5
1 Pedro Henrique Silva Sanches Bacharelado em Letras com Habilitação de Tradutor GERALDI, J.W. (Org.) Concepções de linguagem e ensino de português. In: ___. (Org.) O texto na sala de aula. 3. ed. São Paulo: Ática, 2004. p. 39-46. O texto de Geraldi (2004) “Concepções de linguagem e ensino de português” aborda o assunto do ensino da língua portuguesa nas escolas para tematizar as concepções ou definições de linguagem da gramática tradicional, do estruturalismo e o transformacionalismo, e da linguística de enunciação. A educação tem muitas vezes sido relegada à inércia administrativa, a professores mal pagos e mal remunerados, a verbas escassas e aplicadas com tal falta de racionalidade que nem mesmo a “lógica” do sistema poderia explicar. (MELO, 1979 apud GERALDI, 2004) O autor começa o capítulo apontando as deficiências do sistema de ensino da língua portuguesa. Segundo ele, o “fracasso da escola” não seria de responsabilidade apenas dos alunos, mas, da política, que possui falhas administrativas, por exemplo, o caso de professores mal pagos, e possuí concepções erradas a respeito do “para que ensinar o que se ensina”. Isso significa: qual seria a razão, o motivo de se ensinar a língua portuguesa nas salas de aula. É interessante haver esse tipo de reflexão não somente relacionada ao ensino, mas também, para a formação como tradutor. Por exemplo, ao realizar-se uma tradução, é interessante refletir a respeito dos motivos, “para quês” de tal trabalho. Essa atitude contribui para a realização de um trabalho mais consciente e, assim, melhor. p. 40 p. 40- 41

Fichamento Geraldi

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Fichamento de texto do Geraldi

Citation preview

Page 1: Fichamento Geraldi

1

Pedro Henrique Silva Sanches

Bacharelado em Letras com Habilitação de Tradutor

GERALDI, J.W. (Org.) Concepções de linguagem e ensino de português. In: ___. (Org.) O

texto na sala de aula. 3. ed. São Paulo: Ática, 2004. p. 39-46.

O texto de Geraldi (2004) “Concepções de linguagem e ensino de português”

aborda o assunto do ensino da língua portuguesa nas escolas para tematizar as concepções

ou definições de linguagem da gramática tradicional, do estruturalismo e o

transformacionalismo, e da linguística de enunciação.

A educação tem muitas vezes sido relegada à inércia administrativa, a professores

mal pagos e mal remunerados, a verbas escassas e aplicadas com tal falta de racionalidade que

nem mesmo a “lógica” do sistema poderia explicar. (MELO, 1979 apud GERALDI, 2004)

O autor começa o capítulo apontando as deficiências do sistema de ensino da

língua portuguesa. Segundo ele, o “fracasso da escola” não seria de responsabilidade

apenas dos alunos, mas, da política, que possui falhas administrativas, por exemplo, o caso

de professores mal pagos, e possuí concepções erradas a respeito do “para que ensinar o que

se ensina”. Isso significa: qual seria a razão, o motivo de se ensinar a língua portuguesa nas

salas de aula. É interessante haver esse tipo de reflexão não somente relacionada ao ensino,

mas também, para a formação como tradutor. Por exemplo, ao realizar-se uma tradução, é

interessante refletir a respeito dos motivos, “para quês” de tal trabalho. Essa atitude

contribui para a realização de um trabalho mais consciente e, assim, melhor.

No caso do ensino de língua portuguesa, uma resposta ao “para que” envolve

tanto uma concepção de linguagem quanto uma postura relativamente à educação.

Nesse momento, Geraldi (2004) aponta concepções diferentes de linguagem.

Segundo a gramatica tradicional, a resposta para a pergunta acima seria a

seguinte: para que o ser humano expresse seu pensamento, é necessário utilizar a linguagem.

Geraldi (2004) critica essa concepção dizendo que, “se concebemos acepções como tal,

somos levados a afirmações - correntes de que pessoas que não conseguem se expressar não

pensam.” (GERALDI, p. ,2004). Essa concepção tradicional inaceitável. Uma pessoa que

não possui a habilidade de se expressar é irracional? De fato que não. Penso que a

capacidade de cognição não é dependente da utilização da língua, mas sim, um atributo

natural do ser humano.

p. 40

p. 40-41

Page 2: Fichamento Geraldi

2

De acordo com ele, o estruturalismo e o transformacionalismo definem a

linguagem como um instrumento de comunicação, ou seja, ela seria o código (conjunto de

signos) capaz de transmitir uma mensagem a um receptor.

A terceira concepção implicará uma postura educacional diferenciada, uma vez

que situa a linguagem como o lugar de constituição de relações sociais, onde os falantes se

tornam sujeitos (...) No ensino da língua nessa perspectiva, é muito mais importante estudar as

relações que se constituem entre os sujeitos no momento em que falam do que simplesmente

estabelecer classificações e denominar os tipos de sentenças.

Assumindo a concepção vinculada à linguística da enunciação, linguagem como

uma “forma de interação”, isto é, como o meio pelo qual os sujeitos falam sob uma

determinada condição, o autor afirma que, estudar a língua seria estudar as relações que “se

constituem entre os sujeitos no momento em que falam” e não “simplesmente estabelecer

classificações e denominar os tipos de sentenças.” É interessante observar essa concepção de

linguagem relacionada ao ato tradutório. É fundamental, para um tradutor, saber as relações

sociais e culturais que envolvem um texto ou discurso. Não adianta apenas dominar as regras

gramaticais. Uma boa tradução, a meu ver, tenta reproduzir os traços dialetais, culturais.

Isso não se encontra na gramática.

Sabemos que a forma de fala que foi elevada à categoria de língua nada tem a ver

com a qualidade intrínseca dessa forma. Fatos históricos (econômicos e políticos) determinam

a “eleição” de uma forma como a língua portuguesa. As demais formas de falar, que não

correspondem à forma “eleita”, são todas postas num mesmo saco e qualificadas como

“errôneas”, “deselegantes”, “inadequadas para a ocasião”, etc.

Geraldi (2004) apresenta a existência das variedades linguísticas. Aponta ainda

que a escolha de uma variedade padrão não envolve características intrínsecas, mas sim, de

fatos históricos (econômicos e políticos). Acrescenta que as outras variedades são “todas

postas num mesmo saco e qualificadas como errôneas, deselegantes, inadequadas para a

ocasião, etc.” Segundo ele, quem faz o julgamento das variantes são os próprios falantes, por

meio de sua relação social e econômica, havendo “em termos internos” variedades de uma

mesma língua, e em termos externos o prestigio de línguas no plano internacional. Ele

questiona se o ensino da modalidade padrão do português como imposição, que desclassifica

os demais dialetos deveria ser mantido ou mudado.

Assim, ele demonstra duas possibilidades a serem adotadas por professores. A

primeira significa adotar ao ensino a variedade linguística das classes populares como

instrumento do discurso escolar (entre professores e alunos). A segunda seria ensinar a

p. 41-42

p. 43

Page 3: Fichamento Geraldi

p. 46

3

“variedade linguística socialmente privilegiada,” para que os alunos pudessem romper o

bloqueio da desigualdade social. O domínio da norma padrão, sem que houvesse um

afastamento das variedades familiares e sociais seria um caminho para a ascensão social.

O mais caótico da atual situação do ensino de língua portuguesa em escolas de

primeiro grau consiste precisamente no ensino, para alunos que nem sequer dominam a

variedade culta, de uma metalinguagem de análise dessa variedade – com exercícios

contínuos de descrição gramatical, estudo de regras e hipóteses de analise de produção que

mesmo especialistas não estão seguros de como resolver.

O último tópico abordado no capítulo fichado apresenta a oposição entre o

ensino da língua e o da metalinguagem. Segundo Geraldi (2004), o português deveria ser

ensinado para que o aluno pudesse “dominar as habilidades de uso da língua em situações

concretas de interação.” Isso significa ser apto para “compreender e produzir enunciados,

descrever fatos novos e formular hipóteses. A metalinguagem serviria apenas como subsidio

no caso se o objetivo final da descrição fosse utilizado a norma padrão. No entanto, o que

realmente acontece na prática é a substituição desse método de ensino pelo ensino da

metalinguagem . Nas escolas privilegia-se o ensino gramatica, de regras e de problemas

teóricos que nem mesmo especialistas não estão seguros de como resolver.

Gostaria de encerrar essas breves considerações sobre concepção de linguagem,

variedades linguísticas e ensino de língua/ensino de metalinguagem, reafirmando que a

reflexão sobre o “para quê” de nosso ensino exige que pensemos sobre o próprio fenômeno de

que somos professores – no nosso caso, a linguagem –, porque tal reflexão, ainda que

assistemática, ilumina toda a atuação do professor em sala de aula.

Assim, o autor encerra o capítulo, que aborda as concepções de linguagem,

variedades linguísticas e ensino da língua ou metalinguagem, retomando a pergunta inicial

de sua reflexão: para quê se é ensinado a língua portuguesa? As possíveis respostas para

essa pergunta poderiam ser:

*Para que os alunos conheçam a estrutura da língua portuguesa, sua forma, e que, possam

utilizá-la para comunicarem-se.

*Para que os alunos saibam expressar seus pensamentos, sejam eles compostos na variedade

padrão da língua, ou em qualquer outra variação.

A abordagem de Geraldi (2004) contribui para a formação de “Tradutores”, pois

é muito importante que o tradutor perceba as diferentes concepções de linguagens abordadas

e aja com prudência ao traduzir. Isso significa que é necessário que o tradutor saiba de como

um determinado povo se comunica através de suas variedades linguísticas e que estas estão

p. 45

Page 4: Fichamento Geraldi

4

relacionadas a relações econômicas e sociais. Não basta ter um grande conhecimento da

gramática normativa, mas também, ser apto para transferir para outra língua os dialetos,

gírias e formas de comunicação de um determinado grupo linguístico.