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Publicação da ACREFI – Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento
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Sinal de alerta Reforma do Judiciário
edição
87Jul
Responsabilidade socioambiental deve gerar ganhos no setor fi nanceiro
O economista Eduardo Giannetti da Fonseca diz que o atual cenário nos encaminha para uma deterioração e crise financeira
Acrefi apoia o lançamento da Estratégia
Nacional de Não Judicialização
168
26
46
26 Perfil Grupo Stefanini
34 Painel Cetip
36 Audi do Brasil
40 MIS
44 Livros
46 Graacc
51 Broa Golf Resort
54 Casa Mathilde
56 INEPAD Artigos 24 Rosi Vuolo (Itaú Unibanco)
29 Caetano de
Vasconcellos Neto (FGC)
30 Danyelle da Silva
Galvão (USP)
32 Juan Perez (Boa Vista Serviços)33 Aquiles Leonardo Diniz (Acrefi) 66 Nicola Tingas (Acrefi)
conteúdofinanceiro
Capa: foto Mário Bock
22 Responsabilidade socialAção socioambiental no sistema financeiro
18 Seminário AcrefiEvento discute lei anticorrupção e atuação do COAF
16 Reforma do JudiciárioGoverno lança estratégia para diminuir número de processos
8 Páginas azuisEduardo Giannetti da Fonseca diz que o atual modelo econômico pode nos colocar em crise
3julho 2014 financeiro
expediente
ISSN 1809-8843
Publicação da Acrefi – Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e InvestimentoRua Líbero Badaró, 425 – 28°andar – São Paulo – SP
Tel: (11) 3107-7177 fax: (11) 3106-6082 – www.acrefi.org.br
PresidenteÉrico Sodré Quirino Ferreira
Vice-presidentesAquiles Leonardo Diniz, Décio Carbonari de Almeida, Élcio Antonio Azevedo, Felicitas Renner, José Luiz Acar Pedro, Leonardo Marcondes Dadalto,
Luís Fernando Staub, Mauro Roberto Vasconcellos Gouvêa e Rubens Buttion
Diretor TesoureiroJosé Garcia Neto
Diretor SecretárioRenato Oliva
Diretores regionaisCarlos Alberto Samogim, Edmar Casalatina, Eliseu Colman, Leonardo Bortolini, Luis Eduardo da Costa Carvalho, Marcos Rosa, Paulo Dalla Nora,
Paulo Henrique Pentagna Guimarães e Sebastião Cunha
Diretores executivosAlexandre Teixeira, Claudio Messias Ferro, Deo Rozindo Filho, Gabriel José Gama Ferreira, Hilgo Gonçalves, João dos Santos Caritá Júnior e Ronaldo
Rondinelli
MontadorasEdson Froes, Edson Ueda, Eduardo Varella, Gunnar Murilo, Joelcyr Carmello e Nelson Aguiar
Diretores conselheirosJosé Carlos Alves, Ricardo Janini e Roberto Jabali
Conselho consultivoAlkindar de Toledo Ramos, Manoel de Oliveira Franco e Ricardo Malcon (membros natos); Décio Carbonari de Almeida, Flávio Antonio Meneghetti,
Gilson Finkelsztain, Ilídio Gonçalves dos Santos, Luiz Tavares, Miguel José Ribeiro de Oliveira e Rogério Pinto Coelho Amato (membros)
Conselho fiscalDomingos Spina e Sérgio Darcy (efetivos), Geraldo Lima Wandalsen e Marcus André de Oliveira (suplentes)
Diretor-superintendenteAntonio Augusto de Almeida Leite (Pancho)
ControllerCarlos Alberto Marcondes Machado
Consultora JurídicaLívia Esteves
Economista-chefeNicola Tingas
Assessoria contábilAG Silveira Contabilidade
Assessoria de imprensaTamer Comunicação Empresarial
Av. Brigadeiro Faria Lima, 1912, cj. 12b - Jardim Paulistano - São Paulo - SP Tel.: (55.11) 3031.2388 - CEP: 01451-000 – www.tamer.com.br
Publisher Sergio Tamer
Redação/Editores Theo Carnier e Gilberto de Almeida
Editor assistenteGustavo Girotto
RepórteresDébora Dias, Evandro Ribeiro, Geyse Alencar e Liliana Liberato
FotografiaGabriel Kosman, Mario Bock e Sonia Tamer
ArteMoacyr Mw e Rafael Pascoal
RevisorVicente dos Anjos
ImpressãoEskenazi Gráfica
4 financeiro julho 2014
Érico Sodré Quirino Ferreira,
Presidente da Acrefi
editorial
Não é mais possível ignorar o compliance.
A palavra está cada vez mais presente
no dia a dia das empresas, principal-
mente no mercado financeiro, mas ainda requer
explicações na maioria das vezes em que se fala
do assunto. O conceito é tão simples quanto impor-
tante para toda a sociedade. Compliance, como se
sabe, é uma palavra da língua inglesa que deriva do
verbo “to comply”, traduzido como cumprir, execu-
tar – ou seja, compliance é estar em conformidade
e fazer cumprir normas e leis. Surgiu no mercado
financeiro, como um programa que estabelecia o
cumprimento de leis referentes a práticas ban-
cárias, e se espalhou pelo mundo corporativo.Por
sua importância e abrangência, é importante que o
compliance se estenda para toda a sociedade, che-
gando à vida dos cidadãos. Seria o que poderíamos
chamar de compliance social, ou seja, o respeito às
normas escritas e principalmente às não escritas,
que poderiam tornar nossa vida melhor.
Se o conceito ganhar força, os brasileiros
passarão a respeitar o direito do próximo. Pode
parecer corriqueiro, mas trata-se de um passo
muito importante para todos nós que vivemos no
Brasil. Os exemplos do que essa postura significa
incluem pequenas coisas do dia a dia que, soma-
das, significariam uma convivência mais em linha
com os padrões de civilidade.
Quem não se irrita, por exemplo, quando
alguém “fura” uma fila, seja em um cartório, em
uma repartição pública ou no check-in de um
aeroporto? Não há o que justifique uma atitude
dessas, mas infelizmente ela continua sendo
mais frequente do que se deseja. É um desres-
peito ao direito do próximo, algo que contraria
frontalmente o compliance social.
Há mais, muito mais. O trânsito talvez seja a face
mais visível dessa necessidade de mudança de atitu-
de. Como sabemos por experiência própria, o trânsito
já é suficientemente difícil, mas muitos agem para
A hora do compliance social
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torná-lo ainda pior. Não é raro ser “cortado” por um outro motorista, ver carros
estacionados em locais proibidos, dificultando o tráfego, vagas destinadas a
deficientes indevidamente ocupadas nos estacionamentos, o uso do acostamento
como pista de alta velocidade em rodovias.
Também é comum ver motoristas parados em fila dupla, os que avan-
çam o sinal e “fecham” o cruzamento, aqueles que consideram que o uso da
seta do veículo é supérfluo... São atitudes que explicitam uma injustificável
falta de respeito aos direitos dos outros cidadãos e que transformam o que
já é irritante em algo insuportável.
Os idosos são outras vítimas da falta de compliance social. O desres-
peito e até a violência com que são tratados não só nas ruas mas principal-
mente em suas casas expõe as pessoas com mais idade a situações vexa-
minosas todos os dias. Sem contar que em locais que lhes são reservados
em ônibus, metrôs, e em vagas para estacionar, são ignorados como se
esse flagrante desrespeito fosse algo sem importância.
Até a cidadania é vítima da falta de compliance social. Não é raro ver pesso-
as que usam de uma criatividade perniciosa para inventar desculpas para não
votar – isso depois de o Brasil ter lutado por anos para ter de volta esse direito
básico da democracia. Outros recorrem aos despachantes para, de maneira indi-
reta, “furar” filas, sem pensar nos direitos dos outros cidadãos. E os cambistas
proliferam na porta de estádios de futebol e em casas de shows para fornecer
ingressos a preços extorsivos para aqueles que não estão preocupados em res-
peitar quem comprou os tíquetes regularmente.
Como se pode notar por esses exemplos, a adoção do compliance social
vai requerer tempo, porque envolve uma mudança cultural abrangente. Essa
realidade, no entanto, não pode induzir à postergação. Todos nós precisa-
mos (e merecemos) viver em uma sociedade melhor, em que não só nossos
direitos sejam respeitados mas também na qual respeitemos os direitos dos
outros. Agindo dessa forma todos sairão ganhando. O conceito de compliance
já demonstrou, na vida empresarial, sua importância e seu poder de provocar
guinadas em pouco tempo, que tornaram muito melhor o ambiente de negócios.
Por que não reproduzi-lo e torná-lo abrangente para toda a sociedade? f
5julho 2014 financeiro
nossasassociadas
ACFI - Aymoré Crédito, Financiamento e Investimento S.A.
Agiplan Financeira S.A. CFI
Banco A.J. Renner S.A.
Banco Bonsucesso S.A.
Banco Bradesco Financiamentos S.A.
Banco Cacique S.A.
Banco Carrefour S.A.
Banco Cifra S.A.
Banco Citibank S.A.
Banco Citicard S.A.
Banco CNH Capital
Banco Daycoval S.A.
Banco De Lage Landen Financial Services Brasil S.A.
Banco do Brasil S.A.
Banco Ficsa S.A.
Banco Fidis S.A.
Banco Gerador S.A.
Banco GMAC S.A.
Banco Honda S.A.
Banco Intermedium S.A.
Banco Itaú S.A.
Banco Itaucard S.A.
Banco Panamericano S.A.
Banco PSA Finance Brasil S.A.Banco Rodobens S.A.
Banco Safra S.A.
Banco Santander Brasil S.A.
Banco Semear S.A.
Banco Toyota do Brasil S.A.
Banco Volkswagen S.A.
Banco Yamaha Motor do Brasil S.A.
Banif Banco Internacional do Funchal (Brasil) S.A.
BMW Financeira S.A. CFI
BV Financeira S.A. - Crédito, Financiamento e Investimento
Caixa Econômica Federal
Caruana S.A. Sociedade de Crédito Financiamento e Investimento
Cetelem Brasil S.A - Crédito, Financiamento e Investimento
Cred Capixaba S/A Soc. Crédito, Financiamento e Investimento
Dacasa Financeira S.A. - Socied. de Crédito, Financiamento e Investimento
Finamax S.A. - Crédito, Financiamento e Investimento
Financeira Alfa S.A. - Crédito, Financiamento e Investimentos
Financeira BRB
Herval Financeira S.A. CFI
HSBC Bank Brasil S.A. Banco Múltiplo
Kredilig S/A Crédito, Financiamento e Investimento
Lecca Crédito, Financiamento e Investimento S.A. Mercantil do Brasil Financeira S.A. - Crédito, Financiamento e Investimentos
Midway S.A. - Crédito, Financiamento e Investimento
Múltipla CFI S/A
Omni S.A. - Crédito, Financiamento e Investimento
Parati Crédito Financiamento e Investimento S.A.
Pernambucanas Financiadora S.A. - Crédito, Financiamento e Investimento
Portocred S.A. - Crédito, Financiamento e Investimento
Portoseg S.A. - Crédito, Financiamento e Investimento
Santana S.A. - Crédito, Financiamento e Investimento
Sax S.A. Crédito, Financiamento e Investimento
Socinal S.A. Crédito, Financiamento e Investimento
Sorocred Crédito, Financiamento e Investimento S.A.
Sul Financeira S.A. - Crédito, Financiamento e Investimento
6 financeiro julho 2014
Por Theo Carnier e Gustavo Girotto
Fotos: Mário Bock
entrevistadomês
Em entrevista à Financeiro, o economista Eduardo Giannetti da Fonseca afirma que a repetição do atual modelo econômico pode nos colocar em crise
Dois pesos, uma medida
Em um apartamento na Vila Madalena, bairro boêmio de
São Paulo, habita Eduardo Giannetti da Fonseca, formado
pela USP, com doutorado em Cambridge. Responsável pela
orientação econômica do presidenciável Eduardo Campos (PSB) e
Marina Silva, Giannetti prevê futuros problemas, caso seja man-
tido o atual modelo econômico. “Estamos caminhando para uma
deterioração e crise futura. Essa matriz fracassou”, asseverou.
O arsenal de críticas de Giannetti vai além: “O governo Dilma
deve terminar seu mandato com crescimento em torno de 2%
ao ano, em média, que é um dos mais baixos da era republicana.
Apenas dois governos, Floriano Peixoto e Collor de Mello, tiveram
médias de crescimento inferiores”.
Calmo e analítico, Giannetti é preciso em suas respostas sobre
o cenário brasileiro e alerta: “Uma vez reeleita, Dilma pode dobrar
o tamanho da aposta que fizeram no seu primeiro mandato. Esse
segundo cenário nos encaminha rapidamente para uma crise
financeira, com fuga de capital, o que vai impor outra solução e
outra mudança de rota. Eu espero que o Brasil não precise chegar
a isso”. Confira a entrevista: RF – Olhando em perspectiva a economia, a impressão é que os
indicadores não andam como se gostaria: inflação alta, arrefeci-
mento do consumo, crescimento tímido. O que o senhor acredita
que precisa ser feito?
Giannetti – A economia brasileira apresenta hoje um quadro
muito preocupante, que é uma combinação pouco usual de bai-
xo crescimento crônico com inflação em alta. O governo Dilma
deve terminar seu mandato com crescimento em torno de 2%
ao ano, em média, que é um dos mais baixos da era republica-
na. Apenas dois governos, Floriano Peixoto e Collor de Mello,
tiveram médias de crescimento inferiores. E olha que o nosso
sistema de metas já estabelece um centro muito elevado, de
4,5%, com grande tolerância, e mesmo assim a inflação persis-
tentemente está tocando no teto – e às vezes até ultrapassan-
do como deve ocorrer este ano – e pior, com preços represados
que estão artificialmente rebaixando a taxa de inflação. Con-
fesso que não esperava ver isso em minha vida profissional
como economista brasileiro, mas infelizmente nós recaímos
nesse vício de controle de preço com finalidade de política an-
ti-inflacionária. Coisa que sabidamente não dá certo!
RF – Os relatórios econômicos apontam que o País crescerá no
8 financeiro julho 2014
máximo 2% até 2015. O senhor concorda?
Giannetti – Este ano vai ser menos e
estou dizendo que a taxa média do man-
dato será em torno de 2%, talvez até um
pouco menos porque em 2014 deverá ficar
em torno de 1,2% ou, no máximo, 1,5%. O
terceiro elemento ou componente, desse
quadro preocupante, é o déficit em conta-
-corrente brasileiro. Nós estamos hoje
com esse déficit próximo de 3,5% do PIB,
o que significa que o Brasil precisa anual-
mente de mais de US$ 80 bilhões para fe-
char suas contas externas. Voltamos a ter
uma posição de vulnerabilidade por que,
se mudar o humor do mundo em relação
ao Brasil, ou acontecer alguma outra coisa
importante e os capitais não afluírem para
cá, nós vamos ter um constrangimento de
déficit em conta-corrente que deverá ser
financiado com as reservas.
RF – O que isso significa, na prática?
Giannetti – O curioso é que essas três
coisas não costumam andar juntas. Se
você está com crescimento tão baixo, a in-
flação deveria estar comportada. Se você
tem déficit em conta-corrente tão elevado
– deveria estar crescendo bastante – isso
é um investimento a mais que o Brasil po-
deria fazer. É uma poupança externa que o
Brasil está recebendo do resto do mundo,
e que deveria se somar ao esforço inter-
no de mobilização de poupança e inves-
timento. Então, mesmo com esse aporte
adicional de 3,5% do PIB, que é o déficit
em conta-corrente, a economia não cresce e o nível de investi-
mento continua muito reduzido. O Brasil realmente apresenta um
quadro de macroeconomia ruim.
RF – Essa economia ruim tem impacto na próxima eleição?
Giannetti – Eu acho que, provavelmente, o tempo não permitirá
que essa realidade seja filtrada para um conjunto da sociedade.
RF – Ainda há manutenção do emprego, certo?
Giannetti – O desemprego, por várias razões, ainda está se
mantendo baixo. O nível de renda real continua se sustentando,
parou de crescer, mas também não caiu. E ainda há um sentimen-
to favorável junto a boa parte da população do período anterior de
crescimento com inclusão social. Agora o Brasil está vivendo uma
forte reversão de expectativas, para quem é mais informado e
acompanha mais os temas econômicos. A
percepção é que essa reversão, com fun-
damentos reais, já está cristalizada.Mas
para o conjunto do eleitorado brasileiro,
no entanto, eu acho que ainda não chega-
ram a extensão e a gravidade dessa situ-
ação. Entendo que o desemprego é uma
questão de tempo para começar a subir
porque, com esse quadro, especialmente
de recessão na indústria, as demissões
são inevitáveis.
RF – Isso caso não ocorra uma mudança
de modelo?
Giannetti – Sim, mas este ano já deve
ter algum efeito, porque a situação na in-
dústria brasileira está muito séria.
RF – O Brasil tem um dos maiores juros
do mundo. O que precisamos fazer para
sair desse patamar?
Giannetti – Essa chamada nova matriz
macroeconômica fez uma aposta na ideia
de que uma redução forçada de juros,
um câmbio administrado e de incentivos
ao setor privado, feitos caso a caso, com
estímulos na demanda, seriam os compo-
nentes necessários para o Brasil manter
aquele movimento de crescimento que
vinha se desenhando ainda durante os
governos Lula. Um dos componentes des-
sa nova matriz foi uma tentativa artificial
de baixar juros no grito, e que se mostrou
completamente equivocado. Aliás, o go-
verno Dilma é pautado por paradoxos.
RF – Em que sentido?
Giannetti – É um governo de perfil estatizante que conseguiu
arrebentar as duas principais estatais brasileiras: a Petrobras e
a Eletrobras, com intervenções de mãos muito pesadas. Ele é um
governo que tinha na redução dos juros a sua principal bandei-
ra, sua principal conquista. Ele vai ser o primeiro governo, desde
a mudança do regime cambial, a entregar com juros maiores do
que recebeu. E um governo que se propôs, ao ser eleito, acelerar
o crescimento, vai entregar a menor taxa de crescimento da era
republicana, em um mandato completo.
RF – Seja lá qual for o próximo governo, pelo que está apontan-
do, sofrerá grandes dificuldades já no começo?
Giannetti – Não vai ser uma herança tranquila. Agora, é preciso
“Dilma deve terminar seu
mandato com crescimento em torno de
2% ao ano, em média, que é um dos mais baixos da era
republicana”
9julho 2014 financeiro
entrevistadomês
lembrar que o Brasil, em passado recente, já fez ajustamentos
macroeconômicos não muito diferentes do que precisará ser feito
agora. O Fernando Henrique, quando houve a mudança do regime
cambial, precisou fazer um ajuste de razoável proporção fiscal,
monetário e de mudança sistemática de política econômica. E o
governo Lula, quando eleito pela primeira vez, herdou também
uma situação de enorme turbulência e incerteza. Interessante no-
tar é que, nos dois casos, depois de um período de ajustamento de
dois trimestres, três trimestres, a economia já estava novamente
em movimento ascendente. Então a capacidade de reação e de re-
cuperação brasileira também é algo que não se pode subestimar.
O que pode atenuar bastante o custo dessas medidas corretivas
que terão que ser tomadas, se o Brasil quiser recuperar uma boa
perspectiva. É o choque de confiança que a mudança instantane-
amente provocará e que, provavelmente, levará a uma valoriza-
ção dos ativos brasileiros. É um quadro muito inusitado em que a
ameaça não é a oposição, mas a situação.
RF – A bolsa sobe quando a presidente Dilma piora nas pesqui-
sas eleitorais.
Giannetti – Basta o rumor de que a pesquisa virá para que os
ativos brasileiros melhorem. Tem um ‘upside’, para usar o jargão
do mercado financeiro, de uma perspectiva de vitória da oposição,
que é esse choque de confiança que atenua um pouco o custo ine-
vitável dessa mudança de regime, mudança corretiva. Agora não
pode deixar de ser dito que o custo de fazer a correção é muito
menor do que o custo de não fazer, a única diferença é como se
distribui no tempo: os custos e os benefícios.
RF – É possível, ao mesmo tempo, melhorar a situação da Petro-
bras e jogar a inflação para a meta?
Giannetti – Acho que a questão dos preços administrados tem
que ser tratada com muita firmeza e de maneira transparente,
a partir do início. O que não pode é o Brasil voltar a controlar a
inflação represando os preços. Tenho defendido que isso tem que
ser feito instantaneamente e de forma plena.
RF – Quer dizer, reajustaria todos os preços de uma vez?
Giannetti – Imediatamente. Por que se você não fizer isso, con-
tinua realimentando as expectativas de inflação mais alta no fu-
turo e isso complica muito a volta do Brasil ao centro da meta.
RF – Enfraquecemos institucionalmente no mercando interna-
cional devido às nossas opções?
Giannetti – Tem uma questão de equívoco estratégico em políti-
ca comercial e tem a questão do custo Brasil. É muito caro produ-
zir no Brasil. Estamos deixando muito a desejar no quesito compe-
titividade, o custo de produção em dólar no Brasil é extremamente
elevado. Vamos ter que trabalhar muito, tanto na política comer-
cial quanto no estabelecimento de condições mais competitivas,
tornando o Brasil mais atraente para o investimento direto estran-
geiro voltado para integração das cadeias mundiais de produção.
RF – A impressão é que o Brasil, nos últimos anos, só piorou no
mercado internacional. Em que ponto estamos errando?
Giannetti – Política comercial é um capítulo muito importante,
um enredo desse declínio brasileiro no mundo.
RF – O senhor acha que piorou?
Giannetti – A política comercial está equivocada há muito tem-
po, mas o Lula no primeiro mandato, pelo menos na macroeco-
nomia e na microeconomia, estava no caminho correto. Eu con-
sidero de boa qualidade o primeiro mandato do Lula. As coisas
começaram a piorar na política no segundo mandato e, de forma
mais acentuada, no governo Dilma, que optou na macroeconomia
pela chamada nova matriz e, na microeconomia, pelo microge-
renciamento, que é um retrocesso ao modelo do regime militar.
Esse microgerenciamento criou uma enorme incerteza quanto às
regras do jogo para o funcionamento de diferentes mercados no
Brasil. Esse é um dos fatores que levaram a uma retração do in-
vestimento. O quadro mais preocupante hoje no Brasil é que, em
pleno dividendo demográfico, como nós estamos ainda, o Brasil
está investindo 18% do PIB, sendo que 3,5% do PIB é o déficit em
conta-corrente. É realmente muito sério para uma nação que está
em pleno dividendo demográfico.
RF – Diante de tantos gargalos na economia, que pontos o próxi-
mo governo deve atacar inicialmente?
Giannetti – A primeira tarefa, na minha visão, vai ser corrigir
os desequilíbrios e distorções que vieram se acumulando nos
últimos anos. Restaurar a política macroeconômica com credibi-
lidade para que a inflação convirja para o centro da meta, redefi-
nir os termos da macroeconomia, ou seja, austeridade fiscal com
superávit primário transparente e no nível adequado para manter
a dívida pública em trajetória declinante, compromisso da política
“Dou minhas opiniões quando sou chamado a fazê-lo. Não tenho nenhuma pretensão e não vou ter cargo executivo”
10 financeiro julho 2014
monetária com cumprimento do centro da meta e com realismo
tarifário, e o modelo de câmbio flutuante com intervenções ape-
nas para evitar excessiva volatilidade e não para dar qualquer
garantia de que há um câmbio com o qual o Brasil vai ter que
conviver independentemente do mercado. Na microeconomia,
será preciso desmontar esse microgerenciamento adotado pelo
governo Dilma, quando passou a usar muito agressivamente o
BNDES, a atender pleitos empresariais para proteção tarifária e
a fazer mudanças no regime tributário para atender caso a caso.
RF – Isso não é uma tarefa simples, correto?
Giannetti – Não vai ser uma tarefa simples desmontar os gru-
pos de interesse que se formaram em torno dessas medidas. É
importante restabelecer, o que eu chamo em filosofia de horizon-
talidade, que é o papel do governo em melhorar o ambiente de
negócios e adotar medidas que permitam os mercados funciona-
rem de forma melhor para que o próprio mercado possa eleger
com base em critérios de eficiência, inovação e produtividade as
empresas que vão crescer. E não o governo tomar essa decisão
elegendo campeões nacionais ou coisas do gênero.
RF – O senhor é um dos formuladores do plano econômico dos
candidatos do PSB, Eduardo Campos e Marina Silva, isso está no
escopo?
Giannetti – Sou uma voz em um time de pessoas que colabo-
ram e expresso minha opinião, quando digo realmente o que pen-
so. Não estou aqui fazendo nenhum tipo de calibragem do meu
pensamento para atender expectativas ou exigências eleitorais.
RF – Mas o senhor faz parte desse time?
Giannetti – Dou minhas opiniões quando sou chamado a fazê-
-lo. Não tenho nenhuma pretensão e não vou ter cargo executivo.
RF – E se for convidado?Giannetti – Isso está fora. Não tenho perfil, não tenho vontade
e não me preparei para ter cargos executivos. Não tenho nem o
know-how executivo, eu passei minha vida toda pesquisando, es-
tudando, escrevendo.
RF – Supondo que Eduardo Campos vença as eleições e lhe con-
vide para ser o presidente do Banco Central ou Ministro da Fazen-
da, o senhor não aceitaria?
Giannetti – Não, eu não me vejo nisso e não tenho esse tipo de
ambição. Eu tenho outras ambições na vida, mas essa não é par-
te do meu sistema motivacional. Creio que posso colaborar com
ideias e, eventualmente, até na seleção de pessoas que possam
ocupar cargos com competência maior do que a minha.
RF – A Marina, nos últimos dias, tem manifestado posição con-
trária ao apoio de Eduardo Campos em prol do candidato ao go-
verno do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin. Até que ponto
isso dificulta, em caso de vitória, a implementação de programas
idealizados pela candidata. Há grupos paralelos?
Giannetti – Não há na área econômica essas divergências que
se manifestam em termos de alianças estaduais, são campos
bem separados. O que a Marina defende é que o Brasil precisa,
ou que o governo brasileiro e os políticos brasileiros precisam
alterar a maneira de governar o País, não com acordos circuns-
tanciais e casuísticos visando a benefícios eleitorais e, sim, com
base em alianças calcadas em ideias, programas e propostas de
governo. É uma nova lógica, uma nova governabilidade que ela
está propondo e, muitas vezes, as pressões políticas em Estados
encaminham a aliança para acordos eleitorais que não são coe-
rentes para essa nova governabilidade, em nome da qual a alian-
ça nacionalmente se apresenta. Aí é que está o conflito!
RF – Não há conflito em relação aos planos práticos, ou seja, o
alinhamento do pensamento econômico é uniforme. O Eduardo
Campos também lhe consulta, como a Marina?
Giannetti – Você nunca vai encontrar em economia total una-
nimidade. Fizemos oficinas de discussão de política econômica,
os dois participaram, e estamos caminhando para construir uma
visão integrada do que é nossa proposta.
RF – É que nas últimas eleições sua figura esteve presente ao
lado da Marina, inclusive nos debates eleitorais. Ficará da mesma
forma ou ele (Eduardo Campos) tem alguém próximo?
Giannetti – Não sei, estamos com uma equipe boa, temos pes-
soas competentes contribuindo em diferentes áreas e é um movi-
mento em construção, não uma coisa acabada. Agora é difícil você
encontrar unanimidade em economia.
RF – O senhor acha que o impacto da atual crise política terá
influência na capacidade futura de julgamento eleitoral?Giannetti – O movimento de insatisfação na sociedade brasi-
11julho 2014 financeiro
entrevistadomês
leira ficou explicitado de maneira muito eloquente nas manifes-
tações de junho. Há um desencanto com política no Brasil, o que
é uma coisa muito grave. A juventude, principalmente, está muito
desapontada com a falta de representatividade dos quadros de
governantes do Brasil.
RF – Em caso de uma reeleição, o senhor acredita em mudança
de plano econômico pela presidente Dilma Rousseff?
Giannetti – Tenho dois cenários claros na minha cabeça sobre
uma eventual vitória do status quo. Um cenário eu chamo de cur-
va de aprendizado, um reconhecimento de que equívocos foram
cometidos no primeiro mandato, mas já há um esboço de corre-
ção de rotas em algumas áreas da política econômica dos últimos
meses. O segundo cenário que vislumbro
é de aposta redobrada, ou seja, se essas
medidas envergonhadamente corretivas
tomadas agora foram apenas para evitar
maior turbulência no período pré-eleito-
ral. Uma vez reeleita, ela pode dobrar o
tamanho da aposta que fez no primeiro
mandato. Esse segundo cenário nos enca-
minha rapidamente para uma crise finan-
ceira, com fuga de capital, o que vai impor
outra solução e outra mudança de rota.
RF – O senhor acha que teremos mesmo
uma crise econômica? E de que dimensão?
Giannetti – Depende do cenário. Se vier
a aposta redobrada – e muito do discurso
da candidata Dilma e do Lula está indican-
do pelo menos na campanha que é esse o
cenário mais provável –, acredito que va-
mos caminhar para uma crise financeira.
É uma argentinização seguida de uma cri-
se financeira. Teríamos uma forte desvalorização da moeda, uma
saída de capitais – o Brasil tem déficit em conta-corrente e está
vulnerável –, então o ajuste vai se impor.
RF – Há sobre a sua mesa o livro “O Capital no Século 21”, do
economista francês Thomas Piketty, em que se retrata que a de-
sigualdade põe a democracia em cheque. O senhor concorda com
essa análise?
Giannetti – Eu defendo a igualdade de oportunidades. Eu acho
que a dimensão relevante da igualdade são condições minima-
mente igualitárias para que os indivíduos possam desenvolver
seu potencial plenamente. Não acho que a igualdade de resulta-
dos seja sequer desejável, porque as pessoas são diferentes, têm
valores diferentes, e nem todas elas estão interessadas em medir
sua vida com base em uma métrica econômico-financeira, ainda
bem. O que é injustificável e intolerável são as desigualdades nas
condições iniciais, na partida, nas dotações iniciais. O Brasil tem
que corrigir muitas distorções herdadas de séculos de deforma-
ção que condenam o indivíduo a um padrão de vida pelo simples
fato de ter nascido em uma determinada condição social, e isso é
o que acho absolutamente intolerável.
RF – O que seria um novo modelo ideal?
Giannetti – A economia de mercado é compatível com qualquer
distribuição de renda, desde que você altere as dotações iniciais.
RF – Essa não é bandeira empunhada pelo atual governo, que se
sobressai pela distribuição de renda?
Giannetti – Esse movimento é muito bom para o Brasil, a redu-
ção da desigualdade social. Nós estamos
apenas começando e ainda somos um dos
países mais desiguais do mundo. E a di-
mensão que mais me preocupa na desi-
gualdade é que as pessoas nascem com
oportunidades muito desequilibradas no
Brasil, e é aí que tem que avançar. É falta
de saneamento básico, de saúde, de edu-
cação, de condições de transporte. Tem
uma questão muita séria também que é a
falta de estrutura familiar para quem vem
ao mundo e não encontra suporte da famí-
lia. Isso perpetua a desigualdade.
RF – O senhor acredita que o Brasil me-
lhorou nos últimos 12 anos?
Giannetti – Eu acho que o Brasil teve um
momento de extraordinária maturidade. O
momento mais belo que eu considero da
democracia recente foi a transição do se-
gundo Fernando Henrique para o primeiro
Lula. Nós conseguimos fazer isso como ninguém jamais imaginaria.
RF – Ou seja, o primeiro mandato de Lula foi bom?
Giannetti – A primeira gestão do Lula e o ministério que ele
montou foram de excelente qualidade. Infelizmente, a partir do
mensalão, isso começou a se perder. A queda do ministro Antô-
nio Palocci e sua equipe também foi um episódio que deteriorou
a qualidade técnica da gestão econômica no Brasil. E o governo
Dilma, lamentavelmente, foi um aprofundamento do pior da ges-
tão Lula. Nós vamos ter que voltar ao bom momento que estava
sendo construído no segundo mandato Fernando Henrique e no
primeiro período do Lula, não com medidas iguais, mas com espí-
rito daquilo que vinha sendo construído e era bom para o Brasil.
RF – A ruptura de diálogo com o empresariado da presidente
Dilma também prejudica, não é?
“O momento mais belo que eu considero da democracia recente foi a transição do segundo FHC para o primeiro Lula“
12 financeiro julho 2014
Giannetti – Há uma centralização muito forte, uma postura um
pouco, eu diria, impositiva. A maneira como foi feita a mudança
no setor elétrico, por exemplo, foi de mão muito pesada. Isso
num setor crítico para o futuro do Brasil. Em uma medida ape-
nas, eles destruíram dezenas de bilhões de reais de patrimônio,
num setor carente de investimentos. Gerou uma enorme incer-
teza regulatória e o Brasil está agora com essa crise preocupan-
te, de possível racionamento no ano que vem. A disjuntiva hoje é
racionalizar agora ou racionar depois, com a probabilidade alta
de racionar depois.
RF – O que está ligado também ao investimento em infraestrutu-
ra, olhar a matriz energética.
Giannetti – O governo Dilma demorou muito para começar a se
mexer na direção correta nas concessões, primeiro por um blo-
queio, não tem outro nome, ideológico, depois por uma falta de
tino, de qualidade mesmo, no desenho das regras, do marco re-
gulatório. E agora, é parte daquele cenário de curva de aprendiza-
do, parece que estão entendendo como é que as coisas precisam
acontecer para que o investimento venha. Mas no caso de portos
e no caso de ferrovias ainda não foi feito.
RF – O senhor falou de credibilidade e a gente vê muita preo-
cupação do mercado financeiro e principalmente do agronegócio
em relação à Marina Silva.
Giannetti – Acho que existe muito ruído em relação à posição
da Marina diante do agronegócio. Ninguém pode ser contra o
agronegócio e a Marina certamente não é. O que ela enfatiza é
que há o bom agronegócio e que há também o agronegócio que
precisa ser disciplinado, porque adota práticas ruins de gestão
do patrimônio ambiental brasileiro. Agora, o Brasil tem vocação
global de fornecedor, com méritos competitivos, de alimentos, de
commodities agrícolas em geral e temos que aumentar a nossa
produtividade e ir fundo nesse caminho. Mas tendo a responsabi-
lidade ambiental.
RF – O Brasil tem também soja, que a China
tanto consome.
Giannetti – A nova classe média asiática
vai demandar alimentos que o Brasil pode
fornecer. E o Brasil tem que estar prepara-
do para fazer isso de uma forma sustentá-
vel. Não existirá agronegócio no Meio Oeste
brasileiro se não tiver a floresta amazônica,
porque o regime pluviométrico que permite
ao agronegócio existir está ligado ao serviço
ambiental prestado pelo bioma amazônico.
RF – Mas, como seria essa gestão?
Giannetti – Tenho insistido em separar
duas questões. Uma é o teor da legislação, que vai estabelecer o
nível de exigência requerido na administração dos recursos am-
bientais no século 21. Aí é o Código Florestal, as medidas ligadas
ao impacto ambiental de diferentes projetos de investimento, mas
são questões ligadas ao teor da legislação ambiental. Eu chamo
isso de altura da régua. Outra coisa, muito diferente, é: uma vez
estabelecida a altura da régua, quais vão ser os procedimentos
para a autorização e o licenciamento dos diferentes projetos de
investimento. E aí o Brasil tem muito a avançar, pode ser muito
mais rápido, muito mais confiável, estabelecendo muito maior
confiança jurídica. A ideia é que para o empresário é importante
saber rapidamente o que pode e o que não pode.
RF – Esse discurso vai na direção correta. Mas a Marina, ainda
assusta o empresário, principalmente o do agronegócio.
Giannetti – Acho que há muito ruído. Você tem razão ao falar
sobre essa resistência. Estive outro dia falando para empresários
da cadeia da soja e senti uma animosidade até desses empresá-
rios em relação à Marina. Não consigo entender a origem disso.
Tenho certeza de que há muito ruído também. É um mal-entendi-
do, até certo ponto é um mal-entendido. Acho que tem de conver-
sar, tem de abrir um canal de comunicação. Dizer que a Marina é
contra o agronegócio não se sustenta porque ela não é contra o
agronegócio. Assim como não é contra a hidroeletricidade. Nin-
guém pode ser contra a hidroeletricidade num país como o Brasil.
RF – Quais as novidades da proposta de Eduardo/Marina?
Giannetti – A proposta da aliança Eduardo/Marina vai trazer
para um primeiro plano das políticas brasileiras dois valores
que não foram até hoje devidamente contemplados, que são a
educação e o meio ambiente. É nisso que se traduz nossa ideia
de sustentabilidade. Não há futuro generoso para a nação bra-
sileira se não dermos para a educação e para o meio ambiente
uma centralidade nas pautas de política pública muito maior
do que foi dada até hoje. E nisso nos diferenciamos do outro
candidato de oposição.
RF – O próximo governo terá que enfrentar
a questão dos acordos com partidos no Con-
gresso e isso pode ser um entrave.
Giannetti – Aí entra o tema da governabili-
dade. Eduardo e Marina estão propondo sair
do governo de coalizão para um presiden-
cialismo de programa. Política é negociação.
A questão é negociação com base em quê?
Como tem sido praticado no Brasil hoje, é ne-
gociação com base em loteamento do Estado,
para obter apoio circunstancial no Congres-
so. Isso foi levado ao limite e é a razão maior,
talvez, do descrédito da política no Brasil.
13julho 2014 financeiro
entrevistadomês
RF – Como essa mudança seria colocada em prática?
Giannetti – Seria chamar, por exemplo, Lula e Fernando Henri-
que para discutir e chegar a um termo de ação comum em torno
de propostas de inclusão social, de equilíbrio macroeconômico.
E deixar de governar com as velhas forças da política brasileira.
RF – O senhor acha que é possível adotar essa estratégia?
Giannetti – Acho que tem de ser tentado, tem que ser construí-
do. Mas é para isso que a democracia existe. A nossa democracia,
lamentavelmente, está completamente desfigurada pelo abuso
dessa prática de negociação espúria.
RF – Há, por exemplo, um excesso de ministérios.
Giannetti – São 39 ministérios, inoperantes. Mas esse proble-
ma não é só no Executivo, não. É nas agências reguladoras, é na
gestão dos fundos de pensão das estatais, é nas estatais. O Es-
tado brasileiro está loteado. E isso prejudica muito a eficiência,
a eficácia, das políticas públicas e o direcionamento das ações
dentro do governo. Tem que romper com isso. Essa é uma grande
novidade da aliança Eduardo/Marina. É virar uma página de um
modelo que fracassou. As forças da velha política serão jogadas
para a oposição e as forças da nova política, ligadas ao Fernan-
do Henrique e ao Lula, serão chamadas a compartilhar ações em
torno de propostas que interessam de fato a todos.
RF – É uma guinada e tanto, não?
Giannetti – É, mas a democracia existe para que isso possa
acontecer. Se acontece em outras democracias maduras, não vejo
nenhuma razão intransponível para que não possa ocorrer tam-
bém no Brasil. Possivelmente uma reforma política possa ajudar
a construir esse modelo de governabilidade. O que está claro e
me parece inquestionável é que não dá para continuar nesse ca-
minho que estamos, porque ele se esgotou.
RF – Como o senhor se identificou com Marina Silva?
Giannetti – Já trabalhamos na eleição de 2010. Quem nos apro-
ximou foi o Guilherme Leal (empresário e copresidente do Conselho
de Administração da Natura). E fiquei muito impressionado com o
compromisso ético da Marina. Acho que é um tipo de liderança raro
em qualquer lugar do mundo. Um líder que se afirma não com base
em grupos de interesse, ou sindicato, ou estrutura partidária ou fi-
nanciamento. Mas que se afirma, sim, pela sua postura e pela sua
firmeza em defender princípios ligados a uma visão ética da vida.
Achei e sempre vou achar muito importante a presença de uma figu-
ra de liderança pública, como a Marina, no cenário brasileiro.
RF – A aliança com Eduardo Campos não enfraquece Marina?
Giannetti – Ela foi impedida de criar um partido político, de uma
forma truculenta. E ela se aliou ao Eduardo Campos em uma ten-
tativa de oferecer ao Brasil algo que ultrapasse essa polarização
PT-PSDB, da qual o eleitorado está cansado.
RF – Marina poderia ser a segunda presidente do Brasil?
Giannetti – Acho que ela é a candidata natural.
RF – A Marina não apoiou nem a Dilma nem o Serra no segundo
turno da eleição passada.
Giannetti – Apesar de uma enorme a pressão.
RF – A Marina se posicionou como uma terceira via, o que con-
quistou uma grande parte do eleitorado, que representa os 21%
que ela tem nas pesquisas. Quando ela fez a aliança com Eduardo
levou a pensar até que ponto essa aliança não a enfraquece.
Giannetti – Enfraqueceria muito mais se ela saísse completa-
mente do cenário político. Foi a posição que a opção que ela fez e
é um trabalho que está em construção.
RF – A proposta de chamar antigos presidentes e equipes para
conversar é muito complicada. O Fernando Henrique não seria
problema, já que ele aceitaria sem problemas sentar para con-
versar. O Lula até poderia dizer que sim, mas compor com o PT
é muito complicado, até pelo projeto de poder. Mas vocês, caso
ganhem as eleições, vão chamá-los ao diálogo, não é?
Giannetti – É, seria chamá-los com base no que eles represen-
tam, e seria baseado em propostas. Seria perguntar a eles assim:
“PT, vocês têm interesse em avançar na inclusão social? Temos
uma agenda de políticas sociais que consideramos interessan-
tes e que podem, inclusive, ser aprimoradas. Por que não juntar
forças para que essa agenda seja efetivamente implementada?” RF – E com o PSDB, como seria?
14 financeiro julho 2014
Giannetti – Da mesma forma. Seria chegar para o PSDB e di-
zer, em relação ao equilíbrio macroeconômico, que é um valor
central: “PSDB, nós temos interesse em estabelecer um equilí-
brio permanente, em bases duradouras, inclusive com aprimo-
ramento institucional. Vamos conversar sobre uma ação conjun-
ta com base nessas propostas?”
RF – A base seria o famoso tripé de política econômica?
Giannetti – Na macroeconomia, sem dúvida: austeridade fiscal,
Banco Central independente para cumprir o centro da meta e câmbio
flutuante. É o que vinha funcionando bem no Brasil e que se perdeu
no governo Dilma. As três pernas do tripé estão muito fragilizadas.
RF – E os outros partidos?
Giannetti – A tentativa será chamar os bons quadros dos par-
tidos onde quer que eles estejam. Bons quadros no sentido de
pessoas compromissadas com a melhoria da vida brasileira.
RF – Quais são, na sua avaliação, as chances de essa estratégia
ter sucesso?
Giannetti – Ninguém vai dizer que tem certeza de que dá para
fazer dessa forma. Não dá para dizer isso. Mas acho também que
ninguém pode dizer que não se deve tentar. A democracia existe
para que isso possa ser buscado e possa ser feito.
RF – O Armínio Fraga, presidente do BC no governo FHC, foi mui-
to atacado por ter se posicionado em relação ao salário mínimo.
Giannetti – O Flávio Giambiaggi (economista), em recente artigo
publicado na imprensa, matou a charada em relação ao salário
mínimo: dos benefícios previdenciários vinculados ao salário mí-
nimo, só 1% vai para os 10% mais pobres da população. Estamos
fazendo uma péssima política social atrelando os benefícios pre-
videnciários ao reajuste do salário mínimo. Por que não focar os
ganhos de renda real nos 10% mais pobres da população? Está
cheio de gente no Brasil com o benefício previdenciário de um
salário mínimo que não é pobre e que não vive disso.
RF – Qual é a sua avaliação sobre o salário mínimo?
Giannetti – O salário mínimo tem três coisas importantes: é um
piso salarial para o setor privado, é um indexador de benefícios pre-
videnciários e – coisa que é menos falada – também reajusta salá-
rios de funcionários públicos, especialmente em âmbito municipal.
O aumento do salário mínimo quebrou os municípios. Então esse
assunto de salário mínimo precisa ser discutido com muito mais
detalhe na sua particularidade do que dizer “sou a favor ou contra”.
RF – E o Bolsa Família?
Giannetti – O Bolsa Família deve ser alavanca, e não muleta.
RF – Qual é a sua avaliação sobre a carga tributária?
Giannetti – A carga tributária é totalmente desproporcional. É
um problema gravíssimo. Estamos com uma carga tributária de
36% do PIB e um déficit nominal de 3% do PIB. Ou seja, 40% da
renda brasileira transita pelo setor público. Tem duas coisas nes-
se assunto: uma coisa é o desenho da carga tributária, outra coisa
é seu tamanho. São dois problemas de primeiríssima ordem. Mas
só para completar o raciocínio, 40% da renda nacional transita
pelo setor público. E pergunto: qual é o investimento em forma-
ção bruta de capital fixo do Estado brasileiro? É 2,5% do PIB. Tem
algo de profundamente errado nas finanças públicas brasileiras.
RF – E há ainda outros problemas sérios...
Giannetti – O capital humano, a qualidade dos programas de
formação de recursos humanos e de saúde pública é deplorável.
E 40% da renda brasileira está sendo intermediada pelo Estado
brasileiro. Só o subsídio implícito no crédito subsidiado do BNDES
supera o volume do Bolsa Família.
RF – Uma situação grave, da qual pouco se fala.
Giannetti – E os empréstimos subsidiados do BNDES estão
concentrados em um grupo restrito de empresários. Ou seja, o
Estado brasileiro transfere mais recursos da sociedade para um
grupo seleto de parceiros empresariais, o “Bolsa BNDES”, do que
transfere para 40 milhões de pessoas no Bolsa Família. Essa
comparação é feita por um próprio técnico do governo, que é o
Mansueto Almeida. O Bolsa Família representa 0,5% do PIB e o
subsídio do BNDES é 0,6% do PIB. E esse governo posa de “amigo
do pobre”. E cria um clima de medo, de “nós contra eles”.
RF – Qual seria, na sua avaliação, a probabilidade de a aliança
Eduardo/Marina apoiar a presidente Dilma no segundo turno?
Giannetti – O governo prefere concorrer com o PSDB, que é
considerado como o “freguês” deles. Mas o apoio da aliança para
a Dilma é impossível. Não acredito nisso. O Eduardo Campos saiu
do governo, “queimou a ponte”, não tem como. f
“O Bolsa Família deve ser alavanca, e não muleta”
15julho 2014 fINANCEIRo
Soluções mais rápidas
O Ministério da Justiça lançou no dia 2 de
julho a Estratégia Nacional de Não Judi-
cialização (Enajud). Na primeira etapa da
cerimônia de lançamento, uma portaria intermi-
nisterial foi assinada pelos ministros José Eduar-
do Martins Cardozo, da Justiça, Garibaldi Alves Fi-
lho, da Previdência Social, e Luís Inácio Adams, da
Advocacia-Geral da União (AGU). Na segunda parte
Ministério da Justiça lança
estratégia para diminuir
número de processos
judiciais
da solenidade, um acordo de cooperação técnica
foi assinado entre o Ministério da Justiça, entida-
des de representação e empresas.
Por parte das empresas, elas se comprome-
teram a adotar métodos alternativos para solução
de conflitos com os contribuintes, consumidores e
clientes, em uma tentativa de reduzir os 92 milhões
de processos que atualmente tramitam na Justiça.
reformadojudiciário
Érico Ferreira, presidente da Acrefi; José Eduardo Martins Cardozo, ministro da Justiça, e Flávio Crocce
Caetano, secretário de Reforma do Judiciário
16 financeiro julho 2014
Da esq. para a dir.: Murilo Portugal, presidente da FEBRABAN; Luis Carlos Trabuco, presidente da CNF; Érico Ferreira, presidente da Acrefi; Alexandre Gluher, diretor vice-presidente do Bradesco, e Marco Antonio Rossi, presidente da CNSeg
A Enajud foi instituída pelo Ministério
da Justiça, pela Advocacia-Geral da União
e pelo Ministério da Previdência Social,
com a colaboração do Conselho Nacional
do Ministério Público. A Ordem dos Advo-
gados do Brasil (OAB) e a Defensoria Pú-
blica da União (DPU) firmaram o termo de
cooperação. A Enajud tem como objetivo
evitar que cheguem ao judiciário conflitos
que podem ser solucionados por meios al-
ternativos. De acordo com o Secretário de
Reforma do Judiciário, Flávio Crocce Ca-
etano, cerca de 95% das demandas judi-
ciais envolvem o setor público, os bancos
e as empresas de telecomunicações.
Das instituições financeiras, que re-
presentam 38% das ações na Justiça,
Acrefi, CNF, FEBRABAN, Banco do Bra-
sil, Caixa Econômica Federal, Unibanco e
Bradesco assinaram o acordo. Vivo, TIM,
Claro e Brasil Telecom são as empresas
de telefonia que aderiram à nova solu-
ção. As teles são responsáveis por 6%
das ações. “A Enajud é um grande reco-
nhecimento não só das empresas, mas
também do governo, de que o trabalho
COMO FuNCIONA – A mediação, a con-
ciliação e a negociação são algumas das
alternativas propostas pela Enajud. A
mediação é o método pelo qual duas ou
mais pessoas, envolvidas em um conflito
potencial ou real, recorrem a um terceiro,
que irá facilitar o diálogo entre elas, para
que se chegue a um acordo.
Na conciliação, as partes sub-
metem seu conflito à administração
de um terceiro imparcial, o concilia-
dor, que aproxima as partes, formu-
la propostas de acordo e aponta as
vantagens de cada ponto sugerido
pelas partes. Na negociação, não se
recorre a um terceiro. As próprias
partes solucionam, conjuntamente,
os problemas. Sem formalidades, as
partes fazem concessões recíprocas,
barganham e compõem seus inte-
resses, buscando a solução que me-
lhor lhes convenha.
A LEI – O artigo 4° do Código de De-
fesa do Consumidor tem por objetivo
atender a alguns princípios, entre eles
a “harmonização dos interesses dos
participantes das relações de consu-
mo e compatibilização da proteção do
consumidor com a necessidade de de-
senvolvimento econômico e tecnológi-
co, de modo a viabilizar os princípios
nos quais se funda a ordem econômi-
ca (art. 170, da Constituição Federal),
sempre com base na boa-fé e equilí-
brio nas relações entre consumidores
e fornecedores”.
Foto
s: Is
aac
Am
orim
/AG
:MJ
conjunto dos parceiros da atividade eco-
nômica pode ajudar a melhorar o País. Eu
diria que a Enajud representa uma con-
quista”, afirma Vitor Moraes de Andrade,
presidente da ABRAREC – Associação
Brasileira das Relações Empresa-Cliente.
Os termos de cooperação visam o
desenvolvimento de estratégias conjun-
tas. “Cada um desses segmentos vai fi-
xar metas e ações anuais, que vão ser
avaliadas por meio de um plano bienal. A
cada três meses faremos um monitora-
mento com a participação de todos para
analisar se as metas estão sendo atingi-
das ou não. É um compromisso público
e ético assumido pelas empresas. Esse
acordo melhora a imagem institucional e
o consumidor passa a ter mais confiança
na empresa”, explica Caetano.
A prática da mediação é utilizada
com sucesso em países como Argentina
e Itália, que obtêm alto índice de êxito. A
Enajud tem como meta promover solu-
ções mais rápidas aos cidadãos, evitar
gastos elevados por parte das empresas
e diminuir as despesas públicas. “O nos-
so trabalho é voltado a garantir o acesso
à justiça e aprimorar a proteção aos di-
reitos fundamentais previstos na Cons-
tituição Federal”, diz Flávio Caetano. f
17julho 2014 financeiro
18 financeiro julho 2014
De olho na realidade jurídica
A Lei Anticorrupção, o trabalho do Conselho
Nacional de Justiça (CNJ), a reforma do Ju-
diciário e a atuação do COAF (Conselho de
Controle das Atividades Financeiras) foram os temas
abordados durante o 6º Seminário Jurídico Acrefi, re-
alizado no dia 22 de maio em Brasília. Palestras de
especialistas e de autoridades mostraram aos execu-
tivos presentes ao encontro detalhes desses assuntos
de grande importância para o sistema financeiro.
Ao falar no seminário sobre a Lei Anticorrupção,
a especialista Danyelle da Silva Galvão, mestra em
Direito Processual Penal pela Faculdade de Direito
da USP, lembrou que a legislação tem apenas nove
páginas, mas trata de temas importantes: “A Lei
12.846 é positiva e foi adotada no Brasil também
em consequência de pressões de países desenvol-
vidos. Estabelece a responsabilização objetiva para
pessoas jurídicas que estiverem envolvidas em atos
de corrupção, independentemente da consumação
desses atos. Também define que a empresa pode ter
responsabilidade diminuída se tiver implantado uma
política de compliance.”
Outros pontos da lei lembrados por Danyelle Gal-
vão foram a possibilidade de responsabilizar também
as pessoas físicas – desde que comprovado dolo ou
culpa – e o acordo de leniência. Este ponto, no entanto,
gerou incerteza: “Existe um movimento do Ministério
Público para saber como será feito esse acordo”.
A responsabilização também tem provocado
questionamentos, segundo a especialista: “É pre-
ciso saber como será a prova da responsabilização
e como será apurada. E a lei não prevê a possibili-
dade de recurso”.
Danyelle Galvão disse ainda que existe a neces-
sidade de regulamentar o processo administrativo.
Nesse ponto, segundo ela, o município de São Paulo
tomou a iniciativa e no dia 14 de maio explicitou como
será o acordo de leniência, em pontos não detalha-
dos pela Lei 12.846, como detalhes sobre as provas,
ouvir testemunhas, e se cabe recurso no caso de
multa: “A cidade de São Paulo ficou, com essa inicia-
tiva, muito à frente do Poder Executivo federal, ao ser
explícita em relação a esses pontos”.
Ela considera fundamental que se estabeleçam
os efeitos da lei no âmbito criminal e garante que a
regulamentação é imprescindível para que os limites
da investigação sejam estabelecidos.
A palestrante informou também que fez um levan-
tamento e constatou: aconteceram 200 operações po-
liciais de porte desde 2013 e grande parte delas foi de
combate à corrupção. Houve também um crescimento
de 132% em prisões relacionadas à corrupção.
Em seguida, Carl Olav Smith, juiz auxiliar da
presidência do Conselho Nacional de Justiça, falou
no 6º Seminário Jurídico Acrefi sobre a atuação do
CNJ: “Muitos consideram que somos apenas um ór-
gão fiscalizador, mas vamos além – tratamos tam-
bém da administração pública e do planejamento do
Judiciário, entre outras atribuições. Temos que ser
o órgão centralizador do Poder Judiciário como um
todo, o que depende de um trabalho de articulação
com outras entidades”.
Para cumprir suas tarefas, informou Carl Olav
Smith, o CNJ busca utilizar a tecnologia. É o caso dos
mandados de prisão: “Antigamente era necessário
consultar os 27 Estados da Federação para saber se
podia ser feita a liberação. Para mudar essa situação
foi desenvolvido um aplicativo que informa se existe
algum mandado contra a pessoa, ou seja, a informa-
ção tornou-se bem mais rápida”.
eventoDF
Seminário da Acrefi, em Brasília, discute a
Lei Anticorrupção, a reforma do Judiciário,
o trabalho do CNJ e a atuação do COAF
19julho 2014 financeiro
Danyelle da Silva Galvão, mestra em Direito Processual Penal pela Faculdade de Direito da USP
Carl Olav Smith, juiz auxiliar da presidência do
Conselho Nacional de Justiça
De olho na realidade jurídicaà população, mais rápido e com menos processos a
julgar. De acordo com o palestrante, é preciso tornar
os processos judiciais mais rápidos, valorizando a
primeira e a segunda instâncias, além de inovar na
gestão com a adoção do processo eletrônico, que já
reduz os prazos em cerca de 60%.
Carl Smith informou também que o CNJ tem
atuado para agilizar os processos judiciais e citou
como exemplo o Renajud, ferramenta eletrônica
que interliga o Judiciário e o Denatran (Departa-
mento Nacional de Trânsito), possibilitando a efeti-
vação em tempo real de ordens judiciais de restri-
ção de veículos. Ele lembrou que o CNJ desenvolveu
o PJe (Processo Judicial Eletrônico), para permitir a
prática de atos processuais e o acompanhamento
do processo, independentemente da tramitação na
Justiça dos Estados, na Justiça Militar dos Estados
ou na Justiça do Trabalho.
A adoção do PJe – afirmou Carl Smith – é vanta-
josa também porque o sistema utiliza somente com-
ponentes públicos, “o que reduz o custo com equipa-
mentos de armazenamento e com o sistema, além
de ser uma aplicação de internet que, como tal, pode
ser acessada em qualquer local do Brasil”.
Por sua vez, Flávio Crocce Caetano, secretário
nacional de Reforma do Judiciário, falou durante o
6º Seminário Jurídico Acrefi sobre as medidas a se-
rem tomadas para tornar o Judiciário mais acessível
Quanto à gestão, Flávio Crocce Caetano recordou
que há mais de 92 milhões de processos no Brasil,
o que significa que cada juiz julga 1.400 processos
por ano. Para reduzir esse problema, ele propõe a
criação de carreiras de apoio aos juízes, que possam,
entre outras funções, administrar as audiências. O
palestrante considera fundamental também mudar a
cultura jurídica do País, adotando-se o consenso em
vez do conflito: “Pesquisa da Fundação Getúlio Var-
gas mostrou que 89% dos entrevistados preferem
fazer acordo e que 43% são a favor da conciliação.
Está claro que é possível optar pela conciliação.”
O especialista lembrou que a Secretaria de Re-
forma do Judiciário existe há dez anos e que entre as
ações adotadas pelo órgão estão: a Lei da Mediação;
20 fINANCEIRo julho 2014
Antonio Gustavo Rodrigues, presidente do COAF
Flávio Crocce Caetano, secretário de Reforma do Judiciário
Enajud (Estratégia Nacional de Não Judicialização),
que tem a Acrefi entre suas parceiras; Casa de Di-
reitos; Justiça Comunitária; Atlas da Justiça; e Escola
Nacional de Mediação e Conciliação.
O secretário nacional de Reforma do Judiciário
destacou os pontos positivos da Lei da Mediação para
as partes do processo, incluindo: a inexistência de cus-
tas judiciais quando houver acordo durante o processo;
soluções mais satisfatórias para as partes; possibili-
dade de discussão de vários aspectos relacionados ao
conflito; e participação ativa das partes. Para a socieda-
de, de acordo com o palestrante, os benefícios da Lei de
Mediação incluem: o efeito pedagógico, com o incentivo
ao diálogo; o andamento mais rápido dos processos; e
a diminuição de casos no Poder Judiciário.
Flávio Crocce Caetano informou também em sua
palestra que a Lei de Mediação estabelece que podem
atuar como mediadores pessoas que tenham se gra-
duado há dois anos ou mais; tenham nível superior
completo em qualquer curso; façam o curso de me-
diador; e tenham cadastro obrigatório para serem me-
diadores judiciais, sob controle dos tribunais.
Ele lembrou que a mediação faz sucesso em
países vizinhos, como a Argentina, em que o índice
de êxito das mediações é de 43%, e que a implanta-
ção do sistema no Brasil tem tudo para ser um su-
cesso. “Estamos com o vento a favor no País. Todos
querem a mediação”, concluiu Caetano.
Já Antonio Gustavo Rodrigues, presidente do
COAF (Conselho de Controle de Atividades Financei-
ras), disse em sua palestra no evento da Acrefi que
a prevenção à lavagem de dinheiro abrange muitas
eventoDF
vezes situações que não são ilegais, mas sim sus-
peitas: “Tratamos muitas vezes de fatos que causam
estranheza, embora sejam legais. Pagar um imóvel
em dinheiro vivo, por exemplo, não é ilegal, mas cha-
ma a atenção”.
Rodrigues disse que o COAF recebeu 1,286 mi-
lhão de comunicações sobre suspeitas de irregulari-
dades em 2013 e que até maio de 2014 esse número
chegou a 413 mil: “Esse crescimento foi incentivado
e é positivo, embora persista o problema relacionado
à qualidade dessas comunicações”.
O presidente do COAF explicou que a entidade
criou um sistema de avaliação das comunicações, e
que 92,4% dos casos receberam nota 3 ou inferior (o
que significa que a qualidade das comunicações não
é satisfatória): “Prevalece a tese de que, na dúvida,
comunica-se o COAF. Essa não é uma postura con-
denável, mas ao mesmo tempo é preciso aprimorar
a qualidade das informações que nos são enviadas,
em busca do aprimoramento do sistema”.
Entre as iniciativas do COAF para melhorar esse
quadro, Antonio Gustavo Rodrigues citou os Relató-
rios de Inteligência Financeira, que somaram 2.450
no ano passado. Além disso, o órgão tem ampliado
sua ação em segmentos como cartórios, juntas co-
merciais, sorteios e loterias e até um grupo formado
por profissionais e empresas de intermediação de
atletas e artistas. Esse trabalho, segundo ele, não
pode ser confundido com fiscalização: “É importante
lembrar que o COAF é parceiro do sistema financeiro
e não tem entre suas atribuições a fiscalização. Essa
é uma responsabilidade do Banco Central”. f
NOVO
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Atenção redobradaEvento realizado pela Acrefi sobre responsabilidade socioambiental no sistema financeiro deve gerar ganhos importantes para evolução do setor
responsabilidadesocial
22 financeiro julho 2014
Um amplo processo de disseminação do
conceito de sustentabilidade e melhores
práticas de gestão socioambiental nas
instituições financeiras trazem ganhos importan-
tes para a evolução do setor. Essa foi a proposta
apresentada pela Acrefi no evento “Resolução
4.327 – Responsabilidade Socioambiental no Sis-
tema Financeiro”, realizado dia 26 de junho no Ho-
tel Renaissance, em São Paulo.
Antonio Marcos Fonte Guimarães, assessor ple-
no do Banco Central do Brasil, enfatizou que o com-
promisso permanente das organizações em adotar
um comportamento ético contribui para o desen-
volvimento econômico, melhorando a qualidade de
vida dos empregados e da sociedade. “Essa é uma
discussão em âmbito nacional e internacional de
longa data e a política de responsabilidade socio-
ambiental, na qual publicamos uma norma quali-
tativa, transfere a responsabilidade para que cada
instituição conheça seu negócio. O aspecto de sua
adoção traz ganhos para o sistema”, pontuou.
Para ele, é preciso mudar o paradigma não so-
mente na forma como as instituições investem na
Responsabilidade Socioambiental, mas como ga-
nham pelos recursos investidos. “É importante in-
corporar isso em sua conduta do dia a dia, pois se
trata de uma prática ética”, enfatizou Guimarães.
Como exemplos práticos de benefícios, o es-
pecialista citou o microcrédito, operações em que
instituições especializadas emprestam pequenas
quantias de dinheiro para empreendedores, e o
Crédito de Carbono, no qual países ou empresas
que conseguem reduzir suas emissões abaixo das
metas do Protocolo de Kyoto geram créditos por
essa redução excedente. “Um problema socioam-
biental, dependendo da estrutura da instituição,
pode comprometer não só em dano de imagem,
mas também em risco de operação do negócio”,
alertou Guimarães.
Rômulo Sampaio, sócio do Escritório Reis &
Sampaio e docente na FGV-RJ, relatou que o tema
de responsabilidade civil e ambiental, depois de
alguns acórdãos do Supremo Tribunal Federal
(STJ), ganhou atenção permanente das institui-
ções financeiras. “Ainda há falhas no sistema de
prevenção devido ao excesso de agências regula-
tórias, embora o Brasil esteja avançado na regu-
lação. O marco legal está um pouco atrasado, e o
interessante seria ter uma lei que tratasse dessa
participação das instituições financeiras para dar
Antonio Marcos Fonte Guimarães, assessor do Banco Central do Brasil
Rômulo Sampaio,sócio do Escritório Reis & Sampaio
Gustavo José Marrone de Castro Sampaio, diretor de Autorregulação da FEBRABAN
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23julho 2014 financeiro
mais robustez a essa regulação recente do Banco
Central. Autorregulamentação e compliance vo-
luntária melhorariam essas iniciativas”, analisou.
Sampaio citou um exemplo de um caminhonei-
ro que transportava uma carga irregular de ma-
deira no Estado de Minas Gerais e, quando apre-
endido, a responsabilidade objetiva inicialmente
recaiu sobre uma instituição financeira, uma vez
que fez o leasing do veículo. “Quando isso aconte-
ce, o que temos é um cenário de caos. Precisamos
fazer um trabalho amplo de conscientização sobre
o tema. O caso foi rechaçado pelo poder judiciário,
uma vez que não se pode imputar esse dever de
cuidado a uma financeira, mas é importante um
marco regulatório para corrigir esse tipo de dis-
torção”, avaliou o advogado.
Segundo Gustavo José Marrone de Castro Sam-
paio, diretor de Autorregulação da FEBRABAN, a enti-
dade olha com atenção para o tema desde o momen-
to em que o Banco Central (BC) soltou uma regulação
intitulada ‘Edital de Consulta Pública 41/2012’. “Te-
mos um corpo técnico na entidade que entende a
importância da regularização de medidas socioam-
bientais em todo o sistema financeiro e, ativamente,
trabalha a questão com os nossos membros – sendo
composta por 19 instituições que concentram 95%
das carteiras de pessoa física”, explicou.
Marrone disse que a autorregularão na FEBRA-
BAN é voluntária, ou seja, quem quiser receber um
selo de reconhecimento deve aderir ao programa.
“Elas passam a ser monitoradas e acompanhadas
sobre essas atividades internas, dentro de suas
ações de funcionamento. A estratégia é definir um
patamar mínimo de procedimentos, evitando dis-
paridade e, com auxílio técnico, evitar prejuízos nas
instituições. Políticas de riscos socioambientais
também foram criadas para minimizar os riscos
em financiamentos a projetos que possam impactar
tanto o meio ambiente quanto a sociedade, evitando-
-se, assim, embates no campo jurídico”, finalizou. f
O Conselho Monetário Nacional (CMN) apro-
vou, em 25/4/14, a resolução 4.327 es-
tabelecendo diretrizes que devem ser
observadas na implementação da Política de Respon-
sabilidade Socioambiental (PRSA) pelas instituições
financeiras e demais instituições autorizadas a fun-
cionar pelo Banco Central.
Parte do princípio de que as instituições financei-
ras devem demonstrar como consideram os riscos
socioambientais no processo de gerenciamento das
diversas modalidades de risco a que estão expostas.
É o resultado de ampla discussão com a so-
ciedade, iniciada em 2011 e depois da divulgação
de edital de audiência pública durante a Confe-
rência das Nações Unidas para o Desenvolvimen-
to Sustentável (Rio+20).
Estabelece que, para a implementação da PRSA,
as instituições financeiras devem pautar as suas
ações de natureza socioambiental de acordo com as
seguintes diretrizes e critérios gerais, entre outros:
1) Sistemas, rotinas e procedimentos que possibi-
litem identificar, classificar, avaliar, monitorar, mitigar
e controlar o risco socioambiental presente nas ativi-
dades e nas operações da instituição; e
2) Avaliação prévia dos potenciais impactos
socioambientais negativos de novas modalidades
de produtos e serviços, inclusive em relação ao
risco de reputação.
Permite-se que tais políticas sejam aplicadas de
forma equilibrada e diferenciada pelas instituições
financeiras e demais instituições autorizadas a fun-
cionar pelo Banco Central, levando-se em conta os
diferentes perfis de negócios, estimulando-se a redu-
ção de riscos ao sistema financeiro, sem que sejam
gerados custos adicionais ao tomador de crédito final.
A política deve tratar da governança da
PRSA, inclusive para fins do gerenciamento do
risco socioambiental.
Está previsto prazo para que seja aprovada a
PRSA, e iniciada a execução do respectivo plano de
ação, conforme o seguinte cronograma:
1) Até 28 de fevereiro de 2015, por parte das ins-
tituições obrigadas a implementar o Processo Interno
de Avaliação da Adequação de Capital (Icaap), confor-
me regulamentação em vigor; e
2) Até 31 de julho de 2015, pelas demais ins-
tituições.
A norma agrega a variável socioambiental à tradi-
cional abordagem econômico-financeira das institui-
ções e inclui o gerenciamento do risco socioambiental
em suas atividades, serviços e produtos financeiros.
As unidades de gerenciamento de risco das insti-
tuições financeiras terão, agora, de se adequar à nova
regulamentação, designando diretor responsável pela
PRSA, bem como estabelecendo, de forma facultativa,
comitê de responsabilidade socioambiental para mo-
nitorar e avaliar o seu cumprimento.
A resolução traz a incorporação do tema no dia a
dia das instituições financeiras e ganha repercussão
na medida em que cada vez mais são instados por
órgãos de controle, a exemplo do Ministério Público.
A não observância dos preceitos ditados pela
nova norma poderá trazer consequências que
não se restringirão a eventual responsabilidade
civil por dano ambiental (lembrando que ela é de
natureza objetiva), mas poderão acarretar prejuí-
zo aos maiores patrimônios das instituições, que
são sua imagem e sua reputação. f
Responsabilidade socioambiental das instituições
financeirasPor Rosi Vuolo
sustentabilidade
Rosi Vuolo, especialista em Controles Internos e Compliance do Itaú Unibanco
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envi
ado
em 1
0/6/
2014
24 financeiro julho 2014
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ção
Marco Stefanini, CEO global do Gru-
po Stefanini, é uma pessoa que não
perde o foco e muito menos o fio da
meada. Ao retomar a entrevista que concedeu à
Financeiro, depois de interrompê-la para atender
à chamada de um ministro, o empresário engatou
a conversa exatamente do mesmo ponto que ha-
via parado antes de pedir licença para se ausen-
tar por alguns minutos. Essa sua capacidade de
concentração, aliada ao seu perfil empreendedor,
certamente contribuiu para o sucesso do Grupo
Stefanini, uma multinacional brasileira que está
Foto
: Gab
riel
Kos
man
perfilcorporativo
Fundado há 27 anos por Marco Stefanini, o Grupo Stefanini é uma multinacional brasileira, presente em 33 países, e ranqueada entre as 100 maiores empresas de TI do mundo, com faturamento anual de R$ 2,11 bilhões
entre as 100 maiores empresas de TI do mundo,
segundo levantamento da BBC News. “Aqui, como
na vida, 80% é transpiração e 20% inspiração”,
diz Stefanini, que há 27 anos conduz o grupo que
conta com mais de 17 mil funcionários e fatura-
mento anual de R$ 2,11 bilhões, sendo 40% desse
valor gerado por negócios no exterior.
O grande salto, no entanto, aconteceu a partir
de 2010, quando o grupo acelerou sua expansão,
aliando ao crescimento orgânico a aquisição de al-
gumas empresas. “Junto com esses investimentos
veio um processo de globalização mais intenso.
Exemplo nacional
26 financeiro julho 2014
Há quatro anos, o faturamento das operações in-
ternacionais correspondia a 15% do volume total.
Hoje, esse valor equivale a 40% dos rendimentos
do grupo e já temos mais de 8 mil funcionários que
atuam fora do Brasil, conta Stefanini.
Entre as aquisições feitas pelo grupo, uma das
mais significativas foi a Orbitall, em 2011, empre-
sa de soluções de tecnologia para cartões de cré-
dito, fundada em 2000 pela Credicard. “No setor de
tecnologia, a oferta de serviços se transforma ra-
pidamente em commodities. Então, o empresário
só tem uma saída: investir e crescer. Caso contrá-
rio, estará morto”, alerta Stefanini.
“Há oito anos, o mercado brasileiro
era formado por um número maior
de empresas e éramos apenas a
terceira ou a quarta força do setor.
Hoje, ficamos praticamente sozi-
nhos”, lembra o empreendedor. Mes-
mo estando presente em 33 países,
o Grupo Stefanini ainda é visto nas
concorrências globais como algo
exótico diante dos gigantes norte-
-americanos e europeus de TI.
Segundo Marco Stefanini, o fato
de o grupo continuar a ser nacional
tem tudo a ver com o sonho de cons-
truir. “Para mim, o empreendedor
tem que ser uma pessoa realista,
de pé no chão, mas, por outro lado,
com forte componente de sonho. É
preciso misturar realidade e utopia
para construir algo diferente”, diz o
empresário. “Sempre gostei de de-
safio, de viajar, conhecer o mundo.
Para você tocar um projeto de glo-
balização é preciso ter uma visão
de longo prazo. São necessário 10,
15 anos para se ter retorno.”
Para auxiliar na administração
dos negócios, o grupo está dividido
em quatro núcleos: Brasil; América
Latina, sem o Brasil; Europa, Amé-
rica do Norte e Ásia; e a Orbitall,
sendo cada um deles administrado por um líder.
No caso da Orbitall, o cargo de diretor-geral é
ocupado por Marcos Monteiro. Os administrado-
res têm um grau de autonomia bastante grande,
o que reduz bastante as minhas viagens. Mas eu
continuo viajando porque gosto de estar próximo
dos clientes, conta Stefanini.
Sobre seu investimento voltado para a Orbi-
tall, ele planeja aplicar R$ 150 milhões nos pró-
ximos anos para renovação e melhoria do parque
tecnológico. Os recursos já foram direcionados
para a contratação de um novo data center e a
27julho 2014 financeiro
Marcos Monteiro, diretor geral da Orbitall
atualização das plataformas de processamento
da empresa. Segundo Marcos Monteiro, a Orbitall
pretende tornar-se a maior processadora inde-
pendente de meios de pagamento do mercado
brasileiro. “Isso nos permite oferecer soluções
integradas, que agreguem valor e resultados aos
negócios dos clientes, melhorando a eficiência
e reduzindo os custos” detalha Monteiro. Entre
seus serviços estão benefícios relacionados a
cartão de crédito, cobrança, mesa de crédito, me-
canismo antifraude, atendimento, etc.
“Os bancos, que antes olhavam com cer-
ta desconfiança os serviços terceirizados, hoje
estão se abrindo, buscando maior eficiência,
rapidez e menor custo nos processos”, garante
Stefanini. No entanto, em tecnologia é sempre
importante correr em busca dos avanços. Além
disso, não se pode desperdiçar tempo nem ra-
ciocínio. Com vários negócios distribuídos em
diversas regiões, sempre se tem a sensação de
alguma coisa ter ficado para trás. É preciso man-
ter o equilíbrio diário dos pratinhos. Alguns che-
gam a cair, mas os principais continuam girando,
ensina Marco Stefanini, que mesmo já medindo
forças com os líderes mundiais, ainda chega a
trabalhar 14 horas por dia. f
GRuPO STEFANINI
Fundação: 27 anos
Faturamento: 2,11 bilhões,
40% gerados no exterior
Presença global: 33 países
Funcionários: 17 mil, 8 mil fora do Brasil
Com sua sede no Jardim Adalgiza, zona oeste
de São Paulo, o Instituto Stefanini é voltado para
a formação educativa e profissional de adoles-
centes a partir de 16 anos e adultos. Por meio
do programa Educar para Crescer, eles recebem
aulas de informática, cursos administrativos, ofi-
cinas culturais de teatro, canto e violão. Conheça
os projetos do instituto:
Inclusão Digital – Cursos regulares nas
áreas de tecnologia, que permitem ao aluno
desenvolver novas habilidades e conhecimen-
tos para sua inclusão ou recolocação no mer-
cado de trabalho.
Oficina de Geração de Renda – Iniciativa que
visa buscar alternativas para a sustentabilidade do
Instituto Stefanini, como também incentivar e de-
senvolver no aluno práticas de empreendedorismo.
A oficina de artesanato é uma das ações que pro-
porcionam uma alternativa de renda aos alunos.
Banco de Oportunidades – Iniciativa vol-
tada à captação de vagas em aberto nas em-
presas do Grupo Stefanini, como também em
clientes e fornecedores. As empresas parcei-
ras em busca de profissionais qualificados in-
formam as vagas em aberto e o perfil exigido
do candidato.
Projeto Escola – Iniciativa que deu origem
à entidade. Anualmente, a instituição seleciona
projetos oriundos de escolas públicas que apre-
sentem iniciativas inovadoras voltadas à melho-
ria nos ensinos infantil, fundamental e médio.
RESPONSABILIDADE SOCIAL
perfilcorporativo
28 financeiro julho 2014
Na trilha do amadurecimento do ambiente
econômico, em meados dos anos 90, sur-
gia no Brasil a necessidade de se criar
mecanismos que garantissem a confiança no sis-
tema financeiro. Como nos lembra o passado mais
remoto, alguns bancos não resistiram à conjuntura
sem inflação e quebraram. Naquele contexto, era
premente estabelecer uma estrutura que resgatas-
se a sensação de segurança dos depositantes e, por
tabela, consolidasse os ganhos advindos da estabi-
lidade monetária.
A materialização dessa preocupação se tradu-
zia na adoção de instrumentos adicionais de acom-
panhamento e a consequente formação de redes
para proteção dos poupadores. Empréstimos de
última instância, regulação eficaz, fiscalização efi-
ciente, estrutura legal adequada e proteção direta
a depositantes por meio de um mecanismo garan-
tidor sempre foram componentes dessa rede, cujo
objetivo é único: a manutenção de um sistema ban-
cário sólido, saudável e, sobretudo, confiável aos
olhos do público em geral.
O Fundo Garantidor de Créditos (FGC) nasceu,
em 1995, com essa missão e dois objetivos clara-
mente definidos: o primeiro, proteger a poupança
popular. Hoje, o FGC protege 99,7% dos depositan-
tes do País até o limite de R$ 250 mil por CPF ou
CNPJ e por instituição financeira. O segundo obje-
tivo era assegurar a confiança no sistema bancário
pós-Plano Real – vale lembrar a implantação do
Proer, também em 1995, voltado ao saneamento
dos bancos privados, que garantiu ao Brasil um dos
menores custos de crise bancária da história eco-
nômica mundial.
Em 20 anos de atuação, o FGC fortaleceu con-
sideravelmente suas reservas, cortou para menos
da metade o valor das contribuições dos bancos,
aumentou por mais de uma vez o limite da garantia
prestada, além de ter desempenhado importante
redesdeproteção
O FGC e as garantias aos depositantesPor Caetano de Vasconcellos Neto
Caetano de Vasconcellos Neto,
diretor jurídico do FGC
papel na crise financeira que eclodiu em 2008.
O FGC deixava, naquele momento, de ser ape-
nas uma “caixa pagadora” aos depositantes de
bancos quebrados para exercer também um papel
proativo, contribuindo para a liquidez e a solidez do
sistema e, com isso, para evitar corridas bancárias
e seus graves efeitos sobre a economia.
Não obstante sua natureza de direito privado,
constituído sob a forma de associação civil sem fins
lucrativos, não se pode ignorar que o FGC exerce
função de interesse público. Seria equivocado
atribuir ao fundo, por exemplo, a responsabi-
lidade de “instância de socorro” de gestores
qualificados e remunerados para orientar os
investimentos e aplicações de terceiros.
Exemplo disso são alguns fundos de pen-
são, que confrontam os princípios do direito
administrativo ao pleitear que seus associa-
dos sejam garantidos individualmente, inde-
pendentemente do risco tomado e da perti-
nência do investimento. Pergunto: como fica
o risco moral? Afinal, uma das premissas
quando da criação do FGC era a proteção dos
pequenos depositantes, que não têm essa ca-
pacidade de avaliação.
Vale notar, ainda, que o FGC, apesar de em
certos aspectos se assemelhar a uma socieda-
de seguradora, não pode ser confundido como
tal – assim o fosse, seria mandatório que recebesse
contribuições diferentes das diversas instituições
em razão direta do conceito de risco de mercado. E,
se adotada essa linha, em vez de atuar para a prote-
ção do sistema, estaria o fundo atuando na direção
contrária, fomentando o desequilíbrio, a insegurança
e a desconfiança no mercado.
A capacidade financeira do fundo, combinada
com a sensação de higidez econômica infinita, não
pode nem deve embasar teses jurídicas e decisões
judiciais que visam alcançar o patrimônio do FGC a
qualquer custo. É preciso dizer, antes de tudo, que
o fundo tem, sim, grande capacidade e patrimônio,
mas adequados à sua finalidade.
E, dentro de sua abrangência, cabe cuidar para
que o investidor pequeno e médio – à semelhança
do homo medius e não no sentido do valor investido
– esteja protegido no âmbito do mercado financeiro
contra eventuais quebras de bancos, dotando o sis-
tema da confiabilidade desejável. f
Art
igo
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ado
em 1
4/7/
2014
29julho 2014 financeiro
regulamentação
Em 29 de janeiro de 2014, entrou em vigor a
Lei nº 12.846/2013, conhecida como Lei An-
ticorrupção, que dispõe sobre a responsabi-
lidade administrativa e civil das pessoas jurídicas
pela prática de atos contra a administração pública,
nacional e estrangeira.
Apesar de inovadora no cenário pátrio, a apro-
vação da lei não é um fenômeno isolado, pois de-
correu de compromisso assumido pelo Brasil em
convenções internacionais e perante a OCDE, e
acompanha movimento mundial contra a corrupção
e a lavagem de dinheiro.
Os atos lesivos foram previstos no art. 5º
da lei e englobam desde a promessa, oferta ou
entrega de vantagem indevida a agente público
até fraudes em licitação, frustração de caráter
competitivo do processo licitatório, manipulação
do equilíbrio econômico-financeiro de contrato e
intervenção em atividades de investigação ou fis-
calização de órgãos públicos.
O legislador optou pela responsabilização objetiva
das pessoas jurídicas nos âmbitos civil e administra-
tivo (art. 2º), bastando, portanto, que haja a compro-
vação da ocorrência do ato lesivo e a verificação de
um nexo causal entre a empresa e o fato. De qualquer
sorte, o legislador não excluiu a possibilidade de as
pessoas físicas serem responsabilizadas individual-
mente, desde que tenham concorrido para a prática
do ato lesivo e averiguada a sua culpabilidade (art. 3º).
Poderão ser aplicadas duas sanções, isolada ou
cumulativamente, a saber: multa, que varia entre 0,1%
a 20% do faturamento bruto do último exercício ante-
rior ao processo administrativo de responsabilização,
e a publicação de extrato da decisão condenatória em
meio de comunicação de grande circulação na área de
atuação da pessoa jurídica ou de circulação nacional.
Na prática, os atos serão apurados em processo
administrativo, instaurado e julgado pela autorida-
de máxima de cada órgão ou por entidade de cada
um dos três Poderes, ou pela Controladoria-Geral da
União, quando do âmbito do Poder Executivo federal.
Em que pese haver a previsão expressa sobre
a forma de constituição da comissão para apurar a
prática dos atos atentatórios, sobre o prazo de 180
dias para a conclusão dos relatórios acerca dos fatos,
e sobre a necessária observância da ampla defesa e
do contraditório, a lei é omissa sobre os procedimen-
tos a serem adotados para a efetiva investigação.
Diante dessa lacuna, a Prefeitura de São Pau-
lo, por meio do Decreto 55.107, de 13 de maio de
2014, regulamentou a legislação federal e estabele-
ceu, de maneira clara e minuciosa, o procedimento
para a apuração, dispondo expressamente sobre os
prazos de defesa, a produção de provas, recursos
cabíveis, e previu mais detalhadamente os critérios
para a aplicação das sanções.
Tais previsões são necessárias, principalmen-
te para que as pessoas jurídicas ou físicas sejam
investigadas de acordo com os parâmetros de am-
pla defesa e contraditórios, e para que as sanções
eventualmente aplicadas sejam razoáveis e propor-
cionais aos fatos ocorridos.
A lei federal também estabelece que a aplicação
efetiva de códigos de ética e de conduta no âmbito
da pessoa jurídica e a existência de mecanismos e
procedimentos internos de integridade e incentivo a
denúncias de irregularidades serão levadas em con-
sideração para a fixação da sanção. No entanto, a lei
prevê que os parâmetros de avaliação serão regula-
mentados pelo Poder Executivo federal.
Diante da ausência, a Prefeitura de São Pau-
lo estabeleceu, por meio do art. 24 do mencionado
Decreto que, até a publicação, pelo Poder Executivo
federal, serão apenas aceitos como mecanismos os
sistemas de recebimento e apuração de denúncias
que assegurem o anonimato, a adoção de medidas
de transparência na relação com o setor público e a
realização periódica de treinamentos com o intuito
de promover a política interna de integridade.
Imprescindível, portanto, regulamentação seme-
lhante em âmbito federal, para conceder às pessoas
jurídicas parâmetros sobre as medidas de transpa-
rência e integridade a serem adotadas internamen-
te, e para que posteriores questionamentos judiciais
quanto ao procedimento adotado e/ou as sanções
aplicadas sejam evitados. f
Por Danyelle da Silva Galvão
Prefeitura de São Paulo regulamenta procedimento para apuração de atos lesivos previstos na Lei Anticorrupção
30 financeiro julho 2014
O crédito viabiliza o operacional, as
estratégias de crescimento e os
investimentos das empresas. Daí,
a importância dos negócios terem pleno
acesso aos mercados de crédito, como fon-
te de recursos. No entanto, isso não ocorre
com boa parte das micro e pequenas em-
presas (MPEs) do Brasil.
De acordo com o SEBRAE (Serviço Bra-
sileiro de Apoio às Micro e Pequenas Em-
presas), essas empresas são 98% das exis-
tentes no País, geram 57% dos empregos
e contribuem com 20% do PIB (Produto In-
terno Bruto). São números que expressam
a importância das MPEs no Brasil. Na com-
paração internacional, em economias em que esses negócios são estruturados
para a competitividade, eles chegam a representar 50% do PIB. Nessa direção,
países como Itália, Espanha, Japão, Taiwan, Coreia do Sul, Tailândia e China,
entre outros, são casos de sucesso.
No Brasil, nos últimos anos, grandes contribuições às MPEs têm sido ado-
tadas, como a Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas, a criação da figura
do microempresário individual, entre outras iniciativas que objetivam gradual-
mente formalizar essas empresas.
É importante destacar que para essas empresas formalizadas crescerem
e serem viáveis há necessidade de crédito. Nesse tocante, há um fator crítico:
essas empresas serem conhecidas pelos agentes financeiros. Ainda prevalece
um sistema imperfeito de informações sobre elas, o qual abre espaço para a
seleção adversa, quando não se distinguem bons de maus pagadores (chama-
do assimetria de informações). O Banco Mundial mostra que vários países já
passaram por esse fenômeno, que não é exclusivo do Brasil. É comum que as
MPEs não possuam informações de crédito, não tenham histórico de suas tran-
sações financiadas e nem como elas foram pagas. Para quem concede crédito
nessa situação fica difícil precificar o risco de uma determinada MPE, o que
acaba gerando a necessidade de garantias crescentes para um financiamento
ou mesmo a sua não aprovação.
Nesse contexto, é muito comum o empreendedor de micro e pequena em-
presas utilizar suas linhas de crédito ao consumidor para financiar seu ne-
gócio. Considerando que esse crédito é mais caro e tem prazos menores do
que os de pessoa jurídica, tal prática leva a empresa a um grave desequilíbrio
financeiro, pondo em risco sua sobrevivência.
O Banco Mundial, em seu relatório Improving SME financing through im-
proved credit reporting (Melhorando o financiamento das MPEs por meio de
relatórios aperfeiçoados de crédito), de março de 2014, mostra que nos países
emergentes onde não há informações abrangentes de crédito, entre 55% e 68%
dessas empresas não têm suas necessidades de
crédito atendidas. Assim, para contornar essa assi-
metria de informações no mercado de crédito para
MPEs, o organismo internacional destaca que são
necessárias informações positivas, além das nega-
tivas, já presentes no mundo todo.
Como as MPEs operam no limite entre pessoa fí-
sica e jurídica, em vários países a reputação do em-
presário no cadastro positivo é utilizada na análise
de crédito de sua empresa, quando esta não possui
informações suficientes. Em breve, quando o ca-
dastro positivo estiver plenamente funcionando no
Brasil, também vai contribuir para uma melhor ava-
liação de crédito dos micro e pequenos negócios.
Como demonstra o Banco Mundial, um bom sistema
de informações de crédito é condição fundamental
para a evolução e a sustentabilidade na oferta de
recursos para esses portes.
Complementando, as MPEs têm como alterna-
tiva buscar crédito nos programas sociais. Mes-
mo assim, são poucas as que obtêm os recursos,
porque a maioria carece de informações mínimas
organizadas. Como recentemente apontou o maior
banco de fomento do País, muitas vezes não há nem
balancete de verificação. Este é outro ponto crítico
das MPEs na procura por crédito, a carência de in-
formações gerenciais.
Outra possível fonte de crédito para as MPEs
são as cooperativas, que possuem atratividade para
essas empresas, por conta do atendimento perso-
nalizado, das taxas de juros menores, do melhor
conhecimento da comunidade que atua e com solu-
ções customizadas.
Como um dos países mais empreendedores no
mundo, o Brasil não pode desperdiçar esta vanta-
gem. Deve criar condições para que essas iniciati-
vas se desenvolvam, inovem e sejam competitivas
internacionalmente. Cabe compreender as MPEs
como um agente promotor do crescimento econô-
mico e um instrumento de redução da desigualdade
social, pois estão presentes em todos os rincões do
País, gerando emprego e renda. Ampliar a partici-
pação desses negócios no PIB passa, obrigatoria-
mente, pela expansão do acesso ao crédito. f
Ampliar o acesso das MPEs ao crédito é determinante para a economiaPor Juan Perez
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: Div
ulga
ção
Art
igo
envi
ado
em 2
6/6/
2014
Juan Perez,diretor-executivo comercial
da Boa Vista Serviços
microsepequenas
32 financeiro julho 2014
legadodacopa
De repente, todo o Brasil deu as mãos
Muito tem se falado sobre os
problemas econômicos, po-
líticos e sociais do Brasil,
principalmente pelo fato de o país ter
sediado a Copa do Mundo. Apesar de
muitos brasileiros estarem desapon-
tados com a situação do país, há de se
pensar no lado positivo que está por
trás desse grande evento realizado
aqui, pertinho da gente.
Devemos nos focar nos benefícios
que a Copa trouxe para o Brasil. Foram
diversas mobilizações para oferecer
mais comodidade aos brasileiros e
para receber o público estrangeiro:
organização e investimento nos trans-
portes, estruturas nos estádios e no
entorno deles, impulso à economia
como um todo, priorização da segu-
rança, investimentos na rede hoteleira, entre ou-
tros elementos que foram edificantes para o País.
Calcula-se que o PIB brasileiro foi impactado
em 2% com a movimentação da Copa do Mundo. Vo-
cês já imaginaram o montão de dinheiro que isso
significa? Com a vinda de europeus, africanos, asi-
áticos, americanos e povos da Oceania, a economia
nacional foi impactada positivamente. Quanto aos
preços de produtos e tarifas de serviços pratica-
dos durante a Copa, isso é reflexo do evento, assim
como acontece em todo o mundo. É uma consequ-
ência da economia: maior demanda, procura e ofer-
ta. Tudo acontece de acordo com a ordem natural
das coisas e se ajustam no seu devido tempo.
Por Aquiles Leonardo Diniz
Aquiles Leonardo Diniz, vice-presidente da Associação
Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento
(Acrefi)
Outro fato importante que não podemos dei-
xar de ressaltar foram as manifestações durante
a Copa das Confederações, pois sem elas, talvez
o País e os governantes não estivessem atentos
às questões básicas e que foram reivindicadas
por meio das passeatas. Ou seja, a aproximação
e o estreitamento entre o Estado e o povo foi um
legado importante adquirido pelo evento mundial.
O fato de a Copa ser realizada aqui no Brasil
foi motivo de grande orgulho. Recepcionamos os
estrangeiros com toda a alegria, hospitalidade e
otimismo que só o brasileiro é capaz de trans-
mitir. Mostramos que, apesar dos problemas en-
frentados pelo País, há um lado bonito em nós,
brasileiros, que deve ser evidenciado. Receber
bem os turistas, nos organizarmos para manter
a cidade em ordem e o mais tranquila possível,
todos dotados de muito entusiasmo e força para
vencer, talvez sejam os primeiros passos para
mudarmos a situação crítica que assombra o
Brasil e deixa muitos de seus valores escondidos.
Devemos sim extravasar os nossos sentimentos
bons, mas os ruins, vamos deixar para as urnas,
no dia 5 de outubro.
Como diria uma música que a maioria dos
brasileiros conhece, mas que esqueceu nos úl-
timos meses, “vamos juntos, pra frente, Brasil!
Salve a seleção! Todos ligados na mesma emo-
ção, tudo é um só coração!”. E para finalizar, deixo
esta frase da música e que tem o mesmo sentido
da frase com a qual comecei este texto “De repen-
te é aquela corrente pra frente, parece que todo o
Brasil deu as mãos!” f
Art
igo
envi
ado
em 1
0/7/
2014
33julho 2014 financeiro
painelcetip
E m maio, foram financiados
532.702 veículos, entre automó-
veis de passeio e comerciais le-
ves, motocicletas, veículos pesados e
outros. O volume representa uma alta
de 3% em relação a abril. Segundo
Marcus Lavorato, gerente de relações
institucionais da Unidade de Financia-
mentos da Cetip, em comparação com
o mesmo período do ano passado, há
uma retração de 6%. No acumulado
dos cinco primeiros meses do ano, o
financiamento de veículos atingiu 2,5
(*) A partir de out/13 a Cetip adotou nova metodologia para calcular os recursos liberados para � nanciamentos de veículos. São conside-radas apenas inclusões de gravames de auto-móveis leves, com � nanciamento de até R$ 200 mil, e cujos prazos não sejam superiores a 120 meses; para motocicletas, o montante limite é de R$ 50 mil, com prazo de 90 meses. A meto-dologia também limita em R$ 500 mil e prazo de até 150 meses as inclusões de gravames de pesados. Dessa forma, a Cetip desconsidera operações com valores e prazos destoantes com as práticas do mercado. f
Fonte: Inteligência de Mercado Cetip
milhões de unidade. Os dados são do
Sistema Nacional de Gravames (SNG),
operado pela Cetip, e incluem informa-
ções sobre as restrições financeiras de
veículos utilizados como garantia em
operações de crédito em todo o Brasil.
As concessões de crédito para finan-
ciamentos de veículos somaram R$ 14,3
bilhões* em maio, uma alta de 5% sobre
o mês anterior, mas uma queda de 4%
quando comparadas com maio de 2013.
Entre janeiro e maio, as concessões de
crédito somaram R$ 64,4 bilhões.
Nos primeiros cinco meses de 2014 os fi nanciamentos de veículos
atingiram 2,5 milhões de unidades
painelcetip
34 fINANCEIRo julho 2014
Fonte: Inteligência de Mercado Cetip
Fonte: Inteligência de Mercado Cetip
Fonte: Inteligência de Mercado Cetip Fonte: Inteligência de Mercado Cetip
Fonte: Inteligência de Mercado Cetip
Fonte: Inteligência de Mercado Cetip
35julho 2014 fINANCEIRo
Audi aposta alto no brasil Por Evandro Ribeiro
estilo
Reconhecida como uma marca esportiva e jovial, a Audi volta
a concentrar suas atenções no mercado brasileiro. De olho na
ascensão do poder aquisitivo da população e na grande procura
pelos carros de luxo, a montadora alemã vai começar a fabricar
por aqui os modelos A3 Sedan e o Q3. A previsão é que a par-
tir do segundo semestre de 2015 já possamos encontrar nas
ruas um Audi fabricado novamente no Brasil, em São José dos
Pinhais, no Paraná. Vale lembrar que a montadora já esteve pre-
sente por aqui entre 1999 e 2006.
A ideia é que o mercado nacional se torne um dos mais im-
portantes para a marca. O CEO da Audi do Brasil, Jörg Hofmann,
acredita que em 2020 a frota de carros premium no Brasil deve
triplicar. “De janeiro a maio deste ano, o acumulado de emplaca-
mentos totalizou 5.024 veículos, 118% a mais que os primeiros
cinco meses de 2013”, afirma o executivo.
Já para os consumidores, é a oportunidade de ver com um
pouco mais de competitividade os preços dos cobiçados A3 Se-
dan e Q3, pois com fabricação nacional dos modelos, os valores
podem cair um pouco, apesar de a montadora preferir não se
manifestar sobre o assunto.
Foto
s: D
ivul
gaçã
o
Montadora alemã quer produzir 26 mil carros por ano para omercado premium nacional
36 fINANCEIRo julho 2014
37julho 2014 fINANCEIRo
estilo
Como o próprio CEO gosta de enfatizar, os carros da Audi
são reconhecidos pelos seus “modelos com DNA esportivo
e tecnologia exclusiva e inovadora”. O A3 Sedan é um carro
jovem, mas já é sucesso entre os brasileiros. Desde janeiro,
quando estreou por aqui, com motor 1.8 de 180 cv e tabela de
R$ 113.700, o esportivo é mais vendido que a sua versão hatch.
Animada com os resultados, a Audi trouxe, em maio deste ano,
a opção com motor 1.4 e preço a partir de R$ 94.800, valor que
o coloca na briga pela preferência dos brasileiros que circulam
pelas ruas com o Toyota Corolla ou com o Honda Civic.
Com o câmbio automatizado de sete marchas e dupla embre-
agem, que faz trocas no tempo certo e bastante suave, A3 Sedan
é um carro gostoso de dirigir, confiável, firme e com alta estabi-
lidade. Evidente que para aqueles que buscam alto desempenho,
é melhor pagar mais e optar pela versão 1.8, com seus 180 cv, já
que a versão 1.4, apesar de ser um carro rápido para seus 122
cv, não se compara à versão 1.8 em desempenho. Contudo, para
aqueles que desejam um carro confiável, confortável e econômi-
co, é uma ótima opção. Na cidade, a média foi de 11,6 km/l, en-
quanto na estrada o computador de bordo marcou 16,8 km/l.
Já o outro carro da marca a ser produzido no Brasil, o Q3, traz
algo que parece contraditório, mas sempre sonhado: um SUV com
desempenho de esportivo. Para aqueles que gostam de velocida-
de, prazer ao dirigir, mas já têm filhos e a ‘patroa’ sempre pede
um carro espaçoso e alto, o Q3 resolve muito bem a questão.
O SUV da Audi, na versão top de linha RS, é capaz de gerar
310 cv e 42,8 mkgf de torque em sua aceleração. É um verdadeiro
parque de diversões para os que adoram alta velocidade. Ele vai
de 0 a 100 km/h em 5,2 segundos. Ou seja, se você vir um carro
desses atrás de você dando farol, vá para a direita! Para aqueles
que querem ter o prazer de dirigir esse confortável e rápido SUV
da Audi, o utilitário esportivo de alta performance teve preço de-
finido em R$ 273,6 mil pela montadora alemã.
Foto
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gaçã
o
38 fINANCEIRo julho 2014
tante ressaltar que a Audi entrega carros com o mesmo padrão de qualidade, tecnolo-gia e inovação a partir de todas as suas 11 fábricas no mundo e as exigências de entre-ga da fábrica brasileira não serão diferentes. RF: Qual é a fatia de mercado atual da Audi no Brasil e no mundo?Hofmann: A Audi ocupa a segunda posição no ranking mundial de vendas no segmento pre-mium. Os números da Audi no Brasil e no mun-do têm crescido expressivamente: no País a marca tem anunciado recordes de vendas. Em maio, contou com o maior número de emplaca-mentos de modelos da montadora alemã nos 20 anos de história da Audi do Brasil e garantiu o maior número de emplacamentos no seg-mento premium. A marca triplicou o resultado de vendas em relação ao mesmo período do ano anterior, totalizando 1.309 emplacamen-tos de modelos importados, o que representa um acréscimo de 205%. De janeiro a maio, o acumulado de emplacamentos totalizou 5.024 veículos, 118% a mais que os primeiros cinco meses de 2013. Mundialmente, a Audi entre-gou 152.000 modelos Audi, 10,8% mais do que em maio de 2013. Até 2020, a Audi tem como meta vender 30 mil carros por ano no Brasil. RF: Chegou a hora de o mercado de luxo começar a investir em países emergentes?Hofmann: Nos últimos anos, o Brasil pas-sou por mudanças econômicas, o que cau-sou a ascensão das classes sociais. Com mais poder aquisitivo, existem mais po-tenciais clientes para as marcas premium. Esse é um mercado que está aquecido no País. Com isso, a Audi encontrou uma oportunidade para investir em uma série de ações, como comentei antes, para obter um crescimento sustentável no País. Com isso, acredito que os países emergentes sejam uma opção de expansão para mar-cas premium. RF: Para o senhor, quais os principais diferen-ciais da Audi em relação aos seus concorren-tes? Por que comprar um Audi?Hofmann: A Audi entende que o mercado é complexo e que as motivações dos clientes são diversas. O que oferecemos como principal di-ferencial são modelos com DNA esportivo e tec-nologias exclusivas e inovadoras. Um exemplo é o controle de cruzeiro adaptativo, que regula a velocidade e a distância do carro em relação ao veículo da frente, acelerando e freando para
garantir a segurança na direção. f
Jörg Hofmann, CEO da Audi Brasil, recebeu a Financeiro e falou um pouco sobre os projetos e planos da montado-ra alemã para se consolidar de vez no mercado brasileiro de carros premium.
RF: Quais os motivos que levaram a Audi a voltar a produzir veículos no Brasil?Hofmann: Certamente, a boa perspectiva de crescimento do mercado foi um fator impor-tante na decisão de produzir no Brasil. No entanto, o aporte de um investimento como esse não é baseado apenas em um resultado positivo de vendas. Ele envolve uma série de fatores, que foram levados em consideração pela nossa marca. Esse é um investimento de longo prazo e reflete a importância do Brasil para a Audi e uma aposta na economia brasi-leira. A Audi está há 20 anos no País e, com os investimentos na produção local, o mercado brasileiro pode se tornar um dos mais rele-vantes para a Audi no mundo.RF: Por que a Audi escolheu o A3 Sedan e o Q3 como os primeiros modelos a serem pro-duzidos aqui? Qual é a previsão de quantida-de por ano?Hofmann: Após uma série de análises e estu-dos, o A3 Sedan e o Q3 foram escolhidos por serem modelos bem aceitos no mercado brasi-leiro. A partir de 2020, quando nossa produção estiver na sua máxima capacidade, 26 mil car-ros por ano serão produzidos nacionalmente.RF: Quanto será investido e qual o cronograma?Hofmann: A Audi está investindo R$ 500 milhões na fábrica e os modelos que serão produzidos são o A3 Sedan, a partir do se-gundo semestre de 2015 e o Q3, a partir do primeiro semestre de 2016.RF: Em porcentagem, quanto de peças des-ses carros será produzido aqui e quanto ainda será importado?Hofmann: Esse é um assunto que está em estudo e depende também de questões le-gais do Inovar Auto. Nesse aspecto, é impor-
39julho 2014 financeiro
Até pouco mais de três anos o MIS era apenas um insosso espaço cultural de São Paulo.
Hoje, sob o comando do inquieto André Sturm, o museu atrai milhares de visitantes, com exposições
que fazem parte do circuito internacional
cultura
Com mais de quatro décadas de existência,
o Museu da Imagem e do Som, mais conhe-
cido apenas como MIS, vive um momen-
to único em sua história. Sob a direção de André
Sturm desde junho 2011, a receita com as vendas
cresceu quase 500% e atraiu no ano passado mais
de R$ 4 milhões em investimentos na forma de pa-
trocínio. Para se ter uma ideia, em 2010 o museu
recebeu 50 mil visitantes, e em 2013 passaram
por suas catracas mais 250 mil pessoas.
Com números que surpreendem o mercado,
o MIS deixa de ser destino apenas dos já experi-
mentados admiradores de arte e se transforma
Por Débora Dias
Novo xodó dos paulistanos
André Sturm,diretor-executivo
do MIS
40 financeiro julho 2014
em um roteiro atraente até mesmo para os que
não possuem tanta familiaridade com o cenário
cultural. Nos últimos meses, ganhou destaque
internacional ao trazer para o Brasil duas mos-
tras que provocaram recordes em visitações,
gerando filas gigantescas na bilheteria. Uma
delas sobre o cineasta norte-americano Stanley
Kubrick e a outra relacionada ao cantor inglês
David Bowie, que atraíram mais de 80 mil pes-
soas cada – público jamais registrado pelo MIS.
De acordo com Sturm, o sucesso dessas ex-
posições não se deve apenas aos personagens
mais populares. “A questão não é apenas o tema,
mas também a forma. Nós construímos uma ex-
posição que permitia uma experiência sensorial,
o que contribuiu muito. Jovens que ainda não co-
nheciam o trabalho de Kubrick, por exemplo, se
interessaram em adquirir DVDs de seus filmes”,
conta o diretor do MIS.
Quando questionado sobre os principais objetivos
de sua gestão, Sturm não se mostra interessado ape-
nas em continuar viabilizando a vinda de exposições
internacionais para o Brasil. Como legado, ele preten-
de transformar o museu em um ponto de encontro
da população paulistana e fomentar a pluralidade da
programação cultural. “Queremos fazer do MIS um
espaço cultural dinâmico e vivo. Um lugar que esteja
no roteiro das pessoas e que permita não apenas que
elas vejam uma exposição, mas que tenham ainda a
opção de fazer cursos e participar das diversas ativi-
dades que promovemos”, afirma Sturm.
Para tanto, a ideia é ampliar o leque de iniciati-
vas organizadas pelo MIS, valorizar seu acervo, in-
vestir em educação e em variedade de conteúdos.
Sturm ressalta que, em um mesmo dia, o MIS ofe-
rece, por exemplo, uma mostra de filmes, uma ex-
posição fotográfica e um espetáculo de dança. Com
isso, um visitante que vem para assistir um filme e
aproveita para ver um espetáculo de dança ou uma
Foto
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ivul
gaçã
o
Mostra Stanley Kubrick: sucesso
entre os jovens
41julho 2014 financeiro
das nossas exposições regulares. Outra iniciativa
que tem gerado bons frutos é o projeto MIS fora do
MIS, sistema de parceria que leva algumas expo-
sições para espaços culturais no interior paulista.
QUEM bANCA O MIS
O MIS tem suas atividades garantidas por uma
parceria público-privada, gerenciada pela Asso-
ciação do Paço das Artes Francisco Matarazzo So-
brinho, entidade sem fins lucrativos ligada à Se-
cretaria da Cultura do Estado de São Paulo. Desse
modo, a receita mensal do museu é uma combi-
nação de valores vindos do governo estadual, dos
patrocínios privados e das verbas operacionais
(bilheteria, aluguel do espaço para eventos, ven-
das da loja de suvenires, etc.).
A verba pública garantida pelo Estado esta-
va estagnada há pelos menos quatro anos em R$
9,5 milhões. Porém, após a renovação do contrato
de convênio em 2014, o MIS obteve um reajuste
que elevou esse valor para R$ 10,5 milhões. Além
disso, os investimentos oriundos de patrocínio
privado já ultrapassam os R$ 4 milhões. Segun-
do Sturm, “o sucesso das últimas exposições fez
com que aumentasse o número de empresas que
procuram o MIS interessadas em apoiar financei-
ramente suas atividades.
SUCESSO NãO ACONtECE pOR ACASO
Para trazer exposições internacionais para São
Paulo, o MIS tem investido em uma série de deta-
lhes, que inclui, entre outros fatores, a definição de
um preço atraente para o dono dos direitos de exi-
bição da mostra, seguros, contratação de equipe es-
pecializada em embalagem e transporte das peças.
Sturm conta que existe um acordo internacio-
nal que determina que o país que recebe a exposi-
ção deve arcar com todas as despesas de entrada
das obras. Ele ressalta também que outro passo
importante é a adequação do acervo ao Brasil e às
propostas do museu: “A exposição do Kubrick, por
Fonte: OSESP
cultura
Mostra David Bowie: mais de 80
mil visitantes
42 financeiro julho 2014
exemplo, foi construída por nós. Tratava-se de um
conjunto composto por 800 objetos, que incluíam
desde folhas de roteiro até bonecos, e nós criamos
toda a expografia, que proporcionava aos visitantes
a sensação de entrar em um de seus filmes”.
Já para a exibição da mostra sobre David Bowie,
Sturm conta que demonstrou interesse em trazê-la
já há bastante tempo, antes mesmo de sua monta-
gem no Victoria and Albert Museum, em Londres.
Com isso, garantiu que 90% do acervo viesse para o
Brasil, saindo à frente de outros países da Europa e
até mesmo dos Estados Unidos.
pLANOS pARA O FUtURO
Para André Sturm, o Brasil tem se desenvolvido
culturalmente de uma maneira satisfatória, ao pas-
so que trata o assunto com mais seriedade e tem
apresentado melhora na economia. Por participar
do circuito internacional, o diretor consegue avaliar
também que o País tem sido visto com bons olhos
pelos grandes polos culturais, o que, segundo ele,
pode ser comprovado pela prioridade na vinda da
exposição de David Bowie.
Longe do olhar do grande público, o MIS tem em
seu acervo mais de 200 mil itens, que começam a ser
digitalizados. Entre outras relíquias, estão centenas
de depoimentos de artistas, políticos e pessoas liga-
das à história do País. Para os próximos anos de sua
gestão, o plano de Sturm é dar continuidade ao pro-
cesso de tradição e ruptura, que sempre fez parte da
trajetória e da atitude do MIS, porém o transformando
em um espaço cada vez mais rico, promovendo a ex-
perimentação e o aprendizado.
O próximo sucesso de público do MIS certamente
será a exposição sobre os 20 anos do Castelo Rá-
-Tim-Bum, que foi inaugurada em julho. Além disso,
o diretor afirma que tem uma série de mostras fe-
chadas para os próximos anos, mas, sobre esse as-
sunto, André Sturm prefere guardar segredo. f
Foto
s: D
ivul
gaçã
o
43julho 2014 financeiro
livros
O objetivo da obra é atualizar
de forma organizada, para
o final de 2014, a crítica que os
autores têm feito, em suas res-
pectivas atuações profissionais,
à ausência de medidas mais
incisivas por parte do governo
em relação aos determinantes
de crescimento da economia
brasileira, em um contexto em
que o espaço para crescimento
a partir de estímulos à deman-
da tende a se esgotar.
A crítica direciona-se à fal-
ta de medidas mais profundas
nos últimos anos, relacionadas
com a necessidade de melho-
rar a educação, estimular os
investimentos em infraestrutu-
ra, elevar a poupança domés-
tica e melhorar os indicadores
de produtividade. Há um ele-
mento de continuidade em re-
lação ao “Além da euforia”, com
diferenças de estilo, diferenças
de coautor e principalmente
de atualização do diagnóstico,
uma vez que o “Além da eufo-
ria” acabou de ser escrito no
final de 2011 e o livro em ques-
tão seria divulgado no final de
2014, três anos depois. f
A obra resgata as origens
dos alemães que vieram
para São Paulo a partir de
1827 e como eles contribuí-
ram para a formação da na-
cionalidade brasileira para o
desenvolvimento da cidade,
especialmente a região cen-
tral. O livro traz ainda fotogra-
fias e ilustrações que retra-
tam a cidade daquela época e
atualmente, como o prédio da
Catedral da Sé, a Faculdade
de Direito do Largo São Fran-
cisco, a Rua do Comércio e o
Mosteiro de São Bento. Além
de documentos históricos so-
bre a chegada dos alemães
ao Brasil. É um trabalho para
quem deseja aprofundar seus
conhecimentos sobre as prin-
cipais colônias de imigrantes
que contribuíram com o de-
senvolvimento do País. f
Complacência Entenda por que o Brasil cresce menos do que pode
Os Imigrantes Alemães
Na Construção da Sociedade
Brasileira
Autores: Alexandre Schwartsman e Fabio GiambiagiEditora: Campus Elsevier
Autor: William R. RhodesEditora: Globo Livros
Autor: Eloy Câmara Ventura
Principal renegociador da
dívida externa brasileira
em 1982 e um dos primeiros
a vislumbrar a crise de 2008,
William Rhodes explica neste
livro como o exemplo do nosso
país pode servir de referência
para outros mercados. Ele tam-
bém auxiliou na crise que afe-
tou a Argentina e outros países
latino-americanos nas décadas
de 1980 e 1990. O autor com-
partilha também detalhes de
sua vivência no Citigroup, en-
globando a negociação de uma
ação estratégica em um dos
O banqueiro do Mundo
Lições de Liderança do
Diplomata das
Finanças Globaisprincipais bancos na China e a
liderança da comunidade ban-
cária internacional na abertura
de escritórios na África do Sul,
na China, em Israel, na Europa
Oriental e na Europa Central.
Para Rhodes, o tempo é
sempre desfavorável em uma
crise, pois os riscos de ela se
espalhar estão inevitavelmen-
te presentes. A solução para
gerenciá-la está em uma ne-
gociação paciente, persistente,
que compreenda a cultura e
as pressões sobre cada nego-
ciante de maneira a aproveitar
momentos estratégicos e sa-
ber exatamente o momento de
fechar um acordo. Não é à toa
que conquistou até a simpatia
de Fidel Castro. Com prefácio
assinado por Armínio Fraga,
ex-presidente do BC, a obra de
Rhodes provoca uma série de
reflexões relevantes sobre os
novos tempos. f
44 financeiro julho 2014
Dr.
Longe dos holofotes da mídia e despojado de qualquer vaidade pessoal, Dr. Sérgio Petrilli conduz, há 23 anos, uma das instituições que é referência no tratamento do câncer infantil na América Latina
Graacc
Por Gilberto de Almeida
Dr. Sérgio Petrilli, superintendente do Graacc
Faça um teste. Pergunte em um parque ou em um shopping center, em São Paulo, se as pessoas conhecem o Graacc. Pode ser que a maioria não saiba o significado de cada letra
da sigla, mas certamente eles dirão que se trata de uma instituição que é referência no tratamento do câncer infantil. Aproveite a abordagem e questione se já ouviram falar no Dr. Sérgio Petrilli. É bem provável que poucos o conheçam, pois é um médico que coloca o seu trabalho à frente do Graacc (Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer) acima de qualquer notoriedade ou vaidade pessoal. Desde que fundou a entidade, há 23 anos, junto com o engenheiro Jacinto Antonio Guidolin e a voluntária Léa Della Casa Mingione, o Dr. Petrilli corre diariamente atrás de recursos e de parcerias para que mais crianças tenham oportunidade de cura, assim como fazia antes de assumir a superintendência da entidade, já como chefe do setor de Oncologia do Departamento de Pediatria da Escola Paulista de Medicina, que até hoje dá suporte ao Graacc.
terceirosetor
46 financeiro julho 2014
Dr.
No entanto, a existência e o êxito do Graacc só
são possíveis graças à sinergia entre três parcei-
ros: o empresariado, que contribui com doações
regulares; a Universidade Federal de São Paulo
(UNIFESP), responsável pela assistência médica,
ensino e pesquisa; e a sociedade. Junto, esse trio
mantém, orienta e capacita a instituição a ir cada
vez mais longe. É por meio desse esforço con-
junto que as crianças e os adolescentes tratados
pelo Graacc têm, em média, 70% de possibilidade
de cura, índice não muito distante dos 80% alcan-
çados em países da Europa e dos Estados Uni-
dos e bem superior aos 35% ou 40% obtidos no
restante do Brasil. “Aqui, nós tentamos diminuir
essa desigualdade”, diz Petrilli. Pois, 90% dos
pacientes do Graacc são encaminhados pelo SUS
(Sistema Único de Saúde), sendo que 40% vêm de
outros Estados, e 10% são mantidos pelos convê-
nios particulares.
Mesmo quando os pacientes atingem a idade
adulta, acima dos 20 anos, eles continuam a con-
tar com a retaguarda do Graacc. Tanto é assim que
47julho 2014 financeiro
Petrilli interrompeu a entrevista que concedia à Fi-
nanceiro para atender a um retorno de ligação do
Dr. José Osmar Medina Pestana, especialista em
transplantes e diretor do Hospital do Rim, também
da Unifesp, a quem Petrilli pedia apoio para pro-
cedimentos de diálise em alguns casos agudos de
adultos internados na UTI.
Esse tipo de iniciativa e de parceria é que
permite ao Graacc se manter com um orçamento
anual de R$ 80 milhões, sendo que 50% desse va-
lor são doações vindas da sociedade e de projetos
de incentivos fiscais à saúde, possibilita realizar
mais de 26 mil consultas, 1,6 mil cirurgias, 37
transplantes de medula e mais de 11,4 mil ses-
sões de quimioterapia. Tudo isso é feito por cer-
ca de 673 funcionários e 485 voluntários, além
de outros colaboradores externos, estudantes da
Unifesp e de mão de obra terceirizada.
Foi também por meio do apoio das empresas
e de doadores individuais que a instituição con-
seguiu investir R$ 36 milhões na construção do
anexo 1 do Hospital Graacc, inaugurado em 2013,
em um terreno cedido pela Prefeitura de São Pau-
lo. Com seis andares e um subsolo, o projeto da
nova área construída, de 8,4 mil m², aumentou em
30% a capacidade de atendimento dos pacientes,
que agora são acolhidos em espaços mais amplos
e com as paredes pintadas em cores vibrantes. A
expansão permitiu realocar o serviço de radiote-
rapia, estender o pronto atendimento, criar salas
terceirosetor
Foto
s: D
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o
Em 1998, entidade inaugurou seu primeiro hospital na
Vila Clementino, São Paulo
48 financeiro julho 2014
de triagem e de coleta de exames, abrir quartos
de isolamento, novos consultórios, etc. Segundo
o Dr. Sérgio Petrilli, com o novo prédio, o Graacc
passou a atender 310 novos casos por ano. “Essa
ampliação permite que a gente invista ainda mais
em pesquisa para aumentar as chances de cura
dos pacientes. Além disso, traz a oportunidade de
disseminar estudos sobre a doença e de formar
novos profissionais voltados à área de oncologia
pediátrica”, afirma o superintendente.
Como é até hoje, o Graacc nesses seus 23 anos
de fundação foi construído tijolo a tijolo. Em 1991,
o primeiro passo foi transferir o Setor de Oncolo-
gia Pediátrica do Hospital São Paulo para uma casa,
que ficou conhecida como a “casinha”. Os pequenos
pacientes eram acolhidos nesse espaço, dentro do
conceito de hospital/dia, em que recebiam aten-
dimento médico e assistencial e voltavam para as
suas residências. Sete anos depois, com a ajuda das
empresas e de instituições, foi inaugurado um hos-
pital, na Vila Clementino, em São Paulo, com 4,2 m²,
distribuídos em oito andares e dois subsolos, hoje
interligado ao anexo 1.
Além do atendimento no hospital, como muitos
pacientes vêm de outras regiões do País, o Graacc
conta com o apoio da Casa Ronald McDonald São
Paulo, que tem capacidade para acolher 30 pa-
cientes e seus familiares, em 30 suítes, sendo seis
delas exclusivas para os pacientes que realizaram
transplantes de medula óssea. Os custos são man-
tidos por doações de pessoas físicas e jurídicas e
do apoio do Instituto Ronald McDonald, que realiza
campanhas, como o McDia Feliz. Para manter tudo
isso, 12 funcionários e 60 voluntários se revezam
em turnos durante os sete dias da semana.
No Graacc não há descanso
na busca de novos benefícios
para os pacientes. Terminadas
as obras e equipado o anexo 1,
a diretoria já se prepara para
levantar o anexo 2, com 18 mil
m² de área construída e inves-
timento de mais R$ 60 milhões,
no restante do terreno doado
pela Prefeitura de São Paulo,
que tornará o Graacc o maior
centro de atendimento a crian-
ças com câncer da América Latina. O novo espaço
contará com uma brainsuite no centro cirúrgico
– sala especialmente preparada para cirurgias
de tumores cerebrais –, com aparelho de resso-
nância magnética que rastreia vestígios de tumor
para a sua retirada, enquanto a cirurgia é feita.
O prédio abrigará ainda uma área de reabilitação
lúdica, laboratórios de pesquisa genética, biológi-
ca, cirúrgica, patológica e clínica, além da amplia-
ção do número de leitos, do centro cirúrgico e do
centro de transplante de medula óssea.
Como é possível perceber, trabalho não falta no
Graacc, mas não é a tarefa de gestor aquela que
dá maior prazer ao Dr. Sérgio Petrilli. Sua maior
satisfação ainda é poder atender aos pacientes
no ambulatório ou falar com uma mãe que busca
orientação para o filho que está com febre. Esse é
o momento em que os olhos do Dr. Graacc brilham
com mais intensidade. f
Em abril de 2013, o Graacc lançou a campanha Movimento Carequinhas, que depois foi premiada no festival internacional Cannes Lions
MÉDIA DE TAXA DE CURA NO GRAACC
49julho 2014 fINANCEIRo
negócios&lazer
O interior do Estado de São Paulo revela o potencial
turístico que vem conquistando cada vez mais os
paulistanos como uma alternativa à agitação do lito-
ral, principalmente durante o inverno. Uma opção que agrada
àqueles que buscam o ar puro, a natureza e o sossego é o Broa
Golf Resort. Localizado no município de Itirapina, próximo a
Brotas, a 210 km da capital paulista, o resort ocupa uma área
de 1.200 hectares às margens da Represa do Broa, formada
pelas águas do Ribeirão do Lobo, do Rio Itaqueri e de córregos
menores. Esses atrativos naturais encantam os amantes dos
esportes náuticos e de aventura, como caiaque, rafting, boia
cross, tirolesa, parede de escalada, stand up paddle, paintball,
arco e flecha, entre outras modalidades.
Cercado por paisagens paradisíacas, o Broa Golf Resort
possui 75 apartamentos, para acolher os hóspedes que cur-
tem o golfe e mais de 15 atividades dedicadas ao ecoturis-
mo. Além disso, segundo Paulo Eduardo Marques, gerente
geral do hotel, o local ainda conta com spa, espaço zen para
massagem, ofurô ao ar livre, piscinas, minizoo, sete quadras
de tênis e recreação com monitores para as crianças.
Como o golfe é um esporte que tem tudo a ver com o
universo dos negócios, o Broa Golf Resort atrai presiden-
Campo dos sonhos
50 fINANCEIRo julho 2014
tes de empresas e executivos que buscam aliar o lazer
a transações comerciais e networking. Segundo Marcelo
Giumelli, gerente responsável pelas atividades ligadas ao
golfe, o campo do hotel – 300 mil m², nove buracos com
quatro tees de saída (par 72 para duas voltas) e greens
(área final) de qualidade – está ranqueado entre os me-
lhores do País. “O nosso padrão de excelência nos levou
a ser selecionados para abrigar o Centro de Treinamento
de Golfe dos Jogos Olímpicos Rio 2016”, conta Giumelli.
Para os hóspedes pouco familiarizados ao swing do es-
porte de Tiger Woods (movimento feito para a batida na
bola), o hotel promove uma clínica (orientação) com as
noções básicas da modalidade.
A infraestrutura do resort tem atraído também a atenção
de empresas, como TAM, Alpargatas, Cartier e Timberland,
que escolheram o refúgio da Represa do Broa para realizar
eventos, encontros corporativos e divulgação de campanhas
publicitárias. “Uma companhia, por exemplo, trouxe recen-
temente seus funcionários para um treinamento e, no meio
da madrugada, foi simulado um sequestro de dois colabo-
radores. Eles desceram de helicóptero em uma produção
quase que cinematográfica”, relembra Marques.
Por Geyse Alencar
Localizado a 210 km de São Paulo, o Broa Golf Resort é o refúgio de executivos que buscam a tranquilidade do interior, sem abrir mão do conforto e da comodidade para fazer novos negócios e, ainda, descansar
Foto
s: D
ivul
gaçã
o
51julho 2014 financeiro
Serviço broa Golf ResortRodovia Municipal
Ayrton Senna da Silva,
km 8, Itirapina/SP.
www.broagolfresort.com.br
Tel.: (55.19) 3575-1136
CURIOSIDADE
Por que Represa do Broa?
Uma senhora vendia broas de milho
na única porteira que permitia
acesso à saída da represa na década
de 30. Ao passo que aumentava
o número de frequentadores, a
tradição da broa foi ganhando
espaço na região e a fazer parte
da vida dos moradores.
negócios&lazer
Outro atrativo do resort é o Instituto Arruda Botelho, espaço com 2.400 m², que abriga há 17 anos o acervo particular de aeronaves, em condições de voo, de Fer-nando de Arruda Botelho, empresário fa-lecido em 2012, fundador do Broa Golf Resort e amante da aviação. Entre as ra-ridades expostas à visitação estão aerona-ves do início do século 19, como a Taylor Turist, com capacidade para quatro luga-res, um dos 14 exemplares fabricados. Ou-tro é o Beechcraft Staggerwing, com trem de pouso retrátil, utilizado na Segunda Guerra Mundial. A aeronave foi idealizada por Walter Beech, em 1932, a partir da ne-cessidade de um transporte executivo ca-paz de voar maiores distâncias com mais rapidez que qualquer outro avião médio existente na época.
“Essa paixão pelo mundo aéreo levou Fernando de Arruda Botelho a organizar o Broa Fly-In 14-Bis, uma das mais im-portantes feiras de aviação da América Latina, que reúne anualmente cerca de 10 mil pessoas, entre empresários, executi-vos, colecionadores (amadores e profis-sionais) fornecedores e consumidores de produtos e serviços”, explica Paulo Eduar-do, gerente do Broa Resort. Os negócios gerados pelo evento movimentam cifras superiores a US$ 100 milhões. A próxima edição está confirmada para os dias 5, 6 e 7 de junho de 2015. f
SONhO QUE GERA NEGóCIOS
Foto
s: D
ivul
gaçã
o
52 financeiro julho 2014
A Casa Mathilde, no centro de São Paulo, serve os melhores doces
criados pela tradição portuguesa
Se você sonha em voltar a Portugal para, en-
tre outras coisas, matar a saudade dos doces
portugueses, saiba que esse prazer está mais
perto do que você pode imaginar. Na Praça Antonio
Prado, Centro de São Paulo, pertinho da Torre do
Banespa, a Casa Mathilde resgata a tradição da do-
çaria criada nos conventos desde o século 15. Sem
precisar atravessar o Atlântico, é possível deliciar-
-se saboreando um legítimo pastel de nata, idêntico
Delícias dos conventos
happyhour
ao que se come no bairro lisboeta de Belém; pastel
de São Bento, que traz na receita amêndoas crocan-
tes; tortas de azeitão; rocambole de massa fina e
recheio de ovos e açúcar; e travesseiro de Sintra,
massa folhada enrolada com creme de amêndoas e
canela, coberta com açúcar de confeiteiro.
Essas tentações são preparadas por três chefs
confeiteiros, trazidos de Portugal, que misturam
delicadamente os ingredientes básicos das re-
ceitas lusas: ovo caipira, açúcar, leite, manteiga e
farinha de trigo. Além do sabor inigualável dos do-
ces, é possível vê-los saírem quentinhos do forno,
de meia em meia hora.
Para trazer essa pequena porção de Portugal
– 1.200 m², divididos em três pavimentos – para
o coração de São Paulo, um grupo de empresá-
rios portugueses investiu mais de R$ 5 milhões.
Os sócios trouxeram a Casa Mathilde para cá por-
que desejam resgatar uma doçaria tradicional de
Portugal, fundada em 1850 em Sintra e que ficou
famosa por se tornar a fornecedora oficial de quei-
jadinhas à Casa Real, depois que D. Fernando II
apaixonou-se pelo quitute em uma viagem à cida-
de. A lendária fábrica de doces foi desativada logo
depois da Revolução dos Cravos, em 1974.
Além da tradição portuguesa, o espaço escolhido
pelos sócios, no centro de São Paulo, já estava en-
volvido em uma aura gastronômica desde a década
de 1950, quando acolheu ali o primeiro salão do res-
taurante Fasano. Se essas poucas linhas e as fotos
encheram sua boca d’água, não perca tempo. Faça
uma visita ao centro velho paulistano e prove essas
tentações que só os portugueses sabem preparar. f
Serviço Casa MathildePraça Antonio Prado,
76 (Centro)
São Paulo – SP
Telefone: (11)
3106.9605
54 financeiro julho 2014
bancodedadosinepad
O desenvolvimento do sistema financeiro brasileiro é um fato comprova-
do pelo desenvolvimento da relação crédito/PIB e pelo aumento constante
e progressivo do saldo das operações de crédito contratadas. Entretanto, o
expressivo aumento do endividamento das famílias brasileiras nos últimos
anos, e a inadimplência, tem causado certa preocupação quanto à sustentabi-
lidade desse crescimento.
Como está exposto no Gráfico 1, pode-se observar um aumento médio
mensal de 0,3 p.p. (pontos percentuais) na relação crédito/PIB do Brasil de
abril de 2007 a fevereiro de 2014, chegando a 55,77% ao fim do período. Já o
saldo da carteira de crédito aumentou de R$ 780 bilhões em abril de 2007
para R$ 2,73 trilhões ao fim do período apresentado. Isso representa um
crescimento médio mensal de 1,48%, como mostra o Gráfico 2. Interessante
observar no Gráfico 2 também, uma brusca redução no crescimento do saldo
no segundo semestre de 2008 causado pela crise mundial de liquidez, che-
gando a haver uma leve recessão de 0,03% em fevereiro de 2009.
Endividamento das famílias brasileiras e a inadimplência
Gráfico 2 - Variação Mensal do Saldo das Operações de Crédito Inepad e BCB
Elaborado pelo Centro de Pesquisas do INEPAD - Núcleo CEPEfIN.
Elaboração:Iago Henrique Rodrigues Monteiro – Pesquisador do Centro de Pesquisas do INEPAD – Núcleo CEPEFIN. Graduando em Ciências Econômicas pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo no campus de Ribeirão Preto.
Orientador:Alberto Borges Matias – Fundador do INEPAD e orientador do CEPEFIN. Professor titular do Departamento de Administração da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo no campus de Ribeirão Preto. Livre-docente em Finanças, atu-ando nos programas de gradu-ação, pós-graduação e MBAs da Universidade
Por Prof. Dr. Alberto Borges Matias, com colaboração de Iago Henrique Rodrigues Monteiro
Foto
: Div
ulga
ção
Gráfico 1 - Crédito/PIB e Saldo Inepad e BCB
Nota: Saldo está no eixo secundário.
Primeiramente, é necessário ressaltar que endividamento não é um ter-
mo pejorativo e não significa que haverá inadimplência necessariamente, o
termo apenas representa o quanto o crédito e o financiamento estão presen-
tes na economia de um país. Segundo definição usada pelo Banco Central,
o endividamento das famílias é “a relação entre o valor atual das dívidas
das famílias com o Sistema Financeiro Nacional e a renda das famílias acu-
56 fINANCEIRo julho 2014
Gráfico 4 - Endividamento das Famílias Brasileiras Inepad e FED
Gráfico 3 - Endividamento das Famílias Brasileiras Inepad e BCB
Nota: Renda Média Anual do Trabalhador no eixo secundário.
Gráfico 5 - Variação da Inadimplência Inepad e BCB
Nota: Taxa Selic está no eixo secundário.
mulada nos últimos doze meses”. Desse modo,
observando o Gráfico 3, que mostra a evolução do
endividamento e a evolução da renda dos últimos
doze meses dos trabalhadores brasileiros, é visí-
vel que houve um aumento na renda, contudo, não
com a mesma intensidade que houve na expansão
de crédito, sendo, portanto, um dos fatores que
influenciaram no aumento do endividamento das
famílias. O aumento do endividamento no período
foi de 15,28 p.p., alcançando 45,73% em março de
2014, já o aumento na renda foi de 21,58% e che-
gou a R$ 24,7 mil ao fim do período.
No Gráfico 4, é feita uma comparação do endi-
vidamento das famílias brasileiras com o endivi-
damento de famílias de alguns países desenvolvi-
dos. Na curva dos Estados Unidos e da Alemanha
é possível perceber um decrescimento no endivi-
damento das famílias a partir de 2009. Essa que-
da foi causada após a crise de 2008, que foi uma
consequência do alto nível de inadimplência nas
concessões de crédito subprime. Como medida de
prevenção para novas recessões econômicas, os
governos de determinados países tomaram atitu-
des para controlar o endividamento das famílias.
No caso dos Estados Unidos e da Alemanha hou-
ve uma queda na curva de endividamento para
80,53% e 56,02%, respectivamente, no fim do pe-
ríodo. Já Austrália e Canadá mantiveram o nível
de endividamento das famílias em cerca de 95%
da renda anual. Outro ponto a ser observado é a
distância do endividamento das famílias brasilei-
ras, que no fim do período apresentado estava em
apenas 45,38%, para o endividamento dos outros
países desenvolvidos, que convivem com um en-
dividamento das famílias próximo a 100% e mes-
mo assim possuem economias saudáveis.
No Gráfico 5 é exposta a variação mensal da
inadimplência e a evolução da taxa Selic no perí-
odo. Apesar de as concessões de crédito no Brasil
serem predominantemente prefixadas, ou seja, não
possuem indexação a taxa Selic, é possível obser-
var a influência da Selic na variação da inadimplência, causada,
provavelmente, pela influência nas concessões de crédito pós-fi-
xadas e pelas novas concessões. Outro ponto importante é o cres-
cimento da inadimplência durante a recessão mundial de 2008.
Em abril de 2009, por exemplo, houve um aumento de 10,81% na
inadimplência. Entretanto, no período apresentado, a inadimplên-
cia caiu de 3,7% em maio de 2007 para 3% em janeiro de 2014.
A queda da inadimplência no período apresentado é um im-
portante indicador da sustentabilidade da recente evolução do
mercado de crédito brasileiro. Além disso, apesar do recente au-
mento, o endividamento das famílias brasileiras está bem abaixo
em comparação com os países estudados, que ainda assim pos-
suem economias saudáveis. Com isso, é possível concluir que o
problema não é a quantidade de concessões de crédito contrata-
dos, e sim as condições em que os mesmos são feitos. Portan-
to, o Brasil continua com um excelente potencial de expansão do
mercado de crédito, e pode continuar essa evolução de maneira
responsável e sustentável. f
57julho 2014 financeiro
bancodedadosinepad
Taxas Médias: geralDATA Aplicações Var. p.p. Captações Var. p.p. Spread Var. p.p.
abr/13 18,5 0,0 6,8 0,0 11,7 0,0mai/13 18,1 -0,4 6,9 0,1 11,2 -0,5jun/13 18,5 0,4 7,6 0,7 10,9 -0,3jul/13 19,1 0,6 7,7 0,1 11,4 0,5ago/13 19,3 0,2 8,0 0,3 11,3 -0,1set/13 19,5 0,2 8,2 0,2 11,3 0,0out/13 19,8 0,3 8,2 0,0 11,6 0,3nov/13 20,0 0,2 8,5 0,3 11,5 -0,1dez/13 19,7 -0,3 8,6 0,1 11,1 -0,4jan/14 20,7 1,0 8,9 0,3 11,8 0,7fev/14 21,0 0,3 8,7 -0,2 12,2 0,5mar/14 21,1 0,1 8,8 0,1 12,3 0,0abr/14 21,1 0,0 8,6 -0,2 12,5 0,2
Variaçãoabr-abr
2,6 1,8 0,8
Fonte: BC / INEPAD
DATA Aplicações Var. p.p. Captações Var. p.p. Spread Var. p.p.abr/13 24,3 -0,2 7,0 -0,1 17,3 -0,1mai/13 24,0 -0,3 7,1 0,1 16,9 -0,4jun/13 24,2 0,2 8,0 0,9 16,2 -0,7jul/13 25,1 0,9 8,2 0,2 16,9 0,7ago/13 25,2 0,1 8,6 0,4 16,6 -0,3set/13 25,6 0,4 8,8 0,2 16,8 0,2out/13 26,2 0,6 8,8 0,0 17,4 0,6nov/13 26,1 -0,1 9,1 0,3 17,0 -0,4dez/13 25,6 -0,5 9,2 0,1 16,4 -0,6jan/14 26,8 1,2 9,5 0,3 17,3 0,9fev/14 27,2 0,4 9,2 -0,3 18,2 0,9mar/14 27,7 0,5 9,4 0,2 18,3 0,1abr/14 27,7 0,0 9,1 -0,3 18,6 0,3Variação abr-abr
Taxas Médias: Pessoa física
3,4 2,1 1,3
Fonte: BC / INEPAD
DATA Aplicações Var. p.p. Captações Var. p.p. Spread Var. p.p.abr/13 14,0 -0,4 6,6 0,1 7,4 -0,5mai/13 13,5 0,4 6,7 0,7 6,8 -0,3jun/13 14,1 0,6 7,3 0,1 6,8 0,5jul/13 14,4 0,2 7,3 0,3 7,1 -0,1ago/13 14,7 0,2 7,5 0,2 7,2 0,0set/13 14,7 0,3 7,7 0,0 7,0 0,3out/13 14,8 0,2 7,8 0,3 7,0 -0,1nov/13 15,2 -0,3 8,1 0,1 7,1 -0,4dez/13 15,1 1,0 8,2 0,3 6,9 0,7jan/14 15,9 0,3 8,3 -0,2 7,6 0,4fev/14 16,0 0,1 8,3 0,1 7,7 0,1mar/14 16,0 0,0 8,3 -0,2 7,7 0,2abr/14 16,0 -21,1 8,2 -8,6 7,8 -12,5Variação abr-abr
Taxas Médias: Pessoa física
2,0 2,2 0,1
Fonte: BC / INEPAD
58 financeiro julho 2014
Consignados: saldo de operações de crédito
Fonte: BC / INEPAD
abr/13 94.042 124.091 16.964 61.412 202.467 296.509 24,3 36,8 12,5 mai/13 94.904 126.450 17.223 62.706 206.379 301.283 24,2 36,7 12,5 jun/13 95.634 128.603 17.401 63.386 209.390 305.024 24,2 38,0 13,8 jul/13 95.736 130.421 17.504 64.181 212.106 307.842 24,4 39,8 15,4
ago/13 96.486 132.123 17.727 65.102 214.952 311.438 24,5 39,7 15,2 set/13 97.579 133.439 17.860 65.536 216.835 314.414 24,3 40,3 16,0 out/13 98.605 134.936 17.950 65.893 218.779 317.384 24,6 42,2 17,6 nov/13 99.423 136.391 18.008 66.356 220.628 320.178 24,5 41,7 17,2 dez/13 97.767 137.169 17.953 66.755 221.841 319.644 24,4 41,3 16,9 jan/14 98.921 138.420 18.050 67.672 224.142 323.063 24,9 43,0 18,1 fev/14 99.503 140.063 18.175 69.344 227.582 327.085 25,1 44,1 19,0 mar/14 100 269 141 516 18 280 69 795 229 591 329 860 25,3 43,9 18,6 abr/14 101 250 143 161 18 473 70 412 232 046 333 296 25,3 45,1 19,8
Mês/Ano Não consignado
Consignado TotalConsignado Crédito
PessoalDiferença
Crédito pessoal Taxa de Juros %a.a.
crédito consignado (R$ milhões)
Servidores públicos
Beneficiários do INSS
TotalTrab. do setor privado
59julho 2014 financeiro
bancodedadosinepad
abr/13 21.220 4,82 123.598 1,19 21.662 0,25 93.944 1,11 202.469 1,83 296.412 1,60
mai/13 21.118 -0,48 126.433 2,29 21.773 0,51 94.945 1,07 206.309 1,90 301.254 1,63
jun/13 20.478 -3,03 125.372 -0,84 21.764 -0,04 95.663 0,76 209.304 1,45 304.967 1,23
jul/13 20.962 2,36 129.369 3,19 21.721 -0,20 95.736 0,08 212.106 1,34 307.842 0,94
ago/13 21.086 0,59 130.019 0,50 21.739 0,08 96.787 1,10 214.728 1,24 311.515 1,19
set/13 22.025 4,45 131.437 1,09 21.558 -0,83 97.579 0,82 216.835 0,98 314.414 0,93
out/13 22.058 0,15 133.682 1,71 21.500 -0,27 98.605 1,05 218.779 0,90 317.384 0,94
nov/13 21.247 -3,68 135.236 1,16 21.416 -0,39 99.423 0,83 220.754 0,90 320.177 0,88
dez/13 20.219 -4,84 144.589 6,92 21.195 -1,03 97.767 -1,67 221.878 0,51 319.645 -0,17
jan/14 21.742 7,53 143.914 -0,47 21.058 -0,65 98.921 1,18 224.143 1,02 323.063 1,07
fev/14 20.051 -7,78 139.698 -2,93 20.887 -0,81 99.503 0,59 227.581 1,53 327.085 1,24
mar/14 21.254 6,00 141.616 1,37 20.719 -0,80 100.269 0,77 229.591 0,88 329.859 0,85
abr/14 21.711 2,15 141.331 -0,20 20.598 -0,58 101.250 0,98 232.046 1,07 333.296 1,04
MÊS
/ A
NO
CHEQUE ESPECIAL
VARIAÇÃOEM %
CARTÃO DE CRÉDITO
VARIAÇÃOEM %
VARIAÇÃOEM %
Crédito pessoal não consignado
Variação em %
Crédito pesso-al consignado
total
Variação em %
TOTAL
VAR
IAÇ
ÃO
EM %
CRÉDITO PESSOALCRÉDITO PESSOAL NÃO CONSIGNADO VINCULADO À
DÍVIDA
Saldo da carteira de crédito - pessoa físicarecursos livres - (R$ milhões)
abr/13 192.490 -0,16 10.498 0,65 202.988 -0,12 13.732 -6,88 1.590 -2,69 25.941 3,63
mai/13 192.060 -0,22 10.657 1,51 202.717 -0,13 12.809 -6,72 1.583 -0,44 25.923 -0,07
jun/13 191.979 -0,04 10.804 1,38 202.783 0,03 12.040 -6,00 1.587 0,25 26.250 1,26
jul/13 193.946 1,02 10.879 0,69 204.825 1,01 11.167 -7,25 1.525 -3,91 26.279 0,93
ago/13 194.008 0,03 11.070 1,76 205.078 0,12 10.410 -6,78 1.553 1,84 26.417 0,53
set/13 193.106 -0,46 10.923 -1,33 204.029 -0,51 9.724 -6,59 1.538 -0,97 25.700 -2,71
out/13 193.026 -0,04 11.107 1,68 204.133 0,05 9.064 -6,79 1.524 -0,91 25.167 -2,07
nov/13 193.082 0,03 11.191 0,76 204.273 0,07 8.498 -6,24 1.578 3,54 25.723 2,21
dez/13 192.797 -0,15 11.373 1,63 204.170 -0,05 7.906 -6,97 1.564 -0,89 25.930 0,80
jan/14 193.006 0,11 11.460 0,76 204.466 0,14 7.368 -6,80 1.534 -1,92 26.354 1,64
fev/14 191.845 -0,60 11.560 0,87 203.405 -0,52 6.854 -6,98 1.574 2,61 28.085 6,57
mar/14 189.952 -0,99 11.757 1,70 201.709 -0,83 6.315 -7,86 1.528 -2,92 27.272 -2,89
abr/14 189.006 -0,50 11.950 1,64 200.956 -0,37 5.883 -6,84 1.523 -0,33 26.631 -2,35
MÊS
/ A
NO
VeículosVariação
em % Outros bens Variação em %
OUTROS CRÉDITOS
LIVRES
VAR
IAÇ
ÃO
EM %
AQUISIÇÃO
TOTALVARIAÇÃO
EM %VARIAÇÃO
EM %
VAR
IAÇ
ÃO
EM %
ARREN-DAMENTO MERCAN-
TIL
DESCONTO DE
CHEQUES
Saldo da carteira de crédito - pessoa física
Saldo da carteira de crédito - pessoa física
recursos livres - (R$ milhões)
recursos direcionados - (R$ milhões)RECURSOS LIVRES - (R$ Milhões)MÊS /
ANOCRÉDITO RU-RAL TOTAL
VARIAÇÃO EM %
FINANC. IMOBILI-ÁRIO TOTAL
VARIAÇÃO EM %
FINANC. RECUR-SOS DO BNDES
VARIAÇÃO EM %
MICROCRÉDI-TO TOTAL
VARIAÇÃO EM %
OUTROS CRÉDITOS DIRECIONADOS
VARIAÇÃO EM %
abr/13 94.192 1,60 281.343 2,71 32.991 2,63 3.936 1,47 4.491 0,83mai/13 97.014 3,00 289.652 2,95 32.839 -0,46 4.027 2,31 4.573 1,83jun/13 101.736 4,87 298.396 3,02 33.119 0,85 4.170 3,55 4.755 3,98jul/13 99.448 -2,25 306.493 2,71 33.527 1,23 4.116 -1,29 5.109 7,44ago/13 103.181 3,75 314.896 2,74 34.086 1,67 4.158 1,02 5.314 4,01set/13 105.950 2,68 319.441 1,44 34.504 1,23 4.188 0,72 6.074 14,30out/13 108.036 1,97 326.403 2,18 35.026 1,51 4.423 5,61 6.169 1,56nov/13 110.969 2,71 333.878 2,29 35.688 1,89 4.873 10,17 6.343 2,82dez/13 115.287 3,89 341.465 2,27 37.067 3,86 5.392 10,65 6.745 6,34jan/14 116.353 0,92 347.709 1,83 38.608 4,16 5.450 1,08 6.865 1,78fev/14 117.796 1,24 354.600 1,98 38.986 0,98 5.415 -0,64 6.978 1,65mar/14 119.944 1,82 360.784 1,74 39.174 0,48 5.261 -2,84 6.828 -2,15abr/14 122.847 2,42 367.636 1,90 39.639 1,19 5.171 -1,71 6.998 2,49
Font
e: B
C /
INEP
AD
Font
e: B
C /
INEP
AD
Font
e: B
C /
INEP
AD
Fonte: BC / INEPAD
60 financeiro julho 2014
Gráfico do crédito pessoal
abr/13 296.412 13.368 4,51% 192.490 16.650 8,65% 10.498 856 8,15%
mai/13 301.254 12.231 4,06% 192.060 16.479 8,58% 10.657 828 7,77%
jun/13 304.967 11.985 3,93% 191.979 15.857 8,26% 10.804 816 7,55%
jul/13 307.842 12.252 3,98% 193.946 15.826 8,16% 10.879 814 7,48%
ago/13 311.515 12.118 3,89% 194.008 15.152 7,81% 11.070 794 7,17%
set/13 314.414 13.048 4,15% 193.106 15.796 8,18% 10.923 765 7,00%
out/13 317.384 12.759 4,02% 193.026 15.693 8,13% 11.107 796 7,17%
nov/13 320.177 12.199 3,81% 193.082 15.350 7,95% 11.191 789 7,05%
dez/13 319.645 13.265 4,15% 192.797 14.922 7,74% 11.373 753 6,62%
jan/14 323.063 14.344 4,44% 193.006 14.939 7,74% 11.460 842 7,35%
fev/14 327.085 14.032 4,29% 191.845 14.408 7,51% 11.560 857 7,41%
mar/14 329.859 14.745 4,47% 189.952 16.051 8,45% 11.757 970 8,25%
abr/14 333.296 15.365 4,61% 189.006 15.820 8,37% 11.950 987 8,26%
MÊS
/ A
NO
% sobre saldo da carteira
% sobre saldo da carteira
% sobre saldo da carteira
Com atraso de 15 a 90 dias
Com atraso de 15 a 90 dias
Com atraso de 15 a 90 diasSaldo total Saldo total Saldo total
CRÉDITO PESSOAL AQUISIÇÃO DE VEÍCULOS AQUISIÇÃO DE OUTROS BENSSOAL
Saldo da carteira de crédito - pessoa físicaSaldo (R$ milhões) e percentual (%) da carteira de crédito com recursos livres PF - Total e com atraso entre 15 e 90 dias
Data Saldo Taxa de Jurosjun/07 96.426 51,06jul/07 100.256 50,61
ago/07 102.555 49,89set/07 104.222 49,43out/07 106.498 48,88nov/07 107.293 46,75dez/07 108.041 45,80jan/08 110.428 53,08fev/08 112.303 52,59mar/08 115.578 50,48abr/08 118.248 50,60mai/08 120.720 48,39jun/08 121.211 51,39jul/08 123.198 53,59
ago/08 125.550 54,49set/08 127.281 56,31out/08 129.704 57,42nov/08 130.039 59,88dez/08 129.741 60,44jan/09 131.707 56,51fev/09 130.219 54,49mar/09 133.330 50,84abr/09 137.539 48,78mai/09 139.997 46,62jun/09 142.569 45,64jul/09 145.446 44,78
ago/09 148.622 44,29
Data Saldo Taxa de Jurosset/09 151.359 44,71out/09 154.386 45,74nov/09 156.259 43,64dez/09 159.692 44,35jan/10 162.446 44,83fev/10 165.543 43,81mar/10 170.393 42,69abr/10 174.442 42,87mai/10 178.844 43,04jun/10 181.458 41,97jul/10 184.359 42,21
ago/10 188.779 41,96set/10 191.969 41,63out/10 195.497 43,55nov/10 198.633 41,99dez/10 201.611 44,11jan/11 205.727 48,32fev/11 209.255 47,96mar/11 210.445 43,01abr/11 213.685 44,34mai/11 216.864 44,56jun/11 220.666 44,52jul/11 224.603 45,01
ago/11 229.192 44,52set/11 232.172 44,64out/11 235.202 45,34nov/11 238.570 43,64dez/11 238.854 42,40
Data Saldo Taxa de Jurosjan/12 242.445 44,80fev/12 246.608 45,20mar/12 250.527 43,90abr/12 254.431 41,40mai/12 259.656 39,30jun/12 263.702 38,20jul/12 266.503 38,60
ago/12 270.538 38,00set/12 271.628 37,70out/12 275.565 37,80nov/12 278.776 37,10dez/12 279.104 36,90jan/13 283.245 37,30fev/13 287.061 37,90mar/13 291.741 37,17abr/13 296.412 36,83mai/13 301.254 36,74jun/13 304.967 38,02jul/13 307.842 39,75
ago/13 311.515 39,71set/13 314.414 40,34out/13 317.384 42,23nov/13 320.177 41,72dez/13 319.645 41,32jan/14 323.063 43,00fev/14 327.085 44,10mar/14 329.859 43,90abr/14 333.296 45,10
Fonte: BC / INEPAD
Fonte: BC / INEPAD
Font
e: B
C /
INEP
AD
61julho 2014 financeiro
bancodedadosinepad
abr/13 296.412 2,65 -0,02 36,83 -0,34 192.490 1,53 0,01 19,92 0,19 10.498 4,43 -0,02 68,25 -0,38
mai/13 301.254 2,64 -0,01 36,74 -0,09 192.060 1,51 -0,01 19,73 -0,19 10.657 4,32 -0,11 66,20 -2,05
jun/13 304.967 2,72 0,08 38,02 1,28 191.979 1,49 -0,02 19,47 -0,26 10.804 4,33 0,01 66,40 0,20
jul/13 307.842 2,83 0,11 39,75 1,73 193.946 1,55 0,06 20,28 0,81 10.879 4,39 0,06 67,49 1,09
ago/13 311.515 2,83 0,00 39,71 -0,04 194.008 1,60 0,04 20,92 0,64 11.070 4,39 0,00 67,55 0,06
set/13 314.414 2,86 0,04 40,34 0,63 193.106 1,64 0,05 21,60 0,68 10.923 4,43 0,03 68,17 0,62
out/13 317.384 2,98 0,11 42,23 1,89 193.026 1,59 -0,05 20,83 -0,77 11.107 4,58 0,16 71,19 3,02
nov/13 320.177 2,95 -0,03 41,72 -0,51 193.082 1,62 0,03 21,28 0,45 11.191 4,65 0,07 72,57 1,38
dez/13 319.645 2,92 -0,02 41,32 -0,40 192.797 1,62 0,00 21,29 0,01 11.373 4,93 0,28 78,13 5,56
jan/14 323.063 3,03 0,10 43,00 1,68 193.006 1,72 0,10 22,74 1,45 11.460 4,73 -0,20 74,16 -3,97
fev/14 327.085 3,09 0,07 44,10 1,10 191.845 1,80 0,08 23,85 1,11 11.560 4,79 0,06 75,36 1,20
mar/14 329.859 3,08 -0,01 43,90 -0,20 189.952 1,78 -0,02 23,54 -0,31 11.757 4,75 -0,05 74,44 -0,92
abr/14 333.296 3,15 0,07 45,10 1,20 189.006 1,71 -0,06 22,62 -0,92 11.950 4,79 0,04 75,27 0,83
MÊS
/ A
NO
Saldo total
Saldo total
Saldo total
R$ Milhões R$ Milhões R$ Milhões% am % am % am% aa % aa % aaVarição p.p
Varição p.p
Varição p.p
Varição p.p
Varição p.p
Varição p.p
Taxa de juros Taxa de juros Taxa de juros
CRÉDITO PESSOAL AQUISIÇÃO DE BENS - VEÍCULOS AQUISIÇÃO DE BENS - OUTROS
Juros
Atividade Econômica
Taxa média de juros das operações de crédito com recursos livres - Pessoa Física
Fonte: BC / INEPAD
Fonte: BC / INEPAD
Fonte: IBGE / INEPAD
DATA
"Taxa da Uti-lização
da Capacidade Instalada"
Var. p.p. DATA
"Índice de Produção Física
Média Móvel Trimestral"
Var. %
fev/13 82,4 -1,20 fev/13 127,43 0,24%mar/13 82,6 0,20 mar/13 127,70 0,21%abr/13 83,2 0,60 abr/13 127,12 -0,45%mai/13 82,6 -0,60 mai/13 127,56 0,35%jun/13 82,5 -0,10 jun/13 128,24 0,53%jul/13 82,4 -0,10 jul/13 127,36 -0,69%ago/13 82,3 -0,10 ago/13 127,39 0,02%set/13 82,1 -0,20 set/13 126,86 -0,42%out/13 82,3 0,20 out/13 127,43 0,45%nov/13 82,0 -0,30 nov/13 127,75 0,25%dez/13 81,7 -0,30 dez/13 126,17 -1,24%jan/14 82,3 0,60 jan/14 125,92 -0,20%fev/14 81,9 -0,40 fev/14 126,00 0,06%
Variação fev-fev
-0,5 Variação fev-fev
-1,43
62 fINANCEIRo julho 2014
Anfavea
Rendimento
Produção - Automóveis de Passageiros, Mistos, Veículos Comerciais, Leves e Pesados (em unidades)
Taxa de Desemprego (%)
Rendimento Médio Real Habitualmente Recebido (R$)
DATA Brasil Var. p.p. SP Var. p.p.
abr/13 5,80% 0,1 6,7% 0,400mai/13 5,80% 0,0 6,3% -0,400jun/13 6,00% 0,2 6,6% 0,300jul/13 5,60% -0,4 5,80% -0,800
ago/13 5,3% -0,3 5,40% -0,400set/13 5,40% 0,1 5,80% 0,400out/13 5,20% -0,2 5,60% -0,200nov/13 4,60% -0,6 4,70% -0,900dez/13 4,30% -0,3 4,40% -0,300jan/14 4,80% 0,5 5,00% 0,600fev/14 5,10% 0,3 5,50% 0,500mar/14 5,00% -0,1 5,70% 0,2abr/14 4,90% -0,1 5,20% -0,5
DATA Brasil Var. p.p. SP Var. p.p.
abr/13 1974,1 -0,18% 2104,6 -0,49%mai/13 1967,5 -0,34% 2090,7 -0,66%jun/13 1964,5 -0,15% 2078,9 -0,57%jul/13 1947,6 -0,86% 2049,9 -1,39%
ago/13 1981,3 1,73% 2083,3 1,63%set/13 2001,8 1,03% 2105,0 1,04%out/13 1999,1 -0,13% 2127,6 1,07%nov/13 2038,3 1,96% 2159,9 1,52%dez/13 2023,7 -0,72% 2136,2 -1,10%jan/14 2031,7 0,40% 2136,9 0,03%fev/14 2047,0 0,75% 2145,2 0,39%mar/14 2040,3 -0,33% 2144,7 -0,02%abr/14 2028 -0,60% 2139,30 -0,25%
Data Produção Média Trim.Var. Men-
salVar. Mensal
(%)
mai/13 344.547 341.998 -7.808 -2,2%jun/13 323.880 340.261 -20.667 -6,0%jul/13 317.855 328.761 -6.025 -1,9%
ago/13 342.757 328.164 24.902 7,8%set/13 322.350 327.654 -20.407 -6,0%out/13 322.514 329.207 164 0,1%nov/13 293.189 312.684 -29.325 -9,1%dez/13 230.892 282.198 -62.297 -21,2%jan/14 237.186 253.756 6.294 2,7%fev/14 281.452 249.843 44.266 18,7%mar/14 271.217 263.285 -10.235 -3,6%abr/14 277.091 276.587 5.874 2,2%mai/14 282.465 276.924 5.374 1,9%
Variação Mai-mai
-18,02%
63julho 2014 fINANCEIRo
bancodedadosinepad
Exportação de Autoveículos montados (em unidades)
Licenciamento de Automóveis Nacionais e Importados - (em unidades)
Data Exportações Média Trim. Var. MensalVar. Mensal
(%)
mai/13 48.620 48.307 -4.151 -7,87%jun/13 49.444 50.278 824 1,69%jul/13 54.096 50.720 4.652 9,41%
ago/13 64.071 55.870 9.975 18,44%set/13 45.441 54.536 -18.630 -29,08%out/13 51.819 53.777 6.378 14,04%nov/13 45.234 47.498 -6.585 -12,71%dez/13 43.298 46.784 -1.936 -4,28%jan/14 22.797 37.110 -20.501 -47,35%fev/14 28.844 31.646 6.047 26,53%mar/14 23.408 25.016 -5.436 -18,85%abr/14 35.637 29.296 12.229 52,24%mai/14 35.162 31.402 -475 -1,33%
Variação Mai-mai
-27,68%
Data Total 1000cc% no Total
+1000cc a 2000cc
% no total
+2000cc% no total
mai/13 232.974 93.970 40,3% 137.426 59,0% 1.578 0,68%jun/13 233.277 96.715 41,5% 135.298 58,0% 1.264 0,54%jul/13 250.685 99.838 39,8% 149.235 59,5% 1.612 0,64%
ago/13 242.479 94.689 39,1% 146.205 60,3% 1.585 0,65%set/13 222.155 85.937 38,7% 134.794 60,7% 1.424 0,64%out/13 239.590 89.442 37,3% 148.753 62,1% 1.395 0,58%nov/13 223.748 88.745 39,7% 133.291 59,6% 1.712 0,77%dez/13 259.211 101.512 39,2% 155.889 60,1% 1.810 0,70%jan/14 228.670 86.481 37,8% 140.452 61,4% 1.737 0,76%fev/14 183.235 67.317 36,7% 114.515 62,5% 1.403 0,77%mar/14 171.359 68.926 40,2% 101.211 59,1% 1.222 0,71%abr/14 211.225 85.545 40,5% 123.830 58,6% 1.850 0,88%mai/14 207.688 80.139 38,6% 126.019 60,68% 1.530 0,74%
0
20.000
40.000
60.000
80.000
100.000
120.000
140.000
160.000
180.000
Licenciamento por Categoria Automóveis Fonte: Inepad & Anfavea
1000cc +1000cc a 2000cc +2000cc
Fonte: Anfavea / INEPAD
Fonte: Anfavea / INEPAD
Macro
64 fINANCEIRo julho 2014
Previsões Econômicas
Ano de 2014"PIB Total
% a.a.""PIB Agropecuário
% a.a.""PIB Indústria
% a.a.""PIB Serviço
% a.a.""Produção Industrial
% a.a."
Previsão 06/06/2014 (2014/2014)
1,44 2,25 0,73 1,74 0,53
1 semana antes 30/05 1,53 2,02 0,84 1,73 0,72
1 mês antes 06/05/2014 1,69 2,41 1,42 1,85 1,10
Ano de 2014"Selic
Taxa anual""IGP-DI% a.a."
"IPCA% a.a."
"Taxa de CãmbioR$ / US$"
"SaldoComercial
US$ bilhões"
Previsão 06/06/2014 (2014/2014)
11,17 6,13 6,45 2,41 244,12
1 semana antes 30/05 11,20 6,71 6,45 2,41 244,82
1 mês antes 06/05/2014 11,31 7,19 6,53 2,42 246,77
65julho 2014 fINANCEIRo
palavrafinal
No primeiro semestre de 2014 ficou evidente que o ciclo virtuoso de
consumo brasileiro está esgotado. O consumo e o crédito tiveram
importante desaceleração. No PIB do primeiro trimestre de 2014
houve queda do consumo das famílias; desempenho esse que poderá ser no-
vamente negativo ou ligeiramente positivo no segundo trimestre, conforme
antecipam alguns indicadores de desempenho do comércio e pesquisas de
intenção de consumo recentes. Há convergência na direção de importante re-
tração na capacidade de consumo da população.
Ciclo virtuoso do consumo e crédito está esgotado
Por Nicola Tingas,Economista-chefe
da Acrefi
Por Nicola Tingas
Art
igo
envi
ado
em 2
7/6/
2014
PIB Trimestral - Consumo das Famílias
Crédito Total do Sistema Financeiro Nacional
trimestral contra trimestre anterior , variação %
crescimento em 12 meses, em %
Fonte: IBGE.
Fonte: Banco Central, Acrefi.
Também há retração
do crédito total na eco-
nomia desde 2011. Esse
movimento de desacele-
ração foi em parte contido pela oferta ampliada de re-
cursos financeiros pelos bancos públicos; e também
pela crescente utilização de crédito direcionado (de
maiores prazos e menores taxas) para, entre outros
usos, refinanciar passivos e promover saneamento
financeiro dos mais endividados, tanto entre as pes-
soas físicas quanto entre as pessoas jurídicas.
A retração da atividade econômica deixou de
ocorrer apenas na indústria de transformação –
agravada ainda mais em período recente – para
atingir também o setor de serviços e o comércio.
Vários fatores já conhecidos causaram essa impor-
tante retração econômica: inflação alta e persisten-
te, elevação dos juros, expressivo endividamento
das famílias, estancamento do aumento da renda,
demissões devido a queda da atividade econômica.
Tudo isso acompanhado pela crescente deterioração
da confiança sobre o futuro; que reduziu, em muito,
a propensão a investir pelo lado da oferta e retraiu a
propensão a consumir pelo lado do consumo – ca-
racterizando quadro de estagnação econômica.
Nesse ambiente, as projeções para crescimen-
to do produto interno bruto (PIB) em 2014 têm sido
cadentes e piores que o esperado há poucos meses
atrás. Em seu “Relatório Trimestral de Inflação” o
Banco Central reduziu para 1,6% a estimativa para
o PIB 2014, enquanto na mesma semana as proje-
ções de mercado divulgadas pelo “FOCUS” indica-
vam 1,16% de crescimento econômico.
Nas condições atuais, a capacidade de crescimen-
to da economia (PIB potencial) está comprometida.
O crescimento econômico dificilmente poderá ser
revitalizado pelo lado da demanda. A partir da polí-
tica econômica que será definida para 2015 e anos
seguintes, deverá haver consistente formulação e
implementação de estímulos capazes de promover
significativa ampliação do investimento e aumento da
produtividade, para poder, assim, alcançar a retomada
do crescimento sustentável da economia brasileira. f
66 fINANCEIRo julho 2014