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FORMAÇÃO DA EQUIPE DA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO Os Índices de Alfabetização Gestão da Educação

FORMAÇÃO DA EQUIPE DA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO · A democracia plena é impossível ... desempenho esperado para o 3º ano, o que elas revelam sobre os ... dos alunos do 5º ano

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FORMAÇÃO DA EQUIPE DA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO

Os Índices de Alfabetização

Gestão da Educação

A área de Educação da Fundação Vale busca contribuir para a melhoria da educação básica, com foco na promoção de uma prática docente pautada nos princípios da pluralidade cultural e do respeito às diferenças.

COORDENAÇÃO DO PROGRAMAEquipe de Educação Fundação Vale

APOIO EDITORIALDepartamento de Comunicação Corporativa Vale

PARCEIROComunidade Educativa CEDAC

EDIÇÃO E REVISÃO DE TEXTO JVAB Edições Ltda

PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃOInventum Design

Este símbolo indica que o papel utilizado neste material foi produzido com madeiras de florestas certificadas.

selo FSC

Formação da equipe da Secretaria de Educação Os Índices de Alfabetização

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A garantia da alfabetização dos alunos na rede Parte 1 - Acompanhando os índices de alfabetização

Caro gestor da Secretaria de Educação,Este caderno trata da importância do acompanhamento e da atuação dos gestores da rede para um tra-balho comprometido com a garantia de alfabetização para todos os alunos, pois saber ler e escrever é o conhecimento básico para a apropriação dos demais saberes. Acreditamos que quanto mais se inves-tir na primeira infância, mais efetivo será o investimento no desenvolvimento humano futuro.Neste caderno, busca-se ampliar o olhar do gestor sobre o trabalho de alfabetização e identificar os pa-péis desempenhados pelas diferentes instâncias envolvidas na sua consolidação na rede.

Competências a serem desenvolvidas e/ou ampliadas durante este bimestre de formação:

■ Reconhecer os desafios da gestão educacional com base na análise dos indicadores de alfabetização dos alunos da rede.

■ Trabalhar em grupo, favorecendo o trabalho colaborativo e articulado.

■ Gerenciar adequadamente os recursos da educação do município e o apoio técnico e financeiro advindos do estado ou do Ministério de Educação (MEC).

■ Valorizar e trabalhar com práticas de gestão participativas, considerando princípios mais democráticos e atuando para instituí-los.

■ Autoavaliar e reconhecer suas próprias competências, explicitando suas fragilidades profissionais, e solicitar apoio à equipe e ao formador.

■ Estabelecer parcerias e estimular o sentido de corresponsabilidade pela aprendizagem de todos os alunos da rede.

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■ Relacionar as condições de oferta educacional com os resultados da alfabetização dos alunos.

■ Demonstrar, com ações e práticas, compromisso em garantir a infraestrutura adequada para o ensino e a aprendizagem dos alunos e dos profissionais da educação.

■ Demonstrar, com ações e práticas, o compromisso em assegurar o direito legal à oferta de uma educação de qualidade.

Competências a serem desenvolvidas e/ou ampliadas neste Encontro Presencial:

■ Reconhecer os desafios da gestão educacional com base na análise dos indicadores de alfabetização dos alunos da rede.

■ Estabelecer parcerias e estimular a percepção do sentido de corresponsabilidade pela aprendizagem de todos os alunos da rede.

■ Relacionar as condições de oferta educacional com os resultados da alfabetização dos alunos.

Conteúdos a serem trabalhados:

■ Análise de indicadores de alfabetização.

■ Metas de alfabetização.

■ Instrumentos de acompanhamento de alfabetização na rede.

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Encontro PresencialDuração: 16h

Acompanhando os índices de alfabetização

Este Encontro Presencial está divido em quatro blocos:

■ Para começo de conversa■ Atividade de contextualização■ Enquanto isso, na escola – dividido em duas propostas:

Trabalho de campo e Planejamento da reunião com os diretores.

■ Autoavaliação

Para começo de conversaDuração: 30min

1. Considerando o tema deste caderno, discuta com sua equipe quais são os desafios de gestão da sua rede relacionados à alfabetização. Liste.

2. As questões listadas estão mais relacionadas aos processos de quem ensina ou de quem aprende?

3. Para contribuir com a discussão e entender melhor as diferenças entre os processos, leia o texto En-sinar e Aprender: duas coisas diferentes, de Rosa Maria Torres presente no site do Planeta Educação http://www.planetaeducacao.com.br/portal/artigo.asp?artigo=1121.

Atividade de contextualizaçãoDuração: 5h30min

Momento 1 – Os índices de alfabetização das crianças no Brasil Duração: 20min

“[...] A democracia plena é impossível sem níveis de alfabetização acima do mínimo da soletração e da assinatura. Não é possível continuar apostando na democracia sem realizar os esforços necessários para aumentar o número de leitores (leitores plenos, não decifradores).”

FERREIRO, Emília. Passado e presente dos verbos ler e escrever.

São Paulo: Cortez, 2002. p. 18.

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1. Com o intuito de verificar a qualidade da alfabetização das crianças que concluíram o 3º ano (2ª sé-rie) no Brasil, foi criada, em 2011, a Avaliação Brasileira do Final do Ciclo de Alfabetização, conhecida como, PROVA ABC, realizada em parceria com o Movimento Todos Pela Educação, Instituto Paulo Montenegro, Fundação Cesgranrio e INEP/MEC, para verificar a qualidade da alfabetização. Essa ava-liação foi feita por amostragem estadual, mas revelou informações importantes sobre a situação da alfabetização no Brasil. Veja abaixo alguns resultados:

Média de pontos em leitura e percentual de alunos que aprenderam o esperado para o 3º ano (2ª série) por rede de ensino

Brasil Rede de ensino Média Proporção de alunos com desempenho esperado para o 3º ano

Brasil Total 185,8 56,1%

Brasil Pública 175,8 48,6%

Brasil Particular 216,7 79,0%

Média de pontos em escrita e percentual de alunos que aprenderam o esperado para o 3º ano (2ª série) por rede de ensino

Brasil Rede de ensino Média Proporção de alunos com desempenho esperado para o 3º ano

Brasil Total 68,1 53,4%

Brasil Pública 62,3 43,9%

Brasil Particular 86,2 82,4%

Média de pontos em matemática e percentual de alunos que aprenderam o esperado para o 3º ano (2ª série) por rede de ensino

Brasil Rede de ensino Média Proporção de alunos com desempenho esperado para o 3º ano

Brasil Total 171,1 42,8%

Brasil Pública 158,0 32,6%

Brasil Particular 211,2 74,3%

Fonte: Todos pela educação (2011)

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2. Agora, discuta com a sua equipe:

■ Olhando cada tabela e o percentual de alunos com desempenho esperado para o 3º ano, o que elas revelam sobre os índices gerais no Brasil? E em relação aos índices nas redes de ensino par-ticular e pública?

■ Olhando as três tabelas, quais os resultados no Brasil que se encontram piores na rede pública: escrita, leitura ou matemática? Isso se repete no índice total do Brasil?

■ O que é possível concluir sobre o ensino da leitura e escrita na rede pública no Brasil? E sobre a aprendizagem dos brasileirinhos pela análise desses resultados?

Registre suas conclusões e compartilhe com sua equipe.

No quadro atual, aproximadamente 95% das crianças estão matriculadas nas escolas de Ensino Fun-damental. Das matriculadas no 3º ano, apenas 56,1% apresentam o desempenho esperado em lei-tura para esse ano. O que será que acontece com os 44% restantes? O que será que aprenderam nes-ses três anos de escolaridade? Sem contar os 5% de crianças que estão fora da escola.

Priscila Cruz, do Todos pela Educação, afirmou em entrevista que “Se você não tem uma criança alfa-betizada plenamente até os oito anos de idade, o aprendizado a que ela tem direito no futuro não ocorrerá. O instrumento inicial de compreensão do mundo é a alfabetização”.

Momento 2 – Os índices de alfabetização das crianças na sua redeDuração: 1h

1. Agora chegou o momento de você pensar na situação dos alunos da sua rede. No momento 1, você viu que os resultados da Prova ABC apresentam que apenas 56,1% dos alunos brasileiros que termi-naram o 3º ano (2ª série) têm o conhecimento esperado para a idade em leitura, e 53,4%, em escrita. Responda:

■ Você acha que a situação da alfabetização dos alunos do 3º ano (2ª série) do seu município é di-ferente ou semelhante aos resultados apontados na avaliação da Prova ABC?

■ Há em seu município uma análise de dados de alfabetização dos alunos do 3º ano (2ª série) que ajude os educadores a compreenderem os desafios que precisam ser enfrentados na alfabetiza-ção no ano correto?

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Se sim, registre no quadro abaixo, junto à sua equipe algumas das informações solicitadas:

Instrumento de acompanhamento

da alfabetização

Número de alunos matriculados ao final do 3º ano ou 2ª série

Índice de desempe-nho adequado de

alfabetização

Índice de desempe-nho inadequado de

alfabetização

2. Caso a sua rede não utilize instrumento de acompanhamento da alfabetização, consulte o site www.qedu.org.br e busque o percentual de alunos do seu município com desempenho adequado na Pro-va Brasil do 5º ano (4ª série). Preencha no quadro abaixo.

Prova Brasil ano __________ %

Percentual de aluno com desempenho adequado

O que esse resultado pode fazê-lo antecipar sobre o problema da alfabetização da sua rede? Discu-ta com sua equipe e registre a conclusão.

A Prova Brasil, como você já estudou anteriormente, avalia as capacidades em leitura dos alunos do 5º ano (4ª série). Caso o percentual seja baixo, os alunos não estão se alfabetizando adequadamente nos anos iniciais. O percentual no final do ciclo pode revelar a situação da alfabetização no seu município.

3. Outro indicador importante para ampliar a análise são os índices de reprovação e matrícula dos alunos ao longo dos anos no Ensino Fundamental.

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Preencha o quadro abaixo consultando o site indicado acima. Busque os indicadores do ano mais recente.

Ano ___________

Anos de escolaridade Matrículas Reprovação

1º ano

2º ano (1ª série)

3º ano (2ª série)

4º ano (3ª série)

5º ano (4ª série)

Analise esses dados respondendo às seguintes questões:

■ O número de matrículas do 1º ano é igual ao do 5º ano? Qual a diferença entre os números de matrículas desses anos?

■ A partir de qual ano começa a diminuir o número de matrículas?

■ Em que ano o índice de reprovação é maior?

Discuta com sua equipe e anote as conclusões.

Ao analisar esses dados, considere o fato de a rede trabalhar ou não com os ciclos de aprendizagem que definem os anos em que a reprovação pode acontecer.

O Conselho Nacional de Educação (CNE) definiu diretrizes curriculares nacionais que recomendam que os três anos iniciais do Ensino Fundamental de nove anos constituem o ciclo da alfabetização e letramento, e não devem ser passíveis de interrupção. Para saber mais, consulte a resolução 7, de 14 de dezembro de 2010 do CNE da Câmara de Educação Básica no Portal do MEC pelo caminho: Início – Serviços – Secretarias e Órgãos Vinculados – Órgãos Vinculados - CNE Conselho Nacional de Educação - Atos Normativos – Súmulas, Pareceres e Resoluções - Resoluções do CNE. http://portal.mec.gov.br/index.php?Itemid=866&id=14906&option=com_content&view=article

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“De acordo com o documento, mesmo quando o sistema de ensino ou a escola fizerem opção pelo regime seriado, será necessário considerar os três anos iniciais do ensino fundamental como um bloco pedagógico ou um ciclo sequencial não passível de interrupção, voltado para ampliar a todos os alunos as oportunidades de sistematização e aprofundamento das aprendizagens básicas.

Pesquisas já detectaram que a repetência durante esse período escolar não garante a alfabetização e pode prejudicar o rendimento escolar da criança no ensino fundamental como um todo e, particularmente, na passagem do primeiro para o segundo ano de escolaridade e deste para o terceiro.

A complexidade do processo de alfabetização requer a continuidade do aprendizado para que sejam respeitados os diferentes tempos de desenvolvimento das crianças de seis a oito anos de idade. Ao final do ciclo, a criança deve estar alfabetizada.”

Assessoria de Imprensa da SEB

A análise dos indicadores de reprovação e matrículas poderão revelar questões importantes sobre a ga-rantia ou não da alfabetização dos alunos da sua rede. Se o número de matrículas diminui consideravel-mente dos anos inicias para os anos finais do Ensino Fundamental I, isso pode revelar que os alunos es-tão com dificuldades para se alfabetizar, mantendo-se nos anos iniciais ou saindo das escolas. Se de fa-to se garantir uma educação de qualidade, como vimos no Caderno Bimestral II, todos os alunos que ingressam no 1º ano do Ensino Fundamental permanecem até o final, confirmando a garantia de aces-so, permanência e aprendizagem de todos os alunos na idade certa.

Se os anos iniciais são aqueles em que os alunos são mais reprovados, isso também poderá revelar pro-blemas com o ensino e a aprendizagem na alfabetização.

Agora que você já conhece um pouco mais sobre os problemas da alfabetização das crianças da sua re-de, consulte o site do Ministério da Educação (www.mec.gov.br) e busque informações sobre os progra-mas de apoio aos municípios para a alfabetização das crianças: Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), Pacto Nacional da Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), Programa Nacional Biblioteca da Esco-la (PNBE), Pró-Letramento e outros.

Agora pense junto à sua equipe e responda:

■ De quais desses programas a sua rede já participa? No que esses programas auxiliam ou podem auxiliar a melhoria da alfabetização dos alunos da rede?

■ O que você, gestor, pode fazer no seu município para potencializar esses programas do MEC, em especial o PNAIC, no apoio à alfabetização dos alunos?

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■ Consulte o diagrama abaixo e complete o que cabe a cada ator envolvido no processo:

A legenda abaixo identifica cada pessoa envolvida no processo educativo:

MEC – PNAIC Professores

Secretaria de Educação Alunos

Diretores Comunidade

Coordenadores pedagógicos Pais

ALFABETIZAÇÃO

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Momento 3 – Instrumentos de acompanhamento da alfabetização Duração: 2h

Até o momento você verificou os índices de alfabetização das crianças no Brasil e no seu município.

Em entrevista concedida em 2009 ao Movimento Todos Pela Educação, o especialista em avaliação e consultor da Cesgranrio Ruben Klein afirmou que garantir o direito à alfabetização na idade correta a todos é um passo fundamental para o sucesso escolar. No entanto, para verificar e acompanhar esse direito, são necessários dois indicadores: um indicador que meça se conclusão da 3º ano (2ª série) es-tá ocorrendo na idade correta, e um segundo que meça a qualidade dessa alfabetização.

O primeiro pode ser obtido a partir dos indicadores educacionais de aprovação e reprovação nas sé-ries iniciais do Ensino Fundamental, como você estudou anteriormente, porém, ainda não há um in-dicador nacional para mensurar a alfabetização das crianças, mas apenas um instrumento que men-sura a qualidade da alfabetização, que é a Provinha Brasil.

A avaliação é aplicada desde 2008 aos alunos do 2º ano do Ensino Fundamental no início e ao final do ano letivo, e serve como diagnóstico para o próprio professor identificar o nível de alfabetização das crianças.

1. Discuta com sua equipe e responda às questões abaixo:

■ Vocês conhecem a Provinha Brasil?

■ No seu município ela é aplicada pelas escolas?

■ Qual o uso que fazem dessa avaliação para a melhoria da alfabetização na rede?

■ Qual o significado e a importância das avaliações externas para medir a alfabetização e a qualida-de da alfabetização dos alunos?

Compartilhe com sua equipe as suas respostas.

2. Agora, você analisará em maior profundidade o caminho percorrido por uma equipe da Secretaria Mu-nicipal de Educação de Ladário, Mato Grosso do Sul, que tomou para si o desafio de compreender os dados de alfabetização de sua rede para a tomada de decisões e para a proposição de ações na busca da melhoria das aprendizagens dos alunos na alfabetização inicial.

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Leia agora a história breve desse município sobre a aplicação da Provinha Brasil e os principais gargalos identificados por essa equipe:

Aplicação da Provinha Brasil em Ladário (MS) no ano de 2012: histórico e gargalos.

1. Panorama do município

■ 3.382 alunos matriculados.

■ 6 escolas de Ensino Fundamental I e II.

■ 4 centros municipais de Educação Infantil.

2. Histórico do município em relação ao uso e sentido da avaliação

■ A Provinha Brasil é o único instrumento que o município utiliza, desde 2009, para verifi-cação do grau de alfabetização inicial.

■ Os resultados de cada escola eram organizados inicialmente por um profissional técnico da Secretaria Municipal de Educação, que entregava uma cópia ao setor de inspeção es-colar e arquivava uma segunda cópia.

■ Os técnicos de inspeção escolar, em cada unidade, divulgavam os resultados aos coor-denadores e diretores. As equipes escolares eram orientadas a retomar os resultados e reorganizar o planejamento de ensino.

■ A equipe da Secretaria Municipal de Educação começou a entender que as equipes es-colares (diretores, coordenadores e professores) não compreendiam ainda o sentido da Provinha Brasil. Observaram que, duas semanas antes da aplicação da prova, havia a re-alização de atividades de treino, e que o registro dos resultados dos alunos passou a não ser fidedigno com o que se observava no cotidiano das escolas. Havia um discurso im-plícito que revelava a burocratização da avaliação na rede pelos diretores e coordenado-res, que respondiam “fazemos porque a secretaria cobra”.

■ Outro fator relevante era que a concepção de ensino-aprendizagem de alfabetização avaliada na Provinha Brasil não era necessariamente a mesma compartilhada por alguns educadores das séries iniciais.

■ Não havia na rede qualquer acompanhamento sistemático, dentro das escolas ou pela Secretaria de Educação, dos possíveis desdobramentos da prática cotidiana dos profes-sores após a análise dos resultados da primeira etapa de aplicação da Provinha Brasil, re-alizada no primeiro semestre de cada ano.

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3. Organização dos resultados ao longo dos anos

Certo dia, a equipe da Secretaria Municipal de Educação teve de organizar os resultados para apresentá-los em um curso de formação de gestores educacionais, do qual toda a equipe de Ladário participava – parecia até que os técnicos da Secretaria estavam obser-vando as informações da Provinha Brasil pela primeira vez.

3. Faça de conta que vocês também eram técnicos dessa Secretaria de Educação e analise os resulta-dos abaixo a partir das questões propostas.

Síntese geral da Provinha Brasil de 2009 até 2012

Geral do município

1ª Etapa 2009

1ª Etapa 2010

1ª Etapa 2011

1ª Etapa 2012

2ª Etapa 2009

2ª Etapa 2010

2ª Etapa 2011

2ª Etapa 2012

Nível 197

24,2%24

6,2%5

1,3%9

3,2%45

11,1%11

2,8%4

1,1%2

0,6%

Nível 2127

31,7%78

20,3%12

3,1%56

19,9%92

22,9%42

10,9%28

7,9%31

9,7%

Nível 343

10,7%112

29,1%36

9,3%93

32,9%112

27,8%62

16%82

23,1%58

18,1%

Nível 468

17%53

13,8%208

53,6%72

25,5%72

17,9%176

45,3%175

49,4%126

39,3%

Nível 565

16,2%117

30,5%127

32,7%52

18,5%82

20,3%97

25%65

18,3%103

32,1%

400 384 388 282 403 388 354 320

Tabela 1 – Município de Ladário.

Número de alunos matriculados por semestre

2009 2010 2011 2012

1º sem 2º sem 1º sem 2º sem 1º sem 2º sem 1º sem 2º sem

512 521 509 538 423 427 383 391

Tabela 2 - Município Ladário.

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■ O número de alunos que realizam a avaliação vem caindo consideravelmente. Quais hipóteses podem ser levantadas a esse respeito?

■ O número de alunos no nível 1 vem diminuindo radicalmente desde a primeira avaliação, o que é positivo. Que ações podem ter sido realizadas nas turmas anteriores ao 2º ano para colaborar com a chegada dos alunos ao 2º ano com mais conhecimentos?

■ Comparando o contingente de alunos em cada nível na 1ª e na 2ª etapa de 2009, é possível tra-çar a hipótese de que, ao longo do ano, os alunos migraram de uma etapa para outra. Ou seja, é possível identificar um avanço nos níveis gerais do município. Entretanto, em 2011, o mesmo não ocorre. Foram identificados, por exemplo, doze alunos no nível 2 na 1ª fase, e 28 na 2ª fase, sendo que esse aumento não migrou do nível 1 (que antes registrava cinco e, posteriormente, quatro alunos na fase 2). O que você e sua equipe pensam sobre esse resultado?

■ Analisem ainda os dados dos diferenciais da 1ª fase (anos 2009-2011 e 2011- 2012) e levante hi-póteses para cenários tão diversos em um espaço de tempo tão curto.

■ Qual o cenário de alfabetização é possível traçar dos alunos dessa rede?

■ A seguir, estão os dados da primeira e da segunda etapas da Provinha Brasil de 2012, com descri-ção das habilidades em cada nível. Afinal, o que os alunos de Ladário sabem?

Sistematização do resultado da rede de ensino de Ladário Provinha Brasil 2012

Níveis Descrição das habilidades 1ª etapa 2ª etapa

Nível 1Estão começando a se apropriar das habilidades referentes ao domínio das regras que orientam o uso do sistema alfabético para ler e escrever.

9 3,2%

2 0,6%

Nível 2Dominam a natureza alfabética do sistema de escrita, reconhecem que as unidades menores da fala são representadas por letras.

56 19,9%

31 9,7%

Nível 3Leem textos curtos e simples e dominam algumas estratégias de leitura (como localização de informação).

93 32,9%

58 18,1%

Nível 4Demonstram domínio da leitura de textos e da utilização de estratégias diversas para sua compreensão, considera-se que estão na consolidação do processo de alfabetização.

72 25,5%

126 39,3%

Nível 5

Domínio do sistema de escrita e compreensão do princípio alfabético, apresentando um excelente desempenho, tendo em vista as habilidades que definem o aluno como alfabetizado e considerando as que são desejáveis para o fim do 2º ano de escolarização.

52 18,5%

103 32,1%

Total de alunos que realizaram a prova 282 320

Tabela 3 – Município de Ladário.

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■ Analise os dados da tabela e busque responder às seguintes questões:

■ Será que no 1º semestre de 2012 havia um descompasso entre o que os alunos aprendiam e o que deveriam aprender?

■ O que a rede pode ter realizado entre a primeira e a segunda etapa para favorecer a melhoria dos índices?

Para saber mais:

Para o 1º ano: Alfabetizar é todo dia – Revista Nova Escola. http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portu-guesa/alfabetizacao-inicial/alfabetizar-todo-dia-431196.shtml?page=2

Para 2º ano: Alfabetizar é todo dia – Revista Nova Escola. http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portu-guesa/alfabetizacao-inicial/alfabetizar-todo-dia-431196.shtml?page=3

Momento 4 – Construção de meta de alfabetização na rede.Duração: 1h30min

“Fazer uma análise precisa da situação de uma rede de ensino, definir suas prioridades, elaborar as metas e ações para acompanhar seu andamento e corrigir os problemas que surgirem é complexo, envolve importantes decisões e pode fazer toda a diferença. Ainda assim, o planejamento de uma rede pública ou mesmo de uma escola é tratado por muitos como uma tarefa burocrática. De fato, se resultar apenas em um documento que será esquecido na gaveta do gestor durante todo o ano, não terá função. Porém, o planejamento anual pode ser o momento de a rede avaliar suas necessidades e definir os rumos da educação no município para o próximo ano [...]”

Fragmento do artigo A antevisão do amanhã. Revista Escola Pública – Edição 12

A atividade proposta neste momento será a análise dos encaminhamentos realizados pela equipe téc-nica do município descrito no momento 3 para iniciar a definição e construção da meta de alfabetiza-ção da rede. A partir dos resultados do município, a equipe técnica mobilizou-se para elaborar um pla-no de metas que teve como objetivo ampliar o número de alunos alfabetizados até o final do 2º ano. Os resultados foram promissores, o que fortaleceu muito a confiança e parceria entre todos, além de ter

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permitido o alcance da meta em mais de 85% de alunos alfabetizados ao final do 2º ano.

Um plano de metas é um planejamento das ações do município com o que ele precisa alcançar para atingir uma educação de qualidade.

Mas como começar elaborar um plano de metas?

1. O primeiro passo é buscar referências no Plano Nacional de Educação

A equipe técnica do município analisado foi buscar referências sobre esse assunto, e chegou ao Plano Nacional de Educação, que define, na meta 5, Alfabetizar todas as crianças até, no máximo, os oito anos de idade.

Abaixo dessa meta, seguem as seguintes estratégias:

5.1. Fomentar a estruturação do Ensino Fundamental de nove anos com foco na organiza-ção de ciclo de alfabetização com duração de três anos, a fim de garantir a alfabetização plena de todas as crianças, no máximo, até o final do terceiro ano.

5.2. Aplicar exame periódico específico para aferir a alfabetização das crianças.

5.3. Selecionar, certificar e divulgar tecnologias educacionais para alfabetização de crianças, assegurada a diversidade de métodos e propostas pedagógicas, bem como o acompa-nhamento dos resultados nos sistemas de ensino em que forem aplicadas.

5.4. Fomentar o desenvolvimento de tecnologias educacionais e de inovação das práticas pedagógicas nos sistemas de ensino que assegurem a alfabetização e favoreçam a me-lhoria do fluxo escolar e a aprendizagem dos estudantes, consideradas as diversas abor-dagens metodológicas e sua efetividade.

5.4. Apoiar a alfabetização de crianças indígenas e desenvolver instrumentos de acompanhamen-to que considerem o uso da língua materna pelas comunidades indígenas, quando for o caso.

Depois de compreenderem um pouco melhor o Plano Nacional de Educação e que a meta é o percentual quantitativo, o prazo previsto e as estratégias, os caminhos e ações para se alcan-çar a meta, a questão que se colocou foi: mas se essa é uma meta nacional, qual é a meta do meu município, uma vez que as crianças com até oito anos são atendidas preferencialmente pelas redes municipais de educação?

PARA PENSAR

Essa é uma questão muito comum, e como um gestor municipal é preciso posicionar-se diante de tal dúvida? Qual a sua opinião a respeito dessa questão? Registre no caderno.

2. O segundo passo é definir prioridade.

A equipe técnica do município antecipou que seria imprescindível que toda a equipe soubes-se responder apropriadamente e com boa justificativa às seguintes questões: alfabetizar to-dos os alunos até o final do 2º ano é uma prioridade em seu município? Por quê? Como você justificaria esta questão no seu município?

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3. O terceiro passo é definir o índice de alfabetização a ser alcançado na meta da rede.

Em seguida, os técnicos retomaram os dados da Provinha Brasil realizada no 1º semestre de 2012 e discutiram qual seria um índice desejável e factível de ser alcançado até o final do ano para que o maior número de alunos pudesse estar alfabetizado plenamente, ou seja, no nível 5 ao final do 2º ano. Entretanto, só fizeram uma estimativa, pois sabiam que seria necessário ajustar esse índice de acordo com os dados atualizados, pois mais de 20% dos alunos matri-culados na rede não realizaram a Provinha Brasil.

4. O quarto passo é definir as estratégias e as ações a serem realizadas na rede.

A equipe técnica do município elaborou a 1ª etapa do seu Plano de Metas e definiu dois me-ses para colocar todas as ações em andamento.

Atenção: no plano abaixo, foi suprimido o cronograma, os responsáveis e os recursos neces-sários para focar a atenção nas estratégias e nas ações. Mas é relevante você saber que esses campos são fundamentais para o planejamento.

1ª etapa do Plano de Metas do Município X, com o objetivo de ampliar em X% o número de alunos alfabetizados até o final do 2º ano

Estratégia Ação

1. Compartilhar com diretores e coordenadores escolares os resultados e a prioridade da rede

Elaborar a pauta da reunião com gestores e coordenadores escolares para compartilhar os resultados da Provinha Brasil e apresentar a prioridade da rede.

Realizar a reunião com diretores e definir ações que ficarão sob a responsabilidade de cada segmento, ou seja, o que farão os técnicos da secretaria, os diretores, os coordenadores e professores. O formador de diretor da secretaria auxiliará os gestores na organização da pauta da reunião que a dupla gestora realizará na escola para compartilhar a meta e o levantamento de dados.

Registrar as principais decisões e enviar para todas as escolas um cronograma de ações da estratégia 2.

2. Compartilhar nas escolas os resultados na Provinha Brasil do município e da escola e fazer o levantamento dos dados dos alunos do 2º ano que não realizaram a Provinha para saber o contingente de alunos ainda não alfabetizados.

Realizar as reuniões em cada escola sob coordenação dos diretores e coordenadores. Os técnicos da secretaria poderão acompanhar algumas reuniões de escolas cujos índices de ausência de alunos na Provinha Brasil tenha sido mais baixo, ou que apresentam números mais significativos de alunos ainda não alfabetizados.

Levantar os dados da quantidade de alunos do 2º ano que não realizaram a Provinha para saber o contingente de alunos ainda não alfabetizados.

Depois do envio dos dados de cada escola, a secretaria deve fazer uma nova planilha geral do município e, se necessário, ajustar o índice estipulado inicialmente como meta. Enviar para todas as escolas a nova planilha com o índice geral da meta da rede e o índice geral de cada escola.

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3. Acompanhamento da aprendiza-gem dos alunos e garantia do espaço e tempo para formação dos professores e coordenadores.

Acompanhar e identificar os alunos em sala.

Cada escola, de posse da planilha geral da rede e da escola, fará o mesmo exercício para cada sala de aula. Qual a meta para cada turma? Quais as atividades mais ajustadas para que os alunos avancem? Como acompanhar o trabalho desenvolvido pelo professor e os avanços de cada aluno?

Apoiar de modo especial os alunos que estão nos níveis 1 ao 3.

Garantir a continuidade do trabalho com os alunos dos níveis 4 e 5.

Caso a escola ainda não tenha definido os horários de reunião de formação dos professores, a dupla gestora fará a rotina semanal de supervisão e compartilhará com os professores a planilha de acompanhamento de cada aluno com relação à alfabetização.

Cabe à escola: mapear o número de alunos não alfabetizados e se estão defasados em série para a sua idade, e, dependendo do contingente, montar no contraturno grupos de apoio para os alunos com dificuldades de aprendizagem.

Cabe ao técnico da secretaria responsável pela formação de professo-res, conjuntamente com o técnico responsável pelo Ensino Funda-mental I, priorizar os encontros de formação em serviço com os coordenadores e professores dos primeiros anos para o aprofunda-mento na área de leitura, escrita e a ampliação do repertório de situações didáticas para alfabetização.

4. Encaminhamentos iniciais para a organização de grupos de apoio e ambientes alfabetizadores.

Cabe aos técnicos podem identificar as escolas que apresentam mais dificuldades (alunos nos níveis 1, 2 e 3) e orientar a organização de grupos de apoio para a melhoria da aprendizagem desses alunos.

Auxiliar diretores e coordenadores na organização da logística para realização do grupo de apoio aos alunos com dificuldades de aprendizagem.

Cabe aos coordenadores e professores organizar o acervo de livros e materiais de leitura de qualidade para alunos e professores, organizando espaços escolares como ambientes alfabetizadores.

Cabe aos diretores e coordenadores podem realizar observação dos diferentes espaços escolares para mapear as necessidades e possíveis intervenções conjuntamente com professores para a reorganização dos espaços como ambientes alfabetizadores.

5. Comunicar as intencionalidades educativas da escola para os familiares.

Cabe à escola poderá comunicar aos pais sobre o trabalho desenvolvido na rede, escola e sobre o grupo de apoio e a necessidade da parceria estreita com a família.

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Enquanto isso, na escola... Duração: 4h30min

O trabalho de campo

O trabalho de campo proposto neste caderno terá como propósito subsidiar a equipe da secretaria com algumas informações importantes sobre as ações e decisões das escolas relativas às práticas de al-fabetização e o seu acompanhamento. Até o momento, você pôde aprofundar-se na discussão sobre os instrumentos de acompanhamento da al-fabetização na rede e sobre a construção de um plano de ação para consolidação de uma meta, que tam-bém é nacional, no município, meta que objetiva ampliar os índices de alunos alfabetizados até oito anos.

Momento 1 – Definição do foco do trabalho de campo e da escola. Duração: 30min

A proposta desse trabalho de campo será você observar e avaliar os indícios da alfabetização dos alu-nos nas escolas da rede, considerando sua área de atuação. Quais indícios seriam esses?

1. Discuta com sua equipe e continue a lista abaixo com os possíveis indícios.

■ Uso e acesso do acervo na escola.

■ Os professores leem todos os dias para as crianças

Mas como selecionar a escola? Quais os critérios?

2. Pense com sua equipe e avalie qual escola pode oferecer as melhores condições para esse trabalho. Depois entre em contato com a direção, agende a data, a entrevista com o coordenador e o diretor da escola e a duração do trabalho.

Momento 2 – Elaboração do roteiro de entrevista e de observação do trabalho de campo Duração: 1h

1. Para apoiar-se na elaboração do roteiro de entrevista, retome os indícios listados anteriormente, e de-fina com sua equipe no máximo cinco perguntas que sejam importantes para a entrevista com o dire-

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tor e coordenador da escola e que lhe ajudem a entender o contexto amplo e a proposta pedagógica da escola para alfabetizar os alunos.

Quadro para a elaboração das perguntas

Questões para entrevista Respostas

1. Com que frequência os alunos utilizam os livros do acervo da escola?

2.

3.

4.

5.

Roteiro de observação dos indícios

Indícios Sim Não Comentários

Os livros do acervo estão organizados de forma a garantir o uso?

Há sinais nos livros de que estão sendo manuseados?

Momento 3 – Realização do trabalho de campo na escolaDuração: 2h

1. A primeira coisa a se fazer quando se chega à escola é compartilhar com o diretor e o coordenador os propósitos do trabalho de campo.

2. Depois, realize a entrevista com os dois profissionais.

Entregue a cada profissional uma cópia do roteiro de observação na escola.

Solicite a autorização para registrar fotograficamente os materiais utilizados, murais, cadernos, livros e atividades em andamento.

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Compartilhe as impressões sobre as observações anotadas, destacando os principais aspectos positi-vos, assim como sugestões de ampliação dos referenciais da equipe escolar que assegurem o processo de alfabetização de todos os alunos.

Momento 4 – Depois do trabalho de campoDuração: 1h

Para fechar essa etapa, é preciso refletir sobre os principais aspectos observados na entrevista com os gestores e na escola onde foi realizado o trabalho de campo.

1. Registre as principais observações sobre a escola e a entrevista. Agora, chegou o momento de você e sua equipe compartilharem e comunicarem as observações, se possível também com toda a equi-pe pedagógica da secretaria.

Planejamento da reunião com os diretores Duração: 4h30min

Até aqui, você e sua equipe, estudaram e ampliaram seus conhecimentos sobre a necessidade de ins-trumentos de acompanhamento da situação da alfabetização da rede e do estabelecimento de metas. Foi a campo para observar como o trabalho acontece na escola.

Agora chegou o momento de realizar uma reunião com diretores escolares para compartilhar com eles algumas reflexões.

Momento 1 – O que é necessário para conduzir uma boa reunião? Duração: 1h

1. Nos encontros anteriores, refletimos sobre como estruturar boas reuniões. Neste encontro, vamos dar continuidade a essas reflexões. Leia o texto abaixo sobre como a coordenadora Maria Inês Mi-queleto, da EE Profª Maria Aparecida dos Santos Oliveira, Ibitinga, São Paulo, organiza as suas reuni-ões e liste todas as dicas que são importantes e que servirão para você conduzir a reunião com os diretores escolares.

O passo a passo do preparo das reuniões elaborado pela coordenadora da EE Maria Aparecida dos Santos Oliveira

Antes da reunião:

1º. os conteúdos, temas ou assuntos que trabalhar na reunião, assim como os materiais que serão utilizados, a leitura a ser feita e uma frase a colocar na pauta.

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2º. Digito no computador a pauta, que tem uma estrutura:

■ Nome da escola.

■ Cabeçalho.

■ Objetivos da reunião, que escrevo de forma simples, clara e objetiva.

■ Conteúdos que serão trabalhados.

■ Atividades que na sequência vão desencadear as discussões, os estudos, isto é, um en-caminhamento metodológico da reunião, do seu início até o seu fechamento.

■ Uma frase que finaliza a pauta.

3º. Providencio para todos uma cópia dos textos e dos materiais necessários para a reunião.

4º. Imprimo a lista de presença, que é muito importante.

Para fazer tudo isso, levo em média três a quatro horas e, de uma reunião para outra, planejo mentalmente o que fazer na próxima. É uma loucura!

Durante a reunião:

Inicio as reuniões com uma leitura de texto literário para os participantes.

Na sequência, apresento o roteiro da pauta da reunião e faço a leitura. Também entrego a um dos participantes responsável pelo registro da reunião uma pauta que possui no verso um es-paço para os registros. Arquivo esses registros e os encaderno ao final de cada semestre.

Então, damos início às atividades planejadas e encerramos com comentários sobre o que foi discutido e com propostas para as próximas reuniões. Ao final de cada semestre, os partici-pantes avaliam as reuniões, o que possibilita redirecioná-las.

Não é muito simples organizar uma reunião, principalmente, porque também é preciso pre-parar-se para os assuntos ou temas que serão tratados. Ou seja, é preciso estudar e pesquisar antes de apresentá-los.

Depois da reunião:

Organizo a pauta e materiais estudados num portfólio com as reuniões.

Maria Inês Miqueleto, coordenadora da EE

Profª Maria Aparecida dos Santos Oliveira, Ibitinga, São Paulo

■ E você como organiza as pautas de formação?

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Momento 2 – Planejamento da reunião com os diretoresDuração: 1h

Agora chegou o momento de você e sua equipe registrarem a pauta da reunião para comunicar e mobi-lizar os diretores escolares sobre a importância de refletir sobre a alfabetização. O primeiro passo é decidir qual será o foco da reunião. Você e seu grupo devem analisar para decidir entre os conteúdos abordados neste encontro presencial quais consideram relevantes para discutir na próxima reunião com os diretores.

1. Escolha entre os temas abaixo os que você acha que seriam mais importantes a serem discutidos com os diretores da escola da sua rede:

Os índices de alfabetização das crianças na sua rede.

Instrumentos de acompanhamento da alfabetização (Provinha Brasil).

Meta de alfabetização na rede.

Outros assuntos sobre alfabetização:

2. Decidido o tema, é hora de elaborar a pauta a partir dos itens listados abaixo. Registre-a no seu caderno.

Objetivo da reunião:

Participantes:

Conteúdos:

Tempo de duração:

Materiais:

Desenvolvimento da reunião:

Avaliação:

Para descrever o desenvolvimento da reunião, retome as estratégias e os materiais utilizados no mo-mento que consta deste caderno relacionado ao tema selecionado e ajuste à proposta da reunião, considerando o público e o tempo disponível para a reunião.

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Momento 3 – Realização da reuniãoDuração: 2h30min

Chegou o momento de realizar a reunião.

Combine com sua equipe quem irá coordenar cada momento da reunião para que não dupliquem as orientações, deixando os participantes confusos.

Boa reunião!

Autoavaliação Duração: 30min

O encontro presencial está terminando, e chegou a hora de você avaliar o seu percurso de apren-dizagem.

Para isso, complete as frases abaixo:

Pela leitura dos textos, gráficos e tabelas, pelas relações entre eles e pelas suas reflexões e as de seu grupo, suas responsabilidades com a alfabetização são ...

No próximo encontro presencial, você e sua equipe continuarão a pensar e estudar assuntos que os apoiarão na melhoria da alfabetização dos alunos seu município.

Até lá!

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Aplicação PráticaDuração: 4h

A proposta é que você e sua equipe conversem e analisem a possibilidade de pesquisar os dados do histórico da Provinha Brasil no seu município, primeiro por escolas e, depois, na rede como um todo (vi-de Tabela 1 – Município de Ladário), assim como os resultados com relação à descrição das habilidades na 1ª e na 2ª etapa de 2012 (vide Tabela 2– Município de Ladário).

Para o município que não tem os dados da provinha Brasil ou sabe que não foi realizada, a proposta é de que a realizem nesta Aplicação Prática, contemplando a necessidade desta abordagem para um pla-no de ações e estabelecimento de metas.

Esses dados são fundamentais para que você e sua equipe possam analisar o panorama geral da alfabe-tização na rede. Lembre-se que é a partir da organização de tais informações que todo o diagnóstico da alfabetização será finalizado e, assim, qualquer plano de ação poderá ser encaminhado.

Grupo de estudoDuração: 2h

Leia o texto abaixo e socialize suas considerações com os colegas. Ao final, elabore um registro coletivo pontuando que alfabetização a escola precisa assegurar para o aluno do mundo atual.

Iniciaremos o próximo encontro presencial retomando esse registro.

Ler e escrever num mundo em transformação

Houve uma época, vários séculos atrás, em que escrever e ler eram atividades profissionais e aqueles a elas destinados aprendiam-nas como um ofício.

Em todas as sociedades nas quais foram inventados alguns dos quatro ou cinco sistemas pri-migênios de escrita (China, Suméria, Egito, Mesa-América e, muito provavelmente, também o vale do Indo) havia escribas que compunham um grupo de profissionais especializados numa arte particular: gravar em argila ou pedra, pintar em seda, tabuinhas de bambu, papiro ou em muros esses sinais misteriosos, tão associados ao próprio exercício do poder. As funções esta-vam de fato tão separadas que os que controlavam o discurso que podia ser escrito não eram os mesmos que o escreviam, e muitas vezes tampouco os que praticavam a leitura. Os que es-creviam não eram leitores autorizados, e os leitores autorizados não eram escribas.

Naquela época não havia fracasso escolar. Quem devia se dedicar a esse ofício submetia-se a um treinamento rigoroso. Alguns certamente fracassavam, mas a noção propriamente dita de fracasso escolar não existia (embora houvesse escolas de escribas).

Não basta haver escolas para que a noção de “fracasso escolar” se constitua. Vejamos uma comparação com uma situação contemporânea: temos escolas de música com bons e maus

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alunos. Se alguém não se mostra competente para a música, nem a sociedade se comove, nem os psicopedagogos se preocupam em encontrar algum tipo peculiar de “dislexia musi-cal”. Ser músico é uma profissão, e quem quer se dedicar à música se submete a um treina-mento rigoroso. E, aparentemente, as escolas de música têm em toda parte um comporta-mento saudável.

– Todos os problemas da alfabetização começaram quando se decidiu que escrever não era uma profissão, mas uma obrigação, e que ler não era marca de sabedoria mas de cidadania.

Por certo, muitas coisas aconteceram entre uma época e outra, foram necessárias muitas re-voluções sangrentas na Europa para constituir as noções de povo soberano e de democracia representativa. Os primeiros textos em argila ou papiro sofreram múltiplas transmutações até se converterem em livros reproduzíveis, transportáveis, fáceis de consultar, ritos nas novas lín-guas, oriundas do latim imperial e hegemônico.

Multiplicaram-se os leitores, os textos escritos se diversificaram, novos modos de ler e novos modos e escrever foram criados. Os verbos “ler” e “escrever” deixaram de ter uma definição imutável: não designavam mais (e tampouco designam hoje) atividades homogêneas. Ler e escrever são construções sociais. Cada época e cada circunstância histórica dão novos senti-dos a esses verbos.

Porém, a democratização da leitura e da escrita veio acompanhada de uma incapacidade ra-dical de torná-la efetiva: criamos uma escola pública obrigatória precisamente para dar aces-so aos inegáveis bens do saber contidos nas bibliotecas, para formar o cidadão consciente de seus direitos e de suas obrigações, mas a escola ainda não se afastou totalmente da antiga tra-dição: continua tentando ensinar uma técnica.

Desde suas origens, o ensino desses saberes foi entendido como aquisição de uma técnica: técnica do traçado das letras, por um lado, e técnica da correta oralização do texto, por outro. Só depois de dominada a técnica é que surgiriam, como num passe de mágica, a leitura ex-pressiva (resultado da compreensão) e a escrita eficaz (resultado de uma técnica posta a ser-viço das intenções do produtor). Acontece que essa passagem mágica da técnica para a arte só foi transposta, naqueles lugares onde a escola mais faz falta, por pouquíssimos escolariza-dos precisamente pela ausência de uma tradição histórica de “cultura letrada”.

Surge então a noção de “fracasso escolar”, inicialmente concebida não como fracasso do ensino, mas da aprendizagem, ou seja, como responsabilidade do aluno. Conforme as épocas e os costu-mes, os alunos que fracassam são designados como “de espírito débil”, “imaturos” ou “disléxicos”.’ Essas crianças trazem consigo algo de patológico, algo que lhes impede de aproveitar um ensino que, como tal e considerando-se a bondade de suas intenções, fica além de qualquer suspeita.

No entanto, por toda parte e de modo maciço, o fracasso escolar é um fracasso da alfabetiza-ção inicial que dificilmente se explica por uma patologia individual. Uma década depois, por volta de 1970, os estudos em sociologia da educação deslocaram a responsabilidade pela in-capacidade de aprender para o contexto familiar: em vez de algo intrínseco ao aluno haveria um “déficit cultural”. Na verdade, a responsável pelo déficit ou handicap inicial seria uma certa “patologia social” (soma de pobreza com analfabetismo). Com efeito, pobreza e analfabetismo

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andam juntos. O analfabetismo não se distribui equitativamente entre os países, mas se con-centra em entidades geográficas, jurídicas e sociais que já não sabemos como nomear.

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Apesar de centenas de promissoras declarações de compromisso nacional e internacional, a humanidade ingressa no século XXI com um bilhão de analfabetos no mundo (enquanto que em 1980 eram 800 milhões).

Os países pobres não superaram o analfabetismo; os ricos descobriram o iletrismo. Em que consiste esse fenômeno que por volta de 1980 colocou em estado de alerta a França, a ponto de mobilizar o exército na “luta contra o iletrismo?” Iletrismo é o novo nome dado a uma rea-lidade muito simples: a escolaridade básica universal não assegura a prática cotidiana da lei-tura, nem o gosto de ler, muito menos o prazer da leitura. Ou seja, há países que têm analfa-betos (porque não asseguram um mínimo de escolaridade básica a todos seus habitantes) e países que têm iletrados (porque, apesar de terem assegurado esse mínimo de escolaridade básica, não produziram leitores em sentido pleno).

O tempo de escolaridade obrigatória se estende cada vez mais, enquanto os resultados relativos ao “ler e escrever” continuam provocando discursos polêmicos. Cada nível educativo acusa o pre-cedente pelo fato de receber alunos que “não sabem ler e escrever”, e não poucas universidades têm “oficinas de leitura e redação”. Ou seja, uma escolaridade que vai dos 4 até bem mais de 20 anos (sem falar de doutora- do e pós-doutorado) tampouco forma leitores em sentido pleno.

É claro que estar “alfabetizado para continuar no circuito escolar” não garante estar alfabetiza-do para a vida cidadã. As melhores pesquisas europeias distinguem cuidadosamente parâme-tros como: alfabetizado para a rua, alfabetizado para o jornal, alfabetizado para livros informa-tivos, alfabetizado para a literatura (clássica ou contemporânea), etc. A esta lista temos de agregar agora: alfabetizado para o computador e para a Internet.

Isso implica reconhecer que a alfabetização escolar, por um lado, e a alfabetização necessária para a vida cidadã, para o trabalho progressivamente automatizado e para o uso do tempo li-vre, por outro, são coisas independentes. E isso é grave: se a escola não alfabetiza para a vida e para o trabalho ... para que e para quem alfabetiza?

O mundo do trabalho está cada vez mais informatizado, e nos países periféricos a escola (nossa escola pública, gratuita e obrigatória, essa grande utopia democrática do século XIX) está cada vez mais empobrecida, desatualizada e com professores mal capacitados e pior remunerados.

Pior ainda: a democracia, essa forma de governo na qual todos apostamos, demanda, requer, exi-ge indivíduos alfabetizados. O exercício pleno da democracia é incompatível com analfabetismo dos cidadãos. A democracia plena é impossível sem níveis de alfabetização acima do mínimo da soletração e da assinatura. Não é possível continuar apostando na democracia sem realizar os es-forços necessários para aumentar o número de leitores (leitores plenos, não decifradores).

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FERREIRO, Emilia. Ler e escrever num mundo em transformação. In Passado e presente dos verbos Ler e Escrever.

São Paulo: Cortez, 2008, pp 53-61

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Anotações

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