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FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ECONOMIA E FINANÇAS – FUCAPE. SIMONE LUIZA FIÓRIO PAGAMENTO DE DIVIDENDOS E EMISSÃO DE TÍTULOS: um estudo sobre as empresas listadas na Bovespa que têm como país sede o Brasil VITÓRIA 2008

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FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ECONOMIA E FINANÇAS – FUCAPE.

SIMONE LUIZA FIÓRIO

PAGAMENTO DE DIVIDENDOS E EMISSÃO DE TÍTULOS: um estudo sobre as empresas listadas na Bovespa que têm como país sede o Brasil

VITÓRIA 2008

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SIMONE LUIZA FIÓRIO

PAGAMENTO DE DIVIDENDOS E EMISSÃO DE TÍTULOS: um estudo sobre as empresas listadas na Bovespa que têm como país sede o Brasil

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis da Fundação Instituto Capixaba de Pesquisas em Contabilidade, Economia e Finanças (FUCAPE), como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ciências Contábeis – nível Profissionalizante.

Orientador: Aridelmo José Campanharo Teixeira

VITÓRIA

2008

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FICHA CATALOGRÁFICA

Elaborada pelo Setor de Processamento Técnico da Biblioteca da FUCAPE

Fiório, Simone Luiza.

Pagamento de dividendos e emissão de títulos: um estudo sobre as empresas listadas na Bovespa que têm como país sede o Brasil. / Simone Luiza Fiório. Vitória: FUCAPE, 2008.

45p. Dissertação – Mestrado. Inclui bibliografia. 1. Dividendos 2. Debêntures 3. Emissão de ações I.Fundação

Instituto Capixaba de Pesquisas em Contabilidade, Economia e Finanças II.Título.

CDD – 657

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SIMONE LUIZA FIÓRIO PAGAMENTO DE DIVIDENDOS E EMISSÃO DE TÍTULOS: um estudo sobre as empresas listadas na Bovespa que têm como país sede o Brasil

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis da Fundação Instituto Capixaba de Pesquisas em Contabilidade, Economia e Finanças (FUCAPE), como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ciências Contábeis na área de concentração Finanças.

Aprovada em 18 de março de 2008.

COMISSÃO EXAMINADORA

Prof ° Dr.: ARIDELMO JOSÉ CAMPANHARO TEIXEIRA (FUCAPE - Fundação Instituto Capixaba de Pesquisas em

Contabilidade, Economia e Finanças).

Prof ° Dr.: ARILTON CARLOS CAMPANHARO TEIXEIRA (FUCAPE - Fundação Instituto Capixaba de Pesquisas em

Contabilidade, Economia e Finanças).

Prof° Dr. : ALEXSANDRO BROEDEL LOPES

(USP - Universidade de São Paulo)

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Dedico este trabalho a todos

que amo, à minha querida

família – meu pai Abílio, minha

mãe Assunta, meus irmãos

Márcio e Márcia, incluindo

minhas tias e primas.

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AGRADECIMENTOS

Pelo incentivo e carinho, agradeço a:

• Aos meus pais e irmãos, pela paciência e confiança que depositaram em

mim;

• Aos funcionários da FUCAPE, secretários e bibliotecárias pela ajuda e

paciência;

• A todos os professores, estimuladores do conhecimento;

• A todos os colegas de curso que fiz nestes anos, pelo apoio e ensinamentos,

em especial à Silvania, Rosilda e Gustavo, que contribuíram para o meu

aprendizado acadêmico e pessoal;

• E a todos meus amigos que, mesmo indiretamente, contribuíram para mais

uma conquista. OBRIGADA!

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“Os dividendos funcionam como um farol que

orienta os investidores nos momentos de

tempestade. Entretanto, quando o sol aparece

todos deixam de olhar para o farol”.

(Décio Bazin).

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RESUMO

Este estudo objetiva verificar se empresas brasileiras emitem títulos (ações e debêntures) para manter ou aumentar o pagamento de dividendos aos seus acionistas, evidenciando assim a possível relevância da política de dividendos. A pesquisa empregada é empírico-analítica. Foram elaboradas duas equações com a finalidade de testar tal objetivo, utilizando-se como variáveis explicativas: accruals, ativo permanente imobilizado, ativo permanente investimento, MTB e os dividendos, e explicada: emissão de títulos, composta por emissão de ações e debêntures. Os dados para a composição da amostra foram coletados no banco de dados do site da CVM e da Economática e se referem às empresas que têm como país sede o Brasil e que negociaram suas ações na Bolsa de Valores de São Paulo – BOVESPA ao longo do período de 1996 a 2006. Encontrou-se evidência de uma relação estatisticamente significante e positiva entre emissão de títulos e dividendos. Através de tais evidências inferi-se que há uma possível relevância da política de dividendos, pois mesmo sendo elevado o custo de captação de recursos, seja de terceiros ou do acionista algumas empresas realizam a emissão de títulos para pagar os dividendos aos seus acionistas. Diante do exposto não se pode rejeitar H0. Verificou-se também que as variáveis de controle accruals e market to book são representativas para explicar a emissão de títulos.

Palavras chaves: Dividendos, emissão de ações, emissão de debêntures e política de dividendos.

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ABSTRACT

This study objective to verify if Brazilian companies issue bond (shares and debentures) to keep or to increase the dividend payments to it’s shareholders, being thus evidenced the possible relevance of the dividend policy. The employed research is empiricist-analytical. Two statistical models had been elaborated, with the purpose to test such objective, using itself as: accruals, fixed assets, active investment, MTB and the dividends, and explained: issue bond, composed for issue of shares and debentures. The data for the composition of the sample had been collected in the database of the site of the BOVESPA and the CVM, as well as of the Economática and if they relate to the companies who have as country Brazil and that they had negotiated its share in the Stock exchange of São Paulo - BOVESPA to long of the period of 1996 the 2006. Met evidences of a significant statistically and positive relation between emission bond and dividends. Through such evidences inferred has a possible relevance of the dividend policy, therefore being raised the cost of captation of resources, either of third or of the shareholder some companies carry through the emission of headings to pay the dividends to its shareholders. Before of the displayed one if she cannot reject H0. It has been verified that the variable accruals and market to book are representative to explain the emission bond. Palavras chaves : Shares, issue shares, issue debentures and dividend policy.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Resultado da análise de regressão em painel – Efeito fixo –

Equação 1 ................................................................................................................ 36

Tabela 2 – Estatística descritiva – Equação 1 ..................................................... 37

Tabela 3 – Resultado da análise de regressão em painel – Efeito aleatório –

Equação 2 ................................................................................................................ 37

Tabela 4 – Estatística descritiva – Equação 2 ..................................................... 38

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Quantidade de observações para cada equação proposta, no período de 1996 a 2006............................................................................................................... 31 Quadro 2 – Cálculo da variável Emissão de títulos .................................................. 32

Quadro 3 – Cálculo da variável Accruals ................................................................. 33

Quadro 4 – Cálculo das variáveis Ativo imobilizado, Ativo investimento e Market to

book .......................................................................................................................... 34

Quadro 5 – Cálculo da variável Dividendos ............................................................. 34

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SUMÁRIO CAPÍTULO 1 1. INTRODUÇÃO...................................................................................................... 13

1.1 PROBLEMA DE PESQUISA........................................................................... 15 1.2 OBJETIVO DE PESQUISA............................................................................. 16 1.3 FORMULAÇÃO DA HIPÓTESE..................................................................... 16 1.4 MOTIVAÇÃO DA PESQUISA......................................................................... 17 1.5 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO................................................................. 17

CAPÍTULO 2 2. REFERENCIAL TEÓRICO.....................................................................................19

2.1 TIPOS DA POLÍTICA DE DIVIDENDOS ........................................................ 20 2.1.1 Política de dividendos com índice de payout constante ....................... 20 2.1.2 Política de dividendos regulares ........................................................... 20 2.1.3 Política de dividendos regular-baixo-mais-extra.................................... 21 2.1.4 Outras formas de dividendos ................................................................ 21

2.2 DISTRIBUIÇÃO DOS DIVIDENDOS ............................................................. 21 2.2.1 Dividendos x preço das ações .............................................................. 21 2.2.2 Dividendos x lucros anormais e retorno ............................................... 22 2.2.3 Dividendos x investimentos .................................. ............................... 25 2.2.4 Dividendos x tributação ................................................. ...................... 25 2.2.5 Dividendos x recompra de ações .......................................... .............. 27

2.3 EMISSÃO DE TÍTULOS ................................................................................ 27 2.3.1 Emissão de títulos x preço das ações .......................... ....................... 28

CAPÍTULO 3 3. METODOLOGIA.................................................................................................... 30

3.1 CÁLCULO DAS VARIÁVEIS.......................................................................... 32 CAPÍTULO 4 4. RESULTADOS ENCONTRADOS .........................................................................36 CAPÍTULO 5 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................39 REFERÊNCIAS..........................................................................................................41

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Capítulo 1

1. INTRODUÇÃO

Na Teoria de Finanças o estudo sobre a relevância ou não da política de

dividendos ainda é questionável, uma vez que há diferentes teorias sobre o assunto.

Autores como Miller e Modigliani – MM – (1961) argumentam que, sob a

Hipótese do Mercado Perfeito (HMP) e outras premissas, a política de dividendos

não tem relevância e não influencia no preço e retorno das ações. Gordon (1963) e

Lintner (1962), porém, defendem a relevância da política de dividendos, alegando

que os acionistas mais cautelosos preferem o recebimento de dividendos correntes,

elevando, assim, os preços das ações.

Autores como Gitman (1997, p. 512) e Damodaran (1999) argumentam que

os dividendos representam uma fonte de fluxo de caixa e fornecem informações a

respeito da performance atual e futura da empresa (sinalização) e que caso a

empresa necessite de financiamento para pagar os dividendos, os recursos podem

ser levantados através de empréstimos ou emissão e venda de novas ações.

Argumenta-se ainda que “os acionistas muitas vezes vêem os pagamentos

dos dividendos como indicadores do futuro sucesso da empresa” (GITMAN, 1997, p.

521).

Considerando que o mercado de capitais brasileiro é considerado pouco

desenvolvido, é pertinente questionar se as proposições de Miller e Modigliani (1961)

são válidas e aplicáveis a este mercado.

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Lopes e Carvalho (2003, p. 5) apresentam uma série de particularidades do

mercado brasileiro que podem influenciar no resultado de pesquisas empíricas,

aplicadas neste mercado, como:

Excessiva regulamentação da contabilidade financeira. Mercado de capitais concentrado com poucas ações em controle público. Reduzido papel da profissão na formação das normas contábeis. Elevada influência da legislação fiscal na contabilidade financeira.

Esses autores destacam ainda que os investidores brasileiros “são

miopicamente focados nos resultados de curto prazo contrariando o tradicionalmente

estabelecido no cerne da teoria microeconômica e financeira a respeito da alocação

intertemporal de recursos” (LOPES e CARVALHO, 2003, p.13).

Outro fato relevante, no caso brasileiro, é que a legislação, através da Lei

6.404/76 faz referências sobre os dividendos (CVM, 2006):

• Dividendo a ser distribuído, correspondente a, pelo menos, 25% (vinte e cinco por cento) do lucro líquido do exercício (art. 17, § 1°, I); • As ações preferenciais sem direito de voto adquirirão o exercício desse direito se a companhia, pelo prazo previsto no estatuto, não superior a três exercícios consecutivos, deixar de pagar os dividendos fixos ou mínimos a que fizerem jus (art. 111, § 1°);

Assim, as empresas que obtiveram lucro no período são obrigadas a

repassar, pelo menos 25%, aos acionistas preferenciais, levando as empresas

necessitarem de caixa, desta forma as empresas que não possuírem tal

disponibilidade, terão que ter este saldo disponível quando da data do pagamento

dos dividendos. Caso a empresa não tenha tal saldo, ela pode levantar fundos

através da emissão de dívidas, seja através de financiamento próprio – emissão de

ações – ou de terceiros – emissão de debêntures ou outros financiamentos.

Além de sofrer penalidade no caso do não pagamento dos dividendos

devidos, conforme citada acima, de acordo com o Imposto de Renda (BRASIL,

2006):

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Os lucros ou dividendos calculados com base nos resultados apurados a partir do mês de janeiro de 1996, pagos ou creditados pelas pessoas jurídicas tributadas com base no lucro real, presumido ou arbitrado, não ficarão sujeitos à incidência do imposto de renda na fonte, nem integrarão a base de cálculo do imposto de renda do beneficiário, pessoa física ou jurídica, domiciliado no País ou no exterior (art. 10º)

Desta forma, o recebimento de dividendos não penaliza o acionista quando da

declaração de Imposto de Renda, desta forma o fator tributação não interfere na

decisão dos acionistas.

Assim, a política de dividendos, no Brasil, pode influenciar no preço das

ações, uma vez que o principal objetivo das empresas é a maximização dos lucros

de seus investidores, cabendo aos dividendos o papel de reflexo ou retribuição dos

investimentos realizados.

Alguns estudos internacionais (mercado norte americano) relatam a

relevância dos dividendos e sua relação com retornos esperados - Brigham &

Gordon (1968); Morgan (1982)1.

Mas de acordo com pesquisas empíricas realizadas por Penman e Sougiannis

(1997) e Miller & Scholes (1982)2, no mercado norte americano, observa-se que o

pagamento de dividendos não está relacionado de forma significativa com os

retornos, pois os acionistas destes mercados visam o futuro e acreditam que a

retenção dos dividendos contribuirá para a geração de um retorno anormal.

1.1 PROBLEMA DE PESQUISA

Como se observa, não há consenso na literatura sobre a relevância ou não da

política de dividendos.

1 e 2 A serem abordados oportunamente no decorrer do trabalho.

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Diante deste contexto, esta pesquisa tem como propósito investigar o

seguinte problema: há relação entre pagamento de dividendos e emissão de

títulos, realizados pelas companhias brasileiras qu e possuem ações na

BOVESPA?

1.2 OBJETIVO DE PESQUISA

O objetivo deste trabalho é verificar se as empresas brasileiras que negociam

suas ações na BOVESPA emitem ações ou debêntures para pagar os dividendos

aos seus acionistas, evidenciando assim a possível relevância da política de

dividendos.

Este estudo foi aplicado às empresas brasileiras que emitiram títulos na

BOVESPA, durante o período de 1996 a 2006.

1.3 FORMULAÇÃO DA HIPÓTESE

De acordo com Damodaran (1999), as preferências, por parte dos acionistas,

pelo recebimento de dividendos pode levar a empresa a pagar mais dividendos do

que suas disponibilidades de fluxo de caixa, financiando-se através de empréstimos

ou emissão de novas ações.

Assim, a hipótese formulada a ser testada neste estudo é:

H0: há relação entre o pagamento de dividendos e emissão de títulos.

H1: não há relação entre o pagamento de dividendos e emissão de títulos.

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1.4 MOTIVAÇÃO DA PESQUISA

Na revisão bibliográfica, muitos foram os artigos e estudos realizados no

intuito de testarem a relevância da política de dividendos, tanto a âmbito nacional

como internacional.

Verificou-se que o objetivo desses trabalhos era encontrar alguma relação

entre pagamento de dividendos e: retorno das ações (esperado ou anormal); preço

das ações; retorno sobre o ativo (ROA); lucros anormais; política de investimento;

tributação; e recompra de ações, para então considerarem a política de dividendos

relevante ou não.

Assim, este estudo torna-se relevante a partir do momento em que busca uma

relação entre a aquisição de dívidas, através de emissão de novas ações ou

debêntures, e o pagamento de dividendos, pois, como se pode perceber não há

estudos investigativos sobre este tema.

1.5 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

O trabalho está estruturado em cinco capítulos, apresentando a seguinte

composição:

• O capítulo 1 compreende uma introdução sobre o tema, a questão de

pesquisa, o objetivo a ser pesquisado, bem como, a formulação da hipótese e a

motivação.

• No capítulo 2 foram abordadas, de forma não exaustiva, as questões

teóricas que envolvem o tema e, de forma específica, as pesquisas empíricas que já

foram realizadas neste campo.

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• No capítulo 3 foi abordado, com maiores detalhes, o caminho adotado para

a realização da pesquisa, isto é, a metodologia, a elaboração das equações e a

coleta de dados.

• O capítulo 4 traz os resultados encontrados a partir das equações utilizadas

e uma análise de tais resultados, e,

• Finalmente, no capítulo 5, estão elencadas as conclusões obtidas com o

desenvolvimento do trabalho.

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Capítulo 2

2. REFERENCIAL TEÓRICO

Miller e Modigliani (1961) buscaram mostrar que o efeito da política de

dividendo de uma empresa não influencia no preço atual de suas ações, mesmo que

nesta política estejam interessados os investidores, para a escolha de suas carteiras

de portfolio e os economistas que procuram compreender como funcionam os

mercados, surgindo assim a hipótese de Miller e Modigliani (MM). Esta hipótese é

sustentada por algumas premissas, como: eficiência do mercado perfeito, não

cobrança de impostos, inexistência de custo de transação e assimetria

informacional.

Para os autores, os acionistas devem se ater na política de investimentos das

empresas a fim de valorizarem suas ações, acreditando que bons investimentos em

projetos de valor presente líquido positivo tragam bons retornos futuros.

De outro lado temos a hipótese de Gordon (1963) e Lintner (1962), ou a

Hipótese do Pássaro na Mão, onde se acredita que os investidores preferem receber

dividendos correntes a fim de evitar riscos. O relaxamento da premissa que a

informação é pública e está disponível no mercado, a inexistência de custo de

informação e tributos, fez com que se tornasse possível a relevância da política de

dividendos, segundo Lintner (1962, p. 267 e 268).

Outras teorias surgiram para aproximar a hipótese de M e M com a de Gordon

e Lintner, como a Hipótese do Dividendo Residual, segundo a qual os acionistas

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receberão os dividendos depois de esgotadas as oportunidades de investimento em

projetos com retornos positivos (GITMAN, 1977, p. 514).

2.1 TIPOS DA POLÍTICA DE DIVIDENDOS

A política de dividendos deve ser formulada com dois objetivos em mente:

maximizar a riqueza dos acionistas e fornecer financiamentos suficientes para

realização dos investimentos previstos, tratando-se de um plano de ação (GITMAN,

1997, 522).

Gitman (1997, p. 523-526) apresenta quatro tipos de políticas de dividendos,

conforme a seguir:

2.1.1 Política de dividendos com índice de payout constante

Nessa política a empresa estabelece qual o percentual dos ganhos será pago

em cada período de dividendo. Um problema que pode surgir ao se adotar essa

política é que na ocorrência de prejuízo ou queda nos lucros, não haverá dividendos

ou estes serão inferiores aos esperados, tornando-se uma má notícia ao mercado

acionário.

2.1.2 Política de dividendos regulares

Pagamento, por período, de um dividendo fixo. Esta política tem por base um

índice-meta de payout. A empresa busca distribuir uma porcentagem do lucro, não

deixando os dividendos flutuarem, pagando-os em termos de unidades monetárias,

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ajustando em direção ao índice-meta de payout assim que ocorram aumentos

comprovados no lucro.

2.1.3 Política de dividendos regular-baixo-mais-ext ra

A empresa estabelece um nível de pagamento de dividendos, tornando-os

estáveis, fortalecendo assim a confiança dos acionistas na empresa, e caso haja um

lucro especialmente bom em um determinado período, a empresa distribui um

dividendo extra.

2.1.4 Outras formas de dividendos

Ocorre através da bonificação e dos splits. Nestes casos a empresa não

necessita de caixa para pagar os dividendos. A bonificação consiste em pagamento

na forma de ações, os splits são usados para baixar o preço de mercado das ações,

mas não afeta a estrutura de capital da empresa.

2.2 DISTRIBUIÇÃO DOS DIVIDENDOS

Neste tópico são apresentadas pesquisas realizadas sobre a distribuição de

dividendos e seus efeitos sobre o mercado acionário.

2.2.1 Dividendos x preço das ações

Brigham e Gordon (1968, p. 98) estudaram as empresas do setor elétrico dos

Estados Unidos buscando relação entre custo de capital, preço de ação e política de

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dividendos. Apoiados em diversas fórmulas matemáticas, utilizadas por outros

autores (Williams, 1938; Gordon and Shapiro, 1959; Gordon, 1962; Miller and

Modigliani, 1961; Lintner, 1962; Malkiel, 1963; Lerner and Carleton, 1964) eles não

encontraram evidencia empíricas de que os investidores são indiferentes aos

dividendos.

Bruni et al (2003, p. 1) testaram se o anúncio da distribuição de dividendos

afeta os preços das ações de empresas listadas na BOVESPA no ano de 2002,

separando a amostra por rentabilidade dos dividendos. Os autores obtiveram o

resultado de que, em torno da data do anúncio dos dividendos, não há retornos

anormais, porém eles encontraram “retornos cumulativos anormais positivos de

forma persistente... o que indica a relevância da política de dividendos no Brasil, com

ações com maior dividend yield apresentando rentabilidades superiores”.

Santos et al (2004), pesquisaram como os preços das ações listadas na

Bovespa se comportam no primeiro dia de ex-juros sobre o capital próprio (ex-JSCP)

e ex-dividendos. Levando em consideração a tributação sobre tais ganhos, os

autores verificaram que “os preços médios das ações nas respectivas ex-datas

variaram em uma proporção menor que as médias dos dividendos e JSCP

anunciados”.

2.2.2 Dividendos x lucros anormais e retorno

Miller e Scholes (1982 p. 1130 e 1131), em seu trabalho, buscaram

evidências estatísticas da possível relação positiva entre dividendos e retorno das

ações. Em uma primeira análise eles verificaram tal relação, mas após corrigirem o

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efeito tributário, não encontraram relação entre dividendos e retorno, no mercado

norte-americano.

Estudo realizado em empresas listadas na New York Stock Exchange (NYSE)

entre janeiro 1931 e dezembro 1977, Morgan (1982, p. 1077 e 1078) testou a reação

do mercado ao anúncio dos dividendos e observou que, desde que alguns dos

dividendos pagos em t não foram anunciados por t-1, há relação entre os retornos

anormais e os dividendos. A consideração final que Morgan (1982, p. 1086)

demonstra é que o retorno anormal está relacionado ao rendimento dos dividendos

previstos, mas de maneira não linear.

Penman e Sougiannis (1997, p. 20), ao analisarem 160 firmas pertencentes

às bolsas de NYSE e AMEX (American Stock Exchange), entre os anos de 1970 e

1989, observaram um relacionamento negativo entre dividendos e lucro futuro

projetado pelos Princípios Geralmente Aceitos pela Contabilidade dos EUA (U.S

Generally Accepted Accounting Principles -GAAP earnings) e que um dividendo

maior implicam em menos lucro previsto.

Castro e Freire (2005), através de análise de regressões, pesquisaram a

existência de relação entre os lucros anormais e os dividendos, e encontraram

resultados positivos quando os dividendos explicam os lucros anormais, mas no

caso dos lucros anormais sendo explicados pelos dividendos yield e pelos payouts,

a mesma afirmação não é verdadeira.

Santana (2006, p. 15 e 16), com o intuito de investigar a relação entre o

dividend yield e o retorno das ações, buscou um diferencial, ao considerar três

fatores determinantes da política de dividendos: o Setor de atividade, a Capacidade

de geração de lucros e as Oportunidades de Crescimento e Investimento da

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empresa. Como resultados, Santana (2006) verificou que há relação estatística dos

dividendos e a capacidade de geração de lucros.

Com relação aos dividend yield e o retorno das ações, foi verificado uma

relação positiva quando foram consideradas as características do setor de atividade

da empresa, mas a autora não encontrou evidências suficientes para apoiar a

hipótese de que os fatores determinantes da política de dividendos exercem

influência na relação entre dividend yield e retorno das ações (SANTANA, 2006).

Bueno (2002, p. 01), com a finalidade de “verificar a relação entre dividend

yields e as taxas de retornos das ações, bem como a viabilidade de uma estratégia

baseada em dividend yields históricos de “bater” o mercado”, elaborou carteiras de

risco, retorno e indicadores de desempenho, abrangendo o período de julho de 1994

a dezembro de 1999, não encontrando evidencias de que “as ações de altos

dividend yield tendem a possuir maiores ou menores taxas de retorno do que as

ações de baixo ou zero yield” e também não admite que haja associação entre

dividend yield e taxas de retorno das ações.

Assim, Correia e Amaral (2002, p. 1) pesquisaram a relevância da política de

dividendos para o mercado de capitais brasileiro ao verificarem que “o retorno das

ações pode ser explicado não apenas pelo fator risco sistemático, como pressupõe o

modelo CAPM (Capital Asset Pricing Model), mas também pela variável rendimento

em dividendos”.

Pesquisa como a de Kuronuma, Lucchesi e Famá (2004) busca analisar a

relação entre o dividend yield e o retorno anormal acumulado (CAR) no período pós-

pagamento de dividendos. Os autores utilizaram 22 empresas não-financeiras pelo

período de 2000 e 2003, e ao encontrarem “um relacionamento positivo entre o

dividend yield e o retorno anormal acumulado das ações” concordam com Novis

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Neto e Saito (2003) que “quanto maior o dividend yield, maior o retorno anormal

acumulado da ação”.

Nossa, Nossa e Teixeira (2007, p. 9), verificaram, em seu estudo, “que as

empresas que distribuíram dividendos são mais eficientes do que as empresas que

não distribuíram” no período de 1995 a 2004, e observaram que tal “dividendo está

positivamente relacionado ao retorno sobre o ativo” (NOSSA, NOSSA e TEIXEIRA,

2007, p. 9),

2.2.3 Dividendos x investimentos

Ao analisar uma amostra de 220 firmas do US, pelo período de 1975 a 1988,

e subdividida com base no tamanha da firma, Elston (1996, p. 274) observa que,

com e sem pagamento de dividendos, não há relação entre política de dividendos e

investimento.

Loss (2004) buscou em sua dissertação estudar a relação entre dividendos

pagos pelas empresas listadas na Bovespa e os investimentos realizados pelas

mesmas. Através de análise de regressões a autora não encontrou evidências da

existência de tal relação, acrescentando que a imperfeição do mercado de capitais

brasileiro contribui para os resultados encontrados.

2.2.4 Dividendos x tributação

Segundo ROSS, WESTERFIELD e JAFFE (1995, p. 310), a legislação

tributária norte-americana influencia no estudo da distribuição de dividendos pelas

empresas, pois possuem aspectos como:

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• dedutibilidade de juros sobre empréstimos da base de calculo do

imposto de renda;

• os dividendos não podem ser considerados despesas para as

empresas que o distribui;

• o beneficiário dos dividendos está sujeito à tributação sobre o valor

recebido; e

• existe imposto sobre o ganho de capital com a valorização das ações,

o que deverá ser pago apenas no momento de sua venda.

Assim, nos Estados Unidos, “os indivíduos situados em faixa de imposto de

renda elevado tendem a preferir o recebimento de dividendos baixos, ou nenhum”

(ROSS, WESTERFIELD e JAFFE, 2002, p. 416), devido a alta tributação.

Mas no Brasil, conforme mencionado anteriormente, não há incidência de

imposto de renda sobre os lucros ou dividendos, pagos ou creditados pelas

empresas e os dividendos não integrarão a base de cálculo do imposto de renda do

beneficiário (BRASIL, 2006, art. 10º).

Como se percebe, as particularidades do mercado acionário brasileiro

contribuem para uma dicotomia entre os resultados empíricos encontrados. Neste

sentido, Abreu (2004) desenvolveu uma pesquisa com a finalidade de apresentar

como a tributação brasileira influencia na política de distribuição de dividendos e

JSCP.

O autor verificou que uma empresa financiada por meios de recursos próprios

proporciona um aumento no seu valor e retorno ao acionista devido à diferenciação

na tributação sobre JSCP (ABREU, 2004). Com relação aos dividendos, foi

verificado que ao distribuí-los a empresa reduz o valor de suas ações, mas se a

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empresa distribuir proventos em dinheiro ela gera uma economia tributária para seus

acionistas, situação comprovada através da correlação positiva entre yield e

valorização líquida das ações, testada por Abreu (2004, p. 113).

2.2.5 Dividendos x recompra de ações

Brav et al (2005), através da aplicação de questionários observaram que 384

executivos financeiros favorecem as recompras de ações ao pagamento de

dividendos, pois elas aumentam o lucro por ação. Os autores, ao fazer uma

comparação com a pesquisa de Lintner (1956), observaram também que a ligação

entre dividendos e lucro se enfraqueceu, nos últimos cinqüenta anos.

Um estudo realizado por Grullon e Michaelly (2002) demonstra que as

empresas norte-americanas, nos últimos 20 anos vêm substituindo o pagamento de

dividendos pela recompra de ações. Uma explicação para tal prática, é a carga

tributária que recai sobre os acionistas ao receberem os dividendos.

2.3 EMISSÃO DE TÍTULOS

Como o objetivo deste estudo é verificar se as empresas brasileiras emitem

títulos (ações ou debêntures) para pagar os dividendos aos seus acionistas, este

tópico apresenta resultados de pesquisas sobre ofertas primárias e secundárias de

Ações e Debêntures.

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2.3.1 Emissão de títulos x preço das ações

Em estudo realizado pelo período de 1971 a 1994, Datta, Datta e Patel (2000)

encontraram evidências estatisticamente significantes da relação negativa entre

retorno anormal e oferta pública primárias de ações. Os autores argumentam que

este fato acontece pela existência de assimetria da informação. Mas verificaram que

um aumento no monitoramento dos bancos e o tamanho da empresa tende a

minimizar este efeito negativo (DATTA, DATTA e PATEL, 2000).

Kraus e Stoll (1972, p. 583) observaram uma tendência de queda nos preços

das ações, quando a empresa faz IPO, mas os preços retornam ao nível médio

antes das novas emissões. Os autores acrescentam que, “sob a estrutura atual dos

mercados, as ações das empresas afetam os preços de mercado, ao menos

temporariamente” (KRAUS e STOLL, 1972, p. 587) (tradução nossa).

Estudando as emissões secundárias de ações realizadas por empresas

listadas na NYSE, pelo período de janeiro de 1947 a dezembro de 1965 e testando

as hipóteses da Pressão sobre os Preços e a hipótese da Substituição, Scholes

(1972, p. 211) propõe que os preços das ações tendem a seguir a hipótese da

substituição, onde, na média os preços das novas ações emitidas se ajustam ao

valor previsto pelas informações, não implicando lucros anormais (SCHOLES, 1972,

p. 184). Scholes (1972, p. 210) argumenta ainda que “não há nenhuma razão para

acreditar que as emissões primárias de ações devem ser diferentes das distribuições

secundárias nos termos da pressão do preço”. (tradução nossa).

Neste sentido, Medeiros e Matsumoto (2003), estudando as empresas

brasileiras listadas na Bovespa, no período de 1994 e 2002, examinaram os retornos

das ações relacionados às ofertas não iniciais, investigando como se deu o

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estabelecimento do preço de emissão em relação ao preço anterior à emissão e

como foi a reação do mercado à emissão, no curto (entorno da emissão) e longo

prazo (até 12 meses após a emissão).

Esses autores encontraram “retornos anormais negativos significativos ao

longo da maior parte da janela de evento. Nas melhores situações, os anormais

retornos não são significativamente diferentes de zero, nunca sendo

significativamente maiores que zero”. (MEDEIROS e MATSUMOTO, 2003, p. 10).

Santos, Lustosa e Ferreto (2006) buscaram verificar se os anúncios de novos

endividamentos de longo prazo influenciam nos retornos das ações das empresas

brasileiras que integram a carteira IBOVESPA. Eles consideram com o

endividamento, os financiamentos bancários e as debêntures simples.

Estes autores encontraram como resultados dos testes paramétricos “que a

decisão de financiamento de longo prazo afeta o retorno das ações e que este efeito

pode ser verificado no momento em que se formaliza o contrato da operação de

empréstimo ou o protocolo da emissão de debêntures na CVM”. E para testes não-

paramétricos a resposta foi que “o mercado enxerga como fator positivo o anúncio

de aumento no endividamento de longo prazo” (SANTOS, LUSTOSA e FERRETO,

2006, pág. 10 e 11).

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30

Capítulo 3

3. METODOLOGIA

Com intuito de responder o problema-pesquisa, utilizou-se a abordagem

empírico-analítica, que segundo Martins (2000, p. 26) utiliza

técnicas de coleta, tratamento e análise de dados marcadamente quantitativos. Privilegiam estudos práticos. Suas propostas têm caráter técnico, restaurador e incrementalista. Têm forte preocupação com a relação causal entre as variáveis. A validação da prova científica é buscada através de testes dos instrumentos, graus de significância e sistematização das definições operacionais.

Os dados para análise foram coletados no banco de dados do site CVM e da

Economática, limitando-se a empresas brasileiras, que têm ou tiveram suas ações

negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo – BOVESPA, no período de 1996 a

2006, obtidos de demonstrações consolidadas, de empresas pertencentes às vinte

categorias setoriais classificadas pelo banco de dados da Economática.

Foi selecionada apenas uma ação por empresa, considerando-se a de maior

volume no último mês.

No intuito de verificar se há relação entre o pagamento de dividendos e

emissão de títulos, foram constituídas duas equações, uma contendo como variável

explicativa de controle Ativo Permanente Imobilizado e outra contendo como variável

explicativa de controle Ativo Permanente Investimento.

O Quadro 1, apresentado abaixo, apresenta a quantidade de observações

para cada equação elaborada, para todos os períodos analisados, ou seja, 1996 a

2006.

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Equação Quantidade de observações 1 147 2 135

Fonte: elaborado pelo autor Quadro 1: Quantidade de observações para cad a equação proposta, no período de 1996 a 2006 .

A metodologia estatística empregada, para a análise dos dados, foi a

regressão estimada por Ordinary Least Squares (OLS), com a finalidade de estimar

uma relação entre variáveis dependente e independentes, para dados em panel

data, em que há uma combinação de séries temporais com dados transversais

(cross-section).

A análise em panel data permite capturar o comportamento das variáveis

tanto na dimensão espacial quanto temporal. Existem três tipos de modelos

analíticos de panel data: o de coeficiente constante ou pooled regression, o de efeito

fixo e o de efeito aleatório (GREENE, 2003).

O modelo pooled regression pressupõe que tanto o intercepto quanto as

inclinações não variam. O modelo de efeitos fixos pressupõe que as inclinações se

mantêm, mas os interceptos são diferentes para cada empresa. Nesse caso, os

efeitos temporais não influenciam na regressão, apenas os endógenos de cada

empresa (BALTAGI, 2001). O modelo de efeitos aleatórios parte do pressuposto que

não há correlação alguma entre o intercepto e as variáveis independentes.

De acordo com Brooks (2002), a utilização de panel data é relevante uma vez

que permite uma maior quantidade de informação e mais graus de liberdade, o que

possibilita uma estimação mais eficiente.

Neste estudo, a técnica estatística aplicada para rejeitar ou não rejeitar a

hipótese nula formulada foi a de panel date com efeito fixo, para a equação 1 e

efeito aleatório para a equação 2, conforme aplicação do testes de Hausman

(Tabela 1 e 3). O software utilizado para realização dos testes foi o Stata 9.1.

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Em ambas as equações foi necessária a utilização da ferramenta robust, uma

vez que o teste Shapiro-Wilk comprovou a não normalidade dos resíduos.

3.1 CÁLCULO DAS VARIÁVEIS

Para o cálculo da variável dependente Emissão de Títulos foram utilizados os

dados fornecidos pelo site da CVM (2006), onde se obteve os valores e demais

informações (data da emissão, tipo, entre outros) de ofertas primárias e secundárias,

de ações e debêntures, registradas na CVM. O Quadro 2 apresenta o cálculo da

variável Emissão de Títulos. Os valores são expressos em reais (R$).

Fonte: elaborado pelo autor Quadro 2: cálculo da variável Emissão de Títulos.

As limitações dos dados impossibilitaram que as amostras fossem separadas

de acordo com o tipo do título emitido (ação ou debêntures), uma vez que a amostra

resultante seria reduzida para conduzir testes significativos.

As variáveis explicativas Accr (accruals), Imob (ativo permanente imobilizado),

Invest (ativo permanente investimento) e MTB (market to book) foram utilizadas

como variáveis de controle. Os dados foram retirados do banco de dados da

Economática, em moeda original (reais) e balanço consolidado.

De acordo com Martinez (2001, p. 16) accruals são “todas aquelas contas de

resultado que entram no cômputo do lucro, mas que não implicam em necessária

Emissão de Títulos (EmTit it) = OPAt + OSAt + OPDt + OSDt

Ativo Total t-1 Onde: OPA t = valor das ofertas primárias de ações da empresa i no período t; OSA t = valor das ofertas secundárias de ações da empresa i no período t; OPD t = valor das ofertas primárias de debêntures da empresa i no período t; OSD t = valor das ofertas secundárias de debêntures da empresa i no período t; Ativo Total t-1 = valor do ativo total da empresa i no período t-1;

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movimentação de disponibilidades”, assim pode-se haver lucro líquido no período,

sem que haja caixa para tal.

Utilizou-se o accruals como variável de controle, uma vez que na ocorrência

de um accruals maior, maior será o dividendo a pagar, mas menor a capacidade de

pagá-lo (lucro líquido alto, mas fluxo de caixa baixo), e isso incentiva a empresa a

buscar meios para a obtenção de caixa, podendo ser através da emissão de títulos,

por exemplo.

O accruals foi calculado através da fórmula apresentada no Quadro 3.

Fonte: elaborado pelo autor Quadro 3: cálculo da variável A ccruals.

As variáveis Imob (ativo permanente imobilizado), Invest (ativo permanente

investimento) foram utilizadas como controle, pois as empresas podem emitir títulos

(ações e debêntures) objetivando aumentar seus investimentos em projetos com

valor presente líquido (vpl) positivo ou expansão física, o que valorizaria os preços

de suas ações.

E o MTB (market to book) foi utilizado, pois quando as ações da empresa

estão supervalorizadas (alto MTB), as empresas tendem aumentar o número de

ações, fazendo novas emissões (ROSS, WESTERFIELD e JAFFE, 2002), ou seja, a

emissão de ações reajusta o valor das ações no mercado.

O Quadro 4 apresenta as fórmulas utilizadas para o calculo das variáveis de

controle ativo imobilizado, ativo investimento e market to book.

Accruals (Accr it) = Lucro Líquido t – Fluxo de Caixa Operacional t

Ativo t-1

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Fonte : elaborado pelo autor Quadro 4: cálculo das variáveis Ativo Imobiliz ado, Ativo Investimento e Market To

Book.

Os Dividendos foram utilizados neste estudo como variável explicativa, e

espera-se que seja encontrada uma relação significativa e positiva entre a variável

dividendos e a variável dependente emissão de títulos.

A fórmula apresentada no Quadro 5, demonstra como foi calculada a variável

Dividendos:

Fonte : elaborado pelo autor Quadro 5: cálculo da variável Dividendos.

Dividendos são os valores distribuídos aos acionistas como participação nos

resultados da empresa.

Foram elaboradas duas equações, a fim de testar a possível relação entre

pagamento de dividendos e emissão de títulos, conforme segue:

EmTit it = α0 + α1Accr it + α2Imob it + α3MTB it + α4Divid it + ε it (1)

EmTit it = α0 + α1Accr it + α2Invest it + α3MTB it + α4Divid it + εit (2)

onde,

EmTit it = valor da emissão de títulos (ações e debêntures) da empresa i no

período t;

Accr it = valor do accruals da empresa i no período t;

Imobilizado (Imob it) = ∆ Ativo Imobilizado Ativo Total t-1 Investimento (Invest it) = ∆ Ativo Investimento em Subsidiárias e Outros

Ativo Total t-1

Market To Book (MTB it) = utilizou-se como proxy a conta P/VPA, retirada da Economática

Dividendo (Divid it) = Valor dos Dividendos it Ativo Total t-1

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Imob it = valor do ativo permanente imobilizado da empresa i no período t;

Invest it = valor do ativo permanente investimento da empresa i no período t;

MTB it = market to book da empresa i no período t;

Divid it = valor dos dividendos da empresa i no período t;

εεεε it = erro estocástico.

Os dados coletados são referentes ao período de 1995 a 2006. Não foi

definido um procedimento específico para a seleção das empresas, apenas

empresas que não apresentaram dados para qualquer um dos anos ou variáveis

utilizadas foram eliminadas.

O período analisado foi escolhido propositalmente, uma vez que após a

implantação do Plano Real, a inflação passou a ser melhor controlada e assim os

dados (valores) retirados da Economática não foram deflacionados e a partir de

1996, os lucros ou dividendos deixaram de ficar sujeitos à incidência do imposto de

renda na fonte, bem como não “integrarão a base de cálculo do imposto de renda do

beneficiário” (BRASIL, 2006, art. 10º).

Os outliers não foram retirados das amostras devido ao número reduzido de

observações.

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Capítulo 4

4. RESULTADOS ENCONTRADOS

Neste tópico são apresentados os resultados e análise de regressão em

Panel Data, que foram utilizados para responder ao problema: há relação entre

pagamento de dividendos e emissão de títulos, reali zados pelas companhias

brasileiras que possuem ações na BOVESPA?

A Tabela 1 apresenta as estatísticas encontradas na regressão aplicada à

equação 1, assim temos os Coeficientes, Estatística t, o Valor-P para cada variável

X, o R-quadrado (within, between e overall), o F de Significação, o teste de

Hausman e o número de observações.

Tabela 1: Resultado da análise de regressã o em painel – Efeito fixo – Equação 1 EmTit it = α0 + α1Accr it + α2Imob it + α3MTB it + α4Divid it + ε it ( 1 )

Coeficientes Estatística t Valor - P αααα0 2202,553 0,28 0,778 αααα1 - 77,373 -0,20 0,843 αααα2 80,189 1,29 0,203 αααα3 -9,979 -0,25 0,803 αααα4 -352,431 -0,23 0,823 R² within 0,1195 between 0,3822 overall 0,3626 Prob > F 0,1246 Hausman 0,0062 Número de observações 147 Fonte: elaborada pelo autor

Observa-se, através da Tabela 1, que a equação 1 não foi validada, uma vez

que apresenta a estatística F de Significação (0,1246) superior aos valores

geralmente aceitos pelas pesquisas empíricas em finanças (1%, 5% ou 10% - de

acordo com o tamanho da amostra).

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Também não se verificou relação entre as variáveis explicativas e explicada,

pois os valores encontrados para valor-P de cada variável independente também foi

superior aos geralmente utilizados nas pesquisas.

As estatísticas descritivas calculadas para as variáveis que compõem a

equação 1, são apresentadas na Tabela 2.

Tabela 2: Estatística descritiva – Equação 1 EmTit it Accr it Imob it MTB it Divid it

Média 247,128 -0,105 0,166 2,310 0,042 Erro padrão 41,136 0,013 0,057 0,263 0,004 Mediana 104,088 -0,067 0,028 1,436 0,025 Desvio padrão 498,752 0,159 0,697 3,188 0,050

Fonte: elaborada pelo autor

Para apresentar e analisar as estatísticas encontradas após a aplicação da

equação 2, foi elaborada a Tabela 3.

Através da Tabela 3 pode-se observar que a equação 2, ao contrário da

equação 1, foi validada e a um nível de confiança de 1% (F = 0,0015). Através do

teste de Hausman, verificou-se a necessidade da utilização do efeito aleatório.

Tabela 3: Resultado da análise de regressã o em painel – Efeito aleatório – Equação 2 EmTit it = α0 + α1Accr it + α2Invest it + α3MTB it + α4Divid it + εit (2)

Coeficientes Estatística t Valor - P αααα0 62,778 1,46 0,144 αααα1 -465,775 -3,01 0,003 αααα2 47,284 1,03 0,303 αααα3 45,138 1,98 0,048 αααα4 1777,877 1,61 0,104 R² within 0,1232 between 0,2173 overall 0,1905 Prob > F 0,0015 Hausman 0,2593 Número de observações 135 Fonte: elaborada pelo autor

Ainda analisando a Tabela 3, verifica-se que as variáveis explicativas

Accruals, MTB (market to book) e Dividendos apresentaram-se estatisticamente

significantes para explicar a Emissão de títulos, a um nível de confiança de 1%, 5%

e 10%, respectivamente, assim pode-se inferir que há uma relação significativa e

positiva entre emissão de títulos e dividendos.

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As estatísticas descritivas calculadas para as variáveis que integram a

equação 2, são apresentadas na Tabela 4.

Tabela 4: Estatística descritiva – Equação 2 EmTit it Accr it Invest it MTB it Divid it

Média 223,008 -0,101 0,061 1,967 0,038 Erro padrão 35,535 0,013 0,026 0,189 0,004 Mediana 100,375 -0,066 0,000 1,379 0,024 Desvio padrão 412,875 0,157 0,297 2,201 0,042

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Capítulo 5

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base na teoria de Miller e Modigliani (1961), Gordon (1963) e Lintner

(1962) referente à relevância da política de dividendos e nas pesquisas já

realizadas, o objetivo desta pesquisa foi de investigar se as empresas emitem títulos

(ações e debêntures) para manter ou aumentar o pagamento de dividendos aos

seus acionistas, evidenciando assim a possível relevância da política de dividendos.

As amostras analisadas foram compostas por empresas brasileiras que

negociaram suas ações na BOVESPA, compreendendo o período de 1996 a 2006.

A evidência encontrada foi de que, quando se utilizou a variável explicativa de

controle Ativo Permanente Investimento, houve uma relação estatisticamente

significante e positiva entre emissão de títulos e dividendos.

Por meio de tal evidência infere-se que há uma possível relevância da política

de dividendos, uma vez que o custo de captação, seja de terceiros ou do acionista, é

elevado. De acordo com Leal e Saito (2003) os custos com as comissões de

underwriting3 são elevados, e conforme pesquisa de Filgueira e Leal (2000) as

cláusulas contratuais das debêntures tornaram-se mais custosas após o Plano Real.

Conforme pesquisas citadas anteriormente (Datta, Datta e Patel, 2000; Kraus

e Stoll, 1972; Medeiros e Matsumoto, 2003) as emissões de ação causam, ao menos

3 Operação de distribuição primária de debêntures, ou seja, a primeira venda dos títulos após a sua emissão. Tal processo é conduzido por instituição financeira contratada pela emissora, denominada coordenador líder, e pode contar com a participação de outras instituições intermediárias (ABRASCA, 2007).

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temporariamente, queda no preço das ações e custos elevados. Mas assim mesmo

algumas empresas realizam a emissão de títulos para pagar os dividendos aos seus

acionistas. Diante do exposto não se pode rejeitar H0 (há relação entre o pagamento

de dividendos e emissão de títulos).

Verificou-se também que as variáveis de controle accruals e market to book

são representativas para explicar a emissão de títulos.

Este estudo apresenta algumas limitações, como:

• o tamanho da amostra reduzido, uma vez que muitas

empresas foram excluídas por não apresentar os dados utilizados

como proxy;

• os resultados e inferências ficaram restritos às amostras,

ao período analisado, às variáveis/proxy e à metodologia;

Para trabalhos futuros, pretende-se utilizar um tratamento mais adequado às

variáveis utilizadas, outros testes estatísticos, novos cálculos e proxy para as

variáveis, bem como a inserção de novas variáveis de controle, objetivando uma

melhor robustez às equações formuladas.

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