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FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU MAGALHÃES DEPARTAMENTO DE SAÚDE COLETIVA RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE COLETIVA Mário César Carneiro de Santana Avaliação da Qualidade de Vida dos Agentes Comunitários de Saúde da Família de Ipojuca, Pernambuco Recife 2015

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS … · DEPARTAMENTO DE SAÚDE COLETIVA RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE COLETIVA ... INTRODUÇÃO Apesar de haver pouco consenso

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FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ

CENTRO DE PESQUISAS AGGEU MAGALHÃES

DEPARTAMENTO DE SAÚDE COLETIVA

RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE COLETIVA

Mário César Carneiro de Santana

Avaliação da Qualidade de Vida dos Agentes Comunitários de Saúde da Família de Ipojuca,

Pernambuco

Recife

2015

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Mário César Carneiro de Santana

Avaliação da Qualidade de Vida dos Agentes Comunitários de Saúde da Família de Ipojuca,

Pernambuco

Monografia apresentada ao Curso de Residência

Multiprofissional em Saúde Coletiva do

Departamento de Saúde Coletiva, Centro de

Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo

Cruz FIOCRUZ-PE. Para obtenção do título de

Especialista em Saúde Coletiva.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Kátia Rejane de Medeiros

Recife

2015

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Catalogação na fonte: Biblioteca do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães

S232a

Santana, Mário César Carneiro de.

Avaliação da qualidade de vida dos agentes comunitários de saúde da

família de Ipojuca, Pernambuco/ Mário César Carneiro de Santana. — Recife:

[s. n.], 2015.

42 p.: il.

Monografia (Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva) -

Departamento de Saúde Coletiva, Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães,

Fundação Oswaldo Cruz.

Orientadora: Kátia Rejane de Medeiros.

1. Qualidade de Vida. 2. Agentes Comunitários de Saúde. 3. Estratégia

Saúde da Família. 4. Saúde do Trabalhador. 5. Condições de Trabalho. I.

Medeiros, Kátia Rejane de. II. Título.

CDU 614

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Mário César Carneiro de Santana

Avaliação da Qualidade de Vida dos Agentes Comunitários de Saúde da Família de Ipojuca,

Pernambuco

Monografia apresentada ao Curso de Residência

Multiprofissional em Saúde Coletiva do

Departamento de Saúde Coletiva, Centro de

Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo

Cruz FIOCRUZ-PE. Para obtenção do título de

Especialista em Saúde Coletiva.

Aprovado em: 26/05/2015

BANCA EXAMINADORA

_________________________________

Ms. Camila Pimentel Lopes de Melo

Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz

__________________________________

Dr. Kátia Rejane de Medeiros

Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz

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AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA DOS AGENTES COMUNITÁRIOS DE

SAÚDE DA FAMÍLIA EM IPOJUCA, PERNAMBUCO

EVALUATION OF THE QUALITY OF LIFE OF THE HEALTH COMMUNITY

AGENTS FROM IPOJUCA, PERNAMBUCO

Autores:

Mário César Carneiro de Santana ¹

Kátia Rejane de Medeiros ¹

Islândia Maria de Carvalho Sousa ¹

Instituição que pertencem:

(1) Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães –CPqAM/Fundação Oswaldo Cruz

Endereço para correspondência do autor responsável:

Rua Mário Campelo, n° 280, Casa C, Bairro Várzea, Recife-PE

Telefone: (81) 99818-4524

Artigo a ser encaminhado para a Revista Ciência & Saúde Coletiva

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SANTANA, Mário César Carneiro de Santana. Avaliação da Qualidade de Vida dos Agentes

Comunitários de Saúde da Família de Ipojuca, Pernambuco. 2015. Monografia (Residência em

Saúde Coletiva) – Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz, Recife,

2015.

RESUMO

O trabalho na saúde possui singularidades que torna a relação entre os trabalhadores e os

processos do trabalho mais complexa, o que contribui de alguma forma para a qualidade de

vida dos trabalhadores. Na estratégia de saúde da família, o trabalho do Agente Comunitário de

Saúde (ACS) chama atenção pelo ambiente de trabalho e complexidade de suas ações. O fato

de ter que viver e trabalhar na mesma comunidade e desenvolver seu trabalho fora dos muros

do serviço de saúde, torna as ACS mais expostas às situações que repercutem negativamente

na sua saúde e qualidade de vida. Nesse sentido, buscou-se avaliar a qualidade de vida dos ACS

de saúde da família de Ipojuca, Pernambuco. Para tanto, foi utilizado o questionário abreviado

para avaliação da qualidade de vida da Organização Mundial de Saúde e um questionário para

caracterização sociodemográfica. Trata-se de um estudo transversal, descritivo com caráter

avaliativo. Os dados foram analisados pelo programa estatístico SPSS versão 21. Participaram

do estudo 70 (83,33%) do total de ACS da ESF do município. Observou-se que a maioria das

ACS eram do sexo feminino 56 (80%); 48 (68,6%) eram pardas que possuíam ensino médio

completo 54 (77,1%) e havia predomínio de casadas 31 (44,3%) entre elas. Com relação à

avaliação da qualidade de vida, o domínio que se destacou negativamente foi o domínio

ambiental com escore 46,34 (14,86 DP) e o mais bem avaliado foi o domínio das relações

sociais 72,91 (17,16DP). Através da correlação de Pearson, observou-se que o domínio

ambiental possui a maior associação com a qualidade de vida (0,489), enquanto que o domínio

físico maior correlação com a saúde geral (0,518). A correlação entre os domínios e as variáveis

tempo de trabalho, idade e média de tempo gasto para deslocamento, demonstrou-se fraca. Já a

correlação entre os domínios, foram todas moderadas, sendo que os domínios que se associam

mais fortemente são o domínio psicológico com o físico (0,697) e o domínio ambiental com o

físico (0,588).

Palavras chaves: Qualidade de Vida; Agente Comunitário de Saúde; Estratégia de Saúde da

Família; Saúde do trabalhador; Condições de Trabalho

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INTRODUÇÃO

Apesar de haver pouco consenso para a definição do termo qualidade de vida (QV),

devido a sua natureza polissêmica1, desde os anos 1980 nota-se sua larga utilização em

pesquisas de diversas áreas2. Na década de 1990, consolidou-se pois, o conceito de que a

qualidade de vida sugere a compreensão de dois aspectos: o da subjetividade, e da

multidimensionalidade. Ou seja, os conceitos sobre QV devem valorizar a percepção do

indivíduo e as diversas dimensões que compõe a sua vida2.

Nessa perspectiva, a Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1994, definiu a

qualidade de vida como: a percepção do indivíduo sobre a sua posição na vida, no contexto da

cultura e dos sistemas de valores nos quais ele vive e, em relação a seus objetivos, expectativas,

padrões e preocupações3.

A percepção de cada um sobre sua própria qualidade de vida está intimamente

associada à relação entre o indivíduo e a sociedade na construção dos sujeitos. Estudos sobre a

centralidade do trabalho nesse processo, demonstram que no trabalho se estabelecem redes de

relações sociais, trocas afetivas e econômicas que são bases da vida cotidiana, e que por isso o

trabalho é alicerce da constituição do sujeito e da sua rede de significados4.

Na maioria das civilizações modernas, as pessoas têm sua trajetória educacional

traçada objetivando ingressar no mercado de trabalho. Boa parte das nossas vidas é dedicada

ao trabalho, razão pela qual não se pode ignorar o peso do contexto do trabalho sobre a

qualidade de vida geral dos trabalhadores5-6.

Nos setores onde há uma intensidade de mão de obra para a produção de bens ou

serviços esse contexto é ainda mais impactante na compreensão dos elementos que repercutem

na qualidade de vida dos trabalhadores. O trabalho no complexo da saúde ilustra esse

argumento, frente a singularidade de dependência de trabalho coletivo, no qual saberes técnicos

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e cognitivos advindos de diferentes categorias profissionais são interdependentes para tornar

viável o produto final5. Diante disso, no campo da saúde há o desafio de articular os diferentes

serviços na perspectiva de redes de atenção à saúde e os diferentes profissionais que atuam

nesses serviços para a realização do trabalho em equipe, a fim de dar conta da complexidade

que são as necessidades de saúde individuais e coletivas imersas nesse cotidiano.

No Sistema Único de Saúde (SUS) os serviços estão organizados e estratificados

enquanto serviços de atenção primária, secundária e terciária. Esses serviços, guiados por

princípios comuns e por uma ação cooperativa e interdependente, devem integrar uma rede de

atenção à saúde onde a Atenção Primária à Saúde (APS) é estratégica por ser a principal porta

de entrada ao sistema, com papel de garantir a atenção contínua e integral à população7.

O Programa Saúde da Família (PSF) pode ser apontado como um marco para a

incorporação da APS ao SUS tendo recebido na década de 1990, grande investimento do

Ministério da Saúde para sua universalização8. Com equipe composta por no mínimo um

médico, um enfermeiro, um auxiliar ou técnico de enfermagem e agentes comunitários de saúde

(ACS), no máximo 12 por equipe, podendo agregar ainda dentista e auxiliar ou técnico em

saúde bucal9, o PSF foi transformado em estratégia de Saúde da Família (SF) e adotado como

uma estratégia para reorientação do modelo assistencial biomédico10.

A Saúde da Família (SF) pauta-se no trabalho em equipe multidisciplinar, com

definição de responsabilidades entre os serviços de saúde e a população10, se consolidando

como o principal cenário de ações da APS cuja responsabilidade é ordenar os fluxos

assistenciais na rede de serviços de saúde, a fim de garantir a universalidade do acesso e a

integralidade das ações de saúde7.

Assim, os profissionais da SF são protagonistas das ações de saúde inerentes às

políticas e programas de saúde do SUS e, pesquisar sobre a qualidade de vida desses

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trabalhadores, significa reconhecer a importância desses profissionais para a concretização do

SUS, diante das importantes tarefas que lhes foram delegadas.

Dos profissionais que compõem a equipe, ser ACS é ser peculiar por ter sido uma

profissão criada pela Lei de Nº 10.507 em 2002 que, diferente dos demais profissionais, tem o

SUS como lugar exclusivo de atuação11. A mesma lei estabelece requisitos necessários para o

exercício da profissão, dentre eles estão: residir na área da comunidade em que atuar e concluir

com aproveitamento, o curso de qualificação básica para a formação em Agente Comunitário

de Saúde.

Contudo, desafios da ordem da constituição de uma identidade profissional da ACS,

tem recaído sobre a formação desses profissionais que precisam compreender, para além do

processo saúde-doença, questões relacionadas aos determinantes e condicionantes sociais da

saúde, além de abordagens sociais e psicológicas, constantemente requisitadas em sua prática

cotidiana12. Alguns autores13-14 advertem que as ACS além de não possuírem os conhecimentos

necessários para as demandas que chegam até si, convivem com às limitações do próprio

sistema. Jardim e Lancman (2009)15, no seu estudo evidenciam, que as ACS que se veem nessa

situação acabam mentindo para encobrir a falha do sistema, a fim de manter as relações com as

famílias, o que acaba por gerar sofrimento no trabalho.

Alguns fatores têm aparecido nesses estudos como causadores de sofrimento psíquico

e estresse ocupacional, como por exemplo a falta de delimitação técnica da área de atuação; a

obrigatoriedade de morar na área em que trabalha ocasionando insegurança, comprometimento

da privacidade e a dificuldade de separação entre a vida profissional e pessoal;

responsabilização excessiva; a ACS e sua família não se sentem à vontade no papel de usuário

do serviço em que trabalha; não reconhecimento profissional, tanto por parte da equipe quanto

dos usuários13-16.

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Sabe-se que a ACS tem importância fundamental para a consolidação da SF, e que o

processo de produção da saúde deve ser capaz de garantir sua saúde enquanto trabalhadora e

sua qualidade de vida5, todavia há um descompasso entre o processo de produção do cuidado

pela ACS a manutenção de sua qualidade de vida, pois o processo de trabalho destes

profissionais tem gerado sofrimento de ordem física e principalmente psíquica.

Considerando esses tais aspectos, este artigo tem como objetivo avaliar a qualidade de

vida das Agentes Comunitárias de Saúde da Família do município de Ipojuca, Pernambuco,

Brasil.

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MÉTODOS

Trata-se de um estudo transversal, com caráter avaliativo e abordagem quantitativa.

Nele se visualiza a situação de uma população em um determinado momento e pode ser

utilizado para estabelecer relações entre variáveis17. No nosso caso, o período do nosso recorte

se deu entre outubro de 2014 e janeiro de 2015.

Os sujeitos dessa pesquisa são ACS do município de Ipojuca pertencente a Região

Metropolitana do Recife cuja população era, em 2010, constituída por 80.637 habitantes18. O

Município conta com 70 estabelecimentos de saúde, sendo 15 USF, perfazendo uma cobertura

equivalente a 67,2%19. Formaram a amostra 70 (83,33%) do total de ACS da ESF do

município19. Excluiu-se um total de 14 ACS que no dia da aplicação dos questionários

encontravam-se afastados, de férias, que faltaram ao trabalho ou se recusaram participar.

A coleta aconteceu em visitas agendadas com as equipes nas respectivas Unidades de

Saúde da Família. Todos os participantes foram voluntários esclarecidos dos objetivos da

pesquisa antes da aplicação do questionário, tendo sua participação condicionada a assinatura

do Termos de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE A).

Utilizou-se um questionário autorrespondível composto por duas partes, a primeira

que trata da caracterização social dos sujeitos que também abordou variáveis relacionadas ao

trabalho (APÊNDICE B), e a segunda foi o questionário abreviado de avaliação da qualidade

de vida da OMS, o WHOQOL – bref (ANEXO 1).

Esse estudo é parte do projeto de pesquisa denominado “Avaliação do crescimento

econômico do Pólo Industrial de Ipojuca e a qualidade de vida dos trabalhadores da Estratégia

de Saúde da Família” (QUALIVIDA), financiado por meio do Edital PPSUS N0

08/2012/FACEPE, e por isso todo o processo de coleta de dados foi executado pela equipe de

pesquisadores responsáveis pelo projeto. Sendo assim, a Resolução CNS nº 466/2012 a

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QUALIVIDA foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Pesquisa Aggeu

Magalhães/Fundação Oswaldo Cruz-Pernambuco conforme parecer de número 489.169

(ANEXO 2).

O instrumento sobre a qualidade de vida foi desenvolvido em 1994, pela OMS por

meio do grupo WHOQOL group, e envolveu 15 centros de pesquisas, oriundos de 14 países

com culturas e situações de saúde distintas, garantindo o caráter transcultural do questionário20-

21-22, tem o pressuposto de que, a qualidade de vida é uma construção subjetiva,

multidimensional, composta por elementos positivos e negativos1.

O WHOQOL-100, primeiro questionário desenvolvido pela OMS para avaliar a

qualidade de vida das pessoas, é composto por 100 questões em 6 domínios: 1- físico; 2-

psicológico; 3- nível de dependência; 4- relações sociais; 5- meio ambiente e 6- espiritualidade.

Como resposta a situações onde o tempo de preenchimento é limitado, criou-se o WHOQOL-

bref, mantendo a qualidade e as características psicométricas do WHOQOL-100 e foi testado

em condições análogas. Nele constam 26 questões que abordam: a autoavaliação da qualidade

de vida e percepção de saúde geral além de outras distribuídas em 4 domínios: 1- físico, 2-

psicológico, 3- relações sociais e 4- meio ambiente. As perguntas são respondidas em quatro

tipos de escalas: intensidade, capacidade, frequências e avaliação, essas escalas graduadas usam

escores de um a cinco do tipo Likert20-21-22-23.

Os escores são calculados utilizando uma sintaxe do programa estatístico Statistical

Package for Social Science (SPSS) apropriada para o questionário. A média das questões de

cada domínio corresponde ao escore obtido por ele, que varia de 0 a 100. Para esse estudo, serão

consideradas médias boas, escores acima de 50 pontos. Todos os cálculos foram feitos

utilizando o SPSS versão 21, e as tabulações foram feitas pelo software Excel da Microsoft

Office 2013.

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O WHOQOL – bref, foi traduzido e testado no Brasil pelo grupo de pesquisa da

Universidade Federal do Rio Grande do Sul, membro do WHOQOL Group22. Um estudo que

objetivou mostrar a aplicação do teste de campo do WHOQOL-bref traduzido, concluiu que o

questionário em português possui características psicométricas semelhantes às amostras do

estudo multicêntrico que deu origem ao questionário, por apresentar boa consistência interna,

validade discriminantes, validade concorrente, validade de conteúdo e confiabilidade teste-

reteste, utilizando uma amostra heterogênea22-23.

No processo de caracterização dos sujeitos foram abordadas variáveis

sociodemográficas (idade, sexo, cor da pele, estado civil e grau de escolaridade) e variáveis

relacionadas ao trabalho (tempo de trabalho com a equipe, residência no município em que

trabalha, média de tempo gasto para ir e voltar do local de trabalho e o meio de locomoção

utilizado), descritas e apresentadas em forma de tabela, utilizando as frequências, a média e o

desvio padrão. Cada domínio do WHOQOL-bref foi descrito individualmente, apontando o

desempenho das ACS para cada questão, e em uma tabela, foram demonstrados, para cada

domínio, a média dos escores, a mediana, o desvio padrão, a variância e o valor máximo e

mínimo obtido.

As variáveis sociodemográficas e relacionadas ao trabalho (idade, tempo de trabalho,

tempo gasto para ir e voltar do trabalho), foram correlacionadas aos domínios do WHOQOL-

bref, e com a percepção da qualidade de vida geral e da saúde geral. Os domínios também foram

correlacionados entre si e com a qualidade de vida geral e a saúde geral. Para todas essas

correlações foram calculados o coeficiente de correlação de Pearson. A correlação de Pearson

foi classificada de acordo com Dancey e Reidy (2005), onde as correlações podem ser fracas se

apresentarem valores de 0,10 a 0,39, médias se os valores estiverem no intervalo de 0,40 a 0,69,

ou forte se a correlação apresentar valor igual ou superior a 0,70. A fim de identificar o grau de

interferência de um domínio sobre o outro e sobre a qualidade de vida geral e da saúde geral

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das ACS foi calculado o valor da regressão linear simples para cada domínio. Esses dados foram

analisados e apresentados em tabelas.

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RESULTADOS

As ACS possuem uma média de idade equivalente a 40,8 anos, com desvio padrão

igual a 5,3. Em relação a variável sexo, 80% das ACS pertence ao sexo feminino. Já em relação

ao estado civil das ACS, evidenciou-se que 44,3% são casadas, 11,4% estão em união estável.

A maioria das ACS se auto declaram preta ou parda, num percentual de 8,6 e 68,6%

respectivamente. A população que se identificou como branca foi 18,6% do total. A maioria

delas (77,1%), possui o ensino médio completo e somente 5,7% possui apenas o ensino

fundamental. Esse mesmo percentual equivale às ACS que hoje possuem nível superior

completo, e ainda 7,1% estão com o curso superior em andamento. A média de tempo de

trabalho de cada ACS com a equipe de SF é igual a 9,3 anos (Tabela 1).

Todas elas residem no município em que trabalham e a média de tempo gasto para ir

e voltar do trabalho é igual a 18,5 minutos, sendo que o meio de locomoção mais utilizado no

percurso é a pé (45,7%) ou de bicicleta (24,2%).

No que se refere à qualidade de vida, os escores dos domínios do WHOQOL-bref

variam de 0 a 100 sendo que quanto maior for escore, melhor é a qualidade de vida atribuída

ao domínio. Tendo como referência as medidas de tendência central apresentadas na Tabela 2,

o domínio ambiental foi o que apresentou menor escore e, portanto, foi mal avaliado, com

escore igual a 46,3. Na direção oposta, o domínio social foi bem avaliado, apresentando uma

média igual a 72,9, seguido pelo domínio psicológico e físico, com escores 71 e a 63,4,

respectivamente.

Contudo, quando observa-se as medianas, os domínios social e psicológico

representam o mesmo valor, igual a 75, apontando para o fato de que 50% das respostas dos

dois domínios estão abaixo de 75 e os outros 50% acima. Nesse caso, as avaliações dos dois

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domínios têm pouca diferença em termos qualitativos de comparação, ou seja, na prática os

dois domínios não possuem diferenças importantes.

Tabela 1: Dados demográficos das Agentes Comunitários de Saúde

de Ipojuca, Pernambuco, 2015

Características N % Média (desvio padrão)

Idade (anos) - - 40,82 (5,32)

Tempo gasto trabalho-casa (min) - - 18,50 (13,43)

Tempo de trabalho na equipe

(anos) - - 9,35 (5,08)

Sexo

Feminino 56 80

Masculino 14 20

Estado civil

Casado 31 44,3

Solteiro 26 37,1

União Estável 8 11,4

Divorciado/Separado(a) 3 4,3

Viúvo(a) 1 1,4

Cor

Branca 13 18,6

Preta 6 8,6

Parda 48 68,6

Amarela 1 1,4

Outra 2 2,9

Escolaridade

Ensino fundamental completo 4 5,7

Ensino médio incompleto 2 2,9

Ensino médio completo 54 77,1

Superior incompleto 5 7,1

Superior completo 4 5,7

Pós graduação completa 1 1,4

Meio de transporte usado

A pé 32 45,71

Bicicleta 17 24,29

Carro 1 1,43

Moto 3 4,29

Trans. Alternativo 2 2,86

Não respondeu 15 21,23

Tabela produzida pelo autor.

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A percepção das ACS sobre a sua própria qualidade de vida geral e sobre sua a saúde

geral, foram analisadas separadamente, pois essas questões não compõem nenhum domínio, e

seus escores são gerados fora deles. A qualidade de vida geral obteve escore igual a 65,

enquanto que a saúde geral, pontuou 57,1, sendo, pois, pior avaliada que a primeira, mas ainda

assim, teve boa avaliação considerando o nosso critério (Tabela 2).

No domínio físico identificou-se que 44,3% das ACS consideram que sua dor física

atrapalha parcialmente no desempenho das atividades de vida diária e, 44,2% delas diz que essa

dor atrapalha muito ou extremamente. Esse mesmo percentual considera que precisa bastante

ou extremamente de algum tratamento médico para levar sua vida diária, sendo que 31%

consideram que precisam parcialmente. Com relação a energia necessária para levar o dia,

47,1% das ACS acreditam que a energia que possui é média, 42,8% consideram que essa

energia é muito ou completamente suficiente. A satisfação com o sono apresentou-se da

seguinte forma: 30,0% não tem opinião definida e 52,9% são satisfeitos ou muito satisfeitos.

Na capacidade de locomoção, 67,1% delas estão satisfeitas ou muito satisfeitas e 61,4% tem a

mesma sensação quando o que está em questão é a capacidade para desempenhar as atividades

do dia-a-dia e 55,7% estão satisfeitos com a sua capacidade para o trabalho.

O domínio das relações sociais é composto por 3 questões que abordam a satisfação

da população estudada sobre as relações com amigos, parentes e etc. e o apoio que recebe dessa

Tabela 2: Análise estatística descritiva do WHOQOL-bref, aplicados as ACS de Ipojuca por

domínios.

Físico Social Psicológico Ambiental QVG SG

Média 63,47 72,91 71,00 46,34 65,00 57,14

Mediana 64,28 75,00 75,00 46,87 75,00 50,00

Moda 64,29 75,00 75,00 53,13 75,00 50,00

Desvio padrão 15,77 17,16 16,06 14,86 18,26 22,58

Variância 248,88 294,76 257,90 220,78 333,33 509,83

Mínimo 10,71 33,33 20,00 3,13 0,00 0,00

Máximo 100,00 100,00 95,83 78,13 100,00 100,00

Tabela produzida pelo autor.

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rede de relações. Também inquere sobre a satisfação com a vida sexual aspecto que, para 67,1%

está satisfeita. 84,3% das ACS consideram que suas relações interpessoais são satisfatórias ou

muito satisfatórias, ao passo que a satisfação em ralação ao apoio que recebe dos amigos quando

necessita foi 64,3%.

No domínio psicológico, 90% das ACS consideraram que sua vida faz bastante ou

extremo sentido; 74,3% delas estão satisfeitas com a aparência física, e 80% delas estão

satisfeitas consigo de um modo geral. Mas, 60% informa ser frequentemente acometida por

sentimentos negativos. Apenas 52,9% aproveita a vida bastante ou extremamente e, somente

50% afirmam que conseguem ter concentração durante o dia-a-dia.

No domínio ambiental a avaliação quanto a suficiência de dinheiro disponível para

satisfazer as necessidades foi, para 65,7% das ACS, insuficiente. As ACS avaliaram possuírem

nada ou muito poucas oportunidades de lazer (48,6%) e que as informações de que precisam

cotidianamente não estão disponíveis em 32,8% das respostas. Há insatisfação no acesso aos

serviços de saúde para 32,9% delas. Apesar de avaliarem mal a maioria dos quesitos

relacionados ao domínio ambiental, as ACS estão satisfeitas com o local onde moram (61,4%)

sentindo-se seguras no dia-a-dia (33,3%), em detrimento de 27,2% que se sentem, pelo menos,

muito pouco seguras.

A correlação entre os domínios e a qualidade de vida geral (Tabela 3), foi feita através

da correlação de Pearson. O domínio ambiental apresentou correlação moderada positiva com

a qualidade de vida geral e obteve grau de correlação igual a 0,489. Os demais domínios

apresentaram correlação fraca.

A técnica de regressão linear demonstrou que há relação funcional entre o domínio

ambiental e a qualidade de vida geral da ordem de 23,92%. Os demais domínios juntos somam

12,24%, e representam quase metade do que o domínio ambiental representa para a qualidade

de vida geral.

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Ao analisar a correlação de Pearson entre os domínios do WHOQOL-bref e a

percepção das ACS sobre sua saúde geral, observa-se que o domínio físico e o domínio

ambiental, possuem correlação moderada, sendo que o primeiro possui uma correlação igual a

0,518, enquanto que o segundo possui correlação igual a 0,417. Os demais domínios

apresentaram correlação fraca. Pela regressão linear observa-se que todos os domínios juntos

são capazes de interferir em 56% na saúde geral da ACS, desse percentual, 26,8% representa o

domínio físico e 17,4% o domínio ambiental.

A correlação de Pearson também foi utilizada para observar a correlação entre os

domínios e as variáveis numéricas do questionário sociodemográfico (idade, tempo de trabalho

na equipe e média de tempo gasto no trajeto de casa para o trabalho) e, entre essas mesmas com

as variáveis: qualidade de vida geral e saúde geral (Tabela 4). Nesses casos todas as correlações

foram fracas.

Mas, as correlações entre os domínios e eles mesmos, revelaram existir correlação

moderada entre todos os domínios, destacando-se a correlação existente entre o domínio físico

e o psicológico equivalente a 0,697, e entre o domínio físico e ambiental equivalente 0,588.

Tabela 3: Coeficiente de correlação de Pearson e análise da regressão

linear múltipla entre os diferentes domínios do WHOQOL-bref em relação

a qualidade de vida geral e a saúde geral dos ACS.

Domínios

Qualidade de Vida Geral

(dependente) Saúde Geral (dependente)

Correlação

Regressão linear

Correlação

Regressão linear

R² (%) β R²

(%) β

Físico 0,268* 7,16 0,072 0,518** 26,8 0,533

Social 0,164 2,68 -0,021 0,257* 6,6 0,023

Psicológico 0,155 2,4 -0,157 0,279 7,8 -0,201

Ambiental 0,489** 23,92 0,535 0,417** 17,4 0,195

R² total (%) 36,16 58,6

*. A correlação é significativa no nível 0,05 (2 extremidades).

**. A correlação é significativa no nível 0,01 (2 extremidades).

Fonte: Tabela produzida pelo autor

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Tabela 4: Coeficiente de correlação de Pearson entre os domínios do WHOQOL-bref e as variáveis

quantitativas: idade, tempo de trabalho com a equipe, tempo gasto para ir e voltar do trabalho.

Domínios Idade Tempo de

trabalho

Média de

tempo gasto Físico Social Psicológico Ambiental

Físico r -0,217 0,080 -0,171 1 0,447** 0,697** 0,588**

Valor-p 0,077 0,519 0,167 0 0,000 0,000 0,000

Social r -0,114 0,235 0,066 0,447** 1 0,417** 0,408**

Valor-p 0,360 0,054 0,594 0,000 0 0,000 0,000

Psicológico r 0,018 0,020 0,012 0,697** 0,417** 1 0,506**

Valor-p 0,882 0,868 0,921 0,000 0,000 0 0,000

Ambiental r -0,156 0,076 -0,022 0,588** 0,408** 0,506** 1

Valor-p 0,207 0,538 0,859 0,000 0,000 0,000 0

QVG r -0,238 0,004 0,044 0,268* 0,164 0,155 0,489**

Valor-p 0,052 0,977 0,724 0,025 0,176 0,200 0,000

SG r -0,176 -0,004 -0,010 0,518** 0,257* 0,279* 0,417**

Valor-p 0,155 0,972 0,939 0,000 0,032 0,019 0,000

*. A correlação é significativa no nível 0,05 (2 extremidades).

**. A correlação é significativa no nível 0,01 (2 extremidades).

Tabela produzida pelo autor

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DISCUSSÃO

Identificou-se que as trabalhadoras ACS na EF de Ipojuca são em sua maioria

mulheres pardas, com em média 40 anos de idade e ensino médio completo, que residem na

comunidade onde são usuárias do serviço do qual trabalha por aproximadamente 10 anos junto

à equipe. Em outros estudos que avaliaram a qualidade de vida dos ACS24-25-26, constatou-se

predomínio feminino, sugerindo haver resistência da comunidade para ACS homens em

algumas situações, como por exemplo, quando envolve assuntos do universo feminino e o

acesso às moradias onde durante o dia só há mulheres27.

O surgimento da ACS enquanto trabalhadora da saúde deu-se primariamente no

combate aos agravos do grupo materno-infantil relacionados às complicações decorrentes da

seca no município de Jucás no Ceará. Recrutando mulheres pobres e respeitadas na

comunidade, sem exigências de escolaridade, essas mulheres trabalhavam no plano

emergencial para diminuição da mortalidade materna e infantil e, subsistiam aos efeitos da seca

garantindo uma renda mensal para a família28.

Contudo, apesar dessa composição ser marcada historicamente, a predileção das

mulheres para ocupar-se deste trabalho não se deu de forma natural, por ser este um trabalho

destinado às mulheres ou por ser este um trabalho feminino. No nosso contexto, essas

concepções estão longe de serem naturais, mas foram construídas socialmente, onde os papéis

das mulheres e dos homens foram forjados, onde o valor da mão de obra feminina sempre foi

desvalorizado em relação aos homens. Ainda hoje mulheres ganham menos que homens para

ocupar e desempenhar a mesma função. Reforçar essas concepções sobre o valor da mulher na

sociedade é interessante ao nosso modelo econômico, para justificar os baixos salários e as

precárias condições de trabalho atribuídas à função, pois, historicamente, a inserção das

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mulheres no mercado de trabalho se deu de maneira precária, marcada pela informalidade, por

salários baixos e por jornadas de trabalho longas.

O fato da maioria das ACS possuírem ensino médio completo com algumas cursando

nível superior além de outras já graduadas, demonstra que sua escolarização é superior a

exigência da Lei n° 11350/2006, das atividades dos ACS24-25-26-27. Alguns autores, têm colocado

que o grau de escolaridade das ACS possui relação direta com a capacidade para aprender e

orientar as famílias29-30, contudo, esta não é uma condição sine qua non, visto que essas

habilidades podem ser desenvolvidas em espaços informais de educação, como por exemplo,

em estratégias de educação permanente em saúde e/ou de educação popular em saúde.

Os resultados quanto ao estado civil das ACS também foram os mesmos encontrados

em outros estudos24-26-27 mas, nota-se entre elas o aumento de solteiras, separadas e

divorciadas25, consoante com as atuais transformações sociais apontando para famílias

monoparentais e chefiadas por mulheres.

Todas as ACS do estudo são moradoras da comunidade, ou seja, são da população

adstrita da equipe de saúde onde trabalha, aspecto previsto na Lei 10.057/ 2002. Também

usuárias do serviço. Há um pressuposto de que essa proximidade facilite na execução de suas

atividades e favoreça a construção de vínculos12-13.

Espera-se que a ACS deva ter características de líder e ser referência na comunidade,

sendo porta voz da comunidade na relação com a equipe de saúde. Essa idealização, somada às

características individuais de cada trabalhador, podem desencadear processos de estresse. Por

ser moradora da comunidade por muito tempo, a ACS desenvolve outros tipos de relações, para

além da relação que se dá entre trabalhador-usuário do serviço de saúde. Por isso, uma visita

domiciliar está permeada por relações íntimas pessoais, aspecto que expõe a ACS às mais

diversas formas de sofrimento da população, de modo que fica difícil, tanto para o usuário,

quanto para a ACS discernir o que é profissional do que é pessoal12.

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O estudo de Menegussi12, revelou que as ACS referem perda da privacidade individual

relacionada à falta de limites das relações ACS-usuários que as assediam em lugares públicos

e/ou nas suas residências, fora do horário de trabalho, inclusive, nas férias, contaminando o

tempo livre das ACS com assuntos do trabalho, provocando sobrecarga de trabalho e desgaste12-

13-15.

A obrigatoriedade de residir em área adstrita da ESF, é questionada pelas ACS15. Para

elas o vínculo entre as ACS e a comunidade não está dado pelo fato de ser moradora, mas é

algo que se constrói, assim como acontece com os demais profissionais da equipe. Essa

proximidade nem sempre é boa, em alguns momentos, as ACS podem ser vistas como

interferência negativa na comunidade, por saber muito sobre os usuários e sobre o que acontece

no bairro. Tal aspecto compromete a segurança pessoal e familiar dos ACS13-15. Para além de

apenas um emprego, ser ACS influencia de diversas formas a relação destas profissionais com

a comunidade, pois as ACS passam a adotar outros comportamentos ao se tornarem referência

do cuidado à saúde12.

Aspectos positivos relacionados ao fato de morar na região, são referidos quanto à

vantagem de morar perto do trabalho e poder fazer o trajeto a pé, gastando em média 18 minutos

no percurso e porque passa a ser conhecedor da rede de saúde local, podendo se utilizar desse

conhecimento para interesses individuais12.

No que se refere à qualidade de vida, os resultados mostraram que o domínio das

relações sociais foi o melhor avaliado pelas ACS, e, do lado oposto, o domínio do meio

ambiente, com o menor escore24-27-31. Em pesquisas da mesma natureza, há divergência em

relação ao domínio melhor avaliado aqui, o das relações sociais, mas tem sido uma constante

constatar que o domínio meio ambiente tem apresentado os piores resultados25-26. As duas

primeiras questões do WHOQOL-bref, foram avaliadas de forma intermediária, sendo que a

satisfação com a saúde está mais comprometida do que a qualidade de vida geral.

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No domínio ambiental a maioria das ACS afirmaram que o dinheiro que dispõe é

insuficiente para satisfazer suas necessidades, refletindo a realidade dos moradores da própria

comunidade, já que a renda da ACS é semelhante à dos membros das comunidades onde

residem27. Foi observado por Mascarenhas et al (2013) que as ACS com renda familiar inferior

a 1.200,00 reais/mês apresentaram maior comprometimento desse domínio, o que aponta para

necessidade de bens materiais dos agentes31. Contudo, esse aspecto nem sempre se revela como

sendo o mais relevante, dado que problemas relacionados ao não reconhecimento profissional,

ou seja, a importância atribuída ao trabalho das ACS e ao prestígio social por vezes possuem

maior importância13.

Todas as ACS do município possuem vínculo empregatício estável, sendo servidoras

estatutárias, o que não suprime insatisfações, parcialmente explicado pela inexistência dos

benefícios de uma carreira com possibilidade progressão funcional.

A lei 12.994/2014, que fixou o piso salarial da ACS em R$ 1.014,00 (mil e quatorze

reais) mensais e que define as diretrizes que devem compor os planos de cargos e carreiras

(PCC) é muito recente, e atribui aos municípios o papel de construir seus PCC32. Para além das

dificuldades que dependem da vontade política dos gestores municipais, há também limites que

residem na capacidade de gestão financeira dos municípios, além da constituição da profissão,

pois, o fato de exigir apenas a formação de nível fundamental, torna difícil criar estratégias de

desenvolvimento na carreira, haja vista que, ao exigir-se da ACS apenas saber ler e escrever33,

torna mais fácil desvaloriza-lo do que o contrário.

Diferente do que se imagina e afirma Kluthcovsky26, as ACS de nossa pesquisa têm

seu acesso aos serviços de saúde muito restrito, o que pode ser observado com os resultados

identificados nesse estudo, no qual 74,3% responderam de forma intermediaria a ruim à questão

relacionada ao acesso aos serviços de saúde. O fato de ser profissional de saúde, integrante de

uma equipe que cobre a sua própria residência, de possuir conhecimentos relacionados a saúde

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e a rede de atenção à saúde local, não induz automaticamente o acesso ao serviço de saúde,

mas, sugere pensar que apesar desses profissionais integrarem o setor, esbarram-se nos mesmos

entraves de acesso que a sua comunidade respectiva.

A respeito disso, estudos qualitativos têm apontado que há uma problemática do acesso

da ACS ao serviço de saúde e inicia-se no fato de serem usuário do serviço e profissional

simultaneamente12-15. Nesses estudos evidencia-se o constrangimento dos ACS consultarem-se

com os profissionais que estabelecem relações profissionais e pessoais cotidianamente, além de

não ser confortável ter um prontuário com informações íntimas suas e de seus familiares no

serviço a disposição de seus colegas de trabalho.

Essa sensação corrobora, para que não exista acompanhamento longitudinal da ACS e

sua família, resultando no uso do serviço de forma pontual. Outra problemática levantada é que

as ACS são conhecedoras das limitações do serviço e, muitas vezes não se enxergam como

usuárias do mesmo. Além disso, alguns ACS se preocupam, também, com a percepção que a

comunidade tem em relação a isso. Nessa perspectiva, Jardim e Lancman, (2009) destacam

haver reclamações por parte da população, como se as ACS e seus familiares fossem

privilegiados no uso dos serviços de saúde, em detrimento dos demais moradores da

comunidade15.

Ainda sobre acesso, um aspecto que influencia na qualidade de vida de uma pessoa, é

o acesso ao lazer. Os resultados encontrados nesse estudo foram ruins para essa questão. Pode

interferir no acesso ao lazer, a disponibilidade de recursos financeiros e o local onde se vive,

elementos já problematizados. As dificuldades resultantes do transporte deficitário, limita a

saída dos moradores do bairro que, por estarem em geral na periferia, não contam com

dispositivos públicos de lazer. Contudo, apesar das avaliações negativas relacionadas a aspectos

diretamente ligados ao local onde mora, as ACS de um modo geral estão, além de satisfeitas

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com esse lugar, se sentindo seguras. Essa segurança pode estar relacionada ao sentimento de

pertença dessas trabalhadoras, que não raro, vive no bairro desde que nasceu.

O domínio das relações sociais foi o melhor avaliado e é composto por apenas 3

questões, implicando em menor representação dentre o total de questões, o que torna o domínio

instável para a análise psicométrica em relação aos demais domínios23. Apesar disso, a

avaliação do domínio demonstra coerência com as habilidades da profissional ACS, pois a

natureza do seu trabalho pressupõe trabalho em equipe exigindo relações profissionais

saudáveis e a criação de vínculos estáveis com os membros da comunidade.

É nas relações sociais estabelecidas no seu cotidiano de trabalho que a credibilidade

da ACS se constitui15. Sem credibilidade não há confiança e, sem ela, o papel de educador em

saúde, propagador de alternativas que influenciam positivamente na saúde das pessoas fica

comprometido, além do papel de vigilante à saúde da família. Por precisar acompanhar a família

de forma sistemática e contínua, na perspectiva da prevenção, proteção e detecção precoce de

doenças e agravos, é necessário então, a confiança dos moradores para poder adentrar nas suas

casas e conversar25. Contudo, essa credibilidade é dinâmica e precisa ser reassegurada a todo

instante, o que depende diretamente da habilidade do serviço em acolher, encaminhar e resolver

as demandas15.

Além dessa relação estritamente técnica, outras relações são estabelecidas em virtude

da proximidade e disponibilidade da ACS na comunidade, como a relação que se estabelece

entre as pessoas que frequentam os mesmos espaços sociais e entre vizinhos. Daí pode surgir

uma espécie de cumplicidade que nem sempre é benéfica, como em situações onde as ACS

acabam sabendo de condições de saúde ou de vida dos moradores que são sigilosas,

comprometendo sua segurança15-25.

Essas relações tornam as ACS, profissionais mais vulneráveis que os demais da ESF,

pela multiplicidade de papéis que assume e pela diferenciada inserção na comunidade,

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expondo-se diretamente às situações vivenciadas pela comunidade, gerando demandas

causadoras de frustrações. Essa situação pode desencadear a sensação de que a competência

para a realização do trabalho é frágil demonstrando desgaste emocional, além de tornar difícil

o distanciamento entre o que é trabalho, do que não é 12-15-34.

Já o domínio físico apresentou um resultado intermediário, contrariando alguns

estudos anteriores, onde esse domínio se destacou por ser melhor avaliado25-27. Aqui, o que

chama a atenção é o desempenho da questão relacionada a dor, pois 88,5% das ACS que

afirmam sentir dor informa que isso atrapalha em algum grau suas atividades diárias. Entre as

ACS 75,2% alegam precisar de algum tratamento médico para levar a sua vida diária.

No estudo de Mascarenhas24, onde se buscou avaliar o impacto da dor na qualidade de

vida dos ACS, se identificou que os membros inferiores e a coluna são as regiões do corpo que

mais acometidas pela dor musculoesquelética nos ACS. O mesmo estudo revela que a categoria

profissional é a mais acometida por dores entre os profissionais de saúde, aspecto diretamente

relacionado ao processo de trabalho desenvolvido, que envolve caminhadas na comunidade por

ruas sem infraestrutura, posições inadequadas adotadas durante visitas domiciliares, além do

uso de mochilas ou bolsas onde acondicionam o material de trabalho (impressos e balança para

pesagem de crianças). A dor, apesar de estar diretamente relacionada ao domínio físico, é

transversal, na medida em que gera estresse e sentimentos negativos, interferindo nas relações

sociais e psicológicas.

Apesar disso, a maioria das ACS afirmam estarem satisfeitos com a sua capacidade

para o trabalho, ou seja, para elas a dor não afeta a sua capacidade para o trabalho, o que pode

estar relacionado com a sua capacidade de locomoção, também avaliada de forma positiva, já

que o trabalho da ACS não se dá dentro da estrutura física do serviço de saúde, mas sim nas

ruas da comunidade, com a comunidade26.

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No domínio psicológico observou-se que as questões que possuem relação direta com

a autoestima, foram bem avaliadas. Nesse quesito, concorda-se com o estudo de Mascarenhas

et. al. (2013), que destaca haver associação entre escolaridade com o domínio psicológico,

quanto mais escolarizado é a ACS, melhor será sua percepção sobre esse domínio da qualidade

de vida31. No nosso estudo, a grande maioria das ACS possuem ensino médio completo. Em

detrimento da exigência de apenas nível fundamental.

A questão pior avaliada diz respeito aos sentimentos negativos, revelados pelas ACS,

como frequentes. Telles e Pimenta (2009) apontam que o desgaste físico e emocional neste

contexto de trabalho é determinante para o desenvolvimento de transtornos mentais e

comportamentais, incluindo os de humor, ansiedade, depressão, fobias, distúrbios

psicossomáticos e a síndrome de Burnout33. Tais sentimentos são potencializados pela falta de

resolutividade das demandas ao serviço, que prejudica a credibilidade do profissional diante da

população e com relação às demandas que necessitam de encaminhamentos para outros setores,

onde as ACS muitas vezes se comprometem por ser considerada a única porta voz do Estado

na comunidade, isso associado a uma alta exigência no trabalho e a desvalorização do mesmo13-

15-35.

A correlação entre os escores dos domínios e percepção sobre a própria QV revelou

que o domínio ambiental possui maior correlação com a qualidade de vida geral. A regressão

linear demonstrou que os domínios em conjunto, explicaram apenas 36,16% da qualidade de

vida geral das ACS, sendo que praticamente 2/3 desse percentual é de responsabilidade do

domínio ambiental. Análises da mesma natureza obtiveram resultados diferentes, apontando o

domínio físico com maior correlação com a qualidade de vida geral31. Apesar da população do

estudo relatar a dor como um problema expressivo, o domínio meio ambiente, comportou-se

como um fator mais importante na determinação da qualidade de vida das ACS.

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29

O domínio que apresentou maior correlação com a auto percepção com sua saúde

geral, foi o domínio físico que obteve a maior correlação, seguido do domínio ambiental. Nesse

caso, os domínios explicaram 58,6% da saúde geral das ACS e os domínios com maior

correlação corresponderam a 42,2% desse percentual. Essas correlações fazem sentido. O

domínio ambiental trata de questões mais relacionadas as condições de vida, do contexto social,

que depende de ações intersetoriais de nível macro. O domínio físico está mais relacionado às

questões da ordem da saúde, ou seja, nos resultados que esse contexto tem produzido no corpo

físico e psíquico dessas trabalhadoras.

Já entre os domínios, observa-se que há uma correlação moderada positiva entre todos

eles, ou seja, quanto melhor estiver um domínio da qualidade de vida, os demais também

estarão. Destaca-se as correlações existentes entre o domínio físico e o domínio psicológico e

entre o psicológico e o ambiental.

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30

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sendo assim, pode se dizer que o perfil de ACS de Ipojuca é formado majoritariamente

por mulheres negras com 40 anos de idade em média, com ensino médio completo, moradoras

da comunidade e com aproximadamente 10 anos de trabalho com a equipe.

O domínio avaliado mais negativamente foi o ambiental. Acreditamos que esses

resultados discutidos apontam para a necessidade de trazer ao debate o item que trata da

obrigatoriedade da ACS ser moradora do bairro onde trabalha, questionando também o conceito

de vínculo utilizado pelas normas legais que regimentam a profissão. Além disso, o fator

remuneração foi um dos mais mal avaliados, constatando a necessidade de formulação e

implementação de planos de cargos que carreiras para estes profissionais no âmbito municipal.

Esse também foi o domínio mais importante quando correlacionado à qualidade de vida geral

e o segundo mais importante quando correlacionado à percepção sobre a saúde geral,

corroborando a necessidade de repensar esses critérios.

Contudo, temos que ressaltar que o domínio ambiental aborda temas intersetoriais

intrínsecos às condições de desenvolvimento social local, como transporte, acesso a lazer e

outros equipamentos sociais. O município estudado possui o maior PIB per capta do estado de

Pernambuco, o que não necessariamente vem sendo revestido em melhoria das condições de

vida de sua população, demonstrando uma grande concentração de renda e desigualdade social.

Já o domínio social obteve melhor avaliação, demonstrado que as ACS têm feito boas

relações interpessoais, na perspectiva de obter dessas relações, apoio cotidiano para a vida no

trabalho. Um aspecto que pode parecer contraditório é o fato de que essas relações podem ser

favorecidas pelo fato das ACS serem moradoras do bairro ondem atuam (colocado

anteriormente como um ponto negativo), e por isso, recebem da população maior confiança.

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Mas, essa não é uma contradição em si, pois uma coisa não elimina a outra, e sim aponta para

o fato de que morar na comunidade traz vantagens e desvantagens.

É importante atentar para os limites deste estudo que estão relacionados ao seu desenho

epidemiológico, pois estudos transversais não permitem a determinação de causalidades entre

variáveis, nem análises temporais entre exposição e desfecho em análises de risco, estando

restritos ao estabelecimento de associações. Por essas características, os sujeitos da pesquisa

foram pessoas que teoricamente estavam saudáveis para o trabalho, ou seja, ACS que por

ventura estivessem afastadas por motivos relacionados ao trabalho deixaram de contribuir com

a pesquisa. Esse déficit omitiu dados que interfeririam de forma importante em questões

diretamente relacionadas a saúde.

Além disso, o questionário, por trabalhar com escala do tipo Likert, apresenta alguns

problemas. Um exemplo onde este fato pode ser ilustrativo está na questão de número 3, onde

se pergunta: “em que medida você acha que sua dor (física) impede você de fazer o que você

precisa?” Mesmo que a resposta seja de que a dor não impede em nada, ela estará dizendo que

possui dor. Ou seja, o questionário não dá a respondente a oportunidade de dizer que não possui

dor.

Apesar das dificuldades em avaliar a qualidade de vida, dada a sua complexidade

inerente à sua natureza multidimensional e subjetividade, este estudo permitiu problematizar a

qualidade de vida dos Agentes Comunitários de Saúde da Família levantando questões que

estão intimamente relacionadas ao processo de trabalho, possibilitando pensar alternativas que

visem a redução do sofrimento psíquico e físico desses profissionais. Aponta, pois, para a

necessidade de estudos que se debrucem com mais profundidade nessa problemática, a fim de

subsidiar a construção de políticas públicas que visem a garantia de uma boa qualidade de vida

das ACS no seu cotidiano de vida e de trabalho.

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36

APÊNDICE A

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37

APÊNDICE B

ANEXO 1

Instrumento de Avaliação da Qualidade de Vida da Organização Mundial de

Saúde – Abreviado (WHOQOL – BREF).

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38

Por favor, leia cada questão, veja o que você acha e circule no número e lhe parece a

melhor resposta.

muito

ruim ruim

nem ruim,

nem boa boa muito boa

1 Como você

avaliaria sua

qualidade de

vida?

1 2 3 4 5

muito

insatisfeito insatisfeito

nem

insatisfeito

, nem

satisfeito

satisfeito muito

satisfeito

2 Quão

satisfeito(a) você

está com a sua

saúde?

1 2 3 4 5

As questões seguintes são sobre O QUANTO você tem sentido algumas coisas nas últimas

duas semanas.

nada

muito

pouco

mais ou

menos bastante extremamente

3 Em que medida

você acha que

sua dor (física)

impede você de

fazer o que você

precisa?

1 2 3 4 5

4 O quanto você

precisa de algum

tratamento

médico para

levar sua vida

diária?

1 2 3 4 5

5 O quanto você

aproveita a vida? 1 2 3 4 5

6 Em que medida

você acha que a

sua vida tem

sentido?

1 2 3 4 5

7 O quanto você

consegue se

concentrar?

1 2 3 4 5

8 Quão seguro(a)

você se sente em

sua vida diária?

1 2 3 4 5

9 Quão saudável é

o seu ambiente

físico (clima,

barulho,

poluição,

atrativos)?

1 2 3 4 5

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As questões seguintes perguntam sobre QUÃO COMPLETAMENTE você tem sentido

ou é capaz de fazer certas coisas nestas últimas duas semanas.

nada

muito

pouco médio muito completamente

10 Você tem

energia

suficiente para

seu dia-a-dia?

1 2 3 4 5

11 Você é capaz de

aceitar sua

aparência física? 1 2 3 4 5

12 Você tem

dinheiro

suficiente para

satisfazer suas

necessidades?

1 2 3 4 5

13 Quão

disponíveis para

você estão as

informações que

precisa no seu

dia-a-dia?

1 2 3 4 5

14 Em que medida

você tem

oportunidades de

atividade de

lazer?

1 2 3 4 5

As questões seguintes perguntam sobre QUÃO BEM OU SATISFEITO você se sentiu a

respeito de vários aspectos de sua vida nas últimas duas semanas.

muito

ruim ruim

nem ruim,

nem bom bom muito bom

15 Quão bem você

é capaz de se

locomover?

1 2 3 4 5

16 Quão

satisfeito(a) você

está com o seu

sono?

1 2 3 4 5

17 Quão

satisfeito(a) você

está com sua

capacidade de

desempenhar as

atividades do

seu dia-a-dia?

1 2 3 4 5

18 Quão

satisfeito(a) você

está com sua

capacidade para

o trabalho?

1 2 3 4 5

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19 Quão

satisfeito(a) você

está consigo

mesmo?

1 2 3 4 5

20 Quão

satisfeito(a) você

está com suas

relações pessoais

(amigos,

parentes,

conhecidos,

colegas)?

1 2 3 4 5

21 Quão

satisfeito(a) você

está com sua

vida sexual?

1 2 3 4 5

22 Quão

satisfeito(a) você

está com

o apoio que você

recebe de seus

amigos?

1 2 3 4 5

23 Quão

satisfeito(a) você

está com

as condições do

local onde

mora?

1 2 3 4 5

24 Quão

satisfeito(a) você

está com o

seu acesso aos

serviços de

saúde?

1 2 3 4 5

25 Quão

satisfeito(a) você

está com o seu

meio de

transporte?

1 2 3 4 5

As questões seguintes referem-se a COM QUE FREQUÊNCIA você sentiu ou

experimentou certas coisas nas últimas duas semanas.

nunca algumas

vezes

frequentem

ente

muito

frequente

mente

sempre

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26 Com que

freqüência você

tem sentimentos

negativos tais

como mau

humor,

desespero,

ansiedade,

depressão?

1 2 3 4 5

Você tem algum comentário sobre o questionário?

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________

OBRIGADO PELA SUA COLABORAÇÃO

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ANEXO 2