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ano 3 – número 7 – março 2007 MEIO Uma causa na qual os jovens brasileiros acreditam e que os desperta para a ação social AMBIENTE www.ondajovem.com.br

Revista Onda Jovem n° 7

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Meio Ambiente - Uma causa que desperta o jovem para mobilização social.

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O Instituto Votorantim apóia essa causa.

E quer ver muitos jovens fazendo sucesso na capa.

Porque, desde que foi criado, em 2002, para qualificar o investimento social do Grupo Votorantim, o Instituto Votorantim abraçou a causa juvenil, apoiando tecnologias sociais nas áreas de educação e trabalho, favorecendo articulações e disseminando conhecimento para promover o desenvolvimento integral do jovem.

Nessa perspectiva, Onda Jovem é um projeto de comunicação a serviço da difusão de idéias e práticas, compartilhando as visões de educadores, jovens, gestores públicos, pesquisadores, formadores de opinião e outros segmentos que lidam com a juventude nas diferentes áreas.

A revista é quadrimestral e distribuída gratuitamente em todo o país. Os conteúdos estão disponíveis também no portal www.ondajovem.com.br, com acréscimos exclusivos como os planos de aula, que sugerem a aplicação dos textos em dinâmicas e atividades de reflexão com jovens.

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Uma causa na qual os jovens brasileiros acreditam e que os desperta para a ação social

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79% DOS JOVENS BRASILEIROS REVELAM

TER CONSCIÊNCIA AMBIENTAL

26% dos jovens querem saber maissobre temas ambientais

A POPULAÇÃO JUVENIL RURAL

DIMINUIU 26% ENTRE 1991 E 2000 Para os jovens, o respeito ao

meio ambiente é um dos maiores valores da sociedade ideal

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Um grupo de teatro juvenil faz educação

ESTUDANTES INVESTEM NO ECOTURISMO NO INTERIOR DE SÃO PAULO pág. 48

JOVENS AGRICULTORES DESENVOLVEM

AGROECOLOGIA NO INTERIOR DA BAHIA pág. 58

ambiental em Belo Horizonte pág. 71

Jovens de Sergipe lutam pelapreservação da água pág. 18

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âncoras

“Para os jovens brasileiros, a força de atração de uma sensibilidade política ecológica pode residir justamente no seu distanciamento das formas tradicionais da política.”

Isabel Cristina Moura Carvalho,

professora da Universidade Luterana do Brasil (RS)

“É preciso pensar em novas tecnologias para que as pessoas continuem tendo trabalho sem causar danos ao meio ambiente.”

André Carlos Conceição dos Santos, 19 anos,

agricultor de Lagoa Santa, em Ituberá (BA)

“A questão ambiental é contínua, tem de ser trabalhada na escola em todas as disciplinas e entrar na vida do estudante nas relações com sua casa, com seus amigos, com sua comunidade.”

Carolina Campos, 23 anos,

coordenadora de Educação Ambiental em Belo Horizonte

“Os jovens estão preocupados em realizar ações, mas infelizmente ainda são vistos como irresponsáveis e não são levados a sério.”

Regina Freire Arnaldo do Nascimento, 21 anos,

ativista em Palmas (TO)

“A gente tem de pensar no global e agir no local. Melhorar a vida no planeta a partir de mudanças de hábito no nosso pedaço.”

Juliana Duarte, 22 anos,

monitora ambiental no Rio de Janeiro

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“Muitos estudantes não têm noção das possibilidades de reciclagem de resíduos e da importância do consumo consciente.”

Naira Ribeiro Tavares, 24 anos,

voluntária de reciclagem

“Uma imagem recorrente para os jovens dos movimentos sociais é a do meio rural como espaço tranqüilo e bom de se viver – justamente pela relação com a natureza –, mas que sofre com problemas ambientais.”

Elisa Guaraná,

professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

“Qualidade de vida e questão ambiental são indissociáveis. Viver em um ambiente degradado é estressante; afeta não só a saúde física, mas também a mental.”

Pedro Luiz Borges Chaffe, 21 anos,

estudante de Engenharia Sanitária e Ambiental em Florianópolis

“Nunca a situação do meio ambiente foi tão discutida, e também nunca se desmatou tanto. Mas vejo cada dia mais jovens sensíveis aos problemas ambientais.”

Maciel Batista Paulino, 21 anos,

estudante de Engenharia Florestal e ativista em Curitiba

“Não é possível concretizar uma educação ambiental plena, do local e também do global, sem considerar a amplitude das escalas espacial e temporal.”

José Q. Pinheiro,

professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

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expediente

ano 3 - número 7março/junho 2007

Um projeto de comunicação apoiado pelo Instituto Votorantim

Projeto editorial e realizaçãoFátima Falcão e Marcelo NonatoOlhar Cidadão – Estratégias para o Desenvolvimento Humanowww.olharcidadao.com.br

Direção editorialJosiane Lopes

Secretaria editorialLélia Chacon

Projeto gráfi coArtur Lescher e Ricardo van Steen(Tempo Design)

Colaboradorestexto: Aydano André Motta, Ana Maria de Almeida Santiago, Cecília Dourado, Cristiane Ballerini, Cristiane Parente, Isabel Cristina Moura Carvalho, Jane Soares, José Queiroz Pinheiro, Karina Yamamoto, Liana Melo, Marcelo Barreto, Marcos Reigota, Marilena Dêgelo, Marilene de Sá Cadei, Mario Monzoni, Yuri Vasconcelos

foto: Amanda Perobelli, Andréa Graiz, Antonio Lima, Beatriz Assumpção, Carlos Silva, Cid Barbosa, Christiano Diehl, Deise Lane Lima, Felipe Christ, Gilberto Júnior, Gladyston Rodrigues, Henk Nieman, Jonas Oliveira, Márcia Zoet, Rafael Castanheira, Ronmel Beca, Waldirio Nunes, Wilson Martins

ilustração: Anderson Rei, Tatiana Garrido – Guid

CapaSamir Raoni Pinheiro Silva, fotografado por Carlos Silva

Apoio Editorial (Equipe do Instituto Votorantim)

Revisão: Moira de Andrade

DiagramaçãoSilvina Gattone Liutkvicius (D́Lippi Editorial)

Fotolito D´Lippi Editorial

ImpressãoIpsis

Como entrar em contato com Onda Jovem:E-mail: [email protected]ço: R. Dr. Neto de Araújo, 320 – conj. 403,São Paulo, CEP 04111 001Tel. 55 11 5083-2250 e 55 11 5579-4464www.ondajovem.com.br – um portal para quemquer saber de juventude

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projetos com jovens

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08 - NavegantesJovens de todo o Brasil comentam como vêem a situação ambiental e como agem em relação a ela14 - MestresTrês professoras – de São Paulo, do Rio de Janeiro e do Pará – fazem do conhecimento ambiental ponto de partida para formar cidadãos18 - Banco de práticasQuatro projetos envolvem jovens de Brasília, Sergipe, Ceará e do Rio de Janeiro em diferentes ações ambientais22 - Caminho das pedrasA reserva amazônica de Mamirauá uniu o saber científi co e o nativo para oferecer perspectiva a sua população, que tem quase 50% de jovens 26 - Horizonte globalA queniana Wangari Maathai explica como a liderança de um movimento ambiental a levou a ganhar o prêmio Nobel da Paz de 200430 - SextanteMário Monzoni escreve sobre a discussão do modelo econômico que ignora os impactos negativos dos processos de produção32 - 90 GrausIsabel Cristina de Moura Carvalho discute como o ambientalismo está ocupando o lugar das políticas tradicionais para os jovens 36 - 180 GrausMarcos Reigota escreve sobre a diferença entre sustentabilidade e desenvolvimento sustentável e suas implicações na educação40 - 270 GrausMarilene de Sá Cadei e Ana Maria Santiago explicam o que são e como funcionam as agendas ambientais consolidadas na Agenda 2144 - 360 GrausJosé Queiroz Pinheiro alerta para a importância de se criarem novos vínculos para relacionar educação ambiental local e global48 - Sem bússolaA degradação ambiental urbana – poluição do ar e das águas, moradias inadequadas, falta de saneamento – afeta diretamente a juventude 54 - O sujeito da fraseA biodiversidade é a nossa riqueza, afi rma o engenheiro-agrônomo Fernando Bechara, que desenvolveu um método original de refl orestamento58 - LunetaO desenvolvimento rural sustentável passa pela agricultura familiar, que depende dos jovens para ter continuidade e se consolidar62 - .Gov.ComAs políticas públicas ambientais dirigidas aos jovens, que enfatizam a educação, ainda não têm recursos e estruturas necessárias66 - CiênciaA juventude tem mais fl exibilidade para efetivar a custosa, mas indispensável, mudança de hábitos necessária para preservar o ambiente 70 - Chat da revistaJovens militantes ambientais de Belo Horizonte, Manaus, Florianópolis e São Caetano do Sul (SP) discutem qualidade de vida e meio ambiente

Sonar 02

Pistas do todo e de alguns

aspectos da questão ambiental

Âncoras 06

Conceitos e comentários sobre

ambientalismo

Fato Positivo 74

Cresce a oferta de capacitação

na área ambiental

Cartas 76

As mensagens dos leitores

Navegando 78

As obras dos jovens do “Gente

Não é Sucata”, projeto da

Laborearte, de Montes Claros (MG)

27é o número de

que você verá nesta edição

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JUVENTUDE VERDE

MAIS CONSCIENTES DO QUE AS GERAÇÕES

ANTERIORES, OS JOVENS ESTÃO PREOCUPADOS

COM A QUESTÃO AMBIENTAL, MAS

AINDA ENCONTRAM DIFICULDADES PARA AGIR DE

FORMA MAIS EFETIVA

Por _ Marilena Dêgelo

Se a liberdade política foi a grande bandeira dos jovens nos anos 60, ecologia parece estar se transfor-mando na principal bandeira de ação política juvenil. O interesse pelas questões ambientais cresceu extraordi-nariamente entre os jovens nos últimos 14 anos, desde a Eco-92. A pesquisa “O Que Pensa o Brasileiro Sobre o Meio Ambiente, Desenvolvimento e Sustentabilidade”, cuja etapa mais recente foi realizada em março de 2006 pelo ISER - Instituto de Estudos da Religião (em parceria com o Ministério do Meio Ambiente), mostra que, dos 479 jovens de 16 a 24 anos entrevistados em todo o país pelo Vox Populi, 79% têm consciência ambiental. Suas principais preocupações são o desmatamento e a poluição das águas e do ar. “Os jovens estão mais informados, e os mais escolarizados manifestam dispo-sição para contribuir e até participar de ações, mas não encontram muitas organizações para isso no Brasil”, diz Samyra Crespo, coordenadora da pesquisa do ISER.

A falta de espaços para participar é sentida por Thiago Pereira Barros, 22 anos, estudante de Ciências Biológi-cas na Universidade Estadual de Caratinga, em Minas Gerais. “Há muitos jovens na faculdade interessados em movimentos ecológicos, mas quase não há ONGs aqui”, diz. A preocupação dele é com o desenvolvimento sustentável. “Os agricultores precisam ser orientados para produzir sem devastar. Eles acabam cometendo o delito, apesar de serem multados pelo Ibama, porque sobrevivem disso e não entendem o mal que estão causando”, afi rma. “O governo não pode punir, se não ensinar. Faltam campanhas de conscientização”.

Na tela da TVPara a pesquisadora Samyra, uma explicação para o

aumento do interesse dos jovens por ecologia é o cres-cimento do assunto na TV. O fato repercute mesmo em comunidades distantes dos centros urbanos. “Vemos nos telejornais as queimadas destruindo matas em vários lugares. Não há preocupação com a natureza, que

é de todos”, afi rma Carline Alves, 19 anos, que vive na aldeia indígena da tribo jenipapo-kanindé, em Aquiraz, a 45 km de Fortaleza. Lá, a Petrobras patrocina o projeto Educação Integral para a Sustentabilidade, coordena-do por Jeovah Meireles, professor do departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará, que promove o turismo ecológico comu-nitário com jovens.

O local está sofrendo o impacto da construção de hotéis. “Há dois anos, desenvolvemos atividades para preservar o ecossistema e a sobre-vivência da etnia”, diz Jeovah, que criou com os jovens o Projeto Trilha de Índio. Eles fi zeram ecozoneamen-to, produziram mapas com atrações, como a lagoa Encantada, para vender aos turistas, e foram treinados para ser guias em trilhas ecológicas. Hoje, arrecadam em média R$ 12 com cada turista, caminham para a autogestão e pedem cursos para ter mais infor-mação.

Na aldeia, Carline, que concluiu o ensino médio, dá aulas para a quarta série. Segundo ela, o projeto ajudou os moços que, sem perspectivas, se entregavam à bebida e pensavam em deixar a aldeia. Agora, todos es-tão conscientes da necessidade de

navegantes

CARLINE ALVES, 19 ANOS,é professora na tribo jenipapo-

kanindé, no Ceará

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BRE PROJETO OCT - ORGANIZAÇÃO DE CONSERVAÇÃO DE TERRAS DO BAIXO SUL DA BAHIA.

ÁREA DE ATUAÇÃO ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DO PRATIGI, NO LITORAL DO BAIXO SUL DA BAHIA, QUE ABRANGE OS MUNICÍPIOS DE NILO PEÇANHA, ITUBERÁ E IGRAPIÚNA; SERRA DE PAPUÃ, VALE DO JULIANA E LITORÂNEO.PROSPOSTA Promover a educação ambiental e a conservação da fl ora, da fauna e dos recursos hídricos do Baixo Sul, por meio do uso de tecnologias sustentáveis inovadoras; criar corredor ecológico e apoiar as cadeias produtivas, promovendo o uso de tecnologias limpas. JOVENS ATENDIDOS 29 jovens.APOIOS Fundação Odebrecht, PriceWaterhouseCoopers, CRA – Centro de Recursos Ambientais, TNC – The Nature Conservancy, CI – Conservation International, SOS Mata Atlântica, Petrobras, FNMA – Fundo Nacional do Meio Ambiente, SEMARH – Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos .CONTATO Elieser – Líder Executivo (73) 3256 2965 – www.fundacaoodebrecht.org.br

navegantes

preservar. Mas sofrem com a morte de peixes causada pela poluição industrial. Já levaram denúncias à Funai e há processos na Justiça. “Eles não entendem que usamos a água da lagoa para tomar banho e que o peixe faz parte de nosso sustento”, diz. Além disso, a Encantada é um dos atrativos do Trilha de Índio. “Há lendas sobre ela que tentamos preservar”.

Formação socioecológicaA educação ambiental é hoje uma

estratégia de atuação em vários pro-jetos sociais mantidos por empresas. “Elas dão treinamento em programas de inclusão, juntando a questão eco-lógica com a social”, diz Samyra. Isso acontece na região do Pratigi, sul da Bahia, onde a Fundação Odebrecht investe na formação de moças e rapazes de seis quilombolas. O obje-tivo é promover o desenvolvimento em cadeias produtivas, como a da piaçava. Por meio da Organização de Conservação de Terras do Baixo Sul, a empresa mantém o Programa Jovem Cidadão do Meio Ambiente, com casas familiares rurais.

“Na casa familiar, eu aprendi que é preciso conservar a natureza, para que as próximas gerações possam desfrutá-la”, diz Alberlânia Nasci-mento do Rosário, 20 anos, de Boi-taraca, em Nilo Peçanha. Com a fi bra da piaçava, ela faz artesanato que é vendido pela cooperativa. “Antes, nós desmatávamos e queimávamos a fl o-resta para plantar a palmeira. Agora, abrimos áreas menores e plantamos outras árvores, em torno da piaçava, para não empobrecer o solo”, conta. Ela já concluiu o segundo grau e está formando um grupo ecológico para conscientizar as comunidades vizi-nhas. “Todos deixaram de jogar lixo no rio. Separamos metais e plásticos e ganhamos dinheiro com a venda. Os restos de alimentos viram adubo no biogestor”.

SAMIR SILVA, 18 ANOS,cursa o segundo ano do ensino médio em Belém

ALBERLÂNIA ROSÁRIO, 20 ANOS,estuda em Pratigi, na Bahia

Colega de Alberlânia, André Carlos Conceição dos Santos, 19 anos, também aprendeu a cuidar do solo e desenvolve lavouras de cacau, seringueira, mandioca e piaçava, na comunidade de Lagoa Santa, em Itube-rá. Ele sonha com se formar engenheiro-agrônomo: “É preciso pensar em novas tecnologias para que as pessoas continuem tendo trabalho sem causar danos ao meio ambiente”.

Ações organizadasNos centros urbanos, onde a pesquisa do ISER mostra

maior interesse e disposição dos jovens para participar, há um número maior de grupos ambientalistas, como a ONG Argonautas, de Belém do Pará. “Ao entrar aqui, os jovens participam de jogos de interação com conceitos ecológicos. Na militância, desenvolvem calendário de ativistas, organizam mobilizações em ruas e praças”, diz Marcello Augusto Aponte, 33 anos, coordenador do programa de educação ambiental da ONG.

Um dos ativistas da Argonautas é Samir Raoni Pinhei-ro Silva, de 18 anos, que cursa o segundo ano do ensino médio e há três anos coordena o grupo Ações Jovens Ativistas do Meio Ambiente, sensibilizando as pessoas para atitudes como não jogar lixo na rua e racionar o uso de água e energia elétrica. “Os mais jovens são interessados porque se preocupam em construir um futuro melhor. Mas os mais velhos não estão nem aí”, afi rma. Samir reclama que os políticos não aprovam, nos orçamentos, projetos socioambientais no Pará. “Belém é uma cidade suja e poluída. Faltam fi scais para evitar desmatamentos e há muita corrupção. Fazemos as denúncias. O que mais podemos fazer?”, pergunta. “Em vez de viver em harmonia com a natureza, o homem parece um vírus destruindo uma célula”, diz.

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PROJETO TRILHA DE ÍNDIO – EDUCAÇÃO INTEGRAL PARA A SUSTENTABILIDADE ÁREA DE ATUAÇÃO ALDEIA DA TRIBO JENIPAPO-KANINDÉ, MUNICÍPIO DE AQUIRAZ, A 45 KM DE FORTALEZA, CE. PROPOSTAS Desenvolver o turismo comunitário ecológico com jovens indígenas da tribo jenipapo-kanindé como forma de agregar renda e de manter o ecossistema.JOVENS ATENDIDOS 40 jovens.APOIOS Realizado pela Petrobras em parceria com a Universidade Federal do Ceará (UFCE).CONTATO Jeovah Meireles, Departamento de Geografi a – Tel. (85) 3366-9864.

o interesse juvenil (79%), seguidada economia no consumo de água e de energia. “Há consciência de que esses recursos são fi nitos”, afi rmaa coordenadora.

A estudante da Escola Superior de Propaganda e Marketing, Letícia Yumiy Ono, 18 anos, mora em um condomínio de classe média em São Paulo, onde recentemente foi implan-tada a coleta seletiva de lixo e se inte-ressou pelo processo de reciclagem. “Em casa, sempre economizamos água e energia elétrica, mas vejo que pouco se faz para reduzir os danos ambientais”, diz.

Durante um intercâmbio na Di-namarca, em 2000, ela passou por um constrangimento. “Joguei pilhas usadas no lixo e levei uma bronca das pessoas de lá. Eu não tinha idéia dos danos que a pilha causa na natureza”, conta a jovem, que faz parte da ONG Children International Summer Village. Ela não conhece no Brasil organiza-ções ambientais com temas de seu interesse. “Eu me preocupo mais com o lixo e com os desmatamentos na Amazônia”, diz.

THIAGO BARROS, 22 ANOS,é estudante de Ciências Biológicas em Minas Gerais

QUASE 80% DOS JOVENS TÊM CONSCIÊNCIA AMBIENTAL E ESTÃO PREOCUPADOS COMO DESMATAMENTO E A POLUIÇÃO

Educação verdeOs programas de educação ambiental implantados

nas escolas estaduais também resultaram na maior conscientização dos jovens, mostrada na pesquisa do ISER. “Há conteúdos nas aulas que estão afetando os alunos”, diz Samyra. Os participantes de Coletivos Jovens – formados em 2003, para a implantação da Agenda 21 – prestam serviços para as Secretarias de Educação. Maciel Batista Paulino, 21 anos, que cursa o terceiro ano de Engenharia Florestal na Universidade Federal do Paraná, faz parte do CJ de Curitiba. Com mais nove jovens, encarrega-se da educação ambiental em colégios e promove encontros regionais. “Nunca a situação do meio ambiente foi tão discutida, e tam-bém nunca se desmatou tanto”, afi rma Maciel. “Mas vejo cada dia mais jovens sensíveis aos problemas ambientais”.

Maciel é crítico em relação às atitudes de desperdício. “Com pequenas ações, pode-se mudar muito. Sempre carrego comigo uma caneca para não precisar usar copo descartável que, além de poluir o ambiente, é feito de petróleo, uma matéria-prima que está se esgotando”, diz. Na opinião dele, a educação ambiental na escola deve abranger todas as disciplinas. “Se há um projeto de juntar latinhas, o professor de matemática trabalha com cálculo, o de ciências com a composição do material e o de geografi a ou história com a origem. Isso ajuda a conscientizar”, afi rma.

A pesquisa do ISER mostra que a consciência eco-lógica dos jovens também se expressa no consumo. “Eles compram uma camiseta de algum projeto, como Tamar, ou produtos orgânicos, ecologicamente corretos e étnicos”, diz Samyra. Mas, devido ao preço, consomem pouco. É a reciclagem de produtos que desperta mais

ANDRÉ DOS SANTOS, 19 ANOS,estuda e é agricultor em Ituberá, na Bahia

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PROJETO ARGONAUTAS ÁREA DE ATUAÇÃO BELÉM, NO PARÁ, E EM TODA A AMAZÔNIA.PROPOSTAS Estimular a participação em programas de recursos hídricos, turismo de base local, gênero e meio ambiente, justiça ambiental e protagonismo juvenil.JOVENS ATENDIDOS já formou 260 jovens.CONTATO Av. Alcindo Cacela, 830, cj. 4 – Umarizal – Belém – PA – CEP 66040-020 – Fone/Fax: (91) 3266-4993 – www.argonautas.org.br

O FUTURO É AGORA

Nova militânciaPara Samyra, a decepção dos jo-

vens com os partidos políticos e com a igreja deixou-os sem espaço para participar. “Diante da falência das ideologias, o ambientalismo pode se tornar a grande opção”, diz. Ela ob-serva que os mais escolarizados, com segundo grau ou superior completo, são os mais interessados e dispostos a contribuir. “Independentemente da classe social, essa é uma tendência igual no mundo inteiro”, afi rma. Outro fator importante é a residência nos centros urbanos. “Quanto mais baixa a escolaridade e mais longe dos centros urbanos, menor é a consciência”.

Cíntia de Camargo Vilanova, de 23 anos, estuda Ecologia, na UNESP de Rio Claro, e faz estágio em um projeto de reforma agrária, onde cuida da pre-servação do solo. “Eu escolhi trabalhar em assentamento rural porque os agricultores carentes, sem querer, são os que mais degradam”, explica Cíntia. Ela considera o maior problema ecoló-gico a expansão das áreas agrícolas, que degradam o solo. Mas sua maior preocupação é com a geração de lixo: “Evito comprar produtos com emba-lagens descartáveis. Em vez de pegar sacos plásticos no supermercado, eu levo mochila ou sacolas de pano”.

A pesquisa do ISER mostra tam-bém que a consciência ambiental é maior entre os jovens até 34 anos. “Acho incrível a população entre 45 e 55 anos, que ocupa cargos de liderança, ser menos preocupada”, diz Samyra. O biólogo marinho Ale-xandre de Castro, 36 anos, fundador e diretor do Instituto Ilhas do Brasil, de Florianópolis (SC), concorda com o resultado da pesquisa. Há quatro anos ele mantém o projeto Estrelas do Mar que faz trabalho de capacitação de jovens na comunidade pesqueira de Pântano do Sul. “Essa geração tem mais informações e é mais sensível para as questões ecológicas. Hoje eles têm canais na internet, iniciativas nas universidades e ONGs que trabalham com o assunto”, diz Castro.

Na comunidade de Pântano do Sul, a pesca industrial está limitando o espaço dos pescadores artesanais. “Para os jovens daqui, os problemas

“Desde pequena tenho afi nidades com o ambientalismo. Aos 15 anos, trabalhei na ONG

Pró-Cerrado, com a inclusão social de jovens carentes em empresas, dando aulas sobre

meio ambiente. Em 2003, entrei no Coletivo Jovem de Tocantins, onde trabalho com as

questões de gênero e etnia. Faço palestras nas escolas e nas universidades. Já conseguimos

a adesão de muitos jovens. Somos referência junto ao governo. Eu coordeno ofi cinas de

reciclagem em movimentos sociais e faço o primeiro ano do curso Tecnológico em Gestão

Ambiental da Universidade Luterana Brasileira. Trabalhei também na gerência de

educação ambiental da Secretaria de Educação do Estado desenvolvendo o programa

“Vamos cuidar do Brasil”. Este ano, eu pretendo atuar em assentamentos de terra e

nas 15 comunidades quilombolas que existem em Tocantins. Nossas ações hoje são

para que o impacto negativo no meio ambiente seja minimizado. Não considero que a

responsabilidade seja só do governo. Acho que os recursos destinados ao meio ambiente

existem: se não são liberados, acabam desviados. A população tem de contribuir e se

organizar. O poder público e a sociedade devem entender que a causa é urgente. Os

problemas previstos para o futuro já estão acontecendo. Aqui sofremos com as mudanças

climáticas. É um desafi o para a coletividade mundial diminuir os problemas do

superaquecimento. Cada país tem de reduzir a emissão de poluentes. Eu observo que

os jovens estão preocupados em realizar ações, mas infelizmente ainda são vistos como

pessoas irresponsáveis e não são levados a sério”.

REGINA FREIRE ARNALDO DO NASCIMENTO, 21 ANOS,Palmas, Tocantins

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PROJETO ESTRELAS DO MAR, DO INSTITUTO ILHAS DO BRASILÁREA DE ATUAÇÃO COMUNIDADE PESQUEIRA PÂNTANO DO SUL, DE FLORIANÓPOLIS (SC).PROPOSTAS: Oferecer ofi cinas para capacitação de jovens e coordenação de atividades ligadas à conservação dos recursos naturais ao turismo comunitário; o instituto defende a preservação das regiões costeiras e ilhas do país e desenvolve projetos de geração de renda a partir de ações desenvolvidas pelos jovens. JOVENS ATENDIDOS: 40 jovens.APOIOS Ashoka e Sea Shepherd, entidade internacional de estudo e conservação da vida marinha. CONTATO Alexandre de Castro, cel. (48) 9111-8242 – www.ilhasdobrasil.org.br.

ecológicos não são apenas notícias. O futuro se torna difícil para eles”, diz o biólogo. Leonardo de Oliveira, de 14 anos, estuda na oitava série e é um dos jovens do Estrela do Mar. “Não existe fi scalização para coibir a pesca industrial na área de 500 m da costa, que acontece praticamente na praia”, diz. Ele acha que, se não forem tomadas medidas enérgicas, a pesca artesanal vai acabar em toda a costa brasileira. Mas, ao contrário de seu irmão mais velho, ele não quer ser pescador. “Até gosto de pesca, mas não tem mais peixe. Estou procurando outras oportunidades”.

Além da pesca predatória, Leonar-do queixa-se da falta de saneamento básico na comunidade e diz que era como os outros jovens que, antes do Estrela do Mar, eram “desligados”. “Agora sabemos que o mundo está sofrendo com o superaquecimento global e precisamos conscientizar as pessoas para que diminuam a produção de lixo e a poluição, não desmatem e deixem as espécies procriarem”, diz. Ele acha que de-pende de cada um fazer um pouco. “Eu, por exemplo, nunca jogo papel na rua. E o governo deveria investir mais em propagandas na TV para educar o povo”.

CÍNTIA DE CAMARGO VILANOVA, 23 ANOS, estuda Ecologia no interior de São Paulo

MACIEL BATISTA PAULINO, 21 ANOS, faz Engenharia Florestal em Curitiba

LETÍCIA YUMIY ONO, 18 ANOS, é estudante de Marketing

LEONARDO DE OLIVEIRA, 14 ANOS, faz oitava série e vive em Florianópolis

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mestresmestres

Florestas do Ministério do Meio Ambiente. A pedagoga orgulha-se também de ter criado, em 1975, e dirigido o primeiro parque ecológico paulista, em uma área anexa à Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). “Foi uma iniciativa pioneira, na qual me envolvi com questões proibidas durante o regime militar, como conservação de fl ora e fauna e educação ambiental”, relembra.

No início dos anos 1980, de volta a São Paulo, Nícia fundou, com um grupo de amigos, professores e outros profi ssionais da área ambiental, a ECO – Asso-ciação para Estudos do Meio Ambiente, uma das mais antigas ONGs brasileiras, especializada em educação ambiental. “Estávamos cientes da importância de desenvolver atividades de lazer e de conscientização baseadas em informações consistentes e no contato com ambientes naturais, utilizando-se de viagens educativas e estudos voltados ao público estudantil”, diz a educadora.

Essa concepção – de levar os jovens a campo, para conhecer a natureza de perto –, acredita Nícia, está na base do sucesso de qualquer iniciativa de educação ambiental. “É fundamental mostrar as coisas como elas são. Não adianta o professor dar uma aula mara-vilhosa no quadro-negro. É preciso levar o aluno à praça do bairro e mostrar a ele como a planta consegue os

AMBIENTALEDUCAÇÃO

nutrientes do solo e os demais meca-nismos da natureza”, diz a ambienta-lista, que atualmente está envolvida com um projeto de conservação de psitacídeos (grupo de aves que inclui as araras e os papagaios) no Parque Estadual de Jacupiranga, na região sul de São Paulo.

“Essa é uma das regiões mais preservadas do Estado, com uma grande mancha de Mata Atlântica. Mas, infelizmente, a caça ilegal está ameaçando de extinção o papagaio-de-peito-roxo”, diz Nícia. Uma das atividades realizadas no parque, sob coordenação da ECO, consiste em conscientizar a população sobre os prejuízos do comércio ilegal de animais silvestres. “Jovens da região estão atuando como auxiliares no trato das aves e nos trabalhos de con-servação ambiental. O projeto prevê o envolvimento da comunidade local, incluindo a população escolar”, diz a incansável mestra.

por _ Yuri VasconcelosA paulistana Nícia Wendel de Ma-

galhães, de 75 anos, a maranhense Luiza Pereira da Silva, de 35 anos, nascida no pequeno município de Fortuna, e a carioca Regina Viegas, de 38 anos, são três brasileiras que dividem uma mesma vocação: a edu-cação ambiental. Elas nunca estive-ram em contato, mas suas trajetórias profi ssionais têm muito em comum. As três são educadoras e, cada uma a seu modo, se dedicam a iniciativas que ajudam a melhorar o nível do ensino brasileiro e a conscientizar os jovens sobre a importância de se respeitarem e preservarem os am-bientes humanos e naturais.

Formada nos anos 1950 em Histó-ria Natural pela Universidade de São Paulo (USP), Nícia é uma das pioneiras paulistas no chamado estudo do meio. Durante muito tempo, lecionou em escolas públicas do Estado e por suas mãos passaram alunos que de-pois se notabilizariam como ambien-talistas de primeira grandeza, como Fábio Feldman, que foi Secretário de Meio Ambiente do Estado de São Paulo, e o biólogo João Paulo Capo-bianco, secretário de Biodiversidade e

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OS ESFORÇOS DE TRÊS EDUCADORAS PARA CONSCIENTIZAR OS JOVENS SOBRE A PRESERVAÇÃO DOS AMBIENTES HUMANOS E NATURAIS

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Professora Regina Viegas, do Rio de Janeiro: pesquisa para

orientar ações de cidadania ambiental com os jovens

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PROGRAMA PLANO DE MANEJO DO PAPAGAIO-DE-PEITO-ROXOÁREA DE ATUAÇÃO PARQUE ESTADUAL DO JACUPIRANGA (SP).PROPOSTA Promover a conscientização relativa à espécie, por meio de seu manejo na natureza, ações de educação ambiental e combate a caça e comércio ilegal de animais silvestres.JOVENS ATENDIDOS 250.APOIO ECO – Associação para Estudos do Meio Ambiente, Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA), Instituto Florestal / Secretaria Estadual do Meio Ambiente de SP, Tribo dos Pés, Adventure Gears e Balyhoo.CONTATO Rua Gomes Freire, 143 – Bairro Lapa – São Paulo (SP) – 05075-010 – Tels. (11) 3834-5727 ou 3637-6214 – Site www.ecoassociacao.org.br. – E-mail [email protected]

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PROGRAMA AVALIAÇÃO DO PERFIL DE CIDADANIA AMBIENTAL DE ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO-TÉCNICO DO CEFET-RJÁREA DE ATUAÇÃO RIO DE JANEIRO (RJ).PROPOSTA Gerar um banco de dados de informações sobre o perfi l da cidadania ambiental dos alunos, permitindo defi nir ações de educação ambiental voltadas a ampliar a visão dos jovens sobre o assunto.JOVENS ATENDIDOS 272.APOIO Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca – CEFET-RJ.CONTATO Rua Visconde de Itamarati, 32/207 – Bairro Maracanã – Rio de Janeiro (RJ) – 20550-140 – Tel. (21) 2254-0835 – E-mail [email protected]

Professora Nícia Wendel de Magalhães, de São Paulo: pioneirismo no estudo do meio, fora da sala de aula

Foram aplicados questionários cobrindo quase a totalidade dos alunos concluintes do CEFET em 2005. Depois de tabulados, os resultados revelaram alguns dados preocupantes. Chamou a atenção da pesquisa-dora o fato de apenas 18% dos alunos afi rmarem que os temas relativos ao ambiente vêm sendo tratados com freqüência nas escolas. Para piorar, 90% admitem que o assunto também não faz parte da pauta das discussões familiares. Outro indicador revelador do

Cidadania ambiental No Rio de Janeiro, outra defensora

da conscientização juvenil em rela-ção ao ambiente é a professora de Geografi a Regina Viegas, do Centro Federal de Educação Tecnológica (CEFET) Celso Suckow da Fonseca. Tanto que ela foi em busca de um diagnóstico mais preciso que per-mitisse um trabalho efetivo com os alunos. Preocupada com a visão que seus alunos tinham da problemática ambiental, ela associou-se ao pes-quisador Roosevelt Fernandes, do Núcleo de Estudos em Percepção Ambiental da Faculdade Brasileira de Vitória, no Espírito Santo, e elaborou uma pesquisa intitulada Avaliação do Perfi l de Cidadania Ambiental de Es-tudantes do Ensino Médio-Técnico do CEFET-RJ. “Trabalho com educação ambiental há 13 anos e verifi co certa desmotivação dos jovens com relação ao assunto. Resolvi elaborar esse trabalho para avaliar em que estágio se encontra a cidadania ambiental desses jovens”, diz.

desinteresse e da desinformação dos alunos, em sua maioria pertencentes à classe média e oriundos de escolas de bom nível, é o elevado índice (75%) dos que não têm hábito de acessar sites ligados à questão ambiental. Ao mesmo tempo, 73% afi rmaram não acreditar que iniciativas isoladas de um cidadão possam modifi car a continuidade de uma ação prejudicial ao meio ambiente.

Segundo a educadora, os resulta-dos do trabalho comprovaram o que muitos já sabiam: a inclusão efetiva da educação ambiental no currículo é urgente. “No mundo em que vive-mos, é impossível que os jovens não conheçam os problemas ambientais e não saibam atuar sobre eles. Não é apenas uma questão de mercado de trabalho ou simples informação. Trata-se de uma questão de cida-dania, de formação de valores e, até mesmo, de inclusão social”, defende. A partir da pesquisa, diz Regina, será possível mapear ações especí-fi cas complementares de educação ambiental que possam direcionar e ampliar a visão socioambiental dos jovens em relação ao seu dia-a-dia profi ssional e pessoal.

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PROGRAMA PROJETO CURUPIRAÁREA DE ATUAÇÃO ILHA DE CARATATEUA (PA).PROPOSTA Reduzir a evasão escolar no ensino médio e desenvolver nos jovens conhecimentos que ampliem suas competências e habilidades.JOVENS ATENDIDOS 220.APOIO Escola Bosque Professor Eidorf Moreira e Ministério da Educação.CONTATO Avenida Nossa Senhora da Conceição, s/n – Bairro São João do Outeiro – Belém (PA) – 66840-450 – Tel. (91) 3267-1354 – E-mail [email protected]

Professora Luiza Pereira da Silva, do Pará: projeto para conscientizar e atrair

os alunos de volta à sala de aulaCuidados com a Amazônia

Assim como as colegas do Sudeste, a professora Luiza Pereira da Silva também está envolvida no seu dia-a-dia com o desafio de melhorar o ensino brasileiro e mostrar aos jovens a importância da preservação ambiental. Ela leciona na Escola Bosque Professor Eidorf Moreira, um centro de referência em educação ambiental localizado na ilha da Caratateua (também conhecida como Outeiro), a 22 quilômetros de Belém. No ano passado, ela foi uma das educadoras premiadas pelo Ministério da Educação pelo trabalho em favor do ensino médio. “Tudo começou no segundo semestre de 2005, quando passei a coordenar os cursos do ensino médio noturno e a educação de jovens e adultos da escola. Fizemos uma ava-liação e detectamos um alto índice de evasão, superior a 50%”, diz Luiza.

A professora não se abateu com o que viu. Ao contrário, arregaçou as mangas e criou um programa, denomi-nado Projeto Curupira, com o objetivo de trazer os alunos de volta à sala de aula. “Na avaliação, eles disseram que tinham de abandonar a escola para trabalhar. Com isso, dividimos o projeto em três eixos: formação profi ssional, organização curricular por projetos interdisciplinares e formação e resgate cultural”, diz a educadora. No fi m de

2005, o Curupira foi escolhido pelo MEC como um dos dez projetos nacionais de destaque no incentivo de melhoria do ensino médio. “Ganhamos 140 mil reais para colocá-lo em prática. O trabalho foi iniciado no começo de 2006 e os resultados têm sido ótimos. A evasão escolar já caiu pela metade.”

Várias ofi cinas profi ssionalizantes e culturais foram implantadas, sendo que algumas têm o objetivo de gerar renda para os alunos. E a educação ambiental, onde entra? Simples: nas atividades, os alunos trabalham com recursos naturais da região, como na ofi cina de confecção de bijute-rias, que usa sementes de frutos e plantas da Amazônia, como açaí, bacaba, jupati, caranã e tucumã, além de cascas de coco, bambu e madeira. O mesmo acontece com a ofi cina de confecção de instrumentos musicais, que deu origem a um grupo de percussão formado por 12 alunos, e de grafi smo em cuias, que são utilizadas para servir o tacacá, comida típica do Pará.

“Na coleta de recursos da fl oresta, falamos da importância da preserva-ção”, diz Luiza. “Além disso, a ques-tão ambiental é trabalhada de modo transversal em todas as disciplinas dos cursos”. Um exemplo disso é o projeto voltado ao estudo do espaço urbano da ilha de Caratateua. “No tema ‘Posse e Propriedade’, discutimos com os alunos o processo de ocupação desordenada da ilha. Queremos que eles reflitam sobre as conseqüências das invasões para o meio ambiente, uma vez que provocam a destruição das fl orestas e causam impactos nos igarapés”, diz a pedagoga. O esforço tem valido a pena. “O trabalho tem ajudado no resgate da auto-estima dos jovens e deu uma oxigenada no ensino noturno do colégio.”

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banco de práticas

Por _ Marcelo Barreto

NATUREZAS DIVERSASDe onde surge a motivação para um projeto socio-

ambiental envolvendo jovens? A diversidade de práticas mostra que ela pode estar em qualquer um dos elemen-tos da natureza.

Da água, veio a inspiração para um grupo de universi-tários de Sergipe. Em 2003, Ano Internacional da Água Doce, eles criaram o Cepecs - Centro de Pesquisas e Es-tudos Científi cos e Sociais. Da terra, ou da defesa de um pedaço dela, nasceu o Grude (Grupo de Defesa Ecológica), do Rio de Janeiro, que vem desenvolvendo projetos que envolvem até mil jovens por ano.

Do fogo do sol, que queima o chão do Nordeste brasilei-ro, surgiu a necessidade de jovens cearenses e piauienses de encontrar uma fonte de renda sem depredar a reserva onde vivem. A Associação Caatinga os ajudou a acender um facho de esperança.

E pelo ar veio a notícia de que o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) precisava de um parceiro para trazer ao Brasil a bem-sucedida iniciativa do GEO Juvenil, relatório de impressões sobre a perspectiva do meio ambiente global. O Grupo Interagir, de Brasília, abraçou a oportunidade.

São quatro histórias de conquistas, mas também de difi culdades. Mateus Fernandes, coordenador nacional do GEO Juvenil Brasil, destaca a difi culdade de realizar a última etapa do projeto: transformar o relatório em livro. No premiado Projeto Natureza Jovem – Protetores da Serra, as conquistas não se contam em números impressionantes, mas caso a caso. “Cinco jovens foram aprovados no vesti-bular e um deles se empregou numa rádio-escola”, festeja Marcela Saldanha, bióloga da Associação Caatinga.

É também de grão em grão que o Grude vai aumen-tando sua rede de agentes socioambientais. “Recebemos dois ou três pedidos por dia de uma cartilha de formação que enviamos por e-mail”, conta o diretor-adjunto Sérgio May. E às vezes nem é preciso olhar para fora para enxer-gar as conquistas. “Nosso resultado também é avaliado pela mudança provocada nos próprios jovens do movi-mento”, diz Carlos Eduardo Silva, diretor administrativo do Cepecs Brasil.

A semente da mudança está em todo lugar.

QUATRO INICIATIVAS REFLETEM A VARIEDADE DAS AÇÕES ECOLÓGICAS

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Em 1995, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), criou um conjunto de relatórios bati-zado de GEO, sigla em inglês para Perspectivas do Meio Ambiente Global. A participação dos jovens no processo de construção do informe foi tão intensa que fez surgir o GEO Juvenil, publicação-referência com impressões, dados, análises, metodologias e fazeres políticos. Um exemplo perfeito de protagonismo juvenil, que passou por Argentina, México, Peru e Uruguai antes de chegar

Nacional

GEO Juvenil

Em 1986, um grupo de amigos de Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, se reuniu para lutar pelo aproveitamento de uma área verde num terreno que pertencia a construtoras imobiliárias. Dessa semente brotaram dois frutos: a área se transformou no Bosque da Freguesia e os amigos continuaram se reunindo, dando origem ao Grude (Grupo de Defesa Ecológica). Nesses 20 anos de atividade, o Grude desenvolveu dezenas de projetos. Um dos mais recentes, o Projeto Agente Jovem, investiu na educação socioambiental de 475 jovens de 19

Sergipe

Centro de Pesquisas e Estudos CientíÞ cos e Sociais

Quando se fala em brinquedo de papel machê, é mais fácil se lembrar de uma música de João Bosco (com letra de Capinam) do que pensar num projeto socioambiental. Mas foi na técnica artesanal que inspirou o poeta que o Projeto Natureza Jovem – Protetores da Serra encontrou uma maneira de aumentar a auto-estima e as possibilida-des de geração de renda de 75 jovens das comunidades de Tucuns, Barro Vermelho, Poty e Ibiapaba (em Crateús, Ceará) e Jatobá (na vizinha Buriti dos Montes, Piauí), todas localizadas na área da reserva natural de Serra

Ceará e Piauí

Projeto Natureza Jovem, da Associação Caatinga

O Dia Mundial da Água, celebrado em 22 de março de 2003, era a gota que faltava para fazer transbordar o desejo de ação social de nove universitários de Sergipe. Três dias depois, eles se reuniam para idealizar o Cepecs (Centro de Pesquisas e Estudos Científi cos e Sociais). Uma das primeiras realizações foi a I Semana do Ter-ceiro Setor de Sergipe, seguida de outras ações locais. Os debates sobre as Políticas Públicas de Juventude, no ano seguinte, levaram o Cepecs a se espalhar pelo Brasil. “Já atuamos em nove estados”, diz o diretor Carlos

Rio de Janeiro

Projeto Agente Jovem, do GRUDE � Grupo de Defesa Ecológica

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das Almas. As fl ores de papel machê foram tema de um curso de capaci-tação oferecido em parceria com o Sebrae e, por sugestão dos próprios jovens, se transformou numa iniciati-va econômica local. “Eles não tinham perspectiva de emprego. Agora, estão cadastrados pela Secretaria de Artesanato do Ceará e expõem seus

Eduardo Silva, um dos fundadores do Cepecs, que em 2005 já reunia 90 jovens num congresso nacional de empreendimentos sociais sustentá-veis. “Ao fi m de cada ano, repensamos nossa missão e nossa visão. Agora, decidimos fortalecer nossa atuação local”. Hoje, o Cepecs está envolvido no zoneamento socioambiental de

comunidades atendidas pelo Favela-Bairro, um programa de revitalização urbana da prefeitura. “Muitas comu-nidades eram dominadas pelo tráfi co. Quando se envolviam no projeto, os jovens se sentiam importantes, não mais por terem uma arma na cintura, mas porque sentiam que o trabalho tinha valor para a comunidade”, conta

ao Brasil, sob a responsabilidade de membros do Grupo Interagir, organi-zação de jovens sediada em Brasília e que se dedica também à causa ambiental. “Desde a realização da Eco-92, temos uma qualidade diferente no movimento ambiental brasileiro”, diz Mateus Fernandes, coordenador nacional do GEO Juvenil Brasil. “Sem

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GEO JUVENILÁREA DE ATUAÇÃO NACIONAL.PROPOSTA Realizar mapeamentos de impressões de jovens sobre o meio ambiente (rural e urbano) e publicar os respectivos relatórios.JOVENS ATENDIDOS 60 jovens focais participaram do projeto, sensibilizando 15 mil pessoas.APOIO Governo Federal (Ministérios da Educação e do Meio Ambiente e Secretaria Nacional da Juventude), PNUMA, WWF, União dos Escoteiros do Brasil e PNUD.CONTATO SCN Quadra 05 Torre Norte, sala 1.325 (Edifício Brasília Shopping) – Brasília – Telefone (61) 3036-9675 – Site www.interagir.org.br

PROGRAMA NATUREZA JOVEM – PROTETORES DA SERRA, DA ASSOCIAÇÃO CAATINGA PROPOSTA Oferecer ofi cinas e cursos de formação profi ssional na área da reserva de Serra das Almas, em Crateús (CE).JOVENS ATENDIDOS 130 nas ofi cinas e 75 na produção de papel machê.APOIO Instituto Unibanco, Proletab, FNMA, Ceras Johnson.CONTATO Av. Santos Dumont, 3.060, sala 514 (Shopping Casablanca) – Aldeota – Fortaleza. Telefone (85) 4006-8079.

CEPECS – CENTRO DE PESQUISAS E ESTUDOS CIENTÍFICOS E SOCIAISÁREA DE ATUAÇÃO SERGIPE E MAIS OITO ESTADOSPROPOSTA Capacitação socioambiental de jovens e mapeamento da água doce no estado de Sergipe.JOVENS ATENDIDOS 23 voluntários e 500 participantes de atividades (eventos, cursos, debates).APOIO Grupo Interagir, REJUMA, Sociedade Semear, Physis Cultura e Ambiente, REBEA e outros.CONTATO Rua Aloísio Braga, 181, EdifÍcio San Martin, sala 402 – Bairro Suíssa – Aracaju –Telefone (79) 3213-7340 – Site www.arvore.org.br

GRUDE – GRUPO DE DEFESA ECOLÓGICAÁREA DE ATUAÇÃO CAPITAL E INTERIOR DO RIO DE JANEIRO.PROPOSTA Promover educação socioambiental.JOVENS ATENDIDOS cerca de mil por ano, em diferentes projetos.APOIO Eletrovolt e Instituto Estadual de Florestas (para o projeto atual, no Parque Estadual da Pedra Branca).CONTATO Estrada de Jacarepaguá, 7.818, sala 201 – Freguesia – Rio de Janeiro Telefones (21) 2436-1786 e 2447-3693.

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de 130 jovens já cursaram também 85 ofi cinas, com temas como meio ambiente, biodiversidade da caatinga, lixo e reciclagem, teatro, pluralidade cultural e elaboração de projetos. O sucesso levou à conquista do Prêmio Von Martius pela Associação Caatinga, que já planeja estender o projeto a mais seis comunidades.

Sergipe, com unidades operacionais para atuação junto às comunidades em seis áreas. O grupo também se empenha na capacitação da juventude socioambientalista e investe na arti-culação socioambiental, participando de conselhos que debatem questões antes restritas aos adultos. “Eles ainda estranham a presença dos jovens nos

Sérgio May, diretor-adjunto do Grude. “Com o tempo, fomos nos profi ssiona-lizando e nos tornamos uma referên-cia. Chegamos a atender mil jovens por ano”, conta. Hoje, o grupo se dedica também à capacitação de professores na área do Parque Estadual da Pedra Branca, o maior parque urbano do mundo. O objetivo é semelhante ao

menosprezar o que foi feito em outros países, a publicação brasileira tinha de ser diferente”. A versão brasileira tem 260 páginas, mais do que o dobro das publicações latinas. O projeto teve seis fases: passou pela estrutura-ção, pela formação de jovens focais (responsáveis por percorrer o Brasil colhendo impressões ambientais em

trabalhos em Fortaleza”, conta Marce-la Saldanha, da Associação Caatinga. Mas este foi apenas um dos cursos oferecidos pelo projeto, na tentativa de abrir um mercado de trabalho com base nas possibilidades oferecidas pela reserva: educação ambiental, viveiro fl orestal, condutores de trilhas ecológicas e até informática. Mais

conselhos. Mas estamos ocupando o nosso espaço”, diz Carlos Eduardo. A realização mais recente foi o I Fórum Nordestino de Ecoturismo, para debater o papel dessa modalidade de turismo no combate à desertifi cação do Nordeste. Foi mais um passo num caminho que virou lema do Cepecs: construir socie-dades sustentáveis.

do Agente Jovem, embora o público seja diferente: investir na formação de agentes ambientais. Tanto os jovens das comunidades atendidas pelo Fa-vela-Bairro quanto os professores da área do parque (que atendem cerca de 600 alunos) ganham uma capacitação que depois fi ca com eles, a serviço da população local.

áreas rurais e urbanas), pelas ativida-des nos estados, pela criação artística, pela reunião editorial. “O trabalho dos 60 jovens focais sensibilizou mais de 15 mil pessoas”, diz Mateus. “As quatro mil impressões levantadas no trabalho já estão registradas em CD-ROM e precisam também passar para o papel”, diz Mateus.

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caminho das pedras

ALIANÇA NA FLORESTA

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Por _ Liana Melo

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UMA PARCERIA ENTRE O CONHECIMENTO CIENTÍFICO E O SABER DA COMUNIDADE FAZ PROJETO COM POPULAÇÃO JUVENIL VIRAR REFERÊNCIA MUNDIAL

A natureza é exuberante e generosa em Mamirauá, que integra a maior área de fl oresta inundada e preservada do planeta, no interior do Amazonas. A população da região, no entanto, até poucos anos atrás vivia uma vida de privações, refletida em indicadores socioeconômicos preocupantes, como uma taxa de analfabetismo de 31% entre os maiores de 15 anos. Foi a ação de um grupo de pesquisadores, em convívio com as comunidades locais – em que 48% dos habitantes são jovens –, que mudou a situação. Ali o conhecimento científi co e o saber da comunidade produziram uma experi-ência que virou referência mundial: o Instituto de Desenvolvimento Sustentá-vel Mamirauá, um núcleo de excelência em manejo de recursos naturais e um modelo para outros países no desafi o de aliar a conservação da natureza ao desenvolvimento humano, oferecendo perspectivas a uma população predo-minantemente jovem.

À esq., jovens encenam teatro de bonecos com temas educativos; à dir., barco-escola que atende as comunidades da reserva sustentável de Mamirauá e Amanã, no Amazonas

Tudo começou com um pequeno macaco de coloração cinzento-esbran-quecida e cabeça vermelha, o uacari-branco. Original das fl orestas inunda-das da Amazônia Central, o primatachamou a atenção do biólogo parana-ense José Márcio Ayres, que desem-barcou na região nos anos 1980 para estudar a espécie e saiu de lá com uma tese de doutorado, defendida naUniversidade de Cambridge, na Ingla-terra, que denunciava a ameaça de extinção desse primata de Mamirauá, ao norte do rio Solimões.

Parque Nacional do Jaú, passaram a formar a maior área de fl oresta tropical protegida do mundo. O passo seguinte foi a criação do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM), que conta hoje com o apoio do poder público, de centros de pesquisa, universidades, organismos internacionais e empresas privadas para o desenvolvimento de projetos de sustentabilidade que benefi ciam principal-mente os jovens da região.

Gestão sustentável Cerca de oito mil pessoas vivem nas duas reservas,

distribuídas por 41 comunidades em Amanã e outras 45, em Mamirauá. É uma população predominantemente jo-vem, como Suleima Queiroz, 19 anos. Nascida e criada em

Vila Nova do Coraci, em Amanã, ela já faz parte de uma geração consciente da necessidade de preservação dos imensos recursos naturais de que é herdeira. “Sonho em fazer faculdade e depois voltar para a minha comuni-dade”, diz a jovem. Cursando o ensino fundamental em Tefé – cidade onde fi ca a sede do IDSM, Suleima ganhou uma bolsa de iniciação científi ca da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Amazônia (Fapeam).

Artesã, a jovem foi uma das que lutaram para que os suportes de mesa

Diante da ameaça à biodiversidade local e da neces-sidade de salvar da extinção o uacari-branco, o cientista decretou guerra aos exploradores. Os nativos entraram na briga e ambos conquistaram, em 1990, um sonho: a criação da Estação Ecológica Mamirauá. A área de 1,1 milhão de hectares entrou para a história como a primeira reserva de desenvolvimento sustentável do Brasil, uma experiência inédita e até então não prevista na legislação brasileira. É que a estratégia de conservação considerava que as populações tradicionais seriam as únicas benefi -ciárias dos recursos naturais, além de deterem o poder de decisão sobre o manejo dos recursos.

A parceria entre conhecimento científico e saber ribeirinho ganhou força. Em 1998, a experiência da re-serva Mamirauá foi replicada na vizinha Amanã. São ao todo 3,4 milhões de hectares preservados. Junto com o

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tradicionalmente conhecidos como ‘jogos americanos’ fossem rebatizados, na região, com o nome de ‘jogos de mesa Amanã’. Não seria um mero jogo de palavras? Não no caso específi co. As comunidades das duas reservas conseguiram, na última década, dar um salto histórico partindo do extrativismo para o manejo das várzeas. O IDSM tem um convênio com o Instituto de Proteção Ambiental da Amazônia, em que desenvolve um projeto de gestão sustentável compartilhada. Os indicadores de resultados são expressivos. A mortalidade infantil caiu de 86 por mil para 27 por mil. O analfabetismo não foi erradicado, mas parou de crescer. Seis comunidades já contam com programas de Educação de Jovens e Adultos (EJA), o que possibilita a continuidade dos estudos da 5ª à 8ª série.

O ensino hoje é um direito garantido aos jovens da região em 27 escolas fl utuantes espalhadas por Amanã e Mamirauá, que integram o Programa Esso-Mamirauá de Educação Ambiental, fi nanciado pela Esso Brasileira de Petróleo. O programa inclui um grupo de Arte Educação que trabalha com jovens entre 14 e 20 anos, protago-nistas de peças teatrais com temas correlatos ao meio

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PROGRAMA INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL MAMIRAUÁ (IDSM)ÁREA DE ATUAÇÃO RESERVAS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL MAMIRAUÁ E AMANÃ, NO AMAZONAS.PROPOSTA Assegurar melhores formas de adaptabilidade humana aos ecossistemas das Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã, contribuindo para o desenvolvimento do pensamento crítico e refl exivo sobre o uso sustentado dos recursos naturais e para o fortalecimento de ações vinculadas às políticas públicas de desenvolvimento sustentável.JOVENS ENVOLVIDOS 8.000 pessoas vivem nas reservas Mamirauá e Amanã, das quais 48% são jovens.APOIO Ministério da Ciência e Tecnologia, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Amazônia (Fapeam), governo do Estado do Amazonas, Fome Zero, Wildlife Conservation Society, Petrobras e Esso Brasileira de Petróleo.CONTATO Avenida Brasil, 197 – Juruá – Caixa Postal 38 – Cep: 69470-000 – Tefé – Amazonas – Telefones (97) 3343-4672 e Fax (97) 3343-2736 – Site www.mamiraua.org.br

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ambiente – como o “O Capitão Limpeza contra a abominável Mulher do Lixo”–, encenadas em praças públicas e nas reservas. E a juventude também está à frente de um programa de rádio, o “Ligado no Mamirauá”, que aborda educação ambiental, educação para a saúde e cidadania. A cada 15 dias, uma balsa percorre as comunidades ribeirinhas para recolher as matérias escritas por jovens caboclos. O progra-ma vai ao ar duas vezes por semana. “Meu sonho é ser jornalista”, diz Cleu-ziomar da Silva, 19 anos, um dos 60 comunicadores nativos responsáveis pelo conteúdo veiculado na rádio. “Hoje, já temos também um jornal impresso, o ‘Comunicador’, que está na sua 11ª edição”, informa Cleuziomar.

Sabedoria do pirarucuNa atuação juvenil no teatro, na

rádio ou no jornal impresso, um tema recorrente é o pirarucu, peixe típico da região que sempre foi alvo da pesca predatória e hoje é exemplo do manejo comunitário que garante não só a so-brevivência da espécie, mas também a dos ribeirinhos. Só eles podem levar o pirarucu à mesa. Ainda assim, não

Jovens em atividade nas reservas Mamirauá e Amanã: estudos nas balsas e apresentações teatrais e musicais sobre meio ambiente são assuntospara as transmissões do programa de rádio “Ligadono Mamirauá” e para ojornal “O Comunicador”

COMO OS JOVENS SÃO METADE DA POPULAÇÃO, OS PROJETOS NAS RESERVAS SUSTENTÁVEIS INVESTEM NA CONEXÃO ENTRE ESCOLARIZAÇÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL, QUALIFICANDO TAMBÉM OS PROFESSORES

podem pescá-lo durante o defeso, período reprodutivo da espécie que vai de dezembro a maio. No resto do ano, só os peixes adultos, machos ou fêmeas, podem ser pescados. Mas como diferenciá-los dos fi lhotes? “Os ribeirinhos são sábios”, diz Sandro Augusto Gatiere, pau-lista e educador ambiental na região. Ainda pequenos, os caboclos aprendem o que as pessoas da cidade grande só vão conhecer muito tempo depois. O pirarucu precisa subir à tona para respirar, em intervalos de tempo regulares. A cada vez que faz isso, ele mostra seu dorso ou realiza ‘boiadas’, como chamam os ribeirinhos. Um único segundo de observação é sufi ciente para o nativo diferenciar o peixe fi lhote do adulto. “De longe, eles identifi cam o tamanho, o sexo e o peso”, atesta Sandro.

Conhecimentos como esse são aproveitados pelos pesquisadores do IDSM para melhorar a vida da população local, sem deteriorar o meio ambiente. A técnica de manejo estendeu-se por todas as atividades econômicas. Da pes-ca à agricultura familiar, passando pelo manejo da madeira, os recursos naturais são explorados de forma a assegurar a produção contínua e a subsistência das comunidades. Um censo econômico local aplicado pelo IDSM concluiu que a renda média anual pulou de R$ 900, em 1995, paraR$ 10.000, em 2006. A atenção da ciência à sabedoria popular, em parceria com a juventude, rende bons resul-tados econômicos sem agredir a natureza.

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horizonte global

FAZENDO TODO Por _ Cecília DouradoIlustração _ Tatiana Garrido – Guid

Há 40 anos a queniana Wangari Maathai se dedica a plantar árvores. O movimento fundado por ela em 1977, Cinturão Verde, é responsável pela plantação de mais de 30 milhões de árvores. Para ela, plantar uma árvore é um ato político, uma forma efi caz de combater a de-gradação ambiental e de gerar trabalho e renda, principalmente para mulheres pobres. O Cinturão Verde (www.greenbeltmovement.org) também mantém campanhas de conscientização sobre preservação ambiental, a defesa dos direitos das mulheres e do estado de direito. Primeira mulher a obter o título de doutora no Leste e Centro da África, Wangari é parlamentar e foi ministra assistente do Ambiente em seu país, vem participando de diversas comissões das Nações Unidas e é professora da Universidade de Nairobi. Pelo seu trabalho, recebeu o Nobel da Paz em 2004 e, em 2006, a Legião de Honra, maior condecoração da França. A revista “Time” a incluiu, em 2005, na lista das 100 pessoas mais famosas do mundo e a “Forbes”, na das 100 mulheres mais poderosas do mundo. Recentemente, ela lançou o seu segundo livro, a autobiografi a “Unbowed” (literalmente, “Não Abatida”). Na entrevista concedida à Onda Jovem, a queniana de 66 anos fi cou muito interessada ao saber que nosso país tem o nome de uma árvore e reiterou seu compromisso com a causa ambiental: “Não podemos nos dar ao luxo de desistir”.

PARA A AMBIENTALISTA QUENIANA WANGARI MAATHAI, GANHADORA DO PRÊMIO NOBEL DA PAZ DE 2004, PLANTAR UMA ÁRVORE É UM ATO POLÍTICO

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justa em um sistema democrático, também estamos evitando confl itos e cultivando a paz.

O gerenciamento sustentável do meio ambiente pode contribuir para a preservação também da diversidade cultural?

As comunidades pré-industrialização eram muito próximas da natureza – cultivavam seus alimentos e obtinham sua água diretamente dos rios. Isso gerou muito conhecimento sobre o ambiente, que está co-difi cado em suas tradições, crenças, cerimônias, ritos, canções, danças e histórias. Com a industrialização, porém, as comunidades se distanciaram desses co-nhecimentos tradicionais e eles estão sendo perdidos. O resgate e a preservação da cultura que herdamos das diferentes comunidades da família humana po-dem contribuir para a conservação do ambiente.

Quais são hoje os temas mais ur-gentes da agenda ambiental?

A maior prioridade continua a ser a conscientização, até que sejamos uma massa crítica de pessoas em todo o mundo que defendem a preservação do ambiente, os direitos humanos, a democracia e a segurança. Apenas se tivermos a consciência de que muitos recursos naturais estão ameaçados, podere-mos mudar a nossa mentalidade e aceitar alterações no nosso modo de vida, não desperdiçando água e andando menos de carro, para con-sumir menos gasolina, por exemplo. As empresas precisam tomar a decisão de não poluir a atmosfera, o solo, os rios. Chegou a hora de muitos governos, especialmente os dos países industrializados, como

Onda Jovem: Por que um trabalho desenvolvido na área ambien-tal lhe valeu o prêmio Nobel da Paz? Segundo a Comissão Nobel, foi o reconhecimento “pela sua contribuição ao desenvolvimento sustentável, à democracia e à paz”. Mas qual é a relação entre defesa do ambiente e paz?

Wangari Maathai: Temos re-cursos limitados no planeta, que precisam ser gerenciados com responsabilidade e compartilhados de uma forma mais justa. Isso só é possível quando vivemos em um sistema democrático, com respeito aos direitos humanos, em que a lei é acatada e vale para todos, e em que se valorize a diversidade cultural do mundo. Ao administrar os recursos naturais de forma responsável e

O POSSÍVEL

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Estados Unidos, Japão, China e os europeus, aprenderem a usar fontes alternativas de energia. É preciso consciência para que o mundo se comprometa a transmitir para a próxima geração um am-biente limpo e saudável. O desafi o mais importante, para mim, é a conscientização e é por isso que eu estou dando esta entrevista.

A sua mensagem está sendo ou-vida?

Sem dúvida. Milhares de pessoas trabalham em todo o mundo para melhorar a forma como administra-mos a nós mesmos e os recursos naturais. Eu represento todos. Eu vim de um berço sem sofi sticação e privilégios, de forma que posso falar com todo o mundo. Posso me dirigir a pessoas que estão nas áreas rurais, às pessoas dos subúrbios e também aos governos, porque pas-sei por tudo isso e sei que todos nós temos um papel a desempenhar.

E qual é o papel que os jovens têm a desempe-nhar?

Eu gostaria de encorajar os jovens a não se senti-rem traídos pela nossa geração, mas que percebam e valorizem o que estamos fazendo para lhes dar um mundo melhor. Eles devem ir à escola e procurar obter o conhecimento e a qualifi cação de que vão precisar, estudar muito e nunca se entregar ao desespero.

A experiência do Cinturão Verde, no Quênia, pode ser replicada em outros lugares? Qual a contribuição que o Brasil pode dar no gerenciamento sustentável dos recursos ambientais?

A experiência do Cinturão Verde pode e já está sendo repetida em diversos países, especialmente na África. Um dos princípios básicos do movimento é compartilhar o programa com outros países. O Brasil deve continuar a desenvolver combustíveis al-ternativos e proteger suas fl orestas, principalmente a amazônica. Ao se encontrar no Brasil, na Rio-92, o mundo sinalizou que valoriza a sua diversidade biológica. Espero que o mundo ajude o Brasil a pre-servar a fl oresta amazônica e seus rios. Isso é do interesse de todos.

A propósito, o que é melhor: a ação global ou local?

Na questão ambiental, a ação local muitas vezes tem impacto global e vice-versa. As mudanças climáticas, por exemplo, afetam as pessoas no nível local. No meu país, as mudanças climáticas causam a redução da neve no pico do Monte Quênia e, conseqüentemente, da água dos rios alimentados por ela. O resultado é a seca, o declínio de colheitas, a fome e mesmo a morte. A principal causa disso tudo é o efeito estufa, resultante da polui-ção global. A causa é global, mas o efeito é local. Na preservação também existe um intercâmbio entre as ações locais e globais. Ao tentar mitigar a seca no Quênia, protegendo as fl orestas sobre as nossas montanhas, plantando ár-vores para deter a erosão do solo e procurando reduzir os rebanhos e as áreas de pastagem, estamos agindo localmente, mas o impacto pode ser global.

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Por que é tão difícil para as comunidades e socieda-des adotarem o gerenciamento sustentável do meio ambiente?

Em primeiro lugar, porque é difícil mudar a mentali-dade pela qual, se você pode pagar por algo, se você pode comprar algo, então você tem direito a isso. As madeireiras podem, por exemplo, derrubar árvores na fl oresta do Congo porque pagam ao governo para isso. Nem sempre esse dinheiro é usado em benefício do povo. A fl oresta desaparece, o que contribui para au-mentar a pobreza do povo. Nos países ricos, a madeira é transformada em móveis bonitos e as pessoas ricas não percebem que existe uma relação entre a pobreza no Congo e a bela mobília que estão comprando. Uma outra difi culdade é que a degradação ambiental não é algo repentino, como um furacão ou um tsunami. O intervalo, de uma ou duas gerações, entre a causa e a conseqüência da devastação ambiental é sufi ciente para que os que causam o problema o ignorem ou mesmo neguem que ele exista.

O seu livro fala de como havia abundância de recursos naturais no Quênia na sua infância – água limpa, fru-tas etc –, da regularidade das estações e das chuvas. Isso tudo mudou e muitos analistas acham que já é tarde demais para reverter signifi cativamente a devastação. Mas a senhora não desiste da sua luta. Por quê?

Eu sou otimista. Sempre acredito que as coisas podem mudar. O triste seria se um número grande de nós desistisse. É muito importante que não desista-mos, que continuemos a nos encorajar uns aos outros. Não podemos nos dar ao luxo de desistir.

Como na história do beija-flor, que a senhora contou ao receber o Nobel da Paz?

Exatamente. Essa história é um apelo ao comprometimento e à persistência em nossa luta. Um dia a fl oresta pegou fogo. Os animais fugiram, mas um beija-fl or fêmea voou até o rio, pegou uma gota de água no bico, voltou para a fl oresta e jogou a água sobre as chamas. Fez isso muitas vezes, enquanto os outros animais riam dela. Quanto mais eles riam, mais ela trabalhava. “O que você pensa que está fazen-do? O fogo é grande demais para você.”, disseram. Sem parar de trabalhar, ela respondeu: “Eu estou fazendo todo o possível”.

A PRESERVAÇÃO AMBIENTAL ENVOLVE RECURSOS NATURAIS, CUJA ESCASSEZ COSTUMA DEFLAGRAR CONFLITOS

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SEXTANTE

Por _ Mario Monzoni

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SEXTANTE

O CURSO DAS MUDANÇAS

Nascido no último quarto do século 19, o economista britânico Arthur Cecil Pigou morreu em 1959, sem ver sua teoria levada a sério. Foi somente a partir do fi m do sé-culo 20 que os chamados impostos pigouvianos entraram nas cartilhas e livros-texto de Economia. Ainda assim, foi preciso que a ameaça de desastres ambientais de grandes proporções forçassem os economis-tas a admitir que há custos dentro do sistema de produção capitalista que, embora não entrem na formu-lação dos preços dos produtos, são pagos por toda a sociedade.

Nada espelha melhor essa rea-lidade do que os preços dos com-bustíveis fósseis que alimentaram o fantástico crescimento econômico visto no século passado. E cuja era começa a chegar ao fi m.

Pigou foi o primeiro economista a propor a taxação sobre produtos que geram externalidades: impactos geralmente negativos e não nego-ciados – portanto, uma imposição

de custos –, resultantes de uma ação humana ou corporativa sobre uma terceira parte, seja esta um indivíduo, uma comunidade, seja a sociedade em geral, ou o meio ambiente.

As externalidades, como o nome diz, são deixadas de fora do modelo econômico, tanto do microeconômico, para a formação de preços, quanto do macroeconômico, para a formulação de políticas. Para Pigou, um imposto sobre o consumo de produtos que geram externalida-des estabeleceria um novo preço que desestimularia a sua oferta além do ponto no qual o consumidor se dispõe a pagar por elas. O máximo que o economista britânico conseguiu, no entanto, foi a aceitação das externalidades dentro do universo econômico como imperfeições de difícil tratamento.

Com a recente retomada dos impostos que levam seu nome (“imposto pigouviano”), as externalidades passaram a integrar a discussão econômica. Menos explícita, entretanto, foi a admissão de que o século 20 “rodou” com preços relativos totalmente fantasiosos, uma vez que os insumos energéticos – cuja queima produz o mais clássico exemplo de externalidade, a poluição – estão na cadeia de valor de quase todos, senão todos, os produtos.

Do comando ao incentivoDurante o mesmo século 20, os desafi os ambientais

eram regulamentados – pelo menos na intenção – por meio de instrumentos de comando e controle (C&C). Esse tipo de regulamentação estabelece metas, defi ne tecnologias a serem aplicadas e controla o cumpri-mento dos objetivos comandados. Sua característica básica é uma organização burocrática ampla, o que implica custos altos com a coleta de informações, fi scalização e monitoramento. Além disso, a predo-minância de instrumentos de C&C no aparato estatal regulatório na área ambiental pode representar um espaço maior para a infl uência política e a ação de grupos de interesse das indústrias.

Por trás dos argumentos de Pigou havia, implícita, a idéia do uso de instrumentos que infl uenciassem o processo de tomada de decisão dos agentes econômicos, sejam con-sumidores, sejam investidores, em substituição à ordem de comando e seu controle.

A regulamentação ambiental que usa instrumentos econômicos é conhecida como Regulação Baseada em Incentivos (RBI), que, por sua vez, se subdivide em duas variantes. A primeira é caracterizada pelo uso de instrumentos fi scais e creditícios que penalizam atividades “insustentáveis” e/ou incentivam práticas sustentá-veis. A Europa tem tradição na apli-cação desse tipo de instrumento. A segunda variante desenvolveu-se nos Estados Unidos e adota instrumentos de mercado, com a criação e negocia-ção de permissões para, por exemplo, emissão de poluentes. O caso de maior sucesso dessa vertente é o chamado mercado de chuva ácida.

Com a promulgação do Clean Air Act, em 1990, os EUA adotaram um sistema que prevê a redução das emissões de dióxido sulfúrico (SO

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– produto da queima de óleo e car-vão nos processos industriais que, combinado ao óxido de nitrogênio (NOx), leva ao fenômeno conhecido como chuva ácida – e a distribuição de direitos de emissão comercializá-veis para 110 das maiores indústrias consumidoras de carvão mineral. O resultado foram benefícios para a

Mario Monzoni, doutor em Administração Pública e Governo, é professor e coordenador do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo

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DEPOIS DO SÉCULO 20, MOVIDO A AGENTES POLUENTES, A ECONOMIA MUNDIAL REDESCOBRE UMA ANTIGA FÓRMULA QUE JÁ COBRAVA OS IMPACTOS NEGATIVOS E NÃO NEGOCIADOS DOS PROCESSOS DE PRODUÇÃO

saúde pública e custos com a redução de emissões radicalmente inferiores a um sistema de comando e controle, o que equivaleu a uma economia de US$ 2 bilhões por ano.

Na prática, fi cou demonstrado que a RBI permite alcançar metas a curto prazo, ao menor custo possível, e oferece incentivos de longo prazo para que os agentes invistam em novas tecnologias, uma vez que pena-liza atividades “insustentáveis”. Além disso, reduz os gastos com a coleta das informações necessárias aos re-guladores, que passam a ser respon-sáveis por defi nir o valor do imposto, o incentivo e o número de permissões e não mais por defi nir a tecnologia a ser aplicada em cada caso. Por fi m, diminui a possibilidade de infl uência política sobre os processos regulató-rios, já que a necessidade de controle sobre a informação é reduzida.

O sucesso no uso de instrumentos de mercado para enfrentar o problema da chuva ácida inspirou o aparecimen-to dos mecanismos de fl exibilidade no âmbito do Protocolo de Kyoto e do mercado de emissões de carbono

na Europa. Créditos de carbono nada mais são do que permissões comercializáveis para emitir gases de efeito estufa, o que torna essa atividade cara e incentiva, a longo prazo, investimentos em – e o consumo de – energias obtidas de fontes alternativas limpas.

Recentemente, a RBI ganhou força também no deba-te sobre as alternativas para reduzir o uso predatório de recursos naturais e como forma de proteger e incentivar o uso sustentável dos mesmos.

Tudo isso, entretanto, é recente e ainda marginal. O paradigma dominante do business of business is busi-ness, disseminado pelo economista Milton Friedman e seus discípulos na Universidade de Chicago, cruzou o século 20 produzindo riquezas e externalidades com um vigor excepcional. Não contente, em dado momento o modelo passou a exigir mais alimento. E subsídios para os combustíveis fósseis, em especial o carvão, turbina-ram a superoferta, produzindo inefi ciência econômica e distorcendo ainda mais preços relativos. O século terminou com o carvão – aquele mesmo que moveu os primeiros motores na Revolução Industrial – como o grande motor do progresso.

Nesta corrida entre a lebre – uma verdadeira Ferrari turbinada com subsídios públicos e ambientais – e a tartaruga movida a sol e vento, fenômenos como o da chuva ácida e as mudanças climáticas globais alertam o veloz coelhinho de que a festa está acabando.

Para espanto dos que ridicularizaram o britânico Pigou e sua tentativa de incluir as externalidades no modelo

vigente, o uso de instrumentos eco-nômicos veio para fi car. Aos poucos, os preços relativos das diversas fontes energéticas começam a pro-curar seu lugar correto e o capital se movimenta, rapidamente, de acordo com esses novos incentivos. Bancos de investimentos lançam fundos para energias renováveis e aumentam a olhos vistos os pedidos de turbinas e pás de torres eólicas para as empre-sas de equipamentos.

A DuPont, empresa que no século 19 produzia pólvora e explosivos, apostou que no século seguinte seria a vez do petróleo. E então surgiram a lycra, o nylon, o tefl on, entre outros produtos. A DuPont já não pensa assim e realinha sua estratégia para transformar os de-safi os do século 21 em oportunidades. Entre elas, a aquisição por mais de US$ 15 bilhões da Pioneer Hi-Bred, empresa de agricultura biotecnoló-gica. O governo sueco, por sua vez, acaba de anunciar sua disposição em ver o país movido a álcool até 2015.

Se o século 20 foi o do petróleo, o século 21 será o do sol, do vento, da biomassa. Quem viver verá.

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90ºAMBIENTE E CIDADANIA

O SUJEITOECOLÓGICO

Por _ Isabel Cristina Moura Carvalho

outro lado, as bases da vida humana no planeta se transformam rapidamente em “mercadorias” no fl uxo do livre comércio, reiterando a distribuição desigual e excludente dos bens sociais, como denunciam os movimentos por justiça ambiental.

O que está em jogo na tensão entre a publicização/privatização dos bens ambientais é a sobrevivência não apenas da vida biológica (humana e não humana) no planeta, mas da vida política, da esfera pública e da possibilidade de construção ou de declínio do laço societário que pode defi nir um futuro mais ou menos sustentável. É nesta fronteira continuamente rede-senhada entre as esferas pública e privada, compre-endida como faixa de permanente negociação inter e intra-subjetiva, que reside uma das vias signifi cativas de aprendizado e experiência política dos jovens. Aí se constitui o campo tenso das possibilidades de engaja-mento e de atribuição de sentidos para a ação política dos sujeitos contemporâneos de modo geral, e dos jovens em particular.

Isabel Cristina Moura Carvalho é psicóloga, doutora em Educação e professora da Universidade Luterana do Brasil, no Rio Grande do Sul

A QUESTÃO AMBIENTAL ATRAI A JUVENTUDE COMO UMA CAUSA COM GRANDE POTENCIAL DE IDENTIFICAÇÃO E NOVA OPORTUNIDADE PARA ENGAJAMENTO SOCIAL E POLÍTICO

O campo ambiental é portador dos dilemas contemporâneos que afetam a esfera política, particu-larmente no que diz respeito às escolhas e ações presentes que vão incidir sobre o futuro, enquanto pro-jeto de vida comum. A política aqui é tomada no sentido de Hanna Arendt (1989), como esfera pública, espaço por excelência da ação humana como convivência com os outros humanos e partilha nas decisões sobre os destinos dos bens comuns. Neste sentido, os bens ambientais vêm se instituindo na esfera pública com o “status” de bem comum de grande relevância para a sociedade. Como tal, a questão ambiental tem alcançado um lugar destacado nos embates sobre a construção social do futuro da comunidade humana, vinculando as atuais e as novas ge-rações numa esfera de negociação de projetos de sociedade e modos de engajamento político.

A questão ambiental opera, assim, como uma ampliação da esfera políti-ca ao expandir as fronteiras da “polis” para nela incluir os bens ambientais entendidos nas suas acepções de recursos naturais, de natureza como um todo, ou, ainda, de condições ambientais desejáveis. Nesta direção, o ambiente tende a ocupar o lugar de um novo sujeito de direito, como sugere Michel Serres (1991), em sua defesa do “contrato natural”. Por

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90º

“Às vezes, são atitudes simples que resultam

numa atuação de cidadania muito importante

para a construção de uma sociedade melhor. É o

que acontece com a idéia do consumo consciente e

da reciclagem. Sou estudante de Biologia e estava

encaminhando minha monografi a de fi nal de curso

para o estudo de bactérias na área do petróleo.

Até que fui “fi sgada” para a questão do consumo

consciente, da reciclagem de resíduos, num simpósio

sobre educação ambiental do Centro de Informações

sobre Reciclagem e Meio Ambiente (Recicloteca), um

projeto apoiado pela Ambev, que tem um programa

de estágio voluntário para jovens no Rio de Janeiro. O

Centro tem um acervo sobre reciclagem de resíduos e

reaproveitamento de objetos e recebemos estudantes

e pessoas em geral para informá-los sobre a questão.

Quando os estudantes vêm aqui, se surpreendem.

Muitos não têm noção das possibilidades de

reciclagem de resíduos e da importância do consumo

consciente. Aconselhamos as pessoas a pensar na

hora da compra. Por exemplo, se você vai comprar

um pacote de biscoito, prefi ra aquele que não vem

embalado em pacotinhos separados, pois isso signifi ca

mais material para descarte. O coador de café de

pano, da mesma forma, é melhor que o de papel. As

pessoas têm de se conscientizar do excesso de resíduos

que acumulam e que vai acabar descartado no

ambiente, na maioria das vezes de forma incorreta.”

Novas formasDestacando o marco geracional na análise do enga-

jamento político, encontramos na juventude brasileira uma geração que, em seu percurso de sociabilidade política, acede à esfera pública no coração da crise da política. Diferentemente das gerações anteriores, que trazem em suas histórias de vida experiências de

O QUE PARECE ATRAIR OS JOVENS PARA A AÇÃO ECOLÓGICA É SUA CENTRALIDADE EM PROBLEMAS CONCRETOS, EM OPOSIÇÃO AO TRADICIONAL DEBATE IDEOLÓGICO, VISTO COMO SUPOSTAMENTE ESTÉRIL

NAIRA RIBEIRO TAVARES,24 ANOS,voluntária na Recicloteca (www.recicloteca.org.br)

participação política baseadas nos ideais revolucionários socialistas, na ação sindical e na organização dos trabalhadores em face do conflito de classes, a inquietude política dos jovens encontra hoje outro ambiente de recepção. O campo da ação política contemporânea se apresenta menos nucleado pelo confronto ideológico da sociedade de classes. Traz as marcas da redefi nição das fronteiras entre as esferas pública e privada, e da valori-zação da cultura, das identidades e do meio ambiente como novos espaços de expressão política.

Do reconhecimento dos pares ao reconhecimento de sua cidadania, os jovens são particularmente sen-síveis à ação coletiva e afi rmativa. Os desejos de inserção, visibilidade e participação incluem a ação na esfera pública como espaço de afi rmação do jovem e, ao mesmo tempo, rito impor-tante de passagem para vida adulta. A potência de ação e de participação da juventude encontra nesta geração um contexto de recepção atravessado pelas novas confi gurações da ação política e também por seus novos limites. A ação política está, muitas vezes, mediada por uma cultura indi-vidualista e padronizada de maneiras de ser, que restringem a participação do jovem ao espetáculo de subjetivi-dades pré-moldadas, expostas a uma falsa arena pública, como nos “reality shows” (Maria Rita Khel, 1996).

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Este texto é um extrato do artigo �O Sujeito Ecológico e Identidade Social: A Juventude nas Trilhas da Reinvenção de Si e da Política� publicado em �Juventude, Cidadania e Meio Ambiente�, organizado pelos Ministérios do Meio Ambiente e da Educação. A versão disponível no site www.ondajovem.com.br inclui bibliograÞ a

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A questão ambiental surge, a des-peito deste delicado contexto, como uma causa com grande potencial de identifi cação e nova oportunidade para o engajamento social e político dos jovens no Brasil, como mostrou Regina Novaes (2002). Uma consci-ência ambiental, ainda que difusa, parece estar se disseminando en-tre segmentos jovens, ao menos enquanto potencial motivação para a ação coletiva (Crespo, 2002; Ams-talden & Ribemboim, 1998). A valo-rização da natureza e a preocupação com o futuro do planeta têm se mostrado particularmente atrativas para a formação de grupos jovens

para a ação ambiental, como se pode ver pela forte presença jovem entre voluntários e ativistas de grandes ONGs ambientalistas.

Como mostram Boy, Muxel e Roche (1994), o que parece atrair os jovens para a ação ecológica como um tipo novo de engajamento político é sua centralidade em problemas concre-tos, em oposição ao tradicional deba-te ideológico, visto pelos jovens como supostamente estéril; a atração pelas causas planetárias ultrapassando os confl itos locais; e a valorização de uma dimensão ético-moral que estes percebem como ausente das práticas políticas tradicionais. Seguindo as pistas trazidas por este estudo, po-demos pensar que, talvez também no caso brasileiro, a força de atração de uma sensibilidade política ecológica possa residir justamente no seu dis-tanciamento das formas tradicionais da política. E, se for assim, cabe man-ter a pergunta pelo signifi cado desta “distância da política tradicional” ou, ainda, desta “distância da política” como força distintiva e atrativa da via ecológica de politização da juventude.

acena com novos espaços de inserção para o jovem, que sofre com o esgo-tamento das opor-tunidades das c a r r e i r a s tradicio-nais.

Assim, o sujeito ecológico demar-ca um campo de ideais disponíveis para a formação identitária do jovem que ingressa na esfera pública e que partilha, em algum nível, de um projeto político emancipatório. A idéia de mudanças radicais cultivada pelo ideário ecológico abarca não apenas uma nova sociedade, mas também um novo sujeito que se vê como parte desta mudança e a compreende como uma revolução de corpo e alma, ou seja, uma reconstrução do mundo, incluindo os estilos de vida pessoal. Este parece ser o elemento que con-fere o caráter promissor e sedutor do campo ambiental em suas esferas de ação política, formação de especialis-tas, profi ssionalização e teorização. A promessa de uma transformação não apenas política, mas “da política”, isto é, da maneira de compreender, viver e fazer política, parece ser um ponto de atração para uma juventude em busca de mudanças, acenando com novos trânsitos e, também , com novos ris-cos para a própria esfera política.

A questão é em que medida esta “distância” se agenciaria com uma renovação do laço de engajamento político, no sentido de uma inserção dos jovens na política; ou, em tempos de crise da esfera pública e privatização dos bens ambientais, o engajamento ecológico poderia sinalizar, para os jovens, uma espécie de entrada na política num tempo pós-político. Ou, ainda, o exercício de uma “política da saída da política”.

Esta questão repõe o debate sobre a contribuição da ação ambiental para a esfera pública e para os caminhos de expressão política da juventude, ora ampliando o campo da cidadania e dos direitos, ora restringindo-o com a ameaça de uma excessiva subjetivação e individualização das questões públicas. Afi nal, as diversas direções da ação ambiental — rumo à política e à saída da política, à autonomia como conquista “no”

mundo e à autonomia como descolamento “do” mundo, à mudança radical e às transformações reformistas — podem ser seguidas, e efetivamente o são, muitas vezes pelos mesmos atores, o que complexifi ca ainda mais este cenário.

Opção ambientalEntre as múltiplas formas disponíveis de subjetiva-

ção das questões políticas contemporâneas, podemos identifi car, no campo ambiental, a emergência de um sujeito ecológico. Longe de ser uma solução para as tensões apontadas, esta posição de sujeito remete a um lugar possível onde são vividas estas tensões pelos indivíduos historicamente situados. Este sujeito, concebido enquanto um tipo ideal, traduz uma subje-tividade ambientalmente orientada, que encarna os dilemas societários, éticos e estéticos, confi gurados pela crise societária em sua tradução contracultural, e tributário de um ideal de sociedade emancipada e ambientalmente sustentável.

São diversos os caminhos pelos quais os jovens podem se aproximar dos valores ecológicos, identifi cando-se em diferentes níveis com os ideais do sujeito ecológico, uma vez que não se trata de uma identidade totalizante. Esta aproximação dos ideais ecológicos pode assumir, de modo não excludente, as formas da adesão a uma luta, a uma ação, a um modo de vida e a um interesse intelectual. Desta forma, nomear-se ecologista ou, ao menos, ecologi-camente sensibilizado/simpatizante, pode ganhar os sen-tidos de adesão a um ideário de ação militante; pode ser uma opção de engajamento grupal, pontual e distintivo; ou, ainda, signo descritor de um interesse ambiental que pode combinar em diferentes gradações a sensibilidade política com a escolha da formação profi ssional/intelectual. Não se pode esquecer que o surgimento das novas áreas de profi ssionalização ambiental, valorizadas ou revalorizadas com o advento da constituição de um campo ambiental,

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180ºAMBIENTE E EDUCAÇÃO

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Marcos Reigota é professor do Mestrado em Educação da Universidade de Sorocaba. É doutor pela Universidade Católica de Louvain e tem pós-doutorado pela Universidade de Genebra

Por _ Marcos Reigota

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A TRADIÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL, INSPIRADA POR PAULO FREIRE, TEM NA CIDADANIA E NA ÉTICA SEUS PRINCIPAIS FUNDAMENTOS

e acesso aos bens materiais, culturais e naturais.Pela sua ampla adesão e domesticação pelo siste-

ma econômico e político predominante, a noção de desenvolvimento sustentável foi considerada pelos radicais como uma proposta reformista do capitalis-mo, que, por si só, é ecologicamente insustentável e socialmente injusto.

A difusão da noção de sustentabilidade como contra-ponto e crítica ao desenvolvimento sustentável ocorreu discretamente, não contando, por exemplo, com todo o aparato de instituições internacionais, como ONU, empresas transnacionais, congressos de associações de classe, revistas científi cas e cursos de universidades tradicionais e renomadas, documentos e campanhas de grande penetração na mídia, e órgãos públicos como secretarias e ministérios.

Conceitos distintosEm vários documentos, artigos científi cos e dis-

cursos na mídia, é comum se observar o uso de desenvolvimento sustentável e de sustentabilidade como sinônimos. Esse equívoco precisa ser evitado, pois embora as duas noções tenham pontos comuns, elas, no entanto, apresentam signifi cativas diferenças fi losófi cas, políticas e históricas.

A noção de sustentabilidade surgiu em documentos, artigos e estudos de autores com posicionamentos contrários ao enfoque economicista da noção de desenvolvimento sus-tentável, difundido principalmente pela ONU na segunda metade dos anos 1980. Elaborada por um grupo de renomados cientistas e economis-tas reunidos sob a liderança de GroBrundtland, na época primeira-mi-nistra da Noruega, a noção de desen-volvimento sustentável fazia críticas aos modelos de desenvolvimento que desconsideravam as necessi-

PEDAGOGIA DA SUSTENTABILIDADE

dades básicas das futuras gerações, relacionadas com os recursos natu-rais, e enfatizava que as prioridades desse modelo de desenvolvimento deveriam atender às camadas mais pobres da população.

A proposta de desenvolvimento sustentável alertava para as conse-qüências sociais, ecológicas, culturais e principalmente econômicas do capitalismo industrial e da economia planejada (socialista de Estado).

As críticas ao modelo capitalista de desenvolvimento, vindas do inte-rior dele próprio, com o aval da ONU e, posteriormente, de grandes con-glomerados industriais, científi cos, ONGs e alguns dos mais conhecidos ecologistas, foram consideradas insuficientes e moderadas por pesquisadores e ativistas mais ra-dicais, que argumentavam pela ne-cessidade de profundas mudanças estruturais nos modelos vigentes de exploração, produção, consumo

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180º

Diferentemente do desenvolvimen-to sustentável, que conta com várias definições no documento “Nosso Futuro Comum”, que lhe deu origem e foi publicado no Brasil pela Fundação Getúlio Vargas, a sustentabilidade apresenta inúmeras interpretações, dependendo dos autores, mas se pode afi rmar que seu denominador comum são os princípios de solidarie-dade, cooperação, responsabilidade,

que era necessário mudar a denominação e difundir a educação para o desenvolvimento sustentável. O argumento da Unesco é em parte pertinente e pode ser verifi cado em vários países, mas não faz jus aos princí-pios e movimento da educação ambiental realizada, por exemplo, no Brasil, México e Canadá.

Cidadania e éticaNo Brasil, uma de suas principais vertentes – a

educação ambiental como educação política –, surgiu com o processo de redemocratização do país e tem na cidadania e na ética um dos seus principais funda-mentos. Na sua constituição, foi inegável a infl uência do pensamento de Paulo Freire. O seu principal objetivo foi e é o da intervenção dos cidadãos e cidadãs diante dos problemas socioambientais específi cos, vivenciados no cotidiano, e da busca de alternativas e soluções.

Com a ampliação e presença, entre vários outros fato-res, da temática nas universidades, nos meios de comu-

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL BASEADA NA SUSTENTABILIDADE DEFENDE A SOLIDARIEDADE E A RESPONSABILIDADE NA EXPLORAÇÃO E PRODUÇÃO DE BENS COLETIVOS, INCLUINDO OS RECURSOS NATURAIS VITAIS

cidadania e ética na exploração, pro-dução, utilização e distribuição dos bens coletivos, nos quais se incluem os recursos naturais vitais.

Essa diferenciação entre as duas noções se faz necessária, pois ela afetará as políticas públicas, as par-cerias do Estado com as empresas, e destes com as ONGs, assim como os projetos político-pedagógicos de formação profi ssional de jovens.

Um exemplo é a polêmica causada pela decisão da Unesco de defi nir a atual década como a “Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável”, que envolve conheci-das instituições e alguns dos mais conceituados educadores ambien-tais do mundo. A Unesco alegou que a educação ambiental praticada até então esteve voltada para o conser-vacionismo biológico, não se atendo aos problemas socioambientais, e

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CAROLINA CAMPOS, 23 ANOS,coordenadora de Educação Ambiental da

ONG 4 Cantos do Mundo, fundada por jovens em 2002

(www.4cantosdomundo.org.br)

e será melhor defi nido quando forem mais conhecidas suas atividades, seus principais expoentes, os projetos político-pedagógicos dos cursos que fi zeram e, em especial, pelo impacto social, ambiental, cultural e econômico do seu trabalho. Os jovens que procuram essa formação ampliam as possibilidades políticas e profi ssionais da sustentabilidade e podem encontrar trabalho nas ONGs, indústrias, empresas prestadoras de serviços, órgãos públicos, escolas, universidades etc.

Participar da construção de uma identidade profi s-sional e solidifi car uma área de atuação e interven-ção é um atrativo a mais, principalmente aos jovens mais inquietos, não-conformistas e criativos, pois a formação em e para a sustentabilidade não se limita a receber conhecimentos padronizados. Ela enfatiza a construção coletiva de conhecimentos e buscas cotidianas de intervenção, lá onde os desafi os se encontram, e destaca os mais diversos aspectos da

nicação e nas empresas, o surgimentode órgãos públicos específi cos, entreeles o Ministério do Meio Ambiente eleis reguladoras, as prioridades dadasao meio ambiente na Constituição de1988 e o impacto da Conferência dasNações Unidas para o Meio Ambientee Desenvolvimento realizada no Riode Janeiro em 1992, surgiu a neces-sidade de qualifi car cada vez mais aintervenção cidadã, dando origem aum novo profi ssional, que não deixoude ser ativista.

Estudos mais específi cos precisamser feitos para se avaliar o crescimen-to da oferta e procura por cursos téc-nicos de meio ambiente e por cursos superiores de biologia e geografianos últimos anos, principalmente

daqueles que incorporaram nos seus currículos os princípios da sustenta-bilidade, ou, ainda, o surgimento de novos cursos, como os de gestão ambiental. Em relação às possibili-dades de pesquisas de mestrado e doutorado sobre educação ambiental nos mais diversos programas de pós-graduação, contamos com variados estudos científicos que mostram como, nos últimos 20 anos, se formou no Brasil um grupo altamente qualifi -cado para abordar essas questões e formar novas gerações.

Esses estudos mostram que o mo-vimento crescente pela pós-graduação se caracteriza mais pelas escolhas pessoais e acolhida aos jovens por pro-fessores e pesquisadores experientes, e por brechas institucionais, do que como resultado de políticas públicas ou pela “demanda do mercado”. Em relação aos cursos técnicos e superio-res, estamos presenciando a formação de uma geração de profi ssionais cujo projeto político-pedagógico não separa as atividades cotidianas da interven-ção cidadã, voltada para os interesses da sociedade e do bem comum, sem desconsiderar os objetivos de cada um, e que conta com respaldo de uni-versidades, empresas, órgãos públicos e associações de classe.

“Acho que a escola é o ambiente mais

propício para a transmissão da educação

ambiental. É que a escola é nossa

primeira casa mais social, em que você

se percebe inserido em uma comunidade,

a comunidade no bairro, o bairro na

cidade e assim por diante. A partir dessa

percepção, você começa a se dar conta

de que sua ação pode afetar a todos.

Uma ação de educação ambiental feita

pela ONG 4 Cantos do Mundo, em que

trabalho, é um bom exemplo dessa idéia.

Fizemos com os alunos de uma escola

de Belo Horizonte uma pesquisa e um

diagnóstico dos resíduos produzidos no

ambiente escolar. Depois, mapeamos os

catadores de lixo do bairro, convidamos

um deles para uma palestra na escola

e a partir das informações coletadas

construímos um sistema de destinação

correta para os resíduos. O ambiente

escolar fi cou melhor, mas não só por

causa da questão do lixo. Os alunos

entraram em contato com princípios que

discutimos, valores que permanecem

com eles como cooperação ou competição,

respeito, cidadania. Essa permanência é

muito importante. Educação ambiental

não pode ser feita só no Dia da Árvore,

por exemplo, como muitas escolas ainda

fazem. A questão ambiental é contínua,

tem de ser trabalhada na escola em

todas as disciplinas e entrar na vida do

estudante nas relações com sua casa, com

seus amigos, com sua comunidade.”

problemática socioambiental viven-ciada pela população, pautada em estudo de casos concretos.

Se o investimento coletivo para a formação de jovens, tendo a susten-tabilidade como princípio político e pedagógico, se concretizar no Brasil, é de se esperar resultados promis-sores. Se, ao contrário, for apenas mais um discurso sedutor para atrair jovens indecisos, corre-se o risco de desperdiçar o histórico da educação ambiental e afastá-los de uma das mais desafi adoras questões de nossa época. Como o mercado de trabalho valoriza e valorizará esses novos profi ssionais é uma questão que diz respeito à sociedade em geral e aos empregadores em particular.

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TOAMBIENTE E COMPROMISSO

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Jovens fazem manifestação durante Fórum Social de Porto Alegre

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AS AGENDAS AMBIENTAIS,

CONSOLIDADAS NA AGENDA 21,

NÃO SÃO APENAS DOCUMENTOS,

MAS PROPOSTAS DE PARTICIPAÇÃO

GLOBAL, NACIONAL E LOCAL, QUE

DEVEM INCLUIR A AÇÃO JUVENIL

Por _ Marilene de Sá Cadei e Ana Maria de Almeida Santiago

Marilene de Sá Cadei é professora do Departamento de Ensino de Ciências e Biologia do Instituto de Biologia

Roberta Alcântara Gomes, e diretora do Centrode Estudos Ambientais e Desenvolvimento Sustentável

da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Ana Maria de Almeida Santiago é professora de História e diretora do Departamento de Apoio

à Produção CientíÞ ca e Tecnológica da Sub-reitoriade Pós-graduação e Pesquisa da Universidade do

Estado do Rio de Janeiro

TUDO AGENDADO

O modelo de desenvolvimento adotado pela so-ciedade atual incentiva um padrão de produção e de consumo que resultou em graves problemas ambien-tais (diminuição da camada de ozônio, efeito estufa, desertifi cação etc.), que estão colocando em risco os diferentes ecossistemas e a diversidade biológica e cultural do planeta Terra.

Muitos desses problemas aparecem com destaque nos discursos de políticos, nas manchetes de jornais, reportagens de revistas, nos noticiários da televisão, nas estampas de camisetas... Mas o que estamos fa-zendo de concreto para que a denúncia do problema se transforme em anúncio de uma nova realidade? Como podemos contribuir para solucionar alguns desses problemas?

A preocupação com essas questões não é tão re-cente assim. Nos primeiros anos da década de 1990, instituições ofi ciais e da sociedade civil de 179 países construíram um documento que defi nia os compro-missos para uma reorientação do desenvolvimento em direção a um modelo mais justo e sustentável durante o século 21. Esse documento foi referendado pela comunidade internacional na Conferência das Nações

Unidas para o Meio Ambiente e o De-senvolvimento (CNUMAD), realizada de 3 a 14 de junho de 1992 no Rio de Janeiro (Rio-92) e fi cou conhecido como Agenda 21.

A Agenda 21, em seus 40 capítu-los, apresenta as diretrizes a serem adotadas nos níveis global, nacional e local para que um novo padrão de desenvolvimento se consolide. Pro-põe que, por meio do planejamento participativo, definam-se metas, recursos e responsabilidades para orientar o caminho em direção à sustentabilidade. Não se trata de uma determinação, imposição ou regra legal, mas de uma carta de princípios e compromissos – uma agenda de intenções – que toda a sociedade assume. Expressa, portanto, o desejo coletivo de mudanças visando um modelo de civilização no qual haja equilíbrio ambiental e justiça social.

Nesse sentido, a Agenda insere o planejamento participativo e demo-crático como mecanismo de cons-trução de suas ações em qualquer nível, ressaltando a necessidade de se projetar uma nova sociedade que con-sidere de forma integrada os aspectos econômicos, sociais, ambientais, cul-turais e político-institucionais.

A Agenda 21 brasileiraO Brasil, por ser signatário dos

acordos fi rmados na Rio-92, assumiu o compromisso de elaborar a sua pró-pria Agenda 21. No entanto, em 1997, nas vésperas da primeira reunião de avaliação da Rio-92 (a Conferência Rio+5), o país ainda não havia cumpri-

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“Faço parte do Fórum Juvenil da

Agenda 21, o Forja 21. Ele foi criado

por um grupo de jovens para dar

sustentação à Agenda, fazendo um

trabalho de esclarecimento sobre as

pautas de desenvolvimento sustentável

e trabalhando junto a instituições

locais para fortalecer suas ações. As

questões não são apenas ambientais,

mas também sociais, e isso envolve

iniciativas de inclusão, como o apoio

a iniciativas de acesso à cultura, à

informação, a programas de geração

de renda, além de educação ambiental

nas escolas. Hoje, nosso principal

foco de ação é a retomada da Agenda

21 Local, que foi enfraquecida. Em

Santos, onde moro, isso signifi ca

conscientizar a população sobre

questões da cidade que envolvem a

região da praia, do centro histórico ou

a expansão da zona portuária. Este

ano teremos a revisão do plano diretor

da cidade e a questão do zoneamento

econômico-ecológico. São políticas que

pressupõem audiências públicas e

queremos informar a população para

que ela tenha propostas a levar para

o poder público. Acreditamos que a

juventude tem um papel fundamental

nessa multiplicação de informações e

agora estamos buscando as instituições

juvenis locais, como os coletivos

jovens de meio ambiente, para ações

conjuntas e também fortalecer o

debate sobre políticas públicas de meio

ambiente e de juventude.”

MARINA TELES, 22 ANOS,participante do Fórum Juvenil da Agenda 21

– Forja 21 (www.forja21.blig.ig.com.br)

do o compromisso assumido. Após um longo processo de construção (1996 a 2002), sob a coordenação da Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentá-vel e da Agenda 21 Nacional (CPDS) e a participação de diferentes atores sociais, foi elaborada a Agenda 21 Brasileira (2002), faltando poucas semanas para a Conferência Rio+10 (Conferência de Johannesburgo, na África do Sul).

No atual governo, a Agenda 21 Brasileira foi trans-formada no Programa Agenda 21 que tem como meta implementar a Agenda 21 Brasileira, elaborar e imple-mentar as Agendas 21 Locais e propiciar a formação continuada em Agenda 21.

O Programa Agenda 21 encontra-se em andamento e muitas ações já foram realizadas, de forma descentrali-zada, visando reforçar a participação democrática, o pro-tagonismo de diferentes grupos (jovens, mulheres etc.) e

a inclusão social de indivíduos, grupos e instituições. Temos como exemplo a organização de encontros nacionais, o desenvolvimento de cursos para pro-fessores das escolas públicas e a pu-blicação da Série Cadernos de Debate Agenda 21 e Sustentabilidade.

Um dos resultados das ações desse programa é, certamente, o crescimento do número de proces-sos de implantação de Agendas 21 Locais. Essas agendas são importan-tes instrumentos de planejamento de políticas públicas, uma vez que buscam determinar e implementar ações específi cas para a resolução de problemas socioambientais locais, vi-sando o desenvolvimento sustentável local. De acordo com as informações divulgadas na página do Ministério do Meio Ambiente, existem hoje mais de quinhentos processos de Agenda 21 Locais em andamento no Brasil.

Para tentar acompanhar todo esse movimento, o governo federal, por intermédio do Ministério do Meio Ambiente, criou o Sistema de Acom-panhamento de Agendas 21 Locais, que se confi gura como um banco de dados de acesso descentralizado, uma vez que os responsáveis por sua atualização são os técnicos do Programa Agenda 21 e os repre-sentantes das Agendas 21 Locais. O acompanhamento da situação das Agendas pode ser realizado acessan-do-se o site http://www.mma.gov.br, que oferece um link próprio.

Os princípios da Agenda 21 são consolidados em agendas especíÞ cas, como a Verde (ß orestas, biodiversidade e recursos genéticos), a Azul (recursos hídricos) e a Marrom (ecossistema urbano)

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Agendas específi cas Outras agendas ambientais se

associam e integram a Agenda 21. As agendas ambientais confi guram-se em planos estratégicos de manejo e gestão ambiental cujo objetivo é identifi car os problemas, determinar soluções e minimizar ou evitar os impactos negativos decorrentes das ações antrópicas sobre o meio ambiente. São agendas ambientais: a Agenda Verde, a Agenda Azul e a Agenda Marrom.

A Agenda Verde é o termo adotado para o conjunto de diretrizes que es-tabelece a conservação, a recupera-ção e a preservação das fl orestas e de áreas protegidas, da biodiversidade e dos recursos genéticos.

A Agenda Azul é a expressão adota-da para reunir diferentes proposições que devem ser consideradas no gerenciamento dos recursos hídricos superfi ciais e subterrâneos.

A Agenda Marrom concentra o conjunto de temas essenciais para a gestão das questões relacionadas ao ecossistema urbano, como a poluição industrial, o saneamento básico, a produção e a destinação de resíduos e a conservação de energia.

Diversos programas e leis têm sido criados para contemplar essas agendas, como o projeto Corredores Ecológicos do Brasil (iniciado em 1993); o Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica (Probio) e o Fundo Brasileiro para a Diversidade (Funbio), em 1997; a Lei n° 9.433/1997, que instituiu o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos e a Política Nacional de Recursos Hídricos, e a Lei n° 9.985/2000, que criou o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC).

No entanto, pouco adianta a denúncia dos problemas ambientais, um belo discurso ambientalista ou a criação de programas e agendas ambientais se não houver a participação crítica, democrática e ativa de todos os indivíduos e grupos da sociedade. Cada pessoa, grupo, organização, movimento social, instituição de ensino e pesquisa, empresa ou órgão do governo pode desem-penhar um importante papel no planejamento, imple-mentação, fi scalização, avaliação e reformulação das agendas. Para isso, antes de tudo, é preciso acreditar na possibilidade de mudanças e desenvolver uma prática cotidiana individual e coletiva que, por meio de ações concretas, seja capaz de contribuir para a construção de um mundo socialmente mais justo e ambientalmente mais equilibrado.

JÁ SÃO MAIS DE 500 AS AÇÕES PARA IMPLEMENTAÇÃO DE AGENDAS 21 LOCAIS, QUE DEVEM SER DEMOCRÁTICAS E ABRIR ESPAÇO AO PROTAGONISMO DE DIFERENTES GRUPOS, INCLUSIVE OS JUVENIS

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360º

“Pensar globalmente, agir localmen-te”. Esse é um slogan muito interes-sante – cuidar de nosso cantinho, sem deixar de pensar no planeta inteiro. Todos que nos preocupamos com o ambiente e com o futuro da huma-nidade na Terra queremos que esse lema do movimento ambientalista seja verdade, uma prática comum em nosso cotidiano. Agir ecologicamente no dia-a-dia, de nossa casa, nosso bairro e, ao mesmo tempo, nos preo-cuparmos com todos os seis bilhões e quinhentos milhões de pessoas que habitamos este planeta azul. Mas como é que dá para sermos assim, se percebemos, pensamos e reagimos de modo bem distinto em situações sempre tão diferentes?

Você vai sair de viagem, precisa acordar de madrugada. Ainda está escuro quando o despertador toca, ao lado da cama; você estende a mão e o desliga, sem pensar muito, sem nem abrir os olhos. Isso é possível porque você está acostumado com o lugar, nem precisa da visão – tão necessária em outras situações – para agir em ambiente tão próximo e conhecido.

Ao chegar a uma outra cidade, desconhecida, você vai precisar se orientar previamente para conseguir chegar aonde pretende. É o tipo de situação em que sua per-cepção ambiental vai depender da visão e de elementos indiretos, como o endereço de destino, uma linha de ônibus ou metrô, um mapa da cidade, ou um táxi, cujo motorista precisará ser capaz de chegar lá.

Assim, a cognição ambiental depende de nossas carac-terísticas biológicas, mas também de nossa capacidade de representação mental, que nos permite diversas formas de conhecer e assimilar ambientes em várias escalas. Quanto maior o ambiente em questão, maior o envolvimento de recursos indiretos para viabilizar a experiência ambiental. Ou seja, vivemos experiências diretas nos ambientes, mas também dependemos da exposição a representações dos ambientes.

É mais fácil chamar de “lugar” um ambiente que pode-mos ver, ouvir, tocar, percorrer, cheirar, enfi m “sentir”. Não dá para “sentir” com esse mesmo signifi cado – uma cidade inteira, um país, o Sudeste Asiático, ou a África Equatorial, pois esses ambientes não nos permitem uma experiência ambiental de “primeira mão”. Em casos assim, precisamos apelar para a experiência ambiental indireta, de “segunda mão”, que só é possível por meio de representações como mapas, fotografi as e globos. Por isso, sentir ummegambiente é um processo psicológico completamente diferente, e sujeito às forças sociais, políticas e econômi-cas que controlam essas mesmas representações.

José de Queiroz Pinheiro é doutor em Psicologia Ambiental, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e coordenador do Grupo de Estudos Inter-Ações Pessoa-Ambiente

AMBIENTE E GLOBALIZAÇÃO

Por _ José Q. Pinheiro

AFETO PLANETÁRIO

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A VIVÊNCIA LOCAL É DIRETA E A GLOBAL, ABSTRATA. O PRINCÍPIO AMBIENTAL DE CONEXÃO DAS DUAS EXIGE NOVOS VÍNCULOS PESSOAIS, ATÉ MESMO COM A DIMENSÃO TEMPORAL

A experiência ambiental não aconte-ce num vácuo de signifi cados e valores; gostamos mais de certos lugares do que de outros, nos sentimos bem em alguns locais, mas não tanto em outros. Controlamos e somos con-trolados, num jogo de forças sempre presente na apropriação que fazemos dos ambientes. Isso vale para os am-bientes imediatos, que nos circundam, contêm e abraçam – nos quais somos percebedores imersos em seu tempo e espaço. E vale também para os me-gambientes, que não podemos viven-ciar diretamente, pois as abstrações que os representam estão sempre carregadas de valores, signifi cados e controles embutidos ali por seus criadores, de propósito ou não.

Como vimos até aqui, os ambientes que compõem nossa vida são distin-tos, assim como nossa relação com eles, seja na forma de percebê-los, conhecê-los, seja na forma de reagir afetivamente a eles. Se é assim, então a educação ambiental também pre-cisará diferenciá-los. Os educadores ambientais já sabem que somente a informação ambiental não é sufi -ciente, que o vínculo afetivo entre pessoa e ambiente também precisa ser trabalhado para que o processo de transformação dessa relação seja realmente completo e permanente. Por isso, as iniciativas de promoção de

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A experiência ambiental não acontece num vácuo de signiÞ cados e valores. Por isso a promoção de comportamentos pró-ecológicos incentiva o vínculo da pessoa com o seu lugar. Mais difícil é criar vínculos com o planeta

comportamentos pró-ecológicos incentivam o vínculo da pessoa com o seu lugar.

A grande questão com que nos defrontamos, então, é: como incentivar nosso vínculo afetivo com o planeta? Especialmente se sabemos que o planeta – ou suasmegarregiões – só existem para as pessoas na forma de representações abstratas, formas em geral complexas, de difícil entendimento. Como estimular e promover um vínculo pessoa-planeta quando essa relação é mediada por tais “traduções” do mundo real?

Mudando a amplitude do ambiente, muda o tipo de experiência vivida ali. Examinar as variações de experi-ência ambiental em decorrência da amplitude temporal talvez ajude essa nossa refl exão, pois atuamos nos ambientes de acordo com uma dimensão temporal que percebemos neles. Reagimos a processos e eventos, a mudanças e permanências, em uma amplitude que, em geral, varia de segundos a anos. Podemos notar a mudança de posição de uma cadeira em um aposento, mas não o movimento do elétron em um átomo, nem a lenta erosão de uma montanha.

A dissociação que o ser humano desenvolveu em relação à natureza está diretamente relacionada ao aspecto temporal de nossas experiências ambientais. Já aprendemos que não é possível o retorno à época do “ho-mem-na-natureza”, quando éramos parte da natureza, mas não tínhamos consciência disso. Hoje em dia, somos intensamente estimulados ao imediatismo da fast-food, do celular, da internet de banda larga, como se essas coisas contivessem alguma garantia de felicidade, e nos esquecemos de construir um presente mais ecológico e sustentável para as gerações do futuro.

Não exercitamos uma perspectiva temporal fl exível, de amplo espectro, que se estenda para além do co-tidiano imediato, dilatando-se para o macrotempo de

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alguns fenômenos ambientais plane-tários – como a formação do buraco na camada de ozônio –, ao mesmo tempo em que permanece sintonizada com o microtempo de uma piscada ou de um sorriso. Em vez disso, nossa perspecti-va temporal se encontra enrijecida em um “presente absoluto”, individualista, apressado. Não sabemos manejar a escala de tempo do coletivo, do dar e receber, da espera, do ouvir muito e falar pouco.

É comum se ouvir dizer que o “fu-turo está em nossas mãos”. Antes, porém, o futuro precisa estar em nossas mentes e corações, para dire-cionar nossas ações. Presos ao pre-sente, sem sonhos de futuro, vivemos – mesmo que não o saibamos – sob a incerteza e o risco, sem justifi cativa para sonharmos, para sermos caute-losos e responsáveis.

Em síntese, não é possível con-cretizar uma educação ambiental plena, do local e também do global, sem considerar a amplitude das escalas espacial e temporal. E como essa amplitude é muito difícil de ser abrangida pelo raciocínio, pelo conhe-cimento, é preciso promover o vínculo afetivo com o lar, mas também com o planeta, almejando que nossas ações do presente sejam baseadas nopassado e inspiradas pelos sonhos coletivos de futuro.

“A gente tem que pensar no global e

agir no local. Ou seja, ter consciência

de que estamos melhorando a vida

no planeta a partir de mudanças

de hábito no nosso pedaço. É essa

a idéia que procuro transmitir à

minha comunidade como monitora

ambiental do programa Água

em Unidade de Conservação,

do Instituto Terrazul, no Rio de

Janeiro. O foco do programa é o

Parque Nacional da Tijuca e as

comunidades do entorno. Na minha

região, Alto da Boa Vista, passa

o rio Cachoeira, que nasce limpo

no parque e vem sendo poluído.

Minha comunidade também tem

responsabilidade nessa devastação.

Então, meu trabalho é fazer os jovens

e suas famílias se darem conta dessa

ação, por exemplo, parando de jogar

lixo no rio, consumindo a água com

mais respeito, fazendo plantio de

mudas para a conservação da área.

Fizemos um vídeo mostrando como

o rio era antes e como está hoje, e

estamos conseguindo mudar o

olhar da comunidade sobre o rio.

As pessoas estão mais conscientes

da interferência e responsabilidade

de suas ações.”

JULIANA DUARTE,22 ANOS,

monitora ambiental do Instituto Terrazul

(www.institutoterrazul.org.br)

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Por _ Cristiane Ballerini

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TOsem bússola

Chuva forte em Campo Limpo é sinônimo de perigo para os moradores. No bairro pobre da zona sul de São Paulo, onde um terço dos 190 mil moradores vive em favelas, o córrego Pirajussara transborda levando água, sujeira e risco de doenças graves para dentro de casa. Já acostumadas à rotina de “salvamento” dos móveis e das crianças, as famílias contribuem, sem saber, para que as enchentes continuem: o lixo jogado em locais irregulares se acumula e, em parte, é responsável pelo não escoamento das águas.

Cansado de assistir ao sofrimento dos vizinhos, o estudante Thiago Vinicius de Paula da Silva, 17 anos, resolveu agir e passou a visitar as casas em campa-nha: “Vimos que as pessoas precisavam de educação ambiental. É um trabalho de longo prazo, mas cada pessoa conscientizada é a certeza de mudanças. Hoje,

A DEGRADAÇÃO URBANA TEM IMPACTO DIRETO SOBRE A JUVENTUDE, AFETANDO SUA MORADIA, SAÚDE E AUTO-ESTIMA

o projeto ganhou desdobramentos e continua crescendo.”

Vinicius é um dos jovens engajados da ONG Arrastão, que surgiu há 38 anos com um clube de mães. Hoje, conta com um núcleo de educação ambiental por onde já passaram 250 jovens e, com o apoio de uma instituição bancária, vai construir um galpão para coleta seletiva de lixo – o

DESIGUALDADE

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AMBIENTALprimeiro da região. “A intenção é in-centivar a população a dar um destino mais nobre ao lixo. Com a reciclagem, esperamos gerar renda para nossos projetos ambientais”, explica Tony Marlon, assessor da Arrastão.

Em bairros onde o poder público não consegue assegurar serviços básicos a todos os cidadãos, a dispo-sição do jovem Vinicius e o poder de organização da Arrastão signifi cam muito. No entanto, as dimensões dos problemas ambientais no país, principalmente aqueles trazidos pela urbanização descontrolada – moradias inadequadas, falta de

Mergulho de risco: qualidade de vida dos jovens tem relação direta com as condições ambientais

do a HPH, Habitat para a Humanidade – uma organização internacional que desenvolve projetos em 100 países, inclusive o Brasil, para a construção de moradias em mutirão, com apoio de jovens voluntários. “Moradia é bem mais do que quatro paredes e um telhado. A casa tem uma dimensão privada, mas também pública, pois afeta o entorno numa proporção que não suspeitamos”, diz Rodolfo Ramírez, arquiteto, especialista em planejamento urbano e diretor da HPH para a América do Sul.

E é nas grandes cidades que o problema das moradias inadequadas tem maior impacto sobre o ambiente, já que suas conseqüências assu-mem proporções de difícil controle e solução. Todos os anos, a pobreza expande os limites das cidades e infl a as favelas, empurrando milhares de pessoas para áreas insalubres ou de proteção ambiental, criando novos núcleos sociais onde o governo não disponibiliza serviços básicos. Os resultados dessa ocupação desorde-nada são a contaminação dos lençóis de água, erosão e deslizamentos das encostas, alagamentos e surtos de doenças. São condições ambientais que colocam as famílias em risco de morte, especialmente crianças e idosos. Para os jovens, que passam por um período de afi rmação de sua individualidade, as conseqüências po-dem ser devastadoras. “Esse tipo de moradia traz sensação permanente de insegurança e a auto-estima dos

saneamento, devastação de reservas, difi culdade de acesso à água, poluição do ar –, fazem ações pontuais como essas parecerem uma gota de esperança num oceano de previsões catastrófi cas.

Moradias inadequadasA ocupação e destruição de áreas de mananciais, a

falta de saneamento básico e de coleta de lixo são ape-nas alguns dos problemas dos mais de 10 milhões de moradias brasileiras consideradas inadequadas segun-

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jovens é afetada pelas condições indignas do local onde vivem, como se eles não fossem dignos para me-recer um ambiente mais saudável. Muitos se revoltam e isso contribui para comportamentos anti-sociais”, constata Rodolfo Ramírez.

Na tentativa de inverter a mão desse caminho, várias organizações tentam mobilizar a energia trans-formadora dos jovens com ações para a formação de voluntários e líderes. É o caso do Gambá, Grupo Ambientalista da Bahia que faz parte da rede de ONGs em defesa da Mata Atlântica. Há dois anos, o jovem advogado Bruno Nascimento de Mendonça, 24 anos, aplica seus conhecimentos jurídicos no acom-panhamento de casos de licenças ambientais do Conselho Estadual de Meio Ambiente da Bahia. Tudo começou com um convite para participar de palestras no Gambá.

“Eu via os problemas ambientais da região aumen-tando e não sabia como colaborar. E eles passaram a me chamar para estudar casos mais polêmicos de pedidos de licença ambiental. É bom saber que tem gente brigando pelo desenvolvimento sustentável e eu posso ajudar”, diz Bruno.

A intenção do Gambá é formar redes de jovens lideranças para o acompanhamento das políticas pú-blicas na região e em todo o país. “A experiência em nossas atividades e cursos também colabora para a formação de cidadãos mais conscientes. Mesmo que esses jovens não venham a atuar diretamente com as questões do meio ambiente, eles modifi cam seus hábitos e infl uenciam suas famílias”, conta Lilite Cintra, coordenadora executiva do Gambá.

Nos centros urbanos, as áreas de trabalho e lazer são afetadas pela poluição

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POBREZA E DEGRADAÇÃO GERALMENTE

ANDAM JUNTAS E SE AUTO-

ALIMENTAM. A QUESTÃO AMBIENTAL SEMPRE SE

CRUZA COM A ECONÔMICAE A SOCIAL

Futuro deserto O Brasil concentra 18% de toda a água do planeta,

mas, em algumas décadas, a abundância pode se transformar em escassez. As projeções do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU indicam que, até 2.050, as alterações climáticas poderão reduzir em pelo menos um quinto a disponi-bilidade de água na Amazônia e em até 30% as chuvas no Nordeste. O aquecimento global provocado pela emissão dos gases e o efeito estufa devem levar à queda na quantidade e qualidade da água disponível, em razão da diminuição das chuvas e do aquecimento dos rios, lagos e mares. “A crise da água”, como já é chamada pelos especialistas, deve perturbar signi-fi cativamente as futuras gerações, dando origem a vários outros problemas como um possível colapso na produção de alimentos.

Há, no entanto, quem alerte para o fato de algumas regiões do país já estarem passando por uma crise. O pesquisador José Galízia Tundisi explica que a polui-ção e a distribuição desigual na oferta de água e na ocupação do território já trazem problemas ao abas-tecimento: “Como são muito povoadas, certas regiões do Sudeste e do Sul apresentam acúmulo de agentes contaminantes no ar e no solo que poluem as águas. Há também a contaminação por fósforo e nitrogênio decorrente da atividade agrícola intensa.” O resultado desse desenvolvimento desgovernado tem preço. Segundo Galízia, algumas cidades do estado de São

Paulo, como Campinas e Paulínia, já não conseguem abastecer as indús-trias em suas demandas de água, in-fl uenciando diretamente a economia local e a oferta de empregos.

Presidente do Instituto Internacio-nal de Ecologia, que pesquisa e de-senvolve soluções no gerenciamento de recursos hídricos, o especialista aponta a distância entre as leis ambientais brasileiras e a prática: “Temos uma das melhores leis do mundo. Mas de que adianta? Em São Paulo, somente 30% dos municípios tratam seus esgotos. Nos estados menos favorecidos, não chega a 10%. Não há também investimento signifi cativo em saneamento básico. Além do meio ambiente, quem mais sofre são os pobres”.

Educação e rendaPobreza e degradação do meio

ambiente sempre estiveram juntas, num círculo vicioso que se auto-alimenta. Talvez, por isso, algumas organizações que começaram suas atividades com foco exclusivo nos as-pectos ambientais tenham ampliado suas atividades, passando a dar mais ênfase às necessidades dos jovens no mercado de trabalho.

É o caso da Pró-Cerrado, ONG que existe há doze anos em Goiânia e criou o projeto Jovem Cidadão, com aulas que preparam para o primeiro emprego. O tema meio ambiente continua presente nas atividades,

Page 52: Revista Onda Jovem n° 7

BEAT

RIZ

ASS

UM

PÇÃ

O VIDA DE REPÓRTER

“O repórter é, por natureza, um eterno curioso

– alguém interessado em descobrir por que as

coisas são como são. Quase sempre também é um

questionador – um chato que duvida de muitas

das respostas recebidas. Tive a sorte de poder ser

chata e curiosa desde o começo de minha carreira,

em programas de televisão e como repórter e

editora de revistas. O jornalismo -- apesar de

já terem enterrado a profi ssão algumas vezes

-- é uma carreira generosa. Nos disponibiliza um

mundo de informações que podem se transformar

em conhecimento. Nos dá lugar de espectador

privilegiado em alguns momentos históricos do país

e do mundo. Mas, talvez, do ponto de vista humano,

nada se compare à oportunidade de se aproximar

de realidades subjetivas distintas da nossa. Quando

Onda Jovem me convidou para fazer esta matéria,

já sabia um pouco do que ia encontrar. A pobreza,

como se sabe, torna a vida bem mais difícil do que

para quem nasceu no alto da pirâmide. E quando o

assunto é meio ambiente, não é diferente. Eu respiro

o ar poluído de São Paulo e, possivelmente, tenho

menos saúde por isso. Mas nunca poderei descrever

a exata sensação de ter a casa invadida por água

suja no meio da noite. Ou a dor de ter os fi lhos

doentes por contaminação ou de ainda ver a própria

casa desabar. Diante dessas impossibilidades, só

me resta questionar. Por que o país com uma das

melhores leis ambientais do mundo ainda não

adotou políticas públicas capazes de prevenir as

catástrofes ambientais em andamento? Por que os

milhares de pessoas que se mobilizam em ações,

muitas vezes sem recursos, não estão incluídas

em projetos públicos? Por que o conhecimento

produzido nas universidades não é direcionado para

problemas ambientais locais? Por quê?”

CRISTIANE BALLERINI é jornalista há 20 anos

mas de maneira transversal. “Quan-do começamos a trabalhar com moradores da periferia da cidade, nos deparamos com a realidade dos jovens. Precisam se manter e gerar renda para a família. São questões prementes. Então, criamos um pro-jeto que encaminha jovens para as empresas ligadas ao nosso progra-ma de educação ambiental”, explica Adair Meira, diretor e secretário geral da Fundação Pró-Cerrado.

Valter Vaz Ferreira Júnior, 17 anos, fez o curso na Fundação Pró-Cerrado e também atua como voluntário na ONG “Guardiões do Verde”, um grupo

que auxilia a polícia na fi scalização de ações contra o meio ambiente: “Eu e minha família sempre gostamos de acampar, pescar, ter contato com a natureza. Mui-tas vezes, víamos coisas como caça ilegal e queimadas e não podíamos fazer nada. Hoje, saio com as equipes da polícia que atua com meio ambiente, auxiliando as notifi cações, apreensões de carga e fi scalizações”. No segundo ano do ensino médio, enquanto não encontra o primeiro emprego, Valter ainda “toma conta” dos bosques e áreas de preservação da região de Goiânia durante todas as tardes. Fardado, com distintivo e contato direto com autoridades ambientais, ele e os outros “guardiões” se orgulham de ajudar a evitar a depredação dessas áreas.

Gerar renda e emprego, especialmente para os jovens, também é um dos focos de atuação da “Vi-

tae Civilis”, ONG instalada em São Lourenço da Serra, em São Paulo, e trabalhar para o desenvolvimento sustentável da região, que englo-ba cinco municípios. São áreas remanescentes da Mata Atlântica e de proteção de mananciais. “A economia da nossa região”, explica Rubens Born, coordenador executivo do “Vitae Civilis”, “é dominada pelo mercado informal e pela prestação de serviços. Sem outras opções, boa parte dos moradores vê as áreas de proteção ambiental como um impe-dimento ao desenvolvimento”.

Para buscar soluções para a re-gião, a “Vitae Civillis” se baseia nos princípios da Agenda 21, o programa de diretrizes e ações para a imple-mentação do desenvolvimento sus-tentável em escala global, elaborado durante a Eco-92. É uma aposta na idéia de que as grandes transforma-ções globais e nacionais dependem das mudanças locais e pessoais. A comunidade rural de Guapiruvu, onde a extração ilegal do palmito

MORADIAS INADEQUADAS E CONDIÇÕES INDIGNAS DO

LOCAL EM QUE VIVEM GERAM

SENSAÇÃO PERMANENTE DE

INSEGURANÇAE AFETAM

OS JOVENS

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53

FUNDAÇÃO PRÓ-CERRADOÁREA DE ATUAÇÃO GOIÂNIA (GO).PROPOSTA Dar atendimento integral à população jovem com ênfase para o mercado de trabalho e a conscientização ambiental como tema transversal.JOVENS ATENDIDOS 20.000 jovens no programa Jovem Cidadão. APOIO Ashoka, Avina, Schwab Foudation, Instituto Unibanco, Fundação Roberto Marinho, Embaixada do Japão no Brasil, Mabel, Caixa Econômica Federal, Mitsubishi, governo do estado de Goiás.

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GAMBÁ – GRUPO AMBIENTALISTA DA BAHIAÁREA DE ATUAÇÃO BAHIA, CAPITAL E INTERIOR.PROPOSTA Divulgar informações para a formação de opinião e de cidadãos atuantes nas questões ambientais. Participar nas políticas públicas locais e nacionais com projetos concretos.APOIO Ministério do Meio Ambiente, com o apoio do Banco Mundial, governo alemão e Comunidade Européia (projeto de refl orestamento da Mata Atlântica).CONTATO Tel. (71) 3240-6822 / [email protected]

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EPROJETO ARRASTÃOÁREA DE ATUAÇÃO REGIÃO DE CAMPO LIMPO, BAIRRO DA ZONA SUL DE SÃO PAULO. PROPOSTA Atuar na reorganização social por meio de projetos ligados ao meio ambiente e à educação.JOVENS ATENDIDOS 250 no núcleo de meio ambiente.APOIO Fundo Canadá, Fundo Social Unibanco, Criança Esperança e Fundação Abrinq.CONTATO Tel. (11) 5841-3366 / 5844-0395 – Site www.arrastao.org.br

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VITAE CIVILIS – INSTITUTO PARA O DESENVOLVIMENTO, MEIO AMBIENTE E PAZÁREA DE ATUAÇÃO SÃO LOURENÇO DA SERRA E REGIÃO SUDOESTE DO ESTADO DE SÃO PAULO. PROPOSTA Gerar e disseminar conhecimentos e práticas nas áreas de clima, energia e água, fortalecendo organizações e iniciativas da sociedade nessas áreas.APOIO Fundação Ford, Blue Moon Fund, Petrobras – Programa Fome Zero, Ministério do Meio Ambiente e Fundação Heinrich Böll Stiftung.CONTATO Tel. (11) 4686-1814 – Site www.vitaecivilis.org.br

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era uma das poucas atividades ren-táveis, é um exemplo bem sucedido desse princípio. A solução veio com a diversifi cação de estratégias para geração de renda, como o plantio de banana sem agrotóxicos e a criação de formas de escoamento da produção, o manejo sustentável de ervas medicinais e a valorização do artesanato local.

Com a mata preservada, os ma-nanciais e as belezas naturais prote-gidas, a região amplia seu potencial turístico. Este ano, a “Vitae Civilis” deve formar a primeira turma de mo-nitores ambientais. São 50 rapazes e moças que vão atuar como guias nas trilhas, cachoeiras e rios de São Lourenço da Serra e arredores. O curso já está criando expectativas entre os jovens. “As perspectivas aqui na região são poucas. A maioria dos jovens termina o ensino médio e vai trabalhar como assistente de pedreiro, vender sorvete ou fica arrastando o chinelo em casa. Ser monitor ambiental, aproveitando o potencial das nossas cidades, é uma atividade que começa a despertar o interesse e a idéia de preservação também”, diz Daniel Barbosa, 22 anos, que começou como estagiário no projeto de ecoturismo na “Vitae Civilis” e hoje atua como monitor.

Risco no ar

A relação estreita entre saúde e meio ambiente tem fi cado mais evidente nos últimos anos com a divulgação de várias pesquisas. Com relação à poluição atmosférica, já não restam dúvidas sobre seu impacto na saúde humana, espe-cialmente para os moradores das grandes cidades. E é um problema de difícil solução. O professor Nelson Gouveia, da Faculdade de Medicina da USP, passou os últimos dez anos estudando os efeitos da poluição do ar em São Paulo. Um estudo feito por seu grupo analisou 311.375 bebês nascidos em São Paulo, entre 1998 e 2000. Do total, 4,6% das crianças tinham menos de 2,5 quilos ao nascer. Uma proporção bastante alta quando comparada com locais menos poluídos.

“Entre os jovens”, diz Nelson Gouveia, “vemos o au-mento da prevalência dos casos de asma e bronquite crônica, apesar de não existirem ainda estudos espe-cíficos comprovando a relação desses males com a poluição. O mesmo vale para uma possível diminuição de expectativa de vida e problemas cardiovascula-res”. Uma das dificuldades para a realização de pes-quisas é justamente a falta de controle da qualidade do ar na maioria dos municípios brasileiros. Alguns dos agentes mais perigosos presentes no ar têm sua origem conhecida. Derivam da queima de óleo diesel pela frota de veículos, originando precursores de ozônio e partículas inaláveis, como a poeira, por exemplo. Por isso, muitos especialistas defendem a

mudança do combustível das frotas públicas e privadas, como uma das primeiras medidas para o controle da poluição.

Embora o ar seja democratica-mente respirado por todos, mais uma vez, quem mais sofre são os menos favorecidos, como diz Nelson Gouveia: “Os mais pobres estão mais suscetíveis à doenças, já fragilizados por uma má nutrição. Acabam também, por sua condição social, morando em áreas da cidade mais poluídas e apresentando mais problemas de saúde decorrentes da má qualidade do ar”. Mais uma comprovação de que um dos nos-sos maiores problemas ambientais ainda é a desigualdade social.

Page 54: Revista Onda Jovem n° 7

o sujeito da frase

“NOSSA RIQUEZA É A BIODIVERSIDADE”

Engenheiro-agrônomo, o paulista Fernando Bechara descobriu na

escola, com as viagens para estudos do meio, que a natureza produz

ambientes diversos

Por _ Aydano André MottaFotos _ Christiano Diehl

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A luz fugaz dos vaga-lumes, nas noites da fl oresta no Parque Nacional das Emas, em Goiás, iluminou desde cedo o caminho de Fernando Becha-ra. Foi em busca de insetos, objeto de pesquisa de seu pai, bioquímico da Universidade de São Paulo (USP), que ele deu os primeiros passos na vida dedicada à natureza de maneira ine-gociável. Bechara, hoje com 30 anos, engenheiro florestal formado pela USP de Piracicaba, devolve com juros todo o aprendizado que acumulou com animais e plantas. Ele inventou um sistema de restauração fl orestal que usa parâmetros da própria na-tureza para recuperar inteiramente áreas devastadas.

Atualmente, o engenheiro trabalha na Casa da Floresta, empresa que de-senvolve o trabalho numa área piloto de 200 hectares, no interior paulista, cedida pela Votorantim Celulose e Papel. Antes, o método foi usado em Capão Bonito, onde, em apenas um ano, surgiram 148 espécies vegetais e 35 tipos de aves. De vez em quando, passa até um vaga-lume, para man-ter o caminho de Fernando Bechara iluminado, na direção da responsabi-lidade ambiental.

ONDA JOVEM: Qual foi o papel da escola na sua opção pela engenha-ria fl orestal e, principalmente, pelo ambientalismo?

Foi de grande importância. Sempre estudei em escolas públicas, estadu-ais, numa época em que elas eram mais fortes do que as particulares. Ao longo dos anos, tive professores de Biologia e Geografi a excelentes,

que não se limitavam ao ensino teórico ou mesmo ao laboratório. Eles nos levaram para viagens marcantes, como à Serra do Cipó (MG), ou ao Parque Nacional do Itaimbezinho (RS), onde está o maior cânion do Brasil. Nesses passeios, conheci diferentes tipos de ecossis-tema e me interessei pelo estudo deles.

Foi essa a maior contribuição da escola?Para mim, foi determinante. Nas viagens, a gente

aprende vivenciando as experiências, bem diferente do quadro-negro. Na verdade, foi o embrião do trabalho que faço hoje em dia, que tem como base a observação da natureza. A partir das viagens, aprendi a lição principal: temos de observar a natureza e não simplesmente mudá-la, impor nossos modelos. Um aluno que se mo-bilize para olhar a natureza, por meia hora que seja, vai aprender uma infi nidade de coisas. O professor Ademir Reis, meu orientador de mestrado na Universidade Fe-deral de Santa Catarina, faz exatamente isso: escolhe uma planta com fl or e fi ca olhando os animais que vão se aproximar dela. Melhor do que qualquer aula.

E o seu projeto, como surgiu?Começou na minha dissertação de mestrado, na UFSC,

e, no doutorado, aprimoramos as técnicas. A idéia surge da teoria da nucleação, que descreve como ocorre a formação de áreas novas na natureza. Ela fornece a melhor receita para cada área degradada – muito melhor e mais efi ciente do que o homem e sua receita

fi xa para todas as áreas, como era no método tradicional.

Quando você iniciou o trabalho?Começamos em 2002. Nossa

área mais antiga é em Florianópolis (restinga). Depois vieram Santa Rita do Passa Quatro (cerrado), Capão Bonito (Mata Atlântica de interior) e Jambeiro, no Vale do Paraíba (fl oresta de montanha).

Quantas pessoas trabalham no projeto?

Temos especialistas em geopro-cessamento, aves, mamíferos e identifi cação de plantas. Eu cuido da restauração. Com o pessoal de apoio e de campo, são 12 pessoas.

É possível restaurar qualquer tipo de fl oresta com esse sistema?

Qualquer tipo de ambiente pode ser restaurado. O que a gente faz, na verdade, é apressar o processo da restauração natural. Somos ace-leradores da natureza. Funciona em qualquer clima ou vegetação – até na Floresta Amazônica.

Para Fernando Bechara, 30 anos, criador de um método inovador de restaurar fl orestas, a variedade dos recursos ambientais brasileiros será cada vez mais valiosa

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“Com o desenvolvimento sustentável, temos de considerar os aspectos sociais, econômicos e ambientais. Quando se pensa só economicamente, perdem-se os serviços que a natureza oferece”

Como funciona o projeto?É um conjunto de seis técnicas de

nucleação, no qual pequenos nichos de biodiversidade – com todos os tipos de forma de vida – recompõem uma determinada função da natureza. Numa área de um hectare, os núcleos ocupam de 10 a 15% da área, tornan-do o trabalho mais simples do que no método tradicional, que prevê o plan-tio de todo o terreno a ser recuperado. Começamos com a cobertura de ervas e arbustos, plantas que recobrem o solo muito rapidamente e entram em frutifi cação em três ou quatro meses, atraindo fauna para a área; em segui-da, simulamos a chuva de sementes, como acontece nas árvores de uma fl oresta natural. Usamos coletores de sementes, e todo mês, um trabalhador os recolhe, levando-os para o viveiro de produção de mudas. Depois, vem a transposição de solo, semelhante à de sementes. Sob o solo de uma floresta natural, nos primeiros dez centímetros, há um banco de semen-tes. Quando cai uma árvore, abre-se uma clareira, a luz penetra e o banco

germina. Numa área degradada, que tem luz o tempo todo, a germinação é mais rápida – e nascem árvores, arbustos, bromélias.

É só isso?Não. Há ainda os poleiros artifi ciais,

para atrair aves e morcegos. Esses animais defecam muitas vezes ao dia, espalhando sementes. Com os poleiros artifi ciais, conseguimos atrair três vezes mais aves. Usamos dois tipos: vivos (torres de cipó) e secos (varas apenas). O primeiro serve de atrativo para o morcego, um dos maiores plantadores, que traz gran-díssima quantidade de sementes, à noite. Temos o plantio de mudas, muito adensadas, que formam uma moita, num microclima mais ame-no, propício à formação de outras espécies. A fl oresta ganha, então, a forma de mosaico. Por fi m, os abrigos artifi ciais, pilhas de qualquer material vegetal residual, propício a ratos. Atrás deles vêm cobras e insetos, que atraem as aves, estabelecendo a cadeia alimentar. Com o tempo, as pilhas vão se decompor, ajudando na recomposição do solo.

Quanto tempo uma área degradada leva para se recompor?

Depende do clima da região e do seu entorno. Em média, de 4 a 5 anos. É importante entender que no plantio tradicional, a restauração não acontece. Trata-se de uma nova floresta, com características pre-determinadas pelo homem. É uma plantação de árvores.

A Floresta da Tijuca, no Rio de Janei-ro, uma das maiores do mundo dentro de uma cidade, foi replantada. Qual foi o sistema usado?

Pelo que conheço da história, foi mais aleatório, mas usando cobertura que havia sobrado. Os capões de mata que sobreviveram à degradação aju-daram. Há semelhanças com o nosso sistema, ainda que sem a mesma in-tensidade. Quem se expressou no caso da Floresta da Tijuca foi a natureza.

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O processo desenvolvido por Fernando Bechara reproduz nichos de biodiversidade que estimulam a restauração natural de cada ambiente e não impõe uma receita fi xa para todas as áreas, como no método tradicional

Um pensamento muito disseminado diz que o crescimento econômico traz, inevitavelmente, devastação. No Brasil, há quem entenda que a preocupação ecológica é uma bar-reira ao desenvolvimento. Como contrapor-se a esses argumentos?

Com o conceito de desenvolvimen-to sustentável. Temos de considerar aspectos sociais, econômicos e ambientais como três bases de um triângulo. Se pensar só economica-mente, você vai perder serviços que a natureza oferece. A exploração tem de ser racional, usando os recursos de maneira correta e equilibrada.

Mas os países desenvolvidos não foram devastados em nome do cres-cimento, da geração de empregos e da prosperidade econômica?

A biodiversidade por lá sempre foi muito baixa. As fl orestas temperadas não são como as nossas, que têm infi nitas espécies, a maioria ainda des-conhecida. A vocação de nossa riqueza é essa biodiversidade, que será cada

vez mais valiosa, como provam os pesquisadores que vêm da Europa e dos Estados Unidos clandestinamente, criam remédios e nos vendem muito mais caro. Nossa grande riqueza é a biodiversidade de nossas fl orestas – além da água, um bem cada vez mais raro e precioso. Quando acabarem as guerras do petróleo, a próxima luta da humanidade será pela biodiversidade.

Nossa consciência ambiental tem acompanhado a valorização?

A consciência ambiental teve enorme avanço com a Rio-92 e a convenção sobre a diversidade biológica, em 2000. E temos o sistema nacional de unidade de conservação, que delimitou as unidades de conservação brasileiras (parques e reservas).

Qual é nossa maior urgência ambiental?A fiscalização da Amazônia, que continua sendo

explorada de modo predatório. Só 1% da retirada de ma-deira é feita de modo sustentável. O resto é degradação. E a Floresta Atlântica, apesar de muito devastada, ainda existe, mas continua muito pressionada, assim como o cerrado. Se fosse ministro do Meio Ambiente, pega-ria o mapa do Brasil e defi niria áreas prioritárias para conservação. Onde não houver importância ecológica, pode produzir o que quiser. Mas precisamos respeitar a vocação ambiental das áreas a serem conservadas.

A área ambiental tem muito potencial para os jovens?

É a que mais cresce hoje em dia. A biodiversidade brasileira, no futuro, vai valer ouro – na verdade, já está va-lendo, ainda que muita gente não tenha acordado para isso. Ainda não conhe-cemos nem sequer 10% dela. Acredito que haja espaço para jovens que se in-teressem por estudar a área ambiental. Mas há um detalhe fundamental: preci-sa de uma preparação intensa, pesada, o que muitas vezes é difícil.

É mais fácil conscientizar os jovens para a batalha ambiental?

Sem dúvida. Eles não têm conceitos pré-defi nidos. Quando estou explican-do a um profi ssional formado, ele leva mais tempo para entender e aceitar. Nas palestras que dou em universida-des é muito mais fácil. Para entender conceitos novos, os jovens são mais abertos, não têm preconceitos.

Page 58: Revista Onda Jovem n° 7

luneta

Na cidade ou no campo, um desenvolvimento que assegure o futuro das novas gerações exige repen-sar todos os nossos modos de viver – desde hábitos cotidianos que degradam o ambiente e desperdiçam recursos até a forma econômica de gerar trabalho e renda. Especialistas concordam que uma das melhores possibilidades do Brasil nesse caminho está no campo, com a agricultura familiar. Com 80% dos 4,8 milhões de estabelecimentos rurais nas mãos de pequenos produtores, o setor emprega 70% da mão-de-obra rural e responde por 10% do PIB nacional e 40% do PIB da agropecuária. Além de responder pela maior parte dos alimentos na mesa dos brasileiros, ela permite o uso de métodos menos prejudiciais ao ambiente e emprega mais pessoas, criando alternativas especialmente para os jovens em busca de construir um futuro. Trata-se, em resumo, de um dos setores que mais podem contribuir para o desenvolvimento sustentável, segundo Ivanise Knapp, assessora técnica da Secretaria de Desenvol-vimento Sustentável do Meio Ambiente: “A agricultura familiar se faz em pequenas áreas, não é monocultora e busca caminho próprio para sua viabilização por meio do associativismo e do cooperativismo. A sustentabi-lidade ambiental, social e cultural desse modelo em relação ao agronegócio monocultor típico do latifúndio é enorme”, explica.

Mas, para especialistas, a agricultura familiar brasilei-ra ainda não tem sido contemplada como deveria e con-

A VIA RURALPor _ Ulisses Freitas

tinua sofrendo desastrosos impactos, como a difi culdade para a geração de renda e a inserção nos mercados, e a percepção do meio rural como um espaço marcado pela falta de acesso a bens de serviço e infra-estrutura. Os jovens, que acabam empurrados para as grandes metrópoles em busca de oportunidades de trabalho e estudo, são os que mais refl etem a falta de investimentos e políticas para o setor. Segundo dados do IBGE, dos quase 35 milhões de jovens com 14 a 24 anos de idade no Brasil, 18% residem no

O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL PASSA PELA AGRICULTURA FAMILIAR, MENOS PREJUDICIAL AO AMBIENTE ECOM GRANDE POTENCIAL DE TRABALHO PARA A JUVENTUDE

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meio rural. De 1991 a 2000, houve uma redução de 26% da população jovem no campo. Os processos migratórios têm acarretado não só a redução da população rural como também um processo de masculini-zação. Além do predomínio juvenil, o movimento migratório recente tem ampla participação feminina. As mu-lheres representam 52% do total da migração jovem.

Ambiente juvenilHá, por outro lado, um vigoroso

fortalecimento e uma expansão dos

no ideal de campo que a juventude dos movimentos sociais constrói no seu dia-a-dia, colocando-a entre os pontos prioritários de suas pautas de reivindicação junto aos gestores de políticas públicas. “Uma imagem recorrente nas entrevistas com jovens dos movimentos sociais é a do meio rural como espaço tranqüilo e bom de se viver – justamente pela relação com a natureza –, mas que sofre com problemas ambientais, de produção e de infra-estrutura.”

Também para Maria Elenice Anastá-cio, coordenadora nacional da juven-

movimentos sociais envolvendo os jovens do campo. “O surgimento de organizações de juventude dos movimentos rurais do Brasil é um fenômeno que tem impressionado. Em todos os movimentos sociais rurais, a juventude está organizada ou é, no mínimo, tema considerado relevante”, afi rma Elisa Guaraná, doutora em Antropologia, professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), e autora da pesquisa “Entre Ficar e Sair: Uma Etnografi a da Construção Social da Categoria Jovem Rural”.

E a nova juventude rural tem entre suas bandeiras de luta não só o acesso a terra, saúde, cultura, educação e renda, mas também a promoção do desenvolvimento sustentável e a preservação do ambiente. Segundo Elisa Guaraná, a questão ambiental está claramente presente

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tude rural da Contag, a juventude tra-balhadora do campo tem participado desse debate ativamente: “Hoje, temos duas importantes iniciativas de formação que consideram a di-mensão do meio ambiente: o Progra-ma Jovem Saber e o Consórcio Social da Juventude Rural – Rita Quadros, que envolvem aproximadamente 18 mil jovens”. Nos dois casos, o meio ambiente aparece associado às ati-vidades de produção da agricultura familiar.

Os cursos desenvolvidos por meio do Consórcio e os estudos orientados pelos grupos do Programa Jovem Saber surgiram da necessidade de se informar os jovens sobre como desenvolver novas tecnologias que melhorem sua produção sem ame-açar o meio ambiente. “Como resul-tados, podemos perceber a mudança para hábitos produtivos mais com-prometidos com o desenvolvimento sustentável, uma participação mais ativa da juventude na produção fami-liar e uma maior organização desses jovens na defesa do meio ambiente e dos seus direitos como trabalhadores e trabalhadoras”, diz Elenice.

Essa discussão também vem mobi-lizando a juventude para refl etir sobre outras questões: “Neste ano, pre-tendemos intensifi car ainda mais o debate sobre o meio ambiente junto aos jovens, introduzindo a discussão da agroecologia, associando o saber popular e o saber científi co, para ga-rantir uma produção ambientalmente mais equilibrada e sustentável. Com isso, queremos fortalecer uma agri-cultura livre dos venenos químicos, preservando a saúde do trabalhador rural e levando à mesa do consumidor alimentos mais saudáveis”.

Políticas públicasPara a pesquisadora Elisa Guaraná, as atuais políticas

públicas para a agricultura familiar têm dado alguma contribuição à questão da sustentabilidade, mas ainda de forma muito tímida. “Existem iniciativas de apoio a cursos de formação e projetos pontuais, mas ainda não é uma política maciça”, diz.

Para Fabiano Kempfer, coordenador de Política de Juventude no Campo, da Secretaria do Reordenamento Agrário do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), a juventude rural apresenta uma das maiores demandas de políticas com recorte ecológico e os programas de formação e qualifi cação profi ssional têm o desenvol-vimento rural sustentável como norte. “A juventude é fundamental para o processo de inovação tecnológica na agricultura familiar”, diz.

O MDA tem duas políticas com foco na juventude. O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) criou o Pronaf Jovem, que atende interessados em desenvolver novas experiências produtivas que promovam agregação de renda ou

A CRESCENTE ORGANIZAÇÃO DA JUVENTUDE RURAL CONTRIBUI PARA INCLUIR NA AGENDA DO CAMPO TEMAS COMO SUSTENTABILIDADE E AGROECOLOGIA

atividades exploradas pela unidade familiar. E o Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF) desenvolveu o programa Nossa Primeira Terra, que já atendeu 20 mil jovens. Foram investidos R$ 512 milhões na compra de terras e estão previstos cerca de R$ 380 milhões para a estruturação produtiva destas novas unidades por meio do Pronaf.

Resultados positivosNo semi-árido baiano, a bem-su-

cedida experiência do Movimento de Organização Comunitária (MOC) é um exemplo da força da participação dos jovens no desenvolvimento inte-gral, participativo e ecologicamente sustentável. Sediado em Feira de Santana, o MOC forma os jovens na perspectiva da agroecologia, o que os leva a entender a propriedade agrícola como um sistema complexo, no qual ocorrem processos ecológicos que devem contribuir para a produção com menos impactos sociais e am-bientais, e para a redução de insumos externos, promovendo, assim, o de-senvolvimento sustentável.

“Muitos jovens multiplicadores têm se destacado, até mesmo como lideranças nas organizações sociais, realizando projetos voluntários de educação ambiental em suas comu-nidades, tendo a propriedade da sua família como referência na transição agroecológica, além das ações de mobilização, capacitação e visitas de intercâmbio que realizam com as famílias que acompanham”, conta Renata Santana, coordenadora do Subprograma de Assistência Técnica (Ater) do MOC.

No município de Casimiro de Abreu (RJ), alguns programas voltados aos

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jovens do meio rural exemplifi cam os resultados positivos de políticas públicas com a participação da socie-dade. Os programas socioeducativos Jovem Agricultor Orgânico, Paisagista Mirim e Ecoturismo Rural para Jovens, iniciativas da Secretaria Municipal de Agricultura e Pesca, em parceria com a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, são realizados com recursos do Pronaf. Baseados na agroecologia e no desenvolvimento rural susten-tável, os programas envolvem 80 jovens, entre 14 e 17 anos, fi lhos de agricultores familiares e trabalhado-res urbanos, matriculados na rede pública de ensino.

Segundo Marcio Piratello, técnico da Secretaria de Agricultura e Pesca de Casimiro de Abreu, os programas socioeducativos são iniciativas pionei-ras no estado, no que se refere a sis-temas agrofl orestais. “A diversidade de espécies cultivadas – alimentícias, fl orestais, ornamentais e medicinais – contribui para a recuperação de áreas degradadas e a conservação das fl orestas, além de ser um sistema de produção ecologicamente corre-to”, explica Piratello. Ele conta que os programas incentivam técnicas ambientalmente corretas e provocam refl exões sobre sustentabilidade. Na prática, isso se deu com a mudança de paradigma de muitas famílias de agricultores, cujos fi lhos participam dos programas. “Eles passaram a pra-ticar uma agricultura mais limpa, mais saudável para a própria família e para o consumidor dos seus produtos”.

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A educação ambiental é um dos principais instrumentos para conscientizar a sociedade da necessidade de discutir, formular e implementar um modelo de desenvolvimento sustentável. Para o Ministério do Meio Ambiente, ela se tornou prioridade, focada principalmente na geração jovem, depois que a pesquisa Perfi l da Juventude Brasileira, reali-zada em 2003, indicou uma grande desinformação sobre o tema entre a moçada. Para ela, meio ambiente é apenas um sinônimo de “natureza”. A maioria não consegue identifi car as implicações da preservação para sua vida nem conec-tar esse assunto com outras questões políticas, sociais, culturais e econômicas. No entanto, 26% dos pesquisados citaram o meio ambiente como um dos assuntos que gos-tariam de discutir e as duas edições da Conferência Nacional Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente já demonstraram que o ambientalismo tem um grande potencial para mobilizar os jovens – cerca de 8 milhões deles participaram de pelo menos um dos eventos.

É apostando nesse potencial que o governo conduz suas iniciativas de educação ambiental. A principal estratégia é estimular a atuação em redes, nas quais educadores trans-mitem seus conhecimentos, formando jovens lideranças sociais e envolvendo parcelas cada vez maiores da população com as questões ambientais. Especialistas e participantes

Por _ Jane Soares

dos programas não discordam do rumo geral das ações, mas eviden-ciam com unanimidade o calcanhar de Aquiles da atuação governamen-tal: a crônica falta de estrutura, de recursos humanos e fi nanceiros, que compromete os resultados. Marcos Sorrentino, diretor de educação ambiental do Ministério, reconhece as deficiências, principalmente fi nanceiras. “Acredito, no entanto,

que, à medida que os agentes so-ciais descobrem a importância da preservação e os investimentos no setor resultam em melhor qualidade de vida para todos, aumentam as pressões de verbas para o meio ambiente”. O Ministério, que já teve apenas 30 funcionários, a maioria terceirizada, hoje tem 300, o que, segundo Sorrentino, indica sua crescente valorização.

O GOVERNO APOSTA NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

PARA FORMAR JOVENS, MAS OS

RECURSOS AINDA SÃO INSUFICIENTES

AMBIENTE EDUCATIVO

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Cuidar do BrasilA estratégia de integração acon-

tece entre ministérios, como no Pro-grama Juventude e Meio Ambiente, voltado para a população entre 15 e 29 anos. Desenvolvido pelos ministérios do Meio Ambiente e da Educação, o objetivo é incentivar a formação de lideranças, a criação de coletivos jovens e “engrossar” as fi leiras de outros movimentos,

a exemplo da Rede de Juventude pelo Meio Ambiente e Sustentabilidade (Rejuma). Organizado formalmente no ano passado, o programa já envolve aproximadamente 1 milhão de jovens, que conseguiram implantar essas estruturas em 150 municípios, em todos os estados brasileiros e no Distrito Federal.

A movimentação tem sido intensa. Em abril de 2006, foi realizada a 2ª Conferência Nacional Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente. Com o tema “Vamos cuidar do Brasil”, o documento elaborado por aproximadamente 600 participantes defende, entre outros itens, a divulgação e a ampliação dos conhe-

cimentos por meio da educação ambiental; a proteção e a valorização da nossa biodiversidade; a transfor-mação das cidades, comunidades e escolas em espaços ambientalmente saudáveis; a diminuição na produção de lixo; e a redução da emissão de gases poluentes que provocam o aquecimento global.

Além de estimular a formação de Comissões de Meio Ambiente e

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Qualidade de Vida (Com-Vidas) nas escolas, os coletivos jovens realiza-ram neste ano 13 encontros esta-duais e dois regionais para discutir a implementação da Agenda 21 em estados e municípios. “Cada vez mais antenados em relação ao modelo de desenvolvimento que querem para o País, os jovens mudaram o patamar da questão ambiental ao debatê-la sob o ponto de vista político, ético, social e cultural, e não meramente ecológico”, diz Fábio Deboni, coor-denador do Programa Juventude e Meio Ambiente.

Fernando Felippini Piccirilo, 24 anos, formado em Turismo e integrante da ONG Viva a Cidade, participa do cole-tivo jovem de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, desde o fi nal de 2003. Para ele, é extremamente importan-te o processo de identificar novas lideranças e de incentivar a educação ambiental entre os jovens. “Hoje, em praticamente todas as escolas da cidade discutem-se problemas como

o abastecimento de água, o uso do Aqüífero Guarani, o modelo agrícola da região, alicerçado na cana-de-açúcar, as queimadas”, diz. A idéia é desenvolver uma política pública estadual de juventude e meio ambiente, tema a ser discutido no 3º Encontro Paulista de Educação Ambiental, a ser realizado em julho de 2007, em São José do Rio Preto. “Os jovens querem ser protagonistas na construção de um novo modelo de desenvolvimento para o País”, afi rma.

Trabalho de baseOutros dois programas de educação ambiental do

Ministério do Meio Ambiente, a exemplo dos coletivos Educadores e das Salas Verdes, reúnem um número considerável de jovens, embora não sejam destinados especifi camente a eles. Os dois estimulam a criação de espaços vinculados a instituições públicas ou pri-vadas. No primeiro, a intenção é formar pessoas que irão trabalhar nas bases. Os cursos de formação são estruturados a partir de “cardápios”, que levam em conta o mapeamento dos problemas locais, feitos por diversas instituições.

No Paraná, por exemplo, 42 parceiros – incluindo uni-versidade, ONGs, Ibama, prefeituras e empresas como a Itaipu e O Boticário – formaram, em um ano e meio, 300 educadores nos 34 municípios localizados na Bacia do

A PERCEPÇÃO DE QUE OS JOVENS SÃO MAL INFORMADOS, EMBORA SEJAM MUITO INTERESSADOSNO TEMA AMBIENTAL, JUSTIFICA A ÊNFASE NA EDUCAÇÃO, MAS OS INVESTIMENTOS PRECISAM CRESCER MUITO

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Falta de apoioA estudante de geografi a Juliana Gonzaga Santos

integra a Sala Verde da Universidade Federal de Santa Catarina, considerada uma das mais atuantes. Cinco jovens trabalham na produção e disseminação de informações socioambientais, e na formação e desen-volvimento de projetos e ações, como a criação dos Com-Vidas em escolas. Juliana reconhece que não é fácil. O projeto não conta com verba orçamentária – os livros distribuídos para as Salas Verdes são con-seguidos através de doações. Mesmo assim, Juliana ainda pode ser considerada uma privilegiada. É uma das três bolsistas da Universidade, que considera a Sala Verde como um projeto de extensão – outros dois jovens são bolsistas fi nanciados pelo Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Santa Catarina (Crea-SC).

“A idéia é muito boa, mas a total falta de estrutura compromete os resultados”, diz o geógrafo Paulo Bra-ga Henriques, presidente da Klimata, uma das ONGs parceiras do projeto. “Praticamente todo o trabalho, inclusive de captação de recursos fi nanceiros, é rea-lizado por voluntários, que não têm condições de se dedicar a ele em período integral. Assim, o objetivo de potencializar a estrutura existente, por meio da articulação com outras salas e entidades, difi cilmente será atingido”.

Paraná 3 e Parque Nacional do Iguaçu. “Em 2006, eles participaram de 10 encontros com 16 horas cada um”, diz a bióloga Valéria Casale, da diretoria de Educação Ambiental do Ministério. “Em 2007, eles passarão a trabalhar em intervenções socioambientais e na formação de novos educadores”.

Os refl exos desse trabalho come-çarão a aparecer em médio prazo. Espera-se que grupos liderados por esses educadores consigam defi nir formas e metas de atuação, incluindo a captação de recursos que sustente ações de intervenção para resolver os problemas. “Existe na região um movimento de educação ambiental forte e atuante que, no futuro, terá condições de intervir efetivamente para transformar a realidade, em vez de realizar apenas ações pontu-ais”, diz Valéria. O Ministério do Meio Ambiente selecionou 125 grupos em todo o País, que estão atuando como pré-coletivos. Outros 150 estão em processo de formação.

Já as Salas Verdes, estruturadas como centros de informação e docu-mentação ambiental, existem em todos os estados da Federação e somam 390 unidades, 26 delas instaladas em uni-versidades. Para participar do projeto e ter direito a receber um kit com 50 a 70 livros sobre diversos assuntos ligados ao ambientalismo, além de material técnico do Ministério, as Salas Verdes devem passar por um processo seletivo e cumprir alguns requisitos, como contar com espaço físico, ter uma equipe educativa e elaborar um projeto político-pedagógico, estabelecendo seus objetivos e fi nalidades. “As salas são uma das primeiras ações desenvol-vidas em um município”, diz a técnica do ministério Mariana Dourado.

O geógrafo Érico Porto Filho, co-ordenador de Gestão Ambiental da Universidade Federal de Santa Catarina, vai pelo mesmo caminho: “É preciso viabilizar linhas de apoio fi nanceiro aos projetos para permitir o incremento de ações de auto-sustentabilidade e manutenção das parcerias individuais e coletivas, além de possibilitar a criação de uma infra-estrutura mínima”. Porto Filho lembra que os programas contribuem para gerar mais informações sobre a qualidade de vida e do meio ambiente, além de capacitar atores sociais e educadores em práticas de conscien-tização sobre o consumo sustentável. “Os projetos permitem a formação de recursos humanos, a agregação de parceiros com responsabilidade social e, principalmente, o protagonismo juvenil”, diz. No entanto, é preciso ir mais longe e ampliar o acesso a outros programas e redes e acelerar a aproximação entre o poder público e os protagonistas sociais para viabilizar a criação de políticas públicas.

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ciência

QUESTÃO DE HÁBITO

Gastar menos água, diminuir a quantidade de lixo, consumir com consciência – essas mensagens, há tanto marteladas pelos ambienta-listas, já se incorporaram ao nosso repertório daquelas que são consi-deradas ações corretas. No entanto, a mudança de comportamento que elas exigem ainda é tímida. Por quê? Segundo especialistas, em pedagogia e em ambientalismo, é preciso ter disposição para vencer esse caminho – curto, mas muitas vezes custoso – entre a consciência

Por_ Karina YamamotoIlustração _ Anderson Rei

A MUDANÇA DE ATITUDES COTIDIANAS QUE PREJUDICAM O AMBIENTE NÃO ACOMPANHA NOSSA CONSCIENTIZAÇÃO SOBRE ELAS. MAS OS JOVENS TÊM MAIS FACILIDADE PARA DAR ESSA VIRADA

da necessidade de novos hábitos e a efetiva mudança de comportamento. Mudança que é decisiva quando se trata de preservar o meio ambiente e melhorar nossa qualidade de vida.

De fato, a pesquisa nacional “O que Pensam os Brasileiros sobre Meio Ambiente, Desenvolvimento e Sustentabilidade?”, realizada em 2006 pelo Insti-tuto de Estudos da Religião e o Ministério do Meio Ambiente, em conjunto com o instituto Vox Populi, já indicava: “O crescimento da consciência – espan-toso e animador – não é acompanhado na mesma medida de comportamentos que indiquem mudanças significativas de hábitos e atitudes”.

Mas a difi culdade de mudar não é partilhada unifor-

memente pelo conjunto da sociedade. Existe uma importante parcela da população sensível a essa virada de atitude: as crianças e os jovens. “Eles têm uma prontidão maior, uma vez que seus hábitos ainda não estão consoli-dados”, diz Rose Marie Inojosa, membro da Rede Gandhi, uma associação de profi ssionais e interessados em difun-dir a cultura de paz entre os agentes promotores de saúde. “Na campanha contra a epidemia da dengue, em 2001, avaliamos que a ação dos pequenos e jovens fi scais nas casas foi essencial

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cadores e convidamos os jovens a fazerem o mesmo”, diz Angela Maria de Oliveira Almeida, coordenadora do Laboratório de Psicologia Social do Desenvolvimento do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB).

Partindo da idéia de “obter sem impor”, a pedagogia do compromis-so tem como objetivo não apenas chegar a um resultado, mas fazer com que os agentes dessa mu-dança de comportamento tenham consciência do que estão fazendo

calouros de 30 diferentes cursos. “Se sensibilizarmos o aluno quando ele está chegando na universidade, temos uma grande chance de que o profissional que sair de lá estará mais envolvido com a questão ambiental”.

Do pensamento à ação Para alguns pedagogos, uma das questões centrais

do campo da educação – como conseguir que os alunos ou fi lhos adotem comportamentos sugeridos por pais e professores – pode ter grande impulso por meio de estratégias baseadas na chamada psicologia do compromisso. “Não é à toa que ela recebeu esse nome: estamos assumindo um contrato como edu-

para o sucesso da empreitada da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo”, diz Rose.

A assistente da área de Mobi-lização Social da ONG Akatu, que difunde o consumo consciente, Raquel Diniz, engrossa o coro: “Os jovens são fundamentais para o nosso trabalho”. Este ano, a enti-dade formalizou sua parceria com a Universidade Estadual de Campinas, em São Paulo, para a realização do maior “trote” social do país, com a participação de cerca de dois mil

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sobre a problemática da água e a urgência em deixar de desperdiçá-la. E quando se trata de jovens, o compromisso é ainda maior, pois é preciso dar a eles a oportunidade de discutir e questionar o que se propõe, um exercício vital para a formação de cidadãos.

Pouco para começarOs adeptos da pedagogia do compromisso lançam

mão de uma técnica chamada de “primeiro passo”, elaborada em 1966 por uma dupla de pesquisadores americanos, Jonathan Freedman e Simon Fraser. Ela consiste em pedir, num primeiro momento, uma atitu-de simples, pouco custosa. E, só depois de obter essa pequena concessão, sugerir a mudança pretendida desde o início, ou seja, o comportamento esperado.

Em uma de suas pesquisas para testar suas hipóte-ses, os dois estudiosos pediram a um grupo de donas de casa um pouco do seu tempo para responder a uma enquete sobre hábitos de consumo por telefone, antes de enviar um grupo de entrevistadores que iriam pedir para olhar armários e gavetas. O número de mulheres que aceitaram ter sua casa investigada foi duas vezes maior entre o grupo daquelas que já haviam respondido às questões por telefone.

Na prática, os educadores usam muito essa

e sejam comprometidos com esse outro jeito de agir. Há mais de 60 anos no campo de pesquisa de psicólogos e educadores, essas estratégias agora vêm sendo usa-das com mais freqüência, uma vez que as técnicas se popularizaram, principalmente na Europa.

Mas como não banalizar a técnica, confundindo conscientização para mudança de comportamento com manipulação pura e simples? “Na Eu-ropa, um autor como Robert Vincent Joule é um best-seller, mas como um manual de marketing”, diz a professora Angela. Para que isso não aconteça, ela faz questão de reforçar a importância da transparência dos objetivos do educador no momento de aplicar as técnicas. “O educador tem de explicitar a proposta. E cada indivíduo será o su-jeito do contrato”, diz. Ou seja, ao tentar difundir mudanças de hábito, como fechar a torneira enquanto se escova os dentes, é preciso, sim, um discurso

técnica. Apesar de desconhecer a pedagogia do compromisso, Raquel Diniz, do Akatu, usa a mesma tática: “Depois de mostrar a relevância da questão do consumo consciente e da interdependência dos seres, partimos para a comprovação, por meio de cálculos emblemáticos que mostram como pequenos atos impactam o ambiente pelo acúmulo no decorrer do tempo”. Exemplo: cada latinha de alumínio que você manda para a reciclagem econo-miza energia elétrica para manter uma lâmpada de 100W acesa por 3,5 horas.

O físico Gilson Coutinho Jr. tam-bém prefere começar a disseminar valores ecológicos de maneira mais branda. Professor aposentado da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), ele trabalhou nos últimos cinco anos no Centro de Estudos Ambientais, no campus de Rio Claro. “A conscientização é essencial. Se

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a essa questão. “Que valor damos a nós mesmos? Será que sou capaz de perceber que eu sou processo de transformação?”, indaga a líder espiritual.

Para os budistas, a ação correta – a mais adequada à situação, levando em conta o respeito e a tolerância – é um dos passos para se chegar ao Dharma, à felicidade. Como dentro dos preceitos também há preocupação com o pensamento, a atenção e o meio de vida corretos, pergunto à Monja por onde podemos começar o processo de mudança de atitude. “Não tem começo: vivemos num emaranhado de causas e con-dições”, diz. Por isso, atos simples ou heróicos podem ser o primeiro passo. “Por onde quer que você comece, vai acertar”.

Leque abertoAlém das questões de conservação e preservação

de recursos, a sustentabilidade e a planetaridade (considerar o planeta como um todo) são temas presentes em outras áreas do conhecimento – da economia à pedagogia. E esta, principalmente, não pode fugir desse compromisso com os jovens. O educador Moacir Gadotti, famoso estudioso da fi-losofia de Paulo Freire, chama a atenção para isso. “A educação para e pela cidadania é também uma educação para uma sociedade sustentável. A Escola Cidadã e a Ecopedagogia sustentam-se no princípio de que todos, desde crianças, temos um direito fundamental que é o de sonhar, de fazer projetos, de inventar”, escreve Gadotti.

E há também o respeito, um valor que permeia todas as discussões sobre o ambiente. Respeito pela natureza, pela diversidade, pelo outro, por si mesmo – temas tão importantes para a formação juvenil. É importante notar que os valores das causas ambien-tais coincidem, em muitos momentos, com princípios filosóficos e relacionam-se com a visão de mundo das pessoas. Para a Monja Cohen, que coordena o templo budista Zendo na capital paulista, a interconectivi-dade dos seres e do planeta dá uma outra dimensão

o público não quiser se preocupar com a humanidade, peço que pen-sem em seus filhos e netos”, diz o experiente educador.

Engajado no programa Escola da Família, em que as instalações das escolas estaduais ficam à disposi-ção da comunidade nos finais de semana, Gilson ajudou a confeccio-nar um pequeno equipamento para fazer sabão. E passou a pedir para que as donas de casa guardassem o óleo de cozinha que seria des-cartado para a produção do sabão caseiro. “Todo mundo se interessa pelo produto, mas aprende também que não é bom poluir as águas com aquele óleo que seria descartado”. Agora, ele e seus companheiros querem implantar um sistema de coleta de água da chuva na mesma escola. “Mas antes vamos fazer alguns cálculos para mostrar o im-pacto financeiro e, assim, reforçar a argumentação.”

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chat de revista

RAFAEL SOL, 25 ANOS, de Belo Horizonte

PEDRO LUIZ CHAFFE, 21 ANOS, de Florianópolis

EDILENE NÉRI DE SOUZA, 20 ANOS, de Manaus

ANNA CAROLINA FOURNIER, 21 ANOS, paulista de São Caetano

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O conceito de desenvolvimento sustentável, lançado há quase três décadas num relatório da ONU, desafi a a todos: como aliar a conservação da natureza ao desenvolvimento humano para garantir a sobrevivência do planeta e a qualidade de vida das novas gerações? Onda Jovem convidou quatro estudantes para debater a questão: Pedro Luiz Borges Chaffe, 21 anos, de Florianópolis, estudante de Engenharia Sanitária e Ambiental na Universidade Federal de Santa Catarina e participante do Programa Bayer Jovens Embaixadores Ambientais em 2006; Maria Edilene Néri de Souza, 20 anos, de Manaus, liderança do Coletivo Jovem de Meio Ambiente do Amazo-nas; Rafael Sol, 25 anos, de Belo Horizonte, estudante de Educação Artística na Universidade Estadual de Minas Gerais e criador do grupo Tamanduá Sem Bandeira, que usa a música e o teatro para promover educação ambiental; e a estudante de Biologia Anna Carolina Pires Fournier, 21 anos, de São Caetano (SP), que é agente socioambiental voluntária do Instituto Ação Triângulo, onde atua, entre outros, no Programa Casa a Casa. Acompanhe a seguir os principais trechos do debate, desencadeado por Onda Jovem e mantido pelos participantes:

QUATRO ESTUDANTES DEBATEM QUALIDADE DE VIDA E CONSERVAÇÃO AMBIENTAL

DIÁLOGO SUSTENTÁVELOnda Jovem: Como você relaciona a sua qualidade de vida com a questão ambiental e o desenvolvimento sus-tentável?

EDILENE: Qualidade de vida é bem-estar no lugar em que se vive e isso resulta de cuidado e respeito com o planeta.

PEDRO: Minha qualidade de vida e a questão ambiental são indissociáveis. Apesar de o ser humano se adaptar às mais diversas situações, viver em um ambiente degradado é estressante, afe-ta não só a saúde física, mas também a mental. Ao cuidarmos da qualidade do ambiente, estamos cuidando da nossa vida.

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ANNA CAROLINA: O desenvolvimento sustentável busca a harmonia entre o homem e o ambiente. Só podemos ter qualidade de vida sem degradar os recursos que nos sustentam.

RAFAEL: Não podemos dizer que temos uma boa qualidade de vida se enfrentamos diariamente problemas gerados pelo crescimento desordenado das cidades. A qualidade de vida veiculada pela TV também não é nada saudável, pois incentiva o consumismo. O estresse do dia-a-dia desgasta as relações humanas. Para ter desenvolvimento sus-tentável e melhorar nossa qualidade de vida, temos de ter consciência de questões como essas.

Quais aspectos da situação ambiental o preocupam mais?

PEDRO: Acho preocupantes os riscos das mu-danças climáticas para o planeta. Elas podem ser ocasionadas pelo nosso ritmo de produção indus-trial e também pela devastação das fl orestas, o que é outro aspecto importante. A disponibilidade de recursos hídricos também pode se tornar crítica caso providências não sejam tomadas.

ANNA CAROLINA: A questão da água é muito preocupante. Todos os dias vemos exemplos de desperdício e não teremos no futuro esse recurso em abundância.

RAFAEL: Essa é também uma das minhas maiores preocupações. Atitudes como limpar a calçada com água têm de acabar. Por que não usar a vassoura? Outra coisa que me incomoda é não termos um sistema efi ciente de recolhimento de lixo seco.

EDILENE: Toda a temática ambiental me preocu-pa: crescimento populacional, qualidade da água potável, rejeitos tóxicos e radioativos, perda de bio-diversidade, esgotamento de recursos energéticos, mudanças climáticas, aquecimento global ...

E como você se envolve com o tema?PEDRO: A pequena parte que eu faço é tentar

aumentar o conhecimento científi co sobre algu-mas questões ambientais que enfrentamos no Sul do Brasil. Principalmente com relação ao refl o-restamento de pinus e fl oresta de araucária, que são questões críticas. Há muita discussão sobre a Amazônia, mas pouco se fala sobre a fl oresta

de araucária, que tem menos de 2% restantes da área original.

EDILENE: Procuro tomar cada vez mais consciência de que tudo isso que temos de bonito pode se acabar se não tomarmos atitudes para interromper a degrada-ção do meio ambiente.

ANNA CAROLINA: Tento utilizar a água com mais consciência e passar informações a esse respeito. Banhos mais curtos, fechar a torneira enquanto se lava a louça ou se escovam os dentes são atitudes tão simples, e muitos não dão im-portância.

RAFAEL: Em meu trabalho, procuro difundir alternativas de reutilização de resíduos sólidos e incentivar sua redução.

Você acha que os jovens estão dispostos a mudar hábitos para contribuir com a causa ambiental?

ANNA CAROLINA: Os jovens estão mais informados, mas não tão participativos nessa área. Muitos ainda acreditam que a questão ambiental está apenas nas fl orestas, longe deles.

PEDRO: A consciência ambiental dos jovens está aumentando, principalmente dos mais novos, mais dispostos a mudar seus hábitos. Entre todas as faixas da população, acredito que os jovens ainda são os mais receptivos e fl exíveis para esse tipo de questão.

EDILENE: Os jovens estão dispostos, sim. A juventude, além de se preocupar com a ética, também é amante da natureza e se interessa em lutar contra a degradação do ambiente.

RAFAEL: Para mim, tudo está ligado à divulgação. Se mudanças de hábito pela causa ambiental fossem veiculadas pelos meios de comunicação, a grande massa de jovens compraria essas idéias.

O que você espera de políticas públicas nesta área?PEDRO: Eu gostaria que aumentasse o investimento, especialmente em educação

e em pesquisas científi cas. Para proteger algo, é necessário conhecê-lo. Além disso, políticas sociais também são muito importantes. Com desigualdade social, é complicado falar sobre preservação ambiental.

ANNA CAROLINA: Espero campanhas mais efetivas junto a estudantes de escolas públicas, com projetos que despertem a consciência ambiental. Os governantes também deveriam dar mais apoio à ação das ONGs ambientalistas.

EDILENE: O governo precisaria incentivar mais os programas de educação ambiental, principalmente na formação de lideranças para potencializar a mobilização e estimular o exercício da cidadania.

Que projeto ambiental implantado em sua cidade pelo poder público teve resultado positivo?

PEDRO: Uma parceria entre o poder público e a universidade em que estudo resultou num ótimo projeto de educação ambiental numa escola pública. O projeto valorizou o espaço da escola por meio de uma gestão ambiental integrada com as aulas. Foi feita uma revitalização de uma grande área para o plantio de diversas espécies no sistema agroecológico permacultural, em que os alunos puderam visualizar diversos ciclos na-turais na prática. Estão em andamento um projeto de captação da água da chuva, para irrigação, e uma gestão dos resíduos sólidos para valorizar o lixo e reverter os recursos para a própria escola.

�A juventude se interessa em lutar contra a degradação do ambiente�

EDILENE

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PROJETO INSTITUTO AÇÃO TRIÂNGULOÁREA DE ATUAÇÃO GRANDE ABC – SÃO PAULO.JOVENS ATENDIDOS 46.PROPOSTA Incorporar no dia-a-dia de todos a inclusão social, o consumo consciente e a preservação ambiental, bases para o desenvolvimento sustentável. APOIO Petrobras e Unimed. CONTATO Rua Conselheiro Justino, 448 – Bairro Campestre – Santo André – CEP: 09070-580 –Telefone: (11) 4991-1112 – E-mail [email protected] – Site www.triangulo.org.br

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PROJETO GRUPO TAMANDUÁ SEM BANDEIRA/RECICLAGEM DIVERTIDAÁREA DE ATUAÇÃO BELO HORIZONTE É A SEDE DO GRUPO, QUE DÁ CONSULTORIA PELA INTERNET A INTERESSADOS DE TODO O BRASIL E TAMBÉM ATUA EM CIDADES MEDIANTE CONVITES.PROPOSTA Levar educação ambiental a crianças, jovens e professores, por meio de atividades pedagógicas cênicas e musicais, ofi cinas, cartilhas, site na internet e coluna semanal no Jornal Estado de Minas; democratizar as possibilidades de criação artística a partir de materiais reutilizáveis.JOVENS ATENDIDOS as ações chegam a mais de 500 mil pessoas por mês, entre crianças, jovens e educadores.APOIO Amigos das mais diversas áreas na produção de vídeo, marketing, programação visual e design.CONTATO Rafael Sol – Telefones: (31) 9642-9697 / 3224-8211 – [email protected] – Site www.reciclagemdivertida.com

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PROJETO PROGRAMA BAYER JOVENS EMBAIXADORES AMBIENTAIS ÁREA DE ATUAÇÃO O PROJETO É GLOBAL, ENVOLVENDO CERCA DE 16 PAÍSES. NO BRASIL, TEM ÂMBITO NACIONAL.JOVENS ATENDIDOS Em 2006, participaram do programa 48 jovens do mundo inteiro.PROPOSTA Promover o protagonismo juvenil, apoiando iniciativas de jovens em projetos ambientais e de desenvolvimento sustentável. APOIO Grupo Bayer, PNUMA-ONU.CONTATO www.byee.com.br – [email protected]

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EPROJETO COLETIVO JOVEM DE MEIO AMBIENTE DO AMAZONAS ÁREA DE ATUAÇÃO MANAUS E OUTROS MUNICÍPIOS.JOVENS ATENDIDOS 150.PROPOSTA Agregar jovens lideranças e membros de organizações de juventude para desenvolver atividades de educação ambiental que venham a despertar o interesse em cuidar do meio ambiente, o exercício da cidadania, a convivência comunitária e sua sensibilização para os problemas ambientais.APOIO Ministérios da Educação, do Meio Ambiente; Secretaria Estadual de Educação; Secretaria Municipal de Educação; Secretaria Municipal do Meio Ambiente; Secretaria Municipal de Direitos Humanos; Centro Educacional Martha Falcão; Funai; Petrobras.CONTATO Rua Vila Amazonas 2000, Parque 10 – Telefones: (92) 3642-5718 e 9195-9170 –E-mail [email protected]

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RAFAEL ANNA CAROLINA

�A qualidade de vida veiculada pela TV incentiva o consumismo� RAFAEL

RAFAEL: Em Belo Horizonte, por meio do Orçamento Participativo, pelo qual a popu-lação elege as prioridades do município, foi possível notar uma melhora signifi cativa no saneamento da cidade.

EDILENE: Há muitos projetos em anda-mento em minha região. O Ministério do Meio Ambiente apoiou, por exemplo, a implantação dos Corredores Ecológicos, ação que visa inter-ligar áreas protegidas, preser-vando-as ainda mais.

Que tipo de atitude você acha que um cidadão tem de ter para proteger o ambiente?

RAFAEL: O cidadão tem de dar bons exemplos, como não jogar lixo na rua porque isso entope os esgotos e provoca enchentes. De-pois, tem de ter uma postura de fi scalização.

ANNA CAROLINA: Uma postura mais ativa, começando a proteger o meio ambiente todos os dias, separando seus resíduos para um descarte adequado ou utilizando a água racionalmente.

Qual a difi culdade fundamental para se pro-mover a sustentabilidade?

PEDRO: É a educação. É impossível preser-var algo que não se conhece e não se respeita. Conhecimento e respeito são adquiridos por meio da educação.

ANNA CAROLINA: É tornar o desenvolvimen-to sustentável uma prioridade.

RAFAEL: A conscientização é a grande difi -culdade. A discussão sobre sustentabilidade precisa encontrar eco em todos os setores da sociedade. Acredito que a arte pode contribuir muito para isso. Se vocês, por exemplo, tives-sem de criar uma breve peça de teatro sobre o tema ambiental, que história contariam?

EDILENE: Alguma história que falasse sobre a biodiversidade, sobre tudo que Deus criou para o homem.

ANNA CAROLINA: Com certeza seria uma história engraçada, sobre situações cotidianas que envolvem o meio ambiente. Uma história para divertir e instruir.

PEDRO: Minha história se passaria numa cidade onde houve desenvolvimento eco-nômico sem planejamento. Com isso, houve aumento populacional, ocupação desorde-nada, falta de infra-estrutura para atender a todos, utilização indiscriminada de recursos naturais e geração elevada de resíduos. A falta de informação da população faria com

que o problema parecesse longe de ser solucio-nado. Então, uma associação comunitária resolve mudar a situação ao menos do seu bairro. Com pequenas mudanças de atitude e também com apoio da prefeitura, começa a mudar a realidade da comunidade. Com a melhoria notável, a prefeitura passa a aplicar as práticas em toda a cidade. Ao fi nal, a população passa a ter mais consciência de sua cidadania e dos efeitos que pequenas atitudes podem ter para mudar a realidade.

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MAIS PROFISSIONAISPor _ Cristiane Parente

Biólogo, geólogo ou geógrafo. Há 20 anos, essas eram algumas das poucas opções para quem queria trabalhar na área ambiental. Boa notícia: os tempos mudaram! A pressão da sociedade civil e da comuni-dade internacional, com as conseqüentes respostas do Governo no âmbito da legislação, tem levado ao surgimento de novas profi ssões e especializações na área: advogado ambientalista, auditor ambiental, gestor ambiental, engenheiro ambiental...

Para Jacques Demajorovic, coordenador do bacharela-do em Gestão Ambiental do Senac-SP, um dos pioneiros no País, essa expansão deve ser considerada positiva, já que há uma demanda cada vez maior por profi ssionais da área ambiental, que passam a trabalhar em parceria e atividades complementares. Luis Massilon, coordenador de cursos e projetos do Instituto de Desenvolvimento

Sustentável e Energias Renováveis (Ider), ONG de Fortaleza que oferece formação ambiental a jovens, também comemora – “Isso ampliou a rede de conhecimentos e até as condições para um trabalho mais conscienti-zador” –, mas ainda se ressente de um maior envolvimento desses pro-fi ssionais com a causa. Opinião com-partilhada pelo Diretor Substituto da Educação Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, José Vicente, que de-fende cursos com uma ênfase prática maior, para aproximar os estudantes da realidade brasileira em toda a sua complexidade.

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COM A CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL, CRESCE TAMBÉM A OFERTA DE CURSOS E ESPECIALIZAÇÕES NA ÁREA

em nichos surgidos recentemente. Além da área de pesquisa e do campo ambiental propriamente dito, estão entre os locais de trabalho: indústrias (que precisam reduzir seus níveis de degradação ambien-tal e planejar seus programas ambientais e sistemas de gerenciamento ambiental); consultorias diversas; programas de educação ambiental; hotéis, hospitais e escolas (para racionalização da energia e água, tra-tamento de resíduos...) e até bancos e seguradoras, que estão contratando analistas ambientais.

FuturoE ainda há muito o que crescer, considerando-se que

a Educação Ambiental, como política pública, é recente no Brasil. José Vicente, por exemplo, defende a criação de dois cursos que considera de extrema importância: de formação e pesquisa na área de desenvolvimento sustentável – que deve ser prático e com foco na realidade de cada estado, analisando suas vocações e demandas – e de formação em meio ambiente para gestores políticos municipais, que muitas vezes não sabem como e o que fazer na área.

Mas a capacitação não acontece somente em es-colas regulares e universidades. Entre os projetos do Ider (www.ider.org.br), o de Qualifi cação Profi ssional em Energias Renováveis e Desenvolvimento Susten-

Aves

soEvolução

Em janeiro de 2005 havia no Brasil, segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP, 19.570 vagas em 284 cursos superiores tecnoló-gicos, seqüenciais e de graduação na área ambiental. Desse total, 32% estavam concentrados em São Paulo e a maioria deles é de Administração com ênfase em Gestão Ambiental e Engenharia Ambiental.

O surgimento de cursos mais específicos na área começou em 1975, com Ecologia, oferecido pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Mas foi a partir da década de 1990 que se multiplicaram gra-duações e cursos tecnológicos de ní-vel superior, além de novas habilita-ções, como Geografi a e Meio ambien-te e Biologia Ambiental, entre outras.

E há mercado para todos? Dema-jorovic afi rma que esses profi ssio-nais e, mais especifi camente os que trabalham com Gestão Ambiental, podem atuar tanto no setor privado como no público e no terceiro setor,

tável, com duração de oito meses, já formou, desde 2002, 185 jovens de baixa renda (de 16 a 24 anos), capacitados nos conhecimentos de eletricidade básica e energias re-nováveis. Desse total, 104 estão no mercado de trabalho e 25 cursando universidade.

Um dos méritos do curso, segundo Luis Massilon e Jörgdieter Anhalt, um dos fundadores do Ider, é o de desenvolver um projeto pelo qual os alunos fazem um diagnóstico de suas comunidades e planejam uma intervenção levando em conta as energias renováveis. Como o de um grupo de jovens que construiu um módulo de energia solar e percebeu que ele poderia virar um forno. Cria-ram, então, uma pequena fábrica do “Biscoito Solar”, usando o Crédito Jovem Solidário, da prefeitura de Fortaleza. Tornaram-se o orgulho do bairro.

Para os especialistas, o perfi l do jovem interessado em se formar na área ambiental é bem delineado: ele tem interesse pelo novo e disposição para buscar e enfrentar desafi os; é criativo e ousado, para usar os co-nhecimentos e desenvolver novos projetos; é persistente, idealista e acredita que pode ajudar a trans-formar a sociedade; por fi m, busca a área não somente porque ela está em expansão, mas porque ela ofere-ce muitos desafi os.

A necessidade de

regulamentação de algumas

profi ssões da área ambiental

é um dos aspectos destacados

pelos especialistas quando se

trata de observar os desafi os

do setor para a consolidação

e a ampliação dos espaços

de trabalho já conquistados

e a busca de novos campos

de atuação Eles defendem

também um maior apoio às

ONGs que trabalham com meio

ambiente e às parcerias para

a implementação de projetos,

com o objetivo de mudar

a situação socioambiental

das comunidades atingidas.

No âmbito governamental,

esperam políticas públicas

mais consistentes para vencer

as barreiras impostas pelo

setores que ainda pensam

que o cuidado com o meio

ambiente emperra o crescimento

econômico.

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Car

tas

FAÇA CONTATOEnvie cartas ou e-mails para esta

seção com nome completo, endereço

e telefone. ONDA JOVEM se reserva

o direito de resumir e editar os

textos. Endereço: Rua Dr. Neto de

Araújo, 320, conjunto 403, CEP

04111-001, São Paulo, SP. E-mail:

[email protected].

APOIO PEDAGÓGICOPrezaria que a E.E. Maria de Lour-

des, em São Miguel Paulista, fosse inserida na relação daqueles que recebem a Onda Jovem. Certamen-te a edição recebida irá fazer parte das aulas em temas transversais.

Edivelton Tadeu Mendes, Prof. Matemática e Física, São Paulo, SP

Eu sou orientador social de jovens e ganhei uma revista Onda Jovem de um amigo, mas queria saber como posso continuar re-cebendo-a, pois gostei muito do conteúdo e queria passar isso para os jovens com quem trabalho.

Rafael, por e-mail

Ganhei um exemplar desta re-vista e foi muito útil como ferra-menta nas aulas que ministro no Projovem/DF.

Edna Simeão Cardoso, DF

Gostaria de receber a revista Onda Jovem. A publicação será de grande ajuda, pois desenvolvo pro-jetos voltados à juventude.

Silvia Cristina Amorim, São Paulo, SP

Gostaria de receber Onda Jovem, pois atuo na educação de adolescentes e jovens no estado de Goiás, e a revista é muito interessante e tem ricos trabalhos e propostas para atuação com jovens.

Marlene Feitosa, GO

Estava procurando orientação sobre plano de aula e encontrei o site. Copiei algumas partes para levar na aula. Sucesso com esse trabalho, que é de grande utilidade.

Maria Izabel Venturim, Castelo, ES

Sou coordenadora pedagógica da Escola Estadual Salus-tiano Lemos. Ao participar de uma capacitação do Instituto Ayrton Senna, conheci a revista Onda Jovem e gostaria de receber os exemplares.

Angela Aparecida Pimenta, Cajuru, SP

Temos um interesse muito grande nesta publicação. Gostaria de receber as edições com urgência!

Colégio Salesiano Santa Rosa, Niterói, RJ

Sou professora de Artes da prefeitura de São Paulo e gostaria de receber Onda Jovem, pois será útil em minhas atividades com os alunos.

Silvana Amaral Pesce, São Paulo, SP

NA UNIVERSIDADEGostaria de receber periodicamente a Revista Onda

Jovem. Tenho interesse em utilizá-la com meus alunos de pós-graduação na Universidade Federal da Bahia.

Prof. Júlio César Leal, BA

Gostaria de receber Onda Jovem. Sou aluna do curso de especialização em Educação e Saúde, e o conteúdo da revista seria útil para as disciplinas.

Josaildes Antunes Ribeiro, Salvador, BA

Sou estudante de Letras e a revista Onda Jovem tem me ajudado na faculdade, no tema prática de ensino.

Wilson Roberto Moreira Júnior, São Bernardo do Campo, SP

Sou professora e estou fazendo uma especialização na UFBA. Gostaria que meu nome fosse incluído para receber a revista.

Andréa Sena dos Santos, Salvador, BA

Sou socióloga, pesquisadora do tema juventude e gos-taria de ter acesso às versões impressas da Revista Onda Jovem. Defendi dissertação de mestrado no Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofi a, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. No momento, estou concluindo tese de doutorado, no mesmo Departamento de Sociologia, com o tema “protagonismo juvenil”.

Regina Magalhães de Souza, São Paulo, SP

ACERVOS Sou bibliotecária do Colégio Santa

Cruz, em São Paulo. Com o objetivo de subsidiar os projetos pedagógicos e ações sociais desenvolvidos no colégio, gostaríamos de receber a publicação Onda Jovem.

Odete Camargo, São Paulo, SP

Sou bibliotecária da Faculdade de Filosofi a, Ciências e Letras de Ibitinga. Conheci Onda Jovem e gostaria de rece-bê-la. Achei a revista importante como mais um meio de informação para os nossos jovens educadores.Cláudia Regina Rodrigues, Ibitinga, SP

Sou bibliotecária do Centro Universi-tário Franciscano do Paraná. A edição sobre educação da revista Onda Jovem despertou nossa atenção. Gostaríamos de receber os números já publicados e os próximos números.

Edith Dias, Curitiba, PR

Dirijo e mantenho uma biblioteca co-munitária em minha cidade com recur-sos próprios. Mesmo com difi culdades, procuramos manter a biblioteca em funcionamento, pois ela proporciona aos jovens uma aproximação com os livros. Seus exemplares serão bem-vindos e também a ajuda em conta-tar doadores.

Douglas Moura Nunes, Picos, PI

POLÍTICAS PÚBLICASNós, da Unitrabalho, solicitamos au-

torização para o uso de textos do Portal Onda Jovem nos Cadernos de Educação de Jovens e Adultos sobre Trabalho e Juventude. Nossos professores têm utilizado os textos para pesquisas.

Vladimir Sacchetta, São Paulo, SP

Lidero um grupo de jovens e quere-mos mudar a situação, conscientizando os jovens da importância da democracia. Queremos conhecer experiências e, no futuro, levar um de nossos jovens a nos representar no poder público local.

Lázaro Santos Mangifeste, Casimiro de Abreu, RJ

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77

Gostaríamos de saber se é possível receber a revista impressa em nos-sa sede, como fonte de pesquisa e estudos aos jovens de nossa cidade. Ela ficaria na nossa biblioteca, para consulta pública.

Anderson Batata, Coordenadoria de Juventude

– Prefeitura de Nova Iguaçu, RJ

Sou Coordenadora Geral de Prevenção da Secretaria Nacional Antidrogas/GSI/Presidência da República. Registro meus cumprimentos pela qualidade do mate-rial, tanto no quesito conteúdo como no aspecto forma.Doralice Oliveira Gomes, Brasília, DF

MEIO ELETRÔNICOAmei o site Onda Jovem. O mesmo me

ajudará muito nas aulas de arte.Darlene, por e-mail

Gosto muito da revista, mas tam-bém gostaria de receber o boletim eletrônico.

Cisele Ortiz, Coordenadora de projetos

(www.avisala.org.br)

Faço parte de uma equipe da Funcap que trabalha com jovens. As dicas dos planos de aula do portal Onda Jovem me interessam muito.

Nancy Marinho, por e-mail

Sou professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRGS. Re-cebi o último boletim eletrônico de Onda Jovem e com satisfação li que vocês dedicaram o último número da revista ao tema Juventude e Educação.

Maria Stephanou, RS

Conheci e gostei muito do boletim do Portal Onda Jovem. Sou assistente de educação e treinamento em um programa com adolescentes e jovens multiplicadores em saúde na ONG BEMFAM – Centro de Jovens, em Floria-nópolis. O boletim contribuirá muito na troca de experiências e discussão em defesa de direitos.

Cláudia Balbinott Matos Florianópolis, SC

Estava pesquisando emprego na web e encontrei o site de vocês. Gostei muito do que vi. Sou músico e quero sobreviver no mundo das artes como eterno aprendiz na escola da vida, buscando oportunidades.

Nil Freitas, Salvador, BA

Gostaria de receber o boletim eletrônico do Portal Onda Jovem para saber de mostras competitivas e festivais de audiovisual.

Alexandre Nunes de Andrade, por e-mail

Nós, da Associação Irmão Sol, gostaríamos de receber o boletim eletrônico do Portal Onda Jovem. Trabalhamos com jovens de rua. Temos 11 casas-lares para abrigá-los e nos parece muito interessante, para os maiores, formar grupos que se aprofundem nos textos que vocês fornecem.

Frei Mariano, Belo Horizonte, MG

Eu me interessei muito pelo conteúdo do site, sou consul-tor e educador ambiental e há um ano estou coordenando o Projeto Sintonia, que trabalha educação ambiental de forma lúdica e dinâmica com crianças, jovens e adultos.

Victor Daniel de Oliveira e Silva, Belém, PA

NA AÇÃO SOCIALSou um facilitador do projeto Juventude Fibra & Ética de

Cultura e Movimentos Sociais, realizado em Pombal, sertão da Paraíba. Gostaria de agradecer e parabenizá-los pela ótima revista que nos enviam, muito útil para os trabalhos de inclusão social e de afi rmação de políticas públicas que desenvolvemos com jovens. Continuem com a juventude brasileira!

José Ribeiro da Silva, Pombal, PB

Sou da Creche Durvalina, em Itaquaquecetuba, São Paulo. Entre nossos projetos estão o Agente Jovem, destinado ao atendimento de 275 jovens, e o Ação Jovem, que atende 650 jovens entre 15 e 24 anos. Gostaríamos de continuar recebendo o boletim eletrônico do Portal Onda Jovem e, se possível, as edições anteriores da revista Onda Jovem.

Andréa Mosca Cintra, SP

Trabalhamos com o Projeto Agente Jovem em Santa Bárbara do Sul (RS). Gostaria de receber Onda Jovem, que nos ajudará a informar nossos jovens.

Juliana Armborst, RS

Somos da Juventude Operária Católica Brasileira. A organização foi ofi cializada em 1948 e desde então vem contri-buindo com a formação e a organização da juventude no Brasil e no mundo. Re-centemente tivemos contato com Onda Jovem. A revista é muito interessante e gostaríamos de recebê-la.

Adelson Gois de Almeida, Coordenação Nacional da Juventude

Operária Católica Brasileira

Sou Secretário das Pastorais da Juven-tude do Regional Leste CNBB – MG e ES. Gostaria de receber os exemplares de Onda Jovem, que vão contribuir para o trabalho de nossa equipe, trazendo mais informações sobre a juventude.

Edgar Mansur, MG

Sou presidente da Associação Edu-cacional dos Jovens de Orlândia (antiga Guarda Mirim). Temos muito interesse em informações sobre juventude e sobre ONGs que atuam com jovens. Gostarí-amos de contar com a colaboração de vocês para receber o boletim do Portal Onda Jovem e a revista Onda Jovem.Luiz Carlos Beia Vilarim, Orlândia, SP

Nossa cidade tem um núcleo da Fun-dação Cosan que desenvolve atividades como cursos de geração de renda e capacitação profissional, totalizando 150 participantes. Sabemos que a re-vista Onda Jovem será uma contribuição riquíssima para a complementação das atividades.

Tânia Cristina Rodrigues de Oliveira, Barra Bonita, SP

Sou da Associação Comunitária In-dependente de Toledo (Acitol). Recebo com grande satisfação a revista Onda Jovem, uma das melhores publicações do terceiro setor. Fico feliz em ver esta juventude fazendo acontecer. Edson de Moraes “Naval”, Toledo, PR

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GENTE NÃO É SUCATA

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Encontrar soluções onde ninguém enxergava nada foi um dos desafi os enfrentados pelos mais de 1.500 jovens que já participaram das ações do projeto Gente Não É Sucata, do Instituto Laborearte, criado em 1998 na cidade mineira de Montes Claros. As soluções encontradas pelos jovens se transfor-mam, na prática, em peças de arte e design, brindes e presentes, utilizando como matéria-prima sucatas e resíduos industriais. Desenvolvida pela artista plástica Adriene Tupinambá ([email protected]), a experiência de transformar sucata em artesanato e arte já é considerada uma tecnologia social, voltada especialmente para jovens em situação de risco, mas também aplicável a outros públicos. Com o apoio de diferentes parceiros, os jovens vêm conseguindo desenvolver suas habilidades, gerar renda e ampliar a auto-estima, com a realização de várias exposições, que já chegaram até à Câmara dos Deputados. O maior aprendizado, porém, é subjetivo: um dos lemas do Laborearte lembra que reciclar é a arte de aprender a olhar com igualdade.

Page 80: Revista Onda Jovem n° 7

O Instituto Votorantim apóia essa causa.

E quer ver muitos jovens fazendo sucesso na capa.

Porque, desde que foi criado, em 2002, para qualificar o investimento social do Grupo Votorantim, o Instituto Votorantim abraçou a causa juvenil, apoiando tecnologias sociais nas áreas de educação e trabalho, favorecendo articulações e disseminando conhecimento para promover o desenvolvimento integral do jovem.

Nessa perspectiva, Onda Jovem é um projeto de comunicação a serviço da difusão de idéias e práticas, compartilhando as visões de educadores, jovens, gestores públicos, pesquisadores, formadores de opinião e outros segmentos que lidam com a juventude nas diferentes áreas.

A revista é quadrimestral e distribuída gratuitamente em todo o país. Os conteúdos estão disponíveis também no portal www.ondajovem.com.br, com acréscimos exclusivos como os planos de aula, que sugerem a aplicação dos textos em dinâmicas e atividades de reflexão com jovens.

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Uma causa na qual os jovens brasileiros acreditam e que os desperta para a ação social

AMBIENTE

www.ondajovem.com.br