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Filme “A Onda” Sinopse - Rainer Wegner, professor de ensino médio, deve ensinar seus alunos sobre autocracia. Devido ao desinteresse deles, propõe um experimento que explique na prática os mecanismos do fascismo e do poder. Wegner se denomina o líder daquele grupo, escolhe o lema “força pela disciplina” e dá ao movimento o nome de A Onda. Em pouco tempo, os alunos começam a propagar o poder da unidade e ameaçar os outros. Quando o jogo fica sério, Wegner decide interrompê-lo. Mas é tarde demais, e A Onda já saiu de seu controle. Baseado em uma história real ocorrida na Califórnia em 1967. Análise do filme sob a ótica de Freud.

Filme a Onda 1

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Filme “A Onda”

Sinopse - Rainer Wegner, professor de ensino médio, deve ensinar seus

alunos sobre autocracia. Devido ao desinteresse deles, propõe um experimento

que explique na prática os mecanismos do fascismo e do poder. Wegner se

denomina o líder daquele grupo, escolhe o lema “força pela disciplina” e dá ao

movimento o nome de A Onda. Em pouco tempo, os alunos começam a

propagar o poder da unidade e ameaçar os outros. Quando o jogo fica sério,

Wegner decide interrompê-lo. Mas é tarde demais, e A Onda já saiu de seu

controle. Baseado em uma história real ocorrida na Califórnia em 1967.

Análise do filme sob a ótica de Freud.

Filme - O filme se inicia com a semana de projetos do colégio, onde serão

trabalhados temas e o professor Rainer Wegner, deveria ter escolhido

sobre anarquia, mas como chegou atrasado na reunião, um outro professor

escolhe esse tema e ele fica com o tema autocracia. Ele começa explicando

aos alunos sobre o genocídio nazista e os alunos se manifestam achando

impossível que alguém possa se impor a tais regras.

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Filme - Como a maioria dos alunos não se interessou, o professor acaba

criando um novo método de ensino, onde além da teoria os alunos fariam na

prática e iriam reproduzir na sala de aula alguns métodos parecidos com o

nazismo e começariam a usar slogans e seguir fielmente: “Poder, Disciplina e

Superioridade”. O professor se declara como líder e passa a discutir sobre o

que uma ditadura precisa, sobre união, poder e disciplina. Faz valer seu poder

superior sobre o grupo e os estudantes obedecem cegamente fazendo tudo o

que o líder mandar e o chamando de senhor.

Livro - De acordo com Le Bom, citado por Freud: “A peculiaridade mais notável

apresentada por um grupo psicológico é a seguinte: sejam quem forem os

indivíduos que os compõem, por semelhantes ou dessemelhantes que sejam

seu modo de vida, suas ocupações, seu caráter ou sua inteligência, o fato de

haverem sido transformados num grupo, coloca-os na posse de uma espécie

de mente coletiva que os faz sentir, pensar e agir de maneira muito diferente

daquela pela qual cada membro dele, tomado individualmente, sentiria,

pensaria e agiria, caso se encontrasse em estado de isolamento. Há certas

idéias e sentimentos que não surgem ou que não se transformam em atos,

exceto no caso de indivíduos que formam um grupo. O grupo psicológico é um

ser provisório, formado por elementos heterogêneos que por um momento se

combinam, exatamente como as células que constituem um corpo vivo,

formam, por sua reunião, um novo ser que apresenta características

isoladamente.” (trad., 1920,29.)

Conforme Freud, é fácil provar quanto o indivíduo que faz parte de um grupo,

difere do indivíduo isolado; mas não é fácil descobrir as causas dessa

diferença.

Filme - Esse foi o início do projeto. Os alunos motivados passam a ter muitas

idéias e assim vão sendo usadas para compor o grupo. Dessa forma não existe

mais a divisão dos alunos na sala, cada um passa a fazer parte de um único

grupo, bem unidos e isso acontece ao mesmo tempo em que alguns alunos

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com opiniões diferentes passam a não querer fazer mais parte daquela turma

achando tudo muito estranho.

Existe um aluno chamado Tim, que se sentia rejeitado e ignorado por todos da

escola. Quando entra para este grupo sente-se fazendo parte de algo, tendo

agora um ideal de ser um membro. Sente-se importante, sendo incluído.

Livro - As investigações mais cuidadosas parecem demonstrar que um

indivíduo imerso por certo lapso de tempo num grupo em ação, cedo se

descobre – seja em conseqüência da influência magnética emanada do grupo,

seja devido a alguma outra coisa por nós ignorada – num estado especial, que

se assemelha muito ao estado de “fascinação” em que o indivíduo hipnotizado

se encontra nas mãos do hipnotizador. (...) A personalidade consciente

desvaneceu-se inteiramente; a vontade e o discernimento se perderam. Todos

os sentimentos e o pensamento inclinam-se, na direção determinada pelo

hipnotizador.”

Livro - Vemos então que o desaparecimento da personalidade consciente, a

predominância da personalidade inconsciente, a modificação por meio da

sugestão e do contágio de sentimentos e idéias numa direção idêntica, a

tendência a transformar imediatamente as idéias sugeridas em atos,

estas,vemos, são as características principais do indivíduo que faz parte de um

grupo. Ele não é mais o mesmo, mas transformou-se num autômato que deixou

de ser dirigido pela sua vontade.” (Ibid., 35.)

Filme - Um dos alunos se recusa a entrar para o movimento e é obrigado a

conviver com ameaças e exclusão do grupo. A escola inteira é envolvida por

este ideal e nomeiam este grupo de “A Onda”, criando uniformes e símbolos. Até

que um casal de alunos mais consciente alerta ao professor ter perdido o

controle da experiência pedagógica e que passou a dominar a realidade do dia

a dia dos alunos. Eles agiam em todos os lugares com os princípios do grupo,

e acabaram se tornando vândalos, arrombando lojas, pixando muros, tudo pelo

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ideal fantasiado. O que era para juntar e unir as pessoas passou a separá-las,

pois quem não concordava e não aceitava isso, era discriminado.

Livro - “Além disso, pelo simples fato de fazer parte de um grupo organizado,

um homem desce, vários degraus na escada da civilização. Isolado, pode ser

um indivíduo culto: numa multidão, é um bárbaro, ou seja, uma criatura que

age pelo instinto. Possui a espontaneidade, a violência, a ferocidade e também

o entusiasmo e o heroísmo dos seres primitivos.” (Ibid., 36.)

Livro - Um grupo é impulsivo, mutável e irritável. È levado quase que

exclusivamente por seu inconsciente. Os impulsos a que um grupo obedece,

podem, de acordo com as circunstâncias, ser generosos ou cruéis, heróicos ou

covardes, mas, são sempre tão imperiosos, que nenhum interesse pessoal,

nem mesmo o da autopreservação, pode fazer-se sentir. (Ibid., 41)

Embora possa desejar coisas apaixonadamente, isso nunca se dá por muito

tempo, porque, é incapaz de perseverança. Não pode tolerar qualquer demora

entre seu desejo e a realização do que deseja. Tem um sentimento de

onipotência: para o indivíduo num grupo a noção de impossibilidades

desaparece.

Filme - O desfecho do filme é dado pelo professor ao desmascarar a ideologia

totalitária que sustenta o movimento d’A onda , denuncia aos estudantes o

sumiço dos sujeitos críticos diante de poder carismático de um líder e do

fanatismo por uma causa.

Livro - O que Le Bom diz sobre o tema dos líderes de grupos é menos

exaustivo e não nos permite elaborar tão claramente um princípio subjacente.

Pensa ele que assim que seres vivos se reúnem em certo número, sejam eles

um rebanho de animais ou um conjunto de seres humanos, se colocam

instintivamente sob a influência de um chefe (Ibid., 134). Um grupo é um

rebanho obediente, que nunca poderia viver sem um senhor. Possui tal anseio

de obediência, que se submete instintivamente a qualquer um que se indique a

si próprio como chefe.

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Filme - Os alunos que mais aderiram ao movimento da onda eram os que

sentiam sozinhos, por não encontrar apoio e segurança na família. Foram

facilmente manipulados, pois o que mais precisavam, encontraram no grupo

que passaram a fazer parte de4 um ideal.

Filme - Os alunos começam a se perguntar “E agora, o que faremos?” Ficam

perturbados com a possibilidade do fim do movimento, especialmente Tim. Em

um ato de desespero, ele aponta sua arma aos colegas e diz que todos devem

permanecer na sala, e acusa o professor de tê-los enganado, gritando: “A

Onda está viva!” Um dos alunos diz que não precisam se preocupar pois, as

balas são de festim, e para provar que são de verdade, Tim dá um tiro e acerta

o ombro do colega. “A Onda era a minha vida”, afirma ele. O professor, com a

arma apontada em sua direção, tenta acalmá-lo, conversando e pedindo que

solte o revólver, e ele então abaixa a arma. Quando o professor se vira de

costas, porém, Tim dá um tiro em sua cabeça, cometendo suicídio.