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1) Discussões iniciais e conceitos: O objeto de estudo da disciplina é a atividade/gestão financeira do Estado no âmbito normativo. Sua independência se dá pelo fato de haver um objeto, princípios e legislação próprias. No âmbito do direito financeiro, há discussão entre a existência ou não de hierarquia de leis. Para o professor, que adota um corrente positivista, há sim hierarquia. Porém, o supremo traz precedentes que dizem não haver hierarquia entre normas nesse âmbito específico. A Fazenda Pública incorporou a ideia de um ente que faz a gestão da atividade financeira, porém, não tem personalidade jurídica. Ela vai a juízo para recuperar créditos do Estado, de qualquer natureza. Em suma, é o Estado agindo para fazer a gestão financeira. Fases do Estado financeiro na história: - Patrimonial: se deu na época do feudalismo. Nessa fase, a base da receita pública advinha da própria exploração do patrimônio (terra como fonte de recursos). - Polícia: Estado absolutista. A renda provinha ainda da exploração do patrimônio, mas não apenas da terra, como também através de autorizações para a prática de atos pelos súditos. - Fiscal: Estado moderno. A principal fonte de renda são os tributos, a partir do advento da revolução industrial. - Social-fiscal: os marcos jurídicos dessa nova concepção foram as constituições mexicanas (1917) e de Weimar. A receita preponderante vem através dos tributos, incorporados ao ideal dos direitos sociais (aumentando as despesas). Porém, ainda existem países classificados como Neo-patrimonialistas, tendo sua fonte principal de renda o patrimônio, mesmo nos dias de hoje. Ex.: Venezuela e o petróleo. Direito Financeiro de 1 13 Direito Financeiro Faculdade de Direito da UFMG Ana Clara Pereira Oliveira Professor(a): Flávio Bernardes 2015/2º - Diurno

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1) Discussões iniciais e conceitos: • O objeto de estudo da disciplina é a atividade/gestão financeira do Estado no

âmbito normativo. Sua independência se dá pelo fato de haver um objeto, princípios e legislação próprias.

• No âmbito do direito financeiro, há discussão entre a existência ou não de hierarquia de leis. Para o professor, que adota um corrente positivista, há sim hierarquia. Porém, o supremo traz precedentes que dizem não haver hierarquia entre normas nesse âmbito específico.

• A Fazenda Pública incorporou a ideia de um ente que faz a gestão da atividade financeira, porém, não tem personalidade jurídica. Ela vai a juízo para recuperar créditos do Estado, de qualquer natureza. Em suma, é o Estado agindo para fazer a gestão financeira.

• Fases do Estado financeiro na história: - Patrimonial: se deu na época do feudalismo. Nessa fase, a base da receita

pública advinha da própria exploração do patrimônio (terra como fonte de recursos).

- Polícia: Estado absolutista. A renda provinha ainda da exploração do patrimônio, mas não apenas da terra, como também através de autorizações para a prática de atos pelos súditos.

- Fiscal: Estado moderno. A principal fonte de renda são os tributos, a partir do advento da revolução industrial.

- Social-fiscal: os marcos jurídicos dessa nova concepção foram as constituições mexicanas (1917) e de Weimar. A receita preponderante vem através dos tributos, incorporados ao ideal dos direitos sociais (aumentando as despesas). Porém, ainda existem países classificados como Neo-patrimonialistas, tendo sua fonte principal de renda o patrimônio, mesmo nos dias de hoje. Ex.: Venezuela e o petróleo.

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Direito Financeiro

Faculdade de Direito da UFMG Ana Clara Pereira Oliveira

Professor(a): Flávio Bernardes 2015/2º - Diurno

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1.1) Poder Financeiro: • O Estado precisa de recursos, isso é de sua essência. Assim, a ideia do agir

financeiro é um poder atribuído pelo povo ao Estado, nesse sentido, essa matéria sempre estará formatada na Constituição.

• Existem duas linhas de discussão: - Horizontal: vinculada aos estados unitários. Há concentração, sendo o poder,

uno. O que ocorre é a delegação de funções, e não de poderes. - Vertical: vinculada aos estados federalistas. A existência da união, dos estados

e dos municípios torna a matéria muito mais complexa, o que exige uma constituição mais elaborada e bem trabalhada nesse aspecto. São estabelecidos diferentes níveis desse poder para os entes federados autônomos. Para que sejam considerados entes federados deve-se ter autonomia política, legislativa e administrativa.

1.2) Autonomia Financeira • Um quarto elemento discutido é a autonomia financeira. A autonomia financeira

é a "independência" em relação ao uso dos recursos e a manutenção do equilíbrio entre receita e despesa. Discute-se, doutrinariamente, se, no caso do poder financeiro vertical (federal), existe autonomia financeira. A conclusão é que ter poder financeiro não garante autonomia, por uma série de fatores, entre eles a redistribuição do valor arrecadado entre os outros entes federados.

• A base principal da receita pública está centrada na arrecadação tributária e a competência da união, dos estados e dos municípios para cobrar impostos estão dispostas, respectivamente, nos artigos 153, 155 e 156 da CF/88.

• Os poderes (legislativo, executivo, judiciário) devem ser harmônicos e independentes. A independência perpassa também pela autonomia financeira, tendo orçamento próprio e limite de gastos.

Pesquisar: como a carga tributária é dividida entre os entes federados?

1.3) Legislação (art. 160/169); • Constituição financeira:

- Receitas públicas (tributária, patrimonial, crédito público); - Despesas públicas (dívida pública, prestações financeiras); - Orçamento.

1.4) Vinculação de impostos • Os tipos de contribuição são: Contribuição social, de intervenção no domínio

econômico, contribuição de interesse de categoria profissional e contribuição para custeio da iluminação pública, segundo o artigo 149 da Constituição. Ressalte-se que, na teoria, há uma vinculação de receitas, porém existem

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distorções. O governo pode usar para outras finalidades (desvio institucionalizado) além da existência de permissão para que o governo faça uso de 20% de todas as contribuições para aplicar no que bem entender.

• Imposto é uma espécie do gênero tributo e é não vinculado. Assim, nao é porque a pessoa paga o IPVA que ele será destinado para conservação das estradas, por exemplo. O imposto vai para conta única do tesouro (art. 16 do CTN). O tributo está disposto no art. 3º da CTN.

• Já a contribuição é vinculada (ex.: INSS - Art. 195). Apesar dessas contribuições serem vinculadas, 20% delas pode ser desviado da finalidade e aplicado em outras áreas, de acordo com o Art. 76 do ADCT

2) Princípios: 2.1) Justiça:

a) Custo/benefício : adequação entre o custo do bem e o benefício trazido 1

para a coletividade. Um exemplo de aplicação é com relação às taxas, vez que o cidadão deve pagar uma taxa razoável para custear um bem ou serviço que irá lhe beneficiar em similar medida. Segundo o professor, esse princípio se aproxima muito da Economicidade, a ser tratada em seguida.

b) Economicidade: o estado deve buscar a melhor economia para a administração pública. Tal princípio preceitua que o mínimo de receita deve produzir o máximo de benefícios. Um dos exemplos de situação na qual esse princípio é indispensável é o da licitação pública. Nesse caso, deve-se sempre buscar a melhor oferta, a ser escolhida pela administração, e que traga o máximo em serviços ou bens para a população. Esse princípio está expresso no artigo 70 da Constituição.

Para o professor, os tópicos a e b não são princípios, porém, ele acha interessante a doutrina que os considera como 1

tais.

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Art. 76. (ADCT). São desvinculados de órgão, fundo ou despesa, até 31 de dezembro de 2015, 20% (vinte por cento) da arrecadação da União de impostos, contribuições sociais e de intervenção no

domínio econômico, já instituídos ou que vierem a ser criados até a referida data, seus adicionais e respectivos acréscimos legais. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 68, de 2011).

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c) Capacidade contributiva: é um mecanismo para tentar atingir o ideal de justiça e se baseia na máxima: "dar a cada um o que é seu". De acordo com esse princípio, o custeio dos impostos deve ser proporcional à capacidade econômica de cada cidadão (ou sua riqueza). A renda é um dos maiores demonstrativos da capacidade contributiva, assim, inicialmente entende-se que quem tem mais paga mais (a contribuição é feita na medida de sua capacidade econômica). Um exemplo claro é o imposto de renda, que é dividido em "faixas" de renda nas quais se aplicam diferentes alíquotas (alíquotas escalonadas). O professor faz uma crítica às faixas estabelecidas no Brasil, e vê grande necessidade de mudança. Outro exemplo é o IPTU, que em geral respeita a regra de que quanto maior for o valor do imóvel, maior será a alíquota do IPTU. O artigo 145 da Constituição brasileira materializa o princípio, incorporando-o ao ordenamento.

d) Distribuição de renda: esse princípio se relaciona ao discutido

anteriormente (capacidade contributiva). Após aferidas as possibilidades de contribuição de cada um, são adotados mecanismos de redistribuição de renda para tentar amenizar as desigualdades sociais, o que nada mais é do que um dos objetivos fundamentais do Estado Democrático brasileiro. Exemplo interessante é o caso de projetos sociais, como o bolsa família. Atente-se ao fato de que, via de regra, quem recebe os benefícios desses programas não participam de seu custeio, demonstrando então a questão da redistribuição e também da capacidade contributiva.

e) Solidariedade: também se associa à redistribuição de renda e à capacidade contributiva. É a ideia do redirecionamento das contribuições para programas e outros mecanismos quem tem o fulcro de redistribuir a renda.

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Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos: (...)

§ 1º - Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária, especialmente para

conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte.

Art. 70. (CF/88) A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da União e das entidades da administração direta e indireta, quanto à legalidade, legitimidade,

economicidade, aplicação das subvenções e renúncia de receitas, será exercida pelo Congresso Nacional, mediante controle externo, e pelo sistema de controle interno de cada Poder.

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f) Territorialidade: há duas acepções para esse princípio. Uma delas é a regra geral de que os impostos de determinado país serão aplicados em seu território para todos que lá residem, sem influência da nacionalidade de cada um. Porém, quando relativo à impostos como IPI e ICMS (de 2 3

circulação da mercadoria) esse princípio ganha novos contornos, significando que o país pode tributar a mercadoria por ele produzida no ato da exportação.

g) País de fonte: por meio de tal princípio, a tributação se daria pelo país de fonte do rendimento, o que beneficia as economias que importam capital, em detrimento das que o exportam.

h) Non olet: ideia de que o dinheiro "não tem cheiro", ou seja, mesmo que o dinheiro advenha de atividade ilícita é possível sob ele incidir o imposto. Esse princípio encontra resistência no direito penal, porém, é aceito pela maior parte da doutrina, que justifica dizendo que seria injusto nada cobrar de um descumpridor da lei, mas cobrar de trabalhadores honestos.

2.2) Equidade: a) Entre regiões: é de grande importância para agregar as diferentes regiões e

fortalecer os laços entre os estados e, consequentemente, a economia do país como um todo. Um exemplo de ação para promover a igualdade entre as regiões é por meio do incentivo ao crescimento da atividade produtiva, na qual o Estado daria alguns benefícios aos municípios menos favorecidos, como transmite o artigo 43, parágrafos e incisos. Esse princípio também está disposto expressamente no artigo 165, parágrafo 7º, bem como em outros, como o artigo 23, parágrafo único, art. 170, VII e etc.

b) No federalismo: relaciona-se ao poder financeiro vertical. A união, os Estados e Municípios dividem a competência quanto aos gastos públicos.

Imposto sobre produto industrializado 2

Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e 3

Intermunicipal e de Comunicação

Direito Financeiro de 5 13

Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão: (...) § 7º - Os orçamentos previstos no § 5º, I e II, deste artigo, compatibilizados com o plano

plurianual, terão entre suas funções a de reduzir desigualdades inter-regionais, segundo critério populacional.

Art. 43. Para efeitos administrativos, a União poderá articular sua ação em um mesmo complexo geoeconômico e social, visando a seu desenvolvimento e à redução das desigualdades

regionais. (...)

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Porém, essa divisão não é minuciosa, o que pode gerar problemas, pois apenas uma partilha justa garante o equilíbrio financeiro do Estado.

c) Entre gerações: cada geração deve arcar com os próprios ônus sem sobrecarregar as gerações futuras. Não apenas na questão da previdência, mas também nos chamados créditos públicos. Quando os últimos são realizados, são geradas dívidas públicas à longo prazo. Nesse caso não é a geração que fez o empréstimo que irá arcar com ela. Por isso, a lei de responsabilidade fiscal vem exercendo melhor controle sobre tais empréstimos, exigindo que, para realização de novos empréstimos, seja necessário pagar uma parte da dívida já existente visando a manter o equilíbrio. Além disso, ela associa a ideia de empréstimo à investimentos e não ao custeio da máquina pública posto que tal custeio deve ser feito por meio das próprias arrecadações públicas.

2.3) Segurança Jurídica: a) Legalidade: toda gestão financeira do estado passa (ou deve passar) pela

legalidade, havendo apenas uma exceção, para a qual se admite medida provisória , que será discutida posteriormente. Esse princípio é claramente 4

tratado pela constituição, principalmente em seu artigo 150, I.

b) Transparência: O Estado democrático deve agir com transparência. O texto constitucional prevê a obrigatoriedade do estado divulgar relatórios tratando sobre sua atividade financeira para o tribunal de contas. A transparência se dá não apenas em relação aos órgãos de fiscalização, mas também ao cidadão. Isso vem sendo viabilizado também pela lei de acesso à informação. Invoca-se, para demonstrar tal princípio, o artigo 37 da CF/88.

c) Anterioridade: a anterioridade tributária se diferencia da anterioridade financeira. A primeira traria a ideia de que um tributo somente poderia ser cobrado no exercício financeiro vigente após a publicação de lei em

Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força 4

de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional. (...)

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Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça; (...)

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,

impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte (...)

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momento anterior. Já a financeira, objeto de nosso atual estudo, se pauta na questão de que o orçamento precisa, via de regra, ter sido aprovado em momento anterior ao início do exercício. Atente-se ao fato de que existem exceções a esse princípio, todas tratadas pelo ordenamento.

d) Anualidade: é abarcada pelos artigos 165/167 da Constituição. O planejamento financeiro do estado se faz por meio da anualidade. O calendário utilizado é o civil (1º de janeiro até 31 de dezembro). Além disso, traduz a necessidade de renovação anual da permissão para cobrança dos tributos.

e) Unidade orçamentária: apesar da autonomia financeira, os poderes não tem lei orçamentária própria, ela é una no que diz respeito principalmente a sua construção finalística. A lei orçamentária pertence Estado, que então se subdivide em entes e poderes, sempre buscando a harmonização e o alcance de interesses comuns.

f) Universalidade orçamentária: todas as receitas e despesas devem estar presentes na mesma lei, a saber, a lei orçamentária. Esse princípio encontra efetividade no artigo 165, parágrafo 5º da CF/88:

g) Exclusividade orçamentária: a lei que trata de matéria financeira não deve ser misturada com outras matérias que não digam respeito à questão do planejamento da atividade financeira do estado. Segundo o professor pode ser entendido como complemento à transparência. Esse princípio se traduz no artigo 165, parágrafo 8º da Constituição.

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Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão: I - o plano plurianual;

II - as diretrizes orçamentárias; III - os orçamentos anuais (...)

Art. 165 (CF/88) (...) § 5º - A lei orçamentária anual compreenderá: I - o orçamento fiscal referente aos Poderes da União, seus fundos, órgãos e entidades da administração direta e indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público; II - o orçamento de investimento das

empresas em que a União, direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto;III - o orçamento da seguridade social, abrangendo todas as entidades e órgãos a ela vinculados, da administração

direta ou indireta, bem como os fundos e fundações instituídos e mantidos pelo Poder Público.

Art. 165 (CF/88) (...) § 8º - A lei orçamentária anual não conterá dispositivo estranho à previsão da receita e à fixação da despesa, não se incluindo na proibição a autorização para abertura de créditos suplementares e

contratação de operações de crédito, ainda que por antecipação de receita, nos termos da lei.

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h) Especialidade do orçamento: o orçamento deve ser específico quanto ao tempo de realização das despesas, bem como dos órgãos e dos créditos. Esse princípio deve ser analisado sob três pilares, um deles do ponto de vista qualitativo (gastar X com item A), outro de caráter quantitativo (números, arrecado X e gasto Y) e, por fim, temporal (ideia da anualidade, prazos de gastos).

3) Leis orçamentárias: 3.1) Finalidade: planejamento da gestão financeira do estado, peça importante da administração pública. O estado deve se planejar para contrabalancear o que ele "quer fazer" e o que ele tem, submetendo tudo isso às leis, sendo que o planejamento deve ser extenso. 3.2) Modalidades: - Lei orçamentária anual - LOA - Lei de diretrizes orçamentárias - LDO (curto e médio prazo) - Lei do plano plurianual - LPP (curto e médio prazo)

3.3) PPA - Plano Plurianual; • Plano de metas (planejamento a longo prazo): duração de 4 anos. O professor

critica o fato do PPA durar, em regra, um exercício, podendo ser ele completamente transformado quando há troca do chefe de Estado. Assim, as metas de longo prazo restam prejudicadas, pois geralmente não é dada continuidade.

• Planejamento - deve englobar os seguintes tópicos: - Desenvolvimento econômico: é pensado através de planos setoriais - quais

são os setores prioritários? A PPA deve tratar a respeito de quais os setores econômicos devem ser contemplados por uma visão do Estado de promover desenvolvimento. É preciso averiguar se a PPA é factível, ou seja, perceber as reais possibilidades desse plano;

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Art. 165 (CF/88) Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão:

I - o plano plurianual;

II - as diretrizes orçamentárias;

III - os orçamentos anuais.

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- Equilíbrio entre as regiões: é objetivo do Estado previsto em vários dispositivos constitucionais e se associa ao objetivo de redução das desigualdades sociais. Autoriza a ideia de conceder benefícios e incentivos àquelas regiões que apresentam desempenho econômico inferior;

- Estabilidade econômica: deve ser indicada no plano plurianual em relação às metas a serem atingidas.

• Inclusão - devem estar inclusos no PPA: - Despesa capital e decorrentes: investimentos de longo prazo que precisam

estar previstos no PPA. Se não estiver o grande investimento previsto no PPA, ele não poderá ser realizado.

- Programas de duração continuada: geralmente são programas sociais e são exemplos o "bolsa família" e o "minha casa, minha vida". Eles devem estar previstos no PPA. Nesse ponto, não se atingem apenas interesses sociais mas, sobretudo, políticos e eleitorais dos próprios governantes. O professor critica esse aspecto, pois em muitos exercícios, os gestores seguram os gastos no início do mandato e nos anos finais (próximo às eleições e à uma possível reeleição) fazem voluptuosos investimentos em relação a esses programas. Para evitar tal prática, a realização desse tipo de despesa sem o fator da continuidade pode gerar abuso de poder, no âmbito da legislação eleitoral. Nesse sentido, não é possível se fazer gasto social (ou aumento substancial do mesmo) sem que a continuidade esteja prevista no PPA, LDO e nas leis orçamentárias. Exemplo: município X, no ano eleitoral, passa a distribuir mochilas aos alunos da escola pública, algo que anteriormente não ocorria. Foi então pedida a cassação do mandado do prefeito, com base no fato da impossibilidade de realizar gastos sociais sem o fator continuidade. O tribunal cassou o mandado do prefeito. O professor diz que tal caso, porém, poderia ter sido melhor abordado pela defesa, apresentando o fato do programa prever gasto genérico com material escolar, podendo então englobar a mochila, por exemplo.

• Na realidade brasileira, a PPA sendo uma lei ordinária, não é de difícil modificação. O professor defende a aprovação de uma lei complementar que defina que, após aprovado o PPA, deve haver forte limitação restringindo supervenientes alterações.

3.4) L.D.O - Lei de Diretrizes Orçamentárias • Planejamento de médio prazo. Inicialmente, a ideia era de duração de 3 anos,

porém, não faria sentido em relação ao PPA de 4 anos. Então, modificou-se para periodicidade de ano em ano. É discutida, então, no primeiro semestre. Muitas vezes, acaba perdendo o sentido em comparação à lei orçamentária.

• Estabelece metas e prioridades do exercício subsequente. • Previsão de alteração da legislação tributária

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• Política de agências de fomento: o dinheiro trabalhado por tais agências pertence à União. O objetivo disso é melhorar (fomentar) o desempenho econômico buscando, dessa forma, o maior desenvolvimento da economia. Ex.: BNDS e outras agências de fomento.

3.4) L.O.A - Lei Orçamentária: • Se divide em três partes, porém é apenas uma lei (universalidade):

- Fiscal: custeio das despesas correntes e de capital; - Investimentos; - Seguridade social;

• Lei objetiva, diferente das duas anteriores, que tratam de metas. Diz-se que a LOA é quantitativa, qualitativa e temporal, tratando então de quanto gastar, no que gastar e quando gastar.

• Natureza Jurídica: - Leis formais em sua essência, sendo seu objetivo delimitar a atuação do

gestor público. - Lei material: direitos individuais e sociais do cidadão

• Procedimento legislativo: no caso de fechamento do exercício e não aprovação da lei orçamentária há duas possibilidades. A primeira seria aplicar o projeto pendente e depois realizar ajustes e a segunda replicar a lei do ano anterior até que seja aprovada a nova lei. Percebeu-se se a segunda mais democrática e, portanto, mais adequada, pois a lei do exercício anterior já havia sido aprovada em algum momento, enquanto na primeira opção não houve qualquer tipo de aprovação.

3.5) Modificações supervenientes da Lei Orçamentária: • O gestor deverá propor a alteração via lei ordinária, pedindo então créditos

suplementares. Porém, enquanto a aprovação não sai, ele não poderá realizar tais gastos, sob pena de incorrer em um dos tipos de crime de responsabilidade.

• Os tipos de crédito são: a. Crédito suplementar: suplementação de crédito já existente. Nesse caso,

ocorre erro de projeção da gestão. Ex.: previsão de gastar 1 milhão mas necessitará de 1.5 milhão.

b. Crédito especial: despesa necessária que não tem previsão na lei orçamentária. Para o professor, é um erro mais grave de planejamento. Único caso no direito financeiro que autoriza a edição de medida provisória, tendo em vista o caráter urgente e específico. Nessa caso, aplica-se a simetria constitucional, podendo o Município editar medida provisória (segundo entendimento do STF) desde que isso esteja previsto na lei orgânica. Ex.: gastos feitos na reparação dos danos ambientais após um acidente com uma barragem.

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4) Receitas Públicas: • Ingresso X Receita

- Receita é aquilo que se incorpora ao patrimônio público sem gerar contraprestação direta. São recursos de titularidade do Estado. A forma mais importante de receita são os tributos.

- Ingresso público: entrada de recursos que o estado não é titular, mas estão em sua conta, o que demonstra a falta de um dos elementos para classificá-lo como receita pública. Em outras palavras, quando se toma o recurso mas em breve deve-se pagar. Um exemplo são os depósitos judiciais, nos quais a titularidade pertence ao litigante que realizou tal depósito e não ao Estado, não sendo, por conseguinte, receita.

• Classificações da receita: A. Ordinária: aquelas decorrentes do orçamento, previsíveis; B. Extraordinária: as quais não fazem parte da rotina de recebimento do

Estado. São muito raras e quase não observados na prática. Ex.: doações internacionais em países que não estão acostumados a recebê-las;

C. Originária: Rendimentos que os governos auferem, utilizando os seus próprios recursos patrimoniais, industriais e outros, não entendidos como tributos. Atualmente, a mais importante forma de receita originária é a concessão, como ocorre com o transporte público.

D. Derivada: procedem do setor privado da economia e são prestações pecuniárias compulsórias. Exemplos são os tributos (meio lícito de arrecadações) e as multas (sanções tributárias).

5) Despesas Públicas: • Artigo 12 da lei 4.320/64 • Classificações:

- Despesa corrente: faz parte da rotina do estado em relação à sua existência. Exemplos são o custeio do funcionalismo público, educação, saúde.

A. Transferências correntes: gastos que estão vinculados à manutenção do estado mas que não são por ele realizadas diretamente. Gastos realizados pelo estado que não trazem contrapartida direta para ele. Exemplo: união transfere recursos (via transferência corrente) para o município fazer a execução e, posteriormente, lhe prestar contas. Se divide em subvenções sociais (despesas de entes privados ou públicos de caráter assistencial ou cultural) e econômicas (incentivos à iniciativa privada).

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B. Custeio: destinadas à manutenção dos serviços (pessoal, material de consumo, serviços de terceiros e gastos com obras de conservação e adaptação de bens imóveis).

- Despesa capital: gastos do Estado relativos a investimentos realizados. A. Investimento: Os maiores investimentos realizados pelo estado são

obras, que devem estar previstas na PPA e na LDO, não bastando apenas estar disposta na Lei Orçamentária. Isso pois, é um gasto de longo prazo, necessitando assim autorização legislativa. Lembrando que os empréstimos serão feitos apenas para custear investimentos.

B. Inversão Financeira: aquisição de um bem já existente. Atenção, se for o caso de manutenção de um bem já existente, será custeio, e não inversão.

C. Transferência de Capital/Corrente: transferência de dinheiro público para pessoa jurídica pública ou privada para que sejam realizados serviços os quais não serão diretamente executados pelo ente público que está desembolsando a quantia. Se faz necessário analisar qual a natureza da despesa que será realizada pelo ente público. Se a despesa final for corrente, por meio de subvenções sociais, a transferência será corrente. Mas se a despesa for capital, por meio de investimentos, se caracterizará a transferência capital. Ex.: construção de metrô por uma empresa privada com dinheiro público (transferência corrente)/Amortização de dívida externa (transferência de capital).

• Realização da despesa: - Empenho (art. 58 da lei 4.320/64): Ato realizado por autoridade

competente, que autoriza a realização de pagamento, criando para o Estado essa obrigação. Teoricamente, garante a existência do crédito necessário para liquidação da despesa assumida.

- Liquidação (art. 63 da lei 4.320/64): É o segundo estágio da despesa orçamentária, que ocorre quando é recebido o objeto do empenho (o material, serviço, bem ou obra). Segundo o art. 63 da Lei nº 4.320, a liquidação consiste na verificação do direito adquirido pelo credor.

- Pagamento (art. 64 da lei 4.320/64): emissão de cheque ou ordem de pagamento em favor do credor.

• Controle e fiscalização: conferência que deve ser feita em relação ao orçamento, devendo respeitar os preceitos do artigo 137, CF/88.

A. Interno (art. 74, I da CF/88): realizada pela CGU (Controladoria Geral da União) e tribunais de contas do Estado. Deve ser feito o exame da prestação de contas . Um dos principais objetivos é identificar eventuais 5

A prestação de contas deve ser feita sempre que se recebe dinheiro público.5

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Page 13: Financeiro - Vetust-Upvetustup.com/wp-content/uploads/2015/09/Ana-Clara-Oliveira-5.pdf · Direito Financeiro 4 de 13 Art. 145. A Uni o, os Estados, o Distrito Federal e os Munic pios

irregularidades buscando resguardar o gestor e encaminhá-las para o controle externo.

B. Externo: feita pelo tribunal de contas (TCU) por meio dos documentos (de receitas e despesas), bem como relatórios fornecidos pelo controle interno. Eventuais irregularidades devem informadas ao controle externo, sob pena de crime de responsabilidade. Também pode ser feita pelo MP, que pode, inclusive, agir processualmente. Pode o TCU suspender editais e licitações se houver indício de irregularidade.

- Quando é feito o controle? A regra seria "a posteriori", ou seja, em momento posterior ao da realização dos gastos. Esse é o modelo mais adotado, inclusive em nível internacional. O ideal, porém, seria o controle simultâneo, que funcionaria inclusive como auxílio ao gestor público e não apenas com o objetivo de punir eventuais casos de má fé. Existe também o modelo de controle prévio, que é mais difícil de ocorrer, mas acontece principalmente com relação à licitações, haja vista a possibilidade do TCU suspender editais, por exemplo, antes da realização da despesa.

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