78

Click here to load reader

Onda Jovem #1

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Revista Onda Jovem

Citation preview

Page 1: Onda Jovem #1

PROJETO DE VIDA

ano

1 –

núm

ero

1 –

mar

ço 2

005

ano

1 –

núm

ero

1 –

mar

ço 2

005

ano

1 –

núm

ero

1 –

mar

ço 2

005

ano

1 –

núm

ero

1 –

mar

ço 2

005

ano

1 –

núm

ero

1 –

mar

ço 2

005

Como os jovens brasileirosconstroem no presente

suas perspectivas de futuro

número 1 – m

arço 2005núm

ero 1 – março 2005

número 1 – m

arço 2005núm

ero 1 – março 2005

número 1 – m

arço 2005P

ROJE

TO DE

VID

AO

ND

A JO

VEM

O Instituto Votorantimapóia essa causa.

E quer ver muitos jovensfazendo sucesso na capa.

Page 2: Onda Jovem #1

A recomendação da ONU para adoção do Programa Mundial de

25% dos jovens brasileiros que buscam

20% DOS BEBÊS NASCIDOS EM 2002, NO BRASIL,

Somente 45% dos jovens freqüentam a escola no país

trabalho estão desempregados

ERAM DE MÃES DE 15 A 19 ANOS

sonar

NESTE ANO, OS BRASILEIROS ENTRE

Ação para a Juventude faz dez anos

Page 3: Onda Jovem #1

3

Tornar 2005 o Ano Nacional da Juventude é um item de

Um projeto rural na Bahia ajuda a fixaros jovens no campo pág. 18

INICIATIVAS EM SÃO PAULO, RECIFE E BELÉM REDUZEMCASOS DE GRAVIDEZ PRECOCE PÁG. 46

Milhares de jovens estudam segundo a pedagogia de três educadores juvenis pág. 14

política pública pág. 64

15 E 24 ANOS SERÃO 35,139 MILHÕES

Page 4: Onda Jovem #1

âncoras

“Escolhi ter um projeto de vida buscando prazerem estar sempre inquieta, buscando aprimorar oque já se tem ou indo atrás do que está por vir.”

Renata Florentino,

21 anos, fundadora da ONG Interagir

“Quero algo mais do que seguir o caminho que amaioria trilha, que é nascer, crescer, casar e terfilhos. Gostaria de testemunhar mudanças sociaise ver os jovens mais participativos.”

Carlos Jordaki,

19 anos, estudante paulistano

“O jovem precisa ter uma oportunidade para conseguir elaborar seuprojeto de vida e precisa também conhecer a realidade na qual estáinserido. Só assim ele vai conseguir ter um norte.”

Cleodemar Viana Alves,

25 anos, estudante de Manaus, integrante da ONG Agência Uga-Uga de Comunicação

“O projeto de vida atrelado à maternidade é umabusca da aprovação grupal. As meninas tentamcriar vínculos e prender o namorado.”

Albertina Duarte Takiuti,

ginecologista, responsável pelo programa Saúde do Adolescente, dogoverno do Estado de São Paulo H

ENK

NIE

MA

N

AN

DER

SON

OLI

VEI

RA

FELI

PE B

ARR

A

“O projeto de vida envolve a definição do lugar dojovem no mundo e na sociedade.”

Margarida Serrão e Maria Clarice Baleeiro,

autoras do livro Aprendendo a Ser e a Conviver (editora FTD)

Page 5: Onda Jovem #1

5

“O projeto de vida é a ação do indivíduo de escolher um dentre os futurospossíveis, transformando os desejos e as fantasias em objetivos a seremperseguidos.”

Juarez Dayrell,

coordenador do Observatório de Juventude da UFMG

“Você vê o pessoal chegar no segundo colegial e ainda não saber o que querser. A escola tinha de despertar, mexer mais com criatividade, dar maisopções pra pessoa poder procurar dentro dela o que gostaria de ser.”

Negra Li,

25 anos, rapper paulistana

“Treino quatro horas por dia. Para realizarmeu projeto, não posso ficar parado. ”

Luiz Júlio,

23 anos, estudante carioca, quer jogar basquete na SeleçãoBrasileira de Deficientes Físicos

“Engravidei para poder sair de casa, ter minhaprópria família, virar adulta.”

H.S.S.

17 anos, estudante carioca,grávida de um “soldado” do tráfico

“Projeto de vida é um caminho a ser percorrido entre o ser e o querer-ser navida de cada pessoa.”

Antônio Carlos Gomes da Costa,

pedagogo, consultor especialista em juventude e ação educativa

Page 6: Onda Jovem #1

editorial

Caro leitor,

Temos a satisfação de apresentar a revista Onda Jovem, publicação que vem ocupar umespaço editorial focado no segmento juventude, na perspectiva de quem lida com o jovem –educadores, profissionais de diversos setores sociais, especialistas e estudiosos – e do pró-prio jovem que deseja influir no modo como é percebido pela sociedade.

Pela coerência dessa proposta em relação à estratégia adotada pelo Instituto Votorantim,a publicação ganha o seu patrocínio a partir do primeiro número. Esse apoio ao projetodesenvolvido pela empresa Olhar Cidadão reflete nossa crença no potencial da juventudebrasileira, cuja força demográfica se destacará nas próximas duas décadas, totalizando umapopulação inédita de quase 36 milhões de jovens em 2025.

A cada edição, Onda Jovem abordará um tema específico, colocando o desenvolvimentointegral do jovem como eixo principal, buscando a diversidade de perspectivas e a multipli-cidade de abordagens. Por meio de reportagens, ensaios e entrevistas com jovens e profissio-nais especializados, a publicação pretende trazer para a agenda pública temas que valemreflexões, contribuindo para enriquecer o debate e avançar nas soluções.

Esperamos que o conhecimento gerado por esse instrumento estratégico de comunicaçãoseja utilizado por todos os públicos envolvidos direta ou indiretamente nas questões relaciona-das à juventude, de modo a aprimorar sua atuação e a beneficiar nossos jovens. Um objetivo que,por si só, justifica o apoio dado pelo Instituto Votorantim à Onda Jovem que se lança agora.

ano 1 – número 1março-junho 2005

Um projeto de comunicação apoiadopelo Instituto Votorantim

Projeto editorial e realizaçãoFátima Falcão e Marcelo NonatoOlhar Cidadão – Estratégias para oDesenvolvimento Humanowww.olharcidadao.com.br

Direção editorialJosiane Lopes

Secretaria editorialSebastião Aguiar

Projeto gráficoArtur Lescher e Ricardo van SteenTempo Design

Colaboradorestexto: Aydano André Motta, Antonio Carlos Gomesda Costa, Antonio Moreno, Beatriz Portugal, BroniaLiebesny, Cuca Fromer, Daniela Rocha, EdnaKahhale, Iara Biderman, Jairo Bouer, James Allen,Juarez Dayrell, Karina Yamamoto, Sérgio A. P.Esteves, Yuri Vasconcelos, Vasconcelos Quadros,Vera de Sá

foto: Anderson Oliveira, Cristiane Silva, CarlosCavalcante, Cláudio Nascimento, Davilym Dourado,Edmmar Souza, Felipe Barra, Francisco Valdean,Gustavo Lourenção, Henk Nieman, Karlos Rikáryo,Levi Silva, Lorena Cruz, Luiz Prado, Luludi, MarceloElias, Márcia Zoet, Márcio Júlio, Marco Fernandes,Maria Luiza D́Albergaria, Paulo Emílio Andrade,Penna Prearo, Risonaldo Cruz, Sadraque Santos

ilustração: Cárcamo, Haroldo Paranhos Neto,Marcelo Pitel

revisão: Eugênio Vinci de Moraes

Direção de LayoutSilvina Gattone LiutkeviciusD́Lippi Editorial

FotolitoD́Lippi Editorial

ImpressãoGráfica Sag

Como entrar em contato com Onda Jovem:E-mail [email protected]ço: Rua Dr. Neto de Araújo, 320 - conj. 403,São Paulo, CEP 04111 001.Tel. 55 11 5083-2250 e 55 11 5579-4464

www.ondajovem.com.br: vem aí um portal paraquem quer saber da juventude

08

14

18

22

HA

ROLD

O P.

NET

OH

ENK

NIE

MA

NM

ÁRC

IA Z

OET

MA

RIA

LU

IZA

D’A

LBER

GA

RIA

RISO

NA

LDO

CRU

Z

Page 7: Onda Jovem #1

8 - NavegantesUm grupo de jovens brasileiros comenta seus projetos de vida

14 - MestresA inspiração de três educadores para a educação juvenil

18 - Banco de PráticasQuatro iniciativas que estimulam a reflexão sobre o futuro

22 - Caminho das PedrasComo a superação de obstáculos ajudou a definir o sucessoda ONG baiana Cipó

26 - Horizonte GlobalUm projeto muda a vida de jovens bolivianos em Santa Cruzde la Sierra

28 - SextanteO personalismo dos projetos individuais atrasa a construçãode um projeto de país

30 - 90 GrausProjeto de vida e família: o contexto familiar é orientadordos planos de futuro34 - 180 GrausProjeto de vida e escola: a instituição escolar desconsidera ojovem por trás do aluno

38 - 270 GrausProjeto de vida e trabalho: o empreendedorismo é umaatitude a ser moldada

42 - 360 GrausProjeto de vida e mídia: Os meios de comunicação geramfalsos modelos de sucesso

46 - Sem BússolaAs estratégias de sobrevivência que geram riscos

52 - O Sujeito da FraseA rapper paulistana Negra Li diz que a gente acaba atraindoo que deseja muito

56 - LunetaReligião: a intensa e variada vida religiosa dos jovens brasileiros

60 - CiênciaCérebro: um lento amadurecimento, que influencia a formade pensar

64 - .gov.comFazer de 2005 o Ano Nacional da Juventude é uma daspropostas dos poderes públicos

68 - Chat de RevistaQuatro jovens debatem, por escrito, a relação entre projetode vida e felicidade

Sonar 02

Pistas do todo e de alguns

aspectos da situação juvenil

Âncoras 04

Algumas definições

da expressão “projeto de vida”

Links 72

Notícias sobre juventude e

sobre o terceiro setor

Fato Positivo 74

Mídia juvenil também é

monitorada pela Andi

Navegando 76

Um projeto de vida traduzido na

arte de rua de Haroldo P. Neto

20é o número

de projetos com jovens que você

verá nesta edição

Page 8: Onda Jovem #1

navegantes No ano em que somam 35,14 milhões e atingem um recordede participação no conjunto da população, brasileirosentre 15 e 24 anos falam sobre seus projetos de vida

PROPOSTAS DEFUTURO

O índio guarani Karaí Tukumbó, de 24 anos, temum objetivo na vida: tornar-se o cacique de sua tri-bo. É um projeto antigo, que surgiu, diz ele, quandotinha apenas 10 anos. “Na cultura do meu povo, cri-anças dessa idade já começam a pensar no futuro.Eu sempre pensei em ser líder da tribo”, diz Tukumbó,que nasceu numa aldeia perto de Criciúma, em San-ta Catarina.

O jovem índio de fala mansa explica que seu desejocresceu à medida que conhecia outras aldeias e viaas dificuldades enfrentadas por seu povo. “Por trásda minha decisão está a vontade de trabalhar paramelhorar a situação das pessoas da minha comuni-dade.” O projeto de vida de Tukumbó, cujo nome querdizer “protetor da casa de reza”, volta-se para a suacoletividade. Ele se considera capaz de ser um agen-te de melhoria das condições de seu povo.

Projetos de vida com esse perfil, porém, não são co-muns entre a juventude brasileira. Embora os jovens se-jam sempre pródigos em expectativas de mudança, osespecialistas dizem que, na prática, eles tendem a se con-centrar em projetos voltados para a realização pessoal,com pouco poder de transformação social. Mas qual é,então, o conceito que os jovens têm de seu projeto devida? Como ele se esboça? O que o determina?

No ano em que jovens entre 15 e24 anos pela primeira vez somarão35,139 milhões – atingindo um re-corde e iniciando a grande onda jo-vem que o Brasil viverá nos próximos20 anos –, torna-se ainda mais signi-ficativo compreender como eles pla-nejam o futuro. Um grupo de brasi-leiros de diferentes origens sociais,culturas e regiões geográficas expõeaqui suas percepções do tema. For-mam um painel diversificado, mos-trando que a formulação de um pro-jeto de vida não é uma questão fecha-da, uma receita pronta, mas algo mui-to mais complexo e abrangente do quesimplesmente pensar “o que vou serquando crescer”.

Entre o sonho e a açãoPlanejar o futuro profissional está

no centro da questão, mas outras di-mensões também são levadas emconta quando os jovens estabelecemmetas para suas vidas, como o papel

por_ Yuri Vasconcelos

KARAÍ TUKUMBÓ, 24E MARIA GIOVANNA, 22

Casados, um filho, planejamviver numa aldeia: ele quer ser

cacique dos guaranis; ela procurauma vida espiritualizada, longe

das cidades

CARLOS JORDAKY, 19Inconformado com a pouca

participação política da juventude,o paulistano quer ser

um “mobilizador social”e testemunhar

transformações sociais

LEV

I SIL

VA

navegantes

>>

Page 9: Onda Jovem #1

9

HEN

K N

IEM

AN

Page 10: Onda Jovem #1

a desempenhar na sociedade, as relações afetivas quepretendem criar e o espaço que darão à espiritualidade,entre outras. Como afirmam as educadoras MargaridaSerrão e Maria Clarice Baleeiro, autoras do livro Apren-dendo a Ser e a Conviver (editora FTD), “o projeto devida envolve a definição do lugar do jovem no mundo ena sociedade”.

É o conhecimento – de si mesmo e da realidade emtorno – que orienta as escolhas. Inicialmente, o pro-cesso é dirigido pela família, e depois influenciado pelaescola e pelas relações de grupo. Aptidões naturais,percalços, golpes de sorte, o imponderável, enfim,também temperam opções de vida. Mas, esboçadasas escolhas, é preciso esforço para a tarefa de realizá-las. Um estudo sobre projeto de vida realizado por psi-cólogos da Pontifícia Universidade Católica (PUC), deSão Paulo, com 400 jovens paulistas da 8ª série ao 3ºano do ensino médio, mostra a dificuldade em con-cretizar o projetado, algo que exige perseverança esuperação de desafios.

O índio Tukumbó tem essa clareza: “Não existe umaidade certa para ser cacique, mas sei que estou che-gando perto. E tenho me preparado para isso”. Há al-guns anos, ele vem freqüentando encontros de lide-ranças guaranis a fim de aprender quais são as res-

ponsabilidades e deveres de um caci-que. Mas nem tudo em sua vida éreafirmação da tradição. Para compa-nheira, ele escolheu a paulistana Ma-ria Giovanna Guimarães, 22 anos, comquem tem um filhinho, Yamandu.

De uma família de classe alta de SãoPaulo, Giovanna por sua vez pretendededicar-se ao aprimoramento espiri-tual. Para ela, a questão profissionalnão é a mais relevante. “Minha metaé conseguir viver em harmonia comi-go mesma, praticando meditação etentando adquirir silêncio interior. Paraisso, quero morar perto da natureza,longe da cidade”, diz. Recentemente,o casal se mudou para Santa Catarina,para se estabelecer numa reserva in-dígena no Parque Estadual da Serra doTabuleiro. “Sei que não é saindo da ci-dade que eu vou ter mais paz”, dizGiovanna, chamada pelos guaranis deKunha Taguá, que significa “aquelaque dita o ritmo”. “Mas estou confian-te que esse é o meu caminho.”

Família, escola e grupo influenciamos projetos de vida, que exigemescolhas baseadas no conhecimentode si mesmo e da realidade

PAULA JIMENEZ, 24A bióloga do Ceará está iniciando

doutorado em farmacologiamarinha e diz que seu projeto

tomou corpo ao longo do tempo,aproveitando as oportunidades e o

estímulo familiar

LUIZ JÚLIO, 23Um acidente mudou seu rumo,

mas não eliminou o sonho dogaroto de Duque de Caxias, na

Baixada Fluminense, de ser umgrande jogador de basquete

AN

DER

SON

OLI

VEI

RA

navegantesnavegantes

Page 11: Onda Jovem #1

11Volta por cimaConfiança é mesmo elemento fun-

damental para concretizar um projetode vida. E se ela pode ser abalada,pode também ser reconquistada. Queo diga o estudante Luiz Júlio de SousaPereira, 23 anos, morador de Duquede Caxias, na Baixada Fluminense. Háquatro anos, ele sofreu um acidentede trem, que lhe amputou a perna es-querda. Depois de um período de aba-timento, Luiz reergueu-se e definiuseus novos objetivos: entrar na facul-dade e ingressar na seleção brasileirade basquete de deficientes físicos. Elesabe que precisará vencer ainda maisobstáculos do que os que se atraves-sam no caminho de qualquer jovem.“Se tiver força e interesse, as coisasvão acontecer. Treino cerca de quatrohoras três vezes por semana e estu-do bastante”, afirma Luiz, que estáconcluindo o 2º ano do ensino médio.“Para realizar meu projeto, não possoficar parado.”

NÁGELA SOUSA, 15A garota de Fortaleza faz planospara seguir uma carreiraacadêmica, com apoio da família

JORNAL UGA-UGAREGIÃO DE ATUAÇÃO ESCOLAS DAS ZONAS URBANA E RURAL DE MANAUS (AM)INSTITUIÇÃO AGÊNCIA UGA-UGA DE COMUNICAÇÃO (ONG)PROPOSTA Incentivar o protagonismo juvenil e promover a educação pela comunicação. Alunos do ensinomédio da rede municipal de Manaus participam da produção do jornal, distribuído em mais de 200 escolasJOVENS ATENDIDOS 15 MIL (que recebem diretamente o jornal)APOIO EM 2004, SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE MANAUSCONTATO Rua Diogo Bernardes, 72 – Jardim Espanha 3 Aleixo – 69060-020 –Manaus (AM) –Fone/Fax: 92/642-8013/642-9003 – e-mail: [email protected]

PARA

SAB

ER M

AISSO

BRE

PROJETO VÍDEO CULTURA E TRABALHOREGIÃO DE ATUAÇÃO ÁREA METROPOLITANA DE SÃO PAULO (SP)INSTITUIÇÃO AÇÃO EDUCATIVA (ONG)PROPOSTA Construir possibilidades de inserção dos jovens como mediadores culturais especializados natécnica do vídeo e na linguagem vídeo-cinematográficaJOVENS ATENDIDOS 40APOIO INSTITUTO CREDICARD E FUNDAÇÃO VITAECONTATO Rua General Jardim 660 – Vila Buarque – 01223-010 – São Paulo (SP) – Fone: 11/3151-2333 -e-mail: [email protected]

SAD

RAQ

UE

SAN

TOS

CA

RLO

S C

AVA

LCA

NTE

PARA

SAB

ER M

AISSO

BRE

>>

Page 12: Onda Jovem #1

A bióloga cearense Paula Jimenez, 24 anos, tambémtem suado muito para atingir seu maior objetivo: tor-nar-se pesquisadora na área de farmacologia marinha.“Preciso estudar muitos anos para chegar onde que-ro”, diz. Filha de uma família de classe média, ela já con-cluiu o mestrado e está iniciando o doutorado. Seu pro-jeto foi tomando corpo ao longo de sua vida, à medidaque as oportunidades foram surgindo. “Mas confessoque recebi forte influência de minha mãe para seguir acarreira de pesquisadora”, diz. A mãe é professora uni-versitária, com vários títulos em educação.

A mesma influência familiar é um dos fatoresdeterminantes para a estudante Nágela Sousa, 15 anos,

esboçar seu projeto de vida. Ela pre-tende cursar uma faculdade – está emdúvida entre Direito, História e Mate-mática – e depois seguir a carreira aca-dêmica. Nágela é filha da funcionáriadoméstica da família da bióloga Paula,com a qual sempre conviveu intima-mente. “Fui influenciada pela minhafamília para definir esses objetivos”,diz. Ecoando uma convicção generali-zada, ela justifica: “O único jeito deconseguir alguma coisa na vida é fa-zendo faculdade. Conseguir empregojá está difícil hoje em dia, imagine semter um curso superior”.

Contra a correnteProjetos de vida centrados no indi-

víduo e construídos a partir das con-dições e demandas da atualidade sãoos mais comuns entre os jovens bra-sileiros. Na pesquisa conduzida pelospsicólogos da PUC, por exemplo, oideal do homem bem-sucedido eco-nomicamente predominou entre os

Uma pesquisa com jovens paulistasconfirma que a concretização de um projetode vida é árdua, exigindo persistência

CLÉO ALVES, 25Depois de uma adolescência

vivida em meio à pobreza e àviolência, em Manaus, um

projeto social o ajudou a dar umaguinada na própria vida

ÉRIKA DE OLIVEIRA, 21Criada no campo, ela quer ajudar

a melhorar a condição doslavradores capixabas

PROJETO ALIANÇA COM O ADOLESCENTEREGIÃO DE ATUAÇÃO MICRORREGIÃO DO MÉDIO JAGUARIBE, COMPOSTA PELOS MUNICÍPIOS DE ACOPIARA, IGUATU,JUCÁS, ORÓS E QUIXELÔ (CE)INSTITUIÇÃO INSTITUTO ELO AMIGO (OSCIP)PROPOSTA Promover, por meio do protagonismo juvenil, mudanças na percepção e no enfrentamento doquadro econômico e social do Nordeste, com capacitação técnica empresarial, noções de agroecologiafamiliar e estímulo do espírito de solidariedade e cidadaniaJOVENS ATENDIDOS 1.000APOIO INSTITUTO VOTORANTIM, FUNDAÇÃO W. K. KELLOGG, INSTITUTO ALIANÇA COM O ADOLESCENTE E SEBRAECONTATO Rua 21 de abril s/n, Prado – 63500-000 – Iguatu (CE) – Fone: 88/3581-6575 – Fax: 88/3581-0292e-mail: [email protected]

CRI

STIA

NE

SILV

EIRA

DA

SIL

VA

DIV

ULG

ÃO

PARA

SAB

ER M

AISSO

BRE

navegantesnavegantes

Page 13: Onda Jovem #1

13

O F

UTU

RO É

AGORA

“Sei aonde quero chegar e conheço os caminhos que precisotrilhar. Mas nem sempre foi assim. Participar dosprogramas do Instituto Elo Amigo, em Iguatu, no Ceará,voltado para incentivar o protagonismo juvenil, mudouminha maneira de ver o mundo e pensar meu futuro. Osprogramas aguçaram meu senso crítico, estimularamminha curiosidade e me ajudaram a desenvolver meu ladoempreendedor. Comecei a refletir sobre minha vida. Nãofiquei mais tão preso à idéia de cursar uma faculdade, semmesmo saber para quê, e ampliei meu leque de possibilida-des. Hoje, meu projeto envolve três atividades: cursarAdministração, consolidar a minha empresa, a InventtiveTecnologia, de sites e softwares, e apoiar as ações do Elo,do qual agora sou também coordenador. Quero que minhaempresa tenha forte atuação social e ajude a desenvolver ocapital humano da região. A execução do projeto dependedo meu nível de comprometimento e de um bom planeja-mento. Mas de uma coisa estou certo: a vida fica mais fácilquando temos clareza para onde queremos ir e comofazemos para chegar lá.”

jovens entrevistados. Ser rica, porém, não é a tônica doprojeto da capixaba Érica Fernanda Montemor de Oli-veira. A estudante, de 21 anos, moradora do trevo deIúna, localidade rural às margens da rodovia BR-262,no Espírito Santo, quer atuar numa associação de as-sistência a trabalhadores rurais. “Quem vive no campotem uma vida difícil. Meus pais trabalham de sol a sol enão vêem a renda do seu trabalho. Quero ajudar pes-soas como eles”, diz Érica, que recentemente foi bene-ficiada pelo programa Nossa Primeira Terra, do gover-no federal, e recebeu um lote de terra para construiruma casa.

É também um projeto transformador que ocupa oamazonense Cleudomar Viana Alves, o Cléo, 25 anos.“Quero poder ajudar pessoas que vivem hoje como euvivia antigamente.” Ele nasceu num dos bairros maispobres de Manaus e passou a infância convivendo comroubos, drogas e todo tipo de violência. “Até entrar naAgência Uga-Uga de Comunicação, uma ONG que aten-de crianças, adolescentes e jovens, eu me encontravaem situação de risco”, diz ele. “Depois que me engajeino projeto, há sete anos, tudo mudou. Consegui esca-par do sistema que me expunha à violência e comeceia planejar minha vida. Hoje, percebo que o jovem preci-sa ter uma oportunidade para conseguir elaborar seuprojeto. E necessita também conhecer a realidade naqual está inserido. Só assim, ele vai conseguir ter umnorte”. Hoje Cléo é coordenador do jornal Uga-Uga.

O paulista Carlos Jordaky Siqueira, 19 anos, tem comoobjetivo trabalhar em favor da “politização da juventu-de”, promovendo a integração entre jovens de diferen-tes classes e tribos. “Quero algo mais do que seguir ocaminho que a maioria trilha, que é nascer, crescer, ca-sar e ter filhos. Gostaria de presenciar mudanças so-ciais e ver os jovens mais participativos”, diz o membrodo projeto Vídeo, Cultura e Trabalho, da ONG AçãoEducativa. Para Jordaky, “há 30 anos, os jovens iam paraa rua e reivindicavam. Hoje, não tem isso. Eles pensamque todas as coisas já foram feitas. Mas estão engana-dos. É preciso que a juventude seja mais participativa etenha uma postura mais crítica em relação à socieda-de”. Segundo ele próprio, porém, não será fácil concre-tizar seu desejo. “Além de fazer o que gosto, tenho depensar na questão financeira e na minha sobrevivên-cia”, observa, realista, para de novo levantar vôo rumoaos sonhos: “Eu sinto que tenho vontade, perseveran-ça e entusiasmo para atingir meu objetivo”.

MARCOS ALVES DA SILVA, 20 ANOS,empresário de Iguatu, CE

KA

RLO

S RI

RYO

Page 14: Onda Jovem #1

FOTO

_ M

ÁRC

IA Z

OET

mestresmestres

Page 15: Onda Jovem #1

15

A DIDÁTICA DO SONHO

INQUIETOS E CONFIANTES, TRÊS EDUCADORES INSPIRAM UMANOVA EDUCAÇÃO JUVENIL

por_ Cuca Fromer

“O professor ensina; o educadoraprende”, diz Tião Rocha, para expli-car por que deixou a sala da Universi-dade Federal de Ouro Preto para“aprender” com jovens e criançasdebaixo de um pé de manga emCurvelo, sertão de Minas Gerais. Ofundamental é a “crença no poten-cial humano”, afirma Abdalaziz deMoura, sobre seu envolvimento coma educação juvenil no sertão pernam-bucano. A “aflição de não saber comoo jovem aprende” foi o que moveuCarmem Capitão a criar um grupocom professores da Zona Leste deSão Paulo para buscar respostas. Oque Tião, Carmem e Moura têm emcomum? A capacidade de perceberque um sonho vira um projeto de vidano momento em que o sonhadoracredita nele e age. Cada um a seumodo e em seu tempo, eles acredi-taram que a educação é a arma maispoderosa para a realização dos so-nhos. Acreditaram e agiram.

Foi da necessidade de aprender deTião que surgiu o CPDC (Centro Po-pular de Cultura e Desenvolvimento),em 1984. Sentados em uma roda,

Tião reuniu amigos que, como ele, também buscavamnovos caminhos. Assim, em volta da roda, surgiu o pro-jeto Sementinha, com atividades que visavam desen-volver nas crianças a auto-estima e a identidade pes-soal, incluindo cuidados de higiene e saúde, além deestimular o respeito mútuo. Da “pedagogia da roda”conclui-se que até é possível uma educação sem esco-la – debaixo de um pé de manga –, mas que educaçãoboa é feita por bons educadores.

Foi também no espaço da roda que surgiu a pergun-ta fundamental: “É possível uma escola prazerosa?”. Aresposta veio com o Bornal de Jogos, uma coleção demais de 180 jogos educativos, confeccionados por jo-vens e crianças. Mas foi Denílson que, aos 11 anos, “per-sistentemente na 1ª série”, permitiu o feliz encontroda escola com o Bornal. O garoto jogava damas divina-mente, mas não aprendia uma só conta na escola.Inconformado, Tião resolveu transformar o jogo de da-mas em operações aritméticas. Em uma semana,Denílson era “outro aluno”. Sua professora quis conhe-cer o projeto. Assim o Bornal de Jogos chegou à escolade Curvelo e hoje se espalha pelo Brasil e por paísescomo Guiné-Bissau e Moçambique.

Um dia, uma professora, dona Margarida, procurou Tiãoe disse: “Desde que os garotos se animaram a lavar-se,temos gastado muito sabão e a escola não tem dinheiropara isso. É tão fácil fazer sabão. Vamos fazer?”. Nasciaali a “pedagogia do sabão”. Em volta do caldeirão, mu-lheres, jovens e crianças preparam o sabão. E cozinhan-do o sabão, conversam, trocam experiências. Na roda dosabão, outras técnicas de produção de baixo custo fo-ram sendo desenvolvidas, ocupando as crianças que iamcrescendo. Os jovens começaram a recuperar o artesa-nato típico da região em fabriquetas de doces cristaliza-dos, licores, papéis, escultura de metal.

As propostas do CPDC já se espalham por dezenas decidades. Em Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, MG, a ins-tituição ocupa a Secretaria de Educação. “A cidade estánuma UTI pedagógica”, diz o educador. Segundo ele, com

ética, vale tudo para dar às pessoas apossibilidade de construir um projetode vida. “O importante é investir nospontos luminosos e não ficar denun-ciando as mazelas”, aprendeu Tião.

Contra as expectativasQuando nasceu o seu quarto filho,

Abdalaziz de Moura viu-se diante de umdiagnóstico terrível. O garoto, deficien-te, não andaria nem falaria, segundo osmédicos. Mas, como diz o pai, o funda-mental é a “crença no potencial huma-no”. Hoje, com 18 anos, no curso mé-dio e especializado em informática, orapaz é autônomo, dono de seu desti-no. Foi assim que Moura começou emGravatá, na microrregião da Bacia doGoitá, interior de Pernambuco, um tra-balho com famílias de portadores dedeficiência.

A experiência o levou a outros pro-jetos. É um dos fundadores da Serta(Serviço de Tecnologia Alternativa),que, desde 1989, propõe que a juven-tude possa se ver e ser vista comoparte integrante e importante da co-munidade. “É preciso despertar a con-fiança, fazer com que o jovem se vejana sua potencialidade”, diz Moura.Mas, para isso, era necessário que osprofessores das escolas rurais imple-mentassem “uma visão integral dascoisas, que ensinassem a geração derenda integrada ao meio ambiente eao desenvolvimento sustentado dascomunidades”.

A escola passou, então, a trabalharcom as referências básicas: primeiro,

Carmem Capitão, professora dogrupo Enigmas Juvenis, de SãoPaulo: “Como a juventude aprende?”

>>

Page 16: Onda Jovem #1

a casa – nome completo dos pais, dos irmãos, quanti-dade de galinhas, de pés de couve. Com esse material,o aluno forma a sua identidade e aprende a ler, a es-crever, e aritmética. Depois, o estudo se estende aoambiente, ao município, à cultura local. “Ele conseguirápensar o seu entorno”, diz Moura, para quem o conhe-cimento provoca a ação, cria novos valores, promovenovas relações. “O professor passa a líder, e a juventu-de passa a ter um papel relevante para si e para a co-munidade. O jovem já não precisa partir”, alegra-seMoura, um desses raros homens capazes de dizer: “Sin-to-me profundamente feliz e realizado”.

Decifrando enigmasHá dois anos, a aflição com questões que enfrentava

dentro da sala de aula – como o jovem aprende e o queé significativo no processo educacional? – levouCarmem Cristina Beluzo Capitão, professora de Histó-ria na Escola Estadual Caetano Miele, na Zona Leste deSão Paulo, a se unir com colegas igualmente inquietos.A busca por respostas gerou o Enigmas Juvenis, umgrupo de 11 professores de dez escolas da região.

A primeira constatação: quase não há informação so-bre a educação juvenil. “Pouco se sabe sobre os inte-resses desses alunos”, observa Carmem. Para conhecê-

los um pouco mais, decidiu-se fazeruma pesquisa sobre os grupos juve-nis e as escolas. O objetivo era sabermais sobre os estudantes e tambémcolher subsídios para incluir o temada juventude no planejamento esco-lar de 2004.

Alguns dos resultados da pesquisa:82% dos alunos fazem parte de gru-pos, principalmente esportivos, religio-sos e artístico-culturais. Embora a es-cola seja um espaço de encontro des-ses grupos, 41% dos jovens acham quea instituição desconhece sua existên-cia. Segundo os estudantes, os temasmais discutidos por eles – esportes,religião, produção artística, sexualida-de e preconceito, nesta ordem – sãopraticamente ignorados em sala. Mas65% gostariam de desenvolver as ati-vidades de seu grupo na escola.

Os professores propuseram, então,novas formas de atuação pedagógi-ca, abrindo espaço para as manifes-tações dos grupos e a discussão dos

Tião Rocha, com rapazes quetrabalham em uma das fabriquetas do

Centro Popular de Cultura eDesenvolvimento que ele fundou em

Minas Gerais

Abdalaziz Moura, um dos fundadoresda Serta: esforço para mudar a

educação rural no interiorde Pernambuco

Page 17: Onda Jovem #1

17assuntos de seu interesse. Algumasescolas estimularam a leitura compa-rada das revistas preferidas dos jo-vens; outras realizaram festivais demúsica. Houve dois encontros inte-rescolares. No primeiro, os grêmiosestudantis foram convidados a co-nhecer as propostas do Enigmas Ju-venis, para facilitar o trânsito de in-formações. Depois, foi a vez dosgrupos artísticos. “Teve hip hop, axé,sapateado. Uma turma encenou umapeça sobre o preconceito que existe,dentro da própria Zona Leste, em re-lação à origem dos estudantes”, con-ta Carmen. “Foi emocionante ver aalegria dos alunos. Agora eles seachegam mais”, diz.

É claro que na compreensão des-ses “enigmas” ainda há tudo por des-cobrir, mas a caminhada já começou.O que Carmem quer é que seja “abusca de um caminho novo, que dêum respiro aos jovens”. E isso é tudoque um educador precisa querer.

SERTA - SERVIÇO DE TECNOLOGIA ALTERNATIVA (OSCIP)REGIÃO DE ATUAÇÃO BACIA DO RIO GOITÁ - PENÚMERO DE JOVENS ATENDIDOS 600APOIO DIVERSOS PATROCINADORESCONTATO Campo da Sementeira, Rod. PE. 50 – Km 14 – Zona Rural – 55620-000 – Glória do Goitá (PE) Fone: 81/3658-1265 – e-mail: [email protected]

ENIGMAS JUVENIS - GRUPO DE PROFESSORES DA REDE ESTADUAL DE SÃO PAULOREGIÃO DE ATUAÇÃO ZONA LESTE DA CAPITALPROPOSTA Reconhecer as culturas juvenis, estudar o processo de aprendizagem do jovem e propor atividadesque o motivem e o aproximem da escolaNÚMERO DE JOVENS ATENDIDOS AS ESCOLAS SOMAM 3 MIL ALUNOSAPOIO ONG AÇÃO EDUCATIVA E DELEGACIA REGIONAL DE ENSINOCONTATO Local dos encontros: Fone: 11/6682-6705 – Fax: 11/6682-7677 –e-mail: [email protected]

CPDC - CENTRO POPULAR DE CULTURA E DESENVOLVIMENTO (ONG)REGIÃO DE ATUAÇÃO MINAS GERAIS; BAHIA, ESPÍRITO SANTO, SÃO PAULO, MARANHÃO, PARÁ. AMAPÁ, GUINÉ BISSAU,MOÇAMBIQUEPROPOSTA Criar um espaço para educação conectado com a realidade local, com o objetivo de promovereducação popular e o desenvolvimento comunitário a partir da culturaAPOIO DIVERSOS PATROCINADORESCONTATO SEDE Rua Paraisópolis, 80 – Santa Tereza – 31010-330 – Belo Horizonte (MG)Fone: 31/3463-6357 – Fax: 31/3463-0012 – e-mail: [email protected]

PARA

SAB

ER M

AISSO

BRE

PARA

SAB

ER M

AISSO

BRE

PARA

SAB

ER M

AISSO

BRE

Page 18: Onda Jovem #1

banco de práticas

por_ Iara Biderman

QUATRO DIFERENTESPROJETOS COLOCAM EMQUESTÃO O QUE FAZER DAPRÓPRIA VIDA

Ser o autor e o ator no teatro da vida pressupõe es-colhas — e leva à ação. Não por acaso, dois reconheci-dos programas de formação juvenil têm essas palavrasem seus nomes. Um deles é o Jovens Escolhas em Redecom o Futuro, do Instituto Credicard (braço social dasempresas Credicard Administradora de Cartões de Cré-dito S.A e Orbital Serviços de Processamento de Infor-mações Ltda.), que estimula o empreendedorismo ju-venil, não apenas no sentido econômico, mas nas di-versas dimensões da vida – cultural, social e pessoal. Ooutro programa é o Jovens em Ação, iniciativa da Aracati– Agência de Mobilização Jovem e da Ashoka Empre-endedores Sociais, que apóia os participantes na ela-boração e implementação de um projeto social em suacomunidade, com ênfase no protagonismo juvenil.Ambos servem como âncoras para variados projetosde ONGs espalhados pelo Brasil.

Os dois programas têm como princípio resguardar aautonomia dos projetos participantes. Educadores,facilitadores e instituições coordenadoras fornecem oconjunto de conhecimentos e ferramentas necessári-os para que os jovens desenvolvam um plano de ação,de modo a transformar seus anseios em realidade. Osgrupos discutem e planejam o que e como fazer, nãosó para eles, mas também para os que estão fora daorganização.

“No exercício da participação social, a juventude seapropria do que a cerca, adquire uma postura pró-ativaem relação a tudo”, diz Carla Duarte, uma das funda-doras da Aracati. “Isso promove a autonomia, a auto-estima, o autoconhecimento, a reflexão sobre valoresque vão ajudar na elaboração de um projeto de vida”,completa Paulo Gonçalves de Freitas, coordenador doJovens em Ação. “Em áreas de interesse diversas, comoarte, comunicação, cultura, meio ambiente, desenvol-vimento local e economia solidária, o pano de fundo ésempre elaborar e realizar um projeto de interesse pú-blico e coletivo”, diz Silvia Esteves, coordenadora do Jo-vens Escolhas. “A metáfora em questão é a construçãodo próprio projeto de vida”, conclui. Veja a seguir qua-tro dos projetos apoiados pelos referidos programas.

LORE

NA

CRU

ZLU

IZ P

RAD

O/A

GÊN

CIA

LU

ZA

na

Luis

a D

´Alb

erg

aria

PAU

LO E

MIL

IO C

AST

RO A

ND

RAD

E

ESCOLHAS E AÇÃO

Page 19: Onda Jovem #1

19

Na tradição angolana, Humbiumbi é um pássaro quevoa alto e chama os outros pássaros para voarem jun-tos, tão alto quanto ele. Em Belo Horizonte, Humbiumbi– Arte, Cultura e Educação é uma ONG que dá a umgrupo de jovens a possibilidade de alçar vôo. No CentroCultural Maria Lívia de Castro, onde a Humbiumbi de-senvolve suas ações, 40 jovens se reúnem no projetoO Ato, a Rua, a Lua, participante do programa JovensEscolhas em Rede com o Futuro, do Instituto Credicard.

Belo Horizonte, MG

Projeto O Ato, aRua, a Lua, naONG Humbiumbi

Eles ainda são poucos e não têm muitos recursos.Mas o grupo Incentivadores de Consciência Jovem, li-gado à ONG Curumim, de Atibaia (SP), não deixa a pe-teca cair. Querem criar um Centro de Juventude emuma região da periferia da cidade, onde a juventudenão tem espaço nem acesso às atividades de cultura,lazer e informação. Cerca de dez jovens, muitos delesjá atendidos desde criança na Curumim, sentiram ne-cessidade de um projeto mais específico para a ju-ventude e se mobilizaram para isso. Em 2003, passa-ram a participar do programa Jovens em Ação, da

Atibaia, SP

ProjetoIncentivadores deConsciência Jovens,na ONG Curumim

Quando concluiu o ensino médio, Daniela MercêsQueiroz, hoje com 19 anos, achava que sua única op-ção era sair da região sisaleira da Bahia, onde nasceu ecresceu, e cursar uma faculdade. A participação em umprojeto do MOC – Movimento de Organização Comuni-tária – levou-a a encontrar outras perspectivas. O MOCatua na região do semi-árido baiano há 37 anos, comvários grupos etários. Um de seus projetos é voltadopara a faixa de 16 a 20 anos: o Ater Jovens, cujo objeti-vo é formar empreendedores rurais na linha de assis-

Região sisaleira da Bahia

Projeto Ater Jovens,do MOC - Movimentode OrganizaçãoComunitária

Imagine o antigo Programa Livre que o apresentadore jornalista Serginho Groisman comandou na TV abertaaté o fim dos anos 90. Agora coloque a tônica do pro-grama – jovens se expressando, trocando informações,debatendo – num dos bairros mais periféricos deDiadema, São Paulo. O que você vai ver e ouvir são osGritos Urbanos. Esse é o nome do projeto realizado pelaFundação Criança em Risco – CARF (Children At RiskFoundation) Brasil, do programa Jovens em Ação, pro-movido pelas ONGs Aracati – Agência de MobilizaçãoJovem e Ashoka Empreendedores Sociais. No Espaço

Diadema, SP

Projeto GritosUrbanos, no EspaçoCultural Beija-Flor

>>

>>

>>

>>

Page 20: Onda Jovem #1

tência técnica e convivência com osemi-árido, integrante do programaJovens Escolhas em Rede com o Fu-turo, do Instituto Credicard. Com umaprogramação de oficinas, viagens deintercâmbio, pesquisas etc., os 47participantes aprendem sobre agri-cultura familiar, segurança alimentar,agroecologia e cooperativismo, entreoutros temas. A capacitação não é só

Cultural Beija-Flor (ECBF), inauguradoem 2001 pela CARF Brasil no bairroEldorado, de Diadema, no ABC, 20 jo-vens empreendedores comunitários,trabalhando com 18 jovens bolsista-multiplicadores, além dos voluntários,promovem alternativas de comunica-ção social com o uso de diversas lin-guagens artísticas – música, vídeo etc.– e muita interação e debate com opúblico. A idéia é realizar o programa

Aracati – Agência de Mobilização Jo-vem. O pequeno grupo e suas pro-postas ganharam contornos mais de-finidos. A meta de criar o Centro deJuventude não ficou no papel, elabo-raram os passos para atingir esseobjetivo, da captação de recursos aotipo de atividade que pretendem pro-mover com a comunidade. Fizeram,por exemplo, uma parceria com umapizzaria da região: o grupo fornece

A proposta é desenvolver o potencialjuvenil por meio da educação pela co-municação e promover o empreende-dorismo social desses jovens. A pro-dução de programas de rádio (veicu-lados por rádios comunitárias) e defanzines (revistas temáticas), além deoficinas de leitura e interpretação crí-tica da mídia estão entre suas ativi-

BOAS PRÁTICAS >>

>>

>>

>>

Page 21: Onda Jovem #1

21

O ATO, A RUA, A LUA.REGIÃO DE ATUAÇÃO BELO HORIZONTE (MG)INSTITUIÇÃO HUMBIUMBI - ARTE, CULTURA EEDUCAÇÃO (ONG)PROPOSTA Criar oportunidades em comunicação eeducação para o desenvolvimentoJOVENS PARTICIPANTES 40APOIO INSTITUTO CREDICARDCONTATO [email protected]: 31/3378-8470 – Fax: 31/3377-2864

mundo, repercute nos projetos de fu-turo dos participantes. A promoção dacultura e de oportunidades de traba-lho mudam a idéia de que, para reali-zar-se, o jovem tem de sair de suaterra. Eles percebem, como aconte-ceu com Daniela, que é possível viverna roça e transformá-la; estar pertode seus pares e alcançar seus objeti-vos sem deixar o campo.

a cada dois meses e trazer a juven-tude para participar ativamente. A es-colha do tema para o primeiro pro-grama realizado já diz muito sobre o“pensar no futuro” dos envolvidos: Vi-das – faces e forças de um povo. Éuma tentativa de refletir sobre “comoé a vida de um brasileiro que luta paraser bem-sucedido, que consegueisso, ou não consegue, e por quê”,

cardápios de papel reciclado e apizzaria dá metade da renda obtidaem uma noite por mês. Uma tentati-va de obter espaço em uma antigaestação de trem onde funcionavauma escola municipal fracassou. Maseles tocam seus eventos onde é pos-sível – como uma tarde de hip hopem uma escola estadual que abrenos fins de semana para o programaEscola da Família. Outras atividades,

dades. As práticas são formas decapacitação profissional, mas não éisso o fundamental, segundo o coor-denador, Paulo Emílio Castro Andrade.“O mais importante é o processo departicipação, discussão, construção.No fazer (“o ato”) eles vão entenden-do o que é a criação de um projetode vida.” Eles têm um sonho (“a lua”)

técnica. “Inclui compreender o univer-so do desenvolvimento sustentável,das políticas públicas, das relaçõessociais e de gênero, da dimensão dajuventude rural”, diz o antropólogoMárcio Mascarenhas, coordenador doAter. A valorização da atividade ruralunida ao princípio de empreende-dorismo juvenil com valores de cida-dania, solidariedade e visão crítica do

explica Djalma dos Santos, monitor depercussão do ECBF e participante doprojeto. É, também, uma forma de“abrir caminhos diferentes para aque-les que não têm acesso, além de pro-porcionar atividades socializadoras, de-senvolvendo iniciativa, respeito, criativi-dade, tolerância, espírito de equipe ede liderança”, diz Gregory John Smith,fundador da CARF Brasil.

como palestras, oficinas de teatro,hip hop, capoeira e dança, estão nosplanos. “São eles mesmos que defi-nem as ações, o educador só facili-ta. Querem um centro para jovensfeito pelos próprios jovens. Acredi-tam que podem fazer algo de bom ecom isso mudar a visão, em geral ne-gativa, que se tem da juventude daperiferia”, diz a pedagoga Ana LuisaDalbergaria, educadora do projeto.

para ser concretizado na comunida-de (“a rua”). Em 2004, os jovens ela-boraram planos de ação nas áreas decultura, educação, saúde e esportee lazer. Agora, as metas são implan-tar os planos de ação e triplicar o nú-mero de participantes – para quemuitos mais possam voar, cada vezmais alto.

ATER JOVENSREGIÃO DE ATUAÇÃO REGIÃO SISALEIRA DA BAHIAINSTITUIÇÃO MOC - MOVIMENTO DE ORGANIZAÇÃOCOMUNITÁRIA (ONG)PROPOSTA Formação de jovens em assistência técnicarural e convivência com a região do semi-árido baianoJOVENS ATENDIDOS 47APOIO INSTITUTO CREDICARD(R$ 300.000) E ONG EVERYCHILD (R$ 30.000)CONTATO www.moc.org.brFones: 75/221-1393 e 75/626-6502

GRITOS URBANOS/INSTITUTO CULTURAL BEIJA-FLORLOCAL DIADEMA (SP)INSTITUIÇÃO FUNDAÇÃO CRIANÇA EM RISCO - CARFBRASIL (ONG)PROPOSTA Criar uma programação que dê meiospara a comunidade se expressarJOVENS ATENDIDOS 38APOIO CARF NORUEGACONTATO www.carfweb.netFone: 11/4047-2231

INCENTIVADORES DE CONSCIÊNCIA JOVEMREGIÃO DE ATUAÇÃO ATIBAIA (SP)INSTITUIÇÃO CURUMIM, ONGPROPOSTA Criar o Centro de Juventude, um espaçode lazer e cultura de jovens e para jovensJOVENS ATENDIDOS 8APOIO PARCERIA COMO ARMAZÉM DA PIZZA, EM ATIBAIACONTATO [email protected]: 11/4411-5988

PARA

SAB

ER M

AISSO

BRE

PARA

SAB

ER M

AISSO

BRE

PARA

SAB

ER M

AISSO

BRE

PARA

SAB

ER M

AISSO

BRE

Page 22: Onda Jovem #1

caminho das pedrasRI

SON

ALD

O C

RUZ

Page 23: Onda Jovem #1

23

COMO A SUPERAÇÃO DE DIFICULDADESPAVIMENTOU O SUCESSO DA CIPÓ, ONG BAIANAQUE TRABALHA COM COMUNICAÇÃO EDUCATIVA

OUÇOVEJO, FALO!E

por_ Antonio Morenofotos_ Risonaldo Cruz e Edmmar Souza

“Era uma vez, três macaquinhos...” A história da Cipó - Comunicação Interativapode até começar como um singelo conto infantil, mas logo abandona a fantasiapara mergulhar fundo na mais complexa realidade social brasileira. Já madura àsvésperas dos seis anos de vida, a ONG baiana tem demonstrado com fatos, nú-meros e prêmios a sua competência em utilizar tecnologias da comunicação parapromover ações de educação e de mobilização social de jovens.

Por trás dos objetivos e dos bons resultados conseguidos até agora, po-rém, existe uma história de dificuldades. A Cipó percorreu um árduo caminhopara consolidar sua tecnologia educativa e se tornar a referência nacionalque é hoje entre as organizações do terceiro setor voltadas para o públicojuvenil. “Foram anos de aprendizado, obstáculos e muitos desafios”, diz ajornalista e diretora-executiva da Cipó, Anna Penido.

Os macaquinhos que compõem a logomarca da instituição subvertem a tradi-cional imagem dos bichinhos incapazes de ver, ouvir e falar: têm olhos bem aber-tos, ouvidos apurados e palavras afiadas, e estão ativos na defesa dos direitossociais de seu público. Na prática, isso se traduz em programas que partem daEducação pela Comunicação e envolvem sete áreas: melhoria da escola, inserçãono trabalho, acesso às tecnologias, garantia de direitos, participação política, acessoà cultura e desenvolvimento pessoal e social. O objetivo geral é impregnar o jo-

vem de valores éticos e humanitários para que ele possase posicionar como cidadão, sem desprezar o treinamentode habilidades visando ao mercado de trabalho.

Nascimento e glóriaJuntamente com Isabele Câmara e Bárbara Pérsia,

Anna Penido fundou a Cipó em 8 de março de 1999. Foium começo de muitas idéias e pouquíssimos recursos.No primeiro dia, nada funcionou. O fornecimento de luze água estava suspenso, os poucos equipamentos en-comendados não tinham chegado, e o mobiliário não pas-sava de peças de segunda mão precisando de conserto.Mas logo conseguiria o apoio de instituições como a Andi(Agência de Notícias dos Direitos da Infância), InstitutoAyrton Senna e Unicef.

O ano de 2000 marcou o florescimento da organiza-ção. Atuante, começou a ocupar espaços com projetosinovadores de ação social, atraindo diversos patrocínios.Passou a contar com 31 profissionais e 17 estagiários.Surgiram novas idéias. Mais jovens foram mobilizados. Asduas salas comerciais foram trocadas por uma casa.

“Ficou clara a nossa função social”, diz Anna, que re-sume assim a atuação da Cipó: “Queremos o desenvol-vimento integral do jovem. Usamos as tecnologias dacomunicação para melhorar leitura e expressão. Investi-mos na comunicação digital. E garantimos o que chamode ‘kit básico de cultura’, que é acesso ao teatro, ao mu-seu, a uma atividade cultural. Dos que entram em con-tato conosco, 90% nunca foram ao cinema”.

Page 24: Onda Jovem #1

meio desconfiado. Depois, tudo deu certo, pois estamospromovendo uma causa que interessa a todos”, diz Anna.

Entre as iniciativas da Cipó há o Estúdio Mix, que faci-lita o acesso à cultura a jovens de 13 a 24 anos, pormeio de oficinas, visitas e encontros com artistas, e aKabum!, uma escola de artes e computação gráficas,vídeo e fotografia, desenvolvida pelo Instituto Telemar.Os autores das fotos que ilustram esta reportagem sãomonitores dela. Já a Escola Interativa busca a melhoriada qualidade das escolas públicas pela capacitação deprofessores e alunos multiplicadores.

Outro projeto de sucesso é o Sou de Atitude, quemonitora, via internet, a aplicação das políticas no se-tor. A tarefa cabe a 15 rapazes e moças, de 17 a 21anos, como Andreza, de 17, e Gilson, de 20. Eles rece-bem informações, cadastram e-mails, enviam relatos,muitos deles frutos de um trabalho feito pessoalmentenas ruas. Gilson, por exemplo, resolveu verificar a situa-ção das escolas no bairro do Uruguai, em Salvador. “Des-cobri que a mais bem cuidada é uma creche criada pe-los moradores. As escolas públicas estão em péssimoestado”, relatou a outros internautas.

Na área de negócios, a Cipó Produções funciona comouma agência de comunicação, profissional, voltada parao terceiro setor. Produz sites e faz programação visual,como a do Programa Geração, do Instituto Votorantim,para o qual criou a logomarca e o slogan.

Lições da criseAté 2003, a Cipó contabilizava 7 mil jovens formados,

mais de 50 mil mobilizados e 1.000 professores capaci-tados. Mas os bons resultados não tranqüilizam inteira-mente a direção. “Ainda enfrentamos muitos problemasestruturais. Sonhamos, por exemplo, com uma sede pró-pria e estamos trabalhando para isso. E lutamos sem-pre para sensibilizar novos parceiros, ampliando assimo alcance do nosso trabalho”, diz Anna.

Entre as muitas lições aprendidas nessa trajetória, adiretora da Cipó extrai pelo menos duas que consideramuito importantes: “A primeira é que nunca devemos de-pender de um só parceiro, o que limita nossas possibili-dades quando ele resolve sair. A segunda é que é funda-mental termos uma equipe formada por pessoas que nãotrabalhem só pelo salário, mas sobretudo pela causa”.

A PERDA DO PRINCIPALPARCEIRO LEVOU A UMACRISE FINANCEIRA QUEOBRIGOU A CIPÓ A SEREESTRUTURARINTEIRAMENTE

Alunos da Cipó no laboratório decomputadores: capacitação

profissional Grupo trabalha em mural:

desenvolvimento de capacidades e deformas de expressão

Garota usa o computador: acessoà tecnologia

Uma filmagem no estúdio: oconhecimento técnico habilita para o

mercado e para a participação

CIPÓ - COMUNICAÇÃO INTERATIVA (ONG)REGIÃO DE ATUAÇÃO SALVADOR (BA)PROPOSTA Criar condições para o pleno desenvolvimento de crianças, adolescentes e jovens, pormeio do uso educativo da comunicaçãoJOVENS ATENDIDOS 947APOIO 64% DE PARCEIROS NACIONAIS, COMO INSTITUTO TELEMAR E INSTITUTO UNIBANCO; 36% DEPARCEIROS INTERNACIONAIS, COMO UNICEF E SAVE THE CHILDREN.CONTATO Rua Amazonas, 782 – Pituba – 41.830-380 – Salvador (BA) – [email protected] –Fone: 71/240-4477

Pedras no caminhoMas logo a Cipó enfrentaria alguns percalços. O mais drástico deles: em

2001, perdeu inesperadamente o seu principal parceiro, o portal IG, contami-nado pela crise que atingiu a internet. “Criou-se um clima de grande instabi-lidade. Tivemos de fazer ajustes operacionais e ao mesmo tempo buscar novosparceiros. Foi preciso criar estratégias de captação e geração de recursos”,lembra Anna. Os problemas puseram os ideais à prova. “A equipe se uniumais ainda e se dispôs a doar 10% de sua remuneração para ajudar na manu-tenção”, conta a diretora.

Dando a volta por cima, a instituição seguiu enfrentando os problemas desempre: a indiferença de alguns órgãos públicos, a resistência de outros àsidéias novas, um certo descompasso entre quem decide e quem executa aspolíticas na área da educação: “Às vezes, você consegue a adesão dos profes-sores e alunos, mas não sensibiliza a Secretaria do Estado, por exemplo. Outrasvezes, é o contrário”, observa Anna, para quem “o segredo é não desanimar eestar sempre tentando criar alternativa para as coisas darem certo”.

E começaram a dar já no fim de 2001: a Cipó venceu o Prêmio Empreende-dor Social Ashoka-Mckinsey. Em 2002, o apoio da Fundação Avina permitiu amudança para a atual casa no bairro da Pituba e novos projetos foram inicia-dos, com melhor infra-estrutura.

Seguindo em frenteNo fim de 2003, a Cipó já contava com 86 integrantes, entre profissionais

e estagiários, e consolidou sua política de sistematização de conhecimentose descentralização de decisões. Novos prêmios coroaram esse processo. Aomesmo tempo, o projeto Estúdio Aprendiz, que coloca estagiários entre 14 e17 anos no mercado, engrenou uma parceria com a Delegacia Regional doTrabalho. Um total de 114 aprendizes está agora em atividade, acompanha-dos por educadores.

Outro avanço diz respeito à Central Cipó de Notícias, que observa a coberturada mídia sobre infância e adolescência. No início, havia certa resistência dasredações às sugestões de pautas e análises de matérias. “O pessoal ficava

PARA

SAB

ER M

AIS

SOBR

E

Page 25: Onda Jovem #1

25

RISO

NA

LDO

CRU

Z

ED

MM

AR

SOU

ZA

ED

MM

AR

SOU

ZARISO

NA

LDO

CRU

Z

Page 26: Onda Jovem #1

horizonte global

VOZES DABOLÍVIA

No Distrito Municipal 8, zona mais pobre de SantaCruz de la Sierra, a cidade mais populosa da Bolívia, umgrupo de 670 moradores entre 14 e 29 anos está pro-jetando um futuro diferente para suas vidas e sua co-munidade. Há dois anos, eles integram a Promoção daParticipação Cidadã de Jovens para o Desenvolvimen-to Comunitário, projeto coordenado pelo sociólogoMiguel Ángel Vespa Jiménez, 28 anos. “As vozes dosjovens são pouco ouvidas pelas autoridades da Bolívia,ainda mais se eles forem de populações pobres”, dizVespa Jiménez, membro da COIJ (Coordinadora deOrganizaciones e Instituciones Juveniles de Santa Cruz),organização dirigida por jovens e para os jovens boli-vianos, em atividade desde 1995.

Os participantes do programa são todos residentesnas chamadas “zonas vermelhas”, bairros que se desta-cam por seus altos índices de pobreza e violência, numa

área que foi ocupada por 3 mil desabri-gados da enchente do rio Piray, em1982, e hoje concentra 150 mil pes-soas. A maioria é de migrantes, quevivem em condições precárias. Nessecenário, a implementação do projetoera um grande desafio, mas emsintonia com a proposta da COIJ, depromover o desenvolvimento integraldo jovem, criaram-se espaços de par-ticipação democrática e aprendizagempara a mudança social.

“O objetivo é também fortalecer ajuventude, num processo participa-tivo de formação de lideranças nosbairros e comunidades. Para isso, énecessário desenvolver o capital so-

horizonte global

Page 27: Onda Jovem #1

27

Um projeto põe a participaçãosocial no horizonte da juventudede Santa Cruz de la Sierra

por_ Daniela Rochailustração_ Cárcamo

cial dos jovens, não apenas no exercício de direitos edeveres, mas garantindo acesso às tecnologias de in-formação e comunicação e melhoria da educação. Ci-dadãos com visão crítica e propositiva da realidade po-dem exigir tudo isso do governo”, diz Jiménez.

Articulando iniciativasOs participantes foram selecionados

num universo de 35 organizações ju-venis e oito colégios de ensino secun-dário. “A finalidade era articular esfor-ços para que os jovens trabalhassemcom as associações locais, na tomadade decisões políticas – por exemplo, ali-anças com o Sindicato das Organiza-ções de Moradores do Distrito Munici-pal 8, para o gerenciamento conjuntodo orçamento da cidade. Essaintegração deu tão certo que, hoje, 70jovens são dirigentes de associações

de moradores”, diz o sociólogo.A metodologia do projeto está baseada no pro-

cesso de formação cidadã, com atividades comooficinas, seminários, encontros. A possibilidade dese informar e de debater com seus pares reorientaas perspectivas desses jovens. Eles passam a fa-zer articulações entre si, ampliando suas capaci-dades não apenas administrativas, mas também

desportivas, artísticas e culturais.“Eles identificaram suas prioridadese uma delas vem sendo executadacom êxito: a implementação dosCentros Juvenis de Internet”, dizJiménez. Muitas atividades vêm sen-do realizadas para a geração de ren-da local, incluindo o funcionamentodo cinema comunitário.

O projeto tem ainda um enfoque degênero: mais de 60% dos beneficiáriossão garotas líderes, com idades entre14 e 18 anos. Segundo Jiménez, nes-sa faixa etária as mulheres dos bairrostêm um importante papel público, queé fundamental nas articulações. “A pró-pria Rede Social Juvenil é presidida poruma jovem, Silvana Hutado.”

Para Vespa Jiménez, nas sociedadeslatino-americanas, é essencial promo-ver um processo sistemático de for-mação de líderes do futuro. “É precisopreparar os jovens para o exercício deseus direitos e deveres de cidadãos, eisso somente é possível com informa-ção. Temos de formá-los sobre os va-lores democráticos profundos, recupe-rar a ética, a transparência, o princípiodo serviço à comunidade como umexercício cotidiano.” É esse espírito queanima os jovens do Distrito Municipal8 a integrarem-se à juventude bolivia-na e engajar-se no processo de trans-formação de seu próprio futuro e darealidade do seu país.

PROMOÇÃO DA PARTICIPAÇÃO CIDADÃ DE JOVENS PARA O DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIOINSTITUIÇÃO OPERADORA COORDINADORA DE ORGANIZACIONES E INSTITUCIONES JUVENILES DE SANTA CRUZ - COIJREGIÃO DE ATUAÇÃO CIUDAD DE SANTA CRUZ DE LA SIERRA, DISTRITO MUNICIPAL N 8 (ZONA DEL PLAN 3.000),BOLIVIA.TIPO DE INSTITUIÇÃO ASSOCIAÇÃO DE JOVENS, SEM FINS LUCRATIVOSPROPOSTA Incrementar a participação cidadã dos jovens, desenvolvendo capacidades de liderança e de gestão,fortalecendo as organizações juvenis, e promovendo uma efetiva participação de mulheres jovensJOVENS ATENDIDOS 670APOIO FUNDAÇÃO AVINA, COIJ, SERVIÇO HOLANDÊS DE COOPERAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO, IGREJA CATÓLICA EPREFEITURA MUNICIPAL DE SANTA CRUZ DE LA SIERRACONTATO Coordinadora de Organizaciones e Instituciones Juveniles de Santa Cruz – COIJ. Calle Bautista SaavedraN 2.200 – Santa Cruz de la Sierra – Bolivia – Fone: 591/3-346-5069. e-mail: [email protected]

PARA

SAB

ER M

AISSO

BRE

Page 28: Onda Jovem #1

A SUPREMACIA DA PERSPECTIVA PESSOALSOBRE A COLETIVA AJUDA A EXPLICAR AFALTA DE UM PROJETO DE PAÍS

QUE PROJETO É ESTE?

por_ Sérgio A. P. Esteves

Tanto tempo lidando com a questãoda sustentabilidade e da responsabili-dade no plano das empresas tem mepermitido compreender a necessidadede desconstruir, de desaprender e deter acesso a outras referências que nãoapenas as de mercado para que sejapossível pensar – e construir – uma so-ciedade mais justa e mais equânime.Não há novas perspectivas se insistir-mos nos mesmos caminhos, nas mes-mas soluções, no mesmo modelo men-tal e de desenvolvimento que nos trou-xeram até aqui.

Adotar a sustentabilidade e a respon-sabilidade como premissas do desen-volvimento, em qualquer plano, mesmoo de uma nação, implica, sobretudo, va-lorizar o bem comum. Requer uma ati-tude de respeito a uma outra identida-de, de inclusão, com impactos nos pla-nos macroeconômico, microeconômicoe, sobretudo, pessoal.

Pensar a sustentabilidade reclamauma reconexão com o universo, poisleva para o horizonte afetivo tudo queenvolve nossa ação no mundo. Isso édifícil porque o pensamento dominan-te é este: “Eu tenho objetivos e devofazer o necessário para alcançá-los,porque há uma enorme oferta no mer-

cado de trabalho e posso ser substituído por alguém maiseficaz”. Alcançar nossos objetivos “a qualquer preço”, parausar o clichê, significa que não consideramos o outro nemo bem comum na nossa realidade imediata. Não há espa-ço para isso.

No meu trabalho, enfrento sempre a questão: “Comoestimular a inclusão do outro e do bem comum no hori-zonte imediato das organizações?”. Somos preparados –e nos preparamos – para dar certo dentro dos padrões desucesso vigentes. Somos como que projetos pessoais quedevem funcionar. A finalidade do processo de educação énos tornar o mais competitivo possível para o mercado.“Ninguém é insubstituível”, dizem, e isso transforma to-dos em peças. Substituíveis. A educação cria em nós umsentimento difuso de que precisamos (e podemos!) serinsubstituíveis.

Essa educação voltada somente para o mercado tirade foco questões essenciais, como a sustentabilidade, queé um conceito de natureza relacional. Ela é fruto de cons-truções coletivas em torno de dados bem objetivos domundo físico mas, principalmente, em torno de valoresque interessam a todos. Pressupõe inclusão, e tambémcomplexidade. Penso que um projeto de país não podeprescindir dessa perspectiva. Sem ela, nem ao menos po-demos conceber um legado para as futuras gerações.

No plano macroeconômico, são inúmeras as críticasao modelo de desenvolvimento global, principalmenteem tópicos como eqüidade social e sustentabilidadeambiental. A desigualdade entre os povos está assen-tada em valores que não interessam ao conjunto deuma sociedade em permanente vir-a-ser; o planeta tem

recursos finitos e não suportaria umcomportamento predador indefinida-mente. As regras do jogo atual nãopodem ser estendidas a todos e, nes-se sentido, não se sustentam. Con-tudo, a construção de modelos eco-nômicos que valorizem a eqüidadenão será possível enquanto estiver-mos empenhados em garantir nossoemprego em uma sociedade comcada vez menos empregos formais.E o jogo social atual valoriza iniciati-vas únicas, projetos pessoais, tantopara grandes corporações como paraindivíduos: a vida se tornou uma es-pécie de projeto personalista. Emqualquer posição da pirâmide social,vivemos um modelo caracterizadopelo “pensar em mim”.

Nas empresas, é comum que as pes-soas sigam ordens, concordem ou nãocom elas. As justificativas são várias, eaté legítimas. Mas seguir ordens não ésuficiente como código de conduta.Precisamos, em vez disso, construir efortalecer uma interioridade, umposicionamento pessoal a partir de va-lores que expressem a nossa identida-de. E essa construção precisa ser sufi-ciente para dizermos, quando neces-sário: “Não vou nessa, não é a minha,não quero ser cooptado nem cooptar”.

Isso é importante porque o traba-lho é o veículo de desenvolvimentohumano por excelência. É por meiodele que expressamos a nossaespiritualidade, que diminuímos nos-sa área de sombra e aumentamos anossa área de luz, que nos assegu-ramos de estar a serviço de algo quevale o esforço. Por isso é tão relevan-te que as pessoas possam fazer doseu trabalho uma contribuição ao de-senvolvimento do país. É uma espé-cie de contrapartida.

Diretor-presidente da consultoriaAMCE Negócios Sustentáveis e umdos coordenadores dos FórunsEmpresariais promovidos emparceria pela AMCE/FGV eCES -Centro de Estudos deSustentabilidade

SEXTANTESEXTANTE

Page 29: Onda Jovem #1

29

O fato de o jovem não dispor de ambi-entes adequados para refletir sobre arelevância de sua contribuição épreocupante. De fato, ele se vê pressio-nado pelo mote contemporâneo doimediatismo e por ameaças, por vezesfantasiosas, de que se ficar pensando em“trivialidades” vai ficar para trás. Isso aba-la a formação de sua interioridade e des-trói muitas de suas potencialidades, dasociedade e do país.

Construir e fortalecer uma interiori-dade significa, portanto, construir efortalecer a afirmação da individuali-dade no coletivo, no desenvolvimen-to do espaço comum. Significa supe-rar o padrão escolar formal, a mergu-lhar em outras possibilidades, expandirhorizontes, reinventar nossa percepçãode mundo. Interagir, estabelecendo co-nexões sólidas com o bem comum. Apartir dessa conexão, penso que serámais factível um projeto de país. Achoque já não basta a máxima segundo aqual tudo dará certo se cada um fizer asua parte. Só há parte quando se temalgum acordo em relação ao todo. Nãotemos esse acordo, e o todo está ape-nas esboçado na Constituição. É neces-sário assentá-lo como realidade.

Não temos um projeto de país, maspodemos nos mobilizar para tê-lo. Sehá várias possibilidades de futuro, pre-cisamos examiná-las e escolher as me-lhores alternativas para a sociedade. So-bretudo, devemos fortalecer a demo-cracia, e isso se faz por meio de nossaação no mundo. O que acontece conos-co, e às vezes nos desanima a seguirlutando por algo, não são problemasseus ou meus, mas de todos. Precisa-mos, pois, investir na mudança da reali-dade que experimentamos a partir danossa própria mudança. Esse é um belo,e viável, desafio.

ED V

IGIA

NN

I/SA

MBA

PHO

TO

Page 30: Onda Jovem #1

A FAMÍLIA PODE SER ACATALISADORA DE PROJETOS DEVIDA MAIS AUTÔNOMOS OU UMELEMENTO DE PRESSÃO PARA AREPRODUÇÃO DO SISTEMA

por_ Edna Peters Kahhale e Bronia Liebesnyfotos_ Penna Prearo

PROJETO DE VIDA E FAMÍLIA

O AFETO QUE FORMA

Sem dúvida, juventude é o termo consagrado paradenominar o período entre a infância e a idade adulta.Isso se deve sobretudo à antropologia, sociologia e psi-cologia, que durante anos esmiuçaram as peculiarida-des desse período.

Da pré-adolescência à idade da autonomia, estendi-das dos 10 aos 25 anos, temos o espectro mais amploda juventude. Essa nomenclatura também ajuda adesmistificar a adolescência como um período em que“todos são iguais”, com características próprias da ida-de, universais no tempo e no espaço, cultural e social-mente, como querem a própria medicina e a psicologiamais tradicionais. Vários estudiosos afirmam que a ado-lescência é uma criação histórica, portanto, não é umafase natural do desenvolvimento humano.

É uma construção que responde às necessidades so-ciais e econômicas do desenvolvimento do capitalismo.Ou seja, criou-se uma etapa como passagem do mun-do infantil para o mundo “adulto”, inexistente em so-ciedades com outra organização de produção. Tem-se

90º

Page 31: Onda Jovem #1

31

Page 32: Onda Jovem #1

90º

ESTUDOSMOSTRAM QUE OJOVEM SE IMAGINANO FUTUROPERPETUANDO OMODO DE VIDAADULTO COM OQUAL TEM CONTATOSISTEMÁTICO

estendido essa passagem de umsimples “ritual de iniciação” paraum processo mais complexo. Essefato é decorrente de dois fatores:o maior conhecimento do homeme as cada vez mais intrincadas rela-ções dos homens entre si e a natu-reza, que geram processos simbóli-cos e socioeconômicos nada simples.Por exemplo, a necessidade de me-lhor qualificação para inserção pro-fissional em algumas áreas de traba-lho. Isso se dá pelo sistema formal enão entre “mestre e aprendiz”, o que,portanto, exige um período maior deescolarização.

A juventude abrange, então, umextenso período da vida na socieda-de ocidental, sem característicasimanentes que a caracterizem, masresultantes da forma como cada so-

“Fui criada na roça, em Goiás, enão fui à escola. Cedo, comecei a

trabalhar em casas de família e mecasei. Meu marido arrumou

emprego e viemos para São Paulo,com um filho pequeno; o caçula

nasceu aqui. Para poder educarmeus filhos, eu me ofereci para

trabalhar numa creche, em trocade vagas, mas acabei contratada.

Quando os meninos faziam oprimário, eu não podia ajudar,

mas valorizava, ensinava arespeitar a professora. Eu já vi mãe

mandando filho bater em profes-sor. Quando entraram no ginásio,achei que precisava acompanhar.

Trabalhava numa copa de hospitale fiz o supletivo do primário e

depois do ginásio. Comecei o cursode auxiliar de enfermagem, masnão agüentei a prática; voltei ao

trabalho doméstico e sou babá.Meus filhos concluíram o segundo

grau e estão bem empregados.Tenho muito orgulho deles. O mais

velho é funcionário público,concursado, tem casa própria e

começou a faculdade de Adminis-tração. O caçula é metalúrgico, fazcursos, já foi promovido. Acho que

os pais têm obrigação de educar,ensinar a viver: aconselhar, dar

carinho, mas dar bronca também,vigiar as companhias. E dar

estudo. A ignorância humilha edesencaminha.”

ROSA ANA CASTRO SILVA, 54Babá em São Paulo,

é mãe de Oxir, 29, e Euler, 27

GU

STAV

O L

OU

REN

ÇÃ

O

Page 33: Onda Jovem #1

33truir a história da própria família através das novas ge-rações. Pode reforçar valores de competitividade; deindividualidade, em detrimento do grupo; de não reco-nhecimento do Outro, como sujeito digno de respeito.Enfim, reforçando o individualismo.

Os estudos mostram que os jovens se imaginam nofuturo perpetuando o modo de vida adulta atual, com oqual têm contato sistemático e sem crítica. Isso signifi-ca que o jovem não se vê como sujeito da sua própriaação. Aos familiares e aos profissionais responsáveispela constituição de espaços de percepção de mundoe crítica pelos jovens, cabe pensar ações sobre as quaiseles possam refletir e ressignificar esses valores, demodo a se responsabilizarem pela construção de umaopção no conjunto social, com projetos próprios.

Para isso é necessário criar oportunidades para queas pessoas se relacionem de modo a se perceberem – aelas e ao Outro – como indivíduos autônomos, com di-reitos e deveres. Que possam refletir sobre suas esco-lhas inseridas num contexto mais amplo do que seu co-tidiano, ampliando suas análises, ponderando sobre asalternativas de trabalho e de inserção social. Além disso,o jovem deve ter acesso a informações que lhe permi-tam levar adiante suas propostas.

A família pode contribuir para que ojovem se assuma como construtor deseu futuro. Um exemp[lo de atividadecatalisadora é a construção coletivada história familiar, permitindo acada um perceber de onde veio e paraonde vai, o que gostaria de superar oucriar para o futuro

Edna Peters Kahhale e BroniaLiebesny são professoras do curso dePsicologia Social da PUC-SP, comestudos sobre família, juventude eprojeto de vida

ciedade está organizada e (im)pos-sibilita sua inserção nela. Nessa eta-pa, a sociedade espera que o jovemconstrua projetos para seu futuro:quem será e o que fará? Ele deveproduzir sua vida cotidiana e futurae o faz a partir de uma rede de rela-ções sociais e afetivas, na qual elese perceba ao mesmo tempo comoúnico e pertencente ao grupo. É nes-se processo de relações diversifica-das e variadas que o jovem interiorizavalores e constrói formas próprias deperceber e estar no mundo: é assimque se constitui como sujeito. Paraque possa construir seu projeto, é im-portante que ele consiga apropriar-se das multideterminações que o im-pelem para um projeto específico.

A família – como espaço de cuida-dos e de afetos – é crucial nessa eta-pa “multideterminada” por escolhase projetos. Mas, a família dessa mes-ma sociedade ocidental, sobre a qualfalamos, tem reproduzido variadosmodelos e ideais sociais do que é sercriança, jovem e adulto. Assim, elapode ser catalisadora de projetosmais autônomos quando questionae abre espaços para reflexão e críti-ca dos valores da ideologia dominan-te. Por outro lado, ela poderá ser umelemento de pressão e de reprodu-ção dessa ideologia ao determinar oque o jovem deve escolher para suavida, muitas vezes almejando recons-

Se a família puder propiciar um es-paço para as ações propostas, ela es-tará contribuindo para que o jovem as-suma um papel ativo como sujeito deseu processo de escolhas e de cons-trução de um projeto de futuro. Paraconcluir, um exemplo de atividade quepode ser útil na criação do início des-se processo: a família construir cole-tivamente sua história, de sorte quetodos percebam de onde vieram epara onde vão, o que gostariam de su-perar ou criar para o futuro. Muitos en-contros agradáveis acontecem porcausa dessa atividade, a qual facilitadivisar a construção de alternativas cri-ativas, permitindo a todos os mem-bros se constituírem como sujeitos.

Page 34: Onda Jovem #1

180ºPROJETO DE VIDA E ESCOLA

POR UMA PEDAGOGIADA JUVENTUDEA ESCOLA PRECISA RECONHECER O JOVEM POR TRÁS DO ALUNOE ADAPTAR A ELE SEUS PROCESSOS EDUCATIVOS

por_ Juarez Dayrell Uma reflexão sobre a questão do projeto de vida noâmbito da juventude e o papel da escola nesse proces-so exige que se esclareça, antes de mais nada, o quese compreende a respeito da categoria juventude, qua-se sempre considerada um dado da natureza. Acreditoque ela deva ser entendida, ao mesmo tempo, comouma condição social e uma representação. De um lado,há um caráter universal dado pelas transformações doindivíduo em determinada faixa etária, na qual com-pleta o seu desenvolvimento físico e enfrenta mudan-ças psicológicas. Mas a forma como cada sociedade e,no seu interior, cada grupo social vai lidar e represen-tar esse momento é muito variada. Não existe uma ju-ventude, mas sim juventudes, no plural, enfatizando,assim, a diversidade de modos de ser jovem na nossasociedade. Nesse sentido, se queremos compreenderesses meninos e meninas com que atuamos, é neces-sário antes de tudo conhecê-los em sua realidade, des-cobrindo como eles constroem, cada um à sua manei-ra, a sua experiência.

A vivência da juventude, desde a adolescência, ten-de a ser caracterizada por experimentações em todasas dimensões da vida subjetiva e social. O jovem torna-se capaz de refletir e de se ver como um indivíduo que

participa da sociedade, recebendo eexercendo influências, e é este o mo-mento em que sua inserção socialacontece. Período que pode sercrucial para o seu desenvolvimentopleno como adulto e cidadão, sendonecessários tempos, espaços e rela-ções de qualidade que possibilitem acada um experimentar e desenvolversuas potencialidades.

É nesse processo, permeado dedescobertas, emoções, ambivalênciase conflitos, que o jovem se defrontacom perguntas como: “quem soueu?”, “para onde vou?”, “qual rumodevo dar à minha vida?”. Questõesque remetem à identidade e ao pro-jeto de vida, duas dimensões que apa-recem interligadas e são decisivas du-rante seu amadurecimento.

O projeto de vida pode ser entendi-do como a ação do indivíduo de esco-lher um dentre os futuros possíveis,capaz de transformar os desejos e as

Page 35: Onda Jovem #1

35fantasias que lhe dão substância em objetivos passí-veis de serem perseguidos, representando, assim, umaorientação, um rumo de vida. Os projetos podem serindividuais ou coletivos; podem ser mais amplos ou res-tritos, com elaborações a curto ou médio prazo, segun-do o campo de possibilidades. Quer dizer, dependemdos contextos socioeconômico e cultural concretos emque cada jovem se encontra inserido, e que circunscre-vem suas experiências. O projeto possui uma dinâmicaprópria, transformando-se na medida do amadurecimen-to dos próprios jovens ou das mudanças no campo depossibilidades.

Um projeto de vida se realiza na junção de duas va-riáveis. A primeira diz respeito à identidade, ou seja,quanto mais o jovem se conhece, experimenta as suaspotencialidades individuais, descobre suas preferências,aquilo que sente prazer em fazer, maior será a sua ca-pacidade de elaborar o seu projeto.

Falar de identidade, não significa trazer à baila um“eu” interior natural, como se uma capa fosse coloca-da pela sociedade sobre o núcleo interno com o qualnascemos. Ao contrário, trata-se de uma construçãoque cada um vai fazendo por meio das relações com omundo e com os outros. A construção da identidade é

HEN

K N

IEM

AN

Page 36: Onda Jovem #1

180º

antes de tudo um processo relacional,ou seja, um indivíduo só toma cons-ciência de si na relação com o outro.É uma interação social, o que apontapara a importância do pertencimentogrupal e das suas relações solidáriaspara o reforço e garantia da identida-de individual. Fica evidente o valor dogrupo de amigos, das esferas cultu-rais, das atividades de lazer, da esco-la, entre outros, como espaços quecontribuem na construção de identi-dades positivas.

Outra variável que interfere na ela-boração do projeto de vida é o conhe-cimento da realidade. Quanto mais ojovem conhece a realidade em que seinsere, compreende o funcionamen-to da estrutura social com seus me-canismos de inclusão e exclusão etem consciência dos limites e daspossibilidades abertas pelo sistemana área em que queira atuar, maioresserão as suas possibilidades de ela-borar e de implementar o seu proje-to. As duas variáveis demandam es-paços e tempos de experimentaçãoe uma ação educativa que a possaorientar.

A elaboração de um projeto de vidaé fruto de um processo de aprendi-zagem, durante o qual o maior desa-fio é aprender a escolher. Na socie-dade contemporânea, somos chama-dos a eleger, a decidir continuamen-te, fazendo desta ação uma condiçãopara a sobrevivência social. A escolhatambém é objeto de aprendizagem:aprendemos a praticá-la e a nos res-ponsabilizar pelo que escolhemos.Um e outro se aprendem fazendo,

A ELABORAÇÃO DE UM PROJETO DE VIDAÉ FRUTO DE UM PROCESSO DEAPRENDIZAGEM E O MAIOR DESAFIO ÉAPRENDER A ESCOLHER

“Eu tinha 17 anos, estava no 2ºcolegial da Escola Eulália Malta, em

Embu das Artes, na Grande SãoPaulo, e meus projetos profissionaisiam da computação à oceanografia.

Durante um projeto desenvolvido nanossa escola em 2002 e 2003, comdiversas oficinas, um grupo de 25

alunos, de várias idades, do“Eulália” e de outras escolas da

região, teve a idéia de criar a Oficinade Quadrinhos. Depois que termina-

ram as oficinas, eu e três amigos(Marcelo de Lima Felix, 19; Julien

Crouzillard, 19; e Renato Rodriguesda Silva, 22) montamos em minhacasa um espaço onde produzíamos

páginas para a web e trabalhosgráficos. Hoje, já alugamos uma

casa e criamos um portal – o Icult(Instituto Cultural) –, com um guia

cultural da região de Embu eTaboão da Serra. O portal exibenossos quadrinhos e animações e

divulga outros artistas. As oficinasde quadrinhos feitas na escola

deram um rumo novo à minha vida.Minhas prioridades, agora, são

fazer a faculdade de EngenhariaEletrônica, criar um estúdio dedesenhos animados e produzir

revistas em quadrinhos.”

HENRIQUE CESAR GALLO, 20Quadrinista e web-designer, de Embudas Artes (SP). Seu trabalho pode ser

visto em www.cite10.com.br

MA

RCO

S F

ERN

AN

DES

/AG

ÊNC

IA L

UZ

Page 37: Onda Jovem #1

37

errando. Essas são condições para aformação de sujeitos autônomos.Cabe perguntar: onde nossos jovensestão exercitando isso, aprendendoa escolher? Quais os espaços quevêm estimulando a formação de jo-vens autônomos?

É tarefa do mundo adulto e de suasinstituições garantir aos jovens mo-mentos e situações em que se colo-quem como interlocutores, promo-vendo uma relação intergeracional.As pesquisas vêm mostrando, po-rém, que a instituição escolar, prin-cipalmente a escola pública, não vemcumprindo esse papel. A escola pou-co conhece o jovem que a freqüen-ta, a sua visão de mundo, os seus de-sejos, o que faz fora da escola. Aomesmo tempo, predomina uma re-presentação negativa e preconcei-tuosa em relação à juventude. O jo-vem é visto na perspectiva da falta,da incompletude, da desconfiança, oque torna ainda mais difícil para aescola perceber quem ele é de fato.Mas já existem muitas experiênciasque apontam para uma nova postu-ra da escola na relação com os jo-vens, com algumas característicasque devem ser ressaltadas.

Um primeiro aspecto é reconhecere lidar com ele como sujeito. Implicapercebê-lo como realmente é, alémda sua condição de aluno. É um indi-víduo que ama, sofre, se diverte, pen-sa a respeito das suas experiências,interpreta o mundo, tem desejos eprojetos de vida. Torna-se necessá-rio escutá-lo, considerá-lo comointerlocutor válido e, na perspectiva

do protagonismo juvenil, tomá-lo como parceiro na de-finição de ações que possam potencializar o que já trazde experiência de vida.

Levar em conta o jovem como sujeito é adequar aescola a uma “pedagogia da juventude”, em que se con-sideram os processos educativos necessários para li-dar com um corpo em transformação, com os afetos esentimentos próprios dessa fase da vida e com as suasdemandas de sociabilidade. Implica também adequaro ritmo dos processos educativos, dinamizando-os commetas e produtos que respondam à ansiedade juvenilpor resultados imediatos. É fazer da escola um espaçode produção de ações, de saberes e relações. É acredi-tar na capacidade do jovem, na sua criatividade e apos-tar no que ele sabe e quer saber.

Desse modo, a escola se torna um centro juvenil, umespaço de encontro, de estímulo à sociabilidade, ondeos jovens têm a chance de descobrirem-se diferentesdos outros e, principalmente, de aprenderem a respeitaressas diferenças. Um espaço de aprendizagem das re-gras e vivências coletivas e do exercício da participação.Todos esses são aspectos centrais na construção deidentidades positivas e na elaboração de projetos de vida.

E aqui vale ressaltar a centralidade da relação dosjovens com seus professores. Estes são a expressãode uma geração adulta, portadora de um mundo de va-lores, regras, projetos e utopias a ser proposto aos alu-nos. Cabe a eles se colocarem como interlocutores des-tes, diante de suas crises, dúvidas e perplexidades. As-sim, a escola se efetiva como um espaço de diálogoentre os jovens e o mundo adulto, contribuindo na cons-trução de referências positivas.

No trabalho com os jovens, a força propulsora tem deser o desejo. Professores e alunos com vontade de des-cobrirem novos caminhos, novas relações, novos conhe-cimentos. O envolvimento dos professores é o primeiropasso para qualquer proposta que pretenda estabelecerum entendimento maior com os alunos, fazendo da es-cola um espaço onde eles “possam ser mais”, como di-zia Paulo Freire. Será reencontrada, assim, a vocação daescola como um espaço de formação humana.

Juarez Dayrell é sociólogo, professorda Faculdade de Educação da UFMGe coordenador do Observatório daJuventude da UFMG

Page 38: Onda Jovem #1

270ºPROJETO DE VIDA E TRABALHO

Page 39: Onda Jovem #1

39

A INICIATIVA PROFISSIONAL, EM QUALQUER CAMPO, EXIGECOMPETÊNCIAS QUE PRECISAM SER DESENVOLVIDAS

por_Antonio Carlos Gomes da Costafoto_Henk Nieman

APRENDENDOA EMPREENDER

O homem – segundo a socióloga argentina CláudiaJacinto – nasce duas vezes: a primeira, quando sai dedentro da mãe. Nesse momento se nasce para a famí-lia e para a população. O segundo nascimento ocorrena adolescência: a pessoa em desenvolvimento nascepara si mesma e para a sociedade. Nesse segundo nas-cimento, três instituições emergem como fundamen-tais: a família, a escola e o trabalho.

Para os jovens integrados econômica e socialmente,a família funciona como uma rede de proteção. Ser quese procura e se experimenta nos vários domínios daexistência em sua caminhada para o mundo adulto, estejovem encontra na família um anteparo efetivo e pode-roso. Já com os que estão excluídos social e economi-camente passa-se o contrário. É o núcleo familiar quepassa a contar com sua ajuda como parte de sua es-tratégia de sobrevivência.

Com a escola passa-se algo semelhante. Para os queestão mais integrados, ela é o centro, o eixo estru-turador de suas vidas. Para os jovens em desvantagemsocioeconômica, a escola é uma presença secundária,pois, como já vimos, o compromisso principal dessesjovens já não é mais com a atenção e, sim, com a lutapela sobrevivência.

E o trabalho para os jovens integra-dos é projeto: orientação vocacional,escolha do vestibular a ser prestado,da carreira a seguir. Para o jovem emdesvantagem, não: o trabalho torna-se o eixo ou o elemento central de suavida. Se perguntarmos a um office-boy o que ele é, certamente sua pri-meira resposta, mesmo que ele estu-de à noite, não será estudante.

A adolescência, porém, é uma fasedeterminante. Nela o jovem avança,aos poucos, sob duas construçõessocioexistenciais da maior importân-cia: a da identidade e a de um proje-to de vida. Na formação da identida-de, ele deve aceitar a si mesmo e secompreender, condições vitais para

Page 40: Onda Jovem #1

270º

a aquisição de auto-estima, autocon-ceito, autoconfiança e visão dese-jante em face do futuro. Essas con-quistas criam as condições básicaspara a efetivação de um projeto devida, ou seja, do caminho a ser per-corrido entre o ser e o querer-ser navida de cada pessoa.

A melhor definição do jovem bem-sucedido nisso (identidade e projeto)que encontrei está na letra do sam-ba “Aquele Abraço”, do atual minis-tro da Cultura, Gilberto Gil: “Meu ca-minho pelo mundo eu mesmo traço,a Bahia já me deu, graças a Deus, ré-gua e compasso”.

“Meu caminho pelo mundo” é, jus-tamente, o projeto de vida traçadopelo próprio jovem. A “Bahia” é aeducação que recebeu, as influên-cias construtivas que sobre ele fo-ram exercidas pela família, a escola,a comunidade e os meios de comu-nicação. A “régua” é o instrumentoque ajuda a unir dois pontos: o ca-minho entre o ser e o querer-ser navida de cada um. E, finalmente, o“compasso”, que desenha a figurade 3600, serve como símbolo de umavisão do todo. Vê-se, portanto, queo jovem que queremos ver é aquelecapaz de fazer escolhas fundamen-tadas, analisar situações e tomar de-cisões diante delas

A expressão “graças a Deus” funci-ona como uma abertura à dimensãotranscendente da vida: crenças, prin-cípios, valores, convicções profundas,que servem de bússola ao ser huma-no nos momentos difíceis da vida.

Esse é o perfil de um jovem empre-endedor. Ser empreendedor – mais do

“O meu envolvimento comprogramas como o Escola da

Família, da Secretaria deEducação do Estado de São Paulo

– que, ao lado de parceiros estádesenvolvendo atividades com acomunidade de Carapicuíba, em

escolas da região –, é fruto deexperiências anteriores, que me

trouxeram até aqui. Sou formadaem Dança pela Unicamp e, entre1997 e 2003, criei e implementei

um projeto, chamado Acolhendo aDança, para profissionalização

de filhos de cortadores de cana-de-açúcar em Cardoso, Paulo de

Faria e Orindiúva, municípios nonoroeste do estado. Forambeneficiadas perto de 500

crianças, que aprenderam aredimensionar seus sonhos e a

reorientar o seu destino, o defuturos cortadores de cana comoseus avós e seus pais. O aprendi-

zado da disciplina, a busca dosaber e a valorização da ética nosensinam a ser criativos com base

nos recursos disponíveis.”

ANDRÉA CUONO, 32 ANOSCoordenadora de Área do Programa

Escola da Família em 16 escolas dacidade de Carapicuíba (SP)

LULU

DI/A

GÊN

CIA

LU

Z

Page 41: Onda Jovem #1

41

MAIS DO QUE TER UM NEGÓCIO PRÓPRIO,SER EMPREENDEDOR É TER SONHOS E SERCAPAZ DE CONCRETIZÁ-LOS

que apenas abrir um negócio próprio(dimensão muito importante doempreendedorismo, sem dúvida algu-ma) – é ter sonhos e ser capaz de tra-balhar e lutar para transformá-lo emrealidade, quer abrindo um negócio,construindo uma carreira vitoriosanuma empresa, numa organizaçãopública ou numa organização socialsem fins de lucro. O importante é queo jovem transforme seu potencial emhabilidades, competências e capacida-de e as coloque a serviço de sua visãode si mesmo e do mundo, empenhan-do-se em concretizar seus sonhos.

Na formação de um jovem empre-endedor vale muito mais o que ele édo que o que ele sabe. Por isso, é im-portantíssimo construir itineráriosformativos capazes de desenvolver

Antônio Carlos Gomes da Costa épedagogo, consultor especialista emjuventude, desenvolvimento social eação educativa, autor de várioslivros sobre esses temas

competências em termos de habilidades básicas e degestão, como:> analisar uma situação em seus diversos ângulos;

> propor soluções e avaliar soluções propostas por ou-tras pessoas;

> comunicar-se com pessoas e instituições fora de seumundo cotidiano;

> tomar decisões fundamentadas sobre qual curso deação seguir em face de uma determinada situaçãoreal;

> planejar e aprender a lidar com pessoas, tempos,materiais e recursos financeiros;

> administrar o próprio tempo, aprendendo a dividir-seentre atividades de natureza distinta;

> dar e receber instruções, ordens e orientações;

> liderar e deixar-se liderar;

> criticar e ser criticado;

> coordenar atividades em grupo;

> aceitar diferentes pontos de vista e interesses;

> improvisar diante de situações imprevistas, agindo deacordo com os princípios, valores e interesses de seugrupo;

> discernir os valores implicados e vividos em uma de-terminada situação;

> buscar coerência entre teoria e prática;

> exercitar a transparência no uso dos recursos grupais;

> prestar conta de seus atos ao grupo, aos destinatá-rios de suas ações e a seus educadores;

> assumir as conseqüências de suasações positivas e negativas;

> desenvolver a tolerância para comas falhar e limitações humanas;

> aprender a lidar com êxitos e fra-cassos;

> decidir em grupo e de forma de-mocrática;

> desenvolver espírito solidário eação cooperativa.

Finalmente, a essas habilidadesdeverão ser acrescentadas aquelasespecíficas requeridas para o exer-cício de uma ocupação, serviço ouprofissão no mundo do trabalho. Namedida em que formos capazes deatuar nesta linha para e com os jo-vens, estaremos contribuindo para aformação das pessoas, dos cidadãose dos profissionais de que o Brasil ne-cessita para dar certo.

Page 42: Onda Jovem #1

360ºPROJETO DE VIDA E MÍDIA

SONHOS DE UMA NOIT

Quando se pensa na construção deum projeto de vida, vários fatores apre-sentam um peso expressivo na forma-ção da identidade, dos valores, dos so-nhos e das ambições. O ponto de par-tida é a educação recebida em casa.Depois, os diversos aprendizados naescola, a companhia dos amigos, asinfluências da sociedade e, não pode-mos esquecer, a interferência que amídia exerce em todo esse conjunto.

O Brasil é hoje um dos países emque crianças e jovens passam maistempo na frente da televisão. Segun-do o Ibope, em setembro de 2004,entre os telespectadores de 4 a 17anos, o tempo gasto com TV foi, emmédia, de 4 horas e 25 minutos pordia. De acordo com a pesquisa Perfilda Juventude Brasileira, feita pelo Ins-tituto da Cidadania com jovens de 15a 24 anos, 91% dos entrevistados as-sistem a TV de segunda a sexta-feira(a taxa é de 87% nos fins de sema-na). Em comparação, 49% desses jo-vens dizem que lêem jornais (51%não têm esse costume) e 67% lêemalguma revista (31% dizem que nãotêm esse hábito).

OS MODELOS DE SUCESSO VEICULADOS PELA MÍDIASÃO DISTORCIDOS E NÃO INFORMAM PARA ATOMADA DE DECISÕES NA VIDA REAL

Page 43: Onda Jovem #1

43

TE DE TV

por_Jairo Bouerfoto_Penna Prearo

Com tanta televisão ligada, é inegável que esse meiode comunicação mexa com o imaginário dos jovens,interferindo em padrões de comportamento, noções desucesso e conceitos de felicidade. De fato, a TV pareceter um peso importante nas construções emocionais eafetivas que vão influenciar na elaboração do projetode vida dos jovens.

Mas também não podemos responsabilizar a mídia,isoladamente, por tudo que é veiculado. O objetivo dosmeios de comunicação é atender aos anseios expres-sos pela sociedade, respondendo às expectativas deseu público e, com isso, aumentando sua audiência. Ouseja, existe uma relação de mão-dupla: os meios ofe-recem programas, personagens, temas e debates, tes-

tam a resposta do telespectador e,sendo aceitas, mantêm suas pautas.No caso de resposta negativa, as pau-tas e os programas são substituídos.

A TV não pode ser entendida semse levar em conta o meio socioculturalem que ela está inserida. De algumaforma, a TV que a gente vê reflete asociedade em que a gente vive. Sepode influenciar na formação de va-lores e conceitos, ela também, em al-guma extensão, funciona como umespelho dos sonhos e ambições deuma população. É o momento de se

Page 44: Onda Jovem #1

pensar: de fato, qual a televisão que a gente quer?Para isso, é fundamental que adultos e educadoresestimulem a leitura e a audiência crítica do jovem emrelação à mídia. Nem tudo o que se vê e o que se lê é amelhor tradução do que acontece.

Capa da revistaSão inúmeros os exemplos de comportamento que a

mídia expõe como “modelos” para seu público, atribuin-do valores positivos a eles, como uma receita para a bus-ca da felicidade. Os padrões de sucesso veiculados nãosó nas ficções mas também nas publicações de compor-tamento voltadas para jovens são peças que ajudam a

montar projetos de vidas. Valores e ati-tudes tidos como desejáveis e louvá-veis são exibidos como um caminho aser seguido para que se consiga serbem-sucedido. E há incontáveis distor-ções nesse processo.

A começar pelos padrões estéticos.Personagens (em sua função ficcionalou não) desejáveis são os que têmcorpos magros, sem flacidez e bron-zeados. Pele lisa, cabelos sedosos,mantendo asséptica distância daoleosidade e das espinhas típicas dajuventude. Claro, tudo seguindo o ve-lho padrão europeu de traços finos –se tiver cabelos e olhos claros, me-lhor. Gordinhos raramente são dese-jáveis. Funcionam para situações cô-micas, mas não para cenas tórridasde amor. Não se levam em conta as-pectos relacionados à saúde, mas aojulgamento “feio” ou “bonito”. À es-tética, tudo. À saúde, quase nada.

A vida afetiva também é “contem-plada” pelos extremos: os relaciona-mentos podem ser “contos-de-fa-das” ou “o inferno na Terra”. Na pri-meira categoria, casais que enfren-tam a tradicional jornada do herói:vencem preconceitos, inimigos e bar-reiras sociais e emocionais e conse-guem viver felizes para sempre. Nasegunda classe, casais que não se su-portam, que vivem em meio a trai-ções, falsidade, ciúmes e sofrimen-to. Obviamente, o modelo a ser bus-cado pelos jovens é o do conto-de-fadas. Cria-se então uma idealizaçãodos envolvimentos emocionais: tudotem de sair certinho; brigas e desen-tendimentos são sinais de fracasso.Ninguém explica que casais precisamdiscutir (sem haver nisso um julga-mento negativo) para resolver suasdiferenças, e que é necessária umadose extra de tolerância e paciênciapara respeitar os limites do outro.

Do campo afetivo para o sexual éum pulo. Casais apaixonados devemfazer sexo perfeito, com orgasmos in-termináveis em lindas noites de luar,imunes a fantasmas como doenças,gravidez indesejada, falta de sincroniae, acima de tudo, falta de experiên-cia. Rapazes ideais não sofrem deejaculação precoce nem de falta deereção. A mocinha não fica nervosa,

“Por estar já há dez anos no ProjetoCala-Boca Já Morreu – no qual,

além de criticar a mídia, tambémproduzimos informação e comunica-ção, fazendo rádio, jornal, TV, vídeo

e internet –, eu não consigo meesquecer da forma como as influên-

cias se estabelecem pelos meios decomunicação. Quando você entende

que os valores são definidos porpoucos, tudo, então, se torna relativo

e passa a ser visto como mais umponto de vista. Quando muda o

ponto, muda-se a vista. Essaconsciência faz toda a diferença:

abre outro panorama para oproblema da influência da mídia em

nossa vida e cria a possibilidade deescolhermos com tranqüilidade o que

queremos fazer. É claro queninguém está totalmente livre da

influência, em especial da TV e dorádio, que atingem praticamente

toda a população. Mas, no projeto,temos um jeito diferente de fazer as

coisas. Os programas de TV, porexemplo, são produzidos por e paracrianças e adolescentes. Nesses dez

anos se criou uma “metodologiaCala-Boca Já Morreu”, na qual

temos como princípio que todas aspessoas decidem tudo o que vai para

o ar. Naturalmente, nos grupos háos que gostam de falar e intimidam

os que falam menos, mas nós damosum jeito de todos se manifestarem.”

ÍSIS LIMA SOARES, 18Estudante, é líder do Conselho Gestor do

Projeto Cala-Boca Já Morreu(www.portalgens.com.br/cala-boca), no

bairro do Jaguaré, em São Paulo (SP)

HEN

K N

IEM

AN

Page 45: Onda Jovem #1

45

com falta de lubrificação e nunca sen-te dor no momento sublime. Depoisde tórridas e perfeitas cenas de sexobombardeadas em novelas, séries efilmes, como justificar que a chancede uma primeira vez perfeita é muitomenor do que a de uma certa confu-são que vai se acertando com o tem-po? Superada a falta de experiência,quem há de convencer os jovens queas complicações continuam, sim, de-pois do casamento?

Outro exemplo da idealização quecompõe o repertório de modelos desucesso é o financeiro. Herói que sepreze não passa apertos com dinhei-ro. Pode até enfrentar algumas difi-culdades, mas nada desesperador.De preferência, terá uma profissão de“doutor” – médicos, dentistas, enge-nheiros, advogados e executivos têmmeio caminho andado para o suces-so. Cantores e atores, então, têmuma estrela estampada na testa emuita grana no bolso. Só resta pen-sar o que farão os jovens (na verda-de, a maioria dos brasileiros) que nãotiveram acesso ao ensino superior,que não puderam virar “doutores”.Operadoras de telemarketing podem

esquecer a fórmula da felicidade? Domésticas, mecâ-nicos, padeiros, atendentes do comércio, operários emanicures só serão felizes se ganharem na loteria ouse forem selecionados para um reality-show?

Caminhos diversosApesar de ainda tímidas, já há iniciativas muito inte-

ressantes que tentam romper com esse modelo idea-lizado de projeto de vida veiculado pela mídia. Canaiseducativos e publicações alternativas expõem informa-ções da “vida real” para armar o jovem na hora de to-mar suas decisões. Alguns programas questionam omodelo de sucesso veiculado na grande mídia e per-guntam qual é o jovem que a TV precisa retratar. A idéiade que programas educativos são sempre chatos estádesaparecendo: a tendência é cada vez mais unir en-tretenimento e informação.

Além disso, a sociedade gradativamente passa a co-brar a representação das diversidades. O movimentonegro tem feito progressos nesse sentido, ao pressio-nar para que protagonistas de novela sejam vividos poratores afro-descendentes. Pouco a pouco, personagenshomossexuais também entram na tela como “pessoascomuns”, e não como alvos de chacotas.

O BRASIL É UM DOS PAÍSES EM QUE SE PASSAMAIS TEMPO DIANTE DA TV E É INEGÁVEL QUEELA MEXE COM O NOSSO IMAGINÁRIO

Jairo Bouer é psiquiatra, colunista docaderno Folhateen da Folha deS. Paulo e apresentador de programaAo Ponto no Canal Futura

Um exemplo positivo de iniciativaque une diversão e informação são osprojetos da ONG sul-africana Soul City(www.soulcity.org.za). A instituiçãocapta recursos, recruta experts e pro-duz ficções com base educativa paraexibição em meios de massa. A ONGcompra espaços no rádio e na TV, oque lhe garante independência naprodução. As séries são feitas com ri-gorosos estudos junto ao público, tes-tando a eficiência (educacional e co-mercial) das tramas. Por aqui, vale apenar prestar atenção em trabalhosdesenvolvidos pelas TVs Educativas(Cultura, TVE), canais universitários eno Canal Futura.

Para terminar, vale perguntar nova-mente: até que ponto não somostambém responsáveis pelas idealiza-ções e construções equivocadas vei-culadas pela grande mídia e que pa-pel podemos ter na busca de umanova fórmula?

Page 46: Onda Jovem #1

sem bússola

A ASSOCIAÇÃO COM O CRIME E A OPÇÃO PELA GRAVIDEZPRECOCE SÃO PROJETOS DE RISCO OU A PORTA QUE SEABRE PARA QUEM NÃO VÊ OUTRA SAÍDA?

ESTRATÉGIAS DE

Eles cresceram às carreiras, dri-blando nas vielas de terra os perigosvariados da comunidade popular doRio de Janeiro onde nasceram, ummorro famoso mundo afora pela suaescola de samba – a Mangueira. Ape-sar da proximidade, não gostam doritmo, como descobriram, entre ou-tros pontos em comum, ao se conhe-cerem na adolescência: ele prefere ofunk; ela, evangélica, raramente sai ànoite. Hoje, ela está grávida de um fi-lho dele. O que, a olho nu, parece ape-nas um acidente de percurso, fruto

Muro furado à bala no bairro deSapopemba, em São Paulo: a

violência vitimiza principalmenteos rapazes, seduzidos pela

atração do crime, que ofereceremuneração alta e confere poder

perante a comunidade

da inexperiência juvenil, é uma situação emblemática,permeada de sinais de alerta.

Os dois estão com 17 anos. O menino, W. O., fre-qüenta a 8a série de uma escola municipal; a menina,H. S. S., cursa com boas notas o 1o ano do ensino mé-dio num colégio estadual e trabalha em um consultó-rio na Zona Sul carioca. W. também tem seu emprego– é soldado na tropa teen que controla o comércio dedrogas na Mangueira. Vivem, ambos, uma história queilustra como o meio social faz muitos jovens traçaremprojetos de vida que terminam por inviabilizar um fu-turo melhor. Às vezes, qualquer futuro.

Engravidar na adolescência, para as meninas, e en-volver-se com o crime, entre os meninos, tornaram-se

DAV

ILYM

DO

URA

DO

Page 47: Onda Jovem #1

47

por_Aydano André Motta

SOBREVIVÊNCIA

formas de obtenção de status, num país de poucasperspectivas sociais. Por todo o Brasil, a história se re-pete, com as características de cada região. Das garo-tas que desde o fim da infância se prostituem por al-guns trocados no Norte aos meninos que passam o diaensaiando malabarismos circenses nas esquinas ca-riocas; das meninas que engravidam para segurar osnamorados nas favelas do Nordeste aos jovens assal-tantes de rua das capitais do Centro-Sul, todos, commenos ou mais consciência, adotaram alternativas derisco como estratégia de sobrevivência.

Falsa liberdadeNa Mangueira, quando soube do namoro da filha, a

mãe de H. pareceu antever a tempestade, mas adotou atática errada – passou a espancar a garota, tentandoreprimir o namoro. Em vão. “Engravidei para poder sairde casa, ter minha própria família, virar adulta”, conta amenina, baixando a voz num reflexo. “Ele está trabalhan-do e prometeu ficar comigo”, diz ela, que despreza os

riscos enfrentados pelo pai de seu fi-lho. “Lá é tranqüilo, e ele sabe se cui-dar”, afirma, ignorando as alarmantesestatísticas da mortalidade de rapazestombados pela violência urbana.

W. fala pouco, nem sequer sorriquando é parabenizado pelo filho quevai nascer. Ano passado, ele ficou doismeses numa unidade para menoresinfratores na Zona Norte do Rio, masvoltou ao “emprego”, sem medo nemculpa. “Sei que isso aqui não duramuito, e se der mole posso dançar. Só

Page 48: Onda Jovem #1

quero juntar um dinheiro, até para fi-car com ela direito. Agora, tô sempreligado”, afirma, admitindo a mudan-ça de sua imagem perante a comu-nidade. “Sou respeitado como ho-mem, deixei de ser criança”, consta-ta, a pistola às costas, enfiada nabermuda, que vai até o joelho.

Ser “respeitado” como adulto é achave do problema desses jovens,ensina a ginecologista AlbertinaDuarte Takiuti, responsável pelo pro-grama Saúde do Adolescente, da Se-cretaria de Saúde do Estado de SãoPaulo. “Eles são inseguros. Tentam

construir uma auto-imagem – justamente quando ocorpo passa por profundas modificações –, pois neces-sitam da aprovação de seu grupo”, diz ela.

O mesmo vale para a vida sexual. Albertina explicaque os adolescentes fazem sexo não por desejo, maspelo medo de não agradar – temor, aliás, presente emtodas as faixas sociais. “Temos jovens que nos procu-ram angustiadas porque não conseguem engravidar”,diz a médica, que vê o projeto de vida atrelado à ma-ternidade como uma busca da aprovação grupal. “As-sim, elas criam vínculos e tentam prender o namora-do.” De todos os partos feitos no Brasil, 24% são demães adolescentes. “E a gravidez se repete em quasemetade das jovens”, contabiliza Albertina.

Estética libertadoraO artista plástico Antonio Veronese dedicou 16 anos

de sua vida à dura batalha pela recuperação de meno-res infratores como W., usando a arte como arma con-tra o buraco sem fundo do crime que espreita os jo-vens das favelas. Ele criou o Libertarte, para ensinarpintura a detidos no Centro João Luís Alves, na Ilha doGovernador, Zona Norte do Rio. “Quando um menino vêque é capaz de fazer algo que seja objeto de admira-ção dos outros, ele se reavalia”, diz o pintor.

Ele encontrou, em atividades que incluíam tambémidas a teatros, museus, óperas e exposições, uma for-ma de levar alguma sensatez à insana rotina dos jo-vens delinqüentes. “Descobri, nesse contato, uma rea-

lidade que vai muito além da nossaimaginação. Propus a pintura comoferramenta, para eles denunciaremsua realidade. Abria-se um horizontepara as crianças, que elas nem sequerimaginavam existir, e assim restau-ravam a auto-estima e a dignidade.Tenho certeza: estética é remédio”,escreveu Veronese, que interrompeuo projeto por causa de uma mudan-ça para Paris, onde vive atualmente.

Também freqüentadora do CentroJoão Luís Alves, a psicóloga MárciaFayad cruzou, incontáveis vezes, comjovens tentando encontrar no crimeum projeto de vida. Ela aponta a con-jugação da educação com um empre-go digno como a fórmula para evitaressa triste escolha. Márcia coordenao programa Justiça pelos Jovens, de-senvolvido pelo Tribunal de Justiça doRio de Janeiro e pelo Centro de Estu-do e Atendimento São DomingosSávio, que tem 60 participantes en-tre 16 e 24 anos. Muitos oriundos dotráfico de drogas, eles trabalham noArquivo Geral de Justiça e na Vara deExecuções Penais – e são, geralmen-te, ótimos funcionários.

Garota paulistana, grávida dosegundo filho aos 18 anos: dos partosfeitos no Brasil, 24% são de mãesadolescentes. Nem sempre fruto dadesinformação, a gravidez também évista como chance de criar laços emudar de posição

DAV

ILYM D

OU

RAD

O

Page 49: Onda Jovem #1

49

Solidão e féF. S. N., 22 anos, é um desses tra-

balhadores. Aos 13, ele entrou para aquadrilha que vendia drogas e assal-tava nas cercanias de Bangu, ZonaOeste do Rio. A agressividade maldirigida e o sonho de consumir pro-dutos de grifes juntaram-se numafórmula explosiva. “No dia que meentregaram um 38, eu me senti se-guro”, diz sobre o primeiro revólver.F., então, largou o colégio e alistou-se. “Virei soldado.” Viciado, foi detidoduas vezes, aos 15 e aos 17 anos.“Pensava assim: se eu morrer, nãotenho nada a perder”, conta o rapaz,que chegou a empunhar o troféu doscriminosos – o fuzil AR-15 – e sentiuo “coração se encher”.

Mais do que a polícia ou a perspec-tiva da morte, porém, a solidão era agrande adversária do seu modo devida – e a ela juntou-se a fé. “Um diarecebi uma Bíblia e ouvi um obreirodizer: ‘Jesus te ama’”, conta sobresua epifania. Hoje, fiel de uma igrejaevangélica, está noivo, cursa a 7ª sé-rie e, sentado num banco do corre-dor do Fórum carioca, se enxerga “cu-rado”. “Voltei a morar com minhamãe, tenho carteira assinada e voume casar. O que mais posso querer?”

Horizontes perdidosFinais felizes como o de F. são ra-

ros. Em Belém, é grande o número demeninas que, ainda crianças, come-çam a se prostituir. O sexo é a solitá-ria alternativa de sobrevivência – mui-tas vezes, incentivada por mães igual-mente órfãs de horizontes. “Mães eavós por vezes aliciam as próprias fi-lhas e netas”, relata Graça Trapasso,coordenadora do Movimento Repúbli-ca de Emaús, de atendimento a me-ninas em situação de risco. “A escolaé muito precária, os índices de anal-fabetismo e de evasão são enormes”,observa Graça, alertando que o pro-blema começa a atingir também osmeninos. A ONG tem conseguido re-sultados na assistência às adolescen-tes, na busca de emprego e quasesempre evitando a segunda gravidez.Mas o caminho é longo.

EM PLENA TRANSFORMAÇÃO, O JOVEMQUER SER APROVADO PELO GRUPO E VISTOCOMO ADULTO. ACREDITA QUE O CRIME DÁSTATUS E QUE A GRAVIDEZ CRIA VÍNCULOS

PROJETO JUSTIÇA PELOS JOVENSOPERADORES TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO E ONG SÃO VICENTE DE PAULA.REGIÃO DE ATUAÇÃO RIO DE JANEIROPROPOSTA Oferecer a jovens encaminhados pela Segunda Vara da Infância e Juventude sua primeiraexperiência profissionalizante, com bolsa-auxílio de R$ 267,00, vale-transporte e tiquete-refeiçãoJOVENS ATENDIDOS 60APOIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIROCONTATO Av. Rodrigues Alves, 731A – Santo Cristo – Rio de Janeiro (RJ) – Fone: 21/3213-4763/3213-4719

CASA DO ADOLESCENTEOPERADOR SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE DO SÃO PAULOREGIÃO DE ATUAÇÃO ESTADO DE SÃO PAULOTIPO DE INSTITUIÇÃO PROGRAMA DE POLÍTICA PÚBLICAPROPOSTA Orientar adolescentes para evitar a gravidez precoce e sobre o risco de doenças sexualmentetransmissíveis. Presta assistência a mães e pais adolescentesJOVENS ATENDIDOS 17 MIL EM 10 ANOSAPOIO GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO.CONTATO Rua Ferreira de Araújo, 789 – Pinheiros – São Paulo (SP) – Fone: 11/3819-2022

PARA

SAB

ER M

AISSOBRE

PARA

SAB

ER M

AISSOBRE

>>

Page 50: Onda Jovem #1

Foi assim com Chirlene Oliveira deMelo, que aos 13 anos saiu de casaem Benguí, periferia de Belém, apai-xonada por um menino e oprimidapela violenta oposição da mãe. “Fuimorar com ele, mas a família dele nãoaprovou e acabei na rua.” Seu ende-reço na adolescência: o terminal ro-doviário de São Brás. “Roubava e saíacom velhos de 40, 50 anos. Transavapor R$ 10.” Viciou-se. “Aos 17 anos,conheci outro menino na rua. A gen-te se apaixonou e eu engravidei”,conta ela, que em menos de um anoperdeu o companheiro, assassinado.

O crime a fez deixar a rua, mas an-tes ela experimentou o respeito pelasua nova condição. “Quando os taxistassabiam que eu estava grávida, não que-riam ir comigo e até me ajudavam, medavam comida”, ela conta. Chirleneteve mais dois filhos, de pais diferen-tes, também meninos de rua e hoje,aos 20 anos, trabalha na República deEmaús. “Tenho emprego decente, ummarido e uma casa. Sou feliz porqueconfiam em mim, mas meus filhos nãoconheceram os pais”, diz.

Informação e opçãoO grupo e a figura parental – seja

do traficante, do namorado, do pa-trão ou do professor – são os fato-res mais importantes nas escolhasjuvenis, ensina a ginecologistaAlbertina Takiuti. Em relação à gravi-dez, por exemplo, em São Paulo nemsequer existe a desinformação queainda grassa no Norte do Brasil. “Asmeninas, mesmo as do meio rural,conhecem até a pílula do dia seguin-te”, diz ela. “Mas querer que elas se-jam apenas resistentes às condições

A ARTE É FERRAMENTA PARA QUE O JOVEMEM SITUAÇÃO DE RISCO DENUNCIE SUAREALIDADE E RESTAURE A AUTO-ESTIMA.ESTÉTICA É REMÉDIO

“São conversas delicadas, por vezestensas, com freqüentes olhares para o

lado, numa vigilância obsessiva domundo em volta. Seja no Fórum do

Rio ou no pé de uma favela na ZonaNorte da cidade, encontrar jovens em

situação de risco é uma experiênciainvariavelmente marcante. Com o

casal – H., grávida de W., soldado dotráfico –, a conversa foi na entrada do

morro. Da mesma idade, ela parecemuito mais madura do que ele. W.

começou a conversa arrogante, quasehostil, mas rapidamente baixou a

guarda. Não dá sinais de terentendido que será pai, mas saboreiao status dado pela arma que carrega.

Mesmo que não haja futuro.Deveria aprender com as lições de F.,

o rapaz salvo pela fé, que trabalha noFórum carioca. Comecei a entrevistaem tom baixo, na intenção de poupá-

lo de constrangimentos com aslembranças. Sem dizer nada, ele não

concordou e deu seu próprio tom.Alegre, afável, descreveu sua

trajetória com voz firme e decidida,exibindo o orgulho dos que foram ao

inferno – e voltaram. Por telefone,Chirlene, a ex-prostituta de Belém,

também se impôs. Quando sugeriuma forma de protegê-la da exposi-ção, não permitiu o uso das iniciais.

Exigiu o registro de seu nomecompleto, como que para informar ao

mundo que é uma cidadã.”

VIDA DE REPÓRTER

AYDANO ANDRÉ MOTTA, 40 ANOS,nascido em Niterói,

há 19 anos é jornalista no Rio de Janeiro

Page 51: Onda Jovem #1

51

adversas de seu meio é difícil.” É pre-ciso tratar tudo, da prevenção ao ato,como atitudes de carinho e respon-sabilidade. “Também alertamos paraa barra pesada que é ser mãe”, diz.

“Amo meu filho, mas passo cadasufoco”, reconhece J. L. M., 18 anos,mãe de um menino de três anos.Moradora do Jardim Ângela, perife-ria de São Paulo, ela foi abandonadapelo pai da criança no início do ano –ameaçado de morte por traficantesda região – e cria o filho com a ajudada mãe. Ainda não arrumou empre-go, mas ganhou o respeito da comu-nidade. “Os meninos da boca nãomexem mais comigo”, diz: “Mas nãoposso mais ir às baladas”.

Os esforços necessários para secriar um filho são uma desagradá-vel surpresa também para as grávi-das adolescentes de Recife, atendi-das pela ONG Casa de Passagem. “Éum problema social, provocado in-clusive pela busca de status”, diz apsicóloga Thelma Torres, gerente-executiva da entidade. “As meninasquerem um provedor que, elas ima-ginam, vai dar também sustentaçãosocial. É o mito da Cinderela.”

A Casa de Passagem procura apon-tar um outro futuro, no caminho daconscientização, porque o problema,observa Thelma, gera uma desorga-nização social que atinge a todos. “Noinício, o jovem pai fica, mas pula foraassim que vê a dificuldade de susten-tar uma família”, diz a psicóloga. A ONGbusca ensinar uma profissão às jo-vens, mas Thelma lembra a importân-cia do envolvimento de todos na so-lução dos problemas sociais. Eles, afi-nal, têm o tamanho do Brasil.

MOVIMENTO REPÚBLICA DE EMAÚSOPERADOR REPÚBLICA DE EMAÚS (ONG)REGIÃO DE ATUAÇÃO REGIÃO METROPOLITANA DE BELÉM (PA)PROPOSTA Socorrer crianças em situação vulnerável ou vítimas de violência e combater a prostituiçãoinfanto-juvenil. Lutar contra o trabalho infantil e a violência sexualJOVENS ATENDIDOS 1.553APOIO SAN FERMO, ISCOS, UNICEF, PARROCCHIA D S MARIA, PICCINI SIMONETTA, WCF TXAI, KINDEREN, TERRA DOSHOMENS, CORDAID, SKN, OIT, THE PARTHEENON, STC, EMBAIXADA DA ITÁLIA, CAIXA ECONÔMICA FEDERAL,PETROBRAS, INFRAERO, SECRETÁRIA EXECUTIVA DO TRABALHO E PROMOÇÃO SOCIAL DO ESTADO DO PARÁ,SECRETARIA DE SAÚDE DE BELÉM E FUNDAÇÃO PAPA JOÃO XXIII.CONTATO Travessa Apinagés, 743 – Condor – Belém (PA) – Fone: 91/272-2449/272-9154

PASSAGEM PARA A VIDA, COMUNIDADE E CIDADANIA E INICIAÇÃO AO TRABALHOOPERADOR CASA DE PASSAGEM (ONG)REGIÃO DE ATUAÇÃO REGIÃO METROPOLITANA DE RECIFE (PE)PROPOSTA Processo socioeducativo orientado inserir crianças, adolescentes e jovens na família, escola,comunidade e no mundo do trabalho. Articula seu trabalho de promoção social com protagonismo políticoJOVENS ATENDIDOS 350 POR DIA, NA SEDE DA INSTITUIÇÃOAPOIO OXFAN, NOVIB, MISEREOR, CHRISTIAN AID, CHRISTIAN WORLD SERVICE, ITINERANT VOLENS, OAK FOUNDATION,POMMAR/USAID PARTNERS, DEUTSCHER CARITASVERBAND/GTZ, BNDES, PROGRAMA CAPACITAÇÃO SOLIDÁRIA E TIM.CONTATO Rua Treze de Maio, 55 – Recife (PE) – Fone: 81/3423-3839/3223-3314.

O poder do crime nas comunidadespopulares se concretiza na exibiçãodas armas, que se tornam objeto dedesejo para os jovens em busca dorespeito de seus pares

PARA

SAB

ER M

AISSOBRE

PARA

SAB

ER M

AISSOBRE

SAM

BAPH

OTO

Page 52: Onda Jovem #1

o sujeito da frase

“A GENTE É QUE NEM ÍMÃ!”A rapper Negra Li acredita que quando sequer muito uma coisa, ela vem, mesmo emmeio à guerra contra o preconceito

por_Vera de Sáfotos_Henk Nieman

Page 53: Onda Jovem #1

53

Ela foi a primeira mulher do rapbrasileiro a assinar contrato com umagrande gravadora, divulgou seu CD deestréia com o parceiro Helião em pro-gramas de grande audiência na Glo-bo “Guerreiro & Guerreira”, a faixa-título, foi incluída na trilha da novelaComeçar de Novo) e está no elencode Antonia, filme que Tata Amaralcomeça a rodar em fevereiro. Aos 25anos, quase dez fazendo rap, NegraLi, que ainda divide o mesmo quartocom a irmã na casa da mãe, em VilaBrasilândia, periferia de São Paulo, sediz “uma sobrevivente”. Preconceito,machismo, armadilhas usuais no ca-minho de uma mulher negra e pobre,no entanto, não são questão de en-dereço: “Se existe um lugar, a peri-feria é o melhor. A gente tem orgu-lho do lugar onde mora”.

Voz quase sempre grave, que pou-cas vezes se eleva, Negra Li fala sempressa. Nascida Liliane de Carvalho, elaé a caçula de um time de duas irmãse três irmãos (“O mais velho está pre-so porque foi pego com droga”). Her-dou a religiosidade da família evangé-lica e fez o ensino básico numa esco-la particular como bolsista. Acreditaque “a gente é que nem um ímã” ca-paz de atrair o que se deseja muito.

Negra Li teve uma aproximaçãomais formal com a música ao entrarpara o coral da Universidade de SãoPaulo, em 2000, mesmo ano em quegravou o hit pop “Não É Sério”, como grupo Charlie Brown Jr., entoandoo refrão: “Na tevê, o que eles falamsobre o jovem não é sério”. Contral-to, há um ano e meio começou a fre-qüentar uma escola de música, coma mensalidade paga por um amigo.Acha que “a música pode mudar omundo” e que “tem uma responsa-bilidade”. Por conta talvez deste últi-mo credo, já divulgou como sua a his-tória exemplar vivida pela irmã Lilian,

que ouviu o cochicho da examinadora ao sair de umaentrevista de emprego: “Mas tem de ser bonita”, tra-duzindo a pouca chance que tinha de conseguir a vagapor ser negra. “Feia é o que eu não sou”, a réplica deNegra Li, já não é dublagem: “Eu nunca fui feia”, dizessa admiradora de Nelson Mandela.

Onda: Música e cinema eram seu projeto de vida?Negra Li: Desde criança ficava em frente ao espelho,

punha xale na cabeça, fingia que o desodorante eramicrofone, ficava imitando apresentadora. Cinema éuma coisa que eu sabia que uma hora ou outra ia che-gar na minha vida. Porque a gente é que nem um ímã:quando a gente quer muito uma coisa, acho que elavem. As coisas também acontecem comigo porque eununca me deslumbrei com nada, sempre tive a maiorcalma. Não tem aquela coisa de querer ser rica: eu gos-to de morar onde eu moro, de ser pobre, sabe? Temuma certa alegria que o rico quer muito, mas o pobre éque tem, aquela alegria de viver assim no bairro, todomundo se conhece, todo mundo se fala, se cumprimen-ta. Há uma certa liberdade que só sendo da periferiapra saber. E a periferia quer aquilo que o rico tem, queé o dinheiro, a vida boa.

Negra Li, na Oficina Cultural Oswaldde Andrade, em São Paulo, ondeparticipou de um workshop para onovo filme da diretora Tata Amaral,sobre hip hop: “Eu sabia que ocinema ia chegar na minha vida.Mas as coisas acontecem comigoporque eu nunca me deslumbrei.Gosto de morar onde eu moro”, diz,referindo-se à Vila Brasilândia, naperiferia de São Paulo

Page 54: Onda Jovem #1

Você incorporou a história da sua irmã para ilustrar o pre-conceito racial. Foi algo que te afetou especialmente?

Realmente, acontece muito com a gente, o precon-ceito com o negro, não vêem a beleza dele. E eu sofriisso muito na escola. Naquelas brincadeiras de beijo-abra-ço-aperto de mão, os caras não se interessavam em mebeijar. E eu nunca fui feia! Mas acho que eles não enxer-gavam, sei lá. Como eles eram meninos, a gente não podejulgar. Mas na televisão sempre passou a figura loira, osolhos claros, e a criança vê uma coisa assim pra se ape-gar. Até hoje, andando com amigas minhas, elas bran-cas e mais feias do que eu, vejo os caras mexerem maiscom elas do que comigo, entendeu?

E a cultura hip hop, o que ela representa?É que nem um Quilombo dos Palmares, é um refúgio

pra um certo tipo de pessoas que são do mesmo esti-lo, que vivem o mesmo tipo de vida, que é o da perife-ria. São pobres, não só negros, mas todos aqueles quese sentem injustiçados, que se incomodam e queremter um grito de guerra, querem falar. Acho que é ummovimento muito importante pra nós porque resgata,tira os jovens das drogas, as meninas da prostituição.Os jovens, em vez de ficarem pensando um monte debesteiras, se ocupam, fazem seu grupinho de dança,de break, compram seu disco, vão ser DJs. É uma cul-tura que abrange quatro elementos: o MC, que é omestre de cerimônias, o cara que agita a festa, o DJ, obreak e o grafiteiro. Essa é uma maneira da gente nãoficar só se lamentando e de fazer acontecer algumacoisa que a gente queira, nem que seja na pintura de

um grafite, numa dança: o jeito queos breaks dançam é uma atitude dese impor.

Como foi sua vivência do lado maisdifícil da periferia?

Quando eu era criança, muitas ve-zes fui pra debaixo da cama por cau-sa de tiroteio. Durante anos eu con-vivi com o universo masculino, omachismo, demais, no meio dosrappers. Acho que a mulher, quando

entra num lugar dominado por ho-mem, tem de provar duas vezes mais.É por isso que eu não aderia à roupacurta, me vestia como eles, calça lar-ga... pra ser respeitada. Era uma for-ma de me defender.

A chance de a mulher ficar no meiodo caminho é maior?

É. Mulher não tem aquela liberda-de que o homem tem. Se ela ficargrávida, é ela que carrega na barri-ga, é ela que tem de cuidar da crian-ça. Muitas mulheres deixaram seussonhos pra trás porque tiveram umfilho ou porque são dominadas porum namorado ou um marido. Então,

>

Page 55: Onda Jovem #1

55

eu me sinto uma guerreira por nãoter tido esse tipo de problema, pornão ter me perdido. Não vendi meucorpo, e por mais que em casa te-nha passado vontade das coisas,nunca quis traficar. Eu sou umaguerreira por ter resistido a essastentações. E uma sobrevivente.

Hoje, o que mais te perturba na situa-ção da periferia?

Meu sobrinho foi pro hospital comfebre, mal, e o médico disse que eraintoxicação porque comeu ovo duran-te uma semana. Isso que é o maisduro: ver uma criança que não podeter uma alimentação à pampa. E issojá vai influenciar em como ele se saina escola. Se não se alimentar direi-to, não vai conseguir estudar direitoe como vai ser o futuro dele? A maio-ria dos negros é pobre, já está com-provado, e se não têm uma boa ali-mentação, não têm nem prazer deestudar. Eu mesma não me vejonuma faculdade. Meu poder de con-centração não é daqueles. Admiromuito quem lê livros e livros... Eu nãoconsigo e acho que muitos negros epobres também não.O rap tem um sentido de protesto,de denúncia. Você, contratada poruma grande gravadora, se apresen-tando na Globo, não tem medo de serabsorvida?

Eu não tenho medo porque den-tro de mim eu sei o que eu quero.Eu não faço música por fazer, eu te-nho um sentimento no meu canto,tenho toda uma responsabilidade etenho de agradecer a Deus pelo domque ele me deu. E tenho de compen-sar isso de alguma forma. Não gos-to de música vulgar, jamais cantaria

“O hip hop é como um Quilombo dos Palmares, refúgiopara os pobres da periferia, para os que se incomodame querem ter um grito de guerra. O jeito do breakdançar é uma atitude de se impor”

Depois do sucesso gravado comCharlie Brown Jr., em que cantava “ojovem não é levado a sério”, Negra Lilançou seu próprio CD, com o parceiroHelião, e chegou às novelas da Globo,sem medo de ser absorvida por umgrande esquema. Sobrevivente daviolência, do machismo e dopreconceito, ela sabe o que quer:“Não faço música por fazer. Tenhouma responsabilidade no meu canto”

uma coisa vulgar. Acho que hoje as crianças já estãoaprendendo coisas que não era hora delas aprenderem.Eu acho que a música é capaz de mudar o mundo. Nasescolas devia ter a matéria “Música”. Eu sempre afirmoque a gente tem de estudar a música pra ser respeita-do por todos os gêneros musicais, pro rap ser levado asério. A música mexe muito dentro da gente.

Como você imagina que poderia ser uma política ho-nesta para o jovem da periferia?

Eu acho que uma pessoa que é muito boa, que quero bem pra todo mundo, não entra na política. Então,vai ser difícil a gente ter uma política honesta, perfei-ta. Todo mundo pensa no seu dinheiro; dinheiro é todoo problema.

O quanto a escola atual está distan-te da realidade do jovem?

O jovem devia ter opções na vida,uma escola devia ser completa, deviaensinar também o que o jovem queraprender. Mas está distante, pareceque eles não querem deixar a genteinteligente o suficiente pra não elegeralguém que vai nos enganar mais tar-de. Acho que devia ter aula de música,esporte... e ensinar a ser um profissio-nal. Você vê o pessoal chegar ao se-gundo colegial e ainda não saber o quequer ser. Acho que tinha de despertar,mexer mais com criatividade, dar maisopções pra pessoa poder procurar den-tro dela o que ela gostaria de ser.

Page 56: Onda Jovem #1

A JUVENTUDE MANTÉMUMA RELAÇÃOINTENSA E VARIADACOM A RELIGIÃO

por_Beatriz Portugalfotos_Gustavo Lourenção

AMIGOS DA FÉ

lunetaluneta

Page 57: Onda Jovem #1

57

A religião é a parcela do ideal num projeto de vida, acreditava, já no século19, o historiador francês J. Ernest Renan. Se a definição pode permanecerválida ainda hoje, sem dúvida a relação entre as pessoas e a religiosidademudou muito ao longo do século 20. Por isso é natural que se indague qual éo real envolvimento da juventude contemporânea com a religião. Segundo osespecialistas, trata-se de um relacionamento intenso e movimentado: a reli-gião está, sim, presente no dia-a-dia da maioria dos jovens brasileiros, mas écomum que eles mudem de uma denominação para outra, freqüentem maisde uma igreja e às vezes acabem adotando uma maneira muito própria decombinar diferentes crenças.

Segundo a antropóloga Regina Novaes, pesquisadora do Instituto Superiorde Estudos Religiosos (Iser), esse panorama ficou claro na pesquisa Perfil daJuventude Brasileira, que ela coordenou para o Instituto da Cidadania. “A re-ligião ocupou um lugar surpreendente entre os assuntos que os jovens gos-tariam de discutir, não só com os pais, mas também com os amigos e com asociedade”, diz. E essa posição de destaque apareceu várias vezes. Quandose perguntou, por exemplo, o que os jovens mais gostam de fazer no fim desemana, entre várias opções, uma das preferidas foi ir à igreja, seja à missaou ao culto.

Entre os entrevistados, 65% se declararam católicos e 20%, evangélicos,sendo 15% pentecostais e 5% não pentecostais. Os jovens sem religião so-maram 10%, dos quais 9% afirmaram, no entanto, acreditar em Deus. So-mente 1% identificou-se como ateu e agnóstico. Mas Regina Novaes chamaatenção para uma outra informação: “Depois dos evangélicos, os brasileirossem religião são os que mais crescem no conjunto da população e, sobretu-do, entre os jovens”.

Liberdade e imediatismoE como os jovens fazem suas opções? “É preciso considerar que, além

da família, hoje há outros agentes influenciando as definições religiosas.Numa pesquisa que desenvolvi no Rio de Janeiro, em 2002, constatamosque a família inspirava mais de 50% dos entrevistados. Para os demais, adecisão tinha outras justificativas: ‘motivos pessoais’; ‘influência de ami-gos’ e de ‘agentes religiosos’. Ou seja, os jovens desta geração estão sendochamados a fazer suas escolhas em um campo religioso mais plural e com-petitivo”, diz Regina.

Essa realidade não significa que os pais, automaticamente, se tornaramliberais em relação às escolhas dos filhos. “Não há dúvida de que as coisasmudaram. Cada vez existem mais famílias divididas entre diferentes reli-giões. Mas não sei se é possível dizer que as diferenças são aceitas. O que

se vê é que muitas vezes essa cisão gera conflitos”, dizRonaldo de Almeida, professor de Antropologia da Uni-versidade de Campinas e pesquisador do Centro Brasi-leiro de Análise e Planejamento (Cebrap).

“Antes, as pessoas aderiam a sistemas religiosos fe-chados. Hoje, essa questão está mais embaralhada e,ao mesmo tempo, associada a demandas da vida coti-diana”, diz Almeida. Para ele, as religiões mais tradicio-nais estariam direcionadas para projetos de vida de lon-go prazo, ou seja, preocupadas com a formação de umhomem e uma mulher maduros, com a família, com osvalores morais. Em contrapartida, as religiões contem-porâneas estão concentradas em questões mais imedi-atas: a possibilidade de abrir um negócio, comprar umacasa, viabilizar os estudos. “Há um uso da religião que,se não é instrumental, é cada vez mais imediato.”

Espaços juvenisQue as igrejas se transformaram é fato. Hoje elas sur-

gem com forças e formas de atuar diferentes daquelasdo passado. Nas décadas mais recentes, o rápido cres-cimento das igrejas evangélicas, associado ao amplo usodos meios de comunicação, foi sucedido por uma rea-ção da Igreja Católica, em parte graças à expansão dochamado movimento carimástico. Nos dois casos, a par-ticipação juvenil é expressiva.

Para Ronaldo Almeida, a criação de espaços de lazer e

Jovens católicos lêem a Bíblia emreunião de estudos no Centro de

Juventude Anchietano, em São Paulo(na página oposta e abaixo);

rapaz evangélico assiste a show gospel(abaixo, à direita)

Page 58: Onda Jovem #1

entretenimento é uma das principais estratégias das igrejas para atrair ajuventude: “Nessas situações, em que há música, shows etc., o importanteé a sociabilidade: criam-se redes de amizade, as pessoas namoram, secasam. Hoje, gospel é mais que um estilo de música, é o que identifica ocomportamento do jovem religioso; e existe o gospel católico também”.

Por tudo isso, é comum encontrar dirigentes jovens nos segmentos reli-giosos dirigidos à juventude. Segundo Cristiane Henrique da Silva, aproxi-mar-se da religião foi decisivo para a definição do seu projeto de vida. Aos15 anos, ela começou a freqüentar um grupo de jovens da renovaçãocarismática, da Igreja Católica. Aos 24, tornou-se missionária. Hoje, aos 28,é diretora do programa PHN, da TV Canção Nova. O programa é apresenta-do pelo cantor Dunga, que explica: “PHN significa Por Hoje Não (vou pecar)e é assistido em todo o Brasil por 12 milhões de jovens. O objetivo éevangelizar usando todos os meios de comunicação”.

RELIGIÃO É UM DOSTEMAS QUE OSJOVENS MAISGOSTAM DE DISCUTIR

Page 59: Onda Jovem #1

59

Carioca, nascida em uma das favelas do Complexo do Alemão, Cristianeconta que tinha poucas perspectivas. “Mas a religião nos leva a ter conceitosbons, a definir o essencial: a opção pelo bem.” Antes de ter essa percepção,aos 15 anos, “tinha aquela idéia de que os religiosos eram bitolados, papa-hóstias e achava que ia ser induzida, quando não aceitava que ninguém meinduzisse a nada”. Sobre sua descoberta religiosa, a motivação inicial não foia fé, mas a alegria: “Fiquei impressionada ao ver jovens sorrindo, se abraçan-do e cantando”. Sobre seu trabalho: “Nossa intenção é formar os jovens parapensar assim: é preciso fazer a minha parte, fazer o bem”.

Prioridades e credo próprio“A qualidade espiritual é uma referência importante na definição do pro-

jeto de vida, juntamente com o comprometimento social. A espiritualidadeé o valor maior das pessoas e deve permear todas as áreas de nossasvidas”, diz Jesus Marcelo Galheno, 28 anos, presidente do Conselho daMocidade Evangélica do Distrito Federal, que promove a evangelização ju-venil nas cidades-satélites, como Ceilândia.

Galheno explica que os jovens são convidados a participar de cultos nasigrejas e nos núcleos de comunhão. “Ali, lançamos o desafio aos que que-rem se somar a nós na busca de métodos que produzam o crescimentoespiritual e social e na formulação de projetos que combatam a ociosida-de.” Além dos cultos, ele diz, rapazes e moças participam de visitas a casasde recuperação de viciados e lar de idosos; de apresentações com canto-res evangélicos; de simpósios e seminários. Editam ainda a revista Gospel,com tiragem de 10 mil exemplares e artigos sobre questões religiosas,lazer e saúde.

Nas atividades mais festivas, muitos jovens estão procurando simples-mente diversão, admite Galheno. Mas ele acha que não se devem confun-dir prioridades. “Religião é sentimento, é espiritualidade. Ela pode nos alie-nar ou nos libertar. Alienar, se deturpada, inclusive por conduzir muitos aofanatismo e ao preconceito.”

Do grupo dos sem religião, Ana Rosa Inoue Sardenberg,paulista, 23 anos, acredita que numa perspectiva de vidamais ampla a religião não tem a força que se pretendeatribuir a ela. A estudante de Economia, que trabalha comprodução de filmes e vídeos, foi batizada na Igreja Católi-ca e aprendeu com a mãe a doutrina budista, mas não épraticante. “Vejo os jovens se aproximarem da religião maispor uma necessidade social de pertencer a um grupo”,diz, sem descartar a possibilidade de mais tarde optar poruma prática religiosa. Por enquanto, Ana Rosa acha sufi-ciente cultivar princípios: pensa que a crença em valoresprofundos, baseada na razão e não na fé, às vezes atuatão fortemente como guia de conduta que acaba por tera força de uma religião.

Jovens da igreja Renascer, em São Paulo, duranteapresentação de cantores de gospel (na páginaoposta); detalhe das pulseiras no braço de uma

garota evangélica e jovens católicos estudando aBíblia: igreja é também espaço de sociabilização

Page 60: Onda Jovem #1

ciência

A IDADE DA RAZÃOO MODO DE PENSAR JUVENIL É CONDICIONADO PELOAMADURECIMENTO DO CÉREBRO, QUE É MAIS LENTO DO QUESE PENSAVA. MAS HÁ OUTROS FATORES EM JOGO

por_Karina Yamamotoilustração_Marcelo Pitel

Fazer escolhas entre o que é certo e errado, plane-jar o futuro e se colocar no lugar do outro são, sim,atitudes mais difíceis aos 15 anos do que aos 25, enão se trata apenas de ter maior ou menor experiên-cia de vida. Por quê? Essa é uma questão que tam-bém a neurociência tenta responder. Segundo pesqui-sas recentes, falar ou fazer algo de forma impulsiva,um comportamento típico da juventude, pode ter ou-tro ingrediente além da vontade pura e simples do jo-vem. Biologicamente, ele ainda está amadurecendotambém o seu aparato cognitivo, orientador da toma-da de decisões.

Page 61: Onda Jovem #1

61

O debate agora é sobre o quanto amaturidade social tem relação com oamadurecimento biológico – ou maisespecificamente com uma determi-nada região do cérebro, o chamadocórtex frontal. Um estudo concluídoem 2004 pelo National Institute ofMental Health, NIMH (Instituto Nacio-nal de Saúde Mental), órgão de saú-de americano, indicou que essa árease desenvolve durante toda a segun-da década de vida. A pesquisa usouimagens do cérebro feitas nos últi-mos 15 anos, acompanhando o cres-cimento de 13 crianças, dos 4 aos 21anos. Os dados sugerem que o córtexfrontal está próximo do amadureci-mento completo somente aos 20anos. E essa é a região do cérebro li-gada ao que os cientistas chamam defunções cognitivas superiores, taiscomo relacionar informações entre si,fazer escolhas éticas, prever a rea-ção do interlocutor. É o que, no fim,nos torna capazes de defender valo-res ou evitar uma gafe.

Ciência e sociedadeInformações sobre o cérebro podem embasar deci-

sões de políticas públicas ou mesmo punições legais.Organizações norte-americanas de defesa dos direitosdos jovens, por exemplo, tentam livrá-los da pena demorte utilizando esse argumento. “Os lobos frontais,regiões envolvidas na regulação das emoções, no pla-nejamento e no controle dos impulsos ainda estão ama-durecendo durante a adolescência”, diz, em entrevistapor e-mail, o psicólogo Laurence Steinberg, professorda Universidade de Temple, na Filadélfia, Estados Uni-dos. Para o americano, que é autor do livro The Ten BasicPrinciples of Good Parenting (Os Dez Princípios para Serum Bom Pai, ainda sem tradução para o português), épreciso levar em conta a maturidade biológica. “Não achoque os jovens devam ser punidos da mesma maneiraque os adultos”, defende.

Isso quer dizer que não há como exi-gir responsabilidade de quem aindanão chegou aos 20 anos? Não é dissoque se trata, até porque estão envolvi-dos outros fatores – individuais e so-ciais. “Não dá para justificar as atitu-des juvenis unicamente pela base fisi-ológica”, diz o neurologista Paulo Ber-tolucci, professor da Universidade Fe-deral de São Paulo. Bertolucci concor-da que, antes dos 15 anos, nem todostêm condições plenas de fazer esco-lhas éticas e de colocar-se no lugar dooutro. Mas, a partir dessa idade, já exis-tem condições para isso. “Esse indiví-duo já tem maturidade mínima paraconviver em sociedade”, diz.

Page 62: Onda Jovem #1

Mas, nem mesmo a médica ameri-cana Judith Rapoport, que participoudo estudo do NIMH, se arrisca a rela-cionar diretamente maturidade psi-cológica e desenvolvimento do córtexfrontal. “Nossos dados são muito li-mitados para afirmar isso”, afirmouRapoport a Onda Jovem. “Nosso cé-rebro está mudando durante toda anossa existência.”

A verdade é que é impossível criarregras ou rótulos quando se trata docomplexo desenvolvimento humano.A estudante de psicologia Liliana Pra-do Lima, de 22 anos, é um exemplo.Aos 13 anos, uma de suas melhoresamigas começou a usar drogas. Alémde não embarcar na mesma viagem,seus conselhos levaram a garota aadmitir o vício e a procurar ajuda. “De-pois, ela me agradeceu o apoio”, con-ta. Como dizer que ela não soube jul-gar a situação?

Maturidade biológicaO funcionamento do cérebro ainda é um campo a

ser desbravado, mas hoje já se sabe muito sobre esseórgão. É consenso que, durante a adolescência, osneurônios (as células cerebrais) passam por umamielinização. Trata-se do aumento de uma substân-cia (a mielina) ao redor de uma região da célula ner-vosa (axônio) responsável pela transmissão do impul-so elétrico e, conseqüentemente, por tudo que se pas-sa no cérebro. “A mielinização acontece entre os 10 eos 20 anos”, diz o neurologista Gilberto Xavier, da Uni-versidade de São Paulo. “Antes do processo, a veloci-dade do impulso elétrico fica entre 2 e 5 m/s e, de-pois dele, pode chegar a 100 m/s.” Isso nos dá maisagilidade mental.

Outro acontecimento importante nessa fase é a per-da, por falta de uso, de uma série de conexões entre osneurônios, as sinapses. Nos primeiros anos de vida, hátudo por aprender e estamos formando sinapses o tem-po todo. Durante a puberdade, é como se houvesse umafaxina, em que o organismo descarta aquelas que nãonos servem mais. “O processo de perda de sinapses éinfluenciado pelas experiências”, explica LaurenceSteinberg. Como as conexões que permanecem são asmais utilizadas, novos estímulos intelectuais são muitobem-vindos. “Devemos tentar melhorar a nossa capaci-dade de resolver problemas buscando novos desafios,inclusive de natureza emocional”, diz o neurorradiologistaEdson Amaro Júnior, do Hospital Albert Einstein, em SãoPaulo. Aí vale todo tipo de atividade, de planejar com-pras de supermercado a praticar esportes.

AS CÉLULASCEREBRAISPASSAM PORIMPORTANTESTRANSFORMAÇÕESQUÍMICAS E FÍSICASA PARTIR DAADOLESCÊNCIA

Page 63: Onda Jovem #1

63

Mais experiência, menos regrasMas os aspectos neurológicos não são tudo. Para a

psicóloga Henriette Tognetti Penha Morato, da Univer-sidade de São Paulo, é preciso levar em conta a singu-laridade da situação dos jovens. “Eles estão numa faseem que querem ir além, estão se exercitando como res-ponsáveis, mas querem aprender pela experiência e nãopela norma”, diz ela. O conflito surge quando o adultotenta impor suas regras e valores, uma vez que o ado-lescente se apresenta para ele como “possibilidade deser o que ele não foi ou não quis ser”, nas palavras deHenriette. A negociação é o melhor caminho.

O fato é que não há respostas prontas – da biologiaou da psicologia – para ultrapassar essa etapa da vida.Não há como evitar o embate entre a busca do que sepretende ser e as exigências da realidade. Mas há umponto em que todos os especialistas concordam: aoentender melhor como a juventude pensa, os adultospodem explorar mais os aspectos positivos da relação.Para Steinberg, “cabe aos pais e educadores proporci-onar um ambiente favorável e seguro para que o jo-vem possa fazer escolhas cada vez mais complexas,exercitando sua responsabilidade”.

Page 64: Onda Jovem #1

por_Vasconcelos Quadros

O ano de 2005 pode ser dos mais importantes paraos jovens brasileiros na ocupação de um espaço pró-prio na agenda de políticas públicas. Além da suatransformação em Ano Nacional da Juventude, segun-do uma das propostas feitas pela Comissão Especialde Políticas para a Juventude da Câmara dos Deputa-dos, o governo federal determinou a criação, no iníciode fevereiro, de dois órgãos especiais para cuidar dotema: a Secretaria Nacional da Juventude e o Conse-lho Nacional de Juventude, instituídos por Medida Pro-visória que deve entrar na pauta do Congresso nesteinício de ano legislativo. Na mesma oportunidade, opresidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou o Progra-ma Nacional de Inclusão de Jovens (Pró-Jovem), comorçamento, para 2005, de R$ 300 milhões, destina-dos a atender 200 mil jovens que moram nas periferi-as das metrópoles.

As iniciativas do Legislativo e do Executivo tentamresponder a um diagnóstico de especialistas e edu-

NAÇÃOJOVEM

.gov/.com.gov/.com

GOVERNO CRIASECRETARIA ECONSELHO DAJUVENTUDE. E OLEGISLATIVO TAMBÉMPROPÕE POLÍTICASPARA O SEGMENTO

Page 65: Onda Jovem #1

65

cadores, segundo o qual os problemas enfrentadospela juventude são uma demanda social específica,que exige um conjunto de políticas públicas capaz degerar perspectivas melhores para um contingentecalculado em 35 milhões de pessoas, na faixa de 15 a24 anos – o equivalente a 20% da população do país.

“Não há mais espaço para fragmentações. A juven-tude precisa de uma política própria”, diz Iradj Eghrari,diretor-executivo da Ágere, ONG de Brasília que atuacom jovens. Atualmente, 49 programas federais, de 16ministérios, atendem à faixa juvenil de forma parcialou exclusiva, mas não há articulação entre eles. Eghrarilembra que uma resolução da ONU, de 2003, já reco-mendava a adoção de uma política exclusiva, que dife-rencie a juventude de outros segmentos. “Há váriosestudos e trabalhos importantes sobre o assunto emmãos das autoridades”, diz ele. Entre esses documen-tos, um dos mais amplos é o Projeto Juventude, coor-denado pela ONG Instituto da Cidadania, e que inclui amaior pesquisa já feita com jovens no Brasil.

Cesta de propostasInstalada em maio de 2004, a Comissão Especial de

Políticas para a Juventude da Câmara dos Deputadosencerrou os trabalhos em novembro apresentando umrelatório que, além de incluir um esboço sobre o seg-mento, propõe projetos de lei e faz sugestões ao go-verno. “O momento histórico, a agenda que está sen-do criada e a mobilização social em curso colocam ajuventude como o centro das preocupações”, diz o de-

putado Reginaldo Lopes (PT-MG),que presidiu a comissão. Além datransformação de 2005 no Ano Na-cional da Juventude, as propostasno âmbito do Legislativo incluem acriação de um plano nacional deação, com duração mínima de dezanos; a elaboração do Estatuto daJuventude; uma Proposta de Emen-da Constitucional para incluir o jo-vem no capítulo dos direitos funda-mentais da Constituição, e a insti-tuição de uma comissão permanen-te para o tema na Câmara.

Ao governo federal, os deputadosrecomendam a realização de con-ferências nacionais e já pediam ainstituição do conselho e da secre-taria anunciados pelo Executivo,ambos vinculados à Secretaria Ge-ral da Presidência da República ecom poderes para articular asações governamentais. O objetivo,segundo Lopes, é tratar o jovemcomo alvo de uma política globalque supere o atual estágio, em queele é visto como coadjuvante deoutros grupos e, por essa razão, al-cançado apenas parcialmente pe-los programas públicos.

O programa Pró-Jovem, lançadopelo governo, pretende atingir,em 2005, 200 mil participantes,moradores das periferias dasgrandes cidades, ao custo deR$ 300 milhões

Page 66: Onda Jovem #1

Projeto JuventudeEm seus trabalhos, a comissão da Câmara promo-

veu conferências com instituições ligadas aos jovense reuniu sugestões da sociedade, entre as quais oProjeto Juventude, do Instituto da Cidadania. Basea-do em uma pesquisa inédita sobre o universo juvenile discutido com diferentes públicos ao longo de umano, o projeto é um conjunto de indicações e propos-tas que define a juventude como um novo segmentosocial, gerador de uma demanda especial de políticaspúblicas. O contingente situado na faixa dos 15 a 24anos representa mais que o dobro da população ido-sa e, em 2005, a mais populosa geração de jovensque se tem notícia na história do país – algo comouma Argentina inteira.

Realizada entre junho de 2003 e junho de 2004, apesquisa que embasa o projeto ouviu 3,5 mil jovens eabordou as principais questões que os afetam, comotrabalho, segurança, educação, saúde, cultura, sexu-alidade, lazer e direitos. O levantamento mostra que84% dos jovens vivem em áreas urbanas e que suamaior preocupação é a violência. O documento, combase no diagnóstico extraído da pesquisa, propõe umadiretriz às ações públicas. “O carro-chefe é um elen-co de políticas públicas com quatro eixos: trabalho,educação, cultura e participação”, diz a socióloga He-lena Abramo, consultora especial do projeto.

Segundo Abramo, o diferencial em relação a outrosestudos é que este propõe um formato de inserçãoem que o trabalho – outra grande preocupação destepúblico – esteja vinculado à formação escolar e aotipo de atividade que o jovem já vem procurando rea-lizar. Essas ações devem despertar um estilo de par-ticipação com sentido social. Para tanto, o documen-to sugere que não haja apenas um modelo de inser-ção, mas diferentes módulos, permitindo a opção peloque mais se adapte a cada realidade.

Entre junho e setembro de 2004, uma versão preli-minar do documento foi entregue ao presidente LuizInácio Lula da Silva, às mesas da Câmara e do Sena-do, a governadores, prefeitos e entidades de diver-sos perfis que trabalham com a juventude. No total,já foram distribuídos 4 mil exemplares do estudo.

Embora o projeto já tenha sidoconcluído, Helena Abramo diz queeventuais lacunas ainda podem serpreenchidas no debate aberto coma sociedade. Demandas e propostasnão contempladas pela versão ori-ginal ainda podem ser incluídas nasdiscussões que serão travadas ago-ra no âmbito do Legislativo. Lançadaem meados do ano passado, a ver-são provisória do projeto foi sendoalterada pela dinâmica do debate.Abramo cita, como exemplo, a con-tribuição dada por um grupo de jovensque trabalha com saúde mental.

O PROJETO JUVENTUDE, DOCUMENTO COM PROPOSTAS EINDICAÇÕES DE POLÍTICAS PÚBLICAS COORDENADO PELOINSTITUTO DA CIDADANIA, INCLUI UMA PESQUISA SOBREOS JOVENS BRASILEIROS QUE PODE SER ACESSADA NOSITE WWW.PROJETOJUVENTUDE.ORG.BR

Page 67: Onda Jovem #1

67

Transformar 2005 em Ano Nacionalda Juventude é uma das propostasincluídas no relatório da ComissãoEspecial de Políticas para aJuventude da Câmara dos Deputados,que sugere ainda a elaboração de umestatuto da juventude

O grupo demonstrou que, ao contrá-rio do que sugeria um dos parágra-fos do texto, o enfoque de um pro-grama de lazer e esporte não pode-ria ser justificado exclusivamente emfunção do combate à disseminaçãodas drogas, mas pela necessidadegeral da juventude. Uma outra pro-posta levou à inclusão de um capí-tulo sobre jovens com deficiência fí-sica. “Eram sugestões pertinentes,que produziam avanço no conteú-do”, diz Helena Abramo.

Pró-JovemNo governo federal, o estudo en-

controu pronta acolhida. Foi criadoum grupo interministerial e o minis-tro Luiz Dulci, da Secretaria Geral daPresidência, foi designado para coor-denar a estruturação da política na-cional que tem no Projeto Juventudesua espinha dorsal. Segundo Dulci, oestudo “é uma análise bem funda-mentada e criteriosa do universo ju-venil, extremamente útil”. Muitas das

sugestões foram incorporadas pelogoverno no Pró-Jovem. Embora ameta do programa para 2005 – defi-nida pelo ministro como realista – sejaatingir 200 mil participantes, o con-tingente alvo são cerca de 1,5 milhãode jovens, habitantes das periferiasdas grandes cidades.

Os objetivos são que os integran-tes acelerem os estudos para concluiro ensino fundamental, recebam qua-lificação profissional de 1.200 horas/aula sobre cursos adequados ao mer-cado da região onde vivem e partici-pem também do programa de inclu-são digital. Para tanto, receberão umabolsa mensal de R$ 100,00 e, comocontrapartida, prestarão serviços co-munitários. A proposta será executa-da em parceria com prefeituras.

A expectativa agora é sobre osdesdobramentos práticos que terãoessas iniciativas e as demais propos-tas e temas de interesse dos jovens,para que este se transforme de fatono ano da juventude brasileira.

Page 68: Onda Jovem #1

chat de revista

GENTE

QUATRO CONVIDADOSCONVERSAM SOBRE ARELAÇÃO ENTRE PROJETODE VIDA E FELICIDADE

QUERSERFELIZ!

A palavra inglesa “chat” quer dizer conversa, bate-papo,e deu nome a uma forma de conversação típica dainternet, em que as pessoas se comunicam por escrito,em tempo real. Onda Jovem também tem sua sala debate-papo, mas no tempo próprio das revistas, com maisespaço para a reflexão.

A seção estréia com quatro convidados. A cariocaSuélen Cristina Brito, 19 anos, estuda Pintura na Univer-sidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e à noite trabalhano Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré, ondecursou o pré-vestibular. Bernardo Ferreira da Luz, 21, cur-sa o 4º ano de Medicina da Universidade Federal doParaná e coordena o centro acadêmico da faculdade;Marcos Antônio da Silva, 21, paulistano, é auxiliar de es-critório na PricewaterhouseCoopers, onde se empregoudepois de uma passagem de oito meses pela Febem;cursa o 3º ano do ensino médio, é casado e tem uma

filha, Fernanda, de 3 anos. E Renata Florentino, 19, estudante de CiênciasSociais na Universidade de Brasília, é uma das fundadoras da ONG Interagir– Protagonismo Juvenil, da qual coordena o boletim on-line Falando de Po-lítica. Durante um mês, em diferentes etapas, eles refletiram e se questio-naram sobre a relação entre projeto de vida e felicidade. Onda Jovem pro-pôs as perguntas iniciais e depois os participantes conversaram entre si.Leia, a seguir, os principais trechos deste “chat de revista”:

Onda: Qual é o seu conceito de felicidade?

BERNARDO: É estar de bem com a vida, um bem-estar físico, psíquico,social, espiritual. Isso inclui o lado afetivo. Acho ainda que algumas conquis-tas intelectuais são necessárias para a inteira felicidade, porque é com oconhecimento e a parceria das pessoas que realizamos o que queremos,incluindo mudar a realidade social do país, o que eu acho que é de extremanecessidade para a felicidade de todos.

SUÉLEN: Na minha visão, a felicidade está presente em todos os momen-tos. É saber que estou viva e capacitada para desbravar este mundo, mes-mo com todas as dificuldades e problemas. Está ligada a situações princi-palmente do meu cotidiano (vida pessoal, trabalho, faculdade etc.), mastambém a situações do meio em que estou inserida, do mundo.

FELI

PE B

ARR

A

Page 69: Onda Jovem #1

69

RENATA FLORENTINO, 19Estudante de Ciências Sociais na Universidadede Brasília, é uma das fundadoras da ONGInteragir – Protagonismo Juvenil

BERNARDO FERREIRA DA LUZ, 21Cursa o 4º ano de Medicina da UniversidadeFederal do Paraná e é o coordenador geral doDiretório Acadêmico Nilo Cairo

SUÉLEN CRISTINA BRITO, 19Estuda Pintura na Universidade Federal doRio de Janeiro e trabalha no Centro de Estudos eAções Solidárias da Maré, no complexo da Maré,onde mora

MARCOS ANTÔNIO DA SILVA, 21Paulistano, é auxiliar de escritório naPricewaterhouseCoopers. Cursa o 3º ano doensino médio, é casado e tem uma filha de 3 anos

DAV

ILYM

DO

URA

DO

FRA

NC

ISC

O V

ALD

EAN

MA

RCELO

ELIAS

Page 70: Onda Jovem #1

MARCOS: Felicidade é estarperto da minha filha, pois nãosei o que seria de mim sem ela!É poder ter um emprego queme possibilite dar à minha fa-mília uma vida digna, diferenteda que eu tive. É ter aprendidoque ir pra escola é superim-portante para o meu desenvol-vimento intelectual. Felicidadeé poder olhar pra trás e ter or-

gulho de mim, saber que cometi erros e que hoje souum cidadão honesto e trabalhador.

RENATA: Uma visão comum de felicidade é estar “sa-tisfeito”. Saciado e conformado com o que se tem. Éalgo quase que inatingível, que virá no momento em quetodos os problemas estiverem solucionados. Ah, essedia que nunca chega. Escolhi ter um projeto de vida umpouco diferente, buscando prazer em estar sempre in-quieta, buscando aprimorar o que já tenho, ou correndoatrás do que está por vir.

E está dando certo?

RENATA: A construção do meu conceito de felicidadeveio da constatação de que outro não daria certo comi-go. Assim, consigo manter a motivação e a persistênciapara sempre enxergar o passo a mais que pode ser dado.É claro que muitas dúvidas atravessam esse caminho,mas a cada dia vejo que é o mais coerente com meusdesejos e realizações.

MARCOS: Estou atingindo meu projeto de felicidade,sim, graças à oportunidade que tive quando saí daFebem, ao encontrar um emprego. Conheci pessoas le-gais, que acreditaram em mim e na minha recuperação.Meu objetivo agora é fazer uma carreira e por isso tenhome dedicado aos estudos.

BERNARDO: Para se chegar ao que eu quero, o cami-nho é árduo. Como futuro trabalhador da saúde, pensoem um serviço público eficiente para 100% da popula-ção, na saúde, na educação e em todas as necessida-des básicas. Um Estado atuante ao máximo.

SUÉLEN: Meu projeto não caminha exatamente comoeu quero, mas de acordo com a vida, e por isso tem al-tos e baixos. A plenitude é algo muito complexo e perce-bo que a minha felicidade, e meus projetos, nunca che-garam a um estágio pleno, mas sim satisfatório, momen-tâneo. A partir das conquistas realizadas, aparecem maisobjetivos, que vão se transformando.

“A plenitude é algo muito complexo”SUÉLEN BRITO

Como vocês acham que seu projeto de vida se reflete na “felicidade geralda nação”?

MARCOS: Sou um exemplo vivo para meu irmão, meus colegas e, principal-mente, para minha filha. Exemplo de que podemos acertar o rumo de nossasvidas, corrigir nossos erros e viver de forma digna. Não tenho vergonha dedizer que estive na Febem, porque hoje me sinto um modelo de recuperação.Aprendi com meus erros a andar no caminho certo.

BERNARDO: Acho que um projeto de construção da sociedade se refleteem melhoria para toda a população; isso não é pensar apenas no meu pró-prio umbigo, como a maioria pensa.

RENATA: Um caminho está sempre numa superfície. E nela, muitos ca-minhos se cruzam. Às vezes, por acaso, às vezes, por escolha. Na buscapor interrogações, podem-se encontrar tanto elaboradas crises existen-ciais como as mais simples perguntas, feitas por quem se dispõe ou éobrigado a explorar o mundo um pouco mais. Essas é que são minhasdúvidas, que se abrem para outros caminhos.

“A felicidade não éseparado do projeto

SUÉLEN: Esse reflexo depende da minha atuação e comunicação. Comoo meu objetivo está sempre ligado ao meu fazer, vejo que interfiro em meu

meio também pela expressividade da arte. E a ma-neira como cada projeto de vida se reflete no país,está de acordo com o que vocês pretendem?

BERNARDO: Talvez ele não se reflita como eudesejaria, mas acho que cada um pode contri-buir para a mudança coletiva, e não desistir nomeio do caminho, pensando que não fazemosdiferença.

RENATA: Creio que meu projeto de vida não sereflete, mas busca interferir no país. Talvez, o paísse reflita no meu projeto. Por mais que eu acredi-

te na potencialidade de ações individuais, é certo que o ambiente que noscerca pode dinamizar ou tolher muitas iniciativas.

SUÉLEN

BERNARDO

Page 71: Onda Jovem #1

71

MARCOS: Gosto de contar para a moçada na mesmasituação que eu que o crime não compensa. Diminuir acriminalidade vai melhorar a vida de todo mundo. Es-tou satisfeito com o que tenho conseguido alcançar,mas quero ir mais longe ainda. Mas o que faz uma pes-soa feliz pode não fazer a outra feliz. Então, por quenos preocupamos em correr atrás de um padrão de fe-licidade imposto pela sociedade?

SUÉLEN: Acho que sou euque dito a minha felicidade,mas sei que sofro influências.

RENATA: Será que não é agente que se impõe um mo-delo de felicidade? Ou, de re-pente, nos impomos ser feli-zes!

BERNARDO: É porque so-mos criados nessa cultura ca-

pitalista, vivendo sempre a expectativa de ter mais. Masnão precisamos nos submeter ao que não nos alegra.Somos livres para pensar diferente e acho que deve-mos construir a felicidade com o coletivo. E como vocêspensam que podem colaborar para melhorar nossa so-ciedade?

SUÉLEN: Ela aparece em diversas etapas, àsvezes de forma mais intensa ou não. Mas, comcerteza, sempre que finalizo um trabalho, to-dos os sentimentos se fundem em um só, nafelicidade.

BERNARDO: Acho que a felicidade não é umcomponente separado, deve correr sempre junto

ao projeto de vida. Não penso que ela virá depois de algumas conquistas. Avida não deve ser feita só de futuro, mas também de presente. Gosto deestar sempre de bem comigo mesmo e com as pessoas ao meu redor.

MARCOS: A felicidade é a base de tudo! Sem ela não consigo correr atrásdo que estou buscando. Se vejo minha filha triste, parece que tudo ficamais difícil. Felicidade é tudo!

FALANDO DE POLÍTICA - BOLETIM ON-LINE DO INTERAGIR - PROTAGONISMO JUVENIL (ONG)REGIÃO DE ATUAÇÃO NACIONALPROPOSTA Disseminar informação como elemento fundamental para nortear e embasaratitudes e visões, projetos e ações, incluindo trabalhos de acompanhamento e envolvimento– mais do que um repasse de informações, formação de atitudesNÚMERO DE JOVENS ATENDIDOS MAIS DE 1.200 ORGANIZAÇÕES E JOVENS RECEBEM O BOLETIMAPOIO FUNDAÇÃO FRIEDRICH EBERTCONTATO SCN Quadra 5, Bloco A, Edifício Brasília Shopping,Torre Norte, sala 1.327 – 70713-000 – Brasília (DF) – www.protagonismojuvenil.org.bre-mail [email protected] – Fone: 61/3036-9675

PARA

SAB

ER M

AISSO

BRE

CAPACITAÇÃO DE JOVENS EM SITUAÇÃO DE RISCO, viabilizado pela PricewaterhouseCoopers emparceria com a Associação de Apoio ao Projeto Quixote do Departamento de Psiquiatria, daUniversidade Federal de São Paulo (Unifesp)REGIÃO DE ATUAÇÃO SÃO PAULOPROPOSTA Capacitação, para o mercado de trabalho, de jovens em situação de risco, quepassam a ter a chance de serem independentes e capazes de dirigir o próprio destino deforma digna. Inclui o acompanhamento psicopedagógico e social dos jovens e suas famíliasJOVENS ATENDIDOS 10 POR TURMAAPOIO PRICEWATERHOUSECOOPERS E ASSOCIAÇÃO CAMINHANDO JUNTOSCONTATO Av. Francisco Matarazzo, 1.400 – Torre Torino – 05001-903 – São Paulo (SP) –Contato: Mila Guimarães ([email protected]) – Fone: 11/ 3674-3687PA

RA S

ABER

MAI

SSO

BRE

CURSO PRÉ-VESTIBULAR COMUNITÁRIO, DO CEASM - CENTRO DE ESTUDOS E AÇÕES SOLIDÁRIASDA MARÉ (ONG)REGIÃO DE ATUAÇÃO BAIRRO MARÉ, COMUNIDADES MORRO DO TIMBAU E NOVA HOLANDA, NO RIODE JANEIRO (RJ)PROPOSTA Propiciar o acesso de moradores ao meio universitário com o objetivo de intervirna realidade atual do bairro, provocando mudanças, conjugando utopias pessoais e coletivasJOVENS ATENDIDOS APROXIMADAMENTE 400 POR ANOAPOIO LIGTH, CARE, MINASGÁSCONTATO Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré – CEASM Praça dos Caetés, 07 –Morro do Timbau – Maré – 21.042-050 – Rio de Janeiro (RJ) – Fone/Fax.: 21/2561-4604/2561-3946 – www.ceasm.org.br – e-mail [email protected]

RA S

ABER

MAI

SSO

BRE

um componente de vida”

BERNARDO LUZ

SUÉLEN: Argumentando, com minhas idéias e com meustrabalhos, porque eles sempre expressam minhas idéias.

MARCOS: Acho que meu exemplo de vida e recupe-ração é a minha maior colaboração. Além disso, traba-lho no Programa de Cidadania da Pricewaterhouse.

RENATA: Como ongueira de coração e vocação, creioque por meio de ações articuladas posso melhorar aomenos questões específicas, no caso, as ligadas à par-ticipação juvenil. Na minha opinião, a felicidade aparecenuma etapa específica do ciclo de execução do projetovida. O que vocês acham?

RENATA

MARCOS

Page 72: Onda Jovem #1

UM MANUAL PARA MONITORAR POLÍTICAS1

Nos dias 5 e 6 de outubro deste ano, cumprindo resolução aprovada em 2003, duas reuni-ões plenárias da 70ª Sessão da Assembléia Geral da ONU, em Nova York, serão dedicadas àrevisão da situação da juventude no mundo e à avaliação das conquistas obtidas pelos paí-ses-membros na implementação do Programa Mundial de Ação para a Juventude (PMAJ),dez anos depois da sua adoção. Para que uma avaliação de tal porte fosse feita, a ONU criouum manual que ajuda a monitorar as ações do governo e da sociedade para a promoção dascondições de vida dos jovens. O manual, traduzido e distribuído, no Brasil, pela Interagir –Protagonismo Juvenil, ONG criada por moças e rapazes de Brasília, contém métodos de avalia-ção das ações e também ferramentas para o desenvolvimento do trabalho das organizações.

2A VEZ DAS PARCERIAS

Um modo vantajoso de atuação para todos os envolvi-dos, o trabalho em parceria é cada vez mais importante etambém estudado pelo terceiro setor. Tanto que, além dolançamento do site da Aliança Capoava, somente com in-formações sobre trabalho conjunto e um inéditomapeamento das publicações brasileiras sobre parcerias ealianças entre organizações da sociedade civil e empresas,a Iª Conferência Internacional do Instituto Ethos, de 10 a 7de junho, em São Paulo, também se debruçará sobre o temaParcerias para uma Sociedade Sustentável.

A Aliança Capoava, criada em 2002, reúne o InstitutoEthos de Empresas e Responsabilidade Social, o Grupode Institutos, Fundações e Empresas (Gife), a Ashoka Em-

Em outubro, nas reuniões na ONU, os governos eorganizações nacionais terão seus relatórios avalia-dos. Nesses documentos, porém, estarão registradostanto o que cada um fez quanto o que pensam os jo-vens a respeito dessas realizações. No caso brasilei-ro, além dos órgãos de governos, 35 organizaçõesprocuraram a Interagir e se dispuseram a fazer as ava-liações em suas respectivas áreas de ação.

O Itamaraty está reunindo as contribuições e já ela-bora o relatório a ser apresentado à ONU, com baseem reunião realizada em novembro com jovens de

diversas ONGs e movimentos so-ciais. Segundo Camila Godinho, res-ponsável pelas Relações Internacio-nais na Interagir, as organizaçõesdevem entregar em março seus re-latórios, que serão consolidados e en-caminhados à ONU pelo Itamaratyem abril. E todos os países receberãoos relatórios impressos em maio.

Camila lembra que em março,nos dias 25 e 26, em Brasília, have-rá mais uma oportunidade de sediscutir a avaliação no Fórum doProtagonismo Juvenil, no qual cer-ca de 600 jovens do Brasil inteiroestarão debatendo as políticas pú-blicas para o segmento e tambémapresentando contribuições. AInteragir pode ser contatada pelosite www.interagir.org.br.

preendedores Sociais e a Funda-ção Avina. O site que eles desen-volveram já reúne 106 obras dediversos gêneros sobre parceria.São artigos on-line, periódicos,livros, materiais de congressose seminários, publicações ins-titucionais, relatórios de pesqui-sa, teses e dissertações. “Espera-mos que o site ajude a construirum diálogo permanente sobre aprodução de conhecimento notema e que novos trabalhos nos

sejam enviados”, diz CristinaMeirelles, coordenadora da Ali-ança Capoava.

As etapas de implementaçãodo site prosseguem neste ano,segundo Cristina. Em fevereiroacontecem os “salões de encon-tros”, reunindo representantesde instituições que já trabalhamem parceria com novatos inte-ressados em aprender com eles.Informações disponíveis no sitewww.aliancacapoava.org.br.

Link

s

DIV

ULG

ÃO

Page 73: Onda Jovem #1

73

3LUZES SOBRE O CAMPO

4ESPAÇO PARA NOVOSTALENTOS

Uma das propostas de Onda Jovem é abrir espaço para a produçãode novos fotógrafos e ilustradores. Desta edição participam, entre ou-tros, estudantes como Levi Silva, 14 anos, que fotografou Carlos Jordakipara a reportagem Propostas de Futuro (pág. 8). Ele é um dos alunos doProjeto Olho Mágico (www.fotosite.com.br/olho_magico), do fotógra-fo Davilym Dourado, que tem apoio do Fotosite e da Escola de Fotogra-fia Riguardari. Já o carioca Anderson Oliveira, 22 anos, fotografou LuizJúlio Pereira, para a mesma matéria, a convite da agência Imagens doPovo, um projeto do Observatório de Favelas do Rio de Janeiro([email protected]), que também promo-ve cursos. A agência mantém um banco de imagens de temática social,aberto aos participantes dos cursos. Estudante de Design Gráfico, opaulistano Marcelo Pitel já vem atuando em sua área. A ilustração paraa reportagem A Idade da Razão (pág. 60) é “um estudo da criação emlinguagem digital”, diz Pitel, que aponta, entre suas influências, os bra-sileiros J. Carlos (1884-1950) e o contemporâneo Cássio Loredano.

DIV

ULG

ÃO

Até o ano 2000, a produção acadêmicasobre a juventude rural era rara. De lápara cá, o quadro mudou: dos 51 traba-lhos divulgados entre 1990 e 2004, 86%foram publicados nos últimos cincoanos. Os dados constam do inventáriofeito pelo setor de Estudos e Pesquisas doNúcleo de Estudos Agrários e Desenvol-vimento Rural (NEAD), sob a coordena-ção do professor Nilson Weisheimer, daUniversidade de Santa Cruz do Sul (RS).Os resultados devem ser apresentados emum seminário nacional sobre o assunto, ainda nestesemestre, no Rio de Janeiro. Entre os temas estudados,os mais freqüentes são a atuação do jovem no siste-ma de agricultura familiar e sua inserção no trabalhoagrícola. Weisheimer está produzindo ainda um ca-tálogo de referências bibliográficas sobre a juventu-de rural, para ser acessado na internet. Contribuiçõespodem ser enviadas ao NEAD (www.nead.org.br).Também recentemente foi criado o Grupo Temáticode Juventude Rural do Conselho Nacional de Desen-volvimento Rural Sustentável (Condraf). O grupo,com representantes de diferentes entidades, deve dis-cutir políticas para o segmento.

Page 74: Onda Jovem #1

Fato

Pos

itiv

o

UMA MÍDIA

O MONITORAMENTO DESENVOLVIDO PELAANDI MOSTRA QUE A PRODUÇÃO DOS MEIOSDE COMUNICAÇÃO DIRIGIDA AOS JOVENSESTÁ AVANÇANDO

MAIS JOVEMA imprensa brasileira tem evoluído positivamente no que diz respeito à amplitude e à qualida-

de da cobertura produzida para a juventude. A constatação está registrada no boletim RadicaisLivres, editado pela Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi) e recentementereformulado para aprimorar o monitoramento das publicações juvenis, como suplementos dejornais, revistas e programa de TV, considerados estratégicos para a informação e a formaçãodos jovens. Esse avanço não é fruto do acaso, mas certamente se relaciona com os 12 anos deatividade da própria agência, que consolidou sua tecnologia de monitoramento e influência so-bre a mídia inicialmente voltada para o público infantil.

Page 75: Onda Jovem #1

75

AGÊNCIA NACIONAL DOS DIREITOS DA INFÂNCIA - ANDIREGIÃO DE ATUAÇÃO NO BRASIL DISTRITO FEDERAL, MS, AM, BA, PE, RN, SE, MA, MG. NA AMÉRICA LATINAARGENTINA, BOLÍVIA, COLÔMBIA, COSTA RICA, GUATEMALA, NICARÁGUA, PARAGUAI E VENEZUELATIPO DE INSTITUIÇÃO ASSOCIAÇÃO CIVIL DE DIREITO PRIVADO, SEM FINS LUCRATIVOSPROPOSTA Contribuir para a construção, nos meios de comunicação, de uma cultura que priorize a promoção ea defesa dos direitos da criança, do adolescente e do jovemJOVENS ATENDIDOS A ANDI ATUA PARA QUE SEJA APERFEIÇOADA A COBERTURA DA MÍDIA SOBRE OS ASSUNTOSRELACIONADOS A TODOS OS JOVENSAPOIO ÓRGÃOS DA ONU, COMO A UNESCO E A ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO (OIT); GOVERNO FEDERALE ESTATAIS, COMO A PETROBRAS; ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS, COMO KELLOG’S, AVINA (SUÍÇA) E SAVE THECHILDREN, E NACIONAIS, COMO INSTITUTO AYRTON SENNA, ETHOS E INSTITUTO VOTORATIMCONTATO SDS Edifício Boulevard Center, Bloco A, Sala 101 – 70391-900 – Brasília (DF) – www.andi.org.br

Aves

so A contratação de meninas com menos de 16 anos comoempregadas domésticas é ilegal e deve ser combatidacom a participação da sociedade e a instituição depolíticas públicas para assegurar sua volta à família e àescola. A obrigação de trabalhar em período integralnuma época da vida que deve ser destinada ao estudo eao desenvolvimento pessoal fatalmente afeta um projetode futuro. No Brasil, são quase 5,5 milhões de crianças eadolescentes trabalhadores e praticamente a metade(48,6%) nem sequer recebe salário. Mas quando se falade trabalho infantil doméstico, as dificuldades deanalisar o problema são maiores, pois há poucosestudos sobre o assunto.Especialistas e jornalistas da Andi que produziram apesquisa e o livro Crianças Invisíveis destacaminclusive a falta de clareza legal sobre o assunto. Essaimpressão de normalidade com que jovens são contrata-das para trabalhar como empregadas domésticas éatribuída ao cenário brasileiro de desigualdade social epobreza, o que justificaria que uma mãe entregue afilha a uma família para não vê-la passar fome. Umajustificativa que as condena à invisibilidade seja comogarotas ou trabalhadoras.

Na prática, além de apontar aos profissionais das redações aimportância de abordar temas como trabalho infantil, gravidezprecoce ou acesso à universidade, a Andi conecta repórteres afontes qualificadas de informação e ainda analisa o noticiário,identificando os temas cobertos ou esquecidos pelos meios decomunicação. O monitoramento, iniciado em 1996 e incluindohoje 60 jornais e revistas, permite constatar mudanças. Exem-plos: em 1996, os principais veículos da mídia impressa publi-caram 10.700 reportagens sobre crianças e adolescentes; em2003, o número subiu para 105 mil. No biênio 1996-97, a vio-lência foi o assunto mais explorado no noticiário sobre jovens;em 1998, a educação dominou as pautas jornalísticas.

MUDANÇA CULTURALMas não é tão fácil mostrar em números a importância de

um trabalho como este. O diretor-editor, Veet Vivarta, atribui aotrabalho da Andi, por exemplo, a discussão na imprensa sobreo trabalho infantil doméstico. O livro Crianças Invisíveis, sextovolume da série de estudos Mídia e Mobilização Social, editadapela agência, é oferecido às universidades e a jornalistas paramostrar que quase meio milhão de crianças e adolescentes tra-balham como empregados domésticos (leia quadro). “Não pro-duzimos notícias, mas procuramos pautar os meios de comu-nicação para explorar temas ligados ao Estatuto da Criança edo Adolescente”, diz Vivarta. “A introdução do assunto no dia-a-dia da imprensa assegura legitimidade às soluções propos-tas e à legislação em vigor”, diz. “Hoje, as redações já reconhe-cem a importância do tema.”

Criada em 1992, por iniciativa dos jornalistas Âmbar de Barrose Gilberto Dimenstein, a Andi já estabeleceu uma rede nacional,com a participação de ONGs, de dez estados, que atuam na áreade comunicação. O modelo foi adotado para a criação de umarede internacional que inclui oito países da América Latina.

PÚBLICO NOVOA Coordenação de Mídia Jovem, criada em 1997, também vem

ampliando suas atividades. O núcleo coordenado por Carina Paccolaedita o boletim Radicais Livres, que acompanha, analisa e divulgadados sobre 20 jornais e cinco revistas dirigidos aos jovens, apre-sentando críticas e sugestões sobre as reportagens. Antes divul-gado semanalmente, o boletim tem agora periodicidade mensal,aprofundando sua abordagem. Na edição de estréia do novo for-mato, em novembro de 2004, Radicais Livres noticiava que os su-plementos juvenis de jornais veiculados no mês de setembro ha-viam alcançado um Índice de Relevância Social de 76,3%. O índiceindica a quantidade de reportagens que contribuem para a forma-ção cidadã dos leitores, em relação ao total de matérias. Nas revis-tas, porém, o índice ainda é baixo: 33,7%.

Para a TV, foi desenvolvido um projeto específico, que vai alémdo noticiário, analisando também a programação de lazer. “A mídiaque fala para o jovem precisa ser fortalecida e não pode ser vistaapenas como meio de entretenimento ou de publicidade”, diz oeditor Veet Vivarta. – colaborou James Allen.

PARA

SAB

ER M

AISSO

BRE

Page 76: Onda Jovem #1

Nav

egan

do

Page 77: Onda Jovem #1

77

Uma das vertentes da arte de rua contemporânea, o pôsterou cartaz, é uma evolução do grafite e por isso chamado pós-grafite. Em vez de pintado diretamente na parede, geralmenteé produzido com serigrafia sobre folha de jornal, depoisfotolitado e impresso para ser colado onde for possível. O pôsterpode obter parte de seu efeito pela multiplicação, e seu obje-tivo é introduzir a expressão artística nas frestas da cidade,disputando lugar nas ruas com as mensagens publicitárias. De-senhista desde menino e “colando” desde 2000, Haroldo Neto,24 anos, o autor desse pôster, é um dos integrantes do SHN,trio de artistas urbanos paulistas formado ainda por EduardoSaretta e Daniel Cucatti. Recém-formado em arquitetura,Haroldo trabalha em Americana (SP) e é vocalista da banda derock Margüebes. Sobre o pôster feito para Onda Jovem, elediz: “A idéia é enfrentar o mundo, conhecendo como ele é, sem-pre atrás de seus projetos e desejos, com responsabilidade eautoconfiança”. Seu projeto de vida: “Conciliar o trabalho e aarte. Com meu trabalho eu financio a minha arte”.

PROJETO DE VIDA,UM PÔSTER DE RUA

Page 78: Onda Jovem #1

PROJETO DE VIDAan

o 1

– nú

mer

o 1

– m

arço

200

5an

o 1

– nú

mer

o 1

– m

arço

200

5an

o 1

– nú

mer

o 1

– m

arço

200

5an

o 1

– nú

mer

o 1

– m

arço

200

5an

o 1

– nú

mer

o 1

– m

arço

200

5

Como os jovens brasileirosconstroem no presente

suas perspectivas de futuro

número 1 – m

arço 2005núm

ero 1 – março 2005

número 1 – m

arço 2005núm

ero 1 – março 2005

número 1 – m

arço 2005P

ROJE

TO DE

VID

AO

ND

A JO

VEM

O Instituto Votorantimapóia essa causa.

E quer ver muitos jovensfazendo sucesso na capa.