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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA MESTRADO EM SAÚDE COLETIVA CONSUMO ALIMENTAR DE GORDURA SATURADA, AÇÚCAR DE ADIÇÃO E INDICADORES DE RESPOSTA GLICÊMICA E SUA ASSOCIAÇÃO COM MARCADOR BIOQUÍMICO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA EM UMA POPULAÇÃO ASSISTIDA PELO PROGRAMA MÉDICO DE FAMÍLIA DO MUNICÍPIO DE NITERÓI RIO DE JANEIRO, BRASIL. LUCIANA GUERRA CARDOSO NITERÓI 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA

MESTRADO EM SAÚDE COLETIVA

CONSUMO ALIMENTAR DE GORDURA SATURADA, AÇÚCAR DE ADIÇÃO E

INDICADORES DE RESPOSTA GLICÊMICA E SUA ASSOCIAÇÃO COM

MARCADOR BIOQUÍMICO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA EM UMA

POPULAÇÃO ASSISTIDA PELO PROGRAMA MÉDICO DE FAMÍLIA DO

MUNICÍPIO DE NITERÓI – RIO DE JANEIRO, BRASIL.

LUCIANA GUERRA CARDOSO

NITERÓI

2018

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LUCIANA GUERRA CARDOSO

CONSUMO ALIMENTAR DE GORDURA SATURADA, AÇÚCAR DE ADIÇÃO

E INDICADORES DE RESPOSTA GLICÊMICA E SUA ASSOCIAÇÃO COM

MARCADOR BIOQUÍMICO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA EM UMA

POPULAÇÃO ASSISTIDA PELO PROGRAMA MÉDICO DE FAMÍLIA DO

MUNICÍPIO DE NITERÓI – RIO DE JANEIRO, BRASIL.

Orientadora: Profª Drª Edna Massae Yokoo

Niterói

2018

Dissertação apresentada para

obtenção do título de Mestre em Saúde

Coletiva no Programa de Pós-

Graduação em Saúde Coletiva

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C268

Cardoso, Luciana Guerra

Consumo alimentar de gordura saturada,

açúcar de adição e indicadores de resposta

glicêmica e sua associação com marcador

bioquímico da insuficiência cardíaca em uma

população assistida pelo programa Médico de

Família do município de Niterói – Rio de

Janeiro, Brasil/ Luciana Guerra Cardoso, 2018.

84 f.

Orientadora: Edna Massae Yooko.

Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva)–

Universidade Federal Fluminense, Faculdade de

Medicina, 2018.

1. Consumo alimentar. 2. Índice glicêmico. 3.

carga glicêmica. 4. Insuficiência cardíaca. I.

Titulo.

CDD 613.2

Biblioteca da Faculdade de Medicina – ficha elaborada

pela Bibliotecária Thaíssa Matias – CRB7: 5764.

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A Dino da Silva Pereira Guerra (in memoriam), ser humano

formidável, brilhante e de notável presença de espírito,

que certamente está contagiando e lecionando aos anjos.

Que sua vocação para o conhecimento nunca nos falte.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, por todas as conquistas e superações da minha vida e da minha

jornada profissional e peço para que sempre esteja ao meu lado para me proteger, diante

de mim para me conduzir, atrás de mim para me guardar, abaixo de mim para me

amparar, dentro de mim para me conservar e acima de mim para me abençoar.

Agradeço à minha mãe Dulce, à minha irmã Larissa e à minha família pela

compreensão das horas subtraídas de nosso convívio em função deste trabalho e por me

fazerem quem sou.

Agradeço à minha orientadora, a professora Edna Massae Yokoo por toda dedicação e

paciência durante a realização deste trabalho, sempre baseadas numa relação respeitosa

e engrandecedora.

Agradeço aos professores e funcionários do Instituto de Saúde Coletiva, que com o seu

trabalho, contribuem para o nosso aperfeiçoamento profissional.

Agradeço aos colegas de turma, que compartilhando as vitórias, as angústias, as dúvidas

e os acertos, me impulsionaram na caminhada. Em especial agradeço à Ana Beatriz dos

Reis Rodrigues pelo incentivo, carinho e consideração que, na maioria das vezes, julgo

não ser merecedora.

Agradeço à Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, por permitir que eu me

dedicasse integralmente ao mestrado para me tornar uma servidora mais qualificada e

hábil no desempenho da minha função.

Agradeço ao Instituto de Nutrição Josué de Castro da Universidade Federal do Rio de

Janeiro, ao Serviço de Nutrição e Dietética do Hospital Universitário Pedro Ernesto da

Universidade Estadual do Rio de Janeiro e à Escola de Nutrição Emília de Jesus

Ferreiro da Universidade Federal Fluminense pela contribuição na minha formação

profissional anterior a esta etapa.

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Agradeço aos pacientes que integraram o estudo, aos docentes, pós-graduandos, alunos

e outrem, que de alguma forma contribuíram para que o projeto DIGITALIS se

concretizasse, e consequentemente, tornasse possível a execução deste trabalho.

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“Não deixe portas entreabertas

Escancare-as

Ou bata-as de vez.

Pelos vãos, brechas e fendas

Passam apenas semiventos,

Meias verdades

E muita insensatez.”

Flora Figueiredo

“Não coma a vida com garfo e faca. Lambuze-se.”

Mário Quintana

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RESUMO

INTRODUÇÃO: A alimentação tem demonstrado possuir relação com a insuficiência

cardíaca e seus fatores de risco. Entretanto, a relação, mais especificamente, entre as

características da dieta habitual dos indivíduos e o peptídeo natriurético tipo-B (BNP),

um biomarcador precoce das alterações sofridas pelo coração, ainda não foi amplamente

explorada pela literatura. OBJETIVO: Analisar a associação entre a ingestão de gordura

saturada e de açúcar de adição; além da relação entre o índice glicêmico (IG) e a carga

glicêmica (CG) da dieta, com os valores de BNP. MÉTODOS: Dados do DIGITALIS,

estudo transversal com população de ambos os sexos, de 45 a 99 anos, assistida pelo

Programa Médico de Família da prefeitura de Niterói, RJ – Brasil. Integraram o

presente estudo indivíduos com informações sobre ingestão alimentar, avaliada através

de questionário de frequência alimentar, e dosagem do BNP, realizada pelo método da

quimioluminescência. Foi utilizada regressão gama com link de log para as variáveis de

interesse ajustadas para: sexo, idade, índice de massa corporal, cor da pele,

escolaridade, presença de hipertensão e diabetes mellitus, valor energético total e, no

caso do IG e da CG, inclusive para as fibras. Foram considerados significativos os

valores de p≤0,05. RESULTADOS: 414 participantes, com média de idade de 58,6 anos

(+ 9,5), sendo 63% mulheres e 25% negros. O valor médio do BNP foi de 32,31pg/dl (+

119,3), a média de ingestão foi 15% para o açúcar de adição e 10% para a gordura

saturada em relação ao total de energia. O IG e CG observados na população foram 53,5

(+ 4) e 206,3 (+ 104,2), respectivamente. Na análise ajustada foi demonstrado que a

cada grama de açúcar de adição ingerida, o valor do BNP aumenta em 0,2% (Exp (β)=

1,002; p<0,01) e a cada incremento de uma unidade na CG da dieta, há elevação de

0,4% (Exp (β)=1,004; p<0,01) nos seus níveis com significância estatística. O IG e a

gordura saturada não tiveram associação significativa. CONCLUSÃO: O açúcar de

adição e a CG dietética demonstraram contribuir para a elevação dos níveis séricos de

BNP nesta população.

Palavras-chave: gordura saturada, açúcar de adição, índice glicêmico, carga glicêmica,

peptídeo natriurético tipo-B, insuficiência cardíaca

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ABSTRACT

INTRODUCTION: Feeding has been shown to be related to heart failure and its risk

factors. However, the relationship, more specifically, between the characteristics of the

individual's usual diet and the B-type natriuretic peptide (BNP), an earlier biomarker of

injuries suffered by the heart, has not been widely explored so far by literature. AIM: To

analyze the association between the intake of saturated fat and added sugar; besides the

association between the glycemic index (GI) and the glycemic load (GL) of individual's

diet, with BNP values. METHODS: Data from DIGITALIS, a cross-sectional study

with a population of both sexes, aged 45 to 99 years, assisted by the Family’s Medical

Program of Niterói city hall, RJ - Brazil. Were included in the present study individuals

with information about their food intake, evaluated through a food frequency

questionnaire, and BNP dosage, performed by the chemiluminescence method. Link log

gamma regression was applied for variables of interest adjusted for: sex, age, body mass

index, ethnicity, schooling, presence of hypertension and diabetes mellitus, total energy

value and, in the case of GI and GL, fibers were included in the model. Were considered

significant p≤0.05. RESULTS: 414 participants, mean age 58.6 years (+ 9.5), 63% were

women and 25% were black. The mean BNP value was 32.31pg/dl (+ 119.3), the

average intake was 15% for added sugar and 10% for saturated fat in relation to total

energy intake. The GI and GL observed in the population were 53.5 (+ 4) and 206.3 (+

104.2), respectively. In the adjusted analysis it was shown that for each gram of added

sugar consumed, the BNP value increases 0.2% (Exp (β)=1.002; p <0.01) and for each

increment of one unit in diet’s GL , there is an increase of 0.4% (Exp (β)=1.004; p

<0.01) at its levels with statistical significance. GI and saturated fat had no significant

association. CONCLUSION: Added sugar and dietary GL demonstrated to contribute

for the rising of serum BNP levels in this population.

Key words: saturated fat, added sugar, glycemic index, glycemic load, B-type

natriuretic peptide, heart failure

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Frequência diária para cada opção de frequência do questionário de

frequência alimentar, p. 40.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Estudos com evidências entre o consumo de gordura saturada e a insuficiência

cardíaca, p. 31.

Tabela 2. Estudos sem evidências entre o consumo de gordura saturada e a insuficiência

cardíaca, p.31.

Tabela 3. Estudos com evidências entre o consumo de açúcares e a insuficiência

cardíaca, p. 32.

Tabela 4. Estudos sem evidências entre o consumo de açúcares e a insuficiência

cardíaca, p. 33.

Tabela 5. Estudos com evidências entre o consumo de gordura saturada e açúcares e a

insuficiência cardíaca, p. 34.

Tabela 6. Estudos sem evidências entre o consumo de gordura saturada e açúcares e a

insuficiência cardíaca, p. 34.

Tabela 7. Características demográficas, socioeconômicas, e de saúde de adultos

participantes e perdas do Projeto DIGITALIS (2011-2012), Niterói, Rio de Janeiro,

Brasil, p. 38.

MANUSCRITO

Tabela 1. Características demográficas, socioeconômicas, e de saúde de adultos

participantes e perdas do Projeto DIGITALIS (2011-2012), Niterói, Rio de Janeiro,

Brasil, p. 53.

Tabela 2. Características demográficas, socioeconômicas, e de saúde de adultos

participantes do Projeto DIGITALIS (2011-2012), Niterói, Rio de Janeiro, Brasil, p. 57.

Tabela 3. Coeficientes da análise bruta do BNP com açúcar de adição, gordura saturada,

índice glicêmico, carga glicêmica e as variáveis de ajuste de adultos participantes do

Projeto DIGITALIS (2011-2012), Niterói, Rio de Janeiro, Brasil, p. 58.

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Tabela 4. Coeficientes ajustados da associação do BNP com o açúcar de adição, gordura

saturada, índice glicêmico e carga glicêmica de adultos participantes do Projeto

DIGITALIS (2011-2012), Niterói, Rio de Janeiro, Brasil, p. 59.

Tabela 5. Os dez (10) alimentos que mais contribuem para os teores de açúcar de

adição, índice glicêmico, carga glicêmica e gordura saturada na alimentação habitual de

adultos participantes do Projeto DIGITALIS (2011-2012), Niterói, Rio de Janeiro,

Brasil, p. 60.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AGS Ácidos graxos saturados

BNP Peptídeo natriurético tipo-B

CC Circunferência da cintura

CG Carga glicêmica

DAC Doença arterial coronariana

DASH Dietary Approaches to Stop Hypertension

DCV Doenças cardiovasculares

DM Diabetes mellitus

HAS Hipertensão arterial sistêmica

IC Insuficiência cardíaca

IG Índice glicêmico

NT-próBNP Peptídeo natriurético tipo B N-terminal

OMS Organização Mundial de Saúde

PMF Programa Médico de Família

POF Pesquisa de Orçamento Familiar

QFA Questionário de frequência alimentar

SUS Sistema Único de Saúde

VET Valor energético total

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APRESENTAÇÃO

No ano de 2005 concluí a graduação em Nutrição na Universidade Federal do

Rio de Janeiro e no ano seguinte, iniciei no Programa de Residência Multiprofissional

da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Em seguida trabalhei no Hospital

Universitário Antônio Pedro por dois anos e no primeiro ano realizei pós-graduação em

Nutrição Clínica pela Escola de Nutrição da Universidade Federal Fluminense. Há 8

anos atuando como nutricionista na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro,

decidi fazer o mestrado, para me aperfeiçoar e contribuir para a saúde da comunidade

acadêmica que estou inserida através da minha atuação profissional.

Esta dissertação é baseada em dados do estudo DIGITALIS “Estudo da

Prevalência de Insuficiência Cardíaca em Indivíduos Cadastrados no Programa Médico

de Família – Niterói” coordenado pelo professor Antônio José Lagoeiro Jorge do

Programa de Pós-graduação em Ciências Cardiovasculares e pela professora Maria

Luiza Garcia Rosa do Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva, ambos da

Universidade Federal Fluminense, e aconteceu entre os anos 2011 e 2012. A referida

pesquisa recebeu financiamento pelo Programa de Fomento à Pesquisa (FOPESq/UFF).

Dados parciais foram apresentados no X Congresso de Epidemiologia em

Florianópolis e no IUNS 21st International Congress of Nutrition em Buenos Aires,

ambos em 2017.

A estrutura do presente trabalho é: (1) Introdução, que aborda de forma resumida

as associações encontradas na literatura entre a exposição, ingestão alimentar de gordura

saturada, açúcar de adição e os indicadores da resposta glicêmica, e o desfecho, valores

do peptídeo natriurético tipo-B; (2) Revisão da Literatura, que busca avaliar aspectos

relacionados ao consumo alimentar atual das populações, além de aspectos relacionados

ao peptídeo natriurético tipo-B e sua relação com a insuficiência cardíaca. São

apresentados também fundamentos fisiopatológicos dessa associação, propiciando,

sustentação teórico-científica da hipótese do estudo, além de um apanhado dos

principais estudos relacionados com o tema; (3) Objetivos, onde foram descritos os

propósitos do estudo; (4) Justificativa, que apresenta a importância do presente estudo;

(5) Métodos, onde foram descritos todos os procedimentos e técnicas utilizados nas

etapas do estudo, que incluíram coleta, tratamento e análise dos dados; (6) Resultados e

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Discussão, que foram apresentados na forma de manuscrito de artigo em sua versão

preliminar e (7) Considerações Finais, que traz as conclusões do estudo; (8) Referências

bibliográficas; e ainda, integram essa dissertação os anexos.

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SUMÁRIO 1. Introdução ................................................................................................................... 17

2. Revisão da literatura ................................................................................................... 20

2.1. Consumo alimentar mundial ............................................................................... 21

2.2. Consumo alimentar no Brasil ............................................................................. 22

2.3. Consumo alimentar em Niterói ........................................................................... 23

2.4. Açúcar de adição ................................................................................................. 24

2.5. Indicadores de resposta glicêmica ...................................................................... 25

2.6. Insuficiência cardíaca ........................................................................................ 26

2.6.1. Peptídeo natriurético tipo-B.........................................................................28

2.7. Consumo alimentar e insuficiência cardíaca ...................................................... 30

2.7.1.Gordura saturada e insuficiência cardíaca ................................................... 30

2.7.2.Açúcares e insuficiência cardíaca ................................................................ 32

2.7.3.Gordura saturada, açúcares e insuficiência cardíaca .................................... 33

3. Justificativa ................................................................................................................. 35

4. Objetivo ...................................................................................................................... 36

4.1.Objetivo geral ...................................................................................................... 36

4.2.Objetivos específicos ............................................................................................ 36

5. Métodos ...................................................................................................................... 37

5.1.Tipo de estudo ..................................................................................................... 37

5.2. População do estudo ........................................................................................... 37

5.3. Elegibilidade ....................................................................................................... 38

5.3.1. Critérios de inclusão .................................................................................... 38

5.3.2. Critérios de exclusão ................................................................................... 38

5.4. Coleta de dados ................................................................................................... 39

5.5. Variáveis do estudo..............................................................................................39

5.5.1. Consumo alimentar ..................................................................................... 39

5.5.1.1. Gordura saturada e açúcar de adição.......................................................40

5.5.1.2. Índice glicêmico e carga glicêmica..........................................................41

5.5.2. Peptídeo natriurético tipo-B.........................................................................41

5.5.3. Índice de massa corporal..............................................................................41

5.5.3.1. Massa corporal.........................................................................................42

5.5.3.2. Estatura....................................................................................................42

5.5.4. Sexo. ............................................................................................................ 42

5.5.5. Idade.............................................................................................................42

5.5.6. Cor da pele .................................................................................................. 43

5.5.7. Escolaridade ................................................................................................ 43

5.5.8. Hipertensão arterial sistêmica ..................................................................... 43

5.5.9. Diabetes mellitus ......................................................................................... 43

5.6. Análise estatística ............................................................................................... 44

6. Considerações éticas ................................................................................................... 45

7. Resultados ................................................................................................................... 46

7.1. Manuscrito............................................................................................................47

8. Considerações finais....... ........................................................................................... 74

9. Referências bibliográficas............................................................................................75

10. Anexos.......................................................................................................................86

10.1. Termo de consentimento livre e esclarecido......................................................86

10.2. Questionário de frequência limentar..................................................................87

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17

1. Introdução

Dados da Organização Mundial de saúde (OMS) mostraram que no ano de 2008, as

doenças cardiovasculares (DCV), foram responsáveis pelo óbito de 17 milhões de

pessoas (MENDIS et al, 2011). No Brasil os números são igualmente alarmantes, sendo

as DCV responsáveis por mais de 30% das causas de mortes (SIMÃO et al, 2013) e

representando a terceira causa de internações no Sistema Único de Saúde (SUS), com

mais de um milhão de hospitalizações no ano de 2007 (BOCCHI et al, 2009).

A insuficiência cardíaca (IC) é a principal causa de hospitalização por DCV no

Brasil. Em 2007 respondeu por 2,6% das hospitalizações e por 6% dos óbitos

registrados pelo SUS, consumindo 3% do total de recursos utilizados para atender todas

as internações realizadas pelo sistema, o que corresponde a um montante de 230

milhões de reais (BOCCHI et al, 2009). A doença é uma síndrome clínica complexa

com alterações cardíacas estruturais ou funcionais que prejudicam a capacidade do

enchimento e bombeamento ventricular (HUNT et al, 2009). Apresenta prevalência e

letalidade crescentes com o avançar da idade (FILHO, 2005) e apesar de estar sendo

observada redução da mortalidade por DCV no país (MANSUR & FAVARATO, 2012),

a IC permanece com taxas de internação e mortalidade relevantes (GAUI et al, 2014;

FILHO, 2005).

Em resposta a uma injúria como hipervolemia ou hipertensão, tipicamente

encontrados na IC, o miocárdio produz o peptídeo natriurético tipo B (BNP) (KIM &

JANUZZI, 2011). Liberado principalmente pelos ventrículos, sua secreção se dá na

forma ativa, BNP, e em igual proporção na fração peptídeo natriurético tipo B N-

terminal (NT-próBNP) (WETTERSTEN et al, 2016). O BNP demonstrou estar muito

relacionado com a incidência de IC (VELAGALETI et al, 2010), e vem sendo utilizado

tanto no diagnóstico como no tratamento desta síndrome (CHOW et al, 2017).

Participam do remodelamento cardíaco característico da evolução da IC, a

hipertrofia (GERDES et al, 1992) e apoptose dos miócitos (OLIVETTI et al, 1997),

além da síntese de colágeno (WEBER, 1997). O estresse oxidativo, o processo

inflamatório (AZEVEDO et al, 2015), a hiperinsulinemia (MATSUSHITA et al, 2010)

também contribuem para o quadro. Em relação às alterações metabólicas, o aumento

dos níveis séricos de ácidos graxos livres, triglicerídeos e glicose, expõe o miocárdio a

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18

grande quantidade de substratos, prejudicando o aporte energético do coração. Isto

propicia um quadro de glicolipotoxicidade, no qual o inadequado fornecimento de

energia dificulta o funcionamento adequado do órgão. Portanto, a dieta parece

contribuir para o surgimento da IC (CHESS & STANLEY, 2008), e provavelmente,

poderia influenciar nos níveis do BNP.

Não há recomendação dietética específica para portadores de IC, sendo

preconizados os mesmos níveis de ingestão da população em geral (ERSHOW &

COSTELLO, 2006). Frequentemente, estes pacientes não atingem a recomendação

diária de nutrientes, possuindo uma alimentação inadequada (GROSSNIKLAUS et al,

2008). O seguimento de uma dieta balanceada é importante para a prevenção e

tratamento de doenças crônicas como diabetes mellitus (DM), hipertensão arterial

sistêmica (HAS), DCV, (DESROCHES et al, 2002) contribuindo também para

prevenção (KATZ, 2004) e tratamento da IC (JUILLIÈRE et al, 2006).

Conforme a busca bibliográfica realizada encontrou-se apenas um estudo

abordando a relação entre a alimentação e os peptídeos natriuréticos, neste caso, o NT-

próBNP. No referido estudo foi encontrada redução de seus níveis séricos após um ano

de adesão à dieta mediterrânea, pobre em gordura saturada e açúcar de adição (FITÓ,

2014). Em relação à IC especificamente, já foi verificado que padrão dietético do tipo

DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension), caracterizado por teores reduzidos

de ácidos graxos saturados (AGS) e açúcares de adição, pode ser benéfica para tais

pacientes (RIFAI & SILVER, 2016). Por outro lado, uma avaliação de padrões

dietéticos saudáveis, que incluíam alimentos fontes desta gordura e destes açúcares, não

encontrou associação entre o seguimento de nenhum desses padrões com a incidência de

IC após 22 anos de acompanhamento em população norte-americana (DEL GOBBO,

2015).

Quanto maior a ingestão de açúcar de adição, maiores serão os valores do índice

glicêmico (IG) e da carga glicêmica (CG) da dieta. Estes indicadores de resposta

glicêmica demonstraram associação com o risco de desenvolvimento de DCV

(BURGER et al, 2011; HARDY et al, 2010; BEULENS et al, 2007) e no caso da CG,

inclusive com risco de IC (SIERI et al, 2010; GRAU et al, 2010). Porém, não foi

observada associação entre o maior quartil de IG ou CG e a incidência de IC em estudo

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19

de coorte com mais de trinta mil mulheres suecas durante 9 anos de observação

(LEVITAN et al, 2010).

Uma vez que a participação da alimentação e sua influência nos níveis de BNP

ainda não foi explorada pela literatura, este estudo visa analisar a relação entre a

composição centesimal dietética de gordura saturada e de açúcar de adição; bem como o

papel do IG e da CG dietéticos, e este marcador bioquímico sensível da IC, em uma

população adulta assistida pelo Programa Médico de Família (PMF) de Niterói – Rio de

Janeiro, Brasil.

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20

2. Revisão da literatura

Primeiramente, para atualização sobre o referido tema, foi construído panorama

sobre o consumo alimentar de gordura saturada, de açúcar de adição e dos indicadores

de resposta glicêmica; além do cenário a cerca do BNP.

Em seguida buscou-se um aprofundamento mais específico na literatura, através

dos principais estudos, sobre a relação existente entre a alimentação, incluindo o IG e a

CG da dieta com os peptídeos natriuréticos, bem como com a IC. Tais resultados serão

apresentados de forma resumida em tabelas no item 2.7 da presente dissertação.

Foram incluídos estudos transversais, de coorte ou de intervenção que realizaram

avaliação da ingestão alimentar quanto ao teor de gordura saturada e/ou açúcares,

incluindo os açúcares de adição (percentual em relação ao valor energético total diário

ou gramatura diária); pesquisas que avaliaram os valores de IG e CG da dieta; bem

como trabalhos que avaliaram padrão dietético, caso mostrassem ter investigado a

ingestão desta gordura e/ou destes carboidratos ou alimentos que os contivessem,

integraram esta revisão. A apreciação da ingestão alimentar poderia ter sido realizada

através de questionário de frequência alimentar (QFA), recordatório de 24h ou registro

alimentar.

Os artigos deveriam também ter abordado o BNP ou o NT-próBNP; a incidência

de IC ou o seu prognóstico e até mesmo a função cardíaca. Esta avaliação poderia se dar

através de ecocardiograma, registro em sistema de saúde local, registro no prontuário do

paciente, aplicação de questionário preenchido pelo paciente, exame clínico, marcadores

bioquímicos, internação ou mortalidade.

Foram consultadas primordialmente as bases de dados PUBMED e SCOPUS a

partir dos descritores “natriuretic peptide type-B”, “heart failure”, “diet”, “food”,

“added sugar”, “sugars”, “glycemic index” e “glycemic load” e os artigos deveriam

estar nos idiomas português, inglês ou francês, além de terem sido conduzidos em

adultos. Foram ainda utilizadas as referências bibliográficas dos artigos selecionados, a

fim de localizar outros não encontrados na busca inicial que abordassem o tema de

interesse do presente estudo.

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21

2.1. Consumo alimentar mundial

O crescimento da industrialização e da urbanização que ocorre na maioria dos

países, se relaciona com mudanças no hábito alimentar da população. Observa-se maior

consumo de alimentos, inclusive bebidas, com alta densidade energética, ricos em

gordura e açúcar, pobres em fibras, em detrimento de uma alimentação mais tradicional

(SWINBURN et al, 2004).

Wang e colaboradores (2016) avaliaram o risco de mortalidade por doença arterial

coronariana (DAC) atribuível à ingestão inadequada de gordura saturada e outros

lipídeos em 186 países. No ano de 2010, a ingestão excessiva desta gordura contribuiu

para mais de 250.000 mortes, correspondendo a quase 4% de toda a mortalidade por

DAC no mundo.

Popkin & Nielsen (2003) conduziram um estudo ecológico com o objetivo de

investigar as tendências globais da disponibilidade de adoçante calórico. Este termo foi

empregado ao invés de açúcar de adição porque existe ampla variedade de produtos

similares à sacarose em utilização atualmente. Foi observado no ano 2000, que o

consumo de adoçante calórico per capita aumentou 74 Kcal em relação a 1962. O

percentual de calorias provenientes de adoçante calórico cresceu 32% e representou

elevação de 21% na proporção de carboidratos. Também foram investigadas as fontes

alimentares relacionadas com estas mudanças. Os refrigerantes, bebidas açucaradas à

base de frutas, sobremesas e os doces e geleias foram os maiores contribuidores no

aumento de quilocalorias provenientes de adoçantes calóricos no mundo. Uma revisão

sistemática que buscou avaliar a ingestão dos açúcares em inquéritos representativos de

diversos países, observou que o consumo de açúcar de adição estava superior à

recomendação nos adultos da Islândia, Holanda e Reino Unido, sendo que neste último,

o mesmo foi observado também entre os idosos (Newens & Walton, 2016).

A obesidade é definida como uma condição de ganho de peso indesejável com

níveis anormais de tecido adiposo, devido a um balanço energético positivo, que pode

trazer prejuízos para a saúde dos indivíduos (WHO, 2000), dentre eles, a contribuição

para o desenvolvimento de HAS, DM e DCV (SWINBURN et al, 2004). Além disso, a

obesidade pode ser considerada um fator de risco isolado para o desenvolvimento de IC

(WONG & MARWICK, 2007).

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Segundo dados da OMS de 2014, 40% da população adulta mundial apresentava-

se acima do peso, sendo que dentre estes, 13% seriam obesos

(http://www.who.int/gho/ncd/risk_factors/overweight_text/en/). No Brasil, conforme

dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, metade dos homens adultos

apresenta sobrepeso, sendo que em um quarto foi verificado obesidade. Nas mulheres

foi observado que 48% sofrem de sobrepeso, tendo sido diagnosticado obesidade em um

terço dos casos de excesso de peso do sexo feminino (IBGE, 2010).

2.2. Consumo alimentar no Brasil

Através da análise da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) dos anos 1987/88,

1995/96 e 2002/03, pôde-se perceber que a fração dos açúcares de adição proveniente

do açúcar refinado e outros adoçantes calóricos diminuiu ao longo dos períodos

avaliados. Por outro lado, a disponibilidade dos açúcares de adição provenientes dos

alimentos processados aumentou consideravelmente; de 17,4% em 1987/88 para 35,5%

em 2002/03, enquanto a contribuição do refrigerante aumentou em 200% e a

contribuição dos biscoitos aumentou em 100% (LEVY et al, 2012).

A POF realizada em 2008-2009 identificou quais alimentos tiveram maior

participação no aporte energético total da amostra estudada. Os alimentos foram

agrupados conforme o Guia Alimentar para a População Brasileira e os grupos bolos,

biscoitos e sobremesas, salgadinhos, queijos, bebidas açucaradas, carne e refrigerantes

forneceram as maiores quantidades de energia. Através da inovadora análise da

diferença de energia entre os dias nos quais tais grupos de alimentos foram consumidos

e não consumidos, observou-se que o grupo bolos, biscoitos e sobremesas foi

responsável por 12%, enquanto as bebidas açucaradas responderam por 7% das calorias

totais ingeridas pelos indivíduos (SICHIERI et al, 2015).

Também foi observado que a prevalência de ingestão de gordura saturada acima

do limite recomendado a época, de 7% do consumo total de energia, foi de 82% na

população, sendo que a média percentual de consumo desta gordura em relação ao valor

total de energia foi de aproximadamente 9%. Para o açúcar livre (açúcar de adição

somado ao açúcar proveniente dos sucos), a prevalência global de ingestão acima do

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limite preconizado pelo Ministério da Saúde de 10% do total de energia, foi de 61% na

população estudada. O seu consumo contribuiu com cerca de 14% do valor calórico

total da amostra estudada (IBGE, 2011a). Essa pesquisa também investigou quais

grupos alimentares foram as principais fontes de gordura saturada dietética, sendo eles:

carnes, doces e sobremesas, óleos e gorduras, laticínios e carne processada. Os

alimentos que mais contribuíram para o consumo de açúcar foram bebidas, doces e

sobremesas e laticínios (PEREIRA et al, 2012).

Uma análise adicional desta mesma pesquisa categorizou um grupo de alimentos

denominado “SOFAS” (solid fats and added sugars), alimentos ricos em gordura

saturada, açúcar, além da gordura trans. Foi observado que tais alimentos contribuíram

com 52% do valor energético total, além de 87% da gordura saturada, 98% do açúcar de

adição e 96% do açúcar total ingerido (PEREIRA et al, 2012).

2.3. Consumo alimentar em Niterói

Um estudo realizado com dados da Pesquisa de Nutrição, Atividade Física e

Saúde, teve por objetivo aplicar o Índice de Qualidade da Dieta Revisado em amostra

probabilística da população adulta de Niterói, RJ. Para o cálculo do referido índice

foram utilizadas as informações sobre a ingestão alimentar colhidas através do

recordatório de 24 h, que posteriormente foram organizadas em 12 grupos. Um destes

grupos consistiu na quantidade total de gordura saturada dietética e outro englobava

gorduras sólidas, álcool e açúcar de adição. Em relação à investigação destes dois

componentes, o açúcar de adição apresentou média de ingestão dentro do limite máximo

preconizado para homens e mulheres, enquanto a média da gordura saturada

encontrava-se acima da recomendação e foi superior nos homens (PEREIRA, 2015).

Ainda nesta mesma pesquisa, foi conduzida uma análise com o objetivo de

descrever os itens alimentares mais consumidos por essa população. Na avaliação

individual foi observado que o açúcar refinado, a sacarose, ocupou a quarta posição,

sendo consumido por 63,8% da amostra e representando 5,4% do total energético da

amostra estudada. Já na análise agrupada se considerarmos todos os itens alimentares

fonte de açúcar de adição (açúcar refinado, biscoito, refrigerante, doces,

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chocolate/bombom e bolo), a contribuição foi de 16,4% para as calorias totais ingeridas

(SOUZA et al, 2015).

2.4. Açúcar de adição

De acordo com a OMS, o termo “açúcares” refere-se a todos os monossacarídeos

(glicose, frutose e galactose), dissacarídeos (sacarose, lactose e maltose) e polióis

(sorbitol e manitol). Usualmente, tal termo é usado para os mono e dissacarídeos,

enquanto que a palavra “açúcar” remete exclusivamente à sacarose (WHO, 1998).

Não existe indicação de que os açúcares, quando naturalmente presente nos

alimentos como nas frutas, vegetais e leite podem trazer efeitos adversos à saúde (IOM,

2002). Por outro lado, aqueles adicionados durante o preparo ou processamento de

alimentos, os denominados “açúcares de adição”, estiveram associados com cárie dental

(WHO, 2003), ganho de peso (MALIK et al, 2013), e até mesmo com as DCV (YANG

et al, 2014).

Vale ressaltar que a definição de açúcar de adição não é universal. O

Departamento Norte-americano de Agricultura (United States Department of

Agriculture) define-os como xaropes e outros adoçantes calóricos utilizados em outros

produtos alimentares para dar sabor doce, enquanto os açúcares que ocorrem

naturalmente nos alimentos, como os das frutas ou do leite, não são açúcares

adicionados. Os açúcares de adição podem ser listados como ingrediente da seguinte

forma: açúcar mascavo, xarope de milho, dextrose, frutose, glicose, xarope de milho

rico em frutose, mel, açúcar invertido, lactose, xarope de malte, maltose, melaço, açúcar

bruto, sacarose, trealose, e açúcar turbinado (USDA, 2015). A OMS não utiliza o termo

“açúcar de adição”, mas sim “açúcar livre” que engloba os monossacarídeos e

dissacarídeos adicionados aos alimentos e bebidas pelo fabricante, cozinheiro ou

consumidor, e açúcares naturalmente presentes no mel, xaropes, sucos de frutas e

concentrados de suco de frutas (WHO, 2015).

O principal açúcar de adição utilizado no Brasil é obtido a partir da cana-de-

açúcar pertencente às cultivares provenientes da espécie Saccharum officinarum,

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constituído quase em sua totalidade de sacarose, dissacarídeo formado por glicose e

frutose (MAPA, 2013; ANVISA, 1978).

2.5. Indicadores de Resposta Glicêmica

O IG foi proposto por Jenkins e cols (1981) e visava avaliar a resposta glicêmica

pós-prandial (2 horas) relativa à ingestão de 50 ou 25 g de carboidrato proveniente de

determinados alimentos. A determinação do IG de cada um dos alimentos deu-se pela

média da área sob a curva de minimamente seis indivíduos, expresso em percentual,

calculado em relação à área sob a curva observada para a mesma quantidade de

carboidrato do alimento-referência (glicose, 100%) utilizando a regra trapezoidal

considerando-se apenas a área acima da glicemia de jejum.

Desta forma, este índice fornece uma avaliação qualitativa da ingestão dos

carboidratos dietéticos. Os alimentos podem ser classificados quanto ao valor deste

índice como baixo (≤ 55), moderado (56 - 69) ou elevado (≥ 70) (BURANI, 2006). A

organização Glycemic Index Foundation sugere que para o IG global da dieta ou de uma

refeição ser considerado baixo, deve apresentar valores até 45; moderado entre 46 e 59 e

classificado como alto se os valores forem iguais ou superiores a 60

(http://www.gisymbol.com/about-glycemic-index/).

Este conceito foi extrapolado em 1997, quando a CG foi proposta referindo-se à

exposição cumulativa à glicemia pós-prandial durante um período específico de tempo,

ou seja, um indicador da demanda global de insulina na dieta. É calculada, de forma

indireta, pelo produto do IG do alimento consumido e a quantidade de carboidrato

glicêmico presente no mesmo dividido por 100 (SALMERON et al, 1997; MONRO &

SHAW, 2008). A CG dietética pode ser classificada em baixa (< 80), moderada (80 -

120) ou elevada (> 120) e já os alimentos apresentam baixa CG com valores até 10,

moderada entre 11 e 19 e elevada se possuem valores superiores a 20 (BURANI, 2006).

Nas primeiras 2 horas após uma refeição com alto IG, o incremento de glicose

no sangue pode ser pelo menos duas vezes o de uma refeição com baixo IG com

quantidades idênticas de nutrientes e energia. Esta hiperglicemia relativa em conjunto

com outros hormônios estimula fortemente a liberação de insulina e inibição de

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glucagon, favorecendo uma resposta exacerbada, incluindo a absorção de nutrientes por

tecidos sensíveis à insulina, estimulação da glicogênese e lipogênese e supressão da

gliconeogênese e lipólise.

Entre 2 e 4 horas após uma refeição de alto IG, a absorção de nutrientes do trato

gastrointestinal diminui, mas os efeitos biológicos da insulina alta e do glucagon baixo

persistem, e consequentemente, a concentração de glicose no sangue cai rapidamente.

Aproximadamente 4 a 6 horas após uma refeição de alto IG, as baixas

concentrações circulantes de combustíveis metabólicos desencadeiam uma resposta

hormonal contra-regulatória que restaura a euglicemia estimulando as vias

glicogenolítica e gliconeogênica e eleva a concentração de ácidos graxos livres em

níveis bem acima dos observados após uma refeição de baixo IG; tal combinação

assemelha-se a um estado de jejum prolongado.

Em contraste, após uma dieta de baixo IG, a hipoglicemia e suas sequelas

hormonais não ocorrem durante o período pós-prandial devido à absorção contínua de

nutrientes e ao aumento da produção de glicose hepática, dessa forma, fica evidente que

o consumo de refeições contendo energia e nutrientes idênticos, mas carboidratos

diferentes, pode produzir respostas fisiológicas marcadamente distintas (LUDWIG,

2002).

Dietas de IG e CG elevados demonstraram ter associação com a incidência de

doenças crônicas como DM e DCV (BARCLAY et al, 2008). Também foi observado

em uma metanálise com 14 estudos prospectivos que buscou avaliar a associação entre

IG e CG dietéticos e o desenvolvimento de DCV, incluindo a IC, que o risco relativo foi

13% maior para dietas de IG mais elevado e 23% para dietas de CG mais elevada com

significância estatística (MA et al, 2012).

2.6. Insuficiência cardíaca

A IC é a via final comum da maioria das doenças que acometem o coração e pode

ser definida como uma síndrome complexa e progressiva de caráter sistêmico que

ocasiona inadequado suprimento de sangue para atender as demandas do organismo e o

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principal fator considerado na sua etiologia é a cardiopatia isquêmica crônica (BOCCHI

et al, 2009).

A fisiopatologia da síndrome é caracterizada por alterações no tamanho e na

forma do coração em resposta a uma injúria ou estresse do miocárdio (HUNT, et al

2009). Tais alterações envolvem apoptose (OLIVETTI et al, 1997), mudanças na matriz

extra celular e síntese de colágeno (WEBER, 1997), hipertrofia dos miócitos (GERDES

et al, 1992), englobando um processo gradativo denominado remodelamento cardíaco,

que ocasionará, primeiramente, hipertrofia cardíaca excêntrica e posteriormente,

hipertrofia cardíaca concêntrica, tornando o coração esférico (FRANCIS, 2001).

Outros fatores contribuem para o remodelamento cardíaco, como a ativação no

sistema renina-angiotensina-aldosterona e sistema nervoso simpático (OPIE et al, 2009;

TRIPOSKIADIS et al, 2009), além da participação da norepinefrina, endotelina,

vasopressina e ainda, as citocinas. Tais fatores neurohumorais não só aumentam o

estresse hemodinâmico causando retenção de sódio e vasoconstricção, como também

exercem efeitos tóxicos nas células cardíacas estimulando a fibrose miocárdica. A

hiperinsulinemia, por sua vez, apresenta efeitos que se sobrepõe ao quadro metabólico

em questão através de sua contribuição na retenção do íon Na+, estimulação simpática,

atuação como fator de crescimento facilitando o incremento da massa do coração e

aumento da resposta pressórica à angiotensina II viabilizando a hipertrofia e deposição

de colágeno (MATSUSHITA, 2010).

A IC também é acompanhada por alterações no metabolismo energético. O

coração consome mais energia do que qualquer outro órgão, contraindo cem mil vezes

diariamente, possibilitando o bombeamento de dez toneladas de sangue para o corpo.

Para conseguir a energia necessária, o coração converte a energia química armazenada

nos ácidos graxos e na glicose, em energia mecânica para a interação entre a actina e

miosina nas miofibrilas (NEUBAUER, 2007). A disponibilidade de oxigênio e de

substratos, alterações no metabolismo das moléculas de ATP, ADP, fosfocreatina e

fosfato inorgânico, o papel do íon cálcio e o estado redox têm sido considerados na

etiologia do metabolismo energético cardíaco prejudicado. A contribuição destes fatores

na homeostase metabólica depende da carga mecânica e das condições sistêmicas ao

qual órgão é submetido (VENTURA-CLAPIER et al, 2003). A inabilidade de produzir

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energia em quantidade adequada causa a falência mecânica do coração (NEUBAUER,

2007).

Dessa maneira, a dieta também parece desempenhar um papel no

desenvolvimento da IC. Os mecanismos podem estar relacionados com o aumento dos

níveis séricos de ácidos graxos livres, triglicerídeos e glicose, deixando o miocárdio

exposto a uma grande quantidade de substratos energéticos. Isso pode ter efeito tóxico,

devido à formação de compostos nocivos, como as espécies reativas de oxigênio,

provenientes da glicose e as ceramidas dos ácidos graxos (CHESS & STANLEY,

2008). Este quadro de glicolipotoxicidade pode causar degeneração de miofibrilas e até

mesmo apoptose dos miócitos (DYNTAR et al, 2001). Isto posto, pode-se supor que a

dieta influenciará também nos níveis de BNP.

2.6.1. Peptídeo natriurético tipo-B

O BNP é um neurohormônio sintetizado e liberado principalmente pelos

ventrículos do coração, em resposta à sobrecarga de pressão e volume, provocando

vasodilatação, natriurese e diurese. É inicialmente produzido como pré-próBNP, depois

clivado em próBNP e em seguida convertido no fragmento N-terminal de 76

aminoácidos inativo (NT-próBNP) e no BNP na sua forma biologicamente ativa de 32

aminoácidos, sendo que tal conversão ocorre na proporção de 1:1. O BNP apresenta

meia-vida de aproximadamente 20 minutos, e é eliminado principalmente por receptores

específicos e filtração renal. O NT-próBNP tem uma meia-vida de 1 a 2 horas e é mais

dependente da filtração renal para eliminação (WETTERSTEN & MAISEL, 2016). Os

níveis circulantes de BNP são normalmente muito baixos em indivíduos saudáveis,

porém, em resposta ao aumento do estresse na parede do miocárdio ocasionado por

aumento de volume ou sobrecarga pressórica, como ocorre na IC, o gene responsável

pela produção destes peptídeos é ativado nos cardiomiócitos (KIM & JANUZZI, 2011).

Pode-se esperar que um peptídeo correlacionado com a pressão intracardíaca reflita

prognóstico, sendo que foi demonstrado que o BNP pode prever a evolução tanto de

curto, quanto de longo prazo na IC (WRIGHT & STRUTHERS, 2006).

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Os peptídeos natriuréticos demonstraram relevância para prever a IC em diversos

estudos de coorte prospectivos. No Framingham Heart Study, o BNP mostrou-se um

biomarcador chave na predição da IC (VELAGALETI et al, 2010). O potencial dos

peptídeos natriuréticos para prever o surgimento da IC também foi observado em uma

população norte-americana, com concentrações inicialmente baixas do biomarcador, e

que ao longo de dez anos apresentou elevação dos níveis de NT-próBNP, com

associação estatisticamente significativa com a incidência de IC (GLICK et al, 2013).

Em relação ao tratamento da IC, um estudo francês observou que o tratamento

considerando os níveis de BNP esteve associado com menor risco de internação ou de

mortalidade por IC com significância estatística em comparação com tratamento clínico

convencional (sem considerar os valores do peptídeo) (JOURDAIN et al, 2007). Uma

revisão sistemática da literatura teve por objetivo avaliar se o BNP seria bom preditor de

morbidade/mortalidade em pacientes com qualquer grau de IC e até mesmo nos

assintomáticos. Os autores concluíram que a elevação dos níveis do peptídeo foi

consistentemente forte indicador significativo do prognóstico tanto para os pacientes

que receberam o diagnóstico como para os sem sintomas (Doust & Pietrzak et al, 2005).

Vale ressaltar ainda, que o BNP demonstrou ser um marcador que se altera

precocemente por conta das injúrias sofridas pelo coração. Um estudo italiano teve por

propósito avaliar a efetividade do BNP no diagnóstico da IC e foi observado que os

valores do peptídeo se elevavam conforme os pacientes eram classificados nas

categorias preconizadas pela New York Heart Association, de acordo com a gravidade

do comprometimento funcional do órgão, com significância estatística entre elas

(ASPROMONTE et al, 2006).

Os níveis sanguíneos de peptídeos natriuréticos são afetados por vários fatores

fisiológicos, como idade, sexo e peso corporal. A contribuição do envelhecimento se dá

por alterações típicas da senescência como as cardíacas (hipertrofia do átrio esquerdo,

aumento do pós-carga, disfunção diastólica), e por alterações renais (redução da

degradação e desenvolvimento de resistência à sua ação). As concentrações séricas de

BNP são mais elevadas nas mulheres do que nos homens na ausência de disfunção

cardíaca. Este aumento pode estar relacionado aos níveis de estrogênio, ou a uma

supressão parcial da secreção de BNP e do NT-próBNP associada à testosterona livre. A

presença de obesidade pode interferir na concentração do peptídeo, na medida em que o

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tecido adiposo está intimamente relacionado aos receptores que participam da sua

degradação (DO VALLE et al, 2013).

2.7. Consumo alimentar e insuficiência cardíaca

2.7.1. Gordura saturada e insuficiência cardíaca

A tabela 1 a seguir, mostra estudos com associação entre a ingestão de gordura

saturada e a IC. Um estudo que avaliou consumo alimentar, investigou sua associação

com a mortalidade em um grupo de pacientes portadores de IC. Os dados mostraram

que o consumo elevado de AGS é relevante para maior risco de morte nessa população

(COLLIN-RAMIREZ et al, 2014). Um estudo transversal grego observou que entre

indivíduos adeptos ao padrão mediterrâneo de dieta, havia melhora da função diastólica

com significância estatística em comparação com indivíduos que não seguiam tal

padrão (CHRYSOHOOU et al, 2012). Este padrão dietético também mostrou ser

favorável tanto para a preservação da função sistólica ventricular esquerda como para

melhorar o prognóstico de pacientes acometidos por síndrome coronariana aguda

(CHRYSOHOOU et al, 2010). Outro estudo desta vez com parte da amostra do

National Health and Nutrition Examination Survey, mostrou que a média de consumo

de gordura saturada na população estudada, encontrava-se acima da recomendação e se

relacionava com o surgimento e a progressão da IC (LEMON et al, 2009). Um

acompanhamento de mais de uma década dosou em indivíduos adultos os níveis séricos

de AGS que, por sua vez, refletem a ingestão dietética. Foi observada relação entre o

seu consumo e o desenvolvimento de IC em homens e mulheres norte-americanos

(YAMAGISHI et al, 2008).

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Tabela 1. Estudos com evidências entre o consumo de gordura saturada e a insuficiência cardíaca

Artigo Tipo Objetivo População Duração Principal achado

Colin-Ramirez et al,

2014

Canadá

Ensaio

clínico

randomizado

Avaliar a relação do perfil

lipídico dietético com a

mortalidade em pacientes

com IC

118 indivíduos de

52 a 75 anos

1 ano Limitar o consumo de AGS para

diminuir risco de mortalidade

Chrysohoou et al,

2012

Grécia

Transversal Avaliar a relação entre o

seguimento de dieta

mediterrânea1 e a função

cardíaca

372 indivíduos de

64 + 13 anos

2007 Dieta mediterrânea teve

associação significativa com a

melhora da função diastólica

Chrysohoou et al,

2010

Grécia

Coorte Avaliar adesão à dieta

mediterrânea2 e a função

cardíaca em indivíduos após

evento cardíaco

1.000 indivíduos

com mais de 50

anos

2 anos Maior adesão à dieta

mediterrânea parece preservar a

função sistólica do ventrículo

esquerdo, além de melhorar

prognóstico a longo prazo

Lemon et al, 2009

EUA

Transversal

Avaliar a alimentação de

pacientes com IC

574 indivíduos

com mais de 50

anos

1999-2000

2001-2002

2003-2004

2005-2006

Padrão dietético ruim (87% para

AGS) e pode ter relação com

piora do quadro

Yamagishi et al, 2008

EUA

Coorte Avaliar a associação entre

ácidos graxos plasmáticos e a

incidência de IC

3.575 indivíduos

de 45 a 64 anos

14 anos AGS plasmáticos se

relacionaram de forma positiva

com a incidência de IC 1Carne vermelha e carne processada 2Carne vermelha e carne processada

Por outro lado, estudos que não observaram associação entre consumo de gordura

saturada e IC estão apresentados na tabela 2. Spaderna e colaboradores (2013)

investigaram hábitos dietéticos de pacientes com IC grave e não observaram associação

entre gordura saturada e complicações da síndrome como transplante eletivo,

transplante de urgência ou óbito, mesmo após ajustes. Um estudo prospectivo baseado

numa análise secundária do Physicians Health Study verificou a relação entre AGS

plasmáticos, que refletem a ingestão dietética, e a incidência de IC. Após ajustes, não

foi encontrada associação entre tais lipídeos e o aparecimento da síndrome

(MATSUMOTO et al, 2013).

Tabela 2. Estudos sem evidências entre o consumo de gordura saturada e a insuficiência cardíaca

Artigo Tipo Objetivo População Duração Principal achado

Spaderna,

2013

Alemanha

Coorte Avaliar a associação entre

dieta e o prognóstico de

pacientes com IC em estágio

avançado

318 homens e

mulheres com

53 + 11 anos

11

meses

Após ajustes, a ingestão de

AGS não se relacionou com

transplante eletivo, de

urgência ou morte.

Matsumoto et

al, 2013

EUA

Prospectivo de caso-

controle aninhado e

pareado em uma coorte

Avaliar a relação entre AGS

séricos e a incidência de IC

1.576 homens

de 58,7 anos +

8 anos

17 anos Sem relação entre AGS

séricos e a incidência de IC

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2.7.2. Açúcares e insuficiência cardíaca

A tabela 3 mostra trabalhos onde foi observada que maior ingestão de açúcares

possuiu relação com a síndrome. Uma coorte prospectiva com homens suecos observou

que após 12 anos, o risco de desenvolver IC foi maior naqueles que consumiam duas ou

mais porções diárias de bebida adoçada (RAHMAN et al, 2015). Uma análise das

tendências de consumo de açúcares de adição e sua associação com mortalidade por

DCV, incluindo a IC, encontrou significância estatística tanto na análise de sobrevida

por quintis, quanto na comparação entre indivíduos com ingestão inferior a 10% do

valor energético total (VET) versus 10 a 24,9% ou maior ou igual a 25% do VET

(YANG et al, 2014). Um seguimento de 8 anos em população adulta italiana encontrou

associação significativa para o maior quartil de CG dietética e o maior quartil de

consumo de carboidratos oriundos de alimentos com IG elevado e o risco de

desenvolvimento de DCV, inclusive IC, em mulheres (SIERI et al, 2010). Uma coorte

dinamarquesa verificou que o maior percentil de CG da dieta entre as mulheres

acompanhadas, atingiu significância estatística para risco aumentado de DCV, dentre

elas a IC (GRAU et al, 2010).

Tabela 3. Estudos com evidências entre o consumo de açúcares e insuficiência cardíaca

Autor, ano e local Tipo Objetivo População Duração Principal achado

Rahman et al, 2015

Suécia

Coorte

Investigar se a ingestão de

bebida adoçada associa-se com

o risco de desenvolver IC

42.400 homens

de 45 a 79 anos

12 anos A ingestão de bebida adoçada

associou-se de forma significativa

com o risco de desenvolver IC

Yang et al, 2014

EUA

Coorte Avaliar se o consumo de açúcar

de adição associa-se com

mortalidade por DCV, incluindo

a IC

11.733

indivíduos

14 anos A ingestão de açúcar de adição em

quintis ou acima da recomendação

associou-se com a mortalidade por

DCV

Sieri et al, 2010

Itália

Coorte Analisar a associação entre o IG

e a CG da dieta com o risco de

DCV, incluindo a IC

44.132

indivíduos de

35 a 74 anos

8 anos Os carboidratos provenientes de

alimentos com alto IG e a CG

estiveram associados com maior

risco de DCV em mulheres

Grau et al, 2010

Dinamarca

Coorte Avaliar a relação entre o IG e a

CG da dieta com o risco de

DCV, incluindo a IC

3.959

indivíduos de

38 a 85 anos

25 anos O maior percentil de CG dietética

esteve associado de forma

significativa com maior risco para

a incidência de DCV em mulheres

Entretanto, outros estudos não encontraram tal associação (tabela 4). Resultados

de uma coorte norte-americana não observaram significância estatística entre a

mortalidade por DCV, dentre elas a IC, e o consumo de açúcar de adição (TASEVSKA

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et al, 2014). Um acompanhamento conduzido em mulheres suecas avaliou a associação

entre IG e CG dietéticos com eventos relacionados à IC. Não foi encontrada associação

entre o IG e as intercorrências características da síndrome após 9 anos. Houve uma

indicação de relação entre a CG e os referidos eventos, porém sem atingir significância

estatística (LEVITAN et al, 2010).

Tabela 4. Estudos sem evidências entre o consumo de açúcares e insuficiência cardíaca

Artigo Tipo Objetivo População Duração Principal achado

Tasevska et al,

2014

EUA

Coorte Investigar a associação entre

açúcar de adição, com a

mortalidade por DCV,

incluindo a IC

353.751 indivíduos

de 50 a 71 anos

13 anos Açúcar de adição não teve

associação significativa

com maior mortalidade

Levitan et al,

2010

Suécia

Coorte Avaliar a relação do IG e CG da

dieta com internação ou morte

por IC

36.019 mulheres de

48 a 83 anos

9 anos

Sem associação entre IG,

CG e eventos relacionados à

IC

2.7.3. Gordura saturada, açúcares e insuficiência cardíaca

Alguns trabalhos que encontraram associação entre padrões de alimentação pobres

em açúcares de adição e gordura saturada e a IC estão listados na tabela 5. Um estudo

espanhol que avaliou estilo dietético mediterrâneo observou redução nos níveis séricos

de NT-pró BNP nos indivíduos que seguiram tal padrão em comparação aos integrantes

do grupo controle após um ano (FITÓ et al, 2014). Em outras avaliações de adesão a

padrão dietético, foi observado que o seguimento de dieta DASH teve associação

significativa com menor mortalidade em mulheres portadoras de IC (LEVITAN et al,

2013), bem como com menor incidência de IC (LEVITAN, 2009). Este mesmo padrão

dietético esteve associado com melhora da função ventricular como demonstrado em

uma análise do estudo norte-americano Multi-Ethnic Study of Atherosclerosis, no qual

foi observada que cada aumento de uma unidade no padrão DASH, esteve associado

significativamente a um aumento de 0,26 ml no volume diastólico final, bem como

aumento de 0,10 ml/m2 no volume sistólico após ajustes. A pontuação do padrão DASH

foi associada a um aumento de 0,04% na fração de ejeção, mas a associação foi

marginalmente significante (NGUYEN et al, 2012).

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Tabela 5. Estudos com evidências entre o consumo de gordura saturada e açúcares e insuficiência cardíaca

Artigo Tipo Objetivo População Duração Principal achado

Fitó et al,

2014

Espanha

Intervenção Avaliar os efeitos de dieta

mediterrânea1 em marcadores

bioquímicos de IC

930 indivíduos de

61 a 72 anos

1 ano Indivíduos com maior adesão a

dieta mediterrânea, tiveram

redução significativa dos níveis

séricos de NT-próBNP

Levitan et al,

2013

EUA

Coorte

Avaliar a associação entre

padrão dietético DASH2 e a

mortalidade em mulheres

3.215 mulheres

idosas

5 anos

O maior score de dieta DASH

mostrou associação significativa

com menores valores de

mortalidade em mulheres

portadoras de IC.

Nguyen et al,

2012

EUA

Transversal Investigar a associação entre

dieta DASH3 e função

cardíaca

4.506 indivíduos

de 45 a 84 anos

2000-2002 Dieta DASH associou-se

significativamente com aumento

do volume diastólico final e do

volume sistólico.

Levitan et al,

2009

Suécia

Coorte Avaliar a associação entre

padrões dietéticos DASH4,5,6 e

a incidência de IC

36.019 mulheres

de 48 a 83 anos

7 anos Dois padrões DASH se

associaram inversamente com a

incidência de IC 1Carne vermelha, laticínios, bebida açucarada e doces 2Carne vermelha e carne processada e bebida açucarada 3Carne vermelha e carne processada, bebida açucarada 4Carne vermelha e carne processada e bebida açucarada 5Doces, carnes e gordura saturada 6Doces e açúcares de adição, carne, óleos e gorduras

Em contrapartida, um estudo de intervenção que testou se o seguimento de dieta

mediterrânea influenciaria o risco de desenvolvimento da IC, não encontrou associação

significativa após 5 anos (PAPADAKI, 2017). Um acompanhamento da contribuição do

estilo de vida, incluindo alimentação, com o aparecimento de IC, não encontrou

associação após 22 anos de observação. Foram avaliados 4 padrões dietéticos saudáveis,

sendo que 3 deles apresentavam itens alimentares fontes de açúcar de adição e de

gordura saturada (DEL GOBBO et al, 2015) (tabela 6).

Tabela 6. Estudos sem evidências entre o consumo de gordura saturada e açúcares e insuficiência cardíaca

Artigo Tipo Objetivo População Duração Principal achado

Papadaki et al,

2017

Espanha

Intervenção Avaliar o efeito da dieta

mediterrânea11 na

incidência de IC

7.403

indivíduos de

55 a 80 anos

5 anos Sem associação entre

dieta mediterrânea e o

surgimento da IC

Del Gobbo, 2015

EUA

Coorte Avaliar contribuição do

estilo de vida, incluindo

padrões de dieta2, com o

desenvolvimento de IC

4.490

indivíduos com

mais de 65 anos

22 anos Nenhum padrão dietético

teve associação com a

incidência de IC.

1Mediterrânea: carne vermelha, carne processada, gordura animal, bebida açucarada 2Biológico: AGPI:AGS; carne vermelha e carne processada; bebida açucarada; Dietary Approaches to Stop Hypertension: carne vermelha e carne processada; bebida açucarada; Alternate Health Eating Index: AGPI:AGS; carne branca:carne vermelha e

American Heart Association: carne processada, AGS, bebida açucarada

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3. Justificativa

As DCV, especialmente a IC, são de extrema relevância para a saúde pública tanto

por apresentarem alta prevalência no Brasil e no mundo, como também pelo custo

elevado do tratamento e recuperação dos indivíduos acometidos pela doença. O

peptídeo natriurético tipo-B é um marcador bioquímico sensível às injúrias sofridas pelo

coração, sendo amplamente utilizado tanto no diagnóstico como no tratamento da IC.

Dada à importância do tema, estudos que esclareçam os fatores associados no

desenvolvimento e evolução do referido desfecho são imprescindíveis para subsidiar o

direcionamento das políticas públicas de saúde.

A alimentação habitual dos indivíduos vem demonstrando desempenhar um papel

importante para a incidência e progressão da IC, particularmente o estilo dietético atual

predominante, considerado pobre em frutas, vegetais, grãos e rico em alimentos

industrializados processados e refinados, fontes de gordura saturada e açúcar de adição,

contribuindo para dietas com índice e carga glicêmicos elevados. Dados nacionais

recentes apontam para uma ingestão habitual desta gordura e destes açúcares acima da

recomendação na população brasileira.

Em um modelo de atenção básica, a orientação específica a cerca da ingestão

adequada de gorduras e carboidratos, poderá ser uma ação simples e fácil, que

contribuirá para a saúde dos indivíduos assistidos, uma vez que o hábito alimentar é um

fator de risco para as DCV modificável. Desta forma, o conhecimento do valor médio

de ingestão desses macronutrientes na população, auxiliará na elaboração de estratégias

de educação alimentar e nutricional. Além disso, a dosagem deste peptídeo consiste

numa medida simples e útil para ser incorporada como estratégia complementar do

monitoramento da saúde cardiovascular dos indivíduos acompanhados por tal modelo

de atenção à saúde.

Considerando a escassez de trabalhos que investigaram a composição centesimal

dietética de gordura saturada, de açúcar de adição, além dos indicadores de resposta

glicêmica, e sua associação com marcador bioquímico da IC, o peptídeo natriurético

tipo-B; este estudo busca contribuir no entendimento da relação entre a alimentação e a

IC.

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4. Objetivos

4.1. Objetivo geral

Avaliar a influência nos níveis séricos do peptídeo natriurético tipo-B da ingestão

alimentar de gordura saturada e açúcar de adição, além do índice glicêmico e da carga

glicêmica da dieta em uma população assistida pelo Programa Médico de Família do

município de Niterói.

4.2. Objetivos específicos

Estimar a composição centesimal da dieta de gordura saturada e açúcar de

adição na população estudada.

Estimar o índice e carga glicêmicos da dieta na população estudada.

Analisar a associação entre o consumo de gordura saturada e açúcar de

adição com o peptídeo natriurético tipo-B na população estudada.

Analisar a associação do índice e carga glicêmicos dietéticos com o

peptídeo natriurético tipo-B na população estudada.

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5. Métodos

O presente trabalho utilizará dados do DIGITALIS, estudo desenhado para

estimar principalmente a prevalência de IC na população assistida pelo PMF de Niterói

(JORGE et al, 2011).

5.1. Tipo de estudo

Estudo epidemiológico, observacional, transversal com amostragem aleatória da

população cadastrada no PMF de Niterói - Rio de Janeiro, Brasil, com indivíduos de

ambos os sexos, com idade entre 45 e 99 anos, realizado no período de agosto de 2011 a

novembro de 2012 (JORGE et al, 2011).

5.2. População do estudo

O PMF oferece cobertura a 27% da população de Niterói em 32 módulos de

atendimento divididos em 110 setores.

A amostra do DIGITALIS foi planejada para ser uma amostra probabilística da

população assistida pelo PMF de Niterói e calculada para estimar uma prevalência

mínima de IC de 4,6% com um erro de 50% (IC 95% 2,8 – 6,4) e uma prevalência

máxima de 30% com erro de 15% (IC 95% 25,5 – 54,5), acrescida de 20% de possíveis

investigações incompletas e perdas, estimando pacientes na amostra final. Todos os

cálculos foram realizados para um nível de significância de 5% e poder de teste de 80%

(JORGE et al, 2011). A amostra final foi composta por 633 indivíduos que finalizaram a

investigação cardíaca (ROSA et al, 2015).

Foram incluídos no presente estudo os 414 pacientes que possuíam informação

sobre a ingestão alimentar e dosagem de BNP. As perdas foram devidas a ausência de

informação sobre a ingestão alimentar, porém, não foram observadas diferenças

significativas entre os valores da variável desfecho e das variáveis de ajuste, entre os

participantes analisados e os considerados perdas, com exceção da idade (Tabela 7).

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Tabela 7. Características demográficas, socioeconômicas, e de saúde de adultos

participantes e perdas do Projeto DIGITALIS (2011-2012), Niterói, Rio de Janeiro,

Brasil.

5.3. Elegibilidade

5.3.1. Critérios de inclusão:

Estar cadastrado no PMF de Niterói.

Idade entre 45 e 99 anos.

Assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

5.3.2. Critérios de exclusão:

Gravidez.

Pacientes com condições clínicas que o impeçam de comparecer à

unidade de saúde para realização dos exames.

Perdas Incluídos

Variáveis Total (%) Md + DP Total (%) Md + DP p-valor

BNP (pg/ml) 219 (100) 40,12 + 76,85 414 (100) 32,3 + 119,3 0,381

Idade 219 (100) 61,35 + 11,76 414 (100) 58,6 + 9,5 0,004

Sexo 219 (100) 414 (100) 0,547

Masculino 87 (40) - 153 (37) -

Feminino 132 (60) - 261 (63) -

Cor da pele 217 (100) 414 (100) 0,695

Preta 50 (23) - 102 (25) -

Outros 167 (77) - 307 (75) -

Escolaridade 217(99,5) 412 (99,5) 0,150

Analfabeto 27 (12) - 32 (8) -

Fundamental/médio 177 (82) - 357 (86) -

Superior 13 (6) - 23 (6) -

Colesterol total (mg/dl) 216 (99) 219 + 49,43 413 (99,7) 217,4 + 41,2 0,631

LDL-colesterol (mg/dl) 214 (98) 135 + 45 411 (99,5) 131,3 + 85,4 0,568

Glicose (mg/dl) 217 (99) 116,8 + 50 414 (100) 112,4 + 44 0,251

IMC (Kg/m2) 216 (99) 27,6 + 5,1 414 (100) 28 + 5,5 0,446

Hipertensão (sim) 159 (73) - 301 (73) - 1,00

Diabetes (sim) 56 (26) - 101 (24) - 0,699

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5.4. Coleta de dados

Os participantes foram convidados a visitar o módulo de atendimento em dia e

hora pré-determinados e a avaliação era iniciada após a leitura e assinatura do termo de

consentimento livre e esclarecido. A avaliação constou dos seguintes procedimentos:

coleta de sangue (após 12 horas de jejum) e urina; eletrocardiograma de repouso;

ecocardiograma com doppler tecidual em repouso; consulta clínica com exame físico;

consulta de enfermagem; avaliação antropométrica (massa corporal, estatura e

circunferência da cintura); aplicação do QFA e preenchimento do questionário

DIGITALIS.

Os pesquisadores que realizaram a coleta de dados foram treinados com base nos

procedimentos elaborados para a pesquisa e testados em um estudo piloto, realizado em

uma unidade do PMF (ROSA et al, 2015).

5.5. Variáveis do estudo

5.5.1. Consumo alimentar

Foi aplicado QFA semiquantitativo com 80 itens alimentares apresentando no

máximo três opções de porcionamento e oito opções de frequência de consumo para

cada um dos itens que compunham o referido questionário. As opções de quantidade

foram apresentadas em medidas caseiras como colher de sopa, concha, copo ou

unidades naturais do alimento, como pedaço, fatia. As frequências de consumo eram:

mais de três vezes ao dia, duas a três vezes ao dia, 1 vez ao dia, cinco a seis vezes por

semana, duas a quatro vezes por semana, 1 vez por semana, uma a três vezes por mês e

nunca ou quase nunca.

O instrumento foi validado (SICHIERI & EVEHART, 1998) para população

adulta da área metropolitana do Rio de Janeiro e consiste em ferramenta de fácil

aplicação, que além de apresentar baixo custo, avalia a ingestão durante um prolongado

período de tempo (SUBAR, 2004). O período considerado para o referido inquérito

alimentar foi de um ano.

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5.5.1.1. Gordura saturada e açúcar de adição

Primeiramente foi calculada a quantidade de alimentos consumidos diariamente.

Para tanto, as medidas caseiras ou unidades dos alimentos relatadas foram

transformadas em gramas, por meio da tabela de medidas caseiras dos alimentos citados

no Inquérito Nacional de Alimentação (INA) (IBGE, 2011b) realizado na POF 2008-

2009. A frequência relatada foi convertida em frequência diária, conforme descrito no

quadro 1. Os valores da frequência diária multiplicados pela quantidade em gramas de

cada item deram origem à quantidade diária consumida de cada alimento. Alguns

alimentos apresentavam somente frequência. Sendo assim, a sua quantidade foi

estimada considerando uma porção ou uma unidade padrão do alimento.

Quadro 1. Frequência diária para cada opção de frequência do questionário de

frequência alimentar.

Frequência Cálculo Frequência diária

Nunca ou quase nunca - 0

1 a 3 vezes por mês 2 ÷ 30 0,07

1 vez por semana 1 ÷ 7 0,14

2 a 4 vezes por semana 3 ÷ 7 0,43

5 a 6 vezes por semana 5,5 ÷ 7 0,79

1 vez por dia 1 x 1 1

2 a 3 vezes por dia 2,5 x 1 2,5

Mais de 3 vezes por dia 4 x 1 4

A tabela do INA (IBGE, 2011c) apresenta composição nutricional para 100

gramas de cada item, portanto para calcular o consumo diário dos nutrientes por

indivíduo, foram feitas regras de três para as quantidades diárias consumidas para

encontrar o valor nutricional de cada alimento consumido. Alguns alimentos do QFA

estão agrupados em um único item; sendo assim, para calcular sua composição

nutricional, foi feita a média dos nutrientes de cada alimento ponderada pelos

respectivos tamanhos das porções.

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Para as análises, os valores encontrados de gordura saturada e açúcar de adição

foram ajustados para o VET pelo método dos resíduos (WILLETT, 1998). Essas

variáveis foram utilizadas na sua forma contínua.

5.5.1.2. Índice glicêmico e carga glicêmica

De forma semelhante, foi calculada a quantidade de carboidrato e fibra total em

gramas para todos os itens do QFA. Em seguida, subtraiu-se o teor de fibras da

quantidade encontrada de carboidrato, obtendo-se o valor de carboidrato glicêmico, em

gramas, disponível por alimento. Fez-se a proporção do carboidrato glicêmico para cada

alimento em relação ao total de carboidrato glicêmico da dieta de cada indivíduo, e

então procedeu-se a multiplicação desta proporção pelo IG de cada alimento consultado

em tabela específica (ATKINSON et al, 2008). No caso de alimentos sem IG

estabelecido, utilizou-se o valor daqueles com características semelhantes. A soma

destes valores para todos os alimentos do QFA deu origem ao IG dietético de cada

indivíduo (FAO, 1998). A CG foi calculada por meio do somatório dos produtos do

carboidrato glicêmico de cada alimento pelo seu IG dividido por 100 (LAU et al, 2005).

Os valores encontrados para o IG e CG também foram ajustados para o valor

energético total VET pelo método dos resíduos (WILLETT, 1998) e integraram o

estudo como variáveis contínuas.

5.5.2. Peptídeo natriurético tipo-B

Esta dosagem deu-se pelo método da quimioluminescência, tendo sido realizada

pelo Laboratório Sérgio Franco e seus valores utilizados de forma contínua.

5.5.3. Índice de massa corporal

O índice de massa corporal (IMC) foi calculado pela razão entre a massa

corporal e o quadrado da estatura (WHO, 2000). Foi inserido como variável contínua.

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42

5.5.3.1. Massa Corporal

A massa corporal foi aferida com os adultos descalços, em posição ereta, com os

pés juntos, braços estendidos ao longo do corpo, trajando roupas leves, após orientação

para não portarem quaisquer objetos. Foi utilizada balança digital com precisão de 0,1

kg da marca Sohenle® com capacidade de 200 kg.

5.5.3.2. Estatura

A aferição da estatura foi realizada em duplicata com o participante descalço,

posicionado sob o estadiômetro com os calcanhares, a parte posterior da cabeça,

escápula, nádegas, apoiadas à parede e braços estendidos ao longo do corpo com as

palmas das mãos voltadas para as coxas e a cabeça foi posicionada no plano de

Frankfurt. Foi utilizado estadiômetro portátil da marca SECA® afixado à parede. A

leitura foi realizada em apneia após inspiração e registrada em centímetros (precisão de

0,1 cm).

5.5.4. Sexo

O sexo foi autorelatado pelos participantes em masculino ou feminino no

questionário do estudo e utilizado categorizado desta mesma forma.

5.5.5. Idade

A idade foi calculada no dia da avaliação, à partir da data de nascimento

informada pelos participantes no questionário e foi avaliada como variável contínua.

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5.5.6. Cor da pele

A cor da pele foi autoreferida pelos participantes como: branca, parda, amarela ou

preta no momento do preenchimento do questionário DIGITALIS. Esta variável foi

categorizada em cor de pele preta e outros.

5.5.7. Escolaridade

A escolaridade foi avaliada com base na resposta para a pergunta “Até que série

você estudou?”. Para sua avaliação, foram utilizadas três categorias: não alfabetizado

(analfabetos), ensino fundamental (qualquer série cursada da 1ª série ou 2° ano até a 8ª

série ou 9° ano do ensino fundamental) juntamente com ensino médio (qualquer série

cursada do 1° ano até o 3º ano do ensino médio) e ensino superior (completo ou não

completo).

5.5.8. Hipertensão arterial sistêmica

A presença de HAS foi considerada se uma das seguintes condições estivesse

presente: diagnóstico anterior, uso de medicação para HAS ou pressão arterial alterada

na pesquisa. Tal informação integrou o estudo categorizada em presença ou não de

HAS.

5.5.9. Diabetes mellitus

A presença de DM foi avaliada considerando se os participantes tivessem sido

diagnosticados anteriormente à pesquisa, caso fizessem uso de medicação para DM ou

apresentassem um valor de glicose sanguínea superior a 126mg/dL no estudo. A

variável foi inserida no estudo de forma categórica como sim ou não para a presença de

DM.

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44

5.6. Análise estatística

Os dados foram apresentados em médias ± desvio-padrão, para variáveis

contínuas, e como frequência para variáveis categóricas. Devido à distribuição

assimétrica das variáveis foi utilizada a regressão gama com link de log. A análise bruta

foi realizada entre o BNP e as variáveis de interesse (açúcar de adição, IG, CG e

gordura saturada), além das de ajuste (idade, sexo, cor da pele, escolaridade, colesterol

total, LDL-colesterol, glicose, IMC, HAS, DM). Os modelos de regressão multivariados

avaliaram a associação entre as variáveis de interesse e o BNP e foram ajustados por

aquelas que apresentaram nível de significância de 0,2 na análise bruta de cada modelo

preditivo.

Independentemente do nível de significância estatística, a cor da pele foi mantida

na análise ajustada, pois além de ser um grupo expressivo na referida amostra, um

quarto dos integrantes, os negros possuem maior risco para o desenvolvimento da IC

(BAHRAMI et al, 2008) e consomem mais açúcares de adição que outras etnias

(POWELL et al, 2016).

Como o VET possui relação com o desfecho neste caso, ele foi incluído no

modelo juntamente com a variável de interesse ajustada pela energia (WILLETT, 1998).

As hipóteses foram testadas considerando o nível de significância de 0,05. O

programa SPSS (versão 21.0 SPSS Inc. Chicago, IL) foi utilizado para análise

estatística.

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6. Considerações éticas

O estudo foi conduzido de acordo com os princípios estabelecidos na Declaração

de Helsinki e revistos em 2000, bem como conforme Resolução 466 de 2012 do

Conselho Nacional de Saúde.

O protocolo do estudo foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa Médica da

Faculdade de Medicina/Hospital Universitário Antônio Pedro e aprovado na reunião

plenária de 11 de junho 2010 sob o nº CAAE:0077.0.258.000-10.

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7. Resultados

Os resultados e a discussão da dissertação estão em formato de manuscrito de

artigo a ser submetido para publicação na revista Cadernos de Saúde Pública.

Manuscrito de artigo (versão preliminar): Associação do consumo de açúcar de

adição, gordura saturada e indicadores de resposta glicêmica com marcador

bioquímico da insuficiência cardíaca.

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7.1. Manuscrito

Título completo: Associação do consumo de açúcar de adição, gordura saturada e

indicadores de resposta glicêmica com marcador bioquímico da insuficiência

cardíaca.

Title: Association of added sugar and saturated fat intake and glycemic response

indicators with biochemical marker of heart failure.

Título corrido: Associação de açúcares e gordura saturada com peptídeo natriurético

tipo-B.

Short title: Association of sugars and saturated fat and B-type natriuretic peptide.

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Resumo

Existem evidências da associação do consumo de açúcares e gordura saturada com a

insuficiência cardíaca (IC), porém tal relação, mais especificamente com o peptídeo

natriurético tipo-B (BNP), não está elucidada. O presente trabalho visa analisar a

associação entre a composição centesimal dietética de gordura saturada, de açúcar de

adição, bem como dos indicadores de resposta glicêmica dietéticos com os valores

deste peptídeo. Utilizados dados do DIGITALIS, estudo que estimou a prevalência

de IC na população assistida pelo Programa Médico de Família de Niterói, RJ –

Brasil. Incluídos indivíduos com informações sobre ingestão alimentar e BNP.

Aplicado questionário de frequência alimentar validado e a análise do BNP deu-se

pelo método da quimioluminescência. Utilizada regressão gama com link de log para

as variáveis de interesse ajustadas para: sexo, idade, índice de massa corporal, cor da

pele, escolaridade, colesterol total, LDL-colesterol, glicose, hipertensão, diabetes

mellitus e energia. Considerado p≤0,05 para significância estatística. Dentre 414

participantes, as médias observadas foram: 58,6 anos (+ 9,5) para idade, 32,3pg/dl (+

119,3) para BNP, 116,5g (+ 101,3) para açúcar de adição, 33g (+ 17,7) para gordura

saturada, 53,5 (+ 4) para índice glicêmico (IG) e 206,3 (+ 104,2) para carga

glicêmica (CG). Na análise multivariada cada grama de açúcar de adição ingerida,

associou-se com elevação de 0,2% nos níveis de BNP (Exp (β) = 1,002; p<0,01) e

cada unidade de CG dietética, esteve associado com elevação de 0,4% (Exp (β)

=1,004; p<0,01). O IG e a gordura saturada não tiveram associação significativa. O

tipo de carboidrato da dieta, bem como a quantidade, especialmente se proveniente

do açúcar de adição, sugere participação na fisiopatologia da IC, via elevação dos

níveis séricos de BNP.

Palavras-chave: carboidratos, índice glicêmico, carga glicêmica, insuficiência

cardíaca.

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Abstract

There is some evidence about the association of sugars consumption and saturated fat

with heart failure (HF), but this relationship, more specifically with B-type

natriuretic peptide (BNP), has not been yet well elucidated. The present work aims to

analyze the association between dietary centesimal composition of saturated fat,

added, as well as dietary glycemic response indicators with the values of this peptide.

Data from DIGITALIS were used, a study designed to estimate the prevalence of HF

in the population assisted by the Family’s Medical Program of Niterói, RJ - Brazil.

Individuals with information on dietary intake and BNP values were included. A

validated food frequency questionnaire was applied and BNP analysis was performed

using the chemiluminescence method. Gamma regression with link log was used for

the variables of interest adjusted for: sex, age, body mass index, skin color,

schooling, total cholesterol, LDL-cholesterol, glucose, hypertension, diabetes

mellitus and energy. p≤0.05 was considered for statistical significance. Among 414

participants, the mean values observed were: 58.6 years (+ 9.5) for age, 32.3pg/dl (+

119.3) for BNP, 116.5g (+ 101.3) for added sugar and 33g (+ 17.7) for saturated fat,

53.5 (+ 4) for glycemic index (GI) and 206.3 (+ 104.2) for glycemic load (GL). In

the multivariate analysis, each gram of added sugar ingested was associated with a

0.2% increase in BNP levels (Exp (β) = 1.002, p<0.01) and each unit of dietary GL

was associated with elevation of 0.4% (Exp (β) = 1.004, p<0.01). GI and saturated

fat had no significant association. The type of dietary carbohydrate, as well as the

amount, especially if derived from added sugars, suggests participation in the

pathophysiology of HF, via rising of serum BNP levels.

Keywords: carbohydrate, glycemic index, glycemic load, heart failure.

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Introdução

A insuficiência cardíaca (IC) é considerada uma epidemia global com

prevalência estimada de mais de 37 milhões de indivíduos no mundo no ano de 2010,

onerando gastos dos sistemas de saúde, constituindo a principal causa de

hospitalização e óbito entre adultos e idosos1.

O peptídeo natriurético do tipo B (BNP) é um neurohormônio sintetizado e

liberado pelas células cardíacas em resposta à sobrecarga de pressão e volume2. O

mesmo demonstrou ser indicador precoce das injúrias sofridas pelo coração3, bem

como preditor de morbidade ou mortalidade tanto em pacientes com quaisquer graus

de IC, como nos assintomáticos4.

Os hábitos alimentares vêm sofrendo mudanças em todo o mundo, caracterizado

por maior consumo de refeições rápidas, maior frequência de alimentação fora de

casa, comumente compostos por grãos refinados, açúcares de adição, sal, gordura

saturada, trans e alimentos de origem animal5. Popkin & Nielsen, (2003) verificaram

uma elevação de 32% no percentual de calorias provenientes dos adoçantes

calóricos, aumentando em 21% a proporção dos carboidratos consumidos

globalmente. No Brasil, a última Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) demonstrou

que 61% dos brasileiros consumiam tais açúcares acima do ideal, ou seja, ingestão

superior a 10% do total de calorias diárias6, e dentre os alimentos os sucos, refrescos

e os refrigerantes, que são bebidas com açúcar de adição, estavam entre os cinco

mais consumidos pelos adultos no País7.

Os açúcares de adição podem ser definidos como açúcares e xaropes adicionados

aos alimentos durante a preparação ou processamento, além dos açúcares

adicionados à mesa8. Existem evidências que a ingestão de açúcares de adição e/ou

gordura saturada possui relação com maior risco de incidência9 e de mortalidade por

IC10

. Por outro lado, em uma coorte norte-americana que avaliou a adesão à padrões

dietéticos saudáveis, pobres em gordura saturada e açúcar de adição com o risco de

desenvolvimento de IC, não observou associação com sua incidência após 22 anos de

acompanhamento11

. Outrossim, também não foi observada associação com a

incidência de IC em estudo randomizado espanhol que testou adesão à dieta

mediterrânea, caracterizada por teores reduzidos de ácidos graxos saturados e

açúcares de adição, após 5 anos de seguimento12

.

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O impacto causado na glicemia após a ingestão dos carboidratos dietéticos pode

ser mensurado através de dois indicadores de resposta glicêmica: o índice glicêmico

(IG)13

e a carga glicêmica (CG)14

. Tais indicadores apresentaram associação com

fatores de risco cardiometabólicos, como diabetes mellitus (DM)15,16

,

dislipidemia17,18

, além da relação apresentada com o risco de desenvolvimento de

doenças cardiovasculares (DCV)19,20,21

e no caso da CG, inclusive com o risco de

IC22,23

. No entanto, estudo de coorte com acompanhamento durante 9 anos com mais

de trinta mil mulheres suecas, não observou associação entre o maior quartil de IG ou

CG e a incidência de IC24

.

Na literatura, encontrou-se apenas um estudo sobre a associação entre

alimentação e peptídeo natriurético. O mesmo foi conduzido com população que

apresentava risco cardiovascular e foi demonstrado que após a intervenção com o

seguimento de dieta mediterrânea, pobre em açúcares e gordura saturada por um ano,

houve melhora estatisticamente significativa nos níveis séricos de peptídeo

natriurético tipo B N-terminal (NT-próBNP)25

.

Considerando a escassez de estudos da literatura sobre a relação entre

alimentação e o BNP, marcador bioquímico sensível da IC, o objetivo deste trabalho

foi identificar a associação entre a composição centesimal dietética de gordura

saturada, de açúcar de adição, bem como a associação dos indicadores de resposta

glicêmica dietéticos com os valores deste peptídeo.

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Métodos

População

Foram utilizados dados do DIGITALIS, estudo que estimou a prevalência de IC

na população adulta assistida pelo Programa Médico de Família de Niterói - RJ,

Brasil, já descrito anteriormente26

.

A amostra probabilística do estudo foi calculada para ser representativa da

população assistida pelo Programa Médico de Família de Niterói, e inclui indivíduos

de ambos os sexos, com idades entre 45 e 99 anos, possibilitando estimar prevalência

mínima de IC de 4,6% com erro de 50% e prevalência máxima de 30% com erro de

15%. Foi estimado tamanho amostral de 632 indivíduos, acrescido de 20%

considerando perdas e todos os cálculos foram realizados para um nível de

significância de 5% e poder de teste de 80%26

. A amostra final foi composta por 633

indivíduos que finalizaram a investigação cardíaca27

.

Integraram este trabalho 414 indivíduos com informações sobre a ingestão

alimentar e o BNP. As perdas foram devidas a ausência de informação sobre a

ingestão alimentar, porém, não foram observadas diferenças significativas entre os

valores da variável desfecho e das variáveis de ajuste, entre os participantes

analisados e os considerados perdas, com exceção da idade (Tabela 1).

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Tabela 1. Características demográficas, socioeconômicas, e de saúde de adultos

participantes e perdas do Projeto DIGITALIS (2011-2012), Niterói, Rio de Janeiro,

Brasil.

Coleta de dados

Os participantes foram convidados a visitar o módulo de atendimento em dia e

hora pré-determinados e a coleta de dados era iniciada após a leitura e assinatura do

termo de consentimento livre e esclarecido. A coleta consistiu de: coleta de sangue

(12 horas de jejum) e urina; eletrocardiograma e ecocardiograma com doppler

tecidual em repouso; consulta clínica com exame físico e de enfermagem;

antropometria (massa corporal, estatura e circunferência da cintura); preenchimento

do questionário de frequência alimentar (QFA) e questionário do estudo. Os

pesquisadores da coleta foram treinados com base nos procedimentos elaborados

para a pesquisa e testados em um estudo piloto, realizado em uma unidade do PMF27

.

A ingestão alimentar foi coletada por QFA validado para população adulta da

área metropolitana do Rio de Janeiro28

. Este instrumento possui 80 itens alimentares

e apresenta no máximo 3 opções de porções, em medidas caseiras como colher de

sopa, concha, copo ou unidades naturais do alimento, como pedaço, fatia para o

relato das quantidades consumidas. A frequência de consumo apresenta 8 opções de

resposta: mais de três vezes ao dia, duas a três vezes ao dia, 1 vez ao dia, cinco a

seis vezes por semana, duas a quatro vezes por semana, 1 vez por semana, uma a três

Perdas Incluídos

Variáveis Total (%) Md + DP Total (%) Md + DP p-valor

BNP (pg/ml) 219 (100) 40,12 + 76,85 414 (100) 32,3 + 119,3 0,381

Idade 219 (100) 61,35 + 11,76 414 (100) 58,6 + 9,5 0,004

Sexo 219 (100) 414 (100) 0,547

Masculino 87 (40) - 153 (37) -

Feminino 132 (60) - 261 (63) -

Cor da pele 217 (100) 414 (100) 0,695

Preta 50 (23) - 102 (25) -

Outros 167 (77) - 307 (75) -

Escolaridade 217(99,5) 412 (99,5) 0,150

Analfabeto 27 (12) - 32 (8) -

Fundamental/médio 177 (82) - 357 (86) -

Superior 13 (6) - 23 (6) -

Colesterol total (mg/dl) 216 (99) 219 + 49,43 413 (99,7) 217,4 + 41,2 0,631

LDL-colesterol (mg/dl) 214 (98) 135 + 45 411 (99,5) 131,3 + 85,4 0,568

Glicose (mg/dl) 217 (99) 116,8 + 50 414 (100) 112,4 + 44 0,251

IMC (Kg/m2) 216 (99) 27,6 + 5,1 414 (100) 28 + 5,5 0,446

Hipertensão (sim) 159 (73) - 301 (73) - 1,00

Diabetes (sim) 56 (26) - 101 (24) - 0,699

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vezes por mês e nunca ou quase nunca. O QFA foi aplicado por nutricionistas

treinados.

Para a avaliação bioquímica foi colhida amostra de, aproximadamente, 10 ml de

sangue com os indivíduos em jejum de no mínimo 12 horas. A amostra foi rotulada,

centrifugada e armazenada a 4ºC.

Tratamento dos dados

Foram consideradas como açúcar de adição as quantidades dos açúcares

presentes nos produtos industrializados, adicionados no preparo e do açúcar de mesa.

Para estimar a composição centesimal do açúcar de adição e da gordura saturada, foi

calculada a quantidade de alimento consumido diariamente, em gramas, utilizando-se

a tabela de composição nutricional de alimentos do Inquérito Nacional de

Alimentação (INA)29

. Para os itens que apresentavam somente frequência,

considerou-se porção/unidade padrão do alimento para estimar as quantidades

consumidas. Como, a tabela do INA apresenta composição nutricional para 100

gramas de cada item, para calcular o consumo diário dos nutrientes, foram feitas

regras de três para as quantidades diárias consumidas e para alimentos agrupados em

um único item, foi estimada a média da composição centesimal dos nutrientes de

cada alimento ponderada pelos respectivos tamanhos de suas porções.

Para estimar o IG dietético de cada indivíduo foi calculada a quantidade de

carboidrato e fibra total em gramas para os itens do QFA de forma semelhante à da

gordura saturada e açúcar de adição. Em seguida, subtraiu-se da quantidade

encontrada de carboidrato, o teor de fibras, obtendo-se o valor de carboidrato

glicêmico, em gramas, disponível por alimento. Fez-se a proporção do carboidrato

glicêmico de cada alimento em relação ao total de carboidrato glicêmico da dieta de

cada indivíduo, e então procedeu-se a multiplicação desta proporção pelo IG de cada

alimento consultado em tabela específica30

. Para alimentos sem IG estabelecido,

considerou-se o valor de alimentos similares. A soma destes valores para todos os

alimentos do QFA deu origem ao IG dietético de cada indivíduo31

. A CG foi

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calculada por meio do somatório dos produtos do carboidrato glicêmico de cada

alimento pelo seu IG dividido por 10032

.

Para as análises, os valores encontrados de gordura saturada, açúcar de adição,

IG e CG foram ajustados para o valor energético total (VET) pelo método dos

resíduos33

.

Os dez alimentos que mais contribuem para o valor absoluto da exposição de

interesse na população estudada foi realizada por rankeamento.

A dosagem do BNP foi realizada pelo método da quimioluminescência no

Laboratório Sérgio Franco (http://apoio.sergiofranco.com.br/exames).

Análise estatística

Os dados foram apresentados em média e o respectivo desvio padrão, para

variáveis contínuas, e como frequência para variáveis categóricas. Devido à

distribuição assimétrica das variáveis foi utilizada a regressão gama com link de log.

A análise bruta foi realizada entre o BNP e as variáveis de interesse (açúcar de

adição, IG, CG e gordura saturada), além das variáveis de ajuste (idade, sexo, cor da

pele, escolaridade, colesterol total, LDL-colesterol, glicose, índice de massa corporal

(IMC), HAS, DM). Os modelos de regressão multivariados avaliaram a associação

entre as variáveis de interesse e o BNP e foram ajustados por aquelas que

apresentaram nível de significância inferior a 0,2 na análise bruta de cada modelo

preditivo.

Independentemente da significância estatística, a cor da pele foi mantida na

análise ajustada, pois além de ser um grupo expressivo na referida amostra, um

quarto dos integrantes, os negros possuem maior risco para o desenvolvimento da

IC34

. Como o VET possui relação com o desfecho e pode ser considerado um

importante preditor de doença neste caso, também foi incluído no modelo juntamente

com a variável de interesse ajustada pela energia33

.

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As hipóteses foram testadas considerando o nível de significância de 0,05. O

programa SPSS (versão 21.0 SPSS Inc. Chicago, IL) foi utilizado para análise

estatística.

Considerações éticas

O protocolo do estudo foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa Médica da

Faculdade de Medicina/ Hospital Universitário Antônio Pedro e aprovado na reunião

plenária de 11 junho 2010 sob o nº CAAE:0077.0.258.000-10.

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Resultados

Os 414 indivíduos analisados neste estudo apresentaram idade média de 58,6

anos (+ 9,5), sendo 63% do sexo feminino e 25% de cor de pele preta. O valor médio

encontrado no referido grupo foi de 32,31pg/dl (+ 119,3) para o BNP, 116,49g (+

101,27) para o açúcar de adição e 33g (+ 17,68) para a gordura saturada. O IG e CG

médios da população foram 53,5 (+ 4) e 206,3 (+ 104,2), respectivamente. O

percentual médio de contribuição para a ingestão calórica total de açúcar de adição

foi de 15% e de gordura saturada foi de 10% na amostra estudada (tabela 2).

Tabela 2. Características demográficas, socioeconômicas, e de saúde de adultos

participantes do Projeto DIGITALIS (2011-2012), Niterói, Rio de Janeiro, Brasil.

Md + DP: média + desvio padrão; IMC: índice de massa corporal; VET: valor energético total

Na análise bruta verificou-se significância ao nível 0,2 para idade, sexo,

escolaridade, IMC, HAS e DM (tabela 3) consideradas na análise ajustada.

Variáveis Total (%) Md + DP % VET

BNP (pg/ml) 414 (100) 32,3 + 119,3 -

Idade 414 (100) 58,6 + 9,5 -

Sexo 414 (100)

Masculino 153 (37) - -

Feminino 261 (63) - -

Cor da pele 409 (100)

Preta 102 (25) - -

Outros 307 (75) - -

Escolaridade 412 (99,5)

Analfabeto 32 (8) - -

Fundamental/médio 357 (86) - -

Superior 23 (6) - -

Colesterol total (mg/dl) 413 (99,7) 217,4 + 41,2 -

LDL-colesterol (mg/dl) 411 (99,5) 131,3 + 85,4 -

Glicose (mg/dl) 414 (100) 112,4 + 44 -

IMC (Kg/m2) 414 (100) 28 + 5,5 -

Hipertensão (sim) 301 (73) - -

Diabetes (sim) 101 (24) - -

Energia (Kcal) 414 (100) 2.976,2 + 1.221,7 -

Açúcar de adição (g/dia) 414 (100) 116,5 + 101,3 15%

Gordura saturada (g/dia) 414 (100) 33 + 17,7 10%

Índice glicêmico dietético 414 (100) 53,5 + 4 -

Carga glicêmica dietética 414 (100) 206,3 + 104,2 -

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Tabela 3. Coeficientes da análise bruta do BNP com açúcar de adição, gordura

saturada, índice glicêmico, carga glicêmica e as variáveis de ajuste de adultos

participantes do Projeto DIGITALIS (2011-2012), Niterói, Rio de Janeiro, Brasil.

Variáveis Exp(β)4 p-valor

Idade (anos) 1,050 <0,01*

Sexo (masculino/feminino) 1,441 <0,01*

Cor da pele (preta/outras1) 1,035 0,754

Escolaridade2

Analfabeto 1,444 0,158*

Fundamental/médio 1,307 0,191*

Colesterol total (mg/dl) 1 0,721

LDL-colesterol (mg/dl) 1 0,823

Glicose (mg/dl) 1 0,998

Açúcar de adição (g/dia)3 5,319 <0,01*

Índice glicêmico3 1,041 <0,01*

Carga glicêmica3 1,002 <0,01*

Saturada (g/dia)3 0,984 <0,01*

IMC (Kg/m2) 0,950 <0,01*

Hipertensão (sim/não) 1,843 <0,01*

Diabetes (sim/não) 0,789 0,029* 1Outras: branca e parda

2Referência: nível superior

3Ajuste para o total de energia pelo método dos resíduos 4Coeficiente exponencial de β. Regressão gama com link de log.

*p<0,2

O açúcar de adição e a CG apresentaram associação significativa com o BNP,

ajustados pela idade, cor da pele, IMC e HAS. Foi observado que a cada grama de

açúcar de adição ingerida, o valor do BNP plasmático aumenta em 0,2% (Exp (β)=

1,002, p<0,01) e a cada incremento de uma unidade na CG da dieta, há elevação de

0,4% (Exp (β)=1,004, p<0,01) nos níveis do BNP. O IG e a gordura saturada não

tiveram associação significativa com os valores do peptídeo (tabela 4).

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Tabela 4. Coeficientes ajustados da associação do BNP com o açúcar de adição,

gordura saturada, índice glicêmico e carga glicêmica de adultos participantes do

Projeto DIGITALIS (2011-2012), Niterói, Rio de Janeiro, Brasil.

Açúcar de adição5 IG

5 CG

5 Saturada

5

Variáveis Exp(β)6 p-valor Exp(β)

6 p-valor Exp(β)

6 p-valor Exp(β)

6 p-valor

Idade (anos) 1,040 <0,01* 1,045 <0,01* 1,039 <0,01* 1,044 <0,01*

Sexo (masculino/feminino) 1,011 0,908 1,021 0,823 1,023 0,804 1,005 0,955

Cor da pele1 (preta/outras

2) 1,235 0,025* 1,235 0,028* 1,267 0,012* 1,222 0,035*

Escolaridade3

Analfabeto 0,991 0,965 1,012 0,955 1,028 0,899 0,987 0,953

Fundamental/médio 1,075 0,677 1,152 0,416 1,154 0,401 1,128 0,488

Açúcar de adição (g/dia)4 1,002 <0,01* - - - - - -

Índice glicêmico4 - - 1,002 0,839 - - - -

Carga glicêmica4 - - - - 1,004 <0,01* - -

Saturada (g/dia)4 - - - - - - 0,995 0,144

IMC (Kg/m2) 0,978 <0,01* 0,975 <0,01* 0,973 <0,01* 0,973 <0,01*

Hipertensão (sim/não) 1,343 <0,01* 1,360 <0,01* 1,347 <0,01* 1,365 <0,01*

Diabetes (sim/não) 0,924 0,412 0,850 0,089 0,911 0,322 0,847 0,074 1Incluída no modelo multivariado apesar do p-valor 2Outras: branca e parda 3Referência: nível superior 4Ajuste para o total de energia pelo método dos resíduos 5Incluído no modelo o valor energético total 6Coeficiente exponencial de β. Regressão gama com link de log multivariada *p<0,05

Dentre os alimentos que mais favorecem o consumo de açúcar de adição,

podemos citar a sacarose, os refrigerantes e os doces em geral. Em relação ao IG,

observa-se maior participação dos alimentos frequentemente consumidos pelos

brasileiros, como pão, açúcar de mesa, arroz, banana, macarrão. Consequentemente, o

mesmo pode ser observado na CG, devido à ingestão frequente e diária desses

alimentos, incluindo também a participação de bebidas adoçadas. A contribuição da

gordura saturada deu-se basicamente pelos laticínios e carnes (tabela 5).

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Tabela 5. Os dez (10) alimentos que mais contribuem para os teores de açúcar de

adição, índice glicêmico, carga glicêmica e gordura saturada na alimentação habitual

de adultos participantes do Projeto DIGITALIS (2011-2012), Niterói, Rio de Janeiro,

Brasil.

Açúcar de adição IG CG Saturada

Açúcar de mesa Pão Pão Margarina comum

Biscoito doce Açúcar de mesa Açúcar de mesa Manteiga

Outros refrigerantes Arroz Arroz Leite integral

Refrigerantes de cola Banana Banana Queijo

Bolo Macarrão Suco de fruta Carne bovina

Iogurte Suco de fruta Macarrão Frango

Doce de leite Mandioca Mandioca Linguiça

Doce de fruta Laranja Laranja Carne de porco

Chocolate Feijão Outros refrigerantes Pão

Sorvete Biscoito salgado Refrigerantes de cola Sorvete

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61

Discussão

Este estudo mostrou associação estatisticamente significativa entre o açúcar de

adição e a CG com o BNP, enquanto o IG dietético e a gordura saturada não

estiveram associados com os valores do marcador bioquímico nesta população.

A média de BNP encontrada no grupo avaliado foi de 32,3 pg/ml, sendo

considerado normal. Na ausência de doença cardíaca pode considerar-se como limite

superior 35 pg/ml35

. Já para o diagnóstico de IC, podem ser considerados adequados

os níveis inferiores a 100 pg/ml, aumentados entre 100 e 400 pg/ml e elevados os

superiores a 400 pg/ml36

.

A ingestão média do açúcar de adição apresentada pela população analisada foi

de 116,5g. Este valor é mais elevado comparado aos de um levantamento sobre a

ingestão deste açúcar avaliada por inquéritos em países representativos de todo o

mundo37

. Em relação à média de contribuição para a ingestão calórica total

proveniente do açúcar de adição foi 15% na amostra estudada. A prevalência de

ingestão de açúcar de adição acima do ideal foi de 66% se considerada a

recomendação inferior a 10% do VET38

, e foi de 86% se considerada a

recomendação mais recente da OMS, que preconiza ingestão menor que 5% do

VET39

. De forma similar, dados brasileiros do INA demonstraram que dentre os

indivíduos com mais de 10 anos de idade, 61% ingeriam mais de 10% do VET

proveniente destes açúcares6.

Uma coorte norte americana observou que o consumo de açúcar de adição esteve

significativamente associado com maior mortalidade por DCV, tendo sido observado

hazard ratio de 1,3 (1,09 - 1,55) para os indivíduos com nível de ingestão de tais

açúcares entre 10 e 24,9% do VET e de 2,75 (1,4 - 5,42) para os indivíduos que

consumiam mais de 25% de sua energia proveniente deles40

. A ingestão de açúcares

de adição também esteve relacionada com resistência à insulina41

e DM42

, e por sua

vez, o metabolismo prejudicado da glicose demonstrou ter relação com alterações

cardíacas43,44

. Portanto, a ingestão excessiva de adição de açúcar, como a observada

nesta amostra, contribui para o metabolismo anormal da glicose, favorecendo as

alterações cardíacas citadas e consequentemente, a elevação dos níveis séricos de

BNP.

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O valor médio do IG na população estudada, de 53, é considerado baixo45

, e não

se verificou associação com os níveis de BNP. Estudos mostram que há indícios de

que o IG possui elo com diversos fatores de risco das DCV, como DM15,16

,

dislipidemia17,18

e aumento na circunferência da cintura46

. Também foi observado em

metanálise de estudos prospectivos que o IG esteve associado significativamente

com o risco cardiovascular em homens e mulheres47

. Por outro lado, dados de uma

coorte sueca que avaliou o prognóstico de mulheres portadoras de IC, não observou

associação entre o IG avaliado em quartis e a ocorrência de eventos adversos. Na

análise ajustada, nem o 2º, 3º ou último quartis apresentaram associação, sendo que

seus valores médios de IG eram de 73, 76 e 80, respectivamente21

. Um estudo

holandês que também avaliou a associação entre IG dietético e o risco de DCV em

homens idosos e após 10 anos de seguimento verificaram que os maiores valores de

IG não estiveram associados significativamente com o surgimento de doença nesta

população, sendo que o menor tercil de IG nesta população apresentava valor de

7748

.

A CG global da dieta dos indivíduos avaliados encontrava-se muito elevada45

.

Além da associação com fatores de risco16,17,18,49

, a CG demonstrou em estudos de

coorte aumentar o risco para as DCV, incluindo a IC, porém tal relação foi observada

apenas nas mulheres22,23

. Resultados de metanálise com estudos prospectivos

observaram que a CG esteve associada significativamente com o risco de DCV em

indivíduos de ambos os sexos47

. Adicionalmente, dados recentes de uma coorte

revelaram associação positiva entre dieta hiperglicídica e mortalidade total, incluindo

IC50

e ainda, evidência de uma avaliação da ingestão de carboidratos de alto IG,

observou associação significativa com o aumento do risco para as DCV incluindo a

IC22

em homens e mulheres italianos. Neste estudo a CG teve associação positiva

com o peptídeo, tanto nos homens como nas mulheres e no seu cálculo é considerada

tanto a quantidade de carboidrato ingerida em gramas, como o valor do IG dos

alimentos; aspectos que a literatura tem demonstrado ter relação com a saúde

cardiovascular. Dessa maneira, mostra-se relevante considerar este indicador, que

engloba tanto a quantidade como a qualidade dos carboidratos dietéticos, nas

investigações do hábito alimentar.

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Vale ressaltar que não existe indicação de que os açúcares, quando naturalmente

presente nos alimentos como nas frutas, vegetais e leite possam trazer malefícios à

saúde51

. Logo, são os açúcares adicionados que desempenham um papel importante

na etiologia dos fatores de risco e das DCV e consequentemente no aumento do

BNP, pois estão amplamente disseminados nos alimentos, principalmente naqueles

industrializados. Neste estudo o açúcar de mesa e as bebidas adoçadas foram os

principais alimentos que mais contribuíram para a ingestão excessiva de açúcar de

adição e para alta CG. No Brasil, dados do INA verificaram que dentre os alimentos

mais consumidos pela população, os sucos e refrescos e os refrigerantes estiveram

entre os dez alimentos mais consumidos em adultos de ambos os sexos7. Dados do

VIGITEL (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por

Inquérito Telefônico), conduzido em amostra probabilística de adultos brasileiros,

também observaram que o consumo de refrigerante adoçado aumentou com

significância estatística no período avaliado, entre 2007 e 200952

. Na Pesquisa de

Nutrição, Atividade Física e Saúde realizada com população adulta de Niterói, o

açúcar de mesa (4º) e os refrigerantes (7º) estiveram entre os alimentos mais

consumidos por essa população53

.

Estudos prospectivos observaram que a ingestão de gordura saturada associou-se

com DCV tanto em mulheres como em homens54,55

. A ligação mais bem aceita foi a

de que a gordura saturada contribuiria para elevação dos níveis de colesterol,

incluindo o LDL-colesterol (lipoproteína de baixa densidade)56

, que participa da

fisiopatologia das DCV, especialmente a lipoproteína pequena e densa57

.

Recentemente, metanálises demonstraram que os AGS dietéticos não aumentam o

risco para o desenvolvimento de DCV, argumentando que as evidências de estudos

randomizados e de coortes não sustentariam a recomendação inferior a 10% do VET

proveniente de gordura saturada58,59

. A ausência de associação na população

estudada pode ser devido ao nível médio de ingestão de gordura saturada apresentado

pela mesma, ser igual a 10% do VET, estando consequentemente, em concordância

com tais estudos e em conformidade com as recomendações mais atuais (USDA,

2015). Podemos dizer ainda, que a média dos níveis de LDL-colesterol encontraram-

se na faixa considerada limítrofe na população estudada60

, sendo que não foi possível

saber qual fração correspondia à lipoproteína pequena e densa.

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64

Acredita-se que este é o segundo estudo que avaliou a relação entre a

alimentação e os níveis séricos de peptídeos natriuréticos. O realizado anteriormente

avaliou o efeito do seguimento de dieta mediterrânea enriquecida com azeite de oliva

ou frutas oleaginosas nos níveis séricos de NT-próBNP em espanhóis adultos, de

ambos os sexos, com alto risco cardiovascular25

. Este padrão dietético é

caracterizado por apresentar baixos teores de açúcar de adição e CG, além de

quantidades reduzidas de gordura saturada, aliado à quantidades aumentadas das

monoinsaturadas. Após um ano observaram que os valores do NT-próBNP reduziram

70,3 pg/ml no grupo do óleo e 84,7 pg/ml no grupo das oleaginosas comparados com

o grupo controle, ambos com significância estatística25

. A dieta mediterrânea foi

anteriormente descrita como interessante na prevenção secundária, na qual além do

controle dos fatores de risco almejado na prevenção primária, espera-se reduzir o

risco de complicações das DCV, como morte súbita e insuficiência cardíaca61

. Por

tratar-se de efeito encontrado em população semelhante à estudada, a alimentação

habitual caraterizada por teores controlados de açúcares de adição e CG dietética,

associada a perfil lipídico adequado, pode ser promissor no manejo dos peptídeos

natriuréticos.

Algumas considerações sobre o presente estudo se fazem necessárias.

Primeiramente, foi dosado o BNP ao invés do NT-próBNP, que por possuir meia

vida mais curta (cerca de vinte minutos, versus cento e vinte), dificulta acúmulos e

variações indesejados na sua concentração62

. Ressalta-se a utilização de QFA

validado que estima a ingestão habitual dos indivíduos, e o ajuste realizado nas

variáveis de ingestão alimentar para o total de energia, pelo método dos resíduos, que

garante que a associação observada ocorre de forma independente da ingestão

energética, uma vez que quanto maior o consumo de carboidratos, maior será o valor

total de quilocalorias da dieta. Além disto, as variáveis de interesse foram tratadas de

forma contínua estimando o incremento ocorrido no BNP em pg/ml a cada

grama/unidade ingerida pela alimentação, diferentemente de estudos que

frequentemente avaliam o efeito na saúde de nutrientes ou alimentos comparando-os

com níveis de recomendação ou padrão dietético, e para os indicadores de resposta

glicêmica as comparações são com pontos de corte. Desta forma, pode-se observar a

associação da ingestão de açúcar de adição e da CG dietética no BNP desta

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população, mesmo estando seus níveis médios dentro da normalidade (inferiores a

35pg/ml)35

.

E finalmente, por este estudo ser de delineamento transversal, poder-se-ia supor

que indivíduos, já em tratamento no momento do estudo, poderiam ter melhorado sua

alimentação bem como aspectos relacionados ao estilo de vida, melhorando

consequentemente, seus níveis plasmáticos de BNP (causalidade reversa). No

entanto, observou-se associação tanto do açúcar de adição como da CG com este

peptídeo. Tal associação pode estar subestimada, pois sem o tratamento, a ingestão

habitual de açúcar de adição ou a CG dietética poderiam estar maiores e

consequentemente a magnitude da associação com o BNP. Também, outros possíveis

fatores confundimentos podem não ter sido considerados, o que poderia alterar a

associação aqui encontrada.

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66

Conclusão

A ingestão de açúcar de adição e a carga glicêmica dietética associaram-se

positivamente com os níveis séricos de peptídeo natriurético tipo-B nesta população.

Atenção quanto à quantidade e qualidade dos carboidratos dietéticos, especialmente

os açúcares de adição em população com risco de desenvolver ou portadora de

insuficiência cardíaca, mostra-se promissora em trazer benefícios tanto na prevenção

como no tratamento da síndrome.

Contudo, como a relação entre a alimentação e os peptídeos natriuréticos é um

assunto muito pouco investigado até o momento, faz-se necessário a realização de

mais estudos, especialmente controlados, para melhor compreender a participação da

alimentação usual dos indivíduos e, consequentemente, dos nutrientes que a

compõem, e sua influência na saúde cardiovascular; para dessa forma, aprimorar

tanto as políticas de alimentação e nutrição como o tratamento dietoterápico das

doenças que acometem o coração.

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74

8. Considerações finais

O peptídeo natriurético tipo-B demonstra ser um aliado importante no

diagnóstico e no manejo da IC, por ser precocemente e altamente correlacionado com

os agravos sofridos pelo coração.

A ingestão alimentar habitual dos indivíduos constitui aspecto importante a ser

avaliado no monitoramento e avaliação da situação de saúde das populações, uma

vez que, tem sido constantemente associado tanto com fatores de risco como com

diversas doenças crônicas, dentre elas as cardiovasculares.

Os resultados encontrados no presente estudo mostraram que incremento do

consumo de açúcar de adição, bem como elevação da carga glicêmica dietética, seja

por maior consumo de carboidratos ou maior consumo de alimentos de alto IG,

possui relação positiva com os níveis séricos deste peptídeo. Tal fato demonstra

participação da alimentação na etiologia da insuficiência cardíaca

Pesquisas mais apuradas são necessárias para melhor compreender a influência

da ingestão alimentar habitual dos indivíduos e seus efeitos no coração, de forma a

subsidiar as estratégias de prevenção e tratamento relacionadas à nutrição nos

modelos de atenção básica de saúde.

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10. Anexos

10.1. Termo de consentimento livre e esclarecido

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10.2. Questionário de frequência alimentar

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