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FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 22_Livro... · Nuno Bicho (Portugal) Pablo Arias (Spain) Saúl Milder (Brazil) ... Arqueologia e Gestão do Património. A recepção de originais

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FICHA TÉCNICA

ARKEOS – perspectivas em diálogo, nº 22

Propriedade: CEIPHAR – Centro Europeu de Investigaçãoda Pré-História do Alto Ribatejo

Direcção: a Direcção do CEIPHAR

Coordenação deste volume:L. Oosterbeek© 2008, CEIPHAR e autores

Composição: CEIPHAR

Concepção gráficada colecção ARKEOS: Cristina Lamego e Susana Carneiro

Fotorreprodução, fotomontagem,CANDEIAS ARTES GRÁFICASimpressão e acabamento:Rua Conselheiro Lobato, 179 · 4705-089 Braga

Tel. 253 272 967 · Fax 253 612 [email protected] · www.candeiasag.com

Conselho de Leitores (referees):Abdulaye Camara (Senegal)Carlo Peretto (Italy)Fábio Vergara Cerqueira (Brazil)Luís Raposo (Portugal)Marcel Otte (Belgium)Maria de Jesus Sanches (Portugal)Maurizio Quagliuolo (Italy)Nuno Bicho (Portugal)Pablo Arias (Spain)Saúl Milder (Brazil)Susana Oliveira Jorge (Portugal)Vítor Oliveira Jorge (Portugal)

Publicação integrada na plataforma SciELO (Ministério da Ciência,Tecnologia e Ensino Superior)

Tiragem: 500 exemplares

Depósito legal: 108 463 / 97

ISSN: 0873-593X

ISBN: 978-972-95143-2-6

Tomar, Março de 2008

ARKEOS é uma série monográfica, com edição de pelo menos umvolume por ano, editada pelo Centro Europeu de Investigação da Pré-História do Alto Ribatejo, que visa a divulgação de trabalhos deinvestigação em curso ou finalizados, em Pré-História, Arqueologia eGestão do Património. A recepção de originais é feita até 31 de Maioou 30 de Novembro de cada ano, devendo os textos ser enviados emsuporte digital, incluindo título, resumo e palavras-chave no idioma dotexto do artigo, em inglês e em português. Os trabalhos deverão estarintegrados na temática do volume em preparação e serão submetidosao conselho de leitores. A aprovação ou rejeição de contribuições serácomunicada no prazo de 90 dias.

Solicitamos permutaOn prie l’échangeExchange wantedTauschverkehr erwunschtSollicitiamo scambio

Contactar: CEIPHARCentro de Pré-História do Instituto Politécnico de TomarEstrada da Serra, 2300 TOMAR, Portugal

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Territórios, Mobilidade ePovoamento no Alto Ribatejo V

Balanço e Perspectivas no ano do centenário doMuseu de Francisco Tavares Proença Júnior

Textos de:

L U Í S F I L I P E A L V E S R I B E I R O A N T U N E S

L U I Z O O S T E R B E E K

G U I L L E R M O M U Ñ O Z

S A R A C U R A

CEIPHAR

Edição apoiada pela Comissão EuropeiaPrograma Cultura 2000 – Projecto ArtSigns

Tomar2008

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OS AUTORES

Luís Filipe Alves Ribeiro AntunesInstituto Terra e MemóriaLargo Infante D. Henrique, 6120-750, MAÇÃO, [email protected]

Luiz OosterbeekInstituto Politécnico de TomarITM2300 TOMAR, [email protected]

Guillermo MuñozInstituto Terra e MemóriaLargo Infante D. Henrique, 6120-750, MAÇÃO, [email protected]

Sara CuraMuseu de Arte Pré-Histórica de MaçãoITMLargo Infante D. Henrique, 6120-750, MAÇÃO, [email protected]

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ÍNDICE

Editorial , por Ana Cruz e Luiz Oosterbeek. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

Territórios, Mobilidade e Povoamento no Alto Ribatejo II– relatório final, por Luiz Oosterbeek. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

Francisco Tavares Proença Júnior: Um Arqueólogo «Moderno»Na Pré-História Da Arqueologia Portuguesa?,por Luís Filipe Alves Ribeiro Antunes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

Parte I – A Emergência da Arqueologia e do Arqueólogo. . . . . . . . . . . . 411. A Arqueologia e a Pré-História na Viragem do Século. . . . . . . . . 412. A Formação e o Pensamento do Arqueólogo. . . . . . . . . . . . . . . . . 453. Um Projecto Ambicioso. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 554. O Arqueólogo em Acção: Processos De Trabalho. . . . . . . . . . . . . 60

Parte II – A Obra Realizada. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 731. A Idade Da Pedra. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 732. A Idade Do Bronze. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 803. A Idade Do Ferro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1194. O Museu. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1475. Inventários. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1526. A Revista. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157Ponto Final. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 158

Agradecimentos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165

Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 166

Relação dos Manuscritos Inéditos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 170

Paisagens de transição: Povoamento, tecnologia e crono-estratigrafiada transição para o agro-pastoralismo no Centro de Portugal,por Luiz Oosterbeek. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 173

Organização dos Laboratórios de investigação do Instituto Terra eMemória (Mação), por Luiz Oosterbeek, Sara Cura,Guillermo Muñoz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 181

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EDITORIAL

L U I Z O O S T E R B E E K

O ano de 2007 foi um ano de importantes alterações na arqueologiaportuguesa. O antigos institutos públicos dedicados à arqueologia (IPA)e ao património construído (IPPAR) deram origem a um novo Institutounificado (IGESPAR). Ao mesmo tempo, vão-se anunciando processosde regionalização/descentralização de competências na esfera da gestãodo património, com o reforço das Direcções Regionais de Cultura(coincidentes com as cinco Comissões de Coordenação eDesenvolvimento Regional) e a correlata diminuição dos poderes doEstado central. São muitas as dúvidas, ainda, e muitas também aspreocupações, se bem que fosse evidente que o modelo que existiaestava esgotado, sendo incapaz de fazer face aos grandes problemas daarqueologia em Portugal: dotar o País de uma legislação mais clara eregulamentada, implementar um sistema nacional de inventário maisexaustivo (na base de parcerias institucionais), articular melhor ossectores de ensino superior e investigação com os trabalhos de emergênciae minimização de impactes, assegurar o tratamento pós-escavação e apublicação dos acervos exumados em trabalhos de arqueologia decontrato, estruturar uma rede nacional de recursos arqueológicos públicos(recursos humanos, laboratórios, bibliotecas, unidades de campo), afirmara dimensão multidisciplinar da arqueologia através do reforço da suacapacidade científico-laboratorial (o que passa por formações académicasancoradas em distintas disciplinas e não apenas na História), reforçar adimensão social da arqueologia (através de programas de educaçãopatrimonial e de uma nova relação com os Museus de arqueologia),

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assegurar, enfim, uma maior qualidade global na gestão dos bens erecursos arqueológicos nacionais.

Também para a investigação e gestão do património no AltoRibatejo, o ano de 2007 foi assinalado por importantes alterações. OInstituto Politécnico de Tomar e a Câmara Municipal de Maçãocriaram,junto ao Museu de Arte Pré-Histórica de Mação, um centro deestudos superiores e investigação, denominado “Instituto Terra eMemória”. Este Instituto reúne os investigadores do Museu e do IPT,mas também os Doutorando do curso de Doutoramento em” “Quaternário,materiais e culturas”, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro,e os Mestrandos do Curso de Mestrado em Arqueologia Pré-Histórica eArte Rupestre, que o Instituto Politécnico de Tomar ministra em parceriacom aquela Universidade. Trata-se de uma equipa ampla, com mais decinquenta investigadores, cujos planos de trabalho se agrupam em trêsgrandes linhas de investigação temática (Quaternário e Indústrias, ArteRupestre, Gestão do Património) e em três linhas de investigaçãoterritorial (Vale do Tejo em Portugal, Cap-Vert no Senegal, Santa Catarinano Brasil).

Este volume inclui o balanço do projecto Territórios, Mobilidadee Povoamento II, que se encerrou em 2006/2007, bem como o projectosobre “Paisagens de Transição” aprovado pela Fundação para Ciência eTecnologia e a organização dos laboratórios de arte rupestre e de indústrialítica do Instituto Terra e Memória. Inclui-se, também, no centenário doMuseu Francisco Tavares Proença Júnior de Castelo Branco (criado em1908), um estudo sobre o seu fundador realizado por Luís Filipe Antunes,no âmbito dos programas de investigação que, a nível regional, temosvindo a desenvolver.

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TERRITÓRIOS, MOBILIDADE EPOVOAMENTO NO ALTORIBATEJO II – RELATÓRIO FINAL

L U I Z O O S T E R B E E K

SUMÁRIO

O projecto TEMPOAR II consistiu num programa integrado deinvestigação, inventário, formação, divulgação científica e valorizaçãopatrimonial, centrado na temática da transição para o agro-pastoralismono Alto Ribatejo. O projecto encontrava-se articulado com programasde investigação e formação pós-licenciatura, que envolvem diversasinstituições de investigação e ensino superior, e assumiu-se comocontinuidade de uma anterior projecto quadrienal (TEMPOAR).

A revisão sistemática dos terraços quaternários no Alto Ribatejo,permitiu identificar três terraços altos (Q1, Q2a e Q2b), um terraçomédio (Q3) e dois terraços baixos (Q4a e Q4b).

No início do Holoceno, não parece registar-se nenhumadescontinuidade significativa nas estratégias de ocupação do território:acampamentos localizados nas plataformas elevadas que marginam oTejo e, sobretudo, os seus afluentes, dominados por indústrias de talheoportunista em matérias-primas locais (quartzito, sobretudo, mas tambémquartzo e, ocasionalemente, xisto ou sílex).

É num contexto de degradação ambiental já assinalada a partir doVII milénio A.C. (datações de C14 e OSL para o Povoado da Amoreira),com o avanço de uma cobertura arbustiva e de árvores de pequeno porte(Olea sp.), que se instalam no vale as primeiras ocupações humanas de

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ceramistas (uma cerâmica friável, associada a uma indústria líticadominada pela exploração dos quartzitos – sempre na mesma tradição– mas a que se associa a debitagem lamelar do sílex, presente em escassaquantidade, bem como a pedra polida – machados de anfibolite).

Sem datação absoluta, mas com indústrias idênticas a estas, a Anta1 de Val da Laje deverá ter sido construída na transição para o V milénio,quando na zona cársica se desenvolve um Neolítico médio de tradiçãoantiga (Gruta do Cadaval) e no Tejo ocorrem habitats abertos de planalto,como o da Conheira do Penhascoso em Mação, ou de vale, como o daAmoreira em Abrantes. A esta fase corresponderá o mais antigomegalitismo da região.

Ao longo do IV milénio generalizam-se as tumulações colectivas,em anta ou em gruta, registando-se uma progressiva expansão domegalitismo para NW, ao longo do vale do Zêzere. Só na segunda metadedo IV milénio é que o megalitismo ocupa a zona calcária (necrópole doRego da Murta, em Alvaiázere), interagindo com a tradição Neolítica dazona cársica (marcada pelo input cardial inicial), numa inter-influênciaque se regista claramente na Gruta dos Ossos. Será também nesta faseque sã monumentalizados certos locais, como a Anta 1 de Val da Laje, ese increve a maioria das gravuras (antropomorfos) e pinturas (esquemáticas)do complexo rupestre do Tejo. Do ponto de vista do povoamento, sãoconstruídos os primeiros povoados de cumeada, inicialmente abertos(Cumes, em Tomar) e depois amuralhados (Zimbrera, em Mação).

OBJECTIVOS DO PROJECTO

O projecto TEMPOAR II consistiu num programa integrado deinvestigação, inventário, formação, divulgação científica e valorizaçãopatrimonial, centrado na temática da transição para o agro-pastoralismono Alto Ribatejo. O projecto encontrava-se articulado com programasde investigação e formação pós-licenciatura, que envolvem diversasinstituições de investigação e ensino superior, e assumiu-se como

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continuidade de uma anterior projecto quadrienal (TEMPOAR). Esteúltimo permitira consolidar diversas dimensões de abordagem sub--disciplinar (indústrias, povoados, necrópoles, etc.), pelo que osobjectivos do projecto TEMPOAR II se orientaram para abordagenstransversais, em torno de três grandes objectivos:

1. O espaço material, ou seja, o conjunto de materialidadesidentificadas (sítios, artefactos, horizontes, datações, e seucontexto geomorfológico e ambiental), sua descrição eclassificação. Este vector procurou, sobretudo, sistematizar osdados já existentes, compulsando-os em bases de dados eprocurando responder a questões específicas nos domínios daecónoma, da tecnologia ou da ecologia.Este objectivo integrou intervenções de escavação oulevantamento em sítios de continuidade (Anta 5 da Jogada,Anta 1 de Rego da Murta, Ribeira da Atalaia, Arte Rupestre doOcreza e Cobragança), a que se associaram intervençõesdesenvolvidas no quadro de acções de acompanhamento (porexemplo o complexo de Quinta do Paço), de minimização esalvamento (como o Povoado de Santa Margarida da Coutada)ou de projectos de investigação mais específicos (como a Antada Lajinha).No termo do projecto, foram caracterizados alguns destescontextos, e criado um quadro interpretativo global, ainda quea sua substância seja mais desenvolvida em certas áreas(economia, tecnologia) que noutras (ecologia).

2. O espaço simbólico, ou seja, a identificação dos territóriossimbolicamente delimitados, através da sua iconografia etecnologias associadas (arte rupestre, decorações, megalitismo,monumentalizações, etc.).Tratou-se, neste caso, de promover abordagens comparadas decontextos simbólicos específicos, aprofundando a reflexão sobreos caracteres discriminantes de eventuais “áreas de afinidade”,em particular da dicotomia sugerida no termo do projecto

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TEMPOAR, em 2002, entre os territórios mais ocidentais e azona do Vale do Tejo.O projecto permitiu aprofundar o estudo monográfico ecomparativo, estabelecendo o primeiro quadro global dearticulação entre tais contextos. Foi, aliás, a dinâmica do projectoTEMPOAR II que permitiu fundamentar e iniciar o projectosobre o megalistismo e a constução de paisagens simbólicas noAlto Ribatejo, actualmente em curso com a autorização doMinistério da Cultura e o apoio financeiro da British Academy.

3. O espaço representado, ou seja, a construção de propostas deinterpretação da evolução dos territórios e da mobilidade doseu povoamento, em soluções didácticas e museografadas (comdestaque para a definição de conteúdos em diversos centrosmuseográficos e a produção de produtos multimédia).Considerava-se, nesta vertente, que no quadro da investigaçãoera chegada a hora de construir discursos interpretativos quepropusessem representações do processo de transição para oagro-pastoralismo, incorporando a reflexão suscitada nessequadro na re-orientação dos próprios eixos de nvestigação.Articulados com estes objectivos, o projecto comportouigualmente outros objectivos “instrumentais”, igualmentetransversais, que cruzavam os primeiros:

4. Inventário e Cartografia, apoiado no alargamento da cartaarqueológica, articulada num Sistema de Informação Geográfica(SIG), como instrumento de investigação (base para todos osestudos integrados nos objectivos seguintes) e de monitorizaçãodo património (ordenamento do território); este objectivopressupunha, e integrou, a realização continuada de trabalhosde prospecção exaustiva, em grande medida apoiados emcampanhas de acompanhamento de impactes ambientais,prosseguindo o esforço já realizado em anos anteriores;

5. Trabalhos de gabinete e laboratório, incluindo a vertente deconservação e restauro.

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O projecto organizou-se em articulação com planos de formação(Mestrado e Doutoramento) e de valorização do património,que adiante serão mencionados,O eixo do projecto enquadrou-se assim na chamada “arqueologiada paisagem”, procurando compreender as dinâmicas dopovoamento em associação com as transformações do território.Os cinco objectivos foram desdobrados em diversas acções,sujeitas a monitorização própria.

GESTÃO DO PROJECTO

A gestão do projecto foi feita pelo CEIPHAR, num sistema deparcerias bi-laterais com os restantes parceiros.

O projecto foi estruturado em objectivos, decompostos em acçõesque se entrecruzavam. Cada acção teve um responsável, ou uma equiparesponsável, sendo a coordenação global assegurada pelo responsáveldo projecto. Os objectivos, na medida em que se encontrassem articuladoscom projectos nacionais e internacionais de investigação, foram objectode discussão com os parceiros institucionais.

Competiu ao CEIPHAR a coordenação global e a gestão administrativae financeira (esta última através do Instituto Politécnico de Tomar).

Nas relações inter-institucionais foram realizados contactosregulares e expeditos (via email e telefone), para além de reuniõesinternacionais presenciais (pelo menos uma vez em cada seis meses).

REDE DE INVESTIGAÇÃO

No plano institucional, o projecto integrou, para além da instituiçãocoordenadora (CEIPHAR) as seguintes instituições:

• Instituto Politécnico de Tomar, onde se centralizaram as restantesintervenções, articuladas a partir do Centro de Pré-História com

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o Departamento de Território, Arqueologia e Património,especialmente as intervenções em povoados e antas (excepto deMação) e os trabalhos de acompanhamento ambiental, para alémda base de dados global (Centro de Pré-História).

• Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, envolvida nosestudos de arqueologia rupestre e de cartografia geológica.

• Centro de Interpretação de Arqueologia do Alto Ribatejo (VilaNova da Barquinha), onde se centralizaram as intervenções noscomplexos de terraços quaternários do Tejo e, em especial, daRibeira da Atalaia.

• Museu de Arte Pré-Histórica de Mação, onde se centralizaram asintervenções no domínio da arte rupestre, que assumiram relevânciacrescente no quadro do projecto. Mercê da instalação do centro deformação pós-graduada IPT-UTAD em Mação, a partir de 2004este centro passou a albergar parte significativa dos trabalhos degabinete e laboratório (especialmente nos domínios da arte rupestre,da tecnologia lítica e da valorização patrimonial).

• Câmaras Municipais de Alvaiázere, Constância, Mação e VilaNova da Barquinha, envolvidas no apoio aos trabalhos de campo.

• Instituto Português de Arqueologia, que contribuiu com ofinanciamento de algumas actividades, incluindo datações eestudos de materiais.

• Instituto Tecnológico e Nuclear, que se envolveu nos estudosde cerâmicas e na datação de distintos contextos porluminescência.

• Associação ArqueoJovem, que organizou diversos campos deintervenção arqueológica.

• Colectivo Barbaón (Espanha), envolvido nos trabalhos dearqueologia rupestre mas, também, em diversos projectos devalorização patrimonial.

• Universitá degli Studi di Ferrara (Itália), Universitat Rovira iVirgili (Espanha) e MuséumNational d’Histoire Naturelle(França), envolvidos em diversas intervenções de campo e

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laboratório, no quadro da investigação associada aoDoutoramento Europeu em Diâmicas Humanas, Comporta-mentais e Ambientais e do Mestrado Erasmus Mundus emQuaternário e Pré-História em que se desenvolveram diversasteses já concluídas e ainda em curso.

• University College Gotland (Suécia), que interveio nas vertentesde estudo da arquitectura megalítica e da utilização de sistemasde reconstrução em 3D.

• University of Durham (Inglaterra), envolida no estudodosprocessos de transição para o agro-pastoralismo, nas vertentesdo espaço material e do espaço simbólico, com particular ênfasenas vertentes do megalitismo e da paleoecologia (que, entretanto,se autonomizaram em termos de projecto).

INVESTIGADORES

NomeCategoria / Função

Principal Área(Habilitações) de Intervenção

1. Luiz Oosterbeek (Doutor) Prof.Coordenador (IPT) Coordenação

2. Ana Rosa G.P. da Cruz Directora doNecrópoles(Mestre) CPH (IPT)

3. Pierluigi Rosina (Doutor) Prof.Adjunto (IPT) Geologia do Quaternário

4. Abdallah ZawahrehInvest. Univ. Ferrara Arte Rupestre(Mestrando)

5. Alexandra FigueiredoAssistente (IPT) Megalitismo(Doutora)

6. Alja Zorg (Licenciada) Univ. Ljubljana Megalitismo

7. Ana Catarina FreireEnc. Trabalhos (IPT) SIG(Mestre)

8. Ana Graça (Mestranda) Enc. Trabalhos (IPT) Indústria Lítica

9. Ana Maria Silva (Doutora) Prof. Aux. (U.Coimbra) Restos Osteológicos

10. Anabela B. PereiraTécn. Museu de Mação Cartografia(Mestranda)

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NomeCategoria / Função

Principal Área(Habilitações) de Intervenção

11. André Freitas (Mestrando) Investigador IPT-UTAD Povoados

12. Artur Duarte (Mestre) Técnico DGEMN Indústria lítica

13. Bora Svencam (Mestre) Inv. Univ. Ferrara Indústria Lítica

14. Carmina RibeiroInvestigadora IPT-UTAD Cerâmica(Mestranda)

15. Chris Scarre (Doutor) Prof. (Univ. Durham) Megaltismo

16. Cidália Delgado (Mestre) Téc. CIAAR SIG

17. Craig Merideth (Doutor)† Inv. Univ. Londres Paleo-metalurgia

18. Daniela Cardoso (Mestre) Técn. Soc. M. Sarmento Arte Rupestre

19. Eugénia Cunha (Doutora) Prof. Cat. (U. Coimbra) Antropologia Física

20. Fernanda CarvalhoInvestigador IPT-UTAD Arte Rupestre(Mestranda)

21.Fernando Costa (Licenciado) Assistente (IPT) Conservação e Restauro

22.Filipe Marques (Licenciado) Enc. Trabalhos (IPT) Informatização

23.Gonçalo VelhoAssistente (IPT) Modelos e SIG(Doutorando)

24. Hipolito Collado GiraldoArq. Junta Extremadura Arte Rupestre(Doutor)

25. Isabel Dias (Doutora) Investigadora (ITN)Datações porLuminescência

26. Isabel Prudêncio (Doutora) Investigadora (ITN) Análise de cerâmicas

27. José da Silva GomesAssistente (IPT) Prospecção(eq.Lic.)

28. Lars Göran H. BurenhultProf. Univ.Gotland Megalitismo(Doutor)

29. Laurent Caron (Mestre) Enc. Trabalhos (IPT) Arqueologia de Campo

30. Luís Santos (Mestre) Assistente (IPT) Paleo-ambientes

31. Mª Teresa FerreiraInv. (U.Coimbra) Restos Osteológicos(Doutoranda)

32. Margarida MoraisTécn. Museu de Mação Valorização Patrimonial(Mestranda)

33. Mila Simões de Abreu Assistente (UTAD) Arte Rupestre

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NomeCategoria / Função

Principal Área(Habilitações) de Intervenção

34. Muiris O’Sullivan (Doutor) Prof.Univ.Dublin Arte Rupestre

35. Peng Fuying (Mestranda) Investigadora IPT-UTAD Cerâmica

36.Rita Anastácio (Mestre) Prof. Adjunta (IPT) SIG

37. Rui Paulo B.P. dos ReisProf.Ass. (U. Coimbra) Geologia do Quaternário(Doutor)

38. Sara Cura (Doutoranda) Técn. Museu de Mação Indústria Lítica

39.Silvério FigueiredoAssistente (IPT) Arqueologia de Campo(Doutorando)

40. Sílvia Lopes (Mestre) Investigador IPT-UTAD Restos Osteológicos

41. Stefano Grimaldi (Doutor) Prof. Univ.Trento Indústria Lítica

42. Tânia NascimentoInvestigadora IPT-UTAD Modelos de transição(Doutoranda)

43.Tiago Tomé (Doutorando) Investigador IPT-UTAD Restos Osteológicos

44.William Fletcher (Doutor) Univ. de Bordeaux Análises polínicas

ACÇÕES E RESULTADOS

Quadro-síntese das acções

Acção nº Descrição Situação1

TC1 Monumento 5 da Jogada Concluída

TC2 Anta 1 de Rego da Murta Concluída

TC3 Ribeira da Atalaia Concluída

TC4 Vale do Ocreza Concluída

TC5 Intervenções de emergência, salvamento eminimização de impactes Concluída

TC6 Geomorfologia e Ambiente Concluída

TC7 Prospecção Concluída

LAB1 Geomorfologia e Ambiente Concluída

LAB2 Indústrias Concluída

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Acção nº Descrição Situação1

LAB3 Ecofactos Concluída

LAB4 Datações absolutas Concluída

LAB5 SIG Concluída

LAB6 Análise espacial Concluída

LAB7 Iconografia Concluída

LAB8 Conservação e Restauro Concluída

LAB9 Modelos de transição Concluída

DM1 Percursos Concluída

DM2 Workshops e conferências Concluída

DM3 Multimédia Concluída

O ESPAÇO MATERIAL

No âmbito do objectivo de investigação O espaço material, foramrealizadas diversas intervenções de campo e de laboratório, norteadaspelas seguintes questões:

• Quais as relações espaciais e cronológicas entre as evidênciasregistadas?

• Qual a proveniência das matérias-primas utilizadas?• Quais as técnicas de produção dos artefactos e das estruturas

reconhecidos?• Quais os critérios para a diferenciação pontual dos terraços

quaternários mais recentes?As intervenções foram polarizadas no Monumento 5 da Jogada

(acção TC1 do projecto, essencial para a compreensão do início domegalitismo), na Anta 1 do Rego da Murta (acção TC2 do projecto,intervencionada na perspectiva de estudar a expansão do megalitismopara a zona calcária do Alto Ribatejo), na Ribeira da Atalaia (acção TC3do projecto, num sítio chave para a compreensão da sequência de terraços

1 Face aos objectivos do projecto

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quaternários na região, mas também para o estudo da variabilidadediacrónica das indústrias líticas) e no vale do Ocreza (acção TC4 doprojecto, orientada para a descrição e caracterização da arte rupestre naregião).

A estas quatro “frentes estruturantes”, foram associadas intervençõessobre sítios ameaçados de destruição, realizadas como acção deemergência, salvamento e minimização de impactes ambientais (acçãoTC5 do projecto). Neste âmbito, foram intervencionadas, em grausdiferenciados de profundidade, os sítios de:

• Povoado da Amoreira, sítio que corresponde à transição parao agro-pastoralismo na margem direita do Rio Tejo, emAbrantes, que fora objecto de escavações de emergência emmeados da década anterior, e foi de novo intervencionado,numa extensa campanha, devido à expansão prevista docemitério local;

• Sítio do Bonito, onde foi identificado um paleocanal depreenchimento quaternário embalando indústrias na margemdireita da ribeira da Atalaia, no Entroncamento, intervencionadodevido a trabalho de regularização da linha férrea do Norte;

• Quinta do Vale da Guerreira, em Tomar, correspondente avestígios de um terraço quaternário já muito desmantelado, daribeira da Beselga (afluente do Rio Nabão), intervencionadodevido à construção do IC3 (sendo que a intervenção foi,posteriormente, assumida por uma empresa privada, no âmbitodo acompanhamento da obra, não tendo sido cumpridas asexigências do EIA no domínio da geologia do quaternário,inviabilizando a datação dos níveis inferiores);

• Castelo Velho da Zimbreira, em Mação, sobranceiro ao vale doOcreza, intervencionado nas áreas afectadas pela implantaçãode um aero-gerador;

• Habitat do Choupal, em Tomar, correspondente a um conjuntode artefactos Neolíticos e Calcolíticos, em contexto perturbado,identificados em sondagens realizadas no âmbito da minimização

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do impacte da construção de uma habitação;• Santa Margarida da Coutada, contexto Neolítico e Calcolítico

intervencionado no âmbitoa minimização do impacte de umaurbanização promovida pela autarquia de Constância;

• Quinta do Paço, correspondente a um conjunto de estruturasdatadas do Neolítico antigo, resgatadas no âmbito doacompanhamento da construção da variante à estrada de Tomarpara Ferreira do Zêzere;

• Anta da Lajinha, cuja intervenção decorreu no âmbito de umoutro projecto de investigação, iniciado em 2006, mas cujosresultados são relevantes para o projecto TEMPOAR.

Às intervenções sobre os sítios referidos foram acompanhadas portrabalhos de continuada contextualização geomofológica (acção TC6 doprojecto), embora sem progressos significativos na dimensão da paleo-ecologia, por ausência de vestígios conservados. Neste âmbito, foramelaboradas cartas geomorfológicas com a representação das formaçõesquaternárias da região e diversas cartografias de promenor, no entornode sítios intervencionados (acão LAB 1 do projecto).

No domínio específico do megalitismo, foram desenvolvidos estudoscomparativos (acção LAB 9 do projecto) nos domínios da organizaçãodo espaço, cronologias e modelos de transição, com diversos contextoseuropeus (Irlanda, Inglaterra, Suécia, França, Espanha) e do Brasil (RioGrande do Sul).

Neste quadro, para além dos relatórios das intervenções de campo,oportunamente enviados ao IPA/IGESPAR, foram desenvolvidos osseguintes trabalhos de pesquisa, no âmbito de teses já defendidas ou emprocesso de aprovação:

• Crono-estratigrafia dos terraços do Médio Tejo, por PierluigiRosina (dissertação de Doutoramento, aprovada em 2003)

• Sistema de Informação Geográfica do Alto Ribatejo. Mação eVila Nova da Barquinha, por Cidália Duarte (tese de Mestradoaprovada em Setembro de 2006)

• Megalitismo e povoamento no Alto Ribatejo: Quinta do Paço,

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por André Freitas (tese de Mestrado para discussão em Julho de2007)

• A indústria da camada B da estação de Fonte da Moita, porBora Svencam (tese de Mestrado aprovada em Outubro de 2006)

• Análise da Indústria Lítica das grutas dos Canteirões, por AnaGraça (tese de Mestrado para discussão em Outubro de 2007)

• The ceramics of Gruta do Cadaval and Anta 1 de Val da Laje– technology, por Peng Fuying (tese de Mestrado para discussãoem Julho de 2007)

• Francisco Tavares Proença Júnior (revisão da documentaçãoinéditaepositada no Museu de Castelo Branco), por Luís FilipeAntunes (tese de Mestrado para discussão em Julho de 2007)

Síntese dos Resultados

A revisão sistemática dos terraços quaternários no Alto Ribatejo,permitiu identificar três terraços altos (Q1, Q2a e Q2b), um terraçomédio (Q3) e dois terraços baixos (Q4a e Q4b). As ocupações humanasmais antigas são associaáveis ao terraço Q3, datado (OSL) na Ribeirada Atalaia de cerca de 302,085 Ka, para um horizonte encerrandoindústrias orientadas para a produção de lascas e de gumes sobre seixos,com escassos utensílios. Uma revisão dos contextos cartografados novale, entre Vila Velha de Ródão e Alpiarça (de acordo com a bibliografia,para além dos nossos trabalhos), não permite demonstrar a presençahumana em época anterior. O terraço Q4a, na Ribeira da Atalaia, estádatado de 90,204 Ka para um horizonte com indústrias dominadas peladebitagem unidireccional, embora com ocorrência de debitagem discóidee levallois. Sobre o terraço, embalado em depósitos coluvionares, foiescavada uma estrutura de combustão datada de 24,810 – 24,897 Ka,correspondente ao Paleolítico superior mas sem artefactos diagnósticos.A cronologia é compatível com o achado de uma gravura rupestre deestilo gravetense no Vale do Ocreza, mas o único artefacto directamente

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associado à estrutura é um–chopper. Este contexto, bem datado e insitu, abre novas perspectivas para o estudo do Paleolítico superior naregião.

No início do Holoceno, não parece registar-se nenhumadescontinuidade significativa nas estratégias de ocupação do território:acampamentos localizados nas plataformas elevadas que marginam oTejo e, sobretudo, os seus afluentes, dominados por indústrias de talheoportunista em matérias-primas locais (quartzito, sobretudo, mas tambémquartzo e, ocasionalemente, xisto ou sílex). Estes acampamentoscorrespondem, no Pleistoceno, a pontos de caça (os habitats não foramencontrados), mas no Epipaleolítico já se registam locais de habitatmais duradouro nessas implantações (como Santa Cita, no Nabão ou,sobretudo, Amoreira, no Tejo).

É num contexto de degradação ambiental já assinalada a partir doVII milénio A.C. (datações de C14 e OSL para o Povoado da Amoreira),com o avanço de uma cobertura arbustiva e de árvores de pequeno porte(Olea sp.), que se instalam no vale as primeiras ocupações humanas deceramistas (uma cerâmica friável, associada a uma indústria líticadominada pela exploração dos quartzitos – sempre na mesma tradição– mas a que se associa a debitagem lamelar do sílex, presente em escassaquantidade, bem como a pedra polida – machados de anfibolite). Deacordo com as datas obtidas para o Povoado da Amoreira, este expansãodo Neolítico, a patir da margem esquerda do Tejo, ocorre ainda antes dofinal do VII milénio, e está ainda associada a estruturas de habitat deplanta possivelmente sub-rectangular. Esta ocupação precederia, assim,os sítios cardiais identificados no vale doNabão (Gruta do Caldeirão eGruta de Nª. Srª. Das Lapas), cuja data mais antiga é do início do VImiénio, sendo que a maioria das datas apontam para a segunda metadedo VI milénio. A esta fase devem corresponder, também, as primeirasgravuras holocénicas do complexo rupestre do Tejo (zoomorfos,predominantemte cervídeos).

Sem datação absoluta, mas com indústrias idênticas a estas, a Anta1 de Val da Laje deverá ter sido construída na transição para o V milénio,

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quando na zona cársica se desenvolve um Neolítico médio de tradiçãoantiga (Gruta do Cadaval) e no Tejo ocorrem habitats abertos de planalto,como o da Conheira do Penhascoso em Mação, ou de vale, como o daAmoreira em Abrantes. A esta fase corresponderá o mais antigomegalitismo da região, estruturado em monumentos isolados (como novale do Tejo) ou nucleados (como no Vale do Zêzere). No final do Vmilénio ocorrem ainda tumulações individuais em locaismonumentalizados (Jogada 5) e em gruta (Cadaval). Os habitats comfossas, associados a menhirs, ocorrem no Vale do Nabão (Quinta doPaço) nesta mesma fase.

Ao longo do IV milénio generalizam-se as tumulações colectivas,em anta ou em gruta, registando-se uma progressiva expansão domegalitismo para NW, ao longo do vale do Zêzere. Só na segundametade do IV milénio é que o megalitismo ocupa a zona calcária(necrópole do Rego da Murta, em Alvaiázere), interagindo com a tradiçãoNeolítica da zona cársica (marcada pelo input cardial inicial), numainter-influência que se regista claramente na Gruta dos Ossos. Serátambém nesta fase que sã monumentalizados certos locais, como a Anta1 de Val da Laje, e se increve a maioria das gravuras (antropomorfos)e pinturas (esquemáticas) do complexo rupestre do Tejo. Do ponto devista do povoamento, são construídos os primeiros povoados de cumeada,inicialmente abertos (Cumes, em Tomar) e depois amuralhados (Zimbrera,em Mação).

O ESPAÇO SIMBÓLICO

O objectivo de investigação sobre o Espaço Simbólico foi orientadopara a identificação de territórios caracterizáveis não essencialmentepelos recursos materiais, mas pela iconografia e tecnologias associadas(arte rupestre, decorações, megalitismo, etc.). Colocavam-se, à partida,as seguintes questões:

• Qual a relação entre a arte rupestre e o megalitismo?

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• Como compreender a função de sítios como os povoados deCumes (Ferreira do Zêzere), Fonte Quente (Tomar) ou Caratão(Mação)?

• Quais foram, em cada momento os “marcadores” quedelimitaram simbolicamente o espaço?

• Em que medida os territórios simbólicos dos caçadores-recolectores do Pleistoceno final foram alterados no Holoceno?

• Qual seria, para cada comunidade, a “sua” fronteira?As acções desenvolveram-se no quadro das intervenções em

monumentos megalíticos (TC1 e TC2) e no vale do Ocreza (TC4), paraalém de trabalhos de prospecção (TC7), que foram particularmentedesenvolvidos na sequência da minimização do impacte dos incêndiosde 2003. Os estudos iconográficos e de análise espacial foramespecialmente relevantes.

Foram desenvolvidos os seguintes trabalhos de pesquisa, no âmbitode teses já defendidas ou em processo de aprovação:

• Complexo megalítico de Rego da Murta, por AlexandraFigueiredo (tese de Doutoramento, aprovada em Fevereiro de2007)

• As pinturas rupestres de Pego da Rainha, por Daniela Cardoso(tese de Mestrado, aprovada em 2003)

• Gravuras rupestres de Cobragança, por Anabela B.Pereira (tesede Mestrado para discussão em Outubro de 2007)

• Ideomorfos no complexo rupestre do Tejo, por Maria FernandaCarvalho (tese de Mestrado para discussão em Outubro de 2007)

• Zoomorfos no complexo rupestre do Tejo, por Abdallah Zawahreh(tese de Mestrado para discussão em Outubro de 2007)

• Povoado da Zimbreira, por Carmina Ribeiro (tese de Mestradopara discussão em Julho de 2007)

• Estudo Paleoantropológico da Gruta dos Ossos, por Tiago Tomé(tese de Mestrado provada em Setembro de 2006)

• Estudo Paleoantropológico da Gruta do Cadaval, por SílviaLopes (tese de Mestrado aprovada em Março de 2007)

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Síntese dos Resultados

Os trabalhos de arte rupestre permitiram identificar cerca de 5dezenas de painéis, tendo sido aprofundado o estudo sobre a suacronologia e estilos. Reconhecem-se essencialmente cinco contextos:arte paleolítica (gravetense?), arte de transição para o agro-pastoralismo(zoomorfos), arte calcolítica (gravuras de antropomorfos e pinturas emabrigos) e arte esquemática de planalto, filiável na tradição galaico--portuguesa (Idade do Bronze). O megalitismo, na sua expansão para amargem direita do Rio Tejo, desenvolve-se sobretudo na mesma faixaem que ocorre o complexo rupestre, sendo elevada a probabilidade deassociação com o ciclo dominado pelas represnetações zoomórficasesquemáticas (que, à semelhança do vale do Guadiana, deverão situar-se na transição para o V milénio). Já a fase final do megalitismo, nofinal do IV milénio, permitiu registar, em Alvaiázere, motivos gravadosem zig-zag, que são conhecidos quer nas placas de xisto quer na cerâmicade grutas deste período. Mas não nos contetos rupestres estudados.

Compreende-se melhor a funcionalidade de certos locais nãosepulcrais mas de funcionalidade indeterminada. O local de Cumes,caracterizado por uma ampla colecção de resíduos de talhe de sílex notopo de uma elevação onde tal matéria-prima não ocorre, associado àausência de estruturas de habitat, sugere um comportamento ritual(performances na “montanha mágica”) que terá correspondência emlocais como o Castelo Velho do Caratão, onde artefactos de forte cargasimbólica foram econtrados, sem registo claro de estruras habitacionais.Em todo este processo, não são assinalados marcadores territoriais antesdos finais do VI milénio, quando se inicia o ciclo rupestre do Tejo. Estecomplexo, e depois o megalistismo, vão construir um “esqueleto” dateia de relações entre as comunidades humanas que, no longo processode transição para o agroi-pastoralismo pleno, vão ocupando o território.O megalistismo virá a dar lugar, já no III milénio, à definição da malhaterritorial por locais de habitat (Zimbreira no vale do Ocreza, SantaMargarida da Coutada no vale do Tejo, Maxial no vale do Zêzere ou,

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mais tarde, Fonte Quente no vale do Nabão. Neste processo, osanteriormente amplos territórios de caça-recolecção tendem a restringir--se, formando-se duas grandes sub-redes de grupos de tradção distinta,embora ligada por lações d eintercâmbio (atestado pelas matérias primasutilizadas): uma, a Oeste, articulads em torno da grutas do maciço cársico,e outra, a Leste, articulada em torno do megalitismo. Dentro de cadasub-rede, existem diferenças de grau, mas a dicotomia entre as sub-redes mantém-se até ao III mikénio: antas/grutas; cerâmica lisa e pequena//cerâmica decorada e de maiores dimensões; indústria lítica dominadapor pontas de seta, micrólitos e lâminas / indústria lítica dominada porlamelas, sem pontas de seta; pedra polida só no gume/ pedra totalmentepolida, etc. Entre estas duas tradições, parece perceber-se uma fronteira,que vai sendo progressivamente ultrapassada pelos contrutores demegálitos.

O ESPAÇO REPRESENTADO

O eixo O Espaço Representado visava a construção de propostasde interpretação da evolução dos territórios e da mobilidade do seupovoamento, em soluções didácticas e museografads. Este objectivo foimaterializado no Centro de Interpretação de Arqueologia do Alto Ribatejo(CIAAR) e no Museu de Mação.

Mo CIAAR, foi organizada uma exposição permanente sobre oquaternário do Vale do Tejo. Os visitantes, em visitas guiadas, podemreconhecer os principais vestígios que acompanham as diferentesocupações humanas.

No museu de Mação foram organizadas uma exposição permanentee diversas exposições temporárias. Estas últimas versaram os temas dosriscos naturais que impendem sobre o Património Arqueológica, a relaçãoentre Paleontologia e Arqueologia, a iterpretação em Arte Rupestre e arelação entre arqueologia e identidade. Foram, ainda, realizadasexposições itinerantes sobre o património arqueológico do Alto Ribatejo.

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A exposição permanente, intitulada Um Risco na Paisagem, incorporadois módulos. O primeiro explica a metodologia de trabalho emarqueologia, a evolução quaternária na região e a forma dereconhecimento das indústrias líticas que leh estão associadas. O segundodiscute a antropização neolítica da paisagem, no espaço doméstico, noespaço funerário e nos contextos rupestres. Esta exposição foi visitadapor cerca de 15.000 pessoas, a que acrescem cerca de 50.000 nasexposições itinerantes.

Foram organizados cursos anuais sobre arte rupestre, semináriossobre riscos naturais, sobre evolução humana, sobre arte rupestre e sobretecnologia lítica, com uma média de 100 participantes cada. Ao níveltecnológico, foram produzidos DVDs sobre arterupestre e arquitecturana Pré-História, e está em elaboração um pacote de jogos de computadorbaseados no atrimónio arqueológico estudado neste projecto.Inventário e cartografia

Foi construída uma nova base de dados arqueológicos (Arcaz),sediada no Centro de Pré-História do IPT. Foi alargado o SIG da regiãoe criadas aplicações SIG para os diversos sítios estudados em concreto.Trabalhos de gabinete e laboratório

Tal como previsto, foram realizados os estudos tecnomorfológicosdas indústrias e foi obtido um conjunto amplo de datações absolutas queserão brevemente publicadas. Foi concluída a conservação total ascolecções e restaurado o monumento 1 de Rego da Murta. Foramrealizados trabalhos de consolidação das gravurasrupestres deCobragança, afectadas pelos incêndios em 2003.

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Foram obtidas as seguintes datações:

Sítio Laboratório Método Referência Amostra Datação (B.P.)

Gruta do Cadaval Beta Analytic AMS Beta - 189995 OssoCal BP 5470a 5300

Gruta dos Ossos Beta Analytic AMS Beta - 189996 OssoCal BP 4970a 4840

Jogada 5 ITN OSL A5-228 Cerâmica 6.049 ± 617

Jogada 5 ITN OSL A5-229 Cerâmica 6.058 ± 652

Jogada 5 ITN OSL A5-230 Cerâmica 6.037 ± 529

Jogada 5 ITN OSL A5-231 Cerâmica 6.033 ± 711

Jogada 5 ITN OSL A5-232 Cerâmica 5.999 ± 697

Jogada 5 ITN OSL A5-233 Cerâmica 6.082 ± 620

Jogada 5 ITN OSL A5-234 Cerâmica 6.001 ± 654

Jogada 5 ITN OSL A5-235 Cerâmica 6.069 ± 545

Jogada 5 ITN OSL A5-236 Cerâmica 6.057 ± 586

Jogada 5 ITN OSL A5-237 Cerâmica 6.048 ± 628

P. da Amoreira Beta Analytic AMS Beta - 189993 CarvãoCal BP 10230to 10150

P. da Amoreira Beta Analytic AMS Beta - 189994 CarvãoCal BP 1990a 1820

Quinta doITN OSL ITN-LUM-61 Sedimento 6569 ± 553Paço 2 – bolsa

Quinta doITN OSL ITN-LUM-60 Sedimento 7.113 ± 514Paço 2 – bolsa

Quinta doITN OSL ITN-LUM-59 Sedimento 6.689 ± 89Paço 2 – bolsa

Quinta doITN OSL ITN-LUM-57 Sedimento 8.041 ± 994Paço 2 – bolsa

Quinta doITN OSL ITN-LUM-58 Sedimento 15.241 ± 1.369Paço 2 – terraço

Quinta doITN OSL ITN-LUM-62 Sedimento 12.403 ± 629Paço 2 – terraço

Rego da Murta I Beta Analytic AMS Beta - 189998 OssoCal BP 5310a 4880

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Sítio Laboratório Método Referência Amostra Datação (B.P.)

Rego da Murta I Beta Analytic AMS Beta - 189999 OssoCal BP 3880a 3680

Rego da Murta I Beta Analytic AMS Beta - 190000 OssoCal BP 4080a 3850

Rego da Murta I Beta Analytic AMS Beta - 190001 OssoCal BP 5310a 5040

Rego da Murta I Beta Analytic AMS Beta - 190002 Osso Cal BP 5040a 4850

Cal BP 5220 aRego da Murta I Beta Analytic AMS Beta - 190003 Osso 5190 Cal BP

5060 a 4860

Rego da Murta I Beta Analytic AMS Beta - 190005 CarvãoCal BP 960a 790

Rego da Murta I Beta Analytic AMS Beta - 190006 CarvãoCal BP 910a 690

Rego da Murta II Beta Analytic AMS Beta - 190004 OssoCal BP 4880a 4830

Rego da Murta II Beta Analytic AMS Beta - 190007 OssoCal BP 4840a 4580

Cal BP 4810a 4760 Cal BP

Rego da Murta II Beta Analytic AMS Beta - 190008 Osso 4700 a 4670Cal BP 4650a 4420

Ribeira da Atalaia ITN OSL PA5Solo e

24.897 ± 2.194Quartzito

Ribeira da Atalaia ITN OSL PA6Solo eQuartzito

24.810 ± 2.184

CONTINUIDADE

O projecto TEMPOAR (1998-2002) permitiu construir um quadrode referência global, para a sucessão das ocupações humanas na Pré--História do Alto Ribatejo. O projecto TEMPOAR II (2003-2006)

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centrou-se sobre aspectos específicos, relacionados com a materialidadedos vestígios, sua correlação e a construção de espaços simbólicos.

Já na fase final do projecto TEMPOAR II, foi iniciado um projectoespecífico dedicado ao estudo do megalitismo e das origens daagricultura, aprovado pelo IPA para o biénio 2006-2007.

Ao mesmo tempo que se irão apresentar projectos específicos paraestudo de estações concretas, a investigação global deverá prosseguir noâmbito de um novo projecto plurianual, que destacará as seguintestemáticas:

• clarificação do quadro crono-estratigráfico, com reforço doprograma de datações absolutas;

• sistematização de todos os dados referentes à indústria lítica, econstruir um modelo para as indústrias líticas não tipificáveisdo Pleistoceno médio e superior e do Holoceno antigo;

• continuação das tentativas de obtenção de vestígios paleoam-bientais, que aprofundem a caracterização da evolução da regiãona transição para o oloceno e ao longo deste;

• prospecção intensiva no vale do Tejo, também na margemesquerda, especialmente orientada para a identificação decontextos rupestres e megalíticos, para testar o modelo deexpansão do agro-pastoralismo que foi definido;

• construção de modelos de simulação para a expansão agro-pastoril.

BIBLIOGRAFIA PRODUZIDA NO ÂMBITO DO PROJECTO

Livros

AA.VV., (2002), Monitoring of European Drainage Basins, final report(2002), Rovigo, Consorzio per lo sviluppo economico e sociale delPolesine.

Cruz, A. R., L. Oosterbeek, coord. (2002, no prelo), Territórios, Mobilidadee Povoamento no Alto Ribatejo III – Arte Pré-Históricae e o seu contexto,

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série ARKEOS, vol.12, Centro Europeu de Investigação da Pré-Históriado Alto Ribatejo.

Cruz, A.R., L.Oosterbeek, coord. (2002), Territórios, Mobilidade e Povoamentono Alto Ribatejo IV – complexos macrolíticos, – série ARKEOS, vol. 13,Centro Europeu de Investigação da Pré-História do Alto Ribatejo, Tomar.

Cruz, A.R., L.Oosterbeek, coord. (2003), Arte Pré-Histórica - arqueologia,valorização, série ARKEOS, vol.14, Centro Europeu de Investigação daPré-História do Alto Ribatejo, Tomar.

Cruz, A.R., L.Oosterbeek, coord. (2005), Arte Rupestre, Pré-História,Património, série ARKEOS, vol.15, Centro Europeu de Investigação daPré-História do Alto Ribatejo.

Cruz, A.R., L.Oosterbeek, coord. (2006), ArtRisk – ArtSigns 1.–Research, Rescueand Management of Prehistoric and Rock Art sites, série ARKEOS, vol.16,Centro Europeu de Investigação da Pré-História do Alto Ribatejo.

Oosterbeek, L. (2006), Prehistoric art research and management in Europe -case studies. Ravello, Centro Universitario Europeo per I Beni CulturaliSeglie, D., L.Oosterbeek, et al. (2002, no prelo), Rock Art Guide of GoodConduct, Pinerolo, CeSMAP.

Teses de Doutoramento

FIGUEIREDO, Alexandra (2006), Complexo megalítico de Rego da Murta.Pré-História recente do Alto Ribatejo (IV-IIº milénio a.C.): Problemáticase Interrogações. Dissertação de Doutoramento pela Universidade do Porto.

ROSINA, Pierluigi (2004). I depositi Quaternari della media valle del Tago ele industrie litiche associata. Dissertação de Doutoramento pelaUniversidade de Ferrara.

Teses de Mestrado

ANTUNES, Luís Filipe (2007), Francisco Tavares Proença Júnior (revisão dadocumentação inéditaepositada no Museu de Castelo Branco), tese deMestrado em Arqueologia pela Universidade de Trás-os-Montes e AltoDouro e Instituto Politécnico de Tomar.

CARDOSO, Daniela (2003), As pinturas rupestres de Pego da Rainha, tese deMestrado (DEA) pelo Muséum National d’Histoire Naturelle (Paris).

CARVALHO, Maria Fernanda (2007), Ideomorfos no complexo rupestre do

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Tejo, tese de Mestrado Erasmus Mundus em Arqueologia pela Universidadede Ferrara, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e InstitutoPolitécnico de Tomar.

DUARTE, Cidália (2006), Sistema de Informação Geográfica do Alto Ribatejo.Mação e Vila Nova da Barquinha, tese de Mestrado em Arqueologia pelaUniversidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e Instituto Politécnico deTomar.

FREITAS, André (2007), Megalitismo e povoamento no Alto Ribatejo: Quintado Paço, tese de Mestrado em Arqueologia pela Universidade de Trás-os--Montes e Alto Douro e Instituto Politécnico de Tomar.

FUYING, Peng (2007), The ceramics of Gruta do Cadaval and Anta 1 de Valda Laje – technology, tese de Mestrado Erasmus Mundus em Arqueologiapelo Muséum National d’Histoire Naturelle, pela Universidade de Trás--os-Montes e Alto Douro e Instituto Politécnico de Tomar.

GRAÇA, Ana (2007),’Análise da Indústria Lítica das grutas dos Canteirões,tese de Mestrado em Arqueologia pela Universidade de Trás-os-Montese Alto Douro e Instituto Politécnico de Tomar.

LOPES, Sílvia (2007), Estudo Paleoantropológico da Gruta do Cadaval, tesede Mestrado em Arqueologia pela Universidade de Trás-os-Montes e AltoDouro e Instituto Politécnico de Tomar.

PEREIRA, Anabela (2007), Gravuras rupestres de Cobragança, tese deMestrado Erasmus Mundus em Arqueologia pelo Muséum Nationald’Histoire Naturelle, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro eInstituto Politécnico de Tomar.

RIBEIRO, Carmina (2007),’Povoado da Zimbreira, tese de Mestrado emArqueologia pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e InstitutoPolitécnico de Tomar.

SVENCAM, Bora (2006), A indústria da camada B da estação de Fonte daMoita, tese de Mestrado Erasmus Mundus em Arqueologia pelaUniversidade de Ferrara, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douroe Instituto Politécnico de Tomar.

TOMÉ, Tiago (2006), Estudo Paleoantropológico da Gruta dos Ossos, tese deMestrado em Arqueologia pela Universidade de Trás-os-Montes e AltoDouro e Instituto Politécnico de Tomar.

ZAWAHREH, Abdallah (2007), Zoomorfos no complexo rupestre do Tejo, tesede Mestrado Erasmus Mundus em Arqueologia pela Universidade deFerrara, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e InstitutoPolitécnico de Tomar

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Brochuras e Artigos nacionais

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Cruz, Ana R., 2004, Monumento 5 da Jogada-Campanha Arqueológica-2003,in TECHNE, Arqueojovem, Tomar, vol.9: 89-114.

Cruz, Ana R., 2004, O Monumento 5 da Jogada – Resultados da IntervençãoArqueológica, in Actas do IVº Congresso Peninsular de Arqueologia (noprelo).

Cura S., Cruz A.R., Rosina P. (2006) “As industria macrolíticas do Alto Ribatejo– alguns exemplos”. In “Paleontologia e Arqueologia do estuário doTejo”, Acta do I Seminário, Montijo, 28-30 de Maio de 2004, pp. 71-80.Edições Colibri, Lisboa.

Cura, S. (2002) Amoreira: uma gestão diferenciada das matérias-primas, inArkeos 13 –Perspectivas em Diálogo, Tomar, 2003.

Figueiredo, A. (2004a) – A Anta I do Rego da Murta - Descrição sumária dostrabalhos efectuados em 2003,–Techne, vol 9, Tomar, Arqueojovem,pp. 115-126.

Figueiredo, A. (2004b) – Contributo para o estudo e compreensão do megalitismono Alto Ribatejo: A Anta I do Rego da Murta, Alvaiázere, Leiria, Actasdo IV congresso Peninsular de Arqueologia, in prelo.

Figueiredo, A. (2004c) – O monumento romano do Rego da Murta/Ramalhal”,Techne, vol 9, Tomar, Arqueojovem, pp. 139-150.

Figueiredo, A. (2004d) – A Anta II do Rego da Murta (Alvaiázere) – Resultadosda 1ª campanha de escavações, Techne, vol 9, Tomar, Arqueojovem,pp. 127-138.

Figueiredo, A. (2005a) – Contributo para a análise do megalitismo no AltoRibatejo. O complexo megalítico do Rego da Murta, Alvaiázere, Al-madan,Almada. 2ª Série: 13, pp. 134-136.

Figueiredo, A.; L. Oosterbeek; G. Guizi; M. Azarelo; S. Westengaard; S. Cura;G. Burenhult; A. Minelli; U. Thun Hohenstein; C. Peretto (2005) – Thearchitectural evolution in prehistory: The MOMENT PAST project.–Jornalof Iberian Archaeology, vol.7, Porto, pp. 75-99.

Figueiredo, A.; Oosterbeek, L. (2004) Landscape Producers – An informaticalarchaeological project for the comprehension of the architecture evolutionin pre-history, Actas do CAA2004, Prato, Italy, in prelo.

Figueiredo, A.; Velho G. (2004) - Arqsoft – Base de dados para a arqueologiado Alto Ribatejo, Tecnhe 9, Arqueojovem, Ceiphar, pp. 153-188.

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Oosterbeek L., Cruz A.R., Rosina P., Figueiredo A., Grimaldi S. 2003.TEMPOAR – Território e Mobilidade e Povoamento no Alto Ribatejo(Portugal) – 1998-2001 ,–Instituto Politécnico de Tomar.

Oosterbeek, L. - coord. (2003), Vale do Ocreza - Campanha de 2001 IN:TECHNE, vol. 8, pp. 41-70.

Oosterbeek, L. (2003), Os usos do património: Público vs. Privado, IN: Antígona,Law and Humanities Studies online, vol. V (www.direito.up.pt/IJI).

Oosterbeek, L. (2003), Prehistoric Art and the Archaeological and EnvironmentalPark of the Alto Ribatejo, IN: A.R.Cruz e L.Oosterbeek (coords.), ArtePré-Histórica - arqueologia, valorização, ARKEOS 14, Tomar, CEIPHAR,pp. 53-58.

Oosterbeek, L. (2004), A Neolitização do Alto Ribatejo e a questão do“Languedocense”, IN: A. Baptista, Carta Arqueológica do Concelho deConstância, Constância, Escora, pp. 211-213.

Oosterbeek, L., A. Cruz (2003), Ribeira da Atalaia - Campanha de 2001 IN:TECHNE, vol. 8, pp. 29-39.

Oosterbeek L., Cruz A.R., Cura S., Rosina P., Grimaldi S., Gomes J. (2004).“Ribeira da Ponte da Pedra – Relatório da campanha de escavação de2003”. Techne 9: 21-54. Arqueojovem-Tomar.

Oosterbeek, L., Sara Cura (2005), O Património Arqueológico do Concelho deMação, IN: Zahara, nº 6, pp. 17-32.

Rosina P. (2005, no prelo). Geo-Arqueologia dos terraços fluviais do Tejo. IISeminário “Paleontologia e Arqueologia do estuário do Tejo”, Sacavém,22-23 de Outubro de 2005.

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Rosina P., Anastácio R. (2003) Elaboração da carta morfo-sedimentar dosdepósitos quaternários do Alto Ribatejo (Portugal Central) recorrendo aum sistema de informação geográfica.,Tomar, Instituto Politécnico deTomar (policopiado).

Velho, A. (2002b) – O monumento megalitico de Rego da Murta, relatório dascampanhas de escavação de 1999 a 2001, Techne, vol 5, Tomar,Arqueojovem, Velho, A. (2003) – A Anta I do Rego da Murta – Campanhade 2001, Techne, vol 8, Tomar, Arqueojovem, pp. 23-28.

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Artigos internacionais

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Cruz A.R., Grimaldi S., Rosina P., Cura S., Duarte A. (no prelo). “As indústriasquaternárias”. IV Congresso Peninsular de Arqueologia, Faro, 14-19 deSetembro de 2004.

Cruz A.R., Oosterbeek L., Rosina P., Cura S., Grimaldi S. (no prelo). “Non-flint raw material use throughout time and space in the Middle TagusValley (Central Portugal)” Proceedings of the XV UISPP Congress, B.A.R.

Cruz, Ana R., 2004, O Monumento 5 da Jogada – Resultados da IntervençãoArqueológica, in Actas do IVº Congresso Peninsular de Arqueologia (noprelo).

Cura, Sara, Ana Cruz, L. Oosterbeek, P. Rosina (2004), As indústrias macrolíticasdo Alto Ribatejo: o caso do sítio da Amoreira,–in Ethel Allué e tal. (eds.),Actas del Primer Congreso Peninsular de Estudiantes de Prehistoria,Tarragona: 268-275.

Cura, Sara, Ana Cruz, L. Oosterbeek, P. Rosina (2004), As indústrias macrolíticasdo Alto Ribatejo: o caso do sítio da Amoreira, IN: Ethel Allué e tal.(eds.), Actas del Primer Congreso Peninsular de Estudiantes dePrehistoria, Tarragona, pp. 268-275.

Duarte, Artur J., P. Rosina, L.Oosterbeek (2004), Indústria Lítica de Fonte daMoita, IN: Ethel Allué e tal. (eds.), Actas del Primer Congreso Peninsularde Estudiantes de Prehistoria, Tarragona, pp.63-68.

Graça, Ana, José Gomes, L. Oosterbeek (2004), Povoamento pré-Histórico daChamusca, IN: Ethel Allué e tal. (eds.), Actas del Primer CongresoPeninsular de Estudiantes de Prehistoria, Tarragona, pp. 212-219.

Oosterbeek L., Cruz A.R., Cura S., Rosina P., Grimaldi S., Gomes J. (2004).“Ribeira da Ponte da Pedra – Relatório da campanha de escavação de2003”. Techne 9: 21-54. Arqueojovem-Tomar.

Oosterbeek, L. (2003), The uses of Heritage: public vs. private, IN:–La Gestionedel Patrimonio Culturale - Proceedings of the 7th International Meeting,Cesena, 4/8 dicembre 2002, Roma, DRI-Ente Interregionale, pp. 28-3.

Oosterbeek, L. (2004), Archaeographic and conceptual advances in interpretingIberian Neolithisation, IN: Documenta Praehistorica XXXI, Ljubljana,pp. 83-87.

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Oosterbeek, L. (2004), Brittle Memories: the most unknown but unexpectedand forgotten Heritage, IN: La Gestione del Patrimonio Culturale: ilpatrimonio inconsueto - Proceedings of the 8th International Meeting,Roma, DRI-Ente Inerregionale,pp .20-23.

Oosterbeek, L. (2004), Brittle Memories: the most unknown but unexpectedand forgotten Heritage, IN: La Gestione del Patrimonio Culturale: ilpatrimonio inconsueto - Proceedings of the 8th International Meeting,Roma, DRI-Ente Inerregionale,pp. 20-23.

Oosterbeek, L. (2004), Megaliths in Portugal: the western network revisited,IN: Göran Burenhult (ed.), Stones and Bones. Formal disposal of thedead in Atlantic Europe during the Mesolithic-Neolithic interface 6000--3000 BC, Oxford, BAR-International Series 1201, pp. 27-37.

Oosterbeek, L. (2005), Arqueologia e Identidades: a torre de marfim naencruzilhada, IN: Cadernos do LEPAARQ, Instituto de Ciências Humanasda Universidade Federal de Pelotas, vol.II, nº 3, pp. 37-46

Oosterbeek, L., Laurent Caron (2004), Minimização de impactes ambientais einvestigação arqueológica, IN: Ethel Allué e tal. (eds.), Actas del PrimerCongreso Peninsular de Estudiantes de Prehistoria, Tarragona, pp. 429--431

Oosterbeek, L., Laurent Caron (2004), Minimização de impactes ambientais einvestigação arqueológica, IN: Ethel Allué e tal. (eds.), Actas del PrimerCongreso Peninsular de Estudiantes de Prehistoria, Tarragona, pp. 429--431

Prudêncio M.I., Cardoso G., Dias M.I., Franco D., Rosina P., Oosterbeek L.,Cura S., Grimaldi S. (no prelo). “Luminescence dating of a fluvial depositsequence: Ribeira da Ponte da Pedra – Middle Tagus Valley, Portugal”.–Proceedings of the XV UISPP Congress, B.A.R.

Rosina P. (2004). “I depositi Quaternari della media valle del Tago e le industrielitiche associata”. Dissertação de Doutoramento.

Rosina P., (2004, no prelo) “Elaborazione di carte tematiche utilizzando unsistema GIS”. Programma Intensivo “Dinamiche Ambientali, Umane eComportamentali”. Isernia (Itália), 28 de Julho – 8 de Agosto de 2003.

Rosina P., Allué E. (no prelo). “Dados crono-estratigráficos e ambientais”. IVCongresso Peninsular de Arqueologia, Faro, 14-19 de Setembro de 2004.

Rosina P., Cura S., Grimaldi S., Gomes J. (2007, no prelo). “The Middle-UpperPleistocene open air site of Ribeira Ponte da Pedra (Middle Tagus Basin,Central Portugal)”. Proceedings of the XV UISPP Congress, B.A.R.

Rosina P., Oosterbeek L., Jaime A., Cura S. (2005). “Archaelogical sitesassociated with Tagus middle valley deposits (Alto Ribatejo – Portugal).”In: Santoja, Pérez-Gonzáles, Machado (eds.), Geoarqueologia y Patrimonio

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en la Península Ibérica y el Entorno Mediterranéo, pp. 273-282. ADEMA.Soria.

Rosina P., Oosterbeek L., Pena dos Reis R. (no prelo). “O contextogeomorfológico”. IV Congresso Peninsular de Arqueologia, Faro, 14-19de Setembro de 2004.

Scarre, C., P.Arias, G.Burenhult, M. Fano, L. Oosterbeek, R. Schulting, A.Sheridan, A. Whittle (2004), Megalithic Chronologies, IN: Göran Burenhult(ed.), Stones and Bones. Formal disposal of the dead in Atlantic Europeduring the Mesolithic-Neolithic interface 6000-3000 BC, Oxford, BAR-International Series 1201, pp. 65-112.

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FRANCISCO TAVARES PROENÇAJÚNIOR: UM ARQUEÓLOGO«MODERNO»Na Pré-História da ArqueologiaPortuguesa? 1

L U Í S F I L I P E A L V E S R I B E I R O A N T U N E S

INTRODUÇÃO

Francisco Tavares Proença Júnior (FTPJ) constitui o tema centraldeste trabalho. No entanto, não se pretende realizar a sua biografia,excluindo-se desta abordagem todos os episódios da sua vida pessoal,do seu relacionamento com a família, dos problemas de saúde que viveuou mesmo da sua vida académica e do seu exílio. Centra-seexclusivamente na sua acção e intervenção como arqueólogo, procurandoperceber qual o alcance e significado da sua obra, sabendo que esta seafirmou num curto período de tempo, na primeira década do século XX.

Trata-se de um trabalho fundamentalmente descritivo, baseado naleitura dos textos (inéditos e não só) produzidos por FTPJ que se poderiacomparar a uma pesquisa arqueológica «de biblioteca» ou «de arquivo»,na medida em que, com a mesma preocupação de registo sistemático, osfragmentos materiais são substituídos por textos mais ou menos dispersos,

1 Resumo de dissertação de Mestrado em Arqueologia Pré-Histórica e Arte Rupestre(Instituto Politécnico de Tomar e Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro), orientadapor Luiz Oosterbeek

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a que se procura conferir coerência, tentando reconstituir-se a acção eo pensamento daquele que aqui é pesquisado. Uma pesquisa destanatureza impõe uma grande fidelidade ao seu autor, a observação rigorosadas suas afirmações, de forma a não adulterar as suas intenções, as suaspreocupações, os seus métodos e o seu pensamento.

Pensamos que a melhor forma de testemunhar a admiração pelaobra de Francisco Tavares Proença Júnior será respeitar aquilo que foramos seus princípios de objectividade, de prudência e de verdade, deixando--o revelar-se no contexto da época em que viveu. Assim, basicamenterecorreu-se aos seus manuscritos, às suas notas e apontamentos, bemcomo às suas publicações, perspectivando globalmente toda a sua obra,tentando vislumbrar uma linha de coerência, um pensamento subjacentee olhando para o que ficou do seu trabalho tendo em conta os objectivose os valores que, de alguma forma, explicitou. Com base nestespressupostos, tentaremos fundamentalmente responder às seguintesquestões: foi FTPJ um Arqueólogo? foi um Paleoetnólogo? foi apenasum Coleccionador de antiguidades? qual foi o mérito do seu trabalho,que resultados obteve? e qual o significado ou o valor actual dosresultados obtidos?

Organiza-se o trabalho em duas partes: a primeira procura explicarquem foi o arqueólogo Tavares Proença, quais foram os seus objectivose os métodos a que recorreu; a segunda centra-se no produto do seutrabalho, a sua obra, nos vários âmbitos da sua intervenção, desde arecolha de espólio e sua inventariação à construção de um museumunicipal de arqueologia e à publicação de uma revista. Na segundaparte, todo o trabalho de exploração e recolha de materiais a que procedeuse apresenta ordenado cronologicamente, de acordo com as grandesetapas cronológicas adoptadas pelo próprio FTPJ que, tal como que eraaceite, perspectiva a evolução das sociedades humanas da Pré-históriaem três grandes etapas: Idade da Pedra, Idade do Bronze e Idade doFerro, embora se perceba que os seus interesses se dirijam sobretudo doNeolítico ao período pós-romanização.

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Parte IA emergência da arqueologia e do arqueólogo

1. A ARQUEOLOGIA E A PRÉ-HISTÓRIA NA VIRAGEMDO SÉCULO

1.1. Na Europa

A par do desenvolvimento científico em geral que a Europa viveuna segunda metade do século XIX, também a Arqueologia, a Antropologiae a Etnologia se foram afirmando e ganhando identidade e um espaçopróprio, promovendo cada vez mais iniciativas, atraindo cada vez maisadeptos e audiência. Com os progressos da Geologia e da Biologia nãofoi só a idade da Terra que foi bastante alargada, como também a idadedo Homem, graças sobretudo às teorias evolucionistas.

A Arqueologia vai então afirmar-se ao serviço de uma Europa quebusca as suas raízes mais ancestrais, pré-romanas, proto-históricas epré-históricas, o que desperta um grande interesse pelos vestígios dopassado, da antiguidade. Se para os românticos, a afirmação das culturase dos povos europeus se fazia reavivando as raízes medievais, ondesituavam o berço das nações, agora o interesse dos estudiosos ia sobretudopara as realidades anteriores à romanização, em busca das raízes pré--clássicas.

Arqueólogos e pré-historiadores emergentes vão confrontar-se comquestões novas, assistindo-se a intensos debates e à definição de conceitosnovos como o de «proto-história» ou «calcolítico» que procuravamresponder às novas realidades de que se ia ganhando consciência. Umdos debates mais vivos foi o que opôs difusionistas e evolucionistas; osprimeiros defendiam um paradigma em que, a partir de certos focos, asideias e as técnicas se iam afirmando e difundindo; por seu lado, osevolucionistas propunham que todos os povos e culturas passavam

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necessariamente pelas mesmas etapas de desenvolvimento, embora unstivessem acelerado mais o processo do que outros, explicando assim oavanço de uns e o atraso de outros.

Thomsen, arqueólogo escandinavo, propõe a teoria das «três idades»(Idade da Pedra, Idade do Bronze e Idade do Ferro), como forma deintegrar as várias etapas da muito longa pré-história da Humanidade ede a poder representar em museus. Por seu lado, arqueólogos francesespropõem o conceito de «proto-história» para distinguir as idades dometal, sempre que, em alguns lugares se possuíssem já documentosescritos, destacando-se assim da Pré-história em que distinguiam a velha,a média e a nova Idade da Pedra.

1.2. Em Portugal

O progresso dos meios de comunicação e de transporte, bem comoas reformas levadas a cabo no ensino superior facilitaram a divulgaçãoda informação e das novas ideias e interesses. Portugal não vai ficar àmargem da afirmação da Arqueologia e da Pré-história europeia e, entre1875 e 1885, vai viver um período de grande dinamismo e progresso,conhecido como «período dourado» da nossa Arqueologia que sereflectirá ainda na primeira década do século XX (Fabião, 1999). Comefeito, criaram-se na segunda metade do século XIX várias instituições(Lemos, 1989) que fomentaram iniciativas e contribuíram paraproporcionar um ambiente favorável à pesquisa e ao conhecimento dopassado mais longínquo, entre as quais se destacam:

1847 – Criada a Sociedade Arqueológica Lusitana;1856 – Criada a Comissão dos Trabalhos Geodésicos;1857 – Criada a Comissão dos Trabalhos Geológicos;1858 – Criado o Curso Superior de Letras;1859 – Realizada a Reforma da Escola Politécnica;1863 – Fundada a Associação dos Arquitectos (a que se juntaram,

em 1872, os Arqueólogos);

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1880 – Organizado em Lisboa o IX Congresso Internacional deAntropologia, Arqueologia e Pré-História (antecessor doUISPP);

1885 – Criada na Faculdade de Filosofia, em Coimbra, a disciplinade Antropologia, Paleontologia Humana e ArqueologiaPré-histórica, leccionada por Bernardino Machado(Fabião, 1999);

1890 – Publicação da Revista de Ciências Naturais e Sociais;1894 – Criação do Museu Etnológico Português, dirigido por Leite

de Vasconcelos;1895 – Inicia-se a publicação do «Archeólogo Português» pelo

Museu Etnológico;1899 – A revista Portugália sucede à Revista de Ciências Naturais

e Sociais.

Portugal vai então assistir à afirmação de vários pólos deinvestigação seriamente conduzida: Guimarães, em torno da citânia deBriteiros; o Instituto de Coimbra, sobretudo interessado nas escavaçõesde Conímbriga; a Sociedade Arqueológica Lusitana, mais centrada naregião de Setúbal; a Comissão Geológica que, para lá dos estudosgeológicos relacionados com a história da Terra, vai interessar-se tambémpor temas relativos à origem do Homem, abordando assuntos como oQuaternário, o Neolítico ou o Megalitismo, dedicando-se à escavaçãode grutas, concheiros e dólmenes.

Simultaneamente, destacam-se várias personalidades comoFrancisco Pereira da Costa, Carlos Ribeiro, Nery Delgado, MartinsSarmento, Estácio da Veiga, Possidónio da Silva, António de SousaHolstein, Luciano Cordeiro, Filipe Simões, Félix Alves Pereira que,embora ainda numa primeira fase revelem um certo espírito de antiquário,rapidamente vão evoluir e, tomados por alguma motivação aindaromântica, fascinados pelas ruínas e pelas origens, vão acabar porcontribuir para a divulgação e defesa do património artístico e cultural,promovendo o debate cultural, alimentando a polémica em torno do

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tema das origens, assistindo-se a uma crescente exploração de grutas epovoados, em que se evidenciam Carlos Ribeiro, Nery Delgado ou Pereirada Costa, por exemplo (Fabião, 1999). A valorização dos vestígiosmateriais do passado e dos espaços arqueológicos, a preocupação como restauro dos monumentos, contribuem para um aumento da quantidadede informação disponível, assistindo-se a um alargamento dos temas edos problemas de investigação, abrindo-se novas abordagensmultidisciplinares, envolvendo ciências como a Geologia, a Antropologia,a Etnologia e a Biologia. Portugal colocava-se assim mais ou menos apar do que se ia passando no resto da Europa no que respeita à definiçãode objectivos, conceitos e metodologias. Carlos Ribeiro, por exemplo,viu publicado em França um opúsculo seu, em 1871, trabalho elogiadopor Gabriel de Mortillet no livro «Le préhistorique» (1883), sobre ossílices e quartzites lascadas, encontrados na Ota, em terrenos terciáriose quaternários, revelando um trabalho intencional por parte de um serprecursor do Homem, o Anthropopithecus, que teria existido há cerca de240.000 anos (considerado muito mais pequeno que o homem, tendo emconta a pequenez das pedras que trabalhava).

Porém, apesar deste grande entusiasmo a nível da prospecção, darecolha de materiais arqueológicas e da sua interpretação, faltavam aindaos critérios técnicos e as ferramentas actualmente disponíveis a níveldos métodos de datação e de escavação, o que limitou o alcance e osignificado das sínteses interpretativas então produzidas (Fabião, 1999).

Também aqui havia, tal como na restante Europa, quem procurasseuma arqueologia de pendor nacionalista, positivista, globalizante,esboçando grandes sínteses da ideia geral que era Portugal, fazendoremontar as suas raízes a um passado anterior à romanização, vendo nosvestígios materiais, mais ou menos monumentais, deixados pelas tribosque aqui habitaram, a prefiguração da identidade nacional. Por outrolado, à medida que uma burguesia urbana se ia consolidando, ia-seafirmando um público interessado, ultrapassando-se o mero interessecoleccionista privado, concretizando-se então vários projectos de museus,quer de âmbito nacional quer regional (Nabais, 1999).

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Duas figuras merecem uma abordagem particular quer pelo papelque desempenharam na Arqueologia portuguesa de final do século XIXe início do século XX, quer pela influência que exerceram em FranciscoTavares Proença Júnior: Martins Sarmento e Leite de Vasconcelos.Martins Sarmento, considerado o primeiro a realizar exploraçõesarqueológicas segundo critérios científicos, investigando as citânias e oscastros, fez de Guimarães um centro de referência do estudo daantiguidade, chegando a atrair a atenção dos arqueólogos europeus, alitendo decorrido em 1877 uma Conferência, de âmbito internacional, aprimeira que decorreu em Portugal, exclusivamente dedicada àArqueologia; verdadeiro paleo-etnólogo, soube associar a arqueologiacom a etnologia, no estudo da proto-história, procurando conhecer ospovos que viveram nos castros, as suas vivências, as suas crenças, assuas tradições (Martins, 1995). Leite de Vasconcelos, um dos fundadoresda Arqueologia portuguesa, de grande prestígio nacional e internacional,estudioso das divindades, crenças e cultos dos tempos proto-históricos,prosseguindo também um projecto no âmbito da Paleo-etnologia, visavao conhecimento das origens da nação portuguesa. Para tal recorreu aabordagens multidisciplinares, associando à Arqueologia, a Filologia, aHistória e a Etnografia. Funda «O Archeólogo Português» que pretendeconstituir como espaço de publicação de pequenas contribuições queservissem, mais tarde, para a elaboração das necessárias sínteses. Seguiauma perspectiva centralizadora (Fabião, 1999), defendendo mais oumenos explicitamente que todos os objectos deveriam ser recolhidos einvestigados em Lisboa, tendo afirmado mesmo que a sua região era opaís, o que suscitou um conflito quer com Martins Sarmento quer comEstácio da Veiga e, mais tarde, com Tavares Proença.

2. A FORMAÇÃO E O PENSAMENTO DO ARQUEÓLOGO

«Sobre a minha banca e um pouco à esquerda, uma confusão terrível:vejo Spencer no meio de vários volumes de Richebourg; Libock no meio das

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obras de Hamilton, Maistre, Gautier, L’abbé Prévost ; vejo os ensaios deMacaulay no meio das obras de Zola, Shakespeare, Montifano, Tenyson e oscontos extraordinário do americano Poe. Mais além, novamente Richebourg,Charles Dickens, Voltaire, Balzac ; novamente Gautier, Houssaye, Maupassant,Tancred Martel, Zola, Gignault Lebrum e, no meio de tudo isto – o Werther,do imortal Goethe, Chateaubriand e (…) mais além, com triste cara deabandonado, sem esperança, espreita-me o Código civil…». F.T.P.J.

(Coimbra, 1902)

Pretende-se definir o quadro geral dos valores subjacentes à suaacção de arqueólogo, o seu pensamento, os critérios que nortearam asua curta vida de homem de ciência. O que implica também procurarsaber quem o inspirou, quais foram realmente os seus mestres,clarificando o seu lugar no contexto da arqueologia da época, sabendoque foi quase sempre um homem só, que soube e quis preservar o seuespaço, embora isto não signifique que tenha desprezado o trabalho dosoutros ou o contacto humilde com aqueles que tinha por seus mestres,nomeadamente Martins Sarmento e Leite de Vasconcelos. Com efeito,não tendo uma formação académica na área da Arqueologia e da Pré--história, movido por uma grande paixão pelo passado, pelas «coisasvelhas», sabendo que beneficiou do período dourado da Arqueologiaportuguesa em que nasceu, que valores adoptou, como estruturou a suaacção?

Em carta dirigida a Leite de Vasconcelos a de 1 de Agosto de 1903,conta como se começou a interessar pela Arqueologia: «Comecei porobservar umas sepulturas antigas, que existem próximo da minha casa ehoje leio e observo o que aparece que se refira à Arqueologia. Não tenhoseguido método nenhum e isso devido à falta de quem pudesse dirigir--me…». Solicita depois indicações que o ajudassem a saber qualquercoisa sobre esta ciência pela qual era «verdadeiramente apaixonado»(Documento 19212 do Epistolário de Leite de Vasconcelos, MNA).

Num manuscrito de 1907 (A8, Nº 14573) e na publicação«Archeologia do Districto de Castelo Branco» (1910), dá-nos conta do

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que pensa dever ser o trabalho de arqueólogo, deixando aí transpareceruma certa concepção de Arqueologia, a qual revela uma actualidadenotável: «uma descrição geral dos factos que em eras distantes nela[na região] se passaram, dos povos que a habitaram, da evolução dosseus costumes, das manifestações industriais, das suas crenças, etc. Etudo isso se estuda hoje nos vestígios que eles nos deixaram, utilizandoos processos de critica baseados na linguística, na antropologia, nasociologia, na etnografia comparada, principalmente, etc.». Ainda nestemanuscrito, rejeita a Arqueologia feita apenas da colecção de calhausou cacos mais ou menos extravagantes ou desprezíveis. Ainda em 1910,comentando a publicação do «Bulletin de la Société Préhistorique deFranca», Tomo II, em Materiais, número 3, protesta contra as fantasiasde alguns arqueólogos românticos que, a partir dos seus gabinetes,estudam a Arqueologia dando asas à sua imaginação; e dá o exemplodas covinhas (fossettes), muitas das quais considera naturais, e o dadiscussão em torno da obliquidade do gume dos machados neolíticosque considera resultado do acaso da fractura, embora alguns oexplicassem em função de cálculos matemáticos e de geometria. E aindano mesmo número de Materiais, comentando um artigo de Léon Joulinna «Revue Archéologique», Tomo XVI, relativo às citânias do Minho,diz reconhecer-lhe valor científico no que se refere ao «exame puro esimples de factos, isolados uns, e outros mais ou menos relacionados»,mas aconselha prudência quando se envereda por generalizações ecomparações sem fundamento na realidade. E, quanto aos exageros quena época eram comuns no que toca às generalizações, dá o exemplo demuitos dos trabalhos que se seguiram a Schliemann que atribuíam todosos tipos de ornamentação, sobretudo espirais e círculos concêntricos, àinfluência micénica.

Alguns dos seus textos, de modo particular certas cartas, revelamgrande expressividade e elevada eloquência e uma visão romântica dopassado (A 48, Nº 14612 ou A33, Nº 14597). Por exemplo, quandodescreve as impressões da visita à velha Egitânia, em que manifestaadmiração pelo esplendor humano transmitido pelas ruínas face à

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Humanidade decadente do seu tempo. Ou quando recorda a visita feitaem 1903 à citânia de Briteiros, pretexto para reforçar a admiração porum «passado tão grandioso e vasto», descrevendo com riqueza depormenores todo o ambiente em torno das ruínas, a paisagem, as casas,os caminhos, as próprias ruínas... «restos por vezes tão ténues que nosvêm de um passado tão grandioso e vasto» e exclama: «eu amo desdea infância as antiguidades e compreendo-as». O que não significa quepartilhe, por exemplo, o interesse de Leite de Vasconcelos pela origemdo povo português; com efeito, desde cedo estabeleceu como objectivoconhecer e preservar os vestígios materiais dos povos que viveram oupassaram na sua região, o distrito de Castelo Branco, não porque pensasseque esta tivesse uma história particular, mas exactamente para a integrarna história mais vasta do país, da Península Ibérica e mesmo da Europa,perspectiva que nos parece ser bastante original no contexto da época(Proença, 1910 a).

Amigo do saber, apaixonado pela pré-história, aproveita tudo paraaprender. A sua obra inclui bastantes referências à mais actual bibliografiacientífica do seu tempo, quer nos domínios da Arqueologia e da Pré--história quer das restantes ciências, adquirindo todas as publicaçõesnacionais e estrangeiras, as quais conhecia em pormenor, lendo-as deforma crítica. Por outro lado, visitava os sítios arqueológicos e os museussempre munido do seu caderno de apontamentos, onde registava tudo oque via e fazia, reproduzindo mesmo as peças, com a indicação daestante e da prateleira em que se encontravam. Visitou museus noestrangeiro e em Portugal, tendo estes constituído também umaimportante fonte de conhecimento e informação (Figura 1), como foramos casos do Museu Etnológico, do Museu da Comissão Geológica, doMuseu Arqueológico da Associação dos Arqueólogos Portugueses (Museudo Carmo), do Museu do Instituto de Coimbra, do Museu Municipal daFigueira da Foz, entre outros.

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A sua formação fez-se no contacto com a realidade (E 10, Nº14552), nas inúmeras leituras a que teve acesso e nas visitas aoestrangeiro, sobretudo Inglaterra, onde estudou, e França, onde aparticipação nos Congressos representou a frequência de uma verdadeiraAcademia, referência científica que orientará grande parte do seu trabalho(E 22, Nº 14564). Quando em 1905 participa no Congresso de França,não são só as apresentações, os debates e as entrevistas que despertamo seu entusiasmo. Tem também oportunidade de visitar locais de elevadointeresse ligados à Pré-História: estação neolítica e romana ded’Ecorneboeuf; a gruta sepulcral neolítica de Campniac; várias estaçõespaleolíticas, com indústrias acheulense, musteriense e de transição dosolutrense para o magdalenense; abrigos de Raymonden, o dólmen deJambe-Grosse; o dólmen de Pierre-Levée de Brantôme ou de Camp-de--César; a estação acheulo-musteriense de Micoque; o abrigo solutrensede Laugerie-Haute e o abrigo magdalenense de Laugerie-Basse; o antigoabrigo de Cro-Magnon; as gravuras da gruta de La Mouthe; as pinturasda gruta de Font-de-Gaume; as gravuras da gruta de Combarelles; a

FIG. 1. Nota em que comparam machados de museus diferentes(Doc. E 7).

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gruta de Eyzies; a estação de Moustier; os abrigos de La Madeleine (E8, Nº 14550). No regresso visitou ainda o Museu de Madrid.

Autodidacta, procura seguir os melhores mestres da Arqueologianacional e internacional da época, não deixando de articular o saberlivresco às pesquisas de campo, à observação criteriosa dos lugares e doespólio encontrado. Do contacto com os mestres, é significativa a relaçãocom Leite de Vasconcelos, a quem insistentemente pede orientações eesclarecimentos e com quem acaba, numa fase mais avançada (em 1910)por se confrontar. É pois evidente na correspondência que dirige a Leitede Vasconcelos, iniciada habitualmente com a expressão «Meu prezadoMestre», a elevada consideração pessoal e científica que mantém porele, a quem pede insistentemente informações (quanto à leitura deinscrições, ao modo de «tirar decalques» das mesmas, sobre a Citâniade Briteiros para um trabalho que pretende publicar, como «conhecerem detalhe, os produtos das estações romanas tais como louças,inscrições, etc.») … como consta dos Documentos 19206, 19207, 19218do Epistolário de Leite de Vasconcelos, no Museu Nacional deArqueologia. No entanto, constatamos, ao longo do tempo, que este seuposicionamento evolui, ao ponto de, em Fevereiro de 1911, tratar Leitede Vasconcelos por «amigo», numa fase em que FTPJ se sentia jáarqueólogo e manifestava, em alguns aspectos, posições próprias,diferentes das de Leite de Vasconcelos.

Homem culto, inteligente, conheceu e interveio nos grandes debatesdo seu tempo, afirmando pontos de vista próprios. Entre o paradigmadifusionista e o evolucionista, optou claramente pelo segundo, criticandoem vários textos o difusionismo, explicando os possíveis diferentes focosde emergência de ideias ou factos novos idênticos ou semelhantes, emfunção de necessidades também semelhantes ou idênticas, desencadeadasem função do meio, que toma assim como factor de evolução e dediferenciação (E 22, Nº 14563). No entanto, citando Alexandre Bertrand,rejeita que as «raças humanas» tenham passado todas necessariamentepelas mesmas fases de desenvolvimento e tenham percorrido as mesmasséries de estados sociais que a teoria lhes impõe. Francisco Tavares

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Proença Júnior vai ainda mais longe ao afirmar ser errado pensar queuma mesma «raça humana», disseminada numa dada zona do território,tenha passado em todos os pontos deste pelas mesmas fases, no mesmomomento, uma vez que as ideias não surgem instantaneamente nosdiversos pontos do território; a ideia surge num ponto e leva algumtempo a atingir um ponto próximo (E 11, Nº 14553). Por outro lado,aproveita para criticar os arqueólogos que datavam estações apenas combase na semelhança das indústrias encontradas, explicando que nummesmo espaço poderiam ter coexistido indústrias de períodos diferentes,chamando a atenção para o facto de não apenas estações com indústriascomparáveis se situarem num mesmo tempo, uma vez que se constatavaque, por vezes, regiões muito afastadas, sem contacto entre si, revelavamformas semelhantes. Defende assim a ideia segundo a qual o aparecimentode objectos idênticos em pontos diferentes, embora próximos, não bastapara os atribuir à mesma época, recusando a simples utilização dosdados arqueológicos de uma estação para se datar outra. No entanto,não generaliza o princípio porque atende à complexidade que a realidaderevela. Embora criticando o evolucionismo, defendeu o paradigma das«três idades» e procurou definir tipologias que devidamente organizadase colocadas sequencialmente servissem como base para o estabelecimentode cronologias, entendendo sempre como imprescindível a consideraçãodas realidades materiais concretas e diversas.

Relativamente à origem do fenómeno megalítico e à sua evolução,propôs a classificação tipológica dos monumentos, distinguindo fasescontingentes (que podem ou não ocorrer) de fases necessárias (que sãoinevitáveis) pelas quais passam os povos, considerando como primeirasas manifestações mais simples e como mais tardias, mais «civilizadas»,as que apresentassem um certo estado de desenvolvimento. Ou seja, asideias complexas como produto do desenvolvimento de ideias anteriores.Assim, por princípio geral que aceita com restrições, considera maisantigos os monumentos em cuja construção se reconheça uma menorporção de trabalho intelectual ou de estudo por parte dos seusconstrutores. Propõe-se mesmo apresentar um quadro em que as diversas

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formas de megálitos sejam apresentadas em correspondência com asépocas a que as suas observações e estudos os levam a atribuí-los, parao estabelecimento do qual definiu dois critérios: a contemporaneidadeentre a parte lítica dos monumentos e o espólio neles encontrado (sempreque os níveis arqueológicos fossem intactos) e a simultaneidade nasalterações de forma dos monumentos e do espólio respectivo (A 13, Nº14578).

Ainda de acordo com esta perspectiva e a propósito dos instrumentosde pedra polida, relaciona a sua evolução com uma progressivaespecialização, explicando que certos artefactos iam persistindo no tempo,mesmo quando surgiam novos, mais especializados; assim, uma enchó,embora mais moderna que um machado, não teria que considerar-semais aperfeiçoada, uma vez que após a descoberta das enchóscontinuaram a utilizar-se os machados. Distinguia a prioridade (omachado) da perfeição e da aplicação que seria distinta de acordo comum objectivo específico. E conclui esta perspectiva mais complexa doproblema da datação relativa com a frase: «Como se Lisboa e Paris nãofossem coevas.»

Faltando à época os meios técnicos e científicos de que hojedispomos para situar no tempo, o estabelecimento de cronologias erafrequentemente motivo de polémica, não deixando Tavares Proença Júniorde afirmar os seus pontos de vista. Na datação de artefactos ou estaçõesarqueológicas, por mais de uma ocasião diz estar de acordo com aquiloque Alexandre Bertrand, em «L’âge du bronze et le premier age du feren France», propusera para a França, afirmando não bastar oaparecimento numa região de objectos de cobre, por exemplo, para seafirmar que se estava na Idade do Cobre. Propõe que o estabelecimentode cronologias não se baseie apenas na comparação pura e simples commonumentos clássicos de outras regiões, mas se complemente esta comuma completa exploração do local de modo a que se possa estabeleceruma datação segura. Num comentário feito em 1910, na secção«Bibliografia» do número 2 de «Materiais…», a propósito do trabalhode Joaquim Fortes, «Estação Paleolítica do Casal do Monte», chama a

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atenção para que não se adoptem, sem o necessário cuidado crítico, aspropostas dos paleoetnólogos franceses «uma vez que não eramconhecidas e perfeitamente caracterizadas em Portugal estações típicasde uma determinada época ou período.» Por outro lado, aconselha quese evitem generalizações ou conclusões sobre os estudos feitos emestações arqueológicas portuguesas, uma vez que, em muitas destas severificava, muitas vezes, uma amálgama de utensílios de vários períodos(«armas» de pedra em estações luso-romanas ou cerâmicas aretinas emantas), o que perturbava qualquer processo de datação.

Outro tema em que as suas posições patenteiam alguma controvérsiae, no contexto da época, eram já nada ortodoxas, é o da origem orientaldas civilizações pré-históricas ocidentais, em que, tal como MartinsSarmento, negando o orientalismo, defende a autonomia da culturaeuropeia pré-histórica, nomeadamente quando se discute o processo deneolitização. Faltariam a esta proposta provas concretas, considerandofundamental tomar por seguro a existência de uma civilização asiáticaanterior à europeia que lhe legasse as mesmas formas e os mesmosprocessos de fabrico. E ao dar o exemplo da neolitização, emboradefendendo um ponto de vista subjectivo e polémico, acaba por apresentarum argumento que hoje nos parece válido: a civilização neolítica apareceuna Europa e em Portugal em função de necessidades que foram idênticasem todos os lugares. Assim, conclui, ideias semelhantes podem germinarem cérebros diferentes, levando a práticas semelhantes em todas ascivilizações (E 21, Nº 14563). Com efeito, se faltam dados materiaisque permitam sustentar a ideia de uma civilização pré-histórica ou deuma civilização neolítica europeia, admitem-se actualmente a existênciade vários pontos de emergência mais ou menos simultânea do neolítico(Soares, 1996).

Uma das características do seu trabalho é a preocupação com adivulgação, com a troca de informações, dando relevo à divulgação detodas as informações e ideias que pudessem contribuir para o progressodo conhecimento sobre o passado da região ou do país e até da Europaa que se sentia tão ligado e com a qual procurava relacionar os dados

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conhecidos sobre Portugal (Proença, 1903a). Revela o interesse emconferir à Arqueologia um sentido social, na medida em que a mesmapoderia contribuir para reduzir o obscurantismo e a ignorância, na medidaem que, através da exposição dos artefactos em museus e da publicaçãodas explorações realizadas, esperava motivar os seus concidadãos paraa preservação do património e para o reforço da sua identidade cultural.

Caracteriza-se ainda a sua acção de arqueólogo pela defesa dealguns como a honestidade, a verdade e a humildade, tendo sempre ocuidado de distinguir aquilo que fazia, que era produto seu, o quedescobria, daquilo que tivera conhecimento através de outra pessoa oude fonte bibliográfica que, sistematicamente, identifica (A 29, Nº 14593).Por outro lado, aceita as críticas e sugestões feitas ao seu trabalho,nomeadamente por Leite de Vasconcelos. Num trabalho sobre «OMonumento Proto-histórico do Barro», critica duramente Santos Rocha(F 19, Nº 14561) por se ter pronunciado publicamente sobre um achadoantes de o seu descobridor, o abade Lapierre, o ter publicado, faltando--lhe assim ao respeito e revelando grave impertinência ao chegar arealizar sondagens no local, evidenciando falta de honestidade e delealdade o que o levam a chamar a Santos Rocha «assaltante» querrelativamente a Lapierre, quer relativamente ao Museu Etnológicoportuguês.

Concluímos este capítulo, questionando-nos quanto ao significadoda constante crítica angustiada à sociedade do seu tempo, à qual contrapõea excelência e o esplendor do passado (A 48, Nº 14612). Afirmaçõesdifíceis de compreender em alguém que se veio a revelar um militantemonárquico, anti-republicano. Com efeito, se as suas críticas, no contextodos últimos tempos da monarquia, visavam uma sociedade decadente,desprovida de valores e de força, dominada pela barbárie e a ignorância,alheia aos progressos da inteligência (A 29, Nº 14593), como secompreende então que não tenha seguido a intelectualidade do seu tempo,os seus mestres, Bernardino Machado e Leite de Vasconcelos, queaderiram ao ideal republicano?

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3. UM PROJECTO AMBICIOSO

«...reunir um conjunto de factos, de observações, e de estudos para o formidáveltrabalho de conjunto que só os que nos sucederem poderão completar...».

Francisco Tavares Proença Júnior (1910)

Neste capítulo expõem-se os grandes objectivos que deram corpo,que serviram de pretexto ao trabalho de Francisco Tavares Proença Júnior,enquanto arqueólogo. Ao longo de toda a sua obra está repetidamenteexplícito o objectivo de conhecer as origens dos antigos habitantes doterritório correspondente ao distrito de Castelo Branco, baseando-se nosseus vestígios materiais, que inventariou e explorou, procurandoclassificá-los e ordená-los cronologicamente, recorrendo a comparaçõescom espólio de outras regiões (Proença, 1907b). Ao contrário do que eraentão mais corrente entre nós, não procura a origem do «povo português»,nem se preocupa com as origens mais remotas da Humanidade (Proença,1908a). Vários dos seus textos revelam a preocupação em tornarconhecidas as antiguidades portuguesas e o desejo de ver progredir osestudos arqueológicos em Portugal, sabendo que o seu trabalho seriaapenas um pequeno contributo para esse estudo mais abrangente (A 21,Nº 14586). É extremamente actual o seu propósito de «interrogar opassado com o intuito de reconstituir a vida desses povos de que apenastemos conhecimento pelos vestígios quase apagados que nos deixaram»(Proença, 1903 b), embora esta tenha sido uma intenção difícil deconcretizar, tendo em conta que se dedica sobretudo à recolha, registoe divulgação dos vestígios e muito pouco à reconstituição da vida dessespovos.

São vários os temas de interesse e de pesquisa a que se dedica,embora, articulados entre si, formem um todo coerente que constitui oseu Projecto, o qual se pode considerar ambicioso tendo em conta a suaamplitude, não limitado a um período ou a um tipo específico de objectosrelativos ao passado da sua região, abrangendo castros, sepulturas, piase vestígios da civilização romana, moedas, inscrições, instrumentos de

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pedra polida, instrumentos de bronze, vias romanas e pontes, dólmenes emonumentos megalíticos, instrumentos de cobre, louças, pontas de lançaem sílex, lagariças abertas em rocha, caminhos antigos, minas, fortificaçõesantigas, objectos velhos vários, cavernas, instrumentos em ferro, lendas,sinais em pedras, fragmentos de telhas e tijolos e «coisas aparecidas».

Embora tivesse realizado pesquisas e recolhas em outras regiõesdo país, nomeadamente no distrito de Leiria, a região que claramenteprivilegiou foi o distrito de Castelo Branco, para o qual se propõs realizarum trabalho arqueológico de conjunto, tendo em conta que nada aindafora feito, à excepção das «Memórias do Bispado da Guarda», de ManuelPereira S. Leal, expondo mesmo o ponto da situação sobre oconhecimento da pré-história e da proto-história do distrito quando iniciouos seus trabalhos (apenas referências passageiras a algumas antas emVila Velha, Belmonte, Fundão, Meimoa e Idanha-a-Velha e a achadosnuma anta próximo de Idanha-a-Nova).

Também do ponto de vista cronológico é amplo o âmbito do seuprojecto: desde as mais antigas civilizações, com excepção da Paleolítica,da qual não encontrou vestígios na Beira Baixa, à chegada dos Bárbaros,no século V, longo período em que, como afirma, a civilização desta zonado território esteve intimamente relacionada com a do resto da Península.

A elaboração de inventários constituiu uma das facetas do seutrabalho, consistindo no levantamento dos diversos monumentos, sendoestes indicados com os mais indispensáveis dados geográficos ebibliográficos, para os quais procedeu a uma sistemática recolha deapontamentos em museus, ruínas, campos, estações arqueológicas,bibliotecas (A 21, Nº 14586 e A 23, Nº 14587). Entre os inúmerosinventários e levantamentos a que procedeu, contam-se os relacionadoscom os castros, os monumentos megalíticos, as inscrições, as cerâmicase os instrumentos de pedra polida.

Relativamente às inscrições enuncia claramente a ideia (emFevereiro de 1904) de registar todas as inscrições que viesse a conhecer,quer por observação dos originais quer por cópia de trabalhos antigosou modernos, numa zona definida, a norte, entre a linha que passa por

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Idanha-a-Velha e Monsanto e, a sul, o rio Tejo (A 13, Nº 14589).Quanto aos instrumentos de pedra polida, faz a representação das

principais formas conhecidas em Portugal (Figura 2), procurandoestabelecer tipologias e, a partir destas, cronologias de referência quefossem úteis (Figura 3), por exemplo, no estudo dos machados polidosou na identificação de variantes regionais (Proença, 1907 b). Apreocupação com a definição de tipologias, muito em voga na época,seguindo o modelo das ciências naturais, não se limita porém aosinstrumentos de pedra polida, estendendo-se também aos monumentosmegalíticos e aos castros (E 7, Nº 14549 e A5, N 14570).

FIG. 2. Esboço de organização dos machados por tipologias, segundo as regiões(Doc. A5).

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Mas o seu tema de eleição, aquele em que mais trabalhou, em quefoi mais longe nas explorações que fez, foi o dos monumentos megalíticos(A 23, Nº 14587). Pretendeu proceder a um levantamento e classificaçãode todos os monumentos conhecidos em Portugal, indicando a designaçãode cada um, a sua localização e a bibliografia respectiva (E 4, Nº 14545).Ou seja, não só o levantamento dos monumentos, mas também de todaa informação disponível a nível nacional, objectivo que concretiza apartir da leitura de «Religiões da Lusitânia» I e do «ArcheólogoPortuguês», volumes I a X. A partir deste levantamento prpôs-se elaborarum ensaio de classificação dos dólmenes portugueses, colocando-oscronologicamente, de acordo com o aparecimento das diferentes formasou ideias (A 24, Nº 14588). Mas, no que se refere ao distrito de CasteloBranco, vai mais longe e espera realizar a descrição e estudo dosmonumentos, do seu espólio e das circunstâncias da sua construção,bem como a divulgação das descobertas e das explorações metódicasque realizasse (E 22, Nº 14564 e E 2, Nº 14544).

Objectivo em que muito se empenhou foi a criação do Museu deArqueologia de Castelo Branco. Define-o logo em 1903, afirmandopretender contribuir para salvar da destruição os vestígios de antigascivilizações que passaram pela província. Esta constituía para TavaresProença Júnior uma tarefa urgente face à acelerada destruição e desprezo

FIG. 3. Alguns dos tipos de machados identificados por FTPJ (Doc. E7).

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a que a ignorância dominante votava todo o património cultural.Preocupado com a salvaguarda do património, relata como exemplo dadelapidação deste, o episódio de um farmacêutico que, em Nisa, destruírauma anta. Estácio da Veiga, no Algarve e Santos Rocha, na Figueira daFoz, terão sido os modelos que mais o influenciaram neste seu projectoquer no que diz respeito à ideia do Museu, quer à sua associação a umapublicação científica e a uma instituição que promovesse o debate e ainvestigação regional (A 16, Nº 14581). Com efeito, também ele esperavatornar o Museu um espaço educativo e cultural dinâmico que favorecessea investigação e o debate, onde as colecções servissem objectivoscientíficos que fundamentassem as suas ideias expostas nos vários livrosque ia publicando. Vários dos seus trabalhos pretenderam contribuirpara a divulgação e a organização do espólio que viria a integrar ofuturo Museu Arqueológico de Castelo Branco (Proença, 1908a).

Finalmente, a publicação da revista «Materiaes…» que, de algumaforma, se relaciona com o projecto da criação do Museu, inserindo-seno âmbito mais amplo do seu objectivo de reunir e divulgar materiaispara posterior sistematização.

Para atingir o objectivo de conhecer a verdade, para si sinónimo deobjectividade, procura fundamentar cientificamente as suas afirmaçõesou opiniões, baseando-se numa metódica observação e análise directa erigorosa dos factos, o único meio que admite para chegar a conclusõesseguras e firmes. Preocupa-se em proceder a pesquisas e exploraçõesmetódicas, registando todos os factos, segundo critérios científicos, deacordo com os seus mestres (A 8, Nº 14573). No entanto, admite nemsempre se ter submetido à doutrina dos mestres embora aceitando «origor da crítica de homens competentes e conhecedores da região.»

Em resultado do seu esforço de aproximação às instituições e àspessoas que tomava por seus mestres, da sua vontade e disponibilidadepara aprender, dominou os conceitos e os métodos que no princípio doséculo XX eram os mais avançados e não hesitou em expor-se,submetendo à crítica os seus trabalhos. Embora manifestando semprealguma angústia pela falta de reconhecimento público, de que se

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lamentava, é um facto que obteve reconhecimento nacional e internacional,situação que também gostava de exibir: membro do Instituto de Coimbrae da Real Associação de Architectos Civis e Archeologos Portuguezes,Oficial de Instrução Pública, em França, membro da Société Préhistoriquede France e da Société Française de Fouillees Archéologiques, com artigospublicados em várias revistas nacionais («O Instituto», «O ArcheologoPortuguês») e estrangeiras («L’Homme Préhistorique»). Muitos destestítulos resultaram da sua participação nos Congressos, que funcionaramcomo momentos impulsionadores de boa parte dos seus trabalhos,referência dos temas e metodologias que seguiu.

4. O ARQUEÓLOGO EM ACÇÃO: PROCESSOS DE TRABALHO

«L’Archeologie est non seulement une science dont les résultats peuventêtre d’ une haute portée, elle est encore une des connaissances les pluspropres à piquer vivement la curiosité de l’esprit et à lui procurer desjouissances précieuses».

J. J. Bourassé

Nas várias dimensões do seu trabalho, de prospecção, de pesquisabibliográfica, de recolha de dados e da sua divulgação, Francisco TavaresProença Júnior não andou ao acaso das circunstâncias. Pode dizer-seque, tendo definido cedo o seu projecto, os seus campos de interesse,toda a sua obra revela uma metodologia que lhe garanta rigor,autenticidade e objectividade. Os seus trabalhos revelam um métodoque, no contexto da época, não podemos deixar de considerar um métodocientífico adequado: observa, regista, compara, evitando a subjectividadee a generalização precipitada (A 8, Nº 14573). A atenção que dá àobjectividade descritiva leva-o a excluir dos seus trabalhos as estações,monumentos e objectos de que não tenha indicações seguras. Não inclui,por exemplo, lugares onde foram encontrados objectos avulsos,depositados no Museu de Castelo Branco, por considerar que o ter-se

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encontrado objectos num dado lugar não basta para caracterizar e provara existência de estações arqueológicas (Proença, 1910u). Por vezes, estacondição de trabalho, que decorre dos princípios que defendia, torna osseus trabalhos extremamente descritivos, sem grande fôlego, o que nãosignifica falta de visão e mediocridade mas apenas cuidado e preocupaçãocom o rigor e a objectividade. Revela uma perspectiva críticarelativamente à Arqueologia portuguesa, defendendo a necessidade deum trabalho regular e metódico que guiasse «no campo pouco trilhadoda ciência», uma vez que se caminhava ainda por uma selva escura,tendo em conta o atraso em que a Arqueologia se encontrava em Portugal.

Alguns dos seus cadernos de apontamentos ou de campo mostram quetinha a preocupação de, no momento das explorações, registar ao pormenoras suas observações e acompanhá-las dos desenhos das peças que iarecolhendo (E 10, Nº 14552); são vários os blocos com desenhos de ímbrices,de tegulae, sepulturas, fundações, mós ou moinhos manuais, rodas de oleiro,explicando a sua funcionalidade (E 4, Nº 14546). No caso das tegulae, porexemplo, explica que formam a cobertura (tecta imbricata) dos edifíciosromanos (domi). Embora não recorrendo ainda muito à fotografia, constata--se que valoriza o desenho ou a representação esquemática das peças ouvestígios arqueológicos (nomeadamente ruínas de fundações), bem comodo espaço em que se encontram, indicando, em alguns casos, as coordenadasrelativas mais significativas (a orientação, o caminho ou linha de águapróxima), chegando mesmo a representar de forma aproximada, à vista, ascurvas de nível, no sentido de dar a conhecer a inclinação do relevo. Porvezes, as peças aparecem representadas em várias perspectivas (de frente,de perfil), com as dimensões aproximadas, significando que valorizava aimagem ou a representação no seu trabalho de interpretação, como ferramentatécnica indispensável, mas também como suporte de apoio à divulgaçãodos seus trabalhos. À observação e registo segue-se a exposição, feita commétodo e clareza, quase sempre na forma de diário em que cita os factosà medida que as explorações vão decorrendo (E 5, Nº 14547).

Constrói o seu conhecimento com base nas prospecções no terreno,na observação directa e no registo, mas procura igualmente documentar-

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-se recorrendo a informação já existente que utiliza de forma crítica,procedendo a um exaustivo levantamento bibliográfico sobre os temasque estuda, como, por exemplo, os monumentos megalíticos, em quemuita da informação é recolhida na obra de Leite de Vasconcellos, do«Archeólogo Português», sobretudo nos números I e II. Com efeito, épor intermédio desta publicação que tem conhecimento de fontes comoas «Memórias Parochiais» de 1758 e outras que o levam depois aoterreno. Para lá da informação mais actual constante de livros daespecialidade, visita museus, onde procura obter informações segurasque fundamentem os seus estudos e conclusões (E 8, Nº 14550).

Elabora um guia de levantamento do património arqueológico,baseado num longo questionário que propõe, em 1906, como instrumentode estudo e levantamento, orientador do trabalho de campo. Verdadeiroplano de descoberta, salvaguarda e preservação do património culturalem que, a par da observação e da prospecção, recorre à informaçãopopular, à tradição oral na sondagem/levantamento do patrimónioarqueológico (A 9, Nº 14574). Pelo seu significado merece ser aquiapresentado em pormenor. O trabalho é estruturado em duas partes:«vestígios proto-históricos» e «vestígios pré-históricos: monumentosmegalíticos».

A primeira parte aponta os tópicos ou assuntos que devem serseguidos na prospecção arqueológica:

1. considerar as cartas topográficas das estações: nomes queconservam, quer genéricos (cividade, cidade, castello, castelo,crestelo, castro, crasto, citânia, cerca, coruto) quer especiais(nomes dos montes ou outeiros em que se situam);

2. indagar vestígios de fortificações, muralhas, trincheiras de pedraou terra; tradições populares associadas às estações (mouros?encantamentos?);

3. assinalar as diferenças características entre os lugares quanto àsituação, às fortificações;

4. conhecer as tradições associadas às fontes e suas águas, situadasnos altos;

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5. pesquisar referências, nas proximidades, a minas antigas etesouros encantados;

6. perceber a direcção seguida pela população primitiva na suadeslocação/migração dos montes (sítios altos) para as planíciesou vales e compreender os motivos;

7. perceber, a partir dos objectos encontrados, quais foram as estaçõesanteriores à romanização e as que persistiram após a romanização;

8. fazer o levantamento dos penedos com gravuras, letras ou sinais,círculos, espirais, fossettes;

9. fazer o levantamento de estátuas, esculturas em cobre, lápidescom formas regulares, sepulturas;

10.fazer o levantamento de locais que a tradição associe a vasilhasde barro ou metal, contendo terra, carvão ou moedas antigas;

11.referenciar a descoberta ou a menção de instrumentos metálicos(cobre ou bronze) de formas invulgares;

12.estudar atentamente a ornamentação das igrejas antigas em voltadas quais se constituíram povoações com habitações vindas dospontos altos;

13.comparar tal ornamentação com a ornamentação de outras pedrasda povoação primitiva ou estações distantes;

14.recolher armas de bronze, objectos cerâmicos e moedas;15.observar as características antropológicas dos habitantes actuais

da localidade: cor do cabelo e dos olhos, estatura, grau depilosidade, forma do nariz e das caras.

A segunda parte, «vestígios pré-históricos: monumentosmegalíticos», propõe outros tantos tópicos ou aspectos a observar notrabalho de campo:

1. conhecer a carta topográfica dos túmulus, antelas, antas eantinhas, nomes que conservam e por que são conhecidos (antas,dólmenes, casas de mouras, fornos de mouros, lapas de mouros,mamoinhas, mamoellas...);

2. perceber se foram cobertos por mamoas e estas coroadas pormenires;

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3. conhecer as tradições a respeito do monumento: antiguidade,utilização;

4. pesquisar as práticas a que tenham sido votados e de que restetradição;

5. saber qual o destino e utilização actual: abrigo, casa de pastores,marco de terreno;

6. compará-los com outros do mesmo tipo de outras regiões;7. recolher todos os dados a incluir no Relatório: localização

(distrito, sítio...), orientação, descrição (número de blocos,situação e estado de conservação, natureza das rochas,relacionando com a natureza geológica da zona, averiguar aproveniência das rochas, registar as dimensões aparentes decada bloco, a sua orientação e distância entre si);

8. verificar se se trata de um túmulo, anta, antela ou antinha; seé grande ou pequeno, coberto ou descoberto, simples oucomposto, completo ou incompleto, circular ou poligonal, intactoou profanado, vazio ou destruído; em caso de exploração, indagarse está vazio por ter sido violado;

9. analisar o espólio e verificar se as suas características permitemsituá-los cronologicamente;

10.verificar se os blocos apresentam figuras gravadas ou pintadas,no exterior e no interior e se revelam vestígios de aparelhamentoou desbastamento executados quando da utilização;

11.localizar o monumento numa carta topográfica, descrevendo asua localização: vales/chãos, montes, outeiros, desfiladeiros,próximo de cursos de água;

12.recolher os objectos encontrados nesses monumentos: armas depedra, calhaus rolados, percutores, cerâmicas;

13.registar os nomes atribuídos pelas populações a esses objectos: pedrasde raio, centelhas, coriscos, faíscas e superstições/perigos associados;

14.verificar os lugares onde os instrumentos foram encontrados;15.indagar se, em trabalhos rurais, aparecem pederneiras, pedras

de ferir e examinar o local.

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Este inquérito é revelador quanto à forma como exerceu aArqueologia. Em primeiro lugar, dá-os a ideia dos temas pelos quaisrevelou maior interesse: a civilização megalítica, a época dos metais, operíodo pré-romano em torno dos castros e da evolução destes face àpresença romana. Com efeito, entre os seus inúmeros trabalhos contam--se a recolha de inscrições, a exploração de monumentos megalíticos ede ruínas romanas. Por outro lado, ficamos a conhecer quais os artefactosou espaços a que atribuía prioridade nas suas pesquisas: fortificações,muralhas, trincheiras, esculturas, sepulturas, moedas, gravuras, cerâmicas,metais, minas, tesouros, de que procura obter conhecimento quer pelastradições populares, quer pela toponímia dos lugares. É muito importantereconhecer neste inquérito a recomendação feita quanto à necessidadede se proceder a um correcto registo da localização (em carta topográfica)e à caracterização dos lugares e dos actuais habitantes. Como referimosjá ao falar da importância da imagem, o espaço ganha dimensão na suaobra. Por um lado, com a preocupação de localizar, indicando ascoordenadas, os caminhos de acesso, a altitude; por outro, procurandointegrar o sítio estudado no contexto envolvente, próximo de um rio oude uma mina, relacionando-os; finalmente, procura também relacionarcom outros espaços arqueológicos próximos (Figura 4).

FIG. 4. Planta de localização do castro de Cabeço dos Mouros(Doc. E 18)

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No âmbito da epigrafia, procedeu à reprodução das inscrições,indicando a localização, o proprietário, as dimensões (o registo docomprimento, largura, largura das margens), o espaço em que figuravam(«in muro», num portão, «in lapide», «in frontspício», sacrarii, defronteda capela-mor), destacando, em caso disso, a ornamentação, forma dasmargens (em corte), qualidade da pedra, forma da gravura (em corte),altura, largura e forma das letras (E 1, Nº 14543). Menciona aspectoscomo a natureza da pedra, o tamanho dos caracteres e o intervalo entreas palavras, a beleza e o equilíbrio da gravação e o seu significado.Relativamente a cada uma vai anotando «Está no Museu Archeológico»,ou «publicada no Archeólogo, Vol. XIV», ou «perdida ou destruída», ou«cópia errada» ou «sem pontuação», revelando um sentido críticoapurado, a preocupação em não apenas transcrever mas em rever arealidade, revisitar as inscrições, confirmando ou corrigindo os seustextos (E 10, Nº 14552). Dá atenção aos pormenores técnicos daexecução, revelando bons conhecimentos de epigrafia romana. Sempreque oportuno ou possível, relaciona com outras inscrições em queaparecem os mesmos nomes (Talabara, por exemplo, na Capinha e numalápide sepulcral de Nisa), procurando identificar quer divindades locaisou romanas quer nomes reveladores dos povos (populli) que asproduziram (relacionando uns com a influência céltica, outros com apersistência de elementos lusitanos ou com elementos romanos), fazendointerpretações sobre as suas localizações relativas (E 3, Nº 14545). Ofacto de a maioria das inscrições que regista e recolhe serem funeráriasforneceu alguns dados relativos à onomástica dos indivíduos e à estruturasocial que, embora vagamente, também procurou compreender (Proença,1907b).

No estudo das cerâmicas, relativamente a fragmentos avulsosencontrados (Figura 5), embora não sendo o tema a que tenha dadomaior relevo, e proceda quase sempre a uma recolha e registo, semobservações de âmbito cultural ou cronológico, sem que formuleconclusões ou apreciações globais, evidencia também algum rigor técnico,preocupando-se em mencionar o local onde foram obtidos, a peça a que

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pertencem (candeia, fragmento de vidro, bordo de prato, fundo de vaso,prato, vaso, bordo), a matéria-prima e a técnica aplicada («traçado nobarro depois de cozido», «barro preto», «marcado antes de cozido»,«barro polido»), o diâmetro, a espessura, a natureza da pasta, a texturae a cor; caso se trate de cerâmica decorada, indica os motivos (javali,cavalo, águia, marcas de oleiro) a respectiva localização e dimensões (A21, Nº 14586).

FIG. 5. Representação de fragmentos cerâmicos de Condeixa(Doc. E 10)

Relativamente aos monumentos megalíticos, tema a que dedicou amaior atenção, procurou realizar estudos cientificamente válidos,baseando-se nas suas observações pessoais, assentes no exame minuciosodos monumentos de forma a destacar as características comuns e asdiferenças, condenando a forma como o seu estudo era então feito emPortugal (E 21, Nº 14563). Teve a preocupação de deixar claro os aspectos

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que deveriam orientar, no trabalho de campo, o levantamento e adescrição dos monumentos megalíticos: a sua localização (próximo deque lugar; propriedade de quem; denominação do sítio, distância emquilómetros da vila mais próxima; distância em quilómetros relativamentea uma estrada que ligue os pontos A e B; na perpendicular, para sul epara norte, do quilómetro X); o número de blocos (atribuindo a cadabloco um número próprio) e a sua disposição (só com câmara ou comcâmara e galeria; a posição actual dos blocos e a indicação dos queconservam a posição primitiva; a posição/elevação dos blocos da câmara;a posição/elevação dos blocos da galeria); o comprimento da galeria; alargura da galeria; os diâmetros cardiais da câmara; se os blocos dacâmara eram ou não convergentes; sobre que blocos assentava a mesa;a orientação do monumento; a situação e estado de cada bloco; se agaleria era ou não coberta; se apresentava fossettes ou sinais, o seunúmero, localização e distribuição (A 29, Nº 14593); a natureza darocha; as dimensões (altura aparente, largura, espessura), distância aobloco fronteiro, orientação de cada bloco e todas as particularidades quemerecessem registo; dados relativos ao espólio e às circunstâncias daconstrução dos monumentos bem como à existência nas proximidadesde outros vestígios (E 4, Nº 14546); considerava importante ainda saberse fora explorado, por quem e com que finalidade e, tendo-o sido, ondefora publicada a notícia da exploração e quais os resultados (A 23, Nº14587). Revela-se atento às estratégias subjacentes à construção destesmonumentos, ao seu processo de construção, de assentamento e colocaçãodas lajes.

Quando se trata de proceder à exploração aplica, em alguns casos,uma análise microscópica dos níveis arqueológicos das antas (emboranão esclarecendo exactamente em que consiste, nem os resultadosobtidos), explicando ser particularmente curioso o exame da terra emcontacto com a superfície do crânio, sem explicar, no entanto, porquê.Acrescenta ser este o método proposto por E. Rivière, em «Sur l’ utilitédés recherches microscopiques et de l’ analyse chimique dans les étudespréhistoriques», in Bulletin de la Societé préhistorique de France (1905),

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aplicando-o num raio de 30 metros em torno do megálito (A 29, Nº14593). No entanto, não se interessou tanto pelos vestígios relativos àfauna, uma vez que considerava «sem importância» ossos de pequenosruminantes.

A exploração que realizou na anta da Urgueira foi significativaquanto à metodologia aplicada; desejando reunir as notações exactasdas situações recíprocas das diversas peças, começou a escavar pelaentrada da galeria, com o objectivo de poder retirar de todo o monumentoa terra por camadas; explica que junto a um dos esteios, o número 3,numa extensão de 1,11 metros, identificou intactas três camadas diferentesdispostas em sedimentos, de espessura e aspectos diversos, identificadasna representação esquemática que faz. A primeira camada, com 0,10 mde espessura, constituída por terra avermelhada, de natureza xistosa,misturada com grande quantidade de pedaços de quartzo; a segunda, de0,25 metros de espessura, constituída por terra negra, compacta, ondenão havia fragmentos de xisto e quartzo, mas se encontravam os restosde espólio e a terceira, de 0,05 metros de espessura, era formada deterra vegetal, misturada com areia ou saibro e fragmentos de xisto, comcor avermelhada, quase negra. Estes níveis arqueológicos encontravam--se intactos e sem vestígios de remeximento até ao topo da galeria. Esteprocesso de trabalho que aprendera com Leite de Vasconcelos não oleva, no entanto, a conclusões de âmbito cronológico; em nenhuma dassuas publicações ou manuscritos recorre à escavação seguindo o métodoestratigráfico para definir cronologias. Recorre a este método já emJulho de 1903, quando procede à exploração do «recinto» Ocreza,informando Leite de Vasconcelos que realizaria as escavações seguindoa suas orientações: «uns cortes fundos no chão natural, observando ascamadas e os entulhos» (Documento 19211+A, de 17 de Julho de 1903,MNA).

Embora nem sempre acredite na sua autenticidade, regista e descreveas covinhas ou fossettes, explicando que muitos poderiam ser naturais,devidos à acção dos agentes atmosféricos (temperatura e chuva) sobrea parte branda do granito, a qual seria mais acentuada em paredes

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colocadas obliquamente. Explica ainda que, sempre que a proporçãoequilibrada de quartzo, feldspato e mica se alteram na composição dogranito, sobretudo quando diminui a parte feldspática que proporcionaa coesão, originar-se-ia a desagregação da rocha e formam-se cavidadessemelhantes aos fossettes arqueológicos. Considera fossettes autênticos,inconfundíveis, os treze que observou numa laje dentro do recinto docastelo de Monsanto, os quais tomou por calcolíticos.

No estudo das sepulturas abertas na rocha, a que deu particularrelevo, regista a forma, o comprimento, a largura nos ombros e nos pés,a profundidade, orientação, a existência de outras (e quantas) nasproximidades e que distância as separava. Embora não tendo conseguidosituá-las cronologicamente, este seu trabalho de levantamento, registo edescrição técnica, constituiu um contributo importante para um posteriorprocesso de datação destas construções (A 23, Nº 14593).

Tratando-se de vestígios de edificações, procurou esboçar umaplanta do conjunto («a voile d’ oiseau», como diz), (Proença, 1903b)referindo a espessura dos muros, largura das portadas, a existência deinscrições, de telhas (tegulae e imbrices), de fragmentos de tijolos ou devasos que lhes estivessem associados (E 18, Nº 14560 e A 21, Nº 14586).

Para avaliar a cronologia de um objecto, de um machado de bronze,de uma moeda, defendia a exploração metódica do terreno, o estudominucioso das condições em que se encontravam, mas recorria tambémà bibliografia existente, procedendo a comparações com exemplaressemelhantes em museus, adoptando, por vezes, as datações propostas.Por isso, os seus blocos de notas estão cheios de registos das observaçõesfeitas em museus, tendo o cuidado de reproduzir as figuras observadas,que identifica, situa (na vitrina) e de que indica a proveniência. É curiosoverificar que, relativamente à cerâmica, tal como se fizera durante oséculo XIX, embora tendo o cuidado de registar as formas, e descreveras pastas e os motivos decorativos, não lhes dá especial atenção comoelemento informativo, não recorrendo ao espólio cerâmico como critériosignificativo para o estabelecimento de cronologias, o que pretendeufazer, por exemplo, com os instrumentos líticos polidos.

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Defendendo a partilha de informação entre todos os que sededicavam ao estudo da Arqueologia, considera fundamental divulgaraquilo de que se tem notícia sobre o passado e as ideias que os artefactosrevelados suscitam (Proença, 1908a). E, no estudo dos castros, porexemplo, não se inibe de solicitar aos colegas portugueses que lheforneçam as informações complementares ou originais relativas a outrosdistritos, explicando que as mesmas serão oportunamente reunidas epublicadas com o nome dos seus autores. Sobre um artigo publicado porSantos Rocha, no Vol. XIV do «Archeólogo Português», em que sedescreve o Tesouro funerário da Lameira Larga, critica o facto de, emvez de uma descrição metódica e completa do achado, o autor ter optadopor fazer referência a similares publicados em outras obras, sistema quediz ser utilizado por outros arqueólogos, com o inconveniente de obrigaros leitores a consultar todas as obras mencionadas (Proença, 1910b).

Os trabalhos em que se envolveu inserem-se no contexto doprocesso científico do início do século XX, tempo em que se assistia,na Europa e em Portugal, à emergência da Arqueologia como ciência,sendo FTPJ sido claramente influenciado pelas perspectivas positivistasque determinaram as opções tomadas quanto aos objectivos e aosmétodos. A Arqueologia histórico-culturalista que então dava os primeirospassos e que viria a afirmar-se na primeira metade do século XX, explicaa sua fixação no objecto e na objectividade, a sua grande preocupaçãoem enquadrar os objectos em estruturas, estabelecendo tipologias eatribuindo-lhes funções. Esta rejeição da subjectividade na interpretaçãodos dados arqueológicos, a forma como procedeu no estudo dos machadose das antas, por exemplo, em que procurou «reduzir a diversidade dosobjectos (ou das estruturas) à unidade de determinados modelos ounormas… que logo se orienta para a procura de paralelos, isto é, devestígios semelhantes» (Alarcão, 1996) inserem-se claramente nestaperspectiva histórico-culturalista.

Veremos, no entanto, que revela ainda um certo espírito deantiquário, que o leva a uma sobrevalorização das peças de museu, auma recolha quase sem critério, sem partir de um problema específico,

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de um plano de investigação consistente, embora perspectivando o museucomo um espaço de diálogo com o público e investigadores, comoespaço de divulgação e de problematização. Se algum plano estevesubjacente ao seu trabalho foi, sobretudo, o de proceder a inventários eà definição de tipologias. Sendo ainda um coleccionador, na medida emque procede a uma ávida recolha de todos os artefactos e vestígios queencontra ou adquire, com o intuito de os expor de forma organizada nomuseu, revela-se já um cientista, uma vez que se preocupa em procedera uma recolha estruturada, registando com a máxima objectividade assuas observações, procedendo à descrição dos lugares (as característicasdo meio, da geografia), relacionando, por vezes, os sítios arqueológicoscom os recursos naturais disponíveis. Movido inicialmente por um certosentido romântico, de fascínio pelos objectos do passado, não deixa dese aproximar do cientista na medida em que procede à interpretação, àcomparação dos dados obtidos, adoptando uma metodologia que, sendohoje desadequada, era ao tempo correcta do ponto de vista científico.Cientista ainda porque rejeitou a subjectividade e a interpretação ougeneralização precipitadas.

Pensamos estar perante um Arqueólogo, porque procura, atravésdo conhecimento dos vestígios materiais encontrados na sua região,conhecer a evolução do modo de vida de todos os que ali viveram desdeo período neolítico ao que se seguiu à dominação romana, tendo recorridoa técnicas de investigação e de campo válidas no contexto da sua época,sobretudo no estudo dos monumentos megalíticos, manifestando ocuidado de divulgar, com minúcia, os resultados objectivos das suasexplorações e as questões que as mesmas lhe colocavam. Mais do quePaleoetnólogo, como foram Martins Sarmento ou Leite de Vasconcelos,o seu trabalho decorreu sobretudo no âmbito da Arqueologia, da recolhae descrição de dados, muito dispersos e muito concretos, fugindo aconclusões de natureza teórica mais globalizante.

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Parte IIA obra realizada

1. A IDADE DA PEDRA

«Charmante antiquité! Beauté toujours nouvelle!»Voltaire

A sua actividade de pré-historiador centra-se sobretudo naprospecção, recolha, registo e exploração dos vestígios materiais commaior visibilidade ou sobre os quais havia referências mais ou menosexplícitas ou que estivessem em risco de destruição, que fossem passíveisde um registo e classificação mais imediatos ou sobre os quais houvessejá alguma informação mais ou menos estruturada. Estão nesta situaçãoos monumentos megalíticos, os castros, as sepulturas, as inscrições e osinstrumentos de pedra polida. Embora nunca tenha produzido uma obraque reflectisse o conjunto dos seus trabalhos, de forma estruturada ecoerente, percebe-se que esperava um dia poder fazê-lo. Com base nosseus estudos que, em cada momento, foram quase simultaneamenteabordando todos os temas atrás explicitados, adopta-se neste trabalhouma perspectiva global e integral do seu trabalho, seguindo-se umencadeamento cronológico, de acordo com os critérios então dominantes,a distinção das três idades da Pré-história propostas por Thomsen.

Constatamos ser a Idade da Pedra a que merece menor atenção einteresse por parte de FTPJ, aquela de que recolhe menos espólio,sobretudo para o período mais recuado, correspondente ao Paleolítico.Com efeito, quanto a materiais líticos atribuíveis ao Paleolítico, apenasmenciona o distrito de Leiria, no qual reconhece, do ponto de vistageológico, um misto de rochas de todas as épocas, onde se encontramvestígios da antiguidade do homem desde os tempos quaternários,constituídos sobretudo por utensílios e armas do Paleolítico arcaico

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(Proença, 1910j). Destaca, a propósito, alguns coup-de-poing (um referidopor Cartailhac em 1883, outro por Carlos Ribeiro, «arma» semelhanteencontrada na gruta da Furninha, explorada por Nery Delgado, outroexistente no Museu Etnológico). Ele próprio encontrou à superfície dosolo, em terrenos de aluvião das proximidades do Casal da Cortiça eQuinta da Cortiça, um coup-de-poing, chelleano, tosco, de quartzite,com talão num dos lados, que depositou no Museu de Castelo Brancoe do qual indica as dimensões (0,13 m de altura, 0,08 m de largura e0,035 m de espessura).

E nada mais refere sobre este longo período da história do Homem,talvez por não vislumbrar nele sinais de «civilização», acabando portomar como ponto de partida um período Neolítico muito vago na suacaracterização material, sócio-cultural e cronológica.

Relativamente à região de Castelo Branco, toma por seguro quenela habitaram não só Romanos mas povos de épocas mais recuadas,como atestam os vários monumentos megalíticos existentes nasproximidades e a abundância de vestígios neolíticos (possuindo na suacolecção, uma grande quantidade de vários tipos de instrumentos depedra polida e algumas mós manuais). Várias necrópoles dolménicasque escavou forneceram objectos do Neolítico recente, designadoRobenhausiano: pontas de flecha admiravelmente retocadas, algumascom um denticulado muito fino, raspadeiras e facas. É verdadeiramentenotável a quantidade de instrumentos de pedra polida que conseguiureunir (Figura 6), uns partidos junto do cabo pelo uso e outrospossivelmente em resultado de um ritual funerário identificado por outrosarqueólogos europeus, designadamente Philippe Salmon, que cita em E21, Nº 14563.

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Em Archeologia do Districto De Castelo Branco, Leiria, (1910)considera estações neolíticas aquelas que produziram machados de pedrapolida, o que faz por uma questão de simplificação e para evitar grandesexplicações uma vez que, do seu ponto de vista, a maior parte dosinstrumentos de pedra achados no distrito de Castelo Branco, nãopertencem efectivamente ao neolítico mas ao calcolítico (período detransição para os metais) ou já mesmo aos primeiros tempos do Bronze,período a que atribui também as antas e os tumuli. No entanto, a propósitoda anta da Urgueira, deixa claro numa observação que, embora integrea origem das antas no período Calcolítico, reconhece que, por vezes,revelam um espólio mais antigo, seguramente do Neolítico.

Vários dos seus manuscritos, desde 1904, representam estesinstrumentos neolíticos em pedra (Figura 7), de diversos formatos, devárias proveniências, arrumados por formas, de frente e de perfil, porvezes sem nenhuma identificação nem indicação das dimensões ou da

FIG. 6. Exemplos de instrumentos de pedra polida recolhidos e representadospor FTPJ (Doc. A 21).

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proveniência, apenas os desenhos, percebendo-se que trabalha à procurade uma definição tipológica (E 7, Nº 14549 e A 5, Nº 14570).

FIG. 7. Representação de formas de instrumentos neolíticos (Doc. A 23)

Em 1908, num artigo publicado na revista francesa «L’ hommepréhistorique» estabelece uma tipologia dos instrumentos ou armas depedra polida baseada no espólio por si recolhido ao longo de cinco anose no exame de outras colecções do país, descrevendo todos os tipos demachados de pedra polida achados em Portugal e dando uma interessanteexplicação sobre o modo de encabamento dos machados com sulcotransversal. O artigo é acompanhado de vinte e sete gravuras indicativasde todos os tipos de machados encontrados em Portugal e expostos nosmuseus portugueses (Etnológico, Carmo, Coimbra, Figueira da Foz,Castelo Branco, Alcobaça, etc.). As descrições dos exemplares sãoacompanhadas das indicações de procedência, do museu em que podemser examinados e do número de ordem que aí têm (A 14, Nº 14574).Apresenta um quadro classificativo dos tipos de machados percutoresde pedra polida, organizados em seis séries que, por sua vez, sesubdividem em espécies diferentes, distribuídos numa sequência

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cronológica, do Neolítico ao Calcolítico, segundo o critério dafuncionalidade:

A – esboços de machados, em bruto e retocados, que consideraNeolíticos;

B – machados novos, parcialmente polidos, que consideraNeolíticos;

C – machados utilizados que situa no Neolítico e «espécies» enchóse goivas que considera Calcolíticos;

D – machados utilizados como percutores que situa no Calcolítico;E – Neste grupo inclui uma variedade de espécies: calhaus,

percutores, que considera neolíticos e de transição e percutorescom sulco e machados percutores que considera calcolíticos;

F – machados percutores, toscos ou polidos, que situa noCalcolítico e que nunca foram machados, no que se distinguemdos da série D; terão sido utilizados com a intenção de serempercutores que terão sido encabados tal como os machados;o que não significa, esclarece, que os da série D não tenhamtambém sido utilizados como machados percutores (tal comoos da classe E); Mas revela dúvidas sobre qual das séries –D ou F- terá sido a primeira.

Explica que, embora revelando todos características comuns, algunsevidenciam especificidades, divergindo sobretudo na forma, naacomodação e na utilização; e tais diferenças, acrescenta, não se verificamapenas entre regiões diferentes, uma vez que, por vezes, ocorre nummesmo território diversidade de formas, pressupondo a concretização deideias perfeitamente definidas (não sendo portanto produto daoriginalidade ou desvio do artesão) que se modificaram e desenvolveramem resultado de necessidades específicas e de influências mesológicasvariáveis (A 13, Nº 14578). Algumas destas formas são específicas deuma época e resultam da evolução/aperfeiçoamento de formas anteriores.E dá como exemplo as enchós e as goivas que considera formas

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aperfeiçoadas de simples machados de gume direito ou oblíquo,destinando-se a objectivos específicos. Explica que uma enchó, emboramais moderna que um machado, não tem que considerar-se maisaperfeiçoada, uma vez que após a descoberta das enchós continuaram autilizar-se os machados (A 5, Nº 14570).

Pronunciou-se ainda sobre a delicada e controversa questão da«obliquidade do corte nos machados de pedra polida» e, com base naobservação da sua colecção, contestou a ideia, pelo menos para Portugale Espanha, do talhe intencional, em corte oblíquo, dos machados polidosneolíticos que persistiram na civilização do Bronze, embora semapresentar qualquer tipo de fundamentação (A 4, Nº 14569).

Relativamente aos machados polidos ou retocados encontrados nosmonumentos megalíticos portugueses, considera que nem todos se podemconsiderar neolíticos, distinguindo-os dos encontrados avulsamente noscampos. Propõe que se estudem, se classifiquem e dividam em grupos,de acordo com o desenvolvimento da civilização neolítica e calcolítica,classificação que ajudaria a esclarecer o problema do desenvolvimentocronológico da civilização dolménica, tendo em conta que nestesmonumentos aparecem machados com características específicas.

Se, para alguns, a não atribuição dos monumentos megalíticos aoperíodo Neolítico poderia levar à negação da existência de um Neolíticoportuguês, Francisco Tavares Proença Júnior, baseado quer no espóliopresente nos museus portugueses quer nos resultados de exploraçõesfeitas em várias estações arqueológicas portuguesas, reconhece aexistência do período Neolítico em Portugal. No entanto, apesar dostrabalhos da Comissão Geológica que aprofundaram o conhecimento demateriais neolíticos, sobretudo cerâmicos, FTPJ não dá ao períodoNeolítico uma atenção especial, não indo além da referência aosmachados de pedra polida e a algumas antas, centrando-se sobretudo noCalcolítico. Será que não teve de facto conhecimento, quer na região deCastelo Branco quer na de Leiria, de vestígios cerâmicos claramenteneolíticos? No entanto, a propósito do espólio de algumas antas, referea recolha de «louça neolítica». Mas esta perspectiva relativamente ao

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Neolítico português não se constata só em Tavares Proença; vários outrosarqueólogos, até aos anos sessenta do século XX, questionaram ouduvidaram da existência de um Pleno Neolítico da Pré-história portuguesa(Silva, 1999).

No Mapa 1 (Carta arqueológica do distrito de Castelo Branco)destacam-se os locais do distrito onde sondou ou recolheu espólio líticoassociado ao Neolítico.

MAPA 1: Vestígios neolíticos no distrito de Castelo Branco, segundo FTPJ.

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2. A IDADE DO BRONZE

Se a Idade da Pedra não está muito significativamente marcadanos trabalhos de FTPJ, pelo menos no que se refere às exploraçõesrealizadas no distrito de Castelo Branco, não justificando uma definiçãode âmbito cronológico ou sócio-cultural, tal não acontece com a designada«Idade do Bronze», período da Pré-história a que dedicou grande partedo seu trabalho e das suas reflexões. Abrange um tempo tambémrelativamente impreciso, desde o Calcolítico à Proto-história, sem balizascronológicas definidas ou acontecimentos de ruptura, em que inclui querboa parte dos instrumentos líticos e metálicos que recolheu, quer algunsdos castros, quer os monumentos megalíticos e o respectivo espólio.

Relativamente aos utensílios metálicos integrados no período doBronze, faz várias referências a achados dispersos e descontextualizados(MAPA 2), sem significado relevante quer no distrito de Castelo Branco(por exemplo, em Balouqueiras, onde refere vestígios de escavações emterrenos de aluvião, local de extracção de terra e pedras amontoadas,conhecidas como «pedras de bater sola» – A 21, Nº 14586 – por seutilizarem para esse fim, sugerindo a extracção de metais), quer no deLeiria (da colecção do Sr. Callado, do Juncal – E 22, Nº 14564 –destaca uma fivela, encontrada com outros objectos, nomeadamente umaconta de vidro verde e uma bracelete de bronze).

Não procura esclarecer aspectos relativos à cronologia desta Idadedo Bronze, nem às consequências sociais, económicas e culturais daadopção deste metal como base estruturante da economia e da sociedade.Nem procura os caminhos de acesso ao metal ou os mecanismosdecorrentes da implementação de novas estratégias de povoamento edomínio do espaço que a sua procura teria implicado. Preocupa-se apenasem mencionar os objectos avulso encontrados, descrevendo-os quantoaos seus aspectos técnicos e funcionais, garantindo que as populaçõeslocais conheciam já instrumentos desta natureza, embora não relacionandoesse conhecimento com uma produção local ou com a sua aquisição portroca. Quando se fala na Idade do Bronze, refere-se sobretudo a objectos

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metálicos (cobre, bronze e ouro), recolhidos ou adquiridos isoladamente(Fig. 8), confundindo-se algumas vezes com objectos metálicosposteriores. Para este período, a sua atenção centra-se quaseexclusivamente nos monumentos funerários e nos povoados ou recintosamuralhados, adoptando a designação «Idade do Bronze» como umamera abstracção teórica, sem corresponder na realidade a um todo comidentidade própria. No entanto, embora não tecendo grandesconsiderações sobre aspectos sócio-económicos e culturais, sempre vaiinterpretando alguns destes vestígios do ponto de vista da organizaçãoe da dinâmica sócio-cultural das sociedades que frequentemente designapor «civilizações», termo que utiliza de forma vaga, designandosimultaneamente culturas, indústrias e raças ou povos.

Assume não pretender pronunciar-se sobre a ideia da origem orientalda civilização do Bronze, por falta de observações sérias e de factosconcretos em que possa basear-se (E 21, Nº 14563).

FIG. 8. Representação de formas de instrumentos de bronze dacolecção de FTPJ (Doc. A 23)

2.1. Monumentos Megalíticos

O megalitismo é estudado na Beira interior desde os finais doséculo XIX, quando J. Leite de Vasconcelos explorou e representougraficamente vários monumentos, sendo o respectivo materialarqueológico, conservado em museus e em colecções particulares,abundante embora mal estudado.

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No início deste capítulo é importante esclarecer o significado dealguns conceitos, de acordo como foram entendidos e devidamenteexplicitados por Tavares Proença (E 21, Nº 14563). Assim, entende por«antas» os monumentos sepulcrais, pré-históricos ou proto-históricos,formados por uma série de esteios enterrados no chão verticalmente,dispostos em círculo, delimitando um espaço mais ou menos vasto deterreno (a câmara) e sustentando, por vezes, na sua parte superior, umalaje que chega a cobrir todo o monumento. Refere-se portanto a ummonumento sepulcral já descoberto, sem tumulus ou com tumulus parcial(restos do plano inclinado feito para a colocação da tampa no megálito)cuja mamôa teria desaparecido por qualquer motivo. Chama «antinhas»às antas de pequeníssimas dimensões, geralmente sem galeria. Por Tumlusentende os monumentos megalíticos, sepulcrais, proto-históricos ouCalcolíticos, ainda cobertos pela mamôa ou montículo de terras e depedra (salientando que nos da Beira, a pedra utilizada era principalmenteo quartzo branco, trazido de longe, embora não propondo qualquer origemprovável). Deduz-se que considera as antas anteriores aos tumulus. Como termo «antella» designa o monumento sepulcral megalítico que otumulus recobre, esclarecendo que, por vezes, o tumulus cobre uma antapropriamente dita.

No que se refere às antas, utiliza o termo «taça» para designar alaje que cobre o monumento, ideia que Leite de Vasconcelos desaprova,ao dizer «taça não me parece bem, porque a anta não é uma mesa, éedifício (coberto)». FTPJ contrapõe e justifica, dizendo que o termo seusava na Beira Baixa pelos carpinteiros, que designavam por taça aparte de madeira que formava a superfície horizontal das mesas, cómodasou secretárias, pelo que a palavra «taça» não seria tão descabida,concluindo que pior lhe soavam as expressões «tampa» ou «chapéu»,então aceites para designar a dita laje.

Relativamente à generalidade dos monumentos megalíticos, observaque alguns se distinguem por apresentarem a câmara e a galeriapavimentadas, não deduzindo daqui qualquer interpretação ou conclusãorelativamente ao significado desta diferença.

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Constata-se ainda que não reconhece grande relevo às manifestaçõesartísticas que os monumentos possam apresentar, falando apenas nosfossettes embora não lhes atribuindo significado particular.

Por outro lado, também não relaciona os vários tipos demonumentos megalíticos com qualquer povoado próximo nem osrelaciona com qualquer modelo de sociedade ou estratégia depovoamento, abordando apenas a problemática do ritual funeráriosubjacente, no pressuposto de que cada monumento corresponderia aum único enterramento, daí deduzindo um processo de hierarquizaçãosocial. Basicamente, associa o espólio encontrado, sobretudo lítico e,em menor quantidade, cerâmico, a uma tradição cultural que implicavaa transmissão dos bens do defunto aos descendentes, assumindo o espólioum significado simbólico. Nesta linha, sugere que os monumentos teriamsido construídos ou, pelo menos, iniciada a sua construção, ainda emvida do futuro defunto.

Apesar das limitações do trabalho de exploração arqueológica demuitos destes monumentos, deve-se a FTPJ a identificação e escavaçãodas muitas das antas da região, tendo produzido a sua primeiramonografia (no caso da anta da Urgueira), o que permitiu a salvaguardade informação ameaçada, tendo em conta que muitas haviam já sidovioladas.

2.1.1. Explorações de monumentos megalíticos realizadas no distritode Castelo Branco (MAPA 2)

A) Em Medelim –Anta do Torrão, num cabeço próximo do Alto do Cabeço dos

Mouros, no lugar conhecido como «Antinha» (Figura 9), encontrada em29 de Setembro de 1904 (E 18, Nº 14560).

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Anta grande, no sítio da Anta (Figura 10). Com orientação nordeste//sudoeste, constituída por 20 blocos, de granito, descrevendo a situaçãode cada um (intacto? partido? mudado? tombado?), a distância em relaçãoao bloco fronteiro e as suas dimensões. Apresenta o desenho esquemáticoda anta, indicando a existência, na mesa, de oito fossettes grandes ecinco pequenos (de que inclui desenho de pormenor).

Anta pequena, explorada em 26 de Setembro de 1907. Apenasrestava um esteio de granito, que sugere ter pertencido à galeria,indicando a dimensão e orientação, considerando impossível determinara orientação do monumento. Inclui a representação esquemática comuma seta apontando na direcção da Anta grande (a uns quatro metrosmenciona mais três blocos utilizados pelos pastores na construção deum redil).

FIG. 9. Representação da «Antinha» de Medelim (Doc. E 18).

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B) Em Escalos de Baixo –Refere-se a duas antas, a número 1, descoberta em Março de 1904

e explorada de 4 a 6 de Abril desse ano e a número 2, encontrada eexplorada a 6 de Abril de 1904.

Relativamente à anta número 1, indica a localização (à beira docaminho que liga a estrada com o Monte do Brito), a ausência daspedras todas (as quais foram utilizadas na construção de uma fábrica),sendo a mamôa visível, a pequena distância, oculta pelo arvoredo (E 22,Nº 14564); ali (na cavidade aberta no meio da mamôa) encontroufragmentos de carvão, louça tosca neolítica, fragmentos de louça maisfina, uma ponta de sílex triangular, um fragmento de placa de xistoornamentada, dois fragmentos de osso (que lhe pareceram maismodernos). Os esteios eram de granito e, cinco anos antes, ainda a antase encontrava com a mesa (A 23, Nº 14587).

Ainda em Escalos de Baixo, destaca um conjunto de cinco túmulose oito antas, seis no sítio designado Couto do Abrunhosa, uma do outrolado do rio Pônsul e outra não localizada. Descobertas as antas e umtúmulo em Abril de 1904 e os restantes em Março de 1907, tendoiniciado desde logo a exploração, a que voltou em Março de 1905 e

FIG. 10. Representação da ante Grande, de Medelim (Doc. A 5)

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Janeiro de 1907. Na anta número 4 do Couto do Abrunhosa obteve: umaponta de lança, quatro pontas de seta grandes e uma faca partida. Naanta número 6 do Couto do Abrunhosa obteve: nove pontas de setapequenas, uma ponta de gume lateral, uma raspadeira, uma faca partida,duas contas em xisto, uma conta em pedra e fragmentos de ossos. Naanta número 7 do Couto do Abrunhosa obteve duas facas, uma das quaispartida. O túmulo número 4 encontrava-se destruído (E 22, Nº 14564).

Destes monumentos, apresentou resultados mais detalhadosrelativamente à exploração de duas antas. Uma, com orientação a este,constituída por 12 blocos de xisto, de que descreve as dimensões decada um e a distância em relação ao seguinte (E 2, Nº 14544). Faz odesenho esquemático da anta, indicando apenas que a visitou. Indicaainda as dimensões: comprimento até à entrada da galeria – 2,20 metros;largura máxima– 2,50 metros; largura da galeria– 0,78 metros;comprimento da galeria– 1,80 metros; acrescenta ainda que os esteiosda galeria atingiam meia altura do esteio VIII (0,93 – 1,44 m).

Uma outra, com orientação nordeste/sudoeste, constituída por 12blocos intactos, de xisto, de que descreve também a situação de cadaum (intacto? partido? mudado? tombado?), as suas dimensões e adistância em relação ao bloco mais próximo. Não apresenta o desenhoesquemático, nada indicando sobre a data de exploração. Indica as suasdimensões: largura da galeria – 0,55 metros; comprimento da galeria–2,20 metros; largura da câmara – 1,47 metros; comprimento da câmara– 2,00 metros.

Faz ainda referência a uma outra anta existente na mesmapropriedade, cujos vestígios se podiam encontrar junto a uma queijeira,de que apenas restaria uma pedra com fossettes (que seria a mesa) e,próximo, um dos restantes esteios; na exploração do local obtevefragmentos de cerâmica ornamentada e teve conhecimento de ali tersido encontrada uma panela cheia de terra.

C) Em Escalos de Cima –Menciona uma anta, descoberta em Março de 1904.

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D) Nas Sarnadas –Considera como uma necrópole um conjunto de treze antas, no

âmbito do território desta localidade, supondo que a cada antacorresponderia um único enterramento. Destaca algumas como a daSilveirinha (encontrada em Março de 1904, tendo ali recolhido em 1907um pedaço de faca de sílex), Lombardo (duas antas), Couto do Sr.Balbino (informação em 6 de Abril de 1904), próximo do Monte doBrito (um dólmen, encontrado a 2 de Junho de 1904), Pinhal de Rebouça(uma anta, de que obteve informação em 6 de Abril de 1904), as daCoutada e da Urgueira, única que se encontrava intacta e por explorar(E 4, Nº 14546).

Em Locriz referenciou dois túmulos, um descoberto em Dezembrode 1904, tendo iniciado a exploração em Outubro de 1905 e outrodescoberto em Outubro de 1905 e não explorado.

Entre todas as antas que estudou e explorou, não só na região deSarnadas, a anta da Urgueira (Figura 11), em Peraes, foi a que mereceuuma atenção particular, tendo sido a única a ser publicada, em 1909, nasequência de seis anos de explorações e estudos dos megálitos do distritode Castelo Branco (A 5, Nº 14570). Constitui a sua publicação umdocumento revelador da forma de trabalhar do arqueólogo, ajudando aesclarecer como conduziu a sua acção e fundamentou as suas ideiasrelativamente ao tema do megalitismo (Proença, 1909).

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Descoberta em Novembro de 1903 e explorada a 7 e 8 de Agostoe a 10 de Outubro de 1904. Monumento solitário, no sul do distrito deCastelo Branco, integrado naquilo a que chama a necrópole dolménicade Sarnadas. Situada alguns quilómetros a sul da anta da Silveirinha,tendo a cerca de mil e quinhentos metros a nascente os túmulos número1 e número 2 de Locriz e, a nordeste, o castro luso-romano de Alfrivida.Faz o enquadramento geográfico apresentando um mapa do local.

Em toda a região, diz aparecerem à superfície do solo instrumentosde pedra polida, sobretudo machados de diorite e vestígios romanos(pedaços de telhas, tijolos, mós, trituradores, poucas moedas e umainscrição tumular romana encontrada no sítio da Cavadeira).

Num capítulo dedicado à «Bibliographia», diz não existirempublicações sobre qualquer monumento megalítico do distrito de CasteloBranco, apenas referências ligeiras (em V. Pereira da Costa, «Dolmins»,Leite de Vasconcellos, «Religiões», Vol. I; Sarmento, «Relatório daexpedição...» e Félix Pereira, «Archeólogo», Vol. IX). A anta da Urgueiraé pois a primeira da Beira Baixa a ser descrita de forma científica, deacordo com o próprio.

FIG. 11. Representação da anta da Urgueira (Doc. A 5)

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Relativamente às «Indicações topográphicas», indica o nome domonumento, a propriedade em que se situa (Coutada), a sua situação(indicando com pormenor os caminhos a seguir para lá chegar, partindoda estrada real número 57, próximo do Lagar da Coutada, de modo afacilitar-lhe o acesso) e justifica a degradação em que se encontra, apesarde conservar em estado regular a parte lítica, devido à deslocação deterras (o quase desaparecimento da mamôa resultaria da deslocação deterras do Cabeço da Urgueira, situado a leste, o que teria contribuídopara que o material que constituía a mamôa se tivesse espalhado paranorte, sul e oeste), às chuvas que contribuíram para o arrastamento dasterras, sobretudo para norte e sul, aos trabalhos agrícolas e à acção dosbárbaros habitantes locais.

Quanto à «Descrição», apresenta-a em três tópicos: a) aspecto,composição e forma; b) dimensões; c) orientação. Relativamente aoprimeiro tópico diz reconhecer-se facilmente o monumento uma vez queapresenta os esteios erectos entre uma pequena elevação de terra e pedrasque constitui a mamôa. Faz a representação esquemática da anta, formadapor câmara e galeria, num total de nove esteios. Entre os blocos números4 e 5 representa um bloco que diz poder ter servido de esteio (seria entãoum décimo) ou de taça/cobertura, preferindo a primeira hipótese. Quantoao segundo tópico, apresenta um quadro indicando, para cada bloco,devidamente numerado, a situação e estado (intacto, deslocado, taça) e asdimensões (altura aparente, largura e espessura). Explica que as medidasdos esteios foram feitas antes da exploração, tendo a altura aumentado em0,40 m para a galeria e 0,50 m para a câmara, após a exploração. Indicaainda a largura e o comprimento quer da câmara quer da galeria. Acrescentaque a galeria desta anta e de outras no distrito de Castelo Branco, seassemelha a algumas antas de Lozère (descritas por Mortillet, em «Lesmonuments mégalitiques de la Lozère»), situada numa das extremidadesde um dos lados maiores da câmara. O terceiro tópico descreve a orientaçãoquer do eixo maior da câmara (S.W. ¤ N.E.) quer do eixo da galeriaperpendicular ao maior da câmara (N.W.¤S.E.), tendo uma orientaçãonoroeste/sudeste, com a entrada da galeria voltada para Sudeste.

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O Capítulo destinado às «Indicações stratigraphicas» contém duasalíneas: a) petrografia do megalito e b) proveniência dos blocos.Relativamente à primeira alínea, informa que os esteios são de xistoordinário, da região, não revelando os blocos vestígios de trabalho comqualquer instrumento; a mamôa, diz ser constituída por terra e pedrasolta, com predomínio de quartzo branco. Explica que os blocos terãosido extraídos de uma pedreira que ainda existia, a cerca de 250 metrosa S.O. do monumento, junto a um pequeno regato.

O Capítulo relativo à «Exploração» inclui uma figura representandoum corte esquemático da anta. Desejando reunir as notações exactas dassituações recíprocas das diversas peças, começou a escavar pela entradada galeria, como o objectivo de poder retirar de todo o monumento aterra por camadas. No corte, uma linha representa os restos da mamôana parte exterior e a altura dos entulhos dentro da câmara. Reconhecena terra encostada ao esteio número 5, os antigos entulhos da câmarapouco remexidos pelos profanadores e identifica três camadas diferentesdispostas em sedimentos, intactas, de espessura e aspectos diversos.Acrescenta que as extremidades dos esteios da câmara e da galeriaassentavam em pequenas cavidades preparadas ad hoc no chão natural.

Apresenta em três tópicos o «Espólio» ali encontrado: a)Instrumentos ou «armas»; b) Cerâmicas; c) Ossos, explicando que omesmo consta de um reduzido número de peças mais ou menosfragmentadas. Relativamente aos instrumentos ou «armas», mencionatrês machados de pedra polida (diorite), encontrados ao lado do esteiooito, na galeria, a cerca de 30 cm de profundidade, ou seja, quase naparte inferior do nível B; localiza-os na planta do monumento, indicandoque um se encontrava inteiro e dois partidos. Indica as dimensões decada um, explicando que o gume fora polido com perfeição e nãorevelavam sinais de uso. Supõe que os dois machados partidos ali foramcolocados já partidos, uma vez que não se encontraram os fragmentosem falta e os níveis arqueológicos se encontravam intactos. Quanto àscerâmicas, menciona fragmentos de dois vasos, encontrados na câmara,na base do nível B, ao lado do esteio número 3, indicando também a sua

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localização na planta do monumento, em que refere a posição exacta emque foi encontrado o vaso b, quase completo. Deduz, pela curvatura,que terão pertencido a vasilhas de fundo e bordos curvos, dando contados respectivos diâmetros e espessura das paredes. Explica que as paredesadelgaçavam a cerca de 1 cm do bordo, que nenhum dos fragmentosrevelava vestígio de ornamentação e que a pasta não fora trabalhada portorno, sendo grosseira, não coada, com vestígios de pequenos calhaus eareias em abundância. Já a pasta dos vasos b e c lhe parece mais apurada,embora não revelando ainda sinais de torno ou roda. A cozedura limitava-se às superfícies interna e externa dos vasos e em nenhum vislumbrouvestígios de uso. Acrescenta, a terminar, que na câmara apareceram,durante a exploração, mais quatro fragmentos de cerâmica, idênticos àdescrita acima. Quanto aos ossos encontrados, diz serem em númeroinsignificante e pequenos fragmentos, parecendo-lhe dos membrossuperiores de um indivíduo adulto. Junto ao esteio número 3, em lugarassinalado na planta do monumento (letra b), encontrou um pequenofragmento de frontal «aderente solidamente à terra».

Nas «Observações finais» deste trabalho, apresenta, em sete alíneas,as conclusões a que chegou:

a) ao contrário do que sucede com outras antas do distrito, estanão era pavimentada;

b) como todas as que explorara na Beira Baixa, também esta servirade sepultura a um único indivíduo;

c) o modo de enterramento tinha sido a inumação;d) face à colocação dos ossos dos membros superiores e do crânio

encontrados, pensa que o cadáver tenha sido colocado numadisposição idêntica a outra que estudou no distrito: dobradopelas duas articulações dos fémures, com as costas ao longo doesteio número 4 e a face voltada para a entrada da galeria; osbraços dobrados pela articulação e as mãos colocadas junto dacara, disposição que compara com a do mais antigo esqueletode Laugerie-Basse, descoberto por Massenat;

e) as vasilhas cerâmicas, contendo oferendas, teriam sido colocadas

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a uns 30 cm da face do cadáver, talvez ao alcance dos seusmembros superiores;

f) os três machados polidos encontrados juntos e em linha, aomeio da galeria, pensa que ali foram colocados depois docadáver, num dado momento das práticas fúnebres, supondoque o cadáver ali tivesse sido colocado com o monumento jápronto, através da galeria; este teria sido construído ou começadoa construir ainda em vida do morto.

g) relaciona a presença de instrumentos de pedra polida, partidose incompletos, sem vestígios de uso e na posição primitiva,com uma prática ritual que implicaria a mutilação intencional,pensando tratar-se de instrumentos e utensílios feitos ad hc (deacordo com Salmon).

Finalmente, relativamente ao topónimo «urgueira» sugere que o mesmoderive de «ourgueira», alusão à crença da existência de ouro no local.

2.1.2. Explorações de monumentos megalíticos realizadas nodistrito de Portalegre

Em duas incursões ao distrito de Portalegre (27 de Outubro de1905 e 10 de Fevereiro de 1906) manifesta-se surpreendido pela grandequantidade de antas, sobretudo na parte central e oriental do distrito,algumas das quais bem conservadas, concluindo que os distritos dePortalegre e Évora eram aqueles em que as construções megalíticasestariam mais representadas, embora fossem muitas ainda desconhecidas.Destacam-se as duas antas em que procedeu a explorações, a de S. Gense a dos Pucarinhos (A 29, Nº 14593).

A) Anta de S. Gens (Figura 12) –A 6 quilómetros de Nisa, distrito de Portalegre, ao norte da ribeira

de Sôr, ao lado esquerdo do caminho de Nisa para Gafete, com orientaçãonoroeste/sudeste, entrada a nascente. Com a câmara bem conservada

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(completa, apenas duas pedras partidas) e galeria bastante degradada (aque faltavam talvez três pedras), formadas por catorze blocos, de granito,sem vestígios de aparelho, descrevendo a dimensão de cada um, o estadode conservação e posição. Na face voltada para o interior, o bloco número2 da galeria, apresenta nove cavidades ou fossettes que atribui aoCalcolítico. Relaciona com um regato que passa a cerca de 80-100metros. Faz a representação esquemática da anta, destacando em desenhode pormenor o esteio que contém os fossettes, imperfeitos e não polidos.Duvida da autenticidade dos fossettes, explicando que muitos podem sernaturais (E 4, Nº 14546).

A anta apresentava a mamôa (formada de terra e pedras, compredomínio de quartzo branco trazido de longe) destruída por trabalhosagrícolas, explicando que apenas a análise microscópica das terras poderiarevelar alguns vestígios.Supõe que nunca tenha sido explorada cientificamente. Embora sesoubesse que parte do seu espólio se encontrava no museu da Comissãodos Trabalhos Geológicos, ninguém sabia como o mesmo ali tinha idoparar. Descreve então os objectos existentes no Museu da Comissão dosTrabalhos Geológicos e que eram provenientes da anta de S. Gens:

a) Ossos – um crânio de um indivíduo adulto e vários ossosfragmentados do mesmo esqueleto, sobretudo dos membrossuperiores; observa que os dentes, como era frequente emdiversas partes do globo e era conhecido em muitas estaçõesportuguesas, se apresentavam gastos horizontalmente, em virtudedo uso da mastigação horizontal; havia ainda vários ossos depequenos ruminantes que considera sem importância.

b) «Armas» e utensílios – uma ponta de lança de sílex, partida naextremidade; uma lâmina de sílex, do tipo das facas; oitomachados de diorite (uns encontrados enterrados e outrosavulsamente, talvez próximo da anta); dois furadores de osso,deteriorados; um percutor de calcário, esferoidal; um objectocom forma de machado, mas sem gume e feito de calcáriobrando; dois núcleos de quartzo branco.

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Nas explorações que fez no local diz ter encontrado ainda umalasca de quartzo hialino e um fragmento de pequena vasilha de barro,que depositou no museu de Castelo Branco.c) Cerâmicas – um vaso restaurado do tipo de fundo curvo e bordoscurvos, de 12 cm de diâmetro; vários fragmentos de cerâmicas dediferentes tipos, deteriorados, dois dos quais revelavam a forma de vasosde bordos côncavos e de fundo convexo, conhecidos de outras estações;um pedaço de bordo de vasilha, talvez mais moderna, de fundo curvoe gargalo estreito. Representa as figuras destas cerâmicas, embora sema preocupação de as situar cronologicamente ou de as relacionar com ade outros monumentos.

B) Anta dos Pucarinhos (Figura 13) –Indica a localização (Couto dos Pucarinhos, entre o Crato e a aldeia

da Mata, distrito de Portalegre), o nome do proprietário e o estado deconservação, com sinais de ter sido violada em vários momentos nopassado, mas nunca explorada segundo critérios científicos. Parte líticabem conservada, constituída por treze blocos de granito (9 formando acâmara e 4 a galeria), mantendo os esteios a simetria, sugerindo quealguns fragmentos próximos tenham constituído a taça da galeria. Comorientação noroeste/sudeste e entrada para nascente. Dá a conhecer asdimensões, o estado e a situação de cada bloco, cuja extraordináriaregularidade faz supor que tenham sido aparelhados, o que reforça a sua

FIG. 12. Caderno de registo de exploração de antas: anta de S. Gens (Doc. E 4).

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ideia de pertencerem à idade dos metais. Apresenta o desenhoesquemático da anta (Proença, 1910a).

Explica que a maior parte da terra que encheu a câmara primitivafoi retirada, do que resultou a destruição de parte da mamôa, embora agaleria pareça próximo do estado primitivo. Sugere que pertença aogrupo daquelas que nunca tiveram a câmara cheia de terra, tendo amesma sido deixada vazia, de modo que os restos mortais do indivíduoa quem o monumento se destinaria fossem colocados sobre a superfícienatural do solo que formava o chão da câmara.

A taça ou mesa continha, na face superior, quatro ou cinco fossettes,dispostos em cruz e não polidos, de cuja autenticidade duvidou e, próximodestes, um de maiores dimensões, interiormente polido, que considerouclaramente calcolítico.

Sugere que a designação «pucarinhos» resulte de, no local, ossaqueadores terem encontrado vasilhas de barro que fariam parte domobiliário fúnebre do monumento, embora reconheça não encontrarvestígios materiais que fundamentem esta sua afirmação. Esclarece aindaque, seguindo a opinião de Leite de Vasconcelos, segundo o qual o povoatribui aos fossettes, sobretudo no Alentejo, a designação de covinhas,buraquinhos, pocinhas ou pucarinhos, poderia também explicar-se o nomeda anta pela presença de fossettes na sua taça.

Procedeu a um levantamento exaustivo das fontes informativassobre as várias antas do distrito de Portalegre. Relativamente a Avis, dizdesconhecer referências, à excepção das antas exploradas por Leite deVasconcellos e Mattos Silva, sumariamente publicadas em «Religiõesda Lusitânia» e o «Archeólogo Português», vol. 1, encontrando-se osmateriais recolhidos no Museu Etnológico e na colecção particular deMattos Silva, em Ponte de Sôr. Como fonte de referência destaca como«única aproveitável» a publicação de F. A. da Costa, «Noções sobre oestudo Pré-histórico da Terra e do Homem, seguidas da descrição dealguns dólmenes ou antas de Portugal», de 1868, onde são mencionadasas antas de Castelo de Vide e do Crato. Refere ainda um trabalho deMendonça de Pina, «Collecção de documentos e memórias da Academia

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Real da História Portuguesa», vol. XIX, de 1773, citada por Leite deVasconcellos, em «Religiões da Lusitânia», vol. 1, que destaca umaanta na vila de Nisa.

2.1.3. Ensaio de classificação dos Dólmenes portugueses

Em 1907, é apresentado no Relatório da segunda sessão doCongresso Pré-histórico de Vannes como «Officier de l’InstructionPublique», «Membre de la Société Préhistorique de France», e da«Société des Fouilles Archéologiques». Neste congresso apresentou otrabalho «Ensaio de classificação dos dolmens portugueses», em quepretendeu, baseado nas suas pesquisas, explorações e registos, procederà caracterização dos vários monumentos, agrupando-os, de acordo comas suas características e diferenças, procurando, de acordo com aquiloque se fazia na época, definir tipologias (Proença, 1907a). Desse trabalhoresultou a elaboração de um quadro classificativo, útil para uma leiturae descrição sumária dos monumentos, considerando apenas os aspectosrelativos à sua aparência e morfologia. Distingue quatro tipos demonumentos megalíticos (Tumulus, Antas, Antellas e Antinhas), situando--os cronologicamente entre a Idade da Pedra (no Neolítico) e a Idade doBronze, embora não atribuindo a cada período nenhum tipo demonumento específico.

FIG. 13. Caderno de registo da exploração de antas: anta dos Pucarinhos (Doc. E 4).

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2.1.4. Práticas funerárias

Embora não tendo, nas várias explorações que realizou emmonumentos megalíticos, encontrado abundância de ossos humanos,concluiu estar perante a prática da inumação individual, supondo que adeposição tivesse sido feita após a construção do monumento (Proença1909). Refere que num dos tumuli o cadáver fora depositado em decúbitodorsal, dobrado pelas articulações dos fémures, com o braço esquerdodobrado pela articulação, ficando a mão junto à cara; encontrava-seencostado a uma das faces da galeria, deitado sobre o lado direito; nasua frente, ao longo da outra face da galeria viam-se, dispostosordenadamente, algumas pontas de seta, um machado de pedra inteiro,uma machadinha de diorite e, numa fenda do pavimento, um vaso debarro de fundo curvo e bordos curvos, parcialmente partido, com osfragmentos junto, não vislumbrando qualquer pedra ou objecto quepudesse ter ocasionado tal fractura. Esta situação leva-o a crer na propostade outros arqueólogos que sugeriam que as vasilhas seriam ali colocadaspartidas intencionalmente, talvez durante as cerimónias fúnebres, emvirtude de um rito que determinaria também a fractura das «armas» depedra e que, mais tarde, no período do ferro, levou também à mutilaçãode espadas e de lanças (Proença, 1910a).

Comenta, a propósito, a ideia proposta por Philippe Salmon, em«La poterie prehistorique», segundo o qual, nos ritos funeráriosdolménicos, haveria o hábito de «enganar» os mortos, depositando juntodos seus corpos vasos e machados votivos feitos à pressa para o efeito,grosseiros e mal acabados, sem terem sido utilizados antes, guardandoas comunidades para si os bons exemplares, os mais ricos e luxuososque o morto possuía em vida. Francisco Tavares Proença Júnior contestaesta proposta porque os seus trabalhos de exploração de monumentosmegalíticos revelaram, por um lado, a presença de sinais de uso e, poroutro, um trabalho de grande cuidado e esmero na produção deverdadeiras jóias, o que contrariava a ideia de objectos de segunda,feitos à pressa. Rejeita assim a hipótese de intencionalmente ali terem

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sido colocados instrumentos e utensílios mutilados ou já incapazes de servir,preferindo pensar (tal como Salmon) que se trataria apenas de instrumentose utensílios feitos ad hc com a finalidade de servir para o ritual funerário,como lhe pareceu, por exemplo, ocorrer na anta da Urgueira.

Relativamente à depressão frequente no topo das mamôas, realçaque num dos túmulos que escavou encontrou a galeria vazia de terra (oque terá facilitado o exame do esqueleto na sua posição primitiva), aocontrário da quase totalidade da câmara que se encontrava cheia de terrae pedras soltas; esta situação levou-o a admitir que a câmara de algunstumulus seria recoberta, não por uma taça ou laje, mas por ummadeiramento formado de pernadas de árvores e ramos ou mato, sobreo qual assentaria depois a camada de pedras e de terra que, com oapodrecimento da madeira, acabaria por ir parar dentro da câmara,deixando no alto da mamôa a conhecido depressão, por vezes atribuídaa violadores (E 21, Nº 14563). Por outro lado, sendo frequenteencontrarem-se carvões, estes poderiam ser considerados vestígios demadeira carbonizada e decomposta. Era esta a justificação apresentadapor Louis Legnay (1882) para os vestígios de madeira carbonizada epodre dentro dos monumentos megalíticos, habitualmente tomada comocarvão, produto da combustão de madeira por pastores ou outros, emperíodos posteriores. Tavares Proença pensa que uma análisemicroscópica destes fragmentos ajudaria a esclarecer o problema(Proença, 1910 u).

Questionando-se porque não seriam frequentes objectos metálicosnas antas portuguesas, propôs as seguintes explicações: de acordo comMartins Sarmento, seria em função de um determinado rito funerário, oqual valorizaria sobretudo objectos em osso e pedra; para outros, oshomens do Bronze tê-los-iam retirado para satisfazer as suas necessidadesindustriais; ou, como pensa o próprio Tavares Proença Júnior, por motivosmeramente económicos, devido à raridade de objectos metálicos, taisobjectos passariam, ainda em vida do titular, para o seu sucessor (A 29,Nº 14593). Esta leitura pressupõe uma perspectiva sócio-económica dealguma complexidade, em torno da posse de determinados bens de

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prestígio por parte de algumas linhagens e da valorização material esimbólica de certo tipo de espólio metálico.

Interessado em compreender as práticas e rituais funeráriossubjacentes ao fenómeno megalítico, procurou descrever com minúciatudo o que observava à medida que procedia às suas explorações querno respeita aos vestígios de restos ósseos humanos encontrados, quer noque diz respeito ao espólio que lhes estivesse associado. Preocupou-seainda em alicerçar as suas opiniões sobre o assunto em estudos deoutros arqueólogos, quer portugueses quer estrangeiros, com os quaisconfrontou os seus dados.

2.1.5. Cronologia dos monumentos megalíticos

Interessou-se pela compreensão da origem dos monumentosmegalíticos em Portugal e, em particular, em Castelo Branco (E 11, Nº14553), embora não tenha sido conclusivo relativamente a este problema.Fez referência às duas principais teses em confronto na época, emPortugal, sobre a origem dos monumentos megalíticos: Martins Sarmento(Revista de Guimarães, Vol. V, pp. 173) que atribuía a origem de antase antellas à civilização do Bronze e Leite de Vasconcelos (bem comoa maioria dos arqueólogos) que as atribuía à civilização Neolítica (E 21,N 14563). Tavares Proença não se colocou ao lado de Martins Sarmentouma vez que as suas observações e estudos o levavam a negar talafirmação, enquanto princípio geral. Começa por não aceitar a divisãoentre antas e antellas e propôs uma revisão da cronologia dosmonumentos pré-históricos, feita com base num trabalho competente.Propõe então a divisão destes monumentos em dois grupos, embora osnão defina com precisão, indicando apenas o processo a seguir para ossituar no tempo: considerar mais primitivas as construções mais simplese mais recentes, as mais complexas.

Do seu ponto de vista, as antas pertenceriam aos primeiros temposdo período do Bronze ou, pelo menos, ao período de transição, pelo que

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não deveriam, sem reservas, atribuir-se ao Neolítico. Fundamenta a suatese relativamente à cronologia dos monumentos megalíticos, comparandocom o mesmo fenómeno em França, onde este tipo de monumentos sedividia em duas classes, correspondendo a dois períodos distintos;constata que os nossos só se comparariam aos que em França, revelavamjá uma cronologia adiantada, integrando-se no período de transição, oCalcolítico, segundo a designação de Leite de Vasconcelos, o quesignifica o reconhecimento da influência europeia na construção dosprimeiros megálitos portugueses. Por outro lado, partindo do princípioque os machados encontrados nos monumentos megalíticos são machadosespecíficos ao serviço de um ritual funerário, conclui que nem todos osmachados polidos ou retocados encontrados nestes monumentos sedeveriam considerar neolíticos; propôs assim que se classificassem edividissem em grupos, de acordo com o desenvolvimento da civilizaçãoneolítica e calcolítica, o que contribuiria para esclarecer a questão daorigem e desenvolvimento do megalitismo (E 11, Nº 14553).

Relativamente ao distrito de Castelo Branco, embora não tenhaencontrado nas explorações feitas nos monumentos megalíticos vestígiosde bronze, pensa que a civilização megalítica tenha atingido a região noinício do período do Bronze, ou no Calcolítico, período de transiçãopara os metais, e não no Neolítico. E, uma vez mais, compara a indústriaencontrada nos megálitos da região com a de megálitos de outras regiões,concluindo que apenas encontra semelhanças nas indústrias encontradasconjuntamente com objectos de bronze. Terão tido origem no períodoCalcolítico, tendo subsistido até meados da Idade do Bronze, momentoem que começaram a transformar-se até desaparecerem completamente(Proença, 1908e). Martins Sarmento tomava-os por sepulcros doshabitantes dos castros, o que FTPJ corrobora relativamente a alguns,mas apenas os dos «castros mistos» e talvez dos da última fase dacivilização neolítica.

Esta havia sido também a ideia proposta no 3º Congresso Pré-histórico de França por Morin-Jean e Siret para o sudeste de Espanha;segundo estes, as antas apareceram pela primeira vez na região no final

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do Neolítico (A 4, Nº 14569), introduzindo o conceito «eneolítico», eacompanharam grande parte do período do Bronze (A 32, Nº 14596).Quanto aos tumuli, situa-os nos primeiros tempos ou nos «temposmédios» do Bronze. No Congresso de Antun, em 1908, defendeubasicamente as seguintes ideias:

– Os dólmenes aparecem em Portugal nos últimos tempos doNeolítico («Robenhausiano», termo utilizado no final do séculoXIX, para designar genericamente o Neolítico) e chegarambastante dentro do período do Bronze (então designado por«Larnaudiano»).

– Os tumuli portugueses pertencem aos primeiros tempos e aostempos médios do período do Bronze («Morgiano» e«Larnaudiano») embora não tenham sido encontrados objectosem metal naqueles que explorou.

– antas e tumuli existiram no período de transição e nos primeirostempos do Bronze (Calcolítico do Dr. Leite de Vasconcellos e«Morgiano» de A. de Mortillet); observa que os tumuli,considerados contemporâneos dos castros pré-históricos, teriamsido construídos para servir de cemitérios a certas personagensdos «castros mistos» e, talvez, também já do Neolítico.

Pertencendo, na sua maioria, à civilização do Bronze, as «armas»e objectos de pedra a eles associados provariam o arcaísmo de um ritofunerário que persistiu por longos séculos, chegando a aplicar-se àsarmas de ferro. Deu como exemplo as estações arcaicas de S. Mamede(Óbidos) e Torres Novas, em que objectos de bronze (ou cobre)apareceram associados a objectos de pedra polida do Neolítico.

2.1.6. Superstições populares

Nos seus trabalhos sobre os monumentos megalíticos, dá atençãoao que designa por «Folk-Lore», descrevendo as crenças e superstiçõespopulares relativas aos monumentos e aos instrumentos de pedra da

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região que, tal como outros vestígios, eram considerados obra de mouros(Proença, 1909).

Os machados eram considerados pedras de raio, distinguindo-sediversas categorias: raios – os machados de gume largo e relativamentegrandes (caem numa casa ou rochedo e fazem tudo em pedaços);centelhas – os estreitos e delgados ou chatos (caem nas árvores e racham-nas); coriscos – os estreitos e redondos, do género das goivas (caem nasárvores mas poupam a madeira, fendendo apenas a casca à medida quedescem, em espiral, até à terra). Segundo a tradição da região, todosestes raios, centelhas e coriscos eram considerados infalíveis para afastaros raios das trovoadas, segundo vários rituais (colocados entre as ripasou telhas dos telhados, metidos no chão ao lado da lareira ou numburaco por cima do lume) (Proença, 1910u).

Para outros, estes monumentos haviam sido construídos por moirospara neles esconderem os seus tesoiros, os quais seriam constituídos porouro em pó, guardado em garrafinhas de vidro ou em panelas de barro.Nos meios populares contava-se a lenda de acordo com a qual os mouros,na sua retirada, diziam: «Entre o Tejo e a Ocreza, fica toda a nossariqueza». Explica ainda que até há pouco tempo antes, os popularestemiam escavar próximo destes monumentos por acreditarem que oprimeiro morreria, o segundo cegaria e só o terceiro obteria a riqueza.

Para outros ainda, as antas serviam para guardar os dízimos queseriam depois queimados a fim de evitar que caíssem pestes (raios)onde quer que chegasse o fumo que deitassem.

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MAPA 2 . Vestígios metálicos atribuíveis à Idade do Bronze no distrito deCastelo Branco, segundo FTPJ (Carta arqueológica do distrito de CasteloBranco).

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MAPA 3 . Monumentos megalíticos no distrito de Castelo Branco, segundo FTPJ(Carta arqueológica do distrito de Castelo Branco).

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2.2. O monumento do barro

Hoje conhecido como tholos do Barro (concelho de Torres Vedras),monumento eneolítico contemporâneo do castro do Zambujal, descobertoem 1904 pelo Abade Bovier Lapierre, que ali encontrou ainda utensíliosde pedra, vasos, crânios e utensílios de metal, foi em 1909, objecto depolémica entre FTPJ e Santos Rocha (E 19, Nº 14561).

Santos Rocha, Director do Museu da Figueira da Foz, comentoupublicamente o achado. Considerou-o um importante e grandiosomonumento funerário, semelhante a outros gregos dos séculos X-XII a.C., circular, com o diâmetro aproximado de seis metros, feito com murode grossa alvenaria seca, com vestígios de cobertura com uma abóbadade silhares divergentes, que considerou de origem pré-micénica,encontrando-se nas cíclades, em sepulturas do início da Idade do Bronze;tipo de construção largamente usada no Bronze Mediterrânico, até finalda época micénica (séc. XI a.C.), quando a Grécia foi invadida pelosDórios que divulgaram o ferro no Mediterrâneo. Atribuiu o monumentoao fim da Idade da Pedra (Neolítico), início do Cobre, continuando a serutilizado até à Idade do Bronze. Comparou-o a outros semelhantes emPortugal, distinguindo este pela sua grandiosidade: zona de Sintra (CarlosRibeiro) e Alcalar, no Algarve (Estácio da Veiga), em que a abóbada desilhares divergentes era feita de placas de xisto.

Tavares Proença critica então duramente Santos Rocha por se terpronunciado publicamente sobre um achado antes de o seu descobridor,Lapierre, o ter publicado, acusando-o de falta de honestidade e delealdade. Descreve o monumento, tendo em conta que o mesmo fora jápublicado e sobre ele tinha já sido feita uma Conferência em Maio de1909, em Lisboa. Compara-o ao de Alcalar e, pela construção e váriasparticularidades, a monumentos descobertos por Schliemam, em Micenase outros em França. Pela grande abundância de ossos encontrados, pensoutratar-se de um ossário e não de uma sepultura e chamou a atenção paraa particularidade de existir um segundo muro de pedra, em volta dacâmara do monumento, concêntrico com este e de construção análoga;

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o espaço entre os dois muros encontrava-se preenchido com terra epedras formando, à direita do monumento e no ponto do começo dagaleria, uma rampa ou tosca escadaria que serviria, segundo Lapierre eo próprio Tavares Proença, para conduzir os cadáveres para o cume dotumulus, onde seriam descarnados pela acção dos agentes atmosféricose aves de rapina, recolhendo-se então os ossos e utensílios na criptamegalítica, procedimento acompanhado de cerimónias fúnebres.

Questionou a cronologia proposta por Santos Rocha, considerandonecessária uma completa exploração do local para que pudesseestabelecer-se uma datação segura.

Relativamente ao espólio até então encontrado, contavam-se, aolado de instrumentos de sílex, de contas de colar de rochas raras, degodets de calcário de tipo novo na nossa arqueologia, utensíliosreveladores de um período de transição e outros mais modernos, entreos quais uma fíbula de bronze, o que o levou a propor que tivesse sidoconstruído no final do Calcolítico, tendo continuado a ser utilizado,embora menos, para além dos tempos médios do Bronze, quando seiniciou o processo de abandono e se deu início à construção demonumentos diferentes existentes na região. Concluiu que o monumentonão poderia dissociar-se de outros da mesma época, mesmo diferentes,que lhe eram próximos, o que representa uma abordagem muito moderna,com a preocupação de integração do monumento no contexto da suarelação com outros, mesmo que de natureza e época diferentes. Destaforma, valoriza-se a noção do espaço, da paisagem, e a necessidade de«ler» o objecto numa perspectiva globalizante e de relação e nãoisoladamente.

2.3. Da Idade do Bronze à Romanização: os Castros

Num recorte do jornal «Correio da Manhã», de 24 de Setembro de1908, consta a notícia sobre o 3º congresso pré-histórico de França, emAntun, em que Joseph Joubert, escrevendo sobre a representação de

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Portugal, fala de Tavares Proença como «eminente paletnólogo», dandoconta da sua distinta intervenção quer sobre os megálitos quer sobre oscastros portugueses, tendo-se destacado sobretudo na sua classificação,organização tipológica e correspondência cronológica (A 4, Nº 14569).

Nos seus textos, Tavares Proença teve o cuidado de definir o quedesignava por castros: todo o tipo de construções localizadas em outeirosque revelassem vestígios de fortificação, quer estes fossem formadosapenas por entrincheiramentos de terra, quer o fossem por muros deterra, sem atender à época a que pertenciam (do Bronze ao período luso-romano).

As suas grandes preocupações no que respeita ao estudo dos castrosconsistiram sobretudo em estabelecer uma tipologia, clarificar alocalização de todos os castros e datar cada um deles, atribuindo-os auma época. Para isso, procurou registar de forma clara, precisa emetódica, com todas as informações cartográficas e bibliográficas todosos castros conhecidos. Por outro lado, manifestou também intenção deproceder a uma pesquisa que abrangesse os detalhes de construção edisposição dos fossos, as fundações, muralhas e habitações dos váriostipos de castros portugueses. Para este trabalho de inventariação doscastros portugueses, chegou mesmo a solicitar aos colegas arqueólogose interessados no assunto que lhe fornecessemm as informaçõescomplementares ou originais sobre os castros dos seus distritos,explicando que as mesmas seriam oportunamente reunidas e publicadascom o nome dos seus autores.

O estudo preciso e metódico que se propôs fazer dos castros limitou-se, numa primeira fase (Congresso de Autun), a uma lista dos castrospor distrito, em virtude de não ter sido possível obter conhecimentosseguros, por falta de explorações cientificamente conduzidas (Proença,1908a, b, f, o). Propôs então a classificação dos castros portugueses empré-históricos e proto-históricos, embora uma boa parte não tivesse aindasido explorada cientificamente. Baseou-se na classificação proposta porLeite de Vasconcelos («Archeólogo Português», Vol. I, 1895) que, emboraprovisória, era então aceite em Portugal: cercas pré-romanas, em que

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inclui as neolíticas, as cercas mistas e as proto-históricas e cercas luso--romanas. M. A. Guébhard criticou a classificação proposta por Leite deVasconcelos que assentava, não sobre a data da fundação das muralhas,mas sobre a da sua principal ocupação, o que, sendo corrente, escondiaa verdadeira origem destes monumentos, aquilo que deveria interessarao pré-historiador. Tavares Proença avançou então com a sua própriaproposta de tipologia (Proença, 1908d):

– Cercas de tipo neolítico, de que seria exemplo Liceia, ondeapareceram instrumentos em pedra e em osso, vasos de matériagrosseira mas nenhum objecto de metal.

– Cercas de tipo pré-romano, que incluíam o que designou porcastros ou «cercas mistas», dando como exemplo o Castelo deBragança (perto do Cadaval) que, participando da civilizaçãodo período neolítico, revelava já vestígios que se integravamnos primeiros tempos do metal. Com efeito, ali haviam sidoencontrados abundantes objectos neolíticos bem comoabundantes objectos em cobre e bronze, grande quantidade decerâmicas, quer lisas quer ornamentadas, muitos pesos pré--romanos, em terracota, quer lisos quer ornamentados também,instrumentos em osso e em marfim, pérolas de colar, masnenhuma sepultura ali fora encontrada e o uso do ferro eraduvidoso ou teria sido muito restrito. Como se disse já, partilhavaa tese de que certos tumuli teriam sido construídos para servirde cemitérios a certas personagens destes «castros mistos».

– Cercas de tipo proto-histórico, como Sabroso, em Guimarães,em que os instrumentos neolíticos eram pouco numerosos, ondefaltavam instrumentos em pedra e em osso assim como os pesosde terracota, mas onde abundavam objectos de cobre e de bronze,muitos em ferro, embora nenhum de origem romana. A presençade diversas sepulturas em pedra, testemunharia um grandeavanço relativamente às muralhas do segundo tipo.

– Cercas de tipo luso-romano, de que seria exemplo Briteiros,revelando já um elevado grau de civilização; ao lado de vestígios

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da civilização indígena, semelhantes aos encontrados nasmuralhas do tipo três, revelava-se em alto grau a civilizaçãoromana em moedas, inscrições, cerâmicas, etc.

Constata que, dos cerca de 504 castros estudados ou identificados(recorda que a lista publicada em 1895 por Oliveira Martins, nos seus«Elementos de anthropologia», dava conta de apenas 26 castros), amaioria se situava nos terrenos montanhosos do norte, estações em partepré-históricas, escasseando no centro, para quase desaparecerem nasplanícies do sul (A 4, Nº 14569). Os castros conhecidos situavam-seentão em Viana do Castelo, Braga, Vila Real, Bragança, Porto, Aveiro,Coimbra, Viseu, Guarda, Castelo Branco (MAPA 4), Leiria, Santarém,Lisboa, Portalegre, Évora, Beja e Faro.

De acordo com a perspectiva de M. A. Guébhard, considerou o seuprimeiro quadro deficiente, reconhecendo que classificações destanatureza deveriam atender à primeira ocupação e não à última ou à quedeixou vestígios mais importantes, tendo em conta que poderia acontecerque uma estação de origem neolítica, revelasse sobretudo vestígiosromanos ou continuasse a ser ocupada na actualidade.

Em 1908 volta a apresentar um inventário mais alargado dos castrosportugueses na publicação «Ensaio de Inventário dos CastrosPortugueses» que, embora mais completa que a apresentada no anoanterior em Autun, não era ainda a última. Concluiu com o inventáriode 514 castros, indicando para cada um o respectivo número, a localização(distrito, concelho e localidade próxima), a designação, o nome doinformador e a bibliografia em que aparecia referido. A esmagadoramaioria constava do «Archeólogo Português», do número I ao XI, masmenciona também a «Revista de Guimarães», a «História do ExércitoPortuguês» (sobretudo para Viana do Castelo, Braga e Porto, Guarda,Castelo Branco e Bragança). Trata-se portanto apenas de um primeiroensaio de inventário dos castros portugueses. De acordo com a propostade M. A. Guébhard, o seu objectivo era então o de referir para cadaestação a data provável da sua primeira civilização, o que reconhecia

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ser difícil devido ao facto de poucas terem sido exploradas e de faltaruma classificação baseada em dados seguros.

Na sua publicação «Archeologia do Districto de Castelo Branco»(1910) em que dá conta das explorações realizadas no distrito desde1902, aludiu a trinta castros descobertos ou estudados, embora nenhumdos seus documentos se refira explicitamente a resultados de escavaçõessistemáticas em algum deles.

É excepção, embora não se tratando propriamente de escavações,o castro do Cabeço dos Mouros, castro pré-romano que visitou (em 28de Dezembro de 1903) e onde lhe disseram existir duas inscrições,tendo feito referência a uma boa estrada pré-romana. Faz ainda umaplanta «a voile d’ oiseau» do local onde se situava o castro, com ascurvas de nível, indicando o rio Pônsul, um caminho de acesso e areferência da localização e a seta indicativa no Norte (Figura 4).

Fora do distrito de Castelo Branco, estudou ainda e visitou, emJulho de 1907, as ruínas da cidade velha de Santa Luzia (Viana doCastelo) de que fez a planta, observando o local, com a indicação de ummuro, das muralhas e a seta apontando o norte.

Interessou-se também pelo castro luso-romano de S. Sebastião(próximo da Batalha, distrito de Leiria), onde obteve uma inscriçãoromana, uma fíbula de bronze e outros objectos indeterminados de bronze,que representou (um anzol de cobre, um estilete comprido de bronze,várias moedas romanas, uma de Augusto, outra de Augusto ou de Tibérioe uma outra, talvez de Cláudio II e vários pedaços de cobre ou bronze).

Revelou sobretudo uma preocupação com a clarificação tipológicae cronológica, com o inventário do espólio recolhido, mas não sepronunciou sobre os povos que os habitaram, a sua origem e a formacomo terão evoluído no que toca aos aspectos sociais, económicos eculturais, centrando a sua atenção exclusivamente no objecto, no vestígioarqueológico, de acordo com os critérios positivistas.

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MAPA 4. Relação de castros identificados ou visitados no distrito de CasteloBranco, por FTPJ (Carta arqueológica do distrito de Castelo Branco).

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2.4. Os menires gravados de S. Martinho

Do conjunto das suas pesquisas e explorações destacam-se osmonólitos gravados de S. Martinho, descobertos em 1903 quandoexplorava importantes vestígios de uma antiga povoação romana, nocentro do triângulo formado pelas capelas da S.ra de Mércoles, Sant’Annae S. Martinho, próximo de Castelo Branco, no seio dos quais encontrouaqueles estranhos monumentos, que descreveu e questionouexaustivamente (A 7, Nº 14572).

Em 1905, deu a conhecer no Congresso de Périgueux os doismenires esculpidos descobertos na base da colina de S. Martinho(Proença, 1905b e 1906d) (Figura 14). Um encontrava-se à superfície eo outro a 60 centímetros de profundidade, em cantaria aparelhada, coma parte superior esférica e um friso entre a parte superior, mais delgadae a parte inferior, mais larga, de secção rectangular e arestas arredondadas.À primeira vista percebeu, na parte virada para o solo, uns traços quelhe sugeriram uma inscrição que, pela sua forma, lhe fez lembrar umaltar destinado ao culto de uma divindade pagã; numa análise maisatenta, porém, concluiu estar perante um monumento estranho em queos sinais feitos com arte pareciam representar uma divindade,comparando-os a sinais publicados por Mortillet no livro «Muséepréhistorique», publicado em Paris, em 1903 (figuras 706 e 713 daEstampa LXV). Percebeu tratar-se de gravuras, ao tempo invulgares emPortugal, fazendo a sua descrição completa e manifestando dificuldadeem atribuir-lhes uma data, o que exigiria, do seu ponto de vista, umaexploração metódica do terreno e um estudo minucioso das condiçõesem que se encontravam. Supôs que o bloco fosse proveniente da partesuperior da encosta, onde se situaria um castro.

Um dos blocos, com apenas 1,63 metros de altura, 65 centímetrosde largura na base e 18 centímetros no topo, pareceu-lhe ter tido a parteinferior soterrada até cerca de 0,30 metros, uma vez que não foraaparelhada. Apresentava a face posterior plana com gravuras e a faceoposta ligeiramente convexa; a face gravada, aparentemente dividida

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em duas metades por um espaço não gravado, continha à esquerda arepresentação de um ser humano segurando um vaso sobre a cabeça eà direita algo semelhante, sugerindo que fosse a reprodução mais grosseirada mesma figura.

O outro bloco, com 2,22 metros de altura, formando um grosseiroquadrado de 0,40 metros de cada lado, com a extremidade superiorarredondada, diminuindo de diâmetro no topo, também com uma partenão aparelhada para enterrar no solo. Da sua interpretação, vislumbrava,numa das faces, a gravura de um caçador lançando o arco sobre umcervo. Os animais caçados sobre a cabeça do caçador, o qual, com aspernas, o tronco e a cabeça bem marcados, erguia os braços arredondados,segurando nas mãos um arco armado com a flecha apontada a um cervo,seguido pela sua fêmea, sendo ambos representados por simples traços;em cima, três figuras foram interpretadas como pássaros (Proença,1905b). Ao tronco do caçador estariam ligados diversos acessórios: àsua direita, um objecto alongado representando uma aljava; à suaesquerda, uma espécie de saco do qual pendia uma peça arredondada,que não identificou. À altura dos seus ombros notou ainda uma pequenafigura triangular, pensando tratar-se de uma trombeta de caçador e, aospés, a representação de um animal, provavelmente um cão. Concluiu otexto solicitando aos congressistas que o ajudassem na decifração dosignificado e da datação dos dois menires, colocando-lhes as seguintesquestões:

• Teriam sido construídos por povos vivendo na base da colina enão no cume, antes da ocupação romana, sem que ali tenhamdeixado outros vestígios?

• Teriam sido construídos por populações em trânsito eabandonados antes da chegada dos Romanos?

• Teriam sido utilizados por populações romanas, utilizando naconstrução dos seus monumentos, as rochas já gravadas?

• Qual teria sido a utilidade dos monumentos?• A que época poderiam atribuir-se?• Qual seria a idade e o significado das gravuras?

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No Congresso, as interpretações foram várias: guerreiros cobertosde capacetes com cornos ou antenas; mulheres com vasos à cabeça; paraM. Joseph Déchelette estariam ali representadas as armas defensivascaracterísticas dos guerreiros pré-históricos da Sardenha que M.Cartailhac atribuía à Idade do Bronze (A 45, Nº 14609). Acrescentouainda que os capacetes com cornos apareciam também na Gréciamicénica. Explicou que o arco constituia a arma ofensiva maiscaracterística dos guerreiros sardos. Para M. A. de Mortillet, a primeiradas figuras descritas recordava as estátuas-menir encontradas em Aveyronpor M. Hermet e a grosseira estátua de homem encontrada em Puech--Réal, departamento de Tarn, sul de França, observando-se em ambos osmonumentos uma cintura gravada por dois sulcos ou traços horizontaisentre os quais se encontrava uma fila de ponteados. Por baixo, sulcosverticais e paralelos representariam as dobras de um longo manto ousaiote até aos pés. Todavia, as gravuras da parte superior dos meniresportugueses distinguiam-se das francesas. Nota-se a extremidade de duasespécies de rédeas (ou fitas de cabelo?) ou de tranças de comprimentodesigual caídas sobre os ombros; entre as duas figuras humanas traçadasde forma simplificada, dois traços sinuosos descem até à cinturahorizontal parecendo representar um véu ou divisória ou a parte pendentede uma cabeleira caindo sobre as costas. A face anterior, aparentementelisa, deveria conter, segundo A. de Mortillet, traços que ajudariam acompreender se estaríamos perante uma representação masculina oufeminina (tal como é sugerido pela representação posterior); solicitoumesmo a FTPJ que procurasse cuidadosamente por traços de braços,pernas, rosto e seios (Proença, 1906d). Mais tarde, em carta dirigida aTavares Proença dando conta da publicação do seu trabalho na revista«L’Homme Préhistorique», reitera esta interpretação, solicitando-lhe oenvio de uma fotografia do verso, supondo haver aí algo que indicasseos braços, as pernas e, possivelmente, os seios, visto pensar tratar-se deuma representação feminina. M. Marcel Bauduin coincidiu com A. deMortilet relativamente ao primeiro bloco, considerando-o uma estátua-menir, situando-a no Bronze, tal como monumentos semelhantes do sul

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de França (Figura 15). Já o segundo bloco não lhe pareceu um verdadeiromenir do período megalítico por se tratar de um bloco trabalhado e nãoem bruto, atribuindo-lhe uma cronologia um pouco mais recente que osdo período megalítico; sugere mesmo que as gravuras representadasfossem posteriores à erecção do bloco.

Como fez em ralação a outro tipo de monumentos, preocupou-secom a definição de uma cronologia, de uma época a que pudesse atribuirestes monólitos gravados. Partindo da analogia que observou entre estasgravuras e as gravuras de esteios de certos dólmenes, representando osarcos, as flechas e os instrumentos neolíticos, concluiu que seriam bemanteriores à chegada dos Romanos. Tendo em conta que se encontravamna região de Castelo Branco vestígios de várias épocas, desde o Neolítico,sendo vários os monumentos megalíticos e os vestígios de bronze, e nãoconhecendo nenhum da Idade do Ferro, propôs que fosse este oenquadramento cronológico em que aqueles monumentos se poderiamsituar.

Esclareceu que as sondagens realizadas no local em que foramencontrados excluíram a ideia de que ali teria existido um castro pré--romano. Também as explorações em torno do sítio em que seencontravam nada esclareceram quanto à sua situação e primitivautilização, tendo admitido que tivessem sido objecto de um culto.

No regresso de Périgueux, visitou o Museu Arqueológico de Madrid,onde examinou um monólito, de proveniência desconhecida, semelhanteaos de S. Martinho, que atribuiu à primeira idade do Bronze (morgiana).Mais tarde, no número 1 de «Materiaes…» (1910), comentando umartigo de Adrien de Mortillet sobre as gravuras recolhidas por Leite deVasconcelos no sul de Portugal e atribuídas à época do Bronze, publicaa gravura do monólito que observou em Madrid, semelhante aos de S.Martinho, descrevendo-o: «um homem à direita; na parte inferior vêem--se as cabeças, os ombros e braços de outros e talvez um cão. Do ladoesquerdo vê-se representado um escudo; ao meio, talvez um machadode pedra ou uma ponta de lança desencabada, e finalmente, no alto dapedra, uma lança completa e uma espada com folha pistiliforme, do

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tipo Larnaud». Cncluimos assim que, comparando vários monumentos,as estátuas-menir de Castelo Branco foram também atribuídas por FTPJà Idade do Bronze.

Tendo tido conhecimento que, mais tarde, um dos congressistas, oDr. Capitan, professor da Escola de Antropologia de Paris, no Balançodo Congresso, publicado na «Revue de l’ École d’Anthropologie deParis», nº XI, de Novembro de 1905, afirmou terem sido levantadasreservas sobre a autenticidade das figuras, publicou uma pequenabrochura manifestando o seu desagrado, explicando que a posição doDr. Capitan tinha a ver com lutas entre arqueólogos franceses e com ofacto de ter sido elogiado por A. De Mortillet, tido por adversário do Dr.Capitan (Proença, 1906f).

FIG. 14. Menires gravados de S. Martinho,publicados em França, por FTPJ (in CongrèsPréhistorique de France – Compte Rendu de lapremière session –Périgueux, 1905).

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2.5. QUEIJEIRAS E CABANAS

Publicou FTPJ, em 1910, um texto intitulado «Sobrevivências, typose costumes – Relativos especialmente à Beira Baixa» em que aborda otema das Queijeiras redondas de Castelo Branco e das Cabanas da serrada Estrela, tema que, embora de âmbito etnográfico, não deixa de serperspectivado também, no que se refere às suas origens, no contexto doperíodo do Bronze. Trata-se de construções em forma de cone truncado,com o diâmetro da base pouco maior que o superior (as dimensõesmédias andavam à volta de 4,20 m no diâmetro inferior e 4,00 m notopo), com um tecto formado de pedras dispostas en encorbellement,recoberto de terra argilosa, impermeável à chuva, formadas de pedrassoltas e toscas, sobrepostas com cuidado, umas sem nenhuma argamassae outras com aplicação de barro grosseiro, com a porta e a janela (quasesempre ausente) enquadradas por pedras mais volumosas e regulares

FIG. 15. Menires gravados de outras regiões com os quaiscompara o primeiro exemplar da Figura 14 (Doc. A 36).

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que sustentavam uma espécie de arquitrave ou verga. O pavimento erade terra batida e a porta, muito pequena e rectangular, era habitualmenteprecedida de alguns rudimentares degraus de pedras soltas.

A observação destas cabanas e queijeiras portuguesas leva-o a umacomparação com construções semelhantes, abundantes na Sardenha,publicadas por N. Joly que as atribuía à Idade da Pedra e outras, maisperfeitas, com duas câmaras sobrepostas, atribuídas à Idade do Bronze.Explica FTPJ que esses monumentos haviam antes já sido comparadospor outros autores com as urnas-cabanas, existentes nas proximidadesde Roma e que urnas idênticas se conheciam também na Alemanha,sugerindo que tais urnas reproduzissem a forma de um tipo primitivo dehabitações semelhantes às cabanas e queijeiras que conhecia: recintosformados por um muro circular de pedra solta, cobertos por uma abóbadaen encorbellement (consistia em fiadas circulares de pedras, colocadashorizontalmente umas sobre as outras, que se vão sucessivamenteapertando de baixo para cima até a câmara fechar, no topo, por umaúnica pedra), modelo de habitação que, do seu ponto de vista, seencontrava igualmente em Inglaterra, Escócia, Irlanda, Mediterrâneo(Sardenha, Baleares, Argélia), atribuído vagamente ao período do Bronzee estendendo-se quer até ao período romano quer, em alguns locais, atéao século VIII. E destaca que, no Congresso de Mónaco, de 1906, A.Issel mostrara que tais construções sobreviviam ainda em populaçõesactuais de montanheses, agricultores e pastores de certas regiões deFrança e de Itália, onde eram designadas por «Cabanons», «Cabanne»,«Casui», «Caselle», «Casoni», semelhantes ao Trulli do sul de Itália eaos nuragui da Sardenha.

Com base nestes vestígios que conheceu, FTPJ acredita que asconstruções mais ou menos arruinadas nos arredores de Castelo Branco(queijeiras redondas) e na serra da Estrela (cabanas) bem como certosmonumentos sepulcrais proto-históricos descobertos no Algarve, serelacionassem quer com os nuraghi da Sardenha, quer com as Cabanneou Caselle italianas. Com efeito, embora reconhecendo nelas construçõesmodernas, pensa que as mesmas constituiriam a herança de um tipo

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primitivo de habitações rústicas que serviam, ainda ao tempo, de refúgiotemporário a pastores e ceifeiros, nas regiões montanhosas, afastadas decidades ou aldeias. Ou seja, via nestas cabanas e queijeiras asobrevivência de um tipo de construções antigas, remontando aoCalcolítico, comparáveis às sepulturas algarvias descobertas por Estácioda Veiga.

FIG. 16. Queijeira do Vale da Pereira, Castelo Branco (in «Sobrevivências,typos e costumes», Proença, 1910).

3. A IDADE DO FERRO

Francisco Tavares Proença Júnior não destacou uma Idade do Ferro,não estudou o impacto desta nova matéria-prima e tecnologia subjacentena vida das populações locais. No entanto, procurando adoptar um planoque integrasse de forma coerente, de acordo com os conceitos da época,a sua obra, entendeu-se conveniente integrar o período final da vida doscastros, a Proto-história, que FTPJ designa conjuntamente por período

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luso-romano, na Idade do Ferro. Na verdade, na abordagem que vaifazendo, percebe-se, uma vez mais, que não considera períodos de rupturaou descontinuidade, dando a entender que as populações lusitanas,habitando nos castros, em sítios altos, foram assimilando elementos dacultura romana, evoluindo progressivamente para novos modos de vida,nos sítios planos. Com efeito, percebe-se a preocupação em estabeleceruma continuidade entre os castros e as suas populações e os habitantesdas estruturas romanas emergentes, as villae, que seriam assim umaespécie de continuação dos castros, embora deslocados dos montes paraas bases.

Mais uma vez, é-nos apresentada uma abordagem sobretudodescritiva, não globalizante. Refere-se à abundância de materiais desuperfície, à presença de estruturas visíveis de fundações ou muros, porexemplo, a materiais de construção, ao espólio cerâmico, mas não inferesobre a evolução do ponto de vista social, económico e culturalsubjacente. Por exemplo, a presença de tegulae não o leva a concluirtratar-se de um habitat ou de uma villa , falando apenas em «civilizaçãoromana», nada especificando quanto ao tipo de estrutura de povoamentoimplicado. Sabe-se que com a romanização se verificou um processo dedeslocação para a base das colinas, mas quem habitava efectivamente osnovos povoados: população romana? população parcialmenteromanizada? Para evitar este tipo de problemática, prefere designar todaesta população por «luso-romanos», não se percebendo nem o alcanceda persistência de elementos autóctones nem o peso da influência romana.

Leite de Vasconcelos chega a criticar Tavares Proença quando esteafirma que os romanos abandonaram a Península Ibérica no começo doséculo V, explicando que os mesmos se fundiram com os seus habitantes,não podendo falar-se em abandono.

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3.1. O período Luso-romano

3.1.1. Exploração de vestígios romanos no distrito de Castelo Branco

Revelou especial admiração pela civilização romana que nos legouos seus costumes, língua e instituições «mas não a sua energia, não oseu vigor, não muitos dos seus sentimentos». Percebe-se assim que odomínio romano correspondeu, do seu ponto de vista, a um tempo debrilho e esplendor civilizacional, a que se seguiu a influência bárbaraque «tudo destruiu e confundiu» (Proença, 1910q).

Quando em 1910 publica a primeira carta arqueológica do distritode Castelo Branco, resultado das explorações ali feitas desde 1902,assinala oitenta e uma estações romanas. Mas, relativamente a esteperíodo, as suas explorações foram além do distrito de Castelo Branco.

Entre o espólio muito diverso que atribuiu, embora de formaimprecisa, ao período luso-romano, destaca-se o que obteve nasescavações de S. Martinho, próximo de Castelo Branco, entre as capelasde Sant’Anna, Mércoles e S. Martinho, nas margens do ribeiro deMércoles, que explorou metodicamente e onde referenciou abundantesfragmentos de louça, póndera de barro, mós manuais, bem como alicercesde edifícios e restos de uma sepultura rectangular, a maioria do qualintegrou no período romano, embora algum se deva considerar posterior(A 21, N 14586). No Relatório das pesquisas e escavações ali feitas,entre Setembro e Outubro de 1903, acompanhado por estampas e ummapa topográfico (Figura 17), diz ter encontrado:

– alicerces de edifício de pequenas dimensões, de que dá contada espessura e do modo de construção (pedra solta ou malligada por argamassa) e junto a estes (A 13, Nº 14568):• abundantes fragmentos de telhas romanas (com rebordo),

revelando um dos fragmentos, na face externa, a marca deoleiro; alguns raros destes fragmentos parecem cobertos poruma tinta amarelada, apenas na face externa;

• moinho de mão, vulgar em estações romanas;

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• uma lagariça escavada na rocha, invulgar na região uma vezque era apenas formada por um rego, limitando umasuperfície plana de rocha, onde se reuniriam os líquidosprovenientes de uma bica escavada mais abaixo;

• um bloco rectangular de granito aparelhado, integrado narocha (com 1,10 m de comprimento, 0,55 m de largura e0,75 m de altura acima da rocha);

• uma pequena pia escavada também na rocha (com 0,05 mde altura, 0,25 m de comprimento e 0,15 m de largura);

• grandes blocos de pavimento formado de pedra (quartzobranco, trazido de longe) misturada com duríssima argamassa,perguntando se se trataria do pavimento de uma casa ou departe de uma via romana; tendo em conta as dimensões doespaço ocupado pelos blocos (4,80 m X 3,50 m), pensa tratar-se antes do pavimento de uma casa uma vez que faltavamas pedras que formariam o revestimento externo da estrada;embora não deixe de admitir que ali tenha existido umaestrada, o que seria confirmado pelos vestígios da ponteromana;

• metade de uma coluna de granito aparelhada;– num local próximo, indicado no mapa pela letra G:

• abundantes fragmentos de telhas romanas (com e semrebordo);

• fragmentos de rebordo de uma urna funerária, a 0,40 metrosde profundidade, relacionando-o com a prática de colocaçãodos cadáveres em urnas de barro cobertas por uma pedra,invocando a propósito artigos do marquês de Nadaillac e deLeite de Vasconcelos sobre a inumação em potes de barro(sugestão rejeitada por Leite de Vasconcelos, no «ArcheólogoPortuguês», de 1909, por se reportar a épocas anteriores),como prática muito difundida no mundo antigo;

• grande quantidade de telhas partidas;– próximo de um outro local (letra H):

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• um círculo de granito aparelhado, evidenciando a curva sinaisde ter sofrido fricção provocada por outra pedra (perguntandose se destinaria a revestir exteriormente um moinho de mãode modo a evitar a perda do grão triturado);

– em torno do ponto K, em direcção aos pontos J, L e N:• alicerces de edifício, a uma profundidade entre 0,80 m e

1,20 m.;• grande quantidade de fragmentos de telhas com rebordo e

vãos de barro de espessura diversa e fabrico ordinário;• sete fragmentos de vasos funerários, tendo concluído serem

abundantes as urnas daquele tipo no local; relata depois umasérie de achados de potes deste tipo ali encontradosanteriormente por trabalhadores, o que reforçou em si a ideiade se tratar de urnas funerárias;

• seis pesos de barro, de tamanhos diversos e barros deproveniências diferentes, furados de um lado e tendo umdeles uma marca semelhante a uma representada no númerode Abril de 1903, do Archeólogo Português;

– no ponto indicado pela letra P:• uma fonte, a «fonte do Pinto», onde uma pedra tinha gravada

uma cruz;• fragmentos de telhas e de vasos sem importância;

– no local indicado pela letra B:• referência a uma sepultura ali aparecida em tempos, que diz

ser romana, constituída por uma caixa formada de pedrasunidas por argamassa, com as faces paralelas (1,80 m decomprimento X 0,60 m de largura), contendo dentro vasosde barro e de vidro (talvez lacrymatorios), em loiça muitofina, apresentando uma imagem com a forma provável dosvasos a que os fragmentos pertenciam;

• fragmentos de ferro e de bronze que supõe serem maisrecentes;

– nos pontos assinalados pelas letras B, D e E:

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• alicerces, telhas e vasos romanos;– junto à ponte próximo da igreja da S.ra de Mércoles:

• um machado em pedra, à superfície;– em A e C:

• dois monumentos em pedra com gravuras muito diferentesdas gravuras conhecidas até então em Portugal, supondopertencerem a uma época anterior à romanização;

– Na Ribeira de Mércoles regista a presença de restos de umaponte romana.

FIG. 17. Representação das escavações realizadas em S. Martinho (inAntiguidades I – Resultado de explorações feitas nos arredores de CasteloBranco em Setembro e Outubro de 1903, Proença, 1903).

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Deste inventário destacam-se os inúmeros fragmentos cerâmicos(Figura 18): vaso pequeno sem verniz, bordo de vaso pequeno, vasoapresentando na face exterior ornato simples constituído por linhasquebradas, vaso com um friso circular e ornato constituído por linhasverticais traçadas por fricção no barro macio, fundo de vaso pequenoevidenciando ainda parte de um sinal que estaria riscado no fundo,bordo de vaso ordinário e forma curiosa, vaso com traços de verniz eforma vulgar, fundo de vaso pequeno de loiça fina e forma vulgar,fundo inteiro de vaso de barro fino com uma marca riscada exteriormente,fundo de forma comum, fundo de barro ordinário e forma vulgar, bordode vaso de forma ordinária e forma vulgar, vaso de barro fino com beloverniz, bordo de vaso com barro ordinário e com forma curiosa masvulgar, vaso delgado, asa de bordo ordinário com três frisos, asa debordo ordinário com dois frisos, bordo de forma vulgar, bordo de vasode barro fino e forma curiosa, fundo de vaso de barro fino e formavulgar, vaso em barro fino e forma curiosa, fundo de vaso em barrofino, vaso com barro muito claro, bordo de vaso grande, barro ordinárioe claro, vaso grande de barro ordinário com entalhe, bordo de formacuriosa, asa de ânfora enorme com dois frisos (A 13, Nº 14568).Relativamente à caracterização desta cerâmica, utiliza os seguintestermos, pouco precisos e algo subjectivos: forma vulgar (9 vezes), formacuriosa (7 vezes), barro ordinário (7 vezes), barro fino (6 vezes), comfriso (3 vezes), pequeno (2 vezes), utilização de verniz (2 vezes), ornatos(simples e de linhas verticais), barro claro ou muito claro (2 vezes),delgado e loiça fina (1 vez).

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No curral da queijeira de S. Martinho observa uma pedra de 40 cmx 30 cm que apresenta, numa das faces, uma cavidade com uma formaestranha (que reproduz em desenho) e menciona um pedaço de colunalisa partida numa das quinas da queijeira.

Estas suas explorações envolveram igualmente os espaços adjacentes,nas proximidades de S. Martinho. Em Mércoles, diz ter encontrado uma meiamó romana e, próximo da S.ra de Mércoles, um pote de barro, coberto comuma tampa de xisto, de que se desconhecia o conteúdo. Faz a representaçãode três ornatos de loiça e um corte de um fragmento de vaso. Na Quinta deS.ra de Mércoles diz ter aparecido em 1840 uma fonte ou chafariz em cantariaaparelhada que foi destruída, observando-se ainda alicerces de casas. Próximoda entrada na capela (cerca de 100 metros) fez referência a grande quantidadede escória proveniente da fundição de ferro e cobre.

FIG. 18. Representação de um pote de barro de «formacuriosa» e altura de 60 cm. (Doc. A 21)

FIG. 19. Pedaços de ferro, em estado granulosos, encontradosem S. Martinho, junto aos alicerces de uma habitação(romana?) (Doc. A 21).

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Entre a igreja de S.ra de Mércoles e Sant’ Anna menciona grandequantidade de telhas romanas (Figuras 20 e 21), de que junta duasfiguras, várias colunas com inscrições e colunas lisas e grande quantidadede pedra de cantaria aparelhada, pavimentos de tijolo e abundância defragmentos de tijolo dispersos no pavimento. Em Sant’ Anna, descreveuma pedra com uma estranha forma e cavidade (que reproduz), sugerindoque se trate de uma ara romana. Frente à capela de Sant’ Anna refereum vulgar marco sepulcral romano com uma cruz, que reproduz, nãosuspeitando que pudesse tratar-se de um trabalho medieval.

Relativamente às explorações realizadas em S. Martinho, concluiuestar-se perante duas civilizações: a do alto do monte, pré-romana, talvezdo fim da idade do Bronze, possivelmente um castro, como propôsLeite de Vasconcelos; a base do monte, a civilização luso-romana, comas suas tegulae, as suas louças aretinas e uma inscrição que descreve.

Nas margens do rio Pônsul (Figura 22), recolheu ainda outrosvestígios da presença romana, como fragmentos de barro e tijolo, no

FIG. 20. Representações de tegulae romanas de S. Martinho(Doc. A 21).

FIG. 21. Representação do funcionamento da cobertura dashabitações romanas de S. Martinho (Doc. A 25).

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Monte do Pontal, e teve conhecimento de um achado de muitas moedas(romanas?) por volta de 1840 no Monte Sardo, encontradas numa covasemicircular, tendo de cada lado, a igual distância, dois marcos de xisto(propondo que para as sinalizar, como esconderijo) (Figura 23).

FIG. 22. Representação das fundações das casas que explorouno Pônsul (Doc. A 25).

FIG. 23. Representação do esconderijo de moedas achado em1840 (Doc. A 21).

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Nas margens do rio Ocreza explorou em 1903 duas sepulturas,com orientação norte/sul, designadas pelo povo como sepulturas demoiros, indicando as respectivas dimensões: comprimento – 1,80 metros;largura da cabeça – 0,40 metros; largura nos pés – 0,35 metros;profundidade – 0,40 metros. O terreno à volta incluía grande quantidadede pedaços de telhas romanas (Proença, 1903c). Ao nível do solo, notoua parte superior de pedras formando um alinhamento perfeito, a partirdo qual começou a escavação, que pôs a descoberto um muro não circular,formado por pedaços toscos de granito colocados a prumo, delimitandoum recinto de 232 metros quadrados (muros laterais de 29 metros X 8metros). Relacionou o muro com um idêntico publicado por Cartailhac,em «Les ages préhistoriques de l’Espagne et du Portugal». O recinto,pareceu-lhe dividido por um muro, em virtude de apresentar ao meiodos muros mais compridos duas pedras (Figura 24). Na metade voltadaao norte descreveu uma pedra isolada tal como no livro mencionado.No meio de um dos muros maiores, uma pedra elevava-se a cerca de 70centímetros acima do solo. Escavando junto desta pedra encontrou, acerca de 40 centímetros de profundidade, três instrumentos de pedrapolida, do mesmo tamanho, revelando traços de fricção e um instrumentode ferro, já em estado granuloso. Começou as escavações do interior dorecinto pelo canto voltado ao sul onde, a 35 centímetros de profundidade,encontrou uma moeda de ouro de 2 centímetros de diâmetro, visigótica,com o nome do rei Egica numa das faces. No compartimento do nortenotou vestígios de uma porta. Concluiu estar perante vestígios de váriasépocas, nomeadamente do período Neolítico (instrumentos de pedrapolida), da dominação romana (presença de telhas e restos de vasos) edo período visigótico (moeda). Mencionou ainda duas sepulturas abertasna rocha granítica e a presença, a cerca de 800 metros, para sul, deresíduos de forja e escória de fundição de ferro.

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FIG. 24. Representação do recinto escavado junto ao rioOcreza (anexo a carta enviada a Leite de Vasconcelos,integrada no Epistolário - MNA).

Relativamente à região de Idanha-a-Velha, centro dos antigosigaeditani, destacou a abundância de vestígios de várias épocas, comrealce para a civilização romana (pedras lavradas de grandes edifícios,colunas, lápides sepulcrais, inscrições...). Num poço de pedra de cantariaaparelhada, com vinte metros de profundidade, fez referência a umapanela de barro que, segundo Félix Alves Pereira, seria visigótica (E 18,Nº 14560). Num olival próximo do ribeiro e da igreja velha, encontraram-se vestígios de diversas épocas, como de um convento, constatandoexistirem abundantes e importantes vestígios da época romana e talvezda época visigótica, como tegulae, imbríces, lateres (pedaços de tijolo)e fictile (cerâmicas). No mesmo local, existia ainda uma ponte sobre orio que diziam ser do tempo de Trajano, mas que Félix Alves Pereira,tinha por templária.

Em Medelim, no espaço compreendido entre a Anta Grande e aAnta Pequena, descreveu alguns vestígios de edificação romana queexplorou, numa elevação de terreno: a pequena profundidade, uma paredede cantaria aparelhada e, entre quatro paredes soterradas, grande

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quantidade de pedaços de tegulae e lateres (pedaços de tijolos) que,pela abundância de imbríces, lhe pareceu ter sido uma edificaçãoimportante. À superfície constatou também a existência de bastantesfragmentos de cerâmica romana. A uns cem metros apareceu umainscrição que diz ter sido enviada para Lisboa pelo Dr. Félix AlvesPereira. Próximo, no Sítio da Anta, junto a vestígios do que terá sido acapela de S. Tiago, encontrou dois pedaços de tegulae. A uns trintametros encontrou um poço em cantaria aparelhada, completamenteentupido, de que não havia memória de ter sido utilizado. Ainda emMedelim, obteve duas aras.

Um dos seus manuscritos faz o levantamento ou inventário dosvestígios romanos em pedras (cavidades, sinais, pias, lagares),encontrados na região de Castelo Branco: em S. Martinho, Mércoles,Sant’Anna, Ocreza, S. Bartolomeu, Pônsul (perguntando se se tratariade vestígios de casas romanas, fazendo a representação das fundaçõesnuma planta do local, em que assinala o «norte», o caminho de acessoe a proximidade de uma linha de água [Figura 22]), Ficalhos de Cimae Lousa (A 13, Nº 14589).

Segue-se a representação e distribuição locais do distrito de CasteloBranco com vestígios da presença romana, segundo FTPJ (MAPA 5).

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MAPA 5 . Vestígios da presença romana ou luso-romana no distrito de CasteloBranco (Carta Arqueológica de Castelo Branco).

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3.1.2. Exploração de vestígios romanos em outras regiões

No oppidum de S. Sebastião do Freixo (próximo da Batalha, distritode Leiria), onde recolheu e comprou uma inscrição e objectos miúdos,entre os quais um peso de tear com marca de oleiro, um fundo derecipiente de terra sigillata sudgálica e um tijolo com uma inscrição emduas linhas, um anzol de cobre, um estilete comprido de bronze, váriasmoedas romanas (uma de Augusto, outra de Augusto ou de Tibério euma outra, talvez de Cláudio II) e vários pedaços de cobre ou bronze.Menciona ainda uma outra inscrição que fora retirada da Quinta de S.Sebastião (A 6, Nº 14571).

Em Alfarelos, próximo de Coimbra, faz o registo de uma inscriçãoromana (talvez do tempo de Constantino), numa ponte antiga, defronteda estação (lado de Montemor-o-Velho).

Em Condeixa-a-Velha, comprou dezenas de moedas romanas deprata e de cobre, dois camafeus e uma fivela de bronze inteira (E 10,Nº 14552).

3.1.3. Levantamento de inscrições romanas no distrito de Castelo Branco

No que respeita à epigrafia, tema a que dedicou particular atenção,quer relativamente à região de Castelo Branco quer a outras regiões dopaís, recorreu a vários autores que haviam já procedido a levantamentosidênticos, sobretudo Aernilius Hubner (Proença, 1903a). Quanto à cidadede Castelo Branco e arredores, evocou Manuel Pereira da Silva Leal,que em «Memórias para a história eclesiástica de bispado da Guarda»(Lisboa, 1729), mencionou algumas dentro da vila e campos vizinhos,embora as não tenha descrito (Proença, 1907b; 1910s).As únicas inscrições romanas de que disse ter conhecimento no aro dacidade de Castelo Branco foram:

– uma inscrição numa tegula, publicada em 1903;– uma inscrição publicada desde 1891 por A. Roxo, em

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«Monografia de Castelo Branco» (Elvas, 1891) de quetranscreve a cópia, observando que lhe parece errada. Situava--se junto à Porta da Traição, no castelo e ter-se-á demolidoquando foi demolida parte da muralha;

– Inscrição na ombreira de um portal na parte mais alta da cidade:inscrição tumular gravada em granito, com as letras bastanteapagadas que tenta interpretar;

– Inscrição integrada na parede de uma casa nos arrabaldes dacidade: a parte central de uma ara dedicada a uma divindadeque não conseguiu identificar; em péssimo estado e de difícilleitura, mas que tenta reproduzir parcialmente;

– Inscrição funerária achada em Castelo Branco, nos arrabaldesda cidade, gravada num pedaço de granito; da leitura, destacaas palavras AMMINI e CATVENVS, explicando que revelamorigem céltica; refere outras inscrições em que aparecem estaspalavras, remetendo para a bibliografia que as menciona (Hubnere Leite de Vasconcelos);

– Inscrição romana encontrada na base do monte de S. Martinho,gravada na metade superior de uma ara, de que apenas pôde lercerca de metade; parecendo-lhe dedicada a uma divindade, talveztutelar da família que residia na base do monte;

– Inscrição encontrada em S. Martinho, marcada com carimbo napasta ainda mole de uma tegula, cujas letras mostram o nomedo oleiro ou da oficina que a produziu. Dos inúmeros nomes deoleiros e oficinas romanas marcadas ou carimbadas que conheceunos museus da Europa, nenhum se assemelhava a esta de CasteloBranco. Embora prefira atribuí-la a um artista romano, nãoexcluiu a hipótese de ser medieval, uma vez que as tegulascontinuaram a produzir-se após a romanização. Tenta uma leitura,embora não seja segura;

– Inscrição numa pequena ara dedicada a Júpiter Conservador,encontrada com outros vestígios entre Escallos-de-Cima e Lousa,a cerca de 15 quilómetros de Castelo Branco, de que traduziu

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apenas os sinais ou letras não duvidosos;– Metade de uma inscrição tumular encontrada entre Sarnadas e

Vila Velha de Ródão, com a superfície em muito mau estado,permitindo apenas uma leitura muito parcial;

– Inscrição latina mutilada, gravada num afloramento xistoso,alguns quilómetros a sul de Castelo Branco e Sarnadas, nolugar da Coutada; copia apenas os caracteres que identifica.Acrescenta que existia próximo uma sepultura aberta no xisto,junto à qual se encontraram uns caracteres ou sinais estranhosque copiou, sugerindo que se tratasse de uma inscrição dedelimitação de terrenos;

– Metade de uma ara dedicada à deusa Arencia e ao deus Arencio,encontrada próximo da povoação de Ninho do Açor e depositadano Museu de Castelo Branco; gravada em bloco de granitomicáceo, aparelhada e bem conservada. Indica as dimensões ea tradução «Montano, filho de Tangino, cumpriu satisfeito ovoto à deusa Arencia e ao deus Arencio». Em observação procuraexplicar o significado de Arentius e Arentia, dizendo que oaspecto adjectivável da terminação indica que o carácter dasdivindades estaria muito próximo da sua origem primitiva, umavez que eram mais consideradas como qualidades do que comosubstâncias, subentendendo ainda, quem proferia aquelaspalavras, deus e dea. Sublinharam então Leite de Vasconcelose Félix Alves Pereira, a raridade de se tratar do segundo casoconhecido na hierologia lusitano-romana: um deus e uma deusacom o mesmo onomástico de origem pré-romana. Recorda, apropósito, uma ara consagrada a Arentius existente no MuseuEtnológico, publicada em «Religiões da Lusitânia», II (Proença,1910c, m) ;

– Inscrição encontrada na freguesia de Zebras, concelho doFundão, depositada no Museu da Figueira da Foz; faz referênciaao deus Arencio e fora publicada por Santos Rocha no Tomo Ido «Boletim da Sociedade Archeológica da Figueira»;

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– Inscrição proveniente da Póvoa d’Atalaia, depositada no Museuda Figueira da Foz e dedicada à deusa Vitória, divindadeconhecida da epigrafia beirã;

– Inscrição romana (lápide) encontrada numa quinta, próxima deCastelo Novo, que serviu muitos anos como amoladeira de facas,embora as letras se tenham preservado. Faz a respectivatranscrição;

– Uma árula de granito, dedicada a Mercúrio (uma das divindadesdo pantheon da Civitas Igiditanorum), partida ao sertransportada, quase completamente apagada, aparecida emMedelim, nos alicerces da capela de S. Tiago, juntamente comvestígios luso-romanos e medievais; de leitura muito difícil;

– Árula, também aparecida em Medelim, juntamente com aanterior, de granito, e com os caracteres quase completamenteapagados;

– Duas letras ou siglas num fragmento de bordo de dolium,proveniente de Medelim, marcadas com carimbo (sigillum) nobarro ainda mole, antes da cozedur, indicativas da oficina ou doartista que o fabricou; recorda uma bacia de barro obtida nooppidum de Condeixa-a-Velha e depositada no Museu de CasteloBranco, também com a marca da oficina;

– Inscrição proveniente de Belmonte e oferecida ao Museu deCastelo Branco, de que faz a respectiva leitura, acrescentandoque a mesma fora já publicada em 1881, na «Expediçãoscientífica à serra da Estrela» e no jornal «O Século»; corrigea tradução adoptada naqueles textos, destacando um ramo ouornato vulgar da inscrição, semelhante a outros, de várias formasdos últimos tempos da epigrafia romana, integrando-se na mesmasérie a que pertenciam as palmas, as folhas, etc

– Inscrição na verga da única porta da capela de S. Dâmaso, emIdanha-a-Velha, fora dos limites das muralhas dos templários;transcreve-a;

– Inscrição romana de mármore que existiu em tempos numa das

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paredes da capela e se encontrava na parede de um pardieiroem Idanha-a-Velha;

– Quatro inscrições provenientes das ruínas de Idanha-a-Velha emque se lhe afiguraram nomes bárbaros (Laetus, Seloca, Arantonius,Turani – ou Turrani -, Cumelio, Talai), alguns dos quais aparecemnoutros locais, como na Capinha (Arantonius), Badajoz eCondeixa-a-Velha (Turrani) ou são referenciados por Hubner eLeite de Vasconcelos. Destaca, numa delas, a ornamentação quecompara com exemplares semelhantes da Beira Alta, depositadosno Museu Etnológico (Proença, 1910g, p);

– Seis inscrições das ruínas das muralhas de Idanha-a-Velha,resumindo cada uma e destacando aspectos como a natureza dapedra, o tamanho dos caracteres e o intervalo entre as palavras,a beleza e o equilíbrio da gravação e o seu significado; umadelas supõe integrar-se numa grande inscrição funerária ouvotiva, abrangendo várias pedras unidas, em consagração a umtemplo ou monumento;

– Uma ara luso-romana, de granito, de que indica as dimensões,encontrada em Chão do Touro, próximo de Monsanto (Idanha--a-Velha), publicada no Vol. II de «Religiões da Lusitânia» porLeite de Vasconcelos, de que dá a tradução: «Sunna, filha deCamalo, cumpriu de boa mente o voto ao deus Arencio»;

– Metade de uma inscrição proveniente da Capinha (referida porHubner, tendo adoptado a leitura proposta por este), e que lhefoi oferecida para o Museu; rochedo tosco, sem aparelho desuperfície; destacou alguns nomes de origem bárbara: Maeilo,Macilonius, Camalus, Progela, Dutaius, Arantonius.

3.1.4. Levantamento de inscrições romanas em outras regiões

Para lá das inscrições que referenciou ou recolheu no distrito deCastelo Branco, procedeu também ao registo e recolha de inscrições em

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outras regiões, sobretudo no distrito de Leiria (E 18, Nº 14560).– Fragmento de parte central de uma inscrição romana gravada

em rocha calcária, comprada em Condeixa-a-Velha, com apenasduas letras (A R), cujas dimensões o impediram de as atribuiràs inscrições guardadas no Museu do Instituto de Coimbra,pelo que concluiu tratar-se de mais uma inscrição romana dooppidum de Condeixa-a-Velha (Proença 1907c).

– Inscrição em duas linhas numa das faces de um tijolo romanode S. Sebastião; caracteres cursivos toscos, gravados componteiro no barro, antes da cozedura; a presença de areias eimpurezas no barro deixaram as letras imperfeitas, tornandomuito difícil ou mesmo impossível a leitura, sugerindo que ainscrição ocupasse mais do que um tijolo.

– Inscrição funerária completa, em pedra calcária, adquirida porcompra e proveniente do castro luso-romano de S. Sebastião(Batalha), encontrada nos alicerces de construções romanas, comtroços de colunas, tijolos, tegulae e imbríces, moedas romanasdo Império e da República, objectos de bronze e de ferro, taiscomo fíbulas, alfinetes, anzóis, cerâmicas aretinas e outras,fragmentos de dolia, alguns dos quais levou para o Museu deCastelo Branco. Faz a leitura e tradução do texto latino que seencontrava completo. Recorda ainda outras inscriçõesencontradas no mesmo local por Hubner e por ele publicadas,mas que não conseguiu descobrir (A 6, N 14571).

– Inscrição mutilada, gravada em granito e já muito mutilada, deque transcreve a parte visível, proveniente de um pardieiro, nolugar de Bico-de-Sacho, adquirida por compra, supondo quefosse proveniente do oppidum de S. Sebastião, situado a cercade um quilómetro.

– Inscrição funerária romana, muito apagada, na Marinha Grande,gravada em pedra lioz, integrada no muro de uma propriedaderural, de que conseguiu ler algumas letras, sendo difícil arestituição completa. Foi-lhe oferecida e colocada no Museu de

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Castelo Branco. Proveniente da ombreira da porta de uma antigacapela à entrada da cidade de Leiria. Indica as suas dimensões(0,55 metros de largura, 1,00 metro de altura e 0,50 metros deespessura).

– Inscrição funerária em pedra de lióz (geralmente utilizada peloscanteiros romanos na região), no convento de Santo Estêvão,em Leiria. Indica as dimensões e sugere que, dada a suaimportância deveria vir a integrar o futuro Museu de Leiria (E5, Nº 14547).

– Noticia a descoberta de três pedaços de mármore de umainscrição romana e parte de uma estátua feita de pedra calcária,de que apenas restava o pescoço e a parte inferior da cara, coma maxila inferior, os lábios e parte do nariz, na pequena povoaçãoda Torre (concelho da Batalha), no alto de um outeiro fronteiroao oppidum de S. Sebastião, próximo dos alicerces de umaedificação romana (domus), constituída por muros formados depedras regulares, alinhadas horizontalmente e travadas (opusquadratum). Traduz o que resta da inscrição: «Para sua filhamuito piedosa chamada........ mandou fazer este monumento amãe Labéria Maxuma».

Esta figura, Labéria, mereceu-lhe um comentário. Recordou que,na bibliografia epigráfica, já antes dos trabalhos de Hubner, eramconhecidas na província romana da Lusitânia duas inscrições relacionadascom o nome da flaminica Laberia (Proença, 1910c). Uma, em Évora, jádestruída e consagrada à sacerdotisa por cinco libertos e outra, existenteem tempos na igreja de Santo Estêvão, em Leiria, talvez também perdidae que esclarecia parte da vida da sacerdotisa: natural de Évora, ter-se--ia mudado para Leiria onde viria a falecer, sempre rodeada de provasde deferência, a ponto de lhe terem sido pagas as despesas de funerale sepultura e de ter sido esculpida a sua estátua. Questionou-se, porém,se a inscrição da Torre se referiria à flaminica Laberia da provínciaromana da Lusitânia ou a outra e se o pedaço da estátua encontrado

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pertenceria à estátua mandada erguer à flaminica Laberia pelo decuriãoLúcio Sulpicio Claudiano (magistrado romano referido numa inscriçãoaparecida em S. Sebastião e copiada por Hubner).

Mais tarde, voltará ao tema para esclarecer que o nomem Laberia(e o masculino Laberius), era conhecido de diferentes inscrições, querda Lusitânia, quer de outras regiões como Itália e sul de Espanha.

3.1.5. Sepulturas e lagariças

Para lá das inscrições, interessou-se igualmente pela pesquisa einventariação de sepulturas na rocha, as quais associou aos lagarescavados na rocha, abundantes no distrito, uma vez que revelavam amesma técnica que as sepulturas, tendo optado por integrá-los na mesmaépoca, incluindo-os assim no grupo das estações luso-romanas.

Explicou em que consistiam as chamadas, na Beira, «sepulturas demoiros»: sepulturas abertas na rocha, em grandes blocos irregulares degranito, sem nenhum desbastamento prévio, com diferentes formas eorientações, evidenciando uma estado de civilização anterior àsdesignadas «pias», uma vez que estas podiam ser mais ou menostransportadas. Esclareceu que estas podiam apresentar diferentes formase dimensões (Figura 25): com uma cavidade especial para a cabeça,com cavidades laterais para colocar os braços e com o fundo maiselevado entre os pés assim como na parte que vai dos ombros à partesuperior da cabeça; outras, mais toscas, sem ângulos regulares, nemcavidades destinadas a partes do corpo em especial, tendo uma largurauniforme e as extremidades arredondadas. Justificou estas diferentesformas em função quer da importância social do defunto, quer da maiorou menor perícia do artista (A 13, Nº 14589).

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Reconhece nada se saber sobre a sua cronologia, quer por estarempouco estudadas, quer por não revelarem já qualquer do conteúdo originalno seu interior, encontrando-se abertas e vazias. Apesar de a duasconhecidas estarem associadas cruzes, não concluiu que, por isso,devessem ser consideradas cristãs. Contestou a sua atribuição à Idadedo Bronze, uma vez que o granito em que estavam escavadas apresentavaum grau de dureza difícil de trabalhar com instrumentos de bronze (5ou 6 da escala de Mohs), pelo que preferiu atribuí-las à Idade do Ferro(Proença, 1903b). Uma definição mais precisa da sua cronologia exigiriaa colaboração de todos os que se dedicavam ao assunto, tanto mais que,tais sepulturas apenas se encontravam «nesta parte da península» (A 21,Nº 14586). A preocupação com este assunto leva-o a dirigir-se a Leitede Vasconcelos, a quem, em Fevereiro de 1904, na sequência da 6ªReunião do Congresso de Anthropologia e Archeologia Pré-histórica, etendo em conta que estiveram em Portugal arqueólogos estrangeiros,solicitou alguma informação sobre as sepulturas abertas em rocha ou aindicação de algum livro estrangeiro que se referisse ao assunto, umavez que nada sabia sobre o tema (Documento 19214 do Epistolário).

FIG. 25. Representação das várias formas de sepulturas encontradas na regiãode Castelo Branco (Doc. A 23).

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Mencionou seis locais com sepulturas em rocha, considerandoquatro modelos diferentes de que fez a respectiva representação: Juntoà capela de Sant’Anna (sepultura aberta na rocha, sem cavidade para osbraços e pés), Monte Fidalgo, próximo de Alcains (várias sepulturas),no recinto que descreveu junto ao rio Ocreza (duas sepulturas, sendouma delas tosca), nas Sarzedas (uma sepultura de tijolo), em FonteSanta (duas sepulturas), próximo das casas do Monte Brito (quatrosepulturas), no Carvalhal (várias), próximo de Unhais (algumas sepulturasabertas na rocha), no caminho de S. Martinho (duas sepulturas) e,próximo do Monte de S. Sebastião (sepultura com as faces paralelas,constituída por seis blocos de pedra, de que faz a representação) (Figura26); referiu ainda quatro ou cinco urnas, pias pequenas escavadas narocha com 40 centímetros por 50 centímetros (Figura 27).

FIG. 27. Representação de pias escavadas na rocha (Doc. A 21).

FIG. 26. Representação de sepultura constituída por seis blocos (Doc. A 21).

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As lagariças ou lagaretas, também escavadas na rocha (Figura 28),constituíriam processos rústicos provavelmente utilizados para a produçãode vinho; a uva seria esmagada nos tabuleiros superiores escorrendo osumo pelos sulcos escavados no afloramento para as pias ou, noutroscasos, directamente para os recipientes cerâmicos que, no períodoromano, seriam habitualmente ânforas. Reproduziu uma lagariça escavadana rocha, a 500 metros de um marco geodésico, próximo do Monte deBrito (Courela Cimeira) e outras duas iguais (uma próxima do recintodo rio Ocreza e outra em S. Bartolomeu) e três em S. Martinho e emMércoles.

3.1.6 Sinais (arte rupestre?)

A arte rupestre, tal como nós a entendemos hoje, não constitui umassunto a que FTPJ tivesse dado particular atenção ou a que tivessedado um significado específico. No entanto, vai registando aqui e aliaquilo que designa por «sinais» ou por «letras» que não consegue decifrar

FIG. 28. Representação de uma lagariça ou lagareta (Doc. A 21).

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e que toma como vestígios marginais, embora nos pareçam hojeclaramente manifestações integráveis no âmbito da arte rupestre.

Deu a conhecer «riscos» descobertos por um pastor, na face planade um bloco de granito, no lugar de Covões de Unhais, a cerca de 1.550metros de altitude, o que contrariava a afirmação de Martins Sarmento,quando da expedição científica à serra da Estrela, que dizia não seregistarem ali, àquela altitude, vestígios humanos da Pré-história(Proença, 1904).

Informou sobre vestígios encontrados próximo da Ribeira de Unhais,no local designado por Chão Cimeiro, onde existia um sinal conhecidopelos pastores por letra grega, referenciando ainda a presença, próximodeste local, de vestígios romanos.

No lugar da Coutada, próximo de uma sepultura aberta no xisto,mencionou uns caracteres ou sinais estranhos que copiou (Figura 29),questionando-se se se trataria de uma inscrição latina de delimitação deterrenos. Ainda neste documento, reproduziu umas «ferraduras»,representando esquematicamente o local onde se situam (Figura 30),com a indicação «Ribeira das Ferraduras» (A 10, Nº 14575).

FIG. 29. Representação de «ferraduras» (Doc. A 10).

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A terminar esta referência ao que, na sua obra, poderiam servestígios de arte rupestre, parece-nos significativa a alusão, a propósitodos menires gravados de S. Martinho, a gravuras semelhantes em esteiosmegalíticos. No entanto, fica-se apenas pela referência passageira, nuncadescrevendo mais que as célebres «covinhas» dos monumentosmegalíticos. Poderemos concluir que terá observado em monumentosmegalíticos gravuras semelhantes às descritas nos menires de S. Martinho,não lhes tendo prestado a necessária atenção?

3.1.7 O touro de bronze da serra de Oleiros

Um dos seus trabalhos debruça-se sobre o touro de bronze, cujaproveniência exacta desconhece (serra de Oleiros), presumindo ser luso--romano (Figura 31). Começa por justificar o reduzido número de achadosde objectos em metal (mesmo do período romano) na região e no país,

FIG. 30. Representação de «ferraduras» (Doc. A 10).

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o que teria que ver com dois factores: por um lado, a reduzida influênciaou impacto que tiveram na região as populações mais ligadas à extracçãoe utilização dos metais e, por outro lado, porque muitos dos objectos demetal encontrados desapareciam imediatamente nos cadinhos dosfundidores. Conta que muitos dos seus informadores lhe disseram queem várias ocasiões foram encontrados objectos de ouro e prata que osseus descobridores imediatamente terão vendido a ourives que osfundiram de imediato. E aponta como exemplo um machado de bronzeda sua colecção no Museu que serviu durante alguns anos de cunha pararachar lenha, apresentando-se por isso algo deformado, lamentando odesaparecimento de verdadeiras preciosidades (A 21, Nº 14586).

Entre os objectos de bronze achados em Portugal destaca ascabrinhas de bronze, sobretudo no Alentejo, com uma cronologia, àépoca, ainda não determinada. Seguiram-se, nesta sua descrição, as armasde bronze e cobre, de vários tipos, e as estatuetas votivas que consideroumais recentes e de grande importância, uma vez que constituiriam ex-votos consagrados a divindades, já no período luso-romano.

Foi neste grupo que incluiu os toiros de bronze conhecidos aotempo: uma vaquinha de bronze encontrada no castro de Sacoias (Trás--os-Montes) e depositada no Museu da Sociedade Martins Sarmento(Guimarães); um toiro de bronze existente no gabinete da BibliotecaNacional, em Lisboa, de proveniência desconhecida, que consideroumais perfeito que a vaquinha de Sacoias (que tomou igualmente comoex-voto, contrariando aqueles que o tomaram por insígnia); e o toiro debronze existente no Museu de Castelo Branco, encontrado provavelmentena Serra de Oleiros, destacando-lhe «a elegância sóbria e a correctíssimaatitude de vida que o fundidor imprimiu à sua obra». Descreveu as suasprincipais características: maciço, as dimensões (0,115 metros decomprimento, de altura, na cabeça, 0,09 metros e de espessura 0,03metros), ausência da perna direita desde a segunda articulação e umpedaço da cauda; com um orifício entre os cornos (idêntico ao davaquinha do Museu de Guimarães), sugerindo que servisse para receberum adorno metálico que poderia ter sido uma meia lua (ideia que remete

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para «O Archeólogo Português», Vol I, p. 313) ou uma bipennis (ummachado de duplo gume utilizado para abater as vítimas nos sacrifícios).A sua importância residiria no facto de ser o único encontrado até entãono distrito de Castelo Branco. O aspecto atarracado e grosseiro,lembrando-lhe os toiros das campinas romanas e não os toiros ribatejanos,levou-o a atribuí-lo a uma oficina itálica (Proença, 1910i).

4. O MUSEU

«Assim, um museu de archeologia não é bem um cemitérioonde em cada túmulo se lê – aqui jaz: é antes uma história escritacom letras indeléveis, onde em cada página se decifra – Aquiviveu, lutou e amou…» Gazeta da Beira, 24 de Abril de 1910

Não é original a ideia de criar um museu regional de arqueologia.A ideia tivera na segunda metade do século XIX vários defensores.

FIG. 31. Touro de bronze (in «Materiaes…», nº 2, p. 55)

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Diversos coleccionadores tinham reunido em vários locais um númerosignificativo de objectos, tendo manifestado o desejo de os apresentarpublicamente; primeiro, no domínio específico da arte (Nabais, 1999)mas, depois também no campo da Arqueologia, vários arqueólogospráticos, de campo, projectaram museus, ou apenas secções museológicas(Raposo, 1999), as quais se confrontavam quase sempre com a falta demeios. O Museu era assim entendido como espaço que complementavaa Arqueologia, conservando e expondo os objectos que haviam sidorecolhidos nos trabalhos de campo, como forma de dar a conhecer, deforma científica e didáctica, a sociedade que os havia produzido. Omaior representante desta vontade foi Estácio da Veiga que defendeuum projecto museológico, propondo que as colecções permanecessemnos seus locais de origem, associando-se-lhes instituições quepromovessem a investigação do passado da região.

A proposta de criação de um Museu em Castelo Branco foiapresentada ao Dr. Pires Bento, Presidente da Câmara, em 24 de Marçode 1908 e aprovada pela Câmara Municipal em 8 de Abril de 1908 (E8, Nº 14550). Mas a ideia claramente anterior e já em carta dirigida aLeite de Vasconcelos em 1 de Agosto de 1903, dizia o seguinte: «Vejona carta de V. Exa que V. Exa descobriu na minha imaginação a ideiade fundação de um museu em Castelo Branco. É essa efectivamente aminha ideia». E acrescenta: «…é que todas as pesquisas e excursõesque tenho feito são apenas com o fim de reunir materiais para a fundaçãodesse Museu.» (Documento 19212, do epistolário do MNA).

Num artigo de 21 de Abril de 1910, publicado na «Gazeta daBeira» e reproduzido no «Archeólogo Português» que noticia e comentaa abertura do Museu Municipal de Castelo Branco, é apresentado ogrande objectivo do iniciador do Museu: salvar da destruição os vestígiosde antigas civilizações que passaram pela província. E, mais adiante,explicando que não se trata de uma obra concluída mas que se iriadesenvolvendo com o tempo, sublinha o papel do seu fundador,esclarecendo que não se tratava de um mero coleccionador mas de umarqueólogo distinto, reconhecido no país e no estrangeiro, que reunira

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uma grande colecção de objectos culturais guiado por critérios científicos,procurando deste modo recolher elementos que confirmassem oufundamentassem as suas propostas e ideias. Expressava-se assimclaramente a ideia de construir um museu de Arqueologia, queconstituísse o espaço de divulgação do resultado das suas recolhas eexplorações. Com efeito, acolheu no Museu todo o espólio possível,quer fosse oferecido, quer fosse comprado ou obtido nas exploraçõesarqueológicas realizadas. Incluiu sobretudo espólio da região e distritode Castelo Branco, mas também de outras regiões do país, da Pré--história ao século XVIII (A 17, Nº 14582). Revelou habitualmente ocuidado de informar que todos os objectos que descrevia se encontravamna sua colecção em Castelo Branco, acessíveis aos interessados.

Explicitou a organização das suas colecções no Museu, referindo--se aos materiais que as diferentes civilizações estabelecidas na Lusitânianos deixaram, organizando-os em dois grandes conjuntos, separadoscronologicamente (A 16, Nº 14581):

A – tempos pré-históricos;B – da chegada dos Romanos à emergência da Nação (século XI).O núcleo dos materiais pré-históricos organizou-o também

cronologicamente: Idade de Pedra, Idade do Bronze e Idade do Ferro,seguindo a ideia das «três idades» então em voga. Nos períodos dosmetais incluiu a presença dos Fenícios (séculos XII-X a.C.), dos Phaceus(século VI a.C.), dos Lígures (século VI a.C.), dos Celtas (século Va.C.) e dos Cartagineses (século III a.C.). Para o período histórico adoptoutambém uma ordem cronológica.

Assumiu assim uma concepção de museu em que este funcionariacomo uma escola onde um povo, uma região, aprenderia a conhecer-see a amar o passado da pátria, verdadeiro centro de instrução e de estudocapaz de atrair a Castelo Branco os homens de ciência do país e doestrangeiro. Ou seja, o Museu colocado ao serviço da Educação e daCiência, ao serviço da identidade regional e nacional de um povo quepersistia na ignorância e na barbaridade (Proença, 1910a). É estaconcepção dinâmica de Museu, como espaço de investigação e de

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educação que o leva a criticar a forma de trabalhar dos museus que sepreocupam em apenas expor os objectos, etiquetá-los e numerá-los, quasenunca informando sobre as circunstâncias da sua exploração, expondoos objectos «mudos e despidos». O que terá constituído um problemapara FTPJ, se considerarmos que muita da sua aprendizagem comoarqueólogo e pré-historiador se fez também através das visitas de estudoaos museus, onde encontrava as referencias e modelos tipológicos ecronológicos com que confrontava depois os seus achados; ora, a nãoexistência de muita informação nas exposições que os museusapresentavam tê-lo-ia deixado algo «perdido».

O que pensa sobre o que deveria ser um museu, a forma comodeveria organizar-se, as suas várias valências, é também expresso numartigo que publicou no número 2 da revista «Materiais» (1910), apropósito da proposta de criação de um Museu em Leiria, apresentadaem jornais («Districto de Leiria» e «O Século»), proposta que aprovou,dando mesmo sugestões sobre o local de instalação (a capela medievaldo castelo), o conteúdo e a organização do museu.

Assim, propôs que servissem de núcleo ao museu as inscriçõesromanas e portuguesas do castelo, pedras de armas existentes na cidade,nos conventos e em Porto de Mós, uma inscrição romana (ou a suamoldagem em gesso) do convento de Santo Estêvão e um conjunto deobjectos antigos que poderiam ser recolhidos, alguns dos quais deparadeiro desconhecido mas que haviam sido, em algum momento,referenciados e que deveriam ser procurados; para lá destes, referiaainda as inúmeras inscrições e mosaicos existentes no distrito. E chamavaa atenção para locais que justificariam, por si só, a intervenção de ummuseu: restos de casas e mosaicos em Martin Gil; os castros de S.Sebastião e da Torre, entre outros; inscrições, quer em Leiria quer emS. Sebastião, na Torre; grutas habitadas da idade da pedra polida emAlvados, Alcaria, Alcobaça, Aljubarrota; abundantes instrumentosneolíticos e uma grande colecção de moedas de um coleccionador dacidade. Sugeria ainda que o museu dispusesse também de uma secçãoetnográfica, onde colocaria «alguns dos productos industriaes typicos

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d’esta região, materiaes de construcção, etc.». Concluiu, assegurandoque, nestas bases, o museu estaria em permanente progresso (Proença,1910 x). Para tal, propôs que se lhe associasse uma sociedade científicalocal constituída por pessoas dedicadas ao progresso da cidade e dosconhecimentos e que, com a colaboração do município, tornassem omuseu uma verdadeira escola onde os cidadãos aprendessem a amar-sea si próprios e ao passado da pátria. Ou seja, perspectiva uma triplafunção para os museus locais ou regionais: de salvaguarda e preservação,de exposição e de educação e de investigação e interpretação doPatrimónio, reconhecendo-lhe a competência da intervenção arqueológica.E este parece-nos ser o aspecto crucial da polémica que o vai levar aafastar-se de Leite de Vasconcelos.

De facto, o projecto de criação de um museu regional, tendo emconta os vários domínios que lhe atribuía, vai acabar por confrontá-locom aquele que admirava e a quem chamava seu mestre, Leite deVasconcelos. Com efeito, Leite de Vasconcelos preocupava-se emcentralizar no Museu Etnológico todo o património disponível,representando assim uma perspectiva centralizadora, à qual se opunhamvários arqueólogos, entre os quais Estácio da Veiga e Tavares Proença,defensores do seu espaço regional. Em vários textos deixou transparecera resistência e lamentou a saída de objectos do distrito quer para oMuseu Etnológico quer para o Museu da Figueira da Foz, manifestandoa sua opção regional contra o centralismo de Lisboa. Perspectivava oMuseu como o complemento do trabalho de exploração do terreno,onde o objecto deveria representar a sociedade que o produziu,devidamente enquadrado e explicado.

Parece-nos que o Museu constituiu o projecto a que mais seentregou, a motivação inicial e o seu grande objectivo, pelo qual seempenhou totalmente. É isso que percebemos quando analisamos a cartaque enviou a Leite de Vasconcelos em 13 de Outubro de 1909(Documento 19253, do epistolário do MNA), pouco antes da inauguraçãodo Museu, em que revelava já algum desalento e frustração. Lamentandoa falta de apoios, escreveu «… os objectos que exporei, achei-os eu no

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terreno em excursões, em explorações… à minha custa foramtransportados, por mim foram classificados, eu neles colei as etiquetas,eu os hei-de dispor nas vitrinas, eu, talvez, terei de limpar o pó dasvitrinas no dia da abertura…». Parece-nos que o entusiasmo inicial, iasendo lentamente substituído por um sentimento de amargura e dedesilusão, que exprimia do seguinte modo: «…Quanto mais desprezamos meus esforços, mais vontade eu sinto de trabalhar, mas também,quantas vezes me não assaltou já a vontade de atirar com tudo isto aodiabo e de ir para Lisboa ou nem sei para onde, viver a vida feliz edescuidada da maioria dos lisboetas e dos idiotas deste mundo e aprendero que nunca soube de bailes, de teatros, de touradas, das modas, doscafés, das intrigas e mexericos da sociedade…». Talvez a esta luz secompreenda melhor o desenlace final do seu percurso e o que é dito naconclusão deste trabalho.

5. OS INVENTÁRIOS

«L’ important, pour le moment, n’ est point de faire oeuvre definitive:c’ est de faire quelque chose…’Tout premier essai d’ inventaire…será, malgré ses défauts, un service déjà grand pour la science.»

A. Guébhard

Para além das explorações que fez e de algumas monografias queproduziu, grande parte do seu trabalho revestiu a forma de inventários,temáticos ou gerais, de âmbito local ou nacional, como aconteceu comos monumentos megalíticos ou com os castros. No entanto, relativamentea alguns, apenas manifestou a intenção de organizar um inventário, oque não chegou a concretizar. Entre os inventários que procurouconcretizar, destacam-se os seguintes:

– Caminhos antigos – apenas tendo mencionado um caminhosubterrâneo, entre as Alminhas, antiga porta de S. Tiago e adirecção de S. Braz, em Castelo Branco.

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– Minas – em Castelos ou Castelinhos (cabeço fronteiro aAlfrivida); num cabeço, defronte de Sarzedas (comunicaçõessubterrâneas, perguntando se se trataria de um castro) no lugarda Capela, junto à Catraia Cimeira (uma caverna, perguntandose seria natural ou artificial), na Barroca dos Galhardos (umamina ou caverna, sugerindo que tenha sido habitada nos períodospré-históricos) (A 21, Nº 14586).

– Fortificações antigas (Figura 32) – próximo da ribeira do Alvito,entre Sarzedas e a Sobreira Formosa (uns redutos, fortificaçõestemporárias, constituídos por um recinto limitado por um fossoescavado na rocha, onde apareceram peças de artilhariarelacionadas com as invasões francesas).

– Monumentos megalíticos – indicando a respectiva localização,a data em que foram encontradas e, caso o tenham sido também,explorados e o estado em que se encontravam (E 17, Nº 14559).

– Inscrições (pontos 3.1.3 e 3.1.4).– Sepulturas na rocha (ponto 3.1.5).– Instrumentos de bronze (ponto 2) (Figura 33).

FIG. 32. Representação de fortificações relacionadas com a 1ª invasão francesa(Doc. A 21).

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– Mós manuais (Figura 34) – em Sant’Ana, S. Martinho, Mércoles,S. Bartolomeu e Ponsul (A 23, Nº 14587).

FIG. 33. Representação de machado de bronze obtido emescavações no Carregal, no sopé da serra de Monforte (Doc. A 21).

FIG. 34. Representação das várias formas de mós manuaisencontradas no distrito de Castelo Branco (Doc. A 23).

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– Pedras com marcas de intervenção humana (cavidades, sinais,pias) (Figura 35 e Figura 36) – em Mércoles (pedras comcavidades, na queijeira de S. Martinho e na ponte do Pinto),num marco junto a Sant’ Anna e em S. Bartolomeu (pedras comcruzes) (A 21, Nº 14586) (Figura 38).

– Vestígios romanos em pedras – em S. Martinho, Mércoles, Sant’Anna, Ocreza, S. Bartolomeu, Pônsul, Ficalhos de Cima e Lousa.

– Pias abertas na rocha – em Ocreza, Sant’ Anna e S. Martinho(Figura 37).

FIG. 36. Pedras com cruzes (Doc. A 25).

FIG. 35. Pedras com marcas de intervenção humana (Doc. A 25).

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– Castros (ponto 2.3).– Lagariças (ponto 3.1.5).

FIG. 37. Várias formas de pias e lagares abertos na rocha e encontrados naregião de Castelo Branco (Doc. A 25).

FIG. 38. Marcos sepulcrais com cruzes (Doc. A 21).

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6. A REVISTA «MATERIAES PARA O ESTUDO DASANTIGUIDADES PORTUGUESAS»

Em carta dirigida a Leite de Vasconcelos, em Agosto de 1907(Documento 19233 do Epistolário), informava estar a preparar umarevista, com uma periodicidade quinzenal, «modesta, qualquer coisa nogénero da de Mortillet (L’Homme Préhistorique), que será dividida emtrês secções: Literatura, História e Arqueologia», prevendo que cadasecção ocupasse dez páginas. E explicava que a secção de Arqueologiaseguiria o modelo adoptado por Leite de Vasconcelos em «Religiões daLusitânia». O pretexto, dizia, seria o de se obrigar a si próprio a trabalharcom regularidade. Mais tarde, em carta de Junho de 1908 (Documento19248 do Epistolário), propunha-se reproduzir artigos e notícias queservissem de materiais para os arqueólogos, utilizando a expressão «ostrabalhadores da nossa especialidade», o que significa que naquelemomento se sentia já um arqueólogo.

Como o próprio nome indica, nome que era comum em outraspublicações do género em Portugal (Materiais para a Arqueologia dodistrito de Viana, 1882; Materiais para a Arqueologia da Comarca deBarcelos, 1894; Materiais para a Arqueologia do concelho de Guimarães,1884-1896) e França, pretendia fundamentalmente «reunir e acumularmateriais para ulterior sistematização». Ou seja, reunir «factos, materiaiscompactos e concretos», dando-lhes uma primeira organização com ointuito de, mais tarde, proceder a uma síntese global e de maiorcomplexidade, o que não chegou a concretizar. O interesse da revistaarticulava-se com o da criação do Museu, na medida em que, na suaobra, a recolha, exposição e preservação sustentavam a divulgação, apublicação e o debate a que desejava dar um carácter científico.

Os únicos três números publicados (ficou prometido um quartoque não chegou ao prelo), tiveram efectivamente uma tiragem bimestrale um sucesso além das suas expectativas iniciais, tendo em conta o queafirmou no primeiro número: «Eu não tenho ilusões – não terei assinantesnem colaboradores mas sairá. É uma questão de capricho– há 5 ou 6

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anos que eu andava com esta ideia. É uma coisa pequena e modesta…».O primeiro número contou com a participação de Leite de Vasconcelos.Os números publicados tiveram sempre um artigo do Director, FTPJ, ede um ou outro arqueólogo, tendo abordado temas relativos à epigrafia,aos monumentos megalíticos e à numismática. Continham ainda umasecção de Bibliografia, com comentários críticos a publicações que iamsaindo e uma secção de Notícias diversas sobre epigrafia e arqueologia.

Ponto Final

Toda a obra de FTPJ que aqui se procurou retratar e comentar comobjectividade, revela um jovem com forte personalidade e decidido apercorrer um caminho que não lhe estaria «destinado» mas que construiucom grande determinação e inteligência. Surgindo sem que houvesse umtrabalho científico anterior no contexto da sua região, sem apoios quer dequalquer tipo de mecenas ou de instituições públicas ou privadas, semestar integrado numa universidade ou outra organização que enquadrassea sua acção, beneficiando apenas do importante suporte financeiro dafamília (mesmo que contrariada) produziu uma obra que, no contexto daépoca, pelos poucos anos em que foi feita, porque ainda persiste comofonte informativa importante para o estudo da Pré-história e da Proto--história de boa parte do distrito de Castelo Branco e de Portalegre, mereceo nosso reconhecimento. Soube definir e executar um projecto que,inexplicavelmente, não concluiu mas que deixou contributos nãodesprezíveis para o conhecimento da pré-história da região de CasteloBranco e para a caracterização do que constituiu num dado momento oprocesso arqueológico. Com efeito, ao ler os seus textos, manuscritos ouimpressos, identificamos as perspectivas, as dúvidas, os grandes temas decontrovérsia com que então se confrontavam os que se dedicavam aoestudo da Pré-história, da Proto-história ou da época clássica. Pode dizer--se que aproveitou bem as oportunidades que teve, as pessoas com quemse relacionou e com quem fez questão de se relacionar.

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Embora tentando o reconhecimento dos seus pares, não deixou demanifestar sempre as suas opiniões pessoais, revelando uma capacidadecrítica notável, chegando a entrar em debate e a discordar de algunsdaqueles que teriam sido os seus mestres, como Martins Sarmento, SantosRocha ou Leite de Vasconcelos, procurando fazê-lo sempre de formafundamentada. É o que acontece relativamente à discussão sobre aautenticidade dos fossettes ou sobre a cronologia dos monumentosmegalíticos e dos machados de pedra polida. Em algumas destas situações,apercebemo-nos que o faz baseando-se nas ideias propostas porarqueólogos estrangeiros, com os quais tivera ocasião de se encontrar nosCongressos Pré-históricos de França, em cujas comunicações se inspiroufortemente. Com efeito, se o desejo de exercer a Arqueologia e contribuirpara a recolha e salvaguarda do Património nasceu ou se reforçou com asua vivência em Inglaterra, a sua formação teórica, científica émarcadamente francesa. E é-o por duas vias: pela participação nosCongressos de Pré-história e pela passagem por Coimbra, a cidadeuniversitária portuguesa, onde a influência francesa era então muitosignificativa. É nesta cidade que conhece e passa a admirar a obra deTeófilo Braga (A 33, Nº 14597) que sistematiza em Portugal o idealcomtiano, defendendo um positivismo materialista, ateu e laicista,adoptando como tema de pesquisa o «povo português». Em Coimbra, temoportunidade de conhecer o pensamento positivista, o qual propunha umentendimento científico da Natureza, do Homem e da Sociedade e aadopção pelas ciências sociais de um método científico baseado na ciênciasexactas que permitisse atingir o objecto, o facto e chegar às leis geraispela observação, experimentação e comparação de forma a reduzir o espaçoda subjectividade. Perspectiva que valorizava a diacronia, propondo adescrição dos factos sociais e sua localização no tempo e no espaço, como objectivo de identificar as leis/categorias a que obedecem, em funçãode determinantes objectivas decorrentes da evolução cósmica e da relaçãocom o Meio (Mesologia), dispondo-os em séries hierarquizadas quepermitissem o conhecimento da Verdade. Foi este o meio universitário emque se moveu FTPJ, no qual se integrou também o Instituto de Coimbra.

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Pensamos que procurou adaptar convenientemente o seu amor àscoisas do passado às solicitações do meio académico e intelectual emque viveu. E é nessa linha que se compreende a ideia de fazer daArqueologia um projecto científico e não um mero passatempo oudivertimento pessoal, visando contribuir para alargar o conhecimentodos povos que habitaram uma parcela do território português (o distritode Castelo Branco). Para tal preocupou-se em recolher o maior númeropossível de objectos arqueológicos, não para os contemplar ou admirar,como faziam antiquários e coleccionadores, mas para os estudar e dara conhecer a outros estudiosos e interessados, expondo-os no Museuque criou na cidade de Castelo Branco. Registámos a frequência comque invoca os «critérios científicos» que norteavam o seu trabalho. Epercebemos que critérios são esses: a tomada do objecto como fonte deinformação científica, como documento e não como ornamento deostentação ou relíquia. O que determinou, por exemplo, a preocupaçãoem escavar «por camadas», ou seja, de acordo com critériosestratigráficos; o que determinou igualmente a necessidade de uma«descrição minuciosa», procurando não só localizar com precisão mastambém descrever com objectividade, com o cuidado de representargraficamente; implicou, finalmente, a divulgação, entendida comoprocesso de transformação da «coisa» em objecto científico, submetendo--o assim à apreciação crítica, à comparação e, enfim, à síntese e à suaintegração no mundo do saber científico. A preocupação pela divulgaçãorevela ainda, em FTPJ, a necessidade de «apropriação» pessoal de umadescoberta, de um achado que assim, pelo princípio da prioridade, lheconferia o direito de o descrever e comentar.

Há duas dimensões da sua obra que é importante distinguir nestaapreciação: por um lado, a prospecção, recolha e aquisição de artefactoscom valor arqueológico e, por outro lado, a exploração e escavação dealguns sítios. No entanto, devemos hoje olhar com cautela para aqualidade científica das suas intervenções e para o resultado dasexplorações efectuadas, não significando com isto qualquer forma dedesconsideração pelo contributo que terá deixado para o conhecimento

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da pré-história e da proto-história da região de Castelo Branco. Comefeito, se as explorações dos monumentos megalíticos ou das ruínasromanas tivessem sido realizadas hoje, os resultados seriam certamentediferentes e muita informação se terá perdido; é claro que muito domaterial que recolheu, foi encontrado mais ou menos avulso,descontextualizado das necessárias coordenadas geográficas etopográficas mas, forçoso será reconhecê-lo, sem o seu trabalho, muitosdestes vestígios não teriam chegado ate nós, muitos espaços arqueológicosque referenciou teriam ficado mudos para sempre. O facto de serinquestionável o seu contributo para o conhecimento da pré-história eda proto-história da sua região é ainda hoje testemunhado pelosarqueólogos que a ele se referem sempre que pretendem investigar ofenómeno megalítico ou o período do Bronze ou a presença romana naregião, constituindo o seu trabalho uma referência incontornável.Podemos dizer que foi dos primeiros a fazer Arqueologia pré-históricano distrito, tendo dado o necessário desenvolvimento a trabalhosanteriores de Martins Sarmento e Leite de Vasconcelos, embora o tenhafeito de forma mais contínua e alargada, mais preocupado em recuperara memória de uma «civilização», de um modo de vida perdido alguresno tempo do que em avivar a memória de acontecimentos ou episódiosheróicos, favoráveis à afirmação nacional.

Foi claramente um defensor da importância da preservação e promoçãodo Património Cultural (e não apenas do Património arqueológico), espaçode memória que desejava tornar viva a uma comunidade tomada pelaignorância, que considerava um dos problemas da sociedade portuguesacontra o qual se manifestou veementemente. É interessante o desabafo queexpõe na carta que envia a Leite de Vasconcelos a 1 de Agosto de 1903,relativamente à «gente de Castelo Branco»: «Ali ninguém estuda. Há alivários bacharéis formados que desde que vieram de Coimbra, há 10 ou 15anos, não tornaram a abrir um livro… Os jornais científicos são quasedesconhecidos». (Documento 19212 do Epistolário).

Dois outros aspectos caracterizam as suas pesquisas e exploraçõese a forma como as interpretou. Em primeiro lugar, o facto de não ter

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privilegiado um tema específico, de não partir de um problema concretoque determinasse o rumo ou servisse de critério às suas intervenções;embora algumas circunstâncias o tenham levado a interessar-se maispelo megalitismo ou pelos castros, a sua prioridade era tudo; por issoregista e procura proceder ao levantamento de todo o registo arqueológicoque pudesse encontrar e recolher, desejando contribuir para a suasalvaguarda. Em segundo lugar, talvez porque não tenha verdadeiramenteproduzido uma síntese ou um trabalho coerente, constata-se uma fortedificuldade em situar no tempo, optando antes por generalizações vagas,evitando a referência a momentos de ruptura, pressupondo a ideia decontinuidade entre Neolítico e Calcolítico e entre este e a época doBronze. Certamente, porque o tipo de pesquisa a que se dedicou, osmeios de que dispôs e o excessivo apego à objectividade lhe terãoimpedido a liberdade necessária para desenvolver uma leiturainterpretativa que, naturalmente, implicaria alguma subjectividade.Pensamos que se tratará também de uma atitude de humildade científica,decorrente do facto de ter tido a noção de que lhe faltariam elementospara a afirmação de princípios mais complexos. Mas, por outro lado,também parece como provável que tal resulte do carácter inconclusivodo seu trabalho, uma vez que se tem a impressão que não concluiu o seuprojecto e que, acontecimentos políticos ou outros, tendo precipitado oabandono tão precoce e inesperado do pais, o terão impedido de realizaruma leitura mais global e aprofundada, capaz de perspectivar com maiorclareza momentos de continuidade e de ruptura. Com efeito, em algunsdos seus documentos perpassa a ideia de uma futura síntese de todos ostrabalhos realizados, que pudesse talvez constituir a «Pré-história dodistrito de Castelo Branco».

Que balanço fazer então sobre o seu trabalho? Não seria correctosubmeter a sua obra aos critérios que actualmente se submetem osarqueólogos, porque a essa luz Francisco Tavares Proença Júnior seencontraria numa situação desfavorável, nem essa é a intenção desteestudo. Terá que perspectivar-se no contexto do seu tempo e só assimse pode pretender fazer um balanço do que produziu. Dissemos no

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início que se integrou naturalmente nas correntes positivistas quedominavam as ciências em geral no princípio do século XX, que a suasubmissão à objectividade dos dados, o apego à definição de tipologiasse inseriram claramente nas tendências da Arqueologia histórico--culturalista; o que se reflectiu na pouca atenção dada à vida económico--social e cultural, exceptuando-se as reflexões e propostas que avançano que se refere às práticas ou rituais funerários, quando aborda o temado significado dos monumentos megalíticos. Há, no entanto, certastendências ou afirmações que o individualizam e em que revela algumaoriginalidade, algum atrevimento que, de certa forma, o aproximam deconcepções mais recentes da Arqueologia. Por exemplo, a suainterpretação dos machados polidos e dos vasos presentes nosmonumentos megalíticos ou a explicação que dá para a ausência nessescontextos de artefactos metálicos, considerando-os como objectossimbólicos e não apenas a herança objectiva e material do defunto,configura uma perspectiva que virá a ser defendida pela Arqueologiacontextual, a da dimensão simbólica da cultura material. Por outro lado,a preocupação em não generalizar, não sistematizar, a consideração dascircunstâncias locais na explicação dos fenómenos, prefigura tambémalgo que virá a ser pugnado pela Arqueologia contextual. Ao rejeitar osesquemas, os sistemas conceptuais complexos, a mesma explicação paratudo o que é semelhante e ao valorizar o concreto, a diferença, acontingência específica, as circunstâncias particulares na explicação dediferenças técnicas, culturais ou sociais, está também a negar valorespróprios da Arqueologia histórico-cultural. Outro aspecto que releva doseu trabalho e que virá a ser reforçado no âmbito da Nova Arqueologia,é a consideração do meio envolvente, a ideia de que, de acordo com ascircunstâncias locais e necessidades específicas por elas suscitadas, oshomens iam introduzindo nos seus utensílios as necessárias adaptações,embora tal não signifique uma apreciação quanto aos efeitos dessasalterações no sistema sócio-cultural global em que cada comunidade seinseriria. Não tendo efectivamente tal preocupação, destacou aimportância do meio ambiente, tendo reconhecido um papel significativo

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ao espaço, à geografia; desta perspectiva resulta a sua preocupação emlocalizar as estações em cartas topográficas, indicando as curvas denível, as linhas de água, a existência de outros vestígios nas proximidades,algo que não era frequente no seu tempo e que será mais tardedesenvolvido pela Nova Arqueologia. No entanto, trata-se apenas deenunciados dispersos, princípios vagos que nem sempre se concretizam,não chegando a avançar, mesmo no plano regional ou local, comexplicações novas nos domínios mais complexos da organização dassociedades, das estruturas sociais ou das ideologias subjacentes,exceptuando-se a análise das práticas funerárias relativas aos monumentosmegalíticos.

Uma palavra final sobre o seu surpreendente abandono do país em1911, totalmente inesperado tendo em consideração que em Fevereirode 1911 dizia aguardar dias de sol para se atirar ao estudo das antas eem Junho de 1911 escreve a Leite de Vasconcelos convidando-o aparticipar no número 4 de «Materiais…» que estaria a preparar. É dadocomo inquestionável que esta saída do país teria sido motivada porquestões ideológicas. Supomos, no entanto, que este tenha menos a vercom o amor à Monarquia do que com o sentimento crescente demarginalidade da região interior. Não se manifestou Tavares Proençacontrário ao excesso de poder por parte do Museu Etnológico,desagradado perante o centralismo cultural de uma elite, centrada emLisboa, republicana, que olhava com desprezo ou, no mínimo,desconfiança para as iniciativas marginais, regionais? Em carta dirigidaa Leite de Vasconcelos, já após a instauração da República, manifestao seu descontentamento pela intervenção do Museu Etnológico naexploração de Palvarinho, área muito próxima de Castelo Branco, queconsiderava atribuição sua, sentindo nesta intervenção umadesconsideração pelo seu trabalho, pelo seu Museu, percebendo-se quesente o seu «campo de manobra» ser ocupado por outros. Esta cartaconstitui um verdadeiro grito de revolta face ao isolamento, à falta deapoio e de capacidade de intervenção comparativamente com outrasregiões como Évora, Guimarães ou Coimbra, por exemplo. A ideia é

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reafirmada, em Junho de 1911, quando volta a manifestar discordânciacom a acção do Museu Etnológico no seu distrito, comparando a situaçãode Castelo Branco com a de Bragança, distritos em que a Pré-históriavinha a ser bem estudada nos últimos anos (Documento 19275 doEpistolário do MNA). Face a Leite de Vasconcelos, cada vez mais senhorde uma instituição integrada no poder central, sentindo a falta de apoioda família, dos amigos e das instituições, faltando em Castelo Brancoos empreendedores dispostos a apoiá-lo, acabou por se sentir cercado,sem o reconhecimento público que esperava, não lhe bastando o louvorpublicado no Diário do Governo. Certamente se terá precipitado e nãoterá avaliado integralmente os resultados do seu posicionamento político,nem o impacto que viria a ter na sua frágil saúde. Mas pensamos quea sua adesão à causa monárquica constituiu seguramente uma forma demanifestação cultural, corolário de um processo que se iniciara já antesda instauração da República.

AGRADECIMENTOS

Ao Museu Francisco Tavares Proença Júnior, de Castelo Branco.À Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra.À Biblioteca do Museu Nacional de Arqueologia.À Biblioteca do Instituto Politécnico de Tomar.Ao Museu de Arte Pré-histórica e do Sagrado do Vale do Tejo.Ao Museum National d’Histoire Naturelle, Paris.Ao Centre National de la Recherche Scientifique, Paris.À Professora Mila Simões de Abreu… pela Ciência e pela Arte.

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RELAÇÃO DOS MANUSCRITOS INÉDITOS E OUTROSDOCUMENTOS DE FRANCISCO TAVARES PROENÇAJÚNIOR QUE INTEGRAM A COLECÇÃO DO MUSEUFRANCISCO TAVARES PROENÇA JÚNIOR, EM CASTELOBRANCO E QUE CONSTITUÍRAM O PRETEXTO E A BASEDESTE TRABALHO:

A 21, 20/07/1903 – LIVRO PARTICULAR. APONTAMENTOS SOBRE OS VESTÍGIOSARQUEOLÓGICOS EXISTANTES EM VOLTA DE CASTELO BRANCO DIGNOSDE SER OBSERVADOS, Nº 14586.

A 11, 7 e 8/09/1903 – DOCUMENTOS AVULSOS IV: BEIRA BAIXA, VESTÍGIOSARQUEOLOGICOS: UNHAIS DA SERRA, Nº 14576

A 7, 20-10-1903 – DOCUMENTO AVULSO – REGISTO DE IDEIAS. Coimbra.Nº 14572

E 18, Início a 20/12/1903 – APONTAMENTOS, Nº 14560.E 1, 1903 – ARCHEOLOGIA – APONTAMENTOS I – INSCRIÇÕES, Nº 14543.A 48, 11/04/1904 -–CORRESPONDÊNCIA VI: CARTA ESCRITA A UM AMIGO,

Nº 14612.A 10, 7-8-1904 – DOCUMENTOS AVULSOS III, Nº 14575A 23, 15-09-1904 – ARCHEOLOGIA DO DISTRITO DE CASTELO BRANCO, Nº 14587.A 38, 22-11-1904 – EXTENSA BIBLIOGRAFIA PARA PORTO DE MÓS, Nº 14602.E 10, 1904 – APONTAMENTOS – PEQUENO LIVRO, Nº 14552.A 30, 1904 – A SERA DA ESTRELA, SUAS ÁGUAS E SEU CLIMA, Nº 14594.E 17, Início a 24/10/1905 – ANTAS PORTUGUESAS – COLECÇÃO DE APONTAMENTO

PARA UM TRABALHO SOBRE O ASSUNTO, Nº 14559.A 24, 24/10/1905 – ENSAIO DE UM INVENTÁRIO CARTOGRÁFICO E

BIBLIOGRÁFICO DOS MONUMENTOS MEGALÍTICOS DE PORTUGAL,Nº 14588.

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CONGRESSO PRÉ-HISTÓRICO DE FRANÇA, Nº 14599.E 9, 17-06-1906 – CAPINHA. – Coimbra. Nº 14551.A 9, 22/08/1906 – QUESTIONÁRIO ARCHEOLÓGICO, Nº 14574.E 12, 1906 – ANTAS DO DISTRITO DE CASTELO BRANCO, Nº 14554.E 22, 1906 – APONTAMENTOS DE ARCHEOLOGIA. Castelo Branco. Nº 14564.

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DO DISTRITO DE CASTELO BRANCO – Nº 14544.E 7, 1907 – SOBRE ALGUMAS FORMAS DE INSTRUMENTOS PRÉ-HISTÓRICOS

POLIDOS PORTUGUESES. Castelo Branco. Nº 14549A 5, 17/02/1908 – CONJUNTO DE DOCUMENTOS AVULSOS I «L’ HOMME

PRÉHISTORIQUE», Nº 14570.A 4, 24-09-1908 – «RECORTE DO JORNAL CORREIO DA MANHÃ COM NOTÍCIA

SOBRE O 3º CONGRESSO PRÉ-HISTÓRICO DE FRANÇA (ANTUN), Nº 14569.A 32, 1908 – DOCUMENTOS AVULSOS XV – DUAS PALAVRAS, Nº 14596.E 8, 1908 – INDEX GERAL. LEMBRANÇAS, APONTAMENTOS E NOTAS DE

ARCHEÓLOGO, Nº 14550.A 2 (?), 1909 – ENSAIO DE INVENTÁRIO DAS ANTAS PORTUGUESAS, Nº 14567A 26, 1906-1909 – «CORRESPONDÊNCIA I – Cartas do P.e Manuel Martins, do

Colégio de S. Fiel», Nº 14590.E 19, 14-06-1909 – O MONUMENTO PROTO-HISTÓRICO DO BARRO. Cortiça.

Nº 14561.A 43, 26/12/1909 – CÓPIA DE INSCRIÇÃO NUMA PEDRA NA SOLEIRA DE UMA

PORTA NA ZONA DO CASTELO, Nº 14607.A 6, 1909 – CONJUNTO DE DOCUMENTOS AVULSOS II, Nº 14571.E 20, 22-12-1909 – A TORRE DA ESTRELA E A SUA INSCRIÇÃO– SIMPLES NOTA

A SEU RESPEITO, Nº 14562.A 51, 1909 – MOEDA DE MONSANTO, Nº 14615.A 17, 17-04-1910 – DOCUMENTOS AVULSOS IX: COMPROVATIVO DO DEPÓSITO

DE PEÇAS NO MUSEU, Nº 14582.E 5, 8-11-1910 – APONTAMENTOS DE ARCHEOLOGIA, Nº 14547.E 13, 1910 – INDEX GERAL BIBLIOGRÁFICO. Leiria. Nº 14555

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E 15, 1910 – INSCRIÇÕES DE VÁRIOS LOCAIS,–Nº 14557.A 3, ? – LIVRO DE FICHAS DE INVENTÁRIO DE MATERIAL ARQUEOLÓGICO (S.

MARTINHO), Nº 14568A 13, ? – DOCUMENTOS AVULSOS IV, Nº 14578.A 14, ? – DOCUMENTOS AVULSOS VI, Nº 14574.A 15, ? – FOTOGRAFIA DE UTENSÍLIOS DO MUSEU ETNOGRÁFICO PORTUGUÊS,

Nº 14580.A 16, ? – DOCUMENTOS AVULSOS VIII: CONSTITUIÃO DO MUSEU, Nº 14581.A 18, ? – DOCUMENTOS AVULSOS VII: MENIR, Nº 14583.A 19, ? – DOCUMENTOS AVULSOS X: MENIR, Nº 14584.A 25, ? – DOCUMENTOS AVULSOS XII: INVENTÁRIO DE PEDRAS E RESPECTIVAS

FORMAS E INSCRIÇÕES, Nº 14589A 29, ? – DOCUMENTOS AVULSOS XIV ANTAS DO DISTRITO DE PORTALEGRE:

SIMPLES NOTÍCIA, Nº 14593.A 36, ? – COLECÇÃO DE FICHAS COM DESENHOS, Nº 14600A 39, ? – DESENHOS DE DUAS PONTAS DE SETA, Nº 14603.A 40, ? – DESENHO DE DUAS PONTAS DE SETA – ALCALÁ E MEDELIM,

Nº 14604.A 42, ? – DESENHO DE UM VASO COM FIGURA, Nº 14606A 44, ? – DESENHO DE DUAS PONTAS DE SETA – ALCALÁ, – Nº 14608.E 3 ? – EPIGRAPHIA DE IDANHA-A-VELHA, Nº 14545.E 5, ? – APONTAMENTOS DE ARCHEOLOGIA, Nº 14547.E 6, ? – A CIVILIZAÇÃO NEOLÍTICA – NºE 8, ? – INDEX GERAL. LEMBRANÇAS, APONTAMENTOS E NOTAS DE

ARCHEÓLOGO, Nº 14550.E 10, ? – APONTAMENTOS – PEQUENO LIVRO, Nº 14552.E 14, ? – RUDIMENTOS DE ARCHEOLOGIA, PRÉ-HISTÓRIA E PROTO-HISTÓRIA,

NºA 1, ? –ENSAIO DE INVENTÁRIO DE INSCRIÇÕES EM VÁRIOS LOCAIS.

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PAISAGENS DE TRANSIÇÃO:POVOAMENTO, TECNOLOGIA ECRONO-ESTRATIGRAFIA DATRANSIÇÃO PARA OAGRO-PASTORALISMO NOCENTRO DE PORTUGAL

L U I Z O O S T E R B E E K

O programa de investigação no Alto Ribatejo, Portugal, envolvediversos sub-projectos, entre os quais se destaca o projecto apoiado pelaFundação de Ciência e Tecnologia, com o nº. PTDC/HAH/71361/2006,intitulado “Paisagens de transição: Povoamento, tecnologia e crono--estratigrafia da transição para o agro-pastoralismo no Centro dePortugal”. Este projecto integra um programa de estudo da transiçãopara o agro-pastoralismo, apoiado pela British Academy, e coordenadopelo Prof. Chris Scarre e pelo signatário.

Descrição dos objectivos do Projecto

Questão chave: Como, porquê e onde é que foram estruturadasinicialmente as primeiras paisagens agrícolas? Três linhas de investigaçãosão definidas:

• Tempo: debater a duração do processo de transição requer umabase de dados cronologicamente detalhada (crono estratigrafia

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com base em datas precisas, principalmente Luminescência).• Processo de adaptação: as indústrias líticas são a principal prova

da transição para a agricultura. Estas sugerem que alguns gruposdesenvolviam uma relação com o meio ambiente que não era,substancialmente, diferente da dos caçadores do Pleistoceno Médio.A avaliação desta similaridades é crucial para a compreensão degrande parte dos contextos líticos do Sub-Boreal e Atlântico.

• Sociedade: a transição para a agricultura parece ser,primeiramente, um processo social. Itens específicos, como porexemplo a arte pré-histórica, ou objectos simbólicos,desempenharam um papel da maior importância aocondicionarem a interacção entre os vários grupos humanosque, apesar de complementares, competiam também entre si.

Parceiros do projecto

Instituto Politécnico de Tomar (coordenação – Prof. LuizOosterbeek, Prof. Pierluigi Rosina, Drª. Ana Cruz, Dr. Eugénio Pina deAlmeida, Doutora Alexandra Figueiredo)

Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (Prof. João Baptista,Drª. Mila Simões de Abreu)

Instituto Tecnológico Nuclear (Profª. Isabel Prudêncio, Prof. IsabelDias)

Universidade de Durham (Prof. Chris Sarre)Universidade Rovira i Virgili, de Tarragona (Prof. Robert Sala i

Ramos)

Outros investigadores: Prof. Fernando Santos

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Descrição dos Objectivos do Investigador Responsável

A dissertação “Echoes from the East: the western network” (LuizOosterbeek, 1994), constituiu uma tentativa de um construção de ummodelo explicativo sobre a transição para a agricultura, o qual consideravaa existência de uma multiplicidade de grupos que utilizavam uma únicarede integrada, apesar de anteriormente se considerar os”“caçadores” e os“agricultores” como grupos isolados. Este trabalho considerou aconstituição de grupos mistos e sugeriu que os caçadores nómadascontribuíram para a disseminação da agricultura. Na década seguinte, estecenário foi reforçado devido aos achados no Médio Tejo, mas também noAlentejo e Espanha. O foco da pesquisa neste projecto é o estudo destesmecanismos, combinando os estudos tecnológicos e paleoambientais emexecução com as dimensões sociais, económicas e antropológicas.

Estado da Arte

O debate sobre a transição para a agricultura no Oeste Ibérico temsido centrado nos aspectos económicos e tecnológicos relacionados com anatureza do chamado “pacote Neolítico” e a interacção entre os váriosgrupos de humanos que ocuparam o espaço entre o 6º e o 4º milénios AC.Relativamente à questão sobre as origens deste processo e dos seus principaiselementos estruturais (por exº, as cerâmicas, novas tecnologias líticas, arterupestre, megalitismo…) os investigadores dividem-se em dois gruposprincipais: aqueles que dão valor, principalmente, às característicastransregionais comuns (os apoiantes dos modelo dual e de colonização) eaqueles que dão principal importância à variabilidade do processo. Osúltimos, têm, de diversas maneiras, apoiado a ideia de diversidade e danecessidade de dar mais visibilidade às dinâmicas sociais do processo.

Ambas as abordagens defendem o argumento que os monumentosmegalíticos são o centro do processo de transição, mas diferem na suainterpretação.

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Dois modelos alternativos podem ser considerados. O primeiro,defende um período (Neolítico antigo), anterior à construção de sepulcrosem câmara, durante o qual o início da desflorestação das colinas tevelugar. A construção de monumentos sepulcrais pertenceria a um períodomais tardio, do Neolítico Médio, durante o 5 e 4º milénio AC. O modelodescrito propõe que esse era o padrão seguido no norte de Portugal,onde o trigo pertencente nível mais baixo do abrigo em rocha Buracoda Pala IV, foi datado como pertencendo aos finais do 6º/inícios do 5ºmilénio AC, vários séculos antes da construção dos primeiros túmulos(Jorge 2000). O modelo alternativo defende que o padrão seguido nonorte do Tejo era diferente e que tais monumentos correspondem àsprimeiras remoções de terra significativas. Segundo esta perspectiva, osmonumentos megalíticos terão feito parte integrante do processomarcando direitos e vias na nova terra desflorestada. Este modeloalternativo tem lugar dentro de um debate vasto relativo à natureza doNeolítico inicial na Europa Ocidental, principalmente se relativamenteao facto de um período inicial de um Neolítico móvel (acompanhadopoucos séculos depois pelos primeiros menhires e enterramentoscolectivos) foi sucedido por um sólido Neolítico agrícola, ou se oNeolítico teve uma natureza agrícola logo desde o inicio (Thomas 1999;Rowley-Conwy 2004).

A reavaliação de vários sítios situados nas margens do Tejo,anteriormente atribuídos aos terraços do Quaternário e, por isso, aoPleistoceno (porque estava topograficamento sobre os terraços e tinhamuma aparência “arcaica”), demonstrou que, muitos deles eramHolocénicos (Epipaleolíticos, Neolíticos e até mais tardios). Este simplesfacto mudou o cenário da região, revelando uma densa ocupação nosperíodos Sub-Boreal e Atlântico, mas levantou um problema da maiorrelevância: como explicar tais semelhanças tecnomorfológicas atravésdo tempo? Serão o ambiente, e principalmente, as matérias-primas, asrazões principais? Estas evidências foram identificadas em outroscontextos na Península Ibérica, e para além desta, e foram o tema devárias sessões do XVº Congresso Mundial da UISPP (ver Oosterbeek,

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L. & Raposo, J. (eds), XV Congresso IUPPS-UISPP. Livro de Resumos,2 vols, Tomar, CEIPHAR, 2006).

Nesta sequência, nos últimos 20 anos, a investigação sistemáticanoAlto Ribatejo tem permitido clarificar as bases de um modeloalternativo para a disseminação da agricultura, de interior este para ooeste, oposto ao chamado modelo cardeal dual, que explica o Neolíticocomo sendo a propagação das primeiras entrasdas costeiras feitas pelosmarinheiros do Mediterrâneo. A sobreposição no tempo dos caçadores--recolectores e dos grupos agrícolas, para além dos vestígios megalíticose de arte rupestre, sugerem uma linha de abordagem mais complexa quevai para além da mera substituição do modelo económico. Padrões decoexistência e complementaridade entre contextos aparentementesegregados, são sugeridos pelos trabalhos de campo na Anta 1 do Valeda Laje, Gruta do Cadaval ou Povoado da Amoreira. Contudo, para sepoder avançar na interpretação destes mecanismos, é crucial haver umaanálise específica em três domínios.

Em primeiro lugar, é necessário reunir as evidências materiais doterritório para além do número restrito de sítios pesquisados até aomomento. O uso de métodos geo-físicos e, principalmente, o usoextensivo do geo-radar, pode contribuir para ultrapassar a falta deinformação. A natureza de zonas montanhosas no centro de Portugaltem dificultado a construção de um mapa, mais claro, dos vestígios dasprimeiras sociedades agrícolas, quando comparado com as outras regiõeseuropeias onde o sistema de campos e povoados é mais conhecido. ONeolítico da Pnínsula Ibérica Ocidental tem sido considerado como sendobaseado numa estrutura não de aldeias mas centrado em estruturasfunerárias; contudo, o número de vestígios encontrados que indicamuma realidade diferente tem sido cada vez maior e uma pesquisa intensivacom geo-radar da planície aluvial do Tejo deve ajudar no propósitoespecificado. Este não é um mero problema técnico e requer a redefiniçãodos métodos de pesquisa para este objectivo específico.

Uma segunda dificuldade quando se analisam os problemas dapropagação da agricultura relaciona-se com a falta de uma cronologia

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fiável, seja para os vestígios simbólicos, tecnológicos ou económicos.Ao passo que para o litoral um número razoável de datas está disponível,(sobretudo datas AMS sobre ossos humanos de sepulturas em grutas), omesmo não s epassa no interior, onde os vestígios orgânicos são escassosdevido à acidez dos solos. AMS e datações convencionais deradiocarbono foram obtidas, com todas as dificuldades e cautelas queestas implicam. A datação de sedimentos e cerâmicas ou objectos líticosfoi testada em vários sítios, oferecendo indicações sugestivas para oproblema, mas o seu número ainda é escasso.

A publicação dos estudos monográficos sobre os sítios do”“altoRibatejo”, tendo em conta a dimensão social e a sua integração com osestudos paleoambientais actuais em vigor (levados a cabo por um projectocoordenado por Chris Scarre e Luiz Oosterbeek, com o apoio daAcademia Britânica) devem permitir uma revisão global dos modelosde transição. O presente projecto irá contribuir para alcançar o objectivoprincipal.

O projecto reúne uma série de instalações laboratoriais e capitalhumano, promovendo a formação de 3 novos especialistas, um afecto acada um dos 3 objectivos estruturais. Este plano de formação será levadoa cabo através da preparação de 3 teses de doutoramento integradas noPrograma de Doutoramento da UTAD: “Quaternário, materiais e culturas”(código: R/28/2006). Além do mais, os estudantes de mestrado integradosno programa Erasmus Mundus “Quaternário e Pré-história” irão tambémcontribuir para os objectivos principais do projecto, mesmo que emaspectos colaterais.

Divulgação de resultados (descrição)

Os resultados esperados são os seguintes:• O aumento, numa grande área do centro de Portugal, dos registos

em base de referentes ao Neolítico;• O estabelecimento de uma base de dados coerente de datações

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por Luminescência;• A preparação de monografias detalhadas de sítios chave do Alto

Ribatejo (principalmente Gruta do Cadaval, Gruta dos Ossos,Povoado da Amoreira, Monumento 5 da Jogada, Ocreza,Lajinha);

• A consolidação de uma unidade de Luminescência no ITN e deuma unidade de geo-física no IPT;

• Responder à questão: Como, porquê e onde é que foramestruturadas inicialmente as primeiras paisagens agrícolas?

Repercussões

As principais repercussões serão:• Aumento do capital humano nestas áreas (3 teses de

Doutoramento por bolseiros do projecto e várias teses demestrado levadas a cabo por estudantes não financiados peloprojecto);

• A possibilidade de, pela primeira vez, utilizar datações AMS eLuminescência, tais como outras (por exemplo, datações deradiocarbono), dentro de uma abordagem integrada e calibrada;

• O uso alargado do geo-radar como um instrumento testado depesquisa arqueológica o que poderá ter repercussões comerciaisque vão para além do projecto;

• A consolidação da pesquisa cientifica em Portugal, eprincipalmente na rede que envolve o IPT, UTAD e ITN, paraalém de outros parceiros europeus com associação ao EnsinoSuperior (Erasmus Mundus, e Programa de Doutoramento).

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Regionalização

O projecto centra-se na região “Centro” Contudo, serão utilizadasamostras de mais três regiões dada a natureza do problema (a propagaçãoda agricultura e a sua origem).

Todas as amostras recolhidas nas outras regiões serão seleccionadasde acordo com a interpretação da região “Centro”.

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ORGANIZAÇÃO DOSLABORATÓRIOS DEINVESTIGAÇÃO DO ITM

L U I Z O O S T E R B E E KS A R A C U R AG U I L L E R M O M U Ñ O Z

A investigação está organizada, no seio do ITM/Grupo “Quaternárioe Pré-História/Museu de Arte Pré-Histórica em grande grupos deinvestigação, que associam um número variável de investigadores. Nestequadro, estão em curso três projectos regionais (Alto Ribatejo emPortugal, Senegal na África Ocidental e Santa Catarina no Brasil –projectos complementados pelo apoio a projectos locais que envolvemum número mais limitado de investigadores) e três linhas de pesquisatemáticas (Quaternário e Indústrias líticas, Arte Rupestre e Gestão doPatrimónio – complementados por outras linhas de pesquisa, em diversasáreas mas envolvendo menos pesquisadores).

As linhas de investigação em Indústrias líticas e em arte rupestrepossuem laboratórios dedicados, que funcionam no edifício 2 do Museude Arte Pré-Histórica.

Laboratório de Indústrias

Os coordenadores deste laboratório são Luiz Oosterbeek (Directordo Museu) e Sara Cura, doutoranda da UTAD e docente no mestrado eresponsável pelos módulos de Tecnologia e Tipologia Lítica e de Técnicas

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de Escavação, Registo e Análise. Colaboram na orientação da pesquisaoutros professores, em particular Pierluigi Rosina e Stefano Grimaldi.O Laboratório desenvolve as suas acções em articulação com os projectosde investigação em curso (de cariz regional). Na discussão central destesprojectos o estudo das indústrias líticas, na sua esmagadora maioria emquartzito, tem um papel determinante na medida em que revelam padrõesde comportamento específicos que, pelas suas características ditas«expeditas», dificultam a sua associação inequívoca a comunidades deCaçadores-Recolectores ou de Agricultores e Pastores, sugerindo umarelação com o território e seus recursos não muito diferente.

Por outro lado a experiência acumulada pela análise destas indústriastem revelado algum desajustamento das metodologias de estudo queforam estruturadas e aplicadas em matérias-primas distintas do quartzito.Faltam estudos experimentais de referência, quer ao nível do talhe, querao nível da traceologia.

Desta forma o Laboratório de Indústrias deverá coordenar os seusestudos com vista à sistematização e caracterização das indústriasPleistocenas e Holocénicas e constituição de um banco de dadosexperimentais que possam auxiliar os investigadores na análise deindústrias nesta matéria-prima.

Na sua articulação com o Mestrado em Arqueologia e Arte Rupestreo Laboratório de Indústrias Líticas tem como principais objectivosintegrar os alunos nas suas actividades de investigação e divulgação dosresultados científicos e patrimoniais daí decorrentes, bem como enquadrare acompanhar de forma sistemática aqueles cujo tema de tese seja análisede indústrias líticas. Para além disso, pretende-se que esta integraçãoresulte num apoio e enriquecimento à formação académica de todos osalunos colaboradores.

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Listagem dos sítios em estudo e sua distribuição cronológica

Sítio Proveniência Cronologia Tipo de Sítio Tipo de análise

Ribeira daPaleolítico Estudo tecnológico/

AtalaiaBarquinha Inferior/Médio Ar livre /Remontagens/

e Superior /Traceologia

Fonte daBarquinha

PaleolíticoAr livre

Estudo tecnológico /

Moita Inferior /Remontagens

Santa Cita TomarPaleolítico

Ar livreEstudo Tecnológico/

Médio /Remontagens

Bonito EntroncamentoPaleolítico

Ar livre Estudo TecnológicoInferior

Anta da FozMação Calcolítico

MonumentoEstudo Tecnológico

do Rio Frio Megalítico

Buraca daMação

PaleolíticoAbrigo Estudo Tecnológico

Serpe Médio (?)

Vários Mação ?Recolha de EstudoSuperfície Tecno-tipológico

Casal dosBarquinha Neolítico

Recolha de EstudoCucos Superfície Tecno-tipológico

Quinta daRecolha de Estudo

Pinheira Chamusca NeolíticoSuperfície Tecno-tipológico

Grande

Monte-Barquinha Neolítico

Recolha de Estudo

-Pedregoso Superfície Tecno-tipológico

Funcionamento

A unidade funciona no laboratório de Indústrias e MateriaisArqueológicos no Edifício 2 do Museu e no pátio exterior. Está previstauma saída por semana para estudar colecções no CIAAR ou desenvolvertrabalhos na Ribeira da Atalaia.

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Laboratório de Arte Rupestre

Os coordenadores deste laboratório são Luiz Oosterbeek (Directordo Museu) e Guillermo Muñoz, doutorando da UTAD. Colaboram naorientação da pesquisa outros professores, em particular Mila Simões deAbreu e Hipólito Collado.

A linha de investigação propõe-se desenvolver uma investigaçãoaplicada aos contextos rupestres inseridos nos projectos regionais, ounoutros projectos, na base da plena integração das problemáticas nosseus contextos pré-históricos, do apuramento metodológico e da reflexãocrítica.

A história crítica da investigação em arte rupestre, os fundamentosteóricos e epistemológicos, bem como os desenvolvimentos científicose tecnológicos das últimas duas décadas, abriram novas vias de pesquisa.A reflexão desenvolvida no seio da UISPP (e em particular da IFRAO,sua organização associada), inclusivamente sobre questões éticas,constitui referência para o Laboratório de Arte Rupestre. O Laboratóriomantém relações com equipas de investigação de todos os continentes,e um dos seus objectivos é o de aprofundar tais intercâmbios.

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Listagem de temas de trabalho no âmbito do laboratório

1. Arqueología rupestre Prospecção, levantamentos e registos CartografiaBase de dados de arte rupestre (EuroPreArt)Descrição de alterações e deterioração de sítios

2. Arte rupestre experimental Determinação das ferramentas e processos de(Modelo) realização dos petróglifos

Determinação do uso de pigmentosEstudo dos processos de alteraçãoManipulação digital e descrição laboratorial

3. Cooperação Contributos das ciências básicas para o estudointer-laboratorial dos materiais

Análises de amostras de materiais pétreosEstudo de pigmentos e processos de erosão ecorrosãoEstudo de invasores orgânicos (líquenes, ,,,)

4. Publicações e bibliografia Continuação da ampliação da bibliotecaespecializadaResenhas bibliográficasComunicaçõesPublicações (ARKEOS, TECHNE, revistas ISI)

5. Vestígios rupestres e Estruturas simbólicas e perduração e recorrênciaprocessos de representaçãode sistemas estéticosem comunidades actuais

6. História da investigação Origensem Arte Rupestre História das tipologias

Processos, discussões, categorizações eproblemática actualEscolas e característicasEstudos regionais e vínculos com a arqueología

7. Processos de Divulgação Página webList serv de coordenaçãoPublicações

Seminários

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Funcionamento

Serão programadas saídas campo, dependentes da dinâmica deestudo dos sítios e dos projectos em curso. O Laboratório dedica-se aoregisto de evidências de arte rupestre (em distintos suportes) e seu estudocontextual e interpretativo, bem como à revisão dos sistemas dedocumentação, exercícios de transcrição, estudos fotográficos,organização de materiais, etc.