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IV SEMINARIO INTERNACIONAL SOBRE DESENVOLVIMENTO REGIONAL TÍTULO DO TRABALHO FORMAÇÃO SOCIOESPACIAL URBANA DO MUNICÍPIO DE SANGÃOSC. TÓPICO TEMÁTICO Número Descrição 8 Urbanização, redes urbanas e a gestão do território AUTOR PRINCIPAL INSTITUIÇÃO Maria Arlete Goulart Piuco Universidade do Sul de Santa Catarina COAUTORES INSTITUIÇÃO 1 Agostinho Schneiders Universidade do Sul de Santa Catarina 2 Simara Estevam Eduardo Universidade do Sul de Santa Catarina 3 RESUMO DO TRABALHO Este trabalho tem por objetivo analisar a ocupação espacial urbana numa perspectiva de diagnosticar os principais vetores do crescimento urbano do Município de SangãoSC. Darseá ênfase às principais áreas urbanas do município, destacando as conseqüências deste fenômeno. A análise da configuração do processo de urbanização no mundo, no interior do território brasileiro e de Santa Catarina permitirá identificar a situação do município, relacionando com as atividades econômicas, com o processo de migração entre outros fatores. Porém, o principal foco de estudo será o Município de SangãoSC, sendo mais precisamente a Sede e o bairro Morro Grande que, nos últimos anos vem atraindo um número de imigrantes de grandes proporções, justificando um estudo aprofundado para caracterização da área urbana. Deste modo, pretende se verificar as atividades econômicas desenvolvidas no Município identificando os vetores que promoveram a ocupação e expansão da área urbana; identificar através das pesquisas histórica (bibliográfica e fotográfica) e de campo, a ocupação espacial que ocorreu nos bairros, dando enfoque a área urbana para subsidiar planejamento futuro, evitando problemas que poderão comprometer os recursos naturais e o bem estar da população do município. PALAVRAS CHAVE Formação sócioespacial, urbanização, cidades polinucleadas

FORMAÇÃO SÓCIOESPACIAL URBANA DO ... - unisc.br · processo de urbanização no mundo, no interior do território brasileiro e de Santa Catarina permitirá identificar a situação

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IV SEMINARIO INTERNACIONAL SOBRE DESENVOLVIMENTO REGIONAL

TÍTULO DO TRABALHO FORMAÇÃO SOCIOESPACIAL URBANA DO MUNICÍPIO DE SANGÃO­SC.

TÓPICO TEMÁTICO Número Descrição 8 Urbanização, redes urbanas e a gestão do território

AUTOR PRINCIPAL INSTITUIÇÃO

Maria Arlete Goulart Piuco Universidade do Sul de Santa Catarina

CO­AUTORES INSTITUIÇÃO

1 Agostinho Schneiders Universidade do Sul de Santa Catarina 2 Simara Estevam Eduardo Universidade do Sul de Santa Catarina 3

RESUMO DO TRABALHO Este trabalho tem por objetivo analisar a ocupação espacial urbana numa perspectiva de diagnosticar os principais vetores do crescimento urbano do Município de Sangão­SC. Dar­se­á ênfase às principais áreas urbanas do município, destacando as conseqüências deste fenômeno. A análise da configuração do processo de urbanização no mundo, no interior do território brasileiro e de Santa Catarina permitirá identificar a situação do município, relacionando com as atividades econômicas, com o processo de migração entre outros fatores. Porém, o principal foco de estudo será o Município de Sangão­SC, sendo mais precisamente a Sede e o bairro Morro Grande que, nos últimos anos vem atraindo um número de imigrantes de grandes proporções, justificando um estudo aprofundado para caracterização da área urbana. Deste modo, pretende­ se verificar as atividades econômicas desenvolvidas no Município identificando os vetores que promoveram a ocupação e expansão da área urbana; identificar através das pesquisas histórica (bibliográfica e fotográfica) e de campo, a ocupação espacial que ocorreu nos bairros, dando enfoque a área urbana para subsidiar planejamento futuro, evitando problemas que poderão comprometer os recursos naturais e o bem estar da população do município.

PALAVRAS­ CHAVE Formação sócio­espacial, urbanização, cidades polinucleadas

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ABSTRACT This paper aims at analyzing the urban spatial occupation in a perspective of diagnosing the main vectors of the urban growth of the municipality of Sangão SC. Emphases will be given to the main urban area of the city, highlighting the consequences of this phenomenon. The configuration analysis of the urbanization process in the world, in the countryside of Santa Catarina and in the Brazilian territory will identify the situation of the city, relating to the economic activities, to the migration process among other factors. However, the main focus of this study will be the municipality of Sangão, chiefly Morro Grande district which, in the last years is attracting a large number of immigrants, justifying a deep study on the urban area. Therefore, the economic activities developed in the municipality will be analyzed in order to identify the vectors which promoted the expansion and the occupation of the urban area; identifying through field and historic researches (photographic and bibliographic), the spatial occupation which occurred in the city districts, highlighting the urban area in order to subsidize future planning, avoiding problems which may jeopardize the natural resources and the people´s well­being of the municipality.

KEYWORDS

urbanization, social spatial formation, polinucleated cities

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FORMAÇÃO SÓCIO­ESPACIAL URBANA DO MUNICÍPIO DE SANGÃO­SC

Maria Arlete Goulart Piuco

Universidade do Sul de Santa Catarina

Agostinho Schneiders

Universidade do Sul de Santa Catarina

Simara Estevam Eduardo

Universidade do Sul de Santa Catarina

8. Urbanização, redes urbanas e a gestão do território

RESUMO

Este trabalho tem por objetivo analisar a ocupação espacial urbana numa

perspectiva de diagnosticar os principais vetores do crescimento urbano do

Município de Sangão­SC. Dar­se­á ênfase às principais áreas urbanas do município,

destacando as conseqüências deste fenômeno. A análise da configuração do

processo de urbanização no mundo, no interior do território brasileiro e de Santa

Catarina permitirá identificar a situação do município, relacionando com as

atividades econômicas, com o processo de migração entre outros fatores. Porém, o

principal foco de estudo será o Município de Sangão­SC, sendo mais precisamente

a Sede e o bairro Morro Grande que, nos últimos anos vem atraindo um número de

imigrantes de grandes proporções, justificando um estudo aprofundado para

caracterização da área urbana. Deste modo, pretende­se verificar as atividades

econômicas desenvolvidas no Município identificando os vetores que promoveram a

ocupação e expansão da área urbana; identificar através das pesquisas histórica

(bibliográfica e fotográfica) e de campo, a ocupação espacial que ocorreu nos

bairros, dando enfoque a área urbana para subsidiar planejamento futuro, evitando

problemas que poderão comprometer os recursos naturais e o bem estar da

população do município.

Palavras­chave: Formação sócio­espacial, urbanização, cidades polinucleadas.

ABSTRACT

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This paper aims at analyzing the urban spatial occupation in a perspective of

diagnosing the main vectors of the urban growth of the municipality of Sangão SC.

Emphases will be given to the main urban area of the city, highlighting the

consequences of this phenomenon. The configuration analysis of the urbanization

process in the world, in the countryside of Santa Catarina and in the Brazilian

territory will identify the situation of the city, relating to the economic activities, to the

migration process among other factors. However, the main focus of this study will be

the municipality of Sangão, chiefly Morro Grande district which, in the last years is

attracting a large number of immigrants, justifying a deep study on the urban area.

Therefore, the economic activities developed in the municipality will be analyzed in

order to identify the vectors which promoted the expansion and the occupation of

the urban area; identifying through field and historic researches (photographic and

bibliographic), the spatial occupation which occurred in the city districts, highlighting

the urban area in order to subsidize future planning, avoiding problems which may

jeopardize the natural resources and the people´s well­being of the municipality.

Keywords: urbanization, social spatial formation, polinucleated cities

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1 INTRODUÇÃO

Analisar o desenvolvimento de uma cidade não é nada simples e requer um

amplo estudo sobre a realidade do passado e a realidade atual. O desenvolvimento

econômico de uma cidade desempenha papel relevante na formação e funções exercidas

pelos cidadãos e, freqüentemente, esse desenvolvimento acarreta certos prejuízos ao meio

ambiente.

A cidade pode ser comparada com um ímã, com um campo magnético que atrai,

reúne e concentra homens. Assim, construir e morar em cidades implica viver de forma

coletiva. A cidade se refere a um tipo de espaço que aglomera, concentra pessoas,

intensificando as possibilidades de troca, potencializando a capacidade produtiva e

promovendo o processo de urbanização.

Nas cidades de pequeno porte, a expansão da população e a ocupação espacial

ocorrem de maneira espontânea e sem nenhuma preocupação com o planejamento, o que

leva à necessidade de planejá­la posteriormente e, nesse sentido, a importância de um

plano diretor nos municípios vem se destacando. O planejamento territorial deve ser sempre

levado em consideração quando se trata de questões referentes ao espaço. Isto porque, o

planejamento é um meio de organização e gestão da ocupação do espaço e deve visar os

anseios de todos os segmentos da sociedade.

É importante observarmos a contribuição de Smith (2000), coloca que a escala

na verdade é fruto de um processo social, ou seja, ela é produzida na sociedade pela

atividade da sociedade por estruturas geográficas que interagem socialmente através de

lutas políticas intensas (poder). A espacialização das lutas de classe permite a identificação

social da comunidade onde muitas vezes se unem grupos sociais que têm o mesmo objetivo

enquanto reivindicação de grupo.

Assim, justifica­se este trabalho que pretende analisar o desenvolvimento de

uma cidade, que evoluiu de forma polinucleada uma vez que, a população se concentra em

dois pólos: Sede e Morro Grande. Em contato com a realidade vivenciada pelos habitantes,

verificamos as representações do modo de vida que ficam registrados nos tipos de

construções arquitetônicas, objetos, documentos, produção artística e cultural, identificam­

se marcas das classes dominantes e das relações de poder existentes. Deste modo, as

ocupações espaciais (cidades) são as representações do modo de vida das sociedades e do

desenvolvimento por elas alcançado.

Nesse contexto o objetivo geral é analisar a ocupação espacial urbana numa

perspectiva de diagnosticar os principais vetores do crescimento urbano do Município de

Sangão – SC. Para isso, estabelecemos como ações específicas: verificar as atividades

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econômicas desenvolvidas no município relacionando com os vetores que promoveram a

ocupação e expansão da área urbana; bem como caracterizar a situação atual da ocupação

espacial urbana do município; e identificar através das pesquisas histórica (biográfica e

fotográfica) e de campo, a ocupação espacial que ocorreu nos bairros dando enfoque à área

urbana.

Neste trabalho, são utilizados diversos materiais tais como, livros, periódicos,

monografias, páginas da internet, dados estatísticos, questionários, fotografias áreas, mapas

e fotos como instrumentos para o seu desenvolvimento.

Os procedimentos utilizados na pesquisa são constituídos de questionários

aplicados junto aos moradores do município; observações diretas no local de estudo;

seleção e análise de dados estatísticos comparativos através de gráficos e tabelas de

amostragem; seleção e análise de fotografias aéreas; leitura de material bibliográfico,

anotações e produção textual.

2 O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E O SURGIMENTO DAS CIDADES

O desenvolvimento econômico tem sido objeto de discussão no âmbito das

diversas ciências sociais, despertando interesse aos profissionais de diversas áreas como:

geógrafos, arquitetos, urbanistas, economistas entre outros, que desenvolvem estudos

sobre as conseqüências da ação antrópica no meio natural.

A ocupação e expansão do espaço urbano têm sido alvo de grandes debates em

função da sua relevância para a civilização moderna, cujo conhecimento sobre a

urbanização é ainda insuficiente. A grande concentração do homem nas cidades conduziu a

sociedade a uma condição de consumidores de produtos, serviços e espaço.

As relações humanas sobre os espaços acontecem de diversas maneiras: com

maior ou menor intervenção e em tempos também diferentes. O homem, através de suas

atividades, atuou de maneira diversificada nas áreas naturais formando meios ou espaços

com características peculiares, o espaço rural (campo) e o espaço urbano (cidades).

Todavia, para Carlos (apud DAMIANI, 1999, p. 63),

[...] a sociedade produz o espaço e passa a ter dele uma determinada consciência. Refere­se ao fato de que os homens, ao produzirem seus bens materiais e se reproduzindo como espécie, produzem o espaço geográfico. Entretanto, dependendo do momento histórico o faz de modo específico, diferenciado, de acordo com o estágio de desenvolvimento [...].

Em conseqüência das atividades econômicas os espaços, tanto o urbano quanto

o rural, foram transformados. Podemos caracterizar o espaço rural como sendo aquele que

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compreende as áreas de um território ocupadas predominantemente por vegetação e por

paisagens produzidas por atividades ligadas ao setor primário da economia quais sejam:

agricultura, pecuária e atividades extrativas. E, o espaço urbano, como sendo o espaço

onde se desenvolvem predominantemente as atividades do setor secundário, como as

indústrias, e pelas atividades do setor terciário, como o comércio e prestação de serviços.

Assim, o espaço rural e o urbano se complementam e dependem um do outro, já

que nestas áreas desenvolvem­se atividades econômicas especificas. Diferenciar com

precisão espaço rural e espaço urbano implicam analisar de acordo com os critérios

adotados por cada país, pois sabemos que os critérios para definir o que é uma cidade

variam muito no mundo inteiro. Assim, no Brasil, cidade é toda sede de município (SANTOS,

1982).

Portanto, com o passar do tempo o campo se especializou na produção de

alimentos e de matérias­primas que, em grande parte são enviadas para as cidades. Estas,

por sua vez, se especializaram na atividade comercial, na atividade político­administrativa e

na fabricação de bens econômicos industrializados tendo origem no artesanato, evoluindo

para a manufatura e, com a Revolução Industrial, para a fábrica ou indústria moderna.

A cidade é na visão de Schor (1996, p.108),

[...] antes de tudo, definida por suas funções e por um gênero de vida, ou, mais simplesmente, por uma certa paisagem, que reflete ao mesmo tempo essas funções, esse gênero de vida e os elementos menos visíveis mais inseparáveis da noção de ‘cidade’: passado histórico ou forma de civilização, concepção e mentalidade das habitantes.

Portanto, as cidades estão em constante transformação já que, são inseridas no

espaço e no tempo. Dependendo das atividades humanas, em determinado lugar e época,

algumas características se sobressaem e as modificações acontecem com a evolução da

sociedade, o que pode ser sentido e observado na história das diferentes cidades.

Muitas vezes, determinada atividade econômica sobressai em certo espaço

urbano, como o comércio e a prestação de serviços. Outras cidades podem ter na indústria

sua maior fonte de renda, outras ainda, os portos e, até mesmo o turismo. Portanto, dizemos

que cada cidade tem sua função, ou seja, uma atividade que se destaca entre as demais,

embora, existam grandes cidades que acumulam múltiplas funções.

Não é necessário que uma cidade possua todos os tipos de produção, todas as variedades de produtos, de fácil obtenção e a preços freqüentemente fixos, para o conjunto do território. Assim, certas cidades são especializadas em um subsetor da economia, servindo mal um mercado nacional ou internacional e permanecendo estreitamente dependente dos outros bens de produção para seu estabelecimento. (SANTOS, 1982, p. 118).

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Assim, a autonomia de cada cidade está relacionada à diversificação das

atividades econômicas nela desenvolvidas. Algumas cidades podem se tornar dependentes

de cidades vizinhas quando se especializam em uma única função. Segundo Lefebvre

(1991), “[...] a cidade é a projeção da sociedade sobre um local.”

Desta forma algumas cidades sofrem um crescimento populacional e a área

urbana se expande em decorrência da criação de loteamentos e da formação de novos

bairros. Neste caso os espaços mudam ou diversificam suas funções, ampliando as

possibilidades de independência em relação a outras cidades.

Sabemos também que as cidades crescem de maneira diferente e o responsável

por este crescimento é o homem que migra das regiões vizinhas, sobretudo da área rural.

Segundo Santos (1982, p. 100) “O homem é o elemento de maior mobilidade [...] e a cidade

recebe, assim, as populações vindas da zona rural. No entanto esta mobilidade é reduzida

uma vez que as populações detêm seu movimento ao se fixarem na cidade.”

Desta forma dizemos que o espaço urbano é dinâmico e mutável, pois está em

constante transformação exercida principalmente pelo homem. Estas transformações podem

ser observadas não somente na concentração das pessoas nas cidades, mas também na

mudança dos modos de vida da sociedade que ficam registradas nas representações,

construções, objetos, documentos, produção artística e cultural. Para Costa (apud DAMIANI

1999 p. 101), atualmente “[...] é possível uma população mesmo sem habitar a cidade,

assimilar modos de vida urbana. Devido à rapidez de circulação de idéias e informações, é

possível distinguir a cidade como espaço e o urbano como modo de vida.”

Sendo assim, podemos verificar uma diferença entre urbanização e crescimento

urbano embora estejam relacionados. O primeiro termo se refere a um processo social que

compreende as relações comportamentais como resultados de pessoas morando na cidade.

E crescimento urbano como um processo espacial e demográfico sendo locais de

concentrações de população (CLARK apud COSTA, 1999 p. 103).

2.1 O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO

Atualmente, a palavra cidade implica conceitos diferentes e é usada de maneiras

diversas, podendo significar concentração de populações em comunidades que realizam

atividades em grande escala, centralizam e distribuem bens, serviços e comunicações. Nela,

a vida social é caracterizada por relações complexas e especializadas e as pessoas

possuem hábitos em comum, predominantemente urbanos, concentrando cultura e

aspirações humanas.

A palavra urbanização também é utilizada como sinônimo de civilização e

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segundo Costa (apud DAMIANI, 1999, p.108) ”A palavra cidade se origina do latim civis (civis, civitas, cite, civilidade), que deu origem também a ‘civilização’. Portanto podemos fazer uma relação entre civilização e urbanização.”

Considerando, primeiramente, a relação entre cidade e urbanização precisamos

compreender o espaço urbano também como processo de acumulação de experiências, de

formas de organização e de reorganização das cidades tendo em vista o processo de

urbanização vivido por ela, localizado no tempo e no espaço.

Na cidade se concentra a maioria das atividades e das pessoas e isso requer um

grau de complexidade nas ações e funções exercidas. A urbanização não se limita só ao

aumento do número e do tamanho das cidades e a divisão social do trabalho entre campo e

cidade, mas ela se reconstrói à medida que a malha urbana é ampliada, intensificando­se a

circulação de pessoas, produtos, informações e idéias.

Reforçando, Sposito (apud DAMIANI, 1999, p. 84),

A urbanização da sociedade não compreende, portanto, apenas a dinâmica demográfica de concentração dos homens, ou a dinâmica econômica de concentração das riquezas, nem as formas concretas que expressam ou determinam essas dinâmicas, mas seu conteúdo social e cultural.

A urbanização ocorre segundo Chudacoff (1977, p. 11), “[...] quando a população

urbana de uma região ou nação aumenta a uma taxa mais rápida do que o restante da

população dessa mesma região ou nação.” Ela deve ser entendida como um processo que

resulta em especial da transferência de pessoas do campo para a cidade, ou seja,

crescimento da população urbana em decorrência do êxodo rural. Um espaço pode ser

considerado urbanizado, a partir do momento em que o percentual de população urbana

torna­se superior ao rural.

Portanto, podemos dizer que o espaço mundial é predominantemente urbano.

Mas não foi sempre assim, durante muito tempo à população rural foi superior à urbana,

essa mudança se deve em especial, ao processo de industrialização iniciado no século

XVIII, com a Revolução Industrial na Inglaterra, expandindo­se, posteriormente para outros

países, como os EUA, França e Alemanha.

Assim, temos a relação entre cidade, civilização e urbanização já que a

urbanização depende das cidades, “[...] a cidade está a todo tempo a expressar e sustentar

o processo de urbanização, e sob essa perspectiva sintetiza a dinâmica desse processo

[...].” (SPOSITO apud DAMIANI, 1999, p. 85).

É importante lembrar que o fenômeno da urbanização ocorreu de maneira

diferente nos países desenvolvidos e nos países subdesenvolvidos. Naqueles, ocorreram

investimentos gradativos em infra­estrutura para atender as necessidades da população e

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das indústrias.

Nos países subdesenvolvidos, de industrialização tardia, esse processo só

começou no século XX, em especial a partir da Segunda Guerra Mundial. Nesses países as

cidades cresceram de forma muito acelerada, o que se configura como uma urbanização

anômala tendo como conseqüência situações indesejadas para o espaço urbano tais como

problemas de infra­estrutura, pobreza, favelas, desemprego, violência e outros. Atualmente

até mesmo os países de industrialização inexpressiva vivem um intenso movimento de

urbanização.

Tanto nos países desenvolvidos quanto nos países subdesenvolvido os principais

fatores, da mobilidade do homem do campo são os repulsivos tais como a concentração de

terras, mecanização da lavoura, baixos salários, da falta de apoio aos pequenos

agricultores, das técnicas de cultivo. Destaca­se também os fatores que atraem o homem do

campo para as cidades, como a expectativa de emprego, melhores condições de saúde,

educação, saneamento básico, moradia, etc..

Em países subdesenvolvidos como o Brasil, os fatores repulsivos costumam

predominar sobre os atrativos, fazendo com que milhares de trabalhadores rurais deixem o

campo em direção às cidades, o que, em geral, contribui para o aumento dos problemas

urbanos na medida em que as cidades não têm estrutura suficiente para receber esses

trabalhadores, com isso proliferam­se as favelas, aumenta a violência, faltam empregos,

caracterizando as situações atuais.

No Brasil, assim como nos demais países subdesenvolvidos, a concentração das

pessoas nas cidades deu­se através de vários fatores: utilização de processo produtivo que

exigia grande número de trabalhadores, surgimento de estabelecimentos comerciais,

criação de infra­estrutura para atender interesses e necessidades das indústrias tais como

construção de estradas, água encanada, fornecimento de energia, meios de comunicação e

a prestação de serviços, escolas, bancos, lojas, hospitais, etc..

Ao mesmo tempo em que as cidades cresciam o campo sofria importantes

modificações com a introdução de máquinas e de técnicas na agropecuária. As

necessidades de mão­de­obra se inverteram, passaram a ser menores no campo e maiores

nas cidades. Assim, a população nas cidades passou a crescer bem mais que no meio rural,

caracterizando a urbanização. A industrialização normalmente é seguida de urbanização,

que pode ocorrer tanto pela concentração de aglomerados humanos através do êxodo rural,

quanto de riquezas. Para Santos (1982, p. 23), “[...] o crescimento das cidades e da

industrialização, a partir do século XIX, ocasionou o declínio da população rural

acompanhada de aumento da produtividade para atender as necessidades das pessoas que

viviam nas cidades.”

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A urbanização está intimamente ligada à sociedade e, assim, não se refere

apenas à concentração de pessoas, mas, às relações por elas mantidas. Na verdade existe

uma relação ímpar entre as atividades econômicas desenvolvidas e o crescimento e ou

surgimento das cidades, já que a divisão do trabalho surge basicamente desta relação.

Existe além da divisão do trabalho entre os homens, a divisão entre as regiões e ambas se

completam, para Santos (2002, p. 139):

A divisão social do trabalho é freqüentemente considerada como a repartição [...] do trabalho vivo. Essa distribuição vista através da localização dos seus diversos elementos, é chamada de divisão territorial do trabalho. Essas duas formas de considerar a divisão do trabalho são complementares e interdependentes.

Assim, a divisão social do trabalho era muito baixa ou quase não existia, Singer

(1998, p. 36­36), reforça que “[...] este baixo nível da divisão do trabalho é a causa

fundamental da pobreza das cidades coloniais [...]. Não havia uma autêntica divisão de

trabalho entre campo e cidade. Esta nada produzia a não ser a comercialização dos

produtos do campo.”

A economia e a expansão das cidades são limitadas pelo fato de que a produção

industrial não possui auto­suficiência, pois depende das matérias­primas e produtos do

campo. Assim, a economia das cidades cresce à medida que ocorre aumento da exportação

de bens e serviços para o meio rural. Conforme Singer (1998, p. 68­69),

[...] a economia citadina só pode crescer na medida em que lê puder aumentar sua exportação [...]. Embora a cidade possa exportar serviços ao campo (serviços medico, educacionais, segurança pública, financeiros, etc.) não há duvida que a parte mais importante desta exportação é constituída por produtos industriais.

Como a cidade mantém uma relação de interdependência com o campo ocorre à

divisão do trabalho entre campo e cidade. Destaca Singer (1998, p. 69) “A essência da

divisão do trabalho entre cidade e campo é a divisão do trabalho entre agricultura e

indústria, o que é ainda mais verdadeiro num país como o Brasil [...].”

Além de analisar o espaço ocupado pelas cidades, investigar as técnicas

utilizadas e o tempo, em que foram construídas, ou seja, as condições humanas são

necessárias também analisar: a origem, se estas surgiram de maneira espontânea ou foram

planejadas; o meio natural em que as cidades se encontram o que denominamos de

situação (ou posição) e sítio.

Para tanto, a posição da cidade é fator relevante, pois, a localização interfere na

facilidade de expansão territorial e também econômica, destacando­se a existências de

caminhos naturais, contatos entre regiões mais distantes, presença de jazidas minerais.

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Para Hauser (1975, p. 81) a posição “[...] refere­se à localização relativa de uma

cidade e suas interações, no que tange às áreas externas afetadas pela localização.”

George (1983, p.36) reforça “A posição pode ser definida como a localização da cidade em

função de fatos naturais susceptíveis, no passado ou no presente, de influir em seu

desenvolvimento que, por sua vez, está vinculado à facilidade de expansão.” (grifo do autor).

E, sítio pode ser definido como um marco topográfico que fixa a cidade, e a

função da cidade. De acordo com a visão de Hauser (1975, p. 81),

‘Sítio’ refere­se à área ocupada pela cidade. Dentre as características de particular importância do sítio contam­se: o relevo, a inclinação, e a configuração as áreas caracterizadas, ou não, por águas e das regiões costeiras; sua vulnerabilidade a terremotos, deslizamentos de terras, de inundações, e outras condições catastróficas; sua capacidade de sustentação e sobrecarga, em relação ao leito de rocha firme, à drenagem e às condições microclimatológicas.

Segundo George (1983, p. 37) “O sítio é definido como o quadro topográfico no qual se enraizou a cidade, pelo menos em suas origens.“ (grifo do autor). Assim, as

condições topográficas são muito relevantes e permitem o desenvolvimento de diversas

formas de cidades, podendo obter características geométricas, alongadas, semicirculares

(Viena), de anfiteatro (Barcelona), tentaculares (Rio de Janeiro), pois são construídas

conforme as condições do relevo.

Percebemos que estas duas noções (posição e sítio) são importantes à medida

que associamos as vantagens de uma em relação à outra. Podemos afirmar que o sítio está

mais vulnerável às mudanças, podendo, portanto, perder importância com o tempo.

2.2 AS CIDADES E A URBANIZAÇÃO EM SANTA CATARINA

Após o descobrimento do Brasil foi registrada a presença de expedições

portuguesas e espanholas no litoral do Estado de Santa Catarina as quais se depararam

com a existência do homem pré­colombiano no litoral, os indígenas carijós pertencentes ao

grupo Tupi­Guarani, os quais sobreviviam da pesca, coleta de frutos do mar e do

desenvolvimento da agricultura de subsistência. Existiam, ainda, outros grupos localizados

um pouco mais para o interior, pertencentes ao grupo Jê subdivididos em xoklengs e

kaingangs, os quais aperfeiçoaram a caça, a pesca e eram extremamente nômades.

Reforçando Ribas Júnior (2005, p. 23),

[...] os indígenas carijós que habitavam a orla marítima eram parte dos habitantes locais e se caracterizavam pela índole pacífica, pelo sedentarismo, pela agricultura como meio de subsistência. [...]

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Mais para o interior, ao qual os primitivos colonizadores chegaram margeando os rios de maior porte, estavam os do grupo Jê. Eram os botocudos, os bugres [...]. Diferentemente dos carijós, mansos, pacíficos e pegados à terra, os xoklengs eram caçadores por excelência, mais belicosos e sobretudo nômades, andando continuamente dos degraus da Serra do Mar e Geral ao território das Missões, hoje da República Argentina. (grifo do autor).

Com o processo de colonização do Brasil surgiram as Capitanias Hereditárias,

criadas por D. João III para garantir a posse do extenso território brasileiro, as quais também

estavam presentes no território catarinense. Coube a Pero Lopes de Souza, a Capitania de

Sant’ana que se estendia das proximidades de Paranaguá até Laguna, assim fundaram­se

as primeiras cidades litorâneas no Estado.

Com o passar do tempo, no século XVII foi introduzida no Brasil e em Santa

Catarina a política de expansão do território, antes definido seus limites através do Tratado

de Tordesilhas e das capitanias hereditárias, caracterizadas por freqüentes incursões

vicentistas pelo interior do país que ficaram conhecidas por bandeirantes. Estas serviram

como início das possibilidades de povoamento e colonização das terras do interior e do

oeste de Santa Catarina, fundando as primeiras cidades litorâneas e do interior. Assim

reforça Piazza e Hubener (2001, p. 35­36),

Os bandeirantes cada vez mais alargavam as fronteiras das terras portuguesas. São as bandeiras vicentistas (provenientes da Capitania de São Vicente), de caça ao índio, que atingem o Brasil Meridional. Assim o litoral catarinense passou a ser percorrido, conhecido e do conhecimento surgiu o interesse pela posse e conseqüente ocupação. Na segunda metade do século XVII teve início uma nova fase da atividade bandeirante. As bandeiras continuaram a percorrer a região centro e sul, interessadas agora na procura de ouro e pedras preciosas. As bandeiras penetrando e conquistando o Centro e o Sul, abriram novos caminhos, deram início a núcleos de povoamento [...].

Por volta da primeira metade do século XVIII, chegou a Santa Catarina o primeiro

grupo de colonizadores, os portugueses açorianos vindos da Ilha de Açores. Os Açorianos

fundaram as cidades litorâneas São Francisco do Sul, Desterro e Laguna. Já os tropeiros

paulistas fundaram as cidades do planalto catarinense, Lages, Correia Pinto, pois tinham o

objetivo de levar o gado para vender em São Paulo e Minas Gerais através dos caminhos as

tropas e, assim, através das paradas para descanso surgiam outras pequenas cidades na

tentativa de ligação entre as cidades de Laguna e Lages.

Mais tarde, em meados do século XIX, chegaram os italianos e alemães que se

instalaram entre o litoral e o planalto. Nas regiões do vale do Itajaí, predominaram a

colonização italiana, ao Norte nas proximidades de Blumenau, surgiram às cidades de Rio

dos Cedros, Rodeio, Benedetino Novo, Ascurra, Apiúna e Luiz Alves. Mais tarde esta se

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expande para o sul do Estado, nas regiões dos vales dos rios Tubarão, Urussanga e

Araranguá fundando as cidades de Tubarão, Criciúma, Araranguá, Urussanga; nos vales

dos rios Braço do Norte e Capivari, as cidades de Pedras Grandes, Treze de Maio, e Cocal.

Nas proximidades do rio Tijucas expandiram­se outras cidades: Nova Trento, Botuverá,

Brusque, Tijucas, Canelinha, São João Batista e Braço do Norte e Orleans.

A colonização alemã mais organizada se instalou primeiramente no nordeste e

mais tarde, no sul e sudeste do Estado, fundando as cidades de Blumenau, Joinville,

Hamburgo e outras. Inicia­se aí o processo de instalação das primeiras indústrias em Santa

Catarina. Segundo Ribas Júnior (2005, p. 34),

Mais organizados que os portugueses e os italianos, os alemães vieram com grandes companhias colonizadoras, fixando­se ao sul e sudeste do território da Província de Santa Catarina. [...] imigrantes das mais variadas profissões, onde está a origem do processo de industrialização que mais tarde faria dos produtos de Blumenau o renome da indústria brasileira. Eles eram carpinteiros, pedreiros, marceneiros, agrimensores, funileiros, ferreiros, charuteiros e, inclusive, dois agricultores. Dessa primeira leva só poderia mesmo nascer uma cidade industrial.

Santa Catarina recebeu poucos incentivos no período colonial para o

desenvolvimento de sua economia. Em geral, a maior possibilidade de crescimento, está

associada às atividades desenvolvidas pelos italianos e alemães que, já conhecedores de

técnicas e apoiados por pequenos capitais governamentais e bancários, impulsionaram as

atividades industriais no final do século XIX e primeira metade do século XX. Estes foram

seguidos de investimentos em infra­estrutura dos transportes ferroviários, portuário e

rodoviário com objetivo de ligar Florianópolis a Blumenau e também a ligação litoral­planalto.

No final do século XIX, início do século XX, algumas iniciativas governamentais e privadas na infra­estrutura catarinense deram impulso à economia. No sul do Estado ­ a descoberta do carvão mineral, ainda no Império ­ forçou a implantação da Estrada de Ferro Teresa Cristina ligando a Região carbonífera (Criciúma, Urussanga e adjacências) até o Porto de Imbituba. No Vale do Itajaí, a chegada dos alemães a partir de 1850 fazia nascer importante pólo de indústria têxtil, levando o planejamento e construção de parte de uma estrada de ferro que deveria ligar o Porto de Itajaí a Curitibanos, no Planalto Central, seguindo o rio e passando pelas colônias de Blumenau e Rio do Sul. [...]. No planalto norte foi construída a estrada de ferro D. Francisca para ligar o Porto de São Francisco do Sul a Joinville e, subindo a serra que lhe empresta o nome, São Bento e Mafra. (RIBAS JÚNIOR, 2005, p. 83).

Nas primeiras três décadas do século XX os comerciantes financiaram os

primeiros avanços tecnológicos da época, estavam em constante contato com o comércio

europeu e traziam notícias a respeito das novas máquinas industriais que permitiam a

15

passagem da produção artesanal para a fase da industrialização. Assim, reforça Piazza e

Hubener (2001, p. 135),

O processo de industrialização de Santa Catarina dever ser encarado em função das correntes migratórias provenientes de países onde a Revolução Industrial já desempenhava relevante papel. A grande parte dos imigrantes provenientes de áreas urbanas possuía formação intelectual e qualificação profissional, transferiam suas experiências para as atividades que iriam exercer em terras catarinenses.

As primeiras indústrias catarinenses, instaladas pelos imigrantes europeus,

ganharam impulso a partir da instalação das primeiras usinas hidrelétricas, e da exploração

do carvão mineral, posteriormente a metalurgia, as têxteis e mobiliárias ganham espaço

principalmente durante o período da Primeira Guerra Mundial. A indústria gerou demanda de

mão­de­obra caracterizando o processo inicial de urbanização de Santa Catarina, assim,

reforça Piazza e Hubener (2001, p. 179) “Em conseqüência da crescente industrialização, a

população catarinense adquire uma tendência de engrossar as populações urbanas, que vai

se acentuar após 1920 com o aparecimento, logicamente, de uma ponderável fração de

operários.”

O processo de urbanização expandiu­se por todo o país, entre os anos de 1950 e

1970, com uma forte concentração nas regiões Sul e Sudeste, principalmente devido aos

investimentos realizados durante os governos de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek,

principalmente em infra­estrutura de transportes e comunicações integrando o território e

aumentando tendência à concentração urbana, ocasionando um período econômico de

grande desenvolvimento que ficou conhecido como milagre brasileiro na década de 1970.

Em Santa Catarina a industrialização passa a crescer a partir de 1940 e atinge

entre 1970­1980 números bem maiores que a média brasileira, apresentando características

de urbanização similares ao que ocorre na região Sul do país, mas não apresentam em sua

estrutura urbana, grandes aglomerados, predominando um número muito grande de

pequenas cidades.

Assim, a população urbana de Santa Catarina sofre um acentuado crescimento,

estando associada ao crescimento natural da população e as migrações para as pequenas

cidades. Para Peluso Júnior (1991, p. 32) “O fenômeno da urbanização do Estado de Santa

Catarina manifestou­se na década de 50 e 60, coincidindo com a intensificação do

movimento campo­cidade em todo o mundo.”

Segundo Ribas Júnior (2005, p. 52), O processo de industrialização teve como conseqüência direta o processo de urbanização. O que foi atraindo do campo para as cidades (meio rural para o meio urbano) os catarinenses. De 1940 ­ início da aceleração industrial e da urbanização ­ até 2000 vê­se uma completa inversão da

16

localização da população. O momento mais marcante dessa inversão aparece no censo de 1980 ­ na década de 70 passamos a ter mais gente nas cidades.

De acordo com Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2007), o processo

de urbanização no Brasil, tem sofrido uma forte aceleração a partir da década de 1950,

vinculando­se principalmente à implantação de indústrias, que também acelerava. No

período de 50 anos, o índice de população urbana deu um grande salto, passando de 36,2%

de 1950 para mais de 78% em 1999, e, recentemente em 2000, atingiu a 81,23%.

A região Sul apresenta alto grau de urbanização 80,94% e, pode­se concluir que

o processo de urbanização no Brasil teve um grande incremento a partir das décadas de 40

e 50. Enquanto em 1930 cerca de 70% dos brasileiros viviam no campo, atualmente, mais

de 80% da população vive em áreas urbanas.

Devido ao número de emancipações políticas ocorridas em 1997 no Brasil, o

número de cidades cresceu consideravelmente e, este processo ocorreu também em Santa

Catarina. Ribas Júnior (2005, p. 52) destaca que “No ano de 1996 o Estado de Santa

Catarina contava com 260 municípios, cujo número passou para 293 durante o ano de 1997

por conta das emancipações municipais ocorridas em massa em todo o país.”

A distribuição da população urbana no Estado de Santa Catarina como já citado

concentra­se nas pequenas cidades, com 76% das cidades catarinenses ficando

enquadradas na faixa de 0 a 10.000 habitantes. Os dados relativos à distribuição

populacional em áreas urbanas em Santa Catarina indicam que 70,08% da população

urbana vive em cidades com população acima de 30.000 habitantes (32 municípios) e que

29,92% da população vivem nos demais municípios (261) cuja faixa populacional fica entre

0 e 30.000 habitantes, (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2007).

3 O MUNICÍPIO DE SANGÃO

3.1 ASPECTOS FÍSICOS E GEOGRÁFICOS

O Município de Sangão com uma área de 77,09 km² situa­se na região sul de

Santa Catarina, faz parte da microrregião de Tubarão e pertence à Associação dos

Municípios de Laguna (AMUREL).

Sangão está localizado à 160 Km da capital administrativa, Florianópolis, à 28 km

de Tubarão, 25 Km de Criciúma e 12 km de Morro da Fumaça. A principal rodovia que corta

o município é a BR101. Aparece ainda, a SC443, que é a principal ligação entre Sangão e

Morro da Fumaça.

17

O Município está situado na planície litorânea do sul catarinense, tendo

aproximadamente 50% de sua área situada nesta faixa. Possui algumas elevações e tem

seu ponto culminante o "Morro do Rato", com altitude média de 235 metros acima do nível

do mar e alguns terraços, em torno de 30 metros acima do nível do mar. Portanto, a maior

parte do Município de Sangão, é composta por áreas planas e levemente ondulada, ficando

sua declividade entre 0 a 8%.

O sistema atmosférico que atua no sul do Brasil é controlado pela ação das

massas de ar intertropicais (quentes) e polares (frias), chamadas de Massa de Ar Tropical

Atlântica e Massa de Ar Polar Atlântica, sendo esta última responsável pelo caráter

mesotérmico do clima. A circulação atmosférica predominante na região compõe­se de

ventos que variam do quadrante sul ao nordeste com intensidade fraca moderada.

3.2 ASPECTOS HISTÓRICOS

Sangão pertenceu ao município de Jaguaruna durante 58 anos, passou a ser

distrito em 02 de março de 1934 de acordo com o Decreto Estadual 531, recebendo o nome

de "24 de Outubro", ficando então desmembrado do Distrito de Jaguaruna. O Distrito de "24

de Outubro" foi instalado em 02 de abril do mesmo ano, sendo sua sede elevada à categoria

de Vila, pela Lei Estadual 86, de 31 de março de 1938, quando então passou a denominar­

se Distrito de "Sangão" e não mais de Distrito “24 de Outubro”. Em 1975 o prefeito municipal

de Jaguaruna, Sr.José João Silvano define o perímetro urbano do Distrito de Sangão pela

Lei Municipal 293.

Como o Distrito de Sangão já possuía condições para ter uma vida própria, a

comunidade teve anseio de transformá­lo em Município, e assim, no dia 15 de março de

1992, foi realizado o plebiscito pré­emancipação, onde a maioria dos habitantes compareceu

às urnas. Tornando realidade o anseio do povo, manifesto através do plebiscito, o Distrito de

Sangão foi desmembrado de Jaguaruna, emancipado e elevado à categoria de cidade e

pela Lei 8.552 de 30 de março de 1992, de acordo com o Diário Oficial do Estado 14.414 de

01 de abril de 1992. Lei esta assinada pelo Excelentíssimo Sr. Governador do Estado de

Santa Catarina, Vilson Pedro Kleinubing.

O nome de “24 de Outubro” foi dado devido a um projeto de construção de uma

praça que iniciaria no dia 24 de outubro, que por motivos políticos não se realizou isso

quando o nosso município ainda pertencia a Jaguaruna. Segundo moradores, o nome “Vila

Sangão”, foi dado devido a existência de uma enorme sanga (baixada entre morros) que

havia na propriedade do primeiro habitante do nosso município.

18

3.3 ASPECTOS ECONÔMICOS

Como vimos o crescimento econômico é de extrema relevância para cada

cidade, ocorre de maneira diferente refletindo na ocupação espacial. Sabemos que, no

município de Sangão as transformações exercidas pelos seres humanos alteram

profundamente a paisagem, e estas estão associadas principalmente às atividades

econômicas alterando o espaço de vivência.

A economia do município de Sangão insere­se no contexto da economia

nacional, ou seja, dos países subdesenvolvidos industrializados. Nesse sentido, apesar de

possuir uma população predominantemente rural, o município tem nas atividades industriais

uma importante fonte de renda, mas não foi sempre assim, as primeiras atividades

econômicas desenvolvidas foram às atividades primárias, predominantemente a agricultura.

Na agricultura o plantio da mandioca é predominante no município, com 1550

hectares de área cultivada, destacando­se também o do arroz irrigado, com 960 hectares, e

do feijão e do fumo, e em menor escala a cultura da batata, do amendoim, do milho e da

cebola. Salienta­se, no entanto, o avanço do beneficiamento do cultivo da mandioca, onde

se extrai a massa, o polvilho e a farinha.

Na pecuária destaca­se a criação de suínos, de gado de corte e do gado leiteiro

que apresenta uma lenta evolução do rebanho e, em maior ascendência, aparece a

avicultura, atividade estimulada através de fomentos e que já apresentam certo crescimento.

É abundante também a presença da pedra granítica nessa região. Esta fonte de

renda é resultado do corte de granito realizado por uma expressiva parcela da população.

Normalmente quem trabalha nessa atividade é a própria família, sendo o trabalho de corte,

totalmente artesanal.

A extração mineral de argila está se tornando uma importante fonte de renda

para muitos proprietários cujo subsolo é composto desta matéria­prima, essencial para a

indústria cerâmica. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2000),

o percentual de ocupação profissional no município fica assim distribuído: Setor primário:

60% com destaque na atividade agropecuária; Setor secundário: 35% indústria; Setor

terciário: 5% predominantemente no serviço público estadual, municipal e no comércio.

A base industrial de Sangão está alicerçada na indústria de Cerâmica Vermelha

(tijolos e telhas), cuja produção constitui aproximadamente 60% da economia local, sendo

que algumas já utilizam a mais moderna tecnologia do setor, exportando parte da produção

para vários estados do país e exterior.

19

3.3.1 Conhecendo o Município: ciclos econômicos

A sede do município de Sangão faz divisa com o distrito de Morro Grande,

Chapada do Orvalho, Areinha, Areão, Rio São Cristóvão, Campo do Sangão e Orvalho II.

A agricultura e o comércio constituem as principais atividades econômicas.

Porém, a agricultura é a grande fonte de renda da maioria dos moradores, e, portanto, a que

oferece maior número de empregos.

A economia de Sangão passou por vários ciclos e as atividades que se

destacaram foram, a agricultura, o corte de pedra granítica e, por último, as indústrias

cerâmicas.

A maioria da população de Sangão caracteriza­se por descendentes de

imigrantes italianos, portugueses e africanos, com alguns focos da etnia alemã. Os três

primeiros formaram o núcleo tradicional de Sangão, enquanto que a última é formada por

imigrantes de comunidades vizinhas.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2000), a

população de Sangão é de 8.416 habitantes, sendo que 44,57% (3.751) destes residem no

perímetro urbano e 55,43% (4.665) destes residem na zona rural do município.

Analisando a tabela 1 podemos constatar que entre as décadas de 1970 e 1980,

a população rural diminuiu em 1.172 habitantes, enquanto que, a população urbana quase

quadruplicou passando de 407 pessoas para 1.606 habitantes, iniciando o processo de

urbanização no município decorrente do contexto nacional do milagre brasileiro. Neste

período estabeleceu­se às instalações das indústrias cerâmicas para atender a demanda da

construção civil e isto atraiu pessoas, intensificando o processo de migração da zona rural

para a zona urbana, explicando assim, o grande crescimento da população urbana em

relação à rural, sendo que ocorreu um aumento na população total do município de apenas

100 pessoas.

Analisando o período entre a década de 1980 e 1991 podemos perceber que a

população urbana e rural aumentou muito, devendo estar associada ao contínuo processo

de imigrações provenientes também de outros estados brasileiros e do aumento da taxa de

natalidade.

Tabela 1 – Evolução da população do Município de Sangão – SC nos anos de 1970, 1980,

1991, 1996, 2000 e 2001.

Anos População

1970 1980 1991 1996 2000 2001 Urbana 407 1.606 1.872 2.959 3.624 3.715

20

Rural 3.270 2.098 3.271 3.830 4.504 4.665 Total 3.677 3.704 5.143 6.789 8.128 8416

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (2000 e 2001).

Portanto, de acordo com os dados do IBGE e, após analisar o local pesquisado,

podemos destacar que o Município de Sangão ainda não passou por um processo de

urbanização já que sua população é predominante rural apesar de estar vivenciando um

contínuo processo de crescimento urbano, o que pode, dentro de poucos anos, ocasionar a

urbanização do Município.

4 ANÁLISE DO CRESCIMENTO URBANO DO MUNICÍPIO DE SANGÃO­SC

Este estudo constitui­se de uma pesquisa descritiva, na forma de um estudo de

caso. Segundo Trivinõs (1987, p. 110), “[...] estes estudos têm por objetivo aprofundarem a

descrição de determinada realidade.” Para Gil (1991, p. 46), “[...] são incluídas no grupo da

descritiva, as pesquisas que têm por objetivo levantar as opiniões, atitudes e crenças de

uma população.” Quanto à abordagem, enquadra­se no tipo qualitativo e quantitativo.

Sobre a abordagem quantitativa, pode­se dizer que busca quantificar os dados

que venham a informar qual a tendência historiográfica da evolução urbana do Município de

Sangão­SC.

4.1 ANÁLISE DA DINÂMICA TERRITORIAL

A análise da dinâmica territorial do Município de Sangão está concentrada em

observações diretas nos locais de estudo bem como na análise de dados históricos

registrados nos tipos de construções arquitetônicas, objetos, documentos, produção artística

e cultural e descrição das fotografias.

A origem da cidade de Sangão está associada a uma experiência espontânea já

que esta não foi planejada e devido à existência de caminhos naturais por onde passavam

os tropeiros; outro fator relevante são as condições topográficas já que está situada na

planície litorânea, e existe facilidade de interferência, de expansão territorial e também

econômica. As noções de sítio revelam que, com o tempo a Sede perdeu sua importância

para o bairro de Morro Grande devido às maiores possibilidades de crescimento em função

da proximidade da BR101 pavimentada na década de 1970, da construção da Ferrovia

Tereza Cristina e da instalação das indústrias cerâmicas.

Nas cidades de pequeno porte, a expansão da população e a ocupação espacial,

ocorrem de maneira espontânea e sem nenhuma preocupação com o planejamento. No

21

caso de Sangão, a necessidade de planejá­la e a importância de um plano diretor no

município vêm se destacando a partir de discussões relacionadas à ocupação urbana dos

bairros Sede, Morro Grande, Santa Apolônia e Água Boa. O planejamento territorial deve ser

sempre levado em consideração quando se trata de questões referentes à ocupação do

espaço. Isto porque, o planejamento é um meio de organização e gestão da ocupação do

espaço e deve visar os anseios de todos os segmentos da sociedade.

Dessa forma, acrescentamos as contribuições de Smith (2000) e Vainer (2001)

oferecendo uma dimensão sobre o tamanho da situação. Para eles, alterar o quadro de

desigualdades é necessário entendermos em que escalas devem acontecer ás lutas que

são capazes de oferecer alguma possibilidade de mudança e quais as estruturas que

precisam ser quebradas.

A proposta de Smith e Vainer é mostrar a importância das relações sociais,

políticas, econômicas, etc., como elas se articulam sobre o território independente da

escala. Estabeleceu­se um debate político na sociedade que discute sobre qual escala

deveriam ser tomadas ações políticas confrontando nesses debates o local/regional, o

nacional e o global. Esse debate segundo Vainer tem por objetivo definir qual seria a escala

mais adequada, por exemplo, para se efetuar uma análise econômica social ou para uma

ação política mais eficaz.

O desenvolvimento econômico é de extrema relevância para as cidades, pois é

fundamental para permitir um nível de vida que satisfaça os anseios da população. Quando

há concentração em uma única atividade econômica e esta sofre alterações significativas,

dadas às dificuldades enfrentadas pela economia nos dias atuais, pode desencadear uma

série de problemas à população e à economia do município.

O desenvolvimento econômico de Sangão está voltado principalmente para a

indústria cerâmica vermelha bem como para a agricultura. A atividade cerâmica vem sendo

promovida principalmente pela facilidade dos recursos de matéria­prima e de mão­de­obra

disponível. A agricultura é a atividade tradicional, desenvolvida desde o início da história do

município, onde tem destaque o cultivo de mandioca, arroz, feijão e fumo. Sangão destaca­

se por ser considerado o pólo cerâmico da região sul.

Além de investimentos realizados pelos empresários para o fortalecimento do

setor industrial, através do aprimoramento tecnológico deve­se voltar atenção especial ao

meio ambiente, a exploração inadequada dos recursos naturais já que a exaustão atingiria a

relação direta homem­meio. Daí a importância de planejar ações no sentido de evitar o

crescimento de problemas atuais e surgimento de novos impactos negativos pela

exploração inadequada dos recursos e também para a sociedade.

Como vimos o processo de urbanização está relacionado à concentração cada

22

vez maior de pessoas nas cidades. Por isso as maiores alterações nas paisagens

acontecem nas cidades, limitando o espaço rural às alterações devido à exploração dos

recursos naturais.

Assim sendo, o desenvolvimento econômico atingido pelo Município de Sangão

fez com que, ao longo da história, dois núcleos urbanos se expandissem e almejassem

manter em suas áreas urbanas a concentração dos poderes político, econômico e religioso.

A expansão urbana horizontal em direção as proximidades da BR101 e da

Ferrovia Tereza Cristina, bem como a formação de um outro núcleo urbano, o que evidencia

as características da cidade polinucleada. Explica­se este fenômeno como sendo uma

aglomeração urbana com mais de um centro urbano, independentemente de a mesma

corresponder à evolução de duas áreas urbanas previamente independentes ou ao

desenvolvimento de novos centros dentro da área de influência do centro inicial (referido

neste caso como centro principal).

A noção de policentralidade ou polinucleos tem sido cada vez mais associada a

um modelo de desenvolvimento diferente daquele ligado a apenas um núcleo de expansão,

já que ocorrem influências diretas nas alterações da estrutura urbana.

4.2.1.1 A casa urbana

Na construção das primeiras casas era aproveitada o que a natureza lhes

oferecia, o chão era de terra batida e as paredes, aberturas e telhados de aroeira, canela,

peroba entre outras. Porém os registros das construções mais antigas a casas de formato

retangular, telhado suportados por esteios e as linhas, as paredes eram feitas de lascas de

pinheiros ou taquara entrelaçadas por cipós e preenchidas com barro. A maioria das casas

possuía o formato de meia­água e mais tarde evoluíram para duas e quatro águas.

Atualmente as casas evoluiriam muito, porém, apresentam ainda algumas

características das casas do passado. Na Sede e em Morro Grande há predomínio de casas

mistas formadas por uma parte de madeira e outras de material, têm ainda, construídas as

casas de alvenaria e de madeira. Na Sede, as casas antigas foram sendo substituídas por

casas mais modernas. Em Morro Grande este processo de substituição também ocorreu,

porém, as casas um pouco mais afastadas do centro possuem uma arquitetura moderna e

arrojada.

4.2.1.2 Evolução das ruas

23

As ruas do centro tanto da Sede quanto de Morro Grande eram formadas pelos

limites das próprias casas que se alinhavam em blocos com a frente para a rua. Os limites

entre as primeiras casas eram muitas vezes as próprias paredes e, como as ruas não eram

planejadas, possuíam um formato de caminho, sendo estreitas, com pouca extensão.

Devido à ocupação mais antiga, observa­se um traçado orgânico com ruas estreitas e sem

muita definição.

Com a ocupação recente, devido à migração da zona rural para a zona urbana,

surgem os traçados ortogonais ­ os loteamentos clandestinos e ilegais com ruas mais largas

e melhor planejadas. A repercussão espacial da Sede está ocorrendo em direção a BR101

(que fica a leste) em virtude do melhor acesso e da maior proximidade com as cerâmicas

que se localizam no distrito de Morro Grande.

As evoluções da estrutura das ruas da Sede e de Morro Grande passaram a ser

construídas com base nas exigências de leis que tornaram Jaguaruna, espacialmente mais

organizado, pois, até então o atual município de Sangão pertencia ao município de

Jaguaruna. No município, atualmente a Lei N° 21/1993, define normas para arruamentos,

loteamentos e desmembramentos dentro do território pretendendo regularizar os

loteamentos clandestinos e ilegais que surgem.

Quem percorre a Sede e o Morro Grande tem sua atenção despertada para as

ruas dos quarteirões desiguais mostrando ruas não paralelas dispostas em relação à rua

principal. As ruas do centro, mais largas, seguem com passeio e as ruas em sua forma mais

antiga, são recobertas por calçamentos de pedra granítica e, recentemente, por

pavimentação asfáltica.

As ruas dos pequenos centros urbanos foram sendo construídas por motivos

humanos e de acordo com o relevo respeitando as proximidades de pequenos córregos e

dos pequenos morros, constituindo ligações nos espaços livres formando as praças.

4.2.1.3 As praças

Há três praças criadas no município uma se localiza na Sede e outras duas em

Morro Grande pertencem à fase de expansão e evolução atual das ruas, com a configuração

de jardins, e parque para as crianças. Porém, a Praça da Sede surgiu em frente à capela

onde realizavam as cerimônias religiosas, em função da concentração nas proximidades da

Igreja Matriz Nossa Senhora das Dores, assim como a Praça de Morro Grande está

localizado em frente à Igreja Matriz da Paróquia São João Batista, pontos em que possuíam

a função de encontros de jovens após as missas.

24

A segunda Praça em Morro Grande surgiu da necessidade de uma área de lazer

para as crianças e jovens, já que no centro de Morro Grande, com o pequeno comércio não

havia local apropriado, hoje é também um ponto de reunião dos moradores do bairro.

4.2.1.4 Os bairros

O desenvolvimento de Sangão sucedeu­se apenas em uma rua na Sede e em

duas ruas em Morro Grande por longos anos e sua expansão urbana está associado aos

vetores econômicos analisados anteriormente. Porém a expansão urbana ocorreu para

outro ponto distante criando outro núcleo de povoamento, Morro Grande, mais

recentemente, expandiu­se também pelos arredores destes dois núcleos distintos e as Leis

Municipais N° 39/1993 e N°43/1993 definem respectivamente o perímetro urbano da Sede e

do Distrito de Morro Grande e incluíram como área de expansão urbana do município dois

bairros, Santa Apolônia e de Água Boa.

A Sede municipal não possui grandes dimensões espaciais é formada por ruas

estreitas e oito ruas maiores sendo que destas somente a rua principal, a Rua Vinte e Sete

de Setembro e a Rodovia SC 443, possuem pavimentação asfáltica. Este bairro concentra o

poder público (político) executivo e legislativo, caracterizado pela Prefeitura Municipal de

Sangão e a Câmara de Vereadores; e o poder religioso independente em relação a Morro

Grande já que ambos os núcleos possuem paróquias independentes.

Morro Grande se destaca em sua dimensão espacial, possui uma área urbana

horizontal muito grande comparada com a Sede, formada por quatro ruas maiores que dão

acesso e a formação de outros loteamentos e vilas. É cortada pela BR 101 e pela Ferrovia

Tereza Cristina, porém somente a rua principal de acesso e as do centro é pavimentada.

Analisando as configurações das casas podemos perceber que a ocupação do

centro dos núcleos urbanos é realizada pelas classes de melhor poder aquisitivo, enquanto

que os loteamos mais afastados são ocupados por operários das indústrias cerâmicas e por

agricultores. Em Morro Grande, verifica­se uma concentração demográfica, próxima à praça

central, com uma população de menor poder aquisitivo que, foi beneficiada com casas

doadas pelo governo federal em parceria com a administração municipal.

4.2.1.5 Função urbana

O núcleo urbano da Sede possui, predominantemente, a função residencial, já

que foi uma das primeiras funções exercidas, antes de tudo serve de residência para as

pessoas que exercem atividades da agricultura, do corte da pedra granítica e na indústria

25

cerâmica. A Sede possui também função administrativa dos serviços públicos realizados

pela prefeitura e pela câmara de vereadores. As funções que, em outras cidades são

primordiais, na Sede são secundárias, tais como a indústria e comércio.

No núcleo urbano de Morro Grande se destacam as funções residenciais e

industriais, onde as mesmas aparecem associadas já que, a concentração de pessoas é

voltada para as atividades das indústrias cerâmicas e das indústrias de confecções.

As indústrias cerâmicas desempenham o papel principal, pois seu crescimento

atrai e concentra pessoas para atenderem à demanda por mão­de­obra. As indústrias de

confecções expandiram­se nos últimos anos dando maior dinamismo às atividades

industriais do bairro. Porém, as demais são de âmbito local, como as fábricas de móveis, as

padarias, as funilarias e as metalúrgicas A função comercial está presente de maneira

pouco expressiva nos dois núcleos, sendo caracterizada por lojas de confecções, de

calçados e supermercados.

26

5 CONSIDERAIS FINAIS

Através deste trabalho, diagnosticamos os vetores responsáveis pela ocupação

espacial urbana do município de Sangão­SC, estes estão diretamente relacionados às

atividades econômicas desenvolvidas ao longo do tempo.

Para que o município se desenvolvesse no âmbito espacial, foi necessário que

ocorressem transformações na paisagem, o que promoveu inicialmente a expansão urbana

da Sede e, posteriormente de Morro Grande, assim como de todo o município de Sangão,

estando associadas às indústrias cerâmicas predominante na economia local.

Com relação à ocupação mais antiga, na Sede, os vetores de expansão foram

às atividades tradicionais de agricultura e também do comércio incipiente que se

destacaram como responsáveis pelo desenvolvimento inicial do espaço urbano, seguido

pelo da corte da pedra granítica. Em Morro Grande, inicialmente as atividades agrícolas e de

comércio, posteriormente a construção da estrada de ferro, e a proximidade com a BR 101

foram relevantes, porém, o dinamismo urbano é atingido com a instalação das indústrias

cerâmicas.

Podemos destacar também que, com o inchaço dos dois núcleos urbanos

tradicionais, ocorreu a expansão da área urbana para outros dois bairros, Água Boa e Santa

Apolônia, evidenciando que o município de Sangão tende a expandir ainda mais, devido à

instalação das indústrias cerâmicas que concentra e atrai pessoas, das disponibilidades de

emprego e das melhores condições de vida encontradas pelos imigrantes.

Através da pesquisa, obtivemos dados quantitativos e qualitativos sobre a

ocupação espacial o que, de certa forma, esclareceu a respeito da formação de um núcleo

urbano autônomo, Morro Grande, pois em geral, a maioria das necessidades da população

é atendida no local.

Assim, são urgentes as necessidades de planejamento e de um plano diretor no

município. O planejamento territorial está associado também ao planejamento social e deve

ser sempre levado em consideração às aspirações da população, que, no caso do

município, as necessidades de investimento em infra­estrutura, saúde e educação

representarão também maior potencial de expansão.

27

REFERÊNCIAS

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