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Baixo Guandu foi uma das cida- des atingidas pela maior catástrofe ambiental da história do Brasil. As toneladas de rejeitos de minério em forma de lama que inundaram o rio Doce, a partir de 5 de novem- bro, praticamente aniquilaram flo- ra e fauna ao longo do percurso do rio, trazendo uma grande preocu- pação sobre como será feita esta recuperação. A Samarco Mineração que é controlada pela Vale e pela BHP australiana, é a responsável por esta tragédia, sendo compelida de imediato a depositar R$ 1 bilhão para arcar com os prejuízos e fala- se num fundo de R$ 20 bilhões, em avaliação na Justiça, para socorrer milhares de famílias afe- tadas pela lama e recuperar o rio Doce. Vinte pessoas morreram no rompimento da barragem e deze- nas de cidades foram afetadas – no Espírito Santo: Baixo Guandu, Colatina e Linhares. Os especialistas divergem sobre o período que demorará para o rio Doce voltar ao normal: enquanto alguns acham que em cinco anos tudo se recupera, ambi- entalistas com estudos permanen- tes sobre o curso das águas acham que serão necessários de 50 a 100 anos. O fato é que este crime ambien- tal causou reflexos a milhares de pessoas. Em Baixo Guandu, a mor- te de milhares de peixes afetou mais de 100 famílias que vivem da pesca e que agora não tem outro meio de sobreviver, enquanto a cidade teve que providenciar um novo sistema de captação para a O estacionamento rotativo no centro de Baixo Guandu começa a ser cobrado ainda em dezembro, ao custo de R$ 1 real a cada duas horas, dentro de um programa da Prefeitura denominado “Primei- ra Oportunidade”, que capacitou 30 adolescentes, entre 14 e 17 anos, que cuidarão do sistema. Devidamente uniformizados e capacitados, estes 30 meninos e meninas já receberam seu certificado e começam a atuar nas próxi- mas semanas. A cobrança do rotativo visa disciplinar melhor o esta- cionamento e incentivar o próprio comércio, atraindo o consumi- dor com mais conforto na hora de fazer suas compras. água que serve à população, mudando do rio Doce para o rio Guandu. A tragédia colocou Baixo Guandu na mídia brasileira duran- te semanas, graças especialmente à ousadia do prefeito Neto Barros, que chegou a paralisar os trens da Vale e encabeçou um movimento contundente em torno da respon- sabilização dos responsáveis pelo dano ambiental. Página 6

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Jornal Folha Guanduense / Folha de Aimorés - Novembro/Dezembro 2015

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Baixo Guandu foi uma das cida-des atingidas pela maior catástrofe ambiental da história do Brasil. As toneladas de rejeitos de minério em forma de lama que inundaram o rio Doce, a partir de 5 de novem-bro, praticamente aniquilaram flo-ra e fauna ao longo do percurso do rio, trazendo uma grande preocu-pação sobre como será feita esta recuperação.

A Samarco Mineração que é controlada pela Vale e pela BHP australiana, é a responsável por esta tragédia, sendo compelida de imediato a depositar R$ 1 bilhão para arcar com os prejuízos e fala-se num fundo de R$ 20 bilhões, em avaliação na Justiça, para socorrer milhares de famílias afe-tadas pela lama e recuperar o rio Doce. Vinte pessoas morreram no rompimento da barragem e deze-nas de cidades foram afetadas – no Espírito Santo: Baixo Guandu, Colatina e Linhares.

Os especialistas divergem sobre o período que demorará para o rio Doce voltar ao normal: enquanto alguns acham que em cinco anos tudo se recupera, ambi-entalistas com estudos permanen-tes sobre o curso das águas acham

que serão necessários de 50 a 100 anos.

O fato é que este crime ambien-tal causou reflexos a milhares de pessoas. Em Baixo Guandu, a mor-te de milhares de peixes afetou mais de 100 famílias que vivem da pesca e que agora não tem outro meio de sobreviver, enquanto a cidade teve que providenciar um novo sistema de captação para a

O estacionamento rotativo no centro de Baixo Guandu começa a ser cobrado ainda em dezembro, ao custo de R$ 1 real a cada duas horas, dentro de um programa da Prefeitura denominado “Primei-ra Oportunidade”, que capacitou 30 adolescentes, entre 14 e 17 anos, que cuidarão do sistema.

Devidamente uniformizados e capacitados, estes 30 meninos e meninas já receberam seu certificado e começam a atuar nas próxi-mas semanas. A cobrança do rotativo visa disciplinar melhor o esta-cionamento e incentivar o próprio comércio, atraindo o consumi-dor com mais conforto na hora de fazer suas compras.

água que serve à população, mudando do rio Doce para o rio Guandu. A tragédia colocou Baixo Guandu na mídia brasileira duran-te semanas, graças especialmente à ousadia do prefeito Neto Barros, que chegou a paralisar os trens da Vale e encabeçou um movimento contundente em torno da respon-sabilização dos responsáveis pelo dano ambiental. Página 6

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Depois do empresário Saulo Bussolar,

que no mês passado admitiu a possibilidade

de se candidatar a prefeito de Baixo Guandu

em 2016, outro empresário guanduense

demonstrou esta semana interesse em dis-

putar o mesmo cargo.

Trata-se de Valteir Lopes, que é proprietá-

rio do Centro de Formação de Condutores

SIM, localizado na rua Fritz Von Lutzow, que

já militou na política guanduense e coloca-

se agora como opção para disputar a Prefei-

tura.

“A sociedade guanduense vive uma

grande expectativa de uma terceira via para

disputar a eleição do próximo ano”, afirma

Valteir, que vem se reunindo com lideranças

políticas e da sociedade em geral, nas últi-

mas semanas discutindo abertamente o

assunto.

Valteir entende que Baixo Guandu precisa

de homens de disposição para também par-

ticipar da política, evitando que o poder

fique sempre concentrado em apenas dois

grupos na cidade.

“ Eu coloquei meu nome à disposição e

tenho recebido apoio de vários setores,

incluindo a organização de pastores do

Ministério Cadeeso, que reúne mais de dois

mil e quinhentos homens de fé no Estado.

Chegamos a um consenso de que nós, os

evangélicos, precisamos nos conscientizar

de que podemos fazer a diferença no meio

político. Esta associação está disposta a ele-

ger até deputado aqui no nosso município,

num momento de grande descrédito da

população com nossos representantes”,

acrescenta o empresário Valteir.

Valteir coloca-se na condição de pré-

candidato a prefeito e garante que seu nome

está sendo muito bem recebido, embora

admita que outros nomes podem, dentro do

meio evangélico, serem também analisados.

“Acredito que devemos participar do pro-

cesso político, atuando de forma mais efe-

tiva dentro de nossas propostas para Baixo

Guandu”.

Guanduense e casado com dona Luzia

Batista Lopes, pai de Thieres e Thalisson, Val-

teir teve uma trajetória de dificuldades em

Baixo Guandu, mas conseguiu vencer com

bastante luta. Trabalhou em garagem de bici-

cletas, foi vendedor de laranjas, montou pos-

teriormente um ferro velho e serviço de guin-

cho que funcionou muitos anos na cidade e

atualmente é diretor proprietário da auto

escola SIM, em atividade há quatro anos em

Baixo Guandu.

“Não vai faltar da nossa parte disposição

para discutir com a sociedade o que é

melhor para Baixo Guandu na administra-

ção pública”, finaliza Valteir Lopes.

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Insatisfeito com a posição da maioria dos vereadores, espe-cialmente com rela-ção ao novo Código Tributário Munici-pal, o prefeito Neto Barros fez na semana passada uma expla-nação de motivos sobre a matéria pas-sar pela Câmara, usan-do inclusive as redes sociais para criticar a posição da maioria do Legislativo. A maté-ria está em tramitação ainda no Legislativo, mas a tendência é que os vereadores rejeitem o novo código, alegando que aumento de impostos vai sacrificar a população neste momento de crise.

Neto Barros esclareceu que no final de 2013 a Câmara aprovou um novo Código Tributário, colo-cado em prática no ano de 2014 que permitiu o aumento de receitas no valor de R$ 1,5 milhão em ISS e de mais R$ 292 mil em IPTU. Há 34 anos, de acordo com o prefeito, Baixo Guandu não atualizava seu Código Tributário e este aumento de receita foi decisivo para manter o pagamento dos funcionários em dia e realizar obras e serviços.

Este Código, no entanto, foi questionado na Justi-ça por alguns vereadores, sob a alegação que a lei complementar que o instituiu foi votada de forma irregular, em regime de urgência. A Justiça acatou o pedido e concedeu uma liminar, o que motivou o pre-feito a enviar um novo projeto de lei complementar, em 2015, instituindo um novo Código Tributário para 2016.

O prefeito diz que, sem a aprovação do novo Códi-go, Baixo Guandu pode ter um grande retrocesso, em função da queda de receitas verificada em todos os municípios brasileiros. “Eu temo inclusive pelo atra-so no pagamento dos servidores”, afirma Neto, que fez questão de destacar que as novas alíquotas em nenhum momento penalizam o pequeno contribuin-te. O aumento, segundo ele, está direcionado a empresas grandes, de maior porte, enquanto corrige distorções na arrecadação da taxa de lixo e dos pequenos contribuintes.

Para o presiden-te da Câmara Muni-cipal, vereador Jus-celino Henck, o embate envolvendo o Legislativo e o Executivo é normal no processo demo-crático e que os vere-adores estão defen-dendo os interesses da população. Ele explicou inicial-mente que na apro-vação do orçamen-to, os 3% de rema-nejamento concedi-dos ao Executivo, ao invés dos 50% sol ic i tados, dão mais transparência à administração, per-mitindo uma intera-ção maior da Câma-ra com as ações de Governo.

O presidente explicou que a Câmara aprovou menos de 5% do orçamento para o Legislativo, quan-do teria, por lei, direito a usufruir de até 7% do orça-mento para as suas despesas. “Vivemos em processo de constante economia e já repassamos mais de R$ 700 mil ao Executivo, sendo que ainda até o final de 2015 repassaremos mais verbas não utilizadas pela Câmara Municipal. Isto é cooperação, desejo de aju-dar o Executivo e nunca atrapalhar as ações da Prefe-itura”, afirmou Juscelino.

Com relação ao novo Código Tributário, que está em análise na Câmara Municipal, o presidente enfa-tizou que os vereadores estão antenados em estudar com profundidade a matéria para a votação final. Jus-celino entende que a crise econômica pela qual passa o país é séria e não seria justo penalizar o contribuin-te de Baixo Guandu com mais aumento de impostos.

“Queremos colaborar sempre com o Executivo, mas procurando o melhor para a população. A Câma-ra já aprovou em 2013 um Código Tributário anulado liminarmente pela Justiça e não podemos incorrer no mesmo erro, razão pela qual o novo projeto de lei pre-cisa ser estudado com profundidade”, finalizou o pre-sidente.

CNPJ: 13.176.261/0001-09 - Inscrição Estadual: Isento • Editora Responsável: Lenir Loose

• Área de Circulação: Baixo Guandu, Aimorés, Itueta, Resplendor, Colatina e Região Norte do Espírito Santo.

• Dpto. Comercial: (27) 99704.4867 - Lenir | Email: [email protected]

Depois de um período de cal-maria no relacionamento, a Prefei-tura de Baixo Guandu e a Câmara Municipal voltaram a entrar em rota de colisão desde o mês de novembro. A crise, com acusações de ambos os lados, teve origem na aprovação do orçamento munici-pal para 2016, referendado pela maioria dos vereadores com emen-das que não agradaram o Executi-vo, e também pela demora na apro-vação do novo Código Tributário Municipal, que continua em análi-se no Legislativo.

O prefeito Neto Barros vinha

aprovando sem maiores proble-mas suas mensagens na Câmara, porque aparentemente tinha maio-ria de votos dos vereadores, porém na questão do orçamento e do novo Código Tributário, a posição dos vereadores Fabiano da Farmácia e Marquinhos Stein estão mudando o panorama. Juntados os votos des-tes dois vereadores aos votos dos colegas Vinícius Gobbo, Pedro Matias, Lucas Cigano e eventual-mente o voto do presidente Jusce-lino Henck – em caso de desempa-te - o prefeito perde a maioria no Legislativo.

O orçamento, superior a R$ 85 milhões para 2016, já foi aprovado pelos vereadores, com a ressalva que o prefeito Neto Barros pediu 50% de remanejamento de verbas durante o ano, porém os vereado-res concederam apenas 3%. O pre-feito alega que nestes moldes o Legislativo “engessa” a adminis-tração, enquanto os vereadores contrários dizem que, desta forma, a administração terá que governar de forma mais próxima do Legisla-tivo, que teria que aprovar o rema-nejamento excedente aos 3% apro-vados.

Lastênio e DaryUm grupo de pessoas, denominado 'Grupo do Bem',

promoveu, no último dia 16/12, um encontro do deputado Dary Pagung e do ex-prefeito Lastênio Cardoso, que já foram companheiros na política e estão estremecidos desde a eleição de 2014.

Os dois acabaram se cumprimentando, sob a euforia dos integrantes deste grupo, mas evitaram fazer qualquer declaração sobre uma aproximação visando a eleição municipal de 2016.

Na CBFO Deputado federal capixaba Marcus Vicente é o novo

presidente da CBF. Substituiu os dirigentes José Maria Marin, preso, e Marco Polo Del Nero, indiciado por corrupção. Vicente, que já militou muito na política em Baixo Guandu, foi presidente da Federação Capixaba de Futebol por mais de 20 anos. E todos sabem em que pata-mar está o nosso futebol dentro do contexto Brasil.

Quem sabe agora, com o poder na mão, a coisa não mude?

PeixeAlguém já teve coragem de comer peixe do rio Doce,

depois da enxurrada de lama da Samarco? Aliás, será que ainda existe peixe por aqui? E salve o rio Guandu, que está salvando os guanduenses.

BombandoPela primeira vez na história, Baixo Guandu está “bom-

bando” na mídia nacional. O portal G1, os jornais O Globo e Estado de São Paulo, além dos telejornais da Band e Jornal Nacional, falam quase que diariamente do municí-pio.

Metade por conta da enxurrada de lama e os outros 50% da ousadia do prefeito Neto Barros, que paralisou os trens da Vale, questionou o futuro da mineração, denunci-ou a presença de metais pesados na água, a mortandade de peixes e exigiu reparação dos graves danos ambientais provocados em toda a região.

Neto foi o prefeito mais focado pela mídia nacional em toda esta tragédia ambiental, exatamente pelas posições intransigentes em defesa dos municípios atingidos e das sugestões em torno da reparação dos crimes cometidos pela Samarco, muitas delas depois aproveitadas pelo Ministério Público.

Vale A Vale, que é também dona da Samarco, foi uma mãe

no começo do desenvolvimento de Baixo Guandu. Agora, virou uma espécie de madrasta má (existem as boas, claro), que não está nem aí para a cidade.

Mais uma prova disso, além da lama: a Vale está vendendo uma área em Baixo Guandu que é uma das mais tradicionais da história da cidade. Trata-se do terreno dos “eucaliptos”, ali mesmo perto do aeroporto.

A placa está lá para quem quiser ver.

JonasJonas Moreira, ex secretário de Saúde e ex vereador, é

pré candidato novamente a uma vaga na Câmara. Brigado com o prefeito, vai sair candidato longe do grupo onde militou muitos anos.

CandidatosHoje há dois candidatos declarados a prefeito de Baixo

Guandu na eleição de 2016: Lastênio Cardoso e Saulo Bussolar, mas nesta semana o empresário Valteir Lopes anunciou também que pretende concorrer.

O prefeito Neto Barros não diz claramente, mas dificil-mente deixará de concorrer, embalado pelo trabalho reco-nhecido que vem realizando na cidade.

Já o deputado Dary Pagung, que chegou a ensaiar candidatura a prefeito, deu uma mergulhada nos últimos meses. O detalhe é que ele vem mantendo uma relação até amigável com o prefeito Neto Barros, tudo em nome da busca de forças em favor de Baixo Guandu.

Se vão estar juntos em 2016, só o tempo dirá.

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O prefeito Neto Barros anunci-ou, na semana passada, que a cap-tação da água a ser distribuída para a população vai continuar sen-do feita no rio Guandu, de forma definitiva. Ele admitiu, no entan-to, que a atual captação é provisó-ria e a Prefeitura vai desenvolver um projeto para torná-la perma-nente. “Vamos buscar recursos para este projeto. Hoje as águas do rio Doce são extremamente duvi-dosas com relação à qualidade e não sabemos quando o rio vai se recuperar, somando-se a tudo isso o fato que a mineração em Minas Gerais pode provocar um novo desastre ambiental”, disse o prefe-ito.

Assim que soube do estouro da barragem da Samarco em Maria-na, no dia 5 de novembro, o prefei-to recebeu visita de dirigentes do SAAE que já alertavam que a lama chegaria em Baixo Guandu.

“Tivemos que agir muito rápi-do para resolver de imediato a questão da água potável para a população. Foi um esforço gigan-

tesco utilizando funcionários do SAAE, de empresas particulares cedidos gratuitamente e mais de 100 cidadãos anônimos, que se dis-puseram a ajudar naquele momen-to de incertezas”, afirmou Neto Barros, que agradeceu a mobiliza-ção de todos neste esforço para garantir o abastecimento de água.

E o trabalho deu resultado: em nenhum momento faltou água nas torneiras de Baixo Guandu. Foi providenciada uma nova tubula-ção para captar água do rio Guan-du e realizada a limpeza dos tubu-lões da antiga empresa de Luz Von Lutzow. O guanduense continuou com a água de qualidade que está acostumado e Baixo Guandu che-gou a socorrer Colatina fornecen-do água para a comunidade vizi-nha.

Em cerca de 5 dias, antes da che-gada da lama em Baixo Guandu, o sistema de captação já estava mudado para o rio Guandu, porém o sistema é provisório. “Vamos buscar agora os recursos para tor-ná-la definitivo”, disse o prefeito.

Assim que ganhou repercussão nacional e mundial o desastre ambiental envolvendo a lama da Samarco, dezenas de cidades de Minas Gerais e do Espírito Santo foram afetadas. Mas talvez nenhuma delas teve tanto espaço na mídia como Baixo Guandu, em função das atitudes às vezes criticadas, mas ousadas, do prefeito Neto Barros.

Assim que os holofotes da imprensa se volta-ram para o rio Doce, o prefeito já dava declara-ções polêmicas a respeito da atividade minerado-ra em Minas, apontando sem rodeios o crime ambiental da Samarco. Neto Barros colocou máquinas sobre os trilhos da Vale e parou a circu-lação dos trens por algumas horas - a liberação aconteceu por ação judicial. Não satisfeito, divulgou na imprensa análises que apontavam o perigo da população consumir a água do rio, con-taminada com metais pesados, mostrando tam-bém em redes sociais os peixes mortos e o deses-pero da população ribeirinha que depende da pes-ca para sobreviver.

As atenções da mídia nacional e internacional se voltaram para a insatisfação do prefeito de Bai-xo Guandu. O portal G1, da Globo, os jornais Estado de São Paulo e o Globo, além das redes de televisão fizeram uma série de entrevistas com Neto Barros. O último deles foi o repórter Caco Barcelos, do programa Profissão Repórter, na semana passada, durante manifestação em

Regência, onde as águas do rio Doce encontram o mar. A posição firme do prefeito valeu ainda um convite para participar de um seminário com gran-des ambientalistas do país, na semana passada.

Único prefeito comunista no Espírito Santo, Neto Barros não poupou nem a presidente Dilma, que em visita a Colatina foi cobrada pela não libe-ração de recursos de 2013, quando Baixo Guandu sofreu uma enchente avassaladora.

“O que aconteceu foi um crime ambiental sem precedentes na história do país e a Samarco, junto com a Vale e a BHP australiana, controladoras da empresa, vão ter que pagar. Hoje existem dúvidas sobre o futuro do rio e como os municípios vão enfrentar estas dificuldades? Pescadores estão desamparados, fauna e flora destruídos no entor-no do rio e o descaso não pode acontecer por parte destas empresas poderosas. Elas terão que assu-mir responsabilidades diante da tragédia”, afirma o prefeito de Baixo Guandu.

Neto Barros defende um grande projeto de recuperação do rio, elogiando um estudo de recu-peração de nascentes entregue pelo fotógrafo Sebastião Salgado ao governador Paulo Hartung e depois à presidente Dilma Roussef. “Isto é essencial, mas a médio e longo prazos. Precisa-mos agora de recursos das empresas responsáve-is pela tragédia”, acrescentou.

A Câmara Municipal de Baixo Guandu, conforme requerimento protocolado pelos próprios vereado-res, constituiu Comissão Especial para acompanhar, analisar e buscar alternativas em relação aos proble-mas causados pelo rompimento da barragem da empresa Samarco, ocor-rido no município de Mariana-MG.

Esta comissão também buscará fiscalizar, promover ações concretas junto aos órgãos competentes e após a conclusão destes trabalhos, apre-sentará um relatório com provas, indentificando os devidos responsá-veis pela tragédia.

O presidente da Câmara, Jusceli-

no Henck, foi solicitado para pro-porcionar aos membros desta Comissão Especial todas as condi-ções necessárias para realização do trabalhos a serem realizados.

“A Comissão terá toda atenção necessária do Legislativo Guandu-ense para a realização desta investi-gação, que sem dúvidas, foi a maior tragédia ambiental da história dos Estados de Minas Gerais e Espírito Santo,” afirmou Juscelino Henck.

Fazem parte da comissão os vere-adores Marcos Humberto Stein Mer-lo (Presidente), Fabiano Westphal (Vice-presidente) e Pedro José Mati-as de Araújo (Secretário).

O diretor adjunto do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) de Governador Valadares, Vilmar Rios, recebeu no dia 26 de novem-bro, a Comissão Especial da Câmara de Baixo Guandu.

Segundo o diretor, a captação de água no rio Doce foi retomada no dia 15 de novembro, após o governador de Minas Gerais, Fernando Pimen-tel, apresentar laudo atestando a pos-sibilidade do retorno da captação.

Para a captação foi utilizada uma substância coagulante chamada polí-mero de acácia negra, que acelera o processo de decantação, permitindo a separação dos resíduos.

“O retorno do abastecimento

está dentro dos mais rigorosos padrões de qualidade para o consu-mo,”afirmou o diretor Vilmar Rios.

Esta visita, realizada pela Comissão Especial da CMBG é de grande importância, mesmo que o abastecimento em Baixo Guandu, após o desastre, esteja sendo feito através do rio Guandu.

“Baixo Guandu tem sorte de ter outra fonte de água: o rio Guandu. Porém, o rio Doce precisa de nossa total atenção, pois a qualquer momento, podemos novamente ter a necessidade do abastecimento atra-vés dele,” afirmou o presidente da Comissão, o vereador Marcos Hum-berto Stein Merlo.

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Não bastasse o rio de lama que corre na calha do rio Doce, Baixo Guandu enfrenta a maior seca de toda a sua his-tória. Depois da grande enchente de dezembro de 2013, quando em apenas 25 dias choveu quase 1.000 milímetros no município, provocando mortes e gra-ves prejuízos, em 2014 e 2015 choveu menos da metade do esperado em Bai-xo Guandu, provocando uma grande desesperança especialmente na área rural.

“Eu nunca vi uma seca como essa. Para se ter uma idéia, desde que entra-ram as águas em outubro, choveu ape-nas 50mm em Baixo Guandu, quando o normal seriam 300mm”, disse na sema-na passada o produtor rural Ademar Sanches, que está alimentando seu gado com ração para evitar mortandade no rebanho.

Sanches mantém em sua proprieda-de um pluviômetro, onde faz questão de acompanhar diariamente o compor-tamento das chuvas. “Tivemos um ano de 2014 com pouco mais de 500mm de chuva, quando o normal seria próximo de 1.000 milímetros e se continuar como está em 2015 nem vamos atingir esta mesma quantidade”, falou o pro-dutor.

Se compararmos os anos de 2014 e 2015, Baixo Guandu já está nestes dois anos com um déficit hídrico de mais de 1.000 milímetros, o que significa um verdadeiro desastre para as atividades rurais.

Para se ter uma idéia, dois grandes rios que cortam o município, o Lage e o Santa Joana, secaram e hoje estão com pouquíssima água, impedindo até a irrigação nas lavouras de café. O rio Guandu teve também diminuída drasti-camente sua vazão, chegando a ficar com apenas um filete de água em alguns pontos.

Com base em dados do Incaper, que mantém um estudo das chuvas em Bai-xo Guandu desde o ano de 1942, os anos de 2014 e 2015 são mesmo atípi-cos com relação às chuvas. A média anu-al no município é de 942mm. Em 2014 choveu apenas 531mm e neste ano, a continuar esta tendência, não vamos atingir os 500 milímetros. Até o come-ço de novembro, o registro era de ape-nas cerca de 250mm.

O ano mais seco em Baixo Guandu desde 1942, segundo o Incaper, foi o ano de 1963, quando choveu apenas 291mm. O mais chuvoso desde 1942 foi o ano de 1979, por ocasião da gran-de enchente do rio Doce, quando cho-veu 1.653mm. Em 2013, choveu tam-bém bastante: 1.478mm.

A grande enchente ocorrida em dezembro de 2013 em Baixo Guandu, quando em alguns pontos do município chegou a chover 1.000 milímetros em apenas 25 dias, parecia o prenúncio de que o município enfrentaria um forte período de estiagem.

E foi o que aconteceu: em 2014 cho-veu apenas 531mm e em 2015, até o final de dezembro, as chuvas não devem atin-gir no ano inteiro a 500 milímetros. Levando-se em consideração que a média anual de chuvas desde 1942 em Baixo Guandu é de 942 milímetros, sig-nifica dizer que nos dois últimos anos, teremos um déficit de chuva superior a 900 milímetros.

“É uma tragédia muito grande para toda a nossa produção rural. Esta falta de chuvas, que trouxe consequências graves à nossa economia, soma-se agora a uma

outra tragédia, a do rio Doce, com o despejo de milhares de toneladas de lama da Samar-co”, afirmou na semana passada o prefeito Neto Barros.

Baixo Guandu perdeu mais de R$ 50 milhões em suas atividades econômicas decorrente da forte estiagem de 2014 e 2015, conforme estimativas feitas recentemente. Caiu drasticamente a produção de café, de lei-te, o gado para engorda sofreu com a falta de pastaria e as atividades rurais de forma geral foram seriamente prejudicadas.

As tradicionais plantações de milho e fei-jão na áreas rural foram prejudicadas muito em 2014 e a situação se repetiu em 2015. “Quando terminava outubro e iniciava novembro, o comum era o plantio imediato destas culturas, mas quem arriscou e plantou nas pequenas chuvas que caíram, está perden-do tudo”, explicou na semana passada o pro-dutor Nelson Rodrigues Sarmento, da região

de Ibituba. “O produtor rural está muito sacri-ficado e sem esperanças de uma melhora, já que as chuvas insistem em cair em pequena quantidade, inclusive no mês de dezembro, que sempre foi o mês mais chuvoso em Baixo Guandu”, explicou Nelson.

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O grave acidente ambiental ocorrido no dia 5 de novembro, quando uma barragem da Samar-co Mineração se rompeu, despe-jando nas águas do rio Doce cen-tenas de toneladas de lama, moti-vou uma audiência pública na Câ-mara Municipal de Aimorés. Ve-readores, o prefeito municipal, secretários municipais, promo-tores de Justiça, a Polícia Ambi-ental e a deputada Celise Lavio-la, além de dezenas de pessoas da comunidade discutiram a ques-tão e analisaram as consequênci-as desta tragédia na vida de Aimo-rés. Em Mariana, foram registra-dos 20 mortos pela enxurrada de lama, que chegou a destruir intei-ramente o distrito de Bento Ro-drigues.

Várias cidades de Minas Gera-is foram diretamente afetadas pela lama da barragem, algumas com mais ou menos efeitos nega-tivos, mas todas concordando com a irresponsabilidade da Sa-marco Mineração, uma empresa controlada pela Vale e pela aus-traliana BHP Billinton. Além de várias cidades de Minas, a lama afetou também as cidades de Bai-

xo Guandu, Colatina e Linhares, no Espírito Santo, onde os deje-tos da barragem atingiram o mar.

Na audiência pública de Aimo-rés, realizada nas dependências da Câmara Municipal, compare-ceram além dos vereadores, os promotores de Justiça Stefano Naves Boglione e Isabel Mendes Lomeu, os tenentes da PM Gil-berto Gonçalves Crespo e Gled-son Pedroni, a deputada estadual Celise Laviola e representantes da comunidade de Aimorés, que tiveram a oportunidade de ex-pressar sua indignação com esta que é considerada a maior tragé-dia ambiental da história do Bra-sil.

Representantes da comunida-de de Aimorés, além das autori-dades presentes, fizeram também uma série de considerações a res-peito da tragédia envolvendo o rio Doce, entre eles o pastor Rays-san Guimarães Cruz, Maria Hele-na Calvão Caser, Guaracy Mati-as, Zilá da Silva Soeiro, Toribio Cordeiro Neto e Paulo Daniel Afoumado.

Aimorés, que já sofreu uma grave enchente em dezembro de

2013, viu desta vez o rio Doce inundado por centenas de tonela-das de resíduos de lama resultan-tes da mineração na cidade de Ma-riana, onde ficam as jazidas da Sa-

Também presente na audiência pública realizada na Câmara, a deputada esta-dual Celise Laviola destacou que o rio Doce foi vítima da maior tragédia ambien-tal do país e que é preciso cobrar agora das autoridades providências para a recu-peração do manancial. A deputada relatou uma série de providências que estão sendo tomadas a nível de Governo do estado, Defesa Civil e Ministério Público para amenizar de imediato os danos da tragédia, mas deixou claro que assim que os laudos técnicos ficarem concluídos, os municípios devem ajuizar as demandas judiciais em torno do ressarcimentos dos danos causados.

“Nós não podemos deixar o nosso rio Doce morrer e precisamos estar empe-nhados e unidos em favor de medidas que venham a restabelecer o equilíbrio ambi-ental”, enfatizou a deputada, que anunciou a intenção da Samarco em realizar um tratamento biológico em todo o rio Doce para garantir a limpeza da água.

Celise Laviola garantiu ainda na audiência que outras barragens da Samarco es-tão sendo monitoradas 24 horas por dia, para evitar uma tragédia maior, que seria um novo rompimento na região de Mariana. A deputada alertou para a gravidade da situação e garantiu que a comissão extraordinária criada na Assembleia Legis-lativa de Minas Gerais vai trabalhar durante o recesso parlamentar no acompanha-mento das providências com relação a este grave problema ambiental.

Vários vereadores de Aimorés fizeram pronunciamento na audiência pública realizada na Câmara, condenando de forma veemente a irresponsabilidade da Sa-marco diante do desastre ambiental. O presidente Sebastião Ferreira de Souza en-fatizou a omissão da Vale diante dos problemas enfrentados por Aimorés e deze-nas de outras cidades de Minas e do Espírito Santo, destacando também que a bar-ragem rompida não tinha um monitoramento confiável para evitar a tragédia. “Nós já enfrentamos uma seca de graves proporções e agora acontece mais este problema para Aimorés,” destacou Tião Molin, que colocou também em dúvida a segurança da própria barragem da Usina Hidrelétrica de Aimorés.

O vereador Onair Vitorino Filho falou da importância da audiência pública, considerando-a importante para levar informações mais precisas à população so-bre a tragédia, cobrando ainda do Poder Executivo de Aimorés medidas judiciais em desfavor da Samarco.

Da audiência pública, a vereadora Andrea Afoumado sugeriu que fosse ela-borado um documento para ser encaminhado às autoridades competentes, mos-trando a preocupação de Aimorés com a tragédia ambiental e buscando os dire-tos da cidade ser ressarcida com os prejuízos decorrentes da lama lançada nas águas do rio Doce.

marco.O resultado não poderia ser

mais catastrófico: toneladas de peixes mortos, dúvidas com rela-ção ao abastecimento de água em

várias cidades mineiras, colora-ção amarelo-avermelhada no rio Doce e a pergunta que fica no ar: quantos anos serão necessários para a recuperação do rio?

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Um dos ambientalistas mais conhecidos do mun-do, o fotógrafo aimoreense Sebastião Salgado, que desde 1988 desenvolve um trabalho de recuperação ambiental na bacia do rio Doce, se manifestou de forma clara sobre a tragédia ambiental proveniente do rompimento da barragem da Samarco em Maria-na.

Salgado visitou Aimorés assim que soube do de-sastre ambiental e levou à presidente Dilma Rous-sef um projeto de recuperação do rio Doce, defen-dendo a criação de um megafundo para mudar em definitivo a história do manancial. Este fundo, esti-mado em aproximadamente R$ 20 bilhões seria ban-cado pela Samarco e as controladoras da empresa, a Vale e a BHP, constituindo-se num projeto que se transformaria num “modelo para o Brasil”.

Não há dúvidas, segundo Sebastião Salgado, que a enxurrada de lama trouxe danos incalculáveis à bacia do rio Doce, não somente com a morte de pei-xes e a queda da qualidade da água, mas também a vida do manancial como um todo. “Os ovos de pei-xe foram soterrados, não vão nascer mais tartaru-gas, sapos, rãs e plantas aquáticas, ou seja, o rio está praticamente morto e será necessário um trabalho contundente na recuperação”, disse Salgado.

“Nossa proposta é fazer com que o rio Doce, que

levou uma punhalada terrível, seja no futuro um mo-delo de recuperação ambiental no país”, afirma o fo-tógrafo aimoreense, que garante não desanimar na luta pela recuperação ambiental da região. Ele des-taca, porém, que para isso precisamos de recursos de um grande fundo, “que deverá ser negociado com as empresas responsáveis”. Salgado afiançou que a Samarco e suas controladoras tem noção per-feita do grande desastre que provocaram e acredita que elas estarão dispostas a colaborar dentro de uma negociação.

A idéia, segundo Sebastião Salgado, é recuperar todas as nascentes do rio Doce, suas matas ciliares, enfim, conforme ele mesmo diz, 'refazer o rio'.

" O rio Doce é minha vida, nasci e cresci nas suas margens e acompanhei a degradação deste ecossis-tema. Mas vamos salvar o rio, não tenho dúvidas dis-so”, acentua Salgado, que desde 1988, através do Instituto Terra, além de criar uma reserva florestal em Aimorés, já vinha desenvolvendo um amplo tra-balho de recuperação de nascentes em toda a bacia hidrográfica do rio Doce. Agora, no entanto, a situ-ação se agravou com o despejo dos dejetos de mine-ração em todo o curso do rio e só um projeto amplo, com grandes recursos, poderão salvar em definitivo o ecossistema."

Para Sebastião Salgado, este trabalho deve ser iniciado já, sem protelação, mas com a participação de toda a sociedade civil e recursos para que o pro-jeto de recuperação não sofra interrupção.

“O rio Doce, que ao longo de décadas sofreu uma das maiores agressões ambientais desde a colo-nização, ainda vai ser um exemplo para o Brasil. Eu tenho esperança, mas precisamos agir e a presiden-te Dilma mostrou-se muito receptiva ao projeto. Este mega fundo seria uma parceria público privada e o rio Doce vai sim, se transformar num exemplo para nosso país”, acrescenta Sebastião Salgado.

A enxurrada de lama que desceu da barragem da Samarco desde Mariana, afetando dezenas de cida-des ao longo do rio Doce, só não causou danos ainda maiores a Aimorés porque a cidade usa para consu-mo da população a água captada no rio Manhuaçu. Ou seja, a cidade não teve interrupção no forneci-mento de água tratada para a população, ficando a ex-ceção por conta do distrito de Santo Antônio do Nor-te, mais conhecido por Mauá.

Neste distrito aimoreense, a água é captada no rio Doce e posteriormente tratata pelo SAAE para ser distribuída à população. Os quase mil moradores do distrito tiveram que ser abastecidos durante vários dias por carros pipas providenciados por Aimorés, até que ficou comprovada por análises que o trata-mento poderia ser retomado sem danos à saúde da po-pulação.

Mas a questão da água tratada apenas amenizou a situação na sede de Aimorés, porém os danos à cida-de são muito grandes. Uma das preocupações é a so-brevivência de dezenas de famílias da cidade que vi-vem da pesca. A lama matou toneladas de peixes em toda a região e não se sabe quantos anos serão neces-sários para que a fauna do rio Doce volte ao normal e garanta a sobrevivência dos pescadores.

Durante os dias logo depois do rompimento da barragem em Mariana, a imprensa de Minas Gerais e do Espírito Santo chegou a noticiar que estudos esta-vam sendo feitos no sentido de desviar a lama em di-reção a enorme cratera que existe na região do Bai-xio, evitando que ela seguisse rumo ao estado capi-xaba e ao mar.

Estas notícias receberam pronta contestação das autoridades de Aimorés, que repudiaram a possibili-dade de cidade guardar estes dejetos. Posteriormente a possibilidade foi descarta pela própria Samarco, se-

gundo anunciou a deputada Celise Laviola na au-diência pública realizada em Aimorés.

Aimorés enfrenta, além da lama no rio Doce e a “morte” do rio, uma grave seca desde janeiro de

2013. Para se ter uma idéia, o rio Capim, um dos mais importantes do município, chegou a secar por falta de chuvas, situação que se arrasta há quase dois anos, prejudicando dezenas de produtores rurais.

A hidrelétrica de Aimorés reteve, mas depois teve que soltar a lama oriunda da Samarco

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A Lei Orgânica do município de Aimorés teve uma nova revisão para se adequar às Constituições Fe-deral e Estadual e foi promulgada pela Mesa Diretora do Legislativo no dia 7 de dezembro último. Desde 19 de outubro, quando se iniciaram os trabalhos, os vere-adores discutiram em várias reuniões as alterações ne-cessárias, contando com a colaboração efetiva do as-sessor jurídico dr. Rodrigo Condé, da secretaria de Câ-mara municipal Lourdes Vizintin Ernandes e do con-sultor jurídico do Legislativo, dr. Rafael Paiva.

Após o início dos trabalhos, em 19 de outubro, em 9 de novembro a Comissão de Justiça e Redação deu parecer favorável e em 23 de novembro aconteceu a primeira votação da matéria. Em 7 de dezembro foi re-alizada a segunda votação, com aprovação por unani-midade, tendo em seguida a Mesa Diretora feito a pro-mulgação.

A Lei Orgânica Municipal é a chamada “Constitu-ição Municipal”, que existe exatamente para nortear a conduta do município no aspecto da administração pública. Com a Constituinte de 1988, em 1990 a Câ-mara de Aimorés fez a primeira Lei Orgânica, sendo que em dezembro de 2006 foi promulgada a primeira alteração. Agora, em 2015, aconteceu a segunda revi-são, tendo em vista as alterações nas Constituições Fe-deral e Estadual, que ensejam as mudanças também a nível municipal.

O consultor jurídico da Câmara de Aimorés, dr. Ra-fael Paiva, explicou que “é extremamente importante a revisão da Lei Orgânica Municipal, para que sejam atendidos os novos dispositivos constitucionais alte-rados após a promulgação da Constituição Federal de 1988, no que tange ao meio ambiente, saneamento bá-sico, garantia dos direitos de acessibilidade das pes-soas portadoras de necessidades especiais, com mobi-lidade reduzida, entre outros”.

Os trabalhos de revisão, segundo o assessor jurídi-co Rodrigo Condé e a secretaria da Câmara Lourdes Ernandes, exigiram bastante dedicação dos vereado-res, que estudaram os pontos a serem alterados para permitir a adequação às Constituições Federal e Esta-dual.

Conheça alguns tópicos alterados:• Inclusão de novos artigos que dispõe sobre as

competências dos municípios;• Alteração do conceito de peculiar interesse para

interesse local;• Inclusão das emendas aprovadas anteriormente;• Alteração para permitir o município estabelecer

incentivo fiscal para empresas;• Alteração na Seção que disciplina Saúde;• Habitação e Saneamento;• Família, criança, adolescente, idoso, jovem e do

portador de necessidades especiais;• Política Urbana;• Política Agrícola e Rural;• Direito à Informação.

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Certo dia, um camponês bateu com força na por-ta de um convento. Quando o irmão porteiro abriu, ele lhe estendeu um magnífico cacho de uvas.

- Caro irmão porteiro, estas são as mais belas produzidas pelo meu vinhedo. E venho aqui para dá-las de presente.

- Obrigado! Vou levá-las imediatamente ao Abade, que ficará alegre com esta oferta.

- Não! Eu as trouxe para você.- Para mim? Você me deixa ruborizado, porque

não mereço tão belo presente da natureza.- Sempre que bati na porta, você abriu. Quando

precisei de ajuda porque a colheita foi destruída pela seca, você me dava um pedaço de pão e um copo de vinho todos os dias. Eu quero que este ca-cho de uvas traga-lhe um pouco do amor do sol, da beleza da chuva, e do milagre de Deus, que o fez nascer tão belo.

O irmão porteiro colocou o cacho diante de si, e passou a manhã inteira admirando-o: era realmen-te lindo. Por causa disso, resolveu entregar o pre-sente ao Abade, que sempre o havia estimulado com palavras de sabedoria.

O Abade ficou muito contente com as uvas, mas lembrou-se que havia no convento um irmão que estava doente, e pensou: "vou dar-lhe o cacho. Quem sabe, pode trazer alguma alegria à sua vi-da".

Mas as uvas não ficaram muito tempo no quar-to do irmão doente, porque este refletiu: "o irmão cozinheiro tem cuidado de mim por tanto tempo, alimentando-me com o que há de melhor. Tenho certeza que isso lhe trará muita felicidade. Quando o irmão cozinheiro apareceu na hora do almoço, trazendo sua refeição, ele entregou-lhe as uvas".

- São para você. Como sempre está em contato com os produtos que a natureza nos oferece, sabe-rá o que fazer com esta obra de Deus.

O irmão cozinheiro ficou deslumbrado com a beleza do cacho, e fez com que o seu ajudante repa-rasse a perfeição das uvas. Tão perfeitas que nin-guém para apreciá-las melhor que o irmão sacris-tão, responsável pela guarda do Santíssimo Sacra-mento, e muitos no mosteiro o viam como um ho-mem santo.

O sacristão, por sua vez, deu as uvas de presen-te ao noviço mais jovem, de modo que este pudes-se entender que a obra de Deus está nos menores detalhes da Criação. Quando o noviço o recebeu, o seu coração encheu-se da Glória do Senhor, por-que nunca tinha visto um cacho tão lindo. Na mes-ma hora lembrou-se da primeira vez que chegara ao mosteiro, e da pessoa que lhe tinha aberto a por-ta; fora este gesto que lhe permitira estar hoje na-quela comunidade de pessoas que sabiam valori-zar os milagres.

Assim, pouco antes do cair da noite, ele levou o cacho de uvas para o irmão porteiro.

- Coma e aproveite. Porque você passa a maior parte do tempo aqui sozinho, e estas uvas lhe farão muito feliz.

O irmão porteiro entendeu que aquele presente tinha lhe sido realmente destinado, saboreou cada uma das uvas daquele cacho, e dormiu feliz. Desta maneira, o círculo foi fechado; o círculo de felici-dade e alegria, que sempre se estende em torno de quem está em contato com a Energia do Amor.

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Os deputados federal Mauro Lopes e estadual Celise Laviola estiveram no dia 11 de dezembro em Aimorés, quando foi feita a entrega de um aparelho de raio-X Digital para o Hospital São José e São Camilo, ten-do ainda na ocasião anunciado mais recur-sos, também de emendas parlamentares, para garantir o custeio da instituição.

O aparelho de raio-X, que substitui um antigo com mais de 50 anos de funciona-mento, é totalmente digital e custou R$ 286 mil, oferecendo mais agilidade e precisão nos diagnósticos. Este aparelho chegou a Aimorés através de emenda parlamentar do deputado federal Mauro Lopes.

O deputado Mauro Lopes anunciou ain-da, na ocasião, a liberação nas próximas semanas de recursos no valor de R$ 200 mil, também proveniente de emenda parla-mentar, para auxiliar no custeio do hospi-tal. Já a deputada estadual Celise Laviola conseguiu através de emenda parlamentar, uma verba de custeio no valor de R$ 130 mil para o Hospital São José e São Camilo.

Na qualidade de instituição filantrópica, o hospital pode receber recursos e equipa-mentos provenientes dos Governos Fede-ral e Estadual. Os deputados Mauro Lopes e Celise enfatizaram a necessidade de apo-io constante ao hospital, tendo colocado seus mandatos à disposição para auxiliar em busca de um atendimento melhor para a população. Os deputados Mauro Lopes e Celise Laviola estiveram no dia 11 de dezembro no hospital de Aimorés

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A indignação pela tragédia ocor-rida em Mariana, região central do Estado, e suas devastadoras conse-quências ambientais e sociais são conhecidas e têm sido relatadas pela imprensa mineira. E o mandato do deputado estadual Dr. Jean Freire é, enfaticamente, contra a exploração mineral nos moldes atuais, desres-peitando o meio ambiente, as condi-ções de trabalho, as medidas de segurança, a saúde das pessoas e a vida. Mas, a partir da realidade já imposta pelo tsunami de lama que invadiu Minas Gerais, o que pode ser feito para minimizar os danos?

É no sentido de apresentar solu-ções e cuidar do meio ambiente, que o deputado estadual Dr. Jean Freire protocolou na Assembleia Legisla-tiva mineira, ALMG, um projeto de lei que visa cuidar do rio Santo Antô-nio, integrante da bacia do Rio Doce, e um afluente do rio Paraibu-na, o rio Preto. A preservação das espécies do Santo Antônio garanti-ria a manutenção da biodiversidade da bacia do Rio Doce, destruída pelos rejeitos das barragens estou-radas da Samarco Mineração.

“A comunidade acadêmica vem tentando isto há tempo, principal-mente em função dos inúmeros apro-veitamentos hidrelétricos na bacia do Doce, e pelo fato do Santo Antô-nio ser o único rio da bacia a ainda possibilitar a existência de várias espécies de peixes ameaçadas de

extinção”, afirma Paulo Pompeu, professor da Universidade Federal de Lavras.

Vários municípios cortados pelo rio Doce foram afetados pela tragé-dia em Mariana, como é o caso de Aimorés, que viu a lama atingir o rio nessa segunda-feira causando a mor-tandade dos peixes e a tristeza dos moradores.

“Olharemos e cobraremos um olhar atento para Aimorés, que sofre diretamente os impactos da destrui-ção do rio Doce”, informou o depu-tado Dr. Jean Freire.

“Com o acidente de Mariana, a importância da existência de um rio em condições mínimas de preserva-ção se torna ainda mais evidente. A recuperação do rio Doce levará mui-tos anos e, mesmo assim, só será pos-sível se alguma região em melhor estado de preservação funcionar como fonte de organismos aquáticos para a região impactada”, ressalta Paulo.

O rio Santo AntônioCom a nascente na Serra do Espi-

nhaço, em Conceição do Mato Den-tro, região central do estado, o rio Santo Antônio é um dos principais afluentes do rio Doce e corta 29 municípios. Sua bacia se destaca pela riqueza de seus recursos natura-is representados pela grande diversi-dade de sua fauna e flora, pelos seus recursos hídricos e também por seu

grande potencial de geração de ener-gia elétrica, o que causa grande inte-resse nas indústrias do setor.

Energia x faunaSe aprovado, o projeto de lei de

Dr. Jean Freire acrescentará o rio Santo Antônio à lista dos considera-dos de preservação permanente pela lei nº 15.082, de 2004. O objetivo central é evitar a prevista instalação de 2 hidrelétricas em seu curso, o que destruiria boa parte de sua fauna de peixes e, consequentemente, poria fim aos exemplares da biodi-versidade da bacia do maltratado Rio Doce.

“Mas e a geração de energia?”, perguntariam os responsáveis pelos empreendimentos. A resposta ten-denciosa à preservação da fauna em detrimento da produção energética vem em dados comparativos:

- O rio Santo Antônio, sozinho, abriga quase 90% das espécies registradas para a bacia do Rio Doce, incluídas umas que, hoje, são encontradas somente ali;

Enquanto...- A energia perdida com a preser-

vação do rio (277 MW) correspon-deria a menos de 10% do potencial hidrelétrico de toda a bacia (3512 MW).

Apesar de trazer alguns benefíci-os, principalmente relacionados à

geração de empregos, a implantação de usinas hidrelétricas trazem consi-go grandes consequências como desestruturação de práticas tradicio-nais das famílias, assim como inter-rupção do acesso ao patrimônio cul-tural, material e imaterial da região onde elas são instaladas.

Dessa forma, a importância do Santo Antônio no contexto da bacia do Rio Doce é incontestável. Se por um lado sua decretação como rio de preservação permanente importaria no impedimento de implantação de algumas centrais hidrelétricas, por outro, representaria a possibilidade de preservação, em longo prazo, da maioria das espécies da bacia do Rio Doce. Afinal, mesmo quando implantadas medidas mitigadoras associadas a barramentos, como, por exemplo, escadas para peixes, estas se tornam completamente inú-teis quando o rio é transformado em uma sequência de reservatórios.

A lei de preservaçãoA partir da Lei nº 15.082, de 27

de abril de 2004, Minas Gerais criou um tipo de unidade de conservação não previsto no Sistema Nacional de Unidade de Conservação (SNUC), denominado rios de preservação per-manente. É neste quadro que o depu-tado Dr. Jean Freire deseja incluir o rio Santo Antônio, uma vez que, no rio de preservação permanente são proibidos, conforme o artigo tercei-

ro, inciso terceiro, “o exercício de ati-vidade que ameace extinguir espécie da fauna aquática ou que possa colo-car em risco o equilíbrio dos ecossis-temas”. O inciso quarto vai além ao proibir: “a utilização de recursos hídricos ou execução de obras ou ser-viços com eles relacionados que este-jam em desacordo com os objetivos de preservação expressos no art. 2° desta lei”.

Atualmente, apenas cinco rios (ou trechos deles) estão enquadra-dos como de preservação permanen-te, como o São Francisco, o Jequiti-nhonha, o Cipó e o rio Grande.

É imprescindível que o rio Santo Antônio possa ser o sexto desta lista! Afinal, está em jogo, além da preser-vação do mesmo, a saúde da bacia do Rio Doce, tão judiada pelos recém-acontecimentos.

Dr. Jean Freire