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FILOSOFIA JURÍDICA KANTIANA - s3.amazonaws.com · Aplicada à conveniência jurídico-social, essa norma moral básica transmuda-se em norma de direito natural. A obediência do

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FILOSOFIA JURÍDICA KANTIANA

Com Immanuel Kant temos a chamada Revolução Copernicana: Kant vai fazer na filosofia uma revolução comparada a de Copérnico na ciência. Ele sintetiza o racionalismo e o empirismo filosóficos.

O racionalismo acredita fortemente na razão. Acredita que para chegar ao conhecimento verdadeiro é necessário somente a razão pura. Já o empirismo, acredita que toda forma de conhecimento advém da experiência. Por temos apenas sentidos, essa forma de conhecimento é finita e contingente.

Para resolver o problema, Kant faz uma SÍNTESE entre sensibilidade e entendimento. Ele admite que o conhecimento comece pelos sentidos, mas que é a razão quem as organiza.

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FILOSOFIA JURÍDICA KANTIANA

Se Copérnico rompeu com mais de dez séculos de geocentrismo, apontando o sol como centro da terra, Kant, muda todas as formas de pensar até então.

A filosofia jurídica kantiana propriamente dita teve seu início na Crítica da Razão prática mas é principalmente no Metafísica dos Costumes que Kant aprofunda o seu estudo jusfilosófico.

Suas principais preocupações e, por conseguinte, contribuições, são o desenvolvimento dos conceitos de Direito e Moral, delimitando seus campos e traçando suas características fundamentais e a idéia da coação como nota essencial do Direito.

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Kant observa na Metafísica dos Costumes que existe uma dupla legislação atuando sobre o homem: uma legislação interna e uma legislação externa.

A primeira diz respeito à moral (ética no sentido estrito), obedecendo à lei do dever, de foro íntimo, enquanto a segunda revela-nos o Direito, com leis que visam a regulação das ações externas.

O paralelo entre moral e Direito norteia toda a obra jurídica de Kant, tendo a liberdade como ponto central e pano de fundo desta relação. Kant observa que o verdadeiro critério diferenciador entre moral e direito é a RAZÃO pela qual a legislação é obedecida.

Afirma que a vontade jurídica é heterônima (condicionada por fatores externos de exigência), enquanto a vontade moral é autônoma, já que o fundamento desta é o dever pelo dever.

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Desta forma a mera concordância com a norma, independente do motivo, encontra-se no plano jurídico da legalidade, enquanto que para o plano ético exige uma concordância com valores internos independente de inclinações.

Resta-nos a pergunta; por que se age por dever (moral) e conforme o dever (jurídica) e não de forma diversa?

A Metafísica dos Costumes tem por objeto o estudo dos princípios "a priori" da conduta humana. Compreender as condições que estão submetidas o homem e dentro destas condições, A VONTADE, ocupa papel de destaque em sua filosofia, e torna-se constituidora da ética.

A vontade, para Kant, constitui a própria razão pura prática e sendo ela a mola propulsora da ética, seus princípios são erigidos à categoria do universal.

Mas o que isso quer dizer? a moral que estava centrada no individual e subjetivo agora com a razão torna-se universal e objetiva.

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O IMPERATIVO CATEGÓRICO KANTIANO

Assim, os princípios desta moral partem do próprio sujeito, sem contudo poder ser considerada subjetiva, já que não são ditados pela sensibilidade/experiência, tratam-se de conceitos derivados da vontade pura ou "a priori" da razão.

Ao agir sobre tal ordem o homem cria princípios universais que devem ser seguidos por todos. Agindo eticamente o homem não age por si próprio mas por toda a humanidade. Introduz, portanto, a existência do dever como uma forma "a priori" da razão, que traduz-se no imperativo categórico traduzido por ele nos seguintes termos:

"Age apenas segundo aquela máxima que possas ao mesmo tempo desejar que se torne lei universal”

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O QUE ISSO QUER DIZER??

Uma ação é moralmente correta se a sua máxima (regra de ação que nos indica o motivo por que fazemos algo) puder ser universalizada, se se pode tornar um princípio universal de ação.

Diferentemente da legislação moral que tem como princípio fundamental o imperativo categórico, que deriva da razão pura prática, a NORMA JURÍDICA vai ter como regra um dever exterior, um comando de uma autoridade investida do poder coativo.

Não podemos esquecer que para Kant tanto o Direito quanto a moral têm a sua estrutura de justificação na LIBERDADE (conceito chave) e que a diferença entre um e outro reside no fato de que na moral a força coativa é interna e oriunda da própria razão pura prática enquanto que no Direito é externa e visa a garantia da liberdade do outro.

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Kant afirma que o dever se assenta no princípio da liberdade, sem a qual aquele não seria possível e esclarece que o dever constitui uma vinculação humana à lei.

Age-se de acordo com a lei moral, respeitando-a, somente quando esta é fruto da própria vontade e produto da vontade pura ou da razão pura prática.

Para Kant dever moral e dever jurídico não se diferenciam pela substância. Para a ação moral o homem age por dever e para o Direito conforme o dever e para ambos os casos o dever só é cumprido porque derivada da vontade como razão pura prática, sob o imperativo categórico da razão.

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Para a filosofia de Kant, sendo racional e livre, o homem é capaz de impor a si mesmo normas de conduta, designadas por normas éticas, válidas para todos os seres racionais que, por sua racionalidade, são fins em si e não meios a serviço de outros.

Logo, a norma básica de conduta moral que o homem se pode prescrever é que em tudo o que faz deve sempre tratar a si mesmo e a seus semelhantes como fim e nunca como meio. Aplicada à conveniência jurídico-social, essa norma moral básica transmuda-se em norma de direito natural. A obediência do homem à sua própria vontade livre e autônoma constitui, para Kant, a essência da moral e do direito natural. As normas jurídicas, para tal concepção, serão de direito natural, se sua obrigatoriedade for apreensível pela razão pura, independente de lei externa ou de direito positivo, se dependerem, para obrigarem, de lei externa.

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Agora veremos a noção de coação estruturada por KANT.

Kant afirma que o Direto possui caráter coativo. Diferente de seus antecessores coloca a coação como nota essencial do Direito, trazendo-a para dentro da estrutura jurídica.

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Por isso Kant fala que em toda estrutura do Direito a coação estaria inerente, como uma malha intrínseca permeando toda a ação humana que se projetasse para o exterior, já que o Direito só cuidaria das ações exteriorizadas, projetadas para fora do ser humano (ao contrário da moral). Mais tarde se afirmaria que o Direito não cuida tão somente daquilo que se exteriorizaria, mas levaria em conta o próprio mundo da intenção.

Kant pontua que a minha ação será justa se puder conviver com a liberdade do outro, segundo leis universais e, será injusta a ação do outro que me impeça de agir desta maneira.

Cria, assim, o imperativo categórico do Direito como decorrência lógica do imperativo categórico da moral: "Age externamente de tal modo que o livre uso do teu arbítrio possa coexistir com a liberdade de todos segundo uma lei universal".

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Assim, tudo aquilo que exerce coação à minha ação justa constitui um obstáculo à liberdade, necessitando, assim, de uma coação contrária e justa. Para Kant temos então que a idéia de coação e liberdade não são antagônica, mas se compatibilizam, sendo a coação necessária à liberdade.

RESUMINDO:

Ser livre é agir por moral: quem age de modo moral é livre. Kant funda a moral na própria razão. Pelo fato de sermos racionais, é que somos morais. Moral não é algo que vem de Deus ou da natureza, é simplesmente possibilidade de ser livre, de nos autodeterminarmos. Kant funda a autonomia da moral na RAZÃO HUMANA, e não em algo externo.

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Surge a pergunta: mas se a essência do Direito é a coação, o Direito não vai restringir a liberdade?

Para Kant, a coação do direito não é contra a ação justa, mas contra a ação injusta, por isso não desrespeita a autonomia moral. Uma norma jurídica que não obriga os componentes a respeitarem o dever moral, não merece ser chamado de direito!

FÓRMULA KANTIANA:

“Age externamente de tal modo que o livre uso de seu arbítrio possa coexistir com a liberdade de todos segundo uma lei universal”.

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CONCEITO DE DIREITO EM KANT

Na busca do conceito de Direito Kant afirma a impossibilidade de encontrá-lo pela via empírica, levando-se em conta apenas a observação do direito positivo.

Para ele o grande erro dos juristas de até então foi a procura do conceito na manifestação do Direito como legislação positiva, quando deveriam ter ido atrás daquilo que era essencial.

Definição de direito: conjunto de condições sob as quais o arbítrio de cada um pode se conciliar com o arbítrio dos demais, segundo uma lei universal de liberdade. Existe para proteger quem é livre de quem não é. O direito não seria necessário se fosse possível ser sempre livre.

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Para Kant são três os elementos que compõe o conceito de Direito:

1-) em primeiro lugar, este conceito diz respeito somente à relação externa de uma pessoa com outra, na medida em que suas ações, como fatos, possam influenciar-se reciprocamente;

2-) em segundo lugar, o conceito do Direito não significa a relação do arbítrio com o DESEJO de outrem, portanto com a mera necessidade, como nas ações benéficas ou cruéis, mas tão só com o arbítrio DO outro;

3-) em terceiro lugar, ação de um poder conciliar-se com a liberdade do outro segundo uma lei universal

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CONCLUSÃO

Acentua-se o caráter tipicamente formal do Direito para Kant, independente de conteúdo, prescrevendo um complexo de condições através de uma liberdade formal de arbítrios, para uma possível coexistência destes próprios arbítrios.

Suas idéias foram decisivas no surgimento do idealismo alemão. A releitura de sua obra feita pelos neokantianos, a inspiração a movimentos filosóficos como a fenomenologia e o existencialismo já atestariam o tamanho da reviravolta que causaria este filósofo no desenvolvimento da filosofia moderna.

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RETOMADA HISTÓRICA

O QUE TEMOS ATÉ AGORA?

• FILOSOFIA DA IDADE ANTIGA. É a Filosofia política. Justiça é para

todos, e não para um. Não há homem justo numa polis injusta!

(Platão).

• FILOSOFIA DOS MEDIEVAIS. É a Filosofia teológica. Há um Deus, ele

fez o mundo; se você é pobre, isso é justo porque Deus quis assim;

• FILOSOFIA DA IDADE MODERNA. Filosofia do individualismo.

Lastreia o capitalismo; Visão individualista e da meritocracia.

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FILÓSOFOS RELEVANTES PARA O DIREITO

1-) JEREMY BENTHAM

Filósofo e jurista inglês, expoente do utilitarismo,

precursor das ideias do Estado do bem-estar social. Foi

um dos grandes juristas dedicados à filosofia e à

construção de uma teoria geral do direito.

Para Bentham, direitos deviam ser explícitos em um

sistema legal, e a sociedade ideal seria a que conciliaria

a felicidade do indivíduo com o bem-estar coletivo.

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Jeremy Bentham defende a tese de que os princípios da moral e da legislação são construídos a partir de considerações a respeito do indivíduo, e não da sociedade.

Esta última, aliás, nada mais é do que a soma dos indivíduos que a integram, ou seja, um corpo fictício. Analisando-se o indivíduo, é possível afirmar que as ações humanas são guiadas pelos sentimentos de prazer e dor.

“Todos são governados por dois senhores soberanos:

sofrimento e prazer. Eles indicam o que devemos fazer, bem

como aquilo que faremos”.

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Nesse sentido, a grande premissa do pensamento filosófico de

Jeremy Bentham é de que os seres humanos agem como

maximizadores racionais de suas satisfações em todas as

esferas da vida.

Neste viés, o utilitarismo, ou princípio da utilidade, é aquele que

aprova ou desaprova qualquer ação, segundo a tendência que

tem a aumentar ou diminuir a felicidade da pessoa cujo interesse

está em jogo.

Assim, uma ação estará em conformidade com o princípio da

utilidade, quando a tendência que ela tem para aumentar a

felicidade for maior do que qualquer tendência que tenha a

diminuí-la.

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Bentham propunha que o princípio da utilidade (prazer/dor;

felicidade/tristeza) deveria ser uma norteador não só para as

ações dos indivíduos, mas do próprio Estado, no tocante à

normogênese jurídica.

Deste modo, entendendo os interesses da comunidade como

as somas dos interesses de seus diversos membros, caberia

aos governantes e legisladores propor leis e políticas

públicas no sentido de gerar o máximo de felicidade para

todos.

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A grande herança deixada por Bentham é a fundamentação

filosófica e moral que legitima o cálculo individualista (maior

satisfação) para a obtenção de justiça através das

instituições: se os homens são maximizadores racionais de

suas satisfações pelo viés individual, com base no contraste

entre prazer e dor, caberia ao Estado - ao Legislativo e, em

última instância, ao Judiciário - atuar com o objetivo de

maximizar a riqueza na sociedade, garantindo maior felicidade

para um maior número de pessoas e consequentemente,

promovendo o bem-estar social.

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Bentham pensava, portanto, que um complexo sistema de

normas estabelecidas pelos detentores do poder e da

legalidade seria a forma mais eficiente de instrumentalizar um

sistema capaz de garantir a maximização da riqueza e do bem-

estar dos homens.

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2-) HERBERT HART

Filósofo liberal, defensor do Estado Democrático, da

tolerância e da liberdade. É um positivista moderado,

reconhece que o Direito é um fenômeno cultural modelado

pela linguagem. A Teoria hartiana oferece uma importante construção conceitual acerca das normas e da estrutura do ordenamento jurídico, bem como das noções de existência, validez e eficácia,

A velha distinção conceitual entre o direito positivo e o direito natural está presente em toda os pensadores jurídicos ocidentais, sendo o direito natural àquilo que é por natureza enquanto que o direito positivo é aquele posto ou convencionado pelos homens.

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Aponta Hart que as sociedades contemporâneas são caracterizadas pelas constantes mudanças sociais e pelo pluralismo de tradições e valores que montam as pautas morais vigentes, portanto é difícil deduzir um consenso moral.

Portanto, para Hart é inegável existir as conexões em Direito e moral situadas no âmbito da justificação e legitimidade do Direito. Essa é a grande virtude da tese de Hart de manter um ponto de vista moral perante o direito positivo livre.

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Ao identificar o direito contemporâneo Hart ainda o justifica através do positivismo jurídico, não negando a complexidade dos sistemas bem como a presença de princípios e valores morais.

Repisamos que para o positivismo jurídico é crucial a separação conceitual entre direito e moral. E a relação entre o direito e os princípios morais não é necessária, mas sim, contingente posto que o Direito seja moralmente neutro.

E tal postura procura preservar a autonomia e a liberdade individual preservando-as da interferência estatal exorbitada (paternalismo) e de terceiros (ditadura das maiorias ou tirania das minorias).

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3-) JOHN RAWLS

Filósofo político, busca conciliar equidade social, eficácia econômica e liberdade política. Sua teoria política fundamenta-se na prioridade do justo sobre o bem.

Desenvolveu os pressupostos de uma sociedade justa: igualdade de oportunidade aberta a todos em condições de plena equidade e as desigualdades econômicas e sociais deveriam ser corrigidas com a abdicação consciente de privilégios materiais legítimos em favor dos desassistidos.

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Rawls parte de uma concepção geral de justiça que se baseia na seguinte ideia: todos os bens sociais primários — liberdades, oportunidades, riqueza, rendimento e as bases sociais da auto-estima (um conceito impreciso) — devem ser distribuídos de maneira igual.

Sua concepção de Justiça se estrutura sobre 3 pilares

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Concepção geral de Justiça para Rawls

Princípio da liberdade igual: a sociedade deve assegurar a máxima liberdade para cada pessoa compatível com uma liberdade igual para todos os outros.

Princípio da diferença: a sociedade deve promover a distribuição igual da riqueza, exceto se a existência de desigualdades económicas e sociais gerar o maior benefício para os menos favorecidos.

Princípio da oportunidade justa: as desigualdades económicas e sociais devem estar ligadas a postos e posições acessíveis a todos em condições de justa igualdade de oportunidades.

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4-) GUSTAV RADBRUCH

Jurista alemão, jusnaturalista, concebe a filosofia do direito como a consideração valorativa do direito e defende o direito como uma relação entre justiça, fim e segurança social.

“[…] o Direito positivo, assegurado pela lei e pelo poder, tem preeminência mesmo quando seu conteúdo seja injusto, a não ser que a lei positiva contradiga a justiça em uma medida tão insuportável que a lei, enquanto ‘direito incorreto’, deva ceder à justiça”.

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Inicialmente positivista, com o advento da Segunda Guerra mundial, Radbruch muda seu posicionamento jurídico filosófico, desiludindo-se com o positivismo jurídico, uma vez que este deixou sem defesa e absolutamente vulneráveis o povo e os juristas contra as leis mais arbitrárias e mais cruéis.

Assim, Radbruch, suplantando seu posicionamento inicial e enveredando para o jusnaturalismo, proveu a negação veemente da validade das leis injustas, que se fundamentam na coação e na força.

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No pensamento filosófico de Radbruch, ao mesmo tempo que a idéia de direito se assenta na Justiça, como valor universal, esta é mutável pelos interesses políticos de determinada época de sua positivação.

Desta forma, essa positividade não garante, de forma absoluta, uma estabilidade social, pois o direito pode variar tanto com o fim relativista em que é observado quanto com os costumes de cada comunidade.

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5-) JÜRGEN HABERMAS

Filósofo alemão defensor do consenso e da

discussão racional como fundamentos da

legitimidade da autoridade política.

Sua filosofia sugere pontos de análise interessantes:

-A denúncia de uma tendência à burocratização

-A expansão do Direito como meio de controle estatal Habermas se situa claramente contra “valor” e “norma”, privilegiando a ocorrência sociológica (fato), o que não impedirá de cair também num dogmatismo de ordem sociológica.

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É a conexão essencial entre “eficácia” e “vigência”, tema de sua última obra. Por outro lado, subtraindo-se a verdade à Ontologia, deixando- a ao sabor da vontade popular, nessa vontade sem condução é possível, caírmos num relativismo e não temos parâmetros.

O período do Nazismo, por exemplo, que Habermas cita como um período de “distorção” do Direito, demonstra a ele mesmo que o Direito como mera expressão da vontade, pelo Estado, corre esse tipo de risco. Uma comoção popular, um povo comovido, um povo conduzido, uma vontade entusiasmada... um grande perigo.

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6-) RONALD DWÖRKIN

Filósofo norte-americano, crítico das escolas positivista e

utilitarista e defensor das justificações morais nas decisões

jurídicas em prol da proteção dos direitos fundamentais.

A obra de Dwörkin traz a ideia de que os princípios têm peso

de norma vinculante. Assim, o que ele chamava de “casos

difíceis”, que não têm resposta explícita na legislação, nem

na prática jurídica, podem ser resolvidos por meio de

princípios.

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O filósofo abordava principalmente os princípios

relacionados aos direitos fundamentais e individuais a

partir de uma dimensão moral e política. A igualdade é um

dos princípios considerados mais relevantes em sua teoria

e que também balizava muitos de seus posicionamentos

com relação a questões sociais.

A visão dele, pós-positivista, é de que existe, portanto,

direito fora da norma. Inclusive o direito que decorre dos

valores morais. E os valores morais ingressam no direito

pela porta dos princípios.

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O MÉTODO INTERPRETATIVO PROPOSTO POR DWORKIN

Dworkin não nega as inúmeras controvérsias existentes no seio da jurisprudência e da doutrina. Ao contrário, destaca que os juízes divergem, ao menos em boa parte dos casos, não apenas sobre questões fáticas – isto é, se algum fato ou evento relatado efetivamente ocorreu – mas também sobre qual o sentido das normas jurídicas.

Entretanto, mesmo reconhecendo as divergências quanto ao sentido das normas jurídicas, Dworkin pretende que, ao se aplicar o método interpretativo proposto por ele, possa-se conferir à norma jurídica um sentido mais consistente com a nossa prática jurídica, analisada em uma perspectiva ampla.

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Dworkin parte do pressuposto de que o direito é interpretativo, de maneira que os juízes devem decidir o que é o direito, interpretando-o. Assim, teorias gerais do direito são, na realidade, interpretações gerais de nossa própria prática judicial

É a integridade que, para Dworkin, explica melhor o que é o direito. Mas a integridade não se impõe por si mesma. Tanto as convicções a respeito da adequação quantos aquelas sobre a eqüidade, a justiça e o devido processo legal adjetivo, são conflitantes entre si.

Assim, o intérprete deve considerar esses conflitos e tentar tornar “o histórico legal da comunidade o melhor possível do ponto de vista da moral política”

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1-) Em seu livro Levando os Direitos a Sério, Ronald Dworkin cita o caso Riggs contra Palmer, em que um jovem matou o próprio avô para ficar com a herança. O Tribunal de Nova Iorque (em 1889) julga o caso considerando que a legislação do local e da época não previa o homicídio como causa de exclusão da sucessão. Para solucionar o caso, o Tribunal aplica o princípio, não legislado, do direito que diz que ninguém pode se beneficiar de sua própria iniquidade ou ilicitude. Assim, o assassino não recebeu sua herança. Com esse exemplo podemos concluir que a jusfilosofia de Ronald Dworkin, dentre outras coisas, pretende a) revelar que a responsabilidade sobre o maior ou menor grau de justiça de um ordenamento jurídico é responsabilidade exclusiva do legislador que deve se esforçar por produzir leis justas. b) mostrar como as cortes podem ser ativistas quando decidem com base em princípios e não com base na lei e que decidir assim fere o estado de direito. c) defender que regras e princípios são normas jurídicas que possuem as mesmas características e, por isso, ambos podem ser aplicados livremente pelos tribunais. d) argumentar que regras e princípios são normas com características distintas e em certos casos os princípios poderão justificar de forma mais razoável a decisão judicial, pois a tornam também moralmente aceitável.

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2-) Na Doutrina do Direito, Kant busca um conceito puramente racional e que possa explicar o direito independentemente da configuração específica de cada legislação. Mais precisamente, seria o direito entendido como expressão de uma razão pura prática, capaz de orientar a faculdade de agir de qualquer ser racional. Assinale a opção que contém, segundo Kant, essa lei universal do direito. a Age de tal maneira que uses a humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre e simultaneamente como fim, e nunca como meio. b Age exteriormente, de modo que o livre uso de teu arbítrio possa se conciliar com a liberdade de todos, segundo uma lei universal. c Age como se a máxima de tua ação se devesse tornar, pela tua vontade, lei universal da natureza. d Age de forma que conserves sempre a tua liberdade, ainda que tenhas de resistir à liberdade alheia.

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3-) O filósofo inglês Jeremy Bentham, em seu livro Uma introdução aos princípios da moral e da legislação, defendeu o princípio da utilidade como fundamento para a Moral e para o Direito. Para esse autor, o princípio da utilidade é aquele que a) estabelece que a moral e a lei devem ser obedecidas porque são úteis à coexistência humana na vida em sociedade. b) aprova ou desaprova qualquer ação, segundo a tendência que tem a aumentar ou diminuir a felicidade das pessoas cujos interesses estão em jogo. c) demonstra que o direito natural é superior ao direito positivo, pois, ao longo do tempo, revelou-se mais útil à tarefa de regular a convivência humana. d) afirma que a liberdade humana é o bem maior a ser protegido tanto pela moral quanto pelo direito, pois são a liberdade de pensamento e a ação que permitem às pessoas tornarem algo útil.

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4-) O jusfilósofo alemão Gustav Radbruch, após a II Guerra Mundial, escreve, como circular dirigida aos seus alunos de Heidelberg, seu texto “Cinco Minutos de Filosofia do Direito”, na qual afirma: “Esta concepção da lei e sua validade, a que chamamos Positivismo, foi a que deixou sem defesa o povo e os juristas contra as leis mais arbitrárias, mais cruéis e mais criminosas.” De acordo com a fórmula de Radbruch, a) embora as leis injustas sejam válidas e devam ser obedecidas, as leis extremamente injustas perderão a validade e o próprio caráter de jurídicas, sendo, portanto, dispensada sua obediência. b) apenas a lei justa pode ser considerada jurídica, pois a lei injusta não será direito. c) o direito é o mínimo ético de uma sociedade, de forma que qualquer lei injusta não será direito. d) o direito natural é uma concepção superior ao positivismo jurídico; por isso, a justiça deve sempre prevalecer sobre a segurança.

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5-) "Temos pois definido o justo e o injusto. Após distingui-los assim um do outro, é evidente que a ação justa é intermediária entre o agir injustamente e o ser vítima da injustiça; pois um deles é ter demais e o outro é ter demasiado pouco.” (Aristóteles. Ética a Nicômaco. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1973, p. 329.) De efeito, é correto concluir que para Aristóteles a justiça deve sempre ser entendida como a) produto da legalidade, pois o homem probo é o homem justo. b) espécie de meio termo. c) relação de igualdade aritmética. d) ação natural imutável.

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6-) Um sério problema com o qual o advogado pode se deparar ao lidar com o ordenamento jurídico é o das antinomias. Segundo Norberto Bobbio, em seu livro Teoria do Ordenamento Jurídico, são necessárias duas condições para que uma antinomia ocorra. Assinale a opção que, segundo o autor da obra em referência, apresenta tais condições: A) As duas normas em conflito devem pertencer ao mesmo ordenamento; as duas normas devem ter o mesmo âmbito de validade, seja temporal, espacial, pessoal ou material. B) Ambas as normas devem ter procedido da mesma autoridade legislativa; as duas normas em conflito não devem dispor sobre uma mesma matéria. C) Ocorre no âmbito do processo judicial quando há uma divergência entre a decisão de primeira instância e a decisão de segunda instância ou quando um tribunal superior de natureza federal confirma a decisão de segunda instância. D) As duas normas aplicáveis não apresentam uma solução satisfatória para o caso; as duas normas não podem ser integradas mediante recurso a analogia ou costumes.

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7-) A principal tese sustentada pelo paradigma do positivismo jurídico é a validade da norma jurídica, independentemente de um juízo moral que se possa fazer sobre o seu conteúdo. No entanto, um dos mais influentes filósofos do direito juspositivista, Herbert Hart, no seu pós-escrito ao livro O Conceito de Direito, sustenta a possibilidade de um positivismo brando, eventualmente chamado de positivismo inclusivo ou soft positivismo. Assinale a opção que apresenta, segundo o autor na obra em referência, o conceito de positivismo brando. A) O reconhecimento da existência de normas de direito natural e de que tais normas devem preceder às normas de direito positivo sempre que houver conflito entre elas. B) A jurisprudência deve ser considerada como fonte do direito da mesma forma que a lei, de maneira a produzir uma equivalência entre o sistema de common law ou de direito consuetudinário e sistema de civil law ou de direito romano-germânico. C) O positivismo brando ocorre no campo das ciências sociais, não possuindo, portanto, o mesmo rigor científico exigido no campo das ciências da natureza. D) A possibilidade de que a norma de reconhecimento de um ordenamento jurídico incorpore, como critério de validade jurídica, a obediência a princípios morais ou valores substantivos.

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8-) A partir da leitura de Aristóteles (Ética a Nicômaco), assinale a alternativa que corresponde à classificação de justiça constante do texto: “... uma espécie é a que se manifesta nas distribuições de honras, de dinheiro ou das outras coisas que são divididas entre aqueles que têm parte na constituição (pois aí é possível receber um quinhão igual ou desigual ao de um outro)...” a Justiça Natural. b Justiça Comutativa. c Justiça Corretiva. d Justiça Distributiva.