Ba chegam agrave porta de uma residecircncia para Louvar A letra eacute cantada por todos os grupos que existiram e existe

na localidade natildeo se sabe quem eacute o verdadeiro autor No final da entrevista com Sr Jonas Almeida de Castro

cantou um trecho no entanto veio o interesse de transcrever e analisar alguns trecho na letra do canto

10

Deus lhe dar chuva santa

Para molhar seu mantimento

Viva Satildeo Sebastiatildeo

Ele chegou aqui

Quem tem promessa com ele

Ta na hora de cumprir

Viva Satildeo Sebastiatildeo

Eacute um santo de alegria

Quem tem saudade dele

Vai agrave reza do seu dia 11

Neste sentido o significado da muacutesica que os foliotildees cantam ao chegar a uma casa eacute

ldquopara louvar o dono da casa porque vocecirc cantar o Reis laacute fora e agradece dentro da casa

poreacutem a contra danccedila eacute uma musica entoadardquo isso que evidencia o Sr Jonas A de Castro (30-

05-14)

Sendo assim o festejo acontece nas casas das pessoas que compartilham com a devoccedilatildeo

a Satildeo Sebastiatildeo onde se reuacutenem com alegria dentre eles idosos crianccedilas jovens homens e

mulheres tendo momentos de oraccedilatildeo de comer de beber e festejar desde que a noite

chegava ateacute quando a noite desaparecia em belos raios de sol o local na muitas das vezes natildeo

eacute fixo passava de casa em casa dos que compartilhavam com a tradiccedilatildeo

Esse cortejo visita todas as casas do lugar que rezavam em forma musical com

instrumentos como gaitas caixas bumbas e violas maneira utilizada na maioria das festas e

festejos populares Os foliotildees do primeiro grupo de reisado trazem em suas memoacuterias um

milagre que foi atendido pelo santo que segundo Srordf Maria C Rodrigues um acontecimento

coletivo estabelece a devoccedilatildeo por Satildeo Sebastiatildeo

Minha matildee era professora e costureira laacute em Cachoeirinha (comunidade

desenvolvida na beira do rio Jequitinhonha) meu pai era canoeiro vendedor

ambulante em 1951 eu tinha um ano de idade eu natildeo lembro mas meus pais

contavam meu pai saia de Cachoeirinha para vim comprar farinha teve um

ano que ficou conhecido como o ano da fome que a seca foi tanta que natildeo

tinha como se achar o que comer Meu pai passa em Itagimirim que soacute

estava comeccedilando tinha aquela pracinha ali que hoje eacute a Castro Alves Soacute

tinha poucas casinhas ele vinha laacute de Gabiarra-Ba acampava aqui desde

11 Eacute o quinto sexto seacutetimo e oitavo trecho do canto de chegada em Louvor a Satildeo Sebastiatildeo entoado pelos

foliotildees da cidade de Itagimirim-Ba Letra relatada pelo Sr Jonas Almeida de Castro (30-05-14)

11

dessa eacutepoca eu com um ano de idade jaacute participo da histoacuteria de Itagimirim-

Ba Ele acampava aqui para trazer mantimento tinha um barracatildeo grande em

Cachoeirinha laacute ele leva as coisas comprava gado era magarefe ele servia

praticamente essa regiatildeo daqui todinha era meu pai trabalhava vendendo

coisa ambulante com as tropas que antigamente natildeo tinha carro eram tropas

34 5 6 burros Com aqueles caccediloar que hoje ainda existe em muito lugar

trazendo coisa para manter a regiatildeo Foi uma fome muito grande e nessa

eacutepoca Satildeo Sebastiatildeo junto com Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo eram padroeiro

de Cachoeirinha e todo mundo fazia promessa com ele pedindo chuva Que

levou um ano sem chover na regiatildeo na eacutepoca todo mundo carregava pedra

na cabeccedila para botar no cruzeiro da igreja de nossa senhora da Conceiccedilatildeo

para fazer penitecircncia como era chamado antigamente para pedir ao santo que

chovesse foi um ano de sofrimento quando levantou esse povo e fez essa

promessa foi quando surgiu a primeira festa a Satildeo Sebastiatildeo Quando choveu

todo mundo saiu de vermelho e branco homenageando a ele que a minha

folia ateacute hoje todos se vestem de vermelho e branco por causa dessa fome

que foi demais aqui na regiatildeo (Srordf Maria C Rodrigues 20-03-14)

Foi atraveacutes desse ritual que se constituiu a memoacuteria coletiva dessa populaccedilatildeo esse

acontecimento que fez desenvolver a religiosidade cultural Michel Pollak (1988 p 2) ao

analisar a memoacuteria como identidade social reflete que ldquo[] Eacute perfeitamente possiacutevel que por

meio da socializaccedilatildeo poliacutetica ou da socializaccedilatildeo histoacuterica ocorra um fenocircmeno de projeccedilatildeo

ou de identificaccedilatildeo com determinado passado tatildeo forte que podemos falar numa memoacuteria

quase que herdadardquo

Alguns habitantes de Cachoeirinha ao migrarem para a comunidade Itagimiriense

como no caso do primeiro grupo de reisado de religiatildeo Umbanda que montam seu terreiro em

sua fazenda nas proximidades de Itagimirim trazem o cortejo como uma forma de devoccedilatildeo e

tornando tambeacutem um espaccedilo de socializaccedilatildeo

Onde a maioria dos foliotildees relatou que essas praacuteticas de reisado e devoccedilatildeo a Satildeo

Sebastiatildeo esta relacionada com a histoacuteria de suas famiacutelias ligadas a acontecimentos como

Promessas milagres um momento difiacutecil ou alegrias e brincadeiras Hobsbawm (1997 p21)

afirma que ldquo[] o estudos dessas tradiccedilotildees esclarece bastante as relaccedilotildees humanas com seu

passado []rdquo

Entre costureiras vaqueiros pedreiros vendedores ambulantes accedilougueiros

professoras de primaacuterio e pessoas de pouca leitura mas de uma feacute grandiosa que faziam da

relaccedilatildeo com o ambiente uma forma de sobrevivecircncia e ligaccedilatildeo com o divino mesmo com

12

aacuterduo labor no campo essa relaccedilatildeo entre homem e divindade pode ser percebido no trecho do

canto de chegada

Deus lhe dar merecimento

Deus lhe dar chuva santa

Para molhar seu mantimento 12

Para a cidade que desenvolve a religiosidade popular foi um fator de extrema

importacircncia pois a relaccedilatildeo social do povo atraveacutes dos festejos tornou-se uma expressatildeo

devocional de identificaccedilatildeo entre eles No entanto as experiecircncias culturais Segundo Abreu

(2003 p 94-95) ldquo[] pode tambeacutem estimular a criaccedilatildeo de identidades sociais culturais e

viacutenculos duradouros entre grupos de reconhecida expressatildeo cultural ou religiosa como por

exemplo as escolas de samba os grupos que organizam folias de reis e congadasrdquo Para as

duas senhoras que tem centros de Umbanda em Itagimirim eacute uma missatildeo a seguir pois estaacute

ligado a uma promessa familiar e o compromisso passado a elas

O festejo criou viacutenculos duradouros entre os participantes pois suas expressotildees de feacute

estatildeo relacionadas no cotidiano familiar e por meio do lugar onde se encontram e

desenvolveu uma organizaccedilatildeo social que ao longo dos anos constituiu grupos distintos

Segundo Abreu (1999) ldquoatraveacutes das festas pode-se conhecer melhor a coletividaderdquo e com

isso quais indiviacuteduos que se relacionam com religiosidade popular

No entanto o que se discute neste trabalho eacute a festa enquanto espaccedilo de sociabilidade

a partir de uma memoacuteria coletiva e individual no espaccedilo social onde esta produccedilatildeo do

cotidiano ganha significado e que agrega valores entre o profano e o sagrado Sendo que estes

acontecimentos quebram o ritmo do cotidiano e estatildeo fixos dentro do calendaacuterio devocional

festivos das comunidades que desenvolvem os rituais

Os foliotildees no mecircs de janeiro quando saem agraves ruas apropriam dos espaccedilos puacuteblicos

festejando durante o dia eles mostram suas tradiccedilotildees para a populaccedilatildeo os indiviacuteduos ao

escrever suas tradiccedilotildees nos espaccedilos histoacutericos da cidade estatildeo demonstrando o seu lugar social

que segundo Larissa Novais Britto (2009)13

12 Parte do sexto trecho do canto de chegada que louva a Satildeo Sebastiatildeo entoado pelos foliotildees na cidade de

Itagimirim-Ba 13 A festa de Satildeo Benedito eacute um evento dinacircmico que eacute reinventado e reformulado atraveacutes de celebraccedilotildees

anuais descrito no trabalho monograacutefico de Larissa Novais Britto a festa se organiza no interior de uma

13

Nos dias da festa os negros saem do anonimato e assumem lugar de

destaque na cena urbana e promovem uma ruptura com a rotina cotidiana

extremamente marcada pela submissatildeo Ao danccedilar e cantar para seu santo

os festeiros revivem a liccedilotildees de seus ancestrais e revertem

momentaneamente o lugar secundaacuterio que ocupam na hierarquia do poder

local ( BRITTO 2009 p 9 )

Ao entrevistar as pessoas dessa comunidade que traz em suas memoacuterias um periacuteodo de

muitas recordaccedilotildees do tempo festivo no qual o homem rural criava seus modos de

sociabilidade atraveacutes de praacuteticas e instrumentos simples que faziam parte do seu cotidiano

Uma maneira de cultuar ao santo de forma direta atraveacutes de brincadeiras rezas

demonstraccedilotildees de feacute que tinha um grande significado diante de toda a expectativa para um

novo ano

Mediante a esses costumes e tradiccedilotildees que contribuem para o desenvolvimento da

localidade que teve avanccedilos permitindo que novos elementos fossem inseridos na festividade

Ao analisar a festa a Santos Reis na comunidade de aldeia com o processo de modernizaccedilatildeo

do lugar com a chegada da luz eleacutetrica que deu outros rumos ao ritual festivo apropriando de

outras caracteriacutesticas Brandatildeo (2010 P7) afirma que ldquo[] A festa em louvor a Santos Reis

esta viva justamente pela sua capacidade de se reinventar e natildeo pelo apego a uma praacutetica

ritualiacutestica congelada no tempordquo

A manifestaccedilatildeo de feacute eacute um espaccedilo de troca de saberes atraveacutes das praacuteticas culturais

seja no movimento das danccedilas ou manuseio dos instrumentos com muita alegria e devoccedilatildeo

sendo tambeacutem um lugar de afirmaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais

A festa eacute repleta de interesses e significados disfarccedilados Segundo Guarinello (2001

p974) ldquo[] o sentido da festa eacute portanto da identidade que propotildee e produz depende sempre

dos participantes eventuais ou desejados cuja presenccedila e envolvimento determinam o

sucesso e o significado uacuteltimo de qualquer festa []rdquo

Assim se constituiu a relaccedilatildeo existente entre os foliotildees e devotos Habitantes de um

espaccedilo rural e urbano que no periacuteodo do festejo migram de um local a outro levando a boa

nova atraveacutes do cortejo ao santo

irmandade religiosa e em funccedilatildeo de um mito fundador que remete a histoacuteria de vida de um santo que considerado

protetor do povo negro

14

O RITO

Todo mundo espera chegou primeiro de Janeiro O reisado de santos reis eacute agrave

noite o de SAtildeO SEBASTIAtildeO eacute de dia Se noacutes cantamos em uma rua canta

de um lado ateacute o final depois passamos para o outro lado noacutes natildeo podemos

cruzar bandeira (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-14)

No primeiro dia (10 de janeiro) acontece uma reza nos salotildees de umbanda e tambeacutem

na igreja catolica essa praacutetica eacute realizada tanto por um grupo quanto pelo outro Quando os

foliotildees saem do salatildeo em cortejo vatildeo direto a igreja neste espaccedilo fazem vaacuterios pedidos e

rezas

Poreacutem dentro da igreja apenas as violas e gaitas satildeo ultilizadas para acompanhar o

louvor trovado agrave Satildeo Sebatiatildeo Pode ser pela amanhatilde ou agrave tarde para pedir proteccedilatildeo durante os

dias que os foliotildees percorrem em fazendas cidades vizinhas para depois que estiver faltando

uns quatro dias para vinte de Janeiro que eacute o dia de comemoraccedilatildeo a Satildeo Sebastiatildeo eles

retornam a Itagimirim Como foliatildeo do primeiro grupo de reisado o Sr Diomario relata o

trajeto do primeiro dia

Quando noacutes descemos da casa de Ceicinha no primeiro dia com a bandeira

noacutes vamos direto a igreja noacutes cantamos na igreja depois noacutes esparramamos

nos gerais esparramamos no mundo noacutes vai para casa do prefeito que eacute de

obrigaccedilatildeo ele receber a bandeira (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-14)

O primeiro grupo reisado segue a seguinte rota vatildeo para cidade de Itabepi onde satildeo

recebidos com muita festa pela populaccedilatildeo e governante local que disponibiliza uma pousada

para os foliotildees descasarem Depois de quatro dias cantando nesta cidade retornam a

Itagimirim cantam em diversas casas finalizando com a reza do terccedilo no oratoacuterio dentro do

salatildeo entre os dias 20 (vinte) para 21 (vinte e um) de janeiro A preparaccedilatildeo do foliatildeo para a

reza do terccedilo no uacuteltimo dia de Festejo eacute evidenciado pelo O Sr Diomario

15

No dia vinte noacutes estamos chegando em casa para poder descansar de meio

dia para tarde tomar banho ajeitar para a noite ter a reza de sete para oito

horas da noite a gente reza ai encerrou aquele reisado depois da reza acabou

mas se noacutes querer amanhecer o dia brincado pulando fazendo contra danccedila

tomando cachaccedila comendo tira gosto porque ela mata um boi para dar

despesa para os foliotildees dela e alguns visitantes que querem acompanhar (Sr

Diomaacuterio de Jesus 04-05-14)

O segundo grupo de Reisado apoacutes as rezas em seu salatildeo de umbanda tambeacutem seguem

com o cortejo para a igreja catoacutelica a bandeira do santo representando o martiacuterio e estaacute

sempre agrave frente do grupo Nenhum foliatildeo passa a frente da bandeira ficando atraacutes e se por

acaso necessitar passar na frente da bandeira logo eacute reverenciada pelos foliotildees colocando se

de joelho e beijando o manto sagrado

Essa praacutetica tambeacutem eacute abordada por Abreu (1999 p 48) na festa do divino Espiacuterito

santo a partir dos relatos do Escritor Thomas Ewbank ldquo[] que sempre estranhava nossos

haacutebitos beijando-se tambeacutem a bandeira ou melhor ldquoafundava-se o rosto em suas dobrasrdquo

para realizar a devoccedilatildeo e tanto fazia se fossem pessoas brancas ou negras []rdquo

Beijar a bandeira com a imagem de Satildeo Sebastiatildeo para um devoto que participa do

cortejo eacute uma forma de respeito que expressa agrave fidelidade ao santo onde seus pedidos foram

ouvidos e realizados uma relaccedilatildeo de proximidade e confianccedila na intercessatildeo do santo diante

do divino

Os foliotildees dizem que antes de iniciar o cortejo vatildeo a igreja catoacutelica pedir proteccedilatildeo

com a presenccedila ou natildeo do padre eles pedem licenccedila e entra na igreja entoando seus cacircnticos

uns ajoelham outros cantam com muita entonaccedilatildeo A Srordf Maria diz que sempre cantou na

igreja ldquoEu natildeo sei por que natildeo mas realmente quando a gente chega laacute tem vez que o padre

natildeo esta mais a gente canta eacute um direito nosso que ali eacute a casa de Deus casa nossa ali eacute

portas abertardquo

Santos (2010) ao analisar o catolicismo na cidade Maragogipe-Ba a partir do culto a

Satildeo Bartolomeu nos anos de 1851 a 1943 Destaca a seguinte informaccedilatildeo

No Brasil colonial as manifestaccedilotildees religiosas tinham como caracteriacutestica a

superficialidade constituindo-se como uma religiatildeo epideacutermica de fundo

emocional comprazendo-se nas exterioridades do culto mesmo sem

16

compreendecirc-lo e tomando um gosto de festa de reuniatildeo social sem aquela

convicccedilatildeo profunda nascida de uma interioridade forte e espiritualizada

Essa superficialidade fez-se notar pela enfaacutetica predominacircncia de ritos

externos pelo colorido e pompa das praacuteticas exteriores Tudo se fazia para

cultuar e homenagear os santos protetores No fundo uma religiatildeo

imediatista distante da ortodoxia (SANTOS 2010 P 63)

Neste sentido a igreja catoacutelica na cidade de Itagimirim natildeo participa diretamente das

homenagens ao santo cultuado por parte da populaccedilatildeo mas respeita o louvor a Satildeo Sebastiatildeo

que eacute manifestado pelos foliotildees atraveacutes de uma devoccedilatildeo desenvolvida por vaacuterias famiacutelias

contudo pode se perceber que alguns dos devotos satildeo frequumlentadores das missas dominicais e

que tambeacutem participam de muitos eventos promovidos pela igreja Couto (2004) ao investigar

os estudos sobre religiatildeo oficial e religiosidade popular abordou que

A partir da emergecircncia da espiritualidade laica no seacuteculo XIII o clero sentiu

a necessidade de falar a mesma liacutengua dos fieacuteis utilizar formas orais nas

liturgias ndash cantos e sermotildees ndash aceitar procissotildees e peregrinaccedilotildees a oratoacuterios

consagrados pelo povo e as funccedilotildees pagatildes atribuiacutedas aos santos (P 45)

Apoacutes o rito dentro da igreja os foliotildees entram em um carro geralmente alugado pela

dona do reisado passando por fazendas e chegando ao distrito de Gabiarra municiacutepio de

Eunaacutepolis retornando por Uniatildeo Bainana (distrito de Itagimirim-Ba) que faz divisa com o

estado de Minas Gerais

E concluem o cortejo dentro da cidade de Itagimirim passando em muitas residecircncias

No dia 19 (dezenove) agraves 18h00 (dezoito) realizam um jantar depois de muita contra danccedila

com as oitavas um roda de oito pessoas com instrumentos como gaitas bumba viola

pandeiro pratos de esmalte e palmas girando e passando um pelo o outro Depois das

brincadeiras fazem uma pausa para rezar o terccedilo dentro do oratoacuterio na passagem do dia 19

(dezenove) para 20 (vinte) de Janeiro

Os foliotildees percorrem a regiatildeo anunciando a boa nova um tempo de paz e alegria cada

pessoa que recebe esse cortejo fortalece sua feacute e de seus familiares O festejo representa um

ato de feacute para as pessoas que se juntam para agradecer pelas becircnccedilatildeos recebidas ao longo do

ano com esperanccedilas de dias melhores e sendo entrelaccediladas pelos festejos natalinos e todas as

expectativas para um novo ano

17

O festejo serve tambeacutem para pagar uma promessa ou mesmo para seguir a tradiccedilatildeo

aleacutem da questatildeo religiosa o festejo representa um sentimento de pertencimento e sociabilidade

para as pessoas que herdaram a devoccedilatildeo Segundo relata Edilece Souza

No entanto natildeo podemos perder de vista que o cristianismo inaugurou o

tempo lituacutergico baseado na historicidade de Jesus Cristo Dessa forma o

tempo festivo eacute repetido mas natildeo eacute imoacutevel nem imutaacutevel Apesar de se

revelar especial e diferente do calendaacuterio profano tambeacutem natildeo eacute um evento

isolado pois quebra o ritmo regular do cotidiano promove a sociabilidade e

o sentimento de pertencimento e identidade em um determinado grupo

social (COUTO 2008 P 2)

Nem todos os devoltos dos dois ternos de reisado vatildeo para os cortejos nas fazendas ou

para outras cidades alguns ficam nos salotildees de oraccedilotildees preparando as comidas e bebidas

organizando para a chegada e finalizaccedilatildeo do festejo segundo o Sr Diomario foliatildeo do

primeiro grupo de reisado satildeo poucas as pessoas que ficam a frente do cortejo

Mas os dela (foliotildees) satildeo oito macho e quatro fecircmea que satildeo de carregar a

bandeirae os machos para tocar os instrumentos pois cada um daqueles oito

tem os instrumento deles que domina que satildeo reco-reco pandeiro a caixa

era de Ceicinha o bunda eacute de quem saber bater que nem esse Neo era

bumbeiro nosso Neo batia bumba muito bem mas agora ficou o filho de

Ceicinha que eacute bumbeiro dela tambeacutem eacute isso (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-

14)

O individuos pertecente a um grupo desde o seu nascimento e no decorrer da vida vatildeo

aquirindo os usos haacutebitos alimentares vestimentas moradia objetos de pertecimento

ensiados pelas pessoas idosas que tem experiecircncia a religiosidade que vai sendo transmitida

de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo independe de tamanho e de grupo social ao qual estaacute inserido

Resultando em caracteriacutesticas peculiares ou a chamada memoacuteria comum do grupo para

Jacqueline Hermann (1997) chega-se ao ponto onde religiatildeo e religiosidade se cruzam

Quando o cortejo chega na porta de uma casa cantam um louvor para chamar atenccedilatildeo

do morador ldquoPorque vocecirc canta o Reis laacute fora e agradece dentro da casa o dono da casa abre

a porta vocecirc entra ai deu bom dia vocecirc louva o dono da casa e agradece o Reisrdquo isso que nos

relata o Sr Jonas Almeida de Castro Depois do lovour abre a porta dentro da residecircncia foi

observando que em um trecho do canto o devoltos obedecem a letra

18

Ajoelha pecadores

Potildee seu joelho no chatildeo

Para cobrir com a bandeira

Viva satildeo Sebastiatildeo

Essa bandeira me salva

Quando chegar laacute no ceacuteu

Alevanta pecador

Todo coberto de veacuteu 14

Sendo assim a bandeira eacute passada pela cabeccedila de todos os devotos que ajoelham

algumas pessoas beijam o manto outras se emocionam e agradecem Para Brandatildeo (2011 P

64) ldquo[] A festa eacute o momento de reconhecer que foram agraciados com uma benccedilatildeo e que eacute

preciso retribuir []rdquo A contra danccedila ndash uma muacutesica entoada cantado coisas do cotidiano para

os foliotildees saiacuterem da residecircncia como aborda o Sr Jonas Almeida de Castro (2014)

Convidei meus companheiros

para fazer sociedade

Para roubar dessa cigana

um amor da eternidade

O ciganhinha hora eacute hora

quem quiser comigo eacute hora

Agrave Deus ponta da areia

que laacute vai a cigana embora

A festa eacute uma forma de diversatildeo tatildeo especial para os foliotildees que toca os instrumentos

por prazer em estar festejando que apaga todo o cansaccedilo do corpo Brandatildeo (2011 P74)

afirma que ldquoApesar de a festa ser uma celebraccedilatildeo do cotidiano das sociedades ela representa uma

quebra nesse cotidiano quando as pessoas deixam suas atividades do dia- a- dia para se

dedicarem ao seu inversordquo

Dois foliotildees relataram duas situaccedilotildees envolvendo o cortejo de Satildeo Sebastiatildeo a

primeira foi quando uma senhora os convidou o terno de reis para entrar em sua residecircncia

muito humilde Poreacutem a dona da casa tinha apenas dois ovos de galinha para oferecer nesta

situaccedilatildeo um foliatildeo fez a doaccedilatildeo por ela e devolveu a oferta da senhora A outra situaccedilatildeo eacute

14 Nona e deacutecima estrofe do canto de chegada em louvor a Satildeo Sebastiatildeo entoado pelos foliotildees em Itagimirim-

Ba

19

quando uma fita da bandeira do santo cai dentro de uma casa eacute sinal de milagre concedido ao

morador como Aborda dona Srordf Alzira P de Souza

Olha se cair na casa da pessoa eacute para pegar e guardar ali eacute uma virtude que

esta deixando na casa da pessoa e uma forccedila que esta deixando ali na casa

da pessoa o santo deixou cai aquela fita ali para agradecer e recomendar o

dono da casa (Srordf Alzira Pereira de Souza 08-05-14)

Para muitos moradores essa fita eacute utilizada como remeacutedio quando um familiar sente

uma dor amarando no local essa recordaccedilatildeo eacute guardada como muita alegria

Quando o reisado chega em uma rua eles cantam de um lado e depois do outro a

bandeira indo por um canto natildeo pode voltar pelo mesmo lugar tem que seguir o giro o

caminho aberto A Srordf Maria C Rodrigues relata que ldquoquando passo numa casa e vejo a porta

fechada eu acho que a pessoa natildeo quer que eu paro ai a bandeira passa se pedir para voltar

a gente natildeo pode maisrdquo Hobsbawm (1997) dialoga que entende-se por ldquotradiccedilatildeo inventadardquo

um conjunto de praacuteticas normalmente reguladas por regras taacutecita ou abertamente aceitas ldquo[]

tais praacuteticas de natureza ritual ou simboacutelica visam inculcar certos valores e normas de

comportamento atraacuteves de repeticcedilatildeo o que implica automaticamente uma continuidade em

relaccedilatildeo ao passado []rdquo

Muitas festas foram apontadas por vaacuterios pesquisadores do periacuteodo colonial como

forma de fugas e rebeliotildees ou sendo para assumir uma identidade por determinados grupos

nesse contexto as festas natildeo satildeo vistas simplesmente como passivas mas como oportunidade

de romper com o cotidiano

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O trabalho realizado atraveacutes do festejo de Satildeo Sebastiatildeo em Itagimirim-Ba investigou

e analisou o surgimento da manifestaccedilatildeo religiosa de caraacuteter popular sendo renovada e

20

modificada com as migraccedilotildees de pessoas vindas de outros povoados e municiacutepios da regiatildeo

re-significando a tradiccedilatildeo e incorporando novas praacuteticas

A devoccedilatildeo dos foliotildees por um santo representa uma afirmaccedilatildeo de identidade

possibilitando novas relaccedilotildees entre os homens e o meio social ao qual estaacute inserido

Rememorar natildeo significa trazer de volta a festa do mesmo jeito que era outrora e sim

reafirmar e reconstruir novos haacutebitos

O festejo eacute um elemento que fez e faz parte da origem e desenvolvimento da cidade

pois seus habitantes fundadores jaacute traziam em suas memoacuterias essa forma de socializaccedilatildeo

religiosa Que tambeacutem se construiu como um escape para os longos dias de trabalhos

quebrando o ritmo do cotidiano A manifestaccedilatildeo de feacute eacute um espaccedilo de troca de saberes atraveacutes

das praacuteticas de alegria e devoccedilatildeo sendo um lugar de afirmaccedilatildeo de relaccedilotildees sociais ou criar

novos laccedilos de amizade o que fundamental para comunidade itagimiriense

REFEREcircNCIAS

ABREU Marta Cultura popular um conceito e vaacuterias histoacuterias In Ensino de Histoacuteria

conceitos temaacuteticas e metodologia Martha Abreu amp Rachel Sohiet (orgs) Rio de Janeiro

Casa da Palavra 2003

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BRANDAtildeO Alex Sandro da Conceiccedilatildeo Santos Reis Festa Poder e Memoacuteria (Governador

Mangabeira- BA 1970-2000) Artigo apresentado no X Encontro Nacional de Histoacuteria Oral

Recife 2010

21

BRANDAtildeO Alex Sandro da Conceiccedilatildeo Santos Reis festa poder e memoacuteria na comunidade

rural de aldeia (Governador Mangabeira- BA 1970-2000) Dissertaccedilatildeo apresentada ao

programa de poacutes-graduaccedilatildeo em histoacuteria regional e local da universidade do estado da

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BRITTO Larissa Novais Festa de Satildeo Benedito O Sagrado e o profano nas festas regiliosas

de origem africana em Porto Seguro-Ba Monografia apresentada a UNEB Eunaacutepolis 2009

CASTRO Jakson Viana de Educaccedilatildeo patrimonial um instrumento de ensino para Histoacuteria local

Monografia apresentada a UNEB Eunaacutepolis 2009

CHALHOUB Sidney Visotildees da liberdade uma histoacuteria das uacuteltimas deacutecadas da escravidatildeo

na Corte Sidney Chalhoub mdash Satildeo Paulo Companhia das Letras 2011

COUTO Edilece Souza Devoccedilotildees festas e ritos algumas consideraccedilotildees Revista Brasileira

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HERMANN Jacqueline Histoacuteria das religiotildees e religiosidades Domiacutenios da Historia

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organizadores Traduccedilatildeo Celina Cardim Cavalgante 2ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro 1997

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dia 06-05-12 agraves 13h00min

JANCSOacute Istvaacutem KANTOR Iris (orgs) Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica

Portuguesa Volume I Satildeo Paulo 2001

JANCSOacute Istvaacutenamp KANTOR Iris Festa Cultura e Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa (2

volumes) Satildeo Paulo Imprensa Oficial Hucitec Edusp Fapesp 2001

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Conceiccedilatildeo da Cachoeirinha do Baixo Jequitinhonhandash Brasiacutelia 2010

22

2 NASCIMENTO Mara Regina do Religiosidade e cultura popular Catolicismo

irmandades e tradiccedilotildees em movimento Revista da Catoacutelica Uberlacircndia v 1 n 2 p 119-130

2009 ndash catolicaonlinecom BR revista da catoacutelica

PORTELLI Alessandro Histoacuteria Oral e Poder Transcriccedilatildeo de Luiz Henrique dos Santos

Blume a partir do arquivo em aacuteudio wmp Traduccedilatildeo de Luiz Henrique dos Santos Blume e

Heliana de Barros Conde Rodrigues Mnemosine Vol6 nordm2 p 2-13 (2010) ndash Artigos

Conferecircncia no XXV Simpoacutesio Nacional da ANPUH Fortaleza 2009

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POLLAK Michel Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Conferecircncia foi transcrita e traduzida

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PIRES Flaacutevia A Festa de Satildeo Sebastiatildeo em Catingueira transformaccedilotildees e permanecircncias dez

anos depois Revista de antropologia Satildeo Paulo USP 2011 v 54 nordm 2 Artigo Recebido em

novembro de 2010 Aceito em julho de 2011

SOIHET Rachel Histoacuteria das mulheres Domiacutenios da Historia ensaios da teoria e

metodologias Ciro Flamrion Cardoso Ronaldo Vainfas (orgs) Rio de Janeiro Campus

1997

SANTANA Tacircnia de Devoccedilotildees catoacutelicas entre os negros na Bahia colonial Artigo

apresentado na participaccedilatildeo no evento Fala Professor em 250803 promovido pelo curso de

Histoacuteria das Faculdades Jorge Amado

SANTOS Fernanda reis dos ldquoa festa do excelso padroeiro da cidade das palmeirasrdquo o culto

a satildeo Bartolomeu em Maragogipe (1851-1943) dissertaccedilatildeo apresentada ao programa de poacutes-

graduaccedilatildeo em histoacuteria da faculdade de filosofia e ciecircncias humanas universidade federal da

Bahia Salvador 2010

VAINFAS Ronaldo Da festa tupinambaacute ao sabaacute tropical a catequese pelo avesso Istvaacutem

Jancsoacute Iris kantor (orgs)Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa Volume I

Satildeo Paulo 2001

Page 5: FESTEJOS DE SÃO SEBASTIÃO EM ITAGIMIRIM-BA ......1 FESTEJOS DE SÃO SEBASTIÃO EM ITAGIMIRIM-BA: Memória e História de Um Povo (1960- 1998) Jairo Viana de Castro1 INTRODUÇÃO

5

perderam a fazenda atraveacutes de um golpe quando seu primo a vendeu a propriedade

utilizando uma procuraccedilatildeo cedida a ele sendo obrigados a residir dentro da cidade

Antigamente era na fazenda pedreira o nome que dava onde mamatildee

comeccedilou o candombleacute Quando agente chegou aqui montou o terreirinho

dela aiacute veio para cidade em 62 quando Itagimirim jaacute era bem desenvolvida

e movimentada (Srordf Maria C Rodrigues 20-03-14)

Diante desse acontecimento e da mudanccedila de um lugar para o outro o festejo continua

sendo cultuado pelos devotos salientando que dentro do cenaacuterio urbano jaacute existia o culto ao

Padroeiro Satildeo Joatildeo Batista Poreacutem o festejo ao padroeiro antes da instalaccedilatildeo do padre era

desenvolvido o lado profano pela populaccedilatildeo que tinha maior participaccedilatildeo na montagem das

barracas para vender comidas tiacutepicas das festas juninas

Com a organizaccedilatildeo das cerimocircnias religiosa e profana como as quermesses e leilotildees

para arrecadar fundos para construccedilatildeo da igreja catoacutelica em 1963 pelo padre haacute um

afastamento da populaccedilatildeo que ganhava um dinheiro extra com o evento

Segundo Hobsbawm (1997 P 20) ldquoAntes de mais nada pode-se dizer que as tradiccedilotildees

inventadas satildeo sintomas importantes e portanto indicadores de problemas que de outra forma

poderiam natildeo ser detectadas nem localizadas no tempordquo

Portanto a manifestaccedilatildeo a Satildeo Sebastiatildeo ganha mais participantes principalmente

dentro da cidade fazendo um movimento contraacuterio no momento das celebraccedilotildees ao santo

pois antes as pessoas se deslocavam para zona rural Agora o povo das fazendas quem se

desloca para zona urbana O Sr Jonas A de Castro relata que na eacutepoca que chegou ao

municiacutepio itagimiriense em 1975 a praacutetica do reisado era desenvolvido por vaacuterios grupos

Quando eu cheguei ao municiacutepio existiam quatro grupos de reisado o de

Ceizinha o de Zeacute de Cabelatildeo o de Joaquim Teixeira e Otaciacutelio da Caccediloada

trecircs festejavam a Satildeo Sebastiatildeo e um a Santos Reis Eu participava dos dois

o de Otaciacutelio que festeja a Santos Reis ai eu participava com Joaquim

Teixeira que festejava a Satildeo Sebastiatildeo (Sr Jonas Almeida de Castro 30-05-

14)

O que se observa neste trecho descrito pelo Sr Jonas eacute o aumento de grupos de reisado

na localidade isto se deu devido agraves memoacuterias da populaccedilatildeo estar ligadas as folias de reisado

6

ou o proacuteprio culto a Satildeo Sebastiatildeo que eacute um santo de crendice popular que proteger contra a

fome guerra e afliccedilotildees principalmente neste municiacutepio empobrecido

Devido agrave quantidade de grupos e um nuacutemero pequeno de muacutesicos havia uma

disputa entre os grupos para atrair esses foliotildees tocadores com isso alguns liacutederes procuravam

agradar dividindo as esmolas e doaccedilotildees que eram arrecadadas no percurso do cortejo que

passava em residecircncias e casas comerciais

Oito homens e quatro mulheres que estatildeo diretamente responsaacuteveis pelos os cantos

manusear os instrumentos e na maioria das vezes apenas as mulheres quem carrega a bandeira

de Satildeo Sebastiatildeo As folias do divino Espiacuterito Santo sobre as descriccedilotildees de Thomas Ewbank

em 1846 um escritor e desenhista de Nova York destaca que a praacutetica de pedir esmolas eacute

fundamental para o desenvolvimento dos festejos Abreu concluiu que

O haacutebito de se pedirem esmolas era muito comum desde o periacuteodo colonial e

tinha como objetivo a reuniatildeo para as festas das irmandades ou para o

financiamento dos benefiacutecios aos irmatildeos carentes como indicam os vaacuterios

anuacutencios de festas No caso das folias do Divino conta Ewbank os irmatildeos

nem precisavam bater de porta em porta porque a muacutesica por si soacute jaacute atraiacutea

todos agrave rua Pela descriccedilatildeo deste viajante norte-americano se todas as

classes contribuiacuteam com donativos as irmandades do Espiacuterito Santo

pareciam distinguir-se entre si pela riqueza A da Lapa por exemplo

contratava barbeiros brancos haacutebeis tocadores de clarim e violinistas que

ofereciam seus serviccedilos por um preccedilo mais elevado (ABREU 1999 P 51)

Com essa descriccedilatildeo e anaacutelise da autora se percebeu que essas praacuteticas estatildeo presentes

nos festejos em homenagem a Satildeo Sebastiatildeo em Itagimirim desde a contrataccedilatildeo dos foliotildees

tocadores ateacute o cortejo de casa em casa em que ganham donativos Esta situaccedilatildeo estaacute evidente

no canto de chegada no seguinte trecho

Eacute filho de um homem nobre

Ele estaacute lhe pedido uma esmola

Natildeo eacute por ganhar dinheiro

Mas pra cumprir uma promessa

No dia 20 de janeiro 8

8 Parte do quinto trecho do canto de chegada que louva a Satildeo Sebastiatildeo entoado pelos foliotildees na cidade de

Itagimirim-Ba

7

Eis o poder da memoacuteria oral aonde essas praacuteticas vem sendo seguidas desde a eacutepoca

colonial chegando ateacute o periacuteodo analisado do trabalho em estudo com algumas mudanccedilas

mas mantendo uma continuidade na maneira de homenagear ao santo intercessor

Alessandro Portelli (2009) dialoga sobre a valorizaccedilatildeo da memoacuteria a partir da oralidade onde

as trajetoacuterias de vidas dos excluiacutedos devem ser relatadas e conhecidas por todas as esferas

sociais

Com frequecircncia se diz que na Histoacuteria Oral damos voz aos sem voz Natildeo eacute

assim Se natildeo tivessem voz natildeo teriacuteamos nada a gravar natildeo teriacuteamos nada a

escutar Os excluiacutedos os marginalizados os sem-poder sim tem voz mas

natildeo haacute ningueacutem que os escute Essa voz estaacute incluiacuteda num espaccedilo limitado

O que fazemos eacute recolher essa voz amplificaacute-la e levaacute-la ao espaccedilo puacuteblico

do discurso e da palavra Isso eacute um trabalho poliacutetico porque tem a ver natildeo soacute

com o direito agrave palavra o direito baacutesico de falar mas com o direito de falar e

de que se faccedila caso de falar e ser ouvido ser escutado de ter um papel no

discurso puacuteblico e nas instituiccedilotildees poliacuteticas na democracia (PORTELLI

2009 P2)

A devoccedilatildeo ao santo na cidade de Itagimirim corresponde agrave trajetoacuteria de vida do

maacutertir que lutou contra as afliccedilotildees impostas aos cristatildeos pelo impeacuterio romano devido agrave dura

realidade financeira vivida pela populaccedilatildeo Salomatildeo (2008) descreve que

Satildeo Sebastiatildeo eacute um maacutertir cristatildeo elevado a condiccedilatildeo de santo pela devoccedilatildeo

popular A tradiccedilatildeo cristatilde afirma que o maacutertir foi assassinado em 20 de

janeiro de 288 em Roma () Sua proteccedilatildeo eacute evocada para deter as guerras

a fome e epidemias No candombleacute haacute referecircncias de sua associaccedilatildeo a

Oxoacutessi divindade guerreira que o sincretismo religioso relacionava na Bahia

a Satildeo Jorge (SALOMAtildeO 2008 p87)

Ter um santo para interceder sobre suas necessidades fiacutesicas e espirituais eacute significante

para o povo pois suas afliccedilotildees poderiam ser resolvidas junto ao divino atraveacutes da feacute

Contudo no decorrer dos anos alguns grupos vatildeo desaparecendo seja por morte do liacuteder ou

por questotildees financeiras

Fotografia -5

8

Foto cedida pela Srordf Alzira Pereira de Souza do arquivo familiar fotoacutegrafo desconhecido Ano 1972

Nesta imagem se pode verificar o Sr Joaquim Teixeira (jaacute falecido) que estaacute atraacutes e no

lado direito da porta bandeira com seu grupo de Reisado os seus foliotildees vestido de branco e

vermelho poreacutem ele nos cortejos estava sempre com seu vestuaacuterio branco que relatava ser

sua devoccedilatildeo Outro aspecto visiacutevel na populaccedilatildeo itagimiriense satildeo seus traccedilos com diversos

grupos eacutetnicos que habitavam a regiatildeo

O que se concluiu em relaccedilatildeo ao outro grupo e seu desaparecimento estatildeo

relacionados com questotildees financeiras pois muitos habitantes deixaram a cidade para

procurar melhores condiccedilotildees de vida nos grandes centros urbanos

OS FOLIOtildeES E O ESPACcedilO SACRALIZADO

As festas de Satildeo Joatildeo foram sempre diferentes do reisado que todo ano tem

o reisado de SAtildeO SEBASTIAtildeO comeccedila do dia primeiro de janeiro que o

primeiro reis eacute Santo Reis (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-14)

Os foliotildees representam uma manifestaccedilatildeo de feacute em movimento poreacutem enquanto estaacute

festejando em uma residecircncia aquele espaccedilo eacute sacralizado pelos que compartilham com o

festejo a bandeira com a imagem do santo representa o martiacuterio a santificaccedilatildeo a interseccedilatildeo

9

para aqueles que sofrem com as condiccedilotildees de vidas precaacuterias a fome a peste e as afliccedilotildees

sendo descriminados por expressarem seu sentimento religioso

No festejo de Satildeo Sebastiatildeo eacute possiacutevel ver elementos do sagrado e do profano No

entanto o espaccedilo sagrado eacute delimitado Segundo Edilece Souza eacute preciso criar limites entre os

espaccedilos sagrado e profano9

No entanto eacute necessaacuterio sacralizar o espaccedilo para que ele seja habitado E por

isso procura-se um eixo um centro de orientaccedilatildeo que pode ser um templo

o local ou o altar de sacrifiacutecio de um animal cruz poste ou mastro escada

aacutervore ou montanha Qualquer um desses elementos marca o limiar entre o

sagrado e o profano e torna-se o eixo de ligaccedilatildeo entre o ceacuteu a terra e o

mundo inferior (COUTO 2008 p1)

As muacutesicas iniciam-se quando os foliotildees chegam agrave casa de uma pessoa eacute em forma de

louvor onde o dono da residecircncia espera o teacutermino da canccedilatildeo para abrir a porta e oferecer a

sua casa como salatildeo de reza e brincadeira

A letra da muacutesica para sair de uma casa eacute em forma profana ou mesmo uma

contradanccedila que canta os acontecimentos do cotidiano familiar e do trabalho representa uma

forma de socializaccedilatildeo entre familiares amigos e conhecidos festejados do dia 10 aacute 20 de

janeiro que o aacutepice da festa

No canto em louvor10 ao Satildeo Sebastiatildeo pode-se identificar em alguns trechos a ligaccedilatildeo

dos devotos com o Santo

Eacute filho de um homem nobre

Ele estaacute lhe pedido uma esmola

Natildeo eacute por ganhar dinheiro

Mas pra cumprir uma promessa

No dia 20 de janeiro

Vocecirc jaacute pagou sua esmola

Cada um da o que pode

Vocecirc jaacute pagou sua esmola

Deus lhe dar merecimento

9 COUTO Edilece Souza DEVOCcedilOtildeES FESTAS E RITOS ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeE Revista Brasileira de

Histoacuteria das Religiotildees ndash Ano I no 1 ndash Dossiecirc Identidades Religiosas e Histoacuteria 10 O canto da Chegada em homenagem ao Santo SAtildeO SEBASTIAtildeO eacute entoado quando os foliotildees de Itagimirim-

Ba chegam agrave porta de uma residecircncia para Louvar A letra eacute cantada por todos os grupos que existiram e existe

na localidade natildeo se sabe quem eacute o verdadeiro autor No final da entrevista com Sr Jonas Almeida de Castro

cantou um trecho no entanto veio o interesse de transcrever e analisar alguns trecho na letra do canto

10

Deus lhe dar chuva santa

Para molhar seu mantimento

Viva Satildeo Sebastiatildeo

Ele chegou aqui

Quem tem promessa com ele

Ta na hora de cumprir

Viva Satildeo Sebastiatildeo

Eacute um santo de alegria

Quem tem saudade dele

Vai agrave reza do seu dia 11

Neste sentido o significado da muacutesica que os foliotildees cantam ao chegar a uma casa eacute

ldquopara louvar o dono da casa porque vocecirc cantar o Reis laacute fora e agradece dentro da casa

poreacutem a contra danccedila eacute uma musica entoadardquo isso que evidencia o Sr Jonas A de Castro (30-

05-14)

Sendo assim o festejo acontece nas casas das pessoas que compartilham com a devoccedilatildeo

a Satildeo Sebastiatildeo onde se reuacutenem com alegria dentre eles idosos crianccedilas jovens homens e

mulheres tendo momentos de oraccedilatildeo de comer de beber e festejar desde que a noite

chegava ateacute quando a noite desaparecia em belos raios de sol o local na muitas das vezes natildeo

eacute fixo passava de casa em casa dos que compartilhavam com a tradiccedilatildeo

Esse cortejo visita todas as casas do lugar que rezavam em forma musical com

instrumentos como gaitas caixas bumbas e violas maneira utilizada na maioria das festas e

festejos populares Os foliotildees do primeiro grupo de reisado trazem em suas memoacuterias um

milagre que foi atendido pelo santo que segundo Srordf Maria C Rodrigues um acontecimento

coletivo estabelece a devoccedilatildeo por Satildeo Sebastiatildeo

Minha matildee era professora e costureira laacute em Cachoeirinha (comunidade

desenvolvida na beira do rio Jequitinhonha) meu pai era canoeiro vendedor

ambulante em 1951 eu tinha um ano de idade eu natildeo lembro mas meus pais

contavam meu pai saia de Cachoeirinha para vim comprar farinha teve um

ano que ficou conhecido como o ano da fome que a seca foi tanta que natildeo

tinha como se achar o que comer Meu pai passa em Itagimirim que soacute

estava comeccedilando tinha aquela pracinha ali que hoje eacute a Castro Alves Soacute

tinha poucas casinhas ele vinha laacute de Gabiarra-Ba acampava aqui desde

11 Eacute o quinto sexto seacutetimo e oitavo trecho do canto de chegada em Louvor a Satildeo Sebastiatildeo entoado pelos

foliotildees da cidade de Itagimirim-Ba Letra relatada pelo Sr Jonas Almeida de Castro (30-05-14)

11

dessa eacutepoca eu com um ano de idade jaacute participo da histoacuteria de Itagimirim-

Ba Ele acampava aqui para trazer mantimento tinha um barracatildeo grande em

Cachoeirinha laacute ele leva as coisas comprava gado era magarefe ele servia

praticamente essa regiatildeo daqui todinha era meu pai trabalhava vendendo

coisa ambulante com as tropas que antigamente natildeo tinha carro eram tropas

34 5 6 burros Com aqueles caccediloar que hoje ainda existe em muito lugar

trazendo coisa para manter a regiatildeo Foi uma fome muito grande e nessa

eacutepoca Satildeo Sebastiatildeo junto com Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo eram padroeiro

de Cachoeirinha e todo mundo fazia promessa com ele pedindo chuva Que

levou um ano sem chover na regiatildeo na eacutepoca todo mundo carregava pedra

na cabeccedila para botar no cruzeiro da igreja de nossa senhora da Conceiccedilatildeo

para fazer penitecircncia como era chamado antigamente para pedir ao santo que

chovesse foi um ano de sofrimento quando levantou esse povo e fez essa

promessa foi quando surgiu a primeira festa a Satildeo Sebastiatildeo Quando choveu

todo mundo saiu de vermelho e branco homenageando a ele que a minha

folia ateacute hoje todos se vestem de vermelho e branco por causa dessa fome

que foi demais aqui na regiatildeo (Srordf Maria C Rodrigues 20-03-14)

Foi atraveacutes desse ritual que se constituiu a memoacuteria coletiva dessa populaccedilatildeo esse

acontecimento que fez desenvolver a religiosidade cultural Michel Pollak (1988 p 2) ao

analisar a memoacuteria como identidade social reflete que ldquo[] Eacute perfeitamente possiacutevel que por

meio da socializaccedilatildeo poliacutetica ou da socializaccedilatildeo histoacuterica ocorra um fenocircmeno de projeccedilatildeo

ou de identificaccedilatildeo com determinado passado tatildeo forte que podemos falar numa memoacuteria

quase que herdadardquo

Alguns habitantes de Cachoeirinha ao migrarem para a comunidade Itagimiriense

como no caso do primeiro grupo de reisado de religiatildeo Umbanda que montam seu terreiro em

sua fazenda nas proximidades de Itagimirim trazem o cortejo como uma forma de devoccedilatildeo e

tornando tambeacutem um espaccedilo de socializaccedilatildeo

Onde a maioria dos foliotildees relatou que essas praacuteticas de reisado e devoccedilatildeo a Satildeo

Sebastiatildeo esta relacionada com a histoacuteria de suas famiacutelias ligadas a acontecimentos como

Promessas milagres um momento difiacutecil ou alegrias e brincadeiras Hobsbawm (1997 p21)

afirma que ldquo[] o estudos dessas tradiccedilotildees esclarece bastante as relaccedilotildees humanas com seu

passado []rdquo

Entre costureiras vaqueiros pedreiros vendedores ambulantes accedilougueiros

professoras de primaacuterio e pessoas de pouca leitura mas de uma feacute grandiosa que faziam da

relaccedilatildeo com o ambiente uma forma de sobrevivecircncia e ligaccedilatildeo com o divino mesmo com

12

aacuterduo labor no campo essa relaccedilatildeo entre homem e divindade pode ser percebido no trecho do

canto de chegada

Deus lhe dar merecimento

Deus lhe dar chuva santa

Para molhar seu mantimento 12

Para a cidade que desenvolve a religiosidade popular foi um fator de extrema

importacircncia pois a relaccedilatildeo social do povo atraveacutes dos festejos tornou-se uma expressatildeo

devocional de identificaccedilatildeo entre eles No entanto as experiecircncias culturais Segundo Abreu

(2003 p 94-95) ldquo[] pode tambeacutem estimular a criaccedilatildeo de identidades sociais culturais e

viacutenculos duradouros entre grupos de reconhecida expressatildeo cultural ou religiosa como por

exemplo as escolas de samba os grupos que organizam folias de reis e congadasrdquo Para as

duas senhoras que tem centros de Umbanda em Itagimirim eacute uma missatildeo a seguir pois estaacute

ligado a uma promessa familiar e o compromisso passado a elas

O festejo criou viacutenculos duradouros entre os participantes pois suas expressotildees de feacute

estatildeo relacionadas no cotidiano familiar e por meio do lugar onde se encontram e

desenvolveu uma organizaccedilatildeo social que ao longo dos anos constituiu grupos distintos

Segundo Abreu (1999) ldquoatraveacutes das festas pode-se conhecer melhor a coletividaderdquo e com

isso quais indiviacuteduos que se relacionam com religiosidade popular

No entanto o que se discute neste trabalho eacute a festa enquanto espaccedilo de sociabilidade

a partir de uma memoacuteria coletiva e individual no espaccedilo social onde esta produccedilatildeo do

cotidiano ganha significado e que agrega valores entre o profano e o sagrado Sendo que estes

acontecimentos quebram o ritmo do cotidiano e estatildeo fixos dentro do calendaacuterio devocional

festivos das comunidades que desenvolvem os rituais

Os foliotildees no mecircs de janeiro quando saem agraves ruas apropriam dos espaccedilos puacuteblicos

festejando durante o dia eles mostram suas tradiccedilotildees para a populaccedilatildeo os indiviacuteduos ao

escrever suas tradiccedilotildees nos espaccedilos histoacutericos da cidade estatildeo demonstrando o seu lugar social

que segundo Larissa Novais Britto (2009)13

12 Parte do sexto trecho do canto de chegada que louva a Satildeo Sebastiatildeo entoado pelos foliotildees na cidade de

Itagimirim-Ba 13 A festa de Satildeo Benedito eacute um evento dinacircmico que eacute reinventado e reformulado atraveacutes de celebraccedilotildees

anuais descrito no trabalho monograacutefico de Larissa Novais Britto a festa se organiza no interior de uma

13

Nos dias da festa os negros saem do anonimato e assumem lugar de

destaque na cena urbana e promovem uma ruptura com a rotina cotidiana

extremamente marcada pela submissatildeo Ao danccedilar e cantar para seu santo

os festeiros revivem a liccedilotildees de seus ancestrais e revertem

momentaneamente o lugar secundaacuterio que ocupam na hierarquia do poder

local ( BRITTO 2009 p 9 )

Ao entrevistar as pessoas dessa comunidade que traz em suas memoacuterias um periacuteodo de

muitas recordaccedilotildees do tempo festivo no qual o homem rural criava seus modos de

sociabilidade atraveacutes de praacuteticas e instrumentos simples que faziam parte do seu cotidiano

Uma maneira de cultuar ao santo de forma direta atraveacutes de brincadeiras rezas

demonstraccedilotildees de feacute que tinha um grande significado diante de toda a expectativa para um

novo ano

Mediante a esses costumes e tradiccedilotildees que contribuem para o desenvolvimento da

localidade que teve avanccedilos permitindo que novos elementos fossem inseridos na festividade

Ao analisar a festa a Santos Reis na comunidade de aldeia com o processo de modernizaccedilatildeo

do lugar com a chegada da luz eleacutetrica que deu outros rumos ao ritual festivo apropriando de

outras caracteriacutesticas Brandatildeo (2010 P7) afirma que ldquo[] A festa em louvor a Santos Reis

esta viva justamente pela sua capacidade de se reinventar e natildeo pelo apego a uma praacutetica

ritualiacutestica congelada no tempordquo

A manifestaccedilatildeo de feacute eacute um espaccedilo de troca de saberes atraveacutes das praacuteticas culturais

seja no movimento das danccedilas ou manuseio dos instrumentos com muita alegria e devoccedilatildeo

sendo tambeacutem um lugar de afirmaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais

A festa eacute repleta de interesses e significados disfarccedilados Segundo Guarinello (2001

p974) ldquo[] o sentido da festa eacute portanto da identidade que propotildee e produz depende sempre

dos participantes eventuais ou desejados cuja presenccedila e envolvimento determinam o

sucesso e o significado uacuteltimo de qualquer festa []rdquo

Assim se constituiu a relaccedilatildeo existente entre os foliotildees e devotos Habitantes de um

espaccedilo rural e urbano que no periacuteodo do festejo migram de um local a outro levando a boa

nova atraveacutes do cortejo ao santo

irmandade religiosa e em funccedilatildeo de um mito fundador que remete a histoacuteria de vida de um santo que considerado

protetor do povo negro

14

O RITO

Todo mundo espera chegou primeiro de Janeiro O reisado de santos reis eacute agrave

noite o de SAtildeO SEBASTIAtildeO eacute de dia Se noacutes cantamos em uma rua canta

de um lado ateacute o final depois passamos para o outro lado noacutes natildeo podemos

cruzar bandeira (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-14)

No primeiro dia (10 de janeiro) acontece uma reza nos salotildees de umbanda e tambeacutem

na igreja catolica essa praacutetica eacute realizada tanto por um grupo quanto pelo outro Quando os

foliotildees saem do salatildeo em cortejo vatildeo direto a igreja neste espaccedilo fazem vaacuterios pedidos e

rezas

Poreacutem dentro da igreja apenas as violas e gaitas satildeo ultilizadas para acompanhar o

louvor trovado agrave Satildeo Sebatiatildeo Pode ser pela amanhatilde ou agrave tarde para pedir proteccedilatildeo durante os

dias que os foliotildees percorrem em fazendas cidades vizinhas para depois que estiver faltando

uns quatro dias para vinte de Janeiro que eacute o dia de comemoraccedilatildeo a Satildeo Sebastiatildeo eles

retornam a Itagimirim Como foliatildeo do primeiro grupo de reisado o Sr Diomario relata o

trajeto do primeiro dia

Quando noacutes descemos da casa de Ceicinha no primeiro dia com a bandeira

noacutes vamos direto a igreja noacutes cantamos na igreja depois noacutes esparramamos

nos gerais esparramamos no mundo noacutes vai para casa do prefeito que eacute de

obrigaccedilatildeo ele receber a bandeira (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-14)

O primeiro grupo reisado segue a seguinte rota vatildeo para cidade de Itabepi onde satildeo

recebidos com muita festa pela populaccedilatildeo e governante local que disponibiliza uma pousada

para os foliotildees descasarem Depois de quatro dias cantando nesta cidade retornam a

Itagimirim cantam em diversas casas finalizando com a reza do terccedilo no oratoacuterio dentro do

salatildeo entre os dias 20 (vinte) para 21 (vinte e um) de janeiro A preparaccedilatildeo do foliatildeo para a

reza do terccedilo no uacuteltimo dia de Festejo eacute evidenciado pelo O Sr Diomario

15

No dia vinte noacutes estamos chegando em casa para poder descansar de meio

dia para tarde tomar banho ajeitar para a noite ter a reza de sete para oito

horas da noite a gente reza ai encerrou aquele reisado depois da reza acabou

mas se noacutes querer amanhecer o dia brincado pulando fazendo contra danccedila

tomando cachaccedila comendo tira gosto porque ela mata um boi para dar

despesa para os foliotildees dela e alguns visitantes que querem acompanhar (Sr

Diomaacuterio de Jesus 04-05-14)

O segundo grupo de Reisado apoacutes as rezas em seu salatildeo de umbanda tambeacutem seguem

com o cortejo para a igreja catoacutelica a bandeira do santo representando o martiacuterio e estaacute

sempre agrave frente do grupo Nenhum foliatildeo passa a frente da bandeira ficando atraacutes e se por

acaso necessitar passar na frente da bandeira logo eacute reverenciada pelos foliotildees colocando se

de joelho e beijando o manto sagrado

Essa praacutetica tambeacutem eacute abordada por Abreu (1999 p 48) na festa do divino Espiacuterito

santo a partir dos relatos do Escritor Thomas Ewbank ldquo[] que sempre estranhava nossos

haacutebitos beijando-se tambeacutem a bandeira ou melhor ldquoafundava-se o rosto em suas dobrasrdquo

para realizar a devoccedilatildeo e tanto fazia se fossem pessoas brancas ou negras []rdquo

Beijar a bandeira com a imagem de Satildeo Sebastiatildeo para um devoto que participa do

cortejo eacute uma forma de respeito que expressa agrave fidelidade ao santo onde seus pedidos foram

ouvidos e realizados uma relaccedilatildeo de proximidade e confianccedila na intercessatildeo do santo diante

do divino

Os foliotildees dizem que antes de iniciar o cortejo vatildeo a igreja catoacutelica pedir proteccedilatildeo

com a presenccedila ou natildeo do padre eles pedem licenccedila e entra na igreja entoando seus cacircnticos

uns ajoelham outros cantam com muita entonaccedilatildeo A Srordf Maria diz que sempre cantou na

igreja ldquoEu natildeo sei por que natildeo mas realmente quando a gente chega laacute tem vez que o padre

natildeo esta mais a gente canta eacute um direito nosso que ali eacute a casa de Deus casa nossa ali eacute

portas abertardquo

Santos (2010) ao analisar o catolicismo na cidade Maragogipe-Ba a partir do culto a

Satildeo Bartolomeu nos anos de 1851 a 1943 Destaca a seguinte informaccedilatildeo

No Brasil colonial as manifestaccedilotildees religiosas tinham como caracteriacutestica a

superficialidade constituindo-se como uma religiatildeo epideacutermica de fundo

emocional comprazendo-se nas exterioridades do culto mesmo sem

16

compreendecirc-lo e tomando um gosto de festa de reuniatildeo social sem aquela

convicccedilatildeo profunda nascida de uma interioridade forte e espiritualizada

Essa superficialidade fez-se notar pela enfaacutetica predominacircncia de ritos

externos pelo colorido e pompa das praacuteticas exteriores Tudo se fazia para

cultuar e homenagear os santos protetores No fundo uma religiatildeo

imediatista distante da ortodoxia (SANTOS 2010 P 63)

Neste sentido a igreja catoacutelica na cidade de Itagimirim natildeo participa diretamente das

homenagens ao santo cultuado por parte da populaccedilatildeo mas respeita o louvor a Satildeo Sebastiatildeo

que eacute manifestado pelos foliotildees atraveacutes de uma devoccedilatildeo desenvolvida por vaacuterias famiacutelias

contudo pode se perceber que alguns dos devotos satildeo frequumlentadores das missas dominicais e

que tambeacutem participam de muitos eventos promovidos pela igreja Couto (2004) ao investigar

os estudos sobre religiatildeo oficial e religiosidade popular abordou que

A partir da emergecircncia da espiritualidade laica no seacuteculo XIII o clero sentiu

a necessidade de falar a mesma liacutengua dos fieacuteis utilizar formas orais nas

liturgias ndash cantos e sermotildees ndash aceitar procissotildees e peregrinaccedilotildees a oratoacuterios

consagrados pelo povo e as funccedilotildees pagatildes atribuiacutedas aos santos (P 45)

Apoacutes o rito dentro da igreja os foliotildees entram em um carro geralmente alugado pela

dona do reisado passando por fazendas e chegando ao distrito de Gabiarra municiacutepio de

Eunaacutepolis retornando por Uniatildeo Bainana (distrito de Itagimirim-Ba) que faz divisa com o

estado de Minas Gerais

E concluem o cortejo dentro da cidade de Itagimirim passando em muitas residecircncias

No dia 19 (dezenove) agraves 18h00 (dezoito) realizam um jantar depois de muita contra danccedila

com as oitavas um roda de oito pessoas com instrumentos como gaitas bumba viola

pandeiro pratos de esmalte e palmas girando e passando um pelo o outro Depois das

brincadeiras fazem uma pausa para rezar o terccedilo dentro do oratoacuterio na passagem do dia 19

(dezenove) para 20 (vinte) de Janeiro

Os foliotildees percorrem a regiatildeo anunciando a boa nova um tempo de paz e alegria cada

pessoa que recebe esse cortejo fortalece sua feacute e de seus familiares O festejo representa um

ato de feacute para as pessoas que se juntam para agradecer pelas becircnccedilatildeos recebidas ao longo do

ano com esperanccedilas de dias melhores e sendo entrelaccediladas pelos festejos natalinos e todas as

expectativas para um novo ano

17

O festejo serve tambeacutem para pagar uma promessa ou mesmo para seguir a tradiccedilatildeo

aleacutem da questatildeo religiosa o festejo representa um sentimento de pertencimento e sociabilidade

para as pessoas que herdaram a devoccedilatildeo Segundo relata Edilece Souza

No entanto natildeo podemos perder de vista que o cristianismo inaugurou o

tempo lituacutergico baseado na historicidade de Jesus Cristo Dessa forma o

tempo festivo eacute repetido mas natildeo eacute imoacutevel nem imutaacutevel Apesar de se

revelar especial e diferente do calendaacuterio profano tambeacutem natildeo eacute um evento

isolado pois quebra o ritmo regular do cotidiano promove a sociabilidade e

o sentimento de pertencimento e identidade em um determinado grupo

social (COUTO 2008 P 2)

Nem todos os devoltos dos dois ternos de reisado vatildeo para os cortejos nas fazendas ou

para outras cidades alguns ficam nos salotildees de oraccedilotildees preparando as comidas e bebidas

organizando para a chegada e finalizaccedilatildeo do festejo segundo o Sr Diomario foliatildeo do

primeiro grupo de reisado satildeo poucas as pessoas que ficam a frente do cortejo

Mas os dela (foliotildees) satildeo oito macho e quatro fecircmea que satildeo de carregar a

bandeirae os machos para tocar os instrumentos pois cada um daqueles oito

tem os instrumento deles que domina que satildeo reco-reco pandeiro a caixa

era de Ceicinha o bunda eacute de quem saber bater que nem esse Neo era

bumbeiro nosso Neo batia bumba muito bem mas agora ficou o filho de

Ceicinha que eacute bumbeiro dela tambeacutem eacute isso (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-

14)

O individuos pertecente a um grupo desde o seu nascimento e no decorrer da vida vatildeo

aquirindo os usos haacutebitos alimentares vestimentas moradia objetos de pertecimento

ensiados pelas pessoas idosas que tem experiecircncia a religiosidade que vai sendo transmitida

de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo independe de tamanho e de grupo social ao qual estaacute inserido

Resultando em caracteriacutesticas peculiares ou a chamada memoacuteria comum do grupo para

Jacqueline Hermann (1997) chega-se ao ponto onde religiatildeo e religiosidade se cruzam

Quando o cortejo chega na porta de uma casa cantam um louvor para chamar atenccedilatildeo

do morador ldquoPorque vocecirc canta o Reis laacute fora e agradece dentro da casa o dono da casa abre

a porta vocecirc entra ai deu bom dia vocecirc louva o dono da casa e agradece o Reisrdquo isso que nos

relata o Sr Jonas Almeida de Castro Depois do lovour abre a porta dentro da residecircncia foi

observando que em um trecho do canto o devoltos obedecem a letra

18

Ajoelha pecadores

Potildee seu joelho no chatildeo

Para cobrir com a bandeira

Viva satildeo Sebastiatildeo

Essa bandeira me salva

Quando chegar laacute no ceacuteu

Alevanta pecador

Todo coberto de veacuteu 14

Sendo assim a bandeira eacute passada pela cabeccedila de todos os devotos que ajoelham

algumas pessoas beijam o manto outras se emocionam e agradecem Para Brandatildeo (2011 P

64) ldquo[] A festa eacute o momento de reconhecer que foram agraciados com uma benccedilatildeo e que eacute

preciso retribuir []rdquo A contra danccedila ndash uma muacutesica entoada cantado coisas do cotidiano para

os foliotildees saiacuterem da residecircncia como aborda o Sr Jonas Almeida de Castro (2014)

Convidei meus companheiros

para fazer sociedade

Para roubar dessa cigana

um amor da eternidade

O ciganhinha hora eacute hora

quem quiser comigo eacute hora

Agrave Deus ponta da areia

que laacute vai a cigana embora

A festa eacute uma forma de diversatildeo tatildeo especial para os foliotildees que toca os instrumentos

por prazer em estar festejando que apaga todo o cansaccedilo do corpo Brandatildeo (2011 P74)

afirma que ldquoApesar de a festa ser uma celebraccedilatildeo do cotidiano das sociedades ela representa uma

quebra nesse cotidiano quando as pessoas deixam suas atividades do dia- a- dia para se

dedicarem ao seu inversordquo

Dois foliotildees relataram duas situaccedilotildees envolvendo o cortejo de Satildeo Sebastiatildeo a

primeira foi quando uma senhora os convidou o terno de reis para entrar em sua residecircncia

muito humilde Poreacutem a dona da casa tinha apenas dois ovos de galinha para oferecer nesta

situaccedilatildeo um foliatildeo fez a doaccedilatildeo por ela e devolveu a oferta da senhora A outra situaccedilatildeo eacute

14 Nona e deacutecima estrofe do canto de chegada em louvor a Satildeo Sebastiatildeo entoado pelos foliotildees em Itagimirim-

Ba

19

quando uma fita da bandeira do santo cai dentro de uma casa eacute sinal de milagre concedido ao

morador como Aborda dona Srordf Alzira P de Souza

Olha se cair na casa da pessoa eacute para pegar e guardar ali eacute uma virtude que

esta deixando na casa da pessoa e uma forccedila que esta deixando ali na casa

da pessoa o santo deixou cai aquela fita ali para agradecer e recomendar o

dono da casa (Srordf Alzira Pereira de Souza 08-05-14)

Para muitos moradores essa fita eacute utilizada como remeacutedio quando um familiar sente

uma dor amarando no local essa recordaccedilatildeo eacute guardada como muita alegria

Quando o reisado chega em uma rua eles cantam de um lado e depois do outro a

bandeira indo por um canto natildeo pode voltar pelo mesmo lugar tem que seguir o giro o

caminho aberto A Srordf Maria C Rodrigues relata que ldquoquando passo numa casa e vejo a porta

fechada eu acho que a pessoa natildeo quer que eu paro ai a bandeira passa se pedir para voltar

a gente natildeo pode maisrdquo Hobsbawm (1997) dialoga que entende-se por ldquotradiccedilatildeo inventadardquo

um conjunto de praacuteticas normalmente reguladas por regras taacutecita ou abertamente aceitas ldquo[]

tais praacuteticas de natureza ritual ou simboacutelica visam inculcar certos valores e normas de

comportamento atraacuteves de repeticcedilatildeo o que implica automaticamente uma continuidade em

relaccedilatildeo ao passado []rdquo

Muitas festas foram apontadas por vaacuterios pesquisadores do periacuteodo colonial como

forma de fugas e rebeliotildees ou sendo para assumir uma identidade por determinados grupos

nesse contexto as festas natildeo satildeo vistas simplesmente como passivas mas como oportunidade

de romper com o cotidiano

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O trabalho realizado atraveacutes do festejo de Satildeo Sebastiatildeo em Itagimirim-Ba investigou

e analisou o surgimento da manifestaccedilatildeo religiosa de caraacuteter popular sendo renovada e

20

modificada com as migraccedilotildees de pessoas vindas de outros povoados e municiacutepios da regiatildeo

re-significando a tradiccedilatildeo e incorporando novas praacuteticas

A devoccedilatildeo dos foliotildees por um santo representa uma afirmaccedilatildeo de identidade

possibilitando novas relaccedilotildees entre os homens e o meio social ao qual estaacute inserido

Rememorar natildeo significa trazer de volta a festa do mesmo jeito que era outrora e sim

reafirmar e reconstruir novos haacutebitos

O festejo eacute um elemento que fez e faz parte da origem e desenvolvimento da cidade

pois seus habitantes fundadores jaacute traziam em suas memoacuterias essa forma de socializaccedilatildeo

religiosa Que tambeacutem se construiu como um escape para os longos dias de trabalhos

quebrando o ritmo do cotidiano A manifestaccedilatildeo de feacute eacute um espaccedilo de troca de saberes atraveacutes

das praacuteticas de alegria e devoccedilatildeo sendo um lugar de afirmaccedilatildeo de relaccedilotildees sociais ou criar

novos laccedilos de amizade o que fundamental para comunidade itagimiriense

REFEREcircNCIAS

ABREU Marta Cultura popular um conceito e vaacuterias histoacuterias In Ensino de Histoacuteria

conceitos temaacuteticas e metodologia Martha Abreu amp Rachel Sohiet (orgs) Rio de Janeiro

Casa da Palavra 2003

ALBERTI Verena Manual de Histoacuteria oral ndash 3 ed ndash Rio de Janeiro Editora FGV 2005

BOSI Ecleacutea Memoacuteria e Sociedade Lembranccedilas de Velhos ndash 3 ed ndashSatildeo Paulo Companhia

das letras 1994

BRANDAtildeO Alex Sandro da Conceiccedilatildeo Santos Reis Festa Poder e Memoacuteria (Governador

Mangabeira- BA 1970-2000) Artigo apresentado no X Encontro Nacional de Histoacuteria Oral

Recife 2010

21

BRANDAtildeO Alex Sandro da Conceiccedilatildeo Santos Reis festa poder e memoacuteria na comunidade

rural de aldeia (Governador Mangabeira- BA 1970-2000) Dissertaccedilatildeo apresentada ao

programa de poacutes-graduaccedilatildeo em histoacuteria regional e local da universidade do estado da

BahiaUNEB Santo Antonio de Jesus ndash BA abril ndash 2011

BRITTO Larissa Novais Festa de Satildeo Benedito O Sagrado e o profano nas festas regiliosas

de origem africana em Porto Seguro-Ba Monografia apresentada a UNEB Eunaacutepolis 2009

CASTRO Jakson Viana de Educaccedilatildeo patrimonial um instrumento de ensino para Histoacuteria local

Monografia apresentada a UNEB Eunaacutepolis 2009

CHALHOUB Sidney Visotildees da liberdade uma histoacuteria das uacuteltimas deacutecadas da escravidatildeo

na Corte Sidney Chalhoub mdash Satildeo Paulo Companhia das Letras 2011

COUTO Edilece Souza Devoccedilotildees festas e ritos algumas consideraccedilotildees Revista Brasileira

de Histoacuteria das Religiotildees ndash Ano I no 1 ndash Dossiecirc Identidades Religiosas e Histoacuteria Maio

2008

GUARINELLO Noberto Luiz Festa trabalho e cotidiano Istvaacutem Jancsoacute Iris kantor

(orgs)Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa Volume II Satildeo Paulo 2001

GUERRA Teoney Araujo Dados e informaccedilotildees para Estudantes Itagimirim-Ba 2000

HERMANN Jacqueline Histoacuteria das religiotildees e religiosidades Domiacutenios da Historia

ensaios da teoria e metodologias Ciro Flamrion Cardoso Ronaldo Vainfas (orgs) Rio de

Janeiro Campus 1997

HOBSBAWM Eric A invenccedilatildeo das tradiccedilotildees Eric Hobsbawn e Terenge Ranger

organizadores Traduccedilatildeo Celina Cardim Cavalgante 2ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro 1997

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel emwwwibgegovbr acesso

dia 06-05-12 agraves 13h00min

JANCSOacute Istvaacutem KANTOR Iris (orgs) Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica

Portuguesa Volume I Satildeo Paulo 2001

JANCSOacute Istvaacutenamp KANTOR Iris Festa Cultura e Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa (2

volumes) Satildeo Paulo Imprensa Oficial Hucitec Edusp Fapesp 2001

1 NASCIMENTO Nilson do Carmo Cachoeirinha Freguesia de Nossa Senhora da

Conceiccedilatildeo da Cachoeirinha do Baixo Jequitinhonhandash Brasiacutelia 2010

22

2 NASCIMENTO Mara Regina do Religiosidade e cultura popular Catolicismo

irmandades e tradiccedilotildees em movimento Revista da Catoacutelica Uberlacircndia v 1 n 2 p 119-130

2009 ndash catolicaonlinecom BR revista da catoacutelica

PORTELLI Alessandro Histoacuteria Oral e Poder Transcriccedilatildeo de Luiz Henrique dos Santos

Blume a partir do arquivo em aacuteudio wmp Traduccedilatildeo de Luiz Henrique dos Santos Blume e

Heliana de Barros Conde Rodrigues Mnemosine Vol6 nordm2 p 2-13 (2010) ndash Artigos

Conferecircncia no XXV Simpoacutesio Nacional da ANPUH Fortaleza 2009

POLLAK Michel Memoacuteria e identidade social Conferecircncia foi transcrita e traduzida por

monique augras A ediccedilatildeo eacute de Dora Rocha Flaksman Estudos histoacutericos rio de janeiro vol

5 n 10 1992 p 200-212

POLLAK Michel Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Conferecircncia foi transcrita e traduzida

por monique augras A ediccedilatildeo eacute de Dora Rocha Flaksman Estudos Histoacutericos Rio de

Janeiro vol 2 n 3 1989 p 3-15

PIRES Flaacutevia A Festa de Satildeo Sebastiatildeo em Catingueira transformaccedilotildees e permanecircncias dez

anos depois Revista de antropologia Satildeo Paulo USP 2011 v 54 nordm 2 Artigo Recebido em

novembro de 2010 Aceito em julho de 2011

SOIHET Rachel Histoacuteria das mulheres Domiacutenios da Historia ensaios da teoria e

metodologias Ciro Flamrion Cardoso Ronaldo Vainfas (orgs) Rio de Janeiro Campus

1997

SANTANA Tacircnia de Devoccedilotildees catoacutelicas entre os negros na Bahia colonial Artigo

apresentado na participaccedilatildeo no evento Fala Professor em 250803 promovido pelo curso de

Histoacuteria das Faculdades Jorge Amado

SANTOS Fernanda reis dos ldquoa festa do excelso padroeiro da cidade das palmeirasrdquo o culto

a satildeo Bartolomeu em Maragogipe (1851-1943) dissertaccedilatildeo apresentada ao programa de poacutes-

graduaccedilatildeo em histoacuteria da faculdade de filosofia e ciecircncias humanas universidade federal da

Bahia Salvador 2010

VAINFAS Ronaldo Da festa tupinambaacute ao sabaacute tropical a catequese pelo avesso Istvaacutem

Jancsoacute Iris kantor (orgs)Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa Volume I

Satildeo Paulo 2001

Page 6: FESTEJOS DE SÃO SEBASTIÃO EM ITAGIMIRIM-BA ......1 FESTEJOS DE SÃO SEBASTIÃO EM ITAGIMIRIM-BA: Memória e História de Um Povo (1960- 1998) Jairo Viana de Castro1 INTRODUÇÃO

6

ou o proacuteprio culto a Satildeo Sebastiatildeo que eacute um santo de crendice popular que proteger contra a

fome guerra e afliccedilotildees principalmente neste municiacutepio empobrecido

Devido agrave quantidade de grupos e um nuacutemero pequeno de muacutesicos havia uma

disputa entre os grupos para atrair esses foliotildees tocadores com isso alguns liacutederes procuravam

agradar dividindo as esmolas e doaccedilotildees que eram arrecadadas no percurso do cortejo que

passava em residecircncias e casas comerciais

Oito homens e quatro mulheres que estatildeo diretamente responsaacuteveis pelos os cantos

manusear os instrumentos e na maioria das vezes apenas as mulheres quem carrega a bandeira

de Satildeo Sebastiatildeo As folias do divino Espiacuterito Santo sobre as descriccedilotildees de Thomas Ewbank

em 1846 um escritor e desenhista de Nova York destaca que a praacutetica de pedir esmolas eacute

fundamental para o desenvolvimento dos festejos Abreu concluiu que

O haacutebito de se pedirem esmolas era muito comum desde o periacuteodo colonial e

tinha como objetivo a reuniatildeo para as festas das irmandades ou para o

financiamento dos benefiacutecios aos irmatildeos carentes como indicam os vaacuterios

anuacutencios de festas No caso das folias do Divino conta Ewbank os irmatildeos

nem precisavam bater de porta em porta porque a muacutesica por si soacute jaacute atraiacutea

todos agrave rua Pela descriccedilatildeo deste viajante norte-americano se todas as

classes contribuiacuteam com donativos as irmandades do Espiacuterito Santo

pareciam distinguir-se entre si pela riqueza A da Lapa por exemplo

contratava barbeiros brancos haacutebeis tocadores de clarim e violinistas que

ofereciam seus serviccedilos por um preccedilo mais elevado (ABREU 1999 P 51)

Com essa descriccedilatildeo e anaacutelise da autora se percebeu que essas praacuteticas estatildeo presentes

nos festejos em homenagem a Satildeo Sebastiatildeo em Itagimirim desde a contrataccedilatildeo dos foliotildees

tocadores ateacute o cortejo de casa em casa em que ganham donativos Esta situaccedilatildeo estaacute evidente

no canto de chegada no seguinte trecho

Eacute filho de um homem nobre

Ele estaacute lhe pedido uma esmola

Natildeo eacute por ganhar dinheiro

Mas pra cumprir uma promessa

No dia 20 de janeiro 8

8 Parte do quinto trecho do canto de chegada que louva a Satildeo Sebastiatildeo entoado pelos foliotildees na cidade de

Itagimirim-Ba

7

Eis o poder da memoacuteria oral aonde essas praacuteticas vem sendo seguidas desde a eacutepoca

colonial chegando ateacute o periacuteodo analisado do trabalho em estudo com algumas mudanccedilas

mas mantendo uma continuidade na maneira de homenagear ao santo intercessor

Alessandro Portelli (2009) dialoga sobre a valorizaccedilatildeo da memoacuteria a partir da oralidade onde

as trajetoacuterias de vidas dos excluiacutedos devem ser relatadas e conhecidas por todas as esferas

sociais

Com frequecircncia se diz que na Histoacuteria Oral damos voz aos sem voz Natildeo eacute

assim Se natildeo tivessem voz natildeo teriacuteamos nada a gravar natildeo teriacuteamos nada a

escutar Os excluiacutedos os marginalizados os sem-poder sim tem voz mas

natildeo haacute ningueacutem que os escute Essa voz estaacute incluiacuteda num espaccedilo limitado

O que fazemos eacute recolher essa voz amplificaacute-la e levaacute-la ao espaccedilo puacuteblico

do discurso e da palavra Isso eacute um trabalho poliacutetico porque tem a ver natildeo soacute

com o direito agrave palavra o direito baacutesico de falar mas com o direito de falar e

de que se faccedila caso de falar e ser ouvido ser escutado de ter um papel no

discurso puacuteblico e nas instituiccedilotildees poliacuteticas na democracia (PORTELLI

2009 P2)

A devoccedilatildeo ao santo na cidade de Itagimirim corresponde agrave trajetoacuteria de vida do

maacutertir que lutou contra as afliccedilotildees impostas aos cristatildeos pelo impeacuterio romano devido agrave dura

realidade financeira vivida pela populaccedilatildeo Salomatildeo (2008) descreve que

Satildeo Sebastiatildeo eacute um maacutertir cristatildeo elevado a condiccedilatildeo de santo pela devoccedilatildeo

popular A tradiccedilatildeo cristatilde afirma que o maacutertir foi assassinado em 20 de

janeiro de 288 em Roma () Sua proteccedilatildeo eacute evocada para deter as guerras

a fome e epidemias No candombleacute haacute referecircncias de sua associaccedilatildeo a

Oxoacutessi divindade guerreira que o sincretismo religioso relacionava na Bahia

a Satildeo Jorge (SALOMAtildeO 2008 p87)

Ter um santo para interceder sobre suas necessidades fiacutesicas e espirituais eacute significante

para o povo pois suas afliccedilotildees poderiam ser resolvidas junto ao divino atraveacutes da feacute

Contudo no decorrer dos anos alguns grupos vatildeo desaparecendo seja por morte do liacuteder ou

por questotildees financeiras

Fotografia -5

8

Foto cedida pela Srordf Alzira Pereira de Souza do arquivo familiar fotoacutegrafo desconhecido Ano 1972

Nesta imagem se pode verificar o Sr Joaquim Teixeira (jaacute falecido) que estaacute atraacutes e no

lado direito da porta bandeira com seu grupo de Reisado os seus foliotildees vestido de branco e

vermelho poreacutem ele nos cortejos estava sempre com seu vestuaacuterio branco que relatava ser

sua devoccedilatildeo Outro aspecto visiacutevel na populaccedilatildeo itagimiriense satildeo seus traccedilos com diversos

grupos eacutetnicos que habitavam a regiatildeo

O que se concluiu em relaccedilatildeo ao outro grupo e seu desaparecimento estatildeo

relacionados com questotildees financeiras pois muitos habitantes deixaram a cidade para

procurar melhores condiccedilotildees de vida nos grandes centros urbanos

OS FOLIOtildeES E O ESPACcedilO SACRALIZADO

As festas de Satildeo Joatildeo foram sempre diferentes do reisado que todo ano tem

o reisado de SAtildeO SEBASTIAtildeO comeccedila do dia primeiro de janeiro que o

primeiro reis eacute Santo Reis (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-14)

Os foliotildees representam uma manifestaccedilatildeo de feacute em movimento poreacutem enquanto estaacute

festejando em uma residecircncia aquele espaccedilo eacute sacralizado pelos que compartilham com o

festejo a bandeira com a imagem do santo representa o martiacuterio a santificaccedilatildeo a interseccedilatildeo

9

para aqueles que sofrem com as condiccedilotildees de vidas precaacuterias a fome a peste e as afliccedilotildees

sendo descriminados por expressarem seu sentimento religioso

No festejo de Satildeo Sebastiatildeo eacute possiacutevel ver elementos do sagrado e do profano No

entanto o espaccedilo sagrado eacute delimitado Segundo Edilece Souza eacute preciso criar limites entre os

espaccedilos sagrado e profano9

No entanto eacute necessaacuterio sacralizar o espaccedilo para que ele seja habitado E por

isso procura-se um eixo um centro de orientaccedilatildeo que pode ser um templo

o local ou o altar de sacrifiacutecio de um animal cruz poste ou mastro escada

aacutervore ou montanha Qualquer um desses elementos marca o limiar entre o

sagrado e o profano e torna-se o eixo de ligaccedilatildeo entre o ceacuteu a terra e o

mundo inferior (COUTO 2008 p1)

As muacutesicas iniciam-se quando os foliotildees chegam agrave casa de uma pessoa eacute em forma de

louvor onde o dono da residecircncia espera o teacutermino da canccedilatildeo para abrir a porta e oferecer a

sua casa como salatildeo de reza e brincadeira

A letra da muacutesica para sair de uma casa eacute em forma profana ou mesmo uma

contradanccedila que canta os acontecimentos do cotidiano familiar e do trabalho representa uma

forma de socializaccedilatildeo entre familiares amigos e conhecidos festejados do dia 10 aacute 20 de

janeiro que o aacutepice da festa

No canto em louvor10 ao Satildeo Sebastiatildeo pode-se identificar em alguns trechos a ligaccedilatildeo

dos devotos com o Santo

Eacute filho de um homem nobre

Ele estaacute lhe pedido uma esmola

Natildeo eacute por ganhar dinheiro

Mas pra cumprir uma promessa

No dia 20 de janeiro

Vocecirc jaacute pagou sua esmola

Cada um da o que pode

Vocecirc jaacute pagou sua esmola

Deus lhe dar merecimento

9 COUTO Edilece Souza DEVOCcedilOtildeES FESTAS E RITOS ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeE Revista Brasileira de

Histoacuteria das Religiotildees ndash Ano I no 1 ndash Dossiecirc Identidades Religiosas e Histoacuteria 10 O canto da Chegada em homenagem ao Santo SAtildeO SEBASTIAtildeO eacute entoado quando os foliotildees de Itagimirim-

Ba chegam agrave porta de uma residecircncia para Louvar A letra eacute cantada por todos os grupos que existiram e existe

na localidade natildeo se sabe quem eacute o verdadeiro autor No final da entrevista com Sr Jonas Almeida de Castro

cantou um trecho no entanto veio o interesse de transcrever e analisar alguns trecho na letra do canto

10

Deus lhe dar chuva santa

Para molhar seu mantimento

Viva Satildeo Sebastiatildeo

Ele chegou aqui

Quem tem promessa com ele

Ta na hora de cumprir

Viva Satildeo Sebastiatildeo

Eacute um santo de alegria

Quem tem saudade dele

Vai agrave reza do seu dia 11

Neste sentido o significado da muacutesica que os foliotildees cantam ao chegar a uma casa eacute

ldquopara louvar o dono da casa porque vocecirc cantar o Reis laacute fora e agradece dentro da casa

poreacutem a contra danccedila eacute uma musica entoadardquo isso que evidencia o Sr Jonas A de Castro (30-

05-14)

Sendo assim o festejo acontece nas casas das pessoas que compartilham com a devoccedilatildeo

a Satildeo Sebastiatildeo onde se reuacutenem com alegria dentre eles idosos crianccedilas jovens homens e

mulheres tendo momentos de oraccedilatildeo de comer de beber e festejar desde que a noite

chegava ateacute quando a noite desaparecia em belos raios de sol o local na muitas das vezes natildeo

eacute fixo passava de casa em casa dos que compartilhavam com a tradiccedilatildeo

Esse cortejo visita todas as casas do lugar que rezavam em forma musical com

instrumentos como gaitas caixas bumbas e violas maneira utilizada na maioria das festas e

festejos populares Os foliotildees do primeiro grupo de reisado trazem em suas memoacuterias um

milagre que foi atendido pelo santo que segundo Srordf Maria C Rodrigues um acontecimento

coletivo estabelece a devoccedilatildeo por Satildeo Sebastiatildeo

Minha matildee era professora e costureira laacute em Cachoeirinha (comunidade

desenvolvida na beira do rio Jequitinhonha) meu pai era canoeiro vendedor

ambulante em 1951 eu tinha um ano de idade eu natildeo lembro mas meus pais

contavam meu pai saia de Cachoeirinha para vim comprar farinha teve um

ano que ficou conhecido como o ano da fome que a seca foi tanta que natildeo

tinha como se achar o que comer Meu pai passa em Itagimirim que soacute

estava comeccedilando tinha aquela pracinha ali que hoje eacute a Castro Alves Soacute

tinha poucas casinhas ele vinha laacute de Gabiarra-Ba acampava aqui desde

11 Eacute o quinto sexto seacutetimo e oitavo trecho do canto de chegada em Louvor a Satildeo Sebastiatildeo entoado pelos

foliotildees da cidade de Itagimirim-Ba Letra relatada pelo Sr Jonas Almeida de Castro (30-05-14)

11

dessa eacutepoca eu com um ano de idade jaacute participo da histoacuteria de Itagimirim-

Ba Ele acampava aqui para trazer mantimento tinha um barracatildeo grande em

Cachoeirinha laacute ele leva as coisas comprava gado era magarefe ele servia

praticamente essa regiatildeo daqui todinha era meu pai trabalhava vendendo

coisa ambulante com as tropas que antigamente natildeo tinha carro eram tropas

34 5 6 burros Com aqueles caccediloar que hoje ainda existe em muito lugar

trazendo coisa para manter a regiatildeo Foi uma fome muito grande e nessa

eacutepoca Satildeo Sebastiatildeo junto com Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo eram padroeiro

de Cachoeirinha e todo mundo fazia promessa com ele pedindo chuva Que

levou um ano sem chover na regiatildeo na eacutepoca todo mundo carregava pedra

na cabeccedila para botar no cruzeiro da igreja de nossa senhora da Conceiccedilatildeo

para fazer penitecircncia como era chamado antigamente para pedir ao santo que

chovesse foi um ano de sofrimento quando levantou esse povo e fez essa

promessa foi quando surgiu a primeira festa a Satildeo Sebastiatildeo Quando choveu

todo mundo saiu de vermelho e branco homenageando a ele que a minha

folia ateacute hoje todos se vestem de vermelho e branco por causa dessa fome

que foi demais aqui na regiatildeo (Srordf Maria C Rodrigues 20-03-14)

Foi atraveacutes desse ritual que se constituiu a memoacuteria coletiva dessa populaccedilatildeo esse

acontecimento que fez desenvolver a religiosidade cultural Michel Pollak (1988 p 2) ao

analisar a memoacuteria como identidade social reflete que ldquo[] Eacute perfeitamente possiacutevel que por

meio da socializaccedilatildeo poliacutetica ou da socializaccedilatildeo histoacuterica ocorra um fenocircmeno de projeccedilatildeo

ou de identificaccedilatildeo com determinado passado tatildeo forte que podemos falar numa memoacuteria

quase que herdadardquo

Alguns habitantes de Cachoeirinha ao migrarem para a comunidade Itagimiriense

como no caso do primeiro grupo de reisado de religiatildeo Umbanda que montam seu terreiro em

sua fazenda nas proximidades de Itagimirim trazem o cortejo como uma forma de devoccedilatildeo e

tornando tambeacutem um espaccedilo de socializaccedilatildeo

Onde a maioria dos foliotildees relatou que essas praacuteticas de reisado e devoccedilatildeo a Satildeo

Sebastiatildeo esta relacionada com a histoacuteria de suas famiacutelias ligadas a acontecimentos como

Promessas milagres um momento difiacutecil ou alegrias e brincadeiras Hobsbawm (1997 p21)

afirma que ldquo[] o estudos dessas tradiccedilotildees esclarece bastante as relaccedilotildees humanas com seu

passado []rdquo

Entre costureiras vaqueiros pedreiros vendedores ambulantes accedilougueiros

professoras de primaacuterio e pessoas de pouca leitura mas de uma feacute grandiosa que faziam da

relaccedilatildeo com o ambiente uma forma de sobrevivecircncia e ligaccedilatildeo com o divino mesmo com

12

aacuterduo labor no campo essa relaccedilatildeo entre homem e divindade pode ser percebido no trecho do

canto de chegada

Deus lhe dar merecimento

Deus lhe dar chuva santa

Para molhar seu mantimento 12

Para a cidade que desenvolve a religiosidade popular foi um fator de extrema

importacircncia pois a relaccedilatildeo social do povo atraveacutes dos festejos tornou-se uma expressatildeo

devocional de identificaccedilatildeo entre eles No entanto as experiecircncias culturais Segundo Abreu

(2003 p 94-95) ldquo[] pode tambeacutem estimular a criaccedilatildeo de identidades sociais culturais e

viacutenculos duradouros entre grupos de reconhecida expressatildeo cultural ou religiosa como por

exemplo as escolas de samba os grupos que organizam folias de reis e congadasrdquo Para as

duas senhoras que tem centros de Umbanda em Itagimirim eacute uma missatildeo a seguir pois estaacute

ligado a uma promessa familiar e o compromisso passado a elas

O festejo criou viacutenculos duradouros entre os participantes pois suas expressotildees de feacute

estatildeo relacionadas no cotidiano familiar e por meio do lugar onde se encontram e

desenvolveu uma organizaccedilatildeo social que ao longo dos anos constituiu grupos distintos

Segundo Abreu (1999) ldquoatraveacutes das festas pode-se conhecer melhor a coletividaderdquo e com

isso quais indiviacuteduos que se relacionam com religiosidade popular

No entanto o que se discute neste trabalho eacute a festa enquanto espaccedilo de sociabilidade

a partir de uma memoacuteria coletiva e individual no espaccedilo social onde esta produccedilatildeo do

cotidiano ganha significado e que agrega valores entre o profano e o sagrado Sendo que estes

acontecimentos quebram o ritmo do cotidiano e estatildeo fixos dentro do calendaacuterio devocional

festivos das comunidades que desenvolvem os rituais

Os foliotildees no mecircs de janeiro quando saem agraves ruas apropriam dos espaccedilos puacuteblicos

festejando durante o dia eles mostram suas tradiccedilotildees para a populaccedilatildeo os indiviacuteduos ao

escrever suas tradiccedilotildees nos espaccedilos histoacutericos da cidade estatildeo demonstrando o seu lugar social

que segundo Larissa Novais Britto (2009)13

12 Parte do sexto trecho do canto de chegada que louva a Satildeo Sebastiatildeo entoado pelos foliotildees na cidade de

Itagimirim-Ba 13 A festa de Satildeo Benedito eacute um evento dinacircmico que eacute reinventado e reformulado atraveacutes de celebraccedilotildees

anuais descrito no trabalho monograacutefico de Larissa Novais Britto a festa se organiza no interior de uma

13

Nos dias da festa os negros saem do anonimato e assumem lugar de

destaque na cena urbana e promovem uma ruptura com a rotina cotidiana

extremamente marcada pela submissatildeo Ao danccedilar e cantar para seu santo

os festeiros revivem a liccedilotildees de seus ancestrais e revertem

momentaneamente o lugar secundaacuterio que ocupam na hierarquia do poder

local ( BRITTO 2009 p 9 )

Ao entrevistar as pessoas dessa comunidade que traz em suas memoacuterias um periacuteodo de

muitas recordaccedilotildees do tempo festivo no qual o homem rural criava seus modos de

sociabilidade atraveacutes de praacuteticas e instrumentos simples que faziam parte do seu cotidiano

Uma maneira de cultuar ao santo de forma direta atraveacutes de brincadeiras rezas

demonstraccedilotildees de feacute que tinha um grande significado diante de toda a expectativa para um

novo ano

Mediante a esses costumes e tradiccedilotildees que contribuem para o desenvolvimento da

localidade que teve avanccedilos permitindo que novos elementos fossem inseridos na festividade

Ao analisar a festa a Santos Reis na comunidade de aldeia com o processo de modernizaccedilatildeo

do lugar com a chegada da luz eleacutetrica que deu outros rumos ao ritual festivo apropriando de

outras caracteriacutesticas Brandatildeo (2010 P7) afirma que ldquo[] A festa em louvor a Santos Reis

esta viva justamente pela sua capacidade de se reinventar e natildeo pelo apego a uma praacutetica

ritualiacutestica congelada no tempordquo

A manifestaccedilatildeo de feacute eacute um espaccedilo de troca de saberes atraveacutes das praacuteticas culturais

seja no movimento das danccedilas ou manuseio dos instrumentos com muita alegria e devoccedilatildeo

sendo tambeacutem um lugar de afirmaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais

A festa eacute repleta de interesses e significados disfarccedilados Segundo Guarinello (2001

p974) ldquo[] o sentido da festa eacute portanto da identidade que propotildee e produz depende sempre

dos participantes eventuais ou desejados cuja presenccedila e envolvimento determinam o

sucesso e o significado uacuteltimo de qualquer festa []rdquo

Assim se constituiu a relaccedilatildeo existente entre os foliotildees e devotos Habitantes de um

espaccedilo rural e urbano que no periacuteodo do festejo migram de um local a outro levando a boa

nova atraveacutes do cortejo ao santo

irmandade religiosa e em funccedilatildeo de um mito fundador que remete a histoacuteria de vida de um santo que considerado

protetor do povo negro

14

O RITO

Todo mundo espera chegou primeiro de Janeiro O reisado de santos reis eacute agrave

noite o de SAtildeO SEBASTIAtildeO eacute de dia Se noacutes cantamos em uma rua canta

de um lado ateacute o final depois passamos para o outro lado noacutes natildeo podemos

cruzar bandeira (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-14)

No primeiro dia (10 de janeiro) acontece uma reza nos salotildees de umbanda e tambeacutem

na igreja catolica essa praacutetica eacute realizada tanto por um grupo quanto pelo outro Quando os

foliotildees saem do salatildeo em cortejo vatildeo direto a igreja neste espaccedilo fazem vaacuterios pedidos e

rezas

Poreacutem dentro da igreja apenas as violas e gaitas satildeo ultilizadas para acompanhar o

louvor trovado agrave Satildeo Sebatiatildeo Pode ser pela amanhatilde ou agrave tarde para pedir proteccedilatildeo durante os

dias que os foliotildees percorrem em fazendas cidades vizinhas para depois que estiver faltando

uns quatro dias para vinte de Janeiro que eacute o dia de comemoraccedilatildeo a Satildeo Sebastiatildeo eles

retornam a Itagimirim Como foliatildeo do primeiro grupo de reisado o Sr Diomario relata o

trajeto do primeiro dia

Quando noacutes descemos da casa de Ceicinha no primeiro dia com a bandeira

noacutes vamos direto a igreja noacutes cantamos na igreja depois noacutes esparramamos

nos gerais esparramamos no mundo noacutes vai para casa do prefeito que eacute de

obrigaccedilatildeo ele receber a bandeira (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-14)

O primeiro grupo reisado segue a seguinte rota vatildeo para cidade de Itabepi onde satildeo

recebidos com muita festa pela populaccedilatildeo e governante local que disponibiliza uma pousada

para os foliotildees descasarem Depois de quatro dias cantando nesta cidade retornam a

Itagimirim cantam em diversas casas finalizando com a reza do terccedilo no oratoacuterio dentro do

salatildeo entre os dias 20 (vinte) para 21 (vinte e um) de janeiro A preparaccedilatildeo do foliatildeo para a

reza do terccedilo no uacuteltimo dia de Festejo eacute evidenciado pelo O Sr Diomario

15

No dia vinte noacutes estamos chegando em casa para poder descansar de meio

dia para tarde tomar banho ajeitar para a noite ter a reza de sete para oito

horas da noite a gente reza ai encerrou aquele reisado depois da reza acabou

mas se noacutes querer amanhecer o dia brincado pulando fazendo contra danccedila

tomando cachaccedila comendo tira gosto porque ela mata um boi para dar

despesa para os foliotildees dela e alguns visitantes que querem acompanhar (Sr

Diomaacuterio de Jesus 04-05-14)

O segundo grupo de Reisado apoacutes as rezas em seu salatildeo de umbanda tambeacutem seguem

com o cortejo para a igreja catoacutelica a bandeira do santo representando o martiacuterio e estaacute

sempre agrave frente do grupo Nenhum foliatildeo passa a frente da bandeira ficando atraacutes e se por

acaso necessitar passar na frente da bandeira logo eacute reverenciada pelos foliotildees colocando se

de joelho e beijando o manto sagrado

Essa praacutetica tambeacutem eacute abordada por Abreu (1999 p 48) na festa do divino Espiacuterito

santo a partir dos relatos do Escritor Thomas Ewbank ldquo[] que sempre estranhava nossos

haacutebitos beijando-se tambeacutem a bandeira ou melhor ldquoafundava-se o rosto em suas dobrasrdquo

para realizar a devoccedilatildeo e tanto fazia se fossem pessoas brancas ou negras []rdquo

Beijar a bandeira com a imagem de Satildeo Sebastiatildeo para um devoto que participa do

cortejo eacute uma forma de respeito que expressa agrave fidelidade ao santo onde seus pedidos foram

ouvidos e realizados uma relaccedilatildeo de proximidade e confianccedila na intercessatildeo do santo diante

do divino

Os foliotildees dizem que antes de iniciar o cortejo vatildeo a igreja catoacutelica pedir proteccedilatildeo

com a presenccedila ou natildeo do padre eles pedem licenccedila e entra na igreja entoando seus cacircnticos

uns ajoelham outros cantam com muita entonaccedilatildeo A Srordf Maria diz que sempre cantou na

igreja ldquoEu natildeo sei por que natildeo mas realmente quando a gente chega laacute tem vez que o padre

natildeo esta mais a gente canta eacute um direito nosso que ali eacute a casa de Deus casa nossa ali eacute

portas abertardquo

Santos (2010) ao analisar o catolicismo na cidade Maragogipe-Ba a partir do culto a

Satildeo Bartolomeu nos anos de 1851 a 1943 Destaca a seguinte informaccedilatildeo

No Brasil colonial as manifestaccedilotildees religiosas tinham como caracteriacutestica a

superficialidade constituindo-se como uma religiatildeo epideacutermica de fundo

emocional comprazendo-se nas exterioridades do culto mesmo sem

16

compreendecirc-lo e tomando um gosto de festa de reuniatildeo social sem aquela

convicccedilatildeo profunda nascida de uma interioridade forte e espiritualizada

Essa superficialidade fez-se notar pela enfaacutetica predominacircncia de ritos

externos pelo colorido e pompa das praacuteticas exteriores Tudo se fazia para

cultuar e homenagear os santos protetores No fundo uma religiatildeo

imediatista distante da ortodoxia (SANTOS 2010 P 63)

Neste sentido a igreja catoacutelica na cidade de Itagimirim natildeo participa diretamente das

homenagens ao santo cultuado por parte da populaccedilatildeo mas respeita o louvor a Satildeo Sebastiatildeo

que eacute manifestado pelos foliotildees atraveacutes de uma devoccedilatildeo desenvolvida por vaacuterias famiacutelias

contudo pode se perceber que alguns dos devotos satildeo frequumlentadores das missas dominicais e

que tambeacutem participam de muitos eventos promovidos pela igreja Couto (2004) ao investigar

os estudos sobre religiatildeo oficial e religiosidade popular abordou que

A partir da emergecircncia da espiritualidade laica no seacuteculo XIII o clero sentiu

a necessidade de falar a mesma liacutengua dos fieacuteis utilizar formas orais nas

liturgias ndash cantos e sermotildees ndash aceitar procissotildees e peregrinaccedilotildees a oratoacuterios

consagrados pelo povo e as funccedilotildees pagatildes atribuiacutedas aos santos (P 45)

Apoacutes o rito dentro da igreja os foliotildees entram em um carro geralmente alugado pela

dona do reisado passando por fazendas e chegando ao distrito de Gabiarra municiacutepio de

Eunaacutepolis retornando por Uniatildeo Bainana (distrito de Itagimirim-Ba) que faz divisa com o

estado de Minas Gerais

E concluem o cortejo dentro da cidade de Itagimirim passando em muitas residecircncias

No dia 19 (dezenove) agraves 18h00 (dezoito) realizam um jantar depois de muita contra danccedila

com as oitavas um roda de oito pessoas com instrumentos como gaitas bumba viola

pandeiro pratos de esmalte e palmas girando e passando um pelo o outro Depois das

brincadeiras fazem uma pausa para rezar o terccedilo dentro do oratoacuterio na passagem do dia 19

(dezenove) para 20 (vinte) de Janeiro

Os foliotildees percorrem a regiatildeo anunciando a boa nova um tempo de paz e alegria cada

pessoa que recebe esse cortejo fortalece sua feacute e de seus familiares O festejo representa um

ato de feacute para as pessoas que se juntam para agradecer pelas becircnccedilatildeos recebidas ao longo do

ano com esperanccedilas de dias melhores e sendo entrelaccediladas pelos festejos natalinos e todas as

expectativas para um novo ano

17

O festejo serve tambeacutem para pagar uma promessa ou mesmo para seguir a tradiccedilatildeo

aleacutem da questatildeo religiosa o festejo representa um sentimento de pertencimento e sociabilidade

para as pessoas que herdaram a devoccedilatildeo Segundo relata Edilece Souza

No entanto natildeo podemos perder de vista que o cristianismo inaugurou o

tempo lituacutergico baseado na historicidade de Jesus Cristo Dessa forma o

tempo festivo eacute repetido mas natildeo eacute imoacutevel nem imutaacutevel Apesar de se

revelar especial e diferente do calendaacuterio profano tambeacutem natildeo eacute um evento

isolado pois quebra o ritmo regular do cotidiano promove a sociabilidade e

o sentimento de pertencimento e identidade em um determinado grupo

social (COUTO 2008 P 2)

Nem todos os devoltos dos dois ternos de reisado vatildeo para os cortejos nas fazendas ou

para outras cidades alguns ficam nos salotildees de oraccedilotildees preparando as comidas e bebidas

organizando para a chegada e finalizaccedilatildeo do festejo segundo o Sr Diomario foliatildeo do

primeiro grupo de reisado satildeo poucas as pessoas que ficam a frente do cortejo

Mas os dela (foliotildees) satildeo oito macho e quatro fecircmea que satildeo de carregar a

bandeirae os machos para tocar os instrumentos pois cada um daqueles oito

tem os instrumento deles que domina que satildeo reco-reco pandeiro a caixa

era de Ceicinha o bunda eacute de quem saber bater que nem esse Neo era

bumbeiro nosso Neo batia bumba muito bem mas agora ficou o filho de

Ceicinha que eacute bumbeiro dela tambeacutem eacute isso (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-

14)

O individuos pertecente a um grupo desde o seu nascimento e no decorrer da vida vatildeo

aquirindo os usos haacutebitos alimentares vestimentas moradia objetos de pertecimento

ensiados pelas pessoas idosas que tem experiecircncia a religiosidade que vai sendo transmitida

de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo independe de tamanho e de grupo social ao qual estaacute inserido

Resultando em caracteriacutesticas peculiares ou a chamada memoacuteria comum do grupo para

Jacqueline Hermann (1997) chega-se ao ponto onde religiatildeo e religiosidade se cruzam

Quando o cortejo chega na porta de uma casa cantam um louvor para chamar atenccedilatildeo

do morador ldquoPorque vocecirc canta o Reis laacute fora e agradece dentro da casa o dono da casa abre

a porta vocecirc entra ai deu bom dia vocecirc louva o dono da casa e agradece o Reisrdquo isso que nos

relata o Sr Jonas Almeida de Castro Depois do lovour abre a porta dentro da residecircncia foi

observando que em um trecho do canto o devoltos obedecem a letra

18

Ajoelha pecadores

Potildee seu joelho no chatildeo

Para cobrir com a bandeira

Viva satildeo Sebastiatildeo

Essa bandeira me salva

Quando chegar laacute no ceacuteu

Alevanta pecador

Todo coberto de veacuteu 14

Sendo assim a bandeira eacute passada pela cabeccedila de todos os devotos que ajoelham

algumas pessoas beijam o manto outras se emocionam e agradecem Para Brandatildeo (2011 P

64) ldquo[] A festa eacute o momento de reconhecer que foram agraciados com uma benccedilatildeo e que eacute

preciso retribuir []rdquo A contra danccedila ndash uma muacutesica entoada cantado coisas do cotidiano para

os foliotildees saiacuterem da residecircncia como aborda o Sr Jonas Almeida de Castro (2014)

Convidei meus companheiros

para fazer sociedade

Para roubar dessa cigana

um amor da eternidade

O ciganhinha hora eacute hora

quem quiser comigo eacute hora

Agrave Deus ponta da areia

que laacute vai a cigana embora

A festa eacute uma forma de diversatildeo tatildeo especial para os foliotildees que toca os instrumentos

por prazer em estar festejando que apaga todo o cansaccedilo do corpo Brandatildeo (2011 P74)

afirma que ldquoApesar de a festa ser uma celebraccedilatildeo do cotidiano das sociedades ela representa uma

quebra nesse cotidiano quando as pessoas deixam suas atividades do dia- a- dia para se

dedicarem ao seu inversordquo

Dois foliotildees relataram duas situaccedilotildees envolvendo o cortejo de Satildeo Sebastiatildeo a

primeira foi quando uma senhora os convidou o terno de reis para entrar em sua residecircncia

muito humilde Poreacutem a dona da casa tinha apenas dois ovos de galinha para oferecer nesta

situaccedilatildeo um foliatildeo fez a doaccedilatildeo por ela e devolveu a oferta da senhora A outra situaccedilatildeo eacute

14 Nona e deacutecima estrofe do canto de chegada em louvor a Satildeo Sebastiatildeo entoado pelos foliotildees em Itagimirim-

Ba

19

quando uma fita da bandeira do santo cai dentro de uma casa eacute sinal de milagre concedido ao

morador como Aborda dona Srordf Alzira P de Souza

Olha se cair na casa da pessoa eacute para pegar e guardar ali eacute uma virtude que

esta deixando na casa da pessoa e uma forccedila que esta deixando ali na casa

da pessoa o santo deixou cai aquela fita ali para agradecer e recomendar o

dono da casa (Srordf Alzira Pereira de Souza 08-05-14)

Para muitos moradores essa fita eacute utilizada como remeacutedio quando um familiar sente

uma dor amarando no local essa recordaccedilatildeo eacute guardada como muita alegria

Quando o reisado chega em uma rua eles cantam de um lado e depois do outro a

bandeira indo por um canto natildeo pode voltar pelo mesmo lugar tem que seguir o giro o

caminho aberto A Srordf Maria C Rodrigues relata que ldquoquando passo numa casa e vejo a porta

fechada eu acho que a pessoa natildeo quer que eu paro ai a bandeira passa se pedir para voltar

a gente natildeo pode maisrdquo Hobsbawm (1997) dialoga que entende-se por ldquotradiccedilatildeo inventadardquo

um conjunto de praacuteticas normalmente reguladas por regras taacutecita ou abertamente aceitas ldquo[]

tais praacuteticas de natureza ritual ou simboacutelica visam inculcar certos valores e normas de

comportamento atraacuteves de repeticcedilatildeo o que implica automaticamente uma continuidade em

relaccedilatildeo ao passado []rdquo

Muitas festas foram apontadas por vaacuterios pesquisadores do periacuteodo colonial como

forma de fugas e rebeliotildees ou sendo para assumir uma identidade por determinados grupos

nesse contexto as festas natildeo satildeo vistas simplesmente como passivas mas como oportunidade

de romper com o cotidiano

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O trabalho realizado atraveacutes do festejo de Satildeo Sebastiatildeo em Itagimirim-Ba investigou

e analisou o surgimento da manifestaccedilatildeo religiosa de caraacuteter popular sendo renovada e

20

modificada com as migraccedilotildees de pessoas vindas de outros povoados e municiacutepios da regiatildeo

re-significando a tradiccedilatildeo e incorporando novas praacuteticas

A devoccedilatildeo dos foliotildees por um santo representa uma afirmaccedilatildeo de identidade

possibilitando novas relaccedilotildees entre os homens e o meio social ao qual estaacute inserido

Rememorar natildeo significa trazer de volta a festa do mesmo jeito que era outrora e sim

reafirmar e reconstruir novos haacutebitos

O festejo eacute um elemento que fez e faz parte da origem e desenvolvimento da cidade

pois seus habitantes fundadores jaacute traziam em suas memoacuterias essa forma de socializaccedilatildeo

religiosa Que tambeacutem se construiu como um escape para os longos dias de trabalhos

quebrando o ritmo do cotidiano A manifestaccedilatildeo de feacute eacute um espaccedilo de troca de saberes atraveacutes

das praacuteticas de alegria e devoccedilatildeo sendo um lugar de afirmaccedilatildeo de relaccedilotildees sociais ou criar

novos laccedilos de amizade o que fundamental para comunidade itagimiriense

REFEREcircNCIAS

ABREU Marta Cultura popular um conceito e vaacuterias histoacuterias In Ensino de Histoacuteria

conceitos temaacuteticas e metodologia Martha Abreu amp Rachel Sohiet (orgs) Rio de Janeiro

Casa da Palavra 2003

ALBERTI Verena Manual de Histoacuteria oral ndash 3 ed ndash Rio de Janeiro Editora FGV 2005

BOSI Ecleacutea Memoacuteria e Sociedade Lembranccedilas de Velhos ndash 3 ed ndashSatildeo Paulo Companhia

das letras 1994

BRANDAtildeO Alex Sandro da Conceiccedilatildeo Santos Reis Festa Poder e Memoacuteria (Governador

Mangabeira- BA 1970-2000) Artigo apresentado no X Encontro Nacional de Histoacuteria Oral

Recife 2010

21

BRANDAtildeO Alex Sandro da Conceiccedilatildeo Santos Reis festa poder e memoacuteria na comunidade

rural de aldeia (Governador Mangabeira- BA 1970-2000) Dissertaccedilatildeo apresentada ao

programa de poacutes-graduaccedilatildeo em histoacuteria regional e local da universidade do estado da

BahiaUNEB Santo Antonio de Jesus ndash BA abril ndash 2011

BRITTO Larissa Novais Festa de Satildeo Benedito O Sagrado e o profano nas festas regiliosas

de origem africana em Porto Seguro-Ba Monografia apresentada a UNEB Eunaacutepolis 2009

CASTRO Jakson Viana de Educaccedilatildeo patrimonial um instrumento de ensino para Histoacuteria local

Monografia apresentada a UNEB Eunaacutepolis 2009

CHALHOUB Sidney Visotildees da liberdade uma histoacuteria das uacuteltimas deacutecadas da escravidatildeo

na Corte Sidney Chalhoub mdash Satildeo Paulo Companhia das Letras 2011

COUTO Edilece Souza Devoccedilotildees festas e ritos algumas consideraccedilotildees Revista Brasileira

de Histoacuteria das Religiotildees ndash Ano I no 1 ndash Dossiecirc Identidades Religiosas e Histoacuteria Maio

2008

GUARINELLO Noberto Luiz Festa trabalho e cotidiano Istvaacutem Jancsoacute Iris kantor

(orgs)Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa Volume II Satildeo Paulo 2001

GUERRA Teoney Araujo Dados e informaccedilotildees para Estudantes Itagimirim-Ba 2000

HERMANN Jacqueline Histoacuteria das religiotildees e religiosidades Domiacutenios da Historia

ensaios da teoria e metodologias Ciro Flamrion Cardoso Ronaldo Vainfas (orgs) Rio de

Janeiro Campus 1997

HOBSBAWM Eric A invenccedilatildeo das tradiccedilotildees Eric Hobsbawn e Terenge Ranger

organizadores Traduccedilatildeo Celina Cardim Cavalgante 2ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro 1997

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel emwwwibgegovbr acesso

dia 06-05-12 agraves 13h00min

JANCSOacute Istvaacutem KANTOR Iris (orgs) Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica

Portuguesa Volume I Satildeo Paulo 2001

JANCSOacute Istvaacutenamp KANTOR Iris Festa Cultura e Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa (2

volumes) Satildeo Paulo Imprensa Oficial Hucitec Edusp Fapesp 2001

1 NASCIMENTO Nilson do Carmo Cachoeirinha Freguesia de Nossa Senhora da

Conceiccedilatildeo da Cachoeirinha do Baixo Jequitinhonhandash Brasiacutelia 2010

22

2 NASCIMENTO Mara Regina do Religiosidade e cultura popular Catolicismo

irmandades e tradiccedilotildees em movimento Revista da Catoacutelica Uberlacircndia v 1 n 2 p 119-130

2009 ndash catolicaonlinecom BR revista da catoacutelica

PORTELLI Alessandro Histoacuteria Oral e Poder Transcriccedilatildeo de Luiz Henrique dos Santos

Blume a partir do arquivo em aacuteudio wmp Traduccedilatildeo de Luiz Henrique dos Santos Blume e

Heliana de Barros Conde Rodrigues Mnemosine Vol6 nordm2 p 2-13 (2010) ndash Artigos

Conferecircncia no XXV Simpoacutesio Nacional da ANPUH Fortaleza 2009

POLLAK Michel Memoacuteria e identidade social Conferecircncia foi transcrita e traduzida por

monique augras A ediccedilatildeo eacute de Dora Rocha Flaksman Estudos histoacutericos rio de janeiro vol

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POLLAK Michel Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Conferecircncia foi transcrita e traduzida

por monique augras A ediccedilatildeo eacute de Dora Rocha Flaksman Estudos Histoacutericos Rio de

Janeiro vol 2 n 3 1989 p 3-15

PIRES Flaacutevia A Festa de Satildeo Sebastiatildeo em Catingueira transformaccedilotildees e permanecircncias dez

anos depois Revista de antropologia Satildeo Paulo USP 2011 v 54 nordm 2 Artigo Recebido em

novembro de 2010 Aceito em julho de 2011

SOIHET Rachel Histoacuteria das mulheres Domiacutenios da Historia ensaios da teoria e

metodologias Ciro Flamrion Cardoso Ronaldo Vainfas (orgs) Rio de Janeiro Campus

1997

SANTANA Tacircnia de Devoccedilotildees catoacutelicas entre os negros na Bahia colonial Artigo

apresentado na participaccedilatildeo no evento Fala Professor em 250803 promovido pelo curso de

Histoacuteria das Faculdades Jorge Amado

SANTOS Fernanda reis dos ldquoa festa do excelso padroeiro da cidade das palmeirasrdquo o culto

a satildeo Bartolomeu em Maragogipe (1851-1943) dissertaccedilatildeo apresentada ao programa de poacutes-

graduaccedilatildeo em histoacuteria da faculdade de filosofia e ciecircncias humanas universidade federal da

Bahia Salvador 2010

VAINFAS Ronaldo Da festa tupinambaacute ao sabaacute tropical a catequese pelo avesso Istvaacutem

Jancsoacute Iris kantor (orgs)Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa Volume I

Satildeo Paulo 2001

Page 7: FESTEJOS DE SÃO SEBASTIÃO EM ITAGIMIRIM-BA ......1 FESTEJOS DE SÃO SEBASTIÃO EM ITAGIMIRIM-BA: Memória e História de Um Povo (1960- 1998) Jairo Viana de Castro1 INTRODUÇÃO

7

Eis o poder da memoacuteria oral aonde essas praacuteticas vem sendo seguidas desde a eacutepoca

colonial chegando ateacute o periacuteodo analisado do trabalho em estudo com algumas mudanccedilas

mas mantendo uma continuidade na maneira de homenagear ao santo intercessor

Alessandro Portelli (2009) dialoga sobre a valorizaccedilatildeo da memoacuteria a partir da oralidade onde

as trajetoacuterias de vidas dos excluiacutedos devem ser relatadas e conhecidas por todas as esferas

sociais

Com frequecircncia se diz que na Histoacuteria Oral damos voz aos sem voz Natildeo eacute

assim Se natildeo tivessem voz natildeo teriacuteamos nada a gravar natildeo teriacuteamos nada a

escutar Os excluiacutedos os marginalizados os sem-poder sim tem voz mas

natildeo haacute ningueacutem que os escute Essa voz estaacute incluiacuteda num espaccedilo limitado

O que fazemos eacute recolher essa voz amplificaacute-la e levaacute-la ao espaccedilo puacuteblico

do discurso e da palavra Isso eacute um trabalho poliacutetico porque tem a ver natildeo soacute

com o direito agrave palavra o direito baacutesico de falar mas com o direito de falar e

de que se faccedila caso de falar e ser ouvido ser escutado de ter um papel no

discurso puacuteblico e nas instituiccedilotildees poliacuteticas na democracia (PORTELLI

2009 P2)

A devoccedilatildeo ao santo na cidade de Itagimirim corresponde agrave trajetoacuteria de vida do

maacutertir que lutou contra as afliccedilotildees impostas aos cristatildeos pelo impeacuterio romano devido agrave dura

realidade financeira vivida pela populaccedilatildeo Salomatildeo (2008) descreve que

Satildeo Sebastiatildeo eacute um maacutertir cristatildeo elevado a condiccedilatildeo de santo pela devoccedilatildeo

popular A tradiccedilatildeo cristatilde afirma que o maacutertir foi assassinado em 20 de

janeiro de 288 em Roma () Sua proteccedilatildeo eacute evocada para deter as guerras

a fome e epidemias No candombleacute haacute referecircncias de sua associaccedilatildeo a

Oxoacutessi divindade guerreira que o sincretismo religioso relacionava na Bahia

a Satildeo Jorge (SALOMAtildeO 2008 p87)

Ter um santo para interceder sobre suas necessidades fiacutesicas e espirituais eacute significante

para o povo pois suas afliccedilotildees poderiam ser resolvidas junto ao divino atraveacutes da feacute

Contudo no decorrer dos anos alguns grupos vatildeo desaparecendo seja por morte do liacuteder ou

por questotildees financeiras

Fotografia -5

8

Foto cedida pela Srordf Alzira Pereira de Souza do arquivo familiar fotoacutegrafo desconhecido Ano 1972

Nesta imagem se pode verificar o Sr Joaquim Teixeira (jaacute falecido) que estaacute atraacutes e no

lado direito da porta bandeira com seu grupo de Reisado os seus foliotildees vestido de branco e

vermelho poreacutem ele nos cortejos estava sempre com seu vestuaacuterio branco que relatava ser

sua devoccedilatildeo Outro aspecto visiacutevel na populaccedilatildeo itagimiriense satildeo seus traccedilos com diversos

grupos eacutetnicos que habitavam a regiatildeo

O que se concluiu em relaccedilatildeo ao outro grupo e seu desaparecimento estatildeo

relacionados com questotildees financeiras pois muitos habitantes deixaram a cidade para

procurar melhores condiccedilotildees de vida nos grandes centros urbanos

OS FOLIOtildeES E O ESPACcedilO SACRALIZADO

As festas de Satildeo Joatildeo foram sempre diferentes do reisado que todo ano tem

o reisado de SAtildeO SEBASTIAtildeO comeccedila do dia primeiro de janeiro que o

primeiro reis eacute Santo Reis (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-14)

Os foliotildees representam uma manifestaccedilatildeo de feacute em movimento poreacutem enquanto estaacute

festejando em uma residecircncia aquele espaccedilo eacute sacralizado pelos que compartilham com o

festejo a bandeira com a imagem do santo representa o martiacuterio a santificaccedilatildeo a interseccedilatildeo

9

para aqueles que sofrem com as condiccedilotildees de vidas precaacuterias a fome a peste e as afliccedilotildees

sendo descriminados por expressarem seu sentimento religioso

No festejo de Satildeo Sebastiatildeo eacute possiacutevel ver elementos do sagrado e do profano No

entanto o espaccedilo sagrado eacute delimitado Segundo Edilece Souza eacute preciso criar limites entre os

espaccedilos sagrado e profano9

No entanto eacute necessaacuterio sacralizar o espaccedilo para que ele seja habitado E por

isso procura-se um eixo um centro de orientaccedilatildeo que pode ser um templo

o local ou o altar de sacrifiacutecio de um animal cruz poste ou mastro escada

aacutervore ou montanha Qualquer um desses elementos marca o limiar entre o

sagrado e o profano e torna-se o eixo de ligaccedilatildeo entre o ceacuteu a terra e o

mundo inferior (COUTO 2008 p1)

As muacutesicas iniciam-se quando os foliotildees chegam agrave casa de uma pessoa eacute em forma de

louvor onde o dono da residecircncia espera o teacutermino da canccedilatildeo para abrir a porta e oferecer a

sua casa como salatildeo de reza e brincadeira

A letra da muacutesica para sair de uma casa eacute em forma profana ou mesmo uma

contradanccedila que canta os acontecimentos do cotidiano familiar e do trabalho representa uma

forma de socializaccedilatildeo entre familiares amigos e conhecidos festejados do dia 10 aacute 20 de

janeiro que o aacutepice da festa

No canto em louvor10 ao Satildeo Sebastiatildeo pode-se identificar em alguns trechos a ligaccedilatildeo

dos devotos com o Santo

Eacute filho de um homem nobre

Ele estaacute lhe pedido uma esmola

Natildeo eacute por ganhar dinheiro

Mas pra cumprir uma promessa

No dia 20 de janeiro

Vocecirc jaacute pagou sua esmola

Cada um da o que pode

Vocecirc jaacute pagou sua esmola

Deus lhe dar merecimento

9 COUTO Edilece Souza DEVOCcedilOtildeES FESTAS E RITOS ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeE Revista Brasileira de

Histoacuteria das Religiotildees ndash Ano I no 1 ndash Dossiecirc Identidades Religiosas e Histoacuteria 10 O canto da Chegada em homenagem ao Santo SAtildeO SEBASTIAtildeO eacute entoado quando os foliotildees de Itagimirim-

Ba chegam agrave porta de uma residecircncia para Louvar A letra eacute cantada por todos os grupos que existiram e existe

na localidade natildeo se sabe quem eacute o verdadeiro autor No final da entrevista com Sr Jonas Almeida de Castro

cantou um trecho no entanto veio o interesse de transcrever e analisar alguns trecho na letra do canto

10

Deus lhe dar chuva santa

Para molhar seu mantimento

Viva Satildeo Sebastiatildeo

Ele chegou aqui

Quem tem promessa com ele

Ta na hora de cumprir

Viva Satildeo Sebastiatildeo

Eacute um santo de alegria

Quem tem saudade dele

Vai agrave reza do seu dia 11

Neste sentido o significado da muacutesica que os foliotildees cantam ao chegar a uma casa eacute

ldquopara louvar o dono da casa porque vocecirc cantar o Reis laacute fora e agradece dentro da casa

poreacutem a contra danccedila eacute uma musica entoadardquo isso que evidencia o Sr Jonas A de Castro (30-

05-14)

Sendo assim o festejo acontece nas casas das pessoas que compartilham com a devoccedilatildeo

a Satildeo Sebastiatildeo onde se reuacutenem com alegria dentre eles idosos crianccedilas jovens homens e

mulheres tendo momentos de oraccedilatildeo de comer de beber e festejar desde que a noite

chegava ateacute quando a noite desaparecia em belos raios de sol o local na muitas das vezes natildeo

eacute fixo passava de casa em casa dos que compartilhavam com a tradiccedilatildeo

Esse cortejo visita todas as casas do lugar que rezavam em forma musical com

instrumentos como gaitas caixas bumbas e violas maneira utilizada na maioria das festas e

festejos populares Os foliotildees do primeiro grupo de reisado trazem em suas memoacuterias um

milagre que foi atendido pelo santo que segundo Srordf Maria C Rodrigues um acontecimento

coletivo estabelece a devoccedilatildeo por Satildeo Sebastiatildeo

Minha matildee era professora e costureira laacute em Cachoeirinha (comunidade

desenvolvida na beira do rio Jequitinhonha) meu pai era canoeiro vendedor

ambulante em 1951 eu tinha um ano de idade eu natildeo lembro mas meus pais

contavam meu pai saia de Cachoeirinha para vim comprar farinha teve um

ano que ficou conhecido como o ano da fome que a seca foi tanta que natildeo

tinha como se achar o que comer Meu pai passa em Itagimirim que soacute

estava comeccedilando tinha aquela pracinha ali que hoje eacute a Castro Alves Soacute

tinha poucas casinhas ele vinha laacute de Gabiarra-Ba acampava aqui desde

11 Eacute o quinto sexto seacutetimo e oitavo trecho do canto de chegada em Louvor a Satildeo Sebastiatildeo entoado pelos

foliotildees da cidade de Itagimirim-Ba Letra relatada pelo Sr Jonas Almeida de Castro (30-05-14)

11

dessa eacutepoca eu com um ano de idade jaacute participo da histoacuteria de Itagimirim-

Ba Ele acampava aqui para trazer mantimento tinha um barracatildeo grande em

Cachoeirinha laacute ele leva as coisas comprava gado era magarefe ele servia

praticamente essa regiatildeo daqui todinha era meu pai trabalhava vendendo

coisa ambulante com as tropas que antigamente natildeo tinha carro eram tropas

34 5 6 burros Com aqueles caccediloar que hoje ainda existe em muito lugar

trazendo coisa para manter a regiatildeo Foi uma fome muito grande e nessa

eacutepoca Satildeo Sebastiatildeo junto com Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo eram padroeiro

de Cachoeirinha e todo mundo fazia promessa com ele pedindo chuva Que

levou um ano sem chover na regiatildeo na eacutepoca todo mundo carregava pedra

na cabeccedila para botar no cruzeiro da igreja de nossa senhora da Conceiccedilatildeo

para fazer penitecircncia como era chamado antigamente para pedir ao santo que

chovesse foi um ano de sofrimento quando levantou esse povo e fez essa

promessa foi quando surgiu a primeira festa a Satildeo Sebastiatildeo Quando choveu

todo mundo saiu de vermelho e branco homenageando a ele que a minha

folia ateacute hoje todos se vestem de vermelho e branco por causa dessa fome

que foi demais aqui na regiatildeo (Srordf Maria C Rodrigues 20-03-14)

Foi atraveacutes desse ritual que se constituiu a memoacuteria coletiva dessa populaccedilatildeo esse

acontecimento que fez desenvolver a religiosidade cultural Michel Pollak (1988 p 2) ao

analisar a memoacuteria como identidade social reflete que ldquo[] Eacute perfeitamente possiacutevel que por

meio da socializaccedilatildeo poliacutetica ou da socializaccedilatildeo histoacuterica ocorra um fenocircmeno de projeccedilatildeo

ou de identificaccedilatildeo com determinado passado tatildeo forte que podemos falar numa memoacuteria

quase que herdadardquo

Alguns habitantes de Cachoeirinha ao migrarem para a comunidade Itagimiriense

como no caso do primeiro grupo de reisado de religiatildeo Umbanda que montam seu terreiro em

sua fazenda nas proximidades de Itagimirim trazem o cortejo como uma forma de devoccedilatildeo e

tornando tambeacutem um espaccedilo de socializaccedilatildeo

Onde a maioria dos foliotildees relatou que essas praacuteticas de reisado e devoccedilatildeo a Satildeo

Sebastiatildeo esta relacionada com a histoacuteria de suas famiacutelias ligadas a acontecimentos como

Promessas milagres um momento difiacutecil ou alegrias e brincadeiras Hobsbawm (1997 p21)

afirma que ldquo[] o estudos dessas tradiccedilotildees esclarece bastante as relaccedilotildees humanas com seu

passado []rdquo

Entre costureiras vaqueiros pedreiros vendedores ambulantes accedilougueiros

professoras de primaacuterio e pessoas de pouca leitura mas de uma feacute grandiosa que faziam da

relaccedilatildeo com o ambiente uma forma de sobrevivecircncia e ligaccedilatildeo com o divino mesmo com

12

aacuterduo labor no campo essa relaccedilatildeo entre homem e divindade pode ser percebido no trecho do

canto de chegada

Deus lhe dar merecimento

Deus lhe dar chuva santa

Para molhar seu mantimento 12

Para a cidade que desenvolve a religiosidade popular foi um fator de extrema

importacircncia pois a relaccedilatildeo social do povo atraveacutes dos festejos tornou-se uma expressatildeo

devocional de identificaccedilatildeo entre eles No entanto as experiecircncias culturais Segundo Abreu

(2003 p 94-95) ldquo[] pode tambeacutem estimular a criaccedilatildeo de identidades sociais culturais e

viacutenculos duradouros entre grupos de reconhecida expressatildeo cultural ou religiosa como por

exemplo as escolas de samba os grupos que organizam folias de reis e congadasrdquo Para as

duas senhoras que tem centros de Umbanda em Itagimirim eacute uma missatildeo a seguir pois estaacute

ligado a uma promessa familiar e o compromisso passado a elas

O festejo criou viacutenculos duradouros entre os participantes pois suas expressotildees de feacute

estatildeo relacionadas no cotidiano familiar e por meio do lugar onde se encontram e

desenvolveu uma organizaccedilatildeo social que ao longo dos anos constituiu grupos distintos

Segundo Abreu (1999) ldquoatraveacutes das festas pode-se conhecer melhor a coletividaderdquo e com

isso quais indiviacuteduos que se relacionam com religiosidade popular

No entanto o que se discute neste trabalho eacute a festa enquanto espaccedilo de sociabilidade

a partir de uma memoacuteria coletiva e individual no espaccedilo social onde esta produccedilatildeo do

cotidiano ganha significado e que agrega valores entre o profano e o sagrado Sendo que estes

acontecimentos quebram o ritmo do cotidiano e estatildeo fixos dentro do calendaacuterio devocional

festivos das comunidades que desenvolvem os rituais

Os foliotildees no mecircs de janeiro quando saem agraves ruas apropriam dos espaccedilos puacuteblicos

festejando durante o dia eles mostram suas tradiccedilotildees para a populaccedilatildeo os indiviacuteduos ao

escrever suas tradiccedilotildees nos espaccedilos histoacutericos da cidade estatildeo demonstrando o seu lugar social

que segundo Larissa Novais Britto (2009)13

12 Parte do sexto trecho do canto de chegada que louva a Satildeo Sebastiatildeo entoado pelos foliotildees na cidade de

Itagimirim-Ba 13 A festa de Satildeo Benedito eacute um evento dinacircmico que eacute reinventado e reformulado atraveacutes de celebraccedilotildees

anuais descrito no trabalho monograacutefico de Larissa Novais Britto a festa se organiza no interior de uma

13

Nos dias da festa os negros saem do anonimato e assumem lugar de

destaque na cena urbana e promovem uma ruptura com a rotina cotidiana

extremamente marcada pela submissatildeo Ao danccedilar e cantar para seu santo

os festeiros revivem a liccedilotildees de seus ancestrais e revertem

momentaneamente o lugar secundaacuterio que ocupam na hierarquia do poder

local ( BRITTO 2009 p 9 )

Ao entrevistar as pessoas dessa comunidade que traz em suas memoacuterias um periacuteodo de

muitas recordaccedilotildees do tempo festivo no qual o homem rural criava seus modos de

sociabilidade atraveacutes de praacuteticas e instrumentos simples que faziam parte do seu cotidiano

Uma maneira de cultuar ao santo de forma direta atraveacutes de brincadeiras rezas

demonstraccedilotildees de feacute que tinha um grande significado diante de toda a expectativa para um

novo ano

Mediante a esses costumes e tradiccedilotildees que contribuem para o desenvolvimento da

localidade que teve avanccedilos permitindo que novos elementos fossem inseridos na festividade

Ao analisar a festa a Santos Reis na comunidade de aldeia com o processo de modernizaccedilatildeo

do lugar com a chegada da luz eleacutetrica que deu outros rumos ao ritual festivo apropriando de

outras caracteriacutesticas Brandatildeo (2010 P7) afirma que ldquo[] A festa em louvor a Santos Reis

esta viva justamente pela sua capacidade de se reinventar e natildeo pelo apego a uma praacutetica

ritualiacutestica congelada no tempordquo

A manifestaccedilatildeo de feacute eacute um espaccedilo de troca de saberes atraveacutes das praacuteticas culturais

seja no movimento das danccedilas ou manuseio dos instrumentos com muita alegria e devoccedilatildeo

sendo tambeacutem um lugar de afirmaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais

A festa eacute repleta de interesses e significados disfarccedilados Segundo Guarinello (2001

p974) ldquo[] o sentido da festa eacute portanto da identidade que propotildee e produz depende sempre

dos participantes eventuais ou desejados cuja presenccedila e envolvimento determinam o

sucesso e o significado uacuteltimo de qualquer festa []rdquo

Assim se constituiu a relaccedilatildeo existente entre os foliotildees e devotos Habitantes de um

espaccedilo rural e urbano que no periacuteodo do festejo migram de um local a outro levando a boa

nova atraveacutes do cortejo ao santo

irmandade religiosa e em funccedilatildeo de um mito fundador que remete a histoacuteria de vida de um santo que considerado

protetor do povo negro

14

O RITO

Todo mundo espera chegou primeiro de Janeiro O reisado de santos reis eacute agrave

noite o de SAtildeO SEBASTIAtildeO eacute de dia Se noacutes cantamos em uma rua canta

de um lado ateacute o final depois passamos para o outro lado noacutes natildeo podemos

cruzar bandeira (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-14)

No primeiro dia (10 de janeiro) acontece uma reza nos salotildees de umbanda e tambeacutem

na igreja catolica essa praacutetica eacute realizada tanto por um grupo quanto pelo outro Quando os

foliotildees saem do salatildeo em cortejo vatildeo direto a igreja neste espaccedilo fazem vaacuterios pedidos e

rezas

Poreacutem dentro da igreja apenas as violas e gaitas satildeo ultilizadas para acompanhar o

louvor trovado agrave Satildeo Sebatiatildeo Pode ser pela amanhatilde ou agrave tarde para pedir proteccedilatildeo durante os

dias que os foliotildees percorrem em fazendas cidades vizinhas para depois que estiver faltando

uns quatro dias para vinte de Janeiro que eacute o dia de comemoraccedilatildeo a Satildeo Sebastiatildeo eles

retornam a Itagimirim Como foliatildeo do primeiro grupo de reisado o Sr Diomario relata o

trajeto do primeiro dia

Quando noacutes descemos da casa de Ceicinha no primeiro dia com a bandeira

noacutes vamos direto a igreja noacutes cantamos na igreja depois noacutes esparramamos

nos gerais esparramamos no mundo noacutes vai para casa do prefeito que eacute de

obrigaccedilatildeo ele receber a bandeira (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-14)

O primeiro grupo reisado segue a seguinte rota vatildeo para cidade de Itabepi onde satildeo

recebidos com muita festa pela populaccedilatildeo e governante local que disponibiliza uma pousada

para os foliotildees descasarem Depois de quatro dias cantando nesta cidade retornam a

Itagimirim cantam em diversas casas finalizando com a reza do terccedilo no oratoacuterio dentro do

salatildeo entre os dias 20 (vinte) para 21 (vinte e um) de janeiro A preparaccedilatildeo do foliatildeo para a

reza do terccedilo no uacuteltimo dia de Festejo eacute evidenciado pelo O Sr Diomario

15

No dia vinte noacutes estamos chegando em casa para poder descansar de meio

dia para tarde tomar banho ajeitar para a noite ter a reza de sete para oito

horas da noite a gente reza ai encerrou aquele reisado depois da reza acabou

mas se noacutes querer amanhecer o dia brincado pulando fazendo contra danccedila

tomando cachaccedila comendo tira gosto porque ela mata um boi para dar

despesa para os foliotildees dela e alguns visitantes que querem acompanhar (Sr

Diomaacuterio de Jesus 04-05-14)

O segundo grupo de Reisado apoacutes as rezas em seu salatildeo de umbanda tambeacutem seguem

com o cortejo para a igreja catoacutelica a bandeira do santo representando o martiacuterio e estaacute

sempre agrave frente do grupo Nenhum foliatildeo passa a frente da bandeira ficando atraacutes e se por

acaso necessitar passar na frente da bandeira logo eacute reverenciada pelos foliotildees colocando se

de joelho e beijando o manto sagrado

Essa praacutetica tambeacutem eacute abordada por Abreu (1999 p 48) na festa do divino Espiacuterito

santo a partir dos relatos do Escritor Thomas Ewbank ldquo[] que sempre estranhava nossos

haacutebitos beijando-se tambeacutem a bandeira ou melhor ldquoafundava-se o rosto em suas dobrasrdquo

para realizar a devoccedilatildeo e tanto fazia se fossem pessoas brancas ou negras []rdquo

Beijar a bandeira com a imagem de Satildeo Sebastiatildeo para um devoto que participa do

cortejo eacute uma forma de respeito que expressa agrave fidelidade ao santo onde seus pedidos foram

ouvidos e realizados uma relaccedilatildeo de proximidade e confianccedila na intercessatildeo do santo diante

do divino

Os foliotildees dizem que antes de iniciar o cortejo vatildeo a igreja catoacutelica pedir proteccedilatildeo

com a presenccedila ou natildeo do padre eles pedem licenccedila e entra na igreja entoando seus cacircnticos

uns ajoelham outros cantam com muita entonaccedilatildeo A Srordf Maria diz que sempre cantou na

igreja ldquoEu natildeo sei por que natildeo mas realmente quando a gente chega laacute tem vez que o padre

natildeo esta mais a gente canta eacute um direito nosso que ali eacute a casa de Deus casa nossa ali eacute

portas abertardquo

Santos (2010) ao analisar o catolicismo na cidade Maragogipe-Ba a partir do culto a

Satildeo Bartolomeu nos anos de 1851 a 1943 Destaca a seguinte informaccedilatildeo

No Brasil colonial as manifestaccedilotildees religiosas tinham como caracteriacutestica a

superficialidade constituindo-se como uma religiatildeo epideacutermica de fundo

emocional comprazendo-se nas exterioridades do culto mesmo sem

16

compreendecirc-lo e tomando um gosto de festa de reuniatildeo social sem aquela

convicccedilatildeo profunda nascida de uma interioridade forte e espiritualizada

Essa superficialidade fez-se notar pela enfaacutetica predominacircncia de ritos

externos pelo colorido e pompa das praacuteticas exteriores Tudo se fazia para

cultuar e homenagear os santos protetores No fundo uma religiatildeo

imediatista distante da ortodoxia (SANTOS 2010 P 63)

Neste sentido a igreja catoacutelica na cidade de Itagimirim natildeo participa diretamente das

homenagens ao santo cultuado por parte da populaccedilatildeo mas respeita o louvor a Satildeo Sebastiatildeo

que eacute manifestado pelos foliotildees atraveacutes de uma devoccedilatildeo desenvolvida por vaacuterias famiacutelias

contudo pode se perceber que alguns dos devotos satildeo frequumlentadores das missas dominicais e

que tambeacutem participam de muitos eventos promovidos pela igreja Couto (2004) ao investigar

os estudos sobre religiatildeo oficial e religiosidade popular abordou que

A partir da emergecircncia da espiritualidade laica no seacuteculo XIII o clero sentiu

a necessidade de falar a mesma liacutengua dos fieacuteis utilizar formas orais nas

liturgias ndash cantos e sermotildees ndash aceitar procissotildees e peregrinaccedilotildees a oratoacuterios

consagrados pelo povo e as funccedilotildees pagatildes atribuiacutedas aos santos (P 45)

Apoacutes o rito dentro da igreja os foliotildees entram em um carro geralmente alugado pela

dona do reisado passando por fazendas e chegando ao distrito de Gabiarra municiacutepio de

Eunaacutepolis retornando por Uniatildeo Bainana (distrito de Itagimirim-Ba) que faz divisa com o

estado de Minas Gerais

E concluem o cortejo dentro da cidade de Itagimirim passando em muitas residecircncias

No dia 19 (dezenove) agraves 18h00 (dezoito) realizam um jantar depois de muita contra danccedila

com as oitavas um roda de oito pessoas com instrumentos como gaitas bumba viola

pandeiro pratos de esmalte e palmas girando e passando um pelo o outro Depois das

brincadeiras fazem uma pausa para rezar o terccedilo dentro do oratoacuterio na passagem do dia 19

(dezenove) para 20 (vinte) de Janeiro

Os foliotildees percorrem a regiatildeo anunciando a boa nova um tempo de paz e alegria cada

pessoa que recebe esse cortejo fortalece sua feacute e de seus familiares O festejo representa um

ato de feacute para as pessoas que se juntam para agradecer pelas becircnccedilatildeos recebidas ao longo do

ano com esperanccedilas de dias melhores e sendo entrelaccediladas pelos festejos natalinos e todas as

expectativas para um novo ano

17

O festejo serve tambeacutem para pagar uma promessa ou mesmo para seguir a tradiccedilatildeo

aleacutem da questatildeo religiosa o festejo representa um sentimento de pertencimento e sociabilidade

para as pessoas que herdaram a devoccedilatildeo Segundo relata Edilece Souza

No entanto natildeo podemos perder de vista que o cristianismo inaugurou o

tempo lituacutergico baseado na historicidade de Jesus Cristo Dessa forma o

tempo festivo eacute repetido mas natildeo eacute imoacutevel nem imutaacutevel Apesar de se

revelar especial e diferente do calendaacuterio profano tambeacutem natildeo eacute um evento

isolado pois quebra o ritmo regular do cotidiano promove a sociabilidade e

o sentimento de pertencimento e identidade em um determinado grupo

social (COUTO 2008 P 2)

Nem todos os devoltos dos dois ternos de reisado vatildeo para os cortejos nas fazendas ou

para outras cidades alguns ficam nos salotildees de oraccedilotildees preparando as comidas e bebidas

organizando para a chegada e finalizaccedilatildeo do festejo segundo o Sr Diomario foliatildeo do

primeiro grupo de reisado satildeo poucas as pessoas que ficam a frente do cortejo

Mas os dela (foliotildees) satildeo oito macho e quatro fecircmea que satildeo de carregar a

bandeirae os machos para tocar os instrumentos pois cada um daqueles oito

tem os instrumento deles que domina que satildeo reco-reco pandeiro a caixa

era de Ceicinha o bunda eacute de quem saber bater que nem esse Neo era

bumbeiro nosso Neo batia bumba muito bem mas agora ficou o filho de

Ceicinha que eacute bumbeiro dela tambeacutem eacute isso (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-

14)

O individuos pertecente a um grupo desde o seu nascimento e no decorrer da vida vatildeo

aquirindo os usos haacutebitos alimentares vestimentas moradia objetos de pertecimento

ensiados pelas pessoas idosas que tem experiecircncia a religiosidade que vai sendo transmitida

de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo independe de tamanho e de grupo social ao qual estaacute inserido

Resultando em caracteriacutesticas peculiares ou a chamada memoacuteria comum do grupo para

Jacqueline Hermann (1997) chega-se ao ponto onde religiatildeo e religiosidade se cruzam

Quando o cortejo chega na porta de uma casa cantam um louvor para chamar atenccedilatildeo

do morador ldquoPorque vocecirc canta o Reis laacute fora e agradece dentro da casa o dono da casa abre

a porta vocecirc entra ai deu bom dia vocecirc louva o dono da casa e agradece o Reisrdquo isso que nos

relata o Sr Jonas Almeida de Castro Depois do lovour abre a porta dentro da residecircncia foi

observando que em um trecho do canto o devoltos obedecem a letra

18

Ajoelha pecadores

Potildee seu joelho no chatildeo

Para cobrir com a bandeira

Viva satildeo Sebastiatildeo

Essa bandeira me salva

Quando chegar laacute no ceacuteu

Alevanta pecador

Todo coberto de veacuteu 14

Sendo assim a bandeira eacute passada pela cabeccedila de todos os devotos que ajoelham

algumas pessoas beijam o manto outras se emocionam e agradecem Para Brandatildeo (2011 P

64) ldquo[] A festa eacute o momento de reconhecer que foram agraciados com uma benccedilatildeo e que eacute

preciso retribuir []rdquo A contra danccedila ndash uma muacutesica entoada cantado coisas do cotidiano para

os foliotildees saiacuterem da residecircncia como aborda o Sr Jonas Almeida de Castro (2014)

Convidei meus companheiros

para fazer sociedade

Para roubar dessa cigana

um amor da eternidade

O ciganhinha hora eacute hora

quem quiser comigo eacute hora

Agrave Deus ponta da areia

que laacute vai a cigana embora

A festa eacute uma forma de diversatildeo tatildeo especial para os foliotildees que toca os instrumentos

por prazer em estar festejando que apaga todo o cansaccedilo do corpo Brandatildeo (2011 P74)

afirma que ldquoApesar de a festa ser uma celebraccedilatildeo do cotidiano das sociedades ela representa uma

quebra nesse cotidiano quando as pessoas deixam suas atividades do dia- a- dia para se

dedicarem ao seu inversordquo

Dois foliotildees relataram duas situaccedilotildees envolvendo o cortejo de Satildeo Sebastiatildeo a

primeira foi quando uma senhora os convidou o terno de reis para entrar em sua residecircncia

muito humilde Poreacutem a dona da casa tinha apenas dois ovos de galinha para oferecer nesta

situaccedilatildeo um foliatildeo fez a doaccedilatildeo por ela e devolveu a oferta da senhora A outra situaccedilatildeo eacute

14 Nona e deacutecima estrofe do canto de chegada em louvor a Satildeo Sebastiatildeo entoado pelos foliotildees em Itagimirim-

Ba

19

quando uma fita da bandeira do santo cai dentro de uma casa eacute sinal de milagre concedido ao

morador como Aborda dona Srordf Alzira P de Souza

Olha se cair na casa da pessoa eacute para pegar e guardar ali eacute uma virtude que

esta deixando na casa da pessoa e uma forccedila que esta deixando ali na casa

da pessoa o santo deixou cai aquela fita ali para agradecer e recomendar o

dono da casa (Srordf Alzira Pereira de Souza 08-05-14)

Para muitos moradores essa fita eacute utilizada como remeacutedio quando um familiar sente

uma dor amarando no local essa recordaccedilatildeo eacute guardada como muita alegria

Quando o reisado chega em uma rua eles cantam de um lado e depois do outro a

bandeira indo por um canto natildeo pode voltar pelo mesmo lugar tem que seguir o giro o

caminho aberto A Srordf Maria C Rodrigues relata que ldquoquando passo numa casa e vejo a porta

fechada eu acho que a pessoa natildeo quer que eu paro ai a bandeira passa se pedir para voltar

a gente natildeo pode maisrdquo Hobsbawm (1997) dialoga que entende-se por ldquotradiccedilatildeo inventadardquo

um conjunto de praacuteticas normalmente reguladas por regras taacutecita ou abertamente aceitas ldquo[]

tais praacuteticas de natureza ritual ou simboacutelica visam inculcar certos valores e normas de

comportamento atraacuteves de repeticcedilatildeo o que implica automaticamente uma continuidade em

relaccedilatildeo ao passado []rdquo

Muitas festas foram apontadas por vaacuterios pesquisadores do periacuteodo colonial como

forma de fugas e rebeliotildees ou sendo para assumir uma identidade por determinados grupos

nesse contexto as festas natildeo satildeo vistas simplesmente como passivas mas como oportunidade

de romper com o cotidiano

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O trabalho realizado atraveacutes do festejo de Satildeo Sebastiatildeo em Itagimirim-Ba investigou

e analisou o surgimento da manifestaccedilatildeo religiosa de caraacuteter popular sendo renovada e

20

modificada com as migraccedilotildees de pessoas vindas de outros povoados e municiacutepios da regiatildeo

re-significando a tradiccedilatildeo e incorporando novas praacuteticas

A devoccedilatildeo dos foliotildees por um santo representa uma afirmaccedilatildeo de identidade

possibilitando novas relaccedilotildees entre os homens e o meio social ao qual estaacute inserido

Rememorar natildeo significa trazer de volta a festa do mesmo jeito que era outrora e sim

reafirmar e reconstruir novos haacutebitos

O festejo eacute um elemento que fez e faz parte da origem e desenvolvimento da cidade

pois seus habitantes fundadores jaacute traziam em suas memoacuterias essa forma de socializaccedilatildeo

religiosa Que tambeacutem se construiu como um escape para os longos dias de trabalhos

quebrando o ritmo do cotidiano A manifestaccedilatildeo de feacute eacute um espaccedilo de troca de saberes atraveacutes

das praacuteticas de alegria e devoccedilatildeo sendo um lugar de afirmaccedilatildeo de relaccedilotildees sociais ou criar

novos laccedilos de amizade o que fundamental para comunidade itagimiriense

REFEREcircNCIAS

ABREU Marta Cultura popular um conceito e vaacuterias histoacuterias In Ensino de Histoacuteria

conceitos temaacuteticas e metodologia Martha Abreu amp Rachel Sohiet (orgs) Rio de Janeiro

Casa da Palavra 2003

ALBERTI Verena Manual de Histoacuteria oral ndash 3 ed ndash Rio de Janeiro Editora FGV 2005

BOSI Ecleacutea Memoacuteria e Sociedade Lembranccedilas de Velhos ndash 3 ed ndashSatildeo Paulo Companhia

das letras 1994

BRANDAtildeO Alex Sandro da Conceiccedilatildeo Santos Reis Festa Poder e Memoacuteria (Governador

Mangabeira- BA 1970-2000) Artigo apresentado no X Encontro Nacional de Histoacuteria Oral

Recife 2010

21

BRANDAtildeO Alex Sandro da Conceiccedilatildeo Santos Reis festa poder e memoacuteria na comunidade

rural de aldeia (Governador Mangabeira- BA 1970-2000) Dissertaccedilatildeo apresentada ao

programa de poacutes-graduaccedilatildeo em histoacuteria regional e local da universidade do estado da

BahiaUNEB Santo Antonio de Jesus ndash BA abril ndash 2011

BRITTO Larissa Novais Festa de Satildeo Benedito O Sagrado e o profano nas festas regiliosas

de origem africana em Porto Seguro-Ba Monografia apresentada a UNEB Eunaacutepolis 2009

CASTRO Jakson Viana de Educaccedilatildeo patrimonial um instrumento de ensino para Histoacuteria local

Monografia apresentada a UNEB Eunaacutepolis 2009

CHALHOUB Sidney Visotildees da liberdade uma histoacuteria das uacuteltimas deacutecadas da escravidatildeo

na Corte Sidney Chalhoub mdash Satildeo Paulo Companhia das Letras 2011

COUTO Edilece Souza Devoccedilotildees festas e ritos algumas consideraccedilotildees Revista Brasileira

de Histoacuteria das Religiotildees ndash Ano I no 1 ndash Dossiecirc Identidades Religiosas e Histoacuteria Maio

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HERMANN Jacqueline Histoacuteria das religiotildees e religiosidades Domiacutenios da Historia

ensaios da teoria e metodologias Ciro Flamrion Cardoso Ronaldo Vainfas (orgs) Rio de

Janeiro Campus 1997

HOBSBAWM Eric A invenccedilatildeo das tradiccedilotildees Eric Hobsbawn e Terenge Ranger

organizadores Traduccedilatildeo Celina Cardim Cavalgante 2ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro 1997

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel emwwwibgegovbr acesso

dia 06-05-12 agraves 13h00min

JANCSOacute Istvaacutem KANTOR Iris (orgs) Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica

Portuguesa Volume I Satildeo Paulo 2001

JANCSOacute Istvaacutenamp KANTOR Iris Festa Cultura e Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa (2

volumes) Satildeo Paulo Imprensa Oficial Hucitec Edusp Fapesp 2001

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Conceiccedilatildeo da Cachoeirinha do Baixo Jequitinhonhandash Brasiacutelia 2010

22

2 NASCIMENTO Mara Regina do Religiosidade e cultura popular Catolicismo

irmandades e tradiccedilotildees em movimento Revista da Catoacutelica Uberlacircndia v 1 n 2 p 119-130

2009 ndash catolicaonlinecom BR revista da catoacutelica

PORTELLI Alessandro Histoacuteria Oral e Poder Transcriccedilatildeo de Luiz Henrique dos Santos

Blume a partir do arquivo em aacuteudio wmp Traduccedilatildeo de Luiz Henrique dos Santos Blume e

Heliana de Barros Conde Rodrigues Mnemosine Vol6 nordm2 p 2-13 (2010) ndash Artigos

Conferecircncia no XXV Simpoacutesio Nacional da ANPUH Fortaleza 2009

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monique augras A ediccedilatildeo eacute de Dora Rocha Flaksman Estudos histoacutericos rio de janeiro vol

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POLLAK Michel Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Conferecircncia foi transcrita e traduzida

por monique augras A ediccedilatildeo eacute de Dora Rocha Flaksman Estudos Histoacutericos Rio de

Janeiro vol 2 n 3 1989 p 3-15

PIRES Flaacutevia A Festa de Satildeo Sebastiatildeo em Catingueira transformaccedilotildees e permanecircncias dez

anos depois Revista de antropologia Satildeo Paulo USP 2011 v 54 nordm 2 Artigo Recebido em

novembro de 2010 Aceito em julho de 2011

SOIHET Rachel Histoacuteria das mulheres Domiacutenios da Historia ensaios da teoria e

metodologias Ciro Flamrion Cardoso Ronaldo Vainfas (orgs) Rio de Janeiro Campus

1997

SANTANA Tacircnia de Devoccedilotildees catoacutelicas entre os negros na Bahia colonial Artigo

apresentado na participaccedilatildeo no evento Fala Professor em 250803 promovido pelo curso de

Histoacuteria das Faculdades Jorge Amado

SANTOS Fernanda reis dos ldquoa festa do excelso padroeiro da cidade das palmeirasrdquo o culto

a satildeo Bartolomeu em Maragogipe (1851-1943) dissertaccedilatildeo apresentada ao programa de poacutes-

graduaccedilatildeo em histoacuteria da faculdade de filosofia e ciecircncias humanas universidade federal da

Bahia Salvador 2010

VAINFAS Ronaldo Da festa tupinambaacute ao sabaacute tropical a catequese pelo avesso Istvaacutem

Jancsoacute Iris kantor (orgs)Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa Volume I

Satildeo Paulo 2001

Page 8: FESTEJOS DE SÃO SEBASTIÃO EM ITAGIMIRIM-BA ......1 FESTEJOS DE SÃO SEBASTIÃO EM ITAGIMIRIM-BA: Memória e História de Um Povo (1960- 1998) Jairo Viana de Castro1 INTRODUÇÃO

8

Foto cedida pela Srordf Alzira Pereira de Souza do arquivo familiar fotoacutegrafo desconhecido Ano 1972

Nesta imagem se pode verificar o Sr Joaquim Teixeira (jaacute falecido) que estaacute atraacutes e no

lado direito da porta bandeira com seu grupo de Reisado os seus foliotildees vestido de branco e

vermelho poreacutem ele nos cortejos estava sempre com seu vestuaacuterio branco que relatava ser

sua devoccedilatildeo Outro aspecto visiacutevel na populaccedilatildeo itagimiriense satildeo seus traccedilos com diversos

grupos eacutetnicos que habitavam a regiatildeo

O que se concluiu em relaccedilatildeo ao outro grupo e seu desaparecimento estatildeo

relacionados com questotildees financeiras pois muitos habitantes deixaram a cidade para

procurar melhores condiccedilotildees de vida nos grandes centros urbanos

OS FOLIOtildeES E O ESPACcedilO SACRALIZADO

As festas de Satildeo Joatildeo foram sempre diferentes do reisado que todo ano tem

o reisado de SAtildeO SEBASTIAtildeO comeccedila do dia primeiro de janeiro que o

primeiro reis eacute Santo Reis (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-14)

Os foliotildees representam uma manifestaccedilatildeo de feacute em movimento poreacutem enquanto estaacute

festejando em uma residecircncia aquele espaccedilo eacute sacralizado pelos que compartilham com o

festejo a bandeira com a imagem do santo representa o martiacuterio a santificaccedilatildeo a interseccedilatildeo

9

para aqueles que sofrem com as condiccedilotildees de vidas precaacuterias a fome a peste e as afliccedilotildees

sendo descriminados por expressarem seu sentimento religioso

No festejo de Satildeo Sebastiatildeo eacute possiacutevel ver elementos do sagrado e do profano No

entanto o espaccedilo sagrado eacute delimitado Segundo Edilece Souza eacute preciso criar limites entre os

espaccedilos sagrado e profano9

No entanto eacute necessaacuterio sacralizar o espaccedilo para que ele seja habitado E por

isso procura-se um eixo um centro de orientaccedilatildeo que pode ser um templo

o local ou o altar de sacrifiacutecio de um animal cruz poste ou mastro escada

aacutervore ou montanha Qualquer um desses elementos marca o limiar entre o

sagrado e o profano e torna-se o eixo de ligaccedilatildeo entre o ceacuteu a terra e o

mundo inferior (COUTO 2008 p1)

As muacutesicas iniciam-se quando os foliotildees chegam agrave casa de uma pessoa eacute em forma de

louvor onde o dono da residecircncia espera o teacutermino da canccedilatildeo para abrir a porta e oferecer a

sua casa como salatildeo de reza e brincadeira

A letra da muacutesica para sair de uma casa eacute em forma profana ou mesmo uma

contradanccedila que canta os acontecimentos do cotidiano familiar e do trabalho representa uma

forma de socializaccedilatildeo entre familiares amigos e conhecidos festejados do dia 10 aacute 20 de

janeiro que o aacutepice da festa

No canto em louvor10 ao Satildeo Sebastiatildeo pode-se identificar em alguns trechos a ligaccedilatildeo

dos devotos com o Santo

Eacute filho de um homem nobre

Ele estaacute lhe pedido uma esmola

Natildeo eacute por ganhar dinheiro

Mas pra cumprir uma promessa

No dia 20 de janeiro

Vocecirc jaacute pagou sua esmola

Cada um da o que pode

Vocecirc jaacute pagou sua esmola

Deus lhe dar merecimento

9 COUTO Edilece Souza DEVOCcedilOtildeES FESTAS E RITOS ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeE Revista Brasileira de

Histoacuteria das Religiotildees ndash Ano I no 1 ndash Dossiecirc Identidades Religiosas e Histoacuteria 10 O canto da Chegada em homenagem ao Santo SAtildeO SEBASTIAtildeO eacute entoado quando os foliotildees de Itagimirim-

Ba chegam agrave porta de uma residecircncia para Louvar A letra eacute cantada por todos os grupos que existiram e existe

na localidade natildeo se sabe quem eacute o verdadeiro autor No final da entrevista com Sr Jonas Almeida de Castro

cantou um trecho no entanto veio o interesse de transcrever e analisar alguns trecho na letra do canto

10

Deus lhe dar chuva santa

Para molhar seu mantimento

Viva Satildeo Sebastiatildeo

Ele chegou aqui

Quem tem promessa com ele

Ta na hora de cumprir

Viva Satildeo Sebastiatildeo

Eacute um santo de alegria

Quem tem saudade dele

Vai agrave reza do seu dia 11

Neste sentido o significado da muacutesica que os foliotildees cantam ao chegar a uma casa eacute

ldquopara louvar o dono da casa porque vocecirc cantar o Reis laacute fora e agradece dentro da casa

poreacutem a contra danccedila eacute uma musica entoadardquo isso que evidencia o Sr Jonas A de Castro (30-

05-14)

Sendo assim o festejo acontece nas casas das pessoas que compartilham com a devoccedilatildeo

a Satildeo Sebastiatildeo onde se reuacutenem com alegria dentre eles idosos crianccedilas jovens homens e

mulheres tendo momentos de oraccedilatildeo de comer de beber e festejar desde que a noite

chegava ateacute quando a noite desaparecia em belos raios de sol o local na muitas das vezes natildeo

eacute fixo passava de casa em casa dos que compartilhavam com a tradiccedilatildeo

Esse cortejo visita todas as casas do lugar que rezavam em forma musical com

instrumentos como gaitas caixas bumbas e violas maneira utilizada na maioria das festas e

festejos populares Os foliotildees do primeiro grupo de reisado trazem em suas memoacuterias um

milagre que foi atendido pelo santo que segundo Srordf Maria C Rodrigues um acontecimento

coletivo estabelece a devoccedilatildeo por Satildeo Sebastiatildeo

Minha matildee era professora e costureira laacute em Cachoeirinha (comunidade

desenvolvida na beira do rio Jequitinhonha) meu pai era canoeiro vendedor

ambulante em 1951 eu tinha um ano de idade eu natildeo lembro mas meus pais

contavam meu pai saia de Cachoeirinha para vim comprar farinha teve um

ano que ficou conhecido como o ano da fome que a seca foi tanta que natildeo

tinha como se achar o que comer Meu pai passa em Itagimirim que soacute

estava comeccedilando tinha aquela pracinha ali que hoje eacute a Castro Alves Soacute

tinha poucas casinhas ele vinha laacute de Gabiarra-Ba acampava aqui desde

11 Eacute o quinto sexto seacutetimo e oitavo trecho do canto de chegada em Louvor a Satildeo Sebastiatildeo entoado pelos

foliotildees da cidade de Itagimirim-Ba Letra relatada pelo Sr Jonas Almeida de Castro (30-05-14)

11

dessa eacutepoca eu com um ano de idade jaacute participo da histoacuteria de Itagimirim-

Ba Ele acampava aqui para trazer mantimento tinha um barracatildeo grande em

Cachoeirinha laacute ele leva as coisas comprava gado era magarefe ele servia

praticamente essa regiatildeo daqui todinha era meu pai trabalhava vendendo

coisa ambulante com as tropas que antigamente natildeo tinha carro eram tropas

34 5 6 burros Com aqueles caccediloar que hoje ainda existe em muito lugar

trazendo coisa para manter a regiatildeo Foi uma fome muito grande e nessa

eacutepoca Satildeo Sebastiatildeo junto com Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo eram padroeiro

de Cachoeirinha e todo mundo fazia promessa com ele pedindo chuva Que

levou um ano sem chover na regiatildeo na eacutepoca todo mundo carregava pedra

na cabeccedila para botar no cruzeiro da igreja de nossa senhora da Conceiccedilatildeo

para fazer penitecircncia como era chamado antigamente para pedir ao santo que

chovesse foi um ano de sofrimento quando levantou esse povo e fez essa

promessa foi quando surgiu a primeira festa a Satildeo Sebastiatildeo Quando choveu

todo mundo saiu de vermelho e branco homenageando a ele que a minha

folia ateacute hoje todos se vestem de vermelho e branco por causa dessa fome

que foi demais aqui na regiatildeo (Srordf Maria C Rodrigues 20-03-14)

Foi atraveacutes desse ritual que se constituiu a memoacuteria coletiva dessa populaccedilatildeo esse

acontecimento que fez desenvolver a religiosidade cultural Michel Pollak (1988 p 2) ao

analisar a memoacuteria como identidade social reflete que ldquo[] Eacute perfeitamente possiacutevel que por

meio da socializaccedilatildeo poliacutetica ou da socializaccedilatildeo histoacuterica ocorra um fenocircmeno de projeccedilatildeo

ou de identificaccedilatildeo com determinado passado tatildeo forte que podemos falar numa memoacuteria

quase que herdadardquo

Alguns habitantes de Cachoeirinha ao migrarem para a comunidade Itagimiriense

como no caso do primeiro grupo de reisado de religiatildeo Umbanda que montam seu terreiro em

sua fazenda nas proximidades de Itagimirim trazem o cortejo como uma forma de devoccedilatildeo e

tornando tambeacutem um espaccedilo de socializaccedilatildeo

Onde a maioria dos foliotildees relatou que essas praacuteticas de reisado e devoccedilatildeo a Satildeo

Sebastiatildeo esta relacionada com a histoacuteria de suas famiacutelias ligadas a acontecimentos como

Promessas milagres um momento difiacutecil ou alegrias e brincadeiras Hobsbawm (1997 p21)

afirma que ldquo[] o estudos dessas tradiccedilotildees esclarece bastante as relaccedilotildees humanas com seu

passado []rdquo

Entre costureiras vaqueiros pedreiros vendedores ambulantes accedilougueiros

professoras de primaacuterio e pessoas de pouca leitura mas de uma feacute grandiosa que faziam da

relaccedilatildeo com o ambiente uma forma de sobrevivecircncia e ligaccedilatildeo com o divino mesmo com

12

aacuterduo labor no campo essa relaccedilatildeo entre homem e divindade pode ser percebido no trecho do

canto de chegada

Deus lhe dar merecimento

Deus lhe dar chuva santa

Para molhar seu mantimento 12

Para a cidade que desenvolve a religiosidade popular foi um fator de extrema

importacircncia pois a relaccedilatildeo social do povo atraveacutes dos festejos tornou-se uma expressatildeo

devocional de identificaccedilatildeo entre eles No entanto as experiecircncias culturais Segundo Abreu

(2003 p 94-95) ldquo[] pode tambeacutem estimular a criaccedilatildeo de identidades sociais culturais e

viacutenculos duradouros entre grupos de reconhecida expressatildeo cultural ou religiosa como por

exemplo as escolas de samba os grupos que organizam folias de reis e congadasrdquo Para as

duas senhoras que tem centros de Umbanda em Itagimirim eacute uma missatildeo a seguir pois estaacute

ligado a uma promessa familiar e o compromisso passado a elas

O festejo criou viacutenculos duradouros entre os participantes pois suas expressotildees de feacute

estatildeo relacionadas no cotidiano familiar e por meio do lugar onde se encontram e

desenvolveu uma organizaccedilatildeo social que ao longo dos anos constituiu grupos distintos

Segundo Abreu (1999) ldquoatraveacutes das festas pode-se conhecer melhor a coletividaderdquo e com

isso quais indiviacuteduos que se relacionam com religiosidade popular

No entanto o que se discute neste trabalho eacute a festa enquanto espaccedilo de sociabilidade

a partir de uma memoacuteria coletiva e individual no espaccedilo social onde esta produccedilatildeo do

cotidiano ganha significado e que agrega valores entre o profano e o sagrado Sendo que estes

acontecimentos quebram o ritmo do cotidiano e estatildeo fixos dentro do calendaacuterio devocional

festivos das comunidades que desenvolvem os rituais

Os foliotildees no mecircs de janeiro quando saem agraves ruas apropriam dos espaccedilos puacuteblicos

festejando durante o dia eles mostram suas tradiccedilotildees para a populaccedilatildeo os indiviacuteduos ao

escrever suas tradiccedilotildees nos espaccedilos histoacutericos da cidade estatildeo demonstrando o seu lugar social

que segundo Larissa Novais Britto (2009)13

12 Parte do sexto trecho do canto de chegada que louva a Satildeo Sebastiatildeo entoado pelos foliotildees na cidade de

Itagimirim-Ba 13 A festa de Satildeo Benedito eacute um evento dinacircmico que eacute reinventado e reformulado atraveacutes de celebraccedilotildees

anuais descrito no trabalho monograacutefico de Larissa Novais Britto a festa se organiza no interior de uma

13

Nos dias da festa os negros saem do anonimato e assumem lugar de

destaque na cena urbana e promovem uma ruptura com a rotina cotidiana

extremamente marcada pela submissatildeo Ao danccedilar e cantar para seu santo

os festeiros revivem a liccedilotildees de seus ancestrais e revertem

momentaneamente o lugar secundaacuterio que ocupam na hierarquia do poder

local ( BRITTO 2009 p 9 )

Ao entrevistar as pessoas dessa comunidade que traz em suas memoacuterias um periacuteodo de

muitas recordaccedilotildees do tempo festivo no qual o homem rural criava seus modos de

sociabilidade atraveacutes de praacuteticas e instrumentos simples que faziam parte do seu cotidiano

Uma maneira de cultuar ao santo de forma direta atraveacutes de brincadeiras rezas

demonstraccedilotildees de feacute que tinha um grande significado diante de toda a expectativa para um

novo ano

Mediante a esses costumes e tradiccedilotildees que contribuem para o desenvolvimento da

localidade que teve avanccedilos permitindo que novos elementos fossem inseridos na festividade

Ao analisar a festa a Santos Reis na comunidade de aldeia com o processo de modernizaccedilatildeo

do lugar com a chegada da luz eleacutetrica que deu outros rumos ao ritual festivo apropriando de

outras caracteriacutesticas Brandatildeo (2010 P7) afirma que ldquo[] A festa em louvor a Santos Reis

esta viva justamente pela sua capacidade de se reinventar e natildeo pelo apego a uma praacutetica

ritualiacutestica congelada no tempordquo

A manifestaccedilatildeo de feacute eacute um espaccedilo de troca de saberes atraveacutes das praacuteticas culturais

seja no movimento das danccedilas ou manuseio dos instrumentos com muita alegria e devoccedilatildeo

sendo tambeacutem um lugar de afirmaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais

A festa eacute repleta de interesses e significados disfarccedilados Segundo Guarinello (2001

p974) ldquo[] o sentido da festa eacute portanto da identidade que propotildee e produz depende sempre

dos participantes eventuais ou desejados cuja presenccedila e envolvimento determinam o

sucesso e o significado uacuteltimo de qualquer festa []rdquo

Assim se constituiu a relaccedilatildeo existente entre os foliotildees e devotos Habitantes de um

espaccedilo rural e urbano que no periacuteodo do festejo migram de um local a outro levando a boa

nova atraveacutes do cortejo ao santo

irmandade religiosa e em funccedilatildeo de um mito fundador que remete a histoacuteria de vida de um santo que considerado

protetor do povo negro

14

O RITO

Todo mundo espera chegou primeiro de Janeiro O reisado de santos reis eacute agrave

noite o de SAtildeO SEBASTIAtildeO eacute de dia Se noacutes cantamos em uma rua canta

de um lado ateacute o final depois passamos para o outro lado noacutes natildeo podemos

cruzar bandeira (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-14)

No primeiro dia (10 de janeiro) acontece uma reza nos salotildees de umbanda e tambeacutem

na igreja catolica essa praacutetica eacute realizada tanto por um grupo quanto pelo outro Quando os

foliotildees saem do salatildeo em cortejo vatildeo direto a igreja neste espaccedilo fazem vaacuterios pedidos e

rezas

Poreacutem dentro da igreja apenas as violas e gaitas satildeo ultilizadas para acompanhar o

louvor trovado agrave Satildeo Sebatiatildeo Pode ser pela amanhatilde ou agrave tarde para pedir proteccedilatildeo durante os

dias que os foliotildees percorrem em fazendas cidades vizinhas para depois que estiver faltando

uns quatro dias para vinte de Janeiro que eacute o dia de comemoraccedilatildeo a Satildeo Sebastiatildeo eles

retornam a Itagimirim Como foliatildeo do primeiro grupo de reisado o Sr Diomario relata o

trajeto do primeiro dia

Quando noacutes descemos da casa de Ceicinha no primeiro dia com a bandeira

noacutes vamos direto a igreja noacutes cantamos na igreja depois noacutes esparramamos

nos gerais esparramamos no mundo noacutes vai para casa do prefeito que eacute de

obrigaccedilatildeo ele receber a bandeira (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-14)

O primeiro grupo reisado segue a seguinte rota vatildeo para cidade de Itabepi onde satildeo

recebidos com muita festa pela populaccedilatildeo e governante local que disponibiliza uma pousada

para os foliotildees descasarem Depois de quatro dias cantando nesta cidade retornam a

Itagimirim cantam em diversas casas finalizando com a reza do terccedilo no oratoacuterio dentro do

salatildeo entre os dias 20 (vinte) para 21 (vinte e um) de janeiro A preparaccedilatildeo do foliatildeo para a

reza do terccedilo no uacuteltimo dia de Festejo eacute evidenciado pelo O Sr Diomario

15

No dia vinte noacutes estamos chegando em casa para poder descansar de meio

dia para tarde tomar banho ajeitar para a noite ter a reza de sete para oito

horas da noite a gente reza ai encerrou aquele reisado depois da reza acabou

mas se noacutes querer amanhecer o dia brincado pulando fazendo contra danccedila

tomando cachaccedila comendo tira gosto porque ela mata um boi para dar

despesa para os foliotildees dela e alguns visitantes que querem acompanhar (Sr

Diomaacuterio de Jesus 04-05-14)

O segundo grupo de Reisado apoacutes as rezas em seu salatildeo de umbanda tambeacutem seguem

com o cortejo para a igreja catoacutelica a bandeira do santo representando o martiacuterio e estaacute

sempre agrave frente do grupo Nenhum foliatildeo passa a frente da bandeira ficando atraacutes e se por

acaso necessitar passar na frente da bandeira logo eacute reverenciada pelos foliotildees colocando se

de joelho e beijando o manto sagrado

Essa praacutetica tambeacutem eacute abordada por Abreu (1999 p 48) na festa do divino Espiacuterito

santo a partir dos relatos do Escritor Thomas Ewbank ldquo[] que sempre estranhava nossos

haacutebitos beijando-se tambeacutem a bandeira ou melhor ldquoafundava-se o rosto em suas dobrasrdquo

para realizar a devoccedilatildeo e tanto fazia se fossem pessoas brancas ou negras []rdquo

Beijar a bandeira com a imagem de Satildeo Sebastiatildeo para um devoto que participa do

cortejo eacute uma forma de respeito que expressa agrave fidelidade ao santo onde seus pedidos foram

ouvidos e realizados uma relaccedilatildeo de proximidade e confianccedila na intercessatildeo do santo diante

do divino

Os foliotildees dizem que antes de iniciar o cortejo vatildeo a igreja catoacutelica pedir proteccedilatildeo

com a presenccedila ou natildeo do padre eles pedem licenccedila e entra na igreja entoando seus cacircnticos

uns ajoelham outros cantam com muita entonaccedilatildeo A Srordf Maria diz que sempre cantou na

igreja ldquoEu natildeo sei por que natildeo mas realmente quando a gente chega laacute tem vez que o padre

natildeo esta mais a gente canta eacute um direito nosso que ali eacute a casa de Deus casa nossa ali eacute

portas abertardquo

Santos (2010) ao analisar o catolicismo na cidade Maragogipe-Ba a partir do culto a

Satildeo Bartolomeu nos anos de 1851 a 1943 Destaca a seguinte informaccedilatildeo

No Brasil colonial as manifestaccedilotildees religiosas tinham como caracteriacutestica a

superficialidade constituindo-se como uma religiatildeo epideacutermica de fundo

emocional comprazendo-se nas exterioridades do culto mesmo sem

16

compreendecirc-lo e tomando um gosto de festa de reuniatildeo social sem aquela

convicccedilatildeo profunda nascida de uma interioridade forte e espiritualizada

Essa superficialidade fez-se notar pela enfaacutetica predominacircncia de ritos

externos pelo colorido e pompa das praacuteticas exteriores Tudo se fazia para

cultuar e homenagear os santos protetores No fundo uma religiatildeo

imediatista distante da ortodoxia (SANTOS 2010 P 63)

Neste sentido a igreja catoacutelica na cidade de Itagimirim natildeo participa diretamente das

homenagens ao santo cultuado por parte da populaccedilatildeo mas respeita o louvor a Satildeo Sebastiatildeo

que eacute manifestado pelos foliotildees atraveacutes de uma devoccedilatildeo desenvolvida por vaacuterias famiacutelias

contudo pode se perceber que alguns dos devotos satildeo frequumlentadores das missas dominicais e

que tambeacutem participam de muitos eventos promovidos pela igreja Couto (2004) ao investigar

os estudos sobre religiatildeo oficial e religiosidade popular abordou que

A partir da emergecircncia da espiritualidade laica no seacuteculo XIII o clero sentiu

a necessidade de falar a mesma liacutengua dos fieacuteis utilizar formas orais nas

liturgias ndash cantos e sermotildees ndash aceitar procissotildees e peregrinaccedilotildees a oratoacuterios

consagrados pelo povo e as funccedilotildees pagatildes atribuiacutedas aos santos (P 45)

Apoacutes o rito dentro da igreja os foliotildees entram em um carro geralmente alugado pela

dona do reisado passando por fazendas e chegando ao distrito de Gabiarra municiacutepio de

Eunaacutepolis retornando por Uniatildeo Bainana (distrito de Itagimirim-Ba) que faz divisa com o

estado de Minas Gerais

E concluem o cortejo dentro da cidade de Itagimirim passando em muitas residecircncias

No dia 19 (dezenove) agraves 18h00 (dezoito) realizam um jantar depois de muita contra danccedila

com as oitavas um roda de oito pessoas com instrumentos como gaitas bumba viola

pandeiro pratos de esmalte e palmas girando e passando um pelo o outro Depois das

brincadeiras fazem uma pausa para rezar o terccedilo dentro do oratoacuterio na passagem do dia 19

(dezenove) para 20 (vinte) de Janeiro

Os foliotildees percorrem a regiatildeo anunciando a boa nova um tempo de paz e alegria cada

pessoa que recebe esse cortejo fortalece sua feacute e de seus familiares O festejo representa um

ato de feacute para as pessoas que se juntam para agradecer pelas becircnccedilatildeos recebidas ao longo do

ano com esperanccedilas de dias melhores e sendo entrelaccediladas pelos festejos natalinos e todas as

expectativas para um novo ano

17

O festejo serve tambeacutem para pagar uma promessa ou mesmo para seguir a tradiccedilatildeo

aleacutem da questatildeo religiosa o festejo representa um sentimento de pertencimento e sociabilidade

para as pessoas que herdaram a devoccedilatildeo Segundo relata Edilece Souza

No entanto natildeo podemos perder de vista que o cristianismo inaugurou o

tempo lituacutergico baseado na historicidade de Jesus Cristo Dessa forma o

tempo festivo eacute repetido mas natildeo eacute imoacutevel nem imutaacutevel Apesar de se

revelar especial e diferente do calendaacuterio profano tambeacutem natildeo eacute um evento

isolado pois quebra o ritmo regular do cotidiano promove a sociabilidade e

o sentimento de pertencimento e identidade em um determinado grupo

social (COUTO 2008 P 2)

Nem todos os devoltos dos dois ternos de reisado vatildeo para os cortejos nas fazendas ou

para outras cidades alguns ficam nos salotildees de oraccedilotildees preparando as comidas e bebidas

organizando para a chegada e finalizaccedilatildeo do festejo segundo o Sr Diomario foliatildeo do

primeiro grupo de reisado satildeo poucas as pessoas que ficam a frente do cortejo

Mas os dela (foliotildees) satildeo oito macho e quatro fecircmea que satildeo de carregar a

bandeirae os machos para tocar os instrumentos pois cada um daqueles oito

tem os instrumento deles que domina que satildeo reco-reco pandeiro a caixa

era de Ceicinha o bunda eacute de quem saber bater que nem esse Neo era

bumbeiro nosso Neo batia bumba muito bem mas agora ficou o filho de

Ceicinha que eacute bumbeiro dela tambeacutem eacute isso (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-

14)

O individuos pertecente a um grupo desde o seu nascimento e no decorrer da vida vatildeo

aquirindo os usos haacutebitos alimentares vestimentas moradia objetos de pertecimento

ensiados pelas pessoas idosas que tem experiecircncia a religiosidade que vai sendo transmitida

de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo independe de tamanho e de grupo social ao qual estaacute inserido

Resultando em caracteriacutesticas peculiares ou a chamada memoacuteria comum do grupo para

Jacqueline Hermann (1997) chega-se ao ponto onde religiatildeo e religiosidade se cruzam

Quando o cortejo chega na porta de uma casa cantam um louvor para chamar atenccedilatildeo

do morador ldquoPorque vocecirc canta o Reis laacute fora e agradece dentro da casa o dono da casa abre

a porta vocecirc entra ai deu bom dia vocecirc louva o dono da casa e agradece o Reisrdquo isso que nos

relata o Sr Jonas Almeida de Castro Depois do lovour abre a porta dentro da residecircncia foi

observando que em um trecho do canto o devoltos obedecem a letra

18

Ajoelha pecadores

Potildee seu joelho no chatildeo

Para cobrir com a bandeira

Viva satildeo Sebastiatildeo

Essa bandeira me salva

Quando chegar laacute no ceacuteu

Alevanta pecador

Todo coberto de veacuteu 14

Sendo assim a bandeira eacute passada pela cabeccedila de todos os devotos que ajoelham

algumas pessoas beijam o manto outras se emocionam e agradecem Para Brandatildeo (2011 P

64) ldquo[] A festa eacute o momento de reconhecer que foram agraciados com uma benccedilatildeo e que eacute

preciso retribuir []rdquo A contra danccedila ndash uma muacutesica entoada cantado coisas do cotidiano para

os foliotildees saiacuterem da residecircncia como aborda o Sr Jonas Almeida de Castro (2014)

Convidei meus companheiros

para fazer sociedade

Para roubar dessa cigana

um amor da eternidade

O ciganhinha hora eacute hora

quem quiser comigo eacute hora

Agrave Deus ponta da areia

que laacute vai a cigana embora

A festa eacute uma forma de diversatildeo tatildeo especial para os foliotildees que toca os instrumentos

por prazer em estar festejando que apaga todo o cansaccedilo do corpo Brandatildeo (2011 P74)

afirma que ldquoApesar de a festa ser uma celebraccedilatildeo do cotidiano das sociedades ela representa uma

quebra nesse cotidiano quando as pessoas deixam suas atividades do dia- a- dia para se

dedicarem ao seu inversordquo

Dois foliotildees relataram duas situaccedilotildees envolvendo o cortejo de Satildeo Sebastiatildeo a

primeira foi quando uma senhora os convidou o terno de reis para entrar em sua residecircncia

muito humilde Poreacutem a dona da casa tinha apenas dois ovos de galinha para oferecer nesta

situaccedilatildeo um foliatildeo fez a doaccedilatildeo por ela e devolveu a oferta da senhora A outra situaccedilatildeo eacute

14 Nona e deacutecima estrofe do canto de chegada em louvor a Satildeo Sebastiatildeo entoado pelos foliotildees em Itagimirim-

Ba

19

quando uma fita da bandeira do santo cai dentro de uma casa eacute sinal de milagre concedido ao

morador como Aborda dona Srordf Alzira P de Souza

Olha se cair na casa da pessoa eacute para pegar e guardar ali eacute uma virtude que

esta deixando na casa da pessoa e uma forccedila que esta deixando ali na casa

da pessoa o santo deixou cai aquela fita ali para agradecer e recomendar o

dono da casa (Srordf Alzira Pereira de Souza 08-05-14)

Para muitos moradores essa fita eacute utilizada como remeacutedio quando um familiar sente

uma dor amarando no local essa recordaccedilatildeo eacute guardada como muita alegria

Quando o reisado chega em uma rua eles cantam de um lado e depois do outro a

bandeira indo por um canto natildeo pode voltar pelo mesmo lugar tem que seguir o giro o

caminho aberto A Srordf Maria C Rodrigues relata que ldquoquando passo numa casa e vejo a porta

fechada eu acho que a pessoa natildeo quer que eu paro ai a bandeira passa se pedir para voltar

a gente natildeo pode maisrdquo Hobsbawm (1997) dialoga que entende-se por ldquotradiccedilatildeo inventadardquo

um conjunto de praacuteticas normalmente reguladas por regras taacutecita ou abertamente aceitas ldquo[]

tais praacuteticas de natureza ritual ou simboacutelica visam inculcar certos valores e normas de

comportamento atraacuteves de repeticcedilatildeo o que implica automaticamente uma continuidade em

relaccedilatildeo ao passado []rdquo

Muitas festas foram apontadas por vaacuterios pesquisadores do periacuteodo colonial como

forma de fugas e rebeliotildees ou sendo para assumir uma identidade por determinados grupos

nesse contexto as festas natildeo satildeo vistas simplesmente como passivas mas como oportunidade

de romper com o cotidiano

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O trabalho realizado atraveacutes do festejo de Satildeo Sebastiatildeo em Itagimirim-Ba investigou

e analisou o surgimento da manifestaccedilatildeo religiosa de caraacuteter popular sendo renovada e

20

modificada com as migraccedilotildees de pessoas vindas de outros povoados e municiacutepios da regiatildeo

re-significando a tradiccedilatildeo e incorporando novas praacuteticas

A devoccedilatildeo dos foliotildees por um santo representa uma afirmaccedilatildeo de identidade

possibilitando novas relaccedilotildees entre os homens e o meio social ao qual estaacute inserido

Rememorar natildeo significa trazer de volta a festa do mesmo jeito que era outrora e sim

reafirmar e reconstruir novos haacutebitos

O festejo eacute um elemento que fez e faz parte da origem e desenvolvimento da cidade

pois seus habitantes fundadores jaacute traziam em suas memoacuterias essa forma de socializaccedilatildeo

religiosa Que tambeacutem se construiu como um escape para os longos dias de trabalhos

quebrando o ritmo do cotidiano A manifestaccedilatildeo de feacute eacute um espaccedilo de troca de saberes atraveacutes

das praacuteticas de alegria e devoccedilatildeo sendo um lugar de afirmaccedilatildeo de relaccedilotildees sociais ou criar

novos laccedilos de amizade o que fundamental para comunidade itagimiriense

REFEREcircNCIAS

ABREU Marta Cultura popular um conceito e vaacuterias histoacuterias In Ensino de Histoacuteria

conceitos temaacuteticas e metodologia Martha Abreu amp Rachel Sohiet (orgs) Rio de Janeiro

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das letras 1994

BRANDAtildeO Alex Sandro da Conceiccedilatildeo Santos Reis Festa Poder e Memoacuteria (Governador

Mangabeira- BA 1970-2000) Artigo apresentado no X Encontro Nacional de Histoacuteria Oral

Recife 2010

21

BRANDAtildeO Alex Sandro da Conceiccedilatildeo Santos Reis festa poder e memoacuteria na comunidade

rural de aldeia (Governador Mangabeira- BA 1970-2000) Dissertaccedilatildeo apresentada ao

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de origem africana em Porto Seguro-Ba Monografia apresentada a UNEB Eunaacutepolis 2009

CASTRO Jakson Viana de Educaccedilatildeo patrimonial um instrumento de ensino para Histoacuteria local

Monografia apresentada a UNEB Eunaacutepolis 2009

CHALHOUB Sidney Visotildees da liberdade uma histoacuteria das uacuteltimas deacutecadas da escravidatildeo

na Corte Sidney Chalhoub mdash Satildeo Paulo Companhia das Letras 2011

COUTO Edilece Souza Devoccedilotildees festas e ritos algumas consideraccedilotildees Revista Brasileira

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ensaios da teoria e metodologias Ciro Flamrion Cardoso Ronaldo Vainfas (orgs) Rio de

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dia 06-05-12 agraves 13h00min

JANCSOacute Istvaacutem KANTOR Iris (orgs) Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica

Portuguesa Volume I Satildeo Paulo 2001

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monique augras A ediccedilatildeo eacute de Dora Rocha Flaksman Estudos histoacutericos rio de janeiro vol

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POLLAK Michel Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Conferecircncia foi transcrita e traduzida

por monique augras A ediccedilatildeo eacute de Dora Rocha Flaksman Estudos Histoacutericos Rio de

Janeiro vol 2 n 3 1989 p 3-15

PIRES Flaacutevia A Festa de Satildeo Sebastiatildeo em Catingueira transformaccedilotildees e permanecircncias dez

anos depois Revista de antropologia Satildeo Paulo USP 2011 v 54 nordm 2 Artigo Recebido em

novembro de 2010 Aceito em julho de 2011

SOIHET Rachel Histoacuteria das mulheres Domiacutenios da Historia ensaios da teoria e

metodologias Ciro Flamrion Cardoso Ronaldo Vainfas (orgs) Rio de Janeiro Campus

1997

SANTANA Tacircnia de Devoccedilotildees catoacutelicas entre os negros na Bahia colonial Artigo

apresentado na participaccedilatildeo no evento Fala Professor em 250803 promovido pelo curso de

Histoacuteria das Faculdades Jorge Amado

SANTOS Fernanda reis dos ldquoa festa do excelso padroeiro da cidade das palmeirasrdquo o culto

a satildeo Bartolomeu em Maragogipe (1851-1943) dissertaccedilatildeo apresentada ao programa de poacutes-

graduaccedilatildeo em histoacuteria da faculdade de filosofia e ciecircncias humanas universidade federal da

Bahia Salvador 2010

VAINFAS Ronaldo Da festa tupinambaacute ao sabaacute tropical a catequese pelo avesso Istvaacutem

Jancsoacute Iris kantor (orgs)Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa Volume I

Satildeo Paulo 2001

Page 9: FESTEJOS DE SÃO SEBASTIÃO EM ITAGIMIRIM-BA ......1 FESTEJOS DE SÃO SEBASTIÃO EM ITAGIMIRIM-BA: Memória e História de Um Povo (1960- 1998) Jairo Viana de Castro1 INTRODUÇÃO

9

para aqueles que sofrem com as condiccedilotildees de vidas precaacuterias a fome a peste e as afliccedilotildees

sendo descriminados por expressarem seu sentimento religioso

No festejo de Satildeo Sebastiatildeo eacute possiacutevel ver elementos do sagrado e do profano No

entanto o espaccedilo sagrado eacute delimitado Segundo Edilece Souza eacute preciso criar limites entre os

espaccedilos sagrado e profano9

No entanto eacute necessaacuterio sacralizar o espaccedilo para que ele seja habitado E por

isso procura-se um eixo um centro de orientaccedilatildeo que pode ser um templo

o local ou o altar de sacrifiacutecio de um animal cruz poste ou mastro escada

aacutervore ou montanha Qualquer um desses elementos marca o limiar entre o

sagrado e o profano e torna-se o eixo de ligaccedilatildeo entre o ceacuteu a terra e o

mundo inferior (COUTO 2008 p1)

As muacutesicas iniciam-se quando os foliotildees chegam agrave casa de uma pessoa eacute em forma de

louvor onde o dono da residecircncia espera o teacutermino da canccedilatildeo para abrir a porta e oferecer a

sua casa como salatildeo de reza e brincadeira

A letra da muacutesica para sair de uma casa eacute em forma profana ou mesmo uma

contradanccedila que canta os acontecimentos do cotidiano familiar e do trabalho representa uma

forma de socializaccedilatildeo entre familiares amigos e conhecidos festejados do dia 10 aacute 20 de

janeiro que o aacutepice da festa

No canto em louvor10 ao Satildeo Sebastiatildeo pode-se identificar em alguns trechos a ligaccedilatildeo

dos devotos com o Santo

Eacute filho de um homem nobre

Ele estaacute lhe pedido uma esmola

Natildeo eacute por ganhar dinheiro

Mas pra cumprir uma promessa

No dia 20 de janeiro

Vocecirc jaacute pagou sua esmola

Cada um da o que pode

Vocecirc jaacute pagou sua esmola

Deus lhe dar merecimento

9 COUTO Edilece Souza DEVOCcedilOtildeES FESTAS E RITOS ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeE Revista Brasileira de

Histoacuteria das Religiotildees ndash Ano I no 1 ndash Dossiecirc Identidades Religiosas e Histoacuteria 10 O canto da Chegada em homenagem ao Santo SAtildeO SEBASTIAtildeO eacute entoado quando os foliotildees de Itagimirim-

Ba chegam agrave porta de uma residecircncia para Louvar A letra eacute cantada por todos os grupos que existiram e existe

na localidade natildeo se sabe quem eacute o verdadeiro autor No final da entrevista com Sr Jonas Almeida de Castro

cantou um trecho no entanto veio o interesse de transcrever e analisar alguns trecho na letra do canto

10

Deus lhe dar chuva santa

Para molhar seu mantimento

Viva Satildeo Sebastiatildeo

Ele chegou aqui

Quem tem promessa com ele

Ta na hora de cumprir

Viva Satildeo Sebastiatildeo

Eacute um santo de alegria

Quem tem saudade dele

Vai agrave reza do seu dia 11

Neste sentido o significado da muacutesica que os foliotildees cantam ao chegar a uma casa eacute

ldquopara louvar o dono da casa porque vocecirc cantar o Reis laacute fora e agradece dentro da casa

poreacutem a contra danccedila eacute uma musica entoadardquo isso que evidencia o Sr Jonas A de Castro (30-

05-14)

Sendo assim o festejo acontece nas casas das pessoas que compartilham com a devoccedilatildeo

a Satildeo Sebastiatildeo onde se reuacutenem com alegria dentre eles idosos crianccedilas jovens homens e

mulheres tendo momentos de oraccedilatildeo de comer de beber e festejar desde que a noite

chegava ateacute quando a noite desaparecia em belos raios de sol o local na muitas das vezes natildeo

eacute fixo passava de casa em casa dos que compartilhavam com a tradiccedilatildeo

Esse cortejo visita todas as casas do lugar que rezavam em forma musical com

instrumentos como gaitas caixas bumbas e violas maneira utilizada na maioria das festas e

festejos populares Os foliotildees do primeiro grupo de reisado trazem em suas memoacuterias um

milagre que foi atendido pelo santo que segundo Srordf Maria C Rodrigues um acontecimento

coletivo estabelece a devoccedilatildeo por Satildeo Sebastiatildeo

Minha matildee era professora e costureira laacute em Cachoeirinha (comunidade

desenvolvida na beira do rio Jequitinhonha) meu pai era canoeiro vendedor

ambulante em 1951 eu tinha um ano de idade eu natildeo lembro mas meus pais

contavam meu pai saia de Cachoeirinha para vim comprar farinha teve um

ano que ficou conhecido como o ano da fome que a seca foi tanta que natildeo

tinha como se achar o que comer Meu pai passa em Itagimirim que soacute

estava comeccedilando tinha aquela pracinha ali que hoje eacute a Castro Alves Soacute

tinha poucas casinhas ele vinha laacute de Gabiarra-Ba acampava aqui desde

11 Eacute o quinto sexto seacutetimo e oitavo trecho do canto de chegada em Louvor a Satildeo Sebastiatildeo entoado pelos

foliotildees da cidade de Itagimirim-Ba Letra relatada pelo Sr Jonas Almeida de Castro (30-05-14)

11

dessa eacutepoca eu com um ano de idade jaacute participo da histoacuteria de Itagimirim-

Ba Ele acampava aqui para trazer mantimento tinha um barracatildeo grande em

Cachoeirinha laacute ele leva as coisas comprava gado era magarefe ele servia

praticamente essa regiatildeo daqui todinha era meu pai trabalhava vendendo

coisa ambulante com as tropas que antigamente natildeo tinha carro eram tropas

34 5 6 burros Com aqueles caccediloar que hoje ainda existe em muito lugar

trazendo coisa para manter a regiatildeo Foi uma fome muito grande e nessa

eacutepoca Satildeo Sebastiatildeo junto com Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo eram padroeiro

de Cachoeirinha e todo mundo fazia promessa com ele pedindo chuva Que

levou um ano sem chover na regiatildeo na eacutepoca todo mundo carregava pedra

na cabeccedila para botar no cruzeiro da igreja de nossa senhora da Conceiccedilatildeo

para fazer penitecircncia como era chamado antigamente para pedir ao santo que

chovesse foi um ano de sofrimento quando levantou esse povo e fez essa

promessa foi quando surgiu a primeira festa a Satildeo Sebastiatildeo Quando choveu

todo mundo saiu de vermelho e branco homenageando a ele que a minha

folia ateacute hoje todos se vestem de vermelho e branco por causa dessa fome

que foi demais aqui na regiatildeo (Srordf Maria C Rodrigues 20-03-14)

Foi atraveacutes desse ritual que se constituiu a memoacuteria coletiva dessa populaccedilatildeo esse

acontecimento que fez desenvolver a religiosidade cultural Michel Pollak (1988 p 2) ao

analisar a memoacuteria como identidade social reflete que ldquo[] Eacute perfeitamente possiacutevel que por

meio da socializaccedilatildeo poliacutetica ou da socializaccedilatildeo histoacuterica ocorra um fenocircmeno de projeccedilatildeo

ou de identificaccedilatildeo com determinado passado tatildeo forte que podemos falar numa memoacuteria

quase que herdadardquo

Alguns habitantes de Cachoeirinha ao migrarem para a comunidade Itagimiriense

como no caso do primeiro grupo de reisado de religiatildeo Umbanda que montam seu terreiro em

sua fazenda nas proximidades de Itagimirim trazem o cortejo como uma forma de devoccedilatildeo e

tornando tambeacutem um espaccedilo de socializaccedilatildeo

Onde a maioria dos foliotildees relatou que essas praacuteticas de reisado e devoccedilatildeo a Satildeo

Sebastiatildeo esta relacionada com a histoacuteria de suas famiacutelias ligadas a acontecimentos como

Promessas milagres um momento difiacutecil ou alegrias e brincadeiras Hobsbawm (1997 p21)

afirma que ldquo[] o estudos dessas tradiccedilotildees esclarece bastante as relaccedilotildees humanas com seu

passado []rdquo

Entre costureiras vaqueiros pedreiros vendedores ambulantes accedilougueiros

professoras de primaacuterio e pessoas de pouca leitura mas de uma feacute grandiosa que faziam da

relaccedilatildeo com o ambiente uma forma de sobrevivecircncia e ligaccedilatildeo com o divino mesmo com

12

aacuterduo labor no campo essa relaccedilatildeo entre homem e divindade pode ser percebido no trecho do

canto de chegada

Deus lhe dar merecimento

Deus lhe dar chuva santa

Para molhar seu mantimento 12

Para a cidade que desenvolve a religiosidade popular foi um fator de extrema

importacircncia pois a relaccedilatildeo social do povo atraveacutes dos festejos tornou-se uma expressatildeo

devocional de identificaccedilatildeo entre eles No entanto as experiecircncias culturais Segundo Abreu

(2003 p 94-95) ldquo[] pode tambeacutem estimular a criaccedilatildeo de identidades sociais culturais e

viacutenculos duradouros entre grupos de reconhecida expressatildeo cultural ou religiosa como por

exemplo as escolas de samba os grupos que organizam folias de reis e congadasrdquo Para as

duas senhoras que tem centros de Umbanda em Itagimirim eacute uma missatildeo a seguir pois estaacute

ligado a uma promessa familiar e o compromisso passado a elas

O festejo criou viacutenculos duradouros entre os participantes pois suas expressotildees de feacute

estatildeo relacionadas no cotidiano familiar e por meio do lugar onde se encontram e

desenvolveu uma organizaccedilatildeo social que ao longo dos anos constituiu grupos distintos

Segundo Abreu (1999) ldquoatraveacutes das festas pode-se conhecer melhor a coletividaderdquo e com

isso quais indiviacuteduos que se relacionam com religiosidade popular

No entanto o que se discute neste trabalho eacute a festa enquanto espaccedilo de sociabilidade

a partir de uma memoacuteria coletiva e individual no espaccedilo social onde esta produccedilatildeo do

cotidiano ganha significado e que agrega valores entre o profano e o sagrado Sendo que estes

acontecimentos quebram o ritmo do cotidiano e estatildeo fixos dentro do calendaacuterio devocional

festivos das comunidades que desenvolvem os rituais

Os foliotildees no mecircs de janeiro quando saem agraves ruas apropriam dos espaccedilos puacuteblicos

festejando durante o dia eles mostram suas tradiccedilotildees para a populaccedilatildeo os indiviacuteduos ao

escrever suas tradiccedilotildees nos espaccedilos histoacutericos da cidade estatildeo demonstrando o seu lugar social

que segundo Larissa Novais Britto (2009)13

12 Parte do sexto trecho do canto de chegada que louva a Satildeo Sebastiatildeo entoado pelos foliotildees na cidade de

Itagimirim-Ba 13 A festa de Satildeo Benedito eacute um evento dinacircmico que eacute reinventado e reformulado atraveacutes de celebraccedilotildees

anuais descrito no trabalho monograacutefico de Larissa Novais Britto a festa se organiza no interior de uma

13

Nos dias da festa os negros saem do anonimato e assumem lugar de

destaque na cena urbana e promovem uma ruptura com a rotina cotidiana

extremamente marcada pela submissatildeo Ao danccedilar e cantar para seu santo

os festeiros revivem a liccedilotildees de seus ancestrais e revertem

momentaneamente o lugar secundaacuterio que ocupam na hierarquia do poder

local ( BRITTO 2009 p 9 )

Ao entrevistar as pessoas dessa comunidade que traz em suas memoacuterias um periacuteodo de

muitas recordaccedilotildees do tempo festivo no qual o homem rural criava seus modos de

sociabilidade atraveacutes de praacuteticas e instrumentos simples que faziam parte do seu cotidiano

Uma maneira de cultuar ao santo de forma direta atraveacutes de brincadeiras rezas

demonstraccedilotildees de feacute que tinha um grande significado diante de toda a expectativa para um

novo ano

Mediante a esses costumes e tradiccedilotildees que contribuem para o desenvolvimento da

localidade que teve avanccedilos permitindo que novos elementos fossem inseridos na festividade

Ao analisar a festa a Santos Reis na comunidade de aldeia com o processo de modernizaccedilatildeo

do lugar com a chegada da luz eleacutetrica que deu outros rumos ao ritual festivo apropriando de

outras caracteriacutesticas Brandatildeo (2010 P7) afirma que ldquo[] A festa em louvor a Santos Reis

esta viva justamente pela sua capacidade de se reinventar e natildeo pelo apego a uma praacutetica

ritualiacutestica congelada no tempordquo

A manifestaccedilatildeo de feacute eacute um espaccedilo de troca de saberes atraveacutes das praacuteticas culturais

seja no movimento das danccedilas ou manuseio dos instrumentos com muita alegria e devoccedilatildeo

sendo tambeacutem um lugar de afirmaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais

A festa eacute repleta de interesses e significados disfarccedilados Segundo Guarinello (2001

p974) ldquo[] o sentido da festa eacute portanto da identidade que propotildee e produz depende sempre

dos participantes eventuais ou desejados cuja presenccedila e envolvimento determinam o

sucesso e o significado uacuteltimo de qualquer festa []rdquo

Assim se constituiu a relaccedilatildeo existente entre os foliotildees e devotos Habitantes de um

espaccedilo rural e urbano que no periacuteodo do festejo migram de um local a outro levando a boa

nova atraveacutes do cortejo ao santo

irmandade religiosa e em funccedilatildeo de um mito fundador que remete a histoacuteria de vida de um santo que considerado

protetor do povo negro

14

O RITO

Todo mundo espera chegou primeiro de Janeiro O reisado de santos reis eacute agrave

noite o de SAtildeO SEBASTIAtildeO eacute de dia Se noacutes cantamos em uma rua canta

de um lado ateacute o final depois passamos para o outro lado noacutes natildeo podemos

cruzar bandeira (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-14)

No primeiro dia (10 de janeiro) acontece uma reza nos salotildees de umbanda e tambeacutem

na igreja catolica essa praacutetica eacute realizada tanto por um grupo quanto pelo outro Quando os

foliotildees saem do salatildeo em cortejo vatildeo direto a igreja neste espaccedilo fazem vaacuterios pedidos e

rezas

Poreacutem dentro da igreja apenas as violas e gaitas satildeo ultilizadas para acompanhar o

louvor trovado agrave Satildeo Sebatiatildeo Pode ser pela amanhatilde ou agrave tarde para pedir proteccedilatildeo durante os

dias que os foliotildees percorrem em fazendas cidades vizinhas para depois que estiver faltando

uns quatro dias para vinte de Janeiro que eacute o dia de comemoraccedilatildeo a Satildeo Sebastiatildeo eles

retornam a Itagimirim Como foliatildeo do primeiro grupo de reisado o Sr Diomario relata o

trajeto do primeiro dia

Quando noacutes descemos da casa de Ceicinha no primeiro dia com a bandeira

noacutes vamos direto a igreja noacutes cantamos na igreja depois noacutes esparramamos

nos gerais esparramamos no mundo noacutes vai para casa do prefeito que eacute de

obrigaccedilatildeo ele receber a bandeira (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-14)

O primeiro grupo reisado segue a seguinte rota vatildeo para cidade de Itabepi onde satildeo

recebidos com muita festa pela populaccedilatildeo e governante local que disponibiliza uma pousada

para os foliotildees descasarem Depois de quatro dias cantando nesta cidade retornam a

Itagimirim cantam em diversas casas finalizando com a reza do terccedilo no oratoacuterio dentro do

salatildeo entre os dias 20 (vinte) para 21 (vinte e um) de janeiro A preparaccedilatildeo do foliatildeo para a

reza do terccedilo no uacuteltimo dia de Festejo eacute evidenciado pelo O Sr Diomario

15

No dia vinte noacutes estamos chegando em casa para poder descansar de meio

dia para tarde tomar banho ajeitar para a noite ter a reza de sete para oito

horas da noite a gente reza ai encerrou aquele reisado depois da reza acabou

mas se noacutes querer amanhecer o dia brincado pulando fazendo contra danccedila

tomando cachaccedila comendo tira gosto porque ela mata um boi para dar

despesa para os foliotildees dela e alguns visitantes que querem acompanhar (Sr

Diomaacuterio de Jesus 04-05-14)

O segundo grupo de Reisado apoacutes as rezas em seu salatildeo de umbanda tambeacutem seguem

com o cortejo para a igreja catoacutelica a bandeira do santo representando o martiacuterio e estaacute

sempre agrave frente do grupo Nenhum foliatildeo passa a frente da bandeira ficando atraacutes e se por

acaso necessitar passar na frente da bandeira logo eacute reverenciada pelos foliotildees colocando se

de joelho e beijando o manto sagrado

Essa praacutetica tambeacutem eacute abordada por Abreu (1999 p 48) na festa do divino Espiacuterito

santo a partir dos relatos do Escritor Thomas Ewbank ldquo[] que sempre estranhava nossos

haacutebitos beijando-se tambeacutem a bandeira ou melhor ldquoafundava-se o rosto em suas dobrasrdquo

para realizar a devoccedilatildeo e tanto fazia se fossem pessoas brancas ou negras []rdquo

Beijar a bandeira com a imagem de Satildeo Sebastiatildeo para um devoto que participa do

cortejo eacute uma forma de respeito que expressa agrave fidelidade ao santo onde seus pedidos foram

ouvidos e realizados uma relaccedilatildeo de proximidade e confianccedila na intercessatildeo do santo diante

do divino

Os foliotildees dizem que antes de iniciar o cortejo vatildeo a igreja catoacutelica pedir proteccedilatildeo

com a presenccedila ou natildeo do padre eles pedem licenccedila e entra na igreja entoando seus cacircnticos

uns ajoelham outros cantam com muita entonaccedilatildeo A Srordf Maria diz que sempre cantou na

igreja ldquoEu natildeo sei por que natildeo mas realmente quando a gente chega laacute tem vez que o padre

natildeo esta mais a gente canta eacute um direito nosso que ali eacute a casa de Deus casa nossa ali eacute

portas abertardquo

Santos (2010) ao analisar o catolicismo na cidade Maragogipe-Ba a partir do culto a

Satildeo Bartolomeu nos anos de 1851 a 1943 Destaca a seguinte informaccedilatildeo

No Brasil colonial as manifestaccedilotildees religiosas tinham como caracteriacutestica a

superficialidade constituindo-se como uma religiatildeo epideacutermica de fundo

emocional comprazendo-se nas exterioridades do culto mesmo sem

16

compreendecirc-lo e tomando um gosto de festa de reuniatildeo social sem aquela

convicccedilatildeo profunda nascida de uma interioridade forte e espiritualizada

Essa superficialidade fez-se notar pela enfaacutetica predominacircncia de ritos

externos pelo colorido e pompa das praacuteticas exteriores Tudo se fazia para

cultuar e homenagear os santos protetores No fundo uma religiatildeo

imediatista distante da ortodoxia (SANTOS 2010 P 63)

Neste sentido a igreja catoacutelica na cidade de Itagimirim natildeo participa diretamente das

homenagens ao santo cultuado por parte da populaccedilatildeo mas respeita o louvor a Satildeo Sebastiatildeo

que eacute manifestado pelos foliotildees atraveacutes de uma devoccedilatildeo desenvolvida por vaacuterias famiacutelias

contudo pode se perceber que alguns dos devotos satildeo frequumlentadores das missas dominicais e

que tambeacutem participam de muitos eventos promovidos pela igreja Couto (2004) ao investigar

os estudos sobre religiatildeo oficial e religiosidade popular abordou que

A partir da emergecircncia da espiritualidade laica no seacuteculo XIII o clero sentiu

a necessidade de falar a mesma liacutengua dos fieacuteis utilizar formas orais nas

liturgias ndash cantos e sermotildees ndash aceitar procissotildees e peregrinaccedilotildees a oratoacuterios

consagrados pelo povo e as funccedilotildees pagatildes atribuiacutedas aos santos (P 45)

Apoacutes o rito dentro da igreja os foliotildees entram em um carro geralmente alugado pela

dona do reisado passando por fazendas e chegando ao distrito de Gabiarra municiacutepio de

Eunaacutepolis retornando por Uniatildeo Bainana (distrito de Itagimirim-Ba) que faz divisa com o

estado de Minas Gerais

E concluem o cortejo dentro da cidade de Itagimirim passando em muitas residecircncias

No dia 19 (dezenove) agraves 18h00 (dezoito) realizam um jantar depois de muita contra danccedila

com as oitavas um roda de oito pessoas com instrumentos como gaitas bumba viola

pandeiro pratos de esmalte e palmas girando e passando um pelo o outro Depois das

brincadeiras fazem uma pausa para rezar o terccedilo dentro do oratoacuterio na passagem do dia 19

(dezenove) para 20 (vinte) de Janeiro

Os foliotildees percorrem a regiatildeo anunciando a boa nova um tempo de paz e alegria cada

pessoa que recebe esse cortejo fortalece sua feacute e de seus familiares O festejo representa um

ato de feacute para as pessoas que se juntam para agradecer pelas becircnccedilatildeos recebidas ao longo do

ano com esperanccedilas de dias melhores e sendo entrelaccediladas pelos festejos natalinos e todas as

expectativas para um novo ano

17

O festejo serve tambeacutem para pagar uma promessa ou mesmo para seguir a tradiccedilatildeo

aleacutem da questatildeo religiosa o festejo representa um sentimento de pertencimento e sociabilidade

para as pessoas que herdaram a devoccedilatildeo Segundo relata Edilece Souza

No entanto natildeo podemos perder de vista que o cristianismo inaugurou o

tempo lituacutergico baseado na historicidade de Jesus Cristo Dessa forma o

tempo festivo eacute repetido mas natildeo eacute imoacutevel nem imutaacutevel Apesar de se

revelar especial e diferente do calendaacuterio profano tambeacutem natildeo eacute um evento

isolado pois quebra o ritmo regular do cotidiano promove a sociabilidade e

o sentimento de pertencimento e identidade em um determinado grupo

social (COUTO 2008 P 2)

Nem todos os devoltos dos dois ternos de reisado vatildeo para os cortejos nas fazendas ou

para outras cidades alguns ficam nos salotildees de oraccedilotildees preparando as comidas e bebidas

organizando para a chegada e finalizaccedilatildeo do festejo segundo o Sr Diomario foliatildeo do

primeiro grupo de reisado satildeo poucas as pessoas que ficam a frente do cortejo

Mas os dela (foliotildees) satildeo oito macho e quatro fecircmea que satildeo de carregar a

bandeirae os machos para tocar os instrumentos pois cada um daqueles oito

tem os instrumento deles que domina que satildeo reco-reco pandeiro a caixa

era de Ceicinha o bunda eacute de quem saber bater que nem esse Neo era

bumbeiro nosso Neo batia bumba muito bem mas agora ficou o filho de

Ceicinha que eacute bumbeiro dela tambeacutem eacute isso (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-

14)

O individuos pertecente a um grupo desde o seu nascimento e no decorrer da vida vatildeo

aquirindo os usos haacutebitos alimentares vestimentas moradia objetos de pertecimento

ensiados pelas pessoas idosas que tem experiecircncia a religiosidade que vai sendo transmitida

de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo independe de tamanho e de grupo social ao qual estaacute inserido

Resultando em caracteriacutesticas peculiares ou a chamada memoacuteria comum do grupo para

Jacqueline Hermann (1997) chega-se ao ponto onde religiatildeo e religiosidade se cruzam

Quando o cortejo chega na porta de uma casa cantam um louvor para chamar atenccedilatildeo

do morador ldquoPorque vocecirc canta o Reis laacute fora e agradece dentro da casa o dono da casa abre

a porta vocecirc entra ai deu bom dia vocecirc louva o dono da casa e agradece o Reisrdquo isso que nos

relata o Sr Jonas Almeida de Castro Depois do lovour abre a porta dentro da residecircncia foi

observando que em um trecho do canto o devoltos obedecem a letra

18

Ajoelha pecadores

Potildee seu joelho no chatildeo

Para cobrir com a bandeira

Viva satildeo Sebastiatildeo

Essa bandeira me salva

Quando chegar laacute no ceacuteu

Alevanta pecador

Todo coberto de veacuteu 14

Sendo assim a bandeira eacute passada pela cabeccedila de todos os devotos que ajoelham

algumas pessoas beijam o manto outras se emocionam e agradecem Para Brandatildeo (2011 P

64) ldquo[] A festa eacute o momento de reconhecer que foram agraciados com uma benccedilatildeo e que eacute

preciso retribuir []rdquo A contra danccedila ndash uma muacutesica entoada cantado coisas do cotidiano para

os foliotildees saiacuterem da residecircncia como aborda o Sr Jonas Almeida de Castro (2014)

Convidei meus companheiros

para fazer sociedade

Para roubar dessa cigana

um amor da eternidade

O ciganhinha hora eacute hora

quem quiser comigo eacute hora

Agrave Deus ponta da areia

que laacute vai a cigana embora

A festa eacute uma forma de diversatildeo tatildeo especial para os foliotildees que toca os instrumentos

por prazer em estar festejando que apaga todo o cansaccedilo do corpo Brandatildeo (2011 P74)

afirma que ldquoApesar de a festa ser uma celebraccedilatildeo do cotidiano das sociedades ela representa uma

quebra nesse cotidiano quando as pessoas deixam suas atividades do dia- a- dia para se

dedicarem ao seu inversordquo

Dois foliotildees relataram duas situaccedilotildees envolvendo o cortejo de Satildeo Sebastiatildeo a

primeira foi quando uma senhora os convidou o terno de reis para entrar em sua residecircncia

muito humilde Poreacutem a dona da casa tinha apenas dois ovos de galinha para oferecer nesta

situaccedilatildeo um foliatildeo fez a doaccedilatildeo por ela e devolveu a oferta da senhora A outra situaccedilatildeo eacute

14 Nona e deacutecima estrofe do canto de chegada em louvor a Satildeo Sebastiatildeo entoado pelos foliotildees em Itagimirim-

Ba

19

quando uma fita da bandeira do santo cai dentro de uma casa eacute sinal de milagre concedido ao

morador como Aborda dona Srordf Alzira P de Souza

Olha se cair na casa da pessoa eacute para pegar e guardar ali eacute uma virtude que

esta deixando na casa da pessoa e uma forccedila que esta deixando ali na casa

da pessoa o santo deixou cai aquela fita ali para agradecer e recomendar o

dono da casa (Srordf Alzira Pereira de Souza 08-05-14)

Para muitos moradores essa fita eacute utilizada como remeacutedio quando um familiar sente

uma dor amarando no local essa recordaccedilatildeo eacute guardada como muita alegria

Quando o reisado chega em uma rua eles cantam de um lado e depois do outro a

bandeira indo por um canto natildeo pode voltar pelo mesmo lugar tem que seguir o giro o

caminho aberto A Srordf Maria C Rodrigues relata que ldquoquando passo numa casa e vejo a porta

fechada eu acho que a pessoa natildeo quer que eu paro ai a bandeira passa se pedir para voltar

a gente natildeo pode maisrdquo Hobsbawm (1997) dialoga que entende-se por ldquotradiccedilatildeo inventadardquo

um conjunto de praacuteticas normalmente reguladas por regras taacutecita ou abertamente aceitas ldquo[]

tais praacuteticas de natureza ritual ou simboacutelica visam inculcar certos valores e normas de

comportamento atraacuteves de repeticcedilatildeo o que implica automaticamente uma continuidade em

relaccedilatildeo ao passado []rdquo

Muitas festas foram apontadas por vaacuterios pesquisadores do periacuteodo colonial como

forma de fugas e rebeliotildees ou sendo para assumir uma identidade por determinados grupos

nesse contexto as festas natildeo satildeo vistas simplesmente como passivas mas como oportunidade

de romper com o cotidiano

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O trabalho realizado atraveacutes do festejo de Satildeo Sebastiatildeo em Itagimirim-Ba investigou

e analisou o surgimento da manifestaccedilatildeo religiosa de caraacuteter popular sendo renovada e

20

modificada com as migraccedilotildees de pessoas vindas de outros povoados e municiacutepios da regiatildeo

re-significando a tradiccedilatildeo e incorporando novas praacuteticas

A devoccedilatildeo dos foliotildees por um santo representa uma afirmaccedilatildeo de identidade

possibilitando novas relaccedilotildees entre os homens e o meio social ao qual estaacute inserido

Rememorar natildeo significa trazer de volta a festa do mesmo jeito que era outrora e sim

reafirmar e reconstruir novos haacutebitos

O festejo eacute um elemento que fez e faz parte da origem e desenvolvimento da cidade

pois seus habitantes fundadores jaacute traziam em suas memoacuterias essa forma de socializaccedilatildeo

religiosa Que tambeacutem se construiu como um escape para os longos dias de trabalhos

quebrando o ritmo do cotidiano A manifestaccedilatildeo de feacute eacute um espaccedilo de troca de saberes atraveacutes

das praacuteticas de alegria e devoccedilatildeo sendo um lugar de afirmaccedilatildeo de relaccedilotildees sociais ou criar

novos laccedilos de amizade o que fundamental para comunidade itagimiriense

REFEREcircNCIAS

ABREU Marta Cultura popular um conceito e vaacuterias histoacuterias In Ensino de Histoacuteria

conceitos temaacuteticas e metodologia Martha Abreu amp Rachel Sohiet (orgs) Rio de Janeiro

Casa da Palavra 2003

ALBERTI Verena Manual de Histoacuteria oral ndash 3 ed ndash Rio de Janeiro Editora FGV 2005

BOSI Ecleacutea Memoacuteria e Sociedade Lembranccedilas de Velhos ndash 3 ed ndashSatildeo Paulo Companhia

das letras 1994

BRANDAtildeO Alex Sandro da Conceiccedilatildeo Santos Reis Festa Poder e Memoacuteria (Governador

Mangabeira- BA 1970-2000) Artigo apresentado no X Encontro Nacional de Histoacuteria Oral

Recife 2010

21

BRANDAtildeO Alex Sandro da Conceiccedilatildeo Santos Reis festa poder e memoacuteria na comunidade

rural de aldeia (Governador Mangabeira- BA 1970-2000) Dissertaccedilatildeo apresentada ao

programa de poacutes-graduaccedilatildeo em histoacuteria regional e local da universidade do estado da

BahiaUNEB Santo Antonio de Jesus ndash BA abril ndash 2011

BRITTO Larissa Novais Festa de Satildeo Benedito O Sagrado e o profano nas festas regiliosas

de origem africana em Porto Seguro-Ba Monografia apresentada a UNEB Eunaacutepolis 2009

CASTRO Jakson Viana de Educaccedilatildeo patrimonial um instrumento de ensino para Histoacuteria local

Monografia apresentada a UNEB Eunaacutepolis 2009

CHALHOUB Sidney Visotildees da liberdade uma histoacuteria das uacuteltimas deacutecadas da escravidatildeo

na Corte Sidney Chalhoub mdash Satildeo Paulo Companhia das Letras 2011

COUTO Edilece Souza Devoccedilotildees festas e ritos algumas consideraccedilotildees Revista Brasileira

de Histoacuteria das Religiotildees ndash Ano I no 1 ndash Dossiecirc Identidades Religiosas e Histoacuteria Maio

2008

GUARINELLO Noberto Luiz Festa trabalho e cotidiano Istvaacutem Jancsoacute Iris kantor

(orgs)Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa Volume II Satildeo Paulo 2001

GUERRA Teoney Araujo Dados e informaccedilotildees para Estudantes Itagimirim-Ba 2000

HERMANN Jacqueline Histoacuteria das religiotildees e religiosidades Domiacutenios da Historia

ensaios da teoria e metodologias Ciro Flamrion Cardoso Ronaldo Vainfas (orgs) Rio de

Janeiro Campus 1997

HOBSBAWM Eric A invenccedilatildeo das tradiccedilotildees Eric Hobsbawn e Terenge Ranger

organizadores Traduccedilatildeo Celina Cardim Cavalgante 2ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro 1997

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel emwwwibgegovbr acesso

dia 06-05-12 agraves 13h00min

JANCSOacute Istvaacutem KANTOR Iris (orgs) Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica

Portuguesa Volume I Satildeo Paulo 2001

JANCSOacute Istvaacutenamp KANTOR Iris Festa Cultura e Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa (2

volumes) Satildeo Paulo Imprensa Oficial Hucitec Edusp Fapesp 2001

1 NASCIMENTO Nilson do Carmo Cachoeirinha Freguesia de Nossa Senhora da

Conceiccedilatildeo da Cachoeirinha do Baixo Jequitinhonhandash Brasiacutelia 2010

22

2 NASCIMENTO Mara Regina do Religiosidade e cultura popular Catolicismo

irmandades e tradiccedilotildees em movimento Revista da Catoacutelica Uberlacircndia v 1 n 2 p 119-130

2009 ndash catolicaonlinecom BR revista da catoacutelica

PORTELLI Alessandro Histoacuteria Oral e Poder Transcriccedilatildeo de Luiz Henrique dos Santos

Blume a partir do arquivo em aacuteudio wmp Traduccedilatildeo de Luiz Henrique dos Santos Blume e

Heliana de Barros Conde Rodrigues Mnemosine Vol6 nordm2 p 2-13 (2010) ndash Artigos

Conferecircncia no XXV Simpoacutesio Nacional da ANPUH Fortaleza 2009

POLLAK Michel Memoacuteria e identidade social Conferecircncia foi transcrita e traduzida por

monique augras A ediccedilatildeo eacute de Dora Rocha Flaksman Estudos histoacutericos rio de janeiro vol

5 n 10 1992 p 200-212

POLLAK Michel Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Conferecircncia foi transcrita e traduzida

por monique augras A ediccedilatildeo eacute de Dora Rocha Flaksman Estudos Histoacutericos Rio de

Janeiro vol 2 n 3 1989 p 3-15

PIRES Flaacutevia A Festa de Satildeo Sebastiatildeo em Catingueira transformaccedilotildees e permanecircncias dez

anos depois Revista de antropologia Satildeo Paulo USP 2011 v 54 nordm 2 Artigo Recebido em

novembro de 2010 Aceito em julho de 2011

SOIHET Rachel Histoacuteria das mulheres Domiacutenios da Historia ensaios da teoria e

metodologias Ciro Flamrion Cardoso Ronaldo Vainfas (orgs) Rio de Janeiro Campus

1997

SANTANA Tacircnia de Devoccedilotildees catoacutelicas entre os negros na Bahia colonial Artigo

apresentado na participaccedilatildeo no evento Fala Professor em 250803 promovido pelo curso de

Histoacuteria das Faculdades Jorge Amado

SANTOS Fernanda reis dos ldquoa festa do excelso padroeiro da cidade das palmeirasrdquo o culto

a satildeo Bartolomeu em Maragogipe (1851-1943) dissertaccedilatildeo apresentada ao programa de poacutes-

graduaccedilatildeo em histoacuteria da faculdade de filosofia e ciecircncias humanas universidade federal da

Bahia Salvador 2010

VAINFAS Ronaldo Da festa tupinambaacute ao sabaacute tropical a catequese pelo avesso Istvaacutem

Jancsoacute Iris kantor (orgs)Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa Volume I

Satildeo Paulo 2001

Page 10: FESTEJOS DE SÃO SEBASTIÃO EM ITAGIMIRIM-BA ......1 FESTEJOS DE SÃO SEBASTIÃO EM ITAGIMIRIM-BA: Memória e História de Um Povo (1960- 1998) Jairo Viana de Castro1 INTRODUÇÃO

10

Deus lhe dar chuva santa

Para molhar seu mantimento

Viva Satildeo Sebastiatildeo

Ele chegou aqui

Quem tem promessa com ele

Ta na hora de cumprir

Viva Satildeo Sebastiatildeo

Eacute um santo de alegria

Quem tem saudade dele

Vai agrave reza do seu dia 11

Neste sentido o significado da muacutesica que os foliotildees cantam ao chegar a uma casa eacute

ldquopara louvar o dono da casa porque vocecirc cantar o Reis laacute fora e agradece dentro da casa

poreacutem a contra danccedila eacute uma musica entoadardquo isso que evidencia o Sr Jonas A de Castro (30-

05-14)

Sendo assim o festejo acontece nas casas das pessoas que compartilham com a devoccedilatildeo

a Satildeo Sebastiatildeo onde se reuacutenem com alegria dentre eles idosos crianccedilas jovens homens e

mulheres tendo momentos de oraccedilatildeo de comer de beber e festejar desde que a noite

chegava ateacute quando a noite desaparecia em belos raios de sol o local na muitas das vezes natildeo

eacute fixo passava de casa em casa dos que compartilhavam com a tradiccedilatildeo

Esse cortejo visita todas as casas do lugar que rezavam em forma musical com

instrumentos como gaitas caixas bumbas e violas maneira utilizada na maioria das festas e

festejos populares Os foliotildees do primeiro grupo de reisado trazem em suas memoacuterias um

milagre que foi atendido pelo santo que segundo Srordf Maria C Rodrigues um acontecimento

coletivo estabelece a devoccedilatildeo por Satildeo Sebastiatildeo

Minha matildee era professora e costureira laacute em Cachoeirinha (comunidade

desenvolvida na beira do rio Jequitinhonha) meu pai era canoeiro vendedor

ambulante em 1951 eu tinha um ano de idade eu natildeo lembro mas meus pais

contavam meu pai saia de Cachoeirinha para vim comprar farinha teve um

ano que ficou conhecido como o ano da fome que a seca foi tanta que natildeo

tinha como se achar o que comer Meu pai passa em Itagimirim que soacute

estava comeccedilando tinha aquela pracinha ali que hoje eacute a Castro Alves Soacute

tinha poucas casinhas ele vinha laacute de Gabiarra-Ba acampava aqui desde

11 Eacute o quinto sexto seacutetimo e oitavo trecho do canto de chegada em Louvor a Satildeo Sebastiatildeo entoado pelos

foliotildees da cidade de Itagimirim-Ba Letra relatada pelo Sr Jonas Almeida de Castro (30-05-14)

11

dessa eacutepoca eu com um ano de idade jaacute participo da histoacuteria de Itagimirim-

Ba Ele acampava aqui para trazer mantimento tinha um barracatildeo grande em

Cachoeirinha laacute ele leva as coisas comprava gado era magarefe ele servia

praticamente essa regiatildeo daqui todinha era meu pai trabalhava vendendo

coisa ambulante com as tropas que antigamente natildeo tinha carro eram tropas

34 5 6 burros Com aqueles caccediloar que hoje ainda existe em muito lugar

trazendo coisa para manter a regiatildeo Foi uma fome muito grande e nessa

eacutepoca Satildeo Sebastiatildeo junto com Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo eram padroeiro

de Cachoeirinha e todo mundo fazia promessa com ele pedindo chuva Que

levou um ano sem chover na regiatildeo na eacutepoca todo mundo carregava pedra

na cabeccedila para botar no cruzeiro da igreja de nossa senhora da Conceiccedilatildeo

para fazer penitecircncia como era chamado antigamente para pedir ao santo que

chovesse foi um ano de sofrimento quando levantou esse povo e fez essa

promessa foi quando surgiu a primeira festa a Satildeo Sebastiatildeo Quando choveu

todo mundo saiu de vermelho e branco homenageando a ele que a minha

folia ateacute hoje todos se vestem de vermelho e branco por causa dessa fome

que foi demais aqui na regiatildeo (Srordf Maria C Rodrigues 20-03-14)

Foi atraveacutes desse ritual que se constituiu a memoacuteria coletiva dessa populaccedilatildeo esse

acontecimento que fez desenvolver a religiosidade cultural Michel Pollak (1988 p 2) ao

analisar a memoacuteria como identidade social reflete que ldquo[] Eacute perfeitamente possiacutevel que por

meio da socializaccedilatildeo poliacutetica ou da socializaccedilatildeo histoacuterica ocorra um fenocircmeno de projeccedilatildeo

ou de identificaccedilatildeo com determinado passado tatildeo forte que podemos falar numa memoacuteria

quase que herdadardquo

Alguns habitantes de Cachoeirinha ao migrarem para a comunidade Itagimiriense

como no caso do primeiro grupo de reisado de religiatildeo Umbanda que montam seu terreiro em

sua fazenda nas proximidades de Itagimirim trazem o cortejo como uma forma de devoccedilatildeo e

tornando tambeacutem um espaccedilo de socializaccedilatildeo

Onde a maioria dos foliotildees relatou que essas praacuteticas de reisado e devoccedilatildeo a Satildeo

Sebastiatildeo esta relacionada com a histoacuteria de suas famiacutelias ligadas a acontecimentos como

Promessas milagres um momento difiacutecil ou alegrias e brincadeiras Hobsbawm (1997 p21)

afirma que ldquo[] o estudos dessas tradiccedilotildees esclarece bastante as relaccedilotildees humanas com seu

passado []rdquo

Entre costureiras vaqueiros pedreiros vendedores ambulantes accedilougueiros

professoras de primaacuterio e pessoas de pouca leitura mas de uma feacute grandiosa que faziam da

relaccedilatildeo com o ambiente uma forma de sobrevivecircncia e ligaccedilatildeo com o divino mesmo com

12

aacuterduo labor no campo essa relaccedilatildeo entre homem e divindade pode ser percebido no trecho do

canto de chegada

Deus lhe dar merecimento

Deus lhe dar chuva santa

Para molhar seu mantimento 12

Para a cidade que desenvolve a religiosidade popular foi um fator de extrema

importacircncia pois a relaccedilatildeo social do povo atraveacutes dos festejos tornou-se uma expressatildeo

devocional de identificaccedilatildeo entre eles No entanto as experiecircncias culturais Segundo Abreu

(2003 p 94-95) ldquo[] pode tambeacutem estimular a criaccedilatildeo de identidades sociais culturais e

viacutenculos duradouros entre grupos de reconhecida expressatildeo cultural ou religiosa como por

exemplo as escolas de samba os grupos que organizam folias de reis e congadasrdquo Para as

duas senhoras que tem centros de Umbanda em Itagimirim eacute uma missatildeo a seguir pois estaacute

ligado a uma promessa familiar e o compromisso passado a elas

O festejo criou viacutenculos duradouros entre os participantes pois suas expressotildees de feacute

estatildeo relacionadas no cotidiano familiar e por meio do lugar onde se encontram e

desenvolveu uma organizaccedilatildeo social que ao longo dos anos constituiu grupos distintos

Segundo Abreu (1999) ldquoatraveacutes das festas pode-se conhecer melhor a coletividaderdquo e com

isso quais indiviacuteduos que se relacionam com religiosidade popular

No entanto o que se discute neste trabalho eacute a festa enquanto espaccedilo de sociabilidade

a partir de uma memoacuteria coletiva e individual no espaccedilo social onde esta produccedilatildeo do

cotidiano ganha significado e que agrega valores entre o profano e o sagrado Sendo que estes

acontecimentos quebram o ritmo do cotidiano e estatildeo fixos dentro do calendaacuterio devocional

festivos das comunidades que desenvolvem os rituais

Os foliotildees no mecircs de janeiro quando saem agraves ruas apropriam dos espaccedilos puacuteblicos

festejando durante o dia eles mostram suas tradiccedilotildees para a populaccedilatildeo os indiviacuteduos ao

escrever suas tradiccedilotildees nos espaccedilos histoacutericos da cidade estatildeo demonstrando o seu lugar social

que segundo Larissa Novais Britto (2009)13

12 Parte do sexto trecho do canto de chegada que louva a Satildeo Sebastiatildeo entoado pelos foliotildees na cidade de

Itagimirim-Ba 13 A festa de Satildeo Benedito eacute um evento dinacircmico que eacute reinventado e reformulado atraveacutes de celebraccedilotildees

anuais descrito no trabalho monograacutefico de Larissa Novais Britto a festa se organiza no interior de uma

13

Nos dias da festa os negros saem do anonimato e assumem lugar de

destaque na cena urbana e promovem uma ruptura com a rotina cotidiana

extremamente marcada pela submissatildeo Ao danccedilar e cantar para seu santo

os festeiros revivem a liccedilotildees de seus ancestrais e revertem

momentaneamente o lugar secundaacuterio que ocupam na hierarquia do poder

local ( BRITTO 2009 p 9 )

Ao entrevistar as pessoas dessa comunidade que traz em suas memoacuterias um periacuteodo de

muitas recordaccedilotildees do tempo festivo no qual o homem rural criava seus modos de

sociabilidade atraveacutes de praacuteticas e instrumentos simples que faziam parte do seu cotidiano

Uma maneira de cultuar ao santo de forma direta atraveacutes de brincadeiras rezas

demonstraccedilotildees de feacute que tinha um grande significado diante de toda a expectativa para um

novo ano

Mediante a esses costumes e tradiccedilotildees que contribuem para o desenvolvimento da

localidade que teve avanccedilos permitindo que novos elementos fossem inseridos na festividade

Ao analisar a festa a Santos Reis na comunidade de aldeia com o processo de modernizaccedilatildeo

do lugar com a chegada da luz eleacutetrica que deu outros rumos ao ritual festivo apropriando de

outras caracteriacutesticas Brandatildeo (2010 P7) afirma que ldquo[] A festa em louvor a Santos Reis

esta viva justamente pela sua capacidade de se reinventar e natildeo pelo apego a uma praacutetica

ritualiacutestica congelada no tempordquo

A manifestaccedilatildeo de feacute eacute um espaccedilo de troca de saberes atraveacutes das praacuteticas culturais

seja no movimento das danccedilas ou manuseio dos instrumentos com muita alegria e devoccedilatildeo

sendo tambeacutem um lugar de afirmaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais

A festa eacute repleta de interesses e significados disfarccedilados Segundo Guarinello (2001

p974) ldquo[] o sentido da festa eacute portanto da identidade que propotildee e produz depende sempre

dos participantes eventuais ou desejados cuja presenccedila e envolvimento determinam o

sucesso e o significado uacuteltimo de qualquer festa []rdquo

Assim se constituiu a relaccedilatildeo existente entre os foliotildees e devotos Habitantes de um

espaccedilo rural e urbano que no periacuteodo do festejo migram de um local a outro levando a boa

nova atraveacutes do cortejo ao santo

irmandade religiosa e em funccedilatildeo de um mito fundador que remete a histoacuteria de vida de um santo que considerado

protetor do povo negro

14

O RITO

Todo mundo espera chegou primeiro de Janeiro O reisado de santos reis eacute agrave

noite o de SAtildeO SEBASTIAtildeO eacute de dia Se noacutes cantamos em uma rua canta

de um lado ateacute o final depois passamos para o outro lado noacutes natildeo podemos

cruzar bandeira (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-14)

No primeiro dia (10 de janeiro) acontece uma reza nos salotildees de umbanda e tambeacutem

na igreja catolica essa praacutetica eacute realizada tanto por um grupo quanto pelo outro Quando os

foliotildees saem do salatildeo em cortejo vatildeo direto a igreja neste espaccedilo fazem vaacuterios pedidos e

rezas

Poreacutem dentro da igreja apenas as violas e gaitas satildeo ultilizadas para acompanhar o

louvor trovado agrave Satildeo Sebatiatildeo Pode ser pela amanhatilde ou agrave tarde para pedir proteccedilatildeo durante os

dias que os foliotildees percorrem em fazendas cidades vizinhas para depois que estiver faltando

uns quatro dias para vinte de Janeiro que eacute o dia de comemoraccedilatildeo a Satildeo Sebastiatildeo eles

retornam a Itagimirim Como foliatildeo do primeiro grupo de reisado o Sr Diomario relata o

trajeto do primeiro dia

Quando noacutes descemos da casa de Ceicinha no primeiro dia com a bandeira

noacutes vamos direto a igreja noacutes cantamos na igreja depois noacutes esparramamos

nos gerais esparramamos no mundo noacutes vai para casa do prefeito que eacute de

obrigaccedilatildeo ele receber a bandeira (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-14)

O primeiro grupo reisado segue a seguinte rota vatildeo para cidade de Itabepi onde satildeo

recebidos com muita festa pela populaccedilatildeo e governante local que disponibiliza uma pousada

para os foliotildees descasarem Depois de quatro dias cantando nesta cidade retornam a

Itagimirim cantam em diversas casas finalizando com a reza do terccedilo no oratoacuterio dentro do

salatildeo entre os dias 20 (vinte) para 21 (vinte e um) de janeiro A preparaccedilatildeo do foliatildeo para a

reza do terccedilo no uacuteltimo dia de Festejo eacute evidenciado pelo O Sr Diomario

15

No dia vinte noacutes estamos chegando em casa para poder descansar de meio

dia para tarde tomar banho ajeitar para a noite ter a reza de sete para oito

horas da noite a gente reza ai encerrou aquele reisado depois da reza acabou

mas se noacutes querer amanhecer o dia brincado pulando fazendo contra danccedila

tomando cachaccedila comendo tira gosto porque ela mata um boi para dar

despesa para os foliotildees dela e alguns visitantes que querem acompanhar (Sr

Diomaacuterio de Jesus 04-05-14)

O segundo grupo de Reisado apoacutes as rezas em seu salatildeo de umbanda tambeacutem seguem

com o cortejo para a igreja catoacutelica a bandeira do santo representando o martiacuterio e estaacute

sempre agrave frente do grupo Nenhum foliatildeo passa a frente da bandeira ficando atraacutes e se por

acaso necessitar passar na frente da bandeira logo eacute reverenciada pelos foliotildees colocando se

de joelho e beijando o manto sagrado

Essa praacutetica tambeacutem eacute abordada por Abreu (1999 p 48) na festa do divino Espiacuterito

santo a partir dos relatos do Escritor Thomas Ewbank ldquo[] que sempre estranhava nossos

haacutebitos beijando-se tambeacutem a bandeira ou melhor ldquoafundava-se o rosto em suas dobrasrdquo

para realizar a devoccedilatildeo e tanto fazia se fossem pessoas brancas ou negras []rdquo

Beijar a bandeira com a imagem de Satildeo Sebastiatildeo para um devoto que participa do

cortejo eacute uma forma de respeito que expressa agrave fidelidade ao santo onde seus pedidos foram

ouvidos e realizados uma relaccedilatildeo de proximidade e confianccedila na intercessatildeo do santo diante

do divino

Os foliotildees dizem que antes de iniciar o cortejo vatildeo a igreja catoacutelica pedir proteccedilatildeo

com a presenccedila ou natildeo do padre eles pedem licenccedila e entra na igreja entoando seus cacircnticos

uns ajoelham outros cantam com muita entonaccedilatildeo A Srordf Maria diz que sempre cantou na

igreja ldquoEu natildeo sei por que natildeo mas realmente quando a gente chega laacute tem vez que o padre

natildeo esta mais a gente canta eacute um direito nosso que ali eacute a casa de Deus casa nossa ali eacute

portas abertardquo

Santos (2010) ao analisar o catolicismo na cidade Maragogipe-Ba a partir do culto a

Satildeo Bartolomeu nos anos de 1851 a 1943 Destaca a seguinte informaccedilatildeo

No Brasil colonial as manifestaccedilotildees religiosas tinham como caracteriacutestica a

superficialidade constituindo-se como uma religiatildeo epideacutermica de fundo

emocional comprazendo-se nas exterioridades do culto mesmo sem

16

compreendecirc-lo e tomando um gosto de festa de reuniatildeo social sem aquela

convicccedilatildeo profunda nascida de uma interioridade forte e espiritualizada

Essa superficialidade fez-se notar pela enfaacutetica predominacircncia de ritos

externos pelo colorido e pompa das praacuteticas exteriores Tudo se fazia para

cultuar e homenagear os santos protetores No fundo uma religiatildeo

imediatista distante da ortodoxia (SANTOS 2010 P 63)

Neste sentido a igreja catoacutelica na cidade de Itagimirim natildeo participa diretamente das

homenagens ao santo cultuado por parte da populaccedilatildeo mas respeita o louvor a Satildeo Sebastiatildeo

que eacute manifestado pelos foliotildees atraveacutes de uma devoccedilatildeo desenvolvida por vaacuterias famiacutelias

contudo pode se perceber que alguns dos devotos satildeo frequumlentadores das missas dominicais e

que tambeacutem participam de muitos eventos promovidos pela igreja Couto (2004) ao investigar

os estudos sobre religiatildeo oficial e religiosidade popular abordou que

A partir da emergecircncia da espiritualidade laica no seacuteculo XIII o clero sentiu

a necessidade de falar a mesma liacutengua dos fieacuteis utilizar formas orais nas

liturgias ndash cantos e sermotildees ndash aceitar procissotildees e peregrinaccedilotildees a oratoacuterios

consagrados pelo povo e as funccedilotildees pagatildes atribuiacutedas aos santos (P 45)

Apoacutes o rito dentro da igreja os foliotildees entram em um carro geralmente alugado pela

dona do reisado passando por fazendas e chegando ao distrito de Gabiarra municiacutepio de

Eunaacutepolis retornando por Uniatildeo Bainana (distrito de Itagimirim-Ba) que faz divisa com o

estado de Minas Gerais

E concluem o cortejo dentro da cidade de Itagimirim passando em muitas residecircncias

No dia 19 (dezenove) agraves 18h00 (dezoito) realizam um jantar depois de muita contra danccedila

com as oitavas um roda de oito pessoas com instrumentos como gaitas bumba viola

pandeiro pratos de esmalte e palmas girando e passando um pelo o outro Depois das

brincadeiras fazem uma pausa para rezar o terccedilo dentro do oratoacuterio na passagem do dia 19

(dezenove) para 20 (vinte) de Janeiro

Os foliotildees percorrem a regiatildeo anunciando a boa nova um tempo de paz e alegria cada

pessoa que recebe esse cortejo fortalece sua feacute e de seus familiares O festejo representa um

ato de feacute para as pessoas que se juntam para agradecer pelas becircnccedilatildeos recebidas ao longo do

ano com esperanccedilas de dias melhores e sendo entrelaccediladas pelos festejos natalinos e todas as

expectativas para um novo ano

17

O festejo serve tambeacutem para pagar uma promessa ou mesmo para seguir a tradiccedilatildeo

aleacutem da questatildeo religiosa o festejo representa um sentimento de pertencimento e sociabilidade

para as pessoas que herdaram a devoccedilatildeo Segundo relata Edilece Souza

No entanto natildeo podemos perder de vista que o cristianismo inaugurou o

tempo lituacutergico baseado na historicidade de Jesus Cristo Dessa forma o

tempo festivo eacute repetido mas natildeo eacute imoacutevel nem imutaacutevel Apesar de se

revelar especial e diferente do calendaacuterio profano tambeacutem natildeo eacute um evento

isolado pois quebra o ritmo regular do cotidiano promove a sociabilidade e

o sentimento de pertencimento e identidade em um determinado grupo

social (COUTO 2008 P 2)

Nem todos os devoltos dos dois ternos de reisado vatildeo para os cortejos nas fazendas ou

para outras cidades alguns ficam nos salotildees de oraccedilotildees preparando as comidas e bebidas

organizando para a chegada e finalizaccedilatildeo do festejo segundo o Sr Diomario foliatildeo do

primeiro grupo de reisado satildeo poucas as pessoas que ficam a frente do cortejo

Mas os dela (foliotildees) satildeo oito macho e quatro fecircmea que satildeo de carregar a

bandeirae os machos para tocar os instrumentos pois cada um daqueles oito

tem os instrumento deles que domina que satildeo reco-reco pandeiro a caixa

era de Ceicinha o bunda eacute de quem saber bater que nem esse Neo era

bumbeiro nosso Neo batia bumba muito bem mas agora ficou o filho de

Ceicinha que eacute bumbeiro dela tambeacutem eacute isso (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-

14)

O individuos pertecente a um grupo desde o seu nascimento e no decorrer da vida vatildeo

aquirindo os usos haacutebitos alimentares vestimentas moradia objetos de pertecimento

ensiados pelas pessoas idosas que tem experiecircncia a religiosidade que vai sendo transmitida

de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo independe de tamanho e de grupo social ao qual estaacute inserido

Resultando em caracteriacutesticas peculiares ou a chamada memoacuteria comum do grupo para

Jacqueline Hermann (1997) chega-se ao ponto onde religiatildeo e religiosidade se cruzam

Quando o cortejo chega na porta de uma casa cantam um louvor para chamar atenccedilatildeo

do morador ldquoPorque vocecirc canta o Reis laacute fora e agradece dentro da casa o dono da casa abre

a porta vocecirc entra ai deu bom dia vocecirc louva o dono da casa e agradece o Reisrdquo isso que nos

relata o Sr Jonas Almeida de Castro Depois do lovour abre a porta dentro da residecircncia foi

observando que em um trecho do canto o devoltos obedecem a letra

18

Ajoelha pecadores

Potildee seu joelho no chatildeo

Para cobrir com a bandeira

Viva satildeo Sebastiatildeo

Essa bandeira me salva

Quando chegar laacute no ceacuteu

Alevanta pecador

Todo coberto de veacuteu 14

Sendo assim a bandeira eacute passada pela cabeccedila de todos os devotos que ajoelham

algumas pessoas beijam o manto outras se emocionam e agradecem Para Brandatildeo (2011 P

64) ldquo[] A festa eacute o momento de reconhecer que foram agraciados com uma benccedilatildeo e que eacute

preciso retribuir []rdquo A contra danccedila ndash uma muacutesica entoada cantado coisas do cotidiano para

os foliotildees saiacuterem da residecircncia como aborda o Sr Jonas Almeida de Castro (2014)

Convidei meus companheiros

para fazer sociedade

Para roubar dessa cigana

um amor da eternidade

O ciganhinha hora eacute hora

quem quiser comigo eacute hora

Agrave Deus ponta da areia

que laacute vai a cigana embora

A festa eacute uma forma de diversatildeo tatildeo especial para os foliotildees que toca os instrumentos

por prazer em estar festejando que apaga todo o cansaccedilo do corpo Brandatildeo (2011 P74)

afirma que ldquoApesar de a festa ser uma celebraccedilatildeo do cotidiano das sociedades ela representa uma

quebra nesse cotidiano quando as pessoas deixam suas atividades do dia- a- dia para se

dedicarem ao seu inversordquo

Dois foliotildees relataram duas situaccedilotildees envolvendo o cortejo de Satildeo Sebastiatildeo a

primeira foi quando uma senhora os convidou o terno de reis para entrar em sua residecircncia

muito humilde Poreacutem a dona da casa tinha apenas dois ovos de galinha para oferecer nesta

situaccedilatildeo um foliatildeo fez a doaccedilatildeo por ela e devolveu a oferta da senhora A outra situaccedilatildeo eacute

14 Nona e deacutecima estrofe do canto de chegada em louvor a Satildeo Sebastiatildeo entoado pelos foliotildees em Itagimirim-

Ba

19

quando uma fita da bandeira do santo cai dentro de uma casa eacute sinal de milagre concedido ao

morador como Aborda dona Srordf Alzira P de Souza

Olha se cair na casa da pessoa eacute para pegar e guardar ali eacute uma virtude que

esta deixando na casa da pessoa e uma forccedila que esta deixando ali na casa

da pessoa o santo deixou cai aquela fita ali para agradecer e recomendar o

dono da casa (Srordf Alzira Pereira de Souza 08-05-14)

Para muitos moradores essa fita eacute utilizada como remeacutedio quando um familiar sente

uma dor amarando no local essa recordaccedilatildeo eacute guardada como muita alegria

Quando o reisado chega em uma rua eles cantam de um lado e depois do outro a

bandeira indo por um canto natildeo pode voltar pelo mesmo lugar tem que seguir o giro o

caminho aberto A Srordf Maria C Rodrigues relata que ldquoquando passo numa casa e vejo a porta

fechada eu acho que a pessoa natildeo quer que eu paro ai a bandeira passa se pedir para voltar

a gente natildeo pode maisrdquo Hobsbawm (1997) dialoga que entende-se por ldquotradiccedilatildeo inventadardquo

um conjunto de praacuteticas normalmente reguladas por regras taacutecita ou abertamente aceitas ldquo[]

tais praacuteticas de natureza ritual ou simboacutelica visam inculcar certos valores e normas de

comportamento atraacuteves de repeticcedilatildeo o que implica automaticamente uma continuidade em

relaccedilatildeo ao passado []rdquo

Muitas festas foram apontadas por vaacuterios pesquisadores do periacuteodo colonial como

forma de fugas e rebeliotildees ou sendo para assumir uma identidade por determinados grupos

nesse contexto as festas natildeo satildeo vistas simplesmente como passivas mas como oportunidade

de romper com o cotidiano

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O trabalho realizado atraveacutes do festejo de Satildeo Sebastiatildeo em Itagimirim-Ba investigou

e analisou o surgimento da manifestaccedilatildeo religiosa de caraacuteter popular sendo renovada e

20

modificada com as migraccedilotildees de pessoas vindas de outros povoados e municiacutepios da regiatildeo

re-significando a tradiccedilatildeo e incorporando novas praacuteticas

A devoccedilatildeo dos foliotildees por um santo representa uma afirmaccedilatildeo de identidade

possibilitando novas relaccedilotildees entre os homens e o meio social ao qual estaacute inserido

Rememorar natildeo significa trazer de volta a festa do mesmo jeito que era outrora e sim

reafirmar e reconstruir novos haacutebitos

O festejo eacute um elemento que fez e faz parte da origem e desenvolvimento da cidade

pois seus habitantes fundadores jaacute traziam em suas memoacuterias essa forma de socializaccedilatildeo

religiosa Que tambeacutem se construiu como um escape para os longos dias de trabalhos

quebrando o ritmo do cotidiano A manifestaccedilatildeo de feacute eacute um espaccedilo de troca de saberes atraveacutes

das praacuteticas de alegria e devoccedilatildeo sendo um lugar de afirmaccedilatildeo de relaccedilotildees sociais ou criar

novos laccedilos de amizade o que fundamental para comunidade itagimiriense

REFEREcircNCIAS

ABREU Marta Cultura popular um conceito e vaacuterias histoacuterias In Ensino de Histoacuteria

conceitos temaacuteticas e metodologia Martha Abreu amp Rachel Sohiet (orgs) Rio de Janeiro

Casa da Palavra 2003

ALBERTI Verena Manual de Histoacuteria oral ndash 3 ed ndash Rio de Janeiro Editora FGV 2005

BOSI Ecleacutea Memoacuteria e Sociedade Lembranccedilas de Velhos ndash 3 ed ndashSatildeo Paulo Companhia

das letras 1994

BRANDAtildeO Alex Sandro da Conceiccedilatildeo Santos Reis Festa Poder e Memoacuteria (Governador

Mangabeira- BA 1970-2000) Artigo apresentado no X Encontro Nacional de Histoacuteria Oral

Recife 2010

21

BRANDAtildeO Alex Sandro da Conceiccedilatildeo Santos Reis festa poder e memoacuteria na comunidade

rural de aldeia (Governador Mangabeira- BA 1970-2000) Dissertaccedilatildeo apresentada ao

programa de poacutes-graduaccedilatildeo em histoacuteria regional e local da universidade do estado da

BahiaUNEB Santo Antonio de Jesus ndash BA abril ndash 2011

BRITTO Larissa Novais Festa de Satildeo Benedito O Sagrado e o profano nas festas regiliosas

de origem africana em Porto Seguro-Ba Monografia apresentada a UNEB Eunaacutepolis 2009

CASTRO Jakson Viana de Educaccedilatildeo patrimonial um instrumento de ensino para Histoacuteria local

Monografia apresentada a UNEB Eunaacutepolis 2009

CHALHOUB Sidney Visotildees da liberdade uma histoacuteria das uacuteltimas deacutecadas da escravidatildeo

na Corte Sidney Chalhoub mdash Satildeo Paulo Companhia das Letras 2011

COUTO Edilece Souza Devoccedilotildees festas e ritos algumas consideraccedilotildees Revista Brasileira

de Histoacuteria das Religiotildees ndash Ano I no 1 ndash Dossiecirc Identidades Religiosas e Histoacuteria Maio

2008

GUARINELLO Noberto Luiz Festa trabalho e cotidiano Istvaacutem Jancsoacute Iris kantor

(orgs)Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa Volume II Satildeo Paulo 2001

GUERRA Teoney Araujo Dados e informaccedilotildees para Estudantes Itagimirim-Ba 2000

HERMANN Jacqueline Histoacuteria das religiotildees e religiosidades Domiacutenios da Historia

ensaios da teoria e metodologias Ciro Flamrion Cardoso Ronaldo Vainfas (orgs) Rio de

Janeiro Campus 1997

HOBSBAWM Eric A invenccedilatildeo das tradiccedilotildees Eric Hobsbawn e Terenge Ranger

organizadores Traduccedilatildeo Celina Cardim Cavalgante 2ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro 1997

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel emwwwibgegovbr acesso

dia 06-05-12 agraves 13h00min

JANCSOacute Istvaacutem KANTOR Iris (orgs) Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica

Portuguesa Volume I Satildeo Paulo 2001

JANCSOacute Istvaacutenamp KANTOR Iris Festa Cultura e Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa (2

volumes) Satildeo Paulo Imprensa Oficial Hucitec Edusp Fapesp 2001

1 NASCIMENTO Nilson do Carmo Cachoeirinha Freguesia de Nossa Senhora da

Conceiccedilatildeo da Cachoeirinha do Baixo Jequitinhonhandash Brasiacutelia 2010

22

2 NASCIMENTO Mara Regina do Religiosidade e cultura popular Catolicismo

irmandades e tradiccedilotildees em movimento Revista da Catoacutelica Uberlacircndia v 1 n 2 p 119-130

2009 ndash catolicaonlinecom BR revista da catoacutelica

PORTELLI Alessandro Histoacuteria Oral e Poder Transcriccedilatildeo de Luiz Henrique dos Santos

Blume a partir do arquivo em aacuteudio wmp Traduccedilatildeo de Luiz Henrique dos Santos Blume e

Heliana de Barros Conde Rodrigues Mnemosine Vol6 nordm2 p 2-13 (2010) ndash Artigos

Conferecircncia no XXV Simpoacutesio Nacional da ANPUH Fortaleza 2009

POLLAK Michel Memoacuteria e identidade social Conferecircncia foi transcrita e traduzida por

monique augras A ediccedilatildeo eacute de Dora Rocha Flaksman Estudos histoacutericos rio de janeiro vol

5 n 10 1992 p 200-212

POLLAK Michel Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Conferecircncia foi transcrita e traduzida

por monique augras A ediccedilatildeo eacute de Dora Rocha Flaksman Estudos Histoacutericos Rio de

Janeiro vol 2 n 3 1989 p 3-15

PIRES Flaacutevia A Festa de Satildeo Sebastiatildeo em Catingueira transformaccedilotildees e permanecircncias dez

anos depois Revista de antropologia Satildeo Paulo USP 2011 v 54 nordm 2 Artigo Recebido em

novembro de 2010 Aceito em julho de 2011

SOIHET Rachel Histoacuteria das mulheres Domiacutenios da Historia ensaios da teoria e

metodologias Ciro Flamrion Cardoso Ronaldo Vainfas (orgs) Rio de Janeiro Campus

1997

SANTANA Tacircnia de Devoccedilotildees catoacutelicas entre os negros na Bahia colonial Artigo

apresentado na participaccedilatildeo no evento Fala Professor em 250803 promovido pelo curso de

Histoacuteria das Faculdades Jorge Amado

SANTOS Fernanda reis dos ldquoa festa do excelso padroeiro da cidade das palmeirasrdquo o culto

a satildeo Bartolomeu em Maragogipe (1851-1943) dissertaccedilatildeo apresentada ao programa de poacutes-

graduaccedilatildeo em histoacuteria da faculdade de filosofia e ciecircncias humanas universidade federal da

Bahia Salvador 2010

VAINFAS Ronaldo Da festa tupinambaacute ao sabaacute tropical a catequese pelo avesso Istvaacutem

Jancsoacute Iris kantor (orgs)Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa Volume I

Satildeo Paulo 2001

Page 11: FESTEJOS DE SÃO SEBASTIÃO EM ITAGIMIRIM-BA ......1 FESTEJOS DE SÃO SEBASTIÃO EM ITAGIMIRIM-BA: Memória e História de Um Povo (1960- 1998) Jairo Viana de Castro1 INTRODUÇÃO

11

dessa eacutepoca eu com um ano de idade jaacute participo da histoacuteria de Itagimirim-

Ba Ele acampava aqui para trazer mantimento tinha um barracatildeo grande em

Cachoeirinha laacute ele leva as coisas comprava gado era magarefe ele servia

praticamente essa regiatildeo daqui todinha era meu pai trabalhava vendendo

coisa ambulante com as tropas que antigamente natildeo tinha carro eram tropas

34 5 6 burros Com aqueles caccediloar que hoje ainda existe em muito lugar

trazendo coisa para manter a regiatildeo Foi uma fome muito grande e nessa

eacutepoca Satildeo Sebastiatildeo junto com Nossa Senhora da Conceiccedilatildeo eram padroeiro

de Cachoeirinha e todo mundo fazia promessa com ele pedindo chuva Que

levou um ano sem chover na regiatildeo na eacutepoca todo mundo carregava pedra

na cabeccedila para botar no cruzeiro da igreja de nossa senhora da Conceiccedilatildeo

para fazer penitecircncia como era chamado antigamente para pedir ao santo que

chovesse foi um ano de sofrimento quando levantou esse povo e fez essa

promessa foi quando surgiu a primeira festa a Satildeo Sebastiatildeo Quando choveu

todo mundo saiu de vermelho e branco homenageando a ele que a minha

folia ateacute hoje todos se vestem de vermelho e branco por causa dessa fome

que foi demais aqui na regiatildeo (Srordf Maria C Rodrigues 20-03-14)

Foi atraveacutes desse ritual que se constituiu a memoacuteria coletiva dessa populaccedilatildeo esse

acontecimento que fez desenvolver a religiosidade cultural Michel Pollak (1988 p 2) ao

analisar a memoacuteria como identidade social reflete que ldquo[] Eacute perfeitamente possiacutevel que por

meio da socializaccedilatildeo poliacutetica ou da socializaccedilatildeo histoacuterica ocorra um fenocircmeno de projeccedilatildeo

ou de identificaccedilatildeo com determinado passado tatildeo forte que podemos falar numa memoacuteria

quase que herdadardquo

Alguns habitantes de Cachoeirinha ao migrarem para a comunidade Itagimiriense

como no caso do primeiro grupo de reisado de religiatildeo Umbanda que montam seu terreiro em

sua fazenda nas proximidades de Itagimirim trazem o cortejo como uma forma de devoccedilatildeo e

tornando tambeacutem um espaccedilo de socializaccedilatildeo

Onde a maioria dos foliotildees relatou que essas praacuteticas de reisado e devoccedilatildeo a Satildeo

Sebastiatildeo esta relacionada com a histoacuteria de suas famiacutelias ligadas a acontecimentos como

Promessas milagres um momento difiacutecil ou alegrias e brincadeiras Hobsbawm (1997 p21)

afirma que ldquo[] o estudos dessas tradiccedilotildees esclarece bastante as relaccedilotildees humanas com seu

passado []rdquo

Entre costureiras vaqueiros pedreiros vendedores ambulantes accedilougueiros

professoras de primaacuterio e pessoas de pouca leitura mas de uma feacute grandiosa que faziam da

relaccedilatildeo com o ambiente uma forma de sobrevivecircncia e ligaccedilatildeo com o divino mesmo com

12

aacuterduo labor no campo essa relaccedilatildeo entre homem e divindade pode ser percebido no trecho do

canto de chegada

Deus lhe dar merecimento

Deus lhe dar chuva santa

Para molhar seu mantimento 12

Para a cidade que desenvolve a religiosidade popular foi um fator de extrema

importacircncia pois a relaccedilatildeo social do povo atraveacutes dos festejos tornou-se uma expressatildeo

devocional de identificaccedilatildeo entre eles No entanto as experiecircncias culturais Segundo Abreu

(2003 p 94-95) ldquo[] pode tambeacutem estimular a criaccedilatildeo de identidades sociais culturais e

viacutenculos duradouros entre grupos de reconhecida expressatildeo cultural ou religiosa como por

exemplo as escolas de samba os grupos que organizam folias de reis e congadasrdquo Para as

duas senhoras que tem centros de Umbanda em Itagimirim eacute uma missatildeo a seguir pois estaacute

ligado a uma promessa familiar e o compromisso passado a elas

O festejo criou viacutenculos duradouros entre os participantes pois suas expressotildees de feacute

estatildeo relacionadas no cotidiano familiar e por meio do lugar onde se encontram e

desenvolveu uma organizaccedilatildeo social que ao longo dos anos constituiu grupos distintos

Segundo Abreu (1999) ldquoatraveacutes das festas pode-se conhecer melhor a coletividaderdquo e com

isso quais indiviacuteduos que se relacionam com religiosidade popular

No entanto o que se discute neste trabalho eacute a festa enquanto espaccedilo de sociabilidade

a partir de uma memoacuteria coletiva e individual no espaccedilo social onde esta produccedilatildeo do

cotidiano ganha significado e que agrega valores entre o profano e o sagrado Sendo que estes

acontecimentos quebram o ritmo do cotidiano e estatildeo fixos dentro do calendaacuterio devocional

festivos das comunidades que desenvolvem os rituais

Os foliotildees no mecircs de janeiro quando saem agraves ruas apropriam dos espaccedilos puacuteblicos

festejando durante o dia eles mostram suas tradiccedilotildees para a populaccedilatildeo os indiviacuteduos ao

escrever suas tradiccedilotildees nos espaccedilos histoacutericos da cidade estatildeo demonstrando o seu lugar social

que segundo Larissa Novais Britto (2009)13

12 Parte do sexto trecho do canto de chegada que louva a Satildeo Sebastiatildeo entoado pelos foliotildees na cidade de

Itagimirim-Ba 13 A festa de Satildeo Benedito eacute um evento dinacircmico que eacute reinventado e reformulado atraveacutes de celebraccedilotildees

anuais descrito no trabalho monograacutefico de Larissa Novais Britto a festa se organiza no interior de uma

13

Nos dias da festa os negros saem do anonimato e assumem lugar de

destaque na cena urbana e promovem uma ruptura com a rotina cotidiana

extremamente marcada pela submissatildeo Ao danccedilar e cantar para seu santo

os festeiros revivem a liccedilotildees de seus ancestrais e revertem

momentaneamente o lugar secundaacuterio que ocupam na hierarquia do poder

local ( BRITTO 2009 p 9 )

Ao entrevistar as pessoas dessa comunidade que traz em suas memoacuterias um periacuteodo de

muitas recordaccedilotildees do tempo festivo no qual o homem rural criava seus modos de

sociabilidade atraveacutes de praacuteticas e instrumentos simples que faziam parte do seu cotidiano

Uma maneira de cultuar ao santo de forma direta atraveacutes de brincadeiras rezas

demonstraccedilotildees de feacute que tinha um grande significado diante de toda a expectativa para um

novo ano

Mediante a esses costumes e tradiccedilotildees que contribuem para o desenvolvimento da

localidade que teve avanccedilos permitindo que novos elementos fossem inseridos na festividade

Ao analisar a festa a Santos Reis na comunidade de aldeia com o processo de modernizaccedilatildeo

do lugar com a chegada da luz eleacutetrica que deu outros rumos ao ritual festivo apropriando de

outras caracteriacutesticas Brandatildeo (2010 P7) afirma que ldquo[] A festa em louvor a Santos Reis

esta viva justamente pela sua capacidade de se reinventar e natildeo pelo apego a uma praacutetica

ritualiacutestica congelada no tempordquo

A manifestaccedilatildeo de feacute eacute um espaccedilo de troca de saberes atraveacutes das praacuteticas culturais

seja no movimento das danccedilas ou manuseio dos instrumentos com muita alegria e devoccedilatildeo

sendo tambeacutem um lugar de afirmaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais

A festa eacute repleta de interesses e significados disfarccedilados Segundo Guarinello (2001

p974) ldquo[] o sentido da festa eacute portanto da identidade que propotildee e produz depende sempre

dos participantes eventuais ou desejados cuja presenccedila e envolvimento determinam o

sucesso e o significado uacuteltimo de qualquer festa []rdquo

Assim se constituiu a relaccedilatildeo existente entre os foliotildees e devotos Habitantes de um

espaccedilo rural e urbano que no periacuteodo do festejo migram de um local a outro levando a boa

nova atraveacutes do cortejo ao santo

irmandade religiosa e em funccedilatildeo de um mito fundador que remete a histoacuteria de vida de um santo que considerado

protetor do povo negro

14

O RITO

Todo mundo espera chegou primeiro de Janeiro O reisado de santos reis eacute agrave

noite o de SAtildeO SEBASTIAtildeO eacute de dia Se noacutes cantamos em uma rua canta

de um lado ateacute o final depois passamos para o outro lado noacutes natildeo podemos

cruzar bandeira (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-14)

No primeiro dia (10 de janeiro) acontece uma reza nos salotildees de umbanda e tambeacutem

na igreja catolica essa praacutetica eacute realizada tanto por um grupo quanto pelo outro Quando os

foliotildees saem do salatildeo em cortejo vatildeo direto a igreja neste espaccedilo fazem vaacuterios pedidos e

rezas

Poreacutem dentro da igreja apenas as violas e gaitas satildeo ultilizadas para acompanhar o

louvor trovado agrave Satildeo Sebatiatildeo Pode ser pela amanhatilde ou agrave tarde para pedir proteccedilatildeo durante os

dias que os foliotildees percorrem em fazendas cidades vizinhas para depois que estiver faltando

uns quatro dias para vinte de Janeiro que eacute o dia de comemoraccedilatildeo a Satildeo Sebastiatildeo eles

retornam a Itagimirim Como foliatildeo do primeiro grupo de reisado o Sr Diomario relata o

trajeto do primeiro dia

Quando noacutes descemos da casa de Ceicinha no primeiro dia com a bandeira

noacutes vamos direto a igreja noacutes cantamos na igreja depois noacutes esparramamos

nos gerais esparramamos no mundo noacutes vai para casa do prefeito que eacute de

obrigaccedilatildeo ele receber a bandeira (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-14)

O primeiro grupo reisado segue a seguinte rota vatildeo para cidade de Itabepi onde satildeo

recebidos com muita festa pela populaccedilatildeo e governante local que disponibiliza uma pousada

para os foliotildees descasarem Depois de quatro dias cantando nesta cidade retornam a

Itagimirim cantam em diversas casas finalizando com a reza do terccedilo no oratoacuterio dentro do

salatildeo entre os dias 20 (vinte) para 21 (vinte e um) de janeiro A preparaccedilatildeo do foliatildeo para a

reza do terccedilo no uacuteltimo dia de Festejo eacute evidenciado pelo O Sr Diomario

15

No dia vinte noacutes estamos chegando em casa para poder descansar de meio

dia para tarde tomar banho ajeitar para a noite ter a reza de sete para oito

horas da noite a gente reza ai encerrou aquele reisado depois da reza acabou

mas se noacutes querer amanhecer o dia brincado pulando fazendo contra danccedila

tomando cachaccedila comendo tira gosto porque ela mata um boi para dar

despesa para os foliotildees dela e alguns visitantes que querem acompanhar (Sr

Diomaacuterio de Jesus 04-05-14)

O segundo grupo de Reisado apoacutes as rezas em seu salatildeo de umbanda tambeacutem seguem

com o cortejo para a igreja catoacutelica a bandeira do santo representando o martiacuterio e estaacute

sempre agrave frente do grupo Nenhum foliatildeo passa a frente da bandeira ficando atraacutes e se por

acaso necessitar passar na frente da bandeira logo eacute reverenciada pelos foliotildees colocando se

de joelho e beijando o manto sagrado

Essa praacutetica tambeacutem eacute abordada por Abreu (1999 p 48) na festa do divino Espiacuterito

santo a partir dos relatos do Escritor Thomas Ewbank ldquo[] que sempre estranhava nossos

haacutebitos beijando-se tambeacutem a bandeira ou melhor ldquoafundava-se o rosto em suas dobrasrdquo

para realizar a devoccedilatildeo e tanto fazia se fossem pessoas brancas ou negras []rdquo

Beijar a bandeira com a imagem de Satildeo Sebastiatildeo para um devoto que participa do

cortejo eacute uma forma de respeito que expressa agrave fidelidade ao santo onde seus pedidos foram

ouvidos e realizados uma relaccedilatildeo de proximidade e confianccedila na intercessatildeo do santo diante

do divino

Os foliotildees dizem que antes de iniciar o cortejo vatildeo a igreja catoacutelica pedir proteccedilatildeo

com a presenccedila ou natildeo do padre eles pedem licenccedila e entra na igreja entoando seus cacircnticos

uns ajoelham outros cantam com muita entonaccedilatildeo A Srordf Maria diz que sempre cantou na

igreja ldquoEu natildeo sei por que natildeo mas realmente quando a gente chega laacute tem vez que o padre

natildeo esta mais a gente canta eacute um direito nosso que ali eacute a casa de Deus casa nossa ali eacute

portas abertardquo

Santos (2010) ao analisar o catolicismo na cidade Maragogipe-Ba a partir do culto a

Satildeo Bartolomeu nos anos de 1851 a 1943 Destaca a seguinte informaccedilatildeo

No Brasil colonial as manifestaccedilotildees religiosas tinham como caracteriacutestica a

superficialidade constituindo-se como uma religiatildeo epideacutermica de fundo

emocional comprazendo-se nas exterioridades do culto mesmo sem

16

compreendecirc-lo e tomando um gosto de festa de reuniatildeo social sem aquela

convicccedilatildeo profunda nascida de uma interioridade forte e espiritualizada

Essa superficialidade fez-se notar pela enfaacutetica predominacircncia de ritos

externos pelo colorido e pompa das praacuteticas exteriores Tudo se fazia para

cultuar e homenagear os santos protetores No fundo uma religiatildeo

imediatista distante da ortodoxia (SANTOS 2010 P 63)

Neste sentido a igreja catoacutelica na cidade de Itagimirim natildeo participa diretamente das

homenagens ao santo cultuado por parte da populaccedilatildeo mas respeita o louvor a Satildeo Sebastiatildeo

que eacute manifestado pelos foliotildees atraveacutes de uma devoccedilatildeo desenvolvida por vaacuterias famiacutelias

contudo pode se perceber que alguns dos devotos satildeo frequumlentadores das missas dominicais e

que tambeacutem participam de muitos eventos promovidos pela igreja Couto (2004) ao investigar

os estudos sobre religiatildeo oficial e religiosidade popular abordou que

A partir da emergecircncia da espiritualidade laica no seacuteculo XIII o clero sentiu

a necessidade de falar a mesma liacutengua dos fieacuteis utilizar formas orais nas

liturgias ndash cantos e sermotildees ndash aceitar procissotildees e peregrinaccedilotildees a oratoacuterios

consagrados pelo povo e as funccedilotildees pagatildes atribuiacutedas aos santos (P 45)

Apoacutes o rito dentro da igreja os foliotildees entram em um carro geralmente alugado pela

dona do reisado passando por fazendas e chegando ao distrito de Gabiarra municiacutepio de

Eunaacutepolis retornando por Uniatildeo Bainana (distrito de Itagimirim-Ba) que faz divisa com o

estado de Minas Gerais

E concluem o cortejo dentro da cidade de Itagimirim passando em muitas residecircncias

No dia 19 (dezenove) agraves 18h00 (dezoito) realizam um jantar depois de muita contra danccedila

com as oitavas um roda de oito pessoas com instrumentos como gaitas bumba viola

pandeiro pratos de esmalte e palmas girando e passando um pelo o outro Depois das

brincadeiras fazem uma pausa para rezar o terccedilo dentro do oratoacuterio na passagem do dia 19

(dezenove) para 20 (vinte) de Janeiro

Os foliotildees percorrem a regiatildeo anunciando a boa nova um tempo de paz e alegria cada

pessoa que recebe esse cortejo fortalece sua feacute e de seus familiares O festejo representa um

ato de feacute para as pessoas que se juntam para agradecer pelas becircnccedilatildeos recebidas ao longo do

ano com esperanccedilas de dias melhores e sendo entrelaccediladas pelos festejos natalinos e todas as

expectativas para um novo ano

17

O festejo serve tambeacutem para pagar uma promessa ou mesmo para seguir a tradiccedilatildeo

aleacutem da questatildeo religiosa o festejo representa um sentimento de pertencimento e sociabilidade

para as pessoas que herdaram a devoccedilatildeo Segundo relata Edilece Souza

No entanto natildeo podemos perder de vista que o cristianismo inaugurou o

tempo lituacutergico baseado na historicidade de Jesus Cristo Dessa forma o

tempo festivo eacute repetido mas natildeo eacute imoacutevel nem imutaacutevel Apesar de se

revelar especial e diferente do calendaacuterio profano tambeacutem natildeo eacute um evento

isolado pois quebra o ritmo regular do cotidiano promove a sociabilidade e

o sentimento de pertencimento e identidade em um determinado grupo

social (COUTO 2008 P 2)

Nem todos os devoltos dos dois ternos de reisado vatildeo para os cortejos nas fazendas ou

para outras cidades alguns ficam nos salotildees de oraccedilotildees preparando as comidas e bebidas

organizando para a chegada e finalizaccedilatildeo do festejo segundo o Sr Diomario foliatildeo do

primeiro grupo de reisado satildeo poucas as pessoas que ficam a frente do cortejo

Mas os dela (foliotildees) satildeo oito macho e quatro fecircmea que satildeo de carregar a

bandeirae os machos para tocar os instrumentos pois cada um daqueles oito

tem os instrumento deles que domina que satildeo reco-reco pandeiro a caixa

era de Ceicinha o bunda eacute de quem saber bater que nem esse Neo era

bumbeiro nosso Neo batia bumba muito bem mas agora ficou o filho de

Ceicinha que eacute bumbeiro dela tambeacutem eacute isso (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-

14)

O individuos pertecente a um grupo desde o seu nascimento e no decorrer da vida vatildeo

aquirindo os usos haacutebitos alimentares vestimentas moradia objetos de pertecimento

ensiados pelas pessoas idosas que tem experiecircncia a religiosidade que vai sendo transmitida

de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo independe de tamanho e de grupo social ao qual estaacute inserido

Resultando em caracteriacutesticas peculiares ou a chamada memoacuteria comum do grupo para

Jacqueline Hermann (1997) chega-se ao ponto onde religiatildeo e religiosidade se cruzam

Quando o cortejo chega na porta de uma casa cantam um louvor para chamar atenccedilatildeo

do morador ldquoPorque vocecirc canta o Reis laacute fora e agradece dentro da casa o dono da casa abre

a porta vocecirc entra ai deu bom dia vocecirc louva o dono da casa e agradece o Reisrdquo isso que nos

relata o Sr Jonas Almeida de Castro Depois do lovour abre a porta dentro da residecircncia foi

observando que em um trecho do canto o devoltos obedecem a letra

18

Ajoelha pecadores

Potildee seu joelho no chatildeo

Para cobrir com a bandeira

Viva satildeo Sebastiatildeo

Essa bandeira me salva

Quando chegar laacute no ceacuteu

Alevanta pecador

Todo coberto de veacuteu 14

Sendo assim a bandeira eacute passada pela cabeccedila de todos os devotos que ajoelham

algumas pessoas beijam o manto outras se emocionam e agradecem Para Brandatildeo (2011 P

64) ldquo[] A festa eacute o momento de reconhecer que foram agraciados com uma benccedilatildeo e que eacute

preciso retribuir []rdquo A contra danccedila ndash uma muacutesica entoada cantado coisas do cotidiano para

os foliotildees saiacuterem da residecircncia como aborda o Sr Jonas Almeida de Castro (2014)

Convidei meus companheiros

para fazer sociedade

Para roubar dessa cigana

um amor da eternidade

O ciganhinha hora eacute hora

quem quiser comigo eacute hora

Agrave Deus ponta da areia

que laacute vai a cigana embora

A festa eacute uma forma de diversatildeo tatildeo especial para os foliotildees que toca os instrumentos

por prazer em estar festejando que apaga todo o cansaccedilo do corpo Brandatildeo (2011 P74)

afirma que ldquoApesar de a festa ser uma celebraccedilatildeo do cotidiano das sociedades ela representa uma

quebra nesse cotidiano quando as pessoas deixam suas atividades do dia- a- dia para se

dedicarem ao seu inversordquo

Dois foliotildees relataram duas situaccedilotildees envolvendo o cortejo de Satildeo Sebastiatildeo a

primeira foi quando uma senhora os convidou o terno de reis para entrar em sua residecircncia

muito humilde Poreacutem a dona da casa tinha apenas dois ovos de galinha para oferecer nesta

situaccedilatildeo um foliatildeo fez a doaccedilatildeo por ela e devolveu a oferta da senhora A outra situaccedilatildeo eacute

14 Nona e deacutecima estrofe do canto de chegada em louvor a Satildeo Sebastiatildeo entoado pelos foliotildees em Itagimirim-

Ba

19

quando uma fita da bandeira do santo cai dentro de uma casa eacute sinal de milagre concedido ao

morador como Aborda dona Srordf Alzira P de Souza

Olha se cair na casa da pessoa eacute para pegar e guardar ali eacute uma virtude que

esta deixando na casa da pessoa e uma forccedila que esta deixando ali na casa

da pessoa o santo deixou cai aquela fita ali para agradecer e recomendar o

dono da casa (Srordf Alzira Pereira de Souza 08-05-14)

Para muitos moradores essa fita eacute utilizada como remeacutedio quando um familiar sente

uma dor amarando no local essa recordaccedilatildeo eacute guardada como muita alegria

Quando o reisado chega em uma rua eles cantam de um lado e depois do outro a

bandeira indo por um canto natildeo pode voltar pelo mesmo lugar tem que seguir o giro o

caminho aberto A Srordf Maria C Rodrigues relata que ldquoquando passo numa casa e vejo a porta

fechada eu acho que a pessoa natildeo quer que eu paro ai a bandeira passa se pedir para voltar

a gente natildeo pode maisrdquo Hobsbawm (1997) dialoga que entende-se por ldquotradiccedilatildeo inventadardquo

um conjunto de praacuteticas normalmente reguladas por regras taacutecita ou abertamente aceitas ldquo[]

tais praacuteticas de natureza ritual ou simboacutelica visam inculcar certos valores e normas de

comportamento atraacuteves de repeticcedilatildeo o que implica automaticamente uma continuidade em

relaccedilatildeo ao passado []rdquo

Muitas festas foram apontadas por vaacuterios pesquisadores do periacuteodo colonial como

forma de fugas e rebeliotildees ou sendo para assumir uma identidade por determinados grupos

nesse contexto as festas natildeo satildeo vistas simplesmente como passivas mas como oportunidade

de romper com o cotidiano

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O trabalho realizado atraveacutes do festejo de Satildeo Sebastiatildeo em Itagimirim-Ba investigou

e analisou o surgimento da manifestaccedilatildeo religiosa de caraacuteter popular sendo renovada e

20

modificada com as migraccedilotildees de pessoas vindas de outros povoados e municiacutepios da regiatildeo

re-significando a tradiccedilatildeo e incorporando novas praacuteticas

A devoccedilatildeo dos foliotildees por um santo representa uma afirmaccedilatildeo de identidade

possibilitando novas relaccedilotildees entre os homens e o meio social ao qual estaacute inserido

Rememorar natildeo significa trazer de volta a festa do mesmo jeito que era outrora e sim

reafirmar e reconstruir novos haacutebitos

O festejo eacute um elemento que fez e faz parte da origem e desenvolvimento da cidade

pois seus habitantes fundadores jaacute traziam em suas memoacuterias essa forma de socializaccedilatildeo

religiosa Que tambeacutem se construiu como um escape para os longos dias de trabalhos

quebrando o ritmo do cotidiano A manifestaccedilatildeo de feacute eacute um espaccedilo de troca de saberes atraveacutes

das praacuteticas de alegria e devoccedilatildeo sendo um lugar de afirmaccedilatildeo de relaccedilotildees sociais ou criar

novos laccedilos de amizade o que fundamental para comunidade itagimiriense

REFEREcircNCIAS

ABREU Marta Cultura popular um conceito e vaacuterias histoacuterias In Ensino de Histoacuteria

conceitos temaacuteticas e metodologia Martha Abreu amp Rachel Sohiet (orgs) Rio de Janeiro

Casa da Palavra 2003

ALBERTI Verena Manual de Histoacuteria oral ndash 3 ed ndash Rio de Janeiro Editora FGV 2005

BOSI Ecleacutea Memoacuteria e Sociedade Lembranccedilas de Velhos ndash 3 ed ndashSatildeo Paulo Companhia

das letras 1994

BRANDAtildeO Alex Sandro da Conceiccedilatildeo Santos Reis Festa Poder e Memoacuteria (Governador

Mangabeira- BA 1970-2000) Artigo apresentado no X Encontro Nacional de Histoacuteria Oral

Recife 2010

21

BRANDAtildeO Alex Sandro da Conceiccedilatildeo Santos Reis festa poder e memoacuteria na comunidade

rural de aldeia (Governador Mangabeira- BA 1970-2000) Dissertaccedilatildeo apresentada ao

programa de poacutes-graduaccedilatildeo em histoacuteria regional e local da universidade do estado da

BahiaUNEB Santo Antonio de Jesus ndash BA abril ndash 2011

BRITTO Larissa Novais Festa de Satildeo Benedito O Sagrado e o profano nas festas regiliosas

de origem africana em Porto Seguro-Ba Monografia apresentada a UNEB Eunaacutepolis 2009

CASTRO Jakson Viana de Educaccedilatildeo patrimonial um instrumento de ensino para Histoacuteria local

Monografia apresentada a UNEB Eunaacutepolis 2009

CHALHOUB Sidney Visotildees da liberdade uma histoacuteria das uacuteltimas deacutecadas da escravidatildeo

na Corte Sidney Chalhoub mdash Satildeo Paulo Companhia das Letras 2011

COUTO Edilece Souza Devoccedilotildees festas e ritos algumas consideraccedilotildees Revista Brasileira

de Histoacuteria das Religiotildees ndash Ano I no 1 ndash Dossiecirc Identidades Religiosas e Histoacuteria Maio

2008

GUARINELLO Noberto Luiz Festa trabalho e cotidiano Istvaacutem Jancsoacute Iris kantor

(orgs)Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa Volume II Satildeo Paulo 2001

GUERRA Teoney Araujo Dados e informaccedilotildees para Estudantes Itagimirim-Ba 2000

HERMANN Jacqueline Histoacuteria das religiotildees e religiosidades Domiacutenios da Historia

ensaios da teoria e metodologias Ciro Flamrion Cardoso Ronaldo Vainfas (orgs) Rio de

Janeiro Campus 1997

HOBSBAWM Eric A invenccedilatildeo das tradiccedilotildees Eric Hobsbawn e Terenge Ranger

organizadores Traduccedilatildeo Celina Cardim Cavalgante 2ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro 1997

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel emwwwibgegovbr acesso

dia 06-05-12 agraves 13h00min

JANCSOacute Istvaacutem KANTOR Iris (orgs) Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica

Portuguesa Volume I Satildeo Paulo 2001

JANCSOacute Istvaacutenamp KANTOR Iris Festa Cultura e Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa (2

volumes) Satildeo Paulo Imprensa Oficial Hucitec Edusp Fapesp 2001

1 NASCIMENTO Nilson do Carmo Cachoeirinha Freguesia de Nossa Senhora da

Conceiccedilatildeo da Cachoeirinha do Baixo Jequitinhonhandash Brasiacutelia 2010

22

2 NASCIMENTO Mara Regina do Religiosidade e cultura popular Catolicismo

irmandades e tradiccedilotildees em movimento Revista da Catoacutelica Uberlacircndia v 1 n 2 p 119-130

2009 ndash catolicaonlinecom BR revista da catoacutelica

PORTELLI Alessandro Histoacuteria Oral e Poder Transcriccedilatildeo de Luiz Henrique dos Santos

Blume a partir do arquivo em aacuteudio wmp Traduccedilatildeo de Luiz Henrique dos Santos Blume e

Heliana de Barros Conde Rodrigues Mnemosine Vol6 nordm2 p 2-13 (2010) ndash Artigos

Conferecircncia no XXV Simpoacutesio Nacional da ANPUH Fortaleza 2009

POLLAK Michel Memoacuteria e identidade social Conferecircncia foi transcrita e traduzida por

monique augras A ediccedilatildeo eacute de Dora Rocha Flaksman Estudos histoacutericos rio de janeiro vol

5 n 10 1992 p 200-212

POLLAK Michel Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Conferecircncia foi transcrita e traduzida

por monique augras A ediccedilatildeo eacute de Dora Rocha Flaksman Estudos Histoacutericos Rio de

Janeiro vol 2 n 3 1989 p 3-15

PIRES Flaacutevia A Festa de Satildeo Sebastiatildeo em Catingueira transformaccedilotildees e permanecircncias dez

anos depois Revista de antropologia Satildeo Paulo USP 2011 v 54 nordm 2 Artigo Recebido em

novembro de 2010 Aceito em julho de 2011

SOIHET Rachel Histoacuteria das mulheres Domiacutenios da Historia ensaios da teoria e

metodologias Ciro Flamrion Cardoso Ronaldo Vainfas (orgs) Rio de Janeiro Campus

1997

SANTANA Tacircnia de Devoccedilotildees catoacutelicas entre os negros na Bahia colonial Artigo

apresentado na participaccedilatildeo no evento Fala Professor em 250803 promovido pelo curso de

Histoacuteria das Faculdades Jorge Amado

SANTOS Fernanda reis dos ldquoa festa do excelso padroeiro da cidade das palmeirasrdquo o culto

a satildeo Bartolomeu em Maragogipe (1851-1943) dissertaccedilatildeo apresentada ao programa de poacutes-

graduaccedilatildeo em histoacuteria da faculdade de filosofia e ciecircncias humanas universidade federal da

Bahia Salvador 2010

VAINFAS Ronaldo Da festa tupinambaacute ao sabaacute tropical a catequese pelo avesso Istvaacutem

Jancsoacute Iris kantor (orgs)Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa Volume I

Satildeo Paulo 2001

Page 12: FESTEJOS DE SÃO SEBASTIÃO EM ITAGIMIRIM-BA ......1 FESTEJOS DE SÃO SEBASTIÃO EM ITAGIMIRIM-BA: Memória e História de Um Povo (1960- 1998) Jairo Viana de Castro1 INTRODUÇÃO

12

aacuterduo labor no campo essa relaccedilatildeo entre homem e divindade pode ser percebido no trecho do

canto de chegada

Deus lhe dar merecimento

Deus lhe dar chuva santa

Para molhar seu mantimento 12

Para a cidade que desenvolve a religiosidade popular foi um fator de extrema

importacircncia pois a relaccedilatildeo social do povo atraveacutes dos festejos tornou-se uma expressatildeo

devocional de identificaccedilatildeo entre eles No entanto as experiecircncias culturais Segundo Abreu

(2003 p 94-95) ldquo[] pode tambeacutem estimular a criaccedilatildeo de identidades sociais culturais e

viacutenculos duradouros entre grupos de reconhecida expressatildeo cultural ou religiosa como por

exemplo as escolas de samba os grupos que organizam folias de reis e congadasrdquo Para as

duas senhoras que tem centros de Umbanda em Itagimirim eacute uma missatildeo a seguir pois estaacute

ligado a uma promessa familiar e o compromisso passado a elas

O festejo criou viacutenculos duradouros entre os participantes pois suas expressotildees de feacute

estatildeo relacionadas no cotidiano familiar e por meio do lugar onde se encontram e

desenvolveu uma organizaccedilatildeo social que ao longo dos anos constituiu grupos distintos

Segundo Abreu (1999) ldquoatraveacutes das festas pode-se conhecer melhor a coletividaderdquo e com

isso quais indiviacuteduos que se relacionam com religiosidade popular

No entanto o que se discute neste trabalho eacute a festa enquanto espaccedilo de sociabilidade

a partir de uma memoacuteria coletiva e individual no espaccedilo social onde esta produccedilatildeo do

cotidiano ganha significado e que agrega valores entre o profano e o sagrado Sendo que estes

acontecimentos quebram o ritmo do cotidiano e estatildeo fixos dentro do calendaacuterio devocional

festivos das comunidades que desenvolvem os rituais

Os foliotildees no mecircs de janeiro quando saem agraves ruas apropriam dos espaccedilos puacuteblicos

festejando durante o dia eles mostram suas tradiccedilotildees para a populaccedilatildeo os indiviacuteduos ao

escrever suas tradiccedilotildees nos espaccedilos histoacutericos da cidade estatildeo demonstrando o seu lugar social

que segundo Larissa Novais Britto (2009)13

12 Parte do sexto trecho do canto de chegada que louva a Satildeo Sebastiatildeo entoado pelos foliotildees na cidade de

Itagimirim-Ba 13 A festa de Satildeo Benedito eacute um evento dinacircmico que eacute reinventado e reformulado atraveacutes de celebraccedilotildees

anuais descrito no trabalho monograacutefico de Larissa Novais Britto a festa se organiza no interior de uma

13

Nos dias da festa os negros saem do anonimato e assumem lugar de

destaque na cena urbana e promovem uma ruptura com a rotina cotidiana

extremamente marcada pela submissatildeo Ao danccedilar e cantar para seu santo

os festeiros revivem a liccedilotildees de seus ancestrais e revertem

momentaneamente o lugar secundaacuterio que ocupam na hierarquia do poder

local ( BRITTO 2009 p 9 )

Ao entrevistar as pessoas dessa comunidade que traz em suas memoacuterias um periacuteodo de

muitas recordaccedilotildees do tempo festivo no qual o homem rural criava seus modos de

sociabilidade atraveacutes de praacuteticas e instrumentos simples que faziam parte do seu cotidiano

Uma maneira de cultuar ao santo de forma direta atraveacutes de brincadeiras rezas

demonstraccedilotildees de feacute que tinha um grande significado diante de toda a expectativa para um

novo ano

Mediante a esses costumes e tradiccedilotildees que contribuem para o desenvolvimento da

localidade que teve avanccedilos permitindo que novos elementos fossem inseridos na festividade

Ao analisar a festa a Santos Reis na comunidade de aldeia com o processo de modernizaccedilatildeo

do lugar com a chegada da luz eleacutetrica que deu outros rumos ao ritual festivo apropriando de

outras caracteriacutesticas Brandatildeo (2010 P7) afirma que ldquo[] A festa em louvor a Santos Reis

esta viva justamente pela sua capacidade de se reinventar e natildeo pelo apego a uma praacutetica

ritualiacutestica congelada no tempordquo

A manifestaccedilatildeo de feacute eacute um espaccedilo de troca de saberes atraveacutes das praacuteticas culturais

seja no movimento das danccedilas ou manuseio dos instrumentos com muita alegria e devoccedilatildeo

sendo tambeacutem um lugar de afirmaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais

A festa eacute repleta de interesses e significados disfarccedilados Segundo Guarinello (2001

p974) ldquo[] o sentido da festa eacute portanto da identidade que propotildee e produz depende sempre

dos participantes eventuais ou desejados cuja presenccedila e envolvimento determinam o

sucesso e o significado uacuteltimo de qualquer festa []rdquo

Assim se constituiu a relaccedilatildeo existente entre os foliotildees e devotos Habitantes de um

espaccedilo rural e urbano que no periacuteodo do festejo migram de um local a outro levando a boa

nova atraveacutes do cortejo ao santo

irmandade religiosa e em funccedilatildeo de um mito fundador que remete a histoacuteria de vida de um santo que considerado

protetor do povo negro

14

O RITO

Todo mundo espera chegou primeiro de Janeiro O reisado de santos reis eacute agrave

noite o de SAtildeO SEBASTIAtildeO eacute de dia Se noacutes cantamos em uma rua canta

de um lado ateacute o final depois passamos para o outro lado noacutes natildeo podemos

cruzar bandeira (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-14)

No primeiro dia (10 de janeiro) acontece uma reza nos salotildees de umbanda e tambeacutem

na igreja catolica essa praacutetica eacute realizada tanto por um grupo quanto pelo outro Quando os

foliotildees saem do salatildeo em cortejo vatildeo direto a igreja neste espaccedilo fazem vaacuterios pedidos e

rezas

Poreacutem dentro da igreja apenas as violas e gaitas satildeo ultilizadas para acompanhar o

louvor trovado agrave Satildeo Sebatiatildeo Pode ser pela amanhatilde ou agrave tarde para pedir proteccedilatildeo durante os

dias que os foliotildees percorrem em fazendas cidades vizinhas para depois que estiver faltando

uns quatro dias para vinte de Janeiro que eacute o dia de comemoraccedilatildeo a Satildeo Sebastiatildeo eles

retornam a Itagimirim Como foliatildeo do primeiro grupo de reisado o Sr Diomario relata o

trajeto do primeiro dia

Quando noacutes descemos da casa de Ceicinha no primeiro dia com a bandeira

noacutes vamos direto a igreja noacutes cantamos na igreja depois noacutes esparramamos

nos gerais esparramamos no mundo noacutes vai para casa do prefeito que eacute de

obrigaccedilatildeo ele receber a bandeira (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-14)

O primeiro grupo reisado segue a seguinte rota vatildeo para cidade de Itabepi onde satildeo

recebidos com muita festa pela populaccedilatildeo e governante local que disponibiliza uma pousada

para os foliotildees descasarem Depois de quatro dias cantando nesta cidade retornam a

Itagimirim cantam em diversas casas finalizando com a reza do terccedilo no oratoacuterio dentro do

salatildeo entre os dias 20 (vinte) para 21 (vinte e um) de janeiro A preparaccedilatildeo do foliatildeo para a

reza do terccedilo no uacuteltimo dia de Festejo eacute evidenciado pelo O Sr Diomario

15

No dia vinte noacutes estamos chegando em casa para poder descansar de meio

dia para tarde tomar banho ajeitar para a noite ter a reza de sete para oito

horas da noite a gente reza ai encerrou aquele reisado depois da reza acabou

mas se noacutes querer amanhecer o dia brincado pulando fazendo contra danccedila

tomando cachaccedila comendo tira gosto porque ela mata um boi para dar

despesa para os foliotildees dela e alguns visitantes que querem acompanhar (Sr

Diomaacuterio de Jesus 04-05-14)

O segundo grupo de Reisado apoacutes as rezas em seu salatildeo de umbanda tambeacutem seguem

com o cortejo para a igreja catoacutelica a bandeira do santo representando o martiacuterio e estaacute

sempre agrave frente do grupo Nenhum foliatildeo passa a frente da bandeira ficando atraacutes e se por

acaso necessitar passar na frente da bandeira logo eacute reverenciada pelos foliotildees colocando se

de joelho e beijando o manto sagrado

Essa praacutetica tambeacutem eacute abordada por Abreu (1999 p 48) na festa do divino Espiacuterito

santo a partir dos relatos do Escritor Thomas Ewbank ldquo[] que sempre estranhava nossos

haacutebitos beijando-se tambeacutem a bandeira ou melhor ldquoafundava-se o rosto em suas dobrasrdquo

para realizar a devoccedilatildeo e tanto fazia se fossem pessoas brancas ou negras []rdquo

Beijar a bandeira com a imagem de Satildeo Sebastiatildeo para um devoto que participa do

cortejo eacute uma forma de respeito que expressa agrave fidelidade ao santo onde seus pedidos foram

ouvidos e realizados uma relaccedilatildeo de proximidade e confianccedila na intercessatildeo do santo diante

do divino

Os foliotildees dizem que antes de iniciar o cortejo vatildeo a igreja catoacutelica pedir proteccedilatildeo

com a presenccedila ou natildeo do padre eles pedem licenccedila e entra na igreja entoando seus cacircnticos

uns ajoelham outros cantam com muita entonaccedilatildeo A Srordf Maria diz que sempre cantou na

igreja ldquoEu natildeo sei por que natildeo mas realmente quando a gente chega laacute tem vez que o padre

natildeo esta mais a gente canta eacute um direito nosso que ali eacute a casa de Deus casa nossa ali eacute

portas abertardquo

Santos (2010) ao analisar o catolicismo na cidade Maragogipe-Ba a partir do culto a

Satildeo Bartolomeu nos anos de 1851 a 1943 Destaca a seguinte informaccedilatildeo

No Brasil colonial as manifestaccedilotildees religiosas tinham como caracteriacutestica a

superficialidade constituindo-se como uma religiatildeo epideacutermica de fundo

emocional comprazendo-se nas exterioridades do culto mesmo sem

16

compreendecirc-lo e tomando um gosto de festa de reuniatildeo social sem aquela

convicccedilatildeo profunda nascida de uma interioridade forte e espiritualizada

Essa superficialidade fez-se notar pela enfaacutetica predominacircncia de ritos

externos pelo colorido e pompa das praacuteticas exteriores Tudo se fazia para

cultuar e homenagear os santos protetores No fundo uma religiatildeo

imediatista distante da ortodoxia (SANTOS 2010 P 63)

Neste sentido a igreja catoacutelica na cidade de Itagimirim natildeo participa diretamente das

homenagens ao santo cultuado por parte da populaccedilatildeo mas respeita o louvor a Satildeo Sebastiatildeo

que eacute manifestado pelos foliotildees atraveacutes de uma devoccedilatildeo desenvolvida por vaacuterias famiacutelias

contudo pode se perceber que alguns dos devotos satildeo frequumlentadores das missas dominicais e

que tambeacutem participam de muitos eventos promovidos pela igreja Couto (2004) ao investigar

os estudos sobre religiatildeo oficial e religiosidade popular abordou que

A partir da emergecircncia da espiritualidade laica no seacuteculo XIII o clero sentiu

a necessidade de falar a mesma liacutengua dos fieacuteis utilizar formas orais nas

liturgias ndash cantos e sermotildees ndash aceitar procissotildees e peregrinaccedilotildees a oratoacuterios

consagrados pelo povo e as funccedilotildees pagatildes atribuiacutedas aos santos (P 45)

Apoacutes o rito dentro da igreja os foliotildees entram em um carro geralmente alugado pela

dona do reisado passando por fazendas e chegando ao distrito de Gabiarra municiacutepio de

Eunaacutepolis retornando por Uniatildeo Bainana (distrito de Itagimirim-Ba) que faz divisa com o

estado de Minas Gerais

E concluem o cortejo dentro da cidade de Itagimirim passando em muitas residecircncias

No dia 19 (dezenove) agraves 18h00 (dezoito) realizam um jantar depois de muita contra danccedila

com as oitavas um roda de oito pessoas com instrumentos como gaitas bumba viola

pandeiro pratos de esmalte e palmas girando e passando um pelo o outro Depois das

brincadeiras fazem uma pausa para rezar o terccedilo dentro do oratoacuterio na passagem do dia 19

(dezenove) para 20 (vinte) de Janeiro

Os foliotildees percorrem a regiatildeo anunciando a boa nova um tempo de paz e alegria cada

pessoa que recebe esse cortejo fortalece sua feacute e de seus familiares O festejo representa um

ato de feacute para as pessoas que se juntam para agradecer pelas becircnccedilatildeos recebidas ao longo do

ano com esperanccedilas de dias melhores e sendo entrelaccediladas pelos festejos natalinos e todas as

expectativas para um novo ano

17

O festejo serve tambeacutem para pagar uma promessa ou mesmo para seguir a tradiccedilatildeo

aleacutem da questatildeo religiosa o festejo representa um sentimento de pertencimento e sociabilidade

para as pessoas que herdaram a devoccedilatildeo Segundo relata Edilece Souza

No entanto natildeo podemos perder de vista que o cristianismo inaugurou o

tempo lituacutergico baseado na historicidade de Jesus Cristo Dessa forma o

tempo festivo eacute repetido mas natildeo eacute imoacutevel nem imutaacutevel Apesar de se

revelar especial e diferente do calendaacuterio profano tambeacutem natildeo eacute um evento

isolado pois quebra o ritmo regular do cotidiano promove a sociabilidade e

o sentimento de pertencimento e identidade em um determinado grupo

social (COUTO 2008 P 2)

Nem todos os devoltos dos dois ternos de reisado vatildeo para os cortejos nas fazendas ou

para outras cidades alguns ficam nos salotildees de oraccedilotildees preparando as comidas e bebidas

organizando para a chegada e finalizaccedilatildeo do festejo segundo o Sr Diomario foliatildeo do

primeiro grupo de reisado satildeo poucas as pessoas que ficam a frente do cortejo

Mas os dela (foliotildees) satildeo oito macho e quatro fecircmea que satildeo de carregar a

bandeirae os machos para tocar os instrumentos pois cada um daqueles oito

tem os instrumento deles que domina que satildeo reco-reco pandeiro a caixa

era de Ceicinha o bunda eacute de quem saber bater que nem esse Neo era

bumbeiro nosso Neo batia bumba muito bem mas agora ficou o filho de

Ceicinha que eacute bumbeiro dela tambeacutem eacute isso (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-

14)

O individuos pertecente a um grupo desde o seu nascimento e no decorrer da vida vatildeo

aquirindo os usos haacutebitos alimentares vestimentas moradia objetos de pertecimento

ensiados pelas pessoas idosas que tem experiecircncia a religiosidade que vai sendo transmitida

de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo independe de tamanho e de grupo social ao qual estaacute inserido

Resultando em caracteriacutesticas peculiares ou a chamada memoacuteria comum do grupo para

Jacqueline Hermann (1997) chega-se ao ponto onde religiatildeo e religiosidade se cruzam

Quando o cortejo chega na porta de uma casa cantam um louvor para chamar atenccedilatildeo

do morador ldquoPorque vocecirc canta o Reis laacute fora e agradece dentro da casa o dono da casa abre

a porta vocecirc entra ai deu bom dia vocecirc louva o dono da casa e agradece o Reisrdquo isso que nos

relata o Sr Jonas Almeida de Castro Depois do lovour abre a porta dentro da residecircncia foi

observando que em um trecho do canto o devoltos obedecem a letra

18

Ajoelha pecadores

Potildee seu joelho no chatildeo

Para cobrir com a bandeira

Viva satildeo Sebastiatildeo

Essa bandeira me salva

Quando chegar laacute no ceacuteu

Alevanta pecador

Todo coberto de veacuteu 14

Sendo assim a bandeira eacute passada pela cabeccedila de todos os devotos que ajoelham

algumas pessoas beijam o manto outras se emocionam e agradecem Para Brandatildeo (2011 P

64) ldquo[] A festa eacute o momento de reconhecer que foram agraciados com uma benccedilatildeo e que eacute

preciso retribuir []rdquo A contra danccedila ndash uma muacutesica entoada cantado coisas do cotidiano para

os foliotildees saiacuterem da residecircncia como aborda o Sr Jonas Almeida de Castro (2014)

Convidei meus companheiros

para fazer sociedade

Para roubar dessa cigana

um amor da eternidade

O ciganhinha hora eacute hora

quem quiser comigo eacute hora

Agrave Deus ponta da areia

que laacute vai a cigana embora

A festa eacute uma forma de diversatildeo tatildeo especial para os foliotildees que toca os instrumentos

por prazer em estar festejando que apaga todo o cansaccedilo do corpo Brandatildeo (2011 P74)

afirma que ldquoApesar de a festa ser uma celebraccedilatildeo do cotidiano das sociedades ela representa uma

quebra nesse cotidiano quando as pessoas deixam suas atividades do dia- a- dia para se

dedicarem ao seu inversordquo

Dois foliotildees relataram duas situaccedilotildees envolvendo o cortejo de Satildeo Sebastiatildeo a

primeira foi quando uma senhora os convidou o terno de reis para entrar em sua residecircncia

muito humilde Poreacutem a dona da casa tinha apenas dois ovos de galinha para oferecer nesta

situaccedilatildeo um foliatildeo fez a doaccedilatildeo por ela e devolveu a oferta da senhora A outra situaccedilatildeo eacute

14 Nona e deacutecima estrofe do canto de chegada em louvor a Satildeo Sebastiatildeo entoado pelos foliotildees em Itagimirim-

Ba

19

quando uma fita da bandeira do santo cai dentro de uma casa eacute sinal de milagre concedido ao

morador como Aborda dona Srordf Alzira P de Souza

Olha se cair na casa da pessoa eacute para pegar e guardar ali eacute uma virtude que

esta deixando na casa da pessoa e uma forccedila que esta deixando ali na casa

da pessoa o santo deixou cai aquela fita ali para agradecer e recomendar o

dono da casa (Srordf Alzira Pereira de Souza 08-05-14)

Para muitos moradores essa fita eacute utilizada como remeacutedio quando um familiar sente

uma dor amarando no local essa recordaccedilatildeo eacute guardada como muita alegria

Quando o reisado chega em uma rua eles cantam de um lado e depois do outro a

bandeira indo por um canto natildeo pode voltar pelo mesmo lugar tem que seguir o giro o

caminho aberto A Srordf Maria C Rodrigues relata que ldquoquando passo numa casa e vejo a porta

fechada eu acho que a pessoa natildeo quer que eu paro ai a bandeira passa se pedir para voltar

a gente natildeo pode maisrdquo Hobsbawm (1997) dialoga que entende-se por ldquotradiccedilatildeo inventadardquo

um conjunto de praacuteticas normalmente reguladas por regras taacutecita ou abertamente aceitas ldquo[]

tais praacuteticas de natureza ritual ou simboacutelica visam inculcar certos valores e normas de

comportamento atraacuteves de repeticcedilatildeo o que implica automaticamente uma continuidade em

relaccedilatildeo ao passado []rdquo

Muitas festas foram apontadas por vaacuterios pesquisadores do periacuteodo colonial como

forma de fugas e rebeliotildees ou sendo para assumir uma identidade por determinados grupos

nesse contexto as festas natildeo satildeo vistas simplesmente como passivas mas como oportunidade

de romper com o cotidiano

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O trabalho realizado atraveacutes do festejo de Satildeo Sebastiatildeo em Itagimirim-Ba investigou

e analisou o surgimento da manifestaccedilatildeo religiosa de caraacuteter popular sendo renovada e

20

modificada com as migraccedilotildees de pessoas vindas de outros povoados e municiacutepios da regiatildeo

re-significando a tradiccedilatildeo e incorporando novas praacuteticas

A devoccedilatildeo dos foliotildees por um santo representa uma afirmaccedilatildeo de identidade

possibilitando novas relaccedilotildees entre os homens e o meio social ao qual estaacute inserido

Rememorar natildeo significa trazer de volta a festa do mesmo jeito que era outrora e sim

reafirmar e reconstruir novos haacutebitos

O festejo eacute um elemento que fez e faz parte da origem e desenvolvimento da cidade

pois seus habitantes fundadores jaacute traziam em suas memoacuterias essa forma de socializaccedilatildeo

religiosa Que tambeacutem se construiu como um escape para os longos dias de trabalhos

quebrando o ritmo do cotidiano A manifestaccedilatildeo de feacute eacute um espaccedilo de troca de saberes atraveacutes

das praacuteticas de alegria e devoccedilatildeo sendo um lugar de afirmaccedilatildeo de relaccedilotildees sociais ou criar

novos laccedilos de amizade o que fundamental para comunidade itagimiriense

REFEREcircNCIAS

ABREU Marta Cultura popular um conceito e vaacuterias histoacuterias In Ensino de Histoacuteria

conceitos temaacuteticas e metodologia Martha Abreu amp Rachel Sohiet (orgs) Rio de Janeiro

Casa da Palavra 2003

ALBERTI Verena Manual de Histoacuteria oral ndash 3 ed ndash Rio de Janeiro Editora FGV 2005

BOSI Ecleacutea Memoacuteria e Sociedade Lembranccedilas de Velhos ndash 3 ed ndashSatildeo Paulo Companhia

das letras 1994

BRANDAtildeO Alex Sandro da Conceiccedilatildeo Santos Reis Festa Poder e Memoacuteria (Governador

Mangabeira- BA 1970-2000) Artigo apresentado no X Encontro Nacional de Histoacuteria Oral

Recife 2010

21

BRANDAtildeO Alex Sandro da Conceiccedilatildeo Santos Reis festa poder e memoacuteria na comunidade

rural de aldeia (Governador Mangabeira- BA 1970-2000) Dissertaccedilatildeo apresentada ao

programa de poacutes-graduaccedilatildeo em histoacuteria regional e local da universidade do estado da

BahiaUNEB Santo Antonio de Jesus ndash BA abril ndash 2011

BRITTO Larissa Novais Festa de Satildeo Benedito O Sagrado e o profano nas festas regiliosas

de origem africana em Porto Seguro-Ba Monografia apresentada a UNEB Eunaacutepolis 2009

CASTRO Jakson Viana de Educaccedilatildeo patrimonial um instrumento de ensino para Histoacuteria local

Monografia apresentada a UNEB Eunaacutepolis 2009

CHALHOUB Sidney Visotildees da liberdade uma histoacuteria das uacuteltimas deacutecadas da escravidatildeo

na Corte Sidney Chalhoub mdash Satildeo Paulo Companhia das Letras 2011

COUTO Edilece Souza Devoccedilotildees festas e ritos algumas consideraccedilotildees Revista Brasileira

de Histoacuteria das Religiotildees ndash Ano I no 1 ndash Dossiecirc Identidades Religiosas e Histoacuteria Maio

2008

GUARINELLO Noberto Luiz Festa trabalho e cotidiano Istvaacutem Jancsoacute Iris kantor

(orgs)Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa Volume II Satildeo Paulo 2001

GUERRA Teoney Araujo Dados e informaccedilotildees para Estudantes Itagimirim-Ba 2000

HERMANN Jacqueline Histoacuteria das religiotildees e religiosidades Domiacutenios da Historia

ensaios da teoria e metodologias Ciro Flamrion Cardoso Ronaldo Vainfas (orgs) Rio de

Janeiro Campus 1997

HOBSBAWM Eric A invenccedilatildeo das tradiccedilotildees Eric Hobsbawn e Terenge Ranger

organizadores Traduccedilatildeo Celina Cardim Cavalgante 2ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro 1997

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel emwwwibgegovbr acesso

dia 06-05-12 agraves 13h00min

JANCSOacute Istvaacutem KANTOR Iris (orgs) Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica

Portuguesa Volume I Satildeo Paulo 2001

JANCSOacute Istvaacutenamp KANTOR Iris Festa Cultura e Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa (2

volumes) Satildeo Paulo Imprensa Oficial Hucitec Edusp Fapesp 2001

1 NASCIMENTO Nilson do Carmo Cachoeirinha Freguesia de Nossa Senhora da

Conceiccedilatildeo da Cachoeirinha do Baixo Jequitinhonhandash Brasiacutelia 2010

22

2 NASCIMENTO Mara Regina do Religiosidade e cultura popular Catolicismo

irmandades e tradiccedilotildees em movimento Revista da Catoacutelica Uberlacircndia v 1 n 2 p 119-130

2009 ndash catolicaonlinecom BR revista da catoacutelica

PORTELLI Alessandro Histoacuteria Oral e Poder Transcriccedilatildeo de Luiz Henrique dos Santos

Blume a partir do arquivo em aacuteudio wmp Traduccedilatildeo de Luiz Henrique dos Santos Blume e

Heliana de Barros Conde Rodrigues Mnemosine Vol6 nordm2 p 2-13 (2010) ndash Artigos

Conferecircncia no XXV Simpoacutesio Nacional da ANPUH Fortaleza 2009

POLLAK Michel Memoacuteria e identidade social Conferecircncia foi transcrita e traduzida por

monique augras A ediccedilatildeo eacute de Dora Rocha Flaksman Estudos histoacutericos rio de janeiro vol

5 n 10 1992 p 200-212

POLLAK Michel Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Conferecircncia foi transcrita e traduzida

por monique augras A ediccedilatildeo eacute de Dora Rocha Flaksman Estudos Histoacutericos Rio de

Janeiro vol 2 n 3 1989 p 3-15

PIRES Flaacutevia A Festa de Satildeo Sebastiatildeo em Catingueira transformaccedilotildees e permanecircncias dez

anos depois Revista de antropologia Satildeo Paulo USP 2011 v 54 nordm 2 Artigo Recebido em

novembro de 2010 Aceito em julho de 2011

SOIHET Rachel Histoacuteria das mulheres Domiacutenios da Historia ensaios da teoria e

metodologias Ciro Flamrion Cardoso Ronaldo Vainfas (orgs) Rio de Janeiro Campus

1997

SANTANA Tacircnia de Devoccedilotildees catoacutelicas entre os negros na Bahia colonial Artigo

apresentado na participaccedilatildeo no evento Fala Professor em 250803 promovido pelo curso de

Histoacuteria das Faculdades Jorge Amado

SANTOS Fernanda reis dos ldquoa festa do excelso padroeiro da cidade das palmeirasrdquo o culto

a satildeo Bartolomeu em Maragogipe (1851-1943) dissertaccedilatildeo apresentada ao programa de poacutes-

graduaccedilatildeo em histoacuteria da faculdade de filosofia e ciecircncias humanas universidade federal da

Bahia Salvador 2010

VAINFAS Ronaldo Da festa tupinambaacute ao sabaacute tropical a catequese pelo avesso Istvaacutem

Jancsoacute Iris kantor (orgs)Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa Volume I

Satildeo Paulo 2001

Page 13: FESTEJOS DE SÃO SEBASTIÃO EM ITAGIMIRIM-BA ......1 FESTEJOS DE SÃO SEBASTIÃO EM ITAGIMIRIM-BA: Memória e História de Um Povo (1960- 1998) Jairo Viana de Castro1 INTRODUÇÃO

13

Nos dias da festa os negros saem do anonimato e assumem lugar de

destaque na cena urbana e promovem uma ruptura com a rotina cotidiana

extremamente marcada pela submissatildeo Ao danccedilar e cantar para seu santo

os festeiros revivem a liccedilotildees de seus ancestrais e revertem

momentaneamente o lugar secundaacuterio que ocupam na hierarquia do poder

local ( BRITTO 2009 p 9 )

Ao entrevistar as pessoas dessa comunidade que traz em suas memoacuterias um periacuteodo de

muitas recordaccedilotildees do tempo festivo no qual o homem rural criava seus modos de

sociabilidade atraveacutes de praacuteticas e instrumentos simples que faziam parte do seu cotidiano

Uma maneira de cultuar ao santo de forma direta atraveacutes de brincadeiras rezas

demonstraccedilotildees de feacute que tinha um grande significado diante de toda a expectativa para um

novo ano

Mediante a esses costumes e tradiccedilotildees que contribuem para o desenvolvimento da

localidade que teve avanccedilos permitindo que novos elementos fossem inseridos na festividade

Ao analisar a festa a Santos Reis na comunidade de aldeia com o processo de modernizaccedilatildeo

do lugar com a chegada da luz eleacutetrica que deu outros rumos ao ritual festivo apropriando de

outras caracteriacutesticas Brandatildeo (2010 P7) afirma que ldquo[] A festa em louvor a Santos Reis

esta viva justamente pela sua capacidade de se reinventar e natildeo pelo apego a uma praacutetica

ritualiacutestica congelada no tempordquo

A manifestaccedilatildeo de feacute eacute um espaccedilo de troca de saberes atraveacutes das praacuteticas culturais

seja no movimento das danccedilas ou manuseio dos instrumentos com muita alegria e devoccedilatildeo

sendo tambeacutem um lugar de afirmaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais

A festa eacute repleta de interesses e significados disfarccedilados Segundo Guarinello (2001

p974) ldquo[] o sentido da festa eacute portanto da identidade que propotildee e produz depende sempre

dos participantes eventuais ou desejados cuja presenccedila e envolvimento determinam o

sucesso e o significado uacuteltimo de qualquer festa []rdquo

Assim se constituiu a relaccedilatildeo existente entre os foliotildees e devotos Habitantes de um

espaccedilo rural e urbano que no periacuteodo do festejo migram de um local a outro levando a boa

nova atraveacutes do cortejo ao santo

irmandade religiosa e em funccedilatildeo de um mito fundador que remete a histoacuteria de vida de um santo que considerado

protetor do povo negro

14

O RITO

Todo mundo espera chegou primeiro de Janeiro O reisado de santos reis eacute agrave

noite o de SAtildeO SEBASTIAtildeO eacute de dia Se noacutes cantamos em uma rua canta

de um lado ateacute o final depois passamos para o outro lado noacutes natildeo podemos

cruzar bandeira (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-14)

No primeiro dia (10 de janeiro) acontece uma reza nos salotildees de umbanda e tambeacutem

na igreja catolica essa praacutetica eacute realizada tanto por um grupo quanto pelo outro Quando os

foliotildees saem do salatildeo em cortejo vatildeo direto a igreja neste espaccedilo fazem vaacuterios pedidos e

rezas

Poreacutem dentro da igreja apenas as violas e gaitas satildeo ultilizadas para acompanhar o

louvor trovado agrave Satildeo Sebatiatildeo Pode ser pela amanhatilde ou agrave tarde para pedir proteccedilatildeo durante os

dias que os foliotildees percorrem em fazendas cidades vizinhas para depois que estiver faltando

uns quatro dias para vinte de Janeiro que eacute o dia de comemoraccedilatildeo a Satildeo Sebastiatildeo eles

retornam a Itagimirim Como foliatildeo do primeiro grupo de reisado o Sr Diomario relata o

trajeto do primeiro dia

Quando noacutes descemos da casa de Ceicinha no primeiro dia com a bandeira

noacutes vamos direto a igreja noacutes cantamos na igreja depois noacutes esparramamos

nos gerais esparramamos no mundo noacutes vai para casa do prefeito que eacute de

obrigaccedilatildeo ele receber a bandeira (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-14)

O primeiro grupo reisado segue a seguinte rota vatildeo para cidade de Itabepi onde satildeo

recebidos com muita festa pela populaccedilatildeo e governante local que disponibiliza uma pousada

para os foliotildees descasarem Depois de quatro dias cantando nesta cidade retornam a

Itagimirim cantam em diversas casas finalizando com a reza do terccedilo no oratoacuterio dentro do

salatildeo entre os dias 20 (vinte) para 21 (vinte e um) de janeiro A preparaccedilatildeo do foliatildeo para a

reza do terccedilo no uacuteltimo dia de Festejo eacute evidenciado pelo O Sr Diomario

15

No dia vinte noacutes estamos chegando em casa para poder descansar de meio

dia para tarde tomar banho ajeitar para a noite ter a reza de sete para oito

horas da noite a gente reza ai encerrou aquele reisado depois da reza acabou

mas se noacutes querer amanhecer o dia brincado pulando fazendo contra danccedila

tomando cachaccedila comendo tira gosto porque ela mata um boi para dar

despesa para os foliotildees dela e alguns visitantes que querem acompanhar (Sr

Diomaacuterio de Jesus 04-05-14)

O segundo grupo de Reisado apoacutes as rezas em seu salatildeo de umbanda tambeacutem seguem

com o cortejo para a igreja catoacutelica a bandeira do santo representando o martiacuterio e estaacute

sempre agrave frente do grupo Nenhum foliatildeo passa a frente da bandeira ficando atraacutes e se por

acaso necessitar passar na frente da bandeira logo eacute reverenciada pelos foliotildees colocando se

de joelho e beijando o manto sagrado

Essa praacutetica tambeacutem eacute abordada por Abreu (1999 p 48) na festa do divino Espiacuterito

santo a partir dos relatos do Escritor Thomas Ewbank ldquo[] que sempre estranhava nossos

haacutebitos beijando-se tambeacutem a bandeira ou melhor ldquoafundava-se o rosto em suas dobrasrdquo

para realizar a devoccedilatildeo e tanto fazia se fossem pessoas brancas ou negras []rdquo

Beijar a bandeira com a imagem de Satildeo Sebastiatildeo para um devoto que participa do

cortejo eacute uma forma de respeito que expressa agrave fidelidade ao santo onde seus pedidos foram

ouvidos e realizados uma relaccedilatildeo de proximidade e confianccedila na intercessatildeo do santo diante

do divino

Os foliotildees dizem que antes de iniciar o cortejo vatildeo a igreja catoacutelica pedir proteccedilatildeo

com a presenccedila ou natildeo do padre eles pedem licenccedila e entra na igreja entoando seus cacircnticos

uns ajoelham outros cantam com muita entonaccedilatildeo A Srordf Maria diz que sempre cantou na

igreja ldquoEu natildeo sei por que natildeo mas realmente quando a gente chega laacute tem vez que o padre

natildeo esta mais a gente canta eacute um direito nosso que ali eacute a casa de Deus casa nossa ali eacute

portas abertardquo

Santos (2010) ao analisar o catolicismo na cidade Maragogipe-Ba a partir do culto a

Satildeo Bartolomeu nos anos de 1851 a 1943 Destaca a seguinte informaccedilatildeo

No Brasil colonial as manifestaccedilotildees religiosas tinham como caracteriacutestica a

superficialidade constituindo-se como uma religiatildeo epideacutermica de fundo

emocional comprazendo-se nas exterioridades do culto mesmo sem

16

compreendecirc-lo e tomando um gosto de festa de reuniatildeo social sem aquela

convicccedilatildeo profunda nascida de uma interioridade forte e espiritualizada

Essa superficialidade fez-se notar pela enfaacutetica predominacircncia de ritos

externos pelo colorido e pompa das praacuteticas exteriores Tudo se fazia para

cultuar e homenagear os santos protetores No fundo uma religiatildeo

imediatista distante da ortodoxia (SANTOS 2010 P 63)

Neste sentido a igreja catoacutelica na cidade de Itagimirim natildeo participa diretamente das

homenagens ao santo cultuado por parte da populaccedilatildeo mas respeita o louvor a Satildeo Sebastiatildeo

que eacute manifestado pelos foliotildees atraveacutes de uma devoccedilatildeo desenvolvida por vaacuterias famiacutelias

contudo pode se perceber que alguns dos devotos satildeo frequumlentadores das missas dominicais e

que tambeacutem participam de muitos eventos promovidos pela igreja Couto (2004) ao investigar

os estudos sobre religiatildeo oficial e religiosidade popular abordou que

A partir da emergecircncia da espiritualidade laica no seacuteculo XIII o clero sentiu

a necessidade de falar a mesma liacutengua dos fieacuteis utilizar formas orais nas

liturgias ndash cantos e sermotildees ndash aceitar procissotildees e peregrinaccedilotildees a oratoacuterios

consagrados pelo povo e as funccedilotildees pagatildes atribuiacutedas aos santos (P 45)

Apoacutes o rito dentro da igreja os foliotildees entram em um carro geralmente alugado pela

dona do reisado passando por fazendas e chegando ao distrito de Gabiarra municiacutepio de

Eunaacutepolis retornando por Uniatildeo Bainana (distrito de Itagimirim-Ba) que faz divisa com o

estado de Minas Gerais

E concluem o cortejo dentro da cidade de Itagimirim passando em muitas residecircncias

No dia 19 (dezenove) agraves 18h00 (dezoito) realizam um jantar depois de muita contra danccedila

com as oitavas um roda de oito pessoas com instrumentos como gaitas bumba viola

pandeiro pratos de esmalte e palmas girando e passando um pelo o outro Depois das

brincadeiras fazem uma pausa para rezar o terccedilo dentro do oratoacuterio na passagem do dia 19

(dezenove) para 20 (vinte) de Janeiro

Os foliotildees percorrem a regiatildeo anunciando a boa nova um tempo de paz e alegria cada

pessoa que recebe esse cortejo fortalece sua feacute e de seus familiares O festejo representa um

ato de feacute para as pessoas que se juntam para agradecer pelas becircnccedilatildeos recebidas ao longo do

ano com esperanccedilas de dias melhores e sendo entrelaccediladas pelos festejos natalinos e todas as

expectativas para um novo ano

17

O festejo serve tambeacutem para pagar uma promessa ou mesmo para seguir a tradiccedilatildeo

aleacutem da questatildeo religiosa o festejo representa um sentimento de pertencimento e sociabilidade

para as pessoas que herdaram a devoccedilatildeo Segundo relata Edilece Souza

No entanto natildeo podemos perder de vista que o cristianismo inaugurou o

tempo lituacutergico baseado na historicidade de Jesus Cristo Dessa forma o

tempo festivo eacute repetido mas natildeo eacute imoacutevel nem imutaacutevel Apesar de se

revelar especial e diferente do calendaacuterio profano tambeacutem natildeo eacute um evento

isolado pois quebra o ritmo regular do cotidiano promove a sociabilidade e

o sentimento de pertencimento e identidade em um determinado grupo

social (COUTO 2008 P 2)

Nem todos os devoltos dos dois ternos de reisado vatildeo para os cortejos nas fazendas ou

para outras cidades alguns ficam nos salotildees de oraccedilotildees preparando as comidas e bebidas

organizando para a chegada e finalizaccedilatildeo do festejo segundo o Sr Diomario foliatildeo do

primeiro grupo de reisado satildeo poucas as pessoas que ficam a frente do cortejo

Mas os dela (foliotildees) satildeo oito macho e quatro fecircmea que satildeo de carregar a

bandeirae os machos para tocar os instrumentos pois cada um daqueles oito

tem os instrumento deles que domina que satildeo reco-reco pandeiro a caixa

era de Ceicinha o bunda eacute de quem saber bater que nem esse Neo era

bumbeiro nosso Neo batia bumba muito bem mas agora ficou o filho de

Ceicinha que eacute bumbeiro dela tambeacutem eacute isso (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-

14)

O individuos pertecente a um grupo desde o seu nascimento e no decorrer da vida vatildeo

aquirindo os usos haacutebitos alimentares vestimentas moradia objetos de pertecimento

ensiados pelas pessoas idosas que tem experiecircncia a religiosidade que vai sendo transmitida

de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo independe de tamanho e de grupo social ao qual estaacute inserido

Resultando em caracteriacutesticas peculiares ou a chamada memoacuteria comum do grupo para

Jacqueline Hermann (1997) chega-se ao ponto onde religiatildeo e religiosidade se cruzam

Quando o cortejo chega na porta de uma casa cantam um louvor para chamar atenccedilatildeo

do morador ldquoPorque vocecirc canta o Reis laacute fora e agradece dentro da casa o dono da casa abre

a porta vocecirc entra ai deu bom dia vocecirc louva o dono da casa e agradece o Reisrdquo isso que nos

relata o Sr Jonas Almeida de Castro Depois do lovour abre a porta dentro da residecircncia foi

observando que em um trecho do canto o devoltos obedecem a letra

18

Ajoelha pecadores

Potildee seu joelho no chatildeo

Para cobrir com a bandeira

Viva satildeo Sebastiatildeo

Essa bandeira me salva

Quando chegar laacute no ceacuteu

Alevanta pecador

Todo coberto de veacuteu 14

Sendo assim a bandeira eacute passada pela cabeccedila de todos os devotos que ajoelham

algumas pessoas beijam o manto outras se emocionam e agradecem Para Brandatildeo (2011 P

64) ldquo[] A festa eacute o momento de reconhecer que foram agraciados com uma benccedilatildeo e que eacute

preciso retribuir []rdquo A contra danccedila ndash uma muacutesica entoada cantado coisas do cotidiano para

os foliotildees saiacuterem da residecircncia como aborda o Sr Jonas Almeida de Castro (2014)

Convidei meus companheiros

para fazer sociedade

Para roubar dessa cigana

um amor da eternidade

O ciganhinha hora eacute hora

quem quiser comigo eacute hora

Agrave Deus ponta da areia

que laacute vai a cigana embora

A festa eacute uma forma de diversatildeo tatildeo especial para os foliotildees que toca os instrumentos

por prazer em estar festejando que apaga todo o cansaccedilo do corpo Brandatildeo (2011 P74)

afirma que ldquoApesar de a festa ser uma celebraccedilatildeo do cotidiano das sociedades ela representa uma

quebra nesse cotidiano quando as pessoas deixam suas atividades do dia- a- dia para se

dedicarem ao seu inversordquo

Dois foliotildees relataram duas situaccedilotildees envolvendo o cortejo de Satildeo Sebastiatildeo a

primeira foi quando uma senhora os convidou o terno de reis para entrar em sua residecircncia

muito humilde Poreacutem a dona da casa tinha apenas dois ovos de galinha para oferecer nesta

situaccedilatildeo um foliatildeo fez a doaccedilatildeo por ela e devolveu a oferta da senhora A outra situaccedilatildeo eacute

14 Nona e deacutecima estrofe do canto de chegada em louvor a Satildeo Sebastiatildeo entoado pelos foliotildees em Itagimirim-

Ba

19

quando uma fita da bandeira do santo cai dentro de uma casa eacute sinal de milagre concedido ao

morador como Aborda dona Srordf Alzira P de Souza

Olha se cair na casa da pessoa eacute para pegar e guardar ali eacute uma virtude que

esta deixando na casa da pessoa e uma forccedila que esta deixando ali na casa

da pessoa o santo deixou cai aquela fita ali para agradecer e recomendar o

dono da casa (Srordf Alzira Pereira de Souza 08-05-14)

Para muitos moradores essa fita eacute utilizada como remeacutedio quando um familiar sente

uma dor amarando no local essa recordaccedilatildeo eacute guardada como muita alegria

Quando o reisado chega em uma rua eles cantam de um lado e depois do outro a

bandeira indo por um canto natildeo pode voltar pelo mesmo lugar tem que seguir o giro o

caminho aberto A Srordf Maria C Rodrigues relata que ldquoquando passo numa casa e vejo a porta

fechada eu acho que a pessoa natildeo quer que eu paro ai a bandeira passa se pedir para voltar

a gente natildeo pode maisrdquo Hobsbawm (1997) dialoga que entende-se por ldquotradiccedilatildeo inventadardquo

um conjunto de praacuteticas normalmente reguladas por regras taacutecita ou abertamente aceitas ldquo[]

tais praacuteticas de natureza ritual ou simboacutelica visam inculcar certos valores e normas de

comportamento atraacuteves de repeticcedilatildeo o que implica automaticamente uma continuidade em

relaccedilatildeo ao passado []rdquo

Muitas festas foram apontadas por vaacuterios pesquisadores do periacuteodo colonial como

forma de fugas e rebeliotildees ou sendo para assumir uma identidade por determinados grupos

nesse contexto as festas natildeo satildeo vistas simplesmente como passivas mas como oportunidade

de romper com o cotidiano

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O trabalho realizado atraveacutes do festejo de Satildeo Sebastiatildeo em Itagimirim-Ba investigou

e analisou o surgimento da manifestaccedilatildeo religiosa de caraacuteter popular sendo renovada e

20

modificada com as migraccedilotildees de pessoas vindas de outros povoados e municiacutepios da regiatildeo

re-significando a tradiccedilatildeo e incorporando novas praacuteticas

A devoccedilatildeo dos foliotildees por um santo representa uma afirmaccedilatildeo de identidade

possibilitando novas relaccedilotildees entre os homens e o meio social ao qual estaacute inserido

Rememorar natildeo significa trazer de volta a festa do mesmo jeito que era outrora e sim

reafirmar e reconstruir novos haacutebitos

O festejo eacute um elemento que fez e faz parte da origem e desenvolvimento da cidade

pois seus habitantes fundadores jaacute traziam em suas memoacuterias essa forma de socializaccedilatildeo

religiosa Que tambeacutem se construiu como um escape para os longos dias de trabalhos

quebrando o ritmo do cotidiano A manifestaccedilatildeo de feacute eacute um espaccedilo de troca de saberes atraveacutes

das praacuteticas de alegria e devoccedilatildeo sendo um lugar de afirmaccedilatildeo de relaccedilotildees sociais ou criar

novos laccedilos de amizade o que fundamental para comunidade itagimiriense

REFEREcircNCIAS

ABREU Marta Cultura popular um conceito e vaacuterias histoacuterias In Ensino de Histoacuteria

conceitos temaacuteticas e metodologia Martha Abreu amp Rachel Sohiet (orgs) Rio de Janeiro

Casa da Palavra 2003

ALBERTI Verena Manual de Histoacuteria oral ndash 3 ed ndash Rio de Janeiro Editora FGV 2005

BOSI Ecleacutea Memoacuteria e Sociedade Lembranccedilas de Velhos ndash 3 ed ndashSatildeo Paulo Companhia

das letras 1994

BRANDAtildeO Alex Sandro da Conceiccedilatildeo Santos Reis Festa Poder e Memoacuteria (Governador

Mangabeira- BA 1970-2000) Artigo apresentado no X Encontro Nacional de Histoacuteria Oral

Recife 2010

21

BRANDAtildeO Alex Sandro da Conceiccedilatildeo Santos Reis festa poder e memoacuteria na comunidade

rural de aldeia (Governador Mangabeira- BA 1970-2000) Dissertaccedilatildeo apresentada ao

programa de poacutes-graduaccedilatildeo em histoacuteria regional e local da universidade do estado da

BahiaUNEB Santo Antonio de Jesus ndash BA abril ndash 2011

BRITTO Larissa Novais Festa de Satildeo Benedito O Sagrado e o profano nas festas regiliosas

de origem africana em Porto Seguro-Ba Monografia apresentada a UNEB Eunaacutepolis 2009

CASTRO Jakson Viana de Educaccedilatildeo patrimonial um instrumento de ensino para Histoacuteria local

Monografia apresentada a UNEB Eunaacutepolis 2009

CHALHOUB Sidney Visotildees da liberdade uma histoacuteria das uacuteltimas deacutecadas da escravidatildeo

na Corte Sidney Chalhoub mdash Satildeo Paulo Companhia das Letras 2011

COUTO Edilece Souza Devoccedilotildees festas e ritos algumas consideraccedilotildees Revista Brasileira

de Histoacuteria das Religiotildees ndash Ano I no 1 ndash Dossiecirc Identidades Religiosas e Histoacuteria Maio

2008

GUARINELLO Noberto Luiz Festa trabalho e cotidiano Istvaacutem Jancsoacute Iris kantor

(orgs)Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa Volume II Satildeo Paulo 2001

GUERRA Teoney Araujo Dados e informaccedilotildees para Estudantes Itagimirim-Ba 2000

HERMANN Jacqueline Histoacuteria das religiotildees e religiosidades Domiacutenios da Historia

ensaios da teoria e metodologias Ciro Flamrion Cardoso Ronaldo Vainfas (orgs) Rio de

Janeiro Campus 1997

HOBSBAWM Eric A invenccedilatildeo das tradiccedilotildees Eric Hobsbawn e Terenge Ranger

organizadores Traduccedilatildeo Celina Cardim Cavalgante 2ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro 1997

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel emwwwibgegovbr acesso

dia 06-05-12 agraves 13h00min

JANCSOacute Istvaacutem KANTOR Iris (orgs) Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica

Portuguesa Volume I Satildeo Paulo 2001

JANCSOacute Istvaacutenamp KANTOR Iris Festa Cultura e Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa (2

volumes) Satildeo Paulo Imprensa Oficial Hucitec Edusp Fapesp 2001

1 NASCIMENTO Nilson do Carmo Cachoeirinha Freguesia de Nossa Senhora da

Conceiccedilatildeo da Cachoeirinha do Baixo Jequitinhonhandash Brasiacutelia 2010

22

2 NASCIMENTO Mara Regina do Religiosidade e cultura popular Catolicismo

irmandades e tradiccedilotildees em movimento Revista da Catoacutelica Uberlacircndia v 1 n 2 p 119-130

2009 ndash catolicaonlinecom BR revista da catoacutelica

PORTELLI Alessandro Histoacuteria Oral e Poder Transcriccedilatildeo de Luiz Henrique dos Santos

Blume a partir do arquivo em aacuteudio wmp Traduccedilatildeo de Luiz Henrique dos Santos Blume e

Heliana de Barros Conde Rodrigues Mnemosine Vol6 nordm2 p 2-13 (2010) ndash Artigos

Conferecircncia no XXV Simpoacutesio Nacional da ANPUH Fortaleza 2009

POLLAK Michel Memoacuteria e identidade social Conferecircncia foi transcrita e traduzida por

monique augras A ediccedilatildeo eacute de Dora Rocha Flaksman Estudos histoacutericos rio de janeiro vol

5 n 10 1992 p 200-212

POLLAK Michel Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Conferecircncia foi transcrita e traduzida

por monique augras A ediccedilatildeo eacute de Dora Rocha Flaksman Estudos Histoacutericos Rio de

Janeiro vol 2 n 3 1989 p 3-15

PIRES Flaacutevia A Festa de Satildeo Sebastiatildeo em Catingueira transformaccedilotildees e permanecircncias dez

anos depois Revista de antropologia Satildeo Paulo USP 2011 v 54 nordm 2 Artigo Recebido em

novembro de 2010 Aceito em julho de 2011

SOIHET Rachel Histoacuteria das mulheres Domiacutenios da Historia ensaios da teoria e

metodologias Ciro Flamrion Cardoso Ronaldo Vainfas (orgs) Rio de Janeiro Campus

1997

SANTANA Tacircnia de Devoccedilotildees catoacutelicas entre os negros na Bahia colonial Artigo

apresentado na participaccedilatildeo no evento Fala Professor em 250803 promovido pelo curso de

Histoacuteria das Faculdades Jorge Amado

SANTOS Fernanda reis dos ldquoa festa do excelso padroeiro da cidade das palmeirasrdquo o culto

a satildeo Bartolomeu em Maragogipe (1851-1943) dissertaccedilatildeo apresentada ao programa de poacutes-

graduaccedilatildeo em histoacuteria da faculdade de filosofia e ciecircncias humanas universidade federal da

Bahia Salvador 2010

VAINFAS Ronaldo Da festa tupinambaacute ao sabaacute tropical a catequese pelo avesso Istvaacutem

Jancsoacute Iris kantor (orgs)Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa Volume I

Satildeo Paulo 2001

Page 14: FESTEJOS DE SÃO SEBASTIÃO EM ITAGIMIRIM-BA ......1 FESTEJOS DE SÃO SEBASTIÃO EM ITAGIMIRIM-BA: Memória e História de Um Povo (1960- 1998) Jairo Viana de Castro1 INTRODUÇÃO

14

O RITO

Todo mundo espera chegou primeiro de Janeiro O reisado de santos reis eacute agrave

noite o de SAtildeO SEBASTIAtildeO eacute de dia Se noacutes cantamos em uma rua canta

de um lado ateacute o final depois passamos para o outro lado noacutes natildeo podemos

cruzar bandeira (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-14)

No primeiro dia (10 de janeiro) acontece uma reza nos salotildees de umbanda e tambeacutem

na igreja catolica essa praacutetica eacute realizada tanto por um grupo quanto pelo outro Quando os

foliotildees saem do salatildeo em cortejo vatildeo direto a igreja neste espaccedilo fazem vaacuterios pedidos e

rezas

Poreacutem dentro da igreja apenas as violas e gaitas satildeo ultilizadas para acompanhar o

louvor trovado agrave Satildeo Sebatiatildeo Pode ser pela amanhatilde ou agrave tarde para pedir proteccedilatildeo durante os

dias que os foliotildees percorrem em fazendas cidades vizinhas para depois que estiver faltando

uns quatro dias para vinte de Janeiro que eacute o dia de comemoraccedilatildeo a Satildeo Sebastiatildeo eles

retornam a Itagimirim Como foliatildeo do primeiro grupo de reisado o Sr Diomario relata o

trajeto do primeiro dia

Quando noacutes descemos da casa de Ceicinha no primeiro dia com a bandeira

noacutes vamos direto a igreja noacutes cantamos na igreja depois noacutes esparramamos

nos gerais esparramamos no mundo noacutes vai para casa do prefeito que eacute de

obrigaccedilatildeo ele receber a bandeira (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-14)

O primeiro grupo reisado segue a seguinte rota vatildeo para cidade de Itabepi onde satildeo

recebidos com muita festa pela populaccedilatildeo e governante local que disponibiliza uma pousada

para os foliotildees descasarem Depois de quatro dias cantando nesta cidade retornam a

Itagimirim cantam em diversas casas finalizando com a reza do terccedilo no oratoacuterio dentro do

salatildeo entre os dias 20 (vinte) para 21 (vinte e um) de janeiro A preparaccedilatildeo do foliatildeo para a

reza do terccedilo no uacuteltimo dia de Festejo eacute evidenciado pelo O Sr Diomario

15

No dia vinte noacutes estamos chegando em casa para poder descansar de meio

dia para tarde tomar banho ajeitar para a noite ter a reza de sete para oito

horas da noite a gente reza ai encerrou aquele reisado depois da reza acabou

mas se noacutes querer amanhecer o dia brincado pulando fazendo contra danccedila

tomando cachaccedila comendo tira gosto porque ela mata um boi para dar

despesa para os foliotildees dela e alguns visitantes que querem acompanhar (Sr

Diomaacuterio de Jesus 04-05-14)

O segundo grupo de Reisado apoacutes as rezas em seu salatildeo de umbanda tambeacutem seguem

com o cortejo para a igreja catoacutelica a bandeira do santo representando o martiacuterio e estaacute

sempre agrave frente do grupo Nenhum foliatildeo passa a frente da bandeira ficando atraacutes e se por

acaso necessitar passar na frente da bandeira logo eacute reverenciada pelos foliotildees colocando se

de joelho e beijando o manto sagrado

Essa praacutetica tambeacutem eacute abordada por Abreu (1999 p 48) na festa do divino Espiacuterito

santo a partir dos relatos do Escritor Thomas Ewbank ldquo[] que sempre estranhava nossos

haacutebitos beijando-se tambeacutem a bandeira ou melhor ldquoafundava-se o rosto em suas dobrasrdquo

para realizar a devoccedilatildeo e tanto fazia se fossem pessoas brancas ou negras []rdquo

Beijar a bandeira com a imagem de Satildeo Sebastiatildeo para um devoto que participa do

cortejo eacute uma forma de respeito que expressa agrave fidelidade ao santo onde seus pedidos foram

ouvidos e realizados uma relaccedilatildeo de proximidade e confianccedila na intercessatildeo do santo diante

do divino

Os foliotildees dizem que antes de iniciar o cortejo vatildeo a igreja catoacutelica pedir proteccedilatildeo

com a presenccedila ou natildeo do padre eles pedem licenccedila e entra na igreja entoando seus cacircnticos

uns ajoelham outros cantam com muita entonaccedilatildeo A Srordf Maria diz que sempre cantou na

igreja ldquoEu natildeo sei por que natildeo mas realmente quando a gente chega laacute tem vez que o padre

natildeo esta mais a gente canta eacute um direito nosso que ali eacute a casa de Deus casa nossa ali eacute

portas abertardquo

Santos (2010) ao analisar o catolicismo na cidade Maragogipe-Ba a partir do culto a

Satildeo Bartolomeu nos anos de 1851 a 1943 Destaca a seguinte informaccedilatildeo

No Brasil colonial as manifestaccedilotildees religiosas tinham como caracteriacutestica a

superficialidade constituindo-se como uma religiatildeo epideacutermica de fundo

emocional comprazendo-se nas exterioridades do culto mesmo sem

16

compreendecirc-lo e tomando um gosto de festa de reuniatildeo social sem aquela

convicccedilatildeo profunda nascida de uma interioridade forte e espiritualizada

Essa superficialidade fez-se notar pela enfaacutetica predominacircncia de ritos

externos pelo colorido e pompa das praacuteticas exteriores Tudo se fazia para

cultuar e homenagear os santos protetores No fundo uma religiatildeo

imediatista distante da ortodoxia (SANTOS 2010 P 63)

Neste sentido a igreja catoacutelica na cidade de Itagimirim natildeo participa diretamente das

homenagens ao santo cultuado por parte da populaccedilatildeo mas respeita o louvor a Satildeo Sebastiatildeo

que eacute manifestado pelos foliotildees atraveacutes de uma devoccedilatildeo desenvolvida por vaacuterias famiacutelias

contudo pode se perceber que alguns dos devotos satildeo frequumlentadores das missas dominicais e

que tambeacutem participam de muitos eventos promovidos pela igreja Couto (2004) ao investigar

os estudos sobre religiatildeo oficial e religiosidade popular abordou que

A partir da emergecircncia da espiritualidade laica no seacuteculo XIII o clero sentiu

a necessidade de falar a mesma liacutengua dos fieacuteis utilizar formas orais nas

liturgias ndash cantos e sermotildees ndash aceitar procissotildees e peregrinaccedilotildees a oratoacuterios

consagrados pelo povo e as funccedilotildees pagatildes atribuiacutedas aos santos (P 45)

Apoacutes o rito dentro da igreja os foliotildees entram em um carro geralmente alugado pela

dona do reisado passando por fazendas e chegando ao distrito de Gabiarra municiacutepio de

Eunaacutepolis retornando por Uniatildeo Bainana (distrito de Itagimirim-Ba) que faz divisa com o

estado de Minas Gerais

E concluem o cortejo dentro da cidade de Itagimirim passando em muitas residecircncias

No dia 19 (dezenove) agraves 18h00 (dezoito) realizam um jantar depois de muita contra danccedila

com as oitavas um roda de oito pessoas com instrumentos como gaitas bumba viola

pandeiro pratos de esmalte e palmas girando e passando um pelo o outro Depois das

brincadeiras fazem uma pausa para rezar o terccedilo dentro do oratoacuterio na passagem do dia 19

(dezenove) para 20 (vinte) de Janeiro

Os foliotildees percorrem a regiatildeo anunciando a boa nova um tempo de paz e alegria cada

pessoa que recebe esse cortejo fortalece sua feacute e de seus familiares O festejo representa um

ato de feacute para as pessoas que se juntam para agradecer pelas becircnccedilatildeos recebidas ao longo do

ano com esperanccedilas de dias melhores e sendo entrelaccediladas pelos festejos natalinos e todas as

expectativas para um novo ano

17

O festejo serve tambeacutem para pagar uma promessa ou mesmo para seguir a tradiccedilatildeo

aleacutem da questatildeo religiosa o festejo representa um sentimento de pertencimento e sociabilidade

para as pessoas que herdaram a devoccedilatildeo Segundo relata Edilece Souza

No entanto natildeo podemos perder de vista que o cristianismo inaugurou o

tempo lituacutergico baseado na historicidade de Jesus Cristo Dessa forma o

tempo festivo eacute repetido mas natildeo eacute imoacutevel nem imutaacutevel Apesar de se

revelar especial e diferente do calendaacuterio profano tambeacutem natildeo eacute um evento

isolado pois quebra o ritmo regular do cotidiano promove a sociabilidade e

o sentimento de pertencimento e identidade em um determinado grupo

social (COUTO 2008 P 2)

Nem todos os devoltos dos dois ternos de reisado vatildeo para os cortejos nas fazendas ou

para outras cidades alguns ficam nos salotildees de oraccedilotildees preparando as comidas e bebidas

organizando para a chegada e finalizaccedilatildeo do festejo segundo o Sr Diomario foliatildeo do

primeiro grupo de reisado satildeo poucas as pessoas que ficam a frente do cortejo

Mas os dela (foliotildees) satildeo oito macho e quatro fecircmea que satildeo de carregar a

bandeirae os machos para tocar os instrumentos pois cada um daqueles oito

tem os instrumento deles que domina que satildeo reco-reco pandeiro a caixa

era de Ceicinha o bunda eacute de quem saber bater que nem esse Neo era

bumbeiro nosso Neo batia bumba muito bem mas agora ficou o filho de

Ceicinha que eacute bumbeiro dela tambeacutem eacute isso (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-

14)

O individuos pertecente a um grupo desde o seu nascimento e no decorrer da vida vatildeo

aquirindo os usos haacutebitos alimentares vestimentas moradia objetos de pertecimento

ensiados pelas pessoas idosas que tem experiecircncia a religiosidade que vai sendo transmitida

de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo independe de tamanho e de grupo social ao qual estaacute inserido

Resultando em caracteriacutesticas peculiares ou a chamada memoacuteria comum do grupo para

Jacqueline Hermann (1997) chega-se ao ponto onde religiatildeo e religiosidade se cruzam

Quando o cortejo chega na porta de uma casa cantam um louvor para chamar atenccedilatildeo

do morador ldquoPorque vocecirc canta o Reis laacute fora e agradece dentro da casa o dono da casa abre

a porta vocecirc entra ai deu bom dia vocecirc louva o dono da casa e agradece o Reisrdquo isso que nos

relata o Sr Jonas Almeida de Castro Depois do lovour abre a porta dentro da residecircncia foi

observando que em um trecho do canto o devoltos obedecem a letra

18

Ajoelha pecadores

Potildee seu joelho no chatildeo

Para cobrir com a bandeira

Viva satildeo Sebastiatildeo

Essa bandeira me salva

Quando chegar laacute no ceacuteu

Alevanta pecador

Todo coberto de veacuteu 14

Sendo assim a bandeira eacute passada pela cabeccedila de todos os devotos que ajoelham

algumas pessoas beijam o manto outras se emocionam e agradecem Para Brandatildeo (2011 P

64) ldquo[] A festa eacute o momento de reconhecer que foram agraciados com uma benccedilatildeo e que eacute

preciso retribuir []rdquo A contra danccedila ndash uma muacutesica entoada cantado coisas do cotidiano para

os foliotildees saiacuterem da residecircncia como aborda o Sr Jonas Almeida de Castro (2014)

Convidei meus companheiros

para fazer sociedade

Para roubar dessa cigana

um amor da eternidade

O ciganhinha hora eacute hora

quem quiser comigo eacute hora

Agrave Deus ponta da areia

que laacute vai a cigana embora

A festa eacute uma forma de diversatildeo tatildeo especial para os foliotildees que toca os instrumentos

por prazer em estar festejando que apaga todo o cansaccedilo do corpo Brandatildeo (2011 P74)

afirma que ldquoApesar de a festa ser uma celebraccedilatildeo do cotidiano das sociedades ela representa uma

quebra nesse cotidiano quando as pessoas deixam suas atividades do dia- a- dia para se

dedicarem ao seu inversordquo

Dois foliotildees relataram duas situaccedilotildees envolvendo o cortejo de Satildeo Sebastiatildeo a

primeira foi quando uma senhora os convidou o terno de reis para entrar em sua residecircncia

muito humilde Poreacutem a dona da casa tinha apenas dois ovos de galinha para oferecer nesta

situaccedilatildeo um foliatildeo fez a doaccedilatildeo por ela e devolveu a oferta da senhora A outra situaccedilatildeo eacute

14 Nona e deacutecima estrofe do canto de chegada em louvor a Satildeo Sebastiatildeo entoado pelos foliotildees em Itagimirim-

Ba

19

quando uma fita da bandeira do santo cai dentro de uma casa eacute sinal de milagre concedido ao

morador como Aborda dona Srordf Alzira P de Souza

Olha se cair na casa da pessoa eacute para pegar e guardar ali eacute uma virtude que

esta deixando na casa da pessoa e uma forccedila que esta deixando ali na casa

da pessoa o santo deixou cai aquela fita ali para agradecer e recomendar o

dono da casa (Srordf Alzira Pereira de Souza 08-05-14)

Para muitos moradores essa fita eacute utilizada como remeacutedio quando um familiar sente

uma dor amarando no local essa recordaccedilatildeo eacute guardada como muita alegria

Quando o reisado chega em uma rua eles cantam de um lado e depois do outro a

bandeira indo por um canto natildeo pode voltar pelo mesmo lugar tem que seguir o giro o

caminho aberto A Srordf Maria C Rodrigues relata que ldquoquando passo numa casa e vejo a porta

fechada eu acho que a pessoa natildeo quer que eu paro ai a bandeira passa se pedir para voltar

a gente natildeo pode maisrdquo Hobsbawm (1997) dialoga que entende-se por ldquotradiccedilatildeo inventadardquo

um conjunto de praacuteticas normalmente reguladas por regras taacutecita ou abertamente aceitas ldquo[]

tais praacuteticas de natureza ritual ou simboacutelica visam inculcar certos valores e normas de

comportamento atraacuteves de repeticcedilatildeo o que implica automaticamente uma continuidade em

relaccedilatildeo ao passado []rdquo

Muitas festas foram apontadas por vaacuterios pesquisadores do periacuteodo colonial como

forma de fugas e rebeliotildees ou sendo para assumir uma identidade por determinados grupos

nesse contexto as festas natildeo satildeo vistas simplesmente como passivas mas como oportunidade

de romper com o cotidiano

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O trabalho realizado atraveacutes do festejo de Satildeo Sebastiatildeo em Itagimirim-Ba investigou

e analisou o surgimento da manifestaccedilatildeo religiosa de caraacuteter popular sendo renovada e

20

modificada com as migraccedilotildees de pessoas vindas de outros povoados e municiacutepios da regiatildeo

re-significando a tradiccedilatildeo e incorporando novas praacuteticas

A devoccedilatildeo dos foliotildees por um santo representa uma afirmaccedilatildeo de identidade

possibilitando novas relaccedilotildees entre os homens e o meio social ao qual estaacute inserido

Rememorar natildeo significa trazer de volta a festa do mesmo jeito que era outrora e sim

reafirmar e reconstruir novos haacutebitos

O festejo eacute um elemento que fez e faz parte da origem e desenvolvimento da cidade

pois seus habitantes fundadores jaacute traziam em suas memoacuterias essa forma de socializaccedilatildeo

religiosa Que tambeacutem se construiu como um escape para os longos dias de trabalhos

quebrando o ritmo do cotidiano A manifestaccedilatildeo de feacute eacute um espaccedilo de troca de saberes atraveacutes

das praacuteticas de alegria e devoccedilatildeo sendo um lugar de afirmaccedilatildeo de relaccedilotildees sociais ou criar

novos laccedilos de amizade o que fundamental para comunidade itagimiriense

REFEREcircNCIAS

ABREU Marta Cultura popular um conceito e vaacuterias histoacuterias In Ensino de Histoacuteria

conceitos temaacuteticas e metodologia Martha Abreu amp Rachel Sohiet (orgs) Rio de Janeiro

Casa da Palavra 2003

ALBERTI Verena Manual de Histoacuteria oral ndash 3 ed ndash Rio de Janeiro Editora FGV 2005

BOSI Ecleacutea Memoacuteria e Sociedade Lembranccedilas de Velhos ndash 3 ed ndashSatildeo Paulo Companhia

das letras 1994

BRANDAtildeO Alex Sandro da Conceiccedilatildeo Santos Reis Festa Poder e Memoacuteria (Governador

Mangabeira- BA 1970-2000) Artigo apresentado no X Encontro Nacional de Histoacuteria Oral

Recife 2010

21

BRANDAtildeO Alex Sandro da Conceiccedilatildeo Santos Reis festa poder e memoacuteria na comunidade

rural de aldeia (Governador Mangabeira- BA 1970-2000) Dissertaccedilatildeo apresentada ao

programa de poacutes-graduaccedilatildeo em histoacuteria regional e local da universidade do estado da

BahiaUNEB Santo Antonio de Jesus ndash BA abril ndash 2011

BRITTO Larissa Novais Festa de Satildeo Benedito O Sagrado e o profano nas festas regiliosas

de origem africana em Porto Seguro-Ba Monografia apresentada a UNEB Eunaacutepolis 2009

CASTRO Jakson Viana de Educaccedilatildeo patrimonial um instrumento de ensino para Histoacuteria local

Monografia apresentada a UNEB Eunaacutepolis 2009

CHALHOUB Sidney Visotildees da liberdade uma histoacuteria das uacuteltimas deacutecadas da escravidatildeo

na Corte Sidney Chalhoub mdash Satildeo Paulo Companhia das Letras 2011

COUTO Edilece Souza Devoccedilotildees festas e ritos algumas consideraccedilotildees Revista Brasileira

de Histoacuteria das Religiotildees ndash Ano I no 1 ndash Dossiecirc Identidades Religiosas e Histoacuteria Maio

2008

GUARINELLO Noberto Luiz Festa trabalho e cotidiano Istvaacutem Jancsoacute Iris kantor

(orgs)Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa Volume II Satildeo Paulo 2001

GUERRA Teoney Araujo Dados e informaccedilotildees para Estudantes Itagimirim-Ba 2000

HERMANN Jacqueline Histoacuteria das religiotildees e religiosidades Domiacutenios da Historia

ensaios da teoria e metodologias Ciro Flamrion Cardoso Ronaldo Vainfas (orgs) Rio de

Janeiro Campus 1997

HOBSBAWM Eric A invenccedilatildeo das tradiccedilotildees Eric Hobsbawn e Terenge Ranger

organizadores Traduccedilatildeo Celina Cardim Cavalgante 2ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro 1997

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel emwwwibgegovbr acesso

dia 06-05-12 agraves 13h00min

JANCSOacute Istvaacutem KANTOR Iris (orgs) Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica

Portuguesa Volume I Satildeo Paulo 2001

JANCSOacute Istvaacutenamp KANTOR Iris Festa Cultura e Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa (2

volumes) Satildeo Paulo Imprensa Oficial Hucitec Edusp Fapesp 2001

1 NASCIMENTO Nilson do Carmo Cachoeirinha Freguesia de Nossa Senhora da

Conceiccedilatildeo da Cachoeirinha do Baixo Jequitinhonhandash Brasiacutelia 2010

22

2 NASCIMENTO Mara Regina do Religiosidade e cultura popular Catolicismo

irmandades e tradiccedilotildees em movimento Revista da Catoacutelica Uberlacircndia v 1 n 2 p 119-130

2009 ndash catolicaonlinecom BR revista da catoacutelica

PORTELLI Alessandro Histoacuteria Oral e Poder Transcriccedilatildeo de Luiz Henrique dos Santos

Blume a partir do arquivo em aacuteudio wmp Traduccedilatildeo de Luiz Henrique dos Santos Blume e

Heliana de Barros Conde Rodrigues Mnemosine Vol6 nordm2 p 2-13 (2010) ndash Artigos

Conferecircncia no XXV Simpoacutesio Nacional da ANPUH Fortaleza 2009

POLLAK Michel Memoacuteria e identidade social Conferecircncia foi transcrita e traduzida por

monique augras A ediccedilatildeo eacute de Dora Rocha Flaksman Estudos histoacutericos rio de janeiro vol

5 n 10 1992 p 200-212

POLLAK Michel Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Conferecircncia foi transcrita e traduzida

por monique augras A ediccedilatildeo eacute de Dora Rocha Flaksman Estudos Histoacutericos Rio de

Janeiro vol 2 n 3 1989 p 3-15

PIRES Flaacutevia A Festa de Satildeo Sebastiatildeo em Catingueira transformaccedilotildees e permanecircncias dez

anos depois Revista de antropologia Satildeo Paulo USP 2011 v 54 nordm 2 Artigo Recebido em

novembro de 2010 Aceito em julho de 2011

SOIHET Rachel Histoacuteria das mulheres Domiacutenios da Historia ensaios da teoria e

metodologias Ciro Flamrion Cardoso Ronaldo Vainfas (orgs) Rio de Janeiro Campus

1997

SANTANA Tacircnia de Devoccedilotildees catoacutelicas entre os negros na Bahia colonial Artigo

apresentado na participaccedilatildeo no evento Fala Professor em 250803 promovido pelo curso de

Histoacuteria das Faculdades Jorge Amado

SANTOS Fernanda reis dos ldquoa festa do excelso padroeiro da cidade das palmeirasrdquo o culto

a satildeo Bartolomeu em Maragogipe (1851-1943) dissertaccedilatildeo apresentada ao programa de poacutes-

graduaccedilatildeo em histoacuteria da faculdade de filosofia e ciecircncias humanas universidade federal da

Bahia Salvador 2010

VAINFAS Ronaldo Da festa tupinambaacute ao sabaacute tropical a catequese pelo avesso Istvaacutem

Jancsoacute Iris kantor (orgs)Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa Volume I

Satildeo Paulo 2001

Page 15: FESTEJOS DE SÃO SEBASTIÃO EM ITAGIMIRIM-BA ......1 FESTEJOS DE SÃO SEBASTIÃO EM ITAGIMIRIM-BA: Memória e História de Um Povo (1960- 1998) Jairo Viana de Castro1 INTRODUÇÃO

15

No dia vinte noacutes estamos chegando em casa para poder descansar de meio

dia para tarde tomar banho ajeitar para a noite ter a reza de sete para oito

horas da noite a gente reza ai encerrou aquele reisado depois da reza acabou

mas se noacutes querer amanhecer o dia brincado pulando fazendo contra danccedila

tomando cachaccedila comendo tira gosto porque ela mata um boi para dar

despesa para os foliotildees dela e alguns visitantes que querem acompanhar (Sr

Diomaacuterio de Jesus 04-05-14)

O segundo grupo de Reisado apoacutes as rezas em seu salatildeo de umbanda tambeacutem seguem

com o cortejo para a igreja catoacutelica a bandeira do santo representando o martiacuterio e estaacute

sempre agrave frente do grupo Nenhum foliatildeo passa a frente da bandeira ficando atraacutes e se por

acaso necessitar passar na frente da bandeira logo eacute reverenciada pelos foliotildees colocando se

de joelho e beijando o manto sagrado

Essa praacutetica tambeacutem eacute abordada por Abreu (1999 p 48) na festa do divino Espiacuterito

santo a partir dos relatos do Escritor Thomas Ewbank ldquo[] que sempre estranhava nossos

haacutebitos beijando-se tambeacutem a bandeira ou melhor ldquoafundava-se o rosto em suas dobrasrdquo

para realizar a devoccedilatildeo e tanto fazia se fossem pessoas brancas ou negras []rdquo

Beijar a bandeira com a imagem de Satildeo Sebastiatildeo para um devoto que participa do

cortejo eacute uma forma de respeito que expressa agrave fidelidade ao santo onde seus pedidos foram

ouvidos e realizados uma relaccedilatildeo de proximidade e confianccedila na intercessatildeo do santo diante

do divino

Os foliotildees dizem que antes de iniciar o cortejo vatildeo a igreja catoacutelica pedir proteccedilatildeo

com a presenccedila ou natildeo do padre eles pedem licenccedila e entra na igreja entoando seus cacircnticos

uns ajoelham outros cantam com muita entonaccedilatildeo A Srordf Maria diz que sempre cantou na

igreja ldquoEu natildeo sei por que natildeo mas realmente quando a gente chega laacute tem vez que o padre

natildeo esta mais a gente canta eacute um direito nosso que ali eacute a casa de Deus casa nossa ali eacute

portas abertardquo

Santos (2010) ao analisar o catolicismo na cidade Maragogipe-Ba a partir do culto a

Satildeo Bartolomeu nos anos de 1851 a 1943 Destaca a seguinte informaccedilatildeo

No Brasil colonial as manifestaccedilotildees religiosas tinham como caracteriacutestica a

superficialidade constituindo-se como uma religiatildeo epideacutermica de fundo

emocional comprazendo-se nas exterioridades do culto mesmo sem

16

compreendecirc-lo e tomando um gosto de festa de reuniatildeo social sem aquela

convicccedilatildeo profunda nascida de uma interioridade forte e espiritualizada

Essa superficialidade fez-se notar pela enfaacutetica predominacircncia de ritos

externos pelo colorido e pompa das praacuteticas exteriores Tudo se fazia para

cultuar e homenagear os santos protetores No fundo uma religiatildeo

imediatista distante da ortodoxia (SANTOS 2010 P 63)

Neste sentido a igreja catoacutelica na cidade de Itagimirim natildeo participa diretamente das

homenagens ao santo cultuado por parte da populaccedilatildeo mas respeita o louvor a Satildeo Sebastiatildeo

que eacute manifestado pelos foliotildees atraveacutes de uma devoccedilatildeo desenvolvida por vaacuterias famiacutelias

contudo pode se perceber que alguns dos devotos satildeo frequumlentadores das missas dominicais e

que tambeacutem participam de muitos eventos promovidos pela igreja Couto (2004) ao investigar

os estudos sobre religiatildeo oficial e religiosidade popular abordou que

A partir da emergecircncia da espiritualidade laica no seacuteculo XIII o clero sentiu

a necessidade de falar a mesma liacutengua dos fieacuteis utilizar formas orais nas

liturgias ndash cantos e sermotildees ndash aceitar procissotildees e peregrinaccedilotildees a oratoacuterios

consagrados pelo povo e as funccedilotildees pagatildes atribuiacutedas aos santos (P 45)

Apoacutes o rito dentro da igreja os foliotildees entram em um carro geralmente alugado pela

dona do reisado passando por fazendas e chegando ao distrito de Gabiarra municiacutepio de

Eunaacutepolis retornando por Uniatildeo Bainana (distrito de Itagimirim-Ba) que faz divisa com o

estado de Minas Gerais

E concluem o cortejo dentro da cidade de Itagimirim passando em muitas residecircncias

No dia 19 (dezenove) agraves 18h00 (dezoito) realizam um jantar depois de muita contra danccedila

com as oitavas um roda de oito pessoas com instrumentos como gaitas bumba viola

pandeiro pratos de esmalte e palmas girando e passando um pelo o outro Depois das

brincadeiras fazem uma pausa para rezar o terccedilo dentro do oratoacuterio na passagem do dia 19

(dezenove) para 20 (vinte) de Janeiro

Os foliotildees percorrem a regiatildeo anunciando a boa nova um tempo de paz e alegria cada

pessoa que recebe esse cortejo fortalece sua feacute e de seus familiares O festejo representa um

ato de feacute para as pessoas que se juntam para agradecer pelas becircnccedilatildeos recebidas ao longo do

ano com esperanccedilas de dias melhores e sendo entrelaccediladas pelos festejos natalinos e todas as

expectativas para um novo ano

17

O festejo serve tambeacutem para pagar uma promessa ou mesmo para seguir a tradiccedilatildeo

aleacutem da questatildeo religiosa o festejo representa um sentimento de pertencimento e sociabilidade

para as pessoas que herdaram a devoccedilatildeo Segundo relata Edilece Souza

No entanto natildeo podemos perder de vista que o cristianismo inaugurou o

tempo lituacutergico baseado na historicidade de Jesus Cristo Dessa forma o

tempo festivo eacute repetido mas natildeo eacute imoacutevel nem imutaacutevel Apesar de se

revelar especial e diferente do calendaacuterio profano tambeacutem natildeo eacute um evento

isolado pois quebra o ritmo regular do cotidiano promove a sociabilidade e

o sentimento de pertencimento e identidade em um determinado grupo

social (COUTO 2008 P 2)

Nem todos os devoltos dos dois ternos de reisado vatildeo para os cortejos nas fazendas ou

para outras cidades alguns ficam nos salotildees de oraccedilotildees preparando as comidas e bebidas

organizando para a chegada e finalizaccedilatildeo do festejo segundo o Sr Diomario foliatildeo do

primeiro grupo de reisado satildeo poucas as pessoas que ficam a frente do cortejo

Mas os dela (foliotildees) satildeo oito macho e quatro fecircmea que satildeo de carregar a

bandeirae os machos para tocar os instrumentos pois cada um daqueles oito

tem os instrumento deles que domina que satildeo reco-reco pandeiro a caixa

era de Ceicinha o bunda eacute de quem saber bater que nem esse Neo era

bumbeiro nosso Neo batia bumba muito bem mas agora ficou o filho de

Ceicinha que eacute bumbeiro dela tambeacutem eacute isso (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-

14)

O individuos pertecente a um grupo desde o seu nascimento e no decorrer da vida vatildeo

aquirindo os usos haacutebitos alimentares vestimentas moradia objetos de pertecimento

ensiados pelas pessoas idosas que tem experiecircncia a religiosidade que vai sendo transmitida

de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo independe de tamanho e de grupo social ao qual estaacute inserido

Resultando em caracteriacutesticas peculiares ou a chamada memoacuteria comum do grupo para

Jacqueline Hermann (1997) chega-se ao ponto onde religiatildeo e religiosidade se cruzam

Quando o cortejo chega na porta de uma casa cantam um louvor para chamar atenccedilatildeo

do morador ldquoPorque vocecirc canta o Reis laacute fora e agradece dentro da casa o dono da casa abre

a porta vocecirc entra ai deu bom dia vocecirc louva o dono da casa e agradece o Reisrdquo isso que nos

relata o Sr Jonas Almeida de Castro Depois do lovour abre a porta dentro da residecircncia foi

observando que em um trecho do canto o devoltos obedecem a letra

18

Ajoelha pecadores

Potildee seu joelho no chatildeo

Para cobrir com a bandeira

Viva satildeo Sebastiatildeo

Essa bandeira me salva

Quando chegar laacute no ceacuteu

Alevanta pecador

Todo coberto de veacuteu 14

Sendo assim a bandeira eacute passada pela cabeccedila de todos os devotos que ajoelham

algumas pessoas beijam o manto outras se emocionam e agradecem Para Brandatildeo (2011 P

64) ldquo[] A festa eacute o momento de reconhecer que foram agraciados com uma benccedilatildeo e que eacute

preciso retribuir []rdquo A contra danccedila ndash uma muacutesica entoada cantado coisas do cotidiano para

os foliotildees saiacuterem da residecircncia como aborda o Sr Jonas Almeida de Castro (2014)

Convidei meus companheiros

para fazer sociedade

Para roubar dessa cigana

um amor da eternidade

O ciganhinha hora eacute hora

quem quiser comigo eacute hora

Agrave Deus ponta da areia

que laacute vai a cigana embora

A festa eacute uma forma de diversatildeo tatildeo especial para os foliotildees que toca os instrumentos

por prazer em estar festejando que apaga todo o cansaccedilo do corpo Brandatildeo (2011 P74)

afirma que ldquoApesar de a festa ser uma celebraccedilatildeo do cotidiano das sociedades ela representa uma

quebra nesse cotidiano quando as pessoas deixam suas atividades do dia- a- dia para se

dedicarem ao seu inversordquo

Dois foliotildees relataram duas situaccedilotildees envolvendo o cortejo de Satildeo Sebastiatildeo a

primeira foi quando uma senhora os convidou o terno de reis para entrar em sua residecircncia

muito humilde Poreacutem a dona da casa tinha apenas dois ovos de galinha para oferecer nesta

situaccedilatildeo um foliatildeo fez a doaccedilatildeo por ela e devolveu a oferta da senhora A outra situaccedilatildeo eacute

14 Nona e deacutecima estrofe do canto de chegada em louvor a Satildeo Sebastiatildeo entoado pelos foliotildees em Itagimirim-

Ba

19

quando uma fita da bandeira do santo cai dentro de uma casa eacute sinal de milagre concedido ao

morador como Aborda dona Srordf Alzira P de Souza

Olha se cair na casa da pessoa eacute para pegar e guardar ali eacute uma virtude que

esta deixando na casa da pessoa e uma forccedila que esta deixando ali na casa

da pessoa o santo deixou cai aquela fita ali para agradecer e recomendar o

dono da casa (Srordf Alzira Pereira de Souza 08-05-14)

Para muitos moradores essa fita eacute utilizada como remeacutedio quando um familiar sente

uma dor amarando no local essa recordaccedilatildeo eacute guardada como muita alegria

Quando o reisado chega em uma rua eles cantam de um lado e depois do outro a

bandeira indo por um canto natildeo pode voltar pelo mesmo lugar tem que seguir o giro o

caminho aberto A Srordf Maria C Rodrigues relata que ldquoquando passo numa casa e vejo a porta

fechada eu acho que a pessoa natildeo quer que eu paro ai a bandeira passa se pedir para voltar

a gente natildeo pode maisrdquo Hobsbawm (1997) dialoga que entende-se por ldquotradiccedilatildeo inventadardquo

um conjunto de praacuteticas normalmente reguladas por regras taacutecita ou abertamente aceitas ldquo[]

tais praacuteticas de natureza ritual ou simboacutelica visam inculcar certos valores e normas de

comportamento atraacuteves de repeticcedilatildeo o que implica automaticamente uma continuidade em

relaccedilatildeo ao passado []rdquo

Muitas festas foram apontadas por vaacuterios pesquisadores do periacuteodo colonial como

forma de fugas e rebeliotildees ou sendo para assumir uma identidade por determinados grupos

nesse contexto as festas natildeo satildeo vistas simplesmente como passivas mas como oportunidade

de romper com o cotidiano

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O trabalho realizado atraveacutes do festejo de Satildeo Sebastiatildeo em Itagimirim-Ba investigou

e analisou o surgimento da manifestaccedilatildeo religiosa de caraacuteter popular sendo renovada e

20

modificada com as migraccedilotildees de pessoas vindas de outros povoados e municiacutepios da regiatildeo

re-significando a tradiccedilatildeo e incorporando novas praacuteticas

A devoccedilatildeo dos foliotildees por um santo representa uma afirmaccedilatildeo de identidade

possibilitando novas relaccedilotildees entre os homens e o meio social ao qual estaacute inserido

Rememorar natildeo significa trazer de volta a festa do mesmo jeito que era outrora e sim

reafirmar e reconstruir novos haacutebitos

O festejo eacute um elemento que fez e faz parte da origem e desenvolvimento da cidade

pois seus habitantes fundadores jaacute traziam em suas memoacuterias essa forma de socializaccedilatildeo

religiosa Que tambeacutem se construiu como um escape para os longos dias de trabalhos

quebrando o ritmo do cotidiano A manifestaccedilatildeo de feacute eacute um espaccedilo de troca de saberes atraveacutes

das praacuteticas de alegria e devoccedilatildeo sendo um lugar de afirmaccedilatildeo de relaccedilotildees sociais ou criar

novos laccedilos de amizade o que fundamental para comunidade itagimiriense

REFEREcircNCIAS

ABREU Marta Cultura popular um conceito e vaacuterias histoacuterias In Ensino de Histoacuteria

conceitos temaacuteticas e metodologia Martha Abreu amp Rachel Sohiet (orgs) Rio de Janeiro

Casa da Palavra 2003

ALBERTI Verena Manual de Histoacuteria oral ndash 3 ed ndash Rio de Janeiro Editora FGV 2005

BOSI Ecleacutea Memoacuteria e Sociedade Lembranccedilas de Velhos ndash 3 ed ndashSatildeo Paulo Companhia

das letras 1994

BRANDAtildeO Alex Sandro da Conceiccedilatildeo Santos Reis Festa Poder e Memoacuteria (Governador

Mangabeira- BA 1970-2000) Artigo apresentado no X Encontro Nacional de Histoacuteria Oral

Recife 2010

21

BRANDAtildeO Alex Sandro da Conceiccedilatildeo Santos Reis festa poder e memoacuteria na comunidade

rural de aldeia (Governador Mangabeira- BA 1970-2000) Dissertaccedilatildeo apresentada ao

programa de poacutes-graduaccedilatildeo em histoacuteria regional e local da universidade do estado da

BahiaUNEB Santo Antonio de Jesus ndash BA abril ndash 2011

BRITTO Larissa Novais Festa de Satildeo Benedito O Sagrado e o profano nas festas regiliosas

de origem africana em Porto Seguro-Ba Monografia apresentada a UNEB Eunaacutepolis 2009

CASTRO Jakson Viana de Educaccedilatildeo patrimonial um instrumento de ensino para Histoacuteria local

Monografia apresentada a UNEB Eunaacutepolis 2009

CHALHOUB Sidney Visotildees da liberdade uma histoacuteria das uacuteltimas deacutecadas da escravidatildeo

na Corte Sidney Chalhoub mdash Satildeo Paulo Companhia das Letras 2011

COUTO Edilece Souza Devoccedilotildees festas e ritos algumas consideraccedilotildees Revista Brasileira

de Histoacuteria das Religiotildees ndash Ano I no 1 ndash Dossiecirc Identidades Religiosas e Histoacuteria Maio

2008

GUARINELLO Noberto Luiz Festa trabalho e cotidiano Istvaacutem Jancsoacute Iris kantor

(orgs)Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa Volume II Satildeo Paulo 2001

GUERRA Teoney Araujo Dados e informaccedilotildees para Estudantes Itagimirim-Ba 2000

HERMANN Jacqueline Histoacuteria das religiotildees e religiosidades Domiacutenios da Historia

ensaios da teoria e metodologias Ciro Flamrion Cardoso Ronaldo Vainfas (orgs) Rio de

Janeiro Campus 1997

HOBSBAWM Eric A invenccedilatildeo das tradiccedilotildees Eric Hobsbawn e Terenge Ranger

organizadores Traduccedilatildeo Celina Cardim Cavalgante 2ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro 1997

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel emwwwibgegovbr acesso

dia 06-05-12 agraves 13h00min

JANCSOacute Istvaacutem KANTOR Iris (orgs) Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica

Portuguesa Volume I Satildeo Paulo 2001

JANCSOacute Istvaacutenamp KANTOR Iris Festa Cultura e Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa (2

volumes) Satildeo Paulo Imprensa Oficial Hucitec Edusp Fapesp 2001

1 NASCIMENTO Nilson do Carmo Cachoeirinha Freguesia de Nossa Senhora da

Conceiccedilatildeo da Cachoeirinha do Baixo Jequitinhonhandash Brasiacutelia 2010

22

2 NASCIMENTO Mara Regina do Religiosidade e cultura popular Catolicismo

irmandades e tradiccedilotildees em movimento Revista da Catoacutelica Uberlacircndia v 1 n 2 p 119-130

2009 ndash catolicaonlinecom BR revista da catoacutelica

PORTELLI Alessandro Histoacuteria Oral e Poder Transcriccedilatildeo de Luiz Henrique dos Santos

Blume a partir do arquivo em aacuteudio wmp Traduccedilatildeo de Luiz Henrique dos Santos Blume e

Heliana de Barros Conde Rodrigues Mnemosine Vol6 nordm2 p 2-13 (2010) ndash Artigos

Conferecircncia no XXV Simpoacutesio Nacional da ANPUH Fortaleza 2009

POLLAK Michel Memoacuteria e identidade social Conferecircncia foi transcrita e traduzida por

monique augras A ediccedilatildeo eacute de Dora Rocha Flaksman Estudos histoacutericos rio de janeiro vol

5 n 10 1992 p 200-212

POLLAK Michel Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Conferecircncia foi transcrita e traduzida

por monique augras A ediccedilatildeo eacute de Dora Rocha Flaksman Estudos Histoacutericos Rio de

Janeiro vol 2 n 3 1989 p 3-15

PIRES Flaacutevia A Festa de Satildeo Sebastiatildeo em Catingueira transformaccedilotildees e permanecircncias dez

anos depois Revista de antropologia Satildeo Paulo USP 2011 v 54 nordm 2 Artigo Recebido em

novembro de 2010 Aceito em julho de 2011

SOIHET Rachel Histoacuteria das mulheres Domiacutenios da Historia ensaios da teoria e

metodologias Ciro Flamrion Cardoso Ronaldo Vainfas (orgs) Rio de Janeiro Campus

1997

SANTANA Tacircnia de Devoccedilotildees catoacutelicas entre os negros na Bahia colonial Artigo

apresentado na participaccedilatildeo no evento Fala Professor em 250803 promovido pelo curso de

Histoacuteria das Faculdades Jorge Amado

SANTOS Fernanda reis dos ldquoa festa do excelso padroeiro da cidade das palmeirasrdquo o culto

a satildeo Bartolomeu em Maragogipe (1851-1943) dissertaccedilatildeo apresentada ao programa de poacutes-

graduaccedilatildeo em histoacuteria da faculdade de filosofia e ciecircncias humanas universidade federal da

Bahia Salvador 2010

VAINFAS Ronaldo Da festa tupinambaacute ao sabaacute tropical a catequese pelo avesso Istvaacutem

Jancsoacute Iris kantor (orgs)Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa Volume I

Satildeo Paulo 2001

Page 16: FESTEJOS DE SÃO SEBASTIÃO EM ITAGIMIRIM-BA ......1 FESTEJOS DE SÃO SEBASTIÃO EM ITAGIMIRIM-BA: Memória e História de Um Povo (1960- 1998) Jairo Viana de Castro1 INTRODUÇÃO

16

compreendecirc-lo e tomando um gosto de festa de reuniatildeo social sem aquela

convicccedilatildeo profunda nascida de uma interioridade forte e espiritualizada

Essa superficialidade fez-se notar pela enfaacutetica predominacircncia de ritos

externos pelo colorido e pompa das praacuteticas exteriores Tudo se fazia para

cultuar e homenagear os santos protetores No fundo uma religiatildeo

imediatista distante da ortodoxia (SANTOS 2010 P 63)

Neste sentido a igreja catoacutelica na cidade de Itagimirim natildeo participa diretamente das

homenagens ao santo cultuado por parte da populaccedilatildeo mas respeita o louvor a Satildeo Sebastiatildeo

que eacute manifestado pelos foliotildees atraveacutes de uma devoccedilatildeo desenvolvida por vaacuterias famiacutelias

contudo pode se perceber que alguns dos devotos satildeo frequumlentadores das missas dominicais e

que tambeacutem participam de muitos eventos promovidos pela igreja Couto (2004) ao investigar

os estudos sobre religiatildeo oficial e religiosidade popular abordou que

A partir da emergecircncia da espiritualidade laica no seacuteculo XIII o clero sentiu

a necessidade de falar a mesma liacutengua dos fieacuteis utilizar formas orais nas

liturgias ndash cantos e sermotildees ndash aceitar procissotildees e peregrinaccedilotildees a oratoacuterios

consagrados pelo povo e as funccedilotildees pagatildes atribuiacutedas aos santos (P 45)

Apoacutes o rito dentro da igreja os foliotildees entram em um carro geralmente alugado pela

dona do reisado passando por fazendas e chegando ao distrito de Gabiarra municiacutepio de

Eunaacutepolis retornando por Uniatildeo Bainana (distrito de Itagimirim-Ba) que faz divisa com o

estado de Minas Gerais

E concluem o cortejo dentro da cidade de Itagimirim passando em muitas residecircncias

No dia 19 (dezenove) agraves 18h00 (dezoito) realizam um jantar depois de muita contra danccedila

com as oitavas um roda de oito pessoas com instrumentos como gaitas bumba viola

pandeiro pratos de esmalte e palmas girando e passando um pelo o outro Depois das

brincadeiras fazem uma pausa para rezar o terccedilo dentro do oratoacuterio na passagem do dia 19

(dezenove) para 20 (vinte) de Janeiro

Os foliotildees percorrem a regiatildeo anunciando a boa nova um tempo de paz e alegria cada

pessoa que recebe esse cortejo fortalece sua feacute e de seus familiares O festejo representa um

ato de feacute para as pessoas que se juntam para agradecer pelas becircnccedilatildeos recebidas ao longo do

ano com esperanccedilas de dias melhores e sendo entrelaccediladas pelos festejos natalinos e todas as

expectativas para um novo ano

17

O festejo serve tambeacutem para pagar uma promessa ou mesmo para seguir a tradiccedilatildeo

aleacutem da questatildeo religiosa o festejo representa um sentimento de pertencimento e sociabilidade

para as pessoas que herdaram a devoccedilatildeo Segundo relata Edilece Souza

No entanto natildeo podemos perder de vista que o cristianismo inaugurou o

tempo lituacutergico baseado na historicidade de Jesus Cristo Dessa forma o

tempo festivo eacute repetido mas natildeo eacute imoacutevel nem imutaacutevel Apesar de se

revelar especial e diferente do calendaacuterio profano tambeacutem natildeo eacute um evento

isolado pois quebra o ritmo regular do cotidiano promove a sociabilidade e

o sentimento de pertencimento e identidade em um determinado grupo

social (COUTO 2008 P 2)

Nem todos os devoltos dos dois ternos de reisado vatildeo para os cortejos nas fazendas ou

para outras cidades alguns ficam nos salotildees de oraccedilotildees preparando as comidas e bebidas

organizando para a chegada e finalizaccedilatildeo do festejo segundo o Sr Diomario foliatildeo do

primeiro grupo de reisado satildeo poucas as pessoas que ficam a frente do cortejo

Mas os dela (foliotildees) satildeo oito macho e quatro fecircmea que satildeo de carregar a

bandeirae os machos para tocar os instrumentos pois cada um daqueles oito

tem os instrumento deles que domina que satildeo reco-reco pandeiro a caixa

era de Ceicinha o bunda eacute de quem saber bater que nem esse Neo era

bumbeiro nosso Neo batia bumba muito bem mas agora ficou o filho de

Ceicinha que eacute bumbeiro dela tambeacutem eacute isso (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-

14)

O individuos pertecente a um grupo desde o seu nascimento e no decorrer da vida vatildeo

aquirindo os usos haacutebitos alimentares vestimentas moradia objetos de pertecimento

ensiados pelas pessoas idosas que tem experiecircncia a religiosidade que vai sendo transmitida

de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo independe de tamanho e de grupo social ao qual estaacute inserido

Resultando em caracteriacutesticas peculiares ou a chamada memoacuteria comum do grupo para

Jacqueline Hermann (1997) chega-se ao ponto onde religiatildeo e religiosidade se cruzam

Quando o cortejo chega na porta de uma casa cantam um louvor para chamar atenccedilatildeo

do morador ldquoPorque vocecirc canta o Reis laacute fora e agradece dentro da casa o dono da casa abre

a porta vocecirc entra ai deu bom dia vocecirc louva o dono da casa e agradece o Reisrdquo isso que nos

relata o Sr Jonas Almeida de Castro Depois do lovour abre a porta dentro da residecircncia foi

observando que em um trecho do canto o devoltos obedecem a letra

18

Ajoelha pecadores

Potildee seu joelho no chatildeo

Para cobrir com a bandeira

Viva satildeo Sebastiatildeo

Essa bandeira me salva

Quando chegar laacute no ceacuteu

Alevanta pecador

Todo coberto de veacuteu 14

Sendo assim a bandeira eacute passada pela cabeccedila de todos os devotos que ajoelham

algumas pessoas beijam o manto outras se emocionam e agradecem Para Brandatildeo (2011 P

64) ldquo[] A festa eacute o momento de reconhecer que foram agraciados com uma benccedilatildeo e que eacute

preciso retribuir []rdquo A contra danccedila ndash uma muacutesica entoada cantado coisas do cotidiano para

os foliotildees saiacuterem da residecircncia como aborda o Sr Jonas Almeida de Castro (2014)

Convidei meus companheiros

para fazer sociedade

Para roubar dessa cigana

um amor da eternidade

O ciganhinha hora eacute hora

quem quiser comigo eacute hora

Agrave Deus ponta da areia

que laacute vai a cigana embora

A festa eacute uma forma de diversatildeo tatildeo especial para os foliotildees que toca os instrumentos

por prazer em estar festejando que apaga todo o cansaccedilo do corpo Brandatildeo (2011 P74)

afirma que ldquoApesar de a festa ser uma celebraccedilatildeo do cotidiano das sociedades ela representa uma

quebra nesse cotidiano quando as pessoas deixam suas atividades do dia- a- dia para se

dedicarem ao seu inversordquo

Dois foliotildees relataram duas situaccedilotildees envolvendo o cortejo de Satildeo Sebastiatildeo a

primeira foi quando uma senhora os convidou o terno de reis para entrar em sua residecircncia

muito humilde Poreacutem a dona da casa tinha apenas dois ovos de galinha para oferecer nesta

situaccedilatildeo um foliatildeo fez a doaccedilatildeo por ela e devolveu a oferta da senhora A outra situaccedilatildeo eacute

14 Nona e deacutecima estrofe do canto de chegada em louvor a Satildeo Sebastiatildeo entoado pelos foliotildees em Itagimirim-

Ba

19

quando uma fita da bandeira do santo cai dentro de uma casa eacute sinal de milagre concedido ao

morador como Aborda dona Srordf Alzira P de Souza

Olha se cair na casa da pessoa eacute para pegar e guardar ali eacute uma virtude que

esta deixando na casa da pessoa e uma forccedila que esta deixando ali na casa

da pessoa o santo deixou cai aquela fita ali para agradecer e recomendar o

dono da casa (Srordf Alzira Pereira de Souza 08-05-14)

Para muitos moradores essa fita eacute utilizada como remeacutedio quando um familiar sente

uma dor amarando no local essa recordaccedilatildeo eacute guardada como muita alegria

Quando o reisado chega em uma rua eles cantam de um lado e depois do outro a

bandeira indo por um canto natildeo pode voltar pelo mesmo lugar tem que seguir o giro o

caminho aberto A Srordf Maria C Rodrigues relata que ldquoquando passo numa casa e vejo a porta

fechada eu acho que a pessoa natildeo quer que eu paro ai a bandeira passa se pedir para voltar

a gente natildeo pode maisrdquo Hobsbawm (1997) dialoga que entende-se por ldquotradiccedilatildeo inventadardquo

um conjunto de praacuteticas normalmente reguladas por regras taacutecita ou abertamente aceitas ldquo[]

tais praacuteticas de natureza ritual ou simboacutelica visam inculcar certos valores e normas de

comportamento atraacuteves de repeticcedilatildeo o que implica automaticamente uma continuidade em

relaccedilatildeo ao passado []rdquo

Muitas festas foram apontadas por vaacuterios pesquisadores do periacuteodo colonial como

forma de fugas e rebeliotildees ou sendo para assumir uma identidade por determinados grupos

nesse contexto as festas natildeo satildeo vistas simplesmente como passivas mas como oportunidade

de romper com o cotidiano

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O trabalho realizado atraveacutes do festejo de Satildeo Sebastiatildeo em Itagimirim-Ba investigou

e analisou o surgimento da manifestaccedilatildeo religiosa de caraacuteter popular sendo renovada e

20

modificada com as migraccedilotildees de pessoas vindas de outros povoados e municiacutepios da regiatildeo

re-significando a tradiccedilatildeo e incorporando novas praacuteticas

A devoccedilatildeo dos foliotildees por um santo representa uma afirmaccedilatildeo de identidade

possibilitando novas relaccedilotildees entre os homens e o meio social ao qual estaacute inserido

Rememorar natildeo significa trazer de volta a festa do mesmo jeito que era outrora e sim

reafirmar e reconstruir novos haacutebitos

O festejo eacute um elemento que fez e faz parte da origem e desenvolvimento da cidade

pois seus habitantes fundadores jaacute traziam em suas memoacuterias essa forma de socializaccedilatildeo

religiosa Que tambeacutem se construiu como um escape para os longos dias de trabalhos

quebrando o ritmo do cotidiano A manifestaccedilatildeo de feacute eacute um espaccedilo de troca de saberes atraveacutes

das praacuteticas de alegria e devoccedilatildeo sendo um lugar de afirmaccedilatildeo de relaccedilotildees sociais ou criar

novos laccedilos de amizade o que fundamental para comunidade itagimiriense

REFEREcircNCIAS

ABREU Marta Cultura popular um conceito e vaacuterias histoacuterias In Ensino de Histoacuteria

conceitos temaacuteticas e metodologia Martha Abreu amp Rachel Sohiet (orgs) Rio de Janeiro

Casa da Palavra 2003

ALBERTI Verena Manual de Histoacuteria oral ndash 3 ed ndash Rio de Janeiro Editora FGV 2005

BOSI Ecleacutea Memoacuteria e Sociedade Lembranccedilas de Velhos ndash 3 ed ndashSatildeo Paulo Companhia

das letras 1994

BRANDAtildeO Alex Sandro da Conceiccedilatildeo Santos Reis Festa Poder e Memoacuteria (Governador

Mangabeira- BA 1970-2000) Artigo apresentado no X Encontro Nacional de Histoacuteria Oral

Recife 2010

21

BRANDAtildeO Alex Sandro da Conceiccedilatildeo Santos Reis festa poder e memoacuteria na comunidade

rural de aldeia (Governador Mangabeira- BA 1970-2000) Dissertaccedilatildeo apresentada ao

programa de poacutes-graduaccedilatildeo em histoacuteria regional e local da universidade do estado da

BahiaUNEB Santo Antonio de Jesus ndash BA abril ndash 2011

BRITTO Larissa Novais Festa de Satildeo Benedito O Sagrado e o profano nas festas regiliosas

de origem africana em Porto Seguro-Ba Monografia apresentada a UNEB Eunaacutepolis 2009

CASTRO Jakson Viana de Educaccedilatildeo patrimonial um instrumento de ensino para Histoacuteria local

Monografia apresentada a UNEB Eunaacutepolis 2009

CHALHOUB Sidney Visotildees da liberdade uma histoacuteria das uacuteltimas deacutecadas da escravidatildeo

na Corte Sidney Chalhoub mdash Satildeo Paulo Companhia das Letras 2011

COUTO Edilece Souza Devoccedilotildees festas e ritos algumas consideraccedilotildees Revista Brasileira

de Histoacuteria das Religiotildees ndash Ano I no 1 ndash Dossiecirc Identidades Religiosas e Histoacuteria Maio

2008

GUARINELLO Noberto Luiz Festa trabalho e cotidiano Istvaacutem Jancsoacute Iris kantor

(orgs)Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa Volume II Satildeo Paulo 2001

GUERRA Teoney Araujo Dados e informaccedilotildees para Estudantes Itagimirim-Ba 2000

HERMANN Jacqueline Histoacuteria das religiotildees e religiosidades Domiacutenios da Historia

ensaios da teoria e metodologias Ciro Flamrion Cardoso Ronaldo Vainfas (orgs) Rio de

Janeiro Campus 1997

HOBSBAWM Eric A invenccedilatildeo das tradiccedilotildees Eric Hobsbawn e Terenge Ranger

organizadores Traduccedilatildeo Celina Cardim Cavalgante 2ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro 1997

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel emwwwibgegovbr acesso

dia 06-05-12 agraves 13h00min

JANCSOacute Istvaacutem KANTOR Iris (orgs) Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica

Portuguesa Volume I Satildeo Paulo 2001

JANCSOacute Istvaacutenamp KANTOR Iris Festa Cultura e Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa (2

volumes) Satildeo Paulo Imprensa Oficial Hucitec Edusp Fapesp 2001

1 NASCIMENTO Nilson do Carmo Cachoeirinha Freguesia de Nossa Senhora da

Conceiccedilatildeo da Cachoeirinha do Baixo Jequitinhonhandash Brasiacutelia 2010

22

2 NASCIMENTO Mara Regina do Religiosidade e cultura popular Catolicismo

irmandades e tradiccedilotildees em movimento Revista da Catoacutelica Uberlacircndia v 1 n 2 p 119-130

2009 ndash catolicaonlinecom BR revista da catoacutelica

PORTELLI Alessandro Histoacuteria Oral e Poder Transcriccedilatildeo de Luiz Henrique dos Santos

Blume a partir do arquivo em aacuteudio wmp Traduccedilatildeo de Luiz Henrique dos Santos Blume e

Heliana de Barros Conde Rodrigues Mnemosine Vol6 nordm2 p 2-13 (2010) ndash Artigos

Conferecircncia no XXV Simpoacutesio Nacional da ANPUH Fortaleza 2009

POLLAK Michel Memoacuteria e identidade social Conferecircncia foi transcrita e traduzida por

monique augras A ediccedilatildeo eacute de Dora Rocha Flaksman Estudos histoacutericos rio de janeiro vol

5 n 10 1992 p 200-212

POLLAK Michel Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Conferecircncia foi transcrita e traduzida

por monique augras A ediccedilatildeo eacute de Dora Rocha Flaksman Estudos Histoacutericos Rio de

Janeiro vol 2 n 3 1989 p 3-15

PIRES Flaacutevia A Festa de Satildeo Sebastiatildeo em Catingueira transformaccedilotildees e permanecircncias dez

anos depois Revista de antropologia Satildeo Paulo USP 2011 v 54 nordm 2 Artigo Recebido em

novembro de 2010 Aceito em julho de 2011

SOIHET Rachel Histoacuteria das mulheres Domiacutenios da Historia ensaios da teoria e

metodologias Ciro Flamrion Cardoso Ronaldo Vainfas (orgs) Rio de Janeiro Campus

1997

SANTANA Tacircnia de Devoccedilotildees catoacutelicas entre os negros na Bahia colonial Artigo

apresentado na participaccedilatildeo no evento Fala Professor em 250803 promovido pelo curso de

Histoacuteria das Faculdades Jorge Amado

SANTOS Fernanda reis dos ldquoa festa do excelso padroeiro da cidade das palmeirasrdquo o culto

a satildeo Bartolomeu em Maragogipe (1851-1943) dissertaccedilatildeo apresentada ao programa de poacutes-

graduaccedilatildeo em histoacuteria da faculdade de filosofia e ciecircncias humanas universidade federal da

Bahia Salvador 2010

VAINFAS Ronaldo Da festa tupinambaacute ao sabaacute tropical a catequese pelo avesso Istvaacutem

Jancsoacute Iris kantor (orgs)Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa Volume I

Satildeo Paulo 2001

Page 17: FESTEJOS DE SÃO SEBASTIÃO EM ITAGIMIRIM-BA ......1 FESTEJOS DE SÃO SEBASTIÃO EM ITAGIMIRIM-BA: Memória e História de Um Povo (1960- 1998) Jairo Viana de Castro1 INTRODUÇÃO

17

O festejo serve tambeacutem para pagar uma promessa ou mesmo para seguir a tradiccedilatildeo

aleacutem da questatildeo religiosa o festejo representa um sentimento de pertencimento e sociabilidade

para as pessoas que herdaram a devoccedilatildeo Segundo relata Edilece Souza

No entanto natildeo podemos perder de vista que o cristianismo inaugurou o

tempo lituacutergico baseado na historicidade de Jesus Cristo Dessa forma o

tempo festivo eacute repetido mas natildeo eacute imoacutevel nem imutaacutevel Apesar de se

revelar especial e diferente do calendaacuterio profano tambeacutem natildeo eacute um evento

isolado pois quebra o ritmo regular do cotidiano promove a sociabilidade e

o sentimento de pertencimento e identidade em um determinado grupo

social (COUTO 2008 P 2)

Nem todos os devoltos dos dois ternos de reisado vatildeo para os cortejos nas fazendas ou

para outras cidades alguns ficam nos salotildees de oraccedilotildees preparando as comidas e bebidas

organizando para a chegada e finalizaccedilatildeo do festejo segundo o Sr Diomario foliatildeo do

primeiro grupo de reisado satildeo poucas as pessoas que ficam a frente do cortejo

Mas os dela (foliotildees) satildeo oito macho e quatro fecircmea que satildeo de carregar a

bandeirae os machos para tocar os instrumentos pois cada um daqueles oito

tem os instrumento deles que domina que satildeo reco-reco pandeiro a caixa

era de Ceicinha o bunda eacute de quem saber bater que nem esse Neo era

bumbeiro nosso Neo batia bumba muito bem mas agora ficou o filho de

Ceicinha que eacute bumbeiro dela tambeacutem eacute isso (Sr Diomaacuterio de Jesus 04-05-

14)

O individuos pertecente a um grupo desde o seu nascimento e no decorrer da vida vatildeo

aquirindo os usos haacutebitos alimentares vestimentas moradia objetos de pertecimento

ensiados pelas pessoas idosas que tem experiecircncia a religiosidade que vai sendo transmitida

de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo independe de tamanho e de grupo social ao qual estaacute inserido

Resultando em caracteriacutesticas peculiares ou a chamada memoacuteria comum do grupo para

Jacqueline Hermann (1997) chega-se ao ponto onde religiatildeo e religiosidade se cruzam

Quando o cortejo chega na porta de uma casa cantam um louvor para chamar atenccedilatildeo

do morador ldquoPorque vocecirc canta o Reis laacute fora e agradece dentro da casa o dono da casa abre

a porta vocecirc entra ai deu bom dia vocecirc louva o dono da casa e agradece o Reisrdquo isso que nos

relata o Sr Jonas Almeida de Castro Depois do lovour abre a porta dentro da residecircncia foi

observando que em um trecho do canto o devoltos obedecem a letra

18

Ajoelha pecadores

Potildee seu joelho no chatildeo

Para cobrir com a bandeira

Viva satildeo Sebastiatildeo

Essa bandeira me salva

Quando chegar laacute no ceacuteu

Alevanta pecador

Todo coberto de veacuteu 14

Sendo assim a bandeira eacute passada pela cabeccedila de todos os devotos que ajoelham

algumas pessoas beijam o manto outras se emocionam e agradecem Para Brandatildeo (2011 P

64) ldquo[] A festa eacute o momento de reconhecer que foram agraciados com uma benccedilatildeo e que eacute

preciso retribuir []rdquo A contra danccedila ndash uma muacutesica entoada cantado coisas do cotidiano para

os foliotildees saiacuterem da residecircncia como aborda o Sr Jonas Almeida de Castro (2014)

Convidei meus companheiros

para fazer sociedade

Para roubar dessa cigana

um amor da eternidade

O ciganhinha hora eacute hora

quem quiser comigo eacute hora

Agrave Deus ponta da areia

que laacute vai a cigana embora

A festa eacute uma forma de diversatildeo tatildeo especial para os foliotildees que toca os instrumentos

por prazer em estar festejando que apaga todo o cansaccedilo do corpo Brandatildeo (2011 P74)

afirma que ldquoApesar de a festa ser uma celebraccedilatildeo do cotidiano das sociedades ela representa uma

quebra nesse cotidiano quando as pessoas deixam suas atividades do dia- a- dia para se

dedicarem ao seu inversordquo

Dois foliotildees relataram duas situaccedilotildees envolvendo o cortejo de Satildeo Sebastiatildeo a

primeira foi quando uma senhora os convidou o terno de reis para entrar em sua residecircncia

muito humilde Poreacutem a dona da casa tinha apenas dois ovos de galinha para oferecer nesta

situaccedilatildeo um foliatildeo fez a doaccedilatildeo por ela e devolveu a oferta da senhora A outra situaccedilatildeo eacute

14 Nona e deacutecima estrofe do canto de chegada em louvor a Satildeo Sebastiatildeo entoado pelos foliotildees em Itagimirim-

Ba

19

quando uma fita da bandeira do santo cai dentro de uma casa eacute sinal de milagre concedido ao

morador como Aborda dona Srordf Alzira P de Souza

Olha se cair na casa da pessoa eacute para pegar e guardar ali eacute uma virtude que

esta deixando na casa da pessoa e uma forccedila que esta deixando ali na casa

da pessoa o santo deixou cai aquela fita ali para agradecer e recomendar o

dono da casa (Srordf Alzira Pereira de Souza 08-05-14)

Para muitos moradores essa fita eacute utilizada como remeacutedio quando um familiar sente

uma dor amarando no local essa recordaccedilatildeo eacute guardada como muita alegria

Quando o reisado chega em uma rua eles cantam de um lado e depois do outro a

bandeira indo por um canto natildeo pode voltar pelo mesmo lugar tem que seguir o giro o

caminho aberto A Srordf Maria C Rodrigues relata que ldquoquando passo numa casa e vejo a porta

fechada eu acho que a pessoa natildeo quer que eu paro ai a bandeira passa se pedir para voltar

a gente natildeo pode maisrdquo Hobsbawm (1997) dialoga que entende-se por ldquotradiccedilatildeo inventadardquo

um conjunto de praacuteticas normalmente reguladas por regras taacutecita ou abertamente aceitas ldquo[]

tais praacuteticas de natureza ritual ou simboacutelica visam inculcar certos valores e normas de

comportamento atraacuteves de repeticcedilatildeo o que implica automaticamente uma continuidade em

relaccedilatildeo ao passado []rdquo

Muitas festas foram apontadas por vaacuterios pesquisadores do periacuteodo colonial como

forma de fugas e rebeliotildees ou sendo para assumir uma identidade por determinados grupos

nesse contexto as festas natildeo satildeo vistas simplesmente como passivas mas como oportunidade

de romper com o cotidiano

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O trabalho realizado atraveacutes do festejo de Satildeo Sebastiatildeo em Itagimirim-Ba investigou

e analisou o surgimento da manifestaccedilatildeo religiosa de caraacuteter popular sendo renovada e

20

modificada com as migraccedilotildees de pessoas vindas de outros povoados e municiacutepios da regiatildeo

re-significando a tradiccedilatildeo e incorporando novas praacuteticas

A devoccedilatildeo dos foliotildees por um santo representa uma afirmaccedilatildeo de identidade

possibilitando novas relaccedilotildees entre os homens e o meio social ao qual estaacute inserido

Rememorar natildeo significa trazer de volta a festa do mesmo jeito que era outrora e sim

reafirmar e reconstruir novos haacutebitos

O festejo eacute um elemento que fez e faz parte da origem e desenvolvimento da cidade

pois seus habitantes fundadores jaacute traziam em suas memoacuterias essa forma de socializaccedilatildeo

religiosa Que tambeacutem se construiu como um escape para os longos dias de trabalhos

quebrando o ritmo do cotidiano A manifestaccedilatildeo de feacute eacute um espaccedilo de troca de saberes atraveacutes

das praacuteticas de alegria e devoccedilatildeo sendo um lugar de afirmaccedilatildeo de relaccedilotildees sociais ou criar

novos laccedilos de amizade o que fundamental para comunidade itagimiriense

REFEREcircNCIAS

ABREU Marta Cultura popular um conceito e vaacuterias histoacuterias In Ensino de Histoacuteria

conceitos temaacuteticas e metodologia Martha Abreu amp Rachel Sohiet (orgs) Rio de Janeiro

Casa da Palavra 2003

ALBERTI Verena Manual de Histoacuteria oral ndash 3 ed ndash Rio de Janeiro Editora FGV 2005

BOSI Ecleacutea Memoacuteria e Sociedade Lembranccedilas de Velhos ndash 3 ed ndashSatildeo Paulo Companhia

das letras 1994

BRANDAtildeO Alex Sandro da Conceiccedilatildeo Santos Reis Festa Poder e Memoacuteria (Governador

Mangabeira- BA 1970-2000) Artigo apresentado no X Encontro Nacional de Histoacuteria Oral

Recife 2010

21

BRANDAtildeO Alex Sandro da Conceiccedilatildeo Santos Reis festa poder e memoacuteria na comunidade

rural de aldeia (Governador Mangabeira- BA 1970-2000) Dissertaccedilatildeo apresentada ao

programa de poacutes-graduaccedilatildeo em histoacuteria regional e local da universidade do estado da

BahiaUNEB Santo Antonio de Jesus ndash BA abril ndash 2011

BRITTO Larissa Novais Festa de Satildeo Benedito O Sagrado e o profano nas festas regiliosas

de origem africana em Porto Seguro-Ba Monografia apresentada a UNEB Eunaacutepolis 2009

CASTRO Jakson Viana de Educaccedilatildeo patrimonial um instrumento de ensino para Histoacuteria local

Monografia apresentada a UNEB Eunaacutepolis 2009

CHALHOUB Sidney Visotildees da liberdade uma histoacuteria das uacuteltimas deacutecadas da escravidatildeo

na Corte Sidney Chalhoub mdash Satildeo Paulo Companhia das Letras 2011

COUTO Edilece Souza Devoccedilotildees festas e ritos algumas consideraccedilotildees Revista Brasileira

de Histoacuteria das Religiotildees ndash Ano I no 1 ndash Dossiecirc Identidades Religiosas e Histoacuteria Maio

2008

GUARINELLO Noberto Luiz Festa trabalho e cotidiano Istvaacutem Jancsoacute Iris kantor

(orgs)Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa Volume II Satildeo Paulo 2001

GUERRA Teoney Araujo Dados e informaccedilotildees para Estudantes Itagimirim-Ba 2000

HERMANN Jacqueline Histoacuteria das religiotildees e religiosidades Domiacutenios da Historia

ensaios da teoria e metodologias Ciro Flamrion Cardoso Ronaldo Vainfas (orgs) Rio de

Janeiro Campus 1997

HOBSBAWM Eric A invenccedilatildeo das tradiccedilotildees Eric Hobsbawn e Terenge Ranger

organizadores Traduccedilatildeo Celina Cardim Cavalgante 2ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro 1997

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel emwwwibgegovbr acesso

dia 06-05-12 agraves 13h00min

JANCSOacute Istvaacutem KANTOR Iris (orgs) Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica

Portuguesa Volume I Satildeo Paulo 2001

JANCSOacute Istvaacutenamp KANTOR Iris Festa Cultura e Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa (2

volumes) Satildeo Paulo Imprensa Oficial Hucitec Edusp Fapesp 2001

1 NASCIMENTO Nilson do Carmo Cachoeirinha Freguesia de Nossa Senhora da

Conceiccedilatildeo da Cachoeirinha do Baixo Jequitinhonhandash Brasiacutelia 2010

22

2 NASCIMENTO Mara Regina do Religiosidade e cultura popular Catolicismo

irmandades e tradiccedilotildees em movimento Revista da Catoacutelica Uberlacircndia v 1 n 2 p 119-130

2009 ndash catolicaonlinecom BR revista da catoacutelica

PORTELLI Alessandro Histoacuteria Oral e Poder Transcriccedilatildeo de Luiz Henrique dos Santos

Blume a partir do arquivo em aacuteudio wmp Traduccedilatildeo de Luiz Henrique dos Santos Blume e

Heliana de Barros Conde Rodrigues Mnemosine Vol6 nordm2 p 2-13 (2010) ndash Artigos

Conferecircncia no XXV Simpoacutesio Nacional da ANPUH Fortaleza 2009

POLLAK Michel Memoacuteria e identidade social Conferecircncia foi transcrita e traduzida por

monique augras A ediccedilatildeo eacute de Dora Rocha Flaksman Estudos histoacutericos rio de janeiro vol

5 n 10 1992 p 200-212

POLLAK Michel Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Conferecircncia foi transcrita e traduzida

por monique augras A ediccedilatildeo eacute de Dora Rocha Flaksman Estudos Histoacutericos Rio de

Janeiro vol 2 n 3 1989 p 3-15

PIRES Flaacutevia A Festa de Satildeo Sebastiatildeo em Catingueira transformaccedilotildees e permanecircncias dez

anos depois Revista de antropologia Satildeo Paulo USP 2011 v 54 nordm 2 Artigo Recebido em

novembro de 2010 Aceito em julho de 2011

SOIHET Rachel Histoacuteria das mulheres Domiacutenios da Historia ensaios da teoria e

metodologias Ciro Flamrion Cardoso Ronaldo Vainfas (orgs) Rio de Janeiro Campus

1997

SANTANA Tacircnia de Devoccedilotildees catoacutelicas entre os negros na Bahia colonial Artigo

apresentado na participaccedilatildeo no evento Fala Professor em 250803 promovido pelo curso de

Histoacuteria das Faculdades Jorge Amado

SANTOS Fernanda reis dos ldquoa festa do excelso padroeiro da cidade das palmeirasrdquo o culto

a satildeo Bartolomeu em Maragogipe (1851-1943) dissertaccedilatildeo apresentada ao programa de poacutes-

graduaccedilatildeo em histoacuteria da faculdade de filosofia e ciecircncias humanas universidade federal da

Bahia Salvador 2010

VAINFAS Ronaldo Da festa tupinambaacute ao sabaacute tropical a catequese pelo avesso Istvaacutem

Jancsoacute Iris kantor (orgs)Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa Volume I

Satildeo Paulo 2001

Page 18: FESTEJOS DE SÃO SEBASTIÃO EM ITAGIMIRIM-BA ......1 FESTEJOS DE SÃO SEBASTIÃO EM ITAGIMIRIM-BA: Memória e História de Um Povo (1960- 1998) Jairo Viana de Castro1 INTRODUÇÃO

18

Ajoelha pecadores

Potildee seu joelho no chatildeo

Para cobrir com a bandeira

Viva satildeo Sebastiatildeo

Essa bandeira me salva

Quando chegar laacute no ceacuteu

Alevanta pecador

Todo coberto de veacuteu 14

Sendo assim a bandeira eacute passada pela cabeccedila de todos os devotos que ajoelham

algumas pessoas beijam o manto outras se emocionam e agradecem Para Brandatildeo (2011 P

64) ldquo[] A festa eacute o momento de reconhecer que foram agraciados com uma benccedilatildeo e que eacute

preciso retribuir []rdquo A contra danccedila ndash uma muacutesica entoada cantado coisas do cotidiano para

os foliotildees saiacuterem da residecircncia como aborda o Sr Jonas Almeida de Castro (2014)

Convidei meus companheiros

para fazer sociedade

Para roubar dessa cigana

um amor da eternidade

O ciganhinha hora eacute hora

quem quiser comigo eacute hora

Agrave Deus ponta da areia

que laacute vai a cigana embora

A festa eacute uma forma de diversatildeo tatildeo especial para os foliotildees que toca os instrumentos

por prazer em estar festejando que apaga todo o cansaccedilo do corpo Brandatildeo (2011 P74)

afirma que ldquoApesar de a festa ser uma celebraccedilatildeo do cotidiano das sociedades ela representa uma

quebra nesse cotidiano quando as pessoas deixam suas atividades do dia- a- dia para se

dedicarem ao seu inversordquo

Dois foliotildees relataram duas situaccedilotildees envolvendo o cortejo de Satildeo Sebastiatildeo a

primeira foi quando uma senhora os convidou o terno de reis para entrar em sua residecircncia

muito humilde Poreacutem a dona da casa tinha apenas dois ovos de galinha para oferecer nesta

situaccedilatildeo um foliatildeo fez a doaccedilatildeo por ela e devolveu a oferta da senhora A outra situaccedilatildeo eacute

14 Nona e deacutecima estrofe do canto de chegada em louvor a Satildeo Sebastiatildeo entoado pelos foliotildees em Itagimirim-

Ba

19

quando uma fita da bandeira do santo cai dentro de uma casa eacute sinal de milagre concedido ao

morador como Aborda dona Srordf Alzira P de Souza

Olha se cair na casa da pessoa eacute para pegar e guardar ali eacute uma virtude que

esta deixando na casa da pessoa e uma forccedila que esta deixando ali na casa

da pessoa o santo deixou cai aquela fita ali para agradecer e recomendar o

dono da casa (Srordf Alzira Pereira de Souza 08-05-14)

Para muitos moradores essa fita eacute utilizada como remeacutedio quando um familiar sente

uma dor amarando no local essa recordaccedilatildeo eacute guardada como muita alegria

Quando o reisado chega em uma rua eles cantam de um lado e depois do outro a

bandeira indo por um canto natildeo pode voltar pelo mesmo lugar tem que seguir o giro o

caminho aberto A Srordf Maria C Rodrigues relata que ldquoquando passo numa casa e vejo a porta

fechada eu acho que a pessoa natildeo quer que eu paro ai a bandeira passa se pedir para voltar

a gente natildeo pode maisrdquo Hobsbawm (1997) dialoga que entende-se por ldquotradiccedilatildeo inventadardquo

um conjunto de praacuteticas normalmente reguladas por regras taacutecita ou abertamente aceitas ldquo[]

tais praacuteticas de natureza ritual ou simboacutelica visam inculcar certos valores e normas de

comportamento atraacuteves de repeticcedilatildeo o que implica automaticamente uma continuidade em

relaccedilatildeo ao passado []rdquo

Muitas festas foram apontadas por vaacuterios pesquisadores do periacuteodo colonial como

forma de fugas e rebeliotildees ou sendo para assumir uma identidade por determinados grupos

nesse contexto as festas natildeo satildeo vistas simplesmente como passivas mas como oportunidade

de romper com o cotidiano

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O trabalho realizado atraveacutes do festejo de Satildeo Sebastiatildeo em Itagimirim-Ba investigou

e analisou o surgimento da manifestaccedilatildeo religiosa de caraacuteter popular sendo renovada e

20

modificada com as migraccedilotildees de pessoas vindas de outros povoados e municiacutepios da regiatildeo

re-significando a tradiccedilatildeo e incorporando novas praacuteticas

A devoccedilatildeo dos foliotildees por um santo representa uma afirmaccedilatildeo de identidade

possibilitando novas relaccedilotildees entre os homens e o meio social ao qual estaacute inserido

Rememorar natildeo significa trazer de volta a festa do mesmo jeito que era outrora e sim

reafirmar e reconstruir novos haacutebitos

O festejo eacute um elemento que fez e faz parte da origem e desenvolvimento da cidade

pois seus habitantes fundadores jaacute traziam em suas memoacuterias essa forma de socializaccedilatildeo

religiosa Que tambeacutem se construiu como um escape para os longos dias de trabalhos

quebrando o ritmo do cotidiano A manifestaccedilatildeo de feacute eacute um espaccedilo de troca de saberes atraveacutes

das praacuteticas de alegria e devoccedilatildeo sendo um lugar de afirmaccedilatildeo de relaccedilotildees sociais ou criar

novos laccedilos de amizade o que fundamental para comunidade itagimiriense

REFEREcircNCIAS

ABREU Marta Cultura popular um conceito e vaacuterias histoacuterias In Ensino de Histoacuteria

conceitos temaacuteticas e metodologia Martha Abreu amp Rachel Sohiet (orgs) Rio de Janeiro

Casa da Palavra 2003

ALBERTI Verena Manual de Histoacuteria oral ndash 3 ed ndash Rio de Janeiro Editora FGV 2005

BOSI Ecleacutea Memoacuteria e Sociedade Lembranccedilas de Velhos ndash 3 ed ndashSatildeo Paulo Companhia

das letras 1994

BRANDAtildeO Alex Sandro da Conceiccedilatildeo Santos Reis Festa Poder e Memoacuteria (Governador

Mangabeira- BA 1970-2000) Artigo apresentado no X Encontro Nacional de Histoacuteria Oral

Recife 2010

21

BRANDAtildeO Alex Sandro da Conceiccedilatildeo Santos Reis festa poder e memoacuteria na comunidade

rural de aldeia (Governador Mangabeira- BA 1970-2000) Dissertaccedilatildeo apresentada ao

programa de poacutes-graduaccedilatildeo em histoacuteria regional e local da universidade do estado da

BahiaUNEB Santo Antonio de Jesus ndash BA abril ndash 2011

BRITTO Larissa Novais Festa de Satildeo Benedito O Sagrado e o profano nas festas regiliosas

de origem africana em Porto Seguro-Ba Monografia apresentada a UNEB Eunaacutepolis 2009

CASTRO Jakson Viana de Educaccedilatildeo patrimonial um instrumento de ensino para Histoacuteria local

Monografia apresentada a UNEB Eunaacutepolis 2009

CHALHOUB Sidney Visotildees da liberdade uma histoacuteria das uacuteltimas deacutecadas da escravidatildeo

na Corte Sidney Chalhoub mdash Satildeo Paulo Companhia das Letras 2011

COUTO Edilece Souza Devoccedilotildees festas e ritos algumas consideraccedilotildees Revista Brasileira

de Histoacuteria das Religiotildees ndash Ano I no 1 ndash Dossiecirc Identidades Religiosas e Histoacuteria Maio

2008

GUARINELLO Noberto Luiz Festa trabalho e cotidiano Istvaacutem Jancsoacute Iris kantor

(orgs)Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa Volume II Satildeo Paulo 2001

GUERRA Teoney Araujo Dados e informaccedilotildees para Estudantes Itagimirim-Ba 2000

HERMANN Jacqueline Histoacuteria das religiotildees e religiosidades Domiacutenios da Historia

ensaios da teoria e metodologias Ciro Flamrion Cardoso Ronaldo Vainfas (orgs) Rio de

Janeiro Campus 1997

HOBSBAWM Eric A invenccedilatildeo das tradiccedilotildees Eric Hobsbawn e Terenge Ranger

organizadores Traduccedilatildeo Celina Cardim Cavalgante 2ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro 1997

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel emwwwibgegovbr acesso

dia 06-05-12 agraves 13h00min

JANCSOacute Istvaacutem KANTOR Iris (orgs) Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica

Portuguesa Volume I Satildeo Paulo 2001

JANCSOacute Istvaacutenamp KANTOR Iris Festa Cultura e Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa (2

volumes) Satildeo Paulo Imprensa Oficial Hucitec Edusp Fapesp 2001

1 NASCIMENTO Nilson do Carmo Cachoeirinha Freguesia de Nossa Senhora da

Conceiccedilatildeo da Cachoeirinha do Baixo Jequitinhonhandash Brasiacutelia 2010

22

2 NASCIMENTO Mara Regina do Religiosidade e cultura popular Catolicismo

irmandades e tradiccedilotildees em movimento Revista da Catoacutelica Uberlacircndia v 1 n 2 p 119-130

2009 ndash catolicaonlinecom BR revista da catoacutelica

PORTELLI Alessandro Histoacuteria Oral e Poder Transcriccedilatildeo de Luiz Henrique dos Santos

Blume a partir do arquivo em aacuteudio wmp Traduccedilatildeo de Luiz Henrique dos Santos Blume e

Heliana de Barros Conde Rodrigues Mnemosine Vol6 nordm2 p 2-13 (2010) ndash Artigos

Conferecircncia no XXV Simpoacutesio Nacional da ANPUH Fortaleza 2009

POLLAK Michel Memoacuteria e identidade social Conferecircncia foi transcrita e traduzida por

monique augras A ediccedilatildeo eacute de Dora Rocha Flaksman Estudos histoacutericos rio de janeiro vol

5 n 10 1992 p 200-212

POLLAK Michel Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Conferecircncia foi transcrita e traduzida

por monique augras A ediccedilatildeo eacute de Dora Rocha Flaksman Estudos Histoacutericos Rio de

Janeiro vol 2 n 3 1989 p 3-15

PIRES Flaacutevia A Festa de Satildeo Sebastiatildeo em Catingueira transformaccedilotildees e permanecircncias dez

anos depois Revista de antropologia Satildeo Paulo USP 2011 v 54 nordm 2 Artigo Recebido em

novembro de 2010 Aceito em julho de 2011

SOIHET Rachel Histoacuteria das mulheres Domiacutenios da Historia ensaios da teoria e

metodologias Ciro Flamrion Cardoso Ronaldo Vainfas (orgs) Rio de Janeiro Campus

1997

SANTANA Tacircnia de Devoccedilotildees catoacutelicas entre os negros na Bahia colonial Artigo

apresentado na participaccedilatildeo no evento Fala Professor em 250803 promovido pelo curso de

Histoacuteria das Faculdades Jorge Amado

SANTOS Fernanda reis dos ldquoa festa do excelso padroeiro da cidade das palmeirasrdquo o culto

a satildeo Bartolomeu em Maragogipe (1851-1943) dissertaccedilatildeo apresentada ao programa de poacutes-

graduaccedilatildeo em histoacuteria da faculdade de filosofia e ciecircncias humanas universidade federal da

Bahia Salvador 2010

VAINFAS Ronaldo Da festa tupinambaacute ao sabaacute tropical a catequese pelo avesso Istvaacutem

Jancsoacute Iris kantor (orgs)Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa Volume I

Satildeo Paulo 2001

Page 19: FESTEJOS DE SÃO SEBASTIÃO EM ITAGIMIRIM-BA ......1 FESTEJOS DE SÃO SEBASTIÃO EM ITAGIMIRIM-BA: Memória e História de Um Povo (1960- 1998) Jairo Viana de Castro1 INTRODUÇÃO

19

quando uma fita da bandeira do santo cai dentro de uma casa eacute sinal de milagre concedido ao

morador como Aborda dona Srordf Alzira P de Souza

Olha se cair na casa da pessoa eacute para pegar e guardar ali eacute uma virtude que

esta deixando na casa da pessoa e uma forccedila que esta deixando ali na casa

da pessoa o santo deixou cai aquela fita ali para agradecer e recomendar o

dono da casa (Srordf Alzira Pereira de Souza 08-05-14)

Para muitos moradores essa fita eacute utilizada como remeacutedio quando um familiar sente

uma dor amarando no local essa recordaccedilatildeo eacute guardada como muita alegria

Quando o reisado chega em uma rua eles cantam de um lado e depois do outro a

bandeira indo por um canto natildeo pode voltar pelo mesmo lugar tem que seguir o giro o

caminho aberto A Srordf Maria C Rodrigues relata que ldquoquando passo numa casa e vejo a porta

fechada eu acho que a pessoa natildeo quer que eu paro ai a bandeira passa se pedir para voltar

a gente natildeo pode maisrdquo Hobsbawm (1997) dialoga que entende-se por ldquotradiccedilatildeo inventadardquo

um conjunto de praacuteticas normalmente reguladas por regras taacutecita ou abertamente aceitas ldquo[]

tais praacuteticas de natureza ritual ou simboacutelica visam inculcar certos valores e normas de

comportamento atraacuteves de repeticcedilatildeo o que implica automaticamente uma continuidade em

relaccedilatildeo ao passado []rdquo

Muitas festas foram apontadas por vaacuterios pesquisadores do periacuteodo colonial como

forma de fugas e rebeliotildees ou sendo para assumir uma identidade por determinados grupos

nesse contexto as festas natildeo satildeo vistas simplesmente como passivas mas como oportunidade

de romper com o cotidiano

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O trabalho realizado atraveacutes do festejo de Satildeo Sebastiatildeo em Itagimirim-Ba investigou

e analisou o surgimento da manifestaccedilatildeo religiosa de caraacuteter popular sendo renovada e

20

modificada com as migraccedilotildees de pessoas vindas de outros povoados e municiacutepios da regiatildeo

re-significando a tradiccedilatildeo e incorporando novas praacuteticas

A devoccedilatildeo dos foliotildees por um santo representa uma afirmaccedilatildeo de identidade

possibilitando novas relaccedilotildees entre os homens e o meio social ao qual estaacute inserido

Rememorar natildeo significa trazer de volta a festa do mesmo jeito que era outrora e sim

reafirmar e reconstruir novos haacutebitos

O festejo eacute um elemento que fez e faz parte da origem e desenvolvimento da cidade

pois seus habitantes fundadores jaacute traziam em suas memoacuterias essa forma de socializaccedilatildeo

religiosa Que tambeacutem se construiu como um escape para os longos dias de trabalhos

quebrando o ritmo do cotidiano A manifestaccedilatildeo de feacute eacute um espaccedilo de troca de saberes atraveacutes

das praacuteticas de alegria e devoccedilatildeo sendo um lugar de afirmaccedilatildeo de relaccedilotildees sociais ou criar

novos laccedilos de amizade o que fundamental para comunidade itagimiriense

REFEREcircNCIAS

ABREU Marta Cultura popular um conceito e vaacuterias histoacuterias In Ensino de Histoacuteria

conceitos temaacuteticas e metodologia Martha Abreu amp Rachel Sohiet (orgs) Rio de Janeiro

Casa da Palavra 2003

ALBERTI Verena Manual de Histoacuteria oral ndash 3 ed ndash Rio de Janeiro Editora FGV 2005

BOSI Ecleacutea Memoacuteria e Sociedade Lembranccedilas de Velhos ndash 3 ed ndashSatildeo Paulo Companhia

das letras 1994

BRANDAtildeO Alex Sandro da Conceiccedilatildeo Santos Reis Festa Poder e Memoacuteria (Governador

Mangabeira- BA 1970-2000) Artigo apresentado no X Encontro Nacional de Histoacuteria Oral

Recife 2010

21

BRANDAtildeO Alex Sandro da Conceiccedilatildeo Santos Reis festa poder e memoacuteria na comunidade

rural de aldeia (Governador Mangabeira- BA 1970-2000) Dissertaccedilatildeo apresentada ao

programa de poacutes-graduaccedilatildeo em histoacuteria regional e local da universidade do estado da

BahiaUNEB Santo Antonio de Jesus ndash BA abril ndash 2011

BRITTO Larissa Novais Festa de Satildeo Benedito O Sagrado e o profano nas festas regiliosas

de origem africana em Porto Seguro-Ba Monografia apresentada a UNEB Eunaacutepolis 2009

CASTRO Jakson Viana de Educaccedilatildeo patrimonial um instrumento de ensino para Histoacuteria local

Monografia apresentada a UNEB Eunaacutepolis 2009

CHALHOUB Sidney Visotildees da liberdade uma histoacuteria das uacuteltimas deacutecadas da escravidatildeo

na Corte Sidney Chalhoub mdash Satildeo Paulo Companhia das Letras 2011

COUTO Edilece Souza Devoccedilotildees festas e ritos algumas consideraccedilotildees Revista Brasileira

de Histoacuteria das Religiotildees ndash Ano I no 1 ndash Dossiecirc Identidades Religiosas e Histoacuteria Maio

2008

GUARINELLO Noberto Luiz Festa trabalho e cotidiano Istvaacutem Jancsoacute Iris kantor

(orgs)Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa Volume II Satildeo Paulo 2001

GUERRA Teoney Araujo Dados e informaccedilotildees para Estudantes Itagimirim-Ba 2000

HERMANN Jacqueline Histoacuteria das religiotildees e religiosidades Domiacutenios da Historia

ensaios da teoria e metodologias Ciro Flamrion Cardoso Ronaldo Vainfas (orgs) Rio de

Janeiro Campus 1997

HOBSBAWM Eric A invenccedilatildeo das tradiccedilotildees Eric Hobsbawn e Terenge Ranger

organizadores Traduccedilatildeo Celina Cardim Cavalgante 2ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro 1997

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel emwwwibgegovbr acesso

dia 06-05-12 agraves 13h00min

JANCSOacute Istvaacutem KANTOR Iris (orgs) Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica

Portuguesa Volume I Satildeo Paulo 2001

JANCSOacute Istvaacutenamp KANTOR Iris Festa Cultura e Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa (2

volumes) Satildeo Paulo Imprensa Oficial Hucitec Edusp Fapesp 2001

1 NASCIMENTO Nilson do Carmo Cachoeirinha Freguesia de Nossa Senhora da

Conceiccedilatildeo da Cachoeirinha do Baixo Jequitinhonhandash Brasiacutelia 2010

22

2 NASCIMENTO Mara Regina do Religiosidade e cultura popular Catolicismo

irmandades e tradiccedilotildees em movimento Revista da Catoacutelica Uberlacircndia v 1 n 2 p 119-130

2009 ndash catolicaonlinecom BR revista da catoacutelica

PORTELLI Alessandro Histoacuteria Oral e Poder Transcriccedilatildeo de Luiz Henrique dos Santos

Blume a partir do arquivo em aacuteudio wmp Traduccedilatildeo de Luiz Henrique dos Santos Blume e

Heliana de Barros Conde Rodrigues Mnemosine Vol6 nordm2 p 2-13 (2010) ndash Artigos

Conferecircncia no XXV Simpoacutesio Nacional da ANPUH Fortaleza 2009

POLLAK Michel Memoacuteria e identidade social Conferecircncia foi transcrita e traduzida por

monique augras A ediccedilatildeo eacute de Dora Rocha Flaksman Estudos histoacutericos rio de janeiro vol

5 n 10 1992 p 200-212

POLLAK Michel Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Conferecircncia foi transcrita e traduzida

por monique augras A ediccedilatildeo eacute de Dora Rocha Flaksman Estudos Histoacutericos Rio de

Janeiro vol 2 n 3 1989 p 3-15

PIRES Flaacutevia A Festa de Satildeo Sebastiatildeo em Catingueira transformaccedilotildees e permanecircncias dez

anos depois Revista de antropologia Satildeo Paulo USP 2011 v 54 nordm 2 Artigo Recebido em

novembro de 2010 Aceito em julho de 2011

SOIHET Rachel Histoacuteria das mulheres Domiacutenios da Historia ensaios da teoria e

metodologias Ciro Flamrion Cardoso Ronaldo Vainfas (orgs) Rio de Janeiro Campus

1997

SANTANA Tacircnia de Devoccedilotildees catoacutelicas entre os negros na Bahia colonial Artigo

apresentado na participaccedilatildeo no evento Fala Professor em 250803 promovido pelo curso de

Histoacuteria das Faculdades Jorge Amado

SANTOS Fernanda reis dos ldquoa festa do excelso padroeiro da cidade das palmeirasrdquo o culto

a satildeo Bartolomeu em Maragogipe (1851-1943) dissertaccedilatildeo apresentada ao programa de poacutes-

graduaccedilatildeo em histoacuteria da faculdade de filosofia e ciecircncias humanas universidade federal da

Bahia Salvador 2010

VAINFAS Ronaldo Da festa tupinambaacute ao sabaacute tropical a catequese pelo avesso Istvaacutem

Jancsoacute Iris kantor (orgs)Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa Volume I

Satildeo Paulo 2001

Page 20: FESTEJOS DE SÃO SEBASTIÃO EM ITAGIMIRIM-BA ......1 FESTEJOS DE SÃO SEBASTIÃO EM ITAGIMIRIM-BA: Memória e História de Um Povo (1960- 1998) Jairo Viana de Castro1 INTRODUÇÃO

20

modificada com as migraccedilotildees de pessoas vindas de outros povoados e municiacutepios da regiatildeo

re-significando a tradiccedilatildeo e incorporando novas praacuteticas

A devoccedilatildeo dos foliotildees por um santo representa uma afirmaccedilatildeo de identidade

possibilitando novas relaccedilotildees entre os homens e o meio social ao qual estaacute inserido

Rememorar natildeo significa trazer de volta a festa do mesmo jeito que era outrora e sim

reafirmar e reconstruir novos haacutebitos

O festejo eacute um elemento que fez e faz parte da origem e desenvolvimento da cidade

pois seus habitantes fundadores jaacute traziam em suas memoacuterias essa forma de socializaccedilatildeo

religiosa Que tambeacutem se construiu como um escape para os longos dias de trabalhos

quebrando o ritmo do cotidiano A manifestaccedilatildeo de feacute eacute um espaccedilo de troca de saberes atraveacutes

das praacuteticas de alegria e devoccedilatildeo sendo um lugar de afirmaccedilatildeo de relaccedilotildees sociais ou criar

novos laccedilos de amizade o que fundamental para comunidade itagimiriense

REFEREcircNCIAS

ABREU Marta Cultura popular um conceito e vaacuterias histoacuterias In Ensino de Histoacuteria

conceitos temaacuteticas e metodologia Martha Abreu amp Rachel Sohiet (orgs) Rio de Janeiro

Casa da Palavra 2003

ALBERTI Verena Manual de Histoacuteria oral ndash 3 ed ndash Rio de Janeiro Editora FGV 2005

BOSI Ecleacutea Memoacuteria e Sociedade Lembranccedilas de Velhos ndash 3 ed ndashSatildeo Paulo Companhia

das letras 1994

BRANDAtildeO Alex Sandro da Conceiccedilatildeo Santos Reis Festa Poder e Memoacuteria (Governador

Mangabeira- BA 1970-2000) Artigo apresentado no X Encontro Nacional de Histoacuteria Oral

Recife 2010

21

BRANDAtildeO Alex Sandro da Conceiccedilatildeo Santos Reis festa poder e memoacuteria na comunidade

rural de aldeia (Governador Mangabeira- BA 1970-2000) Dissertaccedilatildeo apresentada ao

programa de poacutes-graduaccedilatildeo em histoacuteria regional e local da universidade do estado da

BahiaUNEB Santo Antonio de Jesus ndash BA abril ndash 2011

BRITTO Larissa Novais Festa de Satildeo Benedito O Sagrado e o profano nas festas regiliosas

de origem africana em Porto Seguro-Ba Monografia apresentada a UNEB Eunaacutepolis 2009

CASTRO Jakson Viana de Educaccedilatildeo patrimonial um instrumento de ensino para Histoacuteria local

Monografia apresentada a UNEB Eunaacutepolis 2009

CHALHOUB Sidney Visotildees da liberdade uma histoacuteria das uacuteltimas deacutecadas da escravidatildeo

na Corte Sidney Chalhoub mdash Satildeo Paulo Companhia das Letras 2011

COUTO Edilece Souza Devoccedilotildees festas e ritos algumas consideraccedilotildees Revista Brasileira

de Histoacuteria das Religiotildees ndash Ano I no 1 ndash Dossiecirc Identidades Religiosas e Histoacuteria Maio

2008

GUARINELLO Noberto Luiz Festa trabalho e cotidiano Istvaacutem Jancsoacute Iris kantor

(orgs)Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa Volume II Satildeo Paulo 2001

GUERRA Teoney Araujo Dados e informaccedilotildees para Estudantes Itagimirim-Ba 2000

HERMANN Jacqueline Histoacuteria das religiotildees e religiosidades Domiacutenios da Historia

ensaios da teoria e metodologias Ciro Flamrion Cardoso Ronaldo Vainfas (orgs) Rio de

Janeiro Campus 1997

HOBSBAWM Eric A invenccedilatildeo das tradiccedilotildees Eric Hobsbawn e Terenge Ranger

organizadores Traduccedilatildeo Celina Cardim Cavalgante 2ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro 1997

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel emwwwibgegovbr acesso

dia 06-05-12 agraves 13h00min

JANCSOacute Istvaacutem KANTOR Iris (orgs) Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica

Portuguesa Volume I Satildeo Paulo 2001

JANCSOacute Istvaacutenamp KANTOR Iris Festa Cultura e Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa (2

volumes) Satildeo Paulo Imprensa Oficial Hucitec Edusp Fapesp 2001

1 NASCIMENTO Nilson do Carmo Cachoeirinha Freguesia de Nossa Senhora da

Conceiccedilatildeo da Cachoeirinha do Baixo Jequitinhonhandash Brasiacutelia 2010

22

2 NASCIMENTO Mara Regina do Religiosidade e cultura popular Catolicismo

irmandades e tradiccedilotildees em movimento Revista da Catoacutelica Uberlacircndia v 1 n 2 p 119-130

2009 ndash catolicaonlinecom BR revista da catoacutelica

PORTELLI Alessandro Histoacuteria Oral e Poder Transcriccedilatildeo de Luiz Henrique dos Santos

Blume a partir do arquivo em aacuteudio wmp Traduccedilatildeo de Luiz Henrique dos Santos Blume e

Heliana de Barros Conde Rodrigues Mnemosine Vol6 nordm2 p 2-13 (2010) ndash Artigos

Conferecircncia no XXV Simpoacutesio Nacional da ANPUH Fortaleza 2009

POLLAK Michel Memoacuteria e identidade social Conferecircncia foi transcrita e traduzida por

monique augras A ediccedilatildeo eacute de Dora Rocha Flaksman Estudos histoacutericos rio de janeiro vol

5 n 10 1992 p 200-212

POLLAK Michel Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Conferecircncia foi transcrita e traduzida

por monique augras A ediccedilatildeo eacute de Dora Rocha Flaksman Estudos Histoacutericos Rio de

Janeiro vol 2 n 3 1989 p 3-15

PIRES Flaacutevia A Festa de Satildeo Sebastiatildeo em Catingueira transformaccedilotildees e permanecircncias dez

anos depois Revista de antropologia Satildeo Paulo USP 2011 v 54 nordm 2 Artigo Recebido em

novembro de 2010 Aceito em julho de 2011

SOIHET Rachel Histoacuteria das mulheres Domiacutenios da Historia ensaios da teoria e

metodologias Ciro Flamrion Cardoso Ronaldo Vainfas (orgs) Rio de Janeiro Campus

1997

SANTANA Tacircnia de Devoccedilotildees catoacutelicas entre os negros na Bahia colonial Artigo

apresentado na participaccedilatildeo no evento Fala Professor em 250803 promovido pelo curso de

Histoacuteria das Faculdades Jorge Amado

SANTOS Fernanda reis dos ldquoa festa do excelso padroeiro da cidade das palmeirasrdquo o culto

a satildeo Bartolomeu em Maragogipe (1851-1943) dissertaccedilatildeo apresentada ao programa de poacutes-

graduaccedilatildeo em histoacuteria da faculdade de filosofia e ciecircncias humanas universidade federal da

Bahia Salvador 2010

VAINFAS Ronaldo Da festa tupinambaacute ao sabaacute tropical a catequese pelo avesso Istvaacutem

Jancsoacute Iris kantor (orgs)Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa Volume I

Satildeo Paulo 2001

Page 21: FESTEJOS DE SÃO SEBASTIÃO EM ITAGIMIRIM-BA ......1 FESTEJOS DE SÃO SEBASTIÃO EM ITAGIMIRIM-BA: Memória e História de Um Povo (1960- 1998) Jairo Viana de Castro1 INTRODUÇÃO

21

BRANDAtildeO Alex Sandro da Conceiccedilatildeo Santos Reis festa poder e memoacuteria na comunidade

rural de aldeia (Governador Mangabeira- BA 1970-2000) Dissertaccedilatildeo apresentada ao

programa de poacutes-graduaccedilatildeo em histoacuteria regional e local da universidade do estado da

BahiaUNEB Santo Antonio de Jesus ndash BA abril ndash 2011

BRITTO Larissa Novais Festa de Satildeo Benedito O Sagrado e o profano nas festas regiliosas

de origem africana em Porto Seguro-Ba Monografia apresentada a UNEB Eunaacutepolis 2009

CASTRO Jakson Viana de Educaccedilatildeo patrimonial um instrumento de ensino para Histoacuteria local

Monografia apresentada a UNEB Eunaacutepolis 2009

CHALHOUB Sidney Visotildees da liberdade uma histoacuteria das uacuteltimas deacutecadas da escravidatildeo

na Corte Sidney Chalhoub mdash Satildeo Paulo Companhia das Letras 2011

COUTO Edilece Souza Devoccedilotildees festas e ritos algumas consideraccedilotildees Revista Brasileira

de Histoacuteria das Religiotildees ndash Ano I no 1 ndash Dossiecirc Identidades Religiosas e Histoacuteria Maio

2008

GUARINELLO Noberto Luiz Festa trabalho e cotidiano Istvaacutem Jancsoacute Iris kantor

(orgs)Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa Volume II Satildeo Paulo 2001

GUERRA Teoney Araujo Dados e informaccedilotildees para Estudantes Itagimirim-Ba 2000

HERMANN Jacqueline Histoacuteria das religiotildees e religiosidades Domiacutenios da Historia

ensaios da teoria e metodologias Ciro Flamrion Cardoso Ronaldo Vainfas (orgs) Rio de

Janeiro Campus 1997

HOBSBAWM Eric A invenccedilatildeo das tradiccedilotildees Eric Hobsbawn e Terenge Ranger

organizadores Traduccedilatildeo Celina Cardim Cavalgante 2ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro 1997

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Disponiacutevel emwwwibgegovbr acesso

dia 06-05-12 agraves 13h00min

JANCSOacute Istvaacutem KANTOR Iris (orgs) Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica

Portuguesa Volume I Satildeo Paulo 2001

JANCSOacute Istvaacutenamp KANTOR Iris Festa Cultura e Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa (2

volumes) Satildeo Paulo Imprensa Oficial Hucitec Edusp Fapesp 2001

1 NASCIMENTO Nilson do Carmo Cachoeirinha Freguesia de Nossa Senhora da

Conceiccedilatildeo da Cachoeirinha do Baixo Jequitinhonhandash Brasiacutelia 2010

22

2 NASCIMENTO Mara Regina do Religiosidade e cultura popular Catolicismo

irmandades e tradiccedilotildees em movimento Revista da Catoacutelica Uberlacircndia v 1 n 2 p 119-130

2009 ndash catolicaonlinecom BR revista da catoacutelica

PORTELLI Alessandro Histoacuteria Oral e Poder Transcriccedilatildeo de Luiz Henrique dos Santos

Blume a partir do arquivo em aacuteudio wmp Traduccedilatildeo de Luiz Henrique dos Santos Blume e

Heliana de Barros Conde Rodrigues Mnemosine Vol6 nordm2 p 2-13 (2010) ndash Artigos

Conferecircncia no XXV Simpoacutesio Nacional da ANPUH Fortaleza 2009

POLLAK Michel Memoacuteria e identidade social Conferecircncia foi transcrita e traduzida por

monique augras A ediccedilatildeo eacute de Dora Rocha Flaksman Estudos histoacutericos rio de janeiro vol

5 n 10 1992 p 200-212

POLLAK Michel Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Conferecircncia foi transcrita e traduzida

por monique augras A ediccedilatildeo eacute de Dora Rocha Flaksman Estudos Histoacutericos Rio de

Janeiro vol 2 n 3 1989 p 3-15

PIRES Flaacutevia A Festa de Satildeo Sebastiatildeo em Catingueira transformaccedilotildees e permanecircncias dez

anos depois Revista de antropologia Satildeo Paulo USP 2011 v 54 nordm 2 Artigo Recebido em

novembro de 2010 Aceito em julho de 2011

SOIHET Rachel Histoacuteria das mulheres Domiacutenios da Historia ensaios da teoria e

metodologias Ciro Flamrion Cardoso Ronaldo Vainfas (orgs) Rio de Janeiro Campus

1997

SANTANA Tacircnia de Devoccedilotildees catoacutelicas entre os negros na Bahia colonial Artigo

apresentado na participaccedilatildeo no evento Fala Professor em 250803 promovido pelo curso de

Histoacuteria das Faculdades Jorge Amado

SANTOS Fernanda reis dos ldquoa festa do excelso padroeiro da cidade das palmeirasrdquo o culto

a satildeo Bartolomeu em Maragogipe (1851-1943) dissertaccedilatildeo apresentada ao programa de poacutes-

graduaccedilatildeo em histoacuteria da faculdade de filosofia e ciecircncias humanas universidade federal da

Bahia Salvador 2010

VAINFAS Ronaldo Da festa tupinambaacute ao sabaacute tropical a catequese pelo avesso Istvaacutem

Jancsoacute Iris kantor (orgs)Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa Volume I

Satildeo Paulo 2001

Page 22: FESTEJOS DE SÃO SEBASTIÃO EM ITAGIMIRIM-BA ......1 FESTEJOS DE SÃO SEBASTIÃO EM ITAGIMIRIM-BA: Memória e História de Um Povo (1960- 1998) Jairo Viana de Castro1 INTRODUÇÃO

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2 NASCIMENTO Mara Regina do Religiosidade e cultura popular Catolicismo

irmandades e tradiccedilotildees em movimento Revista da Catoacutelica Uberlacircndia v 1 n 2 p 119-130

2009 ndash catolicaonlinecom BR revista da catoacutelica

PORTELLI Alessandro Histoacuteria Oral e Poder Transcriccedilatildeo de Luiz Henrique dos Santos

Blume a partir do arquivo em aacuteudio wmp Traduccedilatildeo de Luiz Henrique dos Santos Blume e

Heliana de Barros Conde Rodrigues Mnemosine Vol6 nordm2 p 2-13 (2010) ndash Artigos

Conferecircncia no XXV Simpoacutesio Nacional da ANPUH Fortaleza 2009

POLLAK Michel Memoacuteria e identidade social Conferecircncia foi transcrita e traduzida por

monique augras A ediccedilatildeo eacute de Dora Rocha Flaksman Estudos histoacutericos rio de janeiro vol

5 n 10 1992 p 200-212

POLLAK Michel Memoacuteria Esquecimento Silecircncio Conferecircncia foi transcrita e traduzida

por monique augras A ediccedilatildeo eacute de Dora Rocha Flaksman Estudos Histoacutericos Rio de

Janeiro vol 2 n 3 1989 p 3-15

PIRES Flaacutevia A Festa de Satildeo Sebastiatildeo em Catingueira transformaccedilotildees e permanecircncias dez

anos depois Revista de antropologia Satildeo Paulo USP 2011 v 54 nordm 2 Artigo Recebido em

novembro de 2010 Aceito em julho de 2011

SOIHET Rachel Histoacuteria das mulheres Domiacutenios da Historia ensaios da teoria e

metodologias Ciro Flamrion Cardoso Ronaldo Vainfas (orgs) Rio de Janeiro Campus

1997

SANTANA Tacircnia de Devoccedilotildees catoacutelicas entre os negros na Bahia colonial Artigo

apresentado na participaccedilatildeo no evento Fala Professor em 250803 promovido pelo curso de

Histoacuteria das Faculdades Jorge Amado

SANTOS Fernanda reis dos ldquoa festa do excelso padroeiro da cidade das palmeirasrdquo o culto

a satildeo Bartolomeu em Maragogipe (1851-1943) dissertaccedilatildeo apresentada ao programa de poacutes-

graduaccedilatildeo em histoacuteria da faculdade de filosofia e ciecircncias humanas universidade federal da

Bahia Salvador 2010

VAINFAS Ronaldo Da festa tupinambaacute ao sabaacute tropical a catequese pelo avesso Istvaacutem

Jancsoacute Iris kantor (orgs)Festa Cultura amp Sociabilidade na Ameacuterica Portuguesa Volume I

Satildeo Paulo 2001