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Fundação Universidade Federal do Rio Grande - FURG Núcleo de Educação e Monitoramento Ambiental - NEMA Elaboração de um SIG (SITARS) para os encalhes e capturas incidentais de tartarugas marinhas no Rio Grande do Sul. Tiago Borges Ribeiro Gandra Orientador: Sérgio C. Estima Co-orientadora: Tatiana S. da Silva Rio Grande – RS 2005 Trabalho de graduação apresentado como parte das exigências para obtenção do grau de Oceanólogo.

Fundação Universidade Federal do Rio Grande - FURG Núcleo ... · 1 1. Introdução 1.1. Tartarugas Marinhas As tartarugas marinhas são animais vertebrados da Classe dos Répteis

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Fundação Universidade Federal do Rio Grande - FURG Núcleo de Educação e Monitoramento Ambiental - NEMA

Elaboração de um SIG (SITARS) para os encalhes e capturas

incidentais de tartarugas marinhas no Rio Grande do Sul.

Tiago Borges Ribeiro Gandra

Orientador: Sérgio C. Estima Co-orientadora: Tatiana S. da Silva

Rio Grande – RS 2005

Trabalho de graduação apresentado

como parte das exigências para

obtenção do grau de Oceanólogo.

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ÍNDICE

1. Introdução............................................................................................................................1

1.1. Tartarugas Marinhas ..................................................................................................1

1.2. A Pesca no Litoral Extremo Sul: ...............................................................................2

1.3. Interação de Tartarugas Marinhas com a Pesca ....................................................5

1.4. Sistemas de Informações Geográficas ....................................................................7

1.4.1. Utilização de SIG na Conservação das Tartarugas Marinhas.................................9

1.5. Objetivos ....................................................................................................................10

2. Área de Estudo..................................................................................................................11

3. Materiais e Métodos ........................................................................................................13

3.1. Coleta dos Dados ......................................................................................................13

3.2. Organização do SITARS..........................................................................................14

4. Resultados e Discussão ...................................................................................................20

4.1. Encalhes de Tartarugas Marinhas no RS..............................................................20

4.1.1. Caretta caretta........................................................................................................25

4.1.2. Chelonia mydas ......................................................................................................26

4.1.3. Dermochelys coriacea.............................................................................................28

4.2. Captura Incidental de Tartarugas Marinhas no RS............................................30

4.2.1. Espinhel Pelágico ...................................................................................................31

4.2.2. Emalhe de Superfície ..............................................................................................36

4.2.3. Pesca Artesanal......................................................................................................38

5. Conclusões.........................................................................................................................40

6. Referências Bibliográficas..............................................................................................41

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Agradecimentos

Em primeiro lugar, agradeço à Rossana por sempre me dar força, por me

agüentar quando nem eu me agüentava, por ser companheira e amiga de todos os

momentos, pela paciência, bom humor, otimismo e, principalmente, pelo seu carinho

e dedicação para com o Lucas, que me permitiu ter tempo para fazer este trabalho.

Sem esta pessoa maravilhosa não seria possível a conclusão deste curso. Agradeço ao

meu filho Lucas, pelo seu carinho que me põe para cima nas horas tristes, por me

obrigar a continuar caminhando, por me exigir esforço para me dar bem na vida.

Ao pessoal do NEMA (Serginho, Dani, Goiano, Alemão, Gordinho, Carla,

Naná, Rodrigo, Alice, Rita, Ana, Lili, Mara, Samara, Bugoni, Meio-quilo, entre

outros), companheiros sempre dispostos a ajudar, sempre me ensinando a

importância do lado “humano” da Oceanografia, que não é devidamente levado a

sério durante o curso. Ao NEMA e todos que por lá passaram, que com muito

trabalho e força de vontade e pouco dinheiro construíram a instituição e coletaram

uma quantidade absurda de dados ao longo de 20 anos. Ao Serginho e à Dani, pela

orientação e por me apresentarem as praias do Rio Grande do Sul, me

proporcionando uma visão mais biológica do litoral gaúcho. Agradeço aos

pescadores e mestres de embarcações, que nos acolheram nos portos ou nos barcos,

que nos ensinam em poucos dias segredos do mar que nunca aprenderíamos na

faculdade.

A todos os meus amigos físicos loucos que tentaram resolver meus problemas

matlábicos (Tremembas, Júlia, Huguinho, Thierri e André) e agradeço

principalmente ao Fernando, que foi quem solucionou o problema. À Tati, co-

orientadora que em poucas reuniões resolveu problemas essenciais do meu trabalho,

por estar sempre disponível e disposta a ajudar. Aos amigos que muito me

ensinaram de oceanografia (entre outras coisas) durante as conversas regadas de

cerveja (Felipe, Chiquinho, Huguinho, Goiano, Rafa, Magaiver, André, Almudi,

Thunder, Há, Marcos, Carol, Polvo, Bel, CJ, JP, Pitbul...), pois às vezes penso se

aprendi mais com os amigos do que com os professores. Agradeço também aos

professores que se interessaram e conseguiram ensinar alguma coisa durante o

curso, sem citar nomes.

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Ao uAioZê (e pessoas relacionadas com as atividades circenses), trupe que me

fez sair um pouco do mundinho científico para adentrar um pouquinho no mundão

das artes, proporcionando satisfação, felicidade, descontração e desenvolvimento

físico e motor (Luísa, Japa, Simone, Iá, Thaís, Ana, Cristian, Leco, Samara, Amilques,

Silvina, Lori e Ico). A todos os amigos de festas e bate-papos desprovidos de

seriedade, que também são importantes para a formação acadêmica de estudante de

oceanologia. Agradeço também às casas (e seus moradores ao longo dos anos), que

abrigaram tantas festas durante estes 5 anos: a Holmes, a Casa do Seu Esquilo, a

Lama, a Lama-crube, a Maria Araújo, a Sem-noção, a Bahia 222, o Harém ou Casa

dos Animais, a Casa do Sul, a Pitocolândia, a Walla, a Casa do Patú, entre outras.

Agradeço ao Bolacha, com seus pastos, aves, árvores e arroios, paisagem linda de se

ver e relaxar, me mostrando mundos diferentes, fora da oceanografia e fora do que

estamos acostumados a viver. Ao Pink Floyd e ao Miles Davis, companhias que

tornaram mais agradáveis as intermináveis horas na frente do computador.

Agradeço aos companheiros do Arvoredo (Diego, Mariana, Déa, Maíra) que

passaram ou passarão muitos perrengues na “Ilha Quadrada”. Agradeço

principalmente à Júlia, que, com sua hiperatividade quase insana, impulsionou o

projeto no Arvoredo, me dando perspectivas para o ano que vem e me mostrando no

que realmente eu gosto de trabalhar. Agradeço à Margareth, que apóia e acredita

neste projeto. Agradeço especialmente à banca e orientadores, que se propuseram a

assistir minha apresentação na semana entre o Natal e o Reveillon, obrigado por

trabalharem nestas datas tão impróprias ao labor.

Aos amigos de BH, que, mesmo distantes, são amigos pra sempre se contar.

Aos meus irmãos, que são o máximo, exemplos a serem seguidos, e ajudam meus

pais a agüentarem essa ovelha desgarrada que eu sou.

Por último, e não menos importante, agradeço aos meus pais pelo amor

incondicional, por toda a bagagem (moral, física e intelectual) que me deram antes

de me mudar para o Cassino, pelo apoio que sempre me deram para que fosse

possível me formar em oceanografia. Agradeço por acreditarem em mim por e terem

me passado valores que ficarão por toda a vida.

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1. Introdução

1.1. Tartarugas Marinhas

As tartarugas marinhas são animais vertebrados da Classe dos Répteis e

pertencem a duas famílias: Dermochelyidae e Cheloniidae. Atualmente, existem sete

espécies de tartarugas marinhas no mundo: Dermochelys coriacea (único representante

da primeira família), Caretta caretta, Chelonia mydas, Eretmochelys imbricata,

Lepidochelys olivacea, Lepidochelys kempii, e Natator depressus (Meylan e Meylan, 1999).

Segundo Marcovaldi e Marcovaldi (1999), das sete espécies de tartarugas

marinhas existentes no mundo, cinco são encontradas no litoral brasileiro: C. caretta

(tartaruga-cabeçuda), C. mydas (tartaruga-verde), E. imbricata (tartaruga-de-pente), D.

coriacea (tartaruga-de-couro) e L. olivacea (tartaruga-oliva).

No litoral do Rio Grande do Sul, foram registradas estas cinco espécies de

tartarugas marinhas (Pinedo et al., 1996). Esta região é uma importante área de

alimentação e desenvolvimento para as tartarugas verde, cabeçuda e de couro

(Bugoni et al., 2003) e estão sob alto risco devido às atividades pesqueiras e poluição

(Bugoni et al., 2001).

Indivíduos juvenis de C. mydas apresentam hábitos onívoros, com tendências

a carnivoria, tornando-se preferencialmente herbívoros a partir dos 35 cm de

comprimento curvilínio da carapaça (CCC) (Bjorndal, 1997). C. caretta alimenta-se em

áreas pelágicas nos primeiros anos de vida, migrando para áreas mais rasas a partir

dos 40-50 cm de CCC, passando a se alimentar de organismos bentônicos (Bolten e

Balazs, 1995). Exemplares juvenis e adultos podem se alimentar de crustáceos

(principalmente camarões, siris e caranguejos), moluscos, medusas, hidrozoários e

ovos de peixes, sendo bastante oportunistas durante os deslocamentos migratórios

(Bjorndal, 1997). D. coriacea é uma espécie de hábitos pelágicos que passa a maior

parte do tempo em áreas oceânicas, podendo se aproximar da costa em busca de

alimento. Alimentam-se principalmente de medusas, salpas e outros organismos

gelatinosos (Bjorndal, 1997). Pinedo et al. (1996) analisaram o conteúdo estomacal de

tartarugas marinhas encalhadas no Rio Grande do Sul, encontrando no trato

digestivo de indivíduos da espécie C. caretta restos de crustáceos e de outras presas

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demersais, enquanto que para C. mydas foram encontrados algas, fragmentos de

fanerógamas e tunicados planctônicos.

Segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN,

2002), C. Caretta, C. mydas e L. olivacea são espécies em perigo de extinção, enquanto

D. coriacea e E. imbricata são criticamente ameaçadas de extinção. Estes animais

também constam na lista brasileira de espécies ameaçadas de extinção, sendo que C.

mydas e C. caretta são classificados como vulneráveis a extinção, E. imbricata e

L.olivacea estão na classe de animais em perigo de extinção e D. coriacea está

criticamente em perigo de extinção (MMA, 2003). As populações de tartarugas

marinhas são afetadas por diversas atividades humanas, como a coleta de ovos e

fêmeas nas praias, o trânsito de veículos nas praias de desova, a poluição por

plástico e por petróleo, as colisões com embarcações, dragagem de portos e canais

onde estes animais hibernam e a interação com variadas artes de pesca (National

Research Council, 1990). Vários destes problemas já foram abordados em iniciativas

de conservação com excelentes resultados. Um bom exemplo é o Projeto

TAMAR/IBAMA que, através do manejo de ninhos em praias de desova no litoral

sudeste e nordeste do Brasil e de atividades de educação ambiental com pescadores

que se alimentavam de ovos e adultos de tartarugas marinhas, conseguiu resultados

consideráveis e serve hoje de modelo para outros países (Marcovaldi e Marcovaldi,

1999). Porém o maior problema de conservação atual é a captura incidental na

atividade pesqueira, que é reconhecido como o maior fator de mortalidade para

tartarugas marinhas (National Research Council, 1990; Oravetz, 1999).

De acordo com o Ministério do Meio Ambiente (2002), o "litoral extremo sul",

que compreende os estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do

Sul, é uma área de extrema importância biológica para conservação de quelônios

marinhos.

1.2. A Pesca no Litoral Extremo Sul

A pesca é uma importante atividade econômica no estado do RS,

principalmente nos municípios de Rio Grande, São José do Norte, Santa Vitória do

Palmar, Mostardas, Tramandaí e Torres. O porto pesqueiro de Rio Grande é o maior

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centro da atividade no estado, onde desembarcam os produtos das pescarias

realizadas no ambiente estuarino, lagunar, costeiro, alto-mar e países vizinhos

(CEPERG/IBAMA, 2001). A atividade pesqueira no Rio Grande do Sul pode ser

caracterizada como artesanal (realizada principalmente na região sul da Lagoa dos

Patos, seu estuário e orla litorânea) e industrial, na zona pelágica ou costeira

marítima do Rio Grande do Sul.

Sob a denominação de “pesca artesanal” são incluídas diversas modalidades

de pesca de espécies de água doce, estuarina e marinha exercida por barcos de até 20

toneladas de registro bruto (Haimovici, 1997). As principais pescarias artesanais são

realizadas com redes de emalhe, dirigidas principalmente à tainha (Mugil platanus) e

corvina (Micropogonias furnieri), e com o saquinho ou aviãozinho, arte de pesca fixa

utilizada na pesca do camarão-rosa (Farfantepenaeus paulensis). Além destas, é

realizado o arrasto de portas, que apesar de proibido por lei, é utilizado na captura

do camarão-rosa no estuário e também do camarão-sete-barbas (Xyphopenaeus

kroyeri) na zona costeira marinha (Reis et al., 1994). A partir de 1982 quando as

capturas se tornaram mais escassas foi estabelecida uma pescaria artesanal em águas

de pouca profundidade ao longo da costa.

Na pesca industrial é praticada a extração econômica de várias espécies e, por

isso, são encontradas diversas frotas e artes pesqueiras, entre elas o arrasto simples,

arrastos de parelha, arrasto de tangones, emalhe oceânico, emalhe costeiro, cerco,

espinhel demersal e pelágico e a pesca com isca viva. Destacam-se, por serem em

maior número, os barcos de arrasto de parelha e tangones, e as traineiras, que

utilizam rede de cerco. No ano de 2000 atuaram na pesca industrial 380 barcos, dos

quais 229 eram de arrasto, 101 de emalhe e um de espinhel pelágico

(CEPERG/IBAMA, 2001). Não entraremos em detalhes sobre a atuação da pesca de

arrasto, já que este tipo de pesca não foi monitorado no presente trabalho.

A pesca de emalhe de superfície costeira utiliza redes que podem chegar a

3000 metros de comprimento por 15 metros de altura, direcionada à captura da

anchova (Pomatomus saltatrix), principalmente nos meses de inverno. Na safra da

corvina, que ocorre na primavera, as redes utilizadas possuem 2 metros de altura e

podem chegar a 6000 metros de comprimento. O número de panos e o tamanho da

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malha e tipo de fio da rede variam de acordo com a espécie-alvo. As embarcações

levam de 6 a 8 tripulantes e têm autonomia de 4 dias de mar (MMA e IBAMA, 1993).

A frota de emalhe de superfície de Santa Catarina, composta por 29 embarcações,

desembarcou 371 t no ano de 2003, sendo que 80% desta produção é representada

pelas várias espécies de cação, principalmente o cação-mangona e o cação-martelo

(UNIVALI-CTTMar, 2004). Porém este número de embarcações está subestimado,

uma vez que muitas embarcações que operam tradicionalmente com o emalhe de

fundo, tendo como espécies alvo a corvina e o cações-anjo, alternam para o emalhe

de superfície nos meses de primavera e verão, podendo chegar a 130 barcos sediados

no porto de Itajaí e Navegantes (Kotas, 2004).

A pesca de espinhel pelágico é utilizada para a pesca de espécies pelágicas

como espadartes, bonitos, atuns e tubarões e consiste em uma linha madre suspensa

por bóias, com linhas secundárias de menor diâmetro espaçadas uniformemente na

linha principal (Oravetz, 1999). No sul do Brasil, esta pescaria é direcionada

principalmente ao espadarte (Xiphias gladius), mas captura também grande

quantidade de tubarões pelágicos, principalmente o tubarão-azul (Plionace glauca) e

os atuns Thunnus albacares, Thunnus obesus e Thunnus alalunga (Kotas, 2004). O

comprimento da linha madre varia de 40 a 80 km, na qual são presos de 800 a 1500

linhas secundárias e anzóis, que ficam de 40 a 80 metros de profundidade, raso se

comparado com o espinhel tradicional japonês, que atuava entre os 50 e 150 m na

década de 70 (Kotas, 2004). Utiliza-se principalmente lulas, sardinhas e cavalinhas

como iscas e alguns barcos utilizam atratores luminosos (light-sticks). O horário do

lançamento e recolhimento varia com as embarcações e espécies-alvo. No Rio

Grande do Sul, atuam principalmente no talude ao sul do Albardão e ao norte de

Tramandaí e próximo à Elevação de Rio Grande, que fica a aproximadamente 1500

km da costa gaúcha. Segundo Kotas (2004), a área de pesca desta frota se situa na

zona de convergência da Corrente do Brasil com as águas frias da Corrente das

Malvinas, estando limitada pelas latitudes de 27°30’ S e 34°30’S, apesar das

mudanças latitudinais da Convergência Subtropical. Os principais portos de

desembarque desta frota são o de Itajaí, Santos e de Rio Grande. Em 2002 a produção

pesqueira total brasileira registrada foi de 50.575 toneladas de atuns, espadartes e

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tubarões. Porém apenas 32% dessa produção foi gerada por espinhéis pelágicos,

sendo que 48,8% foi gerada pela pesca com vara e isca viva. Aproximadamente 30

barcos atuaram em 2002 no litoral do Rio Grande do Sul. De acordo com Laporta et

al. (2004), existem 421 barcos de espinhel pelágico operando no Brasil.

1.3. Interação de Tartarugas Marinhas com a Pesca

Mundialmente, a captura incidental de tartarugas marinhas se dá

principalmente pelas frotas de arrasto, espinhel pelágico e emalhe costeiro.

Características biológicas das tartarugas marinhas como vida longa, maturação

sexual tardia e baixa taxa de reprodução, tornam essencial uma alta taxa de

sobrevivência dos adultos e sub-adultos para o sucesso das espécies. Portanto, a

mortalidade destes indivíduos causada por ações antrópicas tem efeitos

devastadores (Lewinson et al., 2004).

A pesca com espinhel pelágico reduziu a população mundial de D. coriacea de

115 mil fêmeas em 1982 para 34,5 mil em 1996 (Spotila et al. 1996). As tartarugas

marinhas podem ser fisgadas pelo anzol ao comerem as iscas ou podem se enrolar

na linha secundária, sendo que a maior parte dos animais é embarcada viva, porém

as tartarugas são liberadas com anzóis presos no trato digestivo, o que pode causar a

posterior morte do animal (Oravetz, 1999). A captura observada por Pinedo et al.

(2004) em cruzeiros de espinhel pelágico na plataforma continental do Rio Grande

do Sul foi de 1,5 tartarugas a cada 1000 anzóis. Kotas et al. (2004) registraram uma

CPUE média de 4.31 C. caretta por 1000 anzóis em 3 cruzeiros realizados em 1998

nesta mesma região. Em ambos os trabalhos, foram capturados principalmente

juvenis/subadultos de C. caretta.

A pesca de arrasto de camarão também tem impactado populações de

tartarugas marinhas em diversos locais, como a costa leste dos EUA, Golfo do

México e Austrália (Caillouet et al., 1991; Salini et al., 2000). A estimativa da captura

anual pela pesca de arrasto de camarão e peixes em todo o mundo é de 150 mil

tartarugas marinhas (Oravetz, 1999).

Nos anos 80, a pesca de emalhe de deriva chamou a atenção de ambientalistas

e mobilizou a opinião pública devido à elevada taxa de captura incidental de

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mamíferos marinhos, aves e tartarugas marinhas, levando as Nações Unidas a

propor uma moratória em relação à utilização destas redes em 1991 (Sales et al. 2003).

As tartarugas marinhas mais capturadas por esta pesca são as da espécie C. mydas,

C. caretta e D. coriacea, sendo que, no Brasil, esta última é capturada principalmente

no verão, associadas a manchas de hydromedusas na borda da plataforma

continental (Kotas, 2004). A captura incidental de D. coriacea na pescaria de

espadarte por emalhe de deriva no Peru e Chile implicou no recente colapso da

colônia reprodutiva da costa oeste do México (Eckert e Sarti, 1997, apud Oravetz,

1999). Um dos problemas das redes de emalhe de deriva (driftnets) que operam no

sul e sudeste do Brasil reside no fato da tralha de bóia operar desde a linha da

superfície, aumentando as chances de capturar pequenos cetáceos e quelônios

(Kotas, 2004).

Burns (1998), em entrevistas realizadas com pescadores no porto do Rio

Grande identificou C. caretta e D. coriacea como as espécies de tartarugas marinhas

mais atingidas pela pesca industrial. O espinhel de superfície e o emalhe são as artes

de pesca que apresentam maior taxa de captura. Os pescadores relataram ainda que

espécimes de C. caretta chegam a bordo em estado de afogamento e de D. coriacea

chegam mortos. Areco (1997), em um estudo realizado sobre a captura incidental de

tartarugas marinhas no estuário da Lagoa dos Patos e região costeira adjacente, entre

os meses de janeiro e setembro de 1997 registrou 37 C. mydas e uma C. caretta

capturadas incidentalmente em redes de pesca. Destas, 25 (66%) tartarugas marinhas

serviram de alimento aos pescadores.

A relação entre a captura incidental e os encalhes é difícil de ser comprovada,

devido ao grande número de fatores que influenciam na distribuição espacial e

temporal dos encalhes. Epperly et al. (1996) estimaram o número de tartarugas

marinhas mortas na pesca de arrasto na Carolina do Norte (EUA) e compararam

com os dados de encalhes destas nos locais adjacentes à área de pesca, chegando à

conclusão que somente de 7 a 13% das tartarugas mortas chegam à praia. Dos

diversos fatores que influenciam no índice de encalhes, o vento e as correntes são

talvez os mais importantes, pois definem se as tartarugas mortas serão transportadas

a certa distância antes de encalhar ou se nunca irão encalhar (Epperly et al., 1996).

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Em 1997 e 1998 foram registradas 92 tartarugas marinhas encalhadas no

litoral norte do Rio Grande do Sul, entre Torres e a Lagoa do Peixe (Bugoni et al.,

2001), sendo que 4 destas apresentavam sinais de interação direta com atividades

antrópicas, como cortes no casco ou nas nadadeiras, um indivíduo que teve o casco

removido e uma C. caretta com uma corda amarrada ao pescoço. Monteiro (2004)

registrou no litoral do RS os encalhes de 496 C. caretta, 347 C. mydas, 106 D. coriacea, 9

L. olivacea e 36 indivíduos não identificados entre os anos de 1995 e 2004, com

maiores índices de encalhes nos meses de primavera e verão, coincidindo com o

maior esforço de pesca da frota de arrasto e de emalhe.

A redução das capturas incidentais pode ser obtida restringindo a pesca em

áreas e épocas onde tartarugas se concentram, reduzindo o tempo de pesca das redes

de arrasto ou de emalhe, trazendo-as para a superfície mais frequentemente ou

usando dispositivos que diminuam ou impeçam a captura (Oravetz, 1999).

1.4. Sistemas de Informações Geográficas

A possibilidade oferecida pelo geoprocessamento de integrar os dois tipos de

informação, bióticas e abióticas, e de executar análises sobre a mesma base de dados

fez com que a análise ambiental experimentasse, nos últimos anos, um grande salto

metodológico, passando a contar com a possibilidade de considerar correlações

espaciais, relações de causa e efeito e aspectos temporais, que antes eram

impraticáveis pelos meios tradicionais existentes (Townshend, 1992; Xavier da Silva,

1992). Os Sistemas de Informações Geográficas (SIG) são sistemas criados para a

captura, armazenamento, revisão, integração, manipulação, análise e separação de

dados espaciais georreferenciados (Lovett, 2000). Um SIG armazena dois tipos de

dados que são encontrados em um mapa: as definições geográficas das feições da

superfície da Terra e os atributos ou qualidades que essas feições possuem.

O processamento de dados em SIG pressupõe que os mesmos estejam

organizados em planos de informação individuais, de acordo com a natureza dos

diversos temas a serem apresentados, como forma de efetuar análises que possam

considerar separadamente as características específicas de cada um. A informação de

cada plano é composta basicamente de duas partes. Uma delas é a informação

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espacial, referenciada a um sistema de coordenadas e com a localização e

delimitação da área de interesse. A outra parte é composta pelos atributos não

espaciais e reúne dados descritivos de natureza diversa sobre as classes, geralmente

tabulados e organizados em um sistema gerenciador de banco de dados (Burrough,

1992).

Um SIG é um sistema de gerenciamento de informação que pode:

- coletar, armazenar e recuperar informações baseadas em sua localização espacial;

- identificar locais dentro de um ambiente alvo de acordo com determinado critério;

- explorar relações entre conjuntos de dados dentro deste ambiente;

- analisar dados relacionados espacialmente para auxílio na tomada de decisão sobre

este ambiente;

- facilitar a seleção e a passagem de dados para modelos de simulação capazes de

avaliar o impacto de alternativas no ambiente escolhido;

- apresentar o ambiente gráfico e analítico antes e depois de uma análise qualquer.

Nem todos os SIGs utilizam a mesma lógica, mas a maioria usa uma ou a

combinação das duas técnicas essenciais de representação digital de mapas; vetorial

(pontos, linhas ou polígonos) e raster (células ou pixels). Essas técnicas permitem a

elaboração dos layers (camadas de informações) que constituirão a base do banco de

dados georreferenciado. Assim, o termo layer (camada) é usado na literatura do SIG

para se referir à combinação de feições distribuídas geograficamente e seus dados

associados. Os sistemas raster têm maior poder analítico do que os sistemas vetoriais

na análise do espaço contínuo e são mais aptos para o estudo de dados que variam

continuamente no espaço. Outra vantagem deste sistema é que os dados de

sensoriamento remoto (que são geralmente armazenados neste formato) podem ser

diretamente importados para o software e imediatamente se tornam disponíveis

para o uso. Por sua vez, os sistemas vetoriais são mais eficientes no armazenamento

de dados de mapas, já que armazenam somente os limites das feições e não a

informação contida dentro destes limites. Estes sistemas não possuem a facilidade de

análise contínua de dados, porém, apresentam a vantagem da representação gráfica

de mapas temáticos simples de consultas a banco de dados.

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1.4.1. Utilização de SIG na Conservação das Tartarugas Marinhas

Na conservação de tartarugas marinhas, o uso de SIG tem sido amplamente

utilizado com diferentes objetivos. De acordo com Coyne e Mosier (1999), o ArcGIS é

o software utilizado pela maioria dos pesquisadores que trabalham com tartarugas

marinhas e SIG. Blamires et al. (2001) utilizaram um SIG com dois objetivos

principais: o armazenamento, recuperação e a visualização geográfica de

informações de desova sobre fotos aéreas e como ferramenta para a análise espacial

destes dados, o que resultou num entendimento dos processos e padrões ocorridos

numa baía da Austrália. Mosier (1992) coordenou a elaboração de um SIG na Flórida

para o monitoramento de praias de desova com as localizações exatas dos ninhos,

integrando dados de captura incidental em pescarias para propor estratégias que

minimizem o impacto sobre as populações, integrando mapas de tipos de fundo em

habitats críticos e de alimentação de tartarugas marinhas para estabelecer áreas de

proteção, e utilizando SIG para o acompanhamento das migrações de C. mydas

juvenis. Vierros et al. (2000) utilizaram imagens de satélite e fotos aéreas aliadas aos

dados de densidade de C. mydas para avaliar a distribuição espacial destas de acordo

com a cobertura de fanerógamas submersas (seagrasses) na plataforma de

Bermudas, permitindo determinar o uso do habitat por esta espécie. Schmid (1992)

elaborou mapas de tipos de fundo em habitats de desenvolvimento e alimentação de

Lepidochelys kempii integrando-os em um SIG para estabelecer a utilização destes

habitats na Flórida. Huang et al. (1992) utilizaram um SIG no qual incluíram

parâmetros físico-químicos e tipos de fundo para a avaliação de tolerâncias de

temperatura por diferentes espécies de tartarugas marinhas. Roche (1999) coordenou

a elaboração de um SIG que contém informação sobre a localização exata de áreas de

alimentação, desenvolvimento, reprodução e marcação de tartarugas marinhas no

mundo. Powel e Mosier (2000) utilizaram SIG para o mapeamento de desova de

tartarugas marinhas, que permitiu ao Departamento de Proteção Ambiental da

Flórida (FDEP) analisar visualmente estes dados e sobrepor outros “layers” com

dados associados ao manejo costeiro, como densidades populacionais e localização

de propriedades privadas. O NMFS (National Marine Fisheries Service) está

elaborando um SIG para a redução da captura incidental de tartarugas marinhas na

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10

costa Atlântica dos EUA e no Golfo do México, que incorpora informações sobre a

distribuição das tartarugas marinhas, a atuação da pesca comercial na região, dados

de captura incidental de tartarugas, leis federais e estaduais relacionadas à pesca e as

condições oceanográficas relevantes para tartarugas marinhas. Flores (2002)

caracterizou o substrato e cobertura do fundo de uma reserva na Península de

Yucatán e relacionou através de SIG com a distribuição de E. imbricata na área de

alimentação desta espécie. No Brasil, o Projeto TAMAR vem elaborando desde 2002

um SIG com informações sobre a captura incidental de tartarugas marinhas

(TAMAR, 2005).

Não foram encontrados trabalhos que utilizaram SIG para análise de encalhes

de tartarugas marinhas, portanto este é um trabalho pioneiro. A elaboração do

SITARS é importante para a integração dos dados de captura incidental com o SIG

do TAMAR (SITAMAR) e com o SIG que está sendo produzido no Uruguai pelo

Karumbé, organização que trabalha com as tartarugas marinhas neste país. A

visualização destes dados integrados em uma mesma base de dados é importante

para a compreensão das tartarugas marinhas que ocorrem no Atlântico Sul

Ocidental.

1.5. Objetivos

Geral

O presente trabalho tem como o objetivo a elaboração de um banco de dados

utilizando um Sistema de Informação Geográfica para a visualização e análise

espacial dos encalhes e captura incidental de tartarugas marinhas no Rio Grande do

Sul e área costeira e oceânica adjacente.

Específicos

- Padronizar e inserir no SIG os bancos de dados e imagens de encalhes e

capturas incidentais do Projeto Tartarugas Marinhas no RS – NEMA;

- Criar um mapa base para o SIG;

- Inserir imagens de satélites, cartas batimétricas, imagens de vento, TSM e

outras que possam ter relação com os encalhes e capturas incidentais no RS;

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11

Figura 1: Mosaico de imagens MRSID da costa do RS e linhas batimétricas.

-100-20

0

-30

-30

-50

FAROL DO CHUÍ

FAROL DE TORRES

BARRA DE RIO GRANDE

BARRA DA LAGOA DO PEIXE

53°0'0"W 52°0'0"W 51°0'0"W 50°0'0"W 49°0'0"W

34°0'0"S

33°0'0"S

32°0'0"S

31°0'0"S

30°0'0"S

29°0'0"S

±

±

- Visualizar e analisar espacialmente os encalhes e capturas incidentais de

tartarugas marinhas no RS através de ferramentas do SIG.

2. Área de Estudo

Para os encalhes de tartarugas marinhas, a área de estudo compreende o

litoral do Rio Grande do Sul, no trecho compreendido entre a Barra do Chuí (33°44’S,

53°22’W) e a Barra da Lagoa do Peixe (31°21’S, 51°02’W) (Fig. 1). Os dados de

captura incidental de tartarugas marinhas foram coletados em cruzeiros sobre a

plataforma e talude continental do Rio Grande do Sul, com alguns lances na

Elevação de Rio Grande.

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12

A plataforma continental do sul do Brasil possui uma área aproximada de

58.000 km², sendo que a parte compreendida entre Rio Grande e Chuí atinge 140 km

de largura em média. A cobertura sedimentar é predominantemente arenosa na

parte costeira e lamosa a partir dos 40-50 m de profundidade. Também estão

presentes na região alguns parcéis formados por “beach-rocks” - restos de conchas

cimentadas com carbonato de cálcio (Lima 1998). A plataforma continental e a região

litorânea do sul do Brasil têm influência no verão da Corrente do Brasil, de águas

quentes e que se desloca na direção Norte-Sul, e das descargas de água continental

do Rio da Prata e da Lagoa dos Patos. No inverno predomina a Corrente das

Malvinas, de águas frias e de direção oposta à Corrente do Brasil. O encontro destas

duas massas de água forma a Convergência Subtropical, um ambiente de elevada

produtividade, e local de reprodução, desenvolvimento e alimentação de inúmeras

espécies animais (Castello et al. 1998).

O regime de ventos predominante na região é o de nordeste, associado ao

anticiclone sobre o Oceano Atlântico. No inverno, porém, o aumento da freqüência

de passagem de sistemas frontais provoca maior ocorrência de ventos do quadrante

sul. As velocidades médias de vento nordeste e sudoeste para a região situam-se

entre 3 e 5 m/s.

As praias costeiras do RS são expostas, constituídas por areia fina, com

declividade de aproximadamente 2º. Em termos de morfodinâmica praial, existem 3

zonas diferenciadas ao longo das praias oceânicas entre Rio Grande e Chuí. A zona

próxima à barra de Rio Grande tem características dissipativas, a região dos

Concheiros tem características intermediárias a reflectivas, e as demais são

intermediárias. Além deste padrão de comportamento morfodinâmico, verifica-se

uma diferenciação bisazonal, com predominância do perfil de acreção entre

novembro e março e perfil de erosão entre abril e outubro, em função da

sazonalidade do clima de ondas na costa do Rio Grande do Sul (Calliari e Klein,

1993).

A Lagoa dos Patos abrange uma área de 10.360 km2, interligando-se com o

Oceano Atlântico por um canal delimitado pelos molhes da Barra do Rio Grande.

Com exceção dos canais de navegação que podem atingir profundidades de 10

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13

metros, a maior parte das áreas do estuário possui profundidades inferiores a 2

metros (Lima, 1998), sendo utilizadas como “berçário” por diversas espécies de

peixes e crustáceos, sendo algumas destas de considerável valor comercial, como o

linguado e o camarão-rosa. O estuário da Lagoa dos Patos está localizado na parte

sul desta lagoa, estendendo-se por mais de 900 km² (Chao et al, 1985).

3. Materiais e Métodos

3.1. Coleta dos Dados

Durante o período de janeiro 1995 a setembro de 2005 foram realizadas pelo

NEMA saídas de monitoramento de praia mensais, sempre que havia recursos

financeiros disponíveis e as condições climáticas permitiam. Neste período, foram

realizados 275 monitoramentos, totalizando 34880 km percorridos, buscando-se

tartarugas marinhas encalhadas. O litoral do Rio Grande do Sul foi dividido em duas

áreas de monitoramento – a área sul, que se estende da Barra do Rio Grande até a

Barra do Chuí (220 km) e a área norte, da Barra do Rio Grande até a Barra da Lagoa

do Peixe (135 km). Estas saídas foram realizadas com veículo automotor 4X4 com

dois a três observadores, a uma velocidade média de 40 km/h. Nestes

monitoramentos, foram registrados a espécie da tartaruga encalhada, localização

geográfica utilizando um GPS, a distância percorrida até este ponto, o comprimento

e largura curvilínio da carapaça (CCC e LCC), o sexo (quando a identificação foi

possível) e evidências externas de interação com a pesca, como redes ou cordas

presas às tartarugas, nadadeiras cortadas, anzóis presos, etc. O casco de cada

tartaruga era marcado com tinta “spray” para evitar a recontagem em saídas

posteriores. Os indivíduos mortos foram classificados em uma escala, de 1 a 5, em

função do grau de decomposição em que se encontravam (G1: recém-morto; G2:

olhos violados e rigor mortis; G3: placas do casco se soltando; G4: placas soltas e

grandes danos ao corpo e G5: carcaça muito podre com ausência de partes do corpo).

Os dados abióticos registrados em cada saída foram: a quantidade de redes de

emalhe de espera na praia, quantidade de barcos costeiros, a direção do vento e a

nebulosidade.

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14

Barcos da frota de espinhel de superfície e de emalhe foram monitorados

através de observadores e cadernos de bordo preenchidos por mestres de

embarcações. O esforço de pesca, o número de tartarugas capturadas, as informações

biométricas de cada indivíduo, temperatura superficial do mar (TSM), temperatura

do ar, direção e intensidade do vento e características da pescaria (tipo de anzol, tipo

de isca, espécie-alvo, comprimento, altura e malha da rede) eram registrados em

cada lance. Após se recuperarem, as tartarugas capturadas vivas eram marcadas com

marcas metálicas do tipo iconel fornecidas pelo Projeto TAMAR, fotografadas,

observadas e liberadas. Nos indivíduos mortos também era realizada a biometria,

eram colocadas marcas plásticas, sendo depois disso devolvidos ao mar, com o

intuito de verificar a ocorrência e local de encalhe deste indivíduo. Registros de

tartarugas marinhas capturadas incidentalmente no estuário da Lagoa dos Patos em

barcos da frota de pesca artesanal foram coletados a partir do atendimento ao

chamado de pescadores à equipe do NEMA, ou a partir de indivíduos que foram

encaminhados diretamente ao Centro de Recuperação de Animais Marinhos

(CRAM) do Museu Oceanográfico “Prof. Eliézer de C. Rios”.

3.2. Organização do SITARS

Para a realização do SIG Tartarugas no Rio Grande do Sul, o principal software

utilizado foi o ArcGIS 9.0® da ESRI, que permite estabelecer relações espaciais entre

os dados capturados e a informação gerada, possibilitando a aplicação de critérios

lógicos de certa complexidade. Este programa é composto de três aplicativos

principais:

- ArcCatalog: Utilizado para navegar, organizar, distribuir, documentar e

apagar os dados. Funciona de forma semelhante ao Windows Explorer. Pode acessar

diretamente os mapas e dados.

- ArcMap: É o aplicativo mais utilizado nas tarefas de mapeamento, incluindo

cartografia, análises de mapas e edição. Permite visualizar, consultar e editar os

dados geográficos assim como criar mapas, gráficos e relatórios.

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15

- ArcToolbox: Contém ferramentas para trabalhar com os dados, divididas em

dois grupos principais; ferramentas de conversão e ferramentas de manipulação de

dados.

No presente trabalho, foi adotado como padrão o sistema de coordenadas

UTM (Universal Transversa Mercator). Este é um tipo de projeção com parâmetros

escolhidos para minimizar a distorção sobre uma pequena área, e tem representação

métrica, onde cada unidade equivale a 1 metro. O datum utilizado foi o World

Geodetic System 1984 (WGS84), zona 22S.

Foi utilizado o software Geographic Calculator da Blue Marble Geographics®

para a conversão das coordenadas do banco de dados preexistente (de 2004 a 2005),

que estavam registradas inicialmente no Sistema de Coordenadas Geográficas

(graus, minutos e segundos), datum Córrego Alegre. As coordenadas e todas as

informações referentes a cada tartaruga foram inseridas num banco de dados no

Access, que foi convertido para Geodatabase (Banco de Dados Georreferenciado)

para a inserção no software ArcMap, onde se pode visualizar espacialmente os

atributos de cada encalhe, separados por espécie da tartaruga. Os erros de conversão

ou de coleta das coordenadas geográficas foram visualizados no ArcView e

corrigidos à partir da distância do ponto inicial da saída para cada tartaruga,

resultando em novas coordenadas baseadas na distância percorrida. Os registros

anteriores ao ano de 2004, que não possuíam coordenadas geográficas, foram

inseridos no SIG a partir dos registros de distância do ponto inicial da saída. Como

era grande o número de registros, foi elaborada uma rotina no software Matlab 6.5,

onde se interpolou a posição geográfica destes registros através da posição dos

registros que possuíam coordenadas e kilometragem percorrida. A interpolação foi

feita através de uma média ponderada das coordenadas dos pontos mais próximos

do ponto sem coordenadas.

Estes dados foram associados a uma base cartográfica batimétrica produzida

a partir de 3.240 pontos retirados de cartas náuticas da região de estudo. Foi

elaborada uma tabela com as coordenadas geográficas em UTM e profundidade, que

foi exportada para o software Surfer 8.0, onde foi realizada uma interpolação através

do método kringing para a obtenção do mapa batimétrico da região compreendida

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16

Figura 2: Mapa batimétrico da plataforma e talude do RS obtido através da interpolação.

entre as latitudes 6050000 e 7000000 e longitudes 100000 e 900000 (UTM), que vai do

norte do Rio da Prata até o norte de Florianópolis (Fig. 2).

Foram adquiridos mosaicos feitos pela NASA no site

https://zulu.ssc.nasa.gov/mrsid, produzidas através de imagens de 3 bandas TM (4,

7 e 2) do satélite Landsat, com precisão de 28.5 metros. Os mosaicos S-21-35, S-21-30,

S-22-25 e S-22-30 foram georreferenciados no ArcMap através de pontos de controle

coletados com GPS e das imagens Landsat, que já são disponibilizadas

georreferenciadas. Com isto, foi produzido um mosaico maior, englobando a costa

do Uruguai e dos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Sete imagens Landsat ETM-Banda 8, obtidas no site

http://glfc.umiacs.umd.edu, foram introduzidas no SIG, formando um mosaico do

litoral do Rio Grande do Sul (Fig. 3). Estas imagens possuem uma precisão de 15m,

melhor que as imagens MRSID, e já são disponibilizadas georreferenciadas e orto-

retificadas, servindo como base para todo o SIG e como uma correção de eventuais

erros de georreferenciamento das outras imagens, mapas e cartas náuticas utilizadas.

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17

Figura 3: Mosaico formado a partir de imagens LANDSAT do litoral do RS.

As cartas náuticas da marinha B2200 e B2140 também foram

georreferenciadas e inseridas no SIG como uma outra fonte de dados batimétricos,

podendo ser utilizado principalmente na visualização das feições do fundo da região

de estudo. As imagens de satélite de vento e temperatura superficial do mar foram

obtidas no site http://poet.jpl.nasa.gov e foram posteriormente georreferenciadas no

ArcMap, uma vez que não foi possível baixar tais imagens no formato geotiff, que já

são disponibilizadas georreferenciadas.

A praia da área de estudo foi dividida em setores de 10 km. Os setores são

representados por polígonos e foram numerados de acordo com a distância do ponto

inicial dos monitoramentos norte e sul, sendo que os referentes ao setor sul da praia

são negativos e do setor norte, positivos (Fig. 4). Para cada polígono, foi calculado o

número de tartarugas encalhadas de cada espécie e o número de vezes que o setor

foi percorrido. Como o esforço não foi homogêneo durante o período do estudo, foi

calculado o índice de tartarugas por 10 km percorridos, que é número de tartarugas

encalhadas dividido pelo número de vezes que o setor foi monitorado.

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18

Figura 4: Polígonos representando os setores de 10 km de praia.

Os setores de 10 km de praia foram agrupados de acordo com a inclinação da

linha de costa, resultando em 4 regiões na parte sul da praia e 3 regiões na parte

norte. Estas regiões foram identificadas com números que crescem do sul para o

norte (Fig. 5). O comprimento das regiões variou de 30 a 70 km.

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19

Os registros de captura incidental de tartarugas marinhas também foram

inseridos no SIG, bem como todas as informações relacionadas. A partir do banco de

dados original, foram produzidos geodatabases de cada pescaria separadamente

(espinhel pelágico, emalhe e pesca artesanal) e os lances foram plotados no ponto

inicial de cada lançamento. Os registros de ocorrência de C. mydas capturadas

incidentalmente no estuário foram inseridos em um shapefile com os polígonos que

representam os locais de pesca artesanal, cedido pelo Laboratório de Recursos

Pesqueiros Artesanais da FURG.

As fotos dos animais encalhados ou capturados que puderam ser

identificadas foram associadas à tabela de atributos através da ferramenta

‘hyperlink’, podendo ser facilmente acessadas através desta tabela ou com um clique

sobre o respectivo ponto no mapa.

Para as análises estatísticas, foram testadas a normalidade e

homocedasticidade dos dados e, se não tinham estas características, foi feita a

transformação dos dados através do logaritmo natural. Quando mesmo assim não

foi alcançado a normalidade e homocedasticidade, utilizou-se o teste não-

paramétrico de Kruskal-Wallis. Para os dados com distribuição normal e

Figura 5: Polígonos representando as 7 regiões da praia.

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Figura 6: Exemplo de foto associada à tabela de atributos e ao ponto de encalhe, com alguns setores representando o índice de C. caretta encalhadas.

homocedásticos, foi utilizada “ANOVA-uma via” para o teste de diferença entre

médias.

4. Resultados e Discussão

4.1. Encalhes de Tartarugas Marinhas no RS

Devido à quantidade de registros de tartarugas encalhadas na área

monitorada, a visualização de atributos de cada encalhe separadamente fica

complicada por causa da sobreposição de pontos. Portanto os resultados serão

mostrados sempre com um shapefile de polígonos de 10 km, cuja tabela de atributos

possui a média e desvio padrão dos atributos de cada ponto inserido no polígono.

No entanto, a inserção destes pontos de encalhes é essencial para anexar as fotos de

cada indivíduo encalhado no SIG, uma vez que as fotos podem trazer informações

importantes de cada tartaruga, como interações destes animais com a pesca (Fig. 6).

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52°15'0"W 52°14'0"W 52°13'0"W 52°12'0"W 52°11'0"W 52°10'0"W 52°9'0"W

32°16'0"S

32°15'0"S

32°14'0"S

32°13'0"S32°

32°12'0"S

32°11'0"S

32°10'0"S32°

32°9'0"S

± 0 0.9 1.8 2.7 3.60.45km

C. caretta

C. mydas

D. coriacea

Figura 7: Pontos de encalhes de tartarugas marinhas nas proximidades do Cassino.

Os pontos também são importantes para uma visualização com o zoom

aproximado (Fig. 7), onde as imagens de satélite mostram detalhes da praia

(sangradouros, pequenas vilas, balneários, plantações de pinhos, etc.) que podem ser

úteis para a identificação dos lugares da praia por aqueles que realizam os

monitoramentos.

As cartas náuticas georreferenciadas (Fig. 8) foram utilizadas para produzir

arquivos com as isóbatas digitalizadas, para a inserção em mapas, uma vez que a

carta náutica torna a imagem muito poluída para impressão e não possibilita a

visualização das profundidades quando o zoom não está muito próximo. Também

foram utilizadas para verificar se o mapa batimétrico gerado pela interpolação

condizia com a realidade. A batimetria tem grande importância em encalhes de

tartarugas marinhas, uma vez que influencia muito no regime de ondas e correntes

da região. Portanto a disponibilização destas informações juntamente com os dados

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22

Figura 9: Setores da praia deslocados para visualização, representando o número vezes que o setor foi percorrido, e os índices de encalhes de C. mydas (n=403), C. caretta (n=608) e D. coriacea (n=96)

durante o período de janeiro de 1995 a setembro de 2005.

Figura 8: Cartas náuticas georreferenciada no SIG.

de encalhes pode ser útil para trabalhos futuros que relacionem as características

morfodinâmicas da praia com a distribuição de encalhes ao longo da costa.

O SIG foi utilizado para associar os pontos de encalhes de tartarugas

marinhas com os polígonos de 10 km de praia, com a criação de 3 novos shapefiles,

com os polígonos e atributos para cada espécie (Fig. 9).

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23

A análise através de geoestatística das possíveis correlações entre os dados de

captura incidental com os de encalhes não foi possível devido ao pequeno número

de barcos costeiros monitorados. No entanto, com a continuidade do monitoramento

de praia e das pescarias no Rio Grande do Sul, isso é possível, uma vez que toda a

estrutura do SIG está montada e a inserção de novos dados é simples após e

elaboração e estruturação do SIG.

Muitos trabalhos utilizaram técnicas de SIG para o estudo de tartarugas

marinhas, como, por exemplo, para mapear áreas de desova (Blamires et al., 2001;

Mosier, 1992; Hernandéz et al. 2002; Karavas et al., 2004; Powel e Mosier, 2000), para

verificar e integrar dados de migração por transmissores de satélites (Griffin e

Murphy, 2002; Menges et al., 1998), para monitoramento de áreas de alimentação

(Flores, 2002; Griffin e Murphy, 2002; Vierros et al., 2000; Schmid, 1992). Entretanto,

nenhum artigo científico que utilizou SIG para encalhes de tartarugas marinhas foi

encontrado.

A distribuição sazonal dos encalhes de tartarugas marinhas no Rio Grande do

Sul é bem marcada, com os maiores índices de encalhes nos meses de primavera e

verão (Lontra, 2003; Monteiro, 2004) devido ao hábito migratório das espécies. As

tartarugas marinhas normalmente migram para latitudes mais quentes no outono e

inverno, vindo se alimentar neste litoral no verão, que, com o aumento da influência

da Corrente do Brasil, tem água mais quente nesta época do ano. Porém, altos

índices de encalhes no verão também parecem estar relacionados com a dinâmica

pesqueira do estado (Monteiro, 2004).

Todas as espécies apresentaram altos índices de encalhes entre o Farol do

Sarita e o Farol do Verga, na região da praia onde a orientação da linha de costa

muda para o sentido Norte-Sul. Talvez a distribuição espacial dos encalhes esteja

relacionada com a dinâmica da “zona de surf” e as correntes paralelas à costa

(longshore currents) geradas pela incidência oblíqua das ondas, que por sua vez são

geradas por ventos predominantemente de nordeste nos meses de verão e

primavera. Algumas imagens com os vetores de vento (Fig. 10) foram inseridas no

SIG para exemplificar possibilidade desta abordagem, porém não foi feita uma

análise da influência do vento na distribuição dos encalhes do RS. O alto índice de

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#

#

##

#

#

#

##

#

#

#

#

#

#

#

##

#

55°0'0"W 50°0'0"W

35°0'0"S

30°0'0"S

0 100 200 300 40050km

Figura 10: Exemplo de imagens de velocidade e direção do vento (Janeiro de 2004) inserida no SIG.

encalhes nesta região também pode estar relacionado com a batimetria mais

recortada desta área, que influencia na difração das ondas incidentes.

Foram registrados apenas 10 indivíduos da espécie L. olivacea e 1 da espécie E.

imbricata encalhados no período deste estudo. Ambas são ocasionais no Atlântico Sul

Ocidental por serem espécies mais tropicais (Márquez, 1990). Além disto, foram

registrados 21 indivíduos não identificados devido ao avançado estado de

decomposição. Os encalhes das espécies mais comuns no RS estão descritos mais

detalhadamente a seguir.

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25

4.1.1. Caretta caretta

A espécie C. caretta representou a maior parte dos encalhes de tartarugas no

período de estudo, com 608 (53%) indivíduos desta espécie. A parte sul da praia

apresentou índices de encalhe C. caretta mais altos que a parte norte (Fig. 11). Foram

encontradas diferenças significativas entre as regiões da praia (ANOVA, F=5.48, gl=6

e p=0.0007). O maior índice de encalhes encontrado para esta espécie foi de 0.38

tart/10 km, no setor -11, próximo ao Farol do Verga (Fig. 12). Talvez o maior número

de encalhes na parte sul da praia tenha relação com o alcance da pluma do Rio da

Prata, que gera uma alta produtividade na região, resultando num ambiente

propício para a alimentação desta espécie e, ao mesmo tempo, favorável às pescarias

costeiras. No verão, as águas do Rio da Prata se distribuem numa estreita faixa

próxima à costa gaúcha, que raramente ultrapassa a latitude da Barra de Rio Grande

(Piola et al., 2005). Monteiro (2004) relacionou o maior índice de encalhes na região

sul da costa do RS com o maior esforço da pesca de arrasto nesta região o que tem

relação também com a alta produtividade primária da região.

Figura 11: Índice de tartarugas C. caretta encalhadas de janeiro de 1995 a setembro de 2005 (n=608).

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Figura 13: Média e erro padrão do índice de C. caretta por região da praia no período de janeiro de 1995 a setembro de 2005 (n=608).

C. caretta

1 2 3 4 5 6 7

REGIAO

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

0.25

0.30

0.35

TAR

T/10

KM

IN_TART: F(6,29) = 5.4813, p = 0.0007

Dentro da parte sul, houve maior ocorrência desta espécie nas Regiões 2 e 3

da praia, que são as regiões onde a linha de costa tem orientação quase N-S. O menor

índice de tartarugas encalhadas ocorreu na Região 4, que se inicia no Molhe Oeste e

vai 30 km ao sul deste, porém apresentou um alto erro padrão (Fig. 13).

4.1.2. Chelonia mydas

Durante o período de estudo, foram registrados 403 (35% do total de

encalhes) espécimes de C. mydas encalhados. Notam-se altos índices de encalhes nos

Figura 12: Número (eixo esquerdo) e índice (eixo direito) de C. caretta encalhadas por setor da praia nos período de janeiro de 1995 a setembro de 2005 (n=608).

C. caretta

0

5

10

15

20

25

30

35

40-2

2-2

1-2

0-1

9-1

8-1

7-1

6-1

5-1

4-1

3-1

2-1

1-1

0 -9 -8 -7 -6 -5 -4 -3 -2 -1 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

0.25

0.30

0.35

0.40

0.45

n° tart índice

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27

Figura 14: Setores de praia que indicam o índice de tartarugas C. mydas encalhadas de janeiro de 1995 a setembro de 2005 (n=403).

setores compreendidos entre o Farol Sarita e o Farol do Verga (setores -7, -8 e -9),

além dos setores -17, -18 e -19, 30 km ao norte do Chuí (Fig. 14). O maior índice

encontrado foi de 0.28 tartarugas/10 km, no setor 1, ao norte da desembocadura da

Lagoa dos Patos (Fig. 15). A maior ocorrência de encalhes desta espécie próximo à

Barra de Rio Grande e próximo ao Chuí deve-se a proximidade dos costões rochosos

do Uruguai e dos Molhes de Rio Grande, únicos substratos rochosos da região, os

quais são propícios ao crescimento de macroalgas, principal item alimentar desta

espécie (Monteiro, 2004).

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28

Figura 15: Número (eixo esquerdo) e índice (eixo direito) de C. mydas encalhadas por setor da praia no período de janeiro de 1995 a setembro de 2005 (n=403).

C. mydas

0

5

10

15

20

25

30-2

2-2

1-2

0-1

9-1

8-1

7-1

6-1

5-1

4-1

3-1

2-1

1-1

0 -9 -8 -7 -6 -5 -4 -3 -2 -1 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

0.25

0.30

n° tart índice

Figura 16: Média e erro padrão do índice de C. mydas por região da praia (n=403).

C. mydas

1 2 3 4 5 6 7

REGIAO

0.04

0.06

0.08

0.10

0.12

0.14

0.16

0.18

0.20

0.22

TAR

T/10

KM

IN_TART: KW-H(6,36) = 9.0506, p = 0.1708

O maior índice de C. mydas encalhadas ocorreu na Região 3 (Fig. 16). Não se

constatou diferença significativa entre as médias dos setores para cada região

(Kruskal-Wallis, gl=6 e p=0.17).

4.1.3. Dermochelys coriacea

Com relação aos encalhes de D. coriacea, foram registrados a ocorrência de 97

indivíduos (9% do total de encalhes) no período deste estudo. O maior índice para

esta espécie ocorreu no setor -10, próximo ao Farol do Verga, com 0.92 tart/10 km

(Fig. 17 e 18). Esta é uma espécie com hábitos preferivelmente pelágicos, podendo se

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29

Figura 17: Setores de praia indicando o índice de tartarugas D. coriacea encalhadas de janeiro de 1995 a setembro de 2005 (n=97).

aproximar da costa para se alimentar (Bjorndal, 1997), onde torna-se sujeita a captura

por pescarias costeiras e encalhes. Como a maior parte dos encalhes ocorreram nos

meses de primavera e verão, pode ser que esteja também relacionado com a pluma

do Rio da Prata, que, por ficar mais estreita e próxima à costa nesta estação,

influencia aos indivíduos desta espécie a encostar-se à costa para se alimentar. Há

também relação com as características migratórias desta espécie. Monteiro (2004)

ressalta a influência da dinâmica espacial e temporal das pescarias nos encalhes de

tartarugas marinhas na costa do RS, uma vez que os maiores índices de encalhes

coincidem com os meses e locais de maior esforço pesqueiro nesta região.

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30

Figura 18: Número (eixo esquerdo) e índice (eixo direito) de D. coriacea encalhadas por setor da praia nos período de janeiro de 1995 a setembro de 2005 (n=97).

D. coriacea

0

1

2

3

4

5

6

7

8

-22

-21

-20

-19

-18

-17

-16

-15

-14

-13

-12

-11

-10 -9 -8 -7 -6 -5 -4 -3 -2 -1 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14

0.000.010.020.030.040.050.060.070.080.090.10

n° tart índice

Figura 19: Média e erro padrão do índice de D. coriacea por região da praia (n=97).

D. coriacea

1 2 3 4 5 6 7

REGIAO

0.00

0.01

0.02

0.03

0.04

0.05

0.06

0.07

TAR

T/10

KM

IN_TART: KW-H(6,36) = 10.7598, p = 0.0961

Os maiores índices de D. coriacea foram encontrados nas regiões 2 e 3, na parte

sul da praia (Fig. 19). Não foi verificada diferença significativa entre as regiões

(Kruskal-Wallis, gl=6, p=0.0961).

4.2. Captura Incidental de Tartarugas Marinhas no RS

A mortalidade induzida pela pesca é considerada a maior ameaça às

populações de tartarugas marinhas no mundo, e a pesca de arrasto é um dos

métodos de maior impacto (Casale et al., 2004). Devido às diferenças entre as

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31

maneiras como as tartarugas interagem com as diferentes pescarias e entre as

unidades de esforço, os dados das pescarias foram separados em bancos de dados

distintos para a inserção no SIG e os resultados serão demonstrados separadamente

para cada pescaria monitorada.

A pesca de arrasto deve estar relacionada com grande parte dos encalhes

observados na costa do Rio Grande do Sul, devido a sua atuação ser muito próxima

da praia. Porém, devido à impossibilidade do embarque de observadores de bordo

na frota desta pescaria, esta não será descrita neste trabalho. Também seria

importante o monitoramento das pescarias de arrasto de praia e emalhe fixo costeiro,

que capturam tartarugas marinhas, uma vez que já foi encontrado um casco de C.

mydas junto a rejeitos deste tipo de pesca.

4.2.1. Espinhel Pelágico

Foram monitorados 17 cruzeiros em 7 barcos da frota de espinhel pelágico, 7

cruzeiros por observadores e 10 por cadernos de bordo, resultando no registro de

146 lances de espinhel, que capturaram 305 C. caretta e 4 D. coriacea. Apenas 47 (32%)

lances não capturaram tartarugas marinhas. A captura de tartarugas marinhas

variou de acordo com a espécie alvo, sendo que 54% das tartarugas foram

capturadas nos lances direcionados a cações e espadartes, 23% nos lances para atuns,

16% nos lances para cações, espadartes e atuns e 7% na pesca direcionada somente

para cações. A frota de espinhel pelágico atuou de 195 a 4900 metros de

profundidade, da quebra da plataforma do Rio Grande do Sul até a elevação de Rio

Grande, a 1500 km da costa.

A Captura por Unidade de Esforço (CPUE) média foi de 1.75 tartarugas/1000

anzóis, atingindo o máximo de 14.16 tartarugas/1000 anzóis, num lance que

capturou 17 tartarugas. Este valor de CPUE média condiz com o observado por

Pinedo e Polacheck (2004) que calcularam uma CPUE de 1.5 tartarugas/1000 anzóis,

em cruzeiros na mesma região do presente trabalho. Entretanto Sales et al. (2004)

calcularam valores de CPUE mais baixos (0.68/1000 anzóis) em 39 cruzeiros de

espinhel pelágico por toda a costa do Brasil, definindo a região Sul/Sudeste entre a

costa e a quebra de plataforma como o local com maior captura de D. coriacea e maior

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32

Figura 20: Lances de espinhel monitorados em 2004 e 2005 representados pela CPUE (n=146 lances).

esforço de pesca desta frota e a região da Elevação de Rio Grande como o local com

maior captura de C. caretta. Já Kotas et al. (2004) encontraram valores de CPUE mais

altos, com uma média de 4.31/1000 anzóis em três cruzeiros, variando de 0.48 a

10.49/1000 anzóis para C. caretta. Soto et al. (2003) acompanharam a frota

espinheleira de Itajaí em 2001, encontrando para C. caretta uma CPUE de 2.7/1000

anzóis.

Observa-se uma grande captura incidental destes animais na quebra da

plataforma, próximo à fronteira com o Uruguai (Fig. 20), local de maior esforço de

pesca de acordo com o presente trabalho e segundo Kotas et al. (2004).

A CPUE variou significativamente de acordo com a estação do ano (ANOVA,

F= 4.60, p=0.0043). Os maiores valores médios de CPUEs foram encontrados nos

meses de outono (2.42/1000 anzóis) e inverno (1.9/1000 anzóis), apresentando

diferença significativa entre as estações (Fig. 21). Isto é condizente com Kotas et al.

(2004), que também obteve maiores CPUEs nos cruzeiros que ocorreram nestas

estações.

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33

Figura 21: Média e erro padrão das CPUEs para cada estação do ano (n=146 lances).

CPUE média por Estação do Ano

inverno verão outono primavera0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

1.2

1.4

1.6

1.8

2.0

2.2

2.4

2.6

2.8

3.0

CPU

E (T

ART/

1000

AN

ZÓIS

)

CPUE: F(3,135) = 4.5977, p = 0.0043

A inserção dos dados de captura incidental no SIG possibilita, além da

visualização da CPUE e outros atributos de cada lance na sua respectiva localização

geográfica, a associação de imagens de satélite de vento, correntes, Temperatura

Superficial do Mar (TSM), que podem adicionar importantes informações, ajudando

a esclarecer quais os fatores podem estar influenciando na maior captura de

tartarugas marinhas nas diferentes áreas. Algumas imagens de temperatura

superficial do mar foram inseridas no SIG para verificar esta condição oceanográfica

nos dias de um cruzeiro, e visualizar as CPUEs de cada lance associados a estas

imagens (Fig. 22). Alguns trabalhos discutem a respeito da influência da TSM na

captura incidental de tartarugas marinhas. Kotas et al. (2004) calcularam a CPUE

mais alta (10.49 tartarugas/1000 anzóis) nos meses de março e abril, que apresentou

a média de temperatura superficial do mar mais baixa dos 3 cruzeiros (13.6° C)

monitorados. Swimmer (com. pessoal) indicou diferença significativa entre a captura

de tartarugas marinhas no espinhel de acordo com a temperatura da água em testes

da NOAA no Atlântico Norte, chegando à conclusão que em águas mais quentes

ocorre índices mais altos de captura incidental. Chester et al. (1994) utilizou imagens

TSM para verificar épocas e áreas mais propícias à captura incidental, concluindo

que com temperaturas mais altas existe maior captura de tartarugas marinhas.

Porém estes autores ressaltam o problema da cobertura de nuvens na utilização de

imagens TSM, que causou hiatos no monitoramento. Este problema também

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34

#

#

#

-100

-200

CHUÍ

TORRES

BARRA RIO GRANDE

55°0'0"W 50°0'0"W 45°0'0"W

35°0'0"S

30°0'0"S

Lances de 07/2005cpue

0.000000

0.000001 - 0.813008

0.813009 - 2.500000

2.500001 - 4.166670

Figura 22: Imagem TSM média entre os dias 9/7/2005 e 17/7/2005 e lances (representados pela CPUE) que ocorreram neste período (n=16), capturando 39 tartarugas.

prejudicou o presente trabalho, uma vez que vários cruzeiros não puderam ser

associados a imagens TSM devido à cobertura de nuvens no local e época do

cruzeiro.

A região compreendida entre o Chuí e o Cabo de Santa Marta, dentro da Zona

Econômica Exclusiva (ZEE) do Brasil foi dividida em setores de acordo com as linhas

batimétricas e pontos definidos em terra, resultando em 18 setores de pesca de

espinhel. Estes setores foram criados para um workshop para a avaliação de áreas

prioritárias para a conservação de espécies ameaçadas de extinção, que reuniu

especialistas em mamíferos marinhos, tartarugas marinhas e elasmobrânquios, no

intuito de verificar áreas comuns de alta captura incidental destes animais. Verifica-

se alta captura de C. caretta pela frota de espinhel principalmente nos setores de 1 a

4, que representam profundidades entre 100 e 1000 metros, na quebra da plataforma,

do Chuí até o Farol de Tramandaí (Fig. 23). Porém a maior CPUE média foi

verificada no setor 16, devido a um lance que capturou 17 tartarugas, o que também

resultou no maior erro padrão neste setor (Fig. 24). Não houve lances nos setores 6, 9

e 14 e apenas um lance no setor 13, que não capturou tartarugas marinhas.

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35

Figura 23: Identificação dos setores e CPUE média, com os pontos de lançamentos.

CPUE médio por Setores

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18

SETOR

-1

0

1

2

3

4

5

CP

UE

Figura 24: Média e erro padrão dos lances por setores (n=146). Os lances que ocorreram fora da área dividida em setores são representados por 0.

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36

Histograma de Lances por Setores

SETOR

de R

egis

tros

0

3

6

9

12

15

18

21

24

27

30

33

36

-1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19

Figura 25: Número de lances por setores de pesca (n=146). O setor 0 representa os lances fora da área setorizada.

O maior esforço de pesca foi realizado no Setor 1, com 21 lances (15%),

seguido pelo Setor 7, com 14 lances (10%), porém o maior número de lances foi feito

fora da área dividida por setores, onde ocorreram 33 lances (24%) (Fig. 25).

Medidas mitigadoras para reduzir a captura incidental de tartarugas

marinhas no espinhel pelágico incluem pesquisas adicionais na distribuição e

abundância de tartarugas marinhas, bem como a redução do esforço de pesca nos

locais e épocas que estas ocorrem em concentração (Oravetz, 1999). Um SIG pode ser

uma importante ferramenta para a definição destas áreas de concentração (hotspots)

de tartarugas marinhas, onde se pode propor Áreas de Proteção Marinhas através de

Unidades de Conservação, áreas de exclusão de pesca, controle do período ou

esforço de pesca. Um exemplo disto é uma área de 1 milhão de milhas quadradas no

Atlântico Norte que foi fechada para a pesca de espinhel devido à redução de

populações de D. coriacea (Crowder, 2000).

4.2.2. Emalhe de Superfície

Foram monitorados 7 cruzeiros de 2 embarcações da frota pesqueira de

emalhe de superfície direcionada à captura de tubarões-martelo (Sphyrna lewinii),

sendo que 4 cruzeiros foram monitorados por observadores de bordo e 3 por

cadernos de bordo. Estima-se que esta frota seja composta por 20 embarcações

sediadas em Passo de Torres, Torres e Imbé (Monteiro et al., 2005). As embarcações

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37

possuem entre 10 e 20m de comprimento e o comprimento da rede variou de 1.9 a

5.2 km, com uma média de 4.1 km, enquanto a altura de rede variou de 15 a 18

metros. Estes cruzeiros se concentraram entre Torres e o Farol de Solidão, a uma

profundidade de 2 a 150 metros (Fig. 26). Foram realizados no total 52 lances, sendo

que 27 destes com redes de emalhe de superfície direcionada a cações e 25 com redes

de emalhe de fundo, viola ou corvina. Apenas 6 lances de emalhe de superfície não

capturaram tartarugas marinhas, sendo que foram capturadas 6 C. mydas, 4 C.caretta,

1 D. coriacea e 26 indivíduos não identificados da família Cheloniidae (Monteiro et al.,

2005).

A CPUE calculada para esta pesca foi de 1.37 tartarugas por lance, atingindo

um máximo de 4 tartarugas capturadas em um lance. Sales et al. (2003)

acompanharam 29 cruzeiros da frota de emalhe de superfície de Ubatuba em 2002 e

2003, que capturaram 229 tartarugas, resultando numa CPUE total mais baixa do que

o calculado no presente trabalho, com 0.98 tartarugas por lance. Destas 229

tartarugas, 163 eram D. coriacea, 36 C. caretta, 13 C. mydas e 17 não identificadas,

sendo que 23% destas tartarugas estavam mortas ao serem embarcadas. Porém, o

fato de a frota de emalhe de superfície sediada no norte do RS ter características mais

costeiras que a frota de Ubatuba pode explicar a menor captura de D. coriacea

observada neste trabalho.

A divisão da área de pesca deste tipo de pescaria em setores seria interessante

para o workshop supracitado, porém não foi possível devido à pequena quantidade

de lances monitorados e à concentração destes lances na mesma área, o que geraria

uma falsa idéia de que as tartarugas estão concentradas, quando, na verdade, o

esforço que está concentrado. Acredita-se que a captura incidental de tartarugas

marinhas nas redes de emalhe de superfície esteja mais relacionada com as

diferenças de petrecho de pesca de acordo com a espécie alvo do que com a

localização geográfica dos lances, porém é necessária a continuidade do

monitoramento desta pescaria para conclusões sobre a distribuição espacial das

tartarugas marinhas nas regiões costeiras do Rio Grande do Sul.

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38

Figura 26: Captura incidental de tartarugas marinhas na frota de emalhe de superfície durante o perído de 2004 e 2005 (n=52 lances).

4.2.3. Pesca Artesanal

No estuário da Lagoa dos Patos foram registrados 20 C. mydas capturadas

incidentalmente entre março de 2004 e agosto de 2005, das quais 17 estavam vivas.

Todos eram juvenis (CCC entre 31 e 45 cm) e com peso entre 3.8 e 10 kg. A maior

captura foi observada no Saco da Mangueira, onde foram capturados 4 indivíduos,

seguido pelo Canal da Barra e Praia do Graxa, com três capturas cada um (Fig. 27).

Soto e Beheregaray (1997) já haviam registrado a captura de 11 C. mydas no estuário

da Lagoa dos Patos nos meses de primavera e verão de 1992 a 1995, sendo que todos

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39

Figura 24: Captura incidental de C. mydas por pescadores artesanais no estuário da Lagoa dos Patos (n=20).

os indivíduos eram juvenis e somente 4 foram capturados vivos. Areco (1997)

registrou a captura de 37 C. mydas juvenis pelos barcos de pesca artesanal que

atuaram dentro deste estuário e na região costeira adjacente. Um exemplar de C.

mydas foi capturado na Barra Falsa (ponto 1), sendo liberado após 5 dias na praia do

Cassino (ponto 2) e sendo recapturado na Barra do Canal São Gonçalo (ponto 3) 4

dias depois da liberação, num local muito próximo ao local de primeira captura. Isto

ressalta a importância do estuário da Lagoa dos Patos para esta espécie, que utiliza

esta região durante todo o ano (Monteiro et al., 2005). Devido à maneira que os dados

foram coletados, não foi possível quantificar o esforço de pesca para a comparação

com dados de pesca artesanal com redes de emalhar fixa de outros locais, portanto

uma coleta de dados mais sistemática é necessária.

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40

5. Conclusões

O SITARS se mostrou uma importante ferramenta para o entendimento da

dinâmica espacial dos encalhes no Rio Grande do Sul, uma vez que permite a

integração de informações bióticas e abióticas, essencial para este tipo de estudo. Os

diversos fatores que influenciam nos encalhes podem vir a ser integrados neste

sistema, tais como os antrópicos (dinâmica da frota pesqueira e variação espacial e

temporal das redes de espera de praia), os oceanográficos (vento, ondas, correntes,

batimetria e linha de costa) e os biológicos (características das espécies, produção de

clorofila, etc.). Não se podem fazer análises complexas destes fatores neste trabalho,

porém com os bancos de dados e imagens já inseridos no SIG, o próximo passo é

utilizar esta ferramenta para análises geoestatísticas que podem ajudar a esclarecer

quais fatores influenciam na distribuição espaço-temporal dos encalhes de tartarugas

marinhas no litoral do Rio Grande do Sul. Porém é visível o alto índice de encalhes

nas regiões 3 e 4 da praia, entre o Farol do Verga e o Farol do Sarita. Para C. mydas

foram encontrados altos índices de encalhes próximo aos molhes e a 30 km do Chuí,

que parece estar relacionado com a proximidade de substratos duros para a fixação

de algas, principal alimento desta espécie. A divisão da praia em setores de 10 km se

mostrou um tanto quanto artificial, gerando altos desvios padrões em cada setor, o

que pode ser evitado se a praia for dividida em regiões que agrupem setores

semelhantes da praia.

A inserção dos dados de captura incidental no SITARS é essencial para

visualizar onde atuam as frotas monitoradas e em que época do ano. Foi verificada

maior captura incidental de tartarugas marinhas na pesca de espinhel na quebra da

plataforma continental ao sul do estado do Rio Grande do Sul. O SITARS pode

auxiliar na tomada de decisões sobre ações governamentais para a mitigação de

efeitos negativos da pesca na região, com a criação de áreas ou épocas de diminuição

do esforço pesqueiro ou áreas de exclusão da pesca.

A divulgação do SITARS, que pode ser feita através de banners, website ou

CD-ROMs acessíveis ao público leigo, deverá ser importante para a conscientização

ambiental de estudantes e população em geral, auxiliando em palestras a filhos de

pescadores e outras atividades desenvolvidas pelo NEMA. Pode ajudar as pessoas a

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41

conhecerem melhor a região em que vivem e sensibilizar através de imagens das

tartarugas capturadas e encalhadas no Rio Grande do Sul. Esta divulgação é

importante também para que os moradores da região saibam que é alta a ocorrência

de tartarugas marinhas na região e a que existe alta interação destes animais com as

diversas atividades humanas.

6. Referências Bibliográficas

Areco, D. 1997. Captura incidental de tartaruga marinha na pesca artesanal no litoral

sul do Rio Grande do Sul. Dissertação de Bacharelado, Fundação Universidade

Federal do Rio Grande - FURG, Rio Grande.

Bjorndal, K. A. 1997. Foraging ecology and nutrition of sea turtles. In: Lutz, P. L. e J.

A. Musick (eds). The biology of sea turtle. CRC Press, Boca Raton, Florida, USA.

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Research at the Fog Bay Rookery in Northern Australia. Marine Turtles

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Bolten, A. B. e G. H. Balazs. 1995. Biology of the early pelagic stage – the “lost year”.

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