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Fundamentos da Ciência Econômica MÓDULO III - FUNDAMENTOS DE MACROECONOMIA Ao final do estudo deste módulo, esperamos que você possa: Entender em que se baseia a política macroeconômica, suas metas e os instrumentos disponíveis para atingi-las; Entender o objeto de estudo da macroeconomia; Compreender as principais identidades macroeconômicas e usá-las para análise de economias reais; Entender como ocorrem as flutuações econômicas que influenciam o produto, por meio do modelo de oferta e demanda agregada; e Compreender os efeitos das políticas fiscal e monetária nas flutuações e como podem ser usadas para a consecução de determinados fins. Conteúdo programático da unidade 1 Introdução. Metas da Política Macroeconômica. Instrumentos da Política Macroeconômica. Resumo da unidade 1 A macroeconomia se preocupa com os grandes agregados da economia. Suas metas são obter níveis satisfatórios de emprego, ausência de inflação, uma distribuição de renda mais equitativa e altas taxas de crescimento econômico. Para tanto, pode utilizar-se das políticas fiscal, monetária, cambial e comercial. Introdução da unidade 1 A macroeconomia tem como objeto de estudo as relações entre os grandes agregados: a renda nacional, o nível de emprego e dos preços, o consumo, a poupança e os investimentos totais. A macroeconomia, ao tentar responder como o mercado de bens e serviços se comporta, efetua uma agregação de todos os bens produzidos pela economia

Fundamentos da Ciência Econômica MÓDULO III - …profsaravalli.com/Material/TecAdm/IntEcon/Fundamentos%20da%20Ci... · Analisa o mercado cambial, de forma a conhecer a taxa de

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Fundamentos da Ciência Econômica

MÓDULO III - FUNDAMENTOS DE MACROECONOMIA

Ao final do estudo deste módulo, esperamos que você possa:

Entender em que se baseia a política macroeconômica, suas metas e os

instrumentos disponíveis para atingi-las;

Entender o objeto de estudo da macroeconomia;

Compreender as principais identidades macroeconômicas e usá-las para

análise de economias reais;

Entender como ocorrem as flutuações econômicas que influenciam o

produto, por meio do modelo de oferta e demanda agregada; e

Compreender os efeitos das políticas fiscal e monetária nas flutuações e

como podem ser usadas para a consecução de determinados fins.

Conteúdo programático da unidade 1

Introdução.

Metas da Política Macroeconômica.

Instrumentos da Política Macroeconômica.

Resumo da unidade 1

A macroeconomia se preocupa com os grandes agregados da economia. Suas

metas são obter níveis satisfatórios de emprego, ausência de inflação, uma

distribuição de renda mais equitativa e altas taxas de crescimento econômico.

Para tanto, pode utilizar-se das políticas fiscal, monetária, cambial e comercial.

Introdução da unidade 1

A macroeconomia tem como objeto de estudo as relações entre os grandes

agregados: a renda nacional, o nível de emprego e dos preços, o consumo, a

poupança e os investimentos totais.

A macroeconomia, ao tentar responder como o mercado de bens e serviços se

comporta, efetua uma agregação de todos os bens produzidos pela economia

durante certo período de tempo. Esse conjunto é chamado de produto agregado,

ou seja, o somatório de todos os bens produzidos pela economia. O preço de

produto agregado é uma média de todos os preços dos bens produzidos. A isso,

dá-se o nome de nível geral de preços.

Analogamente, a macroeconomia também vê o mercado de trabalho como uma

agregação de todos os tipos de trabalho existentes na economia. Como

resultado temos outras duas variáveis macroeconômicas: a taxa salarial e o nível

de emprego.

Para que as compras e vendas de mercadorias e serviços aconteçam, é

necessário um elemento comum de troca: o dinheiro. Para tanto, existe o

mercado monetário, em que são determinadas as taxas de juros e a quantidade

de moeda necessária para efetuar as transações econômicas. A moeda tem

importância na determinação dos preços e nas quantidades produzidas.

A macroeconomia se incumbe ainda de estudar as relações do nosso país com

o resto do mundo. Analisa o mercado cambial, de forma a conhecer a taxa de

câmbio que permite calcular a relação de troca entre diferentes moedas.

Em síntese, a macroeconomia é o estudo de fenômenos que englobam toda a

economia. Um macroeconomista estuda assuntos como os efeitos de

empréstimos feitos pelo governo federal, as mudanças da taxa de desemprego

ao longo do tempo ou políticas alternativas para promover a elevação do padrão

de vida nacional.

Metas da Política Macroeconômica

São metas da política macroeconômica: alto nível de emprego, estabilidade de

preços, distribuição de renda socialmente justa e crescimento econômico.

Alto nível de emprego

As pessoas que gostariam de trabalhar, mas não conseguem encontrar um

emprego, não estão contribuindo para a produção de bens e serviços da

economia (além de terem sua autoestima completamente abalada). Embora um

certo grau de desemprego seja inevitável em uma economia complexa, quando

um país consegue manter a maior parte de seus trabalhadores plenamente

empregados, atinge um nível de PIB (Produto Interno Bruto) maior do que se

deixasse muitos deles ociosos.

Estabilidade de preços

Define-se inflação como um aumento contínuo e generalizado no nível geral de

preços, o que provoca uma perda do poder aquisitivo da moeda. A inflação é um

problema porque gera distorções de toda ordem no sistema econômico, como

uma piora na distribuição de renda (os pobres têm mais dificuldade em se

defender da inflação) e incertezas sobre o futuro, o que desestimula os

investimentos produtivos. Daí a necessidade de políticas que preservem a

estabilidade dos preços.

Distribuição de renda socialmente justa

A distribuição de renda resultante do sistema econômico pode não ser a

desejada pela sociedade. O governo pode intervir, por meio de impostos,

subsídios ou transferências, no sentido de fazer ajustes e tornar a distribuição

mais justa, mais equitativa. No caso do Brasil, isso é ainda mais urgente, dadas

as diferenças absurdas existentes na sociedade brasileira.

A distribuição de renda também tem sido assunto recorrente nos países

emergentes que conseguiram um crescimento econômico rápido, pois a riqueza

produzida demora a chegar às camadas mais pobres da população.

Curiosidade:

Brasil tem segunda pior distribuição de renda em ranking da OCDE

“Mesmo com o forte investimento do governo em programas de redução da

pobreza nos últimos anos, o Brasil ainda é um dos países com maior

desigualdade social do mundo, segundo a Organização para a Cooperação e

Desenvolvimento Econômico (OCDE). Publicado nesta terça-feira, o “Relatório

Territorial Brasil 2013” analisa diversos aspectos do país e revela que, apesar

dos avanços significativos nos últimos 15 anos, a disparidade entre as

economias dos estados brasileiros continua alta, menor apenas que a do México

e duas vezes superior à média dos membros da OCDE.

De acordo com o estudo, o coeficiente Gini (que mede a desigualdade de renda)

entre os estados brasileiros era de 0,30 em 2010, enquanto o do México, o mais

desigual, era de 0,34. O coeficiente varia de 0 a 1. Quanto mais próximo de 0,

menor a desigualdade. O país com melhor distribuição de renda é o Japão, com

índice de 0,06”.

(Jornal O Globo, de19/03/2013)

Crescimento econômico

Crescimento econômico é o aumento da capacidade produtiva da economia e,

portanto, da produção de bens e serviços de determinado país. O melhor

indicador para isso é aferir o aumento da renda nacional per capita, isto é, o

aumento da razão entre a quantidade produzida e a população. Para termos

incremento na renda nacional per capita, o aumento dos bens e serviços

produzidos deve superar o crescimento populacional.

Considerando que em 2012 o crescimento brasileiro foi de apenas 0,9% e que

as expectativas para 2013 não são boas, essa meta deve ser uma das

prioridades nacionais. Estudaremos na Módulo VI do nosso curso o que é preciso

para impulsionar o crescimento econômico.

Instrumentos da política macroeconômica

O governo, para atingir as metas, deve atuar sobre a capacidade produtiva

(oferta agregada) e sobre a despesa planejada da sociedade (demanda

agregada). Basicamente, os instrumentos de política macroeconômica utilizados

para isso são:

Política fiscal

Política monetária

Políticas cambial e comercial

A política fiscal diz respeito às decisões dos governos sobre gastos e tributos.

Seus efeitos podem ser sentidos diretamente na demanda agregada, por meio

da variação dos gastos públicos em consumo e investimento, ou indiretamente,

pela redução dos impostos, o que eleva a renda disponível no setor privado.

Estudaremos, ainda nesta unidade, como funcionam esses mecanismos.

A política monetária refere-se à atuação do governo sobre a quantidade de

moeda, de crédito e das taxas de juros. Na atualidade, o principal instrumento

da política monetária é a taxa de juros e seu objetivo primordial é a inflação baixa.

As políticas monetária e fiscal representam diferentes alternativas para as

mesmas finalidades. A política macroeconômica deve utilizar uma combinação

das duas.

A política fiscal apresenta maior eficácia na distribuição de renda, utilizando

como instrumentos, por exemplo, a taxação de rendas mais altas ou promovendo

gastos públicos para os setores menos favorecidos.

A política monetária possui a vantagem de ser facilmente implementada, pois só

depende de decisões das autoridades monetárias (no caso brasileiro, temos as

famosas reuniões do COPOM – Comitê de Política Monetária do Banco Central).

A política fiscal depende, normalmente, de votação no Congresso Nacional e,

portanto, exige um período maior para sua implementação.

Por fim, a política cambial envolve as ações para afetar a taxa de câmbio e a

política comercial trata dos incentivos às exportações e dos desestímulos (ou em

alguns casos estímulos) às importações, que pode acontecer por meio de

alterações nas tarifas, no crédito ou via cotas.

Conteúdo programático da unidade 2

Introdução.

O fluxo circular da renda - famílias e firmas.

Vazamentos e injeções.

Estudo de caso.

Resumo da unidade 2

Serão estudadas várias expressões que nos permitem aferir e analisar

macroeconomicamente um país. A principal identidade é a do produto agregado

ou demanda agregada (podemos, simplificadamente, chamá-lo de PIB - Produto

Interno Bruto): Y = C + I + G + X – M. Essa medida é importante por que permite

quantificarmos tudo que está sendo produzido no país em termos de bens e

serviços. Permite também sabermos como está o crescimento da economia, ou

seja, como está a ampliação da produção da economia.

Introdução da unidade 2

O principal objeto da macroeconomia é a formação e a distribuição do produto e

da renda gerados pela atividade econômica. Esses agregados representam

importantes medidas de desempenho econômico e bem-estar da sociedade.

Assim, para entendermos os modelos macroeconômicos, é essencial conhecer

esses conceitos, bem como seus sistemas de contabilização.

Consideraremos, num primeiro momento, que existem apenas dois agentes na

economia: as famílias e as firmas. Estudaremos como ocorrem as relações entre

esses dois agentes. A seguir, permitiremos que haja acumulação de capital no

nosso sistema, adicionaremos o governo ao modelo e abriremos nossa

economia para o comércio internacional.

O Fluxo Circular da Renda - Famílias e Firmas

As famílias são compostas por todos os indivíduos da sociedade. Para que essas

famílias consigam suprir suas necessidades (alimentos, vestuário, lazer, ou

qualquer outro item de que precisem), alguém deve produzir. Assim, os próprios

indivíduos da sociedade formam as firmas, com o objetivo de fabricar tudo que

é demandado pelas pessoas. Ou seja, as firmas ou empresas são os locais onde

se organiza e ocorre a produção.

Para que todos os itens demandados sejam fabricados, as firmas precisam de

vários elementos, ou melhor, são necessários os fatores de produção, definidos

como todos os insumos utilizados para produzir bens e serviços.

Tradicionalmente, são considerados fatores de produção a terra (campos

cultiváveis, minas), o trabalho (recursos físicos e mentais do homem) e o capital

(máquinas, instalações, matérias-primas). E quem são os detentores dos fatores

de produção? São as próprias famílias.

Bem, então a atividade produtiva requer a utilização de fatores produtivos – terra,

trabalho, capital – que devem ser remunerados quando utilizados. Ou seja, as

famílias, quando fornecerem os fatores de produção às firmas, devem receber

uma contrapartida, uma remuneração por esses fatores que foram entregues ao

processo produtivo.

As remunerações dos fatores de produção são: salários (remuneração do fator

trabalho), juros (remuneração do capital monetário), lucros (remuneração do

risco incorrido pelo empresário) e aluguéis (remuneração do capital físico). Essas

remunerações constituem a renda das famílias.

As firmas produzem os bens e serviços e os oferecem às famílias que os

compram, utilizando a renda que tinham auferido. Dessas relações, saem alguns

importantes conceitos:

Produto Agregado (Y): soma de todos os bens e serviços finais produzidos

na economia durante determinado período de tempo (expresso em

unidades monetárias). Algebricamente, é o somatório da quantidade (q)

de cada bem i produzido, multiplicado pelo seu respectivo preço (p):

Y = Produto = pi.qi

Renda Agregada (Y): soma de todas as remunerações dos fatores de

produção (trabalho, capital, terra) pagas na economia:

Y = Renda Agregada = salários (w) 1+ juros(j) + aluguéis(a) + lucros(l)

Consumo agregado (C): total da aquisição de bens de consumo pelas

famílias. Lembrando que bens de consumo são aqueles para satisfação

das necessidades pessoais, como alimentação, saúde, lazer, etc.

Demanda Agregada (DA) (ou Despesa Agregada): despesa com o

produto ou a destinação do produto.

1 [1] Representa-se salário pela letra w em virtude da palavra inglesa wage.

Considerando uma economia hipotética que seja fechada (isto é, sem relações

com o exterior), que não tenha governo e que produz apenas bens de consumo,

a despesa agregada é igual ao consumo agregado (C = DA).

Outra maneira de analisarmos essas relações é por meio de um diagrama

chamado de Fluxo Circular da Renda (figura a seguir), que descreve todas as

transações que envolvem as famílias e as empresas de uma economia simples.

Fluxo Circular da Renda

Note que existem dois fluxos no diagrama: um, com linha tracejada, que

representa o lado real da economia, ou seja, insumos e produtos e outro, com

linha contínua, que é o fluxo de dinheiro. As famílias fornecem os fatores de

produção para as firmas e são remuneradas por isso (renda agregada). As firmas

utilizam os fatores produtivos e produzem bens e serviços (produto agregado).

A remuneração recebida pelas famílias é gasta com os bens e serviços

produzidos pelas firmas (demanda agregada). O dinheiro que as firmas recebem

pela venda dos bens e serviços serve para pagar os fatores de produção

oferecidos pelas famílias e aí voltamos ao ponto de partida.

Pelo Fluxo Circular da Renda, pode-se inferir a Identidade Macroeconômica

Básica:

Produto Agregado = Demanda Agregada = Renda Agregada

Essa identidade mostra que o valor de todos os bens e serviços produzidos em

uma economia equivale ao gasto total da população com bens e serviços que,

por sua vez, é igual ao valor de todos os rendimentos recebidos pela população,

tudo considerado no mesmo período de tempo. Essa identidade faz com que o

fluxo circular da renda esteja sempre equilibrado.

Vazamentos e Injeções

Até então, estamos trabalhando com uma economia que só produz bens de

consumo. No entanto, as empresas também produzem e investem em bens de

capital. Além disso, as famílias podem não gastar toda sua renda, isto é, podem

poupar uma parte.

Antes de continuarmos a discussão, cabe apresentarmos algumas definições:

Bens de capital: são bens destinados à produção de outros bens, como

máquinas e equipamentos. Os bens de capital não se destinam ao

consumo final dos indivíduos.

Investimento (I): são gastos que visam a aumentar a capacidade produtiva

da economia, como a aquisição de bens de capital, a construção de

hidrelétricas, a construção ou ampliação de fábricas. Cuidado para não

confundir investimento com aplicação financeira. Se você colocou seu

dinheiro na bolsa de valores, você fez uma aplicação financeira e não um

investimento.

Poupança (S)2: é a parcela da renda que não foi gasta com consumo.

Bem, de posse desses conceitos, podemos estabelecer algumas relações

algébricas.

O produto agregado (Y), que é igual à demanda agregada (DA), é composto não

só de bens de consumo, mas também dos bens de capital e de toda a produção

destinada a produzir outros bens, ou seja, o produto agregado é equivalente ao

consumo agregado (C) mais o investimento agregado (I) da economia:

2 Poupança é representada pela letra S em virtude da palavra inglesa Savings

Y = DA = C + I

Por outro lado, a renda agregada (Y), que antes era toda gasta com consumo,

pode agora ter uma parte poupada:

Y = C + S

Pela identidade básica, sabemos que a renda agregada é igual à demanda

agregada, de onde resulta que o valor da poupança equivale ao valor dos

investimentos:

C + S = C + I S = I

Perceba que a poupança é um vazamento do fluxo circular, pois é um dinheiro

das famílias que não retorna às firmas na forma de gasto com consumo. Em

contrapartida, temos os investimentos, que são considerados uma injeção. A

parte poupada pelas famílias se converte em investimentos para aumentar a

capacidade produtiva da economia. Assim, o dinheiro poupado retorna ao fluxo

que se equilibra novamente.

Pag. 02

Agora vejamos o que acontece quando colocamos o governo na nossa

economia. Cabe lembrar que o governo desempenha inúmeras atividades e,

para a consecução de suas atividades, promove gastos. Para fazer frente a

esses gastos, o governo arrecada tributos.

Dessa maneira, a renda das famílias terá mais um destino, pagamento de

tributos (T):

Y = C + S + T

Por outro lado, conforme dissemos, o governo também adquire bens e serviços,

logo a DA fica acrescida dos gastos públicos (G):

DA = C + I + G

No caso do governo, os gastos com bens de consumo são chamados de

despesas correntes, ou seja, são gastos destinados à manutenção da máquina

pública, como material de expediente ou pagamento dos funcionários públicos.

Note que os tributos se configuram como um vazamento no fluxo circular da

renda enquanto os gastos do governo são uma injeção para o fluxo.

Novamente, utilizando a identidade básica da macroeconomia (Y = DA), temos:

S + T = I + G S – I = G – T

Isso significa que, se houver déficit público, ou seja, se os gastos do governo

superarem sua arrecadação (G>T), deverá haver excesso de poupança do setor

privado para financiar o governo (S>I). Em outras palavras, recursos que

deveriam estar à disposição da iniciativa privada para financiar aumentos da

capacidade produtiva, estão sendo canalizados para financiar o governo que

gasta demais. Esse é exatamente o caso do Brasil.

Curiosidade: O que entrava o crescimento econômico?

Segundo Dório Fernandes – Presidente do Banco Opportunity – o principal

entrave ao crescimento econômico são o “tamanho e a ineficiência do Estado.

Ao longo dos anos foi construído um Estado cada vez maior e que para

sobreviver precisa sugar cada vez mais recursos do setor privado. Além disso,

esses recursos são desperdiçados no financiamento de despesas correntes e na

manutenção de um aparato distante dos padrões de eficiência necessários para

viabilizar um maior dinamismo da iniciativa privada”

(extraído da revista Conjuntura Econômica de fev/2006)

Por fim, vamos acrescentar ao nosso modelo o setor externo, isto é, vamos

permitir que aconteçam importações (denominada por M) e exportações

(denominada por X). Apesar de termos um novo vazamento, as importações

(recursos gastos com bens produzidos no exterior), temos também uma nova

injeção, as exportações (recursos externos comprando bens e serviços

produzidos no país).

Nesse contexto, temos a demanda agregada global que é a soma da demanda

agregada até então vista mais as exportações (X). Isso se deve ao fato de que

parte da produção está sendo consumida por agentes no exterior. Em outras

palavras, as exportações se caracterizam por ser um elemento de demanda por

produção interna.

Demanda Agregada Global = C + I + G + X

Por outro lado, além dos produtos produzidos no país, temos produtos

estrangeiros sendo ofertados internamente, são as importações (M). Então

podemos definir a oferta agregada global como a soma do produto agregado

interno (Y) mais as importações (M).

Oferta Agregada Global = Y + M

Igualando a demanda agregada global com a oferta agregada global, temos o

seguinte:

Y + M = C + I + G + X

Assim, a demanda agregada interna ou produto agregado interno (Y) é dado por:

Y = C + I + G + X – M

Essa, provavelmente, é a principal expressão existente na literatura

macroeconômica. A parte (X-M) é chamada de gastos líquidos do setor externo

e (C+I+G) é a absorção interna.

Lembre-se que a renda das famílias é gasta com consumo, poupança e tributos

(Y=C+S+T). Como, pela identidade básica, a renda agregada é igual ao produto

agregado que é igual à demanda agregada, temos que:

C + S + T = C + I + G + X – M

S + T + M = I + G + X

Essa última expressão mostra que os vazamentos se igualam às injeções no

fluxo circular da renda.

Pode-se ainda escrever a equação anterior como:

(X – M) = (T – G) + (S – I)

Isso é interpretado da seguinte maneira, se houver um superávit externo (X>M,

exportações maiores que as importações), deve ocorrer um superávit ou no setor

privado (S>I) ou no governo (T>G), ou em ambos. Analogamente, se houver

déficit externo, vai haver déficit interno no setor privado ou déficit público. É

sabido que o Brasil está com superávit no setor externo (X>M). O que está

acontecendo então com as outras variáveis? Discutiremos isso em um estudo

de caso mais adiante.

Outra maneira de escrever a equação anterior é:

I = S + ( T – G ) + ( M – X )

Isto é, os investimentos de um país podem ser financiados ou pela poupança

privada, ou pela poupança pública, ou pela poupança externa. Note que a

poupança externa é dada por (M-X), isso acontece porque pensamos em termos

reais, ou seja, as importações representam recursos reais que entram no país,

como máquinas e equipamentos. Se as exportações superam as importações,

temos uma poupança externa negativa.

Estudo de caso

Os dados abaixo foram retirados dos indicadores de contas nacionais trimestrais

do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Eles retratam a situação

brasileira em 2004. Note que o valor do PIB (ou produto agregado ou demanda

agregada) foi aproximadamente um trilhão setecentos e sessenta e seis bilhões

de reais.

Para chegar a esse valor de PIB, somou-se o consumo das famílias, o consumo

do governo, os investimentos e os gastos líquidos do setor externo (exportações

– importações). Note que simplesmente foi aplicada a identidade:

Y = C + I + G + X – M

Observe que o Brasil teve exportações superiores às importações (X>M).

Sabemos também que o setor público brasileiro gasta mais do arrecada (G>T).

Sendo assim, para o sistema ficar em equilíbrio (vazamentos iguais às injeções),

obrigatoriamente, temos que ter (S>I), poupança maior que investimento. Isso

significa que o setor privado, em vez de utilizar toda a poupança disponível para

investir e aumentar a capacidade produtiva, está tendo que poupar para financiar

o governo.

Conteúdo programático da unidade 3

Introdução.

Demanda agregada.

Oferta agregada.

Flutuações econômicas e o equilíbrio.

A influência das políticas monetária e fiscal.

Resumo da unidade 3

As oscilações econômicas são causadas por alterações na oferta ou demanda

agregada. Essas alterações podem ser incentivadas pelos governos, usando

como instrumentos macroeconômicos a política fiscal e a política monetária. Se

a ação desejada é um aquecimento da economia, fortalecendo o crescimento

econômico no curto prazo, pode-se diminuir a taxa de juros, aumentar os gastos

públicos ou diminuir os tributos. No entanto, se a intenção governamental é

manter a estabilidade dos preços, pode-se contrair a demanda agregada por

meio de elevações da taxa de juros, diminuição dos gastos públicos ou aumento

dos tributos.

Introdução da unidade 3

As flutuações de curto prazo na economia são comuns, acontecem em todos os

países. Nos períodos de expansão econômica, em que temos um rápido

crescimento do PIB real, ou seja, um aumento da produção de bens e serviços,

a taxa de desemprego diminui, o lucro das firmas é crescente e a tendência é se

alcançar um melhor padrão de vida para toda a população. Por outro lado, há

períodos em que as empresas não conseguem vender tudo o que produzem,

reduzem a produção e demitem trabalhadores, a taxa de desemprego aumenta,

o PIB e a renda caem. Isso caracteriza uma situação de recessão.

Neste módulo, estudaremos como ocorrem as flutuações de curto prazo na

atividade econômica e o impacto das políticas fiscal e monetária sobre a

economia.

O modelo básico para tanto é o de demanda agregada e oferta agregada. Sua

ilustração consta do gráfico III-3.1. No eixo vertical está o nível geral de preços

da economia. No eixo horizontal está a quantidade geral de bens e serviços. A

curva de demanda agregada mostra a quantidade de bens e serviços que as

famílias, as empresas e o governo desejam comprar a cada nível de preços. A

curva de oferta agregada mostra a quantidade de bens e serviços que as

empresas produzem e vendem a cada nível de preços. A produção e o nível de

preços se ajustam até chegar ao ponto (Y0,P0) em que as curvas de oferta

agregada e de demanda agregada se cruzam.

Vamos detalhar essa teoria nas páginas seguintes.

Demanda Agregada

Como vimos, a curva de demanda agregada mostra a quantidade de bens e

serviços que as famílias, as empresas e o governo desejam comprar a cada nível

de preços. Note pelo gráfico III-3.2, que a curva da demanda agregada é

decrescente (negativamente inclinada).

Isso significa que quando o nível de preços diminui de P1 para P2, a quantidade

demandada de bens e serviços aumenta de Y1 para Y2.

Mas qual o motivo da demanda agregada ser negativamente inclinada? Para

tanto, lembremos seus componentes: consumo (C), investimentos (I), gastos do

governo (G) e exportações líquidas (X – M). Se tiver dúvida, releia o capítulo III-

2.

Y = C + I + G + X – M

Vejamos a contribuição de cada um dos componentes para o comportamento

decrescente da demanda agregada, exceto pelos gastos públicos, cujo valor é

fixado por critérios políticos e não econômicos.

Primeiramente analisemos o consumo. Quando os preços das mercadorias

caem, nós, consumidores, conseguimos comprar mais itens com nosso dinheiro.

Generalizando, quando o nível de preços de toda a economia diminui, o dinheiro

das pessoas passa a ser mais valioso, permitindo que os consumidores

adquiram mais bens e serviços e, por consequência, a demanda agregada

aumenta. Note a relação inversa que caracteriza a inclinação negativa da

demanda agregada: nível de preços cai e quantidade demandada aumenta.

Esse fato é conhecido na literatura econômica por efeito riqueza.

Vejamos agora o caso dos investimentos. As firmas, objetivando aumentar seus

lucros, sempre querem expandir suas plantas industriais e seus equipamentos.

Assim, as firmas têm projetos de investimentos para aumentar sua capacidade

produtiva, que, se implementados, geram uma determinada taxa de retorno. No

entanto, se a taxa de juros praticada pelo mercado financeiro for alta, o retorno

dos investimentos da firma talvez não seja o suficiente. É melhor para o

empresário fazer uma aplicação financeira do que aumentar sua capacidade

produtiva. Porém, se a taxa de juros cai, será lucrativo empreender mais e mais

projetos. Em suma, taxas de juros altas reduzem a demanda de investimento.

Mas onde está a relação disso com o nível de preços?

Começamos a responder com um novo questionamento: quando o nível de

preços está baixo, você precisa de mais ou menos moeda (dinheiro) para suas

transações diárias? Ora, se tudo custa pouco, vou precisar de pouco dinheiro

para pagar minhas contas e comprar o que necessito. Bem, então quando o nível

de preços é baixo, a demanda por moeda para transações é menor. Mas se a

necessidade de reter moeda é pequena, as famílias racionalmente depositam o

excedente de seu dinheiro em uma poupança de forma a receber juros. Os

bancos, ao receberem esses depósitos, colocam o dinheiro à disposição para

empréstimos, afinal essa é uma das funções do sistema bancário: servir de

intermediador financeiro.

Quanto mais dinheiro estiver à disposição, é mais fácil consegui-lo (dinheiro mais

barato) e, por conseguinte, menores serão as taxas de juros. Já vimos que, com

taxas de juros baixas, os projetos de investimentos das firmas ganham

prioridade, além disso, é menos custoso financiar o investimento (tomar

empréstimos).

Resumindo, quando o nível de preços é baixo, a necessidade de moeda é menor,

o que acarreta taxas de juros menores, que incentiva o investimento, que

aumenta a demanda agregada.

Por fim, temos que as exportações líquidas também aumentam quando o nível

de preços está mais baixo. Isso ocorre por meio da taxa de câmbio.

Deixaremos para explicar melhor esse tema na unidade IV.

Pag. 02

Bem, vimos até agora que oscilações no nível de preços alteram a quantidade

demandada de bens e serviços e, assim, caminhamos sobre a curva da

demanda agregada.

Além desse caso, existem outros fatores que alteram a quantidade demandada

deslocando a curva da demanda agregada para outro patamar, sem alterar o

nível de preços. Tais flutuações podem ser causadas, por exemplo, por um

aumento generalizado de impostos que diminui a renda disponível da população

e sacrifica o consumo, deslocando a curva da demanda agregada para a

esquerda.

Esse mesmo movimento pode ser causado por quedas no investimento

decorrentes, por exemplo, do pessimismo dos empresários em relação a um

novo governo que propõe intervir demasiadamente na economia.

A demanda agregada pode ainda ser deslocada para a esquerda se o governo

opta por uma política de superávit (economizar recursos) tendo por base a

contenção das compras de bens e serviços pelo Estado. Ou, por fim, o

deslocamento para a esquerda pode acontecer se as exportações diminuem

porque um importante parceiro comercial do Brasil, como os Estados Unidos,

entra em recessão. Todos esses eventos podem ser ilustrados pelo gráfico III-

3.3.

Demos exemplos que deslocaram a curva da demanda agregada para a

esquerda, diminuindo o PIB, mas, é claro, podemos ter os mesmos exemplos

fazendo a demanda agregada ir para a direita, refletindo um aumento do PIB

(diminuição dos impostos, otimismo com um próximo governo, gastos públicos

maiores e o exterior comprando mais do Brasil). Vejamos agora a oferta

agregada.

Oferta Agregada

Como dissemos, a curva de oferta agregada mostra a quantidade de bens e

serviços que as empresas produzem e vendem a cada nível de preços. Neste

ponto, temos de fazer a distinção entre a oferta agregada de longo prazo e a de

curto prazo.

No longo prazo, presume-se que a economia estará sempre no seu produto

potencial, isto é, estará produzindo o máximo que pode considerando os fatores

de produção disponíveis. Nesse caso, o produto de equilíbrio é independente do

nível de preços e, portanto, é representado por uma reta vertical (gráfico III-3.4).

A oferta agregada de longo prazo não é influenciada pelos preços porque

depende apenas da oferta de trabalho, capital, recursos naturais e da tecnologia

disponível.

Como se aumenta o produto potencial? Ou seja, como se desloca a curva da

oferta agregada para a direita? No longo prazo, isso se consegue por meio de

aumento da força de trabalho (como pela promoção da entrada de imigrantes),

de aumento do estoque de capital o que eleva a produtividade, a descoberta de

novas fontes de recursos naturais e inovações tecnológicas. Esses eventos

permitem que mais bens e serviços sejam produzidos, elevando o produto

potencial.

No curto prazo, porém, a economia não tem tempo para fazer os ajustes

necessários quando há alterações nos preços, de modo que o produto pode se

desviar do nível potencial (em que há pleno emprego dos fatores de produção).

Nesse caso, a curva de oferta é representada por uma curva crescente, em que

uma queda do nível de preços produz uma queda na quantidade de bens e

serviços ofertados (gráfico III-3.5).

Os mesmos eventos que deslocam a curva de oferta agregada de longo prazo

podem deslocar a de curto prazo.

Flutuações Econômicas e o Equilíbrio

Vamos supor uma situação em que estejamos no nível do produto potencial

(gráfico III-3.6). A economia está equilibrada no ponto O (a oferta agregada é

igual à demanda agregada).

No entanto, por alguma conjuntura pessimista (uma guerra, por exemplo), as

famílias diminuem seu consumo e as firmas param de investir. Isso causa um

deslocamento da demanda agregada para a esquerda (de DA0 para DA2). No

curto prazo, isso causa uma diminuição do PIB e uma queda dos preços (ponto

B).

Nessa nova realidade, depois de transcorrido mais tempo (longo prazo), os

custos das empresas também irão diminuir, elas passarão a pagar salários

menores. Com menor custo, a margem de lucro aumenta e as firmas têm

incentivos a ofertar mais bens e serviços, o que desloca a oferta agregada para

a direita (de OA0 para OA2) e o equilíbrio da economia fica no ponto C. Ou seja,

no longo prazo, a economia volta a se estabilizar no seu produto potencial, mas

com nível de preços bem abaixo do equilíbrio inicial. Veja a ilustração no gráfico

III-3.7.

A Influência das Políticas Monetária e Fiscal

Estudamos na lição 1 desta unidade que a política monetária refere-se à atuação

do governo sobre a quantidade de moeda, crédito e das taxas de juros, mas que,

na atualidade, o principal instrumento da política monetária é a taxa de juros.

O Banco Central, ao alterar a taxa de juros (taxa SELIC 3que é a taxa básica de

juros na economia brasileira), promove mudanças na demanda agregada. Se a

taxa de juros fica menor, reduz o custo dos empréstimos e o retorno da

poupança. Em consequência, as famílias compram mais e as firmas investem

em novas fábricas e equipamentos. Como resultado, a quantidade demandada

de bens e serviços a um dado nível de preços aumenta, deslocando a curva da

demanda agregada para a direita.

No Brasil, toda a sociedade fica atenta às reuniões do COPOM (Comitê de

Política Monetária do Banco Central), que tem por atribuição fixar a taxa SELIC.

O resultado dessas reuniões tem reflexos por todo o ambiente econômico.

Você percebeu que normalmente os noticiários divulgam a taxa SELIC e

informam logo em seguida o impacto na bolsa de valores? Isso acontece porque

o mercado de ações é muito sensível às mudanças na taxa básica de juros, mas

por quê? Um aumento na taxa de juros faz o índice da bolsa de valores cair

porque surgem aplicações financeiras mais atraentes que as ações da bolsa,

como os títulos públicos. Além disso, uma elevação das taxas de juros impacta

negativamente a economia, diminuindo os lucros das empresas e diminuindo o

valor de suas ações.

Vejamos agora os efeitos da política fiscal. O governo pode aumentar a demanda

agregada, comprando mais bens e serviços. Isso desloca a demanda agregada

para a direita e, no curto prazo, teremos um aumento do PIB. O governo pode

também atuar por meio da política tributária. Por exemplo, se a alíquota do

imposto de renda diminui, os cidadãos passam a ter mais renda disponível. Parte

dessa renda extra será gasta com consumo, o que aquece a demanda agregada.

Analogamente, se os impostos aumentam, a demanda agregada se contrai.

Por fim, cabe enfatizar que tanto a política fiscal quanto a monetária podem ser

usadas para estabilizar a economia. Se estivermos em um período de extremo

otimismo e as pessoas estão consumindo muito além da capacidade das firmas

de ofertarem produtos, isso causaria elevação generalizada dos preços, ou seja,

3 Taxa SELIC – Sistema Especial de Liquidação e Custódia – é a taxa que baliza

as operações financeiras realizadas pelos bancos na liquidação de títulos.

inflação. O governo, desejando manter a estabilidade dos preços, pode tomar

medidas para contrair a demanda agregada, como aumentar a taxa de juros ou

cortar os gastos públicos. Por outro lado, se passamos por um momento de

recessão, o governo vai querer incentivar a economia a crescer. Para tanto, pode

baixar as taxas de juros, diminuir os impostos ou aumentar os gastos públicos.

Exercícios de Fixação - Módulo III

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Econômica.

Como parte do processo de aprendizagem, sugerimos que você faça uma

releitura do conteúdo e resolva os Exercícios de Fixação. O resultado não

influenciará na sua nota final, porém, o acesso aos Módulos seguintes está

condicionado à resolução e envio das respostas.

Lembramos, ainda, que a plataforma de ensino faz a correção imediata das

respostas!

Para ter acesso aos Exercícios de Fixação, clique em exercício de fixação do

módulo III, localizado na página inicial do curso.