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pício dos Congregados da Caridade com o título de Senhor Jesus da Boa Morte , na Rua do Patrocín io, esquinando para a Rua Possidónio da Silva. Foi esta a invocação que tomou oficialmente a freguesia do Salvador, que para aqui foi trasladada no dia 11 de Feve- reiro de 1770. Nos livros paroquiais parece que houve relu- tância em adoptar a nova denominação, porque os registos dessa época dizem: paróquia do Salvador, e raras vezes acres- centam : com sede na igreja do Senhor Jesus da Boa Morte. Pela divisão paroquial de 1780 foi esta freguesia extinta, e a do Salvador regressou ao seu antigo distrito, em 23 de Janeiro desse ano (3' ) , distribuindo-se o território da do Senhor Jesus pelas paróquias de S. Pedro em Alcântara, da Lapa e de Santa Isabel. O convento do Senhor Jesus da Boa Morte foi extinto c profanado por sentença de 6 de Novembro de 1833, da Junta do Melhoramento Temporal das Ordens Religiosas, encarre- gada da Reforma Geral Eclesiástica, e incorporado nos Próprios da Fazenda Nacional, sendo a igreja entregue ao pároco de Santa Isabel para continuação do culto, e os frades que lá esta- vam mandados reunir noutros conventos. A igreja, que tinha a frontaria para a Rua da Fonte Santa, foi demolida, e actualmente serve de igreja a antiga Casa do Capítulo da comunidade. Consta que o edifício foi vendido e em parte demolido de- pois de 1834, e mais tarde adquirido ou adaptado pelas Irmãs ( 87 ) No livro 5.° do registo de bapti smo da paróquia do Salvador diz-se que finalizou em 11 de Fevereiro de 1770, por se ter trasladado a paróquia para o sitio da Boa M ort e. Do livro 6.° deduz-se que a paróqui a volto u para o sitio de Alf ama entre 23 e 29 de Janeiro de 1870 . M as pelo livro de registo de casamentos c onclui- se que foi no dia 23, pelo facto de um registo feito ne ssa data ter sido mandado anular, e repetir na paróquia de Santos-o-Velho. 287

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pício dos Congregados da Caridade com o título de SenhorJesus da Boa Morte , na Rua do Patrocín io, esquinando paraa Rua Possidónio da Silva.

Foi esta a invocação que tomou oficialmente a freguesiado Salvador, que para aqui foi trasladada no dia 11 de Feve­reiro de 1770. Nos livros paroquiais parece que houve relu­tância em adoptar a nova denominação, porque os registosdessa época dizem: paróquia do Salvador, e raras vezes acres­centam : com sede na igreja do Senhor Jesus da Boa Morte.

Pela divisão paroquial de 1780 foi esta freguesia extinta,e a do Salvador regressou ao seu antigo distrito, em 23 deJaneiro desse ano (3' ) , distribuindo-se o território da do SenhorJesus pelas paróquias de S. Pedro em Alcântara, da Lapa ede Santa Isabel.

O convento do Senhor Jesus da Boa Morte foi extinto cprofanado por sentença de 6 de Novembro de 1833, da Juntado Melhoramento Temporal das Ordens Religiosas, encarre­gada da Reforma Geral Eclesiástica, e incorporado nos Própriosda Fazenda Nacional, sendo a igreja entregue ao pároco deSanta Isabel para continuação do culto, e os frades que lá esta­vam mandados reunir noutros conventos.

A igreja, que tinha a frontaria para a Rua da Fonte Santa,foi demolida, e actualmente serve de igreja a antiga Casa doCapítulo da comunidade.

Consta que o edifício foi vendido e em parte demolido de­pois de 1834, e mais tarde adquirido ou adaptado pelas Irmãs

( 87 ) No livro 5.° do registo de baptismo da paróquia do Salvadordiz-se que finalizou em 11 de Fevereiro de 1770, por se ter trasladadoa paróquia para o sit io da Boa Morte. Do livro 6.° deduz-se que aparóqui a volto u para o sitio de Alfama entre 23 e 29 de Janeirode 1870 . M as pelo livro de registo de casamentos conclui-se que foino dia 23, pelo facto de um registo feito nessa data ter sido mandadoanular, e repetir na paróquia de Santos-o-Velho. 287

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Fransciscanas Missionárias de Maria, talvez por 1898, a colégiode meninas, a que chamavam Instituto do Patrocínio, por estarsituado na rua deste nome.

Por se achar incurso nas disposições do decreto de 8 deOutubro de 1910 foi arrolado o edifíoio e o seu recheio em21 desse mês, passando para a posse da Fazenda Nacional;posteriormente foi cedido à Junta de freguesia de Santa Isabelc a outros serviços de beneficência e políticos, tendo sido final­mente alugado , em 31 de Outubro de 1936, à Assistência Infan­til de Santa Isabel, que aí mantém um internato de meninas.

41- SANTA MARIA DE BELÉM

NOSSA SENHORA DE BELBM

A igreja do convento dos Jerónimos em Belém, construídonos princípios do século XVI , estava no distrito paroquial deNossa Senhora da Ajuda , e desde 1762, pelo menos, já fun­cionava como uma das sucursais desta paróquia para certosSacramentos, para uma parte dos seus moradores, em vista dadistância a que estes se achavam da igre ja matriz da Ajuda.

Por decreto de 28 de Dezembro de 1833 foi criada a paróquiado bairro de Belém , com a sede na igreja dos jerónimos, e oterritório destacado do da freguesia da Ajuda.

O convento foi extinto e profanado, por sentença de 22 deMarço de 1834 da Junta do Melhoramento Temporal encar­regada da Reforma Geral Eclesiástica, na qual se determi­nava também que a igreja se conservasse com todos os vasossagrados, alfaias e utensílios aberta ao culto, e que ficasse sendoa nova paroquial de Belém e Capela dos órfãos da Casa Pia ;e efectivamente, no dia seguinte, instituiu-se aí canonicamentea freguesia, com a invocação de Santa Maria de Belém.

O convento, compreendendo os túmulos , designadamente os288 de D. Manuel, de D. João III, de D. Sebastião e do Cardeal

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D. Henrique, foi classificado Monumento Naci onal, pelos decre ­tos de 10 de Janeiro de 1917 e de 16 de Junho de 1910.

Pela carta de lei de 18 de Julho de 1885 foi esta freguesia,que pertencia ao concelho de Belém, incorporada no Mun icí­pio de Lisboa.

42 - NO SSA SENHORA DO AMPARO, DE BENFICA

Nada se sabe acerca da origem desta freguesia nem da suamatriz, constando apenas que já existia em 1620.

Era uma vasta freguesia do Termo de Lisboa, cujo distr ito

confinava , em 1763, com as seguintes freguesias:

S. Sebastião da Pedreira ;Nossa Senhora da Ajuda ;

S. Romão de Carnaxide ;

S. Lourenço de Camide;

Santo Nome de Jesus de Odivela s;

Belas;

Barcarena.

A igreja antiga, que era pequena c de mesquinha constru­ção, ainda se conservava em 1863 ao lado da capela -mor danova igreja , construída junto da antiga nos princípios do sé­culo xx, com o produto de esmolas de fiéis colhidas desde oano de 1802. Consta que a Irmandade do Santíssimo Sacra­mento conseguiu provar o direito à propriedade do templo.

O território da freguesia foi incorporado na cidade de Lis-boa pela carta de lei de 18 de Junho de 1885, mas tendoficado cortado pela estrada da circunvalação, a parte para alémdesta estrada passou administrativamente para o concelho deOeiras, e depois, pelo decreto de 26 de Setembro de 1895,foi anexada ao concelho de Sintra (freguesia de Belas), tendoregressado novamente ao concelho de Oeiras e sido anexada àfreguesia de Carnaxide, pelo decreto de 13 de Janeiro de 1898. 289

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43 - S. LOURENÇO DE CARNIDE

Também nada se sabe da origem desta freguesia nem dasua matriz.

Está situada no lugar de Carnide , a oeste da povoação,no meio de um terreiro que em tempos foi cemitério paroquial.

Vem citado o lugar de Carnedi, nas Inquirições do reinadode D. Afonso III (1248 a 1279).

Consta que a igreja foi primitivamente dedicada a NossaSenhora da Assunção, depois a Santo Amaro, e por fim aS. Lourenço, orago que conserva a freguesia.

O templo já era paroquial no século XIV, segundo constade uma lápida comemorativa da edificação da igreja em 14de Maio do ano 1342, que se acha encravada no muro da fa­chada, no lado direito da porta principal.

Arruinou-se a igreja pelo terremoto de 1755, passando osactos paroquiais a efectuar-se na ermida do Espírito Santo, doHospital da Luz, antecessor do Colégio Militar.

Em 1833 e 1834 ainda a paróquia esteve nesta ermida, pormotivo de obras na igreja matriz.

Por ocasião da implantação do regime republicano em 1910,achava-se a freguesia na sua igreja, que continuou aberta aoculto; mas como estava muito arruinada, transferiu-se a fre­guesia para a capela do Seminário dos Inglesinhos, na Ruado Seminário em Carnide, entre 30 de Março e 13 de Julhode 1913 ( 8

) . Nesta se conservou cerca de 5 anos, até entre28 de Agosto e 21 de Setembro de 1918 (39), e daí passou

(38) O último acto sacramental na Igreja de S. Lourenço foi umbaptizado em 30 de M arço de 1913 , e o pr imeiro na Igreja dos Ingle­sinhos foi um baptizado em 13 de Julho do mesm o ano.

( "' ) O último acto sacramental na Igreja dos Inglesinho s foi em28 de Agosto, e o primeiro na Igreja da Luz foi um casamento em

290 21 de Setembro de 1918.

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para a igreja do extinto convento de Nossa Senhora da Luz,no Largo do mesmo nome, onde, pouco depois, começou assuas funções paroquiais.

A velha e arruinada igreja de S. Lourenço, com os terre­nos adjacentes, foram cedidos à Câmara Municipal para seremadaptados a instalação de escolas primárias da freguesia e res­pectivo recreio, pelo Decreto n.? 3.161, de 9 de Junho de1917.

Pelo Decreto n.? 14.039 de 4 de Agosto de 1927 passarampara a posse do Ministério da Instrução Pública.

Por último, pelo Decreto n." 27.650, de 12 de Abril de 1937,foram cedidos à Junta de Freguesia de Carnide, para sua sedee outros fins de utilidade pública.

Porém o estado de ruína da igreja é tão grande que nãoserve para qualquer aplicação, e está actualmente ( 1943) deso­cupada.

O convento de Nossa Senhora da Luz, para cuja igrejase transferiu a paróquia de S. Lourenço em 1918, foi fun­dado nos meados do século xv para os religiosos da Ordemde Cristo. A capela-mor, construída em 1575, foi obra da In­fanta D. Maria, filha do Rei D. Manuel.

Por sentença baseada nos termos do breve do Papa Pio IV,de 11 de Agosto de 1789, foi abolido o convento e Casa deNossa Senhora da Luz , que passaram a ser administrados pelaMesa da Consciência e Ordens, por um decreto de 24 de Ou­tubro de 1813, e assim os foi encontrar o decreto de 1834 queextinguiu os conventos de frades.

A igreja de Nossa Senhora da Luz foi mandada entregar,por portaria de 14 de Dezembro de 1840, à junta de paró­quia e moradores de Carnide, para continuarem nela à suacusta o culto divino, e esteve aberta até à proclamação darepública em 1910.

Foi então encerrada, e por portaria de 10 de Julho de 1918foi mandada entregar à Irmandade de Nossa Senhora da Luz, 291

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que é a corporação que se encarregou de nela instituir o culto.Pouco tempo depois começou a funcionar como paroquial.

A capela-mor desta igreja e a sepultura da Infanta D. Mariaforam classificadas Monumentos Nacionais, pelo decreto de 16de Junho de 1910, e pelo n.? 8.627, de 8 de Fevereiro de 1923.

A freguesia de Carnide pertencia ao Termo de Lisboa, epela carta de lei de 18 de Julho de 1885 ficou fazendo parteda cidade, com uma certa área do seu distrito para alémda estrada da circunvalação anexada à freguesia de Odivelas,do concelho de Loures.

44 - S. BARTOLOMEU DA CHARNECA

Nada se sabe sobre a origem desta freguesia, nem da suaigreja matriz. Dos livros paroquiais consta que o registo maisantigo é o dum óbito, em 11 de Julho de 1583.

Fazia parte do Termo de Lisboa, e foi incorporada noterritório da cidade pela carta de lei de 18 de Julho de 1885,ficando com parte do seu distrito para além da actual estradada circunvalação, e anexada à freguesia de Sacavém , do con­celho de Loures .

45 - NOSSA SENHORA DA ENCARNAÇÃO

DA AMEIXOEIRA

No lugar da Ameixoeira havia já no 2.° quartel do sé­culo XVI , em 1539, uma ermida com a invocação de NossaSenhora do Funchal da Ameixoeira, anexa à igreja de S. JoãoBaptista do Lumiar. Esta invocação ainda se conserva em1580; em 1593 titulava-se a igreja de Nossa Senhora da En­carnação do Funchal; e nos fins do mesmo século ( 1591)passou a denominar-se simplesmente igreja de Nossa Senhora

292 da Encarnação, do lugar da Ameixoeira.

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Por causa da distância a que se achavam da sua igreja paro­quial no Lumiar, os fregueses residentes na Ameixoeira soli­citaram e alcançaram a sua desanexação daquela freguesia,e a constituição duma paróquia privativa, com sede na antigaermida. A bula pontifícia da desanexação emanou do PapaPaulo III, em data de 4 de Abril de 1541, e a separação efec­tuou-se em 16 de Outubro do mesmo ano, mediante pesadase severas condições.

Parece que a igreja foi reedificada em 1664, e que sofreuainda grandes obras em 1682 até 1685.

Pertencia a freguesia ao Te rmo de Lisboa, e foi incorpo­rada na cidade pela carta de lei de 18 de Julho de 1885, ficandoporém com uma pequena parte além da estrada da circunva­lação, anexa à freguesia da Póvoa de Santo Adrião, do con­celho de Loures.

46 - S. JOÃO BAPTISTA, DO LUMIAR

Nas Inquirições do reinado de D. Afonso III ( 1248 a 1279)ja aparece citado o lugar de Liminare ( L umiar) , e consta quea sua freguesia, titula da de S. João Baptista e S. Mateus, foicriada em 2 de Abril de 1276.

A igreja incendiou-se em 7 de Fevereiro de 1932, e foireconstruida por subscrição pública, reabrindo para o culto epara as funções paroquiais em 24 de Dezembro de 1934, einaugurando-se com solenidade em 23 de Junho de 1935.

Durante as obras esteve servindo de paroquial a capela deSanta Rita, anexa ao palácio da quinta dos duques de Palmela,mui próxima da igreja.

A freguesia era do Termo de Lisboa, e foi incorporada nacidade pela carta de lei de 18 de Julho de 1885, ficando comuma parte do seu território para além da estrada da circun­valação, anexada à freguesia de Odivelas, do concelho deLoures. 293

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47 - SANTA MARIA, DOS OLIVAIS

Desta freguesia só consta que já existiu no ano 1420.Fazia parte do Termo de Lisboa, e foi incorporada na

cidade pela carta de lei de 18 de Julho de 1885, ficando comparte do seu território além da estrada da circunvalação, anexaà freguesia de Sacavém, do concelho de Loures.

48 - SANTOS REIS MAGOS, DO CAMPO GRANDE

Nada se sabe sobre a origem desta freguesia nem da suaigreja matriz, mas parece que em 1620 já existia.

Consta que a igreja, primeiramente uma ermida, esteveanexa à freguesia de Santa Justa, de Lisboa, da qual se sepa­rou para se unir à do Lumiar. Mais tarde desligou-se por suavez, da do Lumiar, constituindo-se em freguesia independente.

Uma parte do seu território foi cedida para constituir, comporções distractadas de outras freguesias, o novo distrito daparóquia de S. Jorge , trasladada para o sítio de Arroios peloPlano de divisão paroquial de 1780.

A actual igreja foi construída com donativos de particula­res, com a receita da venda de bilhetes da Santa Casa daMisericórdia de Lisboa, e com o produto de uma feira livreno Campo Grande, autorizada para este fim especial por umalvará da rainha D. Maria I, de 9 de Setembro de 1778.

O edifício pertence à Irmandade do Santíssimo Sacramentoda paróquia, e a freguesia, que era do Termo de Lisboa, foiincorporada no território da cídade pela carta de lei de 18 deJulho de 1885.

Os seus limites, do lado do sul, foram rectificados pelo de­creto do Cardeal-Patriarca D. Manuel Gonçalves Cerejeira, de7 de Outubro de 1938, para a cedência de uma parte do seuterritório à nova freguesia de Nossa Senhora de Fátima, e pelaanexação de uma porção de território que foi distractado de

294 S. Sebastião da Pedreira.

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49 - NOSSA SENHORA DA PURIFICAÇÃODE SACAVÉM

Consta que esta paróquia já existia no ano 1191.A igreja paroquial ficou arrazada pelo terrem oto de 1755,

e a freguesia transferiu-se para a igreja do convento de NossaSenhora dos Mártires, de Religiosas Capuchas de Santa Clara,fundado em 1577, uma parte do qual foi entregue em 28 deMaio de 1877 ao Ministério da Guerra , para aí instalar umaunidade militar.

Grande extensão do território da freguesia de Sacavém foiincorporada no Município de Lisboa pelo decreto com força delei de 22 de Julho de 1886, mas esta união pouco mais de9 anos durou, pois que foi desligada pelo Decreto de 26 de Se­tembro de 1895, e incorporada na sua totalidade no concelhode Loures.

50- SANTIAGO MAIOR, DE CAMARATE

Parece que esta freguesia estava anexa à de Sacavém, eque dela se desligou no ano 1511, erigindo-se em paróquia umaermida de S. Tiago que ali existia, e que por essa ocasião sereconstruiu e aumentou.

Fazia parte do Termo de Lisboa, e foi incorporada na ci­dade pelo decreto com força de lei de 22 de Julho de 1886,havendo-se porém desligado dela e incorporado no concelhode Loures, pelo decreto de 26 de Setembro de 1895, tendoportanto pertencido ao Município de Lisboa apenas durante9 anos.

51 - SANTO CONDESTÁVEL

Com território destacado das freguesias de Santa Isabele S. Pedro em Alcântara criou-se, por decreto do Cardeal­Patriarca D. Manuel Gonçalves Cerejeira, datado de 21 de 295

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Maio de 1934, a freguesia do Santo Condestável , a Campo deOurique, e delimitou-se a sua circunscrição. As funções paro­

quiais começaram em 8 de Junho de 1934.

Determinou o decreto que, enquanto se não construisse anova igreja matriz, num terreno já adquirido para esse fim na

Rua Pereira e Sousa, a sede provisória da freguesia fosse a

capela do Amor da Virgem Senhora Nossa das Dores, ou sim­plesmente de Nossa Senhora das Dores, construída já depoisdo terr emoto de 1755, e sita perto do começo inferior da Rua

do Patrocínio; e eventualmente a ermida do Senhor Jesus dosTerremotos, sita na Rua do Arco do Carvalhão, entre osn.OS 116 e 118, mesmo em frente das Escadinhas dos Ter­

remotos.

52 - N OSSA SENHORA DA PENHA DE FRANÇA

Estando já criada a freguesia civil da Penha de França

por decreto de 13 de Abril de 1918, foi, por sentença doCardeal-Patriarca D. Manuel Gonçalves Cerejeira, datada de

21 de Agosto de 1937, criada canonicamente a paróquia deNossa Senhora da Penha de França, com a sede na igreja doextinto convento da mesma denominação , de Religiosos Ere­

mitas de Sant o Agostinho, assinando-se-lhe o respectivo dis­trito , que foi constituído com território destacado principal­mente da freguesia de Santa Engrácia , e com uma pequena

parcela das freguesias de S. Jorge de Arroios e S. Bartolomeudo Beato.

A igreja matriz foi construída à custa de um operano em1597, dizendo-se nela a primeira missa em 10 de Maio de 1598.

O fundador entregou -a em 1 de Agosto de 1603 aos Religiososde Santo Agostinho, que edificaram o Convento , lançando -se aprimeira pedra para uma nova igreja em 1604, visto a primi -

296 tiva ter acanhadas dimensões.

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As obras de reedificação da igreja foram feitas pela CâmaraMunicipal, e com o produto de esmolas, tendo-se concluído em1625, ano em que a igreja foi inaugurada festivamente.

A igreja sofreu danos pelo terremoto de 1755, que só fica­ram reparados ao cabo de 30 anos.

Extintas as Ordens Religiosas, ficou o edifício ao desam­paro, sendo a igreja requisitada em 27 de Abril de 1836 peloGovernador Civil, para servir de capela .

Pela lei de 14 de Fevereiro de 1861 foi autorizado o Go­verno a ceder a igreja e suas oficinas à irmandade de S. JoãoBapt ista, erecta no extinto convento, a fim de ali continuaro culto, e enquanto desempenhassem os seus deveres de boafabriqueira,

Sofreu vários restauros, o último dos quais em 1903, rea­brindo-se ao culto em 5 de Agosto desse ano.

Em 1911, pelo inquérito a que se procedeu então, verificou-seque a igreja pertencia ao Estado, e continuou a celebrar-se nelao culto ; tendo sido erecta em cabeça de paróquia, os actosparoquiais foram inioiados em 5 de Setembro de 1937.

A circunscrição administrativa da freguesia civil da Penhade França não coincide completamente com a da paróquiaeclesiástica.

Os limites da primeira foram rectificados pelo Decreton." 14.559, de 12 de Novembro de 1927.

53 - SANTO ANTóNIO DE CAMPOLIDE

Da paróquia de S. Sebastião da Pedreira desmembrou-se afreguesia de Santo António de Campolide, por decreto do Car­deal-Patriarca D. Manuel Gonçalves Cerejeira, datado de 7 deOutubro de 1938, o qual também lhe fixou os limites .

A sede paroquial é na igreja dedicada a Maria Santíss imaImaculada, ou Imaculada Conceição, que pertenceu ao antigo 297

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colégio de Campolide, contíguo ao actual quartel de Caça­dores n." 5, na Travessa de Estêvão Pinto. Os trabalhos daconstrução desta igreja começaram em 8 de Dezembro de 1879,e foi o templo solenemente inaugurado em 30 de Abril de 1884.

A igreja por pertencer a uma congregação de jesuítas, pas­sou para a posse do Estado em 8 de Outubro de 1910, em vir­tude das disposições do decreto da mesma data. Foi entãoencerrada a profanada, e durante alguns anos serviu de depósitoda Farmácia Central do Exército.

A igreja foi mandada entregar à Irmandade de Nossa Se­nhora do Rosário e Senhor Jesus dos Passos da Via Sacra,erecta na igreja do ex-mosteiro de Santa Joana, em virtudede um despacho ministerial de 8 de Outubro de 1927, emtroca da igreja e de outros bens de que aquela Irmandade haviasido desapossada em 1924.

A Irmandade tomou posse do templo em 25 de Fevereirode 1938, e instituiu nele novamente o culto em Maio do mesmoano.

Como paroquíal da nova freguesia, cujo padroeiro é SantoAntónio, as suas funções começaram a ser exercidas em 11 deOutubro de 1938.

54-NOSSA SENHORA DE FATIMA

NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO DE FÁTIMA

Das paróquias de S. Sebastião da Pedreira e dos SantosReis Magos desmembrou-se a freguesia de Nossa Senhora deFátima, por decreto do Cardeal-Patriarca D. Manuel Gonçal­ves Cerejeira, datado de 7 de Outubro de 1938, que tambémlhe fixou os limites.

A sede paroquial é na igreja de Nossa Senhora de Fátima,298 sita na Avenida de Berna, ao Rego.

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Foi começada a construir esta igreja em Agosto de 1934,com destino a paroquial de S. Julião, que se intentava trans­ferir para ela. Porém em Agosto de 1936 foi determinado queo orago fosse Nossa Senhora do Rosário de Fátima, ou NossaSenhora de Fátima, e não S. Julião.

A igreja foi declarada matriz da nova freguesia criada coma mesma invocação, tendo-se efectuado as festas da inaugu­ração nos dias 11 e 12 de Outubro de 1938, no segundo dosquais a igreja foi benzida, iniciando-se as suas funções paro­quais no dia 13.

É sua proprietária a arqui-confraria do Santíssimo Sacra­mento da freguesia de S. Julião, que a mandou construir coma importância da venda da igreja de S. Julião ao Banco dePortugal, a qual se realizou por escritura de 7 de Junho de 1933.

299

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UMA ESTAÇÃO LUSITANO-ROMANANO SÍTIO DE POÇO DE CORTES

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Uma estação lusitano-romana no sítiode Poço de Cortes (*)

Nas escavações a que se andava procedendo para a cons­trução da avenida de ligação do Aeroporto de Lisboa com osítio do Poço do Bispo, e acerca de 1.370 metros de distância,medida para poente, segundo o eixo da avenida, do centro darotunda da entrada de Lisboa na Portela de Sacavém, foramencontrados soterrados, nos meses de Junho e Julho de 1944.vários vestígios duma povoação ou necrópole luso-romana .

O local do aparecimento destas antigualh as fica aproxima­damente a 1.400 metros para nordeste da Quint a da Bela Vista,onde, nos princípios do século XVII, apareceu uma lápida fune­rária romana, de que nos dão notícia os autores seiscentistas.

Além de muitos ossos humanos, entre os quais os de ani­mais (de javali, por exemplo) , que misturadamente foram leva­dos para o vazadouro das terras desmontada s, de uma moedade cobre do imperador Marco Aurélio Cláudio (anos 268 a279 d. C.), ·e de vários restos de cerâmica vermelha, foramencontrados os seguintes objectos, que passamos a descrever:

1.0- Uma construção subterrânea, que parece ter sido umacripta funerária, com a forma circular, cujo centro veio acoincidir , incidentalmente, com o eixo do colector e do leitoda avenida em construção.

('* ) R evista M unicipal n. ?" 20-21, 1944, págs. 37-4 1. 303

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Não chegámos a tempo de podermos tomar conhecimento

do conjunto da estrutura, mas ainda pudemos desenhar a suaplanta, e, por informaçêes, completar a cobertura.

A câmara foi escavada numa camada argilosa, que os geó­logos classificam de argilas azuis de Xabregas, sobre a qual

assentava um cascão de calcário, com cerca de om,9 de espes­

sura. Este ficava recoberto com uma camada de terra arável.O diâmetro da câmara era de cerca de 9m ,60, e o fundo

apresentava um ligeiro declive para o centro, onde se abriaum pequeno poço semi-ovóide, com om,50 de profundidade.

O pavimento, que ficou uns 01ll ,60 abaixo do fundo da

caixa do empedrado da nova avenida, tinha uma soleira comom,12 de espessura, formada por formigão em que abundavam

304 tijolos pisados ou moídos.

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l ~ _ Lo cal da sepultura romanaPLA NTA DA RE GI ÃO ON DE FOI D ES COBERTA A ESTAÇAO L US1Tr\ NO -R OM AN A

ESCALA 1: 5000

1 \\ JfPOPOPíO \

A _ Local da cripta

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VIST A DOS RES TOS DA CR IPT A QU E PUDERA.\ l SER !'CJTOGRA FA lJOS

A so m bra cscu ra q ue a t ra vessa o solo da cripta é a da' escavação a que se estava procede ndo para a construçãodo colector da Avertida - Vista do Xorte para Sul

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L ÁI' IDA E ARAS ENCONT RA D AS 1':0 LOCAL

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SE PULTURA RO.\ \A~A

Vista d o N asce n te para () Po en te

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Sobre a soleira levantavam-se duas ordens de pilares dis­postos em coroas circulares, parecendo terem sido construídospara suportar a cobertura. A coroa interior tinha 4 pilares e ade maior diâmetro tinha 7, um dos quais ficou encastrado efazendo parte dum muro ulteriormente construído, com aforma, em planta, de segmento circular, formando assim umaparede plana.

Os pilares eram de alvenaria ordinária, com pedaços detijolo à mistura, e tinham secção transversal quadrada, comdimensões dos lados variáveis desde om,45 até om,70. Os pila­res, bem como as paredes da câmara, eram rebocados comuma grossa camada de argamassa avermelhada (cerca de om,04de espessura) , em que parecia haver abundante mistura depó de tijolo ; nalguns sítios ainda se conheciam vestígios dedesenhos a preto.

A cobertura, segundo nos informaram, era constituída pelaprópria camada do cascão calcário que mencionámos, sobrepostaà argilosa em que fora escavada a câmara; e como ela tinhauma pequena inclinação, isso originou ter ficado a câmara comcerca de 1m,80 de altura no lado ocidental, e 1m,40 no oriental.Sobre ela assentava uma camada de terra arável, e passavaa azinhaga que levava dos Olivais ao sítio do Poço de Cortes.

A única abertura de acesso ao interior da cripta, que seencontrou, segundo nos disseram, foi um orifício circular nacobertura, com cerca de om,80 de diâmetro.

A câmara estava semi-entulhada com terra que havia sidodeitada pela abertura superior, e de mistura com ela haviamuitos ossos, restos de cerâmica, e uma das aras (a 3.a) deque nos vamos ocupar .

2.0- No local encontraram-se três pequenas aras votivas

e uma tampa de columbário quase completa, com inscriçõeslatinas. Foram todas transportadas em 8 de Julho de 1944para o jardim do Palácio Galveias no Largo Afonso Pena(Campo Pequeno ). 305

20

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CóPIA DO CIPO

ESCALA 1: 10

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Os 4 cipos estão representadosna fotografia que acompanha esteartigo .

LEITURA: J( ovi) Assaeco VotumAnimo Luben (s), M (arcus) Caeci­lius Caeno Solvit.

TRADUÇÃO: A Jupiter Asseco.Marco Cecílio Cenão satisfez estevoto com a melhor vontade.

A ara, de calcário rosado, temo seu fóculo quase completo. Re­cebeu o n." 49 no catálogo dosobjectos expostos no jardim.

Terá o epíteto dado a Júpiterrelação com algum dos rios Assecade Portugal, especialmente com odo Alentejo?

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CóPIA DO CIPO

ESCALA 1: 8

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LEITURA: (P )atri Libero Sacrum.G (ratia? ) R(ecepta? ) T (itus? ) AvoV(otum) A(nimo ) L(ibens) S(olvit ).

TRADUÇÃO: Monumento sacro aoPae Libero . (Pelo benefício?) ( rece­bido?) Tüo(? ) Avo (ou Avão) cum­priu o seu voto (de erigir o monu­mento ) com a maior satisfação.

Pater Liber era um nome que sedava ao deus Baco, o que indicatalvez que a região era então vinha­teira.

A ara é de calcário rosado, e con­serva o seu fóculo quase completo.

306 Recebeu o n." 47 no catálogo.

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CóPI A DO ClPOESCALA 1:5

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LEITURA: G (rato?) S(ibi?ou uo?) Aponianico Po­liscinio Sacrum . A(nimo)L (ibens).

TRADUÇÃO : Monumentosacro ao (seu) querido (deus)Poliscínio Aponiânico. (De­dicou) com a maior satisfa­ção (está suprimido o nomedo dedicante).

Apo niana era uma ilhada costa ocidental da Sicília,parece que a Fagniana, umadas três de que se compõeo arquipélago das Égates.

Esta árula, de calcáriolioz, está muito bem conser­vada. Recebeu o D.O 48 docatálogo.

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LEITURA: D (iis)r<""- - - - - - - - -- - - - - - - - - - ->I 0,41 : M (anibus ) . G (aio )

: J ( u li o ) Primitivo,r--- -,-- ----------,- - - - - ~ Ann ( orum ) L X ;

Terentia Jul (ia) Pa-I tri P ( ientissimo )

g;: F ( a c i e n d u m)o ' C (uravit ) . H ( ic )

I

I S(itus) E(st ).I

I TRADUÇÃO: Aos'-- --'--_ _ ---' V deuses Manes . A

CóPIA D O CIPO Gaio Júlio Primi-ESCAL A 1:8 tivo, (falecido aos)

60 anos de idade; Terência Júlia mandou erigir (este monu­mento a (seu) Pai extremosíssimo. Está sepultado aqui.

É uma tampa de sarcófago, ou de columbário, de calcáriorosado, com letras bem gravadas. Recebeu o n.? 50 do catálogo. 307

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no jardim

em 21 den.? 51 do

Ficou depositadado Palácio GalveiasJulho, e recebeu ocatálogo.

4.° - Encon t rou-se aindauma sepultura completa , cujo de­senho fizemos, e var aqui repro­

duzido.

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0 1C'ol

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Pianta

URNA FUNERÃRIA

Caril' verh ca i

3.° - Além destes objectos ainda foi encontrada no mesmolocal uma uma cinerária de calcário, com o feitio de melaovo. Já não conseguimos obter notícia da tampa que a deviacobrir.

As suas dimensões constam do desenho abaixo, e devia sersemelhante a uma uma de Mértola, citada pelo Dr. J. Leite

de Vasconcelos, na pág. 376 dovol, II de As Religiões da Lusi­

tania.

Estava um pouco a ocidentedo sítio da cripta descrita, embe­bida no talude sul da avenidaem construção, enterrada sobuma camada de terra arável comcerca de om,50 de espessura.

As suas dimensões constamdo desenho.

O fundo era constituído por duas camadas de tégulas outijolões, com om,42 X om,30 e uns om,04 de espessura.

As paredes eram de alvenaria ordinária, apenas embaçadasinteriormente, e a cobertura formada por cinco ordens dasmesmas tégulas, ligadas com espessas camadas de argamassa,e sobrepostas à laia de telhado de duas águas, como se mostrano desenho, e semelhantemente à figura 163 (pág. 378 ) do

308 vol, III de As Religiões da Lusitania, do Dr. José Leite.

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A orientação da sepultura era aproximadamente nascente­-poent e, mas já não vimos o esqueleto que ela devia encerrar,e apenas nos deram notícia de alguns ossos nela encontrados .

Os tijolos foram tran sportados em 21 de Julho para o jardimdo Palácio Galveias, onde se projecta reconstruir a sepultura,de maneira amovível. Recebeu o n.? 52 do catálogo.

Ainda no local se divisavam vestígios de escavações noterreno para outras sepulturas , também já violadas, e entu­lhadas com terra e pedras.

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r::-.!-~.I:-/'SEPULTURA RO.\\Al'A

ESCALA 1:40

Classificámos de luso-romana esta estação porque a maiorparte dos objectos nela encontrados são indiscutivelmente dessaépoca.

Quanto à cripta , a ignorância e desinteresse do pessoal dasobras da estrada fez com que não só se perdessem os restosde ossos e quaisquer outros objectos que nela existissem, masnem sequer pudéssemos obter informações minuciosas e segurasacerca dos achados.

Conquanto ignoremos se ali se encontraram artigos de sílex,a estrutura da câmara faz lembrar, por analogia com outras 309

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conhecidas, que se trata duma cripta funerária do período neo­lítico, ou do princípio da época do bronze; neste caso deveriater tido uma galeria de acesso, talvez em nível superior ao dopavimento da câmara, porque as paredes desta, na parte con­servada intacta até Qm,5 de altura, não mostravam a possibili­dade de nela desembocar qualquer galeria ao nível do fundo;mas, se assim era, já não conseguimos sabê-lo. A camada decascão que formava a cobertura foi demolida a tiro de dina­mite, de sorte que o desmoronamento fez-se ràpidamente, enão houve o cuidado de explorar o desmonte. A terra e o queestava dentro da cripta foram levados imediatamente para U!l1

vazadouro, e assim ficaram perdidos para qualquer investi­gação.

Sendo uma obra pré-histórica, é todavia possível que osromanos a tivessem aproveitado, como aconteceu a muitos monu­mentos funerários dos homens primitivos, que foram sucessiva­mente utilizados pelos vários povos que no local àqueles sesubstituiram.

Do que fica exposto se conclui ter havido naquele sítio umanecrópole lusitano-romana, sobreposta porventura a outra da épocaneolítica, confirmando assim que a região dos arredores de Olisipofoi, desde remotos tempos, muito povoada.

Pena é que a notícia das descobertas não tivesse sido comu­nicada ou sabida logo que estas se iniciaram, para que asexplorações pudessem ter sido dirigidas metodicamente, obtendo­-se maior número de conhecimentos sobre este assunto tão inte­ressante e tão importante para o estudo da pré-história e dacivilização romana no território que é hoje português.

Para de todo se não perder a lembrança do local onde estasmemórias do passado foram encontradas, a Câmara Municipaltenciona assinalá-lo com uma lápida embebida no talude lateralda escavação feita para o leito da avenida.

310 Em Julho de 1944.

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NOMES DE PESSOASNA TOPONÍMIA LISBOETA

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Nomes de pessoas na toponímia lisboeta (*)

Era antigamente o povo quem dava os nomes às ruas daspovoações, e em Lisboa estavam sempre essas denominações ourelacionadas com os nomes, alcunhas ou profissões das pessoasou entidades que nessas ruas moravam ou tinham propriedade,ou subordinadas a qualquer particularidade inerente ao local,ou a algum edifício profano ou religioso que nelas existia, ounas suas vizinhanças.

No primeiro caso achava-se a maior parte das ruas ante­riores ao terramoto de 1755, assim como aquelas em que asespecialidades comerciais ou os artífices se achavam arrua ­dos e), pois que consideravam essa vias como que virtual­mente propriedade sua: Rua de D. Gil Eanes, Beco de Gaspardas N áos, Rua do Chancudo, etc.; Rua da Gibitaria, Arcodos Pregos, Ruas dos Ourives do Ouro, dos Odreiros, dosDouradores, etc.

Estavam no segundo caso as Ruas das Pedras Negras, deValoerde, Beco do Pinooai, Rua N ova dos Ferros, da Padaria,da Esnoga, do Curral dos Bois, o Terreiro do Paço, etc.; masa par dos nomes de pessoas eram as denominações derivadas de

( * ) R evista M un icipal n .O' 24-25, 1945, p ágs, 3-7.

C) O arruamento dos mesteirais em Lisboa foi ordenado por cartarégia de 5 de Junho da era 1429 ( A. D . -1391 ) conquanto julgu emosque já anteriormente esse fosse o costum e, sem consa gração oficial. 313

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edifícios e de símbolos religiosos que nas ruas existiam, quedavam o maior contingente para a toponímia da cidade : Ruade S. '[ulião, de S. N icolau, da Conceição, da M adalena, dos

Anjos, Beco do Cruci fixo, Calçada de S. Francis co, Largo daPatriarcal, etc. Gr ande part e dessas denomin ações tem persis­tido até ao presente.

Só muito excepcionalmente eram atribuídos nomes às ruaspara consagração de pessoas. Anteriormente ao terremoto de 1755temos conhecimento de apenas duas ruas, em Lisboa, haveremrecebido nomes em homenagem a pessoas.

Foi a primeira a Ru a Nova de El-Rei, em honra deD. Afonso V, em cujo reinado ela foi aberta, cerca do ano1466, sobre a vala ou rego das imundícies , que, atravessandodiagonalmente o vale da Baixa, ia lançar no Tejo os esgotosque vinham desde Andaluz e Arroio s. Esta cobertura do regorepresentou um considerável melhoramento para a cidade, masa denominação pouco tempo durou , até cerca de 1586, poisque foi substituída pela de Rua dos Ourives do Ouro, artíficesque nela se foram instalar.

Foi a outra a Rua N ova do Almada, que o povo assimcognominou em reconhecimento ao presidente da Câmara RuiFernandes Almada, que em 1665 teve a iniciativa de a mandarabrir, demolindo vários prédios, e melhorando enormemente acirculação citadina no local.

Uma outr a rua medieval chamada do Príncipe, muito dis­tante do sítio em que se abre a actual Ru a l.ode Dezembro,que também se chamou do Prín cipe, devia o seu nome, nãocomo homenagem a qualquer pessoa da família real, mas aopríncipe D. João, pai do rei D . Sebastião, que nela tinhapousadas e paços.

Depois do terremoto de 1755 foram, por decreto de 5 deNovembro de 1760, dados nomes às ruas novamente traçadas ;e tendo em vista a adulação do poder real, conforme o espírito

314 da época, a uma nova artéria da cidade foi dado o nome de

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Rua Nova de El-Rei, igual ao de outra que havia existido,como dissemos, nos séculos xv e XVI, mas não no mesmo sítio,o qual servia maravilhosamente para o fim visado.

Por identidade de ideias associadas, a algumas ruas queentão se abriram foram dadas denominações de membros dafamília reinante, e assim se originaram os topónimos seguintes:

Rua Bela da Rainha (D. Mariana Vitória ) ;Rua Nova da Princesa (D. Maria, depois D. Maria I );Rua do Príncipe (D. José?, filho de D. Maria I; ou

D. João?, irmão dele) .

Os letreiros murais com estes nomes, e outros da cidadeBaixa reconstruída, eram abertos a buril nas pedras dos cunhaisdalguns prédios daquelas ruas, e alguns ainda permanecem .

Já muito antes do terremoto de 1755 as igrejas, mosteiros,conventos e símbolos religiosos serviam, como dissemos, paradar o nome às vias-públicas em que eles existiam, e depoisdo terramoto esse uso persistiu, não só nas ruas que nova­mente foram traçadas na cidade da Baixa, mas estendeu-seainda a algumas que nas cercas dos conventos então se abri­ram, às quais foram dados os nomes de imagens que nos altaresdas igrejas daqueles conventos se veneravam. Tal é a origemdas denominações: Ruas dos Remédios, de S. Bernardo, Tra­

vessa de Santo Ildefonso, de Santo Amaro (hoje rua ), de SantaGertrudes (hoje Rua Teófilo Braga), de S . Plácido, de '[esusM aria 'José (hoje Travessa do Cabo), de Santa Escolástica(hoje Rua dos Ferreiros, à Estrela ) , e outras.

Logo no princípio do século XIX foram os nomes das arté­rias da cidade consignados ou fixados oficialmente na Regu­

lação para o estabelecimento da pequena posta, caxas e porta­dores de cartas em Lisboa, de 7 de Maio de 1800.

Por essa ocasião ou pouco depois, para facilidade dos ser­viços dos correios, começaram a ser pintados os letreiros nasesquinas dos prédios extremos das ruas, cremos que pelos pro-prietários ou à custa dos mesmos. 315

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A pintura dos letreiros das ruas nos cunhais dos prédiosainda em 1852 era da competência dos respectivos proprie­tários, pois que um edital do Governo Civil de Lisboa, de 28de Julho desse ano, intima os proprietários a avivá-los, ondejá existissem. Depois essa atribuição passou para a CâmaraMunicipal, mas ignoramos por que diploma.

A atribuição de dar nomes às ruas deixou de ser privilégiodo povo, e passou de facto para o Poder Central; e nos temposagitados que se seguiram à implantação do regime constitu­cional, o Governo, intérprete do entusiasmo popular pela vitó­ria dos novos ideais, e curando de homenagear o mais cate­gorizado representante do regime com que se julgava benefi­ciado, promulgou em 1836 dois diplomas baptizando duas vias­-públicas com o nome do dador da Carta. Foi a primeira umarua que se chegou a abrir Rua D. Pedro IV, à Esperança(portaria de 29 de Outubro ); e foi a outra a Praça do Rociocrismada em Praça de D. Pedro (portaria de 31 de Outubro,pela qual também se permitia que aí se erigisse uma estátuaa este rei ).

A portaria de 29 de Outubro de 1836 determinou que seabrisse uma nova rua, que se chamaria de Camões, no sítioonde esteve o Palácio da Inquisição, depois Tesouro Público,e onde se acha agora o Teatro D. Maria II. Ignoramos quemotivo levou o Governo a querer prestar esta homenagema um homem, Caetano José da Silva Souto Maior, por al­cunha o Camões do Rossio, falecido um século antes, e queapenas foi um apagado corregedor do Bairro do Rossio em1837. Um decreto posterior, de 2 de Junho de 1838, deter­minou que em lugar da Rua de Camões se abrisse naquelesítio um largo, que receberia o nome de Praça de Camões(hoje Largo de D. João da Câmara ) , como de facto acon­teceu.

Outras deliberações tomou depois o Governo sobre nomen­clatura das ruas, tais como a portaria de 27 de Setembro

316 de 1843, que, em resposta a uma consulta da Câmara Mu-

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nicipal de Lisboa, determinou que a superinten dência e ins­pecção sobre a designação dos nomes das ruas pertencesse,não às Câmaras, mas aos funcionários administrativos; o de­creto de 15 de Outubro de 1852, que mudou para T ravessada Estrela o nome de Travessa dos Ladrões; e sobretudo aportaria de 9 de Julho de 1859, que autorizou o GovernoCivil, em vista de uma consulta da Câmara , de 25 de Jun hodo mesmo ano, a proceder a todas as alterações que julgasseconveniente, no nome das ruas. Desta providência resultou oedital de 1 de Setembro de 1859, que modificou o nome demuitas vias-públicas, e criou o topónimo Praça do PríncipeReal (D. Luís, futuro Rei).

Em 1860 um edital do Governo Civil ( 12 de Outubro )criou a denominação Praça de Luís de Camões, porque já ~e

pensava em construir nela o monumento do grande épico (cujaprimeira pedra foi lançada em 1862), e uma deliberação ca­marária de 10 de Fevereiro de 1862 deu ao largo mandadofazer no Aterro da Boa Vista o nome de Praça de D. Lu ís I ,que ainda se mantém .

De alguns nomes não consta o diploma que os criou; talvezfigurassem já no próprio projecto da abertura das respectivasruas; é o que teria sucedido, por exemplo, com a Rua doDuque de Bragança (hoje Rua da Luta ), aberta por 1842,que já tinha este nome em 1845.

Pelos meados do século passado abriu-se a larga via-pú­blica entre a Rua do Cais do Tojo e a Rua 24 de Julho, queprimeiro se denominou do Duq ue da Ter ceira, nome que ja

tinha em 1863, e que constitui hoje um troço da Avenida Pre­sidente Wilson. O grande quarteirão de casas compreendidoentre aquela rua e o Jardim de Santos, acha-se envolvido pormais duas ruas: de Vasco da Gama, ao norte, e de Vitorin oDamásio, ao ponte, tendo todas estas denominações tido ori­gem entre os anos 1863 e 69, talvez no projecto que mandouabrir as ruas. 317

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E com estas ruas se terminou até aos meados do terceiroquartel do século XIX a nomenclatura de vias-públicas comnomes pessoais, que eram ou de membros da família reinante,ou de pessoas que verdadeiramente eram consideradas dignasdessa homenagem.

O concelho de Belém foi criado pelo decreto de 11 de Se­tembro de 1852 (artigo 2.°) , e o primeiro presidente da Câ­mara Municipal foi Alexandre Herculano. O Governo Civil deLisboa, pelo edital de 18 de Janeiro de 1878, como home­nagem ao nosso grande historiador, deu o nome dele à rua,havia pouco tempo aberta , que vai do Largo das Fontainhasem Alcântara até onde terminava então o Caneiro de Alcân­tara, no cruzamento com a actual Rua 24 de Julho . A Câ­mara Municipal de Belém também resolveu (deliberação de 27de Agosto de 1869 ) mudar a denominação de Largo dos 7e­ránimos para Praça do In fante D. Henrique; depois passoua ser Praça de D. Vasco da Gama, por ocasião do centenáriode Camões. Hoje é a Praça do Império.

Tendo porém o Município de Belém sido extinto, e o seuterritório incorporado no de Lisboa, pelo decreto de 18 deJulho de 1885, e desejando a Câmara desta cídade home­nagear alguns dos nossos mais afamados escritores, haviapoucos anos antes falecidos, dando o seu nome a novas elargas ruas da cidade, deliberou denominar uma delas Ale­xandre Hercul ano, e como não faria sentido haver outra ruana cidade com o mesmo nome, substituiu o do Concelho deBelém pelo de Fradesso da Silveira (edital de 10 de Janeirode 1888 ).

A atribuição de baptizar as vias-públicas de Lisboa pas­sou para a Câmara Municipal, pelo Código Administrativode 6 de Maio de 1878 (N ." 28 do artigo 103.°), mas jáanteriormente ela usava dessa prerrogativa, como vimos acima.

318 A Câmara, imitando o que se fazia no estrangeiro, começou,

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no último quartel do século XIX, logo em 1878 a dar às ruasos nomes próprios, apelidos, e mesmo nomes completos, depessoas notáveis, a que pretendia, por esta forma, prestarhomenagem.

Dos reis mais recentes:Rua de D. Estefânia (edital de 22/8/1879);Rua de D. Pedro V (edital de 17/11/1883) ;Rua de D . Carlos I (edital de 28/12/1889) ;Rua Maria Pia (edital de 7/11 /1901 );etc.

De escritores:Rua Garrett (edital de 14/7/1880);Rua Alexandre Herculano (deliberação camarária de 6/5/

/1882);Rua Castilho ( idem) ;etc.

De exploradores africanos:Rua Capelo (edital de 7/9/1885 );Rua Anchieta (edital de 7/9/1885);Rua Vítor Córdon (edital de 6/2/1890) ;Rua António Maria Cardoso (edital de 6/2/1890);etc.

De políticos que haviam contribuído para a implantaçãoe consolidação do regime constitucional:

Rua Pascoal de Melo (edital de 13/2/1882);Rua Passos Manuel (edital de 4/3/1884);Rua Fernandes Tomás (edital de 22/8/1884) ;Praça do Duque da Terceira (edital de 28/12/1889);etc.

De numerosos políticos, conselheiros de Estado, titulares,jornalistas, etc.:

Rua António Augusto de Aguiar (edital de 11/12/1888) ;Rua Conde de Redondo (edital de 11/12/1902); 319

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Rua António Enes (edital de 29/11/1902);Rua do Conselheiro Monteverde (edital de 14/2/1882 ) ;etc.

E bem assim denominações ideológicas e recordativasde datas históricas:

Avenida da Liberdade (deliberação camarária de 18/2/1879);Rua Vinte e Quatro de Julho (edital de 9/9/1878);etc.

Várias das novas denominações foram substituir nomes dosarruamentos, distribuindo -os por bairros, denominação não oficial,mas que engloba nomes de pessoas ou objectos de categoriaidêntica ; assim há os bairros :

dos Actores;das Colónias;das Nações (em projecto) ;etc.

o uso de dar às ruas nomes de pessoas, homenagens de es­quina, como alguém lhes chamou, degenerou em tal abuso,especialmente depois da primeira década do século corrente,que não há quase ilustre algum desconhecido que não possuauma praça, uma avenida, ou uma rua com o seu nome.

Depois da proclamação da República, a mudança de antigosnomes de ruas, principalmente dos que lembravam objectosreligiosos, ou personagens em evidência no regime monárquico,tem constituído uma verdadeira razia, e à superfície têm vindo,para serem imortalizados nas esquinas dos prédios, os nomes depessoas de que se ignoram os actos que prati caram para justificaressa homenagem.

A questão política e a amizade pessoal foram os factoresdominantes que fizeram pôr de parte o patriotismo e a gra­tidão nacional. Há na nossa História Pátria muitos nomes quecontribuíram para a glória e poderio de Portugal, que foram

320 o orgulho da Raça, assim como cidades que foram cenário

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de feitos heróicos de portugueses. Muitos ou aguardam que selhes faça em Lisboa, ao menos, a consagração dos seus nomesem vias-públicas, ou, se ela já está feita de maneira mes­quinha, que seja elevada à grandeza de que, com justiça, émerecedora.

Num sensato artigo jornalístico contêm-se estas palavras comque terminamos o presente estudo:

«Há na nossa História figuras de tal grandeza e feitos detamanha pro jecção, que não há o direito de os esquecer, re­lembrando em troca outros para quem o olvido seria o melhorpreito a prestar-lhes. Quanto aos primeiros, abandoná-los naobscuridade em que se encontram denota uma tal falta de sen­sibilidade patriótica e de orgulho nacional, que não é de admitirque assim continuem . Quanto aos segundos não os perturbe­mos no seu descanso bem merecido. Não exponhamos a suainsignificância ao desdém colectivo, para que a sua memóriacontinue impoluta e a sua efémera passagem pela vida nãoafronte ninguém. Gravem-se nas esquinas os nomes dos heróise dos mártires, e ainda o dos sítios onde o sangue portuguêstenha corrido para bem servir a imortalidade da Pátria. Essaé a obra de justiça a praticar.»

21321

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S Í T I O E P A L Á C I ODO MARQUÊS DE ALEGRETE

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Sítio e palácio do Marquês de Alegrete (*)

o Palácio chamado do Marquês de Alegrete, demolido em1946, estava situado na embocadura do vale da Rua da Palmaou da Mouraria, no ponto onde este vale apresenta a sualargura mínima, cerca de 100 metros.

O seu local acha-se marcado nos mapas I e II, e as suasfachadas estão representadas nos desenhos e fotografias queacompanham este trabalho, e a que adiante nos referiremospormenorizadamente.

O palácio formava, com outro prédio que lhe ficava con­tíguo pelo ocidente, um quarteirão de casas sobre si, comfrentes: para a Rua Martim Moniz, que antes se chamavaRua de S. Vicente, à Guia, ao norte; para o Largo Silva eAlbuquerque, anteriormente denominado Largo da Rua dosCanos, ao sul; para a Rua da Mouraria, ao nascente; paraa Rua da Palma - mas para esta somente o prédío contíguomencionado - ao poente. Estava situado todo na freguesia deSanta Justa; mas depois da criação da do Socorro em 1596, aparte norte do prédio passou para esta freguesia, e a do sulpermaneceu na de Santa Justa (ou Restauradores actual).

Daremos primeiramente uma pequena notícía histórica edescritiva do local, resumida de documentos e trabalhos já doconhecímento dos estudiosos da cídade; em seguida trataremosdo palácio.

( *) R evista Municipal n .o. 30-31 , 1947, págs. 3-15. 325

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Anteriormente à conquista cristã em 1147, e mesmo nosprimeiros séculos da monarquia, toda esta região do vale eracultivada de hortas ou almuinhas, cujos produtos abasteciama população do burgo, que ocupava principalmente o cume eencostas do monte do Castelo de S. Jorge.

No ano 1373 começou-se a construção da muralha defen­siva da cidade, que ficou conhecida por cerca nova ou fer­nandina, do nome do rei D. Fernando que a mandou erigir.Um troço dessa muralha cortava transversalmente o vale daMouraria, no sítio do seu estrangulamento, ao longo do ladonorte do desaparecido Largo Silva e Albuquerque, troço demuro ' que formava um dique ou vedação para as torrentesdas águas pluviais, vindas do vale, que algumas vezes origi­navam grandes inundações, tanto a montante como a juzanteda muralha, e consideráveis prejuízos materiais e) .

Por ocasiao da construção do convento de S. Domingosno Rossio em 1241 ou 1249, foram doados a esta casa religiosa,pelo rei D. Afonso III, os terrenos em volta e ao norte damesma, desde o sítio das Portas de Santo Antão, pela lombado monte de Sant 'Ana, até ao local da Porta da Mouraria,actual Arco do Marquês de Alegrete (2).

Parece que alguns desses terrenos juntos ao muro da cercanova achavam-se na posse do convento de S. Vicente (em1426, e outros anos), sendo hoje difícil ou impossível definiros seus limites e contornos.

(') Por exemplo, em 1383 - V. O A rcheologo Português, vol. V,1900, pág . 216 .

C) Não se conh ece o docum ento dessa doação, mas sim refe­rências directas a ele, em vários aforamentos. - V. O A rcheologo,

326 vol, V, pág. 259.

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Através de hortas do convento de S. Vicente foi rasgada,nos meados do século XVI , do lado intramuros da cidade,uma rua que primeiro se denominou Rua da Porta Nova( 1551) (3), e pouco depois Rua da Palma ( 1562) , ou Rua Novada Palma (4) ; e no seu seguimento abriu-se na muralha a talporta nova ( 1551, 1578), ou porta da Rua da Palma, ou pos­tigo do jogo da pela, ou postigo à Rua No va da Palma quese abria ao jogo de pela ( 1625) (5) . Este troço da Rua Novada Palma ficava entre as traseiras da Igreja de S. Domingos,e o actual Largo Silva e Albuquerque e Travessa da Palma,ao Socorro.

Deve o seu nome a um João de Palma, que nessa ruamorava em casas suas em 1565, e nela possuia outra grandee valiosa propriedade, que alugava (6) .

Da banda de fora da cidade ficava o sítio do Jogo daPela, já assim chamado no meado do século XVI, e hoje repre­sentado pela Calçada do Jogo da Pela; era um pequeno alar­gamento da via-pública, ao qual ficavam contíguas pelo norte,as hortas do vale, ocupadas actualmente pelo troço da Ruada Palma e pelos grandes prédios construídos entre a Ruadas Atafonas, Largo do Socorro, Rua Fernandes da Fonsecae Rua da Mouraria.

C) S ummario, por C. R. de Oliveira, citação referente ao ano1551; na ed. de 1755, pág . 7.

1(' ) L ivro segundo do Tõ bo das Propriedades, foreiras ha Gamara,desta I nsigne Gidade de Lisboa collegidas, e relatadas pelo L icêciadoLvis Lovrenço, Iuiz do dito tomb o ( 1578) , fi. 159.

(' ) El ementos, etc., por E. Freire de Oliveira, vol. I, 1882,pág. 567; vol. III, 1887, pág . 166. Livro 2." do T omb o, já citado,fls, 159, 164 e 165.

(6) L ivro do Lançamento e serviço que a cidade de Lx:' fez aIIi R ei N osso Senhor, em o ann o de 1565, fI. 452-v. No Arquivo daCâmara Municipal de Lisboa, 327

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Esta via-pública perdeu aqui o seu nome antigo de Jogoda Pela, e foi incorporada municipalmente na Rua MartimMoniz.

A actual Calçada do Jogo da Pela é uma artena em esca­daria, que começa no lado ocidental do largo, extremo daRua Martim Moniz, e termina na Rua do Arco da Graça.

O motivo da denominação do sítio «Jogo da Pela» é in­tuitivo, e o barracão ou loja onde ele se jogava no século XVI

ficava encostado à muralha da cerca, da banda de fora, entreas duas torres que aí existiam, acima da porta nova que orase abriu no muro. Media 37 varas e 2 palmos, por 9 varase 1 palmo (41m,14 X lQm,12 ) C), e correspondia ao local ondeestá a garagem da firma Capristano & Ferreira, Ld. ", naRua Martim Moniz , n.OS 51 a 55, e Calçada do Jogo daPela, n.OS 1 e l-A.

Sousa Viterbo ( 1845-1910) diz que era um recinto azule­jado, que ele ainda conheceu (8) .

O prolongamento da Rua da Palma desde o Jogo da Pelaaté ao actual Largo do Intendente foi rasgado pelo meio dealmuinhas, em 1858-59, e recebeu o nome de Rua da Im­prensa. Esta denominação durou apenas quase um ano, poisque pelo edital de 1 de Setembro de 1859 foi trocada emRua Nova da Palma, sendo a rua incorporada no primeirotroço da via quinhentista que já tinha o mesmo nome (9) .

Em 1889 passou esta via-pública, de extremo a extremo,a chamar-se Rua da Palma (lO) .

C) T om bo das Propriedades foreira s à Câmara (1 578) , livro 2.°,fi . 165.

(' ) D epois do Terrem oto, por G. de Matos Sequeira, vol, III,pág. 458.

(') L isboa de lés-a-lés, por Luis Pastor de Macedo, voI. III, 1942,pág. 199 .

( 10) Deliberação camará ria de 18 de M aio de 1889, e edita l de328 8 de Junho do mesmo ano.

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MAPA ISíTIO DO MARQUÊS DE ALEGRETE EM 1807

ESf;ALA 1: I. 250

Ex trac to am plia do da planta top ográfic a d e Duarte J osé Fev a , levantad a ne st e ano , e publicad a em 1833

o qu arte irão de cas as qu e se vê ao cen tro d o mapa foi noutros te m po s um a horta do Co nvento de S . Vi cente

Ao sul , separada d ele pela R . de S . V ic.' " , es tava o demolido paláci o do M a rqu ês de Alegre te

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Uma das propriedades que houve necessidade de expropriare demolir para a abertura desta nova rua foi a Ermida deNova Senhora da Guia, a que adiante nos referiremos.

o convento de S. Vicente possuía umas almuinhas, dentroe fora do muro da cidade, e especialmente pertencia-lhe ahorta, ou parte da horta chamada de S. Vicente, no ter­reno comprendido entre as Ruas da Palma, Fernandes daFonseca, da Mouraria e Martim Moniz ( 11 ).

Da existência das propriedades do Convento de S. Vi­cente neste sítio resultou para a porta militar da cerca nova,que dava saída da cidade para os arrabaldes do norte, eque ficava fronteira à horta de S. Vicente, o nome de Portade S. Vicente, que passado um século após a sua construção( 1373) , trocou o nome em Porta da Mouraria, ou Porta deS. Vicente à Mouraria (12), e de que é seu representante actualo Arco do Marquês de Alegrete.

A primeira porta , como se vê na planta de Lisboa feitaem 1650 pelo arquitecto J. Nunes Tinoco, apresentava umaestrutura um tanto semelhante à das Portas de Santa Cata­rina.

Numa torre oca, com altura que se desconhece, e ocupandoum espaço sensivelmente quadrado , com cerca de 24 metrosde lado, rasgavam-se 3 aberturas, sendo dois postigos para abanda de fora, e um portal com portas de madeira para olado da cidade (13).

(") O Archeologo Português, vol. V, 1900, pág . 268 ; documentodo ano 1429 . - V. também o artigo do ilustre olisipógra fo Luís Pastorde Macedo, pu blicado em O/isipo, ano VIII , 1945, pág. 71, citandoum docum ento do ano 1468.

( 12 ) O Archeologo Português, vol, V, pág . 262. --'- O/i sipo, anoVIII, 1945, pág. 71.

330 ( 13 ) El ement os, vol, III, 1887, pág. 165. - vol , V, 1889, pág . 202.

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MAPA IIPLANTA ACTUAL (1946) DO SíTIO DO MARQUES DE ALEGRETE

ESCALA 1: 1.600

o traçado a vermelho indi ca- o demolido palácio ,e o cole ctor que atrave ssa o loca l

Estão também repre sent adas as alterações provi sóriasem via de exe cução nesse local , com o fim de melh orar

a circulação

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Livro 2. ' do Tombo ( 1578 ), fi. 156-v.Elementos, tomo VIII, pág. 54.V. citações em Os limites de Lisboa-pelo signatário, 1941,

Ao lado poente do postigo ocidental ficava uma torre pequenacom 4m,6 X 3m,3 de secção transversal (14).

Para a câmara interior da torre tinham serventia váriosvizinhos, e sobre ela havia uma casa pertencente ao viscondede Ponte de Lima, que na quaresma lhe servia de tribunapara o paço (capela da procissão do Senhor dos Passos)( 1674) ( 5

) .

Era a porta da Mouraria um dos locais onde, no século XVI,

e provàvelmente antes e depois, se cobravam os impostos deportagem das mercadorias e comestíveis que por ela entravam,impostos que correspondiam sensivelmente ao que depois sechamou imposto ou direito de consumo ( 6

) .

Em 1674 propôs a Câmara que se rompesse a Torre dasportas da Mouraria, com um arco que tenha capacidade depassarem coches, e havendo tido deferimento esta proposta, éprovável que a obra fosse logo executada, datando assim de1674, ou de pouco depois, o arco que lá existe ainda ( 194.6).

Sobre o arco, da banda do sul, conserva-se ainda, embe­bida na parede, a lápida em louvor do mistério da ImaculadaConceição, mandada colocar pelo Senado da Câmara em obe­diência à Carta Régia de 28 de Março de 1618 ( 17) .

O prédio do Arco pertence ainda à herança dos Condesde Tarouca, mas está condenado a ser demolido para o melho­ramento da circulação pública no local.

(")(" )( 16 )

pág. 7.( 17 ) Elementos, etc ., vol, II, 1885, pág. 411. - Conquanto a con­

sagração do Reino de Portugal à Virgem Maria tiv esse sido feitapor D. João IV em 25 de Março de 1646, as várias lápides comemo­rativas não foram mandadas colocar por este, pois que já lá estavamdesde o tempo do dominio filipino. - V . Nosso S enh or dos Passos da

332 Graça, pelo P " Ernesto Sales, 1925, pág. 114, nota.

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D esen ho pena d e José Jorge A íonso Nogueira ,

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-" .".------."."......,-.- -r-c;--- ,.;~".~

FACHADA S UL DO PALAC IO DO MARQUÊS DE ALEGRETED esen ho à p ena d e Jose Jorge A fon so Nógueíra ,

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, '

FA CHADA OR IE NTAL DO PALÁCIO DO M ARQ U ÊS DE ALEGRETE, sobre a Ru a da M ou raria.Por cim a do po rtal vê-se o brasão de arm as da famí lia Teles da Silva

D esen ho à p ena de 10sé '[o rge A / m IJo N ogu eira ,

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Sí T IO DO .\ \ARQ U r::S D E A LEG R ETE. co m o Ar co . a fach ad a do Palácio q ue dei ta va sob re a R ua d a l\lo ur a ria.c parte d a q ue olhava pa ra a Rua .\la rt im M oni z

Cliché de Ed , Port uca t ,

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Para a rua que começava na porta mencionada, e quese dirigia para norte, resultou o nome da Rua da Porta deS. Vicente, datando a sua citação mais antiga do ano 1404 (1S),

ou seja de 29 anos depois da construção da porta .

Posteriormente, a denominação da rua passou a ser RuaDireita da Mouraria (desde 1545) , ou também , simplificada ­mente, Rua da Mouraria (19) .

No sítio do Marquês de Alegrete existiu nesta rua, no localdo prédio n.?" 8 a 16, um outro prédio, onde estava cons­truída a capela do Passo da Mouraria (da procissão dos Passosda Paixão de Jesus) . Foi esta construída cerca do ano 1702,no mesmo sítio onde existia um antigo nicho, que devia datarde 1622. O Passo ficou arruinado pelo terramoto de 1755, foireconstruído , em 1780, expropriado pela Câmara Municipal edemolido em 1908.

Na mesma parede da Capela do Passo, do lado direito ousul, esteve embebida até 1901 a lápida com a inscrição come­morativa da construção da cerca fernandina , já muito repro­duzida e conhecida (20) .

Demolido o prédio, foi a lápida novamente embebida nafachada do que em sua substituição se construiu, tornejandopara as Escadinhas da Saúde . Ficou por cima da porta n.? 12,com um aditamento, numa lápida encastrada por baixo daprimeira, com os seguintes dizeres : Local onde esteve estainscrição até 1901.

( IS ) O A rchcologo Portugu ês, vol. V, 1900, pág . 262.( ]O ) Suml1lario, por C. R . de Oliveira, ed. de 1755, pág. 8. Aí

está moureira por mouraria.( W) V. N osso S enh or dos Passos da Graça ( de Lisboa), pelo

p. r Ernes to Sales, 1925 , pág. 115. 333

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Ao lado deste prédio abriu-se em 1900, num terreno perten­cente a António Caetano Macieira, uma via-pública em esca­daria, trepando pela encosta até à Rua do Marquês de Pontedo Lima. Esta artéria recebeu a denominação de Escadinhasda Saúde, por deliberação camarária de 17 de Maio de 1906.

Outra rua que nos mesmos terrenos se abriu, entre as casasencostadas à muralha de D. Fernando, da banda de fora, e ashortas do Convento de S. Vicente ao norte dela, antecessora daactual Rua Martim Moniz, era primitivamente designada pelasua situação topográfica : rua que vay das ditas portas de

S. Vicent e para a ponte que se hora novamente fez sobre odito rego - rua que vai da dita ponte (ponte nova) para ojogo da pela... (21).

Esta rua, nos séculos XVI a XVIII, era também conhecidapela denominação Rua dos esparteiros, artífices que nela mo­ravam (22).

Posteriormente recebeu o nome de Rua de S. Vicente (23)(à Guia, aditamento .posterior ao terremoto ), modernamentemudado para a Rua Martim Moniz (24 ) .

Na Rua Mart im Moniz existiu um chafariz, construído por1779, aproximadamente no sítio do prédio que esquina paraa Rua da Mouraria, ou mais provàvelmente no das lojas doprédio contíguo, com os números de polícia 12 a 14-B. Para

(" ) L ivr o 2.· do T om bo já citado, ( 1578 ), fIs. 155 e 158.("') Summario, por C. R. de Oliveira, ed. de 1755, pág. 8 ­

Corograjia Portuguesa, pelo P. · Carvalho da Costa, ed. de 1712, vol. III,pág. 409. - L ivro do lançamento, etc., 1565, fi . 525-v . - Aqui é avia pública designada por: R ua da Ponte do jogo da Pela para S am ' Armacom o terreiro da Porta de Sans Bastião da M our.".

("") Mappa de Portugal, por J. Baptista de Castro, vol. III,1763, pág. 439.

C") Del iberação da Câmara M unicipal, de 11 de Fev ereiro e334 edital de 14 de Outubro de 1915.

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ele foi canalizada a água que abastecia o chafariz do Neptunodo Rossio, mandado demolir em 1786. Desta rua foi o chafariztransferido em 1836 para a Carreirinha do Socorro.

A pedra com a caravela da cidade, que estava no muro dochafariz, foi embebida no pano da janela de peito do 2.0 andar,que fica superiormente à porta n.o 6 do prédio que foi cons­truído no local, ou ao lado daquele onde estava o chafariz.

Na mesma rua ainda se via, nos meados do século passado,uma ermida dedicada a Nossa Senhora da Guia, que ficavasituada no lado norte da rua, mesmo em frente do primitivotroço da Rua da Palma. Na actual Lisboa o seu local era daRua da Palma, a meia distância dos dois prédios que tornejamdesta rua para a de Martim Moniz.

Foi a ermida começada a construir em 1757 e inaugu­rada em 8 de Setembro de 1759, tendo sido demolida em 1859,para abertura do troço setentrional da Rua da Palma até aoactual Largo do Intendente.

Nela esteve, durante 4 anos, desde 1792, a paroquial deNossa Senhora do Socorro.

Finalmente, a influência do nome do grande propnetariodo sítio, o convento de S. Vicente, manifestou-se ainda noutradenominação local: Rua dos Canos de S. Vicente ( 1551) (25),ou Canos da Porta de S. Vicente (1426, 1466) (26 ), depoissimplificada para Rua dos Canos; saía ela do Largo dos Canosou Largo da Rua dos Canos, que depois se denominou LargoSilva e Albuquerque (27).

C"') Summario, ed, de 1755, pág. 8.e') o A rcheologo Português, vol, V, 1900, pág . 223.( ") Deliberação camarária de 13 de Agosto de 1885 e edital de

20 do mesmo mês. - José Maria da Silva e Albuquerque foi pro-pugn ador do ensino primário gratuito em Lisbo a. 335

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Nesta regiao da cidade, contígua pelo sul ao Largo da Ruados Canos, havia no século XVI , além da Rua dos Canos,outras vias-públicas com denominações, algumas das quais,salvo as categorias, chegaram até aos nossos dias. São as se­guinte s:

a) - Rua dos Alamos (ou alemos ), que perdura ;b) - Beco do Alamo, que perdura ;c) - Rua ou Beco da Póvoa, onde viviam muitos vma­

greiros ( em 1565) , do que resultou passarem a cognominá-laRua dos Vinagreiros, e actualme nte Rua dos Vinagres. A ci­tação mais antiga conhecida do sítio da Póvoa é do ano1347 (28);

d) - Beco da estalagem das moças, ou do mouco agoraBeco da Póvoa, se não é acaso um pequeno beco sem nome,ent re a Rua do Arco do Marquês de Alegrete e o Beco daPóvoa (29) .

No troço do muro da cerca que estamos consider ando, ent rea Porta da Rua da Palma e a de S. Vicente ou da Mouraria,aberta numa torre da forti ficação, havia em 1650, conformemostra a planta de Lisboa de J. Nunes Tinoco, uma outrapequena torre adossada à muralha, mesmo fronteira à RuaSilva e Albuquerque, a qual foi demolida , com a muralha, paraa construção do palácio.

Há referências e medidas desta torre nas confrontações deumas casas no século XVI (30) .

C'S) O A rcheologo Português, vol. V, 1900, pág. 259 .C''') Confronte-se: S ummario, de C. R. de Ol iv eira ( 1551) , ed, de

1755, pág. 7. - T ratado da M agestade, Gr andeza e Abastança daCidade de L isboa, por João Brandão (1 552 ) , ed. de 1923 , págs. 228e 229 . - Livro do L ançamento, etc. ( 1565) , fIs. 437 e 43 8. - Coro­grafia Portuguesa, pelo P: A. Carvalho da Cos ta, vol. III, ed. de1712 , pág. 394.

336 ('lO) L ioro 2.° do T omb o ( 1578 ), fl s. 155, 158 e 159.

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Do postigo da Rua da Palma para poente, até à Rua doArco da Graça, havia, também adossadas à muralha, outras2 torres, das quais se conserva a mais ocidental, próxima daúltima rua mencionada (31).

o córrego do vale que começava nas alturas do Areeiro,seguia o Regueirão dos Anjos, passava em vala descobertapelos terrenos das hortas, desde o actual Largo do Intendenteaté à Rua Martim Moniz ; aí atravessava obliquamente o sítioonde se construiu o palácio, como está marcado na nossaplanta II do local, e continuava no colector ou cano da RuaSilva e Albuquerque, antigamente Rua dos Canos de S. Vi­cente ou da Mouraria.

Quando no século XVI a urbanização atingiu o local, queera, como dissemos, baixo e alagadiço, reconheceu-se a ne­cessidade da construção duma ponte, para se atravessar a péenxuto em qualquer tempo, de uma para a outra encosta dovale, isto é, do Monte do Castelo para o de Sant'Ana .

Por isso em 1562 ( 32 ) deliberou-se construir sobre o regoou cano, da parte de fora da cidade, uma ponte de pedra,entre a Rua da Mouraria e o Sítio do Jogo da Pela , a quejá temos feito referência, e que ficava no leito da Rua MartimMoniz, em frente do prédio que tem os números de polida12 e 14-B (33 ) .

Parece que essa ponte tinha degraus de acesso, de um eoutro lado, e guarda ou anteparos.

Não deve ter durado muito tempo com a categoria deponte.

Quando se fez a demolição do palácio encontrou-se o colec­tor de esgotos, como se vê na nossa planta II do local ; aparte descoberta tinha secções e estrutura variáveis na sua

(" ) Livro 2. ' T ombo (1 578 ), fls. 164 e 165.( " ) El em ent os, etc. , tomo I , 1882, pág. 567.("" ) Li vro 2.0 do T ombo ( 1578) , fls. 155, 158 e 163 .

22337

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extensão; o troço sul era abóbada com aduelas de cantaria esoleira direita, fig. 1; o imediato para o norte tinha menorsecção, abóbada de alvenaria e tijolo e a soleira plana, fig. 2 ;o terceiro era de alvenaria, com secção menor e ovoide, fig. 3.

SECÇõES TRANS VERSA IS DO AQUEDUTO OU COLECTOR QUE ATRA­VESSA O SíTIO DO DEMOLIDO PALÁCIO DO MA RQUES D E ALEGRE TE

ESCALA 1 : 50

F ig. 1

Secç ão de CC pa ra- o sul

Fi g. 2

Sec ção no tr oço BB-BB

F ig. 3

Secção de AA para o norte

Envolvendo em parte o terceiro troço de colector, encon­traram-se restos de muros que pertenciam possivelmente aosencontros da ponte, no interior dos quais o cano foi construído

338 de novo.

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Pela Rua da Palma abaixo desce um colector antigo de es­gotos e das águas da chuva, c um outro colector moderno,obra importantíssima da engenharia municipal, concluída emOutubro de 1939 (34).

Os dois colectores encontram-se na altura da Rua MartimMoniz , e daí continua um troço único, a inserir-se no canoda Rua Silva e Albuque rque, perto da terminação norte destarua no largo do mesmo nome.

Descrito o SItiO, passemos a dar algumas noncias quepudemos colher acerca do palácio e dos seus sucessivos pro­prietários.

No terreno onde veio a construir-se o Palácio, junto do

muro , fora das portas de sam Vi cente na mouraria, antre asditas portas e a ponte noua que se hora fez sobre o rego doscanos da M ouraria ou na rua publi ca que vem da porta de samVicente pera s.» A na e joguo da pella, tinha a cidade em1578 três chãos:

No primeiro, aforado em 4 de Janeiro de 1501 a Aires deAlmada, estavam construídas umas casas grandes que mediam24 varas ( leste-oeste) , por 18 varas e 1 palmo (do poente)e 19 varas e 2 palmos (do levante ) (2601 ,4 X 20m e 21m ) .

O segundo, ainda não edificado, e cercado de parede, fi­cava separado do primeiro por uma serventia; media 11 varas(nan e-sul) , por 12 varas folgadas (ao sul) , e 6 varas ( aonane) , ficando esta pane contígua à ponte ( 1201,1 X 1301,3 e601,6 ); fora aforado em 10 de Março de 1564 a Francisco Anri­quez, fidalgo da Casa de el-Rei .

O terceiro, junto ao postigo do jogo da pela que vae peraa rua nova da palma entrand o por ele á mão esquerda, media

C" ) P ode ver-se a descrição desta obra em Revista Municipal,1.0 ano, n." 1, p ágs, 51 e segs. 339

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6 varas e 2 palmos (norte-sul), por 13 varas (leste-oeste)(7mX 14m,3 ) ; estava edificado, e o chão das casas tinha siàoaforado a Antão Estevez em 14 de Fevereiro de 1539 (3") .

Por sucessivas heranças e vendas, os dois primeiros talhõesvieram à posse de descendentes de Tristão da Cunha (3") , nave­gador e Embaixador em Roma.

Estas casas fizeram parte do dote de D. Mariana de Men­donça, trineta de Tristão da Cunha , casada com Fernão Telesde Meneses, 1.0 Conde de Vilar Maior, e mãe de ManuelTeles da Silva ( 1641-1709), 2.° Conde de Vilar Maior, e 1.0Marquês de Alegrete, que nelas nasceu.

A Torre da Porta da Mouraria desaparecera havia já quaseum quarto de século quando Manuel T eles da Silva fez de­molir até aos alicerces a muralha da cerca, a torre que a elaestava adossada, e as casas dos seus avoengos.

Neste local começou por 1694 a construir o sumptuoso palá ­cio cujos restos todos nós conhecemos; mas estando as obrasparadas em 1698, por escassez de recursos pecuniários, Fr.Luís Teles, Arcebispo de Évora e prim o do fundador, empres­tou-lhe o dinheiro necessário para o seu prosseguimento (3' ) .

A descendência de Manuel T eles da Silva, e os sucessivosproprietários do palácio foram os seguintes:

Fernão Teles da Silva ( 1622-1734) ; filho do fundador ;3.° Conde de Vilar Maior, e2.o M arquês de Alegrete.

( ",) L ivro 2." do T omb o (1 578 ), fls. 155, 158 e 159.( " ) Em 1625 pertenciam a Simão da Cunha, casado com D . Joana

de M endon ça . - Elem entos, vol. III , pág. 165.340 (") B rot éria , vol. 36, 1943 , pág. 483.

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Manuel Teles da Silva (t1736 ); filho do antecedente;4.° Conde de Vilar Maior , e3.° Marquês de Alegrete.

Fernão Teles da Silva ( 1704-1759) ; filho do antecedente ;5.° Conde de Vilar Maior, e4.° Marquês de Alegrete.

Manuel Teles da Silva ( 1727-1789) ; filho do antecedente ;6.° Conde de Vilar Maior, e2.° Marquês de Penalva.

Fernão Teles da Silva e Meneses ( 1754-1818) ; filho do ante­cedente;

6.° Conde de Tarouca, e3.° Marquês de Penalva.

Luís Tele s da Silva Caminha e Meneses ( 1775-1828) ; filhodo antecedente;

5.° Marquês de Alegrete, e7.° Conde de Tarouca.

Fernando Teles da Silva Caminha e Meneses ( t 1812) ;filho do antecendente ;

8.° Conde de Tarouca.

Fernando Teles da Silva Caminha e Meneses ( 1813-1893) ;irmão do antecedente;

9.° Conde de Tarouca, e4.° Marquês de Penalva.

Eugénia Teles da Silva Caminha c Meneses ( 1860-1946) ;neta do antecedente;

10.0 Condessa de Tarouca. Casada com Sebastião Pe­reira da Silva de Sousa e Meneses, conde de Tarouca ( 38) .

( h) Ex traído do Livr o Segundo dos B razões da S ala de Si ntra deAnselmo Braamcamp Freíre, 1927, p ágs, 114 a 119, e outras , e comple­tado com ínf ormações do Académico P " Carl os da Sílva T ar ouca, a qu emtestemunhamos o nosso agra decimento. 341

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Entre os sucessivos propr iet ários do palácio contam-se figu­ras ilustres da história de Portugal, como sejam embaixadores,estadist as, militares, escritores, historiadores, etc.

O brasão de armas dos Marqueses de Alegrete, que foireproduzido em pedra nos frontões dos portais do Palácio dasPortas da Mouraria, era esquartelado; no 1.0 e 4.° quartéis:Teles (de ouro pleno) ; no 2.° e 3.° Silvas (de prata com umleão de púrpura lampassado de azul ) ; encimado pela coroade marquês ; e tudo assente numa cartouche (39) .

O palácio ocupava uma área sensivelmente rectangular, com48m X 24m ,5, e tinha duas fachadas idênticas, sul e nort e, res­pectivamente sobre o Largo Silva e Albuquerque e sobre arua que separava o palácio das hortas do vale, que se regu­larizou ou alargou por essa época, e que foi a desaparecidaRua Martim Moniz. Uma terceira frent e, onde estava a en­trada principal, era voltada para o nascente, sobre a Rua daMouraria ; a quarta parede do contorno, a ocidental, pareceque não tinha vãos abertos, e ficava encostada a outro prédio,que foi demolido em 1936 CD) .

O palácio, como se reconhece pelos desenhos e fotografiasque acompanham este artigo , devia ter tido, na sua origem,um andar nobre sobrepujado por outro com mezzaninos, porcima dos dois que chegaram até aos nossos dias, atingindopossivelmente a altura do prédio sobre o arco ao lado doPalácio, que se vê no desenho do alçado sul.

(19) B rotéria, vol. 31.°, 1940, pág. 576, e informação do nossoilustr e confrade Ma rquês de Sam Payo, a qu em agradecemos a suagentileza.

(4') Est e prédio foi expropriado judicialmente a D . Amélia deJ . Formigai de Morais, por sentença de 10 de J aneiro de 1935, tendo- se

342 concluído a demolição em 18 de Jan eiro de 1937.

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PLANTA DO PAVIM ENTO TI~RREO DO PALÁCI O DO MA RQUftS D E ALEG RET E

ESCALA 1:500

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Esse andar ou andares, de que se nota no desenho e foto­grafia o vesúgio duma parede mestra divisória, sobressaindoacima do telhado, cairam pelo terremoto de 1755 (41), e areconstrução do prédio posteriormente a este cataclismo deixou-omutilado e deformado, ressentindo-se da pressa com que foramfeitas as obras, a fim de se poder tirar dele imediatamente algumrendimento.

o prédio (42) era constituído por três corpos separados porparedes mestras; cada um dos laterais tinha, no andar térreo,um portão nobre em cada uma das fachadas norte e sul; ooriental possuia mais um portão idêntico, que era o da entradaprincipal, na Rua da Mouraria.

Todos os portais eram sobrepujados por frontões, ao centrodos quais ficavam as pedras de arma s da Casa Teles da Silva,mas só a do portal da entrada principal durou até à demoliçãodo palácio. As da frente sul, como se vê no desenho destafachada, foram tiradas, para, no seu lugar, se abrirem umasmesquinhas janelas quadradas, que ficaram emolduradas pelosornatos do brasão, que permaneceram. As da frente norte jáhaviam desaparecido há muito , com os frontões que encima­vam os portais.

No corpo central do palácio ainda se reconheciam, na fachadasul, as 8 janelas de sacada nas sobrelojas, e as outras tantasprimitivas frestas no rés-da-chão.

Na fachada norte a reconstrução deixou quase irreconhe­cível a arquitectura original, que devia ser igual à da fachadasul.

( U) Hi stária Un ioersal dos T'erremotos, por J. J. M oreira de Men ­donça, pág. 134, e outros autores cont emporân eos.

(") Acompanhe-se esta descrição com o exame dos desenhos da344 planta e alçados, e da fotograf ia do palácio.

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A planta do rés-do-chão do palácio mostra no corpo lateraldireito o vão do extenso átrio, ao qual se seguia o da caixa daescada principal, há muito desaparecida, que era de mármore,assim como os guarnecimentos dos vãos das portas que nelase abriam ; e no esquerdo a cocheira, com marcos abatidos quesuportavam o pavimento duma grande sala do andar das sobre­lojas, onde fora a biblioteca .

O andar nobre devia ser dividido em grandes e luxuososcompartimentos, como era habitual nos antigos solares; masnão existem elementos que nos permitam formar uma ideiada sua distribuição.

Algumas salas deviam ter sido forradas com panos de raz,que foram oferecidos ao construtor do palácio, 1.° Marquês deAlegrete, pelo seu primo Fr. Luís Teles, na mesma carta de31 de Julho de 1698 em que lhe oferecia pagar as obras dopalácio. Ignora-se o seu paradeiro (43).

Também a Casa Alegrete possuía uma rica e numerosa colec­ção de quadros , que resistiram ao terremoto de 1755 (44).É tradição na família, que esta colecção de quadros, ou partedela, esteve no Palácio da Porta da Mouraria. Também se con­serva ainda a rica livraria, que o terremoto poupou.

O prédio, como aconteceu a muitos outros palácios, depoisda sua ruína em 1755, deixou de ser habitado pelos seus pro­prietários , e o que dele restou foi interiormente dividido e subdi­vidido, como Ultimamente se via nas lojas e sobrelojas, com ofim de ser alugado para estabelecimentos comerciais e industriaise habitação de famílias proletárias.

( 43 ) B rot éria, vol. 36.°, 1934 , pág. 483.

( 44 ) A relação desses qu adros foi publica da em 1945, por àil i­gêucia do Rev." P ! C. da Silva T ar ouva, pelo In stituto par a a Alt aCu lt ura, com o título: In ventário das pinturas, qu e em 1758 possuiaa Casa dos M arqueses de Penalva feito por Fran cisco Vieyra L usitano. 345

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A Câmara Municipal de Lisboa, carecendo do terreno dopalácio para melhorar a circulação pública naquele sítio, encetouem 1932 as negociações para a sua aquisição amigável, mas tendoestas falhado, promoveu a expropriação por utilidade pública,sendo a indemnização fixada por sentença do 2.0 Tribunal Cívelda Comarca de Lisboa, confirmada por assento do SupremoTribunal de Justiça proferido em 16 de Dezembro de 1932,tendo-se feito a adjudi cação à Câmara pelo mencionado TribunalCível em 9 de Janeiro de 1946.

A importância arbitrada ao palácio foi de 753 018$00; e foide 225905$40 a das indemnizações a pagar aos 14 inquilinosindustr iais e comerciais que no prédio estavam instalados aotempo da avaliação.

A demolição do prédio começou nos primeiros dias de Agostode 1946, e durou cerca de dois meses.

Durante este trabalho não se encontrou vestígio algum, nemdas torres, nem da muralha fernandina, que haviam sido demo­lidas até aos alicerces, para sobre elas se levantar o muro dafachada do palácio sobre o Largo Silva e Albuquerque. Asalvenarias eram de qualidade muito inferior, o que facilitougrandemente a demolição.

Descobriu-se o colector que atravessava o terreno do prédio,no sítio que vai indicado na nossa planta II do local, e o troçoque parece ter feito parte da ponte de cantaria que foi construídano século XVI , antes do palácio, como dissemos. Foi vedado comalvenaria, do lado de montante.

o brasão heráldico que sobrepujava o portal do lado daRua da Mouraria foi tirado em 23 de Setembro, e nesse dialevado para o Museu Municipal, no Palácio Galveias.

As pedras de cantar ia deste portal, assim como as do portalesquerdo da fachada sul, foram marcadas e numeradas parauma possível reconstituição, e depositadas provisoriamente numa

346 arrecadação de material da Câmara, na Rua Correia Teles .

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Aproveitaram-se alguns azulejos do século XVIII, que foramarmados em painéis, e levados para o palácio Galveias; e paraeste Museu foram levadas também algumas poucas moedas,relativamente recentes, que se encontraram perdidas ou escon­didas em vários sítios do edifício.

o terreno foi terraplanado, acabando-se este trabalho em2 de Outubro.

No largo assim formado ficaram incorporadas a Rua Mar­tim Moniz, o Largo Silva e Albuquerque, e um pequeno troçoda Rua da Mouraria. O público, antes da oficialização do nome,começou a chamar-lhe Largo Martim Moniz .

O arranjo do local e o assentamento dos carris da Com­panhia dos Eléctricos, começaram pouco depois da demolição,segundo o projecto que se vê na nossa planta II do local.

Em consequência da necessidade urgente de facilitar a cir­culação, o arranjo a que se procedeu é provisório, porque aremodelação definitiva do local, já estudada nas suas linhas gerais,acha-se dependente de muitas e dispendiosas expropriações, queterão de se ir fazendo sistemàticamente.

Outubro de 1946.

347

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ICONOGRAFIA DE LISBOA

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Iconografia de Lisboa (*)

o empenho de tornar conhecidas as belezas das cidadese de outras povoações estimulou, após a descoberta da artetipográfica e da gravura em madeira, e seguidamente em cobre,no século XVI , os artistas desenhadores e gravadores , a ilustra­rem os livros descritivos dessas terras , com estampas represen­tando vistas panorâmicas e trechos arquitectónicos de cidades,povoações e edifícios, tornando assim mais atraentes e inte­ressantes os textos descritivos.

Portugal não ficou esquecido nessas publicações, tanto maisque os olhos da Europa estavam então fixados neste povo, quealargava os âmbitos do velho mundo com as suas descobertase conquistas .

Era então a cidade de Lisboa muito mais pequena do quehoje a conhecemos. Já no século XVI ela tinha transposto acinta de muralhas com que a havia cingido, de 1373 a 75, el-reiD. Fernando, e havia-se alargado até à Esperança, para oocidente, até Santa Clara, para o oriente, pelos montes da Graça,da Penha de França e de Sant'Ana, para o norte , e bem assimao longo duma faixa marginal do Tejo, deste Alcântara atéXabregas .

( * ) Revista Municipal, n ." 32, 1947, págs. 5-1 8. 351

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Foi porém depois do terremoto do 1.0 de Novembro de 1755,e ainda mais durante o século XIX, que a cidade ampliou consi­deràvelmente o seu âmbito do lado da terra, de forma queneste trabalho consideraremos cidade de Lisboa toda a regiãoque constitui actualmente (1946 ) o Município de Lisboa, quese estende desde as antigas portas de Algés até Olivais, ao longoda linha marginal do Tejo, e desde este rio até Benfica, Lumiare Charneca para o norte, compreendendo portanto as antigaspovoações de Belém, Alcântara, Ajuda, Benfica, Carnide, CampoGrande, Lumiar, Ameixoeira, Charneca, Encarnação, Chelas,Olivais e Xabregas.

A mais antiga representação iconográfica de Lisboa conhe­cida consta dum selo de cêra da Câmara de Lisboa, do tempode D. Afonso IV, pendente dum documento da era 1390(A. D. 1352), que existiu no Arquivo Nacional da Torre doTombo, em que se vê a cidade representada esquemàticamentecom as muralhas e torres da cerca moura .

Esta vista só é conhecida pela cópia que dela se faz paraacompanhar o tomo IV ( 1738) da História Genealógica daCasa Real Portuguesa, por António Caetano de Sousa.

Depois desta, as primeiras representações iconográficas dacidade foram feitas nalguns portulanos em pergaminho, dosséculos xv e XVI, que se guardam em bibliotecas e museusestrangeiros, e que têm sido reproduzidas e publicadas em épocasrecentes.

São todas vistas esquemancas em que figuram edifícios con­vencionais, e que tinham por fim, como os desenhos, mostraro seu respectivo local nos ditos mapas geográficos.

De mesma época se conserva uma vista esquemática dacidade numas tapeçarias conhecidas por T apeçarias da tomadade Tunis , que se guardam em Espanha .

É dos princípios do 2.° quartel do século XVI ( 1529) um352 quadro a óleo, sobre tábuas, que contém como episódio de

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assunto religioso (o desembarque em Lisboa dos Santos Már­

tires, Veríssimo, Máxima e Júlia ), a vista mais antiga dumedifício de Lisboa, o palácio real da Ribeira . É propriedade

dum particular.Como pequenos trechos de edifícios de Lisboa, em pintura

a óleo, há os portais das igrejas da Madre de Deus, num

quadro (1509 ) que representa a chegada a este convento, dasrelíquias de Santa Auta, e da Sé, num painel que contém arepresentação de Santo António intercedendo para livrar o seupai, da forca (Z.a metade do século XVI ) . Estão ambos estesquadros em museus de Lisboa.

Afora as mencionadas, não se conhecem outras pinturas a

óleo, com motivos da cidade, até aos princípios do século XVII.

o desenho em papel mais antigo que se conserva com assunto

referente a Lisboa é o da batalha da ponte de Alcântara, 1580,que deve ter sido feito pouco depois do acontecimento que

comemora. Está emoldurado num gabinete da Biblioteca Nacional

de Lisboa .

Do princípio do século XVI datam as mais antigas vistaspanorâmicas da cidade, que se conhecem já com certo cunho

artístico e característico, de exactidão. Consistem elas em duasiluminuras em pergaminho, quase idênticas, guardadas em museus,que felizmente têm resistido ao estrago do tempo e à incúriados homens.

A primeira dessas vistas panorâmicas encontra-se na Chro­nica de D . Affonso Henriques, por Duarte Galvão (1505 ),códice manuscrito que pertenceu ao Conde de Castro Guima­rães, mandado editar pelo mesmo conde em 1917, e deixadoem testamento à Misericórdia de Cascais. Está no Museu CondeCastro de Guimarães, em Cascais.

A segunda pertence a uma História Genealógica da CasaReal de Portugal, iluminada por Simão Beninc (entre 1530 e 353

23

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1534), e que, tendo sido encontrada ou comprada em Portugalem 1842, foi adquirida depois pelo British Museum de Londres,onde se guarda.

Acha-se reproduzida integralmente em fototipias, num albumcom o titulo Ahnemreihen aus dem Stambaum des Por­tugiesischen Ko nighauses, editado em Sturtgart por JuliusHoffmann, s/d.

Tanto a segunda como a primeira destas vistas têm sidoreproduzidas modernamente em várias obras, e foram publi­cadas, em grande escala, num artigo do autor, inserto emArqueologia e Hi stória (vol. V, 1928, pág. 101), acompanhadasdum texto descritivo.

Depois destas, a primeira vista panoramlca de Lisboa constado livro Da Fabrica que falece ha Çidade de Lysboa, porfrãcisco dolãda ( 1571), estampa IV, desenho em papel. Estelivro guarda-se na Biblioteca da Ajuda, e era pouco conhecidoquando em 1879 foi publicado o texto, e depois, em 1929, otexto com as estampas.

São numerosos os livros que até ao fim do século XVIIl sepublicaram no estrangeiro, ilustrados com vistas de cidades, deedifícios, e de trechos pitorescos de paisagens.

Mas, pelo que respeita ao nosso país, pode dizer-se quequase nada nele se fez a tal respeito, sendo por isso devidaa estrangeiros, e não a nacionais, a divulgação da vista pano­râmica e as de alguns edifícios da nossa capital, sendo taisdocumentos gráficos os únicos que nos permitem ter conheci­mento de algumas coisas desses remotos tempos, hoje desapa­recidas.

Desde que se começaram a desenhar e a publicar vistas pano­râmicas de Lisboa, e até ao terremoto de 1755, a cidade man­teve um aspecto estacionário, e essas vistas foram tomadas quase

354 todas do Tejo , isto é do sul para o norte, supondo o obser-

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vador colocado ora num barco fundeado no Tejo, perspectiva

rasante, ora num ponto alto acima do rio. perspectiva aérea ou

a vôo de pássaro.As primeiras tiveram manifestamente por base ou original

as iluminuras em pergaminho já citadas, dos princípios do sé­culo XVI, ou qualquer desenho ou quadro, que se perdeu ouse desconhece.

Como o ponto de vista fica situado mui pouco acima doTe jo, não é fácil distinguir as ruas, mas somente o Rossio eo Terreiro do Paço, no meio da aglomeração de casas e dosedifícios principais da cidade ali representados, e que é pos­sível identificar com segurança.

As segundas vistas, em perspectiva aérea, foram evidente­mente compostas originalmente sobre uma planta topográficada cidade, que se desconhece, e nelas acham-se figurados osedifícios em perspectiva nas ruas e praças da cidade, fàcilmenteidentificáveis. Teve porém necessidade o desenhador, para esseefeito, de deformar consideràvelmente a planta, a fim de podermostrar visiveis vias-públicas e edifícios, que, para o obser­vador, estavam realmente ocultos pelas dobras do terreno. Nãopode, deixar de reconhecer-se que o seu primeiro autor eraum esplêndido artista.

Não existe, anteriormente aos fins do século XVIII, vistaalguma panorâmica de Lisboa tomada, nem do Castelo deS. Jorge, que tanto atrai hoje os amadores fotográficos, nemdo sítio de S. Pedro de Alcântara ou do monte de S. Fran­cisco. que são também pontos de observação muitíssimo pito­rescos, nem de qualquer outro sítio donde já então se podiamdisfrutar as belezas panorâmicas da capital.

As duas vistas publicadas mais antigas que se conhecem,dos dois tipos mencionados, foram gravadas em cobre, na obraque o colonense Jorge Bráunio, primeiro só, e depois asso­ciado com outros, editou em latim e noutras línguas, com as 355

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visitas e descrições das cidades do mundo, em 6 volumes, pu­blicados de 1572 a 1618, tendo os prim eiros sido reimpressosvárias vezes.

A vista rasante L isbona foi publicada no 1.0 volume daobra, o qual tem por título Civit ates orbis T errarvm - Liber

primvs - Georgivs Bravn Agr ippinensis MDLXXII, e à es­tampa de Lisboa, que é a I ." do álbum, deve atribuir-se por­tanto a data 1572.

A vista em perspectiva aérea, Olissippo aparece no 5.° volumeda mesma obra, que tem por título Urbivm prcecipvarvm mvn di

theatrvm qvintvm - Auctore Georgie Bra·vnio Aggrippinate.

A esta vista, que é a 2.a do livro, deve atribuir-se a data 1593,em que, segundo consta, este volume foi pela primeira vezpublicado.

É possível que a planta topográfica da cidade sobre queesta visita foi delineada, como dissemos, tivesse sido levan­tada pelos emissários de Bráunio, que aqui teriam vindo, comoa outras terras, encarregados da missão especial de coligiremos elementos topográficos das povoações e as vistas dos edi­fícios, e de os combinarem para obterem os efeitos perspec­tivos que procuravam alcançar .

a facto é que o desaparecimento ou desconhecimento detal planta original do século XVI, faz com que se atribua aprioridade das plantas de Lisboa à Planta T opográphica daCidade de Lisb oa, levantad a em 1650 pelo arquitecto JoãoNunes Tinoco, cujo paradeiro também se desconhece, mas deque exístem cópias litografadas, mandadas tirar em 1853 e1884 pelo general Eusébio C. Cordeiro Pinheiro Futtado, quefoi um dos seus possuidores nos meados do século passado.

Além dos dois tipos de vistas panorarrucas, razantes e emperspectiva aérea, originais de Jorge Bráunio, como mencio­námos, um outro tipo, derivado do rasante, foi fantasiado por

356 um gravador francês Antoine Aveline ( 1691-1743), no qual os

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montes das Chagas e de Santa Catarina se acham separados,com a forma de dois montículos piramidais, e onde se vê umalarga rua com dois lanços angulares, morrendo no Tejo, e la­deada por muros de suporte que nunca existiram.

Por ter servido de original para várias vistas panorâmicas,por sinal bastante incorrectas, que em Lisboa se publicaramdurante o século XIX, mencionaremos uma vista perspectivarasante da cidade, gravada em 1756 por Friederich Schoene­mann, que, conquanto com data posterior ao terremoto, repre­senta, de maneira fantasiosa, uma nova variante dos pano­ramas da cidade anterior àquele cataclismo.

Poucos anos depois do aparecimento do 5.0 volume da obrade Jorge Bráunio, acima mencionada, foi publicada em 1578,em Basileia, uma Cosmographey, por Sebo Munster, em queaparece pela primeira vez uma vista rasante da cidade, gra­vada em madeira. É esta a única vista de Lisboa que, comtal particularidade, sabemos haver sido publicada até ao ter­remoto de 1755. Todas as restantes estampas panorâmicas deLisboa, e de seus edifícios, publicadas até aos fins do sé­culo XVIII são gravadas em cobre, a burilou a água-forte, outambém na sua variante de água-tinta, estas nos fins daqueleséculo.

Uma outra modalidade das vistas panorâmicas e de edi­fícios isolados, muito em voga no século XVIII e nos prin­cípios do imediato consistia nas chamadas vistas ópticas, queeram gravuras em cobre, geralmente toscamente coloridas, ecom dimensões aproximadamente uniformes, destinadas a seremexibidas em câmaras ópticas ou cosmoramas, onde as Vistasàs avessas mostram o Mundo às direitas, como dizia, pelo ano1809, o nosso bom José Daniel Rodrigues da Costa.

Havia editores franceses, ingleses e alemães, que publica­vam séries ou colecções destas vistas de monumentos, edifíciose cidades de todo o mundo, contribuindo assim para a pro- 357

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paganda das belezas e dos aspectos pitorescos dos diferentespaíses; constituiam elas o bilhete postal ilustrado e populardaqueles tempos.

Umas dessas estampas são invertidas, a fim de que, quandointroduzidas na câmara óptica, e com a margem inferior parabaixo, se vissem os edifícios e os panoramas com o aspectoque eles naturalmente possuiam. Os titulos, inscritos nas mar­gens superior ou inferior, eram também muitas vezes inver­tidos, de modo que, quando vistos na câmara óptica, a sualeitura fazia-se às direitas . Outras vezes, porém, as vistas eramdireitas, de forma que introduzidas na câmara, mostravam ospanoramas invertidos (da esquerda para a direita e vice-versa),o que não tinha inconveniente algum para os efeitos e fins quepara o público se pretendiam obter com tais exibições.

As vistas ópticas da cidade de Lisboa, de que temos conhe­cimento, são geralmente cópias mui incorrectas, de estampasanteriores, panorâmicas e de edifícios, que se adaptavam aoformato e dimensões próprias para exibição nas câmarasópticas.

Excepcionalmente encontram-se, sem serem destinadas acâmaras ópticas, algumas vistas de Lisboa invertidas, no quese refere aos seus lados direito e esquerdo, isto é, com o ladoda foz do Tejo à direita do observador. Não sabemos explicar,senão por um equívoco do desenhador, o que levou este a pra­ticar tal anomalia.

As numerosas vistas panorâmicas produzidas durante esteperíodo de dois séculos que estamos considerando, isto é, atéao terremoto de 1755, eram feitas mui rudimentarmente. Osdesenhadores copiavam os edifícios principais e característicos,que colocavam nos seus respectivos locais, e o espaço restanteera preenchido com casaria, telhados, fachadas e janelas, dis-

358 postas de uma maneira mais ou menos arbitrária.

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Por isso o aproveitamento de tais estampas, como documentospara a história, deve ser feito mui criteriosamente, para nãoinduzir em erros, como por várias vezes tem sucedido.

Além das vistas panorâmicas , desenhadas em pergaminhoou papel, tecidas em tapeçarias, e gravadas em cobre ou emmadeira, de que temos tratado, algumas vistas, mas poucas,até ao terremoto de 1755, foram pintadas noutros materiais­-suportes, tais como telas e azulejos.

As principais de que temos notícia, nenhuma delas assinadanem datada, são as seguintes :

Em tela:

a) Um quadro que representa a tomada de Lisboa aos mourosja existia no 1.0 quartel do século XVII na igreja de S. Crispim,onde foi visto por António Coelho Gasco, que escreveu o seulivro entre os anos 1627 e 1633. Pertence à Câmara Municipalde Lisboa.

b) Da mesma época deve ser um quadro atribuído ao pintorportuguês Amaro do Vale (entre 1615 e 1619), com uma vistapanorâmica da cidade, e que parece ser um ex-voto dum por­tuguês. É pertença do Governo Francês, e acha-se patente naIgreja de S. Luís Rei de França, em Lisboa.

c) Quadro que representa a partida de Lisboa para a índia,em 1541, de S. Francisco Xavier, devido ao jesuíta portuguêsDomingos da Cunha (1598-1644 ), ou com menos probabili ­dade ao pintor português Simão Gomes dos Reis. A vista pano­râmica que constitui o fundo do quadro é mui semelhante à ante­rior. Consta que este quadro proveio do Noviciado da Cotovia,depois Colégio dos Nobres, e está actualmente num corredorda Academia de Belas-Artes.

d) Vista panorâmica da cidade tirada do poente para nas­cente, do jardim do palácio que foi do marquês de Abrantes,junto à igreja de Santos-a-Velho. Deve ser do 1.0 quartel doséculo XVIII, e pertence a um particular. 359

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Em azulejos:

a) Vista panorâmica num silhar que esteve numa casa doLargo de S. Tiago , e que deve ser aproximadamente do ano 1734.Estava distribuída por 10 painéis, e actualmente, reconstituídaformando um silhar corrido, como era na sua origem, estáexposta no átrio do Museu de Arte Antiga, às Janelas Verdes.

b) Num silhar da capela da portaria do extinto conventode S. Vicente de Fora está uma vista panorâmica, represen­tando a conquista de Lisboa, em 1147. Deve ser do mesmotempo que a anterior.

Até épocas muito próximas das nossas, exceptuando o PaçoReal da Ribeira, e um ou outro palácio ou casa solarenga, nãopossuia Lisboa palácios de arquitectura sumptuosa, como exis­tiam noutras capitais, bem que o seu recheio em mobiliário,tapeçarias e cerâmica primasse pela variedade e riqueza.

As igrejas, se não possuiam fachadas monumentais, comocertas catedrais do estrangeiro, apresentavam por vezes aspectosarquitectónicos que impressionavam os artistas, como se podeainda ver nalgumas que resistiram ao cataclismo do 1.0 deNovembro de 1755. Mas sendo em geral pobre a sua fachada ,o seu interior era quase sempre ornado com mármores e abun­dante obra de talha dourada, que lhes dava um aspecto deriqueza.

As vias-públicas, exceptuando o Terreiro do Paço, o Rossio,e a antiga Rua Nova, consistiam geralmente em estreitas e tor­tuosas artérias , nalgumas das quais mal podiam passar doiscoches que se cruzassem.

Na Lisboa anterior ao século XVIII podem citar-se os seguin­tes edifícios, monumentos, cerimónias e festejos públicos comoos assuntos mais interessantes, e que mais atraíam o lápis dos

360 desenhadores e o pincel dos pintores .

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a) O Palácio Real da Ribeira e a Praça do Palácio ou Ter­reiro do Paço, onde o primeiro havia sido erigido pelo rei D. Ma­nuel nos princípios do século XVI.

As primeiras vistas que se fizeram deste palácio existem empergaminho, no Livro de Horas de D. Manuel ( 1517) , no MuseuNacional de Arte Antiga, e na Chronica de D. '[oâo I, porFernão Lopes ( 1.0 quartel do século XVI ), no Arquivo Nacionalda Torre do Tombo.

Em pintura a óleo conservam-se quatro quadros, todos dosmeados do século XVII .

O primeiro é sobre tela, e devido ao pintor flamengo DirckStoop, então ao serviço do rei de Portugal D. João IV; estána embaixada de Portugal em Paris .

Um outro quadro, mui semelhante ao anterior, foi pintadopelo artista Lingelbach ( 1622-1674) , da escola holandesa, quese acha algures no estrangeiro.

Os dois restantes são de autor desconhecido, e tem porassunto a aclamação do rei D. João IV ; pertencem ao Estado,e acham-se expostos no palácio Almada.

Em azulejos foi pintado no século XVII, um aspecto do Ter­reiro do Paço e do Palácio, num grande painel que existia numprédio da Estrada de Benfica, mas cujo paradeiro desconhe­cemos.

Há ainda outros pequenos quadros em azulejo, onde estárepresentado o torreão do Palácio Real e o Terreiro do Paço,tais como um pequeno painel que foi encontrado num prédioda Costa do Castelo, actualmente no Museu da Associação dosArqueólogos; outro no extinto convento das Trinas do Mocambo,guardado no Museu de Arte Antiga, etc.

b) O Palácio real de Alcântara e mosteiro das Flamengas,desenhados por Pier Maria Baldi ( 1668-69) , e só reproduzidospela fototipia no século corrente.

c) O Palácio do Corte Real, visto do lado do Corpo Santo.A primeira vista foi gravada por Dirck Stoop ( 1662). 361

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bastante diferentes das cores naturais dos objectos representados ;as colorações feitas à mão variavam de estampa para estampa.

Por isso se encontram no mercado , ou nas colecções, muitasvistas antigas de Lisboa, quer com a sua cor de estampagem,quer com as cores berrantes com que as coloriam.

Algumas águas-tintas foram estampadas a cores, ou ilumi­nadas i>J mão.

As gravuras publicadas até ao terremoto de 1755, ou sãoestampas isoladas para quadros ; ou formavam colecções ou ál­buns, associados a vistas doutras terras, ou encontravam-se emlivros acompanhando, ilustrando e documentando os textos, ondese lhes fez alusão, ou a sua descrição.

Acrescentaremos que, exceptuando o manuscrito de Fran­cisco de Olanda: Da fabrica que falece ha Çidade de Lysboa,não existe outro trabalho antigo exclusivamente sobre Lisboa,com ilustrações da cidade , quer nacional , quer estrangeiro.

Alguns autores e editores dos séculos XVII e XVIII organi­zaram colecções de estampas então já conhecidas, ou álbunscom ou sem um pequeno texto descritivo impresso, ou inseri­ram-nas em livros, quer intercaladamente no texto, quer reu­nidas no fim dos volumes. Essas estampas ou eram tiradas comas matrizes em cobre de gravuras anteriores , ou reproduzidasem novas matrizes copiadas de estampa s anteriores ,

Além dos trabalhos já citados: Thea trum Urbium, de JorgeBráunio, das colecções de Dirck Stoop, constituídas por vistasde Lisboa, panorâmicas e de edifícios isolados, e de diverti­mentos e cerimónias pagãs, podemos mencionar, entre outros,os seguintes autores que coligiram vistas de Lisboa, ou livrosem que se encontram coligidas:

a) P." Coronelli. Escreveu: Portugal/o delineato e descrittodal P. Coronel/i, sem data 1707 ( ?) , que contém 32 estampasgravadas em cobre, de vistas e plantas de terras de Portugal,

364 das quais 18 são de Lisboa .

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b) Pierre Vander Aa; mandou gravar ou coligiu muitas es­tampas de diferentes terras, trajos , etc., gravuras em cobre,entre as quais figuram 14 de Lisboa, que foram publicadas nasseguintes obras:

L es Delices de TEspag ne et du Portugal, por Don JuanAlvarez de Colmenar, Leide, 1.a ed., 1707, em 5 tomos; 2.a ed.,1715, em 6 tomos.

Besclzryving van Spranjen en Portugal, Leide, 1707, em5 tomos.

L e R oiaume de Portugal represent é en tailles-douces... pre­sent é à S a M ajesté D om '[ean V Roi de Portugal, Leide, s/n'.,s/d.; álbum com 16 vistas de Lisboa e vários mapas.

Le s Royaume s d'Esp agne et de Portugal representés entailles-douves tr ês exactes, Leide , s/n., s/d., album com 166vistas.

An nales d'E spagne et de Portugal, por D. Juan Alvarez deColmenar, Amsterdam, 1741; uma edição em formato in/4.oem 4 tomos, e outra ed. in/8 .o em 8 tomos.

c) Pieter van der Berge, coligiu 83 ( ?) vistas de terras deEspanha e Portugal, ent re as quais 9 de Lisboa , idênticas àsde Vand er Aa, e que foram inseridas na obra Teatrum His ­

paniae, Amsterdam, 1705 ( ?) . Todas estas estampas têm ostítulos redigidos em latim, espanhol, holandês e francês .

Depois dos emissários de Jorge Bráunio , no último quarteldo século XVI , sabe-se que até ao meado do XVIII vieram ouestiveram em Portugal alguns art istas estrangeiros, que, ou emcargos palacianos, ou cont ratados, ou como simples particula­res, escolheram par a assunto dos seus quadros, desenhos ougravuras, vistas panorâmicas, edifícios ou monumentos deLisboa.

Mencionaremos principalmente os seguintes:

a) Dirck Stoop, flamengo, que foi pintor da Real Câmarade D. João IV, e do qual já tratámos. 365

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b) Pierre Maria Baldi, italiano, ajudante da câmara do prín­cipe Cosme de Medieis, a quem acompanhou na viagem queeste fez por Espanha e Portugal em 1668/69, durante a qualdesenhou as vistas de várias terras por onde passaram, entreas quais um panorama de Lisboa, o palácio real de Alcân­tara e Mosteiro das Flamengas, e o Convento dos Jerónimose Torre de Belém, que se guardam, com a relação da viagem,na Biblioteca Laurenciana de Valência, tendo sido reprodu­zidas em fototipia já no século corrente.

c) Quillard (Pierre Antoine) esteve em Lisboa, onde gra­vou uma estampa representando a antiga Ribeira das Naus,e o lançamento ao mar da nau Lampadosa, em 1727, na presençado rei D. João Veda rainha sua mulher.

d) Guilherme F. L. Debrie e seu filho António Debrie, quegravaram em cobre várias vistas relativas a Lisboa, entre asquais 3 do convento do Carmo, para ilustrarem os 2 volumesda Chronica dos Carmelitas ( 1745 e 1751), por Frei José Pe­reira de Sant'Ana, a reprodução dum selo de lacre, no tomo IV( 1738) da História Genealógica, por D. António Caetano deSousa; uma vista da Torre de Belém, que acompanha o Al­manach de Lisboa para o ano de 1789; e uma cerimónia delava-pés, efectuada por D. João V no Paço da Ribeira.

e) Olivarius Cor, que em 1746 gravou uma vinheta-cabe­ção contendo a Torre de Belém e mais dois fortes da Barrado Tejo, que se encontra na Vida do Padre António Vieira,pelo P.e André de Barros; e em 1747 uma estampa de pro­paganda para a canonização do rei D. Afonso Henriques.

Temos a convicção de que, afora os já mencionados,nenhum outro artista estrangeiro veio a Lisboa, ou aqui es­teve, até ao fim do 2.° quartel do século XVIII, que se dedi­casse a copiar de visu o panorama ou edifícios da cidade, e queas numerosíssimas vistas de Lisboa que até então apareceramno mercado foram pelos seus autores compostas nos seus países,

366 copiando-as de outras que as precederam, quer para livros,

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quer para folhas soltas, nas quais introduziam modificações depormenores e de formato, conforme lhes sugeria a sua fantasia ,para lhes dar um falso cunho de originalidade.

A lista completa destes artistas estrangeiros, especialmenteholandeses, alemães, ingleses e franceses, é muití ssimo extensa,e fica reservada para outro lugar, assim como os títulos doslivros de que as estampas fazem parte, ou locais onde se achamsituadas.

Na segunda metade do século XVIII quatro factos em Lisboaatraíram a atenção dos artistas , para assunto das suas es­tampas.

Foram eles:

a) O Aquedut o das Águ as L ivres. Esta obra deu origema uma gravura em cobre, de autor desconhecido, que repre­senta a Exzata Copia da formatura dos Arcos da Agua Livre,e outras .

b ) A Catastrofe do Terremoto do Primeiro de N ovembr ode 1755 impr essionou consideràvelmente a imaginação demuitos artistas estrangeiros, que gravaram grand e número deestampas, alegóricas umas, e outras representando a cidadedurante o cataclismo, as quais foram decalcadas sobre vistaspanorâmicas já conhecidas, em que os diferentes artist as re­presentaram os edifícios a desconjuntarem-se e a desmorona­rem-se, com o fogo a irromper por todos os lados. T odas essasvistas dão bem a medida da fecunda imaginação e fantasiados seus autores!

Apenas dois desenhadores franceses, Paris e Pedegache,vieram a esta cidade copiar algumas ruinas de Lisb oa causadaspelo terremoto e pelo fogo do primeiro de Novembro do anno1755, que foram gravadas em Paris por Jae. Ph. Le Bas em1757. É uma colecção de 6 gravuras , com o respectivo fron­tispício, que mostram bastante fantasiosamente o estado a queficaram reduzidos seis edifícios da cidade por efeito daquelecataclismo. 367

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Além desta colecção de Le Bas, um músico de Augsburgo,Johan Michael Roth, coligiu as matrizes de cobre, e editouuma obra: Augsburgische Sammlung derer des hõchstbetrúbten

Untergangs der Stadt Lissab on, etc., que contém, além de vá­rios mapas e vistas das cidades de Portugal, Espanha e outras ,algumas gravuras que haviam sido publicadas sobre o terre­moto de 1755, sucedido em Lisboa e noutras terras.

A medalhistica também foi enriquecida com algumas me­dalhas cunhadas com vistas em baixo relevo da cidade a des­moronar-se e a incendiar-se durante o terremoto.

Apenas um artista português é que, sobre o terremoto deLisboa , produziu uma vista iconográfica ; consiste ela numquadro a óleo, devido ao pincel de João Armando GlamaStroberle, e representa uma cena de desolação junto às ruínasda desaparecida igreja de Santa Catarina. Está no Museu deArte Antiga.

c) O atentado contra D . '[os é e a Execução dos indigitad os

crim inosos foi objecto de várias gravuras em cobre, nacionaise estrangeiras.

d ) O Monumento de D. '[osé e a Praça do Comércio, ondeele foi erigido, também desde antes da sua inauguração ser­viram de assunto para gravadores.

A primeira gravura do monumento foi aberta em cobrepara uma estampa não assinada , que serviu de modelo parao desenho estampado nos apar elhos de louça que o Marquêsde Pombal mandou fazer na China para servirem no banqueteque se efectuou por ocasião da inauguração do monumento.

Pouco depois foram gravadas duas estampas da Praça como M onum ento, devida s ao buril de Gaspar Fróis Machado, queforam reproduzidas por artistas anónimos no mesmo século.

A Joaquim Carneiro da Silva se deve uma gravura da Es­368 tátua Equ estre de D . '[os é, depois reproduzida, em menor

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escala, por Gaspar Fróis Machado, que também gravou umaVista da Torre de Belém , P." Lx ", em 1783.

Em 1767 foi pintado pelos pintores franceses L. MichelVanloo e C. Joseph Vernet um quadro a óleo, comemorativodos principais actos da administração do Marquês de Pombal,com o retrato do mesmo. Esta excelente pintura esteve nopalácio dos Marqueses de Pombal em Oeiras, e acha-se hojenuma sala da Câmara Municipal da mesma vila.

Foi objectivo de uma gravura de J. Beauvarlet, sobre de­senho do A. J. Padrão e J. S. Carpinetti, em 1767, maistarde reproduzida em vários formatos e por quase todos osprocessos conhecidos.

Nesta segunda metade do século ainda a rnaiona dos ar­tistas que tomaram a cidade de Lisboa ou os seus edifíciospara assunto dos seus trabalhos eram estrangeiros, e poucomais de meia dúzia de nomes de nacionais se podem men­cionar.

No último quartel do século XVIII, ainda como consequênciado impulso dado pelo Marquês de Pombal a todos os ramosde ensino, originou-se em Portugal uma nova renascença ar­tística. Do estrangeiro vieram artistas arquitectos, escultores,gravadores; artistas portugueses foram estudar a Itália ; e desteintercâmbio resultou uma maravílhosa criação de artistas na­cionais.

Os pintores Domingos António de Sequeira , FranciscoVieira Portuense e João Glama Stroberle, os gravadores Joa­quim Carneiro da Silva, Gaspar Fróis Machado e FranciscoVieira Lusitano, o arquitecto José da Costa e Silva, os es­cultores Joaquim Machado de Castro e João José de Aguiar,e tantos outros, podem pôr-se em confronto com os melhoresque havia no estrangeiro.

A estes artistas devemos acrescentar o nome de FranciscoBartolozzi , que gravou em cobre uma estampa alusiva ao epi- 369

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curismo, tendo ao fundo o Aqueduto das Águas Livres. Noséculo XIX há outras estampas deste artista sobre assuntos olisi­ponenses.

No que respeita, porém, a estampas de Lisboa, poucas,mas excelentes, se produziram no final do referido século,tanto nacionais como estrangeiras.

Ainda no último quartel do século XVIII foi Lisboa visi­tada por vários artistas e sábios estrangeiros que vieram aEspanha e a Portugal, em viagem de recreio ou científica, paracolher elementos que interessavam aos seus estudos ou aos seusespíritos.

Citaremos os seguintes artistas:

a) Jean Alexandre Noêl, pintor francês de marinhas e pai­sagens, que por várias vezes veio a Lisboa, uma das quais em1780, onde pintou uma vista da Torre de Belém, passada paragravura em cobre por Gaspar Fróis Machado em 1783, comodissemos; 8 quadros com diferentes vistas, das quais 5 deLisboa, mandadas fazer por um rico inglês Gerard de Visme,e gravadas a água-tinta por J. Welles, de 1793 a 1795; umavista panorâmica de Lisboa e seu porto , gravada em cobrepor Alix; além de vários desenhos a lápis, que se conservamnum álbum no Museu de Arte Antiga .

b) c) Jean Baptista Pillement, que algumas temporadas veiopassar em Lisboa, a última das quais em 1780, e o pintorNicolas Delarive.

d ) e) O duque de Chatelet, que viajou por Portugal em1777, e o arquitecto James Murphy, que aqui esteve também,deixaram nas relações impressas das suas viagens, as vistas dealguns trechos olisiponenses.

Como consequência das agitações políticas que em Portu­gal perturbaram toda a sua vida nos princípios do século XIX,

370 o renascimento artístico que com bons auspícios se havia inau-

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gurado, decaiu consideràvelmente, e, pelo que respeita a icono­grafia de Lisboa, apenas podemos citar as estampas que acom­panham os 2 volumes do Jornal de Belias Artes ou MnémosineLusitana ( 1816-17) , gravuras em cobre de P. A. Cavroé edesenhos de Fonseca filho (António Manuel da Fonseca) .

Mas devido à descoberta do processo litográfico e à in­venção da propaganda noticiosa, politica e artística, que, pormeio de publicações periódicas, revistas e jornais ilustrados,cerca do ano 1830 começou em Inglaterra, França, Alemanha,Itália, etc., foram estes métodos adoptados entre nós, nos prin­cípios do segundo quartel do dito século, surgindo, e aumentandono decorrer do mesmo, uma pleiade de artistas nacíonais, es­pecializados em cada um dos processos de reprodução de de­senhos, cujo número, na representação de aspectos da cidade,de edifícios, e de outros objectos com ela relacionados, ultra ­passou ràpidamente em muito o dos estrangeiros que tambémse ocuparam dos mesmos assuntos olisiponenses, ao contrário doque acontecera anteriormente .

Cremos que as primeiras obras periódicas em que se publi­caram estampas de Lisboa, depois da Mnémosine Lusitana( 1816-17), foram principalmente as seguintes:

O Recreio ( 1835 a 1842), com litografias não assinadas;

Jornal Encyclopedico ( 1836-37), com litografias;

O Panorama ( 1837 a 1868), com gravuras em madeira.

A gravura em cobre foi abandonada quase por completonestas publicações periódicas (jornais, como lhes chamavam,imitando a denominação francesa), e a gravura em madeira ea litografia, ao princípio bastante toscas, foram-se desenvol­vendo paralelamente, podendo dizer-se que as primeiras queaparecem mais correctas são: as de A Illustração (1852 ), e dosemanário A Illustração Luso-Brazileira (1856 a 1859), peloque respeita a gravuras em madeira, desenhadas ou feitas porManuel Bordalo Pinheiro, Nogueira da Silva, Barbosa Lima,Caetano Alberto Nunes, Baracho, João Pedroso, Coelho pai e 371

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filho, Gomes da Silva, Flora , etc., e as da Illu stração Po­pular ( 1866 a 1870), pelo que se refere a litografias, espe­cialmente devidas aos artistas Legrand e Michellis.

Nas publicações periódicas até ao fim do século XIX a per­feição das gravuras em madeira atingiu o seu auge na ilus­tração do quinzenário O Occidente, que sob a direcção de Ma­nuel de Macedo, redactor e desenhador, e de Caetano Albertoda Silva, gravador, foi entre nós, desde 1878, e durante 38anos, o repositório mais perfeito dos principais acontecimentosnacionais e estrangeiros, adornado sempre com estampas, entreas quais são numerosas as que tratam de assuntos de Lisboa,geralmente copiadas do natural pelos desenhadores LucianoFrei re, Cristino da Silva e outros, e gravadas em madeira porCaetano Alberto da Silva, Cazellas, etc.

Muitas das revistas periódicas ilustradas nacionais tiveramuma vida pouco duradoura, devido à penúria de fundos paraa sua publicação, reveladora da falta de apreço ou de pre­paração do público para tais leituras.

No estrangeir o, pelo contrário , as revistas ilustradas foram,no século XIX , muito numerosas, e tiveram longa existência,mas pouco se ocuparam de vistas e monumentos de Lisboa,havendo exibido principalmente vistas dos acontecimentos maisimportantes sucedidos nesta cidade, daqui comunicados em esbo­ços ou fotografias pelos artist as seus correspondentes.

Uma das aplicações mais importantes das estampas foi parailustração de livros, quer em gravuras impressas com os textos,quer em litografias em folhas soltas intercaladas no texto.

Afora a sua inserção em livros e em revistas, foram pro­duzidas durante o século XIX muitas estampas de Lisboa des­tinadas a quadro s, tais como a Vista do Conven to de S anto'[eronim o de Belem e Da Barra de L isboa e a V ista da Cidadede Lisboa T omada da '[unqueira, por Henrique L'Evêque, ouconstituindo colecções ou albuns de vistas, acompanhadas ou

372 não com um texto descritivo, não exclusivamente de Lisboa,

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mas juntamente com as de outras terras; tal era, por exemplo,entre as nacionais, a Collecção de Paizagens e Monumentosde Portugal, editada e litografada por João Pedro Monteiro,em que colaborou também T omás J. d'Anunciação.

Várias medalhas se cunharam durante o século XIX, come­morativas de factos passados em Lisboa, e que por isso fazemparte da medalhística olisiponiana.

Descoberta a fotografia pelos meados do século XIX, al­gumas revistas e livros passaram a ser ilustrados com foto­grafias, ou sós, como, por exemplo, Monumentos Nacionais( 1868) , por J. da S. Mendes Leal, ou conjuntamente comgravuras ou litografias, como: Archivo de Arquitectura Civil( 1865) . Ambas estas obras, assim como algumas outras mais,contém trechos de Lisboa.

Vários fotógrafos, na 2.a metade do século XIX, tirarame vendiam vistas fotográficas de terras e edifícios de Portugal,e entre elas figurava sempre Lisboa.

Os mais conhecidos foram Francisco Rocchini, que desde1870 fotografou mais de 300 vistas panorâmicas e de edifíciose monumentos de Lisboa, coladas em cartões com os títulosimpressos; A. S. Fonseca, Largo de S. João da Praça, de queconhecemos 20 fotografias de Lisboa ; e Moreira , Rua da Ale­gria, que apresentou 42, pelo menos, igualmente coladas emcartolina, e com os títulos impressos.

T ambém havia de fabricação estrangeira, albuns com foto­grafias de Lisboa, assim como litografias a uma ou mais cores.

No mercado apareceram colecções de vistas fotográficas es­tereoscópicas, tanto de publicação nacional como estrangeira .

Descobertos, no último quartel do século XIX, os processosfotomecânicos para a feitura de matr izes para a reprodução deestampas: fotolitografia, zincogravura, fotogravura, fototip ia,cromolitografia, etc., que simplificaram e embarat eceram asilustrações de livros e de publicações periódicas, fizeram eles 373

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pôr de parte, quase por completo, os antigos processos de gra­vura e estampagem, dando origem ao aparecimento de muitosobjectos de preço acessível às pequenas bolsas, com vistas deLisboa e de outras terras do país, tais como alguns de propa­ganda de Portugal, bilhetes postais ilustrados, caixas de fós­foros, selos de propaganda, marcas industriais e comerciais,anúncios, estampas litografadas a cores destinadas para qua­dros, etc.

Nestes géneros tem florescido, desde o meado do século XIX,

mas principalmente no último quartel, continuando-se pelo cor­rente, numa numerosa série de brilhantes artistas, que muitotêm honrado a arte nacional, e cujos nomes têm ultrapassadoas nossas fronteiras, emparelhando com os dos melhores emais afamados artistas estrangeiros.

Além das vistas de Lisboa, dos seus monumentos e trechospanorâmicos, impressos ou estampados em papel, pergaminhoe tecidos, muitos aspectos de Lisboa têm sido produzidos, desdeo século XVI, em quadros a óleo ou aguarela, existentes emmuseus ou em casas de particulares, em objectos de cerâmica,em painéis de azulejo, em galvanoplastia, em artigos cunhados, etc.

Muitos são desconhecidos do público, por constituírem do­cumentos únicos, guardados pelos seus proprietários, sendo quaseimpossível obter de todos eles esclarecimentos completos.

A maiona das estampas, tanto as antigas como as moder­nas, não é datada, e algumas não mencionam o nome do artistaque as produziu, o qual muitas vezes não é português.

Quando o citado ou o signatário é estrangeiro, nem semprese conhecem os dados biográficos ou a época em que exerceua sua actividade artística.

Todas estas faltas tomam muito difícil, ou mesmo impos­sível organizar a seriação cronológica das estampas com vistas

374 panorâmicas ou dos monumentos de Lisboa.

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Uma das outras dificuldades com que se luta entre nóspara se obter uma lista ou relação iconográfica de Lisboa quese aproxime bastante da perfeição, é a falta, nas nossas biblio­tecas públicas, dos livros a que pertencem muitas estampasque se encontram avulsas no mercado. Essa falta diligenciámossupri-la recorrendo a pedidos de informação no estrangeiro,no que nem sempre fomos bem sucedidos.

Durante o século xx a abundância de estampas de Lisboa,em livros, revistas, jornais e folhas soltas, assim como emquadros a óleo, a aguarela e a pastel, é tão grande, que asua inventariação e classificação desafia a paciência mais bene­ditina, podendo sem receio de desmentido afirmar-se que seriatrabalho para uma vida inteira, e a lista que se organizasseficaria necessàriamente imperfeita.

Essa abundância é devida não só à grande facilidade dafabricação de matrizes para tal produção, mas ao maior graude apreço por esta manifestação artística, que o progresso dacultura geral do povo tem criado e estimulado.

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SANTA CATARINA, TERCEIRA FREGUESIACRISTÃ DE LISBOA?

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Santa Catarina, terceira freguesia cristãde Lisboa? (*)

Não se conhecem documentos que nos digam quais eram emLisboa os edifícios do culto cristão na época da conquísta porD. Afonso Henriques aos mouros em 1147.

No sítio da actual igreja da Sé havia então um templo dorito muçulmano, que antes do domínio mourisco havia servidode Sé episcopal aos povos visigodos ou outros já cristãos queos antecederam, e que pelo nosso primeiro rei, depois da con­quista, foi restituído às suas antigas funções episcopais, e man­dado demolir para no seu lugar se erigir um edifício maior,mais importante, e que fizesse esquecer o odiado culto queali se exercia.

Quando D. Afonso Henriques organizou a constituição reli­giosa do seu nascente reino, e erigiu novamente em Lisboa aSé episcopal, determinou naturalmente quais as freguesias quedeviam ficar sujeitas à jurisdição da mesma, tendo sido nessaépoca criadas as de Nossa Senhora dos Mártires e de S. Vi­cente, para cujas sedes se procedeu à construção dos respectivostemplos.

Consta que outras freguesias foram fundadas pelo mesmorei, mas não existem documentos que nos forneçam com segu­rança as datas das suas fundações.

( * ) Revista Municipal, n.· 39, 1948, p ágs, 16-18. 379

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Nesses remotos tempos, se acaso se faziam festas de inau­guração de igrejas, cujos ecos não chegaram até nós, nãose lavravam autos de inauguraçã o, nem se deixavam consigna­das em lápidas ou em pergaminhos as datas em que taiscerimónias se efectuavam, nem se curava de deixar memóriaspara os vindouro s.

Por isso são desconhecidas as datas das fundações e dasinaugurações das primitivas paróquias de Lisboa, assim comodas suas igreja s matrizes.

Mas, dir-s e- á, os nossos historiadores a partir do século XVI ,

isto é, que escreveram mais de 4 séculos posteriormente aosacontecimentos que se seguiram logo após a conquista, men­cionam as datas em que já existi am algumas dessas antigasparóquias.

Alguns desses autores puderam ainda consultar os antigosarquivos paroquiais, e rebuscar neles algum facto ou referênciaque os pudesse elucidar sobre a existência ou a fundação dasigrejas. Encontram-se as datas mais remotas em que se davaconhecimento da existência das igrejas, às vezes em hum livro

antiquíssimo que vimos, mas calaram prudentemente as data sdas fundações, que, com excepção do que se refere às freguesiasde S. Vicente e de Nossa Senhora dos Márti res, não conse­guiram descobrir nos documento s.

Pode portanto dizer-se afoitamente que são desconhecidasquais as igrejas e as paróquias de Lisboa que existiam notempo de D. Afonso Henriques, ou por ele criadas, com excep­ção das duas especificadas acima. É impr essionante que a cartade Osberno, escrita por um guerreiro eclesiástico, que faz anarrativa das cerimónias religiosas efectuadas durante e emseguida ao cerco de Lisboa em 1147, e especialmente as dabênção e restituição da Sé ao seu papel de sede episcopal, eque também se refere a outros factos posteriores à conquista,não diga uma única palavra sobre a fundação das Igr ejas deS. Vicente-de-F ora e de Nossa Senhora dos Mártires, o que

380 nos leva a pôr em dúvida a data de 21 de Novembro de 1147,