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Fredy Massad, Entrevista

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Entrevista ao arquitecto Fredy Massad para a revista Traço #4

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Há quem defenda que com a chegada da crise chegou também aofim o reinado dos “Arquitectos - Marca”, há quem diga que os arqui-

tectos estão em crise há muito e até quem defenda que a recessãoveio salvar a arquitectura. Conheça a perspectiva de Fredy Massad

Texto: Ricardo Batista e Ana Rita Sevilha | Fotos: D.R.

FredyMassad

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“A crise de ideias na arquitectura evidencia o declive ideológico que permitiu o endeusamentoinquestionável dos arquitectos-estrela e a transcen-

dência da sua influência, outorgada por críticos e meios complacentes e coniventes”

Acrise, os novos paradigmas, as prin-cipais mudanças, e as soluções para

fazer frente a este contexto são algumas dasquestões analisadas pelo arqgentino FredyMassad em entrevista à Traço

A arquitectura foi tomada de assaltopela palavra crise?

Em Espanha sim. Ao nível institucional(Colégio de Arquitectos, pela sua falha nasprevisões) a crise apanhou de surpresa os ar-quitectos, do mesmo modo que entendo queos arquitectos confiaram demasiado que aforma como se fazia arquitectura nas últimasdécadas do século XX ia perdurar eterna-mente, absolutamente indiferentes à evidên-cia de que o cenário mundial se estava atornar totalmente insustentável, e obstinadosem querer que essa fórmula pudesse fazerfrente a qualquer tipo de alteração.

Mas também considero fundamental quese perceba que a crise de ideias antecedeu acrise económica na arquitectura e que foiprecisamente a euforia económica que apôde manter velada. A crise de ideias na ar-quitectura evidencia o declive ideológico quepermitiu o endeusamento inquestionável dosarquitectos-estrela e a transcendência da suainfluência, outorgada por críticos e meioscomplacentes e coniventes.

Uma influência que contagiou a arquitec-tura do narcisismo, uma obsessão formalque culminou na supremacia da “objectuali-dade” e da “iconicidade” espectacular massimplista, que provocou que muitos dos ar-quitectos e arquitectura com um inquestio-nável valor e capacidade e pró-actividade nopanorama contemporâneo resultassemnuma carreira irreflexiva que perdeu para aarquitectura do reconhecimento da sua pró-pria essência e obrigações.

Um dos factores problemáticos neste mo-mento é a forma com se assume e se define acrise e as reacções a ela e ao período de eu-foria e inconsciência ideológica precedente,porque em minha opinião existe uma fortecomponente de auto-negação e manipula-ção. Neste momento estão-se a produzirtransformações de estrutura e atitudes que,na realidade, não são mais do que simula-

ções que, no fundo, tratam unicamente depreservar o “status quo” da arquitecturacomo poder e interesse, sem compreenderque a crise está a evidenciar a necessidadeperemptória de equacionar outros esquemase sistemas. Possivelmente, o que a arquitec-tura deve reconhecer é que o que tem de en-frentar não é tanto uma crise mas umaruptura e que não há volta a dar. A experiên-cia, num sentido mais profundo e não a ex-periência resultante deste período de crise,tem de servir para nos posicionarmos comrealismo face a este novo cenário.

Quais as principais mudanças que estecenário infringiu à arquitectura e à pro-fissão de arquitecto?

No meu entender este contexto produziudois tipos de transformações: as autênticas eas simuladas.

As mudanças simuladas podem encontrar-se entre a grande e a pequena oligarquia ar-quitectónica. Entre estes grupos, a criseprovocou um estado de desconcerto e de ver-dadeiro desespero que levou os “pequenos” afugir, em busca de novos mercados e os se-gundos, a tentar mascarar o seu perfil paramanter o seu poder, actuando como os gran-des salvadores e os grandes expoentes. Osgrandes oligarcas que criaram enclaves pa-radisíacos para conceber a desengonçada ar-

quitectura do Capitalismo (China, Dubai,Russia) tentarão abrir agora novos merca-dos, como a América Latina ou enclaves emÁfrica. Os pequenos oligarcas, reféns do pâ-nico, fugiram para o passado, provocando aemergência de um novo conservadorismo epurismo reaccionário que confunde e mani-pula a ideia da responsabilidade e da ética daarquitectura, transformando-o num conceito“trendy” e politicamente correcto.

As mudanças positivas e as autênticas nãoestão relacionadas directamente com a crisemas encontram-se na obra de arquitectosque há muito que vinham voltando as costasa esta tendência de arquitectura narcisista,de poder e espectáculo. Hoje, graças às mu-danças de rumo, este tipo de arquitectura re-cebe finalmente a atenção e a difusão que osmeios e os elementos do chamado “establis-hment arquitectónico” lhes haviam negado.

Que soluções está a arquitectura a en-contrar para lhe fazer frente?

A minha sensação é ambivalente. Por umlado existe uma necessidade clara por partedos muitos arquitectos (à escala intergera-cional) de se tentarem adaptar a este novocontexto, evoluindo, integrando com coerên-cia a realidade económica e necessidadescom as possibilidades de optimização que asnovas tecnologias permitem, optando por de-

"O compromisso da crítica é, hoje em dia e mais que nunca, ultrapassar a superfíciedo suposto progresso"

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“Eu constato queestamos a viver um momento de impasse, masque sobressai a convicção de que aarquitectura-estrelaregressará logo quepasse este momentomais complicado”

senvolver os seus próprios interesses e in-quietudes desde a investigação para abrir nãosó novas vias técnicas e construtivas comotambém para gerar, simultaneamente, umadistinta tomada de consciência da posição ecapacidade de intervenção da sociedade noSéculo XXI. Creio que é uma busca que surgecomo consequência de uma tomada de cons-ciência da importância de afirmar e transfor-mar o sentido de democracia e de sociedade.

Por outro lado, e como dizia anterior-mente, creio que há arquitectos que perma-neceram absortos numa pose obsoleta e numpavor paranóico de perda dos velhos cânonesda arquitectura. Na Catalunha acaba de sur-gir a AxA Arquitectes per l’ Arquitectura, umaassociação que aglutina a velha guarda da ar-quitectura, perpetuando-se assim a ideia deproteccionismo e obstinação em seguir man-tendo o autoritarismo e a aura poderosa doarquitecto. Subliminarmente, victimizam-sepela forma como a sua posição se vê amea-çada pelas circunstâncias da crise, tomandouma atitude de incompreendidos e inclusiva-mente de estigmatizados pela sociedade, in-capazes de entender que é o arquitecto quemdeve estar ao serviço da sociedade.

Que novos caminhos poderão ser tra-çados graças a este contexto?

Vislumbro dois eixos fundamentais: porum lado o carácter técnico. Que o arquitectoinvestigue sobre o que se pode chamar umanova industrialização. Superado o “for-dismo” da Revolução Industrial, hoje deve-mos encarar a industrialização em coerênciacom o potencial que oferece o mundo digi-tal, uma indústria digital e flexível ao serviçoda arquitectura.

Se nos anos 90 a revolução da tecnologiadigital empreendeu a busca de complexas

formalizações que fracassaram ao materiali-zar-se (o último exemplo é o Metropol Para-sol de Jurgen Mayer H. em Sevilha, umaforçada passagem do render digital à reali-dade construída que evidencia o desencon-tro total entre ambos). Afastarmo-nos destecaminho para buscar soluções realmente ba-seadas na eficiência e na sustentabilidadeque permite a sólida investigação em tecno-logia digital e na produção de materiais podeser um importante caminho a seguir. Outrocaminho é redireccionar o poder intelectuale criativo do arquitecto na construção sociale cultural, além da construção de edifícios.Perceber como o conhecimento de arquitec-tura pode ser uma base sólida para a colabo-ração na articulação das estruturas sociaisnas transformações exigidas pelo século XXI.

Que mais-valias poderá deixar estecontexto de crise como herança na ar-quitectura?

Creio que fundamentalmente corroborarque a estrutura social e económica (a nívellocal e global) são totalmente insustentáveise assim romper com a inércia passiva na queestamos mergulhados. Como dizia anterior-mente, a crise de ideias precede a crise eco-nómica, mas a primeira não ficou expostaaté que se notaram as questões económicas.A crise económica colocou a nu o que muitopoucos se atreveram a ver por detrás do pano

de fundo de entretenimento e overdose de ar-quitectura. Uma coisa me parece certa: que acrise fará com que se perceba se são neces-sárias muitas das estruturas que se construí-ram, e ainda mais importante, reconfigurar aideia da importância do edifício, entender edescortinar se é ou não necessário um novoedifício. Esquecer a ideia do edifício comopeça decorativa, alienada do contexto ur-bano, introduzir paulatinamente transfor-mações nas concepções do que é o bem estare funcionalidade do espaço e do edifício paranos centrarmos em outros aspectos, mais es-senciais, sermos mais capazes de reconhecero supérfluo e o incoerente e as necessidadese dinâmicas do que é o presente.

Acredita que será o fim ou a desvalo-rização da dita “arquitectura de autor”ou do “arquitecto-marca”?

Não. Apesar de tudo, continuamos a viverna sociedade do espectáculo e do consumo.É evidente que até agora não houve qualquermovimento de autocrítica credível por partedos protagonistas. Esse tipo de arquitecturacontinua a ser um bom negócio e seria ne-cessário que a crise mundial se agravassemuitíssimo mais para que esta arquitecturacolapsasse verdadeiramente. Eu constatoque estamos a viver um momento de im-passe, mas que sobressai a convicção de quea arquitectura-estrela regressará logo que

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“Pensando positivamente, o que hoje éalgo difícil de fazer, podemos aproveitar

este tempo perdido para pensar em estra-tégias e mesmo que seja num prazo

distante, começar a pensar num novo cenário pós-crise...”

passe este momento mais complicado. Nãose compreende que esta é uma arquitecturapara um mundo que não existe, obsoleto einsustentável. Na minha opinião, seria dese-jável que este conceito desaparecesse ou setransformasse, ainda que estou pessimista aesse respeito. De qualquer modo, será difícilprever o que acontecerá.

Poderá o lado social do trabalho do ar-quitecto sair beneficiado?

A arquitectura social passou para segundoplano nas últimas décadas, depois da massi-ficação da arquitectura de marca. Deu-se in-clusivamente o caso curioso de que, numdado momento, se ter tentado mediatizaruma suposta arquitectura social convocandoarquitectos que nunca haviam demonstradointeresse pela arquitectura de baixo custopara que esta tivesse um certo prestigio,digno de interessar a publicações. O casoocorreu na periferia de Madrid, onde se con-sumaram despropósitos como as vivendasem Carabanchel, do atelier FOA, ou as assi-nadas pelos Morphosis, que tentaram recor-rer a uma fórmula que funcionava para outrotipo de arquitectura, preocupando-se maiscom a imagem exterior e com o objecto doque em propor formas de habitar e de fo-mentar bons níveis de bem estar aos seusocupantes. É um problema endémico destasociedade de consumo, que transforma emproduto tudo o que toca, mas na arquitecturasocial não é possível que funcione. Represen-tativo também da duvidosa interpretaçãosobre o que de “social” foi feito neste contextoé a confusão entre a arquitectura social e a ar-quitectura de “esmola”. Exemplo desta tra-paça é o fascínio da Europa pelo trabalho doatelier ELEMENTAl Chile, com as vivendamultiplicadas da Quinta Monroy, onde Ale-jandro Aravena, recorrendo a fórmulas quesão aplicadas na América Latina desde osanos 50, utilizou a construção de vivendas,miseráveis como elemento de projecção doseu perfil mediático e para se posicionar naelite da arquitectura, vendendo um conceitosocial, de arquitectura de austeridade que, ba-sicamente, é falsa, um embuste. Acredito queo pós-crise deve potenciar uma reconciliação

dos arquitectos com a sociedade através deuma arquitectura inteligente, democrática,baseada em novos conceitos de industrializa-ção e numa abordagem complexa da ideia desustentabilidade, que permita uma arquitec-tura que não seja entendida como um objectode luxo mas sim que compreenda os funda-mentos de qualidade, baseados na exequibili-dade, acessibilidade e bem-estar.

Concorda que durante anos o “Arqui-tecto como Arquitecto” se tornou irrele-vante quando comparado com o“Arquitecto como Artista”, o “Arquitectocomo Designer” ou o “Arquitecto comoEntertainer”?

Estou totalmente de acordo, mas esse não éum sintoma que afecte apenas a arquitecturamas também outras áreas da cultura. Os chefde cozinha, por exemplo, adoptaram um per-fil semelhante. Ser, hoje, unicamente o arqui-tecto que pensa, que trabalha para que a suaarquitectura seja mais eficiente para melho-rar e construir a cidade, parece algo dema-siado aborrecido ou antiquado. Hoje, tudotem de se converter numa espécie de perfor-mance do ego, do talento e da individualidadecriativa e é evidente que a dedicação prioritá-ria de muitos dos personagens que se apre-sentam presentemente como “arquitectos” é acriação da sua aura e do seu próprio mito e aarquitectura não é mais do que um pretextopara essa finalidade. Com isso, a arquitecturaperdeu o seu fundamento de serviço ao indi-víduo e à sociedade. Pode soar a exagero maspor vezes fica-se com a impressão de que de-masiados ateliers de arquitectura (e não ape-nas os das super-estrelas) cuidam mais daeficiência do funcionamento do seu própriomarketing que da reflexão e do desenvolvi-mento da sua arquitectura. E depois, osmeios, a crítica e as instituições…acabarampor se converter a estas dinâmicas subme-tendo as suas acções em formas de marketing.Nesse sentido, interessa-me o aparecimento ea ascensão meteórica da personagem BjarkeIngels: uma personagem que, com escassaobra construída mas com um repertório deideias supostamente audazes e visionárias,plasmadas em apelativos gráficos digitais,

anda pelas bocas do Mundo, despertandouma espécie de irresistível fascínio a que su-cumbiu o sistema arquitectónico e que muitoscríticos não se atrevem a colocar em causa pormedo de que sejam acusados de estar fora dotempo. Quem já subscreveu a newsletter dosBIG já deve ter percebido que recebe com re-gularidade notícias de que o atelier recebeuum novo e importante concurso, com edifí-cios cada vez mais impossíveis. São newslet-ters cuidadosamente preparadas com aintenção de deslumbrar, de afirmar Ingelscomo o arquitecto mais importe e mais pro-curado do momento. Ingels é o mais populardesta nova geração de arquitectos que, numcontexto de hipercapitalismo, optou por setornar uma celebrity através da arquitectura,herdeiros das ambições dos “starchitects” e di-rectamente associáveis a figuras como o Jus-tin Bieber ou Lady Gaga: produtosprefabricados, de consumo rápido, que atin-

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Barry Bergdoll, curador para a Arqui-tectura e Design do MoMa de Nova Ior-que, revelou que na sua opinião “daqui a100 anos as pessoas vão relacionar o fe-nómeno dos arquitectos estrela com osconflitos da economia global no final doséculo XX”. Concorda?

Não vai ser necessário esperar 100 anos. Éalgo evidente com o qual concordo plena-mente.

Como disse anteriormente, seria necessá-ria uma profunda reflexão e colocar este fe-nómeno num plano mais amplo numperíodo que não seria exagerado considerar-se de decadência. No entanto, parece quetudo o que foi escrito sobre o fenómeno dosarquitectos-estrela tem mais de caça às bru-xas que de necessidade de empreender umaauto-crítica em que se reconhece como a suainfluência moldou as ideias e expectativas demuitos arquitectos sobre a sua profissão. Àsvezes, a reflexão sobre este fenómeno é maisparecida com uma leitura superficial - àsvezes com a mesma superficialidade insul-tante dos tablóides (imprensa cor-de-rosa) -que não aprofunda sobre o verdadeiro signi-ficado deste processo. Não se trata unica-mente de assumir os arquitectos-estrelacomo celebridades – primma donna ao ser-viço dos poderosos e recapitular as históriasde corrupção, mas sim de entender a che-gada a este estado como a evidência de umainversão de valores democráticos e éticosque deveriam ser intocáveis.

Gonçalo Byrne referiu recentementeem entrevista a um jornal português quea arquitectura portuguesa, por ser dis-creta, pode beneficiar com a crise. Quelhe parece?

Acho que este é um factor muito interes-sante da arquitectura portuguesa e pode serum elemento que aporte referências quer aoutros arquitectos quer à arquitectura. A dis-crição é, neste momento, uma qualidade par-ticularmente positiva. No entanto- e separototalmente esta observação de qualquer apre-ciação da arquitectura portuguesa- insisto queneste contexto em que estamos, precisamosque austeridade e discrição não se convertamem termos mal-interpretados que sirvam paracamuflar e legitimar propostas arquitectóni-cas que continuam a apresentar o edifíciocomo um elemento narcisista e um objecto. Adiscrição é um factor positivo sempre que nãoseja uma mera “discrição de ocasião”, surgidacomo um gesto estético de tendência. Trata-se de entender que a boa discrição é uma ati-tude que surge da combinação de umconjunto de qualidades: inteligência, sensatez,modéstia, respeito. Quem sabe se estas nãosão as condições de que o arquitecto necessitahoje em dia para entender verdadeiramente onovo valor da arquitectura.

gem o auge através da Internet, que fazemcom que cada uma das suas aparições tenhaum enorme impacto, numa sociedade quevive cada vez mais sobre o imediato e sobre oacrítico. Mas à margem das fobias arquitec-tónicas, para mim a questão mais perigosa éque apesar do optimismo complacente queenvolve estas personagens, nestas correntesque ninguém questiona e esta pose de van-guardismo, sobressai uma perigosa subversãoideológica que lhes permite trabalhar tantopara ditadores ou democracias corruptascomo para sustentar sem qualquer complexoo capitalismo mais extremo sem qualquerpudor ético.

Poderá também dizer-se que a reces-são veio salvar a arquitectura?

Este é um tema importante que importaque seja analisado com atenção. Não creioque a recessão beneficie ninguém a não ser

aos chamados “mercados”, os especuladores.O que sim, me parece certo, é que a recessãocolocou um travão a uma situação insusten-tável, caracterizada pela irresponsabilidadesocial e pouco sustentada do modelo. Pen-sando positivamente, o que hoje é algo difícilde fazer, podemos aproveitar este tempo per-dido para pensar em estratégias e mesmoque seja num prazo distante, começar a pen-sar num novo cenário pós-crise, que consis-tirá numa transformação radical de ummodelo esgotado que na arquitectura noslevou a perder muitos dos logros ideológicosconseguidos durante o século XX. É umgolpe forte que pode fazer com que, paulati-namente, as coisas melhorem. Mas isso de-pende da reacção a uma profundaautocrítica, de um reconhecimento da res-ponsabilidade pessoal das causas desta crise.De outro modo não será possível uma trans-formação real e sólida.

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