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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE DIREITO FLEXIBILIZAÇÃO DA JORNADA DE TRABALHO: BANCO DE HORAS. RENATO AURINO ESPINDOLA Biguaçu, junho de 2008

FLEXIBILIZAÇÃO DA JORNADA DE TRABALHO: BANCO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Renato Aurino Espindola.pdf · do Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Renato Aurino Espindola,

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE DIREITO

FLEXIBILIZAÇÃO DA JORNADA DE TRABALHO: BANCO DE HORAS.

RENATO AURINO ESPINDOLA

Biguaçu, junho de 2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE DIREITO

FLEXIBILIZAÇÃO DA JORNADA DE TRABALHO: BANCO DE HORAS.

RENATO AURINO ESPINDOLA

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como

requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientadora: Prof.ª. MSc. Patrícia Santos

Biguaçu, junho de 2008

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AGRADECIMENTO

À Rafaella, Manuella e Maria Luiza, que iluminam

nossas vidas desde que nasceram e que me mostram

a cada dia, o quanto a vida é bela.

Aos meus irmãos, Cristiane Espindola e Roberto

Espindola, que apesar, da não convivência diária, os

amo muito.

Aos meus irmãos de coração César e Flávio, que

tornaram os seis anos de faculdade, bem mais

agradáveis de serem trilhados, sempre um apoiando o

outro.

A minha professora e orientadora, Patrícia Santos,

pela dedicação e responsabilidade na orientação desta

monografia.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a minha mãe Nilta Santana

Espindola, que sempre esteve ao meu lado nos

momentos mais difíceis de minha vida. Sempre

sendo meu abrigo na tempestade, meu porto

seguro ao meio de um mar revolto.

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

[Biguaçu, maio de 2008

Renato Aurino Espindola

Graduando

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Renato Aurino Espindola, sob o

título FLEXIBILIZAÇÃO DA JORNADA DE TRABALHO: BANCO DE HORAS foi

submetida em 20/06/08 à banca examinadora composta pelos seguintes

professores: Patrícia Santos (presidente), Roberta Schneider Westphal (membro),

Luiz César Silva Ferreira (membro).

Biguaçu, junho de 2008

Prof.ª MSc. Patrícia Santos Orientador e Presidente da Banca

Prof.ª MSc. Helena N. Paschoal Pítsica Responsável pelo Núcleo de Prática Jurídica

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GLOSSÁRIO

Abúlico – adj. Sem vontade.

Antifisiológico – Em desacordo com a fisiologia. Contrário às leis ou às regras fisiológicas.

Fisiologia – Ciência que trata das funções orgânicas pelas quais a vida se manifesta.

Carta Magna – Constituição da república federativa do Brasil.

Convenção coletiva – Art. 611 CLT - são fontes por corresponder a um contrato normativo (natureza jurídica). Suas cláusulas têm a mesma força da lei. Ex: sindicato dos trabalhadores bancários x sindicato dos empregadores bancários. Nesta, teremos uma norma coletiva elaborada dentro do âmbito sindical. Do ponto de vista subjetivo, trata-se de uma norma que é estabelecida entre o sindicato dos trabalhadores e sindicato dos empregadores. Do ponto de vista do seu alcance, ela será aplicável no âmbito da categoria.

Acordo coletivo – Art. 611, §1 CLT – são fontes por corresponder a um contrato normativo (natureza jurídica). Suas cláusulas têm a mesma força da lei. Ex: sindicato dos trabalhadores bancários x Banco do Brasil. Uma ou mais empresas, mas individualizadas. O empregador não está representado pelo sindicato. A norma passa a ser mais limitada. O alcance será aplicável apenas no âmbito da(s) empresa(s) que estejam negociando.

Flexibilização – Ato ou efeito de flexibilizar. Flexibilizar – Tornar flexível.

Globalização – Esta expressão designa um movimento complexo de abertura de fronteiras econômicas e de desregulamentação, que permite às atividades econômicas capitalistas estenderem seu campo de ação ao conjunto do planeta. Informática – É a ciência que ajuda a gerenciar as informações de determinado local ou usuário através de software e hardware.

Intervalos compulsórios – Intervalos obrigatórios dentro da jornada de trabalho. A CLT impõe estes intervalos. São eles: - Interjornada: art.66 CLT Término do trabalho do dia até o início do trabalho do dia seguinte = 11 horas consecutivas. - Intrajornada: art.71 CLT É o repouso dentro da jornada de trabalho. Ex: repouso e alimentação. Intervalo de 15 min. quando a jornada for inferior a 6 horas e quando ultrapassar 4 horas.

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Quando de 6 a 8 horas de trabalho diário, terá o intervalo mínimo de 1 hora e não superior a 2 horas, salvo quando houver acordo coletivo.

Interesse social – Interesse de toda uma coletividade.

Irrenunciabilidade de direitos – Direitos que não podem ser renunciados; direitos cogentes. Amparados por princípios e normas.

Mecanografia – Utilização de maquina de escrever, de calcular, duplicadores de assemelhados, para a execução de trabalhos de escritórios.

Mensuração – Ato de medir ou mensurar. Determinar a medida; medir.

Organização Internacional do Trabalho – A Organização Internacional do Trabalho (OIT) é uma agência multilateral ligada à Organização das Nações Unidas (ONU), especializada nas questões do trabalho. Tem representação paritária de governos dos 180 Estados-Membros e de organizações de empregadores e de trabalhadores. Com sede em Genebra, Suiça desde a data da fundação, a OIT tem uma rede de escritórios em todos os continentes.

Organização Mundial do Comércio – A Organização Mundial do Comércio (OMC) é a Organização Internacional que supervisiona um grande número de acordos sobre as "regras do comércio" entre os seus Estados-membros. Foi criada em 1994, entrando em vigor no dia 1˚de janeiro de 1995, sob a forma de um secretariado para administrar o Acordo Geral de Tarifas e Comércio - (GATT) - Sigla em Inglês.

Pressupostos lógicos e jurídicos – (...), visando a encontrar um procedimento racional de fundamentação que permita tanto especificar as condutas necessárias à realização dos valores por eles prestigiados, quanto justificar e controlar sua aplicação. Autor: ÁVILA, Humberto. Teoria dos princípios – da definição à aplicação dos princípios jurídicos. 4ª ed. São Paulo: Malheiros, 2005. p. 64.

Rerum Novarum – Sobre a condição dos operários (em Latim Rerum Novarum significa "Das Coisas Novas") é uma encíclica escrita pelo Papa Leão XIII a 15 de maio de 1981. Era uma carta aberta a todos os Bispos, debatendo com as condições das classes trabalhadoras.

Robotização – A robotização nas fábricas começou nas ultimas décadas do século XX, tendo o uso de computadores e robôs para a fabricação de vários produtos. O trabalho humano vem sendo substituído pelas maquinas cada vez mais bem desenvolvidas.

Sobreaviso – Conforme a doutrina é aquele em que o trabalhador não deve se distanciar demasiadamente do local de trabalho, para que possa atender rapidamente as chamadas necessárias. Telemática – Conjunto de tecnologias da informação e da comunicação resultante da junção entre os recursos das telecomunicações (telefonia, satélite, cabo, fibras óticas etc.) e da informática (computadores, periféricos, softwares e sistemas de redes), que possibilitou o processamento, a compressão, o

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armazenamento e a comunicação de grandes quantidades de dados (nos formatos texto, imagem e som), em curto prazo de tempo, entre usuários localizados em qualquer ponto do Planeta.

Tempo in itinere – (art.58, §2 CLT): é o tempo em que o empregado leva se deslocando, indo ou voltando ao local de trabalho no transporte do empregador se o local for de difícil acesso E não servido por serviço regular de transporte. Trade-unions – significa união de sindicatos do inglês para o português. Sindicato é a instituição utilizada para a organização dos trabalhadores na luta por seus direitos. O termo "sindicato" deriva do Latim syndicus, que é proveniente do Grego sundikós, com o significado do que assiste em juízo ou justiça comunitária. Na Lei Le Chapellier, de julho de 1791, o nome síndico era utilizado com o objetivo de se referir a pessoas que participavam de organizações até então consideradas clandestinas.

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ROL DE ABREVIATURAS OU DE SIGLAS

DIEESE - Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos

CLT – Consolidação das Leis do Trabalho CRFB – Constituição da República Federativa do Brasil TST – Tribunal Superior do Trabalho TRT – Tribunal Regional do Trabalho OJ – Orientação Jurisprudencial DJ – Diário da Justiça SDI – Seção Especializada em Dissídios Individuais OIT – Organização Internacional do Trabalho OMC – Organização Mundial do Comércio MT – Ministério do Trabalho RO – Recurso Ordinário JCJ – Junta de Conciliação e Julgamento RR – Recurso de Revista MP – Ministério Público DOU – Diário Oficial da União CCB – Código Civil Brasileiro R - recurso ABC paulista – Santo André, São Bernardo do campo e São Caetano. FGTS – Fundo de Garantia por tempo de serviço Arts. – artigos ed. – edição

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Inc. – inciso Incs. – incisos BEMAT – Banco do Estado do Mato Grosso (atualmente liquidado) DOESP – Diário Oficial do Estado de São Paulo ANAMATRA – Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho CONAMAT – Congresso Nacional dos Magistrados do Trabalho n. – número p. – página Rel. – relator v. – volume

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SUMÁRIO

RESUMO........................................................................................... IX ABSTRACT ........................................................................................ X INTRODUÇÃO ................................................................................. 11 CAPÍTULO 1 NOÇÕES DE JORNADA DE TRABALHO ....................................... 16 1.1 SÍNTESE HISTÓRICA MUNDIAL...................................................................16 1.2 SÍNTESE HISTÓRICA BRASILEIRA..............................................................18 1.3 FUNDAMENTOS DA LIMITAÇÃO DE TEMPO DE TRABALHO...................24 1.4 CONCEITO DE JORNADA DE TRABALHO..................................................25 1.5 DISTINÇÕES RELEVANTES ENTRE DURAÇÃO, JORNADA E HORÁRIO DE TRABALHO ....................................................................................................32 1.6 HORÁRIOS DE TRABALHO E INTERVALOS COMPULSÓRIOS ................34 1.7 DIFERENTES MODALIDADES DE JORNADAS DE TRABALHO................38 1.8 CLASSIFICAÇÃO (TIPOS) DE JORNADA DE TRABALHO .........................40 CAPÍTULO 2 A FLEXIBILIZAÇÃO DA JORNADA DE TRABALHO ..................... 53 2.1 A FLEXIBILIZAZAÇÃO E A DESREGULAMENTAÇÃO DAS NORMAS TRABALHISTAS ..................................................................................................53 2.2 A FLEXIBILIZAÇÃO DO DIREITO DO TRABALHO FRENTE ÀS GARANTIAS MÍNIMAS DO TRABALHADOR E AS NECESSIDADES DAS EMPRESAS NOS TEMPOS ATUAIS...................................................................56 2.3 NOÇOES DE INDISPONIBILIDADE DE DIREITOS DO EMPREGADO........62 2.4 NATUREZA JURÍDICA DAS NORMAS RELATIVAS À JORNADA DE TRABALHO..........................................................................................................66 2.5 FLEXIBILIZAÇÃO E COMPENSAÇÃO: POSSIBILIDADES E LIMITES.......68

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CAPÍTULO 3 BANCO DE HORAS......................................................................... 76 3.1 CONCEITO DE BANCO DE HORAS .............................................................76 3.2 PRESSUPOSTOS LÓGICOS E JURÍDICOS .................................................77 3.3 PREVISÃO LEGAL DO BANCO DE HORAS ...............................................79 3.4 DINÂMICA DO BANCO DE HORAS..............................................................81 3.5 OPORTUNIDADES PARA COMPENSAÇÃO................................................82 3.6 LIMITAÇÕES À APLICABILIDADE DO BANCO DE HORAS .......................85 3.7 REQUISITOS Á APLICABILIDADE DO BANCO DE HORAS .......................89 3.8 VANTAGENS E DESVANTAGENS DO BANCO DE HORAS .......................95 3.9 A INCONSTITUCIONALIDADE DO BANCO DE HORAS..............................99 3.10 BANCO DE HORAS: ASPECTOS SOCIAIS..............................................102 CONCLUSÃO................................................................................. 106 REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ........................................ 111 ANEXOS......................................................................................... 120

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RESUMO

Na presente monografia, elegeu-se como tema, o estudo do instituto banco de horas. Trata-se de uma forma de compensação da jornada de trabalho, previsto na CRFB/88, em seu artigo 7º, XIII, e também, no artigo 59, parágrafo 2º da CLT, regulamentado pela Lei nº 9601 de 21 de janeiro de 1998, e posteriormente, modificada através da Medida Provisória nº 1709, publicada em 07 de agosto de 1998, e subsequentemente por inúmeras outras Medidas Provisórias. Baseando-se em pesquisas bibliográficas, procurou-se expor em três capítulos, a flexibilização da jornada de trabalho, com enfoque especial no banco de horas. No primeiro capitulo, objetivou-se a exposição histórica referente ao tema. No segundo capitulo, abordou-se de forma detalhada, a flexibilização da jornada de trabalho. Finalmente, no terceiro capitulo, buscou-se demonstrar minuciosamente, o instituto banco de horas, sua aplicabilidade, previsão legal, vantagens e desvantagens, os aspectos sociais, os reflexos na vida do trabalhador e a sua constitucionalidade. Palavras-chave: flexibilização; jornada de trabalho; banco de horas.

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ABSTRACT

In this research, it was elected as the theme, the study of the bank of hour’s institute. This is a form of compensation from the day's work, set out in CRFB/88, in its Article 7, XIII, and also, in Article 59, paragraph 2 of CLT, regulated by Law No. 9601 of January 21, 1998, and subsequently modified by the Provisional Measure No 1709, published on 07 August 1998, and subsequently by many other Provisional Measures. Based on research literature, sought to expose in three chapters, the relaxation from the day's work, with special focus on the bank of hours. At the first chapter, aimed at the exhibition for the historical theme. At the second chapter, its addressed in detail, the relaxation of the day's work. Finally, the third chapter, tryed to show detail, the bank of hour’s institute, its applicability, legal forecast, advantages and disadvantages, the social aspects, the reflections on the life of the worker and its constitutionality. Keywords: flexibility; day of work; bank of hours.

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INTRODUÇÃO

Com a inserção do trabalho assalariado, pela Revolução

Industrial no fim do século XVIII, estabelece-se a “jornada de trabalho”. Esta

passa a ser objeto de discussão, por meio de vários ramos da ciência como, a

sociologia e a economia (entre outros), envolvendo classes patronais e

trabalhadoras.

Com o escopo de frear a selvageria de mercado e impedir

a excessiva exploração do trabalhador, o Estado passa a intervir elaborando

leis, estas reguladoras das relações de trabalho.

A polêmica inicia-se com a duração diária do trabalho,

sendo, esta, em excesso, implicaria na diminuição da qualidade de vida do

trabalhador, influindo diretamente na sua saúde, consequentemente na sua

capacidade de produção, fato este que não seria vantajoso tanto para o

empregado quanto para o empregador.

Com a conseqüente exploração excessiva, mundial, da

duração da jornada de trabalho, aconteceu a primeira Conferência da OIT,

realizada em Washington de 29 de outubro de 1919 a 27 de janeiro de 1920,

com o objetivo dirimir a questão da exploração do excesso laboral.

A partir daí acentuaram-se, grandes revoluções, em

âmbito mundial a cerca do tema, inclusive no Brasil.

No Brasil, a primeira grande greve pela redução da

jornada ocorreu em 1907, e atingiu trabalhadores de São Paulo, Campinas,

Santos, Ribeirão Preto e Rio de Janeiro. Uma grande conquista foi atingida, as

jornadas que até então estendiam-se até 15 horas por dia, foram reduzidas

para dez, e em algumas conquistas foram reduzidas para oito horas. Um

grande marco histórico foi plantado.

Muitas transformações ocorreram desde então, entre

outras, o surgimento do Ministério do Trabalho, da CLT e dos sindicatos. Até

que em 1988, foi promulgada a atual Constituição do Brasil, então a jornada

legal foi reduzida para 44 horas semanais. As horas extras continuam sendo

permitidas e consequentemente a supressão de novos postos de trabalho.

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Porém, um grande evento mundial, pesponta a partir da

década de 80, que veio por, ocasionar, grandes revoluções no Direito do

Trabalho.

Observa-se que o mundo passa por um processo de

evolução, em conseqüência do grande avanço tecnológico nos meios de

produção como a informática, telemática e a robotização, somado a

globalização que vem deixando suas conseqüências na sociedade.

Diante de tal transformação, surge a necessidade de

adaptação das normas trabalhistas, reportando a flexibilização do Direito do

Trabalho.

Instala-se uma crise mundial gerando a desestabilidade

no mercado de trabalho e consequentemente desemprego mundial.

Muitas nações primaram por investimentos tecnológicos

para incrementar a qualidade e a quantidade de sua produção industrial, outras

desprovidas de recursos financeiros passaram por explorar desordenadamente

a força laboral.

Nas duas situações supracitadas, ocorreram

desempregos em massa.

A produção passou a oscilar. Períodos de baixa de

produção ocorriam durante o ano.

Diante deste quadro mundial, surge a necessidade de

novos rumos a serem tomados, estes precursores de transformação constantes

no Direito do Trabalho, que até nos dias atuais não cessaram e jamais

cessarão.

Na tentativa de solucionar a questão da associação do

capital e do trabalho, urge a necessidade da flexibilização das normas

trabalhistas, sem extinguir as regras mínimas à tutela do empregado que tanto

foi objeto de luta na história das conquistas sociais.

Este é o escopo principal da flexibilização das normas

trabalhistas, ao mesmo tempo em que visa resolver o problema do capital e

trabalho, preocupa-se a assegurar um conjunto de regras mínimas ao

trabalhador, concatenado com a sobrevivência da empresa nos períodos de

oscilação econômica.

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Diante desse quadro critico, considera-se que, o bem

maior da relação empregado empregador, passa a ser, a manutenção do

emprego, daí a necessidade da flexibilização das normas trabalhistas, em tela,

a jornada de trabalho.

Os sindicatos passam a atuar na proporção da

flexibilização, como fiscais.

O Brasil teve que se adequar às referidas transformações.

A Constituição de 1988 primou pela autonomia privada coletiva (sindicatos),

para atuar como “Maestros” na maleabilidade das normas trabalhistas.

A fim de solucionar a questão referente à flexibilização da

jornada de trabalho, surge, então, a Lei n. 9.601/98, regulamentada pelo

Decreto nº 2.490/98, instituindo o então, polêmico banco de horas.

Trata-se de um mecanismo recente, introduzido na

legislação trabalhista, porém, o mesmo, divide a opinião da doutrina, em razão

da dúvida de ser a compensação das horas extraordinárias com as horas de

descanso ser vantajoso tanto para o empregador quanto para o empregado.

O descanso do trabalhador é fundamental, não só para o

seu bom desempenho profissional, mas também para sua vida social no

convívio com sua família na harmonia de seu lar. De que adianta um

documento em que o empregado renuncia seu descanso merecido ou suas

horas extras em troca de uma liberalidade patronal que o dispensou, após uma

longa jornada de trabalho, no dia seguinte?

De tal situação surgem vários questionamentos, tais

como: a quem interessa o banco de horas; qual sua verdadeira fundamentação

jurídica; quais são suas conseqüências na vida social do trabalhador; quais as

vantagens que o trabalhador terá com a adoção de tal mecanismo, visto que

ele não se beneficiara com os respectivos adicionais legais pelas horas

extraordinárias trabalhadas; e as controvérsias incitadas pela doutrina e

jurisprudência: banco de horas, acordo individual ou coletivo?

Uma outra questão que surge referente ao tema, é se a

compensação de jornada por meio do banco de horas seja realmente a solução

para o desemprego, ou se do contrario faz aumentar este.

Diante dessa discussão, esta monografia tem como objeto

a análise dos aspectos legais e sociais que embasam o banco de horas.

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O seu objetivo é expor o conceito do banco de horas, as

limitações de sua aplicabilidade, sua previsão legal, sua dinâmica e o aspecto

social de sua adoção.

A justificativa está ligada à proteção do trabalhador, o qual

encontra amparo no art. 7º da CRFB/88. Daí por que será nulo o ato que obstar

os direitos cogentes do trabalhador. Assim sendo, há de ser analisado nesta

monografia, a constitucionalidade do banco de horas.

A lei supracitada, por meio do banco de horas, regula a

compensação de jornadas, no aumento da mesma, até o limite de dez horas

por dia, em determinados dias da semana para redução ou supressão da

mesma em outro, ou outros dias, num período máximo de um ano.

O banco de horas é o objeto principal desta monografia,

assim sendo, o transcorrer da mesma se fará da seguinte forma:

No primeiro capítulo será abordada a jornada de trabalho,

sua origem no contexto mundial e nacional, os fundamentos de limitação,

conceito, tipos, modalidades e classificação.

No segundo capítulo será exposto a flexibilização do

direito do trabalho, dando ênfase a obrigação de se manter as garantias

mínimas do trabalhador. Também será abordado a necessidade das empresas,

principalmente nos tempos atuais, pela flexibilização das normas trabalhistas,

primordialmente, no que se refere, a jornada de trabalho, bem como o instituto

de compensação da mesma.

E finalizando, o terceiro capítulo se aterá,

minuciosamente, no instituto banco de horas, neste procurar-se á responder a

temática levantada neste presente estudo, evidenciando seus pressupostos,

conceito, natureza, limitações, requisitos, previsão legal, sua dinâmica e por fim

as vantagens e desvantagens de sua aplicação num contexto social.

A pesquisa encerra-se com as considerações finais,

nestas, serão expostos aspectos conclusivos, deixando em aberto o fato da

continuação das transformações no Direito do Trabalho, por meio da

flexibilização das normas trabalhistas, tendo como referente o banco de horas.

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na

fase de investigação, foi utilizado o Método Dedutivo. Os resultados expostos

nesta monografia são compostos na base lógica Dedutiva.

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Nas diversas fases da pesquisa, foram acionadas as

Técnicas, do Referente, da Categoria, do Conceito Operacional e da Pesquisa

Bibliográfica.

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CAPÍTULO 1

NOCÕES DE JORNADA DO TRABALHO

Será abordada, neste primeiro capítulo, a jornada de

trabalho, sua origem no contexto mundial e nacional, os fundamentos de

limitação, conceito, tipos, modalidades e classificação das jornadas de

trabalho.

SÍNTESE HISTÓRICA MUNDIAL

Na Europa, até meados de 1800, a jornada de trabalho

era estabelecida entre 12 e 16 horas, inclusive a jornada destinada às

mulheres e crianças. Diante deste quadro abusivo, então considerado pelos

trabalhadores da época, era comum surgirem movimentos operários

reivindicatórios visando à diminuição da jornada de trabalho. 1

Os trabalhadores, sem a intervenção do estado nas

questões relacionadas aos problemas do trabalho, eram submetidos a uma

jornada de trabalho excessiva. No auge da Revolução Industrial, existia uma

oferta, em excesso, de mão de obra por parte das pessoas que deixavam os

campos e se dirigiam aos grandes centros em busca de trabalho. Situação

esta, que acentuou a revoltante e desumana exploração dos trabalhadores

(homens, mulheres e crianças), daí o surgimento, crescente, de insatisfeitos. 2

Foi em meados do século XIX, diante da evidente

exploração do trabalho humano, os trabalhadores perceberam a necessidade

de criarem uniões e sindicatos para defesa de seus próprios interesses.3

Em 1830, na Inglaterra, as então chamadas trade-unions4,

partem para luta, organizando movimentos operários, em prol da fixação do dia

1 MARTINS, Sergio Pinto. Curso de direito do trabalho. 4. ed. ver. e atual. São Paulo: Dialética, 2005. p. 190. 2 SAAD, Eduardo Gabriel. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. 40. ed. atual. e rev. e ampl. São Paulo: LTr, 2007. p.130. 3 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANA, Segadas; TEIXEIRA, Lima. Instituições de Direito do Trabalho. 21. ed. atual. São Paulo: LTr, 2003. p. 795.

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de trabalho em oito horas. Somente em 1847 o Parlamento Inglês aprovou a

primeira Lei impondo o limite máximo de dez horas de jornada de trabalho. 5

Cabe mencionar um breve histórico, referente ao dia

internacional da mulher (8 de março), por se tratar de material indispensável à

referente pesquisa:

Nesse dia, do ano de 1857, as operárias têxteis de uma fábrica de Nova Iorque entraram em greve, ocupando a fábrica, para reivindicarem a redução de um horário de mais de 16 horas por dia para 10 horas. Estas operárias que, nas suas 16 horas, recebiam menos de um terço do salário dos homens, foram fechadas na fábrica onde, entretanto, se declarara um incêndio, e cerca de 130 mulheres morreram queimadas. Em 1910, numa conferência internacional de mulheres realizada na Dinamarca, foi decidido, em homenagem àquelas mulheres, comemorar o 8 de Março como Dia Internacional da Mulher.6

Outro fato importantíssimo para nossa pesquisa, refere-se

ao surgimento do dia mundial comemorativo ao trabalho (1º de maio). Senão

vejamos:

A origem da comemoração do Dia do Trabalhador em 1º de maio: manifestações, nos Estados Unidos, em 1886, que pleiteavam a redução da jornada de 16 para 8 horas terminaram com seis trabalhadores mortos, oito presos e cinco deles condenados posteriormente à forca. Quatro anos depois, o Congresso Norte Americano determinou a redução da jornada para 8 horas diárias.7

4 Os trade unions eram associações de trabalhadores, surgidas no início do século XIX. Essas associações organizavam greves e movimentos, reivindicando as propostas trabalhistas. Em 1821, o governo inglês reconheceu estas associações como entidade útil de auxílio aos trabalhadores. Somente no final do século XIX, foram reconhecidas como órgãos representativos de classe, surgindo logo após o Partido Trabalhista. Autor: BRAICK, Patrícia. Socialismo e os movimentos sociais do século XIX. Disponível em: http://www.casadehistoria.com.br/cont_17-01.htm . Acesso em: 23 de abril de 2008. 5 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANA, Segadas; TEIXEIRA, Lima. Instituições de Direito do Trabalho. 21. ed. atual. São Paulo: LTr, 2003. p. 795. 6 TAVARES, Amílcar. Porque dia 8 de março Dia internacional da mulher. Vozdipovo-online.com 2006. Disponível em: http://www.vozdipovo-online.com/conteudos . Acesso em: 25 de abril de 2008. 7 Redução da Jornada de Trabalho: Um pouco da história. CUT. Ceará: 2004. Disponível em: http://www.cutceara.org.br . Acesso em: 25 de abril de 2008.

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18

O Vaticano, também referindo-se à exploração do

trabalho humano, manifestou-se na pessoa do então Papa Leão XIII, que,

publicou em 1891 a Encíclica “Rerum Novarum”8 a qual influenciou,

significativamente, não apenas os trabalhadores, mas, governantes e

legisladores. 9

Foi somente após a Primeira Grande Guerra Mundial

(1914-1918), que nações passaram a adotar a jornada diária de oito horas. A

OIT (Organização Internacional do Trabalho), em sua primeira reunião,

realizada em Washington de 29 de outubro de 1919 a 27 de janeiro de 1920,

consagrou a jornada de trabalho em oito horas diárias, com algumas exceções. 10

Com o encerrando da Segunda Guerra Mundial, o Tratado

de Versalhes11 adotou a jornada trabalho de oito horas e quarenta e oito

semanais, proclamando não ser o trabalho humano mercadoria ou artigo de

comércio.12

1.2 SÍNTESE HISTÓRICA BRASILEIRA

Desde o descobrimento do Brasil, os navegadores que

aqui aportaram, impuseram aos índios que aqui viviam, o regime da 8 Encíclica “Rerum Novarum”: “Não é justo nem humano o exigir do homem tanto trabalho a ponto de fazer pelo excesso de fadiga embrutecer o espírito e enfraquecer o corpo. A atividade do homem é limitada como a sua natureza. O exercício e o uso aperfeiçoam-na, mas é preciso que de quando em vez se suspenda para dar lugar ao repouso... Não deve, portanto, o trabalho prolongar-se por mais tempo de que as forças o permitem”. 9 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANA, Segadas; TEIXEIRA, Lima. Instituições de Direito do Trabalho. p. 804. 10 SAAD, Eduardo Gabriel. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. 40. ed. p.130. 11 O Tratado de Versalhes – Constituição da OIT – 1919 – Já no inicio de 1919, terminada a guerra foi nomeada a 25 de janeiro a Conferência preliminar da paz, composta de quinze membros, entre os quais se encontravam defensores do acesso dos trabalhadores à mesa de negociações. (...). Depois de 35 sessões, a comissão deu por acabado o seu projeto de paz em 11 e 27 de abril, com pequenas modificações, inserindo-o nos diversos tratados que encerraram a guerra (...). Assim, pelo Tratado de Versalhes, o mais importante de todos, de 28 de junho de 1919, constituiu-se a OIT. Autores: MORAES FILHO, Evaristo de; MORAES, Antonio Carlos Flores de. Introdução ao direito do trabalho. 9. ed. . São Paulo: LTr, 2003. p.220. 12 ROBORTELLA, Luiz Carlos Amorim - Curso de Direito Constitucional do Trabalho. vol. 1 . São Paulo: Ltr, 1991.

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escravidão, que posteriormente, não suficiente tal força laboral, passaram a

escravizar os negros que eram trazidos da áfrica. Perdurou durante séculos

essa situação, que desde seus primórdios jamais deixou de ser combatidas por

seus descontentes. Embora a abolição da escravatura ter acontecido há mais

de cem anos, é impossível ainda hoje, encontrarmos situações de escravidão

em nosso pais13.

No sistema de trabalho escravo a jornada de trabalho era

estabelecida pela resistência de força do escravo. Trabalhava-se o que o corpo

permitia. Mais adiante, nos primórdios do processo de industrialização no Brasil

(final do século XIX e início do século XX) com a instalação das primeiras

fábricas, as jornadas de trabalho se estenderam, permitindo que fossem

comuns situações em que atingissem 12 a 15 horas diárias. Estas jornadas,

abusivas, podiam ser fixadas, reduzidas ou ampliadas de acordo com a

necessidade ditada pelo empregador. 14

“O homem é um lobo para o homem”15, observou TOMÁS

HOBBES, ao reconhecer que a natureza humana sempre procura explorar ou

devorar, numa linguagem figurada, o próximo, para designar a opressão que os

mais fortes exercem sobre os mais fracos.

Em 1907, ocorre a primeira grande greve geral, tendo

como principal reivindicação a redução da jornada para 8 horas por dia. Essa

greve colocou o movimento sindical brasileiro próximo às reivindicações dos

trabalhadores dos países desenvolvidos da Europa e Estados Unidos.16

A paralisação, iniciada em São Paulo, irradiou-se por

algumas grandes cidades do interior paulista, como Santos, Ribeirão Preto e

13 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANA, Segadas; TEIXEIRA, Lima. Instituições de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 1991. p. 29. 14 Conjuntura – Boletim DIEESE – agosto/97. Disponível em: http://www.sindipetro.org.br/extra/cjuago97.htm. Acesso em 9 de janeiro de 2008. 15 Homo homini lupus (O homem é um lobo para o homem). — Thomas Hobbes, referindo-se à ferocidade manifestada de um indivíduo para outro, disse que — "o homem é o lobo do próprio homem”. Embora o pensamento tenha provido de um filósofo inglês, no século XVII (Plauto - Asinaria, II, 4, 88), é tragicamente verdadeiro o que disse. Atualizadíssimo para os nossos dias. Disponível em: http://www.ieja.org . Acesso em: 25 de abril de 2008. 16 Conjuntura. Boletim DIEESE. Agosto/97. Disponível em: http://www.sindipetro.org.br/extra/cjuago97.htm. Acesso em 8 de janeiro de 2008.

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20

Campinas, atingindo também o Rio de Janeiro. Houve adesão das principais

categorias profissionais da época: chapeleiros, pedreiros, metalúrgicos,

gráficos, carvoeiros, sapateiros, carpinteiros, costureiros, marceneiros,

empregados no serviço de limpeza pública e trabalhadores nas indústrias

têxteis e de alimentação.17

A greve foi parcialmente bem-sucedida, obtendo maior

sucesso nas pequenas empresas, onde os trabalhadores conquistaram a

redução de jornada de trabalho diária para cerca de 10 horas, sendo que, em

algumas delas, foram conquistadas a redução para 8 horas. 18

Gomes e Gottschalk19 melhor descrevem essa situação:

A história do movimento operário é uma lição de sociologia que nos fornece a precisa idéia de um grupo social oprimido. O envilecimento20 da taxa salarial, e o prolongamento da jornada de trabalho, o livre jogo da oferta e da procura, o trabalho do menor de seis, oito e dez anos, em longas jornadas, e o da mulher em idênticas condições criaram aquele estado de détresse sociale de que nos fala Duran, no qual as condições de vida social uniformizaram no mais ínfimo nível.

Referindo-se ao tema assim manifestou-se Dal Rosso21:

A corrente rompeu por um elo mais fraco, uma vez que o movimento sindical operário era muito mais forte nas regiões mais industrializadas do país, como São Paulo e Rio de Janeiro.

Com a vitória da Revolução de 1930, o então presidente

Getúlio Vargas22 em 1932 assinou os Decretos ns. 21.186 e 21.364, que 17 Conjuntura. Boletim DIEESE. Agosto/97. Disponível em: http://www.sindipetro.org.br/extra/cjuago97.htm. Acesso em 8 de janeiro de 2008. 18 Conjuntura. Boletim DIEESE. Agosto/97. Disponível em: http://www.sindipetro.org.br/extra/cjuago97.htm. Acesso em 8 de janeiro de 2008. 19 GOMES, Orlando; GOTTSCHALK, Élson. Curso de Direito do Trabalho. 4. ed.. Rio de Janeiro: Forense. p. 120. 20 Envilecimento: s. m. estado de uma pessoa, de uma coisa envilecida; aviltamento, vileza, degradação. Workpédia: Dicionário Online da Lingua Portuguesa. Disponível em:

http://www.workpedia.com.br/90433/envilecimento.html. Acesso em 9 de janeiro de 2008. 21 DAL ROSSO, Sadi - A jornada de trabalho na sociedade: o castigo de Prometeu. São Paulo: LTr, 1996. p.125.

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dispuseram sobre a duração do trabalho no comércio e na indústria, bem

como, no mesmo ano, assinou outro Decreto (n. 22.033) o qual melhorou o

regime referente aos comerciários. 23

Antes de 1930 o Decreto n. 313, de 17.1.1891, limitava a

jornada de trabalho diária em nove horas de menor masculino e sete horas

menor feminino, tal Lei restringia sua aplicação somente no Distrito Federal. 24

O governo de Getúlio Vargas Adotou, portanto, a jornada

de oito horas diárias, com possibilidade de ser estendida para dez horas

diárias, mediante acordo entre empregados e empregadores, com respectivo

pagamento das referidas horas-extras, com um adicional sobre o salário-hora.

No entanto nas atividades insalubres e trabalhos subterrâneos, a jornada

limitava-se a oito horas diárias sem a possibilidade de se estender a dez horas.

Com tudo, durante a jornada, era obrigatório intervalo para refeição e

repouso.25

Com isso, Getúlio Vargas, ao tomar o poder em 1930,

uma das suas primeiras providências foi criar, em 26 de novembro de 1.930, o

Ministério do Trabalho, da Indústria e Comércio, chamado de “Ministério da

Revolução”26, com a finalidade de regulamentar as relações entre o capital e o

trabalho, surgindo, a partir daí, a regulamentação do Direito do Trabalho.27

22 Getúlio Dornelles Vargas (19/4/1882 - 24/8/1954) foi o presidente que mais tempo governou o Brasil, durante dois mandatos. De origem gaúcha (nasceu na cidade de São Borja), Vargas foi presidente do Brasil entre os anos de 1930 a 1945 e de 1951 a 1954. Entre 1937 e 1945 instalou a fase de ditadura, o chamado Estado Novo. Disponível em: http://www.suapesquisa.com/vargas . Acesso em: 25 de abril de 2008. 23 BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 24ª Região. Juíza Dayse Vasques. 1998. Disponível em: http://doe.trt24.gov.br. acesso em 25 de abril de 2008. 24 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANA, Segadas; TEIXEIRA, Lima. Instituições de Direito do Trabalho. p. 798. 25 BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 24ª Região. Juíza Dayse Vasques. 1998. Disponível em: http://doe.trt24.gov.br. acesso em 25 de abril de 2008. 26 O "ministério da revolução" que tinha a missão de organizar o mercado de trabalho para a expansão da indústria e comércio e ao mesmo tempo reprimir, controlar e cooptar o movimento sindical. Autor: Marco Antonio de Oliveira – Antigo Secretário-adjunto de Relações do Trabalho. Disponível em: http://www.trabalho.gov.br . Acesso em 9 de janeiro de 2008. 27 PETELINKAR, Lino Faria. A limitação da jornada do trabalho. Disponível em: http://www.revistapersona.com.ar/lino.htm. Acesso em 9 de janeiro de 2008.

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Após, a referida Revolução de 1930, o perfil das classes

dominantes foi profundamente alterado. O Estado toma o controle, passando a

regulamentar, por meio de vários decretos, a jornada de trabalho,

estabelecendo para algumas categorias jornadas de 8 horas diárias e 48 horas

semanais. Para outras, as jornadas fixadas foram inferiores, caso dos

bancários e dos trabalhadores nos serviços de telegrafia, para os quais se

estabeleceu uma jornada de 6 horas diárias e 36 horas semanais. 28

No período que compreendeu a vigência da Constituição

de 1934 promulgou-se apenas, a Lei n. 264, de 5.10.36, que dispunha sobre a

duração do trabalho dos servidores públicos, ao passo que também neste

período, o Executivo, expediu o Decreto n. 279, de 7.8.35, o qual regulava a

jornada de trabalho no serviço ferroviário. 29

No entanto, na Constituição de 1937, por meio do

Decreto-Lei n. 910, de 30.11.38, fixou-se a jornada de cinco horas diárias para

a classe dos jornalistas. Também nesse período, cuidou-se da classe dos

professores, que por meio do Decreto n.2.028, de 22.02.40, fixou-se o limite de

seis aulas por dia a jornada do profissional do magistério num mesmo

estabelecimento.30

Diante do número, desordenado e esparso, de leis

trabalhistas específicas, uma para cada determinado seguimento, promulgou-

se o Decreto-Lei n. 5.452 de 1º de maio de 1943 que aprovava a Consolidação

das Leis do Trabalho (CLT). 31

Trata-se de uma Consolidação que não só reuniu,

sistematicamente, as leis trabalhistas da época que até então se encontravam

de forma esparsas, contudo fazendo alterações em alguns pontos. Tal feito fez-

se possível, pois na época vigia a Constituição de 1937, (mantendo o mesmo 28 Conjuntura. Boletim DIEESE. Agosto/97. Disponível em: http://www.sindipetro.org.br/extra/cjuago97.htm. Acesso em 8 de janeiro de 2008. 29 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANA, Segadas; TEIXEIRA, Lima. Instituições de Direito do Trabalho. p. 798. 30 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANA, Segadas; TEIXEIRA, Lima. Instituições de Direito do Trabalho. p. 798. 31 SAAD, Eduardo Gabriel. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. 40. ed. p.17.

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seguimento da Constituição de 1934), esta autorizava o poder Executivo a

expedir Decretos-Leis, enquanto não se instalava o Congresso Nacional.32

Com o advento da Carta Magna de 1988, fixou-se o limite

de oito horas para uma jornada de trabalho normal, perfazendo quarenta e

quatro a jornada semanal, não fazendo distinção entre o trabalhador rural ou

urbano, todavia, exclui os empregados domésticos, facultando a compensação

de jornada ou a redução pela via da convenção ou acordo coletivo. Da mesma

forma fixou-se o limite de seis horas para a jornada de trabalho, referentes a

turnos ininterruptos de revezamento, porém deixou oportunidade para

negociações coletivas.33

Assim dispõe o artigo 7º, XIII da CRFB/88:

Duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada mediante acordo ou convença coletiva de trabalho.34

Sobre o tema, esclarece Süssekind35:

Obviamente, esses limites poderão ser reduzidos por lei (para atividades profissionais que justifiquem), convenção ou acordos coletivos, regulamento de empresa ou contrato de trabalho. Mas também poderá ter flexibilidade sua aplicação em determinadas hipóteses, pelos instrumentos da negociação coletiva. Na eventual contradição ou incompatibilidade entre norma sou clausulas, prevalecera a mais favorável ao trabalhador.Vale lembrar, que além dos domésticos, os gerentes também são excluídos da jornada a que dispõe a praxe (oito horas diárias e quarenta e quatro semanais), pois, estes devem ser entendidos como aqueles que exercem cargo de confiança, por conseguinte percebem remuneração superior

32 SAAD, Eduardo Gabriel. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. 40. ed. p.17. 33 SÜSSEKIND, Arnaldo. Curso de Direito do Trabalho. 2. ed. ver. e atual.. Rio de Janeiro: Renovar, 2004. p. 455-456. 34 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.. Art. 7, inciso XIII. Disponível em: http://www.planalto.gov.br . Acesso em: 20 de abril de 2008. 35 SÜSSEKIND, Arnaldo. Curso de Direito do Trabalho. p. 456.

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a 40% sobre seus subordinados. Excluem-se, inclusive os trabalhadores externos. 36

Dispõe o inciso XIV, também, do artigo 7º da CRFB/88:

Jornada de seis horas para trabalhos realizados em turnos ininterruptos e de revezamento, salvo negociação coletiva.37

Com relação à profissão também é distinta a jornada de

trabalho; por exemplo, o bancário tem jornada de seis horas.38

1.3 FUNDAMENTOS DA LIMITAÇÃO DE TEMPO DE TRABALHO

A duração do trabalho possui limites que são observados

por fatores de ordem fisiológica, social e econômica. Assim fulcrado nesses

limites o Estado passa a intervir na questão trabalhista, a fim de legitimar a

limitação do tempo de trabalho efetuado a cada dia, pelo trabalhador. 39

A fisiologia demonstra que o organismo humano quando

em atividade, consome energias, sendo necessário, portanto, a reposição de

tais energias para que ele não seja acometido de fadiga e posteriormente

adoeça.40

A limitação do tempo de trabalho visa proporcionar,

inclusive, condições de vida digna, também pelo direito ao lazer, ao descanso e

repouso, que são direitos sociais fundamentais. Embora o trabalho seja o

organizador da vida social, contudo a vida não se reduz apenas ao trabalho.41

O fator social justifica a limitação da jornada de trabalho,

pela necessidade, que tem o trabalhador, de dispor de tempo para cuidar de 36 ALMEIDA, André Luiz Paes de. Direito e processo do trabalho. São Paulo: Premier Máxima, 2008. p. 81. 37 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Art. 7, inciso XIV. Disponível em: http://www.planalto.gov.br . Acesso em: 20 de abril de 2008. 38 ALMEIDA, André Luiz Paes de. Direito e processo do trabalho. São Paulo: Premier Máxima, 2008. p. 81. 39 SAAD, Eduardo Gabriel. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. 40. ed. p.130. 40 SAAD, Eduardo Gabriel. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. 40. ed. p.130. 41 MÃNHAS, Christian Marcello. O direito social ao lazer. Paraná 2008. Disponível em: http://www.machadoadvogados.com.br. Acesso em: 26 de abril de 2008.

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seus direitos e deveres perante sua família e da sociedade como um todo. O

trabalhador tem o direito de cuidar da sua formação cultural para que

vislumbre-se estilo digno de vida, daí a necessidade da limitação condizente,

da jornada de trabalho.42

O fator econômico justifica-se por dois aspectos, de um

lado a empresa que se beneficia da maior capacidade de produção daquele

empregado que teve a oportunidade de repousar o suficiente para recompor

suas forças; o outro aspecto, é o aumento da oferta de novos postos de

trabalhos dispostos no mercado, oriundos da limitação da jornada de

trabalho.43

Cabe aqui, transcrever os ensinamentos de Robortella44:

O homem fatigado, destruído pelo trabalho excessivo, é um ser abúlico, destituído de vontade, incapaz para o exercício concreto da cidadania

O trabalhador não deve ser submetido a longas jornadas

de trabalho, a ponto de lhe prejudicar a saúde. Tal resultado, em nada é útil às

empresas, pois com a sucessão de horas, a produtividade do trabalhador em

muito é reduzida.45

1.4 CONCEITO DE JORNADA DE TRABALHO

A origem da expressão jornada de trabalho, bem lembra

Martins46: “o vocábulo giornata, em italiano significa dia. Em francês usa-se a

expressão jour, dia; journee quer dizer jornada. Jornada significa o que é

diário”.

42 SAAD, Eduardo Gabriel. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. 40. ed. p.130. 43 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANA, Segadas; TEIXEIRA, Lima. Instituições de Direito do Trabalho. p. 795. 44 ROBORTELLA, Luiz Carlos Amorim - Curso de Direito Constitucional do Trabalho, vol. 1 / Coordenação Arion Sayão Romita – São Paulo : Ltr, 1991. p. 181-197. 45 SAAD, Eduardo Gabriel. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. 40. ed. p.132. 46 MARTINS, Sergio Pinto. Curso de direito do trabalho. 18. ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 343.

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Godinho47 conceitua jornada de trabalho da seguinte

forma:

Jornada de trabalho é o lapso temporal diário em que o empregado se coloca à disposição do empregador em virtude do respectivo contrato. E é desse modo, a medida principal do tempo diário de disponibilidade do obreiro em face de seu empregador como resultado do cumprimento do contrato de trabalho que os vincula.

Por sua vez, Nascimento48 chama a atenção para a

existência de três teorias que conceituam jornada diária de trabalho, senão

vejamos: Teoria da jornada diária de trabalho (tempo efetivamente trabalhado);

Teoria da jornada diária (tempo à disposição do empregador no centro de

trabalho); Teoria da jornada (tempo á disposição do empregador no centro do

trabalho ou fora dele).

Martins49, também, defende a necessidade dos três

prismas supracitados para a possibilidade de conceituar jornada de trabalho,

referindo-se a teoria do tempo efetivamente trabalhado como sendo o tempo

em que o empregado efetivamente presta serviço ao empregador; quanto à

teoria em que o empregado encontra-se a disposição do trabalhador refere-se

ao tempo em que o empregado chega à empresa até o momento em que dela

se retira; e por último a teoria em que o empregado encontra-se a disposição

do empregador no centro do trabalho ou fora dele (tempo “in itinere”), esta que

considera como jornada de trabalho desde o momento que o empregado sai de

sua residência, em direção ao trabalho, até o tempo em que ela leva para

chegar a mesma.

47 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 5º ed. São Paulo: LTr, 2006. p.830. 48 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao direito do trabalho. 32. ed.. São Paulo: Ltr, 2006. p. 167. 49 MARTINS, Sergio Pinto. Curso de direito do trabalho. p. 191-192.

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Ainda segundo Martins,50 a legislação brasileira

atualmente admite um sistema híbrido das teorias supracitadas, para identificar

a jornada de trabalho.

O sistema híbrido, do qual menciona Martins51, refere-se à

adoção das duas teorias das quais sejam: o tempo in itinere, que leva em

conta, para a contagem da jornada, o tempo gasto no deslocamento do

empregado até o local do serviço. Contudo, convém mencionar que: não pode

ser adotada em todos os casos, mas, somente nas circunstâncias de não haver

transporte público regular para o local de trabalho ou se o mesmo estiver em

local de difícil acesso, desde que o empregador forneça a condução. E a teoria

do tempo à disposição do empregador, a qual, computa o tempo desde a

chegada do trabalhador à empresa até o momento em que dela sai, incluindo

as paralisações para descanso, almoço etc.

Nesse sentido assim estabelece o artigo 4º da CLT, que

diz:

Considera-se como de serviço efetivo o período em que o empregado esteja à disposição do empregador, aguardando ou executando ordens, salvo disposição especial expressamente consignada.52

Para melhor entender o significado exato do termo “in

itinere”, Nascimento53, conceitua o termo como sendo o tempo que o

empregado gasta no trajeto de casa para o serviço ou vice-versa.

50 MARTINS, Sergio Pinto. Curso de direito do trabalho. p. 192. 51 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 14ª edição; São Paulo: Atlas, 2001. p. 439. 52 BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Decreto Lei n. 5.452. Art. 4º. Presidência da Republica. Disponível em: http://www.planalto.gov.br . Acesso em: 22 de abril de 2008. 53 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao direito do trabalho. 32. ed. p. 168.

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Persiste a polêmica no Direito do Trabalho, a cerca da

inclusão do tempo “in itinere”, na inclusão no tempo remuneratório, com tudo, a

Súmula n. 9054, do TST, assim já definiu:

I – O tempo despendido pelo empregado, em condução fornecida pelo empregador, até o local de trabalho de difícil acesso ou não servido por transporte público regular, e para o seu retorno é computável na jornada de trabalho.

II – A incompatibilidade entre os horários de inicio e termino da jornada do empregado e o do transporte público regular é circunstância que também gera o direito ás horas in itinere.

III – A mera insuficiência de transporte público não enseja o pagamento das horas in itinere.

IV – Se houver transporte público regular em parte do trajeto percorrido em condução da empresa, as horas in itinere

remuneradas limitam-se ao trecho não alcançado pelo transporte público. V – Considerando que as horas in itinere são computáveis na jornada de trabalho, o tempo que extrapola a jornada legal é considerado como extraordinário e sobre ele deve incidir o adicional respectivo.

O artigo 58 da CLT, em seu parágrafo 2º, com o advento

da Lei 10.243/200155, sofreu modificação, confirmando o entendimento da

Súmula n. 90/TST, que assim passou a dizer:

O tempo despendido pelo empregado até seu local de trabalho e para o seu retorno, por qualquer meio de transporte, não será computado na jornada de trabalho, salvo quando, tratando-se de local de difícil acesso ou não servido por transporte publico, o empregador fornecer a condução.56

54 Disponível no site: http://www.trt02.gov.br/geral/tribunal2/tst/Sumulas.htm. Acesso no dia: 04/02/2008. 55TRT – Súmulas. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/LEIS/LEIS_2001/L10243.htm. Acesso em: 20 de abril de 2008. 56 BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Decreto Lei n. 5.452. Art. 58, parágrafo 2º. Presidência da Republica. Disponível em: http://www.planalto.gov.br . Acesso em: 19 de abril de 2008.

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Süssekind57 menciona uma outra modalidade que

caracteriza a jornada de trabalho: o “sobreaviso”, que assim conceitua:

Empregado de sobreaviso é aquele que permanece em local ajustado com o seu empregador para eventuais convocações, visando à execução de determinados serviços. (...) o sobreaviso se configurara se em virtude de ajuste com o empregador, obrigar-se o empregado a permanecer em determinado local, a fim de atender rapidamente a eventual convocação para o trabalho.

O regime de sobreaviso foi previsto pela CLT apenas para

os ferroviários (parágrafo 2º do art. 24458). Porém, o tempo de sobreaviso, foi

estendido, por analogia, á categorias que vivenciam circunstâncias laborais

semelhantes. 59

É o que decorre do texto da Súmula 229, do TST:

Por aplicação analógica do art. 244, parágrafo 2º, da CLT, as horas de sobreaviso dos eletricitários são remuneradas à base de 1/3 sobre a totalidade das parcelas de natureza salarial. 60

Contudo, hodiernamente, a jurisprudência consagrou a

aplicação do regime do sobreaviso, por analogia em outras atividades, não só

as citadas alhures, mas que justifiquem a sua aplicação61. Ou seja, situações

em que o empregado seja efetivo e que o mesmo permaneça em sua própria

casa , aguardando a qualquer momento o chamado para o serviço.62

57 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANA, Segadas; TEIXEIRA, Lima. Instituições de Direito do Trabalho. p. 809. 58 Art. 244, parágrafo 2º da CLT – Considera-se de “sobreaviso” o empregado efetivo, que permanecer em sua própria casa, aguardando a qualquer momento o chamado para o serviço. 59 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. p.843 -844. 60 Disponível em: http://www.dji.com.br/normas_inferiores/enunciado_tst/tst_0211a0240.htm. Acesso em: 1 de fevereiro de 2008. 61 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANA, Segadas; TEIXEIRA, Lima. Instituições de Direito do Trabalho. p. 809. 62 SAAD, Eduardo Gabriel. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. 40. ed. p. 330.

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Referente ao tema, cita-se o entendimento de Souza63:

O regime de remuneração de horas do sobreaviso previsto para os ferroviários na CLT (art. 244, § 2º) só pode ser estendido a outras categorias, por analogia, se o empregado 'permanecer em sua própria casa, aguardando a qualquer momento o chamado para o serviço', como exigido na norma especifica.

Ainda, nos esclarece Oliveira64

O sobreaviso caracteriza-se pela permanência do empregado em casa, aguardando o chamamento para o serviço. O estado de sobreaviso tolhe a liberdade de locomoção do empregado, que deverá manter-se dentro de determinado raio de ação que lhe permita atender a chamadas urgentes do empregador. Permanece em estado de expectativa constante.

Nesse sentido pacificou-se o entendimento jurisprudencial a cerca do tema:

O regime de sobreaviso dos ferroviários pode ser aplicado, por analogia, a outras profissões. (Ac do TST, Pleno, nos E-RR-4.170/79, Rel. Min. Orlando Teixeira da Costa).

Porém, em todos os casos é imprescindível que o

empregado seja cientificado de que estará de sobreaviso.65

Diante do avanço tecnológico, situações novas passam a

figurar nesse contexto analógico, que é o caso dos BIPs e telefones celulares,

mecanismos estes que possibilitam que o trabalhador encontre-se sobre o

regime do sobreaviso, onde quer que se encontre, porém ainda não é pacífico

o enquadramento jurídico dessas duas situações fáticas novas,66 no entanto já

existem decisões favoráveis.

63 SOUZA. Mauro César Martins de. Adicionais na remuneração acessória do trabalhador e suas implicações de ordem prática e teórica no direito do trabalho brasileiro. Publicada no Juris Síntese nº 32 - NOV/DEZ de 2001. 64 OLIVEIRA, Francisco Antônio de. Comentários aos Enunciados do TST: 2ª edição, ver. e atual. . São Paulo: Revista dos Tribunais, 1993. p. 566. 65 AGUIAR, Márcio José de Souza. O regime de sobreaviso. Disponível no site: http://jusvi.com/artigos/277. Acesso no dia: 01/02/2008. 66 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. p.844.

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Para Camino,67 o “bip” e o telefone móvel, permitem ao

empregado uma maior disponibilidade de seu tempo. Acrescenta que:

Não há mais necessidade, por exemplo, de permanecer em sua residência, aguardando eventual chamado. Basta portar um telefone celular e permanecer num raio que permita ao empregador alcançá-lo com possibilidade de locomoção até à empresa em tempo razoável. Nem por isso, poderá usufruir plenamente dos períodos de não-trabalho, diante das limitações impostas pela escala de sobreaviso.

Neste norte já decidiram os tribunais68:

Recurso de Revista - HORAS DE SOBREAVISO. USO DE APARELHO CELULAR. O uso de aparelho celular e a comprovação da restrição da liberdade de locomoção do empregado e da fruição de seu período de descanso configuram o sobreaviso. (...), não podendo, assim, ser aplicado analogicamente o entendimento da Orientação Jurisprudencial nº 49 da SBDI-1 do TST69.

Também no mesmo sentido:

24008661 - HORAS DE SOBREAVISO – 1/3 DO VALOR DA REMUNERAÇÃO - UTILIZAÇÃO DE “BIP” - CABIMENTO - O uso do chamado “bip” limita não só a atividade do portador quando deve estar pronto para atender ao chamado, como também restringe seu deslocamento no espaço, não podendo afastar-se do raio de alcance do instrumento. É inequívoco que o conceito de jornada de trabalho é distinto do horário de trabalho. Este é o período no qual o trabalhador inicia e finaliza sua prestação de serviços. Enquanto aquela, efetivamente, é o período no qual o empregado fica à disposição do empregador aguardando ou executando ordens. De outra parte, incumbindo ao Órgão Julgador a aplicação da lei objetivando atender aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum,

67 CAMINO, Carmem, Direito Individual do Trabalho. 2ª ed.. São Paulo: Síntese, 1999. p. 217 e 218. 68 TRT 4ª Região, RR 994/2003-069-09-00. Rel. Lélio Bentes Corrêa. Brasília 16/11/2006. DJ – 07/12/2006. 69 HORAS EXTRAS. USO DO BIP. NÃO CARACTERIZADO O "SOBREAVISO". Orientação Jurisprudencial nº 49 da SBDI-1 do TST Inserida em 01.02.95 (inserido dispositivo, DJ 20.04.2005). O uso do aparelho BIP pelo empregado, por si só, não carateriza o regime de sobreaviso, uma vez que o empregado não permanece em sua residência aguardando, a qualquer momento, convocação para o serviço. Disponível em: http://www.trtrio.gov.br . Acesso em: 3 de fevereiro de 2008.

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por expressa disposição legal - art. 5°, LICC - perfeitamente aplicável, por analogia, a regra inserta no parágrafo 2° do art. 244, da CLT, devendo essas horas serem pagas no equivalente a 1/3 sobre o valor da remuneração. (TRT 15ª R. - Proc. 14446/00 - (41896/00) – 2ª T. - Rel. Juiz Luís Carlos Cândido Martins Sotero da Silva - DOESP 06.11.2000 - p.29).70

Diante do exposto: jornada de trabalho é a quantidade de

labor diário do empregado. Em sentido mais amplo, seria o lapso de tempo

durante o qual o empregado deve prestar serviços ou permanecer à

disposição, com habitualidade, excluídas as horas extraordinárias. Ou seja,

neste sentido amplo, há uma jornada normal diária e semanal. Pelo limite

imposto pela CF, a diária é de oito horas, jornada esta limitada pela semanal,

que é de 44 horas.71

1.5 DISTINÇÕES RELEVANTES ENTRE DURAÇÃO, JORNADA E

HORÁRIO DE TRABALHO.

Nascimento72 salienta que, jornada, horário e duração do

trabalho, diferem-se entre si do seguinte modo:

Jornada de trabalho não é exatamente o mesmo que duração do trabalho e horário de trabalho, uma vez que a sua idéia é a dos parâmetros máximos autorizados pela lei para que o trabalhador fique a disposição do empregador; enquanto duração do trabalho são os quantitativos de tempo somados e destinados pelo trabalhador ao sistema produtivo; e horário de trabalho é a pontuação do momento em que o trabalhador vai iniciar e terminar a sua atividade em cada dia, ou seja, a hora em que a atividade vai começar e a hora em que vai terminar.

Conforme nos ensina Delgado73, três expressões

apresentam-se correlatas ao fenômeno do tempo em que o empregado

70 AGUIAR, Márcio José de Souza. O regime de sobreaviso. Disponível em: http://jusvi.com/artigos/277. Acesso em: 1 de fevereiro de 2008. 71 SANTOS, Cilon. Direito social e do trabalho. Disponível em: http://www.cilonsantos.com.br . Acesso em 5 de maio de 2008. 72 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao direito do trabalho. 32. ed. p. 165. 73 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. p.835

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encontra-se à disponibilidade contratual que são respectivamente: duração do

trabalho, jornada de trabalho e horário de trabalho.

A duração do trabalho consiste no instituto mais amplo

correlacionado com os demais, pois a mesma abrange o lapso temporal de

disponibilidade contratual do empregado perante seu empregador

considerando distintas as mensurações: dia, semana, mês e ano.74

Refere-se à duração, programação, execução de tarefas,

das quais dependerá a produção e também maior exposição aos riscos

profissionais, diz respeito ao funcionamento humano no qual observa-se a

rapidez de produção, bem como o desgaste profissional ou o envelhecimento

biológico.75

Ao passo que, jornada de trabalho possui um sentido

mais estrito que a supracitada, pois, compreende o tempo diário em que o

empregado tem de se colocar em disponibilidade perante seu empregador em

virtude do contrato em um dia delimitado (parágrafo 2º do art. 59 da CLT); já o

horário de trabalho, trata-se exclusivamente do espaço de tempo

compreendido entre o começo e o término de certa jornada laborativa ( art. 74

da CLT).76

Maralhão77 atribui um conceito, simples e direto, à

expressão, horário de trabalho:

A expressão, horário de trabalho traduz, rigorosamente, o lapso temporal entre o inicio e o fim de certa jornada laborativa.

74 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. p.835. 75 QUÉINNEC, Yvon. O Dicionário Horário. Disponível em: http://laboreal.up.pt/revista/artigo. Acesso em: 24 de maio de 2008. 76 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. p.835. 77 MARANHAO, Délio. Direito do Trabalho. 14. ed. Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas. 987.p. 84.

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Nascimento78 salienta ainda, que:

Predomina como título do tema, jornada de trabalho, incluindo, no entanto, o estudo dos intervalos de descanso uma vez que alguns intervalos não integram e outros integram a jornada de trabalho. Assim o estudo da jornada diária de trabalho compreende não só a duração do trabalho, mas horários, intervalo e outros aspectos significativos para o direito.

Segundo Süssekind79 é importante destacar que, a

duração normal de trabalho é caracteriza pelo lapso temporal, compreendido

em um determinado período (dia ou semana) para a execução dos encargos

advindos da relação de emprego, excluindo-se as prestações extraordinárias

(horas suplementares); ao passo que, duração máxima de trabalho equivale à

soma das horas da jornada normal mais as horas suplementares as quais em

certas situações, a lei permite.

1.6 HORÁRIOS DE TRABALHO E INTERVALOS

COMPULSÓRIOS

Os intervalos compulsórios compreendem os intervalos

obrigatórios expressos pela pelo ordenamento jurídico trabalhista. São eles, os

intervalos interjornadas (art. 66 da CLT)80; intrajornada (art. 71 da CLT)81;

78 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao direito do trabalho. 32. ed p. 165 – 166. 79 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANA, Segadas; TEIXEIRA, Lima. Instituições de Direito do Trabalho. p. 804 - 805. 80 Art. 66. Entre 2 (duas) jornadas de trabalho haverá um período mínimo de 11 (onze) horas consecutivas para descanso. BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Decreto Lei n. 5.452. Art. 59, caput. Presidência da Republica. Disponível em: http://www.planalto.gov.br . Acesso em: 20 de janeiro de 2008. 81 Art. 71. Em qualquer trabalho contínuo cuja duração exceda de seis horas, é obrigatória a concessão de um intervalo para repouso ou alimentação, o qual será no mínimo, de uma hora e, salvo acordo ou contrato coletivo em contrário, não poderá exceder de duas horas.

§ 1º Não excedendo de seis horas o trabalho, será, entretanto, obrigatório um intervalo de quinze minutos quando a duração ultrapassar quatro horas. § 2º Os intervalos de descanso não serão computados na duração do trabalho. § 3º O limite mínimo de uma hora para repouso e refeição poderá ser reduzido por ato do Ministério do Trabalho, quando, ouvido o Departamento Nacional de Segurança e Higiene do Trabalho, se verificar que o estabelecimento atende integralmente às exigências concernentes à organização dos refeitórios e quando os respectivos empregados não estiverem sob regime de trabalho prorrogado a horas suplementares.

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O período compreendido entre o início e o fim da jornada

de normal trabalho, incluindo intervalo de descanso e ou refeição, constitui o

horário de trabalho. Este tanto pode ser noturno ou diurno (art. 73, parágrafos

2º e 4º, da CLT).82

Além do intervalo obrigatório de onze horas consecutivas

entre duas jornadas de trabalho (art. 66, da CLT), a legislação brasileira

estabelece, compulsoriamente, intervalo de repouso ou alimentação do

trabalhador. Nos casos em que a jornada de trabalho exceder seis horas os

referidos intervalos serão de uma a duas horas, podendo ser dilatado mediante

acordo ou convenção coletiva (art. 71 da CLT), de outra forma será de quinze

minutos se a jornada não exceder a seis horas, mas se for superior a quatro

horas (parágrafo 1º do art. 71, da CLT)83.

Importante lembrar que o TST, tem decidido que o

intervalo mínimo, não pode ser reduzido mediante acordo ou convenção

coletiva. 84

Nesse sentido têm-se os seguintes julgados:

A impossibilidade de flexibilização abrange os direitos voltados à garantia da integridade, saúde e segurança dos trabalhadores (...). Afastada a validade da cláusula da convenção coletiva que reduzia o intervalo para o repouso ou alimentação dos frentistas paraibanos.

Com o mesmo entendimento:

“A manutenção do intervalo mínimo intrajornada encontra respaldo no fato de que o trabalho desenvolvido longamente pode levar à fadiga física e psíquica, o que conduz à

§ 4º Quando o intervalo para repouso e alimentação, previsto neste artigo, não for concedido pelo empregador, este ficará obrigado a remunerar o período correspondente com um acréscimo de no mínimo 50% (cinqüenta por cento) sobre o valor da remuneração da hora normal de trabalho.( Acrescentado pela L-008.923-1994). BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Decreto Lei n. 5.452. Art. 59, caput. Presidência da Republica. Disponível em: http://www.planalto.gov.br . Acesso em: 20 de janeiro de 2008. 82 SÜSSEKIND, Arnaldo. Curso de Direito do Trabalho. p. 461 - 462. 83 SÜSSEKIND, Arnaldo. Curso de Direito do Trabalho. p. 461 - 462. 84 Boletim do TRT da 15ª Região, Campinas, abril de 2003, p.19. Disponível em: http://www.trt15.gov.br/boletim/boletim200304. Acesso em: 9 de janeiro de 2008.

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insegurança do trabalhador e, considerada a natureza de certas atividades, à insegurança de terceiros e do patrimônio das empresas e do Estado, sendo certo que a redução de acidentes do trabalho está relacionada à capacidade de atenção do trabalhador no serviço”, afirmou o Ministro Relator Rider de Brito.

Ainda, no mesmo norte:

INTERVALO INTRAJORNADA. REDUÇÃO ABAIXO DO MÍNIMO LEGAL. PREVISÃO EM NORMA COLETIVA. AUSÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO DO MINISTÉRIO DO TRABALHO. NULIDADE. A redução do intervalo mínimo intrajornada não pode ser pactuada mediante norma coletiva sem a autorização do Ministério do Trabalho, conforme exige o art. 71, § 3º, da CLT, matéria que já se encontra pacificada pela Orientação Jurisprudencial nº 342 da SDI-I do TST. (Acórdão / - Juiz Edson Mendes De Oliveira - Publicado no TRTSC/DOE em 07-01-2008.)85

Quanto à relação, dos intervalos supracitados, com a

duração da jornada de trabalho, nos ensina Süssekind86:

O tempo dos intervalos (...) não é computável na duração da jornada de trabalho (2º do art. 71), o que não se verifica, por exceção com o repouso de dez minutos, que, em face do disposto no art. 72, deve corresponder a cada período de noventa minutos de trabalho contínuos em serviços permanentes de mecanografia, datilografia, escrituração ou cálculos executados por processos mecânicos, operações em computadores ou outros similares (...).

Referente ao tema, por meio da Súmula 346, já decidiu o TST:

Os digitadores, por aplicação analógica do art. 72 da CLT, equiparam-se aos trabalhadores nos serviços de mecanografia (datilografia, escrituração ou calculo), razão pela qual têm direito a intervalos de descanso de 10 (dez) minutos a cada 90 (noventa) de trabalho consecutivo.87

85 TRT 12ª Região, Disponível em: www.trt12.gov.br. Acesso em: 09/02/2008. 86 SÜSSEKIND, Arnaldo. Curso de Direito do Trabalho. p. 461 - 462. 87 Disponível em: http://www.dji.com.br/normas_inferiores/enunciado_tst/tst_0331a0360.htm . Acesso em: 1 de fevereiro de 2008.

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Os intervalos não compulsórios concedidos pelo

empregador, são considerados serviços extraordinários, neste sentido

estabelece a Súmula 118 do TST, que assim preceitua:

Os intervalos concedidos pelo empregador na jornada de trabalho, não previstos em lei, representam tempo à disposição da empresa, remunerados como serviço extraordinário, se acrescido ao final da jornada. – (1981). 88

Contudo, a CLT em seu art. 71, parágrafo 4º,89 preceitua:

Quando o intervalo para repouso e alimentação, previsto neste artigo, não for concedido pelo empregador, este ficará obrigado a remunerar o período correspondente com um acréscimo de no mínimo 50% (cinqüenta por cento) sobre o valor da remuneração da hora normal de trabalho. (Acrescentado pela L-008.923-1994)

No mesmo sentido, temos o seguinte julgado: INTERVALO INTRAJORNADA. NÃO CONCESSÃO. ART. 71, § 4º, DA CLT. REFLEXOS. A supressão do intervalo intrajornada implica ao pagamento total do período correspondente, com acréscimo de, no mínimo, 50% sobre o valor da remuneração da hora normal de trabalho e reflexos, na forma do art. 71, § 4º, da CLT, que confere verdadeira natureza salarial a essas horas extras fictícias. E-RR nº639726 ano: 2000. Publicado no DJ - 10/02/2006. TST, Brasília, 05 de dezembro de 2005. Ministro Relator: João Batista Brito Pereira.90

Logo, a não concessão dos intervalos compulsórios bem

como os intervalos não compulsórios concedidos pelo empregador, ambos

deverão ser considerados como horas extraordinárias e remunerados como tal,

ou seja, os intervalos compulsórios não concedidos serão remunerados

baseados no tempo suprimido, ao passo que os intervalos não compulsórios

88 Disponível em: http://www.dji.com.br/normas_inferiores/enunciado_tst/tst_0091a0120.htm . Acesso em: 2 de fevereiro de 2008. 89 BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Decreto Lei n. 5.452. Art. 71, parágrafo 4º. Presidência da Republica. Disponível em: http://www.planalto.gov.br . Acesso em: 20 de fevereiro de 2008. 90 Disponível em: www.tst.gov.br . Acesso em: 25 de maio de 2008.

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concedidos, serão remunerados por representarem tempo a disposição da

empresa.91

1.7 DIFERENTES MODALIDADES DE JORNADAS DE

TRABALHO

Referente ao controle efetivo fiscalizatório da jornada de

trabalho92, existem três modalidades: jornadas controladas, jornadas não

controladas e a jornada não legalmente tipificada. 93

Delgado94 faz distinção entre as três referidas

modalidades de jornadas supracitadas, mencionado que nas jornadas

controladas a prestação do trabalho é submetida ao efetivo controle e

fiscalização do empregador, nessas condições pode-se demonstrar, se for o

caso, a prestação de horas extraordinárias. Nas jornadas não controladas, não

existe um real controle e fiscalização por parte do empregador, impossibilitando

o cálculo das horas extraordinárias e sequer a duração efetiva do trabalho. Por

último a jornada não legalmente tipificada, nessa, também, torna-se quase

impossível a verificação da incidência das horas extras, é o caso da categoria

dos empregados domésticos.

Dois tipos de empregados são indicados pela CLT que se

incluem na modalidade de jornada não controlada que são eles: os

trabalhadores que exercem atividades externas incompatível com a fixação de

horário de trabalho; e os gerentes (art. 62, I e II e parágrafo único, CLT). Porém

trata-se aqui, de apenas uma presunção feita pela CLT e não discriminação de

91 LÔBO, Carlos Augusto Gomes. Juiz do Tribunal Regional do Trabalho DA 14ª Região. Disponível em: http://pesquisasdiritodotrabalho.blogspot.com . Acesso em 25 de maio de 2008. 92 (...) trabalho não fiscalizado nem minimamente controlado é insuscetível de propiciar a aferição da real jornada laborada pelo obreiro – por essa razão é insuscetível de propiciar a aferição da prestação (ou não) de horas extraordinárias pelo trabalhador. Autor: DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho, São Paulo, LTr, 2002, p. 852/853. 93 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. p.872. 94 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. p.872.

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categorias, pois, havendo prova firme que havia efetiva fiscalização da

prestação laboral, incidirá as regras concernentes a duração do trabalho.95

No entanto, existe a possibilidade da fiscalização e

controle do labor externo, conforme preceitua o parágrafo 3º do art. 74 da CLT,

que assim diz:

Se o trabalho for executado fora do estabelecimento, o horário dos empregados constará, explicitamente, de ficha ou papeleta em seu poder, sem prejuízo do que dispõe o parágrafo 1º deste artigo.96

O seguinte julgado97 viabiliza a comprovação do efetivo

controle e fiscalização da jornada de trabalho, no caso dos gerentes, advinda

do fato de não estarem, no seu local de trabalho, subordinados a nenhum outro

com poderes para uma mínima fiscalização da sua jornada laboral.

BANCÁRIO. GERENTE. HORAS EXTRAS. Comprovada a subordinação do empregado ao gerente-geral da agência bem como o controle de jornada por parte da reclamada, afasta-se a incidência da exceção prevista no artigo 62, II da CLT, remunerando-se, como extras, as horas laboradas além da oitava diária, nos termos do artigo 224, § 2º, do código laboral. (...) fundamental para o deslinde da presente controvérsia é a existência de controle da jornada de trabalho da reclamante, o que restou comprovado nos autos, tanto pela prova documental como pela testemunhal. Afere-se das fichas financeiras juntadas pela própria reclamada que esta, por vezes, remunerou o labor extraordinário prestado pela reclamante, cuja aferição, de certo, se deu por meio de algum controle de jornada. (RO-00573.2002.005.23.00-0 - 5ª Vara do Trab. De Cuiabá – Rel.: Juiz José Simioni - DJ/MT nº 6587 - 14/02/2003 - Pág. 50).

Destarte, segundo o que nos ensina o Delgado98,

somente o fato de o trabalho ser realizado fora do estabelecimento não elimina

95 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. p.875. 96 BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Decreto Lei n. 5.452. Art. 74, parágrafo 3º. Presidência da Republica. Disponível no site: http://www.planalto.gov.br . Acesso no dia: 20/01/2008. 97 Disponível em: http://www.trt23.gov.br . Acesso em: 2 de fevereiro de 2008. 98 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. p.874.

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a viabilidade do controle e fiscalização sobre a efetiva prestação laboral, por

conseguinte a viabilidade da mensuração da jornada, inclusive a existência das

horas extraordinárias, se houverem.

1.8 CLASSIFICAÇÃO (TIPOS) DE JORNADA DE TRABALHO

São vários os tipos de jornada diária de trabalho,

mencionadas por Nascimento99, são elas:

a) em função da duração: jornada normal, extraordinária,

limitada, ilimitada, intermitente ou a tempo parcial;

b) quanto ao período: jornada diurna, noturna ou mista;

c) em função do dia em que é prestada;

d) em função da condição pessoal do trabalhador: será

jornada de homens, mulheres ou de menores;

e) em função da profissão: referente a todos os

empregados ou empregados especiais;

f) em função da remuneração: com ou sem acréscimo

salarial;

g) em função da fonte formal em que é fixada, da rigidez

ou não do horário: jornadas flexíveis ou inflexíveis;

i) em função das situações imperativas ou não;

j) em função da rotatividade de horários;

l) em função da duração integral ou parcial.

Contudo para facilitar, optou-se pela classificação mais

genérica, que nos oferece Delgado100.

Segundo Delgado, são vários os tipos de jornada diária de

trabalho, dentre as mais comuns encontram: jornada padrão de trabalho;

jornada extraordinária; jornada noturna; jornada mista; jornadas especiais de

trabalho; trabalho em tempo parcial.

99 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao direito do trabalho. 32. ed. p. 169-170-171. 100 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. p.877 - 911.

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A jornada padrão, normal ou ordinária de trabalho,

consiste no tempo estipulado no contrato de trabalho, dentro dos limites da lei

ou de outras fontes do direito, para a realização do laboro contratado sem se

computar o trabalho extraordinário.101

O inciso XIII, do artigo 7º, da CRFB, refere-se à jornada

padrão. Assim diz:

Duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho;102

A jornada extraordinária é o a disponibilidade do

empregado perante o empregador, disponibilidade esta que ultrapassa a

jornada padrão ou contratada, fixada em regra jurídica ou disposto em clausula

contratual.103

Nascimento104, a cerca da jornada extraordinária faz o

seguinte acréscimo:

A noção de jornada extraordinária não se estabelece em função da remuneração suplementar à do trabalho normal (isto é pelo pagamento do adicional de horas extras). Estabelecendo-se em face da ultrapassagem da fronteira normal da jornada.

Referente ao tema assim, preceitua o caput do artigo 59 da CLT:

A duração normal do trabalho poderá ser acrescida de horas suplementares, em numero não excedente de duas, mediante

101 SÜSSEKIND, Arnaldo. Curso de Direito do Trabalho. p. 461 - 462. 102 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Art. 7, inciso XIII. Disponível em: http://www.planalto.gov.br . Acesso em: 15 de janeiro de 2008. 103 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. p.888 – 889. 104 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao Direito do Trabalho. 21. ed.. São Paulo: LTr, 1994. p.251.

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acordo escrito entre empregador e empregado, ou mediante contrato coletivo de trabalho.105

E também o parágrafo 1º do referido artigo:

Do acordo ou do contrato coletivo de trabalho, deverá constar, obrigatoriamente, a importância da remuneração da hora suplementar, que será, pelo menos, 50% (cinqüenta por cento) superior a hora normal.106

A referida extrapolação da jornada de trabalho,

caracterizada como extraordinária, equivaleria a de sentido fora do comum,

excepcional, anormal ou, ainda, rara, singular, notável107.

O conceito supracitado refere-se ao imperioso, ao

inadiável. A cerca do tema preceitua o caput, do art. 61 da CLT:108

Ocorrendo necessidade imperiosa, poderá a duração de o trabalho exceder do limite legal ou convencionado, seja para fazer face a motivo de força maior, seja para atender à realização ou conclusão de serviços inadiáveis ou cuja a execução possa acarretar prejuízo manifesto.

Outra questão, a qual deve ser analisada, refere-se à

jornada noturna, esta que, ao mesmo tempo, priva o trabalhador do sono e da

recreação, é antifisiológico, que exige maior esforço por parte do mesmo,

prejudicando sua saúde, além do mais, se o trabalho é executado a noite existe

a necessidade do uso de iluminação artificial, artifício este, que prejudica a

visão do trabalhador.109

105 BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Decreto Lei n. 5.452. Art. 59, caput. Presidência da Republica. Disponível em: http://www.planalto.gov.br . Acesso em: 20 de janeiro de 2008. 106 BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Decreto Lei n. 5.452. Art. 59, parágrafo 1º. Presidência da Republica. Disponível em: http://www.planalto.gov.br . Acesso em: 20 de janeiro de 2008. 107 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.746. 108 BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Decreto Lei n. 5.452. Art. 69. 109 PATON, Roberto. Derecho Social y Legislación del Trabajo. Direito social e legislação do trabalho. 1946. p.372.

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No Brasil a legislação classifica, no parágrafo 2º do art. 73

da CLT, como trabalho noturno, o realizado entre as 22 horas de um dia

prolongado até as 5 horas do dia seguinte.

Considera-se noturno, para efeitos deste artigo, o trabalho executado entre as 22 (vinte duas) horas de um dia e as 5 (cinco) horas do dia seguinte.110

Porém, a legislação, ainda, faz distinção ao trabalho

realizado nas áreas rurais, conforme o que estatui o artigo 7º da Lei 5.889, de

1973, que diz:

Trabalho noturno o executado entre as 21 horas de um dia e as 5 horas do dia seguinte, na lavoura, e entre as 20 horas de um dia e as 4 do dia seguinte, na atividade da pecuária.

Diante de tais normas, comenta Pinto111:

As normas que regulam a duração do trabalho visam a assegurar ao empregado um equilíbrio racional entre o tempo de atividade para a empresa e o tempo de repouso pessoal, ou seja, entre o desgaste e a restauração da fonte orgânica de energia.

Conforme nos lembra Süssekind112, o trabalho noturno

está sujeito à dupla proteção:

a) quanto à duração, uma vez que a hora é sempre computada como de 52 minutos e 30 segundos (parágrafo 1º do art. 73) – regra que não perdeu eficácia com a Constituição de 1988, visto que o seu art. 7º, IX, apenas fixa a remuneração da hora noturna superior a diurna,(...); mas algumas categorias tem regência especifica. b) no que tange a remuneração, visto que, normalmente deverá receber o salário da hora noturna acrescido do adicional mínimo de 20% (art.73). Tratando-se de trabalho rural, o

110 BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Decreto Lei n. 5.452. Art. 73, parágrafo 2º. Presidência da Republica. Disponível em: http://www.planalto.gov.br . Acesso em; 20 de fevereiro de 2008. 111 PINTO, José Augusto Rodrigues. Curso de direito individual do trabalho: noções fundamentais de direito do trabalho, sujeitos e Institutos do direito individual. 2. ed. .São Paulo: LTr, 1995. 112 SÜSSEKIND, Arnaldo. Curso de Direito do Trabalho. p. 461-466-467.

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adicional será de 25% sobre a remuneração normal (parágrafo único do art. 7º da Lei n. 5.889, de 1973).

Importante é ressaltar as referidas vedações que a

legislação faz, inciso XXXIII, do art. 8º da CRFB/1988, referente ao trabalho

noturno executado pelo menor, que assim diz:

Proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito anos e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos; (...). 113

A jornada mista é aquela que é realizada tanto no período

diurno como no noturno.114

Visto a referida definição temos o seguinte julgado115:

Jornada de trabalho mista - é aquela que se inicia no período diurno e termina no noturno ou vice-versa. Porém, se cumprida a jornada normal noturna e o trabalho for prorrogado com término no período diurno, a jornada é considerada integralmente noturna, art. 73, § 5º, da CLT, fazendo incidir a hora reduzida de 52’ e 30” e o adicional de 20%, mesmo após às 5 horas da manhã (OJ n° 6 SDI/TST).

Logo, abrangidos os períodos diurno e noturno116,

simultaneamente, estamos diante de uma jornada mista.

Reza o parágrafo 4º do artigo 73 da CLT:

Nos horários mistos, assim entendidos os que abrangem períodos diurnos e noturnos, aplica-se às horas de trabalho noturno o disposto nesse artigo e parágrafos.117

113 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.. Art. 8º, inciso XXXIII. Disponível em: http://www.planalto.gov.br . Acesso em: 15 de janeiro de 2008. 114 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao Direito do Trabalho. 21. ed. p.270. 115 Âmbito jurídico. Disponível em: http://www.ambito-juridico.com.br . Acesso em: 18 de janeiro de 2008. 116BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Decreto Lei n. 5.452. Art. 73, parágrafo § 2º: Considera-se noturno, para os efeitos destes artigos, o trabalho executado entre as 22 (vinte e duas) horas de um dia e as 5 (cinco) horas do dia seguinte. Disponível em: http://www.dji.com.br Acesso em: 15 de janeiro de 2008.

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Referente à questão, temos o seguinte julgado118:

JORNADAS MISTAS. ADICIONAL NOTURNO LIMITADO ÀS HORAS LABORADAS ENTRE AS 22H E ÀS 5H. Havendo cumprimento de jornada mista, em que são laboradas horas noturnas e diurnas, o adicional noturno é devido apenas em relação àquelas prestadas entre as 22h e as 5h, conforme preceitua o § 4º do art. 73 da CLT. (acórdão 11114/2004 – Relator Juiz Gerson P. Taboada Conrado - publicado no DJ/SC em 08/10/2004, página 155)

Assim, sendo, as normas que tutelam o trabalho noturno

aplicar-se-ão, somente, sobre a parte executada no período considerado

noturno.119

As jornadas especiais de trabalho são as modalidades

estabelecidas por normas jurídicas especificas, ou seja, por leis em sentido

estrito.120

Conforme preleciona a lei, a jornada normal de trabalho

tem a duração de oito horas diárias e quarenta e quatro horas semanais.

Referente ao tema assim, preceitua o inciso XIII, do artigo

7º CRFB:

duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho;121

117 BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Decreto Lei n. 5.452. Art. 73, parágrafo 4º. Disponível em: http://www.dji.com.br .Acesso em: 15 de janeiro de 2008. 118 Disponível em: http://trtapl3.trt12.gov.br. Acesso em: 20 de fevereiro de 2008. 119 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANA, Segadas; TEIXEIRA, Lima. Instituições de Direito do Trabalho. p. 843. 120 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. p.880. 121 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.. Art. 7º, inciso XIII. Disponível em: http://www.planalto.gov.br . Acesso em: 15 de janeiro de 2008.

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Neste sentido nos esclarece Saad122:

(...) As disposições desta Consolidação atinentes à duração do trabalho são de duas espécies: geral e especial. Umas e outras vigoram paralelamente. Onde forem omissas as de natureza especial, aplicam-se as que são de índole geral. De ordem geral são as normas que asseguram a jornada de oito horas; de ordem especial, as que referem à certas atividades que, por suas características, admitem jornadas (...) mais reduzidas.

Porém, a legislação brasileira permite e prevê a existência

de outros tipos de jornada de trabalho, denominadas de jornada de trabalho

especiais como, por exemplo, a jornada de trabalho dos jornalistas

profissionais que tem a duração de cinco horas diárias, e a jornada de trabalho

do bancário que tem a duração de seis horas diárias.123

Contudo, temos o seguinte julgado124:

A duração normal do trabalho, para os empregados em qualquer atividade privada, não excederá de oito horas diárias, enquanto o art. 59 menciona que "a duração normal do trabalho poderá ser acrescida de horas suplementares, em número não excedente de duas. Portanto, a jornada de trabalho considerada normal é somente aquela de oito horas diárias, sendo que a construção jurisprudencial sedimentou-se no sentido de considerar válidas as jornadas de 12 horas seguidas de 36 horas de descanso, desde que embasadas em convenção ou acordo coletivo de trabalho (art. 7º, inciso XXVI, da Carta Política de 1988), mas não aquelas de 14 horas.

O trabalho em tempo parcial, modalidade de jornada de

trabalho, que, sempre foi admitida pelo Direito do Trabalho. Caracteriza-se pela

122 SAAD, Eduardo Gabriel.Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. 37. ed.. São paulo: LTr. 2004. p. 63-64. 123 JurisWay. Jornada de trabalho: perguntas e respostas. Disponível em: www.jurispress.com.br . Acesso em 9 de janeiro de 2008. 124 RO n. 00586.2004.003.14.00-7 - 3ª Vara do Trabalho de Porto Velho. Rel.: Juíza Maria do Socorro Costa Miranda. Publicado no DOJT14 nº 008 de 13-01-2005. Disponível no site: http://www.trt14.gov.br. Acesso no dia: 03/02/2008.

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jornada que não exceda a vinte e cinco horas por semana, tendo tipo legal,

limite máximo vinte cinco horas semanais.125

Assim, o artigo 58-A, da CLT, prevê:

Considera-se trabalho em regime de tempo parcial aquele cuja duração não exceda a 25 (vinte e cinco) horas semanais.126

Nascimento127, ainda, acrescenta:

(...) aquela cuja duração não exceda a 25 horas semanais, caso em que o salário a ser pago poderá ser proporcional à duração reduzida, observados, os quantitativos pagos para os que cumprem, nas mesmas funções, tempo integral.

A Convenção n. 175 da Organização Internacional do

Trabalho, de 22 de fevereiro de 1998, assim justifica a importância do trabalho

a tempo parcial:

(...) reconhecendo a importância que apresenta para todos os trabalhadores contar com um emprego produtivo e livremente escolhido, a importância que tem para economia o trabalho por tempo parcial, a necessidade de que nas políticas de emprego se leve em conta a função do trabalho a tempo parcial como modo de abrir novas possibilidades de emprego e a necessidade de assegurar a proteção dos trabalhadores a tempo parcial nos campos do acesso ao emprego, das condições de trabalho e seguridade social.128 Este contrato foi regulamentado pela medida provisória n.

1.709, de 6 de agosto de 1998 e outras que se seguiram a ela, sendo a última

de n. 2.164-41, de 24 de agosto de 2001 (prorrogada por prazo indeterminado

pelo art. 2º, da Emenda Constitucional n. 32/2001).129

125 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. p.907. 126 BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Decreto Lei n. 5.452. Art. 58-A. Presidência da Republica. Disponível no site: http://www.planalto.gov.br . Acesso no dia: 20/01/2008. 127 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao Direito do Trabalho. 21. ed.. p.171. 128 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao Direito do Trabalho. 21. ed.. p.171. 129 PAIVA, Newton. O contrato a tempo parcial. Disponível em: http://direito.newtonpaiva.br/revistadireito. Acesso em: 5 de maio de 2008.

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No entanto, o trabalho a tempo parcial, regulamentado

pela medida provisória supracitada, não é inovadora em sua essência. Nunca

houve obstáculo legal que impossibilitasse a contratação de empregados

submetidos a contrato de trabalho com regime de tempo parcial.130

Salienta-se que, o trabalho a tempo parcial, será

calculado semanalmente ou em média durante um determinado período; os

trabalhadores afetados por redução coletiva e temporária da duração normal do

trabalho não se enquadram neste regime; a legislação não exige forma para

constituição do referido regime, porém, convêm, ser de forma escrita, a fim de,

afastar dúvidas quanto à jornada normal reduzida.131

Cabe, porém, registrar cinco outras classificações de

jornada e de trabalho, que nos menciona Nascimento132, que são elas:

a) jornada com intervalo;

b) jornadas de trabalho referentes às variações

contratuais;

c) jornada de trabalho, quanto a situações imperativas;

d) jornada em revezamento;

e) jornada com ou sem permissão de horas extras.

O intervalo interjornada jornada, é caracterizado pelo

espaço de tempo que deve haver entre uma jornada e outra.133

Referente ao espaço de tempo supracitado, assim,

preceitua o artigo 66 da CLT:

Entre 2 (duas) jornadas de trabalho haverá um período mínimo de 11 (onze) horas consecutivas para descanso. 134

130 DELGADO, Maurício Godinho. Alterações contratuais trabalhistas. São Paulo: LTr, 2000, p.87. 131 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao Direito do Trabalho. 21. ed.. p.171 - 172. 132 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao Direito do Trabalho. 21. ed.. p.170 - 171. 133 MARTINS, Sergio Pinto. Curso de direito do trabalho. p. 206. 134 BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Decreto Lei n. 5.452. Art. 66. Presidência da Republica. Disponível em: http://www.planalto.gov.br . Acesso em: 20 de abril de 2008.

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Salienta-se que: os intervalos intrajornada, como o próprio

termo literalmente diz, são realizados dentro da jornada de trabalho.135

Os intervalos intrajornada estão expressos no artigo 71,

da CLT, e seus parágrafos. Que diz:

Em qualquer trabalho contínuo cuja duração exceda de seis horas, é obrigatória a concessão de um intervalo para repouso ou alimentação, o qual será no mínimo, de uma hora e, salvo acordo ou contrato coletivo em contrário, não poderá exceder de duas horas. § 1º Não excedendo de seis horas o trabalho, será, entretanto, obrigatório um intervalo de quinze minutos quando a duração ultrapassar quatro horas. § 2º Os intervalos de descanso não serão computados na duração do trabalho. § 3º O limite mínimo de uma hora para repouso e refeição poderá ser reduzido por ato do Ministério do Trabalho, quando, ouvido o Departamento Nacional de Segurança e Higiene do Trabalho, se verificar que o estabelecimento atende integralmente às exigências concernentes à organização dos refeitórios e quando os respectivos empregados não estiverem sob regime de trabalho prorrogado a horas suplementares. § 4º Quando o intervalo para repouso e alimentação, previsto neste artigo, não for concedido pelo empregador, este ficará obrigado a remunerar o período correspondente com um acréscimo de no mínimo 50% (cinqüenta por cento) sobre o valor da remuneração da hora normal de trabalho. ( Acrescentado pela L-008.923-1994).136

Os intervalos que pela lei, não observados, constituem

tempo de serviço (art. 4º da CLT)137, assim devem ser remunerados como

horas extras se acrescidos ao final da jornada (Enunciado 118 do TST)138.

135 MARTINS, Sergio Pinto. Curso de direito do trabalho. p. 204. 136 BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Decreto Lei n. 5.452. Art. 71. Presidência da Republica. Disponível em: http://www.planalto.gov.br . Acesso em: 20 de janeiro de 2008. 137 Art. 4º Considera-se como de serviço o período em que o empregado esteja à disposição do empregador, aguardando ou executando ordens, salvo disposição especial expressamente consignada. 138 TST Enunciado nº 118 - RA 12/1981, DJ 19.03.1981 - Mantida - Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003 Intervalos Concedidos pelo Empregador - Jornada de Trabalho - Horas Extras. Os intervalos concedidos pelo empregador, na jornada de trabalho, não previstos em lei,

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A CLT assegura ao trabalhador varias espécies de

repouso: o cotidiano, o semanal e o anual, a fim de resguardar a saúde do

mesmo.139

Nas jornadas de trabalho referentes às variações

contratuais, incluem-se: o acordo mútuo de prorrogação, ou seja, ajuste de

vontade entre empregado e empregador, que terá seu limite em duas horas por

dia, sendo as mesmas a título de horas extras (art. 59 da CLT), no entanto, tal

situação é vedada para o menor de 18 anos de idade (art. 413 da CLT); e o

sistema de compensação de horas, onde, as horas excedentes das horas

normais prestadas num dia são deduzidas em outros dias, ou as horas não

trabalhadas são futuramente repostas (art 7º da CRFB).140

A jornada de trabalho, quanto a situações imperativas,

fundamentam-se, na força maior, nas necessidades de conclusão de

determinados serviços inadiáveis, nestes casos o número máximo de horas

extras permitidas é de quatro horas por dia.141

Assim preceitua o caput do artigo 61 da CLT:

Ocorrendo necessidade imperiosa, poderá a duração do trabalho exceder do limite legal ou convencionado, seja para fazer face a motivo de força maior, seja para atender a realização ou conclusão de serviços inadiáveis ou seja cuja inexecução possa acarretar prejuízo manifesto.142

No caso de força maior o menor de 18 anos poderá

cumprir horas extras, mas, nos termos do inciso II artigo 413 da CLT, que

assim diz:

Excepcionalmente, por motivo de força maior, até o máximo de 12 (doze) horas, com acréscimo salarial de pelo menos 25%

representam tempo à disposição da empresa, remunerados como serviço extraordinário, se acrescidos ao final da jornada. 139 SAAD, Eduardo Gabriel. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. 40. ed. p.168. 140 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao Direito do Trabalho. 21. ed.. p.170 - 171. 141 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao Direito do Trabalho. 21. ed.. p.171. 142 BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Decreto Lei n. 5.452. Art. 61. Presidência da Republica. Disponível em: http://www.planalto.gov.br . Acesso em: 20 de janeiro de 2008.

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(vinte e cinco por cento) sobre a hora normal e desde que o trabalho do menor seja imprescindível ao funcionamento do estabelecimento.143

A jornada em revezamento, ou turnos ininterruptos de

revezamento, entende-se pelo trabalho executado por empregados que se

sucedem no posto de suas ocupações laborais, em períodos distintos,

utilizando os mesmos equipamentos ou máquinas do empregador. Trata-se de

jornada de seis horas para execução de serviços em turnos ininterruptos e de

revezamento, porém, salvo negociação coletiva.144

Diz a Constituição Federal de 1988:

Art. 7º - São direitos dos trabalhadores (...)

XIV – jornada de seis horas para trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento, salvo negociação coletiva.145

Percebe-se que a Constituição permite o afastamento do

disposto, referente às seis horas, mediante convenção coletiva.

Ao criar esta jornada o legislador teve intenção de

proteger o trabalhador, de jornadas que prejudicam o relógio biológico do ser

humano, fazendo com que ele não se adapte a ritmos contrários à sua

capacidade física mental e psicológica.146

Nos turnos ininterruptos de revezamento, os intervalos

para repouso, alimentação e descanso semanal não descaracteriza tal jornada

ininterrupta.147

143 BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Decreto Lei n. 5.452. Art. 413, II. Presidência da Republica. Disponível em: http://www.planalto.gov.br . Acesso em: 13 de janeiro de 2008. 144 MARTINS, Sergio Pinto. Curso de direito do trabalho. p. 200. 145 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.. Art. 7º, inciso XIV. Disponível em: http://www.planalto.gov.br . Acesso dia 10 de janeiro de 2008. 146 CARRION, Valentin. Comentários à consolidação das leis do trabalho. 31. ed. atual.. São Paulo: Saraiva. 2006. p.109. 147 CARRION, Valentin. Comentários à consolidação das leis do trabalho. 31. ed. p.109.

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É o que preceitua a Súmula 360 do TST:

A interrupção do trabalho destinada ao repouso e alimentação, dentro de cada turno, ou intervalo para descanso semanal, não descaracteriza o turno de revezamento com jornada de 6 (seis) horas previsto no art. 7º XIV, da CF/88. (Res. TST 79/97. DJ,

13.01.98).148

Referente à regulação legal da jornada, nos turnos

ininterruptos de revezamento, Carrion149, leciona que:

O trabalho prestado nesta jornada de 6 horas está também regulado pelas demais normas vigentes, inclusive pela possibilidade e conseqüências da prorrogação por mais duas, desde que não seja à alterabilidade da negociação coletiva.

Procurou-se abordar, neste primeiro capítulo, de maneira

satisfatória, possível, o estudo à cerca da jornada de trabalho, iniciando-se pelo

histórico mundial dando-se maior ênfase ao Brasil. Em seguida passou-se a

abordar uma classificação, mais abrangente possível, referente à jornada de

trabalho. Acreditando-se que o objetivo do primeiro capítulo foi atingido,

passar-se-á para o segundo capítulo, este que versará sobre a flexibilização

das jornadas de trabalho.

No capítulo por vir, abordar-se-á flexibilização da jornada

de trabalho, observando a obrigatoriedade da manutenção das garantias

mínimas do trabalhador, a necessidade das empresas frente ao instituto da

flexibilização no direito do trabalho, principalmente a cerca da jornada de

trabalho, a diferença entre flexibilização e desregulamentação das normas

trabalhistas, a indisponibilidade de direitos pelo empregado bem como o

mecanismo de compensação de jornadas.

148 SOLEIS – Legislação do Brasil. Disponível em: http://www.soleis.com.br . Acesso em: 2 de fevereiro de 2008. 149 CARRION, Valentin. Comentários à consolidação das leis do trabalho. 31. ed. p.109.

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CAPITULO 2

A FLEXIBILIZAÇÃO DA JORNADA DE TRABALHO

No presente capítulo será abordado, a flexibilização do

direito do trabalho, dando ênfase à obrigação de se manter as garantias

mínimas do trabalhador. Também será abordado a necessidade das empresas,

principalmente nos tempos atuais, pela flexibilização das normas trabalhistas,

primordialmente o que toca a jornada de trabalho, bem como o instituto de

compensação de jornada de trabalho.

2.1 A FLEXIBILIZAÇÃO E A DESREGULAMENTAÇÃO DAS

NORMAS TRABALHISTAS

Hodiernamente é comum alguns doutrinadores manterem

o mesmo conceito para flexibilização e desregulamentação, confundindo-as,

contudo, esta claramente difere-se daquela. 150

Barros151 esclarece que:

O fenômeno da flexibilização é encarado também sob o enfoque da “desregulamentação normativa”, imposta pelo estado, a qual consiste em derrogar vantagens de cunho trabalhista, substituindo-as por benefícios inferiores.

Porém, assim se manifesta Almeida152:

Nos tumultuados tempos em que vivemos mais avulta a importância do Direito do Trabalho, com a imperatividade de suas normas como instrumento de luta pelo estabelecimento de uma ordem social justa.

150 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANA, Segadas; TEIXEIRA, Lima. Instituições de Direito do Trabalho. p. 206. 151 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho. 3. ed. ver. e ampl.. São Paulo: LTr, 2007. p. 84. 152 ALMEIDA, Lucio Rodrigues de. As leis imperativas e a CLT, in suplemento trabalhista. São Paulo: LTr, 1994. p. 1016.

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A desregulamentação do Direito do Trabalho consiste na

retirada da proteção do estado ao trabalhador, permitindo que a autonomia

privada regule as condições de trabalho advindas da relação de emprego.153

A desregulamentação em si é uma afronta direta ao

princípio da proteção dos trabalhadores o qual encontra amparo no art. 7º da

CRFB, onde, tanto o trabalhador rural como o urbano são tutelados e

protegidos por uma gleba mínima de direitos trabalhistas, cujo traço marcante é

aderir automaticamente a toda e qualquer relação individual de trabalho,

independentemente da vontade das partes.154

Martins contribui dizendo:155:

A flexibilização das condições de trabalho é um conjunto de regras que têm por objetivo instituir mecanismos tendentes a compatibilizar as mudanças de ordem econômica, tecnológica ou social existentes na relação entre o capital e o trabalho. (...) visa a flexibilização assegurar um conjunto de regras mínimas ao trabalhador e em contrapartida a sobrevivência da empresa, (...).

Bezerra Diniz156 assim classifica o termo flexibilizar no

âmbito do trabalho:

Flexibilizar significa (...) afrouxar a rigidez resultante do Direito laboral, proporcionando à classe empresarial facilidades para enfrentamento do período economicamente não propicio.

153 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANA, Segadas; TEIXEIRA, Lima. Instituições de Direito do Trabalho. p. 206. 154 LOPES, Otavio Brito. Limites Constitucionais À Negociação Coletiva. Revista jurídica. ed. abril/2001. Unifacs. Disponível em http://www.unifacs.br/revistajuridica . Acesso em 9 de janeiro de 2008. 155 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 23. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p.506-507. 156 DINIZ, José Janguiê Bezerra. O Direito e a Justiça do Trabalho diante da Globalização. São Paulo: LTr. 1999. p.147.

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Cesarino Júnior e Cardone157 mantêm a seguinte opinião:

A flexibilidade nas relações trabalhistas é um traço moderno, que permite a adequação dos direitos e deveres à conjuntura. O rigor que existia no direito brasileiro nesta matéria da irredutibilidade salarial levava a situação de maior prejuízo para o trabalhador. Em época de recessão econômica é preferível ao trabalhador manter seu emprego com o salário reduzido, do que perdê-lo.

E continua Süssekind158:

Contudo, indispensável é a intervenção estatal, mesmo

que básica, com suas normas protetivas que pela falta das quais não se pode

conceder a vida do trabalhador com a devida dignidade. Contudo existem leis

que possuem determinados preceitos que necessitam de formulas flexíveis

para que possam estabelecer formulas alternativas para sua aplicação.

Da mesma forma Robotella159:

O instrumento de política social caracterizado pela adaptação constante das normas jurídicas à realidade econômica, social e institucional, mediante intensa participação dos trabalhadores e empresários, para eficaz regulação do mercado de trabalho, tendo como objetivos o desenvolvimento econômico e o progresso social.

Diante do exposto, entende-se que: a desregulamentação

do Direito do Trabalho, retira a proteção do estado ao trabalhador, permitindo

que a autonomia da vontade reja as regras das condições de trabalho e os

direitos e obrigações na relação de emprego, ao passo que, a flexibilização

mantêm, ainda que, básicas, normas gerais que garantem

a dignidade do trabalhador.160

157 JÚNIOR, Cesarino; CARDONE, Marly A.. Direito Social. vol. 1, 2. ed. São Paulo: LTr, 1993. p. 87. 158 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANA, Segadas; TEIXEIRA, Lima. Instituições de Direito do Trabalho. p. 206-207. 159 ROBORTELLA, Luiz Carlos Amorim. Flexibilização do direito do trabalho. O moderno direito do trabalho. São Paulo: LTr, 1994, p. 97.

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2.2 FLEXIBILIZAÇÃO DO DIREITO DO TRABALHO FRENTE ÀS

GARANTIAS MÍNIMAS DO TRABALHADOR E AS

NECESSIDADES DAS EMPRESAS NOS TEMPOS ATUAIS

O Direito do Trabalho visa o amparo do trabalhador e a

prevalência da justiça social. Para isso limita a autonomia da vontade, em

grande parte, por meio de preceitos de ordem pública, embora, também,

possua normas de Direito privado. Tanto aquele quanto este possuem regras

de índole imperativa. 161

Vivemos em uma fase, mundial, de transformação

econômica, principalmente com a globalização162. Esta transformação exerce

profundos reflexos no Direito do Trabalho no compasso de uma grande

revolução tecnológica163, que ocorre de forma acelerada, principalmente com

os avanços da informática, a telemática e a robotização.164

160 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANA, Segadas; TEIXEIRA, Lima. Instituições de Direito do Trabalho. p. 202-203. 161 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANA, Segadas; TEIXEIRA, Lima. Instituições de Direito do Trabalho. p. 207. 162 A globalização é um conceito que apareceu no meio dos anos 1980 nas escolas de negócios norte-americanas e na imprensa anglo-saxã. Esta expressão designa um movimento complexo de abertura de fronteiras econômicas e de desregulamentação, que permite às atividades econômicas capitalistas estenderem seu campo de ação ao conjunto do planeta. O aparecimento de instrumentos de telecomunicação extremamente eficientes permitiu a viabilidade deste conceito, reduzindo as distancias a nada. O fim do bloco soviético e o aparente triunfo planetário do modelo neoliberal no início dos anos 1990 parecem dar a esta noção uma validade histórica. Na França foi escolhido o nome mundialização para substituir globalização, que insiste, particularmente, sobre a dimensão geográfica e tentacular, sem esquecer o sentido original. Autor: FERRANDÉRRY, Jean Luc. Le point sur la mondialisation. Paris: Presses Universitaires de France. 1996. p.3. 163 Revolução tecnológica - (...) hoje se percebe uma expansão violenta de conhecimentos científicos e tecnológicos aplicados à produção, o que ocorre principalmente nos países de economia mais avançada. A biotecnologia, a informática e a robótica entre outras ciências, ao mesmo tempo em que ampliam a capacidade produtiva, tornam-na menos dependente do esforço físico humano. Daí resulta alterações tão significativas nas relações de produção a ponto de configurar-se um processo revolucionário do modo de produção capitalista. Processo que pode resultar tanto em crises e mudanças radicais nesse modo de produção, e em seus ajustes institucionais, quanto no delineamento de um novo modo de produção. Autor: FERRARI, Levi Bucalem. Disponível em http://www.cefetsp.br/edu/eso/globalizacao/revtecnologicaestado.html. Acesso em 9 de abril de 2008. 164 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANA, Segadas; TEIXEIRA, Lima. Instituições de Direito do Trabalho. p. 204.

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Com o avanço tecnológico dos meios de produção,

passou-se a ter um aumento da concorrência econômica entre os países,

fazendo com que, estes, primassem por produzir produtos em maior

quantidade e melhor qualidade. Muitos países investiram em tecnologias mais

avançadas, para melhor concorrer, outros, lamentavelmente, diminuíram as

condições de trabalho, num drástico retorno há épocas em que, o que menos

importava eram as condições do trabalhador, propiciando, jornadas excessivas,

férias e repouso semanal insuficientes, bem como, trabalho de menores além

do permitido, em fim, uma profunda desregulamentação das condições de

trabalho. 165

Em 1994, na Conferência Internacional do Trabalho, o

então Diretor-Geral da OIT, Michel Hansenne declarou:

A desigualdade entre as nações e no seio das mesmas se acentuou devido à diferente capacidade dos países e das categorias de trabalhadores de adaptar-se à evolução das grandes tendências econômicas. Existe o perigo de que numerosos países, que se encontram atualmente entre os menos desenvolvidos, fiquem completamente marginalizados do sistema econômico mundial que se está configurado.166

A OIT, diante desta situação preocupante a cerca das

condições de trabalho, das quais, era comum, os países exportadores virem a

desprezar a manutenção de sistemas mínimos de proteção social, propôs sem

êxito à OMC167, a adoção de cláusulas sociais nos tratados e contratos de

comércio. Algumas destas cláusulas dentre outras, tratavam da abolição do

trabalho forçado (Convenção ns. 29 e 105), normas mínimas de seguridade

165 PASTORE, José. Encargos sociais no Brasil e no Exterior. São Paulo: LTr. 1994. p.111. 166 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANA, Segadas; TEIXEIRA, Lima. Instituições de Direito do Trabalho. p. 205. 167 OMC - Organização internacional que supervisiona um grande número de acordos sobre as "regras do comércio" entre os seus Estados-membros. Foi criada em 1994, entrando em vigor no dia 1˚de janeiro de 1995, sob a forma de um secretariado para administrar o Acordo Geral de Tarifas e Comércio - (GATT) - Sigla em Inglês. Baseado num tratado comercial, que estabelecia e estabelece regras mundiais para o Comércio Internacional. Organização Mundial do Comércio. Disponível no site: http://pt.wikipedia.org/wiki/Organiza%C3%A7%C3%A3o_Mundial_do_Com%C3%A9rcio . Acesso no dia: 01/02/2008.

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social (Convenção n. 102), não discriminação no emprego e ocupação

(Convenções ns. 100 e 111) e proibição do trabalho do menor (Convenção n.

138).168

Lamentavelmente as propostas da OIT não surtiram

efeito, sendo rejeitada, pela OMC, sob a argumentação de que, tais propostas

deveriam limitar-se, tão somente, no âmbito daquela organização. Porém a

derrota não foi total, pois a OIT, conseguiu aprovar uma declaração sobre os

Princípios dos Direitos Fundamentais do Trabalho.169

A participação dos Estados Membros foi tímida, pois,

limitaram-se a reafirmar o compromisso de respeitarem, promoverem e

tornarem realidade, de boa-fé, os direitos dos trabalhadores e empregadores à

liberdade sindical e o reconhecimento efetivo do direito de negociação coletiva,

assim como a trabalharem pela eliminação de todas as formas de trabalho

forçado ou obrigatório, a erradicação efetiva do trabalho infantil e a supressão

da discriminação em matéria de emprego e ocupação, ou seja, reiteraram o

que já haviam se comprometido no passado.170

O Brasil ratificou seis das sete Conferências, exceto a de

1987, esta sendo considerada uma das mais importantes dos tratados da OIT.

A Constituição de 1988 impossibilitou a ratificação da Conferência de 1987, já

que, consagrou o monopólio de representação do sindicato organizado por

categoria econômica ou profissional e mantém a contribuição anual

obrigatória.171

Após tecermos as considerações supracitadas, voltemos

às causas que iniciaram a flexibilização do Direito do Trabalho.

168 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANA, Segadas; TEIXEIRA, Lima. Instituições de Direito do Trabalho. p. 205. 169 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANA, Segadas; TEIXEIRA, Lima. Instituições de Direito do Trabalho. p. 205. 170 SÜSSEKIND, Arnaldo. Os direitos humanos do trabalhador. JUTRA ORG. Disponível em . http://www.fazer.com.br . Acesso em 9 de janeiro de 2008. 171 SÜSSEKIND, Arnaldo. Os direitos humanos do trabalhador. JUTRA ORG. Disponível em . http://www.fazer.com.br . Acesso em 9 de janeiro de 2008.

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Os países desenvolvidos, os quais fomentaram a

produção utilizando-se de investimentos em tecnologias como robotização e

automação, passaram a ser o outro pólo de preocupação das entidades

internacionais, pois o desemprego estrutural era a grande ameaça. Diante

deste quadro mundial: de um lado reinando a não manutenção de sistemas

mínimos de proteção social, do outro devido o uso da tecnologia, forçando os

índices de desemprego, passou-se a fomentar a flexibilização do Direito do

Trabalho.172

Novos rumos são tomados. O Direito do Trabalho começa

a se transformar constantemente, adequando-se a tentativa de resolver o

problema do capital e do trabalho. A flexibilização das normas trabalhistas, ou

por assim dizer, das condições trabalhistas, ao mesmo tempo em que visa

resolver o problema do capital e trabalho, preocupa-se a assegurar um

conjunto de regras mínimas ao trabalhador, somados às condições de

sobrevivência da empresa, principalmente em épocas de crise econômica, por

meio de modificações de comandos legais.173

Nesse contexto, a flexibilização do Direito do Trabalho

teve dois momentos históricos, um deles, que foi referente ao “Direito do

Trabalho da emergência”, que se constitui numa tutela temporária; o outro

coincide com a “instalação da crise” este se constituiu com as reivindicações

patronais permanentes.174

Os sindicatos passam a atuar como fiscais da

maleabilidade da flexibilização das normas, participando das negociações

coletivas que por conseqüência resultarão no acordo ou convenção coletiva de

trabalho, sempre com o esmero de preservar a continuidade do emprego do

172 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANA, Segadas; TEIXEIRA, Lima. Instituições de Direito do Trabalho. p. 205. 173 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 23. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p.506-507. 174 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho. 3. ed. ver. e ampl.. São Paulo: LTr, 2007. p. 84.

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trabalhador e também, a sobrevivência da empresa, que sem esta, aquele não

existe. 175

No Brasil, a flexibilização do Direito do Trabalho, se deu

com a Constituição Federal de 1988. Esta, no tocante aos direitos sociais,

primou pela valorização da autonomia privada coletiva, ou seja, a atividade

sindical, com a intenção de abrandar a rigidez das normas trabalhistas. 176

Maranhão177, menciona que, o verdadeiro objetivo da

flexibilização do direito do trabalho é conciliar capital e trabalho, preservando-

se ao mesmo tempo, a Dignidade da Pessoa Humana, o cunho social do

trabalho, bem como, a livre iniciativa (art. 1º, III e IV, da CRFB), a fim de

alcançar o desenvolvimento nacional e a erradicação da pobreza e das

desigualdades sociais, para que se concretize a tão sonhada sociedade livre,

justa e solidária (CF, art. 3º, I, II e III).

Segundo Martins178, a Constituição de 1988 prestigiou a

flexibilização no Direito do Trabalho, determinando que:

Os salários poderão ser reduzidos por convenção ou acordo coletivo de trabalho (art. 7º, VI); a compensação ou redução da jornada de trabalho só poderá ser feita mediante acordo ou convenção coletiva (art. 7º, XIII); o aumento das jornadas nos turnos ininterruptos de revezamento para mais de seis horas diárias por intermédio de negociação coletiva (art. 7º, XIV). O inciso XXVI do art. 7º do Estatuto Supremo reconheceu não só as convenções coletivas, mas também os acordos coletivos de trabalho.

Nota-se, que existe flexibilização do Direito do Trabalho

de certas regras que só podem ser feitas com a participação do sindicato.

175 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 23. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p.507. 176 MARANHÃO, Ney Stany Morais. Flexibilização das Normas Trabalhistas. Jornal Trabalhista – Consulex, Ano XVIII – nº. 859, Brasília/DF, 16 de abril de 2001. 177 MARANHÃO, Ney Stany Morais. Flexibilização das Normas Trabalhistas. Jornal Trabalhista – Consulex, Ano XVIII – nº. 859, Brasília/DF, 16 de abril de 2001. 178 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 23. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p.507.

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Costa179, analisa criticamente o mecanismo da

flexibilização da seguinte maneira:

A flexibilização é o instrumento ideológico neoliberal e pragmático de que vêm se servindo os países de economia de mercado, para que as empresas possam contar com mecanismos capazes de compatibilizar seus interesses e os dos seus trabalhadores, tendo em vista a conjuntura mundial, caracterizada pelas rápidas flutuações do sistema econômico, pelo aparecimento de novas tecnologias e outros fatores que exigem ajustes inadiáveis.

Süssekind180 nos esclarece que: os agentes da

flexibilização, podem ser: unilateral quando é imperativa tanto pelo empregador

quanto pela própria autoridade pública (ex: Chile, Panamá, Peru); negociada

com sindicato (ex: Brasil); mista, tanto pode ser unilateral ou negociada (ex:

Argentina).

Segundo Barros181, podemos destacar dois tipos de

flexibilização; uma é a flexibilização interna, referente à ordenação do trabalho

na empresa, compreendendo a flexibilização das condições de trabalho, do

tempo de trabalho, da suspensão do contrato e da remuneração, abrangendo o

regime de tempo parcial (art. 58-A da CLT) e a suspensão do contrato (476-A

da CLT). O outro tipo de flexibilização, é a externa, que diz respeito às

modalidades de contratação, de duração do contrato, de dissolução do

contrato, etc.

179 COSTA, Orlando Teixeira. Direito alternativo ou flexibilização. 56. ed.. São Paulo: LTr, 1996. p. 779. 180 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANA, Segadas; TEIXEIRA, Lima. Instituições de Direito do Trabalho. p. 209. 181 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho. 3. ed. ver. e ampl.. São Paulo: LTr, 2007. p. 84.

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2.3 NOÇÕES DE INDISPONIBILIDADE DE DIREITOS DO

EMPREGADO

A indisponibilidade de direitos trabalhistas por parte do

empregado encontra abrigo em três relevantes artigos da CLT, os artigos 9º182,

444183 e 468.184

É necessário, desde já, para melhor entendimento do

estudo, referente a este tópico, conceituar transação, bem como diferenciar

esta do ato da renúncia.

Vejamos inicialmente, o conceito de renúncia:

É um ato unilateral do empregado (ou empregador) desistindo de um direito que a lei lhe assegura. Para ter validade este ato não deve referir-se a direito do empregado que resulte de norma legal cogente, portanto inderrogável, ou que derive de sentença normativa ou de cláusula indisponível de pacto coletivo. A renúncia tem como pressuposto a certeza do direito a que ela se dirige. Pode ser expressa ou tácita. Quaisquer dessas formas de expressão de renúncia são aceitas – em relação ao empregado – apenas no que tange aos seus direitos não tutelados por normas cogentes.185

Segue-se com o conceito de transação:

(...), é um ato jurídico bilateral, em virtude do qual, mediante concessões recíprocas, as partes interessadas extinguem obrigações litigiosas ou duvidosas. Para que haja transação, é imprescindível que: a) duas pessoas, pelo menos, estejam vinculadas entre si, por força de relação jurídica da qual decorrem direitos e obrigações; b) haja incerteza no pertinente a determinado ou determinados direitos ou obrigações; c) a dúvida se refira à direitos patrimoniais, isto é, direitos

182 BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Decreto Lei n. 5.452. Art. 9º. Presidência da Republica. Disponível no site: http://www.planalto.gov.br . Acesso no dia: 20/01/2008. 183 BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Decreto Lei n. 5.452. Art. 444. Presidência da Republica. Disponível no site: http://www.planalto.gov.br . Acesso no dia: 20/01/2008. 184 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 5º ed.. São Paulo: LTr, 2006. p.217. 185 SAAD, Eduardo Gabriel. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. p. 85.

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incorporados ao patrimônio de uma das partes do contrato; d) a controvérsia seja extinta mediante concessões recíprocas.186

Analisado os conceitos, chega-se a seguinte conclusão:

se a transação consiste em reciprocidade de concessões, ordinariamente,

envolve renúncia. E se grande parte dos direitos do empregado são

irrenunciáveis. Pode-se afirmar que a transação será aplicável se não implicar

renúncia de direitos do empregado e, se implicar, válida será, se não forem

ofendidos os dispositivos cogentes do direito do trabalho, em especial o art. 9º,

art. 444 e art. 468 da CLT.187

Nesse sentido sublinhou a jurisprudência:

É válido o acordo entabulado entre o bancário e o BEMAT através da espontânea adesão ao "Programa de Desligamento Incentivado" (PDI), no qual os partícipes da relação de emprego imprimem mútuas concessões, sem qualquer lesividade ao trabalhador, operando-se autêntica transação. (TRT-RO-2302/98 - 4ª JCJ DE CUIABÁ-MT. Rel.: Juiz Roberto Benatar).

Süssekind188 concorda com esse entendimento, dizendo:

Daí por que será nulo o ato que tiver por fim obstar a aplicação de direito cogente (art.s 9º e 444 da CLT) ou do qual resultar alteração das condições pactuadas no campo do direito dispositivo, quando a modificação contratual implicar prejuízo direto ou indireto para o trabalhador (art. 468), salvo nos casos expressamente previstos pela própria lei trabalhista.

No entanto, ainda conforme Süssekind,189 somente o fato

do direito ser disponível não esta livre da hipótese de impedimento para sua

renúncia, como por exemplo a situação que o empregado encontra-se sob a

186 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANA, Segadas; TEIXEIRA, Lima. Instituições de Direito do Trabalho. p. 218. 187 SARAI, Leandro. Transação e direitos individuais do empregado. Jus Navegandi. Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4799&p=3 . Acesso em 9 de janeiro de 2008. 188 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANA, Segadas; TEIXEIRA, Lima. Instituições de Direito do Trabalho. 19.ed. atual. São Paulo: LTr, 2000, v.1. p. 214. 189 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANA, Segadas; TEIXEIRA, Lima. Instituições de Direito do Trabalho. 19.ed. p. 218.

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subordinação empregador, neste caso existe a dependência econômica, ou

seja, o empregado se deixa influenciar por medo de perder o emprego. Se da

análise do caso, verifica-se, que o empregado não possui legítimo interesse no

resultado do ato do qual abre mão do direito ajustado, presume-se ali o vício de

consentimento por parte do empregador. No obstante, após findar o contrato,

considerável é a faculdade de renúncia por parte do empregado, mais ainda

sim, restringe-se, a direitos renunciáveis.

Jeveaux, Cruz e Areosa190 mantêm entendimento

semelhante:

Por força da irrenunciabilidade, própria do direito do trabalho, qualquer ato de disposição praticado pelo empregado é presumido viciado na origem, caso em que o ato revela-se ineficaz para o empregado, salvo se houver em troca evidente benefício proporcional à renúncia.

O artigo 9º da CLT refere-se às nulidades. Que assim

preceitua:

Serão nulos de pleno direito os atos praticados com o objetivo de desvirtuar, ou fraudar a aplicação dos preceitos contidos na presente Consolidação.191

Já o art. 444 da CLT, expressa a liberdade das partes

contratarem, mas que não desrespeitem as normas legais que tutelam o

trabalho, os pactos coletivos, bem como as decisões das Varas do Trabalho e

dos Tribunais.192

Senão vejamos:

As relações contratuais de trabalho pode ser objeto de livre estipulação das partes interessadas em tudo quanto não contravenha às disposições de proteção ao trabalho, aos

190 JEVEAUX, Geovany; CRUZ, Marcos Pinto da; AREOSA, Ricardo. Manual do direito individual do trabalho. Rio de Janeiro: Forense, 2002. p. 24. 191 BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Decreto Lei n. 5.452. Art. 9º. Presidência da Republica. Disponível no site: http://www.planalto.gov.br . Acesso no dia: 20/01/2008. 192 SAAD, Eduardo Gabriel. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. p. 435.

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contratos coletivos que lhes sejam aplicáveis e às decisões das autoridades competentes.193

Russomano,194 interpreta o referente artigo da seguinte

forma:

O art. 444, portanto, ao mesmo tempo em que, sob o ponto de vista doutrinário, ratifica a liberdade de celebração dos contratos e a mantém, mesmo em face das limitações necessárias à boa regulamentação dos contratos individuais de trabalho, dá-nos, como indicação prática, a norma de que empregados e empregadores só não poderão ajustar condições ofensivas à lei, às decisões das autoridades e aos convênios coletivos que lhes sejam aplicáveis

A indisponibilidade de direitos diz respeito à não

possibilidade, seja por ato individual (renúncia), ou por ato negocial com o

empregador (transação), abrir mão de seus direitos trabalhistas, se for o caso,

sendo nulo tal ato.195

O teor do artigo 468 da CLT nos diz:

Nos contratos individuais de trabalho só é lícita a alteração das respectivas condições por mútuo consentimento, e ainda assim desde que não resultem, direta ou indiretamente, prejuízos ao empregado, sob pena de nulidade da cláusula infringente desta garantia.196

Assim, sendo, visto por outra ótica, a irrenunciabilidade de

direitos, correlacionado com o Princípio da Proteção do Trabalhador197, assume

193 BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Decreto Lei n. 5.452. Art. 444. Presidência da Republica. Disponível no site: http://www.planalto.gov.br . Acesso no dia: 20/01/2008. 194 RUSSOMANO, Mozart Victor. Comentários à CLT. volume I. Rio de Janeiro: Ed. Forense, 1990. p. 397-399. 195 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 5º ed. p.217. 196 BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Decreto Lei n. 5.452. Art. 468. Presidência da Republica. Disponível no site: http://www.planalto.gov.br . Acesso no dia: 20/01/2008. 197 "O legislador trabalhista teve grande preocupação em estabelecer maior amparo a uma das partes, ou seja, objetivou a proteção do trabalhador. Entretanto, essa aparente desigualdade tem por finalidade igualar as partes no âmbito do Direito do Trabalho". Autor: AMARAL, Júlio Ricardo de Paula. Limitações à aplicação do princípio da proteção no Direito do Trabalho. Disponível em http://www.ufsm.br/direito/artigos/trabalho/limitacoes.htm. Acessado em 08/04/2008.

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força de princípio, ao passo que visa garantir a dignidade da pessoa humana. A

partir dessa ótica, surge um impasse, da utilização ou não, da transação nos

dissídios individuais ou coletivos.198

2.4 NATUREZA JURÍDICA DAS NORMAS RELATIVAS À

JORNADA DE TRABALHO

A natureza jurídica da jornada de trabalho pode ser visto

por dois prismas, o primeiro refere-se às de natureza pública, pois é o próprio

estado o maior interessado no controle da jornada de trabalho do trabalhador.

O segundo tem natureza privada, onde as partes do contrato possuem

liberdade para fixarem jornadas inferiores previstas nas normas coletivas e na

própria lei. Esta estabelece, e obriga o limite máximo da jornada. Portanto,

vistos esses dois aspectos pode-se dizer que, a jornada de trabalho teria

natureza mista, onde coexistem elementos de características públicas e

privadas. 199

Delgado200, no entanto, nos apresenta uma polêmica,

referente à variedade de normas incidentes sobre a jornada e a duração do

trabalho. De um lado existem as normas gerais aplicadas ao mercado de

trabalho no geral, de outro as normas aplicadas sobre situações ou categorias

específicas. Somando-se a este quadro coexiste a possibilidade autônoma

privada, com o cunho de tecer regras específicas direcionadas a que se

reportam.

Diante desse quadro conclui Delgado201:

As normas jurídicas estatais que regem a estrutura e dinâmica da jornada e duração do trabalho são de maneira geral, no Direito brasileiro, normas imperativas. O caráter de

198 SARAI, Leandro. Transação e direitos individuais do empregado. Jus Navegandi. Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4799&p=3 . Acesso em 9 de janeiro de 2008. 199 MARTINS, Sergio Pinto. Curso de direito do trabalho. p. 192. 200 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 5º ed. p.848. 201 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 5º ed. p.848.

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obrigatoriedade que tanto qualifica e distingue o Direito do Trabalho afirma-se, portanto, enfaticamente, nesse campo juslaboral. (...) por esta razão a renúncia, pelo trabalhador, no âmbito da relação de emprego, a alguma vantagem ou situação resultante de normas respeitantes à jornada é absolutamente inválida.

Nascimento202, acerca da natureza jurídica, em tela,

assim se manifesta:

As condições de trabalho são, portanto, imperativos legais que se submetem as partes do contrato de trabalho aos seus comandos, a ponto de comprometer, em determinadas situações, a possibilidade de renúncia ou transação dessas garantias pelo empregado.

Contudo, importa a necessidade de mencionar, que sendo

as normas relativas à duração da jornada de trabalho, imperativas de ordem

pública, não é possível aos particulares afastar sua incidência quando

verificadas as hipóteses tratadas pelas mesmas.203

Cabe ressaltar que, tais normas, embora sendo

imperativas e de ordem pública, existem conceitos que as diferem aquelas

destas: as imperativas visam corrigir desigualdades entre as partes, quer

social, quer econômica, assim corrigindo as desigualdades nos pólos do

contrato, afastando a autonomia da vontade; as de ordem pública primam por

tutelar os direitos inderrogáveis, irrenunciáveis que extrapolam os interesses

particulares no que dizem respeito a toda uma coletividade.204

Destarte, se o caráter imperativo é identificado na lei e no

interesse protegido, com a finalidade de corrigir desigualdades entre as partes,

202 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao direito do trabalho. 32. ed. p. 165. 203 FIRMO JÚNIOR, Paulo Cesar Rosso. Duração do trabalho – doutrina JUSnavegandi. Elaborado em 08.2006. Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina . Acesso em: 25 de maio de 2008. 204 PESSOA, Valton Doria. Nulidade dos negócios jurídicos decorrentes dos contratos de trabalho. Artigos e Doutrina. Academia Paranaense de Estudos Jurídicos. . Disponível em: http://www.apej.com.br . Acesso em: 25 de maio de 2008.

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vislumbra-se então o interesse privado, contradizendo a natureza das normas

de ordem pública. As normas de ordem pública exprimem direitos insuscetíveis

de renúncia e transação, prevalecendo até mesmo contra a vontade das

partes. Porém a natureza das normas relativas a jornada de trabalho, são

imperativas quando são protecionistas ao trabalhador na relação empregatícia

e são de ordem pública quando impedem a disponibilidade de seus direitos

tutelados por estas mesmas normas.205

2.5 FLEXIBILIZAÇÃO E COMPENSAÇÃO DE JORNADA:

POSSIBILIDADES E LIMITES

No que tange a questão do debate a cerca da

flexibilização e compensação da jornada e duração do trabalho, necessário é a

analise dos critérios gerais que informam o referido tema no âmbito do ramo

trabalhista.206

A flexibilização, como já foi exposto no “tópico 2.2”, deste

mesmo capítulo, não pode ser tida como mecanismo de desregulamentação

das leis trabalhistas, mas sim, um mecanismo criado para proteger e manter o

emprego do trabalhador bem como evitar o perecimento da empresa nos

períodos de recessão econômica que ocorre em determinados períodos do

ano.

Nesse sentido já se manifestou o ex Subprocurador Geral

do Trabalho, Lopes: 207

Parece lógico que, para a coletividade de trabalhadores, mais vale um emprego, embora com salário menor, na expectativa de superação da crise na empresa ou no setor econômico, que emprego algum e salário nenhum.

205 PESSOA, Valton Doria. Nulidade dos negócios jurídicos decorrentes dos contratos de trabalho. Artigos e Doutrina. Academia Paranaense de Estudos Jurídicos. . Disponível em: http://www.apej.com.br . Acesso em: 25 de maio de 2008. 206 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 5º ed.. p.849. 207 LOPES, Otavio Brito. Limites Constitucionais À Negociação Coletiva. Revista jurídica. ed. abril/2001. Unifacs. Disponível em http://www.unifacs.br/revistajuridica . Acesso em 9 de janeiro de 2008.

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A Constituição de 1988, abriu possibilidades em vários

momentos para a flexibilização do direito do trabalho. O artigo 7º no seu inciso

VI expressa que, os salários poderão ser reduzidos mediante convenção ou

acordo coletivo de trabalho; bem como o inciso XIII, do mesmo artigo,

possibilitou a compensação ou redução da jornada de trabalho, porém

mediante acordo ou convenção coletiva; o aumento da jornada de trabalho nos

turnos ininterruptos de revezamento para mais de seis horas diárias por

intermédio de negociações coletivas (art. 7º. Inciso XIV).208

O artigo 8º, no seu inciso VI, também da Carta Magna,

estatuiu a participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho. O

qual diz:

É obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho. 209

Porém, existe uma corrente de intérpretes, que considera

que a Constituição de 1988 somente tutelou a participação dos sindicatos nas

negociações coletivas, vinculando, obrigatoriamente o regime de compensação

de jornada à prévia negociação coletiva. Tal argumento não abrangeu no que

concerne a compensação de jornada de trabalho, e isso se tornou uma

vertente dominante, com o advento das OJs 182 e 223, SDI, e manutenção da

Súmula 85 do TST. 210

Com isso a Súmula 85 do TST, passou a ter nova

redação.211

Antes do advento da Lei n. 9.601/98, a forte corrente

interpretativa supracitada, considerava que a Constituição de 1988, incentivava

208 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 23. ed. p.507. 209 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.. Art. 8º, inciso VI. Disponível no site: http://www.planalto.gov.br . Acesso dia 15/01/2008. 210 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 5º ed. p.855. 211 A nova redação da Sumula 85 do TST, será abordada mais adiante.

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a negociação coletiva, mas, não impedia o acordo bilateral no tocante à

compensação de jornada.212

Dois aspectos favoreciam a interpretação supracitada um

deles é o fato, de que o regime em questão em grande parte favorecia o

trabalhador. Tal fato conduziria a tal interpretação, sendo assim, não haveria

razão para o cerceamento a procedimentos que atenderiam ao próprio direito

do trabalho. Diante destas características do regime de compensação, teria a

Constituição permitido o mero acordo bilateral escrito, mas sempre

respeitando, os limites que a ordem jurídica impõe a tal regime.213

O outro aspecto advinha da análise dos métodos:

gramatical,214lógico,215sistemático216 e teleológico217 na própria leitura do

dispositivo. O referido dispositivo (inciso XIII do art. 7º)218 assim dizia in verbs:

212 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 5º ed. p.856 213 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 5º ed. p.856. 214 Método gramatical: também conhecido como literal, semântico ou filológico, funda-se em princípio de lingüística. A interpretação constitucional, segundo este método, volta-se sobretudo para o significado literal das palavras, que são examinadas isoladamente ou no contexto da oração. Por meio deste método examina-se cada termo normativo, observando-se a pontuação, a etimologia e a colocação das palavras. O método gramatical é o momento inicial do processo interpretativo, uma vez que a análise da literalidade da norma a ser interpretada é o primeiro passo de uma interpretação constitucional. Autor: SILVA , Christine Oliveira Peter da. UniCelb. ´Brasília: Disponível em: http://www.christine.peter.nom.br/hermeneutica. acesso em: 28 de janeiro de 2008. 215 O método lógico de interpretação possui as seguintes tarefas: (...) examinar a lei em conexidade com as demais leis, investiga-lhe também as condições e os fundamentos de sua origem e elaboração, de modo a determinar a ratio ou a mens do legislador. Busca portanto reconstruir o pensamento ou intenção de quem legislou, de modo a alcançar depois a precisa vontade da lei. Autor: BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 7 ed. São Paulo: Malheiros Editores, 1997, p. 402. 216 Método sistemático: este método busca um entrelaçamento entre uma norma individualizada e outras prescrições normativas encontradas em todo o ordenamento jurídico. Ele busca um sentido harmônico do ordenamento. No campo do Direito Constitucional, reflete-se na unidade interna da Lei Fundamental, a qual tem íntima relação com um princípio decorrente da interpretação sistemática, que é o princípio da unidade da Constituição. Autor: MÜLLER, Friedrich. Métodos de trabalho do Direito Constitucional. 2 ed. rev. São Paulo: Max Limonad, 1999, p.79. 217 O método teleológico ou sociológico, em que o intérprete deverá primar pelo fim da lei, assentando que este e a razão da lei são indicados pelas exigências sociais, conduzindo à compreensão de que o fim prático da norma coincide com o fim apontado pelas exigências sociais (fim social), tendo-se em vista o bem comum. Autor: MACEDO, Sérgio Golveia de. O método literal na interpretação jurídica. Paraíba: 2007. Disponível em: http://www.prt21.mpt.gov.br. Acesso em: 22 de dezembro de 2007. 218 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.. Art. 7º, inciso XIII. Disponível no site: http://www.planalto.gov.br . Acesso dia 15/01/2008.

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“facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante

acordo ou convenção coletiva de trabalho” (grifo nosso). Percebe-se um

sentido dúbio no trecho ora grifado.219

A cerca da dubiedade do sentido do inciso XIII do artigo

7º da CRFB, assim, esclarece Delgado220:

Propositadamente a nova Carta teria colocado o verbete “acordo” afastado da qualificação (e restrição) “coletivo” (alias, coletiva concorda com feminino (convenção), o que permitiria induzir-se que pretendeu conferir a palavra a dubiedade de acepções que propicia (acordo bilateral ou acordo coletivo) – tal já ocorria com o velho parágrafo 2º do art. 59 da CLT (que mencionava “acordo ou contrato coletivo”). (...) no art. 7º, VI, que trata da redução de salário (com a expressão “convenção ou acordo coletivo”, invertidas não permite a dubiedade dos sentidos) (...).

Martins221, também menciona a dubiedade de sentidos

propostos pelo inciso XIII do artigo 7º da CRFB. Vejamos:

A interpretação sistemática leva o interprete a entender que se trata de acordo individual. (...) por essa interpretação, se o constituinte usou a expressão “acordo ou convenção coletiva”, é sinal que queria que o acordo fosse individual. Do contrario usaria a frase invertida: “convenção ou acordo coletivo”, em que acordo seria necessariamente coletivo.

Atualmente prevalece, o entendimento do Colendo TST,

no sentido de ser coletivo o acordo para a compensação de horas, porém

existem um grande número de decisões recentes que admitem o acordo

individual.222

219 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 5º ed. p.856 220 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 5º ed. p.856. 221 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 23. ed. p.508. 222 GARCIA, Roni Genicolo. Manual de rotinas trabalhistas. 2. ed. São Paulo:Atlas, 2002. p. 113.

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Neste contexto seguem algumas decisões:

O inciso XIII do art.7º da Constituição Federal, ao dispor sobre a matéria, não impôs a necessidade de formalização de acordo coletivo ou convenção coletiva, como previsto nos incisos VI (irredutibilidade de salário) e XXVI (reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho) do dispositivo constitucional. Conclui-se, portanto, pela possibilidade da celebração de acordo individual de compensação de horários, em face de seu alcance social, permitindo-se a realização desses acordos em empresas de pequeno porte, o que restaria, praticamente inviabilizado pela via exclusiva da negociação coletiva, em dissonância com a realidade social a que se destina. (E-RR 233901/95.2, Ac. SBDI-1, Rel. Ermes Pedro Pedrassani – TST.)223

No mesmo sentido favorável ao acordo individual:

O acordo individual para compensação de horas de trabalho, firmado entre empregado e empregador, tem validade legal, salvo se houver norma coletiva da categoria do trabalhador estabelecendo o contrário.224

Igualmente favorável a pactuação individual: O inciso XIII, do art. 7º da Constituição Federal não exige acordo coletivo para a compensação de horário de trabalho. quando se pretende acordo coletivo, a Constituição foi expressa, como, por exemplo, no inciso VI, do mesmo art. 7º, ou usou expressão abrangente como “negociação coletiva” (inciso XIV). Logo, válido o acordo de prorrogação e compensação da jornada por acordo individual. (RR 215842/95.5, Ac. 2º T., Rel. Jose Luciano de Castilho Pereira – TST).225

O advento da Lei n. 9.601, de 1998, deu nova redação ao

art. 59, parágrafo 2º da CLT, que posteriormente, foi modificado pela MP n.

1.709, do mesmo ano, estabelecendo a compensação de jornadas, seria

223 GARCIA, Roni Genicolo. Manual de rotinas trabalhistas. p. 112. 224 Entendimento firmado pela Primeira Turma do Tribunal Superior do trabalho, 24/07/2002, ao julgar recurso apresentado pela Sadia Concórdia S.A., de Duque de Caxias (RJ), contra decisão do Tribunal Regional do Trabalho Rio de Janeiro (1ª Região). 225 GARCIA, Roni Genicolo. Manual de rotinas trabalhistas. p. 112.

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mediante convenção ou acordo coletivo de trabalho, portanto, percebe-se que

houve a intenção de solucionar, a possibilidade da dubiedade de entendimento

que existia anteriormente, ou seja, a redação anterior do parágrafo 2º, do art.

59, admitia a compensação de jornadas por acordo escrito entre o empregador

e o empregado, ao passo que, a nova redação somente legitima o acordo de

compensação por meio de convenção coletiva de categoria ou acordo coletivo

de empresa, afastando, então a dubiedade de interpretação.226

Delgado227 justifica a necessidade do acordo coletivo ou

convenção coletiva no acordo para compensação de jornada, da seguinte

forma:

O instante em que o legislador infraconstitucional criou, novo tipo de regime compensatório, distinto daquele até vigorante e, adicionalmente, prejudicial à saúde e segurança da pessoa humana prestadora de serviços empregatícios, não pode determinar que tal regime prejudicial, redutor de direitos e vantagens trabalhistas, seja pactuado sem o manto protetivo da negociação coletiva.

Ainda, conforme Delgado228:

(...) o regime de compensação anual previsto pelo novo art. 59 da CLT (chamado banco de horas) somente pode ser pactuado pelos instrumentos formais da negociação coletiva trabalhista, em virtude de a Constituição da Republica não permitir que a transação meramente bilateral pactue medida desfavorável à saúde e segurança obreiras.

A Lei n. 9.601/98 reporta-se a um marco diferenciador,

pelas suas alterações. A antiga redação do artigo parágrafo 2º do artigo 59 da

CLT, determinava que a compensação fosse apenas de duas horas por dia,

não excedendo o limite semanal. A redação original do projeto de alteração do

parágrafo 2º do art. 59 da CLT, restringia a compensação em 120 horas extras

226 SÜSSEKIND, Arnaldo. Curso de Direito do Trabalho. p. 457. 227 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 5º ed. p.866 – 867. 228 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 5º ed. p.866 – 867.

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no período de um ano para jornada de 44 horas semanais, observando o

disposto do artigo 61 da CLT.229

O banco de horas foi criado inicialmente pela MP 1.709/98

para compensações de até 120 dias e, mais tarde, com nova redação, para

compensações de até um ano, portanto, compensações anuais – MP 2.164-

41/01. 230

Dispõe a nova redação do parágrafo 2º do artigo 59 da

CLT:

Poderá ser dispensado o acréscimo de salário se, por força de acordo ou convenção coletiva de trabalho, o excesso de horas em um dia for compensado pela correspondente diminuição em outro dia, de maneira que não exceda, no período máximo de um ano, à soma das jornadas semanais de trabalho previstas, nem seja ultrapassado o limite máximo de dez horas diárias.231

Com o escopo de solucionar o dilema supracitado, a

revisão da Súmula 85 foi promovida.

A última revisão dos enunciados, promovida em 20 de

abril de 2005, Resolução nº 129/2005, incorporou à súmula nº 85 outras três

outras orientações jurisprudenciais que também dispunham sobre a

compensação de horas.

A nova súmula 85 do TST232 ficou constituída da seguinte

forma:

SÚMULA 85 - COMPENSAÇÃO DE JORNADA. (incorporadas as Orientações Jurisprudenciais nºs 182, 220 e 223 da SBDI-1) - Res. 129/2005 - DJ 20.04.2005

229 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 23. ed. p.510. 230 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 23. ed. p.510. 231 BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Decreto Lei n. 5.452. Art. 59, parágrafo 2º. Presidência da Republica. Disponível no site: http://www.planalto.gov.br . Acesso no dia: 20/01/2008. 232 DJi – TST- SUMULAS. Disponível em http://www.dji.com.br/normas . Acesso em 9 de janeiro de 2008.

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I-A compensação de jornada de trabalho deve ser ajustada por acordo individual escrito, acordo coletivo ou convenção coletiva. (ex-Súmula nº 85 - primeira parte - Res. 121/2003, DJ 21.11.2003) II. O acordo individual para compensação de horas é válido, salvo se houver norma coletiva em sentido contrário. (ex-OJ nº 182 - Inserida em 08.11.2000) III. O mero não-atendimento das exigências legais para a compensação de jornada, inclusive quando encetada mediante acordo tácito, não implica a repetição do pagamento das horas excedentes à jornada normal diária, se não dilatada a jornada máxima semanal, sendo devido apenas o respectivo adicional. (ex-Súmula nº 85 - segunda parte- Res. 121/2003, DJ 21.11.2003) IV. A prestação de horas extras habituais descaracteriza o acordo de compensação de jornada. Nesta hipótese, as horas que ultrapassarem a jornada semanal normal deverão ser pagas como horas extraordinárias e, quanto àquelas destinadas à compensação, deverá ser pago a mais apenas o adicional por trabalho extraordinário. (ex-OJ nº 220 - Inserida em 20.06.2001). (Redação dada pela Res. 121/2003, DJ 21.11.2003)

No próximo capítulo será exposto, minuciosamente, o

objeto principal da presente pesquisa, como mecanismo para compensar as

horas extras trabalhadas.

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CAPITULO 3

BANCO DE HORAS

Passaremos ao estudo do banco de horas, como

mecanismo de compensação de horas extras trabalhadas. Neste presente

capítulo será abordado: pressupostos, conceito, limitações, requisitos, previsão

legal, sua dinâmica bem como responder a temática levantada nessa pesquisa:

seu aspecto social e sua constitucionalidade.

3.1 CONCEITO DE BANCO DE HORAS

O banco de horas e o regime compensatório de jornada

completam-se em um mesmo instituto. Aquele se refere a um método pelo qual

o empregador se utiliza, para compensar todas as prorrogações de horas

prestadas pelo empregado com a conseqüente redução.233

Barros,234 conceitua banco de horas da seguinte forma:

“Banco de horas”, o qual permite, por acordo ou convenção coletiva, a compensação do excesso de horas trabalhadas em um dia pela correspondente diminuição em outro dia, de modo que não exceda, no período máximo de um ano, à soma das jornadas semanais de trabalho, tão pouco ultrapasse o limite de 10 horas por dia.

Ao passo que Martins235, assim prefere:

Consiste o banco de horas o trabalhador cumprir jornada inferior à normal quando há menor produção, sem prejuízo do salário ou de ser dispensado. Quando há maior produção, há compensação das horas. Poderá o trabalhador prestar serviços mais horas por dia, quando há maior produção , compensando essas horas na baixa produção.

233 DALLEGRAVE NETO, José Afonso. Inovações na legislação trabalhista: reforma trabalhista. 2. ed. São Paulo: LTr, 2002. p. 77. 234 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho. p. 662. 235 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 23. ed. p.506.

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Conforme Rodrigues Pinto236, o banco de horas consiste em:

Uma virtual conta corrente de horas extraordinárias, na qual empregador e empregado depositam seus créditos de horas trabalhadas a menos, com pagamento, e a mais, sem indenização, para futuro saque, mediante compensação não apenas das jornadas, mas da retribuição homogênea do trabalho.

Logo, num período, o empregado é chamado a trabalhar

uma ou no máximo duas horas a mais no dia, para que em outro período deixe

de trabalhar, dentro da jornada normal (oito horas), número equivalente aos

das horas extras trabalhadas.237

3.2 PRESSUPOSTOS LÓGICOS E JURÍDICOS

Para um melhor entendimento a cerca do instituto banco

de horas é necessário inserir-se na discussão a análise dos interesses que

povoam a realização de horas extraordinárias bem como, a compensação de

jornada de trabalho por parte do trabalhador238.

No âmbito da relação individual de emprego predomina a

colisão dos interesses econômicos. De um lado o empregador que, vê na

jornada extraordinário a possibilidade de diminuição de custos referente a mão

de obra, concluindo que seria muito mais dispendioso para ele ter que contratar

outros empregados. Do outro lado existe o interesse do empregado que

mediante a possibilidade da hora extraordinária, vislumbra um acréscimo

remuneratório.239

Tal questão, na visão da relação coletiva, não vislumbra

vantagem, posto que, a hora extraordinária resume-se em um fator de redução

de vagas para novas contratações.240

236 PINTO, José Augusto Rodrigues. Curso de direito individual do trabalho. São Paulo: LTr, 2000, p.528. 237 SAAD, Eduardo Gabriel. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. 40. ed. p.144. 238 PINTO, José Augusto Rodrigues. Curso de direito individual do trabalho. p. 576. 239 PINTO, José Augusto Rodrigues. Curso de direito individual do trabalho. p. 577. 240 PINTO, José Augusto Rodrigues. Curso de direito individual do trabalho. p. 577.

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O Interesse social manifesta-se na defesa de bens

jurídicos relevantes como, a limitação da jornada, o lazer, que são direitos

mínimos do trabalhador. Mesmo nas hipóteses da interferência da lei, tal

interesse sobrepõe-se diante da relação empregatícia.241

Os direitos sociais justificam-se nas garantias auferidas às

pessoas, com escopo de proteger suas necessidades básicas. Assim sendo, a

constituição de 1988, em seu artigo 6º, estabeleceu que, dentre outros, o

trabalho e o lazer, constituem-se em direitos sociais.242

Da mesma forma, A Declaração Universal dos Direitos

Humanos243, em seu artigo 24, menciona que:

Todo homem tem direito a repouso e lazer, inclusive à limitação razoável das horas de trabalho e a férias remuneradas periódicas.244

O interesse social conjuga-se ao interesse médico. É na

Medicina e Higiene do Trabalho, onde se observa os parâmetros estabelecidos

com finalidade de preponderar, por meio da limitação da duração do trabalho a

atividade do trabalhador.245

A jornada normal de trabalho estabelecida pela

Constituição de 1988, obedeceu a um critério fisiológico ao estipular o referido

parâmetro de oito horas por dia, portanto, além disso, é prejudicial à saúde.246

241 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao direito do trabalho. 32. ed. p. 165. 242 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do trabalho. 22. ed. São Paulo: Atlas, 2005. p.14. 243 A Declaração Universal dos Direitos Humanos é um dos documentos básicos das Nações Unidas e foi assinada em 1948. Nela, são enumerados os direitos que todos os seres humanos possuem. (...) como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que, cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta Declaração, se esforce, através do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universal e efetiva, tanto entre os povos dos próprios Estados-Membros, quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição. Disponível em: http://www.onu-brasil.org.br . Acesso em: 3 de fevereiro de 2008. 244 NÓBREGA, Edgar. Declaração Universal dos Direitos Humanos – 50 anos. Disponível em: http://professoredgar.com.br . Acesso em: 4 de fevereiro de 2008. 245 PINTO, José Augusto Rodrigues. Curso de direito individual do trabalho. p. 577- 578. 246 SAAD, Eduardo Gabriel. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. 40. ed. p.147.

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Nesse sentido, esclarece Delgado247:

A pactuação de horas complementares à jornada padrão, que extenue o trabalhador ao longo de diversas semanas e meses, cria riscos adicionais inevitáveis à saúde e segurança daquele que presta serviços, deteriorando as condições de saúde, higiene e segurança no trabalho (em contraponto, aliás, àquilo que estabelece o art. 7, XXII, da Carta Magna).

Logo, o artigo 59 da CLT determina a jornada de trabalho

normal. Senão vejamos:

Art. 59 - A duração normal do trabalho poderá ser acrescida de horas suplementares, em numero não excedente de duas, mediante acordo escrito entre empregador e empregado, ou mediante contrato coletivo de trabalho.248

Diante da necessidade da amenização dos reflexos

advindos da jornada extraordinária, urge a necessidade de um mecanismo

compensatório de jornadas. Com isso a CLT, fixou o limite de oito horas para

uma jornada normal de trabalho, por dia. Permitindo, no entanto o limite de

duas horas suplementares por dia. Porém, desde que houvesse a referida

diminuição, em dia seguinte, respeitando, contudo o limite de 44 horas

semanais.249

3.3 PREVISÃO LEGAL DO BANCO DE HORAS

O mecanismo jurídico que trata do banco de horas,

encontra abrigo legal nos seguintes artigos:

Artigo 59, parágrafo 2º, da CLT, in verbis:

Poderá ser dispensado o acréscimo de salário se, por força de acordo ou convenção coletiva de trabalho, o excesso de horas em um dia for compensado pela correspondente diminuição em outro dia, de maneira que não exceda, no período máximo de

247 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 5º ed. p.863. 248 SAAD, Eduardo Gabriel. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. 40. ed. p.143. 249 PINTO, José Augusto Rodrigues. Curso de direito individual do trabalho. p. 578.

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um ano, à soma das jornadas semanais de trabalho previstas, nem seja ultrapassado o limite máximo de 10 (dez) diárias.250

Artigo 7º, XIII, da CRFB, menciona os direitos dos

trabalhadores. in verbis:

Duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho;251

Cumpre ressaltar que o artigo 59, parágrafo 2º, da CLT,

não foi revogado pelo artigo 7º, XIII, da CRFB/88, pois conforme o artigo 2º,

parágrafo 1º da LICC, só ocorre a revogação, quando a segunda (lei) declare

que a primeira esta revogada ou quando a segunda for incompatível com a

primeira, assim revogando a primeira. No caso, percebe-se que o artigo 7º, XIII,

da CRFB/88, além de ser compatível com o artigo 59, parágrafo 2º, da CLT, é

complementado pelo mesmo.252

O artigo 6º da Lei n. 9.601, de 21 de janeiro de 1998

(fundamentado no artigo 7º, XIII, da CRFB/88), deu nova redação ao art. artigo

59, da CLT, estipulando que a compensação de jornada pudesse ser verificada

no período de 120 dias, antes restrita à semana propiciadora da extinção dos

contratos aos sábados.253

Porém, a Medida Provisória n. 2164-41, DOU de

27.08.2001, estendeu o prazo para 1 ano. Cumpre ressaltar que antes dessa

Medida Provisória (2164-41, DOU de 27.08.2001), a Medida Provisória 1709

250 BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Decreto Lei n. 5.452. Art. 59, parágrafo 2º. Presidência da Republica. Disponível em: http://www.planalto.gov.br . Acesso em: 20 de janeiro de 2008. 251 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Art. 7º, inciso XIII. Disponível em: http://www.planalto.gov.br . Acesso em: 15 de janeiro de 2008. 252 DALLEGRAVE NETO, José Afonso. Inovações na legislação trabalhista: reforma trabalhista. p. 78. 253 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANA, Segadas; TEIXEIRA, Lima. Instituições de Direito do Trabalho. p. 816.

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publicada no DOU em 06.08.98, já havia majorado o referido prazo para

compensação de jornada de trabalho para um ano.254

Antes da edição da Lei 9.601/98, em 22 de janeiro, a

compensação de horário era obrigatório ocorrer na mesma semana,

observando sempre o limite constitucional de 44 horas semanais e 10 diárias,

com isso era impossível a implementação do banco de horas.255:

3.4 DINÂMICA DO BANCO DE HORAS

Neste tópico será, utilizado, para melhor explicar a

dinâmica do banco de horas um exemplo prático fornecido por Dellegrave Neto.

O mesmo salienta que o controle da compensação de jornada, deve ser feito

individualmente por meio de ficha, a qual registrar-se-á a quantidade de horas

extrapoladas ou mitigas em relação ao limite de 44 horas semanais, que ao

final de ano, o empregador deverá fazer a compensação.256

Segundo o exemplo fornecido por Dellegrave Neto257, um

empregado que labore:

Na primeira semana: 50 horas. Ficará com um credito de

6 horas (excedentes da 44ª semanal).

Na segunda semana: 48 horas. Crédito prol empregado

de 4 horas excedentes da 44ª.

Na 3ª semana: 40 horas. Débito de 4 horas em relação ao

limite de 44 semanais.

254 DALLEGRAVE NETO, José Afonso. Inovações na legislação trabalhista: reforma trabalhista. 2. ed. São Paulo: LTr, 2002. p. 79. 255 PALMA, Jose Algusto da. Contrato provisório e banco de horas – como admitir – comentários à Lei. 3. ed. São Paulo: LTr. 1998. p. 108-109. 256 DALLEGRAVE NETO, José Afonso. Inovações na legislação trabalhista: reforma trabalhista. 2. ed. São Paulo: LTr, 2002. p. 77. 257 DALLEGRAVE NETO, José Afonso. Inovações na legislação trabalhista: reforma trabalhista. 2. ed. São Paulo: LTr, 2002. p. 77.

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Na 4ª semana: 54 horas. Crédito de 10 horas em prol do

empregado.

Percebe-se no caso em tela, um crédito de 16 horas em

prol do empregado que ao final de 120 dias (ou um ano) deverá ser

compensado com o referente decréscimo.

Martins258, ainda esclarece:

Normalmente, as empresas costumam fazer com que o empregado trabalhe uma hora a mais por dia, de segunda a quinta-feira, não trabalhando aos sábados.

Hoje com a Medida Provisória n. 2164-41, DOU de

27.08.2001, o prazo máximo para a compensação de jornada de trabalho foi

limitada para um ano, no entanto como já foi mencionado alhures, se em norma

coletiva estabelece-se período inferior a um ano, que é o limite legal, prevalece

o limite estipulado pela norma coletiva por tratar-se de norma mais favorável ao

trabalhador259.

3.5 OPORTUNIDADES PARA COMPENSAÇÃO

Existem momentos em que o empregador deve realizar a

compensação. É no parágrafo 3º acrescido ao art. 59 da CLT, que

encontramos expressas as duas oportunidades para a compensação de

jornadas. A primeira oportunidade é o termo final do período ajustado pelo

empregado e empregador, em conformidade com a referida convenção coletiva

ou acordo coletivo (um ano no máximo); a segunda oportunidade é na extinção

do contrato que inviabiliza a continuidade do regime do banco de horas, visto

que se encerra o vínculo empregatício.260

258 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 23. ed. p.506. 259 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 22. ed. São Paulo: Atlas, 2005. p.510. 260 PINTO, José Augusto Rodrigues. Curso de direito individual do trabalho. p. 581.

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O referente artigo, assim, expressa:

Na hipótese de rescisão do contrato de trabalho sem que tenha havido a compensação integral da jornada extraordinária, na forma do parágrafo anterior, fará o trabalhador jus ao pagamento das horas extras não compensadas, calculadas sobre o valor da remuneração na data da rescisão.261

Na oportunidade da compensação pelo termo final do

período ajustado pelo empregado e empregador, em conformidade com a

referida convenção coletiva ou acordo coletivo, havendo excedente das 10

horas diárias, tal excedente deverá ser remunerado como hora extra, com o

respectivo adicional, porém a empresa também incorrerá em multa

administrativa.262

No entanto, há de se verificar, no segundo caso

(rescisão), a quantidade de horas a serem compensadas. Por exemplo:

Imagina-se uma situação, que faltando apenas três dias para totalizar o prazo

de um ano para a compensação, o empregado conte com 150 horas

trabalhadas extras ordinariamente, não podendo serem compensadas tais

horas, pelo fato de faltarem tão somente três dias para o término do prazo

anual estipulado por lei.263

Tal hipótese gera uma polêmica: estará o empregador

ocorrendo em fraude, importando na nulidade de seu ato (art.9º da CLT)264

tendo que pagar todo o período extraordinário a partir da oitava hora? Ou

ensejará apenas, ao pagamento das horas extras não compensadas?265

261 BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Decreto Lei n. 5.452. Art. 59, parágrafo 3º. Presidência da Republica. Disponível em: http://www.planalto.gov.br . Acesso em: 20 de janeiro de 2008. 262 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 22. ed. p.501. 263 DALLEGRAVE NETO, José Afonso. Inovações na legislação trabalhista: reforma trabalhista. p. 88. 264 Artigo 9º da CLT: Serão nulos de pleno direito os atos praticados com o objetivo de desvirtuar, ou fraudar a aplicação dos preceitos contidos na presente Consolidação. 265 DALLEGRAVE NETO, José Afonso. Inovações na legislação trabalhista: reforma trabalhista. p. 77.

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Esta questão encontra resposta no CCB, em seu artigo

129, que assim diz:

Reputa-se verificada, quanto aos efeitos jurídicos, a condição, cujo implemento for maliciosamente abstado pela parte, a quem desfavorecer. (...) 266

Não havendo fraude, ou seja, não ocorrendo a nulidade

do ato (art.9º da CLT), hipótese em que deverão ser pagas todas as horas

extraordinárias trabalhadas a partir da oitava hora diária, procede-se da

seguinte maneira:

Havendo rescisão do contrato de trabalho, sem que o

empregador tenha feito a compensação das horas extraordinárias na sua

integralidade, o empregado terá direito ao pagamento das horas extras não

compensadas, com valores calculados, sobre a remuneração vigente na

ocasião da rescisão.267

As hipóteses de: dispensas por justa causa, rescisão

indireta ou o pedido de demissão voluntária por parte do empregado, não

isenta o empregador, da obrigação de pagar as horas extras que não

obedecerem ao sistema de compensação de jornada.268

Barros269 orienta-nos a cerca da questão:

Nesses regimes, em uma semana o empregado trabalha 48 horas; logo, dividindo-se essas 48 horas por seis, temos em media, oito horas diárias. na segunda semana o empregado trabalha 36 horas; dividindo-se essas 36 horas por seis temos seis horas de trabalho diárias. na terceira semana o empregado volta a trabalhar 48 horas, o que resulta da jornada de oito horas, obtida com o resultado da media aritmética. Na quarta semana o empregado trabalha novamente 36 horas,

266 BRASIL. Código Civil Brasileiro. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Art. 129. Presidência da Republica. Disponível em: http://www.planalto.gov.br . Acesso em: 20 de janeiro de 2008. 20/01/2008. 267 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho. p. 662. 268 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 22. ed. São Paulo: Atlas, 2005. p.503. 269 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho. 3. ed. ver. e ampl.. São Paulo: LTr, 2007. p. 663.

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que, divididas por seis, representam seis horas diárias, em media. Somando-se as oito horas da primeira e terceiras semanas com as seis horas da segunda e quarta semanas temos um total de 28 horas nas quatro semanas ; dividindo essas 28 horas por quatro, temos, em media, a jornada de sete horas para quem trabalha no regime de 12x36. Multiplicadas essas sete horas por 30 dias do mês, resulta no divisor de 210.

Quando da oportunidade para compensação da jornada

de trabalho com o termo final do período ajustado, a operação far-se-á de

acordo com o lançamento da conta; e na hipótese de rescisão, de acordo com

o estado da contabilidade no ato da extinção.270

3.6 LIMITAÇÕES À APLICABILIDADE DO BANCO DE HORAS

A partir do que já foi exposto, nesse referente trabalho de

pesquisa, podemos deduzir que, a compensação da jornada extraordinária do

funcionário deve ser feita com o máximo de cuidado. A Justiça Trabalhista tem

sido muito rígida na hora de conferir validade ao banco de horas, o que, às

vezes, pode se transformar em mais um foco de ações trabalhistas. Sendo,

assim, há de serem observadas as limitações, as vedações e os requisitos que

exigem à aplicação de tal mecanismo. 271

Por força do artigo 7º, alínea b, as disposições dos

parágrafos do artigo 59 da CLT, não se aplica ao rural, salvo se houver,

expressa determinação em sentido contrario. Isso porque, o Decreto nº

73.626/74, o qual regulamenta a Lei nº 5.889/73, deixa de fazer referência do

art.59, da CLT. 272

Igualmente não se aplicam as disposições dos parágrafos

do artigo 59 da CLT, aos empregados domésticos, pois, o empregado

doméstico, não possui jornada de trabalho, além disso, o mesmo não faz direito

à hora extra, por conseguinte, não poderá ser aplicada compensação de

270 PINTO, José Augusto Rodrigues. Curso de direito individual do trabalho. p. 581. 271 GUIMARAES, Caiubi. Disponível em: http://www.caiubyadvogados.com.br . Acesso em: 2 de fevereiro de 2008. 272 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 23. ed. p.512.

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jornada. O empregado doméstico não dispõe da aplicação dos incisos XIII e

XVI do art.7º da CRFB.273

Quanto à jornada de trabalho do menor de dezoito anos, o

artigo 413 e seus incisos (CLT) estipulam as condições de prorrogação de

jornada. Que assim expressam:

Art.413 - É vedado prorrogar a duração normal diária do trabalho do menor, salvo:

I - até mais 2 (duas) horas, independentemente de acréscimo salarial, mediante convenção ou acordo coletivo nos termos do Título VI desta Consolidação, desde que o excesso de horas em um dia seja compensado pela diminuição em outro, de modo a ser observado o limite máximo de 48 (quarenta e oito) horas semanais ou outro inferior legalmente fixado;

II - excepcionalmente, por motivo de força maior, até o máximo de 12 (doze) horas, com acréscimo salarial de pelo menos 25% (vinte e cinco por cento) sobre a hora normal e desde que o trabalho do menor seja imprescindível ao funcionamento do estabelecimento.274

O legislador serve-se de cautela, quando se refere ao

menor, visto que, exige do o regime em questão ser objeto de acordo ou

convenção coletiva. Fazendo com que os sindicatos examinem nas empresas,

caso a caso, com cautela , quando da compensação de jornada, com escopo

de proteger a saúde do menor. Ressalte-se que o período extraordinário deve

ser precedido de 15 minutos de descanso, e deve ser comunicada à autoridade

competente no prazo de 48 horas.275

273 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 23. ed. p.512. 274 BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Decreto Lei n. 5.452. Art. 413. Presidência da Republica. Disponível em: http://www.planalto.gov.br . Acesso em: 20 de janeiro de 2008. 275 SAAD, Eduardo Gabriel. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. 40. ed. p.396 – 397.

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Assim preceitua o parágrafo único do artigo 376 da CLT:

A prorrogação extraordinária de que trata este artigo deverá ser comunicada por escrito à autoridade competente, dentro do prazo de 48 (quarenta e oito) horas.276

Encontramos limites ao banco de horas também na

prorrogação da jornada de trabalho nas atividades insalubres, pois estas

refletem sua nocividade à saúde do trabalhador, daí a necessidade de uma

disciplina rigorosa que a lei impõe. Os empregados envolvidos em atividade

insalubre, somente poderão prorrogar suas jornadas de trabalho depois da

respectiva autorização da autoridade competente, que no âmbito estadual é a

Delegacia Regional do Trabalho. Portanto, em trabalhos insalubres e

perigosos, a instituição do banco de horas depende de autorização expressa

da autoridade competente em matéria de higiene do trabalho, no caso, o

Departamento Nacional de Segurança e Higiene do Trabalho (DNSHT), ou as

Delegacias Regionais do Trabalho.277

Este é o entendimento de doutrinadores como

Süssekind278 e Saad279. Porém, a jurisprudência, depois de prolongada

divergência a respeito, se firmou no sentido de que, as atividades insalubres,

podem ser ajustadas por convenção ou acordo coletivo desprezando, portanto,

a inspeção previa das autoridades competentes do Ministério do Trabalho a

qual se refere o artigo 160 da CLT.

É no Enunciado nº 349, do TST, que encontramos a

referida situação:

Enunciado n. 349 do TST – Acordo de compensação de horário em atividade insalubre, celebrado por acordo coletivo. Validade – A validade do acordo coletivo ou convenção coletiva de compensação de jornada de trabalho em atividade insalubre, prescindi da inspeção previa da autoridade competente em

276 BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Decreto Lei n. 5.452. Art. 376. Presidência da Republica. Disponível no site: http://www.planalto.gov.br . Acesso no dia: 20/01/2008. 277 SAAD, Eduardo Gabriel. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. 40. ed. p.152. 278 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANA, Segadas; TEIXEIRA, Lima. Instituições de Direito do Trabalho. p. 815 – 816. 279 SAAD, Eduardo Gabriel. Consolidação das Leis do Trabalho: comentada. 40. ed. p.152.

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matéria de higiene do trabalho (art.7º, XIII, da CF/1988; art. 60 da CLT). (1996)280

Referente ao tema, Saad281 tece sua critica:

Pensar-se que o Enunciado n. 349 autoriza o empregador a prorrogar a jornada de trabalhos insalubres com total desprezo ao disposto no art. 60 da CLT, é um contra-senso. (...). Entender-se que o Enunciado em causa dispensa o prévio exame da autoridade, quando se tratar de pacto coletivo para a compensação para a jornada de trabalho em atividade insalubre, é expor a vida do trabalhador a graves riscos.

Da mesma forma, Oliveira282, assim se manifesta:

Não se pode esquecer que o direito à saúde do trabalhador é o complemento imediato e necessário do direito à vida, não podendo, de forma alguma, ser negociado. A conclusão inexorável, portanto, é que o Enunciado n. 349 adotou entendimento equivocado e deve ser cancelado.

Cabe mencionar que, para a mulher, será obrigatório um

descanso de 15 minutos antes de iniciar-se o período de prorrogação da

jornada de trabalho.

Assim preceitua o artigo 384 da CLT:

Art. 384. Em caso de prorrogação do horário normal, será obrigatório um descanso de 15 (quinze) minutos no mínimo, antes do início do período extraordinário do trabalho.283

Quanto à maternidade, a mulher terá dois descansos

remunerados de meia hora cada um, durante a jornada diária de trabalho, para

amamentar o seu filho, até 6 meses após o parto.

280 Disponível no site: http://www.dji.com.br . Acesso no dia: 03/02/2008. 281 SAAD, Eduardo Gabriel. Suplemento Trabalhista. n. 112. São Paulo: LTr, 1996. p. 646. 282 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo. O que há de novo no direito do trabalho. São Paulo: LTr. 1997. p. 283. 283 BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Decreto Lei n. 5.452. Art. 384. Presidência da Republica. Disponível em: http://www.planalto.gov.br . Acesso em: 20 de janeiro de 2008.

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Assim estabelece artigo 396 da CLT:

Para amamentar o próprio filho, até que este complete 6 (seis) meses de idade, a mulher terá direito, durante a jornada de trabalho, a 2(dois) descansos especiais, de meia hora cada um.284

O referido intervalo que a lei estabelece para a mulher

amamentar seu filho importam a redução da jornada, e se a mulher deixar de

gozar deste beneficio, importará a prestação de trabalho extraordinário, caso

em que a mulher terá direito a dois descansos especiais de meia hora cada um

para amamentar seu filho num período de seis meses.285

3.7 REQUISITOS À APLICABILIDADE DO BANCO DE HORAS

A prestação de horas extras habituais descaracteriza o

regime de compensação de jornada. Nesse caso, as horas, que por ventura,

ultrapassem o módulo de 44 horas semanais, serão pagas como horas

extras.286

Logo um dos requisitos para a adoção do regime de

banco de horas, é a não habitualidade das horas extras destinadas à

compensação de jornada de trabalho.

Neste sentido, assim orienta a súmula 85, IV, do TST, in

verbis:

A prestação de horas extras habituais descaracteriza o acordo de compensação de jornada. Nesta Hipótese, as horas que ultrapassarem a jornada semanal normal deverão ser pagas como horas extraordinárias e, quanto àquelas destinadas à

284 BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Decreto Lei n. 5.452. Art. 396. Presidência da Republica. Disponível no site: http://www.planalto.gov.br . Acesso no dia: 20/01/2008. 285 MORAES FILHO, Evaristo de. Introdução ao Direito do Trabalho, 6ª ed. . São Paulo : LTr, 1993. p. 411. 286 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho. p.661.

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compensação, deverá ser pago a mais apenas o adicional por trabalho extraordinário.287

No mesmo sentido segue a jurisprudência:

ACORDO DE COMPENSAÇÃO. EXTRAPOLAÇÃO DA JORNADA. A prestação de horas extras habituais descaracteriza o acordo de compensação de horas. Nesta hipótese, as horas que ultrapassarem a jornada semanal normal devem ser pagas como horas extras e, quanto àquelas destinadas à compensação, deve ser pago a mais apenas o adicional por trabalho extraordinário. (Orientação Jurisprudencial nº 220 da SBDI-1).288

Somado-se ao requisito, supracitado, a jornada de

trabalho somente poderá se estender até dez horas no dia. No referido sistema

de compensação (banco de horas), o trabalhador somente fará duas horas

prorrogadas por dia289, ou seja, o limite de horas prorrogaveis por dia é duas

horas.

Diante do exposto, neste referente tópico, observamos

três requisitos essenciais para adoção do instituto do banco de horas, são eles:

a não habitualidade das horas extras, o respeito ao limite máximo de jornada,

estabelecido pela lei em dez horas diária, e o módulo de 44 horas semanais.

Passamos na sequência, a abordar a forma, que também

se insere no hall de requisitos a serem observados.

A Medida Provisória n. 2.164-4, de 14 de agosto de

2001, alterou o parágrafo 2º do art. 59 da CLT, com isso instituindo o então

banco de horas, este permitindo por meio de acordo ou convenção coletiva, a

compensação das horas trabalhadas a mais em um dia pela respectiva

287 Disponível no site: http://www.dji.com.br . Acesso no dia: 03/02/2008. 288 SILVA, Edson Braz da. A ilegalidade do sistema de compensação de jornada de trabalho 12x36. Âmbito jurídico. Disponível em: http://www.ambito-juridico.com.br . Acesso em: 3 de fevereiro de 2008. 289 Artigo 59, parágrafo 2º da CLT - § 2º Poderá ser dispensado o acréscimo de salário se, por força de acordo ou convenção coletiva de trabalho, o excesso de horas em um dia for compensado pela correspondente diminuição em outro dia, de maneira que não exceda, no período máximo de um ano, à soma das jornadas semanais de trabalho previstas, nem seja ultrapassado o limite máximo de dez horas diárias. (redação dada pela MP-002.164-041-2001).

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redução em outro dia, no periodo máximo de um ano, contudo a soma das

jornadas não poderá ultrapassar o limite de dez horas por dia.290

O banco de horas, segundo a doutrina dominante, a qual

bastante já mencionada em diversas oportunidades neste trabalho de

pesquisa, depende de convenção ou de acordo coletivo.291

No entanto, a Súmula nº 85 do TST, em seus incisos I e

II, assim diz:

I-A compensação de jornada de trabalho deve ser ajustada por acordo individual escrito, acordo coletivo ou convenção coletiva. (ex-Súmula nº 85 - primeira parte - Res. 121/2003, DJ 21.11.2003)

II. O acordo individual para compensação de horas é válido, salvo se houver norma coletiva em sentido contrário. (ex-OJ nº 182 - Inserida em 08.11.2000).292

Embora o ordenamento jurídico permita, que a adoção do

banco de horas possa ser autorizada por convenção ou acordo, coletivo ou

individual, ressalvado se existir norma coletiva do contrário, não é clara a

eficácia, da sua implementação sem os instrumentos formais da negociação

coletiva, já que nem sempre a transação bilateral garante os direitos mínimos

do trabalhador.293

O acordo individual com o funcionário pode ser arriscado,

vez que o tribunal pode considerá-lo inválido, como freqüentemente vem

acontecendo294. O acordo deve estabelecer as horas extras que serão

compensadas e uma previsão dos descansos do funcionário295.

290 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho. p. 661 - 662. 291 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANA, Segadas; TEIXEIRA, Lima. Instituições de Direito do Trabalho. p. 815. 292 Disponível no site: http://www.dji.com.br . Acesso no dia: 03/02/2008. 293 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 5º ed.. São Paulo: LTr, 2006. p.866 – 867. 294 GUIMARAES, Caiubi. Disponível em: http://www.caiubyadvogados.com.br . Acesso em: 8 de janeiro de 2008. 295 GUIMARAES, Caiubi. Disponível em: http://www.caiubyadvogados.com.br . Acesso em: 2 de fevereiro de 2008.

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Neste sentido manifesta-se Martins296:

Se o empregado pactuar, mediante acordo individual com o empregador, a compensação do horário de trabalho, terá o segundo de pagar como extras as horas trabalhadas além da oitava diária, pois a compensação de horários, a partir de 5-10-88, somente pode ser feita por acordo coletivo ou por convenção coletiva de trabalho, nunca por acordo individual. Nesse ponto, estaria derrogada a antiga redação do parágrafo 2º do art. 59 da CLT, caso se entenda que trata de acordo individual para a compensação de jornada.

Quanto ao período máximo para compensação da jornada

de trabalho, o qual se constitui em outro requisito a ser observado quando da

adoção do banco de horas, a redação do parágrafo 2º do artigo 59 da CLT,

determinada pela Lei nº 9.601, previa como prazo máximo para compensação

de jornada cento e vinte dias, mais tarde, recebeu nova redação, para

compensações de até um ano, portanto, compensações anuais – MP 2.164-

41/01297.

No entanto, se em norma coletiva estabelece-se período

inferior a um ano, que é o limite legal, prevalece o limite estipulado pela norma

coletiva por tratar-se de norma mais favorável ao trabalhador.298

É o que acontece em algumas categorias:

Facultada a empresa, a adoção do sistema de compensação trimestral de horas extras, pelas quais as horas extras efetivamente realizadas pelos empregados durante o trimestre, limitadas às 2h diárias, poderão ser compensadas dentro do próprio trimestre, com redução de jornadas ou folgas compensatórias, vedada a compensação em domingos ou feriados.299

Cabe salientar, porém não se tratando de requisito, mas

sim, mecanismo que possa ser adotado para assegurar a caracterização do

296 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 23. ed. p.509. 297 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 23. ed. p.510. 298 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 23. ed. p.510. 299 Negociação coletiva. 7. ed. .Rio de Janeiro: CNC, 2007. p.68.

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banco de horas, a estipulação de dias da semana para que se realize a

compensação de jornada.

Como exemplifica a seguinte norma coletiva:

É permitido que os empregadores, em comum acordo com seus funcionários, escolham os dias da semana (segunda-feira a sábado) em que ocorrerão redução da jornada de trabalho de seus empregados para adequá-las às 44 horas semanais.300

Observamos no artigo 59 da CLT, o acordo de

prorrogação de jornada deverá ser feito de forma escrita (com intuito de evitar

fraudes), porém, para os que defendem a possibilidade do acordo tácito,

constata-se que tanto o acordo escrito como o tácito, implicam na necessidade

do elastecimento da jornada, portanto, depende de acordo escrito para ser

prorrogada. O parágrafo 1º do artigo 59 da CLT menciona que, do acordo

coletivo deverá conter o percentual de fixação de horas extras, logo, ficando

entendido, que existe a necessidade do acordo ser escrito, do contrário ficaria

impossível fixar o percentual.301

Assim menciona o parágrafo primeiro do artigo 59 da

CLT:

Do acordo ou do contrato coletivo de trabalho, deverá constar, obrigatoriamente, a importância da remuneração da hora suplementar, que será, pelo menos, 50% (cinqüenta por cento) superior a hora normal.302

Porém, faz-se necessário, mencionar que existe polêmica

a cerca da necessidade da existência do acordo escrito para a validade da

compensação de jornada. Assim, separou-se, alguns julgados que demonstram

esta diversidade de entendimento.

300 Negociação coletiva. 7. ed. .Rio de Janeiro: CNC, 2007. p.68. 301 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 23. ed. São Paulo: Atlas, 2005. p.514. 302 BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Decreto Lei n. 5.452. Art. 59, parágrafo 1º. Presidência da Republica. Disponível no site em: http://www.planalto.gov.br . Acesso em: 20 de janeiro de 2008.

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Nesta ordem decidiu-se contra o ajuste tácito:

BANCO DE HORAS – AUSÊNCIA DE AJUSTE ESCRITO – INEFICÁCIA – O sistema instituído pela lei nº 9.601/98, que deu nova redação ao § 2º do Art. 59 da CLT e ensejou a adoção do chamado banco de horas, ao contrário dos habituais acordos de compensação de horário, que comumente visam à supressão do labor sabatino, requer o firmamento de diretrizes destinadas ao seu cumprimento, como forma de não delir o direito protetivo trabalhista. A objetividade do cânone antedito não permite outra conclusão. Aceitar, pois, que a empresa livremente estabeleça banco de horas sem qualquer parâmetro ou possibilidade de conferência por parte dos laboristas não se mostra plausível, sob pena de submetê-los à discricionariedade abusiva e unilateral em sede contratual.” (TRT 12ª R. – RO-V 7278/2000 – (01705) – 1ª T. – Rel. Juiz Antônio Carlos Faccioli Chedid – J. 09.02.2001)303

Por conseguinte, a favor do ajuste tácito:

COMPENSAÇÃO – DE HORÁRIO DE TRABALHO – ART. 7º, INCISO XIII, DA CARTA MAGNA – ACORDO TÁCITO – VALIDADE – O art. 7º, inciso XIII, da Constituição da República, não revogou, mas convalidou o disposto no art. 59, da Consolidação, pois quando menciona “acordo ou convenção coletiva de trabalho”, refere-se a acordo individual e não coletivo. Ressalte-se, ademais, que a súmula do Enunciado nº 108, do C. TST, que dispunha acerca da necessidade de acordo escrito de compensação de horário semanal, foi cancelada pela Resolução nº 85/98, razão pela qual não há mais óbice para que seja aceito o acordo tácito de compensação de horário. (TRT 15ª R. – Proc. 30303/98 – Ac. 8990/00 – 5ª T. – Relª. p/ o Ac. Olga Aida Joaquim Gomieri – DOESP 13.03.2000, pág. 83)304

303 SILVA, Roberta Pappen da. Alguns apontamentos relevantes sobre banco de horas no direito do trabalho. Âmbito jurídico. Disponível em: http://www.ambito-juridico.com.br . Acesso em: 3 de janeiro de 2008. 304 SILVA, Roberta Pappen da. Alguns apontamentos relevantes sobre banco de horas no direito do trabalho. Âmbito jurídico. Disponível em: http://www.ambito-juridico.com.br . Acesso em: 3 de fevereiro de 2008.

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Referente ao ajuste tácito, Martins305 tece sua critica:

O ajuste tácito implicaria situação imprevisível de compensação, que ficaria ao livre critério do empregador. Só haveria vantagem para o empregador, em prejuízo do trabalhador, que ficaria diante de situação incerta.

Com tudo o TST, manifesta-se com a Súmula 85, inciso I,

a necessidade do acordo de compensação de jornada ser de forma escrita.

Que assim menciona:

SÚMULA 85 - COMPENSAÇÃO DE JORNADA. (incorporadas as Orientações Jurisprudenciais nºs 182, 220 e 223 da SBDI-1) - Res. 129/2005 - DJ 20.04.2005

I-A compensação de jornada de trabalho deve ser ajustada por acordo individual escrito, acordo coletivo ou convenção coletiva. (ex-Súmula nº 85 - primeira parte - Res. 121/2003, DJ 21.11.2003).(...). (grifo nosso).306

Logo, no regime de compensação é exigido documento

em que se comprove o referido acordo, conforme a lei. Caso não haja tal

documento comprobatório, as horas são devidas com extras.307

3.8 VANTAGENS E DESVANTAGENS DO BANCO DE HORAS

Diante do já exposto, conclui-se que o instituto do banco

de horas foi criado com o objetivo mor de proporcionar as empresas maior

possibilidade de adequar a atividade dos trabalhadores ás necessidades de

mercado (produção), por conseguinte preservar os empregos. No Brasil a

necessidade do banco de horas manifestou-se inicialmente no ABC paulista.308

Além de evitar a dispensa dos trabalhadores em épocas

de crise econômica e baixa produção, outras vantagens vislumbram-se, tais

305 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 23. ed. p.514. 306 Disponível em: http://www.dji.com.br . Acesso em: 3 de fevereiro de 2008. 307 BRASIL. TRT Camp RO n. 12.970-91, Relator: Antonio Mazzuca 4ª Turma 2935/93. 308 CARRION, Valentin. Comentários à consolidação das leis do trabalho. 31. ed. p. 59.

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como: evitar que o trabalhador fique em ociosidade na empresa, por falta de

trabalho; melhor adequação da produção; reduzir custos da empresa, visto que

se torna muito mais dispendioso para o empregador contratar nova mão de

obra; compensar o sábado e dias no final do ano; etc.309

Para Guagnoni310, as vantagens a cerca da adoção do

instituto do banco de horas pelas empresas, propicia vantagens tanto para o

empregado quanto para o empregador. Para o empregador facilita o melhor

controle das equipes em atividades sazonais (redução do índice de demissão

nos períodos de crise), a redução de custos com outras contratações tendo que

investir em treinamentos, a redução de custos em pagamentos de horas extras

acrescidas de adicionais legais. Da mesma forma, para o empregado propicia

melhor aprimoramento da gestão de tempo, maior tempo para dedicar-se a

atividades sociais e familiares, motivação e satisfação.

Rosa Pinto311 menciona outra vantagem em prol do

empregador, ao adotar o instituto banco de horas:

O empregador livra-se de pagar o adicional de horas extras, bem como sua inclusão em repouso remunerado, salário, 13º salário, férias e FGTS, diminuindo, em decorrência, o custo social.

Contudo, Pinto312, salienta que a vantagem, supracitada,

em prol do empregador, com a adoção do banco de horas não importa prejuízo

ao empregado:

Um sistema de compensação de horas trabalhadas a menos, sem prejuízo do pagamento, com as trabalhadas a mais, sem a respectiva retribuição indenizada, para compensação após determinado período convencionado pelos contratantes,

309 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 23. ed. São Paulo: Atlas, 2005. p.506. 310 GUAGNONI, Sandra Helena. Texto revisado por Fernanda Bezerra. Disponível no site: http://www.bdotrevisan.com.br . Acesso no dia: 02/02/2008. 311 ROSA PINTO, Bernadete Edith de. A Flexibilidade das Relações de Trabalho: a precariedade do contrato a prazo determinado da Lei n. 9.601, de 1998. São Paulo: LTr, 2001. p. 124 - 125. 312 PINTO, José Augusto Rodrigues. Curso de direito individual do trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2000. p.528.

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sindicalmente autorizados, com resgate do saldo pelo credor final.

Martins313, ainda salienta:

Há possibilidade também de o empregado trabalhar mais horas por dia, por intermédio do sistema de compensação, para não prestar serviços durante a semana do carnaval, de Natal e Ano Novo ou para não trabalhar nos dias intercalados entre feriados e fins de semana (os chamados dias pontes).

Além disso, existe a vantagem do empregado não

trabalhar aos sábados. Pois o mesmo não precisa, deslocar-se até a empresa,

assim, além do tempo livre, tem seus gastos com transporte diminuído.314

Contudo, para Delgado315, a compensação anual, que

trata o banco de horas perde a característica de ponderação, ou seja, deixa de

ser uma vantagem recíproca entre os contratantes, posto que o fato de agredir

a saúde, higiene e segurança loborais, torna-se, tal instituto, desfavorável ao

empregado.

No entanto, Guagnoni316, questiona a existência de

benesses para o empregado em relação o banco de horas, no seguinte

comentário:

O banco de horas trouxe à tona muitos questionamentos quanto ao real benefício trazido pelo sistema da compensação semanal ao trabalhador, considerando que há uma exigência bem maior de força de trabalho, abrindo-se a possibilidade de jornadas de até 60 horas semanais, sem garantia de compensação com ao menos um dia de folga, uma vez que a compensação pode ocorrer de forma parcelada, com redução de algumas horas por dia. A opção legislativa, que foi resultado da nova ordem econômica mundial, passou a exigir cada vez mais um maior sacrifício da classe trabalhadora, a fim de

313 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 23. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p.506. 314 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 23. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p.506. 315 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 5. ed. p.864. 316 GUAGNONI, Sandra Helena. Texto revisado por Fernanda Bezerra. Disponível em: http://www.bdotrevisan.com.br . Acesso em: 3 de fevereiro de 2008.

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enfrentar a realidade cada vez mais competitiva do mundo globalizado.

Existem conclusões317, que vêem no banco de horas um

redutor da remuneração e consequentemente a baixa da qualidade de vida do

trabalhador:

Assim, a negociação envolvendo a flexibilização de jornada traz riscos e possibilidades aos trabalhadores. Entre os principais riscos, pode-se enumerar:

- a fixação de elevados patamares de horas a serem trabalhadas nas semanas de "pico" de produção, gerando estresse, lesões por esforços repetitivos e acidentes de trabalho; - o fim do adicional de horas extras, reduzindo, em muitos casos, a remuneração dos trabalhadores; - a dificuldade de planejamento do tempo, que fica vinculado às necessidades da empresa; - o acúmulo de horas de crédito ou débito, dificultando a posterior compensação.

No entanto, uma pesquisa realizada no VI Congresso

Brasileiro de Direito Individual do Trabalho realizado em São Paulo, no ano de

1998, sob a coordenação do professor Nascimento, teve como resultado, 60%

de aprovação como sendo vantajoso para ambas as partes do contrato, o

mecanismo banco de horas.318

Em 1999, em um novo congresso (VII Congresso de

Direito Individual do Trabalho), a aprovação das vantagens recíprocas com a

adoção do banco de horas, superou favoravelmente em 60% o congresso

supracitado. 319

317 DIEESE. Boletim n. 210 - Novembro e Dezembro de 1998. Disponível em: http://www.dieese.org.br . Acesso em:3 de fevereiro de 2008. 318 Jornal do VII Congresso Brasileiro de Direito Individual do Trabalho. São Paulo: LTr. 1999. p. 83-93. 319 PINTO, José Augusto Rodrigues. Curso de direito individual do trabalho. 5. ed. São Paulo: LTr, 2003. p.528.

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3.9 A INCONSTITUCIONALIDADE DO BANCO DE HORAS

Neste tópico serão expostas teses doutrinarias e

jurisprudenciais, as quais apontam aspectos de inconstitucionalidade da Lei

9601 de 1998, Lei esta que instituiu o banco de horas.

A Lei 9601 de 1998, a qual institui o banco de horas

ultrapassa a fronteira máxima compatível com a CRFB/88, quando ao invés de

reduzir, amplia a jornada de trabalho do empregado. Com isso faz aumentar os

riscos inerentes ao trabalho. É no art. 7º, incisos XXIII, XVI e XXII, em que

ocorrem as referidas inobservâncias Constitucionais320. Senão vejamos:

Art. 7º - São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:

XVI - remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em cinqüenta por cento à do normal; XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança; XXIII - adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei;

O inciso XVI, do art. 7º da CRFB/88, expressa, que a

remuneração do serviço extraordinário deve ser majorada em cinqüenta por

cento à hora normal, contudo o banco de horas torna aplicação do referido

direito Constitucional uma quimera, isso acontece porque o artigo 59 da CLT,

possibilita a supressão do direito Constitucional ao pagamento das horas

extras, ou seja ignora o direito fundamental previsto na CRFB/88. A

Constituição Federal estabelece como regra a jornada de oito horas,

permitindo, no entanto, a compensação, porém em nenhum dispositivo permite,

ou tolera a supressão ou renúncia do direito fundamental ao pagamento das

horas extras.321

320 ROSA PINTO, Bernadete Edith. A flexibilidade das relações de trabalho: a precariedade do contrato a prazo determinado da Lei nº 9.601, de 1998. São Paulo: LTr, 2001. p. 100. 321 SEVERO, Valdete Souto. Inconstitucionalidade do banco de horas. Juíza do trabalho Substituta da 4ª região. Disponível em: http:www.anamatra.org.br. Acesso em: 1 de maio de 2008.

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Referente ao tema supracitado, foi apresentado uma tese

de inconstitucionalidade do banco de horas no 3º Encontro Científico dos

Magistrados da Justiça do Trabalho da Décima Quinta Região. Tese esta que

contou com unanimidade de aprovação. Senão vejamos:

O banco de horas não pode ser considerado constitucional na medida em que permite que uma dívida trabalhista (o pagamento da hora extra) se pague com prazo de um ano e sem o respectivo adicional, quando se compensa uma hora extra com uma hora normal, sem falar nos efeitos perversos que esta incerteza de horários provoca no cotidiano dos trabalhadores. O tempo livre só é útil se puder ser aproveitado para outras atividades, para as quais se exige, por óbvio, planejamento e previsibilidade. Usufruir de folgas ao alvedrio do empregador não tem o menor valor social para o empregado. 322

Da mesma opinião comunga Delgado323:

O critério inaugurado em 1998 no Brasil (compensação anual), teria ultrapassado a fronteira máxima compatível com a Carta da República (compensação intersemanal, respeitado o mês), por instituir mecanismos que amplia (ao invés de reduzir) os riscos inerentes ao trabalho. Para esta linha reflexiva, norma jurídica estatal que tenha vindo ampliar (ao invés de reduzir) os riscos inerentes ao trabalho é norma jurídica que desrespeita comando constitucional (art. 7º, XIII, CF/88).

Observa-se ainda certo vicio formal, na alteração do art.

59 pela Lei 9601 de 1988. Tem origem em uma medida provisória,

desprezando a regra do artigo 62 da Constituição Federal que expressamente

dispõe que essa forma anômala de legislar é viável apenas em situações de

322 MAIOR, Jorge Luiz Souto. Autor da tese da Ata de deliberação do 3º Encontro Científico dos Magistrados da Justiça do Trabalho da Décima Quinta Região. III PRÉ-CONAMAT. 2008. p. 11-12. disponível em: http://www.amatra15.org.br/2006. Acesso em 3 de maio de 2008. 323 DELGADO, Maurício Godinho. Jornada de Trabalho e Descansos Trabalhistas. 3ª ed.. São Paulo: LTr, 2003. p. 59-60.

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relevância e urgência, além de estabelecer prazo para a sua conversão em lei.

Que não foi o caso da referida alteração.324

Martins325 observa outro ponto, que ele considera

inconstitucional, na transição da letra da Lei que antes dizia: “convenção ou

acordo coletivo” e que passou para: “acordo ou convenção coletiva”. Senão

vejamos:

A redação no projeto que alterava o § 2º da CLT era no sentido de que a compensação fosse feita por ‘convenção ou acordo coletivo’. Essa foi à redação aprovada na Câmara dos Deputados, que foi modificada para ‘acordo ou convenção coletiva’ no Senado Federal. Deveria o projeto ter retornado para a Câmara para tornar a ser analisado por essa casa. Não poderia, portanto, ter sido sancionado o artigo 6º da Lei nº 9.601, que altera a redação do § 2º do artigo 59 da CLT. Houve, assim, violação do parágrafo único, do artigo 65 da Constituição, pois o projeto foi emendado, devendo voltar para a Câmara dos Deputados para ser apreciado. Grifo nosso.

Assim expressa o art. 65 da CRFB/88:

Sendo o projeto emendado voltará à casa iniciadora.

O mecanismo do banco de horas subverte, também, o

parágrafo 1º do artigo 459326 da CLT, o qual estabelece que o salário deva ser

pago até o quinto dia útil do mês subseqüente ao da prestação de serviço.

Logo sendo as horas extras327 componentes da noção de salário lato sensu

(remuneração), a Lei 9.601-98 simplesmente ignora isso ao prever inicialmente

324 SEVERO, Valdete Souto. Inconstitucionalidade do banco de horas. Juíza do trabalho Substituta da 4ª região. Disponível em: http:www.anamatra.org.br. Acesso em: 1 de maio de 2008. 325 MARTINS, Sérgio Pinto. Contrato de trabalho de prazo determinado e banco de horas: Lei nº 9.601/98. 2ª ed. v. 2 São Paulo: Atlas, 1999. p.93-94. 326 § 1º Quando o pagamento houver sido estipulado por mês, deverá ser efetuado, o mais tardar, até o quinto dia útil do mês subseqüente ao vencido. BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Decreto Lei n. 5.452. Art. 459, parágrafo 1º. Presidência da Republica. Disponível em: http://www.planalto.gov.br . Acesso em: 20 de janeiro de 2008. 327 Art. 457(...)§ 1º Integram o salário não só a importância fixa estipulada, como também as comissões, percentagens, gratificações ajustadas, diárias para viagens e abonos pagos pelo empregador. BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Decreto Lei n. 5.452. Art. 457, parágrafo 1º. Presidência da Republica. Disponível em: http://www.planalto.gov.br . Acesso em: 20 de janeiro de 2008.

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a possibilidade de compensação em até um ano. Assim sendo, a redação da

Lei nº 9601 de 1988, que dispõe o banco de horas é incompatível com as

normas que regem o direito do trabalho e com o que dispõe a Constituição

Federal.328

3.10 BANCO DE HORAS: ASPECTOS SOCIAIS

Na opinião de alguns autores a flexibilização e a

desregulamentação, fundem-se em um mesmo significado. Não há como

fundamentar a distinção entre esses dois termos no direito do trabalho. Tanto a

flexibilização como a desregulamentação, acabam por acarretar o

definhamento dos direitos do empregado.329

O desemprego tido como a doença social da virada do

século, surge em razão do avanço tecnológico e da abertura de mercado

decorrente da globalização, no entanto não se pode aceitar como solução para

tal mal, a situação humilhante de algumas migalhas de subemprego,

resultantes da flexibilização que nada mais é que a destruição dos direitos

trabalhistas.330

Segundo Severo331, a flexibilização da jornada do

trabalho, referente ao banco de horas em nada serviu para combater o

desemprego. Senão vejamos:

O sistema banco de horas não se afina com a previsão de valorização do trabalho (art. 1º), de promoção do pleno emprego (art. 170, VIII) e do direito ao pagamento de adicional

328 SEVERO, Valdete Souto. Inconstitucionalidade do banco de horas. Juíza do trabalho Substituta da 4ª região. Disponível em: http:www.anamatra.org.br. Acesso em: 1 de maio de 2008. 329 NUNES, Celso Luiz. A Flexibilização do direito coletivo do trabalho e os contratos coletivos do sindicato dos trabalhadores na indústria da construção e do mobiliário de Caçador. Dissertação (Mestrado em Direito) – Curso de Pós-Graduação em Direito na Universidade Federal de Santa Catarina. 2003, p. 76. 330 MACIEL, José Alberto Couto. Desempregado ou supérfluo? : globalização. São Paulo: LTr, 1998, p. 67. 331 SEVERO, Valdete Souto. Inconstitucionalidade do banco de horas. Juíza do trabalho Substituta da 4ª região. Disponível em: http:www.anamatra.org.br. Acesso em: 1 de maio de 2008.

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de horas extras (art. 7º, XVI), porque atua contra tais preceitos fundamentais, na medida em que permite a exploração do trabalho humano por um número superior de horas, negando a possibilidade de pagamento do adicional constitucionalmente assegurado e evitando com isso (ao menos em tese) a contratação de novos trabalhadores.

Muitas foram às lutas para que se limitasse à jornada de

trabalho. Foi um dos primeiros direitos sociais a surgir com o Tratado de

Verssalhes.332

Dentro da flexibilização da jornada de trabalho surge o

banco de horas com escopo de compensação de jornada. Inicialmente semanal

que posteriormente, foi estendida a quaisquer período desde que não

ultrapasse um ano.333

Contudo, o banco de horas, surge como paliativo criado

para combater o desemprego. No entanto, mostra-se ineficaz, representando

um retrocesso nas conquistas do direito trabalhista.334

Cumpre ressaltar, contudo, que o mecanismo do banco

de horas, se for manejado por longo período resulta em danos à saúde e a

segurança do trabalhador.335

Nesse sentido já decidiu o TST, no seguinte julgado336:

O regime chamado de “banco de horas” – que permite a compensação de jornada dentro do período de um ano – atende, sobretudo aos interesses da empresa, e não do trabalhador individualmente. (...) sendo manejado por um

332 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao Direito do Trabalho. 24ª ed. São Paulo: LTr, 1998, p. 239. 333 CARRION, Valentin. Atualizada por Eduardo Carrion. Comentários a Consolidação das Leis do Trabalho. 27ª ed. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 106. 334 DALAZEN, João Orestes. CLT e o negociado: Nefasta reforma. Revista LTr, ano 67, nº 4. Brasília: LTr, 2000. p. 181. 335 CARRION, Ana Paula. Banco de horas. Portal do mundo do trabalho/CUT. Publicado em: 2007. Disponível em: http://www.cut.org.br. Acesso em: 1 de maio de 2008. 336 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Juiz Carlos Alberto Reis de Paula. 2007. Disponível em: http://ext02.tst.gov.br . acesso em 1 de maio de 2008.

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período demasiadamente longo, pode provocar danos à saúde e à segurança do trabalhador, ao contrário das ferramentas de compensação mais imediata, de impacto mais favorável ao trabalhador. Permite-se que haja globalmente uma majoração na jornada, para uma posterior redução, atento a uma demanda localizada em determinado período para, desta forma, conservar o emprego com certo equilíbrio, (...) uma vez que a Constituição não permite a transação individual de medidas desfavoráveis à saúde e à segurança do trabalhador. (RR 961/2004-019-12-00.5).

Os benefícios, que proporciona o banco de horas,

atingem somente uma das partes, o empregador. O empregado passa grande

parte de sua vida à disposição de seu empregador, contudo prevalece a

necessidade de interagir em seu convívio social. Vivemos em uma sociedade

capitalista de produção, e para sua sobrevivência é necessário que os direitos

mínimos do empregado sejam respeitados. Se o empregado passa a

disposição de seu empregador dez ou doze horas por dia, e não recebe

prestação pecuniária, fica impossibilitado de participar do convívio com sua

família, tão pouco pode participar da uma cadeia de consumo ainda que viva

em uma sociedade capitalista de consumo.337

O banco de horas atribui somente ao empregado o ônus

do empreendimento, pois este terá que se sujeitar perder o direito do

pagamento pecuniário das horas suplementares, em troca da suposta

manutenção de seu emprego. Com isso retira direitos já conquistados,

reduzindo-o a um mero sobrevivente, que não consome e não consumido não

gera riqueza.338

Visto isso questiona-se a existência de alguma vantagem

obtida pelo trabalhador, quando participa do sistema banco de horas se: não

cabe a ele escolher os dias que fluirá as folgas, estas poderão ocorrer no meio

da semana ou até mesmo ao meio de uma jornada ; se perde o adicional de

337 SEVERO, Valdete Souto. Inconstitucionalidade do banco de horas. Juíza do trabalho Substituta da 4ª região. Disponível em: http:www.anamatra.org.br. Acesso em: 1 de maio de 2008. 338 SEVERO, Valdete Souto. Inconstitucionalidade do banco de horas. Juíza do trabalho Substituta da 4ª região. Disponível em: http:www.anamatra.org.br. Acesso em: 1 de maio de 2008.

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horas extras, já que o número de horas extras trabalhadas é igual ao número

de horas destinadas a folga sem o devido adicional de 50%. Diante desse

quadro apenas consegue-se vislumbrar somente vantagens para o empregador

que ficará dispensado de pagar o adicional de horas extras.339

Finda-se o terceiro e último capitulo desta presente

monografia, esperando-se ter atingido o objetivo proposto, passar-se-á, para

as considerações finais.

339 SEVERO, Valdete Souto. Inconstitucionalidade do banco de horas. Juíza do trabalho Substituta da 4ª região. Disponível em: http:www.anamatra.org.br. Acesso em: 1 de maio de 2008.

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CONCLUSÃO

A pesquisa realizada permitiu constatar que o direito do

trabalho teve que regulamentar as relações de trabalho, a fim de proteger o

interesse dos empregados na relação empregatícia, para que assim não

houvesse abuso por parte do empregador, visto que aquele encontra-se em

condição de inferioridade econômica na relação empregatícia.

Este processo teve sua origem, em âmbito mundial, a

partir da revolução industrial e com as revoluções econômicas que tiveram seu

auge na Europa no século XVIII.

Neste período histórico, a força laboral dos empregados

era largamente explorada. A jornada de trabalho da época eram estabelecidas

de 12 a 16 horas diárias, inclusive as destinadas às mulheres e crianças.

Foram muitos os levantes contra àquelas situações

degradantes através de revoluções sociais. Até mesmo o vaticano, pronunciou-

se com a publicação da encíclica “rerum novarum”.

Na época o Estado, em conseqüência do liberalismo não

intervia nas relações empregatícias.

A partir desses precedentes a questão tomou força. Com

o fim da Primeira Grande Guerra Mundial, por meio do Tratado de Versalhes,

em 1919, este formado pela Comunidade Internacional, foi criado a OIT, esta,

com a função de regulamentar as normas básicas do Direito do Trabalho,

fazendo surgir principalmente a restrição da jornada laboral.

O Brasil, como muitos outros países, serviu-se, desde seu

descobrimento, de mão de obra escrava. No princípio os escravos eram os

índios, em seguida os negros retirados da áfrica. Não existiam limites à jornada

de trabalho dos escravos, a mesma estendia até o total esgotamento físico dos

mesmos.

Nos primórdios do processo de industrialização (final do

séc. XIX e inicio do séc. XX), com a grande oferta de mão de obra decorrente

do imenso número de trabalhadores que deixavam os campos, as jornadas de

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trabalho estendiam-se de 12 a 15 horas diárias. Esta situação perdurou por

séculos.

Com a Constituição de 1934, a jornada de trabalho foi

limitada para oito horas diárias, ocorrendo então, a intervenção do estado na

relação empregador empregado.

Porém devido ao avanço tecnológico na produção,

somados às mudanças político-sociais ocorridas em âmbito global, bem como

o surgimento do fenômeno da globalização, que fez com que se acentuassem

a concorrência entre os paises pelo incremento da produção e comercialização,

o desemprego em massa tornou-se perceptível.

Neste contexto urge a necessidade da adequação das

novas regras de mercado as normas trabalhistas até então vigentes.

Buscou-se a adaptação dos direitos trabalhistas, porém

com a difícil tarefa de resolver os problemas existentes, já mencionados, sem

destruir os direitos sociais conquistados no passado.

Flexibilizar conquistas adquiridas ao longo de séculos,

sem fazer que se percam os direitos mínimos do empregado, sob o argumento

de manutenir seu posto de trabalho, torna-se algo utópico.

Até que ponto o empregado teria que suportar o ônus da

empresa oriundo de tal crise?

Consequentemente surge a, tão polêmica, reforma

trabalhista, com argumentos patronais de que o direito do trabalho seria por

demais protecionista ao empregado, e que por isso inapto a tal realidade.

Do outro lado o empregado que vê ameaçadas as suas

árduas conquistas.

Neste contexto, cria-se a compensação da jornada de

trabalho, elencada na CRFB/88, e na CLT regulamentado pela Lei 9.601 de 21

de janeiro de 1988, e modificada por inúmeras Medidas Provisórias.

A compensação da jornada de trabalho insere-se no

contexto da flexibilização das leis trabalhistas, com propostas de harmonizar a

manutenção do emprego frente aos períodos de baixa produção da empresa.

O banco de horas é o mecanismo, pelo qual o

empregador dispõe para compensar todas as prorrogações de horas prestadas

pelo empregado com a conseqüente redução. Ou seja, por acordo ou

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convenção coletiva, a compensação do excesso de horas trabalhadas em um

dia pela correspondente diminuição em outro dia, de modo que não exceda, no

período máximo de um ano, à soma das jornadas semanais de trabalho, tão

pouco ultrapasse o limite de 10 horas por dia.

O banco de horas é apresentado ao empregado como

uma maneira, “sem ônus”, de manter seu emprego nos períodos de baixa

produção da empresa. Tal mecanismo veste-se de uma medida vantajosa tanto

para o empregador quanto para o empregado, contudo convém analisar, a fim

de que se verifique para quem é realmente vantajoso, se para ambos ou se

somente para o empregador.

Nos períodos em que a produção aumenta, é fato que

existe a necessidade de se contratar maior número de funcionários, porém o

empregador que adota o banco de horas, já dispõe do trabalho extraordinário,

(sem ônus, diga-se de passagem) daquele que já é seu funcionário, logo livra-

se de gastos decorrentes de novas contratações, impedindo inclusive, que

ocorram as ofertas de novos postos de trabalho de que tanto uma sociedade

capitalista necessita para existir.

No entanto, nos períodos de baixa produção, o

faturamento da empresa diminui, contudo, a oneração decorrentes dos

empregados é compensada com o faturamento do trabalho extraordinário

realizado, pelos mesmos, nos períodos de alta produção, pelo fato do

empregador não ter suportado o pagamento das horas extras realizadas por

seus empregados, pois as compensou na mesma proporção, sem os

acréscimos legais.

É fato que em uma sociedade capitalista a economia

oscile em determinados períodos do ano, períodos de alta e baixa na produção

sempre foram comuns. Contudo procurou-se resolver tal problema transferindo

todo o ônus sobre o empregado. Com isso reduziu-se a remuneração do

empregado e consequentemente, abriu-se a possibilidade da ocorrência de

elevados patamares de horas trabalhadas nas semanas de elevado pico de

produção, expondo o mesmo a um risco maior de acidentes de trabalho, bem

como maior incidência de doenças laborais.

Difícil é, vislumbrar vantagens recíprocas com a adoção

do banco de horas pela empresa. Tal mecanismo tornou possíveis jornadas de

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até 60 horas semanais, sem a garantia, de ao menos um dia completo de folga,

visto que o empregador pode fazer a compensação de forma parcelada,

reduzindo algumas horas por dia.

Muitos autores, vêem na flexibilização igual significado da

desregulamentação, uma vez que, os dois mecanismos acabam por definhar

os direitos adquiridos nas lutas sociais trabalhistas.

Outra polêmica de grande relevância que emerge do

banco de horas refere-se à sua constitucionalidade. Uma vez que aniquila

alguns direitos adquiridos dos trabalhadores. Direitos estes albergados no

artigo 7º da CRFB/88, como: a remuneração das horas extraordinárias; a

redução e não o aumento, dos riscos inerentes ao trabalho.

O banco de horas possibilita a criação de uma divida

trabalhista que poderá ser paga com prazo de até um ano (prazo máximo para

compensação um ano) e sem o devido acréscimo, uma vez que suprime o

adicional de horas extras, além do mais o momento da compensação somente

será decidido pelo empregador, ocasionando no empregado certo estado de

angústia, diante da imprevisibilidade da sua folga.

A questão, observada pelo aspecto social, atinge não

somente a vida do trabalhador, mas, repercute na vida das pessoas de seu

convívio. O empregado passa maior parte de sua vida à disposição de seu

empregador, impossibilitando-o de interagir no convívio em sociedade, sem

mencionar os malefícios que acarretam em sua vida familiar.

Vejamos então, um empregado que passa a disposição

de seu empregador 10 (ou mais) horas por dia sem receber a devida prestação

pecuniária, apenas a expectativa de folgas imprevisíveis, este fica

impossibilitado de programar sequer sua vida social, nem ao menos, participar

da educação de seus filhos, ou seja, parece que este empregado reduziu-se a

um mero sobrevivente, pois deixou de trabalhar para viver e passou a viver

para trabalhar.

O objetivo maior da criação do banco horas foi a

adequação da atividade dos trabalhadores às necessidades de mercado

(sobrevivência da empresa), oriundas principalmente da concorrência imposta

pela globalização, somada com a maior possibilidade de preservação dos

postos de trabalho. As experiências mostram que em parte logrou-se êxito, no

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entanto viu-se definhar algumas conquistas trabalhistas, que por décadas

foram reivindicadas, contudo, transformações são necessárias, assim como

sacrifícios, no entanto há de se preservar a dignidade da pessoa humana.

O objetivo desta monografia não foi seguir

posicionamento favorável ou contrario à adoção do banco de horas, mas sim

contribuir na conscientização da importância das discussões acerca das

relações trabalhistas sempre preservando as melhores condições de trabalho e

proteção dos direitos dos trabalhadores.

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120

ANEXOS

ANEXO 1: Histórico da luta pela redução da jornada de trabalho.

Disponível em: http://vozdasruas.blogspot.com/2005/02/histrico-da-luta-pela-

reduo-da-jornada.html. Acesso em: 24 de maio de 2008.

ANEXO 2: BRASIL. Lei nº. 9.601, de 21 de janeiro de 1998. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br . Acesso em 25 de maio de 2008.

ANEXO 3: BRASIL. Medida Provisória nº 1.709, de 6 de agosto de 1998.

Disponível em: http://www81.dataprev.gov.br/sislex/paginas/45/1998/1709.htm

Acesso em: 25 de agosto de 2008.

ANEXO 4: BRASIL. Medida Provisória nº 2.164-41, de 24 de agosto de

2001. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/MPV/2164-41.htm .

Acesso em 25 de maio de 2008.

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121

ANEXO 1:

Histórico da luta pela redução da jornada de trabalho.

Disponível em: http://vozdasruas.blogspot.com/2005/02/histrico-da-luta-pela-

reduo-da-jornada.html. Acesso em: 24 de maio de 2008.

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122

ANEXO 2:

BRASIL. Lei nº. 9.601, de 21 de janeiro de 1998. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br . Acesso em 25 de maio de 2008.

Page 128: FLEXIBILIZAÇÃO DA JORNADA DE TRABALHO: BANCO DE …siaibib01.univali.br/pdf/Renato Aurino Espindola.pdf · do Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Renato Aurino Espindola,

123

ANEXO 3:

BRASIL. Medida Provisória nº 1.709, de 6 de agosto de 1998.

Disponível em: http://www81.dataprev.gov.br/sislex/paginas/45/1998/1709.htm

Acesso em: 25 de agosto de 2008.

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124

ANEXO 4:

BRASIL. Medida Provisória nº 2.164-41, de 24 de agosto de 2001.

Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/MPV/2164-41.htm . Acesso

em 25 de maio de 2008.