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Formação prática oficinal tutoriada A formação prática of icinal obriga a um esforço contínuo por parte dos formadores/monitores para o devido acompanhamento do formando. Qualquer dúvida por parte do aluno obriga à presença do formador/monitor, já que o aluno dispõe somente da máquina e do desenho da peça a executar, a breve explicação inicial não é suficiente para que ele possa desempenhar com autonomia todas as tarefas inerentes ao fabrico de uma peça. O formador/monitor é obrigado a desdobrar-se para responder às múltiplas sol icitações individuais por parte dos seus formandos. É uma tarefa desgastante e ao mesmo tempo um bocado inglória já que não permite um acompanhamento personal izado e mais intenso junto dos alunos que têm mais dif iculdade nem permite que os melhores alunos possam evoluir mais rapidamente e em autonomia. Para ultrapassar este problema julgo ser necessário elaborar um conjunto de tutoriais que definam de forma correta e clara as tarefas que cada aluno tem que executar para cada uma das peças a maquinar. Com este tipo de auxíl io, os melhores alunos terão oportunidade de avançar com mais facil idade e em autonomia, não requerendo um esforço constante de acompanhamento por parte do formador/monitor e os alunos com mais dif iculdade beneficiariam de um apoio mais constante e personal izado. Com estas ferramentas pedagógicas os alunos ficariam ainda com estes instrumentos em seu poder que seriam extremamente úteis em contexto de estágio ou de trabalho efet ivo. Todo este trabalho teria como intuito uniformizar a formação prát ica e promover uma melhoria contínua, só sistemat izando é possível ir melhorando, um desenho d istribuído de forma avulsa nunca será esse instrumento de melhoria que se pretende . Com instrumentos pedagógicos deste tipo é sempre possível ir acrescentar algo ao longo do tempo fruto das experiências recolhidas. É necessário cada vez mais dar garantias da qual idade da formação e para isso é decisivo que o sucesso e garantia da formação não dependa exclusivamente da qual idade dos formadores/monitores, temos que possuir instrumentos pedagógicos suficientemente ef icazes que nos garantam uma excelente qual idade de formação independen- temente da qual idade do formador/monitor. O tutorial abaixo apresentado procura exempl ificar como seria a execução de uma peça de torno de forma tutoriada. A operação de tornear ou modelar peças de revolução remonta aos primórdios da ant iguidade. Apesar de não haver grandes dados históricos sobre o tema, supõem-se, que o torno e a operação de tornear terão aparecido logo após a descoberta da roda e sofrido a evolução respectiva até aos d ias de hoje. O torneamento ou operação de tornear é uma operação especialmente adaptada para a obtenção de peças em forma de sól idos de revolução. Os corpos de revolução possuem secções transversais de forma circular e constituem partes importantes de máquinas, disposit ivos, mecanismos e aparelhos, quer seja como cavilhas, quer como veios, fusos, árvores, tambores, casquilhos, mangas, etc. Também muitas ferramentas, por exemplo, fresas, brocas hel icoidais, mandris e machos para abrir rosca, possuem a forma de um cil indro de revolução. Estas peças são fabricadas dos mais diferentes materiais de acordo com a f inal idade da sua apl icação. As peças fabricadas com forma de corpos de revolução podem produzir-se com diferentes qual idades de acabamento de superfície. A operação toma o nome de tornear por se real izar em máquinas- ferramenta designadas tornos, cuja característica fundamental é imprimirem à peça um movimento de rotação contra a ferramenta. A operação de tornear ou torneamento, é uma operação de corte com levantamento de apara em que a peça é animada de um movimento de rotação contínuo contra uma ferramenta (movimento principal ou de corte - A) de forma a permitir o arranque do material. A ferramenta por sua vez terá de assumir dois tipos de movimentos, um paralelamente ao eixo da peça (movimento de avanço - B) de modo a colocar-se em frente do novo material a cortar, o outro, perpendicular ao eixo (movi- mento de penetramento - C) para que possa arrancar suces- sivas camadas de material. 1

Formação prática oficinal tutoriada - · PDF fileO cavaco é cortado por uma ferramenta de um só gume cortante, que deve ter uma ... menor do tronco cónico e no diâmetro de Ø26

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Formação prática oficinal tutoriada

A formação prática of icinal obriga a um esforço contínuo por

parte dos formadores/monitores para o devido acompanhamento

do formando. Qualquer dúvida por parte do aluno obriga à presença

do formador/monitor, já que o aluno dispõe somente da máquina e

do desenho da peça a executar, a breve explicação inicial não é

suficiente para que ele possa desempenhar com autonomia todas

as tarefas inerentes ao fabrico de uma peça. O formador/monitor é

obrigado a desdobrar-se para responder às múltiplas sol icitações

individuais por parte dos seus formandos. É uma tarefa desgastante

e ao mesmo tempo um bocado inglória já que não permite um

acompanhamento personal izado e mais intenso junto dos alunos

que têm mais dif iculdade nem permite que os melhores alunos

possam evoluir mais rapidamente e em autonomia. Para

ultrapassar este problema julgo ser necessário elaborar um

conjunto de tutoriais que definam de forma correta e clara as tarefas

que cada aluno tem que executar para cada uma das peças a

maquinar. Com este tipo de auxíl io, os melhores alunos terão

oportunidade de avançar com mais facil idade e em autonomia,

não requerendo um esforço constante de acompanhamento por

parte do formador/monitor e os alunos com mais dif iculdade

beneficiariam de um apoio mais constante e personal izado.

Com estas ferramentas pedagógicas os alunos ficariam ainda

com estes instrumentos em seu poder que seriam extremamente

úteis em contexto de estágio ou de trabalho efet ivo. Todo este

trabalho teria como intuito uniformizar a formação prát ica e

promover uma melhoria contínua, só sistemat izando é possível

ir melhorando, um desenho d istribuído de forma avulsa nunca

será esse instrumento de melhoria que se pretende.

Com instrumentos pedagógicos deste tipo é sempre possível ir

acrescentar algo ao longo do tempo fruto das experiências

recolhidas. É necessário cada vez mais dar garantias da

qual idade da formação e para isso é decisivo que o sucesso e

garantia da formação não dependa exclusivamente da

qual idade dos formadores/monitores, temos que possuir

instrumentos pedagógicos suficientemente ef icazes que nos

garantam uma excelente qual idade de formação independen-

temente da qual idade do formador/monitor.

O tutorial abaixo apresentado procura exempl ificar como seria a

execução de uma peça de torno de forma tutoriada.

A operação de tornear ou modelar peças de revolução remonta

aos primórdios da ant iguidade. Apesar de não haver grandes dados

históricos sobre o tema, supõem-se, que o torno e a operação de

tornear terão aparecido logo após a descoberta da roda e sofrido a

evolução respectiva até aos d ias de hoje.

O torneamento ou operação de tornear é uma operação

especialmente adaptada para a obtenção de peças em forma de

sól idos de revolução.

Os corpos de revolução possuem secções transversais de forma

circular e constituem partes importantes de máquinas,

disposit ivos, mecanismos e aparelhos, quer seja como cavilhas,

quer como veios, fusos, árvores, tambores, casquilhos, mangas, etc.

Também muitas ferramentas, por exemplo, fresas, brocas

hel icoidais, mandris e machos para abrir rosca, possuem a forma de

um cil indro de revolução. Estas peças são fabricadas dos mais

diferentes materiais de acordo com a f inal idade da sua apl icação.

As peças fabricadas com forma de corpos de revolução podem

produzir-se com diferentes qual idades de acabamento de

superfície.

A operação toma o nome de tornear por se real izar em máquinas-

ferramenta designadas tornos, cuja característica fundamental é

imprimirem à peça um movimento de rotação contra a ferramenta.

A operação de tornear ou torneamento, é uma operação de corte

com levantamento de apara em que a peça é animada de um

movimento de rotação contínuo contra uma ferramenta

(movimento principal ou de corte - A) de forma a permitir o

arranque do material. A ferramenta por sua vez terá de assumir dois

tipos de movimentos, um paralelamente ao eixo da peça

(movimento de avanço - B) de

modo a colocar-se em frente do

novo material a cortar, o outro,

perpendicular ao eixo (movi-

mento de penetramento - C)

para que possa arrancar suces-

sivas camadas de material.

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Os movimentos de corte e de avanço, real izam-se simultanea-

mente, de modo que resulta um movimento relativo hel icoidal, em

que a ferramenta arranca uma apara contínua.

O torneamento, como todos os demais trabalhos executados

com máquinas-ferramenta, acontece mediante a retirada

progressiva do cavaco da peça a ser trabalhada. O cavaco é cortado

por uma ferramenta de um só gume cortante, que deve ter uma

dureza superior à do material a ser cortado.

No torneamento, a ferramenta penetra na peça, cujo movimento

rotativo uniforme ao redor de um eixo permite o corte contínuo e

regular do material. A força necessária para retirar a apara é feita

sobre a peça, enquanto a ferramenta, firmemente presa ao porta-

ferramentas, contrabalança a reação desta força.

1. Coloque o ferro de desbaste no porta-ferramentas de acordo

com a figura abaixo. Tenha o cuidado de medir em relação ao eixo

do ponto rotativo para que a ponta da ferramenta f ique al inhado

com esse mesmo eixo.

2. O material em bruto deve ser obtido por seccionamento de um

varão redondo com recurso ao serrote mecânico. O seccionamento

de materiais com recurso ao serrote, constitui um processo de corte

com levantamento de apara. A remoção da apara é realizada por

intermédio de uma ferramenta, de forma apropriada, no caso, a

serra ou disco de corte, que penetra na peça sob a ação de uma força

exterior, conjugada com o movimento de rotação do disco ou

alternado da serra.

3. O material da peça é Ck 45 e o bloco em bruto deve ter Ø 55x125

mm. Tenha cuidado com o aperto da peça nos grampos (deixar fora

da bucha somente o estritamente necessário para um máximo

equilíbrio da peça).

4. Montar o ferro de desbaste no porta-ferramentas. Neste

momento estamos preparados para dar início ao processo de

maquinagem. De preferência todas as operações com aço Ck 45

devem ser refrigeradas.

5. Vamos agora facejar em 2 mm o topo da peça. A ferramenta

deve ir um pouco além do centro da peça.

6. Inserir broca de ponto na bucha do contraponto. Montar no

ponto rotativo a bucha e a broca de ponto de d iâmetro Ø3 mm.

7. Abrir ponto com profundidade de 3 mm (obrigatório abrir cone

na furação).

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8. Vamos virar a peça ao contrário e repetir as operações

anteriores.

9. Facejar a face do veio de forma que a peça fique com um

comprimento total de 120.6 mm.

10. Fazer ponto.

11. Retirar a bucha e broca de ponto, montar o ponto rotat ivo e

encostá-lo à peça.

12. Vamos real izar um desbaste em que devemos deixar uma

sobreespessura de 1 mm em todos os diâmetros e 0.5 mm em todos

os comprimentos.

13. Desbastar Ø51x50.6 mm. No início da maquinagem deve

fazer tangente com a ferramenta no topo facejado da peça.

14. Em 55.1 mm de comprimento torneamos para diâmetro de

Ø36 mm.

15. Em 37 mm de comprimento torneamos para diâmetro de Ø33

mm.

16. Em 18.3 mm de comprimento torneamos para diâmetro de

Ø26 mm.

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17. Virar a peça ao contrário para executar o desbaste do outro

lado, fixando a peça pela parte maquinada, no d iâmetro de Ø36

mm, com recurso aos grampos e ao encosto do ponto rotativo.

18. Em 59.5 mm de comprimento torneamos para o diâmetro de

Ø40 mm.

19. Em 24.5 mm de comprimento tornear para o diâmetro de Ø27

mm.

20. Desencostar o ponto rotativo e ret irar peça da bucha.

Substituir a bucha pelo prato e o caval inho.

21. Inserir a peça maquinada no caval inho e apertar no diâmetro

de Ø27 mm. Posicionar a peça com o cavalinho entre o ponto e o

contra ponto.

Caval inhos

Quando o trabalho é maquinado entre centros, é normalmente

arrastado por um caval inho. Este sistema tem uma abertura para

receber o material a maquinar, bem como um parafuso para fixar a

peça ao caval inho. O cavalinho é f ixado numa abertura no prato por

forma a não escorregar e transmita o movimento de rotação à peça.

Os caval inhos são fabricados em vários tamanhos e formas por

forma a se adaptarem aos vários tipos de peças.

22. Tornear todos os comprimentos e diâmetros para as medidas

finais tendo part icular atenção com os parâmetros de corte:

velocidade de rotação e avanço.

23. Inserir uma ferramenta de pastil ha quadrangular a 45 graus

para quebrar as arestas.

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24. Trocar a ferramenta para uma que permita executar uma

operação de ranhurar, com uma pastilha de 1 mm de espessura.

25. Vamos agora efetuar um canal com uma largura de 1.3 mm e

uma profundidade de 1.1 mm. Com a ferramenta efetuar tangente

ao topo da peça e deslocar ao longo do seu eixo uma distância de 3.5

mm (2.5 mm +1 mm, distância do canal ao topo do veio, mais 1 mm

de espessura da pastilha), efetuar nova tangencia desta vez ao

diâmetro de Ø25 g6 e avançar 1.1 mm ao diâmetro, recuar e

acrescentar 0.3 mm ao comprimento voltando a avançar 1.1 mm ao

seu diâmetro.

26. Montar a ferramenta de pastilha triangular para acabamento

do outro lado da peça.

27. Trocar o aperto para o lado oposto da peça tendo o cuidado em

proteger o aperto provocado pelo caval inho para não criar marca ou

mossa na parte já final izada da peça.

28. Tornear todos os comprimentos e diâmetros para as

dimensões f inais tendo particular atenção com os parâmetros de

corte: velocidade de rotação e avanço.

29. Vamos agora efetuar o torneamento cónico, para isso deve

seguir o procedimento seguinte:

Primeiro deve calcular a conicidade, usando o cálculo seguinte:

E incl inar o cone longitudinal no sent ido anti-horário a 5.711°.

Deve util izar a suta universal para maior precisão.

A suta universal é um instrumento de medição para med ir

ângulos. É um goniómetro especial, que consiste numa escala

circular graduada em graus com um nónio e, duas réguas: uma fixa e

outra móvel. A medição de ângulos com este instrumento, é

efetuada através do encosto das réguas às superfícies cujo ângulo se

pretende medir. A suta universal permite a leitura de ângulos

compreendidos entre 0º e 360º.

Depois do cone incl inado efetuar uma tangente na aresta do

diâmetro de Ø39 mm e retirar a d iferença do diâmetro maior para o

diâmetro menor do tronco cónico, que neste caso é de 7 mm. Antes

da última passagem é aconsel hável medir.

30. Efetuar a saída de rosca com tangente na face do diâmetro

menor do tronco cónico e no diâmetro de Ø26 mm, avançar 2.5 mm

ao diâmetro e recuar até obter um comprimento de 5 mm até ao

final da incl inação da gola. Pode ser necessário baixar ligeiramente

a ferramenta.

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31. Montar a ferramenta de pastil ha quadrangular a 45 graus

para quebrar as arestas.

32. Quebrar arestas 0.3 mm e efetuar chanfro de 1.5 mm x 45° no

início da rosca.

33. Montar a ferramenta de roscar paralela juntamente com a

bucha.

Altura filete = 0.6945 x Passo 0.6945x1.5 = 1.04mm, como o

valor de referência que precisamos é ao diâmetro logo será 2 x 1.04

mm =2.08mm. Preparar o torno para um passo de 1.5 mm.

34. Efetuar uma tangente no diâmetro de Ø26 mm e colocar a

ferramenta no intervalo do conta-ponto com o inicio da peça a

roscar. Incrementar 0.5 mm ao diâmetro por cada passagem até a

uma profundidade total de 2.08mm ao diâmetro.

35. Retirar peça da máquina e medir.

Américo Costa - Licenciado em Eng.ª Mecânica pela Universidade

do Porto - Técnico de Formação do CENFIM - Núcleo de Trofa

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