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Estrutura do romance (Aguiar e Silva) Termo Significação · Anacronia Þ Desencontro entre a ordem dos acontecimentos no plano da diegese e a ordem por que aparecem narrados no discurso. · Cenas Þ Segmentos do discurso constituídos exclusiva, ou predominantemente, por diálogos. · Conto Þ História breve, de enredo simples e linear, caracterizado por uma forte concentração da diegese, do tempo e do espaço. · Diegese Þ História. O significado ou conteúdo narrativo. · Elipses Þ Exclusão do discurso, pelo narrador, de determinados acontecimentos diegéticos, dando assim origem a mais ou menos extensos vazios narrativos. É um processo fundamental na narrativa, já que nenhum narrador pode relatar com estrita fidelidade todos os pormenores da diegese. · Elipses implícitas Þ Importante no romance contemporâneo, elide intencionalmente do discurso elementos diegéticos fundamentais que o leitor terá de reconstituir, baseando-se nas informações fragmentárias que o texto lhe oferece. · Foco narrativo, Ponto de vista, ou Focalização. Þ Compreende as relações que o narrador mantém com o universo diegético e também com o narratário. · In medias res Þ Processo pelo qual o começo do discurso corresponde a um momento já adiantado da diegese, obrigando tal técnica a narrar depois no discurso o que acontecera antes na diegese. Tanto o início da narrativa In medias res como In ultimas res (v.) obriga o romancista a narrar posteriormente os antecedentes

Fichamento. Livro. Estrutura Do Romance (Aguiar e Silva)

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Estrutura do romance (Aguiar e Silva)

Termo Significação

· Anacronia Þ Desencontro entre a ordem dos acontecimentos no plano da diegese e a ordem

por que aparecem narrados no discurso.

· Cenas Þ Segmentos do discurso constituídos exclusiva, ou predominantemente, por

diálogos.

· Conto Þ História breve, de enredo simples e linear, caracterizado por uma forte

concentração da diegese, do tempo e do espaço.

· Diegese Þ História. O significado ou conteúdo narrativo.

· Elipses Þ Exclusão do discurso, pelo narrador, de determinados acontecimentos

diegéticos, dando assim origem a mais ou menos extensos vazios narrativos.

É um processo fundamental na narrativa, já que nenhum narrador pode

relatar com estrita fidelidade todos os pormenores da diegese.

· Elipses implícitas Þ Importante no romance contemporâneo, elide intencionalmente do discurso

elementos diegéticos fundamentais que o leitor terá de reconstituir,

baseando-se nas informações fragmentárias que o texto lhe oferece.

· Foco narrativo, Ponto de

vista, ou Focalização.

Þ Compreende as relações que o narrador mantém com o universo diegético e

também com o narratário.

· In medias res Þ Processo pelo qual o começo do discurso corresponde a um momento já

adiantado da diegese, obrigando tal técnica a narrar depois no discurso o que

acontecera antes na diegese. Tanto o início da narrativa In medias res como

In ultimas res (v.) obriga o romancista a narrar posteriormente os

antecedentes diegéticos dos episódios e das situações que figuram na

abertura do romance. Quer dizer, em relação à temporalidade do segmento

diegético primeiramente narrado, o romancista institui uma temporalidade

segunda, dando assim lugar a uma anacronia (Flash-back ou, analepse).

· In ultimas res Þ No qual as páginas iniciais narram, eventualmente com ligeiras modulações, a

situação com que se encerra a sintagmática diegética.

· Monólogo interior / fluxo da

consciência

Þ Técnica que tem por fim representar os meandros e as complicações da

corrente da consciência de uma personagem e assim poder analisar a

urdidura do tempo interior.

· Narração Þ Ato narrativo produtor e, por extensão, o conjunto da situação real ou fictícia

na qual se situa.

· Narrador Þ Instância produtora do discurso narrativo, não devendo ser confundido, na sua

natureza e na sua função, com o autor, pois o narrador é uma criatura fictícia

como qualquer outra personagem.

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Estrutura do romance (Aguiar e Silva)

Termo Significação

· Narrador Heterodiegético Þ O narrador em que, não estando concretamente representado, funde-se sua

função com a do autor implícito, esse “segundo eu” do autor que se esconde

na narração.

· Narrador Homodiegético Þ O narrador presente na história narrada, sob a forma de um ‘eu’ que pode

assumir características várias.

· Narratário Þ O receptor do texto narrativo, aquela criatura ficcional a quem se dirige o

emissor/narrador.

· Narratário Extradiegético Þ Aquele que pode identificar-se com o leitor virtual; Aquele que, implícita ou

explicitamente o narrador invoca.

· Narratário Intradiegético Þ Que apresenta o estatuto de personagem concreta e a quem, no romance, o

narrador interpela para ouvir suas histórias, sem nelas interferir.

· Novela Þ Representação de um acontecimento, sem a amplidão do romance no

tratamento das personagens e do enredo. As longas digressões e descrições

próprias do romance desaparecem na novela, bem como as exaustivas

análises psicológicas das personagens.

· Personagem : a partir do séc.

XIX, c/Dostoievski

Þ O estatuto da personagem bem definida pelos seus predicados e pelas

circunstâncias - elementos caracterológicos, traços fisionômicos, meio

social, ocupação profissional, etc. - entrou em crise na segunda metade do

séc. XIX, com os romances de Dostoievski. Após sua leitura, impõem-se

obsidiantemente as teorias, as disputas ideológicas, as dúvidas, as raivas, os

desesperos das suas personagens, mas dificilmente se rememoram os seus

rostos, cor dos olhos, decoração de suas casas, etc. O herói interessa a

Dostoievski como ponto de vista particular sobre o mundo e sobre ele

próprio, como a posição do homem que busca a sua razão de ser e o valor

da realidade circundante e da sua própria pessoa.

· Personagem desenhada

(plana)

Þ Definida linearmente apenas por um traço, por um elemento característico

básico que a acompanha durante toda a obra. Tende freqüentemente para a

caricatura e apresenta, muitas vezes, uma natureza cômica ou humorística.

Não altera seu comportamento no decurso do romance e, por isso, nenhum

ato ou reação de sua parte podem surpreender o leitor. Personagem-tipo.

· Personagem modelada

(redonda)

Þ Multiplicidade de traços. Por sua complexidade, pode surpreender, com suas

reações, o leitor.

· Resumos Þ Fragmentos do discurso, utilizados pelo narrador para relatar velozmente

acontecimentos diegéticos ocorridos em longos períodos de tempo.

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Estrutura do romance (Aguiar e Silva)

Termo Significação

· Romance aberto Þ Onde não existe uma diegese com princípio, meio e fim bem definidos: os

episódios sucedem-se, interpenetram-se ou condicionam-se mutuamente,

mas não fazem parte de uma ação única e englobante. Contrariamente ao

que ocorre no romance fechado (v.), o autor não elucida os seus leitores

acerca do destino definitivo das personagens ou acerca do epílogo da

diegese.

· Romance de ação ou de

acontecimento

Þ Caracterizado por intriga concentrada e fortemente desenhada, com princípio,

meio e fim. Situações e episódios ocupam o primeiro plano, relegando a

secundário a análise das personagens e a descrição dos meios.

· Romance de espaço Þ Caracterizado pela primazia que concede à pintura do meio histórico e dos

ambientes sociais nos quais decorre a intriga.

· Romance de personagem Þ Caracterizado pela existência de uma única personagem central, que o autor

desenha e estuda demoradamente, e à qual obedece todo o desenvolvimento

do romance.

· Romance fechado Þ Caracteriza-se por possuir uma diegese claramente delimitada, com princípio,

meio e fim. Apresentação metódica das personagens e descrição dos meios

em que elas vivem e agem, narrando uma intriga desde o seu início até ao

seu epílogo.

Þ

AGUIAR E SILVA, Vítor Manuel de. A estrutura do romance. Livraria Almedina, Coimbra, 1974.