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REVISTA INSPIRAR movimento & saúde Edição 20 | Número 1 JAN/FEV/MAR | 2020 - 1 - FUNCIONALIDADE, EQUILÍBRIO E RISCO DE QUEDAS EM IDOSOS PARTICIPANTES DE GRUPOS DE CONVIVÊNCIA – UMA REVISÃO SISTEMÁTICA Functionality, balance and risk of falls in elderly people participants of social groups– a systematic review Patrícia Moroni¹, Samantha Angélica Pasa Pecce² 1 Graduação em Fisioterapia pela Faculdade Cenecista de Bento Gonçalves. Pós Graduação em Fisioterapia em Gerontologia pela Universidade Estácio De Sá. 2 Docente do curso de Fisioterapia da Faculdade Cenecista de Bento Gonçalves. Mestre em Educação pela Universidade de Passo Fundo. Autor correspondente: Patrícia Moroni Rua Linha Anunciata 47 nº 607, Bairro: Segundo Distrito, Pinto Bandeira – RS. Cep: 95717-000 Email: [email protected] RESUMO Introdução: O envelhecimento leva a uma série de alterações em todo o organismo, ocasionando altas incidências de quedas na população idosa, diminuindo o equilíbrio e a capacidade funcional do indivíduo. A caracterização das quedas e dos seus fatores causais faz-se necessária para encontrar meios eficazes a fim de preveni-las. Objetivo: Realizar uma revisão sistemática sobre funcionalidade, equilíbrio e risco de quedas em idosos participantes de grupos de convivência. Métodos: A pesquisa foi realizada nas bases de dados eletrônicas PubMed e BVS no período de julho/agosto de 2017. Procurou-se por artigos originais, na íntegra, escritos em português, inglês e espanhol, publicados entre 2013 e 2017 e que abordassem como tema principal idosos participantes de grupos de convivência. Resultados: Esta pesquisa resultou em 13.400

FUNCIONALIDADE, EQUILÍBRIO E RISCO DE QUEDAS EM IDOSOS ... · saúde de idosos participantes de grupos de convivência e, ainda, que a participação nesses grupos e a prática de

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    FUNCIONALIDADE, EQUILÍBRIO E RISCO DE QUEDAS EM IDOSOS PARTICIPANTES DE GRUPOS DE CONVIVÊNCIA – UMA REVISÃO SISTEMÁTICA

    Functionality, balance and risk of falls in elderly people participants of social groups– a systematic review

    Patrícia Moroni¹, Samantha Angélica Pasa Pecce²

    1Graduação em Fisioterapia pela Faculdade Cenecista de Bento Gonçalves. Pós Graduação em Fisioterapia em Gerontologia pela Universidade Estácio De Sá.2Docente do curso de Fisioterapia da Faculdade Cenecista de Bento Gonçalves. Mestre em Educação pela Universidade de Passo Fundo.

    Autor correspondente:Patrícia MoroniRua Linha Anunciata 47 nº 607, Bairro: Segundo Distrito, Pinto Bandeira – RS.Cep: 95717-000Email: [email protected]

    RESUMO

    Introdução: O envelhecimento leva a uma série de alterações em todo o organismo, ocasionando altas incidências de quedas na população idosa, diminuindo o equilíbrio e a capacidade funcional do indivíduo. A caracterização das quedas e dos seus fatores causais faz-se necessária para encontrar meios eficazes a fim de preveni-las. Objetivo: Realizar uma revisão sistemática sobre funcionalidade, equilíbrio e risco de quedas em idosos participantes de grupos de convivência. Métodos: A pesquisa foi realizada nas bases de dados eletrônicas PubMed e BVS no período de julho/agosto de 2017. Procurou-se por artigos originais, na íntegra, escritos em português, inglês e espanhol, publicados entre 2013 e 2017 e que abordassem como tema principal idosos participantes de grupos de convivência. Resultados: Esta pesquisa resultou em 13.400

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    artigos. Após aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, leitura de títulos, resumos e artigos na íntegra resultaram onze artigos, que foram selecionados para esta revisão. Conclusões: Verificou-se que há relação entre funcionalidade, equilíbrio e risco de quedas com as condições de saúde de idosos participantes de grupos de convivência e, ainda, que a participação nesses grupos e a prática de atividades físicas são eficazes para idosos com histórico de quedas e medo de cair.

    Palavras-chaves: Idoso. Envelhecimento. Exercício. Equilíbrio Postural. Centros de Convivência.

    ABSTRACT

    Introduction: The Aging leads to a series of changes in whole body, causing high incidences of falls in the elderly population, reducing the balance and the individual functional capacity. The characterization from the falls and their causal factors is necessary in order to find effective means to prevent them. Objective: To carry out a systematic review about functionality, balance and risk of falls in the elderly participants of social groups. Methods: The research was carried out in the electronic databases PubMed and BVS in the period of July / August 2017. It was searched for original articles written in Portuguese, English and Spanish, published between 2013 and 2017 and that addressed as main theme elderly people participants of social groups. Results: This research resulted in 13.400 articles. After to applied the inclusion and exclusion criteria, reading of titles, abstracts and articles in full, resulted eleven articles, which were selected for this review. Conclusions: It was verified that there is a relation between functionality, balance and risk of falls with the health conditions of the elderly participants of social groups and, in addition this, the participation in social groups and the practice of physical activities are effective for elderly people with history of falls and fear of falling.

    Keywords: Aged. Aging. Exercise. Postural Balance. Seniors Centers.

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    INTRODUÇÃO

    O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial. Estima-se que em 2025, no Brasil, a população idosa seja de cerca de 30 milhões1. O envelhecimento é conceituado como um processo dinâmico e progressivo no qual ocorrem mudanças morfológicas, fisiológicas, funcionais, bioquímicas e psicológicas, que resultam em gradativas limitações ao organismo do idoso, tornando-o mais vulnerável à ocorrência de processos patológicos2, o que pode comprometer sua autonomia e diminuir sua capacidade funcional3, 4.

    Neste caso, pode-se definir funcionalidade como a capacidade que os idosos apresentam de decidir e realizar suas atividades de forma independente5. A manutenção da capacidade funcional relaciona-se diretamente com a qualidade de vida do idoso6,7, pois está associada à autoestima, bem estar pessoal, nível socioeconômico, estado de saúde, emocional, interação social, atividade intelectual e auto percepção. Diversos são os fatores de risco que podem levar a uma incapacidade funcional, sendo o principal deles a diminuição do equilíbrio7.

    Distúrbios de equilíbrio levam a manifestações que acarretam em grande impacto na vida do idoso, podendo resultar em diminuição das AVD, redução de sua autonomia social, e, principalmente, no aumento do risco de quedas e fraturas, que são a maior causa de incapacidade dentre os idosos9,10.

    A ocorrência de quedas, na população idosa, constitui um importante problema de saúde pública, devido à sua alta incidência e complicações11,12. O impacto que a ocorrência de quedas traz ao idoso envolve o surgimento de consequências físicas e psicológicas, dependência, medo de cair novamente, redução da capacidade funcional e hospitalização. Apesar de aumentarem a morbidade e a mortalidade, as quedas são passíveis de prevenção, representando um grande desafio para os profissionais de saúde, na formulação e implementação de ações de saúde adequadas14.

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    Prevenir a ocorrência de quedas diminui custos hospitalares, bem como a morbidade e a mortalidade, sendo necessário que se adotem medidas individuais e coletivas para esta população. Estudos relacionados ao envelhecimento tem mostrado que é possível minimizar o declínio físico-fisiológico através da prática de atividade física, que está associada a melhoras significativas nas habilidades funcionais e na prevenção de doenças15.

    Realizar atividades de interação entre os idosos é essencial para melhorar o humor e a autoestima, sendo a formação de grupos de convivência a principal forma de reinserção na sociedade14. Nestes encontros o grupo tem a oportunidade de desenvolver atividades, sendo as mais comuns dança, bingo, atividades aeróbicas e de equilíbrio, jogos de tabuleiro, palestras e exercícios de fortalecimento muscular1.

    A fisioterapia, a prática de exercícios físicos e a participação em grupos de convivência para idosos diminuem a possibilidade de quedas e aumentam o equilíbrio e a funcionalidade. Mas, para que se possa implementar um programa de prevenção adequado, é necessário que se conheça a população, que sejam identificados os fatores causais das quedas e incapacidade, bem como os fatores associados2,6,14.

    Diante disto, o presente estudo trata-se de uma Revisão Sistemática, cujo objetivo será abordar a funcionalidade, equilíbrio e risco de quedas em idosos participantes de grupos de convivência.

    METODOLOGIA

    Foi realizada uma pesquisa por meio de Revisão Sistemática. Este método se caracteriza por resgatar, analisar e sintetizar vários estudos publicados com a finalidade de facilitar a análise crítica através de padrões metodológicos específicos, facilitando a apresentação de resultados16.

    Para a busca de dados foram utilizados os seguintes descritores em português: idoso, funcionalidade, equilíbrio, quedas e grupo; em inglês:

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    older, functionality, balance, falls and group; em espanhol: anciano, funcionalidad, equilibrio, caídas e grupo, todos encontrados em consulta aos Descritores em Ciências da Saúde (DECS). A pesquisa ocorreu no período de julho/agosto de 2017 utilizando as bases eletrônicas da Literatura Internacional da Saúde e Biomédica (PUBMED/MEDLINE) e Biblioteca Virtual da Saúde (BVS) que contem outras bases de dados em Ciências da Saúde em geral: Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Literatura Internacional em Ciências da Saúde (MEDLINE), Scientific Eletronic Library Online (SCIELO) que foram selecionados na pesquisa.

    Como critérios de inclusão foram admitidos artigos originais nos idiomas português, inglês e espanhol, publicados no período de 2013 a 2017, disponíveis na íntegra, com acesso livre, e que tivessem como tema principal idosos participantes de grupos de convivência.

    Foram excluídos artigos que se caracterizavam por estudo em forma de Revisão Sistemática, Revisão Integrativa, Metanálise e publicados fora do período estipulado.

    Para a pesquisa nas bases de dados utilizou-se as seguintes combinações de descritores: Idoso/grupo/funcionalidade, idoso/grupo/equilíbrio, idoso/grupo/quedas em língua portuguesa, older/group/functionality, older/group/balance, older/group/falls em língua inglesa, e, anciano/grupo/funcionalidad, anciano/grupo/equilibrio, anciano/grupo/caídas em língua espanhola, resultando em 13.400 artigos.

    Após, foram selecionados, no BVS, os seguintes filtros: texto disponível, humano, idiomas inglês, português e espanhol, anos de 2013 a 2017, e no, Pubmed, filtros: humanos, anos de 2013 a 2017, texto de acesso livre e estudo clínico, reduzindo para 452 artigos no BVS e 206 no Pubmed.

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    RESULTADOS

    Esta pesquisa de Revisão Sistemática encontrou um total de 13.400 artigos. Após aplicação dos critérios de inclusão e exclusão resultaram 658 artigos, dos quais 43 estavam em duplicidade, 300 foram excluídos após leitura do título por não abordarem o tema principal da pesquisa, 247 foram excluídos após leitura dos resumos e 57 após leitura na íntegra, resultando em 11 artigos, que atenderam todos os critérios selecionados para elaboração do trabalho.

    Dos 11 artigos selecionados, dois foram publicados em 2013, dois em 2015, seis em 2016 e um no ano de 2017, apontando para um crescente interesse pela temática, visto que houve predomínio de publicações recentes.

    Quanto ao tipo de periódicos onde os artigos foram publicados, verificou-se predominância daqueles que abordam temas interdisciplinares. Em relação à metodologia, nove eram estudos transversais, um estudo descritivo com abordagem quantitativa e um estudo correlacional.

    A seguir encontram-se tabelas e fluxogramas (Figuras 1, 2 e 3) com o conteúdo e os dados dos artigos, que, reunidos, resultaram no material necessário para construção dessa revisão sistemática.

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    Figura 1 – Fluxograma dos artigos selecionados conforme base de dados

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    Figura 2 – Fluxograma dos artigos selecionados conforme descritores

    Figura 3 – Análise dos artigos selecionados através dos filtros, em cada banco de dados, com o valor total de artigos para revisão.

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    Tabela 1 - Artigos selecionados para a revisão.

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    DISCUSSÃO

    O comprometimento da funcionalidade aumenta conforme o avançar da idade. Vários fatores estão associados à diminuição da capacidade funcional: idade, gênero feminino, baixas renda e escolaridade, depressão, presença de morbidades, hospitalizações, falta de contato social e baixa frequência de atividade física17, 18.

    Uma das maiores causas do comprometimento da funcionalidade é o déficit de equilíbrio, sendo esta a maior causa das quedas. Estas constituem o principal problema de saúde relacionado à população idosa e podem levar a incapacidade, fraturas, hospitalização e aumento da morbidade, gerando um alto custo para a saúde pública19, 20.

    O perfil dos participantes dos grupos avaliados nos estudos incluídos

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    nesta revisão foi de idosos com idade mínima de 68 anos e máxima de 80 anos. Verificou-se predominância do sexo feminino, viúvas, com baixas renda e escolaridade19-22. Das morbidades referidas pelos participantes as principais foram: hipertensão arterial sistêmica (HAS) (42,25%), diabetes melitus (DM) (22,53%) e doenças osteomioarticulares (22,53%). Cerca de 70% referiu presença de, no mínimo, duas morbidades22, 23.

    Estudos24-26 apontam que idosos que participam de atividades em grupo com maior frequência, e que possuem um grau de escolaridade mais elevado, tendem a ser mais ativos e ter maior funcionalidade devido ao seu maior nível de atividade física. Os resultados desses estudos reforçam a ideia de que a capacidade funcional está diretamente relacionada à qualidade de vida, e que esses fatores facilitam a realização das AVD e diminuem o risco e ocorrência de quedas.

    Santos et al.17 verificaram que a maioria dos idosos apresenta uma perda da independência funcional para as AIVD, visto que a maior parte necessita de auxilio para realizar quase todas as atividades incluídas nesta categoria – usar o telefone, fazer compras, cuidar das finanças, preparar suas próprias refeições, arrumar a casa, fazer trabalhos manuais domésticos, lavar e passar roupa, tomar seus remédios na dose e horário corretos, sair sozinho para locais mais distantes e utilizar transporte. Este resultado é semelhante ao encontrado por Kagawa et al.23, onde se verificou uma dependência de 8,49% para as ABVD e 10,96% para as AIVD, havendo ainda, associação das AIVD com a qualidade de vida e estado civil.

    Mas, de acordo com Alonso et al.20, não há relação entre funcionalidade, prática de atividade física e melhora da qualidade de vida, o que vem ao encontro do estudo realizado por Castro et al.18, onde se verificou que não há associação entre os níveis de atividade física, qualidade de vida e ocorrência ou risco de quedas, e que não há relação entre o medo de cair e a ocorrência de quedas.

    Em um estudo de mesma metodologia, realizado por Rojas et al.22, 58% dos avaliados foram classificados como dependentes para a realização

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    de AVD e AIVD e, 26% como independentes, mas com grande risco para dependência. Apenas 16% foram considerados totalmente independentes. Os idosos que apresentaram mais independência para a realização das atividades propostas participavam do grupo com maior frequência. Este resultado pode ser explicado através da análise dos dados socioeconômicos, pois os indivíduos que participavam mais vezes do grupo apresentavam maior renda e escolaridade, além de serem praticantes de atividade física regularmente22.

    Já, no estudo realizado por Oliveira et al.19 os idosos não apresentaram limitação para as atividades motoras de caminhar, sentar, levantar e agachar, sendo classificados com bom equilíbrio e desempenho motor. No entanto, no teste de velocidade da marcha, constatou-se uma diminuição da velocidade média, o que pode estar associada a uma incapacidade de controlar o equilíbrio corporal em atividades que exijam velocidade e agilidade. Os idosos avaliados por Silva et al.27 apresentaram um resultado semelhante, onde se verificou um escore de equilíbrio dinâmico classificado como ruim (32,8%), porém nas atividades de força de preensão manual (46,3%), flexibilidade/mobilidade (61,4%) e equilíbrio estático (34,4%) apresentaram resultado regular.

    Ainda, Castro et al.18, verificaram que o desempenho dos participantes nos testes – sentado para em pé, equilíbrio estático e step teste – foi superior aos encontrados na literatura por eles estudada. O histórico de quedas foi inferior ao encontrado nos demais estudos20, 25-27, o que difere do resultado verificado por Vieira et al.21, onde 78,8% dos participantes já haviam sofrido quedas anteriormente, com frequência de fraturas de 64%, sendo que 92% dos avaliados relataram medo de cair novamente. O local onde houve maior ocorrência de quedas foi a rua (51%), sendo as causas mais comuns: tropeço (42,9%) e escorregão (36,7%). As quedas foram mais frequentes no sexo feminino (63%), concordando com os demais estudos analisados nesta revisão17-27.

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    Segundo Accioly et al.25 um programa de treinamento para reduzir o risco de quedas deve incluir exercícios de fortalecimento muscular, equilíbrio, coordenação, condicionamento cardiorrespiratório e tempo de reação, uma vez que treinos somente de força não são efetivos para estabilidade postural. Em concordância, Alonso et al.20 afirmaram que idosos que praticam mais de uma atividade, incluindo exercícios de diferentes categorias, apresentam melhor resultado quando comparados àqueles que praticam apenas uma. Isto pode ser explicado pelo fato de serem trabalhados diferentes domínios e diversas áreas do corpo quando se pratica atividades distintas.

    Oliveira et al.19 verificaram que uma maior distribuição de idosos com excesso de peso está diretamente relacionada à menor capacidade funcional, podendo levar ao comprometimento do equilíbrio. Este fator é apontado pelos autores19 como o principal motivo para os idosos obesos possuírem déficit de equilíbrio e elevado risco de quedas durante as AVD. Ainda, de acordo com Oliveira et al.19, vários fatores podem influenciar a associação entre obesidade e equilíbrio, sendo o principal o excesso de gordura, que aumenta a sobrecarga corporal, dificultando os movimentos e levando ao aumento do impacto nas articulações e músculos, gerando um comprometimento do equilíbrio. Este resultado é semelhante ao encontrado por Castro et al.18 onde os idosos obesos obtiveram um resultado inferior aos idosos em bom estado nutricional.

    E, de acordo com Vieira et al.21, é fundamental que o ambiente físico onde o idoso vive seja adaptado às suas necessidades, com a instalação de barras de segurança, piso antiderrapante e boa iluminação, fornecendo independência e autonomia para o idoso. Accioly et al.25 afirmaram que, apesar de o maior número de quedas ocorrer na rua, a frequência de episódios no ambiente doméstico também é elevada. Verificaram ainda, que adaptar o ambiente em que o idoso vive à sua condição física, diminuiu o risco de quedas no domicílio pela metade. Pois, segundo Santos et al.17 a perda de independência para as AIVD e AVD pode levar à perda

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    de autonomia, ou seja, na medida que o idoso apresenta algum grau de dependência para suas atividades básicas, como para adquirir bens de consumo básicos ou administrar seu dinheiro, outras pessoas - cuidadores ou familiares - passarão a tomar decisões pelo idoso, implicando em perda de sua identidade.

    Por fim, segundo Santos et al.17, a independência e a autonomia pelo maior tempo possível são metas a serem alcançadas pela saúde pública quando se trata da atenção à saúde da pessoa idosa. Desta forma pode-se afirmar que o envelhecimento bem sucedido é resultado da interação de fatores relacionados à saúde tanto física quanto mental, independência, aspectos sociais e econômicos.

    Diante disto, pode-se afirmar que, além de contribuir para a redução do risco e ocorrência de quedas, a prática de atividade física e a participação nos grupos de convivência são eficazes para manutenção da força muscular, funcionalidade e equilíbrio, mantendo a autonomia do idoso, melhorando sua qualidade de vida.

    CONCLUSÃO

    As quedas constituem um problema social e de saúde pública, tendo como causa principal a diminuição do equilíbrio. A importância da identificação dos fatores de risco para quedas em idosos está na possibilidade de planejamento de estratégias de prevenção.

    Assim, além de contribuir para a redução do risco de quedas, os exercícios ajudam a manter a força muscular, equilíbrio e funcionalidade, dando maior autonomia ao indivíduo, e, desta forma, facilitando a realização de suas AVD.

    Ainda, com a leitura e análise dos artigos, verificou-se que há relação entre a funcionalidade, o equilíbrio e o risco de quedas com as condições socioeconômicas e de saúde dos participantes de grupos de convivência.

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    Os resultados encontrados nesta revisão auxiliam na compreensão das limitações funcionais inerentes ao processo de envelhecimento e das diferenças existentes entre os idosos .

    Constata-se, também, na maioria dos estudos, que a participação em grupos de convivência e a prática de atividades físicas são eficazes tanto para idosos com histórico de quedas quanto para aqueles que têm medo de cair. E, ainda, que as atividades individuais e em grupo favorecem o contato social, a autoestima e a qualidade de vida do idoso.

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