Formas Juridicas

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Michel Foucault A verdade e as formas jurdicas

Em primeiro lugar, uma pesquisa propriamente histrica, ou seja: como se puderam formar domnios de saber a partir de prticas sociais? - questo que Foucault coloca para as conferncias das quais vai abordar e desenvolver

Foucault faz uma crtica ao marxismo: o de supor, no fundo, que o sujeito humano, o sujeito de conhecimento, as prprias formas do conhecimento so de certo modo dados prvia e definitivamente, e que as condies econmicas, sociais e polticas da existncia no fazem mais do que depositar-se ou imprimir-se neste sujeito definitivamente dado.

Foucault quer demonstrar como se forma um novo saber atravs de prticas sociais e a partir de mecanismos de controlo e de vigilncia, no sc. XIX. Ele prope trs formas de olhar para esta anlise em particular:Podemos dizer que a histria dos domnios do saber em relao com as prticas sociais, excluda a preeminncia de um sujeito de conhecimento dado definitivamente, um dos primeiros eixos de pesquisa que agora lhes proponho

...]e um eixo metodologico, que poderiamos chamar de analise de discursos...o discurso ]e esse conjunto regular de fatos linguisticos em determinado nivel, e polemicos e estrategicos em outro. Essa analise do discurso como jogo estrategico e polemico e, a meu ver, um segundo eixo de pesquisa.

Terceiro eixo passa por uma relaborao da teoria do sujeito modificada ao longo dos anos, sobretudo pela psicanlise (compreendendo aqui como uma prtica social). Foi a psicanlise, segundo Foucault, a que mais conferiu prioridade um tanto sagrada ao sujeito sequente ao estabelecimento do pensamento de Descartes.

Crtica s concepes do sujeito absoluto como libertador de verdade em que a psicanlise o colocou assim como as filosofias ocidentais cartesianas e kantianas. A anlise de Foucault passa por ver o sujeito no interior mesmo da histria, do qual fundado e refundado.

a constituio histrica de um sujeito de conhecimento atravs de um discurso como um conjunto de estratgias que fazem parte das prticas sociais.

divide em dois tipos de histria, a histria interna do domnio da histria da cincia e a histria exterior da verdade, ver como nascem formas de subjectividade e certo tipos de saber.

As prticas judicirias confrontam o homem com a verdade prticas de regulao mas tambm modificadas atravs da histria. A nossa sociedade parece ter definido, tambm, a partir destas prticas jurdicas, tipos de subjectividade e formas de saber.

Eis a viso geral do tema que pretendo desenvolver: as formas jurdicas e, por conseguinte, sua evoluo no campo do direito penal como lugar de origem de um determinado nmero de formas de verdade. - vai tentar demonstrar como a verdade se pode estabelecer a partir de prticas de direito penal

Aparecimento do inqurito: E foi no meio da Idade Mdia que o inqurito apareceu como forma de pesquisa da verdade no interior da ordem jurdica.

No sc. XIX deixa de haver o inqurito para haver o exame uma forma de anlise que d origem aos vrios domnios cientficos como a Psicopatologia, Psicanlise, Sociologia, Psicologia, Criminologia - vemos que elas nasceram em ligao directa com a formao de um certo nmero de controlos polticos e sociais no momento da formao da sociedade capitalista, no final do sc. XIX.

Influncia de Nietzche para Foucault: encontramos efectivamente um tipo de discurso em que se faz a anlise histrica da prpria formao do sujeito, a anlise histrica do nascimento de um certo tipo de saber, sem nunca admitir a preexistncia de um sujeito de conhecimento.

Ideia de Nietzche que contraria o pensamento dominante da poca (anos 1800) como o kantismo e o neo-kantismo: E a ideia de que o tempo e o espao podem preexistir ao conhecimento, mas, pelo contrrio, espcie de rochas primitivas sobre as quais o conhecimento vem se fixar, para poca absolutamente inadmissvel.

Termo de inveno como opondo-se ao termo origem por parte de Nietzche e que vai ser empregado por Foucault. Para isto Foucault referencia inmeros casos em que este pensamento se clarifica: por exemplo a crtica a Shopenhauer por este tentar encontrar a essncia da religio, a sua origem, que tem origem num sentimento metafsico quer dizer que a religio j estava dada, no entanto:A religio foi fabricada. Ela no existia anteriormente. Diz o mesmo para a poesia:Um dia algum teve a ideia bastante curiosa de utilizar um certo nmero de propriedades rtmicas ou musicais de linguagem para falar, para impor suas palavras, para estabelecer atravs das suas palavras uma certa relao de poder sobre os outros. Tambm a poesia foi inventada ou fabricada,

o conhecimento simplesmente o resultado do jogo, do afrontamento, da juno, da luta e do compromisso entre os instintos. porque os instintos se encontram, se batem e chegam, finalmente, ao trmino de suas batalhas, a um compromisso, que algo se produz. Este algo o conhecimento.- separao dos instintos do conhecimento o conhecimento outra coisa, o resultado dos mesmos em sua superfcie que no foi delineado antemo na natureza humana

O conhecimento, no fundo, no faz parte da natureza humana. a luta, o combate, o resultado do combate e consequentemente o risco e o acaso que vo dar lugar ao conhecimento. O conhecimento no instintivo, contra-instintivo, assim como ele no natural, contra-natural.

Ainda sobre Nietzche Foucault acrescenta que o conhecimento no tem relaes de afinidade com o mundo a conhecer: O mundo no procura absolutamente imitar o homem, ele ignora toda a lei. Abstenhamo-nos de dizer que existem leis na natureza. contra um sem ordem, sem encadeamento, sem formas, sem beleza, sem sabedoria, sem harmonia, sem lei, que o conhecimento tem de lutar. No h nada no conhecimento que o habilite, por um direito qualquer, a conhecer esse mundo. No natural natureza ser conhecida.

Ruptura entre o conhecimento e as coisas. Critica a continuidade que a filosofia ocidental procurou justificar entre as coisas a conhecer e o prprio conhecimento, desde de Decartes a Kant. Precisa-se, assim, de afirmar a existncia de Deus tal como Descartes o fez. Nietzsche rompe a teoria do conhecimento com a teologia.

Como Deus deixa de existir: h somente ruptura, relaes de dominao e subservincia, relaes de poder, desaparece ento, no mais Deus, mas sujeito em sua unidade e soberania.

Nietzche aponta que o conhecimento se forma ao contrrio do que Spinoza refere que seria necessrio que nos abstenhamos das coisas, de rir delas, de deplor-las ou de detest-las. No entanto, atrs do conhecimento h uma vontade, sem dvida obscura, no de trazer o objecto para si, de se assemelhar a ele, mas ao contrrio, uma vontade obscura de se afastar dele e de destru-lo, maldade radical do conhecimento.

Nietzsche no coloca uma espcide de afeio, de impulso ou de paixo que nos faria gostar do objecto a conhecer, mas, ao contrrio, impulsos que nos colocam em posio de dio, desprezo, ou temor diante de coisas que so ameaadoras e presunosas. - as ideias de Nietzsche parecem, efectivamente, como aquele comic de que me lembro, emprestadas por Freud para o mbito da psicanlise.

Se quisermos realmente conhecer o conhecimento, saber o que ele , apreend-lo de raiz, em sua fabricao, devemos nos aproximar, no dos filsofos mas dos polticos, devemos compreender quais so as relaes de luta e de poder. E somente nessas relao de luta e de poder na maneira como as coisas entre, os homens entre si se odeiam, lutam, procuram dominar uns aos outros, querem exercer, uns sobre os outros, relaes de poder que compreendemos em que consiste o conhecimento.

Pode-se ento compreender como uma anlise desse tipo nos introduz, de maneira eficaz, em uma histria poltica do conhecimento, dos fatos de conhecimento e do sujeito do conhecimento.

O conhecimento no compreendido ento como uma mistura entre kantismo e empirismo, em que estamos sempre condicionados pelo nosso corpo e outros limites derivados da natureza humana. Mas, que o carcter perspectivo quer designar o facto de que s h conhecimento sob a forma de um certo nmero de actos que so diferentes entre e mltiplos em sua essncia, atos pelos quais o ser humano se apodera violentamente de um certo nmero de coisas, reage a um certo nmero de situaes, lhes impe relaes de fora.

Crtica ao marxismo: O que pretendo mostrar nestas conferncias como, de facto, as condies polticas, econmicas de existncia no so um vu ou um obstculo para o sujeito de conhecimento mas aquilo atravs do que se forma os sujeitos de conhecimento, e, por conseguinte, as relaes de verdade. - no marxismo a ideologia visto como algo negativo no sentido de que a relao do sujeito com a verdade perturbarda pelas relaes de produo estas condies para Foucault no so um vu ou um obstculo para o sujeito do conhecimento mas sim as prprias razes que formam o sujeito de conhecimento

II CONFERNCIA

para os analistas o complexo de dipo e o seu famoso tringulo que implica as relaes de parentesco entre pai, me e filho parece uma forma de garantir que o desejo no venha se investir, se difundir no mundo que nos circunda, no mundo histrico; que o desejo permanea no interior da famlia e se desenrole como um pequeno drama quase burgus entre o pai, a me e o filho.

dipo no seria pois uma verdade de natureza, mas um instrumento de limitao e coao que os psicanalistas, a partir de Freud, utilizam para conter o desejo e faz-lo entrar em uma estrutura familiar definida por nossa sociedade em determinado momento.

Em Deleuze e Guatari demonstrado que este discurso psicoanaltico que coloca o inconsciente como um contedo secreto, uma forma de coao que a psicanlise tenta impor na cura a nosso desejo e o nosso inconsciente. dipo um instrumento de poder, uma certa maneira de poder mdico e psicanaltico se exercer sobre o desejo e o inconsciente.

Foucault no se assume como estruturalista e sim como uma analisador, tal como os restantes, desde de Lyotard, Guatari e Deleuze de relaes de poder. No fazem pesquisa da estrutura mas das relaes de fora. Aponta para o poder poltico para alm do econmico

Foucault v o complexo de dipo como colectivo, ou seja, no entre desejo e inconsciente mas de poder e saber.

P 22

A cincia da alquimia deixa de ser legtima no graas a uma evoluo cientfica mas atravs de uma mudana no plano judicirio e macro poltico, social, cultural e econmico. No uma cincia que se d pelo inqurito que como se observa uma forma de saber a verdade, inquritos estes que se exercem atravs de um testemunho que tem um papel de terceiro elemento na descoberta da verdade, posiciona-se como um membro neutro mas sim pela prova. - como vimos integrante nas formas judicirias da cultura antiga grega: Em primeiro lugar a Alquimia. A Alquimia um saber que tem por modelo a prova. No se trata de fazer um inqurito para saber o que se passa, para saber a verdade - cincia que se compreende como a luta entre duas foras:

(...)alquimista que procura e a da natureza que esconde seus segredos; da sombra e da luz; do bem e do mal; de Sat e de Deus. O alquimista realiza uma espcie de luta, em que ele ao mesmo tempo o espectador - aquele que ver o desfecho do combate - e um dos combatentes, visto que pode ganhar ou perder. Pode-se dizer que a Alquimia uma forma qumica, naturalista da prova. (76)

e por isso a alquimia desaparece: O desaparecimento da Alquimia, o fato de que um saber de tipo novo se tenha constitudo absolutamente fora do seu domnio, deve-se a que esse novo saber tomou como modelo a matriz do inqurito. Todo saber de inqurito, saber naturalista, botnico, mineralgico, filolgico absolutamente estranho ao saber alqumico que obedece aos modelos judicirios da prova