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FICHA PARA CATÁLOGO PRODUÇÃO DIDÁTICO PEDAGÓGICA
Título: “Educação do Campo: uma proposta pedagógica para o povo do campo”
Autor Fátima Aparecida de Souza
Escola de Atuação Colégio Estadual “Nossa Senhora da Candelária”
Município da escola Bandeirantes - Paraná
Núcleo Regional de Educação Cornélio Procópio
Orientador Silvia Alves dos Santos
Instituição de Ensino Superior Universidade Estadual do Norte do Paraná – Campus Cornélio Procópio
Disciplina/Área (entrada no PDE) Pedagogia
Produção Didático-pedagógica Caderno Temático
Relação Interdisciplinar
(indicar, caso haja, as diferentes disciplinas compreendidas no trabalho)
Público Alvo
(indicar o grupo com o qual o professor PDE desenvolveu o trabalho: professores, alunos, comunidade...)
Professores, Equipe, Direção e Comunidade Escolar
Localização
(identificar nome e endereço da escola de implementação)
Colégio Nossa Senhora da Candelária – Ensino Fundamental e Médio. Rua Padre Bento, s/n. Distrito Nossa Senhora da Candelária – Bandeirantes-PR
Apresentação:
(descrever a justificativa, objetivos e metodologia utilizada. A informação deverá conter no máximo 1300 caracteres, ou 200 palavras, fonte Arial ou Times New Roman, tamanho 12 e espaçamento simples)
Neste Caderno Temático propomos um estudo sobre a importância da participação da comunidade escolar na construção de um Projeto Político-Pedagógico para uma escola do campo, visto ser um trabalho que exige o comprometimento de todos os envolvidos no processo educativo. Partindo do princípio que é preciso educar o sujeito do campo garantindo-lhe o direito ao conhecimento, à ciência e à tecnologia, sem deixar
de lado seus valores, cultura e identidade, e diante da insatisfação de professores, equipe e direção, vimos a necessidade de entrar nesse processo de reflexão e análise sobre práticas pedagógicas relacionadas à Educação do Campo, visto que nossa prática ainda sustenta um currículo urbanizado.Esse trabalho visa identificar no discurso dos sujeitos do campo (pais, alunos) quais as suas expectativas em relação à escola; Proporcionar aos professores vinculados a educação do campo formação continuada no ambiente de trabalho, por meio de estudos, pesquisas e debates; e Contribuir para a ampliação do entendimento sobre educação do campo no município de Bandeirantes.
Palavras-chave ( 3 a 5 palavras) Educação do Campo; Escola; Identidade; PPP
CADERNO TEMÁTICO
“Educação do Campo:
uma proposta
pedagógica para o
povo do campo”
"Se as cidades forem destruídas e os campos forem conservados, as cidades ressurgirão, mas se queimarem os campos e conser-varem as cidades, estas não so-breviverão.”
Benjamin Franklin
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
Agradecimentos
Primeiramente a Deus por nunca ter desistido de mim e estar sempre me fortalecendo e me impulsionando.
Aos meus filhos, por serem a prova real do amor em minha vida, apesar de estarem tão longe, ... de formas diferentes.
À minha família, presença física de amor e compreensão......
Aos meus amigos do Colégio Candelária, pelo apoio e incentivo, tornando possível meu trabalho de pesquisa e implementação.
Com total carinho e admiração, à Professora Silvia, pela generosidade em dividir seus conhecimentos, sua sabedoria, .....enfim todo seu ser.
Sou grata a todos vocês.
SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃOUNIVERSIDADE ESTADUAL NORTE DO PARANÁ
CAMPUS CORNÉLIO PROCÓPIO-PARANÁPROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL-PDE
PROFESSORA PDE: FATIMA APARECIDA DE SOUZAPROFESSORA ORIENTADORA: SILVIA ALVES DOS SANTOS
MATERIAL DIDÁTICO: CADERNO TEMÁTICO
“EDUCAÇÃO DO CAMPO: UMA PROPOSTA PEDAGÓGICA PARA O POVO DO CAMPO”
CORNÉLIIO PROCÓPIO – PARANÁ
2011
FATIMA APARECIDA DE SOUZA
“EDUCAÇÃO DO CAMPO:
UMA PROPOSTA PEDAGÓGICA PARA O POVO DO CAMPO”
Material Didático ( Caderno Temático)
apresentado à Secretaria de Estado da
Educação do Estado do Paraná – SEED,
como requisito de participação no
Programa de Desenvolvimento Educacional
– PDE, sob a orientação da Professora
Silvia Alves dos Santos – Universidade
Estadual do Norte Pioneiro – UENP –
Campus Cornélio Procópio - Paraná
CORNÉLIO PROCÓPIO – PARANÁ
2011
SUMÁRIOAPRESENTAÇÃO.....................................................................................................................7
EDUCAÇÃO DO CAMPO: É UM DESAFIO PARA TODOS.................................................9
BREVE HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO...................................................10
UM POUQUINHO DA NOSSA HISTÓRIA...................................................................14
“HÁ A ILUSÃO DE QUE AS LUZES DA CIDADE BRILHAM MAIS QUE AS DO SERTÃO”.................................................................................................................................16
CONSTRUINDO UM PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO PARA UMA ESCOLA DO CAMPO....................................................................................................................................22
Apresentação................................................................................................................22
Que Homem Queremos Formar?.................................................................................23
Queremos uma Educação que seja No e Do Campo..................................................26
Características da Educação do Campo que se Pretende Construir...........................27
Como assegurar uma Educação de Qualidade à nossa Comunidade Escolar............29
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EXISTENTES E EXPERIÊNCIAS POSSÍVEIS...................31
CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................................39
REFERÊNCIAS........................................................................................................................41
6
APRESENTAÇÃO Neste Caderno Temático propomos um estudo sobre a importância da
participação da comunidade escolar na construção de um Projeto Político-
Pedagógico para uma escola do campo, visto ser um trabalho que exige o
comprometimento de todos os envolvidos no processo educativo.
Partindo do princípio que é preciso educar o sujeito do campo garantindo-
lhe o direito ao conhecimento, à ciência e à tecnologia, sem deixar de lado seus
valores, cultura e identidade, e diante da insatisfação de professores, equipe e
direção, vimos a necessidade de entrar nesse processo de reflexão e análise sobre
práticas pedagógicas relacionadas à Educação do Campo, visto que os alunos do
Colégio em que atuamos como pedagoga são oriundos da Zona Rural, residentes no
próprio Distrito e/ou nos Bairros, Sítios ou Fazendas da região de
Bandeirantes/Paraná, porém o trabalho desenvolvido nas escolas, sustenta um
currículo essencialmente urbanizado, quase sempre deslocado das necessidades e
da realidade do campo.
Sabe-se que a nível de Brasil e mesmo de Paraná, onde há muitos avanços,
a cultura, os conhecimentos, a dinâmica do cotidiano dos povos do campo
raramente são tomados como referência para o trabalho pedagógico, bem como
para organizar o sistema de ensino, a formação de professores e a produção de
materiais didáticos. A ideia posta até os dias atuais pelas políticas de educação é
que o espaço urbano serve de modelo ideal para o desenvolvimento humano. Isso
contribui para descaracterizar a identidade dos povos do campo, no sentido de se
distanciarem do seu universo cultural.
Enquanto muitas escolas foram retiradas das comunidades, em
Bandeirantes as de 1ª/5ª séries, o Colégio Estadual Nossa Senhora da Candelária
está inserido no campo, porém, é preciso privilegiar a cultura, valorizar a identidade,
identificar no discurso dos sujeitos do campo (pais, alunos) quais suas expectativas
em relação à escola, sem, no entanto, reduzir o processo pedagógico às discussões
da realidade camponesa, desconsiderando a interdependência campo-cidade.
A Educação do Campo tem o papel de fomentar reflexões sobre um novo
projeto de desenvolvimento e fortalecer a identidade e autonomia dos povos do
7
campo, ajudando na compreensão de que a cidade não vive sem o campo que não
vive sem a cidade.
As Diretrizes Operacionais para as Escolas do Campo/2002 do CNE e as
Diretrizes Estaduais do Estado do Paraná – em processo de estudo, discussão e
aplicação, não vão fazer diferença se não tiverem os sujeitos lutando para que essas
mudanças ocorram na realidade do campo; se não tiverem gestores a nível nacional,
estadual e municipal que busquem mudanças substanciais na realidade educacional
do campo. Para que isso ocorra é preciso proporcionar aos professores uma
formação continuada no ambiente de trabalho, por meio de estudos, pesquisas e
debates. Dessa forma, ainda que limitada pelo espaço-tempo, estaremos
contribuindo para a ampliação do entendimento sobre Educação do Campo no
município de Bandeirantes.
8
EDUCAÇÃO DO CAMPO:
É UM DESAFIO PARA TODOS
Um desafio está posto à educação do campo: considerar a cultura dos povos do campo em sua dimensão empírica e fortalecer a educação escolar como processo de apropriação e elaboração de novos conhecimentos. (PARANÁ/SEED,LIMA,2006).
...........portanto os aspectos da
realidade têm que ser tomados como
ponto de partida do processo
pedagógico e compete ao professor
definir os conhecimentos locais e
aqueles historicamente acumulados
que devem ser trabalhados.
Na escola escolhida como campo de pesquisa, durante o turno da manhã
atendemos os alunos do Ensino Fundamental, com uma faixa etária de 10 a 14
anos, sendo que a maioria não trabalha; os que trabalham são apenas ajudantes
dos próprios pais nas lavouras; dessa forma têm mais tempo disponível para a
realização das tarefas de casa e dos trabalhos extra-classe.
No período noturno, ofertamos o Ensino Médio, que possui um alunado
adolescente, jovens e alguns adultos, que em sua maioria são trabalhadores que
quando chegam ao Colégio já estão cansados devido ao trabalho exercido durante o
dia, exigindo dos professores mais dinamismo durante as aulas, procurando
desenvolver todas as tarefas e trabalhos em sala, uma vez que os mesmos, não têm
tempo disponível para realizarem atividades extra-classe. Os alunos do Ensino
Médio têm outros objetivos, não restringindo-se apenas a continuação nos estudos
9
ESCOLA.....Local que
possibilita a ampliação dos
conhecimentos......................
frequentando um Curso Superior, muitos deixarão os estudos e o próprio Distrito
para tentarem uma melhora nas condições de vida através do trabalho em cidades
maiores, pois alegam que no Distrito não há trabalho para eles, obrigando-os a
migrarem.
relatora das Diretrizes Operacionais
Segundo Soares (2001), para
a Educação Básica nas Escolas do
Campo, somente nas primeiras
décadas do século XX é que iniciou-se
o debate a respeito da importância da
educação rural para conter o
movimento migratório e elevar a
produtividade no campo, surgindo em
1923 os Patronatos com perspectiva
salvacionista, diante da quebra da
harmonia e da ordem nas cidades e
baixa produtividade do campo).
Na Constituição de 1934, Art. 156, Parágrafo Único: A União reservará 20%
das cotas destinadas à educação, para o ensino nas zonas rurais. O que teve de
novo na Constituição de 1967 foi a obrigatoriedade das empresas convencionais
agrícolas oferecerem ensino primário gratuito aos empregados e filhos.
Como descrito pela relatora, somente na Constituição de 1988: que
proclamou a educação como direito de todos e dever do Estado, estabeleceu no Art.
62 a criação do SENAR (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural, reabrindo assim
a discussão sobre Educação do Campo.
Quanto às Leis de Diretrizes e Bases anteriores, a relatora afirma que a
4024/61- não traduziu grandes preocupações com a diversidade. O foco foi dado
quanto à Integração ao meio, orientando as instituições a trabalharem para adaptar
o homem ao meio e estimular vocações e atividades profissionais; e a LDB 5692/71-
propôs o ajustamento às diferenças culturais; previa a adequação do período de
férias à época de plantio e colheita.
10
BREVE
HISTÓRICO DA
EDUCAÇÃO
DO CAMPO
Constata a relatora que a LDB 9394/96- estabelece que os sistemas de
ensino promovam as adaptações necessárias às peculiaridades da vida rural,
quanto aos conteúdos e metodologias apropriados às necessidades e interesses dos
alunos da zona rural; adequação do calendário, entre outros.
E a Resolução 1/2002,CNE/CEB, institui as Diretrizes Operacionais para a
Educação Básica nas Escolas do Campo. Nos seus Art. 5º/6º/7º diz que:
respeitadas as diferenças e o direito à
igualdade, contemplarão a diversidade
do campo em todos os seus aspectos:
sociais, culturais, políticos,
econômicos, de gênero, geração e
etnia. Cabendo aos Estados garantir
as condições necessárias para o
acesso ao Ensino Médio e à Educação
Profissional de Nível Técnico;
As atividades das propostas pedagógicas poderão ser organizadas e desenvolvidas
em diferentes espaços pedagógicos; No Art 8º, II - direcionamento das atividades
curriculares e pedagógicas para um projeto de desenvolvimento sustentável; IV –
Controle social da qualidade da educação escolar, mediante a efetiva participação
da comunidade do campo; Art 13, II – propostas pedagógicas que valorizem a
diversidade cultural e os processos de interação e transformação do campo, a
gestão democrática, o acesso ao avanço científico e tecnológico e respectivas
contribuições para a melhoria das condições de vida e a fidelidade aos princípios
éticos que norteiam a convivência solidária. (BRASIL/CNE/CEB, SOARES,2001).
As Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo,
tem como ponto básico, o reconhecimento de que as pessoas que vivem no campo
tem direito a uma educação diferenciada daquela oferecida a quem vive nas
cidades. Esse reconhecimento compreende as necessidades culturais, os direitos
sociais e a formação integral desses indivíduos (BRASIL/CNE/CEB, EDLA
SOARES,2001).
Para atender a essas especificidades e oferecer uma educação de
qualidade, adequada ao modo de viver, pensar e produzir das populações
identificadas com o campo, vem sendo concebida a Educação do Campo. Os dados
Propostas pedagógicas das escolas do campo ..........
11
oficiais disponibilizados pelas instituições federais de pesquisa – IBGE, INEP e
IPEA, entre outras – demonstram uma diferença acentuada entre os indicadores
educacionais relativos às populações que vivem no campo e as que vivem nas
cidades, com clara desvantagem para as primeiras. Isto indica que, no decorrer da
história, as políticas públicas para essas populações não foram suficientes para
garantir uma equidade educacional entre campo e cidade.
No Paraná foram instituídas as Diretrizes Curriculares da Educação do
Campo - SEED/PR/2006, que foi construída pelo governo e sociedade civil
organizada, com o intuito de auxiliar o professor a reorganizar a sua prática
educativa, tornando-a cada vez mais próxima da realidade dos sujeitos do campo.
O Governo do Estado do Paraná está trabalhando, através de uma política
de Estado permanente, aumentando os recursos, e formação continuada para
professores e funcionários. Pois, é necessário construir uma escola de qualidade e
inclusiva, que não chame o aluno apenas para ser matriculado, porém capaz de
fazer esse aluno aprender, tornar-se um cidadão crítico, consciente de seu papel na
sociedade. O grande desafio da escola pública é acolher às crianças de baixa renda
e fazê-las aprender, acolher os que ainda continuam excluídos. A escola é o lugar
de receber a infância, ajudá-la a crescer e tornar-se adulta, suscitando o
desenvolvimento do sujeito capaz de um pensamento autônomo e criativo.
As mudanças ocorridas no mercado de trabalho brasileiro exigem cada vez
mais trabalhadores flexíveis e polivalentes, empreendedores, seres pensantes,
capazes de tomar decisões e que sejam criativos, portanto, necessitamos de uma
educação voltada para a realidade.
O Paraná tem como atividades econômicas predominantes, a agricultura, a
pecuária e alguns polos industriais, tais condições apresentam aspectos positivos e
aspectos negativos, e como consequência surgem o subemprego ou desemprego.
As correntes migratórias dentro do próprio estado de municípios do interior para
grandes centros urbanos em busca de condições melhores de trabalho, também são
outra realidade que deixam a organização espaço-temporal em permanente
movimento.
12
O município de Bandeirantes, cuja principal renda é a
agricultura, especificamente a lavoura de cana-de-açúcar, e o
Colégio Estadual Nossa Senhora da Candelária estão inseridos
no contexto sócio-econômico, político e cultural brasileiro,
portanto buscam alternativas que promovam as mudanças
almejadas por todos, principalmente o de uma educação pública
de qualidade para todos, sem exceção. Pode-se observar que o marco da inserção da educação do campo na
agenda política e na política educacional pode ser indicado a partir da LDB 9394/96,
ao afirmar, em seu artigo 28, a possibilidade de adequação curricular e metodologias
apropriadas ao meio rural; flexibilizar a organização escolar, com adequação do
calendário escolar.
Como profissionais conscientes do nosso papel na construção e
desenvolvimento do cidadão, neste colégio trabalha-se em conjunto: professores,
equipe pedagógica, direção, funcionários e demais segmentos da comunidade
escolar, para que o aluno tenha uma educação de qualidade, sendo preparado para
o exercício da cidadania, sendo um cidadão crítico, que tenha conhecimento e saiba
aplicar esse conhecimento, transformando sua realidade.
13
O Colégio Estadual Nossa Senhora da Candelária – Ensino Fundamental e
Médio, localiza-se no Distrito Nossa Senhora da Candelária, no município de
Bandeirantes, Estado do Paraná. Foi fundado em 1951 sob a denominação de Casa
Escolar Nossa Senhora da Candelária. Em 1978, foi autorizado seu funcionamento
sob a denominação Escola Rural Nossa Senhora da Candelária e em 1980 foi
homologado sua criação.
Em 1983, passou a denominar-se Escola Estadual Nossa Senhora da
Candelária - Ensino de 1º Grau e em 1991, com a autorização de funcionamento do
2º Grau, passa a denominar-se Colégio Estadual Nossa Senhora da Candelária –
Ensino de 1º e 2º Graus.
Com a municipalização, no ano de 1992, houve a desativação do ensino de
1ª à 4ª séries, sendo criado a Escola Municipal Felipe de Almeida Campos que
desde a sua criação compartilha do prédio estadual, do Colégio Estadual Nossa
Senhora da Candelária - Ensino Fundamental e Médio.
Atualmente está em estudo junto à
comunidade escolar a mudança de
nomenclatura de Colégio Estadual
Nossa Senhora da Candelária, para
Colégio Estadual do Campo Nossa
Senhora da Candelária. Após estudo
da Legislação indicada pela SEED e
discussão sobre o assunto, será
lavrada uma ata solicitando a mudança
de nomenclatura e será encaminhado
ao Secretário da Educação um ofício
solicitando que a escola seja
reconhecida como escola do campo,
através da mudança de sua
nomenclatura.
14Um pouquinho Da Nossa história
Questões para debate: 1. Na sua opinião como a educação
deve considerar a cultura dos povos
do campo?
2. Como devem ser as práticas
pedagógicas das escolas do campo?
3. Há a proposta de mudança de
nomenclatura para que o Colégio seja
reconhecido como escola do campo.
Isso é suficiente para que o seja de
fato?
15
“Há a ILUSÃO DE QUE AS LUZES DA CIDADE BRILHAM MAIS QUE AS DO SERTÃO”
16
Os alunos atendidos no Colégio Estadual Nossa Senhora da Candelária -
são oriundos totalmente da Zona Rural, residentes no próprio distrito, nos bairros,
sítios e fazendas da região. Alguns trabalham na lavoura e auxiliam em casa nas
atividades domésticas. São distribuídos entre os turnos da manhã – Ensino
Fundamental, e da Noite – Ensino Médio, numa faixa etária que varia entre dez e
trinta e um anos.
O que predomina economicamente é a pequena produção agropecuária e o
nível de escolaridade dos pais varia, prevalecendo o Ensino Fundamental de 1ª a 4ª
séries, uns poucos com Ensino Fundamental completo e uma minoria com Ensino
Médio.
Os turnos são marcados por algumas diferenciações: A maioria dos alunos
que estudam de manhã, não trabalham; os que trabalham são apenas ajudantes dos
próprios pais nas lavouras; dessa forma têm mais tempo disponível para a
realização das tarefas de casa e dos trabalhos extra -classe.
Já no período da noite, a maioria são trabalhadores que quando chegam ao
Colégio já estão cansados devido ao trabalho exercido durante o dia, exigindo dos
professores mais dinamismo durante as aulas, procurando desenvolver todas as
tarefas e trabalhos em sala, uma vez que os mesmos, não têm tempo disponível
para realizarem atividades extra - classe.
O que se observa nos alunos do Ensino Médio é que têm outros objetivos,
não restringindo-se apenas a continuação dos estudos frequentando um Curso
Superior. Muitos deixarão os estudos e o próprio Distrito para tentarem uma melhora
nas condições de vida através do trabalho em cidades maiores, pois os alunos
alegam que no Distrito não há trabalho para eles.
Um dos problemas enfrentado é o difícil acesso para alguns alunos que não
moram no Distrito onde se localiza este Estabelecimento, porque quando chove
alguns não vem para o Colégio porque as estradas estão em condições precárias
não havendo possibilidade do Transporte Escolar trazê-los. Conscientes desta
realidade os professores trabalham aproveitando ao máximo o período da estiagem,
que é maior que os dias de chuva, para trabalhar os conteúdos integrantes do
processo ensino aprendizagem, os quais são essenciais para a formação do cidadão
crítico, aproveitando a presença de todos. Evidentemente quando chove as aulas
17
acontecem, mas alguns alunos não estão presentes, portanto é necessário propor
atividades diferenciadas que os auxiliem.
Quanto a alguns casos de evasão e repetência a solução buscada por nós é
o trabalho com conteúdos significativos para os alunos, de acordo com a sua
realidade, buscando a efetivação entre a teoria e a prática. Quanto maior o
significado intrínseco do ensino para o aluno, maior a probabilidade de que ele não
venha a abandonar a sua educação, e possa se tornar um indivíduo autônomo
atuando na sociedade em que vive. A solução para a repetência do País é um
sistema de educação mais criativo e inovador, oferecendo educação complementar,
atividades artísticas, esportivas e reforços.
Trata-se, portanto, da.....
busca de uma "qualidade" para a educação, voltada para
a construção do conhecimento e que reconhece a
importância deste para a emancipação dos sujeitos e do
exercício da cidadania. Operando com teorias de aprendizagem e formas
de organização do ensino que superem as práticas pedagógicas tradicionalmente
centradas na memorização e na reprodução de informações, ou no treinamento para
"saber fazer", já que a demanda, que hoje se coloca, é pela formação de cidadãos
pensantes e criativos. (VEIGA, 1996, p. 161).
Estudos de Campolin (2010) apresenta como pontos importantes para esta
pesquisa, que: Discutir a realidade da juventude rural hoje, implica um olhar mais
atento às suas lutas, sonhos e angústias. Significa pensar nos problemas e nas
perspectivas possíveis para essa parcela de jovens que se vê na fronteira entre
manter-se no campo ou migrar para os centros urbanos à procura de melhores
condições de vida. No entanto, se ficar no campo significa encarar uma dura
realidade de privações e de falta de perspectivas, migrar para as cidades traz outras
sérias consequências como enfrentar o crescente desemprego, a pobreza e a
violência. Há ainda que se levar em conta o despreparo dos jovens rurais, em
termos profissionais, para competir no restrito mercado de trabalho urbano.
Em entrevista com nossos alunos pudemos constatar essas angústias, pois
ao mesmo tempo em que querem permanecer no campo não vêem perspectivas de
melhoras. Ficar no campo é encarar a dura realidade, para muitos, de privações.
18
Acham que ir para a cidade é a solução. Alguns até disseram que é lá que está o
dinheiro, isso porque desconhecem a dura realidade de desemprego, pobreza e
violência, sem contar com o despreparo para competir no mercado de trabalho, visto
que suas especializações é lidar com a lavoura.
Enquanto escola, precisamos resgatar aquilo que nossos jovens tem
enraizado na tradição familiar, de forma que a atividade agrícola seja um suporte
que fundamente e se transforme em saber científico. Isso se dará através de
estratégias bem diversificadas, valorizando o conhecimento que receberam dos pais
relativos à natureza e ao trabalho na terra e os conhecimentos formais passados
pelos professores.
Temos que levar em conta que dentre os conhecimentos que detêm, há os
relacionados à Geografia – clima, ventos, entre outros; físicos – topografia, solo,
água e outros; aspectos referentes à vegetação; fungos; mercado; políticas agrícolas
e muitos outros. Conhecimentos estes que vão sendo ampliados e direcionados para
uma visão mais ampla de mundo.
Nosso trabalho deve permitir que nosso aluno desenvolva um conhecimento
próprio, fruto de suas experiências de vida e trabalho, mesclado com a educação
que receberam na escola. Ampliando sua visão de realidade e perspectivas através
do conhecimento teórico vinculado à sua prática rural. Que desenvolva sua
capacidade de avaliar questões relativas ao mercado dos produtos agrícolas e
técnicas de cultivo. Que reconheçam a importância do conhecimento científico no
seu dia a dia, ficando evidente que seu conhecimento prático busca fundamento nas
pesquisas.
Para que a escola cumpra seu papel, tendo em vista a preparação para o
prosseguimento dos estudos, para o mundo do trabalho, para a família e para as
demais exigências da vida social, faz-se necessário uma Gestão Democrática, com
enfrentamento das questões de exclusão e reprovação e da não-permanência do
aluno na sala de aula. Visando romper com a separação entre concepção e
execução, entre o pensar e o fazer, entre a teoria e a prática, é o repensar da
estrutura de poder da escola, incluindo a ampla participação dos representantes do
Conselho Escolar e da APMF nas decisões e ações administrativo-pedagógicas
desenvolvidas.
19
Nery (2002) ao fazer a apresentação do quarto caderno: Por uma Educação
do Campo, diz: ”a Educação do Campo que se espera é
aquela que : “vá além do Ensino Médio e também
dos limites da Escola”. “Queremos um povo que se
beneficie de uma identidade educacional própria do
mundo em que vivem e no qual constroem suas vidas
e seus sonhos” .
Caldart (2002, p.33), enfatiza que enquanto professores, precisamos
combinar práticas pedagógicas de modo a fazer uma educação que forme e cultive identidades, auto-estima,valores, memória, conhecimentos; que enraize sem necessariamente fixar as pessoas em sua cultura, seu lugar, seu modo de pensar, de agir, de produzir; uma Educação que projete movimento, relações, transformações.
Na visão de Caldart (2005, p.30), “a Escola tem que ser um lugar, onde
nosso aluno sinta orgulho de sua origem e de seu destino. Que seja preparado para
enfrentar coletivamente, os problemas que existem no campo”. E que, mesmo indo
para a cidade, possibilite levar o orgulho do trabalho no campo, sua formação
humana, seus valores, cultura, ética, memória.
Levar o aluno a refletir sobre: a vantagem de permanecer no lugar de
origem, continuar a história de vida familiar, transmissão da vida e produção de
alimentos versus mudanças para os grandes centros, objetivando melhores
condições de estudo, trabalho e praticidade no dia-a-dia.
Entrevistar pessoas que moravam no campo e agora vivem na cidade,
questionando sobre os tipos de trabalho que realizavam no Campo; as formas de
lazer no Campo; motivos que o levaram à cidade; principais diferenças entre a vida
que levavam no campo e a vida que levam agora; como vivem na cidade e em que
trabalham.
Valorizar o campo e seus sujeitos, enumerando uma série de vantagens:
melhor qualidade de vida, ar puro, pouca violência, respeito entre as pessoas, menor
custo de vida, alimentos naturais e mais saudáveis, maior valorização da família,
20
vivência religiosa mais intensa, convivência harmoniosa entre vizinhos (ajuda mútua
em tempo difícil), entre outros.
Na busca de soluções, vamos procurar parcerias a fim de reforçar o
entendimento de que a teoria e a prática, a educação e o trabalho são fundamentais
na busca de alternativas para a melhoria das condições de vida do sujeito do campo.
Diante dos determinantes estruturais e conjunturais da sociedade brasileira,
não será a educação que permitirá aos povos do campo continuarem no campo,
mas é um direito humano fundamental para que tenham dignidade e meios de lutar
pelas condições básicas de vida, no lugar em que vivem.
Em tempo: O Distrito onde o Colégio está inserido, é conhecido por toda
população como
”Sertãozinho” ou “Sertão”.
Questões para debate:1. Primeiramente vamos refletir sobre o tema: “Há a ilusão de que as luzes da cidade brilham mais que as do sertão”. Citem exemplos de pessoas que foram para a cidade.
2. Como vivem essas pessoas hoje? Continuam vivendo na cidade? Encontraram o que foram buscar?
3. Vocês acreditam que com nosso trabalho e com as parcerias que pretendemos buscar, podemos mudar, pelo menos em parte, esse desejo que nossos jovens têm de ir embora do sertão?
21
CONSTRUINDO UM PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO PARA UMA
ESCOLA DO CAMPO
APRESENTAÇÃO
Sendo o Projeto Político-Pedagógico o fruto da interação entre os objetivos e
prioridades estabelecidos pela coletividade, que define através de estudos e
reflexões, as ações necessárias à construção de uma nova realidade, é antes de
tudo, um trabalho que exige comprometimento de todos os envolvidos no processo
educativo: direção, equipe pedagógica, professores, alunos, pais e a comunidade
como um todo.
Na organização do trabalho é o Projeto Político-Pedagógico que aponta a
direção a ser tomada. Sua efetivação vai depender dos nossos estudos, pesquisas,
debates, replanejamentos, reflexão e problematização da nossa prática pedagógica,
enquanto escola no e do campo. Pois segundo Amaral e Digiovanni (2009, p. 07) :
“Construir uma escola do campo, pública, democrática e de qualidade significa
buscar a coerência político-pedagógica entre o que se ensina e o que se aprende,
com a realidade, as expectativas e necessidades dos diferentes sujeitos que lá se
encontram”.
A educação é um processo contínuo, por isso o Projeto Político-Pedagógico
está sempre em construção e sempre sendo avaliado para seu aprimoramento.
A comunidade escolar está trabalhando no sentido de
conscientizar a população local que somente através da
educação e da valorização da sua cultura poderá haver uma
transformação da sua realidade, do meio onde vive e de suas
futuras gerações.
22
No seio da escola busca-se
uma sociedade democrática, justa e
igualitária que apresente como ator
principal o cidadão crítico,
participativo, responsável e criativo;
uma sociedade que valorize o homem
enquanto ser capaz de comprometer-
se e atuar em sua própria realidade,
sendo um ser íntegro que apresente
valores humanitários e sociais, que
respeite o outro acima de todos os
preconceitos.
A formação deste homem depende da definição do que é educação. Assim
Saviani, a define:
“ A Educação é um processo que se caracteriza por
uma atividade mediadora no seio da prática social
global.” (ARANHA, p. 150, 1996)
Considerando essa definição o Colégio parte da perspectiva de que a
educação não é neutra, mas comprometida com a economia e a política, e enquanto
processo supõe o desenvolvimento integral do homem em suas capacidades: física,
mental, intelectual, moral e estética, segundo o contexto histórico e social em que
estão inseridos.
A educação almejada é aquela que ultrapassa a transmissão de
conhecimentos para se tornar um instrumento de reflexão critica dos valores que
estão sendo propostos bem como da própria cultura que muitas vezes é repassada
como verdade universal.
Segundo Saviani: A educação por si só não transforma a
sociedade, mas contribui para o processo de democratização . Então,
compreende-se que a educação nessa perspectiva histórico-social, tem como ponto
23
QUE
HOMEM
QUEREMOS
FORMAR?
de partida a prática social inicial e de chegada é a prática social transformada, a
qual visa a formação cidadã.
O artigo 205 da Constituição Brasileira afirma:
“A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será
promovida e incentivada com a colaboração da sociedade visando o pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho.”
Um ponto de partida para que exista o respeito à
diversidade na Escola é aceitar que os agentes que
interagem na escola têm interesses, visões de mundo e
culturas diferentes e nenhum de nós temos o monopólio da
verdade, da inteligência e da beleza. Daí a necessidade de
negociações permanentes para que todos façam concessões, e
todos tenham ao menos parte dos seus interesses e valores
contemplados no espaço público da escola.
Isso porque o ensino e a aprendizagem não são processos individuais. Ao
contrário, eles acontecem em meio a muitas relações culturais, que envolvem a
valorização do que já se sabe, do que se pretende saber, dos objetivos para o
estudo e dos projetos para o futuro e da inter-relação entre alunos, entre alunos e
professores, entre alunos e equipe escolar, entre outras possibilidades de interação.
Assim, se forem assumidos os pressupostos de que os novos aprendizados se
fazem na relação com os já consolidados e de que os aprendizados fazem sentido
na medida em que permitem ao aluno participar dos mundos sociais que os
requisitam, torna-se necessário para a atividade didática conhecer e valorizar o
universo cultural do outro.
Considerando a tendência Histórico-Crítica, pretende-se trabalhar a valorização da escola, do professor e dos conteúdos; a criatividade, a atividade, a liberdade do professor e do aluno; os meios e os materiais pedagógicos, onde
24
aproveitando a prática vivida pelo aluno e contrapondo-a com a experiência acumulada resultará um novo conhecimento. Porém tudo isso depende de uma postura crítica e comprometida do professor cujo papel é insubstituível no processo, pois é o emissor principal e responsável pela transmissão do conteúdo, que deve direcionar e conduzir o ensino e toda atividade escolar, pois é autoridade competente com papel definido.
Citando as Diretrizes Curriculares Estaduais da Educação do Campo (2006)
entender o campo como um modo de vida social contribui para auto-afirmar a
identidade dos povos que ali vivem, para valorizar o seu trabalho, a sua história, o
seu jeito de ser, os seus conhecimentos, a sua relação com a natureza e como ser
da natureza. O campo retrata uma diversidade sociocultural, que se dá a partir dos
povos que nele habitam. No caso do local estudado: assalariados rurais temporários,
meeiros, arrendatários, e outros mais. Entre estes, há os que estão vinculados a
associações, outros não. São diferentes gerações, etnias, crenças e diferentes
modos de trabalhar, de viver, de se organizar, de resolver os problemas, de lutar, de
ver o mundo e de resistir no campo.
Tal diversidade encontrada nas populações do campo bandeirantense
sinaliza um fato que não pode ser deixado de lado: as escolas do campo terão
presente no seu interior essa conflituosa, portanto rica, diversidade sociocultural e
política. A educação do campo tem sido historicamente marginalizada na construção
de políticas públicas, visto que é trabalhada a partir de um currículo essencialmente
urbano e, quase sempre, deslocado das necessidades e da realidade do campo. A
cultura, os saberes da experiência, a dinâmica do cotidiano dos povos do campo
raramente são tomados como referência para o trabalho pedagógico, bem como
para organizar o sistema de ensino, a formação de professores e a produção de
materiais didáticos. Essa visão, que tem permeado as políticas educacionais, parte
do princípio que o espaço urbano serve de modelo ideal para o desenvolvimento
humano. Esta perspectiva contribui para descaracterizar a identidade dos povos do
campo, no sentido de se distanciarem do seu universo cultural.
25
Como é o povo do campo: Quem vive no campo tem sua
própria cultura, seu jeito de trabalhar e de viver que é diferente do urbano, tanto na
maneira de ver e de se relacionar com o meio ambiente, com o tempo e com o
espaço. No modo de organizar sua família, sua comunidade e a educação, que
precisa ser de qualidade e voltada aos seus interesses.
“Queremos uma Educação que
seja no e do campo”Segundo Caldart (2002, p. 26), uma educação que seja no e do Campo:
política e pedagogicamente vinculada à sua história, cultura e sua causas sociais e
humanas. O No e o Do Campo: “No: o povo tem direito a ser educado no lugar onde
vive; Do: o povo tem direito a uma educação pensada desde o seu lugar e com a
sua participação, vinculada à sua cultura e às suas necessidades humanas e
sociais.” Uma escola do campo é a que defende os interesses, a política, a cultura e a economia da agricultura camponesa, que construa conhecimentos e tecnologias na direção do desenvolvimento social e econômico dessa população ( ARRUDA; BRITO, 2009 apud ARROYO;FERNANDES,1999).
Cita as Diretrizes (2006), que nos estudos feitos para sua construção,
constatou-se que para que se efetive a valorização da cultura dos povos do campo
na escola, é necessário repensar a organização dos saberes escolares; isto é, os
conteúdos específicos a serem trabalhados. As experiências apresentadas pelos
professores nos Encontros Descentralizados sinalizam que esta reorganização pode
se dar de duas formas: A primeira forma ocorre no interior das diferentes disciplinas
da Base Nacional Comum (Língua Portuguesa, Artes, Educação Física, Matemática,
Ciências, História, Geografia, Ensino Religioso, Língua Estrangeira Moderna,
Biologia, Física, Química, Sociologia e Filosofia), articulando os conteúdos
sistematizados com a realidade do campo. A segunda forma ocorre pela criação de
disciplinas para compor a parte diversificada da matriz curricular .
26
É preciso pensar em formas alternativas de como encaminhar as práticas
pedagógicas já existentes nas escolas do campo, tais como os projetos. Porém,
muitos deles são desenvolvidos de forma isolada e desarticulada e ficam muito
ligados à figura de um professor. Esses projetos são importantes, todavia precisam
inserir-se no contexto maior da escola e assumidos pela comunidade escolar.
A pesquisa é elemento essencial para que o professor aprofunde os seus
conhecimentos, ou para que entre em contato com os aspectos da realidade vivida
pelos povos do campo. Ao descobrir os saberes de sua vida cotidiana, terá mais
elementos para construir planejamentos de ensino, selecionar textos para estudo,
organizar a aula, o processo pedagógico.
Características da Educação do Campo que
se pretende construir:
- concepção de mundo: O homem do campo não é atrasado e
submisso; antes, possui um jeito de ser peculiar. Ele pode estar organizado em
movimentos sociais, em associações ou atuar de forma isolada, mas o seu vínculo
com a terra é fecundo. Ele cria alternativas de sobrevivência num mundo de
relações capitalistas;
- concepção de escola: Os povos do campo querem que a escola
seja o local que possibilite a ampliação dos conhecimentos; portanto, os aspectos da
realidade podem ser pontos de partida do processo pedagógico, mas nunca o ponto
de chegada. O desafio é lançado ao professor, a quem compete definir os
conhecimentos locais e aqueles historicamente acumulados que devem ser
trabalhados nos diferentes momentos pedagógicos;
- concepção de conteúdos e metodologias de ensino:
os conteúdos devem ser selecionados a partir do significado que têm para a
comunidade escolar. Isso requer do professor, investigação, para que possa
determinar quais conteúdos contribuem para a ampliação dos conhecimentos dos
educandos. Estratégias metodológicas dialógicas, que exigem do professor muito
estudo para o preparo das aulas que possibilitem relacionar os conteúdos científicos
aos do mundo da vida dos educandos;
27
- concepção de avaliação: processo contínuo e realizado em
função dos objetivos propostos para cada momento pedagógico, e pode ser feita de
diversas maneiras: trabalhos individuais, atividades em grupos, trabalhos de campo,
elaboração de textos, pesquisas, entre outros, sendo um diagnóstico do processo
pedagógico, que faz emergir os aspectos que precisam ser modificados na prática
pedagógica.
Souza (2008) enfatiza que a educação do campo tem conquistado lugar na
agenda política nas instâncias municipal, estadual e federal nos últimos anos, fruto
das demandas dos movimentos e organizações sociais dos trabalhadores rurais. A
educação do campo expressa uma nova concepção quanto ao campo, o camponês
ou o trabalhador rural, fortalecendo o caráter de classe nas lutas em torno da
educação. Em contraponto à visão de camponês e de rural como sinônimo de
arcaico e atrasado, a concepção de educação do campo valoriza os conhecimentos
da prática social dos camponeses e enfatiza o campo como lugar de trabalho,
moradia, lazer, sociabilidade, identidade, enfim, como lugar da construção de novas
possibilidades de reprodução social e de desenvolvimento sustentável.
Para que a Educação do Campo realmente se efetive é preciso que se
pratique uma gestão democrática, baseada na atuação de todos, não só direção,
equipe pedagógica, professores e funcionários, mas também alunos, pais, órgãos
Colegiados e segmentos sociais que entendem a real função da escola na
sociedade.
Cumpre enfim, enfatizar que do ponto de vista político a escola compromete-
se a formar cidadãos que interfiram conscientemente na sociedade em que estão
inseridos, conforme foi ressaltado várias vezes nas concepções apresentadas,
enquanto que do ponto de vista pedagógico todas as ações e atividades escolares
são pensadas e organizadas possibilitando a efetivação do compromisso político
assumido.
28
Como assegurar uma educação de
qualidade à nossa comunidade escolar?
Temos que assumir um compromisso com a sociedade local, através de um
processo de diálogo e de conscientização dos alunos e de suas famílias sobre as
próprias expectativas e sua possível realização, levando em conta sua própria
vivência e necessidades.
Assim, faz-se necessário redimensionar a organização do trabalho
pedagógico, criando ações que visem estabelecer a ponte entre a realidade e a
utopia. Existe então um caminho para ser percorrido na direção esperada, onde
cada membro escolar tem um papel específico que contribuirá para a melhoria de
nossa realidade.
O Caderno Temático 2 da Educação do Campo (2009), vem ao encontro das
nossas necessidades trazendo três perspectivas: é referência para nossa prática,
apresenta metodologias que possibilitam articular as práticas pedagógicas
específicas aos conteúdos científicos relacionados ao campo e busca estabelecer
relações com as Diretrizes Curriculares da Rede Pública de Educação do Estado do
Paraná – Educação do Campo (DCEs), ou seja, concretizá-las, torná-las ação.
Tem também o objetivo, através das experiências apresentadas, de ser
subsídio para novas práticas pedagógicas, provocando professores, equipes
pedagógicas, direções e comunidade a repensar o modelo de escola que temos no
campo, rumo à escola que queremos, partindo e dando significado aos conteúdos
das disciplinas desde a realidade onde se insere a escola e vivem os sujeitos do
processo educativo, considerando que possuem uma história de vida, de cultura, de
relação social e de interação com a natureza . E esses sujeitos precisam ser
preparados para participar da transformação da realidade onde vivem.
Houve a preocupação de todos os envolvidos com a Educação do Campo
em dar significado aos conteúdos do campo a partir de sua materialidade como a
terra, o solo, o trabalho, a renda, os insumos , as diversas culturas, o lixo e os
resíduos, a saúde das pessoas, as expressões culturais, entre outros, articulando
várias disciplinas, promovendo momentos em que as famílias e entidades vão à
29
escola, trazendo assim a possibilidade de tematizar o campo ausente dos currículos
até então.
O campo sendo conteúdo, dá significado para o estudo e permite que se
estabeleça relações, debates, aprofundamentos com o conhecimento científico que
deverá ser socializado com profundidade para se alcançar à função social da escola,
do ensino, no contexto do campo.
Estes temas precisam ser a base do nosso trabalho pedagógico e não ficar
apenas como projeto, que se limita a alguns dias, depois é esquecido e o trabalho
continua com conteúdos desvinculados do trabalho e da vida do campo. Precisamos
ter um Projeto de Educação da Comunidade, do Distrito, fazendo com que educação
do campo seja a essência do nosso trabalho pedagógico, aproveitando as semanas
pedagógicas, os grupos de estudo, os conselhos de classe e as reuniões
pedagógicas, para tratar dos desafios que esta proposta traz.
Questões para debate:
1. Em síntese, em que consiste o Projeto Político-Pedagógico?
2. Que homem queremos formar?
3. Que tipo de educação almejamos?
4. Na tendência Histórico-Crítica, quais os pontos principais a serem
trabalhados?
5. Em linhas gerais, de que maneira a Educação do Campo tem sido
marginalizada historicamente?
30
práticas pedagógicas existentes e experiências
possíveis
Partindo da pesquisa, que é elemento essencial para que o professor
aprofunde os seus conhecimentos, ou para que entre em contato com os aspectos
da realidade vivida pelos povos do campo, considerando que requer observação,
experimentação, reflexão, análise, sistematização e estudos para aprofundamento
teórico, vamos usar : Ir a campo no campo” como um lema para pesquisa. Levando
em conta que a escola é o lugar das relações educativas formais, porém o mundo
atual exige que na escola sejam valorizados lugares em que acontece a educação,
na sua vertente informal e não-formal. A roça, a mata, os rios , as associações
comunitárias etc. são lugares educativos que, às vezes, justamente por causa do
contato diário, passam despercebidos, esquecidos no momento da elaboração dos
planejamentos de ensino.
Busca-se uma forma alternativa de como encaminhar as práticas
pedagógicas já existentes ,pois o que existe hoje no Colégio são alguns projetos
voltados para a Educação do Campo, focando o meio ambiente, impactos
ambientais, práticas de compostagem e de preservação, mas que precisam inserir-
se no contexto maior da escola e ser assumidos pela comunidade escolar:
- Horta: Projeto “Nossa Horta”:
Professores, alunos e funcionários
construíram uma horta e uma
sementeira, com o intuito de produzir
verduras e legumes para
complementar o programa da merenda
escolar. Busca-se com isso
proporcionar aos alunos experiências práticas ecológicas para a produção
31
de alimentos; melhorar a nutrição de
todos os envolvidos na comunidade
escolar; levar os alunos a observar o
ciclo de crescimento das plantas;
entender sobre vitaminas que os
alimentos contém; promover estudos,
pesquisas, debates e atividades sobre
questões: ambiental, alimentar e
nutricional. Cada disciplina contribuiu
para a construção da horta e para a
construção do conhecimento.
-Meio Ambiente - “SOS Mata
Ciliar”: Os alunos, após estudos de
textos sobre meio ambiente, realizam
paródias, teatros, poesias, redações,
visitas e replantam as nascentes do
Rio que circunda o Distrito,
incorporando assim os princípios de
preservação ambiental, e restauração
da Mata Ciliar.
- Minhocário: Usando caixa
construída com tijolos, realiza-se um
sistema doméstico de compostagem,
onde é feito o aproveitamento dos
resíduos orgânicos que se
transformam em fertilizante para ser
utilizado na horta do Colégio. O
sistema consiste em colocar na caixa:
terra, minhoca, lixo úmido, folhas
secas e papel. Os alunos são os
responsáveis de manter o material
necessário para a compostagem e
depois colocar os fertilizantes nas
plantas, sob a orientação do professor.
Essa experiência possibilita a
sensibilização dos educandos para as
práticas de conservação e utilização
do solo.
32
- O fato de estar ocorrendo
altos índices de casos de dengue,
motivou Direção, Equipe Pedagógica,
Professores e Alunos em parceria
com os Agentes de Saúde do Distrito,
a desenvolverem um trabalho para
compreender a relação do lixo com a
proliferação dessa doença e foi feito
um mutirão para coleta de todo o lixo
acumulado.
EXPERIÊNCIAS QUE PODERÃO GERAR NOVAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS
A educação deve comprometer- se com as necessidades essenciais do
indivíduo e sua relação com a natureza, valorizando sua qualidade da vida, a
qualidade do meio ambiente, focando que se pode aumentar a produção, mas com
técnicas não poluidoras.
Essa comunidade escolar é formada por pequenos produtores responsáveis
pela produção de alimentos, então um dos aspectos importantes para ser trabalhado
é a agrobiodiversidade. Para que isso aconteça precisamos interagir com
agricultores familiares, que sabem lidar com a produção de alimentos, formas de
cultivo e criação mais adaptadas às condições ecológicas, e que não utilizam
adubação Química ou agrotóxicos.
No campo científico, a agroecologia apresenta-se como uma oposição ao
agronegócio, priorizando um constante diálogo entre o Saber Científico e o Saber
Popular. E nessa construção de conhecimentos , a participação da comunidade é
33
essencial, sendo os agricultores atores na construção de seus próprios processos de
desenvolvimento.
A prática agroecológica é um modelo produtivo alternativo, sustentável e
com menor dependência de insumos agrícolas e agrotóxicos, pois se utiliza de
recursos naturais, porém sem que se esgotem. Tem maiores condições de se
desenvolver nas pequenas propriedades, pois as famílias podem se utilizar de mão-
de-obra própria.
Segundo Brizola (2010), o objetivo da agroecologia é trabalhar “agricultura e
alimentação mais saudável, com proteção ao meio ambiente e responsabilidade
social”. Ela integra vários conhecimentos: ambientais, culturais, agrícolas e técnicos.
Podendo o agricultor desenvolver a olericultura orgânica, plantas medicinais,
fruticultura orgânica, entre outros, tendo a consciência de que o uso de agrotóxicos
retira vitaminas e minerais dos alimentos.
Buscando permear a utilização de práticas pedagógicas coerentes com as
Diretrizes Nacionais e Estaduais da Educação do Campo e com a construção da
consciência e atitude ecológica da população do campo, práticas inclusivas e
eficientes na construção de um modelo humano e sustentável de convivência do
homem com o ambiente, poderão ser abordados temas como a destinação do lixo, o
manejo e a produção de alimentos, a introdução e aperfeiçoamento de
procedimentos de saúde preventiva, o estudo e aprimoramento da criação de
animais e utilização de seus subprodutos, e os cuidados com a água, nascentes,
fontes, afluentes, riachos, rios, etc. Compreendendo que uma grande parte da
educação e da formação de hábitos ocorre a partir de procedimentos adotados na
escola e das ações das pessoas com quem se convive.
Ampliando as práticas pedagógicas já existentes, podemos trabalhar outros
temas com o objetivo de resgatar a cultura e a identidade dos povos e comunidades
do campo, tais como:
1. “Diversidade na alimentação”, buscando uma boa
alimentação, incluindo em nossas refeições frutas, legumes, carnes, entre outros.
Entretanto, para que isso aconteça é preciso que estes alimentos sejam semeados,
plantados e cultivados de preferência pelas famílias que trabalham a terra.
34
2. “Plantas Medicinais e Alternativas de Saúde - Saúde
preventiva”, que recupera um conhecimento historicamente acumulado de que
as plantas medicinais possuem certas características capazes de auxiliar no
tratamento de algumas doenças, mas que segundo médicos e especialistas devem
ser utilizadas com cautela. No entanto estas plantas já começam a ser manipuladas
em laboratórios comprovando que o conhecimento popular deve ser considerado.
Trabalho interdisciplinar envolvendo várias disciplinas: momentos de leitura e de
pesquisas de campo, discussões a respeito das variedades de ervas, da seleção e
da escolha das plantas, sistemas de medidas, formas geométricas, tipos de solo,
características climáticas entre outras.
3. “Água e preservação”: observação local dos rios próximos ao
colégio; mata ciliar; produção de mudas de plantas nativas para revitalização das
matas; construção de uma proteção para fonte de água; valorização e preservação
ambiental; falta d’água; água e biodiversidade; impactos ambientais causados por
práticas agrícolas equivocadas; abastecimento de água; rede de esgoto; a falta de
água decorrente do desmatamento da mata ciliar; as diversas formas de poluição e
contaminação da água. Estas experiências devem ser acompanhadas por diferentes
atividades que possibilitam aos educandos uma visão mais crítica e a mudança de
hábitos.
4. “Festas”: entre histórias, crenças e tradições populares: Na Educação
do e no Campo, compreende-se que é necessário reconhecer e valorizar as diversas
práticas e experiências culturais da comunidade, transformando-as sempre que
possível em referenciais, em pontos de partida para a abordagem dos conteúdos
escolares, articulando desta forma, a escola à realidade. Compreendidas como os
modos de vida, que são os costumes, as relações de trabalho, familiares, religiosas,
de diversões, festas, e etc.”
5. “O conhecimento na memória e no cotidiano da
comunidade”: resgatar práticas, valores, crenças, Histórias, causos, lendas,
entre outras características do passado, que deixaram de existir e que estão
guardados na memória dos moradores mais antigos da comunidade, ou que
resistem na atualidade como atividade costumeira e identitária. Realizar
35
experiências pedagógicas que instigam os educandos a buscarem nos avós, nos
vizinhos, ou seja, na História de vida da comunidade, seu cotidiano, informações
sobre o passado, promovendo boas discussões sobre os costumes e tradições
presentes na memória e as que fazem parte da realidade na atualidade.
Realizar uma roda de conversa com os avós, buscando interagir com o
tempo passado, objetivando entender como era a alimentação, a moradia, o
vestuário, os modos e costumes, a organização das famílias, a chegada até o lugar
onde habitam, o uso do solo, dos rios, os espaços de lazer,
Trabalhar textos históricos selecionados para discutir-se a questão do
preconceito na sociedade sobre o modo de vida dos sujeitos do campo.
6. “Valorizando a Cultura e a Identidade dos Sujeitos
do Campo”: utilizando-se de diversos materiais, debater as manifestações
culturais dos sujeitos do campo, buscando sempre valorizá-las na abordagem e no
fortalecimento dos conteúdos.
Analisando criticamente textos e músicas, produzir poesias e paródias
destacando-se principalmente a alusão ao meio ambiente, a natureza, e
incentivando, a permanência no campo e seu desenvolvimento integral, enfatizando
a educação ambiental.
Refletir sobre a necessidade de permanecer no lugar de origem, continuar a
história de vida familiar, transmissão da vida e produção de alimentos versus
mudanças para os grandes centros, objetivando melhores condições de estudo,
trabalho e praticidade no dia-a-dia.
Com base nas análises feitas, e formação cultural da comunidade, realizar
pesquisa sobre costumes, festas, religiosidade, culinária, música, artesanato, e
outros temas característicos da comunidade e suas origens, a fim de perceberem a
sua riqueza cultural.
Entrevistar pessoas que moravam no campo e agora vivem na cidade,
questionando sobre os tipos de trabalho que realizavam no Campo; as formas de
lazer no Campo; motivos que o levaram à cidade; principais diferenças entre a vida
que levavam no campo e a vida que levam agora; como vivem na cidade e em que
trabalham.
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Valorizar o campo e seus sujeitos, enumerando uma série de vantagens:
melhor qualidade de vida, ar puro, pouca violência, respeito entre as pessoas, menor
custo de vida, alimentos naturais e mais saudáveis, maior valorização da família,
vivência religiosa mais intensa, convivência harmoniosa entre vizinhos (ajuda mútua
em tempo difícil).
Sob a orientação dos professores, pesquisar fazendo um resgate sobre
lendas, contos e dizeres populares, parlendas, adivinhas, cantigas de roda, danças,
jogos folclóricos, entre outros costumes populares. E também sobre reformas e
ações governamentais que melhoraram as condições de vida do homem do campo e
quais medidas podem ser adotadas para que haja condições de desenvolvimento.
Lembrando que tratar da memória e cotidiano da comunidade, pouco
adianta se os resultados da pesquisa não forem problematizados, analisados
profundamente e articulados aos conteúdos escolares. Trata-se de partir de um
cotidiano concreto, reconhecendo a comunidade enquanto sujeitos do processo
educativo, valorizando seus saberes, e destes, ampliar e fortalecer com outros
conhecimentos historicamente construídos pela humanidade, possibilitando desta
forma, que a escola seja um espaço de diálogo e de produção de novos
conhecimentos.
Questões para debate:
1. Vamos ouvir e analisar esta música...........
Esse é o interior
Quando amanhece a esperança se renovaVejo o sol brilhando lindo na montanhaA passarada canta alegre lá na mataE no quintal a bicharada se assanha.
Esse é o interior lugar de luta de esperança e muito amor.
Chegou a hora de afiar a minha enxadaIr lá pra roça cultivar a plantação
Com alegria eu trabalho com a famíliaNo dia a dia partilhando o mesmo pão.
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Esse é o interior lugar de luta de esperança e muito amor.
De vez em quando a chuva cai tão cristalinaMolhando a relva e apagando o poeirãoBrota a esperança, a certeza, a alegria
A chuva veio renovar a plantação.
Esse é o interior lugar de luta de esperança e muito amor.
Somos da roça, somos gente organizadaNos ajudamos trabalhando em mutirão
Esta é a agricultura familiarSemente viva que alimenta
Essa Nação.
Esse é o interior lugar de luta de esperança e muito amor.
2. Por que precisamos pensar em formas alternativas de encaminhar
nossas práticas pedagógicas?
3. Diante das experiências já realizadas, como é feita a aproximação
entre os conteúdos curriculares e a realidade do campo?
4. Como o trabalho com os temas propostos poderia resgatar a cultura
e a identidade dos povos do campo?
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Partindo da concepção de que a Escola é a instituição que tem o papel de
possibilitar o acesso do homem ao mundo do conhecimento sistematizado,
científico, metódico produzido e acumulado historicamente, o encaminhamento do
processo ensino-aprendizagem deve possibilitar aos alunos a compreensão das
formas de produção que o homem desenvolveu. E ainda, propiciar a construção de
conhecimentos que possibilitem o entendimento das teias de relações econômicas,
sociais e culturais que definem sua própria vida, enquanto sujeito e autor do
momento histórico-social em que está inserido.
Nesse contexto, apropriar-se desse conhecimento constitui a condição mais
importante para a compreensão da realidade e, consequentemente, para a formação
e o exercício consciente da cidadania.
Saviani afirma: “A escola existe, pois, para propiciar a aquisição dos instrumentos que
possibilitam o acesso ao saber elaborado (Ciência), bem como o próprio acesso aos rudimentos desse saber. As atividades da escola básica devem se organizar a partir dessa questão. Se chamarmos isso de currículo, poderemos então afirmar que é a partir do saber sistematizado, a cultura erudita, é uma cultura letrada. Daí que a primeira exigência para o acesso a esse tipo de saber é aprender a ler e escrever. Além disso, é preciso também aprender a linguagem dos números, a linguagem da natureza e a linguagem da sociedade. Esta aí o conteúdo fundamental da escola elementar: ler, escrever, contar, os rudimentos das ciências naturais e das ciências sociais (história e geografia humanas).” (1994, p. 19-20)
Assim, na medida em que se estabelece como ponto de partida – uma
desigualdade real e de chegada – uma igualdade possível, toda nossa prática
pedagógica, nossos objetivos, nossos métodos e avaliações devem ser repensados.
A Educação do Campo que pretendemos deve estar inserida no meio
agrícola, partindo de onde a educação acontece fomentada pelas práticas de seus
integrantes, pautada em seus interesses e que venham favorecer seus ideais. Uma
educação que tenha relação com o saber e a cultura que emanam do campo, para
que o aluno identifique na educação ofertada, sua identidade e realidade.
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Uma educação que rompa com a tradição de dominação, pois adota como
referência as experiências vividas pelos sujeitos do campo, cuja concepção
educativa busca a politização desse sujeito.
Queremos uma Educação do Campo que represente a oportunidade de
compreensão da realidade e busca por uma melhor qualidade de vida, sem que o
homem do campo tenha que, necessariamente abandonar o meio rural em busca de
melhores oportunidades.
A escola que queremos construir deve identificar os saberes que vem do
campo e organizar o conhecimento universal a ser apresentado ao aluno. Uma
escola que deve produzir um conhecimento que não menospreze seus saberes e
nem deixe estanque suas possibilidades de expansão. Assim o povo do campo terá
fortalecido sua autonomia cultural e sua identidade através de práticas educativas
que os leve a vivenciar sua cultura reestruturada através da incorporação de novos
valores e conhecimentos.
Por isso, o Projeto Político-Pedagógico da Escola tem sua estrutura,
conteúdo, filosofia, enfim seu todo, avaliado a cada momento, onde suas propostas
são levadas à prova com o intuito de tornarem-se reais.
Só a avaliação do desenvolvimento das ações é capaz de mostrar os
acertos que devem continuar e os erros que necessitam de transformação, num
processo continuo de ação-reflexão-ação, que se desenvolverá dialeticamente.
Assim, o cotidiano de uma escola será fruto da aplicação do Projeto Político-
Pedagógico transformador da realidade, na busca do cidadão crítico e participativo
da sociedade na qual está inserido, quando puder através da avaliação de seus
membros e componentes, possibilitar um redimensionamento dos objetivos, das
metas e das ações desenvolvidas.
O Projeto Político-Pedagógico carrega em seu íntimo o caráter da
inconclusão, pois sempre acalentará as utopias daqueles que aqui trabalham, bem
como será colocado em prática testado, avaliado e reelaborado dialeticamente no
processo histórico de construção deste Colégio.
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REFERÊNCIAS
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