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São Paulo, domingo, 2 de novembro de 1997

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Contra Arraes, PFL dificulta privatização

XICO SÁ

DA REPORTAGEM LOCAL

FÁBIO GUIBU

A chamada "esquerda" quer privatizar e tem pressa, mas o PFL, maior

defensor da vendas de estatais no Brasil, bate o pé e diz não.

Um liberal que descer em Pernambuco nesse momento vai ter

dificuldades, nos primeiros dias, para entender o que acontece

realmente no Estado.

Ocorre que o governador Miguel Arraes (PSB), 80, lançado esta semana

como candidato ao seu quarto mandato, iniciou o processo de

privatização da Celpe (Companhia Energética de Pernambuco), mas

encontrou resistência nos aliados do presidente Fernando Henrique

Cardoso.

Na definição de políticos ligados a Arraes, aqueles que guardam

princípios liberais em Brasília são estatizantes nos limites do mapa de

Pernambuco. Nesse grupo estão o PLF, parte do PSDB e PMDB.

"Arraes quer fazer uma sacola de dinheiro com a privatização somente

para gastar no ano eleitoral", diz a deputada estadual Tereza Duere,

líder do PFL na Assembléia de Pernambuco. "Somente por este motivo

somos contra e não estamos ferindo nossos princípios liberais."

Como a questão se choca com a cartilha do PFL, os líderes nacionais do

partido preferem não dar palpite sobre o assunto no momento, embora

apóiem e orientem os pefeleistas estaduais .

O vice-presidente Marco Maciel, por exemplo, se recusa a comentar o

assunto. Segundo ele, o problema não diz respeito ao seu partido nem à

coligação PMDB-PFL, que vai disputar a eleição estadual.

O candidato da coligação, Jarbas Vasconcelos (PMDB), ex-prefeito de

Recife, é o principal crítico do processo de venda de ações de empresas

estatais iniciado por Miguel Arraes.

Lançado candidato pelo neto e secretário da Fazenda Eduardo Campos,

o governador, que é contra as privatizações nacionais, respondeu a

Vasconcelos: "O PMDB não tem de gostar. Quem tem de gostar é o

povo".

No comando de uma administração acusada pelo PMDB e PFL de

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ineficiente, o governador conta com pelo menos dez trunfos para tentar

a reeleição.

Somente o início da privatização da Celpe, com a venda de 40% das

ações, vai render R$ 600 milhões ao governo.

A administração usufrui ainda do polêmico pacote de títulos públicos

(no valor de R$ 480 milhões), que lançou em 96 para pagar R$ 23

milhões em precatórios.

Com aval da Assembléia Legislativa, onde detém a maioria dos votos,

conseguiu depositar a diferença no caixa único do Estado. Agora,

anuncia o pagamento antecipado do 13º salário de 97.

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Troca de acusações antecipa a campanha

DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE; DA REPORTAGEM LOCAL

O lançamento da candidatura à reeleição do governador Miguel Arraes

(PSB), feito na semana passada pelo seu neto Eduardo Campos, deu

início a uma troca de acusações pesadas que antecipam o clima da

campanha eleitoral do próximo ano.

O baixo nível verbal começou a ser promovido por assessores e

políticos ligados a Arraes e ao ex-prefeito Jarbas Vasconcelos,

candidato da aliança PMDB-PFL. A disputa é travada pelos jornais e

rádios de Recife.

Os aliados de Arraes tentam carimbar Vasconcelos, político que

costuma rir muito pouco, como um candidato raivoso e de

temperamento agressivo.

Por conta desse comportamento, os adesivos de lançamento da

campanha à reeleição do governador trazem as inscrições "Arraes 98",

"Pernambuco não será governado pelo ódio" e "Vamos trabalhar por

Pernambuco, sem ódio e sem pessimismo".

Além dos adesivos, aliados de Arraes fazem piadas, divulgando que o

bairro onde mora Jarbas Vasconcelos terá vacinação anti-rábica -contra

a raiva.

A assessoria do candidato do PMDB-PFL também não economizou no

ataque. Divulgou que Miguel Arraes e o seu neto Eduardo Campos,

secretário estadual da Fazenda, não poderiam mais passear na Ilha de

Itamaracá, pois corriam o risco de ficar detidos.

A ilha, localizada na região metropolitana de Recife, possui uma

penitenciária e um presídio.

As acusações, no mesmo teor, têm como palco a tribuna da Assembléia

Legislativa, onde governo e oposição travam a disputa da privatização

da Celpe, a companhia de energia de Pernambuco

Precatórios

Para os adversários de Arraes, um dos principais motes eleitorais será a

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polêmica dos precatórios.

"O governador e o neto (Eduardo Campos) cometeram crimes que

precisam ser explicados durante a campanha", disse à Folha a deputada

estadual Tereza Duere, líder do PFL na Assembléia Legislativa de

Pernambuco.

A administração de Arraes foi acusada, durante a CPI dos Precatórios,

de desviar recursos obtidos com a finalidade de pagar precatórios

(sentenças judiciais) para outros objetivos.

Na sua defesa, o governador disse que todo o processo da venda de

títulos contou com a aprovação da Assembléia e do Tribunal de Contas

do Estado.

Blefe

Para parte dos aliados da coligação PMDB-PFL, o lançamento da

candidatura de Arraes à reeleição ainda é visto como um blefe, uma

forma de paralisar o processo de adesão de políticos ao grupo de Jarbas

Vasconcelos, apontado até então como favorito.

Antes do lançamento de Arraes, o senador Carlos Wilson (PSDB) era

apontado como um possível adversário do ex-prefeito de Recife,

embora enfrentasse resistência entre os próprios tucanos que preferem

seguir com o PFL e o PMDB.

Com o anúncio de medidas e promessas que podem ajudá-lo na

tentativa de emplacar o quarto mandato, Miguel Arraes mudou o

cenário que já apontava Jarbas Vasconcelos como virtual eleito em 98.

O governador vai tentar consolidar o prestígio na área do sertão, onde é

festejado como mito. Uma das promessas é levar "luz" aos grotões e

elevar de 55% para 80% o percentual de propriedades rurais com

eletrificação no Estado.

Para a região metropolitana de Recife, reduto de Vasconcelos, o

governo anunciou um pacote de obras.

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Dieta inclui sopa e uísque

DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

O governador Miguel Arraes (PSB) mantém, aos 80 anos, os mesmos

73 kg que tinha há 60 anos.

Arraes cumpre uma rotina de dieta e exercícios, que inclui uma

caminhada diária de uma hora em uma esteira na sua casa.

O governador não dorme mais de seis horas por dia e se alimenta

basicamente de frutas, saladas e sopas.

Arraes não mistura tipos de alimentos na mesma refeição e só ingere

três tipos de bebida: café sem açúcar, água e uísque Johnny Walker

(rótulo preto).

O cachimbo e o charuto cubano Cohiba o acompanham desde o exílio,

na década de 60, quando parou de fumar cigarros.

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Para relaxar, de 15 em 15 dias, o governador vai à praia de Maragogi,

Alagoas, onde tem uma casa.

A última vez que ficou doente foi em setembro, quando uma gripe o

obrigou a adiar o ato de filiação ao PSB da ex-prefeita de São Paulo

Luiza Erundina.

Caso seja reeleito, Arraes -que faz 81 anos no dia 14 de dezembro- pode

assumir o cargo, pela quarta vez, aos 82 anos.

Seu eventual mandato terminaria dias após completar 86 anos -idade

ainda inferior à que tinha sua mãe, Benigna, quando morreu há cerca de

três anos, aos 99, no Ceará.