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FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO

PRODUÇÃO DIDÁTICO – PEDAGÓGICA

TURMA - PDE/2012

Título: A criticidade em foco: o desenvolvimento da leitura e da produção de crônicas

sociais

Autor Maria Benedita dos Santos

Disciplina/Área Língua Portuguesa

Escola de Implementação do

Projeto

Colégio Estadual Carlos Gomes – Ensino Médio

Município da escola Tomazina

Núcleo Regional de Educação Ibaiti

Professor Orientador Marilúcia dos Santos Domingos Striquer

Instituição de Ensino Superior UENP - Universidade Estadual do Norte do Paraná – Campus

Jacarezinho

Relação Interdisciplinar Arte e História

Resumo

O estudo com os gêneros requer uma nova concepção de

linguagem, uma nova prática teórico-metodológica na

formação e na ação do professor, que deve se abrir para essa

nova tendência que melhor atende à compreensão do

funcionamento da linguagem. Este estudo tem como objetivo

discutir o desenvolvimento da leitura por meio do gênero

textual Crônica Jornalística, a partir da construção de uma

sequência didática explicitados pela teoria de Dolz &

Schneuwly (2004), que contemplam as capacidades de ação de

linguagem, pois o contato com esse gênero requer um

aprofundamento tanto na maneira de desenvolver e incentivar

o hábito do ato de leitura quanto o desenvolvimento textual

mais rigoroso tangendo o uso da escrita informal padrão. De

acordo com Costa (2008, p.70 e 71) não se deve esquecer que

a crônica se difere na questão de estilo dos demais gêneros. A

crônica jornalística apresenta também semelhanças entre a

crônica literária e o texto informativo. Na maioria dos casos, a

crônica é um texto curto e narrado em primeira pessoa, ou

seja, o próprio escritor está "dialogando" com o leitor. Criar o

ambiente propício à liberação da imaginação e

desenvolvimento da criatividade do aluno/leitor tornando a

leitura mais prazerosa e uma tarefa mais significativa para o

aluno e professor.

Palavras-chave Gêneros Textuais. Crônica Jornalística. Leitura. Imaginação.

Escrita.

Formato do Material Didático Unidade Didática

Público Alvo 1ª série do Ensino Médio

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE DO PARANÁ

MARIA BENEDITA DOS SANTOS

UNIDADE DIDÁTICA

A CRITICIDADE EM FOCO: O DESENVOLVIMENTO DA

LEITURA E DA PRODUÇÃO DE CRÔNICAS SOCIAIS

Material Didático apresentado ao Programa de

Desenvolvimento Educacional - PDE da Secretaria de Educação

do Paraná – SEED sob orientação da Professora Mestre

Marilúcia dos Santos Domingos Striquer, em cumprimento às

atividades pertinentes ao professor PDE.

JACAREZINH0

2012/2013

Apresentação O presente Material Didático no formato de Unidade Didática resulta de estudos, proposto

pela Secretaria da Educação – SEED, pelo Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE.

O assunto aqui proposto é decorrente de observações e estudo durante o tempo em que

lecionei para alunos do Ensino Médio, e visto que de uma maneira geral os alunos apresentam

muita dificuldade de leitura, e logo apresentam também dificuldade de interpretação, gerando

assim uma grande dificuldade em produzir textos com coesão e coerência.

Sendo assim este material didático tem a intenção de através do gênero textual crônicas

jornalísticas levar os alunos a adquirir o hábito de leitura se sentindo a vontade para expressar

suas ideias de forma coerente para que todos entendam.

Pensamos também na necessidade de nossos alunos saber empregar a língua tanto oral

quanto escrita em diversas situações, adequando-a corretamente, bem como serem capazes de

interpretar diferentes formas de textos, optamos por primeiramente treiná-los a adquirir o hábito e

a prática de leitura.

Escolhemos o gênero textual crônicas jornalísticas, porque achamos por bem iniciá-los em

suas práticas de leitura com textos mais simples, de fácil compreensão e que falem uma

linguagem próxima a do seu dia a dia, permitindo que os alunos adquiram naturalmente gosto

pela leitura, desenvolvendo sua competência comunicativa em qualquer situação.

Esse Material Didático servirá de apoio aos estudos e implementação do Projeto de

Intervenção Pedagógica a ser realizado com os alunos da 1ª série do Ensino Médio do Colégio

Estadual Carlos Gomes, situado na cidade de Tomazina, na rua: Victor Pietra, nº 164, sob a

jurisprudência do NRE de Ibaiti.

Conhecendo o gênero crônica jornalística

A crônica é um gênero híbrido que transita entre a

literatura e o jornalismo, ora acompanhando os fatos no tempo

presente, ora resgatando-os do passado pelas reminiscências do

escritor. Quase sempre é um texto curto, breve, simples, que

interage diretamente com o leitor, como uma conversa informal,

predominando assim a narrativa e apresentando um enredo de fácil

entendimento.

Vamos conhecer um pouco mais sobre o gênero...

A crônica Tattoo nos fala sobre um tema frequente entre os jovens e adolescentes, a

tatuagem. Este assunto também vem sendo motivo de preocupação por parte dos pais, e

constantemente aparece em debates na mídia, gerando muitas polêmicas.

No texto, o autor discorre sobre o assunto, nos mostrando as vantagens e desvantagens de

fazer uma tatuagem de acordo com seu ponto de vista.

Tattoo

Sou muito inconstante para marcar minha pele. Prefiro que ela fique limpa. Eu sei que

com o tempo vai manchar, mas que manche naturalmente, segundo as leis da natureza (do sol, na

verdade), não quero interferir. Tenho medo de me arrepender. E eu sempre me arrependo. E eu

detesto me arrepender. Sou mutante. E mutantes abominam o estático. Tatuo papéis. Meu maior

prazer. Porque papéis eu posso rasgar, e não estarei cometendo crime algum. Afinal, papéis

foram feitos para serem rasgados mesmo. Mais rasgados que engavetados. Ah! e seu eu engavetá-

los... Os arquivos foram feitos exatamente para isso: esconder das nossas vistas aquilo que é

velho e indesejável, mas que um dia será útil e necessário.

Não sou contra tatuagens. Contra exageros sim. Acho feio. Feio não, acho ridículo

mesmo. Não sou contra, que fique bem claro. E que fique mais claro ainda que também não sou

favorável. Cada um faz o que quer, mas eu não faço. Desculpem a minha pouca tolerância, mas

se uma parede não permite que lhe pendurem outro quadro, isso para mim é o fim da picada (do

caminho, do mundo, da rosca, sei lá qual metáfora antiquada você conhece!). Meu senso estético

inquieto não aceita a impossibilidade da troca, da inovação. O quadro-negro da escola sempre foi

minha grande paixão. Amo escrever a lápis. Amo o poder fabuloso que o apagador e a borracha

Sugestões de crônicas

adaptadas para o cinema:

Crônicas de Nárnia - 2005

Direção: Andrew Adamson.

Coração de tinta - 2008

Direção: Iain Softley.

têm de levar tudo a zero e propor o novo, uma nova possibilidade que não faça gancho com o que

já existia, dentre as tantas milhares que existem e só precisam ser descobertas. Por isso minha

pele continua branca (se fosse negra eu agradeceria ainda mais a Deus e à natureza), sem traço,

sem risco, sempre esperando a ousadia do novo tecido que irá cobri-la.

Alguns vêem a tatuagem como um simples adorno. Eu vejo como um ícone. Se está presa

a um corpo que possui vida inteligente, acho mais sensato encará-la assim. Ícones resumem

realidades. Realidades são mutantes. Assim, prefiro registrar minhas mutações em cartas,

poemas, fotografias, sei lá!, qualquer coisa que esteja fora de mim, porque se a realidade mudou,

preciso estar livre dos símbolos do passado. E se eu voltar a ele, quero ter a dignidade de voltar

como se nunca tivesse estado lá, como se fosse novo. Preciso ter inocência, preciso ter a pureza

que aprendi da poesia para conseguir viver. Eu preciso, não quer dizer que os outros precisem.

Como eu disse, cada um faz o que quer, e não venha me chamando de moralista, porque quem

atribui esse título aos outros tem sempre um moralismo enrustido que o atormenta.

Mas não posso desconsiderar que essa arte corporal rende boas histórias. Basta lembrar

que não são raros os que (inclusive essa gente da mídia), no auge da paixão, tatuam os nomes dos

namorados. Aí a paixão acaba e a marca fica. Mas uma nova paixão, com certeza, virá... O que

fazer? Apagar? Pode ser que a grana não dê. Esconder? Mais cedo ou mais tarde a pessoa acaba

tirando a roupa. Fingir que não se importa? Talvez o outro não seja tão indiferente. Certa vez,

soube de um cara que arrumou uma nova namorada com o mesmo nome da antiga. Questionaram

a coincidência. Disse que o nome o encantava. Desculpa mais esfarrapada para justificar o

reaproveitamento de uma tattoo. Dá pra citar também casos famosos como aquele das fotos em

que um certo músico aparecia sem roupa nenhuma, e que foram publicadas num certo site de

fofocas. Observação: nas fotos não aparecia a cara do cara, mas nem precisava, ele tinha o corpo

coberto de tatuagens, que os fãs conheciam muito bem. Conclusão: deu a cara pra bater, mas

processou o site. Outra situação, um tanto mais cômica, foi a daquela garota que queria ter um

personagem do “Crônicas de Nárnia” nas costas, e confiou a tarefa ao namorado tatuador. E

confiou mesmo, porque até um termo dando-lhe liberdade de criação artística a estúpida assinou.

Deu merda! Literalmente. O que ela não sabia é que o namorado sabia das suas aventuras

amorosas com outros caras. Para se vingar, tatuou um monte gigantesco de fezes nela, que só viu

a cagada depois de pronta. Mais problema para os tribunais americanos.

Mas nem sempre as histórias terminam mal. O fato de testemunhas conseguirem

reconhecer assaltantes e estupradores através das tatuagens é um ponto positivo para a segurança.

E também aqueles cadáveres encontrados depois de tragédias nos quais as tatuagens facilitam o

reconhecimento... Puts! Peguei pesado agora. Não demora nada, vão começar a me chamar (de

novo) de moralista, preconceituoso, intolerante, até de terrorista. Por favor, não sejam tão

radicais. Nem queiram mover processo contra mim – vamos parar com essa moda, que já enjoou!

A justiça tem tanta coisa mais séria (e demorada) para resolver. Não acham? – Eu não disse que

tatuados ou tatuadores são criminosos, imorais, imbecis ou qualquer outra condição depreciativa.

Vocês entenderam, nem precisava explicar. Mas, por via das dúvidas, e por cautela, é melhor

fazê-lo. Não pretendo ver meu nome tatuado nalgum documento policial, muito menos judicial.

Apenas citei histórias insólitas. Só isso. Para mim, uma tatuagem em nada altera uma pessoa em

sua dimensão global, desde que se tenha consciência de que o ridículo também tem dimensão.

Para terminar, vou contar o que ouvi outro dia. Uma historinha leve, para que a conclusão

seja pacífica. Bem... leve, mas nem tanto, considerando a protagonista. Ela quis tatuar um código

de barras no meio das costas. Beleza! Foi lá e fez. O namorado até brincava, dizendo que só o

scanner dele é que ia conseguir ler aquele sinal. Ótimo! O código de barras casou-se com o

scanner – a tecnologia é realmente incrível! Mas o tempo passa, e a tal mulher tatuada engordou

um pouquinho. Um pouquinho suficiente para lhe reesculpir as costas. Conclusão: ela nunca

mandou tatuar um código nas costas. Imagina! Não é mercadoria! Por que teria feito isso? O que

ela tem lá é um bumerangue listradinho...

Autor: Leandro Muniz

Um pouco sobre o autor...

Leandro Carlos Muniz nasceu na pequena e centenária cidade de Tomazina, estado do Paraná,

onde cresceu e reside. Graduou-se e especializou-se em Letras-Inglês. Foi coordenador da Casa

da Cultura Cecim Calixto em Tomazina, e atualmente serve ao Ministério Público do Paraná

como Oficial de Promotoria em Tomazina. Sua primeira obra publicada foi a novela policial

“SRNGR Consoantes Assassinas”, pela Secretaria de Estado da Cultura, por meio do Projeto

Livraria Paraná em 2002. Também integrou a coletânea do Concurso Nacional de Contos Newton

Sampaio de 2006, promovido pela mesma Secretaria, com a obra “A morte da galinha”. Entre

suas obras inéditas estão a coletânea de poemas “Varal sem lei”, e as peças de teatro “Barraco de

luxo”, “Os gatos do balaio” e “Confidencias de cumbuca”. Em 2011 publicou “Mulheres no

vazio da praça”, pela Câmara Brasileira de Jovens Escritores.

Atividades

1) Quem é o autor do texto? Sugestão de resposta: Leandro Carlos Muniz

2) Qual o assunto do texto? Sugestão de resposta: O assunto é sobre tatuar ou não a pele.

3) Onde circula este tipo de texto? Sugestão de resposta: Em jornais, revistas, internet, etc.

4) Quais as marcas no texto que indicam o público ao qual se dirige o autor? Sugestão de resposta: Através da sua linguagem podemos perceber que o autor se dirige ao público jovem, mesmo

porque são eles que aderem ao uso da tatuagem. As gírias utilizadas por jovens estão presentes, por exemplo, no 5º

parágrafo [...] “que só viu a cagada’’[...] e 6º parágrafo [...] “Puts! Peguei pesado agora’’[...]

5) Com que intenção o autor se dirige ao público jovem? Sugestão de resposta: Com a intenção de alertá-los quanto à vantagem e desvantagens de tatuar a pele, uma vez que é

mais comum que jovens se interessem em tatuar o corpo do que pessoas de mais idade.

6) Qual a opinião do autor sobre tatuagem? Sugestão de resposta: Ele não é contra tatuagens, e sim contra exageros.

7) Como o autor prefere sua pele? Sugestão de resposta: Ele prefere sua pele limpa.

8) O que o autor prefere tatuar? Por quê? Sugestão de resposta: Ele prefere tatuar papéis, porque se quiser pode rasgá-los.

9) Releia o texto e transcreva um exemplo de vantagem e outro de desvantagem de fazer uma

tatuagem. Sugestão de resposta: Pessoal

10) O autor vê a tatuagem como ícone. Ícones resumem realidades. Segundo ele como são as

realidades? Sugestão de resposta: As realidades são mutantes.

11) Onde ele prefere registrar suas mutações? Por que? Sugestão de resposta: Ele prefere registrar suas mutações em cartas, poemas, fotografias, porque se a realidade

muda,ele prefere ficar livre de símbolos da passado.

12) Você concorda com a ideia do autor? Justifique. Resposta pessoal

13) A mídia constantemente divulga que pessoas com tatuagem, por vezes, são discriminadas,

podendo até mesmo perder vagas em empregos e/ou serem consideradas pessoas arruaceiras, fora

da lei. Qual a sua opinião a este respeito? Você conhece alguém que já sofreu algum tipo de

preconceito por ser tatuado? Resposta Pessoal

Atividades de Análise linguística

Releia o texto, e responda:

1)O texto é narrado em qual pessoa? Copie do texto palavras que justifiquem sua resposta. Resposta: Na 1ª pessoa, e podemos comprovar através dos verbos sou, prefiro, tatuo, amo, etc.

2)Podemos dizer que o narrador é protagonista ou observador? Resposta: O narrador é protagonista, pois participa da história, dando sua opinião sobre tatuagem.

3)Em que tempo e modo está a maioria dos verbos? Por quê? Resposta: No pretérito perfeito, porque os fatos ocorreram e foram concluídos num determinado momento do

passado.

4) No texto que variedade linguística foi empregada? Por quê? Resposta: A variedade padrão, porque esta é a linguagem predominante neste tipo de texto.

5) Passe as frases abaixo para a 3ª pessoa:

a)Sou muito inconstante para marcar minha pele. Resposta: Ele é muito inconstante para marcar sua pele.

b) Prefiro que ela fique limpa. Resposta: Ele prefere que ela fique limpa.

c) Eu detesto me arrepender. Resposta: Ele detesta se arrepender.

d) Eu vejo a tatuagem como um ícone. Resposta: Ele vê a tatuagem como um ícone.

6)O que mudou nas frases? Resposta: Mudaram os pronomes e verbos.

7)O que mudou no texto ? Resposta: O narrador-protagonista passou a ser narrador-observador

Mais crônicas...

Conhecendo Machado de Assis...

Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) é considerado o maior escritor realista do

Brasil e, provavelmente, o maior escritor da literatura brasileira. Nasceu numa família muito

humilde e, para ajudar a família, começou a trabalhar como aprendiz de tipógrafo na Imprensa

Nacional em 1856. De 1858 em diante escreve para diversos jornais importantes com

regularidade.

Dentre suas principais obras estão seus contos (O Alienista e A Cartomante estão entre os

mais famosos) e os romances Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba e Dom

Casmurro. Foi o principal fundador da Academia Brasileira de Letras e o seu primeiro

presidente. A crônica brasileira moderna tem, em Machado de Assis, um dos seus principais

fundadores. Machado escrevia suas crônicas sob pseudônimos. Só 40 anos após sua morte é que

se descobriu o verdadeiro autor das chamadas Crônicas de Lélio.

Na crônica abaixo, Machado de Assis aborda com ironia a questão da abolição da

escravatura, que havia ocorrido no dia 13 de maio de 1888, e foi publicada no jornal carioca

Gazeta de Notícias, em 19 de maio de 1888, ou seja, seis dias após a abolição oficial da

escravatura no Brasil com a promulgação da Lei Áurea.

19 de maio

Bons dias!

Eu pertenço a uma família de profetas après coup, post factum, depois do gato morto, ou

como melhor nome tenha em holandês. Por isso digo, e juro se necessário for, que toda a história

desta Lei de 13 de Maio estava por mim prevista, tanto que na segunda-feira, antes mesmo dos

debates, tratei de alforriar um molecote que tinha, pessoa de seus dezoito anos, mais ou menos.

Alforriá-lo era nada; entendi que, perdido por mil, perdido por mil e quinhentos, e dei um jantar.

Neste jantar, a que meus amigos deram o nome de banquete, em falta de outro melhor,

reuni umas cinco pessoas, conquanto as notícias dissessem trinta e três (anos de Cristo), no

intuito de lhe dar um aspecto simbólico.

No golpe do meio (coup du milieu, mas eu prefiro falar a minha língua), levantei-me eu

com a taça de champanha e declarei que acompanhando as idéias pregadas por Cristo, há dezoito

séculos, restituía a liberdade ao meu escravo Pancrácio; que entendia a que a nação inteira devia

acompanhar as mesmas idéias e imitar o meu exemplo; finalmente, que a liberdade era um dom

de Deus, que os homens não podiam roubar sem pecado.

Pancrácio, que estava à espreita, entrou na sala, como um furacão, e veio abraçar-me os pés.

Um dos meus amigos (creio que é ainda meu sobrinho) pegou de outra taça, e pediu à ilustre

assembléia que correspondesse ao ato que acabava de publicar, brindando ao primeiro dos

cariocas. Ouvi cabisbaixo; fiz outro discurso agradecendo, e entreguei a carta ao molecote. Todos

os lenços comovidos apanharam as lágrimas de admiração. Caí na cadeira e não vi mais nada. De

noite, recebi muitos cartões. Creio que estão pintando o meu retrato, e suponho que a óleo.

No dia seguinte, chamei o Pancrácio e disse-lhe com rara franqueza:

— Tu és livre, podes ir para onde quiseres. Aqui tens casa amiga, já conhecida e tens mais um

ordenado, um ordenado que...

— Oh! meu senhô! fico.

— ... Um ordenado pequeno, mas que há de crescer. Tudo cresce neste mundo; tu cresceste

imensamente. Quando nasceste, eras um pirralho deste tamanho; hoje estás mais alto que eu.

Deixa ver; olha, és mais alto quatro dedos...

— Artura não qué dizê nada, não, senhô...

— Pequeno ordenado, repito, uns seis mil-réis; mas é de grão em grão que a galinha enche o seu

papo. Tu vales muito mais que uma galinha.

— Justamente. Pois seis mil-réis. No fim de um ano, se andares bem, conta com oito. Oito ou

sete.

Pancrácio aceitou tudo; aceitou até um peteleco que lhe dei no dia seguinte, por me não

escovar bem as botas; efeitos da liberdade. Mas eu expliquei-lhe que o peteleco, sendo um

impulso natural, não podia anular o direito civil adquirido por um título que lhe dei. Ele

continuava livre, eu de mau humor; eram dois estados naturais, quase divinos.

Tudo compreendeu o meu bom Pancrácio; daí para cá, tenho-lhe despedido alguns

pontapés, um ou outro puxão de orelhas, e chamo-lhe besta quando lhe não chamo filho do

Diabo; coisas todas que ele recebe humildemente, e (Deus me perdoe!) creio que até alegre.

O meu plano está feito; quero ser deputado, e, na circular que mandarei aos meus

eleitores, direi que, antes, muito antes de abolição legal, já eu, em casa, na modéstia da família,

libertava um escravo, ato que comoveu a toda a gente que dele teve notícia; que esse escravo

tendo aprendido a ler, escrever e contar, (simples suposição) é então professor de filosofia no Rio

das Cobras; que os homens puros, grandes e verdadeiramente políticos, não são os que obedecem

à lei, mas os que se antecipam a ela, dizendo ao escravo: és livre, antes que o digam os poderes

públicos, sempre retardatários, trôpegos e incapazes de restaurar a justiça na terra, para satisfação

do Céu.

Boas noites.

Machado de Assis

Compreendendo o texto:

1)Quem é o autor do texto? Resposta: Joaquim Maria Machado de Assis

2) Para ser caracterizado como crônica é preciso que o texto trate de histórias verídicas, ou seja,

de acontecimentos reais. É o que acontece neste texto? Resposta: Sim, o texto trata sobre a libertação dos escravos.

3) A que gênero textual o texto pertence? Justifique. Resposta: Crônica jornalística, conforme as referências ela foi publicada no jornal Gazeta de Notícias, em 19 de maio

de 1888.

4) Que crítica implícita está presente no texto que o constitui como uma crônica?

Resposta: A maneira de que os escravos foram libertados, pois as condições de trabalho a que foram submetidos não

lhes permitiu a liberdade, muitos passaram a viver a escravidão cordial.

5) Como todo gênero textual possui uma estrutura específica, identifique no texto de Machado de

Assis uma das características da crônica: ser um texto composto por sequências narrativas. Resposta: - Exemplo de sequência narrativa: 1º, 2º e 3º parágrafos

[..] tanto que na segunda-feira, antes mesmo dos debates, tratei de alforriar um molecote que tinha, pessoa

de seus dezoito anos, mais ou menos. Alforriá-lo era nada; entendi que, perdido por mil, perdido por mil e

quinhentos, e dei um jantar.

Neste jantar, a que meus amigos deram o nome de banquete, em falta de outro melhor, reuni umas cinco

pessoas, conquanto as notícias dissessem trinta e três (anos de Cristo), no intuito de lhe dar um aspecto simbólico.

No golpe do meio (coup du milieu, mas eu prefiro falar a minha língua), levantei-me eu com a taça de

champanha e declarei que acompanhando as idéias pregadas por Cristo, há dezoito séculos, restituía a liberdade ao

meu escravo Pancrácio; que entendia a que a nação inteira devia acompanhar as mesmas idéias e imitar o meu

exemplo; finalmente, que a liberdade era um dom de Deus, que os homens não podiam roubar sem pecado.

Interpretando o texto:

1) A crônica de Machado de Assis nos faz refletir sobre a forma que os escravos foram

libertados, mas se hoje existe o racismo, quer dizer que a libertação não ocorreu por inteiro?

Releia o texto, reflita, e dê sua opinião. Resposta: Pessoal

2) Você acha que o racismo sempre vai existir? Por quê? Resposta: Pessoal

3) O que faz o preconceito racial ser tão forte até hoje? Resposta: Pessoal

4) Existe racismo no Brasil? Exemplifique. Resposta: Pessoal

5) Na sua opinião, a escola respeita a igualdade de direitos? Ou não ajuda a superar as limitações

que a sociedade impõe ao negro? Resposta: Pessoal

6) Que outras formas de discriminação existem? Cite-as. Resposta: Pessoal

Um pouco de poesia...

Conhecendo o autor...

Antônio Frederico de Castro Alves nasceu em 14 de março de 1847 (Curralinho –Bahia) , e morreu de

tuberculose a 06 de julho de 1871 (Salvador-Bahia). Ficou conhecido como o “Poeta dos

Escravos”, ao recitar durante numa comemoração cívica, o “Navio Negreiro”, cujos versos

que denunciavam os maus tratos aos quais os negros eram submetidos.

A seguir leremos o canto IV, V e VI do Navio Negreiro escrito em 1869.

IV

Era um sonho dantesco... o tombadilho

Que das luzernas avermelha o brilho.

Em sangue a se banhar.

Tinir de ferros... estalar de açoite...

Legiões de homens negros como a noite,

Horrendos a dançar...

Negras mulheres, suspendendo às tetas

Magras crianças, cujas bocas pretas

Rega o sangue das mães:

Outras moças, mas nuas e espantadas,

No turbilhão de espectros arrastadas,

Em ânsia e mágoa vãs!

E ri-se a orquestra irônica, estridente...

E da ronda fantástica a serpente

Faz doudas espirais ...

Se o velho arqueja, se no chão resvala,

Ouvem-se gritos... o chicote estala.

E voam mais e mais...

Presa nos elos de uma só cadeia,

A multidão faminta cambaleia,

E chora e dança ali!

Um de raiva delira, outro enlouquece,

Outro, que martírios embrutece,

Cantando, geme e ri!

No entanto o capitão manda a manobra,

E após fitando o céu que se desdobra,

Tão puro sobre o mar,

Diz do fumo entre os densos nevoeiros:

"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!

Fazei-os mais dançar!..."

E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .

E da ronda fantástica a serpente

Faz doudas espirais...

Qual um sonho dantesco as sombras voam!...

Gritos, ais, maldições, preces ressoam!

E ri-se Satanás!...

V Senhor Deus dos desgraçados!

Dizei-me vós, Senhor Deus!

Se é loucura... se é verdade

Tanto horror perante os céus?!

Ó mar, por que não apagas

Co'a esponja de tuas vagas

De teu manto este borrão?...

Astros! noites! tempestades!

Rolai das imensidades!

Varrei os mares, tufão!

Quem são estes desgraçados

Que não encontram em vós

Mais que o rir calmo da turba

Que excita a fúria do algoz?

Quem são? Se a estrela se cala,

Se a vaga à pressa resvala

Como um cúmplice fugaz,

Perante a noite confusa...

Dize-o tu, severa Musa,

Musa libérrima, audaz!...

São os filhos do deserto,

Onde a terra esposa a luz.

Onde vive em campo aberto

A tribo dos homens nus...

São os guerreiros ousados

Que com os tigres mosqueados

Combatem na solidão.

Ontem simples, fortes, bravos.

Hoje míseros escravos,

Sem luz, sem ar, sem razão. . .

São mulheres desgraçadas,

Como Agar o foi também.

Que sedentas, alquebradas,

De longe... bem longe vêm...

Trazendo com tíbios passos,

Filhos e algemas nos braços,

N'alma — lágrimas e fel...

Como Agar sofrendo tanto,

Que nem o leite de pranto

Têm que dar para Ismael.

Lá nas areias infindas,

Das palmeiras no país,

Nasceram crianças lindas,

Viveram moças gentis...

Passa um dia a caravana,

Quando a virgem na cabana

Cisma da noite nos véus ...

... Adeus, ó choça do monte,

... Adeus, palmeiras da fonte!...

... Adeus, amores... adeus!...

Depois, o areal extenso...

Depois, o oceano de pó.

Depois no horizonte imenso

Desertos... desertos só...

E a fome, o cansaço, a sede...

Ai! quanto infeliz que cede,

E cai p'ra não mais s'erguer!...

Vaga um lugar na cadeia,

Mas o chacal sobre a areia

Acha um corpo que roer.

Ontem a Serra Leoa,

A guerra, a caça ao leão,

O sono dormido à toa

Sob as tendas d'amplidão!

Hoje... o porão negro, fundo,

Infecto, apertado, imundo,

Tendo a peste por jaguar...

E o sono sempre cortado

Pelo arranco de um finado,

E o baque de um corpo ao mar...

Ontem plena liberdade,

A vontade por poder...

Hoje... cúm'lo de maldade,

Nem são livres p'ra morrer. .

Prende-os a mesma corrente

— Férrea, lúgubre serpente —

Nas roscas da escravidão.

E assim zombando da morte,

Dança a lúgubre coorte

Ao som do açoute... Irrisão!...

Senhor Deus dos desgraçados!

Dizei-me vós, Senhor Deus,

Se eu deliro... ou se é verdade

Tanto horror perante os céus?!...

Ó mar, por que não apagas

Co'a esponja de tuas vagas

Do teu manto este borrão?

Astros! noites! tempestades!

Rolai das imensidades!

Varrei os mares, tufão! ...

VI Existe um povo que a bandeira empresta

P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...

E deixa-a transformar-se nessa festa

Em manto impuro de bacante fria!...

Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,

Que impudente na gávea tripudia?

Silêncio. Musa... chora, e chora tanto

Que o pavilhão se lave no teu pranto! ...

Auriverde pendão de minha terra,

Que a brisa do Brasil beija e balança,

Estandarte que a luz do sol encerra

E as promessas divinas da esperança...

Tu que, da liberdade após a guerra,

Foste hasteado dos heróis na lança

Antes te houvessem roto na batalha,

Que servires a um povo de mortalha!...

Fatalidade atroz que a mente esmaga!

Extingue nesta hora o brigue imundo

O trilho que Colombo abriu nas vagas,

Como um íris no pélago profundo!

Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga

Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!

Interpretação:

1) No final da 5ª parte o poeta descreve como eram os negros antes de se tornarem escravos.

Segundo o poeta como eles eram? Resposta: Eram “guerreiros ousados,” “homens simples, fortes e bravos”.

2) O poeta expressa muita indignação na 6ª parte. Qual o motivo que o deixa indignado? Resposta: O fato de a bandeira nacional tremular no mastro do navio negreiro.

3) Qual a relação do tema deste poema com a crônica “19 de maio”? Resposta: Ambos textos tratam do sofrimento dos negros no período em que eram escravos e da indignação os

autores sobre a situação vivida pelos negros.

Produção de texto

Depois de termos lido e estudado os textos acima, cujos temas envolvem atitudes e modo de

pensar da sociedade, desde uma época muito remota até nossos dias, as quais (as atitudes e modo

de pensar da sociedade) geram polêmicas, agora, escolha um tema que esteja relacionado a

maneiras diferentes de se comportar e ser perante a sociedade ou sobre os preconceitos sofridos

por estas pessoas e produza uma crônica jornalística.

Lembre-se que, para produzir uma crônica jornalística, você pode adaptar histórias verídicas,

ou seja, fatos reais que ocorreram com você, com pessoas conhecidas, na sua cidade, etc., e

transformá-las numa bela crônica.

E para que isso seja possível, siga as instruções:

- Faça uma pesquisa, em livros, jornais e revistas sobre acontecimentos que envolveram pessoas

em situações de discriminação, ou relembre um acontecimento deste que aconteceu com você ou

um conhecido seu;

-Depois organize sua opinião a respeito do acontecido e elabore seu texto.

Lembre-se de utilizar alguns elementos que são específicos do gênero crônica:

Você pode usar a primeira pessoa do discurso, no singular ou no plural;

Você pode fazer uso de expressões da oralidade;

Você narrará fatos e dará sua opinião sobre eles.

Após a produção, seu texto vai passar por uma análise e revisão para ser aperfeiçoado; a

refacção é sempre necessária para que o texto possa ser considerado como pronto. Por fim,

faremos um grande mural para publicação no mural da escola para a comunidade escolar conheça

nossas opiniões em formato de crônicas jornalísticas.

Orientações metodológicas

A presente Unidade Didática traz uma proposta para orientar os estudos sobre o tema: A

criticidade em foco: o desenvolvimento da leitura e da produção de crônicas sociais. As

atividades nela contida estão estruturadas de uma forma que leve aos seguintes passos assim

dispostas para um melhor entendimento dos alunos:

- Estudo do gênero textual crônica jornalística;

- Leitura e interpretação de crônicas jornalísticas;

- Produção de textos (Crônicas jornalísticas);

Propõe-se que seja feito este estudo em sala de aula apresentando o que são gêneros

textuais e toda riqueza que envolve esse tema, levando a sala de aula revistas, jornais que trazem

crônicas jornalísticas para que o aluno familiarizem com o esse gênero.

Prosseguindo será apresentada a proposta do “Baú da Leitura”, momento em que os alunos

analisarão as crônicas jornalísticas, para a posterior produção de textos.

As ideias aqui apresentadas visa despertar no aluno o gosto pela leitura, propiciando

assim a formação de uma pessoa crítica e preparada para atuar na transformação e melhoria de si

e de todo seu entorno.

Referências Bibliográficas

1-MUNIZ, Leandro Carlos. Crônica: Tattoo. Disponível em: http://azhoras.weebly.com.

Acesso em: 16 agosto de 2012 às 15h20min

2- ASSIS, Joaquim Maria Machado de. Crônica: 19 de maio. Disponível em:

http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.jsp. Acesso em: 12 de outubro

de 2012 às 21h38min

3- ALVES, Antônio Frederico de Castro. Poema: Navio Negreiro. Disponível em:

http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm. Acesso em: 15 de outubro de

2012 às 20h38min

4- DOLZ, Joaquim. NOVERRAZ, Michèle e SCHNEUWLY, Bernard. Sequências Didáticas

para o oral e a escrita: apresentação de um procedimento. In SCHNEUWLY, Bernard e DOLZ,

Joaquim e Colaboradores. Gêneros orais e escritos na escola. Mercado de Letras. Campinas - São

Paulo, 2004.