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Março de 2016 . ANO XVI Nº 146 FOTO: BRENO LAPROVITERA Água e saneamento, direito de todos Água e saneamento, direito de todos Essencial à sobrevivência na Terra, a água potável foi declarada um direito humano essencial pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2010. Desde 1992, támbém é celebrado em 22 de março o Dia Mundial da Água, com o objetivo de incentivar o debate sobre a preservação desse indispensável bem natural. Aproximadamente 660 milhões de pessoas no mundo não têm acesso a água limpa. O saneamento básico também é considerado pela ONU outro direito humano a ser garantido por lei. Nesta edição, o Tribuna Parlamentar mostra a realidade do abastecimento em Pernambuco, a atuação da Alepe em busca de soluções para a gestão hídrica e a revitalização de mananciais, além de um panorama do saneamento básico no Estado, onde 41,5% das moradias não contam com esse serviço. Essencial à sobrevivência na Terra, a água potável foi declarada um direito humano essencial pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2010. Desde 1992, támbém é celebrado em 22 de março o Dia Mundial da Água, com o objetivo de incentivar o debate sobre a preservação desse indispensável bem natural. Aproximadamente 660 milhões de pessoas no mundo não têm acesso a água limpa. O saneamento básico também é considerado pela ONU outro direito humano a ser garantido por lei. Nesta edição, o Tribuna Parlamentar mostra a realidade do abastecimento em Pernambuco, a atuação da Alepe em busca de soluções para a gestão hídrica e a revitalização de mananciais, além de um panorama do saneamento básico no Estado, onde 41,5% das moradias não contam com esse serviço. Págs. 3, 4, 5 e 8

FOTO: BRENO LAPROVITERA Água e saneamento, direito de … Nacional para a obra da Adutora do Agreste. O projeto, ... a Transposição do São Francisco, a Adutora do Pajeú e o

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Março de 2016 . ANO XVI – Nº 146

FOTO: BRENO LAPROVITERA

Água e saneamento,direito de todosÁgua e saneamento,direito de todosEssencial à sobrevivência na Terra, a água potável foi declarada um direitohumano essencial pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2010. Desde1992, támbém é celebrado em 22 de março o Dia Mundial da Água, com oobjetivo de incentivar o debate sobre a preservação desse indispensável bemnatural. Aproximadamente 660 milhões de pessoas no mundo não têm acessoa água limpa. O saneamento básico também é considerado pela ONU outrodireito humano a ser garantido por lei. Nesta edição, o Tribuna

Parlamentar mostra a realidade do abastecimento emPernambuco, a atuação da Alepe em busca desoluções para a gestão hídrica e arevitalização de mananciais, além de umpanorama do saneamento básico noEstado, onde 41,5% das moradias não contamcom esse serviço.

Essencial à sobrevivência na Terra, a água potável foi declarada um direitohumano essencial pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2010. Desde1992, támbém é celebrado em 22 de março o Dia Mundial da Água, com oobjetivo de incentivar o debate sobre a preservação desse indispensável bemnatural. Aproximadamente 660 milhões de pessoas no mundo não têm acessoa água limpa. O saneamento básico também é considerado pela ONU outrodireito humano a ser garantido por lei. Nesta edição, o Tribuna

Parlamentar mostra a realidade do abastecimento emPernambuco, a atuação da Alepe em busca desoluções para a gestão hídrica e arevitalização de mananciais, além de umpanorama do saneamento básico noEstado, onde 41,5% das moradias não contamcom esse serviço.

Págs. 3, 4, 5 e 8

EXPEDIENTE: MESA DIRETORA: Presidente, Deputado Guilherme Uchoa; 1º Vice-Presidente, Deputado Augusto César; 2º Vice-Presidente, Deputado Pastor Cleiton Collins; 1º Secretário, Deputado Diogo Moraes; 2º Secretário, Deputado

Vinícius Labanca; 3º Secretário, Deputado Romário Dias; 4º Secretário, Deputado Eriberto Medeiros. Superintendente de Comunicação Social: Margot Dourado. Chefe do Departamento de Imprensa: Cláudia Lucena. Editora: Cláudia

Lucena. Revisão: Cláudia Lucena e Margot Dourado. Repórteres: André Zahar, Edson Alves Júnior, Gabriela Bezerra, Helena Alencar, Ivanna de Castro e Luciano Galvão Filho. Gerente de Fotografia: Roberto Soares. Edição de Fotografia:

Breno Laprovitera. Fotógrafos: Jarbas Araújo, João Bita e Rinaldo Marques. Tratamento de Imagem: Lucas Neves. Design: Brenda Barros e Thiago Pedrosa. Diagramação e Editoração Eletrônica: Alécio Nicolak Júnior. Endereço: Palácio

Joaquim Nabuco, Rua da Aurora, nº 631 – Recife-PE. Fone: 3183-2368. PABX: 3183.2211. E-mail: [email protected]

O Jornal Tribuna Parlamentar é uma publicação de responsabilidade da Superintendência de Comunicação Social da Assembleia Legislativa - Departamento de Imprensa.

02 Março de 2016

“O policial militar

deveria sempre estar

acompanhando a

questão política, não só

quando o tema é sobre

a profissão, mas sobre

qualquer assunto,

principalmente a

segurança publica, que

é um direito de todos. É

importante quando o

Plenário da Casa abre

as portas para o

cidadão.”

Leandro MontarroyosPolicial militar, durante

Reunião Plenária do dia 02/03

que discutiu a situação de

sargentos que correm o risco de

ser despromovidos por decisão

da Justiça.

“Além do momento difícil

por que passa a saúde

pública, a situação piora por

causa de epidemias como da

zika, dengue e a

microcefalia. Acredito que as

ações debatidas aqui farão

com que a Assembleia tenha

um olhar mais intenso em

relação à saúde. Nós, como

representantes, vemos que

há muito a ser feito, mas a

Casa Legislativa fortalecerá

essa fiscalização.”

Elzanira da SilvaRepresentante do Centro deEnsino Popular eAssistência Social do RecifeSanta Paula Frassinetti(Cepas), durante audiência

pública da Comissão de Saúde,

no dia 09/03, que divulgou e

discutiu o Relatório de Gestão

em Saúde referente ao III

Quadrimestre de 2015.

“O envolvimento da

Assembleia nessa

questão é de

fundamental

importância, já que a

Casa define as leis do

Estado. O Uber ainda

precisa de uma

regulamentação no

município, por isso é

necessário que a Alepe

tenha encaminhamentos

cabíveis para essa

situação.”

Mário AgraMotorista do Uber, em

audiência pública da Comissão

de Negócios Municipais que

discutiu a regularização do

aplicativo Uber no Recife,

no dia 22/03.

Adeus a Naná VasconcelosO Museu Palácio Joaquim Nabuco foi o local

escolhido para serem prestadas as últimashomenagens ao percussionista Naná Vasconcelos.O músico pernambucano de renome internacionallutava contra um câncer de pulmão e morreu namanhã do dia 9 de março, no Recife, aos 71 anos.O velório foi acompanhado por familiares, artistas,fãs e autoridades. “Naná, que levou o nome donosso Estado para o exterior, deixará exemplos euma saudade muito forte”, observou o presidenteda Alepe, deputado Guilherme Uchoa (PDT). Ocorpo foi enterrado no Cemitério de Santo Amaro.

Integrantes da comunidade escolarcompareceram a uma audiência públicapromovida pela Comissão de Educação daAlepe, no último dia 9 de março, para debatero fechamento de escolas, turnos e turmas daRede Estadual de Ensino. A situação específicadas escolas de Gravatá, no Agreste, tambémfoi pontuada. Em visita ao município emfevereiro, a Comissão de Cidadania apurou quenove escolas foram fechadas. A presidente daComissão de Educação, deputada TeresaLeitão (PT), anunciou que vai convocar osecretário estadual da pasta, FredericoAmâncio, para apurar as denúncias.

Código Penitenciário aprovadoO novo Código Penitenciário de Pernambuco, instituído

pelo Projeto de Lei nº 627/2015, tramitou na Alepe e foiaprovado pelos parlamentares em março. De autoria doExecutivo, a proposta recebeu parecer favorável nasComissões de Justiça, Finanças, Administração e Saúde,mas foi rejeitada na Comissão de Cidadania. Entre asatualizações previstas na legislação, está a observância aosdireitos dos presos à educação, à profissionalização, à saúdee à assistência plena na área social e jurídica. O PL foielaborado por um grupo composto por 86 integrantes,incluindo membros da sociedade civil, do ConselhoPenitenciário e de órgãos estaduais como DefensoriaPública, Ministério Público, Procuradoria Geral, Secretariade Justiça e Direitos Humanos e Tribunal de Justiça.

Hollywood na mira de CPI

A função investigativa do PoderLegislativo é antiga. Historiadoressituam a origem das primeirasComissões Parlamentares de Inquérito(CPIs) no direito constitucional inglêsem fins do século XIV. Nos anos de1950, em plena Guerra Fria, umcolegiado ganharia fama mundial: oComitê de Atividades Antiamericanas doCongresso Nacional, conhecido porapurar práticas comunistas na indústriacinematográfica dos Estados Unidos.

Acusados pelo comitê de vinculaçãoideológica com a esquerda, dezroteiristas de Hollywood acabaram presos e proibidos de trabalhar.Entre eles, estava Dalton Trumbo, vencedor de dois Oscars e autorde sucessos como A Princesa e o Plebeu (1953) e Spartacus (1960), cujatrajetória é contada na cinebiografia Trumbo: Lista Negra, lançada noano passado.

O filme faz um recorte da fase mais crítica da vida doprotagonista, interpretado por Bryan Cranston. Reconhecido desdeos anos 1940 pela adaptação do roteiro de Kitty Foyle, Trumbo abremão de uma vida confortável para enfrentar a caça às bruxasanticomunista do parlamento norte-americano e termina condenadoa 11 meses de prisão por desobediência civil. A tentativa desobreviver com trabalhos clandestinos premiados e produçõesduvidosas em série para estúdios popularescos dá prosseguimento auma narrativa na qual a reflexão sobre liberdade de ideologia se fazconstantemente presente.

Fechamento de escolas

JARBAS ARAÚJO

03Março de 2016

DIREITO HUMANO

Capibaribe é um dos rios que vêm sendo inspecionados in loco por frente parlamentar criada pela Alepe

JOÃO BITA

O tema da água vem suscitandodebates e iniciativas na AssembleiaLegislativa de Pernambuco. Em 2015,duas frentes parlamentares foramcriadas. A Frente de Soluções Hídri-cas, coordenada pelo deputado JoãoEudes (PDT), visa à gestão eficienteda água. Já a Frente de Revitalizaçãodo Rio São Francisco e demais Riosde Pernambuco, liderada por OdacyAmorim (PT), discute propostas eações que contribuam para estimulara revitalização dos mananciais.

João Eudes afirma que faráaudiências públicas com prefeitoseste ano e reclama da falta de re-passes do Ministério da IntegraçãoNacional para a obra da Adutora doAgreste. O projeto, de R$ 2 bilhões,pretende abastecer mais de 60municípios da região. A iniciativaestava prevista para ser concluídaem junho de 2015. Faltam, porém,R$ 800 milhões. “Deveriam serrepassados R$ 40 milhões por mês,mas hoje são apenas R$ 8 milhões.Alguns municípios, como Alagoinha,já estão há mais de três anos semágua nas torneiras. Pesqueira, com

abastecimento apenas duas vezespor mês, está prestes a entrar emcolapso”, critica.

A situação do Capibaribe e doBeberibe foi verificada in loco pelaFrente de Revitalização dos Rios nasprimeiras de uma série de vistoriasaos principais mananciais pernam-bucanos iniciadas este ano. O cole-giado encontrou esgoto e lixo des-pejados pelas comunidades próximas.“Fizemos um pedido de informaçõespara a Compesa e voltaremos a tratardo saneamento na Alepe”, observaAmorim. No caso do abastecimentode água no Sertão, na avaliação dodeputado, a Transposição do SãoFrancisco, a Adutora do Pajeú e oRamal do Agreste podem ampliar oacesso para a população. REÚSO

Para Helio Mattar, diretor-presidente do Instituto Akatu, quebusca promover atos de consumoconsciente, a gestão dos recursoshídricos pelas cidades, indústrias eagronegócios deve se tornar maiseficiente. Além disso, a recuperaçãode florestas e vegetação em manan-

ciais e nascentes, e a conscientizaçãoda população para diminuir o des-perdício são essenciais.

"Diante da incerteza trazida peloaquecimento global, os caminhos quea sustentabilidade nos aponta são deaproveitamento mais eficiente daágua disponível, necessariamenteenvolvendo o tratamento de esgotoe o reaproveitamento de água de reúsoe da chuva, além da diminuição dodesperdício em todos os pontos dacadeia de consumo", diz o engenhei-ro. Ele destaca que, entre as 100maiores cidades brasileiras, 84 per-dem mais de um quarto da água queproduzem.

Uma iniciativa parlamentarrelacionada ao reúso é a Lei nº 14.572/2011 (ver matéria na pág. 8), de au-toria do deputado Tony Gel (PMDB),que estabelece normas para a utili-zação racional e reaproveitamentode água nas edificações de Pernam-buco. A norma, ainda não regulamen-tada pelo Governo, determina que aágua da chuva seja captada na cober-tura de prédios e usada em atividadesque dispensem água potável.

Assembleia Legislativa busca soluções para gestão hídrica e revitalização de mananciais

Indispensávelpara a vidaterrestre, a

água foi reco-nhecida pelaOrganizaçãodas Nações Unidas(ONU) em 1992 como patrimônio doplaneta, sendo dever de todospreservá-la. Desde então, com oobjetivo de estimular a discussãosobre esse importante bem natural,em 22 de março é celebrado o DiaMundial da Água. Em 2010, o direitoà água potável e ao saneamento básico(ver págs. 4 e 5) passou a ser con-siderado pela ONU um direito hu-mano essencial à garantia de todosos outros.

No Estado de Pernambuco, quetem 90,68% de seu território sus-cetível à desertificação, a efetivaçãodesse direito enfrenta desafioshistóricos. De acordo com o AtlasBrasil, da Agência Nacional de Águas(ANA), apenas 52 dos 184 municípiospernambucanos apresentam condi-ções de abastecimento satisfatóriaspara atendimento das demandasfuturas. O relatório cita como maisgrave a situação nas regiões doAgreste e Sertão do Moxotó.

Entre 2012 e 2014, o Semiáridobrasileiro enfrentou as piores secasdos últimos 50 anos. Em contraste,no Estado, conforme o Sistema Na-cional de Informações sobre Sa-neamento gerido pelo Ministério dasCidades, a perda média de água notrajeto entre os reservatórios e a tor-neira da população foi de 52% em2014. O índice superou a médianacional (36,67%). Para se ter umaideia, no Japão esse percentual nãoultrapassa os 6%.

Para a professora Josiclêda Gal-víncio, do Departamento de CiênciasGeográficas da Universidade Federalde Pernambuco (UFPE), o uso ir-racional dos recursos hídricos pelaagricultura irrigada continua sendoo principal obstáculo para a con-servação da água no Estado. Valedestacar que a agricultura, segundoa Organização das Nações Unidas

para Alimentação e Agricultura (FAO),utiliza 69% da água potável existenteno mundo. Entretanto, a irrigadanecessita de duas vezes mais que atradicional.

Sobre a conservação dos ma-nanciais, Josiclêda aponta que umdos maiores problemas em Per-nambuco é a falta de investimento emnovas alternativas de disponibilidadede água. Segundo ela, existem nomundo exemplos de lugares comoferta menor desse bem natural, ondea convivência com a escassez hídricase dá sem sofrimento, prejuízos eco-nômicos e sociais. A diferença, aponta,são os investimentos feitos paratornar real a disponibilização do pro-duto para a população.

“Pouco se fez no Agreste e Sertãode Pernambuco para aumentar aoferta de água para os diversos fins,e a demanda só tem aumentado”,ressalta a professora, que tambémconsidera insuficiente a fiscalizaçãodo uso dos recursos hídricos noEstado.

Gestor do Programa SemiáridoCaatinga e Combate à Desertifica-ção da Secretaria de Meio Ambientee Sustentabilidade (Semas/PE),Sérgio Mendonça diz que a criaçãode unidades de conservação e a ca-pacitação de professores e agri-cultores têm sido eixos para mini-mizar a degradação ambiental eseus efeitos na região, que abrangecerca de 80% do território de Per-nambuco. "Os ganhos socioam-bientais advindos com o projetosão significativos e alcançam dife-rentes áreas, pois as ações são inte-gradas”, relata. POLUIÇÃO

Outro problema é a conta-minação de mananciais. Se naRegião Metropolitana do Recife, olançamento de esgoto sem trata-mento nos Rios Capibaribe e Bebe-ribe é o fator mais preocupante, oPlano Estratégico de Recursos Hí-dricos e Saneamento do Estado, de2008, aponta os impactos dos Polosde Desenvolvimento nos sistemasde abastecimento urbano. Comoexemplo, a presença de produtosquímicos em Suape (RMR) e nospolos de irrigação de Petrolina egesseiro do Araripe.

André Zahar

Dia Mundial da Água evidenciadesafios em Pernambuco

04 Março de 2016

Saneamento básico para todainda está longe de se torna

DIREITO HUMANO

Até o ano de 2033, Governo Federal estima que 10% dos municípios do País ainda não

Esgotamen-to sani-tário, a-

bastecimentode água e co-leta de lixo -estruturas que in-tegram o sistema de saneamentobásico - ainda são promessas para2,5 bilhões de pessoas ao redor domundo. Isso em pleno século 21.Para se ter uma ideia da dimensãodo problema, é como se todos oshabitantes da China e da Índia,países mais populosos do planeta,não tivessem acesso a saneamentobásico. Instada por esse fato, aOrganização das Nações Unidas(ONU) reconheceu em nova re-solução, de dezembro de 2015 (aprimeira foi em 2010), o sanea-mento básico como um direitohumano a ser garantido, distinta-mente do direito à água. Em temposde epidemia provocada pelomosquito Aedes aegypti, não deixade ser preocupante se dar conta deque apenas 49,8% da populaçãobrasileira tem acesso a esgotamentosanitário, e 17% ainda carecem daoferta de água potável, de acordocom dados do Governo Federal.

A garantia de saneamentobásico para todos os brasileirosainda está distante de se tornarrealidade. Mesmo a estimativamais otimista é um tanto desa-nimadora. Pelas metas traçadasno Plano Nacional de Sanea-mento Básico (Plansab) até 2033,apenas a universalização doacesso a água terá sido atingida.Nessa data, o Governo Federalprevê que 20% dos municípioscontinuarão sem tratamento deresíduos sólidos, e 10% aindaestarão à margem dos serviçosde esgotamento sanitário.

Doenças infectoparasitáriasadquiridas por contato com águacontaminada, a exemplo da cólerae da leptospirose, e até mesmopor picada do Aedes aegypti – comodengue, zika e chikungunya –estão diretamente relacionadas àinexistência ou à precariedade dosaneamento básico. Nesses casos,a ausência do abastecimentoregular de água é a grande vilã, aoimpor o sistema de rodízio. Anecessidade de estocar o produtoe a falta de cisternas fazem comque o armazenamento seja, muitasvezes, feito de forma inadequada,contribuindo para sua contami-nação.

“Por uma questão de emer-gência e também como forma deevitar uma catástrofe sanitária esocial, defendo o redimen-sionamento do rodízio. Locais

onde há concentração de casosdessas doenças devem ter oabastecimento de água regula-rizado”, opina André Monteiro,pesquisador do Centro de Pes-quisas Aggeu Magalhães(CPqAM-FioCruz). Em fevereirodeste ano, a Secretaria Estadualde Desenvolvimento Social,Criança e Juventude revelou quemais da metade das famílias quetêm bebês com microcefalia emPernambuco são de baixa renda.

Ao lembrar que a dengueameaça a população brasileirahá 30 anos, o pesquisador chamaatenção para a necessidade demudança da estratégia no com-bate às doenças provocadas pelomosquito. “Se o problema só fazaumentar, é porque a estratégiaformulada não é adequada.”Nesse sentido, aponta o sanea-

mento básico como solução. “Éfundamental que haja um rear-ranjo no investimento em polí-ticas urbanas, vinculando urba-nização, saneamento e habitaçãode forma simultânea e articulada.Assim, focamos a ação nos cria-douros, não nos mosquitos.”

Responsável pelo abasteci-mento de água e pelo esgota-mento sanitário em todo o Es-tado, a Companhia Pernambu-cana de Saneamento (Compesa)traçou como meta para este anoa garantia de fornecimento deágua para 99% da população e detratamento de esgoto para 23%.“Em 2016, faremos a ampliaçãodo horizonte do PlanejamentoEstratégico e definiremos as me-tas para os anos subsequentes,levando em consideração osprojetos em andamento”, afirma

Ricardo Barreto, diretor de NovosNegócios da Compesa. Para 2016,está previsto o investimento deR$ 800 milhões.

De acordo com a Compesa,Jataúba (Agreste Central) é o mu-nicípio onde o acesso a água é maisprecário, chegando a 31% da po-pulação. No quesito esgotamentosanitário, Gravatá (Agreste Cen-tral) figura como pior no ranking,atendendo apenas 2% da popula-ção. A situação se repete em Ca-maragibe e Igarassu (região me-tropolitana).

A gestão de resíduos sólidosem Pernambuco também temdeixado a desejar. Pouco maisda metade (54%) das 11 mil to-neladas de lixo produzidas dia-riamente no Estado tem a des-tinação adequada, os aterros sa-nitários.

Gabriela Bezerra

Precariedade do sistema de saneamento básico na capital pernambucana pode ser percebida na sujeira dos principais canais do Recife

JOÃO BITA

05Março de 2016

dos os brasileirosar realidade

terão acesso a serviços de esgotamento sanitário

A situação atual e a perspectivade atraso no processo de univer-salização do saneamento básico noBrasil têm estimulado a realizaçãode pesquisas para prever quando,de fato, as metas do Plano Nacionalde Saneamento Básico (Plansab)serão cumpridas. Em estudo di-vulgado no mês de janeiro, a Con-federação Nacional da Indústria(CNI) concluiu que haverá um atrasode 21 anos, levando o alcance dasmetas para 2054.

“Quando avaliamos a evoluçãodos atendimentos de tais serviços,vemos que, caso não haja novasações que mudem a conduta daspolíticas públicas para o setor,nenhuma das metas será atendida(dentro do prazo, que se encerraem 2033)”, relata trecho do estudo.

Na avaliação do Instituto TrataBrasil, Organização da SociedadeCivil de Interesse Público (Oscip)

que atua em prol da universali-zação do saneamento desde 2007,a expectativa negativa reflete odescaso como o tema foi tratadodurante décadas, quando a infra-estrutura do saneamento nãoacompanhou o crescimento dascidades. “Ainda temos uma si-tuação alarmante para um paísque atingiu o desenvolvimentoeconômico do Brasil. Sempre di-zemos que temos vários ‘Brasis’quando analisamos os númerosdo saneamento básico. Uma partecom altos índices, mais próximosdos europeus, e outras regiões quetêm indicadores muito baixos, si-milares aos da África”, argumentaÉdison Carlos, presidente-execu-tivo do instituto.

Autor da tese intitulada Enigmade Hidra: o Setor de Saneamentoentre o Estatal e o Privado, o pro-fessor Ronald Vasconcelos, da

Universidade Federal de Pernambuco(UFPE), não acredita que a uni-versalização do sistema será al-cançada apenas com ações esta-distas. “Se formos aguardar peloEstado, ainda vamos esperar muito,pois o comprometimento estatalcom rubricas obrigatórias não temgarantido grandes sobras para in-vestimentos.”

Como forma de não atrasar tantoa universalização do sistema, Ronalddefende a adoção de uma estratégiaarticulada com a iniciativa privada.“Isso não significa que o governantevai se eximir de suas responsabili-dades. A associação é necessária,porque sozinho o Estado não con-segue”, observa.

Entre 2004 e 2014, o investi-mento realizado pelo Governo Fede-ral, Estados e municípios em sanea-mento somou R$ 78,7 bilhões, umamédia anual de R$ 7,2 bi.

No País, metas só devem ser cumpridas em 2054

Despejo de lixo em rios e canais é fator agravante. População e poder público têm responsabilidade

JOÃO BITA

Ainda que se perceba um sen-timento generalizado de medoe insegurança na sociedade, as

estatísticas mostram - e o cotidianoconfirma – que a violência atinge,com mais intensidade e frequência,grupos sociais específicos. O Índicede Vulnerabilidade Juvenil à Violênciae Desigualdade Racial 2014 (ver arte),o mais recente estudo sobre o temafeito pelo Fórum Brasileiro de Segu-rança Pública, ratificou numerica-mente essa constatação. De acordocom o levantamento, a chance deum jovem negro ser assassinado noBrasil é 2,5 vezes maior que a deum brasileiro da mesma faixa etária(12 a 29 anos) que se declara branco.Em Pernambuco, esse risco chega aser 11,57 maior, o segundo pior índiceapresentado pelos Estados brasilei-ros, atrás apenas da Paraíba.

Fez parte dessa estatística o re-cifense José Ricardo Pereira, espan-cado e morto em 2012, aos 24 anos,na porta de sua casa, no bairro deJardim São Paulo. Negro, homos-sexual e morador da periferia, JoséRicardo foi vítima de “múltiplo pre-conceito”, segundo sua mãe, Eleo-nora Pereira (foto). “Essas pessoas,mais do que violentadas, estão sendoexterminadas. É preciso que asautoridades verifiquem e siste-matizem as características das víti-mas de violência e pensem em po-líticas públicas e em leis direcionadasa combater o problema”, opinou.Ela, que coordena o MovimentoMães pela Igualdade, critica a me-todologia pernambucana, que nãoespecifica a raça da vítima. “Depoisque perdemos um filho, nos tor-namos mutiladas pela vida. Eu tentotransformar essa dor em luta.”

O Estado em que Eleonora viveapresenta, ainda, outro dado preo-cupante. Fica em Pernambuco omunicípio com o pior índice de vul-nerabilidade do País: Cabo de SantoAgostinho, na região metropolitana.O levantamento leva em conside-ração índices de mortalidade porhomicídio, de pobreza, de frequênciaà escola, de situação de emprego,entre outros. Para a coordenadora doMovimento Negro Unificado dePernambuco, Marta Almeida, “a vio-

lência física é a consequência ex-trema do racismo, mas o preconceitose revela de inúmeras outras for-mas”. Ela fala sobre violência cor-relata. “Somos vítimas de precon-ceito porque somos negros, pobres,mulheres. Mais que isso: sofremoscom a intolerância religiosa, poissão as crenças e culturas negras asmais perseguidas”, explicou.

Além de dados relativos à vio-lência, não por acaso os negrostambém aparecem em posiçãodesvantajosa em outros indica-dores sociais, segundo pesquisasdivulgadas regularmente. Paraexemplificar, conforme a 8ª Ediçãodo Anuário Brasileiro de SegurançaPública, a população carceráriabrasileira possuía, em 2013, 18,4%mais negros do que brancos. E, deacordo com o Instituto de PesquisaEconômica Aplicada (Ipea), osalário médio das pessoas negrasno Brasil era, nesse mesmo ano, deR$ 876,40, enquanto brancos ga-nhavam em torno de R$ 1.517,70.Em 2012, 22,2% da populaçãobranca tinha 12 anos ou mais deestudos, enquanto apenas 9 % dosnegros atingiram essa escolarida-de, segundo o Ipea.

Para enfrentar essa realidadeem Pernambuco, o Governo doEstado lançou, no final de 2015, o1° Plano Estadual de Promoção da

Igualdade Racial. O documentoapresenta como objetivo geral“garantir o recorte étnico-racialno conjunto das políticas públicase de ações afirmativas executadaspelo Governo Estadual, seguindo osprincípios da transversalidade,descentralização e gestão demo-crática”. Segundo o coordenadorestadual de Igualdade Racial, Vi-cente Moraes, o plano foi cons-truído com a participação da so-ciedade. “Nosso trabalho agora éapresentar esse documento àsprefeituras a fim de incentivar osmunicípios a replicar seu conteúdo,respeitando as especificidades lo-cais”, explicou.

Na Assembleia, os trabalhos deenfrentamento ao racismo têm osuporte da Comissão de Cidadaniae Direitos Humanos e da FrenteParlamentar de Combate ao Exter-mínio da Juventude Negra. O presi-dente do primeiro colegiado, depu-tado Edilson Silva (PSOL), acreditaque a mudança dessa realidadepassa, primeiramente, pela imple-mentação de políticas de “preven-ção social”. “Acesso à saúde pú-blica, melhoria nas condições dehabitação e inserção de disciplinassobre a cultura negra no currículoda educação são ações urgentes. Épor meio delas que conseguiremosexterminar as condições de vulne-

rabilidade que recaem, majorita-riamente, sobre essa parcela dapopulação”, pontuou.

Para o coordenador-geral daFrente, deputado Bispo Ossesio Silva(PRB), o Brasil e Pernambuco jáavançaram muito na formulação deleis voltadas ao empoderamento donegro e combate à discriminação.“É preciso, no entanto, cobrar dasautoridades para que haja rigor naaplicação das leis e na punição da-queles que as descumprem”, opinou.

O deputado ressaltou, porém, queesse é um trabalho que deve envolvertoda a sociedade. “O combate aoracismo não é uma função apenas doLegislativo. Nossas ações, parasurtirem efeito, precisam do suporteda população”, observou. A Frente,que já promoveu audiências públicasnos municípios do Cabo de SantoAgostinho, Recife e Olinda, pretende,neste ano, continuar levando asdiscussões sobre o tema para foradas paredes da Assembleia.

06 Março de 2016

Estado apresenta 2º pior índice referente a assassinatos entre essa parcela da população

Ivanna de CastroWILLIAMS AGUIAR/ARQUIVO ALEPE

Jovens negros mais expostos à violência

Em audiência pública na Alepe, Eleonora Pereira, que teve um filho assassinado, acredita que ele foi vítima de “múltiplo preconceito”

SEGURANÇA PÚBLICA

Os cinco municípioscom mais altos IVJ:

1 - Cabo de Santo Agostinho/PE

2 - Itaguaí/RJ

3 - Altamira/PA

4 - Marabá/PA

5 - Luziânia/ GO

07Março de 2016

Tribuna Parlamentar - As causas dessarealidade discriminatória e violenta con-tra os negros são antigas e ainda persis-tem. A senhora poderia apontar algumasdelas?

Liana Lewis - Quando das GrandesNavegações, foi construída uma ideia do“Nós” (europeus civilizados) e do “Outro”(colonizados que não estavam inscritosem uma ideia de humanidade). Essa cisãose aprofundou com o racismo científicono século XIX, momento em que a ciêncialegitimava a ideia de gradações dehumanidade. Hoje, devemos pensar noque a antropóloga Nancy Scheper-Hughesdenomina de comntinuum genocida, queconsiste em um projeto, das diversasinstituições, de aniquilamento não apenasfísico, mas subjetivo, cultural e intelectualde populações. Temos esse processo noBrasil, onde vemos o encarceramento emmassa de negros, a violência obstetríciasofrida por negras, estereótiposdisseminados pelos meios de comunicaçãoetc.

TP - A senhora acredita que o mito dopaís miscigenado, que convive bem comas diferenças de raças, dificulta apercepção do racismo no Brasil?

LL - Sem dúvida. O mito gerou umaideia de que não há racismo no Brasil.Essa ideia, que possui em Gilberto Freyresua legitimação, ganha força ao se

comparar nosso racismo – que não foicalcado na lei – com os sistemas doApartheid, na África do Sul, e o de JimCrow, nos Estados Unidos. O racismobrasileiro sempre foi institucionalizado eterritorializado, mas não a partir de ummarco jurídico. Costumo afirmar que

nosso racismo não é velado, ele é explícitoe tem se tornado cada vez mais. Costumodizer que nosso racismo, na verdade, sofrede falta de honestidade de autoatribuição.Somos explicitamente racistas, maslançamos mão de vários argumentos paranegar isso.

TP - Como a senhora avalia a legislaçãoatual em defesa dos direitos dos negros?

LL - Nos últimos anos, houve umgrande avanço na legislação, especial-mente no que diz respeito a políticas deação afirmativa. O problema reside nofato de que, quando da implementaçãodessas políticas, existe um esvaziamentoda vontade de rever a hierarquia racial apartir das instituições. Um exemplo sãoos constantes questionamentos daspoliticas de cotas raciais e um retraimentode recursos para a saúde da populaçãonegra. Em um momento de crise políticae econômica como o que estamos vivendo,com uma radicalização do pensamentoconservador, a população negra deve ficaratenta a um retraimento dos direitosadquiridos.

TP - Como o Estado e o País podemavançar?

LL - O País só pode avançar com acontinuidade de mobilização do Movi-mento Negro e, a partir daí, uma radica-lização das políticas de ação afirmativa(que englobam, mas vão além daquestão das cotas) e uma reestruturaçãoradical das instituições. É necessáriauma mudança de mentalidade, o queimplica um questionamento dos pri-vilégios da população branca. Isso criaum campo de batalha extremamentecomplexo e árduo.

“Nos últimos anos, houve um grande avanço nalegislação, especialmente no que diz respeito a

políticas de ação afirmativa”

ENTREVISTA - LIANA LEWIS *

* Professora do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Pernambuco

“Somos explicitamente racistas, mas lançamos mão de vários argumentos para negar isso.”

Ranking dos 5 Estados com maiores Índices de Vulnerabilidade Juvenil à Violência (IVJ):

Unidades da Federação IVJ - Violência e Desigualdade Social Escala de Vulnerabilidade Risco Relativo

Alagoas 0,608 Muito Alta 8,748

Paraíba 0,517 Muito Alta 13,401

Pernambuco 0,506 Muito Alta 11,565

Ceará 0,502 Muito Alta 4,011

Roraima 0,497 Alta 3,287

Fonte: Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência (IVJ) e Desigualdade Racial 2014.

Obs.: Os valores podem ir de 00,,00 até 11,,00, sendo que quanto maior o valor, maior o

contexto de vulnerabilidade dos jovens do território.

RINALDO MARQUES

08 Março de 2016

Apartir desteano, to-dos os

estabeleci-mentos co-merciais de la-vagem de veículosdo Estado deverão empregar água dachuva no serviço. A novidade estáprevista na Lei nº 15.630/2015, cujasdeterminações passam a vigorar nofim de abril. De autoria do deputadoRicardo Costa (PMDB), a matéria vemreforçar as medidas de preservaçãodos recursos hídricos em Pernambuco.

Pela norma, lava-jatos, postosde combustível e demais empresasque prestam a atividade serãoobrigados a instalar um sistema decaptação de água da chuva. O recursoserá tratado e reutilizado de acordocom a Lei Estadual nº 14.572/2011,que elenca regras para o uso racionale reaproveitamento da água nasedificações do Estado. A provenientedas chuvas, por exemplo, será arma-zenada em cisternas ou tanques,atendendo às normas sanitárias epassando pelos processos necessáriospara a manutenção da qualidade.

“Diante da crise hídrica que afetaPernambuco, com a situação de nos-sos reservatórios e barragens em ní-veis de seca, propomos o projeto naintenção de coibir o desperdício desserecurso natural”, explicou RicardoCosta. “Para a sociedade, haverá me-lhorias no meio ambiente, reduzindoo impacto no aquecimento global eajudando na preservação da águapotável.” A Lei 15.630 prevê pena-lidades de advertência a multas entreR$ 1 mil e R$ 100 mil, e aguarda re-gulamentação do Poder Executivo.

O dono da empresa de lavagemautomotiva Dr. Jato, LeonardoDrummond, afirma que apoia todalegislação para proteger o meioambiente. “A aplicação dessa lei éviável, mas deveria ser uma normapara todos. O que acontece hoje éque a maioria dos serviços de lava-gem de veículos não são legalizados,fiscalizados ou cobrados”, pondera.

O empreendedor também se preocu-pa com o impacto que a instalaçãodo sistema pode ter sobre a operação.

Para o engenheiro químicoMaurício Motta, professor da Uni-versidade Federal de Pernambuco,a prática prevista na lei poderiaser expandida para usos menosnobres da água em prédios públi-cos. “Utilizam-se três litros deágua potável para descartar poucosmililitros de urina. Isso não é umaprática sustentável”, observa. Elesugere também medidas como aredução de impostos para constru-ções sustentáveis, legislação maisrigorosa na punição de ligaçõesclandestinas e poluição dos corposhídricos, além de maior autonomiae amparo jurídico para os órgãosde fiscalização.

“Muitos pensam em deixar umplaneta melhor para nossos filhos,só que a forma correta de agir éformar filhos melhores para o nossoplaneta. A educação ambiental de-veria fazer parte do EnsinoFundamental”, acrescenta Motta.SUSTENTABILIDADE

Na higienização dos automóveis,podem ser utilizados mais de 500

litros, se feita com uma mangueira.O balde ajuda a economizar: em mé-dia, 70 litros são empregados nessecaso. Mas atualmente há modalida-des da chamada “ecolavagem auto-motiva” que empregam apenas300ml de água, usando borrifadorese produtos biodegradáveis.

É o caso da AcquaZero, empresapaulista com cinco unidades em Per-nambuco, na qual a limpeza é feitacom um líquido composto por cerade carnaúba. “O desperdício de águapotável em Pernambuco hoje éimenso. Na minha unidade, eu gastomenos de 20 litros de água por dia”,garante o empresário RicardoLucena, que está à frente da franquiado Shopping RioMar. Além disso, eledestaca que o próprio centro comer-cial já possui sistema de captação etratamento da chuva.

Lucena valoriza normas queprotejam os recursos hídricos, masalerta: a água pluvial, se não fordevidamente tratada, é ácida e podedanificar a pintura do veículo. “Ofluxo de chuvas no Estado variamuito, fica complicado para o esta-belecimento depender disso”, com-pleta.

Helena AlencarRINALDO MARQUES

Algumas empresas têm adotado a chamada ecolavagem automotiva

Em fins do século19, primeiros anos daRepública brasileira, osEstados federados fervi-lhavam num contínuoprocesso de inovaçõesdo ponto de vista ad-ministrativo, tecnoló-gico e de desenvolvi-mento industrial.

Em Pernambuco,essa realidade não eradiferente. O Estadoassistia ao desenvolvi-mento de suas regiões,e a Capital vivia a as-censão e consolidaçãode seus polos indus-triais, como no caso dosetor têxtil.

Todo esse desenvol-vimento carecia de in-fraestrutura capaz defornecer as bases paraas contínuas demandas de uma metrópole industrial, como o Recife seconfigurava nos idos de 1890. Privilegiada pela natureza, ainda contavacom um vasto porto e aquíferos reconhecidos e abastados.

Atento a essa realidade, o Poder Legislativo, figurado pelo CongressoEstadual, recebia e dava provimento a solicitações que contribuíam parao desenvolvimento do Estado, inclusive no tocante às questões hídricase sanitárias.

Nesse sentido, destaca-se a petição da Companhia Beberibe deAbastecimento de Água do Recife, datada de 1891. A empresa solicitouaos deputados que autorizassem o Governo Estadual a inovar o contratojá em vigor, uma vez que a companhia vinha investindo avultadas somasno sentido de fornecer à população água em abundância, bem como deguarnecer o setor industrial com a aplicação de água em alta pressão.

Na petição, a Companhia Beberibe alegou que "o fornecimento d`águaa uma cidade constituiu o mais importante serviço público de qualquer cidade... e a suplicante tem procurado realizar o que há de mais adiantado nesseserviço".

Após a devida apreciação da matéria, o Congresso pernambucanodeferiu o pedido, por meio do Projeto nº 52, de 6 de novembro de 1891.A proposição autorizou o Governo do Estado a inovar o contrato vigentecom a companhia para o fornecimento de água no Recife e facilitar-lheos meios de obter do público os capitais necessários para as novas obrasque pretendia executar. O projeto determinava ainda que "não poderá onovo contrato alterar o antigo, no que diz respeito à duração do privilégio daCompanhia, nem autorisar augmento algum do preço do metro cúbico d`aguafornecida, quer dos particulares, quer dos estabelecimentos públicos, por pennasd`agua, nem no dos baldes vendidos nos chafarizes, nem tão pouco conceder àCompanhia subvenção ou garantia de juros.1"

Em 1891, Alepeaprovava incentivo a

obras hídricas

CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA

1. Transcrição paleográfica de trecho do Projeto nº 52, de 1891.

Congresso Legislativo do Estado de Pernambuco.

O documento supracitado pode ser consultado no Arquivo

Geral da ALEPE, custodiado pela Superintendência de

Preservação do Patrimônio Histórico do Legislativo.

Lavagem de veículos deveráutilizar água da chuvaNova lei aprovada demonstra empenho da Casa JoaquimNabuco na preservação dos recursos hídricos