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ANO LECTIVO 2011-2012 O poema "Pobre velha música" é um poema ortónimo de Fernando Pessoa, sem data, mas publicado na Revista Athena, em Dezembro de 1924. Como em muitos outros poemas ortónimos (escritos em seu próprio nome), Pessoa usa a temática da sua infância, em contraposição com o presente, considerando sempre a infância como um "período dourado" da sua vida, que já não vai regressar. Neste caso é a "pobre velha música" que simboliza esse período. Sabemos aliás que a mãe de Pessoa tocava piano, e há mesmo um poema extremamente tocante que fala explicitamente da sua mãe a tocar: http://arquivopessoa.net/textos/89 . Pobre velha música! Não sei porque agrado, Enche-se de lágrimas Meu olhar parado. Inicialmente Pessoa introduz-nos ao tema do poema, lembrando a "velha música", provavelmente tocada pela sua mãe na sua infância, talvez ainda antes de sair de Lisboa para Durban. A lembrança, embora seja talvez de um período feliz, traz-lhe uma grande tristeza, porque está associada a uma idade perdida, que nunca mais regressará. O início do poema traduz também o uso de duas figuras de estilo, personificação e hipérbole (a "pobre e velha música"). A parte final do poema parece conter uma anástrofe: troca da ordem das palavras, quando normalmente se diria "o meu olhar parado enche-se de lágrimas". Recordo outro ouvir-te. Não sei se te ouvi Nessa minha infância Que me lembra em ti. Pessoa, ao recordar, no entanto, sente uma estranheza comum. O facto é que é ele que sente, mas quem na realidade sentiu verdadeiramente o sentido da música foi ele mas numa outra idade. A lembrança é como se fosse uma experiência em segunda mão, que só pode ser estranha à verdade do que se sente. O "outro" era ele enquanto criança, e ele recorda-se dele próprio enquanto criança a ouvir a música. Há aqui, mesmo que de maneira menos óbvia, uma antítese entre passado e presente. Com que ânsia tão raiva Quero aquele outrora! E eu era feliz? Não sei: Fui-o outrora agora. Pessoa deseja o regresso ao passado, mas sabe esse regresso impossível. Mas simultaneamente ele tem consciência que mesmo que conseguisse regressar não conseguiria ser feliz agora. O seu desejo projeta-se num plano temporal impossível de realizar: ele ser criança então, mas adulto agora, ao mesmo tempo. O paradoxo é explícito quando ele diz: "fui-o outrora agora”. Esta composição poética é constituída por três quadras de versos de seis sílabas métricas (hexassílabos). Na primeira estrofe, o sujeito poético realça a temática da infância que não é mais do que um paraíso perdido. Isto faz com que ele apresente sentimentos de angústia e nostalgia (quando ouve a música, lembra-se do passado em que também a ouvia, e chora com saudades desse tempo). No primeiro verso desta estrofe, encontramos uma dupla-adjetivação anteposta (“Pobre velha música!” – a infância já está longe e o hábito de ouvir música também) A segunda estrofe é iniciada com a recordação de tempos passados, onde ouvia a música com outros sentimentos. Existe uma dúvida constante pois como a sua infância não foi alegre, o sujeito lírico acha que não a viveu. Na terceira estrofe, o poeta revela o desejo de regressar ao passado talvez devido ao facto de não ter tido infância e pretender ver como ela é. São utilizadas exclamações e interrogações emotivas, às quais se seguem um oximoro que traduz novamente a dúvida acerca do passado. O último verso “Fui -o outrora agora.”, simboliza a fusão entre o passado e o presente. Português 12º ano Turma A Orientações de leitura: Divisão do poema em partes lógicas; apresentação de frases-simples. Sentimentos despertados pela “Pobre velha música” no Eu poético; interpretação dos versos 3 e 4. Esclarecimento da relação cúmplice entre a “Pobre velha música” e a infância do Eu lírico. Expressão intensa do estado emocional do sujeito poético: análise estilística da 3ª estrofe (expressividade); a retroação do passado no real; explicação do significado do último verso (v 12). Justificação do título. Análise formal; ritmo e musicalidade

Ficha de trabalho, analise poema

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Page 1: Ficha de trabalho, analise poema

ANO LECTIVO 2011-2012

O poema "Pobre velha música" é um poema ortónimo de Fernando Pessoa, sem data, mas publicado na Revista Athena, em Dezembro de 1924. Como em muitos outros poemas ortónimos (escritos em seu próprio nome), Pessoa usa a temática da sua infância, em contraposição com o presente, considerando sempre a infância como um "período dourado" da sua vida, que já não vai regressar. Neste caso é a "pobre velha música" que simboliza esse período. Sabemos aliás que a mãe de Pessoa tocava piano, e há mesmo um poema extremamente tocante que fala explicitamente da sua mãe a tocar: http://arquivopessoa.net/textos/89. Pobre velha música! Não sei porque agrado, Enche-se de lágrimas Meu olhar parado. Inicialmente Pessoa introduz-nos ao tema do poema, lembrando a "velha música", provavelmente tocada pela sua mãe na sua infância, talvez ainda antes de sair de Lisboa para Durban. A lembrança, embora seja talvez de um período feliz, traz-lhe uma grande tristeza, porque está associada a uma idade perdida, que nunca mais regressará. O início do poema traduz também o uso de duas figuras de estilo, personificação e hipérbole (a "pobre e velha música"). A parte final do poema parece conter uma anástrofe: troca da ordem das palavras, quando normalmente se diria "o meu olhar parado enche-se de lágrimas". Recordo outro ouvir-te. Não sei se te ouvi Nessa minha infância Que me lembra em ti. Pessoa, ao recordar, no entanto, sente uma estranheza comum. O facto é que é ele que sente, mas quem na realidade sentiu verdadeiramente o sentido da música foi ele mas numa outra idade. A lembrança é como se fosse uma experiência em segunda mão, que só pode ser estranha à verdade do que se sente. O "outro" era ele enquanto criança, e ele recorda-se dele próprio enquanto criança a ouvir a música. Há aqui, mesmo que de maneira menos óbvia, uma antítese entre passado e presente. Com que ânsia tão raiva Quero aquele outrora! E eu era feliz? Não sei: Fui-o outrora agora. Pessoa deseja o regresso ao passado, mas sabe esse regresso impossível. Mas simultaneamente ele tem consciência que mesmo que conseguisse regressar não conseguiria ser feliz agora. O seu desejo projeta-se num plano temporal impossível de realizar: ele ser criança então, mas adulto agora, ao mesmo tempo. O paradoxo é explícito quando ele diz: "fui-o outrora agora”. Esta composição poética é constituída por três quadras de versos de seis sílabas métricas (hexassílabos). Na primeira estrofe, o sujeito poético realça a temática da infância que não é mais do que um paraíso perdido. Isto faz com que ele apresente sentimentos de angústia e nostalgia (quando ouve a música, lembra-se do passado em que também a ouvia, e chora com saudades desse tempo). No primeiro verso desta estrofe, encontramos uma dupla-adjetivação anteposta (“Pobre velha música!” – a infância já está longe e o hábito de ouvir música também) A segunda estrofe é iniciada com a recordação de tempos passados, onde ouvia a música com outros sentimentos. Existe uma dúvida constante pois como a sua infância não foi alegre, o sujeito lírico acha que não a viveu. Na terceira estrofe, o poeta revela o desejo de regressar ao passado talvez devido ao facto de não ter tido infância e pretender ver como ela é. São utilizadas exclamações e interrogações emotivas, às quais se seguem um oximoro que traduz novamente a dúvida acerca do passado. O último verso “Fui-o outrora agora.”, simboliza a fusão entre o passado e o presente.

Português – 12º ano – Turma A

Orientações de leitura:

Divisão do poema em partes lógicas; apresentação de frases-simples.

Sentimentos despertados pela “Pobre velha música” no Eu poético;

interpretação dos versos 3 e 4.

Esclarecimento da relação cúmplice entre a “Pobre velha música” e a

infância do Eu lírico.

Expressão intensa do estado emocional do sujeito poético: análise

estilística da 3ª estrofe (expressividade); a retroação do passado no real;

explicação do significado do último verso (v 12).

Justificação do título.

Análise formal; ritmo e musicalidade