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COMUNICAÇÃO ONDA JOVEM www.ondajovem.com.br número 9 – setembro 2007 – www.ondajovem.com.br ano 3 – número 9 – setembro 2007 EM PAZ No centro dos debates sobre a violência, a juventude busca formas pacíficas de viver

Onda Jovem #9

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www.ondajovem.com.br O N D A J O V E M c o m u n i c a ç ã o ano 3 – número 9 – setembro 2007 n ú m e r o 9 – s e t e m b r o 2 0 0 7 – w w w .o n d a jo v e m .c o m .b r liberdade são mais de 15 mil agressores e vítiMas Juvenis tem entre 15 e 29 anos Jovens privados de Maioria de vítimas de homicídio sonar NoNo oNoNo oNoNo oN ações pacifistas pág. 8 instituições praticaM novo Jovens se aliam em Modelo de socioeducação pág. 58 3 RicaRdo SeRpa/Sambaphoto

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O Instituto Votorantim apóia essa causa.

E quer ver muitos jovens fazendo sucesso na capa.

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Porque, desde que foi criado, em 2002, para qualificar o investimento social do Grupo Votorantim, o Instituto Votorantim abraçou a causa juvenil, apoiando tecnologias sociais nas áreas de educação e trabalho, favorecendo articulações e disseminando conhecimento para promover o desenvolvimento integral do jovem.

Nessa perspectiva, Onda Jovem é um projeto de comunicação a serviço da difusão de idéias e práticas, compartilhando as visões de educadores, jovens, gestores públicos, pesquisadores, formadores de opinião e outros segmentos que lidam com a juventude nas diferentes áreas.

A revista é quadrimestral e distribuída gratuitamente em todo o país. Os conteúdos estão disponíveis também no portal www.ondajovem.com.br, com acréscimos exclusivos, como os planos de aula, que sugerem a aplicação dos textos em dinâmicas e atividades de reflexão com jovens.

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sobre a violência, a juventude

busca formas pacíficas de viver

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Maioria de vítimas de homicídio tem entre 15 e 29 anos

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ação juvenil pelo desarmamento originou ong pela paz pág. 22

Modelo de socioeducação pág. 58

âncoras

“A arte, o esporte, a educação e a cultura são elementos estratégicos para a ressignificação da violência e a construção de canais de expressão positiva da identidade juvenil”.

Marlova Jovchelovitch Noleto,

coordenadora de Ciências Humanas e Sociais da Unesco no Brasil

“O rap é o som da paz mas, pregando a paz, muitas vezes a gente encontra a violência. O rap é um espelho da sociedade, fala dessa violência”.

Rappin Hood,

rapper paulistano

“Quando a escola é boa, não são comuns os conflitos entre os estudantes”.

Jardel Mendes Ferreira,

21 anos, universitário,da ONG Casa da Juventude, de Itaobim (MG)

“Há uma vinculação muito grande entre a violência intrafamiliar e a urbana. Uma alimenta a outra, num perigoso círculo vicioso.”

Carlos Eduardo Zuma, piscólogo do Instituto Noos de Pesquisas Sistêmicas e Desenvolvimento de Redes Sociais

“Uma palavra pode mudar o mundo. Um abraço também. Todo mundo precisa de afeto”

Rafaela Rocha,

líder do movimento paulistano Abraço Grátis

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“No trânsito, os jovens também são um pouco sem noção”

Maitê Bernardes,

ativista contra a violência no trânsito

“Quando nos esquecemos de nossa diversidade, nos perdemos da humanidade e dificilmente conseguiremos construir um presente e um futuro marcados pela tolerância e pela paz”.

Reinaldo Bulgarelli,

educador e consultor

“Minha vida escolar começou bem mas, com o tempo, eu me tornei uma vítima dos colegas.”

Daniele Vuoto,

21 anos, universitária gaúcha, mantém um blog sobre a agressão física e psicológica entre colegas

“Na minha realidade, o maior foco de conflito é a desigualdade social, que leva à má educação, à saúde precária, ao meio ambiente ameaçado, ao desemprego, tudo que gera violência.”

Mara Nunes,

20 anos, universitária, da ONG Novolhar, de São Paulo

“Acredito no diálogo. Uma boa conversa resolve qualquer problema”

Leandro Lourenço,

ativista da paz em Curitiba

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ano 3 – número 9novembro 2007 / fevereiro 2008

um projeto de comunicação apoiado pelo instituto votorantim

projeto editorial e realizaçãoFátima Falcão e marcelo Nonatoolhar cidadão – estratégias para o desenvolvimento humanowww.olharcidadao.com.br

direção editorialJosiane lopes

Secretaria editoriallélia chacon

projeto gráficoartur lescher e Ricardo van Steen(tempo design)

colaboradores

texto: aydano andré motta, cecília dourado, cristiane ballerini, cristiane parente, eliza muto, karina Yamamoto, kelma Socorro matos, luciano martins costa, marcelo barreto, marilena dêgelo, marlova Jovchelovitch Noleto, Reinaldo bulgarelli, valmir Rodrigues, Yuri vasconcelos, Wilmar Ferreira da Silva

foto: beatriz assumpção, carlos Souza Ramos, daniel cajal, Francisco valdean, henk Nieman, Jonas oliveira, márcia Zoet, marco antônio, marcus Fernandes, mara izabel, ma-riana ignatios, Risonaldo cruz, tom cabral

ilustração: la Goma, marcelo pitel

capa:

apoio editorial: (instituto votorantim)

revisão: moira de andrade

diagramação(d´lippi editorial)

impressãoipsis

como entrar em contato com onda Jovem:e-mail [email protected]ço: R. dr. Neto de araújo, 320 – conj. 403,São paulo, cep 04111 001tel. 55 11 5083-2250 e 55 11 5579-4464www.ondajovem.com.br um portal para quem quer saber de juventude

8 - navegantesJovens brasileiros se envolvem em iniciativas que promovam a paz e mudem as estatísticas que os colocam no cerne da violência

14 - Mestresos educadores marcelo Rezende, Nádia cardoso e valter Salgado desenvolvem propostas pedagógicas para promover a paz

18 - Boas práticasiniciativas com jovens no paraná, minas Gerais e em quatro estados do Nordeste indicam diferentes caminhos para se atingir a paz

22 - caMinHo das pedrascomo o instituto Sou da paz inovou nos termos do debate e da ação sobre violência e tornou-se referência de uma nova abordagem sobre o tema

26 - Horizonte gloBala psicóloga americana diane tillman defende o cultivo de valores na escola para formar jovens comprometidos com a paz

28 - sextantemarlova Jovchelovitch Noleto escreve sobre os fundamentos de uma cultura de paz na perspectiva juvenil

30 - 90 grauskelma Socorro lopes de matos escreve sobre as dificuldades da escola em promover a paz em seu próprio interior

34 - 180 grausWilmar Ferreira da Silva, capitão da pm de minas Gerais, relata a experiência de pacificação numa violenta região metropolitana de belo horizonte

38 - 270 grausReinaldo bulgarelli comenta a valorização da diversidade como condição para a convivência pacífica

42 - 360 grausluciano martins costa analisa como a globalização repercute no cotidiano juvenil, podendo facilitar ou complicar a vivência pacífica

46 - seM BÚssolamenos divulgadas que a violência do tráfico, as manifestações agressivas na família e contra minorias sexuais também são obstáculos à paz

52 - o suJeito da Fraseo rapper Rappin hood defende o rap como um som de paz e fala sobre sua experiência em projetos sociais

56 - lunetaa tradição de encarceramento dos jovens em conflitos com a lei desconsidera

a eficácia das alternativas propostas pela socioeducação

60 - .gov.coM

a violência geral faz com que muitas ações do governo sejam vistas como pacificadoras, mas é preciso especificar mais o apoio aos jovens

64 - ciÊnciamais do que a crise de autoridade, que explicaria o envolvimento juvenil com a violência, os especialistas miram os valores da sociedade contemporânea

68 - cHat da revistaJovens de minas Gerais, São paulo, Santa catarina e Rio de Janeiro debatem a mediação de conflitos e a comunicação não violenta

é o número de projetos com

jovens que você verá nesta edição

7sonar 02Pistas do universo da paz e da vio-lência juvenil

Âncoras 06 Alguns conceitos e comentários sobre paz e violência

Fato positivo 72Caiu o Índice de Vulnerabilidade Juve-nil de São Paulo, que inclui homicídios de jovens

cartas 74 As mensagens dos leitores

navegando 76A proposta sonora do projeto Arte da Paz, de Curitiba

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navegantes

Desde que o mundo é mundo, cabe aos jovens an-dar na contramão, para protagonizar rupturas, firmar mudanças, remover ao lixo da História o que caducou. No Brasil do século 21, também, muitos deles seguem o caminho inverso ao que lhes parecia reservado pelo destino. São jovens, milhares deles, que desafiam as estatísticas que os condena ao envolvimento com a violência, nos igualmente trágicos papéis de algozes ou vítimas. Resolveram dar meia-volta nesta história e professar a atitude mais preciosa em nossos dias: a busca da paz.

Cabe a eles ajudar a virar o jogo no país que, não bastasse estar entre os de maior desigualdade social, possui ainda o oitavo maior arsenal de armas leves do mundo – 15 milhões de revólveres e pistolas, a maioria disparados contra quem tem de 15 a 29 anos.

ATIVISTAS DA PAZ

Por _ Aydano André Motta

Na sociedade atravessada pela intole-rância e pela discriminação, os jovens ativistas da paz nadam contra a maré, cada um do seu jeito, segundo suas convicções e estratégias, mas todos conduzidos pela certeza de que so-mente a postura diferente permitirá outro futuro.

Neste panorama, a paz nasce na simplicidade despojada de um abraço gratuito, no meio da rua, no meio do dia; na transmissão da informação que promove liberdade e cidadania diante da censura e do descaso; na fé que prega o entendimento pela via segura do diálogo; ou na luta serena contra o preconceito de quem não admite a diferença.

Na verdade, eles seguem, com meios próprios, o caminho proposto 42 anos atrás, na Declaração para os Jovens dos Ideais de Paz, Respeito e

A bAiAnA EliAndrA MorEnA,

18 Anos, dança no ritmo da paz

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9ATIVISTAS DA PAZ

na contramão das estatísticas, que apontam os jovens como maioria envolvida em situações de violência, os novos pacifistas investem na mudança de atitude

Compreensão entre os Povos, pro-clamada pelas Nações Unidas. Diz lá: “A juventude deve ser educada no espírito de paz, da justiça, da liberdade, o respeito e a compre-ensão mútuos, a fim de promover a igualdade de direitos entre todos os seres humanos”.

O texto, Princípio 1 do documento, data de 7 de dezembro de 1965, muito antes de Rafaela Rocha nascer. Mas ela parece conhecê-lo de cor. Aos 16 anos, a paulistana da zona Norte, estudante do segundo ano do Ensino Médio, lidera o Abraço Grátis, grupo de jovens que, pelo menos duas vezes por semana, pára numa rua de grande movimento e abre sua placa: “Abraços grátis”. Eles saem abraçando as pessoas, enfrentam muitas vezes reações hostis, mas não desistem até conseguir alegria e confraternização.

“Tem gente que passa e ri, outros abraçam rapida-mente e seguem apressados, alguns entram no clima e sorriem”, descreve Rafaela. Um dia de 2006, nave-gando a esmo pela internet, ela conheceu a história do australiano Juan Mann, o homem que percorria as ruas de Sydney com um cartaz escrito “Free hugs”, distribuindo abraços, e ficou famoso mundo afora. A jovem decidiu repetir o gesto na maior cidade do país e hoje comanda um grupo de 30 pessoas, com idades entre 15 e 25 anos, que, convocados pela internet, se vestem de alegria e distribuem fraternidade entre sorrisos e brincadeiras.

Rafaela conta que a idéia nasceu do desconforto de viver num tempo de desconfiança e estresse. “Foi um gesto bonito que copiei. Na maior parte do tempo, a

lEAndro lourEnço, 21 Anos, freqüenta as tribos da paz em Curitiba

A gAúchA MAitê, 18 Anos, coordena na faculdade ações contra a violência no trânsitoa

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O FUTURO É AGORA“Na comunidade onde eu vivo, o Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, moram 140 mil pessoas, aproximadamente. Muita gente se assusta, quando vê o lugar, que fica na beira da Linha Vermelha, via expressa que leva do Aeroporto Internacional Tom Jobim à região mais rica do Rio. Todo mundo acha que lá só tem violência, bandidos e abandono. Não é assim. O censo do bairro Maré, feito em 2000, mostrou que os marginais não chegam a 2% da população. Somos, quase todos, trabalhadores. Eu procuro fazer minha parte, como coordenadora do jornal “O Cidadão”, produzido pelo Ceasm (Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré), com periodicidade mensal e tiragem de 30 mil exemplares. Estou no primeiro ano de Comunicação na PUC, onde quero aprimorar minha capacidade. Aprendi o valor da informação, como instrumento para aproximar comunidades de realidades semelhantes, mas que a violência afasta. Comecei no “Cidadão” há sete anos e devo ao trabalho meu amadurecimento como cidadã. Aprendi lá a importância da informação de qualidade, bem apurada e com a abordagem correta. Hoje tenho consciência de tudo que é violência: a falta do Estado, a poluição, o caos habitacional, o descaso, a insegurança. Sabemos o quanto precisamos batalhar pelos nossos direitos. Moro há 17 anos na Vila dos Pinheiros, com meu pai, minha madastra e quatro irmãos. Dá para notar a melhoria na auto-estima dos moradores. Antes, quase todo mundo dizia morar em Bonsucesso, o bairro mais próximo da Maré. Agora, muitos se dizem mareenses. Não temos que nos esconder.”

rosilEnE MAtos, 24 Anos, estuda jornalismo e vive no Complexo de Favelas da Maré, no Rio

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gente não faz nada para melhorar a rotina, ninguém dá bom dia, pergunta como vai. Sempre acreditei que uma palavra pode mudar o mundo. Um abraço também. Todo mundo precisa de afeto”, ensina a estudante, que conta ter aprendido a importância do carinho na amargura pela separação de seus pais. “Tem gente que parece não ganhar um abraço há anos”, diz, contando que, muitas vezes, pessoas que não são do movimento resolvem se abraçar também, mobilizadas pelo clima. É quando a missão está cumprida.

Barreiras invisíveisA um Brasil de distância dos abra-

ços de Rafaela, a comunidade do Coque, nos arredores de Recife, também precisa de paz. Mas por lá, os caminhos são outros. Seus 50 mil habitantes – a maioria vivendo abaixo da linha da pobreza – sofrem com a marginalização causada pela imagem cristalizada do lugar como o reino da brutalidade. Fecha-se, então, a ciranda: ninguém ajuda porque é violento; é violento porque ninguém ajuda. Para quebrá-la, nasceu o Mabi – Movimento Arrebentando Barreiras Invisíveis, que promove ações cultu-rais, produção de jornais e fanzines e oficinas de desenho e música.

Um dos líderes da luta pela cons-cientização que derruba obstáculos que não se vê é Rafael da Silva Freitas, 17 anos. Há dois anos, ele integra a Etapas (Equipe Técnica de Asses-soria, Pesquisa e Ação Social), ONG que organiza eventos e programas na região, espalhando cultura para remover a desesperança. “As pesso-as querem coisas boas. Falta fazer”, constata ele, estudante do 2º ano do Ensino Médio, nascido no Coque, que trabalha como monitor da oficina de desenho. Rafael planeja estudar Design e Comunicação, mas jamais vai virar a página da solidariedade. “Quero continuar fazendo parte de movimentos como esse, porque eles são necessários”, diz.

Para Marcos Rêner Francisco de Almeida, 22 anos, os obstáculos vão caindo enquanto ele prega seu aforismo particular: não existe dife-

Projeto: AbrAço grátisáreA de AtuAção: são PAulo (sP).ProPostA: Cativar a alegria e melhorar a auto-estima das pessoas brutalizadas pela vida na grande cidade, com o ato simples de distribuir abraços.Atendidos: Mais de 30 mil pessoas, de todas as idades.APoio: não tem.ContAto: site: abracogratisaec.blogspot.com

Projeto: equiPe téCniCA de AssessoriA, PesquisA e Ação soCiAl - etAPAs.áreA de AtuAção: reCife (Pe).ProPostA: Contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos setores excluídos, por meio da defesa de direitos e fortalecimento da cidadania ativa, baseada no princípio da igualdade de gênero e etnia. jovens Atendidos: Mais de 4 mil, em 25 anos.APoio: deutscher entwicklungsdienst, sebrae/Pe, escola de formação quilombo dos Palmares, governo de Pernambuco.ContAto: tel. 81/3231-0745. site: www.etapas.org.br

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coM uM grAndE ArsEnAl dE ArMAs lEVEs, o brAsil tEM nos JoVEns dE 15 A 29 Anos A MAioriA dAs VÍtiMAs dE hoMicÍdios pa

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rença, não pode existir diferença – para que viver seja menos perigoso. Ator iniciante nascido em Campinas, Marcos é bissexual e no seu dia-a-dia encara muito preconceito. Sua arma: a serenidade. “Temos de encarar a homofobia, que ainda é forte no Bra-sil, e a única maneira é não responder no mesmo tom. Por mais ímpeto que se tenha”, diz, referindo-se à aversão às pessoas de orientação homossexual.

Coordenador cultural da E-Camp, braço em Campinas da ONG E-Jovem, de combate à intolerância e ao pre-conceito contra os homossexuais, Marcos ensina teatro e usa sua arte como ferramenta para se impor como cidadão. Às vítimas de discriminação, ele aconselha o registro de ocorrên-cia na polícia – porque não adianta absolver as instituições. “Pode até não adiantar muito, na prática, mas é nosso dever”, sublinha Marcos, que vive feliz com o pai e os irmãos, todos heterossexuais. No trabalho, já foi discriminado por um chefe. “Con-versei com ele e meus argumentos foram ouvidos”, conta, aplicando sua própria receita.

Fé no diálogoConsultar e conversar também

tornou-se o caminho para a paz, na crença de Juliana Augusto Shams, 22 anos, integrante da juventude da Comunidade Bahá'í do Brasil. Criada na Pérsia (atual Irã), em 1844, a

Projeto: ProgrAMA tribos dA PAz, do Projeto não-violênCiA.áreA de AtuAção: PArAná.ProPostA: desenvolver e fortalecer a cultura da não-violência, com ações de caráter educativo e preventivo em escolas da rede pública de ensino. envolver jovens líderes em ações que despertem e fortaleçam a cultura da não-violência.jovens Atendidos: 400APoio: Café damasco, instituto HsbC de solidariedade, Paraná Clínicas, sistema fecomércio/Pr, freitas godoi imobiliárias, exCom, Abagge, gs1 brasil, laguna Construtora, osten ferragens, dCl e trombini industrial s/AContAto: Av. joão gualberto, 1673 – cj. 104. CeP: 80.030-001 Curitiba – Pr. tel. 41/3254-1673. site: www.naoviolencia.org.br

Projeto: vidA urgenteáreA de AtuAção: Porto Alegre (rs).ProPostA: Conjunto de ações que visam, por meio da conscientização, a diminuir os acidentes de trânsito, em especial os que envolvem jovens. Cursos, palestras, ações em eventos, datas comemorativas e festivas, em locais diversos.jovens Atendidos: MAis de 5 Mil.APoio: Petrobras, Chevrolet, grupo unificado, dM transporte e logística e setcergs transporte e logísticaContAto: rua botafogo, 918 – Porto Alegre – rs. tel. 51/3231-0893. site: www.vidaurgente.org.br

doutrina é um antídoto para as explosivas sociedades contemporâneas. Sem dogmas, rituais, clero ou sa-cerdócio, tem como objetivo a paz entre os homens e defende o senso de justiça como filosofia suprema. Sua tradução brasileira desembocou na solidariedade. Como o calendário bahá'í divide-se em meses de 19 dias, os dias que sobram, chamados intercalares, são dedicados a serviços para a humanidade. “Se as pessoas à nossa volta não estiverem bem, nós também não estamos”, entende Juliana.

E ela não economiza. Moradora de São Carlos, no interior paulista, onde estuda engenharia agrônoma, participa de atividades que buscam o bem-estar social em asilos, dá aula de educação moral para crianças e, nos fins-de-semana, ministra cursos para adolescentes em escolas públicas. Ainda ensina jardinagem em comu-nidades populares de Piracicaba. “A fé bahá'í nos ensina a desenvolver a paciência, para juntos acharmos a verdade”.

Assim, Juliana – filha e mulher de praticantes da religião persa – não se incomoda nem com os poucos amigos que ainda estranham suas convicções. A prática diária da pa-ciência é o antídoto para eventuais esbarrões na discriminação. “Não ser igual a todo mundo gera atenção, mas acreditamos que juntos conseguire-mos encontrar a verdade”, diz, com a certeza – ou fé – de que o mundo vai evoluir na direção do entendimento.

Para Leandro Alves Lourenço, só fica melhor. Seus problemas come-çaram antes do nascimento, quando

A pAulistAnA rAfAElA rochA, 16 Anos, comanda o movimento Abraço Grátis

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sua mãe fracassou ao tentar abortar a gravidez. É uma das razões possíveis para a tetraplegia parcial com a qual o estudante convive. Mas o que, a olho nu, parece tristeza virou, 21 anos depois, uma comovente história de superação. Além de cursar o primeiro ano do Ensino Médio, ele trabalha num colégio de Curitiba, sua cidade natal, e participa do Tribos da Paz, programa do Projeto Não-Violência, que dissemina a cultura da paz nas escolas paranaenses.

Leandro entrou para a ONG dois anos atrás, depois de assistir a um encontro na sua escola. O debate explicitou a violência em seu conceito mais amplo – preconceito, ataques verbais, intolerância – e mobilizou o estudante. “Acredito no diálogo. Uma boa conversa resolve qualquer problema”, aposta ele, que, na ONG, integra o grupo de teatro. No fim de 2006, eles encenaram a peça “Esco-lhas”, história de um amor impossível entre um menino estudioso e uma integrante de gangue. “Interpreto um

professor rigoroso, que não aceita diálogo, mas que no fim aprende a lição”, conta ele.

Não é só no palco que Leandro transmite seus ensina-mentos. Ele também luta pelo respeito aos deficientes e, apesar de viver numa das melhores cidades do país para portadores de problemas como o seu, sabe que há muito por fazer. “Se cada um cumprir com a sua parte, o mundo todo vai melhorar”, resume.

Preservar e cultivarEsculpir, passo a passo, a consciência alheia, como

prega Leandro, é trabalho que leva tempo – mas Maitê Ferreira Bernardes não tem pressa. Desde 2003, ela é integrante da Vida Urgente, campanha permanente de alerta aos jovens sobre a violência no trânsito. Maitê, 21 anos, não tem parentes para chorar na mortanda-de incessante das ruas e estradas brasileiras, e que afetam diretamente os jovens. Sabe, no entanto, da importância de conscientizar as pessoas da sua idade dos perigos ao volante. “No trânsito, os jovens também

2 - rAfAEl frEitAs, 17 Anos, atua na comunidade do Coque, no Recife

(crédito)toM cabral

A MilitÃnciA pElA pAZ tEM MuitAs frEntEs, dA dEnúnciA dAs discriMinAçÕEs À lutA contrA A ViolênciA no trÂnsito

são um pouco sem noção”, constata. “Acham que tragédias só acontecem com os outros. Não pode”.

A organização à qual a estudante está vinculada nasceu por causa de uma dessas catástrofes, a morte do jovem Thiago de Moraes Gonzaga, então com 18 anos, em maio de 1995, numa rua de Porto Alegre. Os pais dele criaram o Vida Urgente, que milita na área de segurança no trânsi-to. Maitê explica que o caminho não é o da repressão, longe disso. “Eu saio à noite, mas valorizo a segurança. É o que defendo com as pessoas nos bares onde realizamos o programa”, explica. “Para mim, é questão pura-mente cultural”, diz a estudante, que tem carteira de motorista, mas ainda não comprou carro.

Agora, ela coordena um núcleo recém-criado na PUC gaúcha, onde cursa Psicologia e confirma o bem que o trabalho lhe fez. “Tenho orgulho de participar porque ganhei consciên-cia dos perigos. Fica mais fácil para mobilizar os outros”, arremata.

Numa outra ponta do Brasil, a baiana Eliandra Moreno dos Santos, 18 anos, faz o mesmo – mas pelo caminho da dança holística. Monitora do programa Arte pela Paz, da Fun-dação Terra Mirim, ela inicia outros jovens da escola ecológica, iniciativa que complementa o ensino público no Vale do Itamboatá, em Simões Filho, no Recôncavo Baiano.

rAfAEl frEitAs, 17 Anos, atua na comunidade do Coque, no Recife

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bRe Projeto: CeAsM – Centro de estudos e Ações solidáriAs dA MAré

ProPostA: superar as condições de pobreza e exclusão existentes na Maré, apontado como o terceiro bairro de pior Índice de desenvolvimento Humano do rio de janeiro. atuando no campo da educação, cultura e geração de renda e trabalho. Atinge milhares de moradores com 14 projetos, entre eles o jornal comunitário “o Cidadão”.jovens Atendidos: 1.900APoio: light, Petrobras, embaixada do Canadá, bndes, ediouro, infraero, fiocruz, faculdade de letras da ufrj, Cto, Ashoka, ACoM Comunicação, unimar, ietes, br.fM Host, Care e linha Amarela s.A., entre outrosContAto: Praça dos Caetés, 7 – Morro do timbau – Maré – rio de janeiro (rj). CeP: 21042-050. tel. 21/2561-4604. site: www.ceasm.org.br

Projeto: juventude bAHá’Í.áreA de AtuAção: todo o brAsil.ProPostA: transformar a sociedade pela via do diálogo, com disseminação da tolerância e respeito mútuo. Ações solidárias em comunidades populares com oficinas, cursos e espetáculos culturais.jovens Atendidos: milhares, em todo o país.APoio: Assessoria nacional de juventude dos bahá’ís do brasilContAto: Caixa Postal 1096 – Mogi Mirim (sP). tel. 16/33762178. site: www.juventudebahai.org.br

Projeto: gruPo e-joveM de AdolesCentes gAys, lésbiCAs e AliAdos.áreA de AtuAção: estAdo de são PAulo.ProPostA: lutar contra a homofobia e unir jovens numa rede de solidariedade e troca de informações.jovens Atendidos: 3.700.APoio: CrAisA – Centro de referência em Atenção integral à saúde do Adolescente, identidade – grupo de Ação pela Cidadania Homossexual ContAto: [email protected]. site: www.e-jovem.com

Projeto: fundAção terrA MiriM.ProPostA: educar, oferecendo experiências substantivas; fortalecer o espírito de comunidade; cuidar da natureza; inventar coletivamente soluções criativas, construindo assim uma cultura de possibilidades.jovens Atendidos: 180.APoio: não temContAto: 71/3396-9810. site: www.terramirim.org.br

Eliandra mora em Dandá, comu-nidade quilombola vizinha à escola, onde conheceu o projeto de res-ponsabilidade social, durante uma visita, ano e meio atrás. Num primeiro momento, achou aborrecido, não entendeu a importância daquilo. Mas logo se encantou. “Sou superfeliz por ter vindo aqui naquele dia. Adoro o que faço e vejo no rosto das pesso-as como é bom para elas também”, observa a estudante do terceiro ano do ensino médio.

Ela enxerga também mudanças em si mesma, no ritmo da solidariedade. “Mudei em casa. E estou mais falante e solícita. Antes, era tímida, calada, tris-te. Fazer o bem me fez bem”, festeja a estudante, na paz que pratica o tempo todo, na mais baiana alegria.

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Um ideal une Marcelo, Valter e Nádia. Embora vivam em cidades separadas por centenas de quilôme-tros, diariamente eles se dedicam à educação comprometida com a construção de uma sociedade que conviva em paz. Marcelo Rezende Guimarães é filósofo, ordenou-se padre e é Prior do Mosteiro da Anun-ciação do Senhor, da Ordem São Bento, na cidade de Goiás, em Goiás. É autor de uma tese – a primeira no Brasil sobre o tema – e de dois livros de educação para a paz, e é um dos fundadores da ONG Educadores para a Paz, no Rio Grande do Sul. Nádia Cardoso é antropóloga, especialista em Direitos Humanos e dedica-se à

A PAZ QUE SE APRENDE

Por _ Cristiane Ballerini

luta contra o racismo. À frente de vários projetos em ONGs, como o Gapa e o Instituto Cultural Steve Biko, ambos em Salvador, na Bahia, já formou centenas de jovens mais conscientes de seus direitos. Valter de Lima Salgado é matemático e há seis anos dirige a Escola Estadual Padre Antônio Godinho, em Carapicuíba, São Paulo, onde vem realizando vários projetos para inte-grar a escola à comunidade e criar oportunidades de convivência entre pais e filhos.

Enquanto colocam seus sonhos em pé, arquitetando ações, mobilizando e formando pessoas, Marcelo, Nádia e Valter quebram paradigmas: a multiplicação de seu trabalho é a prova de que é possível mudar realidades pelo aprendizado da paz.

Ensinar a paz Nos fins dos anos 1990, o padre Marcelo Guimarães

trabalhava com jovens no Rio Grande do Sul, quando percebeu o grande interesse que o tema “paz” des-pertava entre eles. Ativista da luta contra as minas terrestres no Brasil, Marcelo passou a contar com a colaboração dos jovens na campanha. Em 1997, o Brasil assinou o Tratado de Ottawa, proibindo a utili-zação de minas terrestres. E padre Marcelo não parou mais. Tornou-se uma das referências em educação para a paz, tanto na formação de educadores como na produção intelectual. “Existem várias formas de violência, com raízes políticas, culturais, econômicas. É algo complexo. Por isso, é ingênuo imaginar que vamos encontrar um único elemento mágico que traga um estado de paz para a sociedade. A paz é uma conquista em permanente construção”, diz Marcelo.

E, para construir a paz, muitas vezes é preciso des-construir uma série de interpretações e abordagens violentas entranhadas em nossa cultura. “A violência é aprendida culturalmente”, alerta Marcelo. E a escola também faz parte dessa rede de transmissão da cultura

de violência. “Boa parte dos alunos nunca ouviu falar em Ghandi”, diz.

Certo de que a única forma de transformar a escola é formar uma massa crítica de educadores, Marcelo elaborou o curso “Aprender a Educar para a Paz”. A experiência começou na gaúcha Santa Cruz do Sul, em 2000. Um ano depois, ganhou o apoio da Secretaria de Educação de Porto Alegre e foi desenvolvida para a capacitação de professores da rede municipal. A partir de 2002, com a fundação da ONG Educadores para a Paz, o curso passou a ser oferecido a centenas de educadores.

Marcelo Guimarães buscou em Paulo Freire a noção dos círculos de cultura, recriando-os como círculos de cultura da paz. A formação do cír-culo, reunindo pessoas num diálogo

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O diretOr Valter SalgadO:

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O exercício diário da não-violência desenvolvido por três educadores

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PROJETO CINE GODINHO, DA ESCOLA ESTADUAL PADRE ANTONIO GODINHOÁREA DE ATUAÇÃO REGIÃO DO PARQUE JANDAIA, EM CARAPICUÍBA, SPOBJETIVO Proporcionar espaço de lazer e reflexão para as famílias da região e criar vínculo com a escola. PESSOAS ATENDIDAS 6000 pessoas em dois anos, com a exibição de 100 filmesAPOIO HELIPARk – Centro de Serviços para Helicópteros.CONTATO Rua Wilson, sem nº – Parque Jandaia – CEP 06333-160 – Carapicuíba/SP

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PROJETO CURSO “APRENDER A EDUCAR PARA A PAZ”, DA EDUCADORES PARA A PAZÁREA DE ATUAÇÃO NACIONALOBJETIVO Capacitar educadores em educação para a paz. Ao longo do curso, os educadores constroem projetos de intervenção que possibilitam educar para a paz e prevenir a violência nas escolas onde atuam. PESSOAS ATENDIDAS Cerca de 1.100 educadores já fizeram o curso.APOIO Unesco, por meio da Secretaria Especial dos Direitos Humanos; Fundação Luterana de Diaconia. CONTATO Tel.: 51/3023-4658; site: www.educapaz.org.br

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PROJETO FORMAÇÃO DE JOVENS EM DIREITOS HUMANOS NA LUTA ANTI-RACISTA, DO INSTITUTO CULTURAL STEVE BIkOÁREA DE ATUAÇÃO SALVADOR, BA PROPOSTA Formar jovens lideranças multiplicadoras para a luta contra o racismo e a desigualdade social. JOVENS ATENDIDOS 150APOIO Secretaria Especial de Direitos Humanos do governo federalCONTATO Rua do Paço, nº 04 – Pelourinho – Salvador/BA. Site: www.stevebiko.org.br

em torno da preocupação pela paz, é a possibilidade de articular vários grupos, dentro e fora da escola. A vida real fornece o conteúdo para debate e experiências importantes.

Segundo Marcelo, para uma educação efetiva para a paz não é indicado criar uma disciplina para o tema. Os desafios dos educadores estão na ordem de ajudar na escolha de caminhos para a resolução dos confli-tos de forma não violenta. Colaborar com os alunos, especialmente os jovens, para que eles aprendam a lidar com a própria agressividade de forma constru-

tiva e positiva. E fazer uma reflexão constante sobre como deve ser a lin-guagem, a abordagem do tempo e o uso do espaço em uma escola de paz. Nesse sentido, a organização para um trabalho coletivo é fundamental. “Não se pode colocar a responsabili-dade pela paz nos ombros morais de cada um. É preciso criar estruturas, organizações e processos coletivos, capazes de ajudar cada educador a dar o melhor de si”.

Uma questão de direitos Salvador é a segunda cidade do

mundo com maior número de negros fora do continente africano. Uma população que, apesar de estar em maioria, ainda enfrenta o racismo e tem seus direitos violados. A an-tropóloga Nadia Cardoso lembra as estatísticas policiais para mostrar que a juventude negra é quem mais sofre violência, com numerosos casos de assassinato por grupos de extermí-nio, mas também em ações policiais. “A princípio, os negros são sempre suspeitos”, diz Nadia.

Por outro lado, hoje Salvador con-centra vários movimentos engajados na luta anti-racista que trabalham para enquadrar a discriminação como uma questão de direitos humanos. A atuação de Nádia, a partir da metade da década de 1990, está ligada ao florescimento desses grupos: ”Nessa época, percebíamos que os jovens es-tavam um tanto à parte das questões do racismo. As lideranças eram as mesmas desde as décadas de 1970 e 1980. Foi a partir dessa constatação que vi a necessidade de formar jovens protagonistas”.

O projeto de um curso foi desenvol-vido pela equipe do Instituto Cultural Steve Biko e as aulas começaram para 40 jovens da periferia de Sal-vador. No segundo ano, veio o apoio da Secretaria Especial de Direitos Humanos do governo federal e mais 70 jovens, entre 16 e 21 anos, puderam receber essa formação. O curso engloba cinco meses de aulas e atividades culturais, como teatro e música, e incentiva os alunos a serem multiplicadores do conhecimento adquirido. O desafio dos professores,

a educadOra Nádia cardOSO:

paz como igualdade de direitos

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intelectuais e militantes da luta contra a discriminação é articular a luta anti-racismo com a promoção dos direitos humanos, mostrando a idéia de raça como algo construído socialmente ao longo de anos de escravidão e desi-gualdade social.

O curso idealizado por Nádia já formou 150 jovens, que, por sua vez, já formaram muitos outros jovens. O projeto foi tão bem-sucedido em seus propósitos que, apenas em 2004, o grupo de jovens “recém-formado” co-locou em prática cinco intervenções em comunidades estratégicas, sem-pre com a perspectiva de mobilizar outros jovens com shows, debates e apresentações de teatro.

Como continuidade desse trabalho, a antropóloga agora vislumbra a capa-citação desses “protagonistas” para dialogar com governos e influenciar políticas públicas, a fim de diminuir as desigualdades sociais. Para Nádia, a violência está profundamente ligada à vivência das desigualdades: “As pessoas não são passivas à discrimi-nação e, muitas vezes, a violência é apenas uma estratégia para sobrevi-ver a isso. Por isso, propagar a cultura da paz é lutar para que os brasileiros tenham todos os mesmos direitos, independente da cor da pele”.

Escola da comunidade A convivência entre os alunos es-

tava longe de ser amistosa quando o professor Valter de Lima Salgado assumiu a direção da Escola Estadual

Padre Antonio Godinho, na periferia de Carapicuíba, São Paulo. Com 1.800 estudantes de várias faixas etárias, o espaço escolar era palco de muitos conflitos. As bri-gas entre turmas na saída eram freqüentes e criavam instabilidade no bairro. “Fizemos um diagnóstico e percebemos que a escola estava apenas localizada no bairro, mas não ia além disso. Não estávamos abertos para interagir com a comunidade, os alunos e suas famílias”, diz Valter.

A pesquisa realizada pelos professores e funcionários no bairro trouxe informações importantes. Carapicuíba é uma cidade-dormitório na região metropolitana. Como boa parte dos pais e mães trabalham em São Paulo, os filhos passam o dia sozinhos, sem a orientação ou o apoio de adultos. Além disso, faltavam espaços e equipamentos que proporcionassem lazer e acesso à cultura. As primeiras ações arquitetadas por Valter, sua equipe e alguns voluntários visaram a disponibili-zar o espaço da escola para fortalecer o vínculo com os moradores da região. Em 2002, a escola passou a abrir nos fins de semana. O ponto alto das atividades eram as rodas de capoeira, que sempre acabavam em rodas de conversa. “Os meninos aproveitavam para discutir vários assuntos, dando vazão à necessidade de diálogo”, diz Valter.

Um dos principais focos da equipe era favorecer a participação dos estudantes como protagonistas da transformação da escola, o que levou à criação do grêmio estudantil, em 2003. Os alunos passa-ram a ter voz ativa na administração e foram responsáveis pela implementação de vários projetos. Foi deles, por exemplo, a iniciativa de abrir a biblioteca para o público externo, criando um centro de leitura comunitário. “Delegamos aos alunos parte da responsa-bilidade pela escola e seus equipamentos. Para fortalecer esses laços de confiança, o principal desafio para os educadores é sair do centro, do modelo onde os alunos só ouvem, e passar a aproveitar tudo o que os jovens podem oferecer”, diz Valter.

Com a repercussão positiva de suas ações, a escola passou a contar com vários apoiadores. Assim, há dois anos, foi inaugurado o Cine Godinho. Nos fins de sema-na, o pátio da escola é transformado em sala de cinema. Já foram exibidos mais de 100 filmes, sempre com entrada franca e pipoca de graça. Os telões, a pipoca, os filmes, tudo é cedido pelo comércio local. E o Cine Godinho é um sucesso: tem uma freqüência média de

50 expectadores, mas certos filmes, como “Dois filhos de Francisco”, atraíram até 400 pessoas.

A escola já teve seu trabalho reco-nhecido pela Unesco, ganhou o selo de “Escola Solidária” concedido pelo Instituto Faça Parte, em 2005, além de ser homenageada pelo Instituto Brasil da Cidadania há vários anos como “Escola Cidadã”. E o diretor Val-ter não esconde a satisfação: “Todo esse trabalho requer muita dedicação de todos. Mas vale a pena. É a chance de construir uma gestão democrática e usar os elementos concretos que surgem dessa convivência com os alunos para educarmos para uma sociedade mais justa, humanitária, em paz.”

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Padre MarcelO rezeNde: paz como construção permanente

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VIAS DIVERSAS

QUATRO INICIATIVAS MOSTRAM COMO A CONTRIBUIÇÃO PARA A PAZ TEM DIFERENTES CAMINHOS

Por _ Marcelo Barreto

“Se alguém te oferecer alguma pa-rada esquisita / Disfarça e vai embora e diz pra droga tô fora / O teco de hoje te rouba o sonho de amanhã /E o tapa vai apagar a sua história”. O conselho, em forma de letra de rap, é de jovens privadas da liberdade numa instituição feminina do interior do Paraná. Até novembro de 2004, um canto como esse não seria ouvido fora dos muros da instituição. Mas, de lá pra cá, graças ao projeto “Luz, Câmera, Paz”, da ONG Ciranda, recados como o da letra de “Minha goma é suja” estão a apenas um clique de distância: o site www.ciranda.org.br/camera reúne vídeos e jornais produzidos por jovens sobre sua relação com a violência. “A produ-ção e a divulgação dos vídeos tiveram um grande impacto na auto-estima dos jovens, além do efeito multiplica-dor da mensagem”, diz o jornalista Téo Prazagin, coordenador do projeto

Ir ao encontro dos jovens no foco de uma situação de violência foi também o caminho trilhado pelo programa “Trabalhadores Rurais e Direitos”, da entidade ecumênica Koinonia, que atua com a juventude rural. O tra-balho de formação de lideranças foi

estendido a cidades sertanejas de Bahia, Pernambuco e Alagoas, numa região de produção de maconha. A idéia é estimular o protagonismo juvenil por meio de ações criativas, como olimpíadas da paz e produções artístico-culturais.

Em Salvador, o médico Feizi Milani, especialista no atendimento de adolescentes, encontrou um caminho diferente: agir na outra ponta do processo de dissemi-nação da cultura da paz – os educadores. Em 2000, ele fundou o Instituto Nacional de Educação para a Paz e os Direitos Humanos (Inpaz), com o objetivo de formar uma rede multidisciplinar de profissionais com atuação nesse campo.

Também foi na escola que o psicólogo César Souza Reis encontrou seu rumo. Uma visita ao colégio onde estudara, na comunidade de Bicuíba, no município mi-neiro de Raul Soares, deu início a um trabalho que levou à criação, em 2002, da ONG Plugados na Educação. “Ali comecei a enxergar uma trilha para a cultura de paz.”

São muitos os caminhos que levam à paz.

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Criado em 1997, o Pólo Sindical dos Trabalhadores Rurais do Submédio São Francisco teve como uma das primeiras atividades da organização a criação da Ginka-na da Paz, investindo no aspecto lúdico: sanfoneiras e sanfoneiros, contadoras e contadores de histórias da região usaram a linguagem do sertão para falar dos problemas enfrentados pelos jovens. Essa troca de idéias, que continua no blog Palavra de Jovem Rural, ajudou a plantar as sementes do projeto. Em 1998,

Bahia, Alagoas e Pernambuco

Trabalhadores rurais e direitos

“Desde a adolescência estou envolvido com pro-jetos sociais, e na minha profissão me especializei em medicina do adolescente”, conta o médico baia-no Feizi Milani. “Esses caminhos se encontraram no Inpaz.” A prioridade do instituto é capacitar os educadores para a formação de crianças e jovens em temas como cultura de paz e resolução pacífica de conflitos, prevenção da violência, formação ética e valores humanos universais. Para atingir esses objetivos, os programas desenvolvidos pelo Inpaz

Minas Gerais e São Paulo

Plugados na educação

Inicialmente, apenas jovens em conflito com a lei eram atendidos pelo projeto, nas unidades sociais Joana Miguel Richa (para meninas) e Fazenda Rio Grande, ambos no Paraná. “Antes, só saíam notícias de educandários na imprensa se o assunto fosse uma rebelião”, diz o jornalista Téo Prazagin, coordenador do projeto. Mas a situação mudou quando internas e internos desses centros socioeducativos de privação da liberdade de adolescentes, que cometeram infrações e cumprem medida socioeducativa, ganharam a opor-

Paraná

Luz, câmera, paz!

O trabalho voluntário de César Souza Reis na Escola Estadual Dom Helvécio Gomes de Oliveira, em 1994, foi a semente do projeto. Com o apoio de doadores, ele conseguiu material escolar, uniformes, ventiladores, telefone e fax, e até a criação de um novo logotipo para a escola. “Com as melhorias, ajudamos a construir na escola uma cultura de paz, um tema que já me interes-sava por causa de um curso que fiz na Associação Palas Athena”, diz César. O sucesso da empreitada fez com que o trabalho fosse estendido a outras escolas de Minas

Bahia

Inpaz

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tunidade de produzir vídeos sobre a violência. O sucesso imediato do pro-jeto, que foi premiado nacionalmente, permitiu que ele fosse estendido a escolas da rede pública do estado, a começar pelo Colégio Estadual Professora Maria Lopes de Paula, em Almirante Tamandaré. Lá, o jornal e o vídeo Jovens em Comunidade foram

Gerais e São Paulo. A missão expressa no site www.plugadosnaeducacao.org.br é “promover a cultura de paz e o aprimoramento em termos materiais, éticos, culturais e pedagógicos em escolas públicas estaduais e munici-pais, situadas em Minas Gerais e São Paulo, por meio de intervenções que não desrespeitem a realidade e as ne-

são balizados por uma metodologia teórica e vivencial, que oferece ao mesmo tempo a fundamentação conceitual e os instrumentos prá-ticos para a ação pedagógica. Um deles, em parceria com a Secretaria de Educação do Estado da Bahia, foi aplicado com sucesso em dez escolas da rede pública, em 2001.

foi realizado o primeiro encontro da juventude rural da região, reunindo 88 rapazes e moças, entre 15 e 24 anos, dos vários municípios, que vinham de grupos juvenis, sobretudo articulados pelas experiências pastorais da Igreja Católica. O encontro levou à criação de um Coletivo de Jovens, que avaliou que uma ação com a juventude precisa unir

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(sempre de acordo com a realidade que os cerca) até a produção, a divulgação e a distribuição de vídeos e jornais. “A abordagem dos alunos era evidente-mente diferente da que encontramos nos educandários”, diz Téo. “Os trabalhos apontavam mais para a situação do bair-ro, da escola, ambientes onde a violência pode estar presente.”

cessidades de cada núcleo atendido”. A cultura de paz também foi o tema de um seminário promovido na Dom Helvécio. Mas, segundo César, nem sempre é necessário abordar o tema diretamente. O ambiente que é criado nas escolas com as melhorias de infra-estrutura fazem com que alunos e pro-fessores passem a procurar, por conta

Em outra linha de trabalho, o Pro-grama de Educação Integral para Pais e Mães, cujo principal objetivo era promover a prevenção da vio-lência familiar, chegou aos jovens não apenas indiretamente, no papel de filhos. As idades dos mais de dois mil pais e mães atendidos em escolas públicas da periferia

o prazer de estar juntos com a reflexão sobre as situações vividas. Por isso, a primeira grande ação foi a Olimpíada da Juventude Rural do Submédio São Francisco, articulando diretamente mais de 1.500 jovens em 13 municí-pios. Dela surgiu uma rede de mais de mil grupos juvenis no sertão, com o objetivo principal de formar jovens para

o resultado de um ano de debates so-bre temas relacionados à realidade da comunidade – entre eles a violência – e soluções para enfrentá-los. O projeto acredita no protagonismo juvenil como principal ferramenta para construir uma cultura de paz. Por isso, são os jovens que comandam o processo, desde a sugestão dos temas a serem abordados

própria, o caminho para mantê-las. “Ter orgulho da escola ajuda a construir um ambiente de paz. Nosso trabalho mais recente é em Guaianazes, num dos bair-ros mais violentos da Zona Leste de São Paulo. Quando chegamos lá, o clima era desanimador. Mas é impressionante o retorno que os estudantes dão a quem chega para ajudar”, diz.

de Salvador variavam entre 15 e 70 anos. As experiências do Inpaz foram reunidas em três livros, disponíveis no site www.inpaz.org.br: “Cultura de paz, Estratégias, Mapas e Bús-solas” (uma coletânea de artigos), “Tá Combinado” (do fundador Feizi Milani) e “Educar por Inteiro” (de Luis Henrique Beust).

atuarem como agentes protagonistas do desenvolvimento rural sustentável e solidário, por meio da afirmação dos di-reitos juvenis. Em 2005 foi realizada uma pesquisa que identificou que 68% das pessoas na região conhecem as ações juvenis e mais de 70% delas avaliam que tais ações possibilitam a superação da violência naquela região.

PROJETO LUZ, CÂMERA, PAZ, DA ONG CIRANDAÁREA DE ATUAÇÃO PARANÁPROPOSTA Produção de vídeos e jornais sobre a violência, por jovens de educandários e escolasJOVENS ATENDIDOS 85 nas unidades e 17 nas escolas (nos projetos em andamento)APOIO CESE e Itaú Social (nos educandários), HSBC (nas escolas)CONTATO Rua Desembargador Westphalen, 1.373 – Rebouças – Curitiba/PR. Tel.: 41/3224-3925. Site: www.ciranda.org.br/camera

PROJETO ONG PLUGADOS NA EDUCAÇÃOÁREA DE ATUAÇÃO MINAS GERAIS E SÃO PAULOPROPOSTA Construir a cultura de paz em escolas públicasJOVENS ATENDIDOS 4.715 (total de alunos nas escolas atendidas)APOIO Itaú e doadores pessoaisCONTATO Rua Amaral Gurgel, 452, cj. 85 – Vila Buarque – São Paulo/SP. Telefone: 11/3255-1250. Site: www.plugadosnaeducacao.org.br

PROJETO INSTITUTO NACIONAL DE EDUCAÇÃO PARA A PAZ E OS DIREITOS HUMANOS (INPAZ)ÁREA DE ATUAÇÃO ÁREA METROPOLITANA DE SALVADORPROPOSTA Capacitar educadores para a promoção da cultura de paz, por meio de cursos e divulgação de textosJOVENS ATENDIDOS 1.000 (nas escolas)APOIO trabalho voluntário, doações, Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, FUNAPCONTATO E-mail: [email protected]. Site: www.inpaz.org.br

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bre PROJETO TRABALHADORES RURAIS E DIREITOS, DA KOINONIA

PRESENÇA ECUMÊNICA E SERVIÇO ÁREA DE ATUAÇÃO SERTÃO DE ALAGOAS, BAHIA E PERNAMBUCOPROPOSTA Capacitar lideranças para a promoção da cultura de paz na região do Submédio São FranciscoJOVENS ATENDIDOS jovens de 35 cidades do sertão de Alagoas, Bahia e Pernambuco. Diretamente articulados pelo programa: 215 (60 participantes do curso de formação de agentes culturais, 75 articulados pelos dois coletivos de jovens, 80 articulados por Educação a Distância). Indiretamente articulados pelo programa: cerca de 60.000, em 1.500 grupos juvenis, disseminados nas 35 cidades.CONTATO Rua Santo Amaro, 129 – Glória – Rio de Janeiro/RJ. Telefone: 21/2224-6713. Site: www.koinonia.org.br

caminho das pedras

por _ Lélia Chacon

Sete anos atrás, uma manifestação fincava 53 cruzes no Parque do Ibirapuera para denunciar a violência na cidade de São Paulo. “Era o número de assassinatos nos fins de semana na capital”, lembra Denis Mizne, 31 anos, fundador e diretor executivo do Instituto Sou da Paz, que promovia o ato. Neste ano, no último fim de semana de julho, foram registrados três homicídios. “O frio naqueles dias, que tirava as pessoas da rua, pode ter tido influência, como disseram, mas, no fim de semana anterior àquele, houve 14 assassinatos. A redução tem sido contínua. É para comemorar!”, diz Denis. E o que mais o entusiasma é ver uma nova abordagem dando resultados: uma combinação de políticas de prevenção e segurança pautadas por valores democráticos e fo-

cadas, em especial, na juventude. Era essa sua aposta como líder estudantil ao conduzir, com outros movimentos de estudantes, a campanha “Sou da Paz pelo Desarmamento”, em 1997, que deu origem à criação do Instituto, dois anos depois. “Éramos estudantes, mas conseguimos um movimento de gente grande, atraindo parceiros estratégicos, com grande mobilização na sociedade e visibilidade na mídia”, lembra Denis, que na época presidia o centro acadêmico da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.

Foco, parceria, mobilização e visibili-dade fizeram o sucesso da campanha e também explicam a trajetória bem-sucedida do Sou da Paz, em apenas oito anos de atuação. Criado em 1999, até o início de 2000 o Instituto e sua causa ocupavam algumas noites e fins de semana de 15 pessoas, todas voluntárias. Hoje, a instituição tem

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uma estrutura com 60 profissionais, todos funcionários, vários projetos em andamento, sendo quatro no seg-mento de juventude, e um orçamento de R$ 4 milhões em 2007, em razão de parcerias, principalmente com empresas. “Acho que surgimos no lugar certo, na hora certa, com a idéia certa”, diz Denis.

A hora e o lugar certos vinham a reboque de uma pesquisa que colo-cava, pela primeira vez, a violência e a segurança como primeiras preocu-pações do paulistano. Outros estudos divulgavam que quem mais matava e morria eram jovens, que em 90% dos casos o crime envolvia armas de fogo e que 60% desses homicídios tinham motivos banais. “A motivação para nós, estudantes, agirmos era gritante: nossa gente está se matando à toa”, lembra Denis. Na idéia que resultou na campanha, certeira foi a abordagem: “Não pedíamos repressão, vingança. A proposta era inovadora, falava de paz, mudança de atitude. Assim, conquis-tamos parceiros importantes e a visi-bilidade necessária, inclusive o símbolo que se tornou nacional: a pomba feita com as mãos”, conta Denis.

O símbolo virou marca do Sou da Paz, que nasceu quebrando o para-digma que envolvia o debate sobre violência – “histérico e estéril”, se-gundo Denis. De um lado, a visão con-servadora, de resolver a questão com mais repressão. De outro, o discurso progressista postulando somente o ataque das causas sociais, ainda que isso demore décadas. “Não acreditáva-mos somente em porrada ou somente em cesta básica, mas em combinar

prevenção com repressão, na perspectiva dos direitos humanos, atuando nas comunidades com os jovens, o governo e a polícia. A solução estava na resolução pacífica de conflitos e, para isso, era preciso trabalhar a violência nos lugares violentos, o que nenhuma organização fazia na época. Foi um de nossos diferenciais estratégicos”, afirma Denis.

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A AÇÃO DO INSTITUTO SOU DA PAZ TORNOU-SE REFERÊNCIA DE UMA NOVA ABORDAGEM DO TEMA AO COMBINAR FOCO ESPECIAL NA JUVENTUDE, MOBILIZAÇÃO E PARCERIAS

Na página oposta, garota faz grafitagem promovida pelo Sou da Paz; à dir., reunião de jovens envolvidos com projeto do instituto

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Em algumas escolas os grêmios não tiveram continuidade. O projeto foi repensado. Segundo Marcus, três eram os principais “gargalos”: a falta de uma cultura de participação política por parte dos jovens; falta de projeto pedagógico nas instituições de ensino, e constante troca de diretores nas es-colas, comprometendo o diálogo com os estudantes. “Era a hora de inovar diante da dificuldade”, diz Denis. O pro-jeto, rebatizado de Rede de Grêmios, ganhou nova metodologia, envolvendo o professor. “Ele agora é a figura de re-ferência para o grêmio e para a cultura de diálogo e participação que se abre na escola. O professor e os alunos têm encontros mensais”, diz Góes.

Confiança para a pazOutros três projetos do Sou da Paz

envolvem diretamente os jovens: o Criança Esperança que, em São Paulo, é tocado pela instituição e consiste na requalificação de centros comunitários para oferecer atividades a crianças, adolescentes e jovens; o Praças da Paz, que é a segunda edição do projeto Pólos da Paz; e o Juventude e Gênero em Espaços Públicos, iniciativa que surgiu de um questionamento no Pólos da Paz – por que as meninas ocupam menos o espaço público do que os me-ninos? – e virou ação. Nesse projeto, realizado nos bairros do Campo Limpo e Jardim Ângela, seis grupos de jovens foram capacitados para dar formação em encontros comunitários, discutin-do relações de gênero e realizando experiências artísticas. Uma exposição refletirá o diálogo construído.

da diversidade. De tudo isso, resultava a instalação do grêmio. O retorno era maior participação e melhor convivência do aluno na escola e menos agressões e depredações”, diz Góes.

Diones Costa Gomes Ferreira, 18 anos, participou da experiência em uma escola do Jardim Ângela, Zona Sul de São Paulo. “Já tínhamos um grêmio, que só servia para or-ganizar festa. Aprendemos a transformá-lo num canal real de participação, de desenvolvimento de projetos e até de melhoria do ensino na escola. Os projetos mobilizavam os estudantes. Antes, sem motivação, eles brigavam à toa. Pessoalmente, meu aprendizado foi fantástico. Fui eleito presidente do grêmio, ganhei muita responsabilidade, era cobrado, tinha de servir de exemplo. Mas ganhei no troco: tinha reconhecimento na comunidade. Hoje, meu vice é o presidente”, conta Diones.

Outro foi o foco na juventude. Os dados mostravam os maiores índices de homicídios na faixa de 15 a 24 anos, principalmente nos bairros da periferia de São Paulo. “A juventude é fase de aprendizado, inquietação, questionamento. A escolha de traba-lhar positivamente essa potência tem efeito estratégico para a construção da paz”, diz Marcus Góes, 30 anos, coordenador da Área de Adolescência e Juventude do Instituto.

Valor da militânciaO primeiro projeto da organização,

Grêmios em Forma, iniciado em maio de 2000, somou as definições estra-tégicas com o passado de militância estudantil do grupo. “A gente vinha dessa realidade e resolveu apostar nessa experiência para fomentar a criação de grêmios em escolas públi-cas como forma de diminuir a violên-cia”, explica Denis. O financiamento para o projeto resultou de outra carac-terística que o Sou da Paz preza como meta permanente: o diálogo com o poder público, construído na época da campanha do desarmamento. O pro-grama Paz nas Escolas, da Secretaria dos Direitos Humanos do Ministério da Justiça, apoiou a iniciativa. Um mape-amento junto à polícia definiu os alvos de atuação: os bairros com os maiores índices de criminalidade na cidade. Uma consulta a interlocutores nas co-munidades apontou as escolas mais problemáticas. Foram 9 em 2001, até chegar a 21 escolas, em 2005, último ano do projeto. “Atuávamos com as diretorias das escolas, aumentando o diálogo da instituição com os alunos. Com os jovens, trabalhávamos muito a questão das relações, do acolhimento

Jovens participantes do projeto Grêmio em Forma: militância pela

paz estimulada na escola

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brE PROJETOS ESPAÇO CRIANÇA ESPERANÇA, PROJETO JUVENTUDE E GÊNERO, REDE DE GRÊMIOS PELA PAZ,

PRAÇAS DA PAZ, DO INSTITUTO SOU DA PAZATUAÇÃO SÃO PAULO/SPPROPOSTA Redução da violência por meio do fortalecimento da vivência comunitária, criação de canais para a solução pacífica de conflitos nas escolas, estímulo à prática da cidadania e do empreendedorismo juvenil, na perspectiva dos direitos humanos. JOVENS ATENDIDOS 450 crianças, adolescentes e jovens de 8 a 24 anos, mensalmente, no Espaço Criança Esperança; cerca de 500 estudantes gremistas de escolas públicas, de 2001 a 2005; mais de 30 mil jovens nas regiões de revitalização de praças, de 2007 a 2010; 130 jovens no projeto Juventude e Gênero.APOIO Unesco, Rede Globo, Prefeitura da Cidade de São Paulo, Sul América, Em Power, Banco Santander, Secretaria Estadual de Educação de São Paulo CONTATO Rua Luiz Murat, 260 – CEP 05436-050 – São Paulo /SP, tel./fax: 11/3812-1333; site: www.soudapaz.org

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O Praças da Paz, iniciado este ano, objetiva revitalizar praças públicas na periferia de São Paulo, criando espaços para cultura, esporte e cidadania. Os principais agentes da paz são os jovens, mobilizados para o cuidado, o investimento e a ocupação democrática das praças. “A ocupação promovida pela revitalização dos es-paços de forma coletiva restabelece as relações de confiança. O espaço público se torna um local de aprendi-zado para a negociação de interesses coletivos e a resolução dos conflitos pelo diálogo”, diz Marcus, acrescen-tando que todos os programas com jovens envolvem oficinas de forma-ção, que os preparam para atuar em suas comunidades na perspectiva de garantir direitos humanos.

“Os programas sempre se iniciam com a construção de vínculos na comunidade, para a construção de re-lações de confiança. Vão quatro, cinco reuniões até algo deslanchar. Enfren-tamos resistências, disputas, mas a gente fica e logo diz que não vai ficar para sempre, que temos metas, pra-zos. Vamos especialmente ajudando a abrir portas, criando espaço real de participação e decisão, agindo como facilitadores na abertura de pontes para o diálogo”, conta Denis.

Boas práticas e desafiosA atuação nas comunidades é

combinada ao trabalho com órgãos policiais, como o projeto Polícia Escola, de capacitação de policiais militares para atuar com segurança nas insti-tuições de ensino, e o Prêmio Polícia

Cidadã, em que o Sou da Paz acompanha, identifica e premia boas práticas policiais. “Essa ação valoriza o policial, incentiva a replicação da boa prática e permite que a população saiba dela e reclame sua adoção por todos os policiais”, explica Denis.

O conjunto de ações permitiu ao Sou da Paz acumular conhecimento sobre as questões da violência e as po-líticas de segurança pública, tornando-se um parceiro desejável para a implantação de projetos na área. E ser referência gera receita. O Instituto já deu consultorias, por exemplo, para os municípios de Diadema, São Bernar-do e a Prefeitura de São Paulo. Nesta, o projeto piloto São Paulo em Paz foi transformado este ano, por decreto, em um programa municipal. “A gente quer isso: influenciar a ação do poder público, não substituí-lo”, diz Denis.

Projetos de intervenção estratégica que articulem cada vez mais as comunidades com o poder público e a polícia são uma das metas do Instituto. Até 2011, a organização também tem planos de trabalhar em três novas áreas: cultura e valores, para influenciar diretamente o com-

ESTUDANTES, OS FUNDADORES DO SOU DA PAZ, DESCOBRIRAM QUE QUEM MAIS MORRIA ERAM OS JOVENS. E DECIDIRAM INVESTIR NA PARTICIPAÇÃO JUVENIL PARA SUPERAR UM DEBATE QUE ERA HISTÉRICO E ESTÉRIL

portamento relativo à violência; justiça criminal, contemplando o aprimora-mento de leis, e sistema prisional. “Sempre pensamos grande. Nosso lema é dar passos até 1/3 maiores que as pernas”, diz Denis.

Acima, jovens se reúnem em festa; abaixo, festa junina no Espaço Criança Esperança, em São Paulo

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ÉrIco HILLer / Sou da Paz25

horizonte global

A PSICÓLOGA AMERICANA DIANE

TILLMAN DIZ QUE A PROMOÇÃO DA

PAZ NÃO PODE SE BASEAR APENAS

NA EDUCAÇÃO DAS MENTES

Pequenas demonstrações de respeito podem mu-dar a vida de uma criança ou de um jovem, criando as condições para que se viva em um ambiente de paz e amor. Esta foi uma das descobertas feitas por Diane Tillman nos 23 anos em que trabalhou como psicóloga em escolas públicas nos Estados Unidos, fazendo aconselhamento para pais e lidando com jovens e crianças com problemas de comportamento. Respeito, amor e paz estão entre os doze valores em que se baseia o seu trabalho atual, como diretora e principal autora de livros do Programa Vivendo Valores na Educação (VIVE), que tem o apoio da Unesco e atua em 85 países, inclusive no Brasil, onde trabalha em parceria com a organização Brahma Kumaris (www.vivendovalores.org.br). Esta instituição desenvolve projetos para educadores e também atua diretamente com jovens e crianças em situação de risco – mora-dores de rua, usuários de drogas, vítimas de guerras e catástrofes. A metodologia se apóia em 12 valores básicos e universais, com o objetivo de dar a esses jovens e crianças uma nova perspectiva de vida e a possibilidade de alterar comportamentos inadequados e agressivos.

Tudo começou com uma pesquisa, realizada em 1995, em que os entrevistados eram solicitados a visualizar e descrever “um mundo melhor”. Milhares de pessoas, crianças e adultos foram entrevistados em 129 países, e as respostas revelaram que, na essência, o sonho era o mesmo para todos, inde-pendentemente da religião, cultura e classe social, e

sempre se baseava em 12 valores: paz, respeito, amor, cooperação, liberdade, felicidade, honestidade, humildade, responsabilidade, tole-rância, simplicidade e união. No ano seguinte, um grupo de educadores se reuniu na sede do Unicef, em Nova York, para discutir o resultado da pesquisa e daí surgiu a VIVE (LVEP, na sigla em inglês), que trabalha pela adoção desses valores.

Autora de 12 livros, Tillman está, aos 58 anos, escrevendo um livro para crianças. Ela deu a seguinte entrevista para Onda Jovem.

EDUCANDO COrAçõEs

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Por _ Cecília DouradoIlustração _ Marcelo Pitel

Onda Jovem: Como esses doze valo-res se aplicam aos jovens?

Diane Tillman: Os doze valores são universais, ou seja, são valores humanos. Ensinam-nos a tratar com dignidade todas as pessoas, o que promove o bem-estar dos indivíduos e da sociedade. A experiência nos mostra que todo jovem se importa com os valores e tem a capacidade de criar e aprender, desde que tenha oportunidade. O jovem reage diferen-temente quando você acredita que ele é bom e o respeita. Criando-se uma atmosfera baseada em valores, o aluno vai para frente e aprende a fazer escolhas com consciência so-cial. Temos muitos casos de jovens violentos que se tornaram exemplos de convivência pacífica com colegas e líderes.

Qual é o papel da escola e do sistema educacional na promoção da paz?

É essencial que a escola promova a paz, pois a edu-cação é o meio básico de criar mudança na sociedade. A maioria das escolas em todo o mundo ensina os alunos “a fazer” e “a saber”. Como diz Jacques Delors no seu livro Educação, um Tesouro a Descobrir, tam-bém devemos ensinar “a aprender a viver uns com os outros” e “a ser” para combater a intolerância e falta de coesão social. Se educarmos os corações e não apenas as mentes, as pessoas podem começar a aplicar os princípios da paz e do respeito nas suas interações diárias com familiares, colegas e amigos, e também nas suas práticas profissionais.

“A EXPERIÊNCIA MOSTRA QUE TODO JOVEM SE IMPORTA COM OS VALORES E TEM CAPACIDADE DE APRENDER E SE DESENVOLVER, DESDE QUE TENHA OPORTUNIDADE”

É fácil confundir paz e segurança. Qual a diferença entre esses dois conceitos?

Paz e segurança são estados em que uma pessoa sente que não corre perigo. Mas a “segurança” muitas ve-zes é garantida pela violência. Pode-se chamar de segurança, mas nunca de paz, ter diversos guarda-costas. A paz é muito mais que a ausência da guerra ou violência. Para a pessoa, a paz é um estado de bem-estar e tranqüilidade. Entre grupos, a paz é um estado de aceitação e justiça.

Como promover a paz e os outros valores detectados pela pesquisa?

O mais importante para iniciar a construção da paz é explorar o seu próprio coração. Por que você quer a paz? Como você se sentiria se houves-se paz – no seu coração, com os seus amigos e familiares, na sua escola ou local de trabalho, na sua cidade, no seu país, no mundo? Este é o ponto de par-tida. Abrindo-se para as suas próprias idéias sobre o assunto, as pessoas ficam mais motivadas para criar um ambiente de paz. Os jovens devem aprender a encher a si mesmos de paz, amor, respeito e força. Também incentivamos os jovens e crianças a criar paz na arte, com poesias, textos, teatro, música e dança.

Não há o risco de, ao tentar promover a paz, sufocar ou eliminar os conflitos?

Nós ensinamos a resolução dos conflitos e não a sufocá-los. Proporcionamos atividades que ajudam jovens e crianças a ouvir, entender e identificar os sen-timentos dos outros e os seus, e a se comunicar. Nós os ajudamos a desenvolver habilidades para lidar com as relações intrapessoais e interpessoais. Queremos que crianças e jovens consigam pensar independentemente e que visualizem diversos resultados para as suas ações. Ajudá-los a pensar em alternativas pode ser uma grande proteção porque eles aprendem que têm o poder de fazer escolhas, que podem reagir a um determinado problema de maneira construtiva e não apenas com raiva, e isso contribui para a segurança deles.

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Não acontece de os jovens se sen-tirem ressentidos com atividades sobre paz, como se se tratasse de uma “doutrinação”?

A nossa metodologia leva os educa-dores a ajudar os jovens a se sentirem amados, respeitados, valorizados, compreendidos e seguros. Nenhuma das atividades é “moralizadora”, e a relação entre professores e alunos não é dogmática. Pelo contrário, os educa-dores ajudam os jovens a desenvolver os seus próprios valores. Pergunta-mos a eles o que contribui para que eles sintam paz, como eles e outros se sentem quando as coisas ruins acontecem. As atividades ajudam a desenvolver a capacidade de comuni-cação construtiva e atitudes que criam cooperação. Por exemplo, se alguém diz alguma coisa discriminatória sobre outra pessoa, o jovem pode dizer algo como “o mundo não seria muito inte-ressante se fôssemos todos clones”. Ele se afirma e deixa bem claro que não concorda com o que o outro disse, mas sem ser agressivo.

Como é a expressão da violência humana? Há diferen-ças significativas na situação de vítimas de guerra, violência urbana ou doméstica?

A expressão da violência humana é a degradação de outra pessoa. Em cada situação de violência crianças e jovens são feridos e ficam traumatizados. Faz uma grande diferença na vida dessas vítimas se convivem com adultos que as amem e cuidem delas. Com o apoio de adultos, crianças e jovens conseguem entender o que aconteceu e interagir com outros com respeito, amor e paz. A partir da discussão de sua própria ex-periência, começam a entender por que as pessoas agem de forma negativa – violência doméstica, tráfico e uso de drogas, abuso sexual e brutalidade – e pas-sam a explorar valores, a construir a auto-estima e a desenvolver a capacidade de interagir socialmente de forma positiva.

Vamos fazer de conta que a senhora está respondendo àquela pesquisa de 1995. Qual é o seu sonho para a humanidade?

Um mundo em que todos recuperem os seus valores naturais de paz, amor, honestidade e respeito – conse-guindo assim viver em paz, bondade e felicidade. O meu sonho é que cada criança seja criada, cuidada e alimen-tada de forma saudável e que cada homem e mulher seja tratado e trate os outros com respeito e dignidade. Também tenho esperança de que todos nós possamos dar um passo adiante e tratemos a nossa preciosa mãe Terra com esse mesmo amor e respeito.

O que a senhora tem a dizer para os jovens brasileiros?

Cada um de vocês é importante. Cada sorriso e cada ato de bondade, paz e afeição é inestimável. Muitas pessoas se sentem rejeitadas, des-percebidas ou intimidadas e amea-çadas. Não se deixe desanimar com a situação em que o mundo está. Pelo contrário, fique ainda mais determi-nado a dar uma contribuição, a deixar a sua marca positiva. Faça um diário e escreva sobre os seus sentimentos todos os dias. Aprenda a aceitar, amar e ter paciência consigo mesmo, e as suas boas qualidades vão florescer. Quando agimos de acordo com os nossos valores, fazemos uma dife-rença positiva e a nossa harmonia e felicidade aumentam.

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sextante

Sessenta anos depois do conflito que levou à fundação das Nações Unidas e da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), o mundo se encontra mais uma vez em posição de transformar a cultura de violên-cia, que é predominante, em cultura de paz. Hoje, o desafio consiste em encontrar os meios de mudar definitivamente atitudes, valores e comportamentos, a fim de promover a paz e a justiça social, a segurança e a solução não violenta de conflitos.

Para nós, a contribuição para a paz e a segurança se faz por meio da educação, da ciência e da cultura, favorecendo o respeito universal à justiça, ao estado de direito e aos direitos humanos e às liberdades fun-damentais. Para atingir tal objetivo, é preciso que haja cooperação com os três níveis de governo, com o poder legislativo e a sociedade civil, cons-truindo uma imensa rede de parcerias e educando para a cultura de paz. É importante lembrar que os progra-mas de cultura de paz estão voltados não apenas para a prevenção das guerras declaradas entre países, mas visam às guerras anônimas travadas nas periferias das grandes cidades, por exemplo.

A cultura de paz está baseada em tolerância e solidariedade, no com-partilhamento e respeito aos direitos individuais. Suas diretrizes apontam caminhos para resolver problemas como exclusão, pobreza extrema e degradação ambiental por meio do

MEIOS PARA MUDAR

diálogo, da negociação e da mediação, destacando sempre os valores essenciais da vida democrática. Transformar esses valores em realidade na vida coti-diana é um dos nossos maiores desafios.

A mudança no padrão econômico também é funda-mental para a promoção da cultura de paz. É preciso que o desenvolvimento econômico passe por uma transição para que as práticas econômicas que visam somente ao mercado e criam modelos excludentes e concentradores de renda evoluam para práticas que busquem, além da competição, o desenvolvimento sustentável das populações, sem o que é impossível alcançar uma paz duradoura.

Jovens protagonistasAs ações de cultura de paz e inclusão social preci-

sam estar associadas à igualdade de oportunidades. No Brasil, a população jovem representa cerca de 35 milhões de pessoas. Metade disso vive abaixo da linha de pobreza, com acesso precário a bens e serviços públicos, como educação e saúde.

Por _ Marlova Jovchelovitch Noleto

Por isso, temos uma linha de pes-quisa voltada para temas relativos a juventude, violência e cidadania que aborda questões que afetam direta-mente a população dessa faixa etária. As pesquisas são feitas para subsidiar a formulação de políticas públicas que visem à inclusão social, utilizando elementos da cultura de paz.

Um dos pontos comuns identifica-dos até agora, quando se analisam as experiências exitosas de combate à violência no Brasil, é a importância da participação dos jovens como protagonistas do processo. Acre-ditamos na importância da criação de redes de prevenção da violência apoiadas por diferentes parceiros, utilizando alternativas já existentes na própria comunidade, dando voz e vez aos jovens. Ainda de acordo com as pesquisas, a arte, o esporte, a educação e a cultura aparecem como elementos estratégicos para a ressignificação da violência e a construção de canais de expressão alternativos que trabalhem a afirma-ção positiva da identidade juvenil.

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A TRANSFORMAÇÃO DA CULTURA DE VIOLÊNCIA EM CULTURA DE PAZ INCLUI A IGUALDADE DE OPORTUNIDADES, QUE DEVE SE ESTENDER AOS JOVENS

Marlova Jovchelovitch Noleto é coordenadora de Ciências Humanas e Sociais da Unesco no Brasil

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Nessa perspectiva, vários programas ancorados na construção da cultura de paz têm na educação seus elementos fundamentais. Um bom exemplo é o Programa Abrindo Espaços e o Escola Aberta, desenvolvidos em parceria com o Ministério da Educação, em vários estados do Brasil. O Programa consiste na abertura das escolas pú-blicas nos fins de semana, com oferta de atividades de arte, esporte, cultura e lazer. No pátio de milhares de escolas brasileiras, jovens de gangues rivais, que até então só se encontravam em conflitos, passam a se reunir para jogar futebol, fazer teatro e tantas outras atividades. É uma ação de inclusão social, baseada na cultura de paz, com forte componente de redução da violência e com foco nos jovens, que são a sua principal vítima. As escolas do Programa abrem justamente aos sábados e domingos, dias em que os índices de violência aumentam de modo significativo.

O Abrindo Espaços contribui ainda para a transformação do ambiente escolar e da prática pedagógica. Os pátios viram espaços de cidadania, e o processo de abertura das escolas “empodera” os jovens e a comunidade, que, em muitos lugares, se uniram à direção na gestão do projeto.

Acreditamos que o único caminho possível para o desenvolvimento de qualquer nação é a educação. É fazendo a chamada “revolução social pela educação” que se construirá uma sociedade mais solidária e justa, em que o respeito aos direitos humanos e à diversidade se traduzam concreta-mente na vida de cada jovem cidadão, sem perder de vista o espaço para a pluralidade e o direito à vida sem violência.

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paz e escola

PALCO DE ENCONTROS

90º

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A EDUCAÇÃO PARA A PAZ DEMANDA A HUMANIZAÇÃO DAS RELAÇÕES ENTRE A ESCOLA E OS JOVENS

Por _ Kelma Socorro Lopes de Matos

Construir a paz, para muitos, ainda significa ser passivo. Essa compreen-são vem do conceito de pax romana, traduzido por “quietude”. A paz posi-tiva, ao contrário, admite a existência de conflitos e propõe que possamos lidar com eles criativamente, como elementos para o “desenvolvimento” pessoal e coletivo, pois o mesmo conflito pode receber tratamentos diferentes, de acordo com o estado emocional de quem o vivencia. Assim, a construção da paz demanda um processo contínuo de cooperação e compromisso para que as partes envolvidas garantam, pelo menos, o respeito mútuo.

A paz é um valor que incentiva o res-peito aos direitos humanos, acolhendo “o diferente” no exercício de diálogo. Assegura, portanto, a expressão da diversidade (étnica, racial, sexual, religiosa) por meio da promoção da so-lidariedade e da tolerância, nos vários espaços de convivência social. A escola é um desses espaços que, para além dos conteúdos, tem a possibilidade de formar e estimular educadores e jovens para a construção de uma cultura de paz.

No Brasil, há exemplos de inicia-tivas bem-sucedidas que investem na formação de educadores, como o Programa Vivendo Valores na Educa-ção e o Programa Sathya Sai Educare, promovido pelo Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil. É importante, ainda, mencionar o Programa Nacional Paz nas Escolas, criado em 2000 pelo Governo Federal (Secretaria Especial dos Direitos Humanos) que, entre outras ações, capacita professores com materiais que abordam assuntos como ética e direitos humanos. Uma das ações significativas desse progra-ma tem sido o projeto Escola Aberta, que trouxe a presença de estudantes e da comunidade em geral – nos fins de semana – para dentro de muitas escolas.

Há relatos também de instituições escolares que vêm atuando na pers-pectiva da construção de valores positivos, por meio de ações simples, como a do Centro Integrado de Ensino Público (CIEP) Mestre Cartola, no Rio de Janeiro, que realizou um trabalho

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90º

de recuperação da auto-estima em que os educadores, cotidianamente, incentivaram a convivência pacífica. Há ainda o caso da Escola Estadual Professor Renato Arruda, em São Paulo, que teve uma jovem aluna assassinada no pátio do colégio, que era marcado pela depredação. A escola passou a ser aberta à participação comunitária e obteve bons resultados. Na Bahia, jovens alunos da Escola Estadual Padre Palmeira, ao assistirem à peça “Cuida Bem de Mim” (1998, voltaram para a sua escola e realizaram um mutirão: ajeitaram carteiras, pintaram paredes, substituíram as pichações por grafitagem. Re-solveram expressar carinho pelo local onde estudam.

Destacamos, ainda, nessa mesma direção, o estudo que realizamos na Escola Parque 210/211 Norte, em Brasília, que passou a trabalhar com a terapia alternativa Reiki com os jovens alunos. O projeto foi aprovado pela Secretaria de Educação do Distrito Federal, e na escola existe espaço adequado para atender a demanda dos alunos e também da comunidade local.

Apesar desses programas, e de tantos outros que ainda não ganharam a visibilidade necessária, a violência na escola continua identificada com os jovens alunos, estigmatizando-os, quando deveriam ser percebidos pelo potencial positivo que trazem, como exemplos de revitalização social.

Diante dessa constatação, é impor-tante analisar os estudos com foco no tema juventudes e violência nas escolas, baseados em questões como: o que estamos fazendo com os dados resultantes para tornar mais segura a vida dos jovens? Como esses estudos têm considerado a construção da paz nas escolas?

O que se depreende é que, na con-tramão do discurso genericamente propagado, de que são “rebeldes, marginais, irresponsáveis e apáticos”, os jovens buscam encontrar na escola mais do que um aprendizado padrão, pois esta deve ser, sobretudo, um local onde outros saberes florescem, regados pela criatividade juvenil.

Palco de diversidadeA causa mais freqüente atribuída

ao excessivo número de casos de violência foi o aumento de matrículas a partir de 1997. O ingresso no sistema educacional cresceu em demasia e provocou um choque de culturas entre os que estavam mais habituados com a liberdade e saberes das ruas e os que desejavam a disciplina tradicional, já conhecida em suas salas de aula. A verdade é que a escola nem sempre

À ESCOLA CABE HUMANIZAR UM ESPAÇO QUE FOI SE TORNANDO ESTRANHO PARA OS QUE NELE ENSINAM, ESTUDAM, CONVIVEM

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Daniele Vuoto, 21 anos, é gaúcha e mantém o blog “No

More Bullying” (http://nomorebullying.blig.ig.com.br), sobre a agressão física e

psicológica entre colegas

“Minha vida escolar começou bem, mas, com o tempo, eu me tornei uma vítima dos colegas. Os motivos eram banais: eu ser muito branca, muito loira, as notas altas. Aos 14 anos, mudei de escola, mas o pesadelo continuou. E o pior: alguns professores apoiavam as atitudes dos meus colegas. Troquei de escola de novo e dei sorte! Mas, na escola de ensino médio, mais

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do que nunca eu era tida como a diferente. Afinal, 15 anos e não usar roupas de marca, não querer ir a festas, e tirar nota alta – para eles, aquilo não podia ser normal. Fui me deprimindo cada vez mais. Ia caminhando até a escola, e parei de olhar ao atravessar a rua. Para mim, morrer seria lucro. Tive problemas de saúde e fui internada. Comecei a pesquisar sobre o bullying – nem sabia que tinha esse nome, em inglês. Só achava informações em sites internacionais. Aí, resolvi criar um blog, para ajudar estudantes e alertar pais e professores. Eu, a cada humilhação, pensava: “Devo ser estranha, mesmo”. É um erro pensar assim. É o que tento ensinar às vítimas: que nunca acreditem no que dizem de ruim. Avisem seus pais ou outra pessoa. Não é vergonha ser vítima, e pedir ajuda é o diferencial. Na escola, se nada for feito, façam a lei ser obedecida, encaminhando o caso ao conselho tutelar. Hoje, curso Pedagogia e estou noiva. A maior lição que aprendi é que devemos acreditar que as coisas podem mudar, e lutar pra isso!”

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Kelma Socorro lopes de Matos é professora-doutora do Departamento de Fundamentos em educação, do Programa de Pós-graduação em educação Brasileira e do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento ambiental da universidade Federal do Ceará. É organizadora do livro “Juventudes, Cultura de Paz e Violências na escola”.

Quando a escola trata os jovens como sujeitos, ela os respeita e promove o diálogo. este é o sinal que os jovens esperam para que se concretize um encontro de grande significado para ambos

respeita os traços culturais da comu-nidade, impondo uma violência que se concretiza, por vezes, na super-valorização do saber “científico” em detrimento do saber popular.

Há os que acreditam que o “desca-so” de escolas para com os seus alu-nos e a comunidade provoca conflitos que apontam a “falta de tudo” nesse espaço. De fato, esses conflitos não têm sido resolvidos com punições, presença da polícia, detectores de metais, e menos ainda com conteúdos curriculares distantes das questões cotidianas. A mídia também é aponta-da como co-responsável pelo aumento da violência juvenil na escola, porque destacaria sempre atos nocivos indi-viduais, que aparecem como coletivos, e, por outro lado, não disseminaria experiências juvenis bem-sucedidas.

O fato é que a escola, de forma geral, tem encontrado pouca facilidade para lidar com o tema da paz, de maneira mais ampla. O que deveríamos fazer, então, para superar essa condição e irmos além das experiências pontuais? Algumas pistas podem ser pensadas nesse sentido: o diálogo com alu-nos e a comunidade, por exemplo, apresenta-se como a forma mais efetiva de construir a paz; a formação contínua e universal de educadores para e pela paz é outra ação impor-tantíssima a ser assumida pela política pública educacional, assim como o incentivo ao trabalho com o jovem como ser integral, reconhecendo e estimulando suas potencialidades; e as experiências positivas com jovens e escolas devem ser mais divulgadas pelos meios de comunicação.

Percebemos que os caminhos mais gratificantes estão sendo tri-lhados a partir de potencialidades

dos sujeitos ligados à escola, sempre na perspectiva da valorização desse espaço. O que cada instituição escolar deve fazer para solidificar essas parcerias aponta não apenas para a melhoria das condições físicas, mas, essencialmente, para a humanização de um espaço que foi se tornando estranho para os que nele ensinam, estudam, convivem.

Quando a escola trata seus alunos como sujeitos, ela os respeita, estabelecendo o diálogo com eles, valorizan-do suas idéias, estimulando-os à participação – este é o sinal que os jovens esperam para que se concretize um encontro de grande significado para ambos. É fundamen-tal, então, redescobrir a escola por meio do acolhimento, da amorosidade, da confiança, do cuidado com o outro, da construção da paz nessa instituição.

180ºpaz e segurança

Ao longo da minha vida, e também da minha carreira de Policial Militar, sempre ouvi as pessoas falarem da paz e por ela se mobilizarem. Nos últimos anos, os movimentos

foram mais intensos e mais divulgados, principal-mente aqueles ocorridos após perdas trágicas e violentas. Entretanto, a perda de uma pessoa, nessas condições, deve ser considerada o ponto máximo da falta de paz. Não podemos esperar

que vidas inocentes sejam ceifadas para que, só então, nos manifestemos pela paz. Ela deve ser

construída e conquistada no dia-a-dia, observando-se os mínimos detalhes para a sua consolidação.A paz, tão almejada por todos, tem de começar a ser

construída dentro da principal célula da sociedade – a família. Famílias desestruturadas têm sido, na maioria das vezes, a causa da vida sem paz, tendo em vista que, se não houver harmonia entre pais, filhos, irmãos e ou-tros integrantes do lar, isso vai se refletir negativamente na relação com outros grupos sociais, como vizinhança, escola, trabalho etc.

O perfeito exercício da cidadania também tem reflexos bastante po-sitivos na busca pela paz, pois, com certeza, se todo integrante de um gru-po social, seja ele qual for, tiver consci-ência dos seus direitos e deveres, não haverá desentendimentos devidos à perturbação do sossego de cada um. Mesmo ações aparentemente simples, como excesso de ruídos, lixo colocado em locais indevidos, brigas no trânsito, veículos estacionados sobre faixas de

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UM CONJUNTO DE ESFORÇOS, ENVOLVENDO DIFERENTES SEGMENTOS SOCIAIS E PRINCIPALMENTE OS JOVENS, TRANSFORMA A VIOLENTA REALIDADE DE UMA REGIÃO MINEIRA

Por _ Wilmar Ferreira da Silva

pedestres ou em locais proibidos, por várias vezes, terminam em tragédias.

Outro empenho indispensável para que a paz possa reinar em qualquer grupo é o que deve ser dedicado à pre-venção às drogas. Estas têm destruído famílias e entrado na vida de muitos jovens de maneira precoce, levando-os à prática de crimes, geralmente contra o patrimônio, para que possam sustentar o vício, às vezes subtraindo os bens materiais dos próprios lares. Como é sabido, a dívida oriunda do tráfico de drogas é paga com dinheiro, bens materiais, ou com a própria vida. Num segundo momento, falhando a prevenção, esse empenho tem de ser direcionado à repressão qualificada e à recuperação daqueles que já estão escravizados pelo uso da droga.

Árdua construçãoSabemos que a missão pela cons-

trução da paz é árdua, especialmen-te numa sociedade tão degradada pelo materialismo, pelo consumismo

e que não tem cultuado valores importantes para a vida em grupo. Todavia, temos de acreditar que, com trabalho sério, fé em Deus e a cumplicidade de todos os atores envolvidos em tão nobre missão bons re-sultados surgirão.

Exemplo disso está sendo vivenciado na localidade que está, no que diz respeito ao policiamento ostensivo, sob a responsabilidade da Companhia de Polícia Militar que hoje comando – a 69ª Companhia PM do 35º Ba-talhão de Polícia Militar de Minas Gerais –, formada pelo Conjunto Palmital e outros cinco bairros da cidade de Santa Luzia, na região metropolitana de Belo Horizonte. Composta por um grande aglo-merado urbano, com população estimada em aproximadamente 80 mil pessoas, algumas pobres e outras abaixo da linha da pobreza, a área sempre foi conhecida pela violência e pelo alto índice de criminalidade, principalmente pelos crimes contra a vida.

A PRÁTICA DE UMA UTOPIA n

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180º

A realidade dessa localidade come-çou a mudar a partir de julho de 2004, quando foi instalada, na principal praça do Conjunto Palmital, a 69ª Companhia de Polícia Militar e, em março de 2005, o Núcleo de Prevenção à Criminalida-de, da Secretaria de Estado de Defesa Social de Minas Gerais, onde passaram a funcionar os programas Fica Vivo! e Mediação de Conflitos.

Juntos, Polícia Militar e Núcleo de Prevenção, com o apoio da Prefeitura Municipal de Santa Luzia, conseguiram mobilizar outros órgãos do Sistema de Defesa Social, como Polícia Civil, Minis-tério Público, Poder Judiciário, além da iniciativa privada e, em especial, os jovens das diversas comunidades que começaram a se envolver de forma mais efetiva, quando foram chamados a serem protagonistas neste processo de construção da paz.

Fica Vivo!No Programa Fica Vivo!, voltado para a redução de

homicídios, que atende a jovens de 12 a 24 anos em oficinas de esporte, lazer, inclusão produtiva e comuni-cação, eles têm oportunidade de passar da condição de atendidos à condição de multiplicadores e, desta, a ofi-cineiros, sendo construída com eles outra forma de lidar com os conflitos, as diferenças, o respeito ao próximo, o valor da educação formal, além de outros valores. Ainda dentro da dinâmica do programa, existem momentos em que a polícia e os jovens se encontram para discutir vários temas, tais como a abordagem policial e a visão dos jovens em relação à polícia e vice-versa, o que tem ocasionado o surgimento de importantes lideranças juvenis para a consecução dos objetivos propostos.

Por meio de reuniões com os envolvidos nesse processo pela paz, buscou-se mudar a imagem local e oferecer aos seus moradores uma melhor qualidade de vida, com programas que vêm sendo desenvolvidos além das oficinas do Fica Vivo!, como as intervenções dos técnicos do programa Mediação de Conflitos, as ações sociais da prefeitura local, melhoria na iluminação

pública, escolinha de atletismo e mú-sica, limpeza de terrenos baldios e de logradouros, revitalização de espaços públicos, participação mais efetiva da comunidade nas reuniões do Conselho Comunitário de Segurança Pública (Consep) e palestras sobre cidadania e prevenção às drogas.

Há de se destacar, também, a criação do Grupo Especializado em Policiamento de Áreas de Risco (Gepar) que, com uma doutrina própria de execução do policiamento ostensivo, baseada nas filosofias do policiamento comunitário e dos direitos humanos, atua junto às comunidades nos locais de maior vulnerabilidade social e criminal, ajudando os moradores em suas demandas diárias, buscando mostrar que o Estado oficial ali se faz presente, angariando a confiança e a simpatia desses moradores, evitando a instalação do estado paralelo volta-do para o tráfico de drogas e outras modalidades criminosas.

Outra iniciativa é o Programa Edu-cacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd), ministrado a alunos de quartas e sextas séries e que obje-tiva evitar que crianças e adolescentes em fase escolar iniciem o uso de dro-gas, despertando-lhes a consciência para este problema e também para a questão da violência.

100 dias sem homicídioA parceria com os diversos atores

tem se mostrado eficiente, pois a cida-de de Santa Luzia, que durante muitos anos freqüentou os quatro primeiros lugares no ranking das mais violentas do estado de Minas Gerais, hoje ocupa a 37ª posição, com tendência a melho-

OFICINAS PARA OS JOVENS, ENCONTROS ENTRE COMUNIDADE E POLÍCIA, POLICIAIS QUALIFICADOS, MEDIAÇÃO DE CONFLITOS E ATÉ MAIS ILUMINAÇÃO PÚBLICA LEVARAM O CONJUNTO PALMITAL A FICAR MAIS DE 100 DIAS SEM HOMICÍDIOS

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“Participo dos círculos de conversa do projeto Justiça Restaurativa há 5 meses, na Refazendo Vínculos, um projeto social de extensão universitária da Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Em linhas gerais, a proposta de justiça restaurativa é reparar em vez de punir, transformando a relação com o outro. A gente aprende a resolver um conflito com diálogo. Aprende a avaliar a situação, a refletir, a repensar a ação, ver o outro lado (da pessoa agredida) ou mesmo a pedir ajuda quando necessário, isto é, quando você está disposta ao diálogo mas o outro só está pronto para a briga. Isso ajuda a diminuir a violência em todos os ambientes, começando pelo familiar, que eu acho que é o mais importante de todos. Tem família que só critica, briga e o filho já sai de casa de cabeça quente e vai devolver essa violência na rua de alguma forma, porque só sabe reagir com revolta. Eu tenho essa experiência com minha família, mas aprendi a reagir com diálogo, não quero repetir o exemplo. Dizem que educação vem do berço, mas a gente pode mudar, transformar o jeito de se relacionar e melhorar a vida”.

GiSela aPareCiDa De oliVeira, 20 anoS,

da ONG Refazendo Vínculos ([email protected]), participa

do projeto Justiça Restaurativa conduzido em parceria com a organização Justiça para o Século

21 (www.justica21.org.br)

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Metodologias como a do programa Fica Vivo!, elaborada pelo Centro de estudos de Criminalidade e Segurança Pública da universidade Federal de Minas Gerais, envolvem os jovens como multiplicadores de ações que fortalecem a cidadania e promovem a paz

Wilmar Ferreira da Silva, Capitão PM, é comandante da 69ª Companhia PM do 35º Batalhão de Polícia Militar de Minas Gerais, que faz parte da Área integrada de Segurança Pública 56, juntamente com a 1ª Delegacia de Polícia Civil de Santa luzia e o núcleo de Prevenção à Criminalidade de Palmital

rar ainda mais esta performance. No mês de julho de 2007, por exemplo, a cidade comemorou um acontecimento há muito não vivido: passar todo o mês sem que nenhum crime de homicídio fosse registrado. Conseqüentemente, o índice mensal de crimes violentos foi o menor dos últimos anos.

No Conjunto Palmital, é também motivo de muita alegria e comemora-ção a marca de 100 dias sem homicí-dios, alcançada no dia 20 de agosto de 2007. Também se destaca a queda de mais de 50% neste tipo de crime, se comparado ao mesmo período do ano passado, além da considerável queda no índice geral de crimes violentos.

As medidas tomadas surtiram efeito ainda na queda dos registros de outras ocorrências, tais como: perturbação do sossego por excesso de ruídos, depredação do patrimônio público, principalmente luminárias da iluminação pública, escolas, telefones públicos e transporte coletivo, além da redução das brigas e desentendimen-tos familiares, desrespeito às regras de trânsito e circulação, reclamações por mau atendimento policial e/ou violência policial. Com isso, a partici-pação da comunidade nas denúncias de crimes tem aumentado, bem como os elogios à atuação da polícia. E é pequeno o número de acionamento para a presença policial nas escolas públicas e privadas.

A experiência, como se vê, tem dado certo. Portanto, depreende-se que, se quisermos construir uma paz dura-doura, não podemos esperar que tragédias batam em nos-sas portas, nem que haja a perda de entes queridos para irmos para as ruas culpar os governantes e a sociedade, da qual fazemos parte. Somos responsáveis por suas ma-zelas. Temos de agir, de agregar todos os esforços à nossa disposição, respeitar os direitos dos nossos semelhantes, observar todos os detalhes para que nosso objetivo seja alcançado. Uma morte violenta é o ponto máximo da falta de paz, e tudo temos de fazer para evitá-la.

Temos de estar sempre em busca de uma sociedade onde reinem o respeito mútuo, a harmonia, o entendimen-to e a solidariedade, sem drogas e sem violência, e que cada um saiba que o direito pessoal termina onde começa o direito do outro. Como dizia uma antiga e bonita canção: “Chamem a isso utopia, eu a isso chamo paz!”.

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A VALORIZAÇÃO, E NÃO A SUPRESSÃO, DO QUE NOS DISTINGUE E DO QUE NOS ASSEMELHA É CONDIÇÃO PARA A CONVIVÊNCIA PACÍFICA

Por _ Reinaldo Bulgarelli

“Não tem esse negócio de branco e preto. É todo mundo junto, a mesma coisa”, diz um dos jovens jogadores no Jornal Nacional de alguns anos atrás. Ele falava sobre um projeto so-cial que envolve atividades esportivas em comunidades cariocas.

Justamente naquele ano, 2005, a Unesco apresentava ao mundo sua Convenção sobre Diversidade das Expressões Culturais, que o Brasil ratificou em janeiro deste ano.

A Convenção, logo no seu início, nos diz que a “diversidade cultural cria um mundo rico e variado que acrescenta possibilidades e nutre as capacidades e os valores humanos e constitui, portanto, um veículo essencial para o desenvolvimento sustentável das comunidades, dos povos e das nações.” E continua dizendo que “a diversidade cultural, tal e qual prospera num contexto de democracia, tolerância, justiça social e respeito mútuo entre os povos e as culturas, se faz indispensável para a paz e a segurança nos planos local, nacional e internacional”.

A Convenção também estabelece um vínculo com direitos humanos lembrando “a importância da diversi-dade cultural para a plena realização dos direitos humanos e liberdades fundamentais proclamados na Decla-ração Universal dos Direitos Humanos

AS DIFERENÇAS E AS SEMELHANÇAS

e outros instrumentos universalmente reconhecidos”. Mais adiante, ela diz algo fundamental: “(...) levando em consideração que a cultura adquire formas diversas através do tempo e do espaço, e que tal diversidade manifesta-se na originalidade e na pluralidade das iden-tidades e expressões culturais dos povos e sociedades que formam a humanidade.”

Diante deste lembrete sobre a Convenção, como é que podemos achar que a valorização da nossa diversidade passa por sumir com nossas diferenças, como pode ser interpretada a fala do jovem jogador de futebol?

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Essa interpretação é a mais comum em nossa sociedade, que tende a achar elegante, bonita e sincera a prá-tica de justiça que desapareça com as identidades, com nossas característi-cas, diferenças e semelhanças.

Conjunto de valoresDiversidade é esse conjunto de

diferenças e semelhanças que nos caracterizam; portanto, um dado da realidade. Por isso, gosto sempre de usar a expressão valorização da di-versidade para enfatizar que o impor-tante é a atitude que individualmente ou institucionalmente temos diante dessa diversidade. Valor é aquilo que pesa na hora de tomarmos decisões, realizarmos escolhas, optarmos por um caminho ou por outro, como sem-pre nos lembra o educador Antonio Carlos Gomes da Costa.

Se valorizamos a diversidade, significa dizer que consideramos as diferenças e semelhanças na hora de realizar nossas escolhas, de plane-jarmos nossa ação, de avaliarmos os impactos que estamos gerando em diferentes segmentos da população com nossa proposta de ação social, cultural, ou seja ela qual for.

Olhando o dicionário, não vamos encontrar essa definição que uso acima. Lá, a referência é apenas às diferenças.

Gosto de falar também das seme-lhanças para tratar do conjunto todo, quando converso com educadores ou

João ViCtor naSCiMento, 24 anoS,

é coordenador do Projeto Treme-Terra, do Movimento Jovem Consciente (info@

jovemconsciente.org.br)

“Na condição de jovem e coordenador de um projeto cultural para jovens, estou sempre pensando no potencial que nós temos e em como criar meios para a integração comunitária por meio da expressão artística na região do Morro do Querosene, na zona Oeste de São Paulo. A diversidade aqui é enorme. Trata-se de um bairro que era marginalizado e violento, mas que, por sua proximidade com a Universidade de São Paulo, acabou atraindo professores e outros profissionais, como artistas e esportistas, sem expulsar os moradores antigos. Então, há pessoas de diferentes condições, além de muitos artistas e grupos populares, como Bumba Meu Boi, Cosme e Damião, e hip hop. Nosso objetivo é articular condições para a expressão de toda essa diversidade. Assim, as pessoas convivem, se conhecem, e criam-se relações sociais. Ainda enfrentamos problemas, como a violência, mas está mais claro que é possível criar alianças, parcerias que ajudem a viver melhor. Temos mais de 200 alunos em cursos de percussão, dança, capoeira, artes marciais, além de informática e inglês, e atividades como oficinas e saraus. Acredito que a diversidade tem de ser convivida e a inclusão é a melhor maneira de praticar a cultura de paz. Porque a tendência é cada um achar que o problema é o outro. Sem convivência, você não consegue criar discussões sobre os problemas.”

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a Convenção para a Proteção e Promoção da Diversidade das expressões Culturais, conhecida por Convenção da Diversidade, foi ratificada pelo Brasil e entrou em vigor em março deste ano. Ela afirma que “a

tolerância é a harmonia na diferença. não só é um dever de ordem ética; é igualmente

uma necessidade política e jurídica. a tolerância é uma virtude que torna a paz possível e contribui para substituir uma cultura de guerra por uma cultura de paz”.

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reinaldo Bulgarelli é educador, professor do Curso de Princípios e Práticas de responsabilidade Social da Fundação Getúlio Vargas, de São Paulo, e do instituto Palas athena. Foi um dos fundadores do Movimento nacional de Meninos e Meninas de rua, em 1978, e criou a txai Consultoria, que atua no campo da sustentabilidade e responsabilidade social.

gestores em organizações das mais variadas. Somos diferentes e somos únicos, mas somos também seme-lhantes, ao compartilhar da mesma condição humana. Nossas relações ganham qualidade quando conside-ramos esse conjunto de diferenças e semelhanças. Muitas vezes nos ligamos a outra pessoa pelas diferen-ças e, outras vezes, talvez na maioria delas, pelas semelhanças.

Chamar a atenção para nossa diversidade e a importância de valo-rizá-la é algo fundamental num país como o nosso, que lida mal com isso, hierarquiza as pessoas, transforma diferenças em motivo para desigual-dades intoleráveis.

Nossas identidades são plurais, com alguns marcadores que podem ganhar maior ou menor destaque, como este do exemplo do jovem jogador de futebol, referindo-se a

brancos e negros. Não é desaparecendo com as di-ferenças que aprendemos a lidar melhor com nossa diversidade, porque, junto com nossas diferenças, vai aquilo de concreto que temos a oferecer em nossas relações: nosso corpo, nossa história, os significados de ser branco ou negro, jovem ou idoso, homem ou mulher, pessoa com ou sem deficiência, hetero, bi ou homossexual na sociedade.

Contudo, talvez o jovem jogador quises-se nos lembrar de outro aspecto impor-tante da valorização da diversidade: o seu sentido. Considerar nossas dife-renças e semelhanças é importante para que possamos melhorar a qua-lidade de nossas relações, onde mora a tal sustentabilidade que tanto bus-camos. Só faz sentido afirmar nossa diversidade, mesmo diante de uma falsa igualdade que visa sumir com nossas características mais caras, se for para ampliar as possibilidades de diálogo, cooperação, fortalecer vínculos de interdependência e com-plementaridade, sempre na direção de um mundo mais sustentável.

Quando nos esquecemos de nossa diversidade, nos perdemos da huma-nidade, perdemos o vínculo com as gerações passadas e dificilmente con-seguiremos construir um presente e um futuro que sejam marcados pela tolerância e pela paz.

A construção da eqüidade na atenção aos direitos humanos de jovens passa por programas e políticas públicas, mas também por processos de mobilização das pessoas para que a diversidade seja efetivamente valorizada e seus benefícios sejam evidenciados, ainda mais num país que aprendeu a esconder com a retórica, ou pelo mito da democracia racial, as iniqüidades que produz.

Esse mito envolve uma auto-imagem de país que respeita as diferenças em geral, não apenas as étnico-raciais, como se acolhesse todas as diferenças, e negando-se a perceber a violência, a discriminação, a exploração, as relações de dominação que caracterizam e constituem as relações atuais.

Se assim tem sido, contudo, pode-se aprender a transformar as diferenças em riquezas, aprender a construir o “nós” que hoje inexiste diante de ta-manhas disparidades, assimetrias, desigualdades e injustiças. Aprendemos a lidar com nossas diferenças de um jeito nada interessante. Podemos aprender a valorizar a diversidade. Nossos espaços voltados para jovens e suas comunidades são uma ótima oportuni-dade para isso.

SÓ FAZ SENTIDO AFIRMAR A DIVERSIDADE SE FOR PARA AMPLIAR AS POSSIBILIDADES DE DIÁLOGO, COOPERAÇÃO E FORTALECIMENTO DE VÍNCULOS, NA DIREÇÃO DE UM MUNDO MAIS SUSTENTÁVEL

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360ºpaz e globalização

O movimento intenso de capitais entre os mercados de todo o mundo, que se tornou progressivamente uma característica predominante no capi-talismo com o advento das novas tec-nologias de informação e comunica-ção, tem sido usado comumente para definir a expressão “globalização”. O efeito da instantaneidade com que os capitais podem migrar de um lado a outro, em busca de melhores resultados ou mais segurança, pode definir as chances de países inteiros de alcançar ou manter o caminho do desenvolvimento. Dentro desses países, as políticas econômicas deter-minam se a distribuição da riqueza irá produzir uma percepção coletiva de benefícios advindos da globalização ou se a maioria da população se sen-tirá alijada e explorada pelo sistema econômico global.

Essa é, de uma forma sucinta, a lógica com que o fenômeno da glo-balização é percebido pelos cidadãos. Portanto, pode-se afirmar que não é necessariamente a globalização, em si, que produz os efeitos conhecidos na sociedade. A estratégia que cada país escolhe para se relacionar com as forças econômicas e políticas gobais é um fator essencial para o resultado de sua imersão no mercado global. Evidentemente, essa estraté-

O FIO DA MEADA

OS MOVIMENTOS ECONÔMICOS MUNDIAIS REPERCUTEM NO COTIDIANO, E PODEM DIFICULTAR OU FACILITAR A INSERÇÃO PACÍFICA DOS JOVENS NA SOCIEDADE ADULTA

Por _ Luciano Martins Costa

gia depende do compromisso dos detentores do poder no país com sua população. Por essa razão, as socieda-des democráticas nas quais as relações entre o governo e a população contemplam os interesses da maioria tendem a tirar mais benefícios da globalização.

Isso equivale a dizer que a democracia é um fator central para que uma sociedade desenvolva estratégias eficientes para sua participação no movimento global de riquezas e conhecimento. Políticas públicas adequa-das podem fazer com que os ganhos da economia em geral promovam o bem-estar de forma generalizada e menos concentrada.

No entanto, como o processo de globalização se intensificou rapidamente nos últimos vinte anos, prin-cipalmente após o fim da União Soviética, em 1989, e a abertura econômica da China, que expuseram mercados reprimidos ao apetite do capital, em muitos casos o novo cenário macroeconômico encontrou países da chamada periferia do sistema dotados de instituições inadequadas às exigências do sistema financeiro mundial.

Além disso, o advento de novas tecnologias de infor-mação e comunicação deu aos países já desenvolvidos maior competitividade em relação aos chamados países emergentes. Por outro lado, o desequilíbrio entre a dis-ponibilidade de capitais e as oportunidades de negócios dava aos investidores, mais ágeis e mais eficientes que os governos, uma grande vantagem nas negociações.

Nos primeiros anos desse processo de expansão do capitalismo, alguns países se tornaram reféns do articu-lado movimento global de capitais, sendo forçados a oferecer garantias adicionais e abrindo mão de patri-mônio público, por meio das privati-zações, para atrair investimentos e, com isso, estimular suas economias. Essa desigualdade gerou em muitas sociedades uma percepção negativa da globalização.

A busca de novos mercados e de maior escala e lucratividade é parte da natureza expansiva das relações liberais de negócios. Para se ter uma idéia dessa expansão, basta observar que o comércio mundial, que alcan-

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Desafio aos jovensEsse cenário se apresenta, em todos

os países em desenvolvimento, como um desafio complexo para quem está ingressando na vida adulta. Quando o jovem se dá conta de que precisa de muita qualificação para se integrar ao sistema produtivo, ele também perce-be que a educação formal, na imensa maioria dos casos, não lhe dá competi-vidade suficiente para tomar um lugar ao sol. Há 30 ou 40 anos, um curso de datilografia habilitava para o trabalho em escritórios, algum conhecimento básico de contabilidade era suficiente para dar partida a uma carreira, um ano numa escola técnica preparava para o ingresso na indústria.

A globalização provoca a exclusão de grandes contingentes de jovens por uma variedade de fatores. Um deles nasce da própria natureza do capita-lismo, que ainda conserva seu caráter exploratório – pelo qual os ganhos do capital dependem, em grande parte, da capacidade de reduzir e controlar os custos de produção, especialmente o custo do trabalho. A conveniência da redução dos custos de produção também está associada a tecnologias que progressivamente substituem antigas tarefas humanas, eliminando as oportunidades para geração de renda a partir das atividades menos elaboradas.

Um terceiro elemento é o fato de o capital ter se descolado das res-ponsabilidades sociais – tidas como inerentes ao Estado, e não à iniciativa privada. Observe-se que muitas em-presas consideradas como exempla-res quanto a suas responsabilidades sociais, quando atuam no sentido de amenizar as dificuldades das popula-ções carentes se colocam no papel de interventoras sobre o ambiente social, e não como protagonistas inseridas nesse ambiente. Como o tamanho do Estado se reduziu fortemente na maioria dos países do mundo há cerca de vinte anos, diminuiu a capacidade das instituições públicas de garantir o bem-estar daqueles que não têm recursos suficientes para viver com qualidade aceitável. Um dos resultados é a exclusão de grandes massas da população.

MaGno Santana MatoS, 25 anoS,

educador da Escola de Música da Associação Pracatum (www.pracatum.org.br), fundada

pelo músico Carlinhos Brown

“As iniciativas do governo que têm o respaldo da comunidade funcionam melhor. Vejo isso aqui na escola de música da Associação Pracatum, que desde 2002 conta com a parceria da Secretaria de Estado da Educação da Bahia. O governo aproveitou a alma da escola e a fez crescer, permitindo o atendimento de maior número de jovens, a ampliação do quadro de professores e a oferta de mais disciplinas focadas no eixo de formação de linguagem e leitura crítica, como ‘Música e Sociedade’ e ‘Literatura e Produção de Texto’. É importante esse investimento, porque a música e a arte em geral são um caminho especial para a construção de um mundo mais solidário. A arte lida com o subjetivo, justamente o campo em que se fixam em nós as imagens da cultura. Então, o trabalho com a arte é libertador, pela sua característica de reconstrução. Aprendemos a não atacar, a julgar uma obra pela sua imagem, mas a desarticulá-la e compreendê-la a partir de uma leitura crítica. Tive a oportunidade de vivenciar isso, com o apoio da Pracatum, num intercâmbio na Espanha, que reuniu jovens músicos da comunidade européia e da América Latina. O nome dado ao evento já dizia tudo: ‘Unidos pelas Raízes de um Ritmo’.”

A GLOBALIZAÇÃO PROVOCA A EXCLUSÃO DE GRANDES CONTIGENTES DE JOVENS POR VÁRIOS FATORES, ENTRE ELES A ALTA EXIGÊNCIA DE ESCOLARIDADE E QUALIFICAÇÃO

çava na década de 1950 cerca de US$ 120 bilhões por ano, chegou a US$ 3,4 trilhões em 1990 e US$ 5,9 trilhões, em 2001. Segundo o Fundo Monetário Interna-cional, a economia global seguirá crescendo, em 2007 e 2008, a taxas anuais de 5,2%. No entanto, cerca de 85% do comércio é feito entre países desenvolvidos.

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O jovem que não pode contar com o suporte da família para buscar o conhecimento e a formação ne-cessários ao ingresso no sistema produtivo – tendo que ao mesmo tempo contribuir com alguma ren-da para não pesar no orçamento familiar e encontrar seu próprio meio de inserção – percebe como hostil o ambiente externo que se abre em seu movimento de encarar o mundo. Começam aqui a atuar as forças que podem levar a escolhas erradas, que acabam por provocar sua exclusão total de qualquer chance de obter meios para criar uma vida de bem-estar.

Como a exclusão social acontece, hoje, num ambiente hipermediado, no qual a informação, o entretenimento e a propaganda se misturam, o jovem excluído sofre dupla pressão: a de sua própria carência e a do desejo de consumo. Esse é o contexto em que muitos deles acabam optando por obter a satisfação dos estímulos consumistas por meio de atividades ilegais. A crescente organização do crime, que conta em grande parte com a omissão ou a cumplicidade de agentes públicos, torna esse caminho sem volta. A marginalidade acaba se apresentando como uma “alternati-va profissional”. Associado a grupos criminosos, muitos jovens passam a ver os outros como inimigo ou estra-nho à sua comunidade. No limite de suas ações, a vida do estranho vale pouco ou nada, o que potencializa a violência.

Associações criminosas, ou mes-mo associações de interesse espe-cífico excludentes, como os grupos de torcida organizada, tendem a se tornar extremamente homogêneos em seu escopo, em suas lingua-gens e valores. No interior dessas organizações não viceja o espírito de tolerância. A semente da violência germina sob a justificativa de que o “outro”, aquele que não partilha as mesmas preferências ou objetivos, não merece viver.

A oferta de atividades produtivas para o jovem pertencente a comu-nidades menos favorecidas, mesmo que essas ações não representem

geração imedia-ta de renda, aju-da a romper essa teia que conduz à marginalidade. Integrando-se a comunidades de-dicadas à arte ou ao aprendizado de tecnologias, por exem-plo, um jovem pode não apenas desenvolver habi-lidades que aumentam sua auto-estima, como certamen-te aprende o valor das atividades solidárias, do trabalho em grupo e da ação afirmativa com resultados. Ele pas-sa a reconhecer o outro como semelhante, embora diverso.

Há muitas iniciativas desse gênero, e as mais pro-dutivas mesclam atividades profissionalizantes com alternativas esportivas ou artísticas, abrindo a possibi-lidade para os jovens expressarem tanto suas habilida-des técnicas como seus talentos físicos ou artísticos. Em torno dessas iniciativas em geral se recompõem relações comunitárias deterioradas pela carência de recursos sociais ou pela ausência de órgãos do Estado. As comunidades aprendem o valor de impulsionar seu próprio desenvolvimento, criando fórmulas para o arbi-tramento de conflitos que progressivamente reduzem o uso da violência.

Organização localPor se tratar de um movimento natural na evolução

da economia global, o fenômeno chamado globalização não depende do apoio ou da oposição dos indivíduos. No entanto, os indivíduos podem se organizar para induzir os governos a produzir políticas públicas que amenizem o mal-estar e aproveitem o potencial de benefícios trazido pela globalização. Nesse sentido, a

o fenômeno chamado globalização não depende do apoio ou da oposição dos indivíduos, mas esses podem se organizar para induzir os governos a produzir políticas públicas que amenizem o mal-estar e aproveitem o potencial de benefícios, promovendo a inclusão juvenil

luciano Martins Costa é jornalista, escritor, consultor em estratégia de comunicação, autor do livro o Mal-estar na Globalização (editora Girafa)

ações que partem da própria comuni-dade oferecem uma base promissora para o estabelecimento de iniciativas do poder público. Conforme se de-monstra há pelo menos três anos nos seminários de avaliação econômica de projetos sociais, realizado anual-mente pela Fundação Itaú Social em São Paulo, os agentes do Estado se sentem mais acolhidos e se tornam mais eficientes quando atuam em núcleos sociais onde a população já tem diagnósticos para suas carências e projetos para superá-las.

Assim, o desenvolvimento de uma cultura da paz deve ser um objetivo estratégico em todas as instâncias da administração pública, assumido também pela mídia de informação e entretenimento e adotado nos siste-mas educacionais público e privado. Mas ele só acontece num contexto em que a sociedade trabalha orga-nizadamente para a superação das diferenças sociais e a democratização das oportunidades.

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DORES DISCRETASMENOS EVIDENTES, AS MANIFESTAÇÕES VIOLENTAS EM CASA E CONTRA MINORIAS SEXUAIS TAMBÉM COMPROMETEM A VIVÊNCIA PACÍFICA

Por_Valmir Rodrigues

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Como viver em paz se em casa as coisas não andam bem? Se pai briga com mãe, irmão com irmão, pais com filhos? Se nas ruas e na comu-nidade a chapa tá fervendo? Se na escola o bicho pega entre professor e aluno, entre aluno e aluno? Se a polícia tanto protege como intimida? Se o país não consegue resolver as desigualdades sociais, os efeitos da pobreza, do tráfico, do desemprego, da qualidade dos serviços públicos? Se ainda há muita intolerância com as diferenças?

Esse coquetel perverso resulta em diferentes manifestações de violên-cia, algumas delas muito discutidas, como a mortalidade gerada pelo trá-fico de drogas. Mas há outras formas menos divulgadas e combatidas. Nem por isso menos dolorosas.

Acontece que a violência é um fe-nômeno que pode ser desencadeado por múltiplos fatores. Tanto é que, em 1996, durante a 49ª Assembléia Mun-dial de Saúde, a Organização Mundial da Saúde declarou a violência como um dos principais problemas globais de saúde pública, ampliando sua aborda-gem para além das áreas de segurança pública e direitos humanos.

A OMS adota um modelo em que a violência é expli-cada como resultado de uma interação complexa de fatores individuais, relacionais, comunitários e sociais. É esse modelo que orienta as ações do Instituto NOOS de Pesquisas Sistêmicas e Desenvolvimento de Redes Sociais, do Rio de Janeiro. Com 13 anos de atividades, tornou-se uma referência no tema violência intrafami-liar e de gênero.

“Há uma vinculação muito grande entre a violência intrafamiliar e a urbana. Uma alimenta a outra, num perigoso círculo vicioso. Por outro lado, os problemas sociais podem começar a ser resolvidos dentro de casa”, diz o psicólogo Carlos Eduardo Zuma, secretário executivo do NOOS, instituto que criou juntamente com o psicólogo Jorge Bergallo e com os psiquiatras Helena Júlia Monte e André Souza Rego. Eles atuam como terapeutas de família e casal, sendo todos também membros docentes do Instituto de Terapia de Família do Rio de Janeiro.

Na visão de Carlos Zuma, a prevenção da violência intrafamiliar é um dos principais meios para prevenir a violência em geral. “É na família extensa e na comunidade que as vítimas da violência intrafamiliar buscam ajuda em primeiro lugar. Por este motivo, as organizações comuni-tárias ocupam um lugar importante na rede de prevenção dessas situações e poderiam melhor encaminhar os envolvidos aos serviços adequados se estivessem bem informadas sobre os recursos disponibilizados pelo poder público e entidades da sociedade civil organizada”.

O NOOS oferece atendimento direto a casais e famí-lias, como prevenção a reincidências em casas onde a violência já aconteceu ou vem acontecendo. Os jovens beneficiam-se indiretamente dessas terapias, porque seus pais passam a lidar melhor com as situações de conflito, em especial com os filhos. O instituto promove também grupos reflexivos de gênero para homens e para mulheres, incluindo jovens.

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A violência de gênero é um fator crítico para as ati-vidades do NOOS. “Na maioria das vezes, o homem é o autor e a mulher é a vítima da violência de gênero”, diz o psicólogo. E os jovens não são exceção. “Desde cedo, os meninos são postos à prova quanto à sua postura de ‘macho’, o que fica mais exacerbado nos jovens. Na avi-dez por provar ser o garanhão, acabam banalizando os relacionamentos. Nos bailes e nas festas, por exemplo, eles querem saber é com quantas ficarão e não com quem. As meninas, mesmo que conquistadas à força, sentem-se bem como as escolhidas, os objetos do de-sejo. Porém, quando os jovens não têm estrutura para bancar a plenitude de sua masculinidade, apelam para os recursos da violência. Isso também é reflexo da cultura patriarcal e machista que ainda impera no Brasil e na América Latina”.

Segundo o psicólogo, a idéia é que os jovens que participam dos grupos de reflexão reconstruam suas masculini-dades, descobrindo que existem várias

formas de atuar como homem. As meninas são estimuladas a pensar sobre isso. “Estamos falando de uma transformação cultural, um trabalho para muitas gerações. O jovem tem um papel fundamental nessa história, e o legal é que ele tem entusiasmo. Se ele se sensibilizar com as idéias e ações, pode ajudar bastante. O impor-tante é ele identificar os benefícios disso tudo”.

QUANDO OS RAPAZES NÃO TÊM ESTRUTURA PARA BANCAR PLENAMENTE SUA MASCULINIDADE, APELAM PARA A VIOLÊNCIA

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Lidando com as diferençasA intolerância é outro amargo ingrediente no coquetel

perverso que gera violência entre os jovens, sejam eles vítimas ou autores de manifestações ou atos agressi-vos. Os jovens homossexuais que o digam: a homofobia – a aversão às pessoas de orientação homossexual – ainda é um fator crítico de violência contra gays e lésbicas, sejam rapazes ou garotas.

“Embora haja a violência física, dentro de casa impera mais a violência emocional e psicológica.

Os pais passam a privar seus filhos de coisas básicas, mudando-os de escola, proibindo-

os de freqüentar determinados lugares, mantendo-os como uma espécie de

prisioneiro”, relata a escritora e professora Edith Modesto, que há 10 anos criou, em

São Paulo, o GPH – Grupo de Pais de Homos-sexuais. Segundo ela, fora de casa, a violência

física é mais gritante. “Eles são discriminados na escola, nas ruas, no shopping. Não são convidados

para festas. São vítimas de olhares, gestos e risi-nhos preconceituosos. Chegam até a apanhar”.

Há uma grande vinculação entre a violência intrafamiliar e a urbana. Uma alimenta a outra, num perigoso círculo vicioso. Por outro lado, os problemas sociais podem começar a ser resolvidos dentro de casa

Ela mesma vivenciou uma situação desafiadora, quando descobriu que seu filho mais novo, o sétimo, era homossexual. “Quando o filho sai do armário, a mãe entra”, costuma dizer. “Meu mundo caiu. Passei por um processo lento de aceitação. Tinha muito preconceito e associava homossexualismo a doença, safade-za, perversão”. Bom para outros pais que ela mudou de conceito e inverteu essa história.

O GPH foi a primeira ONG brasileira fundada para acolher pais que têm (ou desconfiam ter) filhos homosse-xuais. O objetivo é aproximar os pais e seus filhos homossexuais, dando apoio e solidariedade. Atualmente, conta com cerca de 200 associados por todo o Brasil. Entre as atividades do GPH estão as reuniões virtuais e presenciais de pais, além de pa-lestras, oficinas e os encontros do Projeto Purpurina. Realizado pelo APGH – Amigos do Grupo de Pais de Homossexuais, este projeto multi-cultural reúne jovens gays e lésbicas interessados em trocar experiências, tirar dúvidas sobre sexualidade, adquirir cultura e fazer amigos. A entidade tem feito parcerias com vários grupos de militância e com a Prefeitura de São Paulo, principal-mente para abordar assuntos ligados à diversidade sexual para professores da escola pública.

Homofobia na escolaMas como tratar a questão da ho-

mofobia nas salas de aula? Quem foi buscar soluções é o CEPAC – Centro Paranaense da Cidadania, que desde 1996 realiza trabalhos com as escolas da rede pública da região metropolita-na de Curitiba, voltados à questão da prevenção de DST e AIDS. “Ao longo desses anos, com a nossa experiência dentro das escolas, percebemos a necessidade de realizar um trabalho educativo específico para a questão do preconceito e da discriminação, especialmente a homofobia, tanto por parte dos profissionais de edu-cação e saúde, como dos próprios adolescentes”, diz Christiane Spode, diretora executiva.

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VIDA DE REpóRTER

“Minha filha de 17 anos, a Ana Luísa, esteve recentemente no Rio de Janeiro, junto com a prima Carolina, para uns dias de férias com a tia Rose. Logo no primeiro dia de passeio, nas proximidades dos Arcos da Lapa, foram abordadas por dois adolescentes, um deles 'portando' uma chave de fenda. Os meninos levaram as bolsas das três, com documentos, celulares e alguma grana.Ficamos todos aliviados porque elas não foram agredidas fisicamente. Mas a alegria e a ansiedade de poder passar os primeiros dias sem os pais na cidade maravilhosa deram lugar ao medo e à decepção. Na delegacia, fizeram um boletim de ocorrência. Mas foi só.É claro que a gente cria os filhos para o mundo, e eles naturalmente têm de voar sozinhos. Mas sempre fica uma ponta de preocupação toda vez que elas saem para a escola, a casa de amigos ou parentes, o shopping, o fim de semana ou as férias, enfim, para a vida.Espero que as gerações da Ana Luísa e da Júlia, minha caçula, de 6 anos, possam ajudar a mudar essa história. Chega de violência, medo, desigualdade social, preconceitos

e impunidade. Embora eu tenha abordado esses temas durante minha reportagem, vi com bons olhos que muita coisa boa e legal está sendo plantada para reverter esse quadro, por iniciativa de gente e de instituições sérias e bem intencionadas. Espero poder colher os frutos, nem que seja juntamente com meus netos”.

Valmir rodrigUes, jornalista há 28 anos

“A homofobia é muito forte. Percebemos a falta de conhecimento e o despreparo por parte dos pro-fissionais da educação, ao se depararem com uma situação que envolva um jovem homossexual. Muitos profissionais acabam expondo os alunos a situações constrangedoras e vexatórias, com brincadeiras, ou discriminando-os dentro da escola, infringindo até arti-gos do Estatuto da Criança e do Adolescente”. Segundo a diretora, muitos homossexuais também são agredidos violentamente por outros estudantes, quando estes ‘desconfiam’ da orientação sexual do colega.

Para concretizar seu objetivo, o CEPAC, com o apoio do Ministério da Educação, implementou o projeto “Educando para a Diversidade”, buscando sensibilizar profissionais de educação, saúde e estudantes para que sejam agentes multiplicadores dentro da escola, visando à redução do

preconceito e da discriminação. O projeto resultou num guia, entregue aos professores juntamente com fitas educativas que abordam temas como adolescência, cidadania e homossexualidade. O pacote incluiu também uma cópia do Estatuto da Criança e do Adolescente, a cartilha “Brasil sem Homofobia”, lançada pelo governo federal, além do estudo “Juventudes e Sexualidade”, editado pela Unesco, segundo o qual 40% dos adolescentes brasileiros não gosta-riam de ter um homossexual como colega de classe.

Qualificação policialOutra instituição que nem sempre

sabe lidar com os jovens envolvidos em situações de violência é a policial. Em 2004, num encontro de represen-tantes de conselhos tutelares do es-tado do Rio de Janeiro, foi identificada a necessidade de maior envolvimento do Ministério Público, do Poder Ju-diciário e das Polícias nas redes de proteção e responsabilização, nos ca-sos de violação aos direitos humanos de crianças e adolescentes. A Nova Pesquisa e Assessoria em Educação, que coordenava o evento, juntou essa solicitação a uma demanda por maior especialização de policiais vinda da Delegacia de Proteção a Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência

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PROJETO FORMAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES - NOVA PESQUISA E ASSESSORIA EM EDUCAÇÃOÁREA DE ATUAÇÃO ESTADO DO RIO DE JANEIROPROPOSTA DE TRABALHO Consolidar uma cultura de direitos junto a profissionais do estado do Rio de Janeiro e operadores do Sistema da Garantia de Direitos de Crianças e Adolescentes, entre eles, os policiais civis.APOIO Conselho Estadual de Defesa da Criança e Adolescente e Fórum Popular Permanente de Defesa das Crianças e dos Adolescentes, entre outros.CONTATO Avenida General Justo, 275, Bloco B, Sala 312 – Castelo – Rio de Janeiro/ RJ. CEP 20021-130. Tel: 21/ 2220-6146. Site: www.novapesquisa.org.br

PROJETO PREVENÇÃO À VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR E DE GÊNERO – INSTITUTO NOOSÁREA DE ATUAÇÃO CIDADE DO RIO DE JANEIROPROPOSTA DE TRABALHO Disponibilizar práticas sociais de atendimento direto a pessoas envolvidas em situação de violência intrafamiliar e de gênero, com o objetivo de prevenir reincidências e diminuir suas conseqüências.NÚMERO DE JOVENS ATENDIDOS 156 atendimentos diretos entre 2006 e 2007, com jovens entre 18 e 24 anos.APOIO Centro de Referência de Vulnerabilidade Circular Maria Lina de Castro Lima, Prefeitura do Rio de Janeiro.CONTATO Rua Álvares Borgerth, 27 – Botafogo – Rio de Janeiro/ RJ. CEP: 22270-080. Tel.: 21/ 2579-2357. Site: www.noos.org.br

PROJETO PURPURINA – GPH (GRUPO DE PAIS DE HOMOSSEXUAIS)ÁREA DE ATUAÇÃO CIDADE DE SÃO PAULOPROPOSTA DE TRABALHO Aproximar os pais de seus filhos homossexuais, dando apoio e solidariedade.JOVENS ATENDIDOS Cerca de 30 a 40 participantes a cada encontro.APOIO CADS – Coordenadoria de Assuntos de Diversidade Sexual e DECRADI – Delegacia de Crimes Raciais e Delitos da Intolerância, entre outros.CONTATO Rua Alberto Faria, 835 – Alto de Pinheiros – São Paulo/ SP. CEP 05459-000. Tel.: 11/ 3031-2106. Site: www.gph.org.br

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PROJETO EDUCANDO PARA A DIVERSIDADE – CEPACÁREA DE ATUAÇÃO REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBAPROPOSTA DE TRABALHO sensibilizar profissionais de educação e saúde e adolescentes para que sejam agentes multiplicadores dentro da escola, visando à redução do preconceito e da discriminação.APOIO Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério da Educação e Grupo Dignidade, entre outros.CONTATO Rua Marechal Floriano Peixoto, 366, cj. 42 – Centro – Curitiba/PR. CEP 80010-130. Tel.: 41/ 3232-1299. Site: www.cepac.org.br

(DECAV). O resultado foi a criação de um projeto ligado à formação dessas redes de proteção e responsabilização, que contou com financiamento da Brazil Foundation.

O projeto da ONG tem como objetivo principal consolidar uma cultura de di-reitos junto a mais de mil profissionais do estado do Rio de Janeiro que são operadores desse sistema. Isso envolve juízes, promotores de justiça, policiais civis e militares, profissionais de edu-cação e conselheiros tutelares.

“É necessário ampliar essas redes, bem como fortalecer e qualificar a atu-ação do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente, atuando pela redução de maus-tratos, explo-ração e violência de todas as formas”, diz o psicólogo Antonio Carlos Oliveira, coordenador executivo da entidade.

A primeira etapa do trabalho con-siste na realização de um levanta-mento do nível de conhecimento dos profissionais de cada área sobre os direitos humanos e sua aplicação. A idéia é identificar as dificuldades que prejudicam a qualidade dos serviços prestados a crianças e adolescentes. Depois desse levantamento, a Nova realiza a capacitação direta dos pro-fissionais, que participam de cursos, ciclos de debates e seminários.

A HOMOFOBIA É UM FATOR CRÍTICO DE VIOLÊNCIA CONTRA OS HOMOSSEXUAIS, SEJAM RAPAZES OU GAROTAS

Com apoio da Academia de Polícia Civil do Rio de Janeiro, a primeira etapa do projeto, realizada entre março e abril deste ano, envolveu 84 participantes, entre policiais, delegados, investigadores e inspe-tores, além de outros profissionais e convidados. “Temos feito agora visitas semanais às unidades da DECAV, para acompanhar o trabalho dos policiais, promovendo a discussão de casos e o papel de cada um nas redes de proteção”, diz Antonio Carlos. “E estamos elaborando instrumentos de avaliação para a identificação de diferenças entre o atendimento prestado por quem participou do curso e por quem não participou. Aí, sim, teremos indicadores mais consistentes de avaliação dos resultados. O que já deu para notar claramente foi o interesse e a boa assimilação de conteúdo pelos participantes. Agora, é esperar para ver as mudanças de atitude e o melhor atendimento aos jovens e adolescentes”.

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Para o rapper rappin Hood, o som

do hip hop pode ser pacifista, mas reflete a violência

da sociedade

SOM DA pAZ”

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Negro e morador da periferia de São Paulo, o músico Rappin Hood, 34 anos, sente quase na pele a violência vivenciada por jovens das comuni-dades mais pobres. Há 20 anos, ele encarava essa mesma situação, mas encontrou um caminho diferente no rap, com o apoio de projetos sociais no centro da cidade. De atendido pas-sou a educador e hoje defende novos programas educacionais, artísticos e esportivos voltados para a juventude. “É importante criar telecentros e cursos para ocupar a cabeça desses jovens que vivem à toa. A mente vazia é a oficina do diabo, quase sempre leva à violência”, diz o rapper, que ganhou o nome artístico inspirado no lendário herói Robin Hood, por causa das letras de suas músicas.

Paulistano, batizado Antonio Luiz Júnior, Rappin participa das ativi-dades do Jardim Arapuá, perto da favela Heliópolis, onde cresceu e ainda mora com a mulher e o filho Martin, de 5 anos. Ele se orgulha de ser uma referência positiva para os jovens. Já fazia rap quando era office-boy. Tentou se formar em Educação Física, mas, sem dinheiro para pagar a faculdade, parou e foi se dedicar à carreira de músico. Recentemente, entrou na Universidade Zumbi dos Palmares, que prioriza os alunos negros, para cursar Administração de Empresas, e de novo trancou a matrícula. Desta vez, por causa do su-cesso profissional. Em suas músicas, Rappin prega a paz e a interação dos jovens. Conquistou um Disco de Ouro com a venda de 50 mil unidades de seu segundo CD solo, Sujeito Homem 2, lançado pela Trama. Agora, está gravando novo disco por selo próprio. A seguir, os principais trechos de sua entrevista:

Aos 34 anos, o rapper paulistano Rappin Hood,

que por suas letras pacifistas ganhou o apelido inspirado

no herói lendário Robbin Hood, defende a interação

social: “Nenhuma mudança será feita por uma parcela da sociedade. A revolução

não será feita pelos rappers. Qualquer mudança precisa

de muita gente, de diferentes classes sociais, cores ou

religiões”

por _ Marilena Degelofoto _ Márcia Zoet

SOM DA pAZ”

Onda JOvem – É possível combater a violência na sociedade brasileira? Como?

Rappin Hood – Acho possível, mas não é uma tarefa fácil porque a violência está inclusa em nossa sociedade. Apesar de dizerem que este é um país do bem, da paz, o Brasil é violento, sim. Tem vários tipos de violência sendo praticados todos os dias, e a gente quase não percebe. Tem a violência doméstica, dos grandes latifundiários contra os pequenos, dos preços altos, da corrupção, da falta de saneamento básico e de vagas nos hospitais...

e a violência nas ruas, dá para ser combatida?É uma questão de infra-estrutura. Na hora que se en-

tender que é melhor construir escolas do que presídios, talvez se consiga diminuir essa parcela de violência. Na hora em que o povo for esclarecido sobre o controle da natalidade, o combate e a prevenção ao uso de drogas, tudo isso vai diminuir.

e qual é o papel da escola nisso?A escola é importantíssima e tem de absorver cada vez mais a cultura da qual o jovem gosta. Sou a favor de

as escolas terem cursos de música e serem abertas nos fins de semana para a família. No colégio,

eu fiz parte da fanfarra e aprendi a ler partitura. Eu não tinha dinheiro e

fui buscar conhecimento onde era de graça. Na igreja, aprendi a tocar vários instrumentos. Então, toda a sociedade deve absorver esses jovens, em ati-

vidades. Mas a escola é a base de tudo, embora o sistema educacional

brasileiro esteja cada vez pior. Quem educa a so-ciedade brasileira é a TV, e nem tudo o que passa na TV é certo e é bom.

você acha que alguns programas de Tv levam os jovens a praticar a violência?

Induz a isso. O capitalismo e o consumismo mostrados pela TV levam os jovens a cometer erros,

sim. Ninguém quer ser pé-rapado. Todo mundo quer andar com um bom tênis, ter uma moto, um bom carro.

Eu não acho que o fato da pessoa ser pobre justifica fazer algo errado. Porque eu não fui fazer. E muitos não vão fazer. A maioria que mora na periferia não é bandido. Se esses jovens tivessem mais oportunidades de educação, de cursos profissionalizantes ou de um primeiro emprego... Aqui na minha comunidade existe o Clube Arapuá, que é nossa área de lazer, onde joguei bola e venho hoje com meu filho. Tem um grupo que fica a tarde toda lá, sem fazer nada. Não posso dizer que são todos vagabundos. Mas, qual é a opção deles? Aqui poderia haver aulas de basquete, vôlei... Mas não há projeto do governo no bairro. Então, eles vão para a escola pela manhã e, como não têm dinheiro para pagar um curso de computação, ficam à toa.

você também passou por isso quan-do era mais jovem?

Eu fui um garoto assim, tive uma fase de desempregado. Hoje eu vivo da minha música, que prega contra a criminalidade, a violência, a discrimina-ção e o governo que rouba. Já fiz show no morro e na cadeia.

Fale sobre sua trajetória em pro-jetos que lidam com a proteção de jovens.

Eu comecei como um oficinando, quando era office-boy e freqüentava o Metrô São Bento e a Galeria 24 de Maio, no centro de São Paulo. Lá, eu conheci o Geledés, o Instituto da Mulher Negra, que tinha o projeto Rappers, com algumas oficinas. Eu assisti a várias e, quando foi criado o Centro de Defesa da Criança e do Adolescente no Ipiranga, fui indicado pelo Geledés para ser um dos ofici-neiros. Depois de dois anos e meio, eu passei a ser também um educador de rua para acompanhar a molecada com passagem pela Febem que estava em liberdade assistida. Fui me envolvendo cada vez mais com essas questões e assumi por um ano a presidência do Centro de Defesa. Até hoje eu faço palestras lá sobre rap e hip hop. Acompanho tudo o que acontece na minha comunidade, como o projeto Bate Lata, que é de afro-reggae.

essas organizações têm projetos que estão afastando os jovens da violência?

Eu sou um fruto desses projetos de inclusão, que ajudaram em minha caminhada. Eu poderia ter tomado outro rumo. Poderia ter sido mais um ladrão, mais um traficante. Esses projetos foram um respaldo para mim. Abriram uma porta. Eu me identifiquei com a proposta deles, como outros: o DMN, os Racionais, os Metralha, que também tocavam lá. Os projetos foram importantes para uma geração.

“EU SOU UM FRUTO DESSES PROJETOS DE INCLUSÃO, QUE AJUDARAM EM MINHA CAMINHADA”

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Como a juventude pode contribuir para a promoção da paz?

Os jovens não são violentos. Eles praticam a violência, mas muita vio-lência é praticada contra eles. Alguns precisam perceber que um cara não é seu inimigo porque curte outro estilo musical, torce para outro time ou tem outro tom de pele. Temos de buscar juntos uma sociedade melhor para todos. Os jovens devem se politizar. Política é chato, mas governa nossa vida. Eles devem entrar na política, começando pelo grêmio da escola. Muitas mudanças em nosso país fo-ram feitas pela juventude. Hoje a UNE está em outras mãos porque os que conseguem estudar não são os pobres que querem revolucionar. Mas a Tropi-cália foi um movimento musical criado por jovens que agora são formadores de opinião e estão até em posições de comando no país.

Qual é a contribuição da arte para a paz?

A arte é um dos maiores veículos para o povo pobre e para o povo negro. Pode contribuir tanto como agente reivindicatório como educacional. Mas todos podem contribuir para a paz, tanto nos projetos como no cotidiano: o dono de uma metalúrgica, a escola de samba...

em suas letras, você contesta o rap como um discurso a favor da violência.

Eu digo que o rap é o som da paz, mas, pregando a paz, muitas vezes a gente encontra a violência. Um cara vai ao show, bebe, fica louco, arruma briga, aí dizem que o rap é violento. Mas é a sociedade como um todo que está violenta. O rap é um espelho da sociedade, fala dessa violência e mostra essa violência.

mas as letras dos rappers têm uma provocação para a luta pela igualdade.

Eu me identifico muito com o discurso de não-violência de Martin Luther King. Por isso, escolhi o nome dele para meu filho. Eu não vou atacar a violência com violência. Os governantes já estão praticando a violência contra nós. O povo precisa de cultura e educação para saber como buscar o que lhe é de direito. A gente tem de usar a inteligência para reivindicar e cobrar do vereador e do deputado. Precisamos preparar pessoas para exercer esses cargos e fazer alguma coisa por nós. A violência não leva a nada.

Sua formação religiosa ajudou a afastá-lo da violência?

Ajudou. Passei pelo catolicismo, pelo evangelismo, pelo espiritismo, pelo bu-dismo... Sem acreditar que existe uma força maior, que governa e pode mudar o mundo, fica difícil vencer. A religião tem papel importante na busca pela paz porque é um dos aglutinadores do povo. Um pastor, quando fala em uma igreja, pode fazer a pessoa pensar de maneira diferente em relação à vio-lência. Precisamos dialogar, mas sem a vaidade do tipo ‘eu sou crente, você é católico; eu sou de tal partido e você é de outro’. Nenhuma mudança será feita por uma parcela da sociedade. A revolução não será feita pelos rappers. Qualquer mudança precisa de muita gente, de diferentes classes sociais, cores ou religiões.

você se sente vítima da violência policial por ser negro?

Que a polícia é racista todo mundo sabe. Ainda hoje eu tomo geral.

Como combater esse tipo de vio-lência?

Não tem jeito, está embutido na sociedade brasileira. Sempre vai ter um cara que não gosta de negão. E também existe o negão rancoroso, que não vota em branco. Eles não entendem que o Brasil é multirracial. Precisamos apren-der a viver com as diferenças. Eu gosto de absorver outras culturas: saber como esquimó faz iglu ou como europeu toca. O mundo tem de ser assim.

Com sua música, você acredita que ajuda a afastar os jovens da violência?

Eu tento ajudar, mas eu sou um grão de areia. Há uma parcela de jovens que me ouvem. Mas a grande saída está nos projetos sociais. Eu quero montar um curso de música para jovens em uma área da prefeitura com instrumentos abandonados aqui do bairro. Do Clube Arapuá saiu o Magrão, que joga futebol no Internacional de Porto Alegre. Se tirar daqui mais um jovem para um time ou grupo musical, será um a menos com a cabeça desocupada, que quase sempre leva para a violência. Mente vazia é a oficina do diabo. Temos de ocupá-la com objetivos.

Para rappin Hood, “a escola é importantíssima e tem de absorver cada vez mais a cultura da qual o jovem gosta. sou a favor de as escolas terem cursos de música e serem abertas nos fins de semana para a família”

luneta

Um rápido olhar sobre a situação dos jovens e ado-lescentes brasileiros em conflito com a lei revela um quadro desalentador. O país tem hoje mais de 15 mil deles privados de liberdade. Noventa por cento deles são do sexo masculino, 60% são negros e 51% não freqüentavam a escola na época do delito. Quase 90% são usuários de drogas e oito em cada dez vivia com a família, cuja renda era de apenas dois salários mínimos. Embora a maioria tenha praticado atos infracionais leves, de menor gravidade – como os delitos contra o patrimônio –, todos foram enviados para unidades de internação que, em geral, não asseguram os requisitos mínimos de saúde e dignidade humana. Uma pesquisa realizada em 2002 com diretores de entidades e pro-gramas de atendimento socioeducativo de internação revelou que o ambiente físico de 71% das unidades era inadequado às necessidades da proposta estabelecida pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Não é de admirar, portanto, que essas instituições tenham se transformado num barril de pólvora, incapazes de cum-prir os objetivos para os quais foram criadas – reeducar e reintegrar os jovens na sociedade. Pelo contrário, viraram escolas da violência e do crime.

ENTRE GRADES

Por _ Yuri Vasconcelos

Para reverter esse quadro, dizem os especialistas, é necessário im-plementar o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase), elaborado pela Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República (SEDH) e o Conselho Nacional de Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), com o apoio de dezenas de entidades da socieda-de civil. A proposta, transformada em

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O SISTEMA DE SOCIOEDUCAÇÃO PARA JOVENS EM CONFLITO COM A LEI É ALTERNATIVA À LÓGICA DO APRISIONAMENTO QUE PREPONDERA NO PAÍS

projeto de lei e atualmente em trami-tação no Congresso Nacional, prioriza as medidas socioeducativas em meio aberto – como as de prestação de serviço à comunidade e liberdade as-sistida – em detrimento das restritivas de liberdade, como semiliberdade e in-ternação em unidades educacionais. O documento é não apenas uma tenta-tiva de reverter a tendência crescente de internação dos adolescentes, mas, sobretudo, de confrontar sua eficácia invertida, já que a elevação do rigor das medidas não tem melhorado a in-clusão social dos egressos do sistema socioeducativo.

“O Sinase fortalece o ECA ao en-fatizar a proposta de política socio-educativa como uma articulação em rede, visando à integração de políticas setoriais, como assistência social, educação, saúde, trabalho e emprego, previdência social, cultura,

esporte, lazer e segurança pública”, diz a psicóloga Maria Luiza Moura Oliveira, representante do Conse-lho Federal de Psicologia no Conanda. “Ele pode ser a ponte do olhar vingativo para o olhar educativo voltado aos adolescentes em conflito com a lei”, diz Fábio Silvestre da Silva, gerente do projeto Atendimento Socioeducativo de Adolescentes em Conflito com a Lei, da Subsecretaria de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente da SEDH.

O pedagogo mineiro Antonio Carlos Gomes da Costa, que participou da formulação do ECA, em vigor

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desde 1990, tem opinião parecida. “A medida de internação deve ser aplicada obedecendo aos princípios da brevidade e da excepcionalidade, como determina o ECA. Enquanto ela prevalecer sobre as medidas socioe-ducativas em meio aberto, nós não estaremos, infelizmente, trilhando o caminho certo da municipalização e regionalização de sua aplicação”, afirma. Para o especialista, o Sinase é a iniciativa de maior ambição, en-vergadura e profundidade criada até hoje nesta área: “Para implementá-lo, precisamos fazer três construções: de propostas de atendimento, de es-paços físicos adequados e equipados, e de equipes preparadas para praticar o novo modelo de atendimento. É um salto triplo”.

Cultura da vingança O Sinase bate de frente com a

lógica do internamento de jovens que hoje prepondera no país – no decorrer de uma década, o número de internos subiu de 4.245, em 1996, para 15.426, no ano passado. “Esta é uma cultura antiga baseada na vingança, na punição e na reação”, diz o juiz Humberto Costa Vascon-celos Júnior, da 3ª Vara da Infância e Juventude do Recife (PE). Ele explica, no entanto, que muitos magistrados não aplicam medidas socioeducativas alternativas em razão da inexistência da retaguarda necessária. “Muitos

municípios brasileiros não oferecem condições para os juízes aplicarem medidas em meio aberto, como a liberdade assistida ou a prestação de serviços à comunidade”, afirma. Para inverter essa lógica, o juiz pernambucano, que também está à frente da Coordenadoria da Infância e Juventude do Tribunal de Justiça de Pernambuco, criou, em meados de 2006, o programa Liberdade Assistida Universitária, no qual estudantes do ensino superior acompanham e auxiliam adolescentes no cumprimento de medidas socioedu-cativas em meio aberto.

“A liberdade assistida sempre foi considerada uma medida melhor, por ter mais efetividade do que as outras. O sistema fechado, da forma que existe hoje, está fadado ao fracasso, pois tem apenas caráter pu-nitivo”, diz o magistrado. No programa pernambucano, universitários de diversos cursos (direito, psicologia, serviço social, enfermagem, pedagogia, etc.) entram em ação no momento em que o juiz dá a sentença, visitando a comunidade onde os adolescentes mo-ram e orientando-os, para melhorar as condições de vida do jovem e de sua família. No fim de agosto, dez instituições superiores de ensino já tinham aderido ao Liberdade Assistida Universitária, e 96 alunos haviam recebido a capacitação para atuar junto aos jovens em conflito com a lei. “Entre os primeiros 15 adolescentes em liberdade assistida acompanhados pelo programa, não houve nenhuma reincidência. É um indicativo do sucesso da iniciativa”, comemora Ademir Soares de Oliveira, coordenador adjunto da Infância e Juventude de Pernambuco.

Projeto semelhante e igualmente bem-sucedido está sendo implementado no Jardim Ângela, bairro paulistano marcado pela violência e pobreza. Na faixa etária de 15 a 24 anos, a localidade, dona do maior índice de exclusão social entre todos os bairros da capital paulista, registra 150,1 homicídios por 100 mil habitantes. Para ajudar a transformar esse quadro, a organização não-governamental Sociedade Santos Mártires criou, há dez anos, o projeto Redescobrindo o Adolescente na Comunidade (RAC) – rebatizado no ano passado para Núcleo de Proteção Especial RAC –, com o objetivo de auxiliar no cumprimento de penas alternativas impostas a jovens da comunidade autores de delitos leves. “Nossa missão é estimular, orientar e acompanhar adolescentes, jovens e suas famílias, por meio de atividades socioeducativas que os levem a exercer sua cidadania”, diz Mônica Costa Sampaio, coordenadora do programa.

Depois que são acolhidos, os jovens assistidos pelo núcleo elaboram, com a ajuda de psicólogos, um plano de metas, que servirá como fio condutor do trabalho. Essa estratégia permite um acompanhamento indivi-dual de cada adolescente e está na base do sucesso do projeto. “Atendemos 120 jovens e adolescentes por mês e no nosso último diagnóstico, relativo a 2006, tivemos uma taxa de reincidência de apenas 10%”,

conta Mônica. Esse índice é menos da metade dos 22% de reincidência dos jovens atendidos nas 95 unidades da Fundação Casa, antiga Fundação Estadual para o Bem-Estar do Menor (Febem), de São Paulo. A atuação da Santos Mártires tem sido reconhecida e elogiada por diversos organismos nacionais e internacionais, como o Unicef, principalmente porque o programa mobiliza a comunidade, as famílias e os próprios adolescentes a debaterem e tomarem decisões sobre o que fazer para reintegrá-los à comunidade.

Rapidez na sentença Outra experiência positiva que

tem como base a aplicação das me-didas socioeducativas alternativas previstas no ECA pode ser vista no município de São Carlos, no interior de São Paulo. Criado há seis anos, o Nú-cleo de Atendimento Integrado (NAI)

o númerode jovens presos triplicou em uma década, e há pouca estrutura para a aplicação de penas alternativas. o sistema nacional de atendimento socioeducativo (sinase) tornaria mais efetivas a punição e a reintegração social

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PROGRAMA NÚCLEO DE PROTEÇÃO ESPECIAL RAC (REDESCOBRINDO O ADOLESCENTE NA COMUNIDADE), DA SOCIEDADE SANTOS MÁRTIRESÁREA DE ATUAÇÃO JARDIM ÂNGELA, EM SÃO PAULO/SPPROPOSTA Atender jovens e adolescentes em medida socioeducativa de liberdade assistida e de prestação de serviço.JOVENS ATENDIDOS 120 jovens por mêsAPOIO Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento SocialCONTATO Rua Olga Moretti Ferrari, 22 – Jardim Ângela – São Paulo/SP – CEP 04940-020. Tel.: 11/5833-6020, site: www.santosmartires.org.br

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PROGRAMA LIBERDADE ASSISTIDA UNIVERSITÁRIA, DA COORDENADORIA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE PERNAMBUCOÁREA DE ATUAÇÃO PERNAMBUCOPROPOSTA Atender jovens e adolescentes em medida socioeducativa de liberdade assistida.JOVENS ATENDIDOS 15 (até agosto de 2007)APOIO Associação Beneficente Criança Cidadã, Escola Superior de Magistratura de Pernambuco e Procuradoria Geral de Justiça de PernambucoCONTATO Fórum Thomaz de Aquino Cyrillo Wanderley, Avenida Martins de Barros, 593, 2º andar – Santo Antônio – Recife/PE – CEP 50010-230. Tel.: 81/3419-3638

PROGRAMA NÚCLEO DE ATENDIMENTO INTEGRADO (NAI), DA PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO CARLOSÁREA DE ATUAÇÃO: SÃO CARLOS/SPPROPOSTA Atender jovens e adolescentes em medida socioeducativa de semiliberdade, liberdade assistida e de prestação de serviço.JOVENS ATENDIDOS 623 (janeiro a agosto de 2007)APOIO Secretaria Estadual de Segurança Pública, Ministério Público, Vara da Infância e da Juventude, Procuradoria de Assistência Jurídica e Conselho TutelarCONTATO Rua Marechal Deodoro, 2490 – Centro – São Carlos/SP – CEP 13560-201. Tel.: 16/3307-6441, site: www.linkway.com.br/nai

atende cerca de 80 jovens por mês e tem ajudado a reduzir os índices de criminalidade na cidade. O êxito do programa se deve, sobretudo, à agilidade com que a pena alternativa é aplicada – no máximo, dez dias após a infração. Segundo um dos ideali-zadores do projeto, padre Aguinaldo Soares Lima, a rapidez do processo é de extrema importância porque reduz a sensação de impunidade e desestimula os adolescentes a se envolver com a criminalidade.

O enfoque de todo o trabalho do NAI, que conta com o apoio da prefei-tura local, é que a vida de um adoles-cente é algo muito mais amplo do que o ato infracional olhado isoladamente, fora do contexto de sua existência. Para os gestores do programa, não se trata simplesmente de julgar o delito cometido, mas, em especial, de co-nhecer o adolescente e o significado da infração na sua história de vida. A abordagem tem dado certo, e o índice de jovens e adolescentes que voltam a cometer atos infracionais, segundo a secretária da Infância e Juventude de São Carlos, Rosilene Mendes dos Santos, é de apenas 4%.

Iniciativas como essas, acreditam muitos especialistas que tratam da questão da criminalidade juvenil, são mais eficazes para a reinserção social dos adolescentes e jovens e a redução da violência do que o endu-recimento do ECA, ou a redução da maioridade penal – propostas suge-ridas por parte da sociedade como

A GRANDE MAIORIA DOS 15 MIL JOVENS PRESOS ENFRENTA CONDIÇÕES DEGRADANTES, QUE NÃO FAVORECEM SUA REINTEGRAÇÃO SOCIAL. MENOS DE 5% COMETERAM CRIMES GRAVES

são suficientes para socioeducar um jovem. Para um adolescente de 12 anos, três anos corresponde a 25% da duração de sua vida.”

“Com uma proposta de trabalho adequada, é possível reintegrar os jovens infratores ao convívio social, mesmo os autores de crimes violen-tos”, diz Fábio Silvestre da Silva. A psicóloga Maria Luiza, do Conanda, tem opinião semelhante: “É preciso fazer valer o que está previsto na lei, ou seja, acompanhar o infrator ao longo do cumprimento da medida de privação de liberdade e fazer com que ele esteja preparado para voltar ao convívio da comunidade”. Esta conduta, diz ela, é muito mais eficaz do que aumentar o tempo de reclusão de adolescentes e jovens infratores, que podem ficar detidos até a idade de 21 anos.

alternativa para lidar com os 5% dos jovens infratores que cometem crimes graves. “O ECA não é benevolente com os jovens em conflito com a lei. Ele é, de fato, se-vero e justo. O que passa para a sociedade a impressão contrária é a aplicação e a execução das medidas sem a observância rigorosa do que prescreve a legislação”, diz o educador Antonio Carlos Gomes da Costa, autor de diversos livros sobre socioeducação de jovens infra-tores. “Os três anos de privação previstos no Estatuto, se bem trabalhados e corretamente aproveitados,

.gov.com

“O maior perigo contra a paz é o desequilíbrio eco-nômico”. A frase dita pelo cientista brasileiro Josué de Castro, na década de 50, parece mais atual do que nunca. Indicado ao prêmio Nobel da Paz duas vezes, ele afirmava que jamais chegaríamos à paz com tanta desigualdade social. O Nobel Alternativo da Paz e um dos idealizadores do Fórum Social Mundial, Francisco Whitaker, afirma que a sociedade tende a naturalizar a desigualdade social, o que paralisa as pessoas – inclusi-ve os jovens. Assim como Josué de Castro, ele defende que a paz só é possível com dignidade para todos. Mas, como se sabe, isso demanda esforços amplos, incluindo políticas públicas. Segundo pesquisadores e empreen-dedores sociais que trabalham com o tema, o governo tem um leque de ações que, na condição atual do país, podem ser interpretadas como fomentadoras da paz, mas ainda é preciso coordenar melhor os esforços entre os vários níveis governamentais e investir numa mudança mais efetiva da forma como a sociedade lida com a questão da violência em relação à juventude.

Para o pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência, da Universidade Federal do Ceará, Élcio Ba-

MAIS pORTASPor _ Cristiane Parente

tista, em virtude do clima de violência que se vive no Brasil, são muitas as iniciativas governamentais que podem ser qualificadas de “pacifica-doras”, no sentido de construir uma sociedade assentada nos valores de respeito e reconhecimento do outro e possibilitar condições melhores de vida. Nessa direção, ele destaca ações mais amplas, como os programas federais de qualificação (Projovem/Escola de Fábrica) e de melhoria da escola e ingresso no ensino superior

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SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA DEMANDA AÇÕES SOCIAIS DO GOVERNO, MAS ESPECIALISTAS SUGEREM AMPLIAR INTEGRAÇÃO E ESPECIFICAR AS INICIATIVAS PARA JOVENS

(Fundeb/Fundef/Prouni); as políticas de efetivação dos direitos humanos (Balcões de Direitos) e de promoção da cultura (Pontos de Cultura/ Reve-lando os Brasis); a entrada em vigor do Estatuto do Desarmamento e os programas de redistribuição da rique-za (Bolsa Família), além da criação do Conselho Nacional de Juventude e das secretarias de juventude em vários estados e municípios.

Num nicho mais específico de ações, o coordenador geral de Educa-ção em Direitos Humanos da Secre-taria Especial de Direitos Humanos, Erasto Fortes Mendonça, afirma que a instituição atua segundo uma noção de paz como antítese da injustiça ou dos mecanismos que produzem a violência. É a partir daí que as iniciativas são pensadas. Para ele, a paz é resultado de uma construção

histórica e, por isso, é preciso uma intervenção nas políticas – que são apenas caminhos em busca da jus-tiça – para que a sociedade possa ser mais igualitária. “Cabe ao governo propor e conceber políticas públicas, parâmetros de funcionamento, dar apoio técnico e financeiro. A execução cabe a estados e municípios. E os jovens podem pressionar os poderes locais para que elas sejam implementadas”, ressalta.

O coordenador adianta que a educação em direitos humanos, hoje uma ação da SEDH que pode ser uma porta para a cultura de paz entre crianças, adolescentes e jovens, passará a ser, em 2008, um programa especí-fico que apoiará a implantação dos planos estaduais de educação em direitos humanos. A proposta tem parceria do Ministério da Educação, que por sua vez desenvolve: Brasil Alfabetizado, ProUni, Conexões de Saberes, Diversi-dade na Universidade e Escola que Protege – programas que, no entendimento do governo, têm contribuído para a socialização da educação e a reflexão sobre diferenças sociais, cidadania, diversidade e a redução da violência, especialmente por meio da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade.

Avanços e desafiosErasto reconhece que o caminho

percorrido ainda é pequeno em rela-ção à demanda do país, mas afirma que há bons exemplos de programas que podem contribuir na busca pela paz, especialmente entre a juventu-de, e cita o recém-lançado Pronasci. O Programa Nacional de Segurança Pú-blica com Cidadania, do Ministério da Justiça, propõe a segurança integrada à educação, cultura e família. São 94 ações, muitas delas integradas com os ministérios da Educação e da Cul-tura, direcionadas principalmente aos jovens de 15 a 29 anos.

Para Clarissa Huguet, membro do Conselho Nacional da Juventude (Conjuve) e da ong carioca Viva Rio, o programa é um avanço em relação a outros planos de segurança, por incorporar a questão da cidadania e os jovens em situação de risco, em conflito com a lei, já que não havia políticas públicas para eles. Ela res-salta, porém, que além da redução da violência estrutural que assola o país, é preciso pensar em políticas integradas nos três níveis de governo (federal, estadual e municipal), que garantam aos jovens uma vida digna, com emprego, educação, comida, lazer. Só assim será possível alcançar a paz.

Clarissa destaca a criação da Se-cretaria Nacional de Juventude e os programas ProJovem e Segundo Tempo (Ministério do Esporte) como iniciativas positivas para o estabele-cimento de uma cultura de paz entre os jovens. E sugere que o governo federal tenha um olhar mais atento ao trabalho das ongs, para ver e co-piar o que está dando certo, além de elaborar políticas menos repressivas e que alcancem as causas dos proble-mas dos jovens. “Precisamos evitar que o adolescente e o jovem entrem na criminalidade, na violência. Se não fizermos isso, não conseguiremos ter uma sociedade igualitária”, diz.

O tripé para a juventudeA parceria do Pronasci com os

ministérios da Educação e da Cultura não é gratuita. Essas áreas, assim como o esporte, são consideradas fundamentais no desenvolvimento da juventude e na oferta de possi-bilidades que afastam o jovem da violência. Nesta direção, o Ministério do Esporte desenvolve o programa Segundo Tempo, que prevê a amplia-ção das práticas esportivas no contra-turno escolar. Há também o Esporte e Lazer da Cidade (PELC) e o Paz no Esporte. Os agentes dos programas são capacitados para, além das ati-vidades esportivas, ensinar noções de cidadania, protagonismo juvenil, combate ao preconceito, prevenção às drogas e cultura de paz, entre outros temas.

A ENORME DIVERSIDADE DOS JOVENS BRASILEIROS REQUER FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS UNIVERSAIS, MAS COM AÇÕES ESPECÍFICAS PARA ALCANÇAR A TODOS

No âmbito de programas que atraem a juventude e podem contribuir para uma cultura de paz, o Ministério da Cultura (MINC) atua em duas frentes: a promoção da diversidade e democratização da cultura. No primeiro item, as ações da Secretaria da Identidade e da Diver-sidade Cultural são, segundo o secretário substituto, Ricardo Anair Barbosa de Lima, voltadas para culturas populares, étnicas, minorias sexuais e redes culturais (da terra e dos estudantes), entre outras. Para Lima, reconhecer e valorizar a diversidade cultural são prá-ticas ligadas à busca da solidariedade entre os povos e ao desenvolvimento dos intercâmbios culturais, possibilitando uma cultura de paz.

Já a Secretaria de Programas e Projetos Culturais (SPPC) tem entre seus projetos os Pontos de Cultura, com forte apelo à juventude. Segundo o secretário Célio Turino, os cerca de 650 pontos foram concebidos como espaços de recepção e irradiação de cultura, conver-gência de ações, idéias e pessoas, sem segregação por idade ou gênero, o que, segundo ele, contribui para uma cultura de paz.

Mais integração Embora alguns dos programas

citados exijam articulação entre se-cretarias e ministérios e o debate com a sociedade, por meio dos conselhos, a coordenadora do Viva Rio Clarissa Huguet ainda recomenda que, ao elaborar programas e projetos, os governos pensem nas intersecções entre áreas e no diálogo permanente com a sociedade.

Huguet também afirma que é pre-ciso uma maior capacitação, tanto do governo como da sociedade, para se debater violência entre jovens e se buscar os caminhos da paz: “É preciso sair do senso comum de que os jovens são os protagonistas

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da violência, quando, na verdade, são as maiores vítimas. Apenas 1% dos crimes cometidos contra a vida são praticados por eles”. Segundo Clarissa, há cerca de dez milhões de rapazes e moças, entre 15 e 24 anos, em situação de risco social no Brasil. Eles vivem em comunidades pobres, abandonaram a escola, estão desempregados e fora das políticas públicas.

Além de um debate mais qualifica-do, André Porto, coordenador da Ca-ravana Comunidade Segura, que este ano tem como tema “O impacto da violência sobre crianças e jovens”, de-fende uma participação maior e mais integrada da sociedade na cobrança e acompanhamento das políticas públi-cas. Essa é, inclusive, uma bandeira do

movimento, que existe há quatro anos e percorre várias cidades do país realizando oficinas e debates.

Este ano a escolha do tema foi baseada em dados do IBGE, que mostram que é na faixa etária de 15 a 24 anos que se encontram os piores índices de desem-prego, falta de formação profissional, evasão escolar e envolvimento com drogas e violência. A idéia, segundo André Porto, é ter uma visão otimista, reconhecendo o que está sendo feito de positivo, mas sem perder a dimensão crítica, cobrando dos governos o que ainda não foi feito e sugerindo políticas públicas. A caravana percorrerá até o fim do ano 12 capitais, em parceria com órgãos do governo federal e da sociedade.

O pesquisador Élcio Batista alerta, porém, para a grande diversidade de jovens no país. Para alcançá-los, é necessário que se formulem políticas públicas univer-sais, mas com ações específicas e diversificadas, que dêem conta de diferentes demandas. Batista ressalta a importância dos jovens atuarem de forma integrada, em associações, para cobrarem políticas públicas vol-tadas para a juventude, porque “a democracia tende a beneficiar quem está mais organizado”, lembra. “A cultura de paz está assentada na dinâmica sujeito-verbo (que é a palavra) e não sujeito-violência (que é a instrumentalização do outro), numa cultura que valoriza a vida e a palavra”.

A valorização do jovem enquanto cidadão capaz é o que pode ajudar a tirá-lo da violência ou evitar que ele se aproxime dela, diz Clarissa Huguet. “O governo avançou, mas é preciso ir além. É necessário valorizar o jovem, dar a ele educação de qualidade e emprego”. Como? Ela sugere, para começar, que as empresas públicas tenham a obrigação de destinar de 5% a 10% das vagas de empregos para jovens egressos de sistemas penais, que estão tentando recuperar o tempo perdido com a violência, adquirir auto-estima e mudar de vida. Isso é um caminho para a paz, e, segundo Clarissa, basta o governo abrir a porta.

ciência

Quando o assunto é paz, a violência parece entrar au-tomaticamente na pauta. Por que o ser humano parece preferir a via do confronto para resolver os conflitos? “Embora se fale muito sobre o tema, há pouco esta-belecido sobre ele”, diz o terapeuta familiar paulistano Paulo Fernando Pereira de Souza. “Todo homem tem impulsos agressivos. Agora, o que vai fazer com isso

MAPAS DO MAL-ESTAR

por _ Karina Yamamotoilustração _ La Goma

é outra coisa”, completa. Segundo o professor Yves de La Taille, do Insti-tuto de Psicologia da Universidade de São Paulo, os conflitos fazem parte da convivência humana, mas o confronto é uma escolha. Ou seja, a agressividade até pode ser inata, já a violência... “Quem vence a luta resolveu seu problema. Já a saída pacífica é um jeito mais complexo de resolução”, pondera o pesquisa-dor em psicologia moral. A premissa vale para o conjunto da sociedade, incluindo os jovens.

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PARA ESPECIALISTAS, A CONEXÃO ENTRE VIOLÊNCIA, ESPECIALMENTE A JUVENIL, E CRISE DE AUTORIDADE É RELATIVA. MAIS REVELADOR É QUESTIONAR OS VALORES CONTEMPORÂNEOS

Segundo a historiadora Riane Eis-ler, em seu livro O Poder da Parceria (Editora Palas Athena), nos últimos cinco mil anos, os modelos sociais de todas as instituições – família, governo, escola, exército – foram baseados em relações de dominação, em que se espera que os mais fracos sigam os valores e padrões dos mais fortes. “Essa hegemonia deu força à violência”, comenta o psicanalista Jo-nas Melman, assessor da área técnica de Cultura de Paz, Saúde e Cidadania da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo. Para ele, a violência apa-rece como um sintoma do mal-estar causado pela exaustão desse modelo antiquado. “No exercício do poder, gera-se muita violência”, diz.

Para todos os especialistas, violên-cia não se refere única e exclusiva-mente ao ataque físico, que é o mais noticiado. “Se olharmos para nossa história, existem modalidades que parecem invisíveis, como o extermínio dos índios ou a escravidão”, diz Paulo de Souza. O histórico de violência con-tra os jovens, tradicionalmente visto como parte mais fraca nas relações de poder dentro da família e na esco-la, também não é favorável. É recente

a condenação, na forma de manifestações de violência, do abuso infantil, do espancamento de filhos pelos pais, do direito da escola à punição física dos alunos, e do maltrato de estudantes por seus colegas.

E se os tempos estão mudando, há novas modali-dades emergindo. “A violência também pode ser sutil, como a codificação extrema da felicidade que é trans-mitida pela mídia”, afirma Jonas Melman. Quando as propagandas mostram belas curvas e a magreza como modelo de beleza, elas podem provocar sofrimento numa jovem que acredita ser esse o único modo de ser bonita. E se ela não conseguir? Esse também é um tipo de agressão contra a individualidade dessa moça. “Consumimos não apenas produtos materiais, mas também idéias, valores e crenças que acabam gerando desequilíbrio nas relações”, diz Jonas.

Quais valores?Quando se constata que as estatís-

ticas de mortalidade entre os jovens apontam como causa mais impor-tante a violência, os argumentos ganham outras conotações. É quase automático diagnosticar uma crise de valores que promovam a felicidade e permitam a convivência pacífica. Para o senso comum, uma suposta falta de obediência dos jovens à autoridade é a grande causa do mal-estar pós-moderno. Mas os especialistas se jun-tam, em coro, para alertar: esse pode ser um engano perigoso. “Não precisa haver referência à autoridade para não haver violência. Pelo contrário, a autoridade pode levar justamente a ela”, alerta Yves de La Taille. “Os ter-roristas, por exemplo, acatam muito a autoridade de seus líderes.”

Acostumadas a respeitar as idéias de Estado e de Lei, é natural para a maioria das pessoas evocar figuras de autoridade, como se somente elas bastassem para colocar as coisas no lugar. Essa construção psicossocial tem relação direta com a figura sim-bólica do pai. Mas, se a instituição

NÃO DÁ PARA SER FELIZ SEM PENSAR, E A PAZ É UM PROCESSO SOFISTICADO. A ESCOLA DEVE APELAR À RACIONALIDADE E TRABALHAR NO JOVEM A INTELECTUALIDADE, A LÓGICA, O PENSAMENTO

familiar vem se transformando radicalmente, não é natural que a figura e a função do pai também tenham se transformado? “Do ponto de vista da psicanálise, podemos, sim, falar da crise da figura do pai – que, em última instância, é a lei, é o impedimento, é o limite.”, explica a pesquisadora Clary Milnitsky-Sapiro, da Uni-versidade Federal do Rio Grande do Sul.

“Para que você possa pertencer a um grupo social, tem de obedecer às normas. A psicanálise fala da falta do pai na contemporaneidade. Faltando a lei, há um extravasamento, uma falta de limite do sujeito em relação ao outro. E isso favorece a violência”, diz Clary Milnitsky-Sapiro. Daí a importância da família, mesmo que ela não seja mais nuclear, como o modelo tradicional. Afinal, esse é ainda o primeiro ambiente de proteção que conhecemos, ou, como diz Clary, “o berço das referências afetivas que nutrem a segurança

para ser e para responder ao mundo”. Paulo de Souza completa: “Fala-se tanto em protagonismo juvenil, mas para isso acontecer é preciso haver platéia”. Ou seja, se queremos que os jovens sejam cada vez mais atuantes e donos de suas histórias, é preciso criar um ambiente acolhedor em que eles possam se expressar.

Portanto, a conexão entre fim da família nuclear e cultivo de valores é relativa. “Não estamos vivendo uma crise nesse sentido, de que não temos mais valores”, pondera Yves. “Se há vida humana, há valores. Talvez a pergunta seja: que valores estão em alta?” Para o professor da Universidade de São Paulo, o jovem está hoje diante de um deserto: não há perspectivas de vida, não há espe-ranças de um futuro promissor como profissional ou como projeto de pes-soa. Clary Milnitsky-Sapiro completa: “O jovem está em busca de uma identificação e vai buscar modelos nos adultos, mas ele não acha”.

Vazio existencialEssa falta de modelos se explica

num contexto de mudanças vertigi-nosas que deixam o mundo cada vez mais complexo. Segundo a professora Clary, é preciso observar as mudanças dos últimos vinte anos na economia, no consumo e, por conseqüência, nas relações humanas. Do ponto de vista geográfico, segundo a pesquisadora, a globalização aparece como grande fator de transformação. Caem as fronteiras – uma das metáforas para o pai que estabelece limites –, e os investimentos econômicos se trans-portam da produção para a circulação de bens. “Quando muda a maneira

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de gerar e circular as riquezas, vai mudar também a sociedade”, afirma Clary Milnitsky-Sapiro. Não há mais investimento no desenvolvimento, mas, sim, na circulação de produtos – produtos esses que duram menos, assim como as modas, que são cada vez mais instantâneas. “O valor externo é mais importante, e você só será reconhecido se tiver um dos ícones de consumo que te conferem identidade”, explica.

Com os valores constituídos e colocados nos objetos, continua Clary, é mais fácil ter a experiência do vazio. “Quando você tem finalmente tudo o que quer, aquilo tudo já não vale mais”, diz a professora. “Esse vazio existencial gera permanente insatisfação, e a angústia humana é exacerbada.” A combinação desse vazio existencial com a comunicação que valoriza o consumo, mais o ime-diatismo, resulta numa frustração sem vislumbre de ser aplacada. “Em que projeto você vai investir se o consumismo e o narcisismo colocam as suas necessidades à frente da dos outros?” questiona Clary. “Você perde a referência do outro, uma vez que a propaganda lança um objeto e te diz o quanto é faltante. Mesmo que não tenha condições, você compra e tem de lidar com essa dívida no futuro. Para manter a circulação de bens, você passa a ser também um objeto de consumo.” Daí vem a intolerância: da nossa incapacidade de lidar com a frustração.

Para a pesquisadora, o espaço entre as gerações também está confuso. Hoje, a figura dos avós está mais próxima da dos pais que, por sua vez, está mais perto da dos filhos

– também como um resultado do culto à juventude. “Isso acarreta uma perda de referência – e não estou dizendo que isso é bom ou ruim, mas que é uma difi-culdade a mais na construção da identidade”, explica a pesquisadora.

Pensar, pensar, pensarAnalisada dessa forma, a violência em todas as suas

nuances impera nas relações, repercutindo principal-mente nas novas gerações. Sem precisar carregar nas tintas, o cenário é dramático, e muitos estão em busca de soluções, caminhos e saídas. “Precisamos pensar na paz como um valor essencial humano, um princípio que nos impulsiona para a convivência harmônica, e não um fim em si mesmo”, esclarece Regina Migliori, presidente do Instituto Migliori. “Nosso objetivo passa a ser construir uma cultura de paz.”

Há muitas maneiras de buscar essa cultura de paz. Sob esse chapéu, há muitas organizações reunidas, que vão da defesa do desarmamento às ações pela pre-servação do planeta. Causas que, registre-se, sempre atraíram a juventude. Os caminhos são múltiplos, mas com um ponto em comum: a questão do cuidado, do respeito e da solidariedade. “Estamos num processo de mudança, veja o que aconteceu com a ecologia nos últimos 30 anos”, lembra Jonas Melmann. “O homem se descobre na teia da interdependência, e entram em questão outros valores, como o amor ativo e a solidariedade.”

O professor Yves nos dá mais uma pista: “Hoje tudo é regra, é como se tivéssemos muitos mapas, mas não soubéssemos usar uma bússola”. Ele chama a atenção para a necessidade de trabalhar em nós e nos jovens a racionalidade. “Se há uma receita, ela é pensar, pensar, pensar”, afirma. “Não dá para ser feliz sem pensar. E a paz é um processo sofisticado, complexo.” Nesse terreno, a escola deve – e pode – atuar. “Podemos trabalhar na escola a intelectualidade, a lógica, o pensamento. Precisamos abrir horizontes, porque moral e ética não são gavetas”, diz o pesquisador. A cultura de paz exige dos seres hu-manos uma profunda transformação – o virar de um botão do nosso modo de funcionar, de nos relacionar, de viver em grupo. “A humanidade está diante de um desafio nunca antes proposto: o de trabalhar em equipe para que os nossos recursos não se esgotem”, afirma Regina. Para pensar no novo, é preciso haver uma mudan-ça – das pessoas e dos modos de relacionamento. Exatamente como os jovens gostam.

CONTATOS MEDIADOS

A MEDIAÇÃO PACÍFICA DE CONFLITOS E A COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA SÃO TEMA DE DEBATE ENTRE QUATRO JOVENS

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ochat da revista

Jardel FerreIra, 21 anos,de Itaobim (MG)

Mara nunes, 20 anos,de são Paulo (sP)

neGo Joe, 24 anos,de Florianópolis (sC)

Marta roCha, 24 anos,do niterói (rJ)

71Essencial para a construção de uma

cultura de paz, a mediação pacífica de conflitos tem como um de seus principais instrumentos a comuni-cação não-violenta. Na definição de um dos maiores especialistas no tema, o psicólogo americano Marshall Rosenberg, é a comunicação capaz de “ouvir e entender as necessidades da pessoa que está criando a violência e que assim permite outras maneiras de lidar com os conflitos no lugar da punição”. A questão foi debatida nes-te chat de revista por quatro jovens: a paulistana Mara Nunes, 20 anos, que cursa Comunicações na Universidade de Mogi das Cruzes graças a uma oportunidade conquistada pela ONG que a acolheu, a Associação Novolhar; o compositor da banda catarinense Nego Joe, ou Antonio Carlos Andrioni Souza, 24 anos, autor da Canção da Paz, vencedora de um festival de música promovido pelo projeto

Agente da Paz, desenvolvido em escolas públicas de Santa Catarina; a carioca Marta Reis Rocha, 24 anos, de Niterói, formada em jornalismo pela PUC-RJ, apaixonada pela cultura africana depois de participar de um inter-câmbio de trabalho voluntário na região, conduzido pela AFS Intercultura Brasil; e o mineiro de Itaobim, Jardel Mendes Ferreira, 21 anos. Estudante de Serviço Social, ele ajuda a dirimir a violência entre os jovens de sua cidade, divulgando conceitos de paz e cidadania como professor de teatro da ONG Casa de Juventude. A seguir, os principais trechos deste bate-papo.

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Marta: Punição, suspensões não resolvem. A escola deve envolver os pais para entender se a origem do conflito com o estudante é interna ou externa. Boa conversa e acompanhamento do aluno resolvem a situação em grande parte dos casos.

Nego: Cabe à escola pregar o respeito às diferenças e o desprezo à violência.Jardel: Quando a escola é boa, não são comuns os conflitos entre os estudantes.

Jardel

“a esperança de paz está em você se colocar no lugar do outro”

Jardel

oNda JoVeM: o que você identifica como maior foco de conflito nos ambientes em que vive?

Mara: A causa mais geral é a falta de co-municação, compreensão e amor ao próximo. As pessoas só se preocupam com os próprios problemas. Mas na minha realidade de vida, o maior foco de conflito é a desigualdade social, que leva à má educação, à saúde precária, ao meio ambiente ameaçado, ao desemprego, tudo que gera violência.

Nego Joe: O maior problema em qualquer ambiente é a falta de diálogo entre as pessoas, principalmente por parte dos jovens que hoje em dia não ouvem mais o que os pais e professores têm a dizer e agem de maneira irresponsável.

Marta: O individualismo é o maior foco de conflito no meu dia-a-dia. Está cada vez mais difícil se conviver em grupo e pensar nos inte-resses comuns. As pessoas estão inseguras, acuadas e mais impacientes com o próximo.

Jardel: Na minha realidade, o maior foco de conflito é o tráfico de drogas. Facções crimino-sas rivais vivem numa intensa disputa, acarre-tando diversas mortes. Crianças e adolescentes vivem nesse ambiente violento, aliciados pelos traficantes com a promessa de dinheiro fácil.

o que costuma fazer para superar um con-flito?

Nego: Procuro ser compreendido, expondo, e não impondo, meu ponto de vista.

Mara: Gosto de me sentar e ter uma conversa olho no olho com as pessoas, tentar entender o sentimento e a posição do outro. E com muita calma passar meu sentimento, minha opinião.

Jardel: O problema das drogas em minha comunidade tomou enorme dimensão. Nem as autoridades competentes têm conseguido resolver os conflitos.

Marta: O mais importante é ficar calma e ouvir sempre o outro lado. Quando se é mais madura, fica mais fácil; antes, eu agia muito por impulso.

No ambiente escolar são comuns os conflitos

entre estudantes. Como a escola deveria lidar com isso?

Mara: Acho fundamental que as escolas dêem palestras relacionadas ao fato, passem vídeos que mostrem a violência, para que os alunos tomem consciência de que a violência não leva a nada. Estimular o esporte e eventos culturais também é importante para a integra-ção entre estudantes.

o que você identifica como ações do governo ou da sociedade que contribuem para a paz?

Mara: Na periferia de São Paulo, da qual faço parte, participo de ações de três ONGs que promovem a paz e a união entre os jovens de várias maneiras: com inclu-são digital, cursos de dança, teatro, canto, artesanato, ou abrindo oportunidades de inclusão como a que contribuiu para a minha entrada na universidade.

Nego: Falta de oportunidade e de incentivo são algumas das principais causas que levam os jovens a caminhos errados. A melhor ação do governo ou da sociedade é aquela que dá ao jovem oportunidade, possibilidade de crescer como ser humano em qualquer área.

Marta: As iniciativas do terceiro setor exercem, sem dúvida, um papel importante nas periferias, criando com seus projetos oportunidades e opções na vida de muitas pessoas. Mas elas não podem e nem devem substituir a responsabilidade do Governo de, por exemplo, criar centros de esporte, cultura e lazer nessas periferias. Nada melhor que ocupar a cabeça e o tempo de crianças e jovens com atividades que transmitem valores para eles.

Jardel: Vejo a sociedade mais envolvida com ações de sensibilização, mobilização ou protesto. E o Governo, que deveria cumprir o seu papel de garantir a segurança de todos, não desenvolve ações que punam os barões do crime e combatam o foco da criminalidade. Medidas paliativas não resolvem problemas complexos.

Como os jovens podem ser agentes da paz e colaborar para sua promoção?Nego: Interagindo com amigos, vizinhos, colegas de classe, promovendo gincanas

pela paz, jogos, apresentações culturais tendo como tema a cultura da não-violência, unindo pais, mestres e alunos em um objetivo comum.

Jardel: É preciso investir na educação, no emprego, no esporte, no lazer do jovem.

Marta: Um caminho interessante é o das ONGs e pro-jetos sociais, em que os jovens possam entrar em contato com realidades e pessoas diferentes e ajudar de forma efetiva na diminuição da violência. O trabalho voluntário está crescendo bastante entre a população jovem e tem ajudado a formar cidadãos mais conscientes e ativos na sociedade.

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bre PROJETOS NOVOLhAR SOBRE O BExIgA, OFICINAS DE AUDIOVISUAL NA FUNDAÇÃO CASA, NOVA UNIÃO DA ARTE (NUA),

EIS – CRAF, DA ASSOCIAÇÃO NOVOLhARATUAÇÃO BELA VISTA, SÃO PAULO/SPPROPOSTA Dar atendimento em reforço escolar por meio de comunicação, artes e teatro; possibilitar ao jovem institucionalizado experimentar outros papéis sociais, a partir do desenvolvimento de competências e habilidades; promover capacitação profissional e acesso à cultura; desenvolver a autonomia social, econômica e cultural de famílias de baixa renda.JOVENS ATENDIDOS em 2007, os quatro projetos beneficiam cerca de 880 crianças e jovens. Desde 2000, as oficinas de audiovisual envolveram mais de dois mil jovens na Fundação Casa (antiga Febem).APOIO Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, governo do Estado de São Paulo, União Européia, Nós do Centro e empresa FTg.CONTATO Rua Maria José, 186 – Bela Vista – São Paulo/SP – CEP 01324-010. Tels.: 11/ 3107 3308/ 3104 8862, e-mail: [email protected], site: www.novolhar.org.br.

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PROJETO AgENTE DA PAZ, DA ASSOCIAÇÃO DOS MAgISTRADOS CATARINENSESÁREA DE ATUAÇÃO SANTA CATARINAPROPOSTA Substituir a cultura de violência pela cultura de paz, por meio de ações pedagógicas em escolas e demais espaços comunitários.JOVENS ATENDIDOS O projeto piloto, em 2005, na cidade de Itajaí, envolveu 22 mil estudantes. Em 2006, foram 100 mil e, em 2007, 14 comarcas de Santa Catarina aderiram ao projeto.APOIO Parcerias institucionais com o estado, municípios e entidades locais.CONTATO Rua dos Bambus, 116 – Itacorubi – Florianópolis/SC – CEP 88034-570. E-mail: [email protected]; site: www.amc.org.br.

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bre PROJETO gRUPO VIDA JOVENS EM AÇÃO, DA CASA DA JUVENTUDE

ÁREA DE ATUAÇÃO ITAOBIM, VALE DO JEQUITINhONhA/MgPROPOSTA Formar jovens protagonistas que atuem no combate à violência e na construção da paz na escola e na comunidade. Os jovens exercem esse papel por meio de um programa de rádio, de montagens teatrais, palestras e participação em seminários.JOVENS ATENDIDOS 25 jovens atuam diretamente no projeto, envolvendo cerca de outros 50, que costumam ser solicitados para ações pontuais. O projeto beneficia a comunidade em geral.APOIO KNh (entidade alemã), Associação Papa João 23 e parceiros locais.CONTATO Rua 2, no. 171 – São Cristóvão – Itaobim/Mg – CEP 39625-000. Tel.: 33/3734-1616; e-mail: [email protected]

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PROJETO INTERCÂMBIO DE TRABALhO VOLUNTÁRIO, DA AFS INTERCULTURA BRASILÁREA DE ATUAÇÃO NACIONAL PROPOSTA Contribuir para a construção da paz, estimulando a convivência entre culturas. O projeto oferece a jovens a oportunidade de realizar, por seis meses, um trabalho voluntário em uma organização na Costa Rica, África do Sul ou Reino Unido, na área social, educacional ou ambiental. JOVENS ATENDIDOS 50 jovens brasileiros acima de 18 anos participaram do programa em 2006.APOIO Ministério das Relações Exteriores, Brazilian Educational & Language Travel Association (BELTA).CONTATO Travessa do Ouvidor, 50 – 8º andar, CEP 20040-040 – Rio de Janeiro/RJ. Tel.: 21/3724-4464, fax: 21/3724-4400, e-mail: [email protected]; site: www.afs.org.br.

Mara: Esse é um processo de-morado, que deve ser estimulado pelos pais por meio de uma boa educação dada aos seus filhos desde a infância.

Nego: Vocês acreditam que crian-

ças que crescem em ambientes hos-tis tendem a ser adultos violentos?

Mara: Sim, certamente a criança será o reflexo desse espelho hostil.

Jardel: Em um dos livros do escritor Felippo Muratori, em que ele discute com jovens vítimas e promotores da violência os motivos do comportamento agressivo, as relações entre o sujeito e o ambiente são as mais apontadas.

Marta: Nem toda criança criada no meio do tráfico nas favelas será vio-lenta, nem toda aquela “bem-criada” estará afastada do crime. Mas, com certeza, o meio influencia escolhas e atitudes. E pensando em nosso meio, o Brasil, que cená-rio vocês pintariam para o país, daqui a 50 anos, quanto à violência urbana?

Nego: Os ricos cada vez mais ricos, os pobres mais po-bres, os governan-tes articulando de acordo com seus interesses, o tráfico de drogas imperando financiado pela burguesia...

Jardel: Estudos apontam o êxodo rural como um dos principais fatores do aumento da violência urbana. Em 50 anos, dá para fazer uma política pública direcionada para isso e aplicá-la com mais compromisso.

Mara: Imaginar o Brasil daqui a 50 anos, com nossa realidade atual, dá desespero. Falta tudo em proteção de justiça, em ação do poder público na saúde, na educação, no meio ambiente etc. Mas o que vocês acham que dá para fazer para uma sociedade melhor, de paz e educação?

Jardel: Para mim, a esperança de uma sociedade de paz está na empatia, em você se colocar no lugar do outro para compreendê-lo.

Nego: As pessoas precisam pensar mais no bem comum, serem capazes de agir de forma correta, mesmo que isso signifique não ficar em melhor situação.

Marta: Acho que dá para fazer muita coisa, principalmente quanto à atitude dos governantes. Nos Jogos Panamericanos, a cidade do Rio de Janeiro ficou linda e irreconhecível no quesito violência, mostrando que, quando se tem vontade, as coisas funcionam.

Nego Joe

“a causa maior dos conflitos é falta de comunicação”

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A violência entre os jovens está diminuindo, especialmente nas áreas mais pobres. Ao mesmo tempo, eles estão freqüentando mais as salas de aula. Não, não estamos falando de uma cidade do primeiro mundo. A cidade em questão é São Paulo. Nos últimos cinco anos, a capital paulista conseguiu reverter o crescimento da criminalidade entre rapazes e da ma-ternidade precoce, além de melhorar o fluxo escolar. É o que revela o Índice de Vulnerabilidade Juvenil (IVJ), criado pela Fundação Seade (Sistema Esta-dual de Análise de Dados).

O indicador, que é medido com base nas deficiências educacionais, mortes por homicídio e gravidez na adolescência, registrou um recuo de 19 pontos entre os anos de 2000 e 2005, passando de 70 para 51 pon-tos. O índice varia de 0 a 100 pontos. Quanto mais alto, mais propenso está o jovem a se envolver de alguma forma em situações que possam afetar seu desenvolvimento.

Apesar da melhora acentuada do Índice de Vulnerabilidade Juvenil nas áreas mais pobres, o que revela uma diminuição das disparidades sociais entre as regiões da capital paulista, as diferenças ainda são profundas. Em 2005, o número de homicídios nas áreas mais pobres, onde 189 rapazes foram mortos em um grupo de 100 mil, é o triplo do registrado naquelas mais ricas, onde 57 foram mortos em um grupo de 100 mil. O índice de gravidez na adolescência nas regiões periféricas também é mais alto: de cada mil garotas de 14 a 17 anos, 41 tiveram filhos em regiões pobres da cidade. Nas mais ricas, o índice é de 19 por mil. Outro dado que marca a diferença entre as regiões é o relativo à escolaridade. Em 2005, a evasão escolar em bairros periféricos é quase o dobro daquela registrada em localidades mais nobres. O percentual de evasão escolar nas áreas pobres é de 14,9%, em comparação a 7,6% nas regiões mais ricas. A pesquisa do Seade aponta ainda que 75,7% dos jovens com idade entre 15 e 17 anos e integrantes de famílias mais ricas freqüentam a escola, em comparação a 62,5% da periferia. Em síntese, quanto mais distante da região central, mais exposto o jovem está aos efeitos da violência urbana, maternidade precoce e riscos de evasão escolar.

O acesso ao ensino médio e o declínio de homicí-dios foram decisivos para a melhora do IVJ, aponta Felícia Reicher Madeira, diretora executiva do Seade. Nesse período, a taxa de mortalidade por agressões entre os rapazes de 15 a 19 anos nas periferias da cidade, onde historicamente são registradas taxas mais elevadas, caiu 38%, passando de 303 para 189 óbitos por 100 mil.

Segundo Felícia, existe uma grande demanda por parte de outros municípios para a geração de indica-dores como o IVJ, hoje restrito a São Paulo. O problema é a falta de acesso rápido às taxas de mortalidade e natalidade, por exemplo. “O acesso ágil a esse tipo de informação no Seade facilitou a geração do indicador”, diz. Recentemente, porém, o centro de análise de da-dos de Vitória (ES), o Seade e o IBGE firmaram convênio para criar uma metodologia que agilize o acesso aos registros civis, possibilitando a geração de indicadores como o IVJ em outras localidades.

Janela de oportunidadeMas como explicar uma queda tão significativa nas

mortes por agressão entre os adolescentes de São Paulo? Para Felícia, esse é um fenômeno complexo, que envolve vários fatores. “Nesse período, muita coisa aconteceu”, avalia ela. “Na área de prevenção, houve um aumento na escolaridade, e a sociedade civil também se mobilizou por meio, por exemplo, das organizações não-governamentais”. Por outro lado, acrescenta Felícia, a área de repressão registra um maior investimento na polícia, que se organizou me-lhor, e uma campanha de recolhimento de armas.

Outro fator que pode ter contribuído para a mudança do quadro em São Paulo, segundo a diretora executiva do Seade, é de ordem demográfica. “Se no fim dos anos 1990 a cidade viveu um pico abrupto no número de adolescentes, essa população começa a diminuir por volta do ano 2000”, afirma ela. Conseqüentemen-te, aumenta a facilidade de acesso à escola. Nas áreas pobres e de classe média baixa, o acesso ao ensino médio aumentou 15,3% e 16%, respectivamente, nesse período. Com esse cenário, esse é, na opinião de Felícia, um momento único – uma “janela de opor-tunidade” – em favor da juventude. “Estamos vivendo um momento propício para investir muito mais na qualidade de vida desses adolescentes”.

Em outras palavras, é hora de investir na juventude, combatendo a vulnerabilidade social. Para isso, o Estado e a sociedade precisam co-locar a juventude em suas agendas prioritárias de ações, avalia Felícia. A prioridade, segundo ela, deve ser a melhoria da qualidade de ensino. “Além de preparar o jovem para o mer-cado de trabalho, a escola também o prepara para viver em uma sociedade com regras”, acrescenta, destacando o papel da escola como organizadora de normas de convivência social. Para ela, também é necessário criar espa-ços de lazer para os adolescentes. “O jovem se sente jovem principalmente por duas condições: estar na escola e estar se divertindo”, afirma ela.

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Faça CoNtatoenvie cartas ou e-mails para esta seção com nome completo, endereço e telefone. oNda JoVeM se reserva o direito de resumir os textos. endereço: rua dr. Neto de araújo, 320, conjunto 403, CeP 04111-001, São Paulo, SP. e-mail: [email protected].

Com muita alegria, lemos a edi-ção de julho 2007 sobre Comuni-cação – A contribuição das mídias à educação juvenil. A revista, como sempre muito bonita, traz artigos primorosos e histórias de vida muito interessantes da gente que faz educomunicação no Brasil. Como a própria revista registra, o Unicef apóia programas e projetos de educomunicação há anos e acredita em seus resultados e em seu poder de transformação da realidade das escolas e em seus impactos positivos na garantia do direito de aprender de meninas e meninos, desde que articulados com outras boas práticas nas escolas.

marie-pierre poirierrepresentante do Unicef no

brasil

PArA ProFessoresSou professora do curso de Tec-

nologia em Sistemas de Informa-ção da UFPR e coordenadora de recursos tecnológicos do Núcleo de Educação à Distancia da UFPR. Gostaria de solicitar um exem-plar da revista número 8, sobre Comunicação, pois os assuntos abordados são de meu interesse. Também gostaria de receber os próximos exemplares.

sandramara soaresCuritiba, pr

Vocês foram muito felizes em fazer uma entrevista com o jornalista Serginho Groisman, pois eu, como professora, tenho plena consciência que cabe a nós docentes e à escola de um modo geral, com o apoio da família, a formação da consciência necessária para a transformação dos meios de comunicação. Estou apaixonada pela edição Comunicação. Levei aos meus alunos de Comunicação Social (Jornalismo, Rádio e TV e Publicidade) e eles ficaram bastante empolgados pela estética, seriedade e qualidade da revista. Parabéns!

maria Fernanda de alencastroCampo Grande, ms

A idéia de compartilhar as experiências decorrentes do uso das mídias pelos jovens é um estímulo para nós, professores, e prova mais uma vez que é possível sair da intencionalidade de trabalhar com as mídias na educação e passar a executá-la na prática.

Cláudia patricia monteiroGoiânia, GO

Sou professora de educação básica e superior no

extremo Norte do país. Não conhecia a revista, li um exemplar e fiquei encantada com suas matérias. Penso no quanto ela pode me ajudar em sala de aula. Por isso, gostaria de receber novos exemplares. Moro num Esta-do distante dos grandes centros de informação e esta revista é maravilhosa, informativa e formativa.

simone mendes boa Vista, rr

PArA eduCAdoresNós, do Centro de Jovens do Rio de Janeiro / Bemfam,

gostaríamos de parabenizar Onda Jovem pela edição de n° 08, de Comunicação, no qual achamos super impor-tantes as reportagens “Teias da Exclusão” e o Ensaio 270 graus – Potencial Pedagógico. O entrosamento da mídia com educação e a comunicação é essencial.Uma boa educação ocorre com uma boa comunicação; precisamos de uma maior inclusão social e cultural em nosso mundo jovem e a mídia seria uma ótima arma nesse avanço.

Damiana adãoprojovem/bemFam.

rio de Janeiro, rJ

Trabalho no Programa de Comunicação do Movimento de Organização Comunitária (MOC), com sede em Feira de Santana, Bahia. Uma das linhas do Programa de Comunicação é a Educomunicação do Campo. A experi-ência ainda é recente mas tem dado bons resultados e encontramos na revista Onda Jovem umas experiências bem legais, e gostaríamos de entrar em contato com as instituições que desenvolvem os projetos.

Lorena amorimFeira de santana, ba

Pude conhecer melhor o trabalho de vocês durante uma conversa na Fundação Tide Setúbal. Além de fazer parte dessa equipe, sou diretora de uma ONG que vai iniciar um programa para jovens. Assim, gostaria muito de receber a revista Onda Jovem.

beatriz penteado Lomonacosão bento do sapucaí, sp

A revista é fantástica e tem tudo a ver com o nosso trabalho. Um dos nossos focos é a comunicação comu-nitária e jovem. Gostaríamos de passar a receber a revista imediatamente.

Luis Henrique Nascimentorio de Janeiro, rJ

Como pesquisador e educador de adolescente e jovens, gostaria de receber as edições da revista. Esse material vem sendo de grande auxílio em meus trabalhos formativos, com uma linguagem que atrai a atenção dos jovens.

mauro Costa rodriguesVia e-mail

Gostaria de receber a revista Onda Jovem, pois sou educadora social. Trabalho com jovens e atuo numa associação sócio-educativa da cultura hip hop.

Leonice da silva Capão bonito, sp

Trabalho no Museu de Arte Con-temporânea de Niterói coordenando e desenvolvendo projetos e ações de inclusão social e geração de renda, por meio da arte e valorização da cultura. Acho muito interesante a revista que vocês produzem e gostaria de recebe-la no MAC para utilizá-la nas atividades e disponibiliza-la na biblioteca do Museu para que os visitantes possam consultá-la.

Leandro baptistaNiterói, rJ

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Trabalho com um grupo de edu-cadores, em nível de Brasil, na área da juventude e comunicação. Uma amiga me emprestou o último número da revista, até então desconhecida para mim. Li a mesma praticamente na íntegra e fiquei encantada com os artigos publicados.

maike Loes,Via e-mail

Tive acesso à revista Onda Jovem e me interessei bastante pelo conteúdo abordado. Trabalho como psicóloga em Campinas, numa Ong chamada Grupo Primavera, que atende a cerca de 280 meninas carentes (apenas mulheres) de uma região de periferia da cidade e tem como um dos lemas, “formar as mulheres de amanhã”. Gos-taria muito, portanto, de poder contar com a revista para complementar esse trabalho.

Luciana marin JardimCampinas, sp

Quando recebemos a edição so-bre Comunicação, ficamos muito interessados em disponibilizá-la aos jovens do projeto de estímulo à leitura, desenvolvido pela BEI Comunicação e patrocinado pela empresa Duke Energy, pois o foco do mesmo é a comunicação por meio das diversas mídias alternativas disponíveis hoje em dia e sua contribuição à educação dos jovens.

adriana Domingues são paulo, sp

Gostaria de receber a revista, pois vi em uma ONG e me interessei bastante pelo conteúdo. Eu já trabalho com jovens em um grupo de teatro aqui . Estou sempre a procura de material para trabalhar com eles e achei muito interessante a revista.

Cosmo Ferreira da silvaitapiúna, Ce

Sou um dos profissionais que atuam na incubadora de projetos de jovens da ong Formação. Ajudamos jovens a organizarem empreendimentos produtivos, sociais e culturais, em 10 cidades da baixada maranhense. Gos-taríamos de receber a revista Onda Jovem.

aldimar Castro são Luís, ma

Primeiramente, parabéns pelo conteúdo da 8ª edi-ção da Onda Jovem. Muito apropriada a temática de Comunicação. Estou encaminhando uma listagem das entidades sociais que compõem a nossa Rede e que trabalham com jovens, aqui em Minas Gerais, para que possam receber a revista.

edsmar Carvalho resendeCoordenador executivo

CDi/sUCesU-mG Muito obrigada por mais uma edição da revista Onda

Jovem. Ela está demais e tens nos ajudado grandemente no auxílio de atividades articuladas aos nossos jovens, aqui da capital do Tocantins.

sueli martins Glóriapalma, TO

PArA jovensSou membro da Rejuma, programa Juventude e Meio

Ambiente - Coletivo Jovem de Minas Gerais e do Conselho Municipal de Juventude de Sabará/MG. Recebemos o exemplar da revista Onda Jovem sobre Comunicação e queríamos solicitar a continuidade do recebimento.

Wagner Ferreira Veredianoagenda 21 de sabará, mG

Sou estudante de jornalismo em Fortaleza e conheci a revista onde eu trabalho, na ong Catavento Comunicação e Educação. Gostei bastante da revista, pois os temas que ela trata tem tudo a ver com que estudo e isso me interessou bastante. Parabéns!

Clarissa DiógenesFortaleza, Ce

Adoro a revista Onda Jovem. Os contéudos são ótimos e facilitam muito nosso trabalho. Sou ambientalista, faço parte da CIEA (Comissão Interinstitucional de Educação Ambiental do Maranhão ), representando meu grupo de trabalho no Coletivo Jovem de Meio Ambiente do Maranhão, que faz um trabalho bem interessante nas escolas municipais e estaduais.

eli silvasão Luís, ma

Parabenizo a todos vocês que fazem esta maravilhosa revista. Conheci um exemplar e fiquei maravilhado com o conteúdo, pois sou jovem e amo a comunicação.

marcos aurélioJuazeiro do Norte, Ce

Sou estudante de jornalismo e de-senvolvo trabalhos ligados à formação para jovens em regiões da periferia, juntamente com o Centro Marista de Pastoral (CMP/BH). Tenho interesse em receber a revista Onda Jovem.

etiene egg de resendebelo Horizonte, mG

Integro o Coletivo Jovem de Ron-dônia. Tive contato pela primeira vez com a revista por meio de integrantes do Coletivo que representaram o Estado Encontro de Jovens pelo Meio Ambiente. Achei o conteúdo ótimo, principalmente esta com tema Co-municação.

Fabrício CruzVia e-mail

PArA gestores

PúbliCos

Nós, do Ministério das Comuni-cações, estamos interessados em receber quatro exemplares da revista Onda Jovem sobre Comunicação. Os exemplares serão destinados ao ministro Hélio Costa e assessores do ministério.

augusto Henriquesassessoria de

Comunicação social – ascomministério das

Comunicações – brasília-DF

Sou professora e coordenadora pe-dagógica da rede municipal de Juiz de Fora. Atuo na Secretaria de Educação e sou membro do Conselho Municipal da Juventude. Temos desenvolvido várias ações em torno do adolescente e jo-vem. Gostaria de ter acesso à revista, para mim e para um grupo de escolas, pois consideramos o material muito rico, com informações imprescindíveis para quem trabalha com o jovem.

Jane maria bragaJuiz de Fora, mG

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ARTE DA PAZ

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A batida é a do hip hop e os reca-dos, dos mais firmes: pela educação, cidadania, direito, trabalho, respeito às diversidades, contra a violência. Assim é o CD lançado neste semestre pelos rappers – rapazes e moças – do Projeto Arte da Paz, desenvolvido em nove áreas da região metropolitana de Curitiba pelo Instituto de Defesa dos Direitos Humanos, o IDDEHA (www.iddeha.org.br). Desde 2002, o projeto atende 360 jovens por ano, envolvendo também suas famílias. A cultura do hip hop é o tema gerador de oficinas sobre direitos humanos, que também usam recursos da educação pela comunicação. Os jovens são formados como multipli-cadores e, apenas nos três primeiros anos do projeto, promoveram ações como campanhas comunitárias, mini-cursos, encontros juvenis e com familiares, quer atingiram um público estimado em 150 mil pessoas. O lote de 1.500 CDs gravados este ano vai ser pequeno pra tanto público.

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O Instituto Votorantim apóia essa causa.

E quer ver muitos jovens fazendo sucesso na capa.

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Porque, desde que foi criado, em 2002, para qualificar o investimento social do Grupo Votorantim, o Instituto Votorantim abraçou a causa juvenil, apoiando tecnologias sociais nas áreas de educação e trabalho, favorecendo articulações e disseminando conhecimento para promover o desenvolvimento integral do jovem.

Nessa perspectiva, Onda Jovem é um projeto de comunicação a serviço da difusão de idéias e práticas, compartilhando as visões de educadores, jovens, gestores públicos, pesquisadores, formadores de opinião e outros segmentos que lidam com a juventude nas diferentes áreas.

A revista é quadrimestral e distribuída gratuitamente em todo o país. Os conteúdos estão disponíveis também no portal www.ondajovem.com.br, com acréscimos exclusivos, como os planos de aula, que sugerem a aplicação dos textos em dinâmicas e atividades de reflexão com jovens.

www.ondajovem.com.br

número 9 – setem

bro 2007 – ww

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ano

3 –

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07

em pazNo centro dos debates

sobre a violência, a juventude

busca formas pacíficas de viver