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www.ondajovem.com.br ano 4 – número 12 – setembro/outubro 2008 TRABALHADORES O emprego formal juvenil está crescendo, mas a educação continua sendo desafio

Onda Jovem #12

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O emprego formal juvenil está crescendo, mas a educação continua sendo desafio www.ondajovem.com.br ano 4 – número 12 – setembro/outubro 2008 Jovens bRasileiRos esTão em 28 o lugaR no Ranking munDial De feliciDaDe Taxa de desemprego juvenil é de 15% sonar istock photo eDucaDoRes investem em formação de jovens trabalhadores pág. 16 mais otimista sobre futuro pág. 48 Juventude brasileira é a 3 iatã caNNaBRaVa/ saMBaphoto

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âncoras

“Pretendo voltar a estudar. Sei que, para conseguir um emprego melhor, seria legal tentar acabar o ensino médio.”

Cleiton Roberto Cirilo,

21 anos, sacoleiro de Curitiba, abandonou o ensino médio e um emprego formal que pagava pouco

“Dominar vários conhecimentos aumenta a chance de êxito nas oportunidades de trabalho.”

Fernando Santos, 18 anos,

de Salvador, é universitário e cadeirante

“Estou satisfeita com minha vida profissional. A tendência é só melhorar quando concluir a faculdade.”

Tatiane Marques da Silva, de 25 anos,

de Curitiba, técnica em Contabilidade, cursa universidade e tem carteira assinada

“A escolaridade é um fator preponderante da empregabilidade dos jovens. Existe uma relação positiva entre ocupação e níveis educacionais.”

Marcelo Neri,

economista, chefe do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro

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“Programas voltados para a inserção produtiva podem produzir impactos de várias naturezas. É preciso apreender outros efeitos que implicam mudanças na vida dos participantes.”

Regina Novaes,

pesquisadora e ex-secretária nacional-adjunta de Juventude

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“Ter parado de estudar dificulta conseguir um emprego melhor. As firmas pedem o colegial completo.”

Rafael Gomes de Farias, 23 anos,

ensino médio incompleto, desempregado depois de 6 anos de trabalho informal

“A principal medida seria oferecer um ensino que motive intelectual e emocionalmente o jovem, no curso regular ou profissionalizante.”

Daniely da Silva Novais dos Santos, 20 anos,

cursa o 2º ano do ensino médio

“Decidi trabalhar desde cedo para garantir um futuro melhor. Pago a conta de água de casa, dou um pouco de dinheiro para os meus pais e fico com o restante.”

Wellinton Luiz Teodoro, de 16 anos,

cursa a 8ª série e vende bilhete nas ruas de Ourinhos (SP)

“Há ainda muito subemprego para o jovem. E algumas empresas são abusivas.”

Gilda Pompéia

professora e diretora do Centro de Profissionalização e Apoio ao Emprego (Cepae), em Cotia, região metropolitana de São Paulo

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“Aprendi muita coisa, a começar pela postura profissional.”

Juliane Germano, 18 anos,

estudante do 3º ano do ensino médio e estagiária

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ano 4número 12setembro / novembro 2008

um projeto de comunicação apoiado pelo instituto Votorantim

projeto editorial e realizaçãoFátima Falcão e Marcelo Nonatoolhar cidadão - estratégias para o desenvolvimento humano

direção editorialJosiane lopes

secretaria editoriallélia chacon

projeto gráficoartur lescher e Ricardo van steen(tempo design)

colaboradores

texto: aydano andré Motta, cristiane parente, Frances Jones, karina andrade, Marcelo Barreto, Marcelo Néri, Regina Novaes, simone Barreto, Yuri Vasconcelos

foto: augusto pessoa, Beatriz assumpção, deise lane lima, deivylim dourado, Francisco Valdean, giuliano gomes, gustavo lourenção, luiz carlos gnoatto, karlos Rykário, Márcia zoet, Marcos Fernandes, Marisa Batista piazarollo, paschoal, Risonaldo cruz, tom cabral

ilustração: Marcelo pitel, leandro de souza

capa: patrick almeida fotografado por gustavo lourenção

apoio editorial instituto Votorantim www.institutovotorantim.org.br

Revisão: Moira de andrade

diagramaçãod´lippi editorial

impressãoipsis

tiragem11,5 mil exemplares

como entrar em contato com onda Jovem:e-mail: [email protected]ço: R. dr. Neto de araújo, 320 – conj. 403,são paulo, cep 04111 001tel.: 55 11 5083-2250 e 55 11 5579-4464www.ondajovem.com.br um portal para quem quer saber de juventude

Onda jovem é um dos 50 jeitos brasileiros de mudar o mundo – Programa de Voluntários das Nações Unidas no Brasil – 2007

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8 – naveganTesJovens trabalhadores e estudantes contam quais são suas expectativas sobre o trabalho

16 – eDucaDoRestrês profissionais da educação juvenil dedicam seus esforços à formação para a vida profissional

20 – banco De PRÁTicascooperativismo, desenvolvimento local, rede digital e cadeia de valor são conceitos que inspiram projetos de capacitação juvenil

24 – Ângulo 1Marcelo Neri comenta o impacto da nova agenda educacional no mundo do trabalho juvenil

28 – Ângulo 2karina andrade escreve sobre o conceito de trabalho decente e a trajetória profissional dos jovens brasileiros

32 – Ângulo 3Regina Novaes aponta questões desafiadoras para quem formula programas e projetos para a entrada do jovem no mundo do trabalho

36 – o suJeiTo Da fRasepaulo Veras, diretor da organização líder da semana global do empreendedorismo no Brasil, diz que jovens têm atitude empreendedora

40 – luneTaum quadro de quais profissões e ocupações têm oferecido melhor remuneração

44 – .gov.comas principais políticas públicas de formação e inserção de jovens no mercado ainda não estão consolidadas

48 – ciÊnciaem pesquisa internacional, a juventude brasileira se destaca como a mais otimista sobre seu grau de felicidade nos próximos cinco anos

52 – cHaT Da RevisTaquatro jovens debatem a educação para o trabalho

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Pistas sobre trabalho e educação juvenil

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Comentários sobre trabalho e educação juvenil

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As mensagens dos leitores

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O que a má escola pode causar na biografia do jovem, segundo Leandro Batista de Souza

As reportagens desta edição foram inspiradas em questões preliminares levantadas por ampla pesquisa sobre juventude, trabalho e educação, desenvolvida pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro. Os resultados completos serão disponibilizados ao público, ainda neste semestre, pelo Instituto Votorantim, que patrocina o estudo.

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navegantes a pernambucana aline mota, 18 anos,

concluiu o ensino médio, mas não tem experiência e dá

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por _ Yuri Vasconcelos

Terça-feira, 17 de abril de 2007. Esta data vai ficar marcada para sempre na vida do jovem potiguar Patrick Swaysy Albuquerque de Almeida. Foi este o seu primeiro dia de trabalho. Conseguir um emprego com carteira assinada, numa grande rede de lojas de departamento de São Paulo, e com todos os benefícios garantidos por lei era um antigo sonho do rapaz, que desde os doze anos vive em São Paulo e atualmente mora com a mãe, num apartamento popular de 49 metros quadrados em Jandira, município vizinho à capital paulista. “Foi muito difícil conseguir esse emprego. Queria muito trabalhar para poder oferecer uma vida melhor para minha mãe e conquistar os meus objetivos”, diz o rapaz, que tem uma dura rotina, dividida entre o trabalho e o primeiro ano do curso de Administração em uma faculdade particular de São Paulo. “Acordo todo dia às 5 horas da manhã para ir pra faculdade. Entro no trabalho às 2 da tarde e volto pra casa de madrugada. É muito cansativo, mas vale a pena. Pra você conseguir alguma coisa na vida, é preciso sacrifício. E esse é o meu sacrifício”, afirma.

Patrick tem 19 anos e recebe um salário de 600 re-ais. Ele faz parte dos milhões de jovens brasileiros que conseguiram ingressar no mercado de trabalho formal, nos últimos anos. Segundo o documento-base da 1ª Conferência Nacional de Juventude, realizada em Brasília, em abril deste ano, os jovens ocuparam cerca de 90% dos seis milhões de novas vagas criadas com carteira assinada no País, entre 2003 e 2007. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego, revelam que o boom do emprego juvenil continua neste ano. “Antes, havia uma crise de desemprego nas regiões metropolitanas, e o principal afetado era o jovem. Desde 2003, esse quadro reverteu-

se”, afirma o economista Marcelo Neri, chefe do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro. Ele coordena uma ampla pes-quisa destinada a traçar um retrato do emprego juvenil no País, relacionado à Educação, e que, ainda neste semestre, será disponibilizada ao público – jovem e especializado –, pelo Instituto Voto-rantim, patrocinador do estudo.

Dados preliminares revelados pela pesquisa, baseados em informações do Caged, da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (PNAD) e da

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Juvenilos jovens ocupam 90% dos postos de trabalho formal abertos nos últimos anos. mas o desemprego juvenil ainda é elevado e sofre impacto da escolaridade

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Pesquisa Mensal de Emprego (PME), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que a ocupação dos jovens não acontece de maneira uniforme em todas as faixas etárias. Enquanto, segundo a PNAD, a taxa de ocupação entre os mais velhos (entre 25 e 29 anos) era de 74% em 2006, o índice entre os mais jovens (15 a 19 anos) caía quase pela metade (38%). “Já tentei muito arrumar um emprego, mas não é fácil. As empresas pedem três meses de experiência, mas como é o meu primeiro emprego, como posso ter experiência?”, indaga a pernambucana Aline Mota, de 18 anos. Um dos destaques da 6ª Feira

Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace), ocorrida este ano, com um projeto de um pluviômetro alternativo, a jovem concluiu o ensino médio no fim de 2007 e está se preparando para fazer vestibular para Geografia, em dezembro. “Acho que depois de entrar na faculdade vai ser mais fácil arranjar um trabalho. Hoje, estou sendo superada por quem tem mais conhecimento e o diploma do ensino superior”, diz ela.

Impacto da escolarizaçãoAline está certa. “A escolaridade é um fator preponde-

rante da empregabilidade dos jovens. Existe uma relação positiva entre ocupação e níveis educacionais”, diz o economista Marcelo Neri. Trocando em miúdos: quanto mais escolarizado é um jovem, maiores as chances de conseguir um emprego. O advogado cearense Francisco Itaércio Bezerra Filho, de 26 anos, sabe disso. Graduado

pela Universidade Federal do Ceará (UFC) em 2003, hoje ele comanda a área tributária de um escritório de advocacia em Fortaleza e recebe 3.500 reais por mês, um bom salário para quem tem apenas quatro anos de formado. A intimidade de Itaércio com o trabalho, no entanto, vem de longe. Desde a adolescência, ele já ajudava a mãe no armarinho da família em Iguatu, cidade do sertão cearense, distante 400 quilômetros da capital. “Eu fazia os pagamentos no banco e ficava no caixa”, recorda-se. Aos 16 anos, mudou-se para Fortaleza, para fazer o terceiro ano do ensino médio. Passou no vestibular na primeira tentativa e já

o mercado de trabalho juvenil varia nas regiões metropolitanas, oferecendo mais ocupação no sul-sudeste e menos no norte-nordeste

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o potiguar patrick de almeida, 19 anos,trabalhador com carteira

o cearense itaércio Filho, 26 anos,

advogado e bem empregado

a paranaense tatiane silva, 25 anos,

teve filhos depois de empregada

começou um estágio em um projeto conjunto da faculdade e da prefeitura de Fortaleza.

“Não era na minha área, mas me interessei por conta da remuneração. Recebia um salário mínimo e trabalhava somente pela manhã. À tarde, dava aula particular para alunos do ensino médio”, conta Itaércio. Segundo o jovem, a mãe sempre foi uma pessoa extremamente batalhadora e serviu como forte exemplo. “Nunca gostei de depender financeiramente de ninguém. Queria ganhar meu próprio dinheiro.” Quando estava no segundo ano da faculdade, ele conseguiu um estágio remunerado em uma banca de advo-

gados e nela permaneceu durante todo o curso, até ser efetivado depois de formado. “Foi um desafio e tanto trabalhar durante a faculdade. Nem sempre conseguia me preparar direito para as provas. Mas não me arrepen-do, pois essa experiência me preparou para o mundo do trabalho”, afirma.

Desemprego elevadoApesar de grande número de jovens – como o cearense

Itaércio e o potiguar Patrick – ter conseguido o almejado emprego nos últimos anos, a situação do mercado de trabalho juvenil ainda está longe de ser ideal. No que pa-rece ser uma grande contradição, os jovens são também a parcela da população que mais sofre com o desemprego. Segundo o estudo Juventude e Políticas Sociais no Brasil, elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), órgão subordinado ao Núcleo de Assuntos Estra-

tégicos da Presidência da República, 46,6% do total de pessoas desocupa-das no País têm entre 15 e 24 anos. E mais: o desemprego entre quem está iniciando a vida profissional é 3,5 vezes maior que entre aqueles com mais de 25 anos. Vários fatores podem explicar essa situação. Os trabalhadores juvenis têm menos experiência, são considera-dos menos essenciais – exatamente pela falta de experiência profissional – e seu custo de demissão é menor. O estudo revela, ainda, que os jovens com mais dificuldade de arranjar trabalho são os de baixa escolaridade, os mora-dores de periferia e as jovens mulheres, especialmente as que têm filhos.

A paranaense Tatiane Marques da

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A paranaense Tatiane Marques Silva, de 25 anos, teve a “sorte” de só ter virado mãe quando já estava empre-gada. “Muitas amigas minhas, que estão procurando emprego, me dizem que a empresa quer saber de cara se elas têm filhos. Eles preferem empregar mulheres solteiras ou casadas sem filhos. Acham que quando a gente tem filhos vai faltar no emprego por causa das crianças”, conta. Dona de um diploma de técnica em Contabilidade, Tatiane trabalha em uma ONG de Curitiba que atua na área de direitos humanos. Sua vida não é nada fácil, mas ela tem o apoio do marido para dar conta do cuidado das crianças, do trabalho e do curso de Administração, que faz à noite. “Estou satisfeita com minha vida profissional. Comecei como estagiária e hoje sou responsável pelo setor financeiro. A tendência é só melhorar quando concluir a faculdade.”

InformalidadeO mapa do emprego no Brasil também é muito desigual.

Em algumas regiões metropolitanas, como Curitiba, Porto Alegre e Belo Horizonte, o índice de ocupação juvenil está na casa dos 62%. Em outras, como Belém e Recife, fica próximo a 45%. A informalidade é outra faceta cruel da relação dos jovens com o mercado de trabalho. Dados da PNAD apontam que, entre jovens de 15 a 19 anos, apenas 24% trabalham com carteira assinada. Para o pesquisador Roberto Henrique Sieczkowiski Gonzalez, técnico de Plane-jamento e Pesquisa do IPEA, muitos jovens menos favore-cidos do ponto de vista econômico entram precocemente no mercado de trabalho e se submetem à informalidade por uma questão de sobrevivência – e não apenas para conquistar autonomia pessoal. A jovem paraibana Sheila Regina da Silva, de 21 anos, é um retrato dessa situação. Desde fevereiro de 2007, ela trabalha como educadora social em uma organização dedicada à prevenção da Aids em João Pessoa. São 20 horas semanais, remuneração de 300 reais e nenhum vínculo empregatício. “Quando sair, não terei direito a nada. Preferia que fosse com carteira assinada”, diz ela.

Uma chance de driblar a informalidade é tentar entrar no mercado por meio de um programa de qualificação profissional. Esse foi o caminho percorrido pela paulistana Michele Gomes de Siqueira da Rocha, de 22 anos. Em 2004, ela participou do Programa Faz Tudo, promovido pela Associação Profissionalizante da Bolsa de Merca-doria & Futuros (BM&F) e destinado à inclusão social de jovens pobres. “Além de noções na área da Construção Civil, aprendi também a lidar com documentos e a fazer o trabalho de secretariado”, relembra Michele. O curso durou sete meses e, uma semana depois de concluído, a instituição indicou a jovem para uma vaga numa loja especializada em produtos para a casa. “Fiz a seleção e comecei a trabalhar na semana seguinte. Isso já faz quatro anos e ainda estou lá. Entrei como repositora, que é a função mais básica da loja, e hoje sou auxiliar de loja. Meu salário passou de 401 reais para 870”, diz Michele, que estuda pela manhã e trabalha das 16h às 22h.

O crescimento da remuneração de Michele foi impulsionado não apenas pelo seu tempo de empresa e bom de-sempenho profissional, mas, também, pela melhora do seu nível educacional. Quando começou a trabalhar, ela não havia concluído o ensino médio e hoje está no segundo ano do curso de licen-ciatura em Educação Física, na Uniban Brasil. “De acordo com os dados do nosso estudo, a renda de um jovem ocupado sem ensino médio é de 600 reais em média, enquanto a daquele com ensino médio sobe para 1.700 reais. A Educação tem grande impacto na vida do jovem, e ele nem sempre percebe isso”, diz o economista Mar-celo Neri, da FGV. Aluno da oitava série do ensino fundamental, Wellinton Luiz Teodoro, de 16 anos, conhece muito bem a relação entre baixa escolaridade e maus salários. Ele trabalha quatro horas por dia nas ruas de sua cidade, Ourinhos, no interior paulista, vendendo talões de estacionamento rotativo zona azul, e recebe 190 reais por mês.

“Decidi trabalhar desde cedo para garantir um futuro melhor. Pago a conta de água de casa, dou um pouco de di-nheiro para os meus pais e fico com o restante”, diz Wellinton. “O trabalho não atrapalha meus estudos, que são pela manhã, mas também não pretendo fazer faculdade. Quando terminar o ensino médio, quero ser caminhoneiro, como o meu pai.” Antes do trabalho atual, cujo contrato tem prazo deter-minado de dois anos, o rapaz já havia trabalhado como lavador de carro. “Era só nos fins de semana. Ganhava 20 reais por dia”, conta. “Hoje, é muito difícil um jovem conseguir trabalho. E quando arruma alguma coisa, o salário é lá embaixo.”

Disputa acirradaÉ para fugir do “salário lá embaixo”,

tão comum entre os jovens traba-lhadores com pouco estudo, que a carioca Tainá Bilate de Souza, de 20 anos, está batalhando pelo diploma universitário. Ela cursa o 5º semestre de Jornalismo na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e seu sonho é trabalhar como repórter em um grande jornal carioca. Por enquanto, ela faz estágio numa revista científica

a paraibana sheila regina da silva, 21 anos, trabalha sem vínculo

a paulistana michele rocha, 22 anos, conseguiu vaga em programa

o paulista Wellinton luiz teodoro, 16 anos, estuda e faz bico a carioca tainá bilate de souza, 20 anos, universitária em busca de vaga

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a cilada do subemprego

da própria universidade. “Minha função é controlar o fluxo de artigos que serão publicados”, afirma. “Estou louca para começar a trabalhar na minha área, mas o mercado para jornalista aqui no Rio é muito difícil. Já participei de algumas seleções, mas não consegui a vaga.” Para Tainá, a UFRJ, a despeito de todos os problemas comuns às universidades públicas, oferece uma boa formação profissional.

Ela acredita que o mercado de traba-lho para os jovens esteja mais receptivo do que no passado, mas, mesmo assim, ainda é difícil obter uma colocação. “O problema é a grande concorrência e o pequeno número de vagas.” Como Tainá pertence a uma família de classe média – a mãe é dona de um restau-rante e o pai, de uma pequena empresa de entregas urbanas –, o trabalho para ela, nesse momento, não é uma neces-sidade, mas a busca de uma realização. “Quero estar em contato com o dia-a-dia da profissão. Quanto mais cedo começar, mais vou me desenvolver”, diz ela. “E, nessa fase da minha vida, é a hora de experimentar, de ver com o que me identifico mais”, conclui.

a escolaridade tem relação direta com a qualidade do emprego. os jovens com mais dificuldade para entrar no mercado formal são os de baixa escolaridade, os moradores de periferia e as mulheres com filhos

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Historicamente, a juventude no mundo todo tem uma taxa de desemprego maior, quando comparada com o restante da população. Aqui no Brasil, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (PNAD), o índice gira em torno de 15%. Mas já foi bem menor: no início dos anos 1990, era de 10%. “A taxa de desemprego juvenil está nos níveis mais baixos dos últimos sete anos, mas ainda é bastante elevada”, atesta o economista Marcelo Neri, chefe do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro. Esse dado preocupa autoridades e especialistas que lidam com a questão juvenil, mas há outros aspectos que igualmente merecem atenção, como explica o pesquisador do IPEA Roberto Henrique Sieczkowiski Gonzalez, coordenador do estudo Juventude e Políticas Sociais no Brasil. “A entrada precoce do jovem no mercado de trabalho, em geral, prejudica sua formação educacional. Ele resolve um problema momentâneo, mas, ao abandonar os estudos, compromete sua trajetória futura”, afirma.O paulistano Rafael Gomes de Farias, de 23 anos, vive essa situação. Há seis anos, quando estava no segundo ano do ensino médio, decidiu parar de estudar porque não conseguia conciliar a escola com a atividade de manobrista em um estacionamento, no centro de São Paulo. “Um amigo meu era dono do lugar e me chamou para trabalhar. Eu

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tinha acabado de comprar um carro, no nome da minha mãe, e precisava de dinheiro para pagar as prestações”, diz ele. Era um trabalho informal, sem carteira assinada. Mesmo assim, ele ficou lá durante alguns anos. Depois, conseguiu um contrato temporário em um estacionamento de um grande shopping center paulistano. Agora, faz um curso para ser motorista de ônibus. “Ter parado de estudar dificulta conseguir um emprego melhor. As firmas pedem o colegial completo”, diz Rafael, que mora na Zona Norte da cidade e tem um filhinho de 2 anos, o Gustavo. “Agora vai ser complicado voltar a estudar. Todos os empregos têm período longo e não deixam tempo para os estudos”, afirma. “Queria ter um serviço bom que desse para eu sustentar minha família. Acho que como motorista de ônibus vou conseguir.”De acordo com o estudo feito pelo IPEA, apenas 11% dos jovens de 15 a 17 anos do País têm carteira assinada. Os demais se submetem à informalidade e ao subemprego, tendo, muitas vezes, de largar a escola para dar conta do trabalho. “Esses jovens estão numa ocupação ruim, trabalhando

em condições precárias e jornadas longas. Além da questão do desemprego, é preciso ficar atento à qualidade de trabalho que eles conseguem obter”, diz Roberto Gonzalez. A maioria dos jovens trabalhadores de baixa renda fica circulando entre ocupações de curta duração e baixa remuneração, muitas vezes no mercado informal. Essa experiência, além de não favorecer a conclusão da educação básica, é avaliada negativamente pelos empregadores.Fazer bicos também foi a alternativa encontrada pelo paranaense Cleiton Roberto Cirilo, de 21 anos, para sobreviver e ajudar nas despesas de casa. “Estudei até metade do ensino médio e parei por conta do cotidiano corrido e do trabalho. Também acho que falta incentivo para o estudo. Algumas escolas públicas de Curitiba são muito violentas. Achava perigoso estudar à noite”, conta o rapaz. Há três anos, Cleiton vive da revenda de produtos que traz do Paraguai. “Vou lá duas vezes por mês com mais três colegas. Consigo tirar uns 800 reais por mês. Acho que esse trabalho não tem muito futuro, mas até encontrar uma coisa melhor, a gente vai levando.” Antes dessa atividade, ele já tinha trabalhado como auxiliar de produção de um laboratório farmacêutico de Curitiba. “Mas trabalhava muito e ganhava pouco. Fiquei lá só quatro meses”, diz ele. O jovem mora com o pai, que é aposentado, e acalenta o sonho de ser cantor de rap. “Tenho uma banda, que toca em baladas e shows na comunidade de quinta-feira a domingo. Mas pretendo voltar a estudar. Sei que, para conseguir um emprego melhor, seria legal tentar acabar o ensino médio.”

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educadores

Educar o jovem que está se encaminhando para a vida profissional é a causa que identifica Fernando Alves, de Belo Horizonte, Gilda Pompéia, de Cotia, na região metropolitana de São Paulo, e Gisele Moreno Ferreira Ducatti, de Indaiatuba, no interior paulista. Embora estabelecidos em cidades com distintas realidades socioeconômicas, o três educadores cultivam a mesma preo-cupação com a formação de cidadãos para o mercado de trabalho na Rede Cidadã, no Centro de Profissionalização e Apoio ao Emprego (Cepae), na Fundação Indaiatubana de Educação e Cultura, e na Secretaria de Estado da Educação, os organismos aos quais se dedicam.

Por _ Simone Barreto

o valoR no Espírito Santo, no Rio de Janeiro e em São Paulo.

A Rede Cidadã mobiliza e integra três setores fun-damentais: público, privado e terceiro setor. “É criando colaboração e sinergia entre as instituições que geramos resultados para os jovens”, afirma Fernando. Para tanto, foi desenvolvida uma metodologia própria de trabalho para a Rede Cidadã, de acordo com o perfil dos parceiros, seja da área privada, como a Accenture e a Vale do Rio Doce, seja com ONGs, como o Comitê para Democratização da Informática. “Com este método, que chamamos de Rede de Geração de Trabalho e Renda para Jovens, detectamos 11 maneiras diferentes para participação de empresas e organizações sociais, que vão desde o trabalho voluntário para capacitação de jovens até a contratação dos alunos oriundos da rede. Já reunimos 663 empresas e 334 ONGs, que envolveram ações com 21.504 jovens”, diz o sociólo-go. Até meados deste semestre, a Rede Cidadã concluirá a inclusão de quatro mil jovens de vilas e comunidades de baixa renda da região metropolitana de Belo Horizonte no mercado de trabalho formal.

gilda pompéia, do cepae:educar para a convivência

Sinergia setorialFernando Alves, 46 anos, é so-

ciólogo e sempre trabalhou com jovens nos seus 23 anos de carrei-ra, incluindo 15 vividos em sala de aula como professor universitário. Mas foi em 2001, quando era Se-cretário Municipal de Direitos da Cidadania de Belo Horizonte, que surgiu a semente do pensamento sobre o trabalho em rede, para mobilização dos vários segmentos, a fim de gerar emprego e renda para jovens. A idéia de Fernando amadureceu e virou realidade em 2002, com a fundação da Rede Cidadã (www.redecidada.org.br), que tem sede em Belo Horizonte e conta com escritórios em mais sete cidades mineiras, e também

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Atento ao comportamento da juven-tude brasileira em relação ao trabalho, o educador aponta o desafio. “A Orga-nização Internacional do Trabalho (OIT) revelou em pesquisa que 30% dos jovens brasileiros não têm interesse em trabalhar. Talvez pudéssemos traduzir que um terço da nova geração está desinteressada pela principal fonte de vida: o trabalho. Estamos tentando re-cuperar o valor do trabalho como fonte de vida, mostrando aos jovens que vida e trabalho são um só valor.”

Pensando no outroA alegria da fala de Gilda Maria

Pompéia Soares, 47 anos, deixa trans-parecer o prazer que a professora de História e Filosofia tem em seu ofício. Com 26 anos dedicados ao ensino,

Do TRabalHo

estão despreparados para postos de trabalho que reque-rem um grau maior de qualificação, como o domínio do inglês, por exemplo”, diz.

O outro obstáculo seria a forma inadequada como as empresas estão recebendo jovens em sua primeira experiência de trabalho: “Setores como os de fast food e telemarketing têm incorporado o trabalho dos jovens sem nenhuma pedagogia, jogando excessivamente duro com a disciplina. Estabelecem relações de trabalho mecânicas e coercitivas e pagam mal. O resultado é uma alta taxa de troca de funcionários e um desinteresse grande da juventude em trabalhar em algumas empresas desse ramo econômico”.

Embora concorde que o crescimento econômico tem gerado novos postos de trabalho em todo o País, Fernando percebe obstáculos à inserção juvenil. “Existem dois grandes obstáculos para a empregabilidade da juventude brasileira, especialmente daqueles oriundos de famílias de baixa renda: em primeiro lugar, a baixa formação escolar, cultural e técnica para o trabalho. Essa formação insuficiente tem deixado muitos jovens fora de bons postos de trabalho em empresas estruturadas e que se encontram na lista das me-lhores empresas para se trabalhar. E esse quadro não é grave somente para postos de trabalho de ocupações mais operacionais, nos quais a juventude de baixa renda mais se emprega. Os filhos de classes mais favorecidas também

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Gilda tem muitas histórias para contar. A professora transita entre cenários completamente diferentes, que têm como ponto comum o jovem. Ela é pro-fessora nos colégios particulares Santa Cruz e Ágora , em São Paulo, e diretora do Centro de Profissionalização e Apoio ao Emprego, o Cepae (www.cepae.org.br), em Cotia, região metropolitana de São Paulo. Para ela, na essência não há diferença entre o jovem que encontra nas escolas particulares e aqueles que forma no Cepae: “O jovem precisa de uma educação voltada para o outro”, diz a fundadora e presidente da orga-nização, que iniciou suas atividades em 2001, para promover a capacitação de adultos e jovens do município de Cotia e arredores em cursos profissionali-zantes e de Informática. Desde então, atendeu 1.570 alunos.

“A instituição surgiu de uma neces-sidade imposta pelo fechamento de uma grande fábrica têxtil na região, que iria incrementar o número de desem-pregados em Cotia. Então, juntamente

com a Fundação Levis, fizemos um planejamento para a criação do Cepae”, diz Gilda. “Buscamos um trabalho com a comunidade que vai além da capacitação profis-sional. Queremos dar uma formação holística, preparar nossos alunos para a vida e, conseqüentemente, para o trabalho”, diz.

Embora venha acompanhando o registro de aumento da oferta de empregos nos últimos três anos, Gilda ainda não vê uma relação direta com a qualidade das vagas disponíveis: “Há ainda muito subemprego para o jovem. E vejo que algumas empresas são abusivas, pois sugerem renovação de estágio, por exemplo, apenas para não terem que arcar com mais encargos trabalhistas”.

Como muitos jovens são responsáveis pelo sustento financeiro em casa, Gilda diz que há uma flutuação grande nas turmas do centro, que chegam a perder até metade dos alunos matriculados, que aceitam ofertas de emprego aquém de suas capacidades. O Cepae oferece mais de uma dúzia de cursos profissionalizantes, mas há uma matéria oferecida a todos os aprendizes que por lá estão: as aulas de Ética e Cidadania, para resgate de valores sociais, respeito às diferenças e aumento da auto-estima. Além do conteúdo, há uma preocupação clara com o am-biente onde os alunos se reúnem. Os corredores pintados de branco e azul, as salas bem equipadas, o ambiente externo. Tudo pensado para acolher uma comunidade

Fernando alves, da rede cidadã: integração entre setores

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carente de opções de cultura e lazer. Uma das características do centro é estar sempre de portas abertas.

“Alguns ex-alunos do Cepae são hoje formadores de mão-de-obra, como no curso de garçons e chefes de cozinha. O segredo de qualquer instituição, para dar certo, é ter uma equipe vibrante, que acredita no que faz. E é assim que trabalhamos”, diz Gilda. A organização conta com algumas parcerias, como a Gerdau, responsável pela estrutura da boa biblioteca, com mais de 200 títulos clássicos. Outras empresas ajudam na formação profissional, como o Ibope, que disponibiliza funcionários volun-tários para o treinamento de novos pesquisadores de campo. Mas, para ampliar o número de alunos atendidos, a instituição vem trabalhando para atrair novos patrocinadores.

Uma das ações do Cepae é o projeto Ensaio para a Vida, voltado exclusi-vamente para jovens entre 15 e 21 anos, estudantes do ensino médio e fundamental, com renda familiar de até

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100% dos cerca de dois mil estudantes matriculados no último ano do ensino médio da cidade.

Em um projeto deste porte, há muita gente envolvida. Mas a professora Gisele Moreno Ferreira Ducatti, 47 anos, está no olho do furacão. É professora na Fiec e também supervisora da rede estadual. Ou seja, acompanha o pro-cesso dos dois lados, vivendo-o em tempo integral. Do alto de seus 28 anos de profissão, Gisele, que leciona Química, se entusiasma com o potencial dessa parceria que, acre-dita, é uma iniciativa que está servindo de exemplo para outras no estado: “É uma experiência única participar de um projeto que apresenta uma política pública inédita”.

Para traçar o plano do que seria essa parceria entre estado e fundação, foi realizada uma pesquisa para en-tender a demanda do mercado da região. Quais seriam os profissionais fundamentais que as indústrias – de uma região próspera, cercada de cidades industrializadas como Campinas, Sorocaba e Itu – poderiam absorver? Uma questão simples que foi determinante para a escolha dos cursos técnicos que seriam oferecidos.

“Detectamos, por exemplo, que a região, por sua voca-ção econômica, tinha carência de cursos de Informática, Logística, Segurança do Trabalho e Processos Químicos. Por isso, eles foram incorporados ao convênio”, diz Gisele. A Fiec já oferecia, no formato tradicional, todos os cursos que hoje fazem parte do programa (exceto o de Segurança

do Trabalho), e seu sucesso se traduz no concorrido vestibular para suas va-gas, que praticamente asseguram um posto de trabalho ao fim do curso.

O convênio entre prefeitura e estado está permitindo a ampliação desse sucesso, com a implantação dos cursos técnicos dentro das escolas estaduais, com um complemento de seis meses, depois que o aluno completa o ensino médio, dedicado à especialização – o que aumenta as chances de absor-ção pelo mercado de trabalho. Esse modelo híbrido de formação técnica e ensino regular eleva o índice de alunos contratados a 98%. Mas ao lado de todo o planejamento estratégico para realização desse projeto-piloto, Gisele destaca a qualidade da formação do jo-vem, que não é exclusivamente técnica, mas investe também na disseminação de valores de cidadania. “O jovem aluno percebe o tratamento que recebe e devolve com respeito. É um processo de aprendizado que eles levarão para a vida”, acredita a educadora.

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gisele ducatti, de indaiatuba:uma nova política pública

três salários. Trata-se de um trabalho de recuperação e inclusão social, que resgata a confiança e capacita pro-fissionalmente, ao longo de um ano de ensino. “O jovem precisa de uma educação voltada para o outro”, insiste a professora Gilda. “O individualismo não escolhe classe social. Acho que a sociedade deve acompanhar muito de perto essa questão”, alerta.

Política públicaIndaiatuba, município a 100 km de

São Paulo, já é conhecido como um dos maiores produtores de uva do estado e como sede da maior colônia suíça do Brasil. Mas vem se destacando tam-bém como cidade da empregabilidade juvenil. O título ganha reforços com o convênio firmado, neste ano, entre a Fundação Indaiatubana de Educação e Cultura, a Fiec (www.fiec.com.br), uma autarquia municipal, e a Secretaria de Estado de Educação (www.educacao.sp.gov.br). A iniciativa permite nada menos que oferecer cursos técnicos a

Política pública

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banco de práticas

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QuAtro propostAs Que buscAm AproximAr

o jovem e o mercAdo de trAbAlho

investimento na formação

Um jovem pode vir a trabalhar como programador de software ou pedreiro, estar envolvido numa cooperativa e produzir mel ou caju. O importante é que, ao pretender trabalhar, tenha as competências mínimas necessárias para se inserir no mercado. Cada um a seu modo, em áreas muito diversas e em di-ferentes regiões do Brasil, quatro projetos procuram pavimentar da melhor maneira possível o caminho entre a juventude e o emprego. Eles sempre consideram a educação um pilar da capacitação e, às vezes, fazem da própria escola um vetor de disseminação de informações e práticas que dizem respeito ao de-senvolvimento econômico regional.

E se a pesquisa desenvolvida pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas indica que o atalho está ao alcance de cada vez mais jovens, a experiência dos responsáveis pelas iniciativas re-tratadas registra que nem sempre foi assim. “Em 2006, começou a se

evidenciar a percepção de crescimento do mercado da construção civil. No setor de alumínio, por exemplo, já detectávamos falta de serralheiros de esquadrias e de instaladores de janelas de alumínio”, diz José Carlos Garcia Noronha, da Companhia Brasileira de Alumínio, integrante de comissão envolvida no projeto “O Futuro em Nossas Mãos”, do Instituto Votorantim, que oferece capacitação profissional a jovens em vá-rias cidades. A iniciativa também teve como estímulo fundador os números de uma pesquisa que mostrava que os maiores índices de desemprego no Brasil es-tavam entre os jovens de 18 a 24 anos”. Formando serralheiros, apicultores e cajucultores; disseminando a experiência do cooperativismo; ou desenvolvendo mão-de-obra especializada numa área nova como a tecnologia da informação, os envolvidos nestes pro-jetos se esforçam para mudar a situação.

Projetos como a criação de cooperativas de mel e caju no Piauí e a difusão da filosofia do cooperati-vismo entre jovens levam mais tempo para maturar. Outros já têm resultados visíveis. “Hoje, temos notícia de empresas que decidem se instalar em Blumenau porque sabem que aqui encontrarão funcionários qualificados”, diz Sérgio Tomio, coordenador geral do “Entra 21-Blusoft”, projeto que ensina programação de software a jovens catarinenses. Em comum, todos apostam nos jovens brasileiros.

Por_Marcelo Barreto

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Um dos princípios do cooperativismo é o interesse na comunidade. Foi com base nele que o Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop) criou o projeto “Cooperjovem”, que atua junto às escolas para formar jovens lideranças cooperativistas. Desde 2002, a iniciativa já chegou a todos os estados do País, por meio da Organização Cooperativista Brasileira (OCB). “Atuamos em escolas de cooperativas ou apoiadas por cooperativas”, explica Cleonice Pedrosa, supervisora

Nacional

cooperjovem

Desde 2003, o projeto “O Futuro em Nossas Mãos” já treinou oito mil jovens na atividade de assentamento de alvenaria, em 71 municípios de 17 estados, e, a partir de 2006, passou a formar também serralheiros de alumínio e instaladores de esquadrias. O diferencial é aproveitar as oportunidades que a cadeia de valor do cimento, do aço e do alumínio oferece. “No setor de alumínio, o esforço dos parceiros que integram a rede do segmento resulta em uma empregabilidade média de 50% dos jovens capacitados”, diz Luiz Valério de Paula

Piauí

caju e mel: geração de renda e inclusão social

A tecla “Enter” do computador e o nosso século deram o nome ao projeto “Entra 21”, da Fundação Inter-nacional para a Juventude (IYF) que visa à formação de mão-de-obra em países da América Latina e do Caribe. Bem longe da sede latino-americana da IYF, que fica em Medellín, na Colômbia, a Blusoft, entidade sem fins lucrativos que congrega as empresas de informática de Blumenau, aderiu à iniciativa. Nos dois primeiros anos, o Entra 21-Blusoft pretendia formar 400 jovens da região em tecnologia da informação, encaixando pelo

Blumenau (SC)

entra 21 - blusoft

Importante fonte de renda do estado, mel e caju estão juntos também em oficinas de capacitação, em escolas, no Piauí. Resultado de uma parceria entre a Fundação Banco do Brasil, o governo do estado e o Sebrae, o projeto “Caju e Mel: Geração de Renda e Inclusão Social” reúne professores e alunos de escolas públicas de Teresina, Oeiras e Picos, para conhecer me-lhor e debater o funcionamento das cadeias produtivas desses doces insumos do estado, numa perspectiva sustentável. Há três anos, o Sebrae do Piauí tem ini-

Nacional

o Futuro em nossas mãos

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menos 50% no mercado de trabalho. Os números superaram a expectativa (foram 540, com aproveitamento de quase 90%) e levaram à criação de uma nova turma, agora com ambi-ções maiores: o objetivo é chegar a mil jovens treinados, com carga horária ainda maior, passando de 360 para 500 horas-aula. “Queremos

ciativas voltadas para os produtores locais. “Usamos a metodologia GO: geração estratégica orientada para o resultado”, diz o gerente Francis-co Holanda. Com base nela, foram fundadas a Central de Cooperativas Apícolas do Semi-Árido Brasileiro (Casa Apis) e a Central das Coope-rativas de Cajucultores do estado do

Trindade, da Companhia Brasileira de Alumínio. O esforço se estende às de-mais empresas do grupo Votorantim, empenhadas em mobilizar suas redes para promover a empregabilidade dos jovens. O desafio central é a inser-ção. A estratégia, como explica José Carlos Noronha, da CBA, é detectar a necessidade de profissionais e só

de coordenação estadual do projeto em Pernambuco. “Começamos pela capacitação de professores”. Essa multiplicação de metodologia feita nas escolas é levada adiante em gincanas e encontros locais e estaduais entre estudantes do Cooperjovem, cujo ob-jetivo é divulgar o cooperativismo como opção de inserção no mercado de

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local abre cerca de 200 novas vagas por ano. Em julho de 2007, já eram 667 empresas. Elas geram 5.000 empregos diretos, 2.000 deles na área de desen-volvimento de software. “As universida-des não têm condição de acompanhar essa demanda, ainda mais quando se leva em conta que o crescimento é de 20% ao ano”, diz Sérgio.

Piauí (Cocajupi), ambas fomentadas segundo princípios da economia solidária. A Casa Apis beneficia 1.800 apicultores e suas famílias, evitando a ação de intermediários no processa-mento e na comercialização do mel. A Cocajupi reúne 480 famílias e tem capacidade para selecionar e classi-ficar 1,2 tonelada de amêndoas (ou

então proceder à formação de novas turmas. O passo seguinte, enquanto se desenvolve a capacitação, é a identificação das vagas de trabalho, processo em que articulação é essen-cial, já que a colocação no mercado hoje depende muito da rede de re-lacionamentos. Por isso, são funda-mentais as parcerias com entidades

trabalho. Um novo desdobramento é o programa Jovens Lideranças Coope-rativas, iniciado no distrito de Salobro, município de Pesqueira, para habilitar os jovens a integrar, inspirar e desen-volver pessoas e equipes. A iniciativa é destinada a jovens com idade entre 16 e 24 anos, que estejam cursando ou tenham completado o ensino médio

também chegar à área rural e incluir os portadores de deficiência”, conta Sérgio Tomio, coordenador geral do “Entra 21-Blusoft”, como foi batizado o projeto local. Manter a alta taxa de aproveitamento não parece ser problema: Blumenau se tornou um pólo de empresas de tecnologia da informação e o mercado de trabalho

castanhas de caju) por dia. A ação do Sebrae foi treinar e orientar todos os apicultores e cajucultores envolvidos nas cooperativas, muitos deles jovens. Pensado para a região, o projeto nas escolas é uma forma de disseminar entre a juventude o conhecimento sobre produtos tão significativos para a economia local.

que reúnem potenciais empregadores, como é o caso da AFEAL (Associação de Fabricantes de Esquadrias de Alumínio) e Sinduscon (Sindicato das Indústrias de Construção). O recrutamento dos jovens também é feito em parceria com ONGS e a parte prática da forma-ção inclui a execução de uma obra que beneficia a comunidade.

e que pertençam a uma cooperativa, sejam cooperados, empregados ou filhos de empregados ou cooperados. A formação tem carga horária total de 290 horas-aula, incluindo noções de gestão de pessoas e de processos, e se encerra com um projeto aplicativo, que deve ser desenvolvido pelos jovens, com ações práticas dos conceitos aprendidos.

cAju e mel GerAÇÃo de rendA e inclusÃo sociAl, dA centrAl de cooperAtivAs ApÍcolAs do semi-Árido brAsileiro e centrAl de cooperAtivAs de cAjucultores do estAdo do piAuÍÁreA de Atendimento piAuÍApoio sebrae, fundação banco do brasil, governo do estado do piauí, unisol, unitrabalhoAtendimento nas oficinas, até 180 mil alunos das escolas públicas; nas cooperativas, 2.280 famíliascontAto www.pi.sebrae.com.br

projeto futuro em nossAs mÃos, do instituto votorAntimÁreA de AtuAÇÃo nAcionAlAtendimento 8.000 já passaram pelos cursos de formação.Apoio instituto votorantim e empresas do grupo: companhia brasileira de Alumínio, votorantim cimentos, engemix e votorantim metais – prattein e senai, entre outroscontAto www.futuroemnossasmaos.com.br

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projeto cooperjovemÁreA de AtuAÇÃo nAcionAl Atendimento número indefinidoApoio sescoop e ocbcontAto www.portaldocooperativismo.org.br/ sescoop/comunicacao/cooper-jovem/default.asp

projeto entrA 21 – blusoft ÁreA de AtuAÇÃo blumenAu (sc)Atendimento 540 jovens na primeira turma; 1.000 (objetivo) na segundaApoio fundação internacional para a juventude, mif fomin, usAid, Gap inc., prefeitura de blumenau, governo do estado de santa catarina, fapesc e empresas locais de informáticacontAto www.entra21.com.br

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A juventude é para alguns um es-tado de espírito, não determinado pela idade em si, mas pela postura da pessoa diante do futuro. O jovem seria aquele que acredita que o melhor da vida ainda está por vir. Numa pesquisa sobre o tema, essa visão é corroborada por questões às quais a pessoa atribui diretamente nota subjetiva de 0 a 10 sobre a sua respectiva satisfação com a vida. Contrastamos a questão da satis-fação no presente com outra, referente à expectativa de felicidade cinco anos no futuro. Os mais jovens apresentam os maiores diferenciais entre felicidade futura e a presente. Não tanto porque a felicidade presente decline com a idade do entrevistado, mas pela queda da felicidade esperada no futuro. Em suma, os de menor idade tendem a estar impregnados de positividade em relação ao respectivo futuro, o que vai diminuindo com a idade.

Essas afirmações e dados não são específicos do Brasil, mas de uma

Por _ Marcelo Neri

Educação E EmprEgoÂngulo 1

geração de renda no presente repre-senta o principal dilema econômico enfrentado pelos jovens: devo estudar e/ou trabalhar? Ser educado, ou estar trabalhando – eis a questão.

É para buscar respostas às pergun-tas sobre a empregabilidade do jovem hoje e sua relação com o nível educa-cional, entre outros aspectos, que o Instituto Votorantim vem apoiando uma extensa pesquisa do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (CPS/IBRE/FGV).

A seguir, algumas constatações que podem contribuir para o diagnóstico, desenho, operacionalização e difusão de ações voltadas ao jovem brasileiro no campo do trabalho.

Estagnação no trabalhoA literatura de bem-estar social

sintetiza o desempenho social em medidas objetivas baseadas em renda, na qual aquela advinda do trabalho desempenha papel central,

amostra de 132 países coberta pelos microdados da pesquisa do Gallup World Poll, de 2006, explorados em projeto nosso para o BID. O que é específico do Brasil é a alta expectativa em relação ao futuro – nossa nota média é 8,24, mais do que qualquer um dos países da amostra. Somos campeões mundiais de felicidade futura. Essa interpretação permite reconciliar duas qualificações recorrentemente atribuídas ao Brasil: “país jovem”, por uns, e “o país do futuro”, por outros. Mais do que um país de jovens na sua composição demográfica, o Brasil é um país habitado por jovens de espírito jovem. A média de felicidade futura do brasileiro entre 15 e 29 anos é 9,29, também superior a qualquer um dos paises pesquisados [leia reportagem sobre o tema à pág. 48].

Agora, o debate tupiniquim acerca dos jovens, nos últimos anos, tem enfatizado baixos salários, altas taxas de desemprego e de informalidade. Haveria base concreta para o otimismo do jovem brasileiro em relação ao seu futuro? Vejamos: do ponto de vista prático, a juventude é a fase de transição da vida infantil para a adulta. Neste trajeto, a escola ocupa, ou pelo menos deveria ocupar, o papel central na infância, enquanto a geração de renda e a inserção no mercado de trabalho são os principais objetivos da vida adulta. Esta tensão entre os retornos futuros do investimento em educação e a urgência da

À estAGnAÇÃo do mercAdo nAs ÚltimAs dÉcAdAs correspondeu umA ondA de AvAnÇo

dA educAÇÃo, Que pode explicAr o AtuAl otimismo dA juventude brAsileirA

O FUTURO ESTÁ CHEGANDO

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Ângulo 1

sendo responsável por cerca de três quartos da renda dos brasileiros. A literatura também revela que anos completos de estudo, apesar de suas óbvias limitações, são a principal variável, entre as que conseguimos ob-servar, a explicar o desempenho das pessoas ao longo de suas vidas trabalhistas. Diversas são as variáveis que caracterizam a performance trabalhista, tais como a ocupação, o desemprego, o salário, a extensão da jornada e a participação no mercado de trabalho, entre outras. Propomos no projeto “Educação e Emprego do Jovem”, resultado de parceria com o Instituto Votoran-tim, uma metodologia que mapeia a evolução de cada um dos principais ingredientes trabalhistas referentes aos impactos exercidos sobre a renda total auferida pelos jovens.

Sintetizando uma estória longa: a renda individual média do jovem de 15 a 29 anos sobe 18% de 1992 a 2006, sendo quase um quinto deste aumento associado a aumento de rendas não trabalhistas, como transferên-cias privadas (mesadas e pensões alimentícias) e, em particular, transferências públicas advindas de progra-mas sociais. Entre os fatores trabalhistas puros, houve estagnação da probabilidade de o jovem estar ocupado. Ou seja, boa parte do aumento de renda decorre do aumento do salário de cada jovem ocupado, que por sua vez pode ser decomposta em mudança do salário por cada ano de educação e do total de anos de estudos. A “recompensa” salarial por ano de estudo caiu ao longo da última década. Acompanhe o raciocínio: se alguém ganhasse R$ 644, tendo oito anos de estudo, cada ano valeria R$ 80; mas, atualmente, para chegar nesse mesmo nível de salário, seriam necessários pouco mais de 10 anos de estudo, pois cada ano está valendo R$ 63,50. Um sujeito que ficasse nos oito anos de estudo, ganharia hoje cerca de R$ 508 contra os R$ 644 em 1992. Ou seja, é preciso estudar cada vez mais anos para manter a mesma renda ou para aumentá-la, porque o prêmio obtido no mercado de trabalho por cada ano de estudo diminuiu. A situação de estagnação econômica, portanto, não valoriza os anos a mais. Mas quando a economia se aquece, isso faz diferença.

Resta, portanto, como fator de expansão o nível de educação do jovem, que explica 180% do aumento de renda. Isto é, não só cobre a totalidade da queda do prêmio salarial proporcionado por cada ano de estudo, como gera, além disso, 80% do ganho de renda observa-do. A estagnação do mercado de trabalho impediu que a forte expansão educacional observada se traduzisse em ganhos expressivos de renda.

Outra explicação para o paradoxo da estagnação traba-lhista, apesar da expansão da escolaridade, é que o ganho de quantidade foi acompanhado de perda da qualidade da educação. Daí a importância prospectiva do novo foco em qualidade da educação perseguido por iniciativas como o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), do Governo Federal, e o Compromisso Todos Pela Educação, da sociedade civil.

os jovens avançaram nos

estudos três vezes mais do

que a média histórica. agora,

com o mercado aquecido, esta

onda educacional propaga

confiança no futuro

Mais educaçãoSegundo a definição das políticas

públicas adotadas no Brasil, juventu-de corresponde à faixa etária de 15 a 29 anos. Uma média deste vasto grupo etário esconde tanto quanto revela. Se dividirmos o grupo nas faixas de 15 a 21 anos – os abaixo da maioridade plena, mais voltados ao estudo – e aqueles entre 22 e 29 anos de idade, já mais voltados ao mundo do trabalho, nota-se di-minuição da atividade no mercado de trabalho do primeiro grupo e um aumento no segundo. Essas mudan-ças podem ambas ser consideradas avanços. O lugar do jovem de 15 a 21 anos é a escola. Nesta visão, a filosofia do finado programa federal Primeiro Emprego, de subsidiar o capital para contratar trabalho já na tenra idade de 16 anos, seria pre-matura, enquanto a recém-adotada extensão da idade máxima, sujeita às condicionalidades da educação, do Bolsa Família, de 15 para 17 anos, apontaria na direção correta.

Agora, impressiona o aumento da educação de ambos os grupos de jovens. Entre 1992 e 2006, a média de anos de estudo do grupo de 15 a 21 anos sobe 3,1 anos completos de estudo, e daquele entre 22 e 29 anos sobe 2,5 anos. Para efeito de compa-ração, o grupo etário de 30 a 39 anos avança, no mesmo período de 14 anos, 1,7 anos de estudo. Avanço um pouco superior ao da média histórica brasileira de cerca de 1 ano de estudo por década, o que faz este grupo pós-

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danilo barbosa, 19 anos, trabalha em empresa de capitais, depois de participar de capacitação no Instituto ProA (www.institutoproa.org.br)

“Falam muito hoje em ensino médio profissionalizante, mas não sei o quanto isso é bom. Aos 15, 16 anos, acho que você tem de estar focado em estudo mesmo, em adquirir conhecimento e não em aprender alguma habilidade profissional. E valorizar o conhecimento nessa idade depende da sua trajetória escolar e familiar desde a infância. É nessa fase que você tem de aprender a importância de aprender. A maioria dos estudantes, no ensino médio, não está nem aí para as questões relacionadas a trabalho, a um futuro profissional. Não pensam nisso, não estão ligados, maduros para isso. E quando o cara tem de trabalhar nessa idade não consegue se dedicar direito nem aos estudos nem ao trabalho. O que pode acrescentar, nessa fase, são cursos como o que eu fiz, quando estava no fim do 3º ano, no Instituto ProA. O curso me apresentou o funcionamento de uma empresa e o lado comportamental nesse ambiente. Quando comecei a trabalhar no início deste ano, em uma empresa com várias linhas de negócios – imóveis, agropecuária, investimentos, já estava familiarizado, não tive dificuldades para me ambientar. Esse curso fez diferença, me deu um rumo. E a experiência no trabalho me ajuda a clarear o caminho a seguir. Mas ter conhecimentos é fundamental no mundo do trabalho, então estou me preparando agora para prestar economia no vestibular.”

marcelo neri é economista-chefe do centro de políticas sociais do ibre, da rede e da epge da Fundação getúlio vargas

“dada a precária em que a situação trabalhista pregressa, o porquê da alta expectativa de felicidade futu-ra?”, uma boa resposta seria: “É a educação, estúpido”.

Outra resposta válida seria a me-lhora do desempenho trabalhista observado apenas no período mais recente, presente nas percepções futuras dos jovens. O período de 1992 a 2006 analisado encerra dois períodos: o de 1992 a 2003, em que a renda fica estagnada, e o da posterior reversão trabalhista, de 2003 a 2006 em que a renda sobe 22,9 %. Passamos da fase da crise do desemprego ao regime do apagão de mão-de-obra.

Complementarmente, já existem dados no Brasil que permitem ir além de 2006 e tratar o que era então fu-turo como observação passada. Nas seis maiores regiões metropolitanas, os jovens experimentaram aumento da renda do trabalho, aí incluindo-se o efeito dos novos postos de traba-lho de 24,8% nos primeiros quatro meses de 2008, comparados ao mesmo período de dois anos atrás. Além da renda média bombando, observamos mais crescimento entre os trabalhadores mais pobres. Já os dados do Caged (Cadastro Geral dos Empregados e Desempregados) do Ministério do Trabalho, revelam recor-des sobre recordes das séries histó-ricas de geração de emprego formal no País, aquele que se encontrava até há pouco em processo de extinção gradual. Em 2007, tivemos 1,6 milhão de novos empregos formais, sendo 93% de jovens até 29 anos. Apesar das nuvens da recessão americana no horizonte, os mesmos dados mos-tram, no primeiro semestre de 2008, um crescimento agregado de 24,2% em relação ao nível recorde de 2007, o que indica que não só os jovens, mas os empresários estão apostando no futuro e contratando em especial aqueles que puderam e sabiamente quiseram investir em educação.

jovem chegar a 8,1 anos completos de estudo em 2006, média inferior àquela atingida pelo grupo de 15 a 21 anos de idade, de 8,9 anos de estudo. Ou seja, o grupo de 15 a 21 anos – que a rigor ainda não terminou todo o seu processo educacional formal – já ultrapassou a escolaridade do grupo de 30 a 39 anos, o que demonstra uma marcada aceleração do processo educacional brasileiro, pelo menos do ponto de vista de quantidade de educação obtida.

A geração mais nova está fazendo o seu dever de casa em relação ao seu próprio futuro. Neste sentido, se eu perguntasse ao jovem brasileiro:

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É preciso AsseGurAr

Ao jovem umA trAjetÓriA de

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O TRAbAlHO DECENTE

O futuro de muitos dos 106 milhões de jovens latino-americanos e caribenhos está ameaçado pelo desemprego, pela informalidade e pela inatividade. O alerta está no relatório “Trabalho Decente e Juventude na América Latina”, apresentado pela Organização In-ternacional do Trabalho (OIT) em setembro de 2007.

O relatório teve como objetivo aprofundar a análise da situação da juventude da região, um dos temas prioritários da Agenda Hemisférica de Trabalho Decente (AHTD), que reflete um compromisso de 23 países das Américas para a promoção do trabalho decente na região, entre eles o Brasil.

Mas, afinal, o que é trabalho decente, uma expressão tão discutida atualmente? Para a agência da ONU espe-cializada em trabalho, a OIT, trabalho decente significa o trabalho produtivo e adequadamente remunerado, exercido em condições de liberdade, eqüidade e segu-rança, e capaz de garantir uma vida digna.

Jovens no mercado Em 2005, do total de 106 milhões de jovens na

América Latina e no Caribe, 48 milhões trabalhavam, 10 milhões estavam desempregados (o que representa 46% do total de desempregados da região) e aproxima-damente 48 milhões estavam na condição de inativos (não estão à procura de emprego).

Mas o desemprego não é o único problema que os jovens enfrentam no mercado de trabalho: entre os jovens ocupados, 2 de cada 3 trabalham em atividades informais ou em condições precárias de trabalho (cerca

de 30 milhões), sem registro e sem cobertura da previdência social, e freqüentemente com remuneração menor que o salário mínimo.

Em termos de renda, um jovem ganha, em média, 56% do que um adulto recebe, fato que confirma

29

por_Karina Andrade

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Flavia bispo, 24 anos, integrou programa de capacitação para o

trabalho da GMK (www.gmkassoc.org.br) em parceria com a Unibes (www.unibes.org.br)

Ângulo 2

“Boa educação é fundamental para o jovem conseguir um bom emprego, mas quando essa formação está associada a projetos que abrem portas nas empresas é o ideal. Essa parceria foi responsável pela minha boa trajetória como estudante e profissional. Na parte educacional, comecei a freqüentar os cursos da Unibes (União Brasileiro-Israelita do Bem-Estar Social) aos 6 anos e, aos 14, me interessei em fazer os cursos profissionalizantes oferecidos pela Associação George Mark Klabin de Assistência (GMK), parceira da Unibes. Fiz vários cursos, como de auxiliar de escritório, telemarketing, informática, espanhol, artes e também teatro, para treinar a desenvoltura. Depois, o programa proporciona uma vivência profissional. Fui alocada em uma empresa multinacional de embalagens, na qual fui aprendiz, estagiária e, em 2001, passei a ser funcionária efetivada. Hoje, sou analista de vendas na empresa, depois de terminar a faculdade de administração com ênfase em comércio exterior, e também retomar os estudos de inglês e espanhol. O apoio dos programas foi maravilhoso, sem isso eu provavelmente não teria alcançado o nível profissional e de trabalho que tenho hoje. Essa experiência, acima de tudo, me proporcionou uma grande lição de vida.”

condições, desde que isso lhes gere uma primeira experiência.

No entanto é importante deixar cla-ro que a inserção precária e precoce da juventude no mercado de trabalho diminui a probabilidade, ou dificulta que esses milhões de jovens traba-lhadores e trabalhadoras venham a construir uma carreira ou trajetória de trabalho decente ao longo de suas vidas.

A vida laboral dos jovens, ou sua trajetória de trabalho decente, não deve começar com um emprego ou um trabalho, mas com a educação, a formação, ou a acumulação de ex-periência produtiva (com um estágio adequado, por exemplo), primeiras etapas de uma trajetória de trabalho decente positiva.

Muitos jovens que não conse-guem visualizar essa trajetória começam a questionar a validade da educação e do mercado de trabalho como meios para progredir. Isso é um erro.

Educação e formação Na América Latina e no Caribe,

segundo dados de 2005, de um total de 106 milhões de jovens , 49 milhões estavam estudando e 22 milhões não estudavam nem trabalhavam (72% eram mulheres e 28%, homens).

As mulheres jovens têm maior presença no grupo de quem só estuda e no grupo de quem não es-tuda nem trabalha, e seus índices de participação na força de trabalho são muito menores se comparados com os dos homens. Embora trabalhem majoritariamente em empresas, 16% delas são trabalhadoras domésticas, a ocupação mais comum entre as mulheres jovens latino-americanas. Apesar da importância de sua tarefa, o serviço doméstico apresenta os níveis mais baixos de remuneração e proteção social.

que os perfis de rendimento crescem à medida que a idade avança.

Aliás, o que mais diferencia os jovens dos adultos é o tipo de emprego ao qual eles têm acesso. Um dos diversos fatores que limitam a utilização do potencial produtivo dos jovens é a visão bastante comum de que eles estão dispostos a aceitar qualquer tipo de trabalho ou atividade, independentemente da sua qualidade e

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karina andrade, advogada, é coordenadora nacional do projeto de promoção do emprego de Jovens na américa latina (preJal)

Isso reflete, entre outras coisas, uma certa tradição cultural e a falta de oportunidades para as mulheres, que são obrigadas a combinar trabalho e obrigações familiares. As jovens mães, em sua grande maioria, moram com seus pais e dedicam-se a atividades domésticas, a cuidar de seus filhos e, em alguns casos, dos irmãos mais novos. Normalmente, não freqüentam a escola nem entram no mercado de trabalho e, quando o fazem, as ocupa-ções são muito precárias.

Com relação à escolaridade, os jovens possuem mais anos de estu-do que os adultos e maior acesso a tecnologias de informação. No caso das mulheres jovens, apesar de terem níveis de escolaridade superior aos homens jovens, elas apresentam taxas de participação mais baixas.

Feitas estas considerações, é possível concluir que, para promover trabalho decente para jovens latino-americanos, é fundamental investir na sua educação e, ao mesmo tempo, ampliar a qualidade da docência, renovar o currículo e facilitar uma educação flexível, que permita aos estudantes seguir aprendendo ao começar a trabalhar.

Jovens brasileirosNo Brasil, a situação não é diferente.

De acordo com o relatório “Trabalho Decente e Juventude no Brasil”, que está em elaboração pelo projeto da OIT de Promoção do Emprego de Jovens na América Latina (PREJAL), e será lan-çado em breve, a taxa de desemprego entre jovens de 15 a 24 anos em 2006 era de 17,8% e dos adultos, 5,6% (o estudo se baseou na PNAD/IBGE de 2007). Ou seja, a taxa de desempre-go dos jovens era cerca de 3,2 vezes maior que a dos adultos.

O desemprego de jovens também tem maior incidência sobre o sexo fe-minino e a raça negra. O desemprego

entre os homens jovens era de 13,8%, taxa que crescia para 23% para as mulheres da mesma faixa etária. Enquanto a desocupação afetava 16,7% dos jovens trabalhadores brancos, este percentual se elevava para 18,7% para os jovens negros.

Com relação à informalidade, 31,4% dos jovens ocu-pados eram empregados sem carteira, contra 14,1% de adultos na mesma situação. Do total de 18,2 milhões de jovens ocupados no Brasil, cerca de 11 milhões estão alocados no setor informal. Do total das jovens ocupadas, 14,8% eram trabalhadoras domésticas sem carteira assinada, e 11,6% das mulheres adultas trabalhavam na mesma situação.

Em 2006, os jovens brasileiros também passaram mais tempo na escola que os adultos. Enquanto 41% dos adultos tinham de 0 a 4 anos de estudo, 11,9% dos jovens de 15 a 24 anos possuíam essa mesma escolaridade. Já para a faixa de escolaridade de 9 a 11 anos de estudo, o percentual de adultos era de 24% e de 44% para jovens.

Outro dado mostra que persiste uma elevada de-sigualdade em termos de acesso à educação entre pessoas brancas e negras. Enquanto 39,7% dos jovens negros tinham de 5 a 8 anos de estudo, o número cai para 29,5% quando se trata de brancos com o mesmo período de escolaridade. Mais de 13% dos brancos tinham 12 anos ou mais de estudo. Esse número cai para 3,7% entre os negros (o estudo considerou como população negra o total de pessoas pardas e pretas).

Esforços nacionaisO Brasil tem se esforçado para reverter este quadro.

Exemplos são a elaboração da Política Nacional de Juventude, cujos marcos foram a criação da Secreta-ria Nacional da Juventude e do Conselho Nacional da Juventude, instâncias onde são formuladas e propostas diretrizes para a ação do Governo, inclusive na área do emprego de jovens.

O compromisso com o emprego ju-venil também está na Agenda Nacio-nal de Trabalho Decente (ANTD), uma iniciativa do Governo, lançada em maio de 2006. A Agenda foi elaborada em consulta a organizações de em-pregadores e de trabalhadores, com o apoio da OIT e, entre suas linhas de ação, está previsto o “fortalecimento de políticas e programas de promo-ção do emprego de jovens”.

Em conformidade com a ANTD, o Escritório da OIT no Brasil e, espe-cialmente, o Projeto de Promoção do Emprego de Jovens na América Latina (PREJAL), financiado com recursos espanhóis, têm o compromisso de promover o trabalho decente para a juventude brasileira.

Esse trabalho de contribuir para a melhoria das condições de em-pregabilidade dos jovens no Brasil tem sido feito junto ao Governo, às organizações de trabalhadores e de empregadores e às organizações de e para a juventude. O PREJAL também tem como diferencial a parceria com o setor privado, apoiando iniciativas de formação dos jovens nas próprias empresas participantes do projeto.

hÁ umA visÃo comum de Que os jovens estÃo dispostos A AceitAr QuAlQuer trAbAlho,

independentemente dAs condiÇÕes, desde Que isso Gere

umA primeirA experiÊnciA

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mEDiNDO EFETiviDADEpor_Regina Novaes

Qual é o papel das avaliações para a efetividade dos programas e projetos voltados para a juventude, na área de trabalho? Não há respostas fáceis para esta pergunta.

Olhando para nossa realidade, destaca-se um grande contingente de jovens com baixa escolaridade e com dificuldades de inserção no mun-do do trabalho. Por outro lado, as ava-liações sobre projetos e programas (públicos ou privados) de qualificação e inserção ocupacional, voltados para a juventude, chegam a um lastimável veredicto: alta evasão e baixo índice de inserção ao fim dos cursos. Trata-se de um beco sem saída? Ou seriam outros os parâmetros de avaliação se, antes de tudo, olhássemos para os “jovens dos projetos” como parte da juventude contemporânea, submeti-da às contradições da vida social e do mundo do trabalho no século 21?

Condição juvenil Vivemos em um tempo em que

a rapidez das transformações tec-nológicas e a produção econômica globalizada afetam diretamente o mercado de trabalho. A cada dia, é menor a dependência da mão-de-obra, enterram-se velhas profissões

e nascem novas ocupações. Amplia-se o acesso à edu-cação formal, mas cresce também o número daqueles que ocupam postos de trabalho que não correspondem ao nível educacional atingido.

De maneira geral, os estudiosos afirmam que o con-texto atual está marcado pelo aumento dos patamares de desemprego, pela ampliação do tempo de procura por trabalho e pela recorrência da desocupação. Neste cenário – para significativa parte da população –, prevalece um contínuo sentimento de instabilidade. O que dizer da juventude brasileira? Se várias entradas e saídas da escola são mais comuns na trajetória dos jovens mais pobres, as entradas e saídas do chamado mundo do trabalho estão se tornando freqüentes para jovens de diferentes classes sociais. Estes movimentos afetam a seqüência e a previsibilidade de eventos que caracterizavam o modelo de transição para a vida adulta: fim da formação escolar, obtenção da ocupação, casamento e formação de uma nova família. Hoje existem novas modalidades de transição para a vida adulta, diversificando as trajetórias juvenis.

Certamente o “modelo” acima, com sua seqüência linear, nunca funcionou para todas as juventudes. Para jovens das classes populares, o período da infância sempre foi encurtado, e a idade adulta antecipada pela entrada precoce no mercado de trabalho. A “novidade” seria os jovens que não estudam, mas também não trabalham. Para esta juventude, está voltada a maioria dos programas. Aqueles que buscam atuar em larga escala lançam mão de estatísticas para caracterizar este “público-alvo”, facilmente encontrado na área rural e em bairros pobres de nossas cidades.

No entanto tal diagnóstico homogeneíza situações

insErção E avaliaçãoÂngulo 3

heterogêneas. Jovens que para-ram de estudar e não conseguem estabelecer vínculos ocupacionais estáveis, embora com pouca idade, já conhecem os caprichos do mercado de trabalho. Observando seus pais, seu bairro, seus colegas, eles sabem, na prática, o que é desemprego. Ao chegar aos programas e projetos, já viveram diferentes experiências de exclusão e já sofreram preconceitos, seja pelo estigma negativo do lugar onde moram, seja pela sua aparência, que não é vista como adequada ao trabalho que é oferecido nos shop-ping centers e no setor de serviços em geral.

Enfim, as estatísticas dos “jovens que não estudam e não trabalham” se transformaram em um importante alerta para que a sociedade olhe para uma parcela significativa e socialmen-te vulnerável de sua juventude. Mas, tratando-se de um retrato estático, tal caracterização não dá conta do contex-to mais geral de mudanças nas relações de trabalho; não ajuda a compreender as especificidades da atual “condição juvenil” e, o mais importante, contribui para esconder experiências diferencia-das de múltiplas entradas e saídas do chamado “mundo do trabalho”.

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3333evAsÃo por diferentes motivAÇÕes e bAixo Índice de inserÇÃo produtivA sÃo

desAfios pArA Quem formulA proGrAmAs e projetos voltAdos pArA A entrAdA do

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pode ser atribuída às falhas de imple-mentação; ou daquela que obedece a opção pessoal ou familiar por uma oportunidade de trabalho que surgiu inesperadamente; ou, ainda, daquela que foi imposta por mudança de endereço (por questões econômicas, de segurança ou afetivas)? A “evasão” teria o mesmo significado para um jovem de 18 anos que nunca trabalhou e para um jovem de 24 anos com várias experiências de trabalho?

Como tratar de “evasão”, conside-rando que este segmento da juventude experimenta inúmeras situações de violência relacionadas ao tráfico de drogas, uso de armas de fogo e falta de preparo das polícias para lidar com a juventude? Envolvimentos pessoais, relações de amizade e parentesco com pessoas envolvidas com o tráfico de drogas ilícitas; mortes prematuras e violentas de pares (irmãos, parentes e amigos) fazem parte da história de vida destes jovens. Além de uma possível resistência em deixar para trás tais “fontes de renda” (ilícitas, mas con-cretas), há também redes de relações anteriores que envolvem sentimentos contraditórios de afeto e medo.

Estas e muitas outras indagações estão a exigir muita reflexão e outras

Sentidos para a evasãoNo âmbito das iniciativas voltadas

para a inserção produtiva de jovens, há um tópico obrigatório: “avaliar a evasão”. Contudo, normalmente, pouco se discute este conceito.

De maneira geral, se lança mão da equação utilizada pelo sistema formal de ensino: quantos se matricularam e quantos chegaram até o fim. No âmbito do sistema escolar, há um pressuposto

básico: a uma grande massa de jovens de idade similar, independentemente de sua origem social, está se ofe-recendo uma universalizada escolarização obrigatória. Seria o mesmo no caso dos programas e projetos sociais voltados para a inserção de jovens no mundo do trabalho? Ou o reconhecimento de que estamos convivendo com distintas modalidades de transição para a vida adulta exige que se descreva melhor a realidade e se chegue a caracterizar também distintas modalidades de evasão?

De fato, as indagações são várias: como distinguir a evasão por desinteresse do participante daquela que

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propostas mais criativas e adequadas para classificar e “medir evasão”. O que estou propondo é uma reflexão prévia e continuada sobre motivos e motivações da per-manência e da desistência dos e das jovens que participam dos programas e projetos, pois a partir daí se poderá melhor qualificar o debate e estabelecer modalidades de evasão.

Resultados e impactosAvaliar é comparar dados de desempenho com objetivos

e metas traduzidas em indicadores de eficiência, eficácia e efetividade. Na literatura disponível, consta que a eficiência se refere aos recursos mobilizados na implementação. Sua principal finalidade é evitar a dispersão de recursos financeiros e a prática de gastos desnecessários. Na ava-liação de eficácia, a questão central é saber se os atores estão fazendo as coisas certas, nos momentos certos e obtendo resultados parciais suficientes para a consecução dos resultados finais esperados. E, finalmente, a avaliação da efetividade apenas se pode realizar na conclusão de um programa ou projeto. No que diz respeito à inserção produtiva juvenil, não é simples avaliar a efetividade. Duas dimensões expressam tal dificuldade.

A primeira dimensão refere-se às distinções entre as trajetórias juvenis. Diferenciações preexistentes entre os jovens farão diferença no momento de sua inserção no mundo do trabalho. Aqui os indicadores não podem se restringir a nível socioeconômico, grau de escolaridade, relações formais no mercado de trabalho. É preciso con-siderar outros que revelem marcas sociais produtoras de preconceito e discriminação (de gênero, étnico-racial, de orientação sexual, de deficiências físicas). Assim como levar em conta pertencimentos (a redes comunitárias, a grupos de adesão ou produção cultural; a igrejas ou gru-pos religiosos), que podem ser tanto obstáculos quanto facilitadores de inserção ocupacional. Uma bem dosada articulação entre todos estes aspectos é fundamental para medir a potencialidade de um programa de inserção de jovens no mercado de trabalho.

Muitas vezes, também é preciso apreender o grau de desconfiança em relação a programas e ações – sobre-

tudo governamentais –, com suas grandes distâncias entre o que é prometido e o que é realizado. Enfim, não

se pode esperar que, como em um passe de mágica, jovens voltem a confiar em si, nas organizações

sociais, nos governos.A segunda dimensão considera as conjun-

turas e vários fatores externos. O aumento

da “empregabilidade” dos jovens de um programa específico estaria rela-cionado a resultados de uma política macroeconômica, ou a qualquer outro fator intangível não relacionado direta-mente ao programa em questão? Ou seu sucesso deve-se ao crescimento da oferta local de empregos, naquele setor ou comunidade? Tal ocupação foi eventual, ou será sustentável? Ou o im-pacto de determinados projetos deveria ser procurado em outros espaços para onde (sazonalmente, ou de maneira permanente) migraram os jovens?

Estas duas dimensões revelam por que nem sempre é possível estabelecer uma relação de causação direta entre o projeto e os impactos encontrados ou medidos. O que se espera é que a ava-liação construa hipóteses pertinentes a cada projeto.

ReflexãoNo momento atual, formuladores de

programas e projetos estão desafiados a encontrar caminhos para livrar-se de um tipo de onipotência que desconsi-dera os obstáculos presentes na reali-dade, sem se entregar aos sentimentos de impotência que imobilizam e em-botam a criatividade. Como ponto de partida, é preciso acreditar no potencial destes jovens tão desacreditados.

Ângulo 3

conceitos como evAsÃo e

empreGAbilidAde, resultAdos e impActos

GAnhAm sentidos prÓprios QuAndo

se considerA A heteroGeneidAde

do pÚblico juvenil Atendido

ao produzir conhecimento e reflexões inéditos, as avaliações podem ter um papel ativo na construção de novas formas de inserção produtiva juvenil

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353535

“A gente precisa trabalhar, mas quando começa a procurar emprego, percebe que em geral as empresas exigem que já se tenha concluído o ensino médio. É um primeiro ‘funil’. Aí vem o segundo: as empresas querem que você já tenha experiência profissional. Fica difícil. Por isso, quando um amigo me deu a dica da Fundação Mudes (Movimento Universitário de Desenvolvimento Econômico e Social), instituição com vários programas, entre eles os de recrutar e colocar em empresas estagiários, trainees e aprendizes, eu me inscrevi para um estágio e fui selecionada para um trabalho de recepção na própria Fundação. Agora, no estágio, também ajudo no cadastramento de estudantes e dou informações sobre os programas. Quando sair, em dezembro, estarei concluindo também o ensino médio na escola pública e, assim, com os requisitos mais básicos exigidos no mercado de trabalho: a formação escolar e a experiência profissional. Terei dado um bom salto e aprendi muita coisa, a começar pela postura profissional, que é uma coisa que você tem noção, mas que é importante colocar em prática: o modo de falar, sentar, se comportar, a roupa adequada no ambiente de trabalho etc. Acho que o estágio também ampliou minhas escolhas para a carreira. No vestibular, vou tentar também a área de recursos humanos, além de Marketing e Publicidade.”

Juliane do nascimento germano, 18 anos,

estudante do 3º ano do ensino médio e estagiária na Fundação Mudes

(www.mudes.org.br)

regina novaes é doutora em antropologia e professora de pós-graduação de sociologia e antropologia da universidade Federal do rio de Janeiro. Foi secretária nacional-adjunta de Juventude e presidente do conselho nacional de Juventude de 2005 a 2007. é pesquisadora do cnpq e consultora do instituto brasileiro de análises socioeconômicas (ibase)

Por isto mesmo, nas avaliações, de modo geral, é importante buscar rela-tos dos próprios jovens tanto sobre os motivos e as motivações para entradas e saídas da escola e do mundo do trabalho, quanto sobre os diferentes efeitos dos programas e projetos em suas vidas. Cabe à avaliação: cotejar a opinião de quem está avaliando com a opinião dos jovens e com a visão dos educadores e gestores; levantar e sistematizar múltiplas visões latentes sobre o contexto do projeto. A reflexão compartilhada resulta em aperfeiçoa-mentos do que está sendo feito e ajuda a construir melhores parâmetros para a avaliação.

Em resumo, programas e projetos voltados para a inserção produtiva podem produzir impactos de várias naturezas. Por isto mesmo, sua efetividade não pode ser medida apenas pela imediata “empregabili-dade”. Considerando as caracterís-ticas da sociedade contemporânea, é preciso apreender outros efeitos que implicam mudanças na vida dos participantes. Quantos voltaram a estudar depois de participar de um programa ou projeto? Quantos e quais jovens puderam (ou poderão) traduzir o aprendizado para formas de trabalho autônomo, ou em grupos de economia solidária? Que outras mudanças na sociabilidade juvenil podem ser creditadas à experiência vivenciada em um programa ou pro-jeto? Os tempos atuais exigem que as avaliações acompanhem os jovens, por um tempo, após o término dos programas. Só assim poderemos dizer se um programa ou projeto valeu a pena, ou se não deu certo. A avaliação final deve responder a uma pergunta mais geral: até que ponto tais iniciati-vas contribuíram para ampliar o campo das escolhas e possibilidades desta parcela de jovens brasileiros?

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Finalmente, ao produzir conhecimento e reflexões inéditas, as avaliações podem jogar um papel ativo para o nascimento de novas percepções em torno da juventude, provocando questionamentos e modulações nas imagens dominantes sobre os sujeitos jovens. Neste sentido, as avaliações sobre os programas e projetos voltados para a inserção produtiva juvenil também podem ser constru-toras da realidade social desta geração.

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o sujeito da frase

“uma Questão

de atitude”

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é assim que paulo veras, da organização líder da semana global do empreendedorismo no Brasil, define o espírito que a iniciativa pretende despertar nos jovens brasileiros

Fotos _ Márcia Zoet

À esq., paulo veras, diretor do instituto empreender endeavor, organização que lidera a semana global de empreendedorismo no brasil: a iniciativa deve inspirar a juventude a tirar as idéias do papel

debates, dinâmicas, que desafiarão os jovens a começar a transformar idéias em realidade. Para Veras, a ju-ventude tem algumas características essenciais ao empreendedorismo, como a capacidade de sonhar sem limites e querer fazer a diferença. Além disso, a estabilidade econô-mica está favorecendo a atividade empreendedora no Brasil. Embora, segundo Veras, ser empreendedor não dependa somente de recursos, mas seja, antes de tudo, uma questão de atitude. Leia, a seguir, a entrevista que ele concedeu à revista:

Envolver 500 mil brasileiros – em sua maioria jovens – é o desafio da Semana Global do Empreendedorismo, que acontece de 17 a 23 de novembro próximo. É a primeira vez que o Brasil participa do movimento, que começou em 2004, na Inglaterra, lançado por Gordon Brown, atual primeiro-ministro britânico. Com o sucesso medido em pesquisas, que apontaram uma mudança de atitude dos ingleses, principalmente da juventude, em relação ao empreendedorismo, a iniciativa ganhou fôlego e se tornou global – a edição deste ano conta com a participação simultânea de quase 60 países. Para Paulo Veras, diretor do Instituto Empreender Endeavor, organização que lidera a Semana Global de Empreende-dorismo no Brasil, é a oportunidade para colocar o tema no mapa das questões nacionais, fortalecendo a cultura empreendedora, inspirando novas idéias e conectando as pessoas, por meio de uma rede de grupos de influ-ência (terceiro setor, empresas, educação, governos, comunidades) em todos o País. Assim, as ações das dezenas de parceiros da Semana – parte dos quais atua diretamente com jovens, como USP, Instituto Votoran-tim, Brasil Júnior, Artemisia, entre outros – acontecem em diversas cidades e são centralizadas na Web (www.tiresuasideiasdopapel.org.br). Serão seminários, jogos,

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“enxerGAr o empreendedorismo

como umA oportunidAde de cArreirA É

importAnte pArA todos os jovens”

Onda Jovem: O que é exatamente o espírito empreendedor? Ele diz respeito somente à capacidade de montar e gerir um negócio próprio?

Paulo Veras: Ser empreendedor é ter atitude. É ser protagonista de sua história. É sonhar grande, não temer o risco, implementar idéias inovadoras, gerir equipes, fazer muito com poucos recursos e, principalmente, ser persis-tente e acreditar que pode chegar lá. A figura de um empreendedor está, muitas vezes, relacionada a um dono de negócio próprio. Porém, pode-se empreender dentro de uma empresa, ao trazer e executar boas novas idéias, ou em iniciativas sem fins lucrativos. O espírito empreendedor existe em todas as pessoas, mas cabe a nós incentivá-lo ao longo da vida.

Todos podem ser empreendedores, ou é preciso ter talentos especiais, um perfil específico?

Para responder a essa pergunta é importante apresentar as duas prin-cipais razões para se empreender, segundo a única pesquisa mundial sobre a atividade empreendedora: Glo-bal Entrepreneurship Monitor. Empre-ender por oportunidade e empreender por necessidade. O empreendedor por necessidade busca, principalmente, gerar renda para si e sua família. O empreendedor por oportunidade, em geral, busca realização pessoal e bus-ca seguir um sonho, além da geração de renda. Para que um negócio dê certo, seu empreendedor deve, sim, ter alguns talentos específicos, que podem ou não ser aprendidos; por exemplo: liderança, automotivação, ética, foco em resultado, poder de exe-cução, sonhar grande, determinação. A conclusão é que podem empreen-der, mesmo com pouco ou nenhum recurso, aqueles que tenham garra e estejam dispostos a se dedicar a tirar uma ou mais idéias do papel.

É possível desenvolver as habilidades necessárias a um empreendedor? Como?

Sim, é possível. E quanto mais cedo começar, melhor. O ideal é estimular crianças e jovens desde cedo a explo-rarem sua criatividade, buscarem soluções, assumirem uma postura protagonista. Vale para a educação dentro de casa e também para a educação formal, nas escolas e universidades. E essa é a grande missão da Semana Global do Empreendedorismo. Por meio de atividades como jogos, desafios, gincanas, competições, seminá-rios, workshops, bate-papos e mesas-redondas, buscará incentivar a atitude empreendedora em cada uma das pessoas participantes e impactadas pelo movimento. Algumas instituições de ensino, projetos sociais e mes-mo a Endeavor já fazem o trabalho de desenvolver o empreendedor como pessoa e profissional.

Jovens podem ser empreendedores, tanto em rela-ção à idade como ao acesso a recursos?

Muito empreendedores. Eles têm características muito importantes para o empreendedorismo: sonhar sem limi-tes e querer fazer a diferença, seja lá no que estiverem atuando. O jovem não tem medo do risco e acredita que tudo é possível. Por isso, enxergar o empreendedorismo como uma oportunidade de carreira é importante para to-dos os jovens. Em relação ao acesso a recursos, existe uma definição da Harvard Business School que explica que isso não é o que desvia um empreendedor de seus objetivos: “Empreendedorismo é a busca incansável por oportunida-des, independentemente dos recursos disponíveis.” O jo-vem é o principal público-alvo da Semana porque eles são os que farão diferença no futuro do País e do mundo.”

E qual é, ou pode ser, o impacto econômico do em-preendedorismo juvenil?

Quando os jovens decidem empreender, e seus negó-cios crescem e dão certo, o impacto é a geração de renda e empregos para o País, bem como a criação de exemplos para as gerações seguintes, que poderão enxergar o em-preendedorismo como uma opção de carreira. Fazendo o mesmo, esses jovens ajudarão o País a se desenvolver de forma consistente e, pensando em um horizonte não muito distante, poderão moldar a sociedade do futuro de forma mais justa e equilibrada.

O empreendedorismo é uma opção real de carreira para os jovens brasileiros?

Sem dúvida. Hoje, o acesso a conhecimento, experiên-cias, pessoas e recursos é menos restrito. Na Endeavor,

temos visto uma série de empreendi-mentos inovadores criados por jovens na faixa dos 20 anos de idade. Em geral, neste momento da vida, os jovens ainda não têm grandes responsabilidades e compromissos. Então, eles têm pouco a perder se a iniciativa não for bem sucedida e se sentem à vontade para arriscar. Por isto, muitos aproveitam esta fase para empreender.

O empreendedorismo vem sendo estimulado na Europa e nos Estados Unidos. Qual é a situação do empre-endedorismo no Brasil? O que ainda falta fazer?

A Semana Global do Empreendedo-rismo tem origem em duas iniciativas internacionais. Desde 2004, a Enter-prise Week, ou semana do empreen-dedorismo, acontece na Inglaterra e, em 2007, aconteceu pela primeira vez nos EUA a Entrepreneurship Week, também semana do empreen-dedorismo. As duas iniciativas juntas envolveram mais de um milhão de pessoas e milhares de organizações e atividades. Na Inglaterra, a iniciativa foi lançada pelo governo britânico, mais precisamente pelo atual primei-ro-ministro, Gordon Brown. Nos EUA, a iniciativa teve apoio da Kauffman Foundation, uma instituição que apóia o empreendedorismo nos EUA. No Brasil, o empreendedorismo está decolando. O cenário de estabilidade econômica está possibilitando planos de longo prazo, e o crescimento do País estimula a criação de negócios que aproveitem este bom momen-to. Um dos elementos que ainda

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Quando os jovens decidem empreender,

e seus negócios crescem e dão certo,

o impacto é a geração de renda e empregos

para o país

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falta é a promoção de exemplos de empreendedores de sucesso. Isto é fundamental para mostrar que é possível e para inspirar os jovens a empreenderem. Nos EUA, por exem-plo, os criadores de empresas como Apple, Google e Facebook são admira-dos e vistos como exemplos a serem seguidos pela sociedade. No Brasil, ainda precisamos admirar e promover mais nossos exemplos.

Por que ações como a Semana Global são importantes para o em-preendedorismo?

A Semana vai mostrar às pessoas que empreender é possível e que a atitude empreendedora pode trans-formar o País. Além disso, vai colocar o tema empreendedorismo na pauta da sociedade e na agenda pública, o que pode gerar conteúdo constante

para incentivar as pessoas a pensarem no assunto. A Semana ainda deixará um desafio para a sociedade, que se resume em tirar suas idéias do papel, ou seja, não somente ter uma idéia inovadora, mas também saber como executá-la.

Quais são as expectativas acerca da participação juvenil na Semana Global do Empreendedorismo no Brasil?

Como os jovens são o público-alvo do movimento, a En-deavor envolveu na rede de parceiros da Semana empre-sas, organizações, instituições e pessoas físicas que têm contato com esta parcela da população. Acreditamos que a maioria das atividades, promovidas pelos parceiros e que acontecerão durante a Semana, terá os jovens como principais participantes. Durante a Semana, esperamos ver muitos jovens envolvidos em competições de casos, competições de planos de negócio, desafios, palestras, enfim, todo tipo de atividade que promova a interação entre este público. Desta forma, a Semana atingirá a meta, deste primeiro ano, de impactar positivamente mais de 500.000 pessoas no Brasil.

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por _ Aydano André Mottais

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O Brasil prospera, a economia se aquece, os empregos aumentam, as carreiras se diversificam no bojo do avanço tecnológico e da inclusão digi-tal – mas, no olimpo da prosperidade, uma ocupação se mantém a salvo de trapaças ou solavancos do mercado. No ranking dos salários, nenhuma profissão bate os médicos, ainda o ofício de maior futuro no País. A remuneração média dos profissionais da medicina atinge R$ 4.612,50, fruto da escassez de doutores em relação ao número de habitantes.

A conclusão integra o estudo sobre trabalho juvenil e educação desenvol-vido pelo Centro de Políticas Sociais (CPS) da Fundação Getúlio Vargas, com base nos microdados aferidos pelo IBGE na Pesquisa Nacional por

Amostra de Domicílio (Pnad), de 2006. A tabela cristaliza uma certeza: as profissões mais valorizadas são as que exigem mais estudo. Engenheiros – mecânicos, civis e eletroeletrônicos –, dentistas, economistas, contado-res, professores universitários e analistas de sistema formam o andar de cima das carreiras no Brasil.

Os médicos superam até os gestores de empresas, que, mesmo sem ser uma profissão, foram considera-dos na pesquisa e ocupam o segundo (diretores-gerais) e o terceiro (diretores de áreas de apoio) lugares. “O número de médicos por habitante subiu muito nos últi-mos 15 anos, mas ainda é baixo”, traduz o economista Marcelo Neri, chefe do CPS e coordenador da pesquisa. “A tabela mostra claramente as profissões com mais potencial de sucesso para os jovens. É um indicador in-teressante, que ajuda na escolha da carreira”, diz ele.

Critérios de escolhaA segurança de uma vida de classe média, com

poucos sustos, pesou na hora da escolha de Luísa

Kopschitz, 24 anos, que escolheu seguir a carreira dos pais, médicos. No último ano da faculdade, ela decidiu ser dermatologista. “Decidi independentemente, por entender que era minha vocação, mas é claro que contou o fato de meu pai sem-pre dizer que médico não fica sem emprego”, reconhece ela. “A maioria das pessoas que conheço escolhe profissão por dinheiro, mas não pen-so nisso. Sei que não vou ficar rica. Quero apenas uma vida confortável”, diz Luísa, que mora em Niterói (RJ), com os pais e duas irmãs, e sonha abrir um consultório na cidade.

Pensando ou não como Luísa, nin-guém escolhe o que vai ser “quando crescer” apenas pelos primeiros anos de trabalho, mas o estudo da FGV

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salário-hora – empresários em primeiro, dentistas em segundo. Os médicos, de novo, vêm em terceiro. Donos da melhor média salarial da categoria em 2002, os ad-ministradores aparecem em quinto lugar, atrás de uma das profissões da moda, os analistas de sistema.

O cenário muda completamente quando se observa a variação do rendimento nos quatro anos de 2002 a 2006. Tanto no geral como no salário-hora, a primeira posição é dos extrativistas florestais. Na conta que leva em consideração a jornada, o aumento foi de 92,54%, enquanto no todo do salário atingiu 79,66%. Para se ter uma idéia da dimensão do avanço desses trabalhadores, o segundo lugar nas duas listas é dos assistentes sociais, com respectivamente 51,05% e 50,41%. Mas com toda a melhoria, os extrativistas ganham terrivelmente mal. Na lista do salário-hora, aparecem no 130º lugar e caem mais duas posições no ranking do salário total.

A grande variação, observa Neri, está ligada à enorme demanda, fruto do interesse crescente pelas áreas de floresta no Brasil – para o bem da preservação, ou para o mal da devastação. “São profissionais de baixa qualificação, mas que encontram um grande mercado. Os salários é que precisam melhorar muito”, constata o economista.

Mercado favorávelMas as notícias são boas para quem chega agora ao

mercado de trabalho. As regiões metropolitanas do País vivem um processo de geração de emprego como há muito não se via. É nisso que aposta William Matoso, 23 anos, como programador de uma rádio carioca, onde entrou, quatro anos atrás, como contínuo. Foi subindo na empresa por meio de cursos e promoções, numa permanente aposta na qualificação.

Agora, ele pretende dar o salto maior – a faculdade de jornalismo. Vocação pura. “O mercado está melhorando, mas ainda é difícil. Tudo bem. Só com paixão por uma profissão a gente consegue vencer as dificuldades”, acredita ele, que mora em Madureira, subúrbio do Rio, com o pai, técnico em eletrônica, e a mãe, dona-de-casa. “Muitos amigos me chamaram de louco, disseram que eu deveria pensar num trabalho que desse mais dinheiro, mas quero fazer o que gosto”, afirma.

oferece uma depuração interessante: o ranking salarial dos profissionais na faixa etária que vai de 15 a 29 anos. Há pequenas mudanças. No salário-hora – o dado mais importante, por-que considera a jornada de trabalho de cada profissão –, o primeiro lugar está com os dentistas, que se man-tiveram no topo desde 2002, ano da aferição anterior. Os médicos vêm em terceiro, atrás dos empresários. Os profissionais que mais subiram no ranking foram os jornalistas (de 20º para nono) e os contadores e auditores, que em quatro anos saíram do 14º lugar para o sétimo.

Os administradores, segundo lugar em 2002, caíram três posições, assim como os fisioterapeutas (de 11º para 14º). Outra crença que cai por terra é a de que todo professor ganha mal. Pelo menos os universitários vão bem, obrigado – estão em quarto lu-gar. Os de ensino médio também não estão mal, na 13ª posição, enquanto os do ensino fundamental ocupam o 22º posto da lista. Todos à frente de profissões mais badaladas, como publicitários (25º) e nutricionistas (27º).

Outra surpresa está na posição dos atletas profissionais. O país do futebol remunera mal seus espor-tistas ao contrário do que faz supor a vida opulenta de ídolos como Kaká e Ronaldinho. No campeonato dos salários, os esportistas amargam uma segunda divisão, em 31º lugar – aliás, numa queda vertiginosa em relação ao 13º de quatro anos atrás.

No ranking dos salários para os trabalhadores que têm entre 15 e 29 anos, o quadro se altera pouco. No topo, há uma inversão, em relação ao

medicinA continuA cAmpeà nA mÉdiA dA remunerAÇÃo e hÁ GrAnde demAndA por enGenheiros, dentistAs, AdministrAdores e AnAlistAs de sistemA. profissÕes sem GrAduAÇÃo, como extrAtivistAs florestAis, tAmbÉm melhorAm, mAs AindA pAGAm mAl

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Num cenário cada vez mais profissional, contatos e redes ajudam, mas não dispensam a competência e o preparo. “Quanto mais cedo se começar o estágio melhor”, aconselha Arone. “Quem é bom, consegue chegar e ficar. Uma boa rede de relacionamento até serve para abrir portas, mas é só isso. O investimento das empresas em seleção cresce vertiginosamente, e ninguém se arrisca com um profissional de capacidade duvidosa”, diz o presidente da Abres.

O exemplo do jovem engenheiro mineiro Leonardo Guimarães serve de prova. Ele foi estagiário numa empresa de telefonia em Belo Horizonte durante dois anos, até ser contratado, logo após se formar, no início de 2008. Ele adora o que faz, está certo de ter feito a escolha profissional correta, mas admite que encontrou circunstâncias favoráveis no mercado. “Há um aquecimento na economia que favorece determi-nadas profissões”, atesta. “Os salários e condições estão melhorando”. Filho de um professor universitário e uma psicóloga, Leonardo também tem amigos que decidiram a carreira pelo potencial de remuneração – ele, não. “Acho que pensar só num item não faz sentido. Tem de pesar o todo.”

Rede de relacionamentoLeonardo aprendeu a lição, pelo que conta a psicóloga

e consultora de RH Sônia Blota Belotti, dona da Teias Consultoria. Ela ensina que o jovem precisa fazer da busca pela carreira uma missão planejada “e pré-visu-alizada, com muito querer e força de vontade, porque isso já impressiona quem estiver contratando”. E, ao contrário de Arone, sublinha a importância da rede de relacionamentos. “O famoso networking é fundamental não só para se introduzir no mercado de trabalho, mas principalmente para se manter nele”.

Sônia acrescenta que a visão do jovem sobre sua carreira tende a ser imediatista, o que cria, durante os primeiros cinco anos, a ilusão de que o profissional se manterá na frente de todos apenas por ser capaz. “O relacionamento intrapessoal (com ele mesmo) é apenas uma das ferramentas necessárias; o rela-cionamento interpessoal, com os outros, é que vai sustentar os propósitos, abrir horizontes e alternativas na vida de todos.”

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William tem a chance de se infor-mar melhor para materializar seu sonho. Ele vive num tempo em que a evolução tecnológica beneficia todas as profissões, pela universalização do acesso ao computador, ferramenta valiosa para todos, não apenas para os que trabalham no setor. “Os empregos estão aparecendo e há uma enorme onda de jovens che-gando ao mercado preparados para ocupá-los”, avalia Marcelo Neri, que sugere uma bula com três passos para os iniciantes: estudar o mais possível; fazer uma escolha segura, com garantia de retorno financeiro; e considerar a questão geográfica – há características regionais fortes, como o agronegócio no Paraná, Mato Grosso e outras fronteiras agrícolas, e o petróleo, no Rio de Janeiro.

Faz sentido, ratifica o engenheiro Seme Arone Jr., presidente da Abres (Associação Brasileira de Estágios), que atua na delicada etapa de entra-da dos profissionais no mercado. Ele conta ainda que, em algumas áreas, faltam estagiários e profissionais. Entre elas, estão Engenharias – Civil, Mecânica, de Produção, Automobilís-tica –, Ciências Contábeis, Estatística, Economia e Secretariado-executivo. Mas, observa ele, vocação só não basta. “Precisa ter competência”, avisa, “e estar bem informado, para achar a profissão certa”.

Algumas áreas vivem uma im-pressionante fase favorável a quem está chegando: Construção Civil, Agronegócio, Petroquímica e In-formática são setores que pagam mais a estagiários do que ganham alguns profissionais formados de carreiras saturadas, como Direito.

cada vez mais a competência é

essencial para a manutenção

do emprego, mas as redes de relacionamento

facilitam a inserção no mercado

Consultora de RH no Rio de Ja-neiro, Jacqueline Resch observa que o jovem sofre a pressão da sociedade de consumo na hora de escolher sua profissão. “E o valor não é segurança, mas riqueza, algo muito mais complicado”, argumenta, lembrando que, quando um médico se espelha no cirurgião Ivo Pitanguy, por exemplo, não pode pensar só na famosa ilha em Angra que ele tem. “Precisa valorizar a carreira profis-sional que ele construiu. A renda é conseqüência”, arremata ela, que valoriza a importância da vocação. “Os jovens precisam se identificar com a profissão, enxergar a vida que querem ter”, recomenda.

Jacqueline também minimiza a importância do contexto de mercado no momento da escolha. “Não dá para decidir algo tão importante baseado num cenário momentâneo. As coisas mudam. Pense num profissional de turismo antes do 11 de Setembro. A vida dele mudou por completo, de maneira imprevisível”, diz, lembrando que há mistérios, entre vida e carreira, muito além de rankings e salários.

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.gov.com

fAltA consolidAr As principAis polÍticAs pÚblicAs de formAÇÃo e inserÇÃo do jovem no mercAdo, e tAmbÉm criAr AlternAtivAs Que GArAntAm suA mAior escolAriZAÇÃo

isto

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ao mercadorumo

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Por _ Cristiane Parente

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ao mercado

Os altos números do desemprego e a baixa escolaridade da juventude brasileira têm estimulado políticas públicas que buscam amenizar este quadro. No âmbito federal, as iniciati-vas de maior repercussão são a chamada Lei do Aprendiz, que permite que jovens trabalhem sob determinadas condições a serem cumpridas pelas empresas, e o ProJovem, programa recém-reformulado para buscar com maior abrangência a reintegração do jovem ao processo educacional e sua qualifi-cação profissional. São ações que contam, de maneira geral, com o apoio de especialistas e representantes da sociedade civil, mas, ao lado deles, ganha cada vez mais visibilidade a opinião de quem vê com ressalvas as propostas de qualificação profissional de jovens feitas sobre uma base de escolarização precária e defende o retardamento da sua entrada no mundo do trabalho, como forma de garantir-lhes o direito à educação de qualidade e a condições mais igualitárias na disputa por empregos mais qualificados.

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Inserção com limites Em relação à Lei do Aprendiz,

o foco das críticas está nos instru-mentos, limites e regulações para seu efetivo cumprimento. De acordo com a Lei nº 10.097, sancionada em 2000 e regulamentada em 2005, as médias e grandes empresas devem compor seus quadros pessoais com 5 a 15% de aprendizes com idade entre 14 e 24 anos. Porém um levantamento feito pela Delegacia Regional do Trabalho, em 2006, mostrou que, so-mente em São Paulo, quase 40% das empresas descumpriam a norma.

De acordo com pesquisa re-alizada pela organização Atletas da Cidadania, se todas as empresas cumprissem o mínimo de 5% de contratações, haveria mais de 1,2 milhão de vagas para aprendizes. Apesar de o ritmo de contratações estar muito lento � entre novembro de 2007 e maio de 2008, o número de novas oportunidades criadas foi de 15 mil, subindo de 113 mil para 128 mil. A meta estipulada pela or-ganização, de chegar em 2010 com 800 mil contratações de aprendizes, é viável, segundo a coordenadora de Comunicação Fabiana Kuriki. Ela atribui ao desconhecimento o fato de a lei ainda não ter decolado no País: “Muitas empresas ainda não conhe-

cem bem a lei e cabe a nós ajudar nessa divulgação, para alcançar o objetivo a que nos propomos�.”

Também para Denise Salamani, gerente do Programa Aprendiz do CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola), que além de recrutar e selecionar aprendizes, oferece ca-pacitação �, as perspectivas são boas. Dados da instituição mostram que a contratação de aprendizes por empre-sas parceiras da entidade cresceu 122% em 2007. De 3.500 jovens inseridos em programas de aprendizagem em 2006, o número subiu para 7.700 no ano passado. Salamani afirma que as expectativas para fechar 2008 são ainda mais promissoras, com a previsão de 10.000 jovens em capacitação no País até dezembro.

Fabiano Rangel, consultor em sustentabilidade e responsabilidade corporativa desde 1999, defende que promover a inserção dos jovens no mercado de trabalho é uma política pública fundamental. Ressalta, porém, a necessidade de impor limites e regulações para que eles tenham seus estudos e outros direitos minimamente assegurados nessa fase da formação. Ele cita a pesquisa �Juventude e Políticas Sociais no Brasil�, do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA), que revela que ainda estamos muito aquém do desejado em termos de empregabilidade para os jovens. �Só estamos dando conta de 12% da demanda em potencial. Isso mostra que a Lei do Aprendiz ainda é pouco incorporada e temos ainda muito por fazer�, diz o consultor.

Para tanto, Rangel defende a melhoria na divulgação e visibilidade da lei, maior articulação e diálogo entre governo, empresas e organizações sociais, e mudança nos mecanismos de fiscalização e punição, como proibir uma empresa de participar de licitações públicas se não comprovar o cumprimento da lei.

O novo ProJovem Todos os programas sociais do

governo federal voltados para a es-colarização e qualificação profissional de jovens e adolescentes foram re-formulados. O mais ambicioso deles, o Programa Nacional de Inclusão de Jovens –ProJovem, passa a atender a faixa etária de 18 a 29 anos (até o ano passado a idade limite era de 24 anos) e a ter quatro modalidades: o ProJovem Campo (antigo Saberes da Terra), ProJovem Adolescente (antigo Agente Jovem, que atende o público de 14 a 17 anos), ProJovem Urba-no (antigo ProJovem) e ProJovem Trabalhador (unifica os programas Escola de Fábrica, Juventude Cidadã e Consórcio da Juventude). O obje-tivo principal é preparar e inserir o jovem no mercado de trabalho, em ocupações alternativas geradoras de renda.

Segundo Renato Ludwig de Souza, diretor do Departamento de Políticas de Trabalho e Emprego para Juven-tude do Ministério do Trabalho, o novo ProJovem Trabalhador tem por objetivo promover a reintegração do jovem ao processo educacional, sua qualificação profissional e seu desenvolvimento humano. A proposta é estabelecer uma trajetória de con-tinuidade que permita ao jovem ter

AlGuns especiAlistAs defendem o retArdAmento

dA entrAdA do jovem no mercAdo de trAbAlho,

recomendAndo prioriZAr suA completA educAÇÃo

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acesso a outros programas federais, desde aprender a ler (Brasil Alfabeti-zado), se for o caso, até chegar à uni-versidade (ProUni). A expectativa de atendimento para 2008 é de 260.000 jovens e, até 2010, a meta é alcançar 1 milhão de atendidos.

Para Maria José Féres, coorde-nadora do ProJovem Urbano, o programa tem atingido seu objetivo de ampliação da escolarização dos adolescentes e jovens. Entretanto algumas mudanças tiveram que ser implementadas para atrair esse público e, mais do que isso, retê-lo: �“Havia uma exigência até o ano passado de que os beneficiados tivessem concluído a 4ª série, mas ela foi abolida. Outra exigência era que não tivessem carteira de trabalho assinada. Mas percebemos que mes-mo com a carteira assinada o vínculo de trabalho era muito precário, então, era preciso beneficiar este jovem, porque se ele não tem qualificação, o vínculo continua precário. Hoje, um jovem com carteira assinada pode entrar no ProJovem�.”

“Com o aumento da duração de 12 para 18 meses, houve uma diminuição do intervalo entre matrícula e início das aulas, que acabava desestimulando os jovens. O computador passou a ser usado desde o início do curso, o que era uma demanda grande dos jovens. Também os conteúdos práticos agora estão inseridos desde a primeira eta-pa. �Desde o início do curso, o jovem passa a ter contato com um dos arcos ocupacionais que ele escolher. Isso deve frear a evasão que acontecia antes, porque o jovem não percebia a parte teórica como importante. Então, resolvemos fazer as duas juntas”�, afirma Maria José Féres.

“Por fim, os participantes receberão 20 bolsas, em vez das 18 de duração do curso. �A bolsa não banca os alunos, que em sua maioria já trabalha, mas ajuda com alguns custos que eles não poderiam arcar e os estimula a conti-nuar sua formação”�, diz Féres.

Trabalho x escolaEnquanto as pesquisas seguem demonstrando que

são os jovens os que mais sofrem com o desemprego e sustentam com números as mais variadas ações para aumentar sua empregabilidade, a tese de retardamento da entrada de jovens no mundo do trabalho ganha ressonância. O presidente do IPEA, economista Márcio Pochman, tem sido um dos principais divulgadores da idéia, defendendo que o ideal seria adiar este momento e estimular que estes jovens permaneçam mais tempo nos bancos da escola.

No Seminário sobre Emprego de Jovens promovido em meados deste ano pela Organização dos Estados Americanos, no Rio de Janeiro, Pochman argumentou que, quanto mais cedo os jovens entram no mercado, maior é o risco de que comprometam o bom desen-volvimento de sua trajetória profissional, pois colocam em risco uma qualificação mínima e dificilmente conseguem ter condições de se prepararem melhor, concluindo sua formação. De acordo com o economista, existe uma pressão muito grande por parte da socieda-de e da própria família para que o jovem, notadamente o pobre, entre cada vez mais cedo no mercado de trabalho, o que não ocorre com freqüência com os jovens de classes econômicas mais altas. Isso faz com que o trabalho para os jovens pobres seja apenas um meio de garantia de sobrevivência para a família, sem relação com questões como a realização profissional e pessoal. O trabalho passa a ser visto como um dever daquele jovem, não como um direito.

Já o professor Paulo Carrano, coordenador do Obser-vatório Jovem do Rio de Janeiro, da Universidade Fede-ral Fluminense, vê um risco em propostas �aligeiradas� de qualificação profissional de jovens feitas sobre uma base de escolarização precária, ou ainda as ofertas de emprego que forçam a interrupção da escolaridade.

“Os postos de trabalho mais qualificados são desti-nados aos jovens mais escolarizados e que possuem redes de relacionamento que lhes permitem acessar os melhores mercados profissionais. Este não é o caso dos jovens pobres. As políticas públicas de educação e juventude deveriam buscar alternativas e recursos que possibilitem alongar a escolaridade dos jovens dos se-

tores populares, garantindo o direito à educação de qualidade e à formação técnico-profissional”, afirma Carrano, apontando os CEFETs como exemplo de boa formação geral e de prepa-ração para o trabalho que oferece a jovens, no ensino médio, condições mais vantajosas para enfrentar os desafios profissionais.

“Não tenho dúvida que uma política de bolsas de estudos para jovens pobres permanecerem na escola de ensino médio teria um efeito revolu-cionário no Brasil”, diz o professor. A segurança de uma bolsa de estudos de valor significativo, e não apenas simbólico, permitiria, segundo Car-rano, que os jovens ampliassem suas capacidades de escolher experiências de trabalho que pudessem se asso-ciar à formação cultural e técnico-científica escolar e não competir com ela. “Isso permitiria superar o terrível dilema da escolha entre estudar e não trabalhar, ou trabalhar sem estudar e também a situação de estudar combinando formas e conteúdos de trabalho que ignoram a situação do jovem-trabalhador-estudante e que sacrificam a experiência da escola-rização.”

A tese do retardamento da entrada de jovens no mercado profissional está longe da unanimidade, pois mui-tos especialistas vêem a necessidade de trabalho como demanda do pró-prio jovem, que busca sua autonomia. O que não se deve perder de vista é que as pesquisas também indicam que a escolaridade tem reflexos diretos na empregabilidade juvenil, e que o acesso à plena educação é um direito prioritário dos jovens.

A lei do AprendiZ AindA nÃo decolou plenAmente e os proGrAmAs do Governo estÃo sendo reformulAdos

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ciência

O jovem brasileiro é feliz? Dinheiro traz felicidade? As tendências de mudanças socioeconômicas no País – como redução do desemprego, anos a mais na escola, ou maior acesso a bens como computadores e telefone celular, ainda que recentes, afetam o nível de felicidade do jovem? Uma pesquisa em andamento no Centro de Políticas Sociais (CPS) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), com base em dados de 2006 e 2007 do Gallup World Poll, aborda questões deste tipo – que podem parecer simples, mas causam muita polêmica no meio acadêmico. Com apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o centro brasileiro tem analisado os dados, referentes ao Brasil, da pesquisa que usou o mesmo questionário, com questões objetivas e subjetivas, para 150 mil entrevistas com pessoas de idades variadas, em 132 países ao redor do mundo.

No ranking da felicidade dos pesquisados de 15 a 29 anos, o Brasil ficou em 28º lugar, com média de 6,77, numa nota de 0 a 10, conferida pelos jovens à sua satisfação com a vida. O grande destaque positivo do País, porém, revelou-se com o que os pesquisadores chamam de “feli-cidade futura”, ou seja, em como os entrevistados avaliam a sua satisfação com a vida para daqui a cinco anos. Nesse quesito, o País ficou em primeiro lugar, com nota média de 9,29 – também em uma escala de 0 a 10. Dos jovens brasileiros pesquisados, 64% disseram esperar

felicidade futuraPor _ Frances JonesIlustração _ Marcelo Pitel

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uma nota máxima (10) para sua satisfação com a vida em cinco anos. Em segundo lugar, estão os Estados Unidos, cujos jovens deram nota 9,11 para a sua felicidade para daqui a cinco anos. Na lanterna, vem o Zimbábue – país africano que vive uma grave crise econômica e política –, cuja nota de “felicidade futura” ficou em 4,68.

O Brasil também se destacou quando se observa a satis-fação com a vida para daqui a cinco anos da população ge-ral: a nota ficou em 8,28, mas o País continuou no primeiro lugar no mundo. Para o economista Marcelo Neri, chefe do CPS-FGV, os dados confirmam a percepção do Brasil como “país do futuro” e como país jovem, não apenas pela idade de sua população, mas também pela perspectiva de vida. “A juventude não tem necessariamente a ver com a idade, mas com o estado de espírito. O Brasil é um país jovem no sentido de como olhamos o futuro e não apenas por nossa pirâmide etária, que está virando um pilar”, afirma ele. “O jovem é a pessoa que olha para a frente, aquele que espera que o futuro seja melhor que o presente. A crise da

idade é quando se acha que o melhor já passou.” Com isso, ao longo do ciclo da vida, o esperado é que a variável da “felicidade futura” vá caindo, enquanto o passado ganha maior importância, explica o economista.

Trabalho e rendaSe aos jovens se costuma atribuir

motivos para ser feliz – como ter pou-cas obrigações e responsabilidades –, embora se admita uma certa angústia em relação ao futuro, é de se perguntar então qual o impacto da redução do desemprego e do aumento da renda do brasileiro registrados nos últimos me-ses. Mas a relação entre a renda de uma população e a satisfação com a própria vida costuma despertar polêmica.

Em sua análise sobre os dados do Gallup World Poll, o economista britânico Angus Deaton, professor da Universidade de Princeton, observou uma forte correlação entre a felici-dade média de um país com a renda nacional per capita. “Se a renda nacio-nal dobra [aumento de 100%], há um crescimento de quase um ponto na satisfação com a vida média, medida numa escala de onze pontos, indo de

juventude mAis otimistA do mundo, A brAsileirA AindA nÃo se sente totAlmente feliZ, mAs AcreditA Que vAi cheGAr lÁ

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0 (“a pior vida possível) a 10 (a melhor vida possível)”, observa o economista em artigo de 2007. Ele verificou, como outros estudos anterio-res registram, que os cidadãos dos países mais ricos estão em geral mais satisfeitos com a vida do que os que moram em locais pobres. América do Norte, Europa, Japão, Austrália e Arábia Saudita aparecem como ricos e felizes, enquanto países da África Subsaariana, Haiti e Camboja ficam no outro extremo, como pobres e infelizes.

Por outro lado, pesquisas conduzidas nos Estados Unidos mostraram que, apesar de o poder de compra do norte-americano médio ter triplicado entre 1950 e o ano 2000, a população manteve-se praticamente no mesmo nível de felicidade. Mais: os jovens norte-americanos mostravam-se muito mais ansiosos do que os da década de 1950. Outras pesquisas indicam que, quanto maior a disparidade na distribuição de riquezas de uma comunidade, maior a insatisfação de seus moradores com a vida.

Para os pesquisadores da chamada “Psicologia Po-sitiva”, uma área relativamente nova da psicologia que estuda as razões da felicidade humana, o dinheiro pode ter impacto sobre a felicidade no longo prazo apenas quando as condições básicas de sobrevivência estão em jogo. Assim, no Brasil, os cidadãos das classes D e E poderiam sentir o impacto positivo de um aumento da renda em sua felicidade, o que não aconteceria, por exemplo, com os integrantes da classe média, acredita a psicóloga Lilian Graziano, professora da Trevisan Es-cola de Negócios e autora de uma das primeiras teses na área da Psicologia Positiva no Brasil.

pesQuisA internAcionAl pÕe jovens brAsileiros no primeiro luGAr entre os Que AcreditAm Que serÃo muito feliZes em cinco Anos.

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O jovem baiano Edson Alves de Assis Filho, de 24 anos, diz que a sua situação melhorou muito desde maio deste ano, depois que se empregou como porteiro, com carteira assinada, após um ano e meio desempregado. Ele se vê como um jovem de sorte, ao se comparar com os colegas. “Emprego tem, mas o que pagam em geral para o funcionário é muito pouco. Às vezes não dá nem para se manter, quanto mais para estudar ou se divertir”, afirma. Para ele, o trabalho é um dos componentes da felicidade, assim como a união com a família, os amigos e mesmo o tempo livre.

Margem de manobraNo campo da Psicologia Positiva, os

estudos indicam que as circunstâncias da vida (como ser rico ou pobre, casa-do ou solteiro) teriam pouco peso no cômputo geral da felicidade de uma pessoa: apenas 10%. “Cinqüenta por cento da felicidade ficam por conta do determinante genético”, afirma Lilian, citando trabalhos da psicóloga expe-rimental da Universidade da Califórnia Sonja Lyubomirsky. “Os outros 40% estão dentro da chamada ‘margem de manobra’”. Seriam coisas sobre as quais as pessoas têm controle e depen-deriam do esforço consciente de cada um, incluindo atitudes como aprender a perdoar, desenvolver o sentimento da gratidão e cultivar emoções positivas em relação ao passado, ao presente e ao futuro.

A idéia de que há um ponto básico de acomodação (ou ‘set point’) gené-tico para a felicidade tem origem em pesquisas da década de 1970 feitas com ganhadores da loteria, que, após um ano depois de receberem o prê-mio, voltavam ao seu nível original de bem-estar.

“A felicidade não é uma questão de sorte”, complementa a psiquiatra

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“A professora me deu nota baixa na prova”, atribuindo a responsabilidade à docente, ou “eu tirei nota baixa”, assu-mindo a responsabilidade para si.

O estagiário Bruno Accorsi, de 21 anos, se diz uma pessoa feliz. Aluno do 3º ano de Design na faculdade Senac e trabalhando hoje em uma agência na sua área de escolha, afirma que busca ver o lado positivo das coisas até quando as circunstâncias não são favoráveis. “Eu brinco muito, rio muito, mesmo nos momentos de tristeza”, afirma. Para ele, que atualmente mora com os pais, dinheiro não é fun-damental para a felicidade, “mas dá um empurrão” na direção dela. Como planeja se casar daqui a um ano, cor-tou os jantares fora com a namorada para economizar. “Trabalho agora com o que gosto, penso no dinheiro como complemento.”

Lilian ressalta que os pais têm res-ponsabilidade na criação de um modelo que cultive emoções positivas em seus filhos, como otimismo, gratidão, perdão e prazer. “Neste ponto, porém, o grande problema é que a sociedade de consu-mo vende o prazer sob o rótulo de feli-cidade, e o prazer tem a característica peculiar de ser efêmero, e é preciso saber lidar com ele para não se cair na busca pelo prazer desenfreada.”

Quanto ao termo “felicidade futura”, a psicóloga tem uma observação: “Felicidade tem de ser no presente. No futuro, é um indicador de otimis-mo, que também é um componente importante da felicidade. As pessoas otimistas têm mais chances de ser mais felizes.” A julgar por esse ponto de vista, os jovens brasileiros estão na frente no que diz respeito a uma característica importante para a felicidade, mas ainda têm uma boa caminhada pela frente para entrarem no time dos mais felizes do mundo.

Renata Barboza Ferraz, co-autora de um artigo de revisão sobre o tema, publicado em 2007 na Revista de Psiquia-tria Clínica. “É um fenômeno relativo a como a pessoa enxerga as coisas na vida dela”, afirma. E isso, diz ela, é moldado tanto pelos acontecimentos como por atividades e atitudes que favoreçam o bem-estar, como uma prática espiritual (independentemente da crença de cada um), alimentação saudável, esportes, a participação na vida comunitária e mesmo psicoterapia. É neste sentido que evidências científicas indicariam que alguns valores da sociedade contemporânea, em especial o consumismo, conduzem as pessoas numa direção diversa da busca da felicidade.

O conceito científico de felicidade, diz Lilian, é “bem-estar subjetivo”. “É uma avaliação tanto cognitiva quanto afetiva acerca da vida de uma pessoa, na qual há baixos índices de humores negativos e altos índices de humores positivos”, diz Lilian. “Mas é importante saber que, nessa espécie de ‘balanço’ da vida, existem momentos ruins também.”

EngajamentoUma das conclusões da Psicologia Positiva, e que pode

inspirar pais e educadores na sua relação com os jovens, é de que há uma forte relação entre felicidade e o conceito de “flow” (algo como fluxo, em português). “Isso ocorre quando o sujeito se envolve em uma atividade tão intensa-mente que perde a noção do tempo”, explica a psicóloga. Essa atividade exigiria da pessoa não somente atenção, mas o que ela teria de melhor em qualidades humanas, como foi constatado em pesquisas com jovens que se engajam em hobbies ou praticam esportes. O mesmo, porém, não é verificado nos que ficam várias horas por dia diante da TV, ou somente jogando videogame.

Outro ponto diz respeito à forma como as pessoas en-caram a responsabilidade sobre o controle de suas vidas. As que acreditam que têm o controle sobre suas vidas têm mais chance de ser felizes do que as que atribuem a outros essa responsabilidade. Como exemplo, Lilian cita diferentes posturas de um jovem que tenha tirado uma nota baixa numa prova. Ou ele pode encarar isso como:

mAs felicidAde É um conceito complexo, Que depende dA GenÉticA, dA Atitude e do AprendiZAdo

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chat de revista

trajetória de aprendizes

sara alves saldanha, 22 anos, faz faculdade de informática, em são paulo

Fernando santos, 18 anos, cursa administração, em salvador

raFael antonio seiter, 18 anos, faz o curso técnico em agropecuária, em pranchita (pr)

daniely santos, 20 anos, está no 2º ano do ensino médio, em Florianópolis

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QuAtro jovens discutem A educAÇÃo pArA o trAbAlho

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profissional, auxiliando a mãe na atividade de representante comer-cial de uma indústria gráfica, e se familiariza com os desafios de sua condição, participando de eventos promovidos pela Comissão Civil de Acessibilidade de Salvador (Coca), que reúne 16 entidades voltadas para pessoas com deficiência; por último, o paranaense Rafael Antonio Seiter, 18 anos, do município de Pranchita, já experimenta a prá-tica profissional como agricultor e pecuarista no 3º ano do curso técnico em Agropecuária integrado ao ensino médio, da Casa Familiar Rural de Santo Antonio do Sudoes-te. A seguir, os principais trechos do bate-papo entre os jovens.

As pesquisas recentes sobre juventude mostram que os jovens querem mais oportunidade de emprego e de formação profissio-nalizante. Um dos levantamentos, feito com estudantes paulistanos do ensino médio em escolas pú-blicas, bate na mesma tecla: a maioria dos alunos quer ser pre-parada para o mundo do trabalho. Para debater essas questões, Onda Jovem reuniu quatro estudantes, iniciantes na jornada profissional: de Florianópolis (SC), Daniely da Silva Novais dos Santos, 20 anos, que está no 2º ano do ensino médio, quer cursar Administração e faz um estágio profissionalizante na área,

no Programa Antonieta de Barros, da Assembléia Legislativa de Santa Catarina; de São Paulo (SP), Sara Alves Saldanha, 22 anos, que resolveu este ano dar um tempo no trabalho de auxiliar de escritório em uma escola de arte, para se dedicar aos estudos na Fatec, onde cursa o 2º ano da Faculdade de Infor-mática. Empenhada em abrir portas no mundo do trabalho, ela também faz um curso de webdesigner na Colméia – Instituição a Serviço da Juventude; o jovem Fernando Antonio Landim de Moura Santos, 18 anos, é de Salvador (BA) e cursa o 1º ano da Faculdade de Administração. Deficiente físico, cadei-rante, ele começa a tomar contato com o universo

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ONDA JOVEM: Você considera importante ter experiência ou formação profissional en-quanto estuda?

Sara: A experiência profissional auxilia o jo-vem em suas decisões, principalmente porque o período de adolescência é muito confuso e a maioria dos jovens ainda não sabe exatamente o que quer ser ou fazer. A partir do momento em que a carreira foi decidida e se inicia um curso de graduação, oportunidades para atuar na área são muito importantes para checar e concretizar o que foi escolhido e preparar para o bom desem-penho profissional.

Daniely: Uma experiência ou formação pro-fissional enquanto se estuda agrega em vários aspectos, como a escolha da carreira a seguir, responsabilidades e mais maturidade. Quem consegue conciliar emprego e estudo caminha para um futuro com boas oportunidades.

Fernando: Sim, pois ajuda a definir a área de trabalho a seguir, quando concluída a vida acadêmica.

Rafael: É extremamente importante, porque podemos utilizar e transformar os estudos em práticas, tendo noção bem maior do mundo de trabalho e da profissão em que iremos atuar, além de podermos realizar várias experiências em relação às nossas dúvidas, chegando, assim, bem mais preparados ao mundo de trabalho.

Que aprendizado é mais útil na Educação para o Trabalho: aprender habilidades, do-minar uma gama de conhecimentos, ou algo que o leve a descobrir e explorar seu talento e potencial exclusivos?

Fernando: Para mim, é ter uma grande gama de conhecimentos para aumentar as chances de atuar com êxito nas oportunidades que virão.

Rafael: Aprender habilidades é muito im-portante, pois nunca paramos de aprender, o mundo não pára, sempre temos novas tecno-logias e, se temos oferta constante de novas habilidades, isso nos leva a dominar mais conhecimentos e a descobrir o nosso talento e o nosso potencial.

Sara: É importante descobrir seu talento e explorá-lo para ter um aperfeiçoamento. Entretanto isso não impede outros tipos de atividades. Nos dias de hoje, devemos ampliar nossos conhecimentos para acompanhar as exigências do mundo profissional.

Daniely: Como a concorrência no mercado de trabalho é grande, acredito que tudo é válido, principalmente dominar vários conhecimentos. Com isso desenvolvemos as habilidades e despertamos talentos.

O que acha fundamental para conseguir um emprego: ter boa formação educacional, ou conhecer gente que dê dicas sobre vagas ou indique para um cargo?

Rafael: Sem dúvida, ter formação educacional. O mundo de hoje quer gente capacitada para realizar um bom trabalho.

Sara: Tudo começa com uma boa formação educacional, mas uma indicação facilita muito a vida. Entretanto se o profissional não tiver boa base educacional, dificilmente se manterá no emprego.

Fernando: Ter uma boa formação educacional é im-prescindível para que tenhamos sucesso e segurança profissional. Mas o contato com pessoas já experientes também é importante, e isso não precisa significar pa-ternalismo ou nepotismo.

Daniely: É a Educação de qualidade, escolar e profis-sionalizante que nos torna mais esclarecidos e aumenta a chance de conseguir um bom emprego.

RAFAEL

“Na formação profissionalizante, podemos transformar os estudos em práticas”

raFael

Como você vem se preparando para ingressar no mundo do trabalho, ou para evoluir na atividade em que já atua?

Sara: Antes de tudo, eu defini a área em que gostaria de atuar. Agora, pro-curo investir na minha educação com o curso de graduação e também cursos profissionalizantes, que ajudam a me destacar. A graduação hoje em dia não é mais destaque e, sim, uma obrigatoriedade para quem deseja ser um profis-sional atuante. E o principal é ter a consciência de que não devo parar nunca meus estudos.

Fernando: No momento venho me dedicando aos estudos na faculdade e, futuramente, pensando num estágio antes de me formar.

Daniely: Procuro aprender cada vez mais sobre a área em que trabalho, perguntando, desempenhando minhas funções da melhor maneira. Além disso, faço as capacitações oferecidas pelo PAB (Programa Antonieta de Barros) da Alesc (Assembléia Legislativa de Santa Catarina).

Rafael: Estou sempre buscando mais conhecimentos, realizando experiências, tirando minhas dúvidas, que nunca acabam, ajudando a solucionar problemas que estão relacionados à minha formação e nunca desistindo dos meus objetivos.

O que faz para superar as dificuldades de ingressar e se manter no mundo profissional?

Sara: A busca pelo conhecimento é sempre a melhor opção para quem deseja se manter no mercado de trabalho e se destacar. Por isso, procuro aproveitar cada oportunidade mesmo que não seja exatamente o que espero no momen-to, seja um curso ou um estágio, pois, se não for útil no presente, no futuro provavelmente será.

DANiELy

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para o trabalho, adquirir experiência, sem estar trabalhando.

Vocês acreditam que os pais tenham influên-cia na trajetória profissional dos filhos?

Daniely: Depende. A participação positiva dos pais influencia tanto o bom desempenho escolar quanto a escolha profissional dos fi-lhos. O mais importante nesse apoio é respeitar as vontades.

Fernando: Sim, e a participação dos pais é muito importante, pois eles são pessoas mais experientes e isso dá segurança ao jovem em suas escolhas.

O mundo do trabalho é muito diversificado. Quais áreas profissionais são ou deveriam estar mais valorizadas?

Daniely: Todas as áreas. Qualquer trabalho digno tem de ser valorizado. Creio que o mer-cado para profissões mais tradicionais, mais valorizadas, está cada vez mais saturado. O avanço da tecnologia e a globalização abrirão um novo mercado de oportunidades profis-

sionais. Sara: A área de Tecnologia

vem crescendo com intensida-de, por isso exige muito conhe-cimento do profissional. Outra área em alta é a Engenharia.

Fernando: Acho que estar bem qualificado é o que de-termina sua valorização no mercado de trabalho.

“é importante descobrir e explorar seu talento”sara

Daniely: Eu tento fazer a diferença sendo pró-ativa, me colocando à disposição para desempenhar qualquer tarefa que esteja ao meu alcance.

Rafael: Tento estar sempre preparado para o que der e vier, com estudos e conhecimentos que abrangem o meu ramo. Para superar as dificuldades, busco soluções e nunca desisto.

Fernando: Além de conhecimentos específicos, é sempre bom estarmos atu-alizados com as mudanças na área em que pretendemos atuar.

Você acha suficiente o apoio de políticas públicas juvenis na área de Forma-ção para o Trabalho?

Rafael: O governo deveria investir mais na formação em novas tecnologias.Sara: Sou aluna do ensino público e vejo as dificuldades da instituição para

melhorar sua infra-estrutura. Isso não significa que ela não evolua, porém com passos muito lentos. Devido à pequena verba, há grandes dificuldades em torná-la uma instituição com tecnologia que sustente as necessidades dos alunos.

Fernando: Não. Acredito que o governo deveria investir em mais qualidade na Educação para que os jovens possam ter uma vasta gama de conhecimentos, ampliando as perspectivas para o ingresso no mercado de trabalho. A falta de qualidade no ensino público, em nosso País, dificulta principalmente o preparo dos jovens das camadas mais pobres da população.

O que o governo deveria fazer para melhorar o acesso desses jovens

ao mercado de trabalho?Daniely: Investir muito mais na Educação, que é a base da Formação

para o Trabalho. A principal medida seria oferecer um ensino que motive intelectual e emocionalmente o jovem, no curso regular ou profissiona-lizante. Por outro lado, é fundamental uma política de geração de em-pregos. Cabe a nós, jovens, exigirmos isso, fazer valer nossa cidadania.

Sara: Eu concordo. E criar bolsas de auxílio não basta. O dinheiro rece-bido nem sempre é investido na educação do jovem. Além disso, ensino melhor implica também melhorar a remuneração dos professores, as condições estruturais e de segurança do ambiente escolar, o transporte para os alunos e oportunidades não apenas de emprego, mas de cursos prepa-ratórios e profissionalizantes.

Como diminuir o desemprego ju-

venil?Fernando: Acho que o governo, além

de investir na Educação com qualidade para que os jovens possam ingressar no mercado de trabalho com mais eficiên-cia, poderia também criar mais incenti-vos para que as empresas investissem no chamado primeiro emprego.

Sara: As empresas precisam abrir mais espaço para os jovens, exigindo menos requisitos e investindo em trei-namentos. Não há como ser educado

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FERNANDO

PArA fAzEr conTaTocAsA fAmiliAr rurAl de sAnto Antonio do sudoeste - prcontAto fone/fAx: 46/35633586; emAil: [email protected]; www.ArcAfArsul.orG.br

colmÉiA – instituiÇÃo A serviÇo dA juventudecontAto fone: 11/3881-1545; colmÉ[email protected]; www.colmeiA.orG.br comissÃo civil de AcessibilidAde de sAlvAdor contAto fone: 71/3321-4382; [email protected]; www.vidAbrAsil.orG.br

proGrAmA AntonietA de bArrros contAto fone: 48/32212985; [email protected]; www.Alesc.sc.Gov.br

SARA

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FAçA CONTATOEnvie cartas ou e-mails para esta seção com nome completo, endereço e telefone. ONDA JOVEM se reserva o direito de resumir os textos. Endereço: Rua Dr. Neto de Araújo, 320, conjunto 403, CEP 04111-001, São Paulo, SP. E-mail: [email protected].

voz À JuvenTuDe

Estou muito feliz por ter recebi-do um exemplar da edição 11 de Onda Jovem, sobre a relação dos jovens com os educadores. Uma aluna foi entrevistada em uma reportagem sobre o tema e fiquei radiante, pois acredito em dar voz à juventude, que tem muito a dizer. Muito obrigada!

Professora Laura Valadares, por e-mail

Galera da Onda Jovem, para-béns! Vocês prestam um relevante trabalho à sociedade brasileira. Gostaria de ser parceiro e multipli-car esse trabalho aqui no norte de Minas, onde sou diretor da Rádio Comunitária Jovem Jan FM 87,9.

Luiz Cabrine, por e-mail

Como coordenador de bibliote-cas do Colégio Visconde de Porto Seguro, registro que publicações como Onda Jovem são dádivas para nós, educadores. Em um momento em que o conceito de cidadania passa a ser discurso banal, a revista nos traz o equilíbrio entre o pensamento acadêmico

e a “onda jovem” que nos acaricia e refresca com suas ações cidadãs.

Olavo maciel, São Paulo, SP

Curso História na Universidade Estadual de Londrina e conheci Onda Jovem trabalhando no programa do governo ProJovem. Gostaria de receber a revista.

Luana molina, Londrina, Pr

Esta Onda é boa. Precisamos surfar nela.Edna Constant

Casa da Arte Ponto de Cultura Poleiro dos Anjos maceió, AL

feRRamenTa PeDagÓgica

Tive o prazer de receber, por e-mail, o boletim Onda Jovem, enviado pela minha professora do curso de pós-graduação Juventude e Escola, da UFMG, e gostei muito das matérias da publicação, todas de alto nível e que atendem a diversas necessidades e questões com as quais nós, professores, nos vemos envolvidos diariamente, no trabalho com nossos alunos jovens.

Gostaria, então, de recebê-lo periodicamente, o que muito contribuirá para minha prática profissional, assim como será importante para meus alunos que dela participam.

fabíola Quintão,minas Gerais

Sou um jovem de 23 anos, professor de Filosofia e articulador de juventude no Instituto Ayrton Senna, em minha cidade. Gostaria de receber Onda Jovem. A publi-cação traz muitas informações que podemos utilizar como ferramenta pedagógica em sala de aula.

rafael Eliziário Vieira, Campo Grande, mS

Em nome da Secretaria de Educação, agradecemos o recebimento dos exemplares da revista Onda Jovem, que será de grande utilidade para nossas redes.

Carmem Sposti, Londrina, Pr

Trabalho em uma escola estadual onde os educadores enfrentam muitos problemas de disciplina. Queremos implantar projetos para melhorar a convivência escolar e

incentivar a participação familiar. Onda Jovem pode nos ajudar nessa tarefa.

Ana maria Silva Vieira, Sete Lagoas, mG

Trabalhamos com jovens em oito municípios e o material produzido por Onda Jovem tem nos ajudado peda-gogicamente. Por isso, solicitamos exemplares da revista para colocarmos em nossa biblioteca, à disposição dos jovens e educadores.

Asteias – Juventude, Atitude e Cidadania,

João Pessoa, Pb

Sou professora e chegou até minhas mãos um exemplar desta revista. Gostaria de receber a publicação regularmente.

Siriane Cadore, Pontão, rS

Gostei muito de Onda Jovem. Sou diretora de uma escola municipal e receber a publicação seria de grande utilidade para o meu trabalho de educadora.

Soraya de menezes Gerheim, Juiz de fora, mG

Somos do Centro Social Marista Ir. Acácio, que realiza projetos voltados à formação integral de crianças e ado-lescentes, preparando-os para o exer-cício pleno da cidadania. Para subsídio e melhor desenvolvimento do nosso trabalho, solicitamos o recebimento da revista Onda Jovem, que muito nos auxiliará nos projetos e atividades.

Associação brasileira de Educação e Cultura

Londrina, Pr

O Centro de Socioeducação de Foz do Iguaçu, vinculado à Secretaria de Estado da Criança e da Juventude, atende adolescentes em conflito com a lei. Solicitamos a doação de exemplares

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Sou orientador social de um grupo de jovens da cidade onde resido e gostaria de receber a revista Onda Jovem, pois acompanho todas as matérias via on-line e queria trabalhar melhor com os jovens as temáticas nelas abordadas.

rafael Santos Pereira,Capão bonito, SP

Sou associada ao Instituto Brasileiro de Direito da Família - IBDFAM e gos-taria de receber as edições de Onda Jovem.

Giuliana Armelin, Santo André, SP

Na ONG Monsenhor Luis Ximenes tra-balhamos com juventude. Adoramos os artigos de Onda Jovem e gostaríamos de receber a revista.

irandir Gomes de Paiva, Santa Quitéria, CE

Somos da Fenações Integração Social, ONG que cuida de mais de mil crianças e adolescentes do Distrito Fe-deral. Ao lermos uma de suas edições, achamos o material que precisávamos para guiar nossos educadores. Gos-taríamos muito de receber os próxi-mos exemplares.

Keyth roy rodriguesDistrito federal

Li no boletim do Portal Onda Jovem matéria acerca das agressões entre alunos e professores. Coordenei o projeto Lições de Cidadania e Direitos Humanos: Escola sem Bullying (http://projetoescolasembullying.zip.net). Sugiro a divulgação como contraponto à matéria de Onda Jovem.

Jayson magno da Silva, São Paulo, SP

Sou educadora da instituição ACMCDC Leide das Neves, que atende jovens da periferia, enfatizando o protagonismo dentro da comunidade. O trabalho de vocês nos chamou muito a atenção e gostaríamos de trocar experiências desse processo de persistência na melhoria e conscientização tanto dos nossos jovens quanto dos educadores.

Conceição maria Santos,São Paulo, SP

Atuo na Instituição de Incentivo à Criança e ao Adoles-cente de Mogi Mirim, que trabalha com arte-educação. Ao recebermos a revista de vocês, nos interessamos muito em continuar recebendo, pois será muito útil ao nosso trabalho.

Tássia Vanessa Siqueira,mogi mirim, SP

Trabalho na Girassolidário, agência que atua na defesa da infância e juventude. Gostaria de receber a revista Onda Jovem.

magnólia ramos Gonçalves, Campo Grande, mS

Conheci Onda Jovem na ONG Cecria. Hoje atuo na obra social Centro Marista Circuito Jovem e solicito a vocês enviar ao menos 30 exemplares de Onda Jovem periodicamente, para suprir a necessidade de informação atualizada e linguagem própria deste público jovem nas oficinas nas quais trabalhamos com as perspectivas e as expectativas juvenis.

Elisângela menezes, Ceilândia, Df

Sou da Coordenação de Políticas Públicas de Juventu-de, recém-implantada na prefeitura de nossa cidade, e gostaríamos de receber Onda Jovem.

rodrigo G. Almeida félix, itabirito, mG

Sou educador social e iniciarei um trabalho denominado Jovens Agentes de Desenvolvimento Territorial. Receber Onda Jovem seria muito bom para auxiliar nas atividades que desenvolveremos com jovens.

manoel Damásio machado Neto, por e-mail

O Instituto Alair Martins, que mantém o projeto Educa-ção para o Empreendedorismo, beneficia 2.800 jovens. Gostaríamos de receber as edições anteriores e as próxi-mas de Onda Jovem.

Claudia farnesi, Uberlândia, mG

de Onda Jovem no intuito de servir de subsídio para que nós, educadores, possamos atuar melhor frente aos nossos jovens.

Vanessa Gabrielle Woicolesco, foz do iguaçu, Pr

Assessoro a Pastoral da Juventude da Diocese de São José dos Campos e o Cursinho Solidário Pré-vestibular, para alunos carentes. Gostaria de re-ceber Onda Jovem, pois a publicação será útil e importante na formação dos coordenadores da pastoral e para uso dos professores do Cursinho Solidário.

Silmara Gomes da Silva Simão, São José dos Campos, SP

Sou pedagoga e utilizo a revista Onda Jovem em grupos de estudos com os educadores da instituição em que trabalho. A publicação tem sido uma forte aliada na minha prática.

Carmen Nobrerio de Janeiro, rJ

No Colégio Marista Arquidiocesano de São Paulo, recebemos a indicação de Onda Jovem como uma revista ótima. Gostaríamos de receber os exemplares para utilizarmos na preparação das reuniões com jovens.

márcio rodrigues de Arruda, São Paulo, SP

eDucaÇão social

A revista está simplesmente ótima! Na ONG Cipó – Comunicação Interativa, trabalho com educomunicação em escolas e pude entender ainda mais meu papel para a transformação social que o País quer.

Edivan Neves, Salvador, bA

Nós, do projeto Trabalho, Comuni-cação e Arte, agradecemos à equipe de Onda Jovem por produzirem um material tão legal para a juventude!

Taís Albado de Assis, rio de Janeiro, rJ

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dobiografia do artista ainda jovem

Jovens trabalhadores são como biografias em desenvolvimento e eles podem se sentir acorrentados se a escola que os forma não se preocupa em conhecer o aluno também como pessoa, seus so-nhos e dificuldades fora da sala de aula. Esta é a perspectiva de Leandro Batista de Souza, pau-lista de 20 anos empenhado em desenvolver sua própria biografia como artista visual. Desenhista desde criança, teve no ensino médio um primeiro sinal para a possibilidade de fazer do hobby uma profissão: ganhou o concurso de criação da bandeira da escola. O projeto ficou guardado durante os quase dois anos em que traba-lhou como repositor de estoque e ajudante-geral em empresas, mas foi retomado em 2006, quando ingressou no Projeto Carmim, ONG paulistana que desenvolve proje-tos de arte. Ali descobriu outras possibilidades para a expressão visual. Deixou o emprego, fez no-vos cursos e já tem dois clientes fixos para suas ilustrações, em São Paulo e Minas. A convicção sobre seu trabalho o levou a rejeitar mais de uma proposta de emprego que o desviava de seus objetivos. Com colegas, vem investindo também na formação como arte-educador, o que coloca a faculdade no seu horizonte, no médio prazo. No momento, tudo que importa é aprender cada vez mais e conse-guir viver do que ele gosta: criar imagens.

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Procuram-se jovens criativos

e inovadores.

O Instituto Votorantim apóia a Feira Brasileira de Ciências e Engenharia. E promove o interesse da juventude pela educação científica.

Atenção estudantes e professores do Ensino Fundamental, Médio e Técnico. Inscrições abertas para projetos de ciências até 19 de novembro de 2008.

www.lsi.usp.br/febraceAcesse o site e veja como participar

[email protected](11) 3081 5430