153
Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde Coletiva Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva Análise do controle de qualidade do diagnóstico da malária realizados por microscopistas do estado de Mato Grosso, Brasil, entre 2009 e 2011 Ligia Maria Senigalia Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Saúde Coletiva para obtenção do título de Mestre em Saúde Coletiva. Área de concentração: Epidemiologia Orientadora: Profª Dra. Marina Atanaka dos Santos Cuiabá – MT 2013

Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · de estudo e pela perseverança para o alcance dos objetivos de vida. ... À Secretaria do Instituto de Saúde Coletiva

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Universidade Federal de Mato Grosso

Instituto de Sade Coletiva

Programa de Ps-Graduao em Sade Coletiva

Anlise do controle de qualidade do diagnstico da

malria realizados por microscopistas do estado de

Mato Grosso, Brasil, entre 2009 e 2011

Ligia Maria Senigalia

Dissertao apresentada ao Programa de Ps-

Graduao em Sade Coletiva para obteno do

ttulo de Mestre em Sade Coletiva.

rea de concentrao: Epidemiologia

Orientadora: Prof Dra. Marina Atanaka dos Santos

Cuiab MT

2013

Anlise do controle de qualidade do diagnstico da

malria realizados por microscopistas do estado de

Mato Grosso, Brasil, entre 2009 e 2011

Ligia Maria Senigalia

Dissertao apresentada ao Programa de Ps-

Graduao em Sade Coletiva para obteno do

ttulo de Mestre em Sade Coletiva.

rea de concentrao: Epidemiologia

Orientadora: Prof Dra. Marina Atanaka dos Santos

Cuiab MT

2013

Dados Internacionais de Catalogao na Fonte.

S477a Senigalia, Ligia Maria. Anlise do controle de qualidade do diagnstico da malria

realizados por microscopistas do estado de Mato Grosso, Brasil, entre 2009 e 2011 / Ligia Maria Senigalia. -- 2013

x, 137 f. : il. ; 30 cm.

Orientadora: Marina Atanaka dos Santos. Dissertao (mestrado) Universidade Federal de Mato

Grosso, Instituto de Sade Coletiva, Programa de Ps-Graduao em Sade Coletiva, Cuiab, 2013.

Inclui bibliografia.

1. Malria. 2. Microscopia. 3. Controle de Qualidade. I. Ttulo.

Ficha catalogrfica elaborada automaticamente de acordo com os dados fornecidos pelo(a) autor(a).

Permitida a reproduo parcial ou total, desde que citada a fonte.

MINISTRIO DA EDUCAO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

PR-REITORIA DE ENSINO DE PS-GRADUAO PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM SADE COLETIVA

Avenida Fernando Corra da Costa, 2367 - Boa Esperana - Cep: 78060-900 CUIAB/MT Tel: (65) 3615-8884 - Email : [email protected]

FOLHA DE APROVAO

TTULO : "Anlise do Controle de Qualidade do Diagnstico da Malria

Realizados por Microscopistas do Estado de Mato Grosso, Brasil,

entre 2009 e 2011"

AUTORA: Mestranda LIGIA MARIA SENIGALIA

Dissertao defendida e aprovada em 02 / 09 / 2013

Composio da Banca Examinadora:

Presidente Banca / Orientadora: Doutora MARINA ATANAKA DOS SANTOS

Instituio: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

Examinador Interno: Doutor MARIANO MARTNEZ ESPINOSA

Instituio: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

Examinador Externo: Doutora GISELE PEDROSO MOI

Instituio: CENTRO UNIVERSITRIO DE VRZEA GRANDE

CUIAB, 02 / 09 / 2013

mailto:[email protected]

Dedico a vitria dessa dissertao aos meus pais, Maria Tereza e Claudinei, que toda a minha vida me incentivaram a continuar estudando e me apoiaram a perseverar nos meus sonhos.

Obrigada ao meu irmo, Claudinei Filho, por estarmos juntos comemorando nossas conquistas.

Dedico esta dissertao tambm ao meu esposo, Ivandro, que desde o comeo esteve ao meu lado me apoiando para seguir em frente. Obrigada!

Agradeo todos os dias a Deus por t-los em minha vida! Amo-os demais!!!

AGRADECIMENTOS

Agradeo a Deus pelas bnos diariamente concedidas, pelas oportunidades

de estudo e pela perseverana para o alcance dos objetivos de vida.

Meu obrigada Prof Dr Marina Atanaka dos Santos pela confiana, por ter

aceitado me orientar no mestrado e pelas orientaes que tornaram possveis a

elaborao desta dissertao.

Agradeo Elaine Cristina de Oliveira da Secretaria de Estado de Sade (SES) de

Mato Grosso pela amizade e pelas diversas vezes que me socorreu na busca pelos

dados da pesquisa.

Ao Diretor Geral do Lacen/MT Laboratrio da Secretaria de Estado de Sade de

Mato Grosso pela autorizao na coleta de dados nos relatrios de diagnstico

laboratorial de malria elaborados e recebidos por este laboratrio.

Em especial meu muito obrigada s responsveis pela superviso e reviso

laboratorial do Lacen/MT Laboratrio, Benedita Monteiro Braga e Ruth Elci Bucco

Guerra pela imensa pacincia na busca pelos relatrios arquivados e pela disposio

no fornecimento dos dados e na elucidao de minhas dvidas.

Aos diretores de cada Escritrio Regional de Sade do estado pela

prestatividade na busca de informaes sobre os microscopistas de base e revisores de

sua regional para o presente estudo.

Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), onde tive a honra de me

graduar e tambm pela oportunidade de, por ela, me tornar Mestre em Sade

Coletiva.

todos os professores da Ps Graduao do Instituto de Sade Coletiva da

Universidade Federal de Mato Grosso pela competncia na conduo das disciplinas e

pelo carinho para com os discentes, minha sincera admirao.

Secretaria do Instituto de Sade Coletiva (ISC) da UFMT, especialmente

Jurema Morbeck e Hailton Pinho por sempre nos atender com verdadeira ateno e

pacincia.

todos os colegas do mestrado em especial Dayane e Alda pelas atividades

conjuntas nas disciplinas do curso, que sempre desenvolvemos com grande amizade e

esforo.

Meus agradecimentos aos professores que estiveram presente na pr-banca e

na defesa desta dissertao, obrigada ao Prof Dr Mariano Martnez Espinosa, Prof

Dr Gisele Pedroso Moi e Prof Dr Delma Perptua Oliveira de Souza pelas

contribuies valiosas na finalizao deste estudo.

queles que tambm contriburam no meu caminho no mestrado e tambm

para a elaborao desta dissertao, meu muito obrigada!

ii

LISTA DE SIGLAS

CEP Comit de tica e Pesquisa

CGLAB Coordenao Geral de Laboratrios de Sade Pblica

CME Central de Materiais Esterilizados

DECs Descritores em Cincias da Sade

EPI Equipamentos de Proteo Individual

ERS Escritrios Regionais de Sade

f/fg lminas lidas como positivas para P. falciparum e que na reviso foram

diagnosticadas como positivas para Gametcito

f/v lminas lidas como positivas para P. falciparum e que na reviso foram

diagnosticadas como positivas para P. vivax

fg/f,+fg lminas lidas como positivas para Gametcito e que na reviso foram

diagnosticadas como positivas para P. falciparum com Gametcito

FIOCRUZ Instituto Oswaldo Cruz

FN Falso Negativo

FP Falso Positivo

GAL Gerenciador de Ambiente Laboratorial

HUJM Hospital Universitrio Jlio Mller

IC ndice de Concordncia

IEC Instituto Evandro Chagas

IPA Incidncia Parasitria Anual

LACEN Laboratrios Centrais de Sade Pblica

LILACS Literatura Latino-americana e do Caribe em Cincias da Sade

LVC Lmina de Verificao de Cura

m/f lminas lidas como positivas para P. malariae e que na reviso foram

diagnosticadas como positivas para P. falciparum

m/v lminas lidas como positivas para P. malariae e que na reviso foram

diagnosticadas como positivas para P. vivax

MEDLINE Medical Literature Analysis and Retrieved System

MeSH Medical Subject Heading

iii

N/P lminas lidas como negativas para malria e que na reviso foram

diagnosticadas como positivas, sendo ento denominadas Falso Negativas

OMS Organizao Mundial da Sade

OPAS Organizao Pan Americana de Sade

P. falciparum Plasmodium falciparum

P. malariae Plasmodium malariae

P. ovale Plasmodium ovale

P. vivax Plasmodium vivax

P/N lminas lidas como positivas para malria e que na reviso foram

diagnosticadas como negativas, sendo ento denominadas Falso Positivas

PCMAN Programa de Controle da Bacia Amaznica

PIACM Plano de Intensificao das Aes de Controle da Malria

PNCM Programa Nacional de Controle da Malria

POP Procedimento Operacional Padro

REDELAB/MT Rede Estadual de Laboratrios de Sade Pblica do Estado de

Mato Grosso

SCIELO Scientific Electronic Library Online

SES Secretaria de Estado de Sade

SES-MT Secretaria do Estado de Sade do Estado de Mato Grosso

SISLAB Sistema Nacional de Laboratrios de Sade Pblica

Sivep-Malria Sistema de Informaes de Vigilncia Epidemiolgica mdulo

malria

v/f lminas lidas como positivas para P. vivax e que na reviso foram

diagnosticadas como positivas para P. falciparum

v/m lminas lidas como positivas para P. vivax e que na reviso foram

diagnosticadas como positivas para P. malariae

iv

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Mapa do Brasil destacando as reas de risco para malria pelos

diferentes nveis de incidncia parasitaria anual. ................................................. 12

Figura 2 Casos notificados e Incidncia Parasitria Anual (IPA) de malria,

Mato Grosso, 2003 a 2010. .................................................................................... 14

Figura 3 Organizao do processo de validao ................................................. 22

Figura 4 Representao dos procedimentos para seleo dos artigos .............. 32

Figura 5 Mapa da localizao geogrfica do estado de Mato Grosso no Brasil. 46

Figura 6 - Divergncias de leituras dos microscopistas de base encontradas

pelos revisores dos ERS no estado de Mato Grosso de 2009-2011 ...................... 64

Figura 7 - Divergncias de leituras de lminas dos revisores dos ERS encontradas

pelos revisores do Lacen/MT Laboratrio no estado de Mato Grosso de 2009-

2011 ....................................................................................................................... 72

v

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Controle de qualidade de identificao de estgios assexuados dos

parasitas no sangue, sem identificao das espcies: ........................................... 23

vi

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Resumo dos estudos que tratam da qualidade da microscopia da

malria nos laboratrios. ....................................................................................... 34

Tabela 2 Resumo dos estudos que tratam da comparao da microscopia da

malria com os diversos testes rpidos disponveis. ............................................. 38

Tabela 3 Distribuio das ERS nas Regies e Microrregies do estado de Mato

Grosso com populao no ano 2010. .................................................................... 48

Tabela 4 Total lminas examinadas e revisadas pelos ERS no estado de Mato

Grosso de 2009-2011. ............................................................................................ 57

Tabela 5 Lminas examinadas por microscopistas de base e revisadas pelos

revisores dos ERS no estado de Mato Grosso de 2009-2011. ............................... 58

Tabela 6 Divergncias de leituras por espcie parasitria dos microscopistas

de base encontradas pelos revisores dos ERS no estado de Mato Grosso de

2009-2011. ............................................................................................................. 61

Tabela 7 Revises do Lacen/MT Laboratrio aos ERS do estado de Mato

Grosso de 2009-2011. ............................................................................................ 67

Tabela 8 Divergncias de leituras de lminas por espcie parasitria dos

revisores dos ERS encontradas pelos revisores do Lacen/MT Laboratrio no

estado de Mato Grosso de 2009-2011. ................................................................. 69

Tabela 9 Formao dos microscopistas de base dos ERS do estado de Mato

Grosso de 2009-2011. ............................................................................................ 85

Tabela 10 - Vnculo dos microscopistas de base dos ERS do estado de Mato

Grosso de 2009-2011. ............................................................................................ 86

Tabela 11 Formao conforme vnculo dos microscopistas de base dos cinco

ERS com maior erro de leitura do estado de Mato Grosso de 2009-2011. ........... 87

Tabela 12 - Formao conforme vnculo dos microscopistas Revisores dos ERS

do estado de Mato Grosso de 2009-2011. ............................................................ 91

vii

Tabela 13 Mdia de estrutura fsica e de organizao interna e higiene dos

laboratrios de base dos ERS, 2009-2011. ............................................................ 94

Tabela 14 Mdia de estrutura fsica e de organizao interna e higiene dos

laboratrios de reviso dos ERS, 2009-2011. ........................................................ 96

Tabela 15 Mdia do estado de conservao do microscpio e de

necessidade de manuteno dos laboratrios de base dos ERS. ...................... 98

Tabela 16 Mdia do estado de conservao do microscpio e de

necessidade de manuteno dos laboratrios de reviso dos ERS. ................ 100

Tabela 17 Distribuio dos nveis de escolaridade dos microscopistas de base

de acordo com as divergncias, 2009-2011. ....................................................... 102

Tabela 18 Distribuio dos nveis de escolaridade dos microscopistas revisores

dos ERS de acordo com as divergncias, 2009-2011. .......................................... 105

Tabela 19 Distribuio dos vnculos empregatcios dos microscopistas de base

de acordo com as divergncias, 2009-2011. ....................................................... 107

Tabela 20 Distribuio dos vnculos empregatcios dos microscopistas

revisores dos ERS de acordo com as divergncias, 2009-2011. .......................... 111

viii

LISTA DE ANEXOS

Anexo 1 Fax Circular N 52 ............................................................................... 127

Anexo 2 Relatrio de Controle de Qualidade de Malria ................................. 131

Anexo 3 Relatrio Mensal das atividades do controle de qualidade do

diagnstico da malria ......................................................................................... 132

Anexo 4 Relatrio de superviso laboratorial de vigilncia epidemiolgica e/ou

ambiental ............................................................................................................. 134

ix

SUMRIO

RESUMO ........................................................................................... 1

ABSTRACT ......................................................................................... 3

1. INTRODUO ............................................................................ 5

2. REVISO BIBLIOGRFICA .......................................................... 7

2.1 Malria: Caracterizao e Epidemiologia ............................................. 7

2.1.1 Malria no Mundo e no Brasil ............................................................ 10

2.1.2 Malria em Mato Grosso .................................................................... 13

2.2 Diagnstico Laboratorial da Malria ................................................... 14

2.3 Qualidade da microscopia da malria ................................................ 20

2.4 Laboratrio Central ............................................................................. 24

2.5 Lacen/MT Laboratrio ........................................................................ 28

2.6 Microscopia da malria: reviso bibliogrfica sistematizada ............. 31

3. OBJETIVOS .............................................................................. 44

3.1 Geral .................................................................................................... 44

3.2 Especficos ........................................................................................... 44

4. MATERIAL E MTODO ............................................................. 45

4.1 Tipo de estudo .................................................................................... 45

4.1.1 Local de estudo ................................................................................ 46

4.1.2 Coleta e organizao dos dados ...................................................... 49

4.1.3 Variveis de Estudo .......................................................................... 50

4.1.4 Anlise dos dados............................................................................. 55

4.1.5 Aspectos ticos ................................................................................ 55

x

5. RESULTADOS ........................................................................... 56

5.1 I Discordncias encontradas nos exames de gota espessa para o

diagnstico da malria realizados por microscopistas do Estado de Mato Grosso,

Brasil, entre 2009 e 2011 ....................................................................................... 56

5.1.1 Discusso ............................................................................................. 75

5.2 II Estrutura e organizao dos laboratrios de base e de reviso

dos ERS do Estado de Mato Grosso, Brasil, entre 2009 e 2011 ............................ 77

5.2.1 Discusso ........................................................................................... 112

6. CONCLUSO .......................................................................... 114

7. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................................. 116

8. ANEXOS ................................................................................. 127

1

RESUMO

A malria endmica em 109 pases do mundo, sendo que no Brasil o estado

de Mato Grosso corresponde a 0,67% do total de casos da regio Amaznica. Para

identificar os parasitos realiza-se o exame da gota espessa em que realizado um

controle de qualidade, sendo que as lminas examinadas em nvel primrio so

reexaminadas pelos supervisores em nvel intermedirio (Escritrios Regionais de

Sade), e novamente em nvel central pela unidade de referncia estadual (Lacen/MT

Laboratrio). Objetivo: Analisar o controle de qualidade, segundo as discordncias,

para o diagnstico da malria realizados por microscopistas do estado de Mato Grosso,

Brasil, entre 2009 e 2011. Material e mtodo: Estudo descritivo de corte transversal

que utilizou dados secundrios a partir de relatrios sobre diagnstico laboratorial da

malria no Estado de Mato Grosso no perodo de 2009 a 2011, e sobre aspectos de

recursos humanos e estrutura e organizao dos laboratrios de base e de reviso dos

Escritrios Regionais de Sade (ERS) que realizam o diagnstico laboratorial da malria

no Estado de Mato Grosso no perodo de 2009 a 2011. Resultados: No perodo

estudado os microscopistas revisores dos ERS avaliaram 38,72% do total de lminas

produzidas pelos laboratrios de base, encontrando um percentual de divergncias de

1,92%. Os microscopistas revisores do Lacen/MT Laboratrio avaliaram 82,53% das

lminas revisadas pelos microscopistas dos ERS, encontrando um percentual de

divergncias de 1,62%. Foram 36,82% as divergncias dos laboratrios de base

relacionadas espcie parasitria ou gametcitos presentes, 32,34% falso positivas e

30,85% falso negativas. Nos laboratrios de reviso dos ERS, 55,38% das divergncias

foram relacionadas espcie parasitria ou gametcitos presentes, 19,23% falso

positivas e 25,38% falso negativas. Em relao formao dos microscopistas de base,

as discordncias foram proporcionalmente recorrentes nos de nvel superior.

formao dos microscopistas revisores dos ERS, as discordncias tiveram maior

proporo nos de nvel mdio. A estrutura fsica e organizao interna e higiene dos

laboratrios de base e de reviso, foram consideradas de regular para bom.

2

Concluso: As discordncias em relao formao dos microscopistas de base foram

mais recorrentes nos de nvel superior, aos revisores dos ERS as discordantes tiveram

maior proporo nos de nvel mdio. s caractersticas de estrutura fsica, organizao

do servio e manuteno dos equipamentos dos laboratrios de base e de reviso

foram consideradas de regular para bom. Os nmeros encontrados no presente estudo

podem ser representativos da situao da qualidade da microscopia da malria no

estado de Mato Grosso, oportunizando s Secretarias de Sade do estado e dos

municpios a buscar melhorias na qualidade do servio.

Palavras-chave: malria, microscopia, controle de qualidade.

3

ABSTRACT

There is a malaria endemic in 109 countries around the world, and in Brazil the

state of Mato Grosso corresponds to 0.67% of the total cases in the Amazon region. In

order to identify the parasites, the examination of thick blood smear is done and it

passes through quality control. First, they are examined at primary level laboratories,

then they are reviewed by supervisors at intermediate level called Regional Health

Services (RHS), and then they are reviewed again in central level at the reference state

(Lacen/MT Laboratorio). Objective: To analyze the quality control, according to the

disagreements, for the diagnosis of malaria microscopists performed in the state of

Mato Grosso, Brazil, between 2009 and 2011. Methods: A descriptive cross-sectional

study that used secondary data from reports of the laboratory diagnosis of malaria in

the state of Mato Grosso between 2009-2011, and about aspects of human resources

and structure and organization of review laboratories of Regional Health Services (RHS)

that performs laboratory diagnosis of malaria in the state of Mato Grosso in the period

2009-2011. Results: In this period the regional microscopists of the RHS revised

38.72% of smears produced at primary level, finding a percentage of 1.92% of

difference. The laboratory central supervisor from Lacen/MT Laboratory revised

82.53% of the slides reviewed by regional microscopists of RHS, finding a percentage

difference of 1.62%. Differences of the laboratories base were related 36.82% to

parasite species present or gametocytes, 32.34% to false positive and 30,85% to false

negative. In the revision laboratories of RHS 55.38% of blood smears reviewed

differences were related to the parasite species present or gametocytes, 19.23% were

false positive and 25.38% were false negative. About the education, the regional

microscopists of the RHS had highest proportion of disagreements in those who had

high school. About the physical structure, internal organization and basic hygiene for

primary level and to review laboratories, were considered from regular to good.

Conclusion: Disagreements related to primary level microscopists were more often in

those who had college degree, to regional microscopists of RHS the disagreements

were greater in those who had lower education. The characteristics of the physical

4

structure, service organization and maintenance of laboratory equipment to the

primary level laboratories were considered from regular to good. This study may be

representative of the situation of malaria quality microscopy in the state of Mato

Grosso, giving the opportunity to the Health Departments of the state and to the cities

to look for improvements in this quality service.

Keywords: malaria, microscopy, quality control.

Introduo

5

1. INTRODUO

Segundo o Ministrio da Sade brasileiro, um problema de sade pblica se

expressa pelos seus indicadores de morbidade, mortalidade, incapacidade e custos

atribudos. Dessa forma, o reconhecimento da funo de vigilncia decorre da

capacidade de informar com preciso e atualizao, a situao epidemiolgica de

determinada doena ou agravo, as tendncias que so esperadas, o impacto das aes

de controle efetivadas e a indicao de outras medidas reconhecidamente necessrias

(BRASIL, 2009).

Neste sentido, a expresso vigilncia epidemiolgica comeou a ser aplicada

no controle das doenas transmissveis na dcada de 1950, designando atividades

subsequentes etapa de ataque da Campanha de Erradicao da Malria e tem como

propsito fornecer orientao tcnica e informaes atualizadas para os profissionais

de sade sobre a ocorrncia de doenas, agravos e fatores condicionantes em uma

determinada rea geogrfica ou populao definida. (BRASIL, 2009).

Assim, para o controle da malria faz-se necessrio o uso permanente de

ferramentas eficazes de controle para uma variedade de contextos epidemiolgicos,

incluindo o fortalecimento da monitorizao e da vigilncia. Entretanto, para o efetivo

controle da malria so necessrios projetos de reduo das taxas de mortalidade e

morbidade, reduo da prevalncia e da endemicidade, e tambm a implantao de

programas de controle (BARATA, 1998; REY, 2008; WHO, 2008).

Visando fornecer as diretrizes necessrias ao controle desta doena, o governo

federal props em 2003 o Programa Nacional de Controle da Malria (PNCM) que teve

objetivo dar continuidade aos avanos do Plano de Intensificao das Aes de

Controle da Malria (PIACM). Este por sua vez, foi formulado para dar sustentabilidade

ao processo de descentralizao das aes de epidemiologia e controle de doenas,

buscando tambm fortalecer a vigilncia da endemia na regio extra-amaznica

(LOIOLA et al., 2002; BRASIL, 2003b).

Introduo

6

Assim, a incidncia da malria pode ser reduzida por meio da ao contnua dos

servios de sade, a exemplo do PIACM que contribuiu para a reduo da transmisso

da doena na regio da Amaznia Legal brasileira, e que vem alcanando promissores

resultados nos municpios de tamanho pequeno e mdio, embora ainda persista a

concentrao de casos nos grandes e mdios municpios (LADISLAU et al., 2006).

Considerando que o estado de Mato Grosso apresenta numerosos casos de

malria (BRASIL, 2011), a vigilncia da endemia imperativa na busca da reduo da

doena ano aps ano, conforme preconizado pelos programas de controle nacionais

(BRASIL, 2009) e internacionais preconizados pela Organizao Mundial de Sade

OMS (WHO, 2012).

Para tanto, o presente estudo teve como objetivo analisar o controle de

qualidade para o diagnstico da malria realizados por microscopistas do estado de

Mato Grosso, Brasil, entre 2009 e 2011, a fim de descrever as discordncias realizadas

pelos laboratrios de base e pelos laboratrios de reviso dos Escritrios Regionais de

Sade (ERS).

Reviso Bibliogrfica

7

2. REVISO BIBLIOGRFICA

2.1 Malria: Caracterizao e Epidemiologia

A malria uma doena de grande importncia epidemiolgica que possui

impacto direto no somente sobre a sade, mas tambm sobre o desenvolvimento

econmico regional e nacional pela sua gravidade clnica e pelo seu elevado potencial

de disseminao, nas localidades com densidade vetorial que favorea sua transmisso

(FRANA et al., 2008). Em razo de sua ampla incidncia e de seus efeitos debilitantes,

possui elevado impacto econmico por reduzir a capacidade produtiva da populao

brasileira especialmente os residentes na regio da Amaznia legal (BRASIL, 2005).

uma doena infecciosa febril aguda, causada por protozorios do gnero

Plasmodium, que pode ter como espcies associadas o Plasmodium falciparum, P.

vivax, P. malariae e P. ovale (BRASIL, 2004) e atualmente uma quinta espcie do

parasito est sendo considerado pelos pesquisadores, o P. knowlesi (WHITE, 2008; LEE

et al., 2013). Pode ser denominada tambm como paludismo, impaludismo, febre

palustre, febre intermitente, febre ter benigna, febre ter maligna, e popularmente

conhecida como maleita, sezo, tremedeira, batedeira ou febre (BRASIL, 2004; REY,

2008).

Sua transmisso se d pela inoculao das formas infectantes do Plasmodium,

os esporozotos (formas infectantes do parasito), pela saliva de fmeas infectadas de

mosquitos do gnero Anopheles, que so conhecidos popularmente como carapan,

murioca, sovela, mosquito-prego ou bicuda. Os criadouros destes mosquitos

so preferencialmente colees de gua limpa e quente, sombreada e com baixo fluxo

como muito frequentemente encontradas na Amaznia brasileira. Os vetores so mais

abundantes no entardecer e amanhecer, porm podem ser encontrados tambm

durante todo o perodo noturno (BRASIL, 2004, 2005, 2010).

Reviso Bibliogrfica

8

A pessoa doente ou o indivduo assintomtico configuram-se como fontes

naturais de infeco para os mosquitos por albergarem as formas sexuadas do

parasita. Mesmo que no frequentemente, a malria pode ser transmitida

acidentalmente por meio da transfuso sangunea, pelo compartilhamento de seringas

contaminadas, acidentes em laboratrios, ou mesmo como infeco congnita por

uma m implantao da placenta, ou tambm durante o trabalho de parto (FONTES,

2004).

A presena do parasito da malria no hospedeiro humano desencadeia

alteraes fisiopatolgicas que ocorrem apenas no decorrer da esquizogonia

sangunea, pois a evoluo dos parasitos nos hepatcitos e a circulao sangunea dos

gametcitos no determinam alteraes patognicas de relevncia (FONTES, 2004).

Nos seres humanos, os esporozotos circulantes invadem as clulas do fgado,

os hepatcitos, e nessas clulas multiplicam-se dando origem a milhares de novos

parasitos, agora denominados merozotos, que rompem os hepatcitos e caem na

circulao sangunea, invadindo as hemcias e do incio fase sangunea do ciclo,

denominada esquizogonia sangunea, em que aparecem os sintomas da malria

(NEVES, 2005; REY, 2008; BRASIL, 2010).

Na fase sangunea do ciclo desta patologia, os merozotos formados rompem as

hemcias e invadem outras, dando incio a ciclos repetitivos de multiplicao

eritrocitria (ataque paroxstico agudo), que se repetem a cada 48 horas nas infeces

por P. vivax e P. falciparum e a cada 72 horas nas infeces por P. malariae. Depois de

algumas geraes de merozotos nas hemcias, os parasitos se diferenciam em

macrogametas (feminino) e microgametas (masculino) que, no interior das hemcias

(gametcitos), no se dividem e, quando ingeridos pelos mosquitos, iro fecundar-se

para dar origem ao ciclo sexuado do parasito (FERREIRA, 2004; FONTES, 2004; NEVES,

2005; REY, 2008; BRASIL, 2010).

O perodo de incubao da malria varia de acordo com a espcie de

plasmdio, sendo de 8 a 12 dias para P. falciparum; de 13 a 17 para P. vivax; e de 18 a

30 dias para P. malariae. A crise aguda da malria caracteriza-se por episdios de

calafrios, febre e sudorese intensa que ocorrem em padres cclicos, com durao de 6

Reviso Bibliogrfica

9

a 12 horas podendo atingir a temperatura corprea igual ou superior a 40C. A crise de

malria pode tambm ser acompanhada por cefalia, mialgia intensa, nuseas e

vmitos, podendo tambm ocorrer taquicardia, tosse, lombalgia, dor abdominal e at

mesmo delrio. Em um perodo de duas a seis horas ocorre a defervescncia da febre, e

o indivduo sente-se melhor (BRASIL, 2004, 2005, 2009, 2010; FONTES, 2004; REY,

2008).

Passada a fase inicial, a febre do indivduo toma um carter intermitente

estando relacionado ao tempo de ruptura de uma quantidade suficiente de hemcias

contendo esquizontes maduros, e a periodicidade dos sintomas dependente do

tempo de durao dos ciclos eritrocticos de cada espcie de plasmdio, sendo 48

horas para o P. falciparum, P. vivax e P. ovale, e de 72 para o P. malariae. Entretanto,

com o tratamento precoce realizado atualmente, a febre deixa de ter essa

regularidade e passa a ter um padro cotidiano e irregular (FONTES, 2004).

O perodo de transmissibilidade pelos indivduos no adequadamente tratados

com o esquema medicamentoso de acordo com a tabela do Ministrio da Sade

(BRASIL, 2010) com os gametcitos do Plasmodium na corrente sangunea varia de at

1 ano para P. falciparum, at 3 anos para P. vivax, e mais de 3 anos para o P. malariae

(BRASIL, 2005).

O mtodo para o diagnstico da malria realizado mediante demonstrao de

parasitos atravs do exame microscpico da gota espessa de sangue corado por

Giemsa, pelo esfregao sanguneo, ou por testes imunocromatogrficos (testes rpidos

de antgenos relacionados no sangue perifrico do indivduo) em reas de baixa

endemicidade ou de difcil acesso. Dentre estes mtodos diagnsticos, o mais utilizado

o da microscopia da gota espessa de sangue colhido por puno digital, que permite

a diferenciao das espcies de Plasmodium e do estgio de evoluo do parasito

circulante. Este exame demanda cerca de 60 minutos entre a coleta do sangue e o

fornecimento do resultado, sendo que a lmina corada pode ser armazenada por

tempo indeterminado. O exame cuidadoso da lmina com o sangue colhido

considerado padro-ouro para a deteco e identificao dos parasitos da malria

(BRASIL, 2003, 2005, 2009, 2009b, 2010; FONTES, 2004).

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10

A identificao do tipo do Plasmodium e do ponto-chave de seu ciclo evolutivo

determinam o tratamento a ser institudo para a malria, pois diversas drogas so

utilizadas e cada uma age de forma especfica para impedir o desenvolvimento do

parasito no hospedeiro. Em suma, o tratamento visa interromper a esquizogonia

sangunea, que responsvel pela patogenia e manifestaes clnicas da infeco, ou a

destruio de formas latentes do parasito no ciclo tecidual (hipnozotos) das espcies

P. vivax e P. ovale, para evitar as recadas tardias ou ainda a interrupo da

transmisso do parasito, com o uso de frmacos que impedem o desenvolvimento de

formas sexuadas (gametcitos) dos parasitos (BRASIL, 2010; FONTES, 2004).

2.1.1 Malria no Mundo e no Brasil

A malria endmica em 109 pases e territrios nas reas tropicais e

subtropicais do mundo, destacando-se como um dos maiores problemas de sade

pblica. Segundo a Organizao Mundial da Sade OMS, apontam que o nmero

estimado de casos de malria no mundo aumentou de 233 milhes em 2000 para 244

milhes em 2005, mas decresceu para 225 milhes em 2009. Sugerindo ainda que o

nmero de bitos devido doena decresceu de 985.000 em 2000 para 781.000 em

2009 (WHO, 2010).

A OMS (WHO, 2010) estima ainda que o nmero de casos confirmados de

malria reduziu em mais de 50% em 57,14% dos pases onde esta doena endmica

entre os anos de 2000 e 2009, quando os pases africanos no foram considerados

para anlise. Porm, esta reduo apresentou uma variao em torno de 25 a 50%

para o mesmo perodo quando os dados destes pases foram analisados em conjunto.

Por outro lado, na Regio Europia em 2009 no foram relatados casos de malria por

P. falciparum adquiridos no local (WHO, 2010).

Entretanto, nos 23 pases e territrios das Amricas analisados pela OMS

(WHO, 2010), 20% do total da populao est sob algum grau de risco de malria. Mas,

os casos da doena decresceram de 1,18 milhes em 2000 para 526.000 em 2009,

sendo que o Brasil, Colmbia, Haiti e Peru contam com 90% dos casos de 2009.

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11

Especificamente no Brasil, os casos da doena apresentaram uma reduo entre 25 e

50%, nos anos de 2000 e 2009.

Considerando que a malria representa em um srio problema de sade

pblica, os programas de preveno desta doena a nvel mundial atuam basicamente

no controle da malria, visando a reduo da doena a um nvel em que no mais

considerado um problema de sade pblica, na eliminao da malria, para a

interrupo local do nascimento dos mosquitos transmissores da doena podendo

existir em casos importados e na erradicao da malria para a eliminao completa

da incidncia da malria (WHO, 2008, 2010).

A malria se constitui em uma enfermidade que demanda ateno especial no

Brasil, principalmente na regio da Amaznia Legal: Acre, Amap, Amazonas, Par,

Rondnia, Roraima, Tocantins, Mato Grosso e Maranho (FONTES, 2004). Nesta regio

ocorrem aproximadamente 99% dos casos da doena registrados, e sua transmisso

instvel e geralmente focal, com os picos ocorrendo principalmente aps os perodos

chuvosos do ano (BRASIL, 2003, 2009, 2010). Atualmente, Mato Grosso responsvel

por 0,67% dos casos de malria da regio Amaznica (BRASIL, 2011).

O risco de transmisso da doena mensurado pelo ndice Parasitrio Anual

(IPA), que corresponde aos nmero de exames positivos de malria, por mil

habitantes, em determinado espao geogrfico, no ano considerado. Dessa forma, as

reas endmicas so estratificadas de acordo com o IPA como: alto risco

IPA>50/1.000 habitantes, mdio risco IPA entre 10-49/1.000 habitantes e baixo risco

IPA

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12

A distribuio das reas de risco para a transmisso da malria no Brasil, com

suas respectivas Incidncias Parasitrias Anuais esto descritas conforme a Figura 1.1 a

seguir:

Figura 1 Mapa do Brasil destacando as reas de risco para malria pelos diferentes

nveis de incidncia parasitaria anual.

Fonte: Secretaria de Vigilncia em Sade. Departamento de Vigilncia Epidemiolgica. Ministrio da Sade, 2010.

A doena apresenta uma distribuio heterognea e depende das atividades

ocupacionais desenvolvidas pelas populaes expostas na Amaznia tais como os

garimpeiros e os trabalhadores de projetos agropecurios e de colonizao.

Entretanto, o perfil da endemicidade em determinada regio determinado por

fatores que interferem diretamente na dinmica da transmisso da doena,

produzindo diferentes nveis de risco de contrair a infeco, como os fatores

biolgicos, ecolgicos, socioculturais e poltico-econmicos (FONTES, 2004). No Brasil,

90% dos casos a espcie causadora foi o Plasmodium vivax (BRASIL, 2010).

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13

2.1.2 Malria em Mato Grosso

Dados divulgados pelo Ministrio da Sade (BRASIL, 2011b) sobre a Situao

Epidemiolgica da Malria no Brasil mostram uma reduo dos ndices da doena na

Amaznia Legal como um todo, e especificamente em Mato Grosso, as notificaes

por malria tiveram uma reduo percentual de 27% com ndices de 1201 casos de

malria de janeiro a junho de 2010, passando a uma reduo para 876 casos de janeiro

a junho de 2011. Quanto variao de internaes por malria, Mato Grosso

apresentou uma queda de 48% no comparativo do primeiro semestre de 2010 ao

mesmo perodo de 2011.

No ano de 2010, foram registrados no estado 2.165 casos de malria,

contabilizando uma reduo de 33,5% em relao ao ano de 2009 em que foram

registrados 3.257 casos da doena. Observou-se a proporo de 77,4% das infeces

de malria causadas pelo P. vivax e aproximadamente 20% pelo P. falciparum, 2,2%

por malria mista (P. vivax mais P. falciparum) e 0,4% por P. malariae. Apenas no ano

de 2010 o municpio de Colniza correspondeu a 58% do nmero de casos do estado

(BRASIL, 2011).

Existem estudos que evidenciam a alta incidncia de malria no municpio de

Colniza, abordando que a situao de ser o primeiro em nmero de notificaes

resultado, principalmente, do processo de garimpo e de colonizao da rea.

Entretanto se afirma que outros municpios que apresentam alta IPA tambm

sofreram forte influncia destas atividades na rea (DUARTE e FONTES, 2002; MACIEL

et al., 2004; ATANAKA-SANTOS et al., 2006).

A Coordenadoria de Vigilncia Epidemiolgica da Secretaria do Estado de Sade

do estado de Mato Grosso (SES-MT) fez um relatrio sobre a Situao Epidemiolgica

da malria no Estado que evidenciou os esforos conjuntos com os Escritrios

Regionais de Sade (ERS) e Municpios, com a reduo do nmero de casos de malria

de 19,9% no comparativo de 2009 com 2008, seguido por uma queda de 28,75%

comparando-se 2010 a 2009 (MATO GROSSO, 2011c).

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14

O nmero de casos notificados, em comparao com a IPA evidencia que houve

uma reduo considervel dos casos nos anos de 2008 a 2010, conforme observado na

Figura 2.

Figura 2 Casos notificados e Incidncia Parasitria Anual (IPA) de malria, Mato

Grosso, 2003 a 2010.

Fonte: SES-MT Secretaria de Sade do Estado de Mato Grosso.

Assim, a distribuio da malria no estado de Mato Grosso

predominantemente focal, pois existem microrregies de alta incidncia como a de

Colder e de baixa incidncia como a de Primavera do Oeste, sugerindo variao no

padro da distribuio da mortalidade e morbidade da doena, influenciada por

contextos especficos de cada localidade (ATANAKA-SANTOS et al., 2006).

2.2 Diagnstico Laboratorial da Malria

A hemoscopia atualmente o mtodo mais seguro utilizado para o diagnstico

da malria e para a identificao do tipo de Plasmodium presente, entretanto o exame

deve ser feito o mais cedo possvel a fim de evitar as complicaes das formas graves

da doena, sendo a amostra de sangue colhida por puno digital que

posteriormente analisada em lmina por gota espessa ou pelo esfregao (REY, 2008).

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

4,5

5

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

7000

8000

9000

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

IPA

N

mero

de

ca

so

s

Casos IPA

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15

Considera-se que a microscopia do plasmdio no sangue perifrico o padro-ouro

para confirmao diagnstica da malria, entretanto essa tcnica exige pessoal

treinado e experiente para a realizao dos exames (BRASIL, 2009b).

O exame microscpico do sangue pode ser feito em esfregao delgado

(distendido) ou espesso (gota espessa) que, alm do baixo custo, permitem identificar

com facilidade e preciso, a espcie do plasmdio e a mensurar a intensidade do

parasitismo, pela determinao da parasitemia por volume (l ou mm3) de sangue. A

gota espessa corada pela tcnica de Walker (azul de metileno e Giemsa) e o

esfregao delgado corado pelo Giemsa, aps fixao com lcool metlico (FONTES,

2004; REY, 2008; BRASIL, 2009b).

Em geral, o mtodo diagnstico mais utilizado o da gota espessa, visto que a

concentrao de sangue por campo microscpico favorece o reconhecimento do

parasito, entretanto a pesquisa do plasmdio exige alto grau de claridade e nitidez

para o reconhecimento dos parasitos (BRASIL, 2009b).

Pode-se detectar baixas densidades de parasitos (de 5-10 parasitos por l de

sangue), quando o exame realizado por profissional experiente. Porm, em

condies de campo, a capacidade de deteco de 100 parasitos/l de sangue.

Entretanto, a lmina corada e acondicionada em lminas de papel adequadas com o

seu arquivo em local prprio por tempo indeterminado, possibilita futuras revises

para controle de qualidade do exame (BRASIL, 2009b).

Porm, para no deixar de detectar baixas parasitemias, ou em casos de reas

em que exista infeco assintomtica prevalente, bem como para garantir o

diagnstico das infeces mistas, reconhecida a necessidade de se examinar mais de

100 campos microscpicos na microscopia da gota espessa (500 campos seria o ideal,

durante 10 minutos) examinados com aumento de 600-700 vezes, possibilitando o

registro de um resultado negativo com maior segurana (NEVES, 2005; REY, 2008;

BRASIL, 2009b).

A parasitemia avaliada semiquantitativamente pela densidade parasitria de

Plasmodium pela microscopia da gota espessa de sangue, por um sistema de cruzes

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16

em que +/2 = 40-60 parasitos contados por 100 campos de gota espessa; + = 1 parasito

por campo; ++ = 2-20 parasitos por campo; +++ = 21-200 parasitos por campo; ++++ =

200 ou mais parasitos contados por campo de gota espessa (BRASIL, 2010). Salienta-se

que para uma lmina ser considerada negativa (sem parasitos) a sua leitura deve ser

realizada no mnimo em 100 campos (WHO, 2009).

Entretanto, a Organizao Mundial da Sade (WHO, 2009) recomenda a

substituio progressiva do sistema de cruzes pelo sistema de nmero de parasitos

para cada 200 ou 500 clulas brancas sanguneas, com a contagem para 200 clulas

brancas caso o nmero de parasitos logo chegue a 100, ou caso a contagem de

parasitos seja menor que 100 deve-se contar 500 clulas brancas para a certeza da

quantificao parasitolgica.

A descrio do resultado das espcies de plasmdios encontrados no exame

parasitolgico da gota espessa so registrados nas fichas de notificao do Sistema de

Informao de Vigilncia Epidemiolgica Sivep/Malria, pelas respectivas iniciais, em

que: V P. vivax; F P. falciparum; M P. malariae; Ov P. ovale; F+Fg - formas

assexuadas + sexuadas (gametcitos) de P. falciparum; Fg somente gametcitos;

V+Fg formas de P. vivax + gametcitos de P. falciparum; F+V, F+M, V+M para

diferentes combinaes de infeces mistas (BRASIL, 2010).

Para fins de diagnstico e tratamento e para avaliao da qualidade do exame,

o PNCM estabelece a necessidade da reviso de 100% das lminas positivas e 10% das

lminas negativas para malria, devendo os resultados serem retornados em prazo

mximo de 30 dias ao laboratrio de diagnstico; bem como a necessidade da

realizao de um inqurito hemoscpico mediante um protocolo, para a eliminao ou

reduo das fontes de infeco principalmente com relao aos portadores

assintomticos, nos municpios em que a malria estiver em vias de eliminao (IPA

menor que um caso por 1.000 habitantes nos ltimos cinco anos) (BRASIL, 2003).

Embora a gota espessa seja considerada padro-ouro para o diagnstico da

malria, existem estudos que comparam o exame da gota espessa com outras formas

de diagnstico (SUREZ-MUTIS e COURA, 2006; VAN DEN BROEK et al., 2006; FADUL,

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17

2007; WONGSRICHANALAI et al., 2007; COSTA et al., 2008; STAUFFER et al., 2009;

ANDRADE et al., 2010; CARMONA-FONSECA et al., 2010).

Entretanto, ainda so poucos os estudos que descrevem a confiabilidade e a

qualidade do diagnstico da malria pelo mtodo da gota espessa (DINI e FREAN,

2003; KILIAN et al., 2005; PEREIRA et al., 2006; SUREZ-MUTIS e COURA, 2006; FADUL,

2007; OHRT et al, 2007; COSTA et al., 2008; ENDESHAW et al., 2008; SARKINFADA et al,

2009; KHAN et al, 2011).

Foram encontrados tambm artigos que discorriam sobre a qualidade da

microscopia da malria cinco laboratrios foram avaliados/reavaliados quanto

leitura das lminas, realizando a releitura das lminas (KILIAN et al, 2000; DI SANTI et

al, 2004; KAHAMA-MARO et al, 2011; KHAN et al, 2011; MANYAZEWAL et al, 2013).

Quatro artigos focalizaram a avaliao de profissionais quanto leitura das lminas

(GAVITO et al, 2004; MAGUIRE et al, 2006; ROSAS-AGUIRRE, 2010; MUKADI et al,

2011). Trs abordaram o treinamento dos profissionais com a conseguinte leitura das

lminas (OHRT et al, 2007; KIGGUNDU et al, 2011; NAMAGEMBE et al, 2012). Dois

artigos avaliaram a qualidade das lminas dos laboratrios (SARKINFADA et al, 2009;

MBAKILWA et al, 2012), e um confrontou as leituras das lminas em campo e as em

laboratrio (COLEMAN et al, 2002).

KHAN et al. (2011) realizaram um estudo prospectivo no Paquisto sobre um

sistema de garantia da qualidade da microscopia de malria por distritos. Foram

selecionados quatro laboratrios de distritos e um microscopista experiente (snior)

como supervisor para cada distrito, com a responsabilidade de garantir a qualidade da

microscopia da malria e da tuberculose (em dois dos quatro laboratrios), ou apenas

para a microscopia da malria (nos outros dois laboratrios). Os supervisores fizeram

uma avaliao do esfregao e um reexame das lminas para garantia de qualidade,

sendo eles prprios supervisionados administrativa e tecnicamente pelo laboratrio de

referncia nacional. Durante os sete meses da pesquisa, revisaram 22% do total de

lminas examinadas no perodo, e encontraram uma proporo de discordncias de

0,5 a 1,0%, e a qualidade das lminas preparadas foi aceitvel em 73% das lminas.

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18

No ano de 2000, KILIAN et al. publicaram um estudo de base populacional

realizado no distrito de Kabarole, Uganda, em que analisam a confiabilidade da

microscopia da gota espessa da malria, a fim do controle de qualidade do exame

realizado. Entre os anos de 1993 e 1998, 711 lminas foram selecionadas

aleatoriamente (representando 7,5% dos exames realizados durante o perodo da

pesquisa) e revisadas por 4 microscopistas experientes. Como resultado, encontraram

que as diferenas ocorreram principalmente nas estimativas em relao aos

gametcitos, proporo de infeco mista e ao ndice de densidade mdia. Para a

presena do P. falciparum o ndice Kappa foi de 0,79, que aumentou para 0,94 quando

excludos as densidades parasitrias entre 4 e 100/ml, sendo ento considerado

excelente. Em relao densidade parasitria, quanto mais aumentada, menores

foram as discordncias encontradas. Os autores concluem que h a tendncia de

subestimar a relao de gametcitos e a proporo de infeces mistas.

Em uma pesquisa avaliativa sobre a confiabilidade da gota espessa em um

estudo de campo no estado do Amazonas, SUREZ-MUTIS e COURA (2006) discorrem

que a concordncia entre diferentes examinadores (microscopistas) nas infeces

sintomticas nas quais a parasitemia foi elevada, com um ndice de Kappa=0,91.

Consideraram que um ndice de Kappa entre 0,8 e 1,0 foi considerado quase perfeito;

entre 0,4 e 0,79 foi moderado, e um ndice menor de 0,39 foi considerado pobre e o

microscopista deveria passar por uma reciclagem. Desta forma, em casos de infeco

assintomtica por Plasmodium, encontraram uma moderada concordncia, com ndice

de concordncia Kappa=0,42, mesmo com a realizao da leitura de 200 campos

microscpicos. Os autores concluem afirmando a importncia da melhoria da

confiabilidade do exame de gota espessa com o aumento do nmero de campos lidos,

o que levaria, em consequncia, a um tambm aumento da sensibilidade do exame

(SUREZ-MUTIS e COURA, 2006).

No estudo de PEREIRA et al. (2006), uma avaliao das discordncias nos

exames de gota espessa dos estados do Amap e Maranho entre 2001 e 2003, os

autores encontram discordncia de leituras nos exames detectadas entre os

microscopistas dos laboratrios de base do Amap de 1,72%, contra 0,43% no estado

do Maranho, com diferena significativa entre os Estados (p

Reviso Bibliogrfica

19

Comparativamente tambm, no Amap os resultados falsos negativos foram de 0,60%;

e no Maranho, os falsos positivos foram maiores, com 0,12%. Ao comparar os

resultados por tipo de erros, foi observado que as discordncias entre microscopistas

dos laboratrios de base e revisores recaram sobre a identificao das espcies em

ambos os Estados. Os autores concluem discorrendo sobre a necessidade da

elaborao de um manual de procedimentos de diagnstico para a malria, alm do

estabelecimento de um sistema de qualificao permanente de recursos humanos que

deveriam ser realizadas pelo Laboratrio Central de cada unidade da federao.

SARKINFADA et al. (2009) realizaram um estudo integrado de avaliao da

qualidade da microscopia de tuberculose e de malria em Kano, Nigria. Selecionaram

cinco centros de microscopia e implementaram um sistema de qualidade da

microscopia integrada de tuberculose e malria, e aps acompanhamentos,

supervises e avaliaes conduzidos a intervalos de 3 meses at os 24 meses

resultaram num aumento da especificidade para ambas microscopias, com um final de

100% de especificidade em quatro dos cinco laboratrios. Comparativamente com os

dados de abril de 2005, anteriores implantao do sistema que ocorreu de 2005 a

2007, a taxa de concordncia aumentou de 81,0% (K=0.353) para 91,0% (K=0.792).

Correlao positiva de concordncia na microscopia da malria para filmes bem feitos

com r=0,908 e de boa colorao com r=0,963.

Em um estudo de reviso dos sete artigos de relevncia sobre o diagnstico da

malria realizados na frica do Sul entre janeiro de 2000 e agosto de 2002, DINI e

FREAN (2003) encontraram uma discordncia percentual mdia de 13,8% (95%, IC 11,3

16,9%) com 1 de cada 7 lminas sendo incorretamente interpretadas. Afirmam ainda

que os laboratrios das provncias em que a malria endmica no necessariamente

foram melhores do que os que estavam localizadas em reas no endmicas.

No sentido do treinamento de microscopistas, OHRT et al. (2007) realizaram

um curso de treinamento para estabelecer um centro de excelncia no diagnstico de

malria em Kisimu, Qunia, entre julho de 2005 e janeiro de 2006 com participantes de

11 pases. Foi oferecido um curso de longa durao (doze dias) e um de curta durao

(quatro dias), conseguindo, para os participantes do curso de longa durao, um

Reviso Bibliogrfica

20

aumento da sensibilidade de 14% (IC 9-19%) para 77% (IC 73-81%), e um aumento da

especificidade de 17% (IC 11-23%) para 76% (IC 70-82%), enquanto para os

participantes do curso de curta durao a sensibilidade final foi de 95% (IC 91-98%) e a

especificidade para 97% (IC 95-100%). O estudo provou que o treinamento aumenta

drasticamente o desempenho, ilustrando claramente que os falsos positivos e

negativos para a malria so um srio problema a ser resolvido.

2.3 Qualidade da microscopia da malria

A garantia da qualidade da microscopia da malria uma das temticas

primordiais da Organizao Mundial de Sade que, por meio do Manual de Controle

de Qualidade da Microscopia da Malria Malaria Microscopy Quality Assurance

Manual (WHO, 2009) traz a designao de um sistema de qualidade que visa o

contnuo e sistemtico aumento da eficincia, custo-efetividade e preciso dos

resultados das microscopias da malria. O manual, em suas particularidades, ser

suscintamente descrito a seguir.

As microscopias da malria devem passar por um rigoroso controle de

qualidade que, hierarquicamente, so colhidas e examinadas a nvel primrio nos

centros de sade, devendo ser posteriormente revisados pelos supervisores a nvel

intermedirio, e por fim novamente revisadas a nvel central pelo nvel de referncia

nacional.

O nvel primrio responsvel pela coleta e primeira leitura das lminas,

fornecendo o resultado da microscopia sobre a qual ser institudo ou no o

tratamento da malria, bem como sua dosagem dependendo da parasitemia

encontrada.

O nvel intermedirio ou regional responsvel pela superviso e

monitoramento das atividades dos laboratrios de nvel primrio, buscando manter a

sua qualidade. responsvel por fornecer o feedback dos resultados das reavaliao

das lminas produzidas e analisadas pelos laboratrios primrios; por planejar e

implementar treinamentos e atividades de retreinamentos aos microscopistas; e por

Reviso Bibliogrfica

21

manter a qualidade do funcionamento dos equipamentos utilizados nos laboratrios

primrios.

O nvel central, ou laboratrio de referncia central, deve ser o responsvel por

estabelecer parmetros nacionais de qualidade, com a oferta de cursos de

treinamento, a preparao e adaptao dos materiais de acordo com as situaes

locais, a avaliao da competncia e desempenho dos microscopistas de acordo com

os padres nacionais e internacionais de qualidade, a acreditao dos microscopistas e

os procedimentos de laboratrio e seus equipamentos.

Os principais conceitos de qualidade da microscopia da malria so a

sensibilidade que a deteco dos parasitas, a especificidade que a identificao

da espcie dos parasitas, e a acurcia que a quantificao dos parasitas.

Contudo, para garantir a trade sensibilidade-especificidade-acurcia, as

lminas devem ser bem preparadas e coradas, e ento analisadas cuidadosamente por

no mnimo 30 segundos em casos de alta parasitemia, e de em mdia 6 minutos para a

leitura tanto s lminas de mdia parasitemia ou as lminas negativas. Salienta-se que

uma avaliao rpida nos casos de alta parasitemia pode no fornecer a informao de

infeces mistas caso o microscopista no se detenha na leitura.

Manter a trade de qualidade das microscopias requer tambm manter a

competncia dos microscopistas mediante a sua constante avaliao e a sua

atualizao a cada dois a trs anos caso no tenham discordncias nas superviso de

suas lminas. Os supervisores devem visitar os laboratrios primrios com a

regularidade de no mnimo a cada seis meses e, neste perodo, caso sejam detectados

discordncias na reavaliao das lminas dos microscopistas, estes devem passar por

um treinamento de curta ou de longa durao de acordo com a frequncia e gravidade

das discordncias encontradas.

A reavaliao das lminas de microscopia da malria essencial para o

programa de controle da malria e visa assegurar a qualidade e credibilidade das

leituras das lminas, sendo complementar ao processo de garantia da competncia

Reviso Bibliogrfica

22

dos profissionais e seu treinamento, devendo ser validada por profissional competente

microscopista revisor acreditado ou de competncia reconhecida.

A seleo das lminas lidas pelos microscopistas do nvel primrio a serem

relidas/reavaliadas pelos microscopistas revisores deve ser realizada por profissional

que no seja o responsvel pela primeira leitura da lmina e que no conhea o

resultado das lminas, sendo selecionadas aleatoriamente no montante do ms,

preferencialmente.

As lminas devem ser reavaliadas pelo revisor em microscpio de boas

condies, avaliando-as por espcie de parasito, apropriada espessura e tamanho, e

qualidade da colorao. Quaisquer problemas tanto com a preparao das mesmas

quanto com a discordncia final pelo revisor sobre espcie e quantificao de parasitos

(ou no) denominadas lminas falso positivas ou falso negativas, devem ser

registradas em formulrios especficos de reviso de qualidade e posteriormente deve

ser fornecido o feedback ao laboratrio primrio, bem como ao microscopista

responsvel pela primeira leitura, sendo tambm tomadas medidas corretivas para tal.

Figura 3 Organizao do processo de validao

Fonte: World Health Organization, 2009.

Reviso Bibliogrfica

23

Um mnimo de 10 lminas deve ser selecionadas aleatoriamente dentre todas

as realizadas no ms, sendo preferencialmente cinco positivas com baixa parasitemia e

outras cinco negativas, a fim da reavaliao da presena ou ausncia de parasitos e da

acurcia da diferenciao dos P. falciparum e dos no-P. falciparum. Os laboratrios,

entretanto, so encorajados a reavaliarem mais do que o mnimo sugerido caso

possuam disponibilidade para tanto. Os laboratrios que possuam menos que 10

lminas analisadas no ms devem fornecer todas as que foram realizadas.

Porm, salienta-se que as lminas de alta parasitemia no devem ser

selecionadas pelo motivo de, justamente por ter alta parasitemia, serem de fcil

reconhecimento pelos microscopistas dos laboratrios primrios e sua facilidade de

deteco pode no fornecer a segurana no monitoramento da sensibilidade do

microscopista, alm de a probabilidade de que tais lminas sejam reportadas como

negativas extremamente baixo. A reavaliao das lminas deve ocorrer o mais rpido

possvel a cada final de ms, e o resultado deve ser relatado, se possvel, dentro de 2

semanas.

Para fins de controle de qualidade, os resultados das discordncias devem ser

registrados baseados em uma tabela 2x2, como:

Quadro 1 Controle de qualidade de identificao de estgios assexuados dos

parasitas no sangue, sem identificao das espcies:

Fonte: World Health Organization, 2009.

Nesta anlise especificamente, A corresponde ao nmero de lminas

descritas como positivas tanto pelo microscopista primrio quanto pelo revisor; B

corresponde ao nmero de lminas descritas como positivas pelo nvel primrio e

como negativas pela reviso (falso positivos); C corresponde ao nmero de lminas

Reviso Bibliogrfica

24

descritas como negativas pelo nvel primrio e como positivas pela reviso (falso

negativos; e D corresponde ao nmero de lminas descritas como negativas tanto

pelo microscopista primrio quanto pelo revisor. Ressalta-se que o mesmo esquema

de avaliao pode ser realizado para reavaliaes de lminas quanto presena ou

no de P. falciparum.

Portanto, o clculo de porcentagem de concordncia nos casos de reavaliaes

sem especificao de espcie parasitria se d pela seguinte expresso:

% de Concordncia = (A+D)x 100

+B+C+D

Fonte: World Health Organization, 2009.

O sistema descrito possibilita uma amostra representativa de validao do

esquema de reavaliao de lminas, embora uma coorte analtica a cada 4 meses dos

percentuais de concordncia, percentuais de falsos positivos e percentuais de falsos

negativos seja o mais indicado para detectar mudanas recentes no desempenho dos

laboratrios.

Por todas as minuciosas orientaes que visam qualidade das microscopias da

malria, tanto para as anlises primrias quanto para a necessidade de sua constante

reavaliao, o referido Manual da OMS referncia central para os programas

nacionais de controle da doena no mundo todo e para os respectivos laboratrios que

so responsveis por seu diagnstico.

2.4 Laboratrio Central

O Ministrio da Sade, com a Portaria N 2.031/GM de 23 de setembro de 2004

dispe sobre a organizao do Sistema Nacional de Laboratrios de Sade Pblica

SISLAB, que um conjunto de redes nacionais de laboratrios, organizadas em sub-

redes, por agravos ou programas, de forma hierarquizada por grau de complexidade

das atividades relacionadas vigilncia epidemiolgica, vigilncia em sade ambiental,

vigilncia sanitria e assistncia mdica. Compreendem os Centros Colaboradores, os

Reviso Bibliogrfica

25

Laboratrios de Referncia Nacional, Laboratrios de Referncia Regional,

Laboratrios de Referncia Estadual, Laboratrios de Referncia Municipal,

Laboratrios Locais e Laboratrios de Fronteira (MINISTRIO DA SADE, 2004).

Os Laboratrios de Referncia Estadual so os Laboratrios Centrais de Sade

Pblica LACEN, vinculados s secretarias estaduais de sade, com rea geogrfica de

abrangncia estadual e que tem sete competncias, sendo:

I - coordenar a rede de laboratrios pblicos e privados que realizam

anlises de interesse em sade pblica;

II - encaminhar ao Laboratrio de Referncia Regional amostras

inconclusivas para a complementao de diagnstico e aquelas destinadas

ao controle de qualidade analtica;

III - realizar o controle de qualidade analtica da rede estadual;

IV - realizar procedimentos laboratoriais de maior complexidade para

complementao de diagnstico;

V - habilitar, observada a legislao especfica a ser definida pelos gestores

nacionais das redes, os laboratrios que sero integrados rede estadual,

informando ao gestor nacional respectivo;

VI - promover a capacitao de recursos humanos da rede de laboratrios;

e

VII - disponibilizar aos gestores nacionais as informaes relativas s

atividades laboratoriais realizadas por intermdio do encaminhamento de

relatrios peridicos, obedecendo cronograma definido (MINISTRIO DA

SADE, 2004).

Como Laboratrios de Referncia Regional o pas tem duas referncias: o

Instituto Evandro Chagas (IEC) localizado no estado do Par abrange os estados da

Amaznia Legal, e o Instituto Oswaldo Crus (FIOCRUZ) localizado no estado do Rio de

Janeiro abrange os estados da regio Extra Amaznica (CGLAB, 2010).

Estudos cientficos abordam o funcionamento dos laboratrios regionais como

o de Santos et al. (2008), que num estudo sobre Gesto da Qualidade nos Laboratrios

Centrais de Sade Pblica com modelo de controle de qualidade analtica da malria,

afirmam que cabe aos Lacen a identificao etiolgica de doenas e agravos mediante

o acompanhamento de seus perfis quantitativos e qualitativos, participando de

Reviso Bibliogrfica

26

maneira ativa da identificao de casos nas unidades federativas correspondentes. Por

conseguinte, a introduo de normas tcnicas da qualidade na sua gesto leva maior

confiabilidade e reprodutibilidade, ampliando tambm sua relao de confiana com

as vigilncias epidemiolgica, em sade ambiental e sanitria. Para tanto, necessita do

treinamento dos servidores para a interpretao das normas relacionadas a gesto da

qualidade, resgatando o fortalecimento de sua capacidade de partcipes das

vigilncias.

Em todas as polticas de controle da malria na regio da Amaznia Legal como

o Programa de Controle da Bacia Amaznica (PCMAN), em 1989; o Plano de

Intensificao das Aes de Controle da Malria na Amaznia Legal (PIACM), de 2001 a

2002; e o Programa Nacional de Preveno e Controle da Malria (PNCM), a partir de

2002, determinam a reviso externa das lminas de gota espessa como uma

ferramenta para garantir a exatido e a confiabilidade dos laudos e do desempenho

dos microscopistas dos laboratrios locais (LOIOLA et al., 2002; BRASIL, 2003).

Os microscopistas dos laboratrios locais, durante o processo de reviso das

lminas, registram os resultados e preenchem diariamente os formulrios e, no final

de uma semana, encaminham os formulrios datados e assinados, aos laboratrios de

reviso. O PNCM orienta o envio de 100% das lminas positivas e negativas para os

laboratrios revisores do Estado, em que realizada uma verificao criteriosa e

avaliado o percentual de concordncia encontrado. Do montante revisado no ms, os

revisores selecionaro ao acaso, oito lminas positivas e negativas, que sero

encaminhas ao Lacen para a consecuo do controle externo de qualidade (SANTOS et

al., 2008).

Ressalta-se que os Lacen da Amaznia Legal realizam apenas a reviso das

lminas procedentes dos laboratrios de base e os de reviso; e os da regio Extra

Amaznica alm da reviso realizam a leitura das lminas para diagnstico (CGLAB,

2010).

De acordo com o desempenho dos microscopistas, os supervisores do Lacen

devem se manter atentos aos tipos de erros cometidos e a promover a capacitao

peridica dos laboratoristas (PEREIRA et al., 2006; SANTOS et al., 2008).

Reviso Bibliogrfica

27

No sentido do controle de qualidade de lminas, e em uma analogia s

orientaes para o diagnstico da malria, o Guia de Procedimentos Tcnicos para a

Baciloscopia em Hansenase (BRASIL, 2010b) diz caber aos Lacen em consonncia com

os laboratrios municipais, a avaliao peridica das laminas dos laboratrios que so

de sua competncia. Para tanto, o controle consiste na releitura dos esfregaos sem

que o avaliador conhea o resultado da baciloscopia fornecida pelo laboratrio, e a

qualificao do grau de concordncia e discordncia entre ambas as leituras, a fim da

avaliao tambm do desempenho das unidades.

O Lacen deve receber dos laboratrios municipais 100% das lminas positivas e

10% das lminas negativas, juntamente com os registros dos resultados das lminas.

Aps o recebimento, o tcnico avaliador primeiro realiza a leitura das lminas e depois

compara com o resultado do laboratrio, classificando as lminas discordantes como

Falso Negativo (FN) como os esfregaos com resultado negativo no laboratrio

analisado e positivo na releitura pelo avaliador, e em Falso Positivo (FP) como os

esfregaos com resultado positivo no laboratrio avaliado e negativo na releitura do

avaliador. Aps a reavaliao das lminas e com o total de FN e FP calculado o ndice

de Concordncia (IC), que expresso pelo n de esfregaos concordantes dividido pelo

total de esfregaos relidos, multiplicado por 100, e em que o total esperado de 100%

(BRASIL, 2010b).

O guia afirma ainda que a deteco de um FN ou um FP considerado um erro

grave, que exige uma imediata investigao das causas e a tomada de providncias

junto unidade solicitante, visto que os resultados interferem no tratamento a ser

institudo ao paciente. Assim, em caso de discordncias, medidas corretivas devem ser

tomadas como a capacitao, visitas tcnicas ou uma segunda avaliao. Todos os

Lacen devem, ao final das avaliaes e revises realizadas durante o ano nos

laboratrios municipais, realizar um relatrio final da avaliao da rede estadual

(BRASIL, 2010b).

As orientaes e medidas de avaliao e controle de qualidade descritas pelo

Guia de Procedimentos Tcnicos para a Baciloscopia em Hansenase (BRASIL, 2010b)

Reviso Bibliogrfica

28

tambm so tomadas para o controle de qualidade dos Lacen para o diagnstico da

Malria, especialmente em relao ao Lacen/MT Laboratrio.

2.5 Lacen/MT Laboratrio

No estado de Mato Grosso o Lacen/MT Laboratrio o laboratrio de

Referncia Estadual e sob sua coordenao e superviso est organizada a Rede

Estadual de Laboratrios de Sade Publica do Estado de Mato Grosso REDELAB/MT

(MATO GROSSO, 2010; MATO GROSSO, 2011a).

A REDELAB o conjunto de redes estaduais hierarquizadas e regionalizadas, em

que sua estruturao tem por fundamento o nvel de complexidade dos laboratrios

assim como os critrios epidemiolgicos, demogrficos e geogrficos relacionados

vigilncia em sade. As referidas redes sero estruturadas em sub-redes especficas

por agravos ou programas, com a identificao dos respectivos laboratrios de

referncia, rea geogrfica de abrangncia e suas competncias (MATO GROSSO,

2011a).

O MT Laboratrio foi criado no mbito da Secretaria de Estado de Sade SES,

pela lei complementar n179 de 13 de julho de 2004, em que seu artigo 2 descreve as

competncias do MT Laboratrio:

I - realizar anlises de interesse em sade pblica, apoiando os Sistemas

Estaduais de Vigilncia Epidemiolgica, Sanitria e Ambiental;

II - realizar procedimentos laboratoriais de mdia e alta complexidade para

complementao de diagnstico;

III - realizar exames de citopatologia e antomo patolgico;

IV - coordenar os laboratrios de fronteira para viabilizao do diagnstico

de agentes etiolgicos, vetores de doenas transmissveis e outros agravos

sade pblica, bem como promover suporte analtico nos casos de

toxiinfeces alimentares;

V - coordenar, normatizar e monitorar a rede de laboratrios no Estado de

Mato Grosso;

VI - celebrar convnio de cooperao tcnica com a rede de laboratrios

pblicos e privados;

Reviso Bibliogrfica

29

VII - supervisionar a descentralizao de atividades especficas e de

interesse de sade pblica;

VIII - realizar controle de qualidade e biossegurana;

IX - emitir parecer tcnico para credenciamento de laboratrios pblicos e

privados. (CUIAB, 2004).

O MT Laboratrio foi criado com uma estrutura que conta com servidores

enfermeiros, biomdicos, bilogos, farmacuticos, mdicos, auxiliares de laboratrio e

outros profissionais da sade, que atuam nas trs frentes do laboratrio: a

Coordenadoria de Laboratrio de Sade Pblica Lacen, a Coordenadoria de Anlises

Clnicas, e a Coordenadoria de Citopatologia. O Lacen/MT Laboratrio atende s

necessidades de Vigilncia Epidemiolgica, Vigilncia Sanitria e Vigilncia Ambiental

quanto ao diagnstico de diversos agravos (MATO GROSSO, 2004).

Aps sua instituio em 2004, o Lacen/MT Laboratrio progrediu para

atividades diversas tais como a instituio de Laboratrios de Fronteira como o de

Cceres (sob a abrangncia do Escritrio Regional de Sade ERS de Cceres e Pontes

e Lacerda); a descentralizao das anlises clnicas de baixa complexidade que

passaram a ser executados pelos municpios mato-grossenses atravs dos laboratrios

cadastrados de Sade Pblica do Estado; a referncia em Vigilncia em Sade para

anlises laboratoriais de mdia e alta complexidade bem como as doenas de

notificao compulsria; a coordenao e superviso dos laboratrios pblicos e

privados da Rede de Laboratrios de Sade Pblica do Estado de Mato Grosso

REDELAB/MT; a criao do Gerenciador de Ambiente Laboratorial (GAL) que permite a

padronizao de laudos e a integrao dos Lacen com o Sistema de Vigilncia Nacional,

entre outras atividades (MATO GROSSO, 2010).

O Lacen/MT Laboratrio busca manter a qualidade de suas anlises clnicas, e,

especificamente em relao ao diagnstico da malria no estado de Mato Grosso por

meio das lminas de gota espessa, segue as orientaes do Fax Circular n52 (Anexo 1)

enviada pela Coordenao Geral de Laboratrios de Sade Pblica CGLAB, enviada

dia 10 de julho de 2006, referente nova proposta para os critrios de controle de

diagnstico da malria que fora implantada nos estados da Amaznia Legal, e em cuja

Reviso Bibliogrfica

30

finalidade intensificar as aes e aprimorar o diagnstico da malria, em consonncia

com o Programa Nacional de Controle da Malria PNCM.

O protocolo, denominado Avaliao do controle de qualidade no diagnstico

da malria nos estados da Amaznia Legal traz orientaes acerca da Seleo das

Lminas, da Reviso das Lminas e do Controle de Qualidade do Lacen (CGLAB,

2006).

Para a Seleo das Lminas, os microscopistas dos laboratrios de base

devem enviar todas as lminas positivas e negativas para o laboratrio de reviso,

semanalmente ou mensalmente. Os Lacen, de acordo com a periodicidade do envio

das lminas pelos laboratrios de base escolhem, aleatoriamente, as lminas a serem

revisadas de cada microscopista. Caso o envio seja semanal devem ser escolhidas 04

lminas, sendo 02 positivas e 02 negativas; caso o envio seja mensal, sero escolhidas

aleatoriamente 16 lminas para cada microscopista, sendo 08 lminas positivas e 08

negativas (CGLAB, 2006).

Quanto Reviso das Lminas, o revisor avaliar tanto o resultado quanto a

qualidade das lminas analisadas. Caso acontea discordncia na reviso das lminas,

uma terceira leitura, de confirmao, deve ser realizada. Se verificados problemas na

habilidade do tcnico responsvel pela leitura sero realizadas capacitaes in loco

durante o tempo necessrio para total aprendizado. Durante a superviso, o revisor

dever observar as condies de trabalho do microscopista tais como o equipamento

utilizado no diagnstico, o local da leitura das lminas, o corante utilizado e a

capacidade do tcnico para a leitura de lminas. Mensalmente o responsvel pelo

laboratrio de reviso deve enviar ao Lacen um relatrio com o nmero de lminas

analisadas, o percentual de divergncias, e se ocorreram supervises dos laboratrios

de base e/ou capacitao in loco para os microscopistas que apresentaram lminas

divergentes (CGLAB, 2006).

O Controle de Qualidade do Lacen traz como diretivas que os laboratrios de

reviso devem enviar semanalmente ou mensalmente ao Controle de Qualidade do

Lacen todas as lminas analisadas por revisor. No Lacen o procedimento seguir o

mesmo padro de seleo de lminas do laboratrio de reviso, ou seja, o supervisor

Reviso Bibliogrfica

31

escolher aleatoriamente 04 lminas (02 positivas e 02 negativas) caso o envio seja

semanal, e 16 lminas (08 positivas e 08 negativas) caso o envio seja mensal. Caso

sejam identificadas divergncias, o tcnico do Lacen deve realizar superviso no

laboratrio de reviso; ressalta-se que o Lacen tambm ser avaliado pelo Laboratrio

de Referncia Nacional o Instituto Evandro Chagas (IEC), por meio de avaliao

externa. O Lacen deve tambm, a cada dia 10 do ms subsequente, enviar

Coordenao Geral de Laboratrios de Sade Pblica CGLAB, um relatrio das

atividades realizadas para o controle de qualidade (CGLAB, 2006).

De acordo com o desempenho dos microscopistas, os supervisores do Lacen

devem se manter atentos aos tipos de erros cometidos e a promover a capacitao

peridica dos laboratoristas (PEREIRA et al., 2006; SANTOS et al., 2008).

2.6 Microscopia da malria: reviso bibliogrfica

sistematizada

Com o objetivo de verificar a produo cientfica sobre a microscopia da

malria pelo mtodo da gota espessa e at mesmo para aprofundar no tema da

dissertao foi construda uma reviso bibliogrfica sistematizada nas bases de dados

bibliogrficas utilizando como estratgia de busca a pesquisa por palavras malaria and

microscopy and quality sem restries de idiomas.

Como resultado foram encontrados 109 resumos de artigos com os descritores

selecionados, sobre os quais foi feita uma primeira leitura dos ttulos e resumos.

Desses, inicialmente 8 foram excludos pois foram publicados anteriormente ao ano

2000 (n = 101) e 3 excludos por no possurem resumo (n = 98).

Aps esta primeira etapa foi realizada a leitura de todos os ttulos e resumos,

sendo considerados adequados aqueles realizados com seres humanos e tambm os

que tratavam do exame da gota espessa da malria. Foram considerados

primeiramente os artigos que analisavam a qualidade das lminas de malria, e em

Reviso Bibliogrfica

32

seguida os estudos comparativos da microscopia com demais testes rpidos para

diagnstico, resultando assim em 30 artigos pr-selecionados para a reviso.

Posteriormente, os artigos foram avaliados na ntegra a fim da identificao de

demais eventuais estudos que no tivessem sido identificados anteriormente pelo

mtodo descrito. Finalmente, 26 artigos compuseram o corpus da presente reviso

conforme representado pela Figura 4.

Figura 4 Representao dos procedimentos para seleo dos artigos

_ _ _ _ _ _____________________________________________________

_ _ _ _ _ ____________________________________________________

_ _ _ _ _ ______________________________________________________

Fase 1 Definio das bases de dados

Fase 2 Definio dos descritores

Bases de dados LILACS, SciElo e Medline

Fase 3 Anlises dos resumos

109 artigos encontrados inicialmente

Excludos 8 anteriores ao ano 2000 Excludos 3 sem resumo

Fase 4 Anlises dos textos completos

30 artigos analisados na ntegra

Excludos 1 microscopia fluorescente Excludos 3 no descreve mtodo comparativo

26 artigos includos na reviso sistematizada

Reviso Bibliogrfica

33

Os 26 artigos selecionados foram ento subdivididos em duas categorias a fim

de melhor anlise didtica: 1 artigos que tratam da qualidade da microscopia da

malria nos laboratrios e 2 artigos que fazem comparativo da microscopia da

malria com testes rpidos disponveis, a fim da verificao da confiabilidade destes.

Como descritos na Tabela 1, foram 15 os artigos que discorriam sobre a

qualidade da microscopia da malria. Pode-se observar que a grande maioria dos

artigos foram produzidos no continente africano, onde 44 pases tm a malria em

curso (WHO, 2012). Outros artigos foram conduzidos em pases das Amricas (Peru,

Cuba e Brasil), que mantm o segundo lugar de continente com maior nmero de

pases endmicos para a malria (WHO, 2012), e os outros dois produzidos em

Camboja e Indonsia, e na Tailndia.

Em cinco dos quinze artigos, os laboratrios foram avaliados/reavaliados

quanto leitura das lminas, realizando a releitura das lminas (KILIAN et al, 2000; DI

SANTI et al, 2004; KAHAMA-MARO et al, 2011; KHAN et al, 2011; MANYAZEWAL et al,

2013).

Quatro artigos focalizaram a avaliao de profissionais quanto leitura das

lminas (GAVITO et al, 2004; MAGUIRE et al, 2006; ROSAS-AGUIRRE, 2010; MUKADI et

al, 2011). Trs abordaram o treinamento dos profissionais com a conseguinte leitura

das lminas (OHRT et al, 2007; KIGGUNDU et al, 2011; NAMAGEMBE et al, 2012). Dois

artigos avaliaram a qualidade das lminas dos laboratrios (SARKINFADA et al, 2009;

MBAKILWA et al, 2012), e um confrontou as leituras das lminas em campo e as em

laboratrio (COLEMAN et al, 2002).

Reviso Bibliogrfica

34

Tabela 1 Resumo dos estudos que tratam da qualidade da microscopia da malria nos laboratrios.

Continua

Autores / Ano Pas do estudo Populao estudada Metodologia utilizada Resultados

MANYAZEWAL et al, 2013 Etipia Laboratrios de nvel primrio foram reavaliados quanto qualidade.

Lminas de tuberculose, malria e HIV (coradas e no coradas).

A anlise demonstrou concordncia entre laboratrios primrios e secundrios (teste e reteste).

MBAKILWA et al, 2012 Tanznia 12 Laboratrios de hospitais de trs distritos.

Microscopistas leram 10 lminas para avaliao.

As maiores causas de resultados imprecisos nas leituras foi devido qualidade das lminas.

NAMAGEMBE et al, 2012 Uganda

194 profissionais de sade realizaram um curso de seis dias e foram acompanhados por at um ano.

17 dos 30 profissionais de laboratrio foram avaliados quanto preparao das lminas de malria e habilidade em interpretar resultados.

O treinamento multidisciplinar resultou em melhorias significativas em habilidades clnicas e de laboratrio.

KAHAMA-MARO et al, 2011

Tanznia Lminas escolhidas aleatoriamente de 12 servios de sade pblica.

Lminas foram reavaliadas por microscopistas experientes.

A microscopia de rotina era muito ruim em todos os servios de sade, com massivo over diagnstico (falsos positivos).

MUKADI et al, 2011 Repblica Democrtica do Congo

Laboratrios de quatro provncias.

Questionrio com lminas-amostra enviado para avaliao e retornado com uma lmina produzida pelo laboratrio para avaliao da qualidade.

Expressiva m qualidade da leitura da microscopia. Erros graves em leituras e menos de 20% das lminas produzidas com boa qualidade de colorao. Um tero dos participantes teve treinamento formal.

KIGGUNDU et al, 2011 Uganda

Treinamento de trs dias com 184 microscopistas conduzido em quatro distritos.

Avaliao escrita, da qualidade da preparao da lmina e da leitura das lminas.

Treinamento aumentou conhecimento, acurcia e qualidade da preparao das lminas.

Reviso Bibliogrfica

35

Continuao da Tabela 1 Resumo dos estudos que tratam da qualidade da microscopia da malria nos laboratrios

Continuao

KHAN et al, 2011 Paquisto

Supervisores de laboratrios de quatro distritos reexaminaram 22% do total de lminas produzido em sete meses.

Trs inovaes operacionais foram introduzidas pelos supervisores nos laboratrios, avaliando os dados quantitativos e qualitativos.

Abordagem da superviso mostra qualidade aceitvel nos laboratrios analisados.

ROSAS-AGUIRRE, 2010 Peru

68 microscopistas sem experincia (1 ano) foram avaliados quanto ao desempenho ao diagnstico da malria.

Avaliao de 20 lminas, qualificando os microscopistas como especialistas, referentes, competentes, ou em treinamento.

Avaliao da competncia foi aceitvel em 11,8% nos microscopistas sem experincia e de 52,6% nos microscopistas experientes.

SARKINFADA et al, 2009 Nigria

Cinco centros de microscopia foram selecionados para implementar a integrao da microscopia da tuberculose (TB) e da malria.

Supervises e avaliaes foram conduzidas a intervalos de 3 meses por 24 meses.

vivel a integrao do sistema e treinamento para ambas microscopias para melhorar a sua qualidade.

OHRT et al, 2007 Qunia

Doze dias de treinamento longo e quatro dias de treinamento curto (prticas supervisionadas, palestras, discusses, demonstraes e atividades para casa) para 209 microscopistas de 11 pases.

30 lminas de malria para analisar, avaliao escrita com 65 questes, exame de 30 imagens fotogrficas (artefatos e espcies parasitrias), e exame de contagem de parasitas.

Lminas falso positivo e falso negativas so um problema srio mesmo com microscopistas de pesquisa. Treinamento aumentou imensamente o desempenho.

Reviso Bibliogrfica

36

Concluso da Tabela 1 Resumo dos estudos que tratam da qualidade da microscopia da malria nos laboratrios

Concluso

MAGUIRE et al, 2006 Camboja e Indonsia

Sangue de 35 indivduos Plasmodium-positivos e de indivduos sem historia de risco para malria.

Avalia 28 microscopistas experientes no diagnstico da malria.

Microscopia confirmada por reao de cadeia de polimerase (PCR). Microscopistas identificaram corretamente 85% de lminas com baixa densidade e100% com alta densidade parasitria.

GAVITO et al, 2004 Cuba 18 laboratrios de uma provncia.

Avalia qualidade da lmina e leitura de um set de lminas positivas e negativas.

Mostrou melhor resultado em microscopistas com menos de 5 anos de experincia, que relataram ter participado de um treinamento 6 meses antes da pesquisa.

DI SANTI et al, 2004 Brasil

190 lminas diagnosticadas como positivas confirmadas por reao de cadeia de polimerase (PCR).

Avalia qualidade do diagnstico da malria em laboratrio de referncia.

Resultados positivos foram encontrados em 131 lminas em ambas tcnicas, com maior diferena de diagnstico nas tcnicas em relao s infeces mistas e s P. malariae.

COLEMAN et al, 2002 Tailndia 3004 lminas coletadas foram avaliadas.

Compara microscopia de campo com microscpio luz natural, com microscopia de laboratrio com microscpio luz artificial.

Microscopia de campo especfica porm no sensvel, no sendo um mtodo efetivo para a pesquisa de malria onde a prevalncia e os ndices de parasitemia so baixos.

KILIAN et al, 2000 Uganda 711 lminas selecionadas aleatoriamente e lidas por 4 microscopistas experientes.

Revisa e avalia aleatoriamente lminas produzidas por outros estudos para controle de qualidade.

Diferenas ocorreram principalmente nas estimativas de gametcitos, proporo de infeco mista e ndice de densidade mdia.

Reviso Bibliogrfica

37

Os outros onze artigos tratam de comparar a microscopia com as lminas de

gota espessa de malria com os diversos testes rpidos disponveis para diagnstico,

conforme descritos na Tabela 2.

Nestes artigos predominaram produes em p