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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE INSTITUTO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA MESTRADO EM SAÚDE COLETIVA Olga Leticia Penido Xavier Contribuição para o estabelecimento de níveis de referência para a concentração de mercúrio no sangue de crianças Rio de Janeiro 2011

Instituto de Estudos em Saúde Coletiva · universidade federal do rio de janeiro centro de ciÊncias da saÚde instituto de estudos em saÚde coletiva mestrado em saÚde coletiva

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CINCIAS DA SADE

    INSTITUTO DE ESTUDOS EM SADE COLETIVA MESTRADO EM SADE COLETIVA

    Olga Leticia Penido Xavier

    Contribuio para o estabelecimento de nveis de referncia para a concentrao de mercrio no sangue de crianas

    Rio de Janeiro 2011

  • 2

    Olga Leticia Penido Xavier

    Contribuio para o estabelecimento de nveis de referncia para a concentrao de mercrio no sangue de crianas

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-graduao em Sade Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, como requisito obteno do Ttulo de Mestre em Sade Coletiva.

    Orientador: Prof. Dr. Volney de Magalhes Cmara

    Rio de Janeiro 2011

  • X3 Xavier, Olga Letcia Penido. Contribuio para o estabelecimento de nveis de referncia

    para a concentrao de mercrio no sangue de crianas / Olga Letcia Penido Xavier. Rio de Janeiro: UFRJ/ Instituto de Estudos em Sade Coletiva, 2011. 90 f.; 30cm. Orientador: Volney de Magalhes Cmara. Dissertao (Mestrado) - UFRJ/Instituto de Estudos em Sade Coletiva, 2011. Inclui bibliografia. 1. Mercrio. 2. Criana. 3. Sangue. 4. Padres de referncia. I. Cmara, Volney de Magalhes. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Estudos em Sade Coletiva. III. Ttulo. CDD 615.925663

  • 3

    FOLHA DE APROVAO

    Olga Leticia Penido Xavier

    Contribuio para o estabelecimento de nveis de referncia para

    a concentrao de mercrio no sangue de crianas

    Dissertao submetida ao Programa de Ps-Graduao em Sade Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, aprovada pela Banca Examinadora composta pelos seguintes membros:

    _________________________________________ Prof. Dr. Volney de Magalhes Cmara

    Professor Titular da Faculdade de Medicina e do Instituto de Estudos em Sade Coletiva /UFRJ

    __________________________________________ Prof. Dr. Paulo Rubens Guimares Barrocas

    Pesquisador da Fundao Oswaldo Cruz (ENSP/FIOCRUZ)

    __________________________________________ Prof.a Dr.a Carmen Ildes Rodrigues Fres Asmus

    Professora Adjunta da Faculdade de Medicina e do Instituto de Estudos em Sade Coletiva/ UFRJ

  • 4

    DEDICATRIA

    Dedico esse trabalho Deus, por me conceder mais uma oportunidade de crescimento e fortalecimento

    para superar os desafios ao longo dessa caminhada. Aos meus queridos pais, Noemia e Joo, pelo incentivo e presena constantes,

    mesmo distantes. minha amada filha, Patricia, uma grande razo na minha vida.

    Ao Haroldo com quem dividi alguns momentos desse trabalho.

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    AGRADECIMENTOS

    Deus pelo amor eterno. Em especial ao Professor Volney de Magalhes Cmara, pela orientao nesse

    Projeto atravs de seu grande conhecimento e dedicao. Aos professores do Programa de Ps-graduao em Sade coletiva com os quais

    muito aprendi. Prof Carmen Ildes coordenadora do Subprojeto crianas escolarese a equipe

    que desenvolveu o trabalho de campo: Maria Izabel Filhote, Carina Lino, Maira Mazoto e Thatiana Vernica Fernandes

    As professoras, diretoras, e crianas escolares das Escolas Yuri Gagarin e Ney Palmeiro que participaram da pesquisa.

    Aos colegas de mestrado pelo companheirismo e solidariedade. A todos os colegas do IESC pelo apoio em vrias etapas do trabalho.

    s Amigas Enfermeiras Tania Maria Brasil e Ana Maria Branco de Oliveira e a Tcnica de Enfermagem Justina Nogueira, com as quais compartilhei parte de

    minha carreira profissional. Enfim, a minha famlia, os amigos, e a todos que de alguma forma acreditaram,

    contriburam e estiveram presentes durante essa etapa.

  • 6

    RESUMO

    Introduo: O mercrio um metal de elevada toxicidade e as crianas representam o subgrupo mais suscetvel da populao. Neste sentido, tornam-se relevantes a definio de valores de referncia em populaes no expostas para servirem como parmetros na avaliao da exposio. Objetivo: Analisar os nveis de concentrao de mercrio total no sangue de crianas escolares, de 8 a 10 anos, de duas escolas do municpio do Rio de Janeiro, para o estabelecimento de nveis de referncia de mercrio no sangue de crianas em uma rea urbana. Material e mtodos: Foi realizado estudo transversal da concentrao de mercrio no sangue em 220 crianas escolares de 8 a 10 anos de ambos os sexos de duas escolas da rede municipal de ensino do Municpio do Rio de Janeiro. Foram aplicados questionrios e coletadas amostras de sangue. A anlise do teor de mercrio no sangue foi realizado por Espectrometria de Massa Acoplado a Plasma Indutivo, no Laboratrio de Toxicologia de Metais da Universidade de So Paulo (USP). O teste no paramtrico de Mann-Whitney foi utilizado na anlise estatstica dos dados. Resultados: A mdia de mercrio total das crianas participantes foi de 0,89g/L, sendo 0,63g/L na escola Yuri Gagari e 1,01g/L na escola Desembargador Ney Palmeiro. Estes resultados so compatveis com resultados de outros estudos internacionais e podem ser utilizados como valores de referncia para pesquisas em reas impactadas ambientalmente pelo mercrio. Palavras-chave: Mercrio; Criana; Sangue; Nvel de Referncia.

  • 7

    ABSTRACT

    Introdution: Mercury is a highly toxic metal and the chidren represent the most susceptible subgroup of the population. In this regard, reference value definition in non-exposed populations becomes relevant to provide parameters for exposure assessment. Objective: Analysing total mercury concentration level in blood of school children, aged 08-10 years old, from two distinct public schools in Rio de Janeiro, to establish mercury reference values in childrens blood in the urban site. Material and Methods: Crosssectional study has been carried out on mercury concentration in blood of 220 school children 08-10 years old, both male and female, from two public schools in Rio de Janeiro. Surveys have been administered and blood samples collected. Blood mercury content analysis have been undertaken by Inductively Coupled Plasma Mass Spectometry (ICP-MS) in the Laboratory of Toxicology at the University of Sao Paulo (USP). Mann-Whitney Nonparametric Test has been used for statistical data analysis. Results: Mean total mercury concentration in blood based on children studied was 0,89ug/L, between 0,63ug/L for children studied at Yuri Gagarin School and 1,01ug/L for those at Desembargador Ney Palmeiro School. Outcomes are compatible with those from any leading study worldwide and may be applied as reference values to research studies on environmentally mercury-impacted areas. Keywords: Mercury; Children; Blood; Reference Level.

  • 8

    LISTA DE SIGLAS

    ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas ATSDR Agency for Toxic Substances & Disease Registry B-Pb Blood Lead Levels Cd Cdmio CDC Centers for Disease Control and Prevention CEP Comit de tica em Pesquisa CGVAM/SVS Coordenao Geral de Vigilncia em Sade Ambiental da Secretaria de Vigilncia em Sade CHMS Canadian Health Measures Survey CIEP Centro Integrado de Educao Pblica CRE Coordenadoria Regional de Educao EPA Environmental Protection Agency FIOCRUZ Fundao Oswaldo Cruz GerES German Environmental Survey HBM Human Biological Monitoring Hg Mercrio IARC International Agency for Research on Cancer IESC/UFRJ Instituto de Estudos em Sade Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro IMC ndice de Massa Corporal ICV - ndice de Condies de Vida IDH ndice de Desenvolvimento Humano LOD Limit of Detection NHANES United States National Health and Nutrition Examination Survey NR Norma Regulamentadora OMS Organizao Mundial da Sade Pb Chumbo SPSS Statistical Package for the Social Sciences UNEP United Nations Environment Programme USA United States of American USP Universidade de So Paulo VR valor de referncia

  • 9

    LISTA DE TABELAS

    p.

    Tabela 1: Caractersticas descritivas da populao estudada.................... 50

    Tabela 2: Medidas descritivas da concentrao de mercrio (g/L) total

    no sangue segundo escolas estudadas......................................

    51

    Tabela 3: Mdia aritmtica e desvio padro da concentrao de

    mercrio (g/L) total no sangue das crianas, segundo

    variveis selecionadas nas Escolas CIEP Yuri Gagarin e

    Desembargador Ney Palmeiro.

    52

    Tabela 4: Mdia geomtrica e intervalo de confiana da concentrao de

    mercrio total (g/L) nos escolares participantes do estudo e

    outros estudos internacionais selecionados

    53

  • 10

    SUMRIO

    p.

    1 INTRODUO ........................................................................................... 12

    1.1 NOTA INTRODUTRIA .......................................................................... 12

    1.2 SUB-PROJETO CRIANAS ESCOLARES AVALIAO DE

    MERCRIO NO SANGUE ............................................................................

    13

    2 OBJETIVOS .............................................................................................. 15

    2.1 OBJETIVO GERAL ................................................................................. 15

    2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS ................................................................... 15

    3 JUSTIFICATIVA ........................................................................................ 16

    4 REVISO BIBLIOGRFICA ..................................................................... 17

    4.1 O MERCRIO ......................................................................................... 17

    4.2 OS BIOMARCADORES .......................................................................... 25

    4.3 A SUSCETIBILIDADE DAS CRIANAS ................................................. 29

    4.4 VALORES DE REFERNCIA ................................................................. 33

    5 MATERIAL E MTODOS .......................................................................... 43

    5.1 DESENHO DO ESTUDO ........................................................................ 43

    5.2 LOCAL DO ESTUDO .............................................................................. 43

    5.3 PARTICIPANTES DO ESTUDO ............................................................. 44

    5.4 COLETA DO MATERIAL ........................................................................ 45

    5.4.1 Coleta de dados ................................................................................... 45

    5.4.2 Coleta de material biolgico ................................................................. 46

    5.5 ANLISE DO MATERIAL ....................................................................... 47

    5.5.1 Anlise do material biolgico ............................................................... 47

    5.5.2 Anlise dos dados ................................................................................ 47

    5.6 PROCEDIMENTOS TICOS .................................................................. 48

  • 11

    6 RESULTADOS

    7 CONSIDERAOES FINAIS

    REFERNCIAS BILBIOGRFICAS

    48

    ARTIGO ............................................................................................ 57

    ANEXOS ....................................................................................................... 76

    ANEXO I TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ..... 77

    ANEXO II CARTA DE APRESENTAO DO SUBPROJETO PILOTO

    COM CRIANAS ESCOLARES DIREO E PROFESSORES DA

    ESCOLA .......................................................................................................

    79

    ANEXO III QUESTIONRIO DIRECIONADO S CRIANAS ................. 81

    ANEXO IV QUESTIONRIO DIRECIONADO FAMLIA ....................... 84

    ANEXO V PARECER DO COMIT DE TICA ........................................ 90

  • 12

    1 INTRODUO

    1.1 NOTA INTRODUTRIA

    A proposta desta dissertao surgiu do Subprojeto Crianas Escolares,

    em desenvolvimento pelo Instituto de Estudos em Sade Coletiva da

    Universidade Federal do Rio de Janeiro (IESC/UFRJ), que vinculado a um

    estudo proposto pela Coordenao Geral de Vigilncia em Sade Ambiental da

    Secretaria de Vigilncia em Sade (CGVAM/SVS), do Ministrio da Sade,

    denominado Projeto Piloto do I Inqurito Nacional de Populaes Expostas a

    Substncias Qumicas. Participaram ainda deste projeto a Fundao Oswaldo

    Cruz (FIOCRUZ) e a Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo

    (USP), as quais ficaram responsveis pelos segmentos: doadores de sangue e

    recrutas das Foras Armadas.

    O objetivo principal do Subprojeto de responsabilidade do IESC foi a

    avaliao da exposio da populao de crianas escolares, residente na cidade

    do Rio de Janeiro, s substncias qumicas de interesse em Sade Pblica:

    Chumbo (Pb), Cdmio (Cd) e Mercrio (Hg) nas matrizes: sangue capilar e unha.

    Foi realizado um estudo de corte transversal em crianas matriculadas em duas

    escolas da rede municipal de ensino da cidade do Rio de Janeiro. Nesta

    dissertao foram privilegiados os dados sobre exposio ao mercrio atravs da

  • 13

    concentrao deste metal no sangue, com o objetivo de contribuir para o

    estabelecimento de nveis de referncia de mercrio no sangue de crianas.

    1.2 SUB-PROJETO CRIANAS ESCOLARES AVALIAO DE MERCRIO

    NO SANGUE

    O mercrio ocorre naturalmente na crosta terrestre. Existe no ambiente

    como resultado de processos naturais e atividades humanas (ATSDR, 1999).

    um metal pesado, persistente e globalmente distribudo. conhecido desde a

    antiguidade sendo utilizado em processos de amalgamao e na alquimia com

    finalidades teraputicas. Somente a partir do sculo XVIII que suas

    propriedades fsico-qumicas foram descritas (QUEIROZ, 1995). Os efeitos

    txicos consequentes da utilizao do mercrio foram descritos primeiramente em

    atividades ocupacionais (RAMAZZINI, 1999). O mercrio foi o primeiro elemento

    qumico a ser objeto de legislao para controle de doena em trabalhadores

    (AZEVEDO, 2003).

    O incremento em sua utilizao a partir da Segunda Guerra Mundial e em

    acidentes como o ocorrido em Minamata, no Japo, chamou a ateno de

    autoridades e rgos nacionais e internacionais para as questes relacionadas

    contaminao pelo mercrio (LINDBERG, 1998).

    A exposio humana pode ocorrer no ambiente de trabalho ou no ambiente

    domstico por meio de diferentes vias: inalatria, oral, e drmica (ATSDR, 1999).

    As crianas representam um subgrupo da populao que devido s

    caractersticas relacionadas s fases de crescimento e desenvolvimento,

    principalmente nos perodos crticos, na fase pr e ps-natal, esto mais

  • 14

    susceptveis aos efeitos txicos das substncias qumicas (ATSDR, 1999; BOSE-

    OREILLY et al., 2010; MYERS & DAVIDSON, 1998; SLY, 2008). As diferentes

    formas fsico-qumicas do mercrio, os mecanismos de ao txicos e os

    consequentes efeitos adversos sade tm sido objeto de grandes estudos e

    intenso debate (CLARKSON, 2006; COUNTER & BUCHANAN, 2004; DIEZ, 2009;

    WHO, 2003). A Agncia Federal do Ambiente, na Alemanha, utiliza como critrio

    para controle em medicina ambiental, valores de referncia e de monitorizao

    biolgica humana. Os valores de referncia servem para caracterizar o valor limite

    de exposio, baseados nos nveis basais da populao em geral, para uma

    substncia toxica ambiental em um determinado momento (EWERS et al., 1999).

    O valor limite identifica os nveis de exposio abaixo dos quais no ocorre dano

    sade em pessoas expostas. Esse valor est baseado em estudos de dose-

    resposta e relao dose-efeito, e quando associado a outros fatores, como

    econmico e social, os nveis podem ser considerados padro. Os valores de

    referncia, quando derivados de observaes de um grupo com caractersticas

    determinadas, podem servir de controle para outro grupo a ser estudado (KUNO

    et al., 2010). Os valores de referncia para a exposio ocupacional ao mercrio

    esto bem estabelecidos. Agncias ambientais internacionais da Alemanha,

    Canad e Estados Unidos vm desenvolvendo estudos populacionais buscando

    detectar os nveis de exposio de crianas variadas substncias qumicas. No

    Brasil existem alguns estudos com crianas expostas ambientalmente, por

    residirem em reas impactadas pela minerao, como parte da populao

    ribeirinha e de famlias de garimpeiros. Estudos que contribuam para o

    estabelecimento de parmetros de referncia podem ser usados para identificar

    crianas com nvel de exposio interna acima da populao geral e subsidiar

  • 15

    polticas ambientais de controle da exposio, bem como aes de preveno de

    efeitos nocivos sade (ATSDR, 1999; EWERS et al., 1999; SANTOS et al.,

    2002; SCHULZ et al., 2009; WILHELM et al., 2006).

    2 OBJETIVOS

    2.1 OBJETIVO GERAL

    Analisar os nveis de concentrao de mercrio no sangue de crianas

    escolares, de 8 a 10 anos, de duas escolas do Municpio do Rio de Janeiro, a fim

    de contribuir para o estabelecimento de nveis de referncia de mercrio no

    sangue de crianas.

    2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS

    - Identificar dados demogrficos e de hbitos de vida de crianas escolares;

    - Detectar os nveis de concentrao de mercrio no sangue de crianas

    escolares;

    - Comparar os nveis de concentrao de mercrio no sangue das crianas

    das duas escolas; comparar esses resultados com outros estudos.

  • 16

    3 JUSTIFICATIVA

    Os efeitos sade causados pelo mercrio podem depender da forma

    qumica, da dose e do tempo no qual a pessoa ficou exposta. Alm das

    propriedades qumicas da substncia, as caractersticas genticas e o estilo de

    vida podem contribuir para a resposta do organismo a uma dada exposio. Os

    valores de referncia podem contribuir para comparar nveis de exposio entre

    populaes expostas e no exposta.

    Esta pesquisa relevante, uma vez que, existem poucos trabalhos que

    abordam os efeitos do mercrio em crianas, portanto o presente estudo se

    justifica por poder vir a contribuir com o estabelecimento de valores de referncia

    para o mercrio no sangue de crianas.

    Os resultados podem servir como subsdio para aes educativas e

    preventivas relacionadas exposio de crianas a substancias qumicas, em

    especial o mercrio.

  • 17

    4 REVISO BIBLIOGRFICA

    4.1 O MERCRIO

    O mercrio em elemento que ocorre naturalmente nos compartimentos

    ambientais. Pode ser encontrado em vrias formas orgnicas e inorgnicas sendo

    persistente no meio ambiente. As trs formas primrias incluem o mercrio

    elementar, o mercrio inorgnico ou inico e o mercrio orgnico (UNEP, 2008).

    O mercrio elementar um metal brilhante, prateado, lquido temperatura

    ambiente e, quando evapora, forma vapor incolor e inodoro. O mercrio

    inorgnico quando se combina com elementos como o cloro, enxofre ou oxignio

    forma os compostos de mercrio inorgnicos ou sais de mercrio que so ps

    brancos ou cristais, com exceo de sulfeto de mercrio, tambm conhecido

    como cinbrio, que vermelho e escurece na presena da luz. Os compostos

    orgnicos de mercrio ou organomercuriais so originados da combinao do

    mercrio com o carbono, encontrados comumente na forma de metilmercrio e

    etilmercrio (ATSDR, 1999; CLARKSON, 1994).

    Nos compartimentos ambientais pode se apresentar como inorgnico e/ou

    orgnico. Na forma inorgnica pode ser encontrado sob trs diferentes estados de

    oxidao: o Hg elementar (Hg0), o qual se encontra principalmente na forma de

    gs, o on mercrico (Hg2+) e o on mercuroso (Hg2+) , forma pouco estvel em

    sistemas naturais. Na forma orgnica, o on mercrico apresenta-se ligado

    covalentemente a um radical orgnico, sendo o metilmercrio (CH3Hg)+ e o

    dimetilmercrio ((Hg(CH3)2), os mais comuns (CDC, 2009; SCHULZ et al., 2007).

    O mercrio se difunde no ambiente atravs do ar, do sedimento, da gua e por

  • 18

    organismos biolgicos, atravs da cadeia alimentar. Na atmosfera est circulando

    sob a forma de vapor, podendo ser transportados por milhares de quilmetros, de

    variadas fontes de emisso. medida que circula, o mercrio sofre uma srie de

    transformaes qumicas e fsicas complexas, as quais no esto completamente

    esclarecidas (EPA, 1997).

    As emisses naturais de mercrio ocorrem durante as erupes vulcnicas,

    os incndios florestais, a eroso do solo e das rochas, a evaporao de corpos de

    guas naturais e das minas de mercrio. O mercrio sob forma de vapor (Hg0)

    a principal forma de mercrio liberada na atmosfera por processos naturais

    (ATSDR, 1999).

    As fontes antrpicas ocorrem pela queima de combustveis fsseis,

    principalmente o carvo e o petrleo, na incinerao de resduos slidos, da

    minerao e fundio. O mercrio amplamente utilizado na extrao e refino de

    ouro; na produo de cimento; na manipulao e utilizao do amlgama dentrio

    nas obturaes, pelos dentistas; na produo eletroltica de cloro-soda, de

    acetaldedo; como ctodo na eletrlise de cloreto de sdio; produo de polpa de

    papel; na formulao de sabonetes e cremes de clareamento da pele; em alguns

    remdios base de plantas; nos rituais espirituais e prticas religiosas; na

    fabricao de termmetros, barmetros, baterias, interruptores eltricos,

    lmpadas, tintas, pesticidas e produtos odontolgicos (CLARCKSON, 2002).

    A emisso de mercrio das atividades industriais estimada em 2.000 a

    3.000 toneladas/ano, pela Organizao Mundial de Sade (OMS). Estimativas

    recentes indicam que das 200.000 toneladas de mercrio emitidas para a

    atmosfera desde 1890, grande parte permanecem no solo terrestre e o restante

    nas guas ocenicas superficiais e na atmosfera (DELLA ROSA, 2008). As minas

  • 19

    de mercrio so responsveis por emisses de mercrio na ordem de 2.700 a

    6.000 toneladas/ano (BUENO, 1990; CLARKSON, 1994).

    A toxicocintica das diferentes formas de mercrio consideravelmente

    varivel. O mercrio elementar pouco absorvido pelo trato gastrointestinal

    normal, assim como pela via drmica. Ele absorvido principalmente pela

    inalao do vapor, fazendo com que a via area se caracterize como sendo a

    forma de exposio de maior preocupao. O vapor absorvido pelos pulmes

    distribudo para a maioria dos tecidos, entretanto concentraes elevadas

    ocorrem comumente nos rins (CDC, 2009). Depois de absorvido o mercrio

    elementar oxidado nos eritrcitos e tecidos, para as formas de mercrio

    inorgnico. O mercrio inorgnico distribui-se na corrente sangunea, com uma

    concentrao maior no plasma (OGA, 1996). As concentraes sanguneas

    declinam rapidamente, com meia vida de cerca de 1 a 3 dias, seguida por uma

    lenta meia vida de 1 a 3 semanas (BARREGARD et al., 1992). A excreo do

    mercrio elementar ocorre predominantemente por meio dos rins, e os nveis de

    pico na urina podem ser maiores do que no sangue em dias ou semanas. O

    mercrio orgnico pode ser absorvido pelo trato gastrointestinal; uma parte

    penetra no organismo, atravessa a barreira hematoenceflica atingindo o rgo

    de maior afinidade, o crebro, particularmente o cortx posterior (BARREGARD,

    1992; IARC, 2004; WHO, 1991).

    A absoro do metilmercrio se d pelo trato gastrointestinal em torno de

    95%. Ele penetra no crebro e em outros tecidos e posteriormente sofre uma

    desalquilao lenta para mercrio inorgnico (VAHTER, 1994). O mercrio

    elementar e o metilmercriio se diferem das demais formas pela capacidade de

    atravessar com facilidade as barreiras hematenceflica e placentria. Estudos

  • 20

    indicam que o metilmercurio diminui no sangue e em todo o corpo com uma meia

    vida de aproximadamente 50 dias, e sua eliminao ocorre, na maior parte, pelas

    fezes. Por ser incorporado ao crescimento do cabelo, este pode ser usado como

    medida de dose acumulada. O mercrio inorgnico e o metilmercrio esto

    distribudos no leite materno humano em concentraes relativamente baixas,

    sendo que a transferncia pode ser mais eficiente para o mercrio inorgnico

    (GRANDJEAN et al., 2007; OSKARSSON et al., 1996).

    Em comparao com adultos, crianas, em diferentes perodos de

    desenvolvimento, apresentam diferenas toxicocinticas relacionadas ao maior

    dbito cardaco, ao aumento do fluxo sanguneo para o crebro e circulao

    sangunea reduzida nos rins at a idade de cinco meses. O organismo da criana,

    em determinadas fases, poder ter um maior volume de distribuio de

    substncias solveis em gua e menor volume de substncias lipossolveis

    (ACTION PROGRAME, 2004).

    O mercrio um elemento no essencial ao organismo, possui efeito txico

    cumulativo e pode se unir a uma variedade de componentes citoplasmticos e de

    sistemas enzimticos, incluindo: microssomos, lissossomos e mitocndrias,

    causando leses inespecficas at a morte celular (GOYER, 1986). Apresenta

    grande afinidade pelos grupos sulfidrilas, pelo fosfato, carboxila, amino e seleno-

    hidrol. Esses grupos esto presentes em protenas e outras molculas biolgicas,

    podendo assim interferir nas funes dos organismos e causar leses nos rgos.

    Os principais stios de deposio para o mercrio elementar so os rins e o

    crebro, enquanto que para os compostos orgnicos os rins so os reservatrios

    (OGA, 1996).

  • 21

    O metilmercrio pode ligar-se aos grupos sulfidrilas existentes nas

    protenas dos seres humanos. No organismo ele se converte em um complexo

    protico, mantendo grande mobilidade atravs dos tecidos animais. A

    lipossolubilidade dos compostos organomercuriais tambm facilita sua passagem

    atravs dos tecidos. Estes compostos tambm podem ser absorvidos pela pele e

    pelo trato gastrointestinal (WHO, 1990).

    O mercrio um poluente txico persistente, cujo contato pode ocorrer no

    ambiente profissional e nos ambientes domsticos. Nas atividades dirias normais

    a maioria das pessoas apresenta alguma exposio a uma das formas do

    mercrio. A inalao a principal via de exposio ao mercrio elementar, ocorre

    por meio da aspirao de ar ambiente durante atividades ocupacionais, do

    processo de produo industrial que utiliza o mercrio; dos resduos da produo

    de mercrio em locais abandonados; de amlgamas dentrios; pelo

    derramamento acidental de um termmetro ou um recipiente contendo mercrio, o

    qual se vaporiza rapidamente temperatura ambiente e por meio da minerao e

    fundio artesanal do ouro, na qual muitas crianas esto envolvidas (BOSE-

    OREILLY et al., 2010). A exposio ao metilmercrio ocorre, principalmente, por

    meio da dieta, pelo consumo frequente de grande quantidade de peixes e outras

    espcies marinhas. Outras possveis rotas de exposio a diferentes formas de

    mercrio podem ocorrer por exposio drmica e pelo aleitamento materno

    (ATSDR, 1999; UNEP, 2002).

    Mais recentemente pesquisadores alertaram para a possibilidade de

    exposio de crianas atravs de vacinao (CLARKSON, 2002; MARQUES et

    al., 2007). O thimerosal, que contm etilmercrio, um conservante amplamente

    usado na formulao de vacinas, e tornou-se uma importante fonte de mercrio

  • 22

    em crianas que, nos dois primeiros anos de vida, podem ter recebido uma

    grande quantidade de mercrio excedendo as diretrizes de segurana

    (BERNARD, et al., 2001).

    As crianas esto expostas a uma diversidade de substncias qumicas

    txicas provenientes de processos naturais que ocorrem no ambiente ou de

    resultados da atividade humana. Os poluentes do ar, os pesticidas, os produtos

    qumicos industriais, os metais, os remdios tradicionais e as substncias usadas

    em rituais e prticas religiosas (COUNTER & BUCHANAN, 2004), dentre outros,

    podem comprometer a sade das crianas, em diferentes graus, ao longo dos

    anos de desenvolvimento (ACTION PROGRAME, 2004; WHO, 2006).

    O estgio de desenvolvimento da criana no qual ocorre a exposio tem

    grande influncia sobre as consequncias desse contato (ACTION PROGRAME,

    2004). O perodo crtico corresponde s fases de preconcepo, gestao e ps-

    natal, devido formao das clulas neurais, e os subsequentes estgios do

    desenvolvimento do sistema nervoso central, quando o resultado dos efeitos

    neurotxicos do mercrio podem ser permanentes (GRANDJEAN, 2007;

    MURATA et al., 2004).

    Na fase fetal a exposio pode ocorrer pelo metilmercrio ingerido pela

    me, atravs do consumo de peixes e frutos do mar; pelo mercrio metlico

    inalado pelo ar contaminado; e por outros compostos de mercrio presentes em

    cremes para clareamento da pele e outros produtos cosmticos. Na fase neonatal

    pode ocorrer por meio do leite contaminado da me. O consumo de peixes e o

    amlgama dental, utilizado para preenchimento em obturaes, so exemplos de

    formas de exposio para crianas maiores (ATSDR, 1999).

  • 23

    A toxicidade do mercrio varia nos seus diferentes compostos. A forma

    orgnica extremamente txica, no apenas para o ser humano, mas para toda a

    biota. Pela presena do radical orgnico, esta espcie pode entrar rapidamente

    na corrente sangunea, causando danos irreparveis ao sistema nervoso central.

    Podendo causar intoxicao aguda, com predominncia dos sinais e sintomas

    respiratrios e intoxicaes subagudas e crnicas, afetando alm do sistema

    nervoso, os rins e a pele (WHO, 1991). A frao no absorvida eliminada,

    principalmente por meio da urina. Em acidentes por intoxicao constatou-se que

    a vida intrauterina mais suscetvel aos danos cerebrais, uma vez que, o

    metilmercrio parece interferir nos processos de diviso celular. Nos casos de

    exposio severa do feto, relatou-se problemas neurolgicos graves e, inclusive,

    m-formao ceflica (WHO, 1990).

    A IARC (2004) considera o metilmercrio como um possvel carcingeno

    humano e o mercrio elementar e inorgnico como inclassificvel em relao

    carcinogenicidade humana.

    Os efeitos do mercrio sade podem depender da dose, da forma

    qumica e da durao da exposio. Os efeitos adversos sade nas crianas

    so semelhantes aos observados em adultos quando as vias de contaminao e

    as formas de mercrio so iguais (WHO, 2003).

    A exposio ocupacional ao vapor de mercrio elementar tem sido

    associada com os efeitos subclnicos de disfuno renal (WHO, 1991). A

    exposio aguda a altas doses de vapor de mercrio pode causar pneumonite

    grave. Na exposio crnica sinais e sintomas podem incluir tremores; heretismo;

    gengivite; distrbios comportamentais, como: irritabilidade, depresso, labilidade

    emocional, dficit cognitivo, fadiga, anorexia (CDC, 2009). A exposio a nveis

  • 24

    baixos de mercrio em amlgama dental no tem sido associada a efeitos

    neurolgicos em adultos ou crianas (BATES et al., 2004).

    Os efeitos irritantes ou corrosivos no trato gastro-intestinal podem ocorrer

    pela exposio por ingesto de grande quantidade do mercrio inorgnico. A

    parte absorvida pode levar necrose tubular renal. Crianas quando expostas ao

    xido de mercrio, calomelano, e outras formas inorgnicas podem desenvolver

    acrodinia, uma sndrome tipicamente peditrica, com exantema maculo-papular,

    descolorao rosada das mos e dos ps, e outros sinais e sintomais, tais como:

    anorexia, insnia, irritabilidade e hipertenso arterial (BOSE-OREILLY et al.,

    2010).

    A intoxicao pelo metilmercrio ocorre atravs da via digestiva atingindo

    de forma insidiosa e crnica, principalmente, o sistema nervoso central. Os

    efeitos podem se manifestar por parestesia, ataxia, disartria, distrbios sensoriais,

    seguidos por constrico progressiva dos campos visuais, aps uma latncia de

    semanas ou at meses (WHO, 1991). A exposio pr-natal a um nvel elevado

    pode resultar em dficits de desenvolvimento, incluindo ataxia cerebelar, atraso

    mental, deformidades, alteraes do crescimento, deficincias sensoriais e

    paralisia cerebral, sendo que as preocupaes mais recentes esto relacionadas

    aos efeitos mais sutis, como as alteraes cognitivas nas crianas (WHO, 2003).

    A exposio ao etilmercrio atravs do thimerosal poderia estar relacionada com

    perturbaes do desenvolvimento neurolgico, como o autismo (CLARKSON,

    2006; HVIID, 2003).

  • 25

    4.2 OS BIOMARCADORES

    Biomarcadores so medies em sistemas ou amostras biolgicas que

    sinalizam uma interao entre o sistema biolgico e um agente ambiental, que

    pode ser qumico, fsico ou biolgico, podendo ser aplicados para avaliar a

    estimativa de exposio e dose interna, em indivduos e em grupos, permitindo

    identificar as pessoas em maior ou menor risco que o normal (AMORIM, 2003;

    WHO, 1993). Os biomarcadores so utilizados para vrios propsitos,

    dependendo da finalidade do estudo e do tipo da exposio e podem ser

    identificados em trs classes: biomarcador de exposio, biomarcador de efeito e

    biomarcador de suscetibilidade. Eles so instrumentos que possibilitam identificar

    a substncia txica ou uma condio adversa antes que sejam evidenciados

    danos sade (AMORIM, 2003; WHO, 1993).

    Um biomarcador de exposio uma substncia ou seu metablito, ou o

    produto de uma interao entre um agente xenobitico e alguma molcula-alvo ou

    clula, que medido dentro de um compartimento de um organismo. Vrios

    fatores podem confundir a interpretao e o uso de biomarcadores de exposio,

    como a carga resultante da exposio de mais de uma fonte, exposio a vrios

    compostos, propriedades da substncia, condies ambientais e substncias

    presentes nos tecidos que so minerais essenciais, por exemplo: cobre, selnio e

    zinco (WHO, 2003).

    Biomarcador de efeito qualquer alterao fisiolgica ou bioqumica

    mensurvel no organismo, que, dependendo da magnitude, pode ser reconhecida

    como um comprometimento de sade estabelecido ou potencial para uma

    doena. Inclui sinais bioqumicos ou celulares de disfuno tecidual, por exemplo:

  • 26

    o aumento da atividade das enzimas hepticas ou alteraes patolgicas em

    clulas epiteliais genitais femininas, bem como os sinais fisiolgicos de disfuno,

    como o aumento da presso arterial e a diminuio da capacidade pulmonar

    (WHO, 2003).

    Um biomarcador de susceptibilidade um indicador de uma limitao

    inerente ou adquirida da capacidade de um organismo para responder ao desafio

    da exposio a um xenobitico. Pode ser devido gentica intrnseca, outra

    caracterstica ou uma doena pr-existente que resulta em aumento da dose

    absorvida, aumento da dose biologicamente efetiva ou uma resposta do tecido

    alvo (NAS/NRC,1989).

    Concentraes de mercrio no sangue e na urina so comumente usados

    como biomarcadores de exposio ao mercrio. O cabelo tem sido utilizado como

    um biomarcador de exposio ao metilmercrio (PASSOS & MERGLER, 2008).

    Os biomarcadores de efeito para o mercrio tm sido avaliados

    frequentemente na presena de disfuno renal e neurolgica. Muitos desses

    efeitos txicos tm sido correlacionados com os nveis presentes na urina e no

    sangue (PASSOS & MERGLER, 2008). Muitos indicadores so inespecficos e

    podem ter seus resultados influenciados por outros fatores. As disfunes renais

    tm sido estudadas extensivamente como uma alterao mais sensvel

    exposio ao mercrio inorgnico. Marcadores para a toxicidade renal podem

    indicar a diminuio da funo, citotoxicidade ou mudanas bioqumicas. Os

    biomarcadores para a diminuio da funo renal incluem o aumento das

    protenas urinrias e a elevao dos nveis de creatinina no soro ou a beta-

    microglobulina (ATSDR, 1999).

  • 27

    Os efeitos neurofisiolgicos e neuropsicolgicos tm sido muito estudados

    em indivduos expostos ocupacionalmente, em um nvel de esforo monitorado,

    para determinar o valor limite relacionado aos efeitos indesejados. Assim como

    outros biomarcadores de efeito, as mudanas neurolgicas induzidas pelo

    mercrio podem assemelhar-se exposio a outros qumicos que causam danos

    cerebrais. Casos estudados so associados exposio ao vapor de mercrio,

    com efeitos neurolgicos tais como: tremores, insnia, instabilidade emocional,

    disfuno motora e muscular, dores de cabea, dor abdominal e acanhamento

    (ATSDR, 1999).

    Ainda no foram identificados biomarcadores de exposio especficos

    para crianas. Os nveis de mercrio presentes no cabelo, na urina e no sangue

    so as medidas padro de exposio. Existem biomarcadores de

    desenvolvimento, que so nicos para idades e estgios de desenvolvimento

    especficos da criana. Atualmente, o desenvolvimento de melhores mtodos de

    medidas para a avaliao das funes cognitivas uma rea de intenso debate e

    investigao (ATSDR, 1999).

    Em estudos epidemiolgicos a anlise do tecido ou do sangue do cordo

    umbilical adequada para avaliar a exposio pr-natal ao metilmercrio (BOSE-

    OREILLY et al., 2010).

    Passos & Mergler (2008), em uma reviso sobre a exposio humana ao

    mercrio e efeitos adversos sade, mostraram que estudos indicam a

    possibilidade da existncia de efeitos neurolgicos em adultos expostos a

    concentraes acima de 50mg/g de mercrio no cabelo, acarretando alteraes

    no sistema motor, visual e nas funes cognitivas.

  • 28

    Segundo Bernard (2001), estudos epidemiolgicos recentes sugerem que o

    autismo pode afetar uma em cada 150 crianas nos Estados Unidos. Foi

    observado que os traos definidores ou associados com o autismo so

    semelhantes s disfunes imunolgicas, sensoriais, motoras, neurolgicas e

    comportamentais que podem estar associadas exposio ao mercrio.

    Os sinais e sintomas geralmente so considerados na avaliao da

    toxicidade do mercrio. Em nveis baixo de exposio a maioria dos sintomas

    observados no so especficos para exposio ao mercrio. O diagnstico deve

    incluir uma avaliao da exposio. A fonte de exposio e a espcie de mercrio

    devem ser determinadas por meio da coleta e anlise adequada da amostra

    (BOSE-OREILLY et al., 2010).

    Efeitos adversos exposio ao vapor de mercrio em adultos, no

    ambiente de trabalho, tm sido confirmados. Nenhum estudo sobre efeitos

    adversos da exposio pr e ps-natal ao mercrio elementar foi documentado

    (DAVIDSON, et.al, 2004).

    A monitorizao biolgica humana pelo Centro de Controle de Doenas

    (CDC) em 1999 e 2000, em um estudo representativo da populao geral dos

    Estados Unidos, mostra que a maioria dos indivduos tem nveis de mercrio no

    sangue, porm abaixo de um nvel associado com possveis efeitos sade

    (SCHOBER et al., 2003).

    A maioria dos estudos sobre exposio ao mercrio desenvolvidos no

    Brasil apresenta dados sobre concentraes de mercrio em amostras de

    sangue, urina e cabelo, os quais so confrontados com valores considerados

    normais para populaes no expostas. Os valores de referncia so indicados

  • 29

    por diversos rgos nacionais e internacionais, assim como tambm so

    utilizados valores indicados pela legislao em vigor.

    4.3 A SUSCETIBILIDADE DAS CRIANAS

    Segundo a OMS, suscetibilidade a condio na qual existe uma

    diminuio da resistncia de um indivduo frente a determinada doena ou

    intoxicao, e que se observa com exposies doses inferiores s

    habitualmente nocivas para o resto da populao. Pode ser entendida tambm,

    como a disposio especial do organismo para acusar influncias exercidas sobre

    ele ou para adquirir doenas.

    Alguns fatores podem caracterizar uma populao suscetvel, so eles: a

    idade, por exemplo, os idosos, pelo declnio da funo dos rgos e a

    possibilidade de maior tempo de exposio; a gentica; o padro de sade; a

    presena de doenas pr-existentes, principalmente doenas do fgado, dos rins,

    do sistema nervoso e dos pulmes; o estado nutricional, incluindo os hbitos

    alimentares, a desnutrio, e as deficincias alimentares, como: carncia de zinco

    e selnio (ATSDR, 1999).

    A compreenso da toxicidade das substncias do ambiente baseada

    principalmente em investigaes com populaes humanas e animais adultos. A

    comunidade cientfica e as agncias reguladoras tm pouco conhecimento sobre

    como o organismo das crianas responde quando est exposto a substncias

    qumicas txicas. Alguns dados cientficos indicam que as crianas so mais

    suscetveis exposio a substncias txicas do que os adultos (WILLIAM,

    2002).

  • 30

    Segundo a UNEP (2010), em relao ao mercrio, existem duas

    subpopulaes suscetveis, ou seja, as que so mais sensveis aos efeitos do

    mercrio, das quais esto includos o feto, o recm-nascido e as crianas e,

    aquelas que esto expostas a nveis mais elevados de mercrio, tais como:

    pessoas que consomem regularmente grande quantidade de peixes, frutos do

    mar e carne de grandes mamferos marinhos, como focas e baleias;

    trabalhadores com exposio ocupacional elevada; indivduos com amlgamas

    dentrios e aqueles que utilizam medicamentos da medicina tradicional, produtos

    cosmticos e outros compostos que contenham mercrio em prticas culturais e

    religiosas.

    A suscetibilidade especfica das crianas em relao aos adultos pode

    estar relacionada ao comportamento da criana de acordo com a idade, s

    diferentes vias e cenrios de exposio e ao consumo proporcionalmente maior

    de contaminantes por meio dos alimentos. As condies especficas das

    diferentes fases do desenvolvimento biolgico relacionadas com o crescimento e

    desenvolvimento dos rgos e sistemas, assim como as caractersticas

    anatmicas, funcionais, fisiolgicas e metablicas podem influenciar o grau de

    exposio e os efeitos adversos sade (ATSDR, 1999; AU, 2002; SLY, 2008;

    WHO, 2006).

    As caractersticas fisiolgicas, tais como a taxa de respirao, o dbito

    cardaco, o fluxo sanguneo para os rgos, a composio dos tecidos, o

    crescimento e a composio ssea podem aumentar ainda mais a suscetibilidade

    das crianas s substncias txicas (WHO, 2006).

    Os bebs e as crianas, em sua dinmica de desenvolvimento, apresentam

    comportamentos tais como brincar no cho e na terra, levar a mo e objetos

  • 31

    boca. Em geral, essa forma de interao com o ambiente propicia que recebam

    uma dose mais elevada de substncias txicas para um dado nvel de exposio

    ambiental (AU, 2002; SLY, 2008).

    Fatores ambientais que resultem em efeitos adversos sobre a gravidez tais

    como, a restrio no crescimento intra-uterino, defeitos congnitos e at mesmo a

    perda fetal tm sido o foco das preocupaes. As exposies no perodo

    embrionrio, quando os rgos comeam a se diferenciar, podem ter como

    consequncia malformaes estruturais. A interrupo de processos como o

    crescimento e a migrao celular pode comprometer a funo de sistemas de

    rgos importantes.

    O sistema nervoso do feto, do recm-nascido e das crianas

    especialmente sensvel exposio ao mercrio, em decorrncia da formao de

    clulas neurais nas fases do desenvolvimento, que se estendem aps o

    nascimento. Certos nveis de mercrio podem no exercer efeito em adultos e

    mulheres grvidas, porm podem causar efeitos adversos em crianas. O

    metilmercrio, oriundo do consumo de peixes, pode estar presente em quantidade

    maior no sangue do feto do que no sangue da me (em torno de 50 a 100% a

    mais), devido ao transporte ativo atravs da placenta. Alm de exposies no

    tero, recm-nascidos podem estar expostos pelo consumo de leite materno

    contaminado.

    O estgio de desenvolvimento da criana, no qual ocorre a exposio tem

    uma grande influncia sobre as consequncias dessa exposio. O organismo do

    feto, em rpido crescimento durante a gravidez, pode apresentar uma

    sensibilidade maior concentrao de uma substncia que poderia no causar

    nenhum problema para a me, porm efeitos nocivos sobre este organismo em

  • 32

    desenvolvimento. A exposio durante a organognese pode resultar em

    alteraes estruturais permanentes. Quando a criana nasce seu sistema

    nervoso central, assim como os sistemas imunolgico e respiratrio so imaturos

    e passaro por um longo perodo de maturao aps o nascimento, deixando

    esses sistemas orgnicos sensveis exposio ps-natal. A suscetibilidade pode

    ser maior dependendo da dose e do tempo de exposio. As crianas e recm-

    nascidos podem ter capacidade distinta na metabolizao, quando comparados

    aos adultos, devido s diferenas no processo metablico. Os efeitos sade da

    criana podem manifestar-se num estgio posterior da vida (ATSDR, 1999; NRC,

    1993).

    A capacidade individual para eliminar o metilmercrio do corpo e a

    predisposio gentica para neutralizar os efeitos do mercrio, podem ter

    consequncias sobre o risco de uma doena induzida pelo mercrio (UNEP,

    2008).

    A exposio da criana pode se iniciar na concepo, permanecer durante

    o desenvolvimento intra-uterino e aps o nascimento. Os efeitos da ao txica

    poder se manifestar na infncia ou apresentar repercusses tardiamente na vida

    adulta.

    A caracterizao da exposio e a identificao dos nveis de exposio ao

    mercrio podero contribuir para a adoo de medidas educativas e preventivas

    (ATSDR, 1999; EPA, 2004).

    4.4 VALORES DE REFERNCIA

  • 33

    A deteco de substncias em fluidos orgnicos e a interpretao de

    resultados clnicos em organismos de pessoas saudveis esto relacionados com

    o termo valores de referncia, tambm conhecido por valor normal ou valor de

    normalidade entre profissionais de sade. Os toxicologistas denominam nveis

    de background ou nveis basais referindo-se presena de contaminantes

    ambientais (CANELA, 1995; OLIVEIRA, 2003).

    Os valores de referncia, muitas vezes, so usados de maneira

    inadequada, sendo seu significado confundido com valores limites. Estes servem

    para identificar os nveis de exposio abaixo dos quais no ocorre dano sade

    nos indivduos expostos em sua descendncia. Para determinar os valores limites

    ocorrem duas fases. A primeira envolve pesquisas que fornecem dados para

    recomendar os limites de exposio, e a segunda envolve a transformao

    desses limites em padres associados a fatores econmicos e sociais

    (APOSTOLI, 1992). Valores de referncia so derivados a partir da observao

    de indivduos que, diante das suas caractersticas, possam servir de controles

    para pacientes estudados. Os valores de referncia no so baseados em

    possveis efeitos sade, por isso, se a concentrao de um contaminante no

    sangue exceder o valor de referncia no significa, necessariamente, que h um

    aumento de risco sade. Os valores de referncia devem ser revisados sempre

    que houver alteraes nos nveis basais da populao geral, com base em

    estudos recentes (KUNO et al., 2009).

    Os valores de referncia so obtidos a partir de estudos que determinam a

    concentrao da substncia de interesse em fluidos (ou outros materiais

    biolgicos), em um grupo definido da populao geral, sendo derivados por

    mtodos estatsticos. Os valores de referncia determinam o limite superior da

  • 34

    exposio basal da populao geral em um determinado momento. O valor de

    referncia no representa um critrio de normalidade para uma anlise

    toxicolgica, deve ser usado para identificar indivduos com nvel aumentado (em

    relao exposio basal) de exposio ambiental a determinada substncia

    (APOSTOLI, 1992).

    A sade individual ou coletiva pode ser afetada pelo meio ambiente quando

    o indivduo est exposto. O tempo de permanncia no ambiente, a quantidade do

    poluente e a forma de contato so fatores que podem indicar a exposio. A

    verificao da presena de uma substncia qumica ou de seu metablito em

    amostras biolgicas caracteriza a ocorrncia de absoro, pelo organismo, da

    substncia presente no ambiente mediante uma exposio, podendo ocorrer ou

    no efeito adverso ao organismo. Estabelecer as doses internas mximas

    admissveis ou tolerveis necessrio para uma avaliao real do risco para a

    sade humana. Esses limites so fundamentados nas relaes dose-resposta, em

    estudos epidemiolgico, e em outros fatores, como: exposio, variveis

    demogrficas, hbitos culturais e de vida (KUNO et al., 2009).

    Os resultados de biomonitorizao humana em trabalhadores devem ser

    comparados com os limites biolgicos de exposio (limites tolerveis), enquanto

    resultados obtidos para a populao geral podem ser comparados, tanto com os

    limites tolerveis, como com os valores de referncia. Os limites de exposio

    estabelecidos para os trabalhadores, normalmente, so superiores aos

    estabelecidos para a populao geral. No ambiente ocupacional, a exposio est

    restrita jornada de trabalho de, em mdia, 8 horas dirias, durante 5 ou 6 dias

    na semana; j no ambiente externo, a populao pode ficar exposta 24 horas por

    dia ao agente txico. A presena de grupos susceptveis como: doentes, idosos,

  • 35

    crianas e gestantes na populao geral tambm diferencia a exposio

    ocupacional e a ambiental (KUNO et al., 2009).

    Os valores tolerveis devem ser vistos como nveis de advertncia,

    propostos com base no conhecimento da relao dose-resposta, e no como

    valores que separam exposies seguras de exposies de risco (DELLA ROSA

    et al., 2008).

    No Brasil, os valores admissveis de presena do mercrio no ambiente e

    nos organismos vivos so estabelecidos por normas que instituem limites de

    tolerncia biolgica. A legislao brasileira, por meio das Normas

    Regulamentadoras (NRs), do Ministrio do Trabalho e da Organizao Mundial de

    Sade e, atravs da Associao Brasileira de Normas Tcnicas (ABNT/NBR

    10.004), estabelece como limite de tolerncia biolgica para o ser humano a taxa

    de 33mg/g de mercrio por grama de creatinina urinria e 0,04mg/m3 de ar no

    ambiente de trabalho. O mercrio ocupa lugar de destaque entre as substncias

    mais perigosas relacionadas nessas normas. Por sua vez a NR15, do Ministrio

    do Trabalho, que trata das atividades e operaes em locais insalubres, tambm

    lista o mercrio como um dos principais agentes nocivos que afetam a sade do

    trabalhador (BRASIL, 2001).

    Em uma pesquisa sobre nutrio e sade, o National Health and Nutrition

    Examination Survey (NHANES), nos Estados Unidos, avaliou os nveis de

    mercrio no sangue na populao desde 1999, para determinar os nveis de

    mercrio total no sangue de mulheres em idade frtil e de crianas com idade

    entre 1 e 5 anos. Os resultados mostraram que o nvel mdio de mercrio no

    sangue de crianas foi de 0,3g/L (CDC, 2009).

  • 36

    A exposio de crianas a substncias qumicas tem sido preocupao em

    vrios pases. A Alemanha, por meio do National Health Interview Surveys e do

    Instituto Robert Koch, realiza pesquisas ambientais, que so estudos

    populacionais de mbito nacional, desde meados de 1980. Inicialmente foram

    feitas pesquisas com adultos, adultos e crianas e, em 2003/2006, realizada

    apenas com crianas. O principal objetivo das pesquisas foi analisar e

    documentar a extenso, a distribuio e os determinantes da exposio a

    poluentes ambientais da populao alem. A biomonitorizao humana, a

    monitorizao do ambiente domstico e a coleta de informaes sobre vias de

    exposio e condies de vida, por meio de questionrios foram os principais

    instrumentos de investigao (BECKER et al., 2006).

    O estudo realizado com crianas em 2003/2006 incluiu uma amostra de

    1.790 crianas entre 3 e 14 anos. As questes relacionadas com a presena de

    mofo, compostos orgnicos volteis e substncias alergnicas, impacto do rudo

    no ocupacional e consequncias para a sade foram analisadas. Ele se prope

    a elucidar a influncia dos qumicos, dos fatores biolgicos e fsicos sobre a

    sade e bem estar das crianas (SCHULZ et al., 2007).

    A exposio das crianas ao mercrio elementar preocupante, por isso a

    Agency for Toxic Substances & Disease Registry (ATSDR) e o Centers for Disease

    Control and Prevention (CDC) revisaram as fontes de exposio, identificando o

    local e a proporo de crianas afetadas e, a partir da, propuseram

    recomendaes sobre como evitar os riscos sade. Programas que fornecem

    dados sobre liberao de mercrio, assim como relatrios publicados sobre

    crianas expostas foram revisados. Os riscos do mercrio proveniente do

    consumo de peixe, amlgamas dentrios, instalaes de queima de carvo,

  • 37

    incineradores de resduos mdicos, ou vacinas contendo timerosal foram

    excludos. A pesquisa constatou que os locais de exposio primria eram: em

    casa, na escola, em propriedades industriais no adequadamente reparadas e

    equipamentos mdicos. O cenrio mais comumente relatado foi a exposio a

    pequenos derrames de termmetros quebrados. As informaes analisadas

    indicam que a maioria dos lanamentos no causam danos se o perodo de

    exposio foi curto e o mercrio foi devidamente limpo. Assim, a preveno

    primria deve incluir a educao para a sade e iniciativas polticas (LEE et al.,

    2010).

    Segundo Batriov e colaboradores (2006), o Monitoramento Ambiental do

    Sistema de Sade da Repblica Checa utiliza a monitorizao biolgica humana

    (HBM) desde 1994 para avaliar a exposio da populao checa geral para um

    amplo espectro de contaminantes ambientais. Ao longo dos anos 2001-2003, as

    concentraes de chumbo (Pb), cdmio (Cd), e mercrio (Hg) foram determinadas

    no sangue de 1.188 adultos (doadores de sangue) e 333 crianas, e na urina de

    657 adultos e 619 crianas. O nvel da mediana do mercrio no sangue de adultos

    foi de 0,89g/L. Diferenas significativas foram encontradas entre os fumantes

    (0,80g/L) e no-fumantes (0,92g/L), e entre homens e mulheres (0,86g/L

    versus 0,94g/L). Em crianas, o nvel mdio de Hg no sangue foi de 0,42g/L, e

    no houve diferenas relacionadas ao sexo. A mediana dos nveis de Hg urinrio

    foram de 0,63mg/g de creatinina em adultos e 0,37mg/g de creatinina em

    crianas. Significativamente maiores, os nveis de Hg urinrio foram obtidos em

    mulheres e no-fumantes em comparao aos homens e fumantes,

    respectivamente. Os nveis de Pb e o Hg no sangue, e de Hg e Cd urinrio se

    correlacionaram significativamente com a idade. Os valores de referncia

  • 38

    recomendados para o mercrio no perodo 2001-2003 foi de 3,1g/L, 4,0g/L e

    1,5g/L para o Hg no sangue de homens, mulheres e crianas, respectivamente;

    Para o Hg urinrio em homens foi de 5,4mg/g e em mulheres 12,0mg/g. O valor

    para o Hg urinrio em meninos foi 3,7mg/g e para meninas de 5,5mg/g.

    Os valores de referncia para os nveis de Hg no sangue atualmente

    proposto para a populao checa so 3,1g/L para homens e 4,0g/L para as

    mulheres. O estudo concluiu que os valores de referncia estabelecidos so

    inferiores ao valor de 5,8g/L, considerado seguro (RICE et al., 2003). Valores

    acima desse, no foi detectado em adulto ou criana (NRC,2000). O valor de

    referncia para os nveis de Hg no sangue para a populao alem de 2,0g/L

    (WILHELM et al., 2006).

    No Brasil ainda so escassos os estudos referentes exposio a

    substncias qumicas com amostras representativas da populao.

    Na periferia do Municpio de Bauru, no Estado de So Paulo, foi localizada

    uma fbrica de acumuladores, onde foram detectados dejetos contendo sal de

    xido de chumbo e sulfato de chumbo, presentes na poeira e deposio de

    chumbo metlico no solo. Foi elaborado um plano para verificar as fontes de

    exposio humana ao chumbo, e a necessidade de interveno em relao

    sade e s condies do ambiente. O estudo da exposio humana ao chumbo

    foi feito atravs da investigao de crianas, considerado um grupo de maior

    risco. Foi definida uma rea de 1.000 metros ao redor da fbrica e identificadas

    crianas entre 0 e 12 anos. Entrevistas foram feitas com os pais para investigao

    dos fatores de exposio ao chumbo, tambm foram colhidas amostras de

    sangue para exame de plumbemia. O estudo foi realizado com um total de 883

    pessoas, dessas 857 crianas. Os resultados dos exames laboratoriais mostraram

  • 39

    314 crianas com ndices de plumbemia igual ou superior a 10mg/g, indicando

    exposio elevada. Esses resultados orientaram aes para estabelecer o

    diagnstico e assistncia sade da populao atingida, assim como medidas

    para reduo dos riscos de recontaminao no ambiente (CETESB, 2006).

    A contaminao ambiental por metais, que implicou na exposio da

    populao circunvizinha e de trabalhadores da indstria de pelotizao de

    chumbo (Cobrac/Plumbum), em Santo Amaro da Purificao, na Bahia, foi

    definida a partir dos resultados de um estudo de avaliao de risco sade

    humana conduzido pela Coordenao Geral de Vigilncia Ambiental, da

    Secretaria de Vigilncia em Sade do Ministrio da Sade. Nesse estudo foram

    observadas doses compatveis com efeitos cardiovasculares em crianas (por

    exemplo: alterao de presso arterial) e incidncia aumentada de morte por

    cncer de pulmo, leses renais, hepatite A e doena cerebrovascular quando

    comparadas com estudos de outros autores (BRASIL, 2006).

    Figueiredo (2005) avaliou a contaminao ambiental e humana por chumbo

    em uma regio do Paran, Vale do Ribeira, uma antiga rea de intensa atividade

    de minerao e refino de metais. Para avaliar o nvel de exposio da populao

    foi feita uma pesquisa a partir da coleta de sangue, para anlise de chumbo e

    cdmio de uma populao de 335 crianas de 7 a 14 anos e de uma populao

    de 351 adultos de 15 a 70 anos, residentes em trs municpios, sendo que uma

    cidade foi considerada rea de controle. Amostras de urina de 398 crianas e 361

    adultos das mesmas populaes foram coletadas. Os dados analisados revelaram

    que o nvel mais alto de exposio ao chumbo foi registrado entre as crianas

    residentes nas comunidades mais prximas refinaria e mineradora que

    operavam na regio do Vale do Ribeira.

  • 40

    No tocante ao mercrio, os estudos se referem principalmente exposio

    ao metilmercrio, especialmente queles realizados a partir de meados da dcada

    de 1980, em rios impactados pela minerao de ouro na Amaznia (PASSOS &

    MERGLER, 2008). Os resultados em determinadas reas geogrficas mostram

    nveis de exposio humana elevados, e que poderiam levar a efeitos adversos

    sade (MALM, 1998).

    Populaes sob risco de exposio ao mercrio, por meio da via

    respiratria ou alimentar, tm sido pesquisadas em reas garimpeiras e

    comunidades ribeirinhas. No primeiro caso, trabalhadores de casas de compra e

    venda de ouro tm apresentado teores mais elevados de mercrio na urina do

    que os garimpeiros estudados. No segundo caso, as populaes ribeirinhas tm

    mostrado nveis diferenciados de exposio observados por meio da

    concentrao de mercrio presente nos cabelos (PASSOS & MERGLER, 2008).

    Comunidades ribeirinhas situadas em reas no afetadas pelo mercrio da

    garimpagem e com hbitos alimentares semelhantes aos da rea de risco tm

    sido avaliadas, visando construo de parmetros de normalidade regionais

    atravs de estudos do Instituto Evandro Chagas e do IESC/UFRJ (SANTOS et al.,

    2002).

    Alm do Instituto de Estudos em Sade Coletiva e do Instituto de Biofsica,

    (ambos da UFRJ), o Instituto Evandro Chagas, do Ministrio da Sade, e vrias

    outras instituies vm desenvolvendo pesquisas sobre os efeitos do mercrio

    que incluem crianas entre suas populaes estudadas. Podem ser citados os

    estudos conjuntos da Universidade Federal de Rondnia, Universidade de Braslia

    e Instituto Carlos Chagas da UFRJ (ex: MARQUES et al., 2007 e DREA et al.,

    2005); Universidade Federal do Par (ex: PINHEIRO et al., 2006); Universidade

  • 41

    de So Paulo (ex: TAUB et al., 2006); a Fundao Oswaldo Cruz, o Instituto de

    Sade Coletiva da Universidade Federal do Mato Grosso (ex: TAVARES et al.,

    2005); a Escola Nacional de Sade Pblica Sergio Arouca da Fiocruz (ex:

    HACON et al., 2005), entre outras.

    No Brasil, estudos sobre concentrao de mercrio no sangue ainda so

    poucos. Uma das excees pode ser exemplificada pelo estudo de Santos e

    colaboradores (2007), cujo objetivo foi correlacionar a concentrao de mercrio

    no sangue de 1.510 mes do Municpio de Itaituba, no Estado do Par (Brasil)

    com a concentrao de mercrio no sangue do cordo umbilical dos seus 1.510

    recm-nascidos. A concentrao no sangue das mes foi 11,53g/L (0,38 -

    117,62g/L) e nos recm-nascidos foi de 16,68g/L (0,350 - 126,87g/L). A

    correlao entre as concentraes de mercrio no sangue das mes e de seus

    recm-nascidos foi positiva (r= 0,8019; p= 0,000).

    Neste sentido, tendo em vista a elevada toxicidade do mercrio, a

    susceptibilidade das crianas e a necessidade de estudos que possam comparar

    os resultados obtidos de concentraes de mercrio, torna-se prioritrio

    estabelecer valores de referncia para a concentrao de mercrio no sangue de

    crianas no expostas diretamente ao mercrio.

  • 42

    5 MATERIAL E MTODOS

    5.1 DESENHO DO ESTUDO

    O estudo observacional do tipo seccional, com crianas matriculadas em

    duas escolas da rede municipal de ensino da cidade do Rio de Janeiro.

    5.2 LOCAL DO ESTUDO

    A Secretaria Municipal de Educao escolheu a 4 e a 7 Coordenadoria

    Regional de Educao (CRE), situadas em regies administrativas com

    experincias scio-ambientais distintas, selecionadas a partir da anlise de dados

    encontrados em fontes oficiais e pesquisas publicadas. Cada CRE abrange vrios

    bairros com vrias unidades escolares. Os bairros foram divididos em funo de

    seu status scio-ambiental e sorteados aleatoriamente. Foram selecionadas

    unidades escolares de uma lista de escolas registradas nestes bairros. A partir de

    uma lista de escolas registradas foi indicada por cada CRE uma escola com base

    nos seguintes critrios: aquelas que possurem 300 ou mais crianas com idades

    entre 8 e 10 anos, regularmente matriculadas no ano de 2007; segurana para o

    acesso dos pesquisadores; aquiescncia da direo e professores; existncia de

    um Programa de Sade Escolar (no exclusivo). Alm disso, trs fatores foram

    considerados para a efetivao desta proposta: a) a necessidade de articulao

    com os gestores municipais da rea de educao, diretores e professores, tendo

    como base o respeito ao calendrio e as especificidades prprias do sistema

    escolar, entre elas a carga horria diria de aulas, os recessos, frias e perodos

  • 43

    de provas; b) o contato com os genitores das crianas escolares selecionadas,

    para obteno do seu consentimento para participao no subprojeto; c) as

    caractersticas prprias da faixa etria selecionada que exigiram suporte maior

    para a realizao das entrevistas e a coleta das amostras. A participao no

    trabalho de campo incluiu como entrevistadores alunos de graduao da

    Faculdade de Medicina da UFRJ, de acordo com a disponibilidade de horrio.

    As escolas municipais selecionadas foram o CIEP Yuri Gagari, da 4 CRE

    (da AP3.1), no bairro de Bonsucesso, com um total de 1.380 alunos e a Escola

    Desembargador Ney Palmeiro, na 7 CRE (da AP4.0) no bairro de Jacarepagu,

    com 922 alunos.

    5.3 PARTICIPANTES DO ESTUDO

    Nas duas escolas selecionadas, todas as crianas com idades entre 8 e 10

    anos, foram convidadas a participar da pesquisa, por meio dos pais ou

    responsveis, em reunies realizadas com os professores, pais ou responsveis e

    alunos, para apresentao do estudo e assinatura do Termo de Consentimento

    Livre e Esclarecido.

    As crianas que aceitaram participar mediante a assinatura, pelos pais ou

    responsveis, do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido totalizaram 317

    crianas escolares, de ambos os sexos, com idades entre 08 e 10 anos.

  • 44

    5.4 COLETA DO MATERIAL

    O material de estudo foi composto por dados coletados por meio de dois

    questionrios e dados provenientes de material biolgico. Um questionrio foi

    utilizado para a coleta de dados pessoais e medidas antropomtricas referentes

    criana. O outro continha informaes sobre dados pessoais da me, do pai ou do

    responsvel pela criana e dados sobre a famlia, a casa, o local de moradia e os

    hbitos alimentares da criana. O sangue capilar foi o material biolgico colhido

    para a anlise.

    5.4.1 Coleta de dados

    Para a coleta dos dados foram aplicados dois tipos de questionrios com o

    objetivo de ter acesso a dados relevantes para o estudo. O primeiro questionrio

    (Anexo III) foi respondido pela criana e o segundo pelos pais ou responsveis

    (Anexo IV).

    Estes questionrios foram elaborados e testados pela equipe do estudo

    durante reunies semanais com os pais e as crianas de um hospital de pediatria,

    com o objetivo de abordar variveis de exposio, como: local; tempo de

    residncia e condies de moradia e das proximidades; ocupao dos pais e

    eventualmente das crianas; hbitos alimentares e comportamentais; tabagismo;

    variveis de confundimento, como: raa, faixa etria, renda familiar, escolaridade,

    sexo, uso de medicamentos, morbidade referida, e variveis de desfecho, tais

    como: menarca, altura, peso e medidas antropomtricas.

  • 45

    O questionrio respondido pelas crianas continha dez questes sobre

    dados pessoais, dez questes sobre hbitos alimentares, duas sobre eventual

    tabagismo, oito sobre a ocupao dos moradores da casa, oito perguntas sobre

    as proximidades da moradia, visando algum tipo de poluio, oito sobre a

    moradia, duas sobre a menarca e trs sobre medidas antropomtricas (peso,

    altura e ndice de Massa Corporal IMC).

    O questionrio sobre a famlia, respondido pelos responsveis, continha

    quatro blocos de questes. O primeiro bloco foi composto por doze questes

    sobre dados dos pais, o segundo por quatro questes sobre a famlia, o terceiro

    por nove questes sobre a criana e o quarto e ltimo com sete questes sobre a

    residncia da criana. Aps a entrevista com a criana e os responsveis, foram

    aferidas as medidas antropomtricas (peso e altura) para o posterior clculo do

    IMC. Para aferir a altura foi usado um estadimetro da marca Sanny com

    graduao em centmetros e para a aferio do peso foi usada uma balana

    digital da marca Tech Line com graduao de 100g e capacidade de at 180kg.

    5.4.2 Coleta de material biolgico

    Para deteco dos teores de mercrio foram coletadas amostras de

    sangue capilar. O material biolgico foi coletado por uma equipe composta por

    dez alunos de graduao da Faculdade de Medicina da UFRJ, devidamente

    treinados. A correta higienizao das mos com sabonete neutro e secagem com

    papel toalha foi feita antes do procedimento. A coleta do sangue capilar foi

    realizada, aps a desinfeco com lcool em gel, do quarto quirodctilo da mo

    direita da criana e, posteriormente, perfurado com uma lanceta at a obteno

  • 46

    de 200L de sangue capilar. Para evitar a coagulao e consequente perda do

    material, esse contedo foi agitado durante alguns minutos. O material coletado

    foi armazenado em freezer temperatura de menos 20Celsius.

    5.5 ANLISE DO MATERIAL

    A anlise do material de estudo foi feita por meio da anlise laboratorial do

    material biolgico e pela anlise estatstica dos dados coletados.

    5.5.1 Anlise do material biolgico

    A anlise do material biolgico coletado foi realizada no Laboratrio de

    Toxicologia de Metais da Universidade de So Paulo (USP) de Ribeiro Preto,

    pelo mtodo de Espectrometria de Massa Acoplado a Plasma Indutivo. Aps o

    descongelamento, as amostras de sangue foram diludas na proporo de 1:50,

    em tubo de polipropileno, com uma soluo 0,5% (v/v) de cido ntrico contendo

    0,01% (v/v) de Triton X-100 e posteriormente analisadas.

    5.5.2 Anlise dos dados

    Os dados coletados por meio dos dois questionrios e teores de sangue

    capilar formaram as duas bases de dados para anlise exploratria. As bases de

    dados foram includas em um banco de dados do Programa SPSS verso 7.0.

    Antes das anlises foram utilizados recursos para verificao da qualidade do

    banco de dados, como variveis no preenchidas ou preenchidas incorretamente.

  • 47

    Foram calculadas estatsticas descritivas para as variveis idade (8 anos, 9

    anos, 10 anos), sexo, cor da pele (branca, no-branca, no informado), consumo

    de peixe (no, 1 vez/semana). Medidas de tendncia central e de disperso foram

    obtidas para a concentrao de mercrio total no sangue. Foi estimada a mdia

    geomtrica da concentrao de mercrio total no sangue dos participantes do

    estudo.

    O teste no-paramtrico de Mann-Whitney foi utilizado para comparar as

    mdias da concentrao de mercrio total no sangue entre as duas escolas e

    entre as categorias das variveis em cada escola sob a hiptese nula (H0) de que

    as duas amostras tm distribuies idnticas, considerando um nvel de

    significncia de 5%.

    As anlises dos dados foram realizadas utilizando os procedimentos de

    pesquisa do programa STATA verso 9.0.

    5.6 PROCEDIMENTOS TICOS

    Os procedimentos deste estudo respeitam os procedimentos ticos da

    Declarao de Helsinque e da Resoluo 196/96 do Conselho Nacional de Sade

    sobre Pesquisa Envolvendo Seres Humanos que exige aprovao do projeto por

    um Comit de tica em Pesquisa (CEP) institucionalmente formalizado e que

    incorpore um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido a ser assinado pelos

    sujeitos da pesquisa. Seguindo as normas de realizao da pesquisa o projeto foi

    submetido e aprovado pelo Comit de tica do Instituto de Estudos em Sade

    Coletiva (IESC). Os sujeitos da pesquisa (pais e crianas) tiveram garantia de

  • 48

    Livre Consentimento aps total esclarecimento de todos os benefcios e possveis

    riscos que poderiam advir do processo investigatrio.

    6 RESULTADOS

    As escolas que foram selecionadas para o estudo estavam localizadas no

    bairro de Bonsucesso e Jacarepagu, identificados pelas diferenas

    socioambientais.

    Bonsucesso, o bairro onde est localizada a Escola Yuri Gagari, fica na

    regio da Leopoldina, rea metropolitana do Rio de Janeiro, que possui grande

    nmero de complexos industriais, carncia de reas verdes e alta concentrao

    demogrfica (126.7 habitantes/m, a quinta maior do municpio). O comrcio e os

    servios so as principais atividades econmicas do local. Possui uma taxa de

    mortalidade maior que a mdia da cidade, a renda mdia da populao de trs

    salrios mnimos e apresenta um nvel baixo de escolaridade (Prefeitura da

    Cidade do Rio de Janeiro, 2003). A escola Ney Palmeiro est localizada em

    Jacarepagu que se caracteriza por ser uma rea de grande expanso

    demogrfica, com grandes reas de proteo ambiental. O comrcio e servios,

    tambm, so as principais atividades econmicas. As taxas de mortalidade infantil

    e a renda mdia da populao (5 salrios mnimos) da regio esto abaixo da

    mdia da cidade (Prefeitura do Rio de Janeiro, 2003). O bairro de Bonsucesso

    apresenta indicadores especficos de qualidade de vida da populao (renda

    mdia e escolaridade) e ndices de qualidade de vida (IDH e ICV) inferiores aos

    apresentados por Jacarepagu. O ndice de poluio ambiental maior, com a

    presena de intenso trfego de veculos, carncia de reas verdes e uma

  • 49

    qualidade do ar classificada como inadequada, fatores que poderiam ser

    responsveis por impactos sobre a qualidade de vida da populao. Embora os

    bairros estejam em duas regies com caractersticas socioambientais distintas,

    estas diferenas no so estatisticamente significativas para configurar um

    impacto determinante sobre a qualidade de vida da populao (Mazoto, 2011).

    Considerando-se a hiptese de que fatores socioambientais poderiam

    contribuir para a exposio substncias qumicas, verificamos que em relao o

    mercrio no foi detectado, dentre as variveis selecionadas, fator de exposio

    ao mercrio nas reas em que as escolas esto localizadas. Foi verificado que o

    nvel da concentrao de mercrio das duas escolas estatsticamente diferente.

    No entanto, o consumo de peixe, que poderia caracterizar a exposio ao

    mercrio, no foi significativo entre as crianas das duas escolas.

    7 CONSIDERAES FINAIS

    Os resultados sugerem que outros estudos sejam desenvolvidos para que,

    fatores ambientais relacionados a exposio ao mercrio em reas urbanas

    possam ser melhor identificados.

  • 50

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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